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ECV5149 – Geologia de Engenharia

Capítulo 8
Estruturas dos Maciços Rochosos

1. Introdução

Geologia Estrutural - Estudo os corpos rochosos deformados (seja por translação, rotação ou distorção), bem como a
investigação de suas causas, processos e aspectos geométricos.

“ As rochas nem sempre são homogêneas e frequentemente mostram planos de fraqueza”

 Os esforços sobre as rochas podem ser de tração, compressão, cisalhamento, torção e flexão, fazendo com
a mesma venha a se deformar.

 As condições físicas reinantes durante a deformação da rocha são fundamentais no comportamento do corpo
submetido à ação de esforços.

Para um material geológico qualquer, as condições físicas são:

 Pressão hidrostática/litostática e temperatura, as quais dependem da profundidade onde ocorre a deformação


 Esforço aplicado à rocha

Nessas condições, as deformações podem ser:

 Rúpteis - Pode ocorrer, respectivamente, quebras e descontinuidades.


 Dúcteis - Ocorre apenas deformação plástica, sem perda de continuidade.

Domínios de deformação natural em função da


pressão hidrostática/litostática e temperatura. As
linhas BP-AT e AP-BT representam o
comportamento esperado em regimes de alto e
baixo gradientes térmicos, respectivamente.
AP=Alta Pressão; BP=Baixa pressão; AT =Alta
temperatura; BT =Baixa Temperatura.

2. Deformações das rochas

As rochas, ao serem submetidas a esforços, podem apresentar três tipos de deformação, que correspondem a estágios
de deformação de um corpo:

 Deformação elástica – É proporcional ao esforço aplicado e quando cessa o esforço, a rocha volta a apresentar
o mesmo volume e forma original
 Deformação plástica – Se o esforço atinge determinado valor e ultrapassa o limite de elasticidade, a
deformação se torna irreversível, havendo modificações na forma.
 Ruptura – Ocorre quando o esforço exceder o limite de resistência.

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Para ilustrar esses tipos de deformações, considera-se um corpo submetido a um esforço uniaxial. Sua deformação é
definida fisicamente pela relação:

l
 (%)  .100
l

 Inicialmente existe uma relação linear


entre o esforço e a deformação
 Se o esforço é retirado, a deformação é
instantaneamente reversível, ou seja,
elástica
 A partir de um determinado valor do
esforço, denominado esforço limite (e)
deixa de existir uma relação linear com
a deformação do corpo.
 Se a partir deste valor o corpo de prova
for descarregado o mesmo sofrerá um
endurecimento, ou seja, aumento do
limite de elasticidade.

Quando as rochas são deformadas sob condições de pressão e temperatura ambientes, ocorre a ruptura sem haver uma
deformação plástica significativa.

2.1 Fatores relacionados ao comportamento da rocha submetida a um carregamento

 Pressão hidrostática/ litostática


 Temperatura
 Velocidade de deformação.

Pressão Hidrostática/Litostática - É a pressão vertical em um determinado ponto da crosta terrestre, que é igual à
pressão exercida pelas rochas sobrejacentes.

 O aumento da pressão confinante,


que desempenha o papel da pressão
litostática, torna as rochas mais
resistentes à deformação.
 Se a pressão litostática for muito
elevada, as rochas se deformam e se
rompem de forma plástica (dúctil), ou
seja, sem definir um plano de ruptura.
 Um aumento da pressão litostática
tem por efeito tornar as rochas mais
resistentes ao fraturamento, fazendo
com que a deformação ocorra no
campo dúctil.

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Curva tensão x deformação para (a) quartzito (b) mármore Carrara a diferentes pressões confinantes. Os locais
indicados com um “X” representam ensaios onde ocorreram uma ruptura rúptil.

Variação do valor máximo de diferença de tensões principais (σ1 - σ3) com a inclinação da tensão principal máxima
relativamente aos planos de fraqueza (xistosidade, clivagem xistenta) (in Brady & Brown, 1993)

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Temperatura - A temperatura no interior da Terra aumenta com a profundidade; o gradiente térmico médio é da ordem
de 20°C/km, podendo entretanto, em algumas regiões, chegar a cerca de 100°C/km.

 Com o aumento da temperatura, a rocha se


deforma mais facilmente, isto é, um menor
esforço é necessário para causar uma
deformação
 Com a profundidade, há o aumento da
pressão litostática e da temperatura,
fazendo com que a rocha se deforme
plasticamente, retardando assim a ruptura.

Curva tensão x deformação a várias temperaturas e a uma pressão confinante constante de 500 kPa (Griggs et al.;
1960)

Velocidade ou taxa de deformação - Corresponde à deformação ocorrida em uma rocha durante um intrervalo de
tempo. Na natureza, essas deformações são extremamente lentas, da ordem de 5 a 10% em um milhão de anos

 Aumento da velocidade de deformação, há


uma diminuição considerável do domínio
referente à deformação plástica e um
aumento do limite de elasticidade
 Para velocidades de deformação
crescentes, o domínio da plasticidade
diminui, com a rocha tornando-se rúptil ou
friável.

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Resistência a compressão simples e classificação por grupos ( Vaz, L. F. , 1996)


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3. Domínios deformacionais em função da profundidade na crosta


Os fatores físicos descritos acima, em particular a temperatura e a pressão hidrostática/litostática, são função da
profundidade na crosta terrestre e permitem distinguir dois domínios deformacionais distintos:

 Domínio superficial - Caracteriza-se por uma deformação essencialmente rúptil


 Domínio profundo - Caracteriza-se por uma deformação dúctil.
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Estruturas formadas a cerca de 40 km de profundidade, com pressões da ordem de 10 t/cm e temperaturas de 800° a
1.000°C são muito diferentes de estruturas formadas em subsuperfície.

O estudo das estruturas geológicas, é necessário levar em consideração o nível crustal em que ela foi formada.

Níveis estruturais - São os diferentes domínios da crosta, onde ocorrem os mesmos mecanismos dominantes da
deformação.

Deformação rúptil - Formação de falhas, fendas e fraturas marcadas por


planos de descontinuidades.
Mecanismos da deformação
Deformação dúctil - É entendida como deformação sem perda de
continuidade, porém com a rocha sofrendo distorção.

Resultados dos experimentos de laboratório conduzidos para investigar como a rocha se deforma por forças
compressivas ( Fonte: Livro Para Entender a Terra)

Pressão de transição frágil-dúctil para algumas rochas à temperatura ambiente

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4. Estruturas Atectônicas

São feições que se desenvolvem nas rochas próximas à superfície terrestre, sem o concurso da tectônica, isto é, não
são geradas por esforços do interior da Terra. Restringem-se a pequenas áreas e são formadas por movimentos
causados, fundamentalmente, pela ação da força de gravidade.

Exemplo:
 São descontinuidades subparalelas à superfície topográfica, geradas por
desplacamento, que ocorrem principalmente em maciços rochosos resistentes.

 Tendem a se horizontalizar em profundidade, pois deixam de refletir a influência da


topografia local e passam a estar relacionadas ao alívio causado pela erosão regional.
Juntas de alívio
 A origem destas estruturas é explicada como sendo o resultado do alívio de carga, em
virtude da remoção de rochas sobrejacentes. Apresentam persistências consideráveis
e grandes aberturas, configurando, por isto, importantes condicionantes geotécnicos.

Junta de alívio

Exemplo de problema geotécnico devido à presença de juntas de alívio:

As juntas de alívio nem sempre preenchidas com materiais decorrentes do intemperismo local deram margem a uma
situação de instabilidade, notadamente com a saturação dos materiais argilosos resultantes da rocha pelo intemperismo.
A fundação realizada para a construção da barragem não se processou como o devido, atendendo às normas usuais.
Com o enchimento do lago, as juntas de alívio existentes nos blocos que se sustentavam mais sob os efeitos de tensões
de compressão oriundas da carga do maciço da barragem construída, se saturaram, ao mesmo tempo que a descarga
freática através dos mesmos carreava os finos dos materiais nem sempre existentes, ao que tudo indica.
Esta situação provocou tensões cisalhantes nos blocos que se constituíam em uma rocha em equilíbrio, atingindo o seu
limite máximo de suporte quando do enchimento do lago e, em conseqüência, se deslocaram, provocando a primeira
ruptura com um repentino esvaziamento da barragem

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Primeiro acidente: a água arrastou (1) os blocos instáveis da fundação (2) para jusante, provocando o esvaziamento do
lago

O esvaziamento do lago da Barragem de Camará se deu de forma rápida, ocasionando, inclusive, deslizamentos no
interior da bacia hidráulica

Junta-falha

A chamada junta-falha, estrutura correlata às juntas de alívio, que ocorrem em derrames basálticos, é observada,
principalmente, em fundos de vales associada ao seu entalhe.

As juntas-falhas aparecem nas porções de basalto compacto dos derrames, apresentando grande persistência
(dezenas a centenas de metros) e espessura (decimétricas a métricas), com preenchimentos argilosos e fragmentos
rochosos, constituindo importante problema geotécnico.

Junta-falha em basalto denso (BD) com material de Junta-falha exposta em uma pedreira onde se observa, na
preenchimento muito alterado que esta em uma profundidade maior, a percolação de
água

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5. Estruturas Tectônicas

5.1. Movimentos tectônicos

 O movimento das placas traz em sua dinâmica resultados que podem ser observados superfície. Os terremotos,
o vulcanismo, as rochas dobradas e falhadas são exemplos claros de que toda a crosta esteve submetida a tais
esforços e que eles continuam atuando até os nossos dias.

Esses movimentos são denominados tectônicos e são classificados em dois tipos:

 Movimentos orogenéticos
 Movimentos epirogenéticos

Movimentos orogenéticos
 Movimento relativamente rápido e, quando se manifesta, geralmente deforma, dobrando e falhando, as
camadas rochosas. A orogênese propriamente dita é a elevação de uma vasta área dando origem a grandes
cadeias de montanhas.
 Os terremotos são os movimentos orogenéticos mais rápidos de que se tem conta.

Cordilheira dos Andes. Exemplo típico de movimento orogenético formada pelo mergulho da placa de
Nazca (placa oceânica) sobre a placa Sul-Americana.

Movimentos epirogenéticos
 Os movimentos epirogenéticos caracterizam-se por serem lentos, abrangerem áreas continentais e não
terem competência para deformar (não produzem falhas ou dobras) as estruturas rochosas.
 É de ocorrência mais comum em áreas relativamente estáveis da crosta terrestre, sendo característico das
bacias sedimentares intracratônicas.
 Caracteriza-se por movimentos no sentido vertical de vastas áreas continentais, sem perturbar localmente a
disposição e a estrutura geológica das formações que compõem os blocos afetados por estes movimentos.
 Afeta por igual extensas áreas continentais, podendo formar-se grandes arqueamentos, que podem ser,
localmente, conjugados com rupturas de tensão, comportando-se tudo como se o piso dos continentes ora
se inchasse, produzindo intumescências, ora se deprimisse, dando origem às bacias.
 Na epirogênese pode-se observar, simultaneamente, levantamentos de certas partes dos continentes
acompanhados de abaixamentos de outras partes, sempre à custa de movimentação vertical.

“Assim, podemos distinguir a orogênese para as áreas instáveis e a epirogênese para as


áreas estáveis da crosta.”

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5.1.1. Tipos de Estruturas Tectônicas

As estruturas tectônicas podem ser compreendidas, em termos gerais, como estruturas geradas em estado de fluxo
plástico ou em estado rígido, dependendo das condições de deformação.

 Estado plástico - As estruturas são representadas, principalmente, por dobras, zonas de cisalhamento,
foliações e lineações.
 Estado rígido - No segundo, as estruturas são representadas sobretudo por descontinuidades físicas
classificadas, basicamente, como juntas e falhas.

5.1.1.1 Formando Dobras

 As dobras são deformações dúcteis que afetam corpos rochosos da crosta terrestre.
 Acham-se associadas a cadeias de montanhas de diferentes idades e possuem expressão na paisagem, sendo
visíveis em imagens de satélite.
 São caracterizadas por ondulações de dimensões variáveis e podem ser quantificadas individualmente por
parâmetros como amplitude e comprimento de onda.
 A sua formação se deve à existência de uma estrutura planar anterior, que pode ser o acamamento sedimentar
ou a foliação metamórfica (clivagem, xistosidade, bandeamento gnáissico).

O estilo de uma dobra corresponde a um conjunto de feições morfológicas e geométricas associadas a um grupo (ou
família) de dobras. Essas feições são adquiridas durante a deformação e podem ser reconhecidas em um mesmo grupo
de dobras, mesmo em afloramentos diferentes.

Elementos geométricos de uma superfície dobrada cilíndrica (a) e plano de perfil de uma dobra (b): Sa- Superfície axial;
Lc - Linha de charneira; Li- Linhade inflexão; Zc - zona de charneira e FI- Flanco.

Linha de charneira - Corresponde à linha que une os pontos de curvatura máxima da superfície dobrada.
Linha de inflexão – Corresponde à linha que une os pontos de curvatura mínima. Esta linha divide as dobras em dois
setores: um de convexidade voltada para cima e outro, para baixo.
Superfície axial - É definida como uma superfície que contém a linha de charneira da superfície dobrada sendo a sua
intersecção com a topografia uma linha conhecida como traço axial da dobra, e que aparece representada em mapas
geológicos.

Classificação geométrica

As dobras podem ser classificadas com base na posição espacial de seus elementos geométricos (linha de charneira e
superfície axial), na combinação ente estes elementos, na variação da superfície dobrada, ou ainda combinando estas
classificações.

O sentido de fechamento de uma superfície dobrada é um critério geométrico muito simples utilizado para classificar
dobras. Segundo este critério, são distinguidas dobras com abertura voltada para baixo, antiforme ou para cima,
sinforme.

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Uma outra classificação das dobras leva em consideração a idade das camadas que as formam. Define-se sinclinal
como uma dobra que possui camadas mais jovens em seu interior e anticlinal, é o oposto, as camadas mais antigas
estão no núcleo.

Classificação de dobros com base no estratigrafia dos camadas: sinclinal e anticlinal. Seqüência estratigráfica dos
camadas: 1 mais antigo, 2 intermediário, 3 mais nova. Em a, seqüência normal, em b, seqüência invertido. (Fonte: Livro
Decifrando a Terra)

(Fonte: Livro Para Entender a Terra)

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Visualização de dobras em afloramentos rochosos

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Sinclinal com eixo horizontal Em planta a drenagem tende a ser paralela

Sinclinal com eixo mergulhante Apresentará direção de mergulho convergente e a


drenagem tenderá a ser convergente

Anticlinal com eixo horizontal Direções paparlelas de mergulho e dranagem também


paralela

5.1.1.2 Formando Falhas

“As falhas resultam de deformações rúpteis nas rochas da crosta terrestre. São expressas por superfícies descontínuas
com deslocamento diferencial de poucos cm a dezenas e centenas de km, sendo esta a ordem de grandeza para o
deslocamento nas grandes falhas.”

 Descontinuidade - É um termo coletivo escolhido pela ABGE sendo empregado para caracterizar qualquer
descontinuidade mecânica do maciço rochoso, tais como, juntas, planos de xistosidade mais fracos, zonas de
fraqueza e falhas.

 Juntas ou diaclases – Termo empregado quando não há, ao longo das descontinuidades, um deslocamento
visível em direção paralela ao plano de descontinuidade.

 As falhas são encontradas em vários ambientes tectônicos, sendo associadas a regimes deformacionais
compressivos, distensivos e cisalhantes.
 São feições comuns em cadeias de montanhas modernas e antigas e aparecem em diferentes estágios de sua
evolução.

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Quanto à espessura das camadas falhadas podem ser:

 Rasas - Afetam camadas superficiais da crosta, sendo muitas vezes ligadas à dinâmica externa do planeta. A
atividade sísmica (rasa ou profunda) pode também formar estruturas superficiais. ou profundas.

 Profundas - Podem atravessar toda a litosfera, passando a se constituir em limite de placas litosféricas, sendo
então referidas como falhas transformantes, como a falha de San Andreas na costa oeste dos Estados Unidos
dá América.

Elementos de uma falha inclinada

 A posição no espaço da superfície de uma falha é fundamental para sua classificação geométrica. Outro
parâmetro importante é a estria de atrito desenvolvida no plano de falha. Ela permite deduzir o tipo de
movimento ocorrido no mesmo. É comum a falha exibir uma superfície brilhante, conhecida como espelho de
falha.

 Capa - Bloco situado acima do plano de falha


 Lapa - bloco situado abaixo do plano de falha
 Escarpa - É a parte exposta da falha na
topografia.
 Traço - Resulta da intersecção do plano de falha
com a superfície topográfica.

 Isto na realidade é uma simplificação cartográfica, pois as falhas, na natureza, são formadas por inúmeras
superfícies subparalelas, dispostas em um arranjo tabular que, conjuntamente, definem a zona de falha.
 A escarpa de falha original pode ser erodida, aparecendo no seu lugar uma escarpa de recuo de falha.

Aspectos geomorfológicos de uma escarpa de recuo de falha

O deslocamento entre dois pontos previamente adjacentes, situados em lados opostos da falha, medido no plano de
falha, corresponde ao seu rejeito, o qual pode ser referido como rejeito total, de mergulho, direcional, horizontal e vertical

Componentes do rejeito e separação de uma falha:

 OP=rejeito total,
 OR=MP=rejeito direcional,
 OM=RP=rejeito de mergulho,
 OT =rejeito horizontal,
 PT =rejeito vertical,
 Sh=separação horizontal,
 Sv=separação vertical,
 m=separação de mergulho,
 Ra = rejeito aparente.

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Classificação geométrica das falhas - Leva em conta o mergulho do plano de falha, a forma da superfície de falha, o
movimento relativo entre os blocos e tipo de rejeito:

 Mergulho da superfície de falha - É uma classificação muito simples, que divide as falhas em dois grupos:

o falhas de alto ângulo - quando o mergulho do plano de falha é superior a 45°


o falhas de baixo ângulo - quando é inferior a 45°.

 Forma da superfície de falha - Esta classificação permite dividir as falhas em planares e curvas.

o Falha é planar - Quando a variação da direção da superfície encontra-se no intervalo de


aproximadamente 5°. Esta superfície pode ser vertical ou inclinada.
o falha curva - São denominada falhas lístricas, e são relacionadas a regimes distensivos.

Bloco diagrama mostrando uma falha lístrica.

 Movimento relativo - Nesta classificação as falhas são divididas em vários tipos:

o falhas normais (ou de gravidade) – A capa desce em relação à lapa


o falhas reversas ou de empurrão - A capa é o bloco que sobe em relação à lapa.

Como o movimento ocorrido entre os blocos é relativo, torna-se difícil saber exatamente como ele ocorreu, pois várias
combinações são possíveis: os dois blocos podem descer ou subir conjuntamente, porém em velocidades diferentes, ou
ainda, um pode permanecer estacionário, enquanto o outro sobe ou desce.

Classificação de falhas com base no movimento relativo entre blocos adjacentes. a) falha normal; b) falha inversa; c)
falha transcorrente e d) oblíqua.

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Tipos principais de falhas e estruturas associadas


Falhas normais ou de gravidade
 São falhas associadas principalmente com
a tectônica extensional.
 Na escala global, elas ocorrem associadas
às cadeias meso-oceânicas e às margens
continentais tipo Atlântico.
 São importantes na formação e evolução
de bacias sedimentares, sendo comuns
em regiões com deslizamentos de
encostas e taludes.
 São falhas em geral de alto ângulo, em
que a capa desceu em relação à lapa.
O deslocamento principal é vertical e o
componente de movimento é segundo o
mergulho do plano de falha.

Falha normal

Falha normal
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Falha normal na Cordilheira dos Andes

Falha Transcorrente
 Estão associadas a limites de placas litosféricas.
 Caracterizam-se por ter um componente principal do deslocamento segundo a direção do plano de falha, com a
movimentação entre blocos adjacentes sendo essencialmente horizontal.
 O mergulho do plano de falha é vertical a subvertical resultando em mapa a traços retilineos.
As falhas maiores possuem rejeitos da ordem de dezenas a centenas de km.Falha reversa ou de empurrão

Deslocamento de cerca devido a presença de uma falha transcorrente

Falha de San Andreas/ Califórnia (Falha Transcorrente)

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Falha reversa ou de empurrão


 Neste tipo de falha o esforço principal é
horizontal, e o mínimo, vertical.
 Em termos de movimento relativo, a capa
sobe em relação à lapa. O rejeito segue o
mergulho do plano de falha, porém o
componente principal do deslocamento se
dá na horizontal.
 O seu traço em mapa é sinuoso, podendo
mesmo acompanhar as curvas de nível.
 Em falhas recentes feições
geomorfológicas como escarpas de falha
são comuns.
 Podem ter sua instalação favorecida pela
ocorrência no terreno de tipos litológicos
muito contrastantes (por exemplo: rochas
do embasamento vs. rochas
sedimentares), ou pela presença de um
nível de comportamento mais plástico,
como folhelho que funcionam como
camadas lubrificantes favorecendo o
deslocamento.
 Especificamente para as falhas reversas de baixo ângulo  Em profundidade, os empurrões listricos
emprega-se também a denominação de falhas de passam para falhas horizontais, onde
empurrão. freqüentemente seguem contatos
 No Brasil, usa-se ainda o termo cavalgamento para falhas litológicos ou descontinuidades crus tais
de empurrão com mergulhos inferiores a 30°. importantes

Em geral, na prática, um maciço rochoso íntegro e homogêneo raramente é encontrado e a principal preocupação,
quase sempre, recai sobre as feições geológicas que representam ou induzem zonas de fraqueza mecânica e vias de
percolação preferencial no interior das massas rochosas. Tais feições são, em geral, as descontinuidades.

6. Feições geológicas associadas aos dobramentos e importância na Engenharia


Feições geológicas

Observação direta – Em vários locais com afloramentos, cortes de estradas. Em dobras de grandes dimensões não se
observa diretamente a dobra, pois vão parecer mergulhando apenas em um sentido.
Cristas, vales e drenagem paralela – A alternância de camadas com maior ou menor resistência ao intemperismo e
com posterior erosão, numa sinclinal ou antclinal, vão originar vales e cristas paralelas.

Quando o eixo for mergulhante, os vales e cristas serão convergentes ou divergentes

Importância na Engenharia

Cortes ou Taludes

Em qualquer corte em rocha dobrada a verificação da posição da dobra torna-se extremamente importante para a
estabilidade do corte.

 O corte poderá se tornar instável caso seja feito no flanco de uma anticlinal. Neste caso sentido de mergulho das
camadas coincidi com o do corte.
 O corte no flanco de uma sinclinal tenderá a ficar estável

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Corte nos flancos de uma anticlinal


mostrando-se instável Corte nos flancos de uma anticlinal, Corte no lado direito estável e no lado
mostrando-se estável esquerdo instável

Túneis

 A locação de túneis em áreas de dobramentos requer um detalhado levantamento geológico-geotécnico. Uma


das condições mais adversas para a locação de um túnel e o seu posicionamento no eixo de uma sinclinal, pois
os esforços no teto do túnel serão convergentes. Convergente será também a infiltração de água.
 Um túnel locado no eixo de uma anticlinal tem a vantagem de as camadas apresentarem mergulho divergente e
consequentemente os esforços no teto do túnel bem como a infiltração de água.
 Na locação de um túnel no flanco, os esforços seriam seccionantes no teto do túnel.

Túnel no eixo de uma sinclinal Túnel no eixo de uma anticlinal Túnel no flanco de uma dobra

Fundações

 Os dobramentos também são importantes na captação de água subterrânea, sendo um dos grandes
responsáveis pelas condições de artesianismo.
 Em barragens assentadas sobre dobramentos pode ocorrer fuga de água em camadas permeáveis.
 A alternância de camadas de maior e menor alterabilidade no flanco de um dobramento formarão solos de
diferentes espessuras podendo ocasionar uma grande variação na profunidade do assentamento de uma
fundação.

Poço para água em um aqüífero artesiano no eixo de uma Fundação assentada no flanco de uma dobra
anticlinal

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7. Feições geológicas associadas aos falhamentos e importância na Engenharia

7.1 Feições geológicas

 Brecha e milonito – No movimento dos blocos que compõem a falha pode provocar o esmagamento da rocha
numa faixa ao longo deste plano.
 Fragmentos de dimensões menores que areia fina é denominado de milonito ( farinha de rocha)
 Fragmentos maiores denominam-se de brecha.

 Espelho de falha – Quando a rocha se mostra susceptível ao polimento o atrito de um bloco contra o outro pode
formar um espelho de falha.

 Omissão e repetição de camadas – Numa falha normal pode ocorrer omissão de uma camada de rocha em
sondagens. Por outro lado a repetição de camada pode identificar uma falha inversa.

Omissão de camadas pode significar a existência de uma A repetição de uma camada pode significar a existência de
falha direta. uma falha inversa

 Diques – Um dique pode ou não significar um plano de falha

7.2 Feições do relevo


Escarpa – Ocorrendo o deslocamento relativo dos blocos é natural a ocorrência de escarpa. Ex.: O Morro da Cruz.. A
erosão atuando pode eliminar ou até mesmo eliminar a escarpa.

A escarpa não é necessariamente um plano de falha,pois encostas formadas por arenito e basalto colunar também
tendem a formar escarpa.

Vales orientados – Como o plano de falha forma um plano Cristas orientadas – Certas falhas tem seu plano
de fraqueza na rocha, os rios tendem a entalhar seus vales preenchido por minerais mais resistentes ao
ao longo destes planos. Ex.: Rio Itajaí no oeste de Santa intemperismo do que a rocha falhada.
Catarina.

Vale orientado, devido a maior alteração segundo o plano A menor resistÊncia a alteração dos minerais que
de falha (Victor Hugo, 1992) preenchem o plano de falha, formam uma crista .

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Feições do relevo deslocados – Podem ser observadas em fotografias aéreas. Ex.: Ilha das Aranhas em Florianópolis.

N
Praia do Santinho

FLORIANÓPOLIS

Falha preenchida
por diabásio

Ilha das Aranhas


deslocadas
Praia Grande

Ilha das Aranhas visivelmente deslocadas por falhamento estando este preenchido por diabásio (Modificado de Victor
Hugo, 1992). Imagem do Google Earth.

6.3 Importância das falhas na engenharia

A importância das falhas na engenharia deve-se ao fato das mesmas poderem colocar em contato rochas diferentes em
contato direto em locais onde não seria desejável.

Exemplos

As falhas podem inviabilizar uma pedreira ou prejudicar a sua produção

Falha com descontinuidades geram instabilidade no teto Falha permeável envolve sérios problemas de fundação e
do túnel perda d’água

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7 Características das Descontinuidades

 No procedimento de investigação de estruturas geológicas dos maciços rochosos para a Geologia de


Engenharia, a meta principal é identificar e destacar, dentre suas características, aquelas que devem ser
consideradas no projeto de uma estrutura de engenharia civil.

Em geral, na prática, um maciço rochoso íntegro e homogêneo raramente é encontrado e a principal preocupação,
quase sempre, recai sobre as feições geológicas que representam ou induzem zonas de fraqueza mecânica e vias de
percolação preferencial no interior das massas rochosas.

Tais feições são, em geral, as descontinuidades.

7.1 Conceitos básicos

 Em obras de engenharia, as condições mais desfavoráveis são


representadas por feições tabulares ou planares, de reduzida
qualidade mecânica, isto é, com propriedades de resistência e
Descontinuidade geomecânica rigidez muito inferiores às da rocha encaixante.
 Toda estrutura geológica que se enquadra nessa descrição é
reconhecida como uma descontinuidade geomecânica.

 O maciço rochoso é definido como o conjunto formado pela matriz


rochosa e por todas as descontinuidades nela contidas
Maciço rochoso  As descontinuidades, como estruturas de maior porte e expressão,
caracterizam o maciço rochoso como meio heterogêneo,
anisotrópico e, do ponto de vista mecânico, freqüentemente
descontínuo, em maior ou menor intensidade.
 Na caracterização das descontinuidades, deve-se considerar o
papel do efeito de escala
Efeito de escala  Expressa-se, por exemplo, pela da relação existente entre o
espaçamento médio das descontinuidades e as dimensões da obra
a ser implantada

 A influência da escala em nível dimensional define a


validade de se admitir o meio como homogêneo e
isotrópico ou heterogêneo e anisotrópico, com
prevalência da rocha intacta e do maciço com
descontinuidades, respectivamente.

Dimensões relativas de um túnel em duas


condições de espaçamento de juntas. Blocos
maiores (a) e menores (b) do que a abertura

7.2 -Parâmetros descritivos das descontinuidades


As estruturas presentes em um maciço que mais interessam à investigação aplicada são as descontinuidades, cujas
propriedades mais importantes estão indicadas na tabela abaixo.

214
ECV5149 – Geologia de Engenharia

Desenho esquemático das propriedades geométricas das descontinuidades em rochas

7.2.1 Orientação espacial

 As descontinuidades de um maciço rochoso, em particular as juntas e as falhas, distribuem-se espacialmente


segundo orientações preferenciais, agrupando-se em sistemas ou famílias.
 A orientação preferencial decorre das estreitas relações da natureza mecânica com o campo de tensões
geológicas atuante na época de formação dessas estruturas.

A posição ocupada no espaço por uma estrutura geológica planar apresenta uma atitude que é definida pela sua
direção e pelo ângulo de mergulho.

 Direção - É definida pelo ângulo que a intersecção do plano da descontinuidade, com o plano horizontal, faz
com a direção norte;
 Mergulho - É o ângulo de inclinação do plano com o plano horizontal. A reta do mergulho é a reta de máxima
inclinação no plano, perpendicular à direção.

215
ECV5149 – Geologia de Engenharia

No exemplo acima a descontinuidade apresenta a seguinte atitude:


o o
N30 E50 SE (representação em quadrante)

Na notação, a primeira referência é a direção e em seguida o mergulho.

 Na notação gráfica traça-se um segmento de reta orientado em relação ao norte (30º no exemplo) para
representar a direção e um segmento menor, perpendicular ao anterior, para indicar o sentido do mergulho.
 Por ser uma representação em planta o valor do mergulho tem que ser anotado ao lado do traço menor (50º no
exemplo)

A atitude das descontinuidades em relação a uma estrutura de engenharia ou à superfície de encostas rochosas
naturais pode condicionar sua estabilidade ou favorecer a ocorrência de deslocamentos excessivos.

 A orientação relativa e a interseção mútua entre os diferentes sistemas de descontinuidades, principalmente


juntas, determinam a formação de blocos rochosos - a estrutura geomecânica elementar dos maciços
rochosos.

A orientação dos sistemas de descontinuidades em relação à geometria da superfície de escavação de uma


abertura subterrânea, por exemplo, pode indicar se os blocos são instáveis ou não.

7.2.1.1 Noções Básicas de Projeção esteriográfica

Definição - A projeção estereográfica é, fundamentalmente, a projeção da superfície de uma esfera sobre o seu plano
equatorial ou seu pólo. Este tipo de projeção tem diversas aplicações, constituindo-se num método prático de
representar, no plano, elementos planares e lineares situados no espaço, com preservação dos ângulos e das suas
relações angulares.

Problemas que envolvem exclusivamente relações angulares entre linhas e/ou planos no espaço podem ser
solucionados, muito mais rapidamente, pelo emprego da projeção estereográfica.

A atitude de elementos estruturais pode ser registrada basicamente de três formas, a saber:

• Atitude direcional em quadrante: ex.: N40ºW/50ºNE (direção/mergulho);


• Atitude direcional em azimute: ex.: 140º/50ºNE (direção/ mergulho);
• Atitude rumo de mergulho/mergulho: ex.: 50º/50º

216
ECV5149 – Geologia de Engenharia

Bússula de geólogo, tipo Bruton, marca CST mod. 17-651

A definição da posição espacial de uma descontinuidade do maciço rochoso pode ser definida através de sua
representação em redes de projeção esteriográfica.

Rede de Wulff

(a)
(b)
(a) Na figura acima tem-se um plano qualquer ( (b) A intersecção do plano com a esfera, pode ser
representando uma descontinuidade do maciço representada no plano equatorial projetando-se cada
rochoso, passando pelo centro de uma esfera de ponto da mesma em relação ao ponto de visada V
referência localizado no pólo.
Utilizando-se a rede de WULFF pode-se definir a atitude
desta descontinuidade, ou seja, a sua representação
espacial, através de sua projeção no plano equatorial.

(c) (d)
(c) Para a construção da rede de Wulff são (d) Para a obtenção dos paralelos obtém-se as projeções
determinadas a interseção do plano com a esfera conforme ilustrado na figura acima também de 2 em 2º,
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ECV5149 – Geologia de Engenharia
de referência para cada 2º até completar 180º, sendo denominados de círculos mínimos.
denominados de círculos máximos. Os meridianos
da rede de Wulff, apresentados na Figura acima,
são definidos conforme o item (b).

Representação dos traçados dos círculos máximos e mínimos e respectivas projeções no plano equatorial

Rede de Wulff

• Cada setor da superfície esférica real, limitada por dois paralelos e dois meridianos consecutivos, exibe a
mesma área; entretanto, a rede de WULFF não possui esta relação de igualdade.
• Concentrações de pólos em diferentes posições na superfície da esfera de projeção aparecem com
concentrações desiguais de pólos no plano de projeção esteriográfica.

Rede de Schmidt ou rede de igual área

A rede estereográfica corrigida, na qual se elimina a distorção da rede de Wulff, de modo que aquelas áreas sejam
iguais, denomina-se rede de SCHMIDT ou rede equiárea. Esta tem maior aplicação em Geologia Estrutural

• Para a construção desta rede as intersecções dos círculos máximos e mínimos com a esfera de referência,
ilustradas anteriormente, são projetadas para o plano que tangencia o pólo da esfera, conforme exemplificado na
figura abaixo.
• Cada ponto do círculo máximo é projetado na rede de igual área através de um arco de circunferência com
centro no pólo da esfera de referência.

218
ECV5149 – Geologia de Engenharia

Zênite

Esfera de
referência

Rede de Pólo do plano


igual área

Projeção do
círculo máximo

Rede de SCHMIDT

• Convencionalmente, as projeções estereográficas em Geologia Estrutural são realizadas comumente no


hemisfério inferior, enquanto em Mineralogia a representação é feita no superior.
• Deve-se salientar que em projeção estereográfica sempre se consideram todos os elementos geométricos
passando pelo centro da esfera.
219
ECV5149 – Geologia de Engenharia

7.2.1.2. Exercícios de projeção esteriográfica


1) Representação de um plano
0 0
Seja um plano com a atitude N50 E40 SE.

1) Com a transparência na posição original, com a indicação da direção Norte, marcar o ângulo de 50º partindo para a
direção Este.
2) Para traçar a linha de direção gire a transparência até que a marca feita anteriormente coincida com a direção Norte
da rede. Trace sobre a transparência a direção do plano que será uma reta coincidente com o diâmetro NS da rede.
0
3) Para locar o grande círculo representando o plano com mergulho de 40 SE. Conte a partir da margem da
circunferência, ao longo do diâmetro horizontal 40º. A partir deste círculo máximo pode-se obter o pólo contando 90º a
partir do ponto C da figura abaixo.
4) Revolva a transparência à sua posição original e verifique o resultado por meio de visualização.

2) Determinação do anglo entre dois planos


o 0 0 0
Sejam dois planos com as atitudes de N10 E50 SE, N90 W70 S.

1)Loque os planos dados, inclusive seus pólos PI e P2.


2)Basta então girar a transparência de tal maneira que PI e P2 caiam no mesmo grande círculo
3)O ângulo entre as duas perpendiculares é lido facilmente ao longo do arco P1P2 no grande círculo, correspondendo a
68º.

220
ECV5149 – Geologia de Engenharia

7.2.1.3 Diagrama de frequência


• São designados diagramas de contornos ou diagramas de densidade, os lançamentos dos pólos na rede
equiárea.
• A representação do diagrama de freqüência de pólos de estruturas lineares ou planares geralmente é construído
com um número elevado de amostragens, devendo ser superior a 100 pólos.

Contagem dos Pontos

1) Superpõe-se a transparência com os pólos lançados (diagrama de pontos) sobre a rede de contagem de KALSBEEK

Rede de KALSBEEK para contagem de pólos

2) Conta-se, o número de pontos que caírem em cada hexágono, escrevendo-se no centro deste o número contado.
3) Repete-se este procedimento para cada hexágono. Os hexágonos que não abrangerem ponto algum são deixados
em branco ( = zero).
4) Junto ao perímetro da rede, os pontos, em cada semi-hexágono situado em um dos extremos do diâmetro, são
somados aos pontos existentes no semi-hexágono oposto; o total é registrado em ambos os lados opostos.

Contagem dos pontos com a rede KALSBEEK

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ECV5149 – Geologia de Engenharia

Cálculo das porcentagens

1) Toma-se a transparência com os números de contagem e sobre ela superpõe-se com exatidão outra transparência.
2) Os números de transparência 1 serão transferidos para a transparência 2, mas em termos de porcentagem,
escrevendo-se o percentual na transparência 2, exatamente sobre o ponto onde se encontra o valor de contagem da
transparência 1.

Ex.: Como cada hexágono representa 1 % da área total do diagrama, a conversão é simples. Se houver 100 pólos
lançados, cada número de contagem será igual à porcentagem procurada. Assim, se no centro de um dos hexágonos
houver 6 pontos, estes representam 6% do total lançado. Se o total de pólos foi de 50, cada ponto representará 2% do
total e as cifras a serem marcadas são dobradas. Se o total de pólos fosse 200, 6 pontos representariam 3%,
escrevendo-se 3 no centro do hexágono.
Após alguma prática, dispensa-se a segunda transparência e, já na contagem dos pontos, far-se-á, mentalmente, a
conversão em porcentagem, lançando-se o resultado diretamente.

Traçado dos contornos

1) Na transparência contendo os percentuais, inicia-se o traçado dos contornos de igual densidade analogamente ao
processo usado para se traçarem curvas de nível topográficas a partir de pontos de igual cota. É conveniente começar a
partir da locação da área de maior densidade

2) As contagens marginais são usadas para o traçado das curvas próximas ao perímetro do diagrama. No caso de uma
curva cortar este perímetro, ela deverá reaparecer no outro lado, a 180º facilmente locado com a ajuda de uma régua
passando pelo centro do diagrama.

7.2.2 Persistência

 A persistência ou continuidade de uma fratura é um parâmetro ligado ao tamanho e à forma geométrica da


estrutura e, por isso, profundamente afetado pela orientação e dimensão da superfície rochosa na qual ela se
expõe.

Exemplos
 A maioria das juntas contidas em rochas estratificadas desenvolve-se perpendicularmente à superfície de
acamamento e tem distribuição razoavelmente retangular, com sua dimensão, perpendicular aos estratos,
controlada pela espessura da camada.
 As juntas geradas por separação dos estratos, por processo de alívio de tensões, raramente estendem-se ao
longo de toda a camada e interrompem-se de forma aparentemente aleatória.

 A existência ou ausência de continuidade determina o padrão de


compartimentação dos maciços rochosos
Formação de blocos rochosos  De forma geral, são necessárias ao menos três famílias
sistemáticas de juntas, razoavelmente contínuas, para a formação
de blocos rochosos bem definidos

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ECV5149 – Geologia de Engenharia

Aspectos da formação de blocos em função da interseção de juntas

Exemplos de espaçamento em afloramentos: a)


Muito pouco espaçado (5 cm) na família principal
de descontinuidades perpendicular a direção da
régua. b) Maciço de calcário com duas famílias
principais de descontinuidade, uma vertical com
continuidade média e uma horizontal com
continuidade muito baixa, ambas muito pouco
espaçada formando blocos pequenos c) Maciço
de quartzito de boa qualidade com
descontinuidades horizontais e verticais com
espaçamento da ordem de 0,5 a 1 m. (Vallejo et
al, 2002).

Junto com a orientação espacial e o espaçamento das descontinuidades, a persistência ou continuidade irá
definir o formato do bloco típico em cada maciço rochoso.

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7.2.3 Espaçamento

 Em sentido amplo, o espaçamento refere-se à quantidade de descontinuidades por unidade de medida, seja em
comprimento linear, área ou volume.
 Quanto menor for o espaçamento entre as descontinuidades de um maciço, mais significativas serão as
deformações e a permeabilidade ou condutividade hidráulica
 Por definição (Brown, 1981), o espaçamento é considerado como a distância perpendicular entre dois planos
consecutivos de descontinuidades pertencentes a uma mesma família.
 Em geral, é medida em afloramentos, testemunhos de sondagem e em furos de sondagem através de fitas
graduadas (métricas), câmeras fotográficas e periscópios de furo de sondagem.

Em furos de sondagem, o espaçamento entre descontinuidades pode ser calculado pela expressão:

Algumas dificuldades são encontradas nos seguintes casos: descontinuidades paralelas ao furo de sondagem, uma vez
que estas não podem ser detectadas; e quando se estabelece a orientação das descontinuidades através de dados de
sondagem, já que o testemunho pode sofrer uma rotação de valor indeterminado no momento em que é trazido para a
superfície.

Descontinuidades interceptadas por furos de sondagens

Classificação de espaçamentos entre descontinuidades


224
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7.2.4 Irregularidade e rugosidade das superfícies


A rugosidade é urna componente potencialmente importante na resistência ao cisalhamento de descontinuidades,
especialmente no caso de fraturas não preenchidas. Distinguem-se duas escalas de rugosidades nas paredes das
descontinuidades. A primeira é caracterizada por ondulações que podem atingir até dezenas de metros. A segunda
refere-se rugosidades de pequena escala, que afetam comprimentos menores.

Nos casos em que há limitações relativas a determinação quantitativa da rugosidade, a sua descrição qualitativa pode
ser baseada na classificação proposta pela ISRM (1981) e ilustrada na figura abaixo.

Os ângulos de rugosidades efetivos, ou simplesmente


rugosidade (i) definidos pelas pelas nove categorias da
classificação proposta, contribuem para a resistências ao
cisalhamento gradualmente maiores, em geral
obedecendo as seguintes ordens:
• I>II>Ill;
• IV>V>VI;
• VII > VIII > IX.

Classificação da rugosidade através de perfis


típicos de rugosidade (Fonte:ISRM, 1981)

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7.2.5. Resistência da parede

A resistência a compressão da parede de urna descontinuidade é um componente importante da resistência ao


cisalhamento e da deformabilidade. Em função da sua resistência, a rugosidade da descontinuidade pode ser destruída
sob ação das tensões cisalhantes.
Os maciços rochosos são freqüentemente intemperizados próximos a superfície; dessa forma, o intemperismo também
pode atuar sobre as paredes das descontinuidades, ocasionando desagregação e , ou, decomposição do material.

A resistência da parede da descontinuidade pode ser determinada por meio de exames visuais, descritos
qualitativamente, conforme classificação a ISRM (1981), ou através de testes com martelo Schmidt, que estima
quantitativamente a resistência. O grau de intemperismo do material pode ser classificado segundo as tabelas sugeridas
pela ISRM (1981).

Martelo de SCHMIDT

7.2.6. Abertura e preenchimento

 A abertura das descontinuidades é importante no estudo da percolação de água no interior dos maciços
rochosos e caracteriza-se como o espaço, vazio ou preenchido por água, que separa suas paredes,
distinguindo-se nesse aspecto eventuais preenchimentos ou mineralizações que podem ocupar o plano da
descontinuidade.
 Os preenchimentos são importantes porque, dependendo de sua espessura, podem modificar ou controlar
completamente a resistência ao cisalhamento e a condutividade de hidráulica das descontinuidades.

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ECV5149 – Geologia de Engenharia

Descontinuidade fechada Descontinuidade aberta Descontinuidade preenchida

Onde as paredes opostas não se tocam e o preenchimento ocupa todo o espaço vazio entre as mesmas, a
resistência, a deformabilidade e a permeabilidade do material que preenche a fratura condicionam o
comportamento do maciço rochoso.

 Os preenchimentos das descontinuidades em regiões tropicais consiste na decomposição intempérica da própria


rocha vizinha à fratura
 Ao longo das superfícies de descontinuidades afetadas pelo intemperismo, a abertura se distribui de forma
irregular, segundo canais tubulares tortuosos, como acontece nas juntas-falhas suborizontais das rochas
basálticas, que condicionam o fluxo de água ao longo dessas estruturas.

Abertura é um parâmetro da descontinuidade muito importante e extremamente variável. Grandes aberturas significam
maior facilidade de acesso à água e, consequentemente, facilidade de intemperização e redução da resistência.

Classificação de aberturas de juntas (ISRM,1981)


Abertura Descrição Aspecto

7.2.6. Abertura e preenchimento


• O comportamento mecânico do maciço rochoso é essencialmente influenciado pelo número de famlias de
descontinuidades que possui, uma vez que este número determina a extensão do maciço que pode se deformar
sem envolver a ruptura da rocha intacta.
• A avaliação das famílias de descontinuidades é feita por meio do exame visual, bússola geológica e clinômetro.

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ECV5149 – Geologia de Engenharia

Fonte: ISRM, 1981

• O tamanho de bloco é um indicador extremamente importante do comportamento do maciço rochoso; é


determinado pelo espaçamento, persistência da descontinuidade e pelo número de famílias e suas orientações.
• Os dois últimos parâmetros definem o formato dos blocos rochosos (estrutura geomecânica elementar do maciço
rochoso), que pode ser instáveis ou não.

Os maciços rochosos podem ser descritos através do tamanho e da forma dos blocos, sendo classificados de acordo
com a tabela abaixo.

Classificação dos maciços rochosos segundo as características dos blocos formados pelas descontinuidades
Maciço
Características dos blocos
Rochosos

a) Blocos cúbicos pequenos formados por


famílias de descontinuidades ortogonais
entre si.
b) Blocos colunares grandes ( em torno de
3m de altura) com parte inferior afetada
por um maior grau de fraturamento
(Vallejo, 2002).

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7.3. Levantamento sistemático das descontinuidades

 Basicamente, o levantamento sistemático possui caráter quantitativo e as descontinuidades podem ser


previamente agrupadas segundo critérios geológicos ou descritivos de interesse, para o posterior tratamento
estatístico discriminado de populações.
 Para isto, é mais adequado efetuar o levantamento em áreas que exibem volumes significativos de maciço
exposto, em afloramentos ou em paredes de escavação.
 Quando as exposições são muito extensas, como ocorre nas escavações de grandes minas ou barragens, pode-
se adotar a escolha de algumas faixas ("janelas") do maciço, onde as estruturas encontram-se bem
representadas.
 No caso de inexistência de grandes áreas expostas, deve-se utilizar os dados de sondagens e de pequenos
afloramentos. De qualquer forma, todos os esforços devem ser despendidos para realizar a descrição
sistemática das descontinuidades.

Em geral, aceita-se um mínimo entre 100 e 150 medidas, em cada domínio estrutural, o que significa uma
quantidade com representação estatística adequada.

 Os dados obtidos podem ser dispostos em planilhas específicas, onde consta um conjunto de observações de
natureza estrutural e geométrica, passíveis de realização em superfícies rochosas.
 Várias destas observações são identificadas por meio de índices classificatórios introduzidos, posteriormente,
em programas computacionais que realizam o tratamento estatístico dos dados, em cada domínio estrutural ou
em cada área de interesse.

Após o tratamento estatístico, podem ser construídos histogramas de freqüência para cada uma das
própriedades de interesse, mostrando a ocorrência relativa dos índices adotados.

Frequência das classes de (a)persistência, (b) rugosidade, (c) espaçamento de um sistemade juntas da reião de Alem
Paraíba (RJ).

229

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