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SINOPSE
A principal função das bibliotecas é a organização
O rápido crescimento dos registros gráficos, o dos conhecimentos existentes em suas coleções,
aparecimento de novas formas de publicação e a para que possam ser, sempre que solicitados, recu-
super-especialização das coleções bibliográficas perados com rapidez.
exigiram o uso de novas técnicas para pronta recu- O rápido e crescente desenvolvimento da tecnolo-
peração das informações contidas nos documentos. gia, e sua aplicação nas indústrias, contribuiu
Dentre todas as linguagens existentes, a classifica- para uma exagerada multiplicidade de especializa-
ção ainda é considerada a melhor por assegurar ções, originando uma variedade de novos
também uma arrumação lógica dos assuntos dentro documentos, tais como: relatórios técnicos e de
de uma coleção. pesquisas, patentes, informações sigilosas, relatórios
A necessidade de se considerar um documento, não (papers) de conferências, notas prévias (preprints),
apenas por seu aspecto físico mas também por microfilmes etc., informando sobre novas técnicas,
teorias, pesquisas, invenções etc.
seu conteúdo — simples ou complexo — levou os Tão grande tem sido essa produção, que nem
estudiosos a desenvolver a teoria de Ranganathan mesmo os usuários nela interessados são capazes
(divisão de um assunto por seus múltiplos aspectos de se atualizarem em suas próprias áreas de
ou facetas). Para tal fim, foi criado na Inglaterra, trabalho.
em 1952, o "Classifícation Research Group", cujo Também para as bibliotecas cada vez se torna
trabalho vem despertando o interesse geral, por sua mais difícil o controle dessa massa documentária,
fácil aplicação em campos especializados. porque, além de suas múltiplas formas de
Em nosso País, esta técnica foi introduzida junta- apresentação, existe ainda o problema da
mente com o "Curso de Pós-Graduação em Ciência complexidade de assuntos contidos num mesmo
da Informação", realizado pelo IBBD/UFRJ a documento, de interesse, muitas vezes, para
partir de 1970. Desde então, alertados para o pro- diferentes campos do conhecimento humano.
blema, bibliotecários, documentalistas, técnicos e Como organizar esse material da maneira mais
cientistas da informação vêm procurando maiores útil para uso? Como dispor, na coleção, documentos
detalhes para o processo de organização de tal do mesmo assunto, mas de formas diferentes, e
sistema. que por isso não podem ficar fisicamente reunidos?
Esse tipo de linguagem de recuperação exige um Historicamente, a classificação bibliográfica tem
trabalho de equipe, além de minucioso conheci- sido a mais antiga linguagem de recuperação; daí
mento da área a ser coberta. porque, por mais de três quartos de século, vêm
sendo usados os tradicionais sistemas de classifi-
cação para o arranjo mecânico das coleções.
Com o surgimento dos centros de documentação,
Conferência pronunciada na l. Semana de Estudos de serviços de bibliografia, bancos de dados e
Biblioteconomia e Documentação, Campinas, SP,
Faculdade de Biblioteconomia, setembro 1972.
outros semelhantes em empresas, indústrias ou fazem parte nomes como: J. Mills, D.J. Foskett,
órgãos do governo, interessados cada um em seus Shera, E. J. Coates, Farradane, Vickery, Langridge
próprios campos de trabalho, foi-se verificando e outros.
a inadequacidade do uso de tais sistemas para A base de seus estudos foi uma teoria totalmente
classificar documentos muito especializados. nova, desenvolvida por Ranganathan através de
Estruturados em base linear, isto é, na divisão sua Classificação dos dois pontos (Colon classifica-
hierárquica das ciências, em gradação por gênero/ tion), mencionada neste trabalho apenas como CC.
espécie, partindo do Universo dos conhecimentos, A grande contribuição de Ranganathan aos
até chegar a assuntos bem específicos, não estudos teóricos de classificação, não foi o seu
comportaram eles o enquadramento dos multi- sistema em si, de nenhuma aplicação prática no
dimensionais assuntos dos modernos documentos. mundo ocidental, mas sua idéia de dividir os
Daí serem desprezados por alguns e abandonados assuntos em categorias ou facetas, isto é, em ,
por muitos, partindo os bibliotecários e do- grupos de classes reunidas por um mesmo princípio
cumentalistas para o uso de outras técnicas de de divisão.
recuperação, como: indexação, seleção mecanizada, Essa nova técnica, permitindo maior flexibilidade
thesaurus etc. aos sistemas, por não prendê-los a uma hierarquia
Dentre os tradicionais sistemas em uso, deve ser
salientado o esforço desenvolvido pela FID para de divisão, veio resolver o problema da classificação
ajustar a CDU, nome pelo qual é conhecido a de assuntos de conceitos multi-dimensionais e
Classificação Decimal Universal, às novas ciências, dar novos ramos aos estudos teóricos das
a fim de continuar a ter a preferência dos serviços classificações bibliográficas.
especializados. Tendo sido na realidade, um Ranganathan, com essa contribuição, é, no nosso
sistema idealizado para classificar documentos, daí século, o que Dewey representou no século passado,
o motivo de ter sido acrescido de sinais e quando, com seu sistema decimal possibilitou,
símbolos para melhor correlacionar conceitos pela primeira vez, um arranjo relativo dos livros
diferentes, razão porque é chamado de analítico- nas estantes, permitindo assim a difusão do
sintético; não devemos esquecer que teve sua livre acesso.
origem no início do século — quando os documen- Mas, que significa, na realidade, uma classificação
tos não apresentavam tanta complexidade de facetada?
assuntos. Sua pequena base de apenas 10 dígitos Classificação facetada é o sistema que agrupa
origina notações demasiado longas, quando termos estruturados, na base da análise de um
usadas para classificar assuntos muito complexos, assunto, para identificação de suas facetas, isto é,
resultando numa multiplicidade de símbolos dos diferentes aspectos nele contidos.
diferentes para assuntos iguais, e conseqüentemente, A análise em facetas coordena conceitos, significando
separando o material dentro da coleção. que um assunto, por mais complexo que seja,
Está provado que a maneira mais útil para o uso de pode ser representado pela síntese de mais de uma
uma coleção é a sua localização física obediente faceta, cada uma indicando conceitos diferentes.
a uma sistematizarão, o que só é conseguido Eis a razão porque esse tipo de classificação é
através de uma linguagem artificial, de códigos chamado de analítico-sintético. Ranganathan diz
ou símbolos, capazes de, fisicamente, reunir os que apenas seu sistema é 100% desse tipo, e
documentos que tratam do mesmo assunto, conceitua a CDU como sendo um sistema
mecanizando a arrumação da coleção. Essa arru-
mação permite ainda que seja observado o semi-analitíco-síntético.
princípio da seqüência útil, que é a colocação do A análise em facetas agrupa os termos derivados
geral antes do específico, ou, segundo de um assunto cm 2 amplos grupos: facetas e
Ranganathan, o mais abstraio antes do mais subfacetas.
concreto. Na CC, por ser um sistema geral, Ranganathan
Sentindo a necessidade do uso de sistemas derivou, do Universo dos conhecimentos, 42 classes
especializados, principalmente depois da década principais, para depois aplicar a cada uma a
de 50, quando começaram a se desenvolver as análise em facetas
pesquisas técnicas e científicas, originando como O CRG, por ter interesse em cobrir apenas áreas
conseqüência uma extensa literatura sobre as especializadas, usando o mesmo princípio de
mesmas, surgiu em Londres, em 1952, o Ranganathan, partiu do conceito de que o Universo
Classification Research Group, ou CRG, composto dos conhecimentos é o assunto específico a
de professores, documentalistas e cientistas da classificar. Assim, Petróleo, Vidro, Seguro etc., são
informação, dispostos a estudar a elaboração de Universos a serem analisados em facetas e
sistemas mais flexíveis. subfacetas.
Desse Grupo, hoje famoso e internacionalmente Mas que são facetas e subfacetas?
conhecido pêlos profundos estudos nesse setor e Quando se aplica ao Universo dos conhecimentos
pela publicação de alguns sistemas facetados, um princípio de divisão, ou seja uma diferença
ou característica, ele se decompõe em partes,
isto é, cada diferença usada origina uma faceta
Prevenção da deterioração = Operação — Drama — Ficção etc., é uma ordem deste tipo.
Umidade = Agente 7) ordem da categoria favorecida (favoured
Guanabara = Lugar category). Quando necessário, a ordem das classes
1970 = Tempo coordenadas poderá ser arrumada na seqüência
Relatório = Forma de apresentação decrescente da quantidade de assuntos existentes na
coleção da biblioteca. 8) ordem alfabética
Para as subfacetas não existe uma ordem padrão (alphabetic sequence). Quando não for encontrada
de citação. outra ordem que melhor satisfaça um agrupa-
Geralmente, alguns critérios são levados em conta, mento, esta poderá ser usada.
sendo entre outros, os seguintes: a) as subfacetas Na realidade, essa última é a mais usada.
que exercem uma função devem preceder as não
funcionais; b) as especiais são colocadas antes das
comuns; c) as dependentes devem ser postas depois
daquelas das quais dependem; d) as naturais 6ª etapa: Ordem de arquivamento (filing order).
Chama-se ordem de arquivamento a ordenação de
antes das artificiais (usadas em ciência) etc.
todos os elementos, isto é, de todas as notações
numa seqüência vertical.
É, geralmente, o inverso da ordem de citação, e
5ª etapa: Agrupamento das subfacetas ou ordem reflete a ordem de arquivamento das fichas no fi-
dos arrays chário sistemático, e dos documentos na coleção.
Tendo sido levantadas as subfacetas de cada faceta, Alguns sistemas, entretanto, não observam esse
qual deverá ser a ordem dos termos dentro de princípio; mas está provado que os usuários prefe-
cada uma? Arbitrária? Para arrumar os termos em rem encontrar em primeiro lugar os documentos
cada subfaceta, ou seja, para ordenar os arrays, gerais sobre um determinado assunto, e, numa linha
não existe uma ordem padrão. ascendente, os assuntos mais específicos.
Vários cânones já foram estabelecidos por Sayers, A finalidade da ordem de arquivamento é colocar
Ranganathan e observados pelo CRG. o geral antes do específico.
São eles: 1) ordem crescente (increasing quantity). Dos tradicionais sistemas em uso, apenas a CDU
Sempre que a característica usada admitir medida observa essa seqüência.
quantitativa, as classes devem obedecer a uma Ranganathan chama a esse princípio de concreção
seqüência ascendente. Ex,: recém-nascidos, crian- crescente e, quando aplicado, muda sua fórmula
ças, jovens, adultos, velhos; 2) último-na-época para TSEMP.
(later-in-time). Sempre que os acontecimentos Dewey não observa essa ordem, pois, nas estantes,
ocorrem em épocas diferentes, as classes poderão os livros por ele classificados têm a seguinte
ser arrumadas em ordem cronológica. Ex.: Na CC, seqüência:
os sistemas de classificação ou escolas psicana-
líticas, são arrumados pela ordem das datas de seus Assunto Geral
aparecimentos; 3) ordem evolucionária (later-
in-evolution). Se as classes apresentam processos “ ÷ forma
evolucionários, devem ser ordenadas nessa ordem. “ ÷ tempo
“ ÷ local
Ex.: nascimento — casamento — doença — morte; “
4) proximidade de espaço (spatial contiguity). ÷ subdivisões
Sempre que as classes se referirem a proximidades
de espaço, devem por ela ser arrumadas. Ex.: O CRG usa a ordem inversa da sua ordem de cita-
Cabeça — olhos — boca — orelhas etc.; ou então: ção, ou seja:
copa — cozinha — banheiro etc. 5) ordem de Formas de apresentação
complexidade crescente (increasing complexity). Tempo
Se as classes mostrarem diferentes graus de com- Lugar
plexidade, devem ser arrumadas pela ordem Agentes
crescente desta complexidade. Foskett, em sua obra Operações
"The subject approach to information" exem- Propriedades/Processos
plifica isto com a Matemática, onde as Constituintes/Materiais
classes a ela subordinadas aparecem numa ordem Partes
ascendente de complexidade, como: Aritmética — Todo/Tipo
Álgebra — Geometria — Cálculo etc. No entanto,
Ranganathan, em sua CC, diz ser esta seqüência Para que essa ordem seja observada no sistema,
uma ordem canônica ou convencional, 6) ordem eleve haver o cuidado de se colocar as notações
convencional (canonical sequence). Desde que seja também obedecendo ao mesmo princípio, isto é,
considerada a melhor, esta ordem poderá ser dando letras e números mais baixos, em valor
usada. Na classe Literatura, a ordenação de Poesia ordinal, para assuntos mais gerais, e mais altos
para assuntos mais específicos.
Não é obrigatório que os sistemas apresentem essa observação do princípio da inversão, pois Produtos,
ordem inversa, mas é aconselhável, pois ela significando o Todo, isto é, o Produto final, tem
conduzirá os usuários dos assuntos mais simples notação de valor ordinal mais alto do que Materiais
aos mais complexos. e também a não observação da expressividade
Nos exemplos a seguir, todos de sistemas facetados das notações.
e elaborados por Foskett, podemos observar o
princípio da inversão aplicado também às notações. B Produtos (a serem embalados)
Em "Ciência do Solo", foram usados os números b latas, recipientes de metal
de l a 9 para as Facetas, e letras minúsculas para bb com a parte superior aberta
as subfacetas. O número 9, mais alto em seqüência bv lisas
ordinal, foi dado à faceta mais concreta, ou seja, bx próprias para aquecimento
Tipos de solo. Vejamos o exemplo da subfaceta: by linha de abertura marcada
c tamanhos
6 Propriedades cd fruta
b Física d peixe
c composição mecânica e carnes
d grau de agregação f alimento para animais
e coesão h leite
f consistência hb condensado
g plasticidade hc evaporado
h permeabilidade hd em pó
i porosidade hg torta enlatada
ib capilaridade hj queijo
id não-capilaridade hm geléia
m outras (subdividir pelo esquema de Física) j cerveja
n Físico-Química jm alimento infantil
p conteúdo de umidade etc.
pb capacidade de retenção d'água
pd equilíbrio de umidade D Materiais
pf coeficiente higroscópico
b metais
bc laqueados
Em "Tecnologia do Alimento", Foskett tomou por bg base de estanho
base a classe F — Tecnologia da CC. O assunto bw camadas de óleo
foi agrupado em 4 facetas básicas: bx lata
Produtos — Partes — Material — Operação. c folha-de-flandres
P M M E d alumínio
g papel e cartão
No trecho dado a seguir, a faceta Produto mostra k plásticos
o uso do processo da oitava, isto é, em que o kc politieno
dígito 9 é usado como não-significante e a expres- l película
sividade das notações sob Laticínios. m laminado
q rolha
F531 Laticínios qf borracha
F5311 ex.: leite qg vidro
F53111 leite maltado etc.
F53112 leite fermentado
F532 Açúcar, confeitos 7ª etapa: Notação
F533 Cereais e derivados Estabelecidas as ordens de citação das facetas e
F534 Panificação e produtos derivados subfacetas e a ordem de arquivamento, o esquema
F535 Óleos e gorduras comestíveis estará pronto para receber a notação.
F536 Frutas e vegetais Como a função da notação é mecanizar a ordem
F538 Carnes das classes e mostrar a posição relativa de cada
F5391 Peixes (Aqui foi usado o processo da oitava) ama, ela deve ser elaborada de maneira bem
F5395 Essências, condimentos etc. flexível, isto é, permitir a inclusão de novas classes
F5396 Aditivos de assuntos (Ranganathan chama essa qualidade
etc. de hospitalidade). Elas devem ser: a) estrutu-
ralmente expansivas, mostrando onde se relacionam
Em "Fabricação de embalagens" (Containers), as as diferentes facetas; b) simples; c) breves, razão
facetas Produtos e Materiais mostram a não pela qual o estudo de sua base deve ser cuidadoso,
pois, como sabemos, quanto maior a base menor a 7 — SHERA, J. H. Libraries and the organization
notação. of knowledge. Ed. by D. J. Foskett.
Geralmente, os sistemas facetados usam letras maiús- London, C. Lockwood, 1966. 224 p.
culas ou números para as facetas e letras minúscu-
las para as subfacetas. Este processo torna fácil 8 — VICKERY, B. C. Classification and indexing
reconhecer as facetas nas notações para assuntos in science. 2. ed. enl. London,
compostos, Alguns sistemas usam símbolos, mas não Butterworths, 1959. 235 p.
é muito comum. Normalmente as notações são
simples e reunidas por agrupamentos, não se le-
9 — ----------- . Faceted classification, a guide to
vando em conta, de um modo geral, a expressivi- construction and use of special schemes.
dade. London, ASLIB, 1960. 70 p.