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PARTE ESPECIAL
TOMO LIX
Direito das Sucessões: Sucessão testamentária.
TÍTULO III
SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
(continuação)
CAPÍTULO XX
TESTAMENTO PÚBLICO
§ 5.868. Analfabeto e quem não pode assinar. 1. Quem não sabe ou não
pode assinar. 2. Analfabeto no direito romano e no direito comum. 3.
Analfabeto no direito alemão, no austríaco e no suíço. 4. Natureza do
testamento no Código Civil, art. 1.633. 5. Leitura do testamento ao
analfabeto. 6. Testador que não sabe ou não pode assinar. 7.
§ 5.871. Surdo que sabe ler e surdo que o não sabe. 1. Surdez e leitura do
testamento. 2. Surdo que lê e surdo que não lê. 3.Assinatura do surdo. 4.
Capacidade do ledor do testamento do surdo que não lê. 5. Se o ledor é
oitavo figurante.
6.Se o ledor, que sabia a linguagem dos surdos, leu para si, e não para o
surdo. 7. Surdo-cego e a forma de tes tamento
§ 5.872. Testamento público do cego. 1. Permissão especial da
testamenticação. 2. Assinatura do cego e dispensabilidade
TESTAMENTO CERRADO
§5.880. Quem não sabe ou não pode ler. 1. Texto legal. 2. Fonte.
3.Fundamento. 4. Consequências da regra legal
Consequências
CAPÍTULO XXII
TESTAMENTO PARTICULAR
Direito estrangeiro
3.Dados gerais para a solução das questões. 4. Natureza da,s duas regras
jurídicas. 5. Solução das questões .... 177
TESTEMUNHAS TESTAMENTÁRIAS
CAPÍTULO XXV
TESTAMENTOS ESPECIAIS
SEÇÃO 1
TESTAMENTO MARÍTIMO
3.Efeitos da caducidade
TESTAMENTO MILITAR
Testamentomilitar.3.Codicilo361
CAPITULO XXVII
Título III
SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
(continuação)
CAPITULO XX
TESTAMENTO PÚBLICO
Foi a própria Lei de 1849 que verberou o abuso: “e o que pior he disseram
me que esses vigairos pobricam essas cedulas sem testemunhas seendo já
essas testemunhas todas mortas que som escriptas nas cedulas que lhis
mostram, e que algúas vezes nom som escriptas algúas testemunhas em
algúas cedulas... e mandam sem outro conhecimento que x‟alham come
testamentos” (Livro das Leis e Posturas, Tôrre do Tombo, foi. 156) Nas
Ordenaçôes Afonsinas, Livro IV, Título 103, havia:
a)o testamento aberto, feito por tabelião, isto é, o testamento público do
Código Civil: seis testemunhas, incluído o oficial (portanto, cinco) ; b) o
testamento escrito ou só assinado pelo testador, ou escrito e assinado por
outrem, que ou teria, nas costas, o instrumento público do tabelião, como os
abertos (cinco testemunhas), ou‟ teria de, após a morte, ser publicado, com
audiência dos interessados (publicações que a Lei de 21 de maio de 1349 já
exigira) ; cY
Distrito Federal, 30 de janeiro de 1952, A. J., 109, 327; 4.~ Câmara Civil do
Tribunal de Apelação de São Paulo, 3
O art. 18 do Decreto-lei n. 4.~57 tem hoje a seguinte redação (Lei ri. 3.238,
de 1.0 de agosto de 1957). “Tratando-se de Brasileiros, são competentes as
autoridades consulares brasileiras para lhes celebrar o casamento e os mais
atos de registro civil e de tabelionato, inclusive o registro de nascimento e
de óbito dos filhos de Brasileiro ou Brasileira nascidos no pais da sede do
consulado”.
A regra jurídica baus regit uetum é facultativa: pode-se optar pela lei
pessoal, ou por outra que deva reger o intrínseco. Ora, na espécie, ou esse
estrangeiro domiciliado no Brasil se acha na pátria dele, ou se acha noutro
Estado, que não seja a ~ua pátria, nem o Brasil. No último caso, a solução é
fácil: a estrangeiro domiciliado no Brasil procura o consulado do Brasil,
optando, de acôrdo com o direito internacional privado do Brasil, pela lei
que rege, sem conflito internacional com o Estado terceiro, a sua sucessão.
Seria absurdo que o cônsul brasileiro, invocando o art. 18, que sé se refere a
“Brasileiros”, se recusasse a lavrar o testamento público, ou a aprovar o
testamento cerrado que se lhe apresentou. Assume feição mais delicada o
caso de se achar o testador no Estado a que pertence. Dá-se, evidentemente,
o conflito quanto à lei pessoal.: o Estado da pátria é que determina,
provavelmente, que a lei nacional.) lhe reja a sucessão; e no entanto estatui
a lei brasileira que a sucessão desse estrangeiro obedeça, integralmente, à
lei do Brasil. Se a regra jurídica do art. 18 fosse obrigatória, e não
facultativa, ainda assim seria permitido o ato: o testador estava no
consulado, cuja lei invocava para reger o seu ato. Facultativa como é, desde
que o Brasil impôs aos estrangeiros (art. 10)
Assim, os testamentos públicos podem ser feitos: a) em dias úteis, nas horas
de expediente, o que constitui o caso normal, dispensando a justificação da
letra b), aplicável nos casos das letras c) e á) b) em domingos, chamado o
oficial à casa do testador, ou no cartório (caso em que é de conveniência
declarar o motivo de fazer-se em domingo, dentro ou fora do cartório) c) em
dia feriado, nas circunstâncias da letra b) ;. á) em domingos, feriados, ou
dias úteis à noite, nas circunstâncias da letra b).
Para se exemplificar o que acima dissemos, pense-se no que foi preso e tem
de ser apresentado imediatamente dentro do lugar da competência do
tabelião e êsse vai no avião com o livro de notas e as testemunhas.
Em toda essa matéria, não há como deixar de invocar, se faltam provas pró
e contra, ou se umas não destroem as outras, o elemento decididor do favor
testamenti.
Ainda concluiu aja Turma, a 11 de junho de 1942 (1?. dos T., 143, 330), que
“as nulidades das declarações de última vontade só devem ser decretadas
em face de evidentes provas de postergação da lei; simples defeitos de
forma não podem valer para invalidar a vontade clara e expressa do
testador”.
Havemos de entender, em se tratando de minuta, que basta a entrega ao
oficial público, O testador tem de dizer que a minuta contém a sua
declaração de vontade, o que se afirma quando o oficial público escreve o
que consta da minuta e lê o que escreveu, na presença do testador e das
testemunhas, ou o lê o próprio testador, se o prefere, na presença das
testemunhas e do oficial público. Depois é que todos têm de assinar.
Unanimemente, decidiu a Turma Julgadora do Supremo Tribunal Federal,
aS de junho de 1938 (A. J., 67, 345), que a lei exige, como requisito
essencial, que o testador dite ou declare a sua última vontade; não basta a
entrega, por êle, de simples minuta, nem o assentimento final, ao ouvir a
leitura feita pelo notário. PONTES DE MIRANDA (Tratado dos
Testamentos, II, n. 210) é explícito: “O notário não pode limitar-se a copiar
a minuta ou projeto, salvo se o próprio testador o lê”.
testamento particular, escrito pelo testador, aos poucos, pode ser guardado
por êle, ou escrito de uma só vez, e só depois lido às cinco testemunhas, que
o assinam após o testador (art. 1.645, III).
-actus testaá op-ortet, dizia ULPIANO <L. 21, § 3, D., de testa menta
facere possunt et quemadmodum testamenta fiant, 28, 1), para caracterizar a
continuidade do ato.
a-> se escreveu aos poucos, com intervalos, talvez de horas, por estado
ansiante do testador em perfeito juízo, ou dores fortes que lhe proibam
continuar; b) se escreveu por mais de um dia, por serem minuciosas as
disposições e tomarem mais do tempo permitido ao testador, ou por se tratar
de texto longo; c) se foi assistido até um ponto por uma testemunha e daí
em diante por outra, por morte daquela, ou por acidente.
-ainda vai ser lido, inteiro, ao testador e às testemunhas, talvez pelo próprio
testador, se o quiser, ao oficial público e às testemunhas.
No caso b), tem-se de mencionar a causa por que cessa e se encerra o
testamento, como se estivesse pronto, dizendo o oficial público continuá-lo
no dia seguinte: assinam testador,
O que se queria era que se não diferisse para outro dia o acabamento da
cédula: niflilque cius in. diem alterum diff eratur. Não era imposição de não
passar da meia-noite, nem tautologia. A expressão uno codem que die podia
e devia explicar-se pela proibição de diferir-se: suspender-se a feitura e.
deixar-se para outro dia. Ora, quem pela noite entrou e prosseguiu no ditar,
até a madrugada, não descontinuou, não cessou, não diferiu. Diferi e supõe
salto de tempo. O imperador Teodósio tinha de dizer, como disse, die ac
tempore, porque se difere se a outro dia, ou a outra hora do mesmo dia.
Num e noutro caso, queria ele que se partisse o ato e, pois, fosse nulo.
Salvo a exigua mora, isto é, lapso que não chega a quebrar a unidade de
tempo.
Para bem nos convencermos de que a unitas actue não pode ter a mesma
essencialidade apriorística do uno contextu, basta ler-se o art. 1.632, que a
isso se não refere. Donde a consequência necessária: concreta, e não
abstratamente, é que se aprecia o requisito da unidade do ato. Aliás, êsse era
o critério das Ordenações Filipínas, Livro IV, Titulo 80. O Assento de 10 de
junho de 1817 somente exigiu que as testemunhas fossem presenciais de
todo o ato, desde o princípio até o fim. Não houve, portanto, nenhuma
inovação, ou qualquer recuo a velhos formalismos.
Uno codem que toco e e-odem toco são dizeres encontrados nas L. 8, pr., C.,
qu-i facete testamentum possunt veZ
1.633 abre a porta ao que não sabe ler nem assinar, e os arts. 1.636 e 1.637
estabelecem o plus necessário às formas, se surdo ou cego o testador.
essencial que o vejam e ouçam. Por isso mesmo, se, hoje, não podemos
estabelecer regras jurídicas rígidas quanto aos testamentos feitos por trás de
biombos (podem ser transparentes e permitirem ouvir-se a voz do testador),
ou em camas rodeadas de cortinas, o juiz não pode deixar de suspeitar, se há
outros indícios, dos testamentos em que o testador injustificadamente estava
oculto, ou, se havia razões, não se estabeleceu o suficiente para se lhe
certificar a identidade. O leal amentum cortinatum-, occzdtum, ou velatum,
sempre foi suspeito (LUDE. GHR. MADIHN, Principia inris romani de
successionibus seu de jure hereditai-jo, § 7021 P.MÚLLER, em nota a G.
A. STRUvE, W. A. LAUTERBACI-I, M.G. WERNHER (Commentationes
lectissimae ad Digesta, imprimis ad iliustranda virorum Boehmeri,
Heineecli eI Ludovici compendia, § 22) e L. J. F. HÕPFNER cogitaram de
tais testamentos, mas parece que a melhor lição deu S.L.H. DE
COCCEIUS, seguido por J. U. VON CRAMER (Academ. Redeu ilber cite
gemente und biirgerliche Rechtslehre, 1, 602) e Cmi Fa. VON GLÚCK (34,
208) : se o testador não pode ver luz e devemos generalizar: se há motivo
suficiente para a parcial ocultação ou velamento e as testemunhas podem
identificá-lo, nenhuma razão há para se reputar nulo tal testamento. Tanto
mais quanto as proximidades da morte ordinariamente se cercam de tais
cautelas e velaturas.
Claro que, durante a noite, em quarto fechado e sem luz, tudo facilita
maquinações e imposturas. (Pode ocorrer, por exemplo, que o testador não
seja o mesmo que se diz, ou alguem fale por êle, ou, ainda, se exerça
violência, que a penumbra facilite.) Alguns tratadistas fulminavam-no de-
nulidade (P. MÚLLER, nota a STRUvE, Ex. 32, th. 10, i, 11-1V),
SAMUEL STRYK (De Cautelis testamentorum, c. 15, § 39), W. A.
LAUTERBACH (Coilegium pandeetarunt theoretieo-practicvm, § 58), C.
MANZ (Trac tatus de testamento valido et invalido, 267 s.), L. J. F.
Também, durante o dia, quartos fechados podem ser escuros. Exige-se a luz
porque se exige a certeza sôbre quem testa, de quem realmente parte a voz,
e se têm de levar em consideração as mais circunstâncias de livre querer e
identificação. Seria ridículo, hoje, descermos às sutilezas escusadas de
antigos juristas, que impunham três luzes, sob pena de nulidade, conto se o
quantitativo, na espécie, pudesse ser o número de fontes luminosas, em vez
do valor da própria luz.
A declaração pode ser sôbre a minuta. Por exemplo: “aqui está o que
escrevi e contém as minhas disposições de última vontade”; “aqui está,
batido a máquina, ou escrito por C, a minha vontade, e peço que as
testemunhas e o senhor, oficial público, leiam, ou do conteúdo tomem
conhecimento”. É aconselhável, em tais casos, que o testador rubrique ou
assine o que entregou, porém isso não é essencial. O Código Civil, no art.
1.632, 1, não só se referiu ao
2 a ed.,
Assim, na- Alemanha, fundado o direito nos Motive, V, 251 e 276, e assim
no Brasil, pois a mudez exclui o uso da forma pública (art. 1.635).
Mas a própria regra jurídica do art. 1.649 supõe outra, geral, que ela,
permitindo a língua estrangeira, ressalva: a do entendimento de falar do
testador pelas testemunhas. No testamento cerrado, sim; porque, nesse, a
língua em que se escreveu pode ser diferente daquela com que se entregou o
testamento e se pediu a aprovação: o ato de entrega e o pedido é que as
testemunhas devem ver, ouvir e compreender.
que não sabe ler como poderia verificar? Dir-se-á que o analfabeto testa por
forma pública: mas o testador é um, e serviu a forma para de, com a
assinatura por uma das testemunhas, a seu rôgo. Se testemunhas, buscam-se
outras. O próprio fato de assinar, por êle, uma das testemunhas, mostra que
a lei supõe gente que leia, escreva e assine. Em verdade (redarguirão), a lei
apenas exige que saiba assinar: são testemunhas de um fato ou de fatos, e
não do ato escrito. A lei não exige que elas leiam o que assinam; basta que
ouçam a leitura pelo oficial público. Mas, ~ se o testador não sabe ler e
assinar? Então, assinará uma das testemunhas. ~Também essa poderia ser
ignorante da escrita? Aqui, seria absurdo: nem testador, nem testemunha
conferiram o que lá estava escrito. A conferência, não é preciso ter havido;
mas que pudesse haver. Testamento a rogo, com testemunhas que, todas,
não sabem ler, ~ que valor teria se não o da simples palavra do oficial
público? Aqui, como a outros respeitos, o juiz sobriamente apreciaria as
consequências, dir-se-á. Mas os perigos são sérios.
E., 98, 128). Pode sair do lugar em que se está a ler, ou a lavrar o
testamento, ou a assinar; mas tem de haver a suspensão, até que a
testemunha volte. Tão-pouco é de admitir-se que não possa haver
suspensão, sem que se intrometa outro ato (cp. 33 Câmara Civil do Tribunal
de Apelação de São Paulo, 13 de outubro de 1943, 1?. dos T., 149, 174).
-oficial” (Código Civil, art. 1.632, III). Por isso mesmo não basta dizer o
oficial público que leu ao testador e às testemunhas: é preciso que diga “na
presença do testador e das testemunhas”, pois a leitura deve ser a todos,
simultaneamente. Mas, se o oficial público, depois de usar de frase
insuficiente, acrescenta qualquer outra que fixe a simultaneidade da leitura,
vale o testamento. Exemplos: “e a todos esses atos, inclusive a leitura,
estiveram sempre presentes, e no mesmo ato, testador e testemunhas”, e
“deixa a E o prédio tal”, “deixa a B a metade do prédio tal” Quem só sabe
escrever o seu nome, e nada mais, pode testar por ato público e assisti lo,
ainda que não saiba ler (F. RITGEN, em G. PLANCK, Búrgerliches
Gesetzbuch, V, 495; cp. J. RAUSNITZ, Das Reichsgesetz ilber die
Angelegenheiteu der freiwilligen Gerichtsbarkeit, 569) . Pode assinar com a
mão, ou outro meio que não tire a individualidade do ato (J. RAUSNITZ,
Das Reichsgesetz jiber die Angelegenheiten der freiwilligen
Gerichtsbarkeit, 569) . A exigência da escritura constitui, como já ficou
dito, exigência de demografia.
Ainda que o testador ou outrem rasgue o exemplar que o oficial público lhe
deu, o que lá está escrito é o testamento, e só se revoga por outro
testamento (público, cerrado, particular, ou, dadas as circunstâncias,
especial) Quanto aos fatos de que o oficial público tem notícia propriis
sensibus, visus et auditus, faz prova plena. Por isso não faz prova plena
quanto à capacidade do testador, que podia parecer de perfeito juízo e não
no ser.
§ 5.867. LEITURA E ASSINATURAS
O Código Civil deu a ordem para as assinaturas (art. 1.632, IV:“em seguida
à leitura, seja o ato assinado pelo testador, pelas testemunhas e pelo
oficial”). Mas vemos na prática assinar em primeiro lugar o oficial, o que
constitui irregularidade e alguns doutrinadores não repararam na ordem
legal (TITO PRATES DA FONSECA, SuCe55‟Uo Testamentaria, 272 e
275). Alguns oficiais públicos assinam, dão ao testador e às testemunhas
para assinar e reassinam por fim.
Assim, pois, só é essencial: a) ser escrito pelo oficial público no livro de
notas, ditado ou declarado pelo testador, na presença das testemunhas, que
devem permanecer juntas e com o testador, até inteira feitura da cédula,
«ssistifldo (se, por exemplo, uma desmaiou e volveu, assistiu todo o tempo,
como exige o art. 1.632, II) ; 14 ser lido pelo oficial público, na presença do
testador e das testemunhas (ou pelo testador, se o quiser, na presença dessas
e do oficial, ou no caso do artigo 1.636,
-de 1949, fl.F., 133, 198; a 23 Câmara do Tribunal de Justiça de São Paulo,
a 21 de outubro de 1947, E. dos T., 171, 181: “especificadas, no corpo do
instrumento as solenidades legais, não é preciso reproduzi-las no fecho do
auto, ao prestar por fé que todas foram satisfeitas”; a
„jurídica unius positio alterius est exclusio não podia ser invocada na
espécie (J. O. VAN NES, De natura et vi argumenti a contrario petiti, 2 s.,
E II. COCK, De argumento ad anaingiam, 33-36).
2.231, 2,. faz-se mister escrita própria e assinatura. Não se admite sinais ou
marcas, se bem que, ao lado da assinatura hológrafa, noutros atos se
permitam as marcas feitas a mão, legalizadas perante o juiz, ou perante o
notário (§ 126).
502).
Sempre que alguém assina, pelo testador, assina o próprio nome, e não o do
testador. Assim no testamento público ou no cerrado. Mas, sem razão, não
era assim tão claro para F. C. GESTERDINO. 4. CUrAdO, Muco
DONELO, B. BARDILI, SAMUEL STRYK, C. MANz e LUDF. GFR.
MADIHN representaram a boa doutrina, que é também a do direito
brasileiro. Quem assina a rogo de outrem, assina o próprio nome.
testemunha especial (E.
O cego, que pode e sabe assinar, também deve fazê-lo. Bem assim, o surdo.
O art. 1.633 é regra jurídica de exceção para todos os casos em que o
testador não saiba ou não possa assinar.
Aliás, tal era a boa doutrina. As outras testemunhas podem não ter prestado
atenção ao que dizia o testador: foram rogadas, assistiram, assinaram. Mas a
que assina vai dizer, pelo testador analfabeto ou cego, que aquêle é o
testamento que o testador quer: se cego o testador, terá o oficial público e
uma das testemunhas de lê-lo, e isso garante, de algum modo, a identidade
do texto; analfabeto, pode dar-se substituição de página, ou leitura diferente
pelo oficial público. A lei era omissa no sistema jurídico romano (CRu. FE.
VON GLtYcK, 34, 53).
2 a ed., 236), a pessoa que assina a rôgo tem de ser uma das testemunhas.
-ou qualquer das outras, ao assinar, declara que o faz a rôgo do testador,
procedendo à individualização que o oficial público
Assim, sempre que há testamento perante oficial público (isto é, se está fora
de dúvida que o oficial público funcionou) ou o testamento vale e se
cumpre, ou não vale, e o oficial público responde, civilmentente, quanto aos
prejuízos causados aos. herdeiros instituidos, legatários e mais beneficiados.
Pode dar-se que o testamento nulo- seja revogação parcial ou total, diminua
encargos, ou deixe de clausular legítima, e ainda nessa espécie responde o
oficial público, pelos danos que se liquidarem.
Admitido, pela lei, êsse critério compensatório, segundo-o qual o fato de ter
a vontade sido expressa, mas nulamente, por defeito de forma, implica a
responsabilidade do oficial publico, compreende-se que o juiz seja mais
exigente no formalismo do testamento público do que, no tocante ao
testamento cerrado, na parte de ato do testador, e no testamento particular.
Se, pela legislação local, a ação corre fora do juízo de testamentos e surge
discordância quanto à interpretação das cláusulas ou disposições
testamentárias, o juiz não fica autorizado a interpretá-las. O oficial público
responde como se tivessem cumprido o testamento. E só ~ juízo dos
testamentos pode decidir em assunto de vontade do testador: interpretada a
verba no juízo de testamentos, junta-se a certidão aos autos do juízo da ação
de indenização.
Assim, se do texto escrito pelo oficial público, não consta que o testador
assinou, mas está, efetivamente, assinado pelo testador, o testamento, nem
vale êsse, nem se exime da responsabilidade o oficial público que deixou de
mencionar.
Se o oficial público não se refere a leitura do testamento, não pode ter
cumpra-se (3.~ Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, 7 de
março de 1945, 1º. dos 2º., 159, 713;
Não se sanou a nulidade, porque era insanável: o que sa tem diante dos
olhos é ato de indenização. Um testamento nulo não deve, nem pode
ratificar-se, ou confirmar-se por interessados.
Mas, nessa aparênCia, nesse mandar que seja eficaz o que, para o-direito,
não vale, nesse trocar a inexistência de direito sucessório pela existência de
ato entEe vivos, que finja aquêle, em tudo-se há de respeitar o fingido.
Salvo se, na execução voluntária,, os herdeiros legítimos (ou os
contemplados no testamento antenor válido) incluiram restrições que não
destoam da digni-dade dos atos perante o juiz.
Projeto primitivo, art. 1.806, dizia: “Todo aquêle que puder fazer as suas
declarações de viva voz e verificar pela leitura que elas foram fielmente
transladadas, está habilitado a testar públicamente”.
Ao mudo, a lei francesa permite testar com a forma secreta, se sabe escrever
(art. 979) : escrito, datado, assinado pelo testador, exigências evidentemente
exageradas.
No Código Civil alemão, o que não pode falar, nem por outra maneira
exprimir-se, somente por escrito pode testar.
2.238, alínea 2.~), e os mudos que não sabem ler (§ 2.247) ou escrever (§
2.243) . É defeito técnico de que se livrou o Código Civil suíço. Aliás, as
regras jurídicas de forma são interpretáveis, como antes deixamos assente, e
a doutrina faz bem em preencher tão graves lacunas da lei escrita.
a) ,Se o mudo, não surdo, não sabe escrever? Se pode exprimir-se, outrem
escreve, e êle ouve a leitura. ~ Como, porém, fazer o testamento? Público?
Impede-o o art. 1.635. Cerrado Teria êle de declarar ao oficial público ser o
seu testamento e querer que o aprove (ad. 1.638, V e VI). Por testamento
particular, não no poderia. Portanto, temos de admitir que, exprimindo-se
por gestos, quem pôde ditar, deve poder substituir as declarações verbais do
art. 1.638, V e VI, bem mais simples, pelos seus sinais inteligíveis. ~E a
exigência de saber ler (artigo 1.641) ?
O mudo, que não pode testar por testamento público, é a que, com a bôca e
por palavras articuladas, não pode falar.
~Será justo que no século XX haja quem possa exprimir-se e não possa
testar? Se o art. 5$ do Código Civil conhece surdos-mudos que se
exprimem e se confirma, no artigo 1.627, IV, tal reconhecimento, 2,como
deixar incapazes fora do art. 1.627? Tudo isso porque o direito de
sucessões, mais estável que o direito das obrigações, não atendeu à
possibilidade de declaração na escrita do cego ou dos surdos-mudos e,
quanto ao mudo analfabeto, não lhe deixou forma nenhuma. Nem sequer ao
mudo letrado, que perdeu as mãos. Se êle se exprime?
O art. 1.686 proveio do antigo Código Civil português, art. 1.917: “Quem
fôr inteiramente surdo, mas souber ler, deverá ler o seu testamento, e se não
souber ler, designará a pessoa que o há de ler em seu lugar, sempre na
presença das testemunhas”. Assim o Código Civil da Espanha, art. 697, o~
mexicano, art. 3.772 (art. 3.503), o uruguaio, arts. 759 e 766, e o
venezuelano, art. 849 (Si eI testador no sabe o no puede leer, se necessitan
dos testigos más de los requeridos en ei articulo 840, y d‟ebe expresar su
voluntad ante ellos de palabra). O extinto Código Civil italiano, art. 787,
alíneas
puô farlo solo con grave difficoltá, deve dichiararne la causa, e il notalo
deve menzionare questa dichiarazione prima della lettura delI atto”,
acrescenta-se, como alínea S.a: “Per il testamento deI muto, sordo o
sordomuto si osservano le norme stabilite daíla legge notarile per gli atti
pubblici di queste persone.
2.SURDO QUE LÊ E SURDO QUE NÃO LÊ. No Código Civil, art. 1.636,
prevêem-se dois casos: a) o do surdo que sabe ler, e satisfaz os dois
requisitos de falar e de ler (substituido o ouvir pela leitura feita por êle
mesmo, facilitação que se impunha por valer tanto quanto ouvir, talvez
mais, o ler o testador o que se escreveu, ditado ou declarado por êle) ; b) e o
do surdo que não lê, e indica quem por êle leia, facilitação que importa
verdadeira nuncupatividade, em ato de confiança no testador,
impossibilitado, ex hypothesi, de ouvir a leitura, como de ler.
quem há de assinar por êle? O leitor (cf. art. 1.686 do Código Civil), ou
uma das testemunhas instrumentárias de que fala o art. 1.633?
Uma vez que o leitor figurou, deve assinar, mas assinar por si, como leitor
que foi, a rôgo do testador: quem assina pelo testador é a testemunha
instrumentária com que o artigo 1.633 facilita aos que não sabem ou não
podem assinar o requisito do art. 1.632, IV, a que se não reporta o art. 1.636.
Ocorre o mesmo quanto ao cego.
Se o surdo não sabe ler, mas sabe e pode assinar, não lhe é dispensada a
assinatura: o art. 1.686 é exceção ou dispensa do requisito da leitura (art.
1.682, III), e não da assinatura (art. 1.632, IV) . Exceção ou dispensa do
requisito da assinatura foi matéria do art. 1.633. (Tudo isso era diverso no
direito romano onde êsse terceiro era subscaptor.)
(Código Civil anotado, XI, 1~a ed., sob o art. 1.149) e ITABAIANA DE
OLIVEIRA (Elementos de Direito das Sucessões, 233). Dizia CLÓVIS
BEVILÁQUA (90 s.) : “Deve ser mencionada no testamento a
circunstância, a que se refere o artigo. Não é necessário que a pessoa
designada para ler seja testemunha suplementar. Poderá ser uma das
instrumentárias, que devem estar reUnidas para ouvir a leitura.
Confrontando-se êste artigo, com o 1.633 e com o 1.638, verifica-se que o
Código dispensa a intervenção de mais de uma pessoa, no ato, sempre que o
testador não pode executar por si uma das formalidades do testamento
público, e a lei permite que outrem a execute em seu lugar”. Diferente o que
pensava ITABAIANA DE OLIvEIRA (233):
“O Código Civil, neste art. 1.636, afastou-se do seu sistema, pois, sempre
que o testador não pode executar, por si, unta das formalidades do
testamento público, a lei determina que uma das testemunhas
instrumentárias a execute em seu lugar. É o que se verifica nas hipóteses
dos arts. 1.633 e 1.637. Entretanto, a pessoa designada para proceder à
leitura do testamento do surdo não pode ser uma testemunha testamentária.
Há de ser uma testemunha suplementar, que procederá à leitura na presença
das instrumentárias”. Como resolver?
Em todo o caso, pode a doutrina atenuar a regra jurídica, pois não se trata
do caso no n. 5. Se uma das testemunhas não leu, mas o surdo cego
designou estranho para a leitura, além da que deve fazer o oficial público,
não se deve dar por nulo o testamento, porquanto a delegação de leitura é
mais do que o pressuposto especial concernente à cegueira, que teria por
fito ser verificado, auditivamente, pelo testador, o redigido pelo oficial
público, e a verificação, pressuposta no art. 1.637, o cego-surdo não pode
fazer.
O Código Civil exige que se leia duplamente: uma vez, pelo oficial público,
que o escreveu, e outra, por uma das testemunhas. Predominou não só a
exigência da leitura (assaz discutida: por ela, DANIEL NETTELBLADT,
Dissertatio de testa-. mente nuncupativo iv. seripturam redacto, 20; M. G.
WERNHER, Commentationes lectissimae ad Digesta, § 7; dispensando-a,
Cmi. FR. VON GLÚCK, 34, 35), como também a de ser lido pelo oficial
público e por uma das testemunhas.
Tal formalidade é a que se dá no art. 1.636, relativo ao surdo, porque, no
caso dêsse, a leitura não é ouvida: o ler é ato de confiança pessoal. O oitavo
verifica pelo testador. Ao passo que o cego ouve. No art. 1.637, relativo ao
cego, a lei diz que o lerá, como segunda leitura, uma das testemunhas.
No direito canônico, eram só duas as testemunhas (c. 10, IX, III, 26), vindo
de Alexandre III. O fim era facilitar os testamenta ad pias causas. A Igreja
sempre pugnou pela liberdade de testar e pelas facilitações ao dispor intuitu
morlis. Política econômica, tenaz e sutil, que veio até os nossos dias. Com
os seus prós e os seus contras.
Por onde se vê que a Seção II do Capitulo III (arts. 1.632-1.637) não traz
dificuldades de direito intertemporal.
Tudo se rege pela lei do tempo em que se lavrou o ato testamentário ou pela
lei da data da morte.
O art. 1.634, parágrafo único, não tem outra lei que a lei do ato: se lei nova
extingue ou agrava ou atenua a.
O testador podia ter atendido à lei do tempo da morte, e não atendeu. Não
se trata de forma. Veremos conclusão simétrica em direito internacional
privado. Não assim se não mais podia atender.
-pelo próprio testador. Mas negará o “cumpra-se”, por ser contra a ordem
pública, a qualquer testamento que se fêz mediante entrega por outrem de
escrito do testador ou de outrem, salvo se consta do texto que o testador
ouviu, e depois da leitura, o confirmou, subscrevendo-o. A entrega precisa
ser pessoal. Na pior das hipóteses, seguida de ato pessoal, que valha o
mesmo que a entrega. É a maior concessão que se pode fazer. Nos próprios
séculos anteriores, era forte a repulsa a tais atos do testador per alios
voluntatem suam apud acta declarante (E. CARPZov, Inrisprudencia
forensis, III, 3, 23; F. C. HARPPRECHT, Dissertatio de testamento
iudiciali, Dissertationes academ., § XI; W. A. LAUTERBACH, Dissertatio
de testamento -indiciali, § 14; J. II. DE BERGER, Qeconomia inris, 1, 358;
J. HEUMANN, De testatore per alios voluntatem suam apud acta
declarante, Rkcercitationes iuris univ., 1, § 5; W. A. SPIES, Dissertatio de
testamento per procuratorem non offerendo, passim; JUST.
CLAPROTE, Theoretische-practische Rechtswissenschaft von freiwilligen
Gerichtshandlungen, 186).
Quem seja oficial público, di-lo a lei do lugar (J. MEUMANN, De testatore
per alios voluntatem suam apud acta declarante, R‟xercitationes juris nniv.,
1, § 2; 3. A. Korp, De testa-mentis Germanorum iudicialibus et sub dia
conditis vulgo nngehat vnd ungestabt, § 12; H. C. SENCKENBERG,
Disqui.sitio acad. de testamenti publici origine et solennitatibus extrinsecis.
1‟. WALCH (Introductio in controversias juris civilis, 294) : juiz que pode
e juiz que não-pode escrever (L. G.
A lei do lugar é que decide sôbre quem deve funcionar como~ juiz ou
oficial público: por escolha, designação, alternatividade, distribuição por
escala, etc. Tratando-se de juiz colegial ou de oficiais colegiais, dirá quanto
ao número, a composição, etc. (5. C. BALSER, Libeli. sing. de forma
testamenti iudicialis externa, §§ 17, Si e 86; C.
MADHn4, Mis eetlen aus allen Theilen der Rechtsgelahrtheit, 118 s.; C. 5.
M. VALErr, Lehrbuch des praktischen Pandektenrechts 218; CER. ER. vim
GLÍYCK, 34, 27).
O testador pode testar onde bem quer. Ainda mais: ir ao estrangeiro testar.
Mas há de escolher oficial (ou juiz, se a lei do lugar tem testamento-
público) territorialmente competente (C.D. UBER e O. 5. MADHIN,
Diatribe de validitate testa,menti non rite oblati, § 19)
TESTAMENTO CERRADO
“1. Que seja escrito pelo testador, ou por outra pessoa, a seu rôgo. II. Que
seja assinado pelo testador. III. Que não sabendo, ou não podendo o testador
assinar, seja assinado pela pessoa que lho escreveu. IV. Que o testador o
entregue ao oficial em presença, quando menos, de cinco testemunhas. V.
Que o oficial, perante as testemunhas, pergunte ao testador se aquêle é o seu
testamento, e quer que seja aprovado, quando o testador não se tenha
antecipado em declará-lo. VI. Que para logo, em presença das testemunhas,
o oficial exare o auto de aprovação, declarando nêle que o testador lhe
entregou o testamento e o tinha por seu, bom, firme e valioso. VII. Que
imediatamente depois da sua última palavra comece o instrumento de
aprovação. VIII. Que, não sendo isto possível, por falta absoluta de espaço
na última fôlha escrita, o oficial ponha nêle o seu sinal público e assim o
declare no instrumento. IX. Que o instrumento ou auto de aprovação seja
lido pelo oficial, assinando êle, as testemunhas e o testador, se souber e
puder. X. Que, não sabendo, ou não podendo o testador assinar, assine por
êle uma das testemunhas, declarando, ao pé da assinatura, que o faz a rôgo
do testador, por não saber ou não poder assinar. XI. Que o tabelião o cerre e
cosa, depois de concluído o instrumento de aprovação”.
1.0.Que seja escrito pelo festador ou por outra pessoa a seu rôgo; 2.0. Que
seja assinado pelo testador; 3 O Que não sabendo nu não podendo o
testador assinar, seja assinado pela pessoa que lho escreveu; 49. Que o
testador entregue ao oficial perante as testemunhas em número pelo menos
de cinco varões e maiores de quatorze anos; 59.
Que não havendo lugar na última folha escrita do testamento para nele
começar o instrumento de aprovação, o oficial ponha no testamento seu
sinal público, e assim o declare no instrumento; 99. Que o instrumento de
aprovação seja lido pelo oficial, assinado pelo mesmo, pelas testemunhas, e
pelo testador, se souber ou puder assinar; 10.0. Que não sabendo ou não
podendo o testador assinar, assine por êle uma das testemunhas, declarando
ao pé da assinatura que o faz a rôgo do testador, por não saber ou não poder
assinar”. Veio a emenda n. 1.594 do Senado (1902) “IV. Que o testador o
entregue ao oficial em presença, quando menos, de cinco testemunhas. V.
Diga-se:
SOUSA: bastava ser dobrado. Cosido e cerrado donde o nome por tê-lo de
cerrar e coser o oficial, e não o testador, a que se concedeu cerrasse e
cosesse. Oficial vê, mas não lê. Contrária opinião: talvez pelo influxo dos
Códigos Civis francês e italiano, DuÂRm UE AZEvEDO e MARTINHO
GÂRCEz.
Não pode dispor de seus bens em testamento cerrado quem não saiba ou
não possa ler (art. 1.641). Mas, de acôrdo com o -art. 1.638, III e X, dêle
poderá usar o que, sabendo ler, contudo, não saiba escrever, curiosidade
excepcionalíssima (MANUEL DE ALMEIDA E SonsA, Coleção de
disserta çôes jurídico-práticaS em suplemento às Notas do livro terceiro
das Instituições, 113), com que CLÓVIS BEVILÁQUA procurou salvar a
inabluível contradição entre o art. 1.638, III e X, e o art. 1.641. Quem tem
capacidade para ler e entender um testamento escrito por outrem
dificilmente deixará de saber assinar. Poderá, certo. não poder; mas isto é
outra coisa. Nada justifica a exceção legal, que parte pelo meio a infima
cultura dos rudes: ler e assinar, ler só e não saber assinar.
~Quem não sabe ler não sabe escrever. Quem sabe escrever sabe ler. Se
alguém sabe ler, mas está em situação física ou psíquica de não poder ler,
não pode fazer testamento cerrado, razão por que só teria a solução do
testamento público. Quem não sabe, ou não pode ler, não pode testar por
testamento particular, nem por testamento cerrado. *
No direito suíço, a escrita dos cegos é admitida (P. TIJOR, Das Erbrecht,
Kommentar zum schweizeriscken Zivilgesetzbuch, III, 325).
Outra pessoa, mas é certo que poderá ser escrito por uma das futuras
testemunhas. (O‟ art. 1.639 permite que o seja pelo próprio oficial, que o
vai aprovar.) O auto de aprovação é outra solenidade. Assim, a Relação de
Minas Gerais, a 5 de abril de 1922, porém com o só fundamento de não
haver na. lei proibição expressa.
O testamento cerrado pode ser feito em qualquer material que receba escrita
(papel almaço, acetinado, avergoado, celofane, papel ou pano gessado;
perganinho, fazenda, couro, ou outro material em que se possa escrever).
Não é permitido escrever-se a máquina, nem imprimir-se.
A escrita pode ser com a mão, ou com o pé, ou com a bôca, ou com outro
órgão (e. g., o resto do braço), O que importa éque seja escrita. A despeito
de estar nos textos romanos a referência à manuscrição, à mão (“vel ipsius
testatoris, vel cuiuslibet alterius manu conscriptam), o que se há de entender
é que só se exige que escreva o testador, ou alguém, por êle,. a rôgo. O
Código Civil brasileiro apenas se refere a ser “es-crito pelo testador, ou por
outra pessoa, a seu rôgo”.
a) O testamento cerrado pode ser escrito pelo testador, ou por outra pessoa,
a seu rôgo. Se admitíssemos que o testador ou a outra pessoa o escreva a
máquina, teria de ser assinado pelo testador, porque somente pode assinar, a
rôgo do testador, quem o escreveu.
Quase sempre o testador ou outra pessoa redige minuta. A minuta pode ser
feita pelo próprio testador, ou por outra pessoa, e. g., advogado, e a cédula
testamentária, que nela se baseia, ser escrita e assinada pelo testador ou por
outra pessoa, que não é a que fêz a minuta (5.~ Câmara Civil do Tribunal de
Justiça de São Paulo, 3 de outubro de 1952, 1?. dos T., 206, 154).
Basta que assine pelo testador, para que se lhe exija poder ser testemunha
testamentária (E. Orro, Servius S‟ulnicius, 52; C. O. HÚRNER,
Di.sputationes testamentarinie, 68-74; F.KÀMMERER, Beitráge zur
Geschichte und Theorie des rãmischen Reckts, 208-227).
Assim, ficam sujeitas ao art. 1.65-0 as pessoas referidas nos arts. 1.633,
1.636, 1.687, 1.688, 1, 1H e 3<, e 1.689.
Surgem questões.
A assinatura do testador é uma só. Não é preciso que assine cada página, ou
que rubrique. Quem escreveu e assina a rôgo só tem de lançar a assinatura
no fim da cédula testamentaria.
Dír-se-á que não há tão grande perigo no testamento cerrado, porque, neste,
o testador, que o levará à aprovação, o receberá das mãos do oficial, cerrado
e cosido (art. 1.638, XI). Não é verdade, pela alografia e pela possibilidade
material de se abrir, criminosamente, o invólucro.
Pode ser já o dissemos em carta, volume, placa, ou o que quer que seja.
VIII, “por falta absoluta de espaço na última fôlha escrita, o oficial ponha
nele o seu sinal público e assim o deQlare no instrumento”. Portanto, o sinal
público há de ser no lugar do fechamento ou do lacre, ou do fechamento e
do lacre. Se não se dá tal interpretação ao art. 1.638, VII e VIII o testamento
cerrado nunca poderia ser entregue fechado, ou fechado e lacrado.
Se o testador entrega a cédula aberta, o oficial público só o há de ler e só o
pode ler se o testador o sugere ou !ho pede.
Trata-se de ato pessoalíssimo. E não só pessoalissimo ato que tem por fim
deixar certo qual o testamento de que se trata. Pessoalíssimo, para que se
identifique o testador; imediatamente relativo à determinado escrito, para
que se identifique a cédula testamentária.
A lei não fala em ser assinada pelo testador a declaração‟ feita pelo surdo-
mudo ou pelo mudo; de jeito que não se pode reputar requisito essencial, ai,
a assinatura do testador declarante.
O testador tem de dizer que o testamento é seu e que o tem por “bom, firme
e valioso”, isto é, válido e eficaz (com o auto de aprovação, entenda-se).
Não precisa empregar as mesmas expressões, que aliás se afastam, com a
imprecisão da praxe, da terminologia científica. O oficial público tem de
lançar o que signifique considerar o testador que aquele é o seu testamento,
que atendeu às exigências legais (xx é válido) e, com o auto de aprovação,
terá a eficácia para o futuro e a eficácia revogatória, que é a de alcance dos
testamentos anteriores ou do testamento anterior. Mesmo se o testador não
empregou as expressões que a lei râncidamente conservou (na esteira das
Ordenações Filipinas, Livro IV, Titulo 80, § 1.0), nada obsta a que o oficial
público as lance.
de agôsto de 1811, que, declarando a Ordenação, Livro IV, Título 80, § 1.0,
proibem antepor, pospor, ou substituir por equipoléncia, as formas
prescritas nessa Ordenação, nunca devem entender-se de uma observância
supersticiosa da lei, que, olhando só para a letra, destrua sua verdadeira
intenção; mas sim das formalidades substanciais do testamento, que se não
podem, nem devem, confundir com a anteposição, posposição, ou
substituição de palavras, que tenham a mesma significação”.
-mudo nem mudo, não puder falar ou por acidente ocasional ou por
prescrição médica após operação, ou pela impossibilidade material criada
pelos aparelhos.)
Uma vez que a tradição tem por fim evitar a substituição do testamento e
comprovar a sua identidade, não bastariam os gestos, não traslativos, do
testador. Em 18 de junho de 1869, a Relação do Rio de Janeiro decidiu que
a entrega por outrem, apontando o testador a cômoda em que estava o
testamento, não poderia ser suficiente. Em 22 de dezembro de 1900 e 13 de
junho de 1901, julgou a de Minas Gerais ser essencial o recebimento das
mãos do testador, em presença de todas as testemunhas, em situação de
poder ver o testador e o ato, e de ouvir as perguntas ou declaração. Tudo
isto é perfeitamente certo, mas há casos extraordinários, que convém
meditar: a)O testador sem mãos: seria absurdo reduzir a tradição à entrega
manual, quando as mãos, instrumento ordinário da tradição das cédulas, não
existam. Será conveniente que o oficial declare a circunstância
extraordinária e diga em que consistiu o meio identificador da cédula
entregue.
1.638. Fora disso, quaisquer nulidades não são absolutas e têm de ser
apreciadas pelo juiz (II, 150)”.
onde devia ser exigida a declaração, não no foi (Código Civil,. art. 1.638,
V). O oficial público tem de declarar o que o testador lhe disse: bom, firme
e valioso, ou outra frase que valha o mesmo. Não se poderia persistir na
obsoleta interpretação do Assento de 10 de junho de 1817, que, no § 3,
procurou explicar a Ordenação: “Com a declaração do testador de que é o
seu testamento, que o há por bom, firme e valioso, ou, na falta desta
declaração, com a resposta do testador ao tabelião dadas. as perguntas
declaradas no § 1.0 da Ordenação citada”. Tão-
e a jurisprudência.
Testamento cerrado, que acabou com a última fôlha tôda escrita, tem de
levar o sinal público que o ligue, por êsse expediente, ao auto de aprovação,
lavrado em outra fôlha. Se não no tem, nada o prende ao auto, e é nulo (J .
A.
O oficial público não pode quebrar a unidade do ato, como se, a despeito da
saida ou do desmaio, de uma das testemunhas, entende que deve continuar.
Aí, há infração; em caso de decretação de nulidade, há responsabilidade do
oficial público.
Não há regra jurídica sôbre a duração das formalidades do auto de
aprovação. A continuidade, a unidade, tal o que importa. A entrega da
cédula testamentária pode ter sido às onze horas da noite e só ser assinado o
auto de aprovação no dia seguinte, razão para se dizer a que horas se vai
assinar.
Se êste não sabe ou não pode, assina por êle uma das testemunhas,
declarando, ao pé da assinatura, que o faz a rôgo do testador, por êsse não
saber ou não poder assinar (art. 1.638, IX e X). Tal assinatura a rôgo nada
tem com a assinatura, a rôgo, da cédula (art. 1.638, III) : a da cédula será
necessàriamente, se a rôgo, feita por quem escreveu o testamento; a do
instrumento de aprovação necessàriamente, por uma das testemunhas.
A testemunha que assina pelo testador, tem de ser a pessoa que satisfaz as
exigências para ser testemunha. É uma das testemunhas que constam do
auto de aprovação, rodem elas ser cinco, ou mais, porque o Código Civil,
no art.
A testemunha que assina a rôgo do testador não precisa assinar duas vêzes.
Por vêzes, apenas explicita que “assina por si e pelo testador, a seu rôgo”.
A testemunha que, a rôgo, assina pelo testador, não basta que assine: precisa
declarar, ao pé da assinatura, que o faz a rôgo do testador e a razão de o
fazer. ~ requisito essencial (Código Civil, art. 1.638, X). Se o não declarou,
é nulo o testamento (JOAQUIM AUGUSTO FERREIRA ALvES,
Consolidação das Leis relativas ao Juizo da Provedoria, 89). Mas a
Relação do Rio de Janeiro, a 29 de outubro de 1869, decidiu que, escrito e
assinado pelo oficial público, na impossibilidade de o fazer o testador, não é
caso de nulidade se não repetiu no auto de apro
Questão delicada é a de se saber se, dito pelo oficial público o motivo por
que não no assinou o testador e quem a seu rôgo vai fazê-lo e só assinando
a testemunha o auto de aprovação, vale o testamento. Cumpre distinguir:
a)Exemplo de TEIXEIRA DE FREITAS (Consolidação artigo 1.055, nota
19) : a testemunha assina a rôgo, sem declarar porque o faz. Solução: vale o
testamento: ela assinou a declaração do oficial público e o seu dizer “a
rôgo” inteiramente o reconhece
-factum est per tabellionem quam per testem... Verosimile est Legislatorem,
si in hoc casu fuisset interrogatus, responsurum sufficere Notarii
declaratonem, per quam fraudes eliminantur”.
O Código Civil não fala de data do auto de aprovação. Se bem que não se
deva permitir a oficiais públicos lavrar autos, quaisquer que sejam, sem
datar, para jue êle e as testemunhas (ou êle e figurantes do negócio jurídico)
assinem, a omissão do Código Civil deixa sem a sanção de nulidade a falta
do oficial público, em se tratando de testamento. A datação édever do
oficial público, quer o testamento seja público, quer seja cerrado.
~ Quid juris, se o oficial público não disse quem vai assinar, nem a
testemunha-assinante o declarou?
Se mais testemunhas do que a lei exige figurarem, melhor será, mais forte a
prova instrumental (Relação do Rio de Janeiro, 3 de dezembro de 1878). ~
de mais ir além de cinco, dizia JOÃO MONTEIRO (Aplicação de Direito,
51) ; em mais de cinco, há sempre cinco.
Ç de grande utilidade, ao lançar no seu livro a nota do lugar, dia, mês e ano
em que o testamento foi aprovado, e entregue, registar o oficial público
todos os atos de individuação das testemunhas (idade, naturalidade,
profissão, domicílio e residência).
Falta saber se, cerrado e cosido pelo testador, precisa o oficial público
novamente cosê-lo. Cumpre distinguir: a) Se o auto continuou após a última
palavra, deve o oficial público declarar que o recebeu em tais condições e
reforçar o fechamento ou recosê-lo de modo a assegurar a autenticidade
dêste ato, porque o “cerrar e coser” ficou, por lei, ao oficial público. Se
achar que bastam o fechamento e a costura, conforme lhe apresentaram, terá
de dizê-
lo no auto para que-constitua uma como ratificação do fechamento e da
costura pelo testador.
Somente uma vez o Código Civil se referiu ao sinal público: no art. 1.638,
para o caso de não haver espaço na última fôlha de papel escrita e em
conseqúência disto ser impossível começar-se, nela, o auto de aprovação.
Mas a questão e velha, por terem alguns, como FERREIRA ALVES
(Consolida Ç‟ w das Leis relativas ao Juizo da provedoria, 85), treslido o
que, no-seu tempo, decidira o senador OLIVEIRA, que mais esclareceu do
que refutou a JOÃO R‟ODRIGUES CORDEIRO (Dubitationes in Foro
frequentes, 9, n. 21). Escrevia, com tôda a justeza, o velho-julgador: “Note-
se, que não requere sinal público, senão 110 caso de se pôr na fôlha
apartada; de que resulta, que, se no-instrumento da aprovação não fizer
sinal público, mas raso, ou na nota, quando nela se fizer instrumento aberto,
não será o testamento nulo, e assim o julguei”. Qualquer que pudesse ter
sido a melhor solução para o direito reinícola, o que é certo-hoje em dia a
opinião de OLIVEIRA ~ a que melhor se. ajusta à letra e à interpretação do
Código Civil: trata-se de requisito essencial, o sinal público, para o caso
ezcepcionfitl (achar-se tôda a última fôlha ocupada pela escrita do testador).
Se ocorrer que a lei do tabelião lha exija a aposíçao do sinal no auto de
aprovação, sem distinguir o caso ordinário e o extraordinário, tal
providência legislativa, de direito estadual, não poderá ter o efeito de criar
nulidades de testamento. Dela somente poderá resultar penalidade ao oficial
público.
O uno contextu quer dizer sem interrupção para outra coisa ou ato: nou
miscetur actus testamento alienus (ANTÔNIO DE SOUSA DE MACEDO,
Decisiones Supremi Senatus Iustitiae L<usitaniae, d. 4, 5, 15).
Quanto à cédula, não: pode ser feita num tempo, e noutro levar--se à
aprovação; fazer-se aos poucos, conforme fôr entendendo o testador, como
ocorre à estrutura do testamento particular.
1.638, X.
Mas tal providência não consta do art. 1.638 do Código Civil: não constitui,
portanto causa de nulidade. Pelo fato de a mencionar o art. 1.643, da
infração resulta poder ser punido, disciplinar ou criminal mente, o oficial
público
1.TEXTO LEGAL Diz o código Civil, art. 1.639: “Se o oficial tiver escrito
o testamento a rôgo do testador, podê-
não obstante, aprovar”. Já no Projeto revisto, art. 1.975: “Se o oficial tiver
escrito o testamento a rôgo do testador, podê-lo-a não obstante aprovar,
como pessoa pública”. Cf. Projeto de FELiCIO DOS SANTOS, art. 1.621.
“E por pluralidade de votos foi assentado pelos Ministros, que não tinham
nulidade alguma, proveniente desta causa, quaisquer testamentos escritos na
forma da lei por qualquer Tabelião, e depois aprovados pelo mesmo;
porque, não havendo ordenação que o proiba, o que a lei não distingue, nós
não devemos distingUir, e rogando nulidades nos atos, que os não têm. E
para não vir mais em dúvida, se tomou êste Assento, que assinou o dito
Senhor com os dembargadores, que nele votaram”. Antes tinha dito: “Foi
proposto, que havendo variedade de julgar sôbre os testamentos feitos na
forma da ordenação, Livro iv, Título 80, § 1, os quais, sendo escritos por
algum Tabelião, se duvidava se êste podia ser o mesmo, que depois os
aprovasse, escrevendo o ato legal da sua aprovação, ou se ficavam nulos,
por ser a mesma pessoa praticando dois atos, um como pessoa pública,
outro como particular”.
Dai a dúvida:
1.059).
~ Quid luris, se, aprovado por um, leva a outro oficial público para que
ponha o seu sinal, desenvolva-o, cerre a nova carta, recosa e lacre? O
testamento, com a primeira aprovação, ficou ato perfeito, mas abundans
cautelas non nocet.
1. TEXTO LEGAL. Diz o Código Civil, art. 1.640: “O testamento pode ser
escrito, em língua nacional ou estrangeira, pelo próprio testador, ou por
outrem, a seu rôgo. A assinatura será sempre do próprio testador, ou de
quem lhe escreveu o testamento (art. 1.638, n. 1)”. No Projeto primitivo,
art. 1.810:
1. TEXTO LEGAL. Diz o Código Civil, art. 1.641: “Não poderá dispor de
seus bens em testamento cerrado quem não saiba, ou não possa ler”. No
Projeto revisto, art. 1.977: “São inábeis para dispor de seus bens em
testamento cerrado os que não sabem ou não podem ler”. No Projeto de
COELHO RODRIGUES, art. 2.451: “Aquele que não pode ou não sabe ler,
não pode fazer testamento cerrado”. Veio o artigo alterar o sistema do
Código: por isto foi proposta a supressão (Trabalhos, VI, 496 e 540). Com
êle criou-se a figura singular do sabe e pode ler, mas não sabe assinar; com
êle, permitiu-se ao analfabeto o testamento público, sem se lhe permitir o
cerrado.
§ 5.881. Surdo-mudo
Dispensa-lhe uma e outra coisa. Por isto mesmo, o surdo, que não é mudo,
pode testar, por testamento cerrado, pois que fala (a~t. 1.638, V) e lê (artigo
1.641), invocando a dispensa maior que aos surdos-mudos se concedeu, O
mudo, que não é surdo, não diz o que lhe exige O art. 1.638, V, porém lê e
ouve, e não seria razoável que se lhe vedasse a dispensa do art. 1.642 na
parte de substituição da. declaração oral pela escrita.
a) A entrega ao testador. Não significa ato de mão a mão, mas tradição por
todos os meios que a lei admite. Se o oficial público, retirando-se, deixa na
cabeceira do doente o testamento, dizendo que aí fica, ou sai, despedindo-se
normalmente, apontando o documento, com o intuito de não molestar o
testador moribundo, tudo isto vale entrega.
„76, § 3, e nas Ordenações Filipinas, Livro IV, Título 80, § 3), deviam ser
publicados por autoridade de Justiça, chamados os interessados, se não
tivessem nos cantos o instrumento público. Só o particular, hológrafo ou
não, escrito ou oral, se publicava. Mas o prazo de publicação não se fixou.
Nem leis posteriores o disseram. Onde há fé pública, dizia-se, não é preciso
publicar-se, e o prazo pareceu injustificado.
O art. 1.644 do Código Civil vem firmar que o testamento cerrado será
aberto pelo juiz, que o fará registar e arquivar no cartório a que tocar. Não
era escusado dizê-lo. O Código Visigótico dava a publicação ao sacerdote
perante testemunhas, salvo se a rôgo ou oral. Disto se aproveitaram os
párocos para as publicações de todos os testamentos, ainda aqueles que não
precisavam disto.
Como quer que seja, e a despeito da Lei de 21 de maio de 1349 (função que
outrem usurpou é função desprestigiada), alguns escritores entenderam,
bastando citar a PASCOAL JosF DE MELO FREIRE (Institutiones iuris
civilis insitani, 1, 5, § 52; III, 5, § 10), que a abertura podia ser pelo pároco
ou por outr4 pessoa. No ato dos enterros, perante a irmandade, ou
acompanhamento. Passavam os párocos a certidão da abertura. O que se
devia fazer a abertura pelo juiz, conforme MANUEL DE ALMEInA E
SOUSA (Coleção de dissertacões e tratados vários em. suplemento às
Segundas Linhas, 195), atestava ter visto.
HENRIQUE DA GAMA BARROS (História da Administração pública em
Portugal, III, 301) via na prática da abertura pela sacerdote persistência da
tradição visigótica.
“Scripta voluntas defuncti ante sex menses coram quolibet sacerdote, vel
testibus publicetur”. Se recorrermos à L.
12, encontraremos: “infra sex menses iuxta legem aliam sacerdoti pateant
publicande”. Portanto, tinha de abrir-se perante o pároco com a presença
das testemunhas (cf. L. 10) e não perante as testemunhas. HENRIQUE DA
GAMA BARROs (História da Administração pública em Portugal, 299),
que viu no vel um et (coisa que já apon tamos, hoje em dia, no Código Civil
alemão e no brasileiro), podia ter concluído pela interpretação da alternativa
em vez da copulativa, que seria a explicação certa.
como a regra bens regit actum é a que domina a forma, mas sem excluir a
facultatividade da lei pessoal, pode ocorrer, no domínio do direito
internacional privado, que se ressalve, na dúvida, a observância de uma lei.
O que é preciso é que uma lei possa, no fôro, ser aplicada, e de acôrdo com
ela valha o testamento.
O maior argumento contra tal regra consiste em poder o testador ter querido
que o testamento valesse como cerrado, e não como hológrafo. Se não vale
como aquele, não vale como êste. Seria levar demasiado longe o
formalismo, querer-se que o testador possa fazer depender da forma, que é
secundária, a sua vontade, que é principal. Não seria, sequer, séria, essa
vontade de forma exclusiva; nem se havia de presumir. Aliás, o legislador
romano, na L. 3, D., de testamento militis, 29, 1, acertadamente dissera: .....
nec credendus est quisquam genus testandi eligere ad impugnanda sua
iudicia, sed magis utroque genere voluisse propter fortuitos casus”. Cf. R.
TROPLONO (Le Droit civil expliqué suivant l‟ordre des articles du Code,
n. 1.654), V. MARCADÉ (Ex plication théorique ct pratique du Code
Napoléon, nota ao art. 976) e MARCEL PLANIOL (TraiU élémentaire de
Droit Civil, 1H, 2.719, 671>.
e)A leitura pelo próprio oficial público e a assinatura dêle, das testemunhas
e do testador, se puder (ou, se não puder, a precaução do art. 1.638, X).
f) O cerrar e coser.
se testamento foi feito antes do Código Civil, não cabe perguntar-se, nem
discutir-se se, escrita pelo testador a cédula, precisava ser assinada pelo
próprio. Mas, quanto às expressões bom, firme e valioso, persistiria a
discussão: se sacramentais, ou se não sacramentais. A própria leitura não
era expressamente exigida. Testamento feito na vigência do Código Civil,
porém, pelo influxo do direito anterior, não lido, teria de obedecer à lei da
feitura, ainda que o legislador, ao tempo da morte, tivesse revogado o -
Código Civil e reimplantado o texto das Ordenações Filipinas.
Cp. Código Civil francês, arts. 976 e 977; italiano revogado, arts. 782 e
783; português revogado, arts. 1.920 e 1.922; espanhol, arts. 680, 706 e
707; argentino, art. 3.666; chileno, arts. 1.021 e 1.023; uruguaio, arts. 801-
808; venezuelano, artigos 889 e 845-847; boliviano, arts. 446-450;
mexicano, artigos 8.486 e 3.506-3.514 peruano, arts.
Estado terceiro não deve ter o procedimento que teria no caso referido no n.
2, in fine: salvo princípio seu, nada louvável, por importar absolutismo
inumano da i ocus regit actum, aplicará a lei pessoal, se interessada na
sucessão. (Pode ser que não esteja, isto é, que o conflito não se dê, como se
todos ós bens se acham no Estado da beco boi, se não há herdeiros segundo
a lei pessoal, e pois nenhum inconveniente existe em se reconhecer validade
no país do lugar.)
O Estado terceiro propenderá para o Estado da beco boi: não havia razão de
ordem subjetiva para a proibição do segrêdo. Se o testamento fôr fechado
público, ao Estado da lei pessoal será aconselhável não levar o seu princípio
ao ponto de ferir o principio de validade dos atos públicos regidos pela beco
boi. Trata-se, positivamente, de um êrro de política jurídica.
Tôda a matéria dos arts. 1.638 e 1.639 do Código Civil constitui objeto da
lei do lugar. Bem assim, a do art. 1.643.
na parte concernente à nota que no seu livro deve tomar o oficial público.
Mas, na questão processual da validade do testamento, e pelas razões que
antes demos sôbre a entrega, ou depósito de livre retirada pelo testador,
constitui matéria de ordem pública.
Registado o testamento, somente pode sair do cartório por ter sido proposta
a ação de falsidade ou de invalidade e mediante despacho do juiz que
atenda a requisição por outro para perícia, ou para isso, se tem competência
para a ação. De qualquer modo, se o original é deslocado do cartório, tem
de ficar traslado.
CAPÍTULO XXII
TESTAMENTO PARTICULAR
~5.886. Dados históricos sôbre o testamento particular e o texto legal
1.“TESTAMENTUM BOLOGRAPRUM”. Vulgarmente se diz que o
testamento particular (Código Civil, arts.
O que ocorreu no norte da França, onde êle veio a tornar-se costumeiro, não
foi o influxo da recepção do direito romano: tal favorecimento consistia no
testar, e não no testar hologràficamente, tanto assim que, na França,
persistiam a variedade de usos, respeitada pela Ordenança de 1785, art. 19,
e a tentativa de unificação, feita por MICHEL DE MARILHAÇ, Ordenança
de 1629, art. 126: os Parlamentos do Meio-dia recusaram registá-la ou só a
registaram com a reserva da Novela 107 <testamento inter liberas).
Esta ressalva deve ser feita pelo próprio disponente antes de datar e assinar
o instrumento”; art. 1.813: “O testador fará a leitura de seu testamento
perante cinco testemunhas idôneas, antes de assiná-lo”. Projeto revisto, art.
1.982:
“São requisitos essenciais do testamento particular: 1.~ Que seja feito pelo
testador, ou por outra pessoa a seu rôgo; 2.0 Que intervenham cinco
testemunhas, varões e maiores de 14 anos, além do testador ou do escritor,
ou signatário do testamento; 3 0 Que seja lido perante as testemunhas, e,
depois de lido, por elas assinado”. A emenda 1.601 do Senado Federal
riscou o que pudesse permitir o testamento particular a rôgo.
Nas Ordenações Afonsinas (Livro IV, Título 103, § 2), não vem o requisito
da holograf ia, e tinha de publicar-se.
Quando o escreveu, não o fêz sem lição de outros, que deve ter lido, além
dos que citou (SAMUEL STRYK, [[sus modern., pandectarum specimen,
L. 29, T. 3, § 4; G. L. BOERMER, Ad Iust T. qui testam. fac. poss., § 35).
Era o mesmo que ensiiiavam G. A. STRUVE, A. FABER e outros.
Nuncupativo e hológrafo eram coisas diversas: diversas deviam ser as
soluções. Antes de se descobrir o Brasil, já era êrro, êrro contra a tradição
do direito peninsular e êrro de interpretação das Ordenações. A verdade
estava com o uso moderno, firmado por SAMUEL
Os
“Le testament olographe ne sera point valable, s‟il n‟est écrit en entier,
daté et signé de la main du testateur: il n‟est assujetti à aucune autre
forme”.
Otestamento que os legisladores do Código Civil perseguiram, HEINRICE
DERNBURG (Die Auslegung der Testamente, Deutsche Juristen-Zeitung,
11, 4) também considerou fonte de inconvenientes, e EMIL STROI-IAL
O direito inglês supõe o lugar e a data, mas não há disposição especial sôbre
o assunto, que, na falta, fulmine de nulidade o testamento (MARTIN
LIEBEGO‟rr, Nachlassbehandlung im englischen Recht, Arch,iv flir
Rutrgerliches Reeht, 38, 850).
A datação nada tem com a declaração de última vontade, por isso mesmo
que esta vontade é última. Demais, se o Código Civil francês fala em “date”
e o direito badense em lugar. dia e ano, o Código Civil alemão satisfez-se
em dizer Angabe -do lugar e do dia, mas êste Angabe também é equivoco:
tanto pode ser facultativo de datação real, quanto requisito formal exato. As
circunstâncias é que podem fazer essencial a data.. Esta, por si só, não é
requisito formal. O legislador alemáoA foi além, no seu construir, do que
lhe permitiam os dados contemporâneos de ciência. Por isto mesmo, a
despeito do texto, as questões ficaram.
Se dois ou mais testamentos não têm data, claro que se torna essencial a
datação; mas a essencialidade não é formal. Por outro lado, pode ocorrer
que um testamento seja feito em lugar que exija a data, e outro, em lugar
que a dispense. A situação será bem difícil de resolver-se. Mais: inevitável
o exame das circunstâncias, dos dados realmente informativos do tempo da
feitura.
No Código Civil suíço, art. 505, o legislador foi mais ex!-gente: menção do
lugar, ano, mês e dia da feitura (ed.
alemã:
Ángabe von Ort, Jahr, Monat und Tag der Erriektung; ed. francesa: mention
du ijeu, de tannée, du mois et du jour ou l‟acte a été dréssé; ed. italiana: iii
eni fu serilto). Porém, ainda assim, a data do lugar e a data do tempo
suscitam. dúvidas no direito suíço. (Conforme dissemos, as leis de forma
são suscetíveis de interpretação.> Quanto à data do lugar, o Ortsdatum, não
é a do lugar do domicílio, mas o da feitura. Se o testador está em viagem e
não conhece o lugar em que se acha, bastam indicações.
§§ 5.889-5.891. PRECAUÇÃO E REQUISIToS
Quanto à data do dia, logo se assentou que vale o mesmo: ano nôvo de
1969, dia da festa federal, no dia de aniversário do meu casamento em
1970. Um tanto duvidosa, por exemplo, a referência ao “dia do noivado”.
Se houve êrro ou descuido do testador, uma vez que se possa retificar o
engano, pela convicção dos fatos, não se reputa essencial a exatidão.
Em tudo que toca à forma, o tempo que decide é o em que se fêz, e não
aquele em que vai executar-se, ou aquele em que se quer que a disposição
se efetive (FRIEDRICE AFEOLTER, Das intertemporale Ilecht, 334).
Exemplo: um alemão escreveu o seu testamento antes de janeiro de 1900,
mas apôs a data posterior (2 de fevereiro, ou 5 de agôsto de 1900) para se
aproveitar da lei que ainda não entrara em vigor, o testamento foi nulo.
Porém pode ocorrer: a) que a lei nova repute insuficiente a forma da feitura
(de um testamento, por exemplo) e, a despeito da perfeição do ato, obrigue
quem os fêz a satisfazer novas formalidades; b) que a lei nova repute
suficiente o ato defeituoso que antes fôra praticado. Em ambos os casos,
está visto, supõe-se texto expresso a respeito da necessariedade posterior ou
da posterior invalidação.
Mas cumpre advertir: a) que a regra jurídica bens regit actum éfacultativa;
b> que pode a lei pessoal proibir ao testador alguma espécie de testamento,
ou mesmo só lhe admitir a forma pública.
No Código Civil italiano de 1942, diz o art. 602: “II testamento olografo
deve essere scritto per intero, datato e sotto scritto di mano dei testatore. La
sottoscriziofle deve essere posta alia fine delie disposiziofli. Se anche non ~
“em minha Vila”, é válido. Mas não nos parece justo considerar-se, a priori,
nulo, se muitas vilas tem o testador, como se lê em EDUALtD HtiLDER
(Das eigenhãndíge Testament, Jherings Jahrbiieher, 41, 308 s.) e A.
Para os sistemas em que se exige a data exata, surge questão: ~,quem tem o
ônus da prova? Ora, em tais códigos, e em todos os sistemas jurídicos, o
testamento particular não é documento de prova, mas ato perfeito, a própria
vontade última do testador. Quem alega contra êle, que faça a prova (EMIL
JÂÇOBY, Das eigenhÀndige testament im 8GB., 85).
-não terão de ser lidos. Portanto, podem ser escritos noutra língua, viva ou
morta, natural ou artificial, ainda que não na compreendam testemunhas e
oficial público. Testamentos particulares, êsses, têm de ser udos perante as
testemunhas. Depois de lidos, assinados por elas (Código Civil, art. 1.645,
III) e pelo testador (art. 1.645, 1). De nada valeria a leitura, se as
testemunhas não entendessem a língua em que foram lidas as disposições.
Daí a exigência geral de compreenderem elas a língua em que o testador
redigiu, hologràficamente, o escrito testamentário (art. 1.649).
Noutros Códigos Civis, há o art. 688 do Código Civil espanhol (alínea 33:
“Los estranjeros podrán otorgar testamento ológrafo en su propio idioma”)
e o art. 3.641 do Código Civil argentino (“puede escribirse en cualquier
idioma”). No Código Civil alemão, o próprio testamento perante o juiz ou
notário pode ser feito por quem não saiba a língua alemã e os §§ 2.244 e
2.245 regulam a função do intérprete. Não ocorre o mesmo no Brasil.
É preciso que êle conheça, ou, pelo menos, possa verificar se os seus
pensamentos foram precisamente concebidos na língua morta, estrangeira,
ou artificial. É pressunosto de ordem subjetiva, intrínseca. Se não o
exigirmos, pode o testador dizer o que não quis, no copiar o texto que lhe
traduziram. Daí afirmarem alguns (e.g., WALTIIER
BROCK, „77 s.; F. RI‟i‟GEN, em O PLANCE, Biirgerliches Gesetzbuch, §
2.238, nota 5; contra, 1-1. JASTROW, Formularbuch und Notariatsrecht,
1, 176) que o disponente precisa poder conceber, na língua empregada, os
seus pensamentos, ou conferir com o que pensou o que se traduziu (EMIL
JACOBY, Das eigenhttnditie Testament, 40).
Mas a nulidade, aí, não é formal: é de declaração. O juiz não pode decretá-
la de ofício, salvo se do texto consta que o testador não sabia a língua e
confiou em alguém, que traduzisse as suas últimas vontades. Ter-se-á
tornado vicio externo, porém não no era. Exemplo: “e termino o meu
testamento, redigido em grego, que eu não sei; mas dei a minuta a J., que o
verteu para aquela língua e eu copiei”. A diferença que resulta de se ter
extrinsecado, mas não ser, ordinâriamente, requisito formal, é de eventuais
conseqúências práticas, e pó-mo-lo em relêvo, tanto mais quanto a doutrina
passa sêbre o assunto das línguas estranhas sem ferir êste ponto, que éde
importância.
No direito civil brasileiro, que não exige a data, se esta foi aposta, há de
presumir-se verdadeira. Nem seria de aceitar-se presunção de fraude à lei.
Se o testador, por exemplo, antedatou ou pós-datou para fraudar as regras
jurídicas sôbre capacidade, provado isto, não seria de admitir-se que
permanecesse a eficácia presuntiva. O que é em fraude da lei cai por
nulidade. Em têrmos gerais, será admitido à prova da falsidade do datar
quem quer que nisso seja interessado: os herdeiros legítimos que foram
citados para o processo de publicação, o próprio herdeiro instituido ou o
legatário que, por exemplo, no caso de dois ou mais testamentos, um dos
quais revoga parcialmente o outro, tiver interêsse em provar que a data de
um foi aposta por mão de outrem. Pode ter ocorrido coaçao, não na feitura
do testamento, e sim na aposição postenor de uma data, caso que constitui
matéria de anulabilidade do elemento viciado e estranho ao que se dispôs
em ato com forma suficiente de testamento. Mas mudou-se de questão. Tal
caso é similar de outros, que poderiam ocorrer pelo êrro, ou pelo dolo.
Uma das conseqúências de não se exigir unitas actus, ainda no Código Civil
alemão, que fala em designação de lugar e de data, é poder ser escrito aos
poucos o testamento, datando-o de cada dia o testador (WALTHER
No direito brasileiro, que tem a leitura, o que é de mister é que seja lido às
testemunhas (e interpretamos: ou elas leiam, -cada uma por sua vez, perante
as outras e o testador) e depois o assinem.
c)Testemunha que não confirma. Pode ocorrer que uma das testemunhas
não confirme a assinatura ou as disposições. É velha a discussão, e dela deu
conta P. MÍYLLER, em nota a G.A. STItUvE (S~ntagma iurisprudentiae, e.
34, t. 42) “Cum quis testis aperte suum sigilium negat, neque nunquam
apposuisse dicit, tunc testamentum suspectum redditur. Cum qul sinipliciter
non agnoscit sigillum; tunc si sit alienum, redditur suspectum, idem est,
cum praetenditur proprium, nou tamen apparet forma ita ut non possit
discerni. Cum apparet sígillum, tunc recognoscentis dubitatione exclusa,
praesumitur testamentum validum et non suspectum; ita ut potius
praesumatur pro sigillo quam pro negante”.
Ora, provado que a testemunha mente, que é sua, pelo exame pericial
(Código Civil espanhol, art. 691), a
assinatura que ela nega, e verdadeiros os fatos que procura inquinar de
falsos, tcomo fazer dependente de criminoso proceder de outrem a eficácia
de ato tão relevante corro o testamento? Se nega, e não há prova contrária,
nem circunstâncias apredáveis, então, sim, não pode ser confirmado
(MANUEL DE ALMEIDA E SOUSA, Coleção das Disserta çôes, 100).
Em todo o caso, deve o juiz mandar cumprir o testamento se, no caso de
igualdade de elementos probatórios ou de inexistência dêles, três
testemunhas das cinco, contra duas, o confirmarem, ou, ainda no caso do
art. 1.648, se houver o depoimento respeitável de uma e as duas outras
forem convencidas de falso.
São meios probatórios, para a convicção do juiz, todos os que a lei admite
(Código Civil, art. 136), inclusive o depoimento dos herdeiros legítimos não
contemplados, a que não se pode, em sã consciência, negar forte valia.
Gesetzbuch fúr das Deutschen Reich, Archiv fúr Bhirgerliches Reeht, 24, 17
s.). O testamento datado, assinado, fica completo, perfeito, quando (no
direito alemão, já se vê), se juntam as três formalidades escrita, data e
assinatura.
testemunhas, ou por outra pessoa, como pode ser lido pelo próprio testador.
técnica.
Aos casos principais que apontamos acrescentaremos outro, pelo caráter
especial que o extrema dos demais.
Em qualquer dos casos que sugerimos, feita a prova de que o testador não
teve conhecimento do golpe no seu ato testamentário, impõe-se o
cumprimento do testamento particular.
O testemunho não é prova insuprível, e não deve, nem pode a lei, criar
injunções contra a realidade das coisas.
O testador não podia prever. Não será possivel atribuir qualquer culpa ao
testador e a solução negativa resolveria, duramente, contra a própria
suposição dêste de ter morrido com testamento válido. Por outro lado, o
próprio juiz pode estar plenamente convencido da verdade do escrito e da
observância instrumental das formas solenes do art.
Não importa qual a parte do corpo com que o testador costuma (ou somente
pode escrever), O testamento tem de ser escrito e assinado pelo testador. A
lei não foi além disso. Não disse, sequer, que a escrita e a assinatura têm de
ser “do próprio punho”, ou “a mão”. A fortiori, não se referiu a qual das
mãos, O canhoto usa a mão esê~uerda, ou pode usar as duas. O aleijado que
aprendeu a escrever com o pé, pode escrever e assinar, com o pé, ou com os
pés, o testamento particular. Quem escreve com o braço, por faltar-lhe a
mão, com aparelho que lhe sirva para mover a pena, pode testar
hologrâficamente. Quem usa a mão direita (ou a esquerda) há de evitar
escrever com a outra mão se a grafia é diferente. O que importa é
autenticidade da escrita e da assinatura, e para isso é necessária que não se
criem suspeitas.
O manuscrito é a regra; mas a escrita com outro órgão que a mão, se é o que
o testador emprega, é elemento suficiente. Não assina qualquer máquina de
escrever, chancela, carimbo, tipo de imprensa.
Otestador não precisa dizer no testamento que foi por êle escrito e que o
assina.
Saiba, ou não, a língua portuguêsa, pode êle empregar outra língua, desde
que as testemunhas a compreendam, quando lhes seja lido o testamento, O
alfabeto pode ser o latino, o gótico, o grego, o chinês, o hebraico, o japonês,
o do cego (se o testador vê, porque cego não pode fazer testamento
particular) e a estenografia, se é o que o testador usa.
FREIRE (Íris titutiones furis Civilis Lu.sitani, Livro III. Título V, § 10),
estribado em SAMUEL STRYK (Usus moderni pandectarum specimen, L.
29,111, § 4), G.L. BOERMER (§ 85) e talvez G. A. STRUVE (Syntagma,
84, t.
Hoje, o Código Civil admite que, das cinco testemunhas, duas faltem,
critério quantitativo que resolve sem optar por uma ou outra corrente
doutrinária. Por isso mesmo, há questões antigas que ainda ficam.
~ Se duas faltam e das três restantes uma leva o testamento ao juiz e morre
antes de depor? Em têrmos mais gerais,
Cf. Projeto primitivo, art. 1.815: “Se as testemunhas forem acordes sôbre a
fatura do testamento e se reconhecerem as suas próprias assinaturas assim
como a do disponente, o juiz confirmará o testamento”; Projeto revisto, art.
1.984:
Adiante, a propósito do art. 1.648, versaremos o assunto, que não pode ter
solução a priori, ou puramente gramatical.
1. TEXTO LEGAL. Diz o art. 1.643 do Código Civil: “Faltando até duas
das testemunhas, por morte, ou ausência em lugar não sabido, o testamento
pode ser confirmado, se as três restantes forem contestes, nos têrmos do
artigo antecedente”. Cf. Projeto primitivo, art. 1.816: “Faltando até duas das
testemunhas por morte, ou ausência em lugar não sabido, o testamento
poderá receber a confirmação judiciária, se as três restantes forem acordes
segundo o preceituado no artigo antecedente”; Projeto revisto, ad. 1.985:
“Faltando até duas Exemplos: o testador escreveu o testamento e, depois,
disse ao seu filho: escreva no fim o seguinte “estive presente à feitura do
testamento de meu pai, A”, ou, sem o pai lhe dizer, ou dizendo-lho, “meu
pai pediu que só apresentasse o testamento oito dias depois da morte dêle”.
Mais: com a letra de outrem, à margem, “a casa a que papai se refere
mudou de número, era 41 e hoje é 5, nota que escrevi à vista dêle”. Claro
que ao juiz ficará a apreciação da veracidade de tal mudança e de modo
nenhum o escrito por mão de outrem poderá ainda quando consentido pelo
testador mudar o objeto da disposição de última vontade, restringi-to ou
aumentá-lo.
À e assim devemos entender uma das suas acerbas censuras aos vigários e à
Igreja de outrora. Porém nem ela nem as Ordenaçóes Afonsinas poderiam
conter o absurdo do art. 1.648 do Código Civil brasileiro, inserto por
inovações de CLóvís BEvILÁQUA, art. 1.816 (cp. Código Civil mexicano,
arts. 3.545 e 8.546).
1.646. Uma delas é- a de que êsses herdeiros podem impugnar, desde logo,
o testamento. Não está na letra da lei, porém não se citam interessados para
que fiquem inativos. Os arts. 1.646-1.648 como que preestabelecem, nas
linhas gerais, o processo.
Todavia não ficava excluida a possibilidade da questão onde, por lei, tal
testamento fôsse solene. POTRIER (Traité des donations testamentaires,
cap. 1, art. 2, § 3) cortava cerce o problema: “II faut que le Testament
olographe soit reconnu par les héritiers pour être écrit et signé de la main du
testateur, ou que, sur leur refus de la reconnaitre, l‟écriture soit reconnue
par des experts”.
Se bem que a praxe seja a assinatura com todo o nome do testador, de modo
que raramente se abrevia, com as letras iniciais ou com omissões dos
elementos do nome, e embora a lei fale de “assinado pelo testador” e
Não atinge a assinatura a aposição da data após ela, uma vez que após
venham as assinaturas das testemunhas.
No art. 1.645, III, estatui-se que “seja lido perante as cinco testemunhas”.
Trata-se de forma solene, de requisito essencial; mas, conforme já se disse,
as leis de forma precisam ser interpretadas. Se o legislador não exigiu
expressa-mente que fôsse lido pelo testador, a leitura por êle não é de
importância capital.
b) A leitura pode ser feita por outra pessoa, presentes todas as testemunhas
e o testador. Isto só poderia ferir o testamento se associado à coação ou
dolo. Porém, nesse caso, seria a coação ou o dolo, ou, ainda, outra causa,
que viciaria o ato testamentário.
Apenas dizem que o testador testou, que o testamento foi lido perante elas,
o que o testador escrevera, quç o testador assinou e elas assinaram:
“Si actos a solo agente dependeat, v.g., testamentum et hie sit exterus: vel si
actus inter duos celebretur, v.g., pactum, et uterque paciscens 5k exterus, et
unius civitatis cives dubitandum non est actum a talibus secundum Leges
patriae factum in patria valere”.
A regra é que o disponente escolhe a forma que lhe apraz entre as que a ler
boi permite. A questão da facultatividade da regra jurídica bens reryit actum
intervém quando se trata de testamento sem intervenção de autoridades
públicas. Se opta pela forma do direito local, deve observá-la em tudo. Pelo
fato de preferi-la, ou de preferir a do seu país, não comete ato in fraudem
lega (assim, A. NIEDNER, Einfiihrungsgesetz, 2,a ed4 ao art. 11;
THEonrnt NIEMEYER, Das internationale Privatrecht des EGE., 114 s4.
Por isto mesmo, a ler boi é que responde se tendo optado por ela foram
satisfeitos os requisitos essenczais e se a infração importa nulidade ou
anulabilidade (ERNST ZITELMANN, Das internationale Privatreckt, II,
155 s.; A.
NIFDNER, Einfiihrungsgesetz, 2,a ed., sob o art. 11; EMIL JÁCoBY, Das
eigenhãndige Testament, 55). Aliás, é de presumir-se que testou pela forma
válida, se expressaniente não declarou optar. Assim, cremos que fica elidida
a questão quando o disponente no estrangeiro infrinja uma das exigências e
a lei pessoal dê a sanção da nulidade e a local a da anulabilidade, ou vice-
versa. A questão perdurou entre juristas alemães (EMItI JÂoonv, Das
eigenhiíndige Testament, 55; Tnãonoa NIEMEVER, Das internationale
Privatrecht des EGO., 114), por não na terem afastado com a presunção a
favor da escolha da forma válida ou menos atingida.
Não é somente a lei do Estado do autor de um ato que lhe pode proibir uma
forma; qualificando-a, pode fazê-lo, no interésse da família, dos nacionais,
da fortuna localizada,a lei da situação dos bens, a que rege a sucessão, etc.
Diante, por exemplo, das opiniôes alemãs, somente deve negar validade ao
testamento hológraf o alemão: a) se êle não teve data nenhuma <seria
dispensar ao testador o conhecimento da sua lei) ; b) se a data aposta,
inexata, fô r eventual-mente essencial; o) se constituiu ato in fraudem legis.
fôr eventualmente essencial (e. g., dois sem se poder saber qual o primeiro).
J.Cuskcro; nem no antigo direito, nem sob o Código Civil, seria aceitável a
conclusão invalidante. A jurisprudência estêve e está com o repertorista.
Mas ~ poder-se-á afastar o exame das circunstâncias, quando estas sejam no
sentido da imperfeição do ato?
Mais difícil será se nem a lei local, nem a lei pessoal exigirem testemunhas.
~ A que direito, a que lei formal se podia supor referido o testamento? Mas
o difícil não é o impossível.
Nas relações internacionais, deve reconhecer-se mais larga aplicação ao
error communis e ao êrro justificável de direito.
DA “LEx LOCI”. Alguns autores, para prover ao caso de Estado que não
tenha testamento público, e a lei do estrangeiro, nele domiciliado ou de
passagem, diga só dever testar pela forma pública, recorrem, como
A.PILLET (Traité pratique de Droit International Privé, II, 428), à
definição mesma de ato autêntico ou público.
Assim, digamos: pressupôs o Código Civil francês, art. 999, que no Estado
em que se ache o Francês haja aquela forma; se não há, satisfaz-se a regra
jurídica com o uso da que fôr a mais segura, a de maior garantia, nos países
estrangeiros.
CAPITULO XXIII
TESTEMUNHAS TESTAMENTÁRIAS
1.TEXTO LEGAL. Diz o art. 1.650 do Código Civil: Não podem ser
testemunhas em testamentos: 1. Os menores de dezesseis anos. II. Os
loucos de todo o gênero. III. Os surdos-mudos e os cegos. IV. O herdeiro
instituído, seus ascendentes e descendentes, irmãos e cônjuges. V. Os
legatários”. No Projeto primitivo, art. 1.818: “Não podem ser testemunhas
do testamento ordinário: 19 O herdeiro instituido e o legatário; 2.0 Os
ascendentes, descendentes, irmãos ou cônjuge do herdeiro ou do legatário;
O escrevente ou empregado do tabelião que o escrever ou aprovar”; no
Projeto revisto, artigo 1.990: “Não podem ser testemunhas em testamento:
1.0 Os menores de 14 anos; 2.0 Os loucos de todo o gênero; 39 Os mudos e
surdos, e os cegos; 49 O herdeiro instituído, seu cônjuge, os filhos que tiver
sob pátrio poder, assim como os lega-tários; 5.~ O pai, sob cujo poder
estiver o herdeiro instituido;
o herdeiro instituído, os filhos. Sob o pátrio poder, nem o pai, sob cujo
pátrio poder estava o herdeiro, nem os irmãos do herdeiro, se todos sob o
pátrio poder. Adiante veremos a mudança de conteúdo que se operou.
As testemunhas devem ouvir e ver. Não basta que ouçam. Não basta que
vejam. Hão de ter os sentidos. In conspectu testatoris: coram testatore, sub
praesentia ipsius testatoris. O testador pode ser cego: as testemunhas, não.
In conspectu testatoris não quer dizer que as veja o testador, porém que as
tetemunhas o vejam, que estejam todos presentes. J. C. KOCH tentou
provar o contrário, porém sem êxito, O cego testa e já testava. Mas cegos
não podiam ser testemunhas em testamentos. j,Como reconhecer e
identificar o testador? Restava a questão do testamento oral. Os doutos dos
séculos passados muito a discutiam: Huoo DONELO, A. VINNILJS,
JoHANN
MÚLLER).
1.650, 1.719 e 1.720 do Código Civil, concluiremos que a lei civil não pôs
no mesmo pé todas as nulidades que possam advir da incapacidade das
testemunhas. Certo, as incapacidades do art. 1.650, 1-111, são absolutas,
isto é, viciam o testamento, a cédula, em sua integridade de ato. Não se dá o
mesmo quanto as do art. 1.650, IV e V, porquanto, em relação a êstes, a lei
providenciou quanto à sanção: no art. 1.720, considerou nulas as dia
posiçoes.
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tou foi o da nulidade parcial não invalidante da parte sã, se esta fôr
separável (art. 153). Mais ainda: no art. 130, estatui-se que o ato valerá se a
sanção fôr diferente. Quer dizer:
de cogitar dos menores de dezesseis anos, dos loucos e dos que, por defeito
físico, não podem ser testemunhas instrumentárias. A imperfeição da lei vai
ressaltar, reduzindo a bem pouco o seu valor como iniciativa da regra
jurídica. É flagrante exemplo de regra jurídica escrita impensada.
Por isto, têm de assistir desde todo o comêço do ato até final; não precisam
ser chamadas, ou mandadas chamar.
Se ocorrer que alguma pessoa tenha assistido ao ato sem figurar no texto
como testemunha, não pode do meio para o fim ser tida como tal, se bem
que a tudo tenha assistido; nem substituir alguma que faleça no ato ou tenha
de ausentar-se. Tal pessoa estranha e presente é testemunha daquela espécie,
a que antes aludimos: acidental, voluntária ou não, que só-mente
testemunham de atestação, e não de solenidade.
Por isso mesmo, as exigências do Código Civil, art. 1.650, não concernem a
estas. Se é certo que “os loucos de todo gênero” não podem ser testemunhas
de atestação (art. 142) ou instrumentárias dos testamentos (art. 1.650, II),
não se dá o mesmo com os cegos. Menores de dezesseis anos (arts. 142, III,
e 1.650, 1) nem servem para uma nem para outra missão. Igualmente, os
loucos (arts. 142, 1, e 1.650, II). Indistintamente, os cegos não podem
figurar nos testamentos como testemunhas instrumentárias (o caso do art.
1.663 será, ao seu tempo, discutido), pois assim o estabelece o art. 1.650,
III. Porém, na ação de nulidade, podem ser dadas como testemunhas e ser
inquiridas pessoas cegas que ouviram (e pessoas surdas ou que não sabem
assinar, mas que viram e puderem depor, por escrito aquelas, oralmente
estas). Resultado do artigo 142, II, que estatui não poderem ser admitidos
como testemunhas “os cegos e os surdos, quando a ciência do fato, que se
quer provar, dependa dos sentidos, que lhes faltam”.
Dizer que o cego não pode ser testemunha instrumentária dos testamentos
não vale dizer que o seu testemunho seja nenhum. No art. 1.650, a exclusão
é completa; porém no artigo 142, II, não no é: o cego pode ser testemunha
do que ouviu, como o surdo-mudo, que pode exprimir-se por sua linguagem
(art. 5, III), pode testemunhar o que viu (art. 142, II).
No direito suíço, a lei não cogitou do cego. Mas é principio geral de direito
que são incapazes de testemunhar todos aqueles a que falta sentido que
impossibilite a função testemunhante. Por isso, a doutrina inclui o cego.
Mudos e surdos, talvez quisesse, por apêgo à errada tradição, dizer; e disse
surdos-mudos. Interpretação superficial tiraria que mudos ou surdos não
estão proibidos de figurar nos testamentos como testemunhas. Ora, quem
proibe ao cego, porque não vê, proibe ao surdo, porque não ouve.
“nem pode ser testemunha o furioso, nem o mudo e surdo, nem o cego”.
Mas ANTÔNIO JOAQUIM DE
Se o surdo não sabe ler, toltitur quaestio: não pode conheeer o conteúdo do
testamento público ou do particular, nem de ouvido, nem pela leitura; nem
ouvir o que o oficial público pergunta, ou o que o testador declara, ao
entregar o testamento cerrado (art. 1.688, V), nem ler o que o testador teria
de escrever no caso do art. 1.642.
Se o surdo sabe ler, pode conhecer a redação do art. 1.682, 1, porém não
poderia atestar as declarações do testador.
No testamento particular, se viu escrever, e leu, então não está êle inibido, É
verdade que o art. 1.645, III, manda que seja lido perante as testemunhas.
Porém seria excesso de apêgo à. letra. No cerrado, teria de ouvir as
declarações do testador ao entregar à aprovação e ouvir a leitura do auto.
No direito escrito suíço, nada se disse quanto aos surdos. Quanto a êles e
aos surdos-mudos, a doutrina entendeu, acertadamente, que não há
incapacidade a priori: se pode, por algum modo, certificar-se da identidade
do testador e da veracidade do testamento escrito, não lhe é vedado ser
testemunha.
~ Quais são os incapazes, pelo Código Civil, art. 1.650, III, de figurar como
testemunhas testamentárias? A lei, reduzida a iniciativa da regra jurídica,
pelos seus defeitos, perdeu a respeitabilidade ordinária. ~Qual o juiz que
aceitaria testamentos cujas testemunhas fôssem surdas? Nenhum. E a lei
não os fêz incapazes. j,Qual o juiz que reputaria nulo o testamento em que
figurassem mudos como testemunhas, se êles pudessem, pela escrita, ou
pela linguagem dêles, prestar o testemunho do que ouviram ler? Nenhum.
~Qual o juiz que julgaria nulo o testamento cujas testemunhas, surdas-
mudas, leram o instrumento, que o testador escreveu à vista delas, ou o
oficial público, uno actu, lavrou? Nenhum.
Para os nossos dias, o art. 1.650 é defeituoso. Melhor fôra não existisse.
Aqui, os dados da vida prefixam, precisamente, a regra jurídica. Nem por
falta de texto, que o proTbisse, deixariam os cegos de ser incapazes.
O surdo-mudo, a que a lei se refere, é o que não pode exprimir, nem ler:
quem lê, lerá; quem lê, e sabe escrever assina e pode depor, pois tudo viu,
leu (vale o mesmo que ouvir, se testamento hológrafo). Pode, pois, ser
testemunha nos casos de holograf ia. Não precisa ouvir o que está escrito, se
êle mesmo leu. Mas está excluido dos testamentos públicos e cerrados, por
ser surdo.
A lei civil, por inadvertência, omitiu os que não sabem ou não podem
assinar. O art. 1.650, 1-111, do Código Civil refere-se a menores de
dezesseis anos, a loucos de todo o gênero e aos que, por defeito de vista ou
de ouvido, não podem ser testemunhas. Mas não se referiu ao que não sabe
assinar. Todavia, em virtude da letra da própria lei, só o que pode assinar
figura, como testemunha, no testamento público (art. 1.632, IV), no cerrado
(art. 1.688, IX) e no particular (art. 1.645, III). Nos próprios testamentos
especiais: marítimo (ad. 1.657, § 2.0) e militar (art. 1.660).
Mas o que não sabe ou não pode assinar não fica inibido de depor como
testemunha de fatos (o art. 142 não os exclui. nem os poderia excluir).
1.632, IV); no cerrado e no particular, pelo mesmo motivo (arts. 1.638, IX,
e 1.645, III) ; bem assim no marítimo (art. 1.657). Só há um caso de
testamento em que o analfabeto pode ser testemunha: o militar nuncupativo
(art.
1.668).
Resta uma questão: ~ se a testemunha (somos levados ao “cortar de cabelo
em quatro”, criado pelo Código Civil, artigos 1.638, III, e 1.641, em caso
inverso) sabe assinar e não sabe ler? ~ Pode figurar no testamento cerrado?
O oficial público, diante do art. 1.650, não deve lacrar o ato com as
testemunhas a que se refere o art. 1.650, IV e V. Mas, se lavrar, só por isto
não será nulo o testamento: nula será a disposição (art. 1.720). Foi a sanção
que a lei fixou.
~Os herdeiros instituidos a que se refere o art. 1.650, IV, são apenas os
diretos? Herdeiros instituidos que não podem ser testemunhas são os plenos
proprietários, os nus-proprietários e os usufrutuários. Resta saber se
também os fideicomissários.
Mas, antes de Justiniano, já existia a exceção (L. 14, D., de rebus dubjis, 34,
5).
a) No velho direito, o parentesco, só por si, não opa rava: não tornava
incapaz a testemunha; a relação de pátrio poder, horizontal ou vertical, sim.
Cp. H . F. OTTo (Tractatus de testimonio fraterno testamentario contra
communem doetorum opznzonem, s. III), contra a opinião dominante.
No redigir-se o art. 1.650, V, houve lacuna, e não érro, . lacuna que o art.
1.720 enche: lá se diz que se reputam pessoas interpostas o pai, a mãe, os
descendentes e o cônjuge do incapaz, o que quase equivale ao art. 1.650, IV
Seja como fôr, o Código Civil elidiu, em parte, a questão. Mas só em parte.
Porque há diferença quanto a parentes e cônjuges, no art. 1.650, IV e V,
combinado com o art. 1.720.
b)Se figura como subscritor, a rôgo, menor de dezesseis anos, tenha ou não
figurado como redator do ato (subscritor, art. 1.637, redator e subscritor, art.
1.688, 1-111).
d)Se fôr louca uma das cinco testemunhas (arts. 1.650, II, 1.682, 1, 1.688,
IV, e 1.645, II). Igualmente, qualquer das pessoas acima referidas, em b) e
c).
e)Se qualquer das pessoas referidas em a), b) e c) fôr cega (art. 1.650, III).
f)Se qualquer das testemunhas fôr completamente surda (somente por isso o
surdo-mudo é incapaz). Mas, se no testamento particular, houve três que o
confirmam, vale (artigo 1.647), bem como se, ainda sendo uma das
restantes, se o surdo (ou o surdo-mudo) puder depor. Não é possível, sem
absurdo, ainda quanto aos testamentos públicos e cerrados, negar ao juiz a
apreciação das circunstâncias. Nunca se deve, porém, excluir em tais casos
a responsabilidade do oficial público:
i)No caso de, aplicada a lei penal, ficar alguém privado de testemunhar,
nulo é o seu testemunho. Nulo, portanto, o testamento. Mas a putatividade
não pode ser desprezada.
Pelas razões que já demos, não está privado de ser testemunha o mudo.
Como quer que seja, não se deve considerar nulo o testamento, por
incapacidade das testemunhas, sempre que seja de presumir-se, ou se prove,
que havia fundadas razões para que o testador o ignorasse.
8), não queria fundadas no error communis, porém no ódio aos usurários.
Duas outras FURGOLE referiu, mais próximas do assunto: a) a L. 1, C., de
testamentis: quemadmodum testamenta ordinantur, 6, 28, onde realmente se
trata de errar communis, pois o escravo testemunha no conceito geral era
tido por livre; b) o § 7 das Institutas, de testamentis ordinandis, 2, 10, em
que o mesmo se decidiu.
Mas, ainda em tais casos, a solução fôra pro liberalitate dos imperadores.
Escusado é, pois, estar-se a procurar exemplo rúmano, tanto mais quanto o
êrro dos textos citados é êrro de fato, e não de direito. O “ninguém se
escusa, alegando ignorar a lei”, nio pode ter, nos nossos dias, a lamentável
conseqUência de invalidar testamento, em que o disponente tinha razões
fundadas para ignorar a incapacidade da testemunha, pôsto que error inris.
Além disso, resulta do Código Penal francês, arts. 84, inciso 3~0, e 42,
inciso 7 0; ser preciso que se achem as testemunhas no gôzo dos direitos
civis.
No art. 975, só aplicável aos testamentos públicos, também não podem ser
testemunhas: “ni les légataires, à quelque titre qu‟ils soient, ni leurs parents
ou alliés jusqu‟au quatriême degré inclusivement, ni les clercs des notaires
par lesquela les actes seront reçus”.
Nos testamentos feitos no mar, ou nos lugares em que reina peste ou outras
moléstias contagiosas, podem ser testemunhas os maiores de quatorze anos.
Como o Código Civil francês e como o italiano, o Código Civil alemão nem
sempre exige testemunhas. Se judicial o testamento e está presente o
escrivão, não sao necessárias as testemunhas (§ 2.288, parte 13). Se
notarial, intervindo outro notário, dispensam-se testemunhas. Portanto,
somente há testemunhas quando não está o juiz acompanhado de um
escrivão, ou o notário de outro notário. Nestes casos, as testemunhas ao
contrário do que pode parecer são testemunhas instrumentárias ou de
solenidade (Solennítãtszeugen> e não têm caráter oficial (F.
Não pode intervir na feitura de um testamento, quer como juiz, quer como
notário, ou escrivão, ou como testemunha, quem é beneficiado pelo
testamento, ou que se acha, com o beneficiado, em relação indicada no §
2.284. Tal o que estatui o § 2.285, alínea 1ª, mas, aqui, o concurso de tal
pessoa excluída somente tem o efeito de tornar nula a disposição ao
beneficiado (§ 2.285, alínea 2.ª).
Quanto ao § 2.234: a) Não está incluído o próprio testador, mas está visto
que êle não pode ser juiz, notário, escrivão, ou testemunha, para si mesmo
(F. RITGEN, em G. PLANCK, Biirgerliches Gesetzbuch, V, 447>. b) A
regra jurídica cogita do cônjuge: o noivo não está impedido. e> Quanto à
mãe e aos parentes dela, o filho natural tem a condição legal de filho
legítimo (§ 1.705). Não assim o filho de um casamento nulo, reputado
legítimo (§
2 a do § 2.235
d> Quando o testamento judicial ou notarial foi feito pela entrega de escrito,
de mão alheia (§ 2.238, 1, in tine>, não se deve considerar testemunha o
que escreveu: trata-se de mero instrumento do testador, e êste entregou
pessoalmente ao juiz ou notário o escrito fechado ou aberto.
Além das regras jurídicas do Código Civil alemão não podem ser
testemunhas em testamento as pessoas sem os requisitos subjetivos para
testemunhar: o cego quando se trata de ver, o surdo quando se trata de
ouvir, o que não sabe a língua alemã.
Na 2.~ parte da 13 alínea do art. 503, diz-se também que não podem
concorrer à redação os descendentes, ascendentes, irmãos e irmãs do
testador, seus cônjuges e o cônjuge do próprio testador. A doutrina explica:
irmãos germanos, consangUíneos ou uterinos, cônjuge enquanto exista o
casamento (o divorciado çu o cônjuge de casamento declarado nulo pode
concorrer à redação).
508:
b) O surdo, que não saiba ler, e o surdo-mudo, que não possa ler: por si só,
a surdo-mudez, e a tortiori, a mudez não torna incapaz (a testemunha pode
ler a declaração do art. 501, lA parte). Cf. P. TIJOR (Kommentar zum
sckweizerischen Zivilgesetzbuch, III, 818).
No Código Civil boliviano, além de ser varão, maior, estar no gôzo dos
direitos civis (art. 465), exige-se que não seja herdeiro, ou parente do
herdeiro dentro do quarto grau (artigo 467), e os ascendentes e
descendentes do testador (artigo 466).
1.647 e 1.648 do Código Civil, mas os testamentos, feitos antes desta lei,
valerão se satisfizerem os sós requisitos do art. 1.645, 1, dispensadas as
testemunhas, e se o testador viver três meses após a vigência da presente
lei”.
Se é certo que o tem pus rege o ato, não é menos certo que as leis de
processo, na maioria dos casos, e até onde não atinjam direitos adquiridos
processuais (que os há>, têm efeitos retroativos (na maioria dos casos, diz-
se, porque não há principio da retroatividade das leis de processo>. Aqui,
como eni todo o direito intertemporal, há direitos adquiridos. A lei
sanatória, que acima supusemos, não poderia atingir os testamentos dos que
morreram antes dela.
Oúnico exemplo de ser nula a disposição, desde que a lei antiga o estatuiu,
contra a lei nova que o dispensa, é ser a nulidade não relativa aos efeitos,
mas ao próprio testamento, como se a lei A estatui que o testamento feito
perante oficial público contemplado é nulo; porque então, ao vir a lei fl,
reguladora dos efeitos, nada pode alcançar: não há efeitos de testamentos
nulos. Aqui, só a sanatória especial conseguiria trazer à vida o natimorto
mas em determinadas circunstâncias teria o juiz contra tal sanatória as
normas de moral e os princípios superiores de direito, pelo menos para
riscar a herança ou legado ao oficial público. Nas relações internacionais,
seria de invocar-se a ordem pública.
testamentárias
Trata-se de atos jurídicos praticados por elas. Porém não ocorre o mesmo
<De passagem, frisemos que os arta. 1.719 e 1.720 não contém, em boa
terminologia, regras jurídicas de incapacidade, mas sim regras jurídicas de
invalidade. Quem foi testemunha, em tais circunstâncias, vàlidamente
testemunhou. Apenas, por ter o testamento disposição a favor da
testemunha, a lei afasta a validade de tal disposição. Tudo mais, no
testamento, é atendido. Só não no é o benefício a favor da testemunha, ou
das testemunhas. Pode ocorrer que tôda a herança tenha sido deixada à
testemunha, ou a alguma ou algumas das testemunhas, ou às testemunhas, e
então nada resta da testamentifação que tenha eficácia: o testamento vale,
mas está vazio.)
Mas pode ocorrer que a lez successionis contenha disposição mais forte,
considerando anulável, ou, talvez, nulo, o próprio testamento. A sanção, por
isso mesmo que não deriva de forma, mas de fundo, será a da lei pessoal, e
não a da lei do lugar.
5.Aro PERFEITO E “ABUNDANS CAUTELA”. Maior dificuldade surge
quando a lei do lugar dispensa testemunhas, o testador opta por ela, e
abunclans cautela faz com que assinem o testamento pessoas incluídas nos
arts. 1.650, IV V, 1.719 e 1.720, quer dizer pessoas que não devem
testemunhar, porém de cuja infração resulta nulidade da disposição,
fenômeno, portanto, relativo aos efeitos e à forma. Ainda melhor: relativo à
capacidade testamentária passiva. Em todo o caso, houve ato perfeito, ato,
ex hypothesi, voluntàriamente praticado segundo a lei do lugar, a assinatura
de testemunhas supérfluas deve ser levada em conta de escusável êrro de
direito do testador, de demasiado escrúpulo (abundans cai tela mm nocet),
ou talvez de intuito criminoso dos próprios subscritores, para abrir a
sucessão legítima, ou de terceiros, para obter o efeito do art. 1.720. Em
qualquer dos casos, não se deve levar a aplicação das regras jurídicas
semelhantes ao artigo 1.720 a êsse extremo de rigor.
desta lei.
CAPÍTULO XXIV
CODICILO
(ano de 1282). Foi por êsse tempo que surgíríam indícios do romanismo da
instituição de herdeiro. Trata-se, pois, de influxo então recente do direito
romano.
Entre o direito dos povos que, não exigindo a instituição dos herdeiros nos
testamentos, excluiram os codicilos (tais Código Civil alemão, o suíço e
muitos dêles) e o dos que têm os codicilos, a despeito de não exigirem
instituição aos testamentos (tal o Código Civil brasileiro), há o
intermediário, extremamente interessante, do austríaco, que não exige a
instituição, fala em testamentos e em codicilos, mas subordina-os às
mesmas exigências formais.
1.648, quero que se observe, como codicilo, tudo que dispus sôbre o meu
entêrro e as minhas jóias”. Seguir a opinião de CLóvís BEvILÁQUA
(Código Civil comentado, VI, 107), que de uma penada aparou tôda a
questão da cláusula codicilar, e nada admitiu a respeito, sem qualquer
argumento, seria grave injustiça. As instituições jurídicas vivem la fora, na
vida, respiram como lhes permitem a procedência, as tradições, os
princípios gerais de direito. Ninguém tem o poder de asseverar contra a
ciência jurídica, Opinativamente Se somos o último povo com o codicilo,
não nos podemos furtar ao estudo dêle: temos de vê-lo funcionar, corrigir,
com as convicções contemporâneas, os erros do passado, porém nunca para
simplificar a missão do intérprete, cortar, com a foice, todas as galhadas que
nos trazem dificuldades. Tôda ciência requer meditação, tôda ciência é
difícil: e os dados estão lá fora, ou diretamente, na vida, ou indiretamente,
nos documentos históricos. Todas as soluções de inspiração, a priori, sê
mente podem ter valor opinativo. Onde o texto legal que vedasse a cláusula
codicilar?
No regime anterior, ela existia, e onde o texto das Ordenações Filipinas que
a apontasse? Se formos assim, chegaremos ao absurdo de não ser preciso
estudar direito civil: o Código Civil passará a livro sacro, livro absoluto.
Código Civil que tudo resolve e somente com êle se resolve: seria Código
Civil de onisciência, de onipotência, que nunca, e em lugar nenhum, se viu.
(TraiU élémentaire de Droit Civil, III. 673, nota 1): “De là l‟usage de la
elause codicillaire, par laquelle le testateur, prévoyant le cas oú son
testament serait declaré nul comme tel, declarait qu‟il devrait valoir au
moins comme codicille. L‟ordonnance de 1735 en avait conservé l‟usage;
elIe est devenue mutile sous le Code Civil, qui ne distingue plus le
testament proprement dit du codicille”. No direito alemão, não se perderam
da rota científica os escritores. Por exemplo, P. SIMÊON (Lehrbuch des
Rúrgerlichen Rechts, 1, 186, nota 6) escreveu que a cláusula codicilar, pela
qual, em caso de necessidade, o testamento havia de valer como codicilo, é,
hoje, sem objeto, porque o Código Civil alemão misturou, identificou,
codicilo e testamento. Se futuro legislador brasileiro revogar a exigência de
testemunhas no testamento particular do art. 1.645, então ocorreria igual
perda de objeto à cláusula codicilar, tornada inútil. Nas circunstâncias
atuais, absolutamente não: não só não se proibiu, como também a vitoriosa
doutrina anterior, quase unânime e só discordante em pormenores que nada
têm com a existência, força o respeito à tradição nacional, o voluntas
testatoris e mais do que tudo isso: aos princípios de direito.
Se ao codicilo falta a data, não vale como codicilo, por infração do ad.
1.651 do Código Civil. Assim, se o testamento hológrafo não vale e lhe
falta a data, não se pode dizer que vale como codicilo (cf. 23 Turma do
Supremo Tribunal Federal, 23 de janeiro de 1951, 1?. F., 136, 114: “É o
sistema da nossa lei civil, cuja singularidade realça PONTES DE
MIRANDA). Dá-se o mesmo se as disposições não são “sôbre o seu
entêrro, sôbre esmolas de pouca monta a certas e determinadas pessoas”, ou
“aos pobres de certo lugar”, ou de “legado de móveis, roupas, ou jóias, não
mui valiosas, de seu uso pessoal” ; (õ ~ Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal,. 21 de maio de 1948, R. F., 133, 44‟?, e R. dos
T., 185, 417:
..... os juristas, dentre outros sobrelevando PONTES DE MiRANDA, têm
entendido tratar-se de coisas não excedentes de um vigésimo do valor do
monte, suprida, assim, pela doutrina, a deficiência da lei, que silenciou
quanto à proporção aritlnética interpretativa ou fixadora do conceito de
pouca monta. No caso dos autos não se provou ter o de cuius deixado outros
bens. Como um codicilo, o apelante só teria direito aos bens que pretende,
se demonstrado que efetivamente representam êles um vigésimo do valor
do monte-mor. É paralelamente o mesmo critério para a doação manual, a
que alude o parágrafo único do art. 1.168 do Código Civil, onde a noção de
pequeno valor é condicionada ao que possuir o doador. Ao que tudo indica,
entretanto, os bens constitutivos do codicilo representam tudo quanto o de
onius possuía, não sendo, assim, de pouca monta, em face do seu pequeno
patrimônio”; 1ª Câmara Civil do Tribunal de Apelação, 22 de abril de 1946,
R. dos T., 164, 287, sôbre falta de data).
Quem faz codicilo há de ter capacidade de testar (53 Câmara Civil da Côrte
de Apelação de São Paulo, 14 de agôsto de 1935, E. dos T., 97, 424).
Resta saber se precisa ser hológrafo. Sim, ainda que cerrado, com
aprovação. Se não fôr hológrafo, terá de ter todas as solenidades do
testamento cerrado. Mas, se público, <terá de ter o mesmo número de
testemunhas que os testamentos? Aqui, a holograf ia não é possível. O
oficial público deve exigir as formalidades dos testamentos. Se fôr nulo,
responde civil e criminalmente.
1.653).
1.992, § único: “Os codicilos valerão como tais, quer o autor da herança
deixe testamento, quer não, e podem ser revogados por outros ou por
qualquer espécie de testamento posterior que lhes não faça referência
confirmando-os ou modificando-os”. A fonte foi o Projeto de COELHO
RODRIGUES, art. 2.456, § 1.0: “Ésses atos, salvo direito de terceiro,
valerão como codicilos ou mernoranda de últimas vontades, quer o autor
deixe testamento, quer não”.
10.DIREITO ROMANO. Havia os codicilos ab intestato e os codicilos
testamentários. Para conhecerem o codicilo ab intestato e o testamentário,
os juristas antigos recorriam à proximidade qualificada da delação: se era de
esperar-se a sucessão intestada, ab intestato era o codicilo; se a
testamentária, tratava-se de codicilo testamentário.
(L.8) e ab intestato facti (L. 16, D., 29, 7) os novos juristas acrescentavam
distinções relativas aos codicilli testamentarii: ad testamentum facti ou
pertinentes e post testamentum facti codicilli. Se os olhamos com olhos de
hoje, certo teremos como indicativos de circunstâncias que devem ser
apreciadas. Por isso mesmo, como bem disse EDUARD EEIN (CHR.
FRffD. voN GLÚCK, 44, 194), constituem apenas regras jurídicas
dispositivas as que vêm nos textos romanos sôbre os codicilos
testamentários, ou, se assim não eram, tal se tornaram e nos nossos dias
outra atitude não nos cabe. A superveniência de testamento, faz
testamentário o codicilo intestado, se o contrário não resulta do testamento
posterior.
“se vive Tício” ou “se tem tantos anos”, atendia-se ao tempo dos codicilos,
e não àquele em que se fêz o testamento, tempus codicillorum, nou quo tem
pore fil testamentum, spectandum (L. 7, § 1).
Tudo isso cessava para o codicilo intestado. É a respeito dêles que diz
PAULO (L. 16, D., de iure codiciliorum, 29, 7): vicem testamenti exhibent.
Fazem as vêzes de testamento. Donde a elaboração de teoria autônoma do
codicilo intestado.
Êste é o direito contemporâneo, com o qual não têm pensado, por falta de
informes, alguns escritores, tardos no romanismo da regra jurídica ins
testamenti sequuntur.
1.TExTO LEGAL. Diz o art. 1.654 do Código Civil: “Os atos desta espécie
revogam-se por atos iguais, e consideram-se revogados, se, havendo
testamento posterior, de qualquer natureza, êste os não confirmar, ou
modificar”. Cf. Projeto primitivo, art. 1.819, § 3.0: “Os atos desta espécie
podem ser revogados por outros iguais, ou por qualquer espécie de
testamento posterior, que não lhes faça referência confirmando, ou
modificando”.
A fonte foi o Projeto de COELHO RODRIGUES, art. 2.456, § 39: “Os atos
desta espécie podem ser utilizados pelo autor em qualquer tempo, ou
revogados por outros iguais, se porventura se houverem extraviados e
caducando no todo, por qualquer espécie de testamento posterior, que não
lhes faça referência, confirmando ou modificando”.
~„Se o codicilo estiver fechado, deverá ser aberto do mesmo modo que os
testamentos, e apenso ao do seu autor, se êste morrer testado”.
2.ALCANCE DA REGRA JURÍDICA. Ço direito anterior, ocodicilo seguia
as três formas do testamento. O art.
Na cláusula codicilar, não podemos ver conversão, não só-mente porque por
definição o testador quis a outra forma, ou, mais amplamente, o outro corpo
do negócio jurídico, como porque cláusula, isto é, disposição do testador, e
não figura do mundo jurídico institucional na cláusula se podiam conter
conseqUências futuras de conversão, de conservação e de outra natureza.
Exemplos:
testou nulamente. Mas o codicilo, êle, como Brasileiro, podia fazer, e quis a
alternativa.
Nec voluit quasi codicilios id valere; donde se tira que valeria como tal, se
o tivesse querido, É a cláusula. É a questão sôbre a vontade, que as mais das
vêzes se clareia com o próprio escrito: voluntatis quaestio ex eo scr%oto
plerumque declarabitur, como se diz, e é o caso da L. 13, § 1, do mesmo
título. É também o que se dispôs na L. 41,
41, § 3, D., de vulgari et pupilíari substitutione, 28, 6, está escrito: nisi hoc
expressum est. De qualquer modo questão de vontade, que se há de declarar
ex scripto (L. 13, § 1, O., de iure codicillorum, 29, 7). Não havia
pressuposição da alternativa. Não havia subinteligência.
Hoje, tal faculdade de eleger não se justifica. Nem ainda o cerrar as portas à
validade, porque se abriu a outra. Nem o apresentante do testamento tem de
explanar, desde logo, as suas intenções: propositum suae intentionis
explanet.
CAPITULO XXV
TESTAMENTOS ESPECIAIS
Com êle, quem não usou do testamento calatis comitiis, faz, na hora da
guerra, o seu testamento. Naquele tempo, não havia a classe caracterizada,
utilizava-se dêle quem como soldado estava na luta (OTTo KARLOWA,
Ràmische Reckttgesch.ichte, II, 852).
Mas de certo os houve. Na sua própria pátria com a emenda minimê sunt
mutanda, quae certam semper haboerunt interpretationem, ANTÔNIO
MENDES AROUCA (Allegationes funis, 219) apontou o êrro crasso.
Tratava-se de privilégio em serviço. Eram testamentos ia e xpeditione
constitutis. Só então cabiam a todos, soldados ou não: soldados ou auditores
militares, capelães, médicos, cirurgiôes, quartéis-mestres, comissários e
empregados de munições (SAMUEL STRYK, De Cautelis testamentorum,
c. 9, § 17).
Portugal não tinha lei sôbre isso. Mas a praxe, e com o bom fundamento das
Ordenações Filipinas, Livro IV, Titulo 80, § 5. Com os Estatutos da
Universidade (Livro 2, Título 5, c. 2, §§ 4, 5, 7), foi preferido o direito da
Novela 107, tanto mais quanto havia o exemplo das nações cultas daquele
século (cp. FURGOIJE, Traité des Testaments, c. 2, s. 1, ns. 29 s., 85).
“não o haver” pelo lado da lei, e não querer assegurar, pelo lado do direito.
Vacilações de que deram ffiostras MANUEL DE ALMEmA E SOUSA
(Notas do uso prático, e criticas, III, 265) e A.J. GOUVEIA PINTO
(Tratado regular e prático de Testamentos e Sucessões, 81). PASCOAL
JOSÉ DE MEIO
FREIRE (hir stitutiones (uns Civilis Lusitani, L. III, Tít. 5, § 16) não
duvidou: “neque praeterea ad ilíjus validatatem necesse est, quod testes
lungantur, et quod eodem momento, et tempore subscribant”.
Casos há tão graves quanto êsses, ou mais graves do que êsses. Daí a
contingência em que fica o juiz: para êles, no Brasil, por exemplo, o direito
do seu país só tem dois testamentos especiais. Mas, perguntemos, ~se lhe
apresentarem um, feito na forma do art. 1.663, pela pessoa que ficou entre
as chamas, ou na forma do art. 1.660, pelo que, cercado de águas o mandou
em garrafa, que estava boiando? Não era militar, não estava em guerra, mas
estava nas mesmas circunstâncias. objetivas e, talvez, a serviço de salvação
pública.
g)As disposições captatórias, que são nulas (art. 1.667),. e tudo o mais que
o Código Civil estatui quanto a condições,causa, tempo, incerta pessoa,
interpretação das cláusulas, êrro, etc. Em suma: todas as regras jurídicas ds
arts. 1.664-1.769.
restrito à forma.
TESTAMENTO MARÍTIMO
“Se o testador não puder escrever, assinará por êle uma das testemunhas,
declarando que o faz a seu rôgo”. Cf.
Donde se tira: que podem dêle usar quaisquer pessoas que a bordo estejam.
Ainda mais:
Ora, no domínio aéreo, dar-se-á o mesmo. Não se pára uma aeronave para
que o passageiro teste. Se a morte é de esperar-se, e não pode o testador
recorrer, em terra, às formas ordinárias (como, por exemplo, se no pôsto de
descida não há os meios, ou é demasiado curta a permanência), deve
entender-se aplicável o disposto dos arts.
Quem veio de uma guerra e deixa passar o prazo do artigo 1.658 (ou do art.
1.662) pode, voltando, fazer outro testamento da mesma espécie, ou,
embarcado, o do art. 1.656 (ou art. 1.657).
1.656--1.658, caduca pelo passar do último dia dos três meses, último em
que persiste, volta a existir e ter efeitos o testamento que êle revogou.
c)Descida a terra para função que suponha incógnita não se compadece com
o uso da forma ordinária.
petência de quem proibe, sem que êsse elemento exija ter a pessoa, que ia
descer, de repelir a proibição por parte de quem se apresentou como
autoridade sem no ser. Houve impossibilitação que a policia devera ter
evitado.
r
SEÇIO II
TESTAMENTO MILITAR
cf. Projeto revisto, art. 2.013: “O testamento dos militares e das pessoas a
serviço do exército, em campanha, dentro ou fora do país, ou em praça
sitiada, ou com as comunicações cortadas, pode ser feito, no lugar em que
não houver oficial público, perante duas testemunhas, ou três, se o testador
não souber ou não puder assinar, fazendo-o por êle a terceira testemunha,
pelo modo seguinte: § lA Se o testador pertencer a corpo ou seção de corpo
destacado, o testamento será escrito pelo respectivo comandante, ainda
que oficial inferior. § 29. Se o testador estiver em tratamento no hospital, o
testamento será escrito pelo respectivo oficial de saúde ou pelo diretor do
Estabelecimento. Se o testador fôr o oficial mais graduado, o testamento
será escrito por aquele que o substituir”.
Tem-se de saber quais são as pessoas que podem invocar os arts. 1.656-
1.668 do Código Civil, isto é, quais as pessoas que, hoje, podem testar iure
militari.
Ooficial que se recusa a isso comete infração das leis e responde civil e
criminalmente. Cabe a própria ação de perdas e danos. Exemplo: se se
negou e o testador, recorrendo a outro meio, testar nulamente.
1.TEXTO LEGAL. Diz o art. 1.661 do Código Civil: “Se o testador souber
escrever, poderá fazer o testamento de seu punho, contanto que o date e
assine por extenso, e o apresente aberto ou cerrado, na presença de duas
testemunhas ao auditor, ou ao oficial de patente, que lhe faça as vêzes neste
mister”.
No caso d), o prazo é incerto: se o testador morre na guerra, vale; não vale,
se convalesceu o testador.
Cf. Projeto revisto, art. 2.015: „No conflito da batalha, ou estando feridas,
podem as pessoas mencionadas no artigo 2.013, testar nuncupatívamente só
com duas testemunhas. ainda que saibam e possam escrever”; parágrafo
único:
Entende-se que está no mar o marinheiro quando, alojado no seu navio, nele
se acha, ou ainda quando, por permissão temporária, está em terra (Fari of
Euston v. Seymour, 1802; Goods of Ley, 1840; Goods of M‟Murdo, 1867).
Ainda mais se está de volta, por mar, do seu navio, ou, por mar, volta a êle
(Goods of Daniel Saunders, 1865).
Cumpre, porém, advertir que os Navy and Marines (Wills) Acta de 1865 e
1897, bem como o Merchant Shippinq Ad de 1894, art. 177, impuseram
relevantes instruções para os efeitos dos testamentos dos marinheiros e
marítimos reais e da Marinha Mercante.
Note-se bem: estar surto no pôrto, isso é, ancorado, mas nos momentos de
partir, já significa a mesma coisa que o ter partido. E o ter partido, a mesma
coisa que já estar em alto-mar.
Tanto a regra jurídica tem pus regit actum quanto a outra, locus regit actum,
podem servir a fraudes. Donde a possibilidade de fraude à lei em direito
internacional privado e em direito intertemporal do testamentos.
Se o testador, cego, surdo, sem que as formas respectivas sejam pela lei
pessoal reputadas intrínsecas (porque então, sendo intrínsecas, a fraude à
les» loci seria inoperante e inútil)> sai do seu país para testar por forma
proibida pela les» loe do país a que pertence, claro que se dá fraude à lei.
Dír-se-a o mesmo no caso de domicílio, em vez de pátria.
CAPÍTULO XXVI
E porque nossa teençom com a graça de Deos he dar modo e maneira, como
as demandas a todo nosso poder sejam tolhidas, acordamos mandar aqui
escrepver o dito costume, por tolher as duvidas, que d‟outra guisa poderiam
acontecer, como dito he”. No § 1/‟: “O qual costume declaramos em esta
guisa. Primeiramente mandamos, que aja em todo testamento, assy aberto
feito por Tabelliam, como no cao que tever estormento pruvico nas costas, e
que as testemunhas em elIe contheudas sejam todas barooês, e homenns que
nom sejam servos, e que sejam maiores de quatorze annos, em tal guisa que
com o Tabeliam, que fizer o testamento, ou instrumento nas costas delle,
sejam seis As Ordenações Afonsinas mantinham exigências que bem
demonstravam não se satisfazer o legislador com o que se usava. no tocante
a escrituras públicas em geral, sendo de notar-se que eram satisfeitas as
demais exigências do direito romano..
Iv) se o testador era cego, ter sido lido, em alta voz, duas vêzes, uma pelo
oficial público e a outra por uma das testemunhas, designadas pelo testador
(art. 1.637).
Tais fatos, por definicão, precisam ter acontecido. são coisas diferentes ter
acontecido e ser mencionado. Se o Código Civil se tivesse satisfeito com a
só ocqrrência dos fatos, teria ficado na enumeração dos chamados requisitos
essenciais. Todavia, depois da lista dos arts. 1.632 e 1.633, que corresponde
às letras a) a f), acima apontadas, ordenou que o oficial público
especificasse cada uma dessas formalidades (menção>. Quer dizer: mandou
que dissesse ter sido escrito, no Livro de notas, de acôrdo com o ditado, ou
as declarações do testador, em presença de cinco testemunhas (art. 1.632,
1), que as testemunhas assistiram a todo o ato (art. 1.632, II), que, depois de
escrito, foi lido pelo oficial público, na presença do testador e das
testemunhas, ou pelo testador, se o quis, na presença dessas e do oficial
público (art. 1.632, III), que, em seguida à leitura, foi o ato assinado pelo
testador, pelas testemunhas e pelo oficial público (art. 1.632, IV), que, no
caso do art. 1.633, foi assinado a rOgo. A obrigação de especificar é distinta
da obrigação de portar por fé, no testamento, haverem sido observadas
tOdas as formalidades constantes do art. 1.632.
(Cours de Droit civil, 10, 5 5 ed., 644 s.) “tIe (testamento) seria nulo, se o
testador não manifestasse a sua vontade senão por meio de notas entregues
ao notário, ou, até mesmo, por um projeto que o notário se limitasse a
copiar; porém não resulta da regra exposta que o testador não possa ditar o
seu testamento, no sentido legal da palavra, lendo ao notário e às
testemunhas um projeto de testamento redigido de antemão”. C.
BEIJDANT (Des Donations entre vifs et les Testantents, j, 2a ed., 283)
manda, não só anular o testamento cuja minuta foi apenas entregue ao
tabelião, mas também responsabilizar o oficial. Como se viu, o repositório
de normas gaulesas usa uma só das expressões do brasileiro: ditado; o
italiano adota uma só, porém a segunda empregada entre nós: declarar,
fazer declaração. Eis as suas palavras: “O testador declararás ao notário,
em presença das testemunhas, a sua vontade”.
s.).
vai mais longe que a sentença confirmada, lacônicamente, por êle. Diz a
ementa: “A interferência de advogado, redigindo cláusulas do testamento,
não o nulifica, uma vez que, ao transmitir-se ao tabelião as declarações do
testador, se respeitou fielmente a sua vontade, conforme afirmam as
testemunhas instrumentárias”. Pode parecer que se permite, aí, estar o
advogado a redigir parte do testamento. Não foi isso o que se julgou. O que
se decidiu foi que, fazendo o testador as suas declarações, pode consultar,
ou receber conselhos técnicos, de forma, do seu advogado, desde que isso
não passe de ajuda, e o tabelião e as testemunhas percebam que só se muda
a forma, respeitando-se fielmente a vontade do testador. O acórdão apenas
confirmou a sentença do juiz de direito de Espírito Santo do Pinhal, datada
de 14 de agOsto de 1929, e essa explicou a espécie nos seus fundamentos:
Pode ter-se apagado a luz ou ter havido qualquer incidente que haja obstado
a vista de cada um dos figurantes ou a audição de qualquer dêles no tocante
ao testador, ao oficial público, ou a qualquer testemunha. Quid juris?
Estamos, por bem dizer, no âmago do nosso assunto: a imitas actua. Não
que a unidade do ato só se refira à co-presença das testemunhas. A co-
presença é de todos os figurantes:
Quem quer que leia o Código Civil logo percebe que o legislador exige a
co-presença dos figurantes, sem exceção.
Conhece-se, porém, descaida, aqui e ali, dos tribunais. Descaída que, mais
cedo ou mais tarde, o Supremo Tribunal Federal teve de corrigir, como
corrigiu outro imperdoável vício, que se ia arraigando, o de se lavrarem
testamentos públicos mediante minutas.
Examinemos a jurisprudência, para bem precisarmos os limites de
afastamento, de vista e de audição. De comêço, frisemos que as expressões
“em presença de cinco testemunhas” (art. 1.632, 1), “na presença do
testador e das testemunhas”, “na presença destas e do oficial” (art. 1.632,
III), “presentes as testemunhas” (art. 1.636), não são obrigatórias. Basta que
se diga “perante as testemunhas”, “estando juntos, no mesmo quarto,
testador, oficial público e testemunhas”, etc. Já dissemos que se trata de fato
e de menção. Além disso, tem o oficial público de portar por fé que todas as
formalidades foram observadas e a co-presença das testemunhas é uma
dessas formalidades.
Quanto a hipótese c), é pouco provável que haja audição e visão suficientes
se os dois compartimentos são independentes. A excepcionalidade obriga os
réus, na ação de nulidade do testamento, a darem prova de que eram
perfeitas visão e audição.
Se, em se tratando das hipóteses a) e b), pode o juiz achar que a falta de
menção da circunstância não invalida o testamento, por se tomar por um só
o compartimento dividido em dois, um dos quais acessório e o outro
principal, de modo nenhum se justificaria que, sendo independentes os
compartimentos, de tal circunstância não se cogitasse na escritura pública
do testamento. Não podem estar co-presentes pessoas que se acham em
compartimentos diversos. A porta aberta, a janela intercalar, nada disso
assegura visibilidade e audição que o direito testamentário considere
compatíveis com a solenidade do testamento público. Invoca-se o acórdão
do Tribunal de Justiça de São Paulo, de 10 de março de 1925, como
permissivo de redação fora do quarto do testador, de acôrdo com as notas
ditadas, mas o acórdão não diz isso: di-lo a noticia da Revista dos Tribunais,
53, 380. O julgado é lacônico, afirma que foram observadas as formalidades
do art. 1.632, e nada mais. Foi confirmado em embargos, precedido de
idêntica explicação da Revista, mas igualmente lacônico, sem valor de
jurisprudência, o nôvo acórdão (1.0 de fevereiro de 1928, II. dos T., 65, 406
s.).
Uma vez que a co-presença tem por fito assegurar a liberdade de testar, a
autenticidade da procedência do ditado ou das declarações e a continuidade
do querer do testador, pela confirmação do testador, ao lhe ser lido o
testamento, não se compreende que o juiz opte pela validade da cédula se o
oficial público permitiu que o testador ficasse num quarto e algum ou
alguns dos outros figurantes noutro quarto. Se entre o quarto em que se
acha o testador e aquele em que êsse ou êsses figurantes se encontram, ou a
cada momento vão, interrompendo, assim, a unitas actus, medeia outro
quarto, terraço, pérgula, varanda, sacada, ,„iall, jardim-de-inverno, ou outro
lugar de serventia, seria conspirar contra a letra da lei e contra o direito
brasileiro, em sua sistemática, pretender-se que valha a cédula testamentária
em que o testador e algum ou alguns dos figurantes ficaram separados.
outorgante, ao passo que, além do que está escrito no artigo 1.632, 1 (“que
seja escrito por oficial público em seu Livro de notas, de acôrdo com o
ditado ou as declarações do testador, em presença de cinco testemunhas”),
se lê, no Código Civil, art. 1.635: “Considera-se habilitado a testar
públicamente aquele que puder fazer de viva voz as suas declarações, e
verificar, pela sua leitura, haverem sido fielmente exaradas”.
Nenhum tempo pode passar, entre a leitura e as assinaturas, que não seja o
estritamente necessário para os atos tendentes à formalidade final (abertura
do Livro diante do testador, que se acha na cama, ou procura de melhor
posição para assinar, preparativo de caneta para os figurantes, etc.).
Se o testador não sabe ou não pode assinar, o oficial público tem de declará-
lo, asinando pelo testador, e a seu rôgo, uma das testemunhas
instrumentárias (art. 1.633). Se assina a rôgo uma das testemunhas sem que,
no texto do testamento, o oficial público declare a ocorrência, é nulo o
testamento. Se consta do texto que uma testemunha assina pelo testador,
mas, ao assinar, a testemunha só o faz como testemunha, isto é, se‟ não
apôe a expressao a rogo”, ou outra que a valha, é nulo o testamento.
As expressões “perante mim compareceu F., que ditou (ou fêz as suas
declarações), testando” e o fato de achar-se o testamento no Livro de notas
bastam como especificação do artigo 1.632, 1, desde que se diga que
estavam presentes as cinco testemunhas.
Problema II. Assistir é estar presente; assistiu a todo o ato quem se retirou
da casa, ou do apartamento, ou do quarto? Tal problema será adiante
tratado.
Porque não basta que o oficial público declare, em geral, terem sido
observadas as formalidades dos arts. 1.632 e 1.633, „sendo preciso
mencioná-las uma por uma, é nulo o testamento em que se não diz ter sido
lido de acôrdo com o art. 1.632, III, ou de acôrdo com o art. 1.636, ou de
acôrdo com o artigo 1.637. A lei, conforme veremos, somente anui em
declaração em têrmos gerais quanto ao porte por fé, e não quanto à parte
„narrativa do testamento:‟ Quando o fato consta do testamento, como a
assinatura do testador, ou das testemunhas, não se dispensa a menção pelo
oficial. Assim, se, do texto escrito pelo oficial, não consta que o testador
assinou, mas está, efetivamente, assinado pelo testador o testamento, nem
vale êste, nem se exime da responsabilidade, o oficial que deixou de
mencionar o fato da assinatura.
11.PORTE POR FI. Conforme por vêzes temos mostrado e aparece, nítido,
no art. 1.634, a especificação das formalidades ou requisitos essenciais
(nos casos ordinários, os do art. 1.632; não sabendo ou não podendo ler o
testador, êsses e os do art. 1.633; se inteiramente surdo, êsses e os do art.
1.636; sendo cego, êsses e os do art.
A confusão entre a menção e o porte por fé tem sido causa de grandes erros
judiciários, que acabam por ser corrigidos nas instâncias superiores. Não
raro, os repertórios, os ementários e alguns livros incidem no êrro, e o que é
pior atribuem a certos acórdãos soluções erradas que dêles não constam.
Uma das vitimas é o acórdão da Côrte de Apelação do Estado de Alagoas,
datado de 5 de abril de 1935. Atribui--se-lhe ter decidido que o porte por fé
há de conter alusão a cada uma das formalidades. Ora, em tal julgado foi
declarado nulo o testamento público em exame, por ser nulo todo o
testamento de cujo instrumento “não consta que as testemunhas assistiram a
todo o ato, nem é especificada esta formalidade, bem assim quando não se
especifica, nem se menciona que o testamento foi lido perante o testador, e
as testemunhas simultâneamente”. Citam-se, ainda, aí, dois outros acórdãos,
um, de 26
Ao exame da Côrte de Apelação de Santa Catarina (1?. de D., 122, 396 s.),
a 7 de julho de 1936, foi parar testamento ruja nulidade se argúia porque se
não portava por fé terem sido observadas todas as formalidades (dizeres
gerais), nem se especificara qualquer delas.
Referem ainda testemunhas que, finda a leitura, o testador sorriu, disse uma
frase chístosa de gíria popular e lançou firmemente sua assinatura,
conforme se vê de fotografia, em confronto com outras firmas, de datas
anteriores à sua enfermidade” (voto do Desembargador GUSTAVO PENA).
TROPIJONG, não deve ir ao ponto de, sob côr de guardar a lei, destruir a
vontade veneranda do de cuins (voto do desembargador OROsIMBo
NONATO).
Seja como fôr, uma lição existe nos votos vencedores da Câmara Cível da
Côrte de Apelação de Minas Gerais.
NONATO citado trecho nosso a êsse respeito, mas uma coisa é interpretar-
se a lei e outra inverterem-se os seus planos de política jurídica, insinuar-se
o dito “Le fond emporte la forme” onde o legislador quis, ordenou,
entendeu ser de interêsse público,. que a forma prime, que “La forme
emporte le fond”.
escrito pelo testador ou por outra pessoa a seu rôgo; se não foi escrito pelo
testador, mas êsse sabia escrever, assinado por êle, sob pena de nulidade.
SOUSA: bastava ser dobrado. Cosido e cerrado donde o nome por tê-lo de
cerrar e coser o oficial, e não o testador, a quem não se concedeu cerrasse e
cosesse. Oficial vê, mas não lê. Contrária opinião, talvez pelo influxo dos
Códigos Civis francês e italiano, a de M. A.DUARTE DE AZEVEDO e
MARTINHO GARCEZ.
Trata-se de ato pessoalíssimo. E não só pessoal4ssimo, ato que tem por fim
deixar certo qual o testamento de que se trata. Pessoalíssimo, para que se
identifique o testador, e imediatamente relativo a determinado escrito, para
que se identifique a cédula testamentária.
Uma vez que a tradição tem por fim evitar a substituição do testamento e
comprovar a sua identidade, não bastariam gestos, não-traslativos, do
testador. Em 18 de junho de 1869, a Relação do Rio de Janeiro decidiu que
a entrega por outrem, apontando o testador a cômoda em que estava o
testamento, não poderia ser suficiente. Em 22
ensinavam, que não precisam, no velho sentido, ser rogadas, nem por isso
deixam de ser, hoje em dia, testemunhas convocadas, ainda que
aproveitadas dentre as pessoas acidentalmente presentes. Devem estar ali,
sem interrupção, como no testamento público, mas somente a partir do
gesto do testador ao passar às mãos do oficial a cédula testamentária,
declarando-a sua e dizendo que é para ser aprovada, até ~a completa
ultimação do ato que é o cerrar e coser (art. 1.688, XI).
A lei não exige a unidade de ato à escritura da cédula testamentária, que vai
ser dada para a aprovação. Mas o instrumento de aprovação e todas as
solenidades que o precedem e sucedem têm de ser ininterruptos. Yale dizer:
desde o gesto da entrega, presentes oficial, testador e testemunhas (artigo
1.688, IV), até o cerrar e coser do testamento (art. 1.688, XI), tudo tem de
fazer-se sem interrupção: continuIdade e presencialidade desde o principio
até o fim.
O uno contextu quer dizer sem interrupção para outra coisa ou ato: non
miscetur actus testamento alienus (ANTÔNIO flE SOUSA DE MACEDO,
Decisiones supremi Senatus iutitiae lusitaniae, 15).
“Uno contextu actus testari oportet. est autem uno coritextu nuilum actum
alienum testamento intermiscere: quod si aliquid pertinens ad estamentum
faciat, testamentum non Vitiatur”
Tirando em português:
O que logo se nota nas regras jurídicas do Código Civil éque o art. 1.645,
ao considerar essenciais os requisitos, incluiu a intervenção ab initio das
testemunhas, o que vai ser desfeito pelo art. 1.647, verbis “ao menos, sôbre
a sua leitura, perante elas”. Passou a leitura a ser o requisito essencial, em
vez da intervenção desde o comêço. Noutros têrmos: a intervenção desde o
comêço, que é requisito essencial para o art. 1.645, deixa de ser requisito
essencial.
Assim, se o testador tem alguma coisa a fazer que fiquem dêle separados,
por se envergonhar o testador de alguma coisa natural, fazer diante delas,
introduzidas, de nôvo, as testemunhas, prossiga-se na feitura do testamento.
Se algo semelhante acontece a alguma ou a algumas das testemunhas e a
necessidade pode passar em breve intervalo de tempo, espere-se de nôvo o
regresso delas e levem-se a cabo as solenidades.
O Código Civil exige que as testemunhas assistam a todo o ato. Quer dizer:
que estejam presentes a) no momento em que o testador vai começar a ditar
o testamento ou a prestar as declarações (testamento ditado ou declarado) ;
b) no momento em que começa a ditar ou prestar as declarações; c) durante
os momentos subsequentes em que se prossegue o ditado ou a declaração;
d) a tôda a redação do testamento, quc. há de ser à medida que o testador
dita ou declara,; porque não seria de admitir-se que o tabelião ouvisse todo
o ditado ou as declarações e só depois, confiando na sua memória, ou nas
suas notas, redigisse o testamento; e) à leitura do testamento, que há de ser
logo após a escrita e sem quebra da co-presença de todos os figurantes; f) à
declaração do testador de que está conforme o que ditou ou declarou, ou à
indicação dos pontos que precisam ser acentuados, alterados, corrigidos,
repetidos ou retirados; g) à leitura, dos pontos acêntuados, alterados.
corrigidos, repetidos ou retirados, e à declaração do testador de que está
satisfeito com a forma e o fundo; h) à assinatura do testamento pelo
testador, testemunhas e tabelião, que há de ser “em seguida à leitura”.
Se o tabelião não vê o testador quando êsse fala, não pode saber se a voz
édêle, ou, pelo menos, se, ao falar, fala sem coação física ou moral. f) Se,
durante a leitura, não se achava presente alguma testemunha, ou não se
achavam presentes algumas testemunhas, ou o oficial, nulo é o testamento.
g) Se o testador, o oficial público ou alguma testemunha se ausentou entre a
leitura e a assinatura de todos, nulo é o testamento.
“não o haver” pelo lado da lei, e não se querer assegurar, pelo lado do
direito. Vacilações de que dão mostras MANUEL DE ALMEIDA E SOnSA
(Notas de Uso prático e criticas, III, 265) e ANTONIO JOAQUIM DE
CAPITULO XXVII
O ato que impede revogação pode apenas ser ato ilícito, que dê ensejo a
indenização de perdas e danos. O que poderia ter sido revogado, e não no
foi, persiste. Se a violência ou o dolo ou o êrro atinge ato revogatório, que
se perfizera, há invalidade dêsse. O texto revogatório há de ser negócio
jurídico perfeito.
1. TExTO LEGAL. Diz o Código Civil, art. 1.746: “O testamento pode ser
revogado pelo mesmo modo e forma por que pode ser feito”.
Não só. Aplica-se à revogação tudo que foi dito sôbre interpretação.
Se a deixa é legado, o art. 1.708, I-V, incide. O testador quis legar biblioteca
para ser aberta ao público, constituindo-se fundação, e vende, antes de
morrer, o prédio, ou quase todos os livros, mudou de vontade, sem haver
revogação que éretirada da voz (revocatio) e a disposição testamentária
caduca. Outrossim, se o testador diz legar fazenda, para posto de ensino
agrícola, e a loteia, antes de morrer, não deixando o que se preste ao
cumprimento da sua vontade. Ambas as espécies cabem no art. 1.708, 1.
Porque, aí, a alienação não operou como diminutiva do valor, mas sim
como modificativa da coisa, tornando-a inadequada à deixa testamentária,
em sua forma, ou em sua destinação. ~ a adenção, espécie de caducidade.
No Código Civil suíço, art. 509, declara-se que o disponente pode revogar
seu testamento em qualquer tempo, observando uma das formas
estabelecidas para testar. Entendem os comentadores: testamento público,
hológrafo, e dadas as circunstâncias oral. Porque admite o contrato de
herança, também êsse (P. Troa, Das Erbrecht, Kommentar vim
Sckweizerischen Zivilgesetzbuck, 111, 841; A. ESCRER, Das Erbrecht,
Kommentar zuhi schweizerischen Zivilgesetzbuch. III, 95). Formas
testamentárias, e não, estritamente, testamento.
No direito francês, o Código Civil conhece dois meios (artigo 1.085) : “Les
testaments ne pourront être révoqués, en tout ou en partie, que par un
testament postérieur, ou par un acte devant notaire, portant déclaration du
changement de volonté”. No entanto, e apesar de se falar em “testament
postérieur”, foi reconhecido que o ato revocatório não precisava ser
testamento: bastaria a forma testamentarta.
OLIvEIRA
(Elementos de Direito das Sucessões, 2~a ed., 898). Para o primeiro, a
intenção do Código Civil foi abolir essa forma revogatória, o que resulta da
supressão das palavras dos Projetos, que a consignavam. Também o
codicilo, acrescentou, não é meio adequado de revogar testamento. Quanto
a êsse último ponto, estudaremos a questão. Para o segundo, a revogação
somente pode ser feita por meio de testamento, mas o de uma forma pode
revogar o de outra.
Diz o Código Civil suíço, art. 509, alínea 1.a: “Der Erblasser kann eine
letzwillige Verfiigung jederzeit in einer der Formen widerrufen, die Rir die
Errichtung vorgeschrieben sind”. Na edição francesa, “Le disposant peut
révoquer son testament en tout temps à la condition d‟observer 1‟une des
formes prescriptes pour tester”.
“La revocazione espressa puô farsi soltanto con un nuovo testamento, o con
un atto Picevuto da notalo in presenza di due testimoni, in cui il testatore
personalmente dichiara di revocare, in tutto o in parte, la disposizione
anteriore”.
“Ainda sem fazer testamento nôvo, pode o testador anular o anterior por
declaração notarial ou judicial neste sentido, que se inscreve no registo de
atos ou no protocolo judiciário”. Se lermos o art. 425, no qual se cogita da
forma do testamento, veremos que a aparente exceção da alínea 2.~ do art.
426 só tem o efeito de permitir revogação nua: o legislador deixou claro que
outro testamento revoga (alínea 1.~) e, ainda sem disposição positiva (quer
dizer: sem fazer nôvo testamento), pode haver revogação. No fundo, o
mesmo que o Código Civil brasileiro, o suíço, o alemão e o italiano de hoje,
porque a exigência formal para a simples revogação é a mesma exigida ao
testamento. Com uma particularidade: poder fazer-se judiciàriamente e
inscrever-se no protocolo judiciário. Donde se conclui haver critério oposto
ao do legislador francês e do portugues: a revogação tem, lá, importância
maior.
“lego cem apólices a E”: não teria nome, mas seria um testamento, em parte
positivo e, em parte, revogação.
2 a partes.
O codicibo só pode tirar o que êle pode dar. Mas o que êle pode dar, claro
que o pode tirar. Não se pode apagar, com o codicilo, a herança que se
deixou em testamento. Nem deserdar. Mas duas validades, sôbre o mesmo
objeto, seriam absurdas: em tudo que podia consistir a disposição codicilar
revoga-se o testamento, antes feito. Ném será preciso dizer que tudo mais
subsiste: tudo mais não foi atingido. Só a declaraç~o válida, em codicilo,
risca a outra, sôbre o mesmo assunto, que se fêz no testamento.
Diz o Código Civil italiano (1942). art. 681: “La revocazione totale o
parziale di un testamento puô essere a sua volta revocata sempre con le
forme stabilite dall‟articolo precedente. In tal caso rivivono le disposizioni
revocate”.
Projete primitivo, art. 1.908: “A revogação feita por testamento pode ser
total ou parcial. Se a revogação fôr parcial ou se o testamento posterior não
contiver uma cláusula revogatória expressa, o anterior subsiste em tudo que
fôr contrário ao posterior”. Cf. Projeto revisto, art. 2.118. O Projeto de
COELHO RODRIGUES dizia (art. 2.486): “A revogação do testamento
pode ser total ou parcial, e neste caso o anterior subsiste em tudo que não
fôr contrário ao posterior”.
509.
1.747, parágrafo único) e a revogação por ato material (ad. 1.749). Bem
assim, as rupções (arts. 1.750- -1.752).
1. TEXTO LEGAL. Diz o Código Civil, art. 1.747, parágrafo único: “Se a
revogação fôr parcial ou se o testamento posterior não contiver cláusula
revogatória expressa, o anterior subsiste em tudo que não fôr contrário ao
posterior”.
Outros sistemas houve, e há. O nemo pro parte testatu2 pro parte intestatus
decedere potest não tinha a conseqUência de tornar incompatíveis dois ou
mais testamentos, mas a coliseqUência era a do princípio da ruptio.
c)No Westgal. Gesetzbuch, II, § 500, a solução foi diferente. Bem assim, no
Código Civil francês, no Projeto da Réssia, art. 181, e no Código Civil
saxônico, § 2.216. Com êste sistema, o Código Civil italiano revogado, art.
920; o Código Civil~ português revogado, art. 1.756; o chileno, art. 1.215;
o venezuelano, art. 984; o peruano, art. 848; o boliviano, arts. 588 e 584
(fala em caducar) ; e o japonês, art. 1.125. Depois, o Código Civil alemão,
§ 2.258; o suíço, arts. 509-511; e o Código Civil brasileiro, art. 1.747,
parágrafo único. Aqui, havendo a incompatibilidade entre as duas cláusulas
do prius e do posterius, não se vai indagar da vontade do testador: o que
decide é o simples fato de existir a contradição, sem se cogitar da
consciência do testador em contradizer-se (II. DERNB1JRG, Das
flúrgerliche Rechi, V, 111). Aliás, o Tribunal alemão (R.J.A., IX, 85) já
procurara atenuar isso. Trata-se de invalidação, operada por disposição de
lei, que criou presunção absoluta.
Aliás, o Código Civil francês, art. 1.086, recorre à noção de anulação :“Les
testaments postérieurs qui ne revoqueront pas d‟une maniêre expresse les
précédents, n‟annuleront, dans ceux-ci, que celles des dispositions y
contenues qui se trouveront incompatibles avec les nouveiles, ou qul seront
contraires”.
1.747).
„quero que herde a minha fortuna meu sobrinho José”. Houve mudança de
vontade, alguma coisa se infirmou, uma disposiçáo do primeiro testamento
não subsiste, mas essa disposição não é a relativa ao legado, e sim a
referente à herança. O legado subsiste. b) A verba do testamento dizia:
“Deixo as apólices que tenho a meu sobrinho Antônio”.
Pode ocorrer que se haja por ineficaz uma das muitas disposições dos
testamentos que se tenham de cumprir como um só, ou por ter havido
revogação parcial, ou por ter havido infirmação, e vir à balha a questão do
contágio excepcional às outras disposições. Já tratamos dêsse assunto e de
regra jurí4 dica induzida pela ciência a respeito das disposições testa
mentárias. A regra jurídica, a que naqueles lugares nos referimos e a do art.
1.747, parágrafo único, são entre si independentes, porém podem incidir
nos mesmos testamentos.
2 a do art. 739,
Quanto à lª parte, cf. Projeto primitivo, art. 1.909; Projeto revisto, art.
2.114. Quanto ã 2A parte, Projeto revisto,
-art. 2.114: “A revogação terá efeito ainda que o testamento vosterior
caduque por indignidade, incapacidade ou renúncia do herdeiro nele
nomeado; mas não assim se fôr declarado nulo”. A Câmara dos Deputados
(Trabalhos, III, 515) acres-tentou, in fino: “por deficiência de solenidades”.
A emenda n. 1.689 do Senado Federal trocou-o pelo seguinte: “mas não
valerá, se o testamento revogatório fôr anulado por omissão ou infração de
solenidades essenciais”.
Em todo o caso, êste final, redundante podia estar em lei, por abundante
cautela do legislador Não assim a primeira parte:
Bem delicada situação, que põe à prova a pertinência do art. 1.748, e vai
evidenciar o perigo de tais incursões legais no domínio da autonomia da
vontade. Pela redação do testamento
b vê-se que o testador instituiu, em verdade, os mesmos sobrinhos, e
naquelas fidúcias necessárias de cinco anos cada uma tinha por fito a
administração e guarda dos bens até mais de~ anos após a morte do
testador. Proceder-se-
Passemos a outra revogação, direta, imediata, mas em ate, tácita, seja ato
positivo, seja negativo.
Cf. Projeto revisto, art. 2.115: “O testamento cerrado que o testador abrir,
ou dilacerar, ou fôr aberto ou dilacerado com „seu consentimento, haver-se-
á como revogado”. O Projeto primitivo, art. 1110, dizia: “Considera-se
também revogado o testamento que foi pelo testador, intencionalmente,
riscado, cancelado ou rasgado”.
No caso da espécie o), surge questão que ainda hoje nos interessa: a incisão
em momento de loucura. Há um texto (L. 20, D., de injusto rupto irrito
facto testamento, 28, 3): fêz Lúcio Tício, em juízo perfeito e saúde, como
havia de ser, o seu testamento; depois, adoecendo, mentecapto, o rompeu;
pergunto: ~,podem os herdeiros instituidos neste testamento adir a herança?
Mais: se houve faisca, vinda de outro prédio, ou se o fogo veio da vela que
estava na mesa e com o vento caiu.
Só o consentimento do testador é que implica revogação.
No caso da espécie c), surge questão que ainda hoje nos interessa: a incisão
em momento de loucura. Há um texto (L. 20, D., de injusto rapto irrito
facto testamento, 28, 3): fêz Lúcio Ticio, em juízo perfeito e saúde, como
havia de ser, o seu testamento; depois, adoecendo, mentecapto, o rompeu;
pergunto: &podem os herdeiros instituidos neste testamento adir a herança?
§ 724) arquitetou doutrina, que, hoje, perante o Código Civil, não pode
lograr acolhida: basta aparecer rasgado, aberto, riscado, obliterado, ou com
outros indícios de inutilização, em ponto essencial, para se presumir
revogado; cessa a presunção, se fôr provado que o autor não foi o
disponente, ou, se o foi, não tinha o ânimo de revogar; se em parte, valia o
resto. Em nota a PAScOAL JOSÉ DE MEL6‟ FREIRE, contra, MANUEL
DE ALMEIDA E
“aviniesen en la carta dei testamento por ocasión, é que non fuesen fechas a
sabiendas”.
O Código Civil brasileiro, art. 1.749, nada tem com o direito peninsular. As
parecenças cóm o Código Civil alemão, menos com o suíço, mostram que
os elementos interpretativos e doutrinários de que podemos lançar mão
pertencem ao nosso tempo, àqueles dois Códigos Civis que o precederam,
porém, quanto ao propósito infirmativo e não presunção, o Código Civil
suíço não ao sistema jurídico brasileiro (só se refere àdestruição completa).
No Código Civil suíço, art. 510, 13 alínea: “Der Erbíasser kann seine
letztwillige Verfflgung dadurch Widerrufen, dasa er die Urkunde
vernichtet”. 23 alínea: “Wh~d die Urkunde durch Zufaíl oder aus
Verschulden Anderer vernichtet, só verliert die Verfugung unter Vorbehalt
der der Ansprúche auf Schadenersatz gleichfalls ibre Gtiltigkeit, insoeern
ihr Inhalt nicht genau und vollstãndig festgestellt werdeh kann”. Texto
francês: „Te disposant peut révoquer son testament par Ia suppression de
1‟acte. lorsque l‟acte est supprims par cas fortuit on par la faute d‟un tiers
et qu‟il n‟est pas ~0~sible d‟en rétablir exactement ni intégralement le
contenu, le testament cesse d‟être valable; -tous dommages-intérêts
demeubent réservés”.
c) Os defeitos dos atos jurídicos viciam, por igual, os atos do art. 1.749: são
disposições de última vontade; portanto, atos jurídicos, como os outros.
Podem ser argUidos o dolo, a coação, as ameaças, o êrro. Tudo que se
aplicou aos testamentos também se aplica à revogação, quer seja a dos arts.
1.746 e 1.747, quer a do art. 1.749.
Também não basta para os efeitos do art. 1.749 que, tendo alguém, contra a
vontade do testador, rôto, ou cancelado o testamento, aquele tardiamente
venha a sabê-lo < jurisprudência alemã do Supremo Tribunal, cf. F.
KRETZSCHMAR, Das Krbrecht des deutsefleu SUB., 2? ed., § 21, nota 12;
cp. H. DERNBURG, D‟as BiirgerUche Recht, V, § 40, n. 12; contra:
RONRAD COSACK, Lehrbuch des Deutschen B‟iirgerlichen Reckts, ~
“queimado”, e isso não bastará para a aplicação do art. 1.749: podia ter feito
outro, o que seria o caso extremo de mudança de vontade, e rôto o outro,
conservado o que reputava de parte (caso semelhante, na Alemanha, com as
palavras “veraltet”, “verbrennen”, queimar, em J. A. SEUFFERT, Arclviv,
78, 906 s.). Mas o Tribunal do Reich e o Tribunal de Hamburgo
(Zentralblatt flir freiwillige Gerichtsbarkeit, Notariat und
Zwangsversteigerung, 14, 666) reputaram suficiente a simples palavra
“anulado”. Não está certo, a fortiori no direito brasileiro; seria revogação
escrita sumarissima. sem forma, e a lei só dispensa de forma a destruição
material, o corte das linhas, a dilaceração, a inutilização por ato do testador.
Demais, na Alemanha, há o testamento particular sem testemunhas, o que
muda um pouco a face da questão, ao passo que o Brasil não no tem.
13.ATOS DESTRUTIVOS ~Ã DEPOIS DA MORTE DO TESTADOR.
Quanto aos casos do a), tôda a questão consiste em apreciar o ato, quer
dizer em se saber se houve, ou não, suficiente iniciação e realização do
intuito infirmativo. Só o juiz pode, com os dados de fato, soberanamente
decidir. Por isso, em seu apriorismo, não tem aplicação em todos os casos, a
50-lução do Reichsgericht e de OTTO
“Não é verdade que, pela direito atual, não seja mais permitido justificação,
nos casos do art. 1.749 do Código Civil, por se presumir sempre que o
testamento cerrado, apresentado aberto, foi revogado pelo testador. Como
pondera PONTES DE MIRANDA, “não se presume que o testamento
cerrado, que se‟ encontrou aberto ou dilacerado, foi aberto pelo testador, ou
com o seu consentimento. O que se presume é que o revogou, se foi
encontrado em tais condições, provado que êle o abriu ou dilacerou, ou que
o dilaceraram ou abriram com o seu consentimento” (Tratado dos
Testamentos, V, n. 2.057). Os pressupostos da revogação presuntiva são a
abertura ou dilacera ç~o do testamento cerrado, feita pelo próprio testador,
ou por éle querida, quando terceiro o faz. Mas êsses fatos e tal intenção do
testador devem ser provados, sem o que a presunção revogatória não existe.
Daí a razão de permitir-se, medianta justificação, a prova de que os aludidos
fatos não foram praticados nem queridos pelo testador, o que exclui aquela
pre sunção, dando-se como, aparentemente, válido o seu testamento. Essa
prática não é defesa, como pretende o apelante, em nosso direito atual”.
preciso que as tivesse feito o testador, para que tenham o efeito revogatório.
Foi isso o que a lei estatuiu, e não mais do que isso.
A presunção de o testamento ter sido ferido pelo interessado ofendido pelo
testador, ou por acidente, ou por outrem, constitui matéria de presunção de
fato, e não legal. As circunstâncias é que podem criá-la: a respeito,
nenhuma iniciativa teve a lei. Nem sequer permite qualquer regra jurídica a
priori sôbre o ônus da prova. Tudo depende dos fatos circunstantes.
Exemplos:
Nos Projetos suíços, acrescentava-se: “por qualquer modo faça sem efeito”;
mas a lei riscou. No caso de jogar no lixo, ou na cesta, se reaparecido,
cumpre-se: não seria de admitir que a vontade de revogar ato tão solene se
satisfizesse com isso.
quando pensava ter jogado a cópia ou a minuta; b) que houva erro, dolo ou
outro vício de vontade; e) que foi ato de outrem, sem o seu consentimento
(consentimento é que faria a decla ração de vontade).
2, n. 51):
434
2 a parte, 21-23), a êste respeito, são dêstes textos, que valem como
aberturas definitivas para a verdade histórica, pôsto que, antes, E. VON
LoRR (Magazin fúr Rechtswissenschaft und Gesetzgebung, 111, 221), já
houvesse ousado concepção de todo o bonorum possessor non heres como
assaz parecido com o fideicomissário universal. Porém não é nessa figura, e
sim no conjunto do que escreveu, que está o valor das páginas de D.
BURKARD WILIIELM LEIST.
Uma vez que não deixava de existir o testamento, não se podia cogitar de
efeitos se o liber premorreu. Se êle vivia, dava-se a bonorum possessio, e
note-se bem a expressão contra tabulas, contra lignum testamenti, porque,
em verdade, há testamento formalmente válido. Subsistiam todas as
disposições que não prejudicassem o liber omitido, inclusive as
deserdações. O prazo para a bonorum possessio contra tabulas era curto: o
da bonorum possessio em geral, cem dias; por exceçao um ano para os
sucessíveis em linha reta.
“4. E tudo o que acima dito é, quando o pai morre deixando filhos, haverá
lugar, quando faz testamento, e morre sem filhos, e lhe ficam netos, ou
outros descendentes. E isso mesmo haverá lugar, quando o filho, ou neto,
ou outro descendente falecer, e fizer testamento em cada uma das maneiras
sobre-ditas, sem deixar descendentes, e tiver pai, mãe, ou outros
ascendentes. 5. Outrossim, se o pai, ou mãe ao tempo do testamento não
tinha filho legítimo, e depois lhe sobrevei o, ou o tinha, e não era disso
sabedor, e é vivo ao tempo da morte do pai, ou mãe, assim o testamento,
como os legados nele cmiteúdos são nenhuns e de nenhum vigor”.
Dizia Código Civil italiano revogado, art. 888: “Le disposizioni a titolo
universale o particolare fatte da chi aí tempo deI testamento non aveva o
ignorava di avere figli o discendenti, sono rivocate di diritto per l‟esistenza
o la sopravvegnenza di un figlio o discendente legittimo dei testatore,
benchê postumo o legittimato o adottivo. Lo stesso ha luogo ancorchê ii
figlio fosse concepito aí tempo deI testamento, e trattandosi di figlio
naturale legittimato, ancorchê fosse già stato riconosciuto daí testatore
prima dei testamento e soltando legittimato dopo. La rivocazione non ha
luogo qualora ii testatore abbia proveduto ai caso che esistessero o
sopravvenissero figli o discendenti da essi (art. 1.084)”. No art. 889: “Se i
figli o discendenti sopravvenuti premuoiano aí testatore, la disposizione ha
ii suo effetto”.
Assim, o Código Civil parmense, art. 759, o Código Civil albertino, art.
882, e o Código Civil estense, art. 810.
Diz, hoje, o Código Civil italiano, art. 687: “Le disposizioni a titolo
universale o particolare, fatte da chi ai tempo dei testamento non aveva o
ignorava di aver figli o discendenti, sono revocate di diritto per l‟esistenza
o la sopravvenienza di un figlio o discendente legittimo deI testatore,
benchê portumo o legittimato o adottivo, ovvero per ii riconoscimento di un
figlio naturale. La revocazione ha luogo anche se ii figlio éstato concepito
aí tempo dei testamento, e. trattandosi di figlio naturale legittimato. anche
se é già stato riconosciuto daí testatore prima dei testamento e soltanto in
seguito legittimato. La revocazione non ha invece luogo qualora ii testatore
abbia provveduto aí caso che esistessero o sopravvenissero figli o
discendenti da essi. Se i figli o discendenti non vengono alia successione e
non si fa luogo a rappresentazione, la disposizione ha ii suo effetto”.
Rigorosamente, o art. 1.750 prende-se ao dispositivo italiano, em que
TIIÉOPHILE fluo reconhecia “un hommage aux sentiments les plus vrais et
les plus respectabies du coeur humain”, e não ao caso simular de ruptio
romana, ligado a priucgpio formalístico.
Mas rompe-se:
b) Se o testador não sabia ser vivo algum ascendente, e apareceu: aqui, a lei
diz algo deselegante, porque o caso dos descendentes sucessíveis já foi
tratado; aqui e ali, é de prete rição ignoranter que se trata. Resta o que
concerne aos ascendentes, que são os outros herdeiros necessários.
De qualquer modo, a redação dos arts. 1.750 e 1.751 é má. Ao testador que
não tinha descendente sucessível, êste pode sobrevir, mas ao que tinha, e
não conhece, o herdeiro aparece, prova a existência, apresenta-se, revela-se,
e não sobrevém, como encambulhou o art. 1.750. O caso de aparição que
estive no art. 1.750, relativo a descendente, devia vir no ad. 1.751,
concernente ao mesmo assunto em relação a ascendentes.
A adoção pode mesmo ser para que a beneficiada pague impôsto menor,
como herdeiro necessário (cf. 83 Câmara Cível do Tribuna] de Justiça do
Distrito Federal, 18 de agôsto de 1947, O D., 50, 383).
~o testamento, nos casos dos arts. 1.750 e 1.751, é vere ruptum, ou apenas
praesumptive ruptum? ~ Há, ou não, praesumptio zurzs et de inre?
As regras jurídicas dos arts. 1.750 e 1.751 não são regras jurídicas de
interpretação: são regras jurídicas imperativas, contêm ruptio, dita
revogação ipso iure. A presunção foi, quando muito, fundamento para se
legislar, O testamento rom pe-se, desde que caiba a invocação dos arts.
1.750 e 1.751;
A preterição ignoranter dos netos no caso do art. 1.750 não era pacifico
rompesse o testamento. Além de SAMUEL STIIYK, PAUL BARRY e
outros eram contra. Mas, hoje, o Código Civil é claro: descendente
sucessível. Netos, bisnetos, e assim por diante. Mais explícitas as
Ordenações Filipinas, Livro IV, Título 82, § 4: “e lhe ficam netos, ou outros
descendentes”, porém não quanto ao póstumo (cp. § 5).
nascetur.
1.750.
a) Existência de testamento.
& Se o herdeiro comoriente deixou filhos? Não víamos. até 1935, em livro
nenhum, levantada a hipótese. Mas cumpre distinguir:
Errados os acórdãos da
A adoção faz-se por escritura pública, em que se não admite condição, nem
térmo (art. 875). A legitimação supõe reconhecimento e casamento
posterior (art. 353). Nem ela, nem o reconhecimento, pode subordinar-se à
condição (art. 861). Distinga-se: a) ~A ressalva do testamento é condição?
Impõe-
Cf. Projeto primitivo, art. 1.913: “Rompe-se também o testamento que foi
feito na ignorância de existirem outros herdeiros reservatórios do testador”;
Projeto revisto, artigo 2.120.
2.FONTE. Cp. Código Civil argentino, art. 8.715: “La preterición de alguno
ó de todos los herederos forzosos en la linea recta, sea que vivan aí
otorgarse el testamento, ó que nazean, muerto el testador, anula la
institución del heredero; pero valdrán las mandas y mejoras en cuanto no
sean inoficiosas”. Bem diferente, como se vê. Trata-se de preterição de
alguns, o que, no Brasil, não causa a ruptura. O art. 1.751 fui uma extensão
brasileira do Código Civil italiano revogado, só referente a filhos.
O que logo se entende é que a lei figura o caso de saber o testador quais são
os herdeiros e ignorar outro ou outros.
Imediata, diretamente, foi isso o que se disse, tanto mais quanto não se trata
de parágrafo do art. 1.750. Mas o verdadeiro sentido, a regra legal, é bem
diferente: o art. 1.751 contém referência implícita ao art. 1.750; os outros
herdeiros, de que fala, são os outros herdeiros necessários, além dos
descendentes sucessiveis, a que se refere o art.
1.750, portanto os ascendentes. Assim, se o testador sabe que tem um avô e
testa, e depois surge outro avô, não se rompe o testamento. Dá-se a
aplicação da porção legítima aos dois, em vez de a um só. Só se rompe se o
testador ignorava a existência de qualquer ascendente e testou.
A lei nada disse: falou disto, indiretamente, no art. 1.750; no art. 1.751, foi
omissa. Mas devemos interpretar como se contivesse, mutatis mutandis, a
frase final do art. 1.750, “se êsse descendente sobreviver ao testador”.
O art. 1.752 vai cogitar da redução, remetendo aos artigos 1.741 e 1.742, e a
outra parte cabe à interpretação do texto testamentário.
A ruptura do testamento com base no art. 1.750 ou no art. 1.751 atinge todo
o testamento, inclusive no tocante aos legados.
Nas Ordenações Filipinas, Livro IV, Título 82, pr., dizia-se: “Se o pai, ou
mãe fizerem (sh~) testamento, e sabendo que tem filhos, tomarem a têrça de
seus bens, e a deixarem a quem lhes aprouver, ou a mandarem distribuir
depois de suas mortes, como fôr sua vontade, pôsto que no testamento não
sejam os filhos expressamente instituidos, ou deserdados, mandamos que tal
testamento valha, e tenha efeito. Por quanto, pois tomou a têrça de seus
bens no testamento, e sabia que tinha filhos, parece que as duas partes quis
deixar aos filhos, e os instituiu nelas, pOsto que delas não faça expressa
menção, e assim devem ser havidos por instituidos herdeiros, como se
expressamente o fôssem, em favor do testamento”. No § 1: “E dispondo o
pai em seu testamento de todos seus béns e fazenda, não fazendo menção de
seu filho legítimo, sabendo que o tinha, ou deserdando-o, não declarando a
causa legítima, por que o deserda, tal testamento é por Direito nenhum e de
nenhum vigor quanto à instituição, ou deserdação nele feita~ mas os
legados conteúdos no dito testamento serão em todo caso firmes e valiosos,
enquanto abranger a têrça. do testador, assi e tão cumpridamente, como se o
testamento fOsse bom e valioso por Direito”.
Idem, se a referência foi para os deserdar, sem dizer qual a causa legal.
Nem a destruição sem intenção (Gill versus GilI, 1909), nem a intenção
sem destruição, pode bastar (Cheese versus Lovejay, 1877) e a destruição
deve ser assaz inteira para tornar, na forma, incompleto o ato, to vender the
documevt either incomplete in form (Goods of Morton, 1887) ou
ininteligível, como testamento, em substância (Leonard versus Leonard,
1902).
a)O testador não pode fazer acrescentos, nem apagar determinadas partes.
Em codicilo indicará as alterações que deseja, observadas, quanto ao
codicilo, as mesimas regras jurídicas que se aplicam aos testamentos. Se o
testador risca parte das disposições testamentárias, não se atende à
modifição: não é possível provar, aos olhos da lei nova-iorquina, que foi o
testador, e não outrem, que o suprimiu; se o testamento é regular, persiste
em tôda a sua inteireza.
Outro caso. Testamento sob a lei A, revogação por escritura pública (não
testamento), segundo a lei A, e revogação da revogação sob a lei E. Se nova
revogação desta sobrevém, ~vale a revogação por simples escritura feita
sob a lei A? Não, pela mesma razão que acima se invocou: o testamento
anterior, dissemos, se tivesse de ser hoje feito, não valeria.
2 a parte.
Se a lei A não tinha para tais atos sanções revogatórias, a lei E somente
pode atingir os atos que sob o seu domínio temporal se pratiquem. Ainda
assim, quando a lei nova nada dispuser sôbre os testamentos anteriores,
cumpre ao juiz verificar qual a verdadeira vontade do testador. Evite-se,
quanto possível, aplicar a lei contra a intenção do disponente.
e) Se a lei A tinha a ruptura do caso a), ou a do caso b), quer dizer ruptura
imediata e convalescença ou ruptura só ao tempo da morte, ao passo que a
lei E cria nulidade relativa, subordinada à prova do êrro (anulabilidade),
tem de ser verificado em que momento ocorreu o desaparecimento da causa
rompente: se antes da lei nova, rege a lei antiga; se na vigência da lei E,
nenhuma é a questão, porquanto nada depende de direito intertemporal.
Resta o caso do fato que persiste até o dia da morte do testador: ainda que
ocorrido sob a lei A, incide a lei nova. A objeção, no caso de ruptura e
convalescença, segundo a lei A, não tem grande importância: testamento
rôto, mas suscetível de convalescer, não deve equiparar-se àqueles que
irremediàvelmente se romperam (ruptura sem convalescença possível, da lei
nova do caso a), in fine).