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ESTÁGIO PROFISSIONALIZANTE SUPERVISIONADO HOSPITALAR II

CLÍNICA MÉDICA
Outra forma de transportar oxigênio
0Oxigenoterapia no sangue é pela combinação com a
INTRODUÇÃO hemoglobina até os capilares teciduais,
onde é liberado para ser utilizado pelas
células.
O uso do oxigênio para fins
terapêuticos é descrito desde o início do Os gases são capazes de mover-se
século XIX. Nas décadas de 1920 e 30 foi de um ponto a outro pelo processo de
estabelecido seu uso rotineiro para difusão, um movimento sempre determinado
situações agudas. Na década de 1970, foi pela diferença de pressão entre os pontos.
relatada a diminuição da mortalidade em Assim, o oxigênio difunde-se dos alvéolos
pacientes com doença pulmonar obstrutiva para o sangue capilar dos pulmões devido à
crônica (DPOC) quando submetidos à PaO2 mais elevada nos alvéolos do que no
oxigenoterapia em comparação aos que não sangue pulmonar. A seguir, nos tecidos,
utilizaram o oxigênio no tratamento. uma PaO2 mais alta no sangue capilar
determina a difusão de oxigênio para o
A oxigenoterapia é um recurso que
interior das células circundantes.
consiste na administração de oxigênio em
concentrações maiores do que a encontrada Por outro lado, quando o oxigênio é
no ar ambiente, com o intuito de prevenir ou metabolizado nas células para formar o gás
tratar as manifestações clinicas da hipóxia e carbônio, a pressão parcial de gás
de manter uma adequada oxigenação carbônico arterial (PaCO2) intracelular
tecidual, minimizando o trabalho que a atinge valor elevado, determinando a
hipoxemia impõe ao sistema difusão deste gás para os capilares dos
cardiopulmonar. Simultaneamente ao tecidos. De forma semelhante, o gás
tratamento com oxigênio, a monitorização carbônico difunde-se do sangue para o
da saturação periférica de oxigênio (SaO 2), interior dos alvéolos em virtude de a PaCO 2
e a verificação dos parâmetros e índices de no sangue capilar pulmonar ser superior à
troca gasosa pulmonar são realizadas para dos alvéolos.
avaliar a resposta terapêutica.
Basicamente, portanto, o transporte
de oxigênio e de gás carbônico pelo sangue
depende tanto da difusão quanto da
TRANSPORTE DE OXIGÊNIO circulação sanguínea.
No sangue, o oxigênio é O sistema de transporte do oxigênio
transportado dissolvido no plasma e em é separado em conteúdo de oxigênio no
combinação com a hemoglobina. sangue, disponibilidade de oxigênio no
O oxigênio dissolvido no plasma sangue arterial, captação de oxigênio da
obedece à lei de Henry, segundo a qual a microcirculação e taxa de extração de
quantidade dissolvida de oxigênio é oxigênio.
proporcional à pressão parcial. Ou seja, Conteúdo de oxigênio no sangue total
para cada mmHg de pressão parcial de
oxigênio (PaO2), há 0,003 ml O2 / 100ml de A concentração de oxigênio no
sangue. Assim, o sangue arterial normal sangue arterial (CaO2), frequentemente
com uma PaO2 de 100 mmHg contém 0,3 denominada de conteúdo de oxigênio, é
ml O2 / 100ml. descrita pela fórmula:
CaO2 = (1,34 x Hb x SaO2) + (0,003 x PaO2)

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termo para a ligação à hemoglobina (1,34 x
Hb), este termo pode ser isolado:
A função da hemoglobina (Hb) é
descrita no primeiro termo da fórmula: (1,34 VO2 = Q x 13,4 x Hb x (SaO2 – SvO2)
x Hb x SaO2). Esta relação demonstra que
cada grama de Hb irá ligar-se a 1,34ml de O fator 1,34 foi multiplicado por 10
oxigênio quando saturada de oxigênio. A para converter as unidades. O valor de
SaO2 é expressa como uma fração e não normalidade da VO2 é de 110-160
uma porcentagem. Uma grama de ml/min/m2.
hemoglobina pode, na verdade, ligar-se a
1,39ml de oxigênio em saturação plena. Taxa de extração de oxigênio
Porém, uma pequena fração de Hb Esta taxa corresponde à taxa de
circulante é representada por formas que captação em relação à oferta de oxigênio
não se ligam prontamente ao oxigênio (VO2/DO2), sendo a fração do oxigênio
(metemoglobina e carboxiemoglobina), de ofertada à microcirculação captada pelos
modo que a capacidade ligante menor de tecidos. Seu valor normal é entre 0,2 e 0,3,
1,34ml/g descreve mais acuradamente o (ou entre 20% e 30%), indicando que 20 a
comportamento das hemoglobinas 30% do oxigênio ofertado aos capilares é
circulantes. captado nos tecidos.
Oferta de Oxigênio
O transporte no sangue arterial é
INDICAÇÕES DA
descrito pela oferta de oxigênio (DO2),
definida como o produto do débito cardíaco OXIGENOTERAPIA
(Q) pelo conteúdo arterial de oxigênio A oxigenoterapia é indicada para
(CaO2). adultos, crianças e lactentes com mais de
DO2 = Q x CaO2 = Q x (1,34 x Hb x SaO2) x 10 28 dias de idade para corrigir a hipoxemia
aguda, reduzir os sintomas associados à
O fator 10 converte as unidades hipoxemia crônica e reduzir a carga de
finais em ml/minuto. Se o índice cardíaco trabalho imposto pela hipóxia ao sistema
(débito cardíaco dividido pela superfície cardiopulmonar. Outras indicações são os
corporal) é usado para obter a DO 2 as traumatismos severos, infarto agudo do
unidades são expressas em ml/minuto/m 2. miocárdio, angina instável, na recuperação
Os valores de normalidade da DO 2 vão de pós-anestésica de procedimentos cirúrgicos
520 a 570 ml/min/m2. e na insuficiência respiratória aguda (IRpa)
crônica.
Captação de oxigênio
Hipoxemia
A captação de oxigênio pela
microcirculação é função do débito cardíaco A hipoxemia em adultos, crianças e
e da diferença do conteúdo de oxigênio lactentes é definida pela presença de uma
entre o sangue arterial e o venoso, ou seja: PaO2 menor do que 60 mmHg ou uma SaO 2
menor do que 90% em indivíduos que
VO2 = Q x (CaO2 – CvO2)
estejam respirando ar ambiente. Em
neonatos, define-se a hipoxemia pela
Se o CaO2 e o conteúdo venoso de
presença de uma PaO2 abaixo de 50 mmHg
oxigênio (CvO2) compartilham o mesmo
com SaO2 menor do que 50% ou PaO2
capilar menor do que 40% mmHg.

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Suas principais causas são de que as indicações de sua utilização hajam
origem respiratória, tais como: sido identificadas.
 Alterações na relação
ventilação/perfusão (V/Q), que EQUIPAMENTOS
acontece quando as unidades
A seleção adequada do
alveolares estão preenchidas por
equipamento requer um conhecimento tanto
líquidos (pneumonias) ou
das características gerais do desempenho
colapsadas (atelectasias), ou
desses sistemas quanto de suas
mesmo quando estão ventiladas,
capacidades individuais. Os dispositivos de
porém não perfundidas
liberação de oxigênio são classificados em
(tromboembolismo pulmonar).
sistemas de baixo fluxo, com reservatório e
 Hipoventilação alveolar, que pode sistemas de alto fluxo. Sua escolha
ser desencadeada por alterações depende de quanto oxigênio o sistema pode
no SNC, deformidades da caixa liberar e se esta quantidade é fixa ou varia
torácica ou doenças de acordo com as alterações da demanda
neuromusculares. Habitualmente, do paciente. No sistema de baixo fluxo, o
além da hipoxemia, pode-se fluxo inspiratório do paciente
observar hipercapnia. frequentemente ultrapassa o liberado pelo
 Distúrbios da difusão, encontrados sistema, resultado em uma diluição aérea
nas doenças que causam um em que, quanto maior for o fluxo inspiratório
espessamento ou perda de promovido, mais ar ambiente é misturado
superfície da membrana com oxigênio. O sistema de fluxo alto
alveolocapilar. sempre excede o do paciente e, por esta
 Shunt pulmonar, que também é razão, sempre fornece uma concentração
responsável pelo desenvolvimento fixa de oxigênio. Também pode-se obter
de hipoxemia, pois parte do débito uma concentração fixa com um sistema de
cardíaco não sofre a hematose reservatório, o qual armazena um volume
devido à presença de áreas não de oxigênio que é igual ou superior ao
ventiladas. volume corrente (VC) do paciente. A Fig.
As causas mais frequentes de 17.1 ilustra esses conceitos, com a letra A
hipoxemia de origem não respiratória são: representando o sistema de baixo fluxo, a
letra B o sistema de alto fluxo e a letra C
 Diminuição da PaO2 por
diminuição da quantidade de
oxigênio ofertada, como ocorre
em regiões de grande altitude;
 Diminuição do débito cardíaco;
 Choque circulatório;
 Queda ou alteração química da
hemoglobina; representando o sistema de reservatório.

CONTRAINDICAÇÕES
Não existem contraindicações
especificas para a oxigenoterapia, desde

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introduzida na cavidade do assoalho nasal
gradativamente até ser visualizado atrás da
úvula (Fig. 17.3). Depois de posicionado, é
fixado na ponta do nariz. Se a visualização
direta não for possível, pode ser inserido às
Sistemas de baixo fluxo cegas até uma profundidade igual à
Estes sistemas revelam distância entre o nariz e o lóbulo da orelha.
concentrações de oxigênio entre 22% (com O posicionamento do cateter estimula a
fluxo de 11l/min) e 60% (com fluxo de produção de secreção e isto requer a
15l/min). Entretanto, o limite superior de remoção e a substituição por um novo pelo
fluxo confortável para o paciente, utilizando menos a cada oito horas. É indicado para
os sistemas de baixo fluxo, fica em torno de aqueles pacientes que serão submetidos a
8l/min. Os problemas relacionados ao uso procedimentos nos quais a cânula nasal
deste tipo de sistema incluem o fluxo dificulta o acesso traqueal, como a
inexato, os vazamentos e obstruções do broncoscopia e a terapia prolongada para
sistema, o deslocamento do dispositivo e a
irritação cutânea.
Cânula nasal
Dispositivo plástico descartável
composto por duas pontas ou dentes, com
aproximadamente 1cm de comprimento,
conectados a um tubo longo de pequeno
calibre para o suprimento de oxigênio. As lactentes.
pontas são inseridas diretamente nos
vestíbulos nasais, e o tubo de suprimento é
conectado diretamente a um fluxômetro ou Cateter transtraqueal
a um umidificador de bolhas (Fig. 17.2).
Consiste de um cateter de Teflon
Mesmo com umidade extra, fluxo superiores
que é inserido cirurgicamente pelo médico,
a 4l/min provocam ressecamento e
diretamente na traqueia, entre o segundo e
sangramento nasal. É indicada para
o terceiro anel traqueal (Fig. 17.4). É
pacientes estáveis que necessitam de
utilizado com fluxo muito baixo, não
pequenas concentrações de oxigênio e na
necessitando de umidificação. Seu
terapia domiciliar prolongada.
posicionamento cria uma espécie de
reservatório anatômico de oxigênio nos
espaços mortos tanto da traqueia quanto
das vias aéreas superiores. Deve ser usado
criteriosamente naqueles pacientes em que
a oxigenoterapia nasal não é possível e a
efetividade do tratamento depende da
educação do paciente. É aconselhado para

Cateter nasal
É um dispositivo composto por um
tubo plástico macio com vários pequenos
orifícios em sua extremidade que é
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pacientes domiciliares ou ambulatorias que corpo da máscara. É indicada para
necessitam de grande mobilidade corporal. emergências e terapias de curto prazo que
requerem concetrações de oxigênio
moderada ou elevada.
Sistemas com reservatório
A máscara de reinalação parcial e a
São aqueles nos quais o oxigênio é máscara de não reinalação possuem uma
armazenado em um reservatório que bolsa reservatória flexível de 1l, podendo
incorpora o dispositivo e é liberado durante produzir concentrações elevadas de
as inspirações do paciente. Oferecem uma oxigênio. A diferença entre esses modelos é
concentração de oxigênio mais elevada com que a máscara de reinalação parcial possui
utilização de fluxos menores do que os uma válvula que permite que o oxigênio flua
sitemas de baixo fluxo. para o seu interior durante a inspiração e,
na expiração, seja direcionado para o saco
Cânula nasal com reservatório reservatório juntamente com o gás
Trata-se de um dispositivo que carbônico expirado que escapa à medida
armazena cerca de 20ml de oxigênio em que o reservatório é preencido com oxigênio
uma pequena membrana no momento (Fig. 17.6). A máscara de não reinalação
expiratório. A cânula nasal com reservatório impede a reinalação por intermédio de uma
pendente pode substituir a cânula nasal válvula unidirecional que se localiza na
sem reservatório (Fig. 17.5). É utilizada com parte superior da bolsa, ao mesmo passo
fluxos baixo, sendo desnecessário o uso de em que, na máscara, uma válvula
umidificadores. Como as demais cânulas expiratória direciona o ar expirado para o
nasais, é indicada para pacientes exterior. (Fig. 17.7).
domiciliares ou ambulatoriais que precisam
de grande mobilidade corporal.

Máscaras com reservatório


A máscara simples é plástica,
descartável e cobre a boca e o nariz. Seu
corpo armazena o oxigênio entre as
inspirações do paciente. A expiração se dá Circuito de não reinalação com reservatório
através de orifícios contidos na lateral do

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Dispositivo que pode oferecer
exatamente a concentração de oxigênio
prescrita, pois incorpora um sistema de
mistura de ar ambiente com o oxigênio que
é aquecido, umidificado e reservado num
saco reservatório para, finalmente, ser
inspirado pelo paciente através de um
sistema fechado com válvula unidirecional

obtida pela troca de peças de entrada de


(Fig. 17.8). Pode ser utilizado com máscara jato de oxigênio. São indicados para
ou com o tubo em “T”. É indicado para pacientes estáveis que necessitam de
emergências e terapias de curto prazo que contrações baixas de oxigênio, porém
exigem concetrações elevadas de oxigênio. precisas.

Sistema de alto fluxo Os nebulizadores por arrastamento


de ar movidos pneumaticamente são
São aqueles que funcionam com dispositivos que possuem umidificadores e
fluxos acima de 60l/min, compostos por controladores de temperatura. São
dispositivos que misturam o ar e o oxigênio tradicionalmente escolhidos para uso em
para determinar uma concetração pacientes com cânulas traqueais atráves de
necessária, mediante sistemas de tubo em T ou máscaras de traqueostomia
arrastamento de ar ou misturadores. que demandam concetrações de oxigênio
baixa ou moderada. Por apresentar orifício
Arrastamento de ar
fixo, os nebulizadores oferecem uma
Estes sistemas se baseiam no concetração de oxigênio que oscila entre
princípio de Venturi, conduzindo um alto 40% e 100%, dependendo da demanda do
fluxo de oxigênio por um tubo intermediário paciente.
com orifícios variáveis na lateral. Quanto
Misturadores de ar
menor for o orifício e maior o jato de
entrada, maiores serão as concentrações O sistema misturador de ar permite
oferecidas de oxigênio. A máscara de a entrada separada de fontes de ar
arrastamento de ar possui um orifício de jato comprimido e de oxigênio que se misturam
em torno do qual se encontra uma porta de manualmente ou utilizam uma válvula de
arrastamento de ar. O corpo da máscara precisão, permitindo assim o controle exato
possui orifício de saída para o ar expirado da concentração desejada. A mistura
(Fig. 17.9). A concentração de oxigênio é manual é realizada pelo ajuste dos

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fluxômetros de ar comprimido e de oxgênio
separados. Os misturadores de oxigênio
permitem a regulagem do oxigênio e do ar
comprimido em pressões iguais que se
combinam para oferecer a concentração
escolhida. Alguns sistemas possuem um
alarme sonoro que controla as variações
das pressões para que o ajuste seja
preciso. É indicado para pacientes que
possuem um volume minuto elevado e
precisam de concentrações altas de
oxigênio.
Sistemas de cercados
São dispositivos em que o paciente
é adaptado a um ambiente fechado com
oxigênio controlado. Utilizados em crianças
e lactentes, seus tipos descritos são:
 Tendas de oxigênio: permitem a
entrada de oxigênio em
temperatura confortável.
Indicadas para crianças
pequenas que necessitam de
concentrações baixas ou
moderadas de oxigênio e de
aerossol (Fig. 17.10).
 Capacetes: fornecem
concentrações precisas de
oxigênio por meio da cobertura
somente da cabeça do
paciente. São utilizados em
lactentes que necessitem de
suplementação de oxigênio,
permitindo que o corpo
permaneça livre para cuidados
de enfermagem (Fig. 17.11).
 Incubadoras: dispositivos que
permitem o aquecimento com
suplementação de oxigênio e
umidificação externa. São
indicadas para lactentes que PRECAUÇÕES E POSSÍVEIS
necessitam de suplementação
COMPLICAÇÕES
de oxigênio e regulação térmica
precisas (Fig. 17.12). O oxigênio, como qualquer
medicamento, deve ser administrado nas
doses e no tempo necessários,

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determinados com bases nas condições  Elevada taxa de captação do
clínicas dos pacientes e fundamentados no oxigênio, devido a um aumento da
controle exato dos gases arteriais. demanda metabólica;
 Padrão ventilatório inadequado,
Os pacientes com hipercapnia
com, por exemplo, a hipoventilação,
crônica podem apresentar depressão
ou seja, a ventilação com VC de ar
ventilatória quando recebem concentrações
baixo.
altas de oxigênio, uma vez que o centro
respiratório já não responde às altas Retinopatia da prematuridade
concentrações de gás carbônico no sangue
(narcose por gás carbônico) e, A retinopatia pode se desenvolver
normalmente, o pH do sangue está próximo em prematuros quando se administra
do normal, pois por ser crônica, a oxigênio suplementar elevado a PaO 2 acima
hipercapnia resulta em compensador de 80 mmHg.
aumento do bicarbonato plasmático. Por É uma doença de causa multifatorial
isso, o único fator que mantém o estímulo decorrente do desenvolvimento anômalo
do centro respiratório é a hipoxemia via dos vasos da retina que ocorre em recém-
receptores periféricos vasculares (núcleos nascidos prematuros e com baixo peso ao
aórticos e carotídeos). Em tais casos, a nascer, levando à formação de shunts
oferta adicional de oxigênio pode retirar o vasculares, neovascularização e
único estimulo remanescente do centro deslocamento da retina semelhante à
respiratório, a hipoxemia. A oxigenoterapia, retinopatia diabética.
nessas circunstâncias, deve ser
rigorosamente controlada para corrigir a Ela é mais comum e frequente nos
hipóxia sem, contudo, aumentar a pré-termos extremos instáveis, nos quais os
hipercapnia. episódios de hipoxia sistêmica e
hipoperfusão, seguidos por reperfusão e
Atelectasia de absorção reoxigenação, não são raros, especialmente
Atelectasias de absorção podem nos recém-nascidos com doença pulmonar
ocorrer quando o oxigênio é administrado crônica. A frequência e magnitude destes
em concentrações maiores que 50%. Além episódios alternativos de hipóxia e relativa
disso, ele pode ser tóxico e deprimir a hiperóxia estão altamente correlacionadas
função mucociliar e leucocitária. com a incidência de severa retinopatia da
prematuridade.
O uso de elevadas concentrações
de oxigênio suplementar pode ocasionar Contaminação bacteriana
atelectasias de absorção devido à redução A contaminação bacteriana pode
da concentração de nitrogênio no gás estar associada aos sistemas de
alveolar. nebulização e umidificação. Os circuitos
Alguns fatores podem favorecer o devem ser trocados a cada 48 ou 72 horas.
surgimento das atelectasias de absorção, Outro risco potencial é o
apresentados a seguir: desenvolvimento ou agravamento de
 Relação V/Q baixa, que limita a incêndios quando se utilizam altas
reposição do oxigênio alveolar; concentrações de oxigênio. Nos serviços
em que a utilização de oxigênio é rotineira é
 Anormalidades do surfactante, por
necessária a presença de extintores de
ocasionar colapso alveolar;
fogo, bem como de saídas de emergência.

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Toxidade ao oxigênio
O uso prolongado e excessivo de Índices de troca gasosa pulmonar
oxigênio (heperóxia) aumenta o risco de
A análise do intercâmbio gasoso
produzir lesão pulmonar ou até mesmo o
pulmonar permite quantificar tanto o grau de
risco de piorar a lesão pulmonar já
comprometimento do sistema respiratório,
existente.
na sua capacidade de efetuar
Todos os tecidos do organismo adequadamente as trocas gasosas
podem sofrer lesões quando expostos a pulmonares, como monitorizar a eficácia da
altas concentrações de oxigênio, produzindo utilização da oxigenoterapia.
as chamadas síndromes por hiperóxia.
Composição do ar alveolar
Podem ser alteradas algumas funções
vitais, como a depressão do estimulo Esta composição é influenciada por
ventilatório, a supressão da eritropoiese, vários fatores, dentre os quais se destacam:
assim como a produção da vasodilatação
pulmonar e vasoconstrição sistêmica. A  Concentração de oxigênio no ar
sensibilidade aumentada dos pulmões à inspirado (FiO2);
toxidade do oxigênio tem sido atribuída à  Relação entre o volume de oxigênio
sua localização estratégica, recebendo as consumido (VO2) e o volume de gás
maiores PaO2s. carbônico produzido por unidade de
tempo (VCO2) [QR=VCO2/VO2];
Durante a inalação prolongada de  Ventilação alveolar (VA), que tem
oxigênio suplementar pode ocorrer perda de uma relação inversa com a PaCO2.
peso, fraqueza generalizada, náuseas,
retinopatia, miopia, convulsões e paralisia. A equação do ar alveolar pode ser
representada da seguinte forma:
PaO2 = PIO2 – (PACO2/QR) + [FiO2 *PaCO2 (1
AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS -QR/QR)]

Os resultados da oxigenoterapia
são avaliados pelas respostas clinicas e Para facilitar o cálculo, substitui-se
fisiológicas de cada paciente. Equipamentos PaO2 = PIO2 – (PaCO2/QR) +F
de oximetria de pulso (Fig. 17.) à beira de
leito e cálculo dos índices de troca gasosa o terceiro termo pelo termo [F]:
pulmonar contribuem para a avaliação dos
benefícios da técnica empregada, correção Com isso, é possível calcular a
da hipoxemia e dos prováveis efeitos PaO2 no ar alveolar se forem
deletérios. Pacientes com DPOC agudizado conhecidas a pressão parcial de
exigem cuidados especiais a fim de evitar a oxigênio no ar inspirado (PIO 2) e a
depressão do centro respiratório. PaCO2.
A PIO2 pode ser obtida pela
equação:
PIO2 = FIO2 x (Pb-47)

Onde a pressão barométrica (Pb)


pode ser lida com precisão com a
utilização de um barômetro.

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Índice de oxigenação Foi estabelecido para adequar a
Corresponde à relação entre PaO 2 e IR=D(A-a)O2/PaO2
a FiO2 e, por não necessitar do cálculo diferença alveoloarterial de oxigênio com a
PaO2/FiO2 pressão parcial de oxigênio que está sendo
medida. É calculado dividindo-se a
da PaO2, torna-se um índice de fácil diferença alveoloarterial de oxigênio [D(A-
aplicabilidade. a)O2] pela PaO2.
É considerado adequado acima de 400, O IR é um índice especifico de
anormal quando inferior a 300 e disfunção pulmonar e se correlaciona
francamente comprometido quando menor melhor com o shunt pulmonar.
que 200.
Relação arterioalveolar
Diferença alveoloarterial de oxigênio
É calculada pela razão entre a PaO 2
Este índice é calculado pela diferença e a PAO2.
entre a pressão parcial de oxigênio no
a/A=PaO2/PAO2
alvéolo (PAO2) e a pressão parcial de
oxigênio no sangue arterial (PaO2).
Assim como o IR, esta relação
D (A-a) O2 = PAO2-PaO2 também é utilizada para analisar disfunção
pulmonar e se correlaciona com o shunt
A diferença alveoloarterial de oxigênio pulmonar.
em indivíduos supostamente saudáveis não
é fixa em toda a escala de concentração de Seu valor normal é de 0,75 a 0,9.
oxigênio, mas aumenta progressivamente Ela é considerada fixa e constante durante
com o aumento de FiO2. toda a faixa de concentração de oxigênio
que o individuo está respirando, sendo
Em indivíduos abaixo de 40 anos é considerada francamente anormal quando
inferior a 10mmHg quando se respira em ar abaixo de 0,6.
ambiente (FiO2=0,21), mas pode atingir 30
mmHg quando se respira oxigênio puro A relação arterioalveolar é mais
(FiO2=1,0). Em indivíduos normais com mais estável quando a FiO2 é maior que 0,3 e
de 60 anos, esta diferença com oxigênio quando a disfunção respiratória ocorre mais
puro (FiO2=1,0) está ao redor de 60 mmHg. por shunt pulmonar do que por
Em pacientes com comprometimento do incoordenação entre a ventilação e a
intercâmbio gasoso pulmonar, o gradiente perfusão. A relação a/A tem sido utilizada
alveoloarterial de oxigênio estará para prever a FiO2 necessária para uma
aumentado em toda a faixa de FiO2 desejada PaO2.
podendo atingir valores muito mais elevados Shunt
que em indivíduos saudáveis. Portanto,
valores isolados de PaO2 ou de diferença Define-se shunt pulmonar como
alveoloarterial de oxigênio sem sua aquela fração do débito cardíaco que não
correspondente FiO2 não terão qualquer toma parte das trocas gasosas. No pulmão
significado. normal, o fluxo das artérias brônquicas, que
corresponde a 1% do débito cardíaco, é
Índice respiratório coletado pelas veias pulmonares após ter
perfundido o pulmão e ter seu oxigênio
depletado. Outro “curto-circuito” é uma

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pequena quantidade de sangue venoso Quando se usa esta fórmula
coronariano que drena diretamente para a modificada e fundamental que a amostra de
cavidade do ventrículo esquerdo através sangue arterial seja coletada com o uso de
das veias de Thebesius. FiO2 a 100% e em termos práticos pode-se
considerar que em pacientes críticos a C(a-
O shunt pulmonar pode estar
v) O2 é cerca de 3,5 a 4,0.
aumentado em algumas situações, como
por exemplo nas atelectasias e nas Este é o único mecanismo de
pneumonias, e também cursa com hipoxemia no qual a PaO 2 permanece bem
hipoxemia, podendo ser corrigido por abaixo do nível do pulmão normal durante a
cuidados respiratórios adequados. Com respiração de oxigênio a 100%. Contudo,
isso, este aumento indica grave deve ser salientado que ganhos uteis na
comprometimento da função da oxigenação. PaO2 muitas vezes seguem-se à
administração de oxigênio a 100% a
O shunt fisiológico é considerado
pacientes com shunts.
normal até valores de 5%. A representação
do shunt pulmonar é dada pela equação: Isto acontece por causa do oxigênio
QS/QT = Cc’O2-CaO2/Cc’O2-CvO2 dissolvido adicional que pode ser apreciável
a uma alta PAO2. Por exemplo, aumentar a
Onde: PAO2 de 100 para 600 mmHg eleva o
oxigênio dissolvido no sangue capilar final
Cc’o2 = conteúdo de oxigênio do sangue capilar de 0,3 para 1,8ml de O 2/100ml de sangue.
pulmonar,
Este aumento de 1,5 pode ser comparado
CaO2 = conteúdo de oxigênio do sangue arterial, com a diferença arteriovenosa normal no
CvO2 = conteúdo de oxigênio do sangue venoso conteúdo de oxigênio de cerca de
misto. 5ml/100ml.
Para a utilização dessa fórmula é Cálculo da FiO2 ideal
necessário o uso de monitorização
Para se estimar a FiO 2 ideal durante
hemodinâmica invasiva pelo cateter de
a oxigenoterapia, deve ser considerada a
Swan-Ganz.
PaO2 em relação a idade com o paciente
Outra forma mais simplificada de
calcular o shunt pulmonar é quando a PAO2 PaO2 ideal = 109 – (0,43-idade)
é suficiente para saturar em
aproximadamente 100% a hemoglobina em posição supina. Para este cálculo é
(PAO2=150 mmHg), e pode ser realizada proposta a equação:
pela “fórmula modificada do shunt”
Portanto, o cálculo da Fio2 ideal
(equação de Finley), que determina:
pode ser calculada pela equação:
QS/QT =D(A-a)O2 x 0,0031/D(A-a)O2 x 0,0031 +
C(a-v)O2
FiO2 ideal= (FiO2 conhecida x PaO2 ideal) /PaO2

Onde:
O cálculo da FiO2 ideal pode
D(A-a) O2: diferença alveoloarterial de oxigênio, minimizar a exposição do paciente aos
0,0031= fator de solubilidade do oxigênio no plasma, efeitos adversos da hiperóxia e à toxidade
do oxigênio.
C(a-v)O2= diferença arteriovenosa do conteúdo de
oxigênio e vol%.

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ESTÁGIO PROFISSIONALIZANTE SUPERVISIONADO HOSPITALAR II
CLÍNICA MÉDICA

CONTROLE DE INFECÇÃO
Os sistemas de baixo fluxo,
incluindo as cânulas e máscaras simples,
não representam riscos clínicos importantes
de infecção desde que usados sempre no
mesmo paciente. Os sistemas de alto fluxo
que utilizam a umidificação, principalmente
aqueles que são aplicados em vias aéreas
artificial, geram um importante risco de
infecção. A American Association for
Respiratory Care (AARC) recomenda a
troca dos circuitos de acordo com o centro
de controle de infecção de cada instituição.
De uma forma geral, a troca não deve
ultrapassar dois ou três dias.

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