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Classificações Facetadas

Alice Príncipe Barbosa


Professora da Escola de Biblioteconomia e
Documentação da FEFIEG
e do Curso de Documentação Científica do IBBD
Diretora do Serviço de Intercâmbio de Catalogação do
IBBD

SINOPSE
A principal função das bibliotecas é a organização
O rápido crescimento dos registros gráficos, o dos conhecimentos existentes em suas coleções,
aparecimento de novas formas de publicação e a para que possam ser, sempre que solicitados, recu-
super-especialização das coleções bibliográficas perados com rapidez.
exigiram o uso de novas técnicas para pronta recu- O rápido e crescente desenvolvimento da tecnolo-
peração das informações contidas nos documentos. gia, e sua aplicação nas indústrias, contribuiu
Dentre todas as linguagens existentes, a classifica- para uma exagerada multiplicidade de especializa-
ção ainda é considerada a melhor por assegurar ções, originando uma variedade de novos
também uma arrumação lógica dos assuntos dentro documentos, tais como: relatórios técnicos e de
de uma coleção. pesquisas, patentes, informações sigilosas, relatórios
A necessidade de se considerar um documento, não (papers) de conferências, notas prévias (preprints),
apenas por seu aspecto físico mas também por microfilmes etc., informando sobre novas técnicas,
teorias, pesquisas, invenções etc.
seu conteúdo — simples ou complexo — levou os Tão grande tem sido essa produção, que nem
estudiosos a desenvolver a teoria de Ranganathan mesmo os usuários nela interessados são capazes
(divisão de um assunto por seus múltiplos aspectos de se atualizarem em suas próprias áreas de
ou facetas). Para tal fim, foi criado na Inglaterra, trabalho.
em 1952, o "Classifícation Research Group", cujo Também para as bibliotecas cada vez se torna
trabalho vem despertando o interesse geral, por sua mais difícil o controle dessa massa documentária,
fácil aplicação em campos especializados. porque, além de suas múltiplas formas de
Em nosso País, esta técnica foi introduzida junta- apresentação, existe ainda o problema da
mente com o "Curso de Pós-Graduação em Ciência complexidade de assuntos contidos num mesmo
da Informação", realizado pelo IBBD/UFRJ a documento, de interesse, muitas vezes, para
partir de 1970. Desde então, alertados para o pro- diferentes campos do conhecimento humano.
blema, bibliotecários, documentalistas, técnicos e Como organizar esse material da maneira mais
cientistas da informação vêm procurando maiores útil para uso? Como dispor, na coleção, documentos
detalhes para o processo de organização de tal do mesmo assunto, mas de formas diferentes, e
sistema. que por isso não podem ficar fisicamente reunidos?
Esse tipo de linguagem de recuperação exige um Historicamente, a classificação bibliográfica tem
trabalho de equipe, além de minucioso conheci- sido a mais antiga linguagem de recuperação; daí
mento da área a ser coberta. porque, por mais de três quartos de século, vêm
sendo usados os tradicionais sistemas de classifi-
cação para o arranjo mecânico das coleções.
Com o surgimento dos centros de documentação,
Conferência pronunciada na l. Semana de Estudos de serviços de bibliografia, bancos de dados e
Biblioteconomia e Documentação, Campinas, SP,
Faculdade de Biblioteconomia, setembro 1972.

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ALICE PRÍNCIPE BARBOSA

outros semelhantes em empresas, indústrias ou fazem parte nomes como: J. Mills, D.J. Foskett,
órgãos do governo, interessados cada um em seus Shera, E. J. Coates, Farradane, Vickery, Langridge
próprios campos de trabalho, foi-se verificando e outros.
a inadequacidade do uso de tais sistemas para A base de seus estudos foi uma teoria totalmente
classificar documentos muito especializados. nova, desenvolvida por Ranganathan através de
Estruturados em base linear, isto é, na divisão sua Classificação dos dois pontos (Colon classifica-
hierárquica das ciências, em gradação por gênero/ tion), mencionada neste trabalho apenas como CC.
espécie, partindo do Universo dos conhecimentos, A grande contribuição de Ranganathan aos
até chegar a assuntos bem específicos, não estudos teóricos de classificação, não foi o seu
comportaram eles o enquadramento dos multi- sistema em si, de nenhuma aplicação prática no
dimensionais assuntos dos modernos documentos. mundo ocidental, mas sua idéia de dividir os
Daí serem desprezados por alguns e abandonados assuntos em categorias ou facetas, isto é, em ,
por muitos, partindo os bibliotecários e do- grupos de classes reunidas por um mesmo princípio
cumentalistas para o uso de outras técnicas de de divisão.
recuperação, como: indexação, seleção mecanizada, Essa nova técnica, permitindo maior flexibilidade
thesaurus etc. aos sistemas, por não prendê-los a uma hierarquia
Dentre os tradicionais sistemas em uso, deve ser
salientado o esforço desenvolvido pela FID para de divisão, veio resolver o problema da classificação
ajustar a CDU, nome pelo qual é conhecido a de assuntos de conceitos multi-dimensionais e
Classificação Decimal Universal, às novas ciências, dar novos ramos aos estudos teóricos das
a fim de continuar a ter a preferência dos serviços classificações bibliográficas.
especializados. Tendo sido na realidade, um Ranganathan, com essa contribuição, é, no nosso
sistema idealizado para classificar documentos, daí século, o que Dewey representou no século passado,
o motivo de ter sido acrescido de sinais e quando, com seu sistema decimal possibilitou,
símbolos para melhor correlacionar conceitos pela primeira vez, um arranjo relativo dos livros
diferentes, razão porque é chamado de analítico- nas estantes, permitindo assim a difusão do
sintético; não devemos esquecer que teve sua livre acesso.
origem no início do século — quando os documen- Mas, que significa, na realidade, uma classificação
tos não apresentavam tanta complexidade de facetada?
assuntos. Sua pequena base de apenas 10 dígitos Classificação facetada é o sistema que agrupa
origina notações demasiado longas, quando termos estruturados, na base da análise de um
usadas para classificar assuntos muito complexos, assunto, para identificação de suas facetas, isto é,
resultando numa multiplicidade de símbolos dos diferentes aspectos nele contidos.
diferentes para assuntos iguais, e conseqüentemente, A análise em facetas coordena conceitos, significando
separando o material dentro da coleção. que um assunto, por mais complexo que seja,
Está provado que a maneira mais útil para o uso de pode ser representado pela síntese de mais de uma
uma coleção é a sua localização física obediente faceta, cada uma indicando conceitos diferentes.
a uma sistematizarão, o que só é conseguido Eis a razão porque esse tipo de classificação é
através de uma linguagem artificial, de códigos chamado de analítico-sintético. Ranganathan diz
ou símbolos, capazes de, fisicamente, reunir os que apenas seu sistema é 100% desse tipo, e
documentos que tratam do mesmo assunto, conceitua a CDU como sendo um sistema
mecanizando a arrumação da coleção. Essa arru-
mação permite ainda que seja observado o semi-analitíco-síntético.
princípio da seqüência útil, que é a colocação do A análise em facetas agrupa os termos derivados
geral antes do específico, ou, segundo de um assunto cm 2 amplos grupos: facetas e
Ranganathan, o mais abstraio antes do mais subfacetas.
concreto. Na CC, por ser um sistema geral, Ranganathan
Sentindo a necessidade do uso de sistemas derivou, do Universo dos conhecimentos, 42 classes
especializados, principalmente depois da década principais, para depois aplicar a cada uma a
de 50, quando começaram a se desenvolver as análise em facetas
pesquisas técnicas e científicas, originando como O CRG, por ter interesse em cobrir apenas áreas
conseqüência uma extensa literatura sobre as especializadas, usando o mesmo princípio de
mesmas, surgiu em Londres, em 1952, o Ranganathan, partiu do conceito de que o Universo
Classification Research Group, ou CRG, composto dos conhecimentos é o assunto específico a
de professores, documentalistas e cientistas da classificar. Assim, Petróleo, Vidro, Seguro etc., são
informação, dispostos a estudar a elaboração de Universos a serem analisados em facetas e
sistemas mais flexíveis. subfacetas.
Desse Grupo, hoje famoso e internacionalmente Mas que são facetas e subfacetas?
conhecido pêlos profundos estudos nesse setor e Quando se aplica ao Universo dos conhecimentos
pela publicação de alguns sistemas facetados, um princípio de divisão, ou seja uma diferença
ou característica, ele se decompõe em partes,
isto é, cada diferença usada origina uma faceta

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CLASSIFICAÇÕES FACETADAS

diferente. Assim, a um assunto a classificar se por se tratar de termos interligados, ou seja,


aplicam tantas diferenças quantas forem necessá- coordenados com a classe que permitiu a divisão.
rias para subdividi-lo em seus diversos aspectos, Nos estudos de teoria de classificação, classe e
ou seja, em suas diferentes categorias ou facetas. subclasse são termos completamente relativos.
Se ao assunto Biblioteconomia forem aplicadas Sabemos que classe é um conjunto de coisas que
as diferenças: tipo, material e operações, teremos: apresentam algo em comum. Se a essa classe
aplicarmos uma diferença, obteremos como
resultado subclasses. Por sua vez, se a cada
Biblioteconomia subclasse novamente for aplicada outra diferença,
= faceta Tipo a subclasse passará a ser classe, originando outras
÷ tipo de biblioteca
= " Material subclasses, e assim sucessivamente, até chegarmos
÷ material incluído = " Operações ao máximo de subdivisões que o assunto possa
÷ operações realizadas comportar, isto é, até o máximo de intensidade do
assunto, ou seja, sua maior minúcia. Será obtida
assim uma cadeia de assuntos, partindo de termos
A quantidade de facetas derivadas varia de de grande extensão para termos de grande
assunto para assunto, e dependerá das necessida- intensão, formando uma cadeia de assuntos subor-
des do grupo que vai usá-la, isto é, o grupo para dinados (chain).
o qual o sistema estiver sendo elaborado. Esse princípio nada mais é do que a aplicação das
No exemplo acima, sob a faceta Material serão categorias de Aristóteles: gênero ÷ diferença =
agrupados termos como: livros, mapas, folhetos, = espécies. Vejamos um exemplo: TRANSPORTE
patentes, microfilmes, papiro etc., todos obedecendo — é uma classe, porque existe um conjunto de
entre si ao mesmo principio de divisão, isto é, documentos tratando deste assunto. Se perguntar-
todos os materiais existentes nas coleções das mos que tipo de transporte, isto é, se aplicarmos a
bibliotecas. ele a diferença tipo, encontraremos as seguintes
Podemos então definir faceta como uma lista de subclasses: Ferroviário — Aéreo — Rodoviário —
termos mantendo entre si as mesmas amplas Marítimo.
relações com a classe que lhes deu origem, ou Se ao tipo Transporte ferroviário perguntarmos:
então, "como um conjunto de termos produzidos Qual a força motriz? estaremos usando outro
pela aplicação de um amplo princípio de divisão". princípio de divisão, e então Transporte ferroviário
Faceta não é portanto uma única subclasse, mas passará a ser uma classe, originando subclasses,
um conjunto delas. como diesel — vapor — carvão — eletricidade, e
Cada termo dentro de uma faceta é chamado de assim sucessivamente.
foco isolado, por Ranganathan, e de subclasse Esse tipo de subdivisão é usado em sistemas
pelo CRG. hierárquicos, onde um determinado assunto fica
Assim, livro, papel, patentes etc., são focos isolados subordinado a um outro mais amplo. Por exemplo,
dentro da faceta Material, do assunto Biblioteco- Transporte na CC está sob Engenharia, e em
nomia. Dewey, em Ciências Sociais e Engenharia. Nos
Quando cada termo é visto fora do contexto de sistemas facetados, o espírito de divisão dos
uma faceta, ele é apenas um isolado. assuntos obedece a outra linha de pensamento.
Assim, livro, fora desse assunto, é apenas um Assim, o mesmo exemplo apresentará a seguinte
isolado. divisão (sem observar o real agrupamento das
Mas, os focos das facetas, as subclasses, isto é, facetas, que fica sempre dependente das necessi-
cada termo em si embora mantendo as mesmas dades do grupo usuário).
amplas relações com a classe Material, estão TRANSPORTE será o Universo a ser classificado.
todos misturados, apresentando características dife- Imaginemos que, entre outras, as seguintes facetas
rentes. Para que possam, mais tarde, receber foram consideradas essenciais: Meios de transporte
notações, é preciso que sejam arrumados dentro — Partes — Usuários. Em cada uma delas serão
das facetas. Como deverá ser feita essa arrumação? agrupados, entre outros, os seguintes termos:
Aplicando-se outros princípios de divisão que os
reagrupem em subfacetas. Cada faceta terá Meios de transporte Partes Usuários
então várias subfacetas, ou segundo Ranganathan, trem bancos crianças
vários "arrays". avião janelas civis
Subfacetas ou "arrays" são, portanto, grupos de ventiladores militares
termos coordenados, derivados pela aplicação de bote
um mesmo princípio de divisão e mutuamente bonde aquecedores adultos
exclusivos. etc. etc. etc.
"Array" é o termo usado por Ranganathan para
indicar o que o CRG chama de subfacetas. O termo
em si que dizer "lista", "fila" e aqui é aplicado
Para que estes termos, agrupados sob as facetas,
possam ser correlacionados em assuntos compostos,

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precisam de um novo agrupamento, ou seja, 1ª etapa: Definição do assunto e levantamento da
precisam ser separados em grupos de subfacetas, terminologia
cada uma englobando termos coordenados pelo Será preciso que se definam bem as fronteiras do
mesmo princípio de divisão e mutuamente exclu- assunto a classificar. Geralmente o assunto tem
sivos, o que quer dizer que cada termo, perten- sempre um relacionamento com outros assuntos de
cendo a uma subfaceta, não pode pertencer a outra. outras áreas do conhecimento. Os ingleses chamam
Tornando como modelo a faceta Meios de trans- de core subject o assunto em si, e fringe subjects
porte e subdividindo as subfacetats, obteremos os os assuntos correlatos. Essa tarefa exige um
seguintes grupos: conhecimento profundo do assunto e da finalidade
de uso. Uma extensa terminologia será levantada
através de thesaurus, listas de cabeçalhos de
Meios de Transporte assunto, dicionários técnicos, documentação do
grupo para quem o sistema está sendo elaborado,
pelo ambiente usado e principalmente dos termos encontrados na
terra literatura do assunto, que os americanos chamam
superfície de garantia (Literary warrant).
elevados
subterrâneos
água 2ª etapa: Levantamento das facetas
lago De posse da terminologia referente ao assunto,
rio deverão ser determinados os princípios de divisão
oceano para a listagem das facetas. E um trabalho de
ar equipe que requer muita atenção, pois dessa divisão
atmosfera dependerá a estrutura do esquema.
estratosfera Ranganathan, na sua Colon Classification, deter-
ionosfera minou apenas 5 facetas a que chamou de: P = Per-
pelo veículo usado sonalidade; M = Matéria; E = Energia; S = Space
na terra (local); T = Time (época).
bicicleta Mais tarde) verificando que elas não eram sufi-
motocicleta cientes para classificar assuntos muito complexos,
carros de passeio criou os ciclos (rounds) e níveis (levels). Isto
ônibus significa que as facetas PME podem aparecer mais
caminhões de uma vez em certos assuntos, desde que o
na água primeiro ciclo tenha se completado, o que só é
bote possível depois que a faceta Energia aparece.
barca Essa teoria da aplicação da fórmula PMEST não
navio foi seguida pelo CRG, que vem procurando
submarino encontrar outras categorias mais intuitivas. Várias
no ar delas já foram propostas por Barbara Kyle, Shera,
aviões De Grolier e outros estudiosos do assunto.
foguetes O CRG adotou como preferenciais as seguintes:
Todo/ Tipo/ Parte/ Material/Constituinte/Proprie-
pela força propulsora dade/Processos/Operações/ Agentes/Lugar/Tempo/
carvão /Formas de apresentação.
diesel Não é necessário que as facetas tenham sempre
vapor estas denominações, mas sim que a elas corres-
eletricidade pondam. Também não é preciso que todas figurem,
jato ao mesmo tempo, num assunto.
etc. Os termos relacionados como Matéria, num deter-
minado assunto, poderão significar Produtos em
Palmer, em "Fundamentais of library classification" outro. Ex.: o termo papel pertence, em Biblioteco-
diz que "cada vez que se subdivide uma faceta, nomia, à faceta Material, mas no assunto Fabricação
se consegue um "array" de divisões (embora o array do papel, passa a pertencer à faceta Tipo.
deva ser limitado apenas a 2 divisões coorde- A relação abaixo mostra alguns exemplos de
nadas)". Nas classificações elaboradas pelo sistema facetas usadas em sistemas já elaborados e apre-
facetado, este tem sido o princípio observado. sentados na obra de Vickery "Classification and
Tendo definido faceta e subfaceta, vejamos as indexing of sciences":
etapas necessárias para se organizar um sistema
facetado. Seguro — Organizado por Pendleton

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Foram encontradas, ou antes separadas 6 facetas: critos — mapas — microreprodução — música —
papel — papiro — patentes — periódicos — quadros
1. Ramos do seguro — recortes — relatórios técnicos — seriados — teses
2. Propriedades seguradas . — velino — vídeo-tape etc.
3. Pessoas seguradas Os termos acima são subclasses produzidas pela
de acordo com as indústrias aplicação de um mesmo princípio de divisão, isto
outras características é, são todos caracterizados por serem Materiais,
4. Riscos Todo esse agrupamento é chamado de faceta. As
5. Operações subfacetas são então levantadas pela aplicação
6. Organizações de outros princípios de divisão. Ex.:

Segurança Industrial — Organizado por Foskett MATERIAL


1. Indústrias pela forma física
2. Tipos de trabalhadores folhas soltas
3. Fontes de riscos folhas desdobradas
4. Doenças industriais folhetos
5. Medidas preventivas livro
6. Organização e administração manuscrito
7. Psicologia ocupacional recortes

Fabricação de embalagens — Organizado por


Foskett pelo material usado
argila
1. Produtos papiro
2. Partes velino
3. Material papel
4. Operações
5. Subdivisões comuns
pelo meio de reprodução
manual
3ª etapa: Levantamento das subfacetas
mecânica
Tendo sido determinadas as facetas necessárias
para cobrir o assunto a classificar, isto é, o Universo impressão
do conhecimento, será preciso levantar as sub- duplicação
facetas e agrupar os termos dentro de cada uma, microfilmes
ou seja, reagrupar as subclasses de cada faceta.
Vickery diz que essa tarefa nunca será completada, pelo modo de publicação
pois novas descobertas e novos termos apare- periódico
cerão, de modo que nunca um esquema ficará seriado
inteiramente pronto. Daí o cuidado nesse agrupa-
mento, de que fiquem assegurados lugares para
futuras expansões. É, em nossa opinião, tarefa tão pelo modo de percepção
difícil quanto a de levantar facetas. audiovisual
Já dissemos antes que a formação das subfacetas discos
é conseguida através da aplicação de novos filmes
princípios de divisão, e estes serão decididos por fitas
quem está elaborando o sistema, de acordo com vídeo
as necessidades do grupo para quem se trabalha. visual
Apenas como um exemplo dessa aplicação de dia positivo
diferentes princípios, damos a seguir as subclasses fotografia
da faceta Material do assunto Biblioteconomia e quadros
seu agrupamento em diferentes subfacetas:
Termos encontrados sob o assunto (colocados na
ordem alfabética para melhor visualização), pelo modo de apresentação
argila — audiovisual — catálogos comerciais — catálogos comerciais
códices — diapositivos — dicionários — discos — patentes
filmes — fitas gravadas — folhas desdobradas — relatórios
folhas soltas — folhetos — fotocópias — fotografias teses
— globos — livros — livros de referência — manus- etc.

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Então, forma física — Material usado — Meio de
reprodução etc. são grupos de subfacetas, da teses pela natureza da publicação
faceta Material, do assunto BIBLIOTECONOMIA. relatórios
Ao separarmos as subfacetas, em caso de dúvida patentes pela forma bibliográfica
dos termos pertencerem a uma mesma subfaceta,
é aconselhável usar o processo da interseção
(álgebra booleana) perguntando: Essa interseção
é possível? Se for, então cada termo pertence a
subfacetas diferentes, porque, como foi dito antes, pública
elas devem ser mutuamente exclusivas, No diagrama governo pelo tipo de edição
ao lado, tendo-se verificado que os 2 assuntos podem particular
formar um compos- pelo modo de publicação
to, distribuem-se especial
os termos em 2 gru-
pos diferentes: o
que reúne as sub-
facetas segundo o 4ª etapa: Decisão da ordem de citação das facetas
Meio de reprodu- e subfacetas (citation order)
ção, e o que as Ordem de citação é a ordem de aplicação dos
reúne segundo a princípios de divisão. Ela reflete a ordem em que
Forma física. os elementos de um assunto complexo são citados.
Entretanto, é bom salientar que os princípios É muito importante que seja determinada, pois a
usados para levantar subfacetas são um tanto sub- consistência do sistema depende dela. Obser-
jetivos, pois variam de pessoa para pessoa, alte- vando-a, qualquer pessoa classifica um assunto,
rando conseqüentemente a terminologia usada. chegando às mesmas notações, pois a ordem de
Apenas como curiosidade, damos a seguir alguns ligação das facetas já foi preestabelecida.
exemplos colhidos em livros ou trabalhos de aula Ranganathan foi o primeiro a estudar esse problema.
e aceitos pelos professores. O motivo dessa varia- Daí ter fixado como ordem do seu sistema a fór-
ção talvez seja que quase todos são exemplos mula PMEST, que obedece ao postulado da con-
isolados, sem aplicação prática. Quando se traba- creção decrescente, o que significa que para ter
lha realmente para a elaboração de um sistema, Doença é preciso haver primeiro o Órgão; Para
esta subdivisão é muito importante, pois quando haver Tratamento é preciso haver Doença. Da
com as notações correspondentes, influencia a mesma maneira, é preciso que haja um Todo para
a ordem de citação. que haja Partes e Operações e assim por diante.
Dos tradicionais sistemas existentes, apenas a CDU
observa, em parte, uma ordem de citação em
suas facetas de: lugar — tempo — forma — língua.
pela época da publicação O CRG desenvolveu, como ordem padrão de
argila citação das facetas, a que coloca o Produto, isto é,
pela idade o Fim antes do Meio de obtê-Io, ou, o Todo
manuscrito antes das Partes.
códices pelo material A ordem é a mesma já referenciada antes, ou seja:
pela forma física Coisa (definida pela finalidade do estudo)
Todo / Tipo (o produto final)
Partes
Constituintes/ Materiais
folhas soltas Propriedades/ Processos
recortes pela forma física Operações
rolos Agentes
pela configuração Lugar
códices Tempo
folhetos pela simbolização verbal Forma de apresentação
livros
Exemplo dessa aplicação:
Biblioteconomia = Coisa, finalidade do estudo
pelo meio de reprodução Biblioteca pública = Tipo
Sistema Braille Departamento de aquisição = Partes
pelo modo de percepção Materiais = Constituintes

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CLASSIFICAÇÕES FACETADAS

Prevenção da deterioração = Operação — Drama — Ficção etc., é uma ordem deste tipo.
Umidade = Agente 7) ordem da categoria favorecida (favoured
Guanabara = Lugar category). Quando necessário, a ordem das classes
1970 = Tempo coordenadas poderá ser arrumada na seqüência
Relatório = Forma de apresentação decrescente da quantidade de assuntos existentes na
coleção da biblioteca. 8) ordem alfabética
Para as subfacetas não existe uma ordem padrão (alphabetic sequence). Quando não for encontrada
de citação. outra ordem que melhor satisfaça um agrupa-
Geralmente, alguns critérios são levados em conta, mento, esta poderá ser usada.
sendo entre outros, os seguintes: a) as subfacetas Na realidade, essa última é a mais usada.
que exercem uma função devem preceder as não
funcionais; b) as especiais são colocadas antes das
comuns; c) as dependentes devem ser postas depois
daquelas das quais dependem; d) as naturais 6ª etapa: Ordem de arquivamento (filing order).
Chama-se ordem de arquivamento a ordenação de
antes das artificiais (usadas em ciência) etc.
todos os elementos, isto é, de todas as notações
numa seqüência vertical.
É, geralmente, o inverso da ordem de citação, e
5ª etapa: Agrupamento das subfacetas ou ordem reflete a ordem de arquivamento das fichas no fi-
dos arrays chário sistemático, e dos documentos na coleção.
Tendo sido levantadas as subfacetas de cada faceta, Alguns sistemas, entretanto, não observam esse
qual deverá ser a ordem dos termos dentro de princípio; mas está provado que os usuários prefe-
cada uma? Arbitrária? Para arrumar os termos em rem encontrar em primeiro lugar os documentos
cada subfaceta, ou seja, para ordenar os arrays, gerais sobre um determinado assunto, e, numa linha
não existe uma ordem padrão. ascendente, os assuntos mais específicos.
Vários cânones já foram estabelecidos por Sayers, A finalidade da ordem de arquivamento é colocar
Ranganathan e observados pelo CRG. o geral antes do específico.
São eles: 1) ordem crescente (increasing quantity). Dos tradicionais sistemas em uso, apenas a CDU
Sempre que a característica usada admitir medida observa essa seqüência.
quantitativa, as classes devem obedecer a uma Ranganathan chama a esse princípio de concreção
seqüência ascendente. Ex,: recém-nascidos, crian- crescente e, quando aplicado, muda sua fórmula
ças, jovens, adultos, velhos; 2) último-na-época para TSEMP.
(later-in-time). Sempre que os acontecimentos Dewey não observa essa ordem, pois, nas estantes,
ocorrem em épocas diferentes, as classes poderão os livros por ele classificados têm a seguinte
ser arrumadas em ordem cronológica. Ex.: Na CC, seqüência:
os sistemas de classificação ou escolas psicana-
líticas, são arrumados pela ordem das datas de seus Assunto Geral
aparecimentos; 3) ordem evolucionária (later-
in-evolution). Se as classes apresentam processos “ ÷ forma
evolucionários, devem ser ordenadas nessa ordem. “ ÷ tempo
“ ÷ local
Ex.: nascimento — casamento — doença — morte; “
4) proximidade de espaço (spatial contiguity). ÷ subdivisões
Sempre que as classes se referirem a proximidades
de espaço, devem por ela ser arrumadas. Ex.: O CRG usa a ordem inversa da sua ordem de cita-
Cabeça — olhos — boca — orelhas etc.; ou então: ção, ou seja:
copa — cozinha — banheiro etc. 5) ordem de Formas de apresentação
complexidade crescente (increasing complexity). Tempo
Se as classes mostrarem diferentes graus de com- Lugar
plexidade, devem ser arrumadas pela ordem Agentes
crescente desta complexidade. Foskett, em sua obra Operações
"The subject approach to information" exem- Propriedades/Processos
plifica isto com a Matemática, onde as Constituintes/Materiais
classes a ela subordinadas aparecem numa ordem Partes
ascendente de complexidade, como: Aritmética — Todo/Tipo
Álgebra — Geometria — Cálculo etc. No entanto,
Ranganathan, em sua CC, diz ser esta seqüência Para que essa ordem seja observada no sistema,
uma ordem canônica ou convencional, 6) ordem eleve haver o cuidado de se colocar as notações
convencional (canonical sequence). Desde que seja também obedecendo ao mesmo princípio, isto é,
considerada a melhor, esta ordem poderá ser dando letras e números mais baixos, em valor
usada. Na classe Literatura, a ordenação de Poesia ordinal, para assuntos mais gerais, e mais altos
para assuntos mais específicos.

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ALICE PRÍNCIPE BARBOSA

Não é obrigatório que os sistemas apresentem essa observação do princípio da inversão, pois Produtos,
ordem inversa, mas é aconselhável, pois ela significando o Todo, isto é, o Produto final, tem
conduzirá os usuários dos assuntos mais simples notação de valor ordinal mais alto do que Materiais
aos mais complexos. e também a não observação da expressividade
Nos exemplos a seguir, todos de sistemas facetados das notações.
e elaborados por Foskett, podemos observar o
princípio da inversão aplicado também às notações. B Produtos (a serem embalados)
Em "Ciência do Solo", foram usados os números b latas, recipientes de metal
de l a 9 para as Facetas, e letras minúsculas para bb com a parte superior aberta
as subfacetas. O número 9, mais alto em seqüência bv lisas
ordinal, foi dado à faceta mais concreta, ou seja, bx próprias para aquecimento
Tipos de solo. Vejamos o exemplo da subfaceta: by linha de abertura marcada
c tamanhos
6 Propriedades cd fruta
b Física d peixe
c composição mecânica e carnes
d grau de agregação f alimento para animais
e coesão h leite
f consistência hb condensado
g plasticidade hc evaporado
h permeabilidade hd em pó
i porosidade hg torta enlatada
ib capilaridade hj queijo
id não-capilaridade hm geléia
m outras (subdividir pelo esquema de Física) j cerveja
n Físico-Química jm alimento infantil
p conteúdo de umidade etc.
pb capacidade de retenção d'água
pd equilíbrio de umidade D Materiais
pf coeficiente higroscópico
b metais
bc laqueados
Em "Tecnologia do Alimento", Foskett tomou por bg base de estanho
base a classe F — Tecnologia da CC. O assunto bw camadas de óleo
foi agrupado em 4 facetas básicas: bx lata
Produtos — Partes — Material — Operação. c folha-de-flandres
P M M E d alumínio
g papel e cartão
No trecho dado a seguir, a faceta Produto mostra k plásticos
o uso do processo da oitava, isto é, em que o kc politieno
dígito 9 é usado como não-significante e a expres- l película
sividade das notações sob Laticínios. m laminado
q rolha
F531 Laticínios qf borracha
F5311 ex.: leite qg vidro
F53111 leite maltado etc.
F53112 leite fermentado
F532 Açúcar, confeitos 7ª etapa: Notação
F533 Cereais e derivados Estabelecidas as ordens de citação das facetas e
F534 Panificação e produtos derivados subfacetas e a ordem de arquivamento, o esquema
F535 Óleos e gorduras comestíveis estará pronto para receber a notação.
F536 Frutas e vegetais Como a função da notação é mecanizar a ordem
F538 Carnes das classes e mostrar a posição relativa de cada
F5391 Peixes (Aqui foi usado o processo da oitava) ama, ela deve ser elaborada de maneira bem
F5395 Essências, condimentos etc. flexível, isto é, permitir a inclusão de novas classes
F5396 Aditivos de assuntos (Ranganathan chama essa qualidade
etc. de hospitalidade). Elas devem ser: a) estrutu-
ralmente expansivas, mostrando onde se relacionam
Em "Fabricação de embalagens" (Containers), as as diferentes facetas; b) simples; c) breves, razão
facetas Produtos e Materiais mostram a não pela qual o estudo de sua base deve ser cuidadoso,

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CLASSIFICAÇÕES FACETADAS

pois, como sabemos, quanto maior a base menor a 7 — SHERA, J. H. Libraries and the organization
notação. of knowledge. Ed. by D. J. Foskett.
Geralmente, os sistemas facetados usam letras maiús- London, C. Lockwood, 1966. 224 p.
culas ou números para as facetas e letras minúscu-
las para as subfacetas. Este processo torna fácil 8 — VICKERY, B. C. Classification and indexing
reconhecer as facetas nas notações para assuntos in science. 2. ed. enl. London,
compostos, Alguns sistemas usam símbolos, mas não Butterworths, 1959. 235 p.
é muito comum. Normalmente as notações são
simples e reunidas por agrupamentos, não se le-
9 — ----------- . Faceted classification, a guide to
vando em conta, de um modo geral, a expressivi- construction and use of special schemes.
dade. London, ASLIB, 1960. 70 p.

8ª etapa: Índice 10 — ----- ----- . Faceted classification schemes.


Deve haver uma constante preocupação para que New Brunswick, N. J., Rutgers Graduate
todos os termos figurem no índice, com suas School of Library Service, 1966. 100 p.
respectivas notações. Esta a razão pela qual os
que elaboram tais sistemas testam a sua eficiência
através da prática de uso do sistema.
A escolha do tipo a ser usado fica a critério de SUMMARY
quem elabora o sistema.
Entre os existentes: alfabético (A/Z index); em
cadeia (chain index) e rotativo (rotated index), o The rapid growth of the graphic records, the new
mais usado nos sistemas facetados tem sido o em publication forms and the increasing specializa-
cadeia. tion on the bibliographic collections have required
the utilization of new techniques for the immediate
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS retrieval of the information contained in documents.
Classification, among all of the existing languages,
1 — CONFERÊNCIA INTERNACIONAL is still considered the best one since it guarantees
SOBRE SISTEMAS DE RECUPE- a logical subject arrangement within a given
RAÇÃO DA INFORMAÇÃO, Dorking, collection.
1957. Proceedings. London, ASLIB; The necessity of considering a document not only
New York, Pergamon, 1957. 151 p. for its physical presentation but also for its contents
— simple or complex — brought up the development,
2 — FOSKETT, A. C. The subject approach to by several experts, of Ranganathan's theory
information. 2. ed. rev. enl. London, (division of a subject into its several aspects or
C. Bingley, 1941. p. 84. facets).
The "Classification Research Group" was thus
3 — FOSKETT, D. J. Classification and indexing created in 1952 in England, and its work has arisen
in the Social Sciences, Washington, a general interest for purposes of applicability in
D. C., Butterworths, 1963. 190 p. specialized subjects.
4 — MILLS, J. Apontamentos de aula/Mestrado In Brazil this new technique was introduced
em Ciência da Informação, realizado together with the "Postgraduate Course on Informa-
no IBBD, 1971. tion Science", sponsored from 1970 on by
IBBD/UFRJ.
5 — PALMER, B. & WELLS, A. J.The funda- From there on, brought aware to the subject,
mentals of library classification. London, librarians, documentalists, technicians and informa-
G. Allen & Unwin, 1951. 144 p. tion scientists have looked for a better under-
standing of the mechanism underlyng the organ-
6 — RANGANATHAN, S. R. Rao sahib. ization technique of such systems.
Colon classification, basic classification. 6. ed. This kind of retrieval language requires a team
compl. rev. Bombay, New York, Asia Publ. work, as well as a detailed knowledge of the
House, 1960. 3 pts in l v. subject area to be classified.

Ci. Inf., Rio de Janeiro, 1(2):73-81, 1972 81

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