Você está na página 1de 27

Capítulo 2 – Escolha do Consumidor

2.A Introdução

A unidade de decisão mais importante da teoria de microeconomia é o consumidor. Neste


capítulo, começaremos nosso estudo da demanda do consumidos no contexto de uma
economia de mercado. Por economia de mercado, queremos dizer um panorama no qual os
bens e os serviços que o consumidor pode adquirir estão disponíveis para compra a preços
conhecidos (ou equivalentemente, estão disponíveis para troca por outros bens com taxas de
troca conhecidas).

Começamos, na Secção 2.B até a 2.D, descrevendo os elementos básicos do problema de


decisão do consumidor. Na Secção 2.B, introduzimos o conceito de commodities, o objeto de
escolha para o consumidor. Em seguida, nas Secções 2.C e 2.D, consideramos os impasses
físicos e econômicos que limitam as escolhas do consumidor. O primeiro caso é captado no
panorama de consumo, o qual discutimos na Secção 2.C; O segundo caso é captado na Secção
2.D no conjunto orçamentário Walrasian do consumidor.

O assunto de decisão do consumidor nesses entraves é captado na função de demanda


Walrasian do consumidor. Em termos da abordagem baseada em escolha para tomada de
decisão individual introduzida na Secção 1.C, a função de demanda Walrasian é a regra de
escolha do consumidor. Estudamos essa função e algumas de suas propriedades básicas na
Secção 2.E. Entre elas estão o que chamamos propriedades de estatística comparativa: as
formas pela qual o consumidor demanda mudanças quando os entraves econômicos variam.

Finalmente, na Secção 2.F, consideramos as implicações para a função de demanda do


consumidor do axioma fraco de preferência revelada. A conclusão central que chegamos é que
no panorama de demanda do consumidor, o axioma fraco é essencialmente equivalente à
demanda de lei compensatória, o postulado de que preços e quantidades demandadas se
movem em direções opostas buscando preços que deixem a riqueza real sem mudanças.

2.B Commodities

O problema de decisão encarado pelo consumidor em uma economia de mercado é o de


escolher níveis de consumo dos vários bens e serviços que estão disponíveis para compra no
mercado. Chamamos esses bens e serviços de commodities. Para simplificar, assumimos que o
número de commodities é finito e igual a L (indexado por ℓ = 1, ..., L).

Como um assunto geral, um vetor de commodity (ou pacote de commodities) é uma lista
de quantidades de diferentes commodities,
e pode ser visto como ponto em RL, o espaço da commodity. 1

Nós podemos usar vetores de commodity para representar os níveis de consumo individual.
A entrada do vetor da commodity representa a quantidade de commodity ℓ consumida. Nos
referimos ao vetor como um vetor de consumo ou pacote de consumo.

Note que tempo (ou, nesse caso, localização) pode ser inserido na definição de uma
commodity. Rigorosamente, ter pão hoje e amanhã deveria ser visto como uma commodity
distinta. Em uma veia similar, quando lidamos com decisões influenciadas pela incerteza no
Capítulo 6, vendo pão em diferentes “estados da natureza” como diferentes commodities,
pode ser muito útil.

Apesar das commodities consumidas em tempos diferentes deverem ser vistas


rigorosamente como commodities distintas, na prática, modelos econômicos frequentemente
envolvem alguma “agregação de tempo”. Logo, uma commodity pode ser “pão consumido no
mês de fevereiro”, apesar de, em princípio, pão consumido a cada instante em fevereiro dever
ser diferenciado. Uma razão primária para tal agregação de tempo é a de que os dados
econômicos ao qual o modelo está sendo aplicado são agregados dessa forma. A esperança do
modelador é a de que as commodities sendo agregadas sejam suficientemente similares para
que pouco do interesse econômico esteja sendo perdido.

Devemos também notar que em alguns contextos se torna muito conveniente e até
necessário expandir o panorama de commodities para incluir bens e serviços que podem
potencialmente estar disponíveis para compra, mas não estão de fato e até alguns que podem
estar disponíveis para outros meios que não a troca de mercado (diz a experiência de
“conjunto familiar”). Por quase tudo o que se segue aqui, porém, a construção estreita
apresentada nessa secção é o bastante.

2.C O Panorama de Consumo

Escolhas de consumo são tipicamente limitadas por um número de restrições físicas. O


exemplo mais simples ocorre quando talvez haja impossibilidade do indivíduo de consumir
uma quantidade negativa de commodities como pão ou água.

Formalmente, o panorama de consumo é um subconjunto do espaço de commodity RL,


denotado por X ⊂ RL, dos quais os elementos são os pacotes de consumo que o indivíduo pode
visivelmente consumir, dado as restrições físicas impostas pelo seu meio.

Considere os quatro seguintes exemplos para o caso em que L = 2:

(i) Figura 2.C.1 representar níveis possíveis de consumo de pão e lazer em um dia.
Ambos os níveis devem ser não negativos e, além disso, o consumo de mais de 24
horas de lazer em um dia é impossível.

1
Entradas negativas nos vetores da commodity irão frequentemente representar débitos ou saída
líquida de bens. Por exemplo, no Capítulo 5, as entradas de uma firma são mensuradas pelos números
negativos.
(ii) Figura 2.C.2 representa a situação na qual o primeiro bem é perfeitamente divisível,
mas o segundo está disponível apenas em quantidades inteiras não negativas.
(iii) Figura 2.C.3 captura o fato de que é impossível comer pão ao mesmo tempo em
Washington e em Nova York. [Esse exemplo é emprestado de Malinvaud (1978).]
(iv) Figura 2.C.4 representa a situação onde o consumidor requer um mínimo de quatro
fatias de pão por dia para sobreviver e existem dois tipos de pão, marrom e branco.

F.2.C.1 (esquerda) – Um panorama de consumo;


F.2.C.2 (direita) – Um panorama de consumo onde bem 2 deve ser consumido em
quantidades inteiras;
F.2.C.3 (esquerda) – Um panorama de consumo onde só um bem pode ser
consumido;
F.2.C.4 (direita) – Um panorama de consumo refletindo necessidades de
sobrevivência.

Nos quatro exemplos, as restrições são físicas em um sentido bastante literal. Mas as
restrições que incorporamos no panorama de consumo podem também ser de natureza
institucional. Por exemplo, uma lei requerendo que ninguém trabalhe mais do que 16 horas
por dia iria mudar o panorama de consumo na Figura 2.C.1 para o da Figura 2.C.5.

Para manter as coisas mais diretas possíveis, buscamos seguir na nossa discussão adotando
a forma mais simples de panorama de consumo:
o panorama de todos os pacotes de commodities não negativas é representado na Figura
2.C.6. Sempre que considerarmos algum conjunto de consumo X além de , nós devemos
ser explícitos sobre isso.

Uma característica especial do conjunto é de que ele é convexo. Isso é, se dois pacotes
de consumo x e x’ são ambos elementos de , então o pacote x’’ = αx + (1 – α)x’ é também
um elemento de para qualquer x ∈ [0, 1] (veja Secção M.G. do Apendice Matemático
para a definição e propriedades dos conjuntos convexos).2 O panorama de consumo nas
Figuras 2.C.1, 2.C.4, 2.C.5 e 2.C.6 são conjuntos convexos; os das Figuras 2.C.2 e 2.C.3 não são.

Muita da teoria a ser desenvolvida se aplica por conjuntos de consumo convexos gerais,
assim como por . Alguns dos resultados, mas não todos, sobrevivem sem a suposição de
convexidade.3

F.2.C.5 (esquerda) – Um conjunto de consumo refletindo o limite legal no número de


horas trabalhadas;
F.2.C.6 (direita) – O conjunto de consumo

2.D Orçamentos competitivos

Além das restrições físicas incorporadas no panorama de consumo, o consumidor encara


um impedimento econômico importante: sua escolha de consumo é limitada àqueles pacotes
de commodities com que ele pode arcar.

Para formalizar esse impedimento, apresentamos duas suposições. Primeiro, supomos que
as commodities L são todas trocadas no mercado a preços em dólar que são publicamente
cotados (esse é o princípio de completude, ou universalidade, de mercados). Formalmente,
esses preços são representados pelo vetor de preço

2
Lembre-se que x’’ = αx + (1 – α)x’ é um vetor que a entrada é x’’1 = αx1 + (1 – α)x’1
3
Note que agregação de commodity por ajudar a convexificar o conjunto de consumo. No exemplo
referente a Figura 2.C.3, o panorama de consumo pode ser tomado por convexo se os arcos estivessem
medindo consumo de pão em um período de um mês.
que dá o valor de dólar por unidade de cada uma das commodities L. Observe que não há nada
que requeira logicamente que os preços sejam positivos. Um preço negativo simplesmente
significa que o “comprador” está na verdade pagando para consumir a commodity (o que não
é ilógico para commodities que são “ruins”, como a poluição). No entanto, para simplificar,
aqui sempre assumimos p ≫ 0; isso é pℓ > 0 para todo ℓ.

Segundo, assumimos que esses preços estão além da influência do consumidor. Essa é a
conhecida suposição de tomada de preço. Informalmente falando, essa suposição
provavelmente é válida quando a demanda do consumidor por qualquer commodity
representa apenas uma fração pequena do total da demanda por aquele bem.

A acessibilidade de um pacote de consumo depende de duas coisas: os preços do mercado


p = (p1, ..., pL) e o nível de riqueza (em dólares) do consumidor w.

Figura 2.D.1 (esquerda) – Um conjunto de orçamento Walrasiano


Figura 2.D.2 (direita) – O efeito de uma mudança de preço em um conjunto de orçamento
Walrasiano
O pacote de consumo é acessível se seu custo total não exceder o nível w de
4
riqueza do consumidor, isso é, se

Esse entrave de acessibilidade econômica, quando combinado com o requerimento de que


x se encontra no conjunto de consumo , implica que o conjunto de pacotes de consumo
viáveis consiste em elementos do conjunto . Esse conjunto é conhecido
5
como Walrasiano, ou conjunto de orçamento competitivo (em homenagem a Léon Walras).

Definição 2.D.1: O conjunto Walrasiano, ou conjunto de orçamento competitivo


é o conjunto de pacotes de consumo viáveis para o consumidor
que encara os preços do mercado p e tem riqueza w.

4
Esse impedimento é descrito com frequência na literatura requisitando que o custo das aquisições
planejadas não exceda a renda do consumidor. Em ambos os casos, a ideia é a de que o custo das
aquisições não exceda os recursos disponíveis do consumidor. Usamos a terminologia de riqueza para
enfatizar que o verdadeiro problema do consumidor deve ser intertemporal, com as commodities
envolvendo aquisições com o tempo, e o impedimento de fonte sendo um de renda de vida (como a
riqueza) (veja Exercício 2.D.1)
5
Competitive budget set no original
O problema do consumidor, dado valores p e riqueza w, pode então ser declarado como:
Escolha um pacote de consumo x de .

Um conjunto de orçamento Walrasiano é retratado na Figura 2.D.1 para o caso de L =


2. Para focar no caso em que o consumidor tem um problema de escolha não gerado, nós
sempre assumimos w > 0 (senão o consumidor só pode pagar x = 0).

O conjunto é chamado de hiperplano orçamentário (para o caso L = 2,


nós o chamamos de linha orçamentária). Ele determina a barreira superior do conjunto
orçamentário. Como a Figura 2.D.1 indica, o declive da linha orçamentária quando
, captura a taxa de troca entre as duas commodities. Se o preço da
commodity 2 diminuir (com p1 e w mantidos fixados), digamos a , o conjunto
orçamentário cresce mais pois mais pacotes de consumo são acessíveis e a linha orçamentária
se torna dormente. Essa mudança é mostrada na Figura 2.D.2.

Outra forma de ver como o hiperplano orçamentário reflete os termos relativos de troca
entre as commodities surge ao se examinar sua relação geométrica ao vetor de preço p. O
vetor de preço p, desenhado iniciando de qualquer ponto no hiperplano orçamentário, deve
ser ortogonal (perpendicular) a qualquer vetor começando em e ficando no hiperplano
orçamentário. Isso ocorre porque para qualquer x’ que sozinho fique no hiperplano
orçamentário, nós temos . Então, . A Figura 2.D.3
demonstra essa relação geométrica para o caso L = 2. 6

Figura 2.D.3 – a relação geométrica entre p e o hiperplano orçamentário.


O conjunto orçamentário Walrasiano é um conjunto convexo: Isso é, se o pacote x e
x’ são ambos elementos de então o pacote também é. Para ver
isso, note primeiro que por causa de ambos x e x’ serem não negativos, . Segundo,
desde e , nós temos . Então
.

6
Para desenhar o vetor p começando de , nós desenhamos o vetor do ponto ( 1, 2) até o ponto (
1 + p1. 2 + p2). Então, quando desenhamos o vetor de preço nesse diagrama, usamos as
“unidades” nos arcos para representar os preços ao invés dos bens.
A convexidade de tem um papel significante no desenvolvimento que segue. Note
que a convexidade de depende da convexidade do conjunto de consumo . Com um
conjunto de consumo mais geral , será convexo contanto que X seja. (Veja Exercício
2.D.3)

Apesar dos conjuntos orçamentários Walrasianos serem de interesse teórico central, eles
não são de forma alguma o único tipo de conjunto orçamentário que o consumidor deve
encontrar em alguma situação atual. Por exemplo, uma discrição mais realística de trade-off
em mercados entre o consumo de bens e lazer, envolvendo taxas, subsídios e várias taxas
salariais, é ilustrado na Figura 2.D.4. Na figura, o preço do bem consumido é 1 e a taxa salarial
ganhada pelo consumidor é s por hora pelas primeiras 8 horas de trabalho e s’ > s por horas
adicionais (“overtime”). Ele também se depara com a taxa de imposto ℓ por dólar em renda de
trabalho recebe sob a quantidade M. Note que o conjunto orçamentário na Figura 2.D.4 não é
convexa (é pedido que você mostre isso no Exercício 2.D.4). Exemplos mais complicados
podem ser prontamente construídos e comumente subir em trabalhos aplicados. Veja Deaton
e Muelbauer (1980) e Burtless e Hausmann (1975) para mais ilustrações desse tipo.

Figura 2.D.4 – Uma descrição mais realista do conjunto orçamentário do consumidor

2.E Funções de Demanda e Estatística Comparativa

A demanda de correspondência Walrasiana (ou de mercado, ou ordinária) do


consumidor atribui ao conjunto de pacotes de consumo escolhidos para cada par de preço-
riqueza7 (p, w). A princípio, essa correspondência pode ser multivalorada; isso é, pode haver
mais de um vetor de consumo possível atribuído para o par preço-riqueza dado (p, w). Quando
é assim, qualquer pode ser escolhido pelo consumidor quando deparado com o par
preço-riqueza (p, w). Quando x(p, w): Esse é um grau zero de homogeneidade e isso satisfaz a
lei de Walras.

7
Representado por w graças a palavra em inglês “wealth”.
Definição 2.E.1: A correspondência de demanda Walrasiana é homogênea de grau
zero se para qualquer p, w e .

A homogeneidade de grau zero diz que se ambos preço e riqueza mudarem na mesma
proporção, então a escolha de consumo individual não muda. Para entender essa propriedade,
note que a mudança em preço e riqueza de (p, w) para leva a nenhuma mudança no
conjunto de pacotes de consumo viáveis do consumidor; isso quer dizer, . A
homogeneidade do grau zero diz que a escolha do indivíduo depende somente no conjunto de
pontos viáveis.

Definição 2.E.2: A correspondência de demanda Walrasiana satisfaz a lei de Walras


se para todo e , nós temos para todo .

A lei de Walras diz que o consumidor expande sua riqueza completamente. Intuitivamente,
essa é uma suposição razoável a se fazer, contanto haja algum bem que é claramente
desejável. A lei de Walras deveria ser entendida amplamente: o orçamento do consumido
pode ser intertemporal, permitindo que a poupança de hoje seja usada para compras amanhã.
O que a lei de Walras diz é que o consumidor expande completamente seus recursos pelo
curso da sua vida.

Exercício 2.E.1: Suponha que L = 3, e considere a função de demanda x(p,w) definida por

Essa função de demanda satisfaz a homogeneidade de grau zero e a lei de Walras quando
? E quando for ?

No capítulo 3, onde a demanda do consumidor x(p, w) é derivada da maximização de


preferências, essas duas propriedades (homogeneidade do grau zero e satisfação da lei de
Walras) se mantém em circunstâncias muito generalizadas. No resto deste capítulo, no
entanto, devemos apenas tomá-las como suposições sobre x(p,w) e explorar suas
consequências.

Uma implicação conveniente de x(p,w) ser homogêneo de grau zero pode ser notado
imediatamente: Apesar de x(p,w) formalmente ter argumentos L + 1, nós podemos, sem
nenhuma perda de generalidade, prender (normalizar) o nível de uma dessas variáveis
independentes L + 1 em um nível arbitrário. Uma normalização comum é para algum
ℓ. Outro é w = 1.8 Então, o número efetivo de argumentos em x(p,w) é L.

8
Usamos normalização extensivamente na Parte IV
Para o resto dessa secção, assumimos que x(p,w) é sempre valorizado unicamente. Nesse
caso, podemos escrever que a função x(p,w), em termos de funções de demanda específicas
de commodity:

Quando conveniente, também assumimos x(p,w) sendo contínuo e diferençiável.

A abordagem que damos aqui na Secção 2.F pode ser vista como uma aplicação da
estrutura baseada em escolha desenvolvida no Capítulo 1. A família de conjuntos
orçamentários Walrasianos é . Além disso, por homogeneidade do
grau zero, x(p,w) depende apenas do conjunto orçamentário com que o consumidor se depara.
Então é uma estrutura de escolha, como definido na Secção 1.C. Note que a
estrutura de escolha não inclui todos os subconjuntos possíveis de X (exemplo, não
inclui todos os subconjuntos de dois e três elementos de X). Esse fato será significativo para
todas as relações entre as abordagens baseadas em escolha e baseadas em preferência para a
demanda do consumidor.

Estatísticas Comparativas

Nós comumente estamos interessados em analisar como a escolha do consumidor varia


com as mudanças de sua riqueza e nos preços. O exame de uma mudança no resultado em
resposta a uma mudança em parâmetros econômicos subjacentes é conhecido como análise
de estatística comparativa.

Efeito Riqueza

Para preços fixos , a função da riqueza é chamado de função de Engel do


consumidor. Sua imagem em é conhecida como caminho de
expansão da riqueza. A Figura 2.E.1 retrata tal caminho de expansão.

Em qualquer (p, w), o derivado é conhecido como o efeito riqueza para o


bem. 9

Figura 2.E.1 – a expansão do caminho de riqueza a preços

9
Também é conhecido como o efeito
A commodity ℓ é normal em (p, w) se ; quer dizer, a demanda é não
decrescente em riqueza. Se o efeito riqueza na commodity ℓ é, na verdade, negativo, então é
chamado de inferior em (p, w). Se toda commodity é normal em todo (p, w) então dizemos
que a demanda é normal.

A suposição de demanda normal faz sentido se as commodities são agregados grandes (ex.
comida, abrigo). Mas se eles são muito desagregados (ex: tipos de sapatos particulares), então
por causa da substituição de bens de alta qualidade para aumento de riqueza, bens que se
tornam inferiores em algum nível de riqueza podem ser a regra ao invés de a exceção.

Em uma matrix de notação, os efeito riqueza são representados a seguir:

Efeito preço

Nós também podemos perguntar como os níveis de consumo das várias commodities
mudam com as variações dos preços.

Considere primeiro o caso onde L = 2 e suponha que mantemos riqueza e preço p1 fixados.
A Figura 2.E.2 representa a função da demanda para bem 2 como uma função do próprio
preço p2, por vários níveis do preço do bem 1, com riqueza mantida constantemente na
quantidade w. Note que, de costume em economia, a variável preço, que aqui é a variável
independente, é mensurada no arco vertical e a quantidade demandada, a variável
dependente, é mensurada no arco horizontal. Outra representação útil da demanda do
consumidor em preços diferentes é o lócus de pontos demandados em enquanto
alcançamos todos os valores possíveis de p2. Isso é conhecido como curva de oferta. Um
exemplo é apresentado na Figura 2.E.3.
Geralmente, a derivada é conhecida como o efeito preço de , o preço do
bem k, na demanda para o bem ℓ. Apesar de parecer natural pensar que uma queda no preço
do bem vai levar o consumidor a comprar mais dele (como na Figura 2.E.3), a situação reversa
não é uma impossibilidade econômica. Bem ℓ é dito ser um bem Giffen em (p, w) se
. Para a curva oferta representada na Figura 2.E.4, bem 2 é um bem Giffen
em .

Figura 2.E.2 (lado esquerdo superior) – A demanda para o bem 2 como uma função de seu
preço (para vários níveis de p1)
Figura 2.E.3 (lado direito superior) – Uma curva de oferta
Figura 2.E.4 (embaixo) – Uma curva de oferta onde o bem 2 é inferior em
Os bens de baixa qualidade podem ser bens Giffen para consumidores com baixos níveis de
riqueza. Por exemplo, imagine que um consumidor pobre está inicialmente realizando muitos
de seus requisitos dietéticos com batatas, pois elas são uma forma de evitar a fome a baixo
custo. Se o preço das batatas cair, ele pode então pagar por outras comidas mais desejáveis
que também evitem com que ele passe fome. Como resultado, o consumo de batatas dele
pode acabar caindo. Note que o mecanismo que leva as batatas a serem bens GIffen nessa
história envolve uma consideração de riqueza: Quando o preço das batatas cai, o consumidor é
efetivamente mais rico (ele tem a possibilidade de compra mais generalizada) e então ele
compra menos batatas. Investigaremos essa interação entre efeitos preço e riqueza mais
extensivamente no resto desse capítulo e no Capítulo 3.

Os efeitos preço são convenientemente representados na forma matriz a seguir:


Implicações de homogeneidade e da Lei de Walras para efeitos preço e riqueza

Homogeneidade e lei de Walras implica em certas restrições nos efeitos de estatísticas


comparativas da demanda do consumidor em relação aos preços e riqueza.

Considere, primeiro, as implicações da homogeneidade do grau zero. Sabemos que


para todo . Diferenciar essa expressão em relação a α e
avaliando a derivada em α = 1, obtemos os resultados mostrados na Preposição 2.E.1 (é
resultado também é um caso especial da fórmula Euler; veja Secção M.B do Apêndice
Matemático para detalhes).

Preposição 2.E.1: Se a função da demanda Walrasiana x(p, w) é homogênea de grau zero,


então para todo p e w:

Em notação matriz, isso é expresso como

Logo, homogeneidade de grau zero implica em que as derivadas preço e riqueza de


demanda por qualquer bem ℓ, quando pesadas por esses preços e riqueza, somam zero.
Intuitivamente, esse peso surge porque quando aumentamos todos os preços e riqueza
proporcionalmente, cada uma dessas variáveis mudam em proporção a seu nível inicial.

Podemos também reafirmar a equação (2.E.1) em termos de elasticidade de demanda, em


relação a preços e riqueza. Esses são definidos, respectivamente, por

e .

Essas elasticidades dão uma mudança de porcentagem na demanda pelo bem ℓ por
mudança de porcentagem (marginal) nos preços do bem k ou riqueza; note que a expressão
para pode ser lida como . Elasticidades aparecem com frequência em
trabalho aplicado. Diferente das derivadas de demanda, elasticidades são independentes das
unidades escolhidas para mensurar commodities e, por isso, provém uma forma livre de
unidade para captar responsividade de demanda.

Usando elasticidades, a condição (2.E.1) toma a seguinte forma:


Essa formulação expressa bem diretamente a implicação de estatísticas comparativas de
homogeneidade de grau zero: Uma mudança de porcentagem igual em todos os preços e
riqueza leva a nenhuma mudança na demanda.

Lei de Walras, por outro lado, tem duas implicações para os efeitos preço e riqueza da
demanda. Pela lei de Walras, nós sabemos que para todo p e w. Diferenciando
essa expressão com relação aos rendimentos de preço do primeiro resultado, apresentados na
Preposição 2.E.2

Preposição 2.E.2: Se a função de demanda Walrasiana x(p, w) satisfizer a lei Walras, então
para todo p e w:

ou, escrito em noção matrix, 10

Similarmente, diferenciando com respeito a w, temos o segundo resultado,


mostrado na Preposição 2.E.3.

Preposição 2.E.3: Se a função de demanda Walrasiana x(p, w) satisfizer a lei Walras, então
para todo p e w:

ou, escrito em noção matrix,

As condições derivadas nas Preposições 2.E.2 e 2.E.3 são chamadas às vezes de


propriedades de Cournot e agregação Engel, respectivamente. Elas são simplesmente as
versões diferenciais de dois fatos: Aquele gasto total não pode mudar em resposta a uma
mudança de preços e aquele gasto total deve mudar em uma quantidade igual a qualquer
mudança de riqueza.

Exercício 2.E.2: Mostre que as equações (2.E.4) e (2.E.6) levam as duas fórmulas de
elasticidade seguintes:

10
Lembre-se que significa uma fila vetor de zeros.
e

onde é o orçamento dividido dos gastos do consumidos nos bens ℓ


dado preços p e riqueza w.

2.F O Axioma Fraco de Preferência Revelada e a Lei da Demanda

Nessa secção, nós estudamos as implicações do axioma fraco de preferência revelada para
a demanda de consumo. Por toda a análise, continuaremos a assumir que x(p, w) tem valor
único, homogêneo de grau zero, e satisfaz a lei de Walras. 11

O axioma fraco já foi apresentado na Secção 1.C como um axioma consistente para a
abordagem baseada em escolha para a teoria de decisão. Nessa secção, exploramos suas
implicações para o comportamento de demanda do consumidor. Na abordagem baseada em
preferência relacionada ao comportamento do consumidor a ser estudada no Capítulo 3, a
demanda satisfaz necessariamente o axioma fraco. Logo, os resultados apresentados no
Capítulo 3, quando comparadas com os dessa secção, nos dirão quanto mais de estrutura será
imposta à demanda do consumidor através da abordagem baseada em preferência além do
que é implicado só pelo axioma fraco. 12

No contexto das funções de demanda Walrasiana, o axioma fraco toma a forma mostrada
na Definição 2.F.1.

Definição 2.F.1: A função de demanda Walrasiana x(p, w) satisfaz o axioma fraco de


preferência revelada (o WA) se a propriedade seguinte se mantiver para qualquer situação (p,
w) e (p’, w’) de dois preço-riqueza:

Se e , então .

Se você já estudou o Capítulo 1, irá reconhecer que essa definição é precisamente a


especialização da afirmação do axioma fraco apresentado na Secção 1.C no contexto em que
os conjuntos orçamentários são Walrasianos e x(p, w) especificam uma escolha única (veja
Exercício 2.F.1).

No panorama de demanda do consumidor, a ideia por trás do axioma fraco pode ser
colocada da seguinte forma: Se e , então sabemos que
quando tivermos preços p e riqueza w, o consumidor escolheu o pacote de consumo x(p, w)
mesmo o pacote x(p‘, w’) sendo mais acessível. Podemos interpretar essa escolha como
“reveladora” de uma preferência por x(p, w) ao invés de x(p’, w’). Agora, podemos esperar,
com razão, que o consumidor demonstre alguma consistência em seu comportamento de
demanda. Em particular, dado sua preferência revelada, esperaríamos que ele escolhesse x(p,
w) ao invés de x(p’, w’) sempre que ambos fossem acessíveis. Se sim, o pacote x(p, w) não

11
Para generalizações do caso de escolha multivalorada, veja Exercício 2.F.13
12
Ou, dito melhor, além do que é implicado pelo axioma fraco em conjunção a homogeneidade de grau
zero e a lei Walras.
deve ser acessível na combinação preço-riqueza (p’, w’) em que o consumidor escolha o
pacote x(p’, w’). Isso é, como requerido pelo axioma fraco, devemos ter .

A restrição imposta pelo axioma fraco no comportamento de demanda quando L = 2 é


ilustrada na Figura 2.F.1. Cada diagrama mostra conjuntos de dois pacotes e e
suas correspondentes escolhas x(p’, w’) e x(p’’, w’’). O axioma fraco nos diz que não podemos
ter ambos e . Os painéis (a) até (c) demonstram situações
permissíveis, enquanto demantas nos painéis (d) e (e) violam o axioma fraco.

Implicações do Axioma Fraco

O axioma fraco tem implicações significativas para os efeitos de demanda em mudança de


preço.

Como a discussão de bens Giffen na Secção 2.E sugere, mudança de preço afetam o
consumidor de duas formas. Primeiro, eles alteram o valor relativo de commodities diferentes.
Mas, segundo, eles também alteram a verdadeira riqueza do consumidor: Um aumento no
preço de uma commodity empobrece o consumidor dessa commodity. Para estudar as
implicações do axioma fraco, precisamos isolar o primeiro efeito.

Uma forma de conseguir isso é imaginar uma situação em que a mudança de preços é
acompanhada por uma mudança na riqueza do consumidos que faça com que o seu pacote de
consumo inicial tão acessível quanto o anterior com os novos preços. Isso é, se o consumidor
está originalmente encontrando preços p e riqueza w e escolhe o pacote de consumo x(p, w),
então quando os preços mudam para p’, imaginamos que a riqueza do consumidor é ajustada
para . Então, o ajuste da riqueza é , onde . Esse
tipo de ajuste de riqueza é conhecido como compensação de riqueza Slutsky. A Figura 2.F.2
mostra a mudança no conjunto pacote quando a redução no peço do bem 1 de para é
acompanhada pela compensação de riqueza Slutsky. Geometricamente falando, a restrição é a
de que o pacote hiperplano correspondente a (p’, w’) passa pelo vetor x(p, w).

Nos referimos a mudanças de preço que são acompanhadas por tal mudança de riqueza
compensatória como mudanças de preço compensatório (Slutsky).

Na Preposição 2.F.1, nós mostramos que o axioma fraco pode ser declarado de forma
equivalente em termos de resposta de demanda as mudanças de preço compensatório.
Figura 2.F.1 – Demanda nos painéis (a) até (c) satisfaz o axioma fraco; demand nos painéis (d)
e (e) não satisfaz.

Preposição 2.F.1: Suponha que a função de demanda Walrasiana x(p, w) é homogênea de


grau zero e satisfaça a lei de Walras. Então x(p, w) satisfaz o axioma fraco se e somente si a
preposição seguinte se mantiver:

Para cada mudança de preço compensado de uma situação inicial (p, w) para um novo par
preço-riqueza , temos:

com desigualdade estrita sempre que .

Prova: (i) O axioma fraco implica em desigualdade (2.F.1), com desigualdade estrita se
. O resultado é imediato se , já que então
. Então suponha que . O lado esquerdo da
desigualdade (2.F.1) pode ser escrito como
Considere o primeiro termo de (2.F.2). Por a mudança de p para p’ ser uma mudança de preço
compensatória, sabemos que . Além disso, a lei de Walras nos diz que
. Então

Agora considere o segundo termo de (2.F.2). Graças a , x(p, w) é


acessível em uma situação de preço-riqueza (p’, w’). O axioma fraco implica em que, então,
x(p’, w’) não deve ser acessível em uma situação de preço-riqueza (p, w). Logo, devemos ter
. Já que pela lei de Walras, isso implica que

Juntos, (2.F.2), (2.F.3) e (2.F.4) produzem o resultado.

(ii) O axioma fraco é implicado por (2.F.1) se mantendo para todas as mudanças
compensatórias de preço, com desigualdade estrita se . O argumento para
esse direcionamento de prova usa o seguinte fato: O axioma fraco se mantém se e apenas se
for mantido por todas as mudanças compensatórias de preço. Isso quer dizer que, o axioma
fraco se mantém se, para quaisquer dois pares preço-riqueza (p, w) e (p’, w’), temos
sempre que e .

Para provar o fato afirmado no parágrafo anterior, argumentamos que se o axioma fraco é
violado, então deve haver uma mudança compensatória de preço pelo qual ele é violado. Para
ver isso, suponha que temos uma violação do axioma fraco, isso é, dois pares preço-riqueza
(p’, w’) e (p’’, w’’) tal que , e . Se uma
dessas duas desigualdades fracas se mantiver com igualdade, então essa é, na verdade, uma
mudança de preço compensatória e estamos feitos. Então, assuma que, como mostrado na
Figura 2.F.3, temos e .

Figura 2.F.2 – Uma mudança de preço compensatória de (p, w) para (p’, w’).
Figura 2.F.3 – O axioma fraco se mantém se e somente se ele se mantiver para todas as
mudanças de preço compensatórias.
Agora escolha o valor de para qual

e denota e . Essa construção é ilustrada na


Figura 2.F.3. Temos então

Logo, ou ou . Suponha que a primeira possibilidade se


mantenha (o argumento é idêntico se a segunda se mantiver). Então temos ,
e , que constituem uma violação do axioma fraco por mudança
compensatória de preço de (p’, w’) para (p, w).

Uma vez que sabemos que para testarmos o axioma fraco basta considerar apenas as
mudanças compensatórias de preço, o raciocínio restante é simples. Se o axioma fraco não se
mantiver, existe uma mudança compensatória de preço de algum (p’, w’) para algum (p, w) tal
que , e . Mas já que satisfaz a lei de
Walras, essas duas desigualdades implicam em

e .

Logo, teríamos

e ,

o que é uma contradição a (2.F.1) se mantendo para todas as mudanças compensatórias de


preço [e com desigualdade estrita quando ].

A desigualdade (2.F.1) pode ser escrito rapidamente como , onde e


. Isso pode ser interpretado como uma forma da lei de demanda:
Demanda e preço se movem em direções opostas. Preposição 2.F.1 nos diz que a lei de
demanda se mantém por mudanças compensatórias de preço. Portanto, a chamamos de lei de
demanda compensatória.

O caso mais simples envolve o efeito demanda para algum bem ℓ de uma mudança
compensatória em seu preço p ℓ. Quando só o peço muda, temos
. Já que , a Preposição 2.F.1 nos diz que , então devemos
ter . O argumento básico é ilustrado na Figura 2.F.4. Começando em (p, w), uma
queda compensatória no preço do bem 1 faz com que a linha orçamentária tenha uma rotação
através de x(p, w). O WA apenas permite movimentos de demanda na direção que aumente a
demanda do bem 1.

Figura 2.F.4 (esquerda) – A demanda deve ser não crescente em preço próprio para uma
mudança de preço compensatória.
Figura 2.F.5 (direita) – A demanda pelo bem 1 pode cair quando seu preço decai para uma
mudança de preço descompensada.

A Figura 2.F.5 deve te persuadir de que WA (ou, nesse caso, a suposição de maximização de
preferência discutida no Capítulo 3) não é suficiente para produzir a lei de demanda para
mudanças de preço que não são compensatórias. Na figura, a mudança de preço de p para p’ é
obtida por uma queda no preço do bem 1, mas o axioma fraco não impõe nenhuma restrição
em onde colocamos o novo pacote de consumo; como desenhado, a demanda pelo bem 1 cai.

Quando a demanda de consumo x(p, w) é uma função diferençável de preços e riqueza, a


Preposição 2.F.1 tem uma implicação diferencial que é de grande importância. Considere,
começando em um dado par preço-riqueza (p, w), uma mudança diferenciada em preços dp.
Imagine que fazemos disso uma mudança compensatória de preço ao dar ao consumidor
compensação de [esse é só o diferencial analógico de ].
Preposição 2.F.1 nos diz que

Agora, usando a regra corrente, a mudança diferencial na demanda induzida por essa
mudança compensatória de preço pode ser escrita como

Logo
ou equivalentemente

Finalmente, substituindo (2.F.8) por (2.F.5) concluímos que para qualquer mudança
diferencial de preço dp possível, temos

A expressão em chaves na condição (2.F.9) é uma matriz L x L, em que denotamos por S(p,
w). Formalmente

onde a entrada (ℓ, k)th é

A matriz S(p, w) é conhecida como a substituição, ou Slutsky, matriz, e seus elementos são
conhecidos como efeitos substituição.

A terminologia “substituição” é cabível, pois o termo mede a mudança diferencial


no consumo da commodity ℓ (por exemplo, a substituição por ou de outras commodities)
graças a uma mudança diferencial nos preços da commodity k quando a riqueza é ajustada
para que o consumidor ainda possa adquirir apenas o pacote de consumo original (por
exemplo, graças apenas a uma mudança em preços relativos). Para ver isso, note que a
mudança na demanda por um bem ℓ se a riqueza for mantida sem mudanças é
. Para o consumidor ser capaz de “adquirir apenas” seu pacote de consumo
original, sua riqueza deve variar pela quantidade . O efeito dessa mudança de
riqueza na demanda pelo bem ℓ é, então, . A soma desses dois
efeitos é, portanto, exatamente .

Resumimos a derivação nas equações (2.F.5) até (2.F.10) na Preposição 2.F.2.

Preposição 2.F.2: Se uma função de demanda Walrasiana diferençável x(p, w) satisfaz a lei
de Walras, homogeneidade do grau zero e o axioma fraco, então em qualquer (p, w), a matriz
Slutsky S(p, w) satisfaz para qualquer .

A matriz, satisfazendo a propriedade na Preposição 2.F.2, é chamada de semi-definida


negativa (é definida negativa se a desigualdade é estrita para todo ). Veja Secção M.D do
Apêndice Matemático para saber mais sobre essas matrizes.
Note que S(p, w) sendo semi-definida negativa implica em : Isso quer dizer
que o efeito substituição do bem ℓ em relação ao seu próprio preço é sempre não positivo.

Uma implicação interessante de é a de que um bem pode ser um bem Giffen


em (p, w) somente se for inferior. Em particular já que

Se , nós devemos ter .

Para referência posterior, notamos que a Preposição 2.F.2 não implica, em geral, que a
matriz S(p, w) é simétrica. 13 Para L = 2, S(p, w) é necessariamente simétrico (é pedido que você
demonstre isso no Exercício 2.F.11). Quando L > 2, no entanto, S(p, w) não precisa ser
simétrico sob as suposições feitas até agora (homogeneidade do grau zero, lei de Walras e o
axioma fraco). Veja o Exercício 2.F.10 e 2.F.15 para exemplo. No Capítulo 3 (Secção 3.H),
devemos ver qual a simetria de S(p,w) é intimamente conectada com a possibilidade de gerar
demanda a partir da maximização das preferências racionais.

Explorando mais as propriedades da homogeneidade do grau zero e da lei de Walras,


podemos dizer um pouco mais sobre a matriz substituição S(p, w).

Preposição 2.F.3: Suponha que a função de demanda Walrasiana x(p, w) é diferençável,


homogênea de grau zero e satisfaça a lei de Walras. Então e
para qualquer (p, w).

Exercício 2.F.7: Prove Preposição 2.F.3. [Dica: Use Preposições 2.E.1 até 2.E.3.]

Segue, a partir da Preposição 2.F.3, que a matriz S(p, w) é sempre singular (por exemplo, ela
foi classificada menor que L), e então a semi-definição negativa de S(p, w) estabelecida na
Preposição 2.F.2 não pode ser estendida a uma definição negativa (exemplo, veja Exercício
2.F.17).

A Preposição 2.F.2 estabelece uma semi-definição negativa de S(p, w) como uma implicação
necessária do axioma fraco. Alguém pode se perguntar: Essa propriedade é suficiente para
implicar o WA [tanto que a semi-definição negativa de S(p, w) é, na verdade, equivalente a
WA]? Isso é, se temos uma função de demanda x(p, w) que satisfaça a lei de Walras,
homogeneidade do grau zero e tenha matriz substituta semi-definida negativa, ela deve
satisfazer o axioma fraco? A resposta é quase, mas ainda não. O Exercício 2.F.16 fornece um
exemplo de uma função de demanda com uma matriz substituta semi-definida negativa que
viola o WA. A condição suficiente é a de que sempre que para qualquer
escala α; isso é, S(p, w) deve ser definida negativa para todos os vetores que não aqueles que
são proporcionais a p. Esse resultado se deve a Samuelson [veja Samuelson (1947) ou

13
Uma questão de terminologia: É comum na literatura matemática que seja assumido que matrizes
“definidas” sejam simétricas. Rigorosamente falando, se nenhuma simetria está implicada, a matriz seria
chamada de “quase definidas”. Para simplificar a terminologia, usamos “definidas” sem nenhuma
suposição sobre simetria; se uma matriz é simétrica, dizemos isso explicitamente. (Veja Exercício 2.F.9).
Kihlstrom, Mas-Colell e Sonnenschein (1976) para um tratamento avançado]. A lacuna entre as
condições necessárias e suficientes é da mesma natureza que a lacuna entre as condições de
segunda ordem necessárias e suficientes para a minimização da função.

Finalmente, como uma teoria de demanda do consumidor que é baseada somente nas
suposições de homogeneidade do grau zero, lei de Walras e no requerimento consistente
incorporado na ação fraca, iria se comparar com uma baseada em maximização de preferência
racional?

Baseado no Capítulo 1, você pode esperar que a Preposição 1.D.2 insinue que as duas são
equivalentes. Mas não podemos apelar para a preposição aqui porque a família de orçamentos
Walrasianos não inclui todos os orçamentos possíveis; em particular, não inclui todos os
orçamentos formados por pacotes de só dois ou três commodities.

De fato, as duas teorias não são equivalentes. Para funções de demanda Walrasianas, a
teoria derivada do axioma fraco é mais fraca que a teoria derivada de preferências racionais,
no sentido de menos restrições implicadas. Isso é mostrado formalmente no Capítulo 3, onde
demonstramos que se a demanda é gerada de preferências, ou é capaz de ser gerada dessa
forma, então deve haver uma matriz simétrica Slutsky em todo (p,w). Mas no momento, o
Exemplo 2.F.1, graças originalmente a Hicks (1956), pode ser persuasiva o bastante.

Exemplo 2.F.1: Em um mundo de três commodities, considere os três conjuntos


orçamentários determinados pelos vetores preço , , e
riqueza = 8 (o mesmo para os três orçamentos). Suponha que as respectivas escolhas (únicas)
são , , . No Exercício 2.F.2, lhe é pedido para verificar
que qualquer dois pares de escolhas satisfazem o WA, mas que x³ é revelado preferido a x², x²
é revelado preferido a x¹ e x¹ é revelado preferido a x³. Essa situação é incompatível com a
existência de preferências racionais sobrepostas (a transitividade seria violada).

A razão para esse exemplo ser somente persuasivo e não resolver bem a questão é porque
demanda tem sido definida apenas por três orçamentos dados, portanto, não podemos ter
certeza que ela satisfaça os requisitos de WA para todos os orçamentos competitivos
possíveis. Para lidar com o assunto, nos referimos ao Capítulo 3.

Em resumo, existem três conclusões primários para serem retiradas da Secção 2.F:

(i) A exigência consistente incorporado no axioma fraco (combinado com a


homogeneidade do grau zero e a lei de Walras) é equivalente a lei compensatória
de demanda.
(ii) A lei compensatória de demanda implica a semi-definição negativa da matriz
substituição S(p, w).
(iii) Essas suposições não implicam na simetria de S(p, w), exceto no caso onde L = 2.

Referências:
Exercícios

2.D.1 Um consumidor vive por dois períodos, denotados por 1 e 2, e consome um único bem
de consumo em cada período. Sua riqueza quando nasce é w > 0. Qual é o seu conjunto
orçamentário Walrasiano (de vida)?

2.D.2 Um consumidor consome um bem de consumo x e horas de lazer h. O preço do bem é


consumo é p e o consumidor pode trabalhar em uma taxa salário de s = 1. Qual é o conjunto
orçamentário Walrasiano do consumidor?

2.D.3 Considere uma extensão do conjunto orçamentário Walrasiano para um conjunto de


consumo arbitrário . Assuma (p, w) .

(a) Se X é o conjunto demonstrado na Figura 2.C.3, seria um convexo?

(b) Mostre que se X é um conjunto convexo, então também é.

2.D.4 Demonstre que o conjunto orçamentário Na Figura 2.D.4 é não convexo.

2.E.1 No texto.

2.E.2 No texto.

2.E.3 Use Preposições 2.E.1 e 2.E.3 para mostrar que . Interprete.

2.E.4 Mostre que se x(p, w) é um homogêneo de grau um com relação


para todo e satisfaz a lei de Walras, então para todo ℓ. Interprete. Você
pode dizer algo sobre e a forma das funções Engel e curvas nesse caso?

2.E.5 Suponha que x(p, w) é uma função demanda que é homogênea de grau um com relação
a w e satisfaz a lei de Walras e homogeneidade de grau zero. Suponha também que todos os
efeitos preço-cruzado são zero, isso é sempre que . Mostre que isso
implica em que para todo ℓ, , onde é uma constante independente de
(p, w).

2.E.6 Verifique que as conclusões da Preposição 2.E.1 até 2.E.3 se mantém para a função
demanda dada no Exercício 2.E.1 quando β = 1.
2.E.7 Um consumidor em uma economia de dois bens tem uma função demanda x(p, w) que
satisfaz a lei de Walras. Sua função demanda para o primeiro bem é . Derive
sua função demanda para o segundo bem. Sua função demanda é homogênea de grau zero?

2.E.8 Mostre que a elasticidade da demanda pelo bem ℓ com relação ao preço
pode ser escrita como , onde In(‘) é a função logorítmica
natural. Derive uma expressão similar para . Conclua que se estimarmos os
parâmetros da equação , essas
estimativas parâmetro nos dão uma estimativa de elasticidade , e .

2.F.1 Mostre que para funções de demanda Walrasiana, a definição do axioma fraco dado na
Definição 2.F.1 coincide com a da Definição 1.C.1.

2.F.2 Verifique a afirmação do Exemplo 2.F.1.

2.F.3 Lhe são dadas as seguintes informações parciais sobre as aquisições do consumidor. Ele
consome somente dois bens.

Ano 1 Ano 2
Quantidade / Preço Quantidade / Preço
Bem 1 100 / 100 120 / 100
Bem 2 100 / 100 ? / 80
Através de qual escala de quantidades do bem 2 consumido no ano 2 você concluiria:

(a) Que seu comportamento é inconsistente (por exemplo, em contradição ao axioma


fraco)?
(b) Que o pacote de consumo do consumidor no ano 1 é revelado preferido ao do ano 2?
(c) Que o pacote de consumo do consumidor no ano 2 é revelado preferido ao do ano 1??
(d) Que há informação insuficiente para justificar (a), (b) e/ou (c)?
(e) Que o bem 1 é um bem inferior (em algum preço) para esse consumidor? Assuma que
o axioma fraco é satisfeito.
(f) Que o bem 2 é um bem inferior (em algum preço) para esse consumidor? Assuma que
o axioma fraco é satisfeito.

2.F.4 Considere o consumo de um consumidor em dois períodos diferentes, período 0 e


período 1. Os preços, riqueza e consumo do período 1 são , e ,
respectivamente. Geralmente é de interesse aplicado que se forma uma medida indexada da
quantidade consumida pelo consumidor. A quantidade do índice Laspeyres computa a
mudança na quantidade usando preços do período 0 como pesos: . A
quantidade índice Paasche, no entanto, usa preços do período 1 como pesos:
. Finalmente, podemos usar as mudanças de despesas do consumidor:
. Demonstre a seguir:

(a) Se , então o consumidor tem uma preferência revelada por sobre .

(b) Se , então o consumidor tem uma preferência revelada por sobre .


(c) Nenhuma relação de preferência revelada é implícita por ou . Note que no
nível agregado, corresponde a porcentagem de mudança no produto nacional grosso.

2.F.5 Suponha que x(p, w) é uma função de demanda diferençável que satisfaz o axioma fraco,
a lei de Walras e a homogeneidade de grau zero. Mostre que se x(‘, ‘) é homogêneo de grau
um com relação a w[por exemplo, para todo ], então a lei da
demanda se mantém mesmo para mudanças de preços descompensadas. Se isso for mais fácil,
estabeleça apenas a versão infinitesimal dessa conclusão; isso é, para
qualquer .

2.F.6 Suponha que x(p, w) é homogênea de grau zero. Mostre que o axioma fraco se mantém
se e somente se para algum w > 0 e todo p, p’ tivermos p’.x(p, w) > w sempre que
e .

2.F.7 No texto.

2.F.8 Deixe ser os termos de substituição na forma elastecida.


Expresse em termos de , e .

2.F.9 Uma matriz simétrica n x n A é definida negativa se e somente se para


todo , onde é a submatriz de A obtida ao deletar a última fila e coluna n – k. Para
semi-definição da matriz simétrica A, substituímos as desigualdades estritas por desigualdades
fracas e requisitamos que as desigualdades fracas se mantenham por todas as matrizes
formadas permutando as filas e colunas de A (veja a Secção M.D do Apêndice Matemático
para detalhes).

(a) Mostre que uma matriz arbitrária A (possivelmente não simétrica) é definida negativa (ou
semi-definida) se e somente se é definida negativa (ou semi-definida). Mostre também
que a condição determinante acima (que pode se mostrar necessária) não é mais suficiente no
caso não simétrico.

(b) Mostre que para L = 2, a condição necessária e suficiente é de que qualquer entrada
diagonal (por exemplo, qualquer efeito substituição de preço único) seja negativa.

2.F.10 Considere a função demanda em Exercício 2.E.1 com β = 1. Assuma que w = 1.

(a) Compute a matriz substituição. Mostre que em p = (1, 1, 1), ela é semi-definida negativa,
mas não simétrica.

(b) Mostre que essa função demanda não satisfaz o axioma fraco. [dica: Considere o vetor
preço e mostre que a matriz substituição não é semi-definida negativa (para menor
)]

2.F.11 Mostre que para L = 2, S(p, w) é sempre simétrico. [Dica: Use Preposição 2.F.3].

2.F.12 Mostre que se a função de demanda Walrasiana x(p, w) é gerada pela relação de
preferência racional, então deve satisfazer o axioma fraco.
2.F.13 Suponha que x(p, w) deva ser multivalorado.

(a) Da definição do axioma fraco dada na Secção 1.C, desenvolva uma generalização da
Definição 2.F.1 para correspondências de demanda Walrasiana.

(b) Mostre que se x(p, w) satisfaz essa generalização do axioma e da lei Walras, então x(‘)
satisfaz a seguinte propriedade:

(*) Para qualquer e , se , então .

(c) Mostre que o axioma fraco generalizado e lei de Walras implicam na seguinte versão
generalizada da lei de demanda compensada: Começando de qualquer posição inicial (p, w)
com demanda , para qualquer mudança de preço compensatório para novos preços
p’ e nível de riqueza w’ = p’.x, temos

para todo com desigualdade estrita se .

(d) Mostre que se x(p, w) satisfazer a lei de Walras e a lei compensada de demanda
generalizada definida em (c), então x(p, w) satisfaz o axioma fraco generalizado.

2.F.14 Mostre que se x(p, w) é a função de demanda Walrasiana que satisfaz o axioma fraco,
então x(p, w) deve ser homogêneo de grau zero.

2.F.15 Considere um panorama com L = 3 e um consumidor que o conjunto de consumo é R³. A


função de demanda do consumidor x(p, w) satisfaz a homogeneidade de grau zero, lei de
Walras e ( fixado) tem

e .

Mostre que essa função de demanda satisfaz o axioma fraco demonstrando que sua matriz
substituição satisfaz para todo . [Dica: Use os resultados da matriz
gravados na Secção M.D do Apêndice Matemático]. Observe então que a matriz substituição
não é simétrica. (Nota: O fato de permitirmos níveis de consumo negativo aqui não é essencial
para a função demanda que satisfaz o axioma fraco, mas da qual a matriz substituição não é
simétrica: com o conjunto consumo permitindo apenas níveis de consumo não negativos, no
entanto, precisaríamos especificar uma função demanda mais complicada).

2.F.16 Considere um panorama onde l = 3 e o consumidor do qual o conjunto consumo é R³.


Suponha que sua função demanda x(p, w) é
(a) Mostre que x(p, w) é homogênea de grau zero em (p, w) e satisfaz a Lei Walras.
(b) Mostre que x(p, w) viola o axioma fraco.
(c) Mostre que para todo .

2.F.17 Em um mundo de commodity L, a função de demanda Walrasiana de um consumidor é

(a) Essa função demanda é homogênea de grau zero em (p, w)


(b) Ela satisfaz a lei de Walras?
(c) Ele satisfaz o axioma fraco?
(d) Compute a matriz substituição Slutsky para essa função demanda. Ela é semi-definida
negativa? Definida negativa? Simétrica?

Você também pode gostar