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Prefeitura Municipal da Estância Balneária de Praia Grande

Do Estado de São Paulo

PRAIA GRANDE-SP
Professor Adjunto I
(Educação Infantil, 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental
Regular e 1º segmento do Ensino Fundamental da
Educação de Jovens e Adultos)
Edital de Abertura de Processo Seletivo - Nº 002/2017

DZ037-2017
DADOS DA OBRA

Título da obra: Prefeitura Municipal da Estância Balneária de Praia Grande


Do Estado de São Paulo

Cargo: Professor Adjunto I (Educação Infantil, 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental


Regular e 1º segmento do Ensino Fundamental da Educação de Jovens e Adultos)

(Baseado no Edital de Abertura de Processo Seletivo - Nº 002/2017)

• Língua Portuguesa
• Conhecimentos Gerais de Educação e Conhecimentos Específicos
• Sugestão Bibliográfica

Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza

Diagramação
Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Camila Lopes

Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira

Capa
Joel Ferreira dos Santos

Editoração Eletrônica
Marlene Moreno
APRESENTAÇÃO

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SUMÁRIO

Língua Portuguesa

Questões que possibilitem avaliar a capacidade de Interpretação de texto, conhecimento da norma culta na modalidade
escrita do idioma e aplicação da Ortografia oficial; .................................................................................................................................. 01
Acentuação gráfica; ................................................................................................................................................................................................ 14
Pontuação; .................................................................................................................................................................................................................. 18
Classes gramaticais;................................................................................................................................................................................................. 21
Concordância verbal e nominal;......................................................................................................................................................................... 57
Pronomes: emprego e colocação e Regência nominal e verbal............................................................................................................ 62

Conhecimentos Gerais de Educação e Conhecimentos Específicos

O sistema escolar brasileiro segundo a legislação atual;.......................................................................................................................... 01


A construção do conhecimento; orientações metodológicas para a Educação Infantil, 1º ao 5º ano do Ensino Funda-
mental Regular e do 1º segmento do Ensino Fundamental da Educação de Jovens e Adultos;.............................................. 17
Atividades adequadas e utilização de jogos na aprendizagem; o processo de ensino e aprendizagem: a ação pedagógi-
ca;.................................................................................................................................................................................................................................... 22
A avaliação da aprendizagem.............................................................................................................................................................................. 30

Conhecimentos Específicos da área de atuação.


Sugestão Bibliográfica:
BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais 1ª a 4ª, Brasília: MEC/SEF, 1997;.................................. 38
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.............................................................. 38
Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil – Ministério da Educação – Secretária de Educação Bási-
ca;.................................................................................................................................................................................................................................... 63
Política Nacional de Educação Infantil: pelo Direito das Crianças de 0 a 6 anos à Educação – Ministério da Educação –
Educação de Educação Básica;............................................................................................................................................................................ 74
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil......................................................................................................................... 80
Constituição da República Federativa do Brasil - promulgada em 5 de outubro de 1988, Artigos 5°, 37 ao 41, 205 ao 214,
227 ao 229................................................................................................................................................................................................................... 99
Lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente;.............................................................................................................................147
Lei 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional;..........................................................................................................147
Lei Federal n.º 13.005, de 25/06/14 – Aprova o Plano Nacional de Educação...............................................................................147
Lei Federal nº 10.436, de 24/04/02 – Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS......................................................163
Lei Federal nº. 13.146/15 – Estatuto da Pessoa com Deficiência.........................................................................................................163
Decreto nº. 5.626/05 – Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS)..................................................................................182
Decreto nº 7612/11 – Institui o plano Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência – plano Viver sem Limites........186

Sugestão Bibliográfica

Resoluções da Câmara de Educação Básica – 2008 a2012...................................................................................................................... 01


Coleção Educação Especial na Perspectiva da inclusão Escolar, fascículo 2 - Deficiência Intelectual - MEC;.................76
Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade - Atendimento Educacional Especializado (AEE) - Deficiência
Mental – MEC....................................................................................................................................................................................................84
____________. Indagações sobre o Currículo: - Caderno 1 – Os Educandos, seus direitos e o Currículo – Arroyo, Miguel;.............. 103
Caderno 2 – Currículo e Desenvolvimento Humano – Elvira Souza Lima;.......................................................................................105
Caderno 3 – Currículo, Conhecimento e Cultura – Antonio Flávio Moreira e Vera Maria Candau;........................................106
Currículo e Avaliação – Claudia Moreira Fernandes e Luiz Carlos de Freitas..................................................................................107
______________. Os ciclos de aprendizagem. Um caminho para combater o fracasso escolar. Porto Alegre: Artmed,
2004........................................................................................................................................................................................................................ 109
BRASIL. Política Nacional da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008.......110
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. 21ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002......................................................................................116
GADOTTI, M. Educação Integral no Brasil: inovações em processo. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire,
2009.............................................................................................................................................................................................................................121
SUMÁRIO

GOMES, Adriana L. Limaverde, POULIN, Jean-Robert, FIGUEIREDO, Rita Vieira. Atendimento Educacional Especializado
do aluno com deficiência intelectual. São Paulo: Moderna, 2010.......................................................................................................122
GOMES, Adriana L.V; FERNANDES, A.C.; BATISTA, C.A.M; SALUSTIANO, D.A.; MANTOAN, M.T.E.; FIGUIREDO, R.V.
¨ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO Deficiência Mental¨, SEESP/MEC, UFC, 2007............................................122
HARGREAVES, A. O Ensino na sociedade do conhecimento: educação na era da insegurança. Porto Alegre: Artmed,
2004.............................................................................................................................................................................................................................122
HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover. Porto Alegre: Mediação, 2002................................................................................125
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – Ensino Fundamental de Nove Anos – Orientações para a inclusão da criança de seis anos
de idade. Brasília: FNDE, Estação Gráfica, 2006..........................................................................................................................................128
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, UNESCO, 2000.......................................129
Os quatro pilares da Educação – MEC/UNESCO........................................................................................................................................129
PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000..................................................................131
RIOS, T. A. Compreender e ensinar: por uma docência da melhor qualidade. São Paulo: Cortez, 2001..............................134
ROPOLI, E. A.; MANTOAN, M. T. E.; SANTOS, M. T. C. T.; MACHADO, R. A educação especial na perspectiva da inclusão
escolar: a escola comum inclusiva, 2010, organização UFC - apoio MEC/SEESP...........................................................................136
STAINBACK, S. ¨INCLUSÃO¨, ArtmedEditora...............................................................................................................................................136
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002...........................................................................139
Tecnologia Educacional: Descubra Suas Possibilidades na Sala de Aula. Ligia Silva Leite- Editora Vozes...........................140
VASCONCELLOS, Celso S. Planejamento - Projeto de Ensino Aprendizagem e Projeto Político Pedagógico, São Paulo:
Libertad, 2002..........................................................................................................................................................................................................140
VYGOTSKY, L.S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001........................................141
PORTUGUÊS

Questões que possibilitem avaliar a capacidade de Interpretação de texto, conhecimento da norma culta na modalidade
escrita do idioma e aplicação da Ortografia oficial; .................................................................................................................................. 01
Acentuação gráfica; ................................................................................................................................................................................................ 14
Pontuação; .................................................................................................................................................................................................................. 18
Classes gramaticais;................................................................................................................................................................................................. 21
Concordância verbal e nominal;......................................................................................................................................................................... 57
Pronomes: emprego e colocação e Regência nominal e verbal............................................................................................................ 62
PORTUGUÊS

Condições básicas para interpretar


QUESTÕES QUE POSSIBILITEM AVALIAR
A CAPACIDADE DE INTERPRETAÇÃO DE Fazem-se necessários:
TEXTO, CONHECIMENTO DA NORMA CULTA - Conhecimento histórico–literário (escolas e gêneros
literários, estrutura do texto), leitura e prática;
NA MODALIDADE ESCRITA DO IDIOMA E
- Conhecimento gramatical, estilístico (qualidades do
APLICAÇÃO DA ORTOGRAFIA OFICIAL; texto) e semântico;
Observação – na semântica (significado das palavras)
incluem--se: homônimos e parônimos, denotação e cono-
tação, sinonímia e antonímia, polissemia, figuras de lingua-
gem, entre outros.
É muito comum, entre os candidatos a um cargo públi- - Capacidade de observação e de síntese e
co, a preocupação com a interpretação de textos. Por isso, - Capacidade de raciocínio.
vão aqui alguns detalhes que poderão ajudar no momento
de responder às questões relacionadas a textos. Interpretar X compreender

Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relacio- Interpretar significa


nadas entre si, formando um todo significativo capaz de - Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir.
produzir interação comunicativa (capacidade de codificar - Através do texto, infere-se que...
e decodificar ). - É possível deduzir que...
- O autor permite concluir que...
Contexto – um texto é constituído por diversas frases. - Qual é a intenção do autor ao afirmar que...
Em cada uma delas, há uma certa informação que a faz
ligar-se com a anterior e/ou com a posterior, criando con- Compreender significa
dições para a estruturação do conteúdo a ser transmitido. - intelecção, entendimento, atenção ao que realmente
A essa interligação dá-se o nome de contexto. Nota-se que está escrito.
o relacionamento entre as frases é tão grande que, se uma - o texto diz que...
frase for retirada de seu contexto original e analisada se- - é sugerido pelo autor que...
paradamente, poderá ter um significado diferente daquele - de acordo com o texto, é correta ou errada a afirma-
inicial. ção...
- o narrador afirma...
Intertexto - comumente, os textos apresentam refe-
rências diretas ou indiretas a outros autores através de ci- Erros de interpretação
tações. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto.
É muito comum, mais do que se imagina, a ocorrência
Interpretação de texto - o primeiro objetivo de uma de erros de interpretação. Os mais frequentes são:
interpretação de um texto é a identificação de sua ideia - Extrapolação (viagem): Ocorre quando se sai do con-
principal. A partir daí, localizam-se as ideias secundárias, texto, acrescentado ideias que não estão no texto, quer por
ou fundamentações, as argumentações, ou explicações, conhecimento prévio do tema quer pela imaginação.
que levem ao esclarecimento das questões apresentadas
na prova. - Redução: É o oposto da extrapolação. Dá-se atenção
apenas a um aspecto, esquecendo que um texto é um con-
Normalmente, numa prova, o candidato é convidado a: junto de ideias, o que pode ser insuficiente para o total do
entendimento do tema desenvolvido.
- Identificar – é reconhecer os elementos fundamen-
tais de uma argumentação, de um processo, de uma época - Contradição: Não raro, o texto apresenta ideias con-
(neste caso, procuram-se os verbos e os advérbios, os quais trárias às do candidato, fazendo-o tirar conclusões equivo-
definem o tempo). cadas e, consequentemente, errando a questão.
- Comparar – é descobrir as relações de semelhança Observação - Muitos pensam que há a ótica do es-
ou de diferenças entre as situações do texto. critor e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas numa
- Comentar - é relacionar o conteúdo apresentado prova de concurso, o que deve ser levado em consideração
com uma realidade, opinando a respeito. é o que o autor diz e nada mais.
- Resumir – é concentrar as ideias centrais e/ou secun-
dárias em um só parágrafo. Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que
- Parafrasear – é reescrever o texto com outras pala- relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre si.
vras. Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de um
pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um prono-
me oblíquo átono, há uma relação correta entre o que se
vai dizer e o que já foi dito.

1
PORTUGUÊS

OBSERVAÇÃO – São muitos os erros de coesão no Observa as ranhuras entre uma pedra e outra. Há, den-
dia-a-dia e, entre eles, está o mau uso do pronome relativo tro de cada uma delas, um diminuto caminho de terra, com
e do pronome oblíquo átono. Este depende da regência do pedrinhas e tufos minúsculos de musgos, formando peque-
verbo; aquele do seu antecedente. Não se pode esquecer nas plantas, ínfimos bonsais só visíveis aos olhos de quem é
também de que os pronomes relativos têm, cada um, valor capaz de parar de viver para, apenas, ver. Quando se tem a
semântico, por isso a necessidade de adequação ao ante- marca da solidão na alma, o mundo cabe numa fresta.
cedente. (SEIXAS, Heloísa. Contos mais que mínimos. Rio de Ja-
Os pronomes relativos são muito importantes na in- neiro: Tinta negra bazar, 2010. p. 47)
terpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de No texto, o substantivo usado para ressaltar o universo
coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração que reduzido no qual o menino detém sua atenção é
existe um pronome relativo adequado a cada circunstância, (A) fresta.
a saber: (B) marca.
(C) alma.
- que (neutro) - relaciona-se com qualquer anteceden- (D) solidão.
te, mas depende das condições da frase. (E) penumbra.
- qual (neutro) idem ao anterior.
- quem (pessoa) 2-) (ANCINE – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CES-
- cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois PE/2012)
o objeto possuído. O riso é tão universal como a seriedade; ele abarca a
- como (modo) totalidade do universo, toda a sociedade, a história, a con-
- onde (lugar) cepção de mundo. É uma verdade que se diz sobre o mundo,
quando (tempo) que se estende a todas as coisas e à qual nada escapa. É,
quanto (montante) de alguma maneira, o aspecto festivo do mundo inteiro, em
todos os seus níveis, uma espécie de segunda revelação do
Exemplo: mundo.
Falou tudo QUANTO queria (correto) Mikhail Bakhtin. A cultura popular na Idade Média e o
Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo:
aparecer o demonstrativo O ).
Hucitec, 1987, p. 73 (com adaptações).
Dicas para melhorar a interpretação de textos
Na linha 1, o elemento “ele” tem como referente tex-
tual “O riso”.
- Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do
( ) CERTO ( ) ERRADO
assunto;
- Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa
a leitura; 3-) (ANEEL – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE/2010)
- Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto Só agora, quase cinco meses depois do apagão que atin-
pelo menos duas vezes; giu pelo menos 1.800 cidades em 18 estados do país, surge
- Inferir; uma explicação oficial satisfatória para o corte abrupto e
- Voltar ao texto quantas vezes precisar; generalizado de energia no final de 2009.
- Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do Segundo relatório da Agência Nacional de Energia Elé-
autor; trica (ANEEL), a responsabilidade recai sobre a empresa es-
- Fragmentar o texto (parágrafos, partes) para melhor tatal Furnas, cujas linhas de transmissão cruzam os mais de
compreensão; 900 km que separam Itaipu de São Paulo.
- Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de Equipamentos obsoletos, falta de manutenção e de in-
cada questão; vestimentos e também erros operacionais conspiraram para
- O autor defende ideias e você deve percebê-las. produzir a mais séria falha do sistema de geração e distri-
buição de energia do país desde o traumático racionamento
Fonte: de 2001.
http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/portu- Folha de S.Paulo, Editorial, 30/3/2010 (com adapta-
gues/como-interpretar-textos ções).
Considerando os sentidos e as estruturas linguísticas
QUESTÕES do texto acima apresentado, julgue os próximos itens.
A oração “que atingiu pelo menos 1.800 cidades em 18
1-) (SABESP/SP – ATENDENTE A CLIENTES 01 – estados do país” tem, nesse contexto, valor restritivo.
FCC/2014 - ADAPTADA) Atenção: Para responder à ques- ( ) CERTO ( ) ERRADO
tão, considere o texto abaixo.
A marca da solidão 4-) (CORREIOS – CARTEIRO – CESPE/2011)
Deitado de bruços, sobre as pedras quentes do chão de Um carteiro chega ao portão do hospício e grita:
paralelepípedos, o menino espia. Tem os braços dobrados e a — Carta para o 9.326!!!
testa pousada sobre eles, seu rosto formando uma tenda de Um louco pega o envelope, abre-o e vê que a carta está
penumbra na tarde quente. em branco, e um outro pergunta:

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PORTUGUÊS

— Quem te mandou essa carta? Meus amigos partem para as suas férias, cansados de
— Minha irmã. tanto trabalho; de tanta luta com os motoristas da contra-
— Mas por que não está escrito nada? mão; enfim, cansados, cansados de serem obrigados a viver
— Ah, porque nós brigamos e não estamos nos falando! numa grande cidade, isto que já está sendo a negação da
Internet: <www.humortadela.com.br/piada> (com adap- própria vida.
tações). E eu vou para a Ilha do Nanja.
Eu vou para a Ilha do Nanja para sair daqui. Passarei as
O efeito surpresa e de humor que se extrai do texto aci- férias lá, onde, à beira das lagoas verdes e azuis, o silêncio
ma decorre cresce como um bosque. Nem preciso fechar os olhos: já es-
A) da identificação numérica atribuída ao louco. tou vendo os pescadores com suas barcas de sardinha, e a
B) da expressão utilizada pelo carteiro ao entregar a carta
moça à janela a namorar um moço na outra janela de outra
no hospício.
C) do fato de outro louco querer saber quem enviou a ilha.
carta. (Cecília Meireles, O que se diz e o que se entende.
D) da explicação dada pelo louco para a carta em branco. Adaptado)
E) do fato de a irmã do louco ter brigado com ele.
*fissuras: fendas, rachaduras
5-) (DETRAN/RN – VISTORIADOR/EMPLACADOR – FGV
PROJETOS/2010) 6-) (DCTA – TÉCNICO 1 – SEGURANÇA DO TRABALHO
– VUNESP/2013) No primeiro parágrafo, ao descrever a
Painel do leitor (Carta do leitor) maneira como se preparam para suas férias, a autora mos-
tra que seus amigos estão
Resgate no Chile (A) serenos.
(B) descuidados.
Assisti ao maior espetáculo da Terra numa operação de (C) apreensivos.
salvamento de vidas, após 69 dias de permanência no fundo (D) indiferentes.
de uma mina de cobre e ouro no Chile. (E) relaxados.
Um a um os mineiros soterrados foram içados com su-
cesso, mostrando muita calma, saúde, sorrindo e cumprimen-
7-) (DCTA – TÉCNICO 1 – SEGURANÇA DO TRABALHO
tando seus companheiros de trabalho. Não se pode esquecer
– VUNESP/2013) De acordo com o texto, pode-se afirmar
a ajuda técnica e material que os Estados Unidos, Canadá e
China ofereceram à equipe chilena de salvamento, num ges- que, assim como seus amigos, a autora viaja para
to humanitário que só enobrece esses países. E, também, dos (A) visitar um lugar totalmente desconhecido.
dois médicos e dois “socorristas” que, demonstrando coragem (B) escapar do lugar em que está.
e desprendimento, desceram na mina para ajudar no salva- (C) reencontrar familiares queridos.
mento. (D) praticar esportes radicais.
(Douglas Jorge; São Paulo, SP; www.folha.com.br – pai- (E) dedicar-se ao trabalho.
nel do leitor – 17/10/2010)
8-) (DCTA – TÉCNICO 1 – SEGURANÇA DO TRABALHO
Considerando o tipo textual apresentado, algumas ex- – VUNESP/2013) Ao descrever a Ilha do Nanja como um
pressões demonstram o posicionamento pessoal do leitor lugar onde, “à beira das lagoas verdes e azuis, o silêncio
diante do fato por ele narrado. Tais marcas textuais podem cresce como um bosque” (último parágrafo), a autora su-
ser encontradas nos trechos a seguir, EXCETO: gere que viajará para um lugar
A) “Assisti ao maior espetáculo da Terra...” (A) repulsivo e populoso.
B) “... após 69 dias de permanência no fundo de uma (B) sombrio e desabitado.
mina de cobre e ouro no Chile.” (C) comercial e movimentado.
C) “Não se pode esquecer a ajuda técnica e material...” (D) bucólico e sossegado.
D) “... gesto humanitário que só enobrece esses países.”
(E) opressivo e agitado.
E) “... demonstrando coragem e desprendimento, desce-
ram na mina...”
(DCTA – TÉCNICO 1 – SEGURANÇA DO TRABALHO – 9-) (DNIT – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – ESAF/2013)
VUNESP/2013 - ADAPTADA) Leia o texto para responder às Grandes metrópoles em diversos países já aderiram. E
questões de números 6 a 8. o Brasil já está falando sobre isso. O pedágio urbano divide
opiniões e gera debates acalorados. Mas, afinal, o que é mais
Férias na Ilha do Nanja justo? O que fazer para desafogar a cidade de tantos carros?
Prepare-se para o debate que está apenas começando.
Meus amigos estão fazendo as malas, arrumando as ma- (Adaptado de Superinteressante, dezembro2012, p.34)
las nos seus carros, olhando o céu para verem que tempo faz,
pensando nas suas estradas – barreiras, pedras soltas, fissu- Marque N(não) para os argumentos contra o pedágio
ras* – sem falar em bandidos, milhões de bandidos entre as urbano; marque S(sim) para os argumentos a favor do pe-
fissuras, as pedras soltas e as barreiras... dágio urbano.

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PORTUGUÊS

( ) A receita gerada pelo pedágio vai melhorar o trans- 4-)


porte público e estender as ciclovias. Geralmente o efeito de humor desses gêneros textuais
( ) Vai ser igual ao rodízio de veículos em algumas cida- aparece no desfecho da história, ao final, como nesse: “Ah,
des, que não resolveu os problemas do trânsito. porque nós brigamos e não estamos nos falando”.
( ) Se pegar no bolso do consumidor, então todo mun- RESPOSTA: “D”.
do vai ter que pensar bem antes de comprar um carro.
( ) A gente já paga garagem, gasolina, seguro, estacio- 5-)
namento, revisão....e agora mais o pedágio? Em todas as alternativas há expressões que represen-
( ) Nós já pagamos impostos altos e o dinheiro não é tam a opinião do autor: Assisti ao maior espetáculo da
investido no transporte público. Terra / Não se pode esquecer / gesto humanitário que só
( ) Quer andar sozinho dentro do seu carro? Então pa- enobrece / demonstrando coragem e desprendimento.
gue pelo privilégio! RESPOSTA: “B”.
( ) O trânsito nas cidades que instituíram o pedágio
urbano melhorou. 6-)
“pensando nas suas estradas – barreiras, pedras soltas,
fissuras – sem falar em bandidos, milhões de bandidos en-
A ordem obtida é:
tre as fissuras, as pedras soltas e as barreiras...” = pensar
a) (S) (N) (N) (S) (S) (S) (N)
nessas coisas, certamente, deixa-os apreensivos.
b) (S) (N) (S) (N) (N) (S) (S)
RESPOSTA: “C”.
c) (N) (S) (S) (N) (S) (N) (S)
d) (S) (S) (N) (S) (N) (S) (N) 7-)
e) (N) (N) (S) (S) (N) (S) (N) Eu vou para a Ilha do Nanja para sair daqui = resposta
da própria autora!
10-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ – RESPOSTA: “B”.
ADMINISTRADOR - UFPR/2013) Assinale a alternativa que
apresenta um dito popular que parafraseia o conteúdo ex- 8-)
presso no excerto: “Se você está em casa, não pode sair. Se Pela descrição realizada, o lugar não tem nada de ruim.
você está na rua, não pode entrar”. RESPOSTA: “D”.
a) “Se correr o bicho pega, se ficar, o bicho come”.
b) “Quando o gato sai, os ratos fazem a festa”. 9-)
c) “Um dia da caça, o outro do caçador”. (S) A receita gerada pelo pedágio vai melhorar o trans-
d) “Manda quem pode, obedece quem precisa”. porte público e estender as ciclovias.
(N) Vai ser igual ao rodízio de veículos em algumas ci-
dades, que não resolveu os problemas do trânsito.
Resolução (S) Se pegar no bolso do consumidor, então todo mun-
do vai ter que pensar bem antes de comprar um carro.
1-) (N) A gente já paga garagem, gasolina, seguro, estacio-
Com palavras do próprio texto responderemos: o mun- namento, revisão....e agora mais o pedágio?
do cabe numa fresta. (N) Nós já pagamos impostos altos e o dinheiro não é
RESPOSTA: “A”. investido no transporte público.
(S) Quer andar sozinho dentro do seu carro? Então pa-
2-) gue pelo privilégio!
Vamos ao texto: O riso é tão universal como a serie- (S) O trânsito nas cidades que instituíram o pedágio
urbano melhorou.
dade; ele abarca a totalidade do universo (...). Os termos
S - N - S - N - N - S - S
relacionam-se. O pronome “ele” retoma o sujeito “riso”.
RESPOSTA: “B”.
RESPOSTA: “CERTO”.
10-)
3-) Dentre as alternativas apresentadas, a que reafirma a
Voltemos ao texto: “depois do apagão que atingiu pelo ideia do excerto (não há muita saída, não há escolhas) é:
menos 1.800 cidades”. O “que” pode ser substituído por “Se você está em casa, não pode sair. Se você está na rua,
“o qual”, portanto, trata-se de um pronome relativo (ora- não pode entrar”.
ção subordinada adjetiva). Quando há presença de vírgula, RESPOSTA: “A”.
temos uma adjetiva explicativa (generaliza a informação
da oração principal. A construção seria: “do apagão, que
atingiu pelo menos 1800 cidades em 18 estados do país”);
quando não há, temos uma adjetiva restritiva (restringe,
delimita a informação – como no caso do exercício).
RESPOSTA: “CERTO’.

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PORTUGUÊS

NORMA CULTA ou seja, em que região do país nascemos, qual nosso ní-
vel social e escolar, nossa formação e, às vezes, até nossos
Norma culta ou linguagem culta é uma expressão em- valores, círculo de amizades e hobbies, como skate, rock,
pregada pelos linguistas brasileiros para designar o con- surfe, etc. O uso da língua também pode informar nossa
junto de variedades linguísticas efetivamente faladas, na timidez, sobre nossa capacidade de nos adaptarmos e si-
vida cotidiana, pelos falantes cultos, sendo assim classifica- tuações novas, nossa insegurança, etc.
dos os cidadãos nascidos e criados em zona urbana e com A língua é um poderoso instrumento de ação social.
grau de instrução superior completo. Ela pode tanto facilitar quanto dificultar o nosso relaciona-
O Instituto Camões entende que a “noção de correção mento com as pessoas e com a sociedade em geral.
está [...] baseada no valor social atribuído às [...] formas [lin-
guísticas]. Ainda assim, informa que a norma-padrão do Língua Culta na Escola
português europeu é o dialeto da região que abrange Lis-
boa e Coimbra; refere também que se aceita no Brasil como O ensino da língua culta, na escola, não tem a finalida-
norma-padrão a fala do Rio e de São Paulo. de de condenar ou eliminar a língua que falamos em nossa
família ou em nossa comunidade. Ao contrário, o domínio
Aquisição da linguagem da língua culta, somado ao domínio de outras variedades
linguísticas, torna-nos mais preparados para nos comuni-
Iniciamos o aprendizado da língua em casa, no conta- carmos. Saber usar bem uma língua equivale a saber em-
to com a família, que é o primeiro círculo social para uma pregá-la de modo adequado às mais diferentes situações
criança, imitando o que se ouve e aprendendo, aos poucos, sociais de que participamos.
o vocabulário e as leis combinatórias da língua. Um jovem
falante também vai exercitando o aparelho fonador, ou Graus de Formalismo
seja, a língua, os lábios, os dentes, os maxilares, as cordas
vocais para produzir sons que se transformam, mais tarde, São muitos os tipos de registro quanto ao formalismo,
em palavras, frases e textos. tais como: o registro formal, que é uma linguagem mais
Quando um falante entra em contato com outra pes- cuidada; o coloquial, que não tem um planejamento prévio,
soa, na rua, na escola ou em qualquer outro local, percebe caracterizando-se por construções gramaticais mais livres,
que nem todos falam da mesma forma. Há pessoas que repetições frequentes, frases curtas e conectores simples; o
falam de forma diferente por pertencerem a outras cidades informal, que se caracteriza pelo uso de ortografia simplifi-
ou regiões do país, ou por terem idade diferente da nossa, cada, construções simples e usado entre membros de uma
ou por fazerem parte de outro grupo ou classe social. Es- mesma família ou entre amigos.
sas diferenças no uso da língua constituem as variedades As variações de registro ocorrem de acordo com o grau
linguísticas. de formalismo existente na situação de comunicação; com
o modo de expressão, isto é, se trata de um registro formal
Variedades Linguísticas ou escrito; com a sintonia entre interlocutores, que envolve
aspectos como graus de cortesia, deferência, tecnicidade
Variedades linguísticas são as variações que uma lín- (domínio de um vocabulário específico de algum campo
gua apresenta, de acordo com as condições sociais, cultu- científico, por exemplo).
rais, regionais e históricas em que é utilizada.
Todas as variedades linguísticas são adequadas, desde Atitudes não recomendadas
que cumpram com eficiência o papel fundamental de uma
língua, o de permitir a interação verbal entre as pessoas, Expressões Condenáveis
isto é, a comunicação.
Apesar disso, uma dessas variedades, a norma culta ou - a nível de, ao nível. Opção: em nível, no nível.
norma padrão, tem maior prestígio social. É a variedade - face a, frente a. Opção: ante, diante, em face de, em
linguística ensinada na escola, contida na maior parte dos vista de, perante.
livros e revistas e também em textos científicos e didáticos, - onde (quando não exprime lugar). Opção: em que, na
em alguns programas de televisão, etc. As demais varieda- qual, nas quais, no qual, nos quais.
des, como a regional, a gíria ou calão, o jargão de grupos - (medidas) visando... Opção: (medidas) destinadas a.
ou profissões (a linguagem dos policiais, dos jogadores de - sob um ponto de vista. Opção: de um ponto de vista.
futebol, dos metaleiros, dos surfistas), são chamadas gene- - sob um prisma. Opção: por (ou através de) um prisma.
ricamente de dialeto popular ou linguagem popular. - como sendo. Opção: suprimir a expressão.
- em função de. Opção: em virtude de, por causa de,
Propósito da Língua em consequência de, por, em razão de.

A língua que utilizamos não transmite apenas nossas Expressões não recomendadas
ideias, transmite também um conjunto de informações so-
bre nós mesmos. Certas palavras e construções que em- - a partir de (a não ser com valor temporal). Opção:
pregamos acabam denunciando quem somos socialmente, com base em, tomando-se por base, valendo-se de...

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PORTUGUÊS

- através de (para exprimir “meio” ou instrumento). Erros Comuns


Opção: por, mediante, por meio de, por intermédio de, se-
gundo... - “Hoje ao receber alguns presentes no qual completo
- devido a. Opção: em razão de, em virtude de, graças vinte anos tenho muitas novidades para contar”. Temos aí
a, por causa de. um exemplo de uso inadequado do pronome relativo. Ele
- dito. Opção: citado, mensionado. provoca falta de coesão, pois não consegue perceber a que
- enquanto. Opção: ao passo que. antecedente ele se refere, portanto nada conecta e produz
- fazer com que. Opção: compelir, constranger, fazer relação absurda.
que, forçar, levar a. - “Tenho uma prima que trabalha num circo como má-
- inclusive (a não ser quando significa incluindo-se). gica e uma das mágicas mais engraçadas era uma caneta
Opção: até, ainda, igualmente, mesmo, também. com tinta invisível que em vez de tinta havia saído suco de
- no sentido de, com vistas a. Opção: a fim de, para, lima”. Você percebe aí a incapacidade do concursando ou
vestibulando organizar sintaticamente o período. Selecio-
com o fito (ou objetivo, ou intuito) de, com a finalidade de,
nar as frases e organizar as ideias é necessário. Escrever
tendo em vista.
com clareza é muito importante.
- pois (no início da oração). Opção: já que, porque, uma
- “Ainda brincava de boneca quando conheci Davi, piloto
vez que, visto que. de cart, moreno, 20 anos, com olhos cor de mel. “Tudo come-
- principalmente. Opção: especialmente, mormente, çou naquele baile de quinze anos”, “...é aos dezoito anos que
notadamente, sobretudo, em especial, em particular. se começa a procurar o caminho do amanhã e encontrar as
- sendo que. Opção: e. perspectiva que nos acompanham para sempre na estrada
da vida”. Você pode ter conhecimento do vocabulário e das
Expressões que demandam atenção regras gramaticais e, assim, construir um texto sem erros.
Entretanto, se você reproduz sem nenhuma crítica ou refle-
- acaso, caso – com se, use acaso; caso rejeita o se xão expressões gastas, vulgarizadas pelo uso contínuo. A
- aceitado, aceito – com ter e haver, aceitado; com ser boa qualidade do texto fica comprometida.
e estar, aceito - Tema: Para você, as experiências genéticas de clona-
- acendido, aceso (formas similares) – idem gem põem em xeque todos os conceitos humanos sobre
- à custa de – e não às custas de Deus e a vida? “Bem a clonagem não é tudo, mas na vida
- à medida que – à proporção que, ao mesmo tempo tudo tem o seu valor e os homens a todo momento neces-
que, conforme sitam de descobrir todos os mistérios da vida que nos cerca
- na medida em que – tendo em vista que, uma vez que a todo instante”. É importante você escrever atendendo ao
- a meu ver – e não ao meu ver que foi proposto no tema. Antes de começar o seu texto
- a ponto de – e não ao ponto de leia atentamente todos os elementos que o examinador
- a posteriori, a priori – não tem valor temporal apresentou para você utilizar. Esquematize suas ideias, veja
- de modo (maneira, sorte) que – e não a se não há falta de correspondência entre o tema proposto
- em termos de – modismo; evitar e o texto criado.
- em vez de – em lugar de - “Uma biópsia do tumor retirado do fígado do meu pri-
- ao invés de – ao contrário de mo (...) mostrou que ele não era maligno”. Esta frase está
- enquanto que – o que é redundância ambígua, pois não se sabe se o pronome ele refere-se ao
- entre um e outro – entre exige a conjunção e, e não a fígado ou ao primo. Para se evitar a ambiguidade, você
deve observar se a relação entre cada palavra do seu texto
- implicar em – a regência é direta (sem em)
está correta.
- ir de encontro a – chocar-se com
- “Ele me tratava como uma criança, mas eu era apenas
- ir ao encontro de – concordar com
uma criança”. O conectivo mas indica uma circunstância de
- junto a – usar apenas quando equivale a adido ou oposição, de ideia contrária a. Portanto, a relação adver-
similar sativa introduzida pelo “mas” no fragmento acima produz
- o (a, s) mesmo (a, s) – uso condenável para substituir uma ideia absurda.
pronomes - “Entretanto, como já diziam os sábios: depois da tem-
- se não, senão – quando se pode substituir por caso pestade sempre vem a bonança. Após longo suplício, meu
não, separado; quando se pode, junto coração apaziguava as tormentas e a sensatez me mostrava
- todo mundo – todos que só estaríamos separadas carnalmente”. Não utilize pro-
- todo o mundo – o mundo inteiro vérbios ou ditos populares. Eles empobrecem a redação,
- não-pagamento = hífen somente quando o segundo pois fazer parecer que seu autor não tem criatividade ao
termo for substantivo lançar mão de formas já gastas pelo uso frequente.
- este e isto – referência próxima do falante (a lugar, a - “Estou sem inspiração para fazer uma redação. Es-
tempo presente; a futuro próximo; ao anunciar e a que se crever sobre a situação dos sem-terra? Bem que o professor
está tratando) poderia propor outro tema”. Você não deve falar de sua re-
- esse e isso – referência longe do falante e perto do dação dentro do próprio texto.
ouvinte (tempo futuro, desejo de distância; tempo passado - “Todos os deputados são corruptos”. Evite pensamen-
próximo do presente, ou distante ao já mencionado e a tos radicais. É recomendável não generalizar e evitar, assim,
ênfase). posições extremistas.

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PORTUGUÊS

- “Bem, acho que - você sabe - não é fácil dizer essas - Quebrou “o” óculos. Concordância no plural: os ócu-
coisas. Olhe, acho que ele não vai concordar com a decisão los, meus óculos. Da mesma forma: Meus parabéns, meus
que você tomou, quero dizer, os fatos levam você a isso, mas pêsames, seus ciúmes, nossas férias, felizes núpcias.
você sabe - todos sabem - ele pensa diferente. É bom a gente - Comprei “ele” para você. Eu, tu, ele, nós, vós e eles
pensar como vai fazer para, enfim, para ele entender a deci- não podem ser objeto direto. Assim: Comprei-o para você.
são”. Não se esqueça que o ato de escrever é diferente do Também: Deixe-os sair, mandou-nos entrar, viu-a, man-
ato de falar. O texto escrito deve se apresentar desprovido dou-me.
de marcas de oralidade. - Nunca “lhe” vi. Lhe substitui a ele, a eles, a você e a
- “Mal cheiro”, “mau-humorado”. Mal opõe-se a bem e vocês e por isso não pode ser usado com objeto direto:
mau, a bom. Assim: mau cheiro (bom cheiro), mal-humora- Nunca o vi. / Não o convidei. / A mulher o deixou. / Ela o
do (bem-humorado). Igualmente: mau humor, mal-inten- ama.
cionado, mau jeito, mal-estar. - “Aluga-se” casas. O verbo concorda com o sujeito:
- “Fazem” cinco anos. Fazer, quando exprime tempo, é
Alugam-se casas. / Fazem-se consertos. / É assim que se
impessoal: Faz cinco anos. / Fazia dois séculos. / Fez 15 dias.
evitam acidentes. / Compram-se terrenos. / Procuram-se
- “Houveram” muitos acidentes. Haver, como existir,
empregados.
também é invariável: Houve muitos acidentes. / Havia mui-
tas pessoas. / Deve haver muitos casos iguais. - “Tratam-se” de. O verbo seguido de preposição não
- “Existe” muitas esperanças. Existir, bastar, faltar, restar varia nesses casos: Trata-se dos melhores profissionais. /
e sobrar admitem normalmente o plural: Existem muitas es- Precisa-se de empregados. / Apela-se para todos. / Conta-
peranças. / Bastariam dois dias. / Faltavam poucas peças. / se com os amigos.
Restaram alguns objetos. / Sobravam ideias. - Chegou “em” São Paulo. Verbos de movimento exi-
- Para “mim” fazer. Mim não faz, porque não pode ser gem a, e não em: Chegou a São Paulo. / Vai amanhã ao
sujeito. Assim: Para eu fazer, para eu dizer, para eu trazer. cinema. / Levou os filhos ao circo.
- Entre “eu” e você. Depois de preposição, usa-se mim - Atraso implicará “em” punição. Implicar é direto no
ou ti: Entre mim e você. / Entre eles e ti. sentido de acarretar, pressupor: Atraso implicará punição. /
- “Há” dez anos “atrás”. Há e atrás indicam passado na Promoção implica responsabilidade.
frase. Use apenas há dez anos ou dez anos atrás. - Vive “às custas” do pai. O certo: Vive à custa do pai.
- “Entrar dentro”. O certo: entrar em. Veja outras redun- Use também em via de, e não “em vias de”: Espécie em via
dâncias: Sair fora ou para fora, elo de ligação, monopólio de extinção. / Trabalho em via de conclusão.
exclusivo, já não há mais, ganhar grátis, viúva do falecido. - Todos somos “cidadões”. O plural de cidadão é cida-
- “Venda à prazo”. Não existe crase antes de palavra dãos. Veja outros: caracteres (de caráter), juniores, seniores,
masculina, a menos que esteja subentendida a palavra escrivães, tabeliães, gângsteres.
moda: Salto à (moda de) Luís XV. Nos demais casos: A salvo, - O ingresso é “gratuíto”. A pronúncia correta é gra-
a bordo, a pé, a esmo, a cavalo, a caráter. túito, assim como circúito, intúito e fortúito (o acento não
- “Porque” você foi? Sempre que estiver clara ou implí- existe e só indica a letra tônica). Da mesma forma: flúido,
cita a palavra razão, use por que separado: Por que (razão) condôr, recórde, aváro, ibéro, pólipo.
você foi? / Não sei por que (razão) ele faltou. / Explique por - A última “seção” de cinema. Seção significa divisão,
que razão você se atrasou. Porque é usado nas respostas: repartição, e sessão equivale a tempo de uma reunião,
Ele se atrasou porque o trânsito estava congestionado. função: Seção Eleitoral, Seção de Esportes, seção de brin-
- Vai assistir “o” jogo hoje. Assistir como presenciar exi- quedos; sessão de cinema, sessão de pancadas, sessão do
ge a: Vai assistir ao jogo, à missa, à sessão. Outros verbos
Congresso.
com a: A medida não agradou (desagradou) à população. /
- Vendeu “uma” grama de ouro. Grama, peso, é palavra
Eles obedeceram (desobedeceram) aos avisos. / Aspirava ao
cargo de diretor. / Pagou ao amigo. / Respondeu à carta. / masculina: um grama de ouro, vitamina C de dois gramas.
Sucedeu ao pai. / Visava aos estudantes. Femininas, por exemplo, são a agravante, a atenuante, a
- Preferia ir “do que” ficar. Prefere-se sempre uma coisa alface, a cal, etc.
a outra: Preferia ir a ficar. É preferível segue a mesma norma: - “Por isso”. Duas palavras, por isso, como de repente
É preferível lutar a morrer sem glória. e a partir de.
- O resultado do jogo, não o abateu. Não se separa com - Não viu “qualquer” risco. É nenhum, e não “qualquer”,
vírgula o sujeito do predicado. Assim: O resultado do jogo que se emprega depois de negativas: Não viu nenhum ris-
não o abateu. Outro erro: O prefeito prometeu, novas de- co. / Ninguém lhe fez nenhum reparo. / Nunca promoveu
núncias. Não existe o sinal entre o predicado e o comple- nenhuma confusão.
mento: O prefeito prometeu novas denúncias. - A feira “inicia” amanhã. Alguma coisa se inicia, se
- Não há regra sem “excessão”. O certo é exceção. Veja inaugura: A feira inicia-se (inaugura-se) amanhã.
outras grafias erradas e, entre parênteses, a forma correta: - Soube que os homens “feriram-se”. O que atrai o pro-
“paralizar” (paralisar), “beneficiente” (beneficente), “xuxu” nome: Soube que os homens se feriram. / A festa que se
(chuchu), “previlégio” (privilégio), “vultuoso” (vultoso), “cin- realizou... O mesmo ocorre com as negativas, as conjun-
coenta” (cinquenta), “zuar” (zoar), “frustado” (frustrado), ções subordinativas e os advérbios: Não lhe diga nada. /
“calcáreo” (calcário), “advinhar” (adivinhar), “benvindo” Nenhum dos presentes se pronunciou. / Quando se falava
(bem-vindo), “ascenção” (ascensão), “pixar” (pichar), “im- no assunto... / Como as pessoas lhe haviam dito... / Aqui se
pecilho” (empecilho), “envólucro” (invólucro). faz, aqui se paga. / Depois o procuro.

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PORTUGUÊS

- O peixe tem muito “espinho”. Peixe tem espinha. Veja - Vocês “fariam-lhe” um favor? Não se usa pronome
outras confusões desse tipo: O “fuzil” (fusível) queimou. / átono (me, te, se, lhe, nos, vos, lhes) depois de futuro do
Casa “germinada” (geminada), “ciclo” (círculo) vicioso, “ca- presente, futuro do pretérito (antigo condicional) ou parti-
beçário” (cabeçalho). cípio. Assim: Vocês lhe fariam (ou far-lhe-iam) um favor? /
- Não sabiam “aonde” ele estava. O certo: Não sabiam Ele se imporá pelos conhecimentos (e nunca “imporá-se”).
onde ele estava. Aonde se usa com verbos de movimento, / Os amigos nos darão (e não “darão-nos”) um presente. /
apenas: Não sei aonde ele quer chegar. / Aonde vamos? Tendo-me formado (e nunca tendo “formado-me”).
- “Obrigado”, disse a moça. Obrigado concorda com a - Chegou “a” duas horas e partirá daqui “há” cinco
pessoa: “Obrigada”, disse a moça. / Obrigado pela atenção. minutos. Há indica passado e equivale a faz, enquanto a
/ Muito obrigados por tudo. exprime distância ou tempo futuro (não pode ser substi-
- O governo “interviu”. Intervir conjuga-se como vir.
tuído por faz): Chegou há (faz) duas horas e partirá daqui a
Assim: O governo interveio. Da mesma forma: intervinha,
intervim, interviemos, intervieram. Outros verbos deriva- (tempo futuro) cinco minutos. / O atirador estava a (distân-
dos: entretinha, mantivesse, reteve, pressupusesse, predis- cia) pouco menos de 12 metros. / Ele partiu há (faz) pouco
se, conviesse, perfizera, entrevimos, condisser, etc. menos de dez dias.
- Ela era “meia” louca. Meio, advérbio, não varia: meio - Blusa “em” seda. Usa-se de, e não em, para definir o
louca, meio esperta, meio amiga. material de que alguma coisa é feita: Blusa de seda, casa de
- “Fica” você comigo. Fica é imperativo do pronome alvenaria, medalha de prata, estátua de madeira.
tu. Para a 3.ª pessoa, o certo é fique: Fique você comigo. / - A artista “deu à luz a” gêmeos. A expressão é dar à luz,
Venha pra Caixa você também. / Chegue aqui. apenas: A artista deu à luz quíntuplos. Também é errado
- A questão não tem nada “haver” com você. A ques- dizer: Deu “a luz a” gêmeos.
tão, na verdade, não tem nada a ver ou nada que ver. Da - Estávamos “em” quatro à mesa. O em não existe: Es-
mesma forma: Tem tudo a ver com você. távamos quatro à mesa. / Éramos seis. / Ficamos cinco na
- A corrida custa 5 “real”. A moeda tem plural, e regular: sala.
A corrida custa 5 reais. - Sentou “na” mesa para comer. Sentar-se (ou sentar)
- Vou “emprestar” dele. Emprestar é ceder, e não tomar em é sentar-se em cima de. Veja o certo: Sentou-se à mesa
por empréstimo: Vou pegar o livro emprestado. Ou: Vou para comer. / Sentou ao piano, à máquina, ao computador.
emprestar o livro (ceder) ao meu irmão. Repare nesta con- - Ficou contente “por causa que” ninguém se feriu.
cordância: Pediu emprestadas duas malas.
Embora popular, a locução não existe. Use porque: Ficou
- Foi “taxado” de ladrão. Tachar é que significa acusar
contente porque ninguém se feriu.
de: Foi tachado de ladrão. / Foi tachado de leviano.
- Ele foi um dos que “chegou” antes. Um dos que faz a - O time empatou “em” 2 a 2. A preposição é por: O
concordância no plural: Ele foi um dos que chegaram antes time empatou por 2 a 2. Repare que ele ganha por e perde
(dos que chegaram antes, ele foi um). / Era um dos que por. Da mesma forma: empate por.
sempre vibravam com a vitória. - À medida «em» que a epidemia se espalhava... O cer-
- “Cerca de 18” pessoas o saudaram. Cerca de indica ar- to é: À medida que a epidemia se espalhava... Existe ainda
redondamento e não pode aparecer com números exatos: na medida em que (tendo em vista que): É preciso cumprir
Cerca de 20 pessoas o saudaram. as leis, na medida em que elas existem.
- Ministro nega que “é” negligente. Negar que introduz - Não queria que “receiassem” a sua companhia. O i
subjuntivo, assim como embora e talvez: Ministro nega que não existe: Não queria que receassem a sua companhia.
seja negligente. / O jogador negou que tivesse cometido Da mesma forma: passeemos, enfearam, ceaste, receeis (só
a falta. / Ele talvez o convide para a festa. / Embora tente existe i quando o acento cai no e que precede a terminação
negar, vai deixar a empresa. ear: receiem, passeias, enfeiam).
- Tinha “chego” atrasado. “Chego” não existe. O certo: - Eles “tem” razão. No plural, têm é assim, com acento.
Tinha chegado atrasado. Tem é a forma do singular. O mesmo ocorre com vem e
- Tons “pastéis” predominam. Nome de cor, quando ex- vêm e põe e põem: Ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm; ele
presso por substantivo, não varia: Tons pastel, blusas rosa, põe, eles põem.
gravatas cinza, camisas creme. No caso de adjetivo, o plural
- A moça estava ali “há” muito tempo. Haver concorda
é o normal: Ternos azuis, canetas pretas, fitas amarelas.
com estava. Portanto: A moça estava ali havia (fazia) muito
- Queria namorar “com” o colega. O com não existe:
Queria namorar o colega. tempo. / Ele doara sangue ao filho havia (fazia) poucos me-
- O processo deu entrada “junto ao” STF. Processo dá ses. / Estava sem dormir havia (fazia) três meses. (O havia
entrada no STF. Igualmente: O jogador foi contratado do se impõe quando o verbo está no imperfeito e no mais-
(e não “junto ao”) Guarani. / Cresceu muito o prestígio do que-perfeito do indicativo.)
jornal entre os (e não “junto aos”) leitores. / Era grande a - Não “se o” diz. É errado juntar o se com os pronomes
sua dívida com o (e não “junto ao”) banco. / A reclamação o, a, os e as. Assim, nunca use: Fazendo-se-os, não se o diz
foi apresentada ao (e não “junto ao”) Procon. (não se diz isso), vê-se-a, etc.
- As pessoas “esperavam-o”. Quando o verbo termina - Acordos “políticos-partidários”. Nos adjetivos com-
em m, ão ou õe, os pronomes o, a, os e as tomam a forma postos, só o último elemento varia: acordos político-par-
no, na, nos e nas: As pessoas esperavam-no. / Dão-nos, tidários. Outros exemplos: Bandeiras verde-amarelas, me-
convidam-na, põe-nos, impõem-nos. didas econômico-financeiras, partidos social-democratas.

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PORTUGUÊS

- Andou por “todo” país. Todo o (ou a) é que significa - A tese “onde”... Onde só pode ser usado para lugar: A
inteiro: Andou por todo o país (pelo país inteiro). / Toda a casa onde ele mora. / Veja o jardim onde as crianças brin-
tripulação (a tripulação inteira) foi demitida. Sem o, todo cam. Nos demais casos, use em que: A tese em que ele
quer dizer cada, qualquer: Todo homem (cada homem) é defende essa ideia. / O livro em que... / A faixa em que ele
mortal. / Toda nação (qualquer nação) tem inimigos. canta... / Na entrevista em que...
- “Todos” amigos o elogiavam. No plural, todos exige - Já “foi comunicado” da decisão. Uma decisão é co-
os: Todos os amigos o elogiavam. / Era difícil apontar todas municada, mas ninguém “é comunicado” de alguma coisa.
as contradições do texto. Assim: Já foi informado (cientificado, avisado) da decisão.
- Favoreceu “ao” time da casa. Favorecer, nesse senti- Outra forma errada: A diretoria “comunicou” os emprega-
do, rejeita a: Favoreceu o time da casa. / A decisão favore- dos da decisão. Opções corretas: A diretoria comunicou a
ceu os jogadores. decisão aos empregados. / A decisão foi comunicada aos
- Ela “mesmo” arrumou a sala. Mesmo, quanto equivale empregados.
a próprio, é variável: Ela mesma (própria) arrumou a sala. / - “Inflingiu” o regulamento. Infringir é que significa
As vítimas mesmas recorreram à polícia. transgredir: Infringiu o regulamento. Infligir (e não “inflin-
- Chamei-o e “o mesmo” não atendeu. Não se pode gir”) significa impor: Infligiu séria punição ao réu.
empregar o mesmo no lugar de pronome ou substantivo: - A modelo “pousou” o dia todo. Modelo posa (de
Chamei-o e ele não atendeu. / Os funcionários públicos re- pose). Quem pousa é ave, avião, viajante, etc. Não confun-
uniram-se hoje: amanhã o país conhecerá a decisão dos da também iminente (prestes a acontecer) com eminente
servidores (e não “dos mesmos”). (ilustre). Nem tráfico (contrabando) com tráfego (trânsito).
- Vou sair “essa” noite. É este que designa o tempo no - Espero que “viagem” hoje. Viagem, com g, é o subs-
qual se está ou objeto próximo: Esta noite, esta semana (a tantivo: Minha viagem. A forma verbal é viajem (de viajar):
semana em que se está), este dia, este jornal (o jornal que Espero que viajem hoje. Evite também “comprimentar” al-
estou lendo), este século (o século 20). guém: de cumprimento (saudação), só pode resultar cum-
- A temperatura chegou a 0 “graus”. Zero indica singu- primentar. Comprimento é extensão. Igualmente: Compri-
do (extenso) e cumprido (concretizado).
lar sempre: Zero grau, zero-quilômetro, zero hora.
- O pai “sequer” foi avisado. Sequer deve ser usado
- Comeu frango “ao invés de” peixe. Em vez de indica
com negativa: O pai nem sequer foi avisado. / Não disse
substituição: Comeu frango em vez de peixe. Ao invés de
sequer o que pretendia. / Partiu sem sequer nos avisar.
significa apenas ao contrário: Ao invés de entrar, saiu.
- Comprou uma TV “a cores”. Veja o correto: Comprou
- Se eu “ver” você por aí... O certo é: Se eu vir, revir,
uma TV em cores (não se diz TV “a” preto e branco). Da
previr. Da mesma forma: Se eu vier (de vir), convier; se eu
mesma forma: Transmissão em cores, desenho em cores.
tiver (de ter), mantiver; se ele puser (de pôr), impuser; se
- “Causou-me” estranheza as palavras. Use o certo:
ele fizer (de fazer), desfizer; se nós dissermos (de dizer),
Causaram-me estranheza as palavras. Cuidado, pois é co-
predissermos. mum o erro de concordância quando o verbo está antes do
- Ele “intermedia” a negociação. Mediar e intermediar sujeito. Veja outro exemplo: Foram iniciadas esta noite as
conjugam-se como odiar: Ele intermedeia (ou medeia) a obras (e não “foi iniciado” esta noite as obras).
negociação. Remediar, ansiar e incendiar também seguem - A realidade das pessoas “podem” mudar. Cuidado:
essa norma: Remedeiam, que eles anseiem, incendeio. palavra próxima ao verbo não deve influir na concordância.
- Ninguém se “adequa”. Não existem as formas “ade- Por isso: A realidade das pessoas pode mudar. / A troca de
qua”, “adeque”, etc., mas apenas aquelas em que o acento agressões entre os funcionários foi punida (e não “foram
cai no a ou o: adequaram, adequou, adequasse, etc. punidas”).
- Evite que a bomba “expluda”. Explodir só tem as pes- - O fato passou “desapercebido”. Na verdade, o fato
soas em que depois do “d” vêm “e” e “i”: Explode, explodi- passou despercebido, não foi notado. Desapercebido sig-
ram, etc. Portanto, não escreva nem fale “exploda” ou “ex- nifica desprevenido.
pluda”, substituindo essas formas por rebente, por exem- - “Haja visto” seu empenho... A expressão é haja vista e
plo. Precaver-se também não se conjuga em todas as pes- não varia: Haja vista seu empenho. / Haja vista seus esfor-
soas. Assim, não existem as formas “precavejo”, “precavês”, ços. / Haja vista suas críticas.
“precavém”, “precavenho”, “precavenha”, “precaveja”, etc. - A moça “que ele gosta”. Como se gosta de, o certo é:
- Governo “reavê” confiança. Equivalente: Governo re- A moça de que ele gosta. Igualmente: O dinheiro de que
cupera confiança. Reaver segue haver, mas apenas nos ca- dispõe, o filme a que assistiu (e não que assistiu), a prova
sos em que este tem a letra v: Reavemos, reouve, reaverá, de que participou, o amigo a que se referiu, etc.
reouvesse. Por isso, não existem “reavejo”, “reavê”, etc. - É hora «dele» chegar. Não se deve fazer a contração
- Disse o que “quiz”. Não existe z, mas apenas s, nas da preposição com artigo ou pronome, nos casos seguidos
pessoas de querer e pôr: Quis, quisesse, quiseram, quisés- de infinitivo: É hora de ele chegar. / Apesar de o amigo
semos; pôs, pus, pusesse, puseram, puséssemos. tê-lo convidado... / Depois de esses fatos terem ocorrido...
- O homem “possue” muitos bens. O certo: O homem - Vou “consigo”. Consigo só tem valor reflexivo (pen-
possui muitos bens. Verbos em uir só têm a terminação sou consigo mesmo) e não pode substituir com você, com
ui: Inclui, atribui, polui. Verbos em uar é que admitem ue: o senhor. Portanto: Vou com você, vou com o senhor.
Continue, recue, atue, atenue. Igualmente: Isto é para o senhor (e não “para si”).

9
PORTUGUÊS

- Já “é” 8 horas. Horas e as demais palavras que defi- Escreve-se com C ou Ç e não com S e SS os vocábulos
nem tempo variam: Já são 8 horas. / Já é (e não “são”) 1 de origem árabe: cetim, açucena, açúcar
hora, já é meio-dia, já é meia-noite. *os vocábulos de origem tupi, africana ou exótica: cipó,
- A festa começa às 8 “hrs.”. As abreviaturas do sistema Juçara, caçula, cachaça, cacique
métrico decimal não têm plural nem ponto. Assim: 8 h, 2 *os sufixos aça, aço, ação, çar, ecer, iça, nça, uça, uçu,
km (e não “kms.”), 5 m, 10 kg. uço: barcaça, ricaço, aguçar, empalidecer, carniça, caniço,
- “Dado” os índices das pesquisas... A concordância é esperança, carapuça, dentuço
normal: Dados os índices das pesquisas... / Dado o resulta- *nomes derivados do verbo ter: abster - abstenção /
do... / Dadas as suas ideias... deter - detenção / ater - atenção / reter - retenção
- Ficou “sobre” a mira do assaltante. Sob é que significa *após ditongos: foice, coice, traição
debaixo de: Ficou sob a mira do assaltante. / Escondeu-se *palavras derivadas de outras terminadas em te, to(r):
sob a cama. Sobre equivale a em cima de ou a respeito de: marte - marciano / infrator - infração / absorto - absorção
Estava sobre o telhado. / Falou sobre a inflação. E lembre-
se: O animal ou o piano têm cauda e o doce, calda. Da mes- O fonema z:
ma forma, alguém traz alguma coisa e alguém vai para trás. Escreve-se com S e não com Z:
- “Ao meu ver”. Não existe artigo nessas expressões: A *os sufixos: ês, esa, esia, e isa, quando o radical é subs-
meu ver, a seu ver, a nosso ver. tantivo, ou em gentílicos e títulos nobiliárquicos: freguês,
freguesa, freguesia, poetisa, baronesa, princesa, etc.
*os sufixos gregos: ase, ese, ise e ose: catequese, me-
ORTOGRAFIA tamorfose.
*as formas verbais pôr e querer: pôs, pus, quisera, quis,
A ortografia é a parte da língua responsável pela gra- quiseste.
fia correta das palavras. Essa grafia baseia-se no padrão *nomes derivados de verbos com radicais terminados
culto da língua. em “d”: aludir - alusão / decidir - decisão / empreender -
As palavras podem apresentar igualdade total ou par- empresa / difundir - difusão
cial no que se refere a sua grafia e pronúncia, mesmo ten- *os diminutivos cujos radicais terminam com “s”: Luís -
do significados diferentes. Essas palavras são chamadas Luisinho / Rosa - Rosinha / lápis - lapisinho
de homônimas (canto, do grego, significa ângulo / canto, *após ditongos: coisa, pausa, pouso
do latim, significa música vocal). As palavras homônimas *em verbos derivados de nomes cujo radical termina
dividem-se em homógrafas, quando têm a mesma grafia com “s”: anális(e) + ar - analisar / pesquis(a) + ar - pesquisar
(gosto, substantivo e gosto, 1ª pessoa do singular do verbo
gostar) e homófonas, quando têm o mesmo som (paço, pa- Escreve-se com Z e não com S:
lácio ou passo, movimento durante o andar). *os sufixos “ez” e “eza” das palavras derivadas de adje-
Quanto à grafia correta em língua portuguesa, devem- tivo: macio - maciez / rico - riqueza
se observar as seguintes regras: *os sufixos “izar” (desde que o radical da palavra de
origem não termine com s): final - finalizar / concreto - con-
O fonema s: cretizar
*como consoante de ligação se o radical não terminar
Escreve-se com S e não com C/Ç as palavras substan- com s: pé + inho - pezinho / café + al - cafezal ≠ lápis +
tivadas derivadas de verbos com radicais em nd, rg, rt, pel, inho - lapisinho
corr e sent: pretender - pretensão / expandir - expansão /
ascender - ascensão / inverter - inversão / aspergir aspersão O fonema j:
/ submergir - submersão / divertir - diversão / impelir - im- Escreve-se com G e não com J:
pulsivo / compelir - compulsório / repelir - repulsa / recorrer *as palavras de origem grega ou árabe: tigela, girafa,
- recurso / discorrer - discurso / sentir - sensível / consentir gesso.
- consensual *estrangeirismo, cuja letra G é originária: sargento, gim.
Escreve-se com SS e não com C e Ç os nomes deri- *as terminações: agem, igem, ugem, ege, oge (com
vados dos verbos cujos radicais terminem em gred, ced, poucas exceções): imagem, vertigem, penugem, bege, foge.
prim ou com verbos terminados por tir ou meter: agredir Observação: Exceção: pajem
- agressivo / imprimir - impressão / admitir - admissão / *as terminações: ágio, égio, ígio, ógio, ugio: sortilégio,
ceder - cessão / exceder - excesso / percutir - percussão / litígio, relógio, refúgio.
regredir - regressão / oprimir - opressão / comprometer - *os verbos terminados em ger e gir: eleger, mugir.
compromisso / submeter - submissão *depois da letra “r” com poucas exceções: emergir, sur-
*quando o prefixo termina com vogal que se junta com gir.
a palavra iniciada por “s”. Exemplos: a + simétrico - assimé- *depois da letra “a”, desde que não seja radical termi-
trico / re + surgir - ressurgir nado com j: ágil, agente.
*no pretérito imperfeito simples do subjuntivo. Exem-
plos: ficasse, falasse Escreve-se com J e não com G:
*as palavras de origem latinas: jeito, majestade, hoje.

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PORTUGUÊS

*as palavras de origem árabe, africana ou exótica: ji- Prezado Usuário


boia, manjerona. ________ de oferecer lazer e cultura aos passageiros do
*as palavras terminada com aje: aje, ultraje. metrô, ________ desta segunda-feira (25/02), ________ 17h30,
começa o Sounderground, festival internacional que presti-
O fonema ch: gia os músicos que tocam em estações do metrô.
Escreve-se com X e não com CH: Confira o dia e a estação em que os artistas se apresen-
*as palavras de origem tupi, africana ou exótica: aba- tarão e divirta-se!
caxi, muxoxo, xucro. Para que o texto atenda à norma-padrão, devem-se
*as palavras de origem inglesa (sh) e espanhola (J): preencher as lacunas, correta e respectivamente, com as
xampu, lagartixa. expressões
*depois de ditongo: frouxo, feixe. A) A fim ...a partir ... as
*depois de “en”: enxurrada, enxoval. B) A fim ...à partir ... às
Observação: Exceção: quando a palavra de origem C) A fim ...a partir ... às
não derive de outra iniciada com ch - Cheio - (enchente) D) Afim ...a partir ... às
Escreve-se com CH e não com X: E) Afim ...à partir ... as
*as palavras de origem estrangeira: chave, chumbo,
chassi, mochila, espadachim, chope, sanduíche, salsicha. 04. (TRF - 1ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO -
FCC/2011) As palavras estão corretamente grafadas na se-
As letras e e i: guinte frase:
*os ditongos nasais são escritos com “e”: mãe, põem. (A) Que eles viajem sempre é muito bom, mas não é
Com “i”, só o ditongo interno cãibra. boa a ansiedade com que enfrentam o excesso de passa-
*os verbos que apresentam infinitivo em -oar, -uar são geiros nos aeroportos.
escritos com “e”: caçoe, tumultue. Escrevemos com “i”, os (B) Comete muitos deslises, talvez por sua espontanei-
verbos com infinitivo em -air, -oer e -uir: trai, dói, possui. dade, mas nada que ponha em cheque sua reputação de
- atenção para as palavras que mudam de sentido pessoa cortês.
quando substituímos a grafia “e” pela grafia “i”: área (su- (C) Ele era rabugento e tinha ojeriza ao hábito do só-
perfície), ária (melodia) / delatar (denunciar), dilatar (expan- cio de descançar após o almoço sob a frondoza árvore do
dir) / emergir (vir à tona), imergir (mergulhar) / peão (de pátio.
estância, que anda a pé), pião (brinquedo). (D) Não sei se isso influe, mas a persistência dessa má-
goa pode estar sendo o grande impecilho na superação
Fonte: http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portu- dessa sua crise.
gues/ortografia (E) O diretor exitou ao aprovar a retenção dessa alta
quantia, mas não quiz ser taxado de conivente na conces-
Questões sobre Ortografia são de privilégios ilegítimos.

01. (TRE/AP - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2011) Entre 05.Em qual das alternativas a frase está corretamente
as frases que seguem, a única correta é: escrita?
a) Ele se esqueceu de que? A) O mindingo não depositou na cardeneta de pou-
b) Era tão ruím aquele texto, que não deu para distri- pansa.
bui-lo entre os presentes. B) O mendigo não depositou na caderneta de poupan-
c) Embora devessemos, não fomos excessivos nas crí- ça.
ticas. C) O mindigo não depozitou na cardeneta de poupans-
d) O juíz nunca negou-se a atender às reivindicações sa.
dos funcionários. D) O mendingo não depozitou na carderneta de pou-
e) Não sei por que ele mereceria minha consideração. pansa.
02. (Escrevente TJ SP – Vunesp/2013). Assinale a alter- 06.(IAMSPE/SP – ATENDENTE – [PAJEM] - CCI) – VU-
nativa cujas palavras se apresentam flexionadas de acordo NESP/2011) Assinale a alternativa em que o trecho – Mas
com a norma- -padrão. ela cresceu ... – está corretamente reescrito no plural, com o
(A) Os tabeliãos devem preparar o documento. verbo no tempo futuro.
(B) Esses cidadões tinham autorização para portar fuzis. (A) Mas elas cresceram...
(C) Para autenticar as certidãos, procure o cartório lo- (B) Mas elas cresciam...
cal. (C) Mas elas cresçam...
(D) Ao descer e subir escadas, segure-se nos corrimãos. (D) Mas elas crescem...
(E) Cuidado com os degrais, que são perigosos! (E) Mas elas crescerão...

03. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 07. (MPE/RJ – TÉCNICO ADMINISTRATIVO –


2013). Suponha-se que o cartaz a seguir seja utilizado para FUJB/2011) Assinale a alternativa em que a frase NÃO con-
informar os usuários sobre o festival Sounderground. traria a norma culta:

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PORTUGUÊS

A) Entre eu e a vida sempre houve muitos infortúnios, (D) Não sei se isso influe (influi), mas a persistência
por isso posso me queixar com razão. dessa mágoa pode estar sendo o grande impecilho (empe-
B) Sempre houveram várias formas eficazes para ultra- cilho) na superação dessa sua crise.
passarmos os infortúnios da vida. (E) O diretor exitou (hesitou) ao aprovar a retenção
C) Devemos controlar nossas emoções todas as vezes dessa alta quantia, mas não quiz (quis) ser taxado de coni-
que vermos a pobreza e a miséria fazerem parte de nossa vente na concessão de privilégios ilegítimos.
vida.
D) É difícil entender o por quê de tanto sofrimento, 5-)
principalmente daqueles que procuram viver com dignida- A) O mindingo não depositou na cardeneta de pou-
de e simplicidade. pansa. = mendigo/caderneta/poupança
E) As dificuldades por que passamos certamente nos C) O mindigo não depozitou na cardeneta de poupans-
fazem mais fortes e preparados para os infortúnios da vida. sa. = mendigo/caderneta/poupança
D) O mendingo não depozitou na carderneta de pou-
GABARITO pansa. =mendigo/depositou/caderneta/poupança

01.E 02. D 03. C 6-) Futuro do verbo “crescer”: crescerão. Teremos: mas
04. A 05. B 06. E 07. E elas crescerão...
RESOLUÇÃO 7-) Fiz as correções entre parênteses:
A) Entre eu (mim) e a vida sempre houve muitos infor-
1-) túnios, por isso posso me queixar com razão.
(A) Ele se esqueceu de que? = quê? B) Sempre houveram (houve) várias formas eficazes
(B) Era tão ruím (ruim) aquele texto, que não deu para para ultrapassarmos os infortúnios da vida.
distribui-lo (distribuí-lo) entre os presentes. C) Devemos controlar nossas emoções todas as vezes
(C) Embora devêssemos (devêssemos) , não fomos ex- que vermos (virmos) a pobreza e a miséria fazerem parte
cessivos nas críticas.
de nossa vida.
(D) O juíz (juiz) nunca (se) negou a atender às reivindi-
D) É difícil entender o por quê (o porquê) de tanto so-
cações dos funcionários.
frimento, principalmente daqueles que procuram viver com
(E) Não sei por que ele mereceria minha consideração.
dignidade e simplicidade.
E) As dificuldades por que (= pelas quais; correto) pas-
2-)
samos certamente nos fazem mais fortes e preparados
(A) Os tabeliãos devem preparar o documento. = ta-
para os infortúnios da vida.
beliães
(B) Esses cidadões tinham autorização para portar fuzis.
HÍFEN
= cidadãos
(C) Para autenticar as certidãos, procure o cartório lo-
cal. = certidões O hífen é um sinal diacrítico (que distingue) usado
(E) Cuidado com os degrais, que são perigosos = de- para ligar os elementos de palavras compostas (couve-flor,
graus ex-presidente) e para unir pronomes átonos a verbos (ofe-
receram-me; vê-lo-ei).
3-) Prezado Usuário Serve igualmente para fazer a translineação de pala-
A fim de oferecer lazer e cultura aos passageiros do me- vras, isto é, no fim de uma linha, separar uma palavra em
trô, a partir desta segunda-feira (25/02), às 17h30, começa duas partes (ca-/sa; compa-/nheiro).
o Sounderground, festival internacional que prestigia os mú-
sicos que tocam em estações do metrô. Uso do hífen que continua depois da Reforma Or-
Confira o dia e a estação em que os artistas se apresen- tográfica:
tarão e divirta-se!
A fim = indica finalidade; a partir: sempre separado; 1. Em palavras compostas por justaposição que formam
antes de horas: há crase uma unidade semântica, ou seja, nos termos que se unem
4-) Fiz a correção entre parênteses: para formam um novo significado: tio-avô, porto-alegrense,
(A) Que eles viajem sempre é muito bom, mas não é luso-brasileiro, tenente-coronel, segunda-feira, conta-gotas,
boa a ansiedade com que enfrentam o excesso de passa- guarda-chuva, arco- -íris, primeiro-ministro, azul-escuro.
geiros nos aeroportos. 2. Em palavras compostas por espécies botânicas e
(B) Comete muitos deslises (deslizes), talvez por sua zoológicas: couve-flor, bem-te-vi, bem-me-quer, abóbora-
espontaneidade, mas nada que ponha em cheque (xeque) menina, erva-doce, feijão-verde.
sua reputação de pessoa cortês. 3. Nos compostos com elementos além, aquém, recém
(C) Ele era rabugento e tinha ojeriza ao hábito do sócio e sem: além-mar, recém-nascido, sem-número, recém-casa-
de descançar (descansar) após o almoço sob a frondoza do, aquém- -fiar, etc.
(frondosa) árvore do pátio.

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PORTUGUÊS

4. No geral, as locuções não possuem hífen, mas algu- 5. Em certas palavras que, com o uso, adquiriram noção
mas exceções continuam por já estarem consagradas pelo de composição: pontapé, girassol, paraquedas, paraquedis-
uso: cor- -de-rosa, arco-da-velha, mais-que-perfeito, pé- ta, etc.
de-meia, água-de- -colônia, queima-roupa, deus-dará. 6. Em alguns compostos com o advérbio “bem”: benfei-
5. Nos encadeamentos de vocábulos, como: ponte Rio- to, benquerer, benquerido, etc.
Niterói, percurso Lisboa-Coimbra-Porto e nas combinações
históricas ou ocasionais: Áustria-Hungria, Angola-Brasil, Al- Questões sobre Hífen
sácia-Lorena, etc.
01.Assinale a alternativa em que o hífen, conforme o
6. Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e su- novo Acordo, está sendo usado corretamente:
per- quando associados com outro termo que é iniciado A) Ele fez sua auto-crítica ontem.
por r: hiper-resistente, inter-racial, super-racional, etc. B) Ela é muito mal-educada.
C) Ele tomou um belo ponta-pé.
7. Nas formações com os prefixos ex-, vice-: ex-diretor, D) Fui ao super-mercado, mas não entrei.
E) Os raios infra-vermelhos ajudam em lesões.
ex- -presidente, vice-governador, vice-prefeito.
02.Assinale a alternativa errada quanto ao emprego do
8. Nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-:
hífen:
pré-natal, pré-escolar, pró-europeu, pós-graduação, etc. A) Pelo interfone ele comunicou bem-humorado que
9. Na ênclise e mesóclise: amá-lo, deixá-lo, dá-se, abra- faria uma superalimentação.
ça-o, lança-o e amá-lo-ei, falar-lhe-ei, etc. B) Nas circunvizinhanças há uma casa malassombrada.
C) Depois de comer a sobrecoxa, tomou um antiácido.
10. Nas formações em que o prefixo tem como segun- D) Nossos antepassados realizaram vários anteproje-
do termo uma palavra iniciada por “h”: sub-hepático, ele- tos.
tro-higrómetro, geo-história, neo-helênico, extra-humano, E) O autodidata fez uma autoanálise.
semi-hospitalar, super- -homem.
03.Assinale a alternativa incorreta quanto ao emprego
11. Nas formações em que o prefixo ou pseudo prefixo do hífen, respeitando-se o novo Acordo.
termina na mesma vogal do segundo elemento: micro-on- A) O semi-analfabeto desenhou um semicírculo.
das, eletro-ótica, semi-interno, auto-observação, etc. B) O meia-direita fez um gol de sem-pulo na semifinal
do campeonato.
Obs: O hífen é suprimido quando para formar outros C) Era um sem-vergonha, pois andava seminu.
termos: reaver, inábil, desumano, lobisomem, reabilitar. D) O recém-chegado veio de além-mar.
E) O vice-reitor está em estado pós-operatório.
- Lembre-se: ao separar palavras na translineação (mu-
dança de linha), caso a última palavra a ser escrita seja for- 04.Segundo o novo Acordo, entre as palavras pão duro
mada por hífen, repita-o na próxima linha. Exemplo: escre- (avarento), copo de leite (planta) e pé de moleque (doce) o
verei anti-inflamatório e, ao final, coube apenas “anti-”. Na hífen é obrigatório:
linha debaixo escreverei: “-inflamatório” (hífen em ambas A) em nenhuma delas.
as linhas). B) na segunda palavra.
C) na terceira palavra.
Não se emprega o hífen: D) em todas as palavras.
E) na primeira e na segunda palavra.
1. Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo
termina em vogal e o segundo termo inicia-se em “r” ou
05.Fez um esforço __ para vencer o campeonato __.
“s”. Nesse caso, passa-se a duplicar estas consoantes: antir-
Qual alternativa completa corretamente as lacunas?
religioso, contrarregra, infrassom, microssistema, minissaia, A) sobreumano/interregional
microrradiografia, etc. B) sobrehumano-interregional
2. Nas constituições em que o prefixo ou pseudopre- C) sobre-humano / inter-regional
fixo termina em vogal e o segundo termo inicia-se com D) sobrehumano/ inter-regional
vogal diferente: antiaéreo, extraescolar, coeducação, autoes- E) sobre-humano /interegional
trada, autoaprendizagem, hidroelétrico, plurianual, autoes-
cola, infraestrutura, etc. 06. Suponha que você tenha que agregar o prefixo
3. Nas formações, em geral, que contêm os prefixos sub- às palavras que aparecem nas alternativas a seguir.
“dês” e “in” e o segundo elemento perdeu o h inicial: desu- Assinale aquela que tem de ser escrita com hífen:
mano, inábil, desabilitar, etc. A) (sub) chefe
4. Nas formações com o prefixo “co”, mesmo quando B) (sub) entender
o segundo elemento começar com “o”: cooperação, coo- C) (sub) solo
brigação, coordenar, coocupante, coautor, coedição, coexistir, D) (sub) reptício
etc. E) (sub) liminar

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PORTUGUÊS

07.Assinale a alternativa em que todas as palavras es- c) Não se usa o hífen em compostos que apresentam
tão grafadas corretamente: elementos de ligação.
A) autocrítica, contramestre, extra-oficial
B) infra-assinado, infra-vermelho, infra-som 5-) Fez um esforço sobre-humano para vencer o cam-
C) semi-círculo, semi-humano, semi-internato peonato inter-regional.
D) supervida, superelegante, supermoda - Usa-se o hífen diante de palavra iniciada por h.
E) sobre-saia, mini-saia, superssaia - Usa-se o hífen se o prefixo terminar com a mesma
letra com que se inicia a outra palavra
08.Assinale o item em que o uso do hífen está incor-
reto. 6-) Com os prefixos sub e sob, usa-se o hífen também
A) infraestrutura / super-homem / autoeducação diante de palavra iniciada por r. : subchefe, subentender,
B) bem-vindo / antessala /contra-regra subsolo, sub- -reptício (sem o hífen até a leitura da pala-
C) contramestre / infravermelho / autoescola vra será alterada; /subre/, ao invés de /sub re/), subliminar
D) neoescolástico / ultrassom / pseudo-herói
E) extraoficial / infra-hepático /semirreta 7-)
09.Uma das alternativas abaixo apresenta incorreção A) autocrítica, contramestre, extraoficial
quanto ao emprego do hífen. B) infra-assinado, infravermelho, infrassom
A) O pseudo-hermafrodita não tinha infraestrutura C) semicírculo, semi-humano, semi-internato
para relacionamento extraconjugal. D) supervida, superelegante, supermoda = corretas
B) Era extraoficial a notícia da vinda de um extraterre- E) sobressaia, minissaia, supersaia
8-) B) bem-vindo / antessala / contrarregra
no.
C) Ele estudou línguas neolatinas nas colônias ultrama-
9-) D) O antissemita tomou um antibiótico e vacina an-
rinas.
tirrábica.
D) O anti-semita tomou um anti-biótico e vacina an-
tirrábica. 10-) C) O contrarregra comeu um contrafilé.
E) Era um suboficial de uma superpotência.

10.Assinale a alternativa em que ocorre erro quanto ao


emprego do hífen. ACENTUAÇÃO GRÁFICA;
A) Foi iniciada a campanha pró-leite.
B) O ex-aluno fez a sua autodefesa.
C) O contrarregra comeu um contra-filé.
D) Sua vida é um verdadeiro contrassenso. A acentuação é um dos requisitos que perfazem as re-
E) O meia-direita deu início ao contra-ataque. gras estabelecidas pela Gramática Normativa. Esta se com-
põe de algumas particularidades, às quais devemos estar
GABARITO atentos, procurando estabelecer uma relação de familia-
ridade e, consequentemente, colocando-as em prática na
01. B 02. B 03. A 04. E 05. C linguagem escrita.
06. D 07. D 08. B 09. D 10. C À medida que desenvolvemos o hábito da leitura e a
prática de redigir, automaticamente aprimoramos essas
RESOLUÇÃO competências, e logo nos adequamos à forma padrão.

1-) Regras básicas – Acentuação tônica


A) autocrítica
C) pontapé A acentuação tônica implica na intensidade com que
D) supermercado são pronunciadas as sílabas das palavras. Aquela que se dá
de forma mais acentuada, conceitua-se como sílaba tônica.
E) infravermelhos
As demais, como são pronunciadas com menos intensida-
2-)B) Nas circunvizinhanças há uma casa mal-assom-
de, são denominadas de átonas.
brada.
De acordo com a tonicidade, as palavras são classifi-
cadas como:
3-) A) O semianalfabeto desenhou um semicírculo. Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre a
4-) última sílaba. Ex.: café – coração – cajá – atum – caju – papel
a) pão-duro / b) copo-de-leite (planta) / c) pé de mo- Paroxítonas – São aquelas em que a sílaba tônica recai
leque (doce) na penúltima sílaba. Ex.: útil – tórax – táxi – leque – retrato
a) Usa-se o hífen nas palavras compostas que não – passível
apresentam elementos de ligação. Proparoxítonas - São aquelas em que a sílaba tônica
b) Usa-se o hífen nos compostos que designam espé- está na antepenúltima sílaba. Ex.: lâmpada – câmara – tím-
cies animais e botânicas (nomes de plantas, flores, frutos, pano – médico – ônibus
raízes, sementes), tenham ou não elementos de ligação.

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PORTUGUÊS

Como podemos observar, os vocábulos possuem mais -- Dica da Zê!: Memorize a palavra LINURXÃO. Para
de uma sílaba, mas em nossa língua existem aqueles com quê? Repare que essa palavra apresenta as terminações
uma sílaba somente: são os chamados monossílabos que, das paroxítonas que são acentuadas: L, I N, U (aqui inclua
quando pronunciados, apresentam certa diferenciação UM = fórum), R, X, Ã, ÃO. Assim ficará mais fácil a memo-
quanto à intensidade. rização!
Tal diferenciação só é percebida quando os pronun-
ciamos em uma dada sequência de palavras. Assim como -ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou
podemos observar no exemplo a seguir: não de “s”: água – pônei – mágoa – jóquei

“Sei que não vai dar em nada, Regras especiais:


Seus segredos sei de cor”.
Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” (ditongos
Os monossílabos classificam-se como tônicos; os de- abertos), que antes eram acentuados, perderam o acento
mais, como átonos (que, em, de). de acordo com a nova regra, mas desde que estejam em
Os acentos palavras paroxítonas.
* Cuidado: Se os ditongos abertos estiverem em uma
acento agudo (´) – Colocado sobre as letras «a», «i», palavra oxítona (herói) ou monossílaba (céu) ainda são
«u» e sobre o «e» do grupo “em” - indica que estas letras acentuados. Ex.: herói, céu, dói, escarcéu.
Antes Agora
representam as vogais tônicas de palavras como Amapá,
assembléia assembleia
caí, público, parabéns. Sobre as letras “e” e “o” indica, além
idéia ideia
da tonicidade, timbre aberto.Ex.: herói – médico – céu (di-
geléia geleia
tongos abertos)
jibóia jiboia
apóia (verbo apoiar) apoia
acento circunflexo (^) – colocado sobre as letras “a”, paranóico paranoico
“e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre fechado: Ex.:
tâmara – Atlântico – pêssego – supôs Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, acom-
panhados ou não de “s”, haverá acento. Ex.: saída – faísca
acento grave (`) – indica a fusão da preposição “a” com – baú – país – Luís
artigos e pronomes. Ex.: à – às – àquelas – àqueles
Observação importante:
trema ( ¨ ) – De acordo com a nova regra, foi total- Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, formando
mente abolido das palavras. Há uma exceção: é utilizado hiato quando vierem depois de ditongo: Ex.:
em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros. Ex.: Antes Agora
mülleriano (de Müller) bocaiúva bocaiuva
feiúra feiura
til (~) – indica que as letras “a” e “o” representam vo- Sauípe Sauipe
gais nasais. Ex.: coração – melão – órgão – ímã
O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi
Regras fundamentais: abolido. Ex.:
Antes Agora
Palavras oxítonas: crêem creem
Acentuam-se todas as oxítonas terminadas em: “a”, “e”, lêem leem
“o”, “em”, seguidas ou não do plural(s): Pará – café(s) – ci- vôo voo
pó(s) – armazém(s) enjôo enjoo
Essa regra também é aplicada aos seguintes casos:
Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”, se- - Agora memorize a palavra CREDELEVÊ. São os verbos
que, no plural, dobram o “e”, mas que não recebem mais
guidos ou não de “s”. Ex.: pá – pé – dó – há
acento como antes: CRER, DAR, LER e VER.
Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos, se-
Repare:
guidas de lo, la, los, las. Ex. respeitá-lo – percebê-lo – com-
1-) O menino crê em você
pô-lo
Os meninos creem em você.
Paroxítonas: 2-) Elza lê bem!
Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em: Todas leem bem!
- i, is : táxi – lápis – júri 3-) Espero que ele dê o recado à sala.
- us, um, uns : vírus – álbuns – fórum Esperamos que os garotos deem o recado!
- l, n, r, x, ps : automóvel – elétron - cadáver – tórax – 4-) Rubens vê tudo!
fórceps Eles veem tudo!
- ã, ãs, ão, ãos : ímã – ímãs – órfão – órgãos

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PORTUGUÊS

* Cuidado! Há o verbo vir: 02. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAU-


Ele vem à tarde! LO - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2013)
Eles vêm à tarde! Assinale a alternativa com as palavras acentuadas segundo
as regras de acentuação, respectivamente, de intercâmbio
Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato quan- e antropológico.
do seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z. Ra-ul, ru (A) Distúrbio e acórdão.
-im, con-tri-bu-in-te, sa-ir, ju-iz (B) Máquina e jiló.
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se esti- (C) Alvará e Vândalo.
verem seguidas do dígrafo nh. Ex: ra-i-nha, ven-to-i-nha. (D) Consciência e características.
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vierem (E) Órgão e órfãs.
precedidas de vogal idêntica: xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba
As formas verbais que possuíam o acento tônico na 03. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ACRE –
raiz, com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de TÉCNICO EM MICROINFORMÁTICA - CESPE/2012) As pa-
“e” ou “i” não serão mais acentuadas. Ex.: lavras “conteúdo”, “calúnia” e “injúria” são acentuadas de
Antes Depois acordo com a mesma regra de acentuação gráfica.
apazigúe (apaziguar) apazigue ( ) CERTO ( ) ERRADO
averigúe (averiguar) averigue
argúi (arguir) argui 04. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS
GERAIS – OFICIAL JUDICIÁRIO – FUNDEP/2010) Assinale a
Acentuam-se os verbos pertencentes à terceira pessoa afirmativa em que se aplica a mesma regra de acentuação.
do plural de: ele tem – eles têm / ele vem – eles vêm (verbo A) tevê – pôde – vê
vir) B) únicas – histórias – saudáveis
A regra prevalece também para os verbos conter, ob- C) indivíduo – séria – noticiários
ter, reter, deter, abster. D) diário – máximo – satélite
ele contém – eles contêm
ele obtém – eles obtêm 05. (ANATEL – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CES-
ele retém – eles retêm PE/2012) Nas palavras “análise” e “mínimos”, o emprego
ele convém – eles convêm do acento gráfico tem justificativas gramaticais diferentes.
(...) CERTO ( ) ERRADO
Não se acentuam mais as palavras homógrafas que
antes eram acentuadas para diferenciá-las de outras seme- 06. (ANCINE – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CES-
lhantes (regra do acento diferencial). Apenas em algumas PE/2012) Os vocábulos “indivíduo”, “diária” e “paciência”
exceções, como: recebem acento gráfico com base na mesma regra de
A forma verbal pôde (terceira pessoa do singular do acentuação gráfica.
pretérito perfeito do modo indicativo) ainda continua sen- (...) CERTO ( ) ERRADO
do acentuada para diferenciar-se de pode (terceira pessoa
do singular do presente do indicativo). Ex: 07. (BACEN – TÉCNICO DO BANCO CENTRAL – CES-
Ela pode fazer isso agora. GRANRIO/2010) As palavras que se acentuam pelas mes-
Elvis não pôde participar porque sua mão não deixou... mas regras de “conferência”, “razoável”, “países” e “será”,
O mesmo ocorreu com o verbo pôr para diferenciar da respectivamente, são
preposição por. a) trajetória, inútil, café e baú.
- Quando, na frase, der para substituir o “por” por “co- b) exercício, balaústre, níveis e sofá.
locar”, estaremos trabalhando com um verbo, portanto: c) necessário, túnel, infindáveis e só.
“pôr”; nos outros casos, “por” preposição. Ex: d) médio, nível, raízes e você.
Faço isso por você. e) éter, hífen, propôs e saída.
Posso pôr (colocar) meus livros aqui?
08. (CORREIOS – CARTEIRO – CESPE/2011) São acen-
Questões sobre Acentuação Gráfica tuados graficamente de acordo com a mesma regra de
acentuação gráfica os vocábulos
01. (TJ/SP – AGENTE DE FISCALIZAÇÃO JUDICIÁRIA – A) também e coincidência.
VUNESP/2010) Assinale a alternativa em que as palavras B) quilômetros e tivéssemos.
são acentuadas graficamente pelos mesmos motivos que C) jogá-la e incrível.
justificam, respectivamente, as acentuações de: década, D) Escócia e nós.
relógios, suíços. E) correspondência e três.
(A) flexíveis, cartório, tênis.
(B) inferência, provável, saída. 09. (IBAMA – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CES-
(C) óbvio, após, países. PE/2012) As palavras “pó”, “só” e “céu” são acentuadas de
(D) islâmico, cenário, propôs. acordo com a mesma regra de acentuação gráfica.
(E) república, empresária, graúda. (...) CERTO ( ) ERRADO

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PORTUGUÊS

GABARITO D) diário – máximo – satélite


Diário = paroxítona terminada em ditongo; máximo =
01. E 02. D 03. E 04. C 05. E proparoxítona; satélite = proparoxítona.
06. C 07. D 08. B 09. E
5-) Análise = proparoxítona / mínimos = proparoxíto-
RESOLUÇÃO na. Ambas são acentuadas pela mesma regra (antepenúlti-
ma sílaba é tônica, “mais forte”).
1-) Década = proparoxítona / relógios = paroxítona RESPOSTA: “ERRADO”.
terminada em ditongo / suíços = regra do hiato
(A) flexíveis e cartório = paroxítonas terminadas em 6-) Indivíduo = paroxítona terminada em ditongo; diá-
ditongo / tênis = paroxítona terminada em “i” (seguida ria = paroxítona terminada em ditongo; paciência = paro-
de “s”) xítona terminada em ditongo. Os três vocábulos são acen-
(B) inferência = paroxítona terminada em ditongo / tuados devido à mesma regra.
provável = paroxítona terminada em “l” / saída = regra do RESPOSTA: “CERTO”.
hiato 7-) Vamos classificar as palavras do enunciado:
(C) óbvio = paroxítona terminada em ditongo / após 1-) Conferência = paroxítona terminada em ditongo
= oxítona terminada em “o” + “s” / países = regra do hiato 2-) razoável = paroxítona terminada em “l’
(D) islâmico = proparoxítona / cenário = paroxítona 3-) países = regra do hiato
terminada em ditongo / propôs = oxítona terminada em 4-) será = oxítona terminada em “a”
“o” + “s”
(E) república = proparoxítona / empresária = paroxíto- a) trajetória, inútil, café e baú.
na terminada em ditongo / graúda = regra do hiato Trajetória = paroxítona terminada em ditongo; inútil =
paroxítona terminada em “l’; café = oxítona terminada em “e”
2-) Para que saibamos qual alternativa assinalar, pri- b) exercício, balaústre, níveis e sofá.
meiro temos que classificar as palavras do enunciado Exercício = paroxítona terminada em ditongo; balaús-
quanto à posição de sua sílaba tônica: tre = regra do hiato; níveis = paroxítona terminada em “i +
Intercâmbio = paroxítona terminada em ditongo; An- s”; sofá = oxítona terminada em “a”.
tropológico = proparoxítona (todas são acentuadas). Ago- c) necessário, túnel, infindáveis e só.
ra, vamos à análise dos itens apresentados: Necessário = paroxítona terminada em ditongo; túnel
= paroxítona terminada em “l’; infindáveis = paroxítona
(A) Distúrbio = paroxítona terminada em ditongo;
terminada em “i + s”; só = monossílaba terminada em “o”.
acórdão = paroxítona terminada em “ão”
d) médio, nível, raízes e você.
(B) Máquina = proparoxítona; jiló = oxítona terminada
Médio = paroxítona terminada em ditongo; nível = pa-
em “o”
roxítona terminada em “l’; raízes = regra do hiato; será =
(C) Alvará = oxítona terminada em “a”; Vândalo = pro-
oxítona terminada em “a”.
paroxítona e) éter, hífen, propôs e saída.
(D) Consciência = paroxítona terminada em ditongo; Éter = paroxítona terminada em “r”; hífen = paroxítona
características = proparoxítona terminada em “n”; propôs = oxítona terminada em “o + s”;
(E) Órgão e órfãs = ambas: paroxítona terminada em saída = regra do hiato.
“ão” e “ã”, respectivamente.
8-)
3-) “Conteúdo” é acentuada seguindo a regra do hiato; A) também e coincidência.
calúnia = paroxítona terminada em ditongo; injúria = paro- Também = oxítona terminada em “e + m”; coincidência
xítona terminada em ditongo. = paroxítona terminada em ditongo
RESPOSTA: “ERRADO”. B) quilômetros e tivéssemos.
Quilômetros = proparoxítona; tivéssemos = proparo-
4-) xítona
A) tevê – pôde – vê C) jogá-la e incrível.
Tevê = oxítona terminada em “e”; pôde (pretérito per- Oxítona terminada em “a”; incrível = paroxítona termi-
feito do Indicativo) = acento diferencial (que ainda preva- nada em “l’
lece após o Novo Acordo Ortográfico) para diferenciar de D) Escócia e nós.
“pode” – presente do Indicativo; vê = monossílaba termi- Escócia = paroxítona terminada em ditongo; nós =
nada em “e” monossílaba terminada em “o + s”
B) únicas – histórias – saudáveis E) correspondência e três.
Únicas = proparoxítona; história = paroxítona termi- Correspondência = paroxítona terminada em ditongo;
nada em ditongo; saudáveis = paroxítona terminada em três = monossílaba terminada em “e + s”
ditongo.
C) indivíduo – séria – noticiários 9-) Pó = monossílaba terminada em “o”; só = monos-
Indivíduo = paroxítona terminada em ditongo; séria = sílaba terminada em “o”; céu = monossílaba terminada em
paroxítona terminada em ditongo; noticiários = paroxítona ditongo aberto “éu”.
terminada em ditongo. RESPOSTA: “ERRADO”.

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PORTUGUÊS

Ponto de Interrogação
Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
PONTUAÇÃO;
“- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Aze-
vedo)

Os sinais de pontuação são marcações gráficas que Reticências


servem para compor a coesão e a coerência textual, além 1- Indica que palavras foram suprimidas.
de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas. Ve- - Comprei lápis, canetas, cadernos...
jamos as principais funções dos sinais de pontuação co-
nhecidos pelo uso da língua portuguesa. 2- Indica interrupção violenta da frase.
“- Não... quero dizer... é verdad... Ah!”
Ponto
1- Indica o término do discurso ou de parte dele. 3- Indica interrupções de hesitação ou dúvida
- Façamos o que for preciso para tirá-la da situação em - Este mal... pega doutor?
que se encontra.
- Gostaria de comprar pão, queijo, manteiga e leite. 4- Indica que o sentido vai além do que foi dito
- Acordei. Olhei em volta. Não reconheci onde estava. - Deixa, depois, o coração falar...

2- Usa-se nas abreviações - V. Exª. - Sr. Vírgula

Ponto e Vírgula ( ; ) Não se usa vírgula


1- Separa várias partes do discurso, que têm a mesma *separando termos que, do ponto de vista sintático, li-
importância. gam-se diretamente entre si:
- “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os ricos dão pelo - entre sujeito e predicado.
pão a fazenda; os de espíritos generosos dão pelo pão a vida; Todos os alunos da sala foram advertidos.
os de nenhum espírito dão pelo pão a alma...” (VIEIRA) Sujeito predicado
2- Separa partes de frases que já estão separadas por
vírgulas. - entre o verbo e seus objetos.
- Alguns quiseram verão, praia e calor; outros, monta- O trabalho custou sacrifício aos realiza-
nhas, frio e cobertor. dores.
3- Separa itens de uma enumeração, exposição de mo- V.T.D.I. O.D. O.I.
tivos, decreto de lei, etc.
- Ir ao supermercado; Usa-se a vírgula:
- Pegar as crianças na escola; - Para marcar intercalação:
- Caminhada na praia; a) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua abun-
- Reunião com amigos. dância, vem caindo de preço.
b) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão
Dois pontos produzindo, todavia, altas quantidades de alimentos.
1- Antes de uma citação c) das expressões explicativas ou corretivas: As indús-
- Vejamos como Afrânio Coutinho trata este assunto: trias não querem abrir mão de suas vantagens, isto é, não
querem abrir mão dos lucros altos.
2- Antes de um aposto - Para marcar inversão:
- Três coisas não me agradam: chuva pela manhã, frio à a) do adjunto adverbial (colocado no início da oração):
tarde e calor à noite. Depois das sete horas, todo o comércio está de portas fe-
chadas.
3- Antes de uma explicação ou esclarecimento b) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos
- Lá estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, viven- pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma.
do a rotina de sempre. c) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de
maio de 1982.
4- Em frases de estilo direto - Para separar entre si elementos coordenados (dispos-
Maria perguntou: tos em enumeração):
- Por que você não toma uma decisão? Era um garoto de 15 anos, alto, magro.
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais.
Ponto de Exclamação
1- Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera, - Para marcar elipse (omissão) do verbo:
susto, súplica, etc. Nós queremos comer pizza; e vocês, churrasco.
- Sim! Claro que eu quero me casar com você! - Para isolar:
2- Depois de interjeições ou vocativos - o aposto: São Paulo, considerada a metrópole brasilei-
- Ai! Que susto! ra, possui um trânsito caótico.
- João! Há quanto tempo! - o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem.

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PORTUGUÊS

Fontes: 04. (BANPARÁ/PA – TÉCNICO BANCÁRIO – ESPP/2012)


http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/ Assinale a alternativa em que a pontuação está correta.
http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-virgu- a) Meu grande amigo Pedro, esteve aqui ontem!
la.htm b) Foi solicitado, pelo diretor o comprovante da tran-
sação.
Questões sobre Pontuação c) Maria, você trouxe os documentos?
d) O garoto de óculos leu, em voz alta o poema.
01. (Agente Policial – Vunesp – 2013). Assinale a alter- e) Na noite de ontem o vigia percebeu, uma movimen-
nativa em que a pontuação está corretamente empregada, tação estranha.
de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa.
(A) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, 05. (Papiloscopista Policial – Vunesp – 2013 – adap.).
embora, experimentasse, a sensação de violar uma intimi- Assinale a alternativa em que a frase mantém-se correta
dade, procurou a esmo entre as coisinhas, tentando en- após o acréscimo das vírgulas.
contrar algo que pudesse ajudar a revelar quem era a sua (A) Se a criança se perder, quem encontrá-la, verá na
dona. pulseira instruções para que envie, uma mensagem eletrô-
(B) Diante, da testemunha o homem abriu a bolsa e, nica ao grupo ou acione o código na internet.
(B) Um geolocalizador também, avisará, os pais de
embora experimentasse a sensação, de violar uma intimi-
onde o código foi acionado.
dade, procurou a esmo entre as coisinhas, tentando en-
(C) Assim que o código é digitado, familiares cadastra-
contrar algo que pudesse ajudar a revelar quem era a sua dos, recebem automaticamente, uma mensagem dizendo
dona. que a criança foi encontrada.
(C) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, (D) De fabricação chinesa, a nova pulseirinha, chega
embora experimentasse a sensação de violar uma intimida- primeiro às, areias do Guarujá.
de, procurou a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar (E) O sistema permite, ainda, cadastrar o nome e o te-
algo que pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona. lefone de quem a encontrou e informar um ponto de re-
(D) Diante da testemunha, o homem, abriu a bolsa e, ferência
embora experimentasse a sensação de violar uma intimi-
dade, procurou a esmo entre as coisinhas, tentando, en- 06. (DNIT – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – ESAF/2013)
contrar algo que pudesse ajudar a revelar quem era a sua Para que o fragmento abaixo seja coerente e gramatical-
dona. mente correto, é necessário inserir sinais de pontuação.
(E) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, Assinale a posição em que não deve ser usado o sinal de
embora, experimentasse a sensação de violar uma intimi- ponto, e sim a vírgula, para que sejam respeitadas as re-
dade, procurou a esmo entre as coisinhas, tentando, en- gras gramaticais. Desconsidere os ajustes nas letras iniciais
contrar algo que pudesse ajudar a revelar quem era a sua minúsculas.
dona. O projeto Escola de Bicicleta está distribuindo bicicletas
de bambu para 4600 alunos da rede pública de São Pau-
02. (CNJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – CESPE/2013 - ADAP- lo(A) o programa desenvolve ainda oficinas e cursos para as
TADA) Jogadores de futebol de diversos times entraram em crianças utilizarem a bicicleta de forma segura e correta(B)
campo em prol do programa “Pai Presente”, nos jogos do os alunos ajudam a traçar ciclorrotas e participam de ati-
Campeonato Nacional em apoio à campanha que visa 4 re- vidades sobre cidadania e reciclagem(C) as escolas partici-
duzir o número de pessoas que não possuem o nome do pai pantes se tornam também centros de descarte de garrafas
em sua certidão de nascimento. (...) PET(D) destinadas depois para reciclagem(E) o programa
A oração subordinada “que não possuem o nome do possibilitará o retorno das bicicletas pela saúde das crian-
ças e transformação das comunidades em lugares melhores
pai em sua certidão de nascimento” não é antecedida por
para se viver.
vírgula porque tem natureza restritiva.
(Adaptado de Vida Simples, abril de 2012, edição 117)
( ) Certo ( ) Errado
a) A
b) B
03.(BNDES – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – BN- c) C
DES/2012) Em que período a vírgula pode ser retirada, d) D
mantendo-se o sentido e a obediência à norma-padrão? e) E
(A) Quando o técnico chegou, a equipe começou o
treino. 07. (DETRAN - OFICIAL ESTADUAL DE TRÂNSITO – VU-
(B) Antônio, quer saber as últimas novidades dos es- NESP/2013) Assinale a alternativa correta quanto ao uso da
portes? pontuação.
(C) As Olimpíadas de 2016 ocorrerão no Rio, que se (A) Segundo alguns psicólogos, é possível, em certas
prepara para o evento. circunstâncias, ceder à frustração para que a raiva seja ali-
(D) Atualmente, várias áreas contribuem para o apri- viada.
moramento do desportista. (B) Dirigir pode aumentar, nosso nível de estresse, por-
(E) Eis alguns esportes que a Ciência do Esporte ajuda: que você está junto; com os outros motoristas cujos com-
judô, natação e canoagem. portamentos, são desconhecidos.

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PORTUGUÊS

(C) Os motoristas, devem saber, que os carros podem (E) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e,
ser uma extensão de nossa personalidade. embora , (X) experimentasse a sensação de violar uma in-
(D) A ira de trânsito pode ocasionar, acidentes e; au- timidade, procurou a esmo entre as coisinhas, tentando ,
mentar os níveis de estresse em alguns motoristas. (X) encontrar algo que pudesse ajudar a revelar quem era
(E) Os congestionamentos e o número de motoristas a sua dona.
na rua, são as principais causas da ira de trânsito.
2-) A oração restringe o grupo que participará da cam-
08. (ACADEMIA DE POLÍCIA DO ESTADO DE MINAS panha (apenas os que não têm o nome do pai na certidão
GERAIS – TÉCNICO ASSISTENTE DA POLÍCIA CIVIL - FU- de nascimento). Se colocarmos uma vírgula, a oração tor-
MARC/2013) “Paciência, minha filha, este é apenas um ciclo nar-se-á “explicativa”, generalizando a informação, o que
econômico e a nossa geração foi escolhida para este vexame, dará a entender que TODAS as pessoa não têm o nome do
você aí desse tamanho pedindo esmola e eu aqui sem nada pai na certidão.
para te dizer, agora afasta que abriu o sinal.” RESPOSTA: “CERTO”.
No período acima, as vírgulas foram empregadas em 3-)
“Paciência, minha filha, este é [...]”, para separar (A) Quando o técnico chegou, a equipe começou o
(A) aposto. treino. = mantê-la (termo deslocado)
(B) vocativo. (B) Antônio, quer saber as últimas novidades dos es-
(C) adjunto adverbial. portes? = mantê-la (vocativo)
(D) expressão explicativa. (C) As Olimpíadas de 2016 ocorrerão no Rio, que se
prepara para o evento.
09. (INFRAERO – CADASTRO RESERVA OPERACIONAL = mantê-la (explicação)
PROFISSIONAL DE TRÁFEGO AÉREO – FCC/2011) O perío- (D) Atualmente, várias áreas contribuem para o apri-
do corretamente pontuado é: moramento do desportista.
(A) Os filmes que, mostram a luta pela sobrevivência = pode retirá-la (advérbio de tempo)
em condições hostis nem sempre conseguem agradar, aos (E) Eis alguns esportes que a Ciência do Esporte ajuda:
espectadores. judô, natação e canoagem.
(B) Várias experiências de prisioneiros, semelhantes en- = mantê-la (enumeração)
tre si, podem ser reunidas e fazer parte de uma mesma
história ficcional.
4-) Assinalei com (X) a pontuação inadequada ou fal-
(C) A história de heroísmo e de determinação que nem
tante:
sempre, é convincente, se passa em um cenário marcado,
a) Meu grande amigo Pedro, (X) esteve aqui ontem!
pelo frio.
b) Foi solicitado, (X) pelo diretor o comprovante da
(D) Caminhar por um extenso território gelado, é correr
transação.
riscos iminentes que comprometem, a sobrevivência.
c) Maria, você trouxe os documentos?
(E) Para os fugitivos que se propunham, a alcançar a
d) O garoto de óculos leu, em voz alta (X) o poema.
liberdade, nada poderia parecer, realmente intransponível.
e) Na noite de ontem (X) o vigia percebeu, (X) uma mo-
GABARITO vimentação estranha.

01. C 02. C 03. D 04. C 05. E 5-) Assinalei com (X) onde estão as pontuações inade-
06. D 07. A 08. B 09.B quadas
(A) Se a criança se perder, quem encontrá-la , (X) verá
RESOLUÇÃO na pulseira instruções para que envie , (X) uma mensagem
eletrônica ao grupo ou acione o código na internet.
1- Assinalei com um (X) as pontuações inadequadas (B) Um geolocalizador também , (X) avisará , (X) os
(A) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, pais de onde o código foi acionado.
embora, (X) experimentasse , (X) a sensação de violar uma (C) Assim que o código é digitado, familiares cadastra-
intimidade, procurou a esmo entre as coisinhas, tentando dos , (X) recebem ( , ) automaticamente, uma mensagem
encontrar algo que pudesse ajudar a revelar quem era a dizendo que a criança foi encontrada.
sua dona. (D) De fabricação chinesa, a nova pulseirinha , (X) che-
(B) Diante , (X) da testemunha o homem abriu a bolsa ga primeiro às , (X) areias do Guarujá.
e, embora experimentasse a sensação , (X) de violar uma
intimidade, procurou a esmo entre as coisinhas, tentando 6-)
encontrar algo que pudesse ajudar a revelar quem era a O projeto Escola de Bicicleta está distribuindo bicicletas
sua dona. de bambu para 4600 alunos da rede pública de São Pau-
(D) Diante da testemunha, o homem , (X) abriu a bolsa lo(A). O programa desenvolve ainda oficinas e cursos para
e, embora experimentasse a sensação de violar uma inti- as crianças utilizarem a bicicleta de forma segura e corre-
midade, procurou a esmo entre as coisinhas, tentando , (X) ta(B). Os alunos ajudam a traçar ciclorrotas e participam de
encontrar algo que pudesse ajudar a revelar quem era a atividades sobre cidadania e reciclagem(C). As escolas parti-
sua dona. cipantes se tornam também centros de descarte de garrafas

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PORTUGUÊS

PET(D), destinadas depois para reciclagem(E). O programa Morfossintaxe do Adjetivo:


possibilitará o retorno das bicicletas pela saúde das crian-
ças e transformação das comunidades em lugares melhores O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função
para se viver. dentro de uma oração) relativas aos substantivos, atuando
A vírgula deve ser colocada após a palavra “PET”, posi- como adjunto adnominal ou como predicativo (do sujeito
ção (D), pois antecipa um termo explicativo. ou do objeto).

7-) Fiz as indicações (X) das pontuações inadequadas: Adjetivo Pátrio (ou gentílico)
(A) Segundo alguns psicólogos, é possível, em certas
circunstâncias, ceder à frustração para que a raiva seja ali- Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser. Ob-
viada. serve alguns deles:
(B) Dirigir pode aumentar, (X) nosso nível de estresse,
porque você está junto; (X) com os outros motoristas cujos Estados e cidades brasileiros:
comportamentos, (X) são desconhecidos. Alagoas alagoano
(C) Os motoristas, (X) devem saber, (X) que os carros Amapá amapaense
podem ser uma extensão de nossa personalidade. Aracaju aracajuano ou aracajuense
(D) A ira de trânsito pode ocasionar, (X) acidentes e; (X) Amazonas amazonense ou baré
aumentar os níveis de estresse em alguns motoristas. Belo Horizonte belo-horizontino
(E) Os congestionamentos e o número de motoristas Brasília brasiliense
na rua, (X) são as principais causas da ira de trânsito. Cabo Frio cabo-friense
8-) Paciência, minha filha, este é... = é o termo usado Campinas campineiro ou campinense
para se dirigir ao interlocutor, ou seja, é um vocativo.
Adjetivo Pátrio Composto
9-) Fiz as marcações (X) onde as pontuações estão ina-
Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro
dequadas ou faltantes:
elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, eru-
(A) Os filmes que,(X) mostram a luta pela sobrevivência
dita. Observe alguns exemplos:
em condições hostis nem sempre conseguem agradar, (X)
África afro- / Cultura afro-americana
aos espectadores.
Alemanha germano- ou teuto-/Competições teuto-inglesas
(B) Várias experiências de prisioneiros, semelhantes en-
América américo- / Companhia américo-africana
tre si, podem ser reunidas e fazer parte de uma mesma
Bélgica belgo- / Acampamentos belgo-franceses
história ficcional.
China sino- / Acordos sino-japoneses
(C) A história de heroísmo e de determinação (X) que Espanha hispano- / Mercado hispano-português
nem sempre, (X) é convincente, se passa em um cenário Europa euro- / Negociações euro-americanas
marcado, (X) pelo frio. França franco- ou galo- / Reuniões franco-italianas
(D) Caminhar por um extenso território gelado, (X) é Grécia greco- / Filmes greco-romanos
correr riscos iminentes (X) que comprometem, (X) a sobre- Inglaterra anglo- / Letras anglo-portuguesas
vivência. Itália ítalo- / Sociedade ítalo-portuguesa
(E) Para os fugitivos que se propunham, (X) a alcançar Japão nipo- / Associações nipo-brasileiras
a liberdade, nada poderia parecer, (X) realmente intrans- Portugal luso- / Acordos luso-brasileiros
ponível.
Flexão dos adjetivos

CLASSES GRAMATICAIS; O adjetivo varia em gênero, número e grau.


Gênero dos Adjetivos

Os adjetivos concordam com o substantivo a que se


Adjetivo referem (masculino e feminino). De forma semelhante aos
substantivos, classificam-se em:
Adjetivo é a palavra que expressa uma qualidade ou Biformes - têm duas formas, sendo uma para o mas-
característica do ser e se relaciona com o substantivo. culino e outra para o feminino. Por exemplo: ativo e ativa,
Ao analisarmos a palavra bondoso, por exemplo, per- mau e má, judeu e judia.
cebemos que, além de expressar uma qualidade, ela pode Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no fe-
ser colocada ao lado de um substantivo: homem bondoso, minino somente o último elemento. Por exemplo: o moço
moça bondosa, pessoa bondosa. norte-americano, a moça norte-americana.
Já com a palavra bondade, embora expresse uma qua- Exceção: surdo-mudo e surda-muda.
lidade, não acontece o mesmo; não faz sentido dizer: ho-
mem bondade, moça bondade, pessoa bondade. Bondade, Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino
portanto, não é adjetivo, mas substantivo. como para o feminino. Por exemplo: homem feliz e mulher
feliz.

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PORTUGUÊS

Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no Comparativo


feminino. Por exemplo: conflito político-social e desavença
político-social. Nesse grau, comparam-se a mesma característica atri-
buída a dois ou mais seres ou duas ou mais característi-
Número dos Adjetivos cas atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser de
igualdade, de superioridade ou de inferioridade. Observe
Plural dos adjetivos simples os exemplos abaixo:
Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade
Os adjetivos simples flexionam-se no plural de acordo No comparativo de igualdade, o segundo termo da
com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos comparação é introduzido pelas palavras como, quanto ou
substantivos simples. Por exemplo: mau e maus, feliz e feli- quão.
zes, ruim e ruins boa e boas
Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de Supe-
Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça rioridade Analítico
função de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a palavra No comparativo de superioridade analítico, entre os
que estiver qualificando um elemento for, originalmente, dois substantivos comparados, um tem qualidade supe-
um substantivo, ela manterá sua forma primitiva. Exemplo: rior. A forma é analítica porque pedimos auxílio a “mais...do
a palavra cinza é originalmente um substantivo; porém, se que” ou “mais...que”.
estiver qualificando um elemento, funcionará como adje-
tivo. Ficará, então, invariável. Logo: camisas cinza, ternos O Sol é maior (do) que a Terra. = Comparativo de Supe-
cinza. rioridade Sintético
Veja outros exemplos:
Motos vinho (mas: motos verdes) Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de su-
Paredes musgo (mas: paredes brancas). perioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. São eles:
Comícios monstro (mas: comícios grandiosos). bom /melhor, pequeno/menor, mau/pior, alto/superior,
grande/maior, baixo/inferior.
Adjetivo Composto Observe que:
a) As formas menor e pior são comparativos de supe-
É aquele formado por dois ou mais elementos. Nor- rioridade, pois equivalem a mais pequeno e mais mau, res-
malmente, esses elementos são ligados por hífen. Apenas pectivamente.
o último elemento concorda com o substantivo a que se b) Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas
(melhor, pior, maior e menor), porém, em comparações fei-
refere; os demais ficam na forma masculina, singular. Caso
tas entre duas qualidades de um mesmo elemento, deve-
um dos elementos que formam o adjetivo composto seja
se usar as formas analíticas mais bom, mais mau,mais gran-
um substantivo adjetivado, todo o adjetivo composto fica-
de e mais pequeno. Por exemplo:
rá invariável. Por exemplo: a palavra rosa é originalmente
Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois ele-
um substantivo, porém, se estiver qualificando um elemen-
mentos.
to, funcionará como adjetivo. Caso se ligue a outra pala-
Pedro é mais grande que pequeno - comparação de
vra por hífen, formará um adjetivo composto; como é um
duas qualidades de um mesmo elemento.
substantivo adjetivado, o adjetivo composto inteiro ficará
invariável. Por exemplo: Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de In-
Camisas rosa-claro. ferioridade
Ternos rosa-claro. Sou menos passivo (do) que tolerante.
Olhos verde-claros.
Calças azul-escuras e camisas verde-mar. Superlativo
Telhados marrom-café e paredes verde-claras.
Obs.: - Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qual- O superlativo expressa qualidades num grau muito ele-
quer adjetivo composto iniciado por cor-de-... são sempre vado ou em grau máximo. O grau superlativo pode ser ab-
invariáveis. soluto ou relativo e apresenta as seguintes modalidades:
- Os adjetivos compostos surdo-mudo e pele-vermelha
têm os dois elementos flexionados. Superlativo Absoluto: ocorre quando a qualidade
de um ser é intensificada, sem relação com outros seres.
Grau do Adjetivo Apresenta-se nas formas:

Os adjetivos flexionam-se em grau para indicar a inten- Analítica: a intensificação se faz com o auxílio de pa-
sidade da qualidade do ser. São dois os graus do adjetivo: lavras que dão ideia de intensidade (advérbios). Por exem-
o comparativo e o superlativo. plo: O secretário é muito inteligente.
Sintética: a intensificação se faz por meio do acrésci-
mo de sufixos. Por exemplo: O secretário é inteligentíssimo.

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PORTUGUÊS

Observe alguns superlativos sintéticos: ele pode estar demarcado por mais de uma palavra, que
benéfico beneficentíssimo mesmo assim não deixará de ocupar tal função. Temos
bom boníssimo ou ótimo aí o que chamamos de locução adverbial, representada
comum comuníssimo por algumas expressões, tais como: às vezes, sem dúvida,
cruel crudelíssimo frente a frente, de modo algum, entre outras.
difícil dificílimo Dependendo das circunstâncias expressas pelos ad-
doce dulcíssimo vérbios, eles se classificam em distintas categorias, uma
fácil facílimo vez expressas por:
fiel fidelíssimo
de modo: Bem, mal, assim, depressa, devagar, às
Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade de pressas, às claras, às cegas, à toa, à vontade, às escondi-
um ser é intensificada em relação a um conjunto de seres. das, aos poucos, desse jeito, desse modo, dessa maneira,
Essa relação pode ser: em geral, frente a frente, lado a lado, a pé, de cor, em
vão, e a maior parte dos que terminam em -”mente”: cal-
De Superioridade: Clara é a mais bela da sala. mamente, tristemente, propositadamente, pacientemente,
amorosamente, docemente, escandalosamente, bondosa-
De Inferioridade: Clara é a menos bela da sala. mente, generosamente

de intensidade: Muito, demais, pouco, tão, menos, em


Note bem:
excesso, bastante, pouco, mais, menos, demasiado, quan-
1) O superlativo absoluto analítico é expresso por meio
to, quão, tanto, que(equivale a quão), tudo, nada, todo,
dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente,
quase, de todo, de muito, por completo.
etc., antepostos ao adjetivo.
2) O superlativo absoluto sintético apresenta-se sob de tempo: Hoje, logo, primeiro, ontem, tarde outrora,
duas formas : uma erudita, de origem latina, outra popular, amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes,
de origem vernácula. A forma erudita é constituída pelo doravante, nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já,
radical do adjetivo latino + um dos sufixos -íssimo, -imo enfim, afinal, breve, constantemente, entrementes, ime-
ou érrimo. Por exemplo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo. A diatamente, primeiramente, provisoriamente, sucessiva-
forma popular é constituída do radical do adjetivo portu- mente, às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente,
guês + o sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo. de vez em quando, de quando em quando, a qualquer
3) Em vez dos superlativos normais seriíssimo, preca- momento, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia
riíssimo, necessariíssimo, preferem-se, na linguagem atual,
as formas seríssimo, precaríssimo, necessaríssimo, sem o de lugar: Aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá,
desagradável hiato i-í. atrás, além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí,
abaixo, aonde, longe, debaixo, algures, defronte, nenhu-
Advérbio res, adentro, afora, alhures, nenhures, aquém, embaixo, ex-
ternamente, a distância, à distancia de, de longe, de perto,
O advérbio, assim como muitas outras palavras exis- em cima, à direita, à esquerda, ao lado, em volta
tentes na Língua Portuguesa, advém de outras línguas.
Assim sendo, tal qual o adjetivo, o prefixo “ad-” indica de negação : Não, nem, nunca, jamais, de modo algum,
a ideia de proximidade, contiguidade. Essa proximidade de forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum
faz referência ao processo verbal, no sentido de caracte- de dúvida: Acaso, porventura, possivelmente, provavel-
rizá-lo, ou seja, indicando as circunstâncias em que esse mente, quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe
processo se desenvolve.
O advérbio relaciona-se aos verbos da língua, no de afirmação: Sim, certamente, realmente, decerto, efe-
sentido de caracterizar os processos expressos por ele. tivamente, certo, decididamente, realmente, deveras, indubi-
tavelmente (=sem dúvida).
Contudo, ele não é modificador exclusivo desta classe
(verbos), pois também modifica o adjetivo e até outro
de exclusão: Apenas, exclusivamente, salvo, senão, so-
advérbio. Seguem alguns exemplos: mente, simplesmente, só, unicamente
Para quem se diz distantemente alheio a esse assunto,
você está até bem informado. de inclusão: Ainda, até, mesmo, inclusivamente, também
Temos o advérbio “distantemente” que modifica o
adjetivo alheio, representando uma qualidade, caracte- de ordem: Depois, primeiramente, ultimamente
rística.
de designação: Eis
O artista canta muito mal.
Nesse caso, o advérbio de intensidade “muito” mo- de interrogação: onde? (lugar), como? (modo), quan-
difica outro advérbio de modo – “mal”. Em ambos os do? (tempo), por quê? (causa), quanto? (preço e intensidade),
exemplos pudemos verificar que se tratava de somente para quê? (finalidade)
uma palavra funcionando como advérbio. No entanto,

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PORTUGUÊS

Locução adverbial Constatemos as circunstância


os em que os artigos se manifestam:
É reunião de duas ou mais palavras com valor de advér-
bio. Exemplo: - Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do
Carlos saiu às pressas. (indicando modo) numeral “ambos”: Ambos os garotos decidiram participar
Maria saiu à tarde. (indicando tempo) das olimpíadas.

Há locuções adverbiais que possuem advérbios corres- - Nomes próprios indicativos de lugar admitem o uso
pondentes. Exemplo: Carlos saiu às pressas. = Carlos saiu do artigo, outros não: São Paulo, O Rio de Janeiro, Veneza,
apressadamente. A Bahia...
Apenas os advérbios de intensidade, de lugar e de - Quando indicado no singular, o artigo definido pode
modo são flexionados, sendo que os demais são todos in- indicar toda uma espécie: O trabalho dignifica o homem.
variáveis. A única flexão propriamente dita que existe na
categoria dos advérbios é a de grau: - No caso de nomes próprios personativos, denotando
a ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso
Superlativo: aumenta a intensidade. Exemplos: longe do artigo: O Pedro é o xodó da família.
- longíssimo, pouco - pouquíssimo, inconstitucionalmente -
inconstitucionalissimamente, etc.; - No caso de os nomes próprios personativos estarem
no plural, são determinados pelo uso do artigo: Os Maias,
Diminutivo: diminui a intensidade. Exemplos: perto - os Incas, Os Astecas...
pertinho, pouco - pouquinho, devagar - devagarinho.
- Usa-se o artigo depois do pronome indefinido todo(a)
Artigo para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele (o
artigo), o pronome assume a noção de qualquer.
Artigo é a palavra que, vindo antes de um substantivo, Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda)
indica se ele está sendo empregado de maneira definida ou Toda classe possui alunos interessados e desinteressados.
indefinida. Além disso, o artigo indica, ao mesmo tempo, o (qualquer classe)
gênero e o número dos substantivos.
- Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é fa-
Classificação dos Artigos cultativo:
Adoro o meu vestido longo. Adoro meu vestido longo.
Artigos Definidos: determinam os substantivos de ma-
neira precisa: o, a, os, as. Por exemplo: Eu matei o animal. - A utilização do artigo indefinido pode indicar uma
ideia de aproximação numérica: O máximo que ele deve ter
Artigos Indefinidos: determinam os substantivos de é uns vinte anos.
maneira vaga: um, uma, uns, umas. Por exemplo: Eu matei
um animal. - O artigo também é usado para substantivar palavras
oriundas de outras classes gramaticais: Não sei o porquê de
Combinação dos Artigos tudo isso.
- Nunca deve ser usado artigo depois do pronome re-
É muito presente a combinação dos artigos definidos lativo cujo (e flexões).
e indefinidos com preposições. Veja a forma assumida por Este é o homem cujo amigo desapareceu.
essas combinações: Este é o autor cuja obra conheço.
- Não se deve usar artigo antes das palavras casa ( no
Preposições Artigos sentido de lar, moradia) e terra ( no sentido de chão firme),
o, os a menos que venham especificadas.
a ao, aos Eles estavam em casa.
de do, dos Eles estavam na casa dos amigos.
em no, nos Os marinheiros permaneceram em terra.
por (per) pelo, pelos Os marinheiros permanecem na terra dos anões.
a, as um, uns uma, umas
à, às - - - Não se emprega artigo antes dos pronomes de trata-
da, das dum, duns duma, dumas mento, com exceção de senhor(a), senhorita e dona: Vossa
na, nas num, nuns numa, numas excelência resolverá os problemas de Sua Senhoria.
pela, pelas - -
- Não se une com preposição o artigo que faz parte do
- As formas à e às indicam a fusão da preposição a com nome de revistas, jornais, obras literárias: Li a notícia em O
o artigo definido a. Essa fusão de vogais idênticas é conhe- Estado de S. Paulo.
cida por crase.

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PORTUGUÊS

Morfossintaxe Principais conjunções alternativas: Ou...ou, ora...ora,


quer...quer, já...já.
Para definir o que é artigo é preciso mencionar suas
relações com o substantivo. Assim, nas orações da língua - CONCLUSIVAS: Servem para dar conclusões às ora-
portuguesa, o artigo exerce a função de adjunto adnominal ções. Ex. Estudei muito, por isso mereço passar.
do substantivo a que se refere. Tal função independe da Principais conjunções conclusivas: logo, por isso, pois
função exercida pelo substantivo: (depois do verbo), portanto, por conseguinte, assim.
A existência é uma poesia.
Uma existência é a poesia. - EXPLICATIVAS: Explicam, dão um motivo ou razão. Ex.
É melhor colocar o casaco porque está fazendo muito frio lá
Conjunção fora.
Principais conjunções explicativas: que, porque, pois (an-
Conjunção é a palavra invariável que liga duas orações tes do verbo), porquanto.
ou dois termos semelhantes de uma mesma oração. Por
exemplo: Conjunções subordinativas
A menina segurou a boneca e mostrou quando viu as
amiguinhas. - CAUSAIS
Principais conjunções causais: porque, visto que, já que,
Deste exemplo podem ser retiradas três informações: uma vez que, como (= porque).
1-) segurou a boneca 2-) a menina mostrou 3-) viu as Ele não fez o trabalho porque não tem livro.
amiguinhas
- COMPARATIVAS
Cada informação está estruturada em torno de um verbo: Principais conjunções comparativas: que, do que, tão...
segurou, mostrou, viu. Assim, há nessa frase três orações: como, mais...do que, menos...do que.
Ela fala mais que um papagaio.
1ª oração: A menina segurou a boneca 2ª oração: e
mostrou 3ª oração: quando viu as amiguinhas.
- CONCESSIVAS
A segunda oração liga-se à primeira por meio do “e”, e
Principais conjunções concessivas: embora, ainda que,
a terceira oração liga-se à segunda por meio do “quando”.
mesmo que, apesar de, se bem que.
As palavras “e” e “quando” ligam, portanto, orações.
Indicam uma concessão, admitem uma contradição, um
fato inesperado. Traz em si uma ideia de “apesar de”.
Observe: Gosto de natação e de futebol.
Embora estivesse cansada, fui ao shopping. (= apesar de
Nessa frase as expressões de natação, de futebol são
estar cansada)
partes ou termos de uma mesma oração. Logo, a palavra
Apesar de ter chovido fui ao cinema.
“e” está ligando termos de uma mesma oração.
Morfossintaxe da Conjunção - CONFORMATIVAS
Principais conjunções conformativas: como, segundo,
As conjunções, a exemplo das preposições, não exer- conforme, consoante
cem propriamente uma função sintática: são conectivos. Cada um colhe conforme semeia.
Classificação Expressam uma ideia de acordo, concordância, confor-
- Conjunções Coordenativas midade.
- Conjunções Subordinativas
- CONSECUTIVAS
Conjunções coordenativas Expressam uma ideia de consequência.
Principais conjunções consecutivas: que (após “tal”,
Dividem-se em: “tanto”, “tão”, “tamanho”).
Falou tanto que ficou rouco.
- ADITIVAS: expressam a ideia de adição, soma. Ex. Gos-
to de cantar e de dançar. - FINAIS
Principais conjunções aditivas: e, nem, não só...mas tam- Expressam ideia de finalidade, objetivo.
bém, não só...como também. Todos trabalham para que possam sobreviver.
Principais conjunções finais: para que, a fim de que, por-
- ADVERSATIVAS: Expressam ideias contrárias, de opo- que (=para que),
sição, de compensação. Ex. Estudei, mas não entendi nada.
Principais conjunções adversativas: mas, porém, contu- - PROPORCIONAIS
do, todavia, no entanto, entretanto. Principais conjunções proporcionais: à medida que,
quanto mais, ao passo que, à proporção que.
- ALTERNATIVAS: Expressam ideia de alternância. À medida que as horas passavam, mais sono ele tinha.
Ou você sai do telefone ou eu vendo o aparelho.

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PORTUGUÊS

- TEMPORAIS A interjeição é um recurso da linguagem afetiva, em


Principais conjunções temporais: quando, enquanto, que não há uma ideia organizada de maneira lógica, como
logo que. são as sentenças da língua, mas sim a manifestação de um
Quando eu sair, vou passar na locadora. suspiro, um estado da alma decorrente de uma situação
particular, um momento ou um contexto específico. Exem-
Diferença entre orações causais e explicativas plos:
Ah, como eu queria voltar a ser criança!
Quando estudamos Orações Subordinadas Adverbiais ah: expressão de um estado emotivo = interjeição
(OSA) e Coordenadas Sindéticas (CS), geralmente nos de- Hum! Esse pudim estava maravilhoso!
paramos com a dúvida de como distinguir uma oração hum: expressão de um pensamento súbito = interjeição
causal de uma explicativa. Veja os exemplos: O significado das interjeições está vinculado à maneira
1º) Na frase “Não atravesse a rua, porque você pode ser como elas são proferidas. Desse modo, o tom da fala é que
atropelado”: dita o sentido que a expressão vai adquirir em cada contex-
a) Temos uma CS Explicativa, que indica uma justificati- to de enunciação. Exemplos:
va ou uma explicação do fato expresso na oração anterior. Psiu! = contexto: alguém pronunciando essa expres-
b) As orações são coordenadas e, por isso, independen- são na rua; significado da interjeição (sugestão): “Estou te
tes uma da outra. Neste caso, há uma pausa entre as ora- chamando! Ei, espere!”
ções que vêm marcadas por vírgula. Psiu! = contexto: alguém pronunciando essa expressão
Não atravesse a rua. Você pode ser atropelado. em um hospital; significado da interjeição (sugestão): “Por
Outra dica é, quando a oração que antecede a OC (Ora- favor, faça silêncio!”
ção Coordenada) vier com verbo no modo imperativo, ela Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio!
será explicativa. puxa: interjeição; tom da fala: euforia
Façam silêncio, que estou falando. (façam= verbo im- Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte!
perativo) puxa: interjeição; tom da fala: decepção
2º) Na frase “Precisavam enterrar os mortos em outra ci- As interjeições cumprem, normalmente, duas funções:
dade porque não havia cemitério no local.”
a) Temos uma OSA Causal, já que a oração subordina- 1) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo alegria,
da (parte destacada) mostra a causa da ação expressa pelo tristeza, dor, etc.
verbo da oração principal. Outra forma de reconhecê-la é Você faz o que no Brasil?
colocá-la no início do período, introduzida pela conjunção Eu? Eu negocio com madeiras.
como - o que não ocorre com a CS Explicativa. Ah, deve ser muito interessante.
Como não havia cemitério no local, precisavam enterrar
os mortos em outra cidade. 2) Sintetizar uma frase apelativa
b) As orações são subordinadas e, por isso, totalmente Cuidado! Saia da minha frente.
dependentes uma da outra. As interjeições podem ser formadas por:
Interjeição - simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô.
- palavras: Oba!, Olá!, Claro!
Interjeição é a palavra invariável que exprime emoções, - grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu Deus!,
sensações, estados de espírito, ou que procura agir sobre Ora bolas!
o interlocutor, levando-o a adotar certo comportamento A ideia expressa pela interjeição depende muitas ve-
sem que, para isso, seja necessário fazer uso de estruturas zes da entonação com que é pronunciada; por isso, pode
linguísticas mais elaboradas. Observe o exemplo: ocorrer que uma interjeição tenha mais de um sentido. Por
Droga! Preste atenção quando eu estou falando! exemplo:
No exemplo acima, o interlocutor está muito bravo. Oh! Que surpresa desagradável! (ideia de contra-
Toda sua raiva se traduz numa palavra: Droga! Ele poderia riedade)
ter dito: - Estou com muita raiva de você! Mas usou sim- Oh! Que bom te encontrar. (ideia de alegria)
plesmente uma palavra. Ele empregou a interjeição Droga!
As sentenças da língua costumam se organizar de for- Classificação das Interjeições
ma lógica: há uma sintaxe que estrutura seus elementos e
os distribui em posições adequadas a cada um deles. As in- Comumente, as interjeições expressam sentido de:
terjeições, por outro lado, são uma espécie de “palavra-fra- - Advertência: Cuidado!, Devagar!, Calma!, Sentido!,
se”, ou seja, há uma ideia expressa por uma palavra (ou um Atenção!, Olha!, Alerta!
conjunto de palavras - locução interjetiva) que poderia ser - Afugentamento: Fora!, Passa!, Rua!, Xô!
colocada em termos de uma sentença. Veja os exemplos: - Alegria ou Satisfação: Oh!, Ah!,Eh!, Oba!, Viva!
Bravo! Bis! - Alívio: Arre!, Uf!, Ufa! Ah!
bravo e bis: interjeição = sentença (sugestão): “Foi mui- - Animação ou Estímulo: Vamos!, Força!, Coragem!,
to bom! Repitam!” Eia!, Ânimo!, Adiante!, Firme!, Toca!
Ai! Ai! Ai! Machuquei meu pé... ai: interjeição = senten- - Aplauso ou Aprovação: Bravo!, Bis!, Apoiado!, Viva!,
ça (sugestão): “Isso está doendo!” ou “Estou com dor!” Boa!

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PORTUGUÊS

- Concordância: Claro!, Sim!, Pois não!, Tá!, Hã-hã! “Ó natureza! ó mãe piedosa e pura!” (Olavo Bilac)
- Repulsa ou Desaprovação: Credo!, Irra!, Ih!, Livra!, Oh! a jornada negra!” (Olavo Bilac)
Safa!, Fora!, Abaixo!, Francamente!, Xi!, Chega!, Basta!, - Na linguagem afetiva, certas interjeições, originadas
Ora! de palavras de outras classes, podem aparecer flexionadas
- Desejo ou Intenção: Oh!, Pudera!, Tomara!, Oxalá! no diminutivo ou no superlativo: Calminha! Adeusinho!
- Desculpa: Perdão! Obrigadinho!
- Dor ou Tristeza: Ai!, Ui!, Ai de mim!, Que pena!, Ah!,
Oh!, Eh! Interjeições, leitura e produção de textos
- Dúvida ou Incredulidade: Qual!, Qual o quê!, Hum!,
Epa!, Ora! Usadas com muita frequência na língua falada informal,
- Espanto ou Admiração: Oh!, Ah!, Uai!, Puxa!, Céus!, quando empregadas na língua escrita, as interjeições cos-
Quê!, Caramba!, Opa!, Virgem!, Vixe!, Nossa!, Hem?!, tumam conferir-lhe certo tom inconfundível de coloquiali-
Hein?, Cruz!, Putz! dade. Além disso, elas podem muitas vezes indicar traços
- Impaciência ou Contrariedade: Hum!, Hem!, Irra!, pessoais do falante - como a escassez de vocabulário, o
temperamento agressivo ou dócil, até mesmo a origem
Raios!, Diabo!, Puxa!, Pô!, Ora!
geográfica. É nos textos narrativos - particularmente nos
- Pedido de Auxílio: Socorro!, Aqui!, Piedade!
diálogos - que comumente se faz uso das interjeições com
- Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve!, Viva!,
o objetivo de caracterizar personagens e, também, graças à
Adeus!, Olá!, Alô!, Ei!, Tchau!, Ô, Ó, Psiu!, Socorro!, Valha- sua natureza sintética, agilizar as falas. Natureza sintética e
me, Deus! conteúdo mais emocional do que racional fazem das inter-
- Silêncio: Psiu!, Bico!, Silêncio! jeições presença constante nos textos publicitários.
- Terror ou Medo: Credo!, Cruzes!, Uh!, Ui!, Oh!
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
Saiba que: As interjeições são palavras invariáveis, isto morf89.php
é, não sofrem variação em gênero, número e grau como
os nomes, nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto Numeral
e voz como os verbos. No entanto, em uso específico, al-
gumas interjeições sofrem variação em grau. Deve-se ter Numeral é a palavra que indica os seres em termos nu-
claro, neste caso, que não se trata de um processo natural méricos, isto é, que atribui quantidade aos seres ou os situa
dessa classe de palavra, mas tão só uma variação que a em determinada sequência.
linguagem afetiva permite. Exemplos: oizinho, bravíssimo, Os quatro últimos ingressos foram vendidos há pouco.
até loguinho. [quatro: numeral = atributo numérico de “ingresso”]
Locução Interjetiva Eu quero café duplo, e você?
...[duplo: numeral = atributo numérico de “café”]
Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma ex- A primeira pessoa da fila pode entrar, por favor!
pressão com sentido de interjeição. Por exemplo : Ora bo- ...[primeira: numeral = situa o ser “pessoa” na sequência
las! Quem me dera! Virgem Maria! Meu Deus! Ó de “fila”]
de casa! Ai de mim! Valha-me Deus! Graças a Deus! Note bem: os numerais traduzem, em palavras, o que
Alto lá! Muito bem! os números indicam em relação aos seres. Assim, quando
Observações: a expressão é colocada em números (1, 1°, 1/3, etc.) não se
- As interjeições são como frases resumidas, sintéticas. trata de numerais, mas sim de algarismos.
Por exemplo: Ué! = Eu não esperava por essa!, Perdão! = Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem a
ideia expressa pelos números, existem mais algumas pala-
Peço-lhe que me desculpe.
vras consideradas numerais porque denotam quantidade,
- Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é o
proporção ou ordenação. São alguns exemplos: década, dú-
seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras classes
zia, par, ambos(as), novena.
gramaticais podem aparecer como interjeições.
Viva! Basta! (Verbos) Classificação dos Numerais
Fora! Francamente! (Advérbios)
- A interjeição pode ser considerada uma “palavra-fra- Cardinais: indicam contagem, medida. É o número bá-
se” porque sozinha pode constituir uma mensagem. Ex.: sico: um, dois, cem mil, etc.
Socorro!, Ajudem-me!, Silêncio!, Fique quieto!
Ordinais: indicam a ordem ou lugar do ser numa série
- Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imitati- dada: primeiro, segundo, centésimo, etc.
vas, que exprimem ruídos e vozes. Ex.: Pum! Miau! Bumba!
Zás! Plaft! Pof! Catapimba! Tique-taque! Quá-quá-quá!, etc. Fracionários: indicam parte de um inteiro, ou seja, a di-
visão dos seres: meio, terço, dois quintos, etc.
- Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” com
a sua homônima “oh!”, que exprime admiração, alegria, Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação dos
tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois do” oh!” exclamativo seres, indicando quantas vezes a quantidade foi aumenta-
e não a fazemos depois do “ó” vocativo. da: dobro, triplo, quíntuplo, etc.

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PORTUGUÊS

Leitura dos Numerais

Separando os números em centenas, de trás para frente, obtêm-se conjuntos numéricos, em forma de centenas e, no
início, também de dezenas ou unidades. Entre esses conjuntos usa-se vírgula; as unidades ligam-se pela conjunção “e”.
1.203.726 = um milhão, duzentos e três mil, setecentos e vinte e seis.
45.520 = quarenta e cinco mil, quinhentos e vinte.

Flexão dos numerais

Os numerais cardinais que variam em gênero são um/uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/duzentas
em diante: trezentos/trezentas; quatrocentos/quatrocentas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão, variam em número:
milhões, bilhões, trilhões. Os demais cardinais são invariáveis.

Os numerais ordinais variam em gênero e número:


primeiro segundo milésimo
primeira segunda milésima
primeiros segundos milésimos
primeiras segundas milésimas

Os numerais multiplicativos são invariáveis quando atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do esforço e con-
seguiram o triplo de produção.

Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses triplas do
medicamento.
Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/duas terças
partes
Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros.
É comum na linguagem coloquial a indicação de grau nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização de senti-
do. É o que ocorre em frases como:
“Me empresta duzentinho...”
É artigo de primeiríssima qualidade!
O time está arriscado por ter caído na segundona. (= segunda divisão de futebol)

Emprego dos Numerais

*Para designar papas, reis, imperadores, séculos e partes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até décimo
e a partir daí os cardinais, desde que o numeral venha depois do substantivo:

Ordinais Cardinais
João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)
*Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:

Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)


Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)

*Ambos/ambas são considerados numerais. Significam “um e outro”, “os dois” (ou “uma e outra”, “as duas”) e são lar-
gamente empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez referência.
Pedro e João parecem ter finalmente percebido a importância da solidariedade. Ambos agora participam das atividades
comunitárias de seu bairro.

Obs.: a forma “ambos os dois” é considerada enfática. Atualmente, seu uso indica afetação, artificialismo.

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PORTUGUÊS

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


um primeiro - -
dois segundo dobro, duplo meio
três terceiro triplo, tríplice terço
quatro quarto quádruplo quarto
cinco quinto quíntuplo quinto
seis sexto sêxtuplo sexto
sete sétimo sétuplo sétimo
oito oitavo óctuplo oitavo
nove nono nônuplo nono
dez décimo décuplo décimo
onze décimo primeiro - onze avos
doze décimo segundo - doze avos
treze décimo terceiro - treze avos
catorze décimo quarto - catorze avos
quinze décimo quinto - quinze avos
dezesseis décimo sexto - dezesseis avos
dezessete décimo sétimo - dezessete avos
dezoito décimo oitavo - dezoito avos
dezenove décimo nono - dezenove avos
vinte vigésimo - vinte avos
trinta trigésimo - trinta avos
quarenta quadragésimo - quarenta avos
cinqüenta quinquagésimo - cinquenta avos
sessenta sexagésimo - sessenta avos
setenta septuagésimo - setenta avos
oitenta octogésimo - oitenta avos
noventa nonagésimo - noventa avos
cem centésimo cêntuplo centésimo
duzentos ducentésimo - ducentésimo
trezentos trecentésimo - trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo
quinhentos quingentésimo - quingentésimo
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo
setecentos septingentésimo - septingentésimo
oitocentos octingentésimo - octingentésimo
novecentos nongentésimo ou noningentésimo - nongentésimo
mil milésimo - milésimo
milhão milionésimo - milionésimo
bilhão bilionésimo - bilionésimo

Preposição

Preposição é uma palavra invariável que serve para ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece, normal-
mente há uma subordinação do segundo termo em relação ao primeiro. As preposições são muito importantes na estrutura
da língua, pois estabelecem a coesão textual e possuem valores semânticos indispensáveis para a compreensão do texto.

Tipos de Preposição

1. Preposições essenciais: palavras que atuam exclusivamente como preposições: a, ante, perante, após, até, com, contra,
de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com.

2. Preposições acidentais: palavras de outras classes gramaticais que podem atuar como preposições: como, durante,
exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, visto.

3. Locuções prepositivas: duas ou mais palavras valendo como uma preposição, sendo que a última palavra é uma delas:
abaixo de, acerca de, acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, em cima de, embaixo de, em frente a, ao redor de,
graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por cima de, por trás de.

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PORTUGUÊS

A preposição, como já foi dito, é invariável. No entanto Dicas sobre preposição


pode unir-se a outras palavras e assim estabelecer concor-
dância em gênero ou em número. Ex: por + o = pelo por 1. O “a” pode funcionar como preposição, pronome
+ a = pela. pessoal oblíquo e artigo. Como distingui-los? Caso o “a”
Vale ressaltar que essa concordância não é caracterís- seja um artigo, virá precedendo um substantivo. Ele servirá
tica da preposição, mas das palavras às quais ela se une. para determiná-lo como um substantivo singular e femi-
Esse processo de junção de uma preposição com outra nino.
palavra pode se dar a partir de dois processos: A dona da casa não quis nos atender.
Como posso fazer a Joana concordar comigo?
1. Combinação: A preposição não sofre alteração. - Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois
preposição a + artigos definidos o, os termos e estabelece relação de subordinação entre eles.
a + o = ao Cheguei a sua casa ontem pela manhã.
preposição a + advérbio onde Não queria, mas vou ter que ir à outra cidade para pro-
a + onde = aonde curar um tratamento adequado.
2. Contração: Quando a preposição sofre alteração.
- Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o
Preposição + Artigos
lugar e/ou a função de um substantivo.
De + o(s) = do(s)
Temos Maria como parte da família. / Nós a temos como
De + a(s) = da(s)
parte da família
De + um = dum
Creio que conhecemos nossa mãe melhor que ninguém. /
De + uns = duns
De + uma = duma Creio que a conhecemos melhor que ninguém.
De + umas = dumas
Em + o(s) = no(s) 2. Algumas relações semânticas estabelecidas por meio
Em + a(s) = na(s) das preposições:
Em + um = num Destino = Irei para casa.
Em + uma = numa Modo = Chegou em casa aos gritos.
Em + uns = nuns Lugar = Vou ficar em casa;
Em + umas = numas Assunto = Escrevi um artigo sobre adolescência.
A + à(s) = à(s) Tempo = A prova vai começar em dois minutos.
Por + o = pelo(s) Causa = Ela faleceu de derrame cerebral.
Por + a = pela(s) Fim ou finalidade = Vou ao médico para começar o tra-
Preposição + Pronomes tamento.
De + ele(s) = dele(s) Instrumento = Escreveu a lápis.
De + ela(s) = dela(s) Posse = Não posso doar as roupas da mamãe.
De + este(s) = deste(s) Autoria = Esse livro de Machado de Assis é muito bom.
De + esta(s) = desta(s) Companhia = Estarei com ele amanhã.
De + esse(s) = desse(s) Matéria = Farei um cartão de papel reciclado.
De + essa(s) = dessa(s) Meio = Nós vamos fazer um passeio de barco.
De + aquele(s) = daquele(s) Origem = Nós somos do Nordeste, e você?
De + aquela(s) = daquela(s) Conteúdo = Quebrei dois frascos de perfume.
De + isto = disto Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso.
De + isso = disso Preço = Essa roupa sai por R$ 50 à vista.
De + aquilo = daquilo Fonte:
De + aqui = daqui
http://www.infoescola.com/portugues/preposicao/
De + aí = daí
De + ali = dali
Pronome
De + outro = doutro(s)
De + outra = doutra(s)
Em + este(s) = neste(s) Pronome é a palavra que se usa em lugar do nome, ou
Em + esta(s) = nesta(s) a ele se refere, ou que acompanha o nome, qualificando-o
Em + esse(s) = nesse(s) de alguma forma.
Em + aquele(s) = naquele(s)
Em + aquela(s) = naquela(s) A moça era mesmo bonita. Ela morava nos meus sonhos!
Em + isto = nisto [substituição do nome]
Em + isso = nisso
Em + aquilo = naquilo A moça que morava nos meus sonhos era mesmo bonita!
A + aquele(s) = àquele(s) [referência ao nome]
A + aquela(s) = àquela(s) Essa moça morava nos meus sonhos!
A + aquilo = àquilo [qualificação do nome]

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PORTUGUÊS

Grande parte dos pronomes não possuem significados Os pronomes retos apresentam flexão de número, gêne-
fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação dentro ro (apenas na 3ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a prin-
de um contexto, o qual nos permite recuperar a referên- cipal flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso. Dessa
cia exata daquilo que está sendo colocado por meio dos forma, o quadro dos pronomes retos é assim configurado:
pronomes no ato da comunicação. Com exceção dos pro- - 1ª pessoa do singular: eu
nomes interrogativos e indefinidos, os demais pronomes - 2ª pessoa do singular: tu
têm por função principal apontar para as pessoas do dis- - 3ª pessoa do singular: ele, ela
curso ou a elas se relacionar, indicando-lhes sua situação - 1ª pessoa do plural: nós
no tempo ou no espaço. Em virtude dessa característica, - 2ª pessoa do plural: vós
os pronomes apresentam uma forma específica para cada - 3ª pessoa do plural: eles, elas
pessoa do discurso.
Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada. Atenção: esses pronomes não costumam ser usados
[minha/eu: pronomes de 1ª pessoa = aquele que fala] como complementos verbais na língua-padrão. Frases como
“Vi ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram eu até
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada? aqui”, comuns na língua oral cotidiana, devem ser evitadas
[tua/tu: pronomes de 2ª pessoa = aquele a quem se na língua formal escrita ou falada. Na língua formal, devem
fala] ser usados os pronomes oblíquos correspondentes: “Vi-o na
rua”, “Encontrei-a na praça”, “Trouxeram-me até aqui”.
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada.
[dela/ela: pronomes de 3ª pessoa = aquele de quem Obs.: frequentemente observamos a omissão do prono-
se fala] me reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as pró-
prias formas verbais marcam, através de suas desinências,
as pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto: Fizemos
Em termos morfológicos, os pronomes são palavras boa viagem. (Nós)
variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em núme-
ro (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência Pronome Oblíquo
através do pronome seja coerente em termos de gênero
e número (fenômeno da concordância) com o seu objeto, Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sen-
mesmo quando este se apresenta ausente no enunciado. tença, exerce a função de complemento verbal (objeto dire-
to ou indireto) ou complemento nominal.
Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da nos-
Ofertaram-nos flores. (objeto indireto)
sa escola neste ano.
Obs.: em verdade, o pronome oblíquo é uma forma va-
[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância
riante do pronome pessoal do caso reto. Essa variação indica
adequada]
a função diversa que eles desempenham na oração: prono-
[neste: pronome que determina “ano” = concordância
me reto marca o sujeito da oração; pronome oblíquo marca
adequada]
o complemento da oração.
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = concor-
Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com
dância inadequada]
a acentuação tônica que possuem, podendo ser átonos ou
tônicos.
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos,
demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos. Pronome Oblíquo Átono
São chamados átonos os pronomes oblíquos que não
Pronomes Pessoais são precedidos de preposição. Possuem acentuação tônica
fraca: Ele me deu um presente.
São aqueles que substituem os substantivos, indicando O quadro dos pronomes oblíquos átonos é assim con-
diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve figurado:
assume os pronomes “eu” ou “nós”, usa os pronomes “tu”, - 1ª pessoa do singular (eu): me
“vós”, “você” ou “vocês” para designar a quem se dirige e - 2ª pessoa do singular (tu): te
“ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer referência à pessoa - 3ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
ou às pessoas de quem fala. - 1ª pessoa do plural (nós): nos
Os pronomes pessoais variam de acordo com as fun- - 2ª pessoa do plural (vós): vos
ções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto - 3ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes
ou do caso oblíquo.
Observações:
Pronome Reto O “lhe” é o único pronome oblíquo átono que já se apre-
senta na forma contraída, ou seja, houve a união entre o
Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sen- pronome “o” ou “a” e preposição “a” ou “para”. Por acompa-
tença, exerce a função de sujeito ou predicativo do sujeito. nhar diretamente uma preposição, o pronome “lhe” exerce
Nós lhe ofertamos flores. sempre a função de objeto indireto na oração.

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PORTUGUÊS

Os pronomes me, te, nos e vos podem tanto ser objetos Atenção: Há construções em que a preposição, apesar
diretos como objetos indiretos. de surgir anteposta a um pronome, serve para introduzir
Os pronomes o, a, os e as atuam exclusivamente como uma oração cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos, o
objetos diretos. verbo pode ter sujeito expresso; se esse sujeito for um pro-
Os pronomes me, te, lhe, nos, vos e lhes podem combi- nome, deverá ser do caso reto.
nar-se com os pronomes o, os, a, as, dando origem a formas Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
como mo, mos , ma, mas; to, tos, ta, tas; lho, lhos, lha, lhas; Não vá sem eu mandar.
no-lo, no-los, no-la, no-las, vo-lo, vo-los, vo-la, vo-las. Obser-
ve o uso dessas formas nos exemplos que seguem: - A combinação da preposição “com” e alguns prono-
- Trouxeste o pacote? mes originou as formas especiais comigo, contigo, consigo,
- Sim, entreguei-to ainda há pouco. conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos fre-
- Não contaram a novidade a vocês? quentemente exercem a função de adjunto adverbial de
- Não, no-la contaram. companhia.
No português do Brasil, essas combinações não são Ele carregava o documento consigo.
usadas; até mesmo na língua literária atual, seu emprego - As formas “conosco” e “convosco” são substituídas
é muito raro. por “com nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais
são reforçados por palavras como outros, mesmos, próprios,
Atenção: Os pronomes o, os, a, as assumem formas todos, ambos ou algum numeral.
especiais depois de certas terminações verbais. Quando o Você terá de viajar com nós todos.
verbo termina em -z, -s ou -r, o pronome assume a forma Estávamos com vós outros quando chegaram as más no-
lo, los, la ou las, ao mesmo tempo que a terminação verbal tícias.
é suprimida. Por exemplo: Ele disse que iria com nós três.
fiz + o = fi-lo
fazeis + o = fazei-lo Pronome Reflexivo
dizer + a = dizê-la
São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcio-
Quando o verbo termina em som nasal, o pronome as- nem como objetos direto ou indireto, referem-se ao sujeito
sume as formas no, nos, na, nas. Por exemplo: da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação
viram + o: viram-no expressa pelo verbo.
repõe + os = repõe-nos O quadro dos pronomes reflexivos é assim configurado:
retém + a: retém-na
- 1ª pessoa do singular (eu): me, mim.
tem + as = tem-nas
Eu não me vanglorio disso.
Pronome Oblíquo Tônico
Olhei para mim no espelho e não gostei do que vi.
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos
- 2ª pessoa do singular (tu): te, ti.
por preposições, em geral as preposições a, para, de e com.
Assim tu te prejudicas.
Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função de
Conhece a ti mesmo.
objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica forte.
O quadro dos pronomes oblíquos tônicos é assim con-
figurado: - 3ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo.
- 1ª pessoa do singular (eu): mim, comigo Guilherme já se preparou.
- 2ª pessoa do singular (tu): ti, contigo Ela deu a si um presente.
- 3ª pessoa do singular (ele, ela): ele, ela Antônio conversou consigo mesmo.
- 1ª pessoa do plural (nós): nós, conosco - 1ª pessoa do plural (nós): nos.
- 2ª pessoa do plural (vós): vós, convosco Lavamo-nos no rio.
- 3ª pessoa do plural (eles, elas): eles, elas
- 2ª pessoa do plural (vós): vos.
Observe que as únicas formas próprias do pronome tô- Vós vos beneficiastes com a esta conquista.
nico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As - 3ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo.
demais repetem a forma do pronome pessoal do caso reto. Eles se conheceram.
Elas deram a si um dia de folga.
- As preposições essenciais introduzem sempre pro-
nomes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do A Segunda Pessoa Indireta
caso reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o uso
da língua formal, os pronomes costumam ser usados des- A chamada segunda pessoa indireta manifesta-se
ta forma: quando utilizamos pronomes que, apesar de indicarem
Não há mais nada entre mim e ti. nosso interlocutor (portanto, a segunda pessoa), utilizam
Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela. o verbo na terceira pessoa. É o caso dos chamados prono-
Não há nenhuma acusação contra mim. mes de tratamento, que podem ser observados no quadro
Não vá sem mim. seguinte:

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PORTUGUÊS

Pronomes de Tratamento

Vossa Alteza V. A. príncipes, duques


Vossa Eminência V. Ema.(s) cardeais
Vossa Reverendíssima V. Revma.(s) sacerdotes e bispos
Vossa Excelência V. Ex.ª (s) altas autoridades e oficiais-generais
Vossa Magnificência V. Mag.ª (s) reitores de universidades
Vossa Majestade V. M. reis e rainhas
Vossa Majestade Imperial V. M. I. Imperadores
Vossa Santidade V. S. Papa
Vossa Senhoria V. S.ª (s) tratamento cerimonioso
Vossa Onipotência V. O. Deus

Também são pronomes de tratamento o senhor, a senhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empregados no
tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tratamento familiar. Você e vocês são largamente empregados no português
do Brasil; em algumas regiões, a forma tu é de uso frequente; em outras, pouco empregada. Já a forma vós tem uso restrito
à linguagem litúrgica, ultraformal ou literária.

Observações:
a) Vossa Excelência X Sua Excelência : os pronomes de tratamento que possuem “Vossa (s)” são empregados em relação
à pessoa com quem falamos: Espero que V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este encontro.

*Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito da pessoa.
Todos os membros da C.P.I. afirmaram que Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, agiu com propriedade.

- Os pronomes de tratamento representam uma forma indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao tratar-
mos um deputado por Vossa Excelência, por exemplo, estamos nos endereçando à excelência que esse deputado suposta-
mente tem para poder ocupar o cargo que ocupa.
- 3ª pessoa: embora os pronomes de tratamento dirijam-se à 2ª pessoa, toda a concordância deve ser feita com a 3ª
pessoa. Assim, os verbos, os pronomes possessivos e os pronomes oblíquos empregados em relação a eles devem ficar na
3ª pessoa.
Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas promessas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos.

- Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos ou nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, ao longo do
texto, a pessoa do tratamento escolhida inicialmente. Assim, por exemplo, se começamos a chamar alguém de “você”, não
poderemos usar “te” ou “teu”. O uso correto exigirá, ainda, verbo na terceira pessoa.
Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos teus cabelos. (errado)
Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos seus cabelos. (correto)
Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos teus cabelos. (correto)

Pronomes Possessivos

São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical (possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo (coisa pos-
suída).
Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1ª pessoa do singular)

NÚMERO PESSOA PRONOME


singular primeira meu(s), minha(s)
singular segunda teu(s), tua(s)
singular terceira seu(s), sua(s)
plural primeira nosso(s), nossa(s)
plural segunda vosso(s), vossa(s)
plural terceira seu(s), sua(s)

Note que: A forma do possessivo depende da pessoa gramatical a que se refere; o gênero e o número concordam com
o objeto possuído: Ele trouxe seu apoio e sua contribuição naquele momento difícil.

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PORTUGUÊS

Observações: No tempo:
Este ano está sendo bom para nós. O pronome este se
1 - A forma “seu” não é um possessivo quando resultar refere ao ano presente.
da alteração fonética da palavra senhor: Muito obrigado, Esse ano que passou foi razoável. O pronome esse se
seu José. refere a um passado próximo.
Aquele ano foi terrível para todos. O pronome aquele
2 - Os pronomes possessivos nem sempre indicam pos- está se referindo a um passado distante.
se. Podem ter outros empregos, como:
a) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha. - Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou
invariáveis, observe:
b) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40 Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aque-
anos. la(s).
Invariáveis: isto, isso, aquilo.
c) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem lá
seus defeitos, mas eu gosto muito dela. - Também aparecem como pronomes demonstrativos:
- o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e
3- Em frases onde se usam pronomes de tratamento, puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo.
o pronome possessivo fica na 3ª pessoa: Vossa Excelência Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.)
trouxe sua mensagem? Essa rua não é a que te indiquei. (Esta rua não é aquela
que te indiquei.)
4- Referindo-se a mais de um substantivo, o possessi- - mesmo(s), mesma(s): Estas são as mesmas pessoas que
vo concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus livros e o procuraram ontem.
anotações. - próprio(s), própria(s): Os próprios alunos resolveram
o problema.
5- Em algumas construções, os pronomes pessoais oblí- - semelhante(s): Não compre semelhante livro.
quos átonos assumem valor de possessivo: Vou seguir-lhe - tal, tais: Tal era a solução para o problema.
os passos. (= Vou seguir seus passos.)
Note que:
Pronomes Demonstrativos
- Não raro os demonstrativos aparecem na frase, em
Os pronomes demonstrativos são utilizados para expli-
construções redundantes, com finalidade expressiva, para
citar a posição de uma certa palavra em relação a outras
salientar algum termo anterior. Por exemplo: Manuela,
ou ao contexto. Essa relação pode ocorrer em termos de
essa é que dera em cheio casando com o José Afonso. Des-
espaço, no tempo ou discurso.
frutar das belezas brasileiras, isso é que é sorte!
No espaço:
- O pronome demonstrativo neutro ou pode represen-
Compro este carro (aqui). O pronome este indica que o
carro está perto da pessoa que fala. tar um termo ou o conteúdo de uma oração inteira, caso
Compro esse carro (aí). O pronome esse indica que o em que aparece, geralmente, como objeto direto, predi-
carro está perto da pessoa com quem falo, ou afastado da cativo ou aposto: O casamento seria um desastre. Todos o
pessoa que fala. pressentiam.
Compro aquele carro (lá). O pronome aquele diz que - Para evitar a repetição de um verbo anteriormente
o carro está afastado da pessoa que fala e daquela com expresso, é comum empregar-se, em tais casos, o verbo
quem falo. fazer, chamado, então, verbo vicário (= que substitui, que
faz as vezes de): Ninguém teve coragem de falar antes que
Atenção: em situações de fala direta (tanto ao vivo ela o fizesse.
quanto por meio de correspondência, que é uma moda- - Em frases como a seguinte, este se refere à pessoa
lidade escrita de fala), são particularmente importantes o mencionada em último lugar; aquele, à mencionada em
este e o esse - o primeiro localiza os seres em relação ao primeiro lugar: O referido deputado e o Dr. Alcides eram
emissor; o segundo, em relação ao destinatário. Trocá-los amigos íntimos; aquele casado, solteiro este. [ou então: este
pode causar ambiguidade. solteiro, aquele casado]
Dirijo-me a essa universidade com o objetivo de solicitar
informações sobre o concurso vestibular. (trata-se da univer- - O pronome demonstrativo tal pode ter conotação
sidade destinatária). irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor?
Reafirmamos a disposição desta universidade em partici- - Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em
par no próximo Encontro de Jovens. (trata-se da universida- com pronome demonstrativo: àquele, àquela, deste, desta,
de que envia a mensagem). disso, nisso, no, etc: Não acreditei no que estava vendo. (no
= naquilo)

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PORTUGUÊS

Pronomes Indefinidos negativo; todo/tudo, que indicam uma totalidade afirmati-


va, e nenhum/nada, que indicam uma totalidade negativa;
São palavras que se referem à terceira pessoa do dis- alguém/ninguém, que se referem à pessoa, e algo/nada,
curso, dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando que se referem à coisa; certo, que particulariza, e qualquer,
quantidade indeterminada. que generaliza.
Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém Essas oposições de sentido são muito importantes na
-plantadas. construção de frases e textos coerentes, pois delas muitas
vezes dependem a solidez e a consistência dos argumen-
Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pessoa tos expostos. Observe nas frases seguintes a força que os
de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma
pronomes indefinidos destacados imprimem às afirmações
imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser hu-
de que fazem parte:
mano que seguramente existe, mas cuja identidade é des-
conhecida ou não se quer revelar. Classificam-se em: Nada do que tem sido feito produziu qualquer resultado
- Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o lu- prático.
gar do ser ou da quantidade aproximada de seres na frase. Czrávamos no exterior.
São eles: algo, alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, nin- - Podem ser utilizadas como pronomes relativos as pa-
guém, outrem, quem, tudo. lavras:
Algo o incomoda? - como (= pelo qual): Não me parece correto o modo
Quem avisa amigo é. como você agiu semana passada.
- quando (= em que): Bons eram os tempos quando po-
- Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um ser díamos jogar videogame.
expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quantidade - Os pronomes relativos permitem reunir duas orações
aproximada. São eles: cada, certo(s), certa(s). numa só frase.
Cada povo tem seus costumes. O futebol é um esporte.
Certas pessoas exercem várias profissões. O povo gosta muito deste esporte.
O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.
Note que: Ora são pronomes indefinidos substantivos,
ora pronomes indefinidos adjetivos: - Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode
algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos),
ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de
demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns,
gente que conversava, (que) ria, (que) fumava.
nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer,
quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s),
tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias. Pronomes Interrogativos
Menos palavras e mais ações.
Alguns se contentam pouco. São usados na formulação de perguntas, sejam elas di-
Os pronomes indefinidos podem ser divididos em va- retas ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos,
riáveis e invariáveis. Observe: referem- -se à 3ª pessoa do discurso de modo
impreciso. São pronomes interrogativos: que, quem, qual
Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vário, (e variações), quanto (e variações).
tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, muita, pouca, Quem fez o almoço?/ Diga-me quem fez o almoço.
vária, tanta, outra, quanta, qualquer, quaisquer, alguns, ne- Qual das bonecas preferes? / Não sei qual das bonecas
nhuns, todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros, quantos, preferes.
algumas, nenhumas, todas, muitas, poucas, várias, tantas, Quantos passageiros desembarcaram? / Pergunte quan-
outras, quantas. tos passageiros desembarcaram.
Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada,
algo, cada. Sobre os pronomes:
São locuções pronominais indefinidas:
O pronome pessoal é do caso reto quando tem função
cada qual, cada um, qualquer um, quantos quer (que), de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo
quem quer (que), seja quem for, seja qual for, todo aquele quando desempenha função de complemento. Vamos en-
(que), tal qual (= certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, tender, primeiramente, como o pronome pessoal surge na
uma ou outra, etc. frase e que função exerce. Observe as orações:
Cada um escolheu o vinho desejado. 1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar.
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia
Indefinidos Sistemáticos lhe ajudar.
Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele”
Ao observar atentamente os pronomes indefinidos, per- exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso
cebemos que existem alguns grupos que criam oposição reto. Já na segunda oração, observamos o pronome “lhe”
de sentido. É o caso de: algum/alguém/algo, que têm sen- exercendo função de complemento, e, consequentemente,
tido afirmativo, e nenhum/ninguém/nada, que têm sentido é do caso oblíquo.

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PORTUGUÊS

Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso, Ênclise


o pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para
a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não sabia se A ênclise é empregada depois do verbo. A norma culta
devia ajudar.... Ajudar quem? Você (lhe). não aceita orações iniciadas com pronomes oblíquos áto-
nos. A ênclise vai acontecer quando:
Importante: Em observação à segunda oração, o em- - O verbo estiver no imperativo afirmativo:
prego do pronome oblíquo “lhe” é justificado antes do ver- Amem-se uns aos outros.
bo intransitivo “ajudar” porque o pronome oblíquo pode Sigam-me e não terão derrotas.
estar antes, depois ou entre locução verbal, caso o verbo - O verbo iniciar a oração:
principal (no caso “ajudar”) esteja no infinitivo ou gerúndio. Diga-lhe que está tudo bem.
Eu desejo lhe perguntar algo. Chamaram-me para ser sócio.
Eu estou perguntando-lhe algo.
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou - O verbo estiver no infinitivo impessoal regido da pre-
tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição, posição “a”:
diferentemente dos segundos que são sempre precedidos Naquele instante os dois passaram a odiar-se.
de preposição. Passaram a cumprimentar-se mutuamente.
- Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que eu
estava fazendo. - O verbo estiver no gerúndio:
- Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim o Não quis saber o que aconteceu, fazendo-se de despreo-
que eu estava fazendo. cupada.
Despediu-se, beijando-me a face.
Colocação Pronominal
- Houver vírgula ou pausa antes do verbo:
A colocação pronominal é a posição que os pronomes Se passar no concurso em outra cidade, mudo-me no
pessoais oblíquos átonos ocupam na frase em relação ao mesmo instante.
verbo a que se referem. São pronomes oblíquos átonos: Se não tiver outro jeito, alisto-me nas forças armadas.
me, te, se, o, os, a, as, lhe, lhes, nos e vos.
O pronome oblíquo átono pode assumir três posições
Mesóclise
na oração em relação ao verbo:
1. próclise: pronome antes do verbo
A mesóclise acontece quando o verbo está flexionado
2. ênclise: pronome depois do verbo
no futuro do presente ou no futuro do pretérito:
3. mesóclise: pronome no meio do verbo
A prova realizar-se-á neste domingo pela manhã. (= ela
se realizará)
Próclise
Far-lhe-ei uma proposta irrecusável. (= eu farei uma
A próclise é aplicada antes do verbo quando temos: proposta a você)
- Palavras com sentido negativo:
Nada me faz querer sair dessa cama. Questões sobre Pronome
Não se trata de nenhuma novidade.
- Advérbios: 01. (Escrevente TJ SP – Vunesp/2012).
Nesta casa se fala alemão. Restam dúvidas sobre o crescimento verde. Primeiro, não
Naquele dia me falaram que a professora não veio. está claro até onde pode realmente chegar uma política ba-
seada em melhorar a eficiência sem preços adequados para
- Pronomes relativos: o carbono, a água e (na maioria dos países pobres) a terra.
A aluna que me mostrou a tarefa não veio hoje. É verdade que mesmo que a ameaça dos preços do carbono
Não vou deixar de estudar os conteúdos que me falaram. e da água faça em si diferença, as companhias não podem
suportar ter de pagar, de repente, digamos, 40 dólares por
- Pronomes indefinidos: tonelada de carbono, sem qualquer preparação. Portanto,
Quem me disse isso? elas começam a usar preços-sombra. Ainda assim, ninguém
Todos se comoveram durante o discurso de despedida. encontrou até agora uma maneira de quantificar adequada-
mente os insumos básicos. E sem eles a maioria das políticas
- Pronomes demonstrativos: de crescimento verde sempre será a segunda opção.
Isso me deixa muito feliz! (Carta Capital, 27.06.2012. Adaptado)
Aquilo me incentivou a mudar de atitude! Os pronomes “elas” e “eles”, em destaque no texto, re-
- Preposição seguida de gerúndio: ferem- -se, respectivamente, a
Em se tratando de qualidade, o Brasil Escola é o site mais (A) dúvidas e preços.
indicado à pesquisa escolar. (B) dúvidas e insumos básicos.
(C) companhias e insumos básicos.
- Conjunção subordinativa: (D) companhias e preços do carbono e da água.
Vamos estabelecer critérios, conforme lhe avisaram. (E) políticas de crescimento e preços adequados.

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PORTUGUÊS

02. (Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013- Assinale a alternativa que preenche as lacunas, correta
adap.). Fazendo-se as alterações necessárias, o trecho gri- e respectivamente, considerando a norma culta da língua.
fado está corretamente substituído por um pronome em: A) a que … acaba … à
A) ...sei tratar tipos como o senhor. − sei tratá-lo B) com que … acabam … à
B) ...erguendo os braços desalentado... − erguendo- C) de que … acabam … a
lhes desalentado D) em que … acaba … a
C) ...que tem de conhecer as leis do país? − que tem de E) dos quais … acaba … à
conhecê-lo?
D) ...não parecia ser um importante industrial... − não 08. (Agente de Apoio Socioeducativo – VUNESP – 2013-
parecia ser-lhe adap.). Assinale a alternativa que substitui, correta e res-
E) incomodaram o general... − incomodaram-no pectivamente, as lacunas do trecho.
______alguns anos, num programa de televisão, uma jo-
03.(Agente de Defensoria Pública – FCC – 2013-adap.). vem fazia referência______ violência______ o brasileiro estava
A substituição do elemento grifado pelo pronome cor- sujeito de forma cômica.
respondente, com os necessários ajustes, foi realizada de A) Fazem... a ... de que
modo INCORRETO em: B) Faz ...a ... que
A) mostrando o rio= mostrando-o. C) Fazem ...à ... com que
B) como escolher sítio= como escolhê-lo. D) Faz ...à ... que
C) transpor [...] as matas espessas= transpor-lhes. E) Faz ...à ... a que
D) Às estreitas veredas[...] nada acrescentariam = nada
lhes acrescentariam. 09. (TRF 3ª região- Técnico Judiciário - /2014)
E) viu uma dessas marcas= viu uma delas. As sereias então devoravam impiedosamente os tripu-
lantes.
04. (Papiloscopista Policial – Vunesp – 2013). Assinale a ... ele conseguiu impedir a tripulação de perder a cabe-
alternativa em que o pronome destacado está posicionado ça...
de acordo com a norma-padrão da língua. ... e fez de tudo para convencer os tripulantes...
(A) Ela não lembrava-se do caminho de volta. Fazendo-se as alterações necessárias, os segmentos
(B) A menina tinha distanciado-se muito da família.
grifados acima foram corretamente substituídos por um
(C) A garota disse que perdeu-se dos pais.
pronome, na ordem dada, em:
(D) O pai alegrou-se ao encontrar a filha.
(A) devoravam-nos − impedi-la − convencê-los
(E) Ninguém comprometeu-se a ajudar a criança.
(B) devoravam-lhe − impedi-las − convencer-lhes
(C) devoravam-no − impedi-las − convencer-lhes
05. (Escrevente TJ SP – Vunesp 2011). Assinale a alterna-
(D) devoravam-nos − impedir-lhe − convencê-los
tiva cujo emprego do pronome está em conformidade com
(E) devoravam-lhes − impedi-la − convencê-los
a norma padrão da língua.
(A) Não autorizam-nos a ler os comentários sigilosos.
(B) Nos falaram que a diplomacia americana está aba- 10. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013-
lada. adap.). No trecho, – Em ambos os casos, as câmeras dos
(C) Ninguém o informou sobre o caso WikiLeaks. estabelecimentos felizmente comprovam os acontecimen-
(D) Conformado, se rendeu às punições. tos, e testemunhas vão ajudar a polícia na investigação.
(E) Todos querem que combata-se a corrupção. – de acordo com a norma-padrão, os pronomes que subs-
tituem, corretamente, os termos em destaque são:
06. (Papiloscopista Policial = Vunesp - 2013). Assinale A) os comprovam … ajudá-la.
a alternativa correta quanto à colocação pronominal, de B) os comprovam …ajudar-la.
acordo com a norma-padrão da língua portuguesa. C) os comprovam … ajudar-lhe.
(A) Para que se evite perder objetos, recomenda-se que D) lhes comprovam … ajudar-lhe.
eles sejam sempre trazidos junto ao corpo. E) lhes comprovam … ajudá-la.
(B) O passageiro ao lado jamais imaginou-se na situa-
ção de ter de procurar a dona de uma bolsa perdida. GABARITO
(C) Nos sentimos impotentes quando não conseguimos
restituir um objeto à pessoa que o perdeu. 01. C 02. E 03. C 04. D 05. C
(D) O homem se indignou quando propuseram-lhe que 06. A 07. C 08. E 09. A 10. A
abrisse a bolsa que encontrara.
(E) Em tratando-se de objetos encontrados, há uma ten-
dência natural das pessoas em devolvê-los a seus donos.

07. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013).


Há pessoas que, mesmo sem condições, compram produ-
tos______ não necessitam e______ tendo de pagar tudo______
prazo.

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PORTUGUÊS

RESOLUÇÃO devoravam - verbo terminado em “m” = pronome oblí-


quo no/na (fizeram-na, colocaram-no)
1-) Restam dúvidas sobre o crescimento verde. Primei- impedir - verbo transitivo direto = pede objeto direto;
ro, não está claro até onde pode realmente chegar uma “lhe” é para objeto indireto
política baseada em melhorar a eficiência sem preços ade- convencer - verbo transitivo direto = pede objeto direto;
quados para o carbono, a água e (na maioria dos países “lhe” é para objeto indireto
pobres) a terra. É verdade que mesmo que a ameaça dos (A) devoravam-nos − impedi-la − convencê-los
preços do carbono e da água faça em si diferença, as com-
panhias não podem suportar ter de pagar, de repente, di- 10-) – Em ambos os casos, as câmeras dos estabeleci-
gamos, 40 dólares por tonelada de carbono, sem qualquer mentos felizmente comprovam os acontecimentos, e teste-
preparação. Portanto, elas começam a usar preços-som- munhas vão ajudar a polícia na investigação.
bra. Ainda assim, ninguém encontrou até agora uma ma- felizmente os comprovam ... ajudá-la
neira de quantificar adequadamente os insumos básicos. (advérbio)
E sem eles a maioria das políticas de crescimento verde
sempre será a segunda opção. Substantivo

2-) Tudo o que existe é ser e cada ser tem um nome. Subs-
A) ...sei tratar tipos como o senhor. − sei tratá-los tantivo é a classe gramatical de palavras variáveis, as quais
B) ...erguendo os braços desalentado... − erguendo-os denominam os seres. Além de objetos, pessoas e fenômenos,
desalentado os substantivos também nomeiam:
C) ...que tem de conhecer as leis do país? − que tem de -lugares: Alemanha, Porto Alegre...
conhecê-las ? -sentimentos: raiva, amor...
D) ...não parecia ser um importante industrial... − não -estados: alegria, tristeza...
parecia sê-lo -qualidades: honestidade, sinceridade...
-ações: corrida, pescaria...
3-) transpor [...] as matas espessas= transpô-las
Morfossintaxe do substantivo
4-)
(A) Ela não se lembrava do caminho de volta. Nas orações de língua portuguesa, o substantivo em ge-
(B) A menina tinha se distanciado muito da família. ral exerce funções diretamente relacionadas com o verbo:
(C) A garota disse que se perdeu dos pais. atua como núcleo do sujeito, dos complementos verbais
(E) Ninguém se comprometeu a ajudar a criança (objeto direto ou indireto) e do agente da passiva. Pode ain-
da funcionar como núcleo do complemento nominal ou do
5-) aposto, como núcleo do predicativo do sujeito, do objeto ou
(A) Não nos autorizam a ler os comentários sigilosos. como núcleo do vocativo. Também encontramos substan-
(B) Falaram-nos que a diplomacia americana está aba- tivos como núcleos de adjuntos adnominais e de adjuntos
lada. adverbiais - quando essas funções são desempenhadas por
(D) Conformado, rendeu-se às punições. grupos de palavras.
(E) Todos querem que se combata a corrupção.
Classificação dos Substantivos
6-) 1- Substantivos Comuns e Próprios
(B) O passageiro ao lado jamais se imaginou na situação
de ter de procurar a dona de uma bolsa perdida. Observe a definição: s.f. 1: Povoação maior que vila, com
(C) Sentimo-nos impotentes quando não conseguimos muitas casas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Bra-
restituir um objeto à pessoa que o perdeu. sil, toda a sede de município é cidade). 2. O centro de uma
(D) O homem indignou-se quando lhe propuseram que cidade (em oposição aos bairros).
abrisse a bolsa que encontrara.
(E) Em se tratando de objetos encontrados, há uma ten- Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas e
dência natural das pessoas em devolvê-los a seus donos. edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada cidade.
Isso significa que a palavra cidade é um substantivo comum.
7-) Há pessoas que, mesmo sem condições, compram Substantivo Comum é aquele que designa os seres de
produtos de que não necessitam e acabam tendo uma mesma espécie de forma genérica: cidade, menino, ho-
de pagar tudo a prazo. mem, mulher, país, cachorro.
Estamos voando para Barcelona.
8-) Faz alguns anos, num programa de televisão, uma
jovem fazia referência à violência a que o brasileiro O substantivo Barcelona designa apenas um ser da es-
estava sujeito de forma cômica. pécie cidade. Esse substantivo é próprio. Substantivo Pró-
Faz, no sentido de tempo passado = sempre no singular prio: é aquele que designa os seres de uma mesma espécie
9-) de forma particular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil.

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PORTUGUÊS

2 - Substantivos Concretos e Abstratos Substantivo coletivo Conjunto de:


assembleia pessoas reunidas
LÂMPADA MALA alcateia lobos
acervo livros
Os substantivos lâmpada e mala designam seres com antologia trechos literários selecionados
existência própria, que são independentes de outros seres. arquipélago ilhas
São substantivos concretos. banda músicos
bando desordeiros ou malfeitores
Substantivo Concreto: é aquele que designa o ser que banca examinadores
existe, independentemente de outros seres. batalhão soldados
Obs.: os substantivos concretos designam seres do cardume peixes
mundo real e do mundo imaginário. caravana viajantes peregrinos
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra, cacho frutas
Brasília, etc. cáfila camelos
Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantas- cancioneiro canções, poesias líricas
ma, etc. colmeia abelhas
chusma gente, pessoas
Observe agora: concílio bispos
Beleza exposta congresso parlamentares, cientistas.
Jovens atrizes veteranas destacam-se pelo visual. elenco atores de uma peça ou filme
esquadra navios de guerra
O substantivo beleza designa uma qualidade. enxoval roupas
falange soldados, anjos
Substantivo Abstrato: é aquele que designa seres que fauna animais de uma região
dependem de outros para se manifestar ou existir. feixe lenha, capim
Pense bem: a beleza não existe por si só, não pode ser flora vegetais de uma região
observada. Só podemos observar a beleza numa pessoa frota navios mercantes, ônibus
ou coisa que seja bela. A beleza depende de outro ser para girândola fogos de artifício
se manifestar. Portanto, a palavra beleza é um substantivo horda bandidos, invasores
abstrato. junta médicos, bois, credores, examinadores
Os substantivos abstratos designam estados, qualida- júri jurados
des, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem ser legião soldados, anjos, demônios
abstraídos, e sem os quais não podem existir: vida (estado), leva presos, recrutas
rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade (sentimento). malta malfeitores ou desordeiros
manada búfalos, bois, elefantes,
3 - Substantivos Coletivos matilha cães de raça
molho chaves, verduras
Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, outra multidão pessoas em geral
abelha, mais outra abelha. ninhada pintos
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas. nuvem insetos (gafanhotos, mosquitos, etc.)
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame. penca bananas, chaves
Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi ne- pinacoteca pinturas, quadros
cessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha, quadrilha ladrões, bandidos
mais outra abelha... ramalhete flores
No segundo caso, utilizaram-se duas palavras no plural. rebanho ovelhas
No terceiro caso, empregou-se um substantivo no sin- récua bestas de carga, cavalgadura
gular (enxame) para designar um conjunto de seres da repertório peças teatrais, obras musicais
mesma espécie (abelhas). réstia alhos ou cebolas
O substantivo enxame é um substantivo coletivo. romanceiro poesias narrativas
Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que, mes- revoada pássaros
mo estando no singular, designa um conjunto de seres da sínodo párocos
mesma espécie. talha lenha
tropa muares, soldados
turma estudantes, trabalhadores
vara porcos

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PORTUGUÊS

Formação dos Substantivos Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes

Substantivos Simples e Compostos Substantivos Biformes (= duas formas): ao indicar no-


mes de seres vivos, geralmente o gênero da palavra está
Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a relacionado ao sexo do ser, havendo, portanto, duas for-
terra. mas, uma para o masculino e outra para o feminino. Obser-
O substantivo chuva é formado por um único elemento ve: gato – gata, homem – mulher, poeta – poetisa, prefeito
ou radical. É um substantivo simples. - prefeita
Substantivos Uniformes: são aqueles que apresentam
Substantivo Simples: é aquele formado por um único uma única forma, que serve tanto para o masculino quanto
elemento. para o feminino. Classificam-se em:
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja - Epicenos: têm um só gênero e nomeiam bichos: a
agora: O substantivo guarda-chuva é formado por dois cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré macho e o jacaré
elementos (guarda + chuva). Esse substantivo é composto. fêmea.
- Sobrecomuns: têm um só gênero e nomeiam pes-
Substantivo Composto: é aquele formado por dois ou soas: a criança, a testemunha, a vítima, o cônjuge, o gênio,
mais elementos. Outros exemplos: beija-flor, passatempo. o ídolo, o indivíduo.
- Comuns de Dois Gêneros: indicam o sexo das pes-
Substantivos Primitivos e Derivados soas por meio do artigo: o colega e a colega, o doente e a
doente, o artista e a artista.
Meu limão meu limoeiro,
meu pé de jacarandá... Saiba que: Substantivos de origem grega terminados
em ema ou oma, são masculinos: o fonema, o poema, o
O substantivo limão é primitivo, pois não se originou de sistema, o sintoma, o teorema.
nenhum outro dentro de língua portuguesa. - Existem certos substantivos que, variando de gênero,
variam em seu significado: o rádio (aparelho receptor) e a
Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva de rádio (estação emissora) o capital (dinheiro) e a capital (ci-
nenhuma outra palavra da própria língua portuguesa. O dade)
substantivo limoeiro é derivado, pois se originou a partir
da palavra limão. Formação do Feminino dos Substantivos Biformes

Substantivo Derivado: é aquele que se origina de ou- - Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno -
tra palavra. aluna.
- Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a ao
Flexão dos substantivos masculino: freguês - freguesa
- Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino de
O substantivo é uma classe variável. A palavra é variá- três formas:
vel quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por - troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa
exemplo, pode sofrer variações para indicar: - troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã
Plural: meninos Feminino: menina -troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona
Aumentativo: meninão Diminutivo: menininho
Exceções: barão – baronesa ladrão- ladra sultão -
Flexão de Gênero sultana
- Substantivos terminados em -or:
Gênero é a propriedade que as palavras têm de indicar - acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora
sexo real ou fictício dos seres. Na língua portuguesa, há - troca-se -or por -triz: = imperador - imperatriz
dois gêneros: masculino e feminino. Pertencem ao gênero
masculino os substantivos que podem vir precedidos dos - Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: cônsul
artigos o, os, um, uns. Veja estes títulos de filmes: - consulesa / abade - abadessa / poeta - poetisa / duque -
O velho e o mar duquesa / conde - condessa / profeta - profetisa
Um Natal inesquecível - Substantivos que formam o feminino trocando o -e
Os reis da praia final por -a: elefante - elefanta

Pertencem ao gênero feminino os substantivos que po- - Substantivos que têm radicais diferentes no masculino
dem vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas: e no feminino: bode – cabra / boi - vaca
A história sem fim
Uma cidade sem passado - Substantivos que formam o feminino de maneira es-
As tartarugas ninjas pecial, isto é, não seguem nenhuma das regras anteriores:
czar – czarina réu - ré

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PORTUGUÊS

Formação do Feminino dos Substantivos Uniformes Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata, a
cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a libido,
Epicenos: a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa).
Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros.
- São geralmente masculinos os substantivos de ori-
Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. Isso gem grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilo-
ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma forma grama, o plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o
para indicar o masculino e o feminino. telefonema, o estratagema, o dilema, o teorema, o trema, o
Alguns nomes de animais apresentam uma só forma eczema, o edema, o magma, o estigma, o axioma, o traco-
para designar os dois sexos. Esses substantivos são cha- ma, o hematoma.
mados de epicenos. No caso dos epicenos, quando houver Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se palavras
macho e fêmea. Gênero dos Nomes de Cidades:
A cobra macho picou o marinheiro.
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira.
Com raras exceções, nomes de cidades são femininos.
A histórica Ouro Preto.
Sobrecomuns:
A dinâmica São Paulo.
Entregue as crianças à natureza.
A acolhedora Porto Alegre.
A palavra crianças refere-se tanto a seres do sexo mas- Uma Londres imensa e triste.
culino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso, nem Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
o artigo nem um possível adjetivo permitem identificar o
sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja: Gênero e Significação:
A criança chorona chamava-se João.
A criança chorona chamava-se Maria. Muitos substantivos têm uma significação no masculi-
no e outra no feminino. Observe: o baliza (soldado que, que
Outros substantivos sobrecomuns: à frente da tropa, indica os movimentos que se deve realizar
a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma boa em conjunto; o que vai à frente de um bloco carnavalesco,
criatura. manejando um bastão), a baliza (marco, estaca; sinal que
o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de marca um limite ou proibição de trânsito), o cabeça (che-
Marcela faleceu fe), a cabeça (parte do corpo), o cisma (separação religiosa,
dissidência), a cisma (ato de cismar, desconfiança), o cinza
Comuns de Dois Gêneros: (a cor cinzenta), a cinza (resíduos de combustão), o capital
Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois. (dinheiro), a capital (cidade), o coma (perda dos sentidos), a
coma (cabeleira), o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em
Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher? coro), a coral (cobra venenosa), o crisma (óleo sagrado, usa-
É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma do na administração da crisma e de outros sacramentos), a
vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme. crisma (sacramento da confirmação), o cura (pároco), a cura
A distinção de gênero pode ser feita através da análise (ato de curar), o estepe (pneu sobressalente), a estepe (vasta
do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o substanti- planície de vegetação), o guia (pessoa que guia outras), a
vo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante; um jovem guia (documento, pena grande das asas das aves), o gra-
- uma jovem; artista famoso - artista famosa; repórter fran- ma (unidade de peso), a grama (relva), o caixa (funcionário
cês - repórter francesa
da caixa), a caixa (recipiente, setor de pagamentos), o lente
- A palavra personagem é usada indistintamente nos
(professor), a lente (vidro de aumento), o moral (ânimo), a
dois gêneros.
moral (honestidade, bons costumes, ética), o nascente (lado
a) Entre os escritores modernos nota-se acentuada pre-
ferência pelo masculino: O menino descobriu nas nuvens os onde nasce o Sol), a nascente (a fonte), o maria-fumaça
personagens dos contos de carochinha. (trem como locomotiva a vapor), maria-fumaça (locomoti-
b) Com referência a mulher, deve-se preferir o feminino: va movida a vapor), o pala (poncho), a pala (parte anterior
O problema está nas mulheres de mais idade, que não acei- do boné ou quepe, anteparo), o rádio (aparelho receptor), a
tam a personagem. rádio (estação emissora), o voga (remador), a voga (moda,
popularidade).
- Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
fotográfico Ana Belmonte. Flexão de Número do Substantivo
Observe o gênero dos substantivos seguintes:
Em português, há dois números gramaticais: o singular,
Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó que indica um ser ou um grupo de seres, e o plural, que
(pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o indica mais de um ser ou grupo de seres. A característica
maracajá, o clã, o hosana, o herpes, o pijama, o suéter, o do plural é o “s” final.
soprano, o proclama, o pernoite, o púbis.

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PORTUGUÊS

Plural dos Substantivos Simples - Flexionam-se os dois elementos, quando formados de:
substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
- Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-per-
“n” fazem o plural pelo acréscimo de “s”: pai – pais; ímã – feitos
ímãs; hífen - hifens (sem acento, no plural). Exceção: cânon adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-homens
- cânones. numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras
- Os substantivos terminados em “m” fazem o plural
em “ns”: homem - homens. - Flexiona-se somente o segundo elemento, quando
- Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plu- formados de:
ral pelo acréscimo de “es”: revólver – revólveres; raiz - raí- verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas
zes. palavra invariável + palavra variável = alto-falante e
Atenção: O plural de caráter é caracteres. alto- -falantes
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-recos
- Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexio-
nam-se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quin- - Flexiona-se somente o primeiro elemento, quando
tais; caracol – caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e ma- formados de:
les, cônsul e cônsules. substantivo + preposição clara + substantivo = água-
de-colônia e águas-de-colônia
- Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de substantivo + preposição oculta + substantivo = cava-
duas maneiras: lo-vapor e cavalos-vapor
- Quando oxítonos, em “is”: canil - canis substantivo + substantivo que funciona como determi-
nante do primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo
- Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis. do termo anterior: palavra-chave - palavras-chave, bomba
-relógio - bombas-relógio, notícia-bomba - notícias-bomba,
Obs.: a palavra réptil pode formar seu plural de duas homem-rã - homens-rã, peixe-espada - peixes-espada.
maneiras: répteis ou reptis (pouco usada).
- Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de - Permanecem invariáveis, quando formados de:
duas maneiras: verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora
verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os sa-
- Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o ca-rolhas
acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses
- Casos Especiais
- Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam inva- o louva-a-deus e os louva-a-deus
riáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus. o bem-te-vi e os bem-te-vis
o bem-me-quer e os bem-me-queres
- Os substantivos terminados em “ao” fazem o plural o joão-ninguém e os joões-ninguém.
de três maneiras.
- substituindo o -ão por -ões: ação - ações Plural das Palavras Substantivadas
- substituindo o -ão por -ães: cão - cães
- substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras
classes gramaticais usadas como substantivo, apresentam,
- Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis: no plural, as flexões próprias dos substantivos.
o látex - os látex. Pese bem os prós e os contras.
O aluno errou na prova dos noves.
Plural dos Substantivos Compostos Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.
Obs.: numerais substantivados terminados em “s” ou
-A formação do plural dos substantivos compostos de- “z” não variam no plural: Nas provas mensais consegui mui-
pende da forma como são grafados, do tipo de palavras tos seis e alguns dez.
que formam o composto e da relação que estabelecem
entre si. Aqueles que são grafados sem hífen comportam- Plural dos Diminutivos
se como os substantivos simples: aguardente/aguarden-
tes, girassol/girassóis, pontapé/pontapés, malme- Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” final
quer/malmequeres. e acrescenta-se o sufixo diminutivo.
O plural dos substantivos compostos cujos elementos pãe(s) + zinhos = pãezinhos
são ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas e animai(s) + zinhos = animaizinhos
discussões. Algumas orientações são dadas a seguir: botõe(s) + zinhos = botõezinhos
chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos
farói(s) + zinhos = faroizinhos
tren(s) + zinhos = trenzinhos

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colhere(s) + zinhas = colherezinhas Particularidades sobre o Número dos Substantivos


flore(s) + zinhas = florezinhas
mão(s) + zinhas = mãozinhas - Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o
papéi(s) + zinhos = papeizinhos norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas - Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsames,
funi(s) + zinhos = funizinhos as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes.
túnei(s) + zinhos = tuneizinhos - Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do sin-
pai(s) + zinhos = paizinhos gular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probidade, bom
pé(s) + zinhos = pezinhos nome) e honras (homenagem, títulos).
pé(s) + zitos = pezitos - Usamos às vezes, os substantivos no singular, mas com
sentido de plural:
Plural dos Nomes Próprios Personativos Aqui morreu muito negro.
Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas
Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas improvisadas.
sempre que a terminação preste-se à flexão.
Os Napoleões também são derrotados. Flexão de Grau do Substantivo
As Raquéis e Esteres.
Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir as
Plural dos Substantivos Estrangeiros variações de tamanho dos seres. Classifica-se em:
- Grau Normal - Indica um ser de tamanho considerado
Substantivos ainda não aportuguesados devem ser es- normal. Por exemplo: casa
critos como na língua original, acrescentando-se “s” (exce- - Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho
to quando terminam em “s” ou “z”): os shows, os shorts, os do ser. Classifica-se em:
jazz.
Analítico = o substantivo é acompanhado de um adjeti-
Substantivos já aportuguesados flexionam-se de acor- vo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
do com as regras de nossa língua: os clubes, os chopes, os
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indica-
jipes, os esportes, as toaletes, os bibelôs, os garçons,
dor de aumento. Por exemplo: casarão.
os réquiens.
Observe o exemplo:
- Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho
Este jogador faz gols toda vez que joga.
do ser. Pode ser:
O plural correto seria gois (ô), mas não se usa.
Analítico = substantivo acompanhado de um adjetivo
que indica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
Plural com Mudança de Timbre Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indica-
dor de diminuição. Por exemplo: casinha.
Certos substantivos formam o plural com mudança de
timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um fato Verbo
fonético chamado metafonia (plural metafônico).
Verbo é a classe de palavras que se flexiona em pes-
Singular Plural soa, número, tempo, modo e voz. Pode indicar, entre outros
corpo (ô) corpos (ó) processos: ação (correr); estado (ficar); fenômeno (chover);
esforço esforços ocorrência (nascer); desejo (querer).
fogo fogos O que caracteriza o verbo são as suas flexões, e não os
forno fornos seus possíveis significados. Observe que palavras como cor-
fosso fossos rida, chuva e nascimento têm conteúdo muito próximo ao de
imposto impostos alguns verbos mencionados acima; não apresentam, porém,
olho olhos todas as possibilidades de flexão que esses verbos possuem.
osso (ô) ossos (ó)
ovo ovos Estrutura das Formas Verbais
poço poços
porto portos Do ponto de vista estrutural, uma forma verbal pode
posto postos apresentar os seguintes elementos:
tijolo tijolos - Radical: é a parte invariável, que expressa o significa-
do essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-ava; fal-am.
Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bol- (radical fal-)
sos, esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros, etc. - Tema: é o radical seguido da vogal temática que indica
Obs.: distinga-se molho (ô) = caldo (molho de carne), a conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo: fala-r
de molho (ó) = feixe (molho de lenha). São três as conjugações: 1ª - Vogal Temática - A - (falar), 2ª
- Vogal Temática - E - (vender), 3ª - Vogal Temática - I - (partir).

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- Desinência modo-temporal: é o elemento que de- ** Todos os verbos que indicam fenômenos da natu-
signa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo: reza são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar,
falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicativo.) amanhecer, escurecer, etc. Quando, porém, se constrói,
falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo.) “Amanheci mal- -humorado”, usa-se o verbo “ama-
nhecer” em sentido figurado. Qualquer verbo impessoal,
- Desinência número-pessoal: é o elemento que de- empregado em sentido figurado, deixa de ser impessoal
signa a pessoa do discurso ( 1ª, 2ª ou 3ª) e o número (sin- para ser pessoal.
gular ou plural):
falamos (indica a 1ª pessoa do plural.) Amanheci mal-humorado. (Sujeito desinencial: eu)
falavam (indica a 3ª pessoa do plural.) Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)
Observação: o verbo pôr, assim como seus derivados
(compor, repor, depor, etc.), pertencem à 2ª conjugação, ** São impessoais, ainda:
pois a forma arcaica do verbo pôr era poer. A vogal “e”,
apesar de haver desaparecido do infinitivo, revela-se em 1. o verbo passar (seguido de preposição), indicando
algumas formas do verbo: põe, pões, põem, etc. tempo: Já passa das seis.
2. os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição
Formas Rizotônicas e Arrizotônicas de, indicando suficiência: Basta de tolices. Chega de blas-
fêmias.
Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura 3. os verbos estar e ficar em orações tais como Está
dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce- bem, Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal, sem re-
bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acento ferência a sujeito expresso anteriormente. Podemos, ainda,
tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, nutro, por nesse caso, classificar o sujeito como hipotético, tornando-
exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico não cai se, tais verbos, então, pessoais.
no radical, mas sim na terminação verbal: opinei, aprende-
4. o verbo deu + para da língua popular, equivalente de
rão, nutriríamos.
“ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo.
Classificação dos Verbos
Dá para me arrumar uns trocados?
Classificam-se em:
* Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, conju-
gam-se apenas nas terceiras pessoas, do singular e do
- Regulares: são aqueles que possuem as desinências
plural.
normais de sua conjugação e cuja flexão não provoca al-
A fruta amadureceu.
terações no radical: canto cantei cantarei cantava As frutas amadureceram.
cantasse.
- Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca altera- Obs.: os verbos unipessoais podem ser usados como
ções no radical ou nas desinências: faço fiz farei verbos pessoais na linguagem figurada: Teu irmão amadu-
fizesse. receu bastante.
Entre os unipessoais estão os verbos que significam vo-
- Defectivos: são aqueles que não apresentam con- zes de animais; eis alguns: bramar: tigre, bramir: crocodilo,
jugação completa. Classificam-se em impessoais, unipes- cacarejar: galinha, coaxar: sapo, cricrilar: grilo
soais e pessoais:
* Impessoais: são os verbos que não têm sujeito. Nor- Os principais verbos unipessoais são:
malmente, são usados na terceira pessoa do singular. Os 1. cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser
principais verbos impessoais são: (preciso, necessário, etc.):
Cumpre trabalharmos bastante. (Sujeito: trabalharmos
** haver, quando sinônimo de existir, acontecer, reali- bastante.)
zar-se ou fazer (em orações temporais). Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover.)
Havia poucos ingressos à venda. (Havia = Existiam) É preciso que chova. (Sujeito: que chova.)
Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram)
Haverá reuniões aqui. (Haverá = Realizar-se-ão) 2. fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, segui-
Deixei de fumar há muitos anos. (há = faz) dos da conjunção que.
Faz dez anos que deixei de fumar. (Sujeito: que deixei de
** fazer, ser e estar (quando indicam tempo) fumar.)
Faz invernos rigorosos no Sul do Brasil. Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não vejo
Era primavera quando a conheci. Cláudia. (Sujeito: que não vejo Cláudia)
Estava frio naquele dia. Obs.: todos os sujeitos apontados são oracionais.

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PORTUGUÊS

* Pessoais: não apresentam algumas flexões por motivos morfológicos ou eufônicos. Por exemplo:
- verbo falir. Este verbo teria como formas do presente do indicativo falo, fales, fale, idênticas às do verbo falar - o que
provavelmente causaria problemas de interpretação em certos contextos.

- verbo computar. Este verbo teria como formas do presente do indicativo computo, computas, computa - formas de
sonoridade considerada ofensiva por alguns ouvidos gramaticais. Essas razões muitas vezes não impedem o uso efetivo de
formas verbais repudiadas por alguns gramáticos: exemplo disso é o próprio verbo computar, que, com o desenvolvimento
e a popularização da informática, tem sido conjugado em todos os tempos, modos e pessoas.

- Abundantes: são aqueles que possuem mais de uma forma com o mesmo valor. Geralmente, esse fenômeno costuma
ocorrer no particípio, em que, além das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas
(particípio irregular). Observe:

INFINITIVO PARTICÍPIO REGULAR PARTICÍPIO IRREGULAR


Anexar Anexado Anexo
Dispersar Dispersado Disperso
Eleger Elegido Eleito
Envolver Envolvido Envolto
Imprimir Imprimido Impresso
Matar Matado Morto
Morrer Morrido Morto
Pegar Pegado Pego
Soltar Soltado Solto

- Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Por exemplo: Ir, Pôr, Ser, Saber (vou, vais,
ides, fui, foste, pus, pôs, punha, sou, és, fui, foste, seja).

- Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo principal,
quando acompanhado de verbo auxiliar, é expresso numa das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.

Vou espantar as moscas.


(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)

Está chegando a hora do debate.


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

Os noivos foram cumprimentados por todos os presentes.


(verbo auxiliar) (verbo principal no particípio)

Obs.: os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.

Conjugação dos Verbos Auxiliares

SER - Modo Indicativo

Presente Pret.Perfeito Pretérito Imp. Pret.Mais-Que-Perf. Fut.do Pres. Fut. Do Pretérito


sou fui era fora serei seria
és foste eras foras serás serias
é foi era fora será seria
somos fomos éramos fôramos seremos seríamos
sois fostes éreis fôreis sereis seríeis
são foram eram foram serão seriam

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PORTUGUÊS

SER - Modo Subjuntivo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro


que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

SER - Modo Imperativo

Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês

SER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


ser ser eu sendo sido
seres tu
ser ele
sermos nós
serdes vós
serem eles

ESTAR - Modo Indicativo



Presente Pret. perf. Pret. Imperf. Pret.Mais-Que-Perf. Fut.doPres. Fut.do Preté.
estou estive estava estivera estarei estaria
estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

ESTAR - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem

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PORTUGUÊS

HAVER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imper. Pret.Mais-Que-Perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
hei houve havia houvera haverei haveria
hás houveste havias houveras haverás haverias
há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


haja houvesse houver
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

HAVER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


haver haver havendo havido
haveres
haver
havermos
haverdes
haverem

TER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imper. Preté.Mais-Que-Perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
Tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


Tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

- Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na mes-
ma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita no
próprio sentido do verbo (reflexivos essenciais). Veja:

- 1. Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos: abs-
ter-se, ater- -se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a reflexibilidade
já está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.

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PORTUGUÊS

A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) Formas Nominais


tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela
mesma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do Além desses três modos, o verbo apresenta ainda for-
verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula mas que podem exercer funções de nomes (substantivo,
integrante do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada adjetivo, advérbio), sendo por isso denominadas formas
com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de refor- nominais. Observe:
ço da ideia reflexiva expressa pelo radical do próprio verbo.
- Infinitivo Impessoal: exprime a significação do verbo
Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de
respectivos pronomes): substantivo. Por exemplo:
Eu me arrependo Viver é lutar. (= vida é luta)
Tu te arrependes É indispensável combater a corrupção. (= combate à)
Ele se arrepende
Nós nos arrependemos O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presen-
Vós vos arrependeis te (forma simples) ou no passado (forma composta). Por
Eles se arrependem exemplo:
É preciso ler este livro.
- 2. Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos Era preciso ter lido este livro.
em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o obje-
to representado por pronome oblíquo da mesma pessoa - Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às três
do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre pessoas do discurso. Na 1ª e 3ª pessoas do singular, não
ele mesmo. Em geral, os verbos transitivos diretos ou tran- apresenta desinências, assumindo a mesma forma do im-
sitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os pessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira:
pronomes mencionados, formando o que se chama voz 2ª pessoa do singular: Radical + ES Ex.: teres(tu)
reflexiva. Por exemplo: Maria se penteava. 1ª pessoa do plural: Radical + MOS Ex.: termos (nós)
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode 2ª pessoa do plural: Radical + DES Ex.: terdes (vós)
ser exercida também sobre outra pessoa. Por exemplo: 3ª pessoa do plural: Radical + EM Ex.: terem (eles)
Maria penteou-me.
Por exemplo: Foste elogiado por teres alcançado uma
Observações: boa colocação.
- Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes
oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem - Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo
função sintática. ou advérbio. Por exemplo:
- Há verbos que também são acompanhados de pro- Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de ad-
nomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente vérbio)
pronominais, são os verbos reflexivos. Nos verbos refle- Nas ruas, havia crianças vendendo doces. (função de ad-
xivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa jetivo)
idêntica à do sujeito, exercem funções sintáticas. Por exem- Na forma simples, o gerúndio expressa uma ação em
plo: curso; na forma composta, uma ação concluída. Por exem-
Eu me feri. = Eu(sujeito) - 1ª pessoa do singular me plo:
(objeto direto) - 1ª pessoa do singular Trabalhando, aprenderás o valor do dinheiro.
Tendo trabalhado, aprendeu o valor do dinheiro.
Modos Verbais - Particípio: quando não é empregado na formação
dos tempos compostos, o particípio indica geralmente o
Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas resultado de uma ação terminada, flexionando-se em gê-
pelo verbo na expressão de um fato. Em Português, exis- nero, número e grau. Por exemplo:
tem três modos: Terminados os exames, os candidatos saíram.

Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu sem-


pre estudo. Quando o particípio exprime somente estado, sem ne-
nhuma relação temporal, assume verdadeiramente a fun-
Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade: Tal- ção de adjetivo (adjetivo verbal). Por exemplo: Ela foi a alu-
vez eu estude amanhã. na escolhida para representar a escola.

Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estuda


agora, menino.

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PORTUGUÊS

Tempos Verbais

Tomando-se como referência o momento em que se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos tempos.
Veja:
1. Tempos do Indicativo

- Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste colégio.

- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual, mas que não foi completamente
terminado: Ele estudava as lições quando foi interrompido.

- Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado: Ele
estudou as lições ontem à noite.

- Pretérito-Mais-Que-Perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já tinha estudado as
lições quando os amigos chegaram. (forma composta) Ele já estudara as lições quando os amigos chegaram. (forma simples).

- Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual: Ele
estudará as lições amanhã.

- Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado: Se eu tivesse
dinheiro, viajaria nas férias.

2. Tempos do Subjuntivo

- Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual: É conveniente que estudes para o exame.
- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele vencesse o
jogo.
Obs.: o pretérito imperfeito é também usado nas construções em que se expressa a ideia de condição ou desejo. Por
exemplo: Se ele viesse ao clube, participaria do campeonato.

- Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele vier
à loja, levará as encomendas.
Obs.: o futuro do presente é também usado em frases que indicam possibilidade ou desejo. Por exemplo: Se ele vier à
loja, levará as encomendas.

Presente do Indicativo

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M

Pretérito Perfeito do Indicativo

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
cantaSTE vendeSTE partISTE STE
cantoU vendeU partiU U
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM

49
PORTUGUÊS

Pretérito mais-que-perfeito

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal


1ª/2ª e 3ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

Pretérito Imperfeito do Indicativo

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantAVA vendIA partIA
cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

Futuro do Presente do Indicativo

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão

Futuro do Pretérito do Indicativo

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM

Presente do Subjuntivo

Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2ª e 3ª conjugação).

1ª conjug. 2ª conjug. 3ª conju. Des. temporal Des.temporal Desinên. pessoal


1ª conj. 2ª/3ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M

50
PORTUGUÊS

Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, ob-
tendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de número
e pessoa correspondente.

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal


1ª /2ª e 3ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

Futuro do Subjuntivo

Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, obtendo-
se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de número e pessoa
correspondente.
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1ª /2ª e 3ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR R Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM PartiREM R EM

Modo Imperativo

Imperativo Afirmativo

Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:

Presente do Indicativo Imperativo Afirmativo Presente do Subjuntivo


Eu canto --- Que eu cante
Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem

Imperativo Negativo

Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.

Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo


Que eu cante ---
Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
Que nós cantemos Não cantemos nós
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles

51
PORTUGUÊS

Observações:

- No modo imperativo não faz sentido usar na 3ª pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem, pedido
ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.

- O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), sede (vós).

Infinitivo Pessoal

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar vender partir
cantarES venderES partirES
cantar vender partir
cantarMOS venderMOS partirMOS
cantarDES venderDES partirDES
cantarEM venderEM partirEM

Questões sobre Verbo

01. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO - ASSISTENTE SOCIAL JUDICIÁRIO - VUNESP/2012) Assinale a
alternativa em que todos os verbos estão conjugados segundo a norma-padrão.
(A) Absteu-se do álcool durante anos; agora, voltou ao vício.
(B) Perderam seus documentos durante a viagem, mas já os reaveram.
(C) Avisem-me, se vocês verem que estão ocorrendo conflitos.
(D) Só haverá acordo se nós propormos uma boa indenização.
(E) Antes do jantar, a criançada se entretinha com jogos eletrônicos.

02. (TRT/AL - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2014)


... e então percorriam as pouco povoadas estepes da Ásia Central até o mar Cáspio e além.
O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o grifado acima está em:
(A) ... e de lá por navios que contornam a Índia...
(B) ... era a capital da China.
(C) A Rota da Seda nunca foi uma rota única...
(D) ... dispararam na última década.
(E) ... que acompanham as fronteiras ocidentais chinesas...

03. (TRF - 2ª REGIÃO - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2012) O emprego, a grafia e a flexão dos verbos estão corretos em:
(A) A revalorização e a nova proeminência de Paraty não prescindiram e não requiseram mais do que o esquecimento
e a passagem do tempo.
(B) Quando se imaginou que Paraty havia sido para sempre renegada a um segundo plano, eis que ela imerge do es-
quecimento, em 1974.
(C) A cada novo ciclo econômico retificava-se a importância estratégica de Paraty, até que, a partir de 1855, sobreviram
longos anos de esquecimento.
(D) A Casa Azul envidará todos os esforços, refreando as ações predatórias, para que a cidade não sucumba aos atro-
pelos do turismo selvagem.
(E) Paraty imbuiu da sorte e do destino os meios para que obtesse, agora em definitivo, o prestígio de um polo turístico
de inegável valor histórico.

04. (TRF - 3ª REGIÃO - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2014) Tinham seus prediletos ...
O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o grifado acima está em:
(A) Dumas consentiu.
(B) ... levaram com eles a instituição do “lector”.
(C) ... enquanto uma fileira de trabalhadores enrolam charutos...
(D) Despontava a nova capital mundial do Havana.
(E) ... que cedesse o nome de seu herói...

05.(Analista – Arquitetura – FCC – 2013-adap.). Está adequada a correlação entre tempos e modos verbais na frase:

52
PORTUGUÊS

A) Os que levariam a vida pensando apenas nos valores Assinale a alternativa que, respectivamente, substitui o
absolutos talvez façam melhor se pensassem no encanto verbo haver pelo verbo existir, conservando o tempo e o
dos pequenos bons momentos. modo.
B) Há até quem queira saber quem fosse o maior ban- (A) Existe – existe
dido entre os que recebessem destaque nos popularescos (B) Existem – existirão
programas da TV. (C) Existirão – existirá
C) Não admira que os leitores de Manuel Bandeira gos- (D) Existem – existirá
tam tanto de sua poesia, sobretudo porque ela não tenha (E) Existiriam – existiria
aspirações a ser metafísica.
D) Se os adeptos da fama a qualquer custo levarem em 10. (MPE/PE – ANALISTA MINISTERIAL – FCC/2012)
conta nossa condição de mortais, não precisariam preocu- ... pois assim se via transportado de volta “à glória que foi
par-se com os degraus da notoriedade. a Grécia e à grandeza que foi Roma”.
E) Quanto mais aproveitássemos o que houvesse de O verbo empregado nos mesmos tempo e modo que o
grande nos momentos felizes, menos precisaríamos nos grifado acima está em:
preocupar com conquistas superlativas.
a) Poe certamente acreditava nisso...
b) Se Grécia e Roma foram, para Poe, uma espécie de
06. (TRF - 5ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO –
casa...
FCC/2012) ...Ou pretendia.
c) ... ainda seja por nós obscuramente sentido como
O verbo empregado nos mesmos tempo e modo que o
grifado acima está em: verdadeiro, embora não de modo consciente.
a) ... ao que der ... d) ... como um legado que provê o fundamento de nos-
b) ... virava a palavra pelo avesso ... sas sensibilidades.
c) Não teria graça ... e) Seria ela efetivamente, para o poeta, uma encarnação
d) ... um conto que sai de um palíndromo ... da princesa homérica?
e) ... como decidiu o seu destino de escritor.
GABARITO
07. (SABESP – TECNÓLOGO – FCC/2014) É importante
que a inserção da perspectiva da sustentabilidade na cultu- 01.E 02. B 03. D 04. D 05. E
ra empresarial, por meio das ações e projetos de Educação 06.B 07. E 08. C 09. D 10.B
Ambiental, esteja alinhada a esses conceitos.
O verbo empregado nos mesmos tempo e modo que o RESOLUÇÃO
verbo grifado na frase acima está em:
(A) ... a Empresa desenvolve todas as suas ações, polí- 1-) Correção à frente:
ticas... (A) Absteu-se = absteve-se
(B) ... as definições de Educação Ambiental são abran- (B) mas já os reaveram = reouveram
gentes... (C) se vocês verem = virem
(C) ... também se associa o Desenvolvimento Susten- (D) Só haverá acordo se nós propormos = propusermos
tável... (E) Antes do jantar, a criançada se entretinha com jogos
(D) ... e incorporou [...] também aspectos de desenvol- eletrônicos.
vimento humano.
(E)... e reforce a identidade das comunidades. 2-) Percorriam = Pretérito Imperfeito do Indicativo
A = contornam – presente do Indicativo
08. (DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JA- B = era = pretérito imperfeito do Indicativo
NEIRO – TÉCNICO SUPERIOR ESPECIALIZADO EM BIBLIO-
C = foi = pretérito perfeito do Indicativo
TECONOMIA – FGV PROJETOS /2014) Na frase “se você
D = dispararam = pretérito mais-que-perfeito do Indi-
quiser ir mais longe”, a forma verbal empregada tem sua
cativo
forma corretamente conjugada. A frase abaixo em que a
E = acompanham = presente do Indicativo
forma verbal está ERRADA é
(A) se você se opuser a esse desejo. 3-) Acrescentei as formas verbais adequadas nas ora-
(B) se você requerer este documento. ções analisadas:
(C) se você ver esse quadro. (A) A revalorização e a nova proeminência de Paraty
(D) se você provier da China. não prescindiram e não requiseram (requereram) mais do
(E) se você se entretiver com o jogo. que o esquecimento e a passagem do tempo.
(B) Quando se imaginou que Paraty havia sido para
09. (PREFEITURA DE SÃO CARLOS/SP – ENGENHEIRO – sempre renegada a um segundo plano, eis que ela imerge
ÁREA CIVIL – VUNESP/2011) Considere as frases: (emerge) do esquecimento, em 1974.
I. Há diversos projetos de lei em tramitação na Câmara. (C) A cada novo ciclo econômico retificava-se a impor-
II. Caso a bondade seja aprovada, haverá custo adicional tância estratégica de Paraty, até que, a partir de 1855, so-
de 5,4 bilhões de reais por ano. breviram (sobrevieram) longos anos de esquecimento.

53
PORTUGUÊS

(D) A Casa Azul envidará todos os esforços, refreando 10-) Foi = pretérito perfeito do Indicativo
as ações predatórias, para que a cidade não sucumba aos a) Poe certamente acreditava = pretérito imperfeito do
atropelos do turismo selvagem. Indicativo
(E) Paraty imbuiu da sorte e do destino os meios para b) Se Grécia e Roma foram = pretérito perfeito do In-
que obtesse, (obtivesse) agora em definitivo, o prestígio de dicativo
um polo turístico de inegável valor histórico. c) ... ainda seja = presente do Subjuntivo
d) ... como um legado que provê = presente do Indi-
4-)Tinham = pretérito imperfeito do Indicativo. Vamos cativo
às alternativas: e) Seria = futuro do pretérito do Indicativo
Consentiu = pretérito perfeito / levaram = pretérito
perfeito (e mais-que-perfeito) do Indicativo Vozes do Verbo
Despontava = pretérito imperfeito do Indicativo
Cedesse = pretérito do Subjuntivo Dá-se o nome de voz à forma assumida pelo verbo para
5-) indicar se o sujeito gramatical é agente ou paciente da
A) Os que levam a vida pensando apenas nos valores ação. São três as vozes verbais:
absolutos talvez fariam melhor se pensassem no encanto
dos pequenos bons momentos. - Ativa: quando o sujeito é agente, isto é, pratica a ação
B) Há até quem queira saber quem é o maior bandido expressa pelo verbo. Por exemplo:
entre os que recebem destaque nos popularescos progra- Ele fez o trabalho.
mas da TV. sujeito agente ação objeto (paciente)
C) Não admira que os leitores de Manuel Bandeira gos-
tem tanto de sua poesia, sobretudo porque ela não tem - Passiva: quando o sujeito é paciente, recebendo a
aspirações a ser metafísica. ação expressa pelo verbo. Por exemplo:
D) Se os adeptos da fama a qualquer custo levassem em O trabalho foi feito por ele.
conta nossa condição de mortais, não precisariam preocu- sujeito paciente ação agente da pas-
par-se com os degraus da notoriedade. siva
6-) Pretendia = pretérito imperfeito do Indicativo - Reflexiva: quando o sujeito é ao mesmo tempo agen-
a) ... ao que der ... = futuro do Subjuntivo te e paciente, isto é, pratica e recebe a ação. Por exemplo:
b) ... virava = pretérito imperfeito do Indicativo O menino feriu-se.
c) Não teria = futuro do pretérito do Indicativo
d) ... um conto que sai = presente do Indicativo
Obs.: não confundir o emprego reflexivo do verbo com
e) ... como decidiu = pretérito perfeito do Indicativo
a noção de reciprocidade: Os lutadores feriram-se. (um ao
outro)
7-) O verbo “esteja” está no presente do Subjuntivo.
(A) ... a Empresa desenvolve = presente do Indicativo
Formação da Voz Passiva
(B) ... as definições de Educação Ambiental são = pre-
sente do Indicativo
(C) ... também se associa o Desenvolvimento Sustentá- A voz passiva pode ser formada por dois processos:
vel... = presente do Indicativo analítico e sintético.
(D) ... e incorporou [...] = pretérito perfeito do Indicativo
(E)... e reforce a identidade das comunidades. = presen- 1- Voz Passiva Analítica
te do Subjuntivo.
8-) Constrói-se da seguinte maneira: Verbo SER + particípio
(A) se você se opuser a esse desejo. do verbo principal. Por exemplo:
(B) se você requerer este documento. A escola será pintada.
(C) se você ver esse quadro.= se você vir O trabalho é feito por ele.
(D) se você provier da China.
(E) se você se entretiver com o jogo. Obs.: o agente da passiva geralmente é acompanhado
da preposição por, mas pode ocorrer a construção com
9-) Há = presente do Indicativo / haverá = futuro do a preposição de. Por exemplo: A casa ficou cercada de sol-
presente do indicativo. dados.
Ao substituirmos pelo verbo “existir”, lembremo-nos de - Pode acontecer ainda que o agente da passiva não
que esse sofrerá flexão de número (irá para o plural, caso esteja explícito na frase: A exposição será aberta amanhã.
seja necessário): - A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar
I. Existem diversos projetos de lei em tramitação na Câ- (SER), pois o particípio é invariável. Observe a transforma-
mara. ção das frases seguintes:
II. Caso a bondade seja aprovada, existirá custo adicio- a) Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do indicativo)
nal de 5,4 bilhões de reais por ano. O trabalho foi feito por ele. (pretérito perfeito do indi-
Existem / existirá. cativo)

54
PORTUGUÊS

b) Ele faz o trabalho. (presente do indicativo) Saiba que:


O trabalho é feito por ele. (presente do indicativo)
- Aos verbos que não são ativos nem passivos ou reflexi-
c) Ele fará o trabalho. (futuro do presente) vos, são chamados neutros.
O trabalho será feito por ele. (futuro do presente) O vinho é bom.
- Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assume Aqui chove muito.
o mesmo tempo e modo do verbo principal da voz ativa.
Observe a transformação da frase seguinte: - Há formas passivas com sentido ativo:
O vento ia levando as folhas. (gerúndio) É chegada a hora. (= Chegou a hora.)
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio) Eu ainda não era nascido. (= Eu ainda não tinha nascido.)
És um homem lido e viajado. (= que leu e viajou)
Obs.: é menos frequente a construção da voz passiva
analítica com outros verbos que podem eventualmente - Inversamente, usamos formas ativas com sentido passivo:
funcionar como auxiliares. Por exemplo: A moça ficou mar- Há coisas difíceis de entender. (= serem entendidas)
cada pela doença. Mandou-o lançar na prisão. (= ser lançado)
2- Voz Passiva Sintética - Os verbos chamar-se, batizar-se, operar-se (no sentido
cirúrgico) e vacinar-se são considerados passivos, logo o su-
A voz passiva sintética ou pronominal constrói-se com
jeito é paciente.
o verbo na 3ª pessoa, seguido do pronome apassivador SE.
Chamo-me Luís.
Por exemplo:
Abriram-se as inscrições para o concurso. Batizei-me na Igreja do Carmo.
Destruiu-se o velho prédio da escola. Operou-se de hérnia.
Vacinaram-se contra a gripe.
Obs.: o agente não costuma vir expresso na voz passiva
sintética. Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
morf54.php
Curiosidade: A palavra passivo possui a mesma raiz la-
tina de paixão (latim passio, passionis) e ambas se relacio- Questões sobre Vozes dos Verbos
nam com o significado sofrimento, padecimento. Daí vem
o significado de voz passiva como sendo a voz que expres- 01. (TRE/AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2010) A frase
sa a ação sofrida pelo sujeito. Na voz passiva temos dois que admite transposição para a voz passiva é:
elementos que nem sempre aparecem: SUJEITO PACIENTE (A) O cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado.
e AGENTE DA PASSIVA. (B) O conceito de espetáculo unifica e explica uma gran-
de diversidade de fenômenos.
Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva (C) O espetáculo é ao mesmo tempo parte da sociedade,
a própria sociedade e seu instrumento de unificação.
Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar subs- (D) As imagens fluem desligadas de cada aspecto da vida (...).
tancialmente o sentido da frase. (E) Por ser algo separado, ele é o foco do olhar iludido e
da falsa consciência.
Gutenberg inventou a imprensa (Voz Ativa)
Sujeito da Ativa objeto Direto 02. (TRE/RS – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2010) ... a Co-
reia do Norte interrompeu comunicações com o vizinho ...
A imprensa foi inventada por Gutenberg (Voz Pas- Transpondo a frase acima para a voz passiva, a forma ver-
siva) bal corretamente obtida é:
Sujeito da Passiva Agente da Passiva
a) tinha interrompido.
b) foram interrompidas.
Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva, o
sujeito da ativa passará a agente da passiva e o verbo ativo c) fora interrompido.
assumirá a forma passiva, conservando o mesmo tempo. d) haviam sido interrompidas.
Observe mais exemplos: e) haveriam de ser interrompidas.
- Os mestres têm constantemente aconselhado os alunos.
Os alunos têm sido constantemente aconselhados pelos 03. (FCC-TRE-Analista Judiciário – 2011) Transpondo-se
mestres. para a voz passiva a frase Hoje a autoria institucional en-
frenta séria concorrência dos autores anônimos, obter-se-á
- Eu o acompanharei. a seguinte forma verbal:
Ele será acompanhado por mim. (A) são enfrentados.
(B) tem enfrentado.
Obs.: quando o sujeito da voz ativa for indeterminado, (C) tem sido enfrentada.
não haverá complemento agente na passiva. Por exemplo: (D) têm sido enfrentados.
Prejudicaram-me. / Fui prejudicado. (E) é enfrentada.

55
PORTUGUÊS

04. (TRF - 5ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – 09. (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – CASA CI-
FCC/2012) Para o Brasil, o fundamental é que, ao exercer a VIL – EXECUTIVO PÚBLICO – FCC/2010) Transpondo a frase
responsabilidade de proteger pela via militar, a comunida- o diretor estava promovendo seu filme para a voz passiva,
de internacional [...] observe outro preceito ... obtém-se corretamente o seguinte segmento:
Transpondo-se o segmento grifado acima para a voz (A) tinha recebido promoção.
passiva, a forma verbal resultante será: (B) estaria sendo promovido.
a) é observado. (C) fizera a promoção.
b) seja observado. (D) estava sendo promovido.
c) ser observado. (E) havia sido promovido.
d) é observada.
e) for observado. 10. -) (MPE/PE – ANALISTA MINISTERIAL – FCC/2012)
Da sede do poder no Brasil holandês, Marcgrave acompa-
05. (Analista de Procuradoria – FCC – 2013-adap) Trans- nhou e anotou, sempre sozinho, alguns fenômenos celestes,
pondo- -se para a voz passiva a frase O poeta teria sobretudo eclipses lunares e solares.
aberto um diálogo entre as duas partes, a forma verbal re-
sultante será: Ao transpor-se a frase acima para a voz passiva, as for-
A) fora aberto. mas verbais resultantes serão:
B) abriria. a) eram anotados e acompanhados.
C) teria sido aberto. b) fora anotado e acompanhado.
D) teriam sido abertas. c) foram anotados e acompanhados.
E) foi aberto. d) anota-se e acompanha-se.
e) foi anotado e acompanhado.
06.(SEE/SP – PROFESSOR EDUCAÇÃO BÁSICA II E PRO-
FESSOR II – LÍNGUA PORTUGUESA - FCC/2011) ...permite GABARITO
que os criadores tomem atitudes quando a proliferação
de algas tóxicas ameaça os peixes. 01. B 02.B 03. E 04.B 05. C
A transposição para a voz passiva da oração grifada 06. E 07. D 08. D 09.D 10.C
acima teria, de acordo com a norma culta, como forma
verbal resultante:
RESOLUÇÃO
(A) ameaçavam.
(B) foram ameaçadas.
1-)
(C) ameaçarem.
(A) O cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado.
(D) estiver sendo ameaçada.
(B) O conceito de espetáculo unifica e explica uma
(E) forem ameaçados.
grande diversidade de fenômenos.
07. (INFRAERO – ENGENHEIRO SANITARISTA – - Uma grande diversidade de fenômenos é unificada e
FCC/2011) Transpondo-se para a voz passiva a frase Um explicada pelo conceito...
figurante pode obscurecer a atuação de um protagonista, a (C) O espetáculo é ao mesmo tempo parte da socieda-
forma verbal obtida será: de, a própria sociedade e seu instrumento de unificação.
(A) pode ser obscurecido. (D) As imagens fluem desligadas de cada aspecto da
(B) obscurecerá. vida (...).
(C) pode ter obscurecido. (E) Por ser algo separado, ele é o foco do olhar iludido
(D) pode ser obscurecida. e da falsa consciência.
(E) será obscurecida.
2-) ... a Coreia do Norte interrompeu comunicações
08.(GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – PRO- com o vizinho = voz ativa com um verbo, então a passiva
CON – ADVOGADO – CEPERJ/2012) “todos que são impac- terá dois: comunicações com o vizinho foram interrompi-
tados pelas mídias de massa” das pela Coreia...
O fragmento transcrito acima apresenta uma constru-
ção na voz passiva do verbo. Outro exemplo de voz passiva 3-) Hoje a autoria institucional enfrenta séria concor-
encontra-se em: rência dos autores anônimos = Séria concorrência é en-
A) “As crianças brasileiras influenciam 80% das decisões frentada pela autoria...
de compra de uma família”
B) “A publicidade na TV é a principal ferramenta do 4-) a comunidade internacional [...] observe outro pre-
mercado para a persuasão do público infantil” ceito = se na voz ativa temos um verbo, na passiva tere-
C) “evidenciaram outros fatores que influenciam as mos dois: outro preceito seja observado.
crianças brasileiras nas práticas de consumo.”
D) “Elas são assediadas pelo mercado” 5-) O poeta teria aberto um diálogo entre as duas par-
E) “valores distorcidos são de fato um problema de or- tes = Um diálogo teria sido aberto...
dem ética”

56
PORTUGUÊS

6-) Quando a proliferação ameaça os peixes = voz ativa 3) Quando o sujeito é representado por expressões par-
Quando os peixes forem ameaçados pela proliferação... titivas, representadas por “a maioria de, a maior parte de,
= voz passiva a metade de, uma porção de” entre outras, o verbo tanto
pode concordar com o núcleo dessas expressões quanto
7-) Um figurante pode obscurecer a atuação de um com o substantivo que a segue: A maioria dos alunos resol-
protagonista. veu ficar. A maioria dos alunos resolveram ficar.
Se na voz ativa temos um verbo, na passiva teremos 4) No caso de o sujeito ser representado por expres-
dois; se na ativa temos dois, na passiva teremos três. Então: sões aproximativas, representadas por “cerca de, perto de”,
A atuação de um protagonista pode ser obscurecida por o verbo concorda com o substantivo determinado por elas:
um figurante. Cerca de mil candidatos se inscreveram no concurso.
8-) 5) Em casos em que o sujeito é representado pela ex-
A) “As crianças brasileiras influenciam 80% das deci- pressão “mais de um”, o verbo permanece no singular: Mais
sões de compra de uma família” = voz ativa de um candidato se inscreveu no concurso de piadas.
B) “A publicidade na TV é a principal ferramenta do
Observação:
mercado para a persuasão do público infantil” = ativa (ver-
- No caso da referida expressão aparecer repetida ou
bo de ligação); não dá para passar para a passiva
associada a um verbo que exprime reciprocidade, o verbo,
C) “evidenciaram outros fatores que influenciam as
crianças brasileiras nas práticas de consumo.” = ativa necessariamente, deverá permanecer no plural:
D) “Elas são assediadas pelo mercado” = voz passiva Mais de um aluno, mais de um professor contribuíram na
E) “valores distorcidos são de fato um problema de or- campanha de doação de alimentos.
dem ética” = ativa (verbo de ligação); não dá para passar Mais de um formando se abraçaram durante as soleni-
para a passiva dades de formatura.
9-) o diretor estava promovendo seu filme = dois ver-
bos na voz ativa, três na passiva: seu filme estava sendo 6) Quando o sujeito for composto da expressão “um
produzido. dos que”, o verbo permanecerá no plural: Esse jogador foi
10-)Marcgrave acompanhou e anotou alguns fenô- um dos que atuaram na Copa América.
menos celestes = voz ativa com um verbo (sem auxiliar!),
então na passiva teremos dois: alguns fenômenos foram 7) Em casos relativos à concordância com locuções pro-
acompanhados e anotados por Marcgrave. nominais, representadas por “algum de nós, qual de vós,
quais de vós, alguns de nós”, entre outras, faz-se necessário
nos atermos a duas questões básicas:
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL; - No caso de o primeiro pronome estar expresso no
plural, o verbo poderá com ele concordar, como poderá
também concordar com o pronome pessoal: Alguns de nós
o receberemos. / Alguns de nós o receberão.
Ao falarmos sobre a concordância verbal, estamos nos - Quando o primeiro pronome da locução estiver ex-
referindo à relação de dependência estabelecida entre um presso no singular, o verbo permanecerá, também, no sin-
termo e outro mediante um contexto oracional. Desta fei- gular: Algum de nós o receberá.
ta, os agentes principais desse processo são representados
pelo sujeito, que no caso funciona como subordinante; e o 8) No caso de o sujeito aparecer representado pelo pro-
verbo, o qual desempenha a função de subordinado. nome “quem”, o verbo permanecerá na terceira pessoa do
Dessa forma, temos que a concordância verbal caracte-
singular ou poderá concordar com o antecedente desse
riza-se pela adaptação do verbo, tendo em vista os quesi-
pronome: Fomos nós quem contou toda a verdade para
tos “número e pessoa” em relação ao sujeito. Exemplifican-
do, temos: O aluno chegou atrasado. Temos que o verbo ela. / Fomos nós quem contamos toda a verdade para ela.
apresenta-se na terceira pessoa do singular, pois faz refe- 9) Em casos nos quais o sujeito aparece realçado pela
rência a um sujeito, assim também expresso (ele). Como palavra “que”, o verbo deverá concordar com o termo que
poderíamos também dizer: os alunos chegaram atrasados. antecede essa palavra: Nesta empresa somos nós que toma-
Casos referentes a sujeito simples mos as decisões. / Em casa sou eu que decido tudo.
1) Em caso de sujeito simples, o verbo concorda com
o núcleo em número e pessoa: O aluno chegou atrasado. 10) No caso de o sujeito aparecer representado por ex-
2) Nos casos referentes a sujeito representado por subs- pressões que indicam porcentagens, o verbo concordará
tantivo coletivo, o verbo permanece na terceira pessoa do com o numeral ou com o substantivo a que se refere essa
singular: A multidão, apavorada, saiu aos gritos. porcentagem: 50% dos funcionários aprovaram a decisão
Observação: da diretoria. / 50% do eleitorado apoiou a decisão.
- No caso de o coletivo aparecer seguido de adjunto
adnominal no plural, o verbo permanecerá no singular ou Observações:
poderá ir para o plural: - Caso o verbo apareça anteposto à expressão de por-
Uma multidão de pessoas saiu aos gritos. centagem, esse deverá concordar com o numeral: Aprova-
Uma multidão de pessoas saíram aos gritos. ram a decisão da diretoria 50% dos funcionários.

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PORTUGUÊS

- Em casos relativos a 1%, o verbo permanecerá no sin- Concordância nominal é o ajuste que fazemos aos de-
gular: 1% dos funcionários não aprovou a decisão da dire- mais termos da oração para que concordem em gênero e
toria. número com o substantivo. Teremos que alterar, portanto,
- Em casos em que o numeral estiver acompanhado de o artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome. Além disso,
determinantes no plural, o verbo permanecerá no plural: temos também o verbo, que se flexionará à sua maneira.
Os 50% dos funcionários apoiaram a decisão da diretoria.
11) Nos casos em que o sujeito estiver representado Regra geral: O artigo, o adjetivo, o numeral e o prono-
por pronomes de tratamento, o verbo deverá ser empre- me concordam em gênero e número com o substantivo.
gado na terceira pessoa do singular ou do plural: Vossas - A pequena criança é uma gracinha.
- O garoto que encontrei era muito gentil e simpático.
Majestades gostaram das homenagens. Vossa Majestade
agradeceu o convite.
Casos especiais: Veremos alguns casos que fogem à
regra geral mostrada acima.
12) Casos relativos a sujeito representado por substan-
tivo próprio no plural se encontram relacionados a alguns a) Um adjetivo após vários substantivos
aspectos que os determinam: - Substantivos de mesmo gênero: adjetivo vai para o
- Diante de nomes de obras no plural, seguidos do ver- plural ou concorda com o substantivo mais próximo.
bo ser, este permanece no singular, contanto que o predi- - Irmão e primo recém-chegado estiveram aqui.
cativo também esteja no singular: Memórias póstumas de - Irmão e primo recém-chegados estiveram aqui.
Brás Cubas é uma criação de Machado de Assis. - Substantivos de gêneros diferentes: vai para o plural
- Nos casos de artigo expresso no plural, o verbo tam- masculino ou concorda com o substantivo mais próximo.
bém permanece no plural: Os Estados Unidos são uma po- - Ela tem pai e mãe louros.
tência mundial. - Ela tem pai e mãe loura.
- Casos em que o artigo figura no singular ou em que - Adjetivo funciona como predicativo: vai obrigatoria-
mente para o plural.
ele nem aparece, o verbo permanece no singular: Estados
- O homem e o menino estavam perdidos.
Unidos é uma potência mundial. - O homem e sua esposa estiveram hospedados aqui.
Casos referentes a sujeito composto b) Um adjetivo anteposto a vários substantivos
- Adjetivo anteposto normalmente concorda com o
1) Nos casos relativos a sujeito composto de pessoas mais próximo.
gramaticais diferentes, o verbo deverá ir para o plural, es- Comi delicioso almoço e sobremesa.
tando relacionado a dois pressupostos básicos: Provei deliciosa fruta e suco.
- Quando houver a 1ª pessoa, esta prevalecerá sobre as
demais: Eu, tu e ele faremos um lindo passeio. - Adjetivo anteposto funcionando como predicativo:
- Quando houver a 2ª pessoa, o verbo poderá flexionar concorda com o mais próximo ou vai para o plural.
na 2ª ou na 3ª pessoa: Tu e ele sois primos. Tu e ele são Estavam feridos o pai e os filhos.
primos. Estava ferido o pai e os filhos.

c) Um substantivo e mais de um adjetivo


2) Nos casos em que o sujeito composto aparecer an- - antecede todos os adjetivos com um artigo.
teposto ao verbo, este permanecerá no plural: O pai e seus Falava fluentemente a língua inglesa e a espanhola.
dois filhos compareceram ao evento.
- coloca o substantivo no plural.
3) No caso em que o sujeito aparecer posposto ao ver- Falava fluentemente as línguas inglesa e espanhola.
bo, este poderá concordar com o núcleo mais próximo ou d) Pronomes de tratamento
permanecer no plural: Compareceram ao evento o pai e seus - sempre concordam com a 3ª pessoa.
dois filhos. Compareceu ao evento o pai e seus dois filhos. Vossa Santidade esteve no Brasil.
4) Nos casos relacionados a sujeito simples, porém com
mais de um núcleo, o verbo deverá permanecer no singu- e) Anexo, incluso, próprio, obrigado
lar: Meu esposo e grande companheiro merece toda a felici- - Concordam com o substantivo a que se referem.
dade do mundo. As cartas estão anexas.
A bebida está inclusa.
Precisamos de nomes próprios.
5) Casos relativos a sujeito composto de palavras sinô-
Obrigado, disse o rapaz.
nimas ou ordenado por elementos em gradação, o verbo
poderá permanecer no singular ou ir para o plural: Minha f) Um(a) e outro(a), num(a) e noutro(a)
vitória, minha conquista, minha premiação são frutos de - Após essas expressões o substantivo fica sempre no
meu esforço. / Minha vitória, minha conquista, minha pre- singular e o adjetivo no plural.
miação é fruto de meu esforço. Renato advogou um e outro caso fáceis.
Pusemos numa e noutra bandeja rasas o peixe.

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PORTUGUÊS

g) É bom, é necessário, é proibido Questões sobre Concordância Nominal e Verbal


- Essas expressões não variam se o sujeito não vier pre-
cedido de artigo ou outro determinante. 01.(TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010) A con-
Canja é bom. / A canja é boa. cordância verbal e nominal está inteiramente correta na
É necessário sua presença. / É necessária a sua presença. frase:
É proibido entrada de pessoas não autorizadas. / A en- (A) A sociedade deve reconhecer os princípios e valores
trada é proibida. que determinam as escolhas dos governantes, para confe-
rir legitimidade a suas decisões.
h) Muito, pouco, caro (B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes devem
- Como adjetivos: seguem a regra geral. ser embasados na percepção dos valores e princípios que
Comi muitas frutas durante a viagem. regem a prática política.
Pouco arroz é suficiente para mim. (C) Eleições livres e diretas é garantia de um verdadeiro
Os sapatos estavam caros. regime democrático, em que se respeita tanto as liberda-
- Como advérbios: são invariáveis. des individuais quanto as coletivas.
Comi muito durante a viagem. (D) As instituições fundamentais de um regime demo-
Pouco lutei, por isso perdi a batalha. crático não pode estar subordinado às ordens indiscrimi-
Comprei caro os sapatos. nadas de um único poder central.
(E) O interesse de todos os cidadãos estão voltados
i) Mesmo, bastante para o momento eleitoral, que expõem as diferentes opi-
- Como advérbios: invariáveis niões existentes na sociedade.
Preciso mesmo da sua ajuda.
Fiquei bastante contente com a proposta de emprego. 02. (Agente Técnico – FCC – 2013). As normas de con-
cordância verbal e nominal estão inteiramente respeitadas
- Como pronomes: seguem a regra geral. em:
Seus argumentos foram bastantes para me convencer.
A) Alguns dos aspectos mais desejáveis de uma boa lei-
Os mesmos argumentos que eu usei, você copiou.
tura, que satisfaça aos leitores e seja veículo de aprimora-
mento intelectual, estão na capacidade de criação do autor,
j) Menos, alerta
mediante palavras, sua matéria-prima.
- Em todas as ocasiões são invariáveis.
B) Obras que se considera clássicas na literatura sempre
Preciso de menos comida para perder peso.
Estamos alerta para com suas chamadas. delineia novos caminhos, pois é capaz de encantar o leitor
ao ultrapassar os limites da época em que vivem seus au-
k) Tal Qual tores, gênios no domínio das palavras, sua matéria-prima.
- “Tal” concorda com o antecedente, “qual” concorda C) A palavra, matéria-prima de poetas e romancistas,
com o consequente. lhe permitem criar todo um mundo de ficção, em que per-
As garotas são vaidosas tais qual a tia. sonagens se transformam em seres vivos a acompanhar os
Os pais vieram fantasiados tais quais os filhos. leitores, numa verdadeira interação com a realidade.
D) As possibilidades de comunicação entre autor e lei-
l) Possível tor somente se realiza plenamente caso haja afinidade de
- Quando vem acompanhado de “mais”, “menos”, “me- ideias entre ambos, o que permite, ao mesmo tempo, o
lhor” ou “pior”, acompanha o artigo que precede as ex- crescimento intelectual deste último e o prazer da leitura.
pressões. E) Consta, na literatura mundial, obras-primas que
A mais possível das alternativas é a que você expôs. constitui leitura obrigatória e se tornam referências por seu
Os melhores cargos possíveis estão neste setor da em- conteúdo que ultrapassa os limites de tempo e de época.
presa.
As piores situações possíveis são encontradas nas favelas 03. (Escrevente TJ-SP – Vunesp/2012) Leia o texto para
da cidade. responder à questão.
m) Meio _________dúvidas sobre o crescimento verde. Primeiro, não
- Como advérbio: invariável. está claro até onde pode realmente chegar uma política ba-
Estou meio (um pouco) insegura. seada em melhorar a eficiência sem preços adequados para
- Como numeral: segue a regra geral. o carbono, a água e (na maioria dos países pobres) a terra. É
Comi meia (metade) laranja pela manhã. verdade que mesmo que a ameaça dos preços do carbono e
da água em si ___________diferença, as companhias não po-
n) Só dem suportar ter de pagar, de repente, digamos, 40 dólares
- apenas, somente (advérbio): invariável. por tonelada de carbono, sem qualquer preparação. Portan-
Só consegui comprar uma passagem. to, elas começam a usar preços- -sombra. Ainda assim,
- sozinho (adjetivo): variável. ninguém encontrou até agora uma maneira de quantificar
Estiveram sós durante horas. adequadamente os insumos básicos. E sem eles a maioria
das políticas de crescimento verde sempre ___________ a se-
Fonte: http://www.brasilescola.com/gramatica/concor- gunda opção.
dancia-verbal.htm (Carta Capital, 27.06.2012. Adaptado)

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PORTUGUÊS

De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, 07. (TRF - 5ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012)
as lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e res- Todas as formas verbais estão corretamente flexionadas
pectivamente, com: em:
(A) Restam… faça… será (A) Enquanto não se disporem a considerar o cordel
(B) Resta… faz… será sem preconceitos, as pessoas não serão capazes de fruir
(C) Restam… faz... serão dessas criações poéticas tão originais.
(D) Restam… façam… serão (B) Ainda que nem sempre detenha o mesmo status
(E) Resta… fazem… será atribuído à arte erudita, o cordel vem sendo estudado hoje
nas melhores universidades do país.
04 (Escrevente TJ SP – Vunesp/2012) Assinale a alterna- (C) Rodolfo Coelho Cavalcante deve ter percebido que
tiva em que o trecho a situação dos cordelistas não mudaria a não ser que eles
– Ainda assim, ninguém encontrou até agora uma ma- mesmos requizessem o respeito que faziam por merecer.
neira de quantificar adequadamente os insumos básicos.– (D) Se não proveem do preconceito, a desvalorização e
está corretamente reescrito, de acordo com a norma-pa- a pouca visibilidade dessa arte popular tão rica só pode ser
drão da língua portuguesa. resultado do puro e simples desconhecimento.
(A) Ainda assim, temos certeza que ninguém encontrou
(E) Rodolfo Coelho Cavalcante entreveu que os proble-
até agora uma maneira adequada de se quantificar os in-
mas dos cordelistas estavam diretamente ligados à falta de
sumos básicos.
representatividade.
(B) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encon-
trou até agora uma maneira adequada de os insumos bási-
cos ser quantificados. 08. (TRF - 4ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010)
(C) Ainda assim, temos certeza que ninguém encontrou Observam-se corretamente as regras de concordância ver-
até agora uma maneira adequada para que os insumos bá- bal e nominal em:
sicos sejam quantificado. a) O desenraizamento, não só entre intelectuais como
(D) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encon- entre os mais diversos tipos de pessoas, das mais sofistica-
trou até agora uma maneira adequada para que os insu- das às mais humildes, são cada vez mais comuns nos dias
mos básicos seja quantificado. de hoje.
(E) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encon- b) A importância de intelectuais como Edward Said e
trou até agora uma maneira adequada de se quantificarem Tony Judt, que não se furtaram ao debate sobre questões
os insumos básicos. polêmicas de seu tempo, não estão apenas nos livros que
escreveram.
05. (FUNDAÇÃO CASA/SP - AGENTE ADMINISTRATIVO c) Nada indica que o conflito no Oriente Médio entre
- VUNESP/2011 - ADAPTADA) Observe as frases do texto: árabes e judeus, responsável por tantas mortes e tanto so-
I. Cerca de 75 por cento dos países obtêm nota nega- frimento, estejam próximos de serem resolvidos ou pelo
tiva... menos de terem alguma trégua.
II. ... à Venezuela, de Chávez, que obtém a pior classi-
ficação do continente americano (2,0)... d) Intelectuais que têm compromisso apenas com a ver-
Assim como ocorre com o verbo “obter” nas frases I e dade, ainda que conscientes de que esta é até certo ponto
II, a concordância segue as mesmas regras, na ordem dos relativa, costumam encontrar muito mais detratores que
exemplos, em: admiradores.
(A) Todas as pessoas têm boas perspectivas para o pró- e) No final do século XX já não se via muitos intelectuais
ximo ano. Será que alguém tem opinião diferente da maio- e escritores como Edward Said, que não apenas era notícia
ria? pelos livros que publicavam como pelas posições que co-
(B) Vem muita gente prestigiar as nossas festas juninas.
rajosamente assumiam.
Vêm pessoas de muito longe para brincar de quadrilha.
(C) Pouca gente quis voltar mais cedo para casa. Quase
09. (TRF - 2ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012)
todos quiseram ficar até o nascer do sol na praia.
(D) Existem pessoas bem intencionadas por aqui, mas O verbo que, dadas as alterações entre parênteses propos-
também existem umas que não merecem nossa atenção. tas para o segmento grifado, deverá ser colocado no plural,
(E) Aqueles que não atrapalham muito ajudam. está em:
(A) Não há dúvida de que o estilo de vida... (dúvidas)
06. (TRF - 5ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012) (B) O que não se sabe... (ninguém nas regiões do pla-
Os folheteiros vivem em feiras, mercados, praças e locais de neta)
peregrinação. (C) O consumo mundial não dá sinal de trégua... (O
O verbo da frase acima NÃO pode ser mantido no plural consumo mundial de barris de petróleo)
caso o segmento grifado seja substituído por: (D) Um aumento elevado no preço do óleo reflete-se
(A) Há folheteiros que no custo da matéria-prima... (Constantes aumentos)
(B) A maior parte dos folheteiros (E) o tema das mudanças climáticas pressiona os es-
(C) O folheteiro e sua família forços mundiais... (a preocupação em torno das mudanças
(D) O grosso dos folheteiros climáticas)
(E) Cada um dos folheteiros

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PORTUGUÊS

10. (CETESB/SP – ESCRITURÁRIO - VUNESP/2013) Assi- 3-) _Restam___dúvidas


nale a alternativa em que a concordância das formas ver- mesmo que a ameaça dos preços do carbono e da água
bais destacadas está de acordo com a norma-padrão da em si __faça __diferença
língua. a maioria das políticas de crescimento verde sempre
(A) Fazem dez anos que deixei de trabalhar em higieni- ____será_____ a segunda opção.
zação subterrânea. Em “a maioria de”, a concordância pode ser dupla: tanto
(B) Ainda existe muitas pessoas que discriminam os tra- no plural quanto no singular. Nas alternativas não há “res-
balhadores da área de limpeza. tam/faça/serão”, portanto a A é que apresenta as opções
(C) No trabalho em meio a tanta sujeira, havia altos adequadas.
riscos de se contrair alguma doença.
(D) Eu passava a manhã no subterrâneo: quando era
4-)
sete da manhã, eu já estava fazendo meu serviço.
(E) As companhias de limpeza, apenas recentemente, (A) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encon-
começou a adotar medidas mais rigorosas para a proteção trou até agora uma maneira adequada de se quantificar os
de seus funcionários. insumos básicos.
(B) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encon-
GABARITO trou até agora uma maneira adequada de os insumos bási-
cos serem quantificados.
01. A 02. A 03. A 04. E 05. A (C) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encon-
06. E 07. |B 08. D 09. D 10. C trou até agora uma maneira adequada para que os insu-
mos básicos sejam quantificados.
RESOLUÇÃO (D) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encon-
trou até agora uma maneira adequada para que os insu-
1-) Fiz os acertos entre parênteses: mos básicos sejam quantificados.
(A) A sociedade deve reconhecer os princípios e valores
(E) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encon-
que determinam as escolhas dos governantes, para confe-
rir legitimidade a suas decisões. trou até agora uma maneira adequada de se quantificarem
(B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes devem os insumos básicos. = correta
(deve) ser embasados (embasada) na percepção dos valo-
res e princípios que regem a prática política. 5-) Em I, obtêm está no plural; em II, no singular. Vamos
(C) Eleições livres e diretas é (são) garantia de um ver- aos itens:
dadeiro regime democrático, em que se respeita (respei- (A) Todas as pessoas têm (plural) ... Será que alguém
tam) tanto as liberdades individuais quanto as coletivas. tem (singular)
(D) As instituições fundamentais de um regime demo- (B) Vem (singular) muita gente... Vêm pessoas (plural)
crático não pode (podem) estar subordinado (subordina- (C) Pouca gente quis (singular)... Quase todos quiseram
das) às ordens indiscriminadas de um único poder central. (plural)
(E) O interesse de todos os cidadãos estão (está) volta- (D) Existem (plural) pessoas ... mas também existem
dos (voltado) para o momento eleitoral, que expõem (ex- umas (plural)
põe) as diferentes opiniões existentes na sociedade.
(E) Aqueles que não atrapalham muito ajudam (ambas
2-)
as formas estão no plural)
A) Alguns dos aspectos mais desejáveis de uma boa lei-
tura, que satisfaça aos leitores e seja veículo de aprimora- 6-)
mento intelectual, estão na capacidade de criação do autor, A - Há folheteiros que vivem (concorda com o objeto
mediante palavras, sua matéria-prima. = correta “folheterios”)
B) Obras que se consideram clássicas na literatura sem- B – A maior parte dos folheteiros vivem/vive (opcional)
pre delineiam novos caminhos, pois são capazes de encan- C – O folheteiro e sua família vivem (sujeito composto)
tar o leitor ao ultrapassarem os limites da época em que D – O grosso dos folheteiros vive/vivem (opcional)
vivem seus autores, gênios no domínio das palavras, sua E – Cada um dos folheteiros vive = somente no singular
matéria-prima.
C) A palavra, matéria-prima de poetas e romancistas, 7-) Coloquei entre parênteses a forma verbal correta:
lhes permite criar todo um mundo de ficção, em que per- (A) Enquanto não se disporem (dispuserem) a conside-
sonagens se transformam em seres vivos a acompanhar os rar o cordel sem preconceitos, as pessoas não serão capa-
leitores, numa verdadeira interação com a realidade. zes de fruir dessas criações poéticas tão originais.
D) As possibilidades de comunicação entre autor e lei-
(B) Ainda que nem sempre detenha o mesmo status
tor somente se realizam plenamente caso haja afinidade
de ideias entre ambos, o que permite, ao mesmo tempo, o atribuído à arte erudita, o cordel vem sendo estudado hoje
crescimento intelectual deste último e o prazer da leitura. nas melhores universidades do país.
E) Constam, na literatura mundial, obras-primas que (C) Rodolfo Coelho Cavalcante deve ter percebido que
constituem leitura obrigatória e se tornam referências por a situação dos cordelistas não mudaria a não ser que eles
seu conteúdo que ultrapassa os limites de tempo e de épo- mesmos requizessem (requeressem) o respeito que faziam
ca. por merecer.

61
PORTUGUÊS

(D) Se não proveem (provêm) do preconceito, a desva-


lorização e a pouca visibilidade dessa arte popular tão rica PRONOMES: EMPREGO E COLOCAÇÃO E
só pode (podem) ser resultado do puro e simples desco-
REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL
nhecimento.
(E) Rodolfo Coelho Cavalcante entreveu (entreviu) que
os problemas dos cordelistas estavam diretamente ligados
à falta de representatividade. “Caro Candidato, o tópico: Pronomes: emprego
e colocação, foi abordado na íntegra em: Classes
8-) Fiz as correções entre parênteses: gramaticais;”
a) O desenraizamento, não só entre intelectuais como
entre os mais diversos tipos de pessoas, das mais sofis- REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL
ticadas às mais humildes, são (é) cada vez mais comuns
(comum) nos dias de hoje. Dá-se o nome de regência à relação de subordinação
b) A importância de intelectuais como Edward Said e que ocorre entre um verbo (ou um nome) e seus comple-
Tony Judt, que não se furtaram ao debate sobre questões mentos. Ocupa-se em estabelecer relações entre as pala-
polêmicas de seu tempo, não estão (está) apenas nos livros vras, criando frases não ambíguas, que expressem efeti-
que escreveram. vamente o sentido desejado, que sejam corretas e claras.
c) Nada indica que o conflito no Oriente Médio entre
árabes e judeus, responsável por tantas mortes e tanto Regência Verbal
sofrimento, estejam (esteja) próximos (próximo) de serem
(ser) resolvidos (resolvido) ou pelo menos de terem (ter) Termo Regente: VERBO
alguma trégua.
d) Intelectuais que têm compromisso apenas com a ver- A regência verbal estuda a relação que se estabelece
dade, ainda que conscientes de que esta é até certo ponto entre os verbos e os termos que os complementam (obje-
relativa, costumam encontrar muito mais detratores que tos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos
admiradores. adverbiais).
e) No final do século XX já não se via (viam) muitos in- O estudo da regência verbal permite-nos ampliar nos-
telectuais e escritores como Edward Said, que não apenas sa capacidade expressiva, pois oferece oportunidade de
era (eram) notícia pelos livros que publicavam como pelas conhecermos as diversas significações que um verbo pode
posições que corajosamente assumiam. assumir com a simples mudança ou retirada de uma pre-
posição. Observe:
9-) A mãe agrada o filho. -> agradar significa acariciar,
(A) Não há dúvida de que o estilo de vida... (dúvidas) =
contentar.
“há” permaneceria no singular
A mãe agrada ao filho. -> agradar significa “causar
(B) O que não se sabe ... (ninguém nas regiões do pla-
agrado ou prazer”, satisfazer.
neta) = “sabe” permaneceria no singular
Logo, conclui-se que “agradar alguém” é diferente de
(C) O consumo mundial não dá sinal de trégua ... (O
“agradar a alguém”.
consumo mundial de barris de petróleo) = “dá” permane-
ceria no singular
Saiba que:
(D) Um aumento elevado no preço do óleo reflete-se no
O conhecimento do uso adequado das preposições é
custo da matéria-prima... Constantes aumentos) = “reflete”
passaria para “refletem-se” um dos aspectos fundamentais do estudo da regência ver-
(E) o tema das mudanças climáticas pressiona os esfor- bal (e também nominal). As preposições são capazes de
ços mundiais... (a preocupação em torno das mudanças cli- modificar completamente o sentido do que se está sendo
máticas) = “pressiona” permaneceria no singular dito. Veja os exemplos:
Cheguei ao metrô.
10-) Fiz as correções: Cheguei no metrô.
(A) Fazem dez anos = faz (sentido de tempo = singular) No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no se-
(B) Ainda existe muitas pessoas = existem gundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado. A
(C) No trabalho em meio a tanta sujeira, havia altos ris- oração “Cheguei no metrô”, popularmente usada a fim de
cos indicar o lugar a que se vai, possui, no padrão culto da
(D) Eu passava a manhã no subterrâneo: quando era língua, sentido diferente. Aliás, é muito comum existirem
sete da manhã = eram divergências entre a regência coloquial, cotidiana de al-
(E) As companhias de limpeza, apenas recentemente, guns verbos, e a regência culta.
começou = começaram Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos
de acordo com sua transitividade. A transitividade, porém,
não é um fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de
diferentes formas em frases distintas.

62
PORTUGUÊS

Verbos Intransitivos mes o, os, a, as como complementos de verbos transitivos


indiretos. Com os objetos indiretos que não representam
Os verbos intransitivos não possuem complemento. É pessoas, usam-se pronomes oblíquos tônicos de terceira
importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos pessoa (ele, ela) em lugar dos pronomes átonos lhe, lhes.
aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los. Os verbos transitivos indiretos são os seguintes:
- Consistir - Tem complemento introduzido pela prepo-
- Chegar, Ir sição “em”: A modernidade verdadeira consiste em direitos
Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adver- iguais para todos.
biais de lugar. Na língua culta, as preposições usadas para - Obedecer e Desobedecer - Possuem seus comple-
indicar destino ou direção são: a, para. mentos introduzidos pela preposição “a”:
Fui ao teatro. Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais.
Adjunto Adverbial de Lugar Eles desobedeceram às leis do trânsito.
- Responder - Tem complemento introduzido pela pre-
Ricardo foi para a Espanha.
posição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indicar “a
Adjunto Adverbial de Lugar
quem” ou “ao que” se responde.
- Comparecer Respondi ao meu patrão.
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido por Respondemos às perguntas.
em ou a. Respondeu-lhe à altura.
Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o úl- Obs.: o verbo responder, apesar de transitivo indireto
timo jogo. quando exprime aquilo a que se responde, admite voz pas-
siva analítica. Veja:
Verbos Transitivos Diretos O questionário foi respondido corretamente.
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamente.
Os verbos transitivos diretos são complementados por
objetos diretos. Isso significa que não exigem preposição - Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus complemen-
para o estabelecimento da relação de regência. Ao empre- tos introduzidos pela preposição “com”.
gar esses verbos, devemos lembrar que os pronomes oblí- Antipatizo com aquela apresentadora.
quos o, a, os, as atuam como objetos diretos. Esses prono- Simpatizo com os que condenam os políticos que gover-
mes podem assumir as formas lo, los, la, las (após formas nam para uma minoria privilegiada.
verbais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos, nas (após Verbos Transitivos Diretos e Indiretos
formas verbais terminadas em sons nasais), enquanto lhe e
lhes são, quando complementos verbais, objetos indiretos.
Os verbos transitivos diretos e indiretos são acompa-
São verbos transitivos diretos, dentre outros: abandonar,
abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar, admirar, nhados de um objeto direto e um indireto. Merecem desta-
adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxiliar, castigar, que, nesse grupo: Agradecer, Perdoar e Pagar. São verbos
condenar, conhecer, conservar,convidar, defender, eleger, es- que apresentam objeto direto relacionado a coisas e obje-
timar, humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, prezar, proteger, to indireto relacionado a pessoas. Veja os exemplos:
respeitar, socorrer, suportar, ver, visitar. Agradeço aos ouvintes a audiência.
Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente Objeto Indireto Objeto Direto
como o verbo amar:
Amo aquele rapaz. / Amo-o. Paguei o débito ao cobrador.
Amo aquela moça. / Amo-a. Objeto Direto Objeto Indireto
Amam aquele rapaz. / Amam-no.
Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la. - O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito
com particular cuidado. Observe:
Obs.: os pronomes lhe, lhes só acompanham esses ver- Agradeci o presente. / Agradeci-o.
bos para indicar posse (caso em que atuam como adjuntos Agradeço a você. / Agradeço-lhe.
adnominais). Perdoei a ofensa. / Perdoei-a.
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto) Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe.
Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua carreira)
Paguei minhas contas. / Paguei-as.
Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau humor)
Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.
Verbos Transitivos Indiretos
Informar
Os verbos transitivos indiretos são complementados por - Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto
objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exigem indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
uma preposição para o estabelecimento da relação de re- Informe os novos preços aos clientes.
gência. Os pronomes pessoais do caso oblíquo de terceira Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os novos
pessoa que podem atuar como objetos indiretos são o “lhe”, preços)
o “lhes”, para substituir pessoas. Não se utilizam os prono-

63
PORTUGUÊS

- Na utilização de pronomes como complementos, veja AGRADAR


as construções: - Agradar é transitivo direto no sentido de fazer cari-
Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços. nhos, acariciar.
Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou so- Sempre agrada o filho quando o revê. / Sempre o agrada
bre eles) quando o revê.
Obs.: a mesma regência do verbo informar é usada para Cláudia não perde oportunidade de agradar o gato. /
os seguintes: avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir. Cláudia não perde oportunidade de agradá-lo.
- Agradar é transitivo indireto no sentido de causar
Comparar agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento
Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as introduzido pela preposição “a”.
O cantor não agradou aos presentes.
preposições “a” ou “com” para introduzir o complemento
O cantor não lhes agradou.
indireto.
Comparei seu comportamento ao (ou com o) de uma ASPIRAR
criança. - Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspi-
rar (o ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o)
Pedir - Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter
Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente na como ambição: Aspirávamos a melhores condições de vida.
forma de oração subordinada substantiva) e indireto de (Aspirávamos a elas)
pessoa. Obs.: como o objeto direto do verbo “aspirar” não é
Pedi-lhe favores. pessoa, mas coisa, não se usam as formas pronominais áto-
Objeto Indireto Objeto Direto nas “lhe” e “lhes” e sim as formas tônicas “a ele (s)”, “ a ela
(s)”. Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (=
Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio. Aspiravam a ela)
Objeto Indireto Oração Subordinada Substantiva
ASSISTIR
Objetiva Direta
- Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, pres-
tar assistência a, auxiliar. Por exemplo:
Saiba que: As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos.
- A construção “pedir para”, muito comum na lingua- As empresas de saúde negam-se a assisti-los.
gem cotidiana, deve ter emprego muito limitado na língua
culta. No entanto, é considerada correta quando a palavra - Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presen-
licença estiver subentendida. ciar, estar presente, caber, pertencer. Exemplos:
Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa. Assistimos ao documentário.
Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz Não assisti às últimas sessões.
uma oração subordinada adverbial final reduzida de infini- Essa lei assiste ao inquilino.
tivo (para ir entregar-lhe os catálogos em casa). Obs.: no sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é
- A construção “dizer para”, também muito usada po- intransitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de
pularmente, é igualmente considerada incorreta. lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa
conturbada cidade.
Preferir CHAMAR
Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto indi- - Chamar é transitivo direto no sentido de convocar, so-
reto introduzido pela preposição “a”. Por Exemplo: licitar a atenção ou a presença de.
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais. Por gentileza, vá chamar sua prima. / Por favor, vá chamá-la.
Prefiro trem a ônibus. Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes.
Obs.: na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado
sem termos intensificadores, tais como: muito, antes, mil - Chamar no sentido de denominar, apelidar pode apre-
vezes, um milhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo sentar objeto direto e indireto, ao qual se refere predicativo
prefixo existente no próprio verbo (pre). preposicionado ou não.
A torcida chamou o jogador mercenário.
Mudança de Transitividade X Mudança de Significado A torcida chamou ao jogador mercenário.
A torcida chamou o jogador de mercenário.
A torcida chamou ao jogador de mercenário.
Há verbos que, de acordo com a mudança de transitivi-
dade, apresentam mudança de significado. O conhecimento CUSTAR
das diferentes regências desses verbos é um recurso linguís- - Custar é intransitivo no sentido de ter determinado
tico muito importante, pois além de permitir a correta inter- valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial:
pretação de passagens escritas, oferece possibilidades ex- Frutas e verduras não deveriam custar muito.
pressivas a quem fala ou escreve. Dentre os principais, estão: - No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo
ou transitivo indireto.

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PORTUGUÊS

Muito custa viver tão longe da família. VISAR


Verbo Oração Subordinada Substantiva Subjeti- - Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mi-
va rar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
Intransitivo Reduzida de Infinitivo O homem visou o alvo.
Custa-me (a mim) crer que tomou realmente aquela O gerente não quis visar o cheque.
atitude.
Objeto Oração Subordinada Substantiva Subjeti- - No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como
va objetivo, é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
Indireto Reduzida de Infinitivo O ensino deve sempre visar ao progresso social.
Obs.: a Gramática Normativa condena as construções Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar
que atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado público.
por pessoa. Observe: ESQUECER – LEMBRAR
Custei para entender o problema. - Lembrar algo – esquecer algo
Forma correta: Custou-me entender o problema. - Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronominal)

IMPLICAR No 1º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja,


- Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos: exigem complemento sem preposição: Ele esqueceu o livro.
a) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes No 2º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc) e
implicavam um firme propósito. exigem complemento com a preposição “de”. São, portan-
b) Ter como consequência, trazer como consequência, to, transitivos indiretos:
acarretar, provocar: Liberdade de escolha implica amadure- - Ele se esqueceu do caderno.
cimento político de um povo. - Eu me esqueci da chave.
- Eles se esqueceram da prova.
- Como transitivo direto e indireto, significa compro- - Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.
meter, envolver: Implicaram aquele jornalista em questões
econômicas. Há uma construção em que a coisa esquecida ou lem-
brada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve
alteração de sentido. É uma construção muito rara na lín-
Obs.: no sentido de antipatizar, ter implicância, é transi-
gua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos
tivo indireto e rege com preposição “com”: Implicava com
clássicos tanto brasileiros como portugueses. Machado de
quem não trabalhasse arduamente.
Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.
- Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
PROCEDER
- Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)
- Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter
cabimento, ter fundamento ou portar-se, comportar-se,
O verbo lembrar também pode ser transitivo direto e
agir. Nessa segunda acepção, vem sempre acompanhado
indireto (lembrar alguma coisa a alguém ou alguém de al-
de adjunto adverbial de modo.
guma coisa).
As afirmações da testemunha procediam, não havia
como refutá-las. SIMPATIZAR
Você procede muito mal. Transitivo indireto e exige a preposição “com”: Não sim-
- Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a prepo- patizei com os jurados.
sição” de”) e fazer, executar (rege complemento introduzi-
do pela preposição “a”) é transitivo indireto. NAMORAR
O avião procede de Maceió. É transitivo direto, ou seja, não admite preposição: Ma-
Procedeu-se aos exames. ria namora João.
O delegado procederá ao inquérito.
Obs: Não é correto dizer: “Maria namora com João”.
QUERER
- Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter OBEDECER
vontade de, cobiçar. É transitivo indireto, ou seja, exige complemento com
Querem melhor atendimento. a preposição “a” (obedecer a): Devemos obedecer aos pais.
Queremos um país melhor. Obs: embora seja transitivo indireto, esse verbo pode
- Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição, ser usado na voz passiva: A fila não foi obedecida.
estimar, amar.
Quero muito aos meus amigos. VER
Ele quer bem à linda menina. É transitivo direto, ou seja, não exige preposição: Ele viu
Despede-se o filho que muito lhe quer. o filme.

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PORTUGUÊS

Regência Nominal

É o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse nome.
Essa relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em conta que vá-
rios nomes apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de um verbo significa,
nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os nomes correspondentes:
todos regem complementos introduzidos pela preposição a. Veja:
Obedecer a algo/ a alguém.
Obediente a algo/ a alguém.
Apresentamos a seguir vários nomes acompanhados da preposição ou preposições que os regem. Observe-os atenta-
mente e procure, sempre que possível, associar esses nomes entre si ou a algum verbo cuja regência você conhece.

Substantivos

Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de


Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por
Adjetivos

Acessível a Diferente de Necessário a


Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios

Longe de Perto de

Obs.: os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a;
paralelamente a; relativa a; relativamente a.

Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php

Questões sobre Regência Nominal e Verbal

01. (Administrador – FCC – 2013-adap.).


... a que ponto a astronomia facilitou a obra das outras ciências ...
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o grifado acima está empregado em:
A) ...astros que ficam tão distantes ...
B) ...que a astronomia é uma das ciências ...
C) ...que nos proporcionou um espírito ...
D) ...cuja importância ninguém ignora ...
E) ...onde seu corpo não passa de um ponto obscuro ...

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PORTUGUÊS

02.(Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013- (D) Não há dúvida de que as mulheres ampliam ra-
adap.). pidamente seu espaço na carreira científica, ainda que o
... pediu ao delegado do bairro que desse um jeito nos avanço seja mais notável em alguns países – o Brasil é um
filhos do sueco. exemplo – do que em outros.
O verbo que exige, no contexto, o mesmo tipo de com- (E) Não há dúvida que as mulheres ampliam rapida-
plementos que o grifado acima está empregado em: mente, seu espaço na carreira científica, ainda que, o avan-
A) ...que existe uma coisa chamada exército... ço seja mais notável em alguns países (o Brasil é um exem-
B) ...como se isso aqui fosse casa da sogra? plo) do que em outros.
C) ...compareceu em companhia da mulher à delegacia...
D) Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro... 06. (Papiloscopista Policial – VUNESP – 2013). Assina-
E) O delegado apenas olhou-a espantado com o atre- le a alternativa correta quanto à regência dos termos em
vimento. destaque.
(A) Ele tentava convencer duas senhoras a assumir a
03.(Agente de Defensoria Pública – FCC – 2013-adap.).
responsabilidade pelo problema.
... constava simplesmente de uma vareta quebrada em
(B) A menina tinha o receio a levar uma bronca por ter
partes desiguais...
se perdido.
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que
(C) A garota tinha apenas a lembrança pelo desenho
o grifado acima está empregado em:
A) Em campos extensos, chegavam em alguns casos a de um índio na porta do prédio.
extremos de sutileza. (D) A menina não tinha orgulho sob o fato de ter se
B) ...eram comumente assinalados a golpes de machado perdido de sua família.
nos troncos mais robustos. (E) A família toda se organizou para realizar a procura
C) Os toscos desenhos e os nomes estropiados deso- à garotinha.
rientam, não raro, quem...
D) Koch-Grünberg viu uma dessas marcas de caminho 07. (Analista de Sistemas – VUNESP – 2013). Assinale
na serra de Tunuí... a alternativa que completa, correta e respectivamente, as
E) ...em que tão bem se revelam suas afinidades com o lacunas do texto, de acordo com as regras de regência.
gentio, mestre e colaborador... Os estudos _______ quais a pesquisadora se reportou já
assinalavam uma relação entre os distúrbios da imagem
04. (Agente Técnico – FCC – 2013-adap.). corporal e a exposição a imagens idealizadas pela mídia.
... para lidar com as múltiplas vertentes da justiça... A pesquisa faz um alerta ______ influência negativa que a
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que mídia pode exercer sobre os jovens.
o da frase acima se encontra em: A) dos … na
A) A palavra direito, em português, vem de directum, B) nos … entre a
do verbo latino dirigere... C) aos … para a
B) ...o Direito tem uma complexa função de gestão das D) sobre os … pela
sociedades... E) pelos … sob a
C) ...o de que o Direito [...] esteja permeado e regulado
pela justiça. 08. (Analista em Planejamento, Orçamento e Finanças
D) Essa problematicidade não afasta a força das aspi- Públicas – VUNESP – 2013). Considerando a norma-padrão
rações da justiça... da língua, assinale a alternativa em que os trechos desta-
E) Na dinâmica dessa tensão tem papel relevante o
cados estão corretos quanto à regência, verbal ou nominal.
sentimento de justiça.
A) O prédio que o taxista mostrou dispunha de mais de
dez mil tomadas.
05. (Escrevente TJ SP – Vunesp 2012) Assinale a alter-
B) O autor fez conjecturas sob a possibilidade de haver
nativa em que o período, adaptado da revista Pesquisa
Fapesp de junho de 2012, está correto quanto à regência um homem que estaria ouvindo as notas de um oboé.
nominal e à pontuação. C) Centenas de trabalhadores estão empenhados de
(A) Não há dúvida que as mulheres ampliam, rapida- criar logotipos e negociar.
mente, seu espaço na carreira científica ainda que o avan- D) O taxista levou o autor a indagar no número de to-
ço seja mais notável em alguns países, o Brasil é um exem- madas do edifício.
plo, do que em outros. E) A corrida com o taxista possibilitou que o autor repa-
(B) Não há dúvida de que, as mulheres, ampliam ra- rasse a um prédio na marginal.
pidamente seu espaço na carreira científica; ainda que o
avanço seja mais notável, em alguns países, o Brasil é um 09. (Assistente de Informática II – VUNESP – 2013). As-
exemplo!, do que em outros. sinale a alternativa que substitui a expressão destacada na
(C) Não há dúvida de que as mulheres, ampliam ra- frase, conforme as regras de regência da norma-padrão da
pidamente seu espaço, na carreira científica, ainda que o língua e sem alteração de sentido.
avanço seja mais notável, em alguns países: o Brasil é um Muitas organizações lutaram a favor da igualdade de
exemplo, do que em outros. direitos dos trabalhadores domésticos.

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PORTUGUÊS

A) da 5-) A correção do item deve respeitar as regras de pon-


B) na tuação também. Assinalei apenas os desvios quanto à re-
C) pela gência (pontuação encontra-se em tópico específico)
D) sob a (A) Não há dúvida de que as mulheres ampliam,
E) sobre a (B) Não há dúvida de que (erros quanto à pon-
tuação)
GABARITO (C) Não há dúvida de que as mulheres, (erros quanto
à pontuação)
01. D 02. D 03. A 04. A 05. D (E) Não há dúvida de que as mulheres ampliam rapi-
06. A 07. C 08. A 09. C damente, seu espaço na carreira científica, ainda que, o
avanço seja mais notável em alguns países (o Brasil é um
RESOLUÇÃO exemplo) do que em outros.
6-)
1-) ... a que ponto a astronomia facilitou a obra das ou- (B) A menina tinha o receio de levar uma bronca por ter
tras ciências ... se perdido.
Facilitar – verbo transitivo direto (C) A garota tinha apenas a lembrança do desenho de
A) ...astros que ficam tão distantes ... = verbo de liga- um índio na porta do prédio.
ção (D) A menina não tinha orgulho do fato de ter se perdi-
B) ...que a astronomia é uma das ciências ... = verbo do de sua família.
de ligação (E) A família toda se organizou para realizar a procura
C) ...que nos proporcionou um espírito ... = verbo tran- pela garotinha.
sitivo direto e indireto
E) ...onde seu corpo não passa de um ponto obscuro = 7-) Os estudos aos quais a pesquisadora se reportou
verbo transitivo indireto já assinalavam uma relação entre os distúrbios da imagem
2-) ... pediu ao delegado do bairro que desse um jeito corporal e a exposição a imagens idealizadas pela mídia.
nos filhos do sueco. A pesquisa faz um alerta para a influência negativa
Pedir = verbo transitivo direto e indireto que a mídia pode exercer sobre os jovens.
A) ...que existe uma coisa chamada EXÉRCITO... = tran-
sitivo direto 8-)
B) ...como se isso aqui fosse casa da sogra? =verbo de B) O autor fez conjecturas sobre a possibilidade de ha-
ligação ver um homem que estaria ouvindo as notas de um oboé.
C) ...compareceu em companhia da mulher à delegacia... C) Centenas de trabalhadores estão empenhados em
=verbo intransitivo criar logotipos e negociar.
E) O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevi- D) O taxista levou o autor a indagar sobre o número de
mento. =transitivo direto tomadas do edifício.
E) A corrida com o taxista possibilitou que o autor re-
3-) ... constava simplesmente de uma vareta quebrada parasse em um prédio na marginal.
em partes desiguais...
Constar = verbo intransitivo 9-) Muitas organizações lutaram pela igualdade de
B) ...eram comumente assinalados a golpes de machado direitos dos trabalhadores domésticos.
nos troncos mais robustos. =ligação
C) Os toscos desenhos e os nomes estropiados deso-
rientam, não raro, quem... =transitivo direto
D) Koch-Grünberg viu uma dessas marcas de caminho
na serra de Tunuí... = transitivo direto
E) ...em que tão bem se revelam suas afinidades com o
gentio, mestre e colaborador...=transitivo direto

4-) ... para lidar com as múltiplas vertentes da justiça...


Lidar = transitivo indireto
B) ...o Direito tem uma complexa função de gestão das
sociedades... =transitivo direto
C) ...o de que o Direito [...] esteja permeado e regulado
pela justiça. =ligação
D) Essa problematicidade não afasta a força das aspira-
ções da justiça... =transitivo direto e indireto
E) Na dinâmica dessa tensão tem papel relevante o sen-
timento de justiça. =transitivo direto

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PORTUGUÊS

EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES (D) Um levantamento, (X) mostrou que os adolescentes


americanos, (X) consomem (X) em média (X) 357 calorias
1-) (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC/ diárias dessa fonte.
SP – ADMINISTRADOR - VUNESP/2013) Assinale a alter- (E) Um levantamento mostrou que os adolescentes
nativa correta quanto à concordância, de acordo com a americanos, (X) consomem (X) em média (X) 357 calorias
norma-padrão da língua portuguesa. diárias, (X) dessa fonte.
(A) A má distribuição de riquezas e a desigualdade
social está no centro dos debates atuais. RESPOSTA: “C”.
(B) Políticos, economistas e teóricos diverge em re-
lação aos efeitos da desigualdade social. 3-) (TRT/RO E AC – ANALISTA JUDICIÁRIO –
(C) A diferença entre a renda dos mais ricos e a dos FCC/2011) Estão plenamente observadas as normas de
mais pobres é um fenômeno crescente. concordância verbal na frase:
(D) A má distribuição de riquezas tem sido muito a) Destinam-se aos homens-placa um lugar visível
criticado por alguns teóricos. nas ruas e nas praças, ao passo que lhes é suprimida a
(E) Os debates relacionado à distribuição de rique- visibilidade social.
zas não são de exclusividade dos economistas. b) As duas tábuas em que se comprimem o famige-
rado homem-placa carregam ditos que soam irônicos,
Realizei a correção nos itens: como “compro ouro”.
(A) A má distribuição de riquezas e a desigualdade so- c) Não se compara aos vexames dos homens-placa
cial está = estão a exposição pública a que se submetem os guardadores
(B) Políticos, economistas e teóricos diverge = divergem de carros.
(C) A diferença entre a renda dos mais ricos e a dos mais d) Ao se revogarem o emprego de carros-placa na
pobres é um fenômeno crescente. propaganda imobiliária, poupou-se a todos uma de-
(D) A má distribuição de riquezas tem sido muito criti- monstração de mau gosto.
cado = criticada e) Não sensibilizavam aos possíveis interessados
(E) Os debates relacionado = relacionados em apartamentos de luxo a visão grotesca daqueles ve-
lhos carros-placa.
RESPOSTA: “C”.
Fiz as correções entre parênteses:
2-) (COREN/SP – ADVOGADO – VUNESP/2013) Se- a) Destinam-se (destina-se) aos homens-placa um lu-
guindo a norma-padrão da língua portuguesa, a frase gar visível nas ruas e nas praças, ao passo que lhes é supri-
– Um levantamento mostrou que os adolescentes ame- mida a visibilidade social.
ricanos consomem em média 357 calorias diárias dessa b) As duas tábuas em que se comprimem (comprime)
fonte. – recebe o acréscimo correto das vírgulas em: o famigerado homem-placa carregam ditos que soam irô-
(A) Um levantamento mostrou, que os adolescentes nicos, como “compro ouro”.
americanos consomem em média 357 calorias, diárias c) Não se compara aos vexames dos homens-placa a
dessa fonte. exposição pública a que se submetem os guardadores de
(B) Um levantamento mostrou que, os adolescentes carros.
americanos consomem, em média 357 calorias diárias d) Ao se revogarem (revogar) o emprego de carros
dessa fonte. -placa na propaganda imobiliária, poupou-se a todos uma
(C) Um levantamento mostrou que os adolescentes demonstração de mau gosto.
americanos consomem, em média, 357 calorias diárias e) Não sensibilizavam (sensibilizava) aos possíveis in-
dessa fonte. teressados em apartamentos de luxo a visão grotesca da-
(D) Um levantamento, mostrou que os adolescentes queles velhos carros-placa.
americanos, consomem em média 357 calorias diárias
dessa fonte. RESPOSTA: “C”.
(E) Um levantamento mostrou que os adolescentes
americanos, consomem em média 357 calorias diárias, 4-) (TRE/PA- ANALISTA JUDICIÁRIO – FGV/2011)
dessa fonte. Assinale a palavra que tenha sido acentuada seguindo a
mesma regra que distribuídos.
Assinalei com um “X” onde há pontuação inadequada (A) sócio
ou faltante: (B) sofrê-lo
(A) Um levantamento mostrou, (X) que os adolescentes (C) lúcidos
americanos consomem (X) em média (X) 357 calorias, (X) (D) constituí
diárias dessa fonte. (E) órfãos
(B) Um levantamento mostrou que, (X) os adolescentes
americanos consomem, em média (X) 357 calorias diárias Distribuímos = regra do hiato
dessa fonte. (A) sócio = paroxítona terminada em ditongo
(C) Um levantamento mostrou que os adolescentes (B) sofrê-lo = oxítona (não se considera o pronome
americanos consomem, em média, 357 calorias diárias des- oblíquo. Nunca!)
sa fonte. (C) lúcidos = proparoxítona

69
PORTUGUÊS

(D) constituí = regra do hiato (diferente de “constitui” – 7-) (TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010)
oxítona: cons-ti-tui) ... valores e princípios que sejam percebidos pela so-
(E) órfãos = paroxítona terminada em “ão” ciedade como tais.
Transpondo para a voz ativa a frase acima, o verbo
RESPOSTA: “D”. passará a ser, corretamente,
(A) perceba.
5-) (TRT/PE – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2012) (B) foi percebido.
A concordância verbal está plenamente observada na (C) tenham percebido.
frase: (D) devam perceber.
(A) Provocam muitas polêmicas, entre crentes e (E) estava percebendo.
materialistas, o posicionamento de alguns religiosos e
parlamentares acerca da educação religiosa nas escolas ... valores e princípios que sejam percebidos pela so-
públicas.
ciedade como tais = dois verbos na voz passiva, então te-
(B) Sempre deverão haver bons motivos, junto
remos um na ativa: que a sociedade perceba os valores e
àqueles que são contra a obrigatoriedade do ensino re-
princípios...
ligioso, para se reservar essa prática a setores da inicia-
tiva privada.
(C) Um dos argumentos trazidos pelo autor do tex- RESPOSTA: “A”
to, contra os que votam a favor do ensino religioso na
escola pública, consistem nos altos custos econômicos 8-) (TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010)
que acarretarão tal medida. A concordância verbal e nominal está inteiramente cor-
(D) O número de templos em atividade na cidade de reta na frase:
São Paulo vêm gradativamente aumentando, em pro- (A) A sociedade deve reconhecer os princípios e
porção maior do que ocorrem com o número de escolas valores que determinam as escolhas dos governantes,
públicas. para conferir legitimidade a suas decisões.
(E) Tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes
como a regulação natural do mercado sinalizam para as devem ser embasados na percepção dos valores e prin-
inconveniências que adviriam da adoção do ensino reli- cípios que regem a prática política.
gioso nas escolas públicas. (C) Eleições livres e diretas é garantia de um verda-
deiro regime democrático, em que se respeita tanto as
(A) Provocam = provoca (o posicionamento) liberdades individuais quanto as coletivas.
(B) Sempre deverão haver bons motivos = deverá haver (D) As instituições fundamentais de um regime de-
(C) Um dos argumentos trazidos pelo autor do texto, mocrático não pode estar subordinado às ordens indis-
contra os que votam a favor do ensino religioso na escola criminadas de um único poder central.
pública, consistem = consiste. (E) O interesse de todos os cidadãos estão voltados
(D) O número de templos em atividade na cidade de para o momento eleitoral, que expõem as diferentes
São Paulo vêm gradativamente aumentando, em proporção opiniões existentes na sociedade.
maior do que ocorrem = ocorre Fiz os acertos entre parênteses:
(E) Tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação como (A) A sociedade deve reconhecer os princípios e va-
a regulação natural do mercado sinalizam para as inconve- lores que determinam as escolhas dos governantes, para
niências que adviriam da adoção do ensino religioso nas
conferir legitimidade a suas decisões.
escolas públicas.
(B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes de-
vem (deve) ser embasados (embasada) na percepção dos
RESPOSTA: “E”.
6-) (TRE/PA- ANALISTA JUDICIÁRIO – FGV/2011) valores e princípios que regem a prática política.
Segundo o Manual de Redação da Presidência da Repú- (C) Eleições livres e diretas é (são) garantia de um ver-
blica, NÃO se deve usar Vossa Excelência para dadeiro regime democrático, em que se respeita (respei-
(A) embaixadores. tam) tanto as liberdades individuais quanto as coletivas.
(B) conselheiros dos Tribunais de Contas estaduais. (D) As instituições fundamentais de um regime demo-
(C) prefeitos municipais. crático não pode (podem) estar subordinado (subordina-
(D) presidentes das Câmaras de Vereadores. das) às ordens indiscriminadas de um único poder central.
(E) vereadores. (E) O interesse de todos os cidadãos estão (está) vol-
tados (voltado) para o momento eleitoral, que expõem (ex-
(...) O uso do pronome de tratamento Vossa Senhoria põe) as diferentes opiniões existentes na sociedade.
(abreviado V. Sa.) para vereadores está correto, sim. Numa
Câmara de Vereadores só se usa Vossa Excelência para o seu RESPOSTA: “A”.
presidente, de acordo com o Manual de Redação da Presidên-
cia da República (1991).
(Fonte: http://www.linguabrasil.com.br/nao-tropece-de-
tail.php?id=393)
RESPOSTA: “E”.

70
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

O sistema escolar brasileiro segundo a legislação atual;.......................................................................................................................... 01


A construção do conhecimento; orientações metodológicas para a Educação Infantil, 1º ao 5º ano do Ensino Funda-
mental Regular e do 1º segmento do Ensino Fundamental da Educação de Jovens e Adultos;.............................................. 17
Atividades adequadas e utilização de jogos na aprendizagem; o processo de ensino e aprendizagem: a ação pedagógi-
ca;.................................................................................................................................................................................................................................... 22
A avaliação da aprendizagem.............................................................................................................................................................................. 30

Conhecimentos Específicos da área de atuação.


Sugestão Bibliográfica:
BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais 1ª a 4ª, Brasília: MEC/SEF, 1997;.................................. 38
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.............................................................. 38
Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil – Ministério da Educação – Secretária de Educação Bási-
ca;.................................................................................................................................................................................................................................... 63
Política Nacional de Educação Infantil: pelo Direito das Crianças de 0 a 6 anos à Educação – Ministério da Educação –
Educação de Educação Básica;............................................................................................................................................................................ 74
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil......................................................................................................................... 80
Constituição da República Federativa do Brasil - promulgada em 5 de outubro de 1988, Artigos 5°, 37 ao 41, 205 ao 214,
227 ao 229................................................................................................................................................................................................................... 99
Lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente;.............................................................................................................................147
Lei 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional;..........................................................................................................147
Lei Federal n.º 13.005, de 25/06/14 – Aprova o Plano Nacional de Educação...............................................................................147
Lei Federal nº 10.436, de 24/04/02 – Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS......................................................163
Lei Federal nº. 13.146/15 – Estatuto da Pessoa com Deficiência.........................................................................................................163
Decreto nº. 5.626/05 – Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS)..................................................................................182
Decreto nº 7612/11 – Institui o plano Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência – plano Viver sem Limites........186
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

TÍTULO III
O SISTEMA ESCOLAR BRASILEIRO SEGUNDO Do Direito à Educação e do Dever de Educar
A LEGISLAÇÃO ATUAL;
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar públi-
ca será efetivado mediante a garantia de:
I educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro)
LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte
forma: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. a) pré-escola; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
b) ensino fundamental; (Incluído pela Lei nº 12.796, de
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- 2013)
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: c) ensino médio; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
II educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco)
TÍTULO I anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
Da Educação III atendimento educacional especializado gratuito aos
educandos com deficiência, transtornos globais do desen-
volvimento e altas habilidades ou superdotação, transver-
Art. 1º A educação abrange os processos formativos
sal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencial-
que se desenvolvem na vida familiar, na convivência huma-
mente na rede regular de ensino; (Redação dada pela Lei
na, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos
nº 12.796, de 2013)
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas IV acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e
manifestações culturais. médio para todos os que não os concluíram na idade pró-
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se de- pria; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
senvolve, predominantemente, por meio do ensino, em V acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes-
instituições próprias. quisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo um;
do trabalho e à prática social. VI oferta de ensino noturno regular, adequado às con-
dições do educando;
TÍTULO II VII oferta de educação escolar regular para jovens e
Dos Princípios e Fins da Educação Nacional adultos, com características e modalidades adequadas às
suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspi- que forem trabalhadores as condições de acesso e perma-
rada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidarie- nência na escola;
dade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento VIII atendimento ao educando, em todas as etapas da
do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e educação básica, por meio de programas suplementares
sua qualificação para o trabalho. de material didático-escolar, transporte, alimentação e
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguin- assistência à saúde; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de
tes princípios: 2013)
I igualdade de condições para o acesso e permanência IX padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos
na escola; como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de in-
II liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a sumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de
cultura, o pensamento, a arte e o saber; ensino-aprendizagem.
III pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; X – vaga na escola pública de educação infantil ou de
IV respeito à liberdade e apreço à tolerância; ensino fundamental mais próxima de sua residência a toda
criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de
V coexistência de instituições públicas e privadas de
idade. (Incluído pela Lei nº 11.700, de 2008).
ensino;
Art. 5o O acesso à educação básica obrigatória é direi-
VI gratuidade do ensino público em estabelecimentos
to público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de
oficiais;
cidadãos, associação comunitária, organização sindical, en-
VII valorização do profissional da educação escolar; tidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda,
VIII gestão democrática do ensino público, na forma o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo.
desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
IX garantia de padrão de qualidade; § 1o O poder público, na esfera de sua competência
X valorização da experiência extra-escolar; federativa, deverá: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de
XI vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as 2013)
práticas sociais. I recensear anualmente as crianças e adolescentes
XII consideração com a diversidade étnico-racial. (In- em idade escolar, bem como os jovens e adultos que não
cluído pela Lei nº 12.796, de 2013) concluíram a educação básica; (Redação dada pela Lei nº
12.796, de 2013)

1
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

II fazer-lhes a chamada pública; IV-A  estabelecer, em colaboração com os Estados, o


III zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos
à escola. para identificação, cadastramento e atendimento, na edu-
§ 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Públi- cação básica e na educação superior, de alunos com altas
co assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obri- habilidades ou superdotação; (Incluído pela Lei nº 13.234,
gatório, nos termos deste artigo, contemplando em segui- de 2015)
da os demais níveis e modalidades de ensino, conforme as V coletar, analisar e disseminar informações sobre a
prioridades constitucionais e legais. educação;
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste  VI assegurar processo nacional de avaliação do rendi-
artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, mento escolar no ensino fundamental, médio e superior,
na hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal, sen- em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando
do gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente. a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do
§ 4º Comprovada a negligência da autoridade compe- ensino;
tente para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, VII baixar normas gerais sobre cursos de graduação e
poderá ela ser imputada por crime de responsabilidade. pós-graduação;
§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade  VIII assegurar processo nacional de avaliação das ins-
de ensino, o Poder Público criará formas alternativas de tituições de educação superior, com a cooperação dos sis-
acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemente temas que tiverem responsabilidade sobre este nível de
da escolarização anterior. ensino;
Art. 6o É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrí- IX autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
cula das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de edu-
anos de idade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) cação superior e os estabelecimentos do seu sistema de
Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as ensino. (Vide Lei nº 10.870, de 2004)
seguintes condições: § 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Na-
I cumprimento das normas gerais da educação nacional cional de Educação, com funções normativas e de supervi-
e do respectivo sistema de ensino; são e atividade permanente, criado por lei.
II autorização de funcionamento e avaliação de quali- § 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a
dade pelo Poder Público; IX, a União terá acesso a todos os dados e informações
III capacidade de autofinanciamento, ressalvado o pre- necessários de todos os estabelecimentos e órgãos edu-
visto no art. 213 da Constituição Federal. cacionais.
§ 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão
TÍTULO IV ser delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que
Da Organização da Educação Nacional mantenham instituições de educação superior.
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- I organizar, manter e desenvolver os órgãos e institui-
nicípios organizarão, em regime de colaboração, os respec- ções oficiais dos seus sistemas de ensino;
tivos sistemas de ensino. II definir, com os Municípios, formas de colaboração na
§ 1º Caberá à União a coordenação da política nacional oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a
de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo
exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em com a população a ser atendida e os recursos financeiros
relação às demais instâncias educacionais. disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público;
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organiza- III elaborar e executar políticas e planos educacionais,
ção nos termos desta Lei. em consonância com as diretrizes e planos nacionais de
Art. 9º A União incumbir-se-á de: (Regulamento) educação, integrando e coordenando as suas ações e as
I elaborar o Plano Nacional de Educação, em colabora- dos seus Municípios;
ção com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
II organizar, manter e desenvolver os órgãos e institui- avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de edu-
ções oficiais do sistema federal de ensino e o dos Territórios; cação superior e os estabelecimentos do seu sistema de
III prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ensino;
ao Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimen- V baixar normas complementares para o seu sistema
to de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à de ensino;
VI assegurar o ensino fundamental e oferecer, com
escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistribu-
prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem,
tiva e supletiva;
respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; (Redação dada
IV estabelecer, em colaboração com os Estados, o Dis-
pela Lei nº 12.061, de 2009)
trito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para
VII assumir o transporte escolar dos alunos da rede es-
a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio,
tadual. (Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003)
que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de
Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as
modo a assegurar formação básica comum;
competências referentes aos Estados e aos Municípios.

2
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de: Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da
I organizar, manter e desenvolver os órgãos e institui- gestão democrática do ensino público na educação bási-
ções oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os ca, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os
às políticas e planos educacionais da União e dos Estados; seguintes princípios:
II exercer ação redistributiva em relação às suas escolas; I participação dos profissionais da educação na elabo-
III baixar normas complementares para o seu sistema ração do projeto pedagógico da escola;
de ensino; II participação das comunidades escolar e local em
IV autorizar, credenciar e supervisionar os estabeleci- conselhos escolares ou equivalentes.
mentos do seu sistema de ensino; Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unida-
V oferecer a educação infantil em creches e pré-esco- des escolares públicas de educação básica que os inte-
las, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a gram progressivos graus de autonomia pedagógica e ad-
atuação em outros níveis de ensino somente quando esti- ministrativa e de gestão financeira, observadas as normas
verem atendidas plenamente as necessidades de sua área gerais de direito financeiro público.
de competência e com recursos acima dos percentuais mí- Art. 16. O sistema federal de ensino compreende: (Re-
nimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e gulamento)
desenvolvimento do ensino. I as instituições de ensino mantidas pela União;
VI assumir o transporte escolar dos alunos da rede mu- II as instituições de educação superior criadas e man-
nicipal. (Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003) tidas pela iniciativa privada;
Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, III os órgãos federais de educação.
por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distri-
com ele um sistema único de educação básica. to Federal compreendem:
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as I as instituições de ensino mantidas, respectivamente,
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a in- pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal;
cumbência de: II as instituições de educação superior mantidas pelo
I elaborar e executar sua proposta pedagógica; Poder Público municipal;
II administrar seu pessoal e seus recursos materiais e III as instituições de ensino fundamental e médio cria-
financeiros; das e mantidas pela iniciativa privada;
III assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas
IV os órgãos de educação estaduais e do Distrito Fe-
-aula estabelecidas;
deral, respectivamente.
IV velar pelo cumprimento do plano de trabalho de
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de
cada docente;
educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa priva-
V prover meios para a recuperação dos alunos de me-
da, integram seu sistema de ensino.
nor rendimento;
Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreen-
VI articular-se com as famílias e a comunidade, criando
dem:
processos de integração da sociedade com a escola;
VII informar pai e mãe, conviventes ou não com seus I as instituições do ensino fundamental, médio e de
filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a fre- educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal;
quência e rendimento dos alunos, bem como sobre a exe- II as instituições de educação infantil criadas e manti-
cução da proposta pedagógica da escola; (Redação dada das pela iniciativa privada;
pela Lei nº 12.013, de 2009) III – os órgãos municipais de educação.
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis
juiz competente da Comarca e ao respectivo representante classificam-se nas seguintes categorias administrativas:
do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem (Regulamento) (Regulamento)
quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do per- I públicas, assim entendidas as criadas ou incorpora-
centual permitido em lei. (Incluído pela Lei nº 10.287, de das, mantidas e administradas pelo Poder Público;
2001) II privadas, assim entendidas as mantidas e adminis-
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: tradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.
I participar da elaboração da proposta pedagógica do Art. 20. As instituições privadas de ensino se enqua-
estabelecimento de ensino; drarão nas seguintes categorias: (Regulamento) (Regula-
II elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a pro- mento)
posta pedagógica do estabelecimento de ensino; I particulares em sentido estrito, assim entendidas as
III zelar pela aprendizagem dos alunos; que são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas
IV estabelecer estratégias de recuperação para os alu- físicas ou jurídicas de direito privado que não apresentem
nos de menor rendimento; as características dos incisos abaixo;
V ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, II comunitárias, assim entendidas as que são instituí-
além de participar integralmente dos períodos dedicados das por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais
ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento pro- pessoas jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, sem
fissional; fins lucrativos, que incluam na sua entidade mantenedora
VI colaborar com as atividades de articulação da escola representantes da comunidade; (Redação dada pela Lei nº
com as famílias e a comunidade. 12.020, de 2009)

3
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

III confessionais, assim entendidas as que são insti- III nos estabelecimentos que adotam a progressão re-
tuídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais gular por série, o regimento escolar pode admitir formas
pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e de progressão parcial, desde que preservada a sequência
ideologia específicas e ao disposto no inciso anterior; do currículo, observadas as normas do respectivo sistema
IV filantrópicas, na forma da lei. de ensino;
IV poderão organizar-se classes, ou turmas, com alu-
TÍTULO V nos de séries distintas, com níveis equivalentes de adian-
Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensi- tamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras,
no artes, ou outros componentes curriculares;
CAPÍTULO I V a verificação do rendimento escolar observará os se-
Da Composição dos Níveis Escolares guintes critérios:
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do
Art. 21. A educação escolar compõe-se de: aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os
I educação básica, formada pela educação infantil, en- quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre
sino fundamental e ensino médio; os de eventuais provas finais;
II educação superior. b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos
com atraso escolar;
CAPÍTULO II c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me-
DA EDUCAÇÃO BÁSICA diante verificação do aprendizado;
Seção I d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
Das Disposições Gerais e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de pre-
ferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo
Art. 22. A educação básica tem por finalidades desen- rendimento escolar, a serem disciplinados pelas institui-
volver o educando, assegurar-lhe a formação comum in- ções de ensino em seus regimentos;
dispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe VI o controle de frequência fica a cargo da escola, con-
meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. forme o disposto no seu regimento e nas normas do res-
Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em sé- pectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de
ries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular setenta e cinco por cento do total de horas letivas para
de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na aprovação;
idade, na competência e em outros critérios, ou por forma VII cabe a cada instituição de ensino expedir históricos
diversa de organização, sempre que o interesse do proces- escolares, declarações de conclusão de série e diplomas ou
so de aprendizagem assim o recomendar. certificados de conclusão de cursos, com as especificações
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive cabíveis.
quando se tratar de transferências entre estabelecimentos § 1º A carga horária mínima anual de que trata o inci-
situados no País e no exterior, tendo como base as normas so I do caput deverá ser ampliada de forma progressiva,
curriculares gerais. no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, devendo
§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às peculia- os sistemas de ensino oferecer, no prazo máximo de cin-
ridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério co anos, pelo menos mil horas anuais de carga horária, a
do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o partir de 2 de março de 2017. (Incluído pela Lei nº 13.415,
número de horas letivas previsto nesta Lei. de 2017)
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e § 2o Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de
médio, será organizada de acordo com as seguintes regras educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular,
comuns: adequado às condições do educando, conforme o inciso VI
I a carga horária mínima anual será de oitocentas horas do art. 4o. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
para o ensino fundamental e para o ensino médio, distri- Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades res-
buídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo traba- ponsáveis alcançar relação adequada entre o número de
lho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, alunos e o professor, a carga horária e as condições mate-
quando houver; (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) riais do estabelecimento.
II a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino,
primeira do ensino fundamental, pode ser feita: à vista das condições disponíveis e das características re-
a) por promoção, para alunos que cursaram, com apro- gionais e locais, estabelecer parâmetro para atendimento
veitamento, a série ou fase anterior, na própria escola; do disposto neste artigo.
b) por transferência, para candidatos procedentes de Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino
outras escolas; fundamental e do ensino médio devem ter base nacional
c) independentemente de escolarização anterior, me- comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino
diante avaliação feita pela escola, que defina o grau de de- e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diver-
senvolvimento e experiência do candidato e permita sua sificada, exigida pelas características regionais e locais da
inscrição na série ou etapa adequada, conforme regula- sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. (Re-
mentação do respectivo sistema de ensino; dação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem abran- Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamen-
ger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da tal e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obriga-
matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e tório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indíge-
da realidade social e política, especialmente do Brasil. na. (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008).
§ 2o O ensino da arte, especialmente em suas expres- § 1o O conteúdo programático a que se refere este ar-
sões regionais, constituirá componente curricular obri- tigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que
gatório da educação básica. (Redação dada pela Lei nº caracterizam a formação da população brasileira, a partir
13.415, de 2017) desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história
§ 3o A educação física, integrada à proposta pedagó- da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos
gica da escola, é componente curricular obrigatório da indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o
educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: negro e o índio na formação da sociedade nacional, resga-
(Redação dada pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) tando as suas contribuições nas áreas social, econômica e
I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior política, pertinentes à história do Brasil. (Redação dada pela
Lei nº 11.645, de 2008).
a seis horas; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro
II – maior de trinta anos de idade; (Incluído pela Lei nº
-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministra-
10.793, de 1º.12.2003)
dos no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas
III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, áreas de educação artística e de literatura e história brasilei-
em situação similar, estiver obrigado à prática da educa- ras. (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008).
ção física; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica
IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de ou- observarão, ainda, as seguintes diretrizes:
tubro de 1969; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) I a difusão de valores fundamentais ao interesse social,
V –  (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.793, de aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem
1º.12.2003) comum e à ordem democrática;
VI – que tenha prole. (Incluído pela Lei nº 10.793, de II consideração das condições de escolaridade dos alu-
1º.12.2003) nos em cada estabelecimento;
§ 4º O ensino da História do Brasil levará em conta III orientação para o trabalho;
as contribuições das diferentes culturas e etnias para a IV promoção do desporto educacional e apoio às práti-
formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes cas desportivas não-formais.
indígena, africana e européia. Art. 28. Na oferta de educação básica para a população
§ 5o No currículo do ensino fundamental, a partir do rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações ne-
sexto ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação dada cessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e
pela Lei nº 13.415, de 2017) de cada região, especialmente:
§ 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são I conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às
as linguagens que constituirão o componente curricular reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural;
de que trata o § 2o deste artigo. (Redação dada pela Lei nº II organização escolar própria, incluindo adequação do
13.278, de 2016) calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições
§ 7o A integralização curricular poderá incluir, a critério climáticas;
dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo III adequação à natureza do trabalho na zona rural.
os temas transversais de que trata o caput. (Redação dada Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo,
pela Lei nº 13.415, de 2017) indígenas e quilombolas será precedido de manifestação
do órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que
§ 8º A exibição de filmes de produção nacional cons-
considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de
tituirá componente curricular complementar integrado à
Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a
proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obri-
manifestação da comunidade escolar. (Incluído pela Lei nº
gatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais. (Incluído 12.960, de 2014)
pela Lei nº 13.006, de 2014)
§ 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à pre- Seção II
venção de todas as formas de violência contra a criança e Da Educação Infantil
o adolescente serão incluídos, como temas transversais,
nos currículos escolares de que trata o caput deste arti- Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação
go, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da
1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), observada criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicoló-
a produção e distribuição de material didático adequado. gico, intelectual e social, complementando a ação da família
(Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) e da comunidade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
§ 10. A inclusão de novos componentes curriculares Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
de caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular I creches, ou entidades equivalentes, para crianças de
dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educa- até três anos de idade;
ção e de homologação pelo Ministro de Estado da Educa- II pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco)
ção. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) anos de idade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)

5
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo § 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído
com as seguintes regras comuns: (Redação dada pela Lei como tema transversal nos currículos do ensino fundamen-
nº 12.796, de 2013) tal. (Incluído pela Lei nº 12.472, de 2011).
I avaliação mediante acompanhamento e registro do Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é
desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promo- parte integrante da formação básica do cidadão e constitui
ção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental; (Incluí- disciplina dos horários normais das escolas públicas de en-
do pela Lei nº 12.796, de 2013) sino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cul-
II carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) ho- tural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de pro-
ras, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de selitismo. (Redação dada pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997)
trabalho educacional; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) § 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedi-
III atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) ho- mentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso
ras diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão
jornada integral; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) dos professores. (Incluído pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997)
IV controle de frequência pela instituição de educação § 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, cons-
pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por
tituída pelas diferentes denominações religiosas, para a
cento) do total de horas; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
definição dos conteúdos do ensino religioso. (Incluído pela
V expedição de documentação que permita atestar os
Lei nº 9.475, de 22.7.1997)
processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança.
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental in-
(Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
cluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala
Seção III de aula, sendo progressivamente ampliado o período de
Do Ensino Fundamental permanência na escola.
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei.
de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos § 2º O ensino fundamental será ministrado progres-
6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do sivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de
cidadão, mediante: (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006) ensino.
I o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita Seção IV
e do cálculo; Do Ensino Médio
II a compreensão do ambiente natural e social, do sis-
tema político, da tecnologia, das artes e dos valores em Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica,
que se fundamenta a sociedade; com duração mínima de três anos, terá como finalidades:
III o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, I a consolidação e o aprofundamento dos conheci-
tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades mentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando
e a formação de atitudes e valores; o prosseguimento de estudos;
IV o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços II a preparação básica para o trabalho e a cidadania
de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser
se assenta a vida social. capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de
§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
ensino fundamental em ciclos. III o aprimoramento do educando como pessoa hu-
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão re- mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da
gular por série podem adotar no ensino fundamental o re-
autonomia intelectual e do pensamento crítico;
gime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação
IV a compreensão dos fundamentos científico-tecnoló-
do processo de ensino-aprendizagem, observadas as nor-
gicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com
mas do respectivo sistema de ensino.
a prática, no ensino de cada disciplina.
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular defini-
a utilização de suas línguas maternas e processos próprios rá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio,
de aprendizagem. conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação,
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o en- nas seguintes áreas do conhecimento: (Incluído pela Lei nº
sino a distância utilizado como complementação da apren- 13.415, de 2017)
dizagem ou em situações emergenciais. I linguagens e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
§ 5o O currículo do ensino fundamental incluirá, obri- 13.415, de 2017)
gatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças II matemática e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13.415, de 2017)
13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e III ciências da natureza e suas tecnologias; (Incluído
do Adolescente, observada a produção e distribuição de pela Lei nº 13.415, de 2017)
material didático adequado. (Incluído pela Lei nº 11.525, IV ciências humanas e sociais aplicadas. (Incluído pela
de 2007). Lei nº 13.415, de 2017)

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

§ 1o A parte diversificada dos currículos de que trata IV ciências humanas e sociais aplicadas; (Redação dada
o caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, de- pela Lei nº 13.415, de 2017)
verá estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular V formação técnica e profissional. (Incluído pela Lei nº
e ser articulada a partir do contexto histórico, econômico, 13.415, de 2017)
social, ambiental e cultural. (Incluído pela Lei nº 13.415, de § 1o A organização das áreas de que trata o caput e das
2017) respectivas competências e habilidades será feita de acor-
§ 2o A Base Nacional Comum Curricular referente ao do com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino.
ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) 
de educação física, arte, sociologia e filosofia. (Incluído pela I (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de
Lei nº 13.415, de 2017) 2017) 
§ 3o O ensino da língua portuguesa e da matemática II (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de
será obrigatório nos três anos do ensino médio, assegu- 2017)
rada às comunidades indígenas, também, a utilização das III – (revogado). (Redação dada pela Lei nº 11.684, de
respectivas línguas maternas. (Incluído pela Lei nº 13.415, 2008)
de 2017) § 2º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008)
§ 4o Os currículos do ensino médio incluirão, obriga- § 3o A critério dos sistemas de ensino, poderá ser com-
toriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar posto itinerário formativo integrado, que se traduz na
outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferen- composição de componentes curriculares da Base Nacio-
cialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade de nal Comum Curricular BNCC e dos itinerários formativos,
oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino. considerando os incisos I a V do caput. (Redação dada pela
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) Lei nº 13.415, de 2017)
§ 5o A carga horária destinada ao cumprimento da Base § 4º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008)
Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil § 5o Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade
e oitocentas horas do total da carga horária do ensino mé- de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do en-
dio, de acordo com a definição dos sistemas de ensino. (In- sino médio cursar mais um itinerário formativo de que trata
o caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
cluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 6o A critério dos sistemas de ensino, a oferta de for-
§ 6o A União estabelecerá os padrões de desempenho
mação com ênfase técnica e profissional considerará: (In-
esperados para o ensino médio, que serão referência nos
cluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional
I a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor
Comum Curricular. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo
§ 7o Os currículos do ensino médio deverão conside-
parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos
rar a formação integral do aluno, de maneira a adotar um
estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem profis-
trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida
sional; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) 
e para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e so- II a possibilidade de concessão de certificados interme-
cioemocionais. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) diários de qualificação para o trabalho, quando a formação
§ 8o Os conteúdos, as metodologias e as formas de ava- for estruturada e organizada em etapas com terminalidade.
liação processual e formativa serão organizados nas redes (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) 
de ensino por meio de atividades teóricas e práticas, provas § 7o A oferta de formações experimentais relacionadas
orais e escritas, seminários, projetos e atividades on-line, ao inciso V do caput, em áreas que não constem do Catá-
de tal forma que ao final do ensino médio o educando de- logo Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua
monstre: (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conse-
I domínio dos princípios científicos e tecnológicos lho Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inser-
que presidem a produção moderna; (Incluído pela Lei nº ção no Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de
13.415, de 2017) cinco anos, contados da data de oferta inicial da formação.
II conhecimento das formas contemporâneas de lin- (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
guagem. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) § 8o A oferta de formação técnica e profissional a que
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto se refere o inciso V do  caput, realizada na própria insti-
pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários for- tuição ou em parceria com outras instituições, deverá ser
mativos, que deverão ser organizados por meio da oferta aprovada previamente pelo Conselho Estadual de Educa-
de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância ção, homologada pelo Secretário Estadual de Educação e
para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de en- certificada pelos sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº
sino, a saber: (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) 13.415, de 2017) 
I linguagens e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei § 9o As instituições de ensino emitirão certificado com
nº 13.415, de 2017) validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino
II matemática e suas tecnologias; (Redação dada pela médio ao prosseguimento dos estudos em nível superior
Lei nº 13.415, de 2017) ou em outros cursos ou formações para os quais a conclu-
III ciências da natureza e suas tecnologias; (Redação são do ensino médio seja etapa obrigatória. (Incluído pela
dada pela Lei nº 13.415, de 2017) Lei nº 13.415, de 2017)

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

§ 10. Além das formas de organização previstas no art. II as normas complementares dos respectivos sistemas
23, o ensino médio poderá ser organizado em módulos e de ensino; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
adotar o sistema de créditos com terminalidade específica. III as exigências de cada instituição de ensino, nos
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)  termos de seu projeto pedagógico. (Incluído pela Lei nº
§ 11. Para efeito de cumprimento das exigências cur- 11.741, de 2008)
riculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível mé-
reconhecer competências e firmar convênios com institui- dio articulada, prevista no inciso I do caput  do art. 36-B
ções de educação a distância com notório reconhecimento, desta Lei, será desenvolvida de forma: (Incluído pela Lei nº
mediante as seguintes formas de comprovação: (Incluído 11.741, de 2008)
pela Lei nº 13.415, de 2017) I integrada, oferecida somente a quem já tenha con-
I demonstração prática; (Incluído pela Lei nº 13.415, de cluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de
2017) modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica
II experiência de trabalho supervisionado ou outra ex- de nível médio, na mesma instituição de ensino, efetuan-
periência adquirida fora do ambiente escolar; (Incluído pela do-se matrícula única para cada aluno; (Incluído pela Lei nº
11.741, de 2008)
Lei nº 13.415, de 2017)
II concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino
III atividades de educação técnica oferecidas em outras
médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrículas dis-
instituições de ensino credenciadas; (Incluído pela Lei nº
tintas para cada curso, e podendo ocorrer: (Incluído pela Lei
13.415, de 2017) 
nº 11.741, de 2008)
IV cursos oferecidos por centros ou programas ocupa- a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as
cionais; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)  oportunidades educacionais disponíveis; (Incluído pela Lei
V estudos realizados em instituições de ensino nacio- nº 11.741, de 2008)
nais ou estrangeiras; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)  b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se
VI cursos realizados por meio de educação a distância as oportunidades educacionais disponíveis; (Incluído pela
ou educação presencial mediada por tecnologias. (Incluído Lei nº 11.741, de 2008)
pela Lei nº 13.415, de 2017)  c) em instituições de ensino distintas, mediante convê-
§ 12. As escolas deverão orientar os alunos no proces- nios de intercomplementaridade, visando ao planejamento
so de escolha das áreas de conhecimento ou de atuação e ao desenvolvimento de projeto pedagógico unificado.
profissional previstas no caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
de 2017) Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação profis-
sional técnica de nível médio, quando registrados, terão va-
Seção IV-A lidade nacional e habilitarão ao prosseguimento de estudos
Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio na educação superior. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
(Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) Parágrafo único. Os cursos de educação profissional
técnica de nível médio, nas formas articulada concomitan-
Art. 36-A. Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste te e subsequente, quando estruturados e organizados em
Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral do etapas com terminalidade, possibilitarão a obtenção de cer-
educando, poderá prepará-lo para o exercício de profis- tificados de qualificação para o trabalho após a conclusão,
sões técnicas. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) com aproveitamento, de cada etapa que caracterize uma
Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho qualificação para o trabalho. (Incluído pela Lei nº 11.741,
e, facultativamente, a habilitação profissional poderão ser de 2008)
desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino
Seção V
médio ou em cooperação com instituições especializadas
Da Educação de Jovens e Adultos
em educação profissional. (Incluído pela Lei nº 11.741, de
2008)
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada
Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível mé-
àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estu-
dio será desenvolvida nas seguintes formas: (Incluído pela dos no ensino fundamental e médio na idade própria.
Lei nº 11.741, de 2008) § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente
I articulada com o ensino médio; (Incluído pela Lei nº aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os es-
11.741, de 2008) tudos na idade regular, oportunidades educacionais apro-
II subsequente, em cursos destinados a quem já tenha priadas, consideradas as características do alunado, seus in-
concluído o ensino médio. (Incluído pela Lei nº 11.741, de teresses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos
2008) e exames.
Parágrafo único. A educação profissional técnica de ní- § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso
vel médio deverá observar: (Incluído pela Lei nº 11.741, de e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações
2008) integradas e complementares entre si.
I os objetivos e definições contidos nas diretrizes curri- § 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se,
culares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de preferencialmente, com a educação profissional, na forma
Educação; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) do regulamento. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exa- CAPÍTULO IV


mes supletivos, que compreenderão a base nacional co- DA EDUCAÇÃO SUPERIOR
mum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estu-
dos em caráter regular. Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar- I estimular a criação cultural e o desenvolvimento do
se-ão: espírito científico e do pensamento reflexivo;
I no nível de conclusão do ensino fundamental, para os II formar diplomados nas diferentes áreas de conhe-
maiores de quinze anos; cimento, aptos para a inserção em setores profissionais e
II no nível de conclusão do ensino médio, para os para a participação no desenvolvimento da sociedade bra-
maiores de dezoito anos. sileira, e colaborar na sua formação contínua;
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos III incentivar o trabalho de pesquisa e investigação
educandos por meios informais serão aferidos e reconhe- científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tec-
cidos mediante exames. nologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo,
desenvolver o entendimento do homem e do meio em que
CAPÍTULO III vive;
DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL IV promover a divulgação de conhecimentos culturais,
Da Educação Profissional e Tecnológica científicos e técnicos que constituem patrimônio da huma-
(Redação dada pela Lei nº 11.741, de 2008) nidade e comunicar o saber através do ensino, de publica-
ções ou de outras formas de comunicação;
Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no cum- V suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento
primento dos objetivos da educação nacional, integra-se cultural e profissional e possibilitar a correspondente con-
aos diferentes níveis e modalidades de educação e às di- cretização, integrando os conhecimentos que vão sendo
mensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. (Redação adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do
dada pela Lei nº 11.741, de 2008) conhecimento de cada geração;
§ 1o Os cursos de educação profissional e tecnológica VI estimular o conhecimento dos problemas do mun-
poderão ser organizados por eixos tecnológicos, possibi- do presente, em particular os nacionais e regionais, prestar
litando a construção de diferentes itinerários formativos, serviços especializados à comunidade e estabelecer com
observadas as normas do respectivo sistema e nível de en- esta uma relação de reciprocidade;
sino. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) VII promover a extensão, aberta à participação da po-
§ 2o A educação profissional e tecnológica abrangerá pulação, visando à difusão das conquistas e benefícios re-
os seguintes cursos: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) sultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tec-
I – de formação inicial e continuada ou qualificação nológica geradas na instituição.
profissional; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) VIII atuar em favor da universalização e do aprimora-
II – de educação profissional técnica de nível médio; mento da educação básica, mediante a formação e a capa-
(Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) citação de profissionais, a realização de pesquisas pedagó-
III – de educação profissional tecnológica de gradua- gicas e o desenvolvimento de atividades de extensão que
ção e pós-graduação. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) aproximem os dois níveis escolares. (Incluído pela Lei nº
§ 3o Os cursos de educação profissional tecnológica de 13.174, de 2015)
graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que con- Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes
cerne a objetivos, características e duração, de acordo com cursos e programas: (Regulamento)
as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Con- I cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes
selho Nacional de Educação. (Incluído pela Lei nº 11.741, níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam
de 2008) aos requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino,
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em desde que tenham concluído o ensino médio ou equiva-
articulação com o ensino regular ou por diferentes estra- lente; (Redação dada pela Lei nº 11.632, de 2007).
tégias de educação continuada, em instituições especiali- II de graduação, abertos a candidatos que tenham con-
zadas ou no ambiente de trabalho. (Regulamento)(Regula- cluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido classi-
mento) (Regulamento) ficados em processo seletivo;
Art. 41. O conhecimento adquirido na educação pro- III de pós-graduação, compreendendo programas de
fissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser mestrado e doutorado, cursos de especialização, aperfei-
objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para çoamento e outros, abertos a candidatos diplomados em
prosseguimento ou conclusão de estudos. (Redação dada cursos de graduação e que atendam às exigências das ins-
pela Lei nº 11.741, de 2008) tituições de ensino;
Art. 42. As instituições de educação profissional e tec- IV de extensão, abertos a candidatos que atendam aos
nológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de
especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula ensino.
à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao § 1º. Os resultados do processo seletivo referido no
nível de escolaridade. (Redação dada pela Lei nº 11.741, de inciso II do caput deste artigo serão tornados públicos
2008) pelas instituições de ensino superior, sendo obrigatória a

9
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

divulgação da relação nominal dos classificados, a respec- cação dos professores, recursos disponíveis e critérios de
tiva ordem de classificação, bem como do cronograma das avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condi-
chamadas para matrícula, de acordo com os critérios para ções, e a publicação deve ser feita, sendo as 3 (três) primei-
preenchimento das vagas constantes do respectivo edital. ras formas concomitantemente: (Redação dada pela lei nº
(Incluído pela Lei nº 11.331, de 2006) (Renumerado do pa- 13.168, de 2015)
rágrafo único para § 1º pela Lei nº 13.184, de 2015) I em página específica na internet no sítio eletrônico
§ 2º No caso de empate no processo seletivo, as ins- oficial da instituição de ensino superior, obedecido o se-
tituições públicas de ensino superior darão prioridade de guinte: (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
matrícula ao candidato que comprove ter renda familiar a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter
inferior a dez salários mínimos, ou ao de menor renda fa- como título “Grade e Corpo Docente”; (Incluída pela lei nº
miliar, quando mais de um candidato preencher o critério 13.168, de 2015)
inicial. (Incluído pela Lei nº 13.184, de 2015) b) a página principal da instituição de ensino superior,
§ 3o O processo seletivo referido no inciso II conside- bem como a página da oferta de seus cursos aos ingressan-
rará as competências e as habilidades definidas na Base tes sob a forma de vestibulares, processo seletivo e outras
Nacional Comum Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de com a mesma finalidade, deve conter a ligação desta com a
2017) página específica prevista neste inciso; (Incluída pela lei nº
Art. 45. A educação superior será ministrada em ins- 13.168, de 2015)
tituições de ensino superior, públicas ou privadas, com c) caso a instituição de ensino superior não possua sí-
variados graus de abrangência ou especialização. (Regula- tio eletrônico, deve criar página específica para divulgação
mento) (Regulamento) das informações de que trata esta Lei; (Incluída pela lei nº
Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, 13.168, de 2015)
bem como o credenciamento de instituições de educação d) a página específica deve conter a data completa de
superior, terão prazos limitados, sendo renovados, periodi- sua última atualização; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
camente, após processo regular de avaliação. (Regulamen- II em toda propaganda eletrônica da instituição de en-
to) (Regulamento) (Vide Lei nº 10.870, de 2004) sino superior, por meio de ligação para a página referida no
§ 1º Após um prazo para saneamento de deficiências inciso I; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere III em local visível da instituição de ensino superior e de
este artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, con- fácil acesso ao público; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
IV deve ser atualizada semestralmente ou anualmente,
forme o caso, em desativação de cursos e habilitações, em
de acordo com a duração das disciplinas de cada curso ofe-
intervenção na instituição, em suspensão temporária de
recido, observando o seguinte: (Incluído pela lei nº 13.168,
prerrogativas da autonomia, ou em descredenciamento.
de 2015)
(Regulamento) (Regulamento) (Vide Lei nº 10.870, de 2004)
a) caso o curso mantenha disciplinas com duração dife-
§ 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo
renciada, a publicação deve ser semestral; (Incluída pela lei
responsável por sua manutenção acompanhará o processo
nº 13.168, de 2015)
de saneamento e fornecerá recursos adicionais, se neces-
b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do
sários, para a superação das deficiências. início das aulas; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
§ 3o No caso de instituição privada, além das sanções c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo
previstas no § 1o deste artigo, o processo de reavaliação docente até o início das aulas, os alunos devem ser comu-
poderá resultar em redução de vagas autorizadas e em nicados sobre as alterações; (Incluída pela lei nº 13.168, de
suspensão temporária de novos ingressos e de oferta de 2015)
cursos. (Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017) V deve conter as seguintes informações: (Incluído pela
§ 4o É facultado ao Ministério da Educação, mediante lei nº 13.168, de 2015)
procedimento específico e com aquiescência da institui- a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição
ção de ensino, com vistas a resguardar os interesses dos de ensino superior; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
estudantes, comutar as penalidades previstas nos §§ 1o e b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricu-
3o deste artigo por outras medidas, desde que adequadas lar de cada curso e as respectivas cargas horárias; (Incluída
para superação das deficiências e irregularidades constata- pela lei nº 13.168, de 2015)
das. (Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017) c) a identificação dos docentes que ministrarão as au-
§ 5o Para fins de regulação, os Estados e o Distrito Fe- las em cada curso, as disciplinas que efetivamente minis-
deral deverão adotar os critérios definidos pela União para trará naquele curso ou cursos, sua titulação, abrangendo a
autorização de funcionamento de curso de graduação em qualificação profissional do docente e o tempo de casa do
Medicina. (Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017) docente, de forma total, contínua ou intermitente. (Incluída
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, in- pela lei nº 13.168, de 2015)
dependente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias § 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveita-
de trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado mento nos estudos, demonstrado por meio de provas e
aos exames finais, quando houver. outros instrumentos de avaliação específicos, aplicados por
§ 1o As instituições informarão aos interessados, antes banca examinadora especial, poderão ter abreviada a dura-
de cada período letivo, os programas dos cursos e demais ção dos seus cursos, de acordo com as normas dos siste-
componentes curriculares, sua duração, requisitos, qualifi- mas de ensino.

10
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

§ 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores, Art. 53. No exercício de sua autonomia, são assegura-
salvo nos programas de educação a distância. das às universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes
§ 4º As instituições de educação superior oferecerão, atribuições:
no período noturno, cursos de graduação nos mesmos I criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e
padrões de qualidade mantidos no período diurno, sendo programas de educação superior previstos nesta Lei, obe-
obrigatória a oferta noturna nas instituições públicas, ga- decendo às normas gerais da União e, quando for o caso,
rantida a necessária previsão orçamentária. do respectivo sistema de ensino; (Regulamento)
Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhe- II fixar os currículos dos seus cursos e programas, ob-
cidos, quando registrados, terão validade nacional como servadas as diretrizes gerais pertinentes;
prova da formação recebida por seu titular. III estabelecer planos, programas e projetos de pesqui-
§ 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão sa científica, produção artística e atividades de extensão;
por elas próprias registrados, e aqueles conferidos por ins- IV fixar o número de vagas de acordo com a capacida-
tituições não-universitárias serão registrados em universi- de institucional e as exigências do seu meio;
dades indicadas pelo Conselho Nacional de Educação. V elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos
§ 2º Os diplomas de graduação expedidos por uni- em consonância com as normas gerais atinentes;
versidades estrangeiras serão revalidados por universida- VI conferir graus, diplomas e outros títulos;
des públicas que tenham curso do mesmo nível e área ou VII firmar contratos, acordos e convênios;
equivalente, respeitando-se os acordos internacionais de VIII aprovar e executar planos, programas e projetos
reciprocidade ou equiparação. de investimentos referentes a obras, serviços e aquisições
§ 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expe- em geral, bem como administrar rendimentos conforme
didos por universidades estrangeiras só poderão ser reco- dispositivos institucionais;
nhecidos por universidades que possuam cursos de pós- IX administrar os rendimentos e deles dispor na forma
graduação reconhecidos e avaliados, na mesma área de prevista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos
conhecimento e em nível equivalente ou superior. estatutos;
Art. 49. As instituições de educação superior aceita- X receber subvenções, doações, heranças, legados e
rão a transferência de alunos regulares, para cursos afins, cooperação financeira resultante de convênios com enti-
na hipótese de existência de vagas, e mediante processo dades públicas e privadas.
seletivo. § 1º Para garantir a autonomia didático-científica das
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão universidades, caberá aos seus colegiados de ensino e
na forma da lei. (Regulamento) pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários dis-
Art. 50. As instituições de educação superior, quando poníveis, sobre: (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
da ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas I criação, expansão, modificação e extinção de cursos;
de seus cursos a alunos não regulares que demonstrarem (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
capacidade de cursá-las com proveito, mediante processo II ampliação e diminuição de vagas; (Redação dada
seletivo prévio. pela Lei nº 13.490, de 2017)
Art. 51. As instituições de educação superior creden- III elaboração da programação dos cursos; (Redação
ciadas como universidades, ao deliberar sobre critérios e dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
normas de seleção e admissão de estudantes, levarão em IV programação das pesquisas e das atividades de ex-
conta os efeitos desses critérios sobre a orientação do en- tensão; (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
sino médio, articulando-se com os órgãos normativos dos V contratação e dispensa de professores; (Redação
sistemas de ensino. dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
Art. 52. As universidades são instituições pluridisci- VI planos de carreira docente. (Redação dada pela Lei
plinares de formação dos quadros profissionais de nível nº 13.490, de 2017)
superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo § 2o As doações, inclusive monetárias, podem ser di-
do saber humano, que se caracterizam por: (Regulamento) rigidas a setores ou projetos específicos, conforme acor-
(Regulamento) do entre doadores e universidades. (Incluído pela Lei nº
I produção intelectual institucionalizada mediante o 13.490, de 2017)
estudo sistemático dos temas e problemas mais relevan- § 3o No caso das universidades públicas, os recursos
tes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto das doações devem ser dirigidos ao caixa único da ins-
regional e nacional; tituição, com destinação garantida às unidades a serem
II um terço do corpo docente, pelo menos, com titula- beneficiadas. (Incluído pela Lei nº 13.490, de 2017)
ção acadêmica de mestrado ou doutorado; Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público
III um terço do corpo docente em regime de tempo gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial para
integral. atender às peculiaridades de sua estrutura, organização e
Parágrafo único. É facultada a criação de universidades financiamento pelo Poder Público, assim como dos seus
especializadas por campo do saber. (Regulamento) (Regu- planos de carreira e do regime jurídico do seu pessoal. (Re-
lamento) gulamento) (Regulamento)

11
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

§ 1º No exercício da sua autonomia, além das atribui- § 3º A oferta de educação especial, dever constitucio-
ções asseguradas pelo artigo anterior, as universidades pú- nal do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos,
blicas poderão: durante a educação infantil.
I propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educan-
administrativo, assim como um plano de cargos e salários, dos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimen-
atendidas as normas gerais pertinentes e os recursos dis- to e altas habilidades ou superdotação: (Redação dada pela
poníveis; Lei nº 12.796, de 2013)
II elaborar o regulamento de seu pessoal em conformi- I currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
dade com as normas gerais concernentes; organização específicos, para atender às suas necessidades;
III aprovar e executar planos, programas e projetos de II terminalidade específica para aqueles que não pu-
investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em derem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino
geral, de acordo com os recursos alocados pelo respectivo fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração
Poder mantenedor; para concluir em menor tempo o programa escolar para os
IV elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais; superdotados;
V adotar regime financeiro e contábil que atenda às III professores com especialização adequada em nível
suas peculiaridades de organização e funcionamento; médio ou superior, para atendimento especializado, bem
VI realizar operações de crédito ou de financiamento, como professores do ensino regular capacitados para a in-
com aprovação do Poder competente, para aquisição de tegração desses educandos nas classes comuns;
bens imóveis, instalações e equipamentos; IV educação especial para o trabalho, visando a sua efe-
VII efetuar transferências, quitações e tomar outras tiva integração na vida em sociedade, inclusive condições
providências de ordem orçamentária, financeira e patrimo- adequadas para os que não revelarem capacidade de inser-
nial necessárias ao seu bom desempenho. ção no trabalho competitivo, mediante articulação com os
§ 2º Atribuições de autonomia universitária poderão órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresen-
ser estendidas a instituições que comprovem alta qualifica- tam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual
ção para o ensino ou para a pesquisa, com base em avalia- ou psicomotora;
ção realizada pelo Poder Público. V acesso igualitário aos benefícios dos programas so-
Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu ciais suplementares disponíveis para o respectivo nível do
Orçamento Geral, recursos suficientes para manutenção e ensino regular.
desenvolvimento das instituições de educação superior por Art. 59-A.  O poder público deverá instituir cadastro na-
ela mantidas. cional de alunos com altas habilidades ou superdotação ma-
Art. 56. As instituições públicas de educação superior triculados na educação básica e na educação superior, a fim
obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegura- de fomentar a execução de políticas públicas destinadas ao
da a existência de órgãos colegiados deliberativos, de que desenvolvimento pleno das potencialidades desse alunado.
participarão os segmentos da comunidade institucional, (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015)
local e regional. Parágrafo único. A identificação precoce de alunos com
Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocu- altas habilidades ou superdotação, os critérios e procedi-
parão setenta por cento dos assentos em cada órgão co- mentos para inclusão no cadastro referido no caput deste
legiado e comissão, inclusive nos que tratarem da elabora- artigo, as entidades responsáveis pelo cadastramento, os
ção e modificações estatutárias e regimentais, bem como mecanismos de acesso aos dados do cadastro e as políticas
da escolha de dirigentes. de desenvolvimento das potencialidades do alunado de que
Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior, trata o caput serão definidos em regulamento.
o professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas sema- Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino
nais de aulas. (Regulamento) estabelecerão critérios de caracterização das instituições
privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação
CAPÍTULO V exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL financeiro pelo Poder Público.
Parágrafo único. O poder público adotará, como alternativa
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com
efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar ofe- deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas ha-
recida preferencialmente na rede regular de ensino, para bilidades ou superdotação na própria rede pública regular de
educandos com deficiência, transtornos globais do desen- ensino, independentemente do apoio às instituições previstas
volvimento e altas habilidades ou superdotação. (Redação neste artigo. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio es- TÍTULO VI
pecializado, na escola regular, para atender às peculiarida- Dos Profissionais da Educação
des da clientela de educação especial.
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, Art. 61. Consideram-se profissionais da educação esco-
escolas ou serviços especializados, sempre que, em função lar básica os que, nela estando em efetivo exercício e ten-
das condições específicas dos alunos, não for possível a sua do sido formados em cursos reconhecidos, são: (Redação
integração nas classes comuns de ensino regular. dada pela Lei nº 12.014, de 2009)

12
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

I – professores habilitados em nível médio ou superior § 5o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municí-
para a docência na educação infantil e nos ensinos funda- pios incentivarão a formação de profissionais do magistério
mental e médio; (Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009) para atuar na educação básica pública mediante programa
II – trabalhadores em educação portadores de diploma institucional de bolsa de iniciação à docência a estudantes
de pedagogia, com habilitação em administração, planeja- matriculados em cursos de licenciatura, de graduação ple-
mento, supervisão, inspeção e orientação educacional, bem na, nas instituições de educação superior. (Incluído pela Lei
como com títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas nº 12.796, de 2013)
áreas; (Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009) § 6o O Ministério da Educação poderá estabelecer nota
III – trabalhadores em educação, portadores de diplo- mínima em exame nacional aplicado aos concluintes do en-
ma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou sino médio como pré-requisito para o ingresso em cursos de
afim. (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) graduação para formação de docentes, ouvido o Conselho Na-
IV profissionais com notório saber reconhecido pelos cional de Educação CNE. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de § 7o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
áreas afins à sua formação ou experiência profissional, ates- § 8o Os currículos dos cursos de formação de docen-
tados por titulação específica ou prática de ensino em uni- tes terão por referência a Base Nacional Comum Curricular.
dades educacionais da rede pública ou privada ou das cor- (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) (Vide Lei nº 13.415,
porações privadas em que tenham atuado, exclusivamente de 2017)
para atender ao inciso V do caput do art. 36; (Incluído pela Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se refere
lei nº 13.415, de 2017) o inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de con-
V profissionais graduados que tenham feito comple- teúdo técnico-pedagógico, em nível médio ou superior,
mentação pedagógica, conforme disposto pelo Conselho incluindo habilitações tecnológicas. (Incluído pela Lei nº
Nacional de Educação. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) 12.796, de 2013)
Parágrafo único. A formação dos profissionais da edu- Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada
cação, de modo a atender às especificidades do exercício para os profissionais a que se refere o  caput, no local de
de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes trabalho ou em instituições de educação básica e superior,
etapas e modalidades da educação básica, terá como fun- incluindo cursos de educação profissional, cursos superio-
damentos: (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) res de graduação plena ou tecnológicos e de pós-gradua-
I – a presença de sólida formação básica, que propicie ção. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de Art. 62-B. O acesso de professores das redes públicas
suas competências de trabalho; (Incluído pela Lei nº 12.014, de educação básica a cursos superiores de pedagogia e
de 2009) licenciatura será efetivado por meio de processo seletivo
II – a associação entre teorias e práticas, mediante es- diferenciado. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017)
tágios supervisionados e capacitação em serviço; (Incluído § 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto
pela Lei nº 12.014, de 2009) no  caput  deste artigo os professores das redes públicas
III – o aproveitamento da formação e experiências an- municipais, estaduais e federal que ingressaram por con-
teriores, em instituições de ensino e em outras atividades. curso público, tenham pelo menos três anos de exercício
(Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) da profissão e não sejam portadores de diploma de gra-
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação duação. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017)
básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura § 2o As instituições de ensino responsáveis pela ofer-
plena, admitida, como formação mínima para o exercício do ta de cursos de pedagogia e outras licenciaturas definirão
magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos critérios adicionais de seleção sempre que acorrerem aos
do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na mo- certames interessados em número superior ao de vagas
dalidade normal. (Redação dada pela lei nº 13.415, de 2017) disponíveis para os respectivos cursos. (Incluído pela Lei nº
§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu- 13.478, de 2017)
nicípios, em regime de colaboração, deverão promover a § 3o Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem de-
formação inicial, a continuada e a capacitação dos profis- finidos em regulamento pelas universidades, terão priori-
sionais de magistério. (Incluído pela Lei nº 12.056, de 2009). dade de ingresso os professores que optarem por cursos
§ 2º A formação continuada e a capacitação dos pro- de licenciatura em matemática, física, química, biologia e
fissionais de magistério poderão utilizar recursos e tecno- língua portuguesa. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017)
logias de educação a distância. (Incluído pela Lei nº 12.056, Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:
de 2009). (Regulamento)
§ 3º A formação inicial de profissionais de magistério I cursos formadores de profissionais para a educação
dará preferência ao ensino presencial, subsidiariamente fa- básica, inclusive o curso normal superior, destinado à for-
zendo uso de recursos e tecnologias de educação a distân- mação de docentes para a educação infantil e para as pri-
cia. (Incluído pela Lei nº 12.056, de 2009). meiras séries do ensino fundamental;
§ 4o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu- II programas de formação pedagógica para portadores
nicípios adotarão mecanismos facilitadores de acesso e de diplomas de educação superior que queiram se dedicar
permanência em cursos de formação de docentes em nível à educação básica;
superior para atuar na educação básica pública. (Incluído III programas de educação continuada para os profis-
pela Lei nº 12.796, de 2013) sionais de educação dos diversos níveis.

13
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Art. 64. A formação de profissionais de educação para Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de
administração, planejamento, inspeção, supervisão e orien- dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
tação educacional para a educação básica, será feita em vinte e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas
cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós- Constituições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de
graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, impostos, compreendidas as transferências constitucionais,
nesta formação, a base comum nacional. na manutenção e desenvolvimento do ensino público.
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação supe- § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida
rior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas horas. pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municí-
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério su- pios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não será
perior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo,
em programas de mestrado e doutorado. receita do governo que a transferir.
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por uni- § 2º Serão consideradas excluídas das receitas de im-
versidade com curso de doutorado em área afim, poderá postos mencionadas neste artigo as operações de crédito
suprir a exigência de título acadêmico. por antecipação de receita orçamentária de impostos.
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valoriza- § 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes
ção dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclu- aos mínimos estatuídos neste artigo, será considerada a re-
sive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do ceita estimada na lei do orçamento anual, ajustada, quan-
magistério público: do for o caso, por lei que autorizar a abertura de créditos
I ingresso exclusivamente por concurso público de pro- adicionais, com base no eventual excesso de arrecadação.
vas e títulos; § 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas
II aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive e as efetivamente realizadas, que resultem no não atendi-
com licenciamento periódico remunerado para esse fim; mento dos percentuais mínimos obrigatórios, serão apu-
III piso salarial profissional; radas e corrigidas a cada trimestre do exercício financeiro.
IV progressão funcional baseada na titulação ou habili- § 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do
tação, e na avaliação do desempenho; caixa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
V período reservado a estudos, planejamento e avalia-
nicípios ocorrerá imediatamente ao órgão responsável pela
ção, incluído na carga de trabalho;
educação, observados os seguintes prazos:
VI condições adequadas de trabalho.
I recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de
§ 1o A experiência docente é pré-requisito para o exercí-
cada mês, até o vigésimo dia;
cio profissional de quaisquer outras funções de magistério,
II recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigési-
nos termos das normas de cada sistema de ensino. (Renu-
mo dia de cada mês, até o trigésimo dia;
merado pela Lei nº 11.301, de 2006)
III recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao
§ 2o Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no §
final de cada mês, até o décimo dia do mês subsequente.
8o do art. 201 da Constituição Federal, são consideradas
funções de magistério as exercidas por professores e espe- § 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a cor-
cialistas em educação no desempenho de atividades edu- reção monetária e à responsabilização civil e criminal das
cativas, quando exercidas em estabelecimento de educação autoridades competentes.
básica em seus diversos níveis e modalidades, incluídas, Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e de-
além do exercício da docência, as de direção de unidade senvolvimento do ensino as despesas realizadas com vistas
escolar e as de coordenação e assessoramento pedagógico. à consecução dos objetivos básicos das instituições edu-
(Incluído pela Lei nº 11.301, de 2006) cacionais de todos os níveis, compreendendo as que se
§ 3o A União prestará assistência técnica aos Estados, ao destinam a:
Distrito Federal e aos Municípios na elaboração de concur- I remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente
sos públicos para provimento de cargos dos profissionais e demais profissionais da educação;
da educação. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) II aquisição, manutenção, construção e conservação de
instalações e equipamentos necessários ao ensino;
TÍTULO VII III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados
Dos Recursos financeiros ao ensino;
IV levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas vi-
Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação sando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à
os originários de: expansão do ensino;
I receita de impostos próprios da União, dos Estados, V realização de atividades-meio necessárias ao funcio-
do Distrito Federal e dos Municípios; namento dos sistemas de ensino;
II receita de transferências constitucionais e outras VI concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas
transferências; públicas e privadas;
III receita do salário-educação e de outras contribuições VII amortização e custeio de operações de crédito des-
sociais; tinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo;
IV receita de incentivos fiscais; VIII aquisição de material didático-escolar e manuten-
V outros recursos previstos em lei. ção de programas de transporte escolar.

14
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no ar-
desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com: tigo anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento
I pesquisa, quando não vinculada às instituições de en- pelos Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto
sino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que nesta Lei, sem prejuízo de outras prescrições legais.
não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualida- Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às esco-
de ou à sua expansão; las públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias,
II subvenção a instituições públicas ou privadas de cará- confessionais ou filantrópicas que:
ter assistencial, desportivo ou cultural; I comprovem finalidade não-lucrativa e não distribuam
III formação de quadros especiais para a administração resultados, dividendos, bonificações, participações ou par-
pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos; cela de seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto;
IV programas suplementares de alimentação, assistência II apliquem seus excedentes financeiros em educação;
médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras III assegurem a destinação de seu patrimônio a outra
formas de assistência social; escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Po-
V obras de infraestrutura, ainda que realizadas para be- der Público, no caso de encerramento de suas atividades;
neficiar direta ou indiretamente a rede escolar; IV prestem contas ao Poder Público dos recursos re-
VI pessoal docente e demais trabalhadores da educação, cebidos.
quando em desvio de função ou em atividade alheia à manu-
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser
tenção e desenvolvimento do ensino.
destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na
Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e de-
forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de
senvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos
balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a que recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares
se refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal. da rede pública de domicílio do educando, ficando o Poder
Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, prioritaria- Público obrigado a investir prioritariamente na expansão
mente, na prestação de contas de recursos públicos, o cum- da sua rede local.
primento do disposto no art. 212 da Constituição Federal, § 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão
no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitó- poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclu-
rias e na legislação concernente. sive mediante bolsas de estudo.
Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o Dis-
trito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo TÍTULO VIII
de oportunidades educacionais para o ensino fundamental, Das Disposições Gerais
baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, capaz de as-
segurar ensino de qualidade. Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colabo-
Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este artigo ração das agências federais de fomento à cultura e de as-
será calculado pela União ao final de cada ano, com validade sistência aos índios, desenvolverá programas integrados de
para o ano subsequente, considerando variações regionais ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilíngue
no custo dos insumos e as diversas modalidades de ensino. e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes ob-
Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos jetivos:
Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamen- I proporcionar aos índios, suas comunidades e povos,
te, as disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo de a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação
qualidade de ensino. de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas
§ 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a fór- e ciências;
mula de domínio público que inclua a capacidade de atendi- II garantir aos índios, suas comunidades e povos, o
mento e a medida do esforço fiscal do respectivo Estado, do acesso às informações, conhecimentos técnicos e científi-
Distrito Federal ou do Município em favor da manutenção e cos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas
do desenvolvimento do ensino.
e não-índias.
§ 2º A capacidade de atendimento de cada governo será
Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os
definida pela razão entre os recursos de uso constitucional-
sistemas de ensino no provimento da educação intercultu-
mente obrigatório na manutenção e desenvolvimento do
ensino e o custo anual do aluno, relativo ao padrão mínimo ral às comunidades indígenas, desenvolvendo programas
de qualidade. integrados de ensino e pesquisa.
§ 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e 2º, § 1º Os programas serão planejados com audiência das
a União poderá fazer a transferência direta de recursos a cada comunidades indígenas.
estabelecimento de ensino, considerado o número de alunos § 2º Os programas a que se refere este artigo, incluí-
que efetivamente frequentam a escola. dos nos Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes
§ 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser objetivos:
exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos Mu- I fortalecer as práticas sócio-culturais e a língua mater-
nicípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino de sua na de cada comunidade indígena;
responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10 e o inciso II manter programas de formação de pessoal especia-
V do art. 11 desta Lei, em número inferior à sua capacidade lizado, destinado à educação escolar nas comunidades in-
de atendimento. dígenas;

15
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

III desenvolver currículos e programas específicos, ne- Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação
les incluindo os conteúdos culturais correspondentes às própria poderá exigir a abertura de concurso público de
respectivas comunidades; provas e títulos para cargo de docente de instituição públi-
IV elaborar e publicar sistematicamente material didá- ca de ensino que estiver sendo ocupado por professor não
tico específico e diferenciado. concursado, por mais de seis anos, ressalvados os direitos
§ 3o No que se refere à educação superior, sem prejuízo assegurados pelos arts. 41 da Constituição Federal e 19 do
de outras ações, o atendimento aos povos indígenas efe- Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
tivar-se-á, nas universidades públicas e privadas, mediante Art. 86. As instituições de educação superior constituí-
a oferta de ensino e de assistência estudantil, assim como das como universidades integrar-se-ão, também, na sua
de estímulo à pesquisa e desenvolvimento de programas condição de instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional
especiais. (Incluído pela Lei nº 12.416, de 2011) de Ciência e Tecnologia, nos termos da legislação especí-
Art. 79-A. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.639, de fica.
9.1.2003)
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de no- TÍTULO IX
vembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’. (Incluí- Das Disposições Transitórias
do pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003)
Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimen-  Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se
to e a veiculação de programas de ensino a distância, em um ano a partir da publicação desta Lei.
todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação § 1º A União, no prazo de um ano a partir da publica-
continuada. (Regulamento) (Regulamento) ção desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Pla-
§ 1º A educação a distância, organizada com abertura no Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os
e regime especiais, será oferecida por instituições especifi- dez anos seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial
camente credenciadas pela União. sobre Educação para Todos.
§ 2º A União regulamentará os requisitos para a reali- § 2º (Revogado). (Redação dada pela lei nº 12.796, de 2013)
zação de exames e registro de diploma relativos a cursos § 3o O Distrito Federal, cada Estado e Município, e, su-
de educação a distância. pletivamente, a União, devem: (Redação dada pela Lei nº
§ 3º As normas para produção, controle e avaliação de 11.330, de 2006)
programas de educação a distância e a autorização para I (revogado); (Redação dada pela lei nº 12.796, de 2013)
sua implementação, caberão aos respectivos sistemas de a) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de
2006)
ensino, podendo haver cooperação e integração entre os
b) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de
diferentes sistemas. (Regulamento)
2006)
§ 4º A educação a distância gozará de tratamento dife-
c) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de
renciado, que incluirá:
2006)
I custos de transmissão reduzidos em canais comerciais
II prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e
de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros
adultos insuficientemente escolarizados;
meios de comunicação que sejam explorados mediante
III realizar programas de capacitação para todos os
autorização, concessão ou permissão do poder público;
professores em exercício, utilizando também, para isto, os
(Redação dada pela Lei nº 12.603, de 2012) recursos da educação a distância;
II concessão de canais com finalidades exclusivamente IV integrar todos os estabelecimentos de ensino fun-
educativas; damental do seu território ao sistema nacional de avaliação
III reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder do rendimento escolar.
Público, pelos concessionários de canais comerciais. § 4º (Revogado). (Redação dada pela lei nº 12.796, de
Art. 81. É permitida a organização de cursos ou insti- 2013)
tuições de ensino experimentais, desde que obedecidas as § 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando a
disposições desta Lei. progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino
Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas fundamental para o regime de escolas de tempo integral.
de realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei § 6º A assistência financeira da União aos Estados, ao
federal sobre a matéria. (Redação dada pela Lei nº 11.788, Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos Estados
de 2008) aos seus Municípios, ficam condicionadas ao cumprimen-
 Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei to do art. 212 da Constituição Federal e dispositivos legais
nº 11.788, de 2008) pertinentes pelos governos beneficiados.
Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica, Art. 87-A. (VETADO). (Incluído pela lei nº 12.796, de
admitida a equivalência de estudos, de acordo com as nor- 2013)
mas fixadas pelos sistemas de ensino. Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser nicípios adaptarão sua legislação educacional e de ensino
aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas res- às disposições desta Lei no prazo máximo de um ano, a
pectivas instituições, exercendo funções de monitoria, de partir da data de sua publicação. (Regulamento) (Regula-
acordo com seu rendimento e seu plano de estudos. mento)

16
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

§ 1º As instituições educacionais adaptarão seus esta- todos os níveis de progressão, desde os primeiros atos mo-
tutos e regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas tores até a leitura e a produção textual. Uma proposta curri-
dos respectivos sistemas de ensino, nos prazos por estes cular de alfabetização ancorada nas capacidades diz respeito
estabelecidos. àquilo que uma pessoa precisa saber para ser alfabetizada.
§ 2º O prazo para que as universidades cumpram o dis- Defendemos que uma proposta curricular que atenda ao
posto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos. ciclo de alfabetização passa necessariamente pela distribuição
Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que ve- gradual das capacidades ao longo dos três anos, sem que se
nham a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar tenha uma sobrecarga em determinado ano e, sim, uma or-
da publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema ganização coerente e adequada aos conhecimentos e à idade
de ensino. dos alunos.
Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o As reflexões sobre planejamento e organização de uma
regime anterior e o que se institui nesta Lei serão resol- proposta de alfabetização que contemple esse aprendizado
vidas pelo Conselho Nacional de Educação ou, mediante devem possibilitar ao professor uma visualização mais clara
delegação deste, pelos órgãos normativos dos sistemas de dos objetivos de seu trabalho em sala de aula e das metas que
ensino, preservada a autonomia universitária. deve procurar atingir, nos três anos do ciclo de alfabetização.
Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publi- Uma proposta envolve um processo permanente de ex-
cação. perimentação e reflexão na ação pedagógica, para a melhoria
Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, da qualidade da educação brasileira. Entendemos que as prá-
de 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro ticas de ensino e as experiências dos professores são impres-
de 1968, não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de no- cindíveis e podem favorecer a ampliação dos referenciais teó-
vembro de 1995 e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e, ricos e culturais dos docentes e de sua autonomia no trabalho
ainda, as Leis nºs 5.692, de 11 de agosto de 1971 e 7.044, no ciclo de alfabetização.
de 18 de outubro de 1982, e as demais leis e decretos-lei Uma proposta para o ciclo de alfabetização precisa levar
que as modificaram e quaisquer outras disposições em em consideração alguns princípios, entre eles, destacamos:
contrário. O aprendizado e a progressão da criança dependem:
Brasília, 20 de dezembro de 1996; 175º da Indepen- Do processo por ela desenvolvido;
dência e 108º da República. Do patamar em que ela se encontra;
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Das possibilidades que o ambiente escolar lhe propicia.
Paulo Renato Souza A proposta pedagógica deve valorizar:
Este texto não substitui o publicado no DOU de A interpretação das capacidades da criança pelo pro-
23.12.1996 fessor, através de critérios capazes de sinalizar progressivos
avanços no processo de alfabetização.
Também é necessário ter a clareza dos conceitos de alfa-
betizar e letrar:
A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO; Alfabetizar não se reduziria ao domínio das “primeiras le-
ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS PARA A tras” (alfabetizar);
EDUCAÇÃO INFANTIL, 1º AO 5º ANO DO Saber utilizar a língua escrita nas situações em que esta é
ENSINO FUNDAMENTAL REGULAR E DO 1º necessária, lendo e produzindo textos (letrar);
SEGMENTO DO ENSINO FUNDAMENTAL DA Ter clareza sobre capacidades e conhecimentos que pre-
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS; cisam ser desenvolvidos para que uma criança seja conside-
rada alfabetizada;
Saber como distribuí-los ao longo dos três anos iniciais
da Educação Fundamental;
Atualmente, as discussões que envolvem o ciclo de al- Saber o que cada criança deve ser capaz de realizar a
fabetização e o Ensino Fundamental de nove anos passam cada período do Ciclo de Alfabetização.
por reflexões e questionamentos que estão diretamente Como planejar projetos didáticos e sequências didáticas
relacionados às atividades que precisam ser desenvolvidas ao longo de três anos de forma integrada entre os anos e as
no espaço escolar. Ao defendermos a entrada da criança diferentes áreas de conhecimento?
de seis anos no primeiro ano do ciclo de alfabetização, es- Os materiais didáticos e de apoio pedagógico levam em
tamos defendendo que não se trata apenas de incluir os conta o ciclo de alfabetização?
meninos e as meninas na escola, mas encontrar novas lin- Nesta edição temática, pretende-se focalizar a discussão
guagens, novas categorias, novas estratégias para enfren- e a análise de propostas de planejamento e organização de
tar formas inéditas de exclusão que, hoje, se produzem e rotinas, que possam colaborar com o trabalho de gestores
se reproduzem. E uma das maiores exclusões do sistema e professores alfabetizadores. Além disso, pretende-se apre-
educacional brasileiro é de crianças e jovens que não têm sentar relatos de professoras que planejam e organizam suas
domínio e fluência das habilidades da leitura e da escrita. rotinas de forma integrada, com diferentes áreas de conheci-
Partindo do princípio de que orientações curriculares mento. Pretende-se, ainda, mostrar a importância de orga-
são “conhecimentos” e não podem designar “conteúdos”, nizar diferentes agrupamentos nos três anos, adequando
cujo termo é restrito, nossa opção teórico-metodológica é os modos de organização do ciclo aos objetivos preten-
por “capacidades”, termo amplo o suficiente para abranger didos.

17
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Sequência didática para desenvolver a leitura e Vamos discutir aqui as atividades pedagógicas da lei-
produção de gêneros textuais tura e da escrita desenvolvidas em turmas do primeiro ano
do Ensino Fundamental. Sequências didáticas/atividades
O objetivo do segundo texto da edição temática é pedagógicas são todas as estratégias didáticas usadas em
apresentar uma prática escolar de leitura e produção es- sala de aula para mobilizar os processos de aprendizagem
crita de uma professora do 3º ano ciclo de alfabetização dos aprendizes.
do Ensino Fundamental. Procura-se evidenciar os procedi- Elas operacionalizam os procedimentos de ensino para
mentos metodológicos utilizados pela professora, as inte- que as metas de aprendizagem estabelecidas no planeja-
rações estabelecidas com/entre os alunos, as oportunida- mento de ensino do professor sejam alcançadas. No que
des de aprendizagem geradas pelos eventos de letramen- se refere à aprendizagem inicial da língua escrita, é possí-
to. O evento de letramento analisado trata da elaboração vel dizer que há uma demanda por atividades pedagógicas
de um texto descritivo, que teve como foco a produção do específicas e adequadas aos seus três níveis de ensino da
gênero perfil. São analisadas e comentadas as etapas do alfabetização e do letramento:
trabalho com os alunos em sala de aula e mostrados os Sistema de escrita,
textos produzidos por alguns deles ao final deste interes- Leitura e produção de textos escritos,
sante evento de letramento. Usos sociais da língua escrita.

As histórias em quadrinhos (hqs) nas sequências Dessa forma, o conjunto de atividades que compõem
didáticas (sd): o prazer no fazer, ensinar e aprender a rotina escolar das crianças nos anos iniciais do Ensino
Fundamental se caracteriza pela diversidade das atividades
Para a autora do terceiro texto da edição temática, propostas em sala de aula. A organização que se dará às
“as HQs cumprem com diferentes funções da leitura: la- atividades de alfabetização e de letramento deve obedecer
zer, humor, informação e, ainda, são uma forma prazerosa a dois critérios didáticos: a sequência das atividades e a
para quem ensina e para quem aprende.” A autora destaca, integração entre elas.
também, que “a combinação atrativa da linguagem visual e São exemplos de atividades pedagógicas: os jogos e
verbal e a rápida comunicação podem fazer parecer que as brincadeiras pedagógicos, os exercícios individuais, a pro-
HQ são apenas um artefato de diversão, mas elas não são dução coletiva de textos escritos, a leitura autônoma e co-
apenas isto e podem se tornar um grande aliado do pro- letiva de textos, as rodas de leitura, a confecção de livros
fessor em seu trabalho com linguagem, história, geografia, infantis, a produção de jornal e informativos escolares etc.
matemática, etc.” Após analisar as HQs e incluir vários e Esse texto está organizado em duas partes. Na primeira
sugestivos exemplos deste gênero textual, a autora mostra será discutida a relação entre as atividades pedagógicas e
como desenvolver a SD com os alunos, ressaltando que, os procedimentos de ensino. Na segunda parte serão dis-
nesta etapa, é feita a apresentação da proposta e, em se- cutidos, a partir de exemplos de planejamentos de ensino
guida, o trabalho com os módulos – também conhecidos para uma turma do primeiro ano, os dois critérios de orga-
como oficinas – com sugestões de atividades. Esses módu- nização das atividades pedagógicas.
los/oficinas deverão propor situações didáticas desafiado-
ras e desconhecidas dos alunos. Procedimentos de ensino e atividades pedagógicas:
a operacionalização do planejamento de ensino
Sequências e atividades pedagógicas para alfabe-
tização As metas gerais de aprendizagem em alfabetização
e letramento, nos anos iniciais do Ensino Fundamental,
O primeiro texto da edição temática apresenta as se- abrangem a compreensão do princípio da base alfabética
quências didáticas/atividades pedagógicas, que são to- do sistema de escrita; a apreensão das regras ortográficas
das as estratégias didáticas usadas em sala de aula para das palavras; a aquisição da fluência no processo de leitura;
mobilizar os processos de aprendizagem dos aprendizes. o desenvolvimento das habilidades de leitura, resultantes
Segundo a autora do texto: “Elas operacionalizam os pro- da compreensão do funcionamento da modalidade escrita;
cedimentos de ensino para que as metas de aprendizagem o desenvolvimento das habilidades de produção de textos
estabelecidas no planejamento do professor sejam alcan- escritos e a identificação e apropriação dos usos sociais da
çadas”. língua escrita.
“Dessa forma, o conjunto de atividades que compõem Para cada uma dessas metas gerais de aprendizagem
a rotina escolar das crianças nos anos iniciais do Ensino devem ser estabelecidos os objetivos específicos de ensino
Fundamental se caracteriza pela diversidade das ativida- para cada ano e turma dos anos iniciais, levando-se em
des propostas em sala de aula.” A autora apresenta, como conta a trajetória e o nível de aprendizagem dos alunos.
exemplos de atividades pedagógicas: os jogos e brinca- A partir daí, torna-se necessário definir os procedimentos
deiras pedagógicos, os exercícios individuais, a produção de ensino e as atividades pedagógicas que irão operacio-
coletiva de textos escritos, a leitura autônoma e coletiva de nalizar o plano de ensino. O esquema abaixo representa o
textos, as rodas de leitura, a confecção de livros infantis, a modelo desse sistema didático.
produção de jornal e informativos escolares etc.

18
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Metas gerais de aprendizagem em Alfabetização e Letramento


Objetivos Específicos de Ensino
Procedimentos de Ensino
Atividades Pedagógicas

Esquema: Sistema didático do planejamento de ensino


Os procedimentos de ensino-aprendizagem – formas de proceder que alunos e professores adotam para aprender e ensinar
no contexto escolar (Monteiro, 2010) – pode ser compreendido como ações cognitivas que permitem ao aprendiz refletir sobre
os conteúdos escolares, através dos encaminhamentos de ensino planejados pelos professores. Na alfabetização e no letramen-
to, os procedimentos de ensino estão relacionados ao desenvolvimento da consciência metalinguística, que se refere à capa-
cidade de manipular e refletir sobre a estrutura da língua (Maluf, 2006; Roazzi & Carvalho, 1991). A consciência metalinguística
abrange diferentes estruturas linguísticas: o fonema e a sílaba (consciência fonológica); a palavra (consciência de palavra); a frase
(consciência sintática) e o texto (consciência discursiva). No eixo da escrita e da leitura relacionadas ao processamento da palavra,
os procedimentos de ensino estão relacionados ao desenvolvimento da consciência fonológica e da consciência de palavra, à
compreensão da relação entre a linguagem oral e escrita, à automatização do reconhecimento da palavra escrita, ao desenvolvi-
mento da escrita ortográfica. Podemos citar como exemplos de procedimentos nesse eixo de trabalho a leitura do próprio nome
e de nomes dos colegas em listas de nomes; a leitura de palavras e frases pelas crianças com o objetivo de desenvolver a fluência;
a leitura de pequenos textos com autonomia, a escrita compartilhada e autônoma de palavras e frases.
No eixo da produção e leitura de textos escritos, os procedimentos devem possibilitar o desenvolvimento das estra-
tégias de compreensão e produção de textos, a ampliação do vocabulário pelo aluno e a compreensão de textos curtos
lidos pela professora e com autonomia, a produção compartilhada de textos adequados ao gênero, aos objetivos, ao leitor
visado (planejamento, produção e revisão). As perguntas de compreensão de textos diversos (identificação do assunto, lo-
calização de informações explícitas, interpretação, avaliação) que podem ser propostas em conversas coletivas sobre textos,
livros e revistas lidos e as atividades de leitura de pequenos textos e de livros com poucos textos, a produção compartilhada
de textos (toda a turma, pequenos grupos e duplas de alunos) são procedimentos comuns na rotina escolar das crianças
que estão em processo de aprendizagem inicial da língua escrita.
O exemplo de planejamento apresentado a seguir mostra como o sistema didático funciona, tendo-se como referência
o eixo de ensino sistema de escrita.
“A consciência metalinguística abrange diferentes estruturas linguísticas: o fonema e a sílaba (consciência fonológica);
a palavra (consciência de palavra); a frase (consciência sintática) e o texto (consciência discursiva)”.

Exemplo 1
Sistema didático do planejamento de ensino para uma turma do 1º ano crianças em processo de compreensão do
princípio alfabético do sistema de escrita.

Nível de Ensino Meta Geral Objetivos Específicos Procedimentos de Ensino


Identificação de número de sílabas de
palavras.
As crianças devem ser
Compreender o capazes de analisar Comparação de Palavras quanto ao
Sistema de escrita. Princípio alfabético do palavras orais e escritas, tamanho, com base no número de
sistema de escrita. com base em suas sílabas.
unidades silábicas.
Identificação de palavras que começam
com a mesma sílaba.

Atividades didáticas
1. Brincadeira de contar sílabas de palavras: as crianças em trio passam um toquinho de madeira a cada sílaba das
palavras sorteadas pela professora – nomes de frutas: banana, maçã, abacaxi, laranja, uva. A professora registra em um
cartaz, em frente de cada palavra escrita, a quantidade de sílabas de cada palavra. Nessa atividade as crianças poderão
contar e comparar a quantidade de sílabas das palavras selecionadas.
2. As crianças são orientadas a comparar novamente o número de sílabas de duas palavras (boneca e bola) e contar
o número de letras das palavras, que estarão escritas no quadro da sala. As crianças serão orientadas a identificarem
a sílaba “bo” nas duas palavras. Depois da atividade oral, as fichas das duas palavras serão exploradas em pequenos
grupos com as seguintes orientações: 1. fazer um desenho para cada uma delas em uma folha de papel ofício; 2. colorir
de vermelho as sílabas iguais no início das palavras; 3. dizer outras palavras que comecem com a sílaba “bo”, como a
sílaba colorida nas duas palavras.

19
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

A rotina de trabalho escolar e as atividades propostas em sala de aula são fundamentais para a aprendizagem dos alu-
nos. Mas, tendo-se como referência o sistema didático de planejamento de ensino, elas precisam estar associadas às metas
de aprendizagem e aos procedimentos de ensino definidos do planejamento geral para cada turma. Atividades propostas
aleatoriamente, sem que se tenha clareza do seu papel pedagógico, não resultam em aprendizagem para as crianças.
As atividades descritas no exemplo 1 nos mostram como se pode planejar e desenvolver atividades equivocadas, que pou-
co irão acrescentar aos conhecimentos dos alunos. A professora, ainda que tenha pautado seu planejamento nas metas, não
apresentou um bom planejamento. Ao trazer este “modelo”, a intenção foi contrapor este exemplo aos outros exemplos que se
seguem, por acreditar que planejamentos como estes estão muito presentes nas salas de aula das turmas de alfabetização.

Os critérios de organização das atividades pedagógicas

Conforme foi dito anteriormente, as atividades didáticas devem ser planejadas de acordo com os níveis de ensino
da língua escrita: sistema de escrita, leitura e produção de textos escritos e uso social da língua escrita. A diversidade de
atividades pedagógicas propostas em sala de aula precisa se apresentar para as crianças de modo organizado e coeso.
Isso pode ser garantido se forem observados dois critérios didáticos: a sequência das atividades e a integração entre elas.
A sequência das atividades garante que as ações de aprendizagem sejam contínuas, ou seja, que partam consecuti-
vamente umas das outras, permitindo o aprofundamento e a ampliação do conhecimento dos alunos. A integração diz
respeito ao relacionamento entre as ações pedagógicas, visando dar unidade às temáticas abordadas em sala de aula e à
exploração de determinados recursos pedagógicos e materiais escritos.
Vamos nos valer novamente da análise de exemplos de planejamento de ensino nos quais esses critérios foram ado-
tados pela professora.

Exemplo 2
Planejamento de ensino para uma turma do 1º ano crianças em processo de compreensão do princípio alfabético do
sistema de escrita

Nível de Ensino Meta Geral Objetivos Específicos Procedimentos de Ensino


As crianças devem expressar opinião
sobre a obra, A princesa que escolhia,
demonstrando compreensão
dotexto lido pela professora. Participação em eventos
de leitura em sala de aula,
Título: A princesa que escolhia nos quais é preciso ouvir
Apreciar uma com atenção leitura oral
Leitura.
narrativa literária. Autora: Ana Maria Machado. da professora e participar
de conversas e atividades
Ilustradora: Graça Lima. sobre a história lida em sala
de aula.
Editora: Nova Fronteira

Ano de publicação: 2011 (2ª edição)

Atividades pedagógicas

1. Roda de leitura do livro A princesa que escolhia. A leitura será realizada em dois dias seguidos. No primeiro dia,
após a leitura de parte do livro, as crianças serão estimuladas a expressar suas opiniões sobre o livro (observando
ilustrações, formato, cores etc.) e sobre a história (respondendo a perguntas de compreensão).
No segundo dia, para se retomar a leitura, os alunos serão estimulados a fazer o reconto da parte lida no dia
anterior, tendo-se o livro como recurso para a memória da narrativa e a elaborarem hipóteses para o desfecho da
história.

2. No terceiro dia, a professora irá propor a produção de um álbum de princesas: as crianças terão oportunidade de
participar da produção coletiva de pequenos textos descrevendo as características das princesas dos contos de fada
e de histórias que atualizam esses contos a partir de seus personagens.

3. Tendo como referência a produção coletiva do álbum, a professora selecionará 2 ou 3 palavras que comecem com
uma mesma sílaba para propor atividades de análise de palavras, conforme procedimentos de ensino definidos no
nível do sistema de escrita do plano de ensino. As atividades podem ser realizadas no terceiro ou no dia da semana.

20
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

A presença da roda de leitura do livro na rotina escolar dos alunos é um estímulo à prática de leitura como entreteni-
mento e exercício à liberdade de pensamento. É possível observar que o planejamento da leitura do livro prevê ações nas
quais não apenas o texto escrito é objeto de reflexão, mas também o livro passa a ser foco da atenção das crianças – as
crianças serão estimuladas a expressar suas opiniões sobre o livro (observando ilustrações, formato, cores etc.) e sobre a
história (respondendo a perguntas de compreensão). As práticas efetivas de leitura em sala de aula que aproximam as
crianças dos materiais de escrita são extremamente importantes para a formação de novos leitores.
A interrupção e a retomada da leitura junto aos alunos, usando-se a estratégia do reconto e da antecipação da história
mediada pelas ilustrações do livro, favorecem o desenvolvimento de capacidades de interpretação do texto escrito. A pro-
posta de elaboração coletiva de pequenos textos descritivos para a produção de um “álbum de princesas” contribui para
o desenvolvimento de capacidades de produção de textos escritos. As propostas que tomam o texto como unidade do
trabalho pedagógico são fundamentais para que as crianças aprendam não apenas a construir significados para os textos
escritos que leem e organizar o discurso escrito na produção textual, mas também para que elas observem semelhanças
e diferenças entre o texto escrito e o oral.
Por fim, atividades de análise de palavras com base nos procedimentos de ensino definidos no nível do sistema de
escrita – ganham significado quando são selecionadas dentre aquelas usadas na produção textual coletiva. A análise de
palavras, visando à compreensão do sistema de escrita e à aprendizagem das correspondências entre letras e sons, precisa
ser proposta de forma sistemática, observando-se os avanços das crianças ao longo do processo de alfabetização.
A contextualização e a exploração lúdica das palavras são princípios da abordagem didática nesse nível de ensino, que
deve considerar ainda os aspectos linguísticos definidos como objeto de aprendizagem para as crianças.
A sequência das três atividades pedagógicas propostas nesse planejamento permite o engajamento das crianças em
ações relacionadas entre si que favorecem o desenvolvimento de aprendizagens em diferentes eixos de ensino. Dessa
forma, observa-se que a organização das ações correspondentes ao procedimento definido no planejamento baseia-se
na integração das ações das crianças como critério de organização das atividades pedagógicas.

Exemplo 3
Planejamento de ensino para uma turma do 1º ano crianças em processo de compreensão do princípio alfabético do
sistema de escrita

Objetivos Procedimentos
Nível de Ensino Meta Geral
Específicos de Ensino
Identificação das sílabas de
palavras compostas por sílabas
cv e ccv, oralmente.
As crianças devem ser
Compreender o princípio capazes de identificar sílabas Associar as Sílabas identificadas
Sistema de escrita. alfabético do sistema de de palavras, oralmente e oralmente aos seus
escrita. por escrito, compostas por correspondentes na escrita.
sílabas cv e ccv.
Identificação de palavras
compostas das mesmas sílabas
das palavras analisadas.

Atividades pedagógicas

1. Jogo das sílabas: A professora seleciona 10 palavras compostas por sílabas cv e ccv. Exemplos: pedra – cobra. As
crianças, de posse de cartões com imagens correspondentes às palavras selecionadas, devem encontrar o cartão
com a imagem que representa a palavra composta por uma sílaba sorteada pela professora.

2Ao final do jogo, as crianças devem escolher duas palavras. A professora confecciona fichas de palavras para que as
crianças possam observar a escrita das palavras escolhidas por elas, fazendo o reconhecimento, com ajuda da pro-
fessora, das sílabas escritas correspondentes às sílabas orais sorteadas.

3Jogo de encontrar palavras: as crianças recebem uma cartela com várias palavras escritas. Elas devem encontrar
palavras escritas com as mesmas sílabas das palavras escolhidas na atividade anterior.

21
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Podemos observar nessa sequência de atividades que Brincar 2


dirigem a atenção das crianças para um tipo de sílaba a
continuidade de ações voltadas para a análise da estrutu- Para que as crianças possam exercer sua capacidade
ra silábica ccv. Na primeira atividade, identificam-se oral- de criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade nas
mente sílabas desse tipo em várias palavras. Na segunda, experiências que lhes são oferecidas nas instituições, sejam
estabelece-se a relação entre sílaba oral e sua forma escri- elas mais voltadas às brincadeiras ou às aprendizagens que
ta em duas palavras. Por último, identificam-se as sílabas ocorrem por meio de uma intervenção direta.
escritas nas duas palavras escolhidas pelas crianças em ou- A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém
tras palavras escritas listadas pela professora. Essa organi- um vínculo essencial com aquilo que é o “não-brincar”. Se
zação tende a oferecer oportunidade para que as crianças a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da imagina-
ampliem a possibilidade de reconhecimento da estrutura ção isto implica que aquele que brinca tenha o domínio da
silábica em estudo em outras palavras e aprofundem seus linguagem simbólica. Isto quer dizer que é preciso haver
consciência da diferença existente entre a brincadeira e a
conhecimentos sobre as correspondências letra-som.
realidade imediata que lhe forneceu conteúdo para reali-
As sequências das atividades apresentadas neste texto
zar-se. Nesse sentido, para brincar é preciso apropriar-se de
tiveram como objetivos mostrar que se pode fazer um bom
elementos da realidade imediata de tal forma a atribuir-lhes
ou mau trabalho didático na aquisição do sistema de escri-
novos significados. Essa peculiaridade da brincadeira ocorre
ta alfabética com sequências específicas para esta aquisi-
por meio da articulação entre a imaginação e a imitação da
ção. Um bom trabalho com sequências didáticas voltadas
realidade. Toda brincadeira é uma imitação transformada,
para a aquisição do sistema alfabético precisa ser plane-
no plano das emoções e das ideias, de uma realidade ante-
jado em uma interação dialógica com as crianças, em que riormente vivenciada.
elas sejam desafiadas a resolver seus conflitos cognitivos Isso significa que uma criança que, por exemplo, bate
sobre a língua. De pouco adianta ter metas e objetivos es- ritmicamente com os pés no chão e imagina-se cavalgan-
pecíficos se as propostas de sequências didáticas não pas- do um cavalo, está orientando sua ação pelo significado da
sam de meras atividades avulsas e desconexas do mundo e situação e por uma atitude mental e não somente pela per-
do saber das crianças. cepção imediata dos objetos e situações.
No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os
espaços valem e significam outra coisa daquilo que apa-
rentam ser. Ao brincar, as crianças recriam e repensam os
ATIVIDADES ADEQUADAS E UTILIZAÇÃO DE acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que es-
JOGOS NA APRENDIZAGEM; O PROCESSO tão brincando. O principal indicador da brincadeira entre
DE ENSINO E APRENDIZAGEM: A AÇÃO as crianças, é o papel que assumem enquanto brincam. Ao
PEDAGÓGICA; adotar outros papéis na brincadeira, as crianças agem fren-
te à realidade de maneira não literal, transferindo e substi-
tuindo suas ações cotidianas pelas ações e características
do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos.
Introdução1 A brincadeira favorece a autoestima das crianças, au-
xiliando-as a superar progressivamente suas aquisições de
Há tempo a brincadeira está presente no universo in- forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interiorização
fantil. Através dela a criança apropria-se da sua imagem, de determinados modelos de adulto, no âmbito de grupos
seu espaço, seu meio sociocultural, realizando intra e in- sociais diversos.
ter-relações. Essas significações atribuídas ao brincar transformam-
Segundo o Referencial Curricular para a Educação In- no em um espaço singular de constituição infantil.
fantil, o Brincar é um precioso momento de construção Nas brincadeiras, as crianças transformam os conheci-
pessoal e social, é permeado pelo eixo de trabalho deno- mentos que já possuíam anteriormente em conceitos gerais
minado Movimento, no qual a criança movimenta-se cons- com os quais brinca. Por exemplo, para assumir um deter-
truindo sua moralidade e afetividade perante as situações minado papel numa brincadeira, a criança deve conhecer
desafiadoras e significativas presentes no brincar e ineren- alguma de suas características.
tes à produção social do conhecimento. Seus conhecimentos provêm da imitação de alguém ou
De acordo com a educação atual, a criança não deve de algo conhecido, de uma experiência vivida na família ou
ser considerada como um homem em miniatura como em outros ambientes, do relato de um colega ou de um
acontecia antigamente, ao contrário, a criança dever ser adulto, de cenas assistidas na televisão, no cinema ou narra-
considerada como um ser complexo e único provida de di- das em livros etc. A fonte de seus conhecimentos é múltipla,
reitos e deveres com características próprias dessa etapa mas estes se encontram, ainda, fragmentados. É no ato de
de desenvolvimento. brincar que a criança estabelece os diferentes vínculos en-
tre as características do papel assumido, suas competências
e as relações que possuem com outros papéis, tomando
1 Texto adaptado de Karine de Oliveira Lunardi consciência disto e generalizando para outras situações.
disponível em http://monografias.brasilescola.com/educacao/o-brin- 2 Texto disponível em Referencial Curricular Na-
car-na-educacao-infantil-construcao-habitos.htm cional para Educação Infantil Volume 1.

22
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Para brincar é preciso que as crianças tenham certa in- É preciso que o professor tenha consciência que na
dependência para escolher seus companheiros e os papéis brincadeira as crianças recriam e estabilizam aquilo que sa-
que irão assumir no interior de um determinado tema e bem sobre as mais diversas esferas do conhecimento, em
enredo, cujos desenvolvimentos dependem unicamente da uma atividade espontânea e imaginativa. Nessa perspecti-
vontade de quem brinca. va, não se deve confundir situações nas quais se objetivam
Pela oportunidade de vivenciar brincadeiras imaginati- determinadas aprendizagens relativas a conceitos, proce-
vas e criadas por elas mesmas, as crianças podem acionar dimentos ou atitudes explícitas com aquelas nas quais os
seus pensamentos para a resolução de problemas que lhes conhecimentos são experimentados de uma maneira es-
são importantes e significativos. Propiciando a brincadei- pontânea e destituída de objetivos imediatos pelas crian-
ra, portanto, cria-se um espaço no qual as crianças podem ças. Pode-se, entretanto, utilizar os jogos, especialmente
experimentar o mundo e internalizar uma compreensão àqueles que possuem regras, como atividades didáticas.
particular sobre as pessoas, os sentimentos e os diversos É preciso, porém, que o professor tenha consciência que
conhecimentos. as crianças não estarão brincando livremente nestas situa-
O brincar apresenta-se por meio de várias categorias ções, pois há objetivos didáticos em questão.
de experiências que são diferenciadas pelo uso do mate- De acordo com o Referencial Curricular Nacional para
rial ou dos recursos predominantemente implicados. Essas Educação infantil3, brincar é uma das atividades fundamen-
categorias incluem: o movimento e as mudanças da per- tais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia.
cepção resultantes essencialmente da mobilidade física O fato de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar
das crianças; a relação com os objetos e suas propriedades por meio de gestos, sons e mais tarde representar determi-
físicas assim como a combinação e associação entre eles; nado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua
a linguagem oral e gestual que oferecem vários níveis de imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvol-
organização a serem utilizados para brincar; os conteúdos ver algumas capacidades importantes, tais como a atenção,
sociais, como papéis, situações, valores e atitudes que se a imitação, a memória, a imaginação.
referem à forma como o universo social se constrói; e, fi- Amadurecem também algumas capacidades de socia-
nalmente, os limites definidos pelas regras, constituindo-se lização, por meio da interação e da utilização e experimen-
em um recurso fundamental para brincar. Estas categorias tação de regras e papéis sociais.
de experiências podem ser agrupadas em três modalida-
A diferenciação de papéis se faz presente, sobretudo
des básicas, quais sejam brincar de faz-de-conta ou com
no faz-de-conta, quando as crianças brincam como se fos-
papéis, considerada como atividade fundamental da qual
sem o pai, a mãe, o filhinho, o médico, o paciente, heróis e
se originam todas as outras; brincar com materiais de cons-
vilões etc., imitando e recriando personagens observados
trução e brincar com regras.
ou imaginados nas suas vivências.
As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de cons-
A fantasia e a imaginação são elementos fundamentais
trução e aqueles que possuem regras, como os jogos de
para que a criança aprenda mais sobre a relação entre as
sociedade (também chamados de jogos de tabuleiro),
jogos tradicionais, didáticos, corporais etc., propiciam a pessoas, sobre o eu e sobre o outro.
ampliação dos conhecimentos infantis por meio da ati- No faz-de-conta, as crianças aprendem a agir em fun-
vidade lúdica. ção da imagem de uma pessoa, de uma personagem, de
É o adulto, na figura do professor, portanto, que, na um objeto e de situações que não estão imediatamente
instituição infantil, ajuda a estruturar o campo das brinca- presentes e perceptíveis para elas no momento e que evo-
deiras na vida das crianças. Consequentemente é ele que cam emoções, sentimentos e significados vivenciados em
organiza sua base estrutural, por meio da oferta de deter- outras circunstâncias. Brincar funciona como um cenário no
minados objetos, fantasias, brinquedos ou jogos, da de- qual as crianças tornam-se capazes não só de imitar a vida
limitação e arranjo dos espaços e do tempo para brincar. como também de transformá-la. Os heróis, por exemplo,
Por meio das brincadeiras, os professores podem ob- lutam contra seus inimigos, mas também podem ter filhos,
servar e constituir uma visão dos processos de desenvolvi- cozinhar e ir ao circo.
mento das crianças em conjunto e de cada uma em parti- Ao brincar de faz-de-conta, as crianças buscam imitar,
cular, registrando suas capacidades de uso das linguagens, imaginar, representar e comunicar de uma forma específica
assim como de suas capacidades sociais e dos recursos que uma coisa pode ser outra, que uma pessoa pode ser
afetivos e emocionais que dispõem. uma personagem, que uma criança pode ser um objeto ou
A intervenção intencional baseada na observação das um animal, que um lugar “faz-de-conta” que é outro. Brin-
brincadeiras das crianças, oferecendo-lhes material ade- car é, assim, um espaço no qual se pode observar a coorde-
quado, assim como, um espaço estruturado para brincar nação das experiências prévias das crianças e aquilo que os
permite o enriquecimento das competências imaginativas, objetos manipulados sugerem ou provocam no momento
criativas e organizacionais infantis. Cabe ao professor or- presente. Pela repetição daquilo que já conhecem, utilizan-
ganizar situações para que as brincadeiras ocorram de ma- do a ativação da memória, atualizam seus conhecimentos
neira diversificada para propiciar às crianças a possibilidade prévios, ampliando-os e transformando-os por meio da
de escolherem os temas, papéis, objetos e companheiros criação de uma situação imaginária nova. Brincar consti-
com quem brincar ou os jogos de regras e de construção, tui-se, dessa forma, em uma atividade interna das crianças,
e assim elaborarem de forma pessoal e independente suas 3 Texto disponível em Referencial Curricular Na-
emoções, sentimentos, conhecimentos e regras sociais. cional para Educação Infantil Volume 2.

23
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

baseada no desenvolvimento da imaginação e na interpre- -escola naquele país. Eram escolas sui generis (de seu pró-
tação da realidade, sem ser ilusão ou mentira. Também se prio gênero), destinadas às crianças órfãs e desamparadas,
tornam autoras de seus papéis, escolhendo, elaborando e de preferência filhas de pais trabalhadores, em cujo pro-
colocando em prática suas fantasias e conhecimentos, sem grama havia mais assistencialismo que pedagogia.
a intervenção direta do adulto, podendo pensar e solucio- Na França, onde também houve, principalmente após
nar problemas de forma livre das pressões situacionais da terríveis revelações do Relatório Villermé (1840), um repen-
realidade imediata. tino interesse pela infância abandonada, criaram-se nume-
Quando utilizam a linguagem do faz-de-conta, as rosas instituições, conhecidas como “salles d’ asile”, manti-
crianças enriquecem sua identidade, porque podem ex- das por damas da sociedade.
perimentar outras formas de ser e pensar, ampliando suas A evolução da Educação Infantil iniciou devido a uma
concepções sobre as coisas e pessoas ao desempenhar vá- nova etapa de construção de concepções sobre a criança. Na
rios papéis sociais ou personagens. Na brincadeira, viven- Europa, com o crescimento da urbanização e a transforma-
ciam concretamente a elaboração e negociação de regras ção da família, a obrigatoriedade do ensino foi tida como de
de convivência, assim como a elaboração de um sistema extrema importância para o desenvolvimento social.
de representação dos diversos sentimentos, das emoções e A criança começou a ser o centro de interesse edu-
das construções humanas. Isso ocorre porque a motivação cativo dos adultos, mas não acontecia o mesmo com as
da brincadeira é sempre individual e depende dos recur- crianças de baixa renda, para estas era proposto apenas o
sos emocionais de cada criança que são compartilhados aprendizado técnico e piedade.
em situações de interação social. Por meio da repetição Essa nova visão da infância e da criança influenciou o
de determinadas ações imaginadas que se baseiam nas trabalho dos pioneiros da educação pré-escolar, como Pes-
polaridades presença/ausência, bom/mau, prazer/despra- talozzi, Decroly, Froebel e Montessori, que buscavam con-
zer, passividade/ atividade, dentro/fora, grande/pequeno, ciliar o suprimento de carinho, afeto a atividades em prol
feio/bonito etc., as crianças também podem internalizar e do seu desenvolvimento. Embora esses autores tivessem
elaborar suas emoções e sentimentos, desenvolvendo um enfoques diferentes concordavam que a criança possuía
sentido próprio de moral e de justiça. características e necessidades diferentes dos adultos.
Mesmo assim ainda não era possível verificar um ca-
Resgate histórico da Educação Infantil ráter institucional nas escolas que fosse característico da
pré-escola.
A Educação Infantil pode ser considerada tipicamente Foi com Froebel que teve inicio o surgimento de ati-
urbana e característica das sociedades industriais, sendo vidades que exploravam a espontaneidade por meio do
assim, a pré-escola tem uma história relativamente recente, jogo, porém, frente a essa nova concepção houve resistên-
a qual possuía inicialmente fins assistências e não educa- cia por parte dos pais e professores uma vez que impedia/
tivos. modificava o caráter das tarefas da educação infantil.
A primeira Revolução Industrial que transformou as Foi apenas no século XX que a Escola Nova impulsio-
características do mundo do trabalho e causou danos aos nou a Educação Infantil, nesse período viveu-se um clima
trabalhadores, submetendo-os à maquina de maneira im- de renovação, de sensibilidade, abriram se novas perspec-
piedosa e desumana, não poupou as crianças que, sendo tivas.
mão de obra mais barata que a dos adultos, foram utiliza- Atualmente, educar no contexto de Educação Infantil
das maciçamente nas fábricas e nas minas de carvão. Des- é mais que apenas uma etapa obrigatória de educação no
de muito novos tinham de tocar os teares das tecelagens país, é tomar consciência do perfil de cidadão que quere-
ou empurrar as vagonetas na profundeza das galerias de mos para compor a sociedade no futuro. Segundo Edgar
mineração, trabalhavam de 12 a 16 horas por dia, nas con- Faure, “a educação infantil é um requisito prévio essencial
dições mais anti-higiênicas que se possam imaginar, e não de toda política educativa e cultura”.
raro sob a pancadaria dos feitores, para que não dormis- Sendo assim, a prática pedagógica deve ser conceitua-
sem, nem cedessem à distração. da como uma prática social orientada por objetivos, fina-
Uma das primeiras iniciativas para afastar as crianças lidades e conhecimentos, inserida no contexto da prática
pobres desse sistema de servidão e dar lhes atendimento social.
humanitário em instituições apropriadas foi feita em New A prática pedagógica é uma dimensão da prática social
Lanark por Robert Owens que era um utopista socialista e que pressupõe a relação teoria e prática, e é essencialmen-
criou um modelo de micro sociedade planejada. Embora te nosso dever, como educadores, a busca necessária das
não tenha conseguido atingir seus objetivos, o fracasso da condições à sua realização. O lado objetivo desta prática é
experiência não impediu que suas ideias sobre a assistência constituído pelo conjunto de meios, ou seja, o modo pelo
que se devia dar à infância desamparada tivessem em Ja- qual as teorias pedagógicas são colocadas em ação pelo
mes Buchanam seu mais íntimo colaborador, um entusiasta professor.
continuador. O que diferencia a teoria e a pratica é o caráter real
Em Londres, Buchanam reuniu seguidores, sobretudo dos meios e instrumentos para que a ação seja realizada
entre damas da sociedade inglesa, e deu origem a uma e sua finalidade é a transformação real, objetiva, de modo
série de estabelecimentos de educação infantil, podendo, natural ou social para satisfazer determinada necessidade
sem exagero, ser-lhe atribuído o título de pioneiro da pré humana.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

O currículo que deriva de tais procedimentos tem 3) A criança se desenvolve no contato e na interação
sempre como centro as atividades. Desde a sua origem, com outras crianças: a pré-escola deve sempre promover
na Europa, com Froebel e os primeiros jardins de infân- a realização de atividades em grupo.
cia, passando por Decroly e sua proposta de renovação do 4) A organização é adquirida através da atividade e
ensino e organização das atividades escolares em “centros não ao contrário. É fazendo a atividade que a criança se
de interesses”, até Montessori e sua preocupação com uma organiza.
“pedagogia científica” e um “método pedagógico” capazes de 5) O professor é desafiador da criança: ele cria “dificul-
orientar eficientemente a ação escolar, o fundamental para a dades” e “problemas”.
Escola Nova é a atividade e o seu caráter de jogo. 6) Na pré-escola é essencial haver um clima de expec-
No Brasil, essa concepção da pré-escola como um “jardim tativas positivas em relação às crianças.
de infância” foi inaugurado com o movimento da Escola Nova 7) No currículo da pré-escola informado pela teoria
nas décadas de 20 e 30 do século XX sendo até hoje muito de Piaget as diferentes áreas do conhecimento são inte-
difundida, seja na rede pública, seja na particular. Apesar de gradas.
reconhecer a grande contribuição dada pelos educadores que No Brasil os trabalhos de Piaget foram difundidos
defendiam essa tendência, é preciso entender seus limites, em principalmente na década de 70. Várias foram às propos-
especial por não levarem em consideração a heterogeneidade tas curriculares implementadas pelos sistemas públicos de
social e o papel político que a pré-escola desempenha no con- ensino. Vários desses projetos, e muitos outros inspirados
texto mais amplo da educação e da sociedade brasileira. na teoria de Piaget, contêm pressupostos teóricos e orien-
-Tendência cognitiva: A criança é sujeito que pensa, e a pré tações metodológicas bastante diversificadas, refletindo
-escola o lugar de tornar as crianças inteligentes. A educação diferentes posturas políticas e concepções educacionais.
deve favorecer o desenvolvimento cognitivo. -Tendência Crítica: A pré-escola é lugar de trabalho, a
Essa tendência tem em Jean Piaget e seus discípulos, a criança e o professor são cidadãos, sujeitos ativos, coope-
mais importante de suas fontes inspiradoras. Como epistemó- rativos e responsáveis. A educação deve favorecer a trans-
logo, Piaget (1896-1980) investiga o processo de construção formação do contexto social.
do conhecimento e realiza, ao longo de sua vida, inúmeras A discussão sobre a possibilidade de uma educação
pesquisas sobre o desenvolvimento psicogenético. Piaget uti- pré-escolar crítica é muito recente no Brasil. Uma das pro-
liza nas suas investigações, o ‘método clínico” que permite o postas pedagógicas que mais tem trazido contribuições
conhecimento de como a criança pensa e de como constrói as dessa discussão é a de Celestin Freinet (1896-1966). In-
noções sobre o mundo físico e social. fluenciado por Rousseau, Pestalozzi, Ferrire, crítico da es-
Os pressupostos básicos da teoria de Piaget são: o intera- cola tradicional e das escolas novas, Freinet foi o criador,
cionismo, a ideia de construtivismo sequencial e os fatores que na França, do movimento da escola moderna, que atinge
segundo ele, interferem no desenvolvimento. atualmente professores de vários países. Seu objetivo bá-
Com base em tais pressupostos, a educação na visão pia- sico era desenvolver uma escola popular.
getiana deve possibilitar à criança o desenvolvimento amplo A proposta pedagógica de Freinet centra-se em téc-
e dinâmico durante todos os seus estágios. A escola deve, nicas, dentre as quais se pode citar: as aulas-passeios; o
assim, levar em consideração os esquemas de assimilação da desenho livre e o texto livre; a correspondência interes-
criança, favorecendo a realização de atividades desafiadoras colar; o jornal; o livro da vida; o dicionário dos pequenos;
que provoquem desequilíbrio (“conflitos cognitivos”) e reequi- o caderno-circular para os professores etc. Assim, com-
librações sucessivas, promovendo a descoberta e a construção preende que a aquisição do conhecimento é fundamental,
do conhecimento. Nessa construção, as concepções infantis mas deve ser garantida de forma significativa e prazerosa.
combinam-se às informações provenientes do meio, na me- Considera que a disponibilidade de materiais e espaço
dida em que o conhecimento não é concebido apenas como físico bem como a organização da sala e da escola são
espontaneamente descoberto pela criança, nem como trans- cruciais para a realização das atividades nas oficinas. Final-
mitido mecanicamente pelo meio exterior ou pelo adulto, mas mente, a avaliação é entendida em três níveis: individual,
como resultado dessa interação onde o sujeito é sempre ativo. cooperativa e feita pelo professor.
Assim, os principais objetivos da educação consistem na No que diz respeito, por exemplo, à polêmica jogo/
formação de homens “criativos, inventivos e descobridores”, trabalho, considera-se que o que a criança faz com inten-
na formação de pessoas críticas e ativas e, fundamentalmente, cionalidade (dada por ela própria ou pelo professor) na
na construção da autonomia. A interdisciplinaridade é consi- escola é trabalho, que nem por isso deixa de ter um aspec-
derada central, ao contrário da fragmentação dos conteúdos to lúdico (como deseja Freinet). Além disso, há momentos
existente nos currículos da pedagogia tradicional e raciona- variados da atividade da criança na escola que o gozo e o
lista. prazer são os móveis da atividade lúdica, e o jogo (espon-
Há, no entanto, alguns princípios básicos que, em geral, tâneo ou dirigido) é só ludicidade mesmo, isso significa
orientam a prática pedagógica de uma pré-escola fundamen- então, que há trabalho (prazeroso) e jogo na escola, tendo
tada na teoria de Piaget, a saber: ambos aspectos distintos.
1) Tudo começa pela ação. As crianças conhecem os ob- Essa proposta pode ser caracterizada como de ten-
jetos, usando-os. dência crítica com fundamentação psicocultural, aborda-
2) Toda atividade na pré-escola deve ser representada, gem que só recentemente começa a ser desenvolvida no
permitindo que a criança manifeste seu simbolismo. Brasil.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Privilegiam-se os fatores sociais e culturais, entenden- III possibilitem às crianças experiências de narrativas,
do-os como os mais relevantes para o processo educativo. de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita,
Coerentes, então, com os fundamentos teóricos, a meta bá- e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais
sica é implementar uma pré-escola de qualidade, que reco- e escritos;
nheça e valorize as diferenças existentes entre as crianças e, IV recriem, em contextos significativos para as crianças,
dessa forma, beneficiar a todas no que diz respeito ao seu relações quantitativas, medidas, formas e orientações es-
desenvolvimento e à construção dos seus conhecimentos. paço-temporais;
Para que esse objetivo maior seja concretizado, defi- V ampliem a confiança e a participação das crianças
nem-se as seguintes metas educacionais: a construção da nas atividades individuais e coletivas;
autonomia e da cooperação, o enfrentamento e a solução VI possibilitem situações de aprendizagem mediadas
de problemas, a responsabilidade, a criatividade, a forma- para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de
ção do autoconceito estável e positivo, a comunicação e cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar;
a expressão em todas as formas, particularmente ao nível VII possibilitem vivências éticas e estéticas com outras
da linguagem. É em função dessas metas que o currículo é
crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de
pensado e a prática pedagógica desenvolvida.
referência e de identidades no diálogo e reconhecimento
Nessa concepção, o desenvolvimento infantil pleno e a
da diversidade;
aquisição de conhecimentos acontecem simultaneamente,
VIII incentivem a curiosidade, a exploração, o encanta-
se caminhamos no sentido de construir a autonomia, a coo-
peração e atuação crítica e criativa. mento, o questionamento, a indagação e o conhecimento
Entende-se, ainda, que mais importante do que adotar das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo
uma metodologia pré-elaborada é construir, na prática pe- e à natureza;
dagógica, aquela metodologia apropriada às necessidades IX promovam o relacionamento e a interação das
e condições existentes e aos objetivos formulados. Nesse crianças com diversificadas manifestações de música, artes
sentido, temos alguns princípios metodológicos que são: plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança teatro, poesia
Tomar a realidade das crianças como ponto de partida e literatura;
para o trabalho, reconhecendo sua diversidade; X promovam a interação, o cuidado, a preservação e o
Observar as ações infantis e as interações entre as conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da
crianças, valorizando essas atividades; vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos
Confiar nas possibilidades que todas as crianças têm naturais;
de se desenvolver e aprender, promovendo a construção XI propiciem a interação e o conhecimento pelas crian-
de sua autoimagem positiva; ças das manifestações e tradições culturais brasileiras;
Propor atividades com sentido, reais e desafiadoras XII possibilitem a utilização de gravadores, projetores,
para as crianças, que sejam, pois, simultaneamente signifi- computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos
cativas e prazerosas, incentivando sempre a descoberta, a tecnológicos e midiáticos.
criatividade e a criticidade; Parágrafo único As creches e pré-escolas, na elabora-
Favorecer a ampliação do processo de construção dos ção da proposta curricular, de acordo com suas caracte-
conhecimentos, valorizando o acesso aos conhecimentos rísticas, identidade institucional, escolhas coletivas e parti-
do mundo físico e social; cularidades pedagógicas, estabelecerão modos de integra-
Enfatizar a participação e a ajuda mútua, possibilitando ção dessas experiências.
a construção da autonomia e da cooperação. Sendo assim as experiências proporcionadas às crian-
ças na Educação Infantil devem ser pautadas na interação
O que diz a legislação sobre os eixos norteadores da
da criança com o mundo, com as outras crianças, com o
proposta curricular na Educação Infantil.
contexto que a cerca, com os materiais através de brinca-
deiras que despertem o interesse e a criatividade da crian-
De acordo com o Art. 9º da Resolução nº 5 de 17 de
ça, sempre respeitando seu ritmo e seus desejos.
dezembro de 20094 que fixa as Diretrizes Curriculares Na-
cionais para a Educação Infantil As práticas pedagógicas Essas práticas devem garantir experiências que segun-
que compõem a proposta curricular da Educação Infantil do o Ministério da Educação5:
devem ter como eixos norteadores as interações e a brin- Promovam o conhecimento de si e do mundo por meio
cadeira, garantindo experiências que: da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, cor-
I promovam o conhecimento de si e do mundo por meio porais que possibilitem movimentação ampla, expressão
da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corpo- da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da
rais que possibilitem movimentação ampla, expressão da in- criança;
dividualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança; Favoreçam a imersão das crianças nas diferentes lin-
II favoreçam a imersão das crianças nas diferentes lin- guagens e o progressivo domínio por elas de vários gêne-
guagens e o progressivo domínio por elas de vários gêne- ros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramá-
ros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramá- tica e musical;
tica e musical; 5 Texto produzido por Ministério da Educação e
4 Texto disponível em file:///C:/Users/Usuario/ Secretaria da Educação Básica. Disponível em file:///C:/Users/Usua-
Downloads/rceb005_09%20(1).pdf rio/Downloads/diretrizescurriculares_2012.pdf

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Possibilitem às crianças experiências de narrativas, de Sendo assim, o professor tem papel fundamental na
apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e organização das situações de aprendizagem de modo a se
convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e tornar o principal responsável pela organização das situa-
escritos; ções de aprendizagem, deve saber o valor da brincadeira
Recriem, em contextos significativos para as crianças, re- para o desenvolvimento do aluno. Cabe a ele oferecer um
lações quantitativas, medidas, formas e orientações espaço espaço que mescle brincadeira com as aulas cotidianas, um
temporais; ambiente favorável à aprendizagem escolar e que propor-
Ampliem a confiança e a participação das crianças nas cione alegria, prazer, movimento e solidariedade no ato de
atividades individuais e coletivas; brincar.
Possibilitem situações de aprendizagem mediadas para a O educador não precisa ensinar a criança a brincar,
elaboração da autonomia das crianças nas ações de cuidado pois este é um ato que acontece espontaneamente, mas
pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar; sim planejar e organizar situações para que as brincadeiras
Possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crian- ocorram de maneira diversificada, propiciando às crianças
ças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de refe- a possibilidade de escolher os temas, papéis, objetos e
rência e de identidades no diálogo e conhecimento da di- companheiros com quem brincar. Dessa maneira, poderão
versidade; elaborar de forma pessoal e independente suas emoções,
Incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamen- sentimentos, conhecimentos e regras sociais (Rcnei).
to, o questionamento, a indagação e o conhecimento das O professor como mediador da aprendizagem -, deve
crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à fazer uso de novas metodologias, procurando sempre in-
natureza; cluir na sua prática as brincadeiras, pois seu objetivo é for-
Promovam o relacionamento e a interação das crianças mar educandos atuantes, reflexivos, participativos, autôno-
com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e mos, críticos, dinâmicos e capazes de enfrentar desafios.
gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura;
Promovam a interação, o cuidado, a preservação e o co- Breve trajetória histórica da brincadeira
nhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida
na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais;
A análise da evolução histórica das sociedades huma-
Propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças
nas organizadas permite identificar a brincadeira como ele-
das manifestações e tradições culturais brasileiras;
mento presente a elas. Tanto que, para alguns pesquisado-
Possibilitem a utilização de gravadores, projetores, com-
res do tema, o brincar é classificado como algo inerente ao
putadores, máquinas fotográficas, e outros recursos tecnoló-
ser humano, afirmando-o mesmo como aspecto intrínseco
gicos e midiáticos.
ao desenvolvimento, estando inscrito na base das relações
As creches e pré-escolas, na elaboração da proposta cur-
sociais. Essa afirmação decorre de estudos como os de Sil-
ricular, de acordo com suas características, identidade insti-
tucional, escolhas coletivas e particularidades pedagógicas, va e Sousa, que analisaram as pesquisas de Rizzi e Haydt,
estabelecerão modos de integração dessas experiências. Redim e Borba.
Das pesquisas de Rizzi e Haydt (apud SILVA; Sousa) foi
O brincar em sala de aula a partir da perspectiva do levada para o homem primitivo a denominação Homo lu-
professor6 dens indicando a sua capacidade de dedicar-se ao lúdico.
De acordo com Redim, a brincadeira surge mesclada
Desde que nascemos, aprendemos as regras da vida às atividades do cotidiano e permeando a interação entre
brincando. Quando a mãe vai dar sopinha ao filho, faz avião- a criança e o adulto nas manifestações religiosas, culturais,
zinho, trenzinho, enfim, promove uma brincadeira para que a artísticas e nas celebrações.
criança aprenda e queira se alimentar. Aprendemos a contar Para Borba, a brincadeira insere-se no contexto históri-
brincando, contando com nossos pais: “um, dois, feijão com co e cultural, perpassando tempo, lugar, espaço e estrutura
arroz; três, quatro, feijão no prato!”. Essas experiências pas- social, servindo para situar a criança nas redes de relações
sam a ser fonte de aprendizado e estímulo para outras bus- estabelecidas com adultos e outras crianças.
cas de conhecimento, porque a criança começa desde muito Lazaretti realizou uma pesquisa teórico-conceitual da
cedo a mergulhar no universo da brincadeira, da fantasia e obra de Elkonin, pesquisador da psicologia histórico-cultu-
do faz de conta. ral, que conduziu vários estudos a partir das contribuições
O brincar faz parte do processo de aprendizagem de de Vygotsky sobre o desenvolvimento da brincadeira infan-
todo ser humano, começando na infância e podendo se es- til e seus efeitos no desenvolvimento humano. Os resulta-
tender a alguns momentos da fase adulta. É interessante no- dos encontrados por Elkonin permitem compreender que
tar que, independente da idade, a brincadeira pode inserir-se a brincadeira surgiu em uma determinada etapa do desen-
como elo do objeto do conhecimento com a aprendizagem, volvimento da sociedade, no curso da mudança histórica
possibilitando um conhecimento mais sólido e permanente do lugar que a criança ocupa nela. A brincadeira é uma
ao aprendiz. Por isso, o brincar na sala de aula é extremamen- atividade social por sua origem, e por isso seu conteúdo
te relevante para a aquisição da aprendizagem. é social e é uma forma de vida e atividade da criança para
6 Texto adaptado disponível em http://www.educa- orientar-se no mundo das ações e relações humanas, dos
caopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0369.html problemas e motivos das ações dos indivíduos (Lazaretti).

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Ainda de acordo com as análises de Lazaretti, para El- O Lúdico e a Aprendizagem


konin a brincadeira não constitui um ente inato nos seres
humanos, como algo típico da infância, e não deve ser clas- Os efeitos positivos das brincadeiras começaram a ser
sificada como elemento de satisfação de desejos e/ou fuga investigados pelos pesquisadores que consideram a ação
da realidade. Ao invés disso, esse estudioso aponta que a lúdica como facilitadora para a criança adquirir conheci-
ação da criança está relacionada ao papel que ela ocupa mentos, habilidades e compreensão do mundo que a cer-
na sociedade. ca, além de ser um fator importante para as relações com
A natureza dos jogos infantis só se pode compreen- o outro (Rosa).
der pela correlação existente entre eles e a vida da criança Para Vygotsky, aprendizado e desenvolvimento estão
na sociedade [...]; os povos viveram e vivem em diferentes inter-relacionados desde o primeiro dia de vida e é enor-
condições de acordo com o nível de desenvolvimento so- me a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma
cial, e tais condições [...] repercutem na vida das crianças criança, pois o brinquedo cria uma zona de desenvolvi-
na sociedade, no lugar que ocupam entre os adultos e, por mento proximal na criança. No brinquedo, a criança sem-
essa razão, no caráter de seus jogos (apud Lazaretti). pre se comporta além do comportamento habitual de sua
Primeiramente, a criança participava de igual para idade, além do seu comportamento diário; no brinquedo é
igual com os adultos do mundo do trabalho e não havia como se ela fosse maior do que é na realidade. Como no
muito tempo para ser utilizado com brincadeiras. A sua foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas
posição estava relativamente firmada por não haver di- as tendências do desenvolvimento. Sob forma condensada,
ferenciação no papel desempenhado pela criança e pelo sendo, ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento
adulto na sociedade. (Vygotsky).
Mas, com o surgimento das máquinas que realizam É na brincadeira que a criança pode se propor desafios
parte das funções e de mudanças ocorridas nas relações para além de seu comportamento diário, levantando hipó-
de trabalho e nas relações de produção, a participação teses e saídas para situações que a realidade lhe impõe.
da criança na esfera laboral passou a diminuir. O ócio e a Para Antunes, inexiste brincadeira sem aprendizagem: por
exclusão social precisavam ser compensados de alguma tudo que se conhece hoje sobre a mente infantil, não mais
forma. É a partir dessa nova configuração social que surge se duvida de que é no ato de brincar que toda criança se
a brincadeira sob o enfoque do jogo de papéis. Lazaret- apropria da realidade imediata, atribuindo-lhe significado.
ti apresenta a seguinte conclusão de Elkonin: o caminho Jamais se brinca sem aprender (Antunes).
de desenvolvimento do jogo vai da ação concreta com os Assim sendo, brincar é aprender. Na brincadeira, está
objetos à ação lúdica sintetizada e, desta, à ação lúdica a base daquilo que, posteriormente, possibilitará à criança
aprendizagens mais complexas e elaboradas.
protagonizada: há colher; dar de comer com a colher; dar
Segundo Piaget, a atividade lúdica é o berço obrigató-
de comer com a colher à boneca; dar de comer à bone-
rio das atividades intelectuais da criança. Ela não é apenas
ca como a mamãe; tal é, de maneira esquemática, o cami-
uma forma de desafogo ou algum entretenimento para
nho para o jogo protagonizado.
gastar energia das crianças; constitui um meio que enri-
Esta breve análise histórica da brincadeira é significa-
quece e contribui para o desenvolvimento intelectual.
tiva para o professor, pois permite que ele compreenda a
Borba afirma que, “se incorporarmos, de forma efetiva,
importância e a influência do brincar para as crianças de
a ludicidade nas nossas práticas, estaremos potencializan-
todos os tempos. Permite também conhecer como a brin-
do as possibilidades de aprender e o investimento e o pra-
cadeira acabou sendo disseminada entre os povos.
zer das crianças no processo de conhecer”. Nesse contexto,
As brincadeiras presentes na cultura brasileira, por percebe-se que o brincar assegura a aprendizagem, além
exemplo, foram configuradas a partir das brincadeiras tra- de acrescentar alegria na construção de conhecimentos da
zidas pelos povos que participaram da formação da nossa criança.
identidade nacional. Alves, citando Kishimoto, discorre so-
bre a influência portuguesa: os jogos tradicionais recebem O professor como mediador das brincadeiras
forte influência do folclore, [...] os contos, lendas e histó-
rias que alimentavam o imaginário português se fizeram O brincar, na perspectiva dos professores, segundo
presentes em brincadeiras e brinquedos brasileiros. Perso- o  Referencial Curricular Nacional para a Educação Infan-
nagens como a mula-sem-cabeça, a cuca e o bicho-papão, til – RCNEI (BRASIL) refere-se ao papel do professor de
trazidos pelos portugueses, foram incorporados em brin- estruturar o campo das brincadeiras na vida das crianças,
cadeiras que vão desde a bola de gude até o pique ou pe- disponibilizando objetos, fantasias, brinquedos ou jogos e
ga-pega (Alves). possibilitando espaço e tempo para brincar.
São consideráveis as contribuições da cultura africana, O reconhecimento do valor educativo do brincar é de
por meio dos negros (que foram trazidos como escravos) domínio público; é indispensável para a aprendizagem da
e dos indígenas. Assim, a brincadeira hoje constitui capi- criança. Diante disso, os professores devem inserir a brin-
tal histórico com potencial evolutivo que o professor não cadeira no universo escolar, reconhecendo-a como uma via
pode deixar relegado em sua sala de aula. para se aproximar da criança, com o objetivo de ensinar
brincando.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Criança e brincadeira fazem uma combinação perfeita. De acordo com Fortuna “o que permite a superação
É quase impossível imaginar uma criança que não goste desses dilemas e viabiliza a atividade lúdica na educação é
de brincar, que não se deixa envolver pela imaginação. Por a redefinição do papel que o adulto, o professor, a escola,
isso, o brincar consente pensar num ensino e numa apren- a criança e a cultura desempenham”. Concomitante com
dizagem mais envolventes e mais próximos do real, pois isso está a formação do professor.
leva a fazer uma ligação entre a realidade e a fantasia. Por Como formar educadores capazes de cultivar o brin-
isso, é vital reconhecer a brincadeira como uma estraté- car em suas aulas? A formação do educador capaz de jo-
gia a mais na sala de aula; devemos, pois, sempre tomá-la gar passa pela vivência de situações lúdicas, pela obser-
como mais um instrumento pedagógico, já que sabemos vação do brincar, pelo entendimento do significado e dos
que a brincadeira desenvolve os aspectos físicos e senso- efeitos da brincadeira no estudante, por conhecimentos
riais, além do desenvolvimento emocional, social e da per- teóricos sobre desenvolvimento da aprendizagem nos
sonalidade da criança. seres humanos. Uma boa formação do professor e boas
Como disse Carlos Drummond de Andrade: brincar condições de atuação são os facilitadores para que se res-
com as crianças não é perder tempo, é ganhá-lo. Se é triste gate o espaço de brincar da criança no dia a dia da escola.
ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados Isso não é tão fácil como muitos imaginam, pois para con-
enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem
seguir entrar e participar do mundo lúdico da criança é
valor para a formação do homem.
necessário que o educador tenha conhecimentos, prática
A brincadeira permite que o aluno expresse suas emo-
e vontade de ser parceiro da criança nesse processo.
ções, e assim o professor passa a ter maior conhecimento
da sua personalidade, ajudando-o a superar seus limites e
A importância do brincar e da criatividade
a respeitar as regras com disciplina.
Neste ponto faz-se necessária uma breve consideração
O professor contemporâneo tem buscado apropriar-
dos termos brincadeira, brinquedo e jogo, pois existe mui-
se do brincar, inserindo-o no universo escolar. Como um
ta confusão em relação a esses termos. Em alguns contex-
adulto é afetivamente importante para a criança, quando
tos, são usados como sinônimos. Mas, segundo Dallabona,
brincadeira basicamente se refere à ação de brincar, ao acolhe suas vivências lúdicas abre um espaço potencial de
comportamento espontâneo que resulta de uma atividade criação. Com isso, o professor instiga a criança à desco-
não estruturada; jogo é compreendido como uma brinca- berta, à curiosidade, ao desejo de saber. A criança tem no
deira que envolve regras; brinquedo é utilizado para de- professor um parceiro nessa busca.
signar o sentido de objeto de brincar; já a atividade lúdica Kishimoto explicita que o jogo educativo tem a van-
abrange, de forma mais ampla, os conceitos anteriores. tagem de aliar contentamento e aprendizagem. Ele afir-
O professor precisa ter claro esse conceito para que ma também que muitos autores, ao tratar dessa temática,
possa articular o lúdico com as situações de aprendiza- tentam conciliar a tarefa de educar com a necessidade
gem. Um primeiro passo é adequar o tipo de atividade ao irresistível de brincar. Nessa junção surge o jogo educa-
conteúdo, tempo de aula e características da turma. Ele tivo, um meio de instrução, um recurso de ensino para o
pode “lançar mão” da brincadeira, priorizando o aspecto professor e, ao mesmo tempo, um fim em si mesmo para
da espontaneidade, ou o jogo com regras. Tudo depende a criança que só quer brincar.
dos objetivos estabelecidos. O professor precisa ter cui- “O jogo transita livremente entre o mundo interno e
dado para não “ficar preso” demais aos objetivos peda- o mundo real”, o que garante à criança a fuga temporária
gógicos. Isso pode resultar numa condução excessiva da da realidade. Tudo se transforma em lúdico para o alu-
brincadeira, na inibição da criatividade e da liberdade da no, mas o professor precisa trazer do lúdico a realidade,
criança e, por fim, na descaracterização do elemento lúdi- a verdade subentendida como conhecimento, especial-
co empregado. mente o escolar.
As brincadeiras a serem desenvolvidas com crianças Como afirma Fortuna, “defender o brincar na escola,
precisam estar de acordo com a zona de desenvolvimento por outro lado, não significa negligenciar a responsabi-
em que elas se encontram. Isso possibilita maior eficácia lidade sobre o ensino, a aprendizagem e o desenvolvi-
na construção da aprendizagem. Uma brincadeira ou um mento”. É preciso, nesse aspecto, que o professor busque
jogo raramente são praticados individualmente, e é nessa o equilíbrio entre ministrar aulas convencionais, em que
troca presente na situação de brincar que se promove o recursos como lápis e caderno precisam fazer parte do
crescimento. cotidiano como forma de preparo para o mundo adulto,
Para conseguir transpor barreiras conceituais e inserir e aulas lúdicas.
a brincadeira nas aulas, Freud (apud FORTUNA) sugere ao Por isso, o professor deve utilizar as atividades criati-
educador reconciliar-se com a criança que existe dentro de vo-lúdicas como suporte do desenvolvimento e da apren-
si, “não para ser novamente criança, mas para compreendê dizagem, por meio de seus procedimentos, e, nesta cir-
-la e, a partir disso, interagir, em uma perspectiva criativa e cunstância, criar situações e propor problemas, assumin-
produtiva, com seus alunos. [...] Não é necessário ‘ser crian- do sua condição de parceiro na interação e sua corres-
ça’ para usufruir o brincar, pois sua herança – a criatividade ponsabilidade no desenvolvimento cognitivo, psicomotor
– subsiste na vida adulta”. e psicossocial do aluno.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Ao buscar uma rotina que propicie o desenvolvimento São relevantes as atividades lúdicas no desenvolvimen-
pleno do ser humano, indo além de teorias e conceitos, to infantil, bem como sua função no processo educativo;
nada melhor que explorar e experimentar. Assim, o lúdico para que esse processo de ensino e aprendizagem ocorra
se faz uma ferramenta enriquecedora, pois brincando o alu- de forma prazerosa, os professores devem estar cientes de
no expressa suas ideias e pensamentos sobre o mundo que o seu papel nessa fase de construção de conhecimento das
cerca. Dessa maneira, dá pistas ao professor de como comple- crianças. Os educadores, por sua vez, devem se preparar
mentar, no sentido de promover, outros conhecimentos, am- para trabalhar com o criar, pois a criatividade deve ser vis-
pliando seu repertório e seu conhecimento de mundo. ta como um elo dinâmico e contínuo. Nessa perspectiva,
o docente não deve ver a criança como receptora passiva
O brincar na sala de aula de estímulos, mas como uma pessoa capaz de ação, que
interaja, crie e recrie possibilidades e novas aprendizagens.
A sala de aula pode se transformar também em lugar de Para os docentes que vêm de uma formação tradicio-
brincadeiras, se o professor conseguir conciliar os objetivos nal, não é nada fácil adentrar esse mundo de jogos e brin-
pedagógicos com os desejos do aluno (Almeida). Para tal, é cadeiras em sala de aula, tendo em vista que não vivencia-
necessário encontrar o equilíbrio entre o cumprimento de suas ram isso, talvez por medo de perder o controle e o respei-
funções pedagógicas – ensinar conteúdos e habilidades, ensi- to, pois brincadeira sempre foi vista como algo para a hora
nar a aprender – e psicológicas, contribuindo para o desenvol- do recreio; sala de aula é um lugar de “coisa séria”. Um dos
vimento da subjetividade, para a construção do ser humano grandes desafios é, então, tentar se aproximar desse novo
autônomo e criativo – na moldura do desempenho das fun- paradigma e se abrir e deixar a criança que está adormeci-
ções sociais –, preparar para o exercício da cidadania e da vida da, sufocada pela sociedade, renascer. Reviver essa criança
coletiva, incentivar a busca da justiça social e da igualdade com que existe em cada um é essencial para que se possa apro-
respeito à diferença. ximar da criança real.
Reconstruir conceitos importantes sobre o ato de brincar Neste mundo complexo, com seres únicos que con-
e sua importância no contexto escolar é fundamental para a vivem com tanta diversidade em vários contextos e com
prática pedagógica do professor. Se ele busca a formação de tantas informações ao seu dispor, com todas as facilidades
indivíduos dinâmicos, criativos, reflexivos e capazes de enfren- tecnológicas, não se pode ignorar que as relações estão
tar desafios, deve proporcionar condições para que as crianças diferentes. No entanto, as brincadeiras continuam a se fa-
brinquem de forma espontânea, dando a elas a oportunida-
zer presentes na vida de todos os seres humanos, seja por
de de ter momentos de prazer e alegria no ambiente esco-
meio das tradicionais brincadeiras de roda ou das mais tec-
lar, tornando-se autoras de suas próprias criações. Mais uma
nológicas, como os videogames.
vez remetendo a Winnicott (1975), quando não reprimidas, a
O professor precisa priorizar o lúdico em sua prática pe-
espontaneidade e a criatividade agem no sentido de fazer as
dagógica, valorizando a liberdade de aprender pelo mecanis-
coisas, de brincar; consequentemente, as crianças alcançam a
mo mais simples e mais eficiente: a brincadeira. Para atingir
aprendizagem.
Mas o que seria, de fato, uma aula lúdica? Para Fortuna esse objetivo, ele deve conscientizar-se de que necessita rea-
“uma aula lúdica é uma aula que se assemelha ao brincar”, lizar estudos e pesquisas sobre temas relativos à aprendiza-
ou seja, é uma aula livre, criativa e imprevisível. É aquela que gem, buscar e testar novas estratégias de ensino que aten-
desafia o aluno e o professor, colocando-os como sujeitos do dam adequadamente à necessidade de formação do aluno.
processo pedagógico. A presença da brincadeira na escola ul-
trapassa o ensino de conteúdos de forma lúdica, dando aos
alunos a oportunidade de aprender sem perceber que o estão. A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM.
O brincar estimula a inteligência porque faz com que o
indivíduo solte sua imaginação e desenvolva a criatividade,
possibilitando o exercício da concentração, da atenção e do
engajamento, proporcionando, assim, desafios e motivação. Infância e Avaliação Infantil7

Conclusão A Educação Infantil vem a cada dia se solidificando na


legislação e nas políticas públicas brasileiras como dever
Brincar, jogar, divertir-se na sala de aula constituem ativi- do Estado e direito de todas as crianças de 0 a 5 anos de
dades estimulantes tanto para o aluno quanto para o profes- idade. A Constituição Federal Brasileira determina no seu
sor. Estar aberto para mudar seus paradigmas a respeito de sua artigo 7º, inciso XXV, como direito social dos pais traba-
forma de trabalho é um exercício que o professor precisa fazer. lhadores urbanos e rurais, a assistência gratuita aos filhos
Não basta dominar as teorias e decidir-se por trabalhar e dependentes, desde o nascimento até 5 (cinco)anos de
com jogos. É necessário deixar-se ir junto com a brincadeira, idade em creches e pré-escolas.
aprender e perceber as diferentes nuances do aprendizado de A Lei de Diretrizes e Bases da Educação determina que
uma turma. Tudo isso implica libertar o seu fazer profissio- a Educação Infantil é parte integrante do sistema educa-
nal das amarras que constrói durante a sua escolarização e 7 Texto adaptado do Documento produzido pelo
sua formação, o que implica um conhecimento pessoal e Grupo de Trabalho instituído pela Portaria número 1.147/2011, do
profissional profundo e muita vontade de mudar, ou seja, Ministério da Educação. file:///C:/Users/Usuario/Downloads/educa-
de ver algo ser feito diferentemente. cao_infantil_sitematica_avaliacao.pdf

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

cional brasileiro, constituindo-se a primeira etapa da Edu- a intenção pedagógica avaliativa dará condições para o
cação Básica. Seu objetivo é o desenvolvimento integral da professor(a) criar objetivos e planejar atividades adequa-
criança de 0 a 5 anos de idade no que diz respeito aos seus das, tornando a observação significativa, uma vez que tor-
aspectos físico, intelectual, social, linguístico e afetivo com- na possível afunilar o leque de padrões a serem observados
plementando a ação da família e da comunidade (Art. 29). dando base para uma observação precisa dos fatores a se-
Como o primeiro espaço de educação coletiva da criança, rem considerados. Sendo assim, torna-se clara a necessi-
fora do ambiente familiar, insere-se na base da construção dade de se construir conhecimentos e reflexão por parte
da cidadania e de uma sociedade democrática, livre, jus- de professores/educadores acerca do processo avaliativo
ta, solidária e implicada na preservação do meio ambiente, formal na Educação Infantil.
como prevê a Constituição Federal de1988. A avaliação tem por objetivo obter informações e sub-
No que fiz respeito à Avaliação na educação infantil sídios que favoreçam o desenvolvimento das crianças e
existem, por sua vez, iniciativas do Governo Federal para ampliação de seus conhecimentos. Nesse sentido, avaliar
Avaliação Básicas que embora se apresentem como dire- não é apenas medir, comparar ou julgar. Muito mais do
cionadas à avaliação da educação básica, não contemplam que isso, a avaliação apresenta uma importância social e
a educação infantil creche e pré-escola −, etapa integrante política fundamental no fazer educativo.
deste nível de ensino desde 1988, com a promulgação da A avaliação na educação infantil deve ser processual
Constituição Federal. e destinada a auxiliar o processo de aprendizagem, for-
Política de Avaliação da/na Educação Infantil8 talecendo a autoestima das crianças. No que se refere às
Observa-se ao longo dos anos que o campo de inves- crianças, a avaliação deve permitir que elas acompanhem
tigação, politicas e praticas de avaliação deixa à margem suas conquistas, suas dificuldades e suas possibilidades ao
sua preocupação com a educação infantil, apesar de uma longo de seu processo de aprendizagem.
das obras mais referidas na bibliografia brasileira contem- A avaliação formativa em contrapartida da avaliação
porânea sobre avaliação, a de Jussara Hoffman, tratar do somativa pode ser considerada como um “passo a frente”,
tema na pré-escola. A falta de atenção da produção em pois ela possibilita que o aluno ao invés de apenas receber
avaliação para com a educação infantil já fora notada por informações do educador, passe a elaborar seus próprios
Barretto e colaboradores na exaustiva revisão “Avaliação na conhecimentos a partir da preparação do professor para
Educação Básica nos anos 90 segundo os periódicos aca- isto, assim, a avaliação formativa não tem como pressu-
dêmicos”, quando informam que, dentre os poucos artigos posto a punição ou premiação, ela prevê que as crianças
que focalizam apenas uma etapa educacional, muito raros possuem ritmos e processos de aprendizagem diferentes
são “aqueles que focalizam a avaliação em relação à edu- e isto deve ser considerado no processo de aprendizagem.
cação infantil”. Portfólio, dossiê, relatórios de avaliação, todas essas
Esse quase silêncio imposto à educação infantil, obser- nomenclaturas se referem, no sentido básico, à organiza-
vado nas preocupações com a avaliação educacional, pode ção de uma coletânea de registros sobre aprendizagem do
ser identificado, também, em vários outros temas, princi- aluno que ajuda o professor (a), os próprios alunos/as e as
palmente quando educação infantil significa não só pré-es- famílias a terem uma visão evolutiva do processo.
cola, mas também, e, sobretudo, creche. Se retornarmos às É importante que a cada dia, seja feito pelo menos
primeiras formulações da Lei de Diretrizes e Bases da Edu- um registro, pois isso possibilita ao professor/a e ao alu-
caçãoLDB (Brasil, 1996) e às versões iniciais da Lei do Fundo no/a um retrato dos passos percorridos na construção das
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e aprendizagens. Essa forma de registrar diariamente a ca-
de Valorização dos Profissionais da Educação – Fundeb é minhada do aluno/a tem o objetivo de mostrar a impor-
possível observar a resistência em incluir a creche como tância de cada aula, de cada passo, como uma situação de
subetapa da educação básica. aprendizagem.
Percebe-se, então, no momento atual, um movimento A organização de um dossiê ou Portfólio torna-se sig-
duplo: o de incorporação da educação infantil na políti- nificativo pelas intenções de quem o organiza, não há sen-
ca de avaliação da educação básica, talvez em ritmo mais tido em coletar trabalhos dos alunos e alunas para mostrá
lento; e outro, mais intenso, que busca a incorporação da -los aos pais/mães somente como instrumento burocráti-
avaliação como tema/problema evocando uma atenção es- co. Ele precisa constituir-se em um conjunto de dados que
pecífica para a política de educação infantil. expresse avanços, mudanças conceituais, novos jeitos de
pensar e de fazer, alusivos à progressão do estudante.
Processo de Avaliação9 Assim sendo, a avaliação da aprendizagem precisa ser-
vir como base para a construção de uma aprendizagem
Avaliar é mais do que só observar as crianças aleato- bem-sucedida, ou seja, ela deve possibilitar ao educador
riamente, mais do que observar aleatoriamente padrões a eficácia de seu trabalho, garantindo avanços e isso só é
comportamentais, culturais, de interação entre outros, pois possível se a avaliação deixar de ser usada como um recur-
so de autoridade que decide sobre o destino do aluno, e,
8 Texto adaptado de Fúlvia Rosemberg de
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100- passar a ser vista como uma ferramenta auxiliar ao cresci-
-15742013000100004&lang=pt mento deste.
9 Texto adaptado de http://www.moodle.ufba.br/
mod/book/view.php?id=9945&chapterid=9308

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

As linhas existentes para Avaliação Infantil10 o desenvolvimento das capacidades infantis de relação inter-
Existem algumas linhas de avaliação para a Educação In- pessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica
fantil que se distinguem de acordo com seu foco e método e de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças,
que serão abaixo descriminadas: aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultu-
A Avaliação Formativa é contínua, e ocorre diariamente ral. Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvi-
ao longo do ano, através do acompanhamento pelo professor mento das capacidades de apropriação e conhecimento das
da criança, no decorrer de suas atitudes, nessa concepção de potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e
avaliação, o professor ajuda o aluno a desenvolver suas capa- éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crian-
cidades cognitivas, detectando suas dificuldades e ajudando a ças felizes e saudáveis.
superá-las fornecendo informações que a criança utilizará ao Para que o professor possa propiciar situações de apren-
longo de sua vida. dizagem, é necessária a observação. É muito importante o
Segundo Perrenoud, a avaliação é formativa quando o professor observar sempre o seu aluno, pois essas observa-
professor contribui para a regulação das aprendizagens no ções podem proporcionar um novo aprendizado. Assim cabe
sentido de domínio, numa concepção particular dos 21 ob- ao professor, criatividade para que possa criar situações e ex-
jetivos, da aprendizagem ou da intervenção didática, não es- periências que permitam a ele observar e avaliar seus alunos.
Segundo Brasil, a avaliação formativa, não deve avaliar a
quecendo que é preciso de um aprendiz, um professor para
criança, mas as situações de aprendizagem que foram ofere-
organizar e gerir as situações didáticas.
cidas a elas e perceber se as suas aprendizagens estão vincu-
Então, avaliar numa visão formativa não é apenas avaliar
ladas às oportunidades e experiências vivenciadas. O profes-
em um momento, mas é uma ação que deve ser feita no dia sor deve fortalecer o interesse do aluno na busca de novos
a dia no âmbito escolar, diante das atividades propostas pelo conhecimentos, propondo caminhos e incentivando-os para
professor, onde o professor acompanhe a criança em seu de- seus novos aprendizados.
senvolvimento, conhecendo os avanços e limites no processo Perrenoud afirma que “avaliação formativa apresenta-se
de aprendizagem. sob a forma de uma regulação interativa, isto é, de uma ob-
Vemos em Perrenoud, que é considerada como formati- servação e de uma intervenção em tempo real, praticamente
va, toda prática de avaliação contínua que pretende contribuir indissociáveis das intervenções didáticas propriamente ditas”.
para melhorar as aprendizagens em curso, qualquer que seja Nesta avaliação a observação é primordial, sendo a base
o quadro e qualquer que seja a extensão concreta da diferen- para o professor poder ajudar a criança a aprender e se de-
ciação do ensino. senvolver, participando desse processo no sentido educativo.
Essa aplicação corre o risco, de um ponto de vista pres- Nesta concepção de avaliação busca-se desenvolver
critivo, de fazer com que a ideia de avaliação formativa perca uma educação de qualidade proporcionando oportunidades
seu rigor, essa ampliação autoriza a dar contas das práticas e respeitando as crianças, sendo tratadas todas iguais e aju-
correntes de avaliação como contínua sob o ângulo de sua dando-as suas dificuldades e preparando-as para o futuro.
contribuição almejada ou efetiva para a regulação das apren- Outro tipo de avaliação é a Avaliação Classificatória que é
dizagens durante o ano escolar. o tipo mais utilizado nas escolas a fim de medir a capacidade
Esse tipo de avaliação não tem como objetivo classifi- da criança através da “nota” para verificar se a criança atingiu
car ou selecionar a criança como a “melhor”, mas contribuir o resultado esperado. A avaliação classificatória é uma pers-
em seus processos de aprendizagens significativas. Devemos pectiva de avaliação na qual a nota verifica a existência de
avaliar o que se ensina, encadeando a avaliação no mesmo padrão de rendimento. Desta forma, as crianças são compa-
processo de ensino-aprendizagem, contribuindo para o de- radas entre si, através do desempenho de cada uma.
senvolvimento da capacidade dos alunos. O professor deve Segundo Hoffmann “a avaliação classificatória se resume
conhecer melhor a sua criança, conhecer seus interesses e à decisão de enunciar dados que comprovem a promoção ou
adequar o seu processo de ensino, com as informações que retenção dos alunos”.
Este tipo de avaliação não leva a criança a aprender para
obtém dela durante o processo, só assim, o professor sabe o
a vida, mas sim, a dar importância a uma aprendizagem me-
grau de conhecimento daquela criança, com isso faz sua ava-
morizada, na qual estuda somente para realizar uma prova
liação de forma contínua, e a ajuda quando apresenta mais
ou um trabalho. A intenção dessa concepção de avaliação é
dificuldades. classificar a criança para aprovação ou reprovação.
Ao término de uma atividade, cabe ao professor fazer Conforme Melchior, no entanto, a escola exige um re-
uma análise e reflexão sobre o sucesso alcançado em funções sultado e ele passa a preocupar-se com a avaliação apenas
dos objetivos previstos em seu planejamento, verificando se com a função de controle. Assim, a finalidade da avaliação
esses objetivos foram alcançados pelas crianças. fica descaracterizada. Avalia-se para atribuir um resultado e
Perrenoud afirma que a ideia de avaliação formativa siste- o aluno estuda para obter uma nota. A consequência desse
matiza em levar o professor a observar mais metodicamente ciclo é o temor que os estudantes, em geral, têm de ava-
os seus alunos, a compreender melhor suas maneiras de ser. liações e especialmente, de testes escolares. Pois, quando a
Observamos em Brasil que: Educar significa, portanto, avaliação é feita apenas com função de controle, são con-
propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens siderados somente os momentos avaliativos, representados
orientadas de forma integrada e que possam contribuir para por um teste, trabalhos em grupo ou individuais. Ou o que
10 Texto adaptado de Maeli Sorato Manarin disponível
é ainda pior: o professor atribui-lhe um valor qualquer, sem
em http://www.bib.unesc.net/biblioteca/sumario/000041/000041FD. uma fundamentação, sem que o aluno tenha a mínima ideia
pdf de como foi avaliado.

32
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

A preocupação dos professores nessa concepção não é A Avaliação na Educação Infantil11


avaliar os seus processos de aprendizagens, e verificar as suas
dificuldades para uma possível mudança, mas sim, as suas Convém ressaltar que a importância que damos aos di-
preocupações são de como avaliar para atribuir uma nota de versos aspectos daquilo que é objeto de informação e ava-
acordo com o desempenho da criança nos dias de provas e liação depende da visão de quem observa. Isso é valido para
trabalhos, podendo o professor utilizar o método da obser- todas as esferas de avaliação inclusive na educação infantil,
vação para verificar seu aprendizado todos os dias durante o pois, ainda que este olhar (observação e registro) varie de
decorrer das aulas. pessoa para pessoa, nos seus métodos de análise, ela é tam-
Melchior afirma que o professor que não se preocupa em
bém influenciada e/ou regida pelo momento político, social e
fazer registros dos desempenhos (eu/ou dificuldades) de seus
econômico do país e dos interesses vigentes. Mesmo dentro
alunos, durante o processo, não terá condições de ser justo na
emissão de um resultado para cada aluno. de um contexto comum, nossas análises podem privilegiar as-
Assim, a avaliação realizada de forma desvinculada do pectos diferenciados.
processo, além de, não cumprir suas funções didático-peda- Considerando essa subjetividade humana, do olhar indi-
gógicas e de diagnóstico, ainda pode cometer injustiças, atri- vidual, quando se trata de avaliar para intervir – que é o nosso
buindo resultados que não correspondem aos desempenhos caso na Educação Infantil -, temos que ser consistentes, siste-
dos alunos. máticos e frequentes. Podemos trabalhar utilizando variados
Se o professor faz seu registro diário, fica mais fácil verifi- métodos de registros de modo a captar e incluir os diversos
car se a criança está aprendendo, principalmente na educação olhares sobre o fenômeno pedagógico (desenvolvimento do
infantil. Na avaliação formativa, é utilizado o registro diário a cotidiano) e de desenvolvimento e aprendizagem infantis.
fim de verificar se seu aluno está progredindo ou tendo difi- As diferentes formas de olhar para a criança é que dão
culdades para um novo aprendizado. Com base nesse mé- a riqueza da interpretação da realidade em questão e a di-
todo, o professor tem um acompanhamento de como foi o versidade que a compõe. Assim, avaliar as ações na Educa-
desenvolvimento das crianças, durante o ano inteiro, ou seja, ção Infantil necessita também uma análise desses diferentes
quais foram suas facilidades e dificuldades. Na visão da ava- olhares, sempre visando ao enriquecimento do processo de
liação classificatória esse método não seria utilizado, pois ela construção de novas situações para as crianças.
exerce uma função de controle de selecionar os alunos em Esse fato acontece também quando consideramos a
“bons e ruins”. avaliação e o acompanhamento dos processos de desen-
De acordo com Brasil a intervenção do professor é neces- volvimento, crescimento e aprendizagem das crianças no
sária para que, na instituição de educação infantil, as crianças contexto da Educação Infantil. Assim sendo, a avaliação deve
possam, em situações de interação social ou sozinhas, ampliar sempre ser planejada, organizada e também requer uma de-
suas capacidades de apropriação dos conceitos, dos códigos finição prévia dos objetivos desta avaliação.
Considerando que as crianças têm maneiras próprias de
sociais e das diferentes linguagens, por meio da expressão e
pensar e interagir com o mundo e são sujeitos ativos desde o
comunicação de sentimentos e ideias, da experimentação, da
momento em que nascem, precisamos educar o nosso olhar
reflexão, da elaboração de perguntas e respostas, da constru- para que ele seja o mais amplo e perspicaz possível. Gostaría-
ção de objetos e brinquedos etc. Para isso, o professor deve mos de chamar a atenção para o fato de que ao acompanhar
conhecer e considerar as singularidades das crianças de di- e avaliar as crianças em pleno crescimento devemos conside-
ferentes idades, assim como a diversidade de hábitos, cos- rar um conjunto de aspectos que compõe um todo. Isto é, a
tumes, valores, crenças, etnias etc. das crianças com as quais criança não pode ser considerada de maneira fragmentada.
trabalha, respeitando suas diferenças e ampliando suas pau- Seu desenvolvimento acontece de maneira integrada. A ava-
tas de socialização. liação é um mecanismo dinâmico e deve ser planejada de
Na instituição de educação infantil, a intervenção do pro- maneira a nos possibilitar a visualização de cada criança, suas
fessor é essencial para que se verifique em que os alunos têm características, modos de estar no mundo e a sua participa-
dificuldades e como fazer para ajuda-los a desenvolver suas ção no contexto do grupo ao qual pertence.
capacidades de interagir com o meio social. O processo de avaliação deve envolver uma observação
Diante da avaliação classificatória, não podemos usá-la cuidadosa de cada criança, levando em consideração tanto as
como referência, pois ela é um meio de rotular a criança, não dimensões do desenvolvimento infantil, isto é, físico-motora,
servindo como instrumento didático, uma vez que não inter- cognitiva, linguística, emocional, social e política, quanto as
fere no desenvolvimento das crianças e em seu crescimento oportunidades oferecidas para elas no cotidiano da creche
ou pré-escola. Chamamos a atenção para uma avaliação que
para a autonomia.
leve em consideração os diversos aspectos (condições de tra-
É importante pensar nas formas avaliativas, pois a maior
balho, concepções e valores explicitados no Projeto Político
preocupação ao desenvolver sua ação pedagógica, é conse- Pedagógico, Projeto Pedagógico Anual e nos planejamentos
guir com que o professor possa propiciar momentos de inte- cotidianos), a organização do trabalho com as crianças, as
ração entre professor/aluno, nos quais o professor possa en- relações implicadas, pois como já explicitado, a criança não
tender e contribuir no desenvolvimento das crianças de forma é fragmentada e seu desenvolvimento acontece sempre de
significativa. maneira contextualizada.

11 Texto adaptado da Gerencia de Educação Infantil da Prefeitura da


cidade do Rio de Janeiro em A Avaliação da Educação Infantil.

33
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

É preciso que o tema seja abordado no Projeto Político artigo 31, inciso I, Lei nº 12.796/2013, referente à Educação
Pedagógico (PPP) da unidade, indicando como a equipe con- Infantil,»(...) a avaliação mediante o acompanhamento e re-
cebe a avaliação das crianças e como pretende sistematizar gistro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção,
o processo avaliativo. Achamos importante que a equipe de mesmo para o acesso ao ensino fundamental «e ainda no
cada unidade, ao refletir sobre o acompanhamento pedagó- inciso V, sobre o registro da avaliação, “expedição de docu-
gico do trabalho com as crianças, discuta a sua proposta a mentação que permita atestar os processos de desenvolvi-
partir de cinco perguntas clássicas (Souza, 2001, pág. 25): mento e aprendizagem da criança”. Já o Referencial Curricular
1 –Para que vamos avaliar? (finalidade) Nacional para Educação Infantil define a avaliação como o
2 –O que avaliar? (objetos; aspectos) conjunto de ações que auxiliam o professor a refletir sobre as
3 –Quem avalia? (sujeitos) condições de aprendizagem oferecidas e a ajustar sua prática
4 –Como avaliar? (procedimentos) às necessidades colocadas pelas crianças.
5 –Quando avaliar? (periodicidade) Mais recentemente, as Diretrizes Curriculares Nacionais
A proposta aqui é a inclusão de uma sexta pergunta: para a Educação Infantil (Dezembro de 2009), em seu artigo
para quem ela será feita? Ou quem será o nosso interlocu- 10º postula que “as instituições de educação infantil devem
tor? Estas perguntas são relevantes na medida em que nos criar procedimentos para acompanhamento do trabalho pe-
permitem clarificar qual será o uso da avaliação. Permitirá dagógico e para avaliação do desenvolvimento das crianças,
um retorno das ações à equipe? Servirá para informar os pais sem objetivo de seleção, promoção ou classificação, garan-
sobre o percurso educacional da criança? Ou possibilitará à tindo: I –a observação crítica e criativa das atividades, das
criança acompanhar as nossas ações e refletir sobre o seu brincadeiras e interações das crianças no cotidiano; II -utili-
percurso na educação infantil? O uso das informações regis- zação de múltiplos registros realizados por adultos e crianças
tradas deve ser igualmente discutido com o grupo da unida- (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns, etc.); III –a continui-
de com indicações claras sobre sigilo, encaminhamentos e dade dos processos de aprendizagens por meio da criação de
novos planejamentos, assim como refletir sobre como estas estratégias adequadas aos diferentes momentos de transição
informações serão passadas para pais e comunidade (quan- vividos pela criança (transição casa/instituição de Educação
do for o caso).
Infantil, transições no interior da instituição, transição creche/
A discussão sobre estas perguntas deve principiar a
pré-escola e transição pré-escola/Ensino Fundamental); IV –
construção do Projeto Pedagógico Anual (PPA) e a revisão
documentação específica que permita às famílias conhecer
das estratégias de acompanhamento e avaliação das crianças
o trabalho da instituição junto às crianças e os processos de
deve ser constantemente realizada, sempre em grupo, para
desenvolvimento e aprendizagem da criança na Educação
que o objetivo da avaliação seja de fato promotor de mudan-
ças positivas para todos os envolvidos. Infantil; V –a não retenção das crianças na Educação Infantil.
Desta forma, é muito importante que a avaliação seja As Diretrizes sugerem estratégias múltiplas para o acompa-
feita de maneira a ser significativa, tanto para a equipe pe- nhamento da criança e do trabalho pedagógico lembrando
dagógica da unidade quanto para responsáveis e crianças. É a importância de se ter claro para quem escrevemos estes
preciso haver consenso sobre as ferramentas que serão utili- relatórios de avaliação.
zadas para a avaliação, o acompanhamento das crianças e do Em 2009, o MEC republicou um importante documento
trabalho pedagógico da creche e pré-escola como um todo. sobre os critérios para um atendimento em creches, ressal-
É muito importante que esta avaliação seja também tando que estes devem partir do respeito aos direitos fun-
compartilhada com as crianças a partir da exploração de seus damentais das crianças tanto no âmbito da instituição quan-
próprios trabalhos, falas e contribuições. Incluir a criança no to no das políticas públicas. Os direitos são extensivos para
processo de avaliação é muito rico, tanto para ela que pode crianças de pré-escola também, pois entendemos que todas
sentir-se valorizada com a atenção que o professor lhe des- elas têm direito à brincadeira, à atenção individual, ao am-
tina, quanto para a equipe pedagógica que se sentirá subsi- biente aconchegante, seguro e estimulante, ao contato com
diada para o planejamento de novas ações e intervenções. a natureza, à higiene e saúde, a desenvolver sua curiosidade,
Para os pais, os quais poderão acompanhar mais facilmente o imaginação e capacidade de expressão, ao movimento em
desenvolvimento e aprendizagem da criança, também é mui- espaços amplos, à proteção, ao afeto e à amizade, a expres-
to importante que participem e compartilhem das avaliações. sar seus sentimentos, a uma especial atenção durante seu
Deve-se atentar, no decorrer do processo avaliativo, para período de adaptação à creche (e pré-escola), a desenvolver
que não haja a apresentação de uma imagem destorcida sua identidade cultural, racial e religiosa. Estes são bons pa-
sobre a criança, de modo a influenciar negativamente seu râmetros para a construção de uma avaliação que não con-
desenvolvimento em quaisquer aspectos avaliados, assim, a sidere a criança isoladamente e permita visualizá-la a partir
avaliação na Educação Infantil é um processo que possibilita da proposta oferecida e do grupo ao qual pertence. Se estes
melhorias e mudanças em benefício da criança e pressupõe direitos estiverem adequadamente cobertos, as crianças te-
atitudes e relações positivas que favoreçam todos os envol- rão contextos fomentadores de desenvolvimento integral e
vidos. saudável e aprendizagens significativas.
Os documentos oficiais brasileiros para a educação in- A trajetória das crianças na Educação Infantil deve ser
fantil têm abordado tal assunto indicando a importância da acompanhada de forma planejada, sistemática e intencional,
avaliação. Eles explicitam que ela é necessária e deve ser par- assim como devem ser pautadas sempre as nossas ações
te do processo pedagógico, não tendo, no entanto, como pedagógicas. O olhar atento e cuidadoso do educador não
um de seus objetivos, a promoção. Conforme a alteração da tem a intenção de rotular ou segregar crianças por resultados
Lei de Diretrizes e Bases da Educação, na seção II, em seu pré-determinados, mas desvela, sobretudo, a intenção de en-

34
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

riquecer todo o ambiente que se transveste em palco para o Muitas vezes, ela nos ensina sobre o que é ser criança, quan-
desenvolvimento e a aprendizagem das crianças pequenas. do nos instiga a investigar melhor as suas reações e interes-
Neste sentido, conforme Moro “avaliar as crianças pequenas ses, o que nos leva a planejar novas situações na sala, para
é enfrentar o desafio de revelar o universo infantil singular, o grupamento em questão. Dos bebês às crianças de cinco
em transformação, frente a experiências educativas enrique- anos, a dinâmica da avaliação se repete: interagir, dialogar,
cidas e oferecidas às crianças”. observar reações, intervir, dialogar novamente, registrar e
Queremos ressaltar que o ponto de partida será sempre acompanhar as crianças.
a criança e suas relações no ambiente da Educação Infan- A prática avaliativa, como um processo constitutivo da
til. Por isso, ela se encontra no centro da nossa atenção e prática pedagógica, deve ser contínua e o foco é a criança
preocupação. Queremos observar como ela se insere neste que se encontra em desenvolvimento, vivenciando mudan-
contexto organizado para que seu desenvolvimento e apren- ças e evoluções importantes para sua vida. Por isso, é essen-
dizagens ocorram de maneira plena e significativa. A refle- cial identificarmos as conquistas das crianças. No entanto,
xão sobre as questões que permeiam a aprendizagem e o mais importante é lembrar que as crianças se encontram em
desenvolvimento infantil é de total relevância. Hoffman de- processo de desenvolvimento e, portanto, sujeitas a contí-
fende que a avaliação em Educação Infantil precisa resgatar nuas mudanças que ocorrem ao longo do tempo em que
urgentemente o sentido essencial do acompanhamento do estão na Educação Infantil. A avaliação deve ter caráter di-
desenvolvimento infantil, de reflexão permanente sobre as nâmico por ser um processo em aberto, e deve respeitar as
crianças em seu cotidiano como elo da continuidade da ação especificidades do desenvolvimento e aprendizagens infan-
pedagógica. tis. Acompanhar as mudanças que ocorrem nesta etapa da
Sendo assim, exige-se dos profissionais da Educação In- vida exige agilidade e, portanto, métodos claros e que deem
fantil, por testemunharem o processo de desenvolvimento e conta de demonstrar as mudanças. A avaliação parece ter,
aprendizagem das crianças durante este rico período da vida portanto, um caráter também interativo.
delas, um trabalho intencional que articule as ações de cui- Agir em favor do desenvolvimento integral da crian-
dado e educação sempre em benefício da criança. Observar, ça significa oferecer interações e experiências significativas
acompanhar e monitorar o desenvolvimento das crianças, para ela. Somente por meio de observações sistemáticas e
além de expressar o respeito de que elas são merecedoras, é, planejamento pedagógico consistente é que promoveremos
acima de tudo, tarefa dos profissionais da Educação Infantil. estas experiências. É nesta perspectiva que também se revela
As oportunidades que cada criança tem, as culturas em que a avaliação mediadora. Hoffman discute a avaliação media-
vivem e as interações que fazem, trazem diferentes oportuni- dora defendendo que a mediação é um “estado de alerta
dades para a trajetória de desenvolvimento das crianças. Esta permanente” do educador que observa e acompanha o de-
trajetória –educacional e desenvolvimental -nos interessa, e senvolvimento da criança e sua história. É a observação e o
agir durante este percurso para ampliar as possibilidades é acompanhamento da criança, de forma a mediar o desen-
a nossa meta principal. Sensibilizar-nos para a trajetória de volvimento, o seu contexto, o planejamento do educador e
cada criança e do grupo é o primeiro resultado prático do a construção do conhecimento que fará sentido para a Edu-
processo avaliativo. cação Infantil.
É comum observarmos que cada criança, ao longo de O nosso desafio agora é ressignificar a avaliação na
seu percurso de desenvolvimento, apresenta diferenças em educação infantil, afastando o risco de comparar, classificar
relação aos outros colegas da mesma faixa etária. É neste e rotular as crianças de forma restrita e descontextualizada.
sentido que ela é única, ela tem sua individualidade que inte- Avaliar implica em acompanhar a aprendizagem, visualizar e
rage com os ambientes e as pessoas produzindo expressões, dar visibilidade à individualidade de cada criança, suas inte-
interesses e relações singulares. Neste sentido, comparações rações, produções e contribuições para o grupo. É utilizar a
e julgamentos que visem classificar esta ou aquela criança nossa observação como mediadora do processo de desen-
como “capaz ou incapaz” ou que “atingiu ou não atingiu os volvimento, aprendizagem e socialização nesta etapa da vida.
objetivos propostos” não são as desejáveis. No lugar desta É demonstrar um processo constantemente em andamento,
visão classificatória e excludente, colocaríamos observações cujo produto final está sempre em aberto, passível de mu-
atentas com interações positivas que enriquecem as relações, danças, complementações e novas criações.
aprendizagens e desenvolvimento. São estas observações A dinâmica de desenvolvimento, aprendizagem e re-
que formam a base da avaliação. Ao invés de insistirmos na lações das crianças comanda o movimento da avaliação.
visão classificatória, tornaríamos a nossa análise mais crítica Acompanhar os processos de mudança significa criar uma
e construtiva se observássemos as diferentes maneiras de as movimentação sistemática de avaliação. O movimento da
crianças de atuarem em grupo, se relacionarem e se expres- avaliação é igualmente dinâmico, além de revelador e desen-
sarem como indivíduos. cadeador de novas relações e interações. A avaliação deverá
Por outro lado, vemos também que as crianças têm se- ser fomentadora de práticas desejáveis na Educação Infantil.
melhanças e muitas vezes parecem apresentar comporta- Agir com intenções claras e planejadas, avaliar a nossa ação
mentos e atitudes típicas de determinadas idades ou fases. e visualizar a participação das crianças confere movimento
Neste caso, quando uma criança não segue um “padrão”, ao à prática de avaliação. A figura A, logo abaixo, nos mostra
invés de rotulá-la, devemos nos aproximar dela com o obje- que o processo pedagógico –planejar, agir e avaliar –deve ser
tivo de compreender os caminhos de seu desenvolvimento, contínuo e cíclico, não deixando nunca de refletir cada passo
os interesses e aprendizagens para os quais ela se direciona. dado em torno das relações entre adultos e crianças estabe-

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

lecidas na Educação Infantil. A figura B demonstra a dinâmica resses diversos, as crianças buscam, no ambiente educativo,
da avaliação dando sustentação ao processo pedagógico. As novas formas de interagir com o mundo e nós, professores
relações entre crianças e adultos são o foco da Educação In- e educadores, podemos, a partir de uma compreensão apro-
fantil e, portanto, foco da avaliação. fundada sobre os caminhos complexos do desenvolvimento
No Caderno Pedagógico, volume 1 , intitulado “O Pla- humano, melhor fomentá-la. Dar oportunidade às crianças
nejamento na Educação Infantil”, ressalta-se que “o planeja- de exercitarem seu desenvolvimento motor amplo e fino
mento, seja ele de qual nível for, depende, para seu sucesso, simplesmente programando atividades de correr e recortar,
de avaliações constantes das ações de todos os envolvidos por exemplo, não garante a apropriação das referidas habili-
no ambiente educativo. Acompanhar com olhar crítico e ava- dades de maneira significativa e enriquecedora. Estas habili-
liativo contribui para tomadas de decisão pertinentes com o dades só têm sentido se forem acrescentar ao repertório das
que se entende como ação pedagógica. Ao longo do percur- crianças novas estratégias para lidar com as situações de vida
so, é importante manter uma revisão das metas da Educação e de aprendizagem. As atividades e experiências que lhes
Infantil, assim como das metas institucionais. A avaliação das oferecemos e disponibilizamos devem oferecer um retorno
nossas ações, assim como o monitoramento dos avanços das aos interesses infantis.
O objetivo da Educação Infantil é garantir um espaço
crianças, ajuda-nos a planejar com responsabilidade, criativi-
que promova experiências importantes para potencializar
dade e pertinência.”
o desenvolvimento Infantil, o crescimento das crianças e a
Assim, devemos considerar a importância de a ação pe- ampliação de sua inserção no mundo. Supondo que a Edu-
dagógica ser intencional e planejada. Atentamos também cação Infantil hoje é espaço de encontros e interações, inte-
para o fato de que nossas ações na Educação Infantil têm ressa-nos saber o que as crianças pensam, planejam, sabem
metas que podem até passar por revisão à medida que nos e, principalmente, o que desejam saber. É a partir dos comen-
apropriemos dos diferentes estágios de desenvolvimento tários, contribuições e opiniões das crianças que podemos
das crianças. De mesma forma, defendemos que acompa- conhecê-la melhor. Ou seja, a participação da criança quanto
nhar as crianças ao longo da Educação Infantil significa ob- mais efetiva se faça, mais nos permitirá conhecer como elas
servar atentamente os percursos de seu desenvolvimento e aprendem e se socializam.
aprendizagens, e, utilizando parâmetros de acompanhamen- O processo avaliativo na Educação Infantil deixa então
to, registrar suas ações, conquistas e interesses. Isto quer di- de se preocupar exclusivamente com a percepção que pos-
zer que é muito importante que os profissionais da Educação samos ter sobre o desenvolvimento e o comportamento das
Infantil se preocupem em ampliar os seus conhecimentos so- crianças para abranger as práticas e os contextos educativos.
bre o desenvolvimento infantil e os utilizem de forma crítica O nosso esforço atual é o de afastar a prática superficial de
e responsável. Este conhecimento nos ajuda a compreender preencher fichas e/ou construir pareceres ou relatórios pa-
as crianças e situa melhor as nossas ações. dronizados, tendo como panorama único uns poucos resul-
Aprofundar o entendimento relativo ao desenvolvimento tados visíveis.
infantil nos permite ampliar a compreensão sobre os diferen- Segundo Moro “a partir da última década do século XX,
tes estágios em que se encontram as nossas crianças. E, com passa a haver uma disseminação maior sobre as diferentes
base nesse entendimento, situar melhor as nossas ações. dimensões a serem avaliadas e começa a se revelar uma mu-
Estes instrumentos auxiliam o profissional a identificar dança em relação ao entendimento e às intenções para com
áreas que merecem maior atenção individualizada ou para a avaliação na Educação Infantil”. Estas dimensões, contexto
todo o grupo em questão. Podem funcionar como coadju- e relações dão significado à avaliação no contexto da cre-
vantes, contribuindo com uma avaliação que inclua aspectos che e pré-escola. Seguindo a linha da história, podemos dizer
das relações e do contexto institucional. Permitem que se que há várias maneiras de construir a avaliação da Educação
Infantil. Da avaliação da aprendizagem (focada no conheci-
potencialize a avaliação realizada na Educação Infantil, assim
mento adquirido) e do desenvolvimento (baseada nas habi-
como o seu significado. É importante lembrar que o desen-
lidades e conquistas feitas pelas crianças) à avaliação mais
volvimento da criança acontece de forma integrada e contex-
abrangente dos ambientes educativos, temos diferentes pos-
tualizada, e que, de forma didática, muitas vezes observamos sibilidades.
as crianças dando maior ênfase aos diferentes aspectos do Há duas grandes vertentes na avaliação que norteiam o
desenvolvimento, como, por exemplo, o desenvolvimento trabalho. A primeira centrada na visibilidade dos resultados
cognitivo, emocional, linguístico e etc. No entanto, esta ava- atingidos, identificando as habilidades adquiridas. A segunda
liação só faz sentido se levada a termo para compreender voltada para a descrição dos processos educativos, com o
melhor as inserções das crianças nas diferentes situações pe- foco no movimento das crianças em interação com seus pa-
dagógicas e relacionais. res, adultos e ambientes (incluindo materiais e brinquedos).
Quando uma criança começa a dar os primeiros passos, Neste sentido, a avaliação das crianças deverá estar ajus-
não só desenvolve o aspecto motor como também a capa- tada à prática pedagógica, buscando as singularidades das
cidade de explorar o ambiente para descobrir novas coisas e crianças, assim como os contextos educativos.
parceiros. Ela constrói gradativamente a sua autonomia, até Desta forma, as avaliações das crianças devem jogar luz
ser capaz de andar e se movimentar com segurança, aten- sobre os respectivos processos de desenvolvimento e sua in-
dendo aos seus próprios interesses e aos de seus pares. É serção junto aos pares. Isto quer dizer que a nossa descrição,
possível perceber, em várias situações do cotidiano da Educa- sob o ponto de vista pedagógico, feita ou não a partir de um
ção Infantil, que os aspectos do desenvolvimento não acon- roteiro, deve ser capaz de revelar as características da criança
tecem isoladamente, mas em conjunto. Movidas por inte- em relação àquilo que foi desenvolvido com e para ela.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

O desenvolvimento das crianças e dos bebês está per- Mais importante do que dizer que a criança consegue
meado de explorações sobre o meio em que elas estão in- usar um pincel ou um lápis, é dizer se ela busca representar
seridas. Eles descobrem sons, objetos, reações das pessoas e suas ideias, pensamentos, planos, opiniões desenvolvendo
maneiras de dialogarem com o mundo de forma original e linguagens e expressões em situações diversas e utilizando
criativa, construindo novos significados. Acompanhar o de- diferentes recursos.
senvolvimento destas vivências e explorações, conhecendo Mais importante do que dizer que a criança consegue
como a criança constrói sua relação com o mundo e estabe- aceitar as sugestões do grupo, é dizer se ela se expressa emo-
lece sentidos, faz parte do processo avaliativo. cionalmente de maneira a demonstrar que está confortável
Desta maneira, é importante identificar e demonstrar (ou não) em relação ao que lhe é proposto. Há que observar
também os objetivos e metas designados para o desdobra- se ela consegue identificar suas emoções e sentimentos quan-
mento das atividades. Há que priorizar também a promoção do se frustra ou se alegra, diante das situações dispostas pelo
de experiências para as crianças, quando relatamos sobre a coletivo ou por ela mesma.
contribuição de cada uma delas para os processos desenvol- Entendemos que as dimensões motora, afetiva, social e
vidos no grupo onde está inserida, assim como sobre suas cognitiva são indissociáveis e não podem ser observadas de
participações e construções durante o período compreendi- maneira desigual ou isoladamente. Isso significa que esta eta-
pa da vida requer atenção e cuidados para que tais dimen-
do pela avaliação.
sões, de fato, se desenvolvam constante e equilibradamente.
Podemos fazer a avaliação das crianças de diversas ma-
Portanto, nossa função educativa nos obriga a conhecê-las e
neiras. Desde relatórios previamente estruturados a relató- estudá-las, pensando cada vez mais nas intervenções que po-
rios mais complexos tais como o portfólio e a documenta- demos fazer, nas interações e mediações que devemos desen-
ção pedagógica. O mais importante é que estes relatórios volver e nas experiências que devemos oferecer.
sejam redigidos de forma clara para todos – professores, Falar sobre cada criança, seus fazeres e sua inserção no
pais e crianças. Para os professores, responsáveis pelo relato, grupo, incluindo as ações dos adultos, compõem a avaliação
que ele venha a subsidiar suas ações e planejamentos futu- das crianças. A descrição de situações que envolvem a intera-
ros. Para os pais, que lhes permita identificar seus filhos na ção e os diálogos entre os adultos e as crianças, por exemplo,
descrição feita por outrem e que ainda agregue informações pode favorecer a visualização e o melhor entendimento dos
construtivas sobre eles. E, finalmente, para as crianças, que, processos vivenciados nos contextos da EI. É uma boa ideia in-
por meio da leitura e exame feitos em conjunto por respon- cluirmos no formato de avaliação das crianças um espaço com
sáveis e professores, possam explorar e admirar sua própria anotações mais particularizadas, como os diálogos e planos
produção, assim como a sua contribuição para o grupo em das crianças que se expandiram e se tornaram mais comple-
que estão inseridas. xos. Moro ressalta que “o sentido da avaliação no contexto da
A leitura destes relatórios com as crianças pode ser feita Educação Infantil é a investigação e não o julgamento”.
ao longo da construção dos mesmos. Isto é, dissertando com Vejam, abaixo, a descrição de uma professora de uma si-
as crianças sobre seus trabalhos, contribuições e projetos, tuação:
resgatando suas opiniões sobre as mais diversas situações do “Carlos é uma criança de quatro anos que decidiu fazer
cotidiano da creche, EDI e pré-escola. O estímulo à reflexão um carro de corridas com blocos de madeiras grandes e ta-
virá a auxiliá-las a contemplar os caminhos do desenvolvi- petes pequenos. Precisava de uma alavanca para fazer as mar-
mento por elas percorridos, assim como os passos seguintes. chas do carro, mas já não havia mais blocos. Foi ver na área da
Falar sobre si e sobre suas produções aumenta o autoconhe- expressão plástica (arte) e encontrou alguns tubos de rolo de
cimento e auxilia na resolução de problemas, tanto os mais papel de cozinha. Para conseguir o comprimento que queria,
íntimos, quanto os inerentes ao processo de aprendizagem precisava de dois tubos, mas não sabia como faria para colar
e, por outro lado, influencia as decisões frente a novas situa- um no outro. Um dos professores disse-lhe para falar como
Cris, que é o nosso especialista em fitas colantes (durex ou fita
ções de aprendizagem.
adesiva). O Cris ajudou o Carlos a fazer uma alavanca para fa-
Mais importante do que dizer que a criança consegue
zer as marchas do carro com os dois tubos para atingir o com-
pular desta ou daquela maneira, é dizer se determinada ma-
primento correto e necessário. Para resolver este problema – a
neira de pular a favorece em seus projetos ou nos planos que confecção da alavanca para as marchas -Carlos teve que pen-
pretende desenvolver. sar nas características que queria dar a alavanca e, depois, teve
Mais importante do que dizer que a criança reconhece que encontrar os respectivos materiais –neste caso, materiais
algumas letras ou números, é dizer se ela já coloca este co- compridos e estreitos. Teve ainda o problema de imaginar uma
nhecimento a serviço de seus projetos ou planos individuais, forma de juntar um tubo ao outro. Nenhum destes exercícios
em pequenos grupos ou na coletividade. Ou seja, precisamos de resolução de problemas teria ocorrido se existisse na sala
observar se a criança utiliza o conhecimento em suas ativida- um desses brinquedos de plástico que imitam o interior dos
des e experiências. carros, com volante e quadro de bordo.”(inspirado, no caso
Mais importante do que dizer que a criança consegue apresentado, na página 156, do livro “Aprendizagem Ativa”, de
executar uma tarefa verbal (como levar um recado simples Nancy Altman Brickman e Lynn Spencer Taylor.
para alguém), é dizer se ela é capaz de relatar os projetos O mais importante neste relato não é propriamente não
que contam com a sua participação ou situações outras que haver brinquedos de plástico que dariam às crianças a ex-
assistiu em diferentes espaços. Mais relevante é verificar se periência de um carro, mas o fato dos professores terem
ela consegue se expressar com clareza em situações diferen- percebido e registrado a trajetória de Carlos ao construir um
ciadas. plano e, a seguir, executar seu plano de montar um carro com

37
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

marchas e tudo o mais. Ressaltam ainda hipóteses para o tipo Por fim, é possível depreender se os objetivos alcançados
de raciocínio que a criança encaminhou para “resolver” os im- pela criança foram incialmente os propostos, assim como de-
passes deste projeto de construção. Ali, estão marcados os tectar o que precisa ser replanejado. Em qualquer formato, as
passos, os materiais, a parceria com outros, e o produto final anotações do professor são importantes. Mas cabe dar maior
desta atividade que envolveu completamente esta criança de ênfase aos detalhes e às descrições minuciosas, com as falas
quatro anos com intenções claras e desejo forte de concluir a e atitudes das crianças, assim como as do próprio mediador.
sua “obra”. É por meio destes registros que verificamos como
as crianças aprendem e usam o seu conhecimento, assim
como as relações possíveis.
É importante, no entanto, ressaltar, que materiais como
blocos de tamanhos variados, pedaços de tecidos grossos e CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA ÁREA DE
finos, material reciclado (tais como os rolos utilizados nessa si- ATUAÇÃO.
tuação) e possibilidades na área das artes plásticas podem in- SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA: BRASIL,
crementar o pensamento e os planos das crianças, revelando MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. PARÂMETROS
assim sua capacidade de lidar com os desafios propostos e/ CURRICULARES NACIONAIS 1ª A 4ª,
ou auto impostos. São situações como estas as mais relevan- BRASÍLIA: MEC/SEF, 1997; BRASIL,
tes experiências de aprendizagem para as crianças pequenas. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO
O mesmo pode acontecer com os bebês, quando se aventu- DESPORTO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
ram a descobrir como as coisas funcionam ou com as crianças
FUNDAMENTAL.
de 2 e 3 anos, quando insistem em criar algo para comple-
mentar uma brincadeira solitária ou com os seus pares.
Para exemplificar os instrumentos que auxiliam na ava-
liação infantil sugerimos o registro do desenvolvimento da CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
criança no processo de aprendizagem através de pequenas
anotações habituais. É possível, em alguns momentos, lidar
O que são os Parâmetros Curriculares Nacionais
com algumas crianças individualmente e, em outros momen-
Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um
tos, elencar outro pequeno grupo de crianças, a serem nor-
referencial de qualidade para a educação no Ensino Funda-
teados pelos objetivos gerais (ação intencional do educador)
mental em todo o País. Sua função é orientar e garantir a
e pela ação das crianças, ao interagirem com as propostas
coerência dos investimentos no sistema educacional, sociali-
planejadas para elas (habilidades).
zando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando
Ao pensarmos este documento, privilegiamos o diálogo
a participação de técnicos e professores brasileiros, principal-
com as “Orientações Curriculares para a Educação Infantil” e
com o “Caderno de Planejamento“, pois consideramos que os mente daqueles que se encontram mais isolados, com menor
mesmos devem servir como norteadores das práticas peda- contato com a produção pedagógica atual.
gógicas nas creches e nas pré-escolas. Por sua natureza aberta, configuram uma proposta flexí-
As “Orientações Curriculares” descrevem, por exemplo, vel, a ser concretizada nas decisões regionais e locais sobre
as rotinas diárias e as diferentes dimensões que devem ser currículos e sobre programas de transformação da realidade
trabalhadas. Além disso, nele estão relacionados os objetivos educacional empreendidos pelas autoridades governamen-
e as habilidades na ordem da criança menor à criança maior, tais, pelas escolas e pelos professores. Não configuram, por-
para facilitar a compreensão do texto. O “Caderno de Pla- tanto, um modelo curricular homogêneo e impositivo, que se
nejamento na Educação Infantil” relaciona as metas a serem sobreporia à competência político-executiva dos Estados e
alcançadas durante o processo de aprendizagem na Educa- Municípios, à diversidade sóciocultural das diferentes regiões
ção Infantil. Parafraseando o documento: “Acreditamos que a do País ou à autonomia de professores e equipes pedagógi-
Educação Infantil faz a diferença na vida da criança e de suas cas.
famílias: e, por isso, acompanhá-las a partir de parâmetros nos O conjunto das proposições aqui expressas responde à
possibilita intervir de modo a garantir o seu bem-estar, assim necessidade de referenciais a partir dos quais o sistema edu-
como o processo de aprendizagem de cada uma delas”. cacional do País se organize, a fim de garantir que, respei-
Baseando-se nestes elementos que norteiam a sua práti- tadas as diversidades culturais, regionais, étnicas, religiosas
ca, o educador pode utilizar instrumentos de observação que e políticas que atravessam uma sociedade múltipla, estrati-
possibilitem maior clareza e a sistematização da observação. ficada e complexa, a educação possa atuar, decisivamente,
Existem vários tipos de registros de aprendizagem da criança no processo de construção da cidadania, tendo como meta
na Educação Infantil que podem ajudar o educador, a escola o ideal de uma crescente igualdade de direitos entre os cida-
e a família a ter uma visão geral de acompanhamento deste dãos, baseado nos princípios democráticos. Essa igualdade
desenvolvimento. Este registro pode se dar por meio da apre- implica necessariamente o acesso à totalidade dos bens pú-
ciação da evolução da aprendizagem, através de atividades e blicos, entre os quais o conjunto dos conhecimentos social-
trabalhos produzidos pela criança (desenhos, pinturas, escri- mente relevantes.
ta), ou documentos viabilizados pelo educador, como: fotos, Entretanto, se estes Parâmetros Curriculares Nacionais
filmagens e textos. Todo esse acervo pode documentar a tra- podem funcionar como elemento catalisador de ações na
jetória da aprendizagem, colocando em evidência o nível de busca de uma melhoria da qualidade da educação brasileira,
desenvolvimento e as hipóteses levantadas. de modo algum pretendem resolver todos os problemas que

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

afetam a qualidade do ensino e da aprendizagem no País. A Nesse sentido, a leitura atenta do texto constitucional
busca da qualidade impõe a necessidade de investimentos vigente mostra a ampliação das responsabilidades do poder
em diferentes frentes, como a formação inicial e continuada público para com a educação de todos, ao mesmo tempo
de professores, uma política de salários dignos, um plano de que a Emenda Constitucional n. 14, de 12 de setembro de
carreira, a qualidade do livro didático, de recursos televisivos 1996, priorizou o ensino fundamental, disciplinando a parti-
e de multimídia, a disponibilidade de materiais didáticos. Mas cipação de Estados e Municípios no tocante ao financiamento
esta qualificação almejada implica colocar também, no centro desse nível de ensino.
do debate, as atividades escolares de ensino e aprendizagem A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
e a questão curricular como de inegável importância para a Federal n. 9.394), aprovada em
política educacional da nação brasileira. 20 de dezembro de 1996, consolida e amplia o dever do
poder público para com a educação em geral e em particular
Breve histórico para com o ensino fundamental. Assim, vê-se no art. 22 dessa
Até dezembro de 1996 o ensino fundamental esteve es- lei que a educação básica, da qual o ensino fundamental é
truturado nos termos previstos pela Lei Federal n. 5.692, de parte integrante, deve assegurar a todos “a formação comum
11 de agosto de 1971. Essa lei, ao definir as diretrizes e bases indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes
da educação nacional, estabeleceu como objetivo geral, tan- meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”,
to para o ensino fundamental (primeiro grau, com oito anos fato que confere ao ensino fundamental, ao mesmo tempo,
de escolaridade obrigatória) quanto para o ensino médio (se- um caráter de terminalidade e de continuidade.
gundo grau, nãoobrigatório), proporcionar aos educandos a Essa LDB reforça a necessidade de se propiciar a todos a
formação necessária ao desenvolvimento de suas potenciali- formação básica comum, o que pressupõe a formulação de um
dades como elemento de auto-realização, preparação para o conjunto de diretrizes capaz de nortear os currículos e seus con-
trabalho e para o exercício consciente da cidadania. teúdos mínimos, incumbência que, nos termos do art. 9º, inciso
Também generalizou as disposições básicas sobre o currí- IV, é remetida para a União. Para dar conta desse amplo objeti-
culo, estabelecendo o núcleo comum obrigatório em âmbito vo, a LDB consolida a organização curricular de modo a conferir
nacional para o ensino fundamental e médio. Manteve, porém, uma maior flexibilidade no trato dos componentes curriculares,
uma parte diversificada a fim de contemplar as peculiaridades reafirmando desse modo o princípio da base nacional comum
locais, a especificidade dos planos dos estabelecimentos de (Parâmetros Curriculares Nacionais), a ser complementada por
ensino e as diferenças individuais dos alunos. Coube aos Esta- uma parte diversificada em cada sistema de ensino e escola na
dos a formulação de propostas curriculares que serviriam de prática, repetindo o art. 210 da Constituição Federal.
base às escolas estaduais, municipais e particulares situadas Em linha de síntese, pode-se afirmar que o currículo, tan-
em seu território, compondo, assim, seus respectivos sistemas to para o ensino fundamental quanto para o ensino médio,
de ensino. Essas propostas foram, na sua maioria, reformula- deve obrigatoriamente propiciar oportunidades para o estu-
das durante os anos 80, segundo as tendências educacionais do da língua portuguesa, da matemática, do mundo físico e
que se generalizaram nesse período. natural e da realidade social e política, enfatizandose o conhe-
Em 1990 o Brasil participou da Conferência Mundial de cimento do Brasil. Também são áreas curriculares obrigatórias
Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia, convocada o ensino da Arte e da Educação Física, necessariamente inte-
pela Unesco, Unicef, PNUD e Banco Mundial. Dessa confe- gradas à proposta pedagógica. O ensino de pelo menos uma
rência, assim como da Declaração de Nova Delhi — assinada língua estrangeira moderna passa a se constituir um compo-
pelos nove países em desenvolvimento de maior contingente nente curricular obrigatório, a partir da quinta série do ensino
populacional do mundo —, resultaram posições consensuais fundamental (art. 26, § 5o). Quanto ao ensino religioso, sem
na luta pela satisfação das necessidades básicas de aprendi- onerar as despesas públicas, a LDB manteve a orientação já
zagem para todos, capazes de tornar universal a educação adotada pela política educacional brasileira, ou seja, constitui
fundamental e de ampliar as oportunidades de aprendizagem disciplina dos horários normais das escolas públicas, mas é de
para crianças, jovens e adultos. matrícula facultativa, respeitadas as preferências manifestadas
Tendo em vista o quadro atual da educação no Brasil e pelos alunos ou por seus responsáveis (art. 33).
os compromissos assumidos internacionalmente, o Ministério O ensino proposto pela LDB está em função do objetivo
da Educação e do Desporto coordenou a elaboração do Pla- maior do ensino fundamental, que é o de propiciar a todos
no Decenal de Educação para Todos (1993-2003), concebido formação básica para a cidadania, a partir da criação na escola
como um conjunto de diretrizes políticas em contínuo pro- de condições de aprendizagem para:
cesso de negociação, voltado para a recuperação da escola “I o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
fundamental, a partir do compromisso com a equidade e com como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e
o incremento da qualidade, como também com a constan- do cálculo;
te avaliação dos sistemas escolares, visando ao seu contínuo II a compreensão do ambiente natural e social, do siste-
aprimoramento. ma político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se
O Plano Decenal de Educação, em consonância com o fundamenta a sociedade;
que estabelece a Constituição de 1988, afirma a necessida- III o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
de e a obrigação de o Estado elaborar parâmetros claros no tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e
campo curricular capazes de orientar as ações educativas do a formação de atitudes e valores;
ensino obrigatório, de forma a adequá-lo aos ideais demo- IV o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
cráticos e à busca da melhoria da qualidade do ensino nas solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se
escolas brasileiras. assenta a vida social” (art. 32).

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Verifica-se, pois, como os atuais dispositivos relativos à Número de alunos e de estabelecimentos


organização curricular da educação escolar caminham no
sentido de conferir ao aluno, dentro da estrutura federativa, A oferta de vagas está praticamente universalizada no
efetivação dos objetivos da educação democrática. País. O maior contingente de crianças fora da escola encon-
tra-se na região Nordeste. Nas regiões Sul e Sudeste há de-
O processo de elaboração dos Parâmetros sequilíbrios na localização das escolas e, no caso das grandes
cidades, insuficiência de vagas, provocando a existência de
Curriculares Nacionais um número excessivo de turnos e a criação de escolas unido-
O processo de elaboração dos Parâmetros Curriculares centes ou multisseriadas.
Nacionais teve início a partir do estudo de propostas curricu- A maioria absoluta dos alunos frequentava escolas públi-
lares de Estados e Municípios brasileiros, da análise realizada cas (88,4%) localizadas em áreas urbanas (82,5%), como re-
pela Fundação Carlos Chagas sobre os currículos oficiais e do sultado do processo de urbanização do País nas últimas dé-
contato com informações relativas a experiências de outros cadas, e da crescente participação do setor público na oferta
países. Foram analisados subsídios oriundos do Plano Dece- de matrículas. O setor privado responde apenas por 11,6%
nal de Educação, de pesquisas nacionais e internacionais, da- da oferta, em consequência de sua participação declinante
dos estatísticos sobre desempenho de alunos do ensino fun- desde o início dos anos 70.
damental, bem como experiências de sala de aula difundidas No que se refere ao número de estabelecimentos de en-
em encontros, seminários e publicações. sino, ao todo 194.487, mais de 70% das escolas são rurais,
Formulou-se, então, uma proposta inicial que, apresen- apesar de responderem por apenas 17,5% da demanda de
tada em versão preliminar, passou por um processo de dis- ensino fundamental. Na verdade, as escolas rurais concen-
cussão em âmbito nacional, em 1995 e 1996, do qual par- tram-se sobretudo na região Nordeste (50%), não só em fun-
ticiparam docentes de universidades públicas e particulares, ção de suas características sócioeconômicas, mas também
técnicos de secretarias estaduais e municipais de educação, devido à ausência de planejamento do processo de expansão
de instituições representativas de diferentes áreas de conhe- da rede física.
cimento, especialistas e educadores. Desses interlocutores A situação mostra-se grave ao se observar a evolução da
foram recebidos aproximadamente setecentos pareceres so- distribuição da população por nível de escolaridade. Se é ver-
bre a proposta inicial, que serviram de referência para a sua dade que houve considerável avanço na escolaridade corres-
reelaboração. pondente à primeira fase do ensino fundamental (primeira a
A discussão da proposta foi estendida em inúmeros encon- quarta séries), é também verdade que em relação aos demais
tros regionais, organizados pelas delegacias do MEC nos Esta- níveis de ensino a escolaridade ainda é muito insuficiente: em
dos da federação, que contaram com a participação de profes- 1990, apenas 19% da população do País possuía o primeiro
sores do ensino fundamental, técnicos de secretarias municipais grau completo; 13%, o nível médio; e 8% possuía o nível su-
e estaduais de educação, membros de conselhos estaduais de perior. Considerando a importância do ensino fundamental e
educação, representantes de sindicatos e entidades ligadas ao médio para assegurar a formação de cidadãos aptos a parti-
magistério. Os resultados apurados nesses encontros também cipar democraticamente da vida social, esta situação indica a
contribuíram para a reelaboração do documento. urgência das tarefas e o esforço que o estado e a sociedade
Os pareceres recebidos, além das análises críticas e su- civil deverão assumir para superar a médio prazo o quadro
gestões em relação ao conteúdo dos documentos, em sua existente.
quase-totalidade, apontaram a necessidade de uma políti- Com efeito, mais do que refletir as desigualdades regio-
ca de implementação da proposta educacional inicialmente nais e as diferenças de gênero e cor, o quadro de escolari-
explicitada. Além disso, sugeriram diversas possibilidades de zação desigual do País revela os resultados do processo de
atuação das universidades e das faculdades de educação para extrema concentração de renda e níveis elevados de pobreza.
a melhoria do ensino nas séries iniciais, as quais estão sendo
incorporadas na elaboração de novos programas de forma- Promoção, repetência e evasão
ção de professores, vinculados à implementação dos Parâme-
tros Curriculares Nacionais. Em relação às taxas de transição1, houve substancial
melhoria dos índices de promoção, repetência e evasão do
A PROPOSTA DOS PARÂMETROS CURRICULARES ensino fundamental. Verifica-se, no período de 1981-92, ten-
NACIONAIS EM FACE DA SITUAÇÃO DO ENSINO FUNDA- dência ascendente das taxas de promoção — sobem de 55%
MENTAL em 1984, para 62% em 1992 — acompanhada de queda ra-
Durante as décadas de 70 e 80 a tônica da política edu- zoável das taxas médias de repetência e evasão, que atingem,
cacional brasileira recaiu sobre a expansão das oportunidades respectivamente, 33% e 5% em 1992.
de escolarização, havendo um aumento expressivo no acesso Essa tendência é muito significativa. Estudos indicam que
à escola básica. Todavia, os altos índices de repetência e eva- a repetência constitui um dos problemas do quadro educa-
são apontam problemas que evidenciam a grande insatisfa- cional do País, uma vez que os alunos passam, em média, 5
ção com o trabalho realizado pela escola. anos na escola antes de se evadirem ou levam cerca de 11,2
Indicadores fornecidos pela Secretaria de Desenvolvi- anos para concluir as oito séries de escolaridade obrigatória.
mento e Avaliação Educacional (Sediae), do Ministério da No entanto, a grande maioria da população estudantil acaba
Educação e do Desporto, reafirmam a necessidade de revi- desistindo da escola, desestimulada em razão das altas taxas
são do projeto educacional do País, de modo a concentrar a de repetência e pressionada por fatores sócioeconômicos
atenção na qualidade do ensino e da aprendizagem. que obrigam boa parte dos alunos ao trabalho precoce.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

As taxas de repetência evidenciam a baixa qualidade do que o ensino da matemática ainda é feito sem levar em conta
ensino e a incapacidade dos sistemas educacionais e das es- os aspectos que a vinculam com a prática cotidiana, tornan-
colas de garantir a permanência do aluno, penalizando princi- do-a desprovida de significado para o aluno. Outro fato que
palmente os alunos de níveis de renda mais baixos. chama a atenção é que o pior índice refere-se ao campo da
O “represamento” no sistema causado pelo número ex- geometria.
cessivo de reprovações nas séries iniciais contribui de forma Os dados apresentados pela pesquisa confirmam a ne-
significativa para o aumento dos gastos públicos, ainda acres- cessidade de investimentos substanciais para a melhoria da
cidos pela subutilização de recursos hu-manos e materiais nas qualidade do ensino e da aprendizagem no ensino funda-
séries finais, devido ao número reduzido de alunos. mental.
Uma das consequências mais nefastas das elevadas taxas Mesmo os alunos que conseguem completar os oito
de repetência manifesta-se nitidamente nas acentuadas taxas anos do ensino fundamental acabam dispondo de menos
de distorção série/idade, em todas as séries do ensino fun- conhecimento do que se espera de quem concluiu a escola-
damental (gráfico 9). Apesar da ligeira queda observada em ridade obrigatória. Aprenderam pouco, e muitas vezes o que
todas as séries, no período 1984-94, a situação é dramática: aprenderam não facilita sua inserção e atuação na sociedade.
• mais de 63% dos alunos do ensino fundamental têm Dentre outras deficiências do processo de ensino e aprendi-
idade superior à faixa etária correspondente a cada série; zagem, são relevantes o desinteresse geral pelo trabalho es-
• as regiões Sul e Sudeste, embora situem-se abaixo da colar, a motivação dos alunos centrada apenas na nota e na
média nacional, ainda apresentam índices bastante elevados, promoção, o esquecimento precoce dos assuntos estudados
respectivamente, cerca de 42% e de 54%; e os problemas de disciplina.
• as regiões Norte e Nordeste situam-se bem acima da Desde os anos 80, experiências concretas no âmbito dos
média nacional (respectivamente, 78% e 80%). Estados e Municípios vêm sendo tentadas para a transforma-
Para reverter esse quadro, alguns Estados e Municípios ção desse quadro educacional mas, ainda que tenham obtido
começam a implementar programas de aceleração do fluxo sucesso, são experiências circunscritas a realidades específicas.
escolar, com o objetivo de promover, a médio prazo, a me-
lhoria dos indicadores de rendimento escolar. São iniciativas Professores
extremamente importantes, uma vez que a pesquisa realizada O desempenho dos alunos remete-nos diretamente à
pelo MEC, em 1995, por meio do Sistema Nacional de Ava- necessidade de se considerarem aspectos relativos à forma-
liação da Educação Básica (SAEB) mostra que quanto maior a ção do professor. Pelo Censo Educacional de 1994 foi feito
distorção idade/série, pior o rendimento dos alunos em Lín- um levantamento da quantidade de professores que atuam
gua Portuguesa e Matemática, tanto no ensino fundamental no ensino fundamental, bem como grau de escolaridade.
como no médio. A repetência, portanto, parece não acrescen- Do total de funções docentes do ensino fundamental (cerca
tar nada ao processo de ensino e aprendizagem. de 1,3 milhão), 86,3% encontram-se na rede pública; mais
de 79% relacionam-se às escolas da área urbana e apenas
Desempenho 20,4% à zona rural.
O perfil da educação brasileira apresentou significativas
mudanças nas duas últimas décadas. Houve substancial que- PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DOS PARÂMETROS
da da taxa de analfabetismo, aumento expressivo do número CURRICULARES NACIONAIS
de matrículas em todos os níveis de ensino e crescimento sis- Na sociedade democrática, ao contrário do que ocorre
temático das taxas de escolaridade média da população. nos regimes autoritários, o processo educacional não pode
A progressiva queda da taxa de analfabetismo, que passa ser instrumento para a imposição, por parte do governo, de
de 39,5% para 20,1% nas quatro últimas décadas, foi parale- um projeto de sociedade e de nação. Tal projeto deve resultar
la ao processo de universalização do atendimento escolar na do próprio processo democrático, nas suas dimensões mais
faixa etária obrigatória (sete a quatorze anos), tendência que amplas, envolvendo a contraposição de diferentes interesses
se acentua de meados dos anos 70 para cá, sobretudo como e a negociação política necessária para encontrar soluções
resultado do esforço do setor público na promoção das polí- para os conflitos sociais.
ticas educacionais. Esse movimento não ocorreu de forma ho- Não se pode deixar de levar em conta que, na atual rea-
mogênea. Ele acompanhou as características de desenvolvi- lidade brasileira, a profunda estratificação social e a injusta
mento sócioeconômico do País e reflete suas desigualdades. distribuição de renda têm funcionado como um entrave para
Por outro lado, resultados obtidos em pesquisa realiza- que uma parte considerável da população possa fazer valer
da pelo SAEB/95, baseados em uma amostra nacional que os seus direitos e interesses fundamentais. Cabe ao governo
abrangeu 90.499 alunos de 2.793 escolas públicas e privadas, o papel de assegurar que o processo democrático se desen-
reafirmam a baixa qualidade atingida no desempenho dos volva de modo a que esses entraves diminuam cada vez mais.
alunos no ensino fundamental em relação à leitura e princi- É papel do Estado democrático investir na escola, para que
palmente em habilidade matemática. ela prepare e instrumentalize crianças e jovens para o proces-
Os resultados de desempenho em matemática mos- so democrático, forçando o acesso à educação de qualidade
tram um rendimento geral insatisfatório, pois os percentuais para todos e às possibilidades de participação social.
em sua maioria situam-se abaixo de 50%. Ao indicarem um Para isso faz-se necessária uma proposta educacional que
rendimento melhor nas questões classificadas como de tenha em vista a qualidade da formação a ser oferecida a to-
compreensão de conceitos do que nas de conhecimento de dos os estudantes. O ensino de qualidade que a sociedade
procedimentos e resolução de problemas, os dados parecem demanda atualmente expressa-se aqui como a possibilidade
confirmar o que vem sendo amplamente debatido, ou seja, de o sistema educacional vir a propor uma prática educati-

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

va adequada às necessidades sociais, políticas, econômicas e Para tanto, é necessário que, no processo de ensino e
culturais da realidade brasileira, que considere os interesses aprendizagem, sejam exploradas: a aprendizagem de meto-
e as motivações dos alunos e garanta as aprendizagens es- dologias capazes de priorizar a construção de estratégias de
senciais para a formação de cidadãos autônomos, críticos e verificação e comprovação de hipóteses na construção do
participativos, capazes de atuar com competência, dignidade conhecimento, a construção de argumentação capaz de con-
e responsabilidade na sociedade em que vivem. trolar os resultados desse processo, o desenvolvimento do es-
O exercício da cidadania exige o acesso de todos à to- pírito crítico capaz de favorecer a criatividade, a compreensão
talidade dos recursos culturais relevantes para a intervenção dos limites e alcances lógicos das explicações propostas. Além
e a participação responsável na vida social. O domínio da disso, é necessário ter em conta uma dinâmica de ensino que
língua falada e escrita, os princípios da reflexão matemáti- favoreça não só o descobrimento das potencialidades do tra-
ca, as coordenadas espaciais e temporais que organizam a balho individual, mas também, e sobretudo, do trabalho cole-
percepção do mundo, os princípios da explicação científica, tivo. Isso implica o estímulo à autonomia do sujeito, desenvol-
as condições de fruição da arte e das mensagens estéticas, vendo o sentimento de segurança em relação às suas próprias
domínios de saber tradicionalmente presentes nas diferentes capacidades, interagindo de modo orgânico e integrado num
concepções do papel da educação no mundo democrático, trabalho de equipe e, portanto, sendo capaz de atuar em ní-
até outras tantas exigências que se impõem no mundo con- veis de interlocução mais complexos e diferenciados.
temporâneo.
Essas exigências apontam a relevância de discussões so- Natureza e função dos Parâmetros Curriculares Na-
bre a dignidade do ser humano, a igualdade de direitos, a cionais
recusa categórica de formas de discriminação, a importância Cada criança ou jovem brasileiro, mesmo de locais com
da solidariedade e do respeito. Cabe ao campo educacional pouca infraestrutura e condições sócioeconômicas desfavo-
propiciar aos alunos as capacidades de vivenciar as diferen- ráveis, deve ter acesso ao conjunto de conhecimentos social-
tes formas de inserção sóciopolítica e cultural. Apresenta-se mente elaborados e reconhecidos como necessários para o
para a escola, hoje mais do que nunca, a necessidade de as- exercício da cidadania para deles poder usufruir. Se existem
sumir-se como espaço social de construção dos significados diferenças sócioculturais marcantes, que determinam diferen-
éticos necessários e constitutivos de toda e qualquer ação de tes necessidades de aprendizagem, existe também aquilo que
cidadania. é comum a todos, que um aluno de qualquer lugar do Brasil,
No contexto atual, a inserção no mundo do trabalho e do interior ou do litoral, de uma grande cidade ou da zona
do consumo, o cuidado com o próprio corpo e com a saú- rural, deve ter o direito de aprender e esse direito deve ser
de, passando pela educação sexual, e a preservação do meio garantido pelo Estado.
ambiente são temas que ganham um novo estatuto, num Mas, na medida em que o princípio da equidade reco-
universo em que os referenciais tradicionais, a partir dos nhece a diferença e a necessidade de haver condições dife-
quais eram vistos como questões locais ou individuais, já não renciadas para o processo educacional, tendo em vista a ga-
dão conta da dimensão nacional e até mesmo internacional rantia de uma formação de qualidade para todos, o que se
que tais temas assumem, justificando, portanto, sua conside- apresenta é a necessidade de um referencial comum para a
ração. Nesse sentido, é papel preponderante da escola pro- formação escolar no Brasil, capaz de indicar aquilo que deve
piciar o domínio dos recursos capazes de levar à discussão ser garantido a todos, numa realidade com características tão
dessas formas e sua utilização crítica na perspectiva da parti- diferenciadas, sem promover uma uniformização que desca-
cipação social e política. racterize e desvalorize peculiaridades culturais e regionais.
Desde a construção dos primeiros computadores, na É nesse sentido que o estabelecimento de uma referên-
metade deste século, novas relações entre conhecimento e cia curricular comum para todo o País, ao mesmo tempo que
trabalho começaram a ser delineadas. Um de seus efeitos é fortalece a unidade nacional e a responsabilidade do Governo
a exigência de um reequacionamento do papel da educação Federal com a educação, busca garantir, também, o respeito à
no mundo contemporâneo, que coloca para a escola um ho- diversidade que é marca cultural do País, mediante a possibi-
rizonte mais amplo e diversificado do que aquele que, até lidade de adaptações que integrem as diferentes dimensões
poucas décadas atrás, orientava a concepção e construção da prática educacional.
dos projetos educacionais. Não basta visar à capacitação dos Para compreender a natureza dos Parâmetros Curricula-
estudantes para futuras habilitações em termos das especia- res Nacionais, é necessário situá-los em relação a quatro ní-
lizações tradicionais, mas antes trata-se de ter em vista a for- veis de concretização curricular considerando a estrutura do
mação dos estudantes em termos de sua capacitação para a sistema educacional brasileiro. Tais níveis não representam
aquisição e o desenvolvimento de novas competências, em etapas sequenciais, mas sim amplitudes distintas da elabora-
função de novos saberes que se produzem e demandam um ção de propostas curriculares, com responsabilidades diferen-
novo tipo de profissional, preparado para poder lidar com tes, que devem buscar uma integração e, ao mesmo tempo,
novas tecnologias e linguagens, capaz de responder a novos autonomia.
ritmos e processos. Essas novas relações entre conhecimen- Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem o pri-
to e trabalho exigem capacidade de iniciativa e inovação e, meiro nível de concretização curricular.
mais do que nunca, “aprender a aprender”. Isso coloca no- São uma referência nacional para o ensino fundamen-
vas demandas para a escola. A educação básica tem assim tal; estabelecem uma meta educacional para a qual devem
a função de garantir condições para que o aluno construa convergir as ações políticas do Ministério da Educação e do
instrumentos que o capacitem para um processo de educa- Desporto, tais como os projetos ligados à sua competência
ção permanente. na formação inicial e continuada de professores, à análise e

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

compra de livros e outros materiais didáticos e à avaliação na- O quarto nível de concretização curricular é o momen-
cional. Têm como função subsidiar a elaboração ou a revisão to da realização da programação das atividades de ensino e
curricular dos Estados e Municípios, dialogando com as pro- aprendizagem na sala de aula. É quando o professor, segun-
postas e experiências já existentes, incentivando a discussão do as metas estabelecidas na fase de concretização anterior,
pedagógica interna das escolas e a elaboração de projetos faz sua programação, adequando-a àquele grupo específico
educativos, assim como servir de material de reflexão para a de alunos. A programação deve garantir uma distribuição
prática de professores. planejada de aulas, distribuição dos conteúdos segundo um
Todos os documentos aqui apresentados configuram cronograma referencial, definição das orientações didáticas
uma referência nacional em que são apontados conteúdos e prioritárias, seleção do material a ser utilizado, planejamento
objetivos articulados, critérios de eleição dos primeiros, ques- de projetos e sua execução. Apesar de a responsabilidade ser
tões de ensino e aprendizagem das áreas, que permeiam a essencialmente de cada professor, é fundamental que esta
prática educativa de forma explícita ou implícita, propostas seja compartilhada com a equipe da escola por meio da cor-
sobre a avaliação em cada momento da escolaridade e em responsabilidade estabelecida no projeto educativo.
cada área, envolvendo questões relativas a o que e como ava- Tal proposta, no entanto, exige uma política educacio-
liar. Assim, além de conter uma exposição sobre seus funda- nal que contemple a formação inicial e continuada dos pro-
mentos, contém os diferentes elementos curriculares — tais fessores, uma decisiva revisão das condições salariais, além
como Caracterização das Áreas, Objetivos, Organização dos da organização de uma estrutura de apoio que favoreça o
Conteúdos, Critérios de Avaliação e Orientações Didáticas —, desenvolvimento do trabalho (acervo de livros e obras de re-
efetivando uma proposta articuladora dos propósitos mais ferência, equipe técnica para supervisão, materiais didáticos,
gerais de formação de cidadania, com sua operacionalização instalações adequadas para a realização de trabalho de qua-
no processo de aprendizagem. lidade), aspectos que, sem dúvida, implicam a valorização da
Apesar de apresentar uma estrutura curricular completa, os
atividade do professor.
Parâmetros Curriculares Nacionais são abertos e flexíveis, uma
vez que, por sua natureza, exigem adaptações para a constru-
Fundamentos dos Parâmetros
ção do currículo de uma Secretaria ou mesmo de uma escola.
Curriculares Nacionais
Também pela sua natureza, eles não se impõem como uma di-
retriz obrigatória: o que se pretende é que ocorram adaptações,
por meio do diálogo, entre estes documentos e as práticas já A TRADIÇÃO PEDAGÓGICA BRASILEIRA
existentes, desde as definições dos objetivos até as orientações A prática de todo professor, mesmo de forma incons-
didáticas para a manutenção de um todo coerente. ciente, sempre pressupõe uma concepção de ensino e
Os Parâmetros Curriculares Nacionais estão situados his- aprendizagem que determina sua compreensão dos papéis
toricamente — não são princípios atemporais. Sua validade de professor e aluno, da metodologia, da função social da
depende de estarem em consonância com a realidade social, escola e dos conteúdos a serem trabalhados. A discussão
necessitando, portanto, de um processo periódico de avalia- dessas questões é importante para que se explicitem os pres-
ção e revisão, a ser coordenado pelo MEC. supostos pedagógicos que subjazem à atividade de ensino,
O segundo nível de concretização diz respeito às pro- na busca de coerência entre o que se pensa estar fazendo e
postas curriculares dos Estados e Municípios. Os Parâmetros o que realmente se faz. Tais práticas se constituem a partir
Curriculares Nacionais poderão ser utilizados como recurso das concepções educativas e metodologias de ensino que
para adaptações ou elaborações curriculares realizadas pelas permearam a formação educacional e o percurso profissional
Secretarias de Educação, em um processo definido pelos res- do professor, aí incluídas suas próprias experiências escola-
ponsáveis em cada local. res, suas experiências de vida, a ideologia compartilhada com
O terceiro nível de concretização refere-se à elaboração seu grupo social e as tendências pedagógicas que lhe são
da proposta curricular de cada instituição escolar, contextua- contemporâneas.
lizada na discussão de seu projeto educativo. Entende-se por As tendências pedagógicas que se firmam nas escolas
projeto educativo a expressão da identidade de cada escola brasileiras, públicas e privadas, na maioria dos casos não apa-
em um processo dinâmico de discussão, reflexão e elabora- recem em forma pura, mas com características particulares,
ção contínua. Esse processo deve contar com a participação muitas vezes mesclando aspectos de mais de uma linha pe-
de toda equipe pedagógica, buscando um comprometimento dagógica.
de todos com o trabalho realizado, com os propósitos dis- A análise das tendências pedagógicas no Brasil deixa
cutidos e com a adequação de tal projeto às características evidente a influência dos grandes movimentos educacionais
sociais e culturais da realidade em que a escola está inserida. internacionais, da mesma forma que expressam as especi-
É no âmbito do projeto educativo que professores e equipe ficidades de nossa história política, social e cultural, a cada
pedagógica discutem e organizam os objetivos, conteúdos e período em que são consideradas. Pode-se identificar, na tra-
critérios de avaliação para cada ciclo. dição pedagógica brasileira, a presença de quatro grandes
Os Parâmetros Curriculares Nacionais e as propostas das tendências: a tradicional, a renovada, a tecnicista e aquelas
Secretarias devem ser vistos como materiais que subsidiarão a marcadas centralmente por preocupações sociais e políticas.
escola na constituição de sua proposta educacional mais ge- Tais tendências serão sintetizadas em grandes traços que
ral, num processo de interlocução em que se compartilham e tentam recuperar os pontos mais significativos de cada uma
explicitam os valores e propósitos que orientam o trabalho das propostas. Este documento não ignora o risco de uma
educacional que se quer desenvolver e o estabelecimento do certa redução das concepções, tendo em vista a própria sín-
currículo capaz de atender às reais necessidades dos alunos. tese e os limites desta apresentação.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

A “pedagogia tradicional” é uma proposta de educação educacional rígida e passível de ser totalmente programada
centrada no professor, cuja função se define como a de vigiar em detalhes. A supervalorização da tecnologia programada
e aconselhar os alunos, corrigir e ensinar a matéria. de ensino trouxe consequências: a escola se revestiu de uma
A metodologia decorrente de tal concepção baseia-se na grande auto suficiência, reconhecida por ela e por toda a co-
exposição oral dos conteúdos, numa sequência predetermi- munidade atingida, criando assim a falsa ideia de que apren-
nada e fixa, independentemente do contexto escolar; enfa- der não é algo natural do ser humano, mas que depende
tiza-se a necessidade de exercícios repetidos para garantir a exclusivamente de especialistas e de técnicas. O que é valori-
memorização dos conteúdos. A função primordial da escola, zado nessa perspectiva não é o professor, mas a tecnologia;
nesse modelo, é transmitir conhecimentos disciplinares para o professor passa a ser um mero especialista na aplicação
a formação geral do aluno, formação esta que o levará, ao de manuais e sua criatividade fica restrita aos limites pos-
inserir-se futuramente na sociedade, a optar por uma profis- síveis e estreitos da técnica utilizada. A função do aluno é
são valorizada. Os conteúdos do ensino correspondem aos reduzida a um indivíduo que reage aos estímulos de forma
conhecimentos e valores sociais acumulados pelas gerações a corresponder às respostas esperadas pela escola, para ter
passadas como verdades acabadas, e, embora a escola vise êxito e avançar. Seus interesses e seu processo particular não
à preparação para a vida, não busca estabelecer relação en- são considerados e a atenção que recebe é para ajustar seu
tre os conteúdos que se ensinam e os interesses dos alunos, ritmo de aprendizagem ao programa que o professor deve
tampouco entre esses e os problemas reais que afetam a implementar. Essa orientação foi dada para as escolas pelos
sociedade. Na maioria das escolas essa prática pedagógica organismos oficiais durante os anos 60, e até hoje está pre-
se caracteriza por sobrecarga de informações que são vei- sente em muitos materiais didáticos com caráter estritamen-
culadas aos alunos, o que torna o processo de aquisição de te técnico e instrumental.
conhecimento, para os alunos, muitas vezes burocratizado e No final dos anos 70 e início dos 80, a abertura política
destituído de significação. No ensino dos conteúdos, o que decorrente do final do regime militar coincidiu com a inten-
orienta é a organização lógica das disciplinas, o aprendizado sa mobilização dos educadores para buscar uma educação
moral, disciplinado e esforçado. crítica a serviço das transformações sociais, econômicas e
Nesse modelo, a escola se caracteriza pela postura con- políticas, tendo em vista a superação das desigualdades exis-
servadora. O professor é visto como a autoridade máxima, tentes no interior da sociedade. Ao lado das denominadas
teorias crítico reprodutivistas, firma-se no meio educacional a
um organizador dos conteúdos e estratégias de ensino e,
presença da “pedagogia libertadora” e da “pedagogia crítico
portanto, o guia exclusivo do processo educativo.
social dos conteúdos”, assumida por educadores de orienta-
A “pedagogia renovada” é uma concepção que inclui vá-
ção marxista.
rias correntes que, de uma forma ou de outra, estão ligadas
A “pedagogia libertadora” tem suas origens nos movi-
ao movimento da Escola Nova ou Escola Ativa. Tais correntes,
mentos de educação popular que ocorreram no
embora admitam divergências, assumem um mesmo prin- final dos anos 50 e início dos anos 60, quando foram
cípio norteador de valorização do indivíduo como ser livre, interrompidos pelo golpe militar de 1964; teve seu desenvol-
ativo e social. O centro da atividade escolar não é o profes- vimento retomado no final dos anos 70 e início dos anos 80.
sor nem os conteúdos disciplinares, mas sim o aluno, como Nessa proposta, a atividade escolar pauta-se em discussões
ser ativo e curioso. O mais importante não é o ensino, mas de temas sociais e políticos e em ações sobre a realidade so-
o processo de aprendizagem. Em oposição à Escola Tradi- cial imediata; analisam-se os problemas, seus fatores deter-
cional, a Escola Nova destaca o princípio da aprendizagem minantes e organiza-se uma forma de atuação para que se
por descoberta e estabelece que a atitude de aprendizagem possa transformar a realidade social e política. O professor é
parte do interesse dos alunos, que, por sua vez, aprendem um coordenador de atividades que organiza e atua conjun-
fundamentalmente pela experiência, pelo que descobrem tamente com os alunos.
por si mesmos. A “pedagogia crítico social dos conteúdos” que surge no
O professor é visto, então, como facilitador no processo final dos anos 70 e início dos 80 se põe como uma reação de
de busca de conhecimento que deve partir do aluno. Cabe alguns educadores que não aceitam a pouca relevância que
ao professor organizar e coordenar as situações de aprendi- a “pedagogia libertadora” dá ao aprendizado do chamado
zagem, adaptando suas ações às características individuais “saber elaborado”, historicamente acumulado, que constitui
dos alunos, para desenvolver suas capacidades e habilidades parte do acervo cultural da humanidade.
intelectuais. A “pedagogia crítico social dos conteúdos” assegura a
A ideia de um ensino guiado pelo interesse dos alunos função social e política da escola mediante o trabalho com
acabou, em muitos casos, por desconsiderar a necessidade conhecimentos sistematizados, a fim de colocar as classes
de um trabalho planejado, perdendo-se de vista o que deve populares em condições de uma efetiva participação nas lu-
ser ensinado e aprendido. Essa tendência, que teve grande tas sociais. Entende que não basta ter como conteúdo escolar
penetração no Brasil na década de 30, no âmbito do ensino as questões sociais atuais, mas que é necessário que se tenha
pré-escolar (jardim de infância), até hoje influencia muitas domínio de conhecimentos, habilidades e capacidades mais
práticas pedagógicas. amplas para que os alunos possam interpretar suas experiên-
Nos anos 70 proliferou o que se chamou de “tecnicismo cias de vida e defender seus interesses de classe.
educacional”, inspirado nas teorias behavioristas da aprendi- As tendências pedagógicas que marcam a tradição edu-
zagem e da abordagem sistêmica do ensino, que definiu uma cacional brasileira e aqui foram expostas sinteticamente tra-
prática pedagógica altamente controlada e dirigida pelo pro- zem, de maneira diferente, contribuições para uma proposta
fessor, com atividades mecânicas inseridas numa proposta atual que busque recuperar aspectos positivos das práticas

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

anteriores em relação ao desenvolvimento e à aprendizagem, A orientação proposta nos Parâmetros Curriculares Na-
realizando uma releitura dessas práticas à luz dos avanços cionais reconhece a importância da participação construtiva
ocorridos nas produções teóricas, nas investigações e em fa- do aluno e, ao mesmo tempo, da intervenção do professor
tos que se tornaram observáveis nas experiências educativas para a aprendizagem de conteúdos específicos que favore-
mais recentes realizadas em diferentes Estados e Municípios çam o desenvolvimento das capacidades necessárias à for-
do Brasil. mação do indivíduo. Ao contrário de uma concepção de
No final dos anos 70, pode-se dizer que havia no Brasil, ensino e aprendizagem como um processo que se desen-
entre as tendências didáticas de vanguarda, aquelas que ti- volve por etapas, em que a cada uma delas o conhecimento
nham um viés mais psicológico e outras cujo viés era mais é “acabado”, o que se propõe é uma visão da complexidade
sóciológico e político; a partir dos anos 80 surge com maior e da provisoriedade do conhecimento. De um lado, porque
evidência um movimento que pretende a integração entre o objeto de conhecimento é “complexo” de fato e reduzi
essas abordagens. Se por um lado não é mais possível deixar -lo seria falsificá-lo; de outro, porque o processo cognitivo
de se ter preocupações com o domínio de conhecimentos não acontece por justaposição, senão por reorganização do
formais para a participação crítica na sociedade, considera- conhecimento. É também “provisório”, uma vez que não é
se também que é necessária uma adequação pedagógica às possível chegar de imediato ao conhecimento correto, mas
características de um aluno que pensa, de um professor que somente por aproximações sucessivas que permitem sua re-
sabe e aos conteúdos de valor social e formativo. Esse mo- construção.
mento se caracteriza pelo enfoque centrado no caráter social Os Parâmetros Curriculares Nacionais, tanto nos objeti-
do processo de ensino e aprendizagem e é marcado pela in- vos educacionais que propõem quanto na conceitualização
fluência da psicologia genética. do significado das áreas de ensino e dos temas da vida social
O enfoque social dado aos processos de ensino e apren- contemporânea que devem permeá-las, adotam como eixo o
dizagem traz para a discussão pedagógica aspectos de ex- desenvolvimento de capacidades do aluno, processo em que
trema relevância, em particular no que se refere à maneira os conteúdos curriculares atuam não como fins em si mes-
como se devem entender as relações entre desenvolvimento mos, mas como meios para a aquisição e desenvolvimento
e aprendizagem, à importância da relação interpessoal nesse dessas capacidades. Nesse sentido, o que se tem em vista é
processo, à relação entre cultura e educação e ao papel da que o aluno possa ser sujeito de sua própria formação, em
ação educativa ajustada às situações de aprendizagem e às um complexo processo interativo em que também o profes-
características da atividade mental construtiva do aluno em sor se veja como sujeito de conhecimento.
cada momento de sua escolaridade.
A psicologia genética propiciou aprofundar a compreen- ESCOLA E CONSTITUIÇÃO DA CIDADANIA
são sobre o processo de desenvolvimento na construção do
conhecimento. Compreender os mecanismos pelos quais as A importância dada aos conteúdos revela um compro-
crianças constroem representações internas de conhecimen- misso da instituição escolar em garantir o acesso aos saberes
tos construídos socialmente, em uma perspectiva psicoge- elaborados socialmente, pois estes se constituem como ins-
nética, traz uma contribuição para além das descrições dos trumentos para o desenvolvimento, a socialização, o exercício
grandes estágios de desenvolvimento. da cidadania democrática e a atuação no sentido de refutar
A pesquisa sobre a psicogênese da língua escrita chegou ou reformular as deformações dos conhecimentos, as impo-
ao Brasil em meados dos anos 80 e causou grande impac- sições de crenças dogmáticas e a petrificação de valores. Os
to, revolucionando o ensino da língua nas séries iniciais e, conteúdos escolares que são ensinados devem, portanto,
ao mesmo tempo, provocando uma revisão do tratamento estar em consonância com as questões sociais que marcam
dado ao ensino e à aprendizagem em outras áreas do conhe- cada momento histórico.
cimento. Essa investigação evidencia a atividade construtiva Isso requer que a escola seja um espaço de formação
do aluno sobre a língua escrita, objeto de conhecimento re- e informação, em que a aprendizagem de conteúdos deve
conhecidamente escolar, mostrando a presença importante necessariamente favorecer a inserção do aluno no dia a dia
dos conhecimentos específicos sobre a escrita que a criança das questões sociais marcantes e em um universo cultural
já tem, os quais, embora não coincidam com os dos adultos, maior. A formação escolar deve propiciar o desenvolvimen-
têm sentido para ela. to de capacidades, de modo a favorecer a compreensão e a
A metodologia utilizada nessas pesquisas foi muitas ve- intervenção nos fenômenos sociais e culturais, assim como
zes interpretada como uma proposta de pedagogia constru- possibilitar aos alunos usufruir das manifestações culturais
tivista para alfabetização, o que expressa um duplo equívoco: nacionais e universais.
redução do construtivismo a uma teoria psicogenética de No contexto da proposta dos Parâmetros Curriculares
aquisição de língua escrita e transformação de uma investi- Nacionais se concebe a educação escolar como uma prática
gação acadêmica em método de ensino. Com esses equívo- que tem a possibilidade de criar condições para que todos
cos, difundiram-se, sob o rótulo de pedagogia construtivista, os alunos desenvolvam suas capacidades e aprendam os
as ideias de que não se devem corrigir os erros e de que as conteúdos necessários para construir instrumentos de com-
crianças aprendem fazendo “do seu jeito”. Essa pedagogia, preensão da realidade e de participação em relações sociais,
dita construtivista, trouxe sérios problemas ao processo de políticas e culturais diversificadas e cada vez mais amplas,
ensino e aprendizagem, pois desconsidera a função primor- condições estas fundamentais para o exercício da cidadania
dial da escola que é ensinar, intervindo para que os alunos na construção de uma sociedade democrática e não exclu-
aprendam o que, sozinhos, não têm condições de aprender. dente.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

A prática escolar distingue-se de outras práticas edu- maneira, abre a oportunidade para que os alunos aprendam
cativas, como as que acontecem na família, no trabalho, na sobre temas normalmente excluídos e atua propositalmente
mídia, no lazer e nas demais formas de convívio social, por na formação de valores e atitudes do sujeito em relação ao
constituir-se uma ação intencional, sistemática, planejada e outro, à política, à economia, ao sexo, à droga, à saúde, ao
continuada para crianças e jovens durante um período con- meio ambiente, à tecnologia, etc.
tínuo e extenso de tempo. A escola, ao tomar para si o ob- Um ensino de qualidade, que busca formar cidadãos ca-
jetivo de formar cidadãos capazes de atuar com competên- pazes de interferir criticamente na realidade para transformá
cia e dignidade na sociedade, buscará eleger, como objeto -la, deve também contemplar o desenvolvimento de capaci-
de ensino, conteúdos que estejam em consonância com as dades que possibilitem adaptações às complexas condições
questões sociais que marcam cada momento histórico, cuja e alternativas de trabalho que temos hoje e a lidar com a ra-
aprendizagem e assimilação são as consideradas essenciais pidez na produção e na circulação de novos conhecimentos
para que os alunos possam exercer seus direitos e deveres. e informações, que têm sido avassaladores e crescentes. A
Para tanto ainda é necessário que a instituição escolar garan- formação escolar deve possibilitar aos alunos condições para
ta um conjunto de práticas planejadas com o propósito de desenvolver competência e consciência profissional, mas não
contribuir para que os alunos se apropriem dos conteúdos restringir-se ao ensino de habilidades imediatamente de-
de maneira crítica e construtiva. A escola, por ser uma insti- mandadas pelo mercado de trabalho.
tuição social com propósito explicitamente educativo, tem o A discussão sobre a função da escola não pode ignorar
compromisso de intervir efetivamente para promover o de- as reais condições em que esta se encontra. A situação de
senvolvimento e a socialização de seus alunos. precariedade vivida pelos educadores, expressa nos baixos
Essa função socializadora remete a dois aspectos: o de- salários, na falta de condições de trabalho, de metas a serem
senvolvimento individual e o contexto social e cultural. É nes- alcançadas, de prestígio social, na inércia de grande parte
sa dupla determinação que os indivíduos se constroem como dos órgãos responsáveis por alterar esse quadro, provoca, na
pessoas iguais, mas, ao mesmo tempo, diferentes de todas maioria das pessoas, um descrédito na transformação da si-
as outras. Iguais por compartilhar com outras pessoas um tuação. Essa desvalorização objetiva do magistério acaba por
conjunto de saberes e formas de conhecimento que, por sua ser interiorizada, bloqueando as motivações. Outro fator de
vez, só é possível graças ao que individualmente se puder in- desmotivação dos profissionais da rede pública é a mudança
corporar. Não há desenvolvimento individual possível à mar- de rumo da educação diante da orientação política de cada
gem da sociedade, da cultura. Os processos de diferenciação governante. Às vezes as transformações propostas reafirmam
certas posições, às vezes outras. Esse movimento de vai e vol-
na construção de uma identidade pessoal e os processos de
ta gera, para a maioria dos professores, um desânimo para
socialização que conduzem a padrões de identidade coletiva
se engajar nos projetos de trabalho propostos, mesmo que
constituem, na verdade, as duas faces de um mesmo pro-
lhes pareçam interessantes, pois eles dificilmente terão con-
cesso.
tinuidade.
A escola, na perspectiva de construção de cidadania, pre-
Em síntese, as escolas brasileiras, para exercerem a fun-
cisa assumir a valorização da cultura de sua própria comu- ção social aqui proposta, precisam possibilitar o cultivo dos
nidade e, ao mesmo tempo, buscar ultrapassar seus limites, bens culturais e sociais, considerando as expectativas e as
propiciando às crianças pertencentes aos diferentes grupos necessidades dos alunos, dos pais, dos membros da comu-
sociais o acesso ao saber, tanto no que diz respeito aos co- nidade, dos professores, enfim, dos envolvidos diretamente
nhecimentos socialmente relevantes da cultura brasileira no no processo educativo. É nesse universo que o aluno vivencia
âmbito nacional e regional como no que faz parte do patri- situações diversificadas que favorecem o aprendizado, para
mônio universal da humanidade. dialogar de maneira competente com a comunidade, apren-
O desenvolvimento de capacidades, como as de relação der a respeitar e a ser respeitado, a ouvir e a ser ouvido, a
interpessoal, as cognitivas, as afetivas, as motoras, as éticas, reivindicar direitos e a cumprir obrigações, a participar ati-
as estéticas de inserção social, torna-se possível mediante o vamente da vida científica, cultural, social e política do País
processo de construção e reconstrução de conhecimentos. e do mundo.
Essa aprendizagem é exercida com o aporte pessoal de cada
um, o que explica por que, a partir dos mesmos saberes, há ESCOLA: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA E PERMA-
sempre lugar para a construção de uma infinidade de sig- NENTE
nificados, e não a uniformidade destes. Os conhecimentos Nessa perspectiva, é essencial a vinculação da escola
que se transmitem e se recriam na escola ganham sentido com as questões sociais e com os valores democráticos, não
quando são produtos de uma construção dinâmica que se só do ponto de vista da seleção e tratamento dos conteúdos,
opera na interação constante entre o saber escolar e os de- como também da própria organização escolar. As normas
mais saberes, entre o que o aluno aprende na escola e o que de funcionamento e os valores, implícitos e explícitos, que
ele traz para a escola, num processo contínuo e permanente regem a atuação das pessoas na escola são determinantes
de aquisição, no qual interferem fatores políticos, sociais, cul- da qualidade do ensino, interferindo de maneira significativa
turais e psicológicos. sobre a formação dos alunos.
As questões relativas à globalização, as transformações Com a degradação do sistema educacional brasileiro,
científicas e tecnológicas e a necessária discussão ético valo- pode-se dizer que a maioria das escolas tende a ser apenas
rativa da sociedade apresentam para a escola a imensa tarefa um local de tra balho individualizado e não uma organização
de instrumentalizar os jovens para participar da cultura, das com objetivos próprios, elaborados e manifestados pela ação
relações sociais e políticas. A escola, ao posicionar-se dessa coordenada de seus diversos profissionais.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Para ser uma organização eficaz no cumprimento de A busca de um marco explicativo que permita essa res-
propósitos estabelecidos em conjunto por professores, coor- significação, além da criação de novos instrumentos de aná-
denadores e diretor, e garantir a formação coerente de seus lise, planejamento e condução da ação educativa na escola,
alunos ao longo da escolaridade obrigatória, é imprescindível tem se situado, atualmente, para muitos dos teóricos da edu-
que cada escola discuta e construa seu projeto educativo. cação, dentro da perspectiva construtivista.
Esse projeto deve ser entendido como um processo que A perspectiva construtivista na educação é configurada
inclui a formulação de metas e meios, segundo a particulari- por uma série de princípios explicativos do desenvolvimen-
dade de cada escola, por meio da criação e da valorização de to e da aprendizagem humana que se complementam, in-
rotinas de trabalho pedagógico em grupo e da co-responsa- tegrando um conjunto orientado a analisar, compreender e
bilidade de todos os membros da comunidade escolar, para explicar os processos escolares de ensino e aprendizagem.
além do planejamento de início de ano ou dos períodos de A configuração do marco explicativo construtivista para
“reciclagem”. os processos de educação escolar deu-se, entre outras in-
A experiência acumulada por seus profissionais é natural- fluências, a partir da psicologia genética, da teoria sóciointe-
mente a base para a reflexão e a elaboração do projeto edu-
racionista e das explicações da atividade significativa. Vários
cativo de uma escola. Além desse repertório, outras fontes
autores partiram dessas ideias para desenvolver e conceitua-
importantes para a definição de um projeto educativo são os
lizar as várias dimensões envolvidas na educação escolar, tra-
currículos locais, a bibliografia especializada, o contato com
outras experiências educacionais, assim como os Parâmetros zendo inegáveis contribuições à teoria e à prática educativa.
Curriculares Nacionais, que formulam questões essenciais O núcleo central da integração de todas essas contribui-
sobre o que, como e quando ensinar, constituindo um refe- ções refere-se ao reconhecimento da importância da ativi-
rencial significativo e atualizado sobre a função da escola, a dade mental construtiva nos processos de aquisição de co-
importância dos conteúdos e o tratamento a ser dado a eles. nhecimento. Daí o termo construtivismo, denominando essa
Ao elaborar seu projeto educativo, a escola discute e ex- convergência. Assim, o conhecimento não é visto como algo
plicita de forma clara os valores coletivos assumidos. Delimita situado fora do indivíduo, a ser adquirido por meio de cópia
suas prioridades, define os resultados desejados e incorpora do real, tampouco como algo que o indivíduo constrói inde-
a autoavaliação ao trabalho do professor. Assim, organiza-se pendentemente da realidade exterior, dos demais indivíduos
o planejamento, reúne-se a equipe de trabalho, provoca-se o e de suas próprias capacidades pessoais. É, antes de mais
estudo e a reflexão contínuos, dando sentido às ações coti- nada, uma construção histórica e social, na qual interferem
dianas, reduzindo a improvisação e as condutas estereotipa- fatores de ordem cultural e psicológica.
das e rotineiras que, muitas vezes, são contraditórias com os A atividade construtiva, física ou mental, permite inter-
objetivos educacionais compartilhados. pretar a realidade e construir significados, ao mesmo tempo
A contínua realização do projeto educativo possibilita o que permite construir novas possibilidades de ação e de co-
conhecimento das ações desenvolvidas pelos diferentes pro- nhecimento.
fessores, sendo base de diálogo e reflexão para toda a equipe Nesse processo de interação com o objeto a ser conhe-
escolar. Nesse processo evidencia-se a necessidade da parti- cido, o sujeito constrói representações, que funcionam como
cipação da comunidade, em especial dos pais, tomando co- verdadeiras explicações e se orientam por uma lógica interna
nhecimento e interferindo nas propostas da escola e em suas que, por mais que possa parecer incoerente aos olhos de um
estratégias. O resultado que se espera é a possibilidade de os outro, faz sentido para o sujeito. As ideias “equivocadas”, ou
alunos terem uma experiência escolar coerente e bem-suce- seja, construídas e transformadas ao longo do desenvolvi-
dida. mento, fruto de aproximações sucessivas, são expressão de
Deve ser ressaltado que uma prática de reflexão coleti- uma construção inteligente por parte do sujeito e, portanto,
va não é algo que se atinge de uma hora para outra e a es-
interpretadas como erros construtivos.
cola é uma realidade complexa, não sendo possível tratar as
A tradição escolar — que não faz diferença entre erros
questões como se fossem simples de serem resolvidas. Cada
integrantes do processo de aprendizagem e simples enganos
escola encontra uma realidade, uma trama, um conjunto de
circunstâncias e de pessoas. É preciso que haja incentivo do ou desconhecimentos — trabalha com a ideia de que a au-
poder público local, pois o desenvolvimento do projeto re- sência de erros na tarefa escolar é a manifestação da apren-
quer tempo para análise, discussão e reelaboração contínua, dizagem. Hoje, graças ao avanço da investigação científica na
o que só é possível em um clima institucional favorável e com área da aprendizagem, tornou-se possível interpretar o erro
condições objetivas de realização. como algo inerente ao processo de aprendizagem e ajustar a
intervenção pedagógica para ajudar a superá-lo. A superação
Aprender e ensinar, construir e interagir do erro é resultado do processo de incorporação de novas
ideias e de transformação das anteriores, de maneira a dar
Por muito tempo a pedagogia focou o processo de ensino conta das contradições que se apresentarem ao sujeito para,
no professor, supondo que, como decorrência, estaria valori- assim, alcançar níveis superiores de conhecimento.
zando o conhecimento. O ensino, então, ganhou autonomia O que o aluno pode aprender em determinado momen-
em relação à aprendizagem, criou seus próprios métodos e o to da escolaridade depende das possibilidades delineadas
processo de aprendizagem ficou relegado a segundo plano. pelas formas de pensamento de que dispõe naquela fase de
Hoje sabe-se que é necessário ressignificar a unidade entre desenvolvimento, dos conhecimentos que já construiu ante-
aprendizagem e ensino, uma vez que, em última instância, riormente e do ensino que recebe. Isto é, a intervenção peda-
sem aprendizagem o ensino não se realiza. gógica deve-se ajustar ao que os alunos conseguem realizar

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

em cada momento de sua aprendizagem, para se constituir da escola, do professor e de si mesmo, nas suas motivações e
verdadeira ajuda educativa. O conhecimento é resultado de interesses, em seu autoconceito e em sua auto-estima. Assim
um complexo e intrincado processo de modificação, reorga- como os significados construídos pelo aluno estão destina-
nização e construção, utilizado pelos alunos para assimilar e dos a ser substituídos por outros no transcurso das ativida-
interpretar os conteúdos escolares. des, as representações que o aluno tem de si e de seu proces-
Por mais que o professor, os companheiros de classe e so de aprendizagem também. É fundamental, portanto, que
os materiais didáticos possam, e devam, contribuir para que a intervenção educativa escolar propicie um desenvolvimen-
a aprendizagem se realize, nada pode substituir a atuação to em direção à disponibilidade exigida pela aprendizagem
do próprio aluno na tarefa de construir significados sobre os significativa.
conteúdos da aprendizagem. É ele quem modifica, enriquece Se a aprendizagem for uma experiência de sucesso, o
e, portanto, constrói novos e mais potentes instrumentos de aluno constrói uma representação de si mesmo como al-
ação e interpretação. guém capaz. Se, ao contrário, for uma experiência de fracas-
Mas o desencadeamento da atividade mental constru- so, o ato de aprender tenderá a se transformar em ameaça, e
tiva não é suficiente para que a educação escolar alcance os a ousadia necessária se transformará em medo, para o qual a
objetivos a que se propõe: que as aprendizagens estejam defesa possível é a manifestação de desinteresse.
compatíveis com o que significam socialmente. A aprendizagem é condicionada, de um lado, pelas pos-
O processo de atribuição de sentido aos conteúdos es- sibilidades do aluno, que englobam tanto os níveis de or-
colares é, portanto, individual; porém, é também cultural na ganização do pensamento como os conhecimentos e expe-
medida em que os significados construídos remetem a for- riências prévias, e, de outro, pela interação com os outros
mas e saberes socialmente estruturados. agentes.
Conceber o processo de aprendizagem como proprieda- Para a estruturação da intervenção educativa é funda-
de do sujeito não implica desvalorizar o papel determinante mental distinguir o nível de desenvolvimento real do po-
da interação com o meio social e, particularmente, com a es- tencial. O nível de desenvolvimento real se determina como
cola. Ao contrário, situações escolares de ensino e aprendi- aquilo que o aluno pode fazer sozinho em uma situação
zagem são situações comunicativas, nas quais os alunos e
determinada, sem ajuda de ninguém. O nível de desenvolvi-
professores atuam como co-responsáveis, ambos com uma
mento potencial é determinado pelo que o aluno pode fazer
influência decisiva para o êxito do processo.
ou aprender mediante a interação com outras pessoas, con-
A abordagem construtivista integra, num único esquema
forme as observa, imitando, trocando ideias com elas, ouvin-
explicativo, questões relativas ao desenvolvimento individual
do suas explicações, sendo desafiado por elas ou contrapon-
e à pertinência cultural, à construção de conhecimentos e à
do-se a elas, sejam essas pessoas o professor ou seus cole-
interação social. Considera o desenvolvimento pessoal como
o processo mediante o qual o ser humano assume a cultura gas. Existe uma zona de desenvolvimento próximo, dada pela
do grupo social a que pertence. Processo no qual o desen- diferença existente entre o que um aluno pode fazer sozinho
volvimento pessoal e a aprendizagem da e o que pode fazer ou aprender com a ajuda dos outros. De
experiência humana culturalmente organizada, ou seja, acordo com essa concepção, falar dos mecanismos de inter-
socialmente produzida e historicamente acumulada, não se venção educativa equivale a falar dos mecanismos interati-
excluem nem se confundem, mas interagem. Daí a importân- vos pelos quais professores e colegas conseguem ajustar sua
cia das interações entre crianças e destas com parceiros ex- ajuda aos processos de construção de significados realizados
perientes, dentre os quais destacam-se professores e outros pelos alunos no decorrer das atividades escolares de ensino
agentes educativos. e aprendizagem.
O conceito de aprendizagem significativa, central na Existem ainda, dentro do contexto escolar, outros me-
perspectiva construtivista, implica, necessariamente, o traba- canismos de influência educativa, cuja natureza e funciona-
lho simbólico de “significar” a parcela da realidade que se mento em grande medida são desconhecidos, mas que têm
conhece. As aprendizagens que os alunos realizam na escola incidência considerável sobre a aprendizagem dos alunos.
serão significativas à medida que conseguirem estabelecer Dentre eles destacam-se a organização e o funcionamento
relações substantivas e não-arbitrárias entre os conteúdos da instituição escolar e os valores implícitos e explícitos que
escolares e os conhecimentos previamente construídos por permeiam as relações entre os membros da escola; são fato-
eles, num processo de articulação de novos significados. res determinantes da qualidade de ensino e podem chegar a
Cabe ao educador, por meio da intervenção pedagógica, influir de maneira significativa sobre o que e como os alunos
promover a realização de aprendizagens com o maior grau aprendem.
de significado possível, uma vez que esta nunca é absolu- Os alunos não contam exclusivamente com o contexto
ta — sempre é possível estabelecer alguma relação entre o escolar para a construção de conhecimento sobre conteúdos
que se pretende conhecer e as possibilidades de observação, considerados escolares. A mídia, a família, a igreja, os ami-
reflexão e informação que o sujeito já possui. gos, são também fontes de influência educativa que incidem
A aprendizagem significativa implica sempre alguma sobre o processo de construção de significado desses con-
ousadia: diante do problema posto, o aluno precisa elabo- teúdos. Essas influências sociais normalmente somam-se ao
rar hipóteses e experimentá-las. Fatores e processos afetivos, processo de aprendizagem escolar, contribuindo para conso-
motivacionais e relacionais são importantes nesse momento. lidálo; por isso é importante que a escola as considere e as
Os conhecimentos gerados na história pessoal e educativa integre ao trabalho. Porém, algumas vezes, essa mesma in-
têm um papel determinante na expectativa que o aluno tem fluência pode apresentar obstáculos à aprendizagem escolar,

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

ao indicar uma direção diferente, ou mesmo oposta, daquela As propostas curriculares oficiais dos Estados estão or-
presente no encaminhamento escolar. É necessário que a es- ganizadas em disciplinas e/ou áreas. Apenas alguns Municí-
cola considere tais direções e forneça uma interpretação des- pios optam por princípios norteadores, eixos ou temas, que
sas diferenças, para que a intervenção pedagógica favoreça a visam tratar os conteúdos de modo interdisciplinar, buscan-
ultrapassagem desses obstáculos num processo articulado de do integrar o cotidiano social com o saber escolar.
interação e integração. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, optou-se por um
Se o projeto educacional exige ressignificar o processo tratamento específico das áreas, em função da importância
de ensino e aprendizagem, este precisa se preocupar em pre- instrumental de cada uma, mas contemplou-se também a
servar o desejo de conhecer e de saber com que todas as integração entre elas. Quanto às questões sociais relevantes,
crianças chegam à escola. Precisa manter a boa qualidade do reafirma-se a necessidade de sua problematização e análise,
vínculo com o conhecimento e não destruí-lo pelo fracasso incorporando-as como temas transversais. As questões so-
reiterado. Mas garantir experiências de sucesso não significa ciais abordadas são: ética, saúde, meio ambiente, orientação
omitir ou disfarçar o fracasso; ao contrário, significa conseguir sexual e pluralidade cultural.
realizar a tarefa a que se propôs. Relaciona-se, portanto, com Quanto ao modo de incorporação desses temas no currí-
propostas e intervenções pedagógicas adequadas.
culo, propõe-se um tratamento transversal, tendência que se
O professor deve ter propostas claras sobre o que, quan-
manifesta em algumas experiências nacionais e internacio-
do e como ensinar e avaliar, a fim de possibilitar o planeja-
nais, em que as questões sociais se integram na própria con-
mento de atividades de ensino para a aprendizagem de ma-
neira adequada e coerente com seus objetivos. É a partir des- cepção teórica das áreas e de seus componentes curriculares.
sas determinações que o professor elabora a programação De acordo com os princípios já apontados, os conteúdos
diária de sala de aula e organiza sua intervenção de maneira a são considerados como um meio para o desenvolvimento
propor situações de aprendizagem ajustadas às capacidades amplo do aluno e para a sua formação como cidadão. Por-
cognitivas dos alunos. tanto, cabe à escola o propósito de possibilitar aos alunos o
Em síntese, não é a aprendizagem que deve se ajustar ao domínio de instrumentos que os capacitem a relacionar co-
ensino, mas sim o ensino que deve potencializar a aprendi- nhecimentos de modo significativo, bem como a utilizar es-
zagem. ses conhecimentos na transformação e construção de novas
relações sociais.
ORGANIZAÇÃO DOS PARÂMETROS CURRICULARES Os Parâmetros Curriculares Nacionais apresentam os
NACIONAIS conteúdos de tal forma que se possa determinar, no momen-
A análise das propostas curriculares oficiais para o ensino to de sua adequação às particularidades de Estados e Muni-
fundamental, elaborada pela Fundação Carlos Chagas, aponta cípios, o grau de profundidade apropriado e a sua melhor
dados relevantes que auxiliam a reflexão sobre a organização forma de distribuição no decorrer da escolaridade, de modo
curricular e a forma como seus componentes são abordados. a constituir um corpo de conteúdos consistentes e coerentes
Segundo essa análise, as propostas, de forma geral, apon- com os objetivos.
tam como grandes diretrizes uma perspectiva democrática e A avaliação é considerada como elemento favorecedor
participativa, e que o ensino fundamental deve se comprome- da melhoria de qualidade da aprendizagem, deixando de
ter com a educação necessária para a formação de cidadãos funcionar como arma contra o aluno. É assumida como parte
críticos, autônomos e atuantes. No entanto, a maioria delas integrante e instrumento de auto-regulação do processo de
apresenta um descompasso entre os objetivos anunciados e ensino e aprendizagem, para que os objetivos propostos se-
o que é proposto para alcançá-los, entre os pressupostos teó- jam atingidos. A avaliação diz respeito não só ao aluno, mas
ricos e a definição de conteúdos e aspectos metodológicos. também ao professor e ao próprio sistema escolar.
A estrutura dos Parâmetros Curriculares Nacionais bus- A opção de organização da escolaridade em ciclos, ten-
cou contribuir para a superação dessa contradição. A integra-
dência predominante nas propostas mais atuais, é referenda-
ção curricular assume as especificidades de cada componente
da pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. A organização
e delineia a operacionalização do processo educativo desde
em ciclos é uma tentativa de superar a segmentação exces-
os objetivos gerais do ensino fundamental, passando por sua
especificação nos objetivos gerais de cada área e de cada siva produzida pelo regime seriado e de buscar princípios de
tema transversal, deduzindo desses objetivos os conteúdos ordenação que possibilitem maior integração do conheci-
apropriados para configurar as reais intenções educativas. As- mento.
sim, os objetivos, que definem capacidades, e os conteúdos, Os componentes curriculares foram formulados a partir
que estarão a serviço do desenvolvimento dessas capacida- da análise da experiência educacional acumulada em todo
des, formam uma unidade orientadora da proposta curricular. o território nacional. Pautaram-se, também, pela análise das
Para que se possa discutir uma prática escolar que real- tendências mais atuais de investigação científica, a fim de po-
mente atinja seus objetivos, os Parâmetros Curriculares Na- derem expressar um avanço na discussão em torno da busca
cionais apontam questões de tratamento didático por área de qualidade de ensino e aprendizagem.
e por ciclo, procurando garantir coerência entre os pressu-
postos teóricos, os objetivos e os conteúdos, mediante sua A organização da escolaridade em ciclos
operacionalização em orientações didáticas e critérios de Na década de 80, vários Estados e Municípios reestrutu-
avaliação. Em outras palavras, apontam o que e como se raram o ensino fundamental a partir das séries iniciais. Esse
pode trabalhar, desde as séries iniciais, para que se alcancem processo de reorganização, que tinha como objetivo políti-
os objetivos pretendidos. co minimizar o problema da repetência e da evasão escolar,

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

adotou como princípio norteador a flexibilização da seriação, A adoção de ciclos, pela flexibilidade que permite, possibilita
o que abriria a possibilidade de o currículo ser trabalhado ao trabalhar melhor com as diferenças e está plenamente coerente
longo de um período de tempo maior e permitiria respeitar com os fundamentos psicopedagógicos, com a concepção de
os diferentes ritmos de aprendizagem que os alunos apre- conhecimento e da função da escola que estão explicitados no
sentam. item Fundamentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Desse modo, a seriação inicial deu lugar ao ciclo básico Os conhecimentos adquiridos na escola passam por um
com a duração de dois anos, tendo como objetivo propiciar processo de construção e reconstrução contínua e não por
maiores oportunidades de escolarização voltada para a al- etapas fixadas e definidas no tempo. As aprendizagens não
fabetização efetiva das crianças. As experiências, ainda que se processam como a subida de degraus regulares, mas como
tenham apresentado problemas estruturais e necessidades avanços de diferentes magnitudes.
de ajustes da prática, acabaram por mostrar que a organiza- Embora a organização da escola seja estruturada em anos
ção por ciclos contribui efetivamente para a superação dos letivos, é importante uma perspectiva pedagógica em que a
problemas do desenvolvimento escolar. Tanto isso é verdade vida escolar e o currículo possam ser assumidos e trabalha-
que, onde foram implantados, os ciclos se mantiveram, mes- dos em dimensões de tempo mais flexíveis. Vale ressaltar que
mo com mudanças de governantes. para o processo de ensino e aprendizagem se desenvolver
Os Parâmetros Curriculares Nacionais adotam a propos- com sucesso não basta flexibilizar o tempo: dispor de mais
ta de estruturação por ciclos, pelo reconhecimento de que tempo sem uma intervenção efetiva para garantir melhores
tal proposta permite compensar a pressão do tempo que é condições de aprendizagem pode apenas adiar o problema
inerente à instituição escolar, tornando possível distribuir os e perpetuar o sentimento negativo de auto estima do aluno,
conteúdos de forma mais adequada à natureza do processo consagrando, da mesma forma, o fracasso da escola.
de aprendizagem. Além disso, favorece uma apresentação A lógica da opção por ciclos consiste em evitar que o
menos parcelada do conhecimento e possibilita as aproxima- processo de aprendizagem tenha obstáculos inúteis, desne-
ções sucessivas necessárias para que os alunos se apropriem cessários e nocivos. Portanto, é preciso que a equipe peda-
dos complexos saberes que se intenciona transmitir. gógica das escolas se co-responsabilize com o processo de
Sabe-se que, fora da escola, os alunos não têm as mes- ensino e aprendizagem de seus alunos. Para a concretização
mas oportunidades de acesso a certos objetos de conheci- dos ciclos como modalidade organizativa, é necessário que se
mento que fazem parte do repertório escolar. Sabe-se tam- criem condições institucionais que permitam destinar espaço
bém que isso influencia o modo e o processo como atribui- e tempo à realização de reuniões de professores, para discutir
rão significados aos objetos de conhecimento na situação os diferentes aspectos do processo educacional.
escolar: alguns alunos poderão estar mais avançados na re- Ao se considerar que dois ou três anos de escolaridade
construção de significados do que outros. pertencem a um único ciclo de ensino e aprendizagem, po-
Ao se falar em ritmos diferentes de aprendizagem, é pre- dem-se definir objetivos e práticas educativas que permitam
ciso cuidado para não incorrer em mal-entendidos perigo- aos alunos avançar continuadamente na concretização das
sos. Uma vez que não há uma definição precisa e clara de metas do ciclo. A organização por ciclos tende a evitar as
quais seriam esses ritmos, os educadores podem ser levados frequentes rupturas e a excessiva fragmentação do percurso
a rotular alguns alunos como mais lentos que outros, estig- escolar, assegurando a continuidade do processo educati-
matizando aqueles que estão se iniciando na interação com vo, dentro do ciclo e na passagem de um ciclo ao outro, ao
os objetos de conhecimento escolar. permitir que os professores realizem adaptações sucessivas
No caso da aprendizagem da língua escrita, por exem- da ação pedagógica às diferentes necessidades dos alunos,
plo, se um aluno ingressa na primeira série sabendo escrever sem que deixem de orientar sua prática pelas expectativas de
alfabeticamente, isso se explica porque seu ritmo é mais rá- aprendizagem referentes ao período em questão.
pido ou porque teve múltiplas oportunidades de atuar como Os Parâmetros Curriculares Nacionais estão organizados
leitor e escritor? Se outros ingressam sem saber sequer como em ciclos de dois anos, mais pela limitação conjuntural em
se pega um livro, é porque são lentos ou porque estão intera- que estão inseridos do que por justificativas pedagógicas. Da
tuando pela primeira vez com os objetos com que os outros forma como estão aqui organizados, os ciclos não trazem in-
interatuam desde que nasceram? E, no caso desta última hi- compatibilidade com a atual estrutura do ensino fundamen-
pótese, por mais rápidos que possam ser, será que poderão tal. Assim, o primeiro ciclo se refere às primeira e segunda
em alguns dias percorrer o caminho que outros realizaram séries; o segundo ciclo, à terceira e à quarta séries; e assim
em anos? subsequentemente para as outras quatro séries.
Outras vezes, o que se interpreta como “lentidão” é a Essa estruturação não contempla os principais problemas
expressão de dificuldades relacionadas a um sentimento de da escolaridade no ensino fundamental: não une as quarta e
incapacidade para a aprendizagem que chega a causar blo- quinta séries para eliminar a ruptura desastrosa que aí se dá
queios nesse processo. É fundamental que se considerem e tem causado muita repetência e evasão, como também não
esses aspectos e é necessário que o professor possa intervir define uma etapa maior para o início da escolaridade, que
para alterar as situações desfavoráveis ao aluno. deveria (a exemplo da imensa maioria dos países) incorporar
Em suma, o que acontece é que cada aluno tem, habi- à escolaridade obrigatória as crianças desde os seis anos. Por-
tualmente, desempenhos muito diferentes na relação com tanto, o critério de dois anos para a organização dos ciclos,
objetos de conhecimento diferentes e a prática escolar tem nos Parâmetros Curriculares Nacionais, não deve ser conside-
buscado incorporar essa diversidade de modo a garantir res- rado como decorrência de seus princípios e fundamentações,
peito aos alunos e a criar condições para que possam progre- nem como a única estratégia de intervenção no contexto
dir nas suas aprendizagens. atual da problemática educacional.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

A organização do conhecimento escolar: Áreas e Te- Ciências Naturais e Sociais, chegando até mesmo, em al-
mas Transversais gumas propostas, a constituir novas áreas.
As diferentes áreas, os conteúdos selecionados em cada Mais recentemente, algumas propostas indicaram a ne-
uma delas e o tratamento transversal de questões sociais cessidade do tratamento transversal de temáticas sociais na
constituem uma representação ampla e plural dos campos escola, como forma de contemplá-las na sua complexidade,
de conhecimento e de cultura de nosso tempo, cuja aquisi- sem restringi-las à abordagem de uma única área.
ção contribui para o desenvolvimento das capacidades ex- Adotando essa perspectiva, as problemáticas sociais são
pressas nos objetivos gerais. integradas na proposta educacional dos Parâmetros Curri-
O tratamento da área e de seus conteúdos integra uma culares Nacionais como Temas Transversais. Não constituem
série de conhecimentos de diferentes disciplinas, que contri- novas áreas, mas antes um conjunto de temas que apare-
buem para a construção de instrumentos de compreensão cem transversalizados nas áreas definidas, isto é, permean-
e intervenção na realidade em que vivem os alunos. A con- do a concepção, os objetivos, os conteúdos e as orientações
cepção da área evidencia a natureza dos conteúdos tratados, didáticas de cada área, no decorrer de toda a escolaridade
definindo claramente o corpo de conhecimentos e o objeto obrigatória. A transversalidade pressupõe um tratamento
de aprendizagem, favorecendo aos alunos a construção de integrado das áreas e um compromisso das relações inter-
representações sobre o que estudam. Essa caracterização da pessoais e sociais escolares com as questões que estão en-
área é importante também para que os professores possam volvidas nos temas, a fim de que haja uma coerência entre os
se situar dentro de um conjunto definido e conceitualizado valores experimentados na vivência que a escola propicia aos
de conhecimentos que pretendam que seus alunos apren- alunos e o contato intelectual com tais valores.
dam, condição necessária para proceder a encaminhamentos As aprendizagens relativas a esses temas se explicitam
que auxiliem as aprendizagens com sucesso. na organização dos conteúdos das áreas, mas a discussão
Se é importante definir os contornos das áreas, é tam- da conceitualização e da forma de tratamento que devem
bém essencial que estes se fundamentem em uma concep- receber no todo da ação educativa escolar está especificada
ção que os integre conceitualmente, e essa integração seja em textos de fundamentação por tema.
efetivada na prática didática. Por exemplo, ao trabalhar con- O conjunto de documentos dos Temas Transversais com-
teúdos de Ciências Naturais, os alunos buscam informações porta uma primeira parte em que se discute a sua necessi-
em suas pesquisas, registram observações, anotam e quanti- dade para que a escola possa cumprir sua função social, os
valores mais gerais e unificadores que definem todo o posi-
ficam dados. Portanto, utilizam-se de conhecimentos relacio-
cionamento relativo às questões que são tratadas nos temas,
nados à área de Língua Portuguesa, à de Matemática, além
a justificativa e a conceitualização do tratamento transversal
de outras, dependendo do estudo em questão. O professor,
para os temas sociais e um documento específico para cada
considerando a multiplicidade de conhecimentos em jogo
tema: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural e
nas diferentes situações, pode tomar decisões a respeito de
Orientação Sexual, eleitos por envolverem problemáticas so-
suas intervenções e da maneira como tratará os temas, de ciais atuais e urgentes, consideradas de abrangência nacional
forma a propiciar aos alunos uma abordagem mais significa- e até mesmo de caráter universal.
tiva e contextualizada. A grande abrangência dos temas não significa que de-
Para que estes parâmetros não se limitassem a uma vam ser tratados igualmente; ao contrário, exigem adapta-
orientação técnica da prática pedagógica, foi considerada ções para que possam corresponder às reais necessidades de
a fundamentação das opções teóricas e metodológicas da cada região ou mesmo de cada escola. As características das
área para que, a partir destas, seja possível instaurar reflexões questões ambientais, por exemplo, ganham especificidades
sobre a proposta educacional indicada. Na apresentação de diferentes nos campos de seringa no interior da Amazônia e
cada área são abordados os seguintes aspectos: descrição da na periferia de uma grande cidade.
problemática específica da área por meio de um breve his- Além das adaptações dos temas apresentados, é impor-
tórico no contexto educacional brasileiro; justificativa de sua tante que sejam eleitos temas locais para integrar o compo-
presença no ensino fundamental; fundamentação epistemo- nente Temas Transversais; por exemplo, muitas cidades têm
lógica da área; sua relevância na sociedade atual; fundamen- elevadíssimos índices de acidentes com vítimas no trânsito, o
tação psicopedagógica da proposta de ensino e aprendiza- que faz com que suas escolas necessitem incorporar a edu-
gem da área; critérios para organização e seleção de conteú- cação para o trânsito em seu currículo. Além deste, outros
dos e objetivos gerais da área para o ensino fundamental. temas relativos, por exemplo, à paz ou ao uso de drogas po-
A partir da Concepção de Área assim fundamentada, se- dem constituir subtemas dos temas gerais; outras vezes, no
gue-se o detalhamento da estrutura dos Parâmetros Curri- entanto, podem exigir um tratamento específico e intenso,
culares para cada ciclo (primeiro e segundo), especificando dependendo da realidade de cada contexto social, político,
Objetivos e Conteúdos, bem como Critérios de Avaliação, econômico e cultural. Nesse caso, devem ser incluídos como
Orientações para Avaliação e Orientações Didáticas. temas básicos.
Se a escola pretende estar em consonância com as de-
mandas atuais da sociedade, é necessário que trate de ques- OBJETIVOS
tões que interferem na vida dos alunos e com as quais se Os objetivos propostos nos Parâmetros Curriculares Na-
veem confrontados no seu dia a dia. As temáticas sociais, por cionais concretizam as intenções educativas em termos de
essa importância inegável que têm na formação dos alunos, capacidades que devem ser desenvolvidas pelos alunos ao
já há muito têm sido discutidas e frequentemente incorpora- longo da escolaridade. A decisão de definir os objetivos edu-
das aos currículos das áreas ligadas às cacionais em termos de capacidades é crucial nesta propos-

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

ta, pois as capacidades, uma vez desenvolvidas, podem se rios grupos sociais e de comprometerse pessoalmente com
expressar numa variedade de comportamentos. O professor, questões que considere relevantes para a vida coletiva. Essa
consciente de que condutas diversas podem estar vinculadas capacidade é nuclear ao exercício da cidadania, pois seu de-
ao desenvolvimento de uma mesma capacidade, tem diante senvolvimento é necessário para que se possa superar o indi-
de si maiores possibilidades de atender à diversidade de seus vidualismo e atuar (no cotidiano ou na vida política) levando
alunos. em conta a dimensão coletiva. O aprendizado de diferentes
Assim, os objetivos se definem em termos de capacida- formas e possibilidades de participação social é essencial ao
des de ordem cognitiva, física, afetiva, de relação interpessoal desenvolvimento dessa capacidade.
e inserção social, ética e estética, tendo em vista uma forma- Para garantir o desenvolvimento dessas capacidades é
ção ampla. preciso uma disponibilidade para a aprendizagem de modo
A capacidade cognitiva tem grande influência na postura geral. Esta, por sua vez, depende em boa parte da história de
do indivíduo em relação às metas que quer atingir nas mais êxitos ou fracassos escolares que o aluno traz e vão deter-
diversas situações da vida, vinculando-se diretamente ao minar o grau de motivação que apresentará em relação às
aprendizagens atualmente propostas. Mas depende também
uso de formas de representação e de comunicação, envol-
de que os conteúdos de aprendizagem tenham sentido para
vendo a resolução de problemas, de maneira consciente ou
ele e sejam funcionais. O papel do professor nesse processo
não. A aquisição progressiva de códigos de representação e é, portanto, crucial, pois a ele cabe apresentar os conteúdos
a possibilidade de operar com eles interfere diretamente na e atividades de aprendizagem de forma que os alunos com-
aprendizagem da língua, da matemática, da representação preendam o porquê e o para que do que aprendem, e assim
espacial, temporal e gráfica e na leitura de imagens. A capa- desenvolvam expectativas positivas em relação à aprendi-
cidade física engloba o autoconhecimento e o uso do corpo zagem e sintam-se motivados para o trabalho escolar. Para
na expressão de emoções, na superação de estereotipias de tanto, é preciso considerar que nem todas as pessoas têm os
movimentos, nos jogos, no deslocamento com segurança. A mesmos interesses ou habilidades, nem aprendem da mes-
afetiva refere-se às motivações, à autoestima, à sensibilidade ma maneira, o que muitas vezes exige uma atenção especial
e à adequação de atitudes no convívio social, estando vin- por parte do professor a um ou outro aluno, para que todos
culada à valorização do resultado dos trabalhos produzidos possam se integrar no processo de aprender. A partir do re-
e das atividades realizadas. Esses fatores levam o aluno a conhecimento das diferenças existentes entre pessoas, fruto
compreender a si mesmo e aos outros. A capacidade afetiva do processo de socialização e do desenvolvimento individual,
está estreitamente ligada à capacidade de relação interpes- será possível conduzir um ensino pautado em aprendizados
soal, que envolve compreender, conviver e produzir com os que sirvam a novos aprendizados.
outros, percebendo distinções entre as pessoas, contrastes A escola preocupada em fazer com que os alunos de-
de temperamento, de intenções e de estados de ânimo. O senvolvam capacidades ajusta sua maneira de ensinar e sele-
desenvolvimento da inter-relação permite ao aluno se colo- ciona os conteúdos de modo a auxiliá-los a se adequarem às
car do ponto de vista do outro e a refletir sobre seus próprios várias vivências a que são expostos em seu universo cultural;
pensamentos. No trabalho escolar o desenvolvimento des- considera as capacidades que os alunos já têm e as potencia-
sa capacidade é propiciado pela realização de trabalhos em liza; preocupa-se com aqueles alunos que encontram dificul-
grupo, por práticas de cooperação que incorporam formas dade no desenvolvimento das capacidades básicas.
participativas e possibilitam a tomada de posição em conjun- Embora os indivíduos tendam, em função de sua nature-
to com os outros. A capacidade estética permite produzir arte za, a desenvolver capacidades de maneira heterogênea, é im-
e apreciar as diferentes produções artísticas produzidas em portante salientar que a escola tem como função potenciali-
zar o desenvolvimento de todas as capacidades, de modo a
diferentes culturas e em diferentes momentos históricos. A
tornar o ensino mais humano, mais ético.
capacidade ética é a possibilidade de reger as próprias ações
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, na explicitação
e tomadas de decisão por um sistema de princípios segundo
das mencionadas capacidades, apresentam inicialmente os
o qual se analisam, nas diferentes situações da vida, os valo- Objetivos Gerais do ensino fundamental, que são as grandes
res e opções que envolvem. A construção interna, pessoal, metas educacionais que orientam a estruturação curricular. A
de princípios considerados válidos para si e para os demais partir deles são definidos os Objetivos Gerais de Área, os dos
implica considerar-se um sujeito em meio a outros sujeitos. Temas Transversais, bem como o desdobramento que estes
O desenvolvimento dessa capacidade permite considerar e devem receber no primeiro e no segundo ciclos, como forma
buscar compreender razões, nuanças, condicionantes, con- de conduzir às conquistas intermediárias necessárias ao al-
sequências e intenções, isto é, permite a superação da rigi- cance dos objetivos gerais. Um exemplo de desdobramento
dez moral, no julgamento e na atuação pessoal, na relação dos objetivos é o que se apresenta a seguir.
interpessoal e na compreensão das relações sociais. A ação • Objetivo Geral do Ensino Fundamental: utilizar diferen-
pedagógica contribui com tal desenvolvimento, entre outras tes linguagens — verbal, matemática, gráfica, plástica, cor-
formas afirmando claramente seus princípios éticos, incenti- poral — como meio para expressar e comunicar suas ideias,
vando a reflexão e a análise crítica de valores, atitudes e to- interpretar e usufruir das produções da cultura.
madas de decisão e possibilitando o conhecimento de que • Objetivo Geral do Ensino de Matemática: analisar in-
a formulação de tais sistemas é fruto de relações humanas, formações relevantes do ponto de vista do conhecimento e
historicamente situadas. Quanto à capacidade de inserção estabelecer o maior número de relações entre elas, fazendo
social, refere-se à possibilidade de o aluno perceber-se como uso do conhecimento matemático para interpretá-las e ava-
parte de uma comunidade, de uma classe, de um ou vá- liá-las criticamente.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

• Objetivo do Ensino de Matemática para o Primeiro Ci- colar se amplia para além de fatos e conceitos, passando a
clo: identificar, em situações práticas, que muitas informações incluir procedimentos, valores, normas e atitudes. Ao tomar
são organizadas em tabelas e gráficos para facilitar a leitura e como objeto de aprendizagem escolar conteúdos de diferen-
a interpretação, e construir formas pessoais de registro para tes naturezas, reafirma-se a responsabilidade da escola com
comunicar informações coletadas. a formação ampla do aluno e a necessidade de intervenções
Os objetivos constituem o ponto de partida para se re- conscientes e planejadas nessa direção.
fletir sobre qual é a formação que se pretende que os alunos Neste documento, os conteúdos são abordados em três
obtenham, que a escola deseja proporcionar e tem possibili- grandes categorias: conteúdos conceituais, que envolvem
dades de realizar, sendo, nesse sentido, pontos de referência fatos e princípios; conteúdos procedimentais e conteúdos
que devem orientar a atuação educativa em todas as áreas, atitudinais, que envolvem a abordagem de valores, normas
ao longo da escolaridade obrigatória. Devem, portanto, e atitudes.
orientar a seleção de conteúdos a serem aprendidos como Conteúdos conceituais referem-se à construção ativa das
meio para o desenvolvimento das capacidades e indicar os capacidades intelectuais para operar com símbolos, ideias,
encaminhamentos didáticos apropriados para que os con- imagens e representações que permitem organizar a reali-
teúdos estudados façam sentido para os alunos. Finalmente, dade. A aprendizagem de conceitos se dá por aproximações
devem constituir-se uma referência indireta da avaliação da sucessivas. Para aprender sobre digestão, subtração ou qual-
atuação pedagógica da escola. quer outro objeto de conhecimento, o aluno precisa adquirir
As capacidades expressas nos Objetivos dos Parâmetros informações, vivenciar situações em que esses conceitos es-
Curriculares Nacionais são propostas como referenciais ge- tejam em jogo, para poder construir generalizações parciais
rais e demandam adequações a serem realizadas nos níveis que, ao longo de suas experiências, possibilitarão atingir con-
de concretização curricular das secretarias estaduais e muni- ceitualizações cada vez mais abrangentes; estas o levarão à
cipais, bem como das escolas, a fim de atender às demandas compreensão de princípios, ou seja, conceitos de maior nível
específicas de cada localidade. Essa adequação pode ser feita de abstração, como o princípio da igualdade na matemática,
mediante a redefinição de graduações e o reequacionamen- o princípio da conservação nas ciências, etc. A aprendizagem
to de prioridades, desenvolvendo alguns aspectos e acres-
de conceitos permite organizar a realidade, mas só é possí-
centando outros que não estejam explícitos.
vel a partir da aprendizagem de conteúdos referentes a fatos
(nomes, imagens, representações), que ocorre, num primeiro
CONTEÚDOS
momento, de maneira eminentemente mnemônica. A me-
Os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem uma mu-
morização não deve ser entendida como processo mecânico,
dança de enfoque em relação aos conteúdos curriculares: ao
mas antes como recurso que torna o aluno capaz de repre-
invés de um ensino em que o conteúdo seja visto como fim
em si mesmo, o que se propõe é um ensino em que o con- sentar informações de maneira genérica — memória signi-
teúdo seja visto como meio para que os alunos desenvolvam ficativa — para poder relacioná-las com outros conteúdos.
as capacidades que lhes permitam produzir e usufruir dos Dependendo da diversidade presente nas atividades rea-
bens culturais, sociais e econômicos. lizadas, os alunos buscam informações (fatos), notam regu-
A tendência predominante na abordagem de conteúdos laridades, realizam produtos e generalizações que, mesmo
na educação escolar se assenta no binômio transmissão-in- sendo sínteses ou análises parciais, permitem verificar se o
corporação, considerando a incorporação de conteúdos pelo conceito está sendo aprendido. Exemplo 1: para compreen-
aluno como a finalidade essencial do ensino. Existem, no en- der o que vem a ser um texto jornalístico é necessário que
tanto, outros posicionamentos: há quem defenda a posição o aluno tenha contato com esse texto, use-o para obter in-
de indiferença em relação aos conteúdos por considerá-los formações, conheça seu vocabulário, conheça sua estrutura
somente como suporte ao desenvolvimento cognitivo dos e sua função social. Exemplo 2: a solidariedade só pode ser
alunos e há ainda quem acuse a determinação prévia de con- compreendida quando o aluno passa por situações em que
teúdos como uma afronta às questões sociais e políticas vi- atitudes que a suscitem estejam em jogo, de modo que, ao
venciadas pelos diversos grupos. longo de suas experiências, adquira informações que contri-
No entanto, qualquer que seja a linha pedagógica, pro- buam para a construção de tal conceito. Aprender conceitos
fessores e alunos trabalham, necessariamente, com conteú- permite atribuir significados aos conteúdos aprendidos e re-
dos. O que diferencia radicalmente as propostas é a função lacioná-los a outros.
que se atribui aos conteúdos no contexto escolar e, em de- Tal aprendizado está diretamente relacionado à segunda
corrência disso, as diferentes concepções quanto à maneira categoria de conteúdos: a procedimental. Os procedimentos
como devem ser selecionados e tratados. expressam um saber fazer, que envolve tomar decisões e rea-
Nesta proposta, os conteúdos e o tratamento que a eles lizar uma série de ações, de forma ordenada e não aleatória,
deve ser dado assumem papel central, uma vez que é por para atingir uma meta. Assim, os conteúdos procedimentais
meio deles que os propósitos da escola são operacionaliza- sempre estão presentes nos projetos de ensino, pois uma
dos, ou seja, manifestados em ações pedagógicas. No entan- pesquisa, um experimento, um resumo, uma maquete, são
to, não se trata de compreendê-los da forma como são co- proposições de ações presentes nas salas de aula.
mumente aceitos pela tradição escolar. O projeto educacio- No entanto, conteúdos procedimentais são abordados
nal expresso nos Parâmetros Curriculares Nacionais demanda muitas vezes de maneira equivocada, não sendo tratados
uma reflexão sobre a seleção de conteúdos, como também como objeto de ensino, que necessitam de intervenção di-
exige uma ressignificação, em que a noção de conteúdo es- reta do professor para serem de fato aprendidos. O aprendi-

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

zado de procedimentos é, por vezes, considerado como algo Ensinar e aprender atitudes requer um posicionamento
espontâneo, dependente das habilidades individuais. Ensi- claro e consciente sobre o que e como se ensina na escola.
nam-se procedimentos acreditando estarse ensinando con- Esse posicionamento só pode ocorrer a partir do estabele-
ceitos; a realização de um procedimento adequado passa, cimento das intenções do projeto educativo da escola, para
então, a ser interpretada como o aprendizado do conceito. O que se possam adequar e selecionar conteúdos básicos, ne-
exemplo mais evidente dessa abordagem ocorre no ensino cessários e recorrentes.
das operações: o fato de uma criança saber resolver contas É sabido que a aprendizagem de valores e atitudes é de
de adição não necessariamente corresponde à compreensão natureza complexa e pouco explorada do ponto de vista pe-
do conceito de adição. dagógico. Muitas pesquisas apontam para a importância da
É preciso analisar os conteúdos referentes a procedimen- informação como fator de transformação de valores e atitu-
tos não do ponto de vista de uma aprendizagem mecânica, des; sem dúvida, a informação é necessária, mas não é su-
mas a partir do propósito fundamental da educação, que é ficiente. Para a aprendizagem de atitudes é necessária uma
fazer com que os alunos construam instrumentos para anali- prática constante, coerente e sistemática, em que valores e
sar, por si mesmos, os resultados que obtêm e os processos atitudes almejados sejam expressos no relacionamento en-
que colocam em ação para atingir as metas a que se pro- tre as pessoas e na escolha dos assuntos a serem tratados.
põem. Por exemplo: para realizar uma pesquisa, o aluno pode Além das questões de ordem emocional, tem relevância no
copiar um trecho da enciclopédia, embora esse não seja o aprendizado dos conteúdos atitudinais o fato de cada alu-
procedimento mais adequado. É preciso auxiliá-lo, ensinan- no pertencer a um grupo social, com seus próprios valores
do os procedimentos apropriados, para que possa responder e atitudes.
com êxito à tarefa que lhe foi proposta. É preciso que o aluno Embora esteja sempre presente nos conteúdos especí-
aprenda a pesquisar em mais de uma fonte, registrar o que ficos que são ensinados, os conteúdos atitudinais não têm
for relevante, relacionar as informações obtidas para produzir sido formalmente reconhecidos como tal. A análise dos con-
um texto de pesquisa. Dependendo do assunto a ser pesqui- teúdos, à luz dessa dimensão, exige uma tomada de decisão
sado, é possível orientá-lo para fazer entrevistas e organizar consciente e eticamente comprometida, interferindo direta-
os dados obtidos, procurar referências em diferentes jornais, mente no esclarecimento do papel da escola na formação do
cidadão. Ao enfocar os conteúdos escolares sob essa dimen-
em filmes, comparar as informações obtidas para apresen-
são, questões de convívio social assumem um outro status no
tá-las num seminário, produzir um texto. Ao exercer um de-
rol dos conteúdos a serem abordados.
terminado procedimento, é possível ao aluno, com ajuda ou
Considerar conteúdos procedimentais e atitudinais como
não do professor, analisar cada etapa realizada para adequá
conteúdos do mesmo nível que os conceituais não implica
-la ou corrigi-la, a fim de atingir a meta proposta. A conside-
aumento na quantidade de conteúdos a serem trabalhados,
ração dos conteúdos procedimentais no processo de ensino
porque eles já estão presentes no dia a dia da sala de aula;
é de fundamental importância, pois permite incluir conheci-
o que acontece é que, na maioria das vezes, não estão expli-
mentos que têm sido tradicionalmente excluídos do ensino,
citados nem são tratados de maneira consciente. A diferente
como a revisão do texto escrito, a argumentação construída, natureza dos conteúdos escolares deve ser contemplada de
a comparação dos dados, a verificação, a documentação e a maneira integrada no processo de ensino e aprendizagem e
organização, entre outros. não em atividades específicas.
Ao ensinar procedimentos também se ensina um certo Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, os conteúdos re-
modo de pensar e produzir conhecimento. Exemplo: uma ferentes a conceitos, procedimentos, valores, normas e atitu-
das questões centrais do trabalho em matemática refere-se à des estão presentes nos documentos tanto de áreas quanto
validação. Trata-se de o aluno saber por seus próprios meios de Temas Transversais, por contribuírem para a aquisição das
se o resultado que obteve é razoável ou absurdo, se o proce- capacidades definidas nos Objetivos Gerais do Ensino Fun-
dimento utilizado é correto ou não, se o argumento de seu damental. A consciência da importância desses conteúdos é
colega é consistente ou contraditório. essencial para garantir-lhes tratamento apropriado, em que
Já os conteúdos atitudinais permeiam todo o conheci- se vise um desenvolvimento amplo, harmônico e equilibrado
mento escolar. A escola é um contexto socializador, gerador dos alunos, tendo em vista sua vinculação à função social da
de atitudes relativas ao conhecimento, ao professor, aos cole- escola. Eles são apresentados nos blocos de conteúdos e/ou
gas, às disciplinas, às tarefas e à sociedade. A não-compreen- organizações temáticas.
são de atitudes, valores e normas como conteúdos escolares Os blocos de conteúdos e/ou organizações temáticas
faz com estes sejam comunicados sobretudo de forma inad- são agrupamentos que representam recortes internos à área
vertida — acabam por ser aprendidos sem que haja uma de- e visam explicitar objetos de estudo essenciais à aprendiza-
liberação clara sobre esse ensinamento. Por isso, é imprescin- gem. Distinguem as especificidades dos conteúdos, para que
dível adotar uma posição crítica em relação aos valores que a haja clareza sobre qual é o objeto do trabalho, tanto para o
escola transmite explícita e implicitamente mediante atitudes aluno como para o professor — é importante ter consciên-
cotidianas. A consideração positiva de certos fatos ou perso- cia do que se está ensinando e do que se está aprendendo.
nagens históricos em detrimento de outros é um posiciona- Os conteúdos são organizados em função da necessidade de
mento de valor, o que contradiz a pretensa neutralidade que receberem um tratamento didático que propicie um avanço
caracteriza a apresentação escolar do saber científico. contínuo na ampliação de conhecimentos, tanto em exten-
são quanto em profundidade, pois o processo de aprendi-

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

zagem dos alunos requer que os mesmos conteúdos sejam A avaliação, ao não se restringir ao julgamento sobre
tratados de diferentes maneiras e em diferentes momentos sucessos ou fracassos do aluno, é compreendida como um
da escolaridade, de forma a serem “revisitados”, em função conjunto de atuações que tem a função de alimentar, susten-
das possibilidades de compreensão que se alteram pela con- tar e orientar a intervenção pedagógica. Acontece contínua
tínua construção de conhecimentos e em função da comple- e sistematicamente por meio da interpretação qualitativa do
xidade conceitual de determinados conteúdos. Por exemplo, conhecimento construído pelo aluno. Possibilita conhecer o
ao apresentar problemas referentes às operações de adição e quanto ele se aproxima ou não da expectativa de aprendiza-
subtração. Exemplo 1: Pedro tinha 8 bolinhas de gude, jogou gem que o professor tem em determinados momentos da
uma partida e perdeu 3. Com quantas bolinhas ficou? (8 3 = escolaridade, em função da intervenção pedagógica realiza-
5 ou 3 + ? = 8). Exemplo 2: Pedro jogou uma partida de boli- da. Portanto, a avaliação das aprendizagens só pode aconte-
nha de gude. Na segunda partida, perdeu 3 bolinhas, ficando cer se forem relacionadas com as oportunidades oferecidas,
com 5 no final. Quantas bolinhas Pedro ganhou na primeira isto é, analisando a adequação das situações didáticas pro-
partida? (? 3 = 5 ou 8 3 = 5 ou 3 + ? = 8). O problema 1 é postas aos conhecimentos prévios dos alunos e aos desafios
resolvido pela maioria das crianças no início da escolarida- que estão em condições de enfrentar.
de obrigatória em função do conhecimento matemático que A avaliação subsidia o professor com elementos para
já têm; no entanto, o problema 2 para ser resolvido neces- uma reflexão contínua sobre a sua prática, sobre a criação
sita que o aluno tenha tido diferentes oportunidades para de novos instrumentos de trabalho e a retomada de aspec-
operar com os conceitos envolvidos, caso contrário não o tos que devem ser revistos, ajustados ou reconhecidos como
resolverá. O mesmo conteúdo — adição e subtração — para adequados para o processo de aprendizagem individual ou
ser compreendido requer uma abordagem mais ampla dos de todo grupo. Para o aluno, é o instrumento de tomada de
conceitos que o envolvem. Com esses exemplos buscou-se consciência de suas conquistas, dificuldades e possibilidades
apontar também que situações aparentemente fáceis e sim- para reorganização de seu investimento na tarefa de apren-
ples são complexas tanto do ponto de vista do objeto como der. Para a escola, possibilita definir prioridades e localizar
da aprendizagem. No problema 2 a variação no local da in- quais aspectos das ações educacionais demandam maior
cógnita solicita um tipo de raciocínio diferente do problema apoio.
1. A complexidade dos próprios conteúdos e as necessida- Tomar a avaliação nessa perspectiva e em todas essas
des das aprendizagens compõem um todo dinâmico, sendo dimensões requer que esta ocorra sistematicamente durante
impossível esgotar a aprendizagem em um curto espaço de todo o processo de ensino e aprendizagem e não somente
tempo. O conhecimento não é um bem passível de acumula- após o fechamento de etapas do trabalho, como é o habitual.
ção, como uma espécie de doação da fonte de informações Isso possibilita ajustes constantes, num mecanismo de regu-
para o aprendiz. lação do processo de ensino e aprendizagem, que contribui
Para o tratamento didático dos conteúdos é preciso efetivamente para que a tarefa educativa tenha sucesso.
considerar também o estabelecimento de relações internas O acompanhamento e a reorganização do processo de
ao bloco e entre blocos. Exemplificando: os blocos de con- ensino e aprendizagem na escola inclui, necessariamente,
teúdos de Língua Portuguesa são língua oral, língua escrita, uma avaliação inicial, para o planejamento do professor, e
análise e reflexão sobre a língua; é possível aprender sobre uma avaliação ao final de uma etapa de trabalho.
a língua escrita sem necessariamente estabelecer uma rela- A avaliação investigativa inicial instrumentalizará o pro-
ção direta com a língua oral; por outro lado, não é possível fessor para que possa pôr em prática seu planejamento de
aprender a analisar e a refletir sobre a língua sem o apoio da forma adequada às características de seus alunos. Esse é o
língua oral, ou da escrita. Dessa forma, a inter-relação dos momento em que o professor vai se informar sobre o que
elementos de um bloco, ou entre blocos, é determinada pelo o aluno já sabe sobre determinado conteúdo para, a partir
objeto da aprendizagem, configurado pela proposta didática daí, estruturar sua programação, definindo os conteúdos e
realizada pelo professor. o nível de profundidade em que devem ser abordados. A
Dada a diversidade existente no País, é natural e desejá- avaliação inicial serve para o professor obter informações
vel que ocorram alterações no quadro proposto. A definição necessárias para propor atividades e gerar novos conheci-
dos conteúdos a serem tratados deve considerar o desenvol- mentos, assim como para o aluno tomar consciência do que
vimento de capacidades adequadas às características sociais, já sabe e do que pode ainda aprender sobre um determi-
culturais e econômicas particulares de cada localidade. Assim, nado conjunto de conteúdos. É importante que ocorra uma
a definição de conteúdos nos Parâmetros Curriculares Nacio- avaliação no início do ano; o fato de o aluno estar iniciando
nais é uma referência suficientemente aberta para técnicos uma série não é informação suficiente para que o professor
e professores analisarem, refletirem e tomarem decisões, re- saiba sobre suas necessidades de aprendizagem. Mesmo que
sultando em ampliações ou reduções de certos aspectos, em o professor acompanhe a classe de um ano para o outro, e
função das necessidades de aprendizagem de seus alunos. tenha registros detalhados sobre o desempenho dos alunos
no ano anterior, não se exclui essa investigação inicial, pois
AVALIAÇÃO os alunos não deixam de aprender durante as férias e muita
A concepção de avaliação dos Parâmetros Curriculares coisa pode ser alterada no intervalo dos períodos letivos. Mas
Nacionais vai além da visão tradicional, que focaliza o con- essas avaliações não devem ser aplicadas exclusivamente nos
trole externo do aluno mediante notas ou conceitos, para ser inícios de ano ou de semestre; são pertinentes sempre que o
compreendida como parte integrante e intrínseca ao proces- professor propuser novos conteúdos ou novas sequências de
so educacional. situações didáticas.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

É importante ter claro que a avaliação inicial não implica tanto o processo que o aluno desenvolve ao aprender como
a instauração de um longo período de diagnóstico, que aca- o produto alcançado. Pressupõe também que a avaliação se
be por se destacar do processo de aprendizagem que está aplique não apenas ao aluno, considerando as expectativas
em curso, no qual o professor não avança em suas propostas, de aprendizagem, mas às condições oferecidas para que isso
perdendo o escasso e precioso tempo escolar de que dis- ocorra. Avaliar a aprendizagem, portanto, implica avaliar o en-
põe. Ela pode se realizar no interior mesmo de um processo sino oferecido — se, por exemplo, não há a aprendizagem
de ensino e aprendizagem, já que os alunos põem inevita- esperada significa que o ensino não cumpriu com sua finali-
velmente em jogo seus conhecimentos prévios ao enfrentar dade: a de fazer aprender.
qualquer situação didática.
O processo também contempla a observação dos avan- Orientações para avaliação
ços e da qualidade da aprendizagem alcançada pelos alunos Como avaliar se define a partir da concepção de ensino
ao final de um período de trabalho, seja este determinado e aprendizagem, da função da avaliação no processo educa-
pelo fim de um bimestre, ou de um ano, seja pelo encer- tivo e das orientações didáticas postas em prática. Embora a
avaliação, na perspectiva aqui apontada, aconteça sistemati-
ramento de um projeto ou sequência didática. Na verda-
camente durante as atividades de ensino e aprendi zagem, é
de, a avaliação contínua do processo acaba por subsidiar
preciso que a perspectiva de cada momento da avaliação seja
a avaliação final, isto é, se o professor acompanha o aluno definida claramente, para que se possa alcançar o máximo de
sistematicamente ao longo do processo pode saber, em de- objetividade possível.
terminados momentos, o que o aluno já aprendeu sobre os Para obter informações em relação aos processos de
conteúdos trabalhados. Esses momentos, por outro lado, são aprendizagem, é necessário considerar a importância de uma
importantes por se constituírem boas situações para que diversidade de instrumentos e situações, para possibilitar, por
alunos e professores formalizem o que foi e o que não foi um lado, avaliar as diferentes capacidades e conteúdos curri-
aprendido. Esta avaliação, que intenciona averiguar a relação culares em jogo e, por outro lado, contrastar os dados obtidos
entre a construção do conhecimento por parte dos alunos e observar a transferência das aprendizagens em contextos
e os objetivos a que o professor se propôs, é indispensável diferentes.
para se saber se todos os alunos estão aprendendo e quais É fundamental a utilização de diferentes códigos, como o
condições estão sendo ou não favoráveis para isso, o que diz verbal, o oral, o escrito, o gráfico, o numérico, o pictórico, de
respeito às responsabilidades do sistema educacional. forma a se considerar as diferentes aptidões dos alunos. Por
Um sistema educacional comprometido com o desen- exemplo, muitas vezes o aluno não domina a escrita suficien-
volvimento das capacidades dos alunos, que se expressam temente para expor um raciocínio mais complexo sobre como
pela qualidade das relações que estabelecem e pela profun- compreende um fato histórico, mas pode fazê-lo perfeita-
didade dos saberes constituídos, encontra, na avaliação, uma mente bem em uma situação de intercâmbio oral, como em
referência à análise de seus propósitos, que lhe permite redi- diálogos, entrevistas ou debates. Considerando essas preo-
mensionar investimentos, a fim de que os alunos aprendam cupações, o professor pode realizar a avaliação por meio de:
cada vez mais e melhor e atinjam os objetivos propostos. • observação sistemática: acompanhamento do processo
Esse uso da avaliação, numa perspectiva democrática, só de aprendizagem dos alunos, utilizando alguns instrumentos,
poderá acontecer se forem superados o caráter de terminali- como registro em tabelas, listas de controle, diário de classe
dade e de medição de conteúdos aprendidos — tão arraiga- e outros;
dos nas práticas escolares — a fim de que os resultados da • análise das produções dos alunos: considerar a varie-
avaliação possam ser concebidos como indicadores para a dade de produções realizadas pelos alunos, para que se pos-
sa ter um quadro real das aprendizagens conquistadas. Por
reorientação da prática educacional e nunca como um meio
exemplo: se a avaliação se dá sobre a competência dos alunos
de estigmatizar os alunos.
na produção de textos, deve-se considerar a totalidade dessa
Utilizar a avaliação como instrumento para o desenvol-
produção, que envolve desde os primeiros registros escritos,
vimento das atividades didáticas requer que ela não seja in- no caderno de lição, até os registros das atividades de outras
terpretada como um momento estático, mas antes como um áreas e das atividades realizadas especificamente para esse
momento de observação de um processo dinâmico e não-li- aprendizado, além do texto produzido pelo aluno para os fins
near de construção de conhecimento. específicos desta avaliação;
Em suma, a avaliação contemplada nos Parâmetros Cur- • atividades específicas para a avaliação: nestas, os alu-
riculares Nacionais é compreendida como: elemento integra- nos devem ter objetividade ao expor sobre um tema, ao res-
dor entre a aprendizagem e o ensino; conjunto de ações cujo ponder um questionário. Para isso é importante, em primeiro
objetivo é o ajuste e a orientação da intervenção pedagógi- lugar, garantir que sejam semelhantes às situações de apren-
ca para que o aluno aprenda da melhor forma; conjunto de dizagem comumente estruturadas em sala de aula, isto é, que
ações que busca obter informações sobre o que foi apren- não se diferenciem, em sua estrutura, das atividades que já
dido e como; elemento de reflexão contínua para o profes- foram realizadas; em segundo lugar, deixar claro para os alu-
sor sobre sua prática educativa; instrumento que possibilita nos o que se pretende avaliar, pois, inevitavelmente, os alunos
ao aluno tomar consciência de seus avanços, dificuldades e estarão mais atentos a esses aspectos.
possibilidades; ação que ocorre durante todo o processo de Quanto mais os alunos tenham clareza dos conteúdos e
ensino e aprendizagem e não apenas em momentos especí- do grau de expectativa da aprendizagem que se espera, mais
ficos caracterizados como fechamento de grandes etapas de terão condições de desenvolver, com a ajuda do professor,
trabalho. Uma concepção desse tipo pressupõe considerar estratégias pessoais e recursos para vencer dificuldades.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

A avaliação, apesar de ser responsabilidade do professor, Os Critérios de Avaliação por Área e por Ciclo, definidos
não deve ser considerada função exclusiva dele. Delegá-la nestes Parâmetros Curriculares Nacionais, ainda que indi-
aos alunos, em determinados momentos, é uma condição di- quem o tipo e o grau de aprendizagem que se espera que os
dática necessária para que construam instrumentos de auto alunos tenham realizado a respeito dos diferentes conteúdos,
-regulação para as diferentes aprendizagens. A autoavaliação apresentam formulação suficientemente ampla para ser re-
é uma situação de aprendizagem em que o aluno desenvol- ferência para as adaptações necessárias em cada escola, de
ve estratégias de análise e interpretação de suas produções modo a poderem se constituir critérios reais para a avaliação
e dos diferentes procedimentos para se avaliar. Além desse e, portanto, contribuírem para efetivar a concretização das
aprendizado ser, em si, importante, porque é central para intenções educativas no decorrer do trabalho nos ciclos. Os
a construção da autonomia dos alunos, cumpre o papel de critérios de avaliação devem permitir concretizações diversas
contribuir com a objetividade desejada na avaliação, uma vez por meio de diferentes indicadores; assim, além do enunciado
que esta só poderá ser construída com a coordenação dos que os define, deverá haver um breve comentário explicativo
diferentes pontos de vista tanto do aluno quanto do profes- que contribua para a identificação de indicadores nas produ-
sor. ções a serem avaliadas, facilitando a interpretação e a flexibili-
zação desses critérios, em função das características do aluno
Critérios de avaliação e dos objetivos e conteúdos definidos.
Avaliar significa emitir um juízo de valor sobre a realida- Exemplo de um critério de avaliação de Língua Portugue-
de que se questiona, seja a propósito das exigências de uma sa para o primeiro ciclo: “Escrever utilizando tanto o conhe-
ação que se projetou realizar sobre ela, seja a propósito das cimento sobre a correspondência fonográfica como sobre
suas consequências. Portanto, a atividade de avaliação exige a segmentação do texto em palavras e frases.
critérios claros que orientem a leitura dos aspectos a serem Com este critério espera-se que o aluno escreva textos al-
avaliados. fabeticamente. Isso significa utilizar corretamente a letra (o gra-
No caso da avaliação escolar, é necessário que se esta- fema) que corresponda ao som (o fonema), ainda que a con-
beleçam expectativas de aprendizagem dos alunos em con- venção ortográfica não esteja sendo respeitada. Espera-se, tam-
sequência do ensino, que devem se expressar nos objetivos, bém, que o aluno utilize seu conhecimento sobre a segmenta-
nos critérios de avaliação propostos e na definição do que ção das palavras e de frases, ainda que a convenção não esteja
será considerado como testemunho das aprendizagens. Do sendo respeitada (no caso da palavra, podem tanto ocorrer uma
escrita sem segmentação, como em ‘derepente’, como uma
contraste entre os critérios de avaliação e os indicadores ex-
segmentação indevida, como em ‘de pois’; no caso da frase, o
pressos na produção dos alunos surgirá o juízo de valor, que
aluno pode separar frases sem utilizar o sistema de pontuação,
se constitui a essência da avaliação.
fazendo uso de recursos como ‘e’, ‘aí’, ‘daí’, por exemplo)”.
Os critérios de avaliação têm um papel importante, pois
A definição dos critérios de avaliação deve considerar as-
explicitam as expectativas de aprendizagem, considerando
pectos estruturais de cada realidade; por exemplo, muitas vezes,
objetivos e conteúdos propostos para a área e para o ciclo, a seja por conta das repetências ou de um ingresso tardio na es-
organização lógica e interna dos conteúdos, as particularida- cola, a faixa etária dos alunos de primeiro ciclo não corresponde
des de cada momento da escolaridade e as possibilidades de aos sete ou oito anos. Sabe-se, também, que as condições de
aprendizagem decorrentes de cada etapa do desenvolvimen- escolaridade em uma escola rural e multisseriada são bastante
to cognitivo, afetivo e social em uma determinada situação, singulares, o que determinará expectativas de aprendizagem e,
na qual os alunos tenham boas condições de desenvolvi- portanto, de critérios de avaliação bastante diferenciados.
mento do ponto de vista pessoal e social. Os critérios de ava- A adequação dos critérios estabelecidos nestes parâme-
liação apontam as experiências educativas a que os alunos tros e dos indicadores especificados ao trabalho que cada
devem ter acesso e são consideradas essenciais para o seu escola se propõe a realizar não deve perder de vista a busca
desenvolvimento e socialização. Nesse sentido, os critérios de uma meta de qualidade de ensino e aprendizagem explici-
de avaliação devem refletir de forma equilibrada os diferen- tada na presente proposta.
tes tipos de capacidades e as três dimensões de conteúdos,
e servir para encaminhar a programação e as atividades de Decisões associadas aos resultados da avaliação
ensino e aprendizagem. Tão importante quanto o que e como avaliar são as de-
É importante assinalar que os critérios de avaliação re- cisões pedagógicas decorrentes dos resultados da avalia-
presentam as aprendizagens imprescindíveis ao final do ciclo ção, que não devem se restringir à reorganização da prática
e possíveis à maioria dos alunos submetidos às condições educativa encaminhada pelo professor no dia a dia; devem
de aprendizagem propostas; não podem, no entanto, ser se referir, também, a uma série de medidas didáticas com-
tomados como objetivos, pois isso significaria um injustifi- plementares que necessitem de apoio institucional, como o
cável rebaixamento da oferta de ensino e, consequentemen- acompanhamento individualizado feito pelo professor fora da
te, o impedimento a priori da possibilidade de realização de classe, o grupo de apoio, as lições extras e outras que cada
aprendizagens consideradas essenciais. escola pode criar, ou até mesmo a solicitação de profissionais
Os critérios não expressam todos os conteúdos que fo- externos à escola para debate sobre questões emergentes ao
ram trabalhados no ciclo, mas apenas aqueles que são fun- trabalho. A dificuldade de contar com o apoio institucional
damentais para que se possa considerar que um aluno ad- para esses encaminhamentos é uma realidade que precisa
quiriu as capacidades previstas de modo a poder continuar ser alterada gradativamente, para que se possam oferecer
aprendendo no ciclo seguinte, sem que seu aproveitamento condições de desenvolvimento para os alunos com necessi-
seja comprometido. dades diferentes de aprendizagem.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

A aprovação ou a reprovação é uma decisão pedagógi- É importante ressaltar a diferença que existe entre a co-
ca que visa garantir as melhores condições de aprendizagem municação da avaliação e a qualificação. Uma coisa é a neces-
para os alunos. Para tal, requer-se uma análise dos profes- sidade de comunicar o que se observou na avaliação, isto é, o
sores a respeito das diferentes capacidades do aluno, que retorno que o professor dá aos alunos e aos pais do que pôde
permitirão o aproveitamento do ensino na próxima série ou observar sobre o processo de aprendizagem, incluindo tam-
ciclo. Se a avaliação está a serviço do processo de ensino e bém o diálogo entre a sua avaliação e a auto-avaliação realiza-
aprendizagem, a decisão de aprovar ou reprovar não deve da pelo aluno. Outra coisa é a qualificação que se extrai dela, e
ser a expressão de um “castigo” nem ser unicamente pautada se expressa em notas ou conceitos, histórico escolar, boletins,
no quanto se aprendeu ou se deixou de aprender dos con- diplomas, e cumprem uma função social. Se a comunicação da
teúdos propostos. Para tal decisão é importante considerar, avaliação estiver pautada apenas em qualificações, pouco po-
simultaneamente aos critérios de avaliação, os aspectos de derá contribuir para o avanço significativo das aprendizagens;
sociabilidade e de ordem emocional, para que a decisão seja mas, se as notas não forem o único canal que o professor ofe-
a melhor possível, tendo em vista a continuidade da escolari- rece de comunicação sobre a avaliação, podem constituir-se
dade sem fracassos. No caso de reprovação, a discussão nos uma referência importante, uma vez que já se instituem como
conselhos de classe, assim como a consideração das ques- representação social do aproveitamento escolar.
tões trazidas pelos pais nesse processo decisório, podem
subsidiar o professor para a tomada de decisão amadurecida ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
e compartilhada pela equipe da escola. A conquista dos objetivos propostos para o ensino fun-
Os altos índices de repetência em nosso país têm sido damental depende de uma prática educativa que tenha como
objeto de muita discussão, uma vez que explicitam o fracasso eixo a formação de um cidadão autônomo e participativo.
do sistema público de ensino, incomodando demais tanto Nessa medida, os Parâmetros Curriculares Nacionais incluem
educadores como políticos. No entanto, muitas vezes se cria orientações didáticas, que são subsídios à reflexão sobre
uma falsa questão, em que a repetência é vista como um pro- como ensinar.
blema em si e não como um sintoma da má qualidade do en- Na visão aqui assumida, os alunos constroem significados
sino e, consequentemente, da aprendizagem, que, de forma a partir de múltiplas e complexas interações. Cada aluno é su-
geral, o sistema educacional não tem conseguido resolver. jeito de seu processo de aprendizagem, enquanto o professor
Como resultado, ao reprovar os alunos que não realizam as é o mediador na interação dos alunos com os objetos de co-
aprendizagens esperadas, cristaliza-se uma situação em que nhecimento; o processo de aprendizagem compreende tam-
o problema é do aluno e não do sistema educacional. bém a interação dos alunos entre si, essencial à socialização.
A repetência deve ser um recurso extremo; deve ser estu- Assim sendo, as orientações didáticas apresentadas enfocam
dada caso a caso, no momento que mais se adequar a cada fundamentalmente a intervenção do professor na criação de
aluno, para que esteja de fato a serviço da escolaridade com situações de aprendizagem coerentes com essa concepção.
sucesso. Para cada tema e área de conhecimento corresponde um
A permanência em um ano ou mais no ciclo deve ser conjunto de orientações didáticas de caráter mais abrangente —
compreendida como uma medida educativa para que o alu- orientações didáticas gerais — que indicam como a concepção
no tenha oportunidade e expectativa de sucesso e motiva- de ensino proposta se estabelece no tratamento da área. Para
ção, para garantir a melhoria de condições para a aprendiza- cada bloco de conteúdo correspondem orientações didáticas es-
gem. Quer a decisão seja de reprovar ou aprovar um aluno pecíficas, que expressam como determinados conteúdos podem
com dificuldades, esta deve sempre ser acompanhada de ser tratados. Assim, as orientações didáticas permeiam as expli-
encaminhamentos de apoio e ajuda para garantir a qualida- citações sobre o ensinar e o aprender, bem como as explicações
de das aprendizagens e o desenvolvimento das capacidades dos blocos de conteúdos ou temas, uma vez que a opção de
esperadas. recorte de conteúdos para uma situação de ensino e aprendi-
zagem é também determinada pelo enfoque didático da área.
As avaliações oficiais: boletins e diplomas No entanto, há determinadas considerações a fazer a res-
Um outro lado na questão da avaliação é o aspecto nor- peito do trabalho em sala de aula, que extravasam as fron-
mativo do sistema de ensino que diz respeito ao controle so- teiras de um tema ou área de conhecimento. Estas conside-
cial. À escola é socialmente delegada a tarefa de promover o rações evidenciam que o ensino não pode estar limitado ao
ensino e a aprendizagem de determinados conteúdos e con- estabelecimento de um padrão de intervenção homogêneo e
tribuir de maneira efetiva na formação de seus cidadãos; por idêntico para todos os alunos. A prática educativa é bastante
isso, a escola deve responder à sociedade por essa responsa- complexa, pois o contexto de sala de aula traz questões de
bilidade. Para tal, estabelece uma série de instrumentos para ordem afetiva, emocional, cognitiva, física e de relação pes-
registro e documentação da avaliação e cria os atestados ofi- soal. A dinâmica dos acontecimentos em uma sala de aula é
ciais de aproveitamento. Assim, as notas, conceitos, boletins, tal que mesmo uma aula planejada, detalhada e consistente
recuperações, aprovações, reprovações, diplomas, etc., fazem dificilmente ocorre conforme o imaginado: olhares, tons de
parte das decisões que o professor deve tomar em seu dia voz, manifestações de afeto ou desafeto e diversas outras va-
a dia para responder à necessidade de um testemunho ofi- riáveis interferem diretamente na dinâmica prevista. No texto
cial e social do aproveitamento do aluno. O professor pode que se segue, são apontados alguns tópicos sobre didática
aproveitar os momentos de avaliação bimestral ou semestral, considerados essenciais pela maioria dos profissionais em
quando precisa dar notas ou conceitos, para sistematizar os educação: autonomia; diversidade; interação e cooperação;
procedimentos que selecionou para o processo de avaliação, disponibilidade para a aprendizagem; organização do tem-
em função das necessidades psicopedagógicas. po; organização do espaço; e seleção de material.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Autonomia conflitos, cuidados físicos, estabelecimentos de etapas para a


Nos Parâmetros Curriculares Nacionais a autonomia é to- realização das atividades. Também é preciso considerar tanto
mada ao mesmo tempo como capacidade a ser desenvolvida o trabalho individual como o coletivo cooperativo. O indivi-
pelos alunos e como princípio didático geral, orientador das dual é potencializado pelas exigências feitas aos alunos para
práticas pedagógicas. se responsabilizarem por suas ações, suas ideias, suas tarefas,
A realização dos objetivos propostos implica necessaria- pela organização pessoal e coletiva, pelo envolvimento com
mente que sejam desde sempre praticados, pois não se de- o objeto de estudo. O trabalho em grupo, ao valorizar a in-
senvolve uma capacidade sem exercê-la. Por isso didática é teração como instrumento de desenvolvimento pessoal, exi-
um instrumento de fundamental importância, na medida em ge que os alunos considerem diferenças individuais, tragam
que possibilita e conforma as relações que alunos e educa- contribuições, respeitem as regras estabelecidas, proponham
dores estabelecem entre si, com o conhecimento que cons- outras, atitudes que propiciam o desenvolvimento da auto-
troem, com a tarefa que realizam e com a instituição escolar. nomia na dimensão grupal.
Por exemplo, para que possa refletir, participar e assumir res- É importante salientar que a autonomia não é um esta-
ponsabilidades, o aluno necessita estar inserido em um pro- do psicológico geral que, uma vez atingido, esteja garantido
cesso educativo que valorize tais ações. para qualquer situação. Por um lado, por envolver a necessi-
Este é o sentido da autonomia como princípio didático dade de conhecimentos e condições específicas, uma pessoa
geral proposto nos Parâmetros Curriculares pode ter autonomia para atuar em determinados campos e
Nacionais: uma opção metodológica que considera a não em outros; por outro, por implicar o estabelecimento de
atuação do aluno na construção de seus próprios conheci- relações democráticas de poder e autoridade é possível que
mentos, valoriza suas experiências, seus conhecimentos pré- alguém exerça a capacidade de agir com autonomia em al-
vios e a interação professor-aluno e aluno-aluno, buscando gumas situações e não noutras, nas quais não pode interferir.
essencialmente a passagem progressiva de situações em que É portanto necessário que a escola busque sua extensão aos
o aluno é dirigido por outrem a situações dirigidas pelo pró- diferentes campos de atuação. Para tanto, é necessário que
prio aluno.
as decisões assumidas pelo professor auxiliem os alunos a
A autonomia refere-se à capacidade de posicionar-se, ela-
desenvolver essas atitudes e a aprender os procedimentos
borar projetos pessoais e participar enunciativa e cooperati-
adequados a uma postura autônoma, que só será efetiva-
vamente de projetos coletivos, ter discernimento, organizar-se
mente alcançada mediante investimentos sistemáticos ao
em função de metas eleitas, governar-se, participar da gestão
longo de toda a escolaridade.
de ações coletivas, estabelecer critérios e eleger princípios éti-
cos, etc. Isto é, a autonomia fala de uma relação emancipada,
íntegra com as diferentes dimensões da vida, o que envolve Diversidade
aspectos intelectuais, morais, afetivos e sóciopolíticos . Ainda As adaptações curriculares previstas nos níveis de con-
que na escola se destaque a autonomia na relação com o co- cretização apontam a necessidade de adequar objetivos,
nhecimento — saber o que se quer saber, como fazer para conteúdos e critérios de avaliação, de forma a atender a di-
buscar informações e possibilidades de desenvolvimento de versidade existente no País. Essas adaptações, porém, não
tal conhecimento, manter uma postura crítica comparando dão conta da diversidade no plano dos indivíduos em uma
diferentes visões e reservando para si o direito de conclusão, sala de aula.
por exemplo —, ela não ocorre sem o desenvolvimento da au- Para corresponder aos propósitos explicitados nestes pa-
tonomia moral (capacidade ética) e emocional que envolvem râmetros, a educação escolar deve considerar a diversidade
auto-respeito, respeito mútuo, segurança, sensibilidade, etc. dos alunos como elemento essencial a ser tratado para a me-
Como no desenvolvimento de outras capacidades, a lhoria da qualidade de ensino e aprendizagem.
aprendizagem de determinados procedimentos e atitudes Atender necessidades singulares de determinados alu-
— tais como planejar a realização de uma tarefa, identificar nos é estar atento à diversidade: é atribuição do professor
formas de resolver um problema, formular boas perguntas e considerar a especificidade do indivíduo, analisar suas pos-
boas respostas, levantar hipóteses e buscar meios de verifi- sibilidades de aprendizagem e avaliar a eficácia das medidas
cá-las, validar raciocínios, resolver conflitos, cuidar da própria adotadas.
saúde e da de outros, colocarse no lugar do outro para melhor A atenção à diversidade deve se concretizar em medi-
refletir sobre uma determinada situação, considerar as regras das que levem em conta não só as capacidades intelectuais e
estabelecidas — é o instrumento para a construção da auto- os conhecimentos de que o aluno dispõe, mas também seus
nomia. Procedimentos e atitudes dessa natureza são objeto interesses e motivações. Esse conjunto constitui a capacida-
de aprendizagem escolar, ou seja, a escola pode ensiná-los de geral do aluno para aprendizagem em um determinado
planejada e sistematicamente criando situações que auxiliem momento.
os alunos a se tornarem progressivamente mais autônomos. Desta forma, a atuação do professor em sala de aula
Por isso é importante que desde as séries iniciais as propos- deve levar em conta fatores sociais, culturais e a história edu-
tas didáticas busquem, em aproximações sucessivas, cada vez cativa de cada aluno, como também características pessoais
mais essa meta. de déficit sensorial, motor ou psíquico, ou de superdotação
O desenvolvimento da autonomia depende de suportes intelectual. Deve-se dar especial atenção ao aluno que de-
materiais, intelectuais e emocionais. No início da escolaridade, monstrar a necessidade de resgatar a auto-estima. Trata-se
a intervenção do professor é mais intensa na definição desses de garantir condições de aprendizagem a todos os alunos,
suportes: tempo e forma de realização das atividades, organi- seja por meio de incrementos na intervenção pedagógica ou
zação dos grupos, materiais a serem utilizados, resolução de de medidas extras que atendam às necessidades individuais.

59
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

A escola, ao considerar a diversidade, tem como valor Não existe critério melhor ou pior de organização de
máximo o respeito às diferenças — não o elogio à desigual- grupos para uma atividade. É necessário que o professor de-
dade. As diferenças não são obstáculos para o cumprimento cida a forma de organização social em cada tipo de atividade,
da ação educativa; podem e devem, portanto, ser fator de en- em cada momento do processo de ensino e aprendizagem,
riquecimento. em função daqueles alunos específicos. Agrupamentos ade-
Concluindo, a atenção à diversidade é um princípio com- quados, que levem em conta a diversidade dos alunos, tor-
prometido com a equidade, ou seja, com o direito de todos nam-se eficazes na individualização do ensino.
os alunos realizarem as aprendizagens fundamentais para seu Nas escolas multisseriadas, as decisões sobre agrupa-
desenvolvimento e socialização. mentos adquirem especial relevância. É possível reunir gru-
pos que não sejam estruturados por série e sim por objetivos,
Interação e cooperação em que a diferenciação se dê pela exigência adequada ao
Um dos objetivos da educação escolar é que os alunos desempenho de cada um.
aprendam a assumir a palavra enunciada e a conviver em gru- O convívio escolar pretendido depende do estabeleci-
po de maneira produtiva e cooperativa. Dessa forma, são fun-
mento de regras e normas de funcionamento e de compor-
damentais as situações em que possam aprender a dialogar,
tamento que sejam coerentes com os objetivos definidos no
a ouvir o outro e ajudá-lo, a pedir ajuda, aproveitar críticas,
projeto educativo. A comunicação clara dessas normas pos-
explicar um ponto de vista, coordenar ações para obter suces-
so em uma tarefa conjunta, etc. É essencial aprender procedi- sibilita a compreensão pelos alunos das atitudes de disciplina
mentos dessa natureza e valorizá-los como forma de convívio demonstradas pelos professores dentro e fora da classe.
escolar e social. Trabalhar em grupo de maneira cooperativa
é sempre uma tarefa difícil, mesmo para adultos convencidos Disponibilidade para a aprendizagem
de sua necessidade. Para que uma aprendizagem significativa possa aconte-
A criação de um clima favorável a esse aprendizado de- cer, é necessária a disponibilidade para o envolvimento do
pende do compromisso do professor em aceitar contribuições aluno na aprendizagem, o empenho em estabelecer relações
dos alunos (respeitando-as, mesmo quando apresentadas de entre o que já sabe e o que está aprendendo, em usar os ins-
forma confusa ou incorreta) e em favorecer o respeito, por par- trumentos adequados que conhece e dispõe para alcançar a
te do grupo, assegurando a participação de todos os alunos. maior compreensão possível. Essa aprendizagem exige uma
Assim, a organização de atividades que favoreçam a fala e ousadia para se colocar problemas, buscar soluções e experi-
a escrita como meios de reorganização e reconstrução das ex- mentar novos caminhos, de maneira totalmente diferente da
periências compartilhadas pelos alunos ocupa papel de des- aprendizagem mecânica, na qual o aluno limita seu esforço
taque no trabalho em sala de aula. A comunicação propiciada apenas em memorizar ou estabelecer relações diretas e su-
nas atividades em grupo levará os alunos a perceberem perficiais.
a necessidade de dialogar, resolver mal-entendidos, res- A aprendizagem significativa depende de uma motiva-
saltar diferenças e semelhanças, explicar e exemplificar, apro- ção intrínseca, isto é, o aluno precisa tomar para si a neces-
priando-se de conhecimentos. sidade e a vontade de aprender. Aquele que estuda apenas
O estabelecimento de condições adequadas para a intera- para passar de ano, ou para tirar notas, não terá motivos su-
ção não pode estar pautado somente em questões cognitivas. ficientes para empenhar-se em profundidade na aprendiza-
Os aspectos emocionais e afetivos são tão relevantes quanto gem.
os cognitivos, principalmente para os alunos prejudicados por A disposição para a aprendizagem não depende exclu-
fracassos escolares ou que não estejam interessados no que sivamente do aluno, demanda que a prática didática garan-
a escola pode oferecer. A afetividade, o grau de aceitação ou ta condições para que essa atitude favorável se manifeste e
rejeição, a competitividade e o ritmo de produção estabele-
prevaleça. Primeiramente, a expectativa que o professor tem
cidos em um grupo interferem diretamente na produção do
do tipo de aprendizagem de seus alunos fica definida no
trabalho. A participação de um aluno muitas vezes varia em
contrato didático estabelecido. Se o professor espera uma
função do grupo em que está inserido.
Em síntese, a disponibilidade cognitiva e emocional dos atitude curiosa e investigativa, deve propor prioritariamente
alunos para a aprendizagem é fator essencial para que haja atividades que exijam essa postura, e não a passividade. Deve
uma interação cooperativa, sem depreciação do colega por valorizar o processo e a qualidade, e não apenas a rapidez na
sua eventual falta de informação ou incompreensão. Apren- realização. Deve esperar estratégias criativas e originais e não
der a conviver em grupo supõe um domínio progressivo de a mesma resposta de todos.
procedimentos, valores, normas e atitudes. A intervenção do professor precisa, então, garantir que
A organização dos alunos em grupos de trabalho influen- o aluno conheça o objetivo da atividade, situe-se em relação
cia o processo de ensino e aprendizagem, e pode ser otimiza- à tarefa, reconheça os problemas que a situação apresenta,
da quando o professor interfere na organização dos grupos. e seja capaz de resolvê-los. Para tal, é necessário que o pro-
Organizar por ordem alfabética ou por idade não é a mesma fessor proponha situações didáticas com objetivos e deter-
coisa que organizar por gênero ou por capacidades específi- minações claros, para que os alunos possam tomar decisões
cas; por isso é importante que o professor discuta e decida os pensadas sobre o encaminhamento de seu trabalho, além de
critérios de agrupamento dos alunos. Por exemplo: desempe- selecionar e tratar ajustadamente os conteúdos. A comple-
nho diferenciado ou próximo, equilíbrio entre meninos e me- xidade da atividade também interfere no envolvimento do
ninas, afinidades para o trabalho e afetividade, possibilidade aluno. Um nível de complexidade muito elevado, ou mui-
de cooperação, ritmo de trabalho, etc. to baixo, não contribui para a reflexão e o debate, situação

60
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

que indica a participação ativa e compromissada do aluno Em geral, os alunos buscam corresponder às expectati-
no processo de aprendizagem. As atividades propostas pre- vas de aprendizagem significativa, desde que haja um clima
cisam garantir organização e ajuste às reais possibilidades favorável de trabalho, no qual a avaliação e a observação do
dos alunos, de forma que cada uma não seja nem muito di- caminho por eles percorrido seja, de fato, instrumento de au-
fícil nem demasiado fácil. Os alunos devem poder realizá-la to-regulação do processo de ensino e aprendizagem. Quan-
numa situação desafiadora. do não se instaura na classe um clima favorável de confiança,
Nesse enfoque de abordagem profunda da aprendiza- compromisso e responsabilidade, os encaminhamentos do
gem, o tempo reservado para a atuação dos alunos é deter- professor ficam comprometidos.
minante. Se a exigência é de rapidez, a saída mais comum é
estudar de forma superficial. O professor precisa buscar um Organização do tempo
equilíbrio entre as necessidades da aprendizagem e o exíguo A consideração do tempo como variável que interfere
tempo escolar, coordenando-o para cada proposta que en- na construção da autonomia permite ao professor criar si-
caminha. tuações em que o aluno possa progressivamente controlar a
Outro fator que interfere na disponibilidade do aluno realização de suas atividades. Por meio de erros e acertos, o
para a aprendizagem é a unidade entre escola, sociedade aluno toma consciência de suas possibilidades e constrói me-
e cultura, o que exige trabalho com objetos sócioculturais canismos de auto-regulação que possibilitam decidir como
do cotidiano extra-escolar, como, por exemplo, jornais, re- alocar seu tempo.
vistas, filmes, instrumentos de medida, etc., sem esvaziá-los Por essa razão, são importantes as atividades em que o
de significado, ou seja, sem que percam sua função social professor seja somente um orientador do trabalho, cabendo
real, contribuindo, assim, para imprimir sentido às atividades aos alunos o planejamento e a execução, o que os levará a
escolares. decidir e a vivenciar o resultado de suas decisões sobre o uso
Mas isso tudo não basta. Mesmo garantindo todas es- do tempo.
sas condições, pode acontecer que a ansiedade presente Delegar esse controle não quer dizer, de modo algum,
na situação de aprendizagem se torne muito intensa e im- que os alunos devam arbitrar livremente a respeito de como
peça uma atitude favorável. A ansiedade pode estar ligada e quando atuar na escola. A vivência do controle do tempo
ao medo de fracasso, desencadeado pelo sentimento de in- pelos alunos se insere dentro de limites criteriosamente esta-
capacidade para realização da tarefa ou de insegurança em
belecidos pelo professor, que se tornarão menos restritivos à
relação à ajuda que pode ou não receber de seu professor,
medida que o grupo desenvolva sua autonomia.
ou de seus colegas, e consolidar um bloqueio para aprender.
Assim, é preciso que o professor defina claramente as
Quando o sujeito está aprendendo, se envolve inteira-
atividades, estabeleça a organização em grupos, disponibili-
mente. O processo, assim como seu resultado, repercutem
ze recursos materiais adequados e defina o período de exe-
de forma global. Assim, o aluno, ao desenvolver as ativida-
cução previsto, dentro do qual os alunos serão livres para
des escolares, aprende não só sobre o conteúdo em questão
mas também sobre o modo como aprende, construindo uma tomar suas decisões. Caso contrário, a prática de sala de aula
imagem de si como estudante. Essa auto imagem é também torna-se insustentável pela indisciplina que gera.
influenciada pelas representações que o professor e seus co- Outra questão relevante é o horário escolar, que deve
legas fazem dele e, de uma forma ou outra, são explicita- obedecer ao tempo mínimo estabelecido pela legislação vi-
das nas relações interpessoais do convívio escolar. Falta de gente para cada uma das áreas de aprendizagem do currícu-
respeito e forte competitividade, se estabelecidas na classe, lo. A partir desse critério, e em função das opções do projeto
podem reforçar os sentimentos de incompetência de certos educativo da escola, é que se poderá fazer a distribuição ho-
alunos e contribuir de forma efetiva para consolidar o seu rária mais adequada.
fracasso. No terceiro e no quarto ciclos, nos quais as aulas se orga-
O aluno com um autoconceito negativo, que se consi- nizam por áreas com professores específicos e tempo previa-
dera fracassado na escola, ou admite que a culpa é sua e se mente estabelecido, é interessante pensar que uma das ma-
convence de que é um incapaz, ou vai buscar ao seu redor neiras de otimizar o tempo escolar é organizar aulas duplas,
outros culpados: o professor é chato, as lições não servem pois assim o professor tem condições de propor atividades
para nada. Acaba por desenvolver comportamentos proble- em grupo que demandam maior tempo (aulas curtas tendem
máticos e de indisciplina. a ser expositivas).
Aprender é uma tarefa árdua, na qual se convive o tempo
inteiro com o que ainda não é conhecido. Para o sucesso da Organização do espaço
empreitada, é fundamental que exista uma relação de con- Uma sala de aula com carteiras fixas dificulta o trabalho
fiança e respeito mútuo entre professor e aluno, de maneira em grupo, o diálogo e a cooperação; armários trancados não
que a situação escolar possa dar conta de todas as questões ajudam a desenvolver a autonomia do aluno, como também
de ordem afetiva. Mas isso não fica garantido apenas e ex- não favorecem o aprendizado da preservação do bem coleti-
clusivamente pelas ações do professor, embora sejam funda- vo. A organização do espaço reflete a concepção metodoló-
mentais dada a autoridade que ele representa, mas também gica adotada pelo professor e pela escola.
deve ser conseguido nas relações entre os alunos. O trabalho Em um espaço que expresse o trabalho proposto nos
educacional inclui as intervenções para que os alunos apren- Parâmetros Curriculares Nacionais é preciso que as carteiras
dam a respeitar diferenças, a estabelecer vínculos de confian- sejam móveis, que as crianças tenham acesso aos materiais
ça e uma prática cooperativa e solidária. de uso frequente, as paredes sejam utilizadas para exposi-

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

ção de trabalhos individuais ou coletivos, desenhos, murais. Considerações finais


Nessa organização é preciso considerar a possibilidade de os A qualidade da atuação da escola não pode depender
alunos assumirem a responsabilidade pela decoração, ordem somente da vontade de um ou outro professor. É preciso a
e limpeza da classe. Quando o espaço é tratado dessa ma- participação conjunta dos profissionais (orientadores, super-
neira, passa a ser objeto de aprendizagem e respeito, o que visores, professores polivalentes e especialistas) para tomada
somente ocorrerá por meio de investimentos sistemáticos ao de decisões sobre aspectos da prática didática, bem como
longo da escolaridade. sua execução. Essas decisões serão necessariamente diferen-
É importante salientar que o espaço de aprendizagem ciadas de escola para escola, pois dependem do ambiente
não se restringe à escola, sendo necessário propor ativida- local e da formação dos professores.
des que ocorram fora dela. A programação deve contar com As metas propostas não se efetivarão a curto prazo. É
passeios, excursões, teatro, cinema, visitas a fábricas, marce- necessário que os profissionais estejam comprometidos,
narias, padarias, enfim, com as possibilidades existentes em disponham de tempo e de recursos. Mesmo em condições
cada local e as necessidades de realização do trabalho esco- ótimas de recursos, dificuldades e limitações sempre estarão
lar. presentes, pois na escola se manifestam os conflitos existen-
No dia a dia devem-se aproveitar os espaços externos tes na sociedade.
para realizar atividades cotidianas, como ler, contar histórias, As considerações feitas pretendem auxiliar os professo-
fazer desenho de observação, buscar materiais para coleções. res na reflexão sobre suas práticas e na elaboração do projeto
Dada a pouca infra-estrutura de muitas escolas, é preciso educativo de sua escola. Não são regras a respeito do que
contar com a improvisação de espaços para o desenvolvi- devem ou não fazer. No entanto, é necessário estabelecer
mento de atividades específicas de laboratório, teatro, artes acordos nas escolas em relação às estratégias didáticas mais
plásticas, música, esportes, etc. adequadas. A qualidade da intervenção do professor sobre
Concluindo, a utilização e a organização do espaço e do o aluno ou grupo de alunos, os materiais didáticos, horários,
tempo refletem a concepção pedagógica e interferem direta- espaço, organização e estrutura das classes, a seleção de
mente na construção da autonomia. conteúdos e a proposição de atividades concorrem para que
o caminho seja percorrido com sucesso.
Seleção de material
Todo material é fonte de informação, mas nenhum deve OBJETIVOS GERAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
ser utilizado com exclusividade. É importante haver diversi- Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como ob-
dade de materiais para que os conteúdos possam ser trata- jetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes
dos da maneira mais ampla possível. de:
O livro didático é um material de forte influência na prá- • compreender a cidadania como participação social e
tica de ensino brasileira. É preciso que os professores estejam política, assim como exercício de direitos e deveres políticos,
atentos à qualidade, à coerência e a eventuais restrições que civis e sociais, adotando, no dia a dia, atitudes de solidarieda-
apresentem em relação aos objetivos educacionais propos- de, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e
tos. Além disso, é importante considerar que o livro didático exigindo para si o mesmo respeito;
não deve ser o único material a ser utilizado, pois a variedade • posicionar-se de maneira crítica, responsável e cons-
de fontes de informação é que contribuirá para o aluno ter trutiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo
uma visão ampla do conhecimento. como forma de mediar conflitos e de tomar decisões cole-
Materiais de uso social frequente são ótimos recursos tivas;
de trabalho, pois os alunos aprendem sobre algo que tem • conhecer características fundamentais do Brasil nas di-
função social real e se mantêm atualizados sobre o que acon- mensões sociais, materiais e culturais como meio para cons-
tece no mundo, estabelecendo o vínculo necessário entre o truir progressivamente a noção de identidade nacional e pes-
que é aprendido na escola e o conhecimento extraescolar. A soal e o sentimento de pertinência ao País;
utilização de materiais diversificados como jornais, revistas, • conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio só-
folhetos, propagandas, computadores, calculadoras, filmes, ciocultural brasileiro, bem como aspectos sócioculturais de
faz o aluno sentir-se inserido no mundo à sua volta. outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer dis-
É indiscutível a necessidade crescente do uso de com- criminação baseada em diferenças culturais, de classe social,
putadores pelos alunos como instrumento de aprendizagem de crenças, de sexo, de etnia ou outras características indivi-
escolar, para que possam estar atualizados em relação às no- duais e sociais;
vas tecnologias da informação e se instrumentalizarem para • perceber-se integrante, dependente e agente transfor-
as demandas sociais presentes e futuras. mador do ambiente, identificando seus elementos e as inte-
A menção ao uso de computadores, dentro de um am- rações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria
plo leque de materiais, pode parecer descabida perante as do meio ambiente;
reais condições das escolas, pois muitas não têm sequer giz • desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o
para trabalhar. Sem dúvida essa é uma preocupação que exi- sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física,
ge posicionamento e investimento em alternativas criativas cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inser-
para que as metas sejam atingidas. ção social, para agir com perseverança na busca de conheci-
mento e no exercício da cidadania;

62
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

• conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e ado- vem. Nesta primeira fase de definição dos Parâmetros Curri-
tando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da culares Nacionais, segundo prioridade dada pelo Ministério
qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação da Educação e do Desporto, há especificação dos Blocos de
à sua saúde e à saúde coletiva; Conteúdos apenas para primeiro e segundo ciclos.
• utilizar as diferentes linguagens — verbal, matemática, A eleição de objetivos e conteúdos de área por ciclo está
gráfica, plástica e corporal diretamente relacionada com os Objetivos Gerais do Ensino
— como meio para produzir, expressar e comunicar suas Fundamental e com os Objetivos Gerais de Área, da mesma
ideias, interpretar e usufruir das produções culturais, em con- forma que também expressa a concepção de área adotada.
textos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções Os Critérios de Avaliação explicitam as aprendizagens
e situações de comunicação; fundamentais a serem realizadas em cada ciclo e se consti-
• saber utilizar diferentes fontes de informação e recur- tuem em indicadores para a reorganização do processo de
sos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos; ensino e aprendizagem. Vale reforçar que tais critérios não
• questionar a realidade formulando-se problemas e tra- devem ser confundidos com critérios de aprovação e repro-
tando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógi- vação de alunos.
co, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, O último item são as Orientações Didáticas, que discu-
selecionando procedimentos e verificando sua adequação. tem questões sobre a aprendizagem de determinados con-
teúdos e sobre como ensiná-los de maneira coerente com a
ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DOS PARÂMETROS fundamentação explicitada anteriormente.
CURRICULARES NACIONAIS
Todas as definições conceituais, bem como a estrutura
organizacional dos Parâmetros Curriculares Nacionais, foram
PARÂMETROS NACIONAIS DE QUALIDADE
pautadas nos Objetivos Gerais do Ensino Fundamental, que
estabelecem as capacidades relativas aos aspectos cognitivo, PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL – MINISTÉRIO
afetivo, físico, ético, estético, de atuação e de inserção so- DA EDUCAÇÃO – SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO
cial, de forma a expressar a formação básica necessária para BÁSICA;
o exercício da cidadania. Essas capacidades, que os alunos
devem ter adquirido ao término da escolaridade obrigatória,
devem receber uma abordagem integrada em todas as áreas
INTRODUÇÃO
constituintes do ensino fundamental. A seleção adequada
O documento Parâmetros Nacionais de Qualidade para a
dos elementos da cultura — conteúdos — é que contribuirá
Educação Infantil (volumes 1 e 2) busca responder com uma
para o desenvolvimento de tais capacidades arroladas como
ação efetiva aos anseios da área, da mesma forma que cum-
Objetivos Gerais do Ensino Fundamental.
pre com a determinação legal do Plano Nacional de Educação,
Os documentos das áreas têm uma estrutura comum:
que exige a colaboração da União para atingir o objetivo de
iniciam com a exposição da Concepção de Área para todo o “Estabelecer parâmetros de qualidade dos ser viços de Educa-
ensino fundamental, na qual aparece definida a fundamenta- ção Infantil, como referência para a supervisão, o controle e a
ção teórica do tratamento da área nos Parâmetros Curricula- avaliação, e como instrumento para a adoção das medidas de
res Nacionais. melhoria da qualidade” (Brasil, 2001, cap. I I, item 19 do tópico
Os Objetivos Gerais de Área, da mesma forma que os Objetivos e Met as da Educação Infantil). Assegurar a qualida-
Objetivos Gerais do Ensino Fundamental, expressam capaci- de na educação infantil por meio do est abelecimento desses
dades que os alunos devem adquirir ao final da escolaridade parâmetros é uma das diretrizes da Política Nacional de Educa-
obrigatória, mas diferenciam-se destes últimos por explicitar ção Infantil (Brasil, 2005).
a contribuição específica dos diferentes âmbitos do saber Entendendo que em uma perspectiva de gestão democrá-
presentes na cultura; trata-se, portanto, de objetivos vincula- tica e participativa, tal definição deve emergir de amplo deba-
dos ao corpo de conhecimentos de cada área. Os Objetivos te entre os segmentos envolvidos no trabalho educativo com
Gerais do Ensino Fundamental e os Objetivos Gerais de Área crianças de 0 até 6 anos1, o Ministério coordenou um processo
para o Ensino Fundamental foram formulados de modo a de discussão desses parâmetros em diferentes regiões do país,
respeitar a diversidade social e cultural e são suficientemente incorporando a contribuição que muitas secretarias de educa-
amplos e abrangentes para que possam conter as especifici- ção, entidades e grupos desenvolvem no sentido de aprimorar
dades locais. a qualidade da Educação Infantil.
O ensinar e o aprender em cada ciclo enfoca as necessi- Para que fosse instaurada uma discussão qualificada que
dades e possibilidades de trabalho da área no ciclo e indica contribuísse efetivamente para o avanço da Educação Infantil no
os Objetivos de Ciclo por Área, estabelecendo as conquistas Brasil, realizou-se um processo de trabalho em etapas, durante
intermediárias que os alunos deverão atingir para que pro- as quais foram discutidas versões preliminares deste texto. A pri-
gressivamente cumpram com as intenções educativas gerais. meira versão foi apresentada e debatida em seminários regionais,
Segue-se a apresentação dos Blocos de Conteúdos e/ou Or- promovidos pela SEB/DPE/Coedi (Brasil, MEC, SEIF, s.d.) em julho
ganizações Temáticas de Área por Ciclo. Esses conteúdos es- e agosto de 2004, com a participação de representantes de se-
tão detalhados em um texto explicativo dos conteúdos que cretarias e conselhos municipais e estaduais de educação e ou-
abrangem e das principais orientações didáticas que envol- tras entidades que atuam direta ou indiretamente com a criança

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

de 0 até 6 anos de idade. A segunda foi enviada a especialistas Pretende-se, por meio deste documento, delimitar parâme-
na área de Educação Infantil de todo o país e, posteriormente, tros de qualidade suficientemente amplos para abarcar diferen-
debatida em seminário técnico realizado em maio de 2005, em ças regionais, flexíveis para permitir que as manifestações cultu-
Brasília. Após a incorporação de grande parte das sugestões rais locais tenham espaço para se desenvolver, específicos para
enviadas, uma versão, ainda preliminar do 2º volume, foi apre- favorecer a criação de uma base nacional, de fácil aplicação e
sentada no Seminário Nacional Política de Educação Infantil, rea- monitoramento a fim de possibilitar sua adoção e, consequente-
lizado também em Brasília, em julho do mesmo ano. mente, consolidar essa base comum. Utilizou-se um tom afirma-
Espera-se que esta versão final, ao incorporar as contribui- tivo que incentivasse as participações críticas, que tornasse as
ções e sugestões recebidas, contribua para solidificar consen- proposições objetivas, permitindo a identificação ou contrapo-
sos presentes na área e superar desafios antigos, esclarecendo sição clara de leitores. Optou-se, deliberadamente, por abordar
questões que ainda suscitam dúvidas nos dias atuais.
parâmetros de qualidade tanto para as instituições de Educação
Sendo o objetivo deste documento o de estabelecer pa-
Infantil quanto para os sistemas educacionais, dadas as possibili-
drões de referência orientadores para o sistema educacional no
que se refere à organização e funcionamento das instituições dades que essa perspectiva oferece de controle social recíproco
de Educação Infantil, cabe apontar, inicialmente, para uma distin- das instâncias envolvidas no cuidado e na educação da criança
ção conceitual que deve ser feita entre parâmetros de qualida- de 0 até 6 anos de idade.
de e indicadores de qualidade. Entende-se por parâmetros a Colocaram-se em relevo questões específicas e polêmicas
norma, o padrão, ou a variável capaz de modificar, regular, ajustar da realidade brasileira tais como, período de funcionamento
o sistema (Houaiss e Villar, 2001). Parâmetros podem ser defi- das instituições, respeito à diversidade, regime de colaboração,
nidos como referência, ponto de partida, ponto de chegada ou autonomia federativa e responsabilidade dos sistemas estaduais
linha de fronteira. Indicadores, por sua vez, presumem a possi- com a Educação Infantil nos municípios onde não existe sistema
bilidade de quantificação, servindo, portanto, como instrumento de ensino.
para aferir o nível de aplicabilidade do parâmetro. Parâmetros A apresentação deste documento – organizado em dois vo-
são mais amplos e genéricos, indicadores mais específicos e lumes visa facilitar seu manuseio pelos leitores. O primeiro aborda
precisos. Um parâmetro de qualidade inquestionável, por exem- aspectos relevantes para a definição de parâmetros de qualidade
plo, é a formação específica das professoras e dos professores para a Educação Infantil no país. Apresenta uma concepção de
de Educação Infantil. Nesse caso, o indicador seria a série e o ní- criança, de pedagogia da Educação Infantil, a trajetória histó-
vel propriamente dito de formação dos profissionais que atuam rica do debate da qualidade na Educação Infantil, as principais
nas instituições de Educação Infantil. A qualidade seria consi-
tendências identificadas em pesquisas recentes dentro e fora do
derada ótima em um determinado município se o parâmetro
país, os desdobramentos previstos na legislação nacional para a
definido neste caso fosse a formação exigida por lei, e todos
os profissionais que atuam nas instituições de Educação Infantil área e consensos e polêmicas no campo. No segundo, explici-
tivessem essa formação em nível superior. tam-se, inicialmente, as competências dos sistemas de ensino e
Assim, um desdobramento necessário e esperado do do- a caracterização das instituições de educação infantil a partir de
cumento que está sendo apresentado seria a definição dos in- definições legais, entendendo que um sistema educacional de
dicadores de qualidade. Estes permitirão a criação de ins- qualidade é aquele em que as instâncias responsáveis pela ges-
trumentos para credenciamento de instituições, elaboração de tão respeitam a legislação vigente. Finalmente, são apresentados
diagnósticos, e mesmo a implementação propriamente dita dos os parâmetros de qualidade para os sistemas educacionais e para
parâmetros de qualidade nas instituições de Educação Infantil e as instituições de educação infantil no Brasil, com o intuito de
nos sistemas educacionais. Os indicadores de qualidade deverão estabelecer uma referência nacional que subsidie os sistemas na
ser definidos em níveis progressivos de exigência no sentido ver- discussão e implementação de parâmetros de qualidade locais.
tical e, em âmbitos também progressivos de abrangência (local, É importante reafirmar que a história da construção de uma
regional, nacional), no sentido horizontal, permitindo, ainda, que Educação Infantil de qualidade no Brasil já percorreu muitos ca-
cada instituição ou município incorpore indicadores de quali- minhos, já contou com muitos protagonistas, já alcançou resul-
dade construídos pela comunidade que representam. tados significativos e já identificou obstáculos a serem supera-
Feita a distinção entre parâmetros e indicadores, sublinha- dos. Aprender com essa história e retomá-la, nesse momento,
mos que a finalidade de definir os parâmetros de qualidade se é a tarefa que nos aguarda em mais essa etapa de um processo
realiza neste documento de modo a estabelecer não um padrão
dinâmico e coletivo. Para tanto, faz-se necessário obter consen-
mínimo, nem um padrão máximo, mas os requisitos necessários
sos a serem sempre revistos e renovados, de forma democrática,
para uma Educação Infantil que possibilite o desenvolvimento
integral da criança até os cinco anos de idade, em seus aspectos contemplando as necessidades sociais em constante mudança
físico, psicológico, intelectual e social. e incorporando os novos conhecimentos que estão sendo pro-
Para subsidiar a tomada de decisões sobre conteúdo, estru- duzidos sobre as crianças pequenas, seu desenvolvimento em
tura, formato e estilo de apresentação deste documento, foi reali- instituições de Educação Infantil, seus diversos ambientes fami-
zada uma análise de experiências semelhantes desenvolvidas em liares e sociais e suas variadas formas de expressão.
outros países, revelando que as propostas enfocam e enfatizam Espera-se que este documento se constitua em mais um
aspectos bastante variados. Umas são muito detalhadas, outras passo na direção de transformar em práticas reais, adotadas no
mais genéricas, algumas centram-se exclusivamente na escola cotidiano das instituições, parâmetros de qualidade que garan-
ou na aprendizagem da criança, outras abordam políticas e sis- tam o direito das crianças de zero até seis anos à Educação In-
temas como um todo, e a linguagem utilizada ora é mais formal, fantil de qualidade.
ora mais informal.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Qualidade na Educação Infantil — Fundamentos Embora dependente do adulto para sobreviver, a criança
O debate sobre a qualidade da educação da criança até 6 é um ser capaz de interagir num meio natural, social e cultural
anos no Brasil tem uma história. Para situar o atual momen- desde bebê. A partir de seu nascimento, o bebê reage ao en-
to, é necessário rever concepções e recuperar os principais fios torno, ao mesmo tempo em que provoca reações naqueles
dessa história para que a discussão atual possa dialogar com que se encontram por perto, marcando a história daquela famí-
os avanços e as dificuldades anteriores, alcançando um novo lia. Os elementos de seu entorno que compõem o meio natural
patamar nesse processo de múltiplas autorias. (o clima, por exemplo), social (os pais, por exemplo) e cultural
Essa contextualização busca contemplar: 1) a concepção de (os valores, por exemplo) irão configurar formas de conduta e
criança e de pedagogia da Educação Infantil; 2) o debate sobre modificações recíprocas dos envolvidos.
a qualidade da educação em geral e o debate específico no No que diz respeito às interações sociais, ressalta-se que
campo da educação da criança de 0 até 6 anos; 3) os resul- a diversidade de parceiros e experiências potencializa o desen-
tados de pesquisas recentes; 4) a qualidade na perspectiva da volvimento infantil.
legislação e da atuação dos órgãos oficiais do país. Crianças expostas a uma gama ampliada de possibilidades
interativas têm seu universo pessoal de significados ampliado,
1. Concepção de criança e de pedagogia da Educação
desde que se encontrem em contextos coletivos de qualida-
Infantil
de. Essa afirmativa é considerada válida para todas as crianças,
A criança é um sujeito social e histórico que está inserido
em uma sociedade na qual partilha de uma determinada cultura. independentemente de sua origem social, pertinência étnico-ra-
É profundamente marcada pelo meio social em que se desen- cial, credo político ou religioso, desde que nascem.
volve, mas também contribui com ele (BRASIL, 1994a). A criança, Por sua vez, a visão da criança como ser que é também
assim, não é uma abstração, mas um ser produtor e produto da parte da natureza e do cosmo merece igualmente destaque,
história e da cultura (FARIA, 1999). especialmente se considerarmos as ameaças de esgotamento
Olhar a criança como ser que já nasce pronto, ou que de recursos em nosso planeta e as alterações climáticas eviden-
nasce vazio e carente dos elementos entendidos como neces- tes nos últimos anos. Conforme alerta Tiriba (2005), os seres hu-
sários à vida adulta ou, ainda, a criança como sujeito conhe- manos partilham a vida na Terra com inúmeras espécies animais,
cedor, cujo desenvolvimento se dá por sua própria iniciativa e vegetais e minerais, sem as quais a vida no planeta não pode
capacidade de ação, foram, durante muito tempo, concepções existir. Essas espécies, por sua vez, interagem permanentemen-
amplamente aceitas na Educação Infantil até o surgimento das te, estabelecendo-se um equilíbrio frágil e instável entre todos
bases epistemológicas que fundamentam, atualmente, uma os seres que habitam o ar, a água dos rios, dos lagos e dos
pedagogia para a infância. Os novos paradigmas englobam e mares, os campos, as florestas e as cidades, em nosso sistema
transcendem a história, a antropologia, a sociologia e a própria solar e em todo o universo.
psicologia resultando em uma perspectiva que define a crian- A intenção de aliar uma concepção de criança à qualidade
ça como ser competente para interagir e produzir cultura no dos serviços educacionais a ela oferecidos implica atribuir um
meio em que se encontra. papel específico à pedagogia desenvolvida nas instituições pe-
Essa perspectiva é hoje um consenso entre estudiosos da los profissionais de Educação Infantil. Captar necessidades que
Educação Infantil (BONDIOLI e MANTOVANI, 1998; SOUZA; bebês evidenciam antes que consigam falar, observar suas
KRAMER, 1991; MYERS, 1991; CAMPOS ET AL., 1993; OLIVEIRA; reações e iniciativas, interpretar desejos e motivações são ha-
ROSSETTI-FERREIRA, 1993; MACHADO, 1998; OLIVEIRA, 2002). bilidades que profissionais de Educação Infantil precisam de-
A interação a que se referem os autores citados não é uma senvolver, ao lado do estudo das diferentes áreas de conhe-
interação genérica. Trata-se de interação social, um processo que cimento que incidem sobre essa faixa etária, a fim de subsidiar
se dá a partir e por meio de indivíduos com modos histórica e de modo consistente as decisões sobre as atividades desen-
culturalmente determinados de agir, pensar e sentir, sendo inviá-
volvidas, o formato de organização do espaço, do tempo, dos
vel dissociar as dimensões cognitivas e afetivas dessas interações
materiais e dos agrupamentos de crianças.
e os planos psíquico e fisiológico do desenvolvimento decor-
Pesquisas realizadas desde a década de 1970 (HARDY;
rente (VYGOTSKI, 1986 e 1989). Nessa perspectiva, a interação
social torna-se o espaço de constituição e desenvolvimento da PLATONE; STAMBACK, 1991) enfatizam que todas as crianças
consciência do ser humano desde que nasce (VYGOTSKI, 1991). podem aprender, mas não sob qualquer condição. Antes mes-
Muitas vezes vista apenas como um ser que ainda não mo de se expressarem por meio da linguagem verbal, bebês
é adulto, ou é um adulto em miniatura, a criança é um ser e crianças são capazes de interagir a partir de outras lingua-
humano único, completo e, ao mesmo tempo, em crescimen- gens (corporal, gestual, musical, plástica, faz-de-conta, entre
to e em desenvolvimento. É um ser humano completo porque outras) desde que acompanhadas por parceiros mais experien-
tem características necessárias para ser considerado como tal: tes. Apoiar a organização em pequenos grupos, estimulando
constituição física, formas de agir, pensar e sentir. É um ser em as trocas entre os parceiros; incentivar a brincadeira; dar-lhes
crescimento porque seu corpo está continuamente aumentando tempo para desenvolver temas de trabalho a partir de pro-
em peso e altura. É um ser em desenvolvimento porque essas ca- postas prévias; oferecer diferentes tipos de materiais em função
racterísticas estão em permanente transformação. As mudanças dos objetivos que se tem em mente; organizar o tempo e o
que vão acontecendo são qualitativas e quantitativas— o recém- espaço de modo flexível são algumas formas de intervenção
nascido é diferente do bebê que engatinha, que é diferente da- que contribuem para o desenvolvimento e a aprendizagem das
quele que já anda, já fala, já tirou as fraldas. O crescimento e o crianças. As iniciativas dos adultos favorecem a intenção co-
desenvolvimento da criança pequena ocorrem tanto no plano municativa das crianças pequenas e o interesse de umas pelas
físico quanto no psicológico, pois um depende do outro. outras, o que faz com que aprendam a perceber-se e a levar em

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

conta os pontos de vista dos outros, permitindo a circulação sionais da instituição e da comunidade nesse processo, não só
das idéias, a complementação ou a resistência às iniciativas dos para que os aspectos citados sejam efetivamente considerados
parceiros. A oposição entre parceiros, por exemplo, incita a no desenvolvimento da proposta como também para cumprir
própria argumentação, a objetivação do pensamento e o recuo a legislação.
reflexivo das crianças. (MACHADO, 1998). Em síntese, para propor parâmetros de qualidade para a
Ao se levar em conta esses aspectos, não se pode perder Educação Infantil, é imprescindível levar em conta que as crian-
de vista a especificidade da pedagogia da Educação Infantil, ças desde que nascem são:
como afirma Rocha (1999): • cidadãos de direitos;
Enquanto a escola tem como sujeito o aluno, e como ob- • indivíduos únicos, singulares;
jeto fundamental o ensino nas diferentes áreas através da aula; a • seres sociais e históricos;
creche e a pré-escola têm como objeto as relações educativas • seres competentes, produtores de cultura;
travadas num espaço de convívio coletivo que tem como sujei- • indivíduos humanos, parte da natureza animal, vegetal e
to a criança de 0 até 6 anos de idade. mineral.
É importante destacar que essas relações educativas, às Por sua vez, as crianças encontram-se em uma fase de vida
quais a autora se refere, na instituição de Educação Infantil são em que dependem intensamente do adulto para sua sobre-
perpassadas pela função indissociável do cuidar/educar, tendo vivência (MACHADO, 2001). Precisam, portanto, ser cuidadas e
em vista os direitos e as necessidades próprios das crianças no educadas, o que implica:
que se refere à alimentação, à saúde, à higiene, à proteção e • ser auxiliadas nas atividades que não puderem realizar so-
ao acesso ao conhecimento sistematizado. Este último aspec- zinhas;
to torna-se especialmente relevante no caso das creches no • ser atendidas em suas necessidades básicas físicas e psi-
Brasil, onde em muitas delas ainda predomina um modelo de cológicas;
atendimento voltado principalmente à alimentação, à higiene e • ter atenção especial por parte do adulto em momentos
ao controle das crianças, como demonstra a maioria dos diag- peculiares de sua vida.
nósticos e dos estudos de caso realizados em creches brasilei- Além disso, para que sua sobrevivência esteja garantida e
ras (CAMPOS; FULLGRAF; WIGGERS, 2004). Essa afirmação evi- seu crescimento e desenvolvimento sejam favorecidos, para que
o cuidar/educar sejam efetivados, é necessário que sejam ofe-
dencia a não-superação do caráter compensatório da Educação
recidas às crianças dessa faixa etária condições de usufruírem
Infantil denunciado por Kramer (1987) que ainda se manifesta
plenamente suas possibilidades de apropriação e de produção
nos dias atuais, como também a polarização assistência ver-
de significados no mundo da natureza e da cultura. As crian-
sus educação, apontada insistentemente por Kuhlmann Jr. (1998).
ças precisam ser apoiadas em suas iniciativas espontâneas e
Sabemos que não basta apenas transferir as creches para os
incentivadas a:
sistemas de ensino, pois “na sua história, as instituições pré-es-
• brincar;
colares destinaram uma educação de baixa qualidade para as
• movimentar-se em espaços amplos e ao ar livre;
crianças pobres, e isso é que precisa ser superado” (p. 208).
• expressar sentimentos e pensamentos;
Assim, a ênfase na apropriação de significados pelas crian- • desenvolver a imaginação, a curiosidade e a capacidade
ças, na ampliação progressiva de conhecimentos de modo con- de expressão;
textualizado, com estratégias apropriadas às diferentes fases do • ampliar permanentemente conhecimentos a respeito do
desenvolvimento infantil, parece bastante justificada. mundo da natureza e da cultura apoiadas por estratégias peda-
Da mesma forma que defendemos uma perspectiva educa- gógicas apropriadas;
cional que respeite a diversidade cultural e promova o enrique- • diversificar atividades, escolhas e companheiros de inte-
cimento permanente do universo de conhecimentos, atentamos ração em creches, pré-escolas e centros de Educação Infantil.
para a necessidade de adoção de estratégias educacionais que A criança, parte de uma sociedade, vivendo em nosso país,
permitam às crianças, desde bebês, usufruírem da natureza, ob- tem direito:
servarem e sentirem o vento, brincarem com água e areia, ativi- • à dignidade e ao respeito;
dades que se tornam especialmente relevantes se considerarmos • autonomia e participação;
que as crianças ficam em espaços internos às construções na • à felicidade, ao prazer e à alegria;
maior parte do tempo em que se encontram nas instituições • à individualidade, ao tempo livre e ao convívio social;
de Educação Infantil. Criando condições para que as crianças • à diferença e à semelhança;
desfrutem da vida ao ar livre, aprendam a conhecer o mundo • à igualdade de oportunidades;
da natureza em que vivemos, compreendam as repercussões das • ao conhecimento e à educação;
ações humanas nesse mundo e sejam incentivadas em atitudes • a profissionais com formação específica;
de preservação e respeito à biodiversidade, estaremos difundin- • a espaços, tempos e materiais específicos.
do uma concepção de educação em que o ser humano é parte 2 O debate sobre a qualidade da educação e da Educa-
da natureza e não seu dono e senhor absoluto (TIRIBA, 2005). ção Infantil
Os aspectos anteriormente abordados devem ser consi-
derados no processo de discussão e elaboração de diretrizes Na última década do século XX, o discurso sobre a quali-
pedagógicas dos sistemas de ensino e das propostas peda- dade da educação ocupou um espaço significativo no debate
gógicas das instituições de Educação Infantil. Vale ressaltar a educacional e direcionou políticas implantadas no quadro das
relevância da participação dos professores, dos demais profis- reformas educacionais nos diversos países. Sucedendo a um pe-

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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ríodo de significativa expansão de matrículas na Educação Bá- instrumento flexível para ajudar a comunidade escolar a avaliar
sica, com a crescente presença de alunos das classes populares e a melhorar a qualidade da escola. Em recente seminário na
nas escolas, houve um deslocamento das preocupações com a Bolívia, promovido pelo Conselho de Educação de Adultos da
democratização do acesso para a ênfase nas questões de per- América Latina (CEAAL, 2003), foram apresentadas e debatidas
manência. diversas abordagens desse tema, entre as quais essa experiên-
A educação submeteu-se a uma crescente preocupação cia brasileira e documentos de outros países com critérios de
com medidas de eficiência na gestão dos recursos disponíveis qualidade elaborados por centrais sindicais, movimentos popu-
marcadas pela influência dos órgãos de cooperação interna- lares e organizações não governamentais.
cional. Concepções originadas do mundo empresarial foram No que se refere à Educação Infantil, a origem do debate
adotadas, tais como os chamados programas de qualidade sobre a qualidade foi marcada pela abordagem psicológica. No
total, que procuram substituir os controles externos do traba- início, a preocupação com os supostos efeitos negativos da
lho por uma adesão do trabalhador às metas de qualidade das separação entre mãe e criança pequena levou a um questio-
empresas. No lugar de uma estrutura hierarquizada de admi- namento da creche centrado principalmente nos aspectos afe-
nistração dos sistemas de educação, buscou-se descentrali- tivos do desenvolvimento infantil. Em um segundo momento,
zar responsabilidades e tarefas, ao mesmo tempo em que se sob efeito das teorias da privação cultural a partir da década
montou um sofisticado aparato de avaliação dos resultados de de 1960, houve um deslocamento do foco para o desenvol-
aprendizagem dos alunos, resultados estes considerados produ- vimento cognitivo da criança, visando ao seu aproveitamento
to da educação. futuro na escola primária. O uso de testes psicológicos foi in-
Muitos estudiosos têm analisado criticamente essas ten- centivado, e os resultados considerados positivos de algumas
dências, o que vem permitindo uma evolução do debate nos experiências, principalmente nos Estados Unidos, reforçaram os
anos mais recentes. Casassus (2002) e Enguita (1994) chamam argumentos em defesa da expansão da oferta de educação
a atenção para o risco presente nesse deslocamento do dis- pré-escolar para as crianças menores de 6 anos.
curso que substitui a preocupação com a igualdade pelo foco A continuidade do debate levou a um amadurecimento das
na qualidade, principalmente em contextos de desigualdade abordagens no campo da psicologia do desenvolvimento. Em
social, nos quais os processos de exclusão acontecem tanto diversos países ocorreram mudanças de ênfase que contribuíram
dentro como fora da escola. Nesse sentido, recuperam um de- para novas concepções direcionadas para a melhoria da qua-
bate desenvolvido em décadas passadas, que opunha a preo- lidade. A crítica ao foco exclusivo na separação mãe–criança, a
cupação com qualidade à exigência da “quantidade”, ou seja, à valorização do papel da mulher na sociedade, a mudança de uma
democratização do acesso à educação (BEISIEGEL, 1981). Apple preocupação voltada principalmente à escolaridade futura para a
(2000) mostra como a importação de critérios de qualidade valorização das experiências vividas no cotidiano das instituições
baseados na lógica do mercado— que incentivam a competi- de Educação Infantil foram fatores importantes nesse processo.
ção entre escolas, premiam os professores de acordo com os As abordagens de avalia-ção da qualidade também passaram a
resultados dos alunos e equiparam as famílias a consumidores conferir maior atenção aos contextos familiares e locais, emer-
de produtos e serviços— tende a ampliar as desigualdades nas gindo desses trabalhos um consenso a respeito da importância
escolas. Outros autores argumentam que a qualidade da edu- da formação em serviço e da participação das famílias. Foram
cação não se mede somente pelos resultados obtidos pelos consideradas também nesse debate as diferenças de tradição e
alunos nos testes de aprendizagem, mas também pelo processo as várias modalidades nacionais de oferta de atendimento edu-
educativo vivido na escola, que envolve aspectos mais amplos cacional, as questões das desigualdades sociais e o respeito à
de formação para a cidadania, o trabalho e o desenvolvimento diversidade cultural.
da pessoa. Na Comunidade Européia, em 1991, foi publicado o docu-
Por sua vez, o respeito à diversidade cultural e étnica e a mento Quality in services for young children: a discussion pa-
consideração das realidades locais, reivindicados por diversos per (Qualidade dos serviços para a criança pequena: um texto
movimentos sociais, no bojo de um questionamento sobre a para discussão) (BALAGEUR; MESTRES; PENN, 1992), elabora-
imposição de critérios estabelecidos unilateralmente a partir do por integrantes da Rede Européia de Atendimento Infantil,
da lógica dos grupos dominantes, reforçam a demanda por coordenada por Peter Moss, pesquisador ligado à Universidade
processos mais participativos de definição e aferição da quali- de Londres. O contexto europeu, caracterizado por uma enorme
dade da educação. diversidade de culturas, línguas, identidades nacionais e regio-
No Brasil, iniciativas nesse sentido têm sido realizadas nais, exigiu a adoção de uma perspectiva sensível às diferenças
por administrações municipais que adotaram a concepção de de tradição e às várias modalidades nacionais de oferta de aten-
“qualidade social” e por grupos que militam na área educacio- dimento educacional. Por sua vez, as experiências consolidadas
nal. Um dos exemplos é a e reconhecidas por sua qualidade, como, por exemplo, aquelas
Consulta sobre qualidade da educação na escola (2002), desenvolvidas nas regiões do norte da Itália e na Escandiná-
pesquisa realizada em dois estados brasileiros com apoio da via, inspiraram e ajudaram a formulação de uma concepção de
Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que procurou qualidade mais avançada, atenta para as questões das desi-
ouvir o que diretores, professores, funcionários, alunos, pais gualdades sociais e ao mesmo tempo voltada para o respeito à
e pessoas da comunidade pensam sobre qualidade da esco- diversidade cultural.
la. Outro exemplo é o projeto Indicadores da Qualidade na Mais recentemente, foi feita uma revisão dessa experiência,
Educação (2004), realizado por Ação Educativa, Unicef, PNUD a qual evidencia a crescente inquietação com os grupos sociais
e Inep, com participação ampla, que buscou desenvolver um de origem étnica, cultural e religiosa diversa dos povos euro-

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

peus, representados ali principalmente pelos imigrantes dos 1)a qualidade é um conceito socialmente construído, sujei-
países em desenvolvimento. Assim, os problemas decorrentes to a constantes negociações;
do confronto entre identidades diferentes contribuem para 2)depende do contexto;
a ênfase maior na necessidade de uma relativização de pers- 3)baseia-se em direitos, necessidades, demandas, conheci-
pectivas na definição de padrões de atendimento educacional. mentos e possibilidades;
Peter Moss fez uma síntese interessante desse debate du- 4)a definição de critérios de qualidade está constantemen-
rante o II COPEDI Congresso Paulista de Educação Infantil, reali- te tensionada por essas diferentes perspectivas.
zado em 2000. Segundo ele:
1) a qualidade é um conceito relativo, baseado em valores; 3 Resultados de pesquisas recentes
2) definir qualidade é um processo importante por si mes- Já existe um conhecimento acumulado, a partir de pesquisas
mo, oferecendo oportunidades para compartilhar, discutir e en- empíricas, sobre os fatores associados a resultados obtidos por
tender valores, idéias, conhecimentos e experiências; 3) o pro- crianças em seu desempenho cognitivo e socioemocional que
cesso deve ser participativo e democrático, envolvendo grupos estão ligados a características dos estabelecimentos de Edu-
diferentes, que incluem alunos, famílias e profissionais; 4) as ne-
cação Infantil frequentados. Essas pesquisas procuram controlar
cessidades, as perspectivas e os valores desses grupos podem
os demais fatores ligados às condições e às características das
divergir; 5) portanto, definir qualidade é um processo dinâmico,
famílias e do meio social e cultural das crianças e suas caracte-
contínuo, requer revisões e nunca chega a um enunciado defini-
tivo. (MOSS, 2002, p. 20-21). rísticas individuais, no sentido de identificar o peso dos fatores
Na mesma linha de reflexão, Anna Bondioli (2004, p. 13-14) escolares na avaliação dos resultados obtidos pelas crianças em
sintetiza a natureza da qualidade nos serviços para a “primeiríssi- diversos momentos, desde o final da etapa pré-escolar até as
ma” infância, na perspectiva dos educadores da região da Emília primeiras séries do Ensino Fundamental.
Romanha, na Itália: Esses resultados são importantes no sentido de sugerir
• a qualidade tem uma natureza transacional; quais seriam as dimensões de qualidade estratégicas a serem
• a qualidade tem uma natureza participativa; priorizadas para se obter os resultados mais positivos no de-
• a qualidade tem uma natureza auto-reflexiva; sempenho presente e futuro das crianças. Em décadas passa-
• a qualidade tem uma natureza contextual e plural; das, foram realizados vários estudos desse tipo, um dos quais
• a qualidade é um processo; bastante divulgado, que acompanhou um grupo de crianças
• a qualidade tem uma natureza transformadora. até a fase adulta, realizado nos Estados Unidos, o Perry School
No caso brasileiro, a desigualdade apresenta diversas faces, Project. Apesar de polêmico, esse estudo até hoje é citado
como há tempos aponta Rosemberg (1996, 1999a e 1999b), para reforçar o argumento de que investimentos em Educação
não se resumindo às diferenças sociais e econômicas, mas ex- Infantil de boa qualidade produzem resultados positivos a lon-
pressando-se também nas discriminações de etnia e gênero, nos go prazo, inclusive do ponto de vista econômico.
contrastes entre a cidade e o campo e entre as regiões do país. No Brasil, um estudo promovido pelo Banco Mundial e
Em um país marcado por tantas diferenças, o equilíbrio pelo Ipea (2001) utilizou dados do IBGE para calcular os efei-
entre a preocupação com a igualdade e a preocupação com tos da frequência à pré-escola. A pesquisa baseou-se em dados
o respeito às diferenças nem sempre é fácil de alcançar. O de- sobre a situação escolar passada de uma amostra da população
sigual acesso à renda e aos programas sociais está marcado entre 25 e 64 anos de idade para avaliar retrospectivamente os
por esses diversos pertencimentos de classe, de etnia e de gê- efeitos dessa variável sobre a escolaridade, o emprego e o estado
nero, heranças históricas e culturais que também se expressam nutricional dos sujeitos. As conclusões apontam para um efei-
no acesso à Educação Infantil e na qualidade dos programas to significativo da frequência à pré-escola sobre a escolaridade
oferecidos. Assim, no contexto brasileiro, discutir a qualidade dos indivíduos (série completada e repetências), controlando-se
da educação na perspectiva do respeito à diversidade implica
as variáveis de origem socioeconômica. Foram constatadas tam-
necessariamente enfrentar e encontrar caminhos para superar as
bém taxas de retorno econômicas positivas para o investimento
desigualdades no acesso a programas de boa qualidade, que
em pré-escola.
respeitem os direitos básicos das crianças e de suas famílias,
seja qual for sua origem ou condição social, sem esquecer que, A maior parte dessas pesquisas investigou os efeitos de
entre esses direitos básicos, se inclui o direito ao respeito às programas pré-escolares, sendo menor o número de estudos
suas diversas sobre a creche. Como já foi comentado em artigo publicado
identidades culturais, étnicas e de gênero. em 1997, que realizou uma ampla revisão sobre investigações
Ademais, é preciso considerar que não existe ainda um pa- realizadas no Brasil e no exterior, inclusive em outros países da
tamar mínimo de qualidade que caracterize a maior parte dos América Latina, sobre os efeitos da Educação Infantil, os resul-
estabelecimentos de Educação Infantil. Assim, o respeito à di- tados desses estudos reforçam o fato de que as crianças que
versidade e a consideração ao contexto local devem ser rela- frequentam uma Educação Infantil de boa qualidade obtêm
tivizados quando condições adversas, presentes nas creches ou melhores resultados em testes de desenvolvimento e em seu
nas pré-escolas, afetam os direitos básicos da criança pequena, desempenho na escola primária, sendo esses efeitos mais signi-
chegando a significar riscos a seu desenvolvimento físico, psi- ficativos justamente para as crianças mais pobres. Resumindo
cológico e como ser social. as principais conclusões desses estudos, o artigo aponta para
A partir do debate mais geral sobre a qualidade na edu- três fatores de qualidade identificados em diferentes países e
cação e mais especificamente em relação ao atendimento na contextos: a formação dos professores, o currículo e a relação
Educação Infantil, é possível extrair algumas conclusões: da escola com a família (CAMPOS, 1997).

68
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Alguns levantamentos recentes de grande escala estão avaliações realizadas aos 6 anos e mais. Isso foi constatado, so-
procurando esmiuçar melhor esses fatores analisando de per- bretudo, no início da escolaridade formal naquelas crianças que
to características dos diferentes tipos de serviços frequenta- frequentaram, por um longo período, pré-escolas de qualidade.
dos pelas crianças, por meio de estudos longitudinais, em que Quanto ao ambiente familiar, a pesquisa confirma dados de
também são investigados os diversos efeitos constatados no outros estudos no sentido de que a educação e a classe social
desempenho das crianças em determinadas fases de seu de- dos pais são importantes preditores do desenvolvimento inte-
senvolvimento. São assim comparadas as diferentes trajetórias lectual e social, mas observa que a qualidade do ambiente de
de coortes de crianças: aquelas que não frequentam nenhum aprendizagem no lar pode promover o desenvolvimento inte-
tipo de creche ou pré-escola, as que são cuidadas apenas pelos lectual e social em todas as crianças, superando a influência da
pais, as que ficam sob cuidados de outros adultos, e assim por classe social e do nível educacional dos pais.
diante, tentando cobrir as várias situações possíveis e testando No que diz respeito às características dos centros de edu-
estatisticamente as associações observadas entre as diferentes cação pré-escolar investigados, o estudo encontrou evidências
experiências e os resultados das crianças, medidos com auxílio adicionais de que a qualidade pode ser encontrada em todos
de diversas técnicas. os tipos de pré-escola, entretanto as de melhor qualidade são
Dois grandes projetos de pesquisa, um na Inglaterra e aquelas mais formais, que contam com pessoal qualificado e
outro nos EUA, investigam atualmente essas questões. Os re- currículo mais sistematizado, combinando educação e cuidado,
sultados possíveis de serem acessados, em publicações e pela com um máximo de 13 crianças por adulto e geralmente duas
Internet3, são ainda parciais, pelo fato de serem estudos longi- professoras por classe. Outros fatores que contribuem para a
tudinais com muitos dados ainda em análise. O projeto britâ- qualidade são as relações interativas calorosas com as crianças
nico incluiu crianças somente a partir dos 3 anos de idade, e e o entendimento de que o desenvolvimento educacional e o
o norte-americano selecionou sua amostra desde o momento desenvolvimento social são aspectos complementares. Outros
do nascimento das crianças, apresentando resultados principal- fatores são a oferta de ambientes instrutivos de aprendizagem,
mente sobre a frequência a creches e outras modalidades de que contem com recursos pedagógicos adequados e uma forma-
cuidado a crianças de até 3 anos. ção continuada em serviço. (SYLVIA et al., 1999a e b).
O EPPE The Effective Provision of Pre-School Education A pesquisa constatou também que os centros com maior
Project (Projeto sobre a Oferta Efetiva de Educação Pré-Esco- tradição de vinculação com a área educacional foram os que
lar), coordenado pelo Instituto de Educação da Universidade de alcançaram melhor pontuação de qualidade, contando com
Londres, contou com financiamento governamental e foi inicia- pessoal mais qualificado e melhor supervisão. Aqueles com
do em 1997, com duração prevista de cinco anos (SYLVIA et al., uma tradição mais ligada à área de bem-estar social foram os
1999a e b). No Reino Unido, as crianças iniciam a primeira série que apresentaram piores resultados, mas são justamente os que
do ensino primário no ano em que completam 5 anos de ida- contam com pessoal com pior qualificação, pior remuneração,
de. Assim, o estudo seguiu uma amostra de 3 mil crianças de 3 com pouca supervisão e alta rotatividade.
a 7 anos de idade que estavam matriculadas em 140 centros de Apesar de obtidos em contextos bem diversos dos en-
Educação Infantil, de diversas modalidades, durante dois anos contrados no Brasil, esses resultados constituem importantes
da etapa pré-escolar e três anos de escola primária. Para fins de subsídios para a definição de parâmetros de qualidade, pois
comparação, na amostra também foram incluídas mais duzentas muitas de suas conclusões são também confirmadas por es-
crianças que não haviam frequentado pré-escola no momento tudos realizados em outros países. Por exemplo, verificou-se
do seu ingresso na escola primária. uma associação entre condições de vida das famílias e acesso à
Foi coletada uma série de dados sobre as crianças, seus pré-escola na população estudada, sendo encontrada uma maior
pais, o ambiente doméstico e as modalidades de pré-escola proporção de crianças de famílias com piores condições de vida
frequentadas, que cobriram os diversos tipos de serviços exis- no grupo daquelas que nunca frequentaram pré-escola do que
tentes naquele país, inclusive o chamado playgroup (grupo de na amostra de alunos de pré-escolas, fato também constatado
brincadeira), um tipo de Educação Infantil informal que utiliza no Brasil.
adultos e espaços da comunidade, mas nem sempre oferece Outro estudo que vem sendo desenvolvido sobre a qua-
atividades em todos os dias da semana. lidade, que constitui um amplo programa que envolve diversas
Em relação ao impacto da frequência à pré-escola, a pes- pesquisas sobre o cuidado de crianças até 3 anos de idade e
quisa aponta que ela favorece o desenvolvimento da criança, a o desenvolvimento juvenil é o SECC (Study of Early Child Care
duração da frequência é importante, e o início antes dos 3 anos and Youth Development). Sendo coordenado pelo The NICHD
de idade pode ser relacionado com maior desenvolvimento National Institute of Child Health & Human Development (Ins-
intelectual. Todavia, a frequência em tempo integral não pode tituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano)
ser correlacionada a melhores resultados para as crianças em do Ministério da Saúde dos Estados Unidos, conta com a parti-
comparação com o meio período. Por sua vez, crianças mais po- cipação de equipes de diversas universidades daquele país.
bres podem se beneficiar significativamente de uma experiência Os resultados disponíveis na Internet desse amplo progra-
pré-escolar de qualidade, especialmente quando frequentam ma de pesquisas em andamento em dez localidades dos EUA
centros que recebem população heterogênea do ponto de ainda são preliminares, parciais e contraditórios em alguns as-
vista da origem social. Quanto à qualidade das práticas nas pectos. A pesquisa foi iniciada em 1989 para investigar as re-
pré-escolas, foi evidenciado que está diretamente relacionada lações entre as experiências de cuidado das crianças pequenas
a melhores resultados no desenvolvimento intelectual e so- e os resultados em seu desenvolvimento. A primeira fase do
ciocomportamental das crianças e esses efeitos persistem nas estudo acompanhou uma coorte de 1.364 crianças escolhidas

69
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

de acordo com uma amostragem estratificada, desde seu nas- nhece o dever do Estado e o direito da criança a ser atendida
cimento, em 1991, até os 3 anos de idade; uma segunda fase em creches e pré-escolas e vincula esse atendimento à área
seguiu um grupo de 1.226 delas, dos 3 anos até a segunda educacional. Ressalta-se também a presença no texto constitu-
série primária; a terceira fase acompanha 1.100 crianças até a cional do princípio da igualdade de condições para o acesso e a
sétima série, em 2005. O estudo utiliza uma grande variedade permanência na escola, avanços fundamentais na perspectiva da
de estratégias, buscando avaliar a qualidade dos ambientes nos qualidade e da ampliação dos direitos da criança independen-
quais as crianças convivem, tanto no âmbito doméstico como temente de sua origem, raça, sexo, cor, gênero ou necessidades
no institucional, no caso daquelas que frequentaram creches. educacionais especiais.
De modo geral, na faixa de idade considerada, foi cons- Em 1990 o Estatuto da Criança e do Adolescente ratifica os
tatado que as variáveis familiares têm um peso significativo dispositivos enunciados na constituição. O MEC também teve
sobre o desenvolvimento das crianças. Os efeitos da frequência um importante papel, inicialmente na coordenação do Movi-
a creches, quando positivos, mostraram-se complementares às mento Criança Constituinte, em seguida nos compromissos
condições do ambiente familiar. assumidos internacionalmente na Conferência de Jomtien, e
na realização dos debates no âmbito do I Simpósio Nacional
A maior parte das pesquisas teve dificuldade em separar
de Educação Infantil (1994), preparatório à Conferência Na-
os efeitos das experiências na família daqueles ligados às carac-
cional de Educação para Todos. Nesse encontro, realizado no
terísticas do tipo de cuidado oferecido à criança fora da família.
marco do Plano Decenal de Educação para Todos, ao lado de
Assim mesmo, algumas características dos serviços observados, outros temas, foi realizada uma mesa-redonda sobre experiên-
como, por exemplo, a razão adulto–criança, o tamanho dos gru- cias internacionais de melhoria da qualidade na Educação Infan-
pos, a formação e a qualificação do educador, revelaram-se til (ROSEMBERG; JENSEN; PERALTA, 1994).
significativamente associados ao desempenho das crianças em Entre 1994 e 1996, o MEC realizou vários seminários e deba-
diversos aspectos. Outro estudo confirmou essas conclusões, tes, com a participação de diferentes segmentos e organizações
indicando que existe fundamento empírico para políticas de sociais, buscando contribuir para a construção de uma nova
melhoria nas regulamentações oficiais sobre formação dos concepção para a educação das crianças de 0 até 6 anos. As
educadores e proporção de crianças por pessoal. discussões realizadas nesses eventos deram origem a uma sé-
Uma das pesquisas examinou de perto grupos de crianças rie de publicações. São elas: Política Nacional de Educação In-
de famílias de baixa renda em três níveis diferentes de pobreza. fantil (Brasil, 1994a); Educação Infantil no Brasil: situação atual
Como era de se esperar, as piores condições de vida das fa- (Brasil, 1994b); Por uma política de formação do profissional de
mílias estavam associadas a desempenhos mais baixos das crian- Educação Infantil (Brasil, 1994c); Critérios para um atendimento
ças. Esse estudo conclui que a oferta de creches é essencial em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças
para aquelas famílias que tentam permanecer fora do limite de (Brasil, 1995a); Educação Infantil: bibliografia anotada (Brasil,
pobreza. Nos grupos mais pobres, uma melhor qualidade da 1995b) e Propostas pedagógicas e currículo em Educação In-
creche se mostrou associada a melhores resultados quanto ao fantil (Brasil, 1996). Essas publicações contaram com a colabora-
desenvolvimento das crianças. ção de muitos professores e pesquisadores, configurando uma
Apesar de muitos desses resultados não serem ainda con- produção intensa e rara entre profissionais ligados à universida-
clusivos, a maioria deles aponta para a importância da qualidade de e profissionais com responsabilidades executivas.
do ambiente sobre o desenvolvimento das crianças nessa fase Dois desses trabalhos merecem destaque por enfocarem
de vida em todas as situações observadas: na família, na creche, diretamente a questão da qualidade na Educação Infantil. O pri-
em espaços domésticos fora da família. Uma recomendação meiro foi o documento sobre critérios de qualidade, que com-
que poderia ser deduzida desses resultados seria que, espe- punha um conjunto formado também por um cartaz contendo
cialmente nesses três primeiros anos de vida, a complementa- os 12 critérios para a unidade creche e por um vídeo – Nossa
creche respeita criança – acompanhado de um folheto com su-
ridade entre os cuidados e a educação na família e na creche
gestões para discussão em grupos de formação. Seu conteú-
deve ser buscada, o que mostra a importância de uma boa co-
do baseou-se em uma experiência de assessoria e intervenção
municação entre os adultos que atuam nesses dois espaços.
em creches conveniadas do município de Belo Horizonte, que
Estudos anteriores realizados nos Estados Unidos já haviam contou com a parceria de diversas instituições e de órgãos da
identificado alguns fatores de qualidade de creches associa- prefeitura. Reflete, assim, a realidade encontrada nessas ins-
dos a bons resultados de desempenho das crianças, confirma- tituições, que pela primeira vez contavam com uma supervi-
dos por esses dados mais recentes. O tamanho dos grupos de são sistemática da prefeitura. Procurou abordar os problemas
crianças, a intensidade das interações entre adultos e crianças e concretos observados nessas creches e as dificuldades que as
o conhecimento dos educadores sobre a educação de crianças equipes de educadoras sem formação enfrentavam em seu co-
pequenas são fatores significativamente associados aos pro- tidiano, comum à maioria das instituições que atendem crian-
gressos das crianças (CAMPOS, 1997). ças pequenas das classes populares pelo país afora (BRASIL,
1995a). segundo foi um estudo sobre propostas pedagógicas
4 A qualidade na perspectiva da legislação e da atuação e currículo que realizou um levantamento nacional dos docu-
dos órgãos oficiais no Brasil mentos elaborados por secretarias estaduais e de municípios de
No Brasil, a partir da década de 1980, no bojo do proces- capital, desenvolvendo uma metodologia de análise e avaliação
so de redemocratização do país, o campo da Educação Infan- desses documentos e fornecendo um modelo orientador para
til ganhou um grande impulso, tanto no plano das pesquisas a elaboração e a implementação de propostas pedagógicas
e do debate teórico quanto no plano legal, propositivo e de ou curriculares para unidades ou sistemas de educação infantil,
intervenção na realidade. Em 1988, a Constituição Federal reco- (BRASIL, 1996).

70
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Assim sendo, após a aprovação da LDB, o MEC promoveu
(Lei nº 9.394/96) foi promulgada, contribuindo de forma decisi- uma discussão no âmbito do Conselho Nacional e dos Conse-
va para a instalação no país de uma concepção de Educação lhos Estaduais e Municipais de Educação que culminou com a
Infantil vinculada e articulada ao sistema educacional como um publicação do documento Subsídios para credenciamento e fun-
todo. Na condição de primeira etapa da Educação Básica, im- cionamento de instituições de Educação Infantil (BRASIL, 1998a).
prime-se uma outra dimensão à Educação Infantil, na medida Os textos dessa publicação contêm sugestões de critérios de
em que passa a ter uma função específica no sistema educacio- qualidade que servem como referência para a elaboração das
nal: a de iniciar a formação necessária a todas as pessoas para regulamentações específicas para a Educação Infantil pelos Con-
que possam exercer sua cidadania. Por sua vez, a definição da selhos Estaduais e Municipais.
finalidade da Educação Infantil como sendo o “desenvolvimen- Ainda no final da década de 1990, o MEC elaborou e distri-
to integral da criança até 6 anos de idade, em seus aspectos físi- buiu às escolas de todo o país o documento Referencial Curri-
co, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da cular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998b). Em se-
família e da comunidade” evidencia a necessidade de se tomar guida, desenvolveu um programa de formação continuada nos
a criança como um todo para promover seu desenvolvimento sistemas de ensino que tinha como objetivo principal divulgar e
e implica compartilhamento da responsabilidade familiar, co- discutir esse documento. O Referencial visa auxiliar o
munitária e do poder público. A avaliação na Educação Infantil professor na realização de seu trabalho educativo diário
é definida a partir dessa concepção de desenvolvimento inte- com as crianças de 0 a 6 anos. Aponta metas de qualidade para
grado, e assim deve ser processual acontecendo de forma siste- garantir o desenvolvimento integral das crianças, reconhecen-
mática e contínua. Seu acompanhamento e registro têm objeti- do seu direito à infância como parte de seus direitos de cida-
vos de diagnóstico e não de promoção ou retenção, exigindo dania (p. 5, vol. I). Sendo composto por três volumes, o primeiro
a redefinição das estratégias metodológicas utilizadas com as apresenta uma reflexão geral sobre o atendimento no Brasil, so-
crianças de 0 até 6 anos de idade. bre as concepções de criança, de educação e do profissional; o
Em decorrência da inserção da Educação Infantil na Educa- segundo trata da Formação pessoal e social e o terceiro volume
ção Básica, a formação exigida para o profissional que atua com ocupa-se dos diferentes conteúdos incluídos em Conhecimento
essa faixa etária passa a ser a mesma daquele que trabalha nas do mundo. Sua primeira versão foi comentada por um significa-
primeiras séries do Ensino Fundamental: nível superior em curso tivo número de pareceristas individuais, evidenciando críticas e
de licenciatura, admitindose, como formação mínima, a ofere- polêmica em alguns meios . Contudo, vale ressaltar a importância
cida em nível médio na modalidade normal. Considerando que desse documento, que se constitui na primeira proposta curricular
o professor tem um papel extremamente importante na garantia oficial destinada igualmente à creche e à pré-escola5.
da qualidade do trabalho realizado na educação, além de tratar O Referencial havia sido antecedido por um trabalho de-
da formação inicial dos profissionais de Educação Infantil, a LDB senvolvido pelo próprio MEC na década de 1990, os dois vo-
estabelece que os sistemas promoverão a valorização desses lumes de Professor da pré-escola (BRASIL, 1991), os quais con-
profissionais, assegurando-lhes nos termos dos estatutos e dos tinham textos que acompanhavam vinte vídeos com o título
planos de carreira do magistério público, ingresso exclusivamen- geral de Menino, quem foi teu mestre? e apresentavam uma
te por concurso de provas e títulos, formação continuada, piso abordagem bastante aberta e pouco estruturada de um currícu-
salarial profissional, progressão funcional, período reservado a lo para a pré-escola.
estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga horária, e No âmbito da Câmara de Educação Básica (CEB) do Conse-
condições adequadas de trabalho. lho Nacional de Educação (CNE), de acordo com as atribuições
De acordo com os dispositivos constitucionais e com a que lhe foram conferidas pela nova legislação6, foram aprova-
LDB, cabe aos municípios a responsabilidade pela Educação das as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil,
Infantil. Mas para que o reconhecimento legal do dever do como Resolução CNE/CEB n° 1 de
Estado e do direito da criança a ser atendida em creches e 07/04/1999 (BRASIL, 1999b). Essas diretrizes têm caráter
pré-escolas possa ser efetivado e para que esse atendimento se mandatório para todos os sistemas municipais e/ou estaduais
vincule efetivamente à área educacional, é necessária uma ação de educação, diferentemente do Referencial, que se constitui
conjunta dos governos, nas instâncias federal, estadual e munici- apenas em um documento orientador do trabalho pedagógico.
pal, e a parceria com a sociedade. A resolução que instituiu essas diretrizes foi precedida por um
Nas disposições transitórias dessa lei, foi estabelecido parecer que trata de várias questões relativas à qualidade (Pare-
um prazo de três anos, a contar da data de sua publicação, cer CNE/CEB nº 22/98, de 17/12/98). Por exemplo, na relação
para que as creches e as pré-escolas existentes ou que vies- adulto — criança, indica a seguinte proporção:
sem a ser criadas se integrassem ao respectivo sistema de en- • 1 professor para 6 a 8 bebês de 0 a 2 anos ;
sino. Para que a integração se efetivasse, era necessário que os • 1 professor para cada 15 crianças de 3 anos;
Conselhos de Educação elaborassem regulamentações para o • 1 professor para cada 20 crianças de 4 a 6 anos.
credenciamento e o funcionamento das instituições de Educa- Tanto o Parecer quanto a Resolução são muito claros ao
ção Infantil. A definição e o cumprimento dessas normas teriam, englobarem na nomenclatura instituições de Educação Infan-
certamente, impacto direto na qualidade do atendimento, na til creches, pré-escolas, classes e centros de Educação Infantil.
medida em que visavam garantir que as creches e as pré-es- Reforçam também a faixa etária de 0 até 6 anos como um todo
colas tivessem espaço físico e materiais adequados, formação íntegro e delimitador das matrículas nas instituições de Educa-
do profissional de acordo com a exigência legal e proposta ção Infantil. Em ambos, a criança ocupa um lugar central como
pedagógica, entre outros aspectos. sujeito de direitos.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

As Diretrizes definem em seu art. 3º os fundamentos nor- No que se refere às escolas indígenas, em 1999 o CN E
teadores que devem orientar os projetos pedagógicos desenvol- elaborou o Parecer n.º 14/99 (B RASI L, 1999c) sobre Diretrizes
vidos nas instituições de Educação Infantil: Curriculares Nacionais da Educação Escolar Indígena. Levando
a)“Princípios Éticos da Autonomia, da Responsabilidade, da em consideração a necessidade de superar a longa história
Solidariedade e do Respeito ao Bem Comum; de imposição de modelos educacionais estranhos à cultura
b)Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de Cidadania, dos povos indígenas e as aspirações desses povos por uma
do Exercício da Criticidade e do Respeito à Ordem Democrá- educação que respeite e valorize suas identidades étnicas, essas
tica; diretrizes partem do artigo 210 § 2º da Constituição, que diz:
c)Princípios Estéticos da Sensibilidade, da Criatividade, da O ensino regular será ministrado em língua portuguesa, as-
Ludicidade e da Diversidade de Manifestações Artísticas e Cul- segurada às comunidades indígenas também a utilização de suas
turais.” línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.
O CNE também se ocupou da questão da formação dos A LDB reforça esse direito, definindo em seu artigo 78 que:
professores que atuam com às crianças de 0 até 6 anos. Em O sistema de ensino da União, com a colaboração das
1999, foram instituídas as Diretrizes Curriculares Nacionais para agências federais de fomento à cultura e de assistência aos
a formação de docentes da Educação Infantil e dos anos iniciais índios, desenvolverá programas integrantes de ensino e pesqui-
do Ensino Fundamental, em nível médio, na modalidade Normal sa para a oferta de educação bilíngue intercultural aos povos
(Resolução CNE/CEB nº 2, de 19/04/1999a), que se aplicam indígenas.
aos professores de Educação Infantil, das quatro primeiras séries Ao lado da valorização dessas culturas, a LDB também atri-
do Ensino Fundamental, da Educação de Jovens e Adultos, da bui às escolas indígenas o objetivo de “possibilitar o acesso às
Educação nas Comunidades Indígenas e de Educação Especial. informações e aos conhecimentos valorizados pela sociedade
Em que pese a dificuldade de contemplar, no mesmo documen- nacional” (artigo 78). Considerando-se que a professora ou o
to, uma orientação para os cursos de formação de professores professor que atua nas escolas dessas comunidades devem ter
que trabalham com alunos tão diferentes quanto à faixa etária, conhecimentos específicos, essas diretrizes também contem-
contextos sociais e modalidades de ensino que frequentam, o plam a formação desses professores.
relatório que introduz esse documento traz uma concepção de As Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de
formação atualizada no que diz respeito aos fundamentos teó- professores da Educação Básica, em nível superior, curso de li-
ricos, abrangente quanto à visão de educação e coerente com cenciatura, de graduação plena, foram instituídas em fevereiro
os princípios de cidadania definidos nas Diretrizes Curriculares de 2002 (Resolução CNE/ CP nº 1, de 18/02/02a). Caracteri-
Nacionais para a Educação Infantil. zam-se por princípios, fundamentos e procedimentos a serem
No ano seguinte, foram aprovadas as Diretrizes Opera- observados na organização institucional e curricular de cada
cionais para a Educação Infantil (Parecer CNE/CEB nº 04/00, estabelecimento de ensino. Abordam aspectos que tornam essa
de 16/02/00), as quais deliberam sobre a vinculação das ins- formação bastante abrangente no que diz respeito àquilo que
tituições de Educação Infantil aos sistemas de ensino e sobre se espera de um professor de Educação Básica, ao mesmo tem-
vários aspectos que afetam a qualidade do atendimento: pro- po em que buscam garantir a especificidade da educação que
posta pedagógica, regimento escolar, formação de professo- acontece nas várias etapas e modalidades desse nível educacio-
res e outros profissionais, espaços físicos e recursos materiais. nal. É ressaltado, por exemplo, que na construção do projeto
Essas diretrizes definem também a responsabilidade de autori- pedagógico dos cursos de formação dos docentes as compe-
zar com validade limitada, avaliar e supervisionar as instituições tências gerais a serem consideradas sejam contextualizadas e
de Educação Infantil. complementadas por outras específicas de cada etapa e mo-
Paralelamente a esses esforços, o debate sobre o Plano dalidade de Educação Básica. Além disso, orienta-se para que
Nacional de Educação (PNE) desenvolvia-se nas organizações da a prática não fique desarticulada do restante do curso, deven-
sociedade civil e no Congresso Nacional. Antigo sonho dos Pio- do permear toda a formação do professor. Daí a necessidade
neiros da Educação de 1932, a definição de um plano que seja de que se fortaleçam os vínculos entre as instituições formado-
compromisso de Estado, e não apenas de um governo, atende à ras e os sistemas de ensino possibilitando que estas trabalhem
necessidade de conferir prioridade à educação, reconhecendo em constante interação com as escolas de Educação Básica.
que os progressos nesse campo necessitam de esforços conti- Em 2002, o CNE aprovou a Resolução nº 1 (BRASIL, 2002b),
nuados e coordenados que não alcançam seus resultados em contendo as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas
prazo curto. escolas do campo, que visam orientar a adequação do projeto
Para definir parâmetros de qualidade para a Educação In- institucional das escolas do campo às várias diretrizes elabora-
fantil, não é suficiente consultar a legislação específica para das no âmbito da educação básica. Essas diretrizes expressam
essa etapa de ensino, especialmente quando se trata de con- uma concepção de respeito às diferenças e consequente garan-
templar temas relativos à diversidade étnica, racial, de gênero tia do princípio da igualdade, na medida em que visam ao acesso
ou as disparidades entre cidade e campo. As resoluções e os da população do campo à Educação Básica e, por consequência
pareceres do CNE adquirem importância relevante ao tocarem à Educação Infantil. Reforçam a qualificação mínima para a do-
em matérias ainda não suficientemente esclarecidas pela le- cência na Educação Infantil (curso de formação de professores
gislação anterior aplicáveis à educação das crianças de 0 até em nível médio, na modalidade normal), o detalhamento de tó-
6 anos. picos específicos na formação dos professores que atuam nas
escolas do campo, a responsabilidade dos sistemas referente à
habilitação dos professores sem formação e o aperfeiçoamento

72
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

permanente dos docentes, sua remuneração adequada e inclu- discussão das políticas educacionais em parceria com os sistemas
são nos planos de carreira. Trata-se, portanto, de garantir uma de ensino e a sociedade civil organizada. Essas citações evidenciam
qualidade de atendimento escolar no campo equivalente à das o esforço que vem sendo realizado, no âmbito federal, desde a
outras localidades: diferente, porém não inferior. promulgação da Constituição, no sentido de definir uma nova
No que se refere à cultura afro-brasileira, mais recentemen- legalidade para a educação da criança de 0 até 6 anos, no mes-
te a Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, modificou o texto mo plano da importância conferida aos demais níveis de en-
da LDB para incluir no currículo oficial da rede de ensino a sino, o que tem sido especialmente inovador para a instituição
obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira. creche, até então completamente à margem das análises e das
O parágrafo 1º do novo artigo 26-A define que a inclusão dessa intervenções da área educacional. Importante também é o re-
temática visa resgatar “a contribuição do povo negro nas áreas conhecimento de que esses avanços não teriam ocorrido não
social, econômica e política pertinentes à história do Brasil”. O fosse a ampla mobilização social, desde os movimentos popu-
parágrafo seguinte explica que os conteúdos “serão ministra- lares nos bairros, até as organizações de âmbito nacional, não
dos no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas só no campo educacional, mas também nos movimentos pelos
áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras”. direitos das mulheres, dos negros e nos movimentos em defesa
Posteriormente, em março de 2004, o CNE aprovou as Di- dos direitos das crianças e dos adolescentes.
retrizes Curriculares Nacionais para a educação das relações ét- Desde a década de 1990, os Fóruns de Educação Infantil
nico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira espalhados por diferentes estados brasileiros e, desde 1999 o
e africana (BRASIL, 2004b). Em sua fundamentação, esse docu- Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (MIEIB) são
mento propõe que se construam pedagogias de combate ao movimentos da sociedade civil que promovem a mobilização
racismo e a discriminações. Suas recomendações estão orga- da área da Educação Infantil por todo o país, configurando-se
nizadas nos seguintes princípios: consciência política e históri- como importantes espaços de troca de experiências, debate,
ca da diversidade; fortalecimento de identidades e de direitos; amadurecimento de propostas e de vigilância democrática em
ações educativas de combate ao racismo e a discriminações. Es- defesa dos direitos adquiridos pelas crianças brasileiras.
sas diretrizes são especialmente importantes para os currículos
dos cursos de formação de professores, mas também apontam CONSIDERAÇÕES FINAIS
para questões que devem ser contempladas nas programações É importante destacar que se a Educação Infantil agora
e nas práticas educativas das instituições de Educação Infantil
constitui a primeira etapa da Educação Básica, a ela se apli-
(BRASIL, 2004b).
cam todos os princípios e diretrizes voltados para a educação
No que toca ao tema da igualdade de gênero, o docu-
de forma geral. Traduzir os princípios legais em transformações
mento Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (BRASIL,
na realidade da educação no país torna-se um desafio a ser
2004c), elaborado pela Secretaria Especial de Políticas para as
superado por todos os níveis da Federação. Tanto em relação
Mulheres, propõe em seu capítulo 2 a educação inclusiva e não
ao acesso quanto em relação à qualidade do atendimento exis-
sexista e como seu primeiro objetivo “Incorporar a perspectiva
tente, a distância entre o que a lei prescreve e as demandas
de gênero, raça, etnia e orientação sexual no processo educa-
sociais, de um lado, e a realidade das redes e das instituições
cional formal e informal”. Note-se que, entre suas prioridades,
o plano inclui a ampliação do acesso à Educação Infantil, pois de educação infantil, de outro, ainda é grande, especialmente
a política de inclusão educacional deve também possibilitar para a faixa de 0 a 3 anos.
melhores oportunidades de inserção igualitária no mercado de Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
trabalho para mães e pais. (IBGE) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio-
No que diz respeito às ações mais recentes do MEC na nais Anísio Teixeira (INEP) evidenciam o crescimento das matrí-
perspectiva da qualidade na Educação Infantil, faz-se necessário culas nos últimos anos no país, porém ainda longe de atingir
citar não só a realização dos seminários regionais Política Nacio- a maioria das crianças entre 0 e 6 anos de idade. De acordo
nal de Educação Infantil em Debate como os documentos refor- com o censo escolar, no período de 2001 a 2003, a média anual
mulados a partir das discussões realizadas nesses eventos. Além de crescimento foi de 6,4% na creche e de 3,5% na pré-es-
do presente tema, foram debatidos os seguintes documentos: cola. Entretanto, de acordo com dados da Pesquisa Nacional
Política Nacional de Educação Infantil: pelo direito das crian- de Amostra Domiciliar (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geo-
ças de 0 até 6 anos à educação (BRASIL, 2005a), Parâmetros Na- grafia e Estatística (IBGE), realizada em 2003, apenas 37,7% do
cionais de infra-estrutura para instituições de Educação Infantil total de crianças com idade entre 0 até 6 anos frequentam uma
(BRASIL, 2005b) e Parâmetros Básicos de infra-estrutura para instituição de Educação Infantil ou de Ensino Fundamental. Esse
instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2005c). O primeiro percentual diminui para 11,7% quando consideramos apenas
contém diretrizes, objetivos, metas e estratégias para a área, o as crianças de 0 a 3 anos e aumenta para 68,44% quando são
segundo e o terceiro apresentam alguns parâmetros básicos de consideradas as crianças de 4 a 6 anos de idade. Um estudo
infra-estrutura para as instituições de Educação Infantil na pers- realizado por Kappel (2005), com os dados de 2001, mostra,
pectiva de subsidiar os sistemas de ensino em adaptações, refor- no entanto, que quando essas porcentagens são examinadas
mas e construções de espaços de Educação Infantil. As suges- por faixas de renda da população, o acesso é tão maior quanto
tões apontadas não são mandatórias, cabendo a cada sistema de mais alta a renda familiar per capita; assim, enquanto 94,5% das
ensino adequá-las à sua realidade, respeitando as características crianças entre 4 e 6 anos de famílias com mais de três salários
da comunidade na qual a instituição está ou será inserida. Essas mínimos per capita frequentavam pré-escola, essa taxa era de
ações inserem-se em um processo coordenado pelo MEC de apenas 57,4% dentre famílias de até meio salário mínimo per

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

capita; na faixa de 0 a 3 anos, a diferença encontrada foi de • as políticas para a Educação Infantil, sua implementação e
uma taxa de atendimento de 32,6% para o grupo de renda mais acompanhamento;
alta e apenas 7,3% para os mais pobres (KAPPEL, 2005, p. 195, • as propostas pedagógicas das instituições de Educação
tabelas 5.7 e 5.8). Infantil;
Os dados examinados por essa autora também revelam ou- • a relação estabelecida com as famílias das crianças;
tro tipo de problema nas trajetórias educacionais das crianças: • a formação regular e continuada dos professores e de-
o da retensão de crianças em idade superior aos 6 anos em insti- mais profissionais;
tuições de Educação Infantil. Em 2001, o IBGE registrava um total • a infraestrutura necessária ao funcionamento dessas ins-
de 627 mil crianças entre 7 e 9 anos de idade permanecendo na tituições.
pré-escola ou em classes de alfabetização e um total de 38 mil
crianças com mais de 9 anos na mesma situação. Ou seja, essas
crianças encontravam-se impedidas de iniciar sua escolaridade
regular obrigatória, completamente fora dos parâmetros legais POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO
e, pode-se argumentar, ocupando as vagas que poderiam estar INFANTIL: PELO DIREITO DAS CRIANÇAS
sendo abertas para a faixa etária adequada. Rosemberg (1999, DE 0 A 6 ANOS À EDUCAÇÃO – MINISTÉRIO
p.23) já havia mostrado que 67,7% dessas crianças eram negras, DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO DE EDUCAÇÃO
segundo dados de 1995. BÁSICA;
A questão inversa é a absorção das crianças com idade in-
ferior aos 6 anos no Ensino Fundamental. Embora a LDB permita
a matrícula das crianças a partir dos 6 anos na primeira série do
Ensino Fundamental, dados de 2001 acusam a presença de 103 Em consonância com o papel do Ministério da Educa-
mil crianças de 6 anos matriculadas no Ensino Fundamental no ção (MEC) de indutor de políticas educacionais e de pro-
Brasil, o que correspondia respectivamente a 25,4% e a 4,8% do ponente de diretrizes para a educação, a Secretaria de
total em cada faixa etária (Kappel, 2003, p. 36, tabelas 6 e 6.1). Educação Básica
No que diz respeito à qualidade do atendimento existente, (SEB) do MEC, por meio da Coordenação Geral de
ao lado da preocupação do MEC e de grupos específicos liga- Educação Infantil (COEDI) do Departamento de Políticas de
dos a universidades, a centros de pesquisa ou aos Fóruns de Educação Infantil e do Ensino Fundamental (DPE), apresen-
Educação Infantil em melhorar os serviços oferecidos às crian-
ta o documento Política Nacional de Educação Infantil: pelo
ças de 0 até 6 anos, temos ainda uma quantidade indefinida de
direito da criança de o a 6 anos à educação, contendo diretri-
instituições funcionando à margem dos sistemas educacionais,
zes, objetivos, metas e estratégias para a área.
alheias aos mecanismos de supervisão e sequer identificadas
Este documento em sua primeira versão e em confor-
nas estatísticas oficiais. Os dados dos últimos censos escola-
midade com a meta do MEC, que preconiza a construção
res revelam que uma parte expressiva das instituições não conta
coletiva das políticas públicas para a educação, foi elabo-
com as condições mínimas de funcionamento definidas na le-
gislação. rado em parceria com o então Comitê Nacional de Educa-
As informações disponíveis mostram que a qualificação e ção Infantil. Com o objetivo de propiciar o cumprimento do
a escolaridade dos professores são diferenciadas quando se preceito constitucional da descentralização administrati-
trata de creches ou de pré-escolas. Enquanto na pré-escola tí- va, bem como a participação dos diversos atores da socie-
nhamos, no ano de 2004, dade envolvidos com a educação infantil na formulação das
62,6% das funções docentes no Brasil com nível médio e políticas públicas voltadas para as crianças de 0 a 6 anos
35% com nível superior, na creche, tínhamos 68,9% com nível foram realizados, em parceria com as secretarias munici-
médio e 23,8% com nível superior (BRASIL, 2004a). Se conside- pais de educação e com a União Nacional dos Dirigentes
rarmos que dentre essas instituições que funcionam à margem Municipais de Educação (UNDIME), oito seminários regio-
dos sistemas educacionais há algumas que sequer participam nais (nas capitais: Belo Horizonte, Natal, Belém, Recife, São
dos dados estatísticos, não respondendo ao Censo Escolar, Paulo, Porto Alegre, Goiânia e Manaus) para a discussão do
concluiremos que o contingente de funções preenchidas por documento preliminar.
pessoal não habilitado é bem maior. As contribuições dos gestores públicos, dos técnicos
O presente texto pretendeu abordar alguns aspectos re- das secretarias e de outros segmentos que atuam nos mu-
levantes para a definição de parâmetros de qualidade para a nicípios formulando e executando políticas para a educação
Educação Infantil no Brasil. A análise da concepção de criança, infantil tiveram importante papel no sentido de contemplar
de pedagogia da Educação Infantil e da trajetória histórica do as especificidades de cada região.
debate da qualidade da Educação Infantil, a consideração de É desejo do MEC que este documento e a forma como
alguns dados de pesquisas recentes realizadas dentro e fora de ele foi produzido contribuam para um processo democráti-
nosso país, os desdobramentos previstos na legislação nacional co de implementação das políticas públicas para as crianças
para a área e o evidenciar de contradições a serem superadas sub- de 0 a 6 anos. É, portanto, com satisfação que este ministé-
sidiam a definição desses parâmetros. Apresentados no volume rio apresenta a versão final da Política Nacional de Educa-
II da presente publicação e parte integrante dele, os Parâmetros ção Infantil.
Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil para os siste- O panorama geral de discriminação das crianças e a per-
mas educacionais deverão contemplar aspectos unanimemente sistente negação de seus direitos, que tem como conse-
apontados como relevantes para a melhoria permanente da quência o aprofundamento da exclusão social, precisam ser
qualidade do atendimento às crianças, a saber: combatidos com uma política que promova inclusão, com-

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

bata a miséria e coloque a educação de todos no campo dos fantil. Essa opção colocada aos sistemas de ensino diminui
direitos. O Preâmbulo da Declaração dos Direitos da Criança, a demanda para esta etapa educacional e amplia a pos-
das Nações Unidas, afirma que a humanidade deve às crian- sibilidade de matrícula para as crianças de 4 e 5 anos. Para
ças o melhor dos seus esforços. A Constituição Federal, em tanto, é imprescindível garantir que as salas continuem dis-
seu art. 227, determina: poníveis para a Educação Infantil, não sendo utilizadas para
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à o Ensino Fundamental e tampouco transformadas em salas
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à de alfabetização. A inclusão das crianças de 6 anos no Ensino
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissio- Fundamental, no entanto, não pode ser efetivada sem que
nalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à sejam consideradas as especificidades da faixa etária, bem
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo como a necessidade primordial de articulação entre essas
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, vio- duas etapas da Educação Básica.
lência, crueldade e opressão. Um aspecto importante na trajetória da educação das
Ao Estado, portanto, compete formular políticas, im- crianças de 0 a 6 anos, gerado pela sociedade, é a pressão
plementar programas e viabilizar recursos que garantam à dos movimentos sociais organizados pela expansão e qua-
criança desenvolvimento integral e vida plena, de forma que lificação do atendimento.
complemente a ação da família. Em sua breve existência, a Historicamente, essa demanda aumenta à medida que
educação das crianças de 0 a 6 anos, como um direito, vem cresce a inserção feminina no mercadode trabalho e há uma
conquistando cada vez mais afirmação social, prestígio po- maior conscientização da necessidade da educação da
lítico e presença permanente no quadro educacional bra- criança sustentada por uma base científica cada vez mais
sileiro. ampla e alicerçada em uma diversificada experiência peda-
Em razão de sua importância no processo de consti- gógica.
tuição do sujeito, a Educação Infantil em creches ou enti- Pesquisas sobre desenvolvimento humano, formação
dades equivalentes (crianças de 0 a 3 anos) e em pré-es- da personalidade, construção da inteligência e aprendi-
colas (crianças de 4 a 6 anos) tem adquirido, atualmente, zagem nos primeiros anos de vida apontam para a impor-
reconhecida importância como etapa inicial da Educação tância e a necessidade do trabalho educacional nesta faixa
Básica e integrante dos sistemas de ensino. No entanto, a etária. Da mesma forma, as pesquisas sobre produção das
integração das instituições de Educação Infantil ao siste- culturas infantis, história da infância brasileira e pedago-
ma educacional não foi acompanhada, em nível nacional, da gia da infância, realizadas nos últimos anos, demonstram a
correspondente dotação orçamentária. amplitude e a complexidade desse conhecimento. Novas
Embora a Educação Infantil não seja etapa obrigatória temáticas provenientes do convívio da criança, sujeito de
e sim direito da criança, opção da família e dever do Estado, direitos, com seus pares, com crianças de outras idades e
o número de matrículas vem aumentando gradativamen- com adultos, profissionais distintos da família, apontam para
te (vide anexo 1). De acordo com o Censo Escolar, a média outras áreas de investigação. Neste contexto, são reconhe-
anual de crescimento no período de 2001 a 2003 foi de cidos a identidade e o papel dos profissionais da Educação
6,4% na creche e de 3,5% na pré-escola. Infantil, cuja atuação complementa o papel da família. A práti-
Segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostra ca dos profissionais da Educação Infantil, aliada à pesquisa,
Domiciliar (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Es- vem construindo um conjunto de experiências capazes de
tatística (IBGE), de 2003, apenas 37,7% do total de crianças sustentar um projeto pedagógico que atenda à especifici-
com idade entre 0 e 6 anos frequentam uma instituição de dade da formação humana nessa fase da vida.
Educação Infantil ou de Ensino Fundamental. Quando con- A Educação Infantil, embora tenha mais de um século de
siderada a população de 4 a 6 anos, a taxa de frequência história como cuidado e educação extradomiciliar, somente
à instituição é de 68,4%; e, quanto à população de 0 a 3 nos últimos anos foi reconhecida como direito da criança,
anos, esse percentual é de apenas 11,7%. Setenta e dois das famílias, como dever do Estado e como primeira etapa
por cento desse atendimento encontra-se na rede pública, da Educação Básica.
concentrando-se de maneira relevante no sistema munici- A educação da criança de 4 a 6 anos insere-se nas
pal (66,97%), em função da maior pressão da demanda so- ações do Ministério da Educação (MEC) desde 1975,
bre a esfera que está mais próxima das famílias e em decor- quando foi criada a Coordenação de Educação Pré-Esco-
rência da responsabilidade constitucional dos municípios lar. Na área da Assistência Social do Governo Federal outro
com relação a esse nível educacional. órgão também se incumbia do atendimento ao “pré-escolar”
O Plano Nacional de Educação (PNE) define a amplia- por meio de programa específico de convênio direto com
ção da oferta “de forma a atender, em cinco anos, a 30% da instituições comunitárias, filantrópicas e confessionais que
população de até 3 anos de idade e a 60% da população atendiam crianças de 0 a 6 anos das camadas mais pobres
de 4 a 6 anos (ou 4 e 5) e, até o final da década, alcançar a da população. O Programa, que previa o auxílio financeiro e
meta de 50% das crianças de 0 a 3 anos e 80% das de 4 e 5 algum apoio técnico, foi desenvolvido pela Legião Brasileira
anos” (meta 1). de Assistência (LBA) do então Ministério da Previdência e As-
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, sistência Social, desde 1977. A LBA foi extinta em 1995, pre-
1996) abre a possibilidade de ampliação do acesso ao En- valecendo, no entanto, programa e dotação orçamentária
sino Fundamental para as crianças de 6 anos, faixa etária que para creche no âmbito da assistência social federal.
concentra o maior número de matrículas na Educação In-

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Nas décadas de 1970 e 1980, o processo de urbani- Na Constituição Federal de 1988, a educação das crian-
zação do país, cada vez mais intenso, somado a uma maior ças de 0 a 6 anos, concebida, muitas vezes, como amparo e
participação da mulher no mercado de trabalho e à pressão assistência, passou a figurar como direito do cidadão e de-
dos movimentos sociais, levou a uma expansão do atendi- ver do Estado, numa perspectiva educacional, em resposta
mento educacional, principalmente às crianças na faixa etária aos movimentos sociais em defesa dos direitos das crianças.
de 4 a 6 anos, verificando-se também, na década de 1980, Nesse contexto, a proteção integral às crianças deve ser
uma expansão significativa na educação das crianças de 0 a assegurada, com absoluta prioridade, pela família, pela so-
3 anos. A pressão da demanda, a urgência do seu atendi- ciedade e pelo poder público. A Lei afirma, portanto, o dever
mento, a omissão da legislação educacional vigente, a di- do Estado com a educação das crianças de 0 a 6 anos de
fusão da ideologia da educação como compensação de idade. A inclusão da creche no capítulo da educação ex-
carências e a insuficiência de recursos financeiros levaram plicita a função eminentemente educativa desta, da qual é
as instituições de Educação Infantil a se expandirem “fora” parte intrínseca a função de cuidar. Essa inclusão constituiu
dos sistemas de ensino. Difundiram-se “formas alternativas um ganho, sem precedentes, na história da Educação In-
de atendimento” onde inexistiam critérios básicos relativos
fantil em nosso país.
à infra-estrutura e à escolaridade das pessoas que lidavam
A década de 1990 iniciou-se sob a égide do dever do
diretamente com as crianças, em geral mulheres, sem for-
Estado perante o direito da criança à educação, explicitando
mação específica, chamadas de crecheiras, pajens, babás,
auxiliares, etc. as conquistas da Constituição de 1988. Assim, em 1990,
A trajetória da educação das crianças de 0 a 6 anos no Estatuto da Criança e do Adolescente foram reafirma-
assumiu e assume ainda hoje, no âmbito da atuação do dos esses direitos, ao mesmo tempo em que foram esta-
Estado, diferentes funções, muitas vezes concomitantemen- belecidos mecanismos de participação e controle social na
te. Dessa maneira, ora assume uma função predominante- formulação e na implementação de políticas para a infância.
mente assistencialista, ora um caráter compensatório e ora A partir de 1994, o MEC realizou uma série de encontros e
um caráter educacional nas ações desenvolvidas. seminários com o objetivo de discutir com os gestores mu-
Contudo, as formas de ver as crianças vêm, aos poucos, nicipais e estaduais de educação questões relativas à defi-
se modificando, e atualmente emerge uma nova concep- nição de políticas para a Educação Infantil. Neste contexto, o
ção de criança como criadora, capaz de estabelecer múl- Ministério da Educação coordenou a elabora-
tiplas relações, sujeito de direitos, um ser sócio histórico, ção do documento de Política Nacional de Educação
produtor de cultura e nela inserido. Na construção dessa Infantil, no qual se definem como principais objetivos para
concepção, as novas descobertas sobre a criança, trazidas a área a expansão da oferta de vagas para a criança de 0
por estudos realizados nas universidades e nos centros de a 6 anos, o fortalecimento, nas instâncias competentes,
pesquisa do Brasil e de outros países, tiveram um papel da concepção de educação e cuidado como aspectos
fundamental. Essa visão contribuiu para que fosse definida, indissociáveis das ações dirigidas às crianças e a promo-
também, uma nova função para as ações desenvolvidas ção da melhoria da qualidade do atendimento em institui-
com as crianças, envolvendo dois aspectos indissociáveis: ções de Educação Infantil. Como desdobramento desses
educar e cuidar. Tendo esta função, o trabalho pedagógico objetivos, foi publicado o documento Por uma política de
visa atender às necessidades determinadas pela especifi- formação do profissional de Educação Infantil, no qual se dis-
cidade da faixa etária, superando a visão adultocêntrica cutiam a necessidade e a importância de um profissional
em que a criança é concebida apenas como um vir a ser e, qualificado e um nível mínimo de escolaridade para atuar
portanto, necessita ser “preparada para”. em creches e préescolas como condição para a melhoria
Desde suas origens, as modalidades de educação das da qualidade da educação.
crianças eram criadas e organizadas para atender a objetivos
Partindo das políticas já existentes, das discussões que
e a camadas sociais diferenciadas: as creches concentra-
vinham sendo feitas em torno da elaboração da LDB, das
vam-se predominantemente na educação da população
demandas de estados e municípios e tendo em vista suas
de baixo poder econômico, enquanto as pré-escolas eram
organizadas, principalmente, para os filhos das classes mé- prioridades, o Ministério da Educação, em 1995, definiu a
dia e alta. Embora as creches não atendessem exclusiva- melhoria da qualidade no atendimento educacional às
mente a crianças de 0 a 3 anos e as pré-escolas não fossem crianças de 0 a 6 anos como um dos principais objetivos e,
apenas para as crianças de 4 a 6 anos, é importante ressaltar para atingi-lo, apontou quatro linhas de ação:
que, historicamente, essas duas faixas etárias foram também aincentivo à elaboração, implementação e avaliação
tratadas de modo distinto. de propostas pedagógicas e curriculares;
Tradicionalmente, na educação de crianças de 0 a 3 b promoção da formação e da valorização dos profissio-
anos predominam os cuidados em relação à saúde, à higie- nais que atuam nas creches e nas pré-escolas;
ne e à alimentação, enquanto a educação das crianças de c apoio aos sistemas de ensino municipais para assumi-
4 a 6 anos tem sido concebida e tratada como antecipa- rem sua responsabilidade com a Educação Infantil;
dora/preparatória para o Ensino Fundamental. Esses fatos, d criação de um sistema de informações sobre a educa-
somados ao modelo de “educação escolar”, explicam, em ção da criança de 0 a 6 anos.
parte, algumas das dificuldades atuais em lidar com a Edu- Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
cação Infantil na perspectiva da integração de cuidados e cional evidenciou a importância da Educação Infantil, que
educação em instituições de Educação Infantil e também na passou a ser considerada como primeira etapa da Edu-
continuidade com os anos iniciais do Ensino Fundamental. cação Básica. Dessa forma, o trabalho pedagógico com a

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

criança de 0 a 6 anos adquiriu reconhecimento e ganhou Infantil (COEDI) buscou conhecer as propostas peda-
uma dimensão mais ampla no sistema educacional, qual gógico-curriculares em curso nas diversas unidades da
seja: atender às especificidades do desenvolvimento das Federação e investigou os pressupostos em que se fun-
crianças dessa faixa etária e contribuir para a construção e damentavam essas propostas, as diretrizes e os princípios
o exercício de sua cidadania. que norteavam o processo no qual foram construídas e as
No capítulo sobre a Educação Básica, essa lei define informações sobre a prática do cotidiano dos estabeleci-
a finalidade da Educação Infantil como “o desenvolvimento mentos de Educação Infantil. Nesse momento, também fo-
integral da criança até anos de idade, em seus aspectos físi- ram fornecidas orientações metodológicas para subsidiar
co, psicológico, intelectual e social, as instâncias executoras de Educação Infantil na análise, na
complementando a ação da família e da comunidade”. avaliação e/ou na elaboração de suas propostas pedagó-
Esse tratamento dos vários aspectos como dimensões do gico-curriculares.
desenvolvimento e não como coisas distintas ou áreas se- O estudo realizado trouxe à tona a fragilidade e a incon-
paradas é fundamental, pois evidencia a necessidade de sistência de grande parte das propostas pedagógicas em
se considerar a criança como um todo, para promover seu vigor. Ao mesmo tempo, durante a realização do diagnóstico,
desenvolvimento integral e sua inserção na esfera pública. foi possível evidenciar a multiplicidade e a heterogeneidade
Essa nova dimensão da Educação Infantil articula-se com de propostas e de práticas em Educação Infantil, bem como
a valorização do papel do profissional que atua com a criança aprofundar a compreensão a esse respeito. Essa multipli-
de 0 a 6 anos, com exigência de um patamar de habilitação cidade, própria da sociedade brasileira, é um ponto crucial
derivado das responsabilidades sociais e educativas que se quando se discute a questão do currículo, apontando para
espera dele. Dessa maneira, a formação de docentes para uma série de questionamentos: Como tratar uma socieda-
atuar na Educação Infantil, segundo o art. 62 da LDB, deve- de em que a unidade se dá pelo conjunto das diferenças, no
rá ser realizada em “nível superior, admitindo-se, como for- qual o caráter multicultural se acha entrecruzado por uma
mação mínima, a oferecida em nível médio, na modalidade grave e histórica estratificação social e econômica? Como
Normal”. garantir um currículo que respeite as diferenças
Desde sua promulgação, a LDB vem sendo regulamen- – socioeconômicas, de gênero, de faixa etária, étnicas,
tada por diretrizes, resoluções e pareceres do Conselho culturais e das crianças com necessidades educacionais
Nacional de Educação (vide anexo 2), pelas Constituições especiais – e que, concomitantemente, respeite direitos
Estaduais e Leis Orgânicas Municipais e pelas normas es- inerentes a todas as crianças brasileiras de 0 a 6 anos, contri-
tabelecidas pelos Conselhos Estaduais e Municipais de buindo para a superação das desigualdades? Como con-
Educação. Essas diretrizes, resoluções e pareceres dizem tribuir com os sistemas de ensino na análise, na reformula-
respeito ao currículo de Educação Infantil, aos aspectos ção e/ou na elaboração de suas propostas pedagógicas
normativos que devem ser considerados pelos sistemas sem fornecer modelos prontos? Como garantir que neste
educacionais ao incluírem as instituições de Educação In- imenso país as atuais diretrizes nacionais assegurem de fato
fantil e à formação inicial do profissional em nível médio e o convívio na diversidade, no que diz respeito à maneira de
superior. cuidar e de educar crianças de 0 a 6 anos?
Em 1998,o MEC, por iniciativa da SEF/DPE/COEDI, pu- Uma resposta a essas questões foi dada pela própria
blicou o documento Subsídios para o credenciamento e o LDB (arts. 12 e 13), ao incumbir as instituições de Educa-
funcionamento das instituiçõesde EducaçãoInfantil. Essa pu- ção Infantil de elaborar as próprias propostas pedagógicas
blicação,organizada por conselheiros representantes dos com a participação efetiva dos professores. Dessa forma, a
Conselhos de Educação de todos os estados e do Distri- Lei reconheceu, ao mesmo tempo, a ação pedagógica de
to Federal, com a participação de representantes da União professoras e professores, construídano cotidiano das ins-
Nacional dos Conselhos Municipais de Educação, de mem- tituições de Educação Infantil, juntamente com as famílias
bros convidados da Câmara de Educação Básica do Conse- e as crianças, bem como a riqueza e a diversidade brasilei-
lho Nacional de Educação, de consultores e especialistas, ras, que acolhem realidades extremamente diferenciadas.
sob a coordenação de dirigentes do MEC, contribuiu signifi- Com isso, a questão da diversidade, no que diz respeito ao
cativamente para a formulação de diretrizes e normas para a currículo/proposta pedagógica, pôde ser garantida. No
Educação Infantil no Brasil. entanto, naquele momento, acreditava-se também que era
Embora a discussão sobre currículo e proposta pe- necessário, além do respeito à diversidade, garantir certa
dagógica seja antiga em nosso país, foi no processo de unidade qualitativa às propostas das instituições e fornecer
articulação, levado a efeito tanto durante o período da Cons- subsídios teóricos aos professores e às suas instituições no
tituinte como nos momentos posteriores à promulgação desenvolvimento de tal tarefa, determinada pela legislação.
da Constituição de 1988, que essa questão foi ganhando Em 1998,foi elaboradoo Referencial Curricular Nacional
contornos que envolviam a Educação Infantil. Essas dis- para a Educação Infantil (RCNEI) no contexto da definição
cussões, que apontavam para a necessidade de uma pro- dos Parâmetros Curriculares Nacionais que atendiam ao
posta pedagógico-curricular para a área, ganharam maior estabelecido no art. 26 da LDB em relação à necessidade
força no período de discussão e elaboração da LDB (Lei de uma base nacional comum para os currículos. O RCNEI
n° 9394/1996), quando já era possível visualizar a incor- consiste num conjunto de referências e orientações pe-
poração da Educação Infantil no sistema educacional. Foi dagógicas, não seconstituindocomobaseobrigatória à ação
nesse contexto que a Coordenação Geral de Educação docente. Ao mesmo tempo em que o MEC elaborou o RC-

77
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

NEI, o Conselho Nacional de Educação definiu as Diretrizes A autonomia dos entes federados e o regime de co-
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – DCNEI, com laboração são dois princípios indissociáveis no sistema
caráter mandatório. De acordo com a Resolução nº 1 de 7 de federativo brasileiro. O objetivo comum de garantir os di-
abril de 1999, no seu art. 2º “essas Diretrizes constituem-se reitos da criança, entre eles o direito à educação, só pode
na doutrina sobre princípios, fundamentos e procedimen- ser alcançado, portanto, mediante a cooperação entre a
tos da Educação Básicado Conselho Nacional de Educa- União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, de
ção, que orientarão as instituições de Educação Infantil dos acordo com as definições constitucionais e legais vigentes.
sistemas brasileiros de ensino na organização,articulação, Essas competências traduzem-se,no Plano Nacional
desenvolvimento e avaliação de suas propostas pedagógi- de Educação (PNE 2001), no capítulo sobre a Educação In-
cas”. Ambos os documentostêmsubsidiado a elaboração fantil, em diretrizes, objetivos e metas para dez anos, abran-
dasnovaspropostas pedagógicas dasinstituiçõesde Edu- gendo aspectos qualitativos e quantitativos. A Lei que ins-
cação Infantil. Em 2000,foi realizado o Censoda Educação tituiu o PNE determina que os estados, o Distrito Federal e
Infantil pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu- os municípios elaborem seus respectivos planos decenais.
cacionais Anísio Teixeira (Inep) com o intuito de se obter in- Esses planos devem ser construídos num processo de-
formações mais precisas sobre a Educação Infantil no Brasil. mocrático, amplamente participativo, com representação
Nessa contextualização da Educação Infantil no Brasil, é do governo e da sociedade, com vistas a desenvolver pro-
essencial que se destaquem as competências dos entes gramas e projetos nos próximos anos. A Educação Infantil,
federados, não se perdendo de vista o cumprimento do constituindo um capítulo desses planos, tem seu hori-
regime de colaboração que deve orientar as ações educa- zonte de expansão e melhoria definido como obrigação
cionais voltadas para a infância. dos sistemas de ensino da União, dos estados, do Distrito
A Constituição Federal atribuiu ao Estado o dever de Federal e dos municípios.
garantir o atendimento às crianças de 0 a 6 anos em cre- Em coerência com esse processo histórico, político e
ches e pré-escolas (art. 208, IV), especificando que à União técnico, o MEC define a Política Nacional de Educação Infan-
cabe prestar assistência técnica e financeira aos estados, ao til com suas diretrizes, objetivos, metas e estratégias.
Distrito Federal e aos municípios para garantir equalização A educação e o cuidado das crianças de 0 a 6 anos são
das oportunidades e padrão mínimo de qualidade. Espe- de responsabilidade do setor educacional.
A Educação Infantil deve pautar-se pela indissociabilida-
cificando ainda mais, determinou que os municípios atuas-
de entre o cuidado e a educação.
sem prioritariamente no Ensino Fundamental e na Educa-
A Educação Infantil tem função diferenciada e comple-
ção Infantil (art. 211, § 2º). A Lei de Diretrizes e Bases da
mentar à ação da família, o que implica uma profunda, per-
Educação Nacional (LDB) estabelece em seu art. 11, inciso
manente e articulada comunicação entre elas.
V, que os municípios incumbir-se-ão de “oferecer a Educa-
É dever do Estado, direito da criança e opção da família o
ção Infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o
atendimento gratuito em instituições de Educação Infantil
Ensino Fundamental, permitida a atuação em outros níveis
às crianças de 0 a 6 anos.
de ensino apenas quando estiverem atendidas plenamen- A educação de crianças com necessidades educa-
te as necessidades de sua área de competência e com cionais especiais deve ser realizada em conjunto com as
recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela demais crianças, assegurando-lhes o atendimento educa-
Constituição Federal à manutenção e ao desenvolvimento cional especializado mediante avaliação e interação com a
do ensino”. família e a comunidade.
Como decorrência desta responsabilidade constitucio- A qualidade na Educação Infantil deve ser assegurada
nal, o aumento da matrícu-la de crianças de 0 a 6 anos na por meio do estabelecimento de parâmetros de qualidade.
rede pública de ensino deuse em função do compromisso O processo pedagógico deve considerar as crianças
e da vontade política de gestores públicos municipais que, em sua totalidade, observando suas especificidades, as di-
apesar das restrições orçamentárias, procuraram garantir ferenças entre elas e sua forma privilegiada de conhecer o
maior e melhor oferta para a Educação Infantil. mundo por meio do brincar.
Em 2001, foi aprovado o Plano Nacional de Educação, As instituições de Educação Infantil devem elaborar, im-
que assim se expressa em relação às competências dos plementar e avaliar suas propostas pedagógicas a partir
entes federados: das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil
Na distribuição de competências referentes à Educação e com a participação das professoras e dos professores.
Infantil, tanto a Constituição Federal quanto a LDB são explíci- As propostas pedagógicas das instituições de Educa-
tas na coresponsabilidade das três esferas de governo – mu- ção Infantil devem explicitar concepções, bem como definir
nicípio, estado e União – e da família. A articulação com a diretrizes referentes à metodologia do trabalho pedagó-
família visa, mais do que qualquer outra coisa, ao mútuo co- gico e ao processo de desenvolvimento/aprendizagem,
nhecimento de processos de educação, valores, expectativas, prevendo a avaliação como parte do trabalho pedagógico,
de tal maneira que a educação familiar e a escolar se com- que envolve toda a comunidade escolar.
plementem e se enriqueçam, produzindo aprendizagens As professoras e professores e os outros profissionais
coerentes, mais amplas e profundas. Quanto às esferas admi- que atuam na Educação Infantil exercem um papel socioe-
nistrativas, a União e os estados atuarão subsidiariamente, ducativo, devendo ser qualificados especialmente para
porém necessariamente, em apoio técnico e financeiro aos o desempenho de suas funções com as crianças de 0 a 6
municípios, consoante o art. 30, VI, da Constituição Federal. anos.

78
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

A formação inicial e a continuada das professoras e Garantir que todas as instituições de Educação Infantil
professores de Educação Infantil são direitos e devem ser elaborem, implementem e avaliem suas propostas peda-
asseguradas a todos pelos sistemas de ensino com a in- gógicas, considerando as diretrizes curriculares nacionais,
clusão nos planos de cargos e salários do magistério. bem como as necessidades educacionais especiais e as
Os sistemas de ensino devem assegurar a valorização diversidades culturais.
de funcionários não-docentes3 que atuam nas instituições Assegurar a participação das professoras e professores
de Educação Infantil, promovendo sua participação em pro- no processo de elaboração, implementação e avaliação
gramas de formação inicial e continuada. das propostas pedagógicas das instituições de Educação
O processo de seleção e admissão de professoras e Infantil.
professores que atuam nas redes pública e privada deve as- Assegurar a valorização das professoras e professores
segurar a formação específica na área e mínima exigida por de Educação Infantil, promovendo sua participação em Pro-
lei. Para os que atuam na rede pública, a admissão deve ser gramas de Formação Inicial para professores em exercício,
por meio de concurso. garantindo, nas redes públicas, a inclusão nos planos de car-
As políticas voltadas para a Educação Infantil devem gos e salários do magistério.
contribuir em âmbito nacional, estadual e municipal para Garantir a valorização das professoras e professores da
uma política para a infância. Educação Infantil por meio de formação inicial e continuada
A política de Educação Infantil em âmbito nacional, e sua inclusão nos planos de carreira do magistério.
estadual e municipal deve se articular com as de Ensino Garantir, nos programas de formação continuada para
Fundamental, Médio e Superior, bem como com as mo- professoras e professores de Educação Infantil, os conhe-
dalidades de Educação Especial e de Jovens e Adultos, cimentos específicos da área de Educação Especial, ne-
para garantir a integração entre os níveis de ensino, a for- cessários para a inclusão, nas instituições de Educação In-
mação dos profissionais que atuam na Educação Infantil, fantil, de alunos com necessidades educacionais especiais.
bem como o atendimento às crianças com necessidades Garantir a valorização dos funcionários não-docentes
especiais. que atuam na Educação Infantil.
A política de Educação Infantil em âmbito nacional, es- Garantir a inclusão dos professores de Educação Infan-
tadual e municipal deve se articular às políticas de Saúde, As- til nos planos de cargos e salários do magistério.
sistência Social, Justiça, Direitos Humanos, Cultura, Mulher e Assegurar que estados e municípios elaborem e/ou
Diversidades, bem como aos fóruns de Educação Infantil e adequem seus planos de educação em consonância com
outras organizações da sociedade civil. a legislação vigente.
Fortalecer parcerias para assegurar, nas instituições
Objetivos competentes, o atendimento integral à criança, conside-
Integrar efetivamente as instituições de Educação Infan- rando seus aspectos físico, afetivo, cognitivo/linguístico,
til aos sistemas de ensino por meio de autorização e creden- sociocultural, bem como as dimensões lúdica, artística e ima-
ciamento destas pelos Conselhos Municipais ou Estaduais ginária.
de Educação.
Fortalecer as relações entre as instituições de Educação Metas
Infantil e as famílias e/ou responsáveis pelas crianças de 0 a Integrar efetivamente, até o final de 2007, todas as ins-
6 anos matriculadas nestas instituições. tituições de Educação Infantil (públicas e privadas) aos res-
Garantir o acesso de crianças com necessidades edu- pectivos sistemas de ensino.
cacionais especiais nas instituições de Educação Infantil. Estabelecer, até o final da década, em todos os muni-
Garantir recursos financeiros para a manutenção e o cípios e com a colaboração dos setores responsáveis pela
desenvolvimento da Educação Infantil. educação, pela saúde e pela assistência social e de orga-
Expandir o atendimento educacional às crianças de 0 nizações não-governamentais, programas de orientação
a 6 anos de idade, visando alcançar as metas fixadas pelo e apoio aos pais com filhos entre 0 e 6 anos, oferecendo,
Plano Nacional de Educação e pelos Planos Estaduais e Mu- inclusive, assistência financeira, jurídica e de suplementa-
nicipais. ção alimentar nos casos de pobreza, violência doméstica e
Assegurar a qualidade do atendimento em instituições desagregação familiar extrema.
de Educação Infantil (creches, entidades equivalentes e pré Atender, até 2010, 50% das crianças de 0 a 3 anos, ou
-escolas). seja, 6,5 milhões, e 80% das de 4 a 6 anos, ou seja, 8 milhões
Garantir a realização de estudos, pesquisas e diagnós- de crianças.
ticos da realidade da Educação Infantil no país para orientar Assegurar que, em todos os municípios, além de outros
e definir políticas públicas para a área. recursos municipais, os 10% dos recursos de manutenção
Garantir espaços físicos, equipamentos, brinquedos e e desenvolvimento do ensino não vinculados ao Fundef se-
materiais adequados nas instituições de Educação Infantil, jam aplicados, prioritariamente, na Educação Infantil.
considerando as necessidades educacionais especiais e Divulgar permanentemente parâmetros de qualidade
a diversidade cultural. dos serviços de educação infantil como referência para a su-
Ampliar os recursos orçamentários do Programa Na- pervisão, o controle e a avaliação e como instrumento para a
cional de Alimentação Escolar para as crianças que frequen- adoção das medidas de melhoria da qualidade.
tam as instituições de Educação Infantil.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Divulgar, permanentemente, padrões mínimos de Desenvolver ações de apoio técnico à elaboração e à


infra-estrutura para o funcionamento adequado das insti- implementação dos Planos Estaduais e Municipais de Educa-
tuições de Educação Infantil (creches e pré-escolas) públi- ção, com atenção especial ao capítulo de Educação Infantil.
cas e privadas, que, respeitando as diversidades regionais, Estimular e apoiar tecnicamente os sistemas de ensino
assegurem o atendimento das características das distintas a acompa nhar e a supervisionar o funcionamento das ins-
faixas etárias e das necessidades do processo educativo tituições de Educação Infantil nas redes públicas e privadas.
quanto a:
espaço interno, com iluminação, insolação, ventilação, Implementar as ações atribuídas à União pelo Plano Na-
visão para o espaço externo, rede elétrica e segurança, cional de Educação e participar das ações conjuntas com
água potável, esgotamento sanitário; instalações sanitá- os sistemas estaduais e municipais de ensino, definidas em
rias e para a higiene pessoal das crianças; instalações para seus respectivos planos.
preparo e/ou serviço de alimentação; ambiente interno e Apoiar a implementação de Sistemas Educacionais In-
externo para o desenvolvimento das atividades, conforme clusivos.
as diretrizes curriculares e a metodologia da Educação In- Criar grupos de trabalho para estudar a situação das cre-
fantil, incluindo o repouso, a expressão livre, o movimento e ches vinculadas às empresas e aos órgãos públicos.
o brinquedo; mobiliário, equipamentos e materiais peda- Estabelecer parceria com órgãos governamentais e
gógicos; adequação às características das crianças com não-governamentais.
necessidades educacionais especiais. Elaborar e implementar programas para fortalecer as
Somente autorizar construção e funcionamento de funções diferenciadas das instituições e das famílias no que
instituições de Educação Infantil, públicas ou privadas, que diz respeito à educação e ao cuidado das crianças de 0 a 6
atendam aos requisitos de infraestrutura. anos.
Adaptar os prédios de Educação Infantil de sorte que, Criar formas de controle social dos recursos da Educa-
em cinco anos, todos estejam conforme os padrões de ção Infantil.
infraestrutura estabelecidos4.
Realizar estudos sobre o custo da Educação Infantil
com base nos parâmetros de qualidade, com vistas a me-
lhorar a eficiência e garantir a generalização da qualidade REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL
do atendimento até 2011. PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL.
Assegurar que, até o final de 2007, todas as instituições
de Educação Infantil tenham formulado, com a participação
dos profissionais de educação nelas envolvidos, suas pro-
postas pedagógicas.
Admitir somente novos profissionais na Educação Infan- CARACTERÍSTICAS DO REFERENCIAL CURRICULAR NA-
til que possuam a titulação mínima em nível médio, modali- CIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
dade Normal. Este documento constitui-se em um conjunto de refe-
Formar em nível médio, modalidade Normal, todos os rências e orientações pedagógicas que visam a contribuir
professores em exercício na Educação Infantil que não com a implantação ou implementação de práticas educativas
possuam a formação mínima exigida por lei. de qualidade que possam promover e ampliar as condições
Extinguir progressivamente os cargos de monitor, aten- necessárias para o exercício da cidadania das crianças brasi-
dente, auxiliar, entre outros, mesmo que ocupados por leiras.
profissionais concursados em outras secretarias ou na se- Sua função é contribuir com as políticas e programas
cretaria de Educação e que exercem funções docentes. de educação infantil, socializando informações, discussões
Colocar em execução programa de formação em serviço, e pesquisas, subsidiando o trabalho educativo de técnicos,
em cada município ou por grupos de município, preferen- professores e demais profissionais da educação infantil e
cialmente em articulação com instituições de ensino supe- apoiando os sistemas de ensino estaduais e municipais.
rior, para a atualização permanente e o aprofundamento Considerando-se as especificidades afetivas, emocionais,
dos conhecimentos dos profissionais que atuam na Edu- sociais e cognitivas das crianças de zero a seis anos, a quali-
cação Infantil, bem como para a formação dos funcionários dade das experiências oferecidas que podem contribuir para
não-docentes. o exercício da cidadania devem estar embasadas nos seguin-
tes princípios:
Estratégias •o respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consi-
Contribuir para o fortalecimento da integração das ins- deradas nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas,
tituições de Educação Infantil no sistema educacional, por culturais, étnicas, religiosas etc.;
meio de parceria com o Ministério do Desenvolvimento So- •o direito das crianças a brincar, como forma particular
cial, campanhas nos meios de comunicação, publicações de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil;
e discussões em seminários. •o acesso das crianças aos bens socioculturais disponí-
Apoiar técnica e pedagogicamente a construção de veis, ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas
políticas municipais de Educação Infantil, envolvendo a for- à expressão, à comunicação, à interação social, ao pensa-
mação de equipes técnicas. mento, à ética e à estética;

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

•a socialização das crianças por meio de sua participação ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE CRECHES E PRÉ-ES-
e inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem discri- COLAS
minação de espécie alguma; O atendimento institucional à criança pequena, no Brasil
•o atendimento aos cuidados essenciais associados à so- e no mundo, apresenta ao longo de sua história concepções
brevivência e ao desenvolvimento de sua identidade. bastante divergentes sobre sua finalidade social. Grande par-
A estes princípios cabe acrescentar que as crianças têm te dessas instituições nasceram com o objetivo de atender
direito, antes de tudo, de viver experiências prazerosas nas exclusivamente às crianças de baixa renda. O uso de creches
instituições. e de programas pré-escolares como estratégia para comba-
ter a pobreza e resolver problemas ligados à sobrevivência
O conjunto de propostas aqui expressas responde às ne-
das crianças foi, durante muitos anos, justificativa para a
cessidades de referências nacionais, como ficou explicitado
existência de atendimentos de baixo custo, com aplicações
em um estudo recente elaborado pelo Ministério da Educa- orçamentárias insuficientes, escassez de recursos materiais;
ção e do Desporto, que resultou na publicação do documen- precariedade de instalações; formação insuficiente de seus
to “Proposta pedagógica e currículo em educação infantil: um profissionais e alta proporção de crianças por adulto.
diagnóstico e a construção de uma metodologia de análise” . Constituir-se em um equipamento só para pobres, prin-
Nesse documento, constatou-se que são inúmeras e diversas cipalmente no caso das instituições de educação infantil, fi-
as propostas de currículo para a educação infantil que têm nanciadas ou mantidas pelo poder público2 , significou em
sido elaboradas, nas últimas décadas, em várias partes do muitas situações atuar de forma compensatória para sanar
Brasil. Essas propostas, tão diversas e heterogêneas quanto as supostas faltas e carências das crianças e de suas famílias.
o é a sociedade brasileira, refletem o nível de articulação de A tônica do trabalho institucional foi pautada por uma visão
três instâncias determinantes na construção de um projeto que estigmatizava a população de baixa renda. Nessa pers-
educativo para a educação infantil. São elas: a das práticas pectiva, o atendimento era entendido como um favor ofere-
sociais, a das políticas públicas e a da sistematização dos co- cido para poucos, selecionados por critérios excludentes. A
concepção educacional era marcada por características assis-
nhecimentos pertinentes a essa etapa educacional. Porém, se
tencialistas, sem considerar as questões de cidadania ligadas
essa vasta produção revela a riqueza de soluções encontra- aos ideais de liberdade e igualdade.
das nas diferentes regiões brasileiras, ela revela, também, as Modificar essa concepção de educação assistencialista
desigualdades de condições institucionais para a garantia da significa atentar para várias questões que vão muito além
qualidade nessa etapa educacional. dos aspectos legais. Envolve, principalmente, assumir as es-
Considerando e respeitando a pluralidade e diversidade pecificidades da educação infantil e rever concepções sobre
da sociedade brasileira e das diversas propostas curriculares a infância, as relações entre classes sociais, as responsabili-
de educação infantil existentes, este Referencial é uma pro- dades da sociedade e o papel do Estado diante das crianças
posta aberta, flexível e não obrigatória, que poderá subsidiar pequenas.
os sistemas educacionais, queassimodesejarem,naelabora- Embora haja um consenso sobre a necessidade de que
çãoouimplementaçãodeprogramase currículos condizentes a educação para as crianças pequenas deva promover a in-
com suas realidades e singularidades. Seu caráter não obri- tegração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cog-
gatório visa a favorecer o diálogo com propostas e currículos nitivos e sociais da criança, considerando que esta é um ser
completo e indivisível, as divergências estão exatamente no
que se constroem no cotidiano das instituições, sejam cre-
que se entende sobre o que seja trabalhar com cada um des-
ches, pré-escolas ou nos diversos grupos de formação exis- ses aspectos.
tentes nos diferentes sistemas. Há práticas que privilegiam os cuidados físicos, partindo
Nessa perspectiva, o uso deste Referencial só tem senti- de concepções que compreendem a criança pequena como
do se traduzir a vontade dos sujeitos envolvidos com a edu- carente, frágil, dependente epassiva,equelevamàconstru-
cação das crianças, sejam pais, professores, técnicos e funcio- çãode procedimentos e rotinas rígidas, dependentes todo
nários de incorporá-lo no projeto educativo da instituição ao o tempo da ação direta do adulto. Isso resulta em períodos
qual estão ligados. longos de espera entre um cuidado e outro, sem que a sin-
Se por um lado, o Referencial pode funcionar como ele- gularidade e individualidade de cada criança seja respeitada.
mento orientador de ações na busca da melhoria de qua- Essas práticas tolhem a possibilidade de independência e as
lidade da educação infantil brasileira, por outro, não tem a oportunidades das crianças de aprenderem sobre o cuidado
pretensão de resolver os complexos problemas dessa etapa de si, do outro e do ambiente. Em concepções mais abran-
educacional. A busca da qualidade do atendimento envolve gentes os cuidados são compreendidos como aqueles refe-
rentes à proteção, saúde
questões amplas ligadas às políticas públicas, às decisões de
e alimentação, incluindo as necessidades de afeto, inte-
ordem orçamentária, à implantação de políticas de recursos
ração, estimulação, segurança e brincadeiras que possibili-
humanos, ao estabelecimento de padrões de atendimento tem a exploração e a descoberta.
que garantam espaço físico adequado, materiais em quan- Outras práticas têm privilegiado as necessidades emo-
tidade e qualidade suficientes e à adoção de propostas cionais apresentando os mais diversos enfoques ao longo
educacionais compatíveis com a faixa etária nas diferentes da história do atendimento infantil. A preocupação com o
modalidades de atendimento, para as quais este Referencial desenvolvimento emocional da criança pequena resultou em
pretende dar sua contribuição. propostas nas quais, principalmente nas creches, os profissio-
nais deveriam atuar como substitutos maternos.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Outra tendência foi usar o espaço de educação infantil preender o mundo em que vivem, as relações contraditórias
para o desenvolvimento de uma pedagogia relacional, ba- que presenciam e, por meio das brincadeiras, explicitam as
seada exclusivamente no estabelecimento de relações pes- condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e
soais intensas entre adultos e crianças. desejos. No processo de construção do conhecimento, as
Desenvolvimento cognitivo é outro assunto polêmico crianças se utilizam das mais diferentes linguagens e exercem
presente em algumas práticas. O termo “cognitivo” aparece a capacidade que possuem de terem ideias e hipóteses origi-
ora especificamente ligado ao desenvolvimento das estrutu- nais sobre aquilo que buscam desvendar. Nessa perspectiva
ras do pensamento, ou seja, da capacidade de generalizar, as crianças constroem o conhecimento a partir das intera-
recordar, formar conceitos e raciocinar logicamente, ora se ções que estabelecem com as outras pessoas e com o meio
referindo a aprendizagens de conteúdos específicos. A polê- em que vivem. O conhecimento não se constitui em cópia da
mica entre a concepção que entende que a educação deve realidade, mas sim, fruto de um intenso trabalho de criação,
principalmente promover a construção das estruturas cog- significação e ressignificação .
nitivas e aquela que enfatiza a construção de conhecimen- Compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular
tos como meta da educação, pouco contribui porque o de- das crianças serem e estarem no mundo é o grande desafio
senvolvimento das capacidades cognitivas do pensamento da educação infantil e de seus profissionais. Embora os co-
nhecimentos derivados da psicologia, antropologia, sociolo-
humano mantém uma relação estreita com o processo das
gia, medicina etc. possam ser de grande valia para desvelar o
aprendizagens específicas que as experiências educacionais
universo infantil apontando algumas características comuns
podem proporcionar.
de ser das crianças, elas permanecem únicas em suas indivi-
Polêmicas sobre cuidar e educar, sobre o papel do afe- dualidades e diferenças.
to na relação pedagógica e sobre educar para o desenvolvi-
mento ou para o conhecimento têm constituído, portanto, o EDUCAR
panorama de fundo sobre o qual se constroem as propostas Nas últimas décadas, os debates em nível nacional e in-
em educação infantil. ternacional apontam para a necessidade de que as institui-
A elaboração de propostas educacionais, veicula ne- ções de educação infantil incorporem de maneira integrada
cessariamente concepções sobre criança, educar, cuidar e as funções de educar e cuidar, não mais diferenciando nem
aprendizagem, cujos fundamentos devem ser considerados hierarquizando os profissionais e instituições que atuam com
de maneira explícita. as crianças pequenas e/ou aqueles que trabalham com as
maiores. As novas funções para a educação infantil devem
A CRIANÇA estar associadas a padrões de qualidade. Essa qualidade ad-
A concepção de criança é uma noção historicamente vém de concepções de desenvolvimento que consideram as
construída e consequentemente vem mudando ao longo crianças nos seus contextos sociais, ambientais, culturais e,
dos tempos, não se apresentando de forma homogênea nem mais concretamente, nas interações e práticas sociais que
mesmo no interior de uma mesma sociedade e época. Assim lhes fornecem elementos relacionados às mais diversas lin-
é possível que, por exemplo, em uma mesma cidade existam guagens e ao contato com os mais variados conhecimentos
diferentes maneiras de se considerar as crianças pequenas para a construção de uma identidade autônoma.
dependendo da classe social a qual pertencem, do grupo ét- A instituição de educação infantil deve tornar acessível
nico do qual fazem parte. Boa parte das crianças pequenas a todas as crianças que a frequentam, indiscriminadamente,
brasileiras enfrentam um cotidiano bastante adverso que as elementos da cultura que enriquecem o seu desenvolvimen-
conduz desde muito cedo a precárias condições de vida e ao to e inserção social. Cumpre um papel socializador, propi-
trabalho infantil, ao abuso e exploração por parte de adultos. ciando o desenvolvimento da identidade das crianças, por
Outras crianças são protegidas de todas as maneiras, rece- meio de aprendizagens diversificadas, realizadas em situa-
bendo de suas famílias e da sociedade em geral todos os ções de interação.
Na instituição de educação infantil, pode-se oferecer às
cuidados necessários ao seu desenvolvimento. Essa dualida-
crianças condições para as aprendizagens que ocorrem nas
de revela a contradição e conflito de uma sociedade que não
brincadeiras e aquelas advindas de situações pedagógicas
resolveu ainda as grandes desigualdades sociais presentes
intencionais ou aprendizagens orientadas pelos adultos. É
no cotidiano. importante ressaltar, porém, que essas aprendizagens, de na-
A criança como todo ser humano, é um sujeito social e tureza diversa, ocorrem de maneira integrada no processo de
histórico e faz parte de uma organização familiar que está in- desenvolvimento infantil.
serida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em Educar significa, portanto, propiciar situações de cuida-
um determinado momento histórico. É profundamente mar- dos, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma inte-
cada pelo meio social em que se desenvolve, mas também o grada e que possam contribuir para o desenvolvimento das
marca. A criança tem na família, biológica ou não, um ponto capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar
de referência fundamental, apesar da multiplicidade de inte- com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito
rações sociais que estabelece com outras instituições sociais . e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos
As crianças possuem uma natureza singular, que as ca- mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a
racteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacida-
jeito muito próprio. Nas interações que estabelecem desde des de apropriaçãoeconhecimentodas potencialidades cor-
cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio porais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva
que as circunda, as crianças revelam seu esforço para com- de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Cuidar Para cuidar é preciso antes de tudo estar comprometido


Contemplar o cuidado na esfera da instituição da educa- com o outro, com sua singularidade, ser solidário com suas
ção infantil significa compreendê-lo como parte integrante necessidades, confiando em suas capacidades. Disso depen-
da educação, embora possa exigir conhecimentos, habilida- de a construção de um vínculo entre quem cuida e quem é
des e instrumentos que extrapolam a dimensão pedagógica. cuidado.
Ou seja, cuidar de uma criança em um contexto educativo Além da dimensão afetiva e relacional do cuidado, é
demanda a integração de vários campos de conhecimentos preciso que o professor possa ajudar a criança a identificar
e a cooperação de profissionais de diferentes áreas. suas necessidades e priorizá-las, assim como atendê-las de
A base do cuidado humano é compreender como ajudar forma adequada. Assim, cuidar da criança é sobretudo dar
o outro a se desenvolver como ser humano. Cuidar significa atenção a ela como pessoa que está num contínuo cresci-
valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é mento e desenvolvimento, compreendendo sua singularida-
um ato em relação ao outro e a si próprio que possui uma di- de, identificando e respondendo às suas necessidades. Isto
mensão expressiva e implica em procedimentos específicos. inclui interessar-se sobre o que a criança sente, pensa, o que
O desenvolvimento integral depende tanto dos cuidados ela sabe sobre si e sobre o mundo, visando à ampliação deste
relacionais, que envolvem a dimensão afetiva e dos cuidados conhecimento e de suas habilidades, que aos poucos a tor-
com os aspectos biológicos do corpo, como a qualidade da narão mais independente e mais autônoma.
alimentação e dos cuidados com a saúde, quanto da forma
como esses cuidados são oferecidos e das oportunidades de Brincar
acesso a conhecimentos variados. Para que as crianças possam exercer sua capacidade de
As atitudes e procedimentos de cuidado são influencia- criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade nas ex-
das por crenças e valores em torno da saúde, da educação e periências que lhes são oferecidas nas instituições, sejam elas
do desenvolvimento infantil. Embora as necessidades huma- mais voltadas às brincadeiras ou às aprendizagens que ocor-
nas básicas sejam comuns, como alimentar-se, proteger-se rem por meio de uma intervenção direta.
etc. as formas de identificá-las, valorizá-las e atendê-las são A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém um
construídas socialmente. As necessidades básicas, podem ser vínculo essencial com aquilo que é o “não-brincar”. Se a brin-
modificadas e acrescidas de outras de acordo com o contex- cadeira é uma ação que ocorre no plano da imaginação isto
to sociocultural. Pode-se dizer que além daquelas que pre- implica que aquele que brinca tenha o domínio da lingua-
servam a vida orgânica, as necessidades afetivas são também gem simbólica. Isto quer dizer que é preciso haver consciên-
base para o desenvolvimento infantil. cia da diferença existente entre a brincadeira e a realidade
A identificação dessas necessidades sentidas e expres- imediata que lhe forneceu conteúdo para realizar-se. Nesse
sas pelas crianças, depende também da compreensão que o sentido, para brincar é preciso apropriar-se de elementos da
adulto tem das várias formas de comunicação que elas, em realidade imediata de tal forma a atribuir-lhes novos signi-
cada faixa etária possuem e desenvolvem. Prestar atenção e ficados. Essa peculiaridade da brincadeira ocorre por meio
valorizar o choro de um bebê e responder a ele com um cui- da articulação entre a imaginação e a imitação da realidade.
dado ou outro depende de como é interpretada a expressão Toda brincadeira é uma imitação transformada, no plano das
de choro, e dos recursos existentes para responder a ele. É emoções e das idéias, de uma realidade anteriormente vi-
possível que alguns adultos conversem com o bebê tentan- venciada.
do acalmá-lo, ou que peguem-no imediatamente no colo, Isso significa que uma criança que, por exemplo, bate rit-
embalando-o. Em determinados contextos socioculturais, micamente com os pés no chão e imagina-se cavalgando um
é possível que o adulto que cuida da criança, tendo como cavalo, está orientando sua ação pelo significado da situa-
base concepções de desenvolvimento e aprendizagem in- ção e por uma atitude mental e não somente pela percepção
fantis, de educação e saúde, acredite que os bebês devem imediata dos objetos e situações.
aprender a permanecer no berço, após serem alimentados No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os es-
e higienizados, e, portanto, não considerem o embalo como paços valem e significam outra coisa daquilo que aparentam
um cuidado, mas como uma ação que pode “acostumar mal” ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam os aconteci-
a criança. Em outras culturas, o embalo tem uma grande im- mentos que lhes deram origem, sabendo que estão brincan-
portância no cuidado de bebês, tanto que existem berços do.
próprios para embalar. O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, é
O cuidado precisa considerar, principalmente, as ne- o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar outros
cessidades das crianças, que quando observadas, ouvidas e papéis na brincadeira, as crianças agem frente à realidade de
respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a qualida- maneira não-literal, transferindo e substituindo suas ações
de do que estão recebendo. Os procedimentos de cuidado cotidianas pelas ações e características do papel assumido,
também precisam seguir os princípios de promoção à saúde. utilizando-se de objetos substitutos.
Para se atingir os objetivos dos cuidados com a preservação A brincadeira favorece a auto-estima das crianças, auxi-
da vida e com o desenvolvimento das capacidades humanas, liando-as a superar progressivamente suas aquisições de for-
é necessário que as atitudes e procedimentos estejam basea- ma criativa. Brincar contribui, assim, para a interiorização de
dos em conhecimentos específicos sobre o desenvolvimento determinados modelos de adulto, no âmbito de grupos so-
biológico, emocional, e intelectual das crianças, levando em ciais diversos. Essas significações atribuídas ao brincar trans-
consideração as diferentes realidades socioculturais. formam-no em um espaço singular de constituição infantil.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Nas brincadeiras, as crianças transformam os conheci- A intervenção intencional baseada na observação das
mentos que já possuíam anteriormente em conceitos gerais brincadeiras das crianças, oferecendo-lhes material adequa-
com os quais brinca. Por exemplo, para assumir um deter- do, assim como um espaço estruturado para brincar permite
minado papel numa brincadeira, a criança deve conhecer o enriquecimento das competências imaginativas, criativas e
alguma de suas características. Seus conhecimentos provêm organizacionais infantis. Cabe ao professor organizar situa-
da imitação de alguém ou de algo conhecido, de uma expe- ções para que as brincadeiras ocorram de maneira diversifi-
riência vivida na família ou em outros ambientes, do relato cada para propiciar às crianças a possibilidade de escolherem
de um colega ou de um adulto, de cenas assistidas na tele- os temas, papéis, objetos e companheiros com quem brincar
visão, no cinema ou narradas em livros etc. A fonte de seus ou os jogos de regras e de construção, e assim elaborarem de
conhecimentos é múltipla, mas estes encontram-se, ainda, forma pessoal e independente suas emoções, sentimentos,
fragmentados. É no ato de brincar que a criança estabelece conhecimentos e regras sociais.
os diferentes vínculos entre as características do papel assu- É preciso que o professor tenha consciência que na brin-
mido, suas competências e as relações que possuem com cadeira as crianças recriam e estabilizam aquilo que sabem
outros papéis, tomando consciência disto e generalizando sobre as mais diversas esferas do conhecimento, em uma ati-
para outras situações. vidade espontânea e imaginativa. Nessa perspectiva não se
Para brincar é preciso que as crianças tenham certa inde- deve confundir situações nas quais se objetiva determinadas
pendência para escolher seus companheiros e os papéis que aprendizagens relativas a conceitos, procedimentos ou atitu-
irão assumir no interior de um determinado tema e enredo, des explícitas com aquelas nas quais os conhecimentos são
cujos desenvolvimentos dependem unicamente da vontade experimentados de uma maneira espontânea e destituída de
de quem brinca. objetivos imediatos pelas crianças. Pode-se, entretanto, uti-
Pela oportunidade de vivenciar brincadeiras imaginativas lizar os jogos, especialmente aqueles que possuem regras,
e criadas por elas mesmas, as crianças podem acionar seus como atividades didáticas. É preciso, porém, que o profes-
pensamentos para a resolução de problemas que lhe são im- sor tenha consciência que as crianças não estarão brincando
portantes e significativos. Propiciando a brincadeira, portan- livremente nestas situações, pois há objetivos didáticos em
to, cria-se um espaço no qual as crianças podem experimen- questão.
tar o mundo e internalizar uma compreensão particular sobre
as pessoas, os sentimentos e os diversos conhecimentos. Aprender em situações orientadas
O brincar apresenta-se por meio de várias categorias de A organização de situações de aprendizagens orientadas
experiências que são diferenciadas pelo uso do material ou ou que dependem de uma intervenção direta do professor
dos recursos predominantemente implicados. Essas catego- permite que as crianças trabalhem com diversos conheci-
rias incluem: o movimento e as mudanças da percepção re- mentos. Estas aprendizagens devem estar baseadas não ape-
sultantes essencialmente da mobilidade física das crianças; nas nas propostas dos professores, mas, essencialmente, na
a relação com os objetos e suas propriedades físicas assim escuta das crianças e na compreensão do papel que desem-
como a combinação e associação entre eles; a linguagem oral penham a experimentação e o erro na construção do conhe-
e gestual que oferecem vários níveis de organização a serem cimento .
utilizados para brincar; os conteúdos sociais, como papéis, A intervenção do professor é necessária para que, na ins-
situações, valores e atitudes que se referem à forma como tituição de educação infantil, as crianças possam, em situa-
o universo social se constrói; e, finalmente, os limites defini- ções de interação social ou sozinhas, ampliar suas capacida-
dos pelas regras, constituindo-se em um recurso fundamen- des de apropriação dos conceitos, dos códigos sociais e das
tal para brincar. Estas categorias de experiências podem ser diferentes linguagens, por meio da expressão e comunicação
agrupadas em três modalidades básicas, quais sejam, brincar de sentimentos e idéias, da experimentação, da reflexão, da
de faz-de-conta ou com papéis, considerada como ativida- elaboração de perguntas e respostas, da construção de ob-
de fundamental da qual se originam todas as outras; brincar jetos e brinquedos etc. Para isso, o professor deve conhecer
com materiais de construção e brincar com regras. e considerar as singularidades das crianças de diferentes ida-
As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de construção des, assim como a diversidade de hábitos, costumes, valo-
e aqueles que possuem regras, como os jogos de sociedade res, crenças, etnias etc. das crianças com as quais trabalha
(também chamados de jogos de tabuleiro), jogos tradicio- respeitando suas diferenças e ampliando suas pautas de so-
nais, didáticos, corporais etc., propiciam a ampliação dos co- cialização. Nessa perspectiva, o professor é mediador entre
nhecimentos infantis por meio da atividade lúdica. as crianças e os objetos de conhecimento, organizando e
É o adulto, na figura do professor, portanto, que, na insti- propiciando espaços e situações de aprendizagens que arti-
tuição infantil, ajuda a estruturar o campo das brincadeiras na culem os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais
vida das crianças. Consequentemente é ele que organiza sua e cognitivas de cada criança aos seus conhecimentos prévios
base estrutural, por meio da oferta de determinados objetos, e aos conteúdos referentes aos diferentes campos de conhe-
fantasias, brinquedos ou jogos, da delimitação e arranjo dos cimento humano. Na instituição de educação infantil o pro-
espaços e do tempo para brincar. fessor constitui-se, portanto, no parceiro mais experiente, por
Por meio das brincadeiras os professores podem obser- excelência, cuja função é propiciar e garantir um ambiente
var e constituir uma visão dos processos de desenvolvimen- rico, prazeroso, saudável e não discriminatório de experiên-
to das crianças em conjunto e de cada uma em particular, cias educativas e sociais variadas.
registrando suas capacidades de uso das linguagens, assim Para que as aprendizagens infantis ocorram com suces-
como de suas capacidades sociais e dos recursos afetivos e so, é preciso que o professor considere, na organização do
emocionais que dispõem. trabalho educativo:

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

•a interação com crianças da mesma idade e de idades Portanto, é importante frisar que as crianças se desenvol-
diferentes em situações diversas como fator de promoção da vem em situações de interação social, nas quais conflitos e
aprendizagem e do desenvolvimento e da capacidade de re- negociação de sentimentos, idéias e soluções são elementos
lacionar-se; indispensáveis.
•os conhecimentos prévios de qualquer natureza, que as O âmbito social oferece, portanto, ocasiões únicas para
crianças já possuem sobre o assunto, já que elas aprendem elaborar estratégias de pensamento e de ação, possibilitando
por meio de uma construção interna ao relacionar suas idéias a ampliação das hipóteses infantis. Pode-se estabelecer, nes-
com as novas informações de que dispõem e com as intera- se processo, uma rede de reflexão e construção de conheci-
ções que estabelece; mentos na qual tanto os parceiros mais experientes quanto
•a individualidade e a diversidade; os menos experientes têm seu papel na interpretação e en-
•o grau de desafio que as atividades apresentam e o fato saio de soluções. A interação permite que se crie uma situa-
de que devam ser significativas e apresentadas de maneira ção de ajuda na qual as crianças avancem no seu processo
integrada para as crianças e o mais próximas possíveis das de aprendizagem.
práticas sociais reais;
•a resolução de problemas como forma de aprendiza-
DIVERSIDADE E INDIVIDUALIDADE
gem.
Cabe ao professor a tarefa de individualizar as situações
Essas considerações podem estruturar-se nas seguintes
condições gerais relativas às aprendizagens infantis a serem de aprendizagens oferecidas às crianças, considerando suas
seguidas pelo professor em sua prática educativa. capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas assim
como os conhecimentos que possuem dos mais diferentes
INTERAÇÃO assuntos e suas origens socioculturais diversas. Isso significa
A interação social em situações diversas é uma das es- que o professor deve planejar e oferecer uma gama variada
tratégias mais importantes do professor para a promoção de experiências que responda, simultaneamente, às deman-
de aprendizagens pelas crianças. Assim, cabe ao professor das do grupo e às individualidades de cada criança.
propiciar situações de conversa, brincadeiras ou de aprendi- Considerar que as crianças são diferentes entre si, implica
zagens orientadas que garantam a troca entre as crianças, de propiciar uma educação baseada em condições de aprendi-
forma a que possam comunicar-se e expressar-se, demons- zagem que respeitem suas necessidades e ritmos individuais,
trando seus modos de agir, de pensar e de sentir, em um am- visando a ampliar e a enriquecer as capacidades de cada
biente acolhedor e que propicie a confiança e a auto-estima. criança, considerando- as como pessoas singulares e com
A existência de um ambiente acolhedor, porém, não significa características próprias. Individualizar a educação infantil, ao
eliminar os conflitos, disputas e divergências presentes nas contrário do que se poderia supor, não é marcar e estigma-
interações sociais, mas pressupõe que o professor forne- tizar as crianças pelo que diferem, mas levar em conta suas
ça elementos afetivos e de linguagem para que as crianças singularidades, respeitando-as e valorizando-as como fator
aprendam a conviver, buscando as soluções mais adequadas de enriquecimento pessoal e cultural.
para as situações com as quais se defrontam diariamente. As
capacidades de interação, porém, são também desenvolvidas APRENDIZAGEMSIGNIFICATIVAECONHECIMENTOS-
quando as crianças podem ficar sozinhas, quando elaboram PRÉVIOS
suas descobertas e sentimentos e constroem um sentido de Os assuntos trabalhados com as crianças devem guardar
propriedade para as ações e pensamentos já compartilhados relações específicas com os níveis de desenvolvimento das
com outras crianças e com os adultos, o que vai potencializar crianças em cada grupo e faixa etária e, também, respeitar
novas interações. Nas situações de troca, podem desenvolver e propiciar a amplitude das mais diversas experiências em
os conhecimentos e recursos de que dispõem, confrontando
relação aos eixos de trabalho propostos.
-os e reformulando-os.
O processo que permite a construção de aprendizagens
Nessa perspectiva, o professor deve refletir e discutir
significativas pelas crianças requer uma intensa atividade in-
com seus pares sobre os critérios utilizados na organização
dos agrupamentos e das situações de interação, mesmo en- terna por parte delas. Nessa atividade, as crianças podem es-
tre bebês, visando, sempre que possível, a auxiliar as trocas tabelecer relações entre novos conteúdos e os conhecimen-
entre as crianças e, ao mesmo tempo, garantir-lhes o espa- tos prévios (conhecimentos que já possuem), usando para
ço da individualidade. Assim, em determinadas situações, é isso os recursos de que dispõem. Esse processo possibilitará
aconselhável que crianças com níveis de desenvolvimento a elas modificarem seus conhecimentos prévios, matizá-los,
diferenciados interajam; em outras, deve-se garantir uma ampliá-los ou diferenciá-los em função de novas informa-
proximidade de crianças com interesses e níveis de desenvol- ções, capacitando-as a realizar novas aprendizagens, tornan-
vimento semelhantes. Propiciar a interação quer dizer, por- do-as significativas.
tanto, considerar que as diferentes formas de sentir, expres- É, portanto, função do professor considerar, como ponto
sar e comunicar a realidade pelas crianças resultam em res- de partida para sua ação educativa, os conhecimentos que as
postas diversas que são trocadas entre elas e que garantem crianças possuem, advindos das mais variadas experiências
parte significativa de suas aprendizagens. Uma das formas sociais, afetivas e cognitivas a que estão expostas. Detectar
de propiciar essa troca é a socialização de suas descobertas, os conhecimentos prévios das crianças não é uma tarefa fá-
quando o professor organiza as situações para que as crian- cil. Implica que o professor estabeleça estratégias didáticas
ças compartilhem seus percursos individuais na elaboração para fazê-lo. Quanto menores são as crianças, mais difícil é
dos diferentes trabalhos realizados. a explicitação de tais conhecimentos, uma vez que elas não

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

se comunicam verbalmente. A observação acurada das crian- Os avanços no pensamento sociológico, filosófico e legal
ças é um instrumento essencial nesse processo. Os gestos, vêm exigindo, por parte do sistema educacional brasileiro,
movimentos corporais, sons produzidos, expressões faciais, o abandono de práticas segregacionistas que, ao longo da
as brincadeiras e toda forma de expressão, representação e história, marginalizaram e estigmatizaram pessoas com dife-
comunicação devem ser consideradas como fonte de conhe- renças individuais acentuadas. A LDB, no seu capítulo V,
cimento para o professor sobre o que a criança já sabe. Com Da Educação Especial, parágrafo 3o , determina que: “A
relação às crianças maiores, podem-se também criar situa- oferta de educação especial, dever constitucional do Estado,
ções intencionais nas quais elas sejam capazes de explicitar tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a edu-
seus conhecimentos por meio das diversas linguagens a que cação infantil”.
têm acesso. A Educação Especial, termo cunhado para a educação di-
rigida aos portadores de deficiência, de condutas típicas e de
RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS altas habilidades, é considerada pela Constituição brasileira,
Nas situações de aprendizagem o problema adquire um como parte inseparável do direito à educação. A posição da
sentido importante quando as crianças buscam soluções UNESCO, considera a educação especial como uma forma
e discutem-nas com as outras crianças. Não se trata de si- enriquecida de educação em geral, que deve contribuir para
tuações que permitam “aplicar” o que já se sabe, mas sim a integração na sociedade dos portadores de deficiência, de
daquelas que possibilitam produzir novos conhecimentos a condutas típicas e de altas habilidades. O Estatuto da Criança
partir dos que já se tem e em interação com novos desafios. e do Adolescente, em seu art. 54, III, afirma que: “É dever do
Neste processo, o professor deve reconhecer as diferentes estado assegurar à criança e ao adolescente (...) atendimen-
soluções, socializando os resultados encontrados. to educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino”. O MEC desen-
PROXIMIDADE COM AS PRÁTICAS SOCIAIS REAIS volve, por intermédio de sua Secretaria de Educação Espe-
A prática educativa deve buscar situações de aprendi- cial (SEESP) uma política visando à integração das crianças
zagens que reproduzam contextos cotidianos nos quais, por portadoras de necessidades especiais ao sistema de ensino,
exemplo, escrever, contar, ler, desenhar, procurar uma in- propondo a inclusão destas crianças nas instituições de edu-
cação infantil.
formação etc. tenha uma função real. Isto é, escreve-se para
No mundo inteiro tem se observado iniciativas no sen-
guardar uma informação, para enviar uma mensagem, con-
tido da inclusão cada vez maior das crianças com necessi-
tam-se tampinhas para fazer uma coleção etc.
dades especiais nos mais diversos espaços sociais, o que
culmina hoje com a Declaração de Salamanca, de princípios,
EDUCAR CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS
política e prática das necessidades educativas especiais. Este
As pessoas que apresentam necessidades especiais (por-
documento se inspira “no princípio de integração e no reco-
tadores de deficiência mental, auditiva, visual, física e defi-
nhecimento da necessidade de ação para conseguir escola
ciência múltipla, e portadores de altas habilidades) represen- para todos, isto é, escolas que incluam todo mundo e conhe-
tam 10% da população brasileira e possuem, em sua grande çam as diferenças, promovam a aprendizagem e atendam as
maioria, uma vasta experiência de exclusão que se traduz em necessidades de cada um”. A realidade brasileira, de uma for-
grandes limitações nas possibilidades de convívio social e ma geral, exige que se busque alternativas para a integração
usufruto dos equipamentos sociais (menos de 3% têm aces- do portador de deficiência, de maneira a garantir-lhe uma
so a algum tipo de atendimento), além de serem submetidas convivência participativa.
a diversos tipos de discriminação. A Escola Inclusiva é uma tendência internacional deste
Uma ação educativa comprometida com a cidadania e final de século. É considerada Escola Inclusiva aquela que
com a formação de uma sociedade democrática e não ex- abre espaço para todas as crianças, abrangendo aquelas com
cludente deve, necessariamente, promover o convívio com a necessidades especiais. O principal desafio da Escola Inclusi-
diversidade, que é marca da vida social brasileira. Essa diver- va é desenvolver uma pedagogia centrada na criança, capaz
sidade inclui não somente as diversas culturas, os hábitos, os de educar a todas, sem discriminação, respeitando suas dife-
costumes, mas também as competências, as particularidades renças; uma escola que dê conta da diversidade das crianças
de cada um. Aprender a conviver e relacionar-se com pes- e ofereça respostas adequadas às suas características e ne-
soas que possuem habilidades e competências diferentes, cessidades, solicitando apoio de instituições e especialistas
que possuem expressões culturais e marcas sociais próprias, quando isso se fizer necessário. É uma meta a ser perseguida
é condição necessária para o desenvolvimento de valores por todos aqueles comprometidos com o fortalecimento de
éticos, como a dignidade do ser humano, o respeito ao ou- uma sociedade democrática, justa e solidária.
tro, a igualdade e a equidade e a solidariedade. A criança As alternativas de atendimento educacional às crianças
que conviver com a diversidade nas instituições educativas, que apresentam necessidades educativas especiais, no Brasil,
poderá aprender muito com ela. Pelo lado das crianças que vão desde o atendimento em instituições especializadas até
apresentam necessidades especiais, o convívio com as outras a completa integração nas várias instituições de educação.
crianças se torna benéfico na medida em que representa uma A qualidade do processo de integração depende da es-
inserção de fato no universo social e favorece o desenvolvi- trutura organizacional da instituição, pressupondo propostas
mento e a aprendizagem, permitindo a formação de vínculos que considerem:
estimuladores, o confronto com a diferença e o trabalho com •grau de deficiência e as potencialidades de cada criança;
a própria dificuldade. •idade cronológica;

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

•disponibilidade de recursos humanos e materiais exis- trabalhando com crianças há mais tempo e com qualidade.
tentes na comunidade; Ao mesmo tempo, deverão criar condições de formação re-
•condições socioeconômicas e culturais da região; gular de seus profissionais, ampliando-lhes chances de aces-
•estágio de desenvolvimento dos serviços de educação so à carreira como professores de educação infantil, função
especial já implantado nas unidades federadas. que passa a lhes ser garantida pela LDB, caso cumpridos os
Para que o processo de integração dessas crianças possa pré-requisitos. Nessa perspectiva, faz-se necessário que estes
acontecer de fato, há que se envolver toda a comunidade, de profissionais, nas instituições de educação infantil, tenham
forma a que o trabalho desenvolvido tenha sustentação. É ou venham a ter uma formação inicial sólida e consistente
preciso considerar este trabalho como parte do projeto edu- acompanhada de adequada e permanente atualização em
cativo da instituição. serviço. Assim, o diálogo no interior da categoria tanto quan-
to os investimentos na carreira e formação do profissional
O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL pelas redes de ensino é hoje um desafio presente, com vista
Embora não existam informações abrangentes sobre os à profissionalização do docente de educação infantil.
profissionais que atuam diretamente com as crianças nas Em consonância com a LDB, este Referencial utiliza a de-
creches e pré-escolas do país, vários estudos7 têm mostra- nominação “professor de educação infantil” para designar
do que muitos destes profissionais ainda não têm formação todos os/as profissionais responsáveis pela educação direta
adequada, recebem remuneração baixa e trabalham sob das crianças de zero a seis anos, tenham eles/elas uma for-
condições bastante precárias. Se na pré-escola, constata-se, mação especializada ou não.
ainda hoje, uma pequena parcela de profissionais considera-
dos leigos, nas creches ainda é significativo o número de pro- PERFIL PROFISSIONAL
fissionais sem formação escolar mínima cuja denominação é O trabalho direto com crianças pequenas exige que o
variada: berçarista, auxiliar de desenvolvimento infantil, babá, professor tenha uma competência polivalente. Ser polivalen-
pajem, monitor, recreacionista etc. te significa que ao professor cabe trabalhar com conteúdos
A constatação dessa realidade nacional diversa e desi- de naturezas diversas que abrangem desde cuidados bási-
gual, porém, foi acompanhada, nas últimas décadas, de de- cos essenciais até conhecimentos específicos provenientes
das diversas áreas do conhecimento. Este caráter polivalen-
bates a respeito das diversas concepções sobre criança, edu-
te demanda, por sua vez, uma formação bastante ampla do
cação, atendimento institucional e reordenamento legislativo
profissional que deve tornar-se, ele também, um aprendiz,
que devem determinar a formação de um novo profissional
refletindo constantemente sobre sua prática, debatendo com
para responder às demandas atuais de educação da criança
seus pares, dialogando com as famílias e a comunidade e
de zero a seis anos. As funções deste profissional vêm pas-
buscando informações necessárias para o trabalho que de-
sando, portanto, por reformulações profundas. O que se es-
senvolve. São instrumentos essenciais para a reflexão sobre
perava dele há algumas décadas não corresponde mais ao
a prática direta com as crianças a observação, o registro, o
que se espera nos dias atuais. Nessa perspectiva, os debates planejamento e a avaliação.
têm indicado a necessidade de uma formação mais abran- A implementação e/ou implantação de uma proposta
gente e unificadora para profissionais tanto de creches como curricular de qualidade depende, principalmente dos profes-
de pré- escolas e de uma restruturação dos quadros de car- sores que trabalham nas instituições. Por meio de suas ações,
reira que leve em consideração os conhecimentos já acumu- que devem ser planejadas e compartilhadas com seus pares
lados no exercício profissional, como possibilite a atualização e outros profissionais da instituição, pode-se construir proje-
profissional. tos educativos de qualidade junto aos familiares e às crianças.
Em resposta a esse debate, a LDB dispõe, no título VI, A idéia que preside a construção de um projeto educativo é a
art. 62 que: “A formação de docentes para atuar na educação de que se trata de um processo sempre inacabado, provisó-
básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de rio e historicamente contextualizado que demanda reflexão
graduação plena, em universidades e institutos superiores de e debates constantes com todas as pessoas envolvidas e in-
educação, admitida, como formação mínima para o exercí- teressadas.
cio do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras Para que os projetos educativos das instituições possam,
séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, de fato, representar esse diálogo e debate constante, é preci-
na modalidade Normal”. Considerando a necessidade de um so ter professores que estejam comprometidos com a prática
período de transição que permita incorporar os profissionais educacional, capazes de responder às demandas familiares e
cuja escolaridade ainda não é a exigida e buscando propor- das crianças, assim como às questões específicas relativas aos
cionar um tempo para adaptação das redes de ensino, esta cuidados e aprendizagens infantis.
mesma Lei dispõe no título IX, art. 87, § 4º que: “até o fim da
década da Educação somente serão admitidos professores ORGANIZAÇÃO DO REFERENCIAL CURRICULAR NA-
habilitados em nível superior ou formados por treinamento CIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
em serviço”. A partir do diagnóstico realizado pela COEDI/DPE/SEF/
Isto significa que as diferentes redes de ensino deve- MEC das propostas pedagógicas e dos currículos de edu-
rão colocar-se a tarefa de investir de maneira sistemática cação infantil de vários estados e municípios brasileiros em
na capacitação e atualização permanente e em serviço de 1996, pode-se observar alguns dados importantes que con-
seus professores (sejam das creches8ou pré-escolas), apro- tribuem para a reflexão sobre a organização curricular e seus
veitando as experiências acumuladas daqueles que já vêm componentes.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Essa análise aponta para o fato de que a maioria das pro- Organização em âmbitos e eixos
postas concebe a criança como um ser social, psicológico e Frente ao mundo sociocultural e natural que se apresen-
histórico, tem no construtivismo sua maior referência teórica, ta de maneira diversa e polissêmica optou-se por um recor-
aponta o universo cultural da criança como ponto de par- te curricular que visa a instrumentalizar a ação do professor,
tida para o trabalho e defende uma educação democrática destacando os âmbitos de experiências essenciais que de-
e transformadora da realidade, que objetiva a formação de vem servir de referência para a prática educativa. Consideran-
cidadãos críticos. Ao mesmo tempo, constata-se um grande do-se as particularidades da faixa etária compreendida entre
desencontro entre os fundamentos teóricos adotados e as zero e seis anos e suas formas específicas de aprender criou-
orientações metodológicas. Não são explicitadas as formas se categorias curriculares para organizar os conteúdos a se-
que possibilitam a articulação entre o universo cultural das rem trabalhados nas instituições de educação infantil. Esta
crianças, o desenvolvimento infantil e as áreas do conheci- organização visa a abranger diversos e múltiplos espaços de
mento. elaboração de conhecimentos e de diferentes linguagens, a
Com o objetivo de tornar visível uma possível forma de construção da identidade, os processos de socialização e o
articulação, a estrutura do Referencial Curricular Nacional
desenvolvimento da autonomia das crianças que propiciam,
para a Educação Infantil relaciona objetivos gerais e específi-
por sua vez, as aprendizagens consideradas essenciais. Os
cos, conteúdos e orientações didáticas numa perspectiva de
âmbitos são compreendidos como domínios ou campos de
operacionalização do processo educativo.
Para tanto estabelece uma integração curricular na qual ação que dão visibilidade aos eixos de trabalho educativo
os objetivos gerais para a educação infantil norteiam a de- para que o professor possa organizar sua prática e refletir so-
finição de objetivos específicos para os diferentes eixos de bre a abrangência das experiências que propicia às crianças.
trabalho. Desses objetivos específicos decorrem os conteú- O Referencial Curricular Nacional para a Educação In-
dos que possibilitam concretizar as intenções educativas. O fantil define dois âmbitos de experiências: Formação Pessoal
tratamento didático que busca garantir a coerência entre e Social e Conhecimento de Mundo. É preciso ressaltar que
objetivos e conteúdos se explicita por meio das orientações esta organização possui um caráter instrumental e didático,
didáticas. devendo os professores ter consciência, em sua prática edu-
Essa estrutura se apoia em uma organização por idades cativa, que a construção de conhecimentos se processa de
— crianças de zero a três anos e crianças de quatro a seis maneira integrada e global e que há inter-relações entre os
anos — e se concretiza em dois âmbitos de experiências — diferentes âmbitos a serem trabalhados com as crianças.
Formação Pessoal e Social e Conhecimento de Mundo — que O âmbito de Formação Pessoal e Social refere-se às ex-
são constituídos pelos seguintes eixos de trabalho: Identida- periências que favorecem, prioritariamente, a construção do
de e autonomia, Movimento, Artes visuais, Música, Lingua- sujeito. Está organizado de forma a explicitar as complexas
gem oral e escrita, Natureza e sociedade, e Matemática. questões que envolvem o desenvolvimento de capacidades
Cada documento de eixo se organiza em torno de uma de natureza global e afetiva das crianças, seus esquemas
estrutura comum, na qual estão explicitadas: as idéias e práti- simbólicos de interação com os outros e com o meio, assim
cas correntes relacionadas ao eixo e à criança e aos seguintes como a relação consigo mesmas. O trabalho com este âmbi-
componentes curriculares: objetivos; conteúdos e orienta- to pretende que as instituições possam oferecer condições
ções didáticas; orientações gerais para o professor e biblio- para que as crianças aprendam a conviver, a ser e a estar com
grafia. os outros e consigo mesmas em uma atitude básica de acei-
tação, de respeito e de confiança. Este âmbito abarca um eixo
Organização por idade de trabalho denominado Identidade e autonomia.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, O âmbito de Conhecimento de Mundo refere- se à cons-
explicita no art. 30, capítulo II, seção II que: “A educação in-
trução das diferentes linguagens pelas crianças e às relações
fantil será oferecida em: I - creches ou entidades equivalentes
que estabelecem com os objetos de conhecimento. Este
para crianças de até três anos de idade; II - pré-escolas, para
âmbito traz uma ênfase na relação das crianças com alguns
as crianças de quatro a seis anos”.
Este Referencial Curricular Nacional para a Educação In- aspectos da cultura. A cultura é aqui entendida de uma for-
fantil adota a mesma divisão por faixas etárias contemplada ma ampla e plural, como o conjunto de códigos e produções
nas disposições da LDB. Embora arbitrária do ponto de vista simbólicas, científicas e sociais da humanidade construído ao
das diversas teorias de desenvolvimento, buscou-se apontar longo das histórias dos diversos grupos, englobando múl-
possíveis regularidades relacionadas aos aspectos afetivos, tiplos aspectos e em constante processo de reelaboração e
emocionais, cognitivos e sociais das crianças das faixas etá- ressignificação. Esta idéia de cultura transcende, mas engloba
rias abrangidas. No entanto, em alguns documentos fez-se os interesses momentâneos, as tradições específicas e as con-
uma diferenciação para os primeiros 12 meses de vida da venções de grupos sociais particulares. O domínio progres-
criança, considerando-se as especificidades dessa idade. sivo das diferentes linguagens que favorecem a expressão e
A opção pela organização dos objetivos, conteúdos e comunicação de sentimentos, emoções e idéias das crianças,
orientações didáticas por faixas etárias e não pela designa- propiciam a interação com os outros e facilitam a mediação
ção institucional — creche e pré-escola — pretendeu tam- com a cultura e os conhecimentos constituídos. Incide sobre
bém considerar a variação de faixas etárias encontradas nos aspectos essenciais do desenvolvimento e da aprendizagem
vários programas de atendimento nas diferentes regiões do e engloba instrumentos fundamentais para as crianças conti-
país, não identificadas com as determinações da LDB. nuarem a aprender ao longo da vida.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Destacam-se os seguintes eixos de trabalho: Movimento, Para que se possa atingir os objetivos é necessário se-
Artes visuais, Música, Linguagem oral e escrita, Natureza e lecionar conteúdos que auxiliem o desenvolvimento destas
sociedade, Matemática. capacidades.
Estes eixos foram escolhidos por se constituírem em
uma parcela significativa da produção cultural humana que CONTEÚDOS
amplia e enriquece as condições de inserção das crianças na As diferentes aprendizagens se dão por meio de suces-
sociedade. sivas reorganizações do conhecimento, e este processo é
protagonizado pelas crianças quando podem vivenciar expe-
Componentes curriculares riências que lhes forneçam conteúdos apresentados de forma
OBJETIVOS não simplificada e associados a práticas sociais reais. É impor-
Os objetivos explicitam intenções educativas e estabele- tante marcar que não há aprendizagem sem conteúdos.
cem capacidades que as crianças poderão desenvolver como Pesquisas e produções teóricas realizadas, principalmente
durante a última década, apontam a importância das apren-
consequência de ações intencionais do professor. Os objeti-
dizagens específicas para os processos de desenvolvimento e
vos auxiliam na seleção de conteúdos e meios didáticos.
socialização do ser humano, ressignificando o papel dos con-
A definição dos objetivos em termos de capacidades —
teúdos nos processos de aprendizagem.
e não de comportamentos — visa a ampliar a possibilidade Muitas das pautas culturais e saberes socialmente consti-
de concretização das intenções educativas, uma vez que as tuídos são aprendidos por meio do contato direto ou indireto
capacidades se expressam por meio de diversos comporta- com atividades diversas, que ocorrem nas diferentes situações
mentos e as aprendizagens que convergem para ela podem de convívio social das quais as crianças participam no âmbito
ser de naturezas diversas. Ao estabelecer objetivos nesses familiar e cotidiano.
termos, o professor amplia suas possibilidades de atendi- Outras aprendizagens, no entanto, dependem de situa-
mento à diversidade apresentada pelas crianças, podendo ções educativas criadas especialmente para que ocorram. O
considerar diferentes habilidades, interesses e maneiras de planejamento dessas situações envolve a seleção de conteú-
aprender no desenvolvimento de cada capacidade. dos específicos a essas aprendizagens.
Embora as crianças desenvolvam suas capacidades de Nessa perspectiva, este Referencial concebe os conteú-
maneira heterogênea, a educação tem por função criar con- dos, por um lado, como a concretização dos propósitos da
dições para o desenvolvimento integral de todas as crianças, instituição e, por outro, como um meio para que as crianças
considerando, também, as possibilidades de aprendizagem desenvolvam suas capacidades e exercitem sua maneira pró-
que apresentam nas diferentes faixas etárias. Para que isso pria de pensar, sentir e ser, ampliando suas hipóteses acer-
ocorra, faz-se necessário uma atuação que propicia o desen- ca do mundo ao qual pertencem e constituindo-se em um
volvimento de capacidades envolvendo aquelas de ordem fí- instrumento para a compreensão da realidade. Os conteúdos
sica, afetiva, cognitiva, ética, estética, de relação interpessoal abrangem, para além de fatos, conceitos e princípios, tam-
e inserção social. bém os conhecimentos relacionados a procedimentos, atitu-
As capacidades de ordem física estão associadas à possi- des, valores e normas como objetos de aprendizagem. A ex-
bilidade de apropriação e conhecimento das potencialidades plicitação de conteúdos de naturezas diversas aponta para a
corporais, ao auto conhecimento, ao uso do corpo na expres- necessidade de se trabalhar de forma intencional e integrada
são das emoções, ao deslocamento com segurança. com conteúdos que, na maioria das vezes, não são tratados
As capacidades de ordem cognitiva estão associadas ao de forma explícita e consciente.
desenvolvimento dos recursos para pensar, o uso e apropria- Esta abordagem é didática e visa a destacar a importância
de se dar um tratamento apropriado aos diferentes conteú-
ção de formas de representação e comunicação envolvendo
dos, instrumentalizando o planejamento do professor para
resolução de problemas.
que possa contemplar as seguintes categorias: os conteúdos
As capacidades de ordem afetiva estão associadas à
conceituais que dizem respeito ao conhecimento de concei-
construção da auto-estima, às atitudes no convívio social, à tos, fatos e princípios; os conteúdos procedimentais referem-
compreensão de si mesmo e dos outros. se ao “saber fazer” e os conteúdos atitudinais estão associa-
As capacidades de ordem estética estão associadas à dos a valores, atitudes e normas. Nos eixos de trabalho, estas
possibilidade de produção artística e apreciação desta pro- categorias de conteúdos estão contempladas embora não
dução oriundas de diferentes culturas. estejam explicitadas de forma discriminada.
As capacidades de ordem ética estão associadas à pos- A seguir, as categorias de conteúdos serão melhor expli-
sibilidade de construção de valores que norteiam a ação das cadas de forma a subsidiar a reflexão e o planejamento do
crianças. professor.
As capacidades de relação interpessoal estão associadas Os conteúdos conceituais referem-se à construção ativa
à possibilidade de estabelecimento de condições para o con- das capacidades para operar com símbolos, idéias, imagens
vívio social. Isso implica aprender a conviver com as diferen- e representações que permitem atribuir sentido à realidade.
ças de temperamentos, de intenções, de hábitos e costumes, Desde os conceitos mais simples até os mais complexos,
de cultura etc. a aprendizagem se dá por meio de um processo de cons-
As capacidades de inserção social estão associadas à tantes idas e vindas, avanços e recuos nos quais as crianças
possibilidade de cada criança perceber-se como membro constroem idéias provisórias, ampliam-nas e modificam-nas,
participante de um grupo de uma comunidade e de uma so- aproximando-se gradualmente de conceitualizações cada
ciedade. vez mais precisas.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

O conceito que uma criança faz do que seja um cachor- pretende trabalhar estejam presentes desde as relações entre
ro, por exemplo, depende das experiências que ela tem que as pessoas até a seleção dos conteúdos, passando pela pró-
envolvam seu contato com cachorros. Se num primeiro mo- pria forma de organização da instituição. A falta de coerência
mento, ela pode, por exemplo, designar como “Au-Au” todo entre o discurso e a prática é um dos fatores que promove
animal, fazendo uma generalização provisória, o acesso a o fracasso do trabalho com os valores. Nesse sentido, dar o
uma nova informação, por exemplo, o fato de que gatos di- exemplo evidencia que é possível agir de acordo com valores
ferem de cachorros, permite-lhe reorganizar o conhecimento determinados. Do contrário, os valores tornam-se vazios de
que possui e modificar a idéia que tem sobre o que é um ca- sentido e aproximam-se mais de uma utopia não realizável
chorro. Esta conceitualização, ainda provisória, será suficiente do que de uma realidade possível.
por algum tempo — até o momento em que ela entrar em Para que as crianças possam aprender conteúdos atitu-
contato com um novo conhecimento. dinais, é necessário que o professor e todos os profissionais
Assim, deve-se ter claro que alguns conteúdos concei- que integram a instituição possam refletir sobre os valores
tuais são possíveis de serem apropriados pelas crianças du- que são transmitidos cotidianamente e sobre os valores que
rante o período da educação infantil. Outros não, e estes ne- se quer desenvolver. Isso significa um posicionamento claro
cessitarão de mais tempo para que possam ser construídos. sobre o quê e o como se aprende nas instituições de educa-
Isso significa dizer que muitos conteúdos serão trabalhados ção infantil.
com o objetivo apenas de promover aproximações a um de- Deve-se ter em conta que, por mais que se tenha a in-
terminado conhecimento, de colaborar para elaboração de tenção de trabalhar com atitudes e valores, nunca a institui-
hipóteses e para a manifestação de formas originais de ex- ção dará conta da totalidade do que há para ensinar. Isso
pressão. significa dizer que parte do que as crianças aprendem não é
Os conteúdos procedimentais referem-seaosaberfazer.A ensinado de forma sistemática e consciente e será aprendida
aprendizagem de procedimentos está diretamenterelacio- de forma incidental. Isso amplia a responsabilidade de cada
nadaà possibilidade de a criança construir instrumentos e um e de todos com os valores e as atitudes que cultivam.
estabelecer caminhos que lhes possibilitem a realização de
suas ações. Longe de ser mecânica e destituída de sentido, a Organização dos conteúdos por blocos
aprendizagem de procedimentos constitui-se em um impor- Os conteúdos são apresentados nos diversos eixos de
tante componente para o desenvolvimento das crianças, pois trabalho, organizados por blocos. Essa organização visa a
relaciona-se a um percurso de tomada de decisões. Desen- contemplar as dimensões essenciais de cada eixo e situar os
volver procedimentos significa apropriar-se de “ferramentas” diferentes conteúdos dentro de um contexto organizador
da cultura humana necessárias para viver. No que se refere à que explicita suas especificidades por um lado e aponta para
educação infantil, saber manipular corretamente os objetos a sua “origem” por outro. Por exemplo, é importante que o
de uso cotidiano que existem à sua volta, por exemplo, é um professor saiba, ao ler uma história para as crianças, que está
procedimento fundamental, que responde às necessidades trabalhando não só a leitura, mas também, a fala, a escuta,
imediatas para inserção no universo mais próximo. É o caso e a escrita; ou, quando organiza uma atividade de percurso,
de vestir-se ou amarrar os sapatos, que constituem-se em que está trabalhando tanto a percepção do espaço, como o
ações procedimentais importantes no processo de conquis- equilíbrio e a coordenação da criança. Esses conhecimentos
ta da independência. Dispor-se a perguntar é uma atitude ajudam o professor a dirigir sua ação de forma mais cons-
fundamental para o processo de aprendizagem. Da mesma ciente, ampliando as suas possibilidades de trabalho.
forma, para que as crianças possam exercer a cooperação, Embora estejam elencados por eixos de trabalho, muitos
a solidariedade e o respeito, por exemplo, é necessário que conteúdos encontram-se contemplados em mais de um eixo.
aprendam alguns procedimentos importantes relacionados Essa opção visa a apontar para o tratamento integrado que
às formas de colaborar com o grupo, de ajudar e pedir ajuda deve ser dado aos conteúdos. Cabe ao professor organizar
etc. seu planejamento de forma a aproveitar as possibilidades
Deve-se ter em conta que a aprendizagem de procedi- que cada conteúdo oferece, não restringindo o trabalho a
mentos será, muitas vezes, trabalhada de forma articulada um único eixo, em fragmentando o conhecimento.
com conteúdos conceituais e atitudinais.
Os conteúdos atitudinais tratam dos valores, das normas Seleção de conteúdos
e das atitudes. Conceber valores, normas e atitudes como Os conteúdos aqui elencados pretendem oferecer um
conteúdos implica torná-los explícitos e compreendê-los repertório que possa auxiliar o desenvolvimento das capa-
como passíveis de serem aprendidos e planejados. cidades colocadas nos objetivos gerais. No entanto, consi-
As instituições educativas têm uma função básica de derando as características particulares de cada grupo e suas
socialização e, por esse motivo, têm sido sempre um con- necessidades, cabe ao professor selecioná- los e adequá-los
texto gerador de atitudes. Isso significa dizer que os valores de forma que sejam significativos para as crianças.
impregnam toda a prática educativa e são aprendidos pelas Deve se ter em conta que o professor, com vistas a de-
crianças, ainda que não sejam considerados como conteú- senvolverdeterminadacapacidade,podepriorizar determina-
dos a serem trabalhados explicitamente, isto é, ainda que dos conteúdos; trabalhá-los em diferentes momentos do
não sejam trabalhados de forma consciente e intencional. A ano; voltar a eles diversas vezes, aprofundando-os a cada
aprendizagem de conteúdos deste tipo implica uma prática vez etc. Como são múltiplas as possibilidades de escolha de
coerente, onde os valores, as atitudes e as normas que se conteúdos, os critérios para selecioná-los devem se atrelar ao

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

grau de significado que têm para as crianças. É importante, planejamento cuidadoso com um encadeamento de ações
também, que o professor considere as possibilidades que os que visam a desenvolver aprendizagens específicas. Estas es-
conteúdos oferecem para o avanço do processo de aprendi- truturas didáticas contêm múltiplas estratégias que são or-
zagem e para a ampliação de conhecimento que possibilita. ganizadas em função das intenções educativas expressas no
projeto educativo, constituindo-se em um instrumento para
Integração dos conteúdos o planejamento do professor. Podem ser agrupadas em três
Os conteúdos são compreendidos, aqui, como instru- grandes modalidades de organização do tempo. São elas:
mentos para analisar a realidade, não se constituindo um fim atividades permanentes, sequência de atividades e projetos
em si mesmos. Para que as crianças possam compreender de trabalho.
a realidade na sua complexidade e enriquecer sua percep-
ção sobre ela, os conteúdos devem ser trabalhados de forma Atividades permanentes
integrada, relacionados entre si. Essa integração possibilita São aquelas que respondem às necessidades básicas de
que a realidade seja analisada por diferentes aspectos, sem cuidados, aprendizagem e de prazer para as crianças, cujos
fragmentá-la. Um passeio pela rua pode oferecer elementos conteúdos necessitam de uma constância. A escolha dos
referentes à análise das paisagens, à identificação de carac- conteúdos que definem o tipo de atividades permanentes a
terísticas de diferentes grupos sociais, à presença de ani- serem realizadas com frequência regular, diária ou semanal,
mais, fenômenos da natureza, ao contato com a escrita e os em cada grupo de crianças, depende das prioridades elenca-
números presentes nas casas, placas etc., contextualizando das a partir da proposta curricular. Consideram-se atividades
cada elemento na complexidade do meio. O mesmo pas- permanentes, entre outras:
seio envolve, também, aprendizagens relativas à socialização, •brincadeiras no espaço interno e externo;
mobilizam sentimentos e emoções constituindo-se em uma •roda de história;
atividade que pode contribuir para o desenvolvimento das •roda de conversas;
crianças. •ateliês ou oficinas de desenho, pintura, modelagem e
música;
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS •atividades diversificadas ou ambientes organizados por
Os conteúdos estão intrinsecamente relacionados com
temas ou materiais à escolha da criança, incluindo momen-
a forma como são trabalhados com as crianças. Se, de um
tos para que as crianças possam ficar sozinhas se assim o
lado, é verdade que a concepção de aprendizagem adota-
desejarem;
da determina o enfoque didático, é igualmente verdade, de
•cuidados com o corpo.
outro lado, que nem sempre esta relação se explicita de for-
ma imediata. A prática educativa é bastante complexa e são
Sequência de atividades
inúmeras as questões que se apresentam no cotidiano e que
São planejadas e orientadas com o objetivo de promover
transcendem o planejamento didático e a própria proposta
curricular. Na perspectiva de explicitar algumas indicações uma aprendizagem específica e definida. São sequenciadas
sobre o enfoque didático e apoiar o trabalho do professor, as com intenção de oferecer desafios com graus diferentes de
orientações didáticas situam-se no espaço entre as intenções complexidade para que as crianças possam ir paulatinamen-
educativas e a prática. As orientações didáticas são subsídios te resolvendo problemas a partir de diferentes proposições.
que remetem ao “como fazer”, à intervenção direta do pro- Estas sequências derivam de um conteúdo retirado de um
fessor na promoção de atividades e cuidados alinhados com dos eixos a serem trabalhados e estão necessariamente den-
uma concepção de criança e de educação. tro de um contexto específico.
Vale lembrar que estas orientações não representam um Por exemplo: se o objetivo é fazer com que as crianças
modelo fechado que define um padrão único de intervenção. avancem em relação à representação da figura humana por
Pelo contrário, são indicações e sugestões para subsidiar a meio do desenho, pode-se planejar várias etapas de trabalho
reflexão e a prática do professor. para ajudá-las a reelaborar e enriquecer seus conhecimentos
Cada documento de eixo contém orientações didáticas prévios sobre esse assunto, como observação de pessoas, de
gerais e as específicas aos diversos blocos de conteúdos. Nas desenhos ou pinturas de artistas e de fotografias; atividades
orientações didáticas gerais explicitam-se condições relativas de representação a partir destas observações; atividades de
à: princípios gerais do eixo; organização do tempo, do espa- representação a partir de interferências previamente planeja-
ço e dos materiais; observação, registro e avaliação. das pelo educador etc.

Organização do tempo Projetos de trabalho


A rotina representa, também, a estrutura sobre a qual Os projetos são conjuntos de atividades que trabalham
será organizado o tempo didático, ou seja, o tempo de tra- com conhecimentos específicos construídos a partir de um
balho educativo realizado com as crianças. A rotina deve en- dos eixos de trabalho que se organizam ao redor de um pro-
volver os cuidados, as brincadeiras e as situações de apren- blema para resolver ou um produto final que se quer obter.
dizagens orientadas. A apresentação de novos conteúdos às Possui uma duração que pode variar conforme o objetivo, o
crianças requer sempre as mais diferentes estruturas didáti- desenrolar das várias etapas, o desejo e o interesse das crian-
cas, desde contar uma nova história, propor uma técnica di- ças pelo assunto tratado. Comportam uma grande dose de
ferente de desenho até situações mais elaboradas, como, por imprevisibilidade, podendo ser alterado sempre que neces-
exemplo, o desenvolvimento de um projeto, que requer um sário, tendo inclusive modificações no produto final. Alguns

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

projetos, como fazer uma horta ou uma coleção, podem du- como introduzir materiais específicos para a montagem de
rar um ano inteiro, ao passo que outros, como, por exemplo, ambientes novos, ligados aos projetos em curso. Além disso,
elaborar um livro de receitas, podem ter uma duração menor. a aprendizagem transcende o espaço da sala, toma conta da
Por partirem sempre de questões que necessitam ser respon- área externa e de outros espaços da instituição e fora dela.
didas, possibilitam um contato com as práticas sociais reais. A pracinha, o supermercado, a feira, o circo, o zoológico, a
Dependem, em grande parte, dos interesses das crianças, biblioteca, a padaria etc. são mais do que locais para simples
precisam ser significativos, representar uma questão comum passeio, podendo enriquecer e potencializar as aprendiza-
para todas e partir de uma indagação da realidade. É impor- gens.
tante que os desafios apresentados sejam possíveis de serem Observação, registro e avaliação formativa
enfrentados pelo grupo de crianças. Um dos ganhos de se A observação e o registro se constituem nos principais
trabalhar com projetos é possibilitar às crianças que a par- instrumentos de que o professor dispõe para apoiar sua prá-
tir de um assunto relacionado com um dos eixos de traba- tica. Por meio deles o professor pode registrar, contextual-
lho, possam estabelecer múltiplas relações, ampliando suas mente, os processos de aprendizagem das crianças; a quali-
idéias sobre um assunto específico, buscando complemen- dade das interações estabelecidas com outras crianças, fun-
tações com conhecimentos pertinentes aos diferentes eixos. cionários e com o professor e acompanhar os processos de
Esse aprendizado serve de referência para outras situações, desenvolvimento obtendo informações sobre as experiências
permitindo generalizações de ordens diversas. das crianças na instituição.
A realização de um projeto depende de várias etapas Esta observação e seu registro fornecem aos professores
de trabalho que devem ser planejadas e negociadas com as uma visão integral das crianças ao mesmo tempo que reve-
crianças para que elas possam se engajar e acompanhar o lam suas particularidades.
percurso até o produto final. O que se deseja alcançar jus- São várias as maneiras pelas quais a observação pode ser
tifica as etapas de elaboração. O levantamento dos conhe- registrada pelos professores. A escrita é, sem dúvida, a mais
cimentos prévios das crianças sobre o assunto em pauta comum e acessível. O registro diário de suas observações,
deve se constituir no primeiro passo. A socialização do que impressões, idéias etc. pode compor um rico material de re-
o grupo já sabe e o levantamento do que desejam saber, flexão e ajuda para o planejamento educativo. Outras formas
isto é, as dúvidas que possuem, pode se constituir na outra de registro também, podem ser consideradas, como a grava-
etapa. Onde procurar as informações pode ser uma decisão ção em áudio e vídeo; produções das crianças ao longo do
compartilhada com crianças, familiares e demais funcionários tempo; fotografias etc.
da instituição. Várias fontes de informações poderão ser usa- A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, sancionada em
das, como livros, enciclopédias, trechos de filmes, análise de dezembro de 1996, estabelece, na Seção II, referente à edu-
imagens, entrevistas com as mais diferentes pessoas, visitas a cação infantil, artigo 31 que: “... a avaliação far-se-á mediante
recursos da comunidade etc. O registro dos conhecimentos o acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem
que vão sendo construídos pelas crianças deve permear todo o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino
o trabalho, podendo incluir relatos escritos, fitas gravadas, fundamental”.
fotos, produção das crianças, desenhos etc. Os projetos con- Existem ainda no Brasil práticas na educação infantil que
têm sequências de atividades e pode-se utilizar atividades possuem um entendimento equivocado da avaliação nessa
permanentes já em curso. etapa da educação, o que vem gerando sérios problemas,
A característica principal dos projetos é a visibilidade com consequências preocupantes, sobretudo, para as crian-
final do produto e a solução do problema compartilhado ças de determinadas camadas da sociedade. A mais grave
com as crianças. Ao final de um projeto, pode-se dizer que a é a existência das chamadas “classes de alfabetização” que
criança aprendeu porque teve uma intensa participação que conferem à educação infantil o caráter de terminalidade. São
envolveu a resolução de problemas de naturezas diversas. classes que atendem crianças a partir de seis anos, retendo
Soma-se a todas essas características mais uma, ligada ao -as até que estejam alfabetizadas. As crianças que frequen-
caráter lúdico que os projetos na educação infantil têm. Se tam essas classes não ingressam na primeira série do ensino
o projeto é sobre castelos, reis, rainhas, as crianças podem fundamental, até que tenham atingido os padrões desejáveis
incorporar em suas brincadeiras conhecimentos que foram de aprendizagem da leitura e escrita. A essas crianças têm
construindo, e o produto final pode ser um baile medieval. sido vedado, assim, o direito constitucional de serem ma-
Há muitos projetos que envolvem a elaboração de bonecos triculadas na primeira série do ensino fundamental aos sete
do tamanho de adultos, outros a construção de circos, de anos de idade. Outras práticas de avaliação conferem às pro-
maquetes, produtos que por si só já representam criação e duções das crianças: notas, conceitos, estrelas, carimbos com
diversão para as crianças, sem contar o prazer que lhes dá de desenhos de caras tristes ou alegres conforme o julgamento
conhecer o mundo. do professor. A avaliação nessa etapa deve ser processual e
destinada a auxiliar o processo de aprendizagem, fortalecen-
Organização do espaço e seleção dos materiais do a auto- estima das crianças.
A organização dos espaços e dos materiais se constitui Neste documento, a avaliação é entendida, prioritaria-
em um instrumento fundamental para a prática educativa mente, como um conjunto de ações que auxiliam o professor
com crianças pequenas. Isso implica que, para cada traba- a refletir sobre as condições de aprendizagem oferecidas e
lho realizado com as crianças, deve-se planejar a forma mais ajustar sua prática às necessidades colocadas pelas crianças.
adequada de organizar o mobiliário dentro da sala, assim É um elemento indissociável do processo educativo que pos-

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

sibilita ao professor definir critérios para planejar as ativida- OBJETIVOS GERAIS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
des e criar situações que gerem avanços na aprendizagem A prática da educação infantil deve se organizar de modo
das crianças. Tem como função acompanhar, orientar, regular que as crianças desenvolvam as seguintes capacidades:
e redirecionar esse processo como um todo. •desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de
No que se refere às crianças, a avaliação deve permitir forma cada vez mais independente, com confiança em suas
que elas acompanhem suas conquistas, suas dificuldades e capacidades e percepção de suas limitações;
suas possibilidades ao longo de seu processo de aprendi- •descobrir e conhecer progressivamente seu próprio
zagem. Para que isso ocorra, o professor deve compartilhar corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e
com elas aquelas observações que sinalizam seus avanços e valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem
suas possibilidades de superação das dificuldades. São várias -estar;
as situações cotidianas nas quais isso já ocorre, como, por •estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e
exemplo, quando o professor diz: “Olhe que bom, você já crianças, fortalecendo sua auto-estima e ampliando grada-
está conseguindo se servir sozinho”, ou quando torna obser- tivamente suas possibilidades de comunicação e interação
vável para as crianças o que elas sabiam fazer quando che- social;
•estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais,
garam na instituição com o que sabem até aquele momento.
aprendendo aos poucos a articular seus interesses e pontos
Nessas situações, o retorno para as crianças se dá de forma
de vista com os demais, respeitando a diversidade e desen-
contextualizada, o que fortalece a função formativa que deve
volvendo atitudes de ajuda e colaboração;
ser atribuída à avaliação. Além dessas, existem outras situa- •observar e explorar o ambiente com atitude de curiosi-
ções que podem ser aproveitadas ou criadas com o objetivo dade, percebendo-se cada vez mais como integrante, depen-
de situar a criança frente ao seu processo de aprendizagem. dente e agente transformador do meio ambiente e valorizan-
É importante que o professor tenha consciência disso, para do atitudes que contribuam para sua conservação;
que possa atuar de forma cada vez mais intencional. Isso •brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamen-
significa definir melhor a quem se dirige a avaliação — se tos, desejos e necessidades;
ao grupo todo ou às crianças em particular; qual o melhor •utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical,
momento para explicitá-la e como deve ser feito. Esses mo- plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes intenções e
mentos de retorno da avaliação para a criança devem incidir situações de comunicação, de forma a compreender e ser
prioritariamente sobre as suas conquistas. Apontar aqui- compreendido, expressar suas idéias, sentimentos, necessi-
lo que a criança não consegue realizar ou não sabe, só faz dades e desejos e avançar no seu processo de construção
sentido numa perspectiva de possível superação, quando o de significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade
professor detém conhecimento sobre as reais possibilidades expressiva;
de avanço da criança e sobre as possibilidades que ele tem •conhecer algumas manifestações culturais, demons-
para ajudá-la. Do contrário, ao invés de potencializar a ação trando atitudes de interesse, respeito e participação frente a
das crianças e fortalecer a sua auto-estima, a avaliação pode elas e valorizando a diversidade.
provocar-lhes um sentimento de impotência e fracasso. Ou-
tro ponto importante de se marcar, refere-se à representação A INSTITUIÇÃO E O PROJETO EDUCATIVO
que a criança constrói sobre a avaliação. O professor deve ter O Referencial Curricular propõe um diálogo com pro-
consciência de que a forma como a avaliação é compreen- gramas e projetos curriculares de instituições de educação
dida, na instituição e por ele próprio, será de fundamental infantil, nos estados e municípios. Este diálogo supõe atentar
importância para que a criança possa construir uma repre- para duas dimensões complementares que possam garantir
sentação positiva da mesma. a efetividade das propostas: uma de natureza externa; outra,
A avaliação também é um excelente instrumento para interna às instituições.
que a instituição possa estabelecer suas prioridades para o
Condições externas
trabalho educativo, identificar pontos que necessitam de
As particularidades de cada proposta curricular devem
maior atenção e reorientar a prática, definindo o que avaliar,
estar vinculadas principalmente às características sociocultu-
como e quando em consonância com os princípios educati- rais da comunidade na qual a instituição de educação infantil
vos que elege. está inserida e às necessidades e expectativas da população
Para que possa se constituir como um instrumento volta- atendida. Conhecer bem essa população permite compreen-
do para reorientar a prática educativa, a avaliação deve se dar der suas reais condições de vida, possibilitando eleger os te-
de forma sistemática e contínua, tendo como objetivoprinci- mas mais relevantes para o processo educativo de modo a
pala melhoriadaação educativa. O professor, ciente do que atender a diversidade existente em cada grupo social.
pretende que as crianças aprendam, pode selecionardeter- Nos diferentes municípios, existe um conjunto de conhe-
minadas produções das crianças ao longo de um período cimentos, formas de viver e de se divertir, de se manifestar
para obter com mais precisão informações sobre sua apren- religiosamente, de trabalhar etc. que se constitui em uma cul-
dizagem. Os pais, também, têm o direito de acompanhar o tura própria. A valorização e incorporação desta cultura no
processo de aprendizagem de suas crianças, se inteirando currículo das instituições é fonte valiosa para a intervenção
dos avanços e conquistas, compreendendo os objetivos e as pedagógica. Além disso, o conhecimento das questões espe-
ações desenvolvidas pela instituição. cíficas de cada região, sejam elas de ordem econômica, social
ou ambiental permite a elaboração de propostas curriculares
mais significativas.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

A problemática social de muitas das comunidades brasi- devems er considerados, abrangendo desde o clima institu-
leiras faz com que os profissionais e as instituições de educa- cional, formas de gestão, passando pela organização do es-
ção infantil tenham que considerar questões bastante com- paço e do tempo, dos agrupamentos, seleção e oferta dos
plexas que não podem ser ignoradas, pois afetam diretamen- materiais até a parceria com as famílias e papel do professor.
te a vida das crianças pequenas. A desnutrição, a violência, os
abusos e maus tratos, os problemas de saúde etc. que algu- AMBIENTE INSTITUCIONAL
mas crianças sofrem não são questões que só a instituição de O ambiente de cooperação e respeito entre os profissio-
educação infantil pode resolver isoladamente. Só uma ação nais e entre esses e as famílias favorece a busca de uma linha
conjunta entre os diversos recursos da comunidade como as coerente de ação. Respeito às diferenças, explicitação decon-
associações civis e os conselhos de direitos das crianças, as flitos, cooperação, complementação, negociação e procura
organizações governamentais e não-governamentais ligadas de soluções e acordos devem ser a base das relações entre
à saúde, à assistência, à cultura etc. pode encaminhar solu- os adultos.
ções mais factíveis com a realidade de cada situação. Em se tratando de crianças tão pequenas, a atmosfera
criada pelos adultos precisa ter um forte componente afetivo.
Condições internas As crianças só se desenvolverão bem, caso o clima institu-
As creches e pré-escolas existentes no Brasil se consti- cional esteja em condições de proporcionar-lhes seguran-
tuíram de forma muito diversa ao longo de sua história, se ça, tranquilidade e alegria. Adultos amigáveis, que escutam
caracterizando por uma variedade de modalidades de aten- as necessidades das crianças e, com afeto, atendem a elas,
dimento. Há creches funcionando em período integral entre constituem-se em um primeiro passo para criar um bom cli-
8 e 12 horas por dia, que atendem o ano todo sem interrup- ma. As crianças precisam ser respeitadas em suas diferenças
ção; outras fecham para férias; há creches de meio período; individuais, ajudadas em seus conflitos por adultos que sa-
há creches que atendem 24 horas por dia; há pré-escolas bem sobre seu comportamento, entendem suas frustrações,
funcionando de 3 a 4 horas e há inclusive as que atendem possibilitando-lhes limites claros. Os adultos devem respeitar
em período integral. o desenvolvimento das crianças e encorajá-las em sua curio-
Ao se pensar em uma proposta curricular deve-se levar sidade, valorizando seus esforços.
em conta não só o número de horas que a criança passa na
FORMAÇÃO DO COLETIVO INSTITUCIONAL
instituição, mas também a idade em que começou a frequen-
Elaborar e implantar um projeto educativo requer das
tá-la e quantos anos terá pela frente. Estas questões acabam
equipes de profissionais das instituições um grande esforço
influindo na seleção dos conteúdos a serem trabalhados com
conjunto. A direção da instituição tem um papel chave neste
as crianças, na articulação curricular de maneira a garantir
processo quando auxilia a criação de um clima democrático e
um maior número de experiências diversificadas a todas as
pluralista. Deve incentivar e acolher as participações de todos
crianças que a frequentam. Muitas instituições de educação de modo a possibilitar um projeto que contemple a explici-
infantil têm a tarefa complexa de receber crianças a qualquer tação das divergências e das expectativas de crianças, pais,
tempo e idade. É possível, por exemplo, que crianças ingres- docentes e comunidade.
sem com seis meses, com dois anos ou cinco anos. Esta es- O coletivo de profissionais da instituição de educação
pecificidade da educação infantil exige uma flexibilidade em infantil, entendido como organismo vivo e dinâmico é o res-
relação às propostas pedagógicas e em relação aos objetivos ponsável pela construção do projeto educacional e do clima
educacionais que se pretende alcançar. institucional. A tematização da prática, o compartilhar de co-
O fato de muitas instituições atenderem em horário in- nhecimentos são ações que conduzidas com intencionalida-
tegral implica uma maior responsabilidade quanto ao desen- de, formam o coletivo criando condições para que o trabalho
volvimento e aprendizagens infantis, assim como com a ofer- desenvolvido seja debatido, compreendido e assumido por
ta de cuidados adequados em termos de saúde e higiene. todos. Compartilhar é um processo que contribui para que
Estes horários estendidos devem significar sempre maiores a instituição se constitua como unidade educacional no qual
oportunidades de aprendizagem para as crianças e não ape- são expressas as teorias e os saberes que sustentam a prática
nas a oferta de atividades para passar o tempo ou muito me- pedagógica. Esse processo tece a unidade do projeto edu-
nos longos períodos de espera. cativo que embora traduzida pelos diferentes indivíduos do
Em alguns municípios, existe um tipo de prática em que coletivo, parte de princípios comuns. A unidade é, portanto,
as crianças ficam um período na creche e o outro na pré-es- construída dinamicamente.
cola. Nestes casos ou ainda naqueles onde há troca de turnos
de professores entre os períodos da manhã e da tarde, é ne- ESPAÇO PARA FORMAÇÃO CONTINUADA
cessário um planejamento em conjunto, evitando repetições O coletivo, segundo as características apontadas acima,
de atividades ou lacunas no trabalho com as crianças. Não é não pode prescindir da formação continuada que deve fazer
desejável que a creche seja considerada apenas um espaço parte da rotina institucional e não pode ocorrer de forma es-
de cuidados físicos e recreação e a pré-escola o local onde se porádica.
legitima o aprendizado. Hora e lugar especialmente destinado à formação de-
A elaboração da proposta curricular de cada instituição vem possibilitar o encontro entre os professores para a troca
se constitui em um dos elementos do projeto educativo e de idéias sobre a prática, para supervisão, estudos sobre os
deve ser fruto de um trabalho coletivo que reúna professores, mais diversos temas pertinentes ao trabalho, organização
demais profissionais e técnicos. Outros aspectos sãor elevan- e planejamento da rotina, do tempo e atividades e outras
tes para o bom desenvolvimento do projeto pedagógico e questões relativas ao projeto educativo.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

A instituição deve proporcionar condições para que to- OS RECURSOS MATERIAIS


dos os profissionais participem de momentos de formação Recursos materiais entendidos como mobiliário, espe-
de naturezas diversas como reuniões, palestras, visitas, atua- lhos, brinquedos, livros, lápis, papéis, tintas, pincéis, tesouras,
lizações por meio de filmes, vídeos etc. cola, massa de modelar, argila, jogos os mais diversos, blocos
para construções, material de sucata, roupas e panos para
ESPAÇO FÍSICO E RECURSOS MATERIAIS brincar etc. devem ter presença obrigatória nas instituições
A estruturação do espaço, a forma como os materiais es- de educação infantil de forma cuidadosamente planejada.
tão organizados, a qualidade e adequação dos mesmos são Os materiais constituem um instrumento importante
elementos essenciais de um projeto educativo. Espaço físico, para o desenvolvimento da tarefa educativa, uma vez que
materiais, brinquedos, instrumentos sonoros e mobiliários são um meio que auxilia a ação das crianças. Se de um lado,
não devem ser vistos como elementos passivos, mas como possuem qualidades físicas que permitem a construção de
componentes ativos do processo educacional que refletem um conhecimento mais direto e baseado na experiência
a concepção de educação assumida pela instituição. Cons- imediata, por outro lado, possuem qualidades outras que se-
tituem-se em poderosos auxiliares da aprendizagem. Sua rão conhecidas apenas pela intervenção dos adultos ou de
presença desponta como um dos indicadores importantes parceiros mais experientes. As crianças exploram os objetos,
para a definição de práticas educativas de qualidade em ins- conhecem suas propriedades e funções e, além disso, trans-
tituição de educação infantil. No entanto, a melhoria da ação formam- nos nas suas brincadeiras, atribuindo-lhes novos
educativa não depende exclusivamente da existência destes significados.
objetos, mas está condicionada ao uso que fazem deles os Os brinquedos constituem-se, entre outros, em obje-
professores junto às crianças com as quais trabalham. Os tos privilegiados da educação das crianças. São objetos que
professores preparam o ambiente para que a criança possa dão suporte ao brincar e podem ser das mais diversas ori-
aprender de forma ativa na interação com outras crianças e gens materiais, formas, texturas, tamanho e cor. Podem ser
com os adultos. comprados ou fabricados pelos professores e pelas próprias
crianças; podem também ter vida curta, quando inventados
VERSATILIDADE DO ESPAÇO e confeccionados pelas crianças em determinada brincadei-
O espaço na instituição de educação infantil deve pro-
ra e durar várias gerações, quando transmitidos de pai para
piciar condições para que as crianças possam usufruí-lo em
filho. Nessa perspectiva, as instituições devem integrá-los ao
benefício do seu desenvolvimento e aprendizagem. Para tan-
acervo de materiais existentes nas salas, prevendo critérios
to, é preciso que o espaço seja versátil e permeável à sua
de escolha, seleção e aquisição de acordo com a faixa etária
ação, sujeito às modificações propostas pelas crianças e pe-
atendida e os diferentes projetos desenvolvidos na institui-
los professores em função das ações desenvolvidas. Deve ser
ção.
pensado e rearranjado, considerando as diferentes necessi-
dades de cada faixa etária, assim como os diferentes projetos
e atividades que estão sendo desenvolvidos. Particularmente, ACESSIBILIDADE DOS MATERIAIS
as crianças de zero a um ano de idade necessitam de um Outro ponto importante a ser ressaltado diz respei-
espaço especialmente preparadoondepossamengatinhar li- to à disposição e organização dos materiais, uma vez que
vremente, ensaiar os primeiros passos, brincar, interagir com isso pode ser decisivo no uso que as crianças venham a fa-
outras crianças, repousar quando sentirem necessidade etc. zer deles. Os brinquedos e demais materiais precisam estar
Os vários momentos do dia que demandam mais espaço livre dispostos de forma acessível às crianças, permitindo seu uso
para movimentação corporal ou ambientes para aconchego autônomo, sua visibilidade, bem como uma organização que
e/ou para maior concentração, ou ainda, atividades de cuida- possibilite identificar os critérios de ordenação.
dos implicam, também, planejar, organizar e mudar constan- É preciso que, em todas as salas, exista mobiliário ade-
temente o espaço. Nas salas, a forma de organização pode quado ao tamanho das crianças para que estas disponham
comportar ambientes que permitem o desenvolvimento de permanentemente de materiais para seu uso espontâneo ou
atividades diversificadas e simultâneas, como, por exemplo, em atividades dirigidas. Este uso frequente ocasiona, inevi-
ambientes para jogos, artes, faz-de-conta, leitura etc. tavelmente, desgaste em brinquedos, livros, canetas, pincéis,
Pesquisas indicam que ambientes divididos são mais in- tesouras, jogos etc. Esta situação comum não deve ser pre-
dicados para estruturar espaços para crianças pequenas ao texto para que os adultos guardem e tranquem os materiais
invés de grandes áreas livres. Os pequenos interagem melhor em armários, dificultando seu uso pelas crianças. Usar, usu-
em grupos quando estão em espaços menores e mais acon- fruir, cuidar e manter os materiais são aprendizagens impor-
chegantes de onde podem visualizar o adulto. Os elementos tantes nessa faixa etária. A manutenção e reposição destes
que dividem o espaço são variados, podendo ser prateleiras materiais devem fazer parte da rotina das instituições e não
baixas, pequenas casinhas, caixas, biombos baixos dos mais acontecer de forma esporádica.
diversos tipos etc. Esse tipo de organização favorece à criança
ficar sozinha, se assim o desejar. SEGURANÇA DO ESPAÇO E DOS MATERIAIS
Na área externa, há que se criar espaços lúdicos que Para as crianças circularem com independência no es-
sejam alternativos e permitam que as crianças corram, ba- paço, é necessário um bom planejamento que garanta as
lancem, subam, desçam e escalem ambientes diferenciados, condições de segurança necessárias. É imprescindível o uso
pendurem-se, escorreguem, rolem, joguem bola, brinquem de materiais resistentes, de boa qualidade e testados pelo
com água e areia, escondam- se etc. mercado, como vidros e espelhos resistentes, materiais elé-

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

tricos e hidráulicos de comprovada eficácia e durabilidade. É ORGANIZAÇÃO DO TEMPO


necessária, também, proteção adequada em situações onde A rotina na educação infantil pode ser facilitadora ou
exista possibilidade de risco, como escadas, varandas, jane- cerceadora dos processos de desenvolvimento e aprendiza-
las, acesso ao exterior etc. Os brinquedos devem ser seguros gem. Rotinas rígidas e inflexíveis desconsideram a criança,
(seguindo as normas do Inmetro), laváveis e necessitam estar que precisa adaptar-se a ela e não o contrário, como deveria
em boas condições. Os brinquedos de parque devem estar ser; desconsideram também o adulto, tornando seu trabalho
bem fixados em área gramada ou coberta com areia e não monótono, repetitivo e pouco participativo.
sobre área cimentada. O número de horas que a criança permanece na institui-
ção, a amplitude dos cuidados físicos necessários ao atendi-
CRITÉRIOS PARA FORMAÇÃO DE GRUPOS DE CRIAN- mento, os ritmos e diferenças individuais e a especificidade
ÇAS do trabalho pedagógico demandam um planejamento cons-
As diferenças que caracterizam cada fase de desenvolvi- tante da rotina. A organização do tempo deve prever possi-
mento são bastante grandes, o que leva, muitas vezes, as ins- bilidades diversas e muitas vezes simultâneas de atividades,
tituições a justificar os agrupamentos homogêneos por faixa como atividades mais ou menos movimentadas, individuais
etária. Esta forma de agrupamento está relacionada muito ou em grupos, com maior ou menor grau de concentração;
mais a uma necessidade do trabalho dos adultos do que às de repouso, alimentação e higiene; atividades referentes aos
necessidades da criança. Se, de um lado, isto facilita a organi- diferentes eixos de trabalho.
zação de algumas atividades e o melhor aproveitamento do Considerada como um instrumento de dinamização da
espaço físico disponível, de outro, dificulta a possibilidade de aprendizagem, facilitador das percepções infantis sobre o
interação que um grupo heterogêneo oferece. tempo e o espaço, uma rotina clara e compreensível para as
Não há uma divisão rígida, mas é comum que bebês crianças é fator de segurança. A rotina pode orientar as ações
fiquem em um mesmo grupo até conseguirem andar. As das crianças, assim como dos professores, possibilitando a
crianças que já andam bem e estão iniciando o controle dos antecipação das situações que irão acontecer.
esfíncteres costumam ser concentradas em outro agrupa-
AMBIENTE DE CUIDADOS
mento. Após a retirada das fraldas, as crianças costumam ser
A instituição necessita criar um ambiente de cuidado que
agrupadas por idade, isto é, em turmas de três, quatro, cinco
considere as necessidades das diferentes faixas etárias, das
e seis anos de idade. Numa concepção de educação e apren-
famílias e as condições de atendimento da instituição. Como
dizagem que considera a interação como um elemento vital
as crianças pequenas se caracterizam por um ritmo de cresci-
para o desenvolvimento, o contato entre estas crianças de di-
mento e desenvolvimento físico variado os cuidados devem
ferentes faixas etárias e com diferentes capacidades deve ser
incluir o acompanhamento deste processo.
planejado. Isto quer dizer que é interessante prever constan-
É possível, principalmente na creche, que alguns grupos
tes momentos na rotina ou planejar projetos que integrem
iniciem o ano com determinadas características e necessida-
estes diferentes agrupamentos. des, que estarão modificadas no final do primeiro trimestre.
Tão importante quanto pensar nos agrupamentos por Algumas crianças começam a frequentar o primeiro grupo
faixa etária é refletir sobre o número de crianças por grupos das creches ainda no seu primeiro mês de vida, outras serão
e a proporção de adulto por crianças. Quanto menores as matriculadas próximo ao quarto mês ou no final do primeiro
crianças, mais desaconselhados são os grupos muito gran- ano. Assim nas instituições que atendem bebês e crianças
des, pois há uma demanda de atendimento individualizado. pequenas, não se pode prever uma organização do cotidiano
Até os 12 meses, é aconselhável não ter mais de 6 crianças de forma homogênea e que se mantenha o ano todo sem
por adulto, sendo necessária uma ajuda nos momentos de alterações.
maior demanda, como, por exemplo, em situações de ali- A organização dos momentos em que são previstos cui-
mentação. Do primeiro ao segundo ano de vida, aproxima- dados com o corpo, banho, lavagem de mãos, higiene oral,
damente, aconselha-se não mais do que 8 crianças para cada uso dos sanitários, repouso e brincadeiras ao ar livre, podem
adulto, ainda com ajuda em determinados momentos. A par- variar nas instituições de educação infantil, segundo os gru-
tir do momento no qual as crianças deixam as fraldas até os pos etários atendidos, o tempo de permanência diária das
3 anos, pode-se organizar grupos de 12 a 15 crianças por crianças na instituição e os acordos estabelecidos com as fa-
adulto. Quando as crianças adquirem maior autonomia em mílias. As atividades de cuidado das crianças se organizam
relação aos cuidados e interagem de forma mais indepen- em função de suas necessidades nas 24 horas do dia. Isto
dente com seus pares, entre 3 e 6 anos, é possível pensar em exige uma programação conjunta com as famílias para divi-
grupos maiores, mas que não ultrapassem 25 crianças por são de responsabilidades, evitando-se a sobreposição ou a
professor. ausência de alguns dos cuidados essenciais.
A razão adulto/criança, porém, não pode ser um crité- O planejamento dos cuidados e da vida cotidiana na ins-
rio isolado. Mesmo quando as proporções acima indicadas tituição deve ser iniciado pelo conhecimento sobre a criança
são respeitadas, há de se considerar que grupos com muitas e suas peculiaridades, que se faz pelo levantamento de dados
crianças e muitos professores não resolvem as necessidades com a família no ato da matrícula e por meio de um cons-
de um trabalho mais individualizado e cria um ambiente ina- tante intercâmbio entre familiares e professores. Algumas
dequado. informações podem ser colhidas previamente à sua entrada
na instituição, como os esquemas, preferências e intolerância

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

alimentar; os hábitos de sono e de eliminação; os controles e crianças. Cabe, portanto, às instituições estabelecerem um
cuidados especiais com sua saúde. Outras serão conhecidas diálogo aberto com as famílias, considerando-as como par-
na própria interação com a criança e sua família, ao longo do ceiras e interlocutoras no processo educativo infantil.
tempo. Acolhimento das diferentes culturas, valores e crenças
sobre educação de crianças
PARCERIA COM AS FAMÍLIAS A pluralidade cultural, isto é, a diversidade de etnias,
As características da faixa etária das crianças atendidas, crenças, costumes, valores etc. que caracterizam a população
bem como as necessidades atuais de construção de uma so- brasileira marca, também, as instituições de educação infan-
ciedade mais democrática e pluralista apontam para a im- til. O trabalho com a diversidade e o convívio com a diferença
portância de uma atenção especial com a relação entre as possibilitam a ampliação de horizontes tanto para o profes-
instituições e as famílias. sor quanto para a criança. Isto porque permite a conscienti-
Constata-se em muitas instituições que estas relações zação de que a realidade de cada um é apenas parte de um
têm sido conflituosas, baseadas numa concepção equivoca- universo maior que oferece múltiplas escolhas. Assumir um
da de que as famílias dificultam o processo de socialização e trabalho de acolhimento às diferentes expressões e manifes-
de aprendizagem das crianças. No caso das famílias de baixa tações das crianças e suas famílias significa valorizar e respei-
renda, por serem consideradas como portadoras de carên- tar a diversidade, não implicando a adesão incondicional aos
cias de toda ordem. No caso das famílias de maior poder valores do outro. Cada família e suas crianças são portadoras
aquisitivo, a crítica incide na relação afetiva estabelecida com de um vasto repertório que se constitui em material rico e
as crianças. Esta concepção traduz um preconceito que gera farto para o exercício do diálogo, aprendizagem com a dife-
ações discriminatórias, impedindo o diálogo. Muitas institui- rença, a não discriminação e as atitudes não preconceituosas.
ções que agem em função deste tipo de preconceito têm Estas capacidades são necessárias para o desenvolvimento
procurado implantar programas que visam a instruir as famí- de uma postura ética nas relações humanas. Nesse sentido,
lias, especialmente as mães, sobre como educar e criar seus as instituições de educação infantil, por intermédio de seus
filhos dentro de um padrão preestabelecido e considerado profissionais, devem desenvolver a capacidade de ouvir, ob-
adequado. Essa ação, em geral moralizadora, tem por base servar e aprender com as famílias.
o modelo de família idealizada e tem sido responsável muito Acolher as diferentes culturas não pode se limitar às co-
mais por um afastamento das duas instituições do que por memorações festivas, a eventuais apresentações de danças
um trabalho conjunto em prol da educação das crianças. típicas ou à experimentação de pratos regionais. Estas inicia-
Visões mais atualizadas sobre a instituição familiar pro- tivas são interessantes e desejáveis, mas não são suficientes
põem que se rejeite a idéia de que exista um único modelo. para lidar com a diversidade de valores e crenças.
Enfoques teóricos mais recentes procuram entender a família Compreender o que acontece com as famílias, entender
como uma criação humana mutável, sujeita a determinações seus valores ligados a procedimentos disciplinares, a hábitos
culturais e históricas que se constitui tanto em espaço de so- de higiene, a formas de se relacionar com as pessoas etc.
lidariedade, afeto e segurança como em campo de conflitos, pode auxiliar a construção conjunta de ações. De maneira
lutas e disputa. geral, as instituições de educação devem servir de apoio real
A valorização e o conhecimento das características étni- e efetivo às crianças e suas famílias, respondendo às suas de-
cas e culturais dos diferentes grupos sociais que compõem a mandas e necessidades. Evitar julgamentos moralistas, pes-
nossa sociedade, e a crítica às relações sociais discriminató- soais ou vinculados a preconceitos é condição para o estabe-
rias e excludentes indicam que, novos caminhos devem ser lecimento de uma base para o diálogo.
trilhados na relação entre as instituições de educação infantil
e as famílias. Estabelecimento de canais de comunicação
Existem oportunidades variadas de incluir as famílias no
Respeito aos vários tipos de estruturas familiares projeto institucional. Há experiências interessantes de criação
Constate-se que as famílias independente da classe so- de conselhos e associações de pais que são canais abertos-
cial a qual pertencem se organizam das mais diversas manei- departicipaçãonagestãodasunidades educacionais.
ras. Além da família nuclear que é constituída pelo pai, mãe A comunicação mais individualizada entre as famílias e
e filhos, proliferam hoje as famílias monoparentais, nas quais as instituições de educação infantil deve ocorrer desde o iní-
apenas a mãe ou o pai está presente. Existem, ainda, as famí- cio de forma planejada. Após os primeiros contatos, a comu-
lias que se reconstituíram por meio de novos casamentos e nicação entre as famílias e os professores pode se tornar uma
possuem filhos advindos dessas relações. Há, também, as fa- rotina mais informal, mas bastante ativa. Entrar todos os dias
mílias extensas, comuns na história brasileira, nas quais con- até a sala onde sua criança está, trocar algumas palavras com
vivem na mesma casa várias gerações e/ou pessoas ligadas o professor pode ser um fator de tranquilidade para muitos
por parentescos diversos. É possível ainda encontrar várias pais. Quanto menor a criança, mais importante essa troca de
famílias coabitando em uma mesma casa. Enfim, parece não informações. Este contato direto não deve ser substituído
haver limites para os arranjos familiares na atualidade. por comunicações impessoais, escritas de maneira burocrá-
As crianças têm direito de ser criadas e educadas no seio tica. Oportunidades de encontros periódicos com os pais de
de suas famílias. O Estatuto da Criança e do Adolescente rea- um mesmo grupo por meio de reuniões, ou mesmo contatos
firma, em seus termos, que a família é a primeira instituição individuais fazem parte do cotidiano das instituições de edu-
social responsável pela efetivação dos direitos básicos das cação infantil.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Em geral a troca de informações é diária com as famílias, O ingresso das crianças nas instituições pode criar ansie-
principalmente quando há cuidados especiais que a criança dade tanto para elas e para seus pais como para os profes-
esteja necessitando. Assim, para que o professor não fique sores. As reações podem variar muito, tanto em relação às
sobrecarregado pela necessidade de dar atenção às famílias manifestações emocionais quanto ao tempo necessário para
e crianças ao mesmo tempo, o planejamento deste momento se efetivar o processo.
— em conjunto com os pais e a ajuda de outros funcionários Algumas crianças podem apresentar comportamentos
— é fundamental para o relacionamento de todos os en- diferentes daqueles que normalmente revelam em seu am-
volvidos. biente familiar, como alterações de apetite; retorno às fases
É preciso combinar formas de comunicação para trocas anteriores do desenvolvimento (voltar a urinar ou evacuar na
específicas de informações, como uso de medicamentos, que roupa, por exemplo). Podem, também, adoecer; isolar-se dos
precisam ser dados em doses precisas, de acordo com receita demais e criar dependência de um brinquedo, da chupeta ou
do médico, ou eventos ligados à saúde e alimentação. Isso de um paninho. As instituições de educação infantil devem
evita esquecimentos que podem ser prejudiciais para a saúde ter flexibilidade diante dessas singularidades ajudando os
da criança e facilita a vida do professor e da família. pais e as crianças nestes momentos.
Com as famílias de crianças maiores, a comunicação é de A entrevista de matrícula pode ser usada para apresentar
natureza diferente. As informações entre as famílias e a ins- informações sobre o atendimento oferecido, os objetivos do
tituição podem ser mais esporádicas, ocorrendo somente à trabalho, a concepção de educação adotada. Esta é uma boa
medida das necessidades. As reuniões para discussão sobre o oportunidade também para que se conheça alguns hábitos
andamento dos trabalhos com as crianças são sempre bem- das crianças e para que o professor estabeleça um primeiro
vindas e se constituem em um direito dos pais. contato com as famílias.
No entanto, a participação das famílias não deve estar Quanto mais novo o bebê, maior a ligação entre mãe e
sujeita a uma única possibilidade. As instituições de edu- filho. Assim, não é apenas a criança que passa pela adapta-
cação infantil precisam pensar em formas mais variadas de ção, mas também a mãe. Dependendo da família e da crian-
participação de modo a atender necessidades e interesses ça, outros membros como o pai, irmãos, avós poderão estar
também diversificados. envolvidos no processo de adaptação à instituição. A manei-
Os pais, também, devem ter acesso à: ra como a família vê a entrada da criança na instituição de
•filosofia e concepção de trabalho da instituição; educação infantil tem uma influência marcante nas reações
•informações relativas ao quadro de pessoal com as qua- e emoções da criança durante o processo inicial. Acolher os
lificações e experiências; pais com suas dúvidas, angústias e ansiedades, oferecendo
•informações relativas à estrutura e funcionamento da apoio e tranquilidade, contribui para que a criança também
creche ou da pré-escola;
se sinta menos insegura nos primeiros dias na instituição. Re-
•condutas em caso de emergência e problemas de saú-
conhecer que os pais são as pessoas que mais conhecem as
de;
crianças e que entendem muito sobre como cuidá-las pode
•informações quanto a participação das crianças e famí-
facilitar o relacionamento. Antes de tudo, é preciso estabele-
lias em eventos especiais.
cer uma relação de confiança com as famílias, deixando claro
As orientações podem ser modificadas caso haja um tra-
que o objetivo é a parceria de cuidados e educação visan-
balho coletivo envolvendo as famílias e o coletivo de profis-
do ao bem-estar da criança. Quando há um certo número
sionais por meio de consultas e negociações permanentes.
de crianças para ingressar na instituição, pode-se fazer uma
As trocas recíprocas e o suporte mútuo devem ser a tôni-
reunião com todos os pais novos para que se conheçam e
ca do relacionamento. Os profissionais da instituição devem
partilhar, com os pais, conhecimentos sobre desenvolvimen- discutam conjuntamente suas dúvidas e preocupações.
to infantil e informações relevantes sobre as crianças utilizan-
do uma sistemática de comunicações regulares. Os primeiros dias
Inclusão do conhecimento familiar no trabalho educa- No primeiro dia da criança na instituição, a atenção do
tivo professor deve estar voltada para ela de maneira especial.
É possível integrar o conhecimento das famílias nos pro- Este dia deve ser muito bem planejado para que a criança
jetos e demais atividades pedagógicas. Não só as questões possa ser bem acolhida. É recomendável receber poucas
culturais e regionais podem ser inseridas nas programações crianças por vez para que se possa atendê-las de forma in-
por meio da participação de pais e demais familiares, mas dividualizada. Com os bebês muito pequenos, o principal
também as questões afetivas e motivações familiares podem cuidado será preparar o seu lugar no ambiente, o seu ber-
fazer parte do cotidiano pedagógico. Por exemplo, a história ço, identificá-lo com o nome, providenciar os alimentos que
da escolha do nome das crianças, as brincadeiras preferidas irá receber, e principalmente tranquilizar os pais. A perma-
dos pais na infância, as histórias de vida etc. podem tornar- nência na instituição de alguns objetos de transição, como
se parte integrante de projetos a serem trabalhados com as a chupeta, a fralda que ele usa para cheirar, um mordedor,
crianças. ou mesmo o bico da mamadeira a que ele está acostumado,
ajudará neste processo. Pode-se mesmo solicitar que a mãe
Acolhimento das famílias e das crianças na instituição ou responsável pela criança venha, alguns dias antes, ajudar
A entrada na instituição a preparar o berço de seu bebê.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Quando o atendimento é de período integral, é reco- Substituição de professores


mendável que se estabeleça um processo gradual de inser- Considerando-se a importância dos vínculos estabele-
ção, ampliando o tempo de permanência de maneira que a cidos com os adultos nessa faixa etária, a substituição dos
criança vá se familiarizando aos poucos com o professor, com professores deve ser pensada e planejada com atenção e an-
o espaço, com a rotina e com as outras crianças com as quais tecedência, preparando as crianças para essa situação. Infe-
irá conviver. É importante que se solicite, nos primeiros dias, lizmente, em muitas instituições, a rotatividade de adultos é
e até quando se fizer necessário, a presença da mãe ou do uma realidade. Quando isso ocorre, é bom que esta transição
pai ou de alguém conhecido da criança para que ela possa seja feita paulatinamente com o professor antigo cedendo
enfrentar o ambiente estranho junto de alguém com quem gradativamente o lugar para o novo.
se sinta segura. Quando tiver estabelecido um vínculo afetivo
com o professor e com as outras crianças, é que ela poderá Passagem para a escola
enfrentar bem a separação, sendo capaz de se despedir da Com a saída das crianças, as famílias enfrentam nova-
pessoa querida, com segurança e desprendimento. mente grandes mudanças. A passagem da educação infantil
Este período exige muita habilidade, por isso, o professor para o ensino fundamental representa um marco significati-
necessita de apoio e acompanhamento, especialmente do vo para a criança podendo criar ansiedades e inseguranças.
diretor e membros da equipe técnica uma vez que ele tam- O professor de educação infantil deve considerar esse fato
bém está sofrendo um processo de adaptação. Os profes- desde o início do ano, estando disponível e atento para as
sores precisam ter claro qual é o papel da mãe (ou de quem questões e atitudes que as crianças possam manifestar. Tais
estiver acompanhando a criança) em seus primeiros dias na preocupações podem ser aproveitadas para a realização de
instituição. projetos que envolvam visitas a escolas de ensino fundamen-
Os pais podem encontrar dificuldades de tempo para vi- tal; entrevistas com professores e alunos; programar um dia
ver este processo por não poderem se ausentar muitos dias de permanência em uma classe de primeira série. É interes-
no trabalho. Neste caso, seria importante que pudessem es- sante fazer um ritual de despedida, marcando para as crian-
ças este momento de passagem com um evento significativo.
tar presentes, ao menos no primeiro dia, e que depois pu-
Essas ações ajudam a desenvolver uma disposição positiva
dessem ser substituídos por alguém da confiança da criança.
frente às futuras mudanças demonstrando que, apesar das
O choro da criança, durante o processo de inserção, pa-
perdas, há também crescimento.
rece ser o fator que mais provoca ansiedade tanto nos pais
quanto nos professores. Mas parece haver, também, uma
Acolhimento de famílias com necessidades especiais
crença de que o choro é inevitável e que a criança acabará
Algumas famílias enfrentam problemas sérios ligados
se acostumando, vencida pelo esgotamento físico ou emo- ao alcoolismo, violência familiar ou problemas de saúde e
cional, parando de chorar. Alguns acreditam que, se derem desnutrição que comprometem sua atuação junto às crian-
muita atenção e as pegarem no colo, as crianças se tornarão ças. Apenas quando a sobrevivência física e mental está se-
manhosas, deixando-as chorar. Essa experiência deve ser evi- riamente comprometida pela conduta familiar, ou quando a
tada. Deve ser dada uma atenção especial às crianças, nesses criança sofre agressão sexual, é possível pensar em uma ação
momentos de choro, pegando no colo ou sugerindo-lhes ati- mais enérgica para a interrupção imediata do comportamen-
vidades interessantes. to agressor, admitindo-se, em casos extremos, o encaminha-
O professor pode planejar a melhor forma de organizar o mento de crianças para instituições especializadaslongedo-
ambiente nestes primeiros dias, levando em consideração os convívio familiar.
gostos e preferências das crianças, repensando a rotina em Nogeral,asfamíliasque porventura tiverem dificulda-
função de sua chegada e oferecendo-lhes atividades atrati- des em cumprir qualquer uma de suas funções para com as
vas. Ambientes organizados com material de pintura, dese- crianças deverão receber toda ajuda possível das instituições
nho e modelagem, brinquedos de casinha, baldes, pás, areia de educação infantil, da comunidade, do poder público, das
e água etc., são boas estratégias. instituições de apoio para que melhorem o desempenho jun-
As orientações acima são válidas também para os pri- to às crianças.
meiros dias do ano ou do semestre, quando todas as crianças
e funcionários estão em período de adaptação. É necessário
um período de planejamento da equipe para organizar a en-
trada e a rotina das crianças. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA
DO BRASIL PROMULGADA EM 5 DE
Remanejamento entre os grupos de criança OUTUBRO DE 1988, ARTIGOS 5°, 37 AO 41,
O remanejamento das crianças para outras turmas pare- 205 AO 214, 227 AO 229.
ce inevitável, principalmente nas creches, em função da gran-
de demanda por vagas. Havendo realmente necessidade de
enfrentar esta situação, todo cuidado é pouco. As crianças
pequenas, em especial as de zero a dois anos, constroem, por O título II da Constituição Federal é intitulado “Direitos e
meio do vínculo afetivo com o adulto de referência, a base Garantias fundamentais”, gênero que abrange as seguintes
sobre a qual vão se sentir seguras para explorar o ambiente espécies de direitos fundamentais: direitos individuais e co-
e para se relacionar com novas pessoas. A integração à nova letivos (art. 5º, CF), direitos sociais (genericamente previstos
turma precisa ser gradativa, envolvendo o adulto com a qual no art. 6º, CF), direitos da nacionalidade (artigos 12 e 13, CF)
estão acostumadas. e direitos políticos (artigos 14 a 17, CF).

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Em termos comparativos à clássica divisão tridimensio- tro: a liberdade de locomoção, direito, é colocada no artigo
nal dos direitos humanos, os direitos individuais (maior parte 5º, XV, ao passo que o dever de relaxamento da prisão ilegal
do artigo 5º, CF), os direitos da nacionalidade e os direitos de ofício pelo juiz, garantia, se encontra no artigo 5º, LXV12.
políticos se encaixam na primeira dimensão (direitos civis e Em caso de ineficácia da garantia, implicando em viola-
políticos); os direitos sociais se enquadram na segunda di- ção de direito, cabe a utilização dos remédios constitucionais.
mensão (direitos econômicos, sociais e culturais) e os direitos Atenção para o fato de o constituinte chamar os remé-
coletivos na terceira dimensão. Contudo, a enumeração de dios constitucionais de garantias, e todas as suas fórmulas de
direitos humanos na Constituição vai além dos direitos que direitos e garantias propriamente ditas apenas de direitos.
expressamente constam no título II do texto constitucional.
Os direitos fundamentais possuem as seguintes caracte- Direitos e deveres individuais e coletivos
rísticas principais:
a) Historicidade: os direitos fundamentais possuem an- O capítulo I do título II é intitulado “direitos e deveres
tecedentes históricos relevantes e, através dos tempos, ad- individuais e coletivos”. Da própria nomenclatura do capítulo
quirem novas perspectivas. Nesta característica se enquadra já se extrai que a proteção vai além dos direitos do indivíduo
a noção de dimensões de direitos. e também abrange direitos da coletividade. A maior parte
b) Universalidade: os direitos fundamentais pertencem dos direitos enumerados no artigo 5º do texto constitucio-
a todos, tanto que apesar da expressão restritiva do caput do nal é de direitos individuais, mas são incluídos alguns direitos
artigo 5º aos brasileiros e estrangeiros residentes no país tem coletivos e mesmo remédios constitucionais próprios para a
se entendido pela extensão destes direitos, na perspectiva de tutela destes direitos coletivos (ex.: mandado de segurança
prevalência dos direitos humanos. coletivo).
c) Inalienabilidade: os direitos fundamentais não pos-
suem conteúdo econômico-patrimonial, logo, são intransfe- 1) Brasileiros e estrangeiros
ríveis, inegociáveis e indisponíveis, estando fora do comércio, O caput do artigo 5º aparenta restringir a proteção con-
o que evidencia uma limitação do princípio da autonomia ferida pelo dispositivo a algumas pessoas, notadamente, “aos
privada. brasileiros e aos estrangeiros residentes no País”. No entanto,
d) Irrenunciabilidade: direitos fundamentais não podem tal restrição é apenas aparente e tem sido interpretada no
ser renunciados pelo seu titular devido à fundamentalidade sentido de que os direitos estarão protegidos com relação a
material destes direitos para a dignidade da pessoa humana. todas as pessoas nos limites da soberania do país.
e) Inviolabilidade: direitos fundamentais não podem Em razão disso, por exemplo, um estrangeiro pode in-
deixar de ser observados por disposições infraconstitucionais gressar com habeas corpus ou mandado de segurança, ou
ou por atos das autoridades públicas, sob pena de nulidades. então intentar ação reivindicatória com relação a imóvel seu
f) Indivisibilidade: os direitos fundamentais compõem localizado no Brasil (ainda que não resida no país).
um único conjunto de direitos porque não podem ser anali- Somente alguns direitos não são estendidos a todas as
sados de maneira isolada, separada. pessoas. A exemplo, o direito de intentar ação popular exige
g) Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não a condição de cidadão, que só é possuída por nacionais titu-
se perdem com o tempo, não prescrevem, uma vez que são lares de direitos políticos.
sempre exercíveis e exercidos, não deixando de existir pela
falta de uso (prescrição). 2) Relação direitos-deveres
h) Relatividade: os direitos fundamentais não podem O capítulo em estudo é denominado “direitos e garan-
ser utilizados como um escudo para práticas ilícitas ou como tias deveres e coletivos”, remetendo à necessária relação di-
argumento para afastamento ou diminuição da responsabi- reitos-deveres entre os titulares dos direitos fundamentais.
lidade por atos ilícitos, assim estes direitos não são ilimita- Acima de tudo, o que se deve ter em vista é a premissa re-
dos e encontram seus limites nos demais direitos igualmente conhecida nos direitos fundamentais de que não há direito
consagrados como humanos. que seja absoluto, correspondendo-se para cada direito um
dever. Logo, o exercício de direitos fundamentais é limitado
Vale destacar que a Constituição vai além da proteção pelo igual direito de mesmo exercício por parte de outrem,
dos direitos e estabelece garantias em prol da preservação não sendo nunca absolutos, mas sempre relativos.
destes, bem como remédios constitucionais a serem utiliza- Explica Canotilho13 quanto aos direitos fundamentais: “a
dos caso estes direitos e garantias não sejam preservados. ideia de deveres fundamentais é suscetível de ser entendida
Neste sentido, dividem-se em direitos e garantias as previ- como o ‘outro lado’ dos direitos fundamentais. Como ao ti-
sões do artigo 5º: os direitos são as disposições declaratórias tular de um direito fundamental corresponde um dever por
e as garantias são as disposições assecuratórias. parte de um outro titular, poder-se-ia dizer que o particular
O legislador muitas vezes reúne no mesmo dispositivo está vinculado aos direitos fundamentais como destinatário
o direito e a garantia, como no caso do artigo 5º, IX: “é livre de um dever fundamental. Neste sentido, um direito funda-
a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de 12 FARIA, Cássio Juvenal. Notas pessoais tomadas
comunicação, independentemente de censura ou licença” – em teleconferência.
o direito é o de liberdade de expressão e a garantia é a ve- 13 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito cons-
dação de censura ou exigência de licença. Em outros casos, o titucional e teoria da constituição. 2. ed. Coimbra: Almedi-
legislador traz o direito num dispositivo e a garantia em ou- na, 1998, p. 479.

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mental, enquanto protegido, pressuporia um dever corres- No entanto, com o passar dos tempos, se percebeu que
pondente”. Com efeito, a um direito fundamental conferido não bastava igualar todos os homens em direitos e deveres
à pessoa corresponde o dever de respeito ao arcabouço de para torná-los iguais, pois nem todos possuem as mesmas
direitos conferidos às outras pessoas. condições de exercer estes direitos e deveres. Logo, não é
suficiente garantir um direito à igualdade formal, mas é pre-
3) Direitos e garantias em espécie ciso buscar progressivamente a igualdade material. No sen-
Preconiza o artigo 5º da Constituição Federal em seu tido de igualdade material que aparece o direito à igualdade
caput: num segundo momento, pretendendo-se do Estado, tanto
no momento de legislar quanto no de aplicar e executar a
Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem lei, uma postura de promoção de políticas governamentais
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e voltadas a grupos vulneráveis.
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito Assim, o direito à igualdade possui dois sentidos notá-
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, veis: o de igualdade perante a lei, referindo-se à aplicação
nos termos seguintes [...]. uniforme da lei a todas as pessoas que vivem em sociedade;
e o de igualdade material, correspondendo à necessidade de
O caput do artigo 5º, que pode ser considerado um dos discriminações positivas com relação a grupos vulneráveis da
principais (senão o principal) artigos da Constituição Federal, sociedade, em contraponto à igualdade formal.
consagra o princípio da igualdade e delimita as cinco esfe-
ras de direitos individuais e coletivos que merecem proteção, Ações afirmativas
isto é, vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade. Neste sentido, desponta a temática das ações afirmati-
Os incisos deste artigos delimitam vários direitos e garantias vas,que são políticas públicas ou programas privados cria-
que se enquadram em alguma destas esferas de proteção, dos temporariamente e desenvolvidos com a finalidade de
podendo se falar em duas esferas específicas que ganham reduzir as desigualdades decorrentes de discriminações ou
também destaque no texto constitucional, quais sejam, direi- de uma hipossuficiência econômica ou física, por meio da
tos de acesso à justiça e direitos constitucionais-penais. concessão de algum tipo de vantagem compensatória de tais
condições.
- Direito à igualdade Quem é contra as ações afirmativas argumenta que, em
Abrangência uma sociedade pluralista, a condição de membro de um gru-
Observa-se, pelo teor do caput do artigo 5º, CF, que o po específico não pode ser usada como critério de inclusão
constituinte afirmou por duas vezes o princípio da igualdade: ou exclusão de benefícios. Ademais, afirma-se que elas des-
privilegiam o critério republicano do mérito (segundo o qual
Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem o indivíduo deve alcançar determinado cargo público pela
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e sua capacidade e esforço, e não por pertencer a determina-
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito da categoria); fomentariam o racismo e o ódio; bem como
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, ferem o princípio da isonomia por causar uma discriminação
nos termos seguintes [...]. reversa.
Por outro lado, quem é favorável às ações afirmativas
Não obstante, reforça este princípio em seu primeiro in- defende que elas representam o ideal de justiça compensa-
ciso: tória (o objetivo é compensar injustiças passadas, dívidas his-
tóricas, como uma compensação aos negros por tê-los feito
Artigo 5º, I, CF. Homens e mulheres são iguais em direitos escravos, p. ex.); representam o ideal de justiça distributiva (a
e obrigações, nos termos desta Constituição. preocupação, aqui, é com o presente. Busca-se uma concre-
tização do princípio da igualdade material); bem como pro-
Este inciso é especificamente voltado à necessidade de movem a diversidade.
igualdade de gênero, afirmando que não deve haver nenhu- Neste sentido, as discriminações legais asseguram a ver-
ma distinção sexo feminino e o masculino, de modo que o dadeira igualdade, por exemplo, com as ações afirmativas,
homem e a mulher possuem os mesmos direitos e obriga- a proteção especial ao trabalho da mulher e do menor, as
ções. garantias aos portadores de deficiência, entre outras medi-
Entretanto, o princípio da isonomia abrange muito mais das que atribuam a pessoas com diferentes condições, iguais
do que a igualdade de gêneros, envolve uma perspectiva possibilidades, protegendo e respeitando suas diferenças14.
mais ampla. Tem predominado em doutrina e jurisprudência, inclusive no
O direito à igualdade é um dos direitos norteadores de Supremo Tribunal Federal, que as ações afirmativas são váli-
interpretação de qualquer sistema jurídico. O primeiro enfo- das.
que que foi dado a este direito foi o de direito civil, enqua-
drando-o na primeira dimensão, no sentido de que a todas
as pessoas deveriam ser garantidos os mesmos direitos e
deveres. Trata-se de um aspecto relacionado à igualdade en- 14 SANFELICE, Patrícia de Mello. Comentários aos
quanto liberdade, tirando o homem do arbítrio dos demais artigos I e II. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários
por meio da equiparação. Basicamente, estaria se falando na à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília:
igualdade perante a lei. Fortium, 2008, p. 08.

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- Direito à vida § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quan-


Abrangência do tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a proteção detenção de um a quatro anos.
do direito à vida. A vida humana é o centro gravitacional em § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gra-
torno do qual orbitam todos os direitos da pessoa humana, víssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta
possuindo reflexos jurídicos, políticos, econômicos, morais e morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
religiosos. Daí existir uma dificuldade em conceituar o vocá- § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
bulo vida. Logo, tudo aquilo que uma pessoa possui deixa de I - se o crime é cometido por agente público;
ter valor ou sentido se ela perde a vida. Sendo assim, a vida é II – se o crime é cometido contra criança, gestante, porta-
o bem principal de qualquer pessoa, é o primeiro valor moral dor de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos;
inerente a todos os seres humanos15. III - se o crime é cometido mediante sequestro.
No tópico do direito à vida tem-se tanto o direito de § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou
nascer/permanecer vivo, o que envolve questões como emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro
pena de morte, eutanásia, pesquisas com células-tronco e do prazo da pena aplicada.
aborto; quanto o direito de viver com dignidade, o que § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de
engloba o respeito à integridade física, psíquica e moral, in- graça ou anistia.
cluindo neste aspecto a vedação da tortura, bem como a ga- § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipó-
rantia de recursos que permitam viver a vida com dignidade. tese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.
Embora o direito à vida seja em si pouco delimitado nos
incisos que seguem o caput do artigo 5º, trata-se de um dos - Direito à liberdade
direitos mais discutidos em termos jurisprudenciais e socio- O caput do artigo 5º da Constituição assegura a prote-
lógicos. É no direito à vida que se encaixam polêmicas dis- ção do direito à liberdade, delimitada em alguns incisos que
cussões como: aborto de anencéfalo, pesquisa com células o seguem.
tronco, pena de morte, eutanásia, etc.
Liberdade e legalidade
Prevê o artigo 5º, II, CF:
Vedação à tortura
De forma expressa no texto constitucional destaca-se a
Artigo 5º, II, CF. Ninguém será obrigado a fazer ou deixar
vedação da tortura, corolário do direito à vida, conforme pre-
de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
visão no inciso III do artigo 5º:
O princípio da legalidade se encontra delimitado neste
Artigo 5º, III, CF. Ninguém será submetido a tortura nem a inciso, prevendo que nenhuma pessoa será obrigada a fazer
tratamento desumano ou degradante. ou deixar de fazer alguma coisa a não ser que a lei assim de-
termine. Assim, salvo situações previstas em lei, a pessoa tem
A tortura é um dos piores meios de tratamento desuma- liberdade para agir como considerar conveniente.
no, expressamente vedada em âmbito internacional, como Portanto, o princípio da legalidade possui estrita rela-
visto no tópico anterior. No Brasil, além da disciplina consti- ção com o princípio da liberdade, posto que, a priori, tudo à
tucional, a Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997 define os crimes pessoa é lícito. Somente é vedado o que a lei expressamente
de tortura e dá outras providências, destacando-se o artigo estabelecer como proibido. A pessoa pode fazer tudo o que
1º: quiser, como regra, ou seja, agir de qualquer maneira que a
lei não proíba.
Art. 1º Constitui crime de tortura:
I - constranger alguém com emprego de violência ou gra- Liberdade de pensamento e de expressão
ve ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: O artigo 5º, IV, CF prevê:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão
da vítima ou de terceira pessoa; Artigo 5º, IV, CF. É livre a manifestação do pensamento,
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; sendo vedado o anonimato.
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autori- Consolida-se a afirmação simultânea da liberdade de
dade, com emprego de violência ou grave ameaça, a inten- pensamento e da liberdade de expressão.
so sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo Em primeiro plano tem-se a liberdade de pensamento.
pessoal ou medida de caráter preventivo. Afinal, “o ser humano, através dos processos internos de refle-
Pena - reclusão, de dois a oito anos. xão, formula juízos de valor. Estes exteriorizam nada mais do
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa pre- que a opinião de seu emitente. Assim, a regra constitucional,
sa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou ao consagrar a livre manifestação do pensamento, imprime a
mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei existência jurídica ao chamado direito de opinião”16. Em outras
ou não resultante de medida legal. palavras, primeiro existe o direito de ter uma opinião, depois
15 BARRETO, Ana Carolina Rossi; IBRAHIM, Fábio o de expressá-la.
Zambitte. Comentários aos Artigos III e IV. In: BALERA, Wag- 16 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vi-
ner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos Di- dal Serrano. Curso de direito constitucional. 10. ed. São
reitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008, p. 15. Paulo: Saraiva, 2006.

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No mais, surge como corolário do direito à liberdade de Consoante o magistério de José Afonso da Silva17, entra
pensamento e de expressão o direito à escusa por convicção na liberdade de crença a liberdade de escolha da religião, a
filosófica ou política: liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade (ou
o direito) de mudar de religião, além da liberdade de não
Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por aderir a religião alguma, assim como a liberdade de descren-
motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou po- ça, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnosticismo, ape-
lítica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a nas excluída a liberdade de embaraçar o livre exercício de
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, qualquer religião, de qualquer crença. A liberdade de culto
fixada em lei. consiste na liberdade de orar e de praticar os atos próprios
das manifestações exteriores em casa ou em público, bem
Trata-se de instrumento para a consecução do direito as- como a de recebimento de contribuições para tanto. Por fim,
segurado na Constituição Federal – não basta permitir que se a liberdade de organização religiosa refere-se à possibilidade
pense diferente, é preciso respeitar tal posicionamento. de estabelecimento e organização de igrejas e suas relações
Com efeito, este direito de liberdade de expressão é li- com o Estado.
mitado. Um destes limites é o anonimato, que consiste na Como decorrência do direito à liberdade religiosa, asse-
garantia de atribuir a cada manifestação uma autoria certa gurando o seu exercício, destaca-se o artigo 5º, VII, CF:
e determinada, permitindo eventuais responsabilizações por
manifestações que contrariem a lei. Artigo 5º, VII, CF. É assegurada, nos termos da lei, a presta-
Tem-se, ainda, a seguinte previsão no artigo 5º, IX, CF: ção de assistência religiosa nas entidades civis e militares
de internação coletiva.
Artigo 5º, IX, CF. É livre a expressão da atividade inte-
lectual, artística, científica e de comunicação, indepen- O dispositivo refere-se não só aos estabelecimentos pri-
dentemente de censura ou licença. sionais civis e militares, mas também a hospitais.
Ainda, surge como corolário do direito à liberdade reli-
Consolida-se outra perspectiva da liberdade de expres- giosa o direito à escusa por convicção religiosa:
são, referente de forma específica a atividades intelectuais,
artísticas, científicas e de comunicação. Dispensa-se, com re- Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por
lação a estas, a exigência de licença para a manifestação do motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou po-
pensamento, bem como veda-se a censura prévia. lítica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a
A respeito da censura prévia, tem-se não cabe impedir a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa,
divulgação e o acesso a informações como modo de controle fixada em lei.
do poder. A censura somente é cabível quando necessária
ao interesse público numa ordem democrática, por exemplo, Sempre que a lei impõe uma obrigação a todos, por
censurar a publicação de um conteúdo de exploração sexual exemplo, a todos os homens maiores de 18 anos o alis-
infanto-juvenil é adequado. tamento militar, não cabe se escusar, a não ser que tenha
O direito à resposta (artigo 5º, V, CF) e o direito à indeni- fundado motivo em crença religiosa ou convicção filosófica/
zação (artigo 5º, X, CF) funcionam como a contrapartida para política, caso em que será obrigado a cumprir uma prestação
aquele que teve algum direito seu violado (notadamente ine- alternativa, isto é, uma outra atividade que não contrarie tais
rentes à privacidade ou à personalidade) em decorrência dos preceitos.
excessos no exercício da liberdade de expressão.
Liberdade de informação
Liberdade de crença/religiosa O direito de acesso à informação também se liga a uma
Dispõe o artigo 5º, VI, CF: dimensão do direito à liberdade. Neste sentido, prevê o arti-
go 5º, XIV, CF:
Artigo 5º, VI, CF. É inviolável a liberdade de consciência
e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos Artigo 5º, XIV, CF. É assegurado a todos o acesso à infor-
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais mação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário
de culto e a suas liturgias. ao exercício profissional.

Cada pessoa tem liberdade para professar a sua fé como Trata-se da liberdade de informação, consistente na li-
bem entender dentro dos limites da lei. Não há uma crença berdade de procurar e receber informações e ideias por
ou religião que seja proibida, garantindo-se que a profissão quaisquer meios, independente de fronteiras, sem interfe-
desta fé possa se realizar em locais próprios. rência.
Nota-se que a liberdade de religião engloba 3 tipos dis- A liberdade de informação tem um caráter passivo, ao
tintos, porém intrinsecamente relacionados de liberdades: a passo que a liberdade de expressão tem uma característica
liberdade de crença; a liberdade de culto; e a liberdade de ativa, de forma que juntas formam os aspectos ativo e passi-
organização religiosa. vo da exteriorização da liberdade de pensamento: não basta
17 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitu-
cional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

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poder manifestar o seu próprio pensamento, é preciso que Artigo 5º, LX, CF. A lei só poderá restringir a publicidade
ele seja ouvido e, para tanto, há necessidade de se garantir o dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o in-
acesso ao pensamento manifestado para a sociedade. teresse social o exigirem.
Por sua vez, o acesso à informação envolve o direito de
todos obterem informações claras, precisas e verdadeiras a Logo,o processo, em regra, não será sigiloso. Apenas o
respeito de fatos que sejam de seu interesse, notadamente será quando a intimidade merecer preservação (ex: processo
pelos meios de comunicação imparciais e não monopoliza- criminal de estupro ou causas de família em geral) ou quan-
dos (artigo 220, CF). No entanto, nem sempre é possível que do o interesse social exigir (ex: investigações que possam ser
a imprensa divulgue com quem obteve a informação divul- comprometidas pela publicidade). A publicidade é instru-
gada, sem o que a segurança desta poderia ficar prejudicada mento para a efetivação da liberdade de informação.
e a informação inevitavelmente não chegaria ao público.
Especificadamente quanto à liberdade de informação no Liberdade de locomoção
âmbito do Poder Público, merecem destaque algumas pre- Outra faceta do direito à liberdade encontra-se no artigo
visões. 5º, XV, CF:
Primeiramente, prevê o artigo 5º, XXXIII, CF:
Artigo 5º, XV, CF. É livre a locomoção no território na-
Artigo 5º, XXXIII, CF. Todos têm direito a receber dos ór- cional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos ter-
gãos públicos informações de seu interesse particular, ou de mos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.
interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei,
sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo A liberdade de locomoção é um aspecto básico do direi-
seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. to à liberdade, permitindo à pessoa ir e vir em todo o territó-
rio do país em tempos de paz (em tempos de guerra é possí-
A respeito, a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 vel limitar tal liberdade em prol da segurança). A liberdade de
regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do sair do país não significa que existe um direito de ingressar
art. 5º, CF, também conhecida como Lei do Acesso à Infor- em qualquer outro país, pois caberá à ele, no exercício de sua
mação. soberania, controlar tal entrada.
Não obstante, estabelece o artigo 5º, XXXIV, CF: Classicamente, a prisão é a forma de restrição da liberda-
de. Neste sentido, uma pessoa somente poderá ser presa nos
Artigo 5º, XXXIV, CF. São a todos assegurados, indepen- casos autorizados pela própria Constituição Federal. A des-
dentemente do pagamento de taxas: peito da normativa específica de natureza penal, reforça-se
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de a impossibilidade de se restringir a liberdade de locomoção
direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; pela prisão civil por dívida.
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para Prevê o artigo 5º, LXVII, CF:
defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse
pessoal. Artigo 5º, LXVII, CF. Não haverá prisão civil por dívida,
salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e ines-
Quanto ao direito de petição, de maneira prática, cumpre cusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel.
observar que o direito de petição deve resultar em uma ma-
nifestação do Estado, normalmente dirimindo (resolvendo) Nos termos da Súmula Vinculante nº 25 do Supremo
uma questão proposta, em um verdadeiro exercício contínuo Tribunal Federal, “é ilícita a prisão civil de depositário infiel,
de delimitação dos direitos e obrigações que regulam a vida qualquer que seja a modalidade do depósito”. Por isso, a úni-
social e, desta maneira, quando “dificulta a apreciação de um ca exceção à regra da prisão por dívida do ordenamento é a
pedido que um cidadão quer apresentar” (muitas vezes, em- que se refere à obrigação alimentícia.
baraçando-lhe o acesso à Justiça); “demora para responder
aos pedidos formulados” (administrativa e, principalmente, Liberdade de trabalho
judicialmente) ou “impõe restrições e/ou condições para a O direito à liberdade também é mencionado no artigo
formulação de petição”, traz a chamada insegurança jurídica, 5º, XIII, CF:
que traz desesperança e faz proliferar as desigualdades e as
injustiças. Artigo 5º, XIII, CF. É livre o exercício de qualquer traba-
Dentro do espectro do direito de petição se insere, por lho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profis-
exemplo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar sionais que a lei estabelecer.
cópias reprográficas e certidões, bem como de ofertar de-
núncias de irregularidades. Contudo, o constituinte, talvez na O livre exercício profissional é garantido, respeitados os
intenção de deixar clara a obrigação dos Poderes Públicos limites legais. Por exemplo, não pode exercer a profissão de
em fornecer certidões, trouxe a letra b) do inciso, o que gera advogado aquele que não se formou em Direito e não foi
confusões conceituais no sentido do direito de obter certi- aprovado no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil; não
dões ser dissociado do direito de petição. pode exercer a medicina aquele que não fez faculdade de
Por fim, relevante destacar a previsão do artigo 5º, LX, CF: medicina reconhecida pelo MEC e obteve o cadastro no Con-
selho Regional de Medicina.

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Liberdade de reunião O primeiro caso é o de dissolução compulsória, ou seja,


Sobre a liberdade de reunião, prevê o artigo 5º, XVI, CF: a associação deixará de existir para sempre. Obviamente, é
preciso o trânsito em julgado da decisão judicial que assim
Artigo 5º, XVI, CF. Todos podem reunir-se pacificamen- determine, pois antes disso sempre há possibilidade de re-
te, sem armas, em locais abertos ao público, independente- verter a decisão e permitir que a associação continue em
mente de autorização, desde que não frustrem outra reunião funcionamento. Contudo, a decisão judicial pode suspender
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas atividades até que o trânsito em julgado ocorra, ou seja, no
exigido prévio aviso à autoridade competente. curso de um processo judicial.
Em destaque, a legitimidade representativa da associa-
Pessoas podem ir às ruas para reunirem-se com demais ção quanto aos seus filiados, conforme artigo 5º, XXI, CF:
na defesa de uma causa, apenas possuindo o dever de infor-
mar tal reunião. Tal dever remonta-se a questões de segu- Artigo 5º, XXI, CF. As entidades associativas, quando ex-
rança coletiva. Imagine uma grande reunião de pessoas por pressamente autorizadas, têm legitimidade para representar
uma causa, a exemplo da Parada Gay, que chega a aglomerar seus filiados judicial ou extrajudicialmente.
milhões de pessoas em algumas capitais: seria absurdo tole-
rar tal tipo de reunião sem o prévio aviso do poder público Trata-se de caso de legitimidade processual extraordiná-
para que ele organize o policiamento e a assistência médica, ria, pela qual um ente vai a juízo defender interesse de ou-
evitando algazarras e socorrendo pessoas que tenham algum tra(s) pessoa(s) porque a lei assim autoriza.
mal-estar no local. Outro limite é o uso de armas, totalmen- A liberdade de associação envolve não somente o direito
te vedado, assim como de substâncias ilícitas (Ex: embora a de criar associações e de fazer parte delas, mas também o de
Marcha da Maconha tenha sido autorizada pelo Supremo não associar-se e o de deixar a associação, conforme artigo
Tribunal Federal, vedou-se que nela tal substância ilícita fosse 5º, XX, CF:
utilizada).
Artigo 5º, XX, CF. Ninguém poderá ser compelido a asso-
Liberdade de associação ciar-se ou a permanecer associado.
No que tange à liberdade de reunião, traz o artigo 5º,
XVII, CF:
- Direitos à privacidade e à personalidade
Artigo 5º, XVII, CF. É plena a liberdade de associação
Abrangência
para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar.
Prevê o artigo 5º, X, CF:
A liberdade de associação difere-se da de reunião por
sua perenidade, isto é, enquanto a liberdade de reunião é Artigo 5º, X, CF. São invioláveis a intimidade, a vida pri-
exercida de forma sazonal, eventual, a liberdade de associa- vada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito
ção implica na formação de um grupo organizado que se a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
mantém por um período de tempo considerável, dotado de violação.
estrutura e organização próprias.
Por exemplo, o PCC e o Comando vermelho são associa- O legislador opta por trazer correlacionados no mesmo
ções ilícitas e de caráter paramilitar, pois possuem armas e o dispositivo legal os direitos à privacidade e à personalidade.
ideal de realizar sua própria justiça paralelamente à estatal. Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimida-
O texto constitucional se estende na regulamentação da de, ao abordar a proteção da vida privada – que, em resumo,
liberdade de associação. é a privacidade da vida pessoal no âmbito do domicílio e de
O artigo 5º, XVIII, CF, preconiza: círculos de amigos –, Silva18 entende que “o segredo da vida
privada é condição de expansão da personalidade”, mas não
Artigo 5º, XVIII, CF. A criação de associações e, na forma caracteriza os direitos de personalidade em si.
da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo A união da intimidade e da vida privada forma a privaci-
vedada a interferência estatal em seu funcionamento. dade, sendo que a primeira se localiza em esfera mais estrita.
É possível ilustrar a vida social como se fosse um grande cír-
Neste sentido, associações são organizações resultantes culo no qual há um menor, o da vida privada, e dentro deste
da reunião legal entre duas ou mais pessoas, com ou sem um ainda mais restrito e impenetrável, o da intimidade. Com
personalidade jurídica, para a realização de um objetivo co- efeito, pela “Teoria das Esferas” (ou “Teoria dos Círculos Con-
mum; já cooperativas são uma forma específica de associa- cêntricos”), importada do direito alemão, quanto mais próxi-
ção, pois visam a obtenção de vantagens comuns em suas ma do indivíduo, maior a proteção a ser conferida à esfera (as
atividades econômicas. esferas são representadas pela intimidade, pela vida privada,
Ainda, tem-se o artigo 5º, XIX, CF: e pela publicidade).
“O direito à honra distancia-se levemente dos dois ante-
Artigo 5º, XIX, CF. As associações só poderão ser compul- riores, podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa tem
soriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por de si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela fazem os
decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em 18 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitu-
julgado. cional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

105
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

outros (honra objetiva), conferindo-lhe respeitabilidade no O reconhecimento do marco inicial e do marco final da
meio social. O direito à imagem também possui duas conota- personalidade jurídica pelo registro é direito individual, não
ções, podendo ser entendido em sentido objetivo, com rela- dependendo de condições financeiras. Evidente, seria absur-
ção à reprodução gráfica da pessoa, por meio de fotografias, do cobrar de uma pessoa sem condições a elaboração de
filmagens, desenhos, ou em sentido subjetivo, significando o documentos para que ela seja reconhecida como viva ou
conjunto de qualidades cultivadas pela pessoa e reconheci- morta, o que apenas incentivaria a indigência dos menos fa-
das como suas pelo grupo social”19. vorecidos.

Inviolabilidade de domicílio e sigilo de correspon- Direito à indenização e direito de resposta


dência Com vistas à proteção do direito à privacidade, do direito
Correlatos ao direito à privacidade, aparecem a inviola- à personalidade e do direito à imagem, asseguram-se dois
bilidade do domicílio e o sigilo das correspondências e co- instrumentos, o direito à indenização e o direito de resposta,
municações. conforme as necessidades do caso concreto.
Neste sentido, o artigo 5º, XI, CF prevê: Com efeito, prevê o artigo 5º, V, CF:

Artigo 5º, XI, CF. A casa é asilo inviolável do indivíduo, Artigo 5º, V, CF. É assegurado o direito de resposta, pro-
ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do mo- porcional ao agravo, além da indenização por dano material,
rador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para moral ou à imagem.
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
“A manifestação do pensamento é livre e garantida em
O domicílio é inviolável, razão pela qual ninguém pode nível constitucional, não aludindo a censura prévia em diver-
nele entrar sem o consentimento do morador, a não ser EM sões e espetáculos públicos. Os abusos porventura ocorridos
QUALQUER HORÁRIO no caso de flagrante delito (o morador no exercício indevido da manifestação do pensamento são
foi flagrado na prática de crime e fugiu para seu domicílio) passíveis de exame e apreciação pelo Poder Judiciário com a
ou desastre (incêndio, enchente, terremoto...) ou para pres- consequente responsabilidade civil e penal de seus autores,
tar socorro (morador teve ataque do coração, está sufocado, decorrentes inclusive de publicações injuriosas na imprensa,
desmaiado...), e SOMENTE DURANTE O DIA por determina- que deve exercer vigilância e controle da matéria que divul-
ção judicial. ga”20.
Quanto ao sigilo de correspondência e das comunica- O direito de resposta é o direito que uma pessoa tem
ções, prevê o artigo 5º, XII, CF: de se defender de críticas públicas no mesmo meio em
que foram publicadas garantida exatamente a mesma
Artigo 5º, XII, CF. É inviolável o sigilo da correspondência repercussão. Mesmo quando for garantido o direito de
e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações resposta não é possível reverter plenamente os danos
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipó- causados pela manifestação ilícita de pensamento, razão
teses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação pela qual a pessoa inda fará jus à indenização.
criminal ou instrução processual penal. A manifestação ilícita do pensamento geralmente causa
um dano, ou seja, um prejuízo sofrido pelo agente, que pode
O sigilo de correspondência e das comunicações está ser individual ou coletivo, moral ou material, econômico e
melhor regulamentado na Lei nº 9.296, de 1996. não econômico.
Dano material é aquele que atinge o patrimônio (mate-
Personalidade jurídica e gratuidade de registro rial ou imaterial) da vítima, podendo ser mensurado financei-
Quando se fala em reconhecimento como pessoa peran- ramente e indenizado.
te a lei desdobra-se uma esfera bastante específica dos direi- “Dano moral direto consiste na lesão a um interesse que
tos de personalidade, consistente na personalidade jurídica. visa a satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapatrimo-
Basicamente, consiste no direito de ser reconhecido como nial contido nos direitos da personalidade (como a vida, a
pessoa perante a lei. integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro, a inti-
Para ser visto como pessoa perante a lei mostra-se ne- midade, os sentimentos afetivos, a própria imagem) ou nos
cessário o registro. Por ser instrumento que serve como pres- atributos da pessoa (como o nome, a capacidade, o estado
suposto ao exercício de direitos fundamentais, assegura-se de família)”21.
a sua gratuidade aos que não tiverem condição de com ele Já o dano à imagem é delimitado no artigo 20 do Có-
arcar. digo Civil:
Aborda o artigo 5º, LXXVI, CF:
Artigo 20, CC. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à
Artigo 5º, LXXVI, CF. São gratuitos para os reconhecida- administração da justiça ou à manutenção da ordem pública,
mente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nascimen- a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publi-
to; b) a certidão de óbito. 20 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucio-
nal. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
19 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de di- 21 ZANNONI, Eduardo. El daño en la responsabili-
reito constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. dad civil. Buenos Aires: Astrea, 1982.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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cação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa A propriedade, segundo Silva23, “[...] não pode mais ser
poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da considerada como um direito individual nem como institui-
indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ção do direito privado. [...] embora prevista entre os direitos
ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. individuais, ela não mais poderá ser considerada puro direi-
to individual, relativizando-se seu conceito e significado, es-
- Direito à segurança pecialmente porque os princípios da ordem econômica são
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a prote- preordenados à vista da realização de seu fim: assegurar a
ção do direito à segurança. Na qualidade de direito individual todos existência digna, conforme os ditames da justiça social.
liga-se à segurança do indivíduo como um todo, desde sua Se é assim, então a propriedade privada, que, ademais, tem
integridade física e mental, até a própria segurança jurídica. que atender a sua função social, fica vinculada à consecução
No sentido aqui estudado, o direito à segurança pessoal daquele princípio”.
é o direito de viver sem medo, protegido pela solidariedade Com efeito, a proteção da propriedade privada está li-
e liberto de agressões, logo, é uma maneira de garantir o mitada ao atendimento de sua função social, sendo este o
direito à vida. requisito que a correlaciona com a proteção da dignidade da
Nesta linha, para Silva22, “efetivamente, esse conjunto pessoa humana. A propriedade de bens e valores em geral é
de direitos aparelha situações, proibições, limitações e pro- um direito assegurado na Constituição Federal e, como todos
cedimentos destinados a assegurar o exercício e o gozo de os outros, se encontra limitado pelos demais princípios con-
algum direito individual fundamental (intimidade, liberdade forme melhor se atenda à dignidade do ser humano.
pessoal ou a incolumidade física ou moral)”. A Constituição Federal delimita o que se entende por
Especificamente no que tange à segurança jurídica, tem- função social:
se o disposto no artigo 5º, XXXVI, CF:
Art. 182, caput, CF. A política de desenvolvimento urbano,
Artigo 5º, XXXVI, CF. A lei não prejudicará o direito ad- executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes
quirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desen-
volvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-es-
Pelo inciso restam estabelecidos limites à retroatividade tar de seus habitantes.
da lei.
Artigo 182, § 1º, CF. O plano diretor, aprovado pela Câma-
Define o artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do
ra Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil
Direito Brasileiro:
habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvi-
mento e de expansão urbana.
Artigo 6º, LINDB. A Lei em vigor terá efeito imediato e
geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e
Artigo 182, § 2º, CF. A propriedade urbana cumpre sua
a coisa julgada.
função social quando atende às exigências fundamentais de
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado se-
ordenação da cidade expressas no plano diretor24.
gundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o Artigo 186, CF. A função social é cumprida quando a pro-
seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles priedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e
cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requi-
pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. sitos:
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão I - aproveitamento racional e adequado;
judicial de que já não caiba recurso. II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis
e preservação do meio ambiente;
- Direito à propriedade III - observância das disposições que regulam as relações
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a proteção de trabalho;
do direito à propriedade, tanto material quanto intelectual, IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietá-
delimitada em alguns incisos que o seguem. rios e dos trabalhadores.

Função social da propriedade material Desapropriação


O artigo 5º, XXII, CF estabelece: No caso de desrespeito à função social da propriedade
cabe até mesmo desapropriação do bem, de modo que po-
Artigo 5º, XXII, CF. É garantido o direito de propriedade. de-se depreender do texto constitucional duas possibilida-
des de desapropriação: por desrespeito à função social e por
A seguir, no inciso XXIII do artigo 5º, CF estabelece o necessidade ou utilidade pública.
principal fator limitador deste direito: 23 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitu-
cional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
Artigo 5º, XXIII, CF. A propriedade atenderá a sua função 24 Instrumento básico de um processo de planejamen-
social. to municipal para a implantação da política de desenvolvimen-
22 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitu- to urbano, norteando a ação dos agentes públicos e privados
cional positivo... Op. Cit., p. 437. (Lei n. 10.257/2001 - Estatuto da cidade).

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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A Constituição Federal prevê a possibilidade de desapro- Artigo 184, §2º, CF. O decreto que declarar o imóvel como
priação por desatendimento à função social: de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a
União a propor a ação de desapropriação.
Artigo 182, § 4º, CF. É facultado ao Poder Público muni-
cipal, mediante lei específica para área incluída no plano di- Artigo 184, §3º, CF. Cabe à lei complementar estabelecer
retor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o
urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que processo judicial de desapropriação.
promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessiva-
mente, de: A desapropriação por utilidade ou necessidade pública
I - parcelamento ou edificação compulsórios; deve se dar mediante prévia e justa indenização em dinheiro.
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urba- O Decreto-lei nº 3.365/1941 a disciplina, delimitando o proce-
na progressivo no tempo; dimento e conceituando utilidade pública, em seu artigo 5º:
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da
dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Artigo 5º, Decreto-lei n. 3.365/1941. Consideram-se casos
Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas de utilidade pública:
anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indeni- a) a segurança nacional;
zação e os juros legais25. b) a defesa do Estado;
c) o socorro público em caso de calamidade;
Artigo 184, CF. Compete à União desapropriar por inte- d) a salubridade pública;
resse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que e) a criação e melhoramento de centros de população, seu
não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e abastecimento regular de meios de subsistência;
justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláu- f) o aproveitamento industrial das minas e das jazidas mi-
sula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até nerais, das águas e da energia hidráulica;
vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja g) a assistência pública, as obras de higiene e decoração,
utilização será definida em lei26. casas de saúde, clínicas, estações de clima e fontes medicinais;
h) a exploração ou a conservação dos serviços públicos;
i) a abertura, conservação e melhoramento de vias ou lo-
Artigo 184, § 1º, CF. As benfeitorias úteis e necessárias se-
gradouros públicos; a execução de planos de urbanização; o
rão indenizadas em dinheiro.
parcelamento do solo, com ou sem edificação, para sua melhor
utilização econômica, higiênica ou estética; a construção ou
No que tange à desapropriação por necessidade ou uti-
ampliação de distritos industriais;
lidade pública, prevê o artigo 5º, XXIV, CF:
j) o funcionamento dos meios de transporte coletivo;
k) a preservação e conservação dos monumentos históricos
Artigo 5º, XXIV, CF. A lei estabelecerá o procedimento para
e artísticos, isolados ou integrados em conjuntos urbanos ou
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por rurais, bem como as medidas necessárias a manter-lhes e real-
interesse social, mediante justa e prévia indenização em di- çar-lhes os aspectos mais valiosos ou característicos e, ainda, a
nheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição. proteção de paisagens e locais particularmente dotados pela
natureza;
Ainda, prevê o artigo 182, § 3º, CF: l) a preservação e a conservação adequada de arquivos,
documentos e outros bens moveis de valor histórico ou artístico;
Artigo 182, §3º, CF. As desapropriações de imóveis urba- m) a construção de edifícios públicos, monumentos come-
nos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro. morativos e cemitérios;
n) a criação de estádios, aeródromos ou campos de pouso
Tem-se, ainda o artigo 184, §§ 2º e 3º, CF: para aeronaves;
o) a reedição ou divulgação de obra ou invento de nature-
25 Nota-se que antes de se promover a desapropria- za científica, artística ou literária;
ção de imóvel urbano por desatendimento à função social é p) os demais casos previstos por leis especiais.
necessário tomar duas providências, sucessivas: primeiro, o
parcelamento ou edificação compulsórios; depois, o estabe- Um grande problema que faz com que processos que
lecimento de imposto sobre a propriedade predial e territorial tenham a desapropriação por objeto se estendam é a indevi-
urbana progressivo no tempo. Se ambas medidas restarem da valorização do imóvel pelo Poder Público, que geralmente
ineficazes, parte-se para a desapropriação por desatendimen- pretende pagar valor muito abaixo do devido, necessitando o
to à função social. Judiciário intervir em prol da correta avaliação.
26 A desapropriação em decorrência do desatendimen- Outra questão reside na chamada tredestinação, pela
to da função social é indenizada, mas não da mesma maneira qual há a destinação de um bem expropriado (desapropria-
que a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ção) a finalidade diversa da que se planejou inicialmente. A
já que na primeira há violação do ordenamento constitucional tredestinação pode ser lícita ou ilícita. Será ilícita quando re-
pelo proprietário, mas na segunda não. Por isso, indeniza-se sultante de desvio do propósito original; e será lícita quando
em títulos da dívida agrária, que na prática não são tão valori- a Administração Pública dê ao bem finalidade diversa, porém
zados quanto o dinheiro. preservando a razão do interesse público.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Política agrária e reforma agrária § 1º Incluem-se no planejamento agrícola as atividades


Enquanto desdobramento do direito à propriedade imó- agroindustriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais.
vel e da função social desta propriedade, tem-se ainda o ar- § 2º Serão compatibilizadas as ações de política agrícola
tigo 5º, XXVI, CF: e de reforma agrária.

Artigo 5º, XXVI, CF. A pequena propriedade rural, assim As terras devolutas e públicas serão destinadas confor-
definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será me a política agrícola e o plano nacional de reforma agrária
objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de (artigo 188, caput, CF). Neste sentido, “a alienação ou a con-
sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de fi- cessão, a qualquer título, de terras públicas com área superior
nanciar o seu desenvolvimento. a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica,
ainda que por interposta pessoa, dependerá de prévia apro-
Assim, se uma pessoa é mais humilde e tem uma peque- vação do Congresso Nacional”, salvo no caso de alienações
na propriedade será assegurado que permaneça com ela e a ou concessões de terras públicas para fins de reforma agrária
torne mais produtiva. (artigo 188, §§ 1º e 2º, CF).
A preservação da pequena propriedade em detrimento
Os que forem favorecidos pela reforma agrária (homens,
dos grandes latifúndios improdutivos é uma das diretrizes-
mulheres, ambos, qualquer estado civil) não poderão nego-
guias da regulamentação da política agrária brasileira, que
ciar seus títulos pelo prazo de 10 anos (artigo 189, CF).
tem como principal escopo a realização da reforma agrária.
Parte da questão financeira atinente à reforma agrária se Consta, ainda, que “a lei regulará e limitará a aquisição
encontra prevista no artigo 184, §§ 4º e 5º, CF: ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa física ou
jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão
Artigo 184, §4º, CF. O orçamento fixará anualmente o vo- de autorização do Congresso Nacional” (artigo 190, CF).
lume total de títulos da dívida agrária, assim como o montante
de recursos para atender ao programa de reforma agrária no Usucapião
exercício. Usucapião é o modo originário de aquisição da proprie-
dade que decorre da posse prolongada por um longo tem-
Artigo 184, §5º, CF. São isentas de impostos federais, es- po, preenchidos outros requisitos legais. Em outras palavras,
taduais e municipais as operações de transferência de imóveis usucapião é uma situação em que alguém tem a posse de
desapropriados para fins de reforma agrária. um bem por um tempo longo, sem ser incomodado, a ponto
de se tornar proprietário.
Como a finalidade da reforma agrária é transformar ter- A Constituição regulamenta o acesso à propriedade me-
ras improdutivas e grandes propriedades em atinentes à fun- diante posse prolongada no tempo – usucapião – em casos
ção social, alguns imóveis rurais não podem ser abrangidos específicos, denominados usucapião especial urbana e usu-
pela reforma agrária: capião especial rural.
O artigo 183 da Constituição regulamenta a usucapião
Art. 185, CF. São insuscetíveis de desapropriação para fins especial urbana:
de reforma agrária:
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida Art. 183, CF. Aquele que possuir como sua área urbana de
em lei, desde que seu proprietário não possua outra; até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos,
II - a propriedade produtiva. ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua mo-
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à pro- radia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que
priedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
requisitos relativos a sua função social.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão con-
feridos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independente-
Sobre as diretrizes da política agrícola, prevê o artigo
187: mente do estado civil.
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possui-
Art. 187, CF. A política agrícola será planejada e execu- dor mais de uma vez.
tada na forma da lei, com a participação efetiva do setor de § 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usu-
produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem capião.
como dos setores de comercialização, de armazenamento e de
transportes, levando em conta, especialmente: Além dos requisitos gerais (animus e posse que seja pú-
I - os instrumentos creditícios e fiscais; blica, pacífica, ininterrupta e contínua), são exigidos os se-
II - os preços compatíveis com os custos de produção e a guintes requisitos específicos:
garantia de comercialização; a) Área urbana – há controvérsia. Pela teoria da localiza-
III - o incentivo à pesquisa e à tecnologia; ção, área urbana é a que está dentro do perímetro urbano.
IV - a assistência técnica e extensão rural; Pela teoria da destinação, mais importante que a localização
V - o seguro agrícola; é a sua utilização. Ex.: se tem fins agrícolas/pecuários e estiver
VI - o cooperativismo; dentro do perímetro urbana, o imóvel é rural. Para fins de
VII - a eletrificação rural e irrigação; usucapião a maioria diz que prevalece a teoria da localização.
VIII - a habitação para o trabalhador rural.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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b) Imóveis até 250 m² – Pode dentro de uma posse maior Artigo 5º, XXV, CF. No caso de iminente perigo público, a
isolar área de 250m² e ingressar com a ação? A jurisprudên- autoridade competente poderá usar de propriedade particu-
cia é pacífica que a posse desde o início deve ficar restrita a lar, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver
250m². Predomina também que o terreno deve ter 250m², dano.
não a área construída (a área de um sobrado, por exemplo,
pode ser maior que a de um terreno). Se uma pessoa tem uma propriedade, numa situação de
c) 5 anos – houve controvérsia porque a Constituição Fe- perigo, o poder público pode se utilizar dela (ex: montar uma
deral de 1988 que criou esta modalidade. E se antes de 05 base para capturar um fugitivo), pois o interesse da coletivi-
de outubro de 1988 uma pessoa tivesse há 4 anos dentro dade é maior que o do indivíduo proprietário.
do limite da usucapião urbana? Predominou que só corria
o prazo a partir da criação do instituto, não só porque antes Direito sucessório
não existia e o prazo não podia correr, como também não se O direito sucessório aparece como uma faceta do direito
poderia prejudicar o proprietário. à propriedade, encontrando disciplina constitucional no arti-
d) Moradia sua ou de sua família – não basta ter posse, go 5º, XXX e XXXI, CF:
é preciso que a pessoa more, sozinha ou com sua família, ao
longo de todo o prazo (não só no início ou no final). Logo, Artigo 5º, XXX, CF. É garantido o direito de herança;
não cabe acessio temporis por cessão da posse.
e) Nenhum outro imóvel, nem urbano, nem rural, no Bra- Artigo 5º, XXXI, CF. A sucessão de bens de estrangeiros
sil. O usucapiente não prova isso, apenas alega. Se alguém situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício
não quiser a usucapião, prova o contrário. Este requisito é do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja
verificado no momento em que completa 5 anos. mais favorável a lei pessoal do de cujus.
Em relação à previsão da usucapião especial rural, desta-
ca-se o artigo 191, CF: O direito à herança envolve o direito de receber – seja
devido a uma previsão legal, seja por testamento – bens de
uma pessoa que faleceu. Assim, o patrimônio passa para ou-
Art. 191, CF. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel
tra pessoa, conforme a vontade do falecido e/ou a lei de-
rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterrup-
termine. A Constituição estabelece uma disciplina específica
tos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior
para bens de estrangeiros situados no Brasil, assegurando
a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho
que eles sejam repassados ao cônjuge e filhos brasileiros nos
ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a
termos da lei mais benéfica (do Brasil ou do país estrangeiro).
propriedade.
Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos
Direito do consumidor
por usucapião.
Nos termos do artigo 5º, XXXII, CF:
Além dos requisitos gerais (animus e posse que seja pú- Artigo 5º, XXXII, CF. O Estado promoverá, na forma da lei,
blica, pacífica, ininterrupta e contínua), são exigidos os se- a defesa do consumidor.
guintes requisitos específicos:
a) Imóvel rural O direito do consumidor liga-se ao direito à propriedade
b) 50 hectares, no máximo – há também legislação que a partir do momento em que garante à pessoa que irá adqui-
estabelece um limite mínimo, o módulo rural (Estatuto da rir bens e serviços que estes sejam entregues e prestados da
Terra). É possível usucapir áreas menores que o módulo ru- forma adequada, impedindo que o fornecedor se enrique-
ral? Tem prevalecido o entendimento de que pode, mas é ça ilicitamente, se aproveite de maneira indevida da posição
assunto muito controverso. menos favorável e de vulnerabilidade técnica do consumidor.
c) 5 anos – pode ser considerado o prazo antes 05 de O Direito do Consumidor pode ser considerado um ramo
outubro de 1988 (Constituição Federal)? Depende. Se a área recente do Direito. No Brasil, a legislação que o regulamen-
é de até 25 hectares sim, pois já havia tal possibilidade antes tou foi promulgada nos anos 90, qual seja a Lei nº 8.078, de
da CF/88. Se área for maior (entre 25 ha e 50 ha) não. 11 de setembro de 1990, conforme determinado pela Cons-
d) Moradia sua ou de sua família – a pessoa deve morar tituição Federal de 1988, que também estabeleceu no artigo
na área rural. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias:
e) Nenhum outro imóvel.
f) O usucapiente, com seu trabalho, deve ter tornado a Artigo 48, ADCT. O Congresso Nacional, dentro de cento e
área produtiva. Por isso, é chamado de usucapião “pro labo- vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código
re”. Dependerá do caso concreto. de defesa do consumidor.

Uso temporário A elaboração do Código de Defesa do Consumidor foi


No mais, estabelece-se uma terceira limitação ao direito um grande passo para a proteção da pessoa nas relações
de propriedade que não possui o caráter definitivo da desa- de consumo que estabeleça, respeitando-se a condição de
propriação, mas é temporária, conforme artigo 5º, XXV, CF: hipossuficiente técnico daquele que adquire um bem ou faz
uso de determinado serviço, enquanto consumidor.

110
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Propriedade intelectual o plágio e a contrafação. Enquanto que o primeiro caracteri-


Além da propriedade material, o constituinte protege za-se pela difusão de obra criada ou produzida por terceiros,
também a propriedade intelectual, notadamente no artigo como se fosse própria, a segunda configura a reprodução de
5º, XXVII, XXVIII e XXIX, CF: obra alheia sem a necessária permissão do autor”27.

Artigo 5º, XXVII, CF. Aos autores pertence o direito exclusi- - Direitos de acesso à justiça
vo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, A formação de um conceito sistemático de acesso à jus-
transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; tiça se dá com a teoria de Cappelletti e Garth, que apontaram
três ondas de acesso, isto é, três posicionamentos básicos
Artigo 5º, XXVIII, CF. São assegurados, nos termos da lei: para a realização efetiva de tal acesso. Tais ondas foram per-
a) a proteção às participações individuais em obras cebidas paulatinamente com a evolução do Direito moderno
coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, in- conforme implementadas as bases da onda anterior, quer
clusive nas atividades desportivas; dizer, ficou evidente aos autores a emergência de uma nova
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econô- onda quando superada a afirmação das premissas da onda
mico das obras que criarem ou de que participarem aos cria- anterior, restando parcialmente implementada (visto que até
dores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais hoje enfrentam-se obstáculos ao pleno atendimento em to-
e associativas; das as ondas).
Primeiro, Cappelletti e Garth28 entendem que surgiu uma
Artigo 5º, XXIX, CF. A lei assegurará aos autores de inven- onda de concessão de assistência judiciária aos pobres, par-
tos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem tindo-se da prestação sem interesse de remuneração por
como proteção às criações industriais, à propriedade das mar- parte dos advogados e, ao final, levando à criação de um
cas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo aparato estrutural para a prestação da assistência pelo Es-
em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e tado.
econômico do País. Em segundo lugar, no entender de Cappelletti e Garth29,
veio a onda de superação do problema na representação dos
Assim, a propriedade possui uma vertente intelectual interesses difusos, saindo da concepção tradicional de pro-
que deve ser respeitada, tanto sob o aspecto moral quanto cesso como algo restrito a apenas duas partes individualiza-
sob o patrimonial. No âmbito infraconstitucional brasileiro, das e ocasionando o surgimento de novas instituições, como
a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, regulamenta os o Ministério Público.
direitos autorais, isto é, “os direitos de autor e os que lhes Finalmente, Cappelletti e Garth30 apontam uma terceira
são conexos”. onda consistente no surgimento de uma concepção mais
O artigo 7° do referido diploma considera como obras ampla de acesso à justiça, considerando o conjunto de ins-
intelectuais que merecem a proteção do direito do autor os tituições, mecanismos, pessoas e procedimentos utilizados:
textos de obras de natureza literária, artística ou científica; as “[...] esse enfoque encoraja a exploração de uma ampla varie-
conferências, sermões e obras semelhantes; as obras cinema- dade de reformas, incluindo alterações nas formas de proce-
tográficas e televisivas; as composições musicais; fotografias; dimento, mudanças na estrutura dos tribunais ou a criação de
ilustrações; programas de computador; coletâneas e enciclo- novos tribunais, o uso de pessoas leigas ou paraprofissionais,
pédias; entre outras. tanto como juízes quanto como defensores, modificações no
Os direitos morais do autor, que são imprescritíveis, ina- direito substantivo destinadas a evitar litígios ou facilitar sua
lienáveis e irrenunciáveis, envolvem, basicamente, o direito solução e a utilização de mecanismos privados ou informais
de reivindicar a autoria da obra, ter seu nome divulgado na de solução dos litígios. Esse enfoque, em suma, não receia
utilização desta, assegurar a integridade desta ou modificá-la inovações radicais e compreensivas, que vão muito além da
e retirá-la de circulação se esta passar a afrontar sua honra esfera de representação judicial”.
ou imagem. Assim, dentro da noção de acesso à justiça, diversos as-
Já os direitos patrimoniais do autor, nos termos dos arti- pectos podem ser destacados: de um lado, deve criar-se o
gos 41 a 44 da Lei nº 9.610/98, prescrevem em 70 anos con- Poder Judiciário e se disponibilizar meios para que todas as
tados do primeiro ano seguinte à sua morte ou do falecimen- pessoas possam buscá-lo; de outro lado, não basta garantir
to do último coautor, ou contados do primeiro ano seguinte meios de acesso se estes forem insuficientes, já que para que
à divulgação da obra se esta for de natureza audiovisual ou exista o verdadeiro acesso à justiça é necessário que se apli-
fotográfica. Estes, por sua vez, abrangem, basicamente, o di- que o direito material de maneira justa e célere.
reito de dispor sobre a reprodução, edição, adaptação, tra- 27 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fun-
dução, utilização, inclusão em bases de dados ou qualquer damentais: teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da
outra modalidade de utilização; sendo que estas modalida- Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e ju-
des de utilização podem se dar a título oneroso ou gratuito. risprudência. São Paulo: Atlas, 1997.
“Os direitos autorais, também conhecidos como co- 28 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à
pyright (direito de cópia), são considerados bens móveis, po- Justiça. Tradução Ellen Grace Northfleet. Porto Alegre: Sér-
dendo ser alienados, doados, cedidos ou locados. Ressalte-se gio Antônio Fabris Editor, 1998, p. 31-32.
que a permissão a terceiros de utilização de criações artísti- 29 Ibid., p. 49-52
cas é direito do autor. [...] A proteção constitucional abrange 30 Ibid., p. 67-73

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Relacionando-se à primeira onda de acesso à justiça, Tribunal do júri


prevê a Constituição em seu artigo 5º, XXXV: A respeito da competência do Tribunal do júri, prevê o
artigo 5º, XXXVIII, CF:
Artigo 5º, XXXV, CF. A lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Artigo 5º, XXXVIII. É reconhecida a instituição do júri, com
a organização que lhe der a lei, assegurados:
O princípio da inafastabilidade da jurisdição é o princí- a) a plenitude de defesa;
pio de Direito Processual Público subjetivo, também cunhado b) o sigilo das votações;
como Princípio da Ação, em que a Constituição garante a c) a soberania dos veredictos;
necessária tutela estatal aos conflitos ocorrentes na vida em d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos
sociedade. Sempre que uma controvérsia for levada ao Poder contra a vida.
Judiciário, preenchidos os requisitos de admissibilidade, ela
será resolvida, independentemente de haver ou não previsão O Tribunal do Júri é formado por pessoas do povo, que
específica a respeito na legislação. julgam os seus pares. Entende-se ser direito fundamental o
Também se liga à primeira onda de acesso à justiça, no de ser julgado por seus iguais, membros da sociedade e não
que tange à abertura do Judiciário mesmo aos menos favo- magistrados, no caso de determinados crimes que por sua
recidos economicamente, o artigo 5º, LXXIV, CF: natureza possuem fortes fatores de influência emocional.
Plenitude da defesa envolve tanto a autodefesa quanto a
Artigo 5º, LXXIV, CF. O Estado prestará assistência jurí- defesa técnica e deve ser mais ampla que a denominada am-
dica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência pla defesa assegurada em todos os procedimentos judiciais
de recursos. e administrativos.
Sigilo das votações envolve a realização de votações se-
O constituinte, ciente de que não basta garantir o acesso cretas, preservando a liberdade de voto dos que compõem o
ao Poder Judiciário, sendo também necessária a efetividade conselho que irá julgar o ato praticado.
processual, incluiu pela Emenda Constitucional nº 45/2004 o A decisão tomada pelo conselho é soberana. Contudo, a
inciso LXXVIII ao artigo 5º da Constituição: soberania dos veredictos veda a alteração das decisões dos
jurados, não a recorribilidade dos julgamentos do Tribunal do
Artigo 5º, LXXVIII, CF. A todos, no âmbito judicial e admi- Júri para que seja procedido novo julgamento uma vez cas-
nistrativo, são assegurados a razoável duração do processo sada a decisão recorrida, haja vista preservar o ordenamento
e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. jurídico pelo princípio do duplo grau de jurisdição.
  Por fim, a competência para julgamento é dos crimes do-
Com o tempo se percebeu que não bastava garantir o losos (em que há intenção ou ao menos se assume o risco
acesso à justiça se este não fosse célere e eficaz. Não signi- de produção do resultado) contra a vida, que são: homicídio,
fica que se deve acelerar o processo em detrimento de di- aborto, induzimento, instigação ou auxílio a suicídio e infan-
reitos e garantias assegurados em lei, mas sim que é preciso ticídio. Sua competência não é absoluta e é mitigada, por
proporcionar um trâmite que dure nem mais e nem menos vezes, pela própria Constituição (artigos 29, X / 102, I, b) e c)
que o necessário para a efetiva realização da justiça no caso / 105, I, a) / 108, I).
concreto.
Anterioridade e irretroatividade da lei
- Direitos constitucionais-penais O artigo 5º, XXXIX, CF preconiza:

Juiz natural e vedação ao juízo ou tribunal de exceção Artigo5º, XXXIX, CF. Não há crime sem lei anterior que o
Quando o artigo 5º, LIII, CF menciona: defina, nem pena sem prévia cominação legal.

Artigo 5º, LIII, CF. Ninguém será processado nem senten- É a consagração da regra do nullum crimen nulla poena
ciado senão pela autoridade competente”, consolida o prin- sine praevia lege. Simultaneamente, se assegura o princípio
cípio do juiz natural que assegura a toda pessoa o direito de da legalidade (ou reserva legal), na medida em que não há
conhecer previamente daquele que a julgará no processo em crime sem lei que o defina, nem pena sem prévia cominação
que seja parte, revestindo tal juízo em jurisdição competente legal, e o princípio da anterioridade, posto que não há crime
para a matéria específica do caso antes mesmo do fato ocorrer. sem lei anterior que o defina.
Ainda no que tange ao princípio da anterioridade, tem-
Por sua vez, um desdobramento deste princípio encon- se o artigo 5º, XL, CF:
tra-se no artigo 5º, XXXVII, CF:
Artigo 5º, XL, CF. A lei penal não retroagirá, salvo para
Artigo 5º, XXXVII, CF. Não haverá juízo ou tribunal de ex- beneficiar o réu.
ceção.
O dispositivo consolida outra faceta do princípio da an-
Juízo ou Tribunal de Exceção é aquele especialmente terioridade: se, por um lado, é necessário que a lei tenha de-
criado para uma situação pretérita, bem como não reconhe- finido um fato como crime e dado certo tratamento penal a
cido como legítimo pela Constituição do país. este fato (ex.: pena de detenção ou reclusão, tempo de pena,

112
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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etc.) antes que ele ocorra; por outro lado, se vier uma lei pos- Ainda, prevê o artigo 5º, XLIV, CF:
terior ao fato que o exclua do rol de crimes ou que confira
tratamento mais benéfico (diminuindo a pena ou alterando Artigo 5º, XLIV, CF. Constitui crime inafiançável e im-
o regime de cumprimento, notadamente), ela será aplicada. prescritível a ação de grupos armados, civis ou militares,
Restam consagrados tanto o princípio da irretroatividade da contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
lei penal in pejus quanto o da retroatividade da lei penal mais
benéfica. Por fim, dispõe a CF sobre a possibilidade de extradição
de brasileiro naturalizado caso esteja envolvido com tráfico
Menções específicas a crimes ilícito de entorpecentes:
O artigo 5º, XLI, CF estabelece:
Artigo 5º, LI, CF. Nenhum brasileiro será extraditado, salvo
Artigo 5º, XLI, CF. A lei punirá qualquer discriminação o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da
atentatória dos direitos e liberdades fundamentais. naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.
Sendo assim confere fórmula genérica que remete ao
princípio da igualdade numa concepção ampla, razão pela Personalidade da pena
qual práticas discriminatórias não podem ser aceitas. No en- A personalidade da pena encontra respaldo no artigo 5º,
tanto, o constituinte entendeu por bem prever tratamento XLV, CF:
específico a certas práticas criminosas.
Neste sentido, prevê o artigo 5º, XLII, CF: Artigo 5º, XLV, CF. Nenhuma pena passará da pessoa do
condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a de-
Artigo 5º, XLII, CF. A prática do racismo constitui crime cretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, esten-
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos didas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do
termos da lei. valor do patrimônio transferido.

A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 define os crimes O princípio da personalidade encerra o comando de o
resultantes de preconceito de raça ou de cor. Contra eles não crime ser imputado somente ao seu autor, que é, por seu
cabe fiança (pagamento de valor para deixar a prisão pro- turno, a única pessoa passível de sofrer a sanção. Seria fla-
visória) e não se aplica o instituto da prescrição (perda de grante a injustiça se fosse possível alguém responder pelos
pretensão de se processar/punir uma pessoa pelo decurso atos ilícitos de outrem: caso contrário, a reação, ao invés de
do tempo). restringir-se ao malfeitor, alcançaria inocentes. Contudo, se
Não obstante, preconiza ao artigo 5º, XLIII, CF: uma pessoa deixou patrimônio e faleceu, este patrimônio
responderá pelas repercussões financeiras do ilícito.
Artigo 5º, XLIII, CF. A lei considerará crimes inafiançáveis
e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o Individualização da pena
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo A individualização da pena tem por finalidade concre-
e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo tizar o princípio de que a responsabilização penal é sempre
os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se pessoal, devendo assim ser aplicada conforme as peculiari-
omitirem. dades do agente.
A primeira menção à individualização da pena se encon-
Anistia, graça e indulto diferenciam-se nos seguintes ter- tra no artigo 5º, XLVI, CF:
mos: a anistia exclui o crime, rescinde a condenação e extin-
gue totalmente a punibilidade, a graça e o indulto apenas Artigo 5º, XLVI, CF. A lei regulará a individualização da
extinguem a punibilidade, podendo ser parciais; a anistia, em pena e adotará, entre outras, as seguintes:
regra, atinge crimes políticos, a graça e o indulto, crimes co- a) privação ou restrição da liberdade;
muns; a anistia pode ser concedida pelo Poder Legislativo, a b) perda de bens;
graça e o indulto são de competência exclusiva do Presidente c) multa;
da República; a anistia pode ser concedida antes da sentença d) prestação social alternativa;
final ou depois da condenação irrecorrível, a graça e o indulto e) suspensão ou interdição de direitos.
pressupõem o trânsito em julgado da sentença condenató-
ria; graça e o indulto apenas extinguem a punibilidade, per- Pelo princípio da individualização da pena, a pena deve
sistindo os efeitos do crime, apagados na anistia; graça é em ser individualizada nos planos legislativo, judiciário e execu-
regra individual e solicitada, enquanto o indulto é coletivo e tório, evitando-se a padronização a sanção penal. A indivi-
espontâneo. dualização da pena significa adaptar a pena ao condenado,
Não cabe graça, anistia ou indulto (pode-se considerar consideradas as características do agente e do delito.
que o artigo o abrange, pela doutrina majoritária) contra cri- A pena privativa de liberdade é aquela que restringe,
mes de tortura, tráfico, terrorismo (TTT) e hediondos (previs- com maior ou menor intensidade, a liberdade do condena-
tos na Lei nº 8.072 de 25 de julho de 1990). Além disso, são do, consistente em permanecer em algum estabelecimento
crimes que não aceitam fiança. prisional, por um determinado tempo.

113
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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A pena de multa ou patrimonial opera uma diminuição Código Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.001/1969), que prevê
do patrimônio do indivíduo delituoso. a pena de morte a ser executada por fuzilamento nos casos
A prestação social alternativa corresponde às penas res- tipificados em seu Livro II, que aborda os crimes militares em
tritivas de direitos, autônomas e substitutivas das penas pri- tempo de guerra.
vativas de liberdade, estabelecidas no artigo 44 do Código Por sua vez, estão absolutamente vedadas em quaisquer
Penal. circunstâncias as penas de caráter perpétuo, de trabalhos for-
Por seu turno, a individualização da pena deve também çados, de banimento e cruéis.
se fazer presente na fase de sua execução, conforme se de- No que tange aos trabalhos forçados, vale destacar que
preende do artigo 5º, XLVIII, CF: o trabalho obrigatório não é considerado um tratamento
contrário à dignidade do recluso, embora o trabalho força-
Artigo 5º, XLVIII, CF. A pena será cumprida em estabele- do o seja. O trabalho é obrigatório, dentro das condições do
cimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a apenado, não podendo ser cruel ou menosprezar a capaci-
idade e o sexo do apenado. dade física e intelectual do condenado; como o trabalho não
existe independente da educação, cabe incentivar o aperfei-
A distinção do estabelecimento conforme a natureza do çoamento pessoal; até mesmo porque o trabalho deve se
delito visa impedir que a prisão se torne uma faculdade do aproximar da realidade do mundo externo, será remunerado;
crime. Infelizmente, o Estado não possui aparato suficiente além disso, condições de dignidade e segurança do trabalha-
para cumprir tal diretiva, diferenciando, no máximo, o nível dor, como descanso semanal e equipamentos de proteção,
de segurança das prisões. Quanto à idade, destacam-se as deverão ser respeitados.
Fundações Casas, para cumprimento de medida por meno-
res infratores. Quanto ao sexo, prisões costumam ser exclusi- Respeito à integridade do preso
vamente para homens ou para mulheres. Prevê o artigo 5º, XLIX, CF:
Também se denota o respeito à individualização da pena
nesta faceta pelo artigo 5º, L, CF: Artigo 5º, XLIX, CF. É assegurado aos presos o respeito à
integridade física e moral.
Artigo 5º, L, CF. Às presidiárias serão asseguradas condi-
Obviamente, o desrespeito à integridade física e moral
ções para que possam permanecer com seus filhos durante o
do preso é uma violação do princípio da dignidade da pessoa
período de amamentação.
humana.
Dois tipos de tratamentos que violam esta integridade
Preserva-se a individualização da pena porque é toma-
estão mencionados no próprio artigo 5º da Constituição Fe-
da a condição peculiar da presa que possui filho no período
deral. Em primeiro lugar, tem-se a vedação da tortura e de
de amamentação, mas também se preserva a dignidade da tratamentos desumanos e degradantes (artigo 5º, III, CF), o
criança, não a afastando do seio materno de maneira precá- que vale na execução da pena.
ria e impedindo a formação de vínculo pela amamentação. No mais, prevê o artigo 5º, LVIII, CF:
Vedação de determinadas penas Artigo 5º, LVIII, CF. O civilmente identificado não será sub-
O constituinte viu por bem proibir algumas espécies de metido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previs-
penas, consoante ao artigo 5º, XLVII, CF: tas em lei.
Artigo 5º, XLVII, CF. não haverá penas: Se uma pessoa possui identificação civil, não há porque
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos ter- fazer identificação criminal, colhendo digitais, fotos, etc. Pen-
mos do art. 84, XIX; sa-se que seria uma situação constrangedora desnecessária
b) de caráter perpétuo; ao suspeito, sendo assim, violaria a integridade moral.
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento; Devido processo legal, contraditório e ampla defesa
e) cruéis. Estabelece o artigo 5º, LIV, CF:

Em resumo, o inciso consolida o princípio da humani- Artigo 5º, LIV, CF. Ninguém será privado da liberdade ou
dade, pelo qual o “poder punitivo estatal não pode aplicar de seus bens sem o devido processo legal.
sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que
lesionem a constituição físico-psíquica dos condenados”31 . Pelo princípio do devido processo legal a legislação deve
Quanto à questão da pena de morte, percebe-se que o ser respeitada quando o Estado pretender punir alguém ju-
constituinte não estabeleceu uma total vedação, autorizando dicialmente. Logo, o procedimento deve ser livre de vícios e
-a nos casos de guerra declarada. Obviamente, deve-se res- seguir estritamente a legislação vigente, sob pena de nulida-
peitar o princípio da anterioridade da lei, ou seja, a legislação de processual.
deve prever a pena de morte ao fato antes dele ser pratica- Surgem como corolário do devido processo legal o con-
do. No ordenamento brasileiro, este papel é cumprido pelo traditório e a ampla defesa, pois somente um procedimento
31 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito que os garanta estará livre dos vícios. Neste sentido, o artigo
penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. 5º, LV, CF:

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Artigo 5º, LV, CF. Aos litigantes, em processo judicial ou Artigo 5º, LXI, CF. Ninguém será preso senão em flagran-
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o te delito ou por ordem escrita e fundamentada de autori-
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela dade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
inerentes. militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.

O devido processo legal possui a faceta formal, pela qual Logo, a prisão somente se dará em caso de flagrante de-
se deve seguir o adequado procedimento na aplicação da lei lito (necessariamente antes do trânsito em julgado), ou em
e, sendo assim, respeitar o contraditório e a ampla defesa. caráter temporário, provisório ou definitivo (as duas primei-
Não obstante, o devido processo legal tem sua faceta mate- ras independente do trânsito em julgado, preenchidos requi-
rial que consiste na tomada de decisões justas, que respeitem sitos legais e a última pela irreversibilidade da condenação).
os parâmetros da razoabilidade e da proporcionalidade. Aborda-se no artigo 5º, LXII o dever de comunicação ao
juiz e à família ou pessoa indicada pelo preso:
Vedação de provas ilícitas
Conforme o artigo 5º, LVI, CF: Artigo 5º, LXII, CF. A prisão de qualquer pessoa e o local
onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
Artigo 5º, LVI, CF. São inadmissíveis, no processo, as provas competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.
obtidas por meios ilícitos.
Não obstante, o preso deverá ser informado de todos os
Provas ilícitas, por força da nova redação dada ao artigo seus direitos, inclusive o direito ao silêncio, podendo entrar
157 do CPP, são as obtidas em violação a normas constitu- em contato com sua família e com um advogado, conforme
cionais ou legai, ou seja, prova ilícita é a que viola regra de artigo 5º, LXIII, CF:
direito material, constitucional ou legal, no momento da sua
obtenção. São vedadas porque não se pode aceitar o des- Artigo 5º, LXIII, CF. O preso será informado de seus direi-
cumprimento do ordenamento para fazê-lo cumprir: seria tos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegu-
paradoxal. rada a assistência da família e de advogado.

Presunção de inocência Estabelece-se no artigo 5º, LXIV, CF:


Prevê a Constituição no artigo 5º, LVII:
Artigo 5º, LXIV, CF. O preso tem direito à identificação
Artigo 5º, LVII, CF. Ninguém será considerado culpado até dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório po-
o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. licial.

Consolida-se o princípio da presunção de inocência, pelo Por isso mesmo, o auto de prisão em flagrante e a ata do
qual uma pessoa não é culpada até que, em definitivo, o Ju- depoimento do interrogatório são assinados pelas autorida-
diciário assim decida, respeitados todos os princípios e ga- des envolvidas nas práticas destes atos procedimentais.
rantias constitucionais. Ainda, a legislação estabelece inúmeros requisitos para
que a prisão seja validada, sem os quais cabe relaxamento,
Ação penal privada subsidiária da pública tanto que assim prevê o artigo 5º, LXV, CF:
Nos termos do artigo 5º, LIX, CF:
Artigo 5º, LXV, CF. A prisão ilegal será imediatamente
Artigo 5º, LIX, CF. Será admitida ação privada nos cri- relaxada pela autoridade judiciária.
mes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal.
Desta forma, como decorrência lógica, tem-se a previsão
A chamada ação penal privada subsidiária da pública en- do artigo 5º, LXVI, CF:
contra respaldo constitucional, assegurando que a omissão
do poder público na atividade de persecução criminal não Artigo 5º, LXVI, CF. Ninguém será levado à prisão ou nela
será ignorada, fornecendo-se instrumento para que o inte- mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com
ressado a proponha. ou sem fiança.

Prisão e liberdade Mesmo que a pessoa seja presa em flagrante, devido ao


O constituinte confere espaço bastante extenso no ar- princípio da presunção de inocência, entende-se que ela não
tigo 5º em relação ao tratamento da prisão, notadamente deve ser mantida presa quando não preencher os requisitos
por se tratar de ato que vai contra o direito à liberdade. Ob- legais para prisão preventiva ou temporária.
viamente, a prisão não é vedada em todos os casos, porque
práticas atentatórias a direitos fundamentais implicam na ti- Indenização por erro judiciário
pificação penal, autorizando a restrição da liberdade daquele A disciplina sobre direitos decorrentes do erro judiciário
que assim agiu. encontra-se no artigo 5º, LXXV, CF:
No inciso LXI do artigo 5º, CF, prevê-se:

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Artigo 5º, LXXV, CF. O Estado indenizará o condenado por Regra geral, os tratados internacionais comuns ingres-
erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo sam com força de lei ordinária no ordenamento jurídico bra-
fixado na sentença. sileiro porque somente existe previsão constitucional quanto
à possibilidade da equiparação às emendas constitucionais
Trata-se do erro em que incorre um juiz na apreciação e se o tratado abranger matéria de direitos humanos. Antes
julgamento de um processo criminal, resultando em conde- da emenda alterou o quadro quanto aos tratados de direitos
nação de alguém inocente. Neste caso, o Estado indenizará. humanos, era o que acontecia, mas isso não significa que tais
Ele também indenizará uma pessoa que ficar presa além do direitos eram menos importantes devido ao princípio da pri-
tempo que foi condenada a cumprir. mazia e ao reconhecimento dos direitos implícitos.
Por seu turno, com o advento da Emenda Constitucio-
4) Direitos fundamentais implícitos nal nº 45/04 se introduziu o §3º ao artigo 5º da Constituição
Nos termos do § 2º do artigo 5º da Constituição Federal: Federal, de modo que os tratados internacionais de direitos
humanos foram equiparados às emendas constitucionais,
Artigo 5º, §2º, CF. Os direitos e garantias expressos nesta desde que houvesse a aprovação do tratado em cada Casa
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos do Congresso Nacional e obtivesse a votação em dois turnos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em e com três quintos dos votos dos respectivos membros:
que a República Federativa do Brasil seja parte.
Art. 5º, § 3º, CF. Os tratados e convenções internacio-
Daí se depreende que os direitos ou garantias podem nais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada
estar expressos ou implícitos no texto constitucional. Sendo Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quin-
assim, o rol enumerado nos incisos do artigo 5º é apenas tos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às
exemplificativo, não taxativo. emendas constitucionais. 
5) Tratados internacionais incorporados ao ordena- Logo, a partir da alteração constitucional, os tratados de
mento interno direitos humanos que ingressarem no ordenamento jurídi-
Estabelece o artigo 5º, § 2º, CF que os direitos e garan- co brasileiro, versando sobre matéria de direitos humanos,
tias podem decorrer, dentre outras fontes, dos “tratados in-
irão passar por um processo de aprovação semelhante ao da
ternacionais em que a República Federativa do Brasil seja
emenda constitucional.
parte”.
Contudo, há posicionamentos conflituosos quanto à
Para o tratado internacional ingressar no ordenamen-
possibilidade de considerar como hierarquicamente cons-
to jurídico brasileiro deve ser observado um procedimento
titucional os tratados internacionais de direitos humanos
complexo, que exige o cumprimento de quatro fases: a ne-
que ingressaram no ordenamento jurídico brasileiro ante-
gociação (bilateral ou multilateral, com posterior assinatura
riormente ao advento da referida emenda. Tal discussão se
do Presidente da República), submissão do tratado assinado
ao Congresso Nacional (que dará referendo por meio do de- deu com relação à prisão civil do depositário infiel, prevista
creto legislativo), ratificação do tratado (confirmação da obri- como legal na Constituição e ilegal no Pacto de São José da
gação perante a comunidade internacional) e a promulgação Costa Rica (tratado de direitos humanos aprovado antes da
e publicação do tratado pelo Poder Executivo32. Notadamen- EC nº 45/04), sendo que o Supremo Tribunal Federal firmou
te, quando o constituinte menciona os tratados internacio- o entendimento pela supralegalidade do tratado de direitos
nais no §2º do artigo 5º refere-se àqueles que tenham por humanos anterior à Emenda (estaria numa posição que para-
fulcro ampliar o rol de direitos do artigo 5º, ou seja, tratado lisaria a eficácia da lei infraconstitucional, mas não revogaria
internacional de direitos humanos. a Constituição no ponto controverso).
O §1° e o §2° do artigo 5° existiam de maneira originá-
ria na Constituição Federal, conferindo o caráter de primazia 6) Tribunal Penal Internacional
dos direitos humanos, desde logo consagrando o princípio Preconiza o artigo 5º, CF em seu § 4º:
da primazia dos direitos humanos, como reconhecido pela
doutrina e jurisprudência majoritários na época. “O princípio Artigo 5º, §4º, CF. O Brasil se submete à jurisdição de Tri-
da primazia dos direitos humanos nas relações internacionais bunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado
implica em que o Brasil deve incorporar os tratados quan- adesão.
to ao tema ao ordenamento interno brasileiro e respeitá-los.  
Implica, também em que as normas voltadas à proteção da O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional foi
dignidade em caráter universal devem ser aplicadas no Brasil promulgado no Brasil pelo Decreto nº 4.388 de 25 de se-
em caráter prioritário em relação a outras normas”33. tembro de 2002. Ele contém 128 artigos e foi elaborado em
Roma, no dia 17 de julho de 1998, regendo a competência e
32 VICENTE SOBRINHO, Benedito. Direitos o funcionamento deste Tribunal voltado às pessoas respon-
Fundamentais e Prisão Civil. Porto Alegre: Sérgio An- sáveis por crimes de maior gravidade com repercussão inter-
tonio Fabris Editor, 2008. nacional (artigo 1º, ETPI).
33 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito “Ao contrário da Corte Internacional de Justiça, cuja ju-
Internacional Público e Privado. Salvador: JusPodi- risdição é restrita a Estados, ao Tribunal Penal Internacional
vm, 2009. compete o processo e julgamento de violações contra indi-

116
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

víduos; e, distintamente dos Tribunais de crimes de guerra No que tange aos direitos sociais percebe-se que a
da Iugoslávia e de Ruanda, criados para analisarem crimes igualdade material assume grande relevância. Afinal, esta ca-
cometidos durante esses conflitos, sua jurisdição não está tegoria de direitos pressupõe uma postura ativa do Estado
restrita a uma situação específica”34. em prol da efetivação. Nem todos podem arcar com suas
Resume Mello35: “a Conferência das Nações Unidas sobre despesas de saúde, educação, cultura, alimentação e mo-
a criação de uma Corte Criminal Internacional, reunida em radia, assim como nem todos se encontram na posição de
Roma, em 1998, aprovou a referida Corte. Ela é permanente. explorador da mão-de-obra, sendo a grande maioria da po-
Tem sede em Haia. A corte tem personalidade internacional. pulação de explorados. Estas pessoas estão numa clara po-
Ela julga: a) crime de genocídio; b) crime contra a humani- sição de desigualdade e caberá ao Estado cuidar para que
dade; c) crime de guerra; d) crime de agressão. Para o crime progressivamente atinjam uma posição de igualdade real, já
de genocídio usa a definição da convenção de 1948. Como que não é por conta desta posição desfavorável que se pode
crimes contra a humanidade são citados: assassinato, escra- afirmar que são menos dignos, menos titulares de direitos
vidão, prisão violando as normas internacionais, violação tor- fundamentais.
tura, apartheid, escravidão sexual, prostituição forçada, este- Logo, a efetivação dos direitos sociais é uma meta a ser
rilização, etc. São crimes de guerra: homicídio internacional, alcançada pelo Estado em prol da consolidação da igualdade
destruição de bens não justificada pela guerra, deportação, material. Sendo assim, o Estado buscará o crescente aper-
forçar um prisioneiro a servir nas forças inimigas, etc.”. feiçoamento da oferta de serviços públicos com qualidade
para que todos os nacionais tenham garantidos seus direitos
Direitos sociais fundamentais de segunda dimensão da maneira mais plena
A Constituição Federal, dentro do Título II, aborda no possível.
capítulo II a categoria dos direitos sociais, em sua maioria Há se ressaltar também que o Estado não possui apenas
normas programáticas e que necessitam de uma postura in- um papel direto na promoção dos direitos econômicos, so-
terventiva estatal em prol da implementação. ciais e culturais, mas também um indireto, quando por meio
Os direitos assegurados nesta categoria encontram de sua gestão permite que os indivíduos adquiram condições
menção genérica no artigo 6º, CF: para sustentarem suas necessidades pertencentes a esta ca-
tegoria de direitos.
Artigo 6º, CF. Art. 6º São direitos sociais a educação, a
saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transpor-
2) Reserva do possível e mínimo existencial
te, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
Os direitos sociais serão concretizados gradualmente,
maternidade e à infância, a assistência aos desampara-
notadamente porque estão previstos em normas programá-
dos, na forma desta Constituição. 
ticas e porque a implementação deles gera um ônus para o
Estado. Diferentemente dos direitos individuais, que depen-
Trata-se de desdobramento da perspectiva do Estado
Social de Direito. Em suma, são elencados os direitos huma- dem de uma postura de abstenção estatal, os direitos sociais
nos de 2ª dimensão, notadamente conhecidos como direitos precisam que o Estado assuma um papel ativo em prol da
econômicos, sociais e culturais. Em resumo, os direitos sociais efetivação destes.
envolvem prestações positivas do Estado (diferente dos de A previsão excessiva de direitos sociais no bojo de uma
liberdade, que referem-se à postura de abstenção estatal), Constituição, a despeito de um instante bem-intencionado
ou seja, políticas estatais que visem consolidar o princípio da de palavras promovido pelo constituinte, pode levar à ne-
igualdade não apenas formalmente, mas materialmente (tra- gativa, paradoxal – e, portanto, inadmissível – consequência
tando os desiguais de maneira desigual). de uma Carta Magna cujas finalidades não condigam com
Por seu turno, embora no capítulo específico do Título seus próprios prescritos, fato que deslegitima o Poder Pú-
II que aborda os direitos sociais não se perceba uma intensa blico como determinador de que particulares respeitem os
regulamentação destes, à exceção dos direitos trabalhistas, direitos fundamentais, já que sequer eles próprios, os admi-
o Título VIII da Constituição Federal, que aborda a ordem nistradores, conseguem cumprir o que consta de seu Estatu-
social, se concentra em trazer normativas mais detalhadas a to Máximo36.
respeitos de direitos indicados como sociais. Tecnicamente, nos direitos sociais é possível invocar a
cláusula da reserva do possível como argumento para a não
1) Igualdade material e efetivação dos direitos sociais implementação de determinado direito social – seja pela ab-
Independentemente da categoria de direitos que esteja soluta ausência de recursos (reserva do possível fática), seja
sendo abordada, a igualdade nunca deve aparecer num sen- pela ausência de previsão orçamentária nos termos do artigo
tido meramente formal, mas necessariamente material. Sig- 167, CF (reserva do possível jurídica).
nifica que discriminações indevidas são proibidas, mas exis- O Ministro Celso de Mello afirmou em julgamento que
tem certas distinções que não só devem ser aceitas, como os direitos sociais “não pode converter-se em promessa
também se mostram essenciais. constitucional inconsequente, sob pena de o Poder Público,
34 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito Internacional fraudando justas expectativas nele depositadas pela coletivi-
Público & Direito Internacional Privado. 3. ed. São Paulo: 36 LAZARI, Rafael José Nadim de. Reserva do possí-
Atlas, 2009. vel e mínimo existencial: a pretensão de eficácia da norma
35 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito constitucional em face da realidade. Curitiba: Juruá, 2012, p.
Internacional Público. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. 56-57.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

dade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu Significa que a demissão, se não for motivada por jus-
impostergável dever, por um gesto irresponsável de infideli- ta causa, assegura ao trabalhador direitos como indenização
dade governamental ao que determina a própria Lei Funda- compensatória, entre outros, a serem arcados pelo emprega-
mental do Estado”37. dor.
Sendo assim, a invocação da cláusula da reserva do pos-
sível, embora viável, não pode servir de muleta para que o Artigo 7º, II, CF. Seguro-desemprego, em caso de desem-
Estado não arque com obrigações básicas. Neste viés, geral- prego involuntário.
mente, quando invocada a cláusula é afastada, entendendo o
Poder Judiciário que não cabe ao Estado se eximir de garantir Sem prejuízo de eventual indenização a ser recebida do
direitos sociais com o simples argumento de que não há or- empregador, o trabalhador que fique involuntariamente de-
çamento específico para isso – ele deveria ter reservado par- sempregado – entendendo-se por desemprego involuntário
cela suficiente de suas finanças para atender esta demanda. o que tenha origem num acordo de cessação do contrato de
Com efeito, deve ser preservado o mínimo existencial, trabalho – tem direito ao seguro-desemprego, a ser arcado
que tem por fulcro limitar a discricionariedade político-ad- pela previdência social, que tem o caráter de assistência finan-
ministrativa e estabelecer diretrizes orçamentárias básicas a ceira temporária.
serem seguidas, sob pena de caber a intervenção do Poder
Judiciário em prol de sua efetivação. Artigo 7º, III, CF. Fundo de garantia do tempo de serviço.

3) Princípio da proibição do retrocesso Foi criado em 1967 pelo Governo Federal para proteger
Proibição do retrocesso é a impossibilidade de que uma o trabalhador demitido sem justa causa. O FGTS é constituído
conquista garantida na Constituição Federal sofra um retro- de contas vinculadas, abertas em nome de cada trabalhador,
cesso, de modo que um direito social garantido não pode quando o empregador efetua o primeiro depósito. O saldo da
deixar de o ser. conta vinculada é formado pelos depósitos mensais efetiva-
Conforme jurisprudência, a proibição do retrocesso deve dos pelo empregador, equivalentes a 8,0% do salário pago ao
ser tomada com reservas, até mesmo porque segundo en- empregado, acrescido de atualização monetária e juros. Com
tendimento predominante as normas do artigo 7º, CF não o FGTS, o trabalhador tem a oportunidade de formar um pa-
são cláusula pétrea, sendo assim passíveis de alteração. Se for trimônio, que pode ser sacado em momentos especiais, como
alterada normativa sobre direito trabalhista assegurado no o da aquisição da casa própria ou da aposentadoria e em si-
referido dispositivo, não sendo o prejuízo evidente, entende- tuações de dificuldades, que podem ocorrer com a demissão
se válida (por exemplo, houve alteração do prazo prescricio- sem justa causa ou em caso de algumas doenças graves.
nal diferenciado para os trabalhadores agrícolas). O que, em
hipótese alguma, pode ser aceito é um retrocesso evidente, Artigo 7º, IV, CF. Salário mínimo, fixado em lei, nacional-
seja excluindo uma categoria de direitos (ex.: abolir o Sistema mente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais
Único de Saúde), seja diminuindo sensivelmente a abrangên- básicas e às de sua família com moradia, alimentação, edu-
cia da proteção (ex.: excluindo o ensino médio gratuito). cação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previ-
Questão polêmica se refere à proibição do retrocesso: dência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o po-
se uma decisão judicial melhorar a efetivação de um direi- der aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim.
to social, ela se torna vinculante e é impossível ao legislador Trata-se de uma visível norma programática da Constitui-
alterar a Constituição para retirar este avanço? Por um lado, ção que tem por pretensão um salário mínimo que atenda a
a proibição do retrocesso merece ser tomada em conceito todas as necessidades básicas de uma pessoa e de sua família.
amplo, abrangendo inclusive decisões judiciais; por outro Em pesquisa que tomou por parâmetro o preceito constitu-
lado, a decisão judicial não tem por fulcro alterar a norma, cional, detectou-se que “o salário mínimo do trabalhador bra-
o que somente é feito pelo legislador, e ele teria o direito sileiro deveria ter sido de R$ 2.892,47 em abril para que ele su-
de prever que aquela decisão judicial não está incorporada prisse suas necessidades básicas e da família, segundo estudo
na proibição do retrocesso. A questão é polêmica e não há divulgado nesta terça-feira, 07, pelo Departamento Intersindi-
entendimento dominante. cal de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)”38.

4) Direito individual do trabalho Artigo 7º, V, CF. Piso salarial proporcional à extensão e à
O artigo 7º da Constituição enumera os direitos indi- complexidade do trabalho.
viduais dos trabalhadores urbanos e rurais. São os direitos
individuais tipicamente trabalhistas, mas que não excluem Cada trabalhador, dentro de sua categoria de emprego,
os demais direitos fundamentais (ex.: honra é um direito no seja ele professor, comerciário, metalúrgico, bancário, cons-
espaço de trabalho, sob pena de se incidir em prática de as- trutor civil, enfermeiro, recebe um salário base, chamado de
sédio moral). Piso Salarial, que é sua garantia de recebimento dentro de
seu grau profissional. O Valor do Piso Salarial é estabelecido
Artigo 7º, I, CF. Relação de emprego protegida contra em conformidade com a data base da categoria, por isso ele
despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei é definido em conformidade com um acordo, ou ainda com
complementar, que preverá indenização compensatória, den- um entendimento entre patrão e trabalhador.
tre outros direitos.
38 http://exame.abril.com.br/economia/noticias/salario-
37 RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO. -minimo-deveria-ter-sido-de-r-2-892-47-em-abril

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Artigo 7º, VI, CF. Irredutibilidade do salário, salvo o dis- Artigo 7º, XII, CF. Salário-família pago em razão do de-
posto em convenção ou acordo coletivo. pendente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei.

O salário não pode ser reduzido, a não ser que anão re- Salário-família é o benefício pago na proporção do res-
dução implique num prejuízo maior, por exemplo, demissão pectivo número de filhos ou equiparados de qualquer con-
em massa durante uma crise, situações que devem ser nego- dição até a idade de quatorze anos ou inválido de qualquer
ciadas em convenção ou acordo coletivo. idade, independente de carência e desde que o salário-de-
contribuição seja inferior ou igual ao limite máximo permi-
Artigo 7º, VII, CF. Garantia de salário, nunca inferior ao tido. De acordo com a Portaria Interministerial MPS/MF nº
mínimo, para os que percebem remuneração variável. 19, de 10/01/2014, valor do salário-família será de R$ 35,00,
por filho de até 14 anos incompletos ou inválido, para quem
O salário mínimo é direito de todos os trabalhadores, ganhar até R$ 682,50. Já para o trabalhador que receber de
mesmo daqueles que recebem remuneração variável (ex.: ba- R$ 682,51 até R$ 1.025,81, o valor do salário-família por filho
seada em comissões por venda e metas); de até 14 anos de idade ou inválido de qualquer idade será
de R$ 24,66.
Artigo 7º, VIII, CF. Décimo terceiro salário com base na
remuneração integral ou no valor da aposentadoria. Artigo 7º, XIII, CF. duração do trabalho normal não su-
perior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais,
Também conhecido como gratificação natalina, foi insti- facultada a compensação de horários e a redução da jornada,
tuída no Brasil pela Lei nº 4.090/1962 e garante que o traba- mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho.
lhador receba o correspondente a 1/12 (um doze avos) da
remuneração por mês trabalhado, ou seja, consiste no paga- Artigo 7º, XVI, CF. Remuneração do serviço extraordiná-
mento de um salário extra ao trabalhador e ao aposentado no rio superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal.
final de cada ano.
A legislação trabalhista vigente estabelece que a duração
Artigo 7º, IX, CF. Remuneração do trabalho noturno su- normal do trabalho, salvo os casos especiais, é de 8 (oito)
perior à do diurno. horas diárias e 44 (quarenta e quatro) semanais, no máximo.
Todavia, poderá a jornada diária de trabalho dos empregados
O adicional noturno é devido para o trabalho exercido maiores ser acrescida de horas suplementares, em número
durante a noite, de modo que cada hora noturna sofre a redu- não excedentes a duas, no máximo, para efeito de serviço
ção de 7 minutos e 30 segundos, ou ainda, é feito acréscimo extraordinário, mediante acordo individual, acordo coletivo,
de 12,5% sobre o valor da hora diurna. Considera-se noturno, convenção coletiva ou sentença normativa. Excepcionalmen-
nas atividades urbanas, o trabalho realizado entre as 22:00 te, ocorrendo necessidade imperiosa, poderá ser prorroga-
horas de um dia às 5:00 horas do dia seguinte; nas atividades da além do limite legalmente permitido. A remuneração do
rurais, é considerado noturno o trabalho executado na lavou- serviço extraordinário, desde a promulgação da Constituição
ra entre 21:00 horas de um dia às 5:00 horas do dia seguinte; Federal, deverá constar, obrigatoriamente, do acordo, con-
e na pecuária, entre 20:00 horas às 4:00 horas do dia seguinte. venção ou sentença normativa, e será, no mínimo, 50% (cin-
quenta por cento) superior à da hora normal.
Artigo 7º, X, CF. Proteção do salário na forma da lei,
constituindo crime sua retenção dolosa. Artigo 7º, XIV, CF. Jornada de seis horas para o trabalho
realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo
Quanto ao possível crime de retenção de salário, não há negociação coletiva.
no Código Penal brasileiro uma norma que determina a ação
de retenção de salário como crime. Apesar do artigo 7º, X, CF O constituinte ao estabelecer jornada máxima de 6 horas
dizer que é crime a retenção dolosa de salário, o dispositivo é para os turnos ininterruptos de revezamento, expressamen-
norma de eficácia limitada, pois depende de lei ordinária, ain- te ressalvando a hipótese de negociação coletiva, objetivou
da mais porque qualquer norma penal incriminadora é regida prestigiar a atuação da entidade sindical. Entretanto, a juris-
pela legalidade estrita (artigo 5º, XXXIX, CF). prudência evoluiu para uma interpretação restritiva de seu
teor, tendo como parâmetro o fato de que o trabalho em
Artigo 7º, XI, CF. Participação nos lucros, ou resultados, turnos ininterruptos é por demais desgastante, penoso, além
desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participa- de trazer malefícios de ordem fisiológica para o trabalhador,
ção na gestão da empresa, conforme definido em lei. inclusive distúrbios no âmbito psicossocial já que dificulta o
convívio em sociedade e com a própria família.
A Participação nos Lucros e Resultado (PLR), que é co-
nhecida também por Programa de Participação nos Resulta- Artigo 7º, XV, CF. Repouso semanal remunerado, prefe-
dos (PPR), está prevista na Consolidação das Leis do Trabalho rencialmente aos domingos.
(CLT) desde a Lei nº 10.101, de 19 de dezembro de 2000. Ela
funciona como um bônus, que é ofertado pelo empregador e O Descanso Semanal Remunerado é de 24 (vinte e qua-
negociado com uma comissão de trabalhadores da empresa. tro) horas consecutivas, devendo ser concedido preferencial-
A CLT não obriga o empregador a fornecer o benefício, mas mente aos domingos, sendo garantido a todo trabalhador
propõe que ele seja utilizado. urbano, rural ou doméstico. Havendo necessidade de traba-

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lho aos domingos, desde que previamente autorizados pelo lho, possibilitando ao empregador o preenchimento do cargo
Ministério do Trabalho, aos trabalhadores é assegurado pelo vago e ao empregado uma nova colocação no mercado de
menos um dia de repouso semanal remunerado coincidente trabalho, sendo que o aviso prévio pode ser trabalhado ou
com um domingo a cada período, dependendo da atividade indenizado.
(artigo 67, CLT).
Artigo 7º, XXII, CF. Redução dos riscos inerentes ao tra-
Artigo 7º, XVII, CF. Gozo de férias anuais remuneradas balho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança.
com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal.
Trata-se ao direito do trabalhador a um meio ambiente
O salário das férias deve ser superior em pelo menos um do trabalho salubre. Fiorillo39 destaca que o equilíbrio do meio
terço ao valor da remuneração normal, com todos os adicio- ambiente do trabalho está sedimentado na salubridade e na
nais e benefícios aos quais o trabalhador tem direito. A cada ausência de agentes que possam comprometer a incolumida-
de físico-psíquica dos trabalhadores.
doze meses de trabalho – denominado período aquisitivo – o
empregado terá direito a trinta dias corridos de férias, se não
Artigo 7º, XXIII, CF. Adicional de remuneração para as ati-
tiver faltado injustificadamente mais de cinco vezes ao servi-
vidades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei.
ço (caso isso ocorra, os dias das férias serão diminuídos de
acordo com o número de faltas). Penoso é o trabalho acerbo, árduo, amargo, difícil, moles-
to, trabalhoso, incômodo, laborioso, doloroso, rude, que não
Artigo 7º, XVIII, CF. Licença à gestante, sem prejuízo do é perigoso ou insalubre, mas penosa, exigindo atenção e vigi-
emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias. lância acima do comum. Ainda não há na legislação específica
previsão sobre o adicional de penosidade.
O salário da trabalhadora em licença é chamado de sa- São consideradas atividades ou operações insalubres as
lário-maternidade, é pago pelo empregador e por ele des- que se desenvolvem excesso de limites de tolerância para:
contado dos recolhimentos habituais devidos à Previdência ruído contínuo ou intermitente, ruídos de impacto, exposição
Social. A trabalhadora pode sair de licença a partir do último ao calor e ao frio, radiações, certos agentes químicos e bio-
mês de gestação, sendo que o período de licença é de 120 lógicos, vibrações, umidade, etc. O exercício de trabalho em
dias. A Constituição também garante que, do momento em condições de insalubridade assegura ao trabalhador a per-
que se confirma a gravidez até cinco meses após o parto, a cepção de adicional, incidente sobre o salário base do em-
mulher não pode ser demitida. pregado (súmula 228 do TST), ou previsão mais benéfica em
Convenção Coletiva de Trabalho, equivalente a 40% (quarenta
Artigo 7º, XIX, CF. Licença-paternidade, nos termos fi- por cento), para insalubridade de grau máximo; 20% (vinte
xados em lei. por cento), para insalubridade de grau médio; 10% (dez por
cento), para insalubridade de grau mínimo.
O homem tem direito a 5 dias de licença-paternidade O adicional de periculosidade é um valor devido ao em-
para estar mais próximo do bebê recém-nascido e ajudar a pregado exposto a atividades perigosas. São consideradas
mãe nos processos pós-operatórios. atividades ou operações perigosas, aquelas que, por sua na-
tureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado
Artigo 7º, XX, CF. Proteção do mercado de trabalho da em virtude de exposição permanente do trabalhador a infla-
mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei. máveis, explosivos ou energia elétrica; e a roubos ou outras
espécies de violência física nas atividades profissionais de
segurança pessoal ou patrimonial. O valor do adicional de pe-
Embora as mulheres sejam maioria na população de 10
riculosidade será o salário do empregado acrescido de 30%,
anos ou mais de idade, elas são minoria na população ocu-
sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou
pada, mas estão em maioria entre os desocupados. Acres- participações nos lucros da empresa.
centa-se ainda, que elas são maioria também na população O Tribunal Superior do Trabalho ainda não tem entendi-
não economicamente ativa. Além disso, ainda há relevante mento unânime sobre a possibilidade de cumulação destes
diferença salarial entre homens e mulheres, sendo que os ho- adicionais.
mens recebem mais porque os empregadores entendem que
eles necessitam de um salário maior para manter a família. Artigo 7º, XXIV, CF. Aposentadoria.
Tais disparidades colocam em evidência que o mercado de
trabalho da mulher deve ser protegido de forma especial. A aposentadoria é um benefício garantido a todo traba-
lhador brasileiro que pode ser usufruído por aquele que tenha
Artigo 7º, XXI, CF. Aviso prévio proporcional ao tempo contribuído ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS)
de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei. pelos prazos estipulados nas regras da Previdência Social e
tenha atingido as idades mínimas previstas. Aliás, o direito à
Nas relações de emprego, quando uma das partes de- previdência social é considerado um direito social no próprio
seja rescindir, sem justa causa, o contrato de trabalho por artigo 6º, CF.
prazo indeterminado, deverá, antecipadamente, notificar à 39 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direi-
outra parte, através do aviso prévio. O aviso prévio tem por to Ambiental brasileiro. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p.
finalidade evitar a surpresa na ruptura do contrato de traba- 21.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Artigo 7º, XXV, CF. Assistência gratuita aos filhos e de- remuneração do empregado, mas as empresas que expõem
pendentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em os trabalhadores a agentes nocivos químicos, físicos e bioló-
creches e pré-escolas. gicos precisam pagar adicionais diferenciados. Assim, quanto
maior o risco, maior é a alíquota, mas atualmente o Ministé-
Todo estabelecimento com mais de 30 funcionárias com rio da Previdência Social pode alterar a alíquota se a empresa
mais de 16 anos tem a obrigação de oferecer um espaço fí- investir na segurança do trabalho.
sico para que as mães deixem o filho de 0 a 6 meses, en- Neste sentido, nada impede que a empresa seja res-
quanto elas trabalham. Caso não ofereçam esse espaço aos ponsabilizada pelos acidentes de trabalho, indenizando o
bebês, a empresa é obrigada a dar auxílio-creche a mulher trabalhador. Na atualidade entende-se que a possibilidade
para que ela pague uma creche para o bebê de até 6 meses. de cumulação do benefício previdenciário, assim compreen-
O valor desse auxílio será determinado conforme negocia- dido como prestação garantida pelo Estado ao trabalhador
ção coletiva na empresa (acordo da categoria ou convenção). acidentado (responsabilidade objetiva) com a indenização
A empresa que tiver menos de 30 funcionárias registradas devida pelo empregador em caso de culpa (responsabilidade
não tem obrigação de conceder o benefício. É facultativo (ela subjetiva), é pacífica, estando amplamente difundida na juris-
pode oferecer ou não). Existe a possibilidade de o benefício prudência do Tribunal Superior do Trabalho;
ser estendido até os 6 anos de idade e incluir o trabalhador
homem. A duração do auxílio-creche e o valor envolvido va- Artigo 7º, XXIX, CF. Ação, quanto aos créditos resultantes
riarão conforme negociação coletiva na empresa. das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco
anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de
Artigo 7º, XXVI, CF. Reconhecimento das convenções e dois anos após a extinção do contrato de trabalho.
acordos coletivos de trabalho.
Prescrição é a perda da pretensão de buscar a tutela ju-
Neste dispositivo se funda o direito coletivo do trabalho, risdicional para assegurar direitos violados. Sendo assim, há
que encontra regulamentação constitucional nos artigo 8º um período de tempo que o empregado tem para requerer
a 11 da Constituição. Pelas convenções e acordos coletivos, seu direito na Justiça do Trabalho. A prescrição trabalhista é
entidades representativas da categoria dos trabalhadores sempre de 2 (dois) anos a partir do término do contrato de
entram em negociação com as empresas na defesa dos inte- trabalho, atingindo as parcelas relativas aos 5 (cinco) anos
resses da classe, assegurando o respeito aos direitos sociais; anteriores, ou de 05 (cinco) anos durante a vigência do con-
trato de trabalho.
Artigo 7º, XXVII, CF. Proteção em face da automação, na
forma da lei. Artigo 7º, XXX, CF. Proibição de diferença de salários, de
exercício de funções e de critério de admissão por motivo de
Trata-se da proteção da substituição da máquina pelo sexo, idade, cor ou estado civil.
homem, que pode ser feita, notadamente, qualificando o
profissional para exercer trabalhos que não possam ser de- Há uma tendência de se remunerar melhor homens
sempenhados por uma máquina (ex.: se criada uma máquina brancos na faixa dos 30 anos que sejam casados, sendo pa-
que substitui o trabalhador, deve ser ele qualificado para que tente a diferença remuneratória para com pessoas de dife-
possa operá-la). rente etnia, faixa etária ou sexo. Esta distinção atenta contra o
princípio da igualdade e não é aceita pelo constituinte, sendo
Artigo 7º, XXVIII, CF. Seguro contra acidentes de traba- possível inclusive invocar a equiparação salarial judicialmen-
lho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que te.
este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.
Artigo 7º, XXXI, CF. Proibição de qualquer discriminação
Atualmente, é a Lei nº 8.213/91 a responsável por tratar no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador
do assunto e em seus artigos 19, 20 e 21 apresenta a defini- portador de deficiência.
ção de doenças e acidentes do trabalho. Não se trata de le-
gislação específica sobre o tema, mas sim de uma norma que A pessoa portadora de deficiência, dentro de suas limita-
dispõe sobre as modalidades de benefícios da previdência ções, possui condições de ingressar no mercado de trabalho
social. Referida Lei, em seu artigo 19 da preceitua que aci- e não pode ser preterida meramente por conta de sua defi-
dente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho ciência.
a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho, provo-
cando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a Artigo 7º, XXXII, CF. Proibição de distinção entre traba-
morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da lho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais
capacidade para o trabalho. respectivos.
Seguro de Acidente de Trabalho (SAT) é uma contribui-
ção com natureza de tributo que as empresas pagam para Os trabalhos manuais, técnicos e intelectuais são igual-
custear benefícios do INSS oriundos de acidente de trabalho mente relevantes e contribuem todos para a sociedade, não
ou doença ocupacional, cobrindo a aposentadoria especial. cabendo a desvalorização de um trabalho apenas por se en-
A alíquota normal é de um, dois ou três por cento sobre a quadrar numa ou outra categoria.

121
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Artigo 7º, XXXIII, CF. proibição de trabalho noturno, pe- V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se
rigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer filiado a sindicato;
trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas ne-
de aprendiz, a partir de quatorze anos. gociações coletivas de trabalho;
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser vota-
Trata-se de norma protetiva do adolescente, estabele- do nas organizações sindicais;
cendo-se uma idade mínima para trabalho e proibindo-se o VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicaliza-
trabalho em condições desfavoráveis. do a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou
representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um
Artigo 7º, XXXIV, CF. Igualdade de direitos entre o traba- ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos
lhador com vínculo empregatício permanente e o traba- termos da lei.
lhador avulso. Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à
organização de sindicatos rurais e de colônias de pescado-
Avulso é o trabalhador que presta serviço a várias em- res, atendidas as condições que a lei estabelecer.
presas, mas é contratado por sindicatos e órgãos gestores de
mão-de-obra, possuindo os mesmos direitos que um traba- O direito de greve, por seu turno, está previsto no artigo
lhador com vínculo empregatício permanente. 9º, CF:
A Emenda Constitucional nº 72/2013, conhecida como
PEC das domésticas, deu nova redação ao parágrafo único Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos
do artigo 7º: trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e so-
bre os interesses que devam por meio dele defender.
Artigo 7º, parágrafo único, CF. São assegurados à catego- § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais
ria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da
incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, comunidade.
XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições esta- § 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às pe-
belecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento nas da lei.
das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes
da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos
A respeito, conferir a Lei nº 7.783/89, que dispõe sobre
incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração
o exercício do direito de greve, define as atividades essen-
à previdência social.
ciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da
comunidade, e dá outras providências. Enquanto não for dis-
5) Direito coletivo do trabalho
ciplinado o direito de greve dos servidores públicos, esta é a
Os artigos 8º a 11 trazem os direitos sociais coletivos dos
legislação que se aplica, segundo o STF.
trabalhadores, que são os exercidos pelos trabalhadores, co-
letivamente ou no interesse de uma coletividade, quais se- O direito de participação é previsto no artigo 10, CF:
jam: associação profissional ou sindical, greve, substituição
processual, participação e representação classista40. Artigo 10, CF. É assegurada a participação dos trabalha-
A liberdade de associação profissional ou sindical tem dores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos
escopo no artigo 8º, CF: em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam
objeto de discussão e deliberação.
Art. 8º, CF. É livre a associação profissional ou sindical,
observado o seguinte: Por fim, aborda-se o direito de representação classista
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a no artigo 11, CF:
fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão compe-
tente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção Artigo 11, CF. Nas empresas de mais de duzentos empre-
na organização sindical; gados, é assegurada a eleição de um representante destes
II - é vedada a criação de mais de uma organização sin- com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento
dical, em qualquer grau, representativa de categoria pro- direto com os empregadores.
fissional ou econômica, na mesma base territorial, que será
definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, Nacionalidade
não podendo ser inferior à área de um Município; O capítulo III do Título II aborda a nacionalidade, que
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses vem a ser corolário dos direitos políticos, já que somente um
coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões nacional pode adquirir direitos políticos.
judiciais ou administrativas; Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que ele
tratando de categoria profissional, será descontada em folha, passe a integrar o povo daquele Estado, desfrutando assim
para custeio do sistema confederativo da representação sin- de direitos e obrigações.
dical respectiva, independentemente da contribuição prevista Povo é o conjunto de nacionais. Por seu turno, povo
em lei; não é a mesma coisa que população. População é o conjunto
40 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional de pessoas residentes no país – inclui o povo, os estrangeiros
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. residentes no país e os apátridas.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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1) Nacionalidade como direito humano fundamental cebe no teor do artigo 12, CF. O estrangeiro, num conceito
Os direitos humanos internacionais são completamente tomado à base de exclusão, é todo aquele que não é nacio-
contrários à ideia do apátrida – ou heimatlos –, que é o indiví- nal brasileiro.
duo que não possui o vínculo da nacionalidade com nenhum
Estado. Logo, a nacionalidade é um direito da pessoa hu- a) Brasileiros natos
mana, o qual não pode ser privado de forma arbitrária. Não Art. 12, CF. São brasileiros:
há privação arbitrária quando respeitados os critérios legais I - natos:
previstos no texto constitucional no que tange à perda da a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ain-
nacionalidade. Em outras palavras, o constituinte brasileiro da que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a
não admite a figura do apátrida. serviço de seu país;
Contudo, é exatamente por ser um direito que a nacio- b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe
nalidade não pode ser uma obrigação, garantindo-se à pes- brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da Re-
soa o direito de deixar de ser nacional de um país e passar a pública Federativa do Brasil;
sê-lo de outro, mudando de nacionalidade, por um processo c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de
conhecido como naturalização. mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição
Prevê a Declaração Universal dos Direitos Humanos em brasileira competente ou venham a residir na República
seu artigo 15: “I) Todo homem tem direito a uma nacionalida- Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de
de. II) Ninguém será arbitrariamente privado de sua naciona- atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira.
lidade, nem do direito de mudar de nacionalidade”.
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos apro- Tradicionalmente, são possíveis dois critérios para a atri-
funda-se em meios para garantir que toda pessoa tenha uma buição da nacionalidade primária – nacional nato –, notada-
nacionalidade desde o seu nascimento ao adotar o critério mente: ius soli, direito de solo, o nacional nascido em territó-
do jus solis, explicitando que ao menos a pessoa terá a nacio- rio do país independentemente da nacionalidade dos pais; e
nalidade do território onde nasceu, quando não tiver direito ius sanguinis, direito de sangue, que não depende do local de
a outra nacionalidade por previsões legais diversas. nascimento mas sim da descendência de um nacional do país
“Nacionalidade é um direito fundamental da pessoa hu- (critério comum em países que tiveram êxodo de imigrantes).
mana. Todos a ela têm direito. A nacionalidade de um indiví- O brasileiro nato, primeiramente, é aquele que nasce no
duo não pode ficar ao mero capricho de um governo, de um território brasileiro – critério do ius soli, ainda que filho de
governante, de um poder despótico, de decisões unilaterais, pais estrangeiros, desde que não sejam estrangeiros que es-
concebidas sem regras prévias, sem o contraditório, a defe- tejam a serviço de seu país ou de organismo internacional
sa, que são princípios fundamentais de todo sistema jurídico (o que geraria um conflito de normas). Contudo, também é
que se pretenda democrático. A questão não pode ser trata- possível ser brasileiro nato ainda que não se tenha nascido
da com relativismos, uma vez que é muito séria”41. no território brasileiro.
Não obstante, tem-se no âmbito constitucional e inter- No entanto, a Constituição reconhece o brasileiro nato
nacional a previsão do direito de asilo, consistente no direito também pelo critério do ius sanguinis. Se qualquer dos pais
de buscar abrigo em outro país quando naquele do qual for estiver a serviço do Brasil, é considerado brasileiro nato, mes-
nacional estiver sofrendo alguma perseguição. Tal persegui- mo que nasça em outro país. Se qualquer dos pais não es-
ção não pode ter motivos legítimos, como a prática de crimes tiverem a serviço do Brasil e a pessoa nascer no exterior é
comuns ou de atos atentatórios aos princípios das Nações exigido que o nascido do exterior venha ao território brasilei-
Unidas, o que subverteria a própria finalidade desta prote- ro e aqui resida ou que tenha sido registrado em repartição
ção. Em suma, o que se pretende com o direito de asilo é competente, caso em que poderá, aos 18 anos, manifestar-se
evitar a consolidação de ameaças a direitos humanos de uma sobre desejar permanecer com a nacionalidade brasileira ou
pessoa por parte daqueles que deveriam protegê-los – isto não.
é, os governantes e os entes sociais como um todo –, e não
proteger pessoas que justamente cometeram tais violações. b) Brasileiros naturalizados

2) Naturalidade e naturalização Art. 12, CF. São brasileiros: [...]


O artigo 12 da Constituição Federal estabelece quem são II - naturalizados:
os nacionais brasileiros, dividindo-os em duas categorias: na- a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade
tos e naturalizados. Percebe-se que naturalidade é diferente brasileira, exigidas aos originários de países de língua por-
de nacionalidade – naturalidade é apenas o local de nasci- tuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e ido-
mento, nacionalidade é um efetivo vínculo com o Estado. neidade moral;
Uma pessoa pode ser considerada nacional brasileira b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residen-
tanto por ter nascido no território brasileiro quanto por vo- tes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos
luntariamente se naturalizar como brasileiro, como se per- ininterruptos e sem condenação penal, desde que requei-
41 VALVERDE, Thiago Pellegrini. Comentários aos ar- ram a nacionalidade brasileira.
tigos XV e XVI. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários
à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília:
Fortium, 2008, p. 87-88.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

A naturalização deve ser voluntária e expressa. Artigo 12, § 3º, CF. São privativos de brasileiro nato os
O Estatuto do Estrangeiro, Lei nº 6.815/1980, rege a cargos:
questão da naturalização em mais detalhes, prevendo no ar- I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
tigo 112: II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
Art. 112, Lei nº 6.815/1980. São condições para a conces- IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
são da naturalização: V - da carreira diplomática;
I - capacidade civil, segundo a lei brasileira; VI - de oficial das Forças Armadas;
II - ser registrado como permanente no Brasil; VII - de Ministro de Estado da Defesa.
III - residência contínua no território nacional, pelo pra-
zo mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores ao pe- A lógica do dispositivo é a de que qualquer pessoa no
dido de naturalização; exercício da presidência da República ou de cargo que pos-
IV - ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as sa levar a esta posição provisoriamente deve ser natural do
condições do naturalizando; país (ausente o Presidente da República, seu vice-presidente
V - exercício de profissão ou posse de bens suficientes à desempenha o cargo; ausente este assume o Presidente da
manutenção própria e da família; Câmara; também este ausente, em seguida, exerce o cargo o
VI - bom procedimento; Presidente do Senado; e, por fim, o Presidente do Supremo
VII - inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação pode assumir a presidência na ausência dos anteriores – e
no Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja cominada como o Presidente do Supremo é escolhido num critério de
pena mínima de prisão, abstratamente considerada, superior revezamento nenhum membro pode ser naturalizado); ou a
a 1 (um) ano; e de que o cargo ocupado possui forte impacto em termos de
VIII - boa saúde. representação do país ou de segurança nacional.
Outras exceções são: não aceitação, em regra, de brasi-
Destaque vai para o requisito da residência contínua. Em leiro naturalizado como membro do Conselho da República
regra, o estrangeiro precisa residir no país por 4 anos con- (artigos 89 e 90, CF); impossibilidade de ser proprietário de
empresa jornalística, de radiodifusão sonora e imagens, salvo
tínuos, conforme o inciso III do referido artigo 112. No en-
se já naturalizado há 10 anos (artigo 222, CF); possibilidade
tanto, por previsão constitucional do artigo 12, II, “a”, se o
de extradição do brasileiro naturalizado que tenha praticado
estrangeiro foi originário de país com língua portuguesa o
crime comum antes da naturalização ou, depois dela, crime
prazo de residência contínua é reduzido para 1 ano. Daí se
de tráfico de drogas (artigo 5º, LI, CF).
afirmar que o constituinte estabeleceu a naturalização ordi-
nária no artigo 12, II, “b” e a naturalização extraordinária no
3) Quase-nacionalidade: caso dos portugueses
artigo 12, II, “a”.
Nos termos do artigo 12, § 1º, CF:
Outra diferença sensível é que à naturalização ordinária
se aplica o artigo 121 do Estatuto do Estrangeiro, segundo Artigo 12, §1º, CF. Aos portugueses com residência per-
o qual “a satisfação das condições previstas nesta Lei não manente no País, se houver reciprocidade em favor de bra-
assegura ao estrangeiro direito à naturalização”. Logo, na sileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro,
naturalização ordinária não há direito subjetivo à naturali- salvo os casos previstos nesta Constituição.
zação, mesmo que preenchidos todos os requisitos. Trata-se
de ato discricionário do Ministério da Justiça. O mesmo não É uma regra que só vale se os brasileiros receberem o
vale para a naturalização extraordinária, quando há direito mesmo tratamento, questão regulamentada pelo Tratado de
subjetivo, cabendo inclusive a busca do Poder Judiciário para Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Federa-
fazê-lo valer42. tiva do Brasil e a República Portuguesa, assinado em 22 de
abril de 2000 (Decreto nº 3.927/2001).
c) Tratamento diferenciado As vantagens conferidas são: igualdade de direitos civis,
A regra é que todo nacional brasileiro, seja ele nato ou não sendo considerado um estrangeiro; gozo de direitos po-
naturalizado, deverá receber o mesmo tratamento. Neste líticos se residir há 3 anos no país, autorizando-se o alista-
sentido, o artigo 12, § 2º, CF: mento eleitoral. No caso de exercício dos direitos políticos
nestes moldes, os direitos desta natureza ficam suspensos no
Artigo 12, §2º, CF. A lei não poderá estabelecer distinção outro país, ou seja, não exerce simultaneamente direitos po-
entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos pre- líticos nos dois países.
vistos nesta Constituição.
4) Perda da nacionalidade
Percebe-se que a Constituição simultaneamente estabe- Artigo 12, § 4º, CF. Será declarada a perda da naciona-
lece a não distinção e se reserva ao direito de estabelecer as lidade do brasileiro que:
hipóteses de distinção. I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença ju-
Algumas destas hipóteses de distinção já se encontram dicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
enumeradas no parágrafo seguinte. II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
42 FARIA, Cássio Juvenal. Notas pessoais tomadas a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei
em teleconferência. estrangeira;

124
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, nada por um ou mais crimes, ao país que a reclama. O Brasil,
ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição sob hipótese alguma, extraditará brasileiros natos mas quan-
para permanência em seu território ou para o exercício de di- to aos naturalizados assim permite caso tenham praticado
reitos civis. crimes comuns (exceto crimes políticos e/ou de opinião) an-
tes da naturalização, ou, mesmo depois da naturalização, em
A respeito do inciso I do §4º do artigo 12, a Lei nº 818, caso de envolvimento com o tráfico ilícito de entorpecentes
de 18 de setembro de 1949 regula a aquisição, a perda e a (artigo 5º, LI e LII, CF).
reaquisição da nacionalidade, e a perda dos direitos políticos. Aplicam-se os seguintes princípios à extradição:
No processo deve ser respeitado o contraditório e a iniciativa a) Princípio da Especialidade: Significa que o estrangeiro
de propositura é do Procurador da República. só pode ser julgado pelo Estado requerente pelo crime obje-
No que tange ao inciso II do parágrafo em estudo, per- to do pedido de extradição. O importante é que o extradita-
cebe-se a aceitação da figura do polipátrida. Na alínea “a” do só seja submetido às penas relativas aos crimes que foram
aceita-se que a pessoa tenha nacionalidade brasileira e outra objeto do pedido de extradição.
se ao seu nascimento tiver adquirido simultaneamente a na- b) Princípio da Dupla Punibilidade: O fato praticado deve
cionalidade do Brasil e outro país; na alínea “b” é reconhecida ser punível no Estado requerente e no Brasil. Logo, além do
a mesma situação se a aquisição da nacionalidade do outro fato ser típico em ambos os países, deve ser punível em am-
país for uma exigência para continuar lá permanecendo ou bos (se houve prescrição em algum dos países, p. ex., não
exercendo seus direitos civis, pois se assim não o fosse o bra- pode ocorrer a extradição).
sileiro seria forçado a optar por uma nacionalidade e, prova- c) Princípio da Retroatividade dos Tratados: O fato de um
velmente, se ver privado da nacionalidade brasileira. tratado de extradição entre dois países ter sido celebrado
após a ocorrência do crime não impede a extradição.
5) Deportação, expulsão e entrega d) Princípio da Comutação da Pena (Direitos Humanos):
A deportação representa a devolução compulsória de Se o crime for apenado por qualquer das penas vedadas pelo
um estrangeiro que tenha entrado ou esteja de forma ir- artigo 5º, XLVII da CF, a extradição não será autorizada, sal-
regular no território nacional, estando prevista na Lei nº vo se houver a comutação da pena, transformação para uma
6.815/1980, em seus artigos 57 e 58. Neste caso, não houve pena aceita no Brasil.
prática de qualquer ato nocivo ao Brasil, havendo, pois, mera
irregularidade de visto. 7) Idioma e símbolos
A expulsão é a retirada “à força” do território brasileiro Art. 13, CF. A língua portuguesa é o idioma oficial da
de um estrangeiro que tenha praticado atos tipificados no República Federativa do Brasil.
artigo 65 e seu parágrafo único, ambos da Lei nº 6.815/1980: § 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a
bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais.
Art. 65, Lei nº 6.815/1980. É passível de expulsão o es- § 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios pode-
trangeiro que, de qualquer forma, atentar contra a segurança rão ter símbolos próprios.
nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou mora-
lidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o Idioma é a língua falada pela população, que confere
torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais. caráter diferenciado em relação à população do resto do
Parágrafo único. É passível, também, de expulsão o estran- mundo. Sendo assim, é manifestação social e cultural de uma
geiro que: nação.
a) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou perma- Os símbolos, por sua vez, representam a imagem da na-
nência no Brasil; ção e permitem o seu reconhecimento nacional e internacio-
b) havendo entrado no território nacional com infração à nalmente.
lei, dele não se retirar no prazo que lhe for determinado para Por esta intrínseca relação com a nacionalidade, a pre-
fazê-lo, não sendo aconselhável a deportação; visão é feito dentro do capítulo do texto constitucional que
c) entregar-se à vadiagem ou à mendicância; ou aborda o tema.
d) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei
para estrangeiro. Direitos políticos
Como mencionado, a nacionalidade é corolário dos di-
A entrega (ou surrender) consiste na submissão de um reitos políticos, já que somente um nacional pode adquirir
nacional a um tribunal internacional do qual o próprio país direitos políticos. No entanto, nem todo nacional é titular de
faz parte. É o que ocorreria, por exemplo, se o Brasil entre- direitos políticos. Os nacionais que são titulares de direitos
gasse um brasileiro para julgamento pelo Tribunal Penal In- políticos são denominados cidadãos. Significa afirmar que
ternacional (competência reconhecida na própria Constitui- nem todo nacional brasileiro é um cidadão brasileiro, mas so-
ção no artigo 5º, §4º). mente aquele que for titular do direito de sufrágio universal.

6) Extradição 1) Sufrágio universal


A extradição é ato diverso da deportação, da expulsão e A primeira parte do artigo 14, CF, prevê que “a soberania
da entrega. Extradição é um ato de cooperação internacional popular será exercida pelo sufrágio universal [...]”.
que consiste na entrega de uma pessoa, acusada ou conde-

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Sufrágio universal é a soma de duas capacidades eleito- Artigo 14, § 1º, CF. O alistamento eleitoral e o voto são:
rais, a capacidade ativa – votar e exercer a democracia direta I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
– e a capacidade passiva – ser eleito como representante no II - facultativos para:
modelo da democracia indireta. Ou ainda, sufrágio universal a) os analfabetos;
é o direito de todos cidadãos de votar e ser votado. O voto, b) os maiores de setenta anos;
que é o ato pelo qual se exercita o sufrágio, deverá ser direto c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
e secreto.
Para ter capacidade passiva é necessário ter a ativa, mas No mais, esta obrigatoriedade se aplica aos nacionais
não apenas isso, há requisitos adicionais. Sendo assim, nem brasileiros, já que, nos termos do artigo 14, §2º, CF:
toda pessoa que tem capacidade ativa tem também capa-
cidade passiva, embora toda pessoa que tenha capacidade Artigo 14, §2º, CF. Não podem alistar-se como eleitores os
passiva tenha necessariamente a ativa. estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório,
os conscritos.
2) Democracia direta e indireta
Art. 14, CF. A soberania popular será exercida pelo sufrá- Quanto aos conscritos, são aqueles que estão prestando
gio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para serviço militar obrigatório, pois são necessárias tropas dispo-
todos, e, nos termos da lei, mediante: níveis para os dias da eleição.
I - plebiscito;
II - referendo; 4) Elegibilidade
III - iniciativa popular. O artigo 14, §§ 3º e 4º, CF, descrevem as condições de
elegibilidade, ou seja, os requisitos que devem ser preenchi-
A democracia brasileira adota a modalidade semidireta, dos para que uma pessoa seja eleita, no exercício de sua ca-
porque possibilita a participação popular direta no poder por pacidade passiva do sufrágio universal.
intermédio de processos como o plebiscito, o referendo e a
iniciativa popular. Como são hipóteses restritas, pode-se afir- Artigo 14, § 3º, CF. São condições de elegibilidade, na
mar que a democracia indireta é predominantemente adota- forma da lei:
da no Brasil, por meio do sufrágio universal e do voto direto
I - a nacionalidade brasileira;
e secreto com igual valor para todos. Quanto ao voto direto
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
e secreto, trata-se do instrumento para o exercício da capaci-
III - o alistamento eleitoral;
dade ativa do sufrágio universal.
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
Por seu turno, o que diferencia o plebiscito do referen-
V - a filiação partidária;
do é o momento da consulta à população: no plebiscito, pri-
VI - a idade mínima de:
meiro se consulta a população e depois se toma a decisão
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da
política; no referendo, primeiro se toma a decisão política e
depois se consulta a população. Embora os dois partam do República e Senador;
Congresso Nacional, o plebiscito é convocado, ao passo que b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Es-
o referendo é autorizado (art. 49, XV, CF), ambos por meio tado e do Distrito Federal;
de decreto legislativo. O que os assemelha é que os dois são c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Esta-
“formas de consulta ao povo para que delibere sobre matéria dual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislati- d) dezoito anos para Vereador.
va ou administrativa”43.
Na iniciativa popular confere-se à população o poder de Artigo 14, § 4º, CF. São inelegíveis os inalistáveis e os
apresentar projeto de lei à Câmara dos Deputados, median- analfabetos.
te assinatura de 1% do eleitorado nacional, distribuído por 5
Estados no mínimo, com não menos de 0,3% dos eleitores de Dos incisos I a III denotam-se requisitos correlatos à na-
cada um deles. Em complemento, prevê o artigo 61, §2°, CF: cionalidade e à titularidade de direitos políticos. Logo, para
ser eleito é preciso ser cidadão.
Art. 61, § 2º, CF. A iniciativa popular pode ser exercida O domicílio eleitoral é o local onde a pessoa se alista
pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei como eleitor e, em regra, é no município onde reside, mas
subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, pode não o ser caso analisados aspectos como o vínculo de
distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de afeto com o local (ex.: Presidente Dilma vota em Porto Alegre
três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. – RS, embora resida em Brasília – DF). Sendo assim, para se
candidatar a cargo no município, deve ter domicílio eleitoral
3) Obrigatoriedade do alistamento eleitoral e do voto nele; para se candidatar a cargo no estado, deve ter domicílio
O alistamento eleitoral e o voto para os maiores de de- eleitoral em um de seus municípios; para se candidatar a car-
zoito anos são, em regra, obrigatórios. Há facultatividade go nacional, deve ter domicílio eleitoral em uma das unida-
para os analfabetos, os maiores de setenta anos e os maiores des federadas do país. Aceita-se a transferência do domicílio
de dezesseis e menores de dezoito anos. eleitoral ao menos 1 ano antes das eleições.
43 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional A filiação partidária implica no lançamento da candidatu-
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. ra por um partido político, não se aceitando a filiação avulsa.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Finalmente, o §3º do artigo 14, CF, coloca o requisito Artigo 14, §7º, CF. São inelegíveis, no território de jurisdi-
etário, com faixa etária mínima para o desempenho de cada ção do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins,
uma das funções, a qual deve ser auferida na data da posse. até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República,
de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de
5) Inelegibilidade Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses
Atender às condições de elegibilidade é necessário para anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e
poder ser eleito, mas não basta. Além disso, é preciso não candidato à reeleição.
se enquadrar em nenhuma das hipóteses de inelegibilidade.
A inelegibilidade pode ser absoluta ou relativa. Na abso- São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos,
luta, são atingidos todos os cargos; nas relativas, são atingi- cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segun-
dos determinados cargos. do grau ou por adoção, dos Chefes do Executivo ou de quem
os tenha substituído ao final do mandato, a não ser que seja
Artigo 14, § 4º, CF. São inelegíveis os inalistáveis e os já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
analfabetos.
Artigo 14, §8º, CF. O militar alistável é elegível, atendi-
O artigo 14, §4º, CF traz duas hipóteses de inelegibili- das as seguintes condições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-
dade, que são absolutas, atingem todos os cargos. Para ser
se da atividade;
elegível é preciso ser alfabetizado (os analfabetos têm a fa-
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado
culdade de votar, mas não podem ser votados) e é preciso pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamen-
possuir a capacidade eleitoral ativa – poder votar (inalistáveis te, no ato da diplomação, para a inatividade.
são aqueles que não podem tirar o título de eleitor, portanto,
não podem votar, notadamente: os estrangeiros e os conscri- São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos, os
tos durante o serviço militar obrigatório). militares que não podem se alistar ou os que podem, mas
não preenchem as condições do §8º do artigo 14, CF, ou seja,
Artigo 14, §5º, CF. O Presidente da República, os Gover- se não se afastar da atividade caso trabalhe há menos de 10
nadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem anos, se não for agregado pela autoridade superior (suspen-
os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos so do exercício das funções por sua autoridade sem prejuízo
poderão ser reeleitos para um único período subsequente. de remuneração) caso trabalhe há mais de 10 anos (sendo
que a eleição passa à condição de inativo).
Descreve-se no dispositivo uma hipótese de inelegibili-
dade relativa. Se um Chefe do Poder Executivo de qualquer Artigo 14, §9º, CF. Lei complementar estabelecerá outros
das esferas for substituído por seu vice no curso do mandato, casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de
este vice somente poderá ser eleito para um período subse- proteger a probidade administrativa, a moralidade para exer-
quente. cício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a
Ex.: Governador renuncia ao mandato no início do seu normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do
último ano de governo para concorrer ao Senado Federal e é poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou
substituído pelo seu vice-governador. Se este se candidatar e emprego na administração direta ou indireta.
for eleito, não poderá ao final deste mandato se reeleger. Isto
é, se o mandato o candidato renuncia no início de 2010 o seu O rol constitucional de inelegibilidades dos parágrafos
mandato de 2007-2010, assumindo o vice em 2010, poderá do artigo 14 não é taxativo, pois lei complementar pode es-
este se candidatar para o mandato 2011-2014, mas caso seja tabelecer outros casos, tanto de inelegibilidades absolutas
eleito não poderá se reeleger para o mandato 2015-2018 no como de inelegibilidades relativas. Neste sentido, a Lei Com-
plementar nº 64, de 18 de maio de 1990, estabelece casos de
mesmo cargo. Foi o que aconteceu com o ex-governador de
inelegibilidade, prazos de cessação, e determina outras pro-
Minas Gerais, Antônio Anastasia, que assumiu em 2010 no
vidências. Esta lei foi alterada por aquela que ficou conhecida
lugar de Aécio Neves o governo do Estado de Minas Gerais
como Lei da Ficha Limpa, Lei Complementar nº 135, de 04 de
e foi eleito governador entre 2011 e 2014, mas não pode se junho de 2010, principalmente em seu artigo 1º, que segue.
candidatar à reeleição, concorrendo por isso a uma vaga no
Senado Federal. Art. 1º, Lei Complementar nº 64/1990. São inelegíveis:
I - para qualquer cargo:
Artigo 14, §6º, CF. Para concorrerem a outros cargos, o a) os inalistáveis e os analfabetos;
Presidente da República, os Governadores de Estado e do Dis- b) os membros do Congresso Nacional, das Assembleias
trito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos Legislativas, da Câmara Legislativa e das Câmaras Municipais,
mandatos até seis meses antes do pleito. que hajam perdido os respectivos mandatos por infringência
do disposto nos incisos I e II do art. 55 da Constituição Fede-
São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos, os ral, dos dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das
chefes do Executivo que não renunciarem aos seus mandatos Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos Municípios e do
até seis meses antes do pleito eleitoral, antes das eleições. Distrito Federal, para as eleições que se realizarem durante o
Ex.: Se a eleição aconteceu em 05/10/2014, necessário que período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e
tivesse renunciado até 04/04/2014. nos oito anos subsequentes ao término da legislatura;

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

d) os que tenham contra sua pessoa representação julga- i) os que, em estabelecimentos de crédito, financiamento
da procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada em ou seguro, que tenham sido ou estejam sendo objeto de pro-
julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de apu- cesso de liquidação judicial ou extrajudicial, hajam exercido,
ração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição nos 12 (doze) meses anteriores à respectiva decretação, car-
na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como go ou função de direção, administração ou representação, en-
para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes; (Redação quanto não forem exonerados de qualquer responsabilidade;
dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010) j) os que forem condenados, em decisão transitada em jul-
e) os que forem condenados, em decisão transitada em gado ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral, por
julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a corrupção eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por doação,
condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após captação ou gastos ilícitos de recursos de campanha ou por
conduta vedada aos agentes públicos em campanhas eleitorais
o cumprimento da pena, pelos crimes: (Redação dada pela Lei
que impliquem cassação do registro ou do diploma, pelo prazo
Complementar nº 135, de 2010)
de 8 (oito) anos a contar da eleição; (Incluído pela Lei Comple-
1. contra a economia popular, a fé pública, a administra- mentar nº 135, de 2010)
ção pública e o patrimônio público; (Incluído pela Lei Comple- k) o Presidente da República, o Governador de Estado e do
mentar nº 135, de 2010) Distrito Federal, o Prefeito, os membros do Congresso Nacio-
2. contra o patrimônio privado, o sistema financeiro, o nal, das Assembleias Legislativas, da Câmara Legislativa, das
mercado de capitais e os previstos na lei que regula a falência; Câmaras Municipais, que renunciarem a seus mandatos desde
(Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) o oferecimento de representação ou petição capaz de auto-
3. contra o meio ambiente e a saúde pública; (Incluído rizar a abertura de processo por infringência a dispositivo da
pela Lei Complementar nº 135, de 2010) Constituição Federal, da Constituição Estadual, da Lei Orgânica
4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, para as
liberdade; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) eleições que se realizarem durante o período remanescente do
5. de abuso de autoridade, nos casos em que houver con- mandato para o qual foram eleitos e nos 8 (oito) anos subse-
denação à perda do cargo ou à inabilitação para o exercício quentes ao término da legislatura; (Incluído pela Lei Comple-
de função pública; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, mentar nº 135, de 2010)
de 2010) l) os que forem condenados à suspensão dos direitos polí-
6. de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores; (In- ticos, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão
cluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) judicial colegiado, por ato doloso de improbidade administrati-
va que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento
7. de tráfico de entorpecentes e drogas afins, racismo, tor-
ilícito, desde a condenação ou o trânsito em julgado até o trans-
tura, terrorismo e hediondos;
curso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena;
8. de redução à condição análoga à de escravo; (Incluído (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
pela Lei Complementar nº 135, de 2010) m) os que forem excluídos do exercício da profissão, por
9. contra a vida e a dignidade sexual; e (Incluído pela Lei decisão sancionatória do órgão profissional competente, em
Complementar nº 135, de 2010) decorrência de infração ético-profissional, pelo prazo de 8 (oito)
10. praticados por organização criminosa, quadrilha ou anos, salvo se o ato houver sido anulado ou suspenso pelo Poder
bando; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) Judiciário; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
f) os que forem declarados indignos do oficialato, ou com n) os que forem condenados, em decisão transitada em
ele incompatíveis, pelo prazo de 8 (oito) anos; (Redação dada julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, em razão
pela Lei Complementar nº 135, de 2010) de terem desfeito ou simulado desfazer vínculo conjugal ou de
g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de car- união estável para evitar caracterização de inelegibilidade, pelo
gos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável prazo de 8 (oito) anos após a decisão que reconhecer a fraude;
que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver o) os que forem demitidos do serviço público em decorrên-
sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as elei- cia de processo administrativo ou judicial, pelo prazo de 8 (oito)
ções que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a anos, contado da decisão, salvo se o ato houver sido suspenso
partir da data da decisão, aplicando-se o disposto no inciso II ou anulado pelo Poder Judiciário; (Incluído pela Lei Comple-
mentar nº 135, de 2010)
do art. 71 da Constituição Federal, a todos os ordenadores de
p) a pessoa física e os dirigentes de pessoas jurídicas res-
despesa, sem exclusão de mandatários que houverem agido
ponsáveis por doações eleitorais tidas por ilegais por decisão
nessa condição; (Redação dada pela Lei Complementar nº 135, transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da Jus-
de 2010) tiça Eleitoral, pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão, obser-
h) os detentores de cargo na administração pública direta, vando-se o procedimento previsto no art. 22; (Incluído pela Lei
indireta ou fundacional, que beneficiarem a si ou a terceiros, Complementar nº 135, de 2010)
pelo abuso do poder econômico ou político, que forem con- q) os magistrados e os membros do Ministério Público que
denados em decisão transitada em julgado ou proferida por forem aposentados compulsoriamente por decisão sancionató-
órgão judicial colegiado, para a eleição na qual concorrem ou ria, que tenham perdido o cargo por sentença ou que tenham
tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem pedido exoneração ou aposentadoria voluntária na pendência
nos 8 (oito) anos seguintes; (Redação dada pela Lei Comple- de processo administrativo disciplinar, pelo prazo de 8 (oito)
mentar nº 135, de 2010) anos; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)

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II - para Presidente e Vice-Presidente da República: h) os que, até 6 (seis) meses depois de afastados das fun-
a) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente ções, tenham exercido cargo de Presidente, Diretor ou Supe-
de seus cargos e funções: rintendente de sociedades com objetivos exclusivos de opera-
1. os Ministros de Estado: ções financeiras e façam publicamente apelo à poupança e
2. os chefes dos órgãos de assessoramento direto, civil e ao crédito, inclusive através de cooperativas e da empresa ou
militar, da Presidência da República; estabelecimentos que gozem, sob qualquer forma, de vanta-
3. o chefe do órgão de assessoramento de informações da gens asseguradas pelo poder público, salvo se decorrentes de
Presidência da República; contratos que obedeçam a cláusulas uniformes;
4. o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas; i) os que, dentro de 6 (seis) meses anteriores ao pleito, ha-
5. o Advogado-Geral da União e o Consultor-Geral da Re- jam exercido cargo ou função de direção, administração ou re-
pública; presentação em pessoa jurídica ou em empresa que mantenha
6. os chefes do Estado-Maior da Marinha, do Exército e da contrato de execução de obras, de prestação de serviços ou de
Aeronáutica; fornecimento de bens com órgão do Poder Público ou sob seu
7. os Comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica; controle, salvo no caso de contrato que obedeça a cláusulas
8. os Magistrados; uniformes;
9. os Presidentes, Diretores e Superintendentes de autar- j) os que, membros do Ministério Público, não se tenham
quias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fun- afastado das suas funções até 6 (seis) meses anteriores ao plei-
dações públicas e as mantidas pelo poder público; to;
10. os Governadores de Estado, do Distrito Federal e de I) os que, servidores públicos, estatutários ou não, dos
Territórios; órgãos ou entidades da Administração direta ou indireta da
11. os Interventores Federais; União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos
12. os Secretários de Estado; Territórios, inclusive das fundações mantidas pelo Poder Públi-
13. os Prefeitos Municipais; co, não se afastarem até 3 (três) meses anteriores ao pleito, ga-
14. os membros do Tribunal de Contas da União, dos Esta- rantido o direito à percepção dos seus vencimentos integrais;
dos e do Distrito Federal; III - para Governador e Vice-Governador de Estado e do
15. o Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal;
Distrito Federal;
16. os Secretários-Gerais, os Secretários-Executivos, os Se-
a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presi-
cretários Nacionais, os Secretários Federais dos Ministérios e as
dente da República especificados na alínea a do inciso II deste
pessoas que ocupem cargos equivalentes;
artigo e, no tocante às demais alíneas, quando se tratar de
b) os que tenham exercido, nos 6 (seis) meses anteriores à
repartição pública, associação ou empresas que operem no
eleição, nos Estados, no Distrito Federal, Territórios e em qual-
território do Estado ou do Distrito Federal, observados os mes-
quer dos poderes da União, cargo ou função, de nomeação
pelo Presidente da República, sujeito à aprovação prévia do mos prazos;
Senado Federal; b) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente
c) (Vetado); de seus cargos ou funções:
d) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tiverem com- 1. os chefes dos Gabinetes Civil e Militar do Governador do
petência ou interesse, direta, indireta ou eventual, no lança- Estado ou do Distrito Federal;
mento, arrecadação ou fiscalização de impostos, taxas e con- 2. os comandantes do Distrito Naval, Região Militar e
tribuições de caráter obrigatório, inclusive parafiscais, ou para Zona Aérea;
aplicar multas relacionadas com essas atividades; 3. os diretores de órgãos estaduais ou sociedades de assis-
e) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tenham exer- tência aos Municípios;
cido cargo ou função de direção, administração ou representa- 4. os secretários da administração municipal ou membros
ção nas empresas de que tratam os arts. 3° e 5° da Lei n° 4.137, de órgãos congêneres;
de 10 de setembro de 1962, quando, pelo âmbito e natureza IV - para Prefeito e Vice-Prefeito:
de suas atividades, possam tais empresas influir na economia a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações,
nacional; os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente
f) os que, detendo o controle de empresas ou grupo de da República, Governador e Vice-Governador de Estado e do
empresas que atuem no Brasil, nas condições monopolísticas Distrito Federal, observado o prazo de 4 (quatro) meses para a
previstas no parágrafo único do art. 5° da lei citada na alí- desincompatibilização;
nea anterior, não apresentarem à Justiça Eleitoral, até 6 (seis) b) os membros do Ministério Público e Defensoria Pública
meses antes do pleito, a prova de que fizeram cessar o abu- em exercício na Comarca, nos 4 (quatro) meses anteriores ao
so apurado, do poder econômico, ou de que transferiram, por pleito, sem prejuízo dos vencimentos integrais;
força regular, o controle de referidas empresas ou grupo de c) as autoridades policiais, civis ou militares, com exercício
empresas; no Município, nos 4 (quatro) meses anteriores ao pleito;
g) os que tenham, dentro dos 4 (quatro) meses anteriores V - para o Senado Federal:
ao pleito, ocupado cargo ou função de direção, administra- a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presi-
ção ou representação em entidades representativas de classe, dente da República especificados na alínea a do inciso II deste
mantidas, total ou parcialmente, por contribuições impostas artigo e, no tocante às demais alíneas, quando se tratar de
pelo poder Público ou com recursos arrecadados e repassados repartição pública, associação ou empresa que opere no terri-
pela Previdência Social; tório do Estado, observados os mesmos prazos;

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b) em cada Estado e no Distrito Federal, os inelegíveis para I - cancelamento da naturalização por sentença transitada
os cargos de Governador e Vice-Governador, nas mesmas con- em julgado;
dições estabelecidas, observados os mesmos prazos; II - incapacidade civil absoluta;
VI - para a Câmara dos Deputados, Assembleia Legislativa III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto
e Câmara Legislativa, no que lhes for aplicável, por identidade durarem seus efeitos;
de situações, os inelegíveis para o Senado Federal, nas mesmas IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou pres-
condições estabelecidas, observados os mesmos prazos; tação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
VII - para a Câmara Municipal: V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, §
a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os 4º.
inelegíveis para o Senado Federal e para a Câmara dos Depu-
tados, observado o prazo de 6 (seis) meses para a desincom- O inciso I refere-se ao cancelamento da naturalização, o
patibilização; que faz com que a pessoa deixe de ser nacional e, portanto,
b) em cada Município, os inelegíveis para os cargos de Pre- deixe de ser titular de direitos políticos.
feito e Vice-Prefeito, observado o prazo de 6 (seis) meses para O inciso II trata da incapacidade civil absoluta, ou seja, da
a desincompatibilização . interdição da pessoa para a prática de atos da vida civil, entre
§ 1° Para concorrência a outros cargos, o Presidente da os quais obviamente se enquadra o sufrágio universal.
República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e O inciso III refere-se a um dos possíveis efeitos da conde-
os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até 6 nação criminal, que é a suspensão de direitos políticos.
(seis) meses antes do pleito. O inciso IV trata da recusa em cumprir a obrigação militar
§ 2° O Vice-Presidente, o Vice-Governador e o Vice-Pre- ou a prestação substitutiva imposta em caso de escusa moral
feito poderão candidatar-se a outros cargos, preservando os ou religiosa.
seus mandatos respectivos, desde que, nos últimos 6 (seis) O inciso V se refere à ação de improbidade administra-
meses anteriores ao pleito, não tenham sucedido ou substi- tiva, que tramita para apurar a prática dos atos de improbi-
tuído o titular. dade administrativa, na qual uma das penas aplicáveis é a
§ 3° São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, suspensão dos direitos políticos.
o cônjuge e os parentes, consanguíneos ou afins, até o se- Os direitos políticos somente são perdidos em dois ca-
gundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de sos, quais sejam cancelamento de naturalização por sentença
Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de transitada em julgado (o indivíduo naturalizado volta à con-
Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos 6 (seis) dição de estrangeiro) e perda da nacionalidade brasileira em
meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato ele- virtude da aquisição de outra (brasileiro se naturaliza em ou-
tivo e candidato à reeleição. tro país e assim deixa de ser considerado um cidadão brasi-
§ 4º A inelegibilidade prevista na alínea e do inciso I deste leiro, perdendo direitos políticos). Nos demais casos, há sus-
artigo não se aplica aos crimes culposos e àqueles definidos pensão. Nota-se que não há perda de direitos políticos pela
em lei como de menor potencial ofensivo, nem aos crimes prática de atos atentatórios contra a Administração Pública
de ação penal privada. (Incluído pela Lei Complementar nº por parte do servidor, mas apenas suspensão.
135, de 2010) A cassação de direitos políticos, consistente na retirada
§ 5º A renúncia para atender à desincompatibilização dos direitos políticos por ato unilateral do poder público,
com vistas a candidatura a cargo eletivo ou para assunção de sem observância dos princípios elencados no artigo 5º, LV,
mandato não gerará a inelegibilidade prevista na alínea k, a CF (ampla defesa e contraditório), é um procedimento que
menos que a Justiça Eleitoral reconheça fraude ao disposto só existe nos governos ditatoriais e que é absolutamente ve-
nesta Lei Complementar. (Incluído pela Lei Complementar nº dado pelo texto constitucional.
135, de 2010).
8) Anterioridade anual da lei eleitoral
6) Impugnação de mandato
Encerrando a disciplina, o artigo 14, CF, aborda a impug- Art. 16, CF. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em
nação de mandato. vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição
que ocorra até um ano da data de sua vigência. 
Artigo 14, § 10, CF. O mandato eletivo poderá ser impug-
nado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados É necessário que a lei eleitoral entre em vigor pelo me-
da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do po- nos 1 ano antes da próxima eleição, sob pena de não se apli-
der econômico, corrupção ou fraude. car a ela, mas somente ao próximo pleito.

Artigo 14, § 11, CF. A ação de impugnação de mandato Partidos políticos


tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na for- O pluripartidarismo é uma das facetas do pluralismo
ma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé. político e encontra respaldo enquanto direito fundamental,
já que regulamentado no Título II, “Dos Direitos e Garantias
7) Perda e suspensão de direitos políticos Fundamentais”, capítulo V, “Dos Partidos Políticos”.
Art. 15, CF. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja O caput do artigo 17 da Constituição prevê:
perda ou suspensão só se dará nos casos de:

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de Artigo 37, CF. A administração pública direta e indireta de
partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regi- qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Fede-
me democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais ral e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
da pessoa humana [...]. impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, tam-
bém, ao seguinte: [...]
Consolida-se, assim a liberdade partidária, não estabele-
cendo a Constituição um limite de números de partidos po- São princípios da administração pública, nesta ordem:
líticos que possam ser constituídos, permitindo também que Legalidade
sejam extintos, fundidos e incorporados. Impessoalidade
Os incisos do artigo 17 da Constituição indicam os pre- Moralidade
ceitos a serem observados na liberdade partidária: caráter Publicidade
nacional, ou seja, terem por objetivo o desempenho de ati- Eficiência
vidade política no âmbito interno do país; proibição de rece- Para memorizar: veja que as iniciais das palavras for-
bimento de recursos financeiros de entidade ou governo es- mam o vocábulo LIMPE, que remete à limpeza esperada da
trangeiros ou de subordinação a estes, logo, o Poder Público Administração Pública. É de fundamental importância um
não pode financiar campanhas eleitorais; prestação de contas olhar atento ao significado de cada um destes princípios,
à Justiça Eleitoral, notadamente para resguardar a menciona- posto que eles estruturam todas as regras éticas prescritas
da vedação; e funcionamento parlamentar de acordo com a no Código de Ética e na Lei de Improbidade Administrativa,
lei. Ainda, a lei veda a utilização de organização paramilitar tomando como base os ensinamentos de Carvalho Filho44 e
por parte dos partidos políticos (artigo 17, §4º, CF). Spitzcovsky45:
O respeito a estes ditames permite o exercício do parti- a) Princípio da legalidade: Para o particular, legalidade
darismo de forma autônoma em termos estruturais e organi- significa a permissão de fazer tudo o que a lei não proíbe.
zacionais, conforme o §1º do artigo 17, CF: Contudo, como a administração pública representa os inte-
resses da coletividade, ela se sujeita a uma relação de subor-
Art. 17, §1º, CF. É assegurada aos partidos políticos auto- dinação, pela qual só poderá fazer o que a lei expressamente
nomia para definir sua estrutura interna, organização e fun- determina (assim, na esfera estatal, é preciso lei anterior edi-
cionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de tando a matéria para que seja preservado o princípio da le-
suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação galidade). A origem deste princípio está na criação do Estado
de Direito, no sentido de que o próprio Estado deve respeitar
entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital
as leis que dita.
ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de
b) Princípio da impessoalidade: Por força dos interes-
disciplina e fidelidade partidária. 
ses que representa, a administração pública está proibida
de promover discriminações gratuitas. Discriminar é tratar
Os estatutos que tecem esta regulamentação devem ser
alguém de forma diferente dos demais, privilegiando ou pre-
registrados no Tribunal Superior Eleitoral (artigo 17, §2º, CF).
judicando. Segundo este princípio, a administração pública
Quanto ao financiamento das campanhas e o acesso à
deve tratar igualmente todos aqueles que se encontrem na
mídia, prevê o §3º do artigo 17 da CF:
mesma situação jurídica (princípio da isonomia ou igualda-
de). Por exemplo, a licitação reflete a impessoalidade no que
Art. 17, §3º, CF. Os partidos políticos têm direito a recursos tange à contratação de serviços. O princípio da impessoali-
do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na dade correlaciona-se ao princípio da finalidade, pelo qual o
forma da lei. alvo a ser alcançado pela administração pública é somente o
interesse público. Com efeito, o interesse particular não pode
1) Princípios da Administração Pública influenciar no tratamento das pessoas, já que deve-se buscar
Os valores éticos inerentes ao Estado, os quais permitem somente a preservação do interesse coletivo.
que ele consolide o bem comum e garanta a preservação dos c) Princípio da moralidade: A posição deste princípio
interesses da coletividade, se encontram exteriorizados em no artigo 37 da CF representa o reconhecimento de uma es-
princípios e regras. Estes, por sua vez, são estabelecidos na pécie de moralidade administrativa, intimamente relacionada
Constituição Federal e em legislações infraconstitucionais, a ao poder público. A administração pública não atua como um
exemplo das que serão estudadas neste tópico, quais sejam: particular, de modo que enquanto o descumprimento dos
Decreto n° 1.171/94, Lei n° 8.112/90 e Lei n° 8.429/92. preceitos morais por parte deste particular não é punido pelo
Todas as diretivas de leis específicas sobre a ética no se- Direito (a priori), o ordenamento jurídico adota tratamento
tor público partem da Constituição Federal, que estabelece rigoroso do comportamento imoral por parte dos represen-
alguns princípios fundamentais para a ética no setor públi- tantes do Estado. O princípio da moralidade deve se fazer
co. Em outras palavras, é o texto constitucional do artigo 37, presente não só para com os administrados, mas também no
especialmente o caput, que permite a compreensão de boa 44 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
parte do conteúdo das leis específicas, porque possui um direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
caráter amplo ao preconizar os princípios fundamentais da 2010.
administração pública. Estabelece a Constituição Federal: 45 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13.
ed. São Paulo: Método, 2011.

131
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

âmbito interno. Está indissociavelmente ligado à noção de Além destes cinco princípios administrativo-constitucio-
bom administrador, que não somente deve ser conhecedor nais diretamente selecionados pelo constituinte, podem ser
da lei, mas também dos princípios éticos regentes da função apontados como princípios de natureza ética relacionados à
administrativa. TODO ATO IMORAL SERÁ DIRETAMENTE ILE- função pública a probidade e a motivação:
GAL OU AO MENOS IMPESSOAL, daí a intrínseca ligação com a) Princípio da probidade: um princípio constitucional
os dois princípios anteriores. incluído dentro dos princípios específicos da licitação, é o de-
d) Princípio da publicidade: A administração pública ver de todo o administrador público, o dever de honestidade
é obrigada a manter transparência em relação a todos seus e fidelidade com o Estado, com a população, no desempe-
atos e a todas informações armazenadas nos seus bancos de nho de suas funções. Possui contornos mais definidos do que
dados. Daí a publicação em órgãos da imprensa e a afixação a moralidade. Diógenes Gasparini46 alerta que alguns autores
de portarias. Por exemplo, a própria expressão concurso pú- tratam veem como distintos os princípios da moralidade e
blico (art. 37, II, CF) remonta ao ideário de que todos devem da probidade administrativa, mas não há características que
tomar conhecimento do processo seletivo de servidores do permitam tratar os mesmos como procedimentos distintos,
sendo no máximo possível afirmar que a probidade adminis-
Estado. Diante disso, como será visto, se negar indevidamen-
trativa é um aspecto particular da moralidade administrativa.
te a fornecer informações ao administrado caracteriza ato de
b) Princípio da motivação: É a obrigação conferida ao
improbidade administrativa.
administrador de motivar todos os atos que edita, gerais ou
No mais, prevê o §1º do artigo 37, CF, evitando que o de efeitos concretos. É considerado, entre os demais prin-
princípio da publicidade seja deturpado em propaganda po- cípios, um dos mais importantes, uma vez que sem a mo-
lítico-eleitoral: tivação não há o devido processo legal, uma vez que a fun-
damentação surge como meio interpretativo da decisão que
Artigo 37, §1º, CF. A publicidade dos atos, programas, levou à prática do ato impugnado, sendo verdadeiro meio
obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter de viabilização do controle da legalidade dos atos da Admi-
caráter educativo, informativo ou de orientação social, nistração.
dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que Motivar significa mencionar o dispositivo legal aplicável
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores ao caso concreto e relacionar os fatos que concretamente
públicos. levaram à aplicação daquele dispositivo legal. Todos os atos
administrativos devem ser motivados para que o Judiciário
Somente pela publicidade os indivíduos controlarão a possa controlar o mérito do ato administrativo quanto à sua
legalidade e a eficiência dos atos administrativos. Os instru- legalidade. Para efetuar esse controle, devem ser observados
mentos para proteção são o direito de petição e as certidões os motivos dos atos administrativos.
(art. 5°, XXXIV, CF), além do habeas data e - residualmente - Em relação à necessidade de motivação dos atos admi-
do mandado de segurança. Neste viés, ainda, prevê o artigo nistrativos vinculados (aqueles em que a lei aponta um único
37, CF em seu §3º:  comportamento possível) e dos atos discricionários (aqueles
que a lei, dentro dos limites nela previstos, aponta um ou
Artigo 37, §3º, CF. A lei disciplinará as formas de partici- mais comportamentos possíveis, de acordo com um juízo
pação do usuário na administração pública direta e indi- de conveniência e oportunidade), a doutrina é uníssona na
reta, regulando especialmente: determinação da obrigatoriedade de motivação com relação
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públi- aos atos administrativos vinculados; todavia, diverge quanto
cos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de aten- à referida necessidade quanto aos atos discricionários.
dimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, Meirelles47 entende que o ato discricionário, editado sob
os limites da Lei, confere ao administrador uma margem de
da qualidade dos serviços;
liberdade para fazer um juízo de conveniência e oportunida-
II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a in-
de, não sendo necessária a motivação. No entanto, se houver
formações sobre atos de governo, observado o disposto no art.
tal fundamentação, o ato deverá condicionar-se a esta, em
5º, X e XXXIII; razão da necessidade de observância da Teoria dos Motivos
III - a disciplina da representação contra o exercício negli- Determinantes. O entendimento majoritário da doutrina, po-
gente ou abusivo de cargo, emprego ou função na administra- rém, é de que, mesmo no ato discricionário, é necessária a
ção pública. motivação para que se saiba qual o caminho adotado pelo
administrador. Gasparini48, com respaldo no art. 50 da Lei n.
e) Princípio da eficiência: A administração pública deve 9.784/98, aponta inclusive a superação de tais discussões
manter o ampliar a qualidade de seus serviços com contro- doutrinárias, pois o referido artigo exige a motivação para
le de gastos. Isso envolve eficiência ao contratar pessoas (o todos os atos nele elencados, compreendendo entre estes,
concurso público seleciona os mais qualificados ao exercí- tanto os atos discricionários quanto os vinculados.
cio do cargo), ao manter tais pessoas em seus cargos (pois
é possível exonerar um servidor público por ineficiência) e 46 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª
ao controlar gastos (limitando o teto de remuneração), por ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
exemplo. O núcleo deste princípio é a procura por produti- 47 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo
vidade e economicidade. Alcança os serviços públicos e os brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1993.
serviços administrativos internos, se referindo diretamente à 48 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª
conduta dos agentes. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

132
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

2) Regras mínimas sobre direitos e deveres dos ser- No concurso de provas o candidato é avaliado apenas
vidores pelo seu desempenho nas provas, ao passo que nos concur-
O artigo 37 da Constituição Federal estabelece os princí- sos de provas e títulos o seu currículo em toda sua atividade
pios da administração pública estudados no tópico anterior, profissional também é considerado. Cargo em comissão é o
aos quais estão sujeitos servidores de quaisquer dos Poderes cargo de confiança, que não exige concurso público, sendo
em qualquer das esferas federativas, e, em seus incisos, re- exceção à regra geral.
gras mínimas sobre o serviço público:
Artigo 37, III, CF. O prazo de validade do concurso públi-
Artigo 37, I, CF. Os cargos, empregos e funções públicas co será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual
são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos período.
estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma
da lei. Artigo 37, IV, CF. Durante o prazo improrrogável pre-
visto no edital de convocação, aquele aprovado em concurso
público de provas ou de provas e títulos será convocado com
Aprofundando a questão, tem-se o artigo 5º da Lei nº
prioridade sobre novos concursados para assumir cargo ou
8.112/1990, que prevê:
emprego, na carreira.
Artigo 5º, Lei nº 8.112/1990. São requisitos básicos para
Prevê o artigo 12 da Lei nº 8.112/1990:
investidura em cargo público:
I - a nacionalidade brasileira; Artigo 12, Lei nº 8.112/1990. O concurso público terá vali-
II - o gozo dos direitos políticos; dade de até 2 (dois) anos, podendo ser prorrogado uma única
III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais; vez, por igual período.
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do §1º O prazo de validade do concurso e as condições de
cargo; sua realização serão fixados em edital, que será publicado
V - a idade mínima de dezoito anos; no Diário Oficial da União e em jornal diário de grande cir-
VI - aptidão física e mental. culação.
§ 1º As atribuições do cargo podem justificar a exigência § 2º Não se abrirá novo concurso enquanto houver can-
de outros requisitos estabelecidos em lei. [...] didato aprovado em concurso anterior com prazo de valida-
§ 3º As universidades e instituições de pesquisa científica de não expirado.
e tecnológica federais poderão prover seus cargos com pro-
fessores, técnicos e cientistas estrangeiros, de acordo com as O edital delimita questões como valor da taxa de inscri-
normas e os procedimentos desta Lei. ção, casos de isenção, número de vagas e prazo de valida-
de. Havendo candidatos aprovados na vigência do prazo do
Destaca-se a exceção ao inciso I do artigo 5° da Lei nº concurso, ele deve ser chamado para assumir eventual vaga
8.112/1990 e do inciso I do artigo 37, CF, prevista no artigo e não ser realizado novo concurso.
207 da Constituição, permitindo que estrangeiros assumam Destaca-se que o §2º do artigo 37, CF, prevê:
cargos no ramo da pesquisa, ciência e tecnologia.
Artigo 37, §2º, CF. A não-observância do disposto nos inci-
Artigo 37, II, CF. A investidura em cargo ou emprego pú- sos II e III implicará a nulidade do ato e a punição da auto-
blico depende de aprovação prévia em concurso público de ridade responsável, nos termos da lei.
provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, Com efeito, há tratamento rigoroso da responsabilização
daquele que viola as diretrizes mínimas sobre o ingresso no
ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declara-
serviço público, que em regra se dá por concurso de provas
do em lei de livre nomeação e exoneração.
ou de provas e títulos.
Preconiza o artigo 10 da Lei nº 8.112/1990:
Artigo 37, V, CF. As funções de confiança, exercidas ex-
clusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os
Artigo 10, Lei nº 8.112/90. A nomeação para cargo de cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de
carreira ou cargo isolado de provimento efetivo depende de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos pre-
prévia habilitação em concurso público de provas ou de provas vistos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção,
e títulos, obedecidos a ordem de classificação e o prazo de sua chefia e assessoramento.
validade.
Parágrafo único. Os demais requisitos para o ingresso e o
desenvolvimento do servidor na carreira, mediante promoção,
serão estabelecidos pela lei que fixar as diretrizes do sistema
de carreira na Administração Pública Federal e seus regula-
mentos.

133
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Observa-se o seguinte quadro comparativo49:

Função de Confiança Cargo em Comissão


Exercidas exclusivamente por servidores ocupantes Qualquer pessoa, observado o percentual mínimo
de cargo efetivo. reservado ao servidor de carreira.
Com concurso público, já que somente pode exercê- Sem concurso público, ressalvado o percentual
la o servidor de cargo efetivo, mas a função em si mínimo reservado ao servidor de carreira.
não prescindível de concurso público.
Somente são conferidas atribuições e É atribuído posto (lugar) num dos quadros da
responsabilidade Administração Pública, conferida atribuições e
responsabilidade àquele que irá ocupá-lo
Destinam-se apenas às atribuições de direção, Destinam-se apenas às atribuições de direção,
chefia e assessoramento chefia e assessoramento
De livre nomeação e exoneração no que se refere à De livre nomeação e exoneração
função e não em relação ao cargo efetivo.

Artigo 37, VI, CF. É garantido ao servidor público civil o direito à livre associação sindical.

A liberdade de associação é garantida aos servidores públicos tal como é garantida a todos na condição de direito indivi-
dual e de direito social.

Artigo 37, VII, CF. O direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica.

O Supremo Tribunal Federal decidiu que os servidores públicos possuem o direito de greve, devendo se atentar pela pre-
servação da sociedade quando exercê-lo. Enquanto não for elaborada uma legislação específica para os funcionários públicos,
deverá ser obedecida a lei geral de greve para os funcionários privados, qual seja a Lei n° 7.783/89 (Mandado de Injunção nº 20).

Artigo 37, VIII, CF. A lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência
e definirá os critérios de sua admissão.

Neste sentido, o §2º do artigo 5º da Lei nº 8.112/1990:

Artigo 5º, Lei nº 8.112/90. Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público
para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão
reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso.

Prossegue o artigo 37, CF:

Artigo 37, IX, CF. A lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária
de excepcional interesse público.

A Lei nº 8.745/1993 regulamenta este inciso da Constituição, definindo a natureza da relação estabelecida entre o servidor
contratado e a Administração Pública, para atender à “necessidade temporária de excepcional interesse público”.

“Em se tratando de relação subordinada, isto é, de relação que comporta dependência jurídica do servidor perante o Esta-
do, duas opções se ofereciam: ou a relação seria trabalhista, agindo o Estado iure gestionis, sem usar das prerrogativas de Poder
Público, ou institucional, estatutária, preponderando o ius imperii do Estado. Melhor dizendo: o sistema preconizado pela Carta
Política de 1988 é o do contrato, que tanto pode ser trabalhista (inserindo-se na esfera do Direito Privado) quanto administra-
tivo (situando-se no campo do Direito Público). [...] Uma solução intermediária não deixa, entretanto, de ser legítima. Pode-se,
com certeza, abonar um sistema híbrido, eclético, no qual coexistam normas trabalhistas e estatutárias, pondo-se em contigui-
dade os vínculos privado e administrativo, no sentido de atender às exigências do Estado moderno, que procura alcançar os
seus objetivos com a mesma eficácia dos empreendimentos não-governamentais”50.

49 http://direitoemquadrinhos.blogspot.com.br/2011/03/quadro-comparativo-funcao-de-confianca.html

134
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Artigo 37, X, CF. A remuneração dos servidores públi- em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal,
cos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do
poderão ser fixados ou alterados por lei específica, obser- Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio men-
vada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão sal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio
geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índi- dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder
ces. Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribu-
nal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco
Artigo 37, XV, CF. O subsídio e os vencimentos dos ocu- centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos
pantes de cargos e empregos públicos são irredutíveis, res- Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Po-
salvado o disposto nos incisos XI e XIV deste artigo e nos arts. der Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministé-
39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. rio Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos.

Artigo 37, §10, CF. É vedada a percepção simultânea Artigo 37, XII, CF. Os vencimentos dos cargos do Poder
de proventos de aposentadoria decorrentes do art. 40 ou Legislativo e do Poder Judiciário não poderão ser superio-
dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo, empre- res aos pagos pelo Poder Executivo.
go ou função pública, ressalvados os cargos acumuláveis na
forma desta Constituição, os cargos eletivos e os cargos em Prevê a Lei nº 8.112/1990 em seu artigo 42:
comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração.
Artigo 42, Lei nº 8.112/90. Nenhum servidor poderá per-
Sobre a questão, disciplina a Lei nº 8.112/1990 nos arti- ceber, mensalmente, a título de remuneração, importância su-
gos 40 e 41: perior à soma dos valores percebidos como remuneração, em
espécie, a qualquer título, no âmbito dos respectivos Poderes,
Art. 40. Vencimento é a retribuição pecuniária pelo exercí- pelos Ministros de Estado, por membros do Congresso Nacio-
cio de cargo público, com valor fixado em lei. nal e Ministros do Supremo Tribunal Federal. Parágrafo único.
Excluem-se do teto de remuneração as vantagens previstas
Art. 41. Remuneração é o vencimento do cargo efetivo, nos incisos II a VII do art. 61.
acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabeleci-
das em lei. Com efeito, os §§ 11 e 12 do artigo 37, CF tecem aprofun-
§ 1º A remuneração do servidor investido em função ou damentos sobre o mencionado inciso XI:
cargo em comissão será paga na forma prevista no art. 62.
§ 2º O servidor investido em cargo em comissão de ór- Artigo 37, § 11, CF. Não serão computadas, para efeito
gão ou entidade diversa da de sua lotação receberá a remu- dos limites remuneratórios de que trata o inciso XI do caput
neração de acordo com o estabelecido no § 1º do art. 93. deste artigo, as parcelas de caráter indenizatório previstas
§ 3º O vencimento do cargo efetivo, acrescido das vanta- em lei.
gens de caráter permanente, é irredutível.
§ 4º É assegurada a isonomia de vencimentos para car- Artigo 37, § 12, CF. Para os fins do disposto no inciso XI
gos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder, do caput deste artigo, fica facultado aos Estados e ao Distrito
ou entre servidores dos três Poderes, ressalvadas as vanta- Federal fixar, em seu âmbito, mediante emenda às respecti-
gens de caráter individual e as relativas à natureza ou ao local vas Constituições e Lei Orgânica, como limite único, o sub-
de trabalho. sídio mensal dos Desembargadores do respectivo Tribu-
§ 5º Nenhum servidor receberá remuneração inferior ao nal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco
salário mínimo. centésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros do
Supremo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste
Ainda, o artigo 37 da Constituição: parágrafo aos subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e
dos Vereadores.
Artigo 37, XI, CF. A remuneração e o subsídio dos ocu-
pantes de cargos, funções e empregos públicos da admi- Por seu turno, o artigo 37 quanto à vinculação ou equi-
nistração direta, autárquica e fundacional, dos membros paração salarial:
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo Artigo 37, XIII, CF. É vedada a vinculação ou equipara-
e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou ção de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de re-
outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente muneração de pessoal do serviço público.
ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer
outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, Os padrões de vencimentos são fixados por conselho de
50 VOGEL NETO, Gustavo Adolpho. Contratação de política de administração e remuneração de pessoal, integra-
servidores para atender a necessidade temporária de ex- do por servidores designados pelos respectivos Poderes (ar-
cepcional interesse público. Disponível em: <http://www. tigo 39, caput e § 1º), sem qualquer garantia constitucional de
planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_39/Artigos/Art_Gustavo. tratamento igualitário aos cargos que se mostrem similares.
htm>. Acesso em: 23 dez. 2014.

135
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Artigo 37, XIV, CF. Os acréscimos pecuniários percebidos Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica à
por servidor público não serão computados nem acumula- remuneração devida pela participação em conselhos de ad-
dos para fins de concessão de acréscimos ulteriores. ministração e fiscal das empresas públicas e sociedades de
economia mista, suas subsidiárias e controladas, bem como
A preocupação do constituinte, ao implantar tal precei- quaisquer empresas ou entidades em que a União, direta ou
to, foi de que não eclodisse no sistema remuneratório dos indiretamente, detenha participação no capital social, obser-
servidores, ou seja, evitar que se utilize uma vantagem como vado o que, a respeito, dispuser legislação específica.
base de cálculo de um outro benefício. Dessa forma, qual-
quer gratificação que venha a ser concedida ao servidor só
Art. 120, Lei nº 8.112/1990. O servidor vinculado ao regi-
pode ter como base de cálculo o próprio vencimento básico.
me desta Lei, que acumular licitamente dois cargos efetivos,
É inaceitável que se leve em consideração outra vantagem
quando investido em cargo de provimento em comissão, ficará
até então percebida.
afastado de ambos os cargos efetivos, salvo na hipótese em
Artigo 37, XVI, CF. É vedada a acumulação remunerada que houver compatibilidade de horário e local com o exercício
de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilida- de um deles, declarada pelas autoridades máximas dos órgãos
de de horários, observado em qualquer caso o disposto no in- ou entidades envolvidos.
ciso XI: a) a de dois cargos de professor; b) a de um cargo
de professor com outro, técnico ou científico; c) a de dois “Os artigos 118 a 120 da Lei nº 8.112/90 ao tratarem da
cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, acumulação de cargos e funções públicas, regulamentam, no
com profissões regulamentadas. âmbito do serviço público federal a vedação genérica cons-
tante do art. 37, incisos VXI e XVII, da Constituição da Repú-
Artigo 37, XVII, CF. A proibição de acumular estende-se blica. De fato, a acumulação ilícita de cargos públicos consti-
a empregos e funções e abrange autarquias, fundações, tui uma das infrações mais comuns praticadas por servidores
empresas públicas, sociedades de economia mista, suas públicos, o que se constata observando o elevado número
subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indireta- de processos administrativos instaurados com esse objeto. O
mente, pelo poder público. sistema adotado pela Lei nº 8.112/90 é relativamente brando,
quando cotejado com outros estatutos de alguns Estados,
Segundo Carvalho Filho51, “o fundamento da proibição é
visto que propicia ao servidor incurso nessa ilicitude diver-
impedir que o cúmulo de funções públicas faça com que o
sas oportunidades para regularizar sua situação e escapar da
servidor não execute qualquer delas com a necessária eficiên-
pena de demissão. Também prevê a lei em comentário, um
cia. Além disso, porém, pode-se observar que o Constituinte
quis também impedir a cumulação de ganhos em detrimento processo administrativo simplificado (processo disciplinar de
da boa execução de tarefas públicas. [...] Nota-se que a veda- rito sumário) para a apuração dessa infração – art. 133” 52.
ção se refere à acumulação remunerada. Em consequência,
se a acumulação só encerra a percepção de vencimentos por Artigo 37, XVIII, CF. A administração fazendária e seus
uma das fontes, não incide a regra constitucional proibitiva”. servidores fiscais terão, dentro de suas áreas de competência
A Lei nº 8.112/1990 regulamenta intensamente a ques- e jurisdição, precedência sobre os demais setores adminis-
tão: trativos, na forma da lei.

Artigo 118, Lei nº 8.112/1990. Ressalvados os casos pre- Artigo 37, XXII, CF. As administrações tributárias da
vistos na Constituição, é vedada a acumulação remunerada União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
de cargos públicos. atividades essenciais ao funcionamento do Estado, exercidas
§ 1o A proibição de acumular estende-se a cargos, em- por servidores de carreiras específicas, terão recursos priori-
pregos e funções em autarquias, fundações públicas, empresas tários para a realização de suas atividades e atuarão de
públicas, sociedades de economia mista da União, do Distrito forma integrada, inclusive com o compartilhamento de ca-
Federal, dos Estados, dos Territórios e dos Municípios. dastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio.
§ 2o A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condi-
cionada à comprovação da compatibilidade de horários.
“O Estado tem como finalidade essencial a garantia do
§ 3o Considera-se acumulação proibida a percepção de
bem-estar de seus cidadãos, seja através dos serviços públi-
vencimento de cargo ou emprego público efetivo com proven-
tos da inatividade, salvo quando os cargos de que decorram cos que disponibiliza, seja através de investimentos na área
essas remunerações forem acumuláveis na atividade. social (educação, saúde, segurança pública). Para atingir es-
ses objetivos primários, deve desenvolver uma atividade fi-
Art. 119, Lei nº 8.112/1990. O servidor não poderá exer- nanceira, com o intuito de obter recursos indispensáveis às
cer mais de um cargo em comissão, exceto no caso previsto necessidades cuja satisfação se comprometeu quando esta-
no parágrafo único do art. 9o, nem ser remunerado pela parti- beleceu o “pacto” constitucional de 1988. [...] A importância
cipação em órgão de deliberação coletiva.  52 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos Ser-
51 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de vidores Públicos da União. Disponível em: <http://www.ca-
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, naldosconcursos.com.br/artigos/almirmorgado_artigo1.pdf>.
2010. Acesso em: 11 ago. 2013.

136
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

da Administração Tributária foi reconhecida expressamente Continua o artigo 37, CF:


pelo constituinte que acrescentou, no artigo 37 da Carta
Magna, o inciso XVIII, estabelecendo a sua precedência e de Artigo 37, XXI, CF. Ressalvados os casos especificados
seus servidores sobre os demais setores da Administração na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão
Pública, dentro de suas áreas de competência”53. contratados mediante processo de licitação pública que as-
segure igualdade de condições a todos os concorrentes, com
Artigo 37, XIX, CF. Somente por lei específica poderá ser cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, man-
criada autarquia e autorizada a instituição de empresa tidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o
pública, de sociedade de economia mista e de fundação, qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica
cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das
áreas de sua atuação. obrigações.

Artigo 37, XX, CF. Depende de autorização legislativa, A Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, regulamenta o
em cada caso, a criação de subsidiárias das entidades men- art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas
cionadas no inciso anterior, assim como a participação de para licitações e contratos da Administração Pública e dá
qualquer delas em empresa privada. outras providências. Licitação nada mais é que o conjunto
de procedimentos administrativos (administrativos porque
Órgãos da administração indireta somente podem ser
parte da administração pública) para as compras ou serviços
criados por lei específica e a criação de subsidiárias destes
contratados pelos governos Federal, Estadual ou Municipal,
dependem de autorização legislativa (o Estado cria e controla
ou seja todos os entes federativos. De forma mais simples,
diretamente determinada empresa pública ou sociedade de
economia mista, e estas, por sua vez, passam a gerir uma podemos dizer que o governo deve comprar e contratar ser-
nova empresa, denominada subsidiária. Ex.: Transpetro, sub- viços seguindo regras de lei, assim a licitação é um processo
sidiária da Petrobrás). “Abrimos um parêntese para observar formal onde há a competição entre os interessados.
que quase todos os autores que abordam o assunto afirmam
categoricamente que, a despeito da referência no texto cons- Artigo 37, §5º, CF. A lei estabelecerá os prazos de prescri-
titucional a ‘subsidiárias das entidades mencionadas no in- ção para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou
ciso anterior’, somente empresas públicas e sociedades de não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas
economia mista podem ter subsidiárias, pois a relação de ações de ressarcimento.
controle que existe entre a pessoa jurídica matriz e a sub-
sidiária seria própria de pessoas com estrutura empresarial, A prescrição dos ilícitos praticados por servidor encontra
e inadequada a autarquias e fundações públicas. OUSAMOS disciplina específica no artigo 142 da Lei nº 8.112/1990:
DISCORDAR. Parece-nos que, se o legislador de um ente
federado pretendesse, por exemplo, autorizar a criação de Art. 142, Lei nº 8.112/1990. A ação disciplinar prescre-
uma subsidiária de uma fundação pública, NÃO haveria base verá:
constitucional para considerar inválida sua autorização”54. I  -  em 5 (cinco)  anos, quanto às infrações puníveis com
Ainda sobre a questão do funcionamento da administra- demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e des-
ção indireta e de suas subsidiárias, destaca-se o previsto nos tituição de cargo em comissão;
§§ 8º e 9º do artigo 37, CF: II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;
III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto á advertência.
Artigo 37, §8º, CF. A autonomia gerencial, orçamentária § 1o O prazo de prescrição começa a correr da data em que
e financeira dos órgãos e entidades da administração direta e o fato se tornou conhecido.
indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser fir- § 2o Os prazos de prescrição previstos na lei penal apli-
mado entre seus administradores e o poder público, que tenha cam-se às infrações disciplinares capituladas também como
por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou crime.
entidade, cabendo à lei dispor sobre:
§ 3o A abertura de sindicância ou a instauração de pro-
I - o prazo de duração do contrato;
cesso disciplinar interrompe a prescrição, até a decisão final
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho,
proferida por autoridade competente.
direitos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes;
III - a remuneração do pessoal. § 4o Interrompido o curso da prescrição, o prazo começará
a correr a partir do dia em que cessar a interrupção.
Artigo 37, § 9º, CF. O disposto no inciso XI aplica-se às
empresas públicas e às sociedades de economia mista e Prescrição é um instituto que visa regular a perda do di-
suas subsidiárias, que receberem recursos da União, dos Es- reito de acionar judicialmente. No caso, o prazo é de 5 anos
tados, do Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento para as infrações mais graves, 2 para as de gravidade inter-
de despesas de pessoal ou de custeio em geral. mediária (pena de suspensão) e 180 dias para as menos gra-
ves (pena de advertência), contados da data em que o fato se
53 http://www.sindsefaz.org.br/parecer_administracao_ tornou conhecido pela administração pública. Se a infração
tributaria_sao_paulo.htm disciplinar for crime, valerão os prazos prescricionais do di-
54 ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Administrativo reito penal, mais longos, logo, menos favoráveis ao servidor.
Descomplicado. São Paulo: GEN, 2014. Interrupção da prescrição significa parar a contagem do pra-

137
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

zo para que, retornando, comece do zero. Da abertura da sin- Destaca-se um conceito mais amplo de agente público
dicância ou processo administrativo disciplinar até a decisão previsto pela lei nº 8.429/1992 em seus artigos 1º e 2º por-
final proferida por autoridade competente não corre a pres- que o agente público pode ser ou não um servidor público.
crição. Proferida a decisão, o prazo começa a contar do zero. Ele poderá estar vinculado a qualquer instituição ou órgão
Passado o prazo, não caberá mais propor ação disciplinar. que desempenhe diretamente o interesse do Estado. Assim,
estão incluídos todos os integrantes da administração dire-
Artigo 37, §7º, CF. A lei disporá sobre os requisitos e as ta, indireta e fundacional, conforme o preâmbulo da legisla-
restrições ao ocupante de cargo ou emprego da adminis- ção. Pode até mesmo ser uma entidade privada que desem-
tração direta e indireta que possibilite o acesso a informações penhe tais fins, desde que a verba de criação ou custeio
privilegiadas. tenha sido ou seja pública em mais de 50% do patrimônio
ou receita anual. Caso a verba pública que tenha auxiliado
A Lei nº 12.813, de 16 de maio de 2013 dispõe sobre uma entidade privada a qual o Estado não tenha concor-
o conflito de interesses no exercício de cargo ou emprego rido para criação ou custeio, também haverá sujeição às
do Poder Executivo federal e impedimentos posteriores ao penalidades da lei. Em caso de custeio/criação pelo Estado
exercício do cargo ou emprego; e revoga dispositivos da Lei que seja inferior a 50% do patrimônio ou receita anual, a
nº 9.986, de 18 de julho de 2000, e das Medidas Provisórias legislação ainda se aplica. Entretanto, nestes dois casos, a
nºs 2.216-37, de 31 de agosto de 2001, e 2.225-45, de 4 de sanção patrimonial se limitará ao que o ilícito repercu-
setembro de 2001. tiu sobre a contribuição dos cofres públicos. Significa que
Neste sentido, conforme seu artigo 1º: se o prejuízo causado for maior que a efetiva contribuição
por parte do poder público, o ressarcimento terá que ser
Artigo 1º, Lei nº 12.813/2013. As situações que configu- buscado por outra via que não a ação de improbidade ad-
ram conflito de interesses envolvendo ocupantes de cargo ou ministrativa.
emprego no âmbito do Poder Executivo federal, os requisitos A legislação em estudo, por sua vez, divide os atos de
e restrições a ocupantes de cargo ou emprego que tenham improbidade administrativa em três categorias:
acesso a informações privilegiadas, os impedimentos posterio- a) Ato de improbidade administrativa que importe
res ao exercício do cargo ou emprego e as competências para enriquecimento ilícito (artigo 9º, Lei nº 8.429/1992)
fiscalização, avaliação e prevenção de conflitos de interesses O grupo mais grave de atos de improbidade adminis-
regulam-se pelo disposto nesta Lei. trativa se caracteriza pelos elementos: enriquecimento +
ilícito + resultante de uma vantagem patrimonial indevi-
3) Atos de improbidade administrativa da + em razão do exercício de cargo, mandato, emprego,
A Lei n° 8.429/1992 trata da improbidade administrativa, função ou outra atividade nas entidades do artigo 1° da
que é uma espécie qualificada de imoralidade, sinônimo de Lei nº 8.429/1992.
desonestidade administrativa. A improbidade é uma lesão ao O enriquecimento deve ser ilícito, afinal, o Estado não
princípio da moralidade, que deve ser respeitado estritamen- se opõe que o indivíduo enriqueça, desde que obedeça aos
te pelo servidor público. O agente ímprobo sempre será um ditames morais, notadamente no desempenho de função
violador do princípio da moralidade, pelo qual “a Adminis- de interesse estatal.
tração Pública deve agir com boa-fé, sinceridade, probidade, Exige-se que o sujeito obtenha vantagem patrimonial
lhaneza, lealdade e ética”55. ilícita. Contudo, é dispensável que efetivamente tenha ocor-
A atual Lei de Improbidade Administrativa foi criada de- rido dano aos cofres públicos (por exemplo, quando um
vido ao amplo apelo popular contra certas vicissitudes do policial recebe propina pratica ato de improbidade admi-
serviço público que se intensificavam com a ineficácia do nistrativa, mas não atinge diretamente os cofres públicos).
diploma então vigente, o Decreto-Lei nº 3240/41. Decorreu, Como fica difícil imaginar que alguém possa se enrique-
assim, da necessidade de acabar com os atos atentatórios à cer ilicitamente por negligência, imprudência ou imperícia,
moralidade administrativa e causadores de prejuízo ao erário todas as condutas configuram atos dolosos (com intenção).
público ou ensejadores de enriquecimento ilícito, infelizmen- Não cabe prática por omissão.56
te tão comuns no Brasil. b) Ato de improbidade administrativa que importe
Com o advento da Lei nº 8.429/1992, os agentes públicos lesão ao erário (artigo 10, Lei nº 8.429/1992)
passaram a ser responsabilizados na esfera civil pelos atos de O grupo intermediário de atos de improbidade admi-
improbidade administrativa descritos nos artigos 9º, 10 e 11, nistrativa se caracteriza pelos elementos: causar dano ao
ficando sujeitos às penas do art. 12. A existência de esferas erário ou aos cofres públicos + gerando perda patrimo-
distintas de responsabilidade (civil, penal e administrativa) nial ou dilapidação do patrimônio público. Assim como o
impede falar-se em bis in idem, já que, ontologicamente, não artigo anterior, o caput descreve a fórmula genérica e os
se trata de punições idênticas, embora baseadas no mesmo incisos algumas atitudes específicas que exemplificam o seu
fato, mas de responsabilização em esferas distintas do Direi- conteúdo57.
to. 56 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13.
55 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional ed. São Paulo: Método, 2011.
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 57 Ibid.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Perda patrimonial é o gênero, do qual são espécies: Nos termos do artigo 11 da Lei nº 8.429/1992, “constitui
desvio, que é o direcionamento indevido; apropriação, que ato de improbidade administrativa que atenta contra os prin-
é a transferência indevida para a própria propriedade; mal- cípios da administração pública qualquer ação ou omissão
baratamento, que significa desperdício; e dilapidação, que que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, lega-
se refere a destruição58. lidade, e lealdade às instituições [...]”. O grupo mais ameno
O objeto da tutela é a preservação do patrimônio públi- de atos de improbidade administrativa se caracteriza pela
co, em todos seus bens e valores. O pressuposto exigível é a simples violação a princípios da administração pública,
ocorrência de dano ao patrimônio dos sujeitos passivos. ou seja, aplica-se a qualquer atitude do sujeito ativo que viole
Este artigo admite expressamente a variante culposa, o os ditames éticos do serviço público. Isto é, o legislador pre-
que muitos entendem ser inconstitucional. O STJ, no REsp n° tende a preservação dos princípios gerais da administração
939.142/RJ, apontou alguns aspectos da inconstitucionalida- pública61.
de do artigo. Contudo, “a jurisprudência do STJ consolidou O objeto de tutela são os princípios constitucionais. Bas-
a tese de que é indispensável a existência de dolo nas con- ta a vulneração em si dos princípios, sendo dispensáveis o
dutas descritas nos artigos 9º e 11 e ao menos de culpa nas enriquecimento ilícito e o dano ao erário. Somente é possível
hipóteses do artigo 10, nas quais o dano ao erário precisa ser a prática de algum destes atos com dolo (intenção), embora
comprovado. De acordo com o ministro Castro Meira, a con- caiba a prática por ação ou omissão.
duta culposa ocorre quando o agente não pretende atingir Será preciso utilizar razoabilidade e proporcionalidade
o resultado danoso, mas atua com negligência, imprudência para não permitir a caracterização de abuso de poder, dian-
ou imperícia (REsp n° 1.127.143)”59. Para Carvalho Filho60, não te do conteúdo aberto do dispositivo. Na verdade, trata-se
há inconstitucionalidade na modalidade culposa, lembrando de tipo subsidiário, ou seja, que se aplica quando o ato de
que é possível dosar a pena conforme o agente aja com dolo improbidade administrativa não tiver gerado obtenção de
ou culpa. vantagem
O ponto central é lembrar que neste artigo não se exi- Com efeito, os atos de improbidade administrativa não
ge que o sujeito ativo tenha percebido vantagens indevidas, são crimes de responsabilidade. Trata-se de punição na es-
basta o dano ao erário. Se tiver recebido vantagem indevi- fera cível, não criminal. Por isso, caso o ato configure simul-
da, incide no artigo anterior. Exceto pela não percepção da taneamente um ato de improbidade administrativa desta lei
vantagem indevida, os tipos exemplificados se aproximam e um crime previsto na legislação penal, o que é comum no
muito dos previstos nos incisos do art. 9°. caso do artigo 9°, responderá o agente por ambos, nas duas
c) Ato de Improbidade Administrativa Decorrentes de esferas.
Concessão ou Aplicação Indevida de Benefício Financei-
ro ou Tributário (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de Em suma, a lei encontra-se estruturada da seguinte for-
2016) ma: inicialmente, trata das vítimas possíveis (sujeito passi-
Uma das alterações recentes à disciplina do ISS visou evi- vo) e daqueles que podem praticar os atos de improbidade
tar a continuidade da guerra fiscal entre os municípios, fixan- administrativa (sujeito ativo); ainda, aborda a reparação do
do-se a alíquota mínima em 2%. dano ao lesionado e o ressarcimento ao patrimônio público;
Com efeito, os municípios não poderão fixar dentro de após, traz a tipologia dos atos de improbidade administrati-
sua competência constitucional alíquotas inferiores a 2% va, isto é, enumera condutas de tal natureza; seguindo-se à
para atrair e fomentar investimentos novos (incentivo fiscal), definição das sanções aplicáveis; e, finalmente, descreve os
prejudicando os municípios vizinhos. procedimentos administrativo e judicial.
Em razão disso, tipifica-se como ato de improbidade No caso do art. 9°, categoria mais grave, o agente obtém
administrativa a eventual concessão do benefício abaixo da um enriquecimento ilícito (vantagem econômica indevida) e
alíquota mínima. pode ainda causar dano ao erário, por isso, deverá não só re-
d) Ato de improbidade administrativa que atente parar eventual dano causado mas também colocar nos cofres
contra os princípios da administração pública (artigo 11, públicos tudo o que adquiriu indevidamente. Ou seja, poderá
Lei nº 8.429/1992) pagar somente o que enriqueceu indevidamente ou este va-
lor acrescido do valor do prejuízo causado aos cofres públi-
cos (quanto o Estado perdeu ou deixou de ganhar). No caso
do artigo 10, não haverá enriquecimento ilícito, mas sempre
58 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de existirá dano ao erário, o qual será reparado (eventualmente,
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, ocorrerá o enriquecimento ilícito, devendo o valor adquirido
2010. ser tomado pelo Estado). Na hipótese do artigo 10-A, não
59 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Improbidade se denota nem enriquecimento ilícito e nem dano ao erário,
administrativa: desonestidade na gestão dos recursos públi- pois no máximo a prática de guerra fiscal pode gerar. Já no
cos. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/portal_stj/publica- artigo 11, o máximo que pode ocorrer é o dano ao erário,
cao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=103422>. Acesso com o devido ressarcimento. Além disso, em todos os casos
em: 26 mar. 2013. há perda da função pública. Nas três categorias, são estabe-
60 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de lecidas sanções de suspensão dos direitos políticos, multa e
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 61 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13.
2010. ed. São Paulo: Método, 2011.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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vedação de contratação ou percepção de vantagem, gradua- seu auto de reparar o dano, mediante o pagamento de inde-
das conforme a gravidade do ato. É o que se depreende da nização que se refere às perdas e danos. Afinal, quem pratica
leitura do artigo 12 da Lei nº 8.929/1992 como §4º do artigo um ato ou incorre em omissão que gere dano deve supor-
37, CF, que prevê: “Os atos de improbidade administrativa tar as consequências jurídicas decorrentes, restaurando-se o
importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da equilíbrio social.64
função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarci- A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal, po-
mento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem dendo recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até os limi-
prejuízo da ação penal cabível”. tes da herança, embora existam reflexos na ação que apure a
A única sanção que se encontra prevista na Lei nº responsabilidade civil conforme o resultado na esfera penal
8.429/1992 mas não na Constituição Federal é a de multa. (por exemplo, uma absolvição por negativa de autoria impe-
(art. 37, §4°, CF). Não há nenhuma inconstitucionalidade dis- de a condenação na esfera cível, ao passo que uma absolvi-
to, pois nada impediria que o legislador infraconstitucional ção por falta de provas não o faz).
ampliasse a relação mínima de penalidades da Constituição, A responsabilidade civil do Estado acompanha o racio-
pois esta não limitou tal possibilidade e porque a lei é o ins-
cínio de que a principal consequência da prática de um ato
trumento adequado para tanto62.
ilícito é a obrigação que gera para o seu auto de reparar o
Carvalho Filho63 tece considerações a respeito de algu-
dano, mediante o pagamento de indenização que se refere
mas das sanções:
às perdas e danos. Todos os cidadãos se sujeitam às regras
- Perda de bens e valores: “tal punição só incide sobre
os bens acrescidos após a prática do ato de improbidade. Se da responsabilidade civil, tanto podendo buscar o ressarci-
alcançasse anteriores, ocorreria confisco, o que restaria sem mento do dano que sofreu quanto respondendo por aqueles
escora constitucional. Além disso, o acréscimo deve derivar danos que causar. Da mesma forma, o Estado tem o dever de
de origem ilícita”. indenizar os membros da sociedade pelos danos que seus
- Ressarcimento integral do dano: há quem entenda que agentes causem durante a prestação do serviço, inclusive se
engloba dano moral. Cabe acréscimo de correção monetária tais danos caracterizarem uma violação aos direitos humanos
e juros de mora. reconhecidos.
- Perda de função pública: “se o agente é titular de man- Trata-se de responsabilidade extracontratual porque não
dato, a perda se processa pelo instrumento de cassação. Sen- depende de ajuste prévio, basta a caracterização de elemen-
do servidor estatutário, sujeitar-se-á à demissão do serviço tos genéricos pré-determinados, que perpassam pela leitura
público. Havendo contrato de trabalho (servidores trabalhis- concomitante do Código Civil (artigos 186, 187 e 927) com a
tas e temporários), a perda da função pública se consubs- Constituição Federal (artigo 37, §6°).
tancia pela rescisão do contrato com culpa do empregado. Genericamente, os elementos da responsabilidade civil
No caso de exercer apenas uma função pública, fora de tais se encontram no art. 186 do Código Civil:
situações, a perda se dará pela revogação da designação”.
Lembra-se que determinadas autoridades se sujeitam a pro- Artigo 186, CC. Aquele que, por ação ou omissão volun-
cedimento especial para perda da função pública, ponto em tária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano
que não se aplica a Lei de Improbidade Administrativa. a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
- Multa: a lei indica inflexibilidade no limite máximo, mas
flexibilidade dentro deste limite, podendo os julgados nesta Este é o artigo central do instituto da responsabilidade
margem optar pela mais adequada. Há ainda variabilidade civil, que tem como elementos: ação ou omissão voluntária
na base de cálculo, conforme o tipo de ato de improbidade (agir como não se deve ou deixar de agir como se deve), cul-
(a base será o valor do enriquecimento ou o valor do dano pa ou dolo do agente (dolo é a vontade de cometer uma
ou o valor da remuneração do agente). A natureza da multa violação de direito e culpa é a falta de diligência), nexo cau-
é de sanção civil, não possuindo caráter indenizatório, mas
sal (relação de causa e efeito entre a ação/omissão e o dano
punitivo.
causado) e dano (dano é o prejuízo sofrido pelo agente, que
- Proibição de receber benefícios: não se incluem as imu-
pode ser individual ou coletivo, moral ou material, econômi-
nidades genéricas e o agente punido deve ser ao menos só-
co e não econômico).
cio majoritário da instituição vitimada.
- Proibição de contratar: o agente punido não pode par- 1) Dano - somente é indenizável o dano certo, especial
ticipar de processos licitatórios. e anormal. Certo é o dano real, existente. Especial é o dano
específico, individualizado, que atinge determinada ou deter-
4) Responsabilidade civil do Estado e de seus servi- minadas pessoas. Anormal é o dano que ultrapassa os pro-
dores blemas comuns da vida em sociedade (por exemplo, infeliz-
O instituto da responsabilidade civil é parte integrante mente os assaltos são comuns e o Estado não responde por
do direito obrigacional, uma vez que a principal consequên- todo assalto que ocorra, a não ser que na circunstância es-
cia da prática de um ato ilícito é a obrigação que gera para o pecífica possuía o dever de impedir o assalto, como no caso
62 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de de uma viatura presente no local - muito embora o direito
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, à segurança pessoal seja um direito humano reconhecido).
2010. 64 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade
63 Ibid. Civil. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

2) Agentes públicos - é toda pessoa que trabalhe dentro Artigo 125, Lei nº 8.112/1990. As sanções civis, penais e
da administração pública, tenha ingressado ou não por con- administrativas poderão cumular-se, sendo independentes en-
curso, possua cargo, emprego ou função. Envolve os agentes tre si.
políticos, os servidores públicos em geral (funcionários, em-
pregados ou temporários) e os particulares em colaboração No caso da responsabilidade civil, o Estado é diretamen-
(por exemplo, jurado ou mesário). te acionado e responde pelos atos de seus servidores que
3) Dano causado quando o agente estava agindo nesta violem direitos humanos, cabendo eventualmente ação de
qualidade - é preciso que o agente esteja lançando mão das regresso contra ele. Contudo, nos casos da responsabilidade
prerrogativas do cargo, não agindo como um particular. penal e da responsabilidade administrativa aciona-se o agen-
Sem estes três requisitos, não será possível acionar o Es- te público que praticou o ato.
tado para responsabilizá-lo civilmente pelo dano, por mais São inúmeros os exemplos de crimes que podem ser
relevante que tenha sido a esfera de direitos atingida. Assim, praticados pelo agente público no exercício de sua função
não é qualquer dano que permite a responsabilização civil do que violam direitos humanos. A título de exemplo, peculato,
Estado, mas somente aquele que é causado por um agente consistente em apropriação ou desvio de dinheiro público
público no exercício de suas funções e que exceda as expec-
(art. 312, CP), que viola o bem comum e o interesse da cole-
tativas do lesado quanto à atuação do Estado.
tividade; concussão, que é a exigência de vantagem indevida
É preciso lembrar que não é o Estado em si que viola
(art. 316, CP), expondo a vítima a uma situação de constran-
os direitos humanos, porque o Estado é uma ficção formada
por um grupo de pessoas que desempenham as atividades gimento e medo que viola diretamente sua dignidade; tor-
estatais diversas. Assim, viola direitos humanos não o Esta- tura, a mais cruel forma de tratamento humano, cuja pena é
do em si, mas o agente que o representa, fazendo com que agravada quando praticada por funcionário público (art. 1º,
o próprio Estado seja responsabilizado por isso civilmente, §4º, I, Lei nº 9.455/97); etc.
pagando pela indenização (reparação dos danos materiais e Quanto à responsabilidade administrativa, menciona-se,
morais). Sem prejuízo, com relação a eles, caberá ação de re- a título de exemplo, as penalidades cabíveis descritas no art.
gresso se agiram com dolo ou culpa. 127 da Lei nº 8.112/90, que serão aplicadas pelo funcionário
Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal: que violar a ética do serviço público, como advertência, sus-
pensão e demissão.
Artigo 37, §6º, CF. As pessoas jurídicas de direito público Evidencia-se a independência entre as esferas civil, penal
e as de direito privado prestadoras de serviços públicos res- e administrativa no que tange à responsabilização do agente
ponderão pelos danos que seus agentes, nessa qualida- público que cometa ato ilícito.
de, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso Tomadas as exigências de características dos danos aci-
contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. ma colacionadas, notadamente a anormalidade, considera-
se que para o Estado ser responsabilizado por um dano, ele
Este artigo deixa clara a formação de uma relação jurídi- deve exceder expectativas cotidianas, isto é, não cabe exigir
ca autônoma entre o Estado e o agente público que causou do Estado uma excepcional vigilância da sociedade e a plena
o dano no desempenho de suas funções. Nesta relação, a cobertura de todas as fatalidades que possam acontecer em
responsabilidade civil será subjetiva, ou seja, caberá ao Es- território nacional.
tado provar a culpa do agente pelo dano causado, ao qual Diante de tal premissa, entende-se que a responsabilida-
foi anteriormente condenado a reparar. Direito de regresso de civil do Estado será objetiva apenas no caso de ações,
é justamente o direito de acionar o causador direto do dano mas subjetiva no caso de omissões. Em outras palavras, ve-
para obter de volta aquilo que pagou à vítima, considerada a rifica-se se o Estado se omitiu tendo plenas condições de não
existência de uma relação obrigacional que se forma entre a ter se omitido, isto é, ter deixado de agir quando tinha plenas
vítima e a instituição que o agente compõe.
condições de fazê-lo, acarretando em prejuízo dentro de sua
Assim, o Estado responde pelos danos que seu agente
previsibilidade.
causar aos membros da sociedade, mas se este agente agiu
São casos nos quais se reconheceu a responsabilidade
com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do que foi pago
à vítima. O agente causará danos ao praticar condutas in- omissiva do Estado: morte de filho menor em creche munici-
compatíveis com o comportamento ético dele esperado.65 pal, buracos não sinalizados na via pública, tentativa de assal-
A responsabilidade civil do servidor exige prévio proces- to a usuário do metrô resultando em morte, danos provoca-
so administrativo disciplinar no qual seja assegurado contra- dos por enchentes e escoamento de águas pluviais quando o
ditório e ampla defesa. Trata-se de responsabilidade civil Estado sabia da problemática e não tomou providência para
subjetiva ou com culpa. Havendo ação ou omissão com cul- evitá-las, morte de detento em prisão, incêndio em casa de
pa do servidor que gere dano ao erário (Administração) ou a shows fiscalizada com negligência, etc.
terceiro (administrado), o servidor terá o dever de indenizar. Logo, não é sempre que o Estado será responsabilizado.
Não obstante, agentes públicos que pratiquem atos vio- Há excludentes da responsabilidade estatal, notadamente:
ladores de direitos humanos se sujeitam à responsabilidade a) caso fortuito (fato de terceiro) ou força maior (fato da na-
penal e à responsabilidade administrativa, todas autôno- tureza) fora dos alcances da previsibilidade do dano; b) culpa
mas uma com relação à outra e à já mencionada responsa- exclusiva da vítima.
bilidade civil. Neste sentido, o artigo 125 da Lei nº 8.112/90:
65 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13.
ed. São Paulo: Método, 2011.

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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5) Exercício de mandato eletivo por servidores pú- § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo pú-
blicos blico o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV,XVI,
A questão do exercício de mandato eletivo pelo servidor XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer
público encontra previsão constitucional em seu artigo 38, requisitos diferenciados de admissão quando a natureza
que notadamente estabelece quais tipos de mandatos geram do cargo o exigir.
incompatibilidade ao serviço público e regulamenta a ques- § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo,
tão remuneratória: os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Munici-
pais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado
Artigo 38, CF. Ao servidor público da administração direta, em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratifi-
autárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo, cação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou
aplicam-se as seguintes disposições: outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso,
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou o disposto no art. 37, X e XI.
distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função; § 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do car- Municípios poderá estabelecer a relação entre a maior e a
go, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua menor remuneração dos servidores públicos, obedecido, em
remuneração; qualquer caso, o disposto no art. 37, XI.
III - investido no mandato de Vereador, havendo compa- § 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário publi-
tibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, carão anualmente os valores do subsídio e da remuneração
emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo dos cargos e empregos públicos.
eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada a nor- § 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
ma do inciso anterior; Municípios disciplinará a aplicação de recursos orçamentá-
IV  - em qualquer caso que exija o afastamento para o rios provenientes da economia com despesas correntes em
exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será con- cada órgão, autarquia e fundação, para aplicação no desen-
tado para todos os efeitos legais, exceto para promoção por volvimento de programas de qualidade e produtividade, trei-
merecimento; namento e desenvolvimento, modernização, reaparelhamen-
V - para efeito de benefício previdenciário, no caso de to e racionalização do serviço público, inclusive sob a forma
afastamento, os valores serão determinados como se no exer- de adicional ou prêmio de produtividade.
cício estivesse. § 8º A remuneração dos servidores públicos organizados
em carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º.
6) Regime de remuneração e previdência dos servi-
dores públicos Artigo  40, CF. Aos servidores titulares de cargos efetivos
Regulamenta-se o regime de remuneração e previdência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
dos servidores públicos nos artigo 39 e 40 da Constituição incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime
Federal: de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante
contribuição do respectivo ente público, dos servidores ati-
Artigo  39, CF. A União, os Estados, o Distrito Federal e vos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que
os Municípios instituirão conselho de política de adminis- preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto nes-
tração e remuneração de pessoal, integrado por servidores te artigo.
designados pelos respectivos Poderes. (Redação dada pela § 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdên-
Emenda Constitucional nº 19, de 1998 e aplicação suspensa cia de que trata este artigo serão aposentados, calculados os
pela ADIN nº 2.135-4, destacando-se a redação anterior: “A seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos §§
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, 3º e 17:
no âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos I - por invalidez permanente, sendo os proventos pro-
de carreira para os servidores da administração pública direta, porcionais ao tempo de contribuição, exceto se decorrente
das autarquias e das fundações públicas”). de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença
§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei;
componentes do sistema remuneratório observará: II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexida- tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou
de dos cargos componentes de cada carreira; aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei com-
II - os requisitos para a investidura; plementar;
III - as peculiaridades dos cargos. III - voluntariamente, desde que cumprido tempo míni-
§ 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão mo de dez anos de efetivo exercício no serviço público e
escolas de governo para a formação e o aperfeiçoamento cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria,
dos servidores públicos, constituindo-se a participação nos observadas as seguintes condições:
cursos um dos requisitos para a promoção na carreira, facul- a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribui-
tada, para isso, a celebração de convênios ou contratos entre ção, se homem, e cinquenta e cinco anos de idade e trinta
os entes federados. de contribuição, se mulher;

142
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessen- § 12. Além do disposto neste artigo, o regime de pre-
ta anos de idade, se mulher, com proventos proporcionais vidência dos servidores públicos titulares de cargo efetivo
ao tempo de contribuição. observará, no que couber, os requisitos e critérios fixados
§ 2º Os proventos de aposentadoria e as pensões, por para o regime geral de previdência social.
ocasião de sua concessão, não poderão exceder a remunera- § 13. Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo
ção do respectivo servidor, no cargo efetivo em que se deu a em comissão declarado em lei de livre nomeação e exone-
aposentadoria ou que serviu de referência para a concessão ração bem como de outro cargo temporário ou de emprego
da pensão. público, aplica-se o regime geral de previdência social.
§ 3º Para o cálculo dos proventos de aposentadoria, por § 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
ocasião da sua concessão, serão consideradas as remunera- nicípios, desde que instituam regime de previdência com-
ções utilizadas como base para as contribuições do servidor plementar para os seus respectivos servidores titulares de
aos regimes de previdência de que tratam este artigo e o art. cargo efetivo, poderão fixar, para o valor das aposentadorias
201, na forma da lei. e pensões a serem concedidas pelo regime de que trata este
§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios dife- artigo, o limite máximo estabelecido para os benefícios
renciados para a concessão de aposentadoria aos abrangidos do regime geral de previdência social de que trata o art.
pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos 201.
definidos em leis complementares, os casos de servidores:
§ 15. O regime de previdência complementar de que
I - portadores de deficiência;
trata o § 14 será instituído por lei de iniciativa do respectivo
II - que exerçam atividades de risco;
Poder Executivo, observado o disposto no art. 202 e seus
III  - cujas atividades sejam exercidas sob condições es-
peciais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. parágrafos, no que couber, por intermédio de entidades fe-
§ 5º Os requisitos de idade e de tempo de contribuição chadas de previdência complementar, de natureza pública,
serão reduzidos em cinco anos, em relação ao disposto no § que oferecerão aos respectivos participantes planos de be-
1º, III, a, para o professor que comprove exclusivamente tem- nefícios somente na modalidade de contribuição definida.
po de efetivo exercício das funções de magistério na educa- § 16. Somente mediante sua prévia e expressa opção, o
ção infantil e no ensino fundamental e médio. disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos car- tiver ingressado no serviço público até a data da publicação
gos acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada a do ato de instituição do correspondente regime de previ-
percepção de mais de uma aposentadoria à conta do regi- dência complementar.
me de previdência previsto neste artigo. § 17. Todos os valores de remuneração considerados
§ 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de pen- para o cálculo do benefício previsto no § 3° serão devida-
são por morte, que será igual: mente atualizados, na forma da lei.
I - ao valor da totalidade dos proventos do servidor fa- § 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de apo-
lecido, até o limite máximo estabelecido para os benefícios sentadorias e pensões concedidas pelo regime de que trata
do regime geral de previdência social de que trata o art. 201, este artigo que superem o limite máximo estabelecido para
acrescido de setenta por cento da parcela excedente a este li- os benefícios do regime geral de previdência social de que tra-
mite, caso aposentado à data do óbito; ou ta o art. 201, com percentual igual ao estabelecido para os
II - ao valor da totalidade da remuneração do servidor no servidores titulares de cargos efetivos.
cargo efetivo em que se deu o falecimento, até o limite máxi- § 19. O servidor de que trata este artigo que tenha
mo estabelecido para os benefícios do regime geral de previ- completado as exigências para aposentadoria voluntária
dência social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por estabelecidas no § 1º, III, a, e que opte por permanecer em
cento da parcela excedente a este limite, caso em atividade na atividade fará jus a um abono de permanência equivalente ao
data do óbito. valor da sua contribuição previdenciária até completar as exi-
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para gências para aposentadoria compulsória contidas no § 1º, II.
preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme
§ 20. Fica vedada a existência de mais de um regime
critérios estabelecidos em lei.
próprio de previdência social para os servidores titulares
§ 9º O tempo de contribuição federal, estadual ou muni-
de cargos efetivos, e de mais de uma unidade gestora do
cipal será contado para efeito de aposentadoria e o tempo
respectivo regime em cada ente estatal, ressalvado o dispos-
de serviço correspondente para efeito de disponibilidade.
§ 10. A lei não poderá estabelecer qualquer forma de to no art. 142, § 3º, X.
contagem de tempo de contribuição fictício. § 21. A contribuição prevista no § 18 deste artigo incidirá
§ 11. Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma apenas sobre as parcelas de proventos de aposentadoria e
total dos proventos de inatividade, inclusive quando decor- de pensão que superem o dobro do limite máximo estabeleci-
rentes da acumulação de cargos ou empregos públicos, bem do para os benefícios do regime geral de previdência social de
como de outras atividades sujeitas a contribuição para o re- que trata o art. 201 desta Constituição, quando o beneficiário,
gime geral de previdência social, e ao montante resultante da na forma da lei, for portador de doença incapacitante.
adição de proventos de inatividade com remuneração de cargo
acumulável na forma desta Constituição, cargo em comissão 7) Estágio probatório e perda do cargo
declarado em lei de livre nomeação e exoneração, e de cargo Estabelece a Constituição Federal em seu artigo 41, a
eletivo. ser lido em conjunto com o artigo 20 da Lei nº 8.112/1990:

143
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Artigo  41, CF. São estáveis após três anos de efetivo § 5º O estágio probatório ficará suspenso durante as li-
exercício os servidores nomeados para cargo de provi- cenças e os afastamentos previstos nos arts. 83, 84, § 1o, 86 e
mento efetivo em virtude de concurso público. 96, bem assim na hipótese de participação em curso de for-
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo: mação, e será retomado a partir do término do impedimento.
I - em virtude de sentença judicial transitada em jul-
gado; O estágio probatório pode ser definido como um lapso
II - mediante processo administrativo em que lhe seja de tempo no qual a aptidão e capacidade do servidor serão
assegurada ampla defesa; avaliadas de acordo com critérios de assiduidade, disciplina,
III - mediante procedimento de avaliação periódica de capacidade de iniciativa, produtividade e responsabilidade. O
desempenho, na forma de lei complementar, assegurada am- servidor não aprovado no estágio probatório será exonerado
pla defesa. ou, se estável, reconduzido ao cargo anteriormente ocupado.
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do ser- Não existe vedação para um servidor em estágio probató-
vidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da rio exercer quaisquer cargos de provimento em comissão ou
vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito funções de direção, chefia ou assessoramento no órgão ou
a indenização, aproveitado em outro cargo ou posto em dis- entidade de lotação.
ponibilidade com remuneração proporcional ao tempo de ser-
Desde a Emenda Constitucional nº 19 de 1998, a discipli-
viço.
na do estágio probatório mudou, notadamente aumentando
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade,
o prazo de 2 anos para 3 anos. Tendo em vista que a norma
o servidor estável ficará em disponibilidade, com remunera-
ção proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado apro- constitucional prevalece sobre a lei federal, mesmo que ela
veitamento em outro cargo. não tenha sido atualizada, deve-se seguir o disposto no arti-
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é go 41 da Constituição Federal.
obrigatória a avaliação especial de desempenho por comis- Uma vez adquirida a aprovação no estágio probatório,
são instituída para essa finalidade. o servidor público somente poderá ser exonerado nos casos
do §1º do artigo 40 da Constituição Federal, notadamente:
Art. 20, Lei nº 8.112/1990. Ao entrar em exercício, o servi- em virtude de sentença judicial transitada em julgado; me-
dor nomeado para cargo de provimento efetivo ficará sujeito diante processo administrativo em que lhe seja assegura-
a estágio probatório por período de 24 (vinte e quatro) meses, da ampla defesa; ou mediante procedimento de avaliação
durante o qual a sua aptidão e capacidade serão objeto de periódica de desempenho, na forma de lei complementar,
avaliação para o desempenho do cargo, observados os seguin- assegurada ampla defesa (sendo esta lei complementar ain-
te fatores: da inexistente no âmbito federal.
I - assiduidade;
II - disciplina; 8) Militares dos estados, do Distrito Federal e dos ter-
III - capacidade de iniciativa; ritórios
IV - produtividade; Prevê o artigo 42, CF:
V - responsabilidade.
§ 1º 4 (quatro) meses antes de findo o período do es- Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de
tágio probatório, será submetida à homologação da autori- Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na hie-
dade competente a avaliação do desempenho do servidor, rarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito
realizada por comissão constituída para essa finalidade, de Federal e dos Territórios.
acordo com o que dispuser a lei ou o regulamento da res- § 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Fe-
pectiva carreira ou cargo, sem prejuízo da continuidade de deral e dos Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as
apuração dos fatores enumerados nos incisos I a V do caput disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º
deste artigo.
e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as maté-
§ 2º O servidor não aprovado no estágio probatório será
rias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais
exonerado ou, se estável, reconduzido ao cargo anteriormen-
te ocupado, observado o disposto no parágrafo único do art. conferidas pelos respectivos governadores.
29. § 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Dis-
§ 3º O servidor em estágio probatório poderá exercer trito Federal e dos Territórios aplica-se o que for fixado em lei
quaisquer cargos de provimento em comissão ou funções específica do respectivo ente estatal.
de direção, chefia ou assessoramento no órgão ou entida-
de de lotação, e somente poderá ser cedido a outro órgão CAPÍTULO III
ou entidade para ocupar cargos de Natureza Especial, cargos DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO
de provimento em comissão do Grupo-Direção e Assessora- Seção I
mento Superiores - DAS, de níveis 6, 5 e 4, ou equivalentes. DA EDUCAÇÃO
§ 4º Ao servidor em estágio probatório somente pode-
rão ser concedidas as licenças e os afastamentos previstos Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado
nos arts. 81, incisos I a IV, 94, 95 e 96, bem assim afastamento e da família, será promovida e incentivada com a colaboração
para participar de curso de formação decorrente de aprova- da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
ção em concurso para outro cargo na Administração Pública seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
Federal. para o trabalho.

144
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguin- VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
tes princípios: educação básica, por meio de programas suplementares de
I - igualdade de condições para o acesso e permanência material didáticoescolar, transporte, alimentação e assistên-
na escola; cia à saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o 59, de 2009)
pensamento, a arte e o saber; § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, público subjetivo.
e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; § 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Po-
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos der Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade
oficiais; da autoridade competente.
V - valorização dos profissionais da educação escolar, § 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos
garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto
exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola.
das redes públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucio- Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as
nal nº 53, de 2006) seguintes condições:
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da I - cumprimento das normas gerais da educação nacio-
lei;
nal;
VII - garantia de padrão de qualidade.
II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Pú-
VIII - piso salarial profissional nacional para os profis-
blico.
sionais da educação escolar pública, nos termos de lei fede-
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o en-
ral. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
sino fundamental, de maneira a assegurar formação básica
Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de tra-
balhadores considerados profissionais da educação básica e comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais
sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação e regionais.
de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, § 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, consti-
do Distrito Federal e dos Municípios. (Incluído pela Emenda tuirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de
Constitucional nº 53, de 2006) ensino fundamental.
Art. 207. As universidades gozam de autonomia didáti- § 2º O ensino fundamental regular será ministrado em
co-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimo- língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas
nial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre também a utilização de suas línguas maternas e processos
ensino, pesquisa e extensão. próprios de aprendizagem.
§ 1º É facultado às universidades admitir professores, téc- Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
nicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. (Incluído pela nicípios organizarão em regime de colaboração seus siste-
Emenda Constitucional nº 11, de 1996) mas de ensino.
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições § 1º A União organizará o sistema federal de ensino e
de pesquisa científica e tecnológica. (Incluído pela Emenda o dos Territórios, financiará as instituições de ensino públi-
Constitucional nº 11, de 1996) cas federais e exercerá, em matéria educacional, função re-
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetiva- distributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de
do mediante a garantia de: oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Esta-
aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua dos, ao Distrito Federal e aos Municípios; (Redação dada pela
oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino
nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009) fundamental e na educação infantil. (Redação dada pela
II - progressiva universalização do ensino médio gra- Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
tuito; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritaria-
1996)
mente no ensino fundamental e médio. (Incluído pela Emen-
III - atendimento educacional especializado aos porta-
da Constitucional nº 14, de 1996)
dores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União,
ensino;
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão for-
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crian-
mas de colaboração, de modo a assegurar a universalização
ças até 5 (cinco) anos de idade; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 53, de 2006) do ensino obrigatório. (Redação dada pela Emenda Constitu-
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesqui- cional nº 59, de 2009)
sa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; § 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às con- ao ensino regular. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
dições do educando; 53, de 2006)

145
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de
de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios ações integradas dos poderes públicos das diferentes esfe-
vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de ras federativas que conduzam a: (Redação dada pela Emenda
impostos, compreendida a proveniente de transferências, na Constitucional nº 59, de 2009)
manutenção e desenvolvimento do ensino. I - erradicação do analfabetismo;
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida II - universalização do atendimento escolar;
pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, III - melhoria da qualidade do ensino;
ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é conside- IV - formação para o trabalho;
rada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do V - promoção humanística, científica e tecnológica do
governo que a transferir. País.
§ 2º Para efeito do cumprimento do disposto no «caput» VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos
deste artigo, serão considerados os sistemas de ensino fe- públicos em educação como proporção do produto interno
deral, estadual e municipal e os recursos aplicados na forma bruto. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
do art. 213. Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado
§ 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará prio- assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta
ridade ao atendimento das necessidades do ensino obriga- prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educa-
tório, no que se refere a universalização, garantia de padrão ção, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
de qualidade e equidade, nos termos do plano nacional de respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
educação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, dis-
de 2009) criminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Re-
§ 4º Os programas suplementares de alimentação e as- dação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)
sistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão financiados § 1º O Estado promoverá programas de assistência in-
com recursos provenientes de contribuições sociais e outros tegral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, ad-
recursos orçamentários. mitida a participação de entidades não governamentais,
§ 5º A educação básica pública terá como fonte adicional mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes
de financiamento a contribuição social do salário-educação, preceitos: (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65,
recolhida pelas empresas na forma da lei. (Redação dada pela de 2010)
Emenda Constitucional nº 53, de 2006) I - aplicação de percentual dos recursos públicos desti-
§ 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação nados à saúde na assistência materno-infantil;
da contribuição social do salário-educação serão distribuí- II - criação de programas de prevenção e atendimento
das proporcionalmente ao número de alunos matriculados especializado para as pessoas portadoras de deficiência fí-
na educação básica nas respectivas redes públicas de ensi- sica, sensorial ou mental, bem como de integração social do
no. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o
Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às esco- treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação
las públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação
confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que: de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discri-
I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus minação. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65,
excedentes financeiros em educação; de 2010)
II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra § 2º A lei disporá sobre normas de construção dos lo-
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder gradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de
Público, no caso de encerramento de suas atividades. veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso ade-
§ 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão ser quado às pessoas portadoras de deficiência.
destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamental e § 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes
médio, na forma da lei, para os que demonstrarem insufi- aspectos:
ciência de recursos, quando houver falta de vagas e cursos I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao tra-
regulares da rede pública na localidade da residência do edu- balho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII;
cando, ficando o Poder Público obrigado a investir priorita- II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;
riamente na expansão de sua rede na localidade. III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jo-
§ 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estímulo vem à escola; (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº
e fomento à inovação realizadas por universidades e/ou por 65, de 2010)
instituições de educação profissional e tecnológica poderão IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atri-
receber apoio financeiro do Poder Público.(Redação dada buição de ato infracional, igualdade na relação processual e
pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, a legislação tutelar específica;
de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionali-
nacional de educação em regime de colaboração e definir dade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvol-
diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação vimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa
para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino da liberdade;

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CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

VI - estímulo do Poder Público, através de assistência ju-


rídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao aco- LEI FEDERAL N.º 13.005, DE 25/06/14
lhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente – APROVA O PLANO NACIONAL DE
órfão ou abandonado; EDUCAÇÃO.
VII - programas de prevenção e atendimento especia-
lizado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de
entorpecentes e drogas afins.  (Redação dada Pela Emenda
Constitucional nº 65, de 2010)
§ 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a LEI Nº 13.005, DE 25 DE JUNHO DE 2014.
exploração sexual da criança e do adolescente.
§ 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras
da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação providências.
por parte de estrangeiros.
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamen- A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
to, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à Art. 1o É aprovado o Plano Nacional de Educação - PNE,
filiação. com vigência por 10 (dez) anos, a contar da publicação desta
§ 7º No atendimento dos direitos da criança e do ado- Lei, na forma do Anexo, com vistas ao cumprimento do dis-
lescente levar-se- á em consideração o disposto no art. 204. posto no art. 214 da Constituição Federal.
§ 8º A lei estabelecerá: (Incluído Pela Emenda Constitu- Art. 2o São diretrizes do PNE:
cional nº 65, de 2010) I - erradicação do analfabetismo;
I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direi- II - universalização do atendimento escolar;
tos dos jovens; (Incluído Pela Emenda Constitucional nº 65, III - superação das desigualdades educacionais, com ên-
de 2010) fase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as
II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, formas de discriminação;
visando à articulação das várias esferas do poder público IV - melhoria da qualidade da educação;
para a execução de políticas públicas. (Incluído Pela Emenda V - formação para o trabalho e para a cidadania, com
Constitucional nº 65, de 2010) ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a
Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de sociedade;
dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial. VI - promoção do princípio da gestão democrática da
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os educação pública;
filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e VII - promoção humanística, científica, cultural e tecno-
amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. lógica do País;
VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos
públicos em educação como proporção do Produto Interno
Bruto - PIB, que assegure atendimento às necessidades de
expansão, com padrão de qualidade e equidade;
LEI 8.069/90 – ESTATUTO DA CRIANÇA E DO IX - valorização dos (as) profissionais da educação;
ADOLESCENTE; X - promoção dos princípios do respeito aos direitos hu-
manos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental.
Art. 3o As metas previstas no Anexo desta Lei serão cum-
pridas no prazo de vigência deste PNE, desde que não haja
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi prazo inferior definido para metas e estratégias específicas.
abordado em tópicos anteriores. Art. 4o As metas previstas no Anexo desta Lei deverão ter
como referência a Pesquisa Nacional por Amostra de Domi-
cílios - PNAD, o censo demográfico e os censos nacionais da
educação básica e superior mais atualizados, disponíveis na
data da publicação desta Lei.
Parágrafo único. O poder público buscará ampliar o es-
LEI 9.394/96 – LEI DE DIRETRIZES E BASES DA copo das pesquisas com fins estatísticos de forma a incluir
EDUCAÇÃO NACIONAL; informação detalhada sobre o perfil das populações de 4
(quatro) a 17 (dezessete) anos com deficiência.

Art. 5o A execução do PNE e o cumprimento de suas me-


Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi tas serão objeto de monitoramento contínuo e de avaliações
abordado em tópicos anteriores. periódicas, realizados pelas seguintes instâncias:
I - Ministério da Educação - MEC;
II - Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e
Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal;

147
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

III - Conselho Nacional de Educação - CNE; Art. 7o A União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni-
IV - Fórum Nacional de Educação. cípios atuarão em regime de colaboração, visando ao alcance
§ 1o Compete, ainda, às instâncias referidas no caput: das metas e à implementação das estratégias objeto deste
I - divulgar os resultados do monitoramento e das avalia- Plano.
ções nos respectivos sítios institucionais da internet; § 1o Caberá aos gestores federais, estaduais, municipais
II - analisar e propor políticas públicas para assegurar a e do Distrito Federal a adoção das medidas governamentais
implementação das estratégias e o cumprimento das metas; necessárias ao alcance das metas previstas neste PNE.
III - analisar e propor a revisão do percentual de investi- § 2o As estratégias definidas no Anexo desta Lei não eli-
mento público em educação. dem a adoção de medidas adicionais em âmbito local ou de
§ 2o A cada 2 (dois) anos, ao longo do período de vigên- instrumentos jurídicos que formalizem a cooperação entre
cia deste PNE, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas os entes federados, podendo ser complementadas por me-
Educacionais Anísio Teixeira - INEP publicará estudos para canismos nacionais e locais de coordenação e colaboração
aferir a evolução no cumprimento das metas estabelecidas recíproca.
no Anexo desta Lei, com informações organizadas por ente § 3o Os sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Fe-
federado e consolidadas em âmbito nacional, tendo como deral e dos Municípios criarão mecanismos para o acompa-
referência os estudos e as pesquisas de que trata o art. 4o, nhamento local da consecução das metas deste PNE e dos
sem prejuízo de outras fontes e informações relevantes. planos previstos no art. 8o.
§ 3o A meta progressiva do investimento público em § 4o Haverá regime de colaboração específico para a
educação será avaliada no quarto ano de vigência do PNE e implementação de modalidades de educação escolar que
poderá ser ampliada por meio de lei para atender às necessi- necessitem considerar territórios étnico-educacionais e a uti-
dades financeiras do cumprimento das demais metas. lização de estratégias que levem em conta as identidades e
§ 4o O investimento público em educação a que se refe- especificidades socioculturais e linguísticas de cada comuni-
rem o inciso VI do art. 214 da Constituição Federal e a meta dade envolvida, assegurada a consulta prévia e informada a
20 do Anexo desta Lei engloba os recursos aplicados na for-
essa comunidade.
ma do art. 212 da Constituição Federal e do art. 60 do Ato
§ 5o Será criada uma instância permanente de negocia-
das Disposições Constitucionais Transitórias, bem como os
ção e cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal
recursos aplicados nos programas de expansão da educa-
e os Municípios.
ção profissional e superior, inclusive na forma de incentivo e
§ 6o O fortalecimento do regime de colaboração entre
isenção fiscal, as bolsas de estudos concedidas no Brasil e no
exterior, os subsídios concedidos em programas de financia- os Estados e respectivos Municípios incluirá a instituição de
mento estudantil e o financiamento de creches, pré-escolas instâncias permanentes de negociação, cooperação e pac-
e de educação especial na forma do art. 213 da Constituição tuação em cada Estado.
Federal. § 7o O fortalecimento do regime de colaboração entre os
§ 5o Será destinada à manutenção e ao desenvolvimento Municípios dar-se-á, inclusive, mediante a adoção de arran-
do ensino, em acréscimo aos recursos vinculados nos termos jos de desenvolvimento da educação.
do art. 212 da Constituição Federal, além de outros recursos Art. 8o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios de-
previstos em lei, a parcela da participação no resultado ou verão elaborar seus correspondentes planos de educação, ou
da compensação financeira pela exploração de petróleo e de adequar os planos já aprovados em lei, em consonância com
gás natural, na forma de lei específica, com a finalidade de as diretrizes, metas e estratégias previstas neste PNE, no pra-
assegurar o cumprimento da meta prevista no inciso VI do zo de 1 (um) ano contado da publicação desta Lei.
art. 214 da Constituição Federal. § 1o Os entes federados estabelecerão nos respectivos
Art. 6o A União promoverá a realização de pelo menos planos de educação estratégias que:
2 (duas) conferências nacionais de educação até o final do I - assegurem a articulação das políticas educacionais
decênio, precedidas de conferências distrital, municipais e es- com as demais políticas sociais, particularmente as culturais;
taduais, articuladas e coordenadas pelo Fórum Nacional de II - considerem as necessidades específicas das popula-
Educação, instituído nesta Lei, no âmbito do Ministério da ções do campo e das comunidades indígenas e quilombolas,
Educação. asseguradas a equidade educacional e a diversidade cultural;
§ 1o O Fórum Nacional de Educação, além da atribuição III - garantam o atendimento das necessidades específi-
referida no caput: cas na educação especial, assegurado o sistema educacional
I - acompanhará a execução do PNE e o cumprimento inclusivo em todos os níveis, etapas e modalidades;
de suas metas; IV - promovam a articulação interfederativa na imple-
II - promoverá a articulação das conferências nacionais mentação das políticas educacionais.
de educação com as conferências regionais, estaduais e mu-
§ 2o Os processos de elaboração e adequação dos planos
nicipais que as precederem.
de educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
§ 2o As conferências nacionais de educação realizar-se-ão
pios, de que trata o caput deste artigo, serão realizados com
com intervalo de até 4 (quatro) anos entre elas, com o obje-
ampla participação de representantes da comunidade edu-
tivo de avaliar a execução deste PNE e subsidiar a elaboração
cacional e da sociedade civil.
do plano nacional de educação para o decênio subsequente.

148
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Art. 9o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios de- Art. 12. Até o final do primeiro semestre do nono ano de
verão aprovar leis específicas para os seus sistemas de ensi- vigência deste PNE, o Poder Executivo encaminhará ao Con-
no, disciplinando a gestão democrática da educação pública gresso Nacional, sem prejuízo das prerrogativas deste Poder,
nos respectivos âmbitos de atuação, no prazo de 2 (dois) o projeto de lei referente ao Plano Nacional de Educação a
anos contado da publicação desta Lei, adequando, quando vigorar no período subsequente, que incluirá diagnóstico, di-
for o caso, a legislação local já adotada com essa finalidade. retrizes, metas e estratégias para o próximo decênio.
Art. 10. O plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e Art. 13. O poder público deverá instituir, em lei específica,
os orçamentos anuais da União, dos Estados, do Distrito Fe- contados 2 (dois) anos da publicação desta Lei, o Sistema
deral e dos Municípios serão formulados de maneira a asse- Nacional de Educação, responsável pela articulação entre os
gurar a consignação de dotações orçamentárias compatíveis sistemas de ensino, em regime de colaboração, para efetiva-
com as diretrizes, metas e estratégias deste PNE e com os ção das diretrizes, metas e estratégias do Plano Nacional de
respectivos planos de educação, a fim de viabilizar sua plena Educação.
execução. Art. 14. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 11. O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Brasília, 25 de junho de 2014; 193o da Independência e
Básica, coordenado pela União, em colaboração com os Es- 126  da República.
o

tados, o Distrito Federal e os Municípios, constituirá fonte de DILMA ROUSSEFF


Guido Mantega
informação para a avaliação da qualidade da educação bá-
José Henrique Paim Fernandes
sica e para a orientação das políticas públicas desse nível de
Miriam Belchior
ensino.
Este texto não substitui o publicado no DOU de
§ 1o O sistema de avaliação a que se refere o caput pro-
26.6.2014 - Edição extra 
duzirá, no máximo a cada 2 (dois) anos: ANEXO
I - indicadores de rendimento escolar, referentes ao de- METAS E ESTRATÉGIAS 
sempenho dos (as) estudantes apurado em exames nacionais Meta 1: universalizar, até 2016, a educação infantil na
de avaliação, com participação de pelo menos 80% (oitenta pré-escola para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de
por cento) dos (as) alunos (as) de cada ano escolar periodi- idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches de
camente avaliado em cada escola, e aos dados pertinentes forma a atender, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das
apurados pelo censo escolar da educação básica; crianças de até 3 (três) anos até o final da vigência deste PNE.
II - indicadores de avaliação institucional, relativos a ca- Estratégias:
racterísticas como o perfil do alunado e do corpo dos (as) 1.1) definir, em regime de colaboração entre a União,
profissionais da educação, as relações entre dimensão do os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, metas de ex-
corpo docente, do corpo técnico e do corpo discente, a in- pansão das respectivas redes públicas de educação infantil
fraestrutura das escolas, os recursos pedagógicos disponíveis segundo padrão nacional de qualidade, considerando as pe-
e os processos da gestão, entre outras relevantes. culiaridades locais;
§ 2o A elaboração e a divulgação de índices para ava- 1.2) garantir que, ao final da vigência deste PNE, seja in-
liação da qualidade, como o Índice de Desenvolvimento da ferior a 10% (dez por cento) a diferença entre as taxas de fre-
Educação Básica - IDEB, que agreguem os indicadores men- quência à educação infantil das crianças de até 3 (três) anos
cionados no inciso I do § 1o não elidem a obrigatoriedade de oriundas do quinto de renda familiar per capita mais elevado
divulgação, em separado, de cada um deles. e as do quinto de renda familiar per capita mais baixo;
§ 3o Os indicadores mencionados no § 1o serão estima- 1.3) realizar, periodicamente, em regime de colaboração,
dos por etapa, estabelecimento de ensino, rede escolar, uni- levantamento da demanda por creche para a população de
dade da Federação e em nível agregado nacional, sendo am- até 3 (três) anos, como forma de planejar a oferta e verificar
plamente divulgados, ressalvada a publicação de resultados o atendimento da demanda manifesta;
individuais e indicadores por turma, que fica admitida exclu- 1.4) estabelecer, no primeiro ano de vigência do PNE,
sivamente para a comunidade do respectivo estabelecimento normas, procedimentos e prazos para definição de mecanis-
mos de consulta pública da demanda das famílias por cre-
e para o órgão gestor da respectiva rede.
ches;
§ 4o Cabem ao Inep a elaboração e o cálculo do Ideb e
1.5) manter e ampliar, em regime de colaboração e res-
dos indicadores referidos no § 1o.
peitadas as normas de acessibilidade, programa nacional de
§ 5o A avaliação de desempenho dos (as) estudantes
construção e reestruturação de escolas, bem como de aqui-
em exames, referida no inciso I do § 1o, poderá ser direta- sição de equipamentos, visando à expansão e à melhoria da
mente realizada pela União ou, mediante acordo de coope- rede física de escolas públicas de educação infantil;
ração, pelos Estados e pelo Distrito Federal, nos respectivos 1.6) implantar, até o segundo ano de vigência deste PNE,
sistemas de ensino e de seus Municípios, caso mantenham avaliação da educação infantil, a ser realizada a cada 2 (dois)
sistemas próprios de avaliação do rendimento escolar, asse- anos, com base em parâmetros nacionais de qualidade, a
gurada a compatibilidade metodológica entre esses sistemas fim de aferir a infraestrutura física, o quadro de pessoal, as
e o nacional, especialmente no que se refere às escalas de condições de gestão, os recursos pedagógicos, a situação de
proficiência e ao calendário de aplicação. acessibilidade, entre outros indicadores relevantes;

149
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

1.7) articular a oferta de matrículas gratuitas em creches Meta 2: universalizar o ensino fundamental de 9 (nove)
certificadas como entidades beneficentes de assistência so- anos para toda a população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos
cial na área de educação com a expansão da oferta na rede e garantir que pelo menos 95% (noventa e cinco por cento)
escolar pública; dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até
1.8) promover a formação inicial e continuada dos (as) o último ano de vigência deste PNE.
profissionais da educação infantil, garantindo, progressiva- Estratégias:
mente, o atendimento por profissionais com formação su- 2.1) o Ministério da Educação, em articulação e colabo-
perior; ração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, de-
1.9) estimular a articulação entre pós-graduação, núcleos verá, até o final do 2o (segundo) ano de vigência deste PNE,
de pesquisa e cursos de formação para profissionais da edu- elaborar e encaminhar ao Conselho Nacional de Educação,
cação, de modo a garantir a elaboração de currículos e pro- precedida de consulta pública nacional, proposta de direitos
postas pedagógicas que incorporem os avanços de pesqui- e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para os (as)
sas ligadas ao processo de ensino-aprendizagem e às teorias alunos (as) do ensino fundamental;
educacionais no atendimento da população de 0 (zero) a 5 2.2) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e Mu-
(cinco) anos; nicípios, no âmbito da instância permanente de que trata o §
1.10) fomentar o atendimento das populações do cam- 5º do art. 7º desta Lei, a implantação dos direitos e objeti-
po e das comunidades indígenas e quilombolas na educação vos de aprendizagem e desenvolvimento que configurarão a
infantil nas respectivas comunidades, por meio do redimen- base nacional comum curricular do ensino fundamental;
sionamento da distribuição territorial da oferta, limitando a 2.3) criar mecanismos para o acompanhamento indivi-
nucleação de escolas e o deslocamento de crianças, de forma dualizado dos (as) alunos (as) do ensino fundamental;
a atender às especificidades dessas comunidades, garantido 2.4) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento
consulta prévia e informada; do acesso, da permanência e do aproveitamento escolar dos
1.11) priorizar o acesso à educação infantil e fomentar beneficiários de programas de transferência de renda, bem
a oferta do atendimento educacional especializado comple- como das situações de discriminação, preconceitos e vio-
mentar e suplementar aos (às) alunos (as) com deficiência, lências na escola, visando ao estabelecimento de condições
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades adequadas para o sucesso escolar dos (as) alunos (as), em
ou superdotação, assegurando a educação bilíngue para
colaboração com as famílias e com órgãos públicos de as-
crianças surdas e a transversalidade da educação especial
sistência social, saúde e proteção à infância, adolescência e
nessa etapa da educação básica;
juventude;
1.12) implementar, em caráter complementar, programas
2.5) promover a busca ativa de crianças e adolescentes
de orientação e apoio às famílias, por meio da articulação
fora da escola, em parceria com órgãos públicos de assis-
das áreas de educação, saúde e assistência social, com foco
tência social, saúde e proteção à infância, adolescência e ju-
no desenvolvimento integral das crianças de até 3 (três) anos
ventude;
de idade;
1.13) preservar as especificidades da educação infantil na 2.6) desenvolver tecnologias pedagógicas que combi-
organização das redes escolares, garantindo o atendimento nem, de maneira articulada, a organização do tempo e das
da criança de 0 (zero) a 5 (cinco) anos em estabelecimentos atividades didáticas entre a escola e o ambiente comunitário,
que atendam a parâmetros nacionais de qualidade, e a arti- considerando as especificidades da educação especial, das
culação com a etapa escolar seguinte, visando ao ingresso do escolas do campo e das comunidades indígenas e quilom-
(a) aluno(a) de 6 (seis) anos de idade no ensino fundamental; bolas;
1.14) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento 2.7) disciplinar, no âmbito dos sistemas de ensino, a or-
do acesso e da permanência das crianças na educação in- ganização flexível do trabalho pedagógico, incluindo ade-
fantil, em especial dos beneficiários de programas de trans- quação do calendário escolar de acordo com a realidade lo-
ferência de renda, em colaboração com as famílias e com os cal, a identidade cultural e as condições climáticas da região;
órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à in- 2.8) promover a relação das escolas com instituições e
fância; movimentos culturais, a fim de garantir a oferta regular de
1.15) promover a busca ativa de crianças em idade cor- atividades culturais para a livre fruição dos (as) alunos (as)
respondente à educação infantil, em parceria com órgãos pú- dentro e fora dos espaços escolares, assegurando ainda que
blicos de assistência social, saúde e proteção à infância, pre- as escolas se tornem polos de criação e difusão cultural;
servando o direito de opção da família em relação às crianças 2.9) incentivar a participação dos pais ou responsáveis
de até 3 (três) anos; no acompanhamento das atividades escolares dos filhos por
1.16) o Distrito Federal e os Municípios, com a colabora- meio do estreitamento das relações entre as escolas e as fa-
ção da União e dos Estados, realizarão e publicarão, a cada mílias;
ano, levantamento da demanda manifesta por educação in- 2.10) estimular a oferta do ensino fundamental, em espe-
fantil em creches e pré-escolas, como forma de planejar e cial dos anos iniciais, para as populações do campo, indíge-
verificar o atendimento; nas e quilombolas, nas próprias comunidades;
1.17) estimular o acesso à educação infantil em tempo 2.11) desenvolver formas alternativas de oferta do ensino
integral, para todas as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos, fundamental, garantida a qualidade, para atender aos filhos e
conforme estabelecido nas Diretrizes Curriculares Nacionais filhas de profissionais que se dedicam a atividades de caráter
para a Educação Infantil. itinerante;

150
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

2.12) oferecer atividades extracurriculares de incentivo 3.7) fomentar a expansão das matrículas gratuitas de en-
aos (às) estudantes e de estímulo a habilidades, inclusive me- sino médio integrado à educação profissional, observando-se
diante certames e concursos nacionais; as peculiaridades das populações do campo, das comunida-
2.13) promover atividades de desenvolvimento e estí- des indígenas e quilombolas e das pessoas com deficiência;
mulo a habilidades esportivas nas escolas, interligadas a um 3.8) estruturar e fortalecer o acompanhamento e o mo-
plano de disseminação do desporto educacional e de desen- nitoramento do acesso e da permanência dos e das jovens
volvimento esportivo nacional. beneficiários (as) de programas de transferência de renda, no
Meta 3: universalizar, até 2016, o atendimento escolar ensino médio, quanto à frequência, ao aproveitamento es-
para toda a população de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos colar e à interação com o coletivo, bem como das situações
e elevar, até o final do período de vigência deste PNE, a taxa de discriminação, preconceitos e violências, práticas irregula-
líquida de matrículas no ensino médio para 85% (oitenta e res de exploração do trabalho, consumo de drogas, gravidez
cinco por cento). precoce, em colaboração com as famílias e com órgãos pú-
Estratégias: blicos de assistência social, saúde e proteção à adolescência
3.1) institucionalizar programa nacional de renovação do e juventude;
ensino médio, a fim de incentivar práticas pedagógicas com 3.9) promover a busca ativa da população de 15 (quinze)
abordagens interdisciplinares estruturadas pela relação entre a 17 (dezessete) anos fora da escola, em articulação com os
teoria e prática, por meio de currículos escolares que organi- serviços de assistência social, saúde e proteção à adolescên-
zem, de maneira flexível e diversificada, conteúdos obrigató- cia e à juventude;
rios e eletivos articulados em dimensões como ciência, traba- 3.10) fomentar programas de educação e de cultura para
lho, linguagens, tecnologia, cultura e esporte, garantindo-se a população urbana e do campo de jovens, na faixa etária de
a aquisição de equipamentos e laboratórios, a produção de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos, e de adultos, com qualifi-
material didático específico, a formação continuada de pro- cação social e profissional para aqueles que estejam fora da
fessores e a articulação com instituições acadêmicas, espor- escola e com defasagem no fluxo escolar;
tivas e culturais; 3.11) redimensionar a oferta de ensino médio nos tur-
3.2) o Ministério da Educação, em articulação e colabora- nos diurno e noturno, bem como a distribuição territorial das
ção com os entes federados e ouvida a sociedade mediante escolas de ensino médio, de forma a atender a toda a de-
consulta pública nacional, elaborará e encaminhará ao Con- manda, de acordo com as necessidades específicas dos (as)
selho Nacional de Educação - CNE, até o 2o (segundo) ano alunos (as);
de vigência deste PNE, proposta de direitos e objetivos de 3.12) desenvolver formas alternativas de oferta do ensi-
aprendizagem e desenvolvimento para os (as) alunos (as) de no médio, garantida a qualidade, para atender aos filhos e
ensino médio, a serem atingidos nos tempos e etapas de or- filhas de profissionais que se dedicam a atividades de caráter
ganização deste nível de ensino, com vistas a garantir forma- itinerante;
ção básica comum; 3.13) implementar políticas de prevenção à evasão mo-
3.3) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e Mu- tivada por preconceito ou quaisquer formas de discrimina-
nicípios, no âmbito da instância permanente de que trata o § ção, criando rede de proteção contra formas associadas de
5o do art. 7o desta Lei, a implantação dos direitos e objeti- exclusão;
vos de aprendizagem e desenvolvimento que configurarão a 3.14) estimular a participação dos adolescentes nos cur-
base nacional comum curricular do ensino médio; sos das áreas tecnológicas e científicas.
3.4) garantir a fruição de bens e espaços culturais, de Meta 4: universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17
forma regular, bem como a ampliação da prática desportiva, (dezessete) anos com deficiência, transtornos globais do de-
integrada ao currículo escolar; senvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso
3.5) manter e ampliar programas e ações de correção de à educação básica e ao atendimento educacional especializa-
fluxo do ensino fundamental, por meio do acompanhamento do, preferencialmente na rede regular de ensino, com a ga-
individualizado do (a) aluno (a) com rendimento escolar de- rantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos
fasado e pela adoção de práticas como aulas de reforço no multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados,
turno complementar, estudos de recuperação e progressão públicos ou conveniados.
parcial, de forma a reposicioná-lo no ciclo escolar de maneira Estratégias:
compatível com sua idade; 4.1) contabilizar, para fins do repasse do Fundo de Ma-
3.6) universalizar o Exame Nacional do Ensino Médio - nutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valo-
ENEM, fundamentado em matriz de referência do conteúdo rização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, as matrícu-
curricular do ensino médio e em técnicas estatísticas e psico- las dos (as) estudantes da educação regular da rede pública
métricas que permitam comparabilidade de resultados, arti- que recebam atendimento educacional especializado com-
culando-o com o Sistema Nacional de Avaliação da Educação plementar e suplementar, sem prejuízo do cômputo dessas
Básica - SAEB, e promover sua utilização como instrumento matrículas na educação básica regular, e as matrículas efeti-
de avaliação sistêmica, para subsidiar políticas públicas para vadas, conforme o censo escolar mais atualizado, na educa-
a educação básica, de avaliação certificadora, possibilitando ção especial oferecida em instituições comunitárias, confes-
aferição de conhecimentos e habilidades adquiridos dentro e sionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com
fora da escola, e de avaliação classificatória, como critério de o poder público e com atuação exclusiva na modalidade, nos
acesso à educação superior; termos da Lei no 11.494, de 20 de junho de 2007;

151
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

4.2) promover, no prazo de vigência deste PNE, a univer- preconceito e violência, com vistas ao estabelecimento de
salização do atendimento escolar à demanda manifesta pelas condições adequadas para o sucesso educacional, em cola-
famílias de crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos com deficiência, boração com as famílias e com os órgãos públicos de assis-
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades tência social, saúde e proteção à infância, à adolescência e à
ou superdotação, observado o que dispõe a Lei no 9.394, de juventude;
20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases 4.10) fomentar pesquisas voltadas para o desenvolvi-
da educação nacional; mento de metodologias, materiais didáticos, equipamentos
4.3) implantar, ao longo deste PNE, salas de recursos e recursos de tecnologia assistiva, com vistas à promoção
multifuncionais e fomentar a formação continuada de pro- do ensino e da aprendizagem, bem como das condições de
fessores e professoras para o atendimento educacional es- acessibilidade dos (as) estudantes com deficiência, transtor-
pecializado nas escolas urbanas, do campo, indígenas e de nos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou su-
comunidades quilombolas; perdotação;
4.4) garantir atendimento educacional especializado em 4.11) promover o desenvolvimento de pesquisas inter-
salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou servi- disciplinares para subsidiar a formulação de políticas públi-
ços especializados, públicos ou conveniados, nas formas cas intersetoriais que atendam as especificidades educacio-
complementar e suplementar, a todos (as) alunos (as) com nais de estudantes com deficiência, transtornos globais do
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação que
habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública requeiram medidas de atendimento especializado;
de educação básica, conforme necessidade identificada por 4.12) promover a articulação intersetorial entre órgãos e
meio de avaliação, ouvidos a família e o aluno; políticas públicas de saúde, assistência social e direitos hu-
4.5) estimular a criação de centros multidisciplinares de manos, em parceria com as famílias, com o fim de desen-
apoio, pesquisa e assessoria, articulados com instituições volver modelos de atendimento voltados à continuidade do
acadêmicas e integrados por profissionais das áreas de saú- atendimento escolar, na educação de jovens e adultos, das
de, assistência social, pedagogia e psicologia, para apoiar o
pessoas com deficiência e transtornos globais do desenvol-
trabalho dos (as) professores da educação básica com os (as)
vimento com idade superior à faixa etária de escolarização
alunos (as) com deficiência, transtornos globais do desenvol-
obrigatória, de forma a assegurar a atenção integral ao longo
vimento e altas habilidades ou superdotação;
da vida;
4.6) manter e ampliar programas suplementares que
4.13) apoiar a ampliação das equipes de profissionais da
promovam a acessibilidade nas instituições públicas, para
educação para atender à demanda do processo de escolari-
garantir o acesso e a permanência dos (as) alunos (as) com
zação dos (das) estudantes com deficiência, transtornos glo-
deficiência por meio da adequação arquitetônica, da oferta
bais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdota-
de transporte acessível e da disponibilização de material di-
ção, garantindo a oferta de professores (as) do atendimento
dático próprio e de recursos de tecnologia assistiva, assegu-
educacional especializado, profissionais de apoio ou auxilia-
rando, ainda, no contexto escolar, em todas as etapas, níveis
e modalidades de ensino, a identificação dos (as) alunos (as) res, tradutores (as) e intérpretes de Libras, guias-intérpretes
com altas habilidades ou superdotação; para surdos-cegos, professores de Libras, prioritariamente
4.7) garantir a oferta de educação bilíngue, em Língua surdos, e professores bilíngues;
Brasileira de Sinais - LIBRAS como primeira língua e na mo- 4.14) definir, no segundo ano de vigência deste PNE, in-
dalidade escrita da Língua Portuguesa como segunda língua, dicadores de qualidade e política de avaliação e supervisão
aos (às) alunos (as) surdos e com deficiência auditiva de 0 para o funcionamento de instituições públicas e privadas que
(zero) a 17 (dezessete) anos, em escolas e classes bilíngues prestam atendimento a alunos com deficiência, transtornos
e em escolas inclusivas, nos termos do art. 22 do Decreto globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdo-
no 5.626, de 22 de dezembro de 2005, e dos arts. 24 e 30 tação;
da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, 4.15) promover, por iniciativa do Ministério da Educação,
bem como a adoção do Sistema Braille de leitura para cegos nos órgãos de pesquisa, demografia e estatística competen-
e surdos-cegos; tes, a obtenção de informação detalhada sobre o perfil das
4.8) garantir a oferta de educação inclusiva, vedada a ex- pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvi-
clusão do ensino regular sob alegação de deficiência e pro- mento e altas habilidades ou superdotação de 0 (zero) a 17
movida a articulação pedagógica entre o ensino regular e o (dezessete) anos;
atendimento educacional especializado; 4.16) incentivar a inclusão nos cursos de licenciatura e
4.9) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento nos demais cursos de formação para profissionais da educa-
do acesso à escola e ao atendimento educacional especiali- ção, inclusive em nível de pós-graduação, observado o dis-
zado, bem como da permanência e do desenvolvimento es- posto no caput do art. 207 da Constituição Federal, dos refe-
colar dos (as) alunos (as) com deficiência, transtornos globais renciais teóricos, das teorias de aprendizagem e dos proces-
do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação sos de ensino-aprendizagem relacionados ao atendimento
beneficiários (as) de programas de transferência de renda, educacional de alunos com deficiência, transtornos globais
juntamente com o combate às situações de discriminação, do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação;

152
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

4.17) promover parcerias com instituições comunitárias, 5.7) apoiar a alfabetização das pessoas com deficiência,
confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, convenia- considerando as suas especificidades, inclusive a alfabetiza-
das com o poder público, visando a ampliar as condições ção bilíngue de pessoas surdas, sem estabelecimento de ter-
de apoio ao atendimento escolar integral das pessoas com minalidade temporal.
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas Meta 6: oferecer educação em tempo integral em, no
habilidades ou superdotação matriculadas nas redes públicas mínimo, 50% (cinquenta por cento) das escolas públicas, de
de ensino; forma a atender, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento)
4.18) promover parcerias com instituições comunitárias, dos (as) alunos (as) da educação básica.
confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, convenia- Estratégias:
das com o poder público, visando a ampliar a oferta de for- 6.1) promover, com o apoio da União, a oferta de educa-
mação continuada e a produção de material didático acessí- ção básica pública em tempo integral, por meio de atividades
vel, assim como os serviços de acessibilidade necessários ao de acompanhamento pedagógico e multidisciplinares, inclu-
pleno acesso, participação e aprendizagem dos estudantes sive culturais e esportivas, de forma que o tempo de perma-
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e nência dos (as) alunos (as) na escola, ou sob sua responsabi-
altas habilidades ou superdotação matriculados na rede pú- lidade, passe a ser igual ou superior a 7 (sete) horas diárias
blica de ensino; durante todo o ano letivo, com a ampliação progressiva da
4.19) promover parcerias com instituições comunitárias, jornada de professores em uma única escola;
confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, convenia- 6.2) instituir, em regime de colaboração, programa de
das com o poder público, a fim de favorecer a participação construção de escolas com padrão arquitetônico e de mobi-
das famílias e da sociedade na construção do sistema educa- liário adequado para atendimento em tempo integral, prio-
cional inclusivo. ritariamente em comunidades pobres ou com crianças em
Meta 5: alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o situação de vulnerabilidade social;
final do 3o (terceiro) ano do ensino fundamental. 6.3) institucionalizar e manter, em regime de colabora-
Estratégias: ção, programa nacional de ampliação e reestruturação das
5.1) estruturar os processos pedagógicos de alfabetiza- escolas públicas, por meio da instalação de quadras polies-
ção, nos anos iniciais do ensino fundamental, articulando-os portivas, laboratórios, inclusive de informática, espaços para
com as estratégias desenvolvidas na pré-escola, com qualifi- atividades culturais, bibliotecas, auditórios, cozinhas, refeitó-
cação e valorização dos (as) professores (as) alfabetizadores rios, banheiros e outros equipamentos, bem como da produ-
e com apoio pedagógico específico, a fim de garantir a alfa- ção de material didático e da formação de recursos humanos
betização plena de todas as crianças; para a educação em tempo integral;
5.2) instituir instrumentos de avaliação nacional perió- 6.4) fomentar a articulação da escola com os diferentes
dicos e específicos para aferir a alfabetização das crianças, espaços educativos, culturais e esportivos e com equipamen-
aplicados a cada ano, bem como estimular os sistemas de tos públicos, como centros comunitários, bibliotecas, praças,
ensino e as escolas a criarem os respectivos instrumentos de parques, museus, teatros, cinemas e planetários;
avaliação e monitoramento, implementando medidas peda- 6.5) estimular a oferta de atividades voltadas à ampliação
gógicas para alfabetizar todos os alunos e alunas até o final da jornada escolar de alunos (as) matriculados nas escolas
do terceiro ano do ensino fundamental; da rede pública de educação básica por parte das entidades
5.3) selecionar, certificar e divulgar tecnologias educa- privadas de serviço social vinculadas ao sistema sindical, de
cionais para a alfabetização de crianças, assegurada a diver- forma concomitante e em articulação com a rede pública de
sidade de métodos e propostas pedagógicas, bem como o ensino;
acompanhamento dos resultados nos sistemas de ensino em 6.6) orientar a aplicação da gratuidade de que trata o art.
que forem aplicadas, devendo ser disponibilizadas, preferen- 13 da Lei no 12.101, de 27 de novembro de 2009, em ativi-
cialmente, como recursos educacionais abertos; dades de ampliação da jornada escolar de alunos (as) das
5.4) fomentar o desenvolvimento de tecnologias educa- escolas da rede pública de educação básica, de forma conco-
cionais e de práticas pedagógicas inovadoras que assegurem mitante e em articulação com a rede pública de ensino;
a alfabetização e favoreçam a melhoria do fluxo escolar e a 6.7) atender às escolas do campo e de comunidades
aprendizagem dos (as) alunos (as), consideradas as diversas indígenas e quilombolas na oferta de educação em tempo
abordagens metodológicas e sua efetividade; integral, com base em consulta prévia e informada, conside-
5.5) apoiar a alfabetização de crianças do campo, indí- rando-se as peculiaridades locais;
genas, quilombolas e de populações itinerantes, com a pro- 6.8) garantir a educação em tempo integral para pessoas
dução de materiais didáticos específicos, e desenvolver ins- com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
trumentos de acompanhamento que considerem o uso da altas habilidades ou superdotação na faixa etária de 4 (qua-
língua materna pelas comunidades indígenas e a identidade tro) a 17 (dezessete) anos, assegurando atendimento educa-
cultural das comunidades quilombolas; cional especializado complementar e suplementar ofertado
5.6) promover e estimular a formação inicial e continua- em salas de recursos multifuncionais da própria escola ou em
da de professores (as) para a alfabetização de crianças, com instituições especializadas;
o conhecimento de novas tecnologias educacionais e práti- 6.9) adotar medidas para otimizar o tempo de perma-
cas pedagógicas inovadoras, estimulando a articulação entre nência dos alunos na escola, direcionando a expansão da
programas de pós-graduação stricto sensu e ações de for- jornada para o efetivo trabalho escolar, combinado com ati-
mação continuada de professores (as) para a alfabetização; vidades recreativas, esportivas e culturais.

153
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Meta 7: fomentar a qualidade da educação básica em to- 7.6) associar a prestação de assistência técnica financeira
das as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar à fixação de metas intermediárias, nos termos estabelecidos
e da aprendizagem de modo a atingir as seguintes médias conforme pactuação voluntária entre os entes, priorizando
nacionais para o Ideb: sistemas e redes de ensino com Ideb abaixo da média na-
cional;
IDEB 2015 2017 2019 2021 7.7) aprimorar continuamente os instrumentos de avalia-
ção da qualidade do ensino fundamental e médio, de forma
Anos iniciais do ensino a englobar o ensino de ciências nos exames aplicados nos
5,2 5,5 5,7 6,0
fundamental anos finais do ensino fundamental, e incorporar o Exame Na-
Anos finais do ensino cional do Ensino Médio, assegurada a sua universalização, ao
4,7 5,0 5,2 5,5
fundamental sistema de avaliação da educação básica, bem como apoiar
Ensino médio 4,3 4,7 5,0 5,2 o uso dos resultados das avaliações nacionais pelas escolas e
redes de ensino para a melhoria de seus processos e práticas
pedagógicas;
Estratégias: 7.8) desenvolver indicadores específicos de avaliação da
7.1) estabelecer e implantar, mediante pactuação inter- qualidade da educação especial, bem como da qualidade da
federativa, diretrizes pedagógicas para a educação básica e educação bilíngue para surdos;
a base nacional comum dos currículos, com direitos e objeti- 7.9) orientar as políticas das redes e sistemas de ensino,
vos de aprendizagem e desenvolvimento dos (as) alunos (as) de forma a buscar atingir as metas do Ideb, diminuindo a
para cada ano do ensino fundamental e médio, respeitada a diferença entre as escolas com os menores índices e a média
diversidade regional, estadual e local; nacional, garantindo equidade da aprendizagem e reduzindo
7.2) assegurar que: pela metade, até o último ano de vigência deste PNE, as dife-
a) no quinto ano de vigência deste PNE, pelo menos 70% renças entre as médias dos índices dos Estados, inclusive do
(setenta por cento) dos (as) alunos (as) do ensino fundamen- Distrito Federal, e dos Municípios;
tal e do ensino médio tenham alcançado nível suficiente de 7.10) fixar, acompanhar e divulgar bienalmente os re-
aprendizado em relação aos direitos e objetivos de apren- sultados pedagógicos dos indicadores do sistema nacional
dizagem e desenvolvimento de seu ano de estudo, e 50% de avaliação da educação básica e do Ideb, relativos às es-
(cinquenta por cento), pelo menos, o nível desejável; colas, às redes públicas de educação básica e aos sistemas
b) no último ano de vigência deste PNE, todos os (as) es- de ensino da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
tudantes do ensino fundamental e do ensino médio tenham Municípios, assegurando a contextualização desses resulta-
alcançado nível suficiente de aprendizado em relação aos dos, com relação a indicadores sociais relevantes, como os
direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de de nível socioeconômico das famílias dos (as) alunos (as), e a
seu ano de estudo, e 80% (oitenta por cento), pelo menos, o transparência e o acesso público às informações técnicas de
nível desejável; concepção e operação do sistema de avaliação;
7.3) constituir, em colaboração entre a União, os Estados, 7.11) melhorar o desempenho dos alunos da educação
o Distrito Federal e os Municípios, um conjunto nacional de básica nas avaliações da aprendizagem no Programa Inter-
indicadores de avaliação institucional com base no perfil do nacional de Avaliação de Estudantes - PISA, tomado como
alunado e do corpo de profissionais da educação, nas con- instrumento externo de referência, internacionalmente reco-
dições de infraestrutura das escolas, nos recursos pedagó- nhecido, de acordo com as seguintes projeções:
gicos disponíveis, nas características da gestão e em outras
dimensões relevantes, considerando as especificidades das
PISA 2015 2018 2021
modalidades de ensino;
7.4) induzir processo contínuo de autoavaliação das es- Média dos resultados em
438 455 473
colas de educação básica, por meio da constituição de ins- matemática, leitura e ciências
trumentos de avaliação que orientem as dimensões a serem
fortalecidas, destacando-se a elaboração de planejamento
7.12) incentivar o desenvolvimento, selecionar, certificar
estratégico, a melhoria contínua da qualidade educacional, a
e divulgar tecnologias educacionais para a educação infantil,
formação continuada dos (as) profissionais da educação e o
o ensino fundamental e o ensino médio e incentivar práticas
aprimoramento da gestão democrática;
pedagógicas inovadoras que assegurem a melhoria do fluxo
7.5) formalizar e executar os planos de ações articuladas
escolar e a aprendizagem, assegurada a diversidade de mé-
dando cumprimento às metas de qualidade estabelecidas
todos e propostas pedagógicas, com preferência para soft-
para a educação básica pública e às estratégias de apoio téc-
wares livres e recursos educacionais abertos, bem como o
nico e financeiro voltadas à melhoria da gestão educacional,
acompanhamento dos resultados nos sistemas de ensino em
à formação de professores e professoras e profissionais de
que forem aplicadas;
serviços e apoio escolares, à ampliação e ao desenvolvimen-
7.13) garantir transporte gratuito para todos (as) os (as)
to de recursos pedagógicos e à melhoria e expansão da in-
estudantes da educação do campo na faixa etária da educa-
fraestrutura física da rede escolar;
ção escolar obrigatória, mediante renovação e padronização
integral da frota de veículos, de acordo com especificações
definidas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e

154
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Tecnologia - INMETRO, e financiamento compartilhado, com adoção das providências adequadas para promover a cons-
participação da União proporcional às necessidades dos en- trução da cultura de paz e um ambiente escolar dotado de
tes federados, visando a reduzir a evasão escolar e o tempo segurança para a comunidade;
médio de deslocamento a partir de cada situação local; 7.24) implementar políticas de inclusão e permanência
7.14) desenvolver pesquisas de modelos alternativos de na escola para adolescentes e jovens que se encontram em
atendimento escolar para a população do campo que consi- regime de liberdade assistida e em situação de rua, assegu-
derem as especificidades locais e as boas práticas nacionais rando os princípios da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990
e internacionais; - Estatuto da Criança e do Adolescente;
7.15) universalizar, até o quinto ano de vigência deste 7.25) garantir nos currículos escolares conteúdos sobre
PNE, o acesso à rede mundial de computadores em banda a história e as culturas afro-brasileira e indígenas e imple-
larga de alta velocidade e triplicar, até o final da década, a mentar ações educacionais, nos termos das Leis nos 10.639,
relação computador/aluno (a) nas escolas da rede pública de de 9 de janeiro de 2003, e 11.645, de 10 de março de 2008,
educação básica, promovendo a utilização pedagógica das assegurando-se a implementação das respectivas diretrizes
tecnologias da informação e da comunicação; curriculares nacionais, por meio de ações colaborativas com
7.16) apoiar técnica e financeiramente a gestão escolar fóruns de educação para a diversidade étnico-racial, conse-
mediante transferência direta de recursos financeiros à es- lhos escolares, equipes pedagógicas e a sociedade civil;
cola, garantindo a participação da comunidade escolar no 7.26) consolidar a educação escolar no campo de po-
planejamento e na aplicação dos recursos, visando à amplia- pulações tradicionais, de populações itinerantes e de comu-
ção da transparência e ao efetivo desenvolvimento da gestão nidades indígenas e quilombolas, respeitando a articulação
democrática; entre os ambientes escolares e comunitários e garantindo:
7.17) ampliar programas e aprofundar ações de atendi- o desenvolvimento sustentável e preservação da identidade
mento ao (à) aluno (a), em todas as etapas da educação bá- cultural; a participação da comunidade na definição do mo-
sica, por meio de programas suplementares de material di- delo de organização pedagógica e de gestão das instituições,
dático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; consideradas as práticas socioculturais e as formas particula-
7.18) assegurar a todas as escolas públicas de educação res de organização do tempo; a oferta bilíngue na educação
básica o acesso a energia elétrica, abastecimento de água infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, em língua
materna das comunidades indígenas e em língua portugue-
tratada, esgotamento sanitário e manejo dos resíduos sóli-
sa; a reestruturação e a aquisição de equipamentos; a oferta
dos, garantir o acesso dos alunos a espaços para a prática
de programa para a formação inicial e continuada de profis-
esportiva, a bens culturais e artísticos e a equipamentos e
sionais da educação; e o atendimento em educação especial;
laboratórios de ciências e, em cada edifício escolar, garantir a
7.27) desenvolver currículos e propostas pedagógicas es-
acessibilidade às pessoas com deficiência;
pecíficas para educação escolar para as escolas do campo e
7.19) institucionalizar e manter, em regime de colabo-
para as comunidades indígenas e quilombolas, incluindo os
ração, programa nacional de reestruturação e aquisição de
conteúdos culturais correspondentes às respectivas comuni-
equipamentos para escolas públicas, visando à equalização dades e considerando o fortalecimento das práticas socio-
regional das oportunidades educacionais; culturais e da língua materna de cada comunidade indígena,
7.20) prover equipamentos e recursos tecnológicos di- produzindo e disponibilizando materiais didáticos específi-
gitais para a utilização pedagógica no ambiente escolar a cos, inclusive para os (as) alunos (as) com deficiência;
todas as escolas públicas da educação básica, criando, inclu- 7.28) mobilizar as famílias e setores da sociedade civil,
sive, mecanismos para implementação das condições neces- articulando a educação formal com experiências de educa-
sárias para a universalização das bibliotecas nas instituições ção popular e cidadã, com os propósitos de que a educação
educacionais, com acesso a redes digitais de computadores, seja assumida como responsabilidade de todos e de ampliar
inclusive a internet; o controle social sobre o cumprimento das políticas públicas
7.21) a União, em regime de colaboração com os entes educacionais;
federados subnacionais, estabelecerá, no prazo de 2 (dois) 7.29) promover a articulação dos programas da área da
anos contados da publicação desta Lei, parâmetros mínimos educação, de âmbito local e nacional, com os de outras áreas,
de qualidade dos serviços da educação básica, a serem uti- como saúde, trabalho e emprego, assistência social, esporte
lizados como referência para infraestrutura das escolas, re- e cultura, possibilitando a criação de rede de apoio integral
cursos pedagógicos, entre outros insumos relevantes, bem às famílias, como condição para a melhoria da qualidade
como instrumento para adoção de medidas para a melhoria educacional;
da qualidade do ensino; 7.30) universalizar, mediante articulação entre os órgãos
7.22) informatizar integralmente a gestão das escolas responsáveis pelas áreas da saúde e da educação, o atendi-
públicas e das secretarias de educação dos Estados, do Dis- mento aos (às) estudantes da rede escolar pública de edu-
trito Federal e dos Municípios, bem como manter programa cação básica por meio de ações de prevenção, promoção e
nacional de formação inicial e continuada para o pessoal téc- atenção à saúde;
nico das secretarias de educação; 7.31) estabelecer ações efetivas especificamente volta-
7.23) garantir políticas de combate à violência na escola, das para a promoção, prevenção, atenção e atendimento à
inclusive pelo desenvolvimento de ações destinadas à ca- saúde e à integridade física, mental e emocional dos (das)
pacitação de educadores para detecção dos sinais de suas profissionais da educação, como condição para a melhoria
causas, como a violência doméstica e sexual, favorecendo a da qualidade educacional;

155
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

7.32) fortalecer, com a colaboração técnica e financeira 8.6) promover busca ativa de jovens fora da escola per-
da União, em articulação com o sistema nacional de avalia- tencentes aos segmentos populacionais considerados, em
ção, os sistemas estaduais de avaliação da educação básica, parceria com as áreas de assistência social, saúde e proteção
com participação, por adesão, das redes municipais de ensi- à juventude.
no, para orientar as políticas públicas e as práticas pedagó- Meta 9: elevar a taxa de alfabetização da população com
gicas, com o fornecimento das informações às escolas e à 15 (quinze) anos ou mais para 93,5% (noventa e três inteiros
sociedade; e cinco décimos por cento) até 2015 e, até o final da vigência
7.33) promover, com especial ênfase, em consonância deste PNE, erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em
com as diretrizes do Plano Nacional do Livro e da Leitura, a 50% (cinquenta por cento) a taxa de analfabetismo funcional.
formação de leitores e leitoras e a capacitação de professo- Estratégias:
res e professoras, bibliotecários e bibliotecárias e agentes da 9.1) assegurar a oferta gratuita da educação de jovens e
comunidade para atuar como mediadores e mediadoras da adultos a todos os que não tiveram acesso à educação básica
leitura, de acordo com a especificidade das diferentes etapas na idade própria;
do desenvolvimento e da aprendizagem; 9.2) realizar diagnóstico dos jovens e adultos com ensino
7.34) instituir, em articulação com os Estados, os Municí- fundamental e médio incompletos, para identificar a deman-
pios e o Distrito Federal, programa nacional de formação de da ativa por vagas na educação de jovens e adultos;
professores e professoras e de alunos e alunas para promover 9.3) implementar ações de alfabetização de jovens e
e consolidar política de preservação da memória nacional; adultos com garantia de continuidade da escolarização bá-
7.35) promover a regulação da oferta da educação básica sica;
pela iniciativa privada, de forma a garantir a qualidade e o 9.4) criar benefício adicional no programa nacional de
cumprimento da função social da educação; transferência de renda para jovens e adultos que frequenta-
7.36) estabelecer políticas de estímulo às escolas que rem cursos de alfabetização;
melhorarem o desempenho no Ideb, de modo a valorizar o 9.5) realizar chamadas públicas regulares para educação
mérito do corpo docente, da direção e da comunidade es- de jovens e adultos, promovendo-se busca ativa em regime
colar. de colaboração entre entes federados e em parceria com or-
Meta 8: elevar a escolaridade média da população de 18 ganizações da sociedade civil;
(dezoito) a 29 (vinte e nove) anos, de modo a alcançar, no 9.6) realizar avaliação, por meio de exames específicos,
mínimo, 12 (doze) anos de estudo no último ano de vigên- que permita aferir o grau de alfabetização de jovens e adul-
cia deste Plano, para as populações do campo, da região de tos com mais de 15 (quinze) anos de idade;
menor escolaridade no País e dos 25% (vinte e cinco por cen- 9.7) executar ações de atendimento ao (à) estudante da
to) mais pobres, e igualar a escolaridade média entre negros educação de jovens e adultos por meio de programas suple-
e não negros declarados à Fundação Instituto Brasileiro de mentares de transporte, alimentação e saúde, inclusive aten-
Geografia e Estatística - IBGE. dimento oftalmológico e fornecimento gratuito de óculos,
Estratégias: em articulação com a área da saúde;
8.1) institucionalizar programas e desenvolver tecnolo- 9.8) assegurar a oferta de educação de jovens e adul-
gias para correção de fluxo, para acompanhamento pedagó- tos, nas etapas de ensino fundamental e médio, às pessoas
gico individualizado e para recuperação e progressão parcial, privadas de liberdade em todos os estabelecimentos penais,
bem como priorizar estudantes com rendimento escolar de- assegurando-se formação específica dos professores e das
fasado, considerando as especificidades dos segmentos po- professoras e implementação de diretrizes nacionais em re-
pulacionais considerados; gime de colaboração;
8.2) implementar programas de educação de jovens e 9.9) apoiar técnica e financeiramente projetos inovado-
adultos para os segmentos populacionais considerados, que res na educação de jovens e adultos que visem ao desenvol-
estejam fora da escola e com defasagem idade-série, asso- vimento de modelos adequados às necessidades específicas
ciados a outras estratégias que garantam a continuidade da desses (as) alunos (as);
escolarização, após a alfabetização inicial; 9.10) estabelecer mecanismos e incentivos que integrem
8.3) garantir acesso gratuito a exames de certificação da os segmentos empregadores, públicos e privados, e os siste-
conclusão dos ensinos fundamental e médio; mas de ensino, para promover a compatibilização da jornada
8.4) expandir a oferta gratuita de educação profissional de trabalho dos empregados e das empregadas com a oferta
técnica por parte das entidades privadas de serviço social e das ações de alfabetização e de educação de jovens e adul-
de formação profissional vinculadas ao sistema sindical, de tos;
forma concomitante ao ensino ofertado na rede escolar pú- 9.11) implementar programas de capacitação tecnológi-
blica, para os segmentos populacionais considerados; ca da população jovem e adulta, direcionados para os seg-
8.5) promover, em parceria com as áreas de saúde e as- mentos com baixos níveis de escolarização formal e para os
sistência social, o acompanhamento e o monitoramento do (as) alunos (as) com deficiência, articulando os sistemas de
acesso à escola específicos para os segmentos populacionais ensino, a Rede Federal de Educação Profissional, Científica
considerados, identificar motivos de absenteísmo e colabo- e Tecnológica, as universidades, as cooperativas e as asso-
rar com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios para a ciações, por meio de ações de extensão desenvolvidas em
garantia de frequência e apoio à aprendizagem, de maneira a centros vocacionais tecnológicos, com tecnologias assistivas
estimular a ampliação do atendimento desses (as) estudantes que favoreçam a efetiva inclusão social e produtiva dessa po-
na rede pública regular de ensino; pulação;

156
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

9.12) considerar, nas políticas públicas de jovens e adul- 10.9) institucionalizar programa nacional de assistência
tos, as necessidades dos idosos, com vistas à promoção de ao estudante, compreendendo ações de assistência social,
políticas de erradicação do analfabetismo, ao acesso a tec- financeira e de apoio psicopedagógico que contribuam para
nologias educacionais e atividades recreativas, culturais e garantir o acesso, a permanência, a aprendizagem e a con-
esportivas, à implementação de programas de valorização clusão com êxito da educação de jovens e adultos articulada
e compartilhamento dos conhecimentos e experiência dos à educação profissional;
idosos e à inclusão dos temas do envelhecimento e da velhi- 10.10) orientar a expansão da oferta de educação de jo-
ce nas escolas. vens e adultos articulada à educação profissional, de modo
Meta 10: oferecer, no mínimo, 25% (vinte e cinco por a atender às pessoas privadas de liberdade nos estabeleci-
cento) das matrículas de educação de jovens e adultos, nos mentos penais, assegurando-se formação específica dos
ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educa- professores e das professoras e implementação de diretrizes
ção profissional. nacionais em regime de colaboração;
Estratégias: 10.11) implementar mecanismos de reconhecimento de
10.1) manter programa nacional de educação de jovens saberes dos jovens e adultos trabalhadores, a serem conside-
e adultos voltado à conclusão do ensino fundamental e à for- rados na articulação curricular dos cursos de formação inicial
e continuada e dos cursos técnicos de nível médio.
mação profissional inicial, de forma a estimular a conclusão
Meta 11: triplicar as matrículas da educação profissional
da educação básica;
técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e
10.2) expandir as matrículas na educação de jovens e
pelo menos 50% (cinquenta por cento) da expansão no seg-
adultos, de modo a articular a formação inicial e continuada mento público.
de trabalhadores com a educação profissional, objetivando Estratégias:
a elevação do nível de escolaridade do trabalhador e da tra- 11.1) expandir as matrículas de educação profissional
balhadora; técnica de nível médio na Rede Federal de Educação Profis-
10.3) fomentar a integração da educação de jovens e sional, Científica e Tecnológica, levando em consideração a
adultos com a educação profissional, em cursos planejados, responsabilidade dos Institutos na ordenação territorial, sua
de acordo com as características do público da educação de vinculação com arranjos produtivos, sociais e culturais locais
jovens e adultos e considerando as especificidades das po- e regionais, bem como a interiorização da educação profis-
pulações itinerantes e do campo e das comunidades indíge- sional;
nas e quilombolas, inclusive na modalidade de educação a 11.2) fomentar a expansão da oferta de educação pro-
distância; fissional técnica de nível médio nas redes públicas estaduais
10.4) ampliar as oportunidades profissionais dos jovens de ensino;
e adultos com deficiência e baixo nível de escolaridade, por 11.3) fomentar a expansão da oferta de educação profis-
meio do acesso à educação de jovens e adultos articulada à sional técnica de nível médio na modalidade de educação a
educação profissional; distância, com a finalidade de ampliar a oferta e democratizar
10.5) implantar programa nacional de reestruturação e o acesso à educação profissional pública e gratuita, assegu-
aquisição de equipamentos voltados à expansão e à melhoria rado padrão de qualidade;
da rede física de escolas públicas que atuam na educação de 11.4) estimular a expansão do estágio na educação pro-
jovens e adultos integrada à educação profissional, garantin- fissional técnica de nível médio e do ensino médio regular,
do acessibilidade à pessoa com deficiência; preservando-se seu caráter pedagógico integrado ao itinerá-
10.6) estimular a diversificação curricular da educação de rio formativo do aluno, visando à formação de qualificações
jovens e adultos, articulando a formação básica e a prepara- próprias da atividade profissional, à contextualização curricu-
ção para o mundo do trabalho e estabelecendo inter-rela- lar e ao desenvolvimento da juventude;
ções entre teoria e prática, nos eixos da ciência, do trabalho, 11.5) ampliar a oferta de programas de reconhecimen-
to de saberes para fins de certificação profissional em nível
da tecnologia e da cultura e cidadania, de forma a organizar
técnico;
o tempo e o espaço pedagógicos adequados às característi-
11.6) ampliar a oferta de matrículas gratuitas de educa-
cas desses alunos e alunas;
ção profissional técnica de nível médio pelas entidades priva-
10.7) fomentar a produção de material didático, o de- das de formação profissional vinculadas ao sistema sindical e
senvolvimento de currículos e metodologias específicas, os entidades sem fins lucrativos de atendimento à pessoa com
instrumentos de avaliação, o acesso a equipamentos e labo- deficiência, com atuação exclusiva na modalidade;
ratórios e a formação continuada de docentes das redes pú- 11.7) expandir a oferta de financiamento estudantil à
blicas que atuam na educação de jovens e adultos articulada educação profissional técnica de nível médio oferecida em
à educação profissional; instituições privadas de educação superior;
10.8) fomentar a oferta pública de formação inicial e 11.8) institucionalizar sistema de avaliação da qualidade
continuada para trabalhadores e trabalhadoras articulada à da educação profissional técnica de nível médio das redes
educação de jovens e adultos, em regime de colaboração e escolares públicas e privadas;
com apoio de entidades privadas de formação profissional 11.9) expandir o atendimento do ensino médio gratui-
vinculadas ao sistema sindical e de entidades sem fins lucra- to integrado à formação profissional para as populações do
tivos de atendimento à pessoa com deficiência, com atuação campo e para as comunidades indígenas e quilombolas, de
exclusiva na modalidade; acordo com os seus interesses e necessidades;

157
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

11.10) expandir a oferta de educação profissional técnica superior, de modo a reduzir as desigualdades étnico-raciais
de nível médio para as pessoas com deficiência, transtornos e ampliar as taxas de acesso e permanência na educação
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdo- superior de estudantes egressos da escola pública, afro-
tação; descendentes e indígenas e de estudantes com deficiência,
11.11) elevar gradualmente a taxa de conclusão média transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades
dos cursos técnicos de nível médio na Rede Federal de Edu- ou superdotação, de forma a apoiar seu sucesso acadêmico;
cação Profissional, Científica e Tecnológica para 90% (noven- 12.6) expandir o financiamento estudantil por meio do
ta por cento) e elevar, nos cursos presenciais, a relação de Fundo de Financiamento Estudantil - FIES, de que trata a Lei
alunos (as) por professor para 20 (vinte); no 10.260, de 12 de julho de 2001, com a constituição de fun-
11.12) elevar gradualmente o investimento em progra- do garantidor do financiamento, de forma a dispensar pro-
mas de assistência estudantil e mecanismos de mobilidade gressivamente a exigência de fiador;
acadêmica, visando a garantir as condições necessárias à 12.7) assegurar, no mínimo, 10% (dez por cento) do total
permanência dos (as) estudantes e à conclusão dos cursos de créditos curriculares exigidos para a graduação em pro-
técnicos de nível médio; gramas e projetos de extensão universitária, orientando sua
11.13) reduzir as desigualdades étnico-raciais e regionais ação, prioritariamente, para áreas de grande pertinência so-
no acesso e permanência na educação profissional técnica de cial;
nível médio, inclusive mediante a adoção de políticas afirma- 12.8) ampliar a oferta de estágio como parte da forma-
tivas, na forma da lei; ção na educação superior;
11.14) estruturar sistema nacional de informação pro- 12.9) ampliar a participação proporcional de grupos his-
fissional, articulando a oferta de formação das instituições toricamente desfavorecidos na educação superior, inclusive
especializadas em educação profissional aos dados do mer- mediante a adoção de políticas afirmativas, na forma da lei;
cado de trabalho e a consultas promovidas em entidades 12.10) assegurar condições de acessibilidade nas institui-
empresariais e de trabalhadores  ções de educação superior, na forma da legislação;
Meta 12: elevar a taxa bruta de matrícula na educação 12.11) fomentar estudos e pesquisas que analisem a ne-
superior para 50% (cinquenta por cento) e a taxa líquida para cessidade de articulação entre formação, currículo, pesquisa
33% (trinta e três por cento) da população de 18 (dezoito) a
e mundo do trabalho, considerando as necessidades econô-
24 (vinte e quatro) anos, assegurada a qualidade da oferta e
micas, sociais e culturais do País;
expansão para, pelo menos, 40% (quarenta por cento) das
12.12) consolidar e ampliar programas e ações de incen-
novas matrículas, no segmento público.
tivo à mobilidade estudantil e docente em cursos de gradua-
Estratégias:
ção e pós-graduação, em âmbito nacional e internacional,
12.1) otimizar a capacidade instalada da estrutura física e
tendo em vista o enriquecimento da formação de nível su-
de recursos humanos das instituições públicas de educação
perior;
superior, mediante ações planejadas e coordenadas, de for-
ma a ampliar e interiorizar o acesso à graduação; 12.13) expandir atendimento específico a populações do
12.2) ampliar a oferta de vagas, por meio da expansão e campo e comunidades indígenas e quilombolas, em relação
interiorização da rede federal de educação superior, da Rede a acesso, permanência, conclusão e formação de profissio-
Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e nais para atuação nessas populações;
do sistema Universidade Aberta do Brasil, considerando a 12.14) mapear a demanda e fomentar a oferta de forma-
densidade populacional, a oferta de vagas públicas em re- ção de pessoal de nível superior, destacadamente a que se
lação à população na idade de referência e observadas as refere à formação nas áreas de ciências e matemática, con-
características regionais das micro e mesorregiões definidas siderando as necessidades do desenvolvimento do País, a
pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - inovação tecnológica e a melhoria da qualidade da educação
IBGE, uniformizando a expansão no território nacional; básica;
12.3) elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos 12.15) institucionalizar programa de composição de
cursos de graduação presenciais nas universidades públicas acervo digital de referências bibliográficas e audiovisuais
para 90% (noventa por cento), ofertar, no mínimo, um terço para os cursos de graduação, assegurada a acessibilidade às
das vagas em cursos noturnos e elevar a relação de estudan- pessoas com deficiência; 
tes por professor (a) para 18 (dezoito), mediante estratégias 12.16) consolidar processos seletivos nacionais e regio-
de aproveitamento de créditos e inovações acadêmicas que nais para acesso à educação superior como forma de superar
valorizem a aquisição de competências de nível superior; exames vestibulares isolados;
12.4) fomentar a oferta de educação superior pública e 12.17) estimular mecanismos para ocupar as vagas ocio-
gratuita prioritariamente para a formação de professores e sas em cada período letivo na educação superior pública;
professoras para a educação básica, sobretudo nas áreas de 12.18) estimular a expansão e reestruturação das ins-
ciências e matemática, bem como para atender ao défice de tituições de educação superior estaduais e municipais cujo
profissionais em áreas específicas; ensino seja gratuito, por meio de apoio técnico e financeiro
12.5) ampliar as políticas de inclusão e de assistência es- do Governo Federal, mediante termo de adesão a programa
tudantil dirigidas aos (às) estudantes de instituições públicas, de reestruturação, na forma de regulamento, que considere
bolsistas de instituições privadas de educação superior e be- a sua contribuição para a ampliação de vagas, a capacidade
neficiários do Fundo de Financiamento Estudantil - FIES, de fiscal e as necessidades dos sistemas de ensino dos entes
que trata a Lei no 10.260, de 12 de julho de 2001, na educação mantenedores na oferta e qualidade da educação básica;

158
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

12.19) reestruturar com ênfase na melhoria de prazos e 13.7) fomentar a formação de consórcios entre insti-
qualidade da decisão, no prazo de 2 (dois) anos, os procedi- tuições públicas de educação superior, com vistas a poten-
mentos adotados na área de avaliação, regulação e super- cializar a atuação regional, inclusive por meio de plano de
visão, em relação aos processos de autorização de cursos e desenvolvimento institucional integrado, assegurando maior
instituições, de reconhecimento ou renovação de reconheci- visibilidade nacional e internacional às atividades de ensino,
mento de cursos superiores e de credenciamento ou recre- pesquisa e extensão;
denciamento de instituições, no âmbito do sistema federal 13.8) elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos
de ensino; cursos de graduação presenciais nas universidades públicas,
12.20) ampliar, no âmbito do Fundo de Financiamento de modo a atingir 90% (noventa por cento) e, nas instituições
ao Estudante do Ensino Superior - FIES, de que trata a Lei nº privadas, 75% (setenta e cinco por cento), em 2020, e fomen-
10.260, de 12 de julho de 2001, e do Programa Universidade tar a melhoria dos resultados de aprendizagem, de modo
para Todos - PROUNI, de que trata a  Lei no 11.096, de 13 que, em 5 (cinco) anos, pelo menos 60% (sessenta por cento)
de janeiro de 2005, os benefícios destinados à concessão de dos estudantes apresentem desempenho positivo igual ou
financiamento a estudantes regularmente matriculados em superior a 60% (sessenta por cento) no Exame Nacional de
cursos superiores presenciais ou a distância, com avaliação Desempenho de Estudantes - ENADE e, no último ano de
positiva, de acordo com regulamentação própria, nos proces- vigência, pelo menos 75% (setenta e cinco por cento) dos es-
sos conduzidos pelo Ministério da Educação; tudantes obtenham desempenho positivo igual ou superior
12.21) fortalecer as redes físicas de laboratórios multi- a 75% (setenta e cinco por cento) nesse exame, em cada área
funcionais das IES e ICTs nas áreas estratégicas definidas pela de formação profissional;
política e estratégias nacionais de ciência, tecnologia e ino- 13.9) promover a formação inicial e continuada dos (as)
vação. profissionais técnico-administrativos da educação superior.
Meta 13: elevar a qualidade da educação superior e am- Meta 14: elevar gradualmente o número de matrículas
pliar a proporção de mestres e doutores do corpo docente na pós-graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação
em efetivo exercício no conjunto do sistema de educação su- anual de 60.000 (sessenta mil) mestres e 25.000 (vinte e cinco
perior para 75% (setenta e cinco por cento), sendo, do total, mil) doutores.
no mínimo, 35% (trinta e cinco por cento) doutores.
Estratégias:
Estratégias:
14.1) expandir o financiamento da pós-graduação stricto
13.1) aperfeiçoar o Sistema Nacional de Avaliação da
sensu por meio das agências oficiais de fomento;
Educação Superior - SINAES, de que trata a Lei no 10.861, de
14.2) estimular a integração e a atuação articulada en-
14 de abril de 2004, fortalecendo as ações de avaliação, re-
tre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
gulação e supervisão;
Superior - CAPES e as agências estaduais de fomento à pes-
13.2) ampliar a cobertura do Exame Nacional de Desem-
quisa;
penho de Estudantes - ENADE, de modo a ampliar o quanti-
tativo de estudantes e de áreas avaliadas no que diz respeito 14.3) expandir o financiamento estudantil por meio do
à aprendizagem resultante da graduação; Fies à pós-graduação stricto sensu;
13.3) induzir processo contínuo de autoavaliação das ins- 14.4) expandir a oferta de cursos de pós-graduação stric-
tituições de educação superior, fortalecendo a participação to sensu, utilizando inclusive metodologias, recursos e tecno-
das comissões próprias de avaliação, bem como a aplicação logias de educação a distância;
de instrumentos de avaliação que orientem as dimensões a 14.5) implementar ações para reduzir as desigualdades
serem fortalecidas, destacando-se a qualificação e a dedica- étnico-raciais e regionais e para favorecer o acesso das po-
ção do corpo docente; pulações do campo e das comunidades indígenas e quilom-
13.4) promover a melhoria da qualidade dos cursos de bolas a programas de mestrado e doutorado;
pedagogia e licenciaturas, por meio da aplicação de instru- 14.6) ampliar a oferta de programas de pós-gradua-
mento próprio de avaliação aprovado pela Comissão Nacio- ção stricto sensu, especialmente os de doutorado, nos cam-
nal de Avaliação da Educação Superior - CONAES, integran- pi novos abertos em decorrência dos programas de expan-
do-os às demandas e necessidades das redes de educação são e interiorização das instituições superiores públicas;
básica, de modo a permitir aos graduandos a aquisição das 14.7) manter e expandir programa de acervo digital de
qualificações necessárias a conduzir o processo pedagógico referências bibliográficas para os cursos de pós-graduação,
de seus futuros alunos (as), combinando formação geral e assegurada a acessibilidade às pessoas com deficiência;
específica com a prática didática, além da educação para as 14.8) estimular a participação das mulheres nos cursos
relações étnico-raciais, a diversidade e as necessidades das de pós-graduação stricto sensu, em particular aqueles liga-
pessoas com deficiência; dos às áreas de Engenharia, Matemática, Física, Química, In-
13.5) elevar o padrão de qualidade das universidades, formática e outros no campo das ciências;
direcionando sua atividade, de modo que realizem, efetiva- 14.9) consolidar programas, projetos e ações que obje-
mente, pesquisa institucionalizada, articulada a programas tivem a internacionalização da pesquisa e da pós-graduação
de pós-graduação stricto sensu; brasileiras, incentivando a atuação em rede e o fortalecimen-
13.6) substituir o Exame Nacional de Desempenho de Es- to de grupos de pesquisa;
tudantes - ENADE aplicado ao final do primeiro ano do curso 14.10) promover o intercâmbio científico e tecnológico,
de graduação pelo Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, nacional e internacional, entre as instituições de ensino, pes-
a fim de apurar o valor agregado dos cursos de graduação; quisa e extensão;

159
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

14.11) ampliar o investimento em pesquisas com foco 15.6) promover a reforma curricular dos cursos de licen-
em desenvolvimento e estímulo à inovação, bem como incre- ciatura e estimular a renovação pedagógica, de forma a asse-
mentar a formação de recursos humanos para a inovação, de gurar o foco no aprendizado do (a) aluno (a), dividindo a car-
modo a buscar o aumento da competitividade das empresas ga horária em formação geral, formação na área do saber e
de base tecnológica; didática específica e incorporando as modernas tecnologias
14.12) ampliar o investimento na formação de doutores de informação e comunicação, em articulação com a base
de modo a atingir a proporção de 4 (quatro) doutores por nacional comum dos currículos da educação básica, de que
1.000 (mil) habitantes; tratam as estratégias 2.1, 2.2, 3.2 e 3.3 deste PNE;
14.13) aumentar qualitativa e quantitativamente o de- 15.7) garantir, por meio das funções de avaliação, regula-
sempenho científico e tecnológico do País e a competitivi- ção e supervisão da educação superior, a plena implementa-
dade internacional da pesquisa brasileira, ampliando a coo- ção das respectivas diretrizes curriculares;
peração científica com empresas, Instituições de Educação 15.8) valorizar as práticas de ensino e os estágios nos
Superior - IES e demais Instituições Científicas e Tecnológicas cursos de formação de nível médio e superior dos profissio-
- ICTs; nais da educação, visando ao trabalho sistemático de articu-
14.14) estimular a pesquisa científica e de inovação e lação entre a formação acadêmica e as demandas da educa-
promover a formação de recursos humanos que valorize a ção básica;
diversidade regional e a biodiversidade da região amazônica 15.9) implementar cursos e programas especiais para as-
e do cerrado, bem como a gestão de recursos hídricos no segurar formação específica na educação superior, nas res-
semiárido para mitigação dos efeitos da seca e geração de pectivas áreas de atuação, aos docentes com formação de
emprego e renda na região; nível médio na modalidade normal, não licenciados ou licen-
14.15) estimular a pesquisa aplicada, no âmbito das IES e ciados em área diversa da de atuação docente, em efetivo
das ICTs, de modo a incrementar a inovação e a produção e exercício;
registro de patentes. 15.10) fomentar a oferta de cursos técnicos de nível mé-
Meta 15: garantir, em regime de colaboração entre a dio e tecnológicos de nível superior destinados à formação,
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no pra- nas respectivas áreas de atuação, dos (as) profissionais da
zo de 1 (um) ano de vigência deste PNE, política nacional de educação de outros segmentos que não os do magistério;
formação dos profissionais da educação de que tratam os 15.11) implantar, no prazo de 1 (um) ano de vigência
incisos I, II e III do caput do art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de desta Lei, política nacional de formação continuada para os
dezembro de 1996, assegurado que todos os professores e (as) profissionais da educação de outros segmentos que não
as professoras da educação básica possuam formação espe- os do magistério, construída em regime de colaboração en-
cífica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na tre os entes federados;
área de conhecimento em que atuam. 15.12) instituir programa de concessão de bolsas de es-
Estratégias: tudos para que os professores de idiomas das escolas públi-
15.1) atuar, conjuntamente, com base em plano estraté- cas de educação básica realizem estudos de imersão e aper-
gico que apresente diagnóstico das necessidades de forma- feiçoamento nos países que tenham como idioma nativo as
ção de profissionais da educação e da capacidade de atendi- línguas que lecionem;
mento, por parte de instituições públicas e comunitárias de 15.13) desenvolver modelos de formação docente para
educação superior existentes nos Estados, Distrito Federal e a educação profissional que valorizem a experiência prática,
Municípios, e defina obrigações recíprocas entre os partíci- por meio da oferta, nas redes federal e estaduais de educação
pes; profissional, de cursos voltados à complementação e certifi-
15.2) consolidar o financiamento estudantil a estudantes cação didático-pedagógica de profissionais experientes.
matriculados em cursos de licenciatura com avaliação positi- Meta 16: formar, em nível de pós-graduação, 50% (cin-
va pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior quenta por cento) dos professores da educação básica, até o
- SINAES, na forma da Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004, último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos (as) os
inclusive a amortização do saldo devedor pela docência efe- (as) profissionais da educação básica formação continuada
tiva na rede pública de educação básica; em sua área de atuação, considerando as necessidades, de-
15.3) ampliar programa permanente de iniciação à do- mandas e contextualizações dos sistemas de ensino.
cência a estudantes matriculados em cursos de licenciatura, Estratégias:
a fim de aprimorar a formação de profissionais para atuar no 16.1) realizar, em regime de colaboração, o planejamento
magistério da educação básica; estratégico para dimensionamento da demanda por forma-
15.4) consolidar e ampliar plataforma eletrônica para or- ção continuada e fomentar a respectiva oferta por parte das
ganizar a oferta e as matrículas em cursos de formação inicial instituições públicas de educação superior, de forma orgâ-
e continuada de profissionais da educação, bem como para nica e articulada às políticas de formação dos Estados, do
divulgar e atualizar seus currículos eletrônicos; Distrito Federal e dos Municípios;
15.5) implementar programas específicos para formação 16.2) consolidar política nacional de formação de profes-
de profissionais da educação para as escolas do campo e de sores e professoras da educação básica, definindo diretrizes
comunidades indígenas e quilombolas e para a educação es- nacionais, áreas prioritárias, instituições formadoras e pro-
pecial; cessos de certificação das atividades formativas;

160
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

16.3) expandir programa de composição de acervo de Estratégias:


obras didáticas, paradidáticas e de literatura e de dicionários, 18.1) estruturar as redes públicas de educação básica
e programa específico de acesso a bens culturais, incluindo de modo que, até o início do terceiro ano de vigência deste
obras e materiais produzidos em Libras e em Braille, sem pre- PNE, 90% (noventa por cento), no mínimo, dos respectivos
juízo de outros, a serem disponibilizados para os professores profissionais do magistério e 50% (cinquenta por cento), no
e as professoras da rede pública de educação básica, favo- mínimo, dos respectivos profissionais da educação não do-
recendo a construção do conhecimento e a valorização da centes sejam ocupantes de cargos de provimento efetivo e
cultura da investigação; estejam em exercício nas redes escolares a que se encontrem
16.4) ampliar e consolidar portal eletrônico para subsi- vinculados;
diar a atuação dos professores e das professoras da educação 18.2) implantar, nas redes públicas de educação básica
básica, disponibilizando gratuitamente materiais didáticos e e superior, acompanhamento dos profissionais iniciantes,
pedagógicos suplementares, inclusive aqueles com formato supervisionados por equipe de profissionais experientes, a
fim de fundamentar, com base em avaliação documentada, a
acessível;
decisão pela efetivação após o estágio probatório e oferecer,
16.5) ampliar a oferta de bolsas de estudo para pós-gra-
durante esse período, curso de aprofundamento de estudos
duação dos professores e das professoras e demais profissio- na área de atuação do (a) professor (a), com destaque para os
nais da educação básica; conteúdos a serem ensinados e as metodologias de ensino
16.6) fortalecer a formação dos professores e das pro- de cada disciplina;
fessoras das escolas públicas de educação básica, por meio 18.3) realizar, por iniciativa do Ministério da Educação, a
da implementação das ações do Plano Nacional do Livro e cada 2 (dois) anos a partir do segundo ano de vigência des-
Leitura e da instituição de programa nacional de disponibi- te PNE, prova nacional para subsidiar os Estados, o Distrito
lização de recursos para acesso a bens culturais pelo magis- Federal e os Municípios, mediante adesão, na realização de
tério público. concursos públicos de admissão de profissionais do magisté-
Meta 17: valorizar os (as) profissionais do magistério das rio da educação básica pública;
redes públicas de educação básica de forma a equiparar seu 18.4) prever, nos planos de Carreira dos profissionais da
rendimento médio ao dos (as) demais profissionais com es- educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
colaridade equivalente, até o final do sexto ano de vigência licenças remuneradas e incentivos para qualificação profis-
deste PNE. sional, inclusive em nível de pós-graduação stricto sensu;
Estratégias: 18.5) realizar anualmente, a partir do segundo ano de
17.1) constituir, por iniciativa do Ministério da Educação, vigência deste PNE, por iniciativa do Ministério da Educação,
até o final do primeiro ano de vigência deste PNE, fórum em regime de colaboração, o censo dos (as) profissionais da
educação básica de outros segmentos que não os do ma-
permanente, com representação da União, dos Estados, do
gistério;
Distrito Federal, dos Municípios e dos trabalhadores da edu-
18.6) considerar as especificidades socioculturais das es-
cação, para acompanhamento da atualização progressiva do colas do campo e das comunidades indígenas e quilombolas
valor do piso salarial nacional para os profissionais do magis- no provimento de cargos efetivos para essas escolas;
tério público da educação básica; 18.7) priorizar o repasse de transferências federais vo-
17.2) constituir como tarefa do fórum permanente o luntárias, na área de educação, para os Estados, o Distrito
acompanhamento da evolução salarial por meio de indicado- Federal e os Municípios que tenham aprovado lei específica
res da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, estabelecendo planos de Carreira para os (as) profissionais
periodicamente divulgados pela Fundação Instituto Brasileiro da educação;
de Geografia e Estatística - IBGE; 18.8) estimular a existência de comissões permanentes
17.3) implementar, no âmbito da União, dos Estados, do de profissionais da educação de todos os sistemas de ensi-
Distrito Federal e dos Municípios, planos de Carreira para os no, em todas as instâncias da Federação, para subsidiar os
(as) profissionais do magistério das redes públicas de edu- órgãos competentes na elaboração, reestruturação e imple-
cação básica, observados os critérios estabelecidos na Lei mentação dos planos de Carreira.
no 11.738, de 16 de julho de 2008, com implantação gradual Meta 19: assegurar condições, no prazo de 2 (dois) anos,
do cumprimento da jornada de trabalho em um único esta- para a efetivação da gestão democrática da educação, asso-
belecimento escolar; ciada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à con-
sulta pública à comunidade escolar, no âmbito das escolas
17.4) ampliar a assistência financeira específica da União
públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para
aos entes federados para implementação de políticas de va-
tanto.
lorização dos (as) profissionais do magistério, em particular o Estratégias:
piso salarial nacional profissional. 19.1) priorizar o repasse de transferências voluntárias da
Meta 18: assegurar, no prazo de 2 (dois) anos, a existên- União na área da educação para os entes federados que te-
cia de planos de Carreira para os (as) profissionais da educa- nham aprovado legislação específica que regulamente a ma-
ção básica e superior pública de todos os sistemas de ensino téria na área de sua abrangência, respeitando-se a legislação
e, para o plano de Carreira dos (as) profissionais da educação nacional, e que considere, conjuntamente, para a nomeação
básica pública, tomar como referência o piso salarial nacional dos diretores e diretoras de escola, critérios técnicos de méri-
profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII to e desempenho, bem como a participação da comunidade
do art. 206 da Constituição Federal. escolar;

161
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

19.2) ampliar os programas de apoio e formação aos (às) 20.3) destinar à manutenção e desenvolvimento do ensi-
conselheiros (as) dos conselhos de acompanhamento e con- no, em acréscimo aos recursos vinculados nos termos do art.
trole social do Fundeb, dos conselhos de alimentação escolar, 212 da Constituição Federal, na forma da lei específica, a
dos conselhos regionais e de outros e aos (às) representan- parcela da participação no resultado ou da compensação fi-
tes educacionais em demais conselhos de acompanhamento nanceira pela exploração de petróleo e gás natural e outros
de políticas públicas, garantindo a esses colegiados recursos recursos, com a finalidade de cumprimento da meta prevista
financeiros, espaço físico adequado, equipamentos e meios no inciso VI do caput do art. 214 da Constituição Federal;
de transporte para visitas à rede escolar, com vistas ao bom 20.4) fortalecer os mecanismos e os instrumentos que
desempenho de suas funções; assegurem, nos termos do parágrafo único do art. 48 da Lei
19.3) incentivar os Estados, o Distrito Federal e os Muni- Complementar no 101, de 4 de maio de 2000, a transparência
cípios a constituírem Fóruns Permanentes de Educação, com e o controle social na utilização dos recursos públicos aplica-
o intuito de coordenar as conferências municipais, estaduais dos em educação, especialmente a realização de audiências
e distrital bem como efetuar o acompanhamento da execu- públicas, a criação de portais eletrônicos de transparência e a
ção deste PNE e dos seus planos de educação; capacitação dos membros de conselhos de acompanhamen-
19.4) estimular, em todas as redes de educação básica, to e controle social do Fundeb, com a colaboração entre o
a constituição e o fortalecimento de grêmios estudantis e Ministério da Educação, as Secretarias de Educação dos Esta-
associações de pais, assegurando-se-lhes, inclusive, espaços dos e dos Municípios e os Tribunais de Contas da União, dos
adequados e condições de funcionamento nas escolas e fo- Estados e dos Municípios;
mentando a sua articulação orgânica com os conselhos esco- 20.5) desenvolver, por meio do Instituto Nacional de Es-
lares, por meio das respectivas representações; tudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, estudos
19.5) estimular a constituição e o fortalecimento de con- e acompanhamento regular dos investimentos e custos por
selhos escolares e conselhos municipais de educação, como aluno da educação básica e superior pública, em todas as
instrumentos de participação e fiscalização na gestão escolar suas etapas e modalidades;
e educacional, inclusive por meio de programas de formação 20.6) no prazo de 2 (dois) anos da vigência deste PNE,
de conselheiros, assegurando-se condições de funcionamen- será implantado o Custo Aluno-Qualidade inicial - CAQi, re-
to autônomo; ferenciado no conjunto de padrões mínimos estabelecidos
19.6) estimular a participação e a consulta de profissio- na legislação educacional e cujo financiamento será calcu-
nais da educação, alunos (as) e seus familiares na formulação lado com base nos respectivos insumos indispensáveis ao
dos projetos político-pedagógicos, currículos escolares, pla- processo de ensino-aprendizagem e será progressivamente
nos de gestão escolar e regimentos escolares, assegurando reajustado até a implementação plena do Custo Aluno Qua-
a participação dos pais na avaliação de docentes e gestores lidade - CAQ;
escolares; 20.7) implementar o Custo Aluno Qualidade - CAQ como
19.7) favorecer processos de autonomia pedagógica, ad- parâmetro para o financiamento da educação de todas eta-
ministrativa e de gestão financeira nos estabelecimentos de pas e modalidades da educação básica, a partir do cálculo e
ensino; do acompanhamento regular dos indicadores de gastos edu-
19.8) desenvolver programas de formação de diretores cacionais com investimentos em qualificação e remuneração
e gestores escolares, bem como aplicar prova nacional es- do pessoal docente e dos demais profissionais da educação
pecífica, a fim de subsidiar a definição de critérios objetivos pública, em aquisição, manutenção, construção e conserva-
para o provimento dos cargos, cujos resultados possam ser ção de instalações e equipamentos necessários ao ensino
utilizados por adesão. e em aquisição de material didático-escolar, alimentação e
Meta 20: ampliar o investimento público em educação transporte escolar;
pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% (sete 20.8) o CAQ será definido no prazo de 3 (três) anos e
por cento) do Produto Interno Bruto - PIB do País no 5o (quin- será continuamente ajustado, com base em metodologia for-
to) ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a mulada pelo Ministério da Educação - MEC, e acompanhado
10% (dez por cento) do PIB ao final do decênio. pelo Fórum Nacional de Educação - FNE, pelo Conselho Na-
Estratégias: cional de Educação - CNE e pelas Comissões de Educação da
20.1) garantir fontes de financiamento permanentes e Câmara dos Deputados e de Educação, Cultura e Esportes do
sustentáveis para todos os níveis, etapas e modalidades da Senado Federal;
educação básica, observando-se as políticas de colaboração 20.9) regulamentar o parágrafo único do art. 23 e o art.
entre os entes federados, em especial as decorrentes do art. 211 da Constituição Federal, no prazo de 2 (dois) anos, por
60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e do § lei complementar, de forma a estabelecer as normas de coo-
1o do art. 75 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, peração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
que tratam da capacidade de atendimento e do esforço fiscal Municípios, em matéria educacional, e a articulação do sis-
de cada ente federado, com vistas a atender suas demandas tema nacional de educação em regime de colaboração, com
educacionais à luz do padrão de qualidade nacional; equilíbrio na repartição das responsabilidades e dos recursos
20.2) aperfeiçoar e ampliar os mecanismos de acompa- e efetivo cumprimento das funções redistributiva e supletiva
nhamento da arrecadação da contribuição social do salário da União no combate às desigualdades educacionais regio-
-educação; nais, com especial atenção às regiões Norte e Nordeste;

162
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

20.10) caberá à União, na forma da lei, a complementa- Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não
ção de recursos financeiros a todos os Estados, ao Distrito poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa.
Federal e aos Municípios que não conseguirem atingir o valor Art. 5o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
do CAQi e, posteriormente, do CAQ; Brasília, 24 de abril de 2002; 181o da Independência e
20.11) aprovar, no prazo de 1 (um) ano, Lei de Respon- 114  da República.
o

sabilidade Educacional, assegurando padrão de qualidade na


educação básica, em cada sistema e rede de ensino, aferida
pelo processo de metas de qualidade aferidas por institutos LEI FEDERAL Nº. 13.146/15 – ESTATUTO DA
oficiais de avaliação educacionais; PESSOA COM DEFICIÊNCIA.
20.12) definir critérios para distribuição dos recursos adi-
cionais dirigidos à educação ao longo do decênio, que consi-
derem a equalização das oportunidades educacionais, a vul-
nerabilidade socioeconômica e o compromisso técnico e de LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015.
gestão do sistema de ensino, a serem pactuados na instância
prevista no § 5o do art. 7o desta Lei. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Defi-
* ciência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-


LEI FEDERAL Nº 10.436, DE 24/04/02 – gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
DISPÕE SOBRE A LÍNGUA BRASILEIRA DE
SINAIS – LIBRAS. LIVRO I
PARTE GERAL
TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002. CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá
outras providências. Art. 1o É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), desti-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- nada a assegurar e a promover, em condições de igualdade,
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por
Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cida-
expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recur- dania.
sos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção
Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protoco-
Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que lo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por meio
o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutu- do Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008, em con-
ra gramatical própria, constituem um sistema linguístico de formidade com o procedimento previsto no § 3o do art. 5o da
transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de Constituição da República Federativa do Brasil, em vigor para
pessoas surdas do Brasil. o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31 de agosto de
Art. 2o Deve ser garantido, por parte do poder público 2008, e promulgados pelo Decreto no 6.949, de 25 de agosto
em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, de 2009, data de início de sua vigência no plano interno.
formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Lín- Art. 2o Considera-se pessoa com deficiência aquela que
gua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental,
objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou
Brasil. mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efeti-
Art. 3o As instituições públicas e empresas concessioná- va na sociedade em igualdade de condições com as demais
rias de serviços públicos de assistência à saúde devem ga- pessoas.
rantir atendimento e tratamento adequado aos portadores § 1o A avaliação da deficiência, quando necessária, será
de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e in-
vigor. terdisciplinar e considerará: (Vigência)
Art. 4o O sistema educacional federal e os sistemas edu- I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do cor-
cacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem po;
garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Es- II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;
pecial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis III - a limitação no desempenho de atividades; e
médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais IV - a restrição de participação.
- Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares § 2o O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação
Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. da deficiência.

163
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Art. 3o Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se: VII - elemento de urbanização: quaisquer componentes
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance de obras de urbanização, tais como os referentes a pavimen-
para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, tação, saneamento, encanamento para esgotos, distribuição
mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, de energia elétrica e de gás, iluminação pública, serviços de
informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecno- comunicação, abastecimento e distribuição de água, paisa-
logias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao gismo e os que materializam as indicações do planejamento
público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na urbanístico;
zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou VIII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existen-
com mobilidade reduzida; tes nas vias e nos espaços públicos, superpostos ou adicio-
II - desenho universal: concepção de produtos, ambien- nados aos elementos de urbanização ou de edificação, de
tes, programas e serviços a serem usados por todas as pes- forma que sua modificação ou seu traslado não provoque
soas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específi- alterações substanciais nesses elementos, tais como semáfo-
co, incluindo os recursos de tecnologia assistiva; ros, postes de sinalização e similares, terminais e pontos de
III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equi- acesso coletivo às telecomunicações, fontes de água, lixeiras,
pamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, toldos, marquises, bancos, quiosques e quaisquer outros de
práticas e serviços que objetivem promover a funcionalida- natureza análoga;
de, relacionada à atividade e à participação da pessoa com IX - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha,
deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua au- por qualquer motivo, dificuldade de movimentação, perma-
tonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social; nente ou temporária, gerando redução efetiva da mobilida-
IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou de, da flexibilidade, da coordenação motora ou da percep-
comportamento que limite ou impeça a participação social ção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com criança
da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus de colo e obeso;
direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de X - residências inclusivas: unidades de oferta do Servi-
expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à com- ço de Acolhimento do Sistema Único de Assistência Social
preensão, à circulação com segurança, entre outros, classifi- (Suas) localizadas em áreas residenciais da comunidade,
cadas em: com estruturas adequadas, que possam contar com apoio
a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos es-
psicossocial para o atendimento das necessidades da pessoa
paços públicos e privados abertos ao público ou de uso co-
acolhida, destinadas a jovens e adultos com deficiência, em
letivo;
situação de dependência, que não dispõem de condições de
b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios pú-
autossustentabilidade e com vínculos familiares fragilizados
blicos e privados;
ou rompidos;
c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e
XI - moradia para a vida independente da pessoa com
meios de transportes;
deficiência: moradia com estruturas adequadas capazes de
d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer
entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte proporcionar serviços de apoio coletivos e individualizados
ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensa- que respeitem e ampliem o grau de autonomia de jovens e
gens e de informações por intermédio de sistemas de comu- adultos com deficiência;
nicação e de tecnologia da informação; XII - atendente pessoal: pessoa, membro ou não da
e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que família, que, com ou sem remuneração, assiste ou presta
impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa cuidados básicos e essenciais à pessoa com deficiência no
com deficiência em igualdade de condições e oportunidades exercício de suas atividades diárias, excluídas as técnicas ou
com as demais pessoas; os procedimentos identificados com profissões legalmente
f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem estabelecidas;
o acesso da pessoa com deficiência às tecnologias; XIII - profissional de apoio escolar: pessoa que exerce ati-
V - comunicação: forma de interação dos cidadãos que vidades de alimentação, higiene e locomoção do estudante
abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua com deficiência e atua em todas as atividades escolares nas
Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Brail- quais se fizer necessária, em todos os níveis e modalidades
le, o sistema de sinalização ou de comunicação tátil, os ca- de ensino, em instituições públicas e privadas, excluídas as
racteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim como técnicas ou os procedimentos identificados com profissões
a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e legalmente estabelecidas;
os meios de voz digitalizados e os modos, meios e forma- XIV - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa
tos aumentativos e alternativos de comunicação, incluindo as com deficiência, podendo ou não desempenhar as funções
tecnologias da informação e das comunicações; de atendente pessoal.
VI - adaptações razoáveis: adaptações, modificações e
ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus CAPÍTULO II
desproporcional e indevido, quando requeridos em cada DA IGUALDADE E DA NÃO DISCRIMINAÇÃO
caso, a fim de assegurar que a pessoa com deficiência possa
gozar ou exercer, em igualdade de condições e oportunida- Art. 4o Toda pessoa com deficiência tem direito à igual-
des com as demais pessoas, todos os direitos e liberdades dade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá
fundamentais; nenhuma espécie de discriminação.

164
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

§ 1o Considera-se discriminação em razão da deficiência I - proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;


toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou II - atendimento em todas as instituições e serviços de
omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, im- atendimento ao público;
pedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos III - disponibilização de recursos, tanto humanos quanto
e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, in- tecnológicos, que garantam atendimento em igualdade de
cluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento condições com as demais pessoas;
de tecnologias assistivas. IV - disponibilização de pontos de parada, estações e
§ 2o A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição terminais acessíveis de transporte coletivo de passageiros e
de benefícios decorrentes de ação afirmativa. garantia de segurança no embarque e no desembarque;
Art. 5o A pessoa com deficiência será protegida de toda V - acesso a informações e disponibilização de recursos
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, de comunicação acessíveis;
tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano ou de- VI - recebimento de restituição de imposto de renda;
gradante. VII - tramitação processual e procedimentos judiciais e
Parágrafo único. Para os fins da proteção mencionada administrativos em que for parte ou interessada, em todos
os atos e diligências.
no caput deste artigo, são considerados especialmente vul-
§ 1o Os direitos previstos neste artigo são extensivos ao
neráveis a criança, o adolescente, a mulher e o idoso, com
acompanhante da pessoa com deficiência ou ao seu aten-
deficiência.
dente pessoal, exceto quanto ao disposto nos incisos VI e VII
Art. 6o A deficiência não afeta a plena capacidade civil da
deste artigo.
pessoa, inclusive para: § 2o Nos serviços de emergência públicos e privados, a
I - casar-se e constituir união estável; prioridade conferida por esta Lei é condicionada aos proto-
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; colos de atendimento médico.
III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos
e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução TÍTULO II
e planejamento familiar; DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esteriliza- CAPÍTULO I
ção compulsória; DO DIREITO À VIDA
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e
comunitária; e Art. 10. Compete ao poder público garantir a dignidade
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à da pessoa com deficiência ao longo de toda a vida. 
adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de Parágrafo único. Em situações de risco, emergência ou
oportunidades com as demais pessoas. estado de calamidade pública, a pessoa com deficiência será
Art. 7o É dever de todos comunicar à autoridade compe- considerada vulnerável, devendo o poder público adotar me-
tente qualquer forma de ameaça ou de violação aos direitos didas para sua proteção e segurança.
da pessoa com deficiência. Art. 11. A pessoa com deficiência não poderá ser obriga-
Parágrafo único. Se, no exercício de suas funções, os juí- da a se submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, a trata-
zes e os tribunais tiverem conhecimento de fatos que carac- mento ou a institucionalização forçada.
terizem as violações previstas nesta Lei, devem remeter peças Parágrafo único. O consentimento da pessoa com defi-
ao Ministério Público para as providências cabíveis. ciência em situação de curatela poderá ser suprido, na forma
Art. 8o É dever do Estado, da sociedade e da família asse- da lei.
gurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a efetivação Art. 12. O consentimento prévio, livre e esclarecido da
dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à pater- pessoa com deficiência é indispensável para a realização de
nidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à edu- tratamento, procedimento, hospitalização e pesquisa cientí-
fica.
cação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social,
§ 1o Em caso de pessoa com deficiência em situação de
à habilitação e à reabilitação, ao transporte, à acessibilidade,
curatela, deve ser assegurada sua participação, no maior grau
à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, à
possível, para a obtenção de consentimento.
comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos, à digni-
§ 2o A pesquisa científica envolvendo pessoa com defi-
dade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comu- ciência em situação de tutela ou de curatela deve ser realiza-
nitária, entre outros decorrentes da Constituição Federal, da da, em caráter excepcional, apenas quando houver indícios
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de benefício direto para sua saúde ou para a saúde de outras
seu Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas que pessoas com deficiência e desde que não haja outra opção
garantam seu bem-estar pessoal, social e econômico. de pesquisa de eficácia comparável com participantes não
tutelados ou curatelados.
Seção Única Art. 13. A pessoa com deficiência somente será atendida
Do Atendimento Prioritário sem seu consentimento prévio, livre e esclarecido em casos
de risco de morte e de emergência em saúde, resguardado
Art. 9o A pessoa com deficiência tem direito a receber seu superior interesse e adotadas as salvaguardas legais ca-
atendimento prioritário, sobretudo com a finalidade de: bíveis.

165
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

CAPÍTULO II CAPÍTULO III


DO DIREITO À HABILITAÇÃO E À REABILITAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE

Art. 14. O processo de habilitação e de reabilitação é um Art. 18. É assegurada atenção integral à saúde da pes-
direito da pessoa com deficiência. soa com deficiência em todos os níveis de complexidade, por
Parágrafo único. O processo de habilitação e de reabilita- intermédio do SUS, garantido acesso universal e igualitário.
ção tem por objetivo o desenvolvimento de potencialidades, § 1o É assegurada a participação da pessoa com deficiên-
talentos, habilidades e aptidões físicas, cognitivas, sensoriais, cia na elaboração das políticas de saúde a ela destinadas.
psicossociais, atitudinais, profissionais e artísticas que contri- § 2o É assegurado atendimento segundo normas éticas e
buam para a conquista da autonomia da pessoa com defi- técnicas, que regulamentarão a atuação dos profissionais de
ciência e de sua participação social em igualdade de condi- saúde e contemplarão aspectos relacionados aos direitos e às
ções e oportunidades com as demais pessoas. especificidades da pessoa com deficiência, incluindo temas
Art. 15. O processo mencionado no art. 14 desta Lei ba- como sua dignidade e autonomia.
seia-se em avaliação multidisciplinar das necessidades, ha- § 3o Aos profissionais que prestam assistência à pessoa
bilidades e potencialidades de cada pessoa, observadas as com deficiência, especialmente em serviços de habilitação e
seguintes diretrizes: de reabilitação, deve ser garantida capacitação inicial e con-
I - diagnóstico e intervenção precoces; tinuada.
II - adoção de medidas para compensar perda ou limi- § 4o As ações e os serviços de saúde pública destinados à
tação funcional, buscando o desenvolvimento de aptidões; pessoa com deficiência devem assegurar:
III - atuação permanente, integrada e articulada de polí- I - diagnóstico e intervenção precoces, realizados por
ticas públicas que possibilitem a plena participação social da equipe multidisciplinar;
pessoa com deficiência; II - serviços de habilitação e de reabilitação sempre que
IV - oferta de rede de serviços articulados, com atuação necessários, para qualquer tipo de deficiência, inclusive para
intersetorial, nos diferentes níveis de complexidade, para a manutenção da melhor condição de saúde e qualidade de
vida;
atender às necessidades específicas da pessoa com deficiên-
III - atendimento domiciliar multidisciplinar, tratamento
cia;
ambulatorial e internação;
V - prestação de serviços próximo ao domicílio da pessoa
IV - campanhas de vacinação;
com deficiência, inclusive na zona rural, respeitadas a orga-
V - atendimento psicológico, inclusive para seus familia-
nização das Redes de Atenção à Saúde (RAS) nos territórios
res e atendentes pessoais;
locais e as normas do Sistema Único de Saúde (SUS).
VI - respeito à especificidade, à identidade de gênero e à
Art. 16. Nos programas e serviços de habilitação e de
orientação sexual da pessoa com deficiência;
reabilitação para a pessoa com deficiência, são garantidos:
VII - atenção sexual e reprodutiva, incluindo o direito à
I - organização, serviços, métodos, técnicas e recursos
fertilização assistida;
para atender às características de cada pessoa com deficiên-
VIII - informação adequada e acessível à pessoa com de-
cia; ficiência e a seus familiares sobre sua condição de saúde;
II - acessibilidade em todos os ambientes e serviços; IX - serviços projetados para prevenir a ocorrência e o
III - tecnologia assistiva, tecnologia de reabilitação, ma- desenvolvimento de deficiências e agravos adicionais;
teriais e equipamentos adequados e apoio técnico profissio- X - promoção de estratégias de capacitação permanente
nal, de acordo com as especificidades de cada pessoa com das equipes que atuam no SUS, em todos os níveis de aten-
deficiência; ção, no atendimento à pessoa com deficiência, bem como
IV - capacitação continuada de todos os profissionais orientação a seus atendentes pessoais;
que participem dos programas e serviços. XI - oferta de órteses, próteses, meios auxiliares de lo-
Art. 17. Os serviços do SUS e do Suas deverão promover comoção, medicamentos, insumos e fórmulas nutricionais,
ações articuladas para garantir à pessoa com deficiência e conforme as normas vigentes do Ministério da Saúde.
sua família a aquisição de informações, orientações e formas § 5o As diretrizes deste artigo aplicam-se também às ins-
de acesso às políticas públicas disponíveis, com a finalidade tituições privadas que participem de forma complementar do
de propiciar sua plena participação social. SUS ou que recebam recursos públicos para sua manutenção.
Parágrafo único. Os serviços de que trata o caput deste Art. 19. Compete ao SUS desenvolver ações destinadas à
artigo podem fornecer informações e orientações nas áreas prevenção de deficiências por causas evitáveis, inclusive por
de saúde, de educação, de cultura, de esporte, de lazer, de meio de:
transporte, de previdência social, de assistência social, de I - acompanhamento da gravidez, do parto e do puerpé-
habitação, de trabalho, de empreendedorismo, de acesso ao rio, com garantia de parto humanizado e seguro;
crédito, de promoção, proteção e defesa de direitos e nas de- II - promoção de práticas alimentares adequadas e sau-
mais áreas que possibilitem à pessoa com deficiência exercer dáveis, vigilância alimentar e nutricional, prevenção e cuida-
sua cidadania. do integral dos agravos relacionados à alimentação e nutri-
ção da mulher e da criança;

166
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

III - aprimoramento e expansão dos programas de imu- Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da comu-
nização e de triagem neonatal; nidade escolar e da sociedade assegurar educação de quali-
IV - identificação e controle da gestante de alto risco. dade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda
Art. 20. As operadoras de planos e seguros privados de forma de violência, negligência e discriminação.
saúde são obrigadas a garantir à pessoa com deficiência, no Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, de-
mínimo, todos os serviços e produtos ofertados aos demais senvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar:
clientes. I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e
Art. 21. Quando esgotados os meios de atenção à saúde modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda
da pessoa com deficiência no local de residência, será pres- a vida;
tado atendimento fora de domicílio, para fins de diagnóstico II - aprimoramento dos sistemas educacionais, visando
e de tratamento, garantidos o transporte e a acomodação da a garantir condições de acesso, permanência, participação e
pessoa com deficiência e de seu acompanhante. aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos
Art. 22. À pessoa com deficiência internada ou em ob- de acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a
servação é assegurado o direito a acompanhante ou a aten- inclusão plena;
dente pessoal, devendo o órgão ou a instituição de saúde III - projeto pedagógico que institucionalize o atendi-
proporcionar condições adequadas para sua permanência
mento educacional especializado, assim como os demais ser-
em tempo integral.
viços e adaptações razoáveis, para atender às características
§ 1o Na impossibilidade de permanência do acompa-
dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso
nhante ou do atendente pessoal junto à pessoa com defi-
ciência, cabe ao profissional de saúde responsável pelo trata- ao currículo em condições de igualdade, promovendo a con-
mento justificá-la por escrito. quista e o exercício de sua autonomia;
§ 2o Na ocorrência da impossibilidade prevista no § IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como primei-
1  deste artigo, o órgão ou a instituição de saúde deve adotar
o ra língua e na modalidade escrita da língua portuguesa como
as providências cabíveis para suprir a ausência do acompa- segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em escolas
nhante ou do atendente pessoal. inclusivas;
Art. 23. São vedadas todas as formas de discriminação V - adoção de medidas individualizadas e coletivas em
contra a pessoa com deficiência, inclusive por meio de co- ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e
brança de valores diferenciados por planos e seguros priva- social dos estudantes com deficiência, favorecendo o acesso,
dos de saúde, em razão de sua condição. a permanência, a participação e a aprendizagem em institui-
Art. 24. É assegurado à pessoa com deficiência o aces- ções de ensino;
so aos serviços de saúde, tanto públicos como privados, e VI - pesquisas voltadas para o desenvolvimento de no-
às informações prestadas e recebidas, por meio de recursos vos métodos e técnicas pedagógicas, de materiais didáticos,
de tecnologia assistiva e de todas as formas de comunicação de equipamentos e de recursos de tecnologia assistiva;
previstas no inciso V do art. 3o desta Lei. VII - planejamento de estudo de caso, de elaboração de
Art. 25. Os espaços dos serviços de saúde, tanto públi- plano de atendimento educacional especializado, de organi-
cos quanto privados, devem assegurar o acesso da pessoa zação de recursos e serviços de acessibilidade e de disponi-
com deficiência, em conformidade com a legislação em vi- bilização e usabilidade pedagógica de recursos de tecnologia
gor, mediante a remoção de barreiras, por meio de projetos assistiva;
arquitetônico, de ambientação de interior e de comunicação VIII - participação dos estudantes com deficiência e de
que atendam às especificidades das pessoas com deficiência suas famílias nas diversas instâncias de atuação da comuni-
física, sensorial, intelectual e mental. dade escolar;
Art. 26. Os casos de suspeita ou de confirmação de vio- IX - adoção de medidas de apoio que favoreçam o desen-
lência praticada contra a pessoa com deficiência serão objeto volvimento dos aspectos linguísticos, culturais, vocacionais e
de notificação compulsória pelos serviços de saúde públicos
profissionais, levando-se em conta o talento, a criatividade,
e privados à autoridade policial e ao Ministério Público, além
as habilidades e os interesses do estudante com deficiência;
dos Conselhos dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, considera-se X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos pro-
violência contra a pessoa com deficiência qualquer ação ou gramas de formação inicial e continuada de professores e
omissão, praticada em local público ou privado, que lhe cau- oferta de formação continuada para o atendimento educa-
se morte ou dano ou sofrimento físico ou psicológico. cional especializado;
XI - formação e disponibilização de professores para o
CAPÍTULO IV atendimento educacional especializado, de tradutores e in-
DO DIREITO À EDUCAÇÃO térpretes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais de
apoio;
Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com defi- XII - oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de
ciência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos uso de recursos de tecnologia assistiva, de forma a ampliar
os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma habilidades funcionais dos estudantes, promovendo sua au-
a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus ta- tonomia e participação;
lentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, XIII - acesso à educação superior e à educação profissio-
segundo suas características, interesses e necessidades de nal e tecnológica em igualdade de oportunidades e condi-
aprendizagem. ções com as demais pessoas;

167
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

XIV - inclusão em conteúdos curriculares, em cursos de CAPÍTULO V


nível superior e de educação profissional técnica e tecnológi- DO DIREITO À MORADIA
ca, de temas relacionados à pessoa com deficiência nos res-
pectivos campos de conhecimento; Art. 31. A pessoa com deficiência tem direito à moradia
XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de digna, no seio da família natural ou substituta, com seu côn-
condições, a jogos e a atividades recreativas, esportivas e de juge ou companheiro ou desacompanhada, ou em moradia
lazer, no sistema escolar; para a vida independente da pessoa com deficiência, ou, ain-
XVI - acessibilidade para todos os estudantes, trabalha- da, em residência inclusiva.
dores da educação e demais integrantes da comunidade es- § 1o O poder público adotará programas e ações estraté-
colar às edificações, aos ambientes e às atividades concer- gicas para apoiar a criação e a manutenção de moradia para
nentes a todas as modalidades, etapas e níveis de ensino; a vida independente da pessoa com deficiência.
XVII - oferta de profissionais de apoio escolar; § 2o A proteção integral na modalidade de residência in-
XVIII - articulação intersetorial na implementação de po- clusiva será prestada no âmbito do Suas à pessoa com defi-
líticas públicas. ciência em situação de dependência que não disponha de
§ 1o Às instituições privadas, de qualquer nível e moda-
condições de autossustentabilidade, com vínculos familiares
lidade de ensino, aplica-se obrigatoriamente o disposto nos
fragilizados ou rompidos.
incisos I, II, III, V, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI, XVII e
Art. 32. Nos programas habitacionais, públicos ou sub-
XVIII do caput deste artigo, sendo vedada a cobrança de va-
lores adicionais de qualquer natureza em suas mensalidades, sidiados com recursos públicos, a pessoa com deficiência ou
anuidades e matrículas no cumprimento dessas determina- o seu responsável goza de prioridade na aquisição de imóvel
ções. para moradia própria, observado o seguinte:
§ 2o Na disponibilização de tradutores e intérpretes da I - reserva de, no mínimo, 3% (três por cento) das unida-
Libras a que se refere o inciso XI do caput deste artigo, deve- des habitacionais para pessoa com deficiência;
se observar o seguinte: II - (VETADO);
I - os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na edu- III - em caso de edificação multifamiliar, garantia de aces-
cação básica devem, no mínimo, possuir ensino médio com- sibilidade nas áreas de uso comum e nas unidades habita-
pleto e certificado de proficiência na Libras; (Vigência) cionais no piso térreo e de acessibilidade ou de adaptação
II - os tradutores e intérpretes da Libras, quando direcio- razoável nos demais pisos;
nados à tarefa de interpretar nas salas de aula dos cursos de IV - disponibilização de equipamentos urbanos comuni-
graduação e pós-graduação, devem possuir nível superior, tários acessíveis;
com habilitação, prioritariamente, em Tradução e Interpreta- V - elaboração de especificações técnicas no projeto que
ção em Libras.(Vigência) permitam a instalação de elevadores.
Art. 29. (VETADO). § 1o O direito à prioridade, previsto no caput deste arti-
Art. 30. Nos processos seletivos para ingresso e perma- go, será reconhecido à pessoa com deficiência beneficiária
nência nos cursos oferecidos pelas instituições de ensino su- apenas uma vez.
perior e de educação profissional e tecnológica, públicas e § 2o Nos programas habitacionais públicos, os critérios
privadas, devem ser adotadas as seguintes medidas: de financiamento devem ser compatíveis com os rendimen-
I - atendimento preferencial à pessoa com deficiência tos da pessoa com deficiência ou de sua família.
nas dependências das Instituições de Ensino Superior (IES) § 3o Caso não haja pessoa com deficiência interessada
e nos serviços; nas unidades habitacionais reservadas por força do disposto
II - disponibilização de formulário de inscrição de exames no inciso I do caput deste artigo, as unidades não utilizadas
com campos específicos para que o candidato com deficiên- serão disponibilizadas às demais pessoas.
cia informe os recursos de acessibilidade e de tecnologia as-
Art. 33. Ao poder público compete:
sistiva necessários para sua participação;
I - adotar as providências necessárias para o cumprimen-
III - disponibilização de provas em formatos acessíveis
to do disposto nos arts. 31 e 32 desta Lei; e
para atendimento às necessidades específicas do candidato
com deficiência; II - divulgar, para os agentes interessados e beneficiá-
IV - disponibilização de recursos de acessibilidade e de rios, a política habitacional prevista nas legislações federal,
tecnologia assistiva adequados, previamente solicitados e es- estaduais, distrital e municipais, com ênfase nos dispositivos
colhidos pelo candidato com deficiência; sobre acessibilidade.
V - dilação de tempo, conforme demanda apresentada
pelo candidato com deficiência, tanto na realização de exame CAPÍTULO VI
para seleção quanto nas atividades acadêmicas, mediante DO DIREITO AO TRABALHO
prévia solicitação e comprovação da necessidade; Seção I
VI - adoção de critérios de avaliação das provas escritas, Disposições Gerais
discursivas ou de redação que considerem a singularidade
linguística da pessoa com deficiência, no domínio da modali- Art. 34. A pessoa com deficiência tem direito ao traba-
dade escrita da língua portuguesa; lho de sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível
VII - tradução completa do edital e de suas retificações e inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais
em Libras. pessoas.

168
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

§ 1o As pessoas jurídicas de direito público, privado ou § 5o A habilitação profissional e a reabilitação profissional


de qualquer natureza são obrigadas a garantir ambientes de devem ocorrer articuladas com as redes públicas e privadas,
trabalho acessíveis e inclusivos. especialmente de saúde, de ensino e de assistência social, em
§ 2o A pessoa com deficiência tem direito, em igualdade todos os níveis e modalidades, em entidades de formação
de oportunidades com as demais pessoas, a condições jus- profissional ou diretamente com o empregador.
tas e favoráveis de trabalho, incluindo igual remuneração por § 6o A habilitação profissional pode ocorrer em empresas
trabalho de igual valor. por meio de prévia formalização do contrato de emprego da
§ 3o É vedada restrição ao trabalho da pessoa com defi- pessoa com deficiência, que será considerada para o cum-
ciência e qualquer discriminação em razão de sua condição, primento da reserva de vagas prevista em lei, desde que por
inclusive nas etapas de recrutamento, seleção, contratação, tempo determinado e concomitante com a inclusão profis-
admissão, exames admissional e periódico, permanência no sional na empresa, observado o disposto em regulamento.
emprego, ascensão profissional e reabilitação profissional, § 7o A habilitação profissional e a reabilitação profissional
bem como exigência de aptidão plena. atenderão à pessoa com deficiência.
§ 4o A pessoa com deficiência tem direito à participação
e ao acesso a cursos, treinamentos, educação continuada, Seção III
planos de carreira, promoções, bonificações e incentivos Da Inclusão da Pessoa com Deficiência no Trabalho
profissionais oferecidos pelo empregador, em igualdade de
oportunidades com os demais empregados. Art. 37. Constitui modo de inclusão da pessoa com de-
§ 5o É garantida aos trabalhadores com deficiência aces- ficiência no trabalho a colocação competitiva, em igualdade
sibilidade em cursos de formação e de capacitação. de oportunidades com as demais pessoas, nos termos da le-
Art. 35. É finalidade primordial das políticas públicas de gislação trabalhista e previdenciária, na qual devem ser aten-
trabalho e emprego promover e garantir condições de aces- didas as regras de acessibilidade, o fornecimento de recursos
so e de permanência da pessoa com deficiência no campo de tecnologia assistiva e a adaptação razoável no ambiente
de trabalho. de trabalho.
Parágrafo único. Os programas de estímulo ao empreen- Parágrafo único. A colocação competitiva da pessoa com
dedorismo e ao trabalho autônomo, incluídos o cooperativis- deficiência pode ocorrer por meio de trabalho com apoio,
mo e o associativismo, devem prever a participação da pes-
observadas as seguintes diretrizes:
soa com deficiência e a disponibilização de linhas de crédito,
I - prioridade no atendimento à pessoa com deficiência
quando necessárias.
com maior dificuldade de inserção no campo de trabalho;
Seção II
II - provisão de suportes individualizados que atendam a
Da Habilitação Profissional e Reabilitação Profissio-
necessidades específicas da pessoa com deficiência, inclusi-
nal
ve a disponibilização de recursos de tecnologia assistiva, de
agente facilitador e de apoio no ambiente de trabalho;
Art. 36. O poder público deve implementar serviços e
III - respeito ao perfil vocacional e ao interesse da pessoa
programas completos de habilitação profissional e de reabi-
com deficiência apoiada;
litação profissional para que a pessoa com deficiência possa
ingressar, continuar ou retornar ao campo do trabalho, res- IV - oferta de aconselhamento e de apoio aos emprega-
peitados sua livre escolha, sua vocação e seu interesse. dores, com vistas à definição de estratégias de inclusão e de
§ 1o Equipe multidisciplinar indicará, com base em crité- superação de barreiras, inclusive atitudinais;
rios previstos no § 1o do art. 2o desta Lei, programa de habi- V - realização de avaliações periódicas;
litação ou de reabilitação que possibilite à pessoa com defi- VI - articulação intersetorial das políticas públicas;
ciência restaurar sua capacidade e habilidade profissional ou VII - possibilidade de participação de organizações da
adquirir novas capacidades e habilidades de trabalho. sociedade civil.
§ 2o A habilitação profissional corresponde ao processo Art. 38. A entidade contratada para a realização de pro-
destinado a propiciar à pessoa com deficiência aquisição de cesso seletivo público ou privado para cargo, função ou em-
conhecimentos, habilidades e aptidões para exercício de pro- prego está obrigada à observância do disposto nesta Lei e
fissão ou de ocupação, permitindo nível suficiente de desen- em outras normas de acessibilidade vigentes.
volvimento profissional para ingresso no campo de trabalho.
§ 3o Os serviços de habilitação profissional, de reabilita- CAPÍTULO VII
ção profissional e de educação profissional devem ser dota- DO DIREITO À ASSISTÊNCIA SOCIAL
dos de recursos necessários para atender a toda pessoa com
deficiência, independentemente de sua característica especí- Art. 39. Os serviços, os programas, os projetos e os be-
fica, a fim de que ela possa ser capacitada para trabalho que nefícios no âmbito da política pública de assistência social
lhe seja adequado e ter perspectivas de obtê-lo, de conservá à pessoa com deficiência e sua família têm como objetivo a
-lo e de nele progredir. garantia da segurança de renda, da acolhida, da habilitação e
§ 4o Os serviços de habilitação profissional, de reabilita- da reabilitação, do desenvolvimento da autonomia e da con-
ção profissional e de educação profissional deverão ser ofe- vivência familiar e comunitária, para a promoção do acesso a
recidos em ambientes acessíveis e inclusivos. direitos e da plena participação social.

169
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

§ 1o A assistência social à pessoa com deficiência, nos Art. 44. Nos teatros, cinemas, auditórios, estádios, giná-
termos do caput deste artigo, deve envolver conjunto arti- sios de esporte, locais de espetáculos e de conferências e
culado de serviços do âmbito da Proteção Social Básica e da similares, serão reservados espaços livres e assentos para a
Proteção Social Especial, ofertados pelo Suas, para a garantia pessoa com deficiência, de acordo com a capacidade de lo-
de seguranças fundamentais no enfrentamento de situações tação da edificação, observado o disposto em regulamento.
de vulnerabilidade e de risco, por fragilização de vínculos e § 1o Os espaços e assentos a que se refere este artigo
ameaça ou violação de direitos. devem ser distribuídos pelo recinto em locais diversos, de
§ 2o Os serviços socioassistenciais destinados à pessoa boa visibilidade, em todos os setores, próximos aos corredo-
com deficiência em situação de dependência deverão contar res, devidamente sinalizados, evitando-se áreas segregadas
com cuidadores sociais para prestar-lhe cuidados básicos e
de público e obstrução das saídas, em conformidade com as
instrumentais.
normas de acessibilidade.
Art. 40. É assegurado à pessoa com deficiência que não
possua meios para prover sua subsistência nem de tê-la pro- § 2o No caso de não haver comprovada procura pelos
vida por sua família o benefício mensal de 1 (um) salário-mí- assentos reservados, esses podem, excepcionalmente, ser
nimo, nos termos da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993. ocupados por pessoas sem deficiência ou que não tenham
mobilidade reduzida, observado o disposto em regulamento.
CAPÍTULO VIII § 3o Os espaços e assentos a que se refere este artigo
DO DIREITO À PREVIDÊNCIA SOCIAL devem situar-se em locais que garantam a acomodação de,
no mínimo, 1 (um) acompanhante da pessoa com deficiên-
Art. 41. A pessoa com deficiência segurada do Regime cia ou com mobilidade reduzida, resguardado o direito de
Geral de Previdência Social (RGPS) tem direito à aposenta- se acomodar proximamente a grupo familiar e comunitário.
doria nos termos da Lei Complementar no 142, de 8 de maio § 4o Nos locais referidos no caput deste artigo, deve ha-
de 2013. ver, obrigatoriamente, rotas de fuga e saídas de emergência
acessíveis, conforme padrões das normas de acessibilidade, a
CAPÍTULO IX
fim de permitir a saída segura da pessoa com deficiência ou
DO DIREITO À CULTURA, AO ESPORTE, AO TURIS-
MO E AO LAZER com mobilidade reduzida, em caso de emergência.
§ 5o Todos os espaços das edificações previstas
Art. 42. A pessoa com deficiência tem direito à cultura, no caput deste artigo devem atender às normas de acessibi-
ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportuni- lidade em vigor.
dades com as demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso: § 6o As salas de cinema devem oferecer, em todas as ses-
I - a bens culturais em formato acessível; sões, recursos de acessibilidade para a pessoa com deficiên-
II - a programas de televisão, cinema, teatro e outras ati- cia.(Vigência)
vidades culturais e desportivas em formato acessível; e § 7o O valor do ingresso da pessoa com deficiência não
III - a monumentos e locais de importância cultural e a poderá ser superior ao valor cobrado das demais pessoas.
espaços que ofereçam serviços ou eventos culturais e espor- Art. 45. Os hotéis, pousadas e similares devem ser cons-
tivos. truídos observando-se os princípios do desenho universal,
§ 1o É vedada a recusa de oferta de obra intelectual em além de adotar todos os meios de acessibilidade, conforme
formato acessível à pessoa com deficiência, sob qualquer ar-
legislação em vigor. (Vigência)
gumento, inclusive sob a alegação de proteção dos direitos
§ 1o Os estabelecimentos já existentes deverão disponi-
de propriedade intelectual.
§ 2o O poder público deve adotar soluções destinadas bilizar, pelo menos, 10% (dez por cento) de seus dormitórios
à eliminação, à redução ou à superação de barreiras para a acessíveis, garantida, no mínimo, 1 (uma) unidade acessível.
promoção do acesso a todo patrimônio cultural, observadas § 2o Os dormitórios mencionados no § 1o deste artigo
as normas de acessibilidade, ambientais e de proteção do pa- deverão ser localizados em rotas acessíveis.
trimônio histórico e artístico nacional.
Art. 43. O poder público deve promover a participação CAPÍTULO X
da pessoa com deficiência em atividades artísticas, intelec- DO DIREITO AO TRANSPORTE E À MOBILIDADE
tuais, culturais, esportivas e recreativas, com vistas ao seu
protagonismo, devendo: Art. 46. O direito ao transporte e à mobilidade da pessoa
I - incentivar a provisão de instrução, de treinamento com deficiência ou com mobilidade reduzida será assegura-
e de recursos adequados, em igualdade de oportunidades do em igualdade de oportunidades com as demais pessoas,
com as demais pessoas; por meio de identificação e de eliminação de todos os obstá-
II - assegurar acessibilidade nos locais de eventos e nos
culos e barreiras ao seu acesso.
serviços prestados por pessoa ou entidade envolvida na or-
ganização das atividades de que trata este artigo; e § 1o Para fins de acessibilidade aos serviços de transporte
III - assegurar a participação da pessoa com deficiência coletivo terrestre, aquaviário e aéreo, em todas as jurisdições,
em jogos e atividades recreativas, esportivas, de lazer, cultu- consideram-se como integrantes desses serviços os veículos,
rais e artísticas, inclusive no sistema escolar, em igualdade de os terminais, as estações, os pontos de parada, o sistema viá-
condições com as demais pessoas. rio e a prestação do serviço.

170
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

§ 2o São sujeitas ao cumprimento das disposições desta § 1o É proibida a cobrança diferenciada de tarifas ou de
Lei, sempre que houver interação com a matéria nela regu- valores adicionais pelo serviço de táxi prestado à pessoa com
lada, a outorga, a concessão, a permissão, a autorização, a deficiência.
renovação ou a habilitação de linhas e de serviços de trans- § 2o O poder público é autorizado a instituir incentivos
porte coletivo. fiscais com vistas a possibilitar a acessibilidade dos veículos a
§ 3o Para colocação do símbolo internacional de acesso que se refere o caput deste artigo.
nos veículos, as empresas de transporte coletivo de passagei- Art. 52. As locadoras de veículos são obrigadas a oferecer
ros dependem da certificação de acessibilidade emitida pelo 1 (um) veículo adaptado para uso de pessoa com deficiência,
gestor público responsável pela prestação do serviço. a cada conjunto de 20 (vinte) veículos de sua frota.
Art. 47. Em todas as áreas de estacionamento aberto ao Parágrafo único. O veículo adaptado deverá ter, no míni-
público, de uso público ou privado de uso coletivo e em vias mo, câmbio automático, direção hidráulica, vidros elétricos e
públicas, devem ser reservadas vagas próximas aos acessos comandos manuais de freio e de embreagem.
de circulação de pedestres, devidamente sinalizadas, para
veículos que transportem pessoa com deficiência com com- TÍTULO III
prometimento de mobilidade, desde que devidamente iden- DA ACESSIBILIDADE
tificados. CAPÍTULO I
§ 1o As vagas a que se refere o caput deste artigo de- DISPOSIÇÕES GERAIS
vem equivaler a 2% (dois por cento) do total, garantida, no
mínimo, 1 (uma) vaga devidamente sinalizada e com as es- Art. 53. A acessibilidade é direito que garante à pessoa
pecificações de desenho e traçado de acordo com as normas com deficiência ou com mobilidade reduzida viver de forma
técnicas vigentes de acessibilidade. independente e exercer seus direitos de cidadania e de par-
§ 2o Os veículos estacionados nas vagas reservadas de- ticipação social.
vem exibir, em local de ampla visibilidade, a credencial de Art. 54. São sujeitas ao cumprimento das disposições
beneficiário, a ser confeccionada e fornecida pelos órgãos de desta Lei e de outras normas relativas à acessibilidade, sem-
trânsito, que disciplinarão suas características e condições de pre que houver interação com a matéria nela regulada:
uso. I - a aprovação de projeto arquitetônico e urbanístico
§ 3º A utilização indevida das vagas de que trata este ar- ou de comunicação e informação, a fabricação de veículos
tigo sujeita os infratores às sanções previstas no inciso XX do de transporte coletivo, a prestação do respectivo serviço e a
art. 181 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código execução de qualquer tipo de obra, quando tenham destina-
de Trânsito Brasileiro).(Redação dada pela Lei nº 13.281, de ção pública ou coletiva;
2016) (Vigência) II - a outorga ou a renovação de concessão, permissão,
§ 4o A credencial a que se refere o §  2o deste artigo é autorização ou habilitação de qualquer natureza;
vinculada à pessoa com deficiência que possui comprometi- III - a aprovação de financiamento de projeto com utiliza-
mento de mobilidade e é válida em todo o território nacional. ção de recursos públicos, por meio de renúncia ou de incen-
Art. 48. Os veículos de transporte coletivo terrestre, tivo fiscal, contrato, convênio ou instrumento congênere; e
aquaviário e aéreo, as instalações, as estações, os portos e IV - a concessão de aval da União para obtenção de em-
os terminais em operação no País devem ser acessíveis, de préstimo e de financiamento internacionais por entes públi-
forma a garantir o seu uso por todas as pessoas. cos ou privados.
§ 1o Os veículos e as estruturas de que trata o caput des- Art. 55. A concepção e a implantação de projetos que
te artigo devem dispor de sistema de comunicação acessível tratem do meio físico, de transporte, de informação e comu-
que disponibilize informações sobre todos os pontos do iti- nicação, inclusive de sistemas e tecnologias da informação e
nerário. comunicação, e de outros serviços, equipamentos e instala-
§ 2o São asseguradas à pessoa com deficiência priorida- ções abertos ao público, de uso público ou privado de uso
de e segurança nos procedimentos de embarque e de de- coletivo, tanto na zona urbana como na rural, devem atender
sembarque nos veículos de transporte coletivo, de acordo aos princípios do desenho universal, tendo como referência
com as normas técnicas. as normas de acessibilidade.
§ 3o Para colocação do símbolo internacional de acesso § 1o O desenho universal será sempre tomado como re-
nos veículos, as empresas de transporte coletivo de passagei- gra de caráter geral.
ros dependem da certificação de acessibilidade emitida pelo § 2o Nas hipóteses em que comprovadamente o dese-
gestor público responsável pela prestação do serviço. nho universal não possa ser empreendido, deve ser adotada
Art. 49. As empresas de transporte de fretamento e de adaptação razoável.
turismo, na renovação de suas frotas, são obrigadas ao cum- § 3o Caberá ao poder público promover a inclusão de
primento do disposto nos arts. 46 e 48 desta Lei.(Vigência) conteúdos temáticos referentes ao desenho universal nas di-
Art. 50. O poder público incentivará a fabricação de veí- retrizes curriculares da educação profissional e tecnológica
culos acessíveis e a sua utilização como táxis e vans, de forma e do ensino superior e na formação das carreiras de Estado.
a garantir o seu uso por todas as pessoas. § 4o Os programas, os projetos e as linhas de pesquisa a
Art. 51. As frotas de empresas de táxi devem reservar serem desenvolvidos com o apoio de organismos públicos
10% (dez por cento) de seus veículos acessíveis à pessoa com de auxílio à pesquisa e de agências de fomento deverão in-
deficiência. cluir temas voltados para o desenho universal.

171
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

§ 5o Desde a etapa de concepção, as políticas públicas § 1o A concessão e a renovação de alvará de funciona-


deverão considerar a adoção do desenho universal. mento para qualquer atividade são condicionadas à observa-
Art. 56. A construção, a reforma, a ampliação ou a mu- ção e à certificação das regras de acessibilidade.
dança de uso de edificações abertas ao público, de uso pú- § 2o A emissão de carta de habite-se ou de habilitação
blico ou privadas de uso coletivo deverão ser executadas de equivalente e sua renovação, quando esta tiver sido emitida
modo a serem acessíveis. anteriormente às exigências de acessibilidade, é condiciona-
§ 1o As entidades de fiscalização profissional das ativi- da à observação e à certificação das regras de acessibilidade.
dades de Engenharia, de Arquitetura e correlatas, ao anota-
Art. 61. A formulação, a implementação e a manutenção
rem a responsabilidade técnica de projetos, devem exigir a
responsabilidade profissional declarada de atendimento às das ações de acessibilidade atenderão às seguintes premis-
regras de acessibilidade previstas em legislação e em normas sas básicas:
técnicas pertinentes. I - eleição de prioridades, elaboração de cronograma e
§ 2o Para a aprovação, o licenciamento ou a emissão de reserva de recursos para implementação das ações; e
certificado de projeto executivo arquitetônico, urbanístico e II - planejamento contínuo e articulado entre os setores
de instalações e equipamentos temporários ou permanentes envolvidos.
e para o licenciamento ou a emissão de certificado de con- Art. 62. É assegurado à pessoa com deficiência, mediante
clusão de obra ou de serviço, deve ser atestado o atendimen- solicitação, o recebimento de contas, boletos, recibos, extra-
to às regras de acessibilidade. tos e cobranças de tributos em formato acessível.
§ 3o O poder público, após certificar a acessibilidade de
edificação ou de serviço, determinará a colocação, em espa-
CAPÍTULO II
ços ou em locais de ampla visibilidade, do símbolo interna-
cional de acesso, na forma prevista em legislação e em nor- DO ACESSO À INFORMAÇÃO E À COMUNICAÇÃO
mas técnicas correlatas.
Art. 57. As edificações públicas e privadas de uso coleti- Art. 63. É obrigatória a acessibilidade nos sítios da in-
vo já existentes devem garantir acessibilidade à pessoa com ternet mantidos por empresas com sede ou representação
deficiência em todas as suas dependências e serviços, tendo comercial no País ou por órgãos de governo, para uso da
como referência as normas de acessibilidade vigentes. pessoa com deficiência, garantindo-lhe acesso às informa-
Art. 58. O projeto e a construção de edificação de uso ções disponíveis, conforme as melhores práticas e diretrizes
privado multifamiliar devem atender aos preceitos de acessi- de acessibilidade adotadas internacionalmente.
bilidade, na forma regulamentar. § 1o Os sítios devem conter símbolo de acessibilidade em
§ 1o As construtoras e incorporadoras responsáveis pelo destaque.
projeto e pela construção das edificações a que se refere
§ 2o Telecentros comunitários que receberem recursos
o caput deste artigo devem assegurar percentual mínimo de
suas unidades internamente acessíveis, na forma regulamen- públicos federais para seu custeio ou sua instalação e lan
tar. houses  devem possuir equipamentos e instalações acessí-
§ 2o É vedada a cobrança de valores adicionais para a veis.
aquisição de unidades internamente acessíveis a que se refe- § 3o Os telecentros e as lan houses  de que trata o §
re o § 1o deste artigo. 2   deste artigo devem garantir, no mínimo, 10% (dez por
o

Art. 59. Em qualquer intervenção nas vias e nos espa- cento) de seus computadores com recursos de acessibilidade
ços públicos, o poder público e as empresas concessionárias para pessoa com deficiência visual, sendo assegurado pelo
responsáveis pela execução das obras e dos serviços devem menos 1 (um) equipamento, quando o resultado percentual
garantir, de forma segura, a fluidez do trânsito e a livre circu- for inferior a 1 (um).
lação e acessibilidade das pessoas, durante e após sua exe-
Art. 64. A acessibilidade nos sítios da internet de que tra-
cução.
ta o art. 63 desta Lei deve ser observada para obtenção do
Art. 60. Orientam-se, no que couber, pelas regras de
acessibilidade previstas em legislação e em normas técnicas, financiamento de que trata o inciso III do art. 54 desta Lei.
observado o disposto na Lei no 10.098, de 19 de dezembro Art. 65. As empresas prestadoras de serviços de teleco-
de 2000, no 10.257, de 10 de julho de 2001, e no 12.587, de 3 municações deverão garantir pleno acesso à pessoa com de-
de janeiro de 2012: ficiência, conforme regulamentação específica.
I - os planos diretores municipais, os planos diretores Art. 66. Cabe ao poder público incentivar a oferta de apa-
de transporte e trânsito, os planos de mobilidade urbana e relhos de telefonia fixa e móvel celular com acessibilidade
os planos de preservação de sítios históricos elaborados ou que, entre outras tecnologias assistivas, possuam possibilida-
atualizados a partir da publicação desta Lei; de de indicação e de ampliação sonoras de todas as opera-
II - os códigos de obras, os códigos de postura, as leis de ções e funções disponíveis.
uso e ocupação do solo e as leis do sistema viário;
Art. 67. Os serviços de radiodifusão de sons e imagens
III - os estudos prévios de impacto de vizinhança;
devem permitir o uso dos seguintes recursos, entre outros:
IV - as atividades de fiscalização e a imposição de san-
ções; e I - subtitulação por meio de legenda oculta;
V - a legislação referente à prevenção contra incêndio e II - janela com intérprete da Libras;
pânico. III - audiodescrição.

172
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Art. 68. O poder público deve adotar mecanismos de Art. 73. Caberá ao poder público, diretamente ou em
incentivo à produção, à edição, à difusão, à distribuição e parceria com organizações da sociedade civil, promover a
à comercialização de livros em formatos acessíveis, inclusi- capacitação de tradutores e intérpretes da Libras, de guias
ve em publicações da administração pública ou financiadas intérpretes e de profissionais habilitados em Braille, audio-
com recursos públicos, com vistas a garantir à pessoa com descrição, estenotipia e legendagem.
deficiência o direito de acesso à leitura, à informação e à co-
municação. CAPÍTULO III
§ 1o Nos editais de compras de livros, inclusive para o DA TECNOLOGIA ASSISTIVA
abastecimento ou a atualização de acervos de bibliotecas em
Art. 74. É garantido à pessoa com deficiência acesso a
todos os níveis e modalidades de educação e de bibliotecas
produtos, recursos, estratégias, práticas, processos, métodos
públicas, o poder público deverá adotar cláusulas de impedi-
e serviços de tecnologia assistiva que maximizem sua auto-
mento à participação de editoras que não ofertem sua pro-
nomia, mobilidade pessoal e qualidade de vida.
dução também em formatos acessíveis.
Art. 75. O poder público desenvolverá plano específico
§ 2o Consideram-se formatos acessíveis os arquivos di-
de medidas, a ser renovado em cada período de 4 (quatro)
gitais que possam ser reconhecidos e acessados por soft-
anos, com a finalidade de:
wares leitores de telas ou outras tecnologias assistivas que
I - facilitar o acesso a crédito especializado, inclusive com
vierem a substituí-los, permitindo leitura com voz sintetizada,
oferta de linhas de crédito subsidiadas, específicas para aqui-
ampliação de caracteres, diferentes contrastes e impressão sição de tecnologia assistiva;
em Braille. II - agilizar, simplificar e priorizar procedimentos de im-
§ 3o O poder público deve estimular e apoiar a adapta- portação de tecnologia assistiva, especialmente as questões
ção e a produção de artigos científicos em formato acessível, atinentes a procedimentos alfandegários e sanitários;
inclusive em Libras. III - criar mecanismos de fomento à pesquisa e à produ-
Art. 69. O poder público deve assegurar a disponibilidade ção nacional de tecnologia assistiva, inclusive por meio de
de informações corretas e claras sobre os diferentes produtos concessão de linhas de crédito subsidiado e de parcerias com
e serviços ofertados, por quaisquer meios de comunicação institutos de pesquisa oficiais;
empregados, inclusive em ambiente virtual, contendo a es- IV - eliminar ou reduzir a tributação da cadeia produtiva
pecificação correta de quantidade, qualidade, características, e de importação de tecnologia assistiva;
composição e preço, bem como sobre os eventuais riscos V - facilitar e agilizar o processo de inclusão de novos re-
à saúde e à segurança do consumidor com deficiência, em cursos de tecnologia assistiva no rol de produtos distribuídos
caso de sua utilização, aplicando-se, no que couber, os arts. no âmbito do SUS e por outros órgãos governamentais.
30 a 41 da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990. Parágrafo único. Para fazer cumprir o disposto neste arti-
§ 1o Os canais de comercialização virtual e os anúncios go, os procedimentos constantes do plano específico de me-
publicitários veiculados na imprensa escrita, na internet, no didas deverão ser avaliados, pelo menos, a cada 2 (dois) anos.
rádio, na televisão e nos demais veículos de comunicação
abertos ou por assinatura devem disponibilizar, conforme a CAPÍTULO IV
compatibilidade do meio, os recursos de acessibilidade de DO DIREITO À PARTICIPAÇÃO NA VIDA PÚBLICA E
que trata o art. 67 desta Lei, a expensas do fornecedor do POLÍTICA
produto ou do serviço, sem prejuízo da observância do dis-
posto nos arts. 36 a 38 da Lei no 8.078, de 11 de setembro Art. 76. O poder público deve garantir à pessoa com de-
de 1990. ficiência todos os direitos políticos e a oportunidade de exer-
§ 2o Os fornecedores devem disponibilizar, mediante soli- cê-los em igualdade de condições com as demais pessoas.
citação, exemplares de bulas, prospectos, textos ou qualquer § 1o À pessoa com deficiência será assegurado o direito
outro tipo de material de divulgação em formato acessível. de votar e de ser votada, inclusive por meio das seguintes
Art. 70. As instituições promotoras de congressos, semi- ações:
nários, oficinas e demais eventos de natureza científico-cul- I - garantia de que os procedimentos, as instalações, os
tural devem oferecer à pessoa com deficiência, no mínimo, os materiais e os equipamentos para votação sejam apropria-
recursos de tecnologia assistiva previstos no art. 67 desta Lei. dos, acessíveis a todas as pessoas e de fácil compreensão e
Art. 71. Os congressos, os seminários, as oficinas e os de- uso, sendo vedada a instalação de seções eleitorais exclusivas
mais eventos de natureza científico-cultural promovidos ou para a pessoa com deficiência;
financiados pelo poder público devem garantir as condições II - incentivo à pessoa com deficiência a candidatar-se e a
de acessibilidade e os recursos de tecnologia assistiva. desempenhar quaisquer funções públicas em todos os níveis
Art. 72. Os programas, as linhas de pesquisa e os projetos de governo, inclusive por meio do uso de novas tecnologias
a serem desenvolvidos com o apoio de agências de financia- assistivas, quando apropriado;
mento e de órgãos e entidades integrantes da administração III - garantia de que os pronunciamentos oficiais, a pro-
pública que atuem no auxílio à pesquisa devem contemplar paganda eleitoral obrigatória e os debates transmitidos pe-
temas voltados à tecnologia assistiva. las emissoras de televisão possuam, pelo menos, os recursos
elencados no art. 67 desta Lei;

173
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

IV - garantia do livre exercício do direito ao voto e, para LIVRO II


tanto, sempre que necessário e a seu pedido, permissão para PARTE ESPECIAL
que a pessoa com deficiência seja auxiliada na votação por TÍTULO I
pessoa de sua escolha. DO ACESSO À JUSTIÇA
§ 2o O poder público promoverá a participação da pes- CAPÍTULO I
soa com deficiência, inclusive quando institucionalizada, na DISPOSIÇÕES GERAIS
condução das questões públicas, sem discriminação e em
igualdade de oportunidades, observado o seguinte: Art. 79. O poder público deve assegurar o acesso da pes-
I - participação em organizações não governamentais re- soa com deficiência à justiça, em igualdade de oportunidades
lacionadas à vida pública e à política do País e em atividades com as demais pessoas, garantindo, sempre que requeridos,
e administração de partidos políticos; adaptações e recursos de tecnologia assistiva.
II - formação de organizações para representar a pessoa § 1o A fim de garantir a atuação da pessoa com deficiên-
com deficiência em todos os níveis; cia em todo o processo judicial, o poder público deve capaci-
III - participação da pessoa com deficiência em organiza- tar os membros e os servidores que atuam no Poder Judiciá-
ções que a representem. rio, no Ministério Público, na Defensoria Pública, nos órgãos
de segurança pública e no sistema penitenciário quanto aos
TÍTULO IV direitos da pessoa com deficiência.
DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA § 2o Devem ser assegurados à pessoa com deficiência
submetida a medida restritiva de liberdade todos os direitos
Art. 77. O poder público deve fomentar o desenvolvi- e garantias a que fazem jus os apenados sem deficiência, ga-
mento científico, a pesquisa e a inovação e a capacitação rantida a acessibilidade.
tecnológicas, voltados à melhoria da qualidade de vida e ao § 3o A Defensoria Pública e o Ministério Público toma-
trabalho da pessoa com deficiência e sua inclusão social. rão as medidas necessárias à garantia dos direitos previstos
§ 1o O fomento pelo poder público deve priorizar a ge- nesta Lei.
ração de conhecimentos e técnicas que visem à prevenção e Art. 80. Devem ser oferecidos todos os recursos de tec-
ao tratamento de deficiências e ao desenvolvimento de tec- nologia assistiva disponíveis para que a pessoa com deficiên-
nologias assistiva e social. cia tenha garantido o acesso à justiça, sempre que figure em
§ 2o A acessibilidade e as tecnologias assistiva e social um dos polos da ação ou atue como testemunha, partícipe
devem ser fomentadas mediante a criação de cursos de pós- da lide posta em juízo, advogado, defensor público, magis-
graduação, a formação de recursos humanos e a inclusão do trado ou membro do Ministério Público.
tema nas diretrizes de áreas do conhecimento. Parágrafo único. A pessoa com deficiência tem garantido
§ 3o Deve ser fomentada a capacitação tecnológica de o acesso ao conteúdo de todos os atos processuais de seu
instituições públicas e privadas para o desenvolvimento de interesse, inclusive no exercício da advocacia.
tecnologias assistiva e social que sejam voltadas para melho- Art. 81. Os direitos da pessoa com deficiência serão ga-
ria da funcionalidade e da participação social da pessoa com rantidos por ocasião da aplicação de sanções penais.
deficiência. Art. 82. (VETADO).
§ 4o As medidas previstas neste artigo devem ser reava- Art. 83. Os serviços notariais e de registro não podem
liadas periodicamente pelo poder público, com vistas ao seu negar ou criar óbices ou condições diferenciadas à presta-
aperfeiçoamento. ção de seus serviços em razão de deficiência do solicitante,
Art. 78. Devem ser estimulados a pesquisa, o desenvol- devendo reconhecer sua capacidade legal plena, garantida a
vimento, a inovação e a difusão de tecnologias voltadas para acessibilidade.
ampliar o acesso da pessoa com deficiência às tecnologias da Parágrafo único. O descumprimento do disposto
informação e comunicação e às tecnologias sociais. no caput deste artigo constitui discriminação em razão de
Parágrafo único. Serão estimulados, em especial: deficiência.
I - o emprego de tecnologias da informação e comunica-
ção como instrumento de superação de limitações funcionais CAPÍTULO II
e de barreiras à comunicação, à informação, à educação e ao DO RECONHECIMENTO IGUAL PERANTE A LEI
entretenimento da pessoa com deficiência;
II - a adoção de soluções e a difusão de normas que vi- Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o di-
sem a ampliar a acessibilidade da pessoa com deficiência à reito ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de
computação e aos sítios da internet, em especial aos serviços condições com as demais pessoas.
de governo eletrônico. § 1o Quando necessário, a pessoa com deficiência será
submetida à curatela, conforme a lei.
§ 2o É facultado à pessoa com deficiência a adoção de
processo de tomada de decisão apoiada.
§ 3o A definição de curatela de pessoa com deficiência
constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às
necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o
menor tempo possível.

174
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

§ 4o Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem não pro-
contas de sua administração ao juiz, apresentando o balanço ver as necessidades básicas de pessoa com deficiência quan-
do respectivo ano. do obrigado por lei ou mandado.
Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relaciona- Art. 91. Reter ou utilizar cartão magnético, qualquer meio
dos aos direitos de natureza patrimonial e negocial. eletrônico ou documento de pessoa com deficiência desti-
§ 1o A definição da curatela não alcança o direito ao pró- nados ao recebimento de benefícios, proventos, pensões ou
prio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à remuneração ou à realização de operações financeiras, com
educação, à saúde, ao trabalho e ao voto. o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem:
§ 2o A curatela constitui medida extraordinária, devendo Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e mul-
constar da sentença as razões e motivações de sua definição, ta.
preservados os interesses do curatelado. Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço)
§ 3o No caso de pessoa em situação de institucionaliza- se o crime é cometido por tutor ou curador.
ção, ao nomear curador, o juiz deve dar preferência a pessoa
que tenha vínculo de natureza familiar, afetiva ou comunitá-
TÍTULO III
ria com o curatelado.
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 86. Para emissão de documentos oficiais, não será
exigida a situação de curatela da pessoa com deficiência.
Art. 92. É criado o Cadastro Nacional de Inclusão da Pes-
Art. 87. Em casos de relevância e urgência e a fim de pro-
teger os interesses da pessoa com deficiência em situação soa com Deficiência (Cadastro-Inclusão), registro público ele-
de curatela, será lícito ao juiz, ouvido o Ministério Público, trônico com a finalidade de coletar, processar, sistematizar e
de oficio ou a requerimento do interessado, nomear, desde disseminar informações georreferenciadas que permitam a
logo, curador provisório, o qual estará sujeito, no que couber, identificação e a caracterização socioeconômica da pessoa
às disposições doCódigo de Processo Civil. com deficiência, bem como das barreiras que impedem a
realização de seus direitos.
TÍTULO II § 1o O Cadastro-Inclusão será administrado pelo Poder
DOS CRIMES E DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS Executivo federal e constituído por base de dados, instru-
mentos, procedimentos e sistemas eletrônicos.
Art. 88. Praticar, induzir ou incitar discriminação de pes- § 2o Os dados constituintes do Cadastro-Inclusão serão
soa em razão de sua deficiência: obtidos pela integração dos sistemas de informação e da
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. base de dados de todas as políticas públicas relacionadas aos
§ 1o Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se a vítima direitos da pessoa com deficiência, bem como por informa-
encontrar-se sob cuidado e responsabilidade do agente. ções coletadas, inclusive em censos nacionais e nas demais
§ 2o Se qualquer dos crimes previstos no caput deste ar- pesquisas realizadas no País, de acordo com os parâmetros
tigo é cometido por intermédio de meios de comunicação estabelecidos pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas
social ou de publicação de qualquer natureza: com Deficiência e seu Protocolo Facultativo.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. § 3o Para coleta, transmissão e sistematização de dados,
§ 3o Na hipótese do § 2o deste artigo, o juiz poderá deter- é facultada a celebração de convênios, acordos, termos de
minar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda parceria ou contratos com instituições públicas e privadas,
antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: observados os requisitos e procedimentos previstos em le-
I - recolhimento ou busca e apreensão dos exemplares gislação específica.
do material discriminatório; § 4o Para assegurar a confidencialidade, a privacidade e
II - interdição das respectivas mensagens ou páginas de as liberdades fundamentais da pessoa com deficiência e os
informação na internet.
princípios éticos que regem a utilização de informações, de-
§ 4o Na hipótese do § 2o deste artigo, constitui efeito da
vem ser observadas as salvaguardas estabelecidas em lei.
condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a des-
§ 5o Os dados do Cadastro-Inclusão somente poderão
truição do material apreendido.
ser utilizados para as seguintes finalidades:
Art. 89. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pen-
são, benefícios, remuneração ou qualquer outro rendimento I - formulação, gestão, monitoramento e avaliação das
de pessoa com deficiência: políticas públicas para a pessoa com deficiência e para iden-
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. tificar as barreiras que impedem a realização de seus direitos;
Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) II - realização de estudos e pesquisas.
se o crime é cometido: § 6o As informações a que se refere este artigo devem ser
I - por tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, disseminadas em formatos acessíveis.
testamenteiro ou depositário judicial; ou Art. 93. Na realização de inspeções e de auditorias pelos
II - por aquele que se apropriou em razão de ofício ou órgãos de controle interno e externo, deve ser observado o
de profissão. cumprimento da legislação relativa à pessoa com deficiência
Art. 90. Abandonar pessoa com deficiência em hospitais, e das normas de acessibilidade vigentes.
casas de saúde, entidades de abrigamento ou congêneres: Art. 94. Terá direito a auxílio-inclusão, nos termos da lei, a
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa. pessoa com deficiência moderada ou grave que:

175
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

I - receba o benefício de prestação continuada previsto “Art. 433. ..................................................................


no art. 20 da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e que ...........................................................................................
passe a exercer atividade remunerada que a enquadre como I - desempenho insuficiente ou inadaptação do aprendiz,
segurado obrigatório do RGPS; salvo para o aprendiz com deficiência quando desprovido
II - tenha recebido, nos últimos 5 (cinco) anos, o benefício de recursos de acessibilidade, de tecnologias assistivas e de
de prestação continuada previsto no art. 20 da Lei no 8.742, apoio necessário ao desempenho de suas atividades;
de 7 de dezembro de 1993, e que exerça atividade remune- ..................................................................................” (NR)
rada que a enquadre como segurado obrigatório do RGPS. Art. 98. A Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, passa a
Art. 95. É vedado exigir o comparecimento de pessoa vigorar com as seguintes alterações:
com deficiência perante os órgãos públicos quando seu des- “Art. 3o As medidas judiciais destinadas à proteção de
locamento, em razão de sua limitação funcional e de con- interesses coletivos, difusos, individuais homogêneos e indi-
dições de acessibilidade, imponha-lhe ônus desproporcional viduais indisponíveis da pessoa com deficiência poderão ser
e indevido, hipótese na qual serão observados os seguintes propostas pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública,
procedimentos: pela União, pelos Estados, pelos Municípios, pelo Distrito Fe-
I - quando for de interesse do poder público, o agente deral, por associação constituída há mais de 1 (um) ano, nos
promoverá o contato necessário com a pessoa com deficiên- termos da lei civil, por autarquia, por empresa pública e por
cia em sua residência; fundação ou sociedade de economia mista que inclua, entre
II - quando for de interesse da pessoa com deficiência, suas finalidades institucionais, a proteção dos interesses e a
ela apresentará solicitação de atendimento domiciliar ou fará promoção de direitos da pessoa com deficiência.
representar-se por procurador constituído para essa finalida- .................................................................................” (NR)
de. “Art. 8o Constitui crime punível com reclusão de 2 (dois) a
Parágrafo único. É assegurado à pessoa com deficiên- 5 (cinco) anos e multa:
cia atendimento domiciliar pela perícia médica e social do I - recusar, cobrar valores adicionais, suspender, procras-
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), pelo serviço pú- tinar, cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em estabe-
blico de saúde ou pelo serviço privado de saúde, contratado lecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou
ou conveniado, que integre o SUS e pelas entidades da rede privado, em razão de sua deficiência;
socioassistencial integrantes do Suas, quando seu desloca-
II - obstar inscrição em concurso público ou acesso de
mento, em razão de sua limitação funcional e de condições
alguém a qualquer cargo ou emprego público, em razão de
de acessibilidade, imponha-lhe ônus desproporcional e in-
sua deficiência;
devido.
III - negar ou obstar emprego, trabalho ou promoção à
Art. 96. O § 6o-A do art. 135 da Lei no 4.737, de 15 de julho
pessoa em razão de sua deficiência;
de 1965 (Código Eleitoral), passa a vigorar com a seguinte
IV - recusar, retardar ou dificultar internação ou deixar de
redação:
prestar assistência médico-hospitalar e ambulatorial à pessoa
“Art. 135. .................................................................
com deficiência;
........................................................................................
V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar execução de
§ 6o-A. Os Tribunais Regionais Eleitorais deverão, a cada
eleição, expedir instruções aos Juízes Eleitorais para orientá ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei;
-los na escolha dos locais de votação, de maneira a garantir VI - recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispen-
acessibilidade para o eleitor com deficiência ou com mobili- sáveis à propositura da ação civil pública objeto desta Lei,
dade reduzida, inclusive em seu entorno e nos sistemas de quando requisitados.
transporte que lhe dão acesso. § 1o Se o crime for praticado contra pessoa com deficiên-
....................................................................................” (NR) cia menor de 18 (dezoito) anos, a pena é agravada em 1/3
Art. 97. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), apro- (um terço).
vada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, passa § 2o A pena pela adoção deliberada de critérios subjeti-
a vigorar com as seguintes alterações: vos para indeferimento de inscrição, de aprovação e de cum-
“Art. 428. .................................................................. primento de estágio probatório em concursos públicos não
........................................................................................... exclui a responsabilidade patrimonial pessoal do administra-
§ 6o Para os fins do contrato de aprendizagem, a com- dor público pelos danos causados.
provação da escolaridade de aprendiz com deficiência deve § 3o Incorre nas mesmas penas quem impede ou dificulta
considerar, sobretudo, as habilidades e competências relacio- o ingresso de pessoa com deficiência em planos privados de
nadas com a profissionalização. assistência à saúde, inclusive com cobrança de valores dife-
........................................................................................... renciados.
§ 8o Para o aprendiz com deficiência com 18 (dezoito) § 4o Se o crime for praticado em atendimento de urgên-
anos ou mais, a validade do contrato de aprendizagem pres- cia e emergência, a pena é agravada em 1/3 (um terço).” (NR)
supõe anotação na CTPS e matrícula e frequência em pro- Art. 99. O art. 20 da Lei no 8.036, de 11 de maio de 1990,
grama de aprendizagem desenvolvido sob orientação de passa a vigorar acrescido do seguinte inciso XVIII:
entidade qualificada em formação técnico-profissional me- “Art. 20. ......................................................................
tódica.” (NR) ..............................................................................................

176
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

XVIII - quando o trabalhador com deficiência, por pres- § 3o Para a reserva de cargos será considerada somen-
crição, necessite adquirir órtese ou prótese para promoção te a contratação direta de pessoa com deficiência, excluído
de acessibilidade e de inclusão social. o aprendiz com deficiência de que trata a Consolidação das
..................................................................................” (NR) Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452,
Art. 100. A Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Có- de 1o de maio de 1943.
digo de Defesa do Consumidor), passa a vigorar com as se- § 4o (VETADO).” (NR)
guintes alterações: “Art. 110-A. No ato de requerimento de benefícios ope-
“Art. 6o ....................................................................... racionalizados pelo INSS, não será exigida apresentação de
............................................................................................ termo de curatela de titular ou de beneficiário com deficiên-
Parágrafo único.  A informação de que trata o inciso III cia, observados os procedimentos a serem estabelecidos em
do caput deste artigo deve ser acessível à pessoa com defi- regulamento.”
ciência, observado o disposto em regulamento.” (NR) Art. 102. O art. 2o da Lei no 8.313, de 23 de dezembro de
“Art. 43. ...................................................................... 1991, passa a vigorar acrescido do seguinte § 3o:
............................................................................................ “Art. 2o .........................................................................
§ 6o Todas as informações de que trata o  caput  deste .............................................................................................
artigo devem ser disponibilizadas em formatos acessíveis,
§ 3o Os incentivos criados por esta Lei somente serão
inclusive para a pessoa com deficiência, mediante solicitação
concedidos a projetos culturais que forem disponibilizados,
do consumidor.” (NR)
sempre que tecnicamente possível, também em formato
Art. 101. A Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991, passa a
vigorar com as seguintes alterações: acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto em
“Art. 16. ...................................................................... regulamento.” (NR)
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho Art. 103. O art. 11 da Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992,
não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte passa a vigorar acrescido do seguinte inciso IX:
e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual “Art. 11. .....................................................................
ou mental ou deficiência grave; ............................................................................................
............................................................................................ IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de aces-
III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, me- sibilidade previstos na legislação.” (NR)
nor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha defi- Art. 104. A Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, passa a
ciência intelectual ou mental ou deficiência grave; vigorar com as seguintes alterações:
.................................................................................” (NR) “Art. 3o .....................................................................
“Art. 77. ..................................................................... ..........................................................................................
............................................................................................ § 2o ...........................................................................
§ 2o .............................................................................. ..........................................................................................
............................................................................................ V - produzidos ou prestados por empresas que compro-
II - para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o irmão, de vem cumprimento de reserva de cargos prevista em lei para
ambos os sexos, pela emancipação ou ao completar 21 (vinte pessoa com deficiência ou para reabilitado da Previdência
e um) anos de idade, salvo se for inválido ou tiver deficiência Social e que atendam às regras de acessibilidade previstas
intelectual ou mental ou deficiência grave; na legislação.
................................................................................... ...........................................................................................
§ 4o (VETADO). § 5o Nos processos de licitação, poderá ser estabelecida
...................................................................................” (NR) margem de preferência para:
“Art. 93. (VETADO): I - produtos manufaturados e para serviços nacionais
I - (VETADO); que atendam a normas técnicas brasileiras; e
II - (VETADO);
II - bens e serviços produzidos ou prestados por empre-
III - (VETADO);
sas que comprovem cumprimento de reserva de cargos pre-
IV - (VETADO);
vista em lei para pessoa com deficiência ou para reabilitado
V - (VETADO).
§ 1o A dispensa de pessoa com deficiência ou de bene- da Previdência Social e que atendam às regras de acessibili-
ficiário reabilitado da Previdência Social ao final de contra- dade previstas na legislação.
to por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias e ...................................................................................” (NR)
a dispensa imotivada em contrato por prazo indeterminado “Art. 66-A. As empresas enquadradas no inciso V do §
somente poderão ocorrer após a contratação de outro tra- 2o e no inciso II do § 5o do art. 3o desta Lei deverão cumprir,
balhador com deficiência ou beneficiário reabilitado da Pre- durante todo o período de execução do contrato, a reser-
vidência Social. va de cargos prevista em lei para pessoa com deficiência ou
§ 2o Ao Ministério do Trabalho e Emprego incumbe es- para reabilitado da Previdência Social, bem como as regras
tabelecer a sistemática de fiscalização, bem como gerar da- de acessibilidade previstas na legislação.
dos e estatísticas sobre o total de empregados e as vagas Parágrafo único. Cabe à administração fiscalizar o cum-
preenchidas por pessoas com deficiência e por beneficiários primento dos requisitos de acessibilidade nos serviços e nos
reabilitados da Previdência Social, fornecendo-os, quando ambientes de trabalho.”
solicitados, aos sindicatos, às entidades representativas dos Art. 105. O art. 20 da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de
empregados ou aos cidadãos interessados. 1993, passa a vigorar com as seguintes alterações:

177
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

“Art. 20. ...................................................................... “Art. 86-A. As vagas de estacionamento regulamentado


............................................................................................. de que trata o inciso XVII do art. 181 desta Lei deverão ser
§ 2o Para efeito de concessão do benefício de prestação sinalizadas com as respectivas placas indicativas de destina-
continuada, considera-se pessoa com deficiência aquela que ção e com placas informando os dados sobre a infração por
tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, estacionamento indevido.”
intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou “Art. 147-A. Ao candidato com deficiência auditiva é as-
mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efeti- segurada acessibilidade de comunicação, mediante emprego
va na sociedade em igualdade de condições com as demais de tecnologias assistivas ou de ajudas técnicas em todas as
pessoas. etapas do processo de habilitação.
............................................................................................ § 1o O material didático audiovisual utilizado em aulas
§ 9o Os rendimentos decorrentes de estágio supervisio- teóricas dos cursos que precedem os exames previstos no
nado e de aprendizagem não serão computados para os fins art. 147 desta Lei deve ser acessível, por meio de subtitula-
de cálculo da renda familiar per capita a que se refere o § ção com legenda oculta associada à tradução simultânea em
3o deste artigo. Libras.
............................................................................................. § 2o É assegurado também ao candidato com deficiência
§ 11. Para concessão do benefício de que trata auditiva requerer, no ato de sua inscrição, os serviços de in-
o caput deste artigo, poderão ser utilizados outros elemen- térprete da Libras, para acompanhamento em aulas práticas
tos probatórios da condição de miserabilidade do grupo e teóricas.”
familiar e da situação de vulnerabilidade, conforme regula- “Art. 154. (VETADO).”
mento.” (NR) “Art. 181. ...................................................................
Art. 106. (VETADO). ..........................................................................................
Art. 107. A Lei no 9.029, de 13 de abril de 1995, passa a XVII - .........................................................................
Infração - grave;
vigorar com as seguintes alterações:
.................................................................................” (NR)
“Art. 1o  É proibida a adoção de qualquer prática discri-
Art. 110. O inciso VI e o § 1o do art. 56 da Lei no 9.615,
minatória e limitativa para efeito de acesso à relação de tra-
de 24 de março de 1998, passam a vigorar com a seguinte
balho, ou de sua manutenção, por motivo de sexo, origem,
redação:
raça, cor, estado civil, situação familiar, deficiência, reabilita-
“Art. 56. ....................................................................
ção profissional, idade, entre outros, ressalvadas, nesse caso,
...........................................................................................
as hipóteses de proteção à criança e ao adolescente previstas VI - 2,7% (dois inteiros e sete décimos por cento) da ar-
no inciso XXXIII do art. 7o da Constituição Federal.” (NR) recadação bruta dos concursos de prognósticos e loterias fe-
“Art. 3o Sem prejuízo do prescrito no art. 2o desta Lei e derais e similares cuja realização estiver sujeita a autorização
nos dispositivos legais que tipificam os crimes resultantes de federal, deduzindo-se esse valor do montante destinado aos
preconceito de etnia, raça, cor ou deficiência, as infrações ao prêmios;
disposto nesta Lei são passíveis das seguintes cominações: .............................................................................................
..................................................................................” (NR) § 1o  Do total de recursos financeiros resultantes do per-
“Art. 4o ........................................................................ centual de que trata o inciso VI do caput, 62,96% (sessenta
I - a reintegração com ressarcimento integral de todo o e dois inteiros e noventa e seis centésimos por cento) serão
período de afastamento, mediante pagamento das remune- destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e 37,04%
rações devidas, corrigidas monetariamente e acrescidas de (trinta e sete inteiros e quatro centésimos por cento) ao Co-
juros legais; mitê Paralímpico Brasileiro (CPB), devendo ser observado, em
....................................................................................” (NR) ambos os casos, o conjunto de normas aplicáveis à celebra-
Art. 108. O art. 35 da Lei no 9.250, de 26 de dezembro de ção de convênios pela União.
1995, passa a vigorar acrescido do seguinte § 5o: ..................................................................................” (NR)
“Art. 35. ...................................................................... Art. 111. O art. 1o da Lei no 10.048, de 8 de novembro de
............................................................................................. 2000, passa a vigorar com a seguinte redação:
§ 5o Sem prejuízo do disposto no inciso IX do parágrafo “Art. 1o As pessoas com deficiência, os idosos com idade
único do art. 3o da Lei no 10.741, de 1o de outubro de 2003, a igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as lac-
pessoa com deficiência, ou o contribuinte que tenha depen- tantes, as pessoas com crianças de colo e os obesos terão
dente nessa condição, tem preferência na restituição referida atendimento prioritário, nos termos desta Lei.” (NR)
no inciso III do art. 4o e na alínea “c” do inciso II do art. 8o.” Art. 112. A Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000,
(NR) passa a vigorar com as seguintes alterações:
Art. 109. A Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Có- “Art. 2o .......................................................................
digo de Trânsito Brasileiro), passa a vigorar com as seguintes I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance
alterações: para utilização, com segurança e autonomia, de espaços,
“Art. 2o ........................................................... mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes,
Parágrafo único. Para os efeitos deste Código, são consi- informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecno-
deradas vias terrestres as praias abertas à circulação pública, logias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao
as vias internas pertencentes aos condomínios constituídos público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na
por unidades autônomas e as vias e áreas de estacionamento zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou
de estabelecimentos privados de uso coletivo.” (NR) com mobilidade reduzida;

178
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

II - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou IX - comunicação: forma de interação dos cidadãos que
comportamento que limite ou impeça a participação social abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua
da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Brail-
direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de le, o sistema de sinalização ou de comunicação tátil, os ca-
expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à com- racteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim como
preensão, à circulação com segurança, entre outros, classifi- a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e
cadas em: os meios de voz digitalizados e os modos, meios e forma-
a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos es- tos aumentativos e alternativos de comunicação, incluindo as
paços públicos e privados abertos ao público ou de uso co- tecnologias da informação e das comunicações;
letivo; X - desenho universal: concepção de produtos, ambien-
b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios pú- tes, programas e serviços a serem usados por todas as pes-
blicos e privados; soas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específi-
co, incluindo os recursos de tecnologia assistiva.” (NR)
c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e
“Art. 3o O planejamento e a urbanização das vias públicas,
meios de transportes;
dos parques e dos demais espaços de uso público deverão
d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer
ser concebidos e executados de forma a torná-los acessíveis
entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte para todas as pessoas, inclusive para aquelas com deficiência
ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensa- ou com mobilidade reduzida.
gens e de informações por intermédio de sistemas de comu- Parágrafo único. O passeio público, elemento obrigatório
nicação e de tecnologia da informação; de urbanização e parte da via pública, normalmente segrega-
III - pessoa com deficiência: aquela que tem impedimen- do e em nível diferente, destina-se somente à circulação de
to de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou pedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, urbano e de vegetação.” (NR)
pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade “Art. 9o ........................................................................
em igualdade de condições com as demais pessoas; Parágrafo único. Os semáforos para pedestres instalados
IV - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, em vias públicas de grande circulação, ou que deem acesso
por qualquer motivo, dificuldade de movimentação, perma- aos serviços de reabilitação, devem obrigatoriamente estar
nente ou temporária, gerando redução efetiva da mobilida- equipados com mecanismo que emita sinal sonoro suave
de, da flexibilidade, da coordenação motora ou da percep- para orientação do pedestre.” (NR)
ção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com criança “Art. 10-A. A instalação de qualquer mobiliário urbano
de colo e obeso; em área de circulação comum para pedestre que ofereça ris-
V - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa co de acidente à pessoa com deficiência deverá ser indicada
mediante sinalização tátil de alerta no piso, de acordo com as
com deficiência, podendo ou não desempenhar as funções
normas técnicas pertinentes.”
de atendente pessoal;
“Art. 12-A. Os centros comerciais e os estabelecimentos
VI - elemento de urbanização: quaisquer componentes congêneres devem fornecer carros e cadeiras de rodas, mo-
de obras de urbanização, tais como os referentes a pavimen- torizados ou não, para o atendimento da pessoa com defi-
tação, saneamento, encanamento para esgotos, distribuição ciência ou com mobilidade reduzida.”
de energia elétrica e de gás, iluminação pública, serviços de Art. 113. A Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto
comunicação, abastecimento e distribuição de água, paisa- da Cidade), passa a vigorar com as seguintes alterações:
gismo e os que materializam as indicações do planejamento “Art. 3o ......................................................................
urbanístico; ............................................................................................
VII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes III - promover, por iniciativa própria e em conjunto com
nas vias e nos espaços públicos, superpostos ou adicio- os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, programas de
nados aos elementos de urbanização ou de edificação, de construção de moradias e melhoria das condições habitacio-
forma que sua modificação ou seu traslado não provoque nais, de saneamento básico, das calçadas, dos passeios pú-
alterações substanciais nesses elementos, tais como semáfo- blicos, do mobiliário urbano e dos demais espaços de uso
ros, postes de sinalização e similares, terminais e pontos de público;
acesso coletivo às telecomunicações, fontes de água, lixeiras, IV - instituir diretrizes para desenvolvimento urbano, in-
toldos, marquises, bancos, quiosques e quaisquer outros de clusive habitação, saneamento básico, transporte e mobili-
natureza análoga; dade urbana, que incluam regras de acessibilidade aos locais
de uso público;
VIII - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos,
.................................................................................” (NR)
equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estraté-
“Art. 41. ....................................................................
gias, práticas e serviços que objetivem promover a funcio-
...........................................................................................
nalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa § 3o As cidades de que trata o caput deste artigo devem
com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua elaborar plano de rotas acessíveis, compatível com o plano
autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão so- diretor no qual está inserido, que disponha sobre os passeios
cial; públicos a serem implantados ou reformados pelo poder pú-

179
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

blico, com vistas a garantir acessibilidade da pessoa com de- IV - (Revogado);


ficiência ou com mobilidade reduzida a todas as rotas e vias ....................................................................................” (NR)
existentes, inclusive as que concentrem os focos geradores “Art. 1.768.  O processo que define os termos da curatela
de maior circulação de pedestres, como os órgãos públicos deve ser promovido:
e os locais de prestação de serviços públicos e privados de .............................................................................................
saúde, educação, assistência social, esporte, cultura, correios IV - pela própria pessoa.” (NR)
e telégrafos, bancos, entre outros, sempre que possível de “Art. 1.769. O Ministério Público somente promoverá o
maneira integrada com os sistemas de transporte coletivo de processo que define os termos da curatela:
passageiros.” (NR) I - nos casos de deficiência mental ou intelectual;
Art. 114. A Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Códi- ............................................................................................
go Civil), passa a vigorar com as seguintes alterações: III - se, existindo, forem menores ou incapazes as pessoas
“Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoal- mencionadas no inciso II.” (NR)
mente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. “Art. 1.771. Antes de se pronunciar acerca dos termos da
I - (Revogado); curatela, o juiz, que deverá ser assistido por equipe multidis-
II - (Revogado); ciplinar, entrevistará pessoalmente o interditando.” (NR)
III - (Revogado).” (NR) “Art. 1.772. O juiz determinará, segundo as potencialida-
“Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à des da pessoa, os limites da curatela, circunscritos às restri-
maneira de os exercer: ções constantes do art. 1.782, e indicará curador.
..................................................................................... Parágrafo único. Para a escolha do curador, o juiz leva-
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; rá em conta a vontade e as preferências do interditando, a
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, ausência de conflito de interesses e de influência indevida, a
não puderem exprimir sua vontade; proporcionalidade e a adequação às circunstâncias da pes-
............................................................................................. soa.” (NR)
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regu- “Art. 1.775-A. Na nomeação de curador para a pessoa
lada por legislação especial.” (NR) com deficiência, o juiz poderá estabelecer curatela comparti-
“Art. 228. ..................................................................... lhada a mais de uma pessoa.”
............................................................................................. “Art. 1.777.  As pessoas referidas no inciso I do art. 1.767
II - (Revogado); receberão todo o apoio necessário para ter preservado o di-
III - (Revogado); reito à convivência familiar e comunitária, sendo evitado o
............................................................................................. seu recolhimento em estabelecimento que os afaste desse
§ 1o  .............................................................................. convívio.” (NR)
§ 2o A pessoa com deficiência poderá testemunhar em Art. 115. O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei
igualdade de condições com as demais pessoas, sendo-lhe no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a
assegurados todos os recursos de tecnologia assistiva.” (NR) vigorar com a seguinte redação:
“Art. 1.518. Até a celebração do casamento podem os “TÍTULO IV
pais ou tutores revogar a autorização.” (NR) Da Tutela, da Curatela e da Tomada de Decisão
“Art. 1.548. ................................................................... Apoiada”
I - (Revogado); Art. 116. O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei
....................................................................................” (NR) no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a
“Art. 1.550. .................................................................. vigorar acrescido do seguinte Capítulo III:
............................................................................................. “CAPÍTULO III
§ 1o  .............................................................................. Da Tomada de Decisão Apoiada
§ 2o A pessoa com deficiência mental ou intelectual em Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o proces-
idade núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua so pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2
vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e
curador.” (NR) que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na to-
“Art. 1.557. ................................................................ mada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os
............................................................................................ elementos e informações necessários para que possa exercer
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico sua capacidade.
irremediável que não caracterize deficiência ou de moléstia § 1o Para formular pedido de tomada de decisão apoiada,
grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de a pessoa com deficiência e os apoiadores devem apresentar
pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descen- termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido
dência; e os compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vi-
IV - (Revogado).” (NR) gência do acordo e o respeito à vontade, aos direitos e aos
“Art. 1.767. .................................................................. interesses da pessoa que devem apoiar.
I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não § 2o O pedido de tomada de decisão apoiada será reque-
puderem exprimir sua vontade; rido pela pessoa a ser apoiada, com indicação expressa das
II - (Revogado); pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no caput deste
III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; artigo.

180
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

§ 3o Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada § 1o Para concorrer às vagas reservadas na forma
de decisão apoiada, o juiz, assistido por equipe multidiscipli- do  caput  deste artigo, o condutor com deficiência deverá
nar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá pessoalmente o observar os seguintes requisitos quanto ao veículo utilizado:
requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio. I - ser de sua propriedade e por ele conduzido; e
§ 4o A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade II - estar adaptado às suas necessidades, nos termos da
e efeitos sobre terceiros, sem restrições, desde que esteja in- legislação vigente.
serida nos limites do apoio acordado. § 2o No caso de não preenchimento das vagas na forma
§ 5o Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha re- estabelecida no caput deste artigo, as remanescentes devem
lação negocial pode solicitar que os apoiadores contra-as- ser disponibilizadas para os demais concorrentes.”
sinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua Art. 120. Cabe aos órgãos competentes, em cada esfe-
função em relação ao apoiado. ra de governo, a elaboração de relatórios circunstanciados
§ 6o Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos por força
ou prejuízo relevante, havendo divergência de opiniões entre das Leis no 10.048, de 8 de novembro de 2000, e no 10.098, de
a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido 19 de dezembro de 2000, bem como o seu encaminhamento
o Ministério Público, decidir sobre a questão. ao Ministério Público e aos órgãos de regulação para adoção
§ 7o Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão das providências cabíveis.
indevida ou não adimplir as obrigações assumidas, poderá a Parágrafo único. Os relatórios a que se refere o caput des-
pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar denúncia ao te artigo deverão ser apresentados no prazo de 1 (um) ano a
Ministério Público ou ao juiz. contar da entrada em vigor desta Lei.
§ 8o Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoia- Art. 121. Os direitos, os prazos e as obrigações previstos
dor e nomeará, ouvida a pessoa apoiada e se for de seu inte- nesta Lei não excluem os já estabelecidos em outras legis-
resse, outra pessoa para prestação de apoio. lações, inclusive em pactos, tratados, convenções e declara-
§ 9o A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar ções internacionais aprovados e promulgados pelo Congres-
o término de acordo firmado em processo de tomada de de- so Nacional, e devem ser aplicados em conformidade com as
cisão apoiada. demais normas internas e acordos internacionais vinculantes
§ 10. O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua sobre a matéria.
participação do processo de tomada de decisão apoiada, Parágrafo único. Prevalecerá a norma mais benéfica à
sendo seu desligamento condicionado à manifestação do pessoa com deficiência.
juiz sobre a matéria. Art. 122. Regulamento disporá sobre a adequação do
§ 11. Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que disposto nesta Lei ao tratamento diferenciado, simplificado e
couber, as disposições referentes à prestação de contas na favorecido a ser dispensado às microempresas e às empresas
curatela.” de pequeno porte, previsto no § 3o do art. 1o da Lei Comple-
Art. 117. O art. 1o da Lei no 11.126, de 27 de junho de mentar no 123, de 14 de dezembro de 2006.
2005, passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 123. Revogam-se os seguintes dispositivos: (Vigên-
“Art. 1o É assegurado à pessoa com deficiência visual cia)
acompanhada de cão-guia o direito de ingressar e de per- I - o inciso II do § 2o do art. 1o da Lei no 9.008, de 21 de
manecer com o animal em todos os meios de transporte e março de 1995;
em estabelecimentos abertos ao público, de uso público e II - os incisos I, II e III do art. 3o da Lei no 10.406, de 10 de
privados de uso coletivo, desde que observadas as condições janeiro de 2002 (Código Civil);
impostas por esta Lei. III - os incisos II e III do art. 228 da Lei no 10.406, de 10 de
............................................................................................. janeiro de 2002 (Código Civil);
§ 2o O disposto no caput deste artigo aplica-se a todas IV - o  inciso I do art. 1.548 da Lei no 10.406, de 10 de
as modalidades e jurisdições do serviço de transporte cole- janeiro de 2002 (Código Civil);
tivo de passageiros, inclusive em esfera internacional com V - o inciso IV do art. 1.557 da Lei no 10.406, de 10 de
origem no território brasileiro.” (NR) janeiro de 2002 (Código Civil);
Art. 118. O inciso IV do art. 46 da Lei no 11.904, de 14 de VI - os incisos II e IV do art. 1.767 da Lei no 10.406, de 10
janeiro de 2009, passa a vigorar acrescido da seguinte alínea de janeiro de 2002 (Código Civil);
“k”: VII - os arts. 1.776 e 1.780 da Lei no 10.406, de 10 de ja-
“Art. 46. ...................................................................... neiro de 2002 (Código Civil).
........................................................................................... Art. 124. O § 1o do art. 2o desta Lei deverá entrar em vigor
IV - .............................................................................. em até 2 (dois) anos, contados da entrada em vigor desta Lei.
........................................................................................... Art. 125. Devem ser observados os prazos a seguir dis-
k) de acessibilidade a todas as pessoas. criminados, a partir da entrada em vigor desta Lei, para o
.................................................................................” (NR) cumprimento dos seguintes dispositivos:
Art. 119. A Lei no 12.587, de 3 de janeiro de 2012, passa a I - incisos I e II do § 2o do art. 28, 48 (quarenta e oito)
vigorar acrescida do seguinte art. 12-B: meses;
“Art. 12-B. Na outorga de exploração de serviço de táxi, II - § 6o do art. 44, 48 (quarenta e oito) meses;
reservar-se-ão 10% (dez por cento) das vagas para conduto- III - art. 45, 24 (vinte e quatro) meses;
res com deficiência. IV - art. 49, 48 (quarenta e oito) meses.

181
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

Art. 126. Prorroga-se até 31 de dezembro de 2021 a vi- § 1o Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas
gência da Lei no 8.989, de 24 de fevereiro de 1995. do conhecimento, o curso normal de nível médio, o curso
Art. 127. Esta Lei entra em vigor após decorridos 180 normal superior, o curso de Pedagogia e o curso de Edu-
(cento e oitenta) dias de sua publicação oficial. cação Especial são considerados cursos de formação de
Brasília, 6 de julho de 2015; 194o  da Independência e professores e profissionais da educação para o exercício do
127  da República.
o
magistério.
DILMA ROUSSEF § 2o A Libras constituir-se-á em disciplina curricular opta-
Marivaldo de Castro Pereira tiva nos demais cursos de educação superior e na educação
Joaquim Vieira Ferreira Levy profissional, a partir de um ano da publicação deste Decreto.
Renato Janine Ribeiro
Armando Monteiro CAPÍTULO III
Nelson Barbosa DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LIBRAS E DO
Gilberto Kassab
INSTRUTOR DE LIBRAS
Luis Inácio Lucena Adams
Gilberto José Spier Vargas
Art. 4o A formação de docentes para o ensino de Libras
Guilherme Afif Domingos
Este texto não substitui o publicado no DOU de 7.7.2015 nas séries finais do ensino fundamental, no ensino médio e
na educação superior deve ser realizada em nível superior,
em curso de graduação de licenciatura plena em Letras: Li-
bras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa como segunda
DECRETO Nº. 5.626/05 – DISPÕE SOBRE A língua.
LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS (LIBRAS). Parágrafo único. As pessoas surdas terão prioridade nos
cursos de formação previstos no caput.
Art. 5o A formação de docentes para o ensino de Libras
na educação infantil e nos anos iniciais do ensino funda-
DECRETO Nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005. mental deve ser realizada em curso de Pedagogia ou curso
Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que normal superior, em que Libras e Língua Portuguesa escrita
dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 tenham constituído línguas de instrução, viabilizando a for-
da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. mação bilíngue.
§ 1o Admite-se como formação mínima de docentes para
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do
que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo ensino fundamental, a formação ofertada em nível médio na
em vista o disposto na Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, modalidade normal, que viabilizar a formação bilíngue, refe-
e no art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000, rida no caput.
§ 2o As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de
DECRETA: formação previstos no caput.
CAPÍTULO I Art. 6o A formação de instrutor de Libras, em nível médio,
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES deve ser realizada por meio de:
I - cursos de educação profissional;
Art. 1o Este Decreto regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril II - cursos de formação continuada promovidos por ins-
de 2002, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000.
tituições de ensino superior; e
Art. 2o Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa
III - cursos de formação continuada promovidos por ins-
surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e in-
tituições credenciadas por secretarias de educação.
terage com o mundo por meio de experiências visuais, ma-
nifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua § 1o A formação do instrutor de Libras pode ser realizada
Brasileira de Sinais - Libras. também por organizações da sociedade civil representativa
Parágrafo único. Considera-se deficiência auditiva a per- da comunidade surda, desde que o certificado seja convali-
da bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) dado por pelo menos uma das instituições referidas nos in-
ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, cisos II e III.
1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. § 2o As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de
formação previstos no caput.
CAPÍTULO II Art. 7o Nos próximos dez anos, a partir da publicação
DA INCLUSÃO DA LIBRAS COMO DISCIPLINA CUR- deste Decreto, caso não haja docente com título de pós-
RICULAR graduação ou de graduação em Libras para o ensino dessa
disciplina em cursos de educação superior, ela poderá ser
Art. 3o A Libras deve ser inserida como disciplina curricu- ministrada por profissionais que apresentem pelo menos um
lar obrigatória nos cursos de formação de professores para dos seguintes perfis:
o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos I - professor de Libras, usuário dessa língua com curso de
cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas pós-graduação ou com formação superior e certificado de
e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de proficiência em Libras, obtido por meio de exame promovido
ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. pelo Ministério da Educação;

182
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

II - instrutor de Libras, usuário dessa língua com forma- II - de licenciatura em Letras: Libras ou em Letras: Libras/
ção de nível médio e com certificado obtido por meio de Língua Portuguesa, como segunda língua para surdos;
exame de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério III  -  de formação em Tradução e Interpretação de Li-
da Educação; bras - Língua Portuguesa.
III - professor ouvinte bilíngue: Libras - Língua Portugue- Art. 12. As instituições de educação superior, principal-
sa, com pós-graduação ou formação superior e com certifi- mente as que ofertam cursos de Educação Especial, Pedago-
cado obtido por meio de exame de proficiência em Libras, gia e Letras, devem viabilizar cursos de pós-graduação para
promovido pelo Ministério da Educação. a formação de professores para o ensino de Libras e sua in-
§ 1o Nos casos previstos nos incisos I e II, as pessoas sur- terpretação, a partir de um ano da publicação deste Decreto.
das terão prioridade para ministrar a disciplina de Libras. Art. 13. O ensino da modalidade escrita da Língua Por-
§ 2o A partir de um ano da publicação deste Decreto, os tuguesa, como segunda língua para pessoas surdas, deve ser
sistemas e as instituições de ensino da educação básica e as incluído como disciplina curricular nos cursos de formação
de educação superior devem incluir o professor de Libras em de professores para a educação infantil e para os anos iniciais
seu quadro do magistério. do ensino fundamental, de nível médio e superior, bem como
Art. 8o O exame de proficiência em Libras, referido no art. nos cursos de licenciatura em Letras com habilitação em Lín-
7 , deve avaliar a fluência no uso, o conhecimento e a com-
o gua Portuguesa.
petência para o ensino dessa língua. Parágrafo único. O tema sobre a modalidade escrita da
§ 1o O exame de proficiência em Libras deve ser promo- língua portuguesa para surdos deve ser incluído como con-
vido, anualmente, pelo Ministério da Educação e instituições teúdo nos cursos de Fonoaudiologia.
de educação superior por ele credenciadas para essa finali-
dade. CAPÍTULO IV
§ 2o A certificação de proficiência em Libras habilitará o DO USO E DA DIFUSÃO DA LIBRAS E DA LÍNGUA
instrutor ou o professor para a função docente. PORTUGUESA PARA O
§ 3o O exame de proficiência em Libras deve ser realizado ACESSO DAS PESSOAS SURDAS À EDUCAÇÃO
por banca examinadora de amplo conhecimento em Libras,
constituída por docentes surdos e linguistas de instituições Art. 14. As instituições federais de ensino devem garantir,
de educação superior. obrigatoriamente, às pessoas surdas acesso à comunicação,
Art. 9o A partir da publicação deste Decreto, as institui- à informação e à educação nos processos seletivos, nas ativi-
ções de ensino médio que oferecem cursos de formação para dades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos
o magistério na modalidade normal e as instituições de edu- os níveis, etapas e modalidades de educação, desde a educa-
cação superior que oferecem cursos de Fonoaudiologia ou ção infantil até à superior.
de formação de professores devem incluir Libras como disci- § 1o Para garantir o atendimento educacional especiali-
plina curricular, nos seguintes prazos e percentuais mínimos: zado e o acesso previsto no caput, as instituições federais de
I - até três anos, em vinte por cento dos cursos da insti- ensino devem:
tuição; I - promover cursos de formação de professores para:
II - até cinco anos, em sessenta por cento dos cursos da a) o ensino e uso da Libras;
instituição; b) a tradução e interpretação de Libras - Língua Portu-
III - até sete anos, em oitenta por cento dos cursos da guesa; e
instituição; e c) o ensino da Língua Portuguesa, como segunda língua
IV - dez anos, em cem por cento dos cursos da institui- para pessoas surdas;
ção. II - ofertar, obrigatoriamente, desde a educação infantil,
Parágrafo único. O processo de inclusão da Libras como o ensino da Libras e também da Língua Portuguesa, como
disciplina curricular deve iniciar-se nos cursos de Educação segunda língua para alunos surdos;
Especial, Fonoaudiologia, Pedagogia e Letras, ampliando-se III - prover as escolas com:
progressivamente para as demais licenciaturas. a) professor de Libras ou instrutor de Libras;
Art. 10. As instituições de educação superior devem in- b) tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa;
cluir a Libras como objeto de ensino, pesquisa e extensão nos c) professor para o ensino de Língua Portuguesa como
cursos de formação de professores para a educação básica, segunda língua para pessoas surdas; e
nos cursos de Fonoaudiologia e nos cursos de Tradução e d) professor regente de classe com conhecimento acerca
Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. da singularidade linguística manifestada pelos alunos surdos;
Art. 11. O Ministério da Educação promoverá, a partir da IV  -  garantir o atendimento às necessidades educacio-
publicação deste Decreto, programas específicos para a cria- nais especiais de alunos surdos, desde a educação infantil,
ção de cursos de graduação: nas salas de aula e, também, em salas de recursos, em turno
I - para formação de professores surdos e ouvintes, para contrário ao da escolarização;
a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, V - apoiar, na comunidade escolar, o uso e a difusão de
que viabilize a educação bilíngue: Libras - Língua Portuguesa Libras entre professores, alunos, funcionários, direção da es-
como segunda língua; cola e familiares, inclusive por meio da oferta de cursos;

183
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

VI  -  adotar mecanismos de avaliação coerentes com III - cursos de formação continuada promovidos por ins-
aprendizado de segunda língua, na correção das provas es- tituições de ensino superior e instituições credenciadas por
critas, valorizando o aspecto semântico e reconhecendo a secretarias de educação.
singularidade linguística manifestada no aspecto formal da Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de
Língua Portuguesa; Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil
VII - desenvolver e adotar mecanismos alternativos para representativas da comunidade surda, desde que o certifi-
a avaliação de conhecimentos expressos em Libras, desde cado seja convalidado por uma das instituições referidas no
que devidamente registrados em vídeo ou em outros meios inciso III.
eletrônicos e tecnológicos; Art. 19. Nos próximos dez anos, a partir da publicação
VIII - disponibilizar equipamentos, acesso às novas tec- deste Decreto, caso não haja pessoas com a titulação exigida
nologias de informação e comunicação, bem como recursos para o exercício da tradução e interpretação de Libras - Lín-
didáticos para apoiar a educação de alunos surdos ou com gua Portuguesa, as instituições federais de ensino devem in-
deficiência auditiva. cluir, em seus quadros, profissionais com o seguinte perfil:
§ 2o O professor da educação básica, bilíngue, aprovado I - profissional ouvinte, de nível superior, com competên-
em exame de proficiência em tradução e interpretação de cia e fluência em Libras para realizar a interpretação das duas
Libras - Língua Portuguesa, pode exercer a função de tradu- línguas, de maneira simultânea e consecutiva, e com aprova-
tor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, cuja função é ção em exame de proficiência, promovido pelo Ministério da
distinta da função de professor docente. Educação, para atuação em instituições de ensino médio e de
§ 3o As instituições privadas e as públicas dos sistemas de educação superior;
ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal bus- II - profissional ouvinte, de nível médio, com competên-
carão implementar as medidas referidas neste artigo como cia e fluência em Libras para realizar a interpretação das duas
meio de assegurar atendimento educacional especializado línguas, de maneira simultânea e consecutiva, e com aprova-
aos alunos surdos ou com deficiência auditiva. ção em exame de proficiência, promovido pelo Ministério da
Art. 15. Para complementar o currículo da base nacional Educação, para atuação no ensino fundamental;
comum, o ensino de Libras e o ensino da modalidade escri-
III - profissional surdo, com competência para realizar a
ta da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos
interpretação de línguas de sinais de outros países para a Li-
surdos, devem ser ministrados em uma perspectiva dialógica,
bras, para atuação em cursos e eventos.
funcional e instrumental, como:
Parágrafo único. As instituições privadas e as públicas
I  -  atividades ou complementação curricular específica
dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Dis-
na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental; e
trito Federal buscarão implementar as medidas referidas nes-
II - áreas de conhecimento, como disciplinas curriculares,
te artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com
nos anos finais do ensino fundamental, no ensino médio e na
deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e
educação superior.
Art. 16. A modalidade oral da Língua Portuguesa, na edu- à educação.
cação básica, deve ser ofertada aos alunos surdos ou com Art. 20. Nos próximos dez anos, a partir da publicação
deficiência auditiva, preferencialmente em turno distinto ao deste Decreto, o Ministério da Educação ou instituições de
da escolarização, por meio de ações integradas entre as áreas ensino superior por ele credenciadas para essa finalidade
da saúde e da educação, resguardado o direito de opção da promoverão, anualmente, exame nacional de proficiência em
família ou do próprio aluno por essa modalidade. tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa.
Parágrafo único. A definição de espaço para o desenvol- Parágrafo  único. O exame de proficiência em tradução
vimento da modalidade oral da Língua Portuguesa e a defi- e interpretação de Libras - Língua Portuguesa deve ser reali-
nição dos profissionais de Fonoaudiologia para atuação com zado por banca examinadora de amplo conhecimento dessa
alunos da educação básica são de competência dos órgãos função, constituída por docentes surdos, linguistas e tradu-
que possuam estas atribuições nas unidades federadas. tores e intérpretes de Libras de instituições de educação su-
perior.
CAPÍTULO V Art. 21. A partir de um ano da publicação deste Decreto,
DA FORMAÇÃO DO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE as instituições federais de ensino da educação básica e da
LIBRAS - LÍNGUA PORTUGUESA educação superior devem incluir, em seus quadros, em todos
os níveis, etapas e modalidades, o tradutor e intérprete de
Art. 17. A formação do tradutor e intérprete de Li- Libras - Língua Portuguesa, para viabilizar o acesso à comu-
bras - Língua Portuguesa deve efetivar-se por meio de curso nicação, à informação e à educação de alunos surdos.
superior de Tradução e Interpretação, com habilitação em Li- § 1o O profissional a que se refere o caput atuará:
bras - Língua Portuguesa. I - nos processos seletivos para cursos na instituição de
Art. 18. Nos próximos dez anos, a partir da publicação ensino;
deste Decreto, a formação de tradutor e intérprete de Li- II - nas salas de aula para viabilizar o acesso dos alunos
bras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada aos conhecimentos e conteúdos curriculares, em todas as ati-
por meio de: vidades didático-pedagógicas; e
I - cursos de educação profissional; III - no apoio à acessibilidade aos serviços e às ativida-
II - cursos de extensão universitária; e des-fim da instituição de ensino.

184
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

§ 2o As instituições privadas e as públicas dos sistemas de CAPÍTULO VII


ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal bus- DA GARANTIA DO DIREITO À SAÚDE DAS PESSOAS
carão implementar as medidas referidas neste artigo como SURDAS OU
meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência au- COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
ditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação.
Art. 25. A partir de um ano da publicação deste Decreto,
CAPÍTULO VI o Sistema Único de Saúde - SUS e as empresas que detêm
DA GARANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO DAS PES- concessão ou permissão de serviços públicos de assistência
SOAS SURDAS OU à saúde, na perspectiva da inclusão plena das pessoas surdas
COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA ou com deficiência auditiva em todas as esferas da vida social,
devem garantir, prioritariamente aos alunos matriculados nas
Art. 22. As instituições federais de ensino responsáveis redes de ensino da educação básica, a atenção integral à sua
pela educação básica devem garantir a inclusão de alunos saúde, nos diversos níveis de complexidade e especialidades
surdos ou com deficiência auditiva, por meio da organização médicas, efetivando:
de:
I - ações de prevenção e desenvolvimento de programas
I - escolas e classes de educação bilíngue, abertas a alu-
de saúde auditiva;
nos surdos e ouvintes, com professores bilíngues, na educa-
II - tratamento clínico e atendimento especializado, res-
ção infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental;
II - escolas bilíngues ou escolas comuns da rede regular peitando as especificidades de cada caso;
de ensino, abertas a alunos surdos e ouvintes, para os anos III - realização de diagnóstico, atendimento precoce e do
finais do ensino fundamental, ensino médio ou educação encaminhamento para a área de educação;
profissional, com docentes das diferentes áreas do conhe- IV - seleção, adaptação e fornecimento de prótese audi-
cimento, cientes da singularidade linguística dos alunos sur- tiva ou aparelho de amplificação sonora, quando indicado;
dos, bem como com a presença de tradutores e intérpretes V - acompanhamento médico e fonoaudiológico e tera-
de Libras - Língua Portuguesa. pia fonoaudiológica;
§ 1o São denominadas escolas ou classes de educação VI - atendimento em reabilitação por equipe multipro-
bilíngue aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da fissional;
Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no VII  -  atendimento fonoaudiológico às crianças, adoles-
desenvolvimento de todo o processo educativo. centes e jovens matriculados na educação básica, por meio
§ 2o Os alunos têm o direito à escolarização em um turno de ações integradas com a área da educação, de acordo com
diferenciado ao do atendimento educacional especializado as necessidades terapêuticas do aluno;
para o desenvolvimento de complementação curricular, com VIII - orientações à família sobre as implicações da surdez
utilização de equipamentos e tecnologias de informação. e sobre a importância para a criança com perda auditiva ter,
§ 3o As mudanças decorrentes da implementação dos desde seu nascimento, acesso à Libras e à Língua Portuguesa;
incisos I e II implicam a formalização, pelos pais e pelos pró- IX - atendimento às pessoas surdas ou com deficiência
prios alunos, de sua opção ou preferência pela educação sem auditiva na rede de serviços do SUS e das empresas que de-
o uso de Libras. têm concessão ou permissão de serviços públicos de assis-
§ 4o O disposto no § 2o deste artigo deve ser garantido tência à saúde, por profissionais capacitados para o uso de
também para os alunos não usuários da Libras. Libras ou para sua tradução e interpretação; e
Art. 23. As instituições federais de ensino, de educação X - apoio à capacitação e formação de profissionais da
básica e superior, devem proporcionar aos alunos surdos os rede de serviços do SUS para o uso de Libras e sua tradução
serviços de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portugue- e interpretação.
sa em sala de aula e em outros espaços educacionais, bem
§ 1o O disposto neste artigo deve ser garantido também
como equipamentos e tecnologias que viabilizem o acesso à
para os alunos surdos ou com deficiência auditiva não usuá-
comunicação, à informação e à educação.
rios da Libras.
§ 1o Deve ser proporcionado aos professores acesso à
literatura e informações sobre a especificidade linguística do § 2o O Poder Público, os órgãos da administração pú-
aluno surdo. blica estadual, municipal, do Distrito Federal e as empresas
§ 2o As instituições privadas e as públicas dos sistemas de privadas que detêm autorização, concessão ou permissão de
ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal bus- serviços públicos de assistência à saúde buscarão implemen-
carão implementar as medidas referidas neste artigo como tar as medidas referidas no art. 3o da Lei no 10.436, de 2002,
meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência au- como meio de assegurar, prioritariamente, aos alunos surdos
ditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação. ou com deficiência auditiva matriculados nas redes de ensi-
Art. 24. A programação visual dos cursos de nível médio no da educação básica, a atenção integral à sua saúde, nos
e superior, preferencialmente os de formação de professores, diversos níveis de complexidade e especialidades médicas.
na modalidade de educação a distância, deve dispor de sis-
temas de acesso à informação como janela com tradutor e
intérprete de Libras - Língua Portuguesa e subtitulação por
meio do sistema de legenda oculta, de modo a reproduzir as
mensagens veiculadas às pessoas surdas, conforme prevê o
Decreto no 5.296, de 2 de dezembro de 2004.

185
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

CAPÍTULO VIII Art. 30. Os órgãos da administração pública estadual,


DO PAPEL DO PODER PÚBLICO E DAS EMPRESAS municipal e do Distrito Federal, direta e indireta, viabilizarão
QUE DETÊM CONCESSÃO OU PERMISSÃO DE SERVIÇOS as ações previstas neste Decreto com dotações específicas
PÚBLICOS, NO APOIO AO USO E DIFUSÃO DA LIBRAS em seus orçamentos anuais e plurianuais, prioritariamente as
relativas à formação, capacitação e qualificação de professo-
Art. 26. A partir de um ano da publicação deste Decreto, res, servidores e empregados para o uso e difusão da Libras
o Poder Público, as empresas concessionárias de serviços pú- e à realização da tradução e interpretação de Libras - Língua
blicos e os órgãos da administração pública federal, direta e Portuguesa, a partir de um ano da publicação deste Decreto.
indireta devem garantir às pessoas surdas o tratamento dife- Art. 31. Este Decreto entra em vigor na data de sua pu-
renciado, por meio do uso e difusão de Libras e da tradução blicação.
e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, realizados por Brasília, 22 de dezembro de 2005; 184o da Independência
servidores e empregados capacitados para essa função, bem e 117o da República.
como o acesso às tecnologias de informação, conforme pre-
vê o Decreto no 5.296, de 2004.
§ 1o As instituições de que trata o caput devem dispor DECRETO Nº 7612/11 – INSTITUI O PLANO
de, pelo menos, cinco por cento de servidores, funcionários NACIONAL DOS DIREITOS DAS PESSOAS
e empregados capacitados para o uso e interpretação da Li- COM DEFICIÊNCIA – PLANO VIVER SEM
bras. LIMITES.
§ 2o O Poder Público, os órgãos da administração pública
estadual, municipal e do Distrito Federal, e as empresas pri-
vadas que detêm concessão ou permissão de serviços públi-
cos buscarão implementar as medidas referidas neste artigo DECRETO Nº 7.612, DE 17 DE NOVEMBRO DE 2011.
como meio de assegurar às pessoas surdas ou com deficiên-
cia auditiva o tratamento diferenciado, previsto no caput. Institui o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com De-
Art. 27. No âmbito da administração pública federal, ficiência - Plano Viver sem Limite.
direta e indireta, bem como das empresas que detêm con-
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso da atribuição
cessão e permissão de serviços públicos federais, os serviços
que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição,  
prestados por servidores e empregados capacitados para uti- DECRETA: 
lizar a Libras e realizar a tradução e interpretação de Libras - Art. 1o  Fica instituído o Plano Nacional dos Direitos da
Língua Portuguesa estão sujeitos a padrões de controle de Pessoa com Deficiência – Plano Viver sem Limite, com a fina-
atendimento e a avaliação da satisfação do usuário dos servi- lidade de promover, por meio da integração e articulação de
ços públicos, sob a coordenação da Secretaria de Gestão do políticas, programas e ações, o exercício pleno e equitativo
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, em con- dos direitos das pessoas com deficiência, nos termos da Con-
formidade com o Decreto no 3.507, de 13 de junho de 2000. venção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com De-
Parágrafo único. Caberá à administração pública no âm- ficiência e seu Protocolo Facultativo, aprovados por meio do
bito estadual, municipal e do Distrito Federal disciplinar, em Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008, com sta-
regulamento próprio, os padrões de controle do atendimen- tus de emenda constitucional, e promulgados pelo Decreto
to e avaliação da satisfação do usuário dos serviços públicos, no 6.949, de 25 de agosto de 2009. 
referido no caput. Parágrafo único.  O Plano Viver sem Limite será executa-
do pela União em colaboração com Estados, Distrito Federal,
Municípios, e com a sociedade.  
CAPÍTULO IX
Art. 2o  São consideradas pessoas com deficiência aque-
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS las que têm impedimentos de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com
Art. 28. Os órgãos da administração pública federal, di- diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e
reta e indireta, devem incluir em seus orçamentos anuais e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as de-
plurianuais dotações destinadas a viabilizar ações previstas mais pessoas. 
neste Decreto, prioritariamente as relativas à formação, capa- Art. 3o  São diretrizes do Plano Viver sem Limite:
citação e qualificação de professores, servidores e emprega- I - garantia de um sistema educacional inclusivo;
dos para o uso e difusão da Libras e à realização da tradução II - garantia de que os equipamentos públicos de educa-
e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, a partir de um ção sejam acessíveis para as pessoas com deficiência, inclusi-
ano da publicação deste Decreto. ve por meio de transporte adequado;
Art. 29. O Distrito Federal, os Estados e os Municípios, no III - ampliação da participação das pessoas com deficiên-
âmbito de suas competências, definirão os instrumentos para cia no mercado de trabalho, mediante sua capacitação e qua-
lificação profissional;
a efetiva implantação e o controle do uso e difusão de Libras
IV  -  ampliação do acesso das pessoas com deficiência
e de sua tradução e interpretação, referidos nos dispositivos às políticas de assistência social e de combate à extrema po-
deste Decreto. breza;

186
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

V - prevenção das causas de deficiência; V - Ministério da Fazenda;


VI - ampliação e qualificação da rede de atenção à saúde VI - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
da pessoa com deficiência, em especial os serviços de habili- Fome;
tação e reabilitação; VII - Ministério da Saúde;
VII - ampliação do acesso das pessoas com deficiência à VIII - Ministério da Educação;
habitação adaptável e com recursos de acessibilidade; e IX - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação;
VIII - promoção do acesso, do desenvolvimento e da ino- X - Ministério da Previdência Social;
vação em tecnologia assistiva.  XI - Ministério das Cidades;
Art. 4o  São eixos de atuação do Plano Viver sem Limite: XII - Ministério do Esporte;
I - acesso à educação; XIII - Ministério do Trabalho e Emprego;
II - atenção à saúde; XIV - Ministério das Comunicações; e
III - inclusão social; e XV - Ministério da Cultura. 
IV - acessibilidade.  § 2o  Os membros do Grupo Interministerial de Articu-
Parágrafo único.  As políticas, programas e ações inte- lação e Monitoramento serão indicados pelos titulares dos
grantes do Plano Viver sem Limite e suas respectivas metas respectivos órgãos e designados em ato do Ministro de Esta-
serão definidos pelo Comitê Gestor de que trata o art. 5o.  do Chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência
Art. 5o  Ficam instituídas as seguintes instâncias de ges- da República. 
tão do Plano Viver sem Limite: § 3o  Poderão ser convidados para as reuniões do Grupo
I - Comitê Gestor; e Interministerial de Articulação e Monitoramento represen-
II - Grupo Interministerial de Articulação e Monitoramen- tantes de entidades e órgãos públicos e privados, dos Pode-
to.  res Legislativo e Judiciário e do Ministério Público, bem como
§ 1o  O apoio administrativo necessário ao funcionamen- especialistas, para emitir pareceres e fornecer informações. 
to das instâncias de gestão será prestado pela Secretaria de § 4o  O Grupo Interministerial de Articulação e Monito-
Direitos Humanos da Presidência da República.   ramento apresentará periodicamente informações sobre a
implementação do Plano ao Conselho Nacional dos Direitos
§ 2o  Poderão ser constituídos, no âmbito da gestão do
da Pessoa com Deficiência. 
Plano Viver sem Limite, grupos de trabalho temáticos desti-
Art. 8o  Os órgãos envolvidos na implementação do Pla-
nados ao estudo e à elaboração de propostas sobre temas
no deverão assegurar a disponibilização, em sistema especí-
específicos. 
fico, de informações sobre as políticas, programas e ações a
§ 3o  A participação nas instâncias de gestão ou nos gru-
serem implementados, suas respectivas dotações orçamen-
pos de trabalho será considerada prestação de serviço públi-
tárias e os resultados da execução no âmbito de suas áreas
co relevante, não remunerada. 
de atuação.
Art. 6o  Compete ao Comitê Gestor do Plano Viver sem
Art. 9o  A vinculação do Município, Estado ou Distrito Fe-
Limite definir as políticas, programas e ações, fixar metas e deral ao Plano Viver sem Limite ocorrerá por meio de termo
orientar a formulação, a implementação, o monitoramento e de adesão voluntária, com objeto conforme às diretrizes es-
a avaliação do Plano.  tabelecidas neste Decreto.
Parágrafo único.  O Comitê Gestor será composto pelos § 1o  A adesão voluntária do ente federado ao Plano Viver
titulares dos seguintes órgãos: sem Limite implica a responsabilidade de priorizar medidas
I - Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da Re- visando à promoção do exercício pleno dos direitos das pes-
pública, que o coordenará; soas com deficiência, a partir dos eixos de atuação previstos
II - Casa Civil da Presidência da República; neste Decreto. 
III - Secretaria-Geral da Presidência da República; § 2o  Poderão ser instituídas instâncias locais de acom-
IV - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; panhamento da execução do Plano nos âmbitos estadual e
V - Ministério da Fazenda; e municipal. 
VI - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Art. 10.  Para a execução do Plano Viver sem Limite pode-
Fome.  rão ser firmados convênios, acordos de cooperação, ajustes
Art. 7o  Compete ao Grupo Interministerial de Articula- ou instrumentos congêneres, com órgãos e entidades da ad-
ção e Monitoramento do Plano Viver sem Limite promover a ministração pública federal, dos Estados, do Distrito Federal
articulação dos órgãos e entidades envolvidos na implemen- e dos Municípios, com consórcios públicos ou com entidades
tação do Plano, com vistas a assegurar a execução, monito- privadas. 
ramento e avaliação das suas políticas, programas e ações.  Art. 11.  O Plano Viver sem Limite será custeado por:
§ 1o  O Grupo Interministerial de Articulação e Monitora- I - dotações orçamentárias da União consignadas anual-
mento será composto por representantes, titular e suplente, mente nos orçamentos dos órgãos e entidades envolvidos
dos seguintes órgãos: na implementação do Plano, observados os limites de movi-
I - Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da Re- mentação, de empenho e de pagamento fixados anualmen-
pública, que o coordenará; te;
II - Casa Civil da Presidência da República; II - recursos oriundos dos órgãos participantes do Plano
III - Secretaria-Geral da Presidência da República; Viver sem Limite que não estejam consignados nos Orça-
IV - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; mentos Fiscal e da Seguridade Social da União; e

187
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

III - outras fontes de recursos destinadas por Estados, 02) No tocante ao ECA, com base no entendimento dos
Distrito Federal, Municípios, ou outras entidades públicas e tribunais superiores, assinale a opção correta.
privadas.   A. A participação de menores de idade em qualquer
Art. 12.  Fica instituído o Comitê Interministerial de Tec- conduta criminosa é suficiente para autorizar a condenação,
nologia Assistiva, com a finalidade de formular, articular e pela prática do crime de corrupção de menores de idade, dos
implementar políticas, programas e ações para o fomento ao agentes capazes envolvidos no mesmo ato.
acesso, desenvolvimento e inovação em tecnologia assistiva.  B. Admite-se cumular a remissão concedida pelo parquet
§ 1o   O Comitê Interministerial de Tecnologia Assistiva na fase pré-processual, como forma de exclusão do proces-
será composto por representantes, titular e suplente, dos se- so, com a aplicação de medida socioeducativa de liberdade
guintes órgãos: assistida.
I  -  Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que o C. A medida de internação aplicada aos casos de ato
coordenará; infracional cometido mediante grave ameaça ou violência
II - Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da Re- à pessoa depende da prática de, pelo menos, três infrações
pública; graves.
III - Ministério da Fazenda; D. Na apuração de ato infracional cometido por adoles-
IV - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; cente, caso seja imposta medida socioeducativa, o juiz deverá
V - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio observar as circunstâncias atenuantes e agravantes previstas
Exterior; no CP.
VI - Ministério da Educação; e E. Não é admitido, na apuração de ato infracional equi-
VII - Ministério da Saúde.  parado a crime contra o patrimônio, o benefício da escusa
§ 2o  Ato do Ministro de Estado da Ciência, Tecnologia absolutória prevista no CP.
e Inovação estabelecerá regras complementares necessárias
ao funcionamento do Comitê Interministerial de Tecnologia Resposta: B
Assistiva. 
§ 3o  Poderão ser convidados para as reuniões do Comi- 03) João, aos dezessete anos de idade, foi apreendido
tê Interministerial de Tecnologia Assistiva representantes de em flagrante de ato infracional descrito como crime de homi-
outros órgãos e entidades da administração pública federal.  cídio, razão pela qual lhe foi aplicada medida de internação
Art. 13.  Os termos de adesão ao Compromisso pela In- provisória e, depois, medida socioeducativa de internação
em estabelecimento educacional. Ambas as medidas devem
clusão das Pessoas com Deficiência firmados sob a vigência
ser reavaliadas, no máximo, a cada seis meses.
do Decreto no 6.215, de 26 de setembro de 2007, perma-
Nessa situação hipotética,
necerão válidos e poderão ser aditados para adequação às
A. a internação, antes da sentença, pode ser determina-
diretrizes e eixos de atuação do Plano Viver sem Limite. 
da pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias, contados
Art. 14.  Este Decreto entra em vigor na data de sua pu-
a partir da data da decisão judicial e, no caso de liberação
blicação. 
e posterior renovação da internação provisória, será iniciada
Art. 15.  Fica revogado o Decreto no 6.215, de 26 de se-
nova contagem por igual período.
tembro de 2007. 
B. a realização da entrevista pessoal feita pela defesa téc-
Brasília, 17 de novembro de 2011; 190o da Independên-
nica com o socioeducando para o exercício das suas garan-
cia e 123o da República.  
tias individuais e processuais será assegurada apenas durante
o processo de execução das medidas socioeducativas priva-
tivas de liberdade.
C. para a reavaliação da medida aplicada, a autoridade
EXERCÍCIOS judiciária poderá designar audiência, sendo a gravidade do
ato infracional fator que isoladamente justifica a não substi-
01) Julgue os itens a seguir, considerando o disposto tuição da medida por outra menos grave.
na CF e na legislação aplicável aos direitos da criança e do D. o prazo para a reavaliação das medidas aplicadas deve
adolescente. A garantia, com absoluta prioridade, ao jovem ser contado a partir da data da apreensão de João, poden-
e ao adolescente, do direito à vida, à saúde e à educação, do a reavaliação ser processada logo após o recebimento do
entre outros direitos, compreende destinação privilegiada de relatório enviado pela unidade de internação, independente-
recursos públicos municipais necessários ao funcionamento mente do escoamento do prazo.
dos conselhos tutelares e à remuneração e formação conti- E. a autoridade judiciária não poderá determinar reiní-
nuada dos conselheiros tutelares. cio de cumprimento de medida socioeducativa, mesmo na
C. Certo hipótese de a medida ter sido aplicada por ato infracional
E. Errado praticado durante a execução.

Resposta: Certo Resposta: D

188
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

04) Durante inspeção da entidade de execução de medi-


da socioeducativa de internação em estabelecimento educa- ANOTAÇÕES
cional, foi apurado que a instituição inspecionada não propi-
cia escolarização e profissionalização.
__________________________________________________
Nessa situação hipotética, a instituição poderá ser pena-
lizada com ___________________________________________________
A. afastamento provisório de seus dirigentes, apenas no
___________________________________________________
caso de entidade não governamental.
B. suspensão total ou parcial do repasse de verbas públi- ___________________________________________________
cas, no caso de entidade governamental.
C. afastamento definitivo de seus dirigentes, no caso de ___________________________________________________
entidade não governamental.
D. fechamento da unidade ou interdição do programa, ___________________________________________________
no caso de entidade governamental. ___________________________________________________
E. advertência, apenas no caso de entidade não gover-
namental. ___________________________________________________

Resposta: D ___________________________________________________

05) Acerca da proteção a grupos vulneráveis, julgue os ___________________________________________________


seguintes itens. O reconhecimento da ascendência quilom- ___________________________________________________
bola pelas autoridades federais independe de a própria co-
munidade atribuir-se essa característica. ___________________________________________________
C. Certo
E. Errado ___________________________________________________

___________________________________________________
Resposta: Errado
___________________________________________________

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189
CONHECIMENTOS GERAIS DE EDUCAÇÃO E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I

ANOTAÇÕES

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190
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Resoluções da Câmara de Educação Básica – 2008 a2012...................................................................................................................... 01


Coleção Educação Especial na Perspectiva da inclusão Escolar, fascículo 2 - Deficiência Intelectual - MEC;.................76
Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade - Atendimento Educacional Especializado (AEE) - Deficiência
Mental – MEC....................................................................................................................................................................................................84
____________. Indagações sobre o Currículo: - Caderno 1 – Os Educandos, seus direitos e o Currículo – Arroyo, Miguel;.............. 103
Caderno 2 – Currículo e Desenvolvimento Humano – Elvira Souza Lima;.......................................................................................105
Caderno 3 – Currículo, Conhecimento e Cultura – Antonio Flávio Moreira e Vera Maria Candau;........................................106
Currículo e Avaliação – Claudia Moreira Fernandes e Luiz Carlos de Freitas..................................................................................107
______________. Os ciclos de aprendizagem. Um caminho para combater o fracasso escolar. Porto Alegre: Artmed,
2004........................................................................................................................................................................................................................ 109
BRASIL. Política Nacional da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008.......110
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. 21ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002......................................................................................116
GADOTTI, M. Educação Integral no Brasil: inovações em processo. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire,
2009.............................................................................................................................................................................................................................121
GOMES, Adriana L. Limaverde, POULIN, Jean-Robert, FIGUEIREDO, Rita Vieira. Atendimento Educacional Especializado
do aluno com deficiência intelectual. São Paulo: Moderna, 2010.......................................................................................................122
GOMES, Adriana L.V; FERNANDES, A.C.; BATISTA, C.A.M; SALUSTIANO, D.A.; MANTOAN, M.T.E.; FIGUIREDO, R.V.
¨ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO Deficiência Mental¨, SEESP/MEC, UFC, 2007............................................122
HARGREAVES, A. O Ensino na sociedade do conhecimento: educação na era da insegurança. Porto Alegre: Artmed,
2004.............................................................................................................................................................................................................................122
HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover. Porto Alegre: Mediação, 2002................................................................................125
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – Ensino Fundamental de Nove Anos – Orientações para a inclusão da criança de seis anos
de idade. Brasília: FNDE, Estação Gráfica, 2006..........................................................................................................................................128
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, UNESCO, 2000.......................................129
Os quatro pilares da Educação – MEC/UNESCO........................................................................................................................................129
PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000..................................................................131
RIOS, T. A. Compreender e ensinar: por uma docência da melhor qualidade. São Paulo: Cortez, 2001..............................134
ROPOLI, E. A.; MANTOAN, M. T. E.; SANTOS, M. T. C. T.; MACHADO, R. A educação especial na perspectiva da inclusão
escolar: a escola comum inclusiva, 2010, organização UFC - apoio MEC/SEESP...........................................................................136
STAINBACK, S. ¨INCLUSÃO¨, ArtmedEditora...............................................................................................................................................136
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002...........................................................................139
Tecnologia Educacional: Descubra Suas Possibilidades na Sala de Aula. Ligia Silva Leite- Editora Vozes...........................140
VASCONCELLOS, Celso S. Planejamento - Projeto de Ensino Aprendizagem e Projeto Político Pedagógico, São Paulo:
Libertad, 2002..........................................................................................................................................................................................................140
VYGOTSKY, L.S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001........................................141
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

II – pósgraduados em cursos de especialização para a


RESOLUÇÕES DA CÂMARA DE EDUCAÇÃO formação de docentes para a Educação Profissional Técni-
BÁSICA – 2008 A2012 ca de nível médio, estruturados por área ou habilitação
profissional;
III – graduados bacharéis e tecnólogos com diploma de
Mestrado ou Doutorado na área do componente curricular
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO da Educação Profissional Técnica de nível médio.
Art. 5º Integra o magistério da Educação Básica, na mo-
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE dalidade de Educação Especial, para alunos com deficiência
EDUCAÇÃO BÁSICA auditiva e da fala, além do licenciado, o docente Instrutor
de LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais.
RESOLUÇÃO Nº 1, DE 27 DE MARÇO DE 2008 (*) (**) Art. 6º Integra o magistério da Educação Básica, na
modalidade de Educação Indígena, o docente professor
Define os profissionais do magistério, para efeito da indígena sem prévia formação pedagógica, até que possua
aplicação do art. 22 da Lei nº 11.494/2007, que re- a formação requerida, garantida sua formação em serviço.
gulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Parágrafo único. Analogamente, na mesma condi-
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Edu- ção, integra o magistério da Educação Básica o docente
cação – FUNDEB. professor de comunidade quilombola.
A Presidenta da Câmara de Educação Básica do Con- Art. 7º Excepcionalmente, podem ser considerados do-
selho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições centes integrantes do magistério da Educação Básica, para
legais, e de conformidade com o disposto na alínea “c” do efeito da destinação de recursos nos termos do artigo 22
§ 1º do artigo 9º da Lei nº 4.024/61, com a redação dada da Lei nº 11.494/2007:
pela Lei nº 9.131/95, com fundamento no Parecer CNE/CEB I – na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino
nº 24/2007, homologado por despacho do Senhor Ministro Fundamental: os profissionais não habilitados, porém, au-
de Estado da Educação, publicado no DOU de 24/3/2008, torizados a exercer a docência pelo órgão competente do
resolve: respectivo sistema de ensino, em caráter precário e provi-
Art.1º Para aplicação do inciso II do parágrafo úni- sório;
co do art. 22 da Lei nº 11.494/2007, que regulamenta II – nos anos finais do Ensino Fundamental e no
o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Ensino Médio: os graduados bacharéis e tecnólogos que,
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – na falta de licenciados, recebem autorização do órgão
FUNDEB, para efeito da destinação ao pagamento da re- competente de cada sistema de ensino, em caráter precá-
muneração dos profissionais do magistério da Educação rio e provisório, para exercer a docência;
Básica em efetivo exercício na rede pública de, pelo menos, III – no Ensino Médio integrado com a Educação Profis-
60% (sessenta por cento) dos recursos anuais totais dos sional Técnica de nível médio: a) os graduados bacharéis
Fundos, são considerados profissionais do magistério os e tecnólogos que, na falta de licenciados, recebem
autorização do órgão competente de cada sistema, em ca-
indicados nos artigos 2º a 7° desta Resolução, que tive-
ráter precário e provisório, para exercer a docência e aos
rem seu ingresso mediante concurso público específico
quais se proporcione formação pedagógica em serviço;
e, excepcionalmente, contratação ou designação de acordo
b) os profissionais experientes, não graduados, que fo-
com legislação e normas que regem o respectivo sistema
rem devidamente autorizados a exercer a docência pelo
de ensino.
órgão competente, em caráter precário e provisório, des-
Art. 2º Integram o magistério da Educação Básica, nas
de que preparados em serviço para esse magistério.
etapas da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino
Art. 8º Integram o magistério da Educação Básica os
Fundamental, os docentes habilitados em curso Normal de
profissionais que dão suporte pedagógico direto ao
nível médio, em curso Normal Superior e em curso de Pe-
exercício da docência, exercendo as funções de dire-
dagogia, assim como em programa especial devidamente ção ou administração escolar, planejamento, inspeção,
autorizado pelo respectivo sistema de ensino. supervisão, orientação educacional e coordenação pe-
Art. 3º Integram o magistério da Educação Básica, nas dagógica:
etapas dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino I – os licenciados em Pedagogia ou os formados em
Médio, os docentes habilitados em cursos de licenciatura nível de pósgraduação;
plena e em Programa Especial de Formação Pedagógica de II – os docentes designados nos termos de legislação e
Docentes. normas do respectivo sistema de educação.
Art. 4º Integram o magistério da Educação Básica, de Art. 9º A definição, nos termos desta Resolução, de
componentes profissionalizantes do Ensino Médio integra- quem são os profissionais do magistério da Educação Bá-
do com a Educação Profissional Técnica de nível médio, os sica é unicamente para efeito de compreensão e aplica-
docentes: I – habilitados em cursos de licenciatura plena e ção do inciso II do parágrafo único do artigo 22 da Lei nº
em Programas Especiais de Formação Pedagógica de Do- 11.494/2007, referente à destinação de, pelo menos, 60%
centes; (sessenta por cento) dos recursos anuais totais dos Fundos

1
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

no pagamento da remuneração dos profissionais do ma- Art. 2º Os sistemas de ensino adotarão medidas que
gistério da Educação Básica em efetivo exercício na rede assegurem o cumprimento do artigo 6º da Resolução CNE/
pública, não tendo nenhum alcance ou relação com acesso, CEB nº 1/2002, quanto aos deveres dos Poderes Públicos
promoção, jornada de trabalho, aposentadoria ou quais- na oferta de Educação Básica às comunidades rurais.
quer outros aspectos referentes a carreiras de magistério Parágrafo único. A garantia a que se refere o caput,
das redes públicas de ensino, matérias estas tratadas pela sempre que necessário e adequado à melhoria da qualida-
legislação respectiva, Federal, Estadual, do Distrito Federal de do ensino, deverá ser feita em regime de colaboração
e dos Municípios. entre os Estados e seus Municípios ou mediante consórcios
Art. 10. Esta Resolução entra em vigor na data de sua municipais.
publicação, revogadas as disposições em contrário. Art. 3º A Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino
Fundamental serão sempre oferecidos nas próprias comu-
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIO- nidades rurais, evitandose os processos de nucleação de
NAL DE EDUCAÇÃO escolas e de deslocamento das crianças.
CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA § 1º Os cincos anos iniciais do Ensino Fundamental,
RESOLUÇÃO Nº 2, DE 28 DE ABRIL DE 2008 (*) excepcionalmente, poderão ser oferecidos em escolas
Estabelece diretrizes complementares, normas e princí- nucleadas, com deslocamento intracampo dos alunos, ca-
pios para o desenvolvimento de políticas públicas de aten- bendo aos sistemas estaduais e municipais estabelecer o
dimento da Educação Básica do Campo. tempo máximo dos alunos em deslocamento a partir de
A Presidenta da Câmara de Educação Básica do Con- suas realidades.
selho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições § 2º Em nenhuma hipótese serão agrupadas em uma
legais e de conformidade com o disposto na alínea “c” do mesma turma crianças de Educação Infantil com crianças
§ 1º do art. 9º da Lei nº 4.024/1961, com a redação dada do Ensino Fundamental.
pela Lei nº 9.131/1995, com fundamento no Parecer CNE/ Art. 4º Quando os anos iniciais do Ensino Fundamental
CEB nº 23/2007, reexaminado pelo Parecer CNE/CEB nº não puderem ser oferecidos nas próprias comunidades das
3/2008, homologado por despacho do Senhor Ministro crianças, a nucleação rural levará em conta a participação
de Estado da Educação, publicado no DOU de 11/4/2008, das comunidades interessadas na definição do local, bem
resolve: como as possibilidades de percurso a pé pelos alunos na
Art. 1º A Educação do Campo compreende a Educação menor distância a ser percorrida.
Básica em suas etapas de Educação Infantil, Ensino Funda- Parágrafo único. Quando se fizer necessária a adoção
mental, Ensino Médio e Educação Profissional Técnica de do transporte escolar, devem ser considerados o menor
nível médio integrada com o Ensino Médio e destinase ao tempo possível no percurso residênciaescola e a garantia
atendimento às populações rurais em suas mais variadas de transporte das crianças do campo para o campo.
formas de produção da vida – agricultores familiares, ex- Art. 5º Para os anos finais do Ensino Fundamental e
trativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados para o Ensino Médio, integrado ou não à Educação Pro-
e acampados da Reforma Agrária, quilombolas, caiçaras, fissional Técnica, a nucleação rural poderá constituirse em
indígenas e outros. melhor solução, mas deverá considerar o processo de diá-
§ 1º A Educação do Campo, de responsabilidade dos logo com as comunidades atendidas, respeitados seus va-
Entes Federados, que deverão estabelecer formas de co- lores e sua cultura.
laboração em seu planejamento e execução, terá como § 1º Sempre que possível, o deslocamento dos alunos,
objetivos a universalização do acesso, da permanência e como previsto no caput, deverá ser feito do campo para o
do sucesso escolar com qualidade em todo o nível da Edu- campo, evitandose, ao máximo, o deslocamento do campo
cação Básica. para a cidade.
§ 2º A Educação do Campo será regulamentada e ofe- § 2º Para que o disposto neste artigo seja cumprido,
recida pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municí- deverão ser estabelecidas regras para o regime de colabo-
pios, nos respectivos âmbitos de atuação prioritária. ração entre os Estados e seus Municípios ou entre Municí-
§ 3º A Educação do Campo será desenvolvida, prefe- pios consorciados.
rentemente, pelo ensino regular. Art. 6º A oferta de Educação de Jovens e Adultos tam-
§ 4º A Educação do Campo deverá atender, mediante bém deve considerar que os deslocamentos sejam feitos
procedimentos adequados, na modalidade da Educação nas menores distâncias possíveis, preservado o princípio
de Jovens e Adultos, as populações rurais que não tiveram intracampo.
acesso ou não concluíram seus estudos, no Ensino Funda- Art. 7º A Educação do Campo deverá oferecer sempre
mental ou no Ensino Médio, em idade própria. o indispensável apoio pedagógico aos alunos, incluindo
§ 5º Os sistemas de ensino adotarão providências para condições infraestruturais adequadas, bem como materiais
que as crianças e os jovens portadores de necessidades e livros didáticos, equipamentos, laboratórios, biblioteca e
especiais, objeto da modalidade de Educação Especial, re- áreas de lazer e desporto, em conformidade com a rea-
sidentes no campo, também tenham acesso à Educação lidade local e as diversidades dos povos do campo, com
Básica, preferentemente em escolas comuns da rede de atendimento ao art. 5º das Diretrizes Operacionais para a
ensino regular. Educação Básica nas escolas do campo.

2
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

§ 1º A organização e o funcionamento das escolas do setores que participam desse desenvolvimento, especial-
campo respeitarão as diferenças entre as populações aten- mente os Municípios, dada a sua condição de estarem mais
didas quanto à sua atividade econômica, seu estilo de vida, próximos dos locais em que residem as populações rurais.
sua cultura e suas tradições. Art. 12 Esta Resolução entra em vigor na data de sua
§ 2º A admissão e a formação inicial e continuada dos publicação, ficando ratificadas as Diretrizes Operacionais
professores e do pessoal de magistério de apoio ao traba- instituídas pela Resolução CNE/CEB nº 1/2002 e revogadas
lho docente deverão considerar sempre a formação peda- as disposições em contrário.
gógica apropriada à Educação do Campo e às oportunida-
des de atualização e aperfeiçoamento com os profissionais MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
comprometidos com suas especificidades.
Art. 8º O transporte escolar, quando necessário e indis- CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE
pensável, deverá ser cumprido de acordo com as normas EDUCAÇÃO BÁSICA
do Código Nacional de Trânsito quanto aos veículos utili-
zados. RESOLUÇÃO Nº 3, DE 9 DE JULHO DE 2008 (*) (**)
§ 1º Os contratos de transporte escolar observarão os Dispõe sobre a instituição e implantação do Catálogo
artigos 137, 138 e 139 do referido Código. Nacional de Cursos Técnicos de Nível Médio.
§ 2º O eventual transporte de crianças e jovens porta- O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con-
dores de necessidades especiais, em suas próprias comu- selho Nacional de Educação, em conformidade com o dis-
nidades ou quando houver necessidade de deslocamento posto na alínea “e” do § 1º do artigo 9° da Lei nº 4.024/61,
para a nucleação, deverá adaptarse às condições desses com a redação dada pela Lei nº 9.131/95, nos artigos 39 a
alunos, conforme leis específicas. 41 da Lei nº 9.394/96, no Decreto Federal nº 5.154/2004,
§ 3º Admitindo o princípio de que a responsabilida- e com fundamento no Parecer CNE/CEB nº 11/2008,
de pelo transporte escolar de alunos da rede municipal homologado por despacho do Senhor Ministro de Estado
seja dos próprios Municípios e de alunos da rede esta- da Educação, publicado no DOU de 7/7/2008, resolve:
dual seja dos próprios Estados, o regime de colaboração Art. 1º A presente Resolução disciplina a instituição e
entre os entes federados farseá em conformidade com a a implantação do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos
Lei nº 10.709/2003 e deverá prever que, em determina- de Nível Médio nas redes públicas e privadas de Educação
Profissional.
das circunstâncias de racionalidade e de economicidade,
Art. 2º O Catálogo Nacional de Cursos Técnicos de Ní-
os veículos pertencentes ou contratados pelos Municípios
vel Médio será instituído por Portaria Ministerial, no prazo
também transportem alunos da rede estadual e viceversa.
de até 30 (trinta) dias contados da homologação do Pare-
Art. 9º A oferta de Educação do Campo com padrões
cer CNE/CEB nº 11/2008, pelo Senhor Ministro de Estado
mínimos de qualidade estará sempre subordinada ao cum-
da Educação.
primento da legislação educacional e das Diretrizes Opera-
Parágrafo único. O Catálogo Nacional de Cursos Téc-
cionais enumeradas na Resolução CNE/CEB nº 1/2002. nicos de Nível Médio, instituído pelo MEC, definirá carga
Art. 10 O planejamento da Educação do Campo, ofere- horária mínima para cada um dos cursos constantes do
cida em escolas da comunidade, multisseriadas ou não, e Catálogo, bem como um breve descritor do curso, pos-
quando a nucleação rural for considerada, para os anos do sibilidades de temas a serem abordados, possibilidades
Ensino Fundamental ou para o Ensino Médio ou Educação de atuação dos profissionais formados e infraestrutura re-
Profissional Técnica de nível médio integrada com o Ensino comendada para a implantação do curso.
Médio, considerará sempre as distâncias de deslocamento, Art. 3º Os cursos constantes do Catálogo Nacional de
as condições de estradas e vias, o estado de conservação Cursos Técnicos de Nível Médio serão organizados por ei-
dos veículos utilizados e sua idade de uso, a melhor locali- xos tecnológicos definidores de um projeto pedagógico
zação e as melhores possibilidades de trabalho pedagógi- que contemple as trajetórias dos itinerários formativos e
co com padrão de qualidade. estabeleça exigências profissionais que direcionem a ação
§ 1º É indispensável que o planejamento de que trata educativa das instituições e dos sistemas de ensino na ofer-
o caput seja feito em comum com as comunidades e em ta da Educação Profissional Técnica.
regime de colaboração, Estado/Município ou Município/ Art. 4º As instituições de ensino que mantenham cur-
Município consorciados. sos técnicos de nível médio cujas denominações e planos
§ 2º As escolas multisseriadas, para atingirem o pa- de curso estejam em conformidade com o estatuído no Ca-
drão de qualidade definido em nível nacional, necessitam tálogo, não terão nenhuma providência a ser adotada, no
de professores com formação pedagógica, inicial e con- âmbito do correspondente sistema de ensino.
tinuada, instalações físicas e equipamentos adequados, Art. 5º As instituições de ensino que mantenham cur-
materiais didáticos apropriados e supervisão pedagógica sos técnicos de nível médio cujas denominações e planos
permanente. de curso não sejam as que constam do Catálogo, mas o
Art. 11 O reconhecimento de que o desenvolvimento plano de curso seja coerente com a descrição constante
rural deve ser integrado, constituindose a Educação do do mesmo, terão prazo de 60 (sessenta) dias para a devi-
Campo em seu eixo integrador, recomenda que os Entes da adequação e comunicação aos órgãos competentes, no
Federados – União, Estados, Distrito Federal e Municípios âmbito de cada sistema de ensino, para vigência a partir do
– trabalhem no sentido de articular as ações de diferentes ano letivo de 2009.

3
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Parágrafo único. Ao critério da instituição de ensino, lógicos definidos e respectivos cursos, de modo a atender
com manifestação prévia dos órgãos competentes dos res- às exigências da evolução do conhecimento científico e
pectivos sistemas de ensino, mediante consulta documen- tecnológico., bem como contemplar a diversidade da ofer-
tada à respectiva comunidade escolar, essa alteração de ta dos cursos técnicos de nível médio.
denominação do curso poderá ser adotada, também, para Art. 12. Revogase o artigo 5º e os quadros anexos à
as turmas em andamento. Resolução CNE/CEB nº 4/99, mantendo seus demais dis-
Art. 6º As instituições de ensino que mantenham cur- positivos, com as alterações constantes da Resolução CNE/
sos técnicos de nível médio cujas denominações e planos CEB nº
de curso estejam em desacordo com o Catálogo Nacio- 1/2005, em obediência ao Decreto nº 5.154/2004.
nal de Cursos Técnicos de Nível Médio instituído, terão 90 Art. 13. Esta Resolução entra em vigor na data de sua
(noventa) dias para proceder às alterações que se fizerem publicação.
necessárias.
Parágrafo único. Os órgãos próprios dos respectivos MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL
sistemas de ensino terão 90 (noventa) dias de prazo para DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
proceder à devida aprovação dos novos planos de curso,
de acordo com as suas normalizações, regularizando, as- RESOLUÇÃO Nº 1, DE 15 DE MAIO DE 2009 Dispõe
sim, a oferta dos cursos técnicos de nível médio, para que a sobre a implementação da Filosofia e da Sociologia no
instituição de ensino possa ofertar novas turmas ainda no currículo do Ensino Médio, a partir da edição da Lei nº
ano de 2009. 11.684/2008, que alterou a Lei nº 9.394/1996, de Diretrizes
Art. 7º As instituições de ensino que mantenham cur- e Bases da Educação Nacional (LDB).
sos técnicos de nível médio cujas denominações e planos
de curso estejam em desacordo com o Catálogo, mas que O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con-
queiram mantêlos em caráter experimental, nos termos do selho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições
artigo 81 da LDB, poderão ofertálos pelo prazo máximo de legais e de conformidade com o disposto na alínea “c” do §
3 (três) anos, findo o qual o curso em questão deverá inte- 1º do artigo 9º da Lei nº 4.024/61, com a redação dada pela
grar o Catálogo ou a instituição de ensino ficará impedida Lei nº 9.131/95, e com fundamento no Parecer CNE/CEB nº
de efetivar matrícula de novos alunos nesse curso. 22/2008, homologado por Despacho do Senhor Ministro
de Estado da Educação, publicado no DOU em 12 de maio
Parágrafo único. Os órgãos superiores responsá-
de 2009, resolve:
veis pela autorização de cursos técnicos de nível médio
Art. 1º Os componentes curriculares Filosofia e Socio-
em desacordo com o Catálogo Nacional, em caráter ex-
logia são obrigatórios ao longo de todos os anos do Ensino
perimental, deverão dar ciência da mesma à Secretaria de
Médio, qualquer que seja a denominação e a organização
Educação Profissional e Tecnológica do MEC, até que volte
do currículo, estruturado este por sequência de séries ou
a ser operado normalmente o Cadastro Nacional de Cursos
não, composto por disciplinas ou por outras formas flexí-
Técnicos de Nível Médio, instituído por força do artigo 13
veis.
da Resolução CNE/CEB nº 4/99.
Art. 2º Os sistemas de ensino deverão estabelecer nor-
Art. 8º Ao critério de cada sistema de ensino, mas complementares e medidas concretas visando à inclu-
as adequações procedidas pela instituição de Educação são dos componentes curriculares Filosofia e Sociologia
Profissional e Tecnológica poderão ser implantadas no ano em todas as escolas, públicas e privadas, obedecendo aos
de 2009, mesmo antes da competente aprovação formal, seguintes prazos de implantação:
mediante consulta documentada à comunidade escolar, I início em 2009, com a inclusão obrigatória dos com-
devendo, neste caso, eventuais distorções serem cor- ponentes curriculares Filosofia e Sociologia em, pelo me-
rigidas a posteriori pela respectiva instituição de ensino, nos, um dos anos do Ensino Médio, preferentemente a
segundo orientação dos órgãos próprios do respectivo sis- partir do primeiro ano do curso;
tema de ensino. II prosseguimento dessa inclusão ano a ano, até 2011,
Art. 9º Os Conselhos Estaduais de Educação e o Conse- para os cursos de Ensino Médio com 3 (três) anos de dura-
lho de Educação do Distrito Federal, no âmbito de suas ção, e até 2012, para os cursos com duração de 4 (quatro)
competências, definirão normas complementares para anos. Parágrafo único. Os sistemas de ensino e escolas que
os respectivos sistemas de ensino em relação à implan- já implantaram um ou ambos os componentes em seus
tação do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos de Nível currículos devem ser incentivados a antecipar a realização
Médio. desse cronograma, para benefício maior de seus alunos.
Art. 10. Fica ressalvado o pleno direito de conclusão de Art. 3º Os sistemas de ensino devem zelar para que
cursos organizados por áreas profissionais, nos termos do haja eficácia na inclusão dos referidos componentes, ga-
artigo 5º e quadros anexos da Resolução CNE/CEB nº 4/99, rantindose, além de outras condições, aulas suficientes em
aos alunos neles matriculados. cada ano e professores qualificados para o seu adequado
Art. 11. Uma vez editado o primeiro Catálogo Nacional desenvolvimento.
de Cursos Técnicos de Nível Médio, cabe ao CNE, por Art. 4º Esta Resolução entrará em vigor na data de sua
proposta do MEC, proceder às alterações que se fize- publicação, revogadas as disposições em contrário.
rem necessárias, no âmbito de quaisquer dos eixos tecno-

4
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL Parágrafo único. As fontes de recursos para o pa-
DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA gamento da remuneração dos profissionais do magistério
são aquelas descritas no artigo 212 da Constituição Federal
RESOLUÇÃO Nº 2, DE 28 DE MAIO DE 2009 e no artigo 60 do seu Ato das Disposições Constitucio-
Fixa as Diretrizes Nacionais para os Planos de Car- nais Transitórias, além de recursos provenientes de ou-
reira e Remuneração dos Profissionais do Magistério tras fontes vinculadas à manutenção e ao desenvolvimento
da Educação Básica Pública, em conformidade com o ar- do ensino.
tigo 6º da Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008, e com base Art. 4º As esferas da administração pública que ofere-
nos artigos 206 e 211 da Constituição Federal, nos artigos cem alguma etapa da Educação
8º, § 1º, e 67 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e Básica, em quaisquer de suas modalidades, devem ins-
no artigo 40 da Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007. tituir planos de carreira para todos os seus profissionais do
O Presidente da Câmara de Educação Básica do magistério, e, eventualmente, aos demais profissionais da
Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribui- educação, conforme disposto no § 2º do artigo 2º desta
ções legais, com fundamento no artigo 9º, § 1º, alínea “c” Resolução, dentro dos seguintes princípios:
da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a reda- I reconhecimento da Educação Básica pública e gra-
ção dada pela Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, e tuita como direito de todos e dever do Estado, que a deve
tendo em vista o Parecer CNE/CEB nº 9/2009, homologado prover de acordo com o padrão de qualidade estabelecido
por despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, na Lei nº 9.394/96, LDB, sob os princípios da gestão demo-
publicado no DOU de 29 de maio de 2009, resolve: crática, de conteúdos que valorizem o trabalho, a diversi-
Art. 1º Os Planos de Carreira e Remuneração para os dade cultural e a prática social, por meio de financiamento
Profissionais do Magistério Público da Educação Básica, público que leve em consideração o custoaluno necessário
nas redes de ensino da União, dos Estados, do Distrito Fe- para alcançar educação de qualidade, garantido em regime
deral e dos Municípios, deverão observar as Diretrizes fi- de cooperação entre os entes federados, com responsabi-
xadas por esta Resolução, elaborada com base no Parecer lidade supletiva da União;
CNE/CEB nº 9/2009. II acesso à carreira por concurso público de provas
Art. 2º Para os fins dispostos no artigo 6º da Lei nº e títulos e orientado para assegurar a qualidade da ação
11.738/2008, que determina aos entes federados a ela- educativa;
boração ou adequação de seus Planos de Carreira e Re- III remuneração condigna para todos e, no caso dos
muneração do Magistério até 31 de dezembro de 2009, profissionais do magistério, com vencimentos ou salários
a presente Resolução destinase aos profissionais previstos iniciais nunca inferiores aos valores correspondentes ao
no artigo 2º, § 2º, da referida lei, observados os preceitos Piso Salarial Profissional Nacional, nos termos da Lei nº
dos artigos 61 até 67 da Lei nº 9.394/96, que dispõe sobre 11.738/2008;
a formação docente. IV reconhecimento da importância da carreira dos
§ 1º São considerados profissionais do magistério profissionais do magistério público e desenvolvimento de
aqueles que desempenham as atividades de docência ações que visem à equiparação salarial com outras carrei-
ou as de suporte pedagógico à docência, isto é, dire- ras profissionais de formação semelhante;
ção ou administração, planejamento, inspeção, supervisão, V progressão salarial na carreira, por incentivos
orientação e coordenação educacionais, exercidas no âm- que contemplem titulação, experiência, desempenho,
bito das unidades escolares de Educação Básica, em suas atualização e aperfeiçoamento profissional;
diversas etapas e modalidades (Educação Infantil, Ensino VI valorização do tempo de serviço prestado pelo ser-
Fundamental, Ensino Médio, Educação de Jovens e Adul- vidor ao ente federado, que será utilizado como compo-
tos, Educação Especial, Educação Profissional, Educação nente evolutivo;
Indígena), com a formação mínima determinada pela legis- VII jornada de trabalho preferencialmente em tem-
lação federal de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. po integral de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais,
§ 2º Os entes federados que julgarem indispensável a tendo sempre presente a ampliação paulatina da parte da
extensão dos dispositivos da presente Resolução aos de- jornada destinada às atividades de preparação de aulas,
mais profissionais da educação poderão aplicálos em pla- avaliação da produção dos alunos, reuniões escolares, con-
nos de carreira unificados ou próprios, sem nenhum prejuí- tatos com a comunidade e formação continuada, assegu-
zo aos profissionais do magistério. randose, no mínimo, os percentuais da jornada que já vêm
Art. 3º Os critérios para a remuneração dos profissio- sendo destinados para estas finalidades pelos diferentes
nais do magistério devem pautarse nos preceitos da Lei nº sistemas de ensino, de acordo com os respectivos projetos
11.738/2008, que estabelece o Piso Salarial Profissional Na- políticopedagógicos;
cional, e no artigo 22 da Lei nº 11.494/2007, que dispõe VIII incentivo à dedicação exclusiva em uma única uni-
sobre a parcela da verba do Fundo de Manutenção e De- dade escolar;
senvolvimento da Educação Básica e Valorização do Magis- IX incentivo à integração dos sistemas de ensino às po-
tério (FUNDEB) destinada ao pagamento dos profissionais líticas nacionais e estaduais de formação para os profissio-
do magistério, bem como no artigo 69 da Lei nº 9.394/96, nais da educação, nas modalidades presencial e a distância,
que define os percentuais mínimos de investimento dos com o objetivo de melhorar a qualificação e de suprir as
entes federados na educação. carências de habilitação profissional na educação;

5
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

X apoio técnico e financeiro, por parte do ente federa- VII manter comissão paritária, entre gestores e profis-
do, que vise melhorar as condições de trabalho dos edu- sionais da educação e os demais setores da comunidade
cadores e erradicar e prevenir a incidência de doenças escolar, para estudar as condições de trabalho e prover
profissionais; políticas públicas voltadas ao bom desempenho profissio-
XI promoção da participação dos profissionais do ma- nal e à qualidade dos serviços educacionais prestados à
gistério e demais segmentos na elaboração e no planeja- comunidade;
mento, execução e avaliação do projeto políticopedagógico VIII promover, na organização da rede escolar,
da escola e da rede de ensino; adequada relação numérica professoreducando nas eta-
XII estabelecimento de critérios objetivos para a movi- pas da Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino
mentação dos profissionais entre unidades escolares, tendo Fundamental, bem como número adequado de alunos em
como base os interesses da aprendizagem dos educandos; sala de aula nos demais anos do Ensino Fundamental e no
XIII regulamentação entre as esferas de administração, Ensino Médio, prevendo limites menores do que os atual-
quando operando em regime de colaboração, nos termos mente praticados nacionalmente de alunos por sala de aula
do artigo 241 da Constituição Federal, para a remoção e e por professores, a fim de melhor prover os investimentos
o aproveitamento dos profissionais, quando da mudança públicos, elevar a qualidade da educação e atender às con-
de residência e da existência de vagas nas redes de destino, dições de trabalho dos educadores;
sem prejuízos para os direitos dos servidores no respectivo IX observar os requisitos dos artigos 70 e 71 da Lei nº
quadro funcional. 9.394/96, que disciplinam as despesas que são ou não con-
Art. 5º Na adequação de seus planos de carreira aos dis- sideradas gastos com manutenção e desenvolvimento do
positivos da Lei nº 11.738/2008 e da Lei nº 11.494/2007, a ensino, quanto à cedência de profissionais para outras fun-
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem ções fora do sistema ou rede de ensino, visando à correta
observar as seguintes diretrizes: caracterização das despesas com pagamento de pessoal
I – assegurar a aplicação integral dos recursos cons- como sendo ou não gastos em educação;
titucionalmente vinculados à manutenção e ao desenvolvi- X – manter, em legislação própria, a regulamentação
mento do ensino, além de outros eventualmente destinados da gestão democrática do sistema de
por lei à educação; ensino, da rede e das escolas, fixando regras claras
II fazer constar nos planos de carreira a natureza dos para a designação, nomeação e exoneração do diretor de
respectivos cargos e funções dos profissionais da educação
escola dentre os ocupantes de cargos efetivos da carreira
à luz do artigo 2º desta Resolução;
docente, preferencialmente
III determinar a realização de concurso público de pro-
com a participação da comunidade escolar no proces-
vas e títulos para provimento qualificado de todos os car-
so de escolha do seu diretor.
gos ou empregos públicos ocupados pelos profissio-
XI prover a formação dos profissionais da educa-
nais do magistério, na rede de ensino público, sempre que
ção, de modo a atender às especificidades do exercício
a vacância no quadro permanente alcançar percentual que
possa provocar a descaracterização do projeto políticope- de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes
dagógico da rede de ensino, nos termos do Parecer CNE/ etapas e modalidades da Educação Básica, sob os seguin-
CEB nº 9/2009, assegurandose o que determina o artigo 85 tes fundamentos:
da Lei nº 9.394/96, o qual dispõe que qualquer cidadão ha- a) sólida formação inicial básica, que propicie o conhe-
bilitado com a titulação própria poderá exigir a abertura de cimento dos fundamentos de suas competências de tra-
concurso público de provas e títulos para cargo de docente balho;
de instituição pública de ensino que estiver sendo ocupado b) associação entre teorias e práticas, mediante está-
por professor não concursado, por mais de seis anos; gios supervisionados, capacitação em serviço e formação
IV fixar vencimento ou salário inicial para as carreiras continuada;
profissionais da educação, de acordo com a jornada de tra- c) aproveitamento da formação e experiências anterio-
balho definida nos respectivos planos de carreira, devendo res, em instituições de ensino e em outras atividades;
os valores, no caso dos profissionais do magistério, nunca d) aos educadores já em exercício, período reserva-
ser inferiores ao do Piso Salarial Profissional Nacional, dife- do a estudos, planejamento e avaliação, a ser realizado
renciados pelos níveis das habilitações a que se refere o arti- durante a jornada de trabalho do profissional da educação
go 62 da Lei nº 9.394/96, vedada qualquer diferenciação em (artigo 67, V, da Lei nº 9.394/96).
virtude da etapa ou modalidade de atuação do profissional; XII assegurar, no próprio sistema ou em colaboração
V diferenciar os vencimentos ou salários iniciais da car- com os demais sistemas de ensino, a oferta de progra-
reira dos profissionais da educação escolar básica por titu- mas permanentes e regulares de formação continuada
lação, entre os habilitados em nível médio e os habilitados para aperfeiçoamento profissional, inclusive em nível de
em nível superior e pósgraduação lato sensu, e percentual pósgraduação;
compatível entre estes últimos e os detentores de cursos de XIII utilizar as horas de trabalho pedagógicas coletivas
mestrado e doutorado; como momento de formação do profissional da educação;
VI assegurar revisão salarial anual dos vencimentos XIV promover, preferencialmente em colaboração com
ou salários iniciais e das remunerações da carreira, de outros sistemas de ensino, a universalização das exigências
modo a preservar o poder aquisitivo dos educadores, nos mínimas de formação para o exercício da profissão de to-
termos do inciso X do artigo 37 da Constituição Federal; dos os profissionais da educação escolar básica;

6
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

XV instituir mecanismos de concessão de licenças para aper- XXI realizar, quando necessário, concurso de
feiçoamento e formação continuada, de modo a promover a quali- movimentação interna dos profissionais da educação,
ficação sem ferir os interesses da aprendizagem dos estudantes. Os em data anterior aos processos de lotação de profis-
entes federados poderão assegurar aos profissionais do magistério sionais provenientes de outras esferas administrativas ou
da Educação Básica períodos de licenças sabáticas, com duração das listas de classificados em concursos públicos;
e regras de acesso estabelecidas no respectivo plano de carreira. XXII regulamentar, por meio de lei de iniciativa do ente
XVI constituir incentivos de progressão por qualificação federado e em consonância com o parágrafo único do arti-
do trabalho profissional, a partir dos seguintes referenciais, go 11 da Lei nº 9.394/96 e o artigo 23 da Constituição Fe-
podendo ser agregados outros: deral, a recepção de profissionais de outras redes públicas.
a) dedicação exclusiva ao cargo ou função no sistema de Os planos de carreira poderão prever a recepção de profis-
ensino, desde que haja incentivo para tal; sionais do magistério de outros entes federados por per-
b) elevação da titulação e da habilitação profissional; muta ou cessão temporária, havendo interesse das partes e
c) avaliação de desempenho, do profissional do magisté- coincidência de cargos, no caso de mudança de residência
rio e do sistema de ensino, que leve em conta, entre outros do profissional e existência de vagas, na forma de regula-
fatores, a objetividade, que é a escolha de requisitos que mentação específica de cada rede de ensino, inclusive para
possibilitem a análise de indicadores qualitativos e quanti- fins de intercâmbio entre os diversos sistemas, como forma
tativos; e a transparência, que assegura que o resultado da de propiciar ao profissional da educação sua vivência com
avaliação possa ser analisado pelo avaliado e pelos avaliado- outras realidades laborais, como uma das formas de apri-
res, com vistas à superação das dificuldades detectadas para moramento profissional.
o desempenho profissional ou do sistema, a ser realizada Art. 6º Os planos de carreira devem estabelecer regras
com base nos seguintes princípios: claras para o cálculo dos proventos dos servidores públi-
1. para o profissional do magistério: cos ligados ao regime próprio de aposentadoria dos entes
1.1 Participação Democrática o processo de avaliação federados.
teórica e prática deve ser elaborado coletivamente pelo ór- Art. 7º A presente Resolução aplicase, inclusive, aos
gão executivo e os profissionais do magistério de cada
professores indígenas e aos professores quilombolas, os
sistema de ensino.
quais gozarão de todas as garantias aqui previstas, consi-
2. para os sistemas de ensino:
derando as especificidades dessas atividades docentes.
2.1 Amplitude a avaliação deve incidir sobre todas as
Art. 8º A presente Resolução entrará em vigor na data
áreas de atuação do sistema de ensino, que compreendem:
de sua publicação, revogandose as disposições em sentido
2.1.1 a formulação das políticas educacionais;
contrário, especialmente a Resolução CNE/CEB nº 3/97.
2.1.2 a aplicação delas pelas redes de ensino;
2.1.3 o desempenho dos profissionais do magistério;
2.1.4 a estrutura escolar; DISPOSIÇÃO TRANSITÓRIA
2.1.5 as condições socioeducativas dos educandos;
2.1.6 outros critérios que os sistemas considerarem per- Artigo único. Enquanto viger a medida liminar concedi-
tinentes; da pelo Supremo Tribunal
2.1.7 os resultados educacionais da escola. Federal nos autos da ADI nº 4.167, os termos “venci-
XVII A avaliação de desempenho a que se refere a alínea mentos iniciais” e “salário inicial” tratados na presente re-
“c” do inciso anterior deve reconhecer a interdependência entre solução ficam entendidos como remuneração total inicial.
trabalho do profissional do magistério e o funcionamento geral MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
do sistema de ensino, e, portanto, ser compreendida como CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE
um processo global e permanente de análise de atividades, a EDUCAÇÃO BÁSICA
fim de proporcionar ao profissional do magistério um momen-
to de aprofundar a análise de sua prática, percebendo seus RESOLUÇÃO Nº 3, DE 30 DE SETEMBRO DE 2009
pontos positivos e visualizando caminhos para a superação de (*)
suas dificuldades, possibilitando, dessa forma, seu crescimento Dispõe sobre a instituição Sistema Nacional de In-
profissional e, ao sistema de ensino, indicadores que permitam formações da Educação Profissional e Tecnológica
o aprimoramento do processo educativo; (SISTEC), em substituição ao Cadastro Nacional de Cursos
XVIII estabelecer mecanismos de progressão na carreira Técnicos de Nível Médio (CNCT), definido pela Resolução
também com base no tempo de serviço; CNE/CEB nº 4/99.
XIX elaborar e implementar processo avaliativo do O Presidente da Câmara de Educação Básica do
estágio probatório dos profissionais do magistério, com Conselho Nacional de Educação, em conformidade com
participação desses profissionais; o disposto na alínea “e” do § 1º do artigo 9º da Lei nº
XX – estabelecer, com base nas propostas curriculares e 4.024/1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131/1995,
na composição dos cargos de carreiras dos sistemas de ensi- com o disposto na Lei nº 11.741/2008, que altera redação
no, quadro de lotação de pessoal que inclua o número de va- de disposições da Lei nº 9.394/1996, e com fundamento no
gas por cargo, região ou município e unidade escolar, a partir Parecer CNE/CEB nº 14, de 1º de julho de 2009, homo-
do qual se preveja a realização dos concursos de ingresso, logado por Despacho do Senhor Ministro de Estado da
de remoção entre as unidades escolares e de movimentação Educação, publicado no DOU de 3 de setembro de 2009,
entre seus postos de trabalho; resolve:

7
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Art. 1º O Cadastro Nacional de Cursos Técnicos de Ní- Art. 1º Para a implementação do Decreto nº 6.571/2008,
vel Médio (CNCT), definido pelo artigo 13 da Resolução os sistemas de ensino devem matricular os alunos com
CNE/CEB nº 4/99, será substituído pelo cadastro do Sis- deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
tema Nacional de Informações da Educação Profissional altas habilidades/superdotação nas classes comuns do
e Tecnológica (SISTEC), instituído e implantado pelo MEC, ensino regular e no Atendimento Educacional Espe-
por intermédio da Secretaria de Educação Profissional e cializado (AEE), ofertado em salas de recursos multi-
Tecnológica (SETEC). funcionais ou em centros de Atendimento Educacional
Art. 2º O cadastramento, no SISTEC, de dados das es- Especializado da rede pública ou de instituições comu-
colas, de seus cursos técnicos de nível médio e corres- nitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos.
pondentes alunos matriculados e concluintes é uma das Art. 2º O AEE tem como função complementar ou su-
condições essenciais para garantir a validade nacional dos plementar a formação do aluno por meio da disponibili-
diplomas expedidos e registrados na própria instituição de zação de serviços, recursos de acessibilidade e estraté-
Educação Profissional e Tecnológica, nos termos do artigo gias que eliminem as barreiras para sua plena participação
36D da LDB, na redação dada pela Lei nº 11.741/2008, na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem.
conforme previsto no artigo 14 da Resolução CNE/CEB Parágrafo único. Para fins destas Diretrizes, conside-
nº 4/99. ramse recursos de acessibilidade na educação aqueles
Parágrafo único. O SISTEC contempla todos os alunos que asseguram condições de acesso ao currículo dos
com matrícula inicial nos cursos técnicos de nível médio alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, promo-
desde 2 de janeiro de 2009. vendo a utilização dos materiais didáticos e pedagó-
Art. 3º A validade nacional dos diplomas emitidos para gicos, dos espaços, dos mobiliários e equipamentos, dos
concluintes de cursos técnicos de nível médio e devida- sistemas de comunicação e informação, dos transportes e
mente registrados nas respectivas instituições de Edu- dos demais serviços.
cação Profissional e Tecnológica, até 31 de dezembro de Art. 3º A Educação Especial se realiza em todos os ní-
2008, está condicionada à regularização dos seus cursos veis, etapas e modalidades de ensino, tendo o AEE como
pelos correspondentes Conselhos Estaduais de Educação parte integrante do processo educacional.
ou pelos órgãos próprios do sistema de ensino que tenham Art. 4º Para fins destas Diretrizes, considerase públi-
recebido delegação de competência do Conselho de Edu- coalvo do AEE:
cação de sua Unidade da Federação. I – Alunos com deficiência: aqueles que têm impedi-
Art. 4º Revogase o artigo 13 da Resolução CNE/CEB nº mentos de longo prazo de natureza física, intelectual, men-
4/99, mantendose os demais dispositivos, com as altera- tal ou sensorial.
ções constantes da Resolução CNE/CEB nº 1/2005, obede- II – Alunos com transtornos globais do desenvolvimen-
cidos os dispositivos da Lei nº 11.741/2008. to: aqueles que apresentam um quadro de alterações no
Art. 5º Esta Resolução entrará em vigor na data de sua desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas
publicação. relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras.
Incluemse nessa definição alunos com autismo clássico,
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno
desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasi-
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE vos sem outra especificação.
EDUCAÇÃO BÁSICA III – Alunos com altas habilidades/superdotação: aque-
les que apresentam um potencial elevado e grande en-
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 2 DE OUTUBRO DE 2009 (*) volvimento com as áreas do conhecimento humano,
Institui Diretrizes Operacionais para o Atendi- isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomoto-
mento Educacional Especializado na Educação Básica, ra, artes e criatividade.
modalidade Educação Especial. Art. 5º O AEE é realizado, prioritariamente, na sala de
O Presidente da Câmara de Educação Básica do recursos multifuncionais da própria escola ou em outra es-
Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribui- cola de ensino regular, no turno inverso da escolarização,
ções legais, de conformidade com o disposto na alínea “c” não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser
do artigo 9º da Lei nº 4.024/1961, com a redação dada pela realizado, também, em centro de Atendimento Educacio-
Lei nº 9.131/1995, bem como no artigo 90, no nal Especializado da rede pública ou de instituições comu-
§ 1º do artigo 8º e no § 1º do artigo 9º da Lei nº nitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos,
9.394/1996, considerando a Constituição Federal de conveniadas com a Secretaria de Educação ou órgão equi-
1988; a Lei nº 10.098/2000; a Lei nº 10.436/2002; a Lei valente dos Estados, Distrito Federal ou dos Municípios.
nº 11.494/2007; o Decreto nº 3.956/2001; o Decreto Art. 6º Em casos de Atendimento Educacional Especia-
nº 5.296/2004; o Decreto nº 5.626/2005; o Decreto nº lizado em ambiente hospitalar ou domiciliar, será ofertada
6.253/2007; o Decreto nº 6.571/2008; e o Decreto Legisla- aos alunos, pelo respectivo sistema de ensino, a Educa-
tivo nº 186/2008, e com fundamento no Parecer CNE/CEB ção Especial de forma complementar ou suplementar.
nº 13/2009, homologado por Despacho do Senhor Mi- Art. 7º Os alunos com altas habilidades/superdotação
nistro de Estado da Educação, publicado no DOU de 24 terão suas atividades de enriquecimento curricular desen-
de setembro de 2009, resolve: volvidas no âmbito de escolas públicas de ensino regular

8
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

em interface com os núcleos de atividades para altas habili- essa finalidade, deve ser aprovada pela respectiva Secre-
dades/superdotação e com as instituições de ensino supe- taria de Educação ou órgão equivalente, contemplando a
rior e institutos voltados ao desenvolvimento e promoção organização disposta no artigo 10 desta Resolução.
da pesquisa, das artes e dos esportes. Parágrafo único. Os centros de Atendimento Edu-
Art. 8º Serão contabilizados duplamente, no âmbito cacional Especializado devem cumprir as exigências legais
do FUNDEB, de acordo com o Decreto nº 6.571/2008, os estabelecidas pelo Conselho de Educação do respectivo
alunos matriculados em classe comum de ensino regular sistema de ensino, quanto ao seu credenciamento, auto-
público que tiverem matrícula concomitante no AEE. rização de funcionamento e organização, em consonância
Parágrafo único. O financiamento da matrícula no AEE com as orientações preconizadas nestas Diretrizes Opera-
é condicionado à matrícula no ensino regular da rede pú- cionais.
blica, conforme registro no Censo Escolar/MEC/INEP do Art. 12. Para atuação no AEE, o professor deve ter for-
ano anterior, sendo contemplada: mação inicial que o habilite para o exercício da docência e
a) matrícula em classe comum e em sala de recursos formação específica para a Educação Especial.
multifuncionais da mesma escola pública; Art. 13. São atribuições do professor do Atendimento
b) matrícula em classe comum e em sala de recursos Educacional Especializado:
multifuncionais de outra escola pública; I – identificar, elaborar, produzir e organizar servi-
c) matrícula em classe comum e em centro de ços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias
Atendimento Educacional considerando as necessidades específicas dos alunos pú-
Especializado de instituição de Educação Especial pú- blicoalvo da Educação Especial;
blica; II – elaborar e executar plano de Atendimento Educa-
d) matrícula em classe comum e em centro de cional Especializado, avaliando a funcionalidade e a apli-
Atendimento Educacional Especializado de instituições de cabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade;
Educação Especial comunitárias, confessionais ou filantró- III – organizar o tipo e o número de atendimentos aos
picas sem fins lucrativos. alunos na sala de recursos multifuncionais;
Art. 9º A elaboração e a execução do plano de IV – acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade
AEE são de competência dos professores que atuam dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de
aula comum do ensino regular, bem como em outros am-
na sala de recursos multifuncionais ou centros de AEE, em
bientes da escola;
articulação com os demais professores do ensino regular,
V – estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais na
com a participação das famílias e em interface com os de-
elaboração de estratégias e na disponibilização de recursos
mais serviços setoriais da saúde, da assistência social, entre
de acessibilidade;
outros necessários ao atendimento.
VI – orientar professores e famílias sobre os recursos
Art. 10. O projeto pedagógico da escola de ensino re-
pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno;
gular deve institucionalizar a oferta do AEE prevendo na VII – ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma a
sua organização: ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo
I – sala de recursos multifuncionais: espaço físico, mo- autonomia e participação;
biliário, materiais didáticos, recursos pedagógicos e de VIII – estabelecer articulação com os professores da
acessibilidade e equipamentos específicos; sala de aula comum, visando à disponibilização dos ser-
II – matrícula no AEE de alunos matriculados no ensino viços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e das
regular da própria escola ou de outra escola; estratégias que promovem a participação dos alunos nas
III – cronograma de atendimento aos alunos; atividades escolares.
IV – plano do AEE: identificação das necessidades Art. 14. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua
educacionais específicas dos alunos, definição dos recursos publicação, revogadas as disposições em contrário.
necessários e das atividades a serem desenvolvidas;
V – professores para o exercício da docência do AEE; MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
VI – outros profissionais da educação: tradutor e intér- CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE
prete de Língua Brasileira de Sinais, guiaintérprete e ou- EDUCAÇÃO BÁSICA
tros que atuem no apoio, principalmente às atividades RESOLUÇÃO Nº 5, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2009 (*)
de alimentação, higiene e locomoção;
VII – redes de apoio no âmbito da atuação profis- Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa-
sional, da formação, do desenvolvimento da pesquisa, do ção Infantil
acesso a recursos, serviços e equipamentos, entre outros
que maximizem o AEE. O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con-
Parágrafo único. Os profissionais referidos no inciso VI selho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições
atuam com os alunos público alvo da Educação Especial legais, com fundamento no art. 9º, § 1º, alínea “c” da Lei nº
em todas as atividades escolares nas quais se fizerem ne- 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada
cessários. pela Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, e tendo
Art. 11. A proposta de AEE, prevista no projeto peda- em vista o Parecer CNE/CEB nº 20/2009, homologado por
gógico do centro de Atendimento Educacional Especializa- Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, pu-
do público ou privado sem fins lucrativos, conveniado para blicado no DOU de 9 de dezembro de 2009, resolve:

9
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes II – Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil a serem criticidade e do respeito à ordem democrática.
observadas na organização de propostas pedagógicas na III – Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludi-
Educação Infantil. cidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifes-
Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu- tações artísticas e culturais.
cação Infantil articulamse com as Diretrizes Curriculares Art. 7º Na observância destas Diretrizes, a proposta pe-
Nacionais da Educação Básica e reúnem princípios, fun- dagógica das instituições de Educação Infantil deve garan-
damentos e procedimentos definidos pela Câmara de tir que elas cumpram plenamente sua função sociopolítica
Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, e pedagógica:
para orientar as políticas públicas na área e a elaboração, I oferecendo condições e recursos para que as crianças
planejamento, execução e avaliação de propostas pedagó- usufruam seus direitos civis, humanos e sociais;
gicas e curriculares. II assumindo a responsabilidade de compartilhar e
Art. 3º O currículo da Educação Infantil é concebido complementar a educação e cuidado das crianças com as
como um conjunto de práticas que buscam articular as ex- famílias;
periências e os saberes das crianças com os conhecimentos III possibilitando tanto a convivência entre crianças e
que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambien- entre adultos e crianças quanto a ampliação de saberes e
tal, científico e tecnológico, de modo a promover o desen- conhecimentos de diferentes naturezas;
volvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade. IV promovendo a igualdade de oportunidades educa-
Art. 4º As propostas pedagógicas da Educação Infan- cionais entre as crianças de diferentes classes sociais no
til deverão considerar que a criança, centro do planejamen- que se refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades
to curricular, é sujeito histórico e de direitos que, nas inte- de vivência da infância;
rações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói V construindo novas formas de sociabilidade e de sub-
sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, jetividade comprometidas com a ludicidade, a democracia,
deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e a sustentabilidade do planeta e com o rompimento de re-
constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produ- lações de dominação etária, socioeconômica, étnicoracial,
zindo cultura. de gênero, regional, linguística e religiosa.
Art. 8º A proposta pedagógica das instituições de Edu-
Art. 5º A Educação Infantil, primeira etapa da Educa-
cação Infantil deve ter como objetivo garantir à criança
ção Básica, é oferecida em creches e préescolas, as quais se
acesso a processos de apropriação, renovação e articulação
caracterizam como espaços institucionais não domésticos
de conhecimentos e aprendizagens de diferentes lingua-
que constituem estabelecimentos educacionais públicos
gens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade,
ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5
à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à con-
anos de idade no período diurno, em jornada integral ou
vivência e à interação com outras crianças.
parcial, regulados e supervisionados por órgão competen- § 1º Na efetivação desse objetivo, as propostas pe-
te do sistema de ensino e submetidos a controle social. dagógicas das instituições de Educação Infantil deverão
§ 1º É dever do Estado garantir a oferta de Educação prever condições para o trabalho coletivo e para a organi-
Infantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de zação de materiais, espaços e tempos que assegurem:
seleção. I a educação em sua integralidade, entendendo o cui-
§ 2° É obrigatória a matrícula na Educação Infantil de dado como algo indissociável ao processo educativo;
crianças que completam 4 ou 5 anos até o dia 31 de março II a indivisibilidade das dimensões expressivomotora,
do ano em que ocorrer a matrícula. afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural
§ 3º As crianças que completam 6 anos após o da criança;
dia 31 de março devem ser matriculadas na Educação III a participação, o diálogo e a escuta cotidiana
Infantil. das famílias, o respeito e a
§ 4º A frequência na Educação Infantil não é prérequi- valorização de suas formas de organização;
sito para a matrícula no Ensino IV o estabelecimento de uma relação efetiva com
Fundamental. a comunidade local e de
§ 5º As vagas em creches e préescolas devem ser ofe- mecanismos que garantam a gestão democrática e a
recidas próximas às residências das crianças. consideração dos saberes da comunidade;
§ 6º É considerada Educação Infantil em tempo parcial, V o reconhecimento das especificidades etárias, das
a jornada de, no mínimo, quatro horas diárias e, em tempo singularidades individuais e coletivas das crianças, promo-
integral, a jornada com duração igual ou superior a sete vendo interações entre crianças de mesma idade e crianças
horas diárias, compreendendo o tempo total que a criança de diferentes idades;
permanece na instituição. VI os deslocamentos e os movimentos amplos das
crianças nos espaços internos e externos às salas de refe-
Art. 6º As propostas pedagógicas de Educação Infantil rência das turmas e à instituição;
devem respeitar os seguintes princípios: VII a acessibilidade de espaços, materiais, objetos, brin-
I – Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da soli- quedos e instruções para as crianças com deficiência,
dariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente transtornos globais de desenvolvimento e altas
e às diferentes culturas, identidades e singularidades. habilidades/superdotação;

10
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

VIII a apropriação pelas crianças das contribuições III possibilitem às crianças experiências de narrativas,
históricoculturais dos povos indígenas, afrodescendentes, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita,
asiáticos, europeus e de outros países da América; e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais
IX o reconhecimento, a valorização, o respeito e a inte- e escritos;
ração das crianças com as histórias e as culturas africa- IV recriem, em contextos significativos para as crian-
nas, afrobrasileiras, bem como o combate ao racismo e ças, relações quantitativas, medidas, formas e orientações
à discriminação; espaçotemporais;
X a dignidade da criança como pessoa humana e a pro- V ampliem a confiança e a participação das crianças
teção contra qualquer forma de violência – física ou simbó- nas atividades individuais e coletivas;
lica – e negligência no interior da instituição ou praticadas VI possibilitem situações de aprendizagem mediadas
pela família, prevendo os encaminhamentos de violações para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de
para instâncias competentes. cuidado pessoal, autoorganização, saúde e bemestar;
§ 2º Garantida a autonomia dos povos indígenas na VII possibilitem vivências éticas e estéticas com outras
escolha dos modos de educação de suas crianças de 0 a crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de
5 anos de idade, as propostas pedagógicas para os povos referência e de identidades no diálogo e reconhecimento
que optarem pela Educação Infantil devem: da diversidade;
I proporcionar uma relação viva com os conhecimen- VIIIincentivem a curiosidade, a exploração, o encanta-
tos, crenças, valores, concepções de mundo e as memórias mento, o questionamento, a indagação e o conhecimento
de seu povo; das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo
II reafirmar a identidade étnica e a língua materna e à natureza;
como elementos de constituição das crianças; IX promovam o relacionamento e a interação das
III dar continuidade à educação tradicional oferecida crianças com diversificadas manifestações de música, ar-
na família e articularse às práticas sócioculturais de educa- tes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro,
ção e cuidado coletivos da comunidade; poesia e literatura;
IV adequar calendário, agrupamentos etários e organi- X promovam a interação, o cuidado, a preservação
zação de tempos, atividades e ambientes de modo a aten- e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabili-
der as demandas de cada povo indígena. dade da vida na Terra, assim como o não desperdício dos
§ 3º As propostas pedagógicas da Educação Infan-
recursos naturais;
til das crianças filhas de agricultores familiares, extra-
XI propiciem a interação e o conhecimento pelas
tivistas, pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados
crianças das manifestações e tradições culturais brasileiras;
e acampados da reforma agrária, quilombolas, caiçaras,
XII possibilitem a utilização de gravadores, projetores,
povos da floresta, devem:
computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos
I reconhecer os modos próprios de vida no campo
tecnológicos e midiáticos.
como fundamentais para a constituição da identidade das
Parágrafo único As creches e préescolas, na elaboração
crianças moradoras em territórios rurais;
II ter vinculação inerente à realidade dessas popula- da proposta curricular, de acordo com suas características,
ções, suas culturas, tradições e identidades, assim como a identidade institucional, escolhas coletivas e particularida-
práticas ambientalmente sustentáveis; des pedagógicas, estabelecerão modos de integração des-
III flexibilizar, se necessário, calendário, rotinas e sas experiências.
atividades respeitando as diferenças quanto à atividade Art. 10. As instituições de Educação Infantil devem
econômica dessas populações; criar procedimentos para acompanhamento do traba-
IV valorizar e evidenciar os saberes e o papel dessas lho pedagógico e para avaliação do desenvolvimento das
populações na produção de conhecimentos sobre o mun- crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou classifica-
do e sobre o ambiente natural; ção, garantindo:
V prever a oferta de brinquedos e equipamentos que I a observação crítica e criativa das atividades, das brin-
respeitem as características cadeiras e interações dascrianças no cotidiano;
ambientais e socioculturais da comunidade. II utilização de múltiplos registros realizados por
Art. 9º As práticas pedagógicas que compõem a pro- adultos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, ál-
posta curricular da Educação buns etc.);
Infantil devem ter como eixos norteadores as in- III a continuidade dos processos de aprendizagens por
terações e a brincadeira, garantindo experiências que: meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes
I promovam o conhecimento de si e do mundo momentos de transição vividos pela criança (tran-
por meio da ampliação de experiências sensoriais, ex- sição casa/instituição de Educação Infantil, transições
pressivas, corporais que possibilitem movimentação am- no interior da instituição, transição creche/préescola e
pla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e transição préescola/Ensino Fundamental);
desejos da criança; IV documentação específica que permita às famílias
II favoreçam a imersão das crianças nas diferentes conhecer o trabalho da instituição junto às crianças e os
linguagens e o progressivo domínio por elas de vários processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança
gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, na Educação Infantil;
dramática e musical; V a não retenção das crianças na Educação Infantil.

11
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Art. 11. Na transição para o Ensino Fundamental a § 2º As crianças de 5 (cinco) anos de idade, inde-
proposta pedagógica deve prever formas para garantir a pendentemente do mês do seu aniversário, que no seu
continuidade no processo de aprendizagem e desenvolvi- percurso educacional estiveram matriculadas e frequenta-
mento das crianças, respeitando as especificidades etárias, ram por mais de 2 (dois) anos a PréEscola, poderão, em
sem antecipação de conteúdos que serão trabalhados no caráter excepcional, no ano de 2010, prosseguir no seu
Ensino Fundamental. percurso para o Ensino Fundamental.
Art. 12. Cabe ao Ministério da Educação elaborar orien- Art. 5º Esta Resolução entrará em vigor na data de sua
tações para a implementação dessas Diretrizes. publicação, revogadas as disposições em contrário.
Art. 13. A presente Resolução entrará em vigor na data
de sua publicação, revogandose as disposições em contrá- MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
rio, especialmente a Resolução CNE/CEB nº 1/99.
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIO- DE EDUCAÇÃO BÁSICA
NAL DE EDUCAÇÃO
CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA RESOLUÇÃO Nº 2, DE 19 DE MAIO DE 2010 (*)
Dispõe sobre as Diretrizes Nacionais para a oferta de
educação para jovens e adultos em situação de privação
RESOLUÇÃO Nº 1, DE 14 DE JANEIRO DE 2010 (*)
de liberdade nos estabelecimentos penais.
O PRESIDENTE DA CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
Define Diretrizes Operacionais para a implantação do
DO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, no uso de suas
Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. atribuições legais, e de conformidade com o disposto na
alínea “c” do parágrafo 1º do artigo 9º da Lei nº 4.024/61
O Presidente da Câmara de Educação Básica do com a redação dada pela Lei nº 9.131/95, nos artigos 36,
Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribui- 36A, 36B, 36C, 36D, 37, 39, 40, 41 e 42 da Lei nº
ções legais, em conformidade com o disposto na alínea “c” 9.394/96 com a redação dada pela Lei nº 11.741/2008,
do § 1º do artigo 9º da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro bem como no Decreto nº 5.154/2004, e com fundamento
de 1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131, de 25 de no Parecer CNE/CEB nº 4/2010, homologado por Despacho
novembro de 1995, bem como no § 1º do artigo 8º, no § do Senhor Ministro da Educação, publicado no DOU de 7
1º do artigo 9º e no artigo 90 da Lei nº 9.394, de 20 de de- de maio de 2010,
zembro de 1996, e com fundamento no Parecer CNE/CEB
nº 22/2009, homologado por despacho do Senhor Ministro CONSIDERANDO as responsabilidades do Estado e da
da Educação, publicado no DOU de sociedade para garantir o direito à educação para jovens
11 de janeiro de 2010, resolve: e adultos nos estabelecimentos penais e a necessidade de
norma que regulamente sua oferta para o cumprimento
Art. 1º Os entes federados, as escolas e as famílias de- dessas responsabilidades;
vem garantir o atendimento do direito público subjetivo CONSIDERANDO as propostas encaminhadas pelo Ple-
das crianças com 6 (seis) anos de idade, matriculan- nário do I e II Seminários
doas e mantendoas em escolas de Ensino Fundamental, Nacionais de Educação nas Prisões;
nos termos da Lei nº 11.274/2006. CONSIDERANDO a Resolução nº 3, de 6 de março de
Art. 2º Para o ingresso no primeiro ano do Ensino Fun- 2009, do Conselho Nacional de Política Criminal e Peniten-
damental, a criança deverá ter 6 (seis) anos de idade com- ciária, que dispõe sobre as Diretrizes Nacionais para a ofer-
pletos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a ta de educação nos estabelecimentos penais;
matrícula. CONSIDERANDO o Protocolo de Intenções firmado
Art. 3º As crianças que completarem 6 (seis) anos de entre os Ministérios da Justiça e da Educação com o ob-
jetivo de fortalecer e qualificar a oferta de educação em
idade após a data definida no artigo 2º deverão ser matri-
espaços de privação de liberdade;
culadas na PréEscola.
CONSIDERANDO o disposto no Plano Nacional de
Art. 4º Os sistemas de ensino definirão providências
Educação (PNE) sobre educação em espaços de privação
complementares de adequação às normas desta Resolução de liberdade;
em relação às crianças matriculadas no Ensino Fundamen- CONSIDERANDO que o Governo Federal, por in-
tal de 8 (oito) anos ou de 9 (nove) anos no período de tran- termédio dos Ministérios da Educação e da Justiça tem a
sição definido pela Lei nº 11.274/2006 como prazo legal responsabilidade de fomentar políticas públicas de educa-
de implantação do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. ção em espaços de privação de liberdade, estabelecendo
§ 1º As escolas de Ensino Fundamental e seus respec- as parcerias necessárias com os Estados, Distrito Federal e
tivos sistemas de ensino que matricularam crianças que Municípios;
completaram 6 (seis) anos de idade após a data em que CONSIDERANDO o disposto na Constituição Federal
se iniciou o ano letivo devem, em caráter excepcional, dar de 1988, na Lei nº 7.210/84, bem como na Resolução nº 14,
prosseguimento ao percurso educacional dessas crianças, de 11 de novembro de 1994, do Conselho Nacional de Po-
adotando medidas especiais de acompanhamento lítica Criminal e Penitenciária, que fixou as Regras Mínimas
e avaliação do seu desenvolvimento global. para o Tratamento do Preso no Brasil;

12
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

CONSIDERANDO o que foi aprovado pelas Conferên- cuperação e manutenção de bibliotecas destinadas ao
cias Internacionais de Educação de Adultos (V e VI CONFIN- atendimento à população privada de liberdade, inclusive
TEA) quanto à “preocupação de estimular oportunidades de as ações de valorização dos profissionais que trabalham
aprendizagem a todos, em particular, os marginalizados e nesses espaços;
excluídos”, por meio do Plano de Ação para o Futuro, que IV – promoverá o envolvimento da comunidade e dos
garante o reconhecimento do direito à aprendizagem de familiares dos indivíduos em situação de privação de liber-
todas as pessoas encarceradas, proporcionandolhes infor- dade e preverá atendimento diferenciado de acordo com
mações e acesso aos diferentes níveis de ensino e formação; as especificidades de cada medida e/ou regime prisional,
CONSIDERANDO que o projeto “Educando para a Li- considerando as necessidades de inclusão e acessibilidade,
berdade”, fruto de parceria entre os Ministérios da Educa- bem como as peculiaridades de gênero, raça e etnia, credo,
ção e da Justiça e da Representação da UNESCO no Brasil, idade e condição social da população atendida;
constitui referência fundamental para o desenvolvimento V – poderá ser realizada mediante vinculação a unida-
de uma política pública de educação no contexto de pri- des educacionais e a programas que funcionam fora dos
vação de liberdade, elaborada e implementada de for- estabelecimentos penais;
ma integrada e cooperativa, representa novo paradigma VI – desenvolverá políticas de elevação de escolari-
de ação a ser desenvolvido no âmbito da dade associada à qualificação profissional, articulandoas,
Administração Penitenciária; também, de maneira intersetorial, a políticas e progra-
CONSIDERANDO, finalmente, as manifestações e mas destinados a jovens e adultos;
contribuições provenientes da participação de represen- VII – contemplará o atendimento em todos os turnos;
tantes de organizações governamentais e de entidades da VIII – será organizada de modo a atender às pecu-
sociedade civil em reuniões de trabalho e audiências públi- liaridades de tempo, espaço e rotatividade da população
cas promovidas pelo Conselho Nacional de Educação; carcerária levando em consideração a flexibilidade prevista
RESOLVE: no art.
23 da Lei nº 9.394/96 (LDB).
Art. 1º Ficam estabelecidas as Diretrizes Nacionais para Art. 4º Visando à institucionalização de mecanismos de
a oferta de educação para jovens e adultos privados de li- informação sobre a educação em espaços de privação de
berdade em estabelecimentos penais, na forma desta Re- liberdade, com vistas ao planejamento e controle social, os
solução. órgãos responsáveis pela educação nos Estados e no Dis-
Art. 2º As ações de educação em contexto de privação trito Federal deverão:
de liberdade devem estar calcadas na legislação educacio- I – tornar público, por meio de relatório anual, a situa-
nal vigente no país, na Lei de Execução Penal, nos tratados ção e as ações realizadas para a
internacionais firmados pelo Brasil no âmbito das políticas oferta de Educação de Jovens e Adultos, em cada
de direitos humanos e privação de liberdade, devendo estabelecimento penal sob sua responsabilidade;
atender às especificidades dos diferentes níveis e mo- II – promover, em articulação com o órgão responsá-
dalidades de educação e ensino e são extensivas aos pre- vel pelo sistema prisional nos Estados e no Distrito Federal,
sos provisórios, condenados, egressos do sistema prisional programas e projetos de fomento à pesquisa, de produção
e àqueles que cumprem medidas de segurança. de documentos e publicações e a organização de campa-
Art. 3º A oferta de educação para jovens e adultos em nhas sobre o valor da educação em espaços de privação
estabelecimentos penais obedecerá às seguintes orienta- de liberdade;
ções: III – implementar nos estabelecimentos penais estra-
I – é atribuição do órgão responsável pela educação tégias de divulgação das ações de educação para os inter-
nos Estados e no Distrito Federal (Secretaria de Educação nos, incluindose chamadas públicas periódicas destinadas
ou órgão equivalente) e deverá ser realizada em articula- a matrículas.
ção com os órgãos responsáveis pela sua administração Art. 5º Os Estados, o Distrito Federal e a União,
penitenciária, exceto nas penitenciárias federais, cujos pro- levando em consideração as especificidades da educação
gramas educacionais estarão sob a responsabilidade do em espaços de privação de liberdade, deverão incenti-
Ministério da Educação em articulação com o Ministério var a promoção de novas estratégias pedagógicas,
da Justiça, que poderá celebrar convênios com Estados, produção de materiais didáticos e a implementação
Distrito Federal e Municípios; de novas metodologias e tecnologias educacionais, assim
II – será financiada com as fontes de recursos públicos como de programas educativos na modalidade Educação a
vinculados à manutenção e desenvolvimento do ensino, Distância (EAD), a serem empregados no âmbito das esco-
entre as quais o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento las do sistema prisional.
da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Art. 6º A gestão da educação no contexto prisional
Educação (FUNDEB), destinados à modalidade de Educa- deverá promover parcerias com diferentes esferas e áreas
ção de Jovens e Adultos e, de forma complementar, com de governo, bem como com universidades, instituições de
outras fontes estaduais e federais; Educação Profissional e organizações da sociedade civil,
III – estará associada às ações complementares de cul- com vistas à formulação, execução, monitoramento e
tura, esporte, inclusão digital, educação profissional, fo- avaliação de políticas públicas de Educação de Jovens e
mento à leitura e a programas de implantação, re- Adultos em situação de privação de liberdade.

13
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Parágrafo Único. As parcerias a que se refere o caput § 2º Devem ser garantidas condições de acesso e perma-
deste artigo darseão em perspectiva complementar à polí- nência na Educação Superior (graduação e pósgraduação),
tica educacional implementada pelos órgãos responsáveis a partir da participação em exames de estudantes que
pela educação da União, dos Estados e do Distrito Federal. demandam esse nível de ensino, respeitadas as normas
Art. 7º As autoridades responsáveis pela política de vigentes e as características e possibilidades dos regimes
execução penal nos Estados e Distrito Federal deverão, de cumprimento de pena previstas pela Lei n° 7.210/84.
conforme previsto nas Resoluções do Conselho Nacional Art. 13 Os planos de educação da União, dos Es-
de Política Criminal e Penitenciária, propiciar espaços físi- tados, do Distrito Federal e Municípios deverão incluir
cos adequados às atividades educacionais, esportivas, cul- objetivos e metas de educação em espaços de privação
turais, de formação profissional e de lazer, integrandoas de liberdade que atendam as especificidades dos regimes
às rotinas dos estabelecimentos penais. penais previstos no Plano Nacional de Educação.
Parágrafo Único. Os Estados e o Distrito Federal Art. 14 Os Conselhos de Educação dos Estados e do
deverão contemplar no seu planejamento a adequação Distrito Federal atuarão na implementação e fiscalização
dos espaços físicos e instalações disponíveis para a imple- destas Diretrizes, articulandose, para isso, com os Conse-
mentação das ações de educação de forma a atender às lhos Penitenciários Estaduais e do Distrito Federal ou seus
exigências desta Resolução. congêneres.
Art. 8º As ações, projetos e programas governamen- Parágrafo Único. Nas penitenciárias federais a atuação
tais destinados a EJA, incluindo o provimento de materiais prevista no caput deste artigo compete ao Conselho Na-
didáticos e escolares, apoio pedagógico, alimentação e cional de Educação ou, mediante acordo e delegação, aos
saúde dos estudantes, contemplarão as instituições e Conselhos de Educação dos Estados onde se localizam os
programas educacionais dos estabelecimentos penais. estabelecimentos penais.
Art. 9° A oferta de Educação Profissional nos estabe- Art. 15 Esta Resolução entrará em vigor na data de sua
lecimentos penais deverá seguir as Diretrizes Curriculares publicação, revogandose quaisquer disposições em con-
Nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação, trário.
inclusive com relação ao estágio profissional supervisiona-
do concebido como ato educativo. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Art. 10 As atividades laborais e artísticoculturais
deverão ser reconhecidas e valorizadas como elementos CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE
formativos integrados à oferta de educação, podendo EDUCAÇÃO BÁSICA
ser contempladas no projeto políticopedagógico como
atividades curriculares, desde que devidamente funda- RESOLUÇÃO Nº 3, DE 15 DE JUNHO DE 2010 (*)
mentadas. Institui Diretrizes Operacionais para a Educação de Jo-
Parágrafo Único. As atividades laborais, artísticocultu- vens e Adultos nos aspectos relativos à duração dos cursos
rais, de esporte e de lazer, previstas no caput deste artigo, e idade mínima para ingresso nos cursos de EJA; idade míni-
deverão ser realizadas em condições e horários compatí- ma e certificação nos exames de EJA; e Educação de Jovens
veis com as atividades educacionais. e Adultos desenvolvida por meio da Educação a Distância.
Art. 11 Educadores, gestores e técnicos que atuam O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con-
nos estabelecimentos penais deverão ter acesso a progra- selho Nacional de Educação, de conformidade com o dis-
mas de formação inicial e continuada que levem em con- posto na alínea “c” do § 1º do artigo 9º da Lei nº 4.024/61,
sideração as especificidades da política de execução penal. com a redação dada pela Lei nº 9.131/95, nos artigos 39
§ 1º Os docentes que atuam nos espaços penais deve- a 41 da Lei nº 9.394/96, no Decreto nº 5.154/2004, e com
rão ser profissionais do magistério devidamente habilita- fundamento no Parecer CNE/CEB nº 6/2010, homologado
dos e com remuneração condizente com as especificidades por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação,
da função. publicado no DOU de 9/6/2010 resolve:
§ 2º A pessoa privada de liberdade ou internada, desde Art. 1º Esta Resolução institui Diretrizes Operacionais
que possua perfil adequado e receba preparação especial, para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos aspectos
poderá atuar em apoio ao profissional da educação, auxi- relativos à duração dos cursos e idade mínima para ingres-
so nos cursos e exames de EJA, à certificação nos exames
liandoo no processo educativo e não em sua substituição.
de EJA, à Educação de Jovens e Adultos desenvolvida por
Art. 12 O planejamento das ações de educação em
meio da Educação a Distância (EAD), a serem obrigatoria-
espaços prisionais poderá contemplar, além das ativida-
mente observadas pelos sistemas de ensino, na oferta e na
des de educação formal, propostas de educação nãofor-
estrutura dos cursos e exames de Ensino Fundamental e
mal, bem como de educação para o trabalho, inclusive
Ensino Médio que se desenvolvem em instituições próprias
na modalidade de Educação a Distância, conforme pre-
integrantes dos Sistemas de Ensino Federal, Estaduais, Mu-
visto em Resoluções deste Conselho sobre a EJA.
nicipais e do Distrito Federal.
§ 1º Recomendase que, em cada unidade da federação,
Art. 2º Para o melhor desenvolvimento da EJA, cabe a
as ações de educação formal desenvolvidas nos espaços institucionalização de um sistema educacional público de
prisionais sigam um calendário unificado, comum a todos Educação Básica de jovens e adultos, como política públi-
os estabelecimentos. ca de Estado e não apenas de governo, assumindo a

14
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

gestão democrática, contemplando a diversidade de su- Art. 6º Observado o disposto no artigo 4º, inciso VII, da
jeitos aprendizes, proporcionando a conjugação de po- Lei nº 9.394/96, a idade mínima para matrícula em cursos
líticas públicas setoriais e fortalecendo sua vocação como de EJA de Ensino Médio e inscrição e realização de exames
instrumento para a educação ao longo da vida. de conclusão de EJA do Ensino Médio é 18 (dezoito) anos
Art. 3º A presente Resolução mantém os princípios, completos.
os objetivos e as Diretrizes formulados no Parecer CNE/ Parágrafo único. O direito dos menores emancipados
CEB nº 11/2000, que estabeleceu as Diretrizes Curriculares para os atos da vida civil não se aplica para o da prestação
Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos e, quan- de exames supletivos.
to à Resolução CNE/CEB nº 1/2000, amplia o alcance do Art. 7º Em consonância com o Título IV da Lei nº
disposto no artigo 7º para definir a idade mínima tam- 9.394/96, que estabelece a forma de organização da edu-
bém para a frequência em cursos de EJA, bem como subs- cação nacional, a certificação decorrente dos exames de
titui o termo “supletivo” por “EJA”, no caput do artigo 8º, EJA deve ser competência dos sistemas de ensino.
que determina idade mínima para o Ensino Médio em EJA, § 1º Para melhor cumprimento dessa competência, os
passando os mesmos a terem, respectivamente, a redação sistemas podem solicitar, sempre que necessário, apoio
constante nos artigos 4º, 5º e 6º desta Resolução. técnico e financeiro do INEP/MEC para a melhoria de seus
Art. 4º Quanto à duração dos cursos presenciais de EJA, exames para certificação de EJA.
mantémse a formulação do Parecer CNE/CEB nº 29/2006, § 2º Cabe à União, como coordenadora do sistema na-
acrescentando o total de horas a serem cumpridas, cional de educação:
independentemente da forma de organização curricular: I a possibilidade de realização de exame federal como
I para os anos iniciais do Ensino Fundamental, a dura- exercício, ainda que residual, dos estudantes do sistema fe-
ção deve ficar a critério dos sistemas de ensino; deral (cf. artigo 211, § 1º, da Constituição Federal);
II para os anos finais do Ensino Fundamental, a duração II a competência para fazer e aplicar exames em outros
mínima deve ser de 1.600 (mil e seiscentas) horas; Estados Nacionais (países), podendo delegar essa compe-
III para o Ensino Médio, a duração mínima deve ser de tência a alguma unidade da federação;
1.200 (mil e duzentas) horas. Parágrafo único. Para a Edu- III a possibilidade de realizar exame intragovernamen-
cação Profissional Técnica de Nível Médio integrada como
tal para certificação nacional em parceria com um ou mais
Ensino Médio, reafirmase a duração de 1.200 (mil e duzen-
sistemas, sob a forma de adesão e como consequência do
tas) horas destinadas à educação geral, cumulativamente
regime de colaboração, devendo, nesse caso, garantir a
com a carga horária mínima para a respectiva habilitação
exigência de uma base nacional comum.
profissional de Nível Médio, tal como estabelece a Reso-
IV garantir, como função supletiva, a dimensão ética
lução CNE/CEB nº 4/2005, e para o ProJovem, a duração
da certificação que deve obedecer aos princípios de legali-
estabelecida no Parecer CNE/CEB nº 37/2006.
dade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência;
Art. 5º Obedecidos o disposto no artigo 4º, incisos I e
VII, da Lei nº 9.394/96 (LDB) e a regra da prioridade para o V oferecer apoio técnico e financeiro aos Estados, ain-
atendimento da escolarização obrigatória, será considera- da como função supletiva, para a oferta de exames de EJA;
da idade mínima para os cursos de EJA e para a realização VI realizar avaliação das aprendizagens dos estudantes
de exames de conclusão de EJA do Ensino Fundamental a da Educação de Jovens e Adultos, integrada às avaliações
de 15 (quinze) anos completos. já existentes para o Ensino Fundamental e o Ensino Médio,
Parágrafo único. Para que haja oferta variada para capaz de oferecer dados e informações para subsidiar o
o pleno atendimento dos adolescentes, jovens e adultos estabelecimento de políticas públicas nacionais compatí-
situados na faixa de 15 (quinze) anos ou mais, com defasa- veis com a realidade, sem o objetivo de certificar o
gem idadesérie, tanto sequencialmente no ensino regular desempenho de estudantes.
quanto na Educação de Jovens e Adultos, assim como nos § 3º Toda certificação decorrente dessas compe-
cursos destinados à formação profissional, nos termos do § 3o tências possui validade nacional, garantindo padrão de
do artigo 37 da Lei nº 9.394/96, tornase necessário: qualidade.
I fazer a chamada ampliada de estudantes para o En- Art. 8º O poder público deve inserir a EJA no Sistema
sino Fundamental em todas as modalidades, tal como se Nacional de Avaliação da Educação Básica e ampliar sua
faz a chamada das pessoas de faixa etária obrigatória do ação para além das avaliações que visam identificar de-
ensino; sempenhos cognitivos e fluxo escolar, incluindo, também,
II incentivar e apoiar as redes e sistemas de ensino a a avaliação de outros indicadores institucionais das redes
estabelecerem, de forma colaborativa, política própria para públicas e privadas que possibilitam a universalização e a
o atendimento dos estudantes adolescentes de 15 (quinze) qualidade do processo educativo, tais como parâmetros de
a 17 (dezessete) anos, garantindo a utilização de mecanis- infraestrutura, gestão, formação e valorização dos profis-
mos específicos para esse tipo de alunado que considerem sionais da educação, financiamento, jornada escolar e or-
suas potencialidades, necessidades, expectativas em relação ganização pedagógica.
à vida, às culturas juvenis e ao mundo do trabalho, tal como Art. 9º Os cursos de EJA desenvolvidos por meio da
prevê o artigo 37 da Lei nº 9.394/96, inclusive com progra- EAD, como reconhecimento do ambiente virtual como es-
mas de aceleração da aprendizagem, quando necessário; paço de aprendizagem, serão restritos ao segundo seg-
III incentivar a oferta de EJA nos períodos escolares mento do Ensino Fundamental e ao Ensino Médio, com as
diurno e noturno, com avaliação em processo. seguintes características:

15
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

I a duração mínima dos cursos de EJA, desenvolvidos XII os cursos de EJA desenvolvidos por meio da EAD, au-
por meio da EAD, será de torizados antes da vigência desta Resolução, terão o prazo de
1.600 (mil e seiscentas) horas, nos anos finais do Ensino 1 (um) ano, a partir da data de sua publicação, para adequar
Fundamental, e de 1.200 (mil e duzentas) horas, no Ensino seus projetos políticopedagógicos às presentes normas.
Médio; Art. 10. O Sistema Nacional Público de Formação de
II a idade mínima para o desenvolvimento da EJA com Professores deverá estabelecer políticas e ações especí-
mediação da EAD será a mesma estabelecida para a EJA ficas para a formação inicial e continuada de professores
presencial: 15 (quinze) anos completos para o segundo de Educação Básica de jovens e adultos, bem como para
segmento do Ensino Fundamental e 18 (dezoito) anos professores do ensino regular que atuam com adolescen-
completos para o Ensino Médio; tes, cujas idades extrapolam a relação idadesérie, desen-
III cabe à União, em regime de cooperação com volvidas em estreita relação com o Programa Universidade
os sistemas de ensino, o estabelecimento padronizado Aberta do Brasil (UAB), com as Universidades Públicas e
de normas e procedimentos para os processos de autoriza- com os sistemas de ensino.
ção, reconhecimento e renovação de reconhecimento dos Art. 11. O aproveitamento de estudos e conhecimentos
cursos a distância e de credenciamento das instituições, realizados antes do ingresso nos cursos de EJA, bem como
garantindose sempre padrão de qualidade; os critérios para verificação do rendimento escolar, devem
IV os atos de credenciamento de instituições para a ser garantidos aos jovens e adultos, tal como prevê a LDB
oferta de cursos a distância da Educação Básica no âmbito em seu artigo 24, transformados em horasatividades a se-
da unidade federada deve ficar ao encargo dos sistemas rem incorporados ao currículo escolar do(a) estudante, o
de ensino; que deve ser comunicado ao respectivo sistema de ensino.
V para a oferta de cursos de EJA a distância fora da Art. 12. A Educação de Jovens e Adultos e o ensino
unidade da federação em que estiver sediada, a instituição regular sequencial para os adolescentes com defasagem
deverá obter credenciamento nos Conselhos de Educação idadesérie devem estar inseridos na concepção de es-
das unidades da federação onde irá atuar; cola unitária e politécnica, garantindo a integração des-
VI tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino sas facetas educacionais em todo seu percurso escolar,
Médio, a EAD deve ser desenvolvida em comunidade de como consignado nos artigos 39 e 40 da Lei nº 9.394/96 e
aprendizagem em rede, com aplicação, dentre outras, das na Lei nº
11.741/2008, com a ampliação de experiências tais
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na “bus-
como os programas PROEJA e ProJovem e com o incen-
ca inteligente” e na interatividade virtual, com garantia de
tivo institucional para a adoção de novas experiências
ambiente presencial escolar devidamente organizado para
pedagógicas, promovendo tanto a Educação Profissional
as práticas relativas à formação profissional, de avaliação e
quanto a elevação dos níveis de escolaridade dos traba-
gestão coletiva do trabalho, conjugando as diversas políti-
lhadores.
cas setoriais de governo;
Art. 13. Esta Resolução entra em vigor na data de sua
VII a interatividade pedagógica será desenvolvida por
publicação, ficando revogadas as disposições em contrário.
professores licenciados na disciplina ou atividade, garan-
tindo relação adequada de professores por número de es- MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
tudantes; VIII aos estudantes serão fornecidos livros
didáticos e de literatura, além de oportunidades de CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE
consulta nas bibliotecas dos polos de apoio pedagógico EDUCAÇÃO BÁSICA
organizados para tal fim;
IX infraestrutura tecnológica como polo de apoio pe- RESOLUÇÃO Nº 4, DE 13 DE JULHO DE 2010 (*)
dagógico às atividades escolares que garanta acesso dos Define Diretrizes Curriculares Nacionais
estudantes à biblioteca, rádio, televisão e internet aber- Gerais para a Educação Básica.
ta às possibilidades da chamada convergência digital; O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con-
X haja reconhecimento e aceitação de transferên- selho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições
cias entre os cursos de EJA presencial e os desenvolvidos legais, e de conformidade com o disposto na alínea “c” do
com mediação da EAD; § 1º do artigo 9º da Lei nº 4.024/1961, com a redação dada
XI será estabelecido, pelos sistemas de ensino, pela Lei nº 9.131/1995, nos artigos 36, 36A, 36B, 36C, 36D,
processo de avaliação de EJA desenvolvida por meio da 37, 39, 40, 41 e 42 da Lei nº 9.394/1996, com a redação
EAD, no qual: dada pela Lei nº 11.741/2008, bem como no Decreto
a) a avaliação da aprendizagem dos estudantes seja nº 5.154/2004, e com fundamento no Parecer CNE/CEB
contínua, processual e abrangente, com autoavaliação e nº 7/2010, homologado por Despacho do Senhor Ministro
avaliação em grupo, sempre presenciais; de Estado da Educação, publicado no DOU de 9 de julho
b) haja avaliação periódica das instituições escola- de 2010.
res como exercício da gestão democrática e garantia do RESOLVE:
efetivo controle social de seus desempenhos; Art. 1º A presente Resolução define Diretrizes Curricu-
c) seja desenvolvida avaliação rigorosa para a oferta lares Nacionais Gerais para o conjunto orgânico, sequencial
de cursos, descredenciando práticas mercantilistas e insti- e articulado das etapas e modalidades da Educação Básica,
tuições que não zelem pela qualidade de ensino; baseandose no direito de toda pessoa ao seu pleno desen-

16
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

volvimento, à preparação para o exercício da cidadania IX garantia de padrão de qualidade;


e à qualificação para o trabalho, na vivência e convi- X valorização da experiência extraescolar;
vência em ambiente educativo, e tendo como fundamento XI vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as
a responsabilidade que o Estado brasileiro, a família e a práticas sociais.
sociedade têm de garantir a democratização do acesso, a Art. 5º A Educação Básica é direito universal e alicerce
inclusão, a permanência e a conclusão com sucesso das indispensável para o exercício da cidadania em plenitude,
crianças, dos jovens e adultos na instituição educacional, a da qual depende a possibilidade de conquistar todos os
aprendizagem para continuidade dos estudos e a extensão demais direitos, definidos na Constituição Federal, no Es-
da obrigatoriedade e da gratuidade da Educação Básica. tatuto da Criança e do Adolescente (ECA), na legislação
ordinária e nas demais disposições que consagram as prer-
TÍTULO I rogativas do cidadão.
OBJETIVOS Art. 6º Na Educação Básica, é necessário considerar as
dimensões do educar e do cuidar, em sua inseparabilida-
Art. 2º Estas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais de, buscando recuperar, para a função social desse nível
para a Educação Básica têm por objetivos: da educação, a sua centralidade, que é o educando, pessoa
I sistematizar os princípios e as diretrizes gerais da Edu- em formação na sua essência humana.
cação Básica contidos na Constituição, na Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (LDB) e demais dispositivos TÍTULO III
legais, traduzindoos em orientações que contribuam para SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO
assegurar a formação básica comum nacional, tendo como
foco os sujeitos que dão vida ao currículo e à escola; Art. 7º A concepção de educação deve orientar a ins-
II estimular a reflexão crítica e propositiva que deve titucionalização do regime de colaboração entre União,
subsidiar a formulação, a execução e a avaliação do projeto Estados, Distrito Federal e Municípios, no contexto da es-
políticopedagógico da escola de Educação Básica; trutura federativa brasileira, em que convivem sistemas
III orientar os cursos de formação inicial e conti-
educacionais autônomos, para assegurar efetividade ao
nuada de docentes e demais profissionais da Educação
projeto da educação nacional, vencer a fragmentação das
Básica, os sistemas educativos dos diferentes entes federa-
políticas públicas e superar a desarticulação institucional.
dos e as escolas que os integram, indistintamente da rede
§ 1º Essa institucionalização é possibilitada por um Sis-
a que pertençam.
tema Nacional de Educação, no qual cada ente federativo,
Art. 3º As Diretrizes Curriculares Nacionais específicas
com suas peculiares competências, é chamado a colaborar
para as etapas e modalidades da Educação Básica devem
evidenciar o seu papel de indicador de opções políticas, para transformar a Educação Básica em um sistema orgâni-
sociais, culturais, educacionais, e a função da educação, co, sequencial e articulado.
na sua relação com um projeto de Nação, tendo como § 2º O que caracteriza um sistema é a atividade
referência os objetivos constitucionais, fundamentandose intencional e organicamente concebida, que se justifica
na cidadania e na dignidade da pessoa, o que pressupõe pela realização de atividades voltadas para as mesmas fin�
igualdade, liberdade, pluralidade, diversidade, respeito, nalidades ou para a concretização dos mesmos objetivos.
justiça social, solidariedade e sustentabilidade. § 3º O regime de colaboração entre os entes federados
pressupõe o estabelecimento de regras de equivalência
TÍTULO II entre as funções distributiva, supletiva, normativa, de su-
REFERÊNCIAS CONCEITUAIS pervisão e avaliação da educação nacional, respeitada
a autonomia dos sistemas e valorizadas as diferenças
Art. 4º As bases que dão sustentação ao projeto nacio- regionais.
nal de educação responsabilizam o poder público, a família,
a sociedade e a escola pela garantia a todos os educandos TÍTULO IV
de um ensino ministrado de acordo com os princípios de: ACESSO E PERMANÊNCIA PARA A CONQUISTA DA
I igualdade de condições para o acesso, inclusão, per- QUALIDADE SOCIAL
manência e sucesso na escola;
II liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a Art. 8º A garantia de padrão de qualidade, com pleno
cultura, o pensamento, a arte e o saber; acesso, inclusão e permanência dos sujeitos das aprendiza-
III pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; gens na escola e seu sucesso, com redução da evasão, da
IV respeito à liberdade e aos direitos; retenção e da distorção de idade/ano/série, resulta na qua-
V coexistência de instituições públicas e privadas de lidade social da educação, que é uma conquista coletiva de
ensino; todos os sujeitos do processo educativo.
VI gratuidade do ensino público em estabelecimentos Art. 9º A escola de qualidade social adota como
oficiais; centralidade o estudante e a aprendizagem, o que pres-
VII valorização do profissional da educação escolar; supõe atendimento aos seguintes requisitos:
VIII gestão democrática do ensino público, na forma I revisão das referências conceituais quanto aos
da legislação e das normas dos respectivos sistemas de en- diferentes espaços e tempos educativos, abrangendo es-
sino; paços sociais na escola e fora dela;

17
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

II consideração sobre a inclusão, a valorização das di- III definição de uma relação adequada entre o número
ferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade cul- de alunos por turma e por professor, que assegure apren-
tural, resgatando e respeitando as várias manifestações de dizagens relevantes;
cada comunidade; IV pessoal de apoio técnico e administrativo que responda
III foco no projeto políticopedagógico, no gosto pela às exigências do que se estabelece no projeto políticopeda-
aprendizagem e na avaliação das aprendizagens como ins- gógico.
trumento de contínua progressão dos estudantes;
IV interrelação entre organização do currículo, do tra- TÍTULO V
balho pedagógico e da jornada de trabalho do professor, ORGANIZAÇÃO CURRICULAR: CONCEITO, LIMITES,
tendo como objetivo a aprendizagem do estudante; POSSIBILIDADES
V preparação dos profissionais da educação, gestores,
professores, especialistas, técnicos, monitores e outros; Art. 11. A escola de Educação Básica é o espaço em que
VI compatibilidade entre a proposta curricular e a in- se ressignifica e se recria a cultura herdada, reconstruindose as
fraestrutura entendida como espaço formativo dotado de identidades culturais, em que se aprende a valorizar as raízes
efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização próprias das diferentes regiões do País.
e acessibilidade; Parágrafo único. Essa concepção de escola exige a supera-
VII integração dos profissionais da educação, dos es- ção do rito escolar, desde a construção do currículo até os cri-
tudantes, das famílias, dos agentes da comunidade interes- térios que orientam a organização do trabalho escolar em sua
sados na educação; multidimensionalidade, privilegia trocas, acolhimento e acon-
VIII valorização dos profissionais da educação, com chego, para garantir o bemestar de crianças, adolescentes, jo-
programa de formação continuada, critérios de acesso, vens e adultos, no relacionamento entre todas as pessoas.
permanência, remuneração compatível com a jornada de Art. 12. Cabe aos sistemas educacionais, em geral, definir
trabalho definida no projeto políticopedagógico; o programa de escolas de tempo parcial diurno (matutino ou
IX realização de parceria com órgãos, tais como vespertino), tempo parcial noturno, e tempo integral (turno e
os de assistência social e desenvolvimento humano, cida- contraturno ou turno único com jornada escolar de 7 horas, no
dania, ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e arte, mínimo, durante todo o período letivo), tendo em vista a am-
saúde, meio ambiente. plitude do papel socioeducativo atribuído ao conjunto orgâni-
co da Educação Básica, o que requer outra organização e
Art. 10. A exigência legal de definição de padrões mí-
gestão do trabalho pedagógico.
nimos de qualidade da educação traduz a necessidade
§ 1º Devese ampliar a jornada escolar, em único ou di-
de reconhecer que a sua avaliação associase à ação
ferentes espaços educativos, nos quais a permanência do es-
planejada, coletivamente, pelos sujeitos da escola.
tudante vinculase tanto à quantidade e qualidade do tempo
§ 1º O planejamento das ações coletivas exercidas pela
diário de escolarização quanto à diversidade de atividades de
escola supõe que os sujeitos tenham clareza quanto:
aprendizagens.
I aos princípios e às finalidades da educação, além do § 2º A jornada em tempo integral com qualidade
reconhecimento e da análise dos dados indicados pelo Ín- implica a necessidade da incorporação efetiva e orgânica,
dice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou no currículo, de atividades e estudos pedagogicamente
outros indicadores, que o complementem ou substituam; planejados e acompanhados.
II à relevância de um projeto políticopedagógico § 3º Os cursos em tempo parcial noturno devem esta-
concebido e assumido colegiadamente pela comunida- belecer metodologia adequada às idades, à maturidade e à
de educacional, respeitadas as múltiplas diversidades e experiência de aprendizagens, para atenderem aos jovens e
a pluralidade cultural; adultos em escolarização no tempo regular ou na modalidade
III à riqueza da valorização das diferenças manifesta- de Educação de Jovens e Adultos.
das pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos
segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultu- CAPÍTULO I
ral; FORMAS PARA A ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
IV aos padrões mínimos de qualidade (Custo Aluno-
Qualidade Inicial – CAQi); Art. 13. O currículo, assumindo como referência os prin-
§ 2º Para que se concretize a educação escolar, exi- cípios educacionais garantidos à educação, assegurados no
gese um padrão mínimo de insumos, que tem como base artigo 4º desta Resolução, configurase como o conjunto de
um investimento com valor calculado a partir das despesas valores e práticas que proporcionam a produção, a socializa-
essenciais ao desenvolvimento dos processos e proce- ção de significados no espaço social e contribuem intensa-
dimentos formativos, que levem, gradualmente, a uma mente para a construção de identidades socioculturais dos
educação integral, dotada de qualidade social: educandos.
I creches e escolas que possuam condições de § 1º O currículo deve difundir os valores fundamentais do
infraestrutura e adequados equipamentos; interesse social, dos direitos e deveres dos cidadãos, do res-
II professores qualificados com remuneração adequa- peito ao bem comum e à ordem democrática, considerando
da e compatível com a de outros profissionais com igual as condições de escolaridade dos estudantes em cada es-
nível de formação, em regime de trabalho de 40 (quarenta) tabelecimento, a orientação para o trabalho, a promoção
horas em tempo integral em uma mesma escola; de práticas educativas formais e nãoformais.

18
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

§ 2º Na organização da proposta curricular, devese as- VIII constituição de rede de aprendizagem, entendida
segurar o entendimento de currículo como experiências como um conjunto de ações didáticopedagógicas, com foco
escolares que se desdobram em torno do conhecimen- na aprendizagem e no gosto de aprender, subsidiada pela
to, permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e consciência de que o processo de comunicação entre estu-
saberes dos estudantes com os conhecimentos historicamen- dantes e professores é efetivado por meio de práticas e re-
te acumulados e contribuindo para construir as identidades cursos diversos;
dos educandos. IX adoção de rede de aprendizagem, também, como
§ 3º A organização do percurso formativo, aberto e ferramenta didáticopedagógica relevante nos programas de
contextualizado, deve ser construída em função das pecu- formação inicial e continuada de profissionais da educação,
liaridades do meio e das características, interesses e neces- sendo que esta opção requer planejamento sistemático
sidades dos estudantes, incluindo não só os componentes integrado estabelecido entre sistemas educativos ou con-
curriculares centrais obrigatórios, previstos na legislação e nas junto de unidades escolares;
normas educacionais, mas outros, também, de modo flexível e § 4º A transversalidade é entendida como uma forma de
variável, conforme cada projeto escolar, e assegurando: organizar o trabalho didáticopedagógico em que temas e ei-
I concepção e organização do espaço curricular e xos temáticos são integrados às disciplinas e às áreas ditas
físico que se imbriquem e alarguem, incluindo espaços, am- convencionais, de forma a estarem presentes em todas elas.
bientes e equipamentos que não apenas as salas de aula da § 5º A transversalidade difere da interdisciplinaridade e am-
escola, mas, igualmente, os espaços de outras escolas e os bas complementamse, rejeitando a concepção de conhecimen-
socioculturais e esportivorecreativos do entorno, da cidade e to que toma a realidade como algo estável, pronto e acabado.
mesmo da região; § 6º A transversalidade referese à dimensão di-
II ampliação e diversificação dos tempos e espaços curri- dáticopedagógica, e a interdisciplinaridade, à abordagem
culares que pressuponham profissionais da educação dispos- epistemológica dos objetos de conhecimento.
tos a inventar e construir a escola de qualidade social, com
responsabilidade compartilhada com as demais autoridades CAPÍTULO II
que respondem pela gestão dos órgãos do poder público, na FORMAÇÃO BÁSICA COMUM E PARTE DIVERSIFICA-
DA
busca de parcerias possíveis e necessárias, até porque educar é
responsabilidade da família, do Estado e da sociedade;
Art. 14. A base nacional comum na Educação Básica
III escolha da abordagem didáticopedagógica disci-
constituise de conhecimentos, saberes e valores produzidos
plinar, pluridisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar pela
culturalmente, expressos nas políticas públicas e gerados nas
escola, que oriente o projeto políticopedagógico e resulte de
instituições produtoras do conhecimento científico e tecno-
pacto estabelecido entre os profissionais da escola, conse-
lógico; no mundo do trabalho; no desenvolvimento das lin-
lhos escolares e comunidade, subsidiando a organização da guagens; nas atividades desportivas e corporais; na produção
matriz curricular, a definição de eixos temáticos e a constitui- artística; nas formas diversas de exercício da cidadania; e nos
ção de redes de aprendizagem; movimentos sociais.
IV compreensão da matriz curricular entendida como pro- § 1º Integram a base nacional comum nacional:
pulsora de movimento, dinamismo curricular e educacional, de a) a Língua Portuguesa;
tal modo que os diferentes campos do conhecimento possam b) a Matemática;
se coadunar com o conjunto de atividades educativas; c) o conhecimento do mundo físico, natural, da rea-
V organização da matriz curricular entendida como alter- lidade social e política, especialmente do Brasil, incluindose
nativa operacional que embase a gestão do currículo escolar o estudo da História e das Culturas AfroBrasileira e Indígena,
e represente subsídio para a gestão da escola (na organização d) a Arte, em suas diferentes formas de expressão, in-
do tempo e do espaço curricular, distribuição e controle do cluindose a música;
tempo dos trabalhos docentes), passo para uma gestão cen- e) a Educação Física;
trada na abordagem interdisciplinar, organizada por eixos te- f) o Ensino Religioso.
máticos, mediante interlocução entre os diferentes campos do § 2º Tais componentes curriculares são organizados pe-
conhecimento; los sistemas educativos, em forma de áreas de conhecimento,
VI entendimento de que eixos temáticos são uma forma disciplinas, eixos temáticos, preservandose a especificidade
de organizar o trabalho pedagógico, limitando a dispersão dos diferentes campos do conhecimento, por meio dos quais
do conhecimento, fornecendo o cenário no qual se cons- se desenvolvem as habilidades indispensáveis ao exercício
troem objetos de estudo, propiciando a concretização da pro- da cidadania, em ritmo compatível com as etapas do
posta pedagógica centrada na visão interdisciplinar, superan- desenvolvimento integral do cidadão.
do o isolamento das pessoas e a compartimentalização de § 3º A base nacional comum e a parte diversificada não
conteúdos rígidos; podem se constituir em dois blocos distintos, com discipli-
VII estímulo à criação de métodos didáticopedagó- nas específicas para cada uma dessas partes, mas devem ser
gicos utilizandose recursos tecnológicos de informação e co- organicamente planejadas e geridas de tal modo que
municação, a serem inseridos no cotidiano escolar, a fim de as tecnologias de informação e comunicação perpassem
superar a distância entre estudantes que aprendem a transversalmente a proposta curricular, desde a Educação
receber informação com rapidez utilizando a linguagem Infantil até o Ensino Médio, imprimindo direção aos proje-
digital e professores que dela ainda não se apropriaram; tos políticopedagógicos.

19
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Art. 15. A parte diversificada enriquece e comple- II a dimensão sequencial compreende os processos
menta a base nacional comum, prevendo o estudo das ca- educativos que acompanham as exigências de aprendi-
racterísticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da zagens definidas em cada etapa do percurso formativo,
economia e da comunidade escolar, perpassando todos os contínuo e progressivo, da Educação Básica até a Educa-
tempos e espaços curriculares constituintes do Ensino Fun- ção Superior, constituindose em diferentes e insubstituíveis
damental e do Ensino Médio, independentemente do ciclo momentos da vida dos educandos;
da vida no qual os sujeitos tenham acesso à escola. III a articulação das dimensões orgânica e sequencial
§ 1º A parte diversificada pode ser organizada em te- das etapas e das modalidades da Educação Básica, e des-
mas gerais, na forma de eixos temáticos, selecionados co- tas com a Educação Superior, implica ação coordenada
legiadamente pelos sistemas educativos ou pela unidade e integradora do seu conjunto.
escolar. § 2º A transição entre as etapas da Educação Básica
§ 2º A LDB inclui o estudo de, pelo menos, uma língua e suas fases requer formas de articulação das dimensões
estrangeira moderna na parte diversificada, cabendo sua orgânica e sequencial que assegurem aos educandos, sem
escolha à comunidade escolar, dentro das possibilidades tensões e rupturas, a continuidade de seus processos pecu-
da escola, que deve considerar o atendimento das ca-
liares de aprendizagem e desenvolvimento.
racterísticas locais, regionais, nacionais e transnacionais,
Art. 19. Cada etapa é delimitada por sua finalidade,
tendo em vista as demandas do mundo do trabalho e da
seus princípios, objetivos e diretrizes educacionais, fun-
internacionalização de toda ordem de relações.
§ 3º A língua espanhola, por força da Lei nº 11.161/2005, damentandose na inseparabilidade dos conceitos refe-
é obrigatoriamente ofertada no Ensino Médio, embora fa- renciais: cuidar e educar, pois esta é uma concepção
cultativa para o estudante, bem como possibilitada no En- norteadora do projeto políticopedagógico elaborado e
sino Fundamental, do 6º ao 9º ano. executado pela comunidade educacional.
Art. 16. Leis específicas, que complementam a LDB, de- Art. 20. O respeito aos educandos e a seus tempos
terminam que sejam incluídos componentes não discipli- mentais, socioemocionais, culturais e identitários é um
nares, como temas relativos ao trânsito, ao meio ambiente princípio orientador de toda a ação educativa, sendo res-
e à condição e direitos do idoso. ponsabilidade dos sistemas a criação de condições para
Art. 17. No Ensino Fundamental e no Ensino Médio, que crianças, adolescentes, jovens e adultos, com sua di-
destinarseão, pelo menos, 20% versidade, tenham a oportunidade de receber a formação
do total da carga horária anual ao conjunto de pro- que corresponda à idade própria de percurso escolar.
gramas e projetos interdisciplinares eletivos criados pela
escola, previsto no projeto pedagógico, de modo que os CAPÍTULO I
estudantes do Ensino Fundamental e do Médio possam ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
escolher aquele programa ou projeto com que se iden-
tifiquem e que lhes permitam melhor lidar com o conheci- Art. 21. São etapas correspondentes a diferentes
mento e a experiência. momentos constitutivos do desenvolvimento educacional:
§ 1º Tais programas e projetos devem ser desenvolvi- I a Educação Infantil, que compreende: a Creche, en-
dos de modo dinâmico, criativo e flexível, em articulação globando as diferentes etapas do desenvolvimento da
com a comunidade em que a escola esteja inserida. criança até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a PréEscola,
§ 2º A interdisciplinaridade e a contextualização devem com duração de 2 (dois) anos;
assegurar a transversalidade do conhecimento de diferen- II o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com
tes disciplinas e eixos temáticos, perpassando todo o cur- duração de 9 (nove) anos, é
rículo e propiciando a interlocução entre os saberes e os organizado e tratado em duas fases: a dos 5 (cinco)
diferentes campos do conhecimento. anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos finais; III o Ensino Mé-
dio, com duração mínima de 3 (três) anos.
TÍTULO VI ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Parágrafo único. Essas etapas e fases têm previsão de
idades próprias, as quais, no entanto, são diversas quan-
Art. 18. Na organização da Educação Básica, de-
vemse observar as Diretrizes Curriculares Nacionais co- do se atenta para sujeitos com características que fogem à
muns a todas as suas etapas, modalidades e orientações norma, como é o caso, entre outros:
temáticas, respeitadas as suas especificidades e as dos su- I de atraso na matrícula e/ou no percurso escolar;
jeitos a que se destinam. II de retenção, repetência e retorno de quem havia
§ 1º As etapas e as modalidades do processo de esco- abandonado os estudos; III de portadores de deficiência
larização estruturamse de modo orgânico, sequencial e limitadora;
articulado, de maneira complexa, embora permane- IV de jovens e adultos sem escolarização ou com esta
cendo individualizadas ao logo do percurso do estudante, incompleta; V de habitantes de zonas rurais;
apesar das mudanças por que passam: VI de indígenas e quilombolas;
I a dimensão orgânica é atendida quando são observa- VII de adolescentes em regime de acolhimento ou in-
das as especificidades e as diferenças de cada sistema edu- ternação, jovens e adultos em situação de privação de li-
cativo, sem perder o que lhes é comum: as semelhanças e berdade nos estabelecimentos penais.
as identidades que lhe são inerentes;

20
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Seção I Art. 24. Os objetivos da formação básica das crianças,


Educação Infantil definidos para a Educação Infantil, prolongamse durante os
anos iniciais do Ensino Fundamental, especialmente no pri-
Art. 22. A Educação Infantil tem por objetivo o desen- meiro, e completamse nos anos finais, ampliando e inten-
volvimento integral da criança, em seus aspectos físico, sificando, gradativamente, o processo educativo, mediante:
afetivo, psicológico, intelectual, social, complementando a I desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
ação da família e da comunidade. como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita
§ 1º As crianças provêm de diferentes e singulares e do cálculo;
contextos socioculturais, socioeconômicos e étnicos, por II foco central na alfabetização, ao longo dos 3 (três)
isso devem ter a oportunidade de ser acolhidas e respei- primeiros anos;
tadas pela escola e pelos profissionais da educação, com III compreensão do ambiente natural e social, do sis-
base nos princípios da individualidade, igualdade, liberda- tema político, da economia, da tecnologia, das artes, da
de, diversidade e pluralidade. cultura e dos valores em que se fundamenta a sociedade;
§ 2º Para as crianças, independentemente das diferen- IV o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
tes condições físicas, sensoriais, intelectuais, linguísticas, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades
étnicoraciais, socioeconômicas, de origem, de religião, en- e a formação de atitudes e valores;
tre outras, as relações sociais e intersubjetivas no espaço V fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
escolar requerem a atenção intensiva dos profissionais da solidariedade humana e de respeito recíproco em que se
educação, durante o tempo de desenvolvimento das ativi- assenta a vida social.
dades que lhes são peculiares, pois este é o momento em Art. 25. Os sistemas estaduais e municipais devem es-
que a curiosidade deve ser estimulada, a partir da brinca- tabelecer especial forma de colaboração visando à oferta
deira orientada pelos profissionais da educação. do Ensino Fundamental e à articulação sequente entre a
§ 3º Os vínculos de família, dos laços de solidariedade primeira fase, no geral assumida pelo Município, e a se-
humana e do respeito mútuo em que se assenta a vida so- gunda, pelo Estado, para evitar obstáculos ao acesso de
cial devem iniciarse na Educação Infantil e sua intensifica- estudantes que se transfiram de uma rede para outra
ção deve ocorrer ao longo da Educação Básica. para completar esta escolaridade obrigatória, garantindo
§ 4º Os sistemas educativos devem envidar esforços
a organicidade e a totalidade do processo formativo do
promovendo ações a partir das quais as unidades de Edu-
escolar.
cação Infantil sejam dotadas de condições para acolher as
crianças, em estreita relação com a família, com agentes
Seção III
sociais e com a sociedade, prevendo programas e proje-
Ensino Médio
tos em parceria, formalmente estabelecidos.
§ 5º A gestão da convivência e as situações em que se
torna necessária a solução de problemas individuais e co- Art. 26. O Ensino Médio, etapa final do processo for-
letivos pelas crianças devem ser previamente programadas, mativo da Educação Básica, é orientado por princípios e
com foco nas motivações estimuladas e orientadas pelos finalidades que preveem:
professores e demais profissionais da educação e outros I a consolidação e o aprofundamento dos conheci-
de áreas pertinentes, respeitados os limites e as potenciali- mentos adquiridos no Ensino
dades de cada criança e os vínculos desta com a família ou Fundamental, possibilitando o prosseguimento de es-
com o seu responsável direto. tudos;
II a preparação básica para a cidadania e o trabalho,
Seção II tomado este como princípio educativo, para continuar
Ensino Fundamental aprendendo, de modo a ser capaz de enfrentar novas con-
dições de ocupação e aperfeiçoamento posteriores;
Art. 23. O Ensino Fundamental com 9 (nove) anos de III o desenvolvimento do educando como pessoa hu-
duração, de matrícula obrigatória para as crianças a partir mana, incluindo a formação ética e estética, o desenvolvi-
dos 6 (seis) anos de idade, tem duas fases sequentes com ca- mento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;
racterísticas próprias, chamadas de anos iniciais, com 5 (cin- IV a compreensão dos fundamentos científicos e tec-
co) anos de duração, em regra para estudantes de 6 (seis) a nológicos presentes na sociedade contemporânea, relacio-
10 (dez) anos de idade; e anos finais, com 4 (quatro) anos de nando a teoria com a prática.
duração, para os de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos. § 1º O Ensino Médio deve ter uma base unitária sobre a
Parágrafo único. No Ensino Fundamental, acolher sig- qual podem se assentar possibilidades diversas como pre-
nifica também cuidar e educar, como forma de garantir a paração geral para o trabalho ou, facultativamente, para
aprendizagem dos conteúdos curriculares, para que o es- profissões técnicas; na ciência e na tecnologia, como inicia-
tudante desenvolva interesses e sensibilidades que lhe ção científica e tecnológica; na cultura, como ampliação da
permitam usufruir dos bens culturais disponíveis na co- formação cultural.
munidade, na sua cidade ou na sociedade em geral, e que § 2º A definição e a gestão do currículo inscrevemse
lhe possibilitem ainda sentirse como produtor valorizado em uma lógica que se dirige aos jovens, considerando suas
desses bens. singularidades, que se situam em um tempo determinado.

21
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

§ 3º Os sistemas educativos devem prever currí- § 1º Os sistemas de ensino devem matricular os


culos flexíveis, com diferentes alternativas, para que os estudantes com deficiência, transtornos globais do desen-
jovens tenham a oportunidade de escolher o percurso for- volvimento e altas habilidades/superdotação nas classes
mativo que atenda seus interesses, necessidades e aspira- comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional
ções, para que se assegure a permanência dos jovens na Especializado (AEE), complementar ou suplementar à es-
escola, com proveito, até a conclusão da Educação Básica. colarização, ofertado em salas de recursos multifuncionais
ou em centros de AEE da rede pública ou de instituições
CAPÍTULO II MODALIDADES DA comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucra-
EDUCAÇÃO BÁSICA tivos.
§ 2º Os sistemas e as escolas devem criar condições
Art. 27. A cada etapa da Educação Básica pode para que o professor da classe comum possa explorar as
corresponder uma ou mais das modalidades de ensi- potencialidades de todos os estudantes, adotando uma
no: Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, pedagogia dialógica, interativa, interdisciplinar e inclusiva
Educação Profissional e Tecnológica, Educação do Campo, e, na interface, o professor do AEE deve identificar habili-
Educação Escolar Indígena e Educação a Distância. dades e necessidades dos estudantes, organizar e orientar
sobre os serviços e recursos pedagógicos e de acessibili-
Seção I dade para a participação e aprendizagem dos estudantes.
Educação de Jovens e Adultos § 3º Na organização desta modalidade, os sistemas de
ensino devem observar as seguintes orientações funda-
Art. 28. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) destinase mentais:
aos que se situam na faixa etária superior à considerada I o pleno acesso e a efetiva participação dos estudantes
própria, no nível de conclusão do Ensino Fundamental e do no ensino regular; II a oferta do atendimento educacional
Ensino Médio. especializado;
§ 1º Cabe aos sistemas educativos viabilizar a oferta de III a formação de professores para o AEE e para o de-
cursos gratuitos aos jovens e aos adultos, proporcionan- senvolvimento de práticas educacionais inclusivas;
dolhes oportunidades educacionais apropriadas, conside- IV a participação da comunidade escolar;
radas as características do alunado, seus interesses, condi- V a acessibilidade arquitetônica, nas comunicações e
ções de vida e de trabalho, mediante cursos, exames, ações informações, nos mobiliários e equipamentos e nos trans-
integradas e complementares entre si, estruturados em um portes;
projeto pedagógico próprio. VI a articulação das políticas públicas intersetoriais.
§ 2º Os cursos de EJA, preferencialmente tendo a Edu-
cação Profissional articulada com a Educação Básica, de- Seção III
vem pautarse pela flexibilidade, tanto de currículo quanto Educação Profissional e Tecnológica
de tempo e espaço, para que seja(m):
I rompida a simetria com o ensino regular para crianças Art. 30. A Educação Profissional e Tecnológica, no cum-
e adolescentes, de modo a permitir percursos individuali- primento dos objetivos da educação nacional, integrase
zados e conteúdos significativos para os jovens e adultos; aos diferentes níveis e modalidades de educação e às di-
II providos o suporte e a atenção individuais às mensões do trabalho, da ciência e da tecnologia, e articula-
diferentes necessidades dos estudantes no processo de se com o ensino regular e com outras modalidades educa-
aprendizagem, mediante atividades diversificadas; cionais: Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial e
III valorizada a realização de atividades e vivências Educação a Distância.
socializadoras, culturais, recreativas e esportivas, geradoras Art. 31. Como modalidade da Educação Básica,
de enriquecimento do percurso formativo dos estudantes; a Educação Profissional e Tecnológica ocorre na oferta
IV desenvolvida a agregação de competências para o de cursos de formação inicial e continuada ou qualificação
trabalho; profissional e nos de Educação Profissional Técnica de nível
V promovida a motivação e a orientação permanente médio.
dos estudantes, visando maior participação nas aulas e seu Art. 32. A Educação Profissional Técnica de nível médio
melhor aproveitamento e desempenho; é desenvolvida nas seguintes formas:
VI realizada, sistematicamente, a formação continua- I articulada com o Ensino Médio, sob duas formas:
da, destinada, especificamente, aos educadores de jovens a) integrada, na mesma instituição; ou
e adultos. b) concomitante, na mesma ou em distintas institui-
ções;
Seção II II subsequente, em cursos destinados a quem já tenha
Educação Especial concluído o Ensino Médio.
§ 1º Os cursos articulados com o Ensino Médio, orga-
Art. 29. A Educação Especial, como modalidade trans- nizados na forma integrada, são cursos de matrícula única,
versal a todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, é que conduzem os educandos à habilitação profissional téc-
parte integrante da educação regular, devendo ser prevista nica de nível médio ao mesmo tempo em que concluem a
no projeto políticopedagógico da unidade escolar. última etapa da Educação Básica.

22
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

§ 2º Os cursos técnicos articulados com o Ensino o estudante participa, concomitante e alternadamente, de


Médio, ofertados na forma concomitante, com dupla ma- dois ambientes/situações de aprendizagem: o escolar e o
trícula e dupla certificação, podem ocorrer: laboral, supondo parceria educativa, em que ambas
I na mesma instituição de ensino, aproveitandose as as partes são corresponsáveis pelo aprendizado e pela
oportunidades educacionais disponíveis; formação do estudante.
II em instituições de ensino distintas, aproveitandose
as oportunidades educacionais disponíveis; Seção V
III em instituições de ensino distintas, me- Educação Escolar Indígena
diante convênios de intercomplementaridade, com
planejamento e desenvolvimento de projeto pedagógi- Art. 37. A Educação Escolar Indígena ocorre em uni-
co unificado. dades educacionais inscritas em suas terras e culturas, as
§ 3º São admitidas, nos cursos de Educação Profissional quais têm uma realidade singular, requerendo pedagogia
Técnica de nível médio, a organização e a estruturação própria em respeito à especificidade étnicocultural de cada
em etapas que possibilitem qualificação profissional povo ou comunidade e formação específica de seu quadro
intermediária. docente, observados os princípios constitucionais, a base
§ 4º A Educação Profissional e Tecnológica pode ser nacional comum e os princípios que orientam a Educação
desenvolvida por diferentes estratégias de educação con- Básica brasileira.
tinuada, em instituições especializadas ou no ambiente Parágrafo único. Na estruturação e no funciona-
de trabalho, incluindo os programas e cursos de aprendi- mento das escolas indígenas, é reconhecida a sua con-
zagem, previstos na Consolidação das dição de possuidores de normas e ordenamento jurídico
Leis do Trabalho (CLT). próprios, com ensino intercultural e bilíngue, visando à va-
Art. 33. A organização curricular da Educação Profissio- lorização plena das culturas dos povos indígenas e à afir-
nal e Tecnológica por eixo tecnológico fundamentase na mação e manutenção de sua diversidade étnica.
identificação das tecnologias que se encontram na base de Art. 38. Na organização de escola indígena, deve ser
considerada a participação da comunidade, na definição
uma dada formação profissional e dos arranjos lógicos por
do modelo de organização e gestão, bem como:
elas constituídos.
I suas estruturas sociais;
Art. 34. Os conhecimentos e as habilidades adquiridos
II suas práticas socioculturais e religiosas;
tanto nos cursos de Educação Profissional e Tecnológica,
III suas formas de produção de conhecimento, proces-
como os adquiridos na prática laboral pelos trabalhadores,
sos próprios e métodos de ensinoaprendizagem;
podem ser objeto de avaliação, reconhecimento e certifica-
IV suas atividades econômicas;
ção para prosseguimento ou conclusão de estudos.
V edificação de escolas que atendam aos interesses
das comunidades indígenas;
Seção IV VI uso de materiais didáticopedagógicos produzidos
Educação Básica do Campo de acordo com o contexto sociocultural de cada povo in-
dígena.
Art. 35. Na modalidade de Educação Básica do Campo,
a educação para a população rural está prevista com ade- Seção VI Educação a Distância
quações necessárias às peculiaridades da vida no campo e
de cada região, definindose orientações para três aspec- Art. 39. A modalidade Educação a Distância caracte-
tos essenciais à organização da ação pedagógica: rizase pela mediação didáticopedagógica nos processos
I conteúdos curriculares e metodologias apropria- de ensino e aprendizagem que ocorre com a utilização de
das às reais necessidades e interesses dos estudantes da meios e tecnologias de informação e comunicação, com
zona rural; estudantes e professores desenvolvendo atividades edu-
II organização escolar própria, incluindo adequação do cativas em lugares ou tempos diversos.
calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições Art. 40. O credenciamento para a oferta de cursos e
climáticas; programas de Educação de Jovens e Adultos, de Educação
III adequação à natureza do trabalho na zona rural. Especial e de Educação Profissional Técnica de nível mé-
Art. 36. A identidade da escola do campo é definida dio e Tecnológica, na modalidade a distância, compete aos
pela vinculação com as questões inerentes à sua realidade, sistemas estaduais de ensino, atendidas a regulamentação
com propostas pedagógicas que contemplam sua diver- federal e as normas complementares desses sistemas.
sidade em todos os aspectos, tais como sociais, culturais,
políticos, econômicos, de gênero, geração e etnia. Seção VII
Parágrafo único. Formas de organização e metodolo- Educação Escolar Quilombola
gias pertinentes à realidade do campo devem ter acolhi-
das, como a pedagogia da terra, pela qual se busca um Art. 41. A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida
trabalho pedagógico fundamentado no princípio da sus- em unidades educacionais inscritas em suas terras e cul-
tentabilidade, para assegurar a preservação da vida das tura, requerendo pedagogia própria em respeito à espe-
futuras gerações, e a pedagogia da alternância, na qual cificidade étnicocultural de cada comunidade e formação

23
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

específica de seu quadro docente, observados os princípios III o perfil real dos sujeitos – crianças, jovens e adul-
constitucionais, a base nacional comum e os princípios que tos – que justificam e instituem a vida da e na escola,
orientam a Educação Básica brasileira. do ponto de vista intelectual, cultural, emocional,
Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento afetivo, socioeconômico, como base da reflexão sobre
das escolas quilombolas, bem com nas demais, deve ser as relações vidaconhecimentoculturaprofessorestudante e
reconhecida e valorizada a diversidade cultural. instituição escolar;
IV as bases norteadoras da organização do trabalho pe-
TÍTULO VII dagógico;
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS PARA A ORGANI- V a definição de qualidade das aprendizagens e, por
ZAÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS consequência, da escola, no contexto das desigualdades que
GERAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA se refletem na escola;
VI os fundamentos da gestão democrática, comparti-
Art. 42. São elementos constitutivos para a operacio- lhada e participativa (órgãos colegiados e de representação
nalização destas Diretrizes o projeto políticopedagógico estudantil);
e o regimento escolar; o sistema de avaliação; a ges- VII o programa de acompanhamento de acesso, de per-
tão democrática e a organização da escola; o professor e o manência dos estudantes e de superação da retenção es-
programa de formação docente. colar;
VIII o programa de formação inicial e continuada dos
CAPÍTULO I profissionais da educação, regentes e não regentes;
O PROJETO POLÍTICOPEDAGÓGICO E O REGIMEN- IX as ações de acompanhamento sistemático dos resul-
TO ESCOLAR tados do processo de avaliação interna e externa (Sistema
de Avaliação da Educação Básica – SAEB, Prova Brasil, dados
Art. 43. O projeto políticopedagógico, interdepen- estatísticos, pesquisas sobre os sujeitos da Educação Básica),
dentemente da autonomia pedagógica, administrativa e incluindo dados referentes ao IDEB e/ou que complemen-
tem ou substituam os desenvolvidos pelas unidades da fe-
de gestão financeira da instituição educacional, representa
deração e outros;
mais do que um documento, sendo um dos meios de viabi-
X a concepção da organização do espaço físico da ins-
lizar a escola democrática para todos e de qualidade social.
tituição escolar de tal modo que este seja compatível com
§ 1º A autonomia da instituição educacional baseiase
as características de seus sujeitos, que atenda as nor-
na busca de sua identidade, que se expressa na constru-
mas de acessibilidade, além da natureza e das finalidades
ção de seu projeto pedagógico e do seu regimento escolar,
da educação, deliberadas e assumidas pela comunidade
enquanto manifestação de seu ideal de educação e que
educacional.
permite uma nova e democrática ordenação pedagógica
Art. 45. O regimento escolar, discutido e aprovado
das relações escolares. pela comunidade escolar e conhecido por todos, constitui-
§ 2º Cabe à escola, considerada a sua identidade e a de se em um dos instrumentos de execução do projeto políti-
seus sujeitos, articular a copedagógico, com transparência e responsabilidade.
formulação do projeto políticopedagógico com os pla- Parágrafo único. O regimento escolar trata da natureza e
nos de educação – nacional, estadual, municipal –, o con- da finalidade da instituição, da relação da gestão democráti-
texto em que a escola se situa e as necessidades locais e de ca com os órgãos colegiados, das atribuições de seus órgãos
seus estudantes. e sujeitos, das suas normas pedagógicas, incluindo os cri-
§ 3º A missão da unidade escolar, o papel so- térios de acesso, promoção, mobilidade do estudante, dos
cioeducativo, artístico, cultural, ambiental, as questões direitos e deveres dos seus sujeitos: estudantes, professores,
de gênero, etnia e diversidade cultural que compõem técnicos e funcionários, gestores, famílias, representação
as ações educativas, a organização e a gestão curricular estudantil e função das suas instâncias colegiadas.
são componentes integrantes do projeto políticopeda-
gógico, devendo ser previstas as prioridades institucionais CAPÍTULO II
que a identificam, definindo o conjunto das ações educa- AVALIAÇÃO
tivas próprias das etapas da Educação Básica assumidas,
de acordo com as especificidades que lhes correspondam, Art. 46. A avaliação no ambiente educacional compreen-
preservando a sua articulação sistêmica. de 3 (três) dimensões básicas: I avaliação da aprendizagem;
Art. 44. O projeto políticopedagógico, instância de II avaliação institucional interna e externa; III avaliação
construção coletiva que respeita os sujeitos das aprendiza- de redes de Educação Básica.
gens, entendidos como cidadãos com direitos à proteção e
à participação social, deve contemplar: Seção I
I o diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos Avaliação da aprendizagem
do processo educativo, contextualizados no espaço e no
tempo; Art. 47. A avaliação da aprendizagem baseiase na con-
II a concepção sobre educação, conhecimento, ava- cepção de educação que norteia a relação professores-
liação da aprendizagem e mobilidade escolar; tudanteconhecimentovida em movimento, devendo ser

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SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

um ato reflexo de reconstrução da prática pedagógica Art. 50. A progressão pode ser regular ou parcial, sendo
avaliativa, premissa básica e fundamental para se ques- que esta deve preservar a sequência do currículo e obser-
tionar o educar, transformando a mudança em ato, acima var as normas do respectivo sistema de ensino, requerendo
de tudo, político. o redesenho da organização das ações pedagógicas, com
§ 1º A validade da avaliação, na sua função diagnós- previsão de horário de trabalho e espaço de atuação para
tica, ligase à aprendizagem, possibilitando o aprendiz a professor e estudante, com conjunto próprio de recursos
recriar, refazer o que aprendeu, criar, propor e, nesse con- didáticopedagógicos.
texto, aponta para uma avaliação global, que vai além do Art. 51. As escolas que utilizam organização por série
aspecto quantitativo, porque identifica o desenvolvimento podem adotar, no Ensino Fundamental, sem prejuízo da
da autonomia do estudante, que é indissociavelmente avaliação do processo ensinoaprendizagem, diversas for-
ético, social, intelectual. mas de progressão, inclusive a de progressão conti-
§ 2º Em nível operacional, a avaliação da aprendiza- nuada, jamais entendida como promoção automática,
gem tem, como referência, o conjunto de conhecimentos, o que supõe tratar o conhecimento como processo e
habilidades, atitudes, valores e emoções que os sujeitos vivência que não se harmoniza com a ideia de interrup-
do processo educativo projetam para si de modo integra- ção, mas sim de construção, em que o estudante, enquanto
do e articulado com aqueles princípios definidos para a sujeito da ação, está em processo contínuo de formação,
Educação Básica, redimensionados para cada uma de suas construindo significados.
etapas, bem assim no projeto políticopedagógico da es-
cola. Seção III Avaliação institucional
§ 3º A avaliação na Educação Infantil é realiza-
da mediante acompanhamento e registro do desenvol- Art. 52. A avaliação institucional interna deve ser
vimento da criança, sem o objetivo de promoção, mesmo prevista no projeto políticopedagógico e detalhada no
em se tratando de acesso ao Ensino Fundamental. plano de gestão, realizada anualmente, levando em con-
§ 4º A avaliação da aprendizagem no Ensino Funda- sideração as orientações contidas na regulamentação vi-
mental e no Ensino Médio, de caráter formativo predo- gente, para rever o conjunto de objetivos e metas a serem
minando sobre o quantitativo e classificatório, adota uma concretizados, mediante ação dos diversos segmentos da
comunidade educativa, o que pressupõe delimitação de
estratégia de progresso individual e contínuo que favorece
indicadores compatíveis com a missão da escola, além de
o crescimento do educando, preservando a qualidade ne-
clareza quanto ao que seja qualidade social da aprendiza-
cessária para a sua formação escolar, sendo organizada de
gem e da escola.
acordo com regras comuns a essas duas etapas.
Seção IV
Avaliação de redes de Educação Básica
Seção II
Art. 53. A avaliação de redes de Educação Básica ocorre
Promoção, aceleração de estudos e classificação
periodicamente, é realizada por órgãos externos à escola
e engloba os resultados da avaliação institucional, sendo
Art. 48. A promoção e a classificação no Ensino Funda- que os resultados dessa avaliação sinalizam para a so-
mental e no Ensino Médio podem ser utilizadas em qual- ciedade se a escola apresenta qualidade suficiente para
quer ano, série, ciclo, módulo ou outra unidade de percur- continuar funcionando como está.
so adotada, exceto na primeira do Ensino Fundamental,
alicerçandose na orientação de que a avaliação do rendi- CAPÍTULO III
mento escolar observará os seguintes critérios: GESTÃO DEMOCRÁTICA E ORGANIZAÇÃO DA ES-
I avaliação contínua e cumulativa do desempenho do COLA
estudante, com prevalência dos aspectos qualitativos so-
bre os quantitativos e dos resultados ao longo do período Art. 54. É pressuposto da organização do trabalho pe-
sobre os de eventuais provas finais; dagógico e da gestão da escola conceber a organização
II possibilidade de aceleração de estudos para estu- e a gestão das pessoas, do espaço, dos processos e pro-
dantes com atraso escolar; cedimentos que viabilizam o trabalho expresso no projeto
III possibilidade de avanço nos cursos e nas séries políticopedagógico e em planos da escola, em que se con-
mediante verificação do aprendizado; formam as condições de trabalho definidas pelas instâncias
IV aproveitamento de estudos concluídos com êxito; colegiadas.
V oferta obrigatória de apoio pedagógico destina- § 1º As instituições, respeitadas as normas legais e as
do à recuperação contínua e concomitante de aprendi- do seu sistema de ensino, têm incumbências complexas e
zagem de estudantes com déficit de rendimento escolar, a abrangentes, que exigem outra concepção de organização
ser previsto no regimento escolar. do trabalho pedagógico, como distribuição da carga horária,
Art. 49. A aceleração de estudos destinase a estudan- remuneração, estratégias claramente definidas para a ação
tes com atraso escolar, àqueles que, por algum motivo, didáticopedagógica coletiva que inclua a pesquisa, a criação
encontramse em descompasso de idade, por razões como de novas abordagens e práticas metodológicas, incluindo a
ingresso tardio, retenção, dificuldades no processo de en- produção de recursos didáticos adequados às condições da
sinoaprendizagem ou outras. escola e da comunidade em que esteja ela inserida.

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SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

§ 2º É obrigatória a gestão democrática no ensino pú- § 1º Para a formação inicial e continuada, as escolas
blico e prevista, em geral, para todas as instituições de de formação dos profissionais da educação, sejam gestores,
ensino, o que implica decisões coletivas que pres- professores ou especialistas, deverão incluir em seus currículos
supõem a participação da comunidade escolar na gestão e programas:
da escola e a observância dos princípios e finalidades da a) o conhecimento da escola como organização com-
educação. plexa que tem a função de promover a educação para e na
§ 3º No exercício da gestão democrática, a escola deve cidadania;
se empenhar para constituirse em espaço das diferenças e b) a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de
da pluralidade, inscrita na diversidade do processo torna- investigações de interesse da área educacional;
do possível por meio de relações intersubjetivas, cuja meta c) a participação na gestão de processos educativos e na
é a de se fundamentar em princípio educativo emancipa- organização e funcionamento de sistemas e instituições de
dor, expresso na liberdade de aprender, ensinar, pesquisar ensino;
e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber. d) a temática da gestão democrática, dando ênfase à
Art. 55. A gestão democrática constituise em instru- construção do projeto políticopedagógico, mediante trabalho
mento de horizontalização das relações, de vivência e con- coletivo de que todos os que compõem a comunidade escolar
vivência colegiada, superando o autoritarismo no planeja- são responsáveis.
mento e na concepção e organização curricular, educando Art. 57. Entre os princípios definidos para a educação na-
para a conquista da cidadania plena e fortalecendo a ação cional está a valorização do
conjunta que busca criar e recriar o trabalho da e na escola profissional da educação, com a compreensão de que va-
mediante: lorizálo é valorizar a escola, com qualidade gestorial, educativa,
I a compreensão da globalidade da pessoa, enquanto social, cultural, ética, estética, ambiental.
ser que aprende, que sonha e ousa, em busca de uma con- § 1º A valorização do profissional da educação escolar vin-
vivência social libertadora fundamentada na ética cidadã; culase à obrigatoriedade da garantia de qualidade e ambas se
II a superação dos processos e procedimentos associam à exigência de programas de formação inicial e con-
burocráticos, assumindo com pertinência e relevância: os tinuada de docentes e não docentes, no contexto do conjunto
de múltiplas atribuições definidas para os sistemas educativos,
planos pedagógicos, os objetivos institucionais e educacio-
em que se inscrevem as funções do professor.
nais, e as atividades de avaliação contínua;
§ 2º Os programas de formação inicial e continuada dos
III a prática em que os sujeitos constitutivos da comu-
profissionais da educação, vinculados às orientações destas
nidade educacional discutam a própria práxis pedagógica
Diretrizes, devem preparálos para o desempenho de suas atri-
impregnandoa de entusiasmo e de compromisso com a
buições, considerando necessário:
sua própria comunidade, valorizandoa, situandoa no con-
a) além de um conjunto de habilidades cognitivas, saber
texto das relações sociais e buscando soluções conjuntas;
pesquisar, orientar, avaliar e elaborar propostas, isto é, inter-
IV a construção de relações interpessoais solidárias, pretar e reconstruir o conhecimento coletivamente;
geridas de tal modo que os professores se sintam estimu- b) trabalhar cooperativamente em equipe;
lados a conhecer melhor os seus pares (colegas de traba- c) compreender, interpretar e aplicar a linguagem e os
lho, estudantes, famílias), a expor as suas ideias, a traduzir instrumentos produzidos ao longo da evolução tecnológica,
as suas dificuldades e expectativas pessoais e profissionais; econômica e organizativa;
V a instauração de relações entre os estudantes, pro- d) desenvolver competências para integração com a
porcionandolhes espaços de convivência e situações de comunidade e para relacionamento com as famílias.
aprendizagem, por meio dos quais aprendam a se com- Art. 58. A formação inicial, nos cursos de licenciatura, não
preender e se organizar em equipes de estudos e de práti- esgota o desenvolvimento dos conhecimentos, saberes e ha-
cas esportivas, artísticas e políticas; bilidades referidas, razão pela qual um programa de formação
VI a presença articuladora e mobilizadora do gestor no continuada dos profissionais da educação será contemplado
cotidiano da escola e nos espaços com os quais a escola no projeto políticopedagógico.
interage, em busca da qualidade social das aprendizagens Art. 59. Os sistemas educativos devem instituir orientações
que lhe caiba desenvolver, com transparência e responsa- para que o projeto de formação dos profissionais preveja:
bilidade. a) a consolidação da identidade dos profissionais da edu-
cação, nas suas relações com a escola e com o estudante;
CAPÍTULO IV b) a criação de incentivos para o resgate da imagem social
O PROFESSOR E A FORMAÇÃO INICIAL E CONTI- do professor, assim como da autonomia docente tanto indivi-
NUADA dual como coletiva;
c) a definição de indicadores de qualidade social da edu-
Art. 56. A tarefa de cuidar e educar, que a fundamenta- cação escolar, a fim de que as agências formadoras de profis-
ção da ação docente e os programas de formação inicial e sionais da educação revejam os projetos dos cursos de forma-
continuada dos profissionais da educação instauram, refle- ção inicial e continuada de docentes, de modo que corres-
tese na eleição de um ou outro método de aprendizagem, pondam às exigências de um projeto de Nação.
a partir do qual é determinado o perfil de docente para a
Educação Básica, em atendimento às dimensões técnicas, Art. 60. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua
políticas, éticas e estéticas. publicação.

26
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Art. 4º Todos os entes federados devem instituir


planos de carreira para os profissionais da educação a
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE que se refere o inciso III do artigo 61 da Lei nº 9.394/96,
EDUCAÇÃO BÁSICA que atuem nas escolas e órgãos da rede de Educação Bási-
ca, incluindo todas as suas modalidades e, no que couber,
RESOLUÇÃO Nº 5, DE 3 DE AGOSTO DE 2010 (*) aos demais trabalhadores da educação, conforme disposto
no parágrafo único do artigo 2º desta Resolução, dentro
Fixa as Diretrizes Nacionais para os Planos de Carreira dos seguintes preceitos:
e Remuneração dos Funcionários da Educação Básica pú- I – reconhecimento da Educação Básica pública e gra-
blica. tuita como direito de todos e dever do Estado, que a deve
O Presidente da Câmara de Educação Básica do prover de acordo com o padrão de qualidade estabelecido
Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribui- na Lei nº 9.394/96, sob os princípios da gestão democráti-
ções legais, com fundamento no artigo 9º, § 1º, alíneas “a”, ca, de conteúdos que valorizem o trabalho,
“e” e “g” da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a diversidade cultural e a prática social, por meio de
a redação dada pela Lei nº 9.131, de 24 de novembro de financiamento público que leve em consideração o Cus-
1995; no artigo 8º, § 1º, e Título VI da Lei nº 9.394, de 20 de to Aluno Qualidade Inicial (CAQi), garantido em regime de
dezembro de 1996, os quais regulamentam o artigo 206, cooperação entre os entes federados, com responsabilida-
inciso V e parágrafo único, e o artigo 211 da Consti- de supletiva da União;
tuição Federal; no inciso III do artigo 61 da mesma Lei, com II – acesso à carreira por concurso público de provas e
a redação dada pela Lei nº diplomas profissionais ou títulos de escolaridade no caso
12.014, de 6 de agosto de 2009, observando o disposto dos demais trabalhadores, orientado para assegurar a qua-
no artigo 40 da Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007, e lidade da ação educativa;
tendo em vista o Parecer CNE/CEB nº 9/2010, homologado III – remuneração condigna para todos;
por despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, IV reconhecimento da importância da carreira dos pro-
publicado no DOU de 30 de julho de 2010, resolve: fissionais da Educação Básica pública e desenvolvimento
Art. 1º Fixar, em regime de colaboração e com base no de ações que visem à equiparação salarial com outras car-
Parecer CNE/CEB nº 9/2010, as Diretrizes Nacionais para reiras profissionais de formação semelhante;
orientar a elaboração dos Planos de Carreira e Remunera- V – progressão salarial na carreira, por incenti-
ção dos Funcionários da Educação Básica pública de que vos que contemplem titulação, experiência, desempenho,
trata o inciso III do artigo 61 da Lei nº 9.394, de 20 de de- atualização e aperfeiçoamento profissional;
zembro de 1996. VI – composição da jornada com parte dedicada à fun-
Art. 2º A presente Resolução aplicase aos profissionais ção específica e parte às tarefas de gestão, educação e for-
descritos no inciso III do artigo 61 da Lei nº 9.394/96, mação, segundo o projeto políticopedagógico da escola;
o qual considera profissionais da Educação Básica os VII – valorização do tempo de serviço prestado pelo
trabalhadores em educação, portadores de diploma de servidor ao ente federado, que deverá ser utilizado como
curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim, componente evolutivo;
desde que habilitados nos termos da Resolução CNE/CEB VIII – jornada de trabalho, preferencialmente, em tem-
nº 5/2005, que cria a área de Serviços de Apoio Escolar (21ª po integral de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais
Área Profissional) ou de dispositivos ulteriores sobre eixos para os profissionais da Educação Básica de que trata a
tecnológicos sobre o tema, em cursos de nível médio ou presente Resolução;
superior. IX – incentivo à dedicação exclusiva em um único local
Parágrafo único. Os entes federados que julgarem in- de trabalho;
dispensável a extensão de parte ou de todos os disposi- X – incentivo à integração dos sistemas de ensino às
tivos da presente Resolução aos demais trabalhadores da políticas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
educação poderão aplicálos em planos de carreira. Municípios concernentes à formação inicial e continuada
Art. 3º Os critérios para a remuneração dos profissio- dos profissionais da educação nas modalidades presen-
nais da educação de que trata a presente Resolução devem cial e a distância, com o objetivo de melhorar a quali-
pautarse pelos preceitos da Lei nº 11.494/2007, em seu ar- ficação e de suprir as carências de habilitação profissional
tigo 40, bem como pelo artigo 69 da Lei nº 9.394/96, na educação;
que define os percentuais mínimos de investimento dos XI – apoio técnico e financeiro, por parte do ente fe-
entes federados na educação. derado, que vise melhorar as condições de trabalho
Parágrafo único. Além das fontes de recursos para o dos profissionais da Educação Básica de que cuida a
pagamento dos profissionais de que trata a presente Re- presente Resolução e erradicar e prevenir a incidência de
solução, previstas no caput, também são fontes de recurso doenças profissionais;
as descritas no artigo 212 da Constituição Federal e no XII – promoção da participação dos profissionais da
artigo 60 do seu Ato das Disposições Constitucionais Educação Básica pública, de que trata a presente Resolu-
Transitórias, acrescidos dos recursos provenientes de ou- ção, na elaboração e no planejamento, execução e avalia-
tras fontes vinculadas à manutenção e ao desenvolvimento ção do projeto políticopedagógico da escola e da rede de
do ensino. ensino;

27
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

XIII – estabelecimento de critérios objetivos para a VIII – promover, por Resolução do respectivo sistema
movimentação dos profissionais entre unidades escolares, de ensino, adequada relação numérica entre profissionais
tendo como base os interesses da educação e a aprendiza- da Educação Básica de que trata a presente Resolução
gem dos estudantes; e educandos, nas redes públicas de ensino, nas etapas e
XIV – regulamentação entre as esferas de adminis- modalidades da Educação Básica, prevendo limites meno-
tração, quando operando em regime de colaboração, nos res do que os atualmente praticados, a fim de melhor pro-
termos do artigo 241 da Constituição Federal, para a re- ver, nas duas situações, os investimentos públicos, elevar a
moção e o aproveitamento dos profissionais de que trata qualidade da educação e atender às condições de trabalho
a presente Resolução, quando da mudança de residência e dos profissionais tratados na presente Resolução, em con-
da existência de vagas nas redes educacionais de destino, sonância com o que prevê o Parecer CNE/CEB nº 8/2010,
sem prejuízos para os direitos dos servidores no respectivo que normatiza os padrões mínimos de qualidade da Edu-
quadro funcional. cação Básica nacional.
Art. 5º Na adequação de seus planos de carreira aos dis- IX – observar os requisitos dos artigos 70 e 71 da Lei
positivos das Leis nº 9.394/96, e nº 11.494/2007, a União, os nº 9.394/96, que disciplinam as despesas que são ou não
Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem observar as consideradas gastos com manutenção e desenvolvimento
seguintes diretrizes: do ensino, quanto à cedência de profissionais para outras
I – assegurar a aplicação integral dos recursos cons-
funções fora do sistema ou rede de ensino, visando à cor-
titucionalmente vinculados à manutenção e ao desenvolvi-
reta caracterização das despesas com pagamento de pes-
mento do ensino, além de outros eventualmente destinados
soal como sendo ou não gastos em educação;
por lei à educação;
II – fazer constar nos planos de carreira a natureza dos X – manter, no respectivo órgão da Educação, a vincu-
respectivos cargos e funções dos profissionais da educação, lação profissional de todos os trabalhadores da educação
à luz do artigo 2º desta Resolução; de que trata a presente Resolução, a fim de melhor acom-
III – determinar a realização de concurso público de pro- panhar as despesas e os investimentos decorrentes da ma-
vas e títulos para provimento qualificado de todos os car- nutenção e desenvolvimento do ensino;
gos ou empregos públicos ocupados pelos profissionais XI – assegurar aos profissionais de que trata a presente
da Educação Básica de que trata a presente Resolução, na Resolução 30 (trinta) dias de férias anuais, conforme o ca-
rede de ensino público sempre que: lendário da escola;
a) a vacância no quadro permanente alcançar percentual XII – manter, em legislação própria, a regulamentação
igual a 10% (dez por cento), da gestão democrática do sistema de ensino, da rede e das
conforme a legislação nacional e local, e a critério de co- escolas, fixando regras claras para a designação, nomeação
legiado da respectiva rede de ensino, considerandose esse e exoneração do diretor de escola dentre os ocupantes de
percentual para cada um dos cargos ou empregos públicos cargos efetivos das carreiras do Magistério e dos profissio-
existentes; ou nais da educação de que trata a presente Resolução, res-
b) independentemente do número de cargos ou peitada a exigência de habilitação, com a participação da
empregos públicos vagos, após passados 4 (quatro) anos do comunidade escolar no processo de escolha do seu diretor;
último concurso havido para seu provimento; XIII – prover a formação dos profissionais da educa-
IV – fixar vencimento ou salário inicial para as carreiras ção de que trata a presente Resolução, de modo a aten-
profissionais da educação, para os trabalhadores de que trata der às especificidades do exercício de suas atividades, bem
a presente Resolução, de acordo com a jornada de trabalho como aos objetivos das diferentes etapas e modalida-
definida nos respectivos planos de carreira, diferenciados des da educação inicial, pedagógica e profissional, sob
pelos níveis das habilitações, vedada qualquer diferencia- os seguintes fundamentos:
ção em virtude da etapa ou modalidade de atuação do pro- a) sólida formação inicial básica, que propicie o conhe-
fissional; cimento dos fundamentos de
V – diferenciar os vencimentos ou salários iniciais da car-
suas competências de trabalho;
reira dos profissionais da Educação Básica de que trata a
b) associação entre teorias e práticas, mediante está-
presente Resolução por titulação profissional, entre os
gios supervisionados, capacitação em serviço e formação
habilitados em nível médio e os habilitados em nível superior
e pósgraduação, de acordo com o seu itinerário formativo; continuada;
VI – assegurar revisão salarial anual dos vencimentos c) aproveitamento da formação e experiências anterio-
ou salários iniciais e das remunerações da carreira, de res, em instituições de ensino e em outras atividades;
modo a preservar o poder aquisitivo dos profissionais XIV – assegurar, no próprio sistema ou em colaboração
da Educação Básica de que trata a presente Resolução, nos com os demais sistemas de ensino, a oferta de programas
termos do inciso X do artigo 37 da Constituição Federal; permanentes e regulares de formação continuada para
VII – manter comissão paritária entre gestores e profis- aperfeiçoamento profissional, inclusive em pósgraduação;
sionais da educação de que trata a presente Resolução e os XV – promover, preferencialmente em colaboração
demais setores da comunidade escolar, para estudar as con- com outros sistemas de ensino, a universalização das exi-
dições de trabalho e prover políticas públicas voltadas ao gências mínimas de formação para o exercício da pro-
bom desempenho profissional e à qualidade dos serviços fissão dos profissionais da Educação Básica de que trata a
educacionais prestados à comunidade; presente Resolução;

28
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

XVI – instituir mecanismos de concessão de licenças XX – estabelecer mecanismos de progressão na carrei-


para aperfeiçoamento e formação continuada dos pro- ra também com base no tempo de serviço;
fissionais de que trata a presente Resolução, de modo XXI – elaborar e implementar processo avaliativo
a promover a qualificação; do estágio probatório dos profissionais da educação
XVII – instituir mecanismos que possibilitem a for- de que trata a presente Resolução, com participação
mação continuada no local e horário de trabalho para os desses profissionais;
profissionais de que trata a presente Resolução, por meio XXII – estabelecer, com base nas propostas curriculares
de convênios, preferencialmente realizados com institui- e na composição dos cargos e empregos públicos de car-
ções públicas de ensino e, quando privadas, apenas com reiras dos sistemas de ensino, quadro de lotação de pes-
aquelas de reconhecido padrão de qualidade; soal que inclua o número de vagas por cargo, região ou
XVIII – constituir incentivos de progressão por qualifi- município e unidade escolar, a partir do qual se preveja a
cação do trabalho profissional, a partir dos seguintes refe- realização dos concursos de ingresso, de remoção entre as
renciais, podendo ser agregados outros: unidades escolares e de movimentação entre seus postos
a) dedicação exclusiva ao cargo, emprego público ou de trabalho;
função na rede de ensino, desde que haja incentivo para XXIII – realizar, quando necessário, concurso de
tal; movimentação interna dos profissionais da educação de
b) elevação dos níveis de escolaridade e da ha- que trata a presente Resolução, em data anterior aos pro-
bilitação profissional, segundo o itinerário formativo, cessos de lotação de profissionais provenientes de ou-
possibilitando o contínuo e articulado aproveitamento de tras esferas administrativas ou das listas de classificados
estudos; em concursos públicos;
c) avaliação para o desempenho do profissional da XXIV – regulamentar, por meio de lei de iniciativa
educação de que trata a presente Resolução e do sistema dos entes federados e em consonância com os artigos
de ensino, que leve em conta, entre outros fatores, a ob- 10 e 11 da Lei nº 9.394/96 e o artigo 23 da Constituição
jetividade, que é a escolha de requisitos que possibilitem Federal, a recepção de profissionais de que trata a presente
a análise de indicadores qualitativos e quantitativos, e a Resolução, de outras redes públicas;
transparência, que assegura que o resultado da avaliação XXV – a fim de observar o disposto no inciso anterior,
possa ser analisado pelo avaliado e pelos avaliadores, com os planos de carreira poderão prever a recepção de pro-
vistas à superação das dificuldades detectadas para o de- fissionais de outros entes federados por permuta ou
sempenho profissional ou do sistema, a ser realizada com cessão temporária, havendo interesse das partes e coinci-
base nos seguintes princípios: dência ou semelhança de cargos ou empregos públicos, no
1 – para o profissional da educação escolar: caso de mudança de residência do profissional e existência
1.1 – participação democrática: o processo de de vagas, na forma de regulamentação específica de cada
avaliação deve ser elaborado coletivamente pelo órgão rede de ensino, inclusive para fins de intercâmbio entre os
executivo e os profissionais da educação de cada rede de diversos sistemas, como forma de propiciar ao profissional
ensino; sua vivência com outras realidades laborais, como uma das
2 – para os sistemas de ensino: formas de aprimoramento profissional.
2.1 – amplitude: a avaliação deve incidir sobre todas as Art. 6º Os planos de carreira devem estabelecer regras
áreas de atuação do sistema de ensino, que compreendem: claras para o cálculo dos proventos dos profissionais da
2.1.1 – a formulação das políticas educacionais; educação de que trata a presente Resolução, ligados ao
2.1.2 – a aplicação delas pelas redes de ensino; regime próprio de aposentadoria dos entes federados.
2.1.3 – o desempenho dos profissionais da educação; Art. 7º A presente Resolução aplicase, inclusive, aos
2.1.4 – a estrutura escolar; trabalhadores das escolas indígenas, do campo, prisio-
2.1.5 – as condições socioeducativas dos educandos; nais e de outras diversidades, os quais gozarão de todas
2.1.6 – os resultados educacionais da escola; as garantias aqui previstas, considerando as especificida-
2.1.7 – outros critérios. des dessas atividades profissionais.
XIX – A avaliação para o desempenho profissional a
que se refere a alínea “c” do inciso anterior deve reco- DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
nhecer a interdependência entre o trabalho do profis-
sional da educação de que trata a presente Resolução e o Art. 8º Durante os 10 (dez) primeiros anos de vigência
funcionamento geral do sistema de ensino e, portanto, ser da presente Resolução, os entes federados, exceto para os
compreendida como um processo global e permanente de cargos e empregos públicos cuja exigência para o exercício
análise de atividades, a fim de proporcionar ao profissional seja obtida em nível superior, poderão exigir apenas a for-
um momento de aprofundar a análise de sua prática, per- mação em nível médio para o exercício de cargos e empre-
cebendo seus pontos positivos e visualizando caminhos gos públicos dos funcionários da Educação Básica pública,
para a superação de suas dificuldades, possibilitando, devendo, no entanto, no período do estágio probatório,
dessa forma, seu crescimento profissional e, ao sistema fornecer, nos moldes descritos no inciso XVII do artigo 5º
de ensino, indicadores que permitam o aprimoramento do da presente Resolução, a formação inicial necessária para o
processo educativo; pleno exercício dessas atividades.

29
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Parágrafo único. Ao final do estágio probatório, e após Art. 4º As crianças que completarem 6 (seis) anos de
obter a formação necessária, o servidor que tenha ingres- idade após a data definida no artigo 3º deverão ser matri-
sado no serviço público nos moldes descritos no caput, fará culadas na PréEscola.
concurso de acesso para o cargo seguinte da mesma car- Art. 5º Os sistemas de ensino definirão providências
reira do ingresso, como condição para a posse neste novo complementares para o Ensino Fundamental de 8 (oito)
cargo. anos e/ou de 9 (nove) anos, conforme definido nos Parece-
Art. 9º Os entes federados poderão, nos 10 (dez) res CEB/CNE nº 18/2005, nº 5/2007 e nº 7/2007, e na Lei nº
primeiros anos de vigência da presente Resolução, aplicar, 11.274/2006, devendo, a partir do ano de 2011, matricular
paulatinamente, o limite estabelecido no inciso III do artigo as crianças, para o ingresso no primeiro ano, somente no
5º para que seja obrigatória a realização de concursos pú- Ensino Fundamental de 9 (nove) anos.
blicos para o provimento dos cargos e empregos públicos § 1º As escolas de Ensino Fundamental e seus
de que trata a presente Resolução. respectivos sistemas de ensino que matricularam crian-
Art. 10. Ao final dos 10 (dez) primeiros anos de vigência ças, para ingressarem no primeiro ano, e que completa-
da presente Resolução, todos ram 6 (seis) anos de idade após o dia 31 de março, devem,
os trabalhadores da Educação Básica pública deverão em caráter excepcional, dar prosseguimento ao percurso
ser servidores públicos. educacional dessas crianças, adotando medidas especiais
Parágrafo único. Os cargos ou empregos públicos ocu- de acompanhamento e avaliação do seu desenvolvimento
pados por trabalhadores não admitidos por concurso pú- global.
blico, independentemente da modalidade de contratação, § 2º Os sistemas de ensino poderão, em caráter
serão considerados vagos para as finalidades descritas no excepcional, no ano de 2011, dar prosseguimento para
caput. o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos às crianças de 5
Art. 11. A presente Resolução entrará em vigor na data (cinco) anos de idade, independentemente do mês do seu
de sua publicação. aniversário de 6 (seis) anos, que no seu percurso educacio-
nal estiveram matriculadas e frequentaram, até o final de
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 2010, por 2 (dois) anos ou mais a PréEscola.
§ 3º Esta excepcionalidade deverá ser regulamentada
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE pelos Conselhos de Educação dos Estados, dos Municí-
EDUCAÇÃO BÁSICA pios e do Distrito Federal, garantindo medidas es-
peciais de acompanhamento e avaliação do desenvolvi-
(*) mento global da criança para decisão sobre a pertinên-
RESOLUÇÃO Nº 6, DE 20 DE OUTUBRO DE 2010
cia do acesso ao início do 1º ano do Ensino Fundamental.
Art. 6º Esta Resolução entrará em vigor na data de
Define Diretrizes Operacionais para a matrícula no Ensi-
sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
no Fundamental e na Educação Infantil
O Presidente da Câmara de Educação Básica do
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribui-
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE
ções legais, em conformidade com o disposto na alínea “c”
EDUCAÇÃO BÁSICA
do § 1º do artigo 9º da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro
RESOLUÇÃO Nº 7, DE 14 DE DEZEMBRODE 2010
de 1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131, de 25 de (*)
novembro de 1995, bem como no § 1º do artigo 8º, no § 1º Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
do artigo 9º e no artigo 90 da Lei nº Fundamental de 9 (nove) anos.
9.394, de 20 de dezembro de 1996, nos Pareceres CNE/ O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con-
CEB nº 20/2009 e nº 22/2009, nas Resoluções CNE/CEB nº selho Nacional de Educação, de conformidade com o dis-
5/2009 e nº 1/2010, e com fundamento no Parecer CNE/ posto na alínea “c” do § 1º do art. 9º da Lei nº 4.024/61,
CEB nº 12/2010, homologado por despacho do Senhor Mi- com a redação dada pela Lei nº 9.131/95, no art. 32 da Lei
nistro da Educação, publicado no DOU de 18 de outubro nº 9.394/96, na Lei nº 11.274/2006, e com fundamento no
de 2010, resolve: Parecer CNE/CEB nº 11/2010, homologado por Despacho
Art. 1º Os entes federados, as escolas e as famílias de- do Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no
vem garantir o atendimento do direito público subjetivo DOU de 9 de dezembro de 2010, resolve:
das crianças com 6 (seis) anos de idade, matriculandoas e 1º A presente Resolução fixa as Diretrizes Curriculares
mantendoas em escolas de Ensino Fundamental, nos ter- Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos a
mos da Lei nº 11.274/2006. serem observadas na organização curricular dos sistemas
Art. 2º Para o ingresso na PréEscola, a criança deverá de ensino e de suas unidades escolares.
ter idade de 4 (quatro) anos completos até o dia 31 de Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
março do ano que ocorrer a matrícula. sino Fundamental de 9 (nove) anos articulamse com as
Art. 3º Para o ingresso no primeiro ano do Ensino Fun- Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação
damental, a criança deverá ter idade de 6 (seis) anos com- Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/
pletos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a CEB nº 4/2010) e reúnem princípios, fundamentos e
matrícula. procedimentos definidos pelo Conselho Nacional de Edu-

30
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

cação, para orientar as políticas públicas educacionais e a § 4º A educação escolar, comprometida com a igual-
elaboração, implementação e avaliação das orientações dade do acesso de todos ao conhecimento e especial-
curriculares nacionais, das propostas curriculares dos mente empenhada em garantir esse acesso aos grupos
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, e dos pro- da população em desvantagem na sociedade, será uma
jetos políticopedagógicos das escolas. educação com qualidade social e contribuirá para dirimir
Parágrafo único. Estas Diretrizes Curriculares Nacio- as desigualdades historicamente produzidas, assegu-
nais aplicamse a todas as modalidades do Ensino Funda- rando, assim, o ingresso, a permanência e o sucesso na
mental previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação escola, com a consequente redução da evasão, da reten-
Nacional, bem como à Educação do Campo, à Educação ção e das distorções de idade/ano/série (Parecer CNE/CEB
Escolar Indígena e à Educação Escolar Quilombola. nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010, que define as
FUNDAMENTOS Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação
Art. 3º O Ensino Fundamental se traduz como um direi- Básica).
to público subjetivo de cada um e como dever do Estado e PRINCÍPIOS
da família na sua oferta a todos.
Art. 6º Os sistemas de ensino e as escolas adotarão,
Art. 4º É dever do Estado garantir a oferta do Ensino
como norteadores das políticas educativas e das ações
Fundamental público, gratuito e de qualidade, sem requi-
pedagógicas, os seguintes princípios:
sito de seleção.
I – Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e auto-
Parágrafo único. As escolas que ministram esse ensino
deverão trabalhar considerando essa etapa da educação nomia; de respeito à dignidade da pessoa humana e de
como aquela capaz de assegurar a cada um e a todos o compromisso com a promoção do bem de todos, con-
acesso ao conhecimento e aos elementos da cultura im- tribuindo para combater e eliminar quaisquer manifesta-
prescindíveis para o seu desenvolvimento pessoal e para ções de preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e
a vida em sociedade, assim como os benefícios de quaisquer outras formas de discriminação.
uma formação comum, independentemente da grande II – Políticos: de reconhecimento dos direitos e deve-
diversidade da população escolar e das demandas sociais. res de cidadania, de respeito ao bem comum e à preserva-
Art. 5º O direito à educação, entendido como um di- ção do regime democrático e dos recursos ambientais; da
reito inalienável do ser humano, constitui o fundamento busca da equidade no acesso à educação, à saúde, ao tra-
maior destas Diretrizes. A educação, ao proporcio- balho, aos bens culturais e outros benefícios; da exigência
nar o desenvolvimento do potencial humano, permite o de diversidade de tratamento para assegurar a igualdade
exercício dos direitos civis, políticos, sociais e do direito de direitos entre os alunos que apresentam diferentes ne-
à diferença, sendo ela mesma também um direito social, e cessidades; da redução da pobreza e das desigualdades
possibilita a formação cidadã e o usufruto dos bens sociais sociais e regionais.
e culturais. III – Estéticos: do cultivo da sensibilidade juntamente
§ 1º O Ensino Fundamental deve comprometerse com com o da racionalidade; do enriquecimento das formas
uma educação com qualidade social, igualmente entendida de expressão e do exercício da criatividade; da valoriza-
como direito humano. ção das diferentes manifestações culturais, especialmente
§ 2º A educação de qualidade, como um direito a da cultura brasileira; da construção de identidades plu-
fundamental, é, antes de tudo, rais e solidárias.
relevante, pertinente e equitativa. Art. 7º De acordo com esses princípios, e em con-
I – A relevância reportase à promoção de aprendiza- formidade com o art. 22 e o art. 32 da Lei nº 9.394/96
gens significativas do ponto de vista das exigências sociais (LDB), as propostas curriculares do Ensino Fundamental
e de desenvolvimento pessoal. visarão desenvolver o educando, assegurarlhe a forma-
II – A pertinência referese à possibilidade de aten-
ção comum indispensável para o exercício da cidadania
der às necessidades e às características dos estudantes
e fornecerlhe os meios para progredir no trabalho e em
de diversos contextos sociais e culturais e com diferen-
estudos posteriores, mediante os objetivos previstos para
tes capacidades e interesses.
esta etapa da escolarização, a saber:
III – A equidade alude à importância de tratar de forma
diferenciada o que se apresenta como desigual no ponto I – o desenvolvimento da capacidade de aprender,
de partida, com vistas a obter desenvolvimento e aprendi- tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da
zagens equiparáveis, assegurando a todos a igualdade de escrita e do cálculo;
direito à educação. II – a compreensão do ambiente natural e social, do
§ 3º Na perspectiva de contribuir para a erradicação sistema político, das artes, da tecnologia e dos valores em
da pobreza e das desigualdades, a equidade requer que que se fundamenta a sociedade;
sejam oferecidos mais recursos e melhores condições às III – a aquisição de conhecimentos e habilidades, e a
escolas menos providas e aos alunos que deles mais ne- formação de atitudes e valores como instrumentos para
cessitem. Ao lado das políticas universais, dirigidas a todos uma visão crítica do mundo;
sem requisito de seleção, é preciso também sustentar IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos la-
políticas reparadoras que assegurem maior apoio aos di- ços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em
ferentes grupos sociais em desvantagem. que se assenta a vida social.

31
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

MATRÍCULA NO ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 (NOVE) § 2º Voltados à divulgação de valores fundamentais ao


ANOS E CARGA HORÁRIA interesse social e à preservação da ordem democrática, os
Art. 8º O Ensino Fundamental, com duração de 9 (nove) conhecimentos que fazem parte da base nacional comum
anos, abrange a população na faixa etária dos 6 (seis) aos 14 a que todos devem ter acesso, independentemente da re-
(quatorze) anos de idade e se estende, também, a todos os gião e do lugar em que vivem, asseguram a característica
que, na idade própria, não tiveram condições de frequentálo. unitária das orientações curriculares nacionais, das propos-
§ 1º É obrigatória a matrícula no Ensino Fundamental de tas curriculares dos Estados, do Distrito Federal, dos Mu-
crianças com 6 (seis) anos completos ou a completar até o nicípios, e dos projetos políticopedagógicos das escolas.
dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula, nos ter- § 3º Os conteúdos curriculares que compõem a parte
mos da Lei e das normas nacionais vigentes. diversificada do currículo serão definidos pelos sistemas de
§ 2º As crianças que completarem 6 (seis) anos após ensino e pelas escolas, de modo a complementar e enri-
essa data deverão ser matriculadas na Educação Infantil quecer o currículo, assegurando a contextualização dos co-
(PréEscola). nhecimentos escolares em face das diferentes realidades.
§ 3º A carga horária mínima anual do Ensino Funda- Art. 12 Os conteúdos que compõem a base nacional
mental regular será de 800 (oitocentas) horas relógio, dis-
comum e a parte diversificada têm origem nas disciplinas
tribuídas em, pelo menos, 200 (duzentos) dias de efetivo
científicas, no desenvolvimento das linguagens, no mundo
trabalho escolar.
do trabalho, na cultura e na tecnologia, na produção ar-
CURRÍCULO
Art. 9º O currículo do Ensino Fundamental é entendi- tística, nas atividades desportivas e corporais, na área da
do, nesta Resolução, como constituído pelas experiências saúde e ainda incorporam saberes como os que advêm
escolares que se desdobram em torno do conhecimento, das formas diversas de exercício da cidadania, dos movi-
permeadas pelas relações sociais, buscando articular vivên- mentos sociais, da cultura escolar, da experiência docente,
cias e saberes dos alunos com os conhecimentos historica- do cotidiano e dos alunos.
mente acumulados e contribuindo para construir as identi- Art. 13 Os conteúdos a que se refere o art. 12 são cons-
dades dos estudantes. tituídos por componentes curriculares que, por sua vez,
§ 1º O foco nas experiências escolares significa que as se articulam com as áreas de conhecimento, a saber:
orientações e as propostas curriculares que provêm das di- Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e
versas instâncias só terão concretude por meio das ações Ciências Humanas. As áreas de conhecimento favore-
educativas que envolvem os alunos. cem a comunicação entre diferentes conhecimentos siste-
§ 2º As experiências escolares abrangem todos os aspectos matizados e entre estes e outros saberes, mas permitem
do ambiente escolar:, aqueles que compõem a parte explícita que os referenciais próprios de cada componente curricu-
do currículo, bem como os que também contribuem, de forma lar sejam preservados.
implícita, para a aquisição de conhecimentos socialmen- Art. 14 O currículo da base nacional comum do Ensino
te relevantes. Valores, atitudes, sensibilidade e orientações de Fundamental deve abranger, obrigatoriamente, conforme
conduta são veiculados não só pelos conhecimentos, mas por o art. 26 da Lei nº 9.394/96, o estudo da Língua Portuguesa
meio de rotinas, rituais, normas de convívio social, festividades, e da Matemática, o conhecimento do mundo físico e na-
pela distribuição do tempo e organização do espaço educativo, tural e da realidade social e política, especialmente a do
pelos materiais utilizados na aprendizagem e pelo recreio, en- Brasil, bem como o ensino da Arte, a Educação Física e o
fim, pelas vivências proporcionadas pela escola. Ensino Religioso.
§ 3º Os conhecimentos escolares são aqueles que Art. 15 Os componentes curriculares obrigatórios do
as diferentes instâncias que produzem orientações sobre o Ensino Fundamental serão assim organizados em relação
currículo, as escolas e os professores selecionam e transfor- às áreas de conhecimento:
mam a fim de que possam ser ensinados e aprendidos, ao
I – Linguagens:
mesmo tempo em que servem de elementos para a forma-
a) Língua Portuguesa;
ção ética, estética e política do aluno.
b) Língua Materna, para populações indígenas;
BASE NACIONAL COMUM E PARTE DIVERSIFICADA:
COMPLEMENTARIDADE Art. 10 O currículo do Ensino Fun- c) Língua Estrangeira moderna;
damental tem uma base nacional comum, complemen- d) Arte; e
tada em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento e) Educação Física;
escolar por uma parte diversificada. II – Matemática;
Art. 11 A base nacional comum e a parte diversificada III – Ciências da Natureza;
do currículo do Ensino IV – Ciências Humanas:
Fundamental constituem um todo integrado e não po- a) História;
dem ser consideradas como dois blocos distintos. b) Geografia;
§ 1º A articulação entre a base nacional comum e a parte V – Ensino Religioso.
diversificada do currículo do Ensino Fundamental possibilita § 1º O Ensino Fundamental deve ser ministrado em lín-
a sintonia dos interesses mais amplos de formação básica do gua portuguesa, assegurada também às comunidades in-
cidadão com a realidade local, as necessidades dos alunos, dígenas a utilização de suas línguas maternas e processos
as características regionais da sociedade, da cultura e da próprios de aprendizagem, conforme o art. 210, § 2º, da
economia e perpassa todo o currículo. Constituição Federal.

32
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

§ 2º O ensino de História do Brasil levará em conta as § 3º Aos órgãos executivos dos sistemas de ensi-
contribuições das diferentes culturas e etnias para a forma- no compete a produção e a disseminação de materiais
ção do povo brasileiro, especialmente das matrizes indí- subsidiários ao trabalho docente, que contribuam para a
gena, africana e européia (art. 26, § 4º, da Lei nº 9.394/96). eliminação de discriminações, racismo, sexismo, homofo-
§ 3º A história e as culturas indígena e afrobrasileira, bia e outros preconceitos e que conduzam à adoção de
presentes, obrigatoriamente, nos conteúdos desenvolvidos comportamentos responsáveis e solidários em relação
no âmbito de todo o currículo escolar e, em especial, no aos outros e ao meio ambiente.
ensino de Arte, Literatura e História do Brasil, assim como Art. 17 Na parte diversificada do currículo do Ensino
a História da África, deverão assegurar o conhecimento e Fundamental será incluído, obrigatoriamente, a partir do
o reconhecimento desses povos para a constituição da na- 6º ano, o ensino de, pelo menos, uma Língua Estran-
ção (conforme art. 26A da Lei nº 9.394/96, alterado pela geira moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade
Lei nº 11.645/2008). Sua inclusão possibilita ampliar o le- escolar.
que de referências culturais de toda a população escolar e Parágrafo único. Entre as línguas estrangeiras moder-
contribui para a mudança das suas concepções de mundo, nas, a língua espanhola poderá ser a opção, nos termos da
transformando os conhecimentos comuns veiculados pelo Lei nº 11.161/2005.
currículo e contribuindo para a construção de identidades PROJETO POLÍTICOPEDAGÓGICO
mais plurais e solidárias. Art. 18 O currículo do Ensino Fundamental com 9
§ 4º A Música constitui conteúdo obrigatório, mas não (nove) anos de duração exige a estruturação de um projeto
exclusivo, do componente curricular Arte, o qual com- educativo coerente, articulado e integrado, de acordo com
preende também as artes visuais, o teatro e a dança, con- os modos de ser e de se desenvolver das crianças e adoles-
forme o § 6º do art. 26 da Lei nº 9.394/96. centes nos diferentes contextos sociais.
§ 5º A Educação Física, componente obrigatório do Art. 19 Ciclos, séries e outras formas de organização a
currículo do Ensino Fundamental, integra a proposta po- que se refere a Lei nº 9.394/96 serão compreendidos como
líticopedagógica da escola e será facultativa ao aluno tempos e espaços interdependentes e articulados entre si,
apenas nas circunstâncias previstas no § 3º do art. 26 da ao longo dos 9 (nove) anos de duração do Ensino Funda-
Lei nº 9.394/96. mental.
§ 6º O Ensino Religioso, de matrícula facultativa ao alu- GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA COMO GA-
no, é parte integrante da formação básica do cidadão e RANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO
Art. 20 As escolas deverão formular o projeto polí-
constitui componente curricular dos horários normais das
ticopedagógico e elaborar o regimento escolar de acordo
escolas públicas de Ensino Fundamental, assegurado o
com a proposta do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos,
respeito à diversidade cultural e religiosa do Brasil e veda-
por meio de processos participativos relacionados à gestão
das quaisquer formas de proselitismo, conforme o art. 33
democrática.
da Lei nº 9.394/96.
§ 1º O projeto políticopedagógico da escola traduz a
Art. 16 Os componentes curriculares e as áreas de co-
proposta educativa construída pela comunidade escolar no
nhecimento devem articular em seus conteúdos, a partir exercício de sua autonomia, com base nas características
das possibilidades abertas pelos seus referenciais, a abor- dos alunos, nos profissionais e recursos disponíveis, ten-
dagem de temas abrangentes e contemporâneos que afe- do como referência as orientações curriculares nacionais
tam a vida humana em escala global, regional e local, bem e dos respectivos sistemas de ensino.
como na esfera individual. Temas como saúde, sexualida- § 2º Será assegurada ampla participação dos profissio-
de e gênero, vida familiar e social, assim como os direitos nais da escola, da família, dos alunos e da comunidade
das crianças e adolescentes, de acordo com o Estatuto da local na definição das orientações imprimidas aos pro-
Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), preservação do cessos educativos e nas formas de implementálas, tendo
meio ambiente, nos termos da política nacional de educa- como apoio um processo contínuo de avaliação das ações,
ção ambiental (Lei nº 9.795/99), educação para o con- a fim de garantir a distribuição social do conhecimento e
sumo, educação fiscal, trabalho, ciência e tecnologia, e contribuir para a construção de uma sociedade democrá-
diversidade cultural devem permear o desenvolvimento tica e igualitária.
dos conteúdos da base nacional comum e da parte diver- § 3º O regimento escolar deve assegurar as condições
sificada do currículo. institucionais adequadas para a execução do projeto po-
§ 1º Outras leis específicas que complementam a Lei nº líticopedagógico e a oferta de uma educação inclusiva
9.394/96 determinam que sejam ainda incluídos temas e com qualidade social, igualmente garantida a ampla par-
relativos à condição e aos direitos dos idosos (Lei nº ticipação da comunidade escolar na sua elaboração.
10.741/2003) e à educação para o trânsito (Lei nº § 4º O projeto políticopedagógico e o regimento esco-
9.503/97). lar, em conformidade com a legislação e as normas vigen-
§ 2º A transversalidade constitui uma das maneiras de tes, conferirão espaço e tempo para que os profissionais da
trabalhar os componentes curriculares, as áreas de conhe- escola e, em especial, os professores, possam participar de
cimento e os temas sociais em uma perspectiva integrada, reuniões de trabalho coletivo, planejar e executar as ações
conforme a Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para educativas de modo articulado, avaliar os trabalhos dos
a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolu- alunos, tomar parte em ações de formação continuada e
ção CNE/CEB nº 4/2010). estabelecer contatos com a comunidade.

33
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

§ 5º Na implementação de seu projeto políticopedagó- Art. 25 Os professores levarão em conta a diversida-


gico, as escolas se articularão com as instituições forma- de sociocultural da população escolar, as desigualdades
doras com vistas a assegurar a formação continuada de acesso ao consumo de bens culturais e a multiplicidade
de seus profissionais. de interesses e necessidades apresentadas pelos alunos no
Art. 21 No projeto políticopedagógico do Ensino desenvolvimento de metodologias e estratégias variadas
Fundamental e no regimento escolar, o aluno, centro do que melhor respondam às diferenças de aprendizagem en-
planejamento curricular, será considerado como sujeito tre os estudantes e às suas demandas.
que atribui sentidos à natureza e à sociedade nas práticas Art. 26 Os sistemas de ensino e as escolas assegu-
sociais que vivencia, produzindo cultura e construindo sua rarão adequadas condições de trabalho aos seus profissio-
identidade pessoal e social. nais e o provimento de outros insumos, de acordo com os
Parágrafo único. Como sujeito de direitos, o aluno padrões mínimos de qualidade referidos no inciso IX do art.
tomará parte ativa na discussão e na implementação das 4º da Lei nº 9.394/96 e em normas específicas estabeleci-
normas que regem as formas de relacionamento na escola, das pelo Conselho Nacional de Educação, com vistas à cria-
fornecerá indicações relevantes a respeito do que deve ser ção de um ambiente propício à aprendizagem, com base:
trabalhado no currículo e será incentivado a participar das I – no trabalho compartilhado e no compromisso indi-
organizações estudantis. vidual e coletivo dos professores e demais profissionais da
Art. 22 O trabalho educativo no Ensino Fundamental escola com a aprendizagem dos alunos;
deve empenharse na promoção de uma cultura escolar II – no atendimento às necessidades específicas de apren-
acolhedora e respeitosa, que reconheça e valorize as ex- dizagem de cada um mediante abordagens apropriadas;
periências dos alunos atendendo as suas diferenças e ne- III – na utilização dos recursos disponíveis na escola e
cessidades específicas, de modo a contribuir para efetivar a nos espaços sociais e culturais do entorno;
inclusão escolar e o direito de todos à educação. IV – na contextualização dos conteúdos, assegu-
Art. 23 Na implementação do projeto políticope- rando que a aprendizagem seja relevante e socialmente
dagógico, o cuidar e o educar, indissociáveis funções da significativa;
escola, resultarão em ações integradas que buscam articu- V – no cultivo do diálogo e de relações de parceria com
larse, pedagogicamente, no interior da própria instituição, as famílias.
e também externamente, com os serviços de apoio aos sis- Parágrafo único. Como protagonistas das ações peda-
temas educacionais e com as políticas de outras áreas, para gógicas, caberá aos docentes equilibrar a ênfase no reco-
assegurar a aprendizagem, o bemestar e o desenvolvimen- nhecimento e valorização da experiência do aluno e da cul-
to do aluno em todas as suas dimensões. tura local que contribui para construir identidades afir-
RELEVÂNCIA DOS CONTEÚDOS, INTEGRAÇÃO E ABOR- mativas, e a necessidade de lhes fornecer instrumentos
DAGENS mais complexos de análise da realidade que possibilitem
Art. 24 A necessária integração dos conhecimentos es- o acesso a níveis universais de explicação dos fenômenos,
colares no currículo favorece a sua contextualização e apro- propiciandolhes os meios para transitar entre a sua e ou-
xima o processo educativo das experiências dos alunos. tras realidades e culturas e participar de diferentes esferas
§ 1º A oportunidade de conhecer e analisar expe- da vida social, econômica e política.
riências assentadas em diversas concepções de currículo Art. 27 Os sistemas de ensino, as escolas e os professo-
integrado e interdisciplinar oferecerá aos docentes subsí- res, com o apoio das famílias e da comunidade, envidarão
dios para desenvolver propostas pedagógicas que avancem esforços para assegurar o progresso contínuo dos alunos
na direção de um trabalho colaborativo, capaz de superar a no que se refere ao seu desenvolvimento pleno e à aqui-
fragmentação dos componentes curriculares. sição de aprendizagens significativas, lançando mão de
§ 2º Constituem exemplos de possibilidades de integra- todos os recursos disponíveis e criando renovadas opor-
ção do currículo, entre outros, as propostas curriculares tunidades para evitar que a trajetória escolar discente seja
ordenadas em torno de grandes eixos articuladores, retardada ou indevidamente interrompida.
projetos interdisciplinares com base em temas gerado- § 1º Devem, portanto, adotar as providências neces-
res formulados a partir de questões da comunidade e sárias para que a operacionalização do princípio da conti-
articulados aos componentes curriculares e às áreas de nuidade não seja traduzida como “promoção automática”
conhecimento, currículos em rede, propostas ordenadas em de alunos de um ano, série ou ciclo para o seguinte, e para
torno de conceitoschave ou conceitos nucleares que per- que o combate à repetência não se transforme em des-
mitam trabalhar as questões cognitivas e as questões cul- compromisso com o ensino e a aprendizagem.
turais numa perspectiva transversal, e projetos de trabalho § 2º A organização do trabalho pedagógico incluirá a
com diversas acepções. mobilidade e a flexibilização dos tempos e espaços escola-
§ 3º Os projetos propostos pela escola, comunidade, res, a diversidade nos agrupamentos de alunos, as diversas
redes e sistemas de ensino serão articulados ao desenvolvi- linguagens artísticas, a diversidade de materiais, os va-
mento dos componentes curriculares e às áreas de conhe- riados suportes literários, as atividades que mobilizem
cimento, observadas as disposições contidas nas Diretri- o raciocínio, as atitudes investigativas, as abordagens
zes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica complementares e as atividades de reforço, a articulação
(Resolução CNE/CEB nº 4/2010, art. 17) e nos termos do entre a escola e a comunidade, e o acesso aos espaços de
Parecer que dá base à presente Resolução. expressão cultural.

34
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Art. 28 A utilização qualificada das tecnologias e con- Art. 31 Do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental,
teúdos das mídias como recurso aliado ao desenvolvimento os componentes curriculares Educação Física e Arte po-
do currículo contribui para o importante papel que tem a es- derão estar a cargo do professor de referência da turma,
cola como ambiente de inclusão digital e de utilização crítica aquele com o qual os alunos permanecem a maior parte do
das tecnologias da informação e comunicação, requerendo o período escolar, ou de professores licenciados nos respec-
aporte dos sistemas de ensino no que se refere à: tivos componentes.
I – provisão de recursos midiáticos atualizados e em § 1º Nas escolas que optarem por incluir Língua Estran-
número suficiente para o atendimento aos alunos; geira nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o professor
II – adequada formação do professor e demais profis- deverá ter licenciatura específica no componente curricular.
sionais da escola. § 2º Nos casos em que esses componentes curricu-
ARTICULAÇÕES E CONTINUIDADE DA TRAJETÓRIA ES- lares sejam desenvolvidos por professores com licenciatura
COLAR específica (conforme Parecer CNE/CEB nº 2/2008), deve ser
Art. 29 A necessidade de assegurar aos alunos um per- assegurada a integração com os demais componentes tra-
curso contínuo de aprendizagens torna imperativa a arti- balhados pelo professor de referência da turma.
culação de todas as etapas da educação, especialmente do AVALIAÇÃO: PARTE INTEGRANTE DO CURRÍCULO
Ensino Fundamental com a Educação Infantil, dos anos ini- Art. 32 A avaliação dos alunos, a ser realizada pelos pro-
ciais e dos anos finais no interior do Ensino Fundamental, fessores e pela escola como parte integrante da proposta
bem como do Ensino Fundamental com o Ensino Médio, curricular e da implementação do currículo, é redimensio-
garantindo a qualidade da Educação Básica. nadora da ação pedagógica e deve:
§ 1º O reconhecimento do que os alunos já aprenderam I – assumir um caráter processual, formativo e partici-
antes da sua entrada no Ensino Fundamental e a recupera- pativo, ser contínua, cumulativa e diagnóstica, com vistas a:
ção do caráter lúdico do ensino contribuirão para melhor a) identificar potencialidades e dificuldades de apren-
qualificar a ação pedagógica junto às crianças, sobretudo dizagem e detectar problemas de ensino;
nos anos iniciais dessa etapa da escolarização. b) subsidiar decisões sobre a utilização de estratégias
§ 2º Na passagem dos anos iniciais para os anos finais e abordagens de acordo com as necessidades dos alunos,
do Ensino Fundamental, especial atenção será dada:
criar condições de intervir de modo imediato e a mais lon-
I – pelos sistemas de ensino, ao planejamento da
go prazo para sanar dificuldades e redirecionar o trabalho
oferta educativa dos alunos transferidos das redes muni-
docente;
cipais para as estaduais;
c) manter a família informada sobre o desempenho dos
II – pelas escolas, à coordenação das demandas especí-
alunos;
ficas feitas pelos diferentes professores aos alunos, a fim de
d) reconhecer o direito do aluno e da família de discutir
que os estudantes possam melhor organizar as suas ativi-
os resultados de avaliação, inclusive em instâncias superio-
dades diante das solicitações muito diversas que recebem.
Art. 30 Os três anos iniciais do Ensino Fundamental de- res à escola, revendo procedimentos sempre que as reivin-
vem assegurar: I – a alfabetização e o letramento; dicações forem procedentes.
II – o desenvolvimento das diversas formas de expressão, II – utilizar vários instrumentos e procedimentos, tais
incluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, a Literatura, a como a observação, o registro descritivo e reflexivo, os
Música e demais artes, a Educação Física, assim como o apren- trabalhos individuais e coletivos, os portfólios, exercícios,
dizado da Matemática, da Ciência, da História e da Geografia; provas, questionários, dentre outros, tendo em conta a sua
III – a continuidade da aprendizagem, tendo em conta adequação à faixa etária e às características de desenvolvi-
a complexidade do processo de alfabetização e os prejuízos mento do educando;
que a repetência pode causar no Ensino Fundamental como III – fazer prevalecer os aspectos qualitativos da apren-
um todo e, particularmente, na passagem do primeiro para dizagem do aluno sobre os quantitativos, bem como os re-
o segundo ano de escolaridade e deste para o terceiro. sultados ao longo do período sobre os de eventuais provas
§ 1º Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola, no finais, tal com determina a alínea “a” do inciso V do art. 24
uso de sua autonomia, fizerem opção pelo regime seriado, da Lei nº 9.394/96;
será necessário considerar os três anos iniciais do En- IV – assegurar tempos e espaços diversos para que os
sino Fundamental como um bloco pedagógico ou um ciclo alunos com menor rendimento tenham condições de ser
sequencial não passível de interrupção, voltado para am- devidamente atendidos ao longo do ano letivo;
pliar a todos os alunos as oportunidades de sistematização V – prover, obrigatoriamente, períodos de recuperação,
e aprofundamento das aprendizagens básicas, imprescindí- de preferência paralelos ao período letivo, como determina
veis para o prosseguimento dos estudos. a Lei nº 9.394/96;
§ 2º Considerando as características de desenvolvi- VI – assegurar tempos e espaços de reposição dos con-
mento dos alunos, cabe aos professores adotar formas de teúdos curriculares, ao longo do ano letivo, aos alunos com
trabalho que proporcionem maior mobilidade das crianças frequência insuficiente, evitando, sempre que possível, a re-
nas salas de aula e as levem a explorar mais intensamente tenção por faltas;
as diversas linguagens artísticas, a começar pela literatura, VII – possibilitar a aceleração de estudos para os alunos
a utilizar materiais que ofereçam oportunidades de com defasagem idadesérie. Art. 33 Os procedimentos de
raciocinar, manuseandoos e explorando as suas caracterís- avaliação adotados pelos professores e pela escola serão
ticas e propriedades. articulados às avaliações realizadas em nível nacional e às

35
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

congêneres nos diferentes Estados e Municípios, criadas ria da qualidade da aprendizagem e da convivência social
com o objetivo de subsidiar os sistemas de ensino e as es- e diminuir as diferenças de acesso ao conhecimento e aos
colas nos esforços de melhoria da qualidade da educação e bens culturais, em especial entre as populações socialmen-
da aprendizagem dos alunos. te mais vulneráveis.
§ 1º A análise do rendimento dos alunos com base nos § 1º O currículo da escola de tempo integral, concebido
indicadores produzidos por essas avaliações deve auxi- como um projeto educativo integrado, implica a ampliação
liar os sistemas de ensino e a comunidade escolar da jornada escolar diária mediante o desenvolvimento de
a redimensionarem as práticas educativas com vistas ao al- atividades como o acompanhamento pedagógico, o re-
cance de melhores resultados. forço e o aprofundamento da aprendizagem, a experimen-
§ 2º A avaliação externa do rendimento dos alunos refe- tação e a pesquisa científica, a cultura e as artes, o esporte
rese apenas a uma parcela restrita do que é trabalhado nas e o lazer, as tecnologias da comunicação e informação, a
escolas, de sorte que as referências para o currículo devem afirmação da cultura dos direitos humanos, a preservação
continuar sendo as contidas nas propostas políticopeda- do meio ambiente, a promoção da saúde, entre outras, arti-
gógicas das escolas, articuladas às orientações e propostas culadas aos componentes curriculares e às áreas de conhe-
curriculares dos sistemas, sem reduzir os seus propósitos ao cimento, a vivências e práticas socioculturais.
que é avaliado pelos testes de larga escala. § 2º As atividades serão desenvolvidas dentro do
Art. 34 Os sistemas, as redes de ensino e os projetos espaço escolar conforme a disponibilidade da escola, ou
políticopedagógicos das escolas devem expressar com cla- fora dele, em espaços distintos da cidade ou do território
reza o que é esperado dos alunos em relação à sua apren- em que está situada a unidade escolar, mediante a utili-
dizagem. zação de equipamentos sociais e culturais aí existentes e
Art. 35 Os resultados de aprendizagem dos alunos o estabelecimento de parcerias com órgãos ou entidades
devem ser aliados à avaliação das escolas e de seus pro- locais, sempre de acordo com o respectivo projeto políti-
fessores, tendo em conta os parâmetros de referência dos copedagógico.
insumos básicos necessários à educação de qualidade para § 3º Ao restituir a condição de ambiente de aprendiza-
todos nesta etapa da educação e respectivo custo aluno- gem à comunidade e à cidade, a escola estará contribuindo
qualidade inicial (CAQi), consideradas inclusive as suas mo- para a construção de redes sociais e de cidades educado-
dalidades e as formas diferenciadas de atendimento como ras.
a Educação do Campo, a Educação Escolar Indígena, a Edu- § 4º Os órgãos executivos e normativos da União
cação Escolar Quilombola e as escolas de tempo integral. e dos sistemas estaduais e municipais de educação as-
Parágrafo único. A melhoria dos resultados de segurarão que o atendimento dos alunos na escola de
aprendizagem dos alunos e da qualidade da educação tempo integral possua infraestrutura adequada e pessoal
obriga: qualificado, além do que, esse atendimento terá caráter
I – os sistemas de ensino a incrementarem os dispositi- obrigatório e será passível de avaliação em cada escola.
vos da carreira e de condições de exercício e valorização EDUCAÇÃO DO CAMPO, EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍ-
do magistério e dos demais profissionais da educação GENA E EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA
e a oferecerem os recursos e apoios que demandam as Art. 38 A Educação do Campo, tratada como educação
escolas e seus profissionais para melhorar a sua atuação; rural na legislação brasileira, incorpora os espaços da flo-
II – as escolas a uma apreciação mais ampla das oportu- resta, da pecuária, das minas e da agricultura e se estende,
nidades educativas por elas oferecidas aos educandos, re- também, aos espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e
forçando a sua responsabilidade de propiciar renovadas extrativistas, conforme as Diretrizes para a Educação Básica
oportunidades e incentivos aos que delas mais necessitem. do Campo (Parecer CNE/CEB nº 36/2001 e Resolução CNE/
A EDUCAÇÃO EM ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL CEB nº 1/2002; Parecer CNE/CEB nº 3/2008 e Resolução
Art. 36 Considerase como de período integral a jornada CNE/CEB nº 2/2008).
escolar que se organiza em 7 (sete) horas diárias, no míni- Art. 39 A Educação Escolar Indígena e a Educação
mo, perfazendo uma carga horária anual de, pelo menos, Escolar Quilombola são, respectivamente, oferecidas em
1.400 (mil e quatrocentas) horas. unidades educacionais inscritas em suas terras e culturas e,
Parágrafo único. As escolas e, solidariamente, os sis- para essas populações, estão assegurados direitos especí-
temas de ensino, conjugarão esforços objetivando o ficos na Constituição Federal que lhes permitem valorizar e
progressivo aumento da carga horária mínima diária preservar as suas culturas e reafirmar o seu pertencimento
e, consequentemente, da carga horária anual, com vistas à étnico.
maior qualificação do processo de ensinoaprendizagem, § 1º As escolas indígenas, atendendo a normas e or-
tendo como horizonte o atendimento escolar em período denamentos jurídicos próprios e a Diretrizes Curriculares
integral. Nacionais específicas, terão ensino intercultural e bilíngue,
Art. 37 A proposta educacional da escola de tempo in- com vistas à afirmação e à manutenção da diversidade ét-
tegral promoverá a ampliação de tempos, espaços e opor- nica e linguística, assegurarão a participação da comunida-
tunidades educativas e o compartilhamento da tarefa de de no seu modelo de edificação, organização e gestão,
educar e cuidar entre os profissionais da escola e de outras e deverão contar com materiais didáticos produzidos
áreas, as famílias e outros atores sociais, sob a coordenação de acordo com o contexto cultural de cada povo (Parecer
da escola e de seus professores, visando alcançar a melho- CNE/CEB nº 14/99 e Resolução CNE/CEB nº 3/99).

36
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

§ 2º O detalhamento da Educação Escolar Quilombola Parágrafo único. Os recursos de acessibilidade são


deverá ser definido pelo Conselho Nacional de Educação aqueles que asseguram condições de acesso ao currículo
por meio de Diretrizes Curriculares Nacionais específicas. dos alunos com deficiência e mobilidade reduzida, por
Art. 40 O atendimento escolar às populações do meio da utilização de materiais didáticos, dos espaços,
campo, povos indígenas e quilombolas requer respeito mobiliários e equipamentos, dos sistemas de comunicação
às suas peculiares condições de vida e a utilização de pe- e informação, dos transportes e outros serviços.
dagogias condizentes com as suas formas próprias de pro- Art. 42 O atendimento educacional especializado aos
duzir conhecimentos, observadas as Diretrizes Curriculares alunos da Educação Especial será promovido e expandido
Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/ com o apoio dos órgãos competentes. Ele não substitui
CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010). a escolarização, mas contribui para ampliar o acesso
§ 1º As escolas das populações do campo, dos povos ao currículo, ao proporcionar independência aos edu-
indígenas e dos quilombolas, ao contar com a participação candos para a realização de tarefas e favorecer a sua
ativa das comunidades locais nas decisões referentes ao autonomia (conforme Decreto nº 6.571/2008, Parecer CNE/
currículo, estarão ampliando as oportunidades de: CEB nº 13/2009 e Resolução CNE/CEB nº 4/2009).
I – reconhecimento de seus modos próprios de Parágrafo único. O atendimento educacional especia-
vida, suas culturas, tradições e memórias coletivas, lizado poderá ser oferecido no contraturno, em salas de
como fundamentais para a constituição da identidade recursos multifuncionais na própria escola, em outra esco-
das crianças, adolescentes e adultos; la ou em centros especializados e será implementado por
II – valorização dos saberes e do papel dessas po- professores e profissionais com formação especializada,
pulações na produção de conhecimentos sobre o mun- de acordo com plano de atendimento aos alunos
do, seu ambiente natural e cultural, assim como as práti- que identifique suas necessidades educacionais específi-
cas ambientalmente sustentáveis que utilizam; cas, defina os recursos necessários e as atividades a serem
III – reafirmação do pertencimento étnico, no caso das desenvolvidas.
comunidades quilombolas e dos povos indígenas, e do cul- EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
tivo da língua materna na escola para estes últimos, como Art. 43 Os sistemas de ensino assegurarão, gratuita-
elementos importantes de construção da identidade; mente, aos jovens e adultos que não puderam efetuar os
IV – flexibilização, se necessário, do calendário escolar, estudos na idade própria, oportunidades educacionais
das rotinas e atividades, tendo em conta as diferenças rela- adequadas às suas características, interesses, condições
tivas às atividades econômicas e culturais, mantido o total de vida e de trabalho mediante cursos e exames, con-
de horas anuais obrigatórias no currículo; forme estabelece o art. 37, § 1º, da Lei nº 9.394/96.
V – superação das desigualdades sociais e escolares Art. 44 A Educação de Jovens e Adultos, voltada para
que afetam essas populações, tendo por garantia o direito a garantia de formação integral, da alfabetização às dife-
à educação; rentes etapas da escolarização ao longo da vida, inclusive
§ 2º Os projetos políticopedagógicos das escolas do àqueles em situação de privação de liberdade, é pautada
campo, indígenas e quilombolas devem contemplar a di- pela inclusão e pela qualidade social e requer:
versidade nos seus aspectos sociais, culturais, políticos, I – um processo de gestão e financiamento que lhe as-
econômicos, éticos e estéticos, de gênero, geração e etnia. segure isonomia em relação ao
§ 3º As escolas que atendem a essas populações deve- Ensino Fundamental regular;
rão ser devidamente providas pelos sistemas de ensino de II – um modelo pedagógico próprio que permita a
materiais didáticos e educacionais que subsidiem o traba- apropriação e a contextualização das Diretrizes Curricula-
lho com a diversidade, bem como de recursos que asse- res Nacionais;
gurem aos alunos o acesso a outros bens culturais e lhes III – a implantação de um sistema de monitoramento
permitam estreitar o contato com outros modos de vida e e avaliação; IV – uma política de formação permanente de
outras formas de conhecimento. seus professores;
§ 4º A participação das populações locais pode tam- V – maior alocação de recursos para que seja ministra-
bém subsidiar as redes escolares e os sistemas de ensino da por docentes licenciados.
quanto à produção e à oferta de materiais escolares e no Art. 45 A idade mínima para o ingresso nos cursos de
que diz respeito a transporte e a equipamentos que aten- Educação de Jovens e Adultos e para a realização de exa-
dam as características ambientais e socioculturais das co- mes de conclusão de EJA será de 15 (quinze) anos comple-
munidades e as necessidades locais e regionais. tos (Parecer CNE/CEB nº 6/2010 e Resolução CNE/CEB nº
EDUCAÇÃO ESPECIAL 3/2010).
Art. 41 O projeto políticopedagógico da escola e o re- Parágrafo único. Considerada a prioridade de aten-
gimento escolar, amparados na legislação vigente, deverão dimento à escolarização obrigatória, para que haja oferta
contemplar a melhoria das condições de acesso e de per- capaz de contemplar o pleno atendimento dos adolescen-
manência dos alunos com deficiência, transtornos globais tes, jovens e adultos na faixa dos 15 (quinze) anos ou mais,
do desenvolvimento e altas habilidades nas classes comuns com defasagem idade/série, tanto na sequência do ensino
do ensino regular, intensificando o processo de inclusão regular, quanto em Educação de Jovens e Adultos, as-
nas escolas públicas e privadas e buscando a universaliza- sim como nos cursos destinados à formação profissional,
ção do atendimento. tornase necessário:

37
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

I – fazer a chamada ampliada dos estudantes em todas Art. 49 O Ministério da Educação, em articulação com
as modalidades do Ensino os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, deverá en-
Fundamental; caminhar ao Conselho Nacional de Educação, precedi-
II – apoiar as redes e os sistemas de ensino a estabelece- da de consulta pública nacional, proposta de expectativas
rem política própria para o atendimento desses estudan- de aprendizagem dos conhecimentos escolares que de-
tes, que considere as suas potencialidades, necessida- vem ser atingidas pelos alunos em diferentes estágios do
des, expectativas em relação à vida, às culturas juvenis e ao Ensino Fundamental (art. 9º, § 3º, desta Resolução).
mundo do trabalho, inclusive com programas de aceleração Parágrafo único. Cabe, ainda, ao Ministério da Edu-
da aprendizagem, quando necessário; cação elaborar orientações e oferecer outros subsídios
III – incentivar a oferta de Educação de Jovens e Adultos
para a implementação destas Diretrizes.
nos períodos diurno e noturno, com avaliação em processo.
Art. 50 A presente Resolução entrará em vigor na data
Art. 46 A oferta de cursos de Educação de Jovens e Adul-
tos, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, será presencial de sua publicação, revogandose as disposições em con-
e a sua duração ficará a critério de cada sistema de ensino, trário, especialmente a Resolução CNE/CEB nº 2, de 7 de
nos termos do Parecer CNE/CEB nº 29/2006, tal como reme- abril de 1998.
te o Parecer CNE/CEB nº
6/2010 e a Resolução CNE/CEB nº 3/2010. Nos anos fi- MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
nais, ou seja, do 6º ano ao 9º ano, os cursos poderão ser pre-
senciais ou a distância, devidamente credenciados, e terão CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA
1.600 (mil e seiscentas) horas de duração. DE EDUCAÇÃO BÁSICA
Parágrafo único. Tendo em conta as situações, os
perfis e as faixas etárias dos adolescentes, jovens e adul- RESOLUÇÃO Nº 1, DE 10 DE MARÇO 2011 (*)
tos, o projeto políticopedagógico da escola e o regimento Fixa normas de funcionamento das unidades de Educa-
escolar viabilizarão um modelo pedagógico próprio para ção Infantil ligadas à Administração Pública Federal direta,
essa modalidade de ensino que permita a apropriação e a suas autarquias e fundações.
contextualização das Diretrizes Curriculares Nacionais, asse- O Presidente da Câmara de Educação Básica do
gurando: Conselho Nacional de Educação, de conformidade com
I – a identificação e o reconhecimento das formas de o disposto na alínea “a” do § 1º do art. 9º da Lei nº 4.024,
aprender dos adolescentes, jovens e adultos e a valorização
de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei
de seus conhecimentos e experiências;
nº 9.131, de 24 de novembro de 1995, no art.
II – a distribuição dos componentes curriculares de
modo a proporcionar um patamar igualitário de formação, 32 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e com
bem como a sua disposição adequada nos tempos e fundamento no Parecer CNE/CEB nº 17/2010, homologado
espaços educativos, em face das necessidades específicas por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação,
dos estudantes. publicado no DOU de 28 de fevereiro de 2011, resolve:
Art. 47 A inserção de Educação de Jovens e Adultos no
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, incluin- Art. 1º As unidades de Educação Infantil mantidas e
do, além da avaliação do rendimento dos alunos, a aferição administradas por universidades federais, ministérios,
de indicadores institucionais das redes públicas e privadas, autarquias federais e fundações mantidas pela União ca-
concorrerá para a universalização e a melhoria da qualidade racterizamse, de acordo com o art. 16, inciso I, da Lei nº
do processo educativo. 9.394/96, como instituições públicas de ensino mantidas
A IMPLEMENTAÇÃO DESTAS DIRETRIZES: COMPROMIS- pela União, integram o sistema federal de ensino e devem:
SO SOLIDÁRIO DOS SISTEMAS E REDES DE ENSINO I – oferecer igualdade de condições para o acesso e
Art. 48 Tendo em vista a implementação destas Diretri- a permanência de todas as crianças na faixa etária que se
zes, cabe aos sistemas e às redes de ensino prover: propõem a atender;
I – os recursos necessários à ampliação dos tempos e II – realizar atendimento educacional gratuito a
espaços dedicados ao trabalho educativo nas escolas e a todos, vedada a cobrança de contribuição ou taxa de
distribuição de materiais didáticos e escolares adequados;
matrícula, custeio de material didático ou qualquer outra;
II – a formação continuada dos professores e demais
III – atender a padrões mínimos de qualidade defini-
profissionais da escola em estreita articulação com as ins-
tituições responsáveis pela formação inicial, dispensando dos pelo órgão normativo do sistema de ensino;
especiais esforços quanto à formação dos docentes das mo- IV – garantir ingresso dos profissionais da educação,
dalidades específicas do Ensino Fundamental e àqueles que exclusivamente, por meio de concurso público de provas
trabalham nas escolas do campo, indígenas e quilombolas; e títulos;
III – a coordenação do processo de implementação V – assegurar planos de carreira e valorização dos
do currículo, evitando a fragmentação dos projetos educa- profissionais do magistério e dos funcionários da unidade
tivos no interior de uma mesma realidade educacional; educacional;
IV – o acompanhamento e a avaliação dos progra- VI – garantir o direito à formação profissional conti-
mas e ações educativas nas respectivas redes e escolas e nuada; VII – assegurar piso salarial profissional; e
o suprimento das necessidades detectadas. VIII – assegurar condições adequadas de trabalho.

38
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Parágrafo único. Unidades educacionais de Educação Art. 6º Os espaços internos deverão atender às
Infantil que funcionam em espaço/prédio de órgão da diferentes funções da unidade educacional e conter uma
Administração Pública Federal, mantidas e administradas, estrutura básica que contemple a faixa etária atendida e as
mediante convênio, por pessoa física ou jurídica de direito crianças com deficiências, compostos por:
privado, tais como cooperativas, associações, sindicatos ou I – espaço para recepção;
similares, caracterizamse como estabelecimentos privados II – salas para os serviços administrativos e pedagógi-
e integram o respectivo sistema de ensino municipal, cos e salas para professores;
estadual ou do Distrito Federal e, portanto, devem orien- III – salas ventiladas e iluminadas para as atividades
tar seu funcionamento e solicitar autorização para ofertar a das crianças, com mobiliários e equipamentos adequados,
Educação Infantil ao Conselho de Educação do respectivo além de visão para o espaço externo;
sistema. IV – refeitório, instalações e equipamentos para o pre-
Art. 2º Para funcionar, as unidades de Educação Infantil paro de alimentos que atendam às exigências de nutrição,
que integram o sistema federal devem ter um projeto pe- saúde, higiene e segurança;
dagógico que: V – instalações sanitárias completas, suficientes e ade-
I – considere as Diretrizes Curriculares Nacionais para a quadas, quer para as crianças, quer para os adultos;
Educação Infantil (Parecer VI – berçário, se for o caso, provido de berços indi-
CNE/CEB nº 20/2009 e Resolução CNE/CEB nº 5/2009); viduais e com área livre para movimentação das crianças,
II – apresente os fins e objetivos da unidade educacional; além de local para a amamentação, higienização e banho
III – explicite uma concepção de criança, de desen- de sol das crianças;
volvimento infantil e de aprendizagem; VII – área coberta para as atividades externas com as
IV – considere as características da população a ser aten- crianças, compatível com a capacidade de atendimento por
dida e da comunidade em que se insere; turno da unidade educacional.
V – especifique seu regime de funcionamento, parcial Art. 7º A gestão da unidade educacional e a coordena-
ou integral; ção pedagógica (se houver) deverão ser exercidas por pro-
VI – descreva o espaço físico, as instalações e os equipa- fissionais formados em curso de graduação em Pedagogia
mentos existentes;
ou em nível de pósgraduação em Educação, e os profes-
VII – relacione os recursos humanos da unidade;
sores que atuam diretamente com as crianças deverão ser
VIII – aponte os critérios de organização dos agrupa-
formados em curso de Pedagogia ou Curso Normal Supe-
mentos de crianças;
rior, admitida ainda, como mínima, a formação em nível
IX – indique a razão professor/criança existente ou pre-
médio na modalidade Normal.
vista;
Art. 8º No exercício de sua autonomia, atendidas as
X – descreva a organização do cotidiano de trabalho
exigências desta Resolução, as universidades devem defi-
junto às crianças;
XI – indique as formas previstas de articulação da unida- nir a vinculação das unidades de Educação Infantil na sua
de educacional com a família, com a comunidade e com estrutura administrativa e organizacional e assegurar os
outras instituições que possam colaborar com o trabalho recursos financeiros e humanos para o seu pleno funcio-
educacional; e namento.
XII – descreva o processo de acompanhamento e regis- Art. 9º As unidades educacionais de que trata esta Re-
tro do desenvolvimento integral da criança, sendo que os solução, já em funcionamento, devem, no prazo de 360
processos de avaliação não têm a finalidade de promoção. (trezentos e sessenta) dias, a contar da data da publicação
Art. 3º O projeto pedagógico de que trata o artigo ante- desta Resolução, adotar as medidas necessárias à obser-
rior deve ainda especificar: vância das normas aqui contidas.
I – a forma de realização do planejamento geral da uni- Art. 10. Esta Resolução entra em vigor na data de sua
dade: período, participantes e etapas; e publicação, revogadas as disposições em contrário.
II – os critérios e a periodicidade da avaliação ins-
titucional, assim como os participantes e responsáveis por MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
essa avaliação.
Art. 4º O funcionamento dessas unidades de Educação CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE
Infantil ocorrerá no período diurno e poderá ser ininter- EDUCAÇÃO BÁSICA
rupto no ano civil, respeitados os direitos trabalhistas
dos professores e funcionários, devendo a permanência da RESOLUÇÃO Nº 1, DE 23 DE JANEIRO 2012 (*)
criança em jornada parcial ter duração mínima de 4 (quatro) Dispõe sobre a implementação do regime de
horas e a jornada em tempo integral ter duração mínima de colaboração mediante Arranjo de Desenvolvimento da Edu-
7 (sete) horas. cação (ADE), como instrumento de gestão pública para a
Art. 5º O espaço físico previsto para abrigar a unidade melhoria da qualidade social da educação.
de Educação Infantil deverá adequarse à finalidade de O Presidente da Câmara de Educação Básica do
educar/cuidar de crianças pequenas, atender às normas Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribui-
e especificações técnicas da legislação pertinente e apresen- ções legais, e de conformidade com o disposto no § 1º do
tar condições adequadas de acesso, acessibilidade, segu- art. 9º da Lei nº 4.024/61, com a redação dada pela Lei nº
rança, salubridade, saneamento e higiene. 9.131/95, com base no § 1º do art. 8º, no § 1º do art. 9º e

39
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

no art. 90 da Lei nº 9.394/96, e com fundamento no inciso Art. 3º O ADE promove o regime de colaboração ho-
VII do art. 206 e do § 1º do art. 211 da Constituição Federal, rizontal, de forma articulada com o tradicional regime de
assim como no inciso IX do art. 3º e no inciso IX do art. 4º da colaboração vertical, visando, entre outros aspectos a:
Lei nº 9.394/96 e no Parecer CNE/CEB nº 9/2011, homologa- I – garantir o direito à educação, por meio da oferta de
do por Despacho do Senhor Ministro da Educação, publica- uma educação com qualidade social, refletida, dentre outros
do no DOU de 22 de novembro de 2011, aspectos, pelo acesso, permanência, aprendizagem e conclu-
são dos estudos;
CONSIDERANDO II – fortalecer a democratização das relações de gestão
O art. 211 da Constituição Federal, no seu § 4º prevê e de planejamento integrado que possa incluir ações como
que, na organização de seus sistemas de ensino, a União, os planejamento da rede física escolar, cessão mútua de servi-
Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas dores, transporte escolar, formação continuada de professo-
de colaboração, de modo a assegurar a universalização do res e gestores, e organização de um sistema integrado de
ensino obrigatório; avaliação;
A Lei nº 9.394/96, no art. 8º, determina, entre outras III – promover a eficiente aplicação dos recursos de for-
ações, que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni- ma solidária para fins idênticos ou equivalentes;
cípios organizarão, em regime de colaboração, os respecti- IV – incentivar mecanismos de atuação na busca por re-
vos sistemas de ensino; cursos para prestação associada de serviços;
A Emenda Constitucional nº 59/2009 altera a redação V – estruturar Planos Intermunicipais de Educação
do art. 214 da Constituição Federal estabelecendo: O Plano visando ao desenvolvimento integrado e harmonioso do
Nacional de Educação, de duração decenal, tem como ob- território e a redução de disparidades sociais e econômicas
jetivo articular o sistema nacional de educação em regime locais, de forma que os municípios de menor capacidade téc-
de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estra- nica possam efetivamente se valer desses planos na elabo-
tégias de implementação para assegurar a manutenção e o ração dos seus respectivos Planos Municipais de Educação;
desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas, VI – considerar tais planos, como referência, para a ela-
e modalidades, por meio de ações integradas dos poderes boração, execução e avaliação dos projetos políticopedagó-
públicos das diferentes esferas federativas; gicos das escolas.
A importância da institucionalização de formas de
colaboração horizontal e sua relevância para a consoli- TÍTULO II
dação do regime de colaboração e do sistema nacional de ESTRUTURAÇÃO E ESTRATÉGIAS DE
educação; IMPLEMENTAÇÃO

RESOLVE: Art. 4º A estruturação de um ADE exige:


I – identificação das instituições e organizações educa-
TÍTULO I cionais que atuam na área territorial comum;
ARRANJO DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO II – levantamento das informações e indicadores educa-
cionais pelos entes federados constituintes do ADE;
Art. 1º A presente Resolução atende aos mandamentos III – motivação para um trabalho coletivo, em colabora-
da Constituição Federal em seu parágrafo único do art. 23 ção, evitando as indesejáveis sobreposições de esforços;
e art. 211, bem como aos arts. 8º e 9º da LDB visando ao IV – identificação dos indicadores educacionais mais
regime de colaboração entre União, Estados, Distrito Fe- relevantes para melhorar a qualidade social da Educação;
deral e Municípios, tratando da implementação de Arranjo V – construção de matrizes de indicadores segundo
de Desenvolvimento da Educação (ADE) como instrumento as dimensões de gestão educacional; formação de profes-
de gestão pública para assegurar o direito à educação de sores e dos profissionais de serviço e apoio escolar; práticas
qualidade em determinado território, bem como para con- pedagógicas e avaliação; e infraestrutura física e recursos pe-
tribuir na estruturação e aceleração de um sistema nacional dagógicos, bem como definição das ações comuns ao con-
de educação. junto dos entes federados do ADE;
Art. 2º O ADE é uma forma de colaboração terri- VI – elaboração de mapa estratégico do ADE, indicando
torial basicamente horizontal, instituída entre entes federa- não só as ações priorizadas, como também os resultados es-
dos, visando assegurar o direito à educação de qualidade e perados com base nas metas acordadas entre os entes fede-
ao seu desenvolvimento territorial e geopolítico. rados participantes do arranjo, tendo por objetivo promover
§ 1º Essa forma de colaboração poderá ser aberta à a qualidade social da educação local mediante ações cola-
participação de instituições privadas e nãogovernamentais, borativas;
mediante convênios ou termos de cooperação, sem que isso VII – definição de metas de curto, médio e longo
represente a transferência de recursos públicos para estas prazo em relação às ações priorizadas que sejam de
instituições e organizações. efetivo interesse comum ao maior número possível de
§ 2º A descentralização e o fortalecimento da coopera- entes federados participantes do arranjo, visando motiválos
ção e associativismo entre os entes federados contribuem a continuar o trabalho em rede;
para as ações visando à eliminação ou redução das desigual- VIII – estabelecimento de Ato constitutivo do acordo
dades regionais e intermunicipais em relação à Educação firmado pelos participantes do arranjo, com a definição das
Básica, observadas as atribuições definidas no art. 11 da LDB. regras de funcionamento e do gestor local do ADE.

40
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Art. 5º Devem ser estabelecidos com clareza os pa- Capítulo II Referencial legal e conceitual
péis e responsabilidades dos integrantes do ADE, para
ser garantida a coerência entre as ações e para per- Art. 3º O Ensino Médio é um direito social de cada pes-
mitir o acompanhamento e responsabilização de cada um. soa, e dever do Estado na sua oferta pública e gratuita a
Art. 6º A forma e a metodologia para constituição, es- todos.
truturação e funcionamento do ADE devem atender aos di- Art. 4º As unidades escolares que ministram esta etapa
ferentes contextos, cabendo aos entes federados a tarefa da Educação Básica devem estruturar seus projetos polí-
de, considerando os aspectos essenciais para seu sucesso, ticopedagógicos considerando as finalidades previstas na
adaptar o preconizado às condições locais, valorizando as Lei nº
potencialidades existentes. 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
Art. 7º O ADE pode assumir o modelo de consórcio, cional):
nos termos da Lei nº I a consolidação e o aprofundamento dos conheci-
11.107/2005, constituído exclusivamente por entes fede- mentos adquiridos no Ensino
rados como uma associação pública ou como entidade jurí- Fundamental, possibilitando o prosseguimento de es-
dica de direito privado sem fins lucrativos, podendo realizar tudos;
acordos de cooperação e parceria com órgãos públicos e II a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
instituições privadas e não governamentais. educando para continuar aprendendo, de modo a ser
Art. 8º Esta Resolução entra em vigor na data de sua pu- capaz de se adaptar a novas condições de ocupação
blicação. ou aperfeiçoamento posteriors;
III o aprimoramento do educando como pessoa hu-
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da
autonomia intelectual e do pensamento crítico;
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE IV a compreensão dos fundamentos científico-
EDUCAÇÃO BÁSICA tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a
teoria com a prática.
RESOLUÇÃO Nº 2, DE 30 DE JANEIRO 2012 (*) Art. 5o O Ensino Médio em todas as suas formas de
Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino oferta e organização, baseiase em:
Médio. I formação integral do estudante;
II trabalho e pesquisa como princípios educativos e pe-
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conse-
dagógicos, respectivamente; III educação em direitos hu-
lho Nacional de Educação, em conformidade com o disposto
manos como princípio nacional norteador;
no artigo 9º, § 1º, alínea “c” da Lei nº 4.024/61, de 20 de de-
IV sustentabilidade ambiental como meta universal;
zembro de 1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131, de 25
V indissociabilidade entre educação e prática social,
de novembro de 1995, nos artigos 22, 23, 24, 25, 26, 26A, 27,
considerandose a historicidade
35, 36,36A, 36B e 36C da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de
1996, e tendo em vista o Parecer CEB/CNE nº 5/2011, dos conhecimentos e dos sujeitos do processo edu-
homologado por Despacho do Senhor Ministro de Estado cativo, bem como entre teoria e prática no processo de
da Educação, publicado no DOU de 24 de janeiro de 2011, ensinoaprendizagem;
resolve: VI integração de conhecimentos gerais e, quando for o
caso, técnicoprofissionais realizada na perspectiva da inter-
TÍTULO I Objeto e referencial Capítulo I disciplinaridade e da contextualização;
Objeto VII reconhecimento e aceitação da diversidade e da
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo, das
Art. 1º A presente Resolução define as Diretrizes Curricu- formas de produção, dos processos de trabalho e das cul-
lares Nacionais para o Ensino Médio, a serem observadas turas a eles subjacentes;
na organização curricular pelos sistemas de ensino e suas VIII integração entre educação e as dimensões do tra-
unidades escolares. balho, da ciência, da tecnologia e da cultura como base da
Parágrafo único Estas Diretrizes aplicamse a todas as proposta e do desenvolvimento curricular.
formas e modalidades de § 1º O trabalho é conceituado na sua perspectiva on-
Ensino Médio, complementadas, quando necessário, por tológica de transformação da natureza, como realização
Diretrizes próprias. inerente ao ser humano e como mediação no processo de
Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino produção da sua existência.
Médio articulamse com as Diretrizes Curriculares Nacionais § 2º A ciência é conceituada como o conjunto de
Gerais para a Educação Básica e reúnem princípios, funda- conhecimentos sistematizados, produzidos socialmente ao
mentos e procedimentos, definidos pelo Conselho Nacional longo da história, na busca da compreensão e transforma-
de Educação, para orientar as políticas públicas educacionais ção da natureza e da sociedade.
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios § 3º A tecnologia é conceituada como a transformação
na elaboração, planejamento, implementação e avaliação da ciência em força produtiva ou mediação do conheci-
das propostas curriculares das unidades escolares públi- mento científico e a produção, marcada, desde sua origem,
cas e particulares que oferecem o Ensino Médio. pelas relações sociais que a levaram a ser produzida.

41
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

§ 4º A cultura é conceituada como o processo de produ- d) o estudo da História e Cultura AfroBrasileira e Indí-
ção de expressões materiais, símbolos, representações e sig- gena, no âmbito de todo o currículo escolar, em especial
nificados que correspondem a valores éticos, políticos e es- nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História
téticos que orientam as normas de conduta de uma sociedade. brasileiras;
Art. 6º O currículo é conceituado como a proposta de e) a Filosofia e a Sociologia em todos os anos do curso;
ação educativa constituída pela seleção de conhecimentos f) uma língua estrangeira moderna na parte diversifi-
construídos pela sociedade, expressandose por práticas cada, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda,
escolares que se desdobram em torno de conhecimentos em caráter optativo, dentro das disponibilidades da insti-
relevantes e pertinentes, permeadas pelas relações sociais, tuição.
articulando vivências e saberes dos estudantes e con- Parágrafo único. Em termos operacionais, os compo-
tribuindo para o desenvolvimento de suas identidades e nentes curriculares obrigatórios decorrentes da LDB que
condições cognitivas e sócioafetivas. integram as áreas de conhecimento são os referentes a:
I Linguagens:
TÍTULO II
a) Língua Portuguesa;
Organização curricular e formas de oferta
b) Língua Materna, para populações indígenas;
Capítulo I Organização curricular
c) Língua Estrangeira moderna;
Art. 7º A organização curricular do Ensino Médio tem d) Arte, em suas diferentes linguagens: cênicas, plásti-
uma base nacional comum e uma parte diversificada que cas e, obrigatoriamente, a musical;
não devem constituir blocos distintos, mas um todo inte- e) Educação Física. II Matemática.
grado, de modo a garantir tanto conhecimentos e saberes III Ciências da Natureza:
comuns necessários a todos os estudantes, quanto uma for- a) Biologia;
mação que considere a diversidade e as características locais b) Física;
e especificidades regionais. c) Química.
Art. 8º O currículo é organizado em áreas de conheci- IV Ciências Humanas:
mento, a saber: a) História;
I Linguagens; b) Geografia;
II Matemática; c) Filosofia;
III Ciências da Natureza; d) Sociologia.
IV Ciências Humanas. Art. 10. Em decorrência de legislação específica, são
§ 1º O currículo deve contemplar as quatro áreas do co- obrigatórios:
nhecimento, com tratamento metodológico que evidencie a I Língua Espanhola, de oferta obrigatória pelas
contextualização e a interdisciplinaridade ou outras formas unidades escolares, embora facultativa para o estudante
de interação e articulação entre diferentes campos de sabe- (Lei nº 11.161/2005);
res específicos. II Com tratamento transversal e integradamente, per-
§ 2º A organização por áreas de conhecimento não dilui meando todo o currículo, no âmbito dos demais compo-
nem exclui componentes curriculares com especificidades e nentes curriculares: educação alimentar e nutricional (Lei
saberes próprios construídos e sistematizados, mas implica nº 11.947/2009, que dispõe sobre o atendimento da ali-
no fortalecimento das relações entre eles e a sua con- mentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Es-
textualização para apreensão e intervenção na realidade, cola aos alunos da Educação Básica); processo de enve-
requerendo planejamento e execução conjugados e coope- lhecimento, respeito e valorização do idoso, de forma a
rativos dos seus professores.
eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre
Art. 9º A legislação nacional determina componentes
a matéria (Lei nº 10.741/2003, que dispõe sobre o Estatuto
obrigatórios que devem ser tratados em uma ou mais das
do Idoso);
áreas de conhecimento para compor o currículo:
I são definidos pela LDB: Educação Ambiental (Lei nº 9.795/99, que dispõe
a) o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, o sobre a Política Nacional de Educação Ambiental);
conhecimento do mundo físico e natural e da realidade so- Educação para o Trânsito (Lei nº 9.503/97, que
cial e política, especialmente do Brasil; institui o Código de Trânsito Brasileiro);
a) o ensino da Arte, especialmente em suas expressões Educação em Direitos Humanos (Decreto nº
regionais, de forma a promover o desenvolvimento cultural 7.037/2009, que institui o Programa Nacional de Direi-
dos estudantes, com a Música como seu conteúdo obriga- tos Humanos – PNDH 3).
tório, mas não exclusivo; Art. 11. Outros componentes curriculares, a critério dos
b) a Educação Física, integrada à proposta pedagógica sistemas de ensino e das unidades escolares e definidos
da instituição de ensino, sendo sua prática facultativa ao es- em seus projetos políticopedagógicos, podem ser incluí-
tudante nos casos previstos em Lei; dos no currículo, sendo tratados ou como disciplina ou
c) o ensino da História do Brasil, que leva em conta as com outro formato, preferencialmente, de forma transver-
contribuições das diferentes culturas e etnias para a forma- sal e integradora.
ção do povo brasileiro, especialmente das matrizes indíge- Art. 12. O currículo do Ensino Médio deve: I garantir
na, africana e europeia; ações que promovam:

42
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

a) a educação tecnológica básica, a compreensão do II no Ensino Médio regular, a duração mínima é de 3


significado da ciência, das letras e das artes; (três) anos, com carga horária mínima total de 2.400 (duas
b) o processo histórico de transformação da sociedade mil e quatrocentas) horas, tendo como referência uma car-
e da cultura; ga horá ria anual de 800 (oitocentas) horas, distribuídas em
c) a língua portuguesa como instrumento de comunica- pelo menos 200 (duzentos) dias de efetivo trabalho escolar;
ção, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania; III o Ensino Médio regular diurno, quando adequado
II adotar metodologias de ensino e de avaliação de aos seus estudantes, pode se organizar em regime de tem-
aprendizagem que estimulem a iniciativa dos estudantes; po integral com, no mínimo, 7 (sete) horas diárias;
III organizar os conteúdos, as metodologias e as formas IV no Ensino Médio regular noturno, adequado às con-
de avaliação de tal forma que ao final do Ensino Médio o dições de trabalhadores, respeitados os mínimos de dura-
estudante demonstre: ção e de carga horária, o projeto políticopedagógico deve
a) domínio dos princípios científicos e tecnológicos que atender, com qualidade, a sua singularidade, especificando
presidem a produção moderna; uma organização curricular e metodológica diferenciada,
b) conhecimento das formas contemporâneas de lin- e pode, para garantir a permanência e o sucesso destes
guagem. estudantes:
Art. 13. As unidades escolares devem orientar a a) ampliar a duração do curso para mais de 3 (três)
definição de toda proposição curricular, fundamentada na anos, com menor carga horária diária e anual, garantido
seleção dos conhecimentos, componentes, metodologias, o mínimo total de 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas;
tempos, espaços, arranjos alternativos e formas de avalia- V na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, ob-
ção, tendo presente: servadas suas Diretrizes específicas, com duração mínima
I as dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e de 1.200 (mil e duzentas) horas, deve ser especificada uma
da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de organização curricular e metodológica diferenciada para os
distintas naturezas, contextualizandoos em sua dimensão estudantes trabalhadores, que pode:
histórica e em relação ao contexto social contemporâneo; a) ampliar seus tempos de organização escolar, com
II o trabalho como princípio educativo, para a com- menor carga horária diária e anual, garantida sua duração
preensão do processo histórico de produção científica e mínima;
tecnológica, desenvolvida e apropriada socialmente para a VI atendida a formação geral, incluindo a preparação
transformação das condições naturais da vida e a ampliação básica para o trabalho, o Ensino Médio pode preparar para
das capacidades, das potencialidades e dos sentidos huma- o exercício de profissões técnicas, por integração com a
nos; Educação Profissional e Tecnológica, observadas as Diretri-
III a pesquisa como princípio pedagógico, possibilitan- zes específicas, com as cargas horárias mínimas de:
do que o estudante possa ser protagonista na investigação a) 3.200 (três mil e duzentas) horas, no Ensino Médio
e na busca de respostas em um processo autônomo de (re) regular integrado com a Educação Profissional Técnica de
construção de conhecimentos. Nível Médio;
IV os direitos humanos como princípio norteador, de- b) 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas, na Educação
senvolvendose sua educação de forma integrada, permean- de Jovens e Adultos integrada com a Educação Profissional
do todo o currículo, para promover o respeito a esses direi- Técnica de Nível Médio, respeitado o mínimo de 1.200 (mil
tos e à convivência humana. e duzentas) horas de educação geral;
V a sustentabilidade socioambiental como meta univer- c) 1.400 (mil e quatrocentas) horas, na Educação de
sal, desenvolvida como prática educativa integrada, contí- Jovens e Adultos integrada com a formação inicial e conti-
nua e permanente, e baseada na compreensão do neces- nuada ou qualificação profissional, respeitado o mínimo de
sário equilíbrio e respeito nas relações do ser humano com 1.200 (mil e duzentas) horas de educação geral;
seu ambiente. VII na Educação Especial, na Educação do Campo, na
Educação Escolar Indígena, na Educação Escolar Quilom-
Capítulo II bola, de pessoas em regime de acolhimento ou internação
Formas de oferta e organização e em regime de privação de liberdade, e na Educação a
Distância, devem ser observadas as respectivas Diretrizes e
Art. 14. O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, normas nacionais;
concebida como conjunto orgânico, sequencial e articu- VIII os componentes curriculares que integram as áreas
lado, deve assegurar sua função formativa para todos de conhecimento podem ser tratados ou como disciplinas,
os estudantes, sejam adolescentes, jovens ou adultos, aten- sempre de forma integrada, ou como unidades de estudos,
dendo, mediante diferentes formas de oferta e organização: módulos, atividades, práticas e projetos contextualizados e
I o Ensino Médio pode organizarse em tempos escola- interdisciplinares ou diversamente articuladores de sabe-
res no formato de séries anuais, períodos semestrais, ciclos, res, desenvolvimento transversal de temas ou outras for-
módulos, alternância regular de períodos de estudos, gru- mas de organização;
pos não seriados, com base na idade, na competência e em IX os componentes curriculares devem propiciar a
outros critérios, ou por forma diversa de organização, sem- apropriação de conceitos e categorias básicas, e não o acú-
pre que o interesse do processo de aprendizagem assim o mulo de informações e conhecimentos, estabelecendo um
recomendar; conjunto necessário de saberes integrados e significativos;

43
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

X além de seleção criteriosa de saberes, em termos de III a aprendizagem como processo de apropriação sig-
quantidade, pertinência e relevância, deve ser equilibrada nificativa dos conhecimentos, superando a aprendizagem
sua distribuição ao longo do curso, para evitar fragmentação limitada à memorização;
e congestionamento com número excessivo de componen- IV valorização da leitura e da produção escrita em to-
tes em cada tempo da organização escolar; dos os campos do saber;
XI a organização curricular do Ensino Médio deve V comportamento ético, como ponto de partida para
oferecer tempos e espaços próprios para estudos e o reconhecimento dos direitos humanos e da cidadania, e
atividades que permitam itinerários formativos opcio- para a prática de um humanismo contemporâneo expresso
nais diversificados, a fim de melhor responder à heteroge- pelo re conhecimento, respeito e acolhimento da identida-
neidade e pluralidade de condições, múltiplos interesses e de do outro e pela incorporação da solidariedade;
aspirações dos estudantes, com suas especificidades etárias, VI articulação entre teoria e prática, vinculando o tra-
sociais e culturais, bem como sua fase de desenvolvimento; balho intelectual às atividades práticas ou experimentais;
XII formas diversificadas de itinerários podem ser or- VII integração com o mundo do trabalho por meio de
ganizadas, desde que garantida a simultaneidade entre as estágios de estudantes do Ensino Médio, conforme legis-
dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultu- lação específica;
ra, e definidas pelo projeto políticopedagógico, atendendo VIII utilização de diferentes mídias como processo de
necessidades, anseios e aspirações dos sujeitos e a realidade dinamização dos ambientes de aprendizagem e construção
da escola e do seu meio; de novos saberes;
XIII a interdisciplinaridade e a contextualização devem IX capacidade de aprender permanente, desenvolven-
assegurar a transversalidade do conhecimento de diferentes do a autonomia dos estudantes; X atividades sociais que
componentes curriculares, propiciando a interlocução entre estimulem o convívio humano;
os saberes e os diferentes campos do conhecimento. XI avaliação da aprendizagem, com diagnóstico pre-
liminar, e entendida como processo de caráter formativo,
TÍTULO III permanente e cumulativo;
XII acompanhamento da vida escolar dos estudantes,
Do projeto políticopedagógico e dos sistemas de
promovendo o seguimento do desempenho, análise de re-
ensino
sultados e comunicação com a família;
Capítulo I
XIII atividades complementares e de superação das di-
Do projeto políticopedagógico
ficuldades de aprendizagem para que o estudante tenha
sucesso em seus estudos;
Art. 15. Com fundamento no princípio do pluralismo
XIV reconhecimento e atendimento da diversidade e
de ideias e de concepções pedagógicas, no exercício de
diferentes nuances da desigualdade e da exclusão na so-
sua autonomia e na gestão democrática, o projeto político- ciedade brasileira;
pedagógico das unidades escolares, deve traduzir a XV valorização e promoção dos direitos humanos me-
proposta educativa construída coletivamente, garantida diante temas relativos a gênero, identidade de gênero, raça
a participação efetiva da comunidade escolar e local, bem e etnia, religião, orientação sexual, pessoas com deficiên-
como a permanente construção da identidade entre a escola cia, entre outros, bem como práticas que contribuam para
e o território no qual está inserida. a igualdade e para o enfrentamento de todas as formas de
§ 1º Cabe a cada unidade de ensino a elaboração do seu preconceito, discriminação e violência sob todas as formas;
projeto políticopedagógico, com a proposição de alternati- XVI análise e reflexão crítica da realidade brasileira, de
vas para a formação integral e acesso aos conhecimentos e sua organização social e produtiva na relação de comple-
saberes necessários, definido a partir de aprofundado pro- mentaridade entre espaços urbanos e do campo;
cesso de diagnóstico, análise e estabelecimento de priorida- XVII estudo e desenvolvimento de atividades socioam-
des, delimitação de formas de implementação e sistemática bientais, conduzindo a Educação Ambiental como uma
de seu acompanhamento e avaliação. prática educativa integrada, contínua e permanente;
§ 2º O projeto políticopedagógico, na sua concepção XVIII práticas desportivas e de expressão corporal, que
e implementação, deve considerar os estudantes e os pro- contribuam para a saúde, a sociabilidade e a cooperação;
fessores como sujeitos históricos e de direitos, participantes XIX atividades intersetoriais, entre outras, de promoção
ativos e protagonistas na sua diversidade e singularidade. da saúde física e mental, saúde sexual e saúde reprodutiva,
§ 3º A instituição de ensino deve atualizar, periodica- e prevenção do uso de drogas;
mente, seu projeto políticopedagógico e darlhe publicidade XX produção de mídias nas escolas a partir da promo-
à comunidade escolar e às famílias. ção de atividades que favoreçam as habilidades de leitura
Art. 16. O projeto políticopedagógico das unidades es- e análise do papel cultural, político e econômico dos meios
colares que ofertam o Ensino Médio deve considerar: de comunicação na sociedade;
I atividades integradoras artísticoculturais, tecnológicas XXI participação social e protagonismo dos estudantes,
e de iniciação científica, vinculadas ao trabalho, ao meio am- como agentes de transformação de suas unidades de ensi-
biente e à prática social; no e de suas comunidades;
II problematização como instrumento de incentivo à XXII condições materiais, funcionais e didáticopeda-
pesquisa, à curiosidade pelo inusitado e ao desenvolvi- gógicas, para que os profissio nais da escola efetivem as
mento do espírito inventivo; proposições do projeto.

44
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Parágrafo único. O projeto políticopedagógico deve, Vestabelecer normas complementares e políticas edu-
ainda, orientar: cacionais para execução e cumprimento das disposições
a) dispositivos, medidas e atos de organização do tra- destas Diretrizes, considerando as peculiaridades regionais
balho escolar; ou locais;
b) mecanismos de promoção e fortalecimento da VIinstituir sistemas de avaliação e utilizar os sistemas
autonomia escolar, mediante a alocação de recursos fi- de avaliação operados pelo Ministério da Educação, a fim
nanceiros, administrativos e de suporte técnico necessá- de acompanhar resultados, tendo como referência as ex-
rios à sua realização; pectativas de aprendizagem dos conhecimentos e saberes
c) adequação dos recursos físicos, inclusive organiza- a serem alcançados, a legislação e as normas, estas Dire-
ção dos espaços, equipamentos, biblioteca, laboratórios e trizes, e os projetos políticopedagógicos das unidades es-
outros ambientes educacionais. colares.
Art. 18. Para a implementação destas Diretrizes, cabe
Capítulo II aos sistemas de ensino prover:
Dos sistemas de ensino Ios recursos financeiros e materiais necessários à am-
pliação dos tempos e espaços dedicados ao trabalho edu-
Art. 17. Os sistemas de ensino, de acordo com a legis- cativo nas unidades escolares;
lação e a normatização nacional e estadual, e na busca da II aquisição, produção e/ou distribuição de materiais
melhor adequação possível às necessidades dos estudan- didáticos e escolares adequados; III professores com jorna-
tes e do meio social, devem: da de trabalho e formação, inclusive continuada, adequa-
Icriar mecanismos que garantam liberdade, autonomia das para o desenvolvimento do currículo, bem como dos
e responsabilidade às unidades escolares, fortalecendo sua gestores e demais profissionais das unidades escolares;
capacidade de concepção, formulação e execução de suas IV instrumentos de incentivo e valorização dos profis-
propostas políticopedagógicas; sionais da educação, com base em planos de carreira e ou-
IIpromover, mediante a institucionalização de mecanis- tros dispositivos voltados para esse fim;
mos de participação da comunidade, alternativas de orga- V acompanhamento e avaliação dos programas e ações
nização institucional que possibilitem: educativas nas respectivas redes e unidades escolares.
a) identidade própria das unidades escolares de ado- Art. 19. Em regime de colaboração com os Estados,
lescentes, jovens e adultos, respeitadas as suas condições o Distrito Federal e os Municípios, e na perspectiva de
e necessidades de espaço e tempo para a aprendizagem; um sistema nacional de educação, cabe ao Ministério da
b) várias alternativas pedagógicas, incluindo ações, si- Educação oferecer subsídios e apoio para a implementação
tuações e tempos diversos, bem como diferentes espaços destas Diretrizes.
– intraescolares ou de outras unidades escolares e da co- Art. 20. Visando a alcançar unidade nacional, respeitadas
munidade – para atividades educacionais e socioculturais as diversidades, o Ministério da Educação, em articulação e
favorecedoras de iniciativa, autonomia e protagonismo so- colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
cial dos estudantes; nicípios, deve elaborar e encaminhar ao Conselho Nacional de
c) articulações institucionais e comunitárias necessárias Educação, precedida de consulta pública nacional, proposta de
ao cumprimento dos planos dos sistemas de ensino e dos expectativas de aprendizagem dos conhecimentos escolares
projetos políticopedagógicos das unidades escolares; e saberes que devem ser atingidos pelos estudantes em
d) realização, inclusive pelos colegiados escolares e diferentes tempos de organização do curso de Ensino Médio.
órgãos de representação estudantil, de ações fundamen- Art. 21. O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)
tadas nos direitos humanos e nos princípios éticos, de con- deve, progressivamente, compor o Sistema de Avaliação
vivência e de participação democrática visando a construir da Educação Básica (SAEB), assumindo as funções de:
unidades escolares e sociedade livres de preconceitos, dis- I avaliação sistêmica, que tem como objetivo subsidiar
criminações e das diversas formas de violência. as políticas públicas para a
IIIfomentar alternativas de diversificação e flexibiliza- Educação Básica;
ção, pelas unidades escolares, de formatos, componentes II avaliação certificadora, que proporciona àqueles que
curriculares ou formas de estudo e de atividades, estimu- estão fora da escola aferir seus conhecimentos construídos
lando a construção de itinerários formativos que atendam em processo de escolarização, assim como os conhecimen-
às características, interesses e necessidades dos estudan- tos tácitos adquiridos ao longo da vida;
tes e às demandas do meio social, privilegiando propostas III avaliação classificatória, que contribui para o acesso
com opções pelos estudantes. democrático à Educação Superior.
IVorientar as unidades escolares para promoverem: Art. 22. Estas Diretrizes devem nortear a elaboração da
a) classificação do estudante, mediante avaliação pela proposta de expectativas de aprendizagem, a formação de
instituição, para inserção em etapa adequada ao seu grau professores, os investimentos em materiais didáticos e os
de desenvolvimento e experiência; sistemas e exames nacionais de avaliação.
b) aproveitamento de estudos realizados e de conhe- Art. 23. Esta Resolução entra em vigor na data de sua
cimentos constituídos tanto no ensino formal como no in- publicação, revogandose as disposições em contrário, em
formal e na experiência extraescolar; especial a Resolução CNE/CEB nº 3, de 26 de junho de 1998.

45
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Art. 4º Caso o estudante itinerante não disponha, no


ato da matrícula, de certificado, memorial e/ou relatório
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE da instituição de educação anterior, este deverá ser in-
EDUCAÇÃO BÁSICA serido no grupamento correspondente aos seus pares
de idade, mediante diagnóstico de suas necessidades
RESOLUÇÃO Nº 3, DE 16 DE MAIO 2012 (*) de aprendizagem, realizado pela instituição de ensino que
o recebe.
Define diretrizes para o atendimento de educação es- § 1º A instituição de educação deverá desenvolver es-
colar para populações em situação de itinerância. tratégias pedagógicas adequadas às suas necessidades de
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con- aprendizagem.
selho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições § 2º A instituição de ensino deverá realizar avaliação
legais, e de conformidade com o disposto na alínea “c” do diagnóstica do desenvolvimento e da aprendizagem desse
§ 1º do art. 9º da Lei nº 4.024/61, com a redação dada pela estudante, mediante acompanhamento e supervisão ade-
Lei nº 9.131/95, e com fundamento no Parecer CNE/CEB nº quados às suas necessidades de aprendizagem.
14/2011, homologado por Despacho do Senhor Minis- § 3º A instituição de educação deverá oferecer
tro de Estado da Educação, publicado no DOU de 10 de atividades complementares para assegurar as condições
maio de 2012, necessárias e suficientes para a aprendizagem dessas
Considerando o que dispõe a Constituição Federal crianças, adolescentes e jovens.
de 1988; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Art. 5º Os cursos destinados à formação inicial e conti-
(Lei nº 9.394/96); o Plano Nacional de Direitos Humanos nuada de professores deverão proporcionar aos docentes
de 2006; o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº o conhecimento de estratégias pedagógicas, materiais di-
dáticos e de apoio pedagógico, bem como procedimentos
8.069/90); a Convenção nº 169 da Organização Internacio-
de avaliação que considerem a realidade cultural, social e
nal do Trabalho sobre Povos Indígenas e Tribais, promulga-
profissional do estudante itinerante como parte do cumpri-
da no Brasil, por meio do Decreto nº 5.051, de 19 de abril
mento do direito à educação.
de 2004; o Código Civil Brasileiro (Lei nº 10.406/2002) e Art. 6º O poder público, no processo de expedição do
a Convenção sobre os Direitos da Criança, ratificada pelo alvará de funcionamento de empreendimentos de diver-
Brasil por meio do Decreto nº 99.710, de 21 de novembro são itinerante, deverá exigir documentação comproba-
de 1990; tória de matrícula das crianças, adolescentes e jovens cujos
pais ou responsáveis trabalhem em tais empreendimentos.
RESOLVE: Art. 7º Os Conselhos Tutelares existentes na região, de-
Art. 1º As crianças, adolescentes e jovens em situação verão acompanhar a vida do estudante itinerante no que se
de itinerância deverão ter garantido o direito à matrícula refere ao respeito, proteção e promoção dos seus direitos
em escola pública, gratuita, com qualidade social e que ga- sociais, sobretudo ao direito humano à educação.
ranta a liberdade de consciência e de crença. Art. 8º Os Conselhos da Criança e do Adolescente de-
Parágrafo único. São considerados crianças, adolescen- verão acompanhar o percurso escolar do estudante itine-
tes e jovens em situação de itinerância aquelas pertencen- rante, buscando garantirlhe políticas de atendimento.
tes a grupos sociais que vivem em tal condição por motivos Art. 9º O Ministério da Educação deverá criar pro-
culturais, políticos, econômicos, de saúde, tais como ciga- gramas, ações e orientações especiais destinados à es-
nos, indígenas, povos nômades, trabalhadores itinerantes, colarização de pessoas, sobretudo crianças, adolescentes e
acampados, circenses, artistas e/ou trabalhadores de par- jovens que vivem em situação de itinerância.
ques de diversão, de teatro mambembe, dentre outros. § 1º Os programas e ações socioeducativas destinados
Art. 2º Visando à garantia dos direitos socioeducacio- a estudantes itinerantes deverão ser elaborados e imple-
nais de crianças, adolescentes e jovens em situação de iti- mentados com a participação dos atores sociais di-
nerância os sistemas de ensino deverão adequarse às par- retamente interessados (responsáveis pelos estudantes, os
ticularidades desses estudantes. próprios estudantes, dentre outros), visando o respeito às
Art. 3º Os sistemas de ensino, por meio de seus es- particularidades socioculturais, políticas e econômicas dos
tabelecimentos públicos ou privados de Educação Básica referidos atores sociais.
deverão assegurar a matrícula de estudante em situação § 2º O atendimento socioeducacional ofertado pelas
escolas e programas educacionais deverá garantir o respei-
de itinerância sem a imposição de qualquer forma de
to às particularidades culturais, regionais, religiosas, étnicas
embaraço, preconceito e/ou qualquer forma de dis-
e raciais dos estudantes em situação de itinerância, bem
criminação, pois se trata de direito fundamental, mediante
como o tratamento pedagógico, ético e não discriminató-
autodeclaração ou declaração do responsável. rio, na forma da lei.
§ 1º No caso de matrícula de jovens e adultos, poderá Art. 10 Os sistemas de ensino deverão orientar as es-
ser usada a autodeclaração. colas quanto à sua obrigação de garantir não só a matrí-
§ 2º A instituição de educação que receber matrícula cula, mas, também, a permanência e, quando for o caso, a
de estudante em situação de itinerância deverá comuni- conclusão dos estudos aos estudantes em situação de
car o fato à Secretaria de Educação ou a seu órgão itinerância, bem como a elaboração e disponibilização
regional imediato. do respectivo memorial.

46
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Art. 11 Os sistemas de ensino, por meio de seus di- MEC) deverá, conclusivamente, adotar uma das seguintes
ferentes órgãos, deverão definir normas complementares providências em relação aos cursos técnicos de nível mé-
para o ingresso, permanência e conclusão de estudos de dio implantados em caráter experimental, nos termos do
crianças, adolescentes e jovens em situação de itinerância, art. 81 da LDB, devidamente autorizados como tais pelos
com base na presente resolução. órgãos próprios dos respectivos sistemas de ensino:
Art. 12 Esta Resolução entrará em vigor na data de sua I manter os cursos que foram aprovados para terem
publicação. sua oferta em caráter experimental durante mais um tem-
po determinado, devidamente justificado, ainda em regime
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO experimental;
II ou incluir os cursos em questão no Catálogo Nacio-
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE nal de Cursos Técnicos de Nível Médio, devendo as insti-
EDUCAÇÃO BÁSICA tuições e sistemas de ensino promover as devidas adequa-
ções;
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 6 DE JUNHO DE 2012 III – ou recomendar a extinção dos referidos cursos,
(*) garantindo o direito adquirido pelos seus alunos de con-
Dispõe sobre alteração na Resolução CNE/CEB cluírem os cursos como foram iniciados.
nº3/2008, definindo a nova versão do Catálogo Nacional Art. 5º Esta Resolução entra em vigor na data de sua
deCursos Técnicos de Nível Médio. publicação.
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conse-
lho Nacional de Educação, em conformidade com o dispos-
to na alínea “e” do § 1º do artigo 9° da Lei nº 4.024/1961, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
com a redação dada pela Lei nº 9.131/1995; nos artigos
36A a 36D e nos artigos 39 a 42 da Lei nº CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE
9.394/1996; no Decreto Federal nº 5.154/2004; na Por- EDUCAÇÃO BÁSICA
taria Ministerial nº 870/2008; e com fundamento no Parecer
CNE/CEB nº 11/2008, na Resolução CNE/CEB nº 3/2008 e RESOLUÇÃO Nº 5, DE 22 DE JUNHO DE 2012
no Parecer CNE/CEB nº 3/2012, devidamente homologado (*)
por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a
publicado no DOU de 6/6/2012, Educação Escolar Indígena na Educação Básica.
O Presidente da Câmara de Educação Básica do
RESOLVE: Conselho Nacional de Educação , no uso de suas atribui-
Art. 1º A presente Resolução inclui na nova versão do ções legais e de conformidade com o disposto na alínea “c”
Catálogo Nacional de Cursos Técnicos de Nível Médio, com do § 1º do art. 9º da Lei nº 4.024/61, com a redação dada
a finalidade de orientar a oferta de cursos técnicos de nível pela Lei nº 9.131/95, na Lei nº 9.394/96, especialmente nos
médio nas redes públicas e privadas de Educação Profis- arts. 78 e 79, 26-A, § 4° do art. 26, § 3° do art. 32, bem como
sional e Tecnológica, 44 (quarenta e quatro) novos cursos, no Decreto nº 6.861/2009, e com fundamento no Pa-
conforme tabela constante em anexo. recer CNE/CEB nº 13/2012, homologado por Despacho
Art. 2º Ficam aprovadas as seguintes alterações em re- do Senhor Ministro da Educação, publicado no DOU de 15
lação aos atuais Eixos Tecnológicos constantes do Catalogo de junho de 2012,
Nacional de Cursos Técnicos de Nível Médio:
I o Eixo Tecnológico antes denominado “Ambiente, CONSIDERANDO
Saúde e Segurança” foi alterado para “Ambiente e Saúde”,
sendo criado, em separado, o Eixo Tecnológico “Segurança”; O direito a uma educação escolar diferenciada para os
II o Eixo Tecnológico “Apoio Educacional” foi alterado povos indígenas, assegurado pela Constituição Federal de
para “Desenvolvimento Educacional e Social”; 1988; pela Convenção 169 da Organização Internacional do
III o Eixo Tecnológico “Hospitalidade e Lazer” foi alte- Trabalho (OIT) sobre Povos Indígenas e Tribais, promulgada
rado para “Turismo, Hospitalidade e Lazer”. no Brasil por meio do Decreto nº 5.051/2004; pela Decla-
Art. 3º O prazo estabelecido pela Resolução CNE/CEB ração Universal dos Direitos Humanos de 1948 da Organi-
nº 3/2008, com base no Parecer CNE/CEB nº 11/2008, para zação das Nações Unidas (ONU); pela Declaração das Na-
a oferta de cursos técnicos de nível médio em desacordo ções Unidas sobre os direitos dos povos indígenas de 2007;
com o Catálogo Nacional, em caráter experimental, nos pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
termos da art. 81 da LDB, devidamente autorizados como 9.394/96), bem como por outros documentos nacionais e
tais pelos órgãos próprios dos respectivos sistemas de en- internacionais que visam assegurar o direito à educação
sino, fica prorroga do até, no máximo, o dia 31 de dezem- como um direito humano e social;
bro de 2013. As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a
Art. 4º Até o dia 31 de dezembro de 2013 a Comissão Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução
Executiva de Avaliação do Catá logo Nacional de Cursos CNE/CEB nº 4/2010), as Diretrizes Curriculares Nacionais para
Técnicos de Nível Médio (CONAC), sob a coordenação da a Educação Infantil (Parecer CNE/CEB nº 20/2009 e Resolu-
Secreta ria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC/ ção CNE/CEB nº 5/2009), as Diretrizes Curriculares Nacionais

47
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

para o Ensino Fundamental (Parecer CNE/CEB nº 11/2010 e III assegurar que os princípios da especificidade, do
Resolução CNE/CEB nº 7/2010), e as Diretrizes Curriculares bilinguismo e multilinguismo, da organização comunitária
Nacionais para o Ensino Médio (Parecer CNE/CEB nº 5/2011 e e da interculturalidade fundamentem os projetos educa-
Resolução CNE/CEB nº 2/2012), além de outras que tratam das tivos das comunidades indígenas, valorizando suas lín-
modalidades que compõem a Educação Básica; guas e conhecimentos tradicionais;
As Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Hu- IV assegurar que o modelo de organização e gestão
manos definidas no Parecer CNE/CP nº 8/2012; das escolas indígenas leve em consideração as práticas
As recomendações do Parecer CNE/CEB nº 10/2011, que socioculturais e econômicas das respectivas comunida-
trata da oferta de língua estrangeira nas escolas indígenas des, bem como suas formas de produção de conheci-
de Ensino Médio; mento, processos próprios de ensino e de aprendiza-
As orientações do Parecer CNE/CEB nº 1/2011 e do Pa- gem e projetos societários;
recer CNE/CEB nº 9/2011, que tratam, respectivamente, de V fortalecer o regime de colaboração entre os sis-
questionamento do Conselho de Educação Escolar Indígena temas de ensino da União, dos Estados, do Distrito Fe-
do Amazonas a respeito da transformação do colegiado em
deral e dos Municípios, fornecendo diretrizes para a or-
órgão normativo, e da proposta de fortalecimento e im-
ganização da Educação Escolar Indígena na Educação
plementação do regime de colaboração mediante
Básica, no âmbito dos territórios etnoeducacionais;
arranjos de desenvolvimento da educação;
As deliberações da I Conferência Nacional de Educação VI normatizar dispositivos constantes na Con-
Escolar Indígena, realizada em novembro de 2009, conside- venção 169, da Organização Internacional do Traba-
rada espaço democrático privilegiado de debates e de de- lho, ratificada no Brasil, por meio do Decreto Legislativo
cisões, com o intuito de celebrar, promover e fortalecer a nº 143/2003, no que se refere à educação e meios de
Educação Escolar Indígena; comunicação, bem como os mecanismos de consulta li-
As determinações do Decreto nº 6.861/2009, que dispõe vre, prévia e informada;
sobre a Educação Escolar VII orientar os sistemas de ensino da União, dos
Indígena e define sua organização em territórios etnoe- Estados, do Distrito Federal e dos Municípios a incluir,
ducacionais; tanto nos processos de formação de professores indíge-
CONSIDERANDO, finalmente, as contribuições ao nas, quanto no funcionamento regular da Educação
texto destas Diretrizes apresentadas pelos participan- Escolar Indígena, a colaboração e atuação de espe-
tes dos dois seminários nacionais sobre Diretrizes para cialistas em saberes tradicionais, como os tocadores de
a Educação Escolar Indígena, realizados, respectivamente, instrumentos musicais, contadores de narrativas míticas,
nos anos de 2011 e 2012 pelo Conselho Nacional de pajés e xamãs, rezadores, raizeiros, parteiras, organiza-
Educação, bem como aquelas enviadas por diversas pes- dores de rituais, conselheiros e outras funções próprias
soas e instituições durante o processo de consulta pública, e necessárias ao bem viver dos povos indígenas;
VII zelar para que o direito à educação esco-
RESOLVE: lar diferenciada seja garantido às comunidades indí-
Art. 1º Esta Resolução define as Diretrizes Curriculares genas com qualidade social e pertinência pedagógica,
Nacionais para a Educação cultural, linguística, ambiental e territorial, respeitando
Escolar Indígena na Educação Básica, oferecida em ins- as lógicas, saberes e perspectivas dos próprios povos
tituições próprias. indígenas.
Parágrafo único Estas Diretrizes Curriculares Na-
cionais estão pautadas pelos princípios da igualdade TÍTULO II
social, da diferença, da especificidade, do bilinguismo
DOS PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍ-
e da interculturalidade, fundamentos da Educação Escolar
GENA
Indígena.
Art. 3º Constituem objetivos da Educação Escolar
TÍTULO I DOS OBJETIVOS
Indígena proporcionar aos indígenas, suas comunida-
Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa- des e povos:
ção Escolar Indígena na I a recuperação de suas memórias históricas; a rea-
Educação Básica têm por objetivos: firmação de suas identidades étnicas; a valorização de
I orientar as escolas indígenas de educação básica e os suas línguas e ciências;
sistemas de ensino da União, dos Estados, do Distrito Fe- II o acesso às informações, conhecimentos téc-
deral e dos Municípios na elaboração, desenvolvimento e nicos, científicos e culturais da sociedade nacional e
avaliação de seus projetos educativos; demais sociedades indígenas e não-indígenas.
II orientar os processos de construção de instrumentos Parágrafo único A Educação Escolar Indígena deve
normativos dos sistemas de ensino visando tornar a Educa- se constituir num espaço de construção de relações
ção Escolar Indígena projeto orgânico, articulado e sequen- interétnicas orientadas para a manutenção da pluralida-
ciado de Educação Básica entre suas diferentes etapas de cultural, pelo reconhecimento de diferentes concep-
e modalidades, sendo garantidas as especificidades dos ções pedagógicas e pela afirmação dos povos indígenas
processos educativos indígenas; como sujeitos de direitos.

48
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Art. 4º Constituem elementos básicos para § 1º Em todos os níveis e modalidades da Educação Es-
a organização, a estrutura e o funcionamento da colar Indígena devem ser garantidos os princípios da igual-
escola indígena: dade social, da diferença, da especificidade, do bilinguismo
I a centralidade do território para o bem viver dos po- e da interculturalidade, contando preferencialmente com
vos indígenas e para seus processos formativos e, portan- professores e gestores das escolas indígenas, membros da
to, a localização das escolas em terras habitadas por respectiva comunidade indígena.
comunidades indígenas, ainda que se estendam por § 2º Os saberes e práticas indígenas devem ancorar o
territórios de diversos Estados ou Municípios contíguos; acesso a outros conhecimentos, de modo a valorizar os mo-
II a importância das línguas indígenas e dos registros dos próprios de conhecer, investigar e sistematizar de cada
linguísticos específicos do português para o ensino minis- povo indígena, valorizando a oralidade e a história indígena.
trado nas línguas maternas das comunidades indígenas, § 3º A Educação Escolar Indígena deve contribuir para
como uma das formas de preservação da realidade socio- o projeto societário e para o bem viver de cada comuni-
linguística de cada povo; dade indígena, contemplando ações voltadas à manuten-
III a organização escolar própria, nos termos detalha- ção e preservação de seus territórios e dos recursos neles
dos nesta Resolução; existentes.
IV a exclusividade do atendimento a comunidades in- § 4º A Educação Escolar Indígena será acompanhada
dígenas por parte de professores indígenas oriundos da pelos sistemas de ensino, por meio da prática constante
respectiva comunidade. de produção e publicação de materiais didáticos diferen-
Parágrafo único A escola indígena será criada em aten- ciados, na língua indígena, em português e bilíngues,
dimento à reivindicação ou por iniciativa da comunidade elaborados pelos professores indígenas em articulação
interessada, ou com a anuência da mesma, respeitadas com os estudantes indígenas, para todas as áreas de co-
suas formas de representação. nhecimento.
Art. 5º Na organização da escola indígena deverá ser Art. 8º A Educação Infantil, etapa educativa e de cui-
considerada a participação de representantes da comu- dados, é um direito dos povos indígenas que deve ser
nidade, na definição do modelo de organização e gestão, garantido e realizado com o compromisso de qualidade
bem como: sociocultural e de respeito aos preceitos da educação dife-
I suas estruturas sociais; renciada e específica.
II suas práticas socioculturais, religiosas e econômicas; § 1º A Educação Infantil pode ser também uma opção
III suas formas de produção de conhecimento, proces- de cada comunidade indígena que tem a prerrogativa de,
ao avaliar suas funções e objetivos a partir de suas referên-
sos próprios e métodos de ensino-aprendizagem;
cias culturais, decidir sobre a implantação ou não da mes-
IV o uso de materiais didático-pedagógicos produzi-
ma, bem como sobre a idade de matrícula de suas crianças
dos de acordo com o contexto sociocultural de cada povo
na escola.
indígena;
§ 2º Os sistemas de ensino devem promover consul-
V a necessidade de edificação de escolas com carac-
ta livre, prévia e informada acerca da oferta da Educação
terísticas e padrões construtivos de comum acordo com
Infantil a todos os envolvidos com a educação das crian-
as comunidades usuárias, ou da predisposição de espaços
ças indígenas, tais como pais, mães, avós, “os mais velhos”,
formativos que atendam aos interesses das comunidades
professores, gestores escolares e lideranças comunitárias,
indígenas. visando a uma avaliação que expresse os interesses
Art. 6º Os sistemas de ensino devem assegurar às esco- legítimos de cada comunidade indígena.
las indígenas estrutura adequada às necessidades dos es- § 3º As escolas indígenas que ofertam a Educação In-
tudantes e das especificidades pedagógicas da educação fantil devem:
diferenciada, garantindo laboratórios, bibliotecas, espaços I promover a participação das famílias e dos sábios,
para atividades esportivas e artístico-culturais, assim como especialistas nos conhecimentos tradicionais de cada co-
equipamentos que garantam a oferta de uma educação es- munidade, em todas as fases de implantação e desenvolvi-
colar de qualidade sociocultural. mento da Educação Infantil;
II definir em seus projetos político-pedagógicos em
TÍTULO III que língua ou línguas serão desenvolvidas as atividades
DA ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍ- escolares, de forma a oportunizar o uso das línguas indí-
GENA genas;
III considerar as práticas de educar e de cuidar de cada
Art. 7º A organização das escolas indígenas e das ati- comunidade indígena como parte fundamental da edu-
vidades consideradas letivas podem assumir variadas for- cação escolar das crianças de acordo com seus espaços e
mas, como séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alter- tempos socioculturais;
nância regular de períodos de estudos com tempos e espa- IV elaborar materiais didáticos específicos e de apoio
ços específicos, grupos não-seriados, com base na idade, pedagógico para a Educação Infantil, garantindo a incor-
na competência e em outros critérios, ou por forma diversa poração de aspectos socioculturais indígenas significa-
de organização, sempre que o interesse do processo de tivos e contextualizados para a comunidade indígena de
aprendizagem assim o recomendar. pertencimento da criança;

49
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

V reconhecer as atividades socioculturais desenvol- § 4º As comunidades indígenas, por meio de seus pro-
vidas nos diversos espaços institucionais de convivência e jetos de educação escolar, têm a prerrogativa de decidir
sociabilidade de cada comunidade indígena – casas da cul- o tipo de Ensino Médio adequado aos seus modos
tura, casas da língua, centros comunitários, museus indíge- de vida e organização societária, nos termos da Resolução
nas, casas da memória, bem como outros espaços tradicio- CNE/CEB nº 2/2012.
nais de formação – como atividades letivas, definidas nos § 5º Na definição do Ensino Médio que atenda às ne-
projetos político- pedagógicos e nos calendários escolares. cessidades dos povos indígenas, o uso de suas línguas se
Art. 9º O Ensino Fundamental, direito humano, social e constitui em importante estratégia pedagógica para a va-
público subjetivo, aliado à ação educativa da família e da lorização e promoção da diversidade sociolinguística bra-
comunidade, deve se constituir em tempo e espaço de sileira.
formação para a cidadania indígena plena, articulada tanto Art. 11 A Educação Especial é uma modalidade de
ao direito à diferença quanto ao direito à igualdade. ensino transversal que visa assegurar aos estudantes com
§ 1º O Ensino Fundamental deve garantir aos es- deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e com
tudantes indígenas condições favoráveis à construção do altas habilidades e superdotação, o desenvolvimento das
bem viver de suas comunidades, aliando, em sua formação suas potencialidades socioeducacionais em todas as etapas
escolar, conhecimentos científicos, conhecimentos tradi- e modalidades da Educação Básica nas escolas indígenas,
cionais e práticas culturais próprias. por meio da oferta de Atendimento Educacional Especiali-
§ 2º O Ensino Fundamental deve promover o acesso zado (AEE).
aos códigos da leitura e da escrita, aos conhecimentos § 1º O Ministério da Educação, em sua função indutora
ligados às ciências humanas, da natureza, matemá- e executora de políticas públicas educacionais, articulado
ticas, linguagens, bem como do desenvolvimento das com os sistemas de ensino, deve realizar diagnósticos da
capacidades individuais e coletivas necessárias ao conví- demanda por Educação Especial nas comunidades indíge-
vio sociocultural da pessoa indígena com sua comunidade nas, visando criar uma política nacional de atendimento
de pertença e com outras sociedades. aos estudantes indígenas que necessitem de atendimento
§ 3º No Ensino Fundamental as práticas educati- educacional
vas e as práticas do cuidar são indissociáveis visando especializado (AEE).
o pleno atendimento das necessidades dos estudantes in-
§ 2º Os sistemas de ensino devem assegurar a acessi-
dígenas em seus diferentes momentos de vida: infâncias,
bilidade aos estudantes indígenas com deficiência, trans-
juventudes e fase adulta.
tornos globais do desenvolvimento e com altas ha-
§ 4º A oferta do Ensino Fundamental, como direito pú-
bilidades e superdotação, por meio de prédios escolares,
blico subjetivo, é de obrigação do Estado que, para isso,
equipamentos, mobiliários, transporte escolar, recursos
deve promover a sua universalização nas comunidades in-
humanos e outros materiais adaptados às necessidades
dígenas que demandarem essa etapa de escolarização.
Art. 10 O Ensino Médio, um dos meios de fortalecimen- desses estudantes.
to dos laços de pertencimento identitário dos estudantes § 3º No caso dos estudantes que apresentem
com seus grupos sociais de origem, deve favorecer a con- necessidades diferenciadas de comunicação, o acesso aos
tinuidade sociocultural dos grupos comunitários em seus conteúdos deve ser garantido por meio da utilização de
territórios. linguagens e códigos aplicáveis, como o sistema Braille e
§ 1º As propostas de Ensino Médio devem promover a Língua Brasileira de Sinais, sem prejuízo do aprendizado
o protagonismo dos estudantes indígenas, ofertando-lhes da língua portuguesa e da língua indígena, facultando-lhes
uma formação ampla, não fragmentada, que oportu- e às suas famílias a opção pela abordagem pedagógica
nize o desenvolvimento das capacidades de análise e que julgarem adequada, ouvidos os profissionais espe-
de tomada de decisões, resolução de problemas, flexi- cializados em cada caso voltada à garantia da educação de
bilidade para continuar o aprendizado de diversos conhe- qualidade sociocultural como um direito dos povos indí-
cimentos necessários a suas interações com seu grupo de genas.
pertencimento e com outras sociedades indígenas e não § 4º Para que o direito à aprendizagem dos estudantes
indígenas. indígenas da Educação Especial seja assegurado, é neces-
§ 2º O Ensino Médio deve garantir aos estudantes indí- sário também que as instituições de pesquisa desenvolvam
genas condições necessárias à construção do bem viver estudos com o objetivo de identificar e aprimorar a Lín-
de suas comunidades, aliando, em sua formação esco- gua Brasileira de Sinais ou outros sistemas de comunicação
lar, conhecimentos científicos, conhecimentos tradicionais próprios utilizados entre pessoas surdas indígenas em
e práticas culturais próprias de seus grupos étnicos de per- suas respectivas comunidades.
tencimento, num processo educativo dialógico e transfor- § 5º Na identificação das necessidades educacionais
mador. especiais dos estudantes indígenas, além da experiência
§ 3º Cabe aos sistemas de ensino, por meio de ações dos professores indígenas, da opinião da família, das ques-
colaborativas, promover consulta livre, prévia e informada tões culturais, a escola indígena deve contar com assesso-
sobre o tipo de Ensino Médio adequado às diversas comu- ramento técnico especializado e o apoio da equipe respon-
nidades indígenas, realizando diagnóstico das demandas sável pela Educação Especial em parceria com as instâncias
relativas a essa etapa da Educação Básica em cada realida- administrativas da Educação Escolar Indígena nos sistemas
de sociocultural indígena. de ensino.

50
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

§ 6º O atendimento educacional especializado na Edu- TÍTULO IV


cação Escolar Indígena deve assegurar a igualdade de con- DO PROJETO POLITICO-PEDAGÓGICO DAS ESCO-
dições para o acesso, permanência e conclusão com sucesso LAS INDÍGENAS
dos estudantes que demandam esse atendimento.
Art. 12 A Educação de Jovens e Adultos caracteriza-se Art. 14 O projeto político-pedagógico, expressão
como uma proposta pedagógica flexível, com finalidades e da autonomia e da identidade escolar, é uma referên-
funções específicas e tempo de duração definido, levando em cia importante na garantia do direito a uma educação
consideração os conhecimentos das experiências de vida dos escolar diferenciada, devendo apresentar os princípios e
jovens e adultos, ligadas às vivências cotidianas individuais e objetivos da Educação Escolar Indígena de acordo com as
coletivas, bem como ao trabalho. diretrizes curriculares instituídas nacional e localmente,
§ 1º Na Educação Escolar Indígena, a Educação de Jovens bem como as aspirações das comunidades indígenas em
e Adultos deve atender às realidades socioculturais e interes- relação à educação escolar.
ses das comunidades indígenas, vinculando-se aos seus proje- § 1º Na Educação Escolar Indígena, os projetos políti-
tos de presente e futuro, sendo necessária a contextualização co-pedagógicos devem estar intrinsecamente relacionados
da sua proposta pedagógica de acordo com as questões so- com os modos de bem viver dos grupos étnicos em
cioculturais da comunidade. seus territórios, devendo estar alicerçados nos princípios
§ 2º A oferta de Educação de Jovens e Adultos no Ensino da interculturalidade, bilinguismo e multilinguismo, espe-
Fundamental não deve substituir a oferta regular dessa etapa cificidade, organização comunitária e territorialidade.
da Educação Básica na Educação Escolar Indígena, indepen- § 2º O projeto político-pedagógico da escola indígena,
dente da idade. construído de forma autônoma e coletiva, valorizando os
§ 3º Na Educação Escolar Indígena, as propostas educa- saberes, a oralidade e a história de cada povo em diálogo
tivas de Educação de Jovens e Adultos, numa perspectiva de com os demais saberes produzidos por outras sociedades
formação ampla, devem favorecer o desenvolvimento de uma humanas, deve se articular aos projetos societários etno-
educação profissional que possibilite aos jovens e adultos indí- políticos das comunidades indígenas contemplando a
genas atuarem nas atividades socioeconômicas e culturais de gestão territorial e ambiental das terras indígenas e a sus-
suas comunidades com vistas à construção do protagonismo tentabilidade das comunidades indígenas.
indígena e da sustentabilidade de seus territórios.
§ 3º A questão da territorialidade, associada à sus-
Art. 13 A Educação Profissional e Tecnológica na Educação
tentabilidade socioambiental e cultural das comunidades
Escolar Indígena deve articular os princípios da formação
indígenas, deve orientar todo processo educativo de-
ampla, sustentabilidade socioambiental e respeito à diver-
finido no projeto político-pedagógico com o intuito de
sidade dos estudantes, considerando-se as formas de or-
fazer com que a escola contribua para a continuidade
ganização das sociedades indígenas e suas diferenças sociais,
sociocultural dos grupos indígenas em seus territórios,
políticas, econômicas e culturais, devendo:
I contribuir na construção da gestão territorial autônoma, em benefício do desenvolvimento de estratégias que via-
possibilitando a elaboração de projetos de desenvolvimento bilizem os seus projetos de bem viver.
sustentável e de produção alternativa para as comunidades § 4º As escolas indígenas, na definição dos seus
indígenas, tendo em vista, em muitos casos, as situações de projetos político-pedagógicos, possuem autonomia para
desassistência e falta de apoio para seus processos produtivos; organizar suas práticas pedagógicas em ciclos, seriação,
II articular-se aos projetos comunitários, definidos a partir módulos, etapas, em regimes de alternância, de tempo in-
das demandas coletivas tegral ou outra forma de organização que melhor atenda
dos grupos indígenas, contribuindo para a reflexão e às especificidades de cada contexto escolar e comunitário
construção de alternativas de gestão autônoma dos seus ter- indígena.
ritórios, de sustentabilidade econômica, de segurança alimen- § 5º Os projetos político-pedagógicos das escolas in-
tar, de educação, de saúde e de atendimento às mais diversas dígenas devem ser elaborados pelos professores indígenas
necessidades cotidianas; em articulação com toda a comunidade educativa – lide-
III proporcionar aos estudantes indígenas oportunidades ranças, “os mais velhos”, pais, mães ou responsáveis
de atuação em diferentes áreas do trabalho técnico, necessá- pelo estudante, os próprios estudantes –, contando com
rias ao desenvolvimento de suas comunidades, como as da assessoria dos sistemas de ensino e de suas instituições
tecnologia da informação, saúde, gestão territorial e ambien- formadoras, das organizações indígenas e órgãos indige-
tal, magistério e outras. nistas do estado e da sociedade civil e serem objeto de
Parágrafo único. A Educação Profissional e Tecnológica consulta livre, prévia e informada, para sua aprovação co-
nas diferentes etapas e modalidades da Educação Básica, nos munitária e reconhecimento junto aos sistemas de ensino.
territórios etnoeducacionais, pode ser realizada de modo inte- § 6º Os sistemas de ensino, em parceria com as organi-
rinstitucional, em convênio com as instituições de Educa- zações indígenas, Fundação Nacional do Índio (FUNAI),
ção Profissional e Tecnológica; Institutos Federais de Educa- instituições de Educação Superior, bem como outras
ção, Ciência e Tecnologia; instituições de Educação Superior; organizações governamentais e não governamentais, de-
outras instituições de ensino e pesquisa, bem como com vem criar e implementar programas de assessoria especia-
organizações indígenas e indigenistas, de acordo com lizada em Educação Escolar Indígena objetivando dar
a realidade de cada comunidade, sendo ofertada, suporte para o funcionamento das escolas indígenas na
preferencialmente, nas terras indígenas. execução do seu projeto político-pedagógico.

51
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Seção I IV de adequação da estrutura física dos prédios esco-


Dos currículos da Educação Escolar Indígena lares às condições socioculturais e ambientais das comu-
nidades indígenas, bem como às necessidades dos estu-
Art. 15 O currículo das escolas indígenas, ligado às con- dantes nas diferentes etapas e modalidades da Educação
cepções e práticas que definem o papel sociocultural da escola, Básica;
diz respeito aos modos de organização dos tempos e espaços V de interdisciplinaridade e contextualização na ar-
da escola, de suas atividades pedagógicas, das relações sociais ticulação entre os diferentes campos do conhecimento,
tecidas no cotidiano escolar, das interações do ambiente edu- por meio do diálogo transversal entre disciplinas diversas e
cacional com a sociedade, das relações de poder presentes no do estudo e pesquisa de temas da realidade dos estudan-
fazer educativo e nas formas de conceber e construir conheci- tes e de suas comunidades;
mentos escolares, constituindo parte importante dos proces- VI de adequação das metodologias didáticas e peda-
sos sociopolíticos e culturais de construção de identidades. gógicas às características dos diferentes sujeitos das apren-
§ 1º Os currículos da Educação Básica na Educação dizagens, em atenção aos modos próprios de transmissão
Escolar Indígena, em uma perspectiva intercultural, devem do saber indígena;
ser construídos a partir dos valores e interesses etnopolíticos VII da necessidade de elaboração e uso de materiais
das comunidades indígenas em relação aos seus projetos de didáticos próprios, nas línguas indígenas e em português,
sociedade e de escola, definidos nos projetos político-peda- apresentando conteúdos culturais próprios às comuni-
gógicos. dades indígenas;
§ 2º Componente pedagógico dinâmico, o currículo deve VIII de cuidado e educação das crianças nos casos em
ser flexível, adaptado aos contextos socioculturais das comu- que a oferta da Educação
nidades indígenas em seus projetos de Educação Escolar In- Infantil for solicitada pela comunidade;
dígena. IX de atendimento educacional especializado, com-
§ 3º Na construção dos currículos da Educação Escolar plementar ou suplementar à formação dos estudantes
Indígena, devem ser consideradas as condições de esco- indígenas que apresentem tal necessidade.
larização dos estudantes indígenas em cada etapa e mo- Art. 16 A observação destes critérios demandam, por
dalidade de ensino; as condições de trabalho do professor; os
parte dos sistemas de ensino e de suas instituições for-
espaços e tempos da escola e de outras instituições educativas
madoras, a criação das condições para a construção e o
da comunidade e fora dela, tais como museus, memoriais da
desenvolvimento dos currículos das escolas indígenas
cultura, casas de cultura, centros culturais, centros ou casas
com a participação das comunidades indígenas, promo-
de línguas, laboratórios de ciências e de informática.
vendo a gestão comunitária, democrática e diferenciada da
§ 4º O currículo na Educação Escolar Indígena pode
Educação Escolar Indígena, bem como a formação inicial
ser organizado por eixos temáticos, projetos de pesquisa,
eixos geradores ou matrizes conceituais, em que os conteúdos e continuada dos professores indígenas – docentes e ges-
das diversas disciplinas podem ser trabalhados numa perspec- tores – que privilegie a discussão a respeito das propostas
tiva interdisciplinar. curriculares das escolas indígenas em atenção aos interes-
§ 5º Os currículos devem ser ancorados em materiais di- ses e especificidades de suas respectivas comunidades.
dáticos específicos, escritos na língua portuguesa, nas línguas
indígenas e bilíngues, que reflitam a perspectiva intercultural Seção II
da educação diferenciada, elaborados pelos professores Da avaliação
indígenas e seus estudantes e publicados pelos respectivos
sistemas de ensino. Art. 17 A avaliação, como um dos elementos que com-
§ 6º Na organização curricular das escolas indígenas, põe o processo de ensino e aprendizagem, é uma estra-
devem ser observados os critérios: tégia didática que deve ter seus fundamentos e procedi-
I de reconhecimento das especificidades das escolas in- mentos definidos no projeto político-pedagógico, ser
dígenas quanto aos seus aspectos comunitários, bilíngues e articulada à proposta curricular, às metodologias,
multilíngues, de interculturalidade e diferenciação; ao modelo de planejamento e gestão, à formação inicial e
II de flexibilidade na organização dos tempos e espaços continuada dos docentes e demais profissionais da educa-
curriculares, tanto no que se refere à base nacional comum, ção, bem como ao regimento escolar das escolas indíge-
quanto à parte diversificada, de modo a garantir a inclusão nas, devendo, portanto, aprimorar o projeto político-peda-
dos saberes e procedimentos culturais produzidos pelas co- gógico da Educação Escolar Indígena.
munidades indígenas, tais como línguas indígenas, crenças, § 1º A avaliação deve estar associada aos proces-
memórias, saberes ligados à identidade étnica, às suas sos de ensino e aprendizagem próprios, reportando-se
organizações sociais, às relações humanas, às manifestações às dimensões de participação e de protagonismo indígena,
artísticas, às práticas desportivas; objetivando a formação de sujeitos socio-históricos autô-
III de duração mínima anual de duzentos dias letivos, nomos, capazes de atuar ativamente na construção do bem
perfazendo, no mínimo, oitocentas horas, respeitando-se a viver de seus grupos comunitários.
flexibilidade do calendário das escolas indígenas que po- § 2º A avaliação do processo de ensino e aprendiza-
derá ser organizado independente do ano civil, de acordo gem na Educação Escolar Indígena deve ter como base
com as atividades produtivas e socioculturais das comuni- os aspectos qualitativos, quantitativos, diagnósticos,
dades indígenas; processuais, formativos, dialógicos e participativos, consi-

52
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

derando-se o direito de aprender, as experiências de vida Art. 20 Formar indígenas para serem professores e ges-
dos diferentes atores sociais e suas características culturais, tores das escolas indígenas deve ser uma das prioridades
os valores, as dimensões cognitiva, afetiva, emocional, lúdi- dos sistemas de ensino e de suas instituições formadoras,
ca, de desenvolvimento físico e motor, dentre outros. visando consolidar a Educação Escolar Indígena como um
§ 3º As escolas indígenas devem desenvolver práticas compromisso público do Estado brasileiro.
de avaliações que possibilitem a reflexão de suas ações § 1º A formação inicial dos professores indígenas deve
pedagógicas no sentido de reorientá-las para o aprimo- ocorrer em cursos específicos de licenciaturas e pedago-
ramento dos seus projetos educativos, da relação com a gias interculturais ou complementarmente, quando for o
comunidade, da relação entre professor e estudante, assim caso, em outros cursos de licenciatura específica ou, ainda,
como da gestão comunitária. em cursos de magistério indígena de nível médio na mo-
§ 4º Nos processos de regularização das escolas indí- dalidade normal.
genas, os Conselhos de Educação devem criar parâmetros § 2º A formação inicial será ofertada em serviço e,
de avaliação interna e externa que atendam às especifi- quando for o caso, concomitante com a própria escolariza-
cidades das comunidades indígenas garantindo-lhes o ção dos professores indígenas.
reconhecimento das normas e ordenamentos jurídicos § 3º Os cursos de formação de professores indígenas,
próprios, considerando: em nível médio ou licenciatura, devem enfatizar a consti-
I suas estruturas sociais, suas práticas socioculturais e tuição de competências referenciadas em conhecimentos,
suas atividades econômicas. saberes, valores, habilidades e atitudes pautadas nos prin-
II suas formas de produção de conhecimento e seus cípios da Educação Escolar Indígena.
processos próprios e métodos de § 4º A formação de professores indígenas deve estar
ensino aprendizagem. voltada para a elaboração, o desenvolvimento e a avaliação
Art. 18 A inserção da Educação Escolar Indíge- de currículos e programas próprios, bem como a produção
na nos processos de avaliação institucional das redes de materiais didáticos específicos e a utilização de metodo-
da Educação Básica deve estar condicionada à adequação logias adequadas de ensino e pesquisa.
desses processos às especificidades da Educação Escolar § 5º Os sistemas de ensino e suas instituições forma-
Indígena. doras devem garantir os meios do acesso, permanência e
conclusão exitosa, por meio da elaboração de planos estra-
Parágrafo Único. A avaliação institucional da Educa-
tégicos diferenciados, para que os professores indígenas
ção Escolar Indígena deve contar necessariamente com a
tenham uma formação com qualidade sociocultural, em
participação e contribuição de professores e lideranças in-
regime de colaboração com outros órgãos de ensino.
dígenas e conter instrumentos avaliativos específicos que
§ 6º Os sistemas de ensino e suas instituições formado-
atendam aos projetos político-pedagógicos das escolas
ras devem assegurar a formação continuada dos profes-
indígenas.
sores indígenas, compreendida como componente es-
sencial da profissionalização docente e estratégia de con-
Seção II
tinuidade do processo formativo, articulada à realidade da
Dos professores indígenas: formação e profissiona- escola indígena e à formação inicial dos seus professores.
lização § 7º O atendimento às necessidades de formação
continuada de profissionais do magistério indígena dar-
Art. 19 A qualidade sociocultural da Educação Escolar se-á pela oferta de cursos e atividades formativas
Indígena necessita que sua proposta educativa seja con- criadas e desenvolvidas pelas instituições públicas de edu-
duzida por professores indígenas, como docentes e como cação, cultura e pesquisa, em consonância com os projetos
gestores, pertencentes às suas respectivas comunidades. das escolas indígenas e dos sistemas de ensino.
§ 1º Os professores indígenas, no cenário político e § 8º A formação continuada dos profissionais do ma-
pedagógico, são importantes interlocutores nos proces- gistério indígena dar-se-á por meio de cursos presenciais
sos de construção do diálogo intercultural, mediando e ou cursos à distância, por meio de atividades formativas e
articulando os interesses de suas comunidades com os da cursos de atualização, aperfeiçoamento, especialização,
sociedade em geral e com os de outros grupos particula- bem como programas de mestrado ou doutorado.
res, promovendo a sistematização e organização de novos § 9º Organizações indígenas e indigenistas po-
saberes e práticas. dem ofertar formação inicial e continuada de profes-
§ 2º Compete aos professores indígenas a tarefa de re- sores indígenas, desde que solicitadas pelas comunidades
fletir criticamente sobre as práticas políticas pedagógicas indígenas, e terem suas propostas de formação autorizadas
da Educação Escolar Indígena, buscando criar estratégias e reconhecidas pelos respectivos Conselhos Estaduais de
para promover a interação dos diversos tipos de conhe- Educação.
cimentos que se apresentam e se entrelaçam no processo Art. 21 A profissionalização dos professores indígenas,
escolar: de um lado, os conhecimentos ditos universais, a compromisso ético e político do Estado brasileiro, deve ser
que todo estudante, indígena ou não, deve ter acesso, e, promovida por meio da formação inicial e continuada, bem
de outro, os conhecimentos étnicos, próprios ao seu grupo como pela implementação de estratégias de reconhe-
social de origem que hoje assumem importância crescente cimento e valorização da função sociopolítica e cultural
nos contextos escolares indígenas. dos professores indígenas, tais como:

53
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

I criação da categoria professor indígena como carreira III apoiar técnica e financeiramente os Sistemas de
específica do magistério público de cada sistema de ensino; Ensino na oferta de Educação Escolar Indígena, desen-
II promoção de concurso público adequado às particu- volvendo programas integrados de ensino e pesquisa
laridades linguísticas e culturais das comunidades indígenas; com a participação dessas comunidades em seu acompa-
III garantia das condições de remuneração, compatível nhamento e avaliação;
com sua formação e isonomia salarial; IV ofertar programas de formação de professores indí-
IV garantia da jornada de trabalho, nos termos da Lei genas – gestores e docentes – e das equipes técnicas dos
n° 11.738/2008; V garantia de condições condignas de tra- Sistemas de ensino que executam programas de Educação
balho. Escolar Indígena;
§ 1º Essas garantias devem ser aplicadas não só aos pro- V criar ou redefinir programas de auxílio ao desenvol-
fessores indígenas que exercem a docência, mas também vimento da educação, a fim de atender às necessidades es-
àqueles que exercem as funções de gestão nos sistemas de colares indígenas;
ensino, tanto nas próprias escolas indígenas quanto nas Se- VI orientar, acompanhar e avaliar o desenvolvimento de
ações na área da formação inicial e continuada de profes-
cretarias de Educação ou nos seus órgãos afins.
sores indígenas;
§ 2º Para estes últimos, os sistemas de ensino devem
VII promover a elaboração e publicação sistemática de
também promover a formação inicial e continuada nas áreas
material didático específico e diferenciado, destinado às es-
da gestão democrática, comunitária e diferenciada da Edu-
colas indígenas;
cação Escolar Indígena, visando uma melhor adequação das VIII realizar as Conferências Nacionais de Educação Es-
atividades de elaboração, execução e avaliação do projeto colar Indígena. Art. 25 Constituem atribuições dos Estados:
político-pedagógico das escolas e das redes de ensino. I ofertar e executar a Educação Escolar Indígena dire-
§ 3º Recomenda-se aos sistemas de ensino a criação tamente ou por meio de regime de colaboração com seus
de uma comissão paritária composta pelos representantes Municípios;
das Secretarias de Educação, das lideranças comunitárias e II estruturar, nas Secretarias de Educação, instâncias ad-
dos professores indígenas para a regularização da carreira ministrativas de Educação Escolar Indígena com a partici-
do magistério indígena bem como, quando de sua implan- pação de indígenas e de profissionais especializados nas
tação, a sua adequada avaliação, visando à elaboração e im- questões indígenas, destinando-lhes recursos financeiros
plementação de políticas públicas voltadas para a garantia específicos para a execução dos programas de Educação
da qualidade sociocultural da Educação Escolar Indígena. Escolar Indígena;
§ 4º Essa comissão será formada e terá suas funções III criar e regularizar as escolas indígenas como unida-
acompanhadas no âmbito dos espaços institucionais criados des próprias, autônomas e específicas no sistema estadual
nos diferentes sistemas de ensino para tratar das políticas de de ensino;
Educação Escolar Indígena tais como comitês, fóruns, comis- IV implementar e desenvolver as ações pactuadas no
sões ou Conselhos de Educação Escolar Indígena. plano de ação elaborado pela comissão gestora dos territó-
rios etnoeducacionais;
TÍTULO V V prover as escolas indígenas de recursos financeiros,
DA AÇÃO COLABORATIVA PARA A GARANTIA DA humanos e materiais visando ao pleno atendimento da
EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA Educação Básica para as comunidades indígenas;
Seção I VI instituir e regulamentar o magistério indígena por
Das competências constitucionais e legais no exercí- meio da criação da categoria de professor indígena, admi-
cio do regime de colaboração tindo os professores indígenas nos quadros do magistério
público mediante concurso específico;
VII promover a formação inicial e continuada de profes-
Art. 22 As políticas de Educação Escolar Indígena serão
sores indígenas – gestores e docentes;
efetivadas nos territórios etnoeducacionais por meio da arti-
VIII promover a elaboração e publicação sistemática
culação entre os diferentes sistemas de ensino, definindo-se,
de material didático e pedagógico, específico e diferencia-
no âmbito do regime de colaboração, suas competências e do para uso nas escolas indígenas.
corresponsabilidades. § 1° As atribuições dos Estados com a oferta da Educa-
Art. 23 Na oferta e promoção da Educação Escolar In- ção Escolar Indígena poderão ser realizadas em regime de
dígena para os povos indígenas é exigido, no plano ins- colaboração com os municípios, ouvidas as comunida-
titucional, administrativo e organizacional dos entes fe- des indígenas, desde que estes tenham se constituído
derados, o estabelecimento e o cumprimento articulado em sistemas de educação próprios e disponham de con-
de normas específicas de acordo com as competências dições técnicas e financeiras adequadas.
constitucionais e legais estabelecidas, em regime de cola- § 2° As atribuições dos Estados e do Distrito Federal se
boração. aplicam aos Municípios no que couber.
Art. 24 Constituem atribuições da União: Art. 26 Constituem atribuições dos Conselhos de Edu-
I legislar privativamente e definir diretrizes e políticas cação:
nacionais para a Educação Escolar Indígena; I estabelecer critérios específicos para criação e regula-
II coordenar as políticas dos territórios etnoeducacio- rização das escolas indígenas e dos cursos de formação de
nais na gestão da Educação Escolar Indígena; professores indígenas;

54
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

II autorizar o funcionamento e reconhecimento das es- MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO


colas indígenas e dos cursos de formação de professores in-
dígenas; CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
III regularizar a vida escolar dos estudantes indígenas,
quando for o caso. CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
Parágrafo único. Em uma perspectiva colaborativa, os
Conselhos de Educação podem compartilhar ou delegar RESOLUÇÃO Nº 6, DE 20DESETEMBRODE 2012(*)
funções aos Conselhos de Educação Escolar Indígena, po-
dendo ser criados por ato do executivo ou por delegação Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa-
dos próprios Conselhos de Educação em cada realidade. ção Profissional Técnica de Nível Médio.

Seção II O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conse-


Dos territórios etnoeducacionais lho Nacional de Educação, de conformidade com o dispos-
to na alínea “c” do § 1º do art. 9º da Lei nº 4.024/61, com a
Art. 27 Os territórios etnoeducacionais devem se cons- redação dada pela Lei nº 9.131/95, nos artigos, 36-A, 36-B
tituir nos espaços institucionais em que os entes federados, e 36-C, 36-D, 37, 39, 40, 41 e 42 da Lei 9.394/96, e com
as comunidades indígenas, as organizações indígenas e in- fundamento no Parecer CNE/CEB nº 11/2012, homologado
digenistas e as instituições de ensino superior pactuarão as por Despacho do Ministro de Estado da Educação de 31 de
ações de promoção da Educação Escolar Indígena efetiva- agosto de 2012, publicado no DOU de 4 de setembro de
mente adequada às realidades sociais, históricas, culturais e 2012, resolve:
ambientais dos grupos e comunidades indígenas.
§ 1º Os territórios etnoeducacionais objetivam promover TÍTULO I
o regime de colaboração para promoção e gestão da Educa- DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
ção Escolar Indígena, definindo as competências comuns e Capítulo I
privativas da União, Estados, Municípios e do Distrito Federal, Objeto e Finalidade
aprimorando os processos de gestão e de financiamento da
Educação Escolar Indígena e garantindo a participação efeti- Art. 1º A presente Resolução define as Diretrizes Curri-
va das comunidades indígenas interessadas. culares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de
§ 2º Para a implementação dos territórios etnoedu- Nível Médio.
cacionais devem ser criados ou adaptados mecanismos Parágrafo único. Para os fins desta Resolução, entende-
jurídico-administrativos que permitam a sua constituição em se por Diretriz o conjunto articulado de princípios e crité-
unidades executoras com dotação orçamentária própria, tais rios a serem observados pelos sistemas de ensino e pelas
como os consórcios públicos e os arranjos de desenvolvi- instituições de ensino públicas e privadas, na organização
mento educacionais. e no planejamento, desenvolvimento e avaliação da Educa-
§ 3º Os territórios etnoeducacionais estão ligados a um mo- ção Profissional Técnica de Nível Médio, inclusive fazendo
delo de gestão das políticas educacionais indígenas pautado uso da certificação profissional de cursos.
pelas ideias de territorialidade, protagonismo indígena, Art. 2º A Educação Profissional e Tecnológica, nos
interculturalidade na promoção do diálogo entre povos indíge- termos da Lei nº 9.394/96 (LDB), alterada pela Lei nº
nas, sistemas de ensino e demais instituições envolvidas, bem 11.741/2008, abrange os cursos de:
como pelo aperfeiçoamento do regime de colaboração. I formação inicial e continuada ou qualificação profis-
§ 4º As comissões gestoras dos territórios etnoe- sional;
ducacionais são responsáveis pela elaboração, pactuação, II Educação Profissional Técnica de Nível Médio;
execução, acompanhamento e avaliação dos planos de ação III Educação Profissional Tecnológica, de graduação e
definidos nos respectivos territórios. de pós-graduação.
§ 5º Recomenda-se a criação e estruturação de uma Parágrafo único. As instituições de Educação Profissio-
comissão nacional gestora dos territórios etnoeducacio- nal e Tecnológica, além de seus cursos regulares, oferece-
nais, com representações de cada território, para acom- rão cursos de formação inicial e continuada ou qualificação
panhamento e avaliação das políticas educacionais instituí- profissional para o trabalho, entre os quais estão incluídos
das nesses espaços. os cursos especiais, abertos à comunidade, condicionando-
se a matrícula à capacidade de aproveitamento dos edu-
TÍTULO VI candos e não necessariamente aos correspondentes níveis
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS de escolaridade.
Art. 3º A Educação Profissional Técnica de Nível Médio
Art. 28 É responsabilidade do Estado brasileiro em re- é desenvolvida nas formas articulada e subsequente ao En-
lação à Educação Escolar Indígena o previsto no art. 208 da sino Médio, podendo a primeira ser integrada ou concomi-
Constituição Federal de 1988, no art. 4º, inciso 9º, e no art. 5º, tante a essa etapa da Educação Básica.
§ 4º, da Lei nº 9.394/96 e nos dispositivos desta Resolução. § 1º A Educação Profissional Técnica de Nível Médio
Art. 29 Esta Resolução entra em vigor na data de sua possibilita a avaliação, o reconhecimento e a certificação
publicação, revogadas as disposições em contrário. para prosseguimento ou conclusão de estudos.

55
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

§ 2º Os cursos e programas de Educação Profissional IV articulação da Educação Básica com a Educação Pro-
Técnica de Nível Médio são organizados por eixos tecnoló- fissional e Tecnológica, na perspectiva da integração entre
gicos, possibilitando itinerários formativos flexíveis, diver- saberes específicos para a produção do conhecimento e a
sificados e atualizados, segundo interesses dos sujeitos e intervenção social, assumindo a pesquisa como princípio
possibilidades das instituições educacionais, observadas as pedagógico;
normas do respectivo sistema de ensino para a modalidade V indissociabilidade entre educação e prática social,
de Educação Profissional Técnica de Nível Médio. considerando-se a historicidade dos conhecimentos e dos
§ 3º Entende-se por itinerário formativo o conjunto das sujeitos da aprendizagem;
etapas que compõem a organização da oferta da Educação VI indissociabilidade entre teoria e prática no processo
Profissional pela instituição de Educação Profissional e Tec- de ensino-aprendizagem;
nológica, no âmbito de um determinado eixo tecnológico, VII interdisciplinaridade assegurada no currículo e na
possibilitando contínuo e articulado aproveitamento de prática pedagógica, visando à superação da fragmentação
estudos e de experiências profissionais devidamente certi- de conhecimentos e de segmentação da organização cur-
ficadas por instituições educacionais legalizadas. ricular;
§ 4º O itinerário formativo contempla a sequência das VIII contextualização, flexibilidade e interdisciplinarida-
possibilidades articuláveis da oferta de cursos de Educação de na utilização de estratégias educacionais favoráveis à
Profissional, programado a partir de estudos quanto aos compreensão de significados e à integração entre a teoria
itinerários de profissionalização no mundo do trabalho, à e a vivência da prática profissional, envolvendo as múltiplas
estrutura socio-ocupacional e aos fundamentos científico- dimensões do eixo tecnológico do curso e das ciências e
tecnológicos dos processos produtivos de bens ou servi- tecnologias a ele vinculadas;
ços, o qual orienta e configura uma trajetória educacional IX articulação com o desenvolvimento socioeconômico
consistente. -ambiental dos territórios onde os cursos ocorrem, deven-
§ 5º As bases para o planejamento de cursos e pro- do observar os arranjos socioprodutivos e suas demandas
gramas de Educação Profissional, segundo itinerários for- locais, tanto no meio urbano quanto no campo;
mativos, por parte das instituições de Educação Profissio- X reconhecimento dos sujeitos e suas diversidades,
nal e Tecnológica, são os Catálogos Nacionais de Cursos considerando, entre outras, as pessoas com deficiência,
mantidos pelos órgãos próprios do MEC e a Classificação transtornos globais do desenvolvimento e altas habilida-
Brasileira de Ocupações (CBO).
des, as pessoas em regime de acolhimento ou internação e
Art. 4º A Educação Profissional Técnica de Nível Mé-
em regime de privação de liberdade,
dio, no cumprimento dos objetivos da educação nacional,
XI reconhecimento das identidades de gênero e étni-
articula-se com o Ensino Médio e suas diferentes modali-
co-raciais, assim como dos povos indígenas, quilombolas e
dades, incluindo a Educação de Jovens e Adultos (EJA), e
populações do campo;
com as dimensões do trabalho, da tecnologia, da ciência
XII reconhecimento das diversidades das formas de
e da cultura.
Parágrafo único. A Educação de Jovens e Adultos deve produção, dos processos de trabalho e das culturas a eles
articular-se, preferencialmente, com a Educação Profissio- subjacentes, as quais estabelecem novos paradigmas;
nal e Tecnológica, propiciando, simultaneamente, a qualifi- XIII autonomia da instituição educacional na concep-
cação profissional e a elevação dos níveis de escolaridade ção, elaboração, execução, avaliação e revisão do seu pro-
dos trabalhadores. jeto político-pedagógico, construído como instrumento de
Art. 5º Os cursos de Educação Profissional Técnica de trabalho da comunidade escolar, respeitadas a legislação e
Nível Médio têm por finalidade proporcionar ao estudante normas educacionais, estas Diretrizes Curriculares Nacio-
conhecimentos, saberes e competências profissionais ne- nais e outras complementares de cada sistema de ensino;
cessários ao exercício profissional e da cidadania, com base XIV flexibilidade na construção de itinerários forma-
nos fundamentos científico-tecnológicos, socio-históricos tivos diversificados e atualizados, segundo interesses dos
e culturais. sujeitos e possibilidades das instituições educacionais, nos
Capítulo II termos dos respectivos projetos político-pedagógicos;
Princípios Norteadores XV identidade dos perfis profissionais de conclusão de
curso, que contemplem conhecimentos, competências e
Art. 6º São princípios da Educação Profissional Técnica saberes profissionais requeridos pela natureza do trabalho,
de Nível Médio: pelo desenvolvimento tecnológico e pelas demandas so-
I relação e articulação entre a formação desenvolvida ciais, econômicas e ambientais;
no Ensino Médio e a preparação para o exercício das pro- XVI fortalecimento do regime de colaboração entre
fissões técnicas, visando à formação integral do estudante; os entes federados, incluindo, por exemplo, os arranjos de
II respeito aos valores estéticos, políticos e éticos da desenvolvimento da educação, visando à melhoria dos in-
educação nacional, na perspectiva do desenvolvimento dicadores educacionais dos territórios em que os cursos e
para a vida social e profissional; programas de Educação Profissional Técnica de Nível Mé-
III trabalho assumido como princípio educativo, ten- dio forem realizados;
do sua integração com a ciência, a tecnologia e a cultura XVII respeito ao princípio constitucional e legal do plu-
como base da proposta político-pedagógica e do desen- ralismo de ideias e de concepções pedagógicas.
volvimento curricular;

56
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

TÍTULO II Art. 10 A oferta de curso de Educação Profissional Téc-


ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO nica de Nível Médio em instituições públicas e privadas,
Capítulo I em quaisquer das formas, deve ser precedida da devida
Formas de Oferta autorização pelo órgão competente do respectivo sistema
de ensino.
Art. 7º A Educação Profissional Técnica de Nível Médio Art. 11 A oferta da Educação Profissional para os que
é desenvolvida nas formas articulada e subsequente ao En- não concluíram o Ensino Médio pode se dar sob a forma de
sino Médio: articulação integrada com a Educação de Jovens e Adultos.
I a articulada, por sua vez, é desenvolvida nas seguintes Parágrafo único. As instituições de ensino devem es-
formas: timular a continuidade dos estudos dos que não estejam
a) integrada, ofertada somente a quem já tenha con- cursando o Ensino Médio e alertar os estudantes de que a
cluído o Ensino Fundamental, com matrícula única na mes- certificação do Ensino Médio é condição necessária para a
ma instituição, de modo a conduzir o estudante à habilita- obtenção do diploma de técnico.
ção profissional técnica de nível médio ao mesmo tempo
em que conclue a última etapa da Educação Básica; Capítulo II
b) concomitante, ofertada a quem ingressa no Ensino Organização Curricular
Médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrículas
distintas para cada curso, aproveitando oportunidades Art. 12 Os cursos de Educação Profissional Técnica de
educacionais disponíveis, seja em unidades de ensino da Nível Médio são organizados por eixos tecnológicos cons-
mesma instituição ou em distintas instituições de ensino; tantes do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos, instituído
c) concomitante na forma, uma vez que é desenvolvi- e organizado pelo Ministério da Educação ou em uma ou
da simultaneamente em distintas instituições educacionais, mais ocupações da Classificação Brasileira de Ocupações
mas integrada no conteúdo, mediante a ação de convênio (CBO).
ou acordo de intercomplementaridade, para a execução de Art. 13 A estruturação dos cursos da Educação Profis-
projeto pedagógico unificado; sional Técnica de Nível Médio, orientada pela concepção
II a subsequente, desenvolvida em cursos destinados de eixo tecnológico, implica considerar:
exclusivamente a quem já tenha concluído o Ensino Médio. I a matriz tecnológica, contemplando métodos,
Art. 8º Os cursos de Educação Profissional Técnica técnicas, ferramentas e outros elementos das tecnologias
de Nível Médio podem ser relativas aos cursos;
desenvolvidos nas formas articulada integrada na mes- II o núcleo politécnico comum correspondente a cada
ma instituição de ensino, ou articulada concomitante em eixo tecnológico em que se situa o curso, que compreen-
instituições de ensino distintas, mas com projeto pedagó- de os fundamentos científicos, sociais, organizacionais,
gico unificado, mediante convênios ou acordos de inter- econômicos, políticos, culturais, ambientais, estéticos e éti-
complementaridade, visando ao planejamento e ao desen- cos que alicerçam as tecnologias e a contextualização do
volvimento desse projeto pedagógico unificado na forma mesmo no sistema de produção social;
integrada. III os conhecimentos e as habilidades nas áreas de lin-
§ 1º Os cursos assim desenvolvidos, com projetos pe- guagens e códigos, ciências humanas, matemática e ciên-
dagógicos unificados, devem visar simultaneamente aos cias da natureza, vinculados à Educação Básica deverão
objetivos da Educação Básica e, especificamente, do Ensino permear o currículo dos cursos técnicos de nível médio,
Médio e também da Educação Profissional e Tecnológica, de acordo com as especificidades dos mesmos, como ele-
atendendo tanto a estas Diretrizes, quanto às Diretrizes mentos essenciais para a formação e o desenvolvimento
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, assim profissional do cidadão;
como às Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a IV a pertinência, a coerência, a coesão e a consistência
Educação Básica e às diretrizes complementares defini- de conteúdos, articulados do ponto de vista do trabalho
das pelos respectivos sistemas de ensino. assumido como princípio educativo, contemplando as ne-
§ 2º Estes cursos devem atender às diretrizes e nor- cessárias bases conceituais e metodológicas;
mas nacionais definidas para a modalidade específica, tais V a atualização permanente dos cursos e currículos,
como Educação de Jovens e Adultos, Educação do estruturados em ampla base de dados, pesquisas e outras
Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Escolar Qui- fontes de informação pertinentes.
lombola, educação de pessoas em regime de acolhimento Art. 14 Os currículos dos cursos de Educação Profissio-
ou internação e em regime de privação de liberdade, Edu- nal Técnica de Nível Médio devem proporcionar aos estu-
cação Especial e Educação a Distância. dantes:
Art. 9º Na oferta de cursos na forma subsequente, I diálogo com diversos campos do trabalho, da ciência,
caso o diagnóstico avaliativo evidencie necessidade, de- da tecnologia e da cultura como referências fundamentais
vem ser introduzidos conhecimentos e habilidades ine- de sua formação;
rentes à Educação Básica, para complementação e atuali- II elementos para compreender e discutir as relações
zação de estudos, em consonância com o respectivo eixo sociais de produção e de trabalho, bem como as especifici-
tecnológico, garantindo o perfil profissional de conclusão. dades históricas nas sociedades contemporâneas;

57
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

III recursos para exercer sua profissão com competên- IV identificação de perfil profissional de conclusão pró-
cia, idoneidade intelectual e tecnológica, autonomia e res- prio para cada curso, que objetive garantir o pleno desen-
ponsabilidade, orientados por princípios éticos, estéticos e volvimento de conhecimentos, saberes e competências
políticos, bem como compromissos com a construção de profissionais e pessoais requeridas pela natureza do tra-
uma sociedade democrática; balho, segundo o respectivo eixo tecnológico, em função
IV domínio intelectual das tecnologias pertinentes ao da estrutura sócio-ocupacional e tecnológica e em condi-
eixo tecnológico do curso, de modo a permitir progressi- ções de responder, de forma original e criativa, aos cons-
vo desenvolvimento profissional e capacidade de construir tantes desafios da vida cidadã e profissional.
novos conhecimentos e desenvolver novas competências Art. 19 O Ministério da Educação manterá atualizado
profissionais com autonomia intelectual; o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos organizado por
V instrumentais de cada habilitação, por meio da vi- eixos tecnológicos, para subsidiar as instituições educa-
vência de diferentes situações práticas de estudo e de tra- cionais na elaboração dos perfis profissionais de conclu-
balho; são, bem como na organização e no planejamento dos
VI fundamentos de empreendedorismo, cooperativis- cursos técnicos de nível médio e correspondentes quali-
mo, tecnologia da informação, legislação trabalhista, ética ficações profissionais e especializações técnicas de nível
profissional, gestão ambiental, segurança do trabalho, ges- médio.
tão da inovação e iniciação científica, gestão de pessoas e § 1° A atualização regular do Catálogo deve ser rea-
gestão da qualidade social e ambiental do trabalho. lizada de forma participativa, em regime de colaboração
Art. 15 O currículo, consubstanciado no plano de curso com as redes, instituições e órgãos especificamente vol-
e com base no princípio do pluralismo de ideias e con- tados para a Educação Profissional e Tecnológica, repre-
cepções pedagógicas, é prerrogativa e responsabilidade sentados pela Comissão Executiva Nacional do Catálogo
de cada instituição educacional, nos termos de seu projeto Nacional de Cursos Técnicos de Nível Médio (CONAC), ou
político-pedagógico, observada a legislação e o disposto similar.
nestas Diretrizes e no Catálogo Nacional de Cursos Técni- § 2º São permitidos cursos experimentais, não cons-
cos. tantes do Catálogo, devidamente aprovados pelo órgão
Art. 16. As instituições de ensino devem formular, co- próprio de cada sistema de ensino, os quais serão sub-
letiva e participativamente, nos termos dos arts. 12, 13, 14 metidos anualmente à CONAC ou similar, para validação
e 15 da LDB, seus projetos político-pedagógicos e planos ou não, com prazo máximo de validade de 3 (três) anos,
de curso. contados da data de autorização dos mesmos.
Art. 17 O planejamento curricular fundamenta-se no Art. 20 Os planos de curso, coerentes com os respec-
compromisso ético da instituição educacional em relação à tivos projetos político pedagógicos, são submetidos à
concretização do perfil profissional de conclusão do curso, aprovação dos órgãos competentes dos correspondentes
o qual é definido pela explicitação dos conhecimentos, sa- Sistemas de Ensino, contendo obrigatoriamente, no mí-
beres e competências profissionais e pessoais, tanto aque- nimo:
las que caracterizam a preparação básica para o trabalho, I identificação do curso;
quanto as comuns para o respectivo eixo tecnológico, bem II justificativa e objetivos;
como as específicas de cada habilitação profissional e das III requisitos e formas de acesso;
etapas de qualificação e de especialização profissional téc- IV perfil profissional de conclusão;
nica que compõem o correspondente itinerário formativo. V organização curricular;
Parágrafo único. Quando se tratar de profissões regu- VI critérios de aproveitamento de conhecimentos e
lamentadas, o perfil profissional de conclusão deve consi- experiências anteriores;
derar e contemplar as atribuições funcionais previstas na VII critérios e procedimentos de avaliação;
legislação específica referente ao exercício profissional fis- VIII biblioteca, instalações e equipamentos;
calizado. IX perfil do pessoal docente e técnico;
Art. 18 São critérios para o planejamento e a organi- X certificados e diplomas a serem emitidos.
zação de cursos de Educação Profissional Técnica de Nível § 1º A organização curricular deve explicitar:
Médio: I componentes curriculares de cada etapa, com a in-
I atendimento às demandas socioeconômico-ambien- dicação da respectiva bibliografia básica e complementar;
tais dos cidadãos e do mundo do trabalho, em termos de II orientações metodológicas;
compromisso ético para com os estudantes e a sociedade; III prática profissional intrínseca ao currículo, desen-
II conciliação das demandas identificadas com a voca- volvida nos ambientes de aprendizagem;
ção e a capacidade da instituição ou rede de ensino, em IV estágio profissional supervisionado, em termos de
termos de reais condições de viabilização da proposta pe- prática profissional em situação real de trabalho, assumi-
dagógica; do como ato educativo da instituição educacional, quan-
III possibilidade de organização curricular segundo iti- do previsto.
nerários formativos, de acordo com os correspondentes § 2º As instituições educacionais devem comprovar a
eixos tecnológicos, em função da estrutura sócio-ocupa- existência das necessárias instalações e equipamentos na
cional e tecnológica consonantes com políticas públicas mesma instituição ou em instituição distinta, cedida por ter-
indutoras e arranjos socioprodutivos e culturais locais; ceiros, com viabilidade de uso devidamente comprovada.

58
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Art. 21 A prática profissional, prevista na organização V organização curricular flexível, por disciplinas ou
curricular do curso, deve estar continuamente relacionada componentes curriculares, projetos, núcleos temáticos
aos seus fundamentos científicos e tecnológicos, orienta- ou outros critérios ou formas de organização, desde que
da pela pesquisa como princípio pedagógico que possibi- compatíveis com os princípios da interdisciplinaridade, da
lita ao educando enfrentar o desafio do desenvolvimento contextualização e da integração entre teoria e prática, no
da aprendizagem permanente, integra as cargas horárias processo de ensino e aprendizagem;
mínimas de cada habilitação profissional de técnico e cor- VI definição de critérios e procedimentos de avaliação
respondentes etapas de qualificação e de especialização da aprendizagem;
profissional técnica de nível médio. VII identificação das reais condições técnicas, tecnoló-
§ 1º A prática na Educação Profissional compreende gicas, físicas, financeiras e de pessoal habilitado para im-
diferentes situações de vivência, aprendizagem e traba- plantar o curso proposto;
lho, como experimentos e atividades específicas em am- VIII elaboração do plano de curso a ser submetido à
bientes especiais, tais como laboratórios, oficinas, empre- aprovação dos órgãos competentes do respectivo sistema
sas pedagógicas, ateliês e outros, bem como investigação de ensino;
sobre atividades profissionais, projetos de pesquisa e/ou IX inserção dos dados do plano de curso de Educação
intervenção, visitas técnicas, simulações, observações e Profissional Técnica de Nível Médio, aprovado pelo respec-
outras. tivo sistema de ensino, no cadastro do Sistema Nacional de
§ 2º A prática profissional supervisionada, caracteriza- Informações da Educação Profissional e Tecnológica (SIS-
da como prática profissional em situação real de trabalho, TEC), mantido pelo Ministério da Educação, para fins de
configura-se como atividade de estágio profissional su- validade nacional dos certificados e diplomas emitidos;
pervisionado, assumido como ato educativo da instituição X avaliação da execução do respectivo plano de curso.
educacional. § 1º A autorização de curso está condicionada ao aten-
§ 3º O estágio profissional supervisionado, quando dimento de aspirações e interesses dos cidadãos e da so-
necessário em função da natureza do itinerário formativo, ciedade, e às especificidades e demandas socioeconômico
ou exigido pela natureza da ocupação, pode ser incluído -ambientais.
no plano de curso como obrigatório ou voluntário, sendo § 2º É obrigatória a inserção do número do cadastro
realizado em empresas e outras organizações públicas e do SISTEC nos diplomas e certificados dos concluintes de
privadas, à luz da Lei nº 11.788/2008 e conforme Diretrizes curso técnico de nível médio ou correspondentes qualifi-
específicas editadas pelo Conselho Nacional de Educação. cações e especializações técnicas de nível médio, para que
§ 4º O plano de realização do estágio profissional su- os mesmos tenham validade nacional para fins de exercício
pervisionado deve ser explicitado na organização curri- profissional.
cular e no plano de curso, uma vez que é ato educativo Art. 23 O Ministério da Educação, no âmbito do SISTEC,
de responsabilidade da instituição educacional, conforme organiza e divulga o Cadastro Nacional de Instituições de
previsto no inciso V do art. 20 desta Resolução. Ensino que ofertam Educação Profissional e Tecnológica,
§ 5º A carga horária destinada à realização de ativi- cursos de Educação Profissional Técnica de Nível Médio,
dades de estágio profissional supervisionado deve ser bem como de estudantes matriculados e certificados ou
adicionada à carga horária mínima estabelecida pelo diplomados.
Conselho Nacional de Educação ou prevista no Catálogo Parágrafo único. A inclusão de dados no SISTEC não
Nacional de Cursos Técnicos para a duração do respectivo desobriga a instituição educacional de prestar as devidas
curso técnico de nível médio ou correspondente qualifica- informações ao censo escolar do Instituto Nacional de Es-
ção ou especialização profissional. tudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), para
Art. 22 A organização curricular dos cursos técnicos fins de estatísticos e de exigência legal, tal como o cálculo
de nível médio deve considerar os seguintes passos no do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educa-
seu planejamento: ção Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação
I adequação e coerência do curso com o projeto po- (FUNDEB).
lítico-pedagógico e com o regimento da instituição de Art. 24 Na perspectiva de educação continuada para o
ensino; desenvolvimento pessoal e do itinerário formativo de pro-
II adequação à vocação regional e às tecnologias e fissionais técnicos e de graduados em áreas correlatas, e
avanços dos setores produtivos pertinentes; para o atendimento de demandas específicas do mundo
III definição do perfil profissional de conclusão do do trabalho, podem ser organizados cursos de Especializa-
curso, projetado na identificação do itinerário formativo ção Técnica de Nível Médio, vinculados, pelo menos, a uma
planejado pela instituição educacional, com base nos iti- habilitação profissional do mesmo eixo tecnológico.
nerários de profissionalização claramente identificados no Parágrafo único. A instituição ofertante de curso de Es-
mundo do trabalho, indicando as efetivas possibilidades pecialização Técnica de Nível Médio deve ter em sua ofer-
de contínuo e articulado aproveitamento de estudos; ta regular curso de Educação Profissional Técnica de Nível
IV identificação de conhecimentos, saberes e compe- Médio correspondente, ou no respectivo eixo tecnológico
tências pessoais e profissionais definidoras do perfil pro- relacionado estreitamente com o perfil profissional de con-
fissional de conclusão proposto para o curso; clusão da especialização.

59
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Art. 25 Demandas de atualização e de aperfeiçoamento devem respeitar as cargas horárias mínimas de 800, 1.000
de profissionais podem ser atendidas por cursos ou pro- ou 1.200 horas, conforme indicadas para as respectivas
gramas de livre oferta, desenvolvidos inclusive no mundo habilitações profissionais no Catálogo Nacional de Cursos
do trabalho, os quais podem vir a ter aproveitamento em Técnicos instituído e mantido pelo MEC.
curso de Educação Profissional Técnica de Nível Médio, me- Art. 30 A carga horária mínima, para cada etapa com
diante avaliação, reconhecimento e certificação por parte terminalidade de qualificação profissional técnica prevista
de instituição que mantenha este curso, desde que este- em um itinerário formativo de curso técnico de nível mé-
jam de acordo com estas Diretrizes Curriculares Nacionais dio, é de 20% (vinte por cento) da carga horária mínima
e previstas nos Catálogos Nacionais de Cursos instituídos e indicada para a respectiva habilitação profissional no Ca-
organizados pelo MEC. tálogo Nacional de Cursos Técnicos instituído e mantido
pelo MEC.
Capítulo III Art. 31 A carga horária mínima dos cursos de especia-
Duração dos cursos lização técnica de nível médio é de 25% (vinte e cinco por
cento) da carga horária mínima indicada no Catálogo Na-
Art. 26 A carga horária mínima de cada curso de Edu- cional de Cursos Técnicos para a habilitação profissional a
cação Profissional Técnica de Nível Médio é indicada no que se vincula.
Catálogo Nacional de Cursos Técnicos, segundo cada habi- Art. 32 A carga horária destinada a estágio profissional
litação profissional. supervisionado, quando previsto em plano de curso, em
Parágrafo único. Respeitados os mínimos previstos de quaisquer das formas de oferta do curso técnico de nível
duração e carga horária total, o plano de curso técnico de médio, deverá ser adicionada à carga horária mínima esta-
nível médio pode prever atividades não presenciais, até belecida para a respectiva habilitação profissional.
20% (vinte por cento) da carga horária diária do curso, des- Art. 33 Os cursos técnicos de nível médio oferecidos,
de que haja suporte tecnológico e seja garantido o atendi- na modalidade de Educação a Distância, no âmbito da área
mento por docentes e tutores. profissional da Saúde, devem cumprir, no mínimo, 50%
Art. 27 Os cursos de Educação Profissional Técnica de (cinquenta por cento) de carga horária presencial, sendo
Nível Médio, na forma articulada com o Ensino Médio, inte- que, no caso dos demais eixos tecnológicos, será exigido
grada ou concomitante em instituições de ensino distintas um mínimo de 20% (vinte por cento) de carga horária pre-
com projeto pedagógico unificado, têm as cargas horárias sencial, nos termos das normas específicas definidas em
totais de, no mínimo, 3.000, 3.100 ou 3.200 horas, conforme cada sistema de ensino.
o número de horas para as respectivas habilitações profis- § 1º Em polo presencial ou em estruturas de labora-
sionais indicadas no Catálogo Nacional de Cursos Técnicos, tórios móveis devem estar previstas atividades práticas de
seja de 800, 1.000 ou 1.200 horas. acordo com o perfil profissional proposto, sem prejuízo da
Art. 28 Os cursos de Educação Profissional Técnica de formação exigida nos cursos presenciais.
Nível Médio, na forma articulada integrada com o Ensino § 2º A atividade de estágio profissional supervisiona-
Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, do, quando exigida, em razão da natureza tecnológica e do
têm a carga horária mínima total de 2.400 horas, devendo perfil profissional do curso, terá a carga horária destinada
assegurar, cumulativamente, o mínimo de 1.200 horas para ao mesmo, no respectivo plano de curso, sempre acrescida
a formação no Ensino Médio, acrescidas de 1.200 horas des- ao percentual exigido para ser cumprido com carga horária
tinadas à formação profissional do técnico de nível médio. presencial.
Parágrafo único. Nos cursos do Programa Nacional de
Integração da Educação Profissional com a Educação Bási- TÍTULO III
ca, na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROE- AVALIAÇÃO, APROVEITAMENTO E CERTIFICAÇÃO
JA) exige-se a seguinte duração: Capítulo I
I mínimo geral de 2.400 horas; Avaliação e aproveitamento
II pode ser computado no total de duração o tempo
que venha a ser destinado à realização de estágio profissio- Art. 34 A avaliação da aprendizagem dos estudantes
nal supervisionado e/ou dedicado a trabalho de conclusão visa à sua progressão para o alcance do perfil profissional
de curso ou similar nas seguintes proporções: de conclusão, sendo contínua e cumulativa, com prevalên-
a) nas habilitações com 800 horas, podem ser compu- cia dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos, bem
tadas até 400 horas; como dos resultados ao longo do processo sobre os de
b) nas habilitações com 1.000 horas, podem ser compu- eventuais provas finais.
tadas até 200 horas. Art. 35 A avaliação da aprendizagem utilizada para fins
III no caso de habilitação profissional de 1.200 horas, as de validação e aproveitamento de saberes profissionais
atividades de estágio devem ser necessariamente adiciona- desenvolvidos em experiências de trabalho ou de estudos
das ao mínimo de 2.400 horas. formais e não formais, deve ser propiciada pelos sistemas
Art. 29 Os cursos de Educação Profissional Técnica de de ensino como uma forma de valorização da experiência
Nível Médio oferecidos nas formas subsequente e articulada extraescolar dos educandos, objetivando a continuidade
concomitante, aproveitando as oportunidades educacionais de estudos segundo itinerários formativos coerentes com
disponíveis, portanto sem projeto pedagógico unificado, os históricos profissionais dos cidadãos.

60
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

§ 1º Os sistemas de ensino devem elaborar diretrizes § 3º O Conselho Nacional de Educação elaborará dire-
metodológicas para avaliação e validação dos saberes pro- trizes para a certificação profissional.
fissionais desenvolvidos pelos estudantes em seu itinerá- § 4º O Ministério da Educação, por meio da Rede Na-
rio profissional e de vida, para fins de prosseguimento de cional de Certificação Profissional e Formação Inicial e
estudos ou de reconhecimento dos saberes avaliados e Continuada (Rede CERTIFIC), elaborará padrões nacionais
validados, para fins de certificação profissional, de acordo de certificação profissional para serem utilizados obrigato-
com o correspondente perfil profissional de conclusão do riamente pelas instituições de Educação Profissional e Tec-
respectivo curso técnico de nível médio. nológica do sistema federal de ensino e das redes públicas
§ 2º Os sistemas de ensino devem, respeitadas as con- estaduais, quando em processos de certificação.
dições de cada instituição educacional, oferecer oportu- § 5º As instituições educacionais poderão aderir à Rede
nidades de complementação de estudos, visando a suprir CERTIFIC e, se acreditadas, poderão realizar reconhecimen-
eventuais insuficiências formativas constatadas na avalia- to para fins de certificação para exercício profissional, de
ção. acordo com o respectivo perfil profissional de conclusão
Art. 36 Para prosseguimento de estudos, a instituição do curso;
de ensino pode promover o aproveitamento de conheci- § 6º As instituições que possuam metodologias de cer-
mentos e experiências anteriores do estudante, desde que tificação profissional poderão utilizá-las nos processos de
diretamente relacionados com o perfil profissional de con- certificação, desde que autorizadas pelos órgãos normati-
clusão da respectiva qualificação ou habilitação profissio- vos dos sistemas de ensino, até a elaboração das diretrizes
nal, que tenham sido desenvolvidos: para a certificação profissional.
I em qualificações profissionais e etapas ou módulos Art. 38 Cabe às instituições educacionais expedir e re-
de nível técnico regularmente concluídos em outros cursos gistrar, sob sua responsabilidade, os diplomas de técnico
de Educação Profissional Técnica de Nível Médio; de nível médio, sempre que seus dados estejam inseridos
II em cursos destinados à formação inicial e continuada no SISTEC, a quem caberá atribuir um código autenticador
ou qualificação profissional de, no mínimo, 160 horas de do referido registro, para fins de validade nacional dos di-
duração, mediante avaliação do estudante; plomas emitidos e registrados.
III em outros cursos de Educação Profissional e Tecno- § 1º A instituição de ensino responsável pela certifica-
lógica, inclusive no trabalho, por outros meios informais ou ção que completa o itinerário formativo do técnico de nível
até mesmo em cursos superiores de graduação, mediante médio expedirá o correspondente diploma de técnico de
avaliação do estudante; nível médio, observado o requisito essencial de conclusão
IV por reconhecimento, em processos formais de certi- do Ensino Médio.
ficação profissional, realizado em instituição devidamente § 2º Os diplomas de técnico de nível médio devem
credenciada pelo órgão normativo do respectivo sistema explicitar o correspondente título de técnico na respectiva
de ensino ou no âmbito de sistemas nacionais de certifica- habilitação profissional, indicando o eixo tecnológico ao
ção profissional. qual se vincula.
§ 3º Ao concluinte de etapa com terminalidade que
Capítulo II caracterize efetiva qualificação profissional técnica para o
Certificação exercício no mundo do trabalho e que possibilite a cons-
trução de itinerário formativo é conferido certificado de
Art. 37 A avaliação e certificação, para fins de exercício qualificação profissional técnica, no qual deve ser explici-
profissional, somente poderão ser realizadas por institui- tado o título da ocupação certificada.
ção educacional devidamente credenciada que apresente § 4º Aos detentores de diploma de curso técnico que
em sua oferta o curso de Educação Profissional Técnica de concluírem, com aproveitamento, os cursos de especia-
Nível Médio correspondente, previamente autorizado. lização técnica de nível médio é conferido certificado de
§ 1º A critério do órgão normativo do respectivo sis- especialização técnica de nível médio, no qual deve ser ex-
tema de ensino, instituições de ensino que não tenham o plicitado o título da ocupação certificada.
correspondente curso de Educação Profissional Técnica de § 5º Os históricos escolares que acompanham os cer-
Nível Médio, mas ofertem cursos inscritos no mesmo eixo tificados e diplomas devem explicitar os componentes
tecnológico, cuja formação tenha estreita relação com o curriculares cursados, de acordo com o correspondente
perfil profissional de conclusão a ser certificado, podem perfil profissional de conclusão, explicitando as respec-
realizar os processos previstos no caput deste artigo. tivas cargas horárias, frequências e aproveitamento dos
§ 2º A certificação profissional abrange a avaliação do concluintes.
itinerário profissional e de vida do estudante, visando ao § 6º A revalidação de certificados de cursos técnicos
seu aproveitamento para prosseguimento de estudos ou realizados no exterior é de competência das instituições de
ao reconhecimento para fins de certificação para exercí- Educação Profissional e Tecnológica integrantes do sistema
cio profissional, de estudos não formais e experiência no federal de ensino e pelas instituições públicas credencia-
trabalho, bem como de orientação para continuidade de das pelo órgão normativo do respectivo sistema de ensino,
estudos, segundo itinerários formativos coerentes com os conforme suas disponibilidades de pessoal docente quali-
históricos profissionais dos cidadãos, para valorização da ficado nos eixos tecnológicos pertinentes.
experiência extraescolar.

61
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Capítulo III § 3º O prazo para o cumprimento da excepcionalidade


Avaliação da Educação Profissional Técnica de prevista nos incisos I e II do § 2º deste artigo para a for-
Nível Médio mação pedagógica dos docentes em efetivo exercício da
profissão, encerrar-se-á no ano de 2020.
Art. 39 Na formulação e no desenvolvimento de polí- § 4º A formação inicial não esgota as possibilidades
tica pública para a Educação Profissional e Tecnológica, o de qualificação profissional e desenvolvimento dos pro-
Ministério da Educação, em regime de colaboração com fessores da Educação Profissional Técnica de Nível Médio,
os Conselhos Nacional e Estaduais de Educação e demais cabendo aos sistemas e às instituições de ensino a organi-
órgãos dos respectivos sistemas de ensino, promoverá, zação e viabilização de ações destinadas à formação conti-
periodicamente, a avaliação da Educação Profissional Téc- nuada de professores.
nica de Nível Médio, garantida a divulgação dos resulta-
dos, com a finalidade de: TÍTULO V
I promover maior articulação entre as demandas so- DISPOSIÇÕES FINAIS
cioeconômico-ambientais e a oferta de cursos, do ponto
de vista qualitativo e quantitativo; Art. 41 As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu-
II promover a expansão de sua oferta, em cada eixo cação Profissional Técnica de Nível Médio são obrigatórias
tecnológico; a partir do início do ano de 2013.
III promover a melhoria da qualidade pedagógica e § 1º Os sistemas e instituições de ensino que tenham
efetividade social, com ênfase no acesso, na permanência condições de implantar as Diretrizes Curriculares Nacio-
e no êxito no percurso formativo e na inserção sociopro- nais, poderão fazê-lo imediatamente.
fissional; § 2º Fica ressalvado, aos alunos matriculados no perío-
IV zelar pelo cumprimento das responsabilidades so- do de transição, o direito de conclusão de cursos organi-
ciais das instituições mediante valorização de sua missão, zados com base na Resolução CNE/CEB nº 4/99, atualizada
afirmação da autonomia e da identidade institucional, pela Resolução CNE/CEB nº 1/2005, e regulamentações
atendimento às demandas socioeconômico-ambientais, subsequentes.
promoção dos valores democráticos e respeito à diferen- Art. 42 Esta Resolução entra em vigor na data de sua
ça e à diversidade. publicação, revogadas as disposições em contrário, em es-
pecial as disposições da Resolução CNE/CEB nº 4/99 e da
TÍTULO IV Resolução CNE/CEB nº 1/2005.
FORMAÇÃO DOCENTE
RESOLUÇÃO Nº 7, DE 9 DE NOVEMBRO DE 2012 (*) (**)
Art. 40 A formação inicial para a docência na Educa-
ção Profissional Técnica de Nível Médio realiza-se em cur- Altera o parágrafo único do art. 2º da Resolução CNE/
sos de graduação e programas de licenciatura ou outras CEB nº 2/2004 e o art. 3º da Resolução CNE/CEB nº 2/2006,
formas, em consonância com a legislação e com normas e inclui a exigência da oferta de Educação Profissional Téc-
específicas definidas pelo Conselho Nacional de Educa- nica de Nível Médio e a obrigatoriedade de oferta de aulas
ção. de Língua e Cultura Japonesas e de cadastro no censo es-
§ 1º Os sistemas de ensino devem viabilizar a forma- colar do Ministério da Educação.
ção a que se refere o caput deste artigo, podendo ser or- O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con-
ganizada em cooperação com o Ministério da Educação e selho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições
instituições de Educação Superior. legais, com fundamento no art. 9º, § 1º, alínea “c”, da Lei nº
§ 2º Aos professores graduados, não licenciados, em 4.024 de 20 de dezembro de 1961, com redação dada pela
efetivo exercício na profissão docente ou aprovados em Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995 e tendo em vista
concurso público, é assegurado o direito de participar ou o Parecer CNE/CEB nº 5/2012, homologado por Despacho
ter reconhecidos seus saberes profissionais em processos do Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no
destinados à formação pedagógica ou à certificação da DOU de 6/11/2012, resolve:
experiência docente, podendo ser considerado equivalen- Art. 1º O parágrafo único do art. 2º da Resolução CNE/
te às licenciaturas: CEB nº 2/2004, passa a ter a seguinte redação: Parágrafo
I excepcionalmente, na forma de pós-graduação lato único. Para o fim definido neste artigo, os estabelecimen-
sensu, de caráter pedagógico, sendo o trabalho de con- tos de ensino se credenciarão para a oferta e funcionamen-
clusão de curso, preferencialmente, projeto de interven- to no Japão dos seguintes cursos:
ção relativo à prática docente; I Educação Infantil;
II excepcionalmente, na forma de reconhecimento to- II Ensino Fundamental;
tal ou parcial dos saberes profissionais de docentes, com III Ensino Médio; IV Educação de Jovens e Adultos nas
mais de 10 (dez) anos de efetivo exercício como professo- etapas do Ensino Fundamental e Médio; V Educação Profis-
res da Educação Profissional, no âmbito da Rede CERTIFIC; sional Técnica de Nível Médio e seus itinerários formativos,
III na forma de uma segunda licenciatura, diversa da no âmbito do respectivo eixo tecnológico.
sua graduação original, a qual o habilitará ao exercício do- Art. 2º O art. 3º da Resolução CNE/CEB nº 2/2006 passa
cente. a ter a seguinte redação:

62
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Art. 3º São condições essenciais para que um estabele- A Convenção Internacional sobre a Eliminação de To-
cimento de ensino possa se adequar às normas da presen- das as Formas de Discriminação Racial, promulgada pelo
te Resolução, de forma a poder emitir documentos escola- Decreto nº 65.810, de 8 de dezembro de 1969;
res considerados válidos no Brasil: A Convenção Relativa à Luta Contra a Discriminação no
I comprovação da legislação do funcionamento da en- Campo do Ensino, promulgada pelo Decreto nº 63.223, de
tidade mantenedora perante a autoridade japonesa; 6 de setembro de 1968;
II proposta pedagógica e a correspondente organiza- A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948,
ção curricular; da Organização das Nações Unidas (ONU).
III regimento escolar; CONSIDERANDO,
IV relação de pessoal docente e técnico-administrativo; A Lei nº9.394/96, de Diretrizes e Bases da Educação
V cadastro atualizado dos dirigentes junto à Embaixa- Nacional, na redação dada pelas Leis nº10.639/2003 e
da Brasileira no Japão; nº11.645/2008, e a Resolução CNE/CP nº 1/2004, funda-
VI descrição das instalações físicas disponíveis; mentada no Parecer CNE/CP nº 3/2004;
VII cadastro no censo escolar do Ministério da Educa- A Lei nº12.288/2010, que institui o Estatuto da Igual-
ção, após a homologação de seu Parecer. dade Racial;
Art. 3º Para a continuidade de funcionamento e emis- A Lei nº11.494/2007, que regulamenta o Fundo de De-
são de documentos considerados válidos no Brasil, as es- senvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
colas que atendem brasileiros no Japão deverão incluir a Profissionais da Educação (FUNDEB);
oferta de aulas de Língua e Cultura Japonesas nos seus A Lei nº 11.346/2006, que cria o Sistema Nacional de
planos de curso, de acordo com os respectivos projetos Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), com vistas a as-
político-pedagógicos. segurar o direito humano à alimentação adequada;
Art. 4º Esta Resolução entra em vigor na data de sua A Lei nº8.069/90, que institui o Estatuto da Criança e
publicação, revogadas as disposições em contrário. do Adolescente.
CONSIDERANDO,
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO O Decreto nº4.887/2003, que regulamenta o proce-
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO dimento para identificação, reconhecimento, delimitação,
CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA demarcação e titulação das terras ocupadas por remanes-
centes das comunidades dos quilombos de que trata o art.
RESOLUÇÃO Nº 8, DE 20DENOVEMBRODE 2012(*)
68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias;
O Decreto nº 7.352/2010, que dispõe sobre a política
Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa-
de Educação do Campo e o Programa Nacional de Educa-
ção Escolar Quilombola na Educação Básica.
ção na Reforma Agrária (PRONERA);
O Decreto nº6.040/2007, que institui a Política Nacio-
O Presidente da Câmara de Educação Básica do
Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribui- nal de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comuni-
ções legais, e de conformidade com o disposto na alínea dades Tradicionais;
“c” do § 1º do art. 9º da Lei nº 4.024/61, com a redação O Decreto legislativo nº 2/94, que institui a Convenção
dada pela Lei nº 9.131/95, nos arts. 26-A e 79-B da Lei nº sobre Diversidade Biológica (CDB).
9.394/96, com a redação dada, respectivamente, pelas Leis CONSIDERANDO,
nº11.645/2008 e nº10.639/2003 e com fundamento no Pa- A Resolução CNE/CP nº 1/2004, que define Diretrizes
recer CNE/CEB nº 16/2012, homologado por Despacho do Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico
Senhor Ministro da Educação, publicado no DOU de 20 de -Raciais e para o Ensino de História e CulturaAfro-brasileira
novembrode 2012, e Africana, fundamentada no Parecer CNE/CP nº 3/2004;
CONSIDERANDO, A Resolução CNE/CP nº 1/2012, que estabelece Diretri-
A Constituição Federal, no seu artigo 5º, inciso XLII, dos zes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, com
Direitos e Garantias Fundamentais e no seu artigo 68 do base no Parecer CNE/CP nº 8/2012;
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. A Resolução CNE/CEB nº 1/2002, que define Diretrizes
CONSIDERANDO, Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Cam-
A Convenção 169 da Organização Internacional do Tra- po, com fundamento no Parecer CNE/CEB nº 36/2001;
balho (OIT) sobre Povos Indígenas e Tribais, promulgada A Resolução CNE/CEB nº 2/2008, que define Diretrizes
no Brasil, por meio do Decreto nº 5.051, de 19 de abril de Complementares para a Educação do Campo, com funda-
2004; mento no Parecer CNE/CEB nº 23/2007, reexaminado pelo
A Convenção sobre os Direitos da Criança, promulgada parecer CNE/CEB nº 3/2008;
pelo Decreto nº99.710, de 21 de novembro de 1990; A Resolução CNE/CEB nº 2/2009, que fixa as Diretrizes
A Declaração e o Programa de Ação da Conferên- Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos
ciaMundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xe- Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública,
nofobia e Formas Correlatas de Intolerância, realizada em com base no Parecer CNE/CEB nº 9/2009;
Durban, na África do Sul, em 2001; A ResoluçãoCNE/CEB nº 5/2009, que define Diretrizes
A Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, com funda-
proclamada pela UNESCO, em 2001; mento no Parecer CNE/CEB nº 20/2009;

63
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

A Resolução CNE/CEB nº 4/2010, que define Diretrizes A Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural,
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, com proclamada pela UNESCO, em 2001;
base no Parecer CNE/CEB nº 7/2010; A Convenção Internacional sobre a Eliminação de To-
A Resolução CNE/CEB nº 5/2010, que fixa Diretrizes das as Formas de Discriminação Racial, promulgada pelo
Nacionais para os planos de carreira e remuneração dos Decreto nº 65.810, de 8 de dezembro de 1969;
funcionários da Educação Básica pública, com fundamento A Convenção Relativa à Luta Contra a Discriminação no
no Parecer CNE/CEB nº 9/2010; Campo do Ensino, promulgada pelo Decreto nº 63.223, de
A Resolução CNE/CEB nº 7/2010, que define Diretri- 6 de setembro de 1968;
zes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948,
9 anos, com fundamento no Parecer CNE/CEB nº 11/2010; da Organização das Nações Unidas (ONU).
A Resolução CNE/CEB nº 1/2012, que dispõe sobre a CONSIDERANDO,
implementação do regime de colaboração mediante Ar- A Lei nº9.394/96, de Diretrizes e Bases da Educação
ranjo de Desenvolvimento da Educação (ADE), como ins- Nacional, na redação dada pelas Leis nº10.639/2003 e
trumento de gestão pública para a melhoria da qualidade
nº11.645/2008, e a Resolução CNE/CP nº 1/2004, funda-
social da educação, com fundamento no Parecer CNE/CEB
mentada no Parecer CNE/CP nº 3/2004;
nº 9/2012;
A Lei nº12.288/2010, que institui o Estatuto da Igual-
A Resolução CNE/CEB nº 2/2012, que define Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, com funda- dade Racial;
mento no Parecer CNE/CEB nº 5/2011; A Lei nº11.494/2007, que regulamenta o Fundo de De-
O Parecer CNE/CEB nº 11/2012, sobre Diretrizes Curri- senvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
culares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Profissionais da Educação (FUNDEB);
Nível Médio; A Lei nº 11.346/2006, que cria o Sistema Nacional de
O Parecer CNE/CEB nº 13/2012, sobre Diretrizes Curri- Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), com vistas a as-
culares Nacionais para a Educação Escolar Indígena. segurar o direito humano à alimentação adequada;
A Lei nº8.069/90, que institui o Estatuto da Criança e
CONSIDERANDO, do Adolescente.
CONSIDERANDO,
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO O Decreto nº4.887/2003, que regulamenta o proce-
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO dimento para identificação, reconhecimento, delimitação,
CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA demarcação e titulação das terras ocupadas por remanes-
RESOLUÇÃO Nº 8, DE 20DENOVEMBRODE 2012(*) centes das comunidades dos quilombos de que trata o art.
(*)Resolução CNE/CEB 8/2012. Diário Oficial da União, 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias;
Brasília, 21de novembro de 2012, Seção 1, p. 26. O Decreto nº 7.352/2010, que dispõe sobre a política
Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa- de Educação do Campo e o Programa Nacional de Educa-
ção Escolar Quilombola na Educação Básica. ção na Reforma Agrária (PRONERA);
O Presidente da Câmara de Educação Básica do O Decreto nº6.040/2007, que institui a Política Nacio-
Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribui- nal de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comuni-
ções legais, e de conformidade com o disposto na alínea dades Tradicionais;
“c” do § 1º do art. 9º da Lei nº 4.024/61, com a redação O Decreto legislativo nº 2/94, que institui a Convenção
dada pela Lei nº 9.131/95, nos arts. 26-A e 79-B da Lei nº sobre Diversidade Biológica (CDB).
9.394/96, com a redação dada, respectivamente, pelas Leis CONSIDERANDO,
nº11.645/2008 e nº10.639/2003 e com fundamento no Pa-
A Resolução CNE/CP nº 1/2004, que define Diretrizes
recer CNE/CEB nº 16/2012, homologado por Despacho do
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico
Senhor Ministro da Educação, publicado no DOU de 20 de
-Raciais e para o Ensino de História e CulturaAfro-brasileira
novembrode 2012,
e Africana, fundamentada no Parecer CNE/CP nº 3/2004;
CONSIDERANDO,
A Constituição Federal, no seu artigo 5º, inciso XLII, dos A Resolução CNE/CP nº 1/2012, que estabelece Diretri-
Direitos e Garantias Fundamentais e no seu artigo 68 do zes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, com
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. base no Parecer CNE/CP nº 8/2012;
CONSIDERANDO, A Resolução CNE/CEB nº 1/2002, que define Diretrizes
A Convenção 169 da Organização Internacional do Tra- Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Cam-
balho (OIT) sobre Povos Indígenas e Tribais, promulgada po, com fundamento no Parecer CNE/CEB nº 36/2001;
no Brasil, por meio do Decreto nº 5.051, de 19 de abril de A Resolução CNE/CEB nº 2/2008, que define Diretrizes
2004; Complementares para a Educação do Campo, com funda-
A Convenção sobre os Direitos da Criança, promulgada mento no Parecer CNE/CEB nº 23/2007, reexaminado pelo
pelo Decreto nº99.710, de 21 de novembro de 1990; parecer CNE/CEB nº 3/2008;
A Declaração e o Programa de Ação da Conferên- A Resolução CNE/CEB nº 2/2009, que fixa as Diretrizes
ciaMundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xe- Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos
nofobia e Formas Correlatas de Intolerância, realizada em Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública,
Durban, na África do Sul, em 2001; com base no Parecer CNE/CEB nº 9/2009;

64
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

A ResoluçãoCNE/CEB nº 5/2009, que define Diretrizes III -destina-se ao atendimento das populações quilom-
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, com funda- bolas rurais e urbanas em suas mais variadas formas de pro-
mento no Parecer CNE/CEB nº 20/2009; duçãocultural, social, política e econômica;
A Resolução CNE/CEB nº 4/2010, que define Diretrizes IV -deve ser ofertada por estabelecimentos de ensino
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, com localizados em comunidades reconhecidas pelos órgãos pú-
base no Parecer CNE/CEB nº 7/2010; blicos responsáveis como quilombolas, rurais e urbanas, bem
A Resolução CNE/CEB nº 5/2010, que fixa Diretrizes como por estabelecimentos de ensino próximos aessas co-
Nacionais para os planos de carreira e remuneração dos munidades e que recebem parte significativa dos estudantes
funcionários da Educação Básica pública, com fundamento oriundos dos territórios quilombolas;
no Parecer CNE/CEB nº 9/2010; V -deve garantir aos estudantes o direito de se apropriar
A Resolução CNE/CEB nº 7/2010, que define Diretri- dos conhecimentos tradicionais e das suas formas de produ-
zes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de ção de modo a contribuir para o seu reconhecimento, valori-
9 anos, com fundamento no Parecer CNE/CEB nº 11/2010; zação e continuidade;
A Resolução CNE/CEB nº 1/2012, que dispõe sobre a VI -deve ser implementada como política pública edu-
implementação do regime de colaboração mediante Ar- cacional e estabelecer interface com a política já existente
ranjo de Desenvolvimento da Educação (ADE), como ins- para os povos do campo e indígenas, reconhecidos os seus
trumento de gestão pública para a melhoria da qualidade pontos de intersecção política, histórica, social, educacional e
social da educação, com fundamento no Parecer CNE/CEB econômica, sem perder a especificidade.
nº 9/2012; Art. 2º Cabe à União, aos Estados, aos Municípios e aos
A Resolução CNE/CEB nº 2/2012, que define Diretrizes sistemas de ensino garantir:
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, com funda- I) apoio técnico-pedagógico aos estudantes, professores
mento no Parecer CNE/CEB nº 5/2011; e gestores em atuação nas escolas quilombolas;
O Parecer CNE/CEB nº 11/2012, sobre Diretrizes Curri- II)recursos didáticos, pedagógicos, tecnológicos, cultu-
culares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de rais e literários que atendam às especificidades das comuni-
Nível Médio; dades quilombolas;
O Parecer CNE/CEB nº 13/2012, sobre Diretrizes Curri- c) a construção de propostas de Educação Escolar Qui-
culares Nacionais para a Educação Escolar Indígena. lombola contextualizadas.
CONSIDERANDO,As deliberações da I Conferência Na- Art. 3º Entende-se por quilombos:
cional de Educação Básica (CONEB, 2008) e da Conferência I -os gruposétnico-raciais definidos por auto-atribuição,
Nacional da Educação Básica (CONAE, 2010). com trajetória histórica própria, dotados de relações territo-
CONSIDERANDO, finalmente, as manifestações e con- riais específicas, com presunção de ancestralidade negra re-
tribuições provenientes da participação de representantes lacionada com a resistência à opressão histórica;
de organizações quilombolas e governamentais, pesquisa- II -comunidades rurais e urbanas que:
dores e de entidades da sociedade civil em reuniões téc- a) lutam historicamente pelo direito à terra e ao território
nicas de trabalho e audiências públicas promovidas pelo o qual diz respeito não somente à propriedade da terra, mas
Conselho Nacional de Educação. a todos os elementos que fazem parte de seus usos, costu-
RESOLVE: mes e tradições;
Art. 1º Ficam estabelecidas Diretrizes CurricularesNa- b) possuem os recursos ambientais necessários à sua
cionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação manutenção e às reminiscências históricas que permitam
Básica, na forma desta Resolução. perpetuar sua memória.
§ 1º A Educação Escolar Quilombola na Educação Básica: III -comunidades rurais e urbanas que compartilham tra-
I -organiza precipuamente o ensino ministrado nas ins- jetórias comuns, possuem laços de pertencimento, tradição
tituições educacionais fundamentando-se, informando-se cultural de valorização dos antepassados calcada numa his-
e alimentando-se: tória identitária comum, entre outros.
a) da memória coletiva; Art. 4º Observado o disposto na Convenção 169 da Or-
b) das línguas reminiscentes; ganização Internacional do Trabalho (OIT) sobre Povos Indí-
c) dos marcos civilizatórios; genas e Tribais, promulgada pelo Decreto nº 5.051, de 19 de
d) das práticas culturais; abril de 2004, e no Decreto nº6.040, de 7 de fevereiro de 2007,
e) das tecnologias e formas de produção do trabalho; que institui a Política Nacional de Desenvolvimento Susten-
f) dos acervos e repertórios orais; tável dos Povos e Comunidades Tradicionais, os quilombolas
g) dos festejos, usos, tradições e demais elementos entendidos como povos ou comunidades tradicionais, são:
que conformam o patrimônio cultural das comunidades I -grupos culturalmente diferenciados e que se reconhe-
quilombolas de todo o país; cem como tais;
h) da territorialidade. II -possuidores de formas próprias de organização social;
II -compreende a Educação Básica em suas etapas e III -detentores de conhecimentos, tecnologias, inovações
modalidades, a saber: Educação Infantil, Ensino Fundamen- e práticas gerados e transmitidos pela tradição;
tal, Ensino Médio, Educação do Campo, Educação Especial, IV -ocupantes e usuários de territórios e recursos natu-
Educação Profissional Técnica de Nível Médio, Educação de rais como condição para sua reprodução cultural, social,
Jovens e Adultos, inclusive na Educação a Distância; religiosa, ancestral e econômica.

65
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Art. 5º Observado o disposto no art. 68 do Ato das I -direito à igualdade, liberdade, diversidade e plurali-
Disposições Constitucionais Transitórias e no Decreto dade;
nº6.040/2007, os territórios tradicionais são: II -direito à educação pública, gratuita e de qualidade;
I -aqueles nos quais vivem as comunidades quilombo- III -respeito e reconhecimento da história e da cultura
las, povos indígenas, seringueiros, castanheiros, quebradei- afro-brasileira como elementos estruturantes do processo
ras de coco babaçu, ribeirinhos, faxinalenses e comunida- civilizatório nacional;
des de fundo de pasto, dentre outros; IV -proteção das manifestações da cultura afro-brasi-
II –espaços necessários à reprodução cultural, social e leira;
econômica dos povos e comunidades tradicionais, sejam V -valorização da diversidade étnico-racial;
eles utilizados de forma permanente ou temporária. VI -promoção do bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, credo, idade e quaisquer outras for-
TÍTULO I mas de discriminação;
DOS OBJETIVOS VII -garantia dos direitos humanos, econômicos, so-
ciais, culturais, ambientais e do controle social das comuni-
Art. 6º Estas Diretrizes, com base na legislação geral e dades quilombolas;
especial, na Convenção 169 da Organização Internacional VIII -reconhecimento dos quilombolas como povos ou
do Trabalho, ratificada no Brasil, por meio do Decreto Le- comunidades tradicionais;
gislativo nº 143/2003, e no Decreto nº 6.040/2007, tem por XIX -conhecimento dos processos históricos de luta
objetivos: pela regularização dos territórios tradicionais dos povos
I orientar os sistemas de ensino e as escolas de Educa- quilombolas;
ção Básica da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos X -direito ao etnodesenvolvimento entendidocomo
Municípios na elaboração, desenvolvimento e avaliação de modelo de desenvolvimento alternativo que considera a
seus projetos educativos; participação das comunidades quilombolas, as suas tradi-
II orientar os processos de construção de instrumen- ções locais, o seu ponto de vista ecológico, a sustentabili-
tos normativos dos sistemas de ensino visando garantir a dade e as suas formas de produção do trabalho e de vida;
Educação Escolar Quilombola nas diferentes etapas e mo- XI -superação do racismo–institucional, ambiental, ali-
dalidades, da Educação Básica, sendo respeitadas as suas mentar, entre outros –e a eliminação de toda e qualquer
especificidades; forma de preconceito e discriminação racial;
III assegurar que as escolas quilombolas e as escolas XII -respeito à diversidade religiosa, ambiental e sexual;
que atendem estudantes oriundos dos territórios quilom- XV -superação de toda e qualquer prática de sexismo,
bolas considerem as práticas socioculturais, políticas e eco- machismo, homofobia, lesbofobia e transfobia;
nômicas das comunidades quilombolas, bem como os seus XVI -reconhecimento e respeito da história dos qui-
processos próprios de ensino-aprendizagem e as suas for- lombos, dos espaços e dos tempos nos quais as crianças,
mas de produção e de conhecimento tecnológico; adolescentes, jovens, adultos e idosos quilombolas apren-
IV assegurar que o modelo de organização e gestão dem e se educam;
das escolas quilombolas e das escolas que atendem estu- XVII -direito dos estudantes, dos profissionais da edu-
dantes oriundos desses territórios considerem o direito de cação e da comunidade de se apropriarem dos conhe-
consulta e 5 a participação da comunidade e suas lideran- cimentos tradicionais e das formas de produção das co-
ças, conforme o disposto na Convenção 169 da OIT; munidades quilombolas de modo a contribuir para o seu
V fortalecer o regime de colaboração entre os sistemas reconhecimento, valorização e continuidade;
de ensino da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos XVIII -trabalho como princípio educativo das ações di-
Municípios na oferta da Educação Escolar Quilombola; dático-pedagógicas da escola;
VI -zelar pela garantia do direito à Educação Escolar XIX -valorização das ações de cooperação e de solida-
Quilombola às comunidades quilombolas rurais e urbanas, riedade presentes na história das comunidades quilombo-
respeitando a história, o território, a memória, a ancestrali- las, a fim de contribuir para o fortalecimento das redes de
dade e os conhecimentos tradicionais; colaboração solidária por elas construídas;6
VII -subsidiar a abordagem da temática quilombola XX -reconhecimento do lugar social, cultural, político,
em todas as etapas da Educação Básica, pública e privada, econômico, educativo e ecológico ocupado pelas mulhe-
compreendida como parte integrante da cultura e do patri- res no processo histórico de organização das comunida-
mônio afro-brasileiro, cujo conhecimento é imprescindível des quilombolas e construção de práticas educativas que
para a compreensão da história, da cultura e da realidade visem à superação de todas as formas dviolência racial e
brasileira. de gênero.
Art. 8º Os princípios da Educação Escolar Quilombola
TÍTULO II deverão ser garantidos por meio das seguintes ações:
DOS PRINCÍPIOS DAEDUCAÇÃO ESCOLAR QUI- I -construção de escolas públicas em territórios qui-
LOMBOLA lombolas, por parte do poder público, sem prejuízo da
ação de ONGe outras instituições comunitárias;
Art. 7º A Educação Escolar Quilombola rege-se nas II -adequação da estrutura física das escolas ao contex-
suas práticas e ações político-pedagógicas pelos seguintes to quilombola, considerando os aspectos ambientais, eco-
princípios: nômicos e socioeducacionais de cada quilombo;

66
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

III -garantia de condições de acessibilidade nas escolas; TÍTULO IV


IV -presença preferencial de professores e gestores DA ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR QUI-
quilombolas nas escolas quilombolas e nas escolas que re- LOMBOLA
cebem estudantes oriundos de territórios quilombolas;
V -garantia de formação inicial e continuada para os Art. 10 A organização da Educação Escolar Quilombola,
docentes para atuação na Educação Escolar Quilombola; em cada etapa da Educação Básica, poderá assumir varia-
VI -garantia do protagonismo dos estudantes quilom- das formas, de acordo com o art. 23 da LDB, tais como:
bolas nos processos político-pedagógicos em todas as eta- I -séries anuais;
pas e modalidades; II -períodos semestrais;
VII -implementação de um currículo escolar aberto, III -ciclos;
flexível e de caráter interdisciplinar, elaborado de modo a IV -alternância regular de períodos de estudos com
articular o conhecimento escolar e os conhecimentos cons- tempos e espaços específicos;
truídos pelas comunidades quilombolas; V -grupos não-seriados, com base na idade, na compe-
VIII -implementação de um projeto político-pedagó- tência e em outros critérios ou por forma diversa de orga-
gico que considere as especificidades históricas, culturais, nização, sempre que o interesse do processo de aprendiza-
sociais, políticas, econômicas e identitárias das comunida- gem assim o recomendar.
des quilombolas; Art. 11 O calendário da Educação Escolar Quilombola
IX -efetivação da gestão democrática da escola com deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive climá-
a participação das comunidades quilombolas e suas lide- ticas, econômicas e socioculturais, a critério do respectivo
ranças; sistema de ensino e do projeto político-pedagógico da es-
X -garantia de alimentação escolar voltada para as es- cola, sem com isso reduzir o número de horas letivas pre-
pecificidades socioculturais das comunidades quilombolas; visto na LDB.
XI -inserção da realidade quilombola em todo o mate- § 1º O Dia Nacional da Consciência Negra, comemo-
rial didático e de apoio pedagógico produzido em articu- rado em 20 de novembro, deve ser instituído nos estabe-
lação com a comunidade, sistemas de ensino e instituições lecimentos públicos e privados de ensino que ofertam a
de Educação Superior; Educação Escolar Quilombola, nos termos do art. 79-Bda
XII -garantia do ensino de História e Cultura Afro-Brasi- LDB, com redação dada pela Lei nº10.639/2003, e na Reso-
leira, Africana e Indígena, nos termos da Lei nº9394/96, com lução CNE/CP nº 1/2004, fundamentada no Parecer CNE/
a redação dada pelas Leis nº 10.639/2003 e nº11.645/2008, CP nº 3/2004.
§ 2º O calendário escolar deve incluir as datas consi-
e na Resolução CNE/CP nº 1/2004, fundamentada no Pare-
deradas mais significativas para a população negra e para
cer CNE/CP nº 3/2004;
cada comunidade quilombola, de acordo com a região e a
XIII -efetivação de uma educação escolar voltada para
localidade, consultadas as comunidades e lideranças qui-
o etnodesenvolvimento e parao desenvolvimento susten-
lombolas.
tável das comunidades quilombolas;
Art. 12Os sistemas de ensino, por meio de ações co-
XIV -realização de processo educativo escolar que res-
laborativas, devem implementar, monitorar e garantir um
peite as tradições e o patrimônio cultural dos povos qui-
programa institucional de alimentação escolar, o qual de-
lombolas;
verá ser organizado mediante cooperação entre a União,
XV -garantia da participação dos quilombolas por meio os Estados, o Distrito Federal e os Municípios e por meio de
de suas representações próprias em todos os órgãos e es- convênios entre a sociedade civil e o poder público, com os
paços deliberativos, consultivos e de monitoramento da seguintes objetivos:
política pública e demais temas de seu interesse imediato, I -garantir a alimentação escolar, na forma da Lei e em
conforme reza a Convenção 169 da OIT; conformidade com as especificidades socioculturais das
XVI -articulação da Educação Escolar Quilombola com comunidades quilombolas;
as demais políticas públicas relacionadas aos direitos dos II -respeitar os hábitos alimentares do contexto socioe-
povos e comunidades tradicionais nas diferentes esferas de conômico-cultural-tradicional das comunidades quilom-
governo. bolas;
III -garantir a soberania alimentar assegurando o direi-
TÍTULO III to humano à alimentação adequada;
DA DEFINIÇÃO DE EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOM- IV -garantir a qualidade biológica, sanitária, nutricional
BOLA e tecnológica dos alimentos, bem como seu aproveitamen-
to, estimulando práticas alimentares e estilos de vida sau-
Art. 9º A Educação Escolar Quilombola compreende: dáveis que respeitem a diversidade cultural e étnico-racial
I -escolas quilombolas; da população;
II -escolas que atendem estudantes oriundos de terri- Art. 13Recomenda-se que os sistemas de ensino e suas
tórios quilombolas. escolas contratem profissionais de apoio escolar oriundos
Parágrafo Único Entende-se por escola quilombola das comunidades quilombolas para produção da alimenta-
aquela localizada em território quilombola. ção escolar, de acordo com a cultura e hábitos alimentares
das próprias comunidades.

67
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Parágrafo Único Os sistemas de ensino, em regime de I -promover a participação das famílias e dos anciãos,
colaboração, poderão criar programas de Educação Profis- especialistas nos conhecimentos tradicionais de cada comu-
sional Técnica de Nível Médio para profissionais que exe- nidade, em todas as fases de implantação e desenvolvimento
cutam serviços de apoio escolar na Educação Escolar Qui- da Educação Infantil;
lombola, de acordo com o disposto na Resolução CNE/CEB II -considerar as práticas de educar e de cuidar de cada
nº 5/2005, fundamentada no Parecer CNE/CEB 16/2005, comunidade quilombola como parte fundamental da educa-
que cria a área Profissional nº 21, referente aos Serviços de ção das crianças de acordo com seus espaços e tempos so-
Apoio Escolar. cioculturais;
Art. 14 A Educação Escolar Quilombola deve ser acom- III -elaborar e receber materiais didáticos específicos para
panhada pela prática constante de produção e publicação a Educação Infantil, garantindo a incorporação de aspectos
de materiais didáticos e de apoio pedagógico específicos socioculturais considerados mais significativos para a comu-
nas diversas áreas de conhecimento, mediante ações cola- nidade de pertencimento da criança.
borativas entre os sistemas de ensino. Art. 16 Cabe ao Ministério da Educação redefinir seus
§ 1º As ações colaborativas constantes do caput des- programas suplementares de apoio ao educando para incor-
te artigo poderão ser realizadas contando com a parceria porar a Educação Infantil, de acordo com o inciso VII do art.
e participação dos docentes, organizações do movimento 208 da Constituição Federal que, na redação dada pela Emen-
quilombola e do movimento negro, Núcleos de Estudos da Constitucional n º 59/2009, estendeu esses programas a
Afro-Brasileiros e grupos correlatos, instituições de Educa- toda a Educação Básica.
ção Superior e da Educação Profissional e Tecnológica. § 1º Os programas de material pedagógico para a Edu-
§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni- cação Infantil devem incluir materiais diversos em artes, mú-
cípios devem assegurar, por meio de ações cooperativas, a sica, dança, teatro, movimentos, adequados às faixas etárias,
aquisição e distribuição de livros, obras de referência, lite- dimensionados por turmas e número de crianças das insti-
ratura infantil e juvenil, materiais didático-pedagógicos e tuições e de acordo com a realidade sociocultural das comu-
de apoio pedagógico que valorizem e respeitem a história nidades quilombolas.
e a cultura local das comunidades quilombolas. § 2º Os equipamentos referidos no parágrafo anterior,
pelo desgaste natural com o uso, devem ser considerados
TÍTULO V como material de consumo, havendo necessidade de sua re-
DAS ETAPAS E MODALIDADES DE EDUCAÇÃO ES- posição;
COLAR QUILOMBOLA § 3º Compete ao Ministério da Educação viabilizar por
meio de criação de programa nacional de material pedagógi-
Art. 15 A Educação Infantil, primeira etapa da Educação co para a Educação Infantil, processo de aquisição e distribui-
Básica, na qual se privilegiam práticas de cuidar e educar, é ção sistemática de material para a rede pública de Educação
um direito das crianças dos povos quilombolas e obrigação Infantil, considerando a realidade das crianças quilombolas.
de oferta pelo poder público para as crianças de 4 (quatro) Art. 17 O Ensino Fundamental, direito humano, social e
e 5 (cinco) anos, que deve ser garantida e realizada me- público subjetivo, aliado à ação educativa da família e da co-
diante o respeito às formas específicas de viver a infância, a munidade deve constituir-se em tempo e espaço dos educan-
identidade étnico-racial e as vivências socioculturais. dos articulado ao direito à identidade étnico-racial, à valoriza-
§ 1º Na Educação Infantil, a frequência das crianças de ção da diversidade e à igualdade.
0 (zero) a 3 (três) anos é uma opção de cada família das § 1º A oferta do Ensino Fundamental como direito público
comunidades quilombolas, que tem prerrogativa de, ao subjetivo é de obrigação do Estado que, para isso, deve pro-
avaliar suas funções e objetivos a partir de suas referências mover a sua universalização nas comunidades quilombolas.
culturais e de suas necessidades, decidir pela matrícula ou § 2º O Ensino Fundamental deve garantir aos estudantes
não de suas crianças em: quilombolas:
I -creches ou instituições de Educação Infantil; I -a indissociabilidade das práticas educativas e das práti-
II -programa integrado de atenção à infância; cas do cuidar visando o pleno desenvolvimento da formação
III -programas de Educação Infantil ofertados pelo po- humana dos estudantes na especificidade dos seus diferentes
der público ou com este conveniados. ciclos da vida;
§ 2º Na oferta da Educação Infantil na Educação Es- II -a articulação entre os conhecimentos científicos, os co-
colar Quilombola deverá ser garantido à criança o direito nhecimentos tradicionais e as práticas socioculturais próprias
a permanecer com o seu grupo familiar e comunitário de das comunidades quilombolas, num processo educativo dia-
referência, evitando-se o seu deslocamento. lógico e emancipatório;
§ 3º Os sistemas de ensino devem oferecer a Educação III -um projeto educativo coerente, articulado e integra-
Infantil com consulta prévia e informada a todos os envol- do, de acordo com os modos de ser e de se desenvolver das
vidos com a educação das crianças quilombolas, tais como crianças e adolescentes quilombolas nos diferentes contextos
pais, mães, avós, anciãos, professores, gestores escolares e sociais;
lideranças comunitárias de acordo com os interesses legíti- IV -a organização escolar em ciclos, séries e outras formas
mos de cada comunidade quilombola. de organização, compreendidos como tempos e espaços in-
§ 4º As escolas quilombolas e as escolas que atendem terdependentes e articulados entre si, ao longo dos nove
estudantes oriundos de territórios quilombolas e que ofer- anos de duração do Ensino Fundamental, conforme a Re-
tam a Educação Infantil devem: solução CNE/CEB nº 7/2010;

68
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

V -a realização dos três anos iniciais do Ensino Funda- § 1º Os sistemas de ensino devem garantir aos estu-
mental como um bloco pedagógico ou um ciclo sequencial, dantes a oferta de Atendimento Educacional Especializado
não passível de interrupção, voltado para ampliar a todos os (AEE).
estudantes as oportunidades de sistematização e aprofun- § 2º O Ministério da Educação, em sua função indutora
damento das aprendizagens básicas, imprescindíveis para o e executora de políticas públicas educacionais, deve rea-
prosseguimento dos estudos, conforme a Resolução CNE/ lizar diagnóstico da demanda por Educação Especial nas
CEB nº 7/2010. comunidades quilombolas, visando criar uma política na-
Art. 18 O Ensino Médio é um direito social e dever do cional de Atendimento Educacional Especializado aos estu-
Estado na sua oferta pública e gratuita a todos, nos termos dantes quilombolas que dele necessitem.
da Resolução CNE/CEB nº 2/2012. § 3º Os sistemas de ensino devem assegurar a acessi-
Art. 19 As unidades escolares que ministram esta etapa bilidade para toda a comunidade escolar e aos estudan-
da Educação Básica na Educação Escolar Quilombola devem tes quilombolas com deficiência, transtornos globais do
estruturar seus projetos político-pedagógicos consideran- desenvolvimento e com altas habilidades e superdotação,
do as finalidades previstas na Lei nº 9.394/96, visando: mediante:
I -a consolidação e o aprofundamento dos conheci- I -prédios escolares adequados;
mentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando II -equipamentos;
o prosseguimento de estudos; III -mobiliário;
II -a preparação básica para o trabalho e a cidadania do IV -transporte escolar;
educando para continuar aprendendo, de modo a ser capaz V -profissionais especializados;
de se adaptar a novas condições de ocupação ou aperfei- VI -tecnologia assistiva;
çoamento posteriores; VIII -outros materiais adaptados às necessidades des-
III -o aprimoramento do educando como pessoa hu- ses estudantes e de acordo com o projeto político-peda-
mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da gógico da escola.
autonomia intelectual e do pensamento crítico; § 4º No caso dos estudantes que apresentem necessi-
IV -a compreensão dos fundamentos científico-tec- dades diferenciadas de comunicação, o acesso aos conteú-
nológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria dos deve ser garantido por meio da utilização de lingua-
com a prática. gens e códigos aplicáveis, como o sistema Braille, a Língua
Art. 20 O Ensino Médio na Educação Escolar Quilombo- Brasileira de Sinais (LIBRAS) e a tecnologia assistiva, facul-
la deverá proporcionar aos estudantes: tando-lhes e às suas famílias a opção pela abordagem pe-
I -participação em projetos de estudo e de trabalho e dagógica que julgarem adequada, ouvidos os profissionais
atividades pedagógicas que visem o conhecimento das di- especializados em cada caso.
mensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura § 5º Na identificação das necessidades educacionais
próprios das comunidades quilombolas, bem como da so- especiais dos estudantes quilombolas, além da experiên-
ciedade mais ampla; cia dos professores, da opinião da família, e das especi-
II -formação capaz de oportunizar o desenvolvimento ficidades socioculturais, a Educação Escolar Quilombola
das capacidades de análise e detomada de decisões, reso- deve contar com assessoramento técnico especializado e
lução de problemas, flexibilidade, valorização dos conhe- o apoio da equipe responsável pela Educação Especial do
cimentos tradicionais produzidos pelas suas comunidades sistema de ensino.
e aprendizado de diversos conhecimentos necessários ao § 6º O Atendimento Educacional Especializado na Edu-
aprofundamento das suas interações com seu grupo de cação Escolar Quilombola deve assegurar a igualdade de
pertencimento. condições de acesso, permanência e conclusão com suces-
Art. 21 Cabe aos sistemas de ensino promover consulta so aos estudantes que demandam esse atendimento.
prévia e informada sobre o tipo de Ensino Médio adequado Art. 23 A Educação de Jovens e Adultos (EJA), caracte-
às diversas comunidades quilombolas, por meio de ações riza-se como uma modalidade com proposta pedagógica
colaborativas, realizando diagnóstico das demandas rela- flexível, tendo finalidades e funções específicas e tempo
tivas a essa etapa da Educação Básica em cada realidade de duração definido, levando em consideração os conhe-
quilombola. cimentos das experiências de vida dos jovens e adultos, li-
Parágrafo Único As comunidades quilombolas rurais gadas às vivências cotidianas individuais e coletivas, bem
e urbanas por meio de seus projetos de educação escolar, como ao mundo do trabalho.
têm a prerrogativa de decidir o tipo de Ensino Médio ade- § 1º Na Educação Escolar Quilombola, a EJA deve aten-
quado aos seus modos de vida e organização social, nos der às realidades socioculturais e interesses das comuni-
termos da Resolução CNE/CEB nº 2/2012. dades quilombolas, vinculando-se a seus projetos de vida.
Art. 22 A Educação Especial é uma modalidade de ensino § 2º A proposta pedagógica da EJA deve ser contextua-
que visa assegurar aos estudantes com deficiência, transtor- lizada levando em consideração os tempos e os espaços
nos globais do desenvolvimento e com altas habilidades e humanos, as questões históricas, sociais, políticas, culturais
superdotação o desenvolvimento das suas potencialidades e econômicas das comunidades quilombolas.
sócio educacionais em todas as etapas e modalidades da § 3º A oferta de EJA no Ensino Fundamental não deve
Educação Básica nas escolas quilombolas e nas escolas que substituir a oferta regular dessa etapa da Educação Básica na
atendem estudantes oriundos de territórios quilombolas. Educação Escolar Quilombola, independentemente da idade.

69
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

§ 4º Na Educação Escolar Quilombola, as propostas Art. 27 Quando os anos finais do Ensino Fundamental,
educativas de EJA, numa perspectiva de formação ampla, o Ensino Médio, integrado ou não à Educação Profissional
devem favorecer o desenvolvimento de uma Educação Técnica, e a Educação de Jovens e Adultos não puderem ser
Profissional que possibilite aos jovens, adultos e idosos ofertados nos próprios territórios quilombolas, a nucleação
quilombolas atuar nas atividades socioeconômicas e cul- rural levará em conta a participação das comunidades qui-
turais de suas comunidades com vistas ao fortalecimento lombolas e de suas lideranças na definição do local, bem
do protagonismo quilombola e da sustentabilidade de como as possibilidades de percurso a pé pelos estudantes
seus territórios. na menor distância a ser percorrida e em condições de se-
Art. 24 A Educação Profissional Técnica de Nível Mé- gurança.
dio na Educação Escolar Quilombola deve articular os Art. 28 Quando se fizer necessária a adoção do trans-
princípios da formação ampla, sustentabilidade socioam- porte escolar no Ensino Fundamental, Ensino Médio, inte-
biental e respeito à diversidade dos estudantes, consi- grado ou não à Educação Profissional Técnica, e na Educa-
derando-se as formas de organização das comunidades ção de Jovens e Adultos devem ser considerados o menor
quilombolas e suas diferenças sociais, políticas, econômi- tempo possível no percurso residência-escola e a garantia
cas e culturais, devendo: de transporte intracampo dos estudantes quilombolas, em
I -contribuir para a gestão territorial autônoma, pos- condições adequadas de segurança.
sibilitando a elaboração de projetos de desenvolvimento Parágrafo Único Para que o disposto nos arts. 25 e
sustentável e de produção alternativa para as comuni- 26seja cumprido, deverão ser estabelecidas regras para o
dades quilombolas, tendo em vista, em muitos casos, regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito
as situações de falta de assistência e de apoio para seus Federal e os Municípios ou entre Municípios consorciados.
processos produtivos; Art. 29 O eventual transporte de crianças e jovens com
II -articular-se com os projetos comunitários, defi- deficiência, em suas próprias comunidades ou quando
nidos a partir das demandas coletivas das comunidades houver necessidade de deslocamento para a nucleação,
quilombolas, contribuindo para a reflexão e construção deverá adaptar-se às condições desses estudantes, confor-
de alternativas de gestão autônoma dos seus territórios, me leis específicas.
de sustentabilidade econômica, de soberania alimentar, § 1º No âmbito do regime de cooperação entre os en-
de educação, de saúde e de atendimento às mais diversas tes federados, do regime de colaboração entre os sistemas
necessidades cotidianas; de ensino e admitindo-se o princípio de que a responsabi-
III -proporcionar aos estudantes quilombolas oportu- lidade pelo transporte escolar de estudantes da rede mu-
nidades de atuação em diferentes áreas do trabalho téc- nicipal seja dos próprios Municípios, e de estudantes da
nico, necessárias ao desenvolvimento de suas comunida- rede estadual seja dos próprios Estados, os veículos per-
des, como as da tecnologia da informação, saúde, gestão tencentes ou contratados pelos Municípios também pode-
territorial e ambiental, magistério e outras. rão transportar estudantes da rede estadual e vice-versa.
Art. 25 Para o atendimento das comunidades quilom- § 2º O ente federado que detém as matrículas dos es-
bolas a Educação Profissional Técnica de Nível Médio de- tudantes transportados é o responsável pelo seu transpor-
verá ser realizada preferencialmente em seus territórios, te, devendo ressarcir àquele que efetivamente o realizar.
sendo ofertada: Art. 30 O transporte escolar quando for comprovada-
I -de modo interinstitucional; mente necessário, deverá considerar o Código Nacional de
II -em convênio com: Trânsito, as distâncias de deslocamento, a acessibilidade,
a) instituições de Educação Profissional e Tecnológi- as condições de estradas e vias, as condições climáticas, o
ca; estado de conservação dos veículos utilizados e sua idade
b) instituições de Educação Superior; de uso, a melhor localização e as melhores possibilidades
c) outras instituições de ensino e pesquisa; de trabalho pedagógico com padrão de qualidade.
d) organizações do Movimento Negro e Quilombola,
de acordo com a realidade de cada comunidade. TÍTULO VII
DO PROJETO POLITICO-PEDAGÓGICO DAS ESCO-
TÍTULO VI LAS QUILOMBOLAS
DA NUCLEAÇÃO E TRANSPORTE ESCOLAR
Art. 31 O projeto político-pedagógico, entendido
Art. 26 A Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino como expressão da autonomia e da identidade escolar, é
Fundamental na Educação Escolar Quilombola, realizada primordial para a garantia do direito a uma Educação Esco-
em áreas rurais, deverão ser sempre ofertados nos pró- lar Quilombola com qualidade social e deve se pautar nas
prios territórios quilombolas, considerando a sua impor- seguintesorientações:
tância, no âmbito do Estatuto da Criança e do Adolescente. I -observância dos princípios da Educação Escolar Qui-
Parágrafo Único As escolas quilombolas, quando nu- lombola constantes desta Resolução;
cleadas, deverão ficar em polos quilombolas e somente II -observância das Diretrizes Curriculares Nacionais e
serão vinculadas aos polos não quilombolas em casos ex- locais, estas últimas definidas pelos sistemas de ensino e
cepcionais. seus órgãos normativos;

70
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

III -atendimento às demandas políticas, socioculturais Art. 35 O currículo da Educação Escolar Quilombola,
e educacionais das comunidades quilombolas; obedecidas as Diretrizes Curriculares Nacionais definidas
IV -ser construído de forma autônoma e coletiva me- para todas as etapas e modalidades da Educação Básica,
diante o envolvimento e participação de toda a comunida- deverá:
de escolar. I -garantir ao educando o direito a conhecer o con-
Art. 32 O projeto político-pedagógico da Educação Es- ceito, a história dos quilombos no Brasil, o protagonismo
colar Quilombola deverá estar intrinsecamente relacionado do movimento quilombola e do movimento negro, assim
com a realidade histórica, regional, política, sociocultural e como o seu histórico de lutas;
econômica das comunidades quilombolas. II -implementar a Educação das Relações Étnico-Raciais
§ 1º A construção do projeto político-pedagógico de- e o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana,
verá pautar-se na realização de diagnósticoda realidade nos termos da Lei nº9.394/96, na redação dada pela Lei
da comunidade quilombola e seu entorno, num processo nº10.639/2003, e da Resolução CNE/CP nº 1/2004;
dialógico que envolva as pessoas da comunidade, as lide- III reconhecer a história e a cultura afro-brasileira como
ranças e as diversas organizações existentes no território. elementos estruturantes do processo civilizatório nacional,
§ 2º Na realização do diagnóstico e na análise dos da- considerando as mudanças, as recriações e as ressignifica-
dos colhidos sobre a realidade quilombola e seu entorno, o ções históricas e socioculturais que estruturam as concep-
projeto político-pedagógico deverá considerar: ções de vida dos afro-brasileiros na diáspora africana;
I -os conhecimentos tradicionais, a oralidade, a ances- IV promover o fortalecimento da identidade étni-
tralidade, a estética, as formas de trabalho, as tecnologias e co-racial, da história e cultura afro-brasileira e africana
a história de cada comunidade quilombola; ressignificada, recriada e reterritorializada nos territórios
II -as formas por meio das quais as comunidades quilombolas;
quilombolas vivenciam os seus processos educativos co- V -garantir as discussões sobre a identidade, a cultu-
tidianos em articulação com os conhecimentos escolares ra e a linguagem, como importantes eixos norteadores do
e demais conhecimentos produzidos pela sociedade mais currículo;
ampla. VI considerar a liberdade religiosa como princípio jurí-
§ 3º A questão da territorialidade, associada ao et- dico, pedagógico e político atuando de forma a:
nodesenvolvimento e à sustentabilidade socioambiental a) superar preconceitos em relação às práticas religio-
sas e culturais das comunidades quilombolas, quer sejam
e cultural das comunidades quilombolas deverá orientar
elas religiões de matriz africana ou não;
todo o processo educativo definido no projeto político-pe-
b) proibir toda e qualquer prática de proselitismo reli-
dagógico.
gioso nas escolas.
Art. 33 O projeto político-pedagógico da Educação Es-
VII respeitar a diversidade sexual, superando práticas
colar Quilombola deve incluir o conhecimento dos proces-
homofóbicas, lesbofóbicas, transfóbicas, machistas e sexis-
sos e hábitos alimentares das comunidades quilombolas
tas nas escolas.
por meio de troca e aprendizagem com os próprios mora-
Art. 36 Na construção dos currículos da Educação Es-
dores e lideranças locais.
colar Quilombola, devem ser consideradas as condições de
escolarização dos estudantes quilombolas em cada etapa e
CAPÍTULO I modalidade de ensino; as condições de trabalho do profes-
DOS CURRÍCULOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA NA sor; os espaços e tempos da escola e de outras instituições
EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA educativas da comunidade e fora dela, tais como museus,
centros culturais, laboratórios de ciências e de informática.
Art. 34 O currículo da Educação Escolar Quilombola diz Art. 37 O currículo na Educação Escolar Quilombola
respeito aos modos de organização dos tempos e espaços pode ser organizado por eixos temáticos, projetos de pes-
escolares de suas atividades pedagógicas, das interações quisa, eixos geradores ou matrizes conceituais, em que os
do ambiente educacional com a sociedade, das relações de conteúdos das diversas disciplinas podem ser trabalhados
poder presentes no fazer educativo e nas formas de con- numa perspectiva interdisciplinar.
ceber e construir conhecimentos escolares, constituindo Art. 38 A organização curricular da Educação Escolar
parte importante dos processos sociopolíticos e culturais Quilombola deverá se pautar em ações e práticas político
de construção de identidades. -pedagógicas que visem:
§ 1º Os currículos da Educação Básica na Educação Es- I -o conhecimento das especificidades das escolas qui-
colar Quilombola devem ser construídos a partir dos valo- lombolas e das escolas que atendem estudantes oriundos
res e interesses das comunidades quilombolas em relação dos territórios quilombolas quanto à sua história e às suas
aos seus projetos de sociedade e de escola, definidos nos formas de organização;
projetos político-pedagógicos. II -a flexibilidade na organização curricular, no que se
§ 2º O currículo deve considerar, na sua organização e refere à articulação entre a base nacional comum e a parte
prática, os contextos socioculturais, regionais e territoriais diversificada, a fim de garantir a indissociabilidade entre
das comunidades quilombolas em seus projetos de Educa- o conhecimento escolar e os conhecimentos tradicionais
ção Escolar Quilombola. produzidos pelas comunidades quilombolas;

71
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

III -a duração mínima anual de 200 (duzentos) dias le- Art. 40 O processo de gestão desenvolvido na Educa-
tivos, perfazendo, no mínimo, 800 (oitocentas) horas, res- ção Escolar Quilombola deverá se articular à matriz curricu-
peitando-se a flexibilidade do calendário das escolas, o lar e ao projeto político-pedagógico, considerando:
qual poderá ser organizado independente do ano civil, de I -os aspectos normativos nacionais, estaduais e mu-
acordo com as atividades produtivas e socioculturais das nicipais;
comunidades quilombolas; II -a jornada e o trabalho dos profissionais da educa-
IV -a interdisciplinaridade econtextualização na arti- ção;
culação entre os diferentes campos do conhecimento, por III -a organização do tempo e do espaço escolar;
meio do diálogo entre disciplinas diversas e do estudo e IV -a articulação com o universo sociocultural quilom-
pesquisa de temas da realidade dos estudantes e de suas bola.
comunidades;
V -a adequação das metodologias didático-pedagó- CAPÍTULO III
gicas às características dos educandos, em atenção aos DA AVALIAÇÃO
modos próprios de socialização dos conhecimentos pro-
duzidos e construídos pelas comunidades quilombolas ao Art. 41 A avaliação, entendida como um dos elemen-
longo da história; tos que compõem o processo de ensino e aprendizagem, é
VI -a elaboração e uso de materiais didáticos e de uma estratégia didática que deve:
apoio pedagógico próprios, com conteúdos culturais, so- I -ter seus fundamentos e procedimentos definidos no
ciais, políticos e identitários específicos das comunidades projeto político-pedagógico;
quilombolas; II -articular-se à proposta curricular, às metodologias,
VII a inclusão das comemorações nacionais e locais no ao modelo de planejamento e gestão, à formação inicial e
calendário escolar, consultadas as comunidades quilom- continuada dos docentes e demais profissionais da educa-
bolas no colegiado, em reuniões e assembleias escolares, ção, bem como ao regimento escolar;
bem como os estudantes no grêmio estudantil e em sala III -garantir o direito do estudante a ter considerado e
de aula, a fim de, pedagogicamente, compreender e orga- respeitado os seus processos próprios de aprendizagem.
nizar o que é considerado mais marcante a ponto de ser Art. 42 A avaliação do processo de ensino e aprendi-
rememorado e comemorado pela escola; zagem na Educação Escolar Quilombola deve considerar:
VIII -a realização de discussão pedagógica com os es- I -os aspectos qualitativos, diagnósticos, processuais,
tudantes sobre o sentido e o significado das comemora- formativos, dialógicose participativos do processo educa-
ções da comunidade; cional;
IX -a realização de práticas pedagógicas voltadas para II -o direito de aprender dos estudantes quilombolas;
as crianças da Educação Infantil, pautadas no educar e no III -as experiências de vida e as características históri-
cuidar; cas, políticas, econômicas e socioculturais das comunida-
X -o Atendimento Educacional Especializado, comple- des quilombolas;
mentar ou suplementar à formação dos estudantes qui- IV -os valores, as dimensões cognitiva, afetiva, emo-
lombolas com deficiência, transtornos globais do desen- cional, lúdica, de desenvolvimento físico e motor, dentre
volvimento e com altas habilidades e superdotação. outros.
Art. 43 Na Educação Infantil, a avaliação far-se-á me-
CAPÍTULO II diante acompanhamento e registro do seu desenvolvimen-
DA GESTÃO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA to, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao
Ensino Fundamental.16
Art. 39 A Educação Escolar Quilombola deve atender Art. 44 A Educação Escolar Quilombola desenvolverá
aos princípios constitucionais da gestão democrática que práticas de avaliação que possibilitem o aprimoramento
se aplicam a todo o sistema de ensino brasileiro e deverá das ações pedagógicas, dos projetos educativos, da rela-
ser realizada em diálogo, parceria e consulta às comunida- ção com a comunidade, da relação professor/estudante e
des quilombolas por ela atendidas. da gestão.
§ 1º Faz-se imprescindível o diálogo entre a gestão da Art. 45 Os Conselhos de Educação devem participar da
escola, a coordenação pedagógica e organizações do mo- definição dos parâmetros de avaliação interna e externa
vimento quilombola nos níveis local, regional e nacional, a que atendam às especificidades das comunidades quilom-
fim de que a gestão possa considerar os aspectos históri- bolas garantindo-lhes:
cos, políticos, sociais, culturais e econômicos do universo I -a consideração de suas estruturas sociais, suas práti-
sociocultural quilombola no qual a escola está inserida. cas socioculturais e suas atividades econômicas;
§ 2º A gestão das escolas quilombolas deverá ser reali- II -as suas formas de produção de conhecimento e pro-
zada, preferencialmente, por quilombolas. cessos e métodos próprios de ensino-aprendizagem.
§ 3º Os sistemas de ensino, em regime de colabora- Art. 46 A inserção da Educação Escolar Quilombola nos
ção, estabelecerão convênios e parcerias com instituições processos de avaliação institucional das redes da Educação
de Educação Superior para a realização de processos de Básica deve estarcondicionada às especificidades das co-
formação continuada e em serviço de gestores em atuação munidades quilombolas.
na Educação Escolar Quilombola.

72
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

CAPÍTULO IV g) a realização de estágio curricular em articulação com


DA FORMAÇÃO INICIAL, CONTINUADA E PROFIS- a realidade da Educação Escolar Quilombola;
SIONALIZAÇÃO DOS PROFESSORES PARA ATUAÇÃO h) as demais questões de ordem sociocultural, artísti-
NA EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA ca e pedagógica da sociedade e da educação brasileira de
acordo com a proposta curricular da instituição.
Art. 47 A admissão de profissionais do magistério para Art. 51 Nos cursos de formação inicial da Educação Es-
atuação na Educação Escolar Quilombola nas redes públi- colar Quilombola deverão ser criados espaços, condições
cas deve dar-se mediante concurso público, nos termos do de estudo, pesquisa e discussões sobre:
art. 37, inciso II, da Constituição Federal.
I -as lutas quilombolas ao longo da história;
Parágrafo Único As provas e títulos podem valorizar
II -o papel dos quilombos nos processos de libertação
conhecimentos profissionais e técnicos exigidos para a
atuação na Educação Escolar Quilombola, observando a e no contexto atual da sociedade brasileira;
natureza e a complexidade do cargo ou emprego. III -as ações afirmativas;
Art. 48 A Educação Escolar Quilombola deverá ser con- IV -o estudo sobre a articulação entre os conhecimen-
duzida, preferencialmente, por professores pertencentes às tos científicos e os conhecimentos tradicionais produzidos
comunidades quilombolas. pelas comunidades quilombolas ao longo do seu processo
Art. 49 Os sistemas de ensino, no âmbito da Política histórico, sociocultural, político e econômico;
Nacional de Formação de Professores da Educação Bási- IV -as formas de superação do racismo, da discrimina-
ca, deverão estimular a criação e implementar programas ção e do preconceito raciais, nos termos da Lei nº 9.394/96,
de formação inicial de professores em licenciatura para na redação dada pela Lei nº10.639/2003, e da Resolução
atuação em escolas quilombolas e escolas que atendem CNE/CP nº 1/2004.
estudantesoriundos de territórios quilombolas ou ainda Art. 52 Os sistemas de ensino podem, em articulação
em cursos de magistério de nível médio na modalidade com as instituições de Educação Superior, firmar convênios
normal, de acordo com a necessidade das comunidades para a realização de estágios curriculares de estudantes dos
quilombolas. cursos de licenciatura para que estes desenvolvam os seus
Art. 50 A formação inicial de professores que atuam na projetos na Educação Escolar Quilombola, sobretudo nas
Educação Escolar Quilombola deverá: áreas rurais, em apoio aos docentes em efetivo exercício.
I-ser ofertada em cursos de licenciatura aos docentes
§ 1º Os estagiários que atuarão na Educação Escolar
que atuam em escolas quilombolas e em escolas que aten-
Quilombola serão supervisionados por professor designa-
dem estudantes oriundos de territórios quilombolas;
do pela instituição de Educação Superior e acompanhados
II -quando for o caso, também ser ofertada em serviço,
concomitante com o efetivo exercício do magistério; por docentes em efetivo exercício profissional nas escolas
III -propiciar a participação dos graduandos ou norma- quilombolas e nas escolas que atendem estudantes oriun-
listas na elaboração, desenvolvimento e avaliação dos cur- dos de territórios quilombolas;
rículos e programas, considerando o contexto sociocultural § 2º As instituições de Educação Superior deverão as-
e histórico das comunidades quilombolas; segurar aos estagiários, em parceria com o poder público,
IV -garantir a produção de materiais didáticos e de condições de transporte, deslocamento e alojamento, bem
apoio pedagógico específicos, de acordo com a realidade como todas as medidas de segurança para a realização do
quilombola em diálogo com a sociedade mais ampla; seu estágio curricular na Educação Escolar Quilombola.
V -garantir a utilização de metodologias e estratégias Art. 53 A formação continuada de professores que
adequadas de ensino no currículo que visem à pesquisa, à atuam na Educação Escolar Quilombola deverá:
inserção e à articulação entre os conhecimentos científicos I -ser assegurada pelos sistemas de ensino e suas ins-
e os conhecimentos tradicionais produzidos pelas comuni- tituições formadoras e compreendida como componente
dades quilombolas em seus contextos sócio-histórico-cul- primordial da profissionalização docente e estratégia de
turais; continuidade do processo formativo, articulada à realida-
VI -ter como eixos norteadores do currículo: de das comunidades quilombolas e à formação inicial dos
a) os conteúdos gerais sobre a educação, política edu-
seus professores;
cacional, gestão, currículo e avaliação;
II -ser realizada por meio de cursos presenciais ou a
b) os fundamentos históricos, sociológicos, sociolin-
distância, por meio de atividades formativas e cursos de
guísticos, antropológicos, políticos, econômicos, filosóficos
e artísticos da educação; atualização, aperfeiçoamento, especialização, bem como
c) o estudo das metodologias e dos processos de en- programas de mestrado ou doutorado;
sino-aprendizagem; III -realizar cursos e atividades formativas criadas e de-
d) os conteúdos curriculares da base nacional comum; senvolvidas pelas instituições públicas de educação, cultura
e) o estudo do trabalho como princípio educativo; e pesquisa, em consonância com os projetos das escolas e
f) o estudo da memória, da ancestralidade, da orali- dos sistemas de ensino;
dade, da corporeidade, da estética e do etnodesenvolvi- IV -ter atendidas as necessidades de formação con-
mento, entendidos como conhecimentos e parte da cos- tinuada dos professores pelos sistemas de ensino, pelos
movisão produzidos pelos quilombolas ao longo do seu seus órgãos próprios e instituições formadoras de pesquisa
processo histórico, político, econômico e sociocultural; e cultura, em regime de colaboração.

73
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Art. 54 Os cursos destinados à formação continuada na d) estimular a criação e implementar, em colaboração


Educação Escolar Quilombola deverão atender ao disposto com os sistemas de ensino e em parceria com as institui-
no art. 51 desta Resolução. ções de Educação Superior, programas de formação inicial
Art. 55 A profissionalização de professores que atuam na e continuada de professores para atuação na Educação Es-
Educação Escolar Quilombola será realizada, além da forma- colar Quilombola;
ção inicial e continuada, por meio das seguintes ações: e) acompanhar e avaliar o desenvolvimento de ações
I -reconhecimento e valorização da carreira do magisté- na área da formação inicial e continuada de professores
rio mediante acesso por concurso público; para atuação na Educação Escolar Quilombola;
II -garantia das condições de remuneração compatível f) promover a elaboração e publicação sistemática de
com sua formação e isonomia salarial; material didático ede apoio pedagógico específico, em
III -garantia de condições dignas e justas de trabalho e parceria com as instituições de Educação Superior, destina-
de jornada de trabalho nos termos da Lei. do à Educação Escolar Quilombola;
§ 1º Os docentes que atuam na Educação Escolar Qui- g) realizar, em colaboração com os Estados, o Distrito
lombola, quando necessário, deverão ter condições adequa- Federal e os Municípios, as Conferências Nacionais de Edu-
das de alojamento, alimentação, material didático e de apoio cação Escolar Quilombola;
pedagógico, bem como remuneração prevista na Lei, garan- h) aprofundar a discussão específica sobre a Educação
tidos pelos sistemas de ensino. Escolar Quilombola nas Conferências Nacionais de Educa-
§ 2º Os sistemas de ensino podem construir, quando ção.
necessário, mediante regime de colaboração, residência do- II -Compete aos Estados:
cente para os professores que atuam em escolas quilombo- a) garantir a oferta do Ensino Médio no nível estadual,
las localizadas nas áreas rurais, sendo que a distribuição dos levando em consideração a realidade das comunidades
encargos didáticos e da sua carga horária de trabalho deverá quilombolas, priorizando a sua oferta nessas comunidades
levar em consideração essa realidade. e no seu entorno;
Art. 56 Dada a especificidade das comunidades quilom- b) ofertar e executar a Educação Escolar Quilombola
bolas rurais e urbanas do país, estas Diretrizes orientam os diretamente ou por meio de regime de colaboração com
sistemas de ensino, em regime de colaboração, e em parceria seus Municípios;
com instituições de Educação Superior a desenvolver uma c) estruturar, nas Secretarias de Educação, instâncias
política nacional de formação de professores quilombolas. administrativas de Educação Escolar Quilombola com a
participação de quilombolas e de profissionais especiali-
TÍTULO VIII zados nas questões quilombolas, destinando-lhes recursos
DA AÇÃO COLABORATIVA PARA A GARANTIA DA financeiros específicos para a execução dos programas de
EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA Educação Escolar Quilombola;
CAPÍTULO I d) criar e regularizar as escolas em comunidades qui-
Competências dos sistemas de ensino no regime de lombolas como unidades do sistema estadual e, quando
colaboração for o caso, do sistema municipal de ensino;
e) prover as escolas quilombolas e escolas que aten-
Art. 57 As políticas de Educação Escolar Quilombola se- dem estudantes oriundos dos territórios quilombolas de
rão efetivadas por meio da articulação entre os diferentes recursos financeiros, técnico-pedagógicos e materiais, vi-
sistemas de ensino, definindo-se, no âmbito do regime de sando o pleno atendimento da Educação Básica;
colaboração, suas competências e corresponsabilidades. f) promover a formação inicial e continuada de profes-
§ 1º Quando necessário, os territórios quilombolas po- sores quilombolas, em regime de cooperação com a União,
derão se organizar mediante Arranjos de Desenvolvimento o Distrito Federal e os Municípios;
da Educação, nos termos da Resolução CEB/CNE nº 1/2012. g) realizar Conferências Estaduais de Educação Esco-
§ 2º Municípios nos quais estejam situados territórios quilom- lar Quilombola, em regime de colaboração com a União, o
bolas poderão, em colaboração com Estados e União, se organizar, Distrito Federal e os Municípios;
visando à oferta de Educação Escolar Quilombola, mediante con- h) implementar Diretrizes Curriculares estaduais para
sórcios públicos intermunicipais, conforme a Lei nº 11.107/2005. a Educação Escolar Quilombola, em diálogo com as comu-
Art. 58 Nos termos do regime de colaboração, definido nidades quilombolas, suas lideranças e demais órgãos que
no art. 211 da Constituição Federal e no artigo8º da LDB: atuam diretamente com a educação dessas comunidades;
I -Compete a União: i) promover a elaboração e publicação sistemática de
a) legislar e definir diretrizes e políticas nacionais para a material didático e de apoio pedagógico e específico para
Educação Escolar Quilombola; uso nas escolas quilombolas e escolas que atendem estu-
b) coordenar a política nacional em articulação com os dantes oriundos dos territórios quilombolas.
sistemas de ensino, induzindo a criação de programas es- § 1º As atribuições dos Estados na oferta da Educação
pecíficos e integrados de ensino e pesquisa voltados para a Escolar Quilombola poderão ser realizadas por meio de re-
Educação Escolar Quilombola, com a participação das lide- gime de colaboração com os Municípios, desde que estes
ranças quilombolas em seu acompanhamento e avaliação; tenham se constituído em sistemas de educação próprios
c) apoiar técnica, pedagógica e financeiramente os sis- e disponham de condições técnicas, pedagógicas e finan-
temas de ensino na oferta de educação nacional e, dentro ceiras adequadas, e consultadas as comunidades quilom-
desta, de Educação Escolar Quilombola; bolas.

74
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

III -Compete aos Municípios: TÍTULO IX


a) garantir a oferta da Educação Infantil e do Ensino DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Fundamental no nível municipal, levando em consideração
a realidade das comunidades quilombolas, priorizando a Art. 59 É responsabilidade do Estado cumprir a Edu-
sua oferta nessas comunidades e no seu entorno; cação Escolar Quilombola tal como previsto no art. 208 da
b) ofertar e executar a Educação Escolar Quilombola Constituição Federal.
diretamente ou por meio do regime de colaboração com Art. 60 As instituições de Educação Superior poderão
os Estados; realizar projetos de extensão universitária voltados para a
c) estruturar, nas Secretarias de Educação, instâncias Educação Escolar Quilombola, em articulação com as di-
administrativas de Educação Escolar Quilombola com a versas áreas do conhecimento e com as comunidades qui-
participação de quilombolas e de profissionais especiali- lombolas.
zados nas questões quilombolas, destinando-lhes recursos Art. 61 Recomenda-se que os Entes Federados (União,
financeiros específicos para a execução das ações voltadas Estados, Distrito Federal e Municípios) trabalhem no senti-
para a Educação Escolar Quilombola; do de articular as ações de diferentes setores que garan-
d) prover as escolas quilombolas e as escolas que aten- tam o direito às comunidades quilombolas à educação, à
dem estudantes oriundos dos territórios quilombolas de cultura, à ancestralidade, à memória e ao desenvolvimento
recursos financeiros, técnicos, materiais e humanos visan- sustentável, especialmente os Municípios, dada a sua con-
do, o pleno atendimento da Educação Básica; dição de estarem mais próximos dos locais em que residem
f) implementar Diretrizes Curriculares municipais para as populações quilombolas rurais e urbanas.
a Educação Escolar Quilombola, em diálogo com as comu- Art. 62 O Ministério da Educação, em cooperação com
nidades quilombolas, suas lideranças e demais órgãos que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, ouvidas as li-
atuam diretamente com a educação dessas comunidades; deranças quilombolas e em parceria com as instituições de
g) realizar Conferências Municipais de Educação Esco- Educação Superior e de Educação Profissional e Tecnológi-
lar Quilombola, em colaboração com os Estados. ca, Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros e grupos correlatos,
§ 2º As atribuições dos Municípios na oferta da Educa- organizações do Movimento Quilombola e do Movimento
ção Escolar Quilombola poderão ser realizadas por meio do Negro deverá instituir o Plano Nacional de Implementação
regime de colaboração com os Estados, consultadas as co- das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Esco-
munidades quilombolas, desde que estes tenham se cons- lar Quilombola.
tituído em sistemas de educação próprios e disponham de Art. 63 O financiamento da Educação Escolar Quilom-
condições técnicas, pedagógicas e financeiras adequadas. bola deve considerar o disposto no art. 10, inciso XV, da Lei
IV -Compete aos Conselhos Estaduais de Educação: nº 11.494/2007 (FUNDEB), o qual dispõe que a distribuição
a) estabelecer critérios específicos para criação e re- proporcional de recursos dos Fundos levará em conta a
gularização das escolas de Ensino Fundamental, de Ensi- Educação do Campo, a Educação Escolar Indígena e Qui-
no Médio e de Educação Profissional na Educação Escolar lombola dentre as diferentes etapas, modalidades e tipos
Quilombola; de estabelecimento de ensino da Educação Básica.
b) autorizar o funcionamento e reconhecimento das Art. 64 Esta Resolução entra em vigor na data de sua
escolas de Ensino Fundamental, de Ensino Médio e de Edu- publicação.
cação Profissional em comunidades quilombolas;
c) regularizara vida escolar dos estudantes quilombo-
las, quando for o caso;
d) elaborar Diretrizes Curriculares estaduais para a
Educação Escolar Quilombola em diálogo com as comu-
nidades quilombolas, suas lideranças e demais órgãos que
atuam diretamente com a educação nessas comunidades.
V -compete aos Conselhos Municipais de Educação:
a) estabelecer critérios específicos para a criação e a re-
gularização da Educação Infantil e do Ensino Fundamental
na Educação Escolar Quilombola, com a participação das
lideranças quilombolas;
b) autorizar o funcionamento e reconhecimento das
escolas de Educação Infantil e de Ensino Fundamental em
comunidades quilombolas;
c) regularizar a vida escolar dos estudantes quilombo-
las, quando for o caso;
d) elaborar Diretrizes Curriculares municipais para a
Educação Escolar Quilombola, em diálogo com as comu-
nidades quilombolas, suas lideranças, e demais órgãos que
atuam diretamente com a educação nessas comunidades.

75
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

O desenvolvimento intelectual do aluno com deficiência deve


ser objeto de preocupação constante do professor. A inteligência
COLEÇÃO EDUCAÇÃO ESPECIAL NA deve ser estimulada e educada para que ele possa evoluir. E o
PERSPECTIVA DA INCLUSÃO ESCOLAR, aluno que apresenta deficiência intelectual não escapa à regra.
FASCÍCULO 2 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL MEC; Mesmo o aluno que apresenta uma necessidade de apoio impor-
tante ou intenso, pode tirar proveito de intervenções educativas
destinadas a favorecer ou estimular o desenvolvimento de suas
estruturas intelectuais. Os exemplos, neste sentido, são numerosos
na literatura científica. Diante dessa realidade, é inadmissível que
1. A PEDAGOGIA DA NEGAÇÃO a Pedagogia da negação continue a fazer adeptos entre os pro-
Alguns professores privilegiam o caminho das aprendizagens fessores que têm a responsabilidade pela educação dos alunos.
mecânicas quando atuam junto aos alunos que apresentam de- Um exemplo de atividades inadequadas é quando o professor
ficiência intelectual. Ao invés de apelar para situações de apren- impõe aos alunos longos exercícios de multiplicação com ajuda
dizagem que tenham raízes nas experiências vividas pelo aluno, de tabuadas sem que tenham construído o sentido da multipli-
atividades essas capazes de mobilizar seu raciocínio, propõem cação. Os alunos podem dar respostas corretas apoiados apenas
atividades baseadas na repetição e na memória. Frequentemente, na tabuada, de forma mecânica, copiando resultados, sem com-
essas atividades são desprovidas de sentido para os alunos. Esses preender o sentido da operação.
professores privilegiam o caminho das aprendizagens mecânicas Nem todos os alunos que apresentam deficiência intelectual
sob o pretexto de que os alunos os quais apresentam deficiência chegam a assimilar as
intelectual manifestam numerosas dificuldades nos processos de operações de multiplicação e de divisão e a compreender o
aprendizagem que eles agem pouco no mundo no qual evoluem sentido destas. Este professor seria mais bem sucedido em sua
e enfim, sob o pretexto de que os alunos antecipam o fracasso e ação pedagógica, se tivesse como objetivo o desenvolvimento
não se apóiam sobre seus conhecimentos quando estão em situa- lógico-matemático de seus alunos, se propusesse atividades de
ção de aprendizagem ou de resolução de problemas. aprendizagem próximas aos interesses deles com base nas expe-
Agindo desta maneira, tais professores se comportam como riências vivenciadas por eles. Deste modo, o professor, provavel-
se não reconhecessem no aluno que apresenta deficiência inte- mente, teria contribuído mais para o desenvolvimento dos alunos
lectual um sujeito capaz de crescimento e de afirmação. Seu e permitido a eles aprendizagens mais significativas. A qualidade
acompanhamento pedagógico parece respaldado por uma con- da vida social e profissional das pessoas que apresentam defi-
cepção de aluno que se apóia sobre a idéia de insuficiência ou ciência intelectual repousa em boa parte sobre bases que são o
de lacuna, mesmo de falta no que diz respeito ao raciocínio. Os desenvolvimento intelectual e as aprendizagens significativas que
professores não reconhecem nesse aluno capacidades cognitivas teve na escola e fora dela.
as quais convém mobilizar para favorecer a melhor interação com Quando o professor percebe a capacidade de o aluno apren-
der, ele empreende ações
o meio onde ele vive. Consequentemente, eles negam um as-
que possibilitam essa aprendizagem.
pecto absolutamente fundamental do desenvolvimento humano,
a saber, o intelectual. Em suma, eles se fecham em uma pedago-
2. O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA
gia da negação. Uma pedagogia que não reconhece o potencial
O ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
dos alunos, sobretudo daqueles que apresentam deficiência in-
telectual e que, consequentemente, causa prejuízos para as
O trabalho do professor de atendimento educacional especia-
suas aprendizagens e autodeterminação.
lizado voltado para o aluno com deficiência intelectual se carac-
A Pedagogia da negação encontra sua fonte na superprote-
teriza essencialmente pela realização de ações específicas sobre os
ção, que é um parente próximo da rejeição. A superproteção de mecanismos de aprendizagem e desenvolvimento desses alunos.
um professor em relação a um aluno que apresenta deficiência O AEE se realiza essencialmente na sala de recursos multifun-
intelectual pode se manifestar de várias maneiras. Por exemplo, cionais.
quando o professor propõe frequentemente atividades que não O professor do atendimento educacional especializado deve
provocam dificuldades verdadeiras para o aluno, com medo que propor atividades que contribuam para a aprendizagem de con-
ele perca a motivação para aprender ou com receio que ele não ceitos, além de propor situações vivenciais que possibilitem esse
seja capaz de realizar a atividade. Quando aprova o trabalho do aluno organizar o seu pensamento. Esse atendimento deve se fun-
aluno sem que o aluno tenha demonstrado um esforço para a damentar em situações-problema, que exijam que o aluno utilize
realização dele. Quando resolve o problema no lugar do aluno, seu raciocínio para a resolução de um determinado problema.
logo que ele apresenta dificuldades. Quando o professor não de- Para desenvolver o AEE, é imprescindível que o professor co-
safia o aluno, provocando dúvida, contrapondo idéias. Quando nheça seu aluno e suas particularidades para além da sua condi-
o professor coloca na mochila do aluno o material necessário ção cognitiva. O trabalho do professor do AEE é ajudar o aluno
para os deveres e para as lições de casa ou quando resolve a tarefa com deficiência intelectual a atuar no ambiente escolar e fora dele,
para o aluno, ele está atuando sob o princípio da pedagogia da considerando as suas especificidades cognitivas. Especificidades
negação. É importante considerar que uma das grandes respon- que dizem respeito principalmente à relação que ele estabelece
sabilidades do professor de sala de aula, bem como do professor com o conhecimento que promove sua autonomia intelectual.
do AEE, consiste no desenvolvimento intelectual e da autonomia
do seu aluno.

76
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO NA A avaliação realizada na sala de recursos multifuncionais, na


SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS sala de aula e na família visa recolher informações sobre o aluno
considerando seis aspectos principais: desenvolvimento intelec-
É função do professor do AEE organizar situações que favo- tual e funcionamento cognitivo; a expressão oral; o meio ambiente;
reçam o desenvolvimento do aluno com deficiência intelectual e as aprendizagens escolares; o desenvolvimento afetivo-social e
que estimulem o desenvolvimento cognitivo e da aprendizagem. as interações sociais; os comportamentos e atitudes em situação
É também seu papel produzir materiais didáticos e pedagógicos, de aprendizagem e o desenvolvimento psicomotor.
tendo em vista as necessidades específicas desses alunos na sala A partir das informações obtidas nos três ambientes de
de aula do ensino regular. Esse trabalho deve se realizar focali- avaliação, o professor do AEE
zando as atitudes do aluno diante da aprendizagem e propiciar o constrói o perfil do aluno, bem como identifica a natureza do
desenvolvimento de ferramentas intelectuais que facilitarão sua problema que mobilizou o encaminhamento desse aluno para a
interação escolar e social. sala de recurso multifuncional.
No trabalho do AEE, o professor exerce um papel importante
na construção do conhecimento do aluno. O aluno com deficiên- 2.3.1 A AVALIAÇÃO NA SALA DE RECURSOS MULTIFUN-
cia intelectual constrói conhecimentos exercitando sua atividade CIONAIS
cognitiva que é estimulada pela intervenção intencional desse
professor. Na sala de recursos multifuncionais, o aluno com deficiência
O trabalho do professor de AEE consiste na gestão dos pro- intelectual poderá ser avaliado em função dos aspectos motores,
cessos de aprendizagem, na avaliação desse processo e em seu do desenvolvimento da expressão oral e escrita, do raciocínio lógi-
acompanhamento. co matemático, do funcionamento cognitivo, da afetividade (com-
portamento e interação) e da relação que o aluno estabelece com
2.2 GESTÃO DOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM o saber. Esta avaliação deve ser realizada preferencialmente atra-
A gestão dos processos de aprendizagem consiste na orga- vés de situações lúdicas, as quais devem permitir a livre expressão
nização de situações de aprendizagem nos espaços das salas de do aluno.
recurso multifuncional, bem como na interlocução com o profes- O professor do AEE acolhe a queixa trazida pela família ou pelo
sor do ensino comum. A ação do professor na sala de recurso mul- professor do aluno a respeito das dificuldades enfrentadas por este
tifuncional deve centrar-se na atenção aos aspectos que podem no contexto escolar. Como já referido anteriormente, ele avalia o
potencializar o desenvolvimento e a aprendizagem do aluno com aluno nos diferentes ambientes nos quais ele está implicado (fa-
deficiência, objetivando também eliminar as barreiras que dificul- mília, escola, sala de recursos multifuncionais). Nesta avaliação, o
tam a aprendizagem desse aluno. Para potencializar o desenvolvi- professor do AEE considera os diferentes aspectos implicados no
mento e a aprendizagem do aluno com deficiência intelectual, o desenvolvimento do aluno, tal como já citado.
professor poderá usar recursos de baixa e alta tecnologia, selecio- Em relação aos aspectos motores, é importante que o profes-
nar e produzir materiais. sor observe se o aluno é capaz de manipular objetos de diferen-
O professor do AEE, ao interagir com o professor do ensino tes texturas, formas e tamanho, se ele é capaz de pegar no lápis
comum, obtém informações sobre a frequência, permanência e para pintar, desenhar, bem como para fazer o traçado das letras.
participação do aluno na sala de aula. No caso do aluno apresentar acentuadas dificuldades motoras
que impeçam o movimento necessário para realizar desenhos ou
2.3 AVALIAÇÃO DOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM E o traçado das letras, o professor deve começar a avaliação utili-
DA INCLUSÃO DO ALUNO NA ESCOLA zando folhas de papel madeira e ir diminuindo gradativamente o
O aluno com deficiência intelectual, como sujeito social, se tamanho do papel até chegar a usar o papel ofício para realizar
beneficia das inúmeras mediações que caracterizam as relações pintura livre ou pintura a dedo dentre outras atividades. O fato de
sociais e interpessoais estabelecidas no espaço escolar, as quais apresentar dificuldade motora não impede o aluno de participar
são marcadas também pelos conflitos e contradições da vida em de atividades de escrita ou de pintura, pois são muitas as possi-
sociedade. bilidades que o aluno pode ter para expressar sua representação
No atendimento educacional especializado, a avaliação se efe- do mundo. O computador se constitui em um recurso importante
tiva através do estudo de caso, que visa a construir um perfil do para expressão do aluno, além de outros recursos que o profes-
aluno que possibilite elaborar o plano de intervenção do AEE. O sor pode lançar mão para permitir a manifestação do conheci-
estudo de caso se faz através de uma metodologia de resolução mento da criança. Estes recursos podem ser utilizados por ocasião
de problema, que identifica a sua natureza e busca uma solução. da avaliação do aluno.
O estudo de caso deve ser efetivado pelo professor do AEE em Para avaliar o desenvolvimento da expressão oral, o professor
colaboração com o professor do ensino comum e com outros pro- deve observar se o aluno compreende determinadas mensagens
fissionais que trabalham com esse aluno no contexto da escola. (recados), se ele é capaz de expressar suas idéias de modo coe-
A avaliação alcança três ambientes principais do aluno: sala rente com o contexto em questão, mesmo quando ele não é capaz
de recursos multifuncionais, sala de aula e família. Na escola, a de falar. Nesse caso, ele pode, por exemplo, expressar sua com-
avaliação deve ocorrer em diferentes ambientes e em diferentes preensão através de desenhos, apontar o material apresentado
momentos. Por exemplo, o professor do AEE deve observar a or- pelo professor e ainda pode realizar movimentos corporais afirma-
ganização e a gestão da sala de aula, o recreio, as brincadeiras, tivos ou negativos. Ainda com relação à expressão oral o professor
as atividades realizadas na biblioteca e no laboratório de infor- deve verificar se o aluno verbaliza de forma clara suas idéias, se
mática. ele faz uso, ao falar, de um vocabulário amplo e diversificado.

77
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Essa avaliação pode ser feita por meio do reconto de uma his- O aprendizado da matemática pode ser uma fonte de desen-
tória, que ele pode registrar pelo desenho ou construção de ma- volvimento intelectual e social muito importante para os alunos
quete, modelagem ou, ainda, pelo jogo simbólico. O aluno poderá que apresentam deficiência intelectual. Para isto, é essencial que
ainda relatar situações vivenciadas, ou ainda usar prancha de co- os aprendizados façam sentido para eles. É preciso que esses alu-
municação ou jogos educativos para expressar seu conhecimento. nos sejam capazes de ver a pertinência dessa aprendizagem em
Todos esses recursos possibilitarão a expressão oral do aluno e situações concretas. Muito frequentemente, o ensino da mate-
oferecerão informações importantes ao professor no sentido de mática para os alunos que apresentam deficiência intelectual apela
compreender sua expressividade verbal e não verbal. unicamente para os aprendizados mecânicos fundamentados na
Na avaliação da aquisição da língua escrita, diferentes ativida- repetição e na memorização.
des podem ser utilizadas com o objetivo de informar ao professor O sentido que o aluno imprime às suas ações e o significado
o conceito que o aluno tem sobre a escrita. Para exemplificar esse que dá aos signos linguísticos e matemáticos que manipula são
procedimento de avaliação, três exemplos serão apresentados: a determinantes para o processo de aprendizagem deles.
atividade de avaliação do nome próprio, a produção espontânea Logo, a intervenção do professor deve ser proposital para que
1 o aluno dê sentido ao que faz e ao que expressa.
e a leitura do texto memorizado . A avaliação do nome próprio
objetiva verificar se o aluno compõe seu nome (que pode ser feito O professor da classe regular é o responsável pelo ensino
com alfabeto móvel) e se atribui importância à sequência e ao da matemática na sala. O professor do AEE não deve substituir o
conjunto das letras que formam seu nome. trabalho daquele professor. Ao professor do AEE, cabe conhecer
o que o aluno sabe em função de suas experiências de vida, in-
Na avaliação desse conhecimento, o professor deverá con- clusive na escola.
siderar se o aluno compõe o nome próprio sem ajuda do pro- Deve ser estabelecido um clima de confiança entre professor
fessor; se ele considera que o seu nome está escrito, mesmo e o aluno para que este último possa manifestar o que conhece a
quando falta alguma das letras que o compõe; se ele considera partir de suas experiências.
que seu nome está escrito quando todas as letras estão visíveis, A avaliação dessas experiências poderá ser realizada pelo pro-
ainda que a ordem das mesmas tenha sido alterada, e, por fim, se fessor do AEE através da proposição de situações-problema con-
ele considera que seu nome está escrito quando todas as letras tidas nessas experiências, cujas resoluções possam implicar a ne-
estão presentes na ordem adequada. As concepções que o alu- cessidade de o aluno levantar hipóteses mediante a mobilização
no apresenta a respeito do seu nome indicam ao professor como de seus conhecimentos prévios. Essa mobilização poderá permitir
que ele identifique e analise uma determinada alternativa de re-
este aluno está interagindo com a escrita do próprio nome, mes-
solução de uma dada situação problema, na perspectiva de gene-
mo quando este ainda não produz esta escrita de modo indepen-
ralizar para outra situação semelhante. Intervenções como estas
dente e convencional.
A avaliação da produção espontânea tem por objetivo verificar são de grande importância para o desenvolvimento intelectual
do aluno e poderão contribuir no seu aproveitamento escolar.
as hipóteses de escrita do aluno. O procedimento consiste, na
Os aspectos sócio-afetivos do aluno que apresenta deficiên-
proposição da escrita de uma lista de palavras de um mesmo
cia intelectual também se constituem foco de atenção do pro-
grupo semântico (lista de animais, de frutas, de brinquedos, dentre
fessor do AEE durante a avaliação. As pessoas que apresentam
outras) pelo aluno. A partir das produções dos alunos (diferentes deficiência intelectual podem ter dificuldade no plano sócio-afe-
representações gráficas) o professor pode identificar o nível de tivo, especialmente no que se refere à construção da imagem
compreensão que o aluno tem do sistema escrito. de si mesmo (SAHUC, 2006). Aspectos como a exclusão social, a
A avaliação com base na leitura de um texto memorizado tem dificuldade em interpretar as atitudes e os comportamentos dos
por objetivos verificar se a criança lê o texto de memória ou se outros em relação a si, a dificuldade de se fazer entender pelos
utiliza outras estratégias para realizar a leitura e ainda serve para outros e enfim, as experiências de fracasso nas diversas situações
verificar se a criança localiza no texto palavras solicitadas pelo da vida quotidiana se constituem fatores suscetíveis de contri-
professor. buir para esta situação. Uma baixa auto-estima pode interferir na
Nessa avaliação, o professor deverá observar: se o aluno lê motivação do aluno que apresenta deficiência intelectual quando
o texto se apoiando na memória, lê o texto utilizando diferentes ele está em situação de aprendizado ou de resolução de proble-
estratégias, indica as palavras solicitadas com apoio na memória mas.
ou lê, convencionalmente, as palavras solicitadas pelo professor. Este modo de funcionamento decorreria de sucessivas expe-
Outras propostas de avaliação da linguagem escrita podem riências de fracasso. Consequentemente, o professor do AEE não
ser efetuadas pelo professor do AEE, não com o intuito de alfa- deve interpretar os comportamentos de busca de informações no
betizar esse aluno, mas com o objetivo de identificar sua evolu- meio externo como sendo a expressão de uma falta de atenção,
ção em leitura, as concepções que esse aluno apresenta sobre o uma vez que o aluno pode simplesmente estar exercendo um
universo da escrita, bem como sua relação com o saber escolar. procedimento visando realizar um aprendizado ou resolver um
A forma como o aluno se relaciona com o saber tem papel problema.
importante em seu processo de aprendizagem. Se este aluno se Além dos aspectos sócio-afetivos relacionados ao desloca-
percebe como sujeito de aprendizagem capaz de contribuir ativa- mento do saber para o outro e de uma história de fracasso qua-
mente com a construção de saberes no interior de seu grupo ele se sempre associada a essa situação (deslocamento do saber), a
certamente terá uma motivação maior na mobilização de seus avaliação do professor de AEE não pode desconhecer vivências
mecanismos de pensamento. A sala de aula comum se constitui culturais desse aluno. Uma fraca assimilação dos costumes e da
espaço privilegiado para essa troca de saberes nas diferentes áreas cultura do próprio meio pode influenciar na construção de um
de conhecimento. pensamento pouco sociabilizado.

78
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

O professor do AEE deve levar em consideração essas carac- 2.4 O ACOMPANHAMENTO


terísticas no momento de intervir junto ao aluno que apresenta O acompanhamento consiste no desenvolvimento de ações
deficiência intelectual. Porém, o professor deverá, sobretudo, que visam ao progresso no desenvolvimento e na aprendizagem
mostrar-se plenamente consciente que é muito mais nos gestos e do aluno, bem como a sua melhor interação no espaço escolar.
nas atitudes que nas palavras que o aluno que apresenta deficiên- Ele visa à transformação, se necessário, dos esquemas de apren-
cia intelectual expressa seus sentimentos. dizagem do aluno, bem como das práticas dos diferentes atores
Outro aspecto importante a ser avaliado na sala de recurso (professores e familiares) que atuam com esse aluno.
multifuncional é a relação que o aluno estabelece com o saber. As características do desenvolvimento e da aprendizagem do
Se ele mantém uma relação positiva ou se, ao contrário, o aluno aluno com deficiência intelectual podem interferir no seu processo
não manifesta nenhuma motivação pelos conteúdos escolares. O de construção do conhecimento. A ação pedagógica voltada para
professor avalia esta dimensão a partir da proposição de ativi- esse aluno deve resultar em opções que indiquem à possibilida-
dades pedagógicas (tais como aquelas acima citadas) nas quais de de reorganizar situações de aprendizagem que favoreçam esse
ele observa o modo como o aluno as realiza. Ele poderá, tam- processo.
bém, considerar esse aspecto a partir das informações oferecidas O acompanhamento implica, necessariamente, na elabora-
ção de um plano de atendimento educacional especializado. Esse
pelo professor do ensino comum.
plano consiste na previsão de atividades que devem ser realizadas
com o aluno na sala de recurso multifuncional. O acompanhamen-
2.3.2 A AVALIAÇÃO NA SALA DE AULA
to prevê a articulação do professor do AEE com outros profissio-
nais que possam dar suporte às necessidades específicas desses
Em sala de aula, o professor do AEE avalia como o aluno se alunos. Prevê, também, a articulação com a família no sentido de
relaciona com o conhecimento, como ele responde às solicitações constrir as condições propícias ao desenvolvimento e aprendiza-
do professor, se ele manifesta atitude de dependência ou autono- gem. O acompanhamento implica na necessidade de avaliação
mia e se é necessário o uso de recursos, equipamentos e mate- permanente da evolução do aluno nos diferentes espaços educa-
riais para acessibilidade ao conhecimento. Ele avalia, também, se cionais e no redimensionamento do plano do AEE.
o aluno apresenta melhor desempenho em atividades individuais,
em pequenos grupos ou em grupos maiores e a forma como ele 2.5 O ACOMPANHAMENTO NA SALA DE RECURSOS MUL-
interage com seus colegas. TIFUNCIONAIS
O professor do AEE deve considerar, em sua avaliação, o modo A função do professor do AEE consiste em propor atividades
como é feita a gestão da sala de aula pelo professor do ensino que permitam eliminar barreiras na aprendizagem e otimizar a
comum: a organização do espaço físico, o tipo de atividade pro- aprendizagem dos alunos e sua inclusão no ensino regular. Essa
posta, se ele utiliza atividades que permitam o aluno se expressar, ação, certamente, terá uma repercussão positiva no desempenho
se ele está atento aos diferentes ritmos e estilos de aprendizagem do aluno na sala de aula comum.
dos alunos. Se ele utiliza estratégias da aprendizagem coopera- O acompanhamento do AEE se organiza a partir de um plano
tiva e como procede em relação aos agrupamentos dos alunos. de atendimento educacional especializado que o professor deve
Essas informações podem ser obtidas em reuniões pedagógicas ou elaborar com base nas informações obtidas sobre o aluno e a pro-
encontros com o professor do ensino regular. blemática vivenciada por ele através do estudo de caso. De posse
de todas as informações sobre o aluno, bem como dos recursos
2.3.3 A AVALIAÇÃO NA FAMÍLIA disponíveis na sala de aula, na escola, na família e na comunidade,
o professor do AEE elabora seu plano.
O professor do AEE poderá obter junto à família informações a Para elaborar o plano, o professor mobiliza os diferentes re-
respeito do aluno, sobre o seu desempenho nas atividades domi- cursos disponíveis (escola, comunidade etc) e faz uma articulação
ciliares, bem como sua relação com o ensino e com os conteúdos com o professor do ensino comum. O professor do AEE prevê um
determinado período para o desenvolvimento do seu plano, ao tér-
escolares.
mino do qual ele fará uma avaliação no sentido de redimensionar
É importante que o professor do AEE compreenda como o
suas ações em relação ao acompanhamento do aluno. O acompa-
aluno se comporta em casa do ponto de vista da comunicação
nhamento é, essencialmente, o desenvolvimento e a avaliação do
e da interação com os familiares, em que situações ele manifesta plano de AEE.
atitudes de autonomia e de dependência e como a família se re- O acompanhamento visa, também, à superação de atitudes
laciona com ele, ou seja, se há manifestação de superproteção ou de dependência que comumente o aluno com deficiência inte-
de abandono. lectual apresenta em situações em que ele é desafiado a resolver
O contato com a família é fundamental, para que se possa uma determinada situação problema. Desse modo, é importante
conhecer o comportamento do aluno no ambiente familiar, quais que o professor do AEE proponha atividades que promovam a
suas preferências, como ele se relaciona com os familiares, o que vinculação do aluno com o êxito, bem como organize situações
gosta de fazer durante os momentos livres e quais as expectativas de aprendizagem a partir dos interesses manifestados pelo aluno
da família em relação ao aluno na escola e fora dela. e escolhas diante das possibilidades existentes. Essa proposta é
Com base nas observações nesses três ambientes, o professor possível na medida em que ocorra a promoção de situações di-
do AEE será capaz de construir um perfil do aluno, identificando versificadas que permitam ao aluno se expressar livremente na sala
as potencialidades e dificuldades dele e dos demais atores envol- de recursos multifuncionais e na sala de aula. A oferta dessas
vidos com esse aluno nestes três ambientes: sala de aula comum, diferentes opções de atividades tem influência no desenvolvimen-
sala de recurso multifuncional e ambiente familiar. to da autonomia e na independência do aluno frente às diferentes
situações de aprendizagem.

79
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

O acompanhamento na sala de recursos multifuncionais visa, As possibilidades de atividades dessa natureza são muitas. O
também, à organização da expressão verbal. Desse modo, é im- que importa, entretanto, é que ao longo dessas atividades o pro-
portante que o professor organize situações que permitam ao fessor esteja presente no desenvolvimento delas, que ele encoraje
aluno estabelecer diferenças entre as características da língua oral o aluno e o apóie no planejamento de seus procedimentos, ques-
e escrita. O professor do AEE deve proporcionar ao aluno o con- tionando sobre as razões de suas ações. O aluno poderá transferir
tato com as mais variadas formas de comunicação, porque esse esses conhecimentos nas atividades de sua rotina.
contato possibilita o entendimento e a ampliação do seu vocabu- Todo o acompanhamento e as atividades aqui propostas al-
lário. Ele deve organizar situações em que o aluno seja provocado mejam desencadear o conflito cognitivo. Mas este só se efetivará
a se expressar oralmente através de descrições de imagens, fotos, mediante o reconhecimento do conflito pelo aluno. Quando, por
recontos orais e relatos de experiências. A capacidade de estabe- exemplo, ele se auto-questiona, ou seja, duvida e entra em contra-
lecer relações entre ações vivenciadas se constitui uma fragilidade dição com o que faz, diz, explica.
do aluno com deficiência intelectual. A oralidade pode possibili- O conflito cognitivo pode emergir da discordância do aluno
tar o desenvolvimento dessa capacidade, permitindo-lhe transitar diante do resultado antecipado de uma ação e daquele por ele
pelo mundo da representação, porque a palavra substitui o mundo observado.
físico dos objetos, ela permite ao sujeito planejar e organizar o Ele pode, também, resultar de uma oposição entre pontos de
pensamento, contribuindo para a compreensão da palavra oral e vista de colegas em uma situação de resolução de problemas.
para a interpretação de significados. A ampliação do vocabulário Os exemplos que acabaram de ser apresentados são ilustra-
possibilita o seu uso de modo compreensivo. ções de intervenções que podem contribuir para o desenvolvi-
A imitação e o jogo simbólico favorecem o desenvolvimento mento da inteligência do aluno.
das estruturas intelectuais em alunos com deficiência intelectual É importante não negligenciar os alunos que apresentam de-
(FIGUEIREDO & POULIN, 2008, p.251). ficiência intelectual no início da escolarização bem como na edu-
O professor do AEE pode propor a realização de jogos que cação infantil.
demandem desafios que implicam o uso de estratégias cognitivas As dificuldades de evocação e de representação das crianças
quando contextualizadas nas experiências e conhecimentos pré- que apresentam deficiência intelectual e a sua limitada represen-
vios do aluno em situações de resolução de problema. tação do mundo, ou seja, de interiorização da realidade pode ter
Na sala de recursos multifuncionais, o professor do AEE deve uma influência negativa sobre a capacidade de significação dessas
realizar ações específicas pelas quais os alunos possam distinguir crianças, isto é, sobre a capacidade de dar sentido às atividades
de natureza intelectual que lhes são propostas e, consequente-
o que é essencial do que é secundário no processo de compreen-
mente, de mobilizar eficientemente seus esquemas cognitivos ou
são de uma história ou de outras situações.
linguísticos.
Por exemplo, diante de uma situação problema vivida por um
A atividade apresentada a seguir é fundamentada na interio-
personagem de uma história em quadrinho solicitar que o aluno
rização da ação e é destinada a favorecer o desenvolvimento das
identifique as causas e consequências da situação vivida pelo per- estruturas intelectuais em crianças que apresentam deficiência in-
sonagem dentro da lógica do aluno. telectual.
O professor pode planejar diferentes situações que possibi- A imitação e o jogo têm um papel muito importante na dife-
litem a livre expressão do aluno na dramatização, na pintura, no renciação entre significantes e significados e, consequentemente,
desenho, na modelagem, na dança, na música, na escrita, no jogo na interiorização da ação. Situações vivenciadas pela criança du-
pedagógico e em outras. rante o dia podem ser utilizadas para que ela reconstitua no pen-
Quaisquer que sejam as possibilidades de expressão utilizadas samento aquilo que viveu. Essa reconstrução é importante para
pelo aluno, o professor dve aceitar a pauta produzida, valorizan- que ela se organize no espaço e no tempo e coor dene as ações
do-a. vividas em nível mental.
O professor do AEE seleciona situações problemas, nas quais É importante ressaltar que as ações do acompanhamento
o aluno possa agir inteligentemente de acordo com a sua lógica expressam o plano de atendimento educacional especializado, o
considerando os fins a que se propõe e os meios que utilizou para qual é elaborado de acordo com a necessidade específica de cada
atingi-la. Esse tipo de procedimento implica a utilização de estraté- aluno.
gia cognitiva que permite melhorar seu funcionamento cognitivo
coordenando meios e fins para realizar a atividade. 2.5.1 O ACOMPANHAMENTO NA SALA DE AULA
Geralmente a pessoa que apresenta deficiência intelectual
não utiliza de maneira espontânea as estratégias cognitivas que O acompanhamento do professor do AEE na sala de aula do
permitam antecipar suas ações. O professor tentará, então, fazer ensino comum se caracteriza por uma interlocução em que o pro-
com que o aluno reconstitua essas ações no plano do pensamento fessor do AEE deve procurar ouvir as dificuldades encontradas por
e organizá-las em função do fim que ele pretende alcançar. Por esse professor para ensinar ao aluno com deficiência intelectual no
exemplo, se ele quer construir uma maquete, deverá reunir os ele- contexto da sala de aula. Quando as dificuldades forem do âmbito
mentos necessários para essa construção. Qualquer situação con- da gestão da classe ou do ensino formal, essas dificuldades devem
creta real e de interesse do aluno pode ajudar na capacidade de ser discutidas pela equipe pedagógica da escola da qual os profes-
sores em questão devem participar.
antecipação.
A participação do aluno na sala de aula regular não deve ser
Em atividade de agrupamentos de imagens e de objetos, o
negligenciada.
aluno deve estabelecer livremente os critérios desse agrupamento É importante considerar que a interação do aluno com seus
e explicitá-los dentro da sua lógica de significação. pares na classe comum fazem

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SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

dele um agente participativo que contribui ativamente para • será necessário o uso de instrumentos ou recursos para
a constituição de um saber compartilhado. O aluno deverá per- auxiliá-lo na sua expressão gráfica?
ceber-se como sujeito que contribui para a construção de sabe- • quais as características de sua escrita, como ele se expressa
res coletivos, retirando disso múltiplas vantagens, inclusive a de graficamente e quais os signos
acessar um papel social valorizado. Oportunizar ao aluno com que ele utiliza para representar a língua escrita?
deficiência intelectual viver integralmente a sua escolarização no • em que situações em sala de aula ele demonstra maior
espaço da sala de aula comum permite que ele se beneficie dessa interesse e se implica na atividade?
convivência. • em que situações em sala de aula ele demonstra maior
Para clarificar as ações do professor do AEE, a seguir apresen- agitação e consequentemente falta de atenção e concentração?
tamos um estudo de caso com o respectivo plano de AEE.
3. ESTUDO DE CASO Na tentativa de responder as questões acima a professora do
AEE entrevistou a professora de Roberto e a responsável pela ins-
3.1 CASO DE ROBERTO tituição na qual ele reside.
Etapa 1 Apresentação do problema Inicialmente, a professora visitou a instituição onde ele mora
com a finalidade de colher informações sobre o comportamento
Roberto apresenta deficiência intelectual e uma leve deformi- de Roberto, bem como sobre as relações com os profissionais da
dade no crânio, provavelmente originada durante o parto. Ele tem instituição e com as crianças com as quais ele convive. Em segui-
13 anos e cursa o quarto ano em uma escola pública. Roberto da, ela entrevistou a professora de sala de aula e foi observar o
vive numa instituição para crianças/adolescentes órfãos. Ele se en- aluno nesse contexto e nas dependências da escola. Finalmente,
contra em estágio inicial (nível pré-silábico) do desenvolvimento ela iniciou o trabalho com o aluno na sala multifuncional para fazer
da linguagem escrita. Nas atividades de leitura e escrita, apresenta uma avaliação da sua linguagem oral e escrita, da motricidade e
comportamento que ora oscila entre um interesse maior e um in- de suas aprendizagens. A seguir, apresentamos todas as principais
teresse menor por tais atividades. Roberto apresenta dificuldade informações coletadas a partir do uso dos procedimentos men-
de concentração, permanecendo um curto espaço de tempo inte- cionados.
ressado pelas atividades.
Em sala de aula, apresenta uma agitação permanente, deslo- Encontro com os profissionais da instituição onde Roberto
cando-se constantemente e muitas vezes fugindo desse ambiente, reside
visto que não se interessa pelas atividades propostas pela pro-
fessora. Depois de inúmeras tentativas com diferentes propostas A professora do AEE realizou uma entrevista com a assistente
de atividades, a professora percebeu que ele compreende melhor social da instituição onde Roberto reside para coletar informa-
as atividades de linguagem escrita em contexto de jogo. Ele ma- ções. A assistente social relatou que ele chegou com poucos dias
nifesta grande interesse por jogos, e apresenta uma sagacidade de vida na instituição. Seu estado de saúde era bastante grave, es-
particular para compreender regras de jogo e delas se beneficiar tava subnutrido e apresentava muita dificuldade para sugar a ma-
para ser o vencedor. madeira. Até a idade de quatro anos, ele dependia dos funcioná-
Do ponto de vista motor, ele apresenta dificuldade em sua rios para alimentar-se, porque tinha muitas dificuldades para levar
marcha e, ao andar, arrasta os pés sem flexionar os joelhos. Na a colher até a boca. Ela descreveu a infância de Roberto como um
motricidade fina, apresenta dificuldades gráficas no traçado das período alternado por muitos problemas de saúde e de compor-
letras e no desenho. Na escrita do nome próprio ele faz tentativas tamento. Era uma criança agitada e, ao mesmo tempo, retraída e
de copiar seu nome. que chorava muito. Com o passar do tempo, Roberto tornou-se um
Roberto apresenta uma linguagem oral bem articulada, e cer- jovem mais sociável. Atualmente possui muitos amigos e conside-
ta facilidade em se expressar e compreender o que lhe é solicita- ra dois deles como irmãos. A assistente social, apesar de conside-
do. Ele se relaciona bem com os colegas e com a professora e é rar Roberto um adolescente inquieto, observa que ele manifesta
bastante ligado a dois colegas da turma, os quais ele diz que são interesse particular por jogos, mantendo-se por longos períodos
seus irmãos. Os dois garotos residem na mesma instituição em que concentrado quando está em situação de jogo com os amigos da
Roberto. instituição. A convivência de Roberto com alguns profissionais da
instituição não é muito tranquila, porque frequentemente eles se
Etapa 2 Esclarecimento do problema queixam de sua inquietação e comportamento agitado. Quando
solicitado a cooperar com as atividades domésticas, Roberto de-
Para estudar o caso de Roberto, é necessário que o professor monstra insatisfação e se nega a realizá-las.
do AEE identifique diversos aspectos relacionados ao seu desen- Em relação à vida escolar, até a idade de nove anos, ele fre-
volvimento e aprendizagem que podem ou não explicar a natureza quentou uma classe especial. De acordo com as declarações da
do problema. Esta etapa consiste na escuta da queixa trazida pela assistente social, durante o período em que ele estudava na
família ou pela professora, com a finalidade de identificar os as- classe especial, foi observada significativa regressão em seu com-
pectos das dificuldades ou potencialidades manifestadas por Ro- portamento. Ele passou a apresentar reações infantilizadas, reque-
berto. No caso em questão, é importante esclarecer os seguintes rendo cuidados especiais em muitas atividades da vida diária. Ele
aspectos: nunca frequentou qualquer atendimento clínico ou educacional e
• quais as potencialidades de Roberto para aprendizagem e permaneceu na classe especial até a idade de nove anos, quando
para interação na sala de aula? foi possível sua matrícula em uma sala de aula regular de uma
• qual é a natureza de sua dificuldade motora? escola da rede pública.

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SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Aos dez anos, Roberto ingressou no primeiro ano no ensino Nas atividades de linguagem escrita propostas pela professora
regular e, a cada ano, foi promovido, permanecendo na mesma de sala de aula, quando ele aceita usar o lápis manifesta muita
escola até o terceiro ano. Seus professores não demonstravam dificuldade para efetuar qualquer traçado, ocasionando irritação
preocupação com sua aprendizagem. Eles declaravam que o mais e atitude de desistência pelas atividades dessa natureza.
importante para Roberto era a socialização. Ele não levava tarefas A professora do AEE percebeu que Roberto possui alguns ami-
para casa, e seus livros e cadernos voltavam para casa sem nada gos, e eles aceitam bem sua presença especialmente durante as
escrito. Segundo esta profissional, Roberto não gosta de fazer suas atividades de jogo de regras. Estas acontecem em muitas ocasiões
tarefas da escola, nem manifesta interesse por elas, assumindo nas brincadeiras realizadas no pátio da escola. Nas atividades es-
sempre uma atitude de rejeição, afirmando que não sabe fazê portivas, os colegas não aceitam sua companhia, porque sua difi-
-las. culdade motora compromete o resultado dos jogos, especialmen-
A partir do quarto ano, a mudança de escola possibilitou que te o futebol. Roberto demonstra muita tristeza durante as partidas
ele frequentasse o AEE. de futebol porque sempre fica no lugar de espectador.

Encontro com a professora de Roberto Avaliações na sala de recursos multifuncionais


A professora do AEE realizou diversas avaliações no sentido de
A professora do AEE realizou uma entrevista com a professora investigar a natureza da dificuldade motora, o desinteresse pela
de sala de aula de Roberto com a finalidade de reunir informações linguagem escrita e a agitação em sala de aula. A professora do
sobre sua aprendizagem. Ela relatou que, em sala de aula, Roberto AEE avaliou as concepções de Roberto sobre leitura e escrita, sua
raramente atende suas solicitações relativas à realização das ati- habilidade psicomotora e desenvolvimento da oralidade.
vidades, demonstrando falta de interesse por toda e qualquer A avaliação da leitura e da escrita revelou que Roberto en-
tarefa que envolva leitura e escrita. Nesse aspecto, a professora contra-se no nível pré-silábico. A produção escrita de Roberto
relatou que Roberto encontra-se no nível pré-silábico de aquisi- caracteriza-se pela reprodução de traços que imitam as letras do
ção da escrita. alfabeto. Raramente ele utiliza letras e, quando o faz, limita-se
A professora mencionou que Roberto apresenta um compor- a uma pequena variedade, restringindo-se a algumas letras que
compõem seu nome. Sua intenção de escrita conta mais que as
tamento impulsivo diante de suas solicitações em sala de aula. Ele
diferenças objetivas no resultado, ou seja, o mesmo conjunto de
frequentemente interrompe as tarefas que está fazendo, mesmo
letras produzido por Roberto ganha interpretações diferentes se-
antes de concluí-las. Tem dificuldade de se organizar para iniciar
gundo a sua intenção no momento.
o que lhe é pedido e parece não compreender as orientações
Nas atividades avaliativas de escrita, quando Roberto utiliza
relativas às tarefas.
letras móveis, a professora do AEE verificou que ele usou um re-
Segundo a professora, os problemas motores de Roberto
pertório limitado de letras para compor as palavras, utilizando a
comprometem de modo significativo as atividades de desenho e
mesma pauta de letras para diferentes palavras. O uso de sequência
de escrita, porque ele tem dificuldades de segurar o lápis e apre-
de letras repetidas para palavras diferentes caracteriza sua escrita
senta tremores involuntários na sua mão. através do uso de letras móveis.
A professora relatou ainda que Roberto solicita regularmente Durante a aplicação das atividades avaliativas de linguagem
sua ajuda e a dos demais colegas durante a realização de uma escrita, a professora do AEE observou que Roberto atribui impor-
atividade. É muito inquieto e circula frequentemente na sala de tância à imagem para a interpretação da escrita. Quando a profes-
aula sem objetivo preciso, interferindo na concentração de seus sora do AEE solicitava se era possível ler sem o apoio da imagem,
colegas. Roberto recusavase a ler e justificava que só era possível ler com a
presença da imagem. Em outras situações avaliativas da leitura, a
Observações do aluno em sala de aula e nas dependências professora percebeu que ele identifica algumas letras do alfabeto,
da escola especialmente às do seu nome.
Para avaliar sua motricidade, a professora do AEE propôs ati-
Em sala de aula, Roberto manifesta os comportamentos des- vidades de desenho e de produção de escrita espontânea. Esse
critos pela professora, demonstra muita agitação e não se implica momento foi particularmente difícil para Roberto, que apresen-
nas atividades escolares. Em relação à sua aprendizagem, ele os- tou resistência em sua elaboração. Desse modo, foi necessário
cila quanto ao seu interesse pelas atividades, ora demonstrando que a professora do AEE propusesse atividades de modelagem
envolvimento e em outros momentos não. Seu interesse se con- e pintura livre. Esses recursos possibilitaram sua livre expressão
centra nas situações de jogo. A agitação em sala de aula parece plástica.
ter relação tanto com suas características pessoais quanto com a Na avaliação do desenvolvimento da oralidade, a professora
forma como a professora está organizando a situação de ensino e do AEE constatou que Roberto apresenta coerência na organização
aprendizagem. Na maioria das situações didáticas, a professora das idéias. Sua linguagem é bem articulada, expressiva e apresen-
de Roberto prioriza o ensino para todo o grupo de alunos alter- ta um bom vocabulário.
nando com atividades individuais. As atividades individuais pro- Etapa 3 Identificação da natureza do problema
postas pela professora indicam a falta de preocupação em relação Após a coleta de todas as informações, a professora do AEE
a capacidade de Roberto em atender suas solicitações. Frequen- identificou a situação do aluno e do ambiente com o qual ele
temente ele faz apelos a professora, solicitando sua mediação. interage. Este procedimento permitiu a esta professora constatar
No entanto, a atitude passiva dela diante dos apelos do aluno que Roberto tem problemas relacionados ao seu desenvolvi-
revela sua falta de interesse pelas necessidades de Roberto. mento intelectual. No entanto, ele tem grande sagacidade para

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SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

compreender regras de jogos e delas se beneficiar para ser o Atenção e concentração Jogos educativos diversos Orali-
vencedor. Além disso, apresenta boa capacidade comunicativa, dade Relatos orais, registro oral de passeios, visitas, atividades de
estabelecendo com facilidade diálogo com a professora e com os dramatização e brincadeiras livres que permitam ao aluno exercitar
colegas. O problema de atenção manifestado por Roberto parece sua capacidade criativa e de expressão verbal.
que está relacionado com sua dificuldade de adaptação à sala de Interlocução entre a professora do AEE e a da sala de aula
aula ou, ainda, à dificuldade de escuta ou com a falta de respeito às do ensino comum
regras de convívio no interior da sala. Roberto apresenta, também, Visa a conhecer os efeitos do plano de EE no comportamento
dificuldades de memória de curto prazo. do aluno em sala de aula.
A avaliação dos conceitos matemáticos revelou que Roberto Período do Atendimento
apresenta mais facilidade neste aspecto que na aquisição da lin- O plano será realizado durante seis meses no contra-turno,
guagem escrita. Ele está no início da construção da idéia de núme- na frequência de duas vezes por semana, numa duração de duas
ro e de classificação. horas por encontro.
Em sala de aula, Roberto demonstra atitude de dependência Resultados Esperados
da ajuda externa para resolver o que lhe é proposto como ativi- Como resultado, espera-se que Roberto se reconheça como
dade. Ele demonstra dificuldades de atenção e de concentração uma pessoa capaz de aprender e de se expressar e que ele desen-
durante a realização das tarefas. O fato de não concluir suas ativi- volva cada vez mais sua capacidade comunicativa por meio do uso
dades provoca irritação de sua professora. da oralidade e a produção escrita em diferentes contextos, bem
A saúde de Roberto é bastante frágil, e ele adoece com fre- como que ele supere sua dificuldade de atenção e concentração.
quência. Tem problemas respiratórios e alérgicos e usa remédios Resultados obtidos com o plano de atendimento educacio-
diários para evitar crises de asma. nal especializado
Decorridos cerca de três meses do desenvolvimento do plano
Etapa 4 Resolução do problema de AEE, a escrita espontânea de Roberto continua apresentando as
É possível supor que a natureza do problema de Roberto é de mesmas características citadas na avaliação. Entretanto, ele evoluiu
ordem cognitiva e motora, a primeira gerada pela deficiência inte- na escrita do nome próprio, pois já se verifica uma segmentação
lectual, enquanto a segunda relacionada às sequelas neuromotoras na sua forma de representar esse nome e o uso de sinais mais
que afetaram seu tônus muscular, ocasionando movimentos instá- aproximados de letras convencionais. Na tentativa de copiar seu
veis na preensão do lápis e dificuldades na motricidade ampla. A nome próprio, observa-se que Roberto utiliza sinais gráficos tentan-
qualidade na execução dos movimentos amplos é afetada porque do representar as letras de seu nome, embora essa representação
Roberto apresenta uma hipotonia muscular, aspecto que interfere
não se aproxime ainda de letras convencionais. Observa-se tam-
nas atividades de pular e de correr.
bém, na escrita do nome próprio que o aluno faz uma correspon-
A evolução conceitual do aluno interfere na interpretação que
dência entre as letras do seu nome e a representação que ele faz
ele faz da língua escrita. A dificuldade de manter a atenção du-
do mesmo, assim para cada letra de seu nome há um sinal corres-
rante as solicitações feitas pela professora consiste também um
pondente. Comparando-se diversas produções do nome próprio
problema para a aprendizagem de Roberto. O seu problema de
observa-se uma constância na utilização dos sinais representativos
atenção seletiva afeta sua concentração para realizar as atividades
do seu nome. Roberto começa a utilizar a segmentação e lineari-
propostas na sala de aula.
A quinta e última etapa do estudo de caso consiste na elabo- dade, aproximando-se da escrita convencional.
ração do plano de atendimento educacional especializado. Ao final de seis meses, observa-se nas produções de Roberto a
utilização de maior número de caracteres convencionais se compa-
Etapa 5: O Plano de AEE de Roberto rado com suas produções anteriores, embora com pouca variação
De posse de todas as informações destacadas no item anterior, de caracteres no aspecto qualitativo. A escrita espontânea apresen-
a professora elabora o plano de AEE, contendo os seguintes itens: ta-se segmentada e linear. Roberto já se preocupa em reprodu-
zir as letras convencionais. Comparando-se a produção escrita de
Objetivos Previstos: superação das dificuldades motoras, de Roberto do início do atendimento com aquelas deste momento,
evolução conceitual, de atenção e de concentração. percebe-se uma melhora significativa com relação à utilização das
Atividades do Plano letras, um melhor traçado delas (aspecto psicomotor, coordenação
Para o desenvolvimento da capacidade grafomotora e da motora fina) e também um avanço em sua evolução conceitual da
motricidade ampla Atividades de desenho, pintura e o uso de di- escrita.
ferentes instrumentos como suporte para sua expressão gráfica, No aspecto afetivo, Roberto demonstra grande satisfação e
como, por exemplo, o computador; uso de massa de modelar; a passa a se interessar mais em produzir a escrita e a valorizar muito
construção de maquetes; dentre outras atividades. Deslocamentos mais a sua produção.
em ambientes abertos através da expressão corporal com o uso de Ao longo desse período, foi notória a evolução conceitual de
variados recursos, tais como bolas, arcos, dentre outros. Roberto na leitura e na escrita. As estratégias de leitura utiliza-
das por ele já consideram a importância da pauta escrita para dar
Para desenvolvimento de conceitos sentido ao texto. Após esse período de atendimento ele ainda não
Desenhar, jogo simbólico, dramatização, pintura, música, jogo consolidou seu processo de alfabetização. Com relação à concen-
da memória, associação de imagens e palavras, contato com va- tração, ele mantém grande interesse pelas atividades em contexto
riados gêneros textuais. Todas as atividades devem ser contextua- de jogo e já demonstra melhor atenção e envolvimento nas demais
lizadas e significativas para a criança e devem ser realizadas em atividades.
situações lúdicas.

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SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Sua marcha, a expressão corporal em momentos de livre ex- A Convenção da Guatemala, internalizada à Constituição
pressão permitiu que ele experimentasse suas possibilidades de Brasileira pelo Decreto nª 3.956/2001, no seu artigo 1ª de-
movimento e melhoraram sua postura e forma de andar. fine deficiência como [...] “uma restrição física, mental ou
Em sala de aula, a professora relatou sua melhora quanto à sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a
atenção e à concentração. Nas atividades de linguagem escrita, capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida
Roberto demonstra maior envolvimento e empenho, bem como diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social”.
persistência para concluir o que lhe é solicitado. Ele passou a per- Essa definição ratifica a deficiência como uma situação.
manecer um tempo maior em sala de aula, demonstrando interes- A deficiência mental constitui um impasse para o en-
se e atenção nas atividades propostas pela professora. A agitação sino na escola comum e para a definição do Atendimento
inicial e impulsividade foram substituídas por um tempo maior de- Educacional Especializado, pela complexidade do seu conceito e
dicado às atividades desenvolvidas em parceria com seus colegas pela grande quantidade e variedades de abordagens do
de classe. mesmo.
É importante ressaltar sua capacidade comunicativa, que per- A dificuldade de diagnosticar a deficiência mental tem
mite a ele se relacionar com os colegas. Essa potencialidade foi levado a uma série de revisões do seu conceito. A medida do
elogiada pela professora de sala de aula na promoção das ativida- coeficiente de inteligência (QI), por exemplo, foi utilizada du-
rante muitos anos como parâmetro de definição dos casos.
des em grupo. A realização dessas atividades em grupo possibilitou
O próprio CID 10 (Código Internacional de Doenças, desenvol-
que Roberto contribuísse com seus colegas e se sentisse acolhido
vido pela Organização Mundial de Saúde), ao especificar o
e valorizado pelo seu saber.
Retardo Mental (F70-79), propõe uma definição ainda baseada
no coeficiente de inteligência, classificando-o entre leve,
CONSIDERAÇÕES FINAIS moderado e profundo, conforme o compro-
Algumas escolas ainda não se atentaram para o fato de que metimento. Também inclui vários outros sintomas de mani-
o tipo de pedagogia praticada é um fator determinante na evo- festações dessa deficiência, como: a [...] „dificuldade do
lução dos alunos, especialmente quando se trata de alunos com aprendizado e comprometimento do comportamento, o que
deficiência intelectual. A pedagogia que não leva em consideração coincide com outros diagnósticos de áreas diferentes.
as diferenças dos alunos, que não está atenta para as diferenças
de ritmos, de interesses, de estilos de aprendizagem, ao invés de O diagnóstico da deficiência mental não se esclarece por
promover, nega o desenvolvimento e a aprendizagem desses alu- supostas categorias e tipos de inteligência. Teorias psicoló-
nos. Nega o que está garantido constitucionalmente a eles que é gicas desenvolvimentistas, como as de caráter sociológico,
o direito à educação e à apropriação dos bens culturais construí- antropológico têm posições assumidas diante da deficiência
dos ao longo dos anos pela humanidade e transcritos em forma mental, mas ainda assim não se conseguiu fechar um con-
de conteúdos escolares. ceito único que dê conta dessa intrincada condição.
A Psicanálise, por exemplo, traz à tona a dimensão do
inconsciente, uma importante contribuição que introduz
PROGRAMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: DIREITO os processos psíquicos na determinação de diversas patologias,
À DIVERSIDADE ATENDIMENTO EDUCACIONAL entre as quais a deficiência mental. A inibição, desenvolvida por
ESPECIALIZADO (AEE) DEFICIÊNCIA MENTAL – Freud, pode ser definida pela limitação de determinadas ati-
MEC. vidades, causada por um bloqueio de algumas funções, como
o pensamento, por exemplo. A debilidade, para Lacan, define
uma maneira particular de o sujeito lidar com o saber, poden-
do ser natural ao sujeito, por caracterizar um mal-estar funda-
1. A deficiência mental mental em relação ao saber, ou seja, todos nós temos algo que
não conseguimos ou não queremos saber. Mas também defi-
A procura de uma compreensão mais global das deficiên- ne a debilidade como uma patologia, quando o sujeito se fixa
numa posição débil, de total recusa de apropriação do saber.
cias em geral, em
Além de todos esses conceitos, que em muitos casos são an-
1980, a OMS2 propôs três níveis para esclarecer todas as
tagônicos, existe a dificuldade de se estabelecer um diagnóstico
deficiências, a saber: deficiência, incapacidade e desvantagem so-
diferencial entre o que seja „doença mental (que engloba diag-
cial. Em 2001, essa proposta, revista e reeditada, introduziu
nósticos de psicose e psicose precoce) e „deficiência mental,
o funcionamento global da pessoa com deficiência em relação principalmente no caso de crianças pequenas em idade escolar.
aos fatores contextuais e do meio, resituando-a entre as de-
mais e rompendo o seu isolamento. Ela chegou a motivar a Por todos esses motivos, faz-se necessário reunir posiciona-
proposta de substituição da terminologia “pessoa deficiente” mentos de diferentes áreas do conhecimento, para conse-
por “pessoa em situação de deficiência”. (Assante, 2000), para guirmos entender mais amplamente o fenômeno mental.
destacar os efeitos do meio sobre a autonomia da pessoa com
deficiência. Assim, uma pessoa pode sentir-se discriminada em um A deficiência mental não se esgota na sua condição orgâ-
ambiente que lhe impõe barreiras e que só destaca a sua de- nica e/ou intelectual e nem pode ser definida por um único
ficiência ou, ao contrário, ser acolhida, graças às transformações saber. Ela é uma interrogação e objeto de investigação de inú-
deste ambiente para atender às suas necessidades. meras áreas do conhecimento.

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SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

A grande dificuldade de conceituar essa deficiência trouxe O número de alunos categorizados como deficientes mentais
consequências indeléveis na maneira de lidarmos com ela e com foi ampliado enormemente, abrangendo todos aqueles que
quem a possui. O medo da diferença e do desconhecido é respon- não demonstram bom aproveitamento escolar e com dificuldades
sável, em grande parte, pela discriminação sofrida pelas pessoas de seguir as normas disciplinares da escola. O aparecimento
com deficiência, mas principalmente por aquelas com deficiência de novas terminologias, como as “necessidades educacionais espe-
mental. ciais‰, aumentaram a confusão entre casos de deficiência mental
O sociólogo Erving Goffman desenvolveu uma estru- e outros que apenas apresentam problemas na aprendizagem,
tura conceitual – a estigmatização, para definir essa reação por motivos que muitas vezes são devidos às próprias práticas
diante daquele que é diferente e que acarreta um certo descrédito escolares.
e desaprovação das demais pessoas. Freud, em seu trabalho Se as escolas não se reorganizarem para atender a todos os
sobre o Estranho, também demonstrou como o sujeito evita alunos, indistintamente, a exclusão generalizada tenderá
aquilo que lhe parece estranho e diferente e que no fundo a aumentar, provocando cada vez mais queixas vazias e maior dis-
remete a questões pessoais e mais íntimas dele próprio. tanciamento da escola comum dos alunos que supostamente não
Presa ao conservadorismo e à estrutura de gestão dos servi- aprendem.
ços públicos educacionais, a escola, como instituição, con- A necessidade de encontrar soluções imediatas para resol-
tinua norteada por mecanismos elitistas de promoção dos ver a premência da observância do direito de todos à educação fez
melhores alunos em todos os seus níveis de ensino e contri- com que algumas escolas procurassem saídas paliativas, envolvendo
bui para aumentar e/ou manter o preconceito e discriminação todo tipo de adaptação: de currículos, de atividades, de avaliação, de
em relação aos alunos com deficiência mental. atendimento em sala de aula que se destinam unicamente aos alunos
Há que se considerar também as resistências de pro- com deficiência. Essas soluções continuam reforçando o caráter
fissionais da área, que criam ainda mais obstáculos para se substitutivo da Educação Especial, especialmente quando se trata de
definir o atendimento a pessoas com deficiência mental. alunos com deficiência mental.
Por todas essas razões, o Atendimento Educacional Espe- Tais práticas adaptativas funcionam como um regulador ex-
cializado para alunos com deficiência mental necessita ser terno da aprendizagem e estão baseadas nos propósitos e procedi-
urgentemente reinterpretado e reestruturado. mentos de ensino que decidem o que falta ao aluno de uma turma
de escola comum. Em outras palavras, ao adaptar currículos, se-
2. A escola comum diante da deficiência mental lecionar atividades e formular provas diferentes para alunos com
A deficiência mental desafia a escola comum no seu objeti- deficiência e/ou dificuldade de aprender, o professor interfere de
vo de ensinar, de levar o aluno a aprender o conteúdo curricular,
fora, submetendo os alunos ao que supõe que eles sejam capazes de
construindo o conhecimento. O aluno com essa deficiência tem
aprender.
uma maneira própria de lidar com o saber, que não corresponde ao
Na concepção inclusiva, a adaptação ao conteúdo escolar é
que a escola preconiza. Na verdade, não corresponder ao esperado
realizada pelo próprio aluno e testemunha a sua emancipação
pela escola pode acontecer com todo e qualquer aluno, mas os alunos
intelectual. Essa emancipação é consequência do processo de autore-
com deficiência mental denunciam a impossibilidade de a escola
gulação da aprendizagem, em que o aluno assimila o novo conhe-
atingir esse objetivo, de forma tácita. Eles não permitem que a
cimento, de acordo com suas possibilidades de incorporá-lo ao
escola dissimule essa verdade. As outras deficiências não abalam tanto
a escola comum, pois não tocam no cerne e no motivo da sua que já conhece.
urgente transformação: considerar a aprendizagem e a construção Entender este sentido emancipador da adaptação intelectual
do conhecimento acadêmico como uma conquista individual é sumamente importante para o professor comum e especializado.
e intransferível do aprendiz, que não cabe em padrões e modelos Aprender é uma ação humana criativa, individual, heterogê-
idealizados. nea e regulada pelo sujeito da aprendizagem, independentemente
O aluno com deficiência mental tem dificuldade de cons- de sua condição intelectual ser mais ou ser menos privilegiada. São
truir conhecimento como os demais e de demonstrar a sua capa- as diferentes idéias, opiniões, níveis de compreensão que enriquecem
cidade cognitiva, principalmente nas escolas que mantêm um mode- o processo escolar e clareiam o entendimento dos alunos e pro-
lo conservador de ensino e uma gestão autoritária e centralizadora. fessores. Essa diversidade deriva das formas singulares de nos
Essas escolas apenas acentuam a deficiência, aumentam a inibi- adaptarmos cognitivamente a um dado conteúdo e da possibilidade
ção, reforçam os sintomas existentes e agravam as dificuldades do de nos expressarmos abertamente sobre ele.
aluno com deficiência mental. Tal situação ilustra o que a definição
da Organização Mundial de Saúde Ensinar é um ato coletivo, no qual o professor disponibili-
OMS de 2001 e a Convenção da Guatemala acusam como agravan- za a todos alunos, sem exceção, um mesmo conhecimento.
te da situação de deficiência. Ao invés de adaptar e individualizar/ diferenciar o ensino
O caráter meritocrático, homogeneizador e competitivo das para alguns, a escola comum precisa recriar suas práticas, mudar suas
escolas tradicionais oprimem o professor, reduzindo-o a uma situa- concepções, rever seu papel, sempre reconhecendo e valorizando as
ção de isolamento e impotência, principalmente frente aos seus alu- diferenças.
nos com deficiência mental, pois são aqueles que mais “entravam” o As práticas escolares que permitem ao aluno aprender e ter
desenvolvimento do processo escolar, em todos os seus níveis e séries. reconhecidos e valorizados os conhecimentos que é capaz de pro-
Diante da situação, a saída encontrada pela maioria dos professores duzir, segundo suas possibilidades, são próprias de um ensino
é desvencilhar-se desses alunos que não acompanham as turmas, en- escolar que se distingue pela diversificação de atividades. O pro-
caminhando-os para qualquer outro lugar que supostamente saiba fessor, na perspectiva da educação inclusiva, não ministra um “ensi-
como ensiná-los. no diversificado” e para alguns. Ele prepara atividades diversas para

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SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

seus alunos (com e sem deficiência mental) ao trabalhar um A liberdade do professor e dos alunos, de criarem as melhores
mesmo conteúdo curricular. Essas atividades não são graduadas condições de ensino e de aprendizagem, não dispensa um bom
para atender a níveis diferentes de compreensão e estão disponíveis planejamento de trabalho, seja ele anual, mensal, quinzenal ou
na sala de aula para que os alunos as escolham livremente, de mesmo diário. Ser livre para aprender e ensinar não implica em uma
acordo com seus interesses. falta de limites e regras ou, ainda, em cair num espontaneismo de
Para exemplificar esta prática, consideremos o ensino dos atuação. O ano letivo, assim como a rotina diária de uma turma,
planetas do sistema solar para uma turma de alunos com e sem de- devem contemplar um tempo para planejar, outro para executar,
ficiências. As atividades podem variar de propostas de elabo- outro para avaliar e socializar os conhecimentos aprendidos.
ração de textos, a construção de maquetes do sistema planetário, Todo esse processo é realizado coletivamente e individualmente.
realização de pesquisas em livros, revistas, jornais, internet, Um exemplo de rotina de sala de aula seria desenvolver, em um
confecção de cartazes, leituras interpretativas de textos literários primeiro momento, o planejamento coletivo, que compreende
e poesias, apresentação de seminários sobre o tema, entre outras. uma conversação livre entre o professor e seus alunos a respeito
O aluno com deficiência mental, assim como os demais colegas, do emprego do tempo naquela jornada. Esse momento permite ao
escolhe a atividade que mais lhe interessar e a executa. Essa escolha e aluno expressar-se livremente a respeito do que pretende fazer/
aprender nesse dia e à professora colocar suas intenções no
a capacidade de desempenhar a tarefa não é predefinida pelo
mesmo sentido. No planejamento todo o grupo pode tomar
professor. Tal prática é distinta daquelas que habitualmente encon-
decisões com relação às atividades e aos grupos a serem forma-
tramos nas salas de aula, nas quais o professor escolhe e determina
dos para realizá-las. Num segundo momento, as atividades são
uma tarefa para todos os alunos realizarem individual-
realizadas conforme o plano estabelecido. Finalmente a jornada
mente e uniformemente, sendo que para os alunos com deficiência de trabalho é reconstituída na última parte dessa rotina, com a
mental ele oferece uma outra atividade facilitada sobre o mesmo participação de todos os alunos. Eles então socializam o que
assunto ou até mesmo sobre outro completamente dife- aprenderam e avaliam a produção realizada no dia. O aluno com
rente. Contraditoriamente, esta tem sido a solução adotada pe- deficiência mental, como os demais, participa igualmente de
los professores para impedir a „exclusão na inclusão‰. Utilizando todos esses momentos: planejamento, execução, avaliação e socializa-
como exemplo esse mesmo conteúdo o ensino dos planetas do ção dos conhecimentos produzidos.
sistema solar é comum o professor selecionar uma atividade A avaliação dos alunos com deficiência mental visa ao co-
de leitura e interpretação de textos para todos os alunos, nhecimento de seus avanços no entendimento dos conteúdos cur-
cabendo àquele com deficiência mental apenas colorir um dos riculares durante o ano letivo de trabalho, seja ele organizado por
planetas em folha mimeografado. série ou ciclos. O mesmo vale para os outros alunos da sua turma,
para que não sejam feridos os princípios da inclusão escolar. A
Modificar essas práticas discriminatórias é um verdadeiro promoção automática, quando é exclusiva para alunos com defi-
desafio, que implica em inovações na forma de o professor e ciência mental, constitui uma diferenciação pela deficiência, o que
o aluno avaliarem o processo de ensino e de aprendizagem. Elas caracteriza discriminação. Em ambos os casos, o que interessa para
exigem a negação do caráter padronizador da aprendizagem e eli- que um novo ano letivo se inicie é o quanto o aluno, com ou
minam todas as demais características excludentes das escolas sem deficiência, aprendeu no ano anterior, pois nenhum
comuns, que adotam propostas pedagógicas conservadoras. A conhecimento é aprendido sem base no que se conheceu antes.
prática escolar inclusiva provoca necessariamente a coopera- 3. O Atendimento Educacional Especializado para as pes-
ção entre todos os alunos e o reconhecimento de que ensinar uma soas com deficiência mental e a Educação Especial
turma é, na verdade, trabalhar com um grande grupo e com todas as A imprecisão do conceito de deficiência mental trouxe conse-
possibilidades de subdividi-lo. Dessa forma, nas subdivisões de quências para se esclarecer esse tipo de Atendimento, nas esco-
uma turma, os alunos com deficiência mental podem aderir las comuns e especiais. A proposta constitucional de prescrever o
a qualquer grupo de colegas, sem formar um grupo à parte, Atendimento Educacional Especializado para alunos com defi-
ciência apontou a necessidade de se distinguir o que é próprio de
constituído apenas de alunos com deficiência e/ou problemas
uma intervenção específica para a deficiência mental, complementar
na aprendizagem.
à escola comum, daquela que é substitutiva e meramente com-
Para conseguir trabalhar dentro de uma proposta educacio-
pensatória, visando à aquisição paralela do saber escolar.
nal inclusiva, o professor comum precisa contar com o respaldo
A partir de 1996, a LDBEN classificou a Educação Especial
de uma direção escolar e de especialistas (orientadores, supervisores
como uma modalidade de ensino. Com isso a Educação Es-
educacionais e outros), que adotam um modo de gestão escolar,
pecial perdeu a função de substituição dos níveis de ensino. No
verdadeiramente participativa e descentralizada. Muitas vezes o entanto, essa mesma lei, ao dedicar um de seus capítulos à Edu-
professor tem idéias novas para colocar em ação em sua sala de aula, cação Especial, possibilita interpretações enganosas que a mantém
mas não é bem recebido pelos colegas e pelos demais membros da como um subsistema paralelo de ensino escolar.
escola, devido ao descompasso entre o que está propondo e o que a
escola tem o hábito de fazer para o mesmo fim. Além disso, o Atendimento Educacional Especializado tam-
A receptividade à inovação anima a escola a criar e a ter liberdade bém não foi amplamente esclarecido quanto à sua natureza
para experimentar alternativas de ensino. Sua autonomia para criar e educacional por ter sido criado legalmente sem ter suas ações
experimentar coisas novas se estenderá aos alunos com ou sem de- descritas. Talvez por esse motivo, ele continue sendo confundido com
ficiência e assim os alunos com deficiência mental serão naturalmente o reforço escolar, e/ou com o que é próprio do atendimento clí-
valorizados e reconhecidos por suas capacidades e respeitados em suas nico, aceitando e se submetendo a todo e qualquer outro conheci-
limitações. mento de áreas afins que tratam da deficiência mental.

86
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

A Educação Especial para alunos com deficiência mental, du- os „alunos adaptáveis‰ ao modelo excludente dessa escola.
rante décadas, manteve as mesmas características do ensino Alegam que a inclusão total é irresponsável! Os que assim pen-
regular desenvolvido nas escolas tradicionais e sempre adotando sam e agem estão provocando a segregação dentro da própria
práticas escolares adaptativas. Num primeiro momento, para Escola Especial, ou seja, uma espécie de „exclusão da exclusão‰, em
fundamentar/organizar o trabalho educacional especializado, as que os alunos são subdivididos entre aqueles que têm condições
escolas limitaram-se unicamente a treinar seus alunos, subdividi- de ser encaminhados para a escola comum e aqueles que, por
dos nas categorias educacionais: treináveis e educáveis; limítrofes serem considerados „casos graves‰, jamais poderão ser incluídos
e dependentes. Esse treinamento era desenvolvido visando à in- nela.
serção familiar e social. Muitas vezes, o treino se resumia à atividades
de vida diária estereotipadas, repetitivas e descontextualizadas. 3.1. Atendimento Educacional Especializado para a
O movimento de Integração escolar manteve as práticas deficiência mental– O Conceito
adaptativas, com o objetivo de propiciar a inserção e/ou a re-in- O Atendimento Educacional Especializado decorre de uma
serção de alunos com deficiência na escola comum, pelo treino dos nova concepção da Educação Especial, sustentada legalmente, e
mesmos conteúdos e programas do ensino regular. é uma das condições para o sucesso da inclusão escolar dos alunos
O aspecto agravante dessa prática adaptativa/integrativa com deficiência. Esse atendimento existe para que os alunos
está no fato de se insistir para que o treino se realize a partir do que é possam aprender o que é diferente dos conteúdos curriculares
concreto, ou seja, palpável, tangível, insistentemente reproduzido, de do ensino comum e que é necessário para que possam ultrapassar as
forma alienante, supondo que os alunos com deficiência mental barreiras impostas pela deficiência.
só „aprendem no concreto!. As barreiras da deficiência mental diferem das barreiras encon-
A idéia contida nesse tipo de treino é equivocada, pois o tradas nas demais deficiências. Trata-se de barreiras referentes à
concreto não dá conta do que um objeto é em toda a sua extensão maneira de lidar com o saber em geral, fato que re-
e dos significados que cada pessoa pode atribuir a esse objeto, em flete preponderantemente na construção do conhecimento escolar.
função de sua vivência e referências anteriores. Para muitos aprendi- A educação especializada tradicional, realizada nos moldes
zes, contar palitos de fósforo não é uma atividade de aprendizagem do treinamento e da adaptação, reforça a deficiência desse aluno.
dos numerais e nem mesmo uma oportunidade de construir a Essas formas de intervenção mantêm o aluno em um nível de
idéia de número. O aluno pode estar apenas manuseando esse ma- compreensão que é muito primitivo e que a pessoa com deficiência
terial para entender o modo de sua mãe acender o fogo, por mental tem dificuldade de ultrapassar
exemplo... o nível das chamadas regulações automáticas, descritas por
Por mais que se pretenda construir um conhecimento a Piaget. É necessário que se estimule o aluno com deficiência men-
partir do “concreto”, ele não se esgotará na sua dimensão física. A tal a avançar na sua compreensão, criando-lhe conflitos cogniti-
compreensão total do real é algo que jamais alcançaremos, mesmo no vos, ou melhor, desafiando-o a enfrentá-los.
mais avançado estado intelectual. Por outro lado, a repetição de O Atendimento Educacional Especializado deve propiciar
uma ação sobre um objeto, sem que o sujeito lhe atribua um signi- aos alunos com deficiência mental condições de passar de um tipo
ficado próprio, é vazia, sem nenhuma repercussão intelectual e estéril, de ação automática e mecânica diante de uma situação de aprendiza-
pois nada produz de novo e apenas coloca as pessoas com deficiência do/ experiência – regulações automáticas para um outro tipo,
mental em uma posição inferior, enfraquecida e debilitada diante que lhe possibilite selecionar e optar pelos meios que julguem mais
do conhecimento. convenientes para agir intelectualmente – regulações ativas, também
O grande equívoco de uma prática de ensino que se ba- descritas por Piaget.
seia nessa lógica do concreto é a repetição alienante, que nega o O Atendimento Educacional Especializado para tais alunos
acesso da pessoa com deficiência mental ao plano abstrato deve, portanto, privilegiar o desenvolvimento e a superação
e simbólico da compreensão, ou seja, nega a sua capacidade de de seus limites intelectuais, exatamente como acontece com as
estabelecer uma interação simbólica com o meio. O perigo desse demais deficiências, como exemplo: para o cego, a possibilidade de ler
equívoco é empobrecer cada vez mais a condição de as pessoas pelo braile; para o surdo, a forma mais conveniente de se comunicar
com deficiência mental lidarem com o pensamento, racioci- e para a pessoa com deficiência física, o modo mais adequado de se
narem, utilizarem a capacidade de descobrir o que é visível e preve- orientar e se locomover.
rem o invisível, criarem e inovarem, enfim, terem acesso a tudo Para a pessoa com deficiência mental, a acessibilidade não
o que é próprio da ação de conhecer. Para exemplificar essa lógica, depende de suportes externos ao sujeito, mas tem a ver com a saída
podemos citar atividades como: decorar famílias silábicas; apren- de uma posição passiva e automatizada diante da aprendizagem
der a multiplicar, dividir ou somar a partir de inúmeras contas para o acesso e apropriação ativa do próprio saber.
envolvendo a mesma operação aritmética; repetir o cabeçalho De fato, a pessoa com deficiência mental encontra inúmeras
todos os dias por várias vezes; responder copiando do livro; co- barreiras nas interações com o meio para assimilar as propriedades
lorir desenhos reproduzidos e mimeografados pela professora físicas do objeto de conhecimento, como por exemplo: cor, forma,
para treino motor com cores predefinidas, além de outras tarefas textura, tamanho e outras características retiradas diretamente
de pura memorização, que sustentam o ensino de má qualidade em desse objeto. Isso ocorre porque são pessoas que apresentam pre-
geral. juízos no funcionamento, na estruturação e na construção do
O papel da educação especializada tem sido o de tentar „adap- conhecimento. Por esse motivo, não adianta propor-lhes atividades
tar‰ os alunos com deficiência mental às exigências da escola co- que insistem na repetição pura e simples de noções de cor, forma etc.
mum tradicional. Assim, durante anos e mesmo até hoje, há os que para que, a partir desse suposto aprendizado, o aluno consiga en-
acreditam que a inclusão só é possível em alguns casos, apenas para tender essas e as demais propriedades físicas dos objetos, e ainda

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SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

possa transpô-las para outros contextos de aprendizagem. A pode se mobilizar e buscar o saber. A liberdade de criação e o posi-
criança sem deficiência mental consegue espontaneamente retirar cionamento autônomo do aluno diante do saber permitem que
informações do objeto e construir conceitos, progressivamente. Já sua verdade seja colocada, o que é fundamental para os alunos com
a criança com deficiência mental precisa exercitar sua atividade cog- deficiência mental. Ele deixa de ser o eco do outro e se torna um ser
nitiva, de modo que consiga o mesmo, ou uma aproximação do pensante e desejante de saber.
mesmo avanço. Mas o Atendimento Educacional
Esse exercício intelectual implica em trabalhar a abstração, Especializado não deve funcionar como uma análise in-
através da projeção das ações práticas em pensamento. A projeção e a terpretativa, própria das sessões psicanalíticas, e nem
coordenação das ações práticas em pensamento são partes de um pro- como uma intervenção psicopedagógica, tradicionalmente pra-
cesso cognitivo que é natural nas pessoas que não têm deficiência ticada. Esse Atendimento deve permitir ao aluno elaborar suas
mental. Para aquelas que têm uma deficiência mental, essa passa- questões, suas idéias, de forma ativa e não corroborar para
gem deve ser estimulada e provocada, para que consigam in- sua alienação diante de todo e qualquer saber, como demonstra-
teriorizar o conhecimento e fazer uso dele, oportunamente. mos a seguir.
O Atendimento Educacional Especializado para as pessoas com 3.2. Atendimento Educacional Especializado para a de-
deficiência mental está centrado na dimensão subjetiva do processo ficiência mental – A Prática
de conhecimento. O conhecimento acadêmico refere-se à apren- A escola (especial e comum) ao desenvolver o
dizagem do conteúdo curricular; o Atendimento Educacional Atendimento Educacional Especializado deve oferecer todas
Especializado, por sua vez, refere-se à forma pela as oportunidades possíveis para que nos espaços educacionais
qual o aluno trata todo e qualquer conteúdo que lhe é apre- em que ele acontece, o aluno seja incentivado a se expressar,
sentado e como consegue significá-lo, ou seja, compreendê-lo. pesquisar, inventar hipóteses e reinventar o conhecimento
É importante insistir que o Atendimento Educacional Espe- livremente. Assim, ele pode trazer para os atendimentos os conteú-
cializado não é ensino particular, nem reforço escolar. Ele pode dos advindos da sua própria experiência, segundo seus desejos,
ser realizado em grupos, porém é preciso estar atento para as formas necessidades e capacidades. O exercício da atividade cognitiva
específicas de cada aluno se relacionar com o saber. Não é indicado ocorrerá a partir desses conteúdos.
realizá-lo em grupos formados por alunos com o mesmo tipo de Devem ser oferecidas situações, envolvendo ações em
problema (patologias) e/ou desenvolvimento. Pelo contrário, esses que o próprio aluno teve participação ativa na sua execução e/
grupos devem ser constituídos de alunos da mesma faixa etária e ou façam parte da experiência de vida dele. Essa prática difere
em vários níveis do processo de conhecimento. Alunos com sín- de todo modelo de atuação privilegiado até então pela Edu-
drome de Down, por exemplo, poderão compartilhar esse aten- cação Especial. Trabalhar a ampliação da capacidade de abstração
dimento com colegas, com outras síndromes, sequelas de paralisia não significa apenas desenvolver a memória, a atenção, as noções de
cerebral e ainda outros com ou sem uma causa orgânica esclare- espaço, tempo, causalidade, raciocínio lógico em si mesmas. Nem
cida de sua deficiência e com diferentes possibilidades de acesso tão pouco tem a ver com a desvalorização da ação direta sobre os
ao conhecimento. objetos de conhecimento, pois a ação é o primeiro nível de toda
O Atendimento Educacional Especializado para o aluno com a construção mental.
deficiência mental deve permitir que esse aluno saia de uma posição O objetivo do Atendimento Educacional Especializado é pro-
de „não saber‰, ou de „recusa de saber‰ para se apropriar de um piciar condições e liberdade para que o aluno com deficiência mental
saber que lhe é próprio, ou melhor, que ele tem consciência de possa construir a sua inteligência, dentro do quadro de recursos
que o construiu. intelectuais que lhe é disponível, tornando-se agente capaz de pro-
A inibição, definida na teoria freudiana, ou a “posição débil” duzir significado/conhecimento.
enunciada por Lacan provocam atitudes particulares diante do saber, O contato direto com os objetos a serem conhecidos, ou seja,
influenciando a pessoa na aquisição do conhecimento acadêmico. com a sua „concretude‰ não pode ser descartada, mas o importante
Estamos nos referindo aqui ao saber da Psicanálise, é intervir no sentido de fazer com que esses alunos percebam a capa-
ao „saber inconsciente‰, relativo à verdade do sujeito. Em cidade que têm de pensar, de realizar ações em pensamento, de tomar
outras palavras, trata-se de um processo inconsciente em que o sujeito consciência de que são capazes de usar a inteligência de que dispõem
se recusa saber sobre a própria incompletude, tanto dele, quanto e de ampliá-la, pelo seu esforço de compreensão, ao resolver uma
do outro. O aluno com deficiência mental, nessa posição de re- situação problema qualquer. Mas sempre agindo com autono-
cusa e de negação do saber fica passivo e dependente do outro (do mia para escolher o caminho da solução e a sua maneira de
seu professor, por exemplo), ao qual outorga o poder de todo o atuar inteligentemente.
saber. Se o professor assume o lugar daquele que sabe tudo e oferece to- O aluno com deficiência mental, como qualquer outro alu-
das as respostas para seus alunos, o que é muito comum nas escolas e no, precisa desenvolver a sua criatividade, a capacidade de conhecer
principalmente na prática da Educação Especial, ele reforça essa o mundo e a si mesmo, não apenas superficialmente ou por
posição débil e de inibição, não permitindo que o aluno se mo- meio do que o outro pensa. O nosso maior engano é generalizar a
bilize para adquirir/construir qualquer tipo de conhecimento. dotação mental das pessoas com deficiência mental em um nível
Quando o Atendimento Educacional Especializado per- sempre muito baixo, carregado de preconceitos sobre a capacidade
mite que o aluno traga a sua vivência e que se posicione de de, como alunos, progredirem na escola, acompanhando os
forma autônoma e criativa diante do conhecimento, o professor demais colegas. Desse engano derivam todas as ações educativas que
sai do lugar de todo o saber e, assim, o aluno pode questionar desconsideram o fato de que cada pessoa é uma pessoa, que tem an-
e modificar sua atitude de recusa do saber e sair da posição de tecedentes diferentes de formação, experiências de vida e que sempre
„não saber‰. Ao tomar consciência de que não sabe é que o aluno é capaz de aprender e de exprimir um conhecimento.

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SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Uma atividade muito utilizada pelos professores de alu- No Atendimento Educacional Especializado, o
nos com deficiência mental é fazer bolinhas de papel para serem aluno constrói conhecimento para si mesmo, o que é funda-
coladas sobre uma figura traçada pelo professor em uma folha mental para que consiga alcançar o conhecimento acadêmi-
mimeografada. Essa atividade pode ser explorada de duas maneiras, co. Aqui, ele não depende de uma avaliação externa, calcada na
com objetivos distintos. Uma delas é desenvolvê-la de forma alie- evolução do conhecimento acadêmico, mas de novos parâ-
nante, limitada, repetitiva, reduzindo-se a um mero exercício de metros relativos as suas conquistas diante do desafio da cons-
coordenação motora fina, realizada durante horas e sem o menor trução do conhecimento.
sentido para o aluno. A mesma atividade pode explorar a inteli- Portanto, os dois: escola comum e Atendimento Edu-
gência desse aluno se fizer parte de um plano e for uma escolha do cacional Especializado, precisam acontecer concomitante-
aluno para reproduzir o miolo de uma flor, por exemplo. A co- mente, pois um beneficia o desenvolvimento do outro e
lagem seria, nesse caso, uma estratégia que ele mesmo selecionou para jamais esse benefício deverá caminhar linear e sequencialmente,
demonstrar o seu conhecimento das partes de um vegetal e não como se acreditava antes.
unicamente para preencher o espaço de uma folha que lhe foi Por maior que seja a limitação do aluno com deficiência
entregue. No estudo das partes de um vegetal, essa atividade é uma mental, ir à escola comum para aprender conteúdos acadêmicos
entre várias que os alunos escolheram e recriaram, fazendo parte de e participar do grupo social mais amplo favorece o seu
todo um conjunto de trabalho, em que a flor é parte de outras aproveitamento no Atendimento Educacional Especializado
noções pertinentes ou não ao plano. O que mais importa é que e vice-versa. O Atendimento Educacional Especializado é,
ele permita que os alunos tenham condições de enfrentar a de fato, muito importante para o progresso escolar do aluno
atividade e que tomem consciência do que sabem, do que não sabem com deficiência mental.
e do que querem saber a respeito do que está sendo estudado. Essa Aqui é importante salientar que a
consciência permite que os alunos expressem seus ques- „socialização‰ justificada, como único objetivo da entrada
tionamentos e conhecimentos a respeito de tudo o que um objeto desses alunos na escola comum, especialmente para os casos
possa suscitar com liberdade e utilizando a sua criatividade. mais graves, não permite essa complementação e muito menos
É visível o efeito desses dois tipos de produção. Na sala significa que está havendo uma inclusão escolar. A verdadeira so-
onde ela é realizada de forma mecânica, o mural reproduzirá um cialização, em todos os seus níveis, exige construções cognitivas
modo seriado, estereotipado de agir; que reflete o desenho do e compreensão da relação com o outro. O que tem acontecido,
professor. Na outra, o mesmo mural revelará as infinitas possibi- em nome dessa suposta socialização, é uma espécie de tolerân-
lidades da criação, ou seja, do trabalho cognitivo dos alunos, ao cia da presença do aluno em sala de aula e o que decorre dessa
aprender e da professora, ao ensinar. situação é a perpetuação da segregação, mesmo que o aluno esteja
O Atendimento Educacional Especializado não deve ser uma frequentando um ambiente escolar comum.
atividade que tenha como objetivo o ensino escolar especial O arranjo físico do espaço reservado ao atendimento precisa
adaptado para desenvolver conteúdos acadêmicos, tais como a coincidir com o seu objetivo de enriquecer o processo de de-
Língua Portuguesa, a Matemática, entre outros. senvolvimento cognitivo do aluno com deficiência mental e de
Com relação a Língua Portuguesa e a Matemática, o Atendimento oferecer-lhe o maior número possível de alternativas de en-
Educacional Especializado buscará o conhecimento que permite ao volvimento e interação com o que compõe esse espaço. Portan-
aluno a leitura, a escrita e a quantificação, sem o compromisso de siste- to, não pode reproduzir uma sala de aula comum e tradicional. O
matizar essas noções como é o objetivo da escola. espaço físico para o Atendimento Educacional Especializado deve
Para possibilitar a produção do saber e preservar sua con- ser preservado, tanto na escola especial como na escola comum, ou
dição de complemento do ensino regular, o Atendimento seja, deve ser criado e utilizado unicamente para esse fim.
Educacional Especializado tem de estar desvinculado da ne- O tempo reservado para esse atendimento será definido
cessidade típica da produção acadêmica. A aprendizagem do conforme a necessidade de cada aluno e as sessões acontecerão
conteúdo acadêmico limita as ações do professor especializado, sempre no horário oposto ao das aulas do ensino regular.
principalmente quanto ao permitir a liberdade de tempo e As escolas especiais, diante dessa proposta, tornam-
de criação que o aluno com deficiência mental precisa ter se espaços de Atendimento Educacional Especializado nas
para organizar-se diante do desafio do processo de construção diferentes deficiências para as quais foram criadas e devem guardar
do conhecimento. Esse processo de conhecimento, ao contrário suas especificidades. Elas não podem justificar a manutenção da
do que ocorre na escola comum, não é determinado por metas a estrutura e modelo da escola comum, recebendo alunos sem
serem atingidas em uma determinada série, ou ciclo, ou mesmo deficiência – a chamada „inclusão ao contrário‰ e nem mesmo
etapas de níveis de ensino ou de desenvolvimento. atender a todo o tipo de deficiência em um mesmo espaço espe-
O processo de construção do conhecimento, no cializado.
Atendimento Educacional Especializado, não é ordenado de As instituições especializadas devem fazer o mesmo com
fora, e não é possível ser planejado sistematicamente, suas escolas especiais e também conservar o atendimento
obedecendo a uma sequência rígida e predefinida de conteúdos clínico especializado.
a serem assimilados. E assim sendo, não persegue a promoção A avaliação do Atendimento Educacional Especializado, seja
escolar, mesmo porque esse aluno já está incluído. a inicial como a final, têm o objetivo de conhecer o ponto de
Na escola comum, o aluno constrói um conhecimento ne- partida e o de chegada do aluno, no processo de conhecimento.
cessário e exigido socialmente e que depende de uma Para que se possa montar um plano de trabalho para esse aten-
aprovação e reconhecimento da aquisição desse conhecimento dimento, não é tão importante para o professor saber o que o
por um outro, seja ele o professor, pais, autoridades es- aluno „não sabe‰, quanto saber o que ele já conhece de um dado
colares, exames e avaliações institucionais. assunto.

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SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

A terminalidade desse atendimento deve ocorrer indepen- O espaço das Salas Ambientes é marcado pela cooperação e
dentemente do desempenho escolar desses alunos na escola pela interação, sempre trabalhando com grupo heterogêneo e a
comum, porque o que se pretende com essa complementação não partir do saber do aluno, encorajando o aluno a propor temas
se reduz ao que é próprio da escola comum. de estudos, explorar possibilidades, levantar hipóteses, justificar seu
A interface entre o Atendimento Educacional Especia- raciocínio e validar suas próprias conclusões. Nesta proposta, os
lizado e a escola comum acontecerá conforme a necessidade de erros fazem parte do processo de aprendizagem, sendo explorados
cada caso, sem a intenção primeira de apenas garantir o bom e utilizados de maneira a gerar novos conhecimentos, novas
desempenho escolar do aluno com deficiência mental, questões e investigações, num processo de trocas e produção do
mas muito mais para que ambos os professores se empenhem saber. O conhecimento produzido nessas Salas Ambientes pode
em entender a maneira desse aluno lidar com o conhecimento ser registrado de diferentes formas e linguagens estimulando
no seu processo construtivo. Esse esforço de entendimento a construção do conhecimento.
conjunto não caracteriza uma forma de orientação peda- Essas SAT’s são definidas e organizadas anualmente para pro-
gógica do professor especializado para o professor comum e curar atender às necessidades dos alunos que estão na instituição
viceversa, mas a busca de soluções que venham a beneficiar o naquele ano nas diversas áreas de conhecimento. Os professores
escolhem as SAT’s que irão conduzir no decorrer do ano letivo
aluno de todas as maneiras possíveis e não apenas para avançar no
conforme seu interesse, habilidade e capacidade. O espaço físico da
conteúdo escolar.
APAE comporta 5 salas diferentes, portanto cada uma delas é planeja-
da pelo professor responsável.
4. Relato de uma Experiência em Atendimento Educacio- Os alunos são agrupados conforme a idade, mas podem
nal Especializado escolher e participar do grupo que queiram, como também
4.1. Experiência da APAE de Contagem selecionam e programam com o professor o plano das SAT’s que
A APAE de Contagem é uma instituição sem fins lucrativos frequentarão durante o ano letivo. Algumas salas exigem do
que atende às pessoas com deficiência mental nas áreas clínicas e aluno passagem semanal para atender às suas necessidades.
pedagógicas, contemplando também a educação profissional. Essa Cada aluno tem também a oportunidade de planejar suas
instituição vem desenvolvendo um trabalho em parceria com as atividades anuais nessas salas. Esse planejamento se faz a partir da ex-
escolas comuns desde o ano de 1994, promovendo estudos e pesquisas ploração de todas as salas, no primeiro mês letivo, ou no momen-
a partir das trocas de experiências entre os professores das escolas to em que o aluno é admitido no Atendimento Educacional
comuns e da APAE de Contagem. Essa forma de parceria e de Especializado.
diálogo fez com que a instituição refletisse sobre sua própria Dessa forma, os alunos têm um calendário de atividades anual,
atuação e rompesse com a prática adotada até então que man- passando por várias Salas Ambientes durante a semana, conforme
tinha características semelhantes à prática tradicional de uma um plano de trabalho, montado segundo seus interesses e necessi-
escola especial. O questionamento e consequente rompimento de dades. No entanto, este plano não engessa o Atendimento Educacio-
práticas passadas acarretaram na construção gradativa de uma prática nal Especializado, podendo ser avaliado e revisto, quando necessário.
O professor desenvolve um tema e uma programação pe-
inovadora da educação especial e condizente com os princípios da
dagógica definida em conjunto com seus alunos, utilizando
inclusão. Como resultado desse processo, em 2003 foi implantado
da metodologia de projetos de trabalho, versando sobre os
o Atendimento Educacional Especializado com o propósito de mais diferentes assuntos. Essa programação termina quando se
promover o atendimento complementar à escola comum e a atinge o objetivo proposto, ou quando se esgota o assunto ou o
inclusão efetiva de seus alunos. interesse dos alunos pelo tema em estudo. O importante é que essa
Mudando a concepção de ensino, criando uma prática pauta- atividade seja flexível para que esteja a todo instante estimu-
da no saber particular do aluno diferente do saber acadêmico e lando o aluno, encorajando a construção do saber e principalmente
não substitutivo deste, percebeu-se que também precisaria mudar a pautada nos seus interesses.
estrutura física da sala de aula e não mais repetir a estrutura tradicio- Essa prática tem trazido resultados promissores, pro-
nal de uma sala de aula de ensino regular. Ficou claro no decorrer piciando aos alunos avanços significativos no processo de
dos anos que mantendo o mesmo arranjo físico tornava-se difícil aprendizagem e em todos os demais atendimentos oferecidos
delimitar as diferenças entre os dois trabalhos, ou seja, o que era pela instituição, inclusive na área clínica. Para os professores,
responsabilidade da escola comum daquele do Atendimento Edu- as SAT’s lhes possibilitaram um maior conhecimento dos alunos
cacional Especializado. Percebeu-se também que esse arranjo tradi- e a realização de um verdadeiro atendimento educacional,
cional de ambiente mantinha os professores numa posição que os que na concepção da palavra envolve o acolhimento do aluno
distanciava dos alunos, limitando suas ações, com pouca liberdade na sua maneira própria de lidar com o saber.
de criação e o mesmo acontecia com os alunos o que não favorecia Essa organização do trabalho pedagógico, passando por mais
de uma SAT não limita o professor ao atendimento especia-
a construção de conhecimento e nem tão pouco o desenvolvimento
lizado de um único grupo de alunos durante o ano letivo. Isso é
de um trabalho complementar.
importante, pois, evita uma relação excessivamente „colada do pro-
A saída encontrada para solucionar esse problema, foi trans- fessor com o aluno e vice-versa, o que funciona como mais um
formar as salas de aula em Salas Ambientes Temáticas (SATs), que impedimento de relações de super-proteção pelo professor e de um
fossem mais abertas na sua estrutura e mais estimulantes, de for- vínculo adesivo do aluno. Essa rotatividade e a necessidade de o
ma que esses ambientes possibilitassem maior liberdade de ex- aluno estar com mais de um professor foi uma importante
perimentações pelos alunos e professores e favorecessem as trocas descoberta da dinâmica realizada por esta instituição que permite a
de experiências entre os alunos, entre alunos e professores e entre os troca entre os professores para encontrar soluções e descobrir as várias
professores da instituição. formas de linguagens utilizadas por seus alunos.

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SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Nessa proposta a avaliação faz parte do processo de ensino A SAT Livros e Filmes possui os seguintes objetivos:
e de aprendizagem, de forma contínua. Procura-se conhecer • Ouvir o outro: diz respeito à capacidade de compreender o
não apenas os progressos, mas também as estratégias de trabalho que os colegas e o professor transmitem oralmente, ao lerem
utilizadas pelos alunos. Utilizam-se diferentes instrumentos de ou contarem uma história, um acontecimento, um filme... O
avaliação, como relatórios semestrais com observações individuais e aluno opera com conhecimentos discursivos, semânticos e gramati-
coletivas, além dos portfólios onde estão contidas todas as observa- cais presentes na construção da significação dos textos. Também
ções e construções dos alunos durante a execução das ativida- se procura desenvolver a capacidade do aluno de reconhecer
des. O portfólio é um instrumento que permite posteriormente, o significado complementar dos elementos não lin-
ao aluno e a seus pais, perceberem como se iniciou o trabalho pro- guísticos.
gramado e como ele se desenvolveu. Ele revela para o aluno e para • Falar: o aluno utiliza seus recursos de comunicação oral,
o professor; quais foram as questões iniciais e as finais levantadas pelo para exprimir sua compreensão, interesse, desejos, idéias e estabelecer
aluno e, consequentemente, as suas aquisições, predefinindo futuros trocas com o outro (colegas e professores).
trabalhos, conforme os focos de interesse que surgirem, no decorrer • Ler: o aluno interpreta textos de todos os gêneros, de acordo
das atividades e da avaliação. com sua visão de mundo. O leitor, mediado pelo texto, o reconstrói
O portfólio e sua apresentação é um importante ins- na sua leitura, atribuindo lhe outra significação (a sua própria).
trumento utilizado pelos professores para fazer intervenções e nas • Escrever: o aluno descobre as funções e o uso da língua es-
reuniões com os pais eles testemunham as capacidades dos alunos e crita nos atos de registrar, informar, comunicar, instruir e divertir.
que muitas vezes ainda não foram reconhecidas ou foram ne- • Favorecer a livre expressão: ler, escrever, falar, comunicar, de
gadas de forma inconsciente pelos pais. Os alunos se auto-avaliam e forma que o aluno se expresse mediante a produção oral e escrita
podem assim perceber o quanto avançaram em relação a um tema de (mesmo quando o professor atua como redator).
estudo, refletindo sobre suas produções. • Compartilhar práticas: explorar a construção coletiva
Todas as atividades desenvolvidas nessas salas fazem parte e cooperativa na leitura, escrita.
de um contexto e de uma programação coletiva que muitas Vamos relatar, a seguir, atividades desenvolvidas nessa sala.
vezes envolve várias SAT’s. Os alunos não só escolhem os temas que
irão trabalhar nas SAT’s, mas muitas vezes são eles que provocam a 4.3. A Produção de uma história e de outras tantas...
interação entre as atividades previstas pelas salas, extrapolando os Esse projeto iniciou-se em 2004, com uma turma forma-
limites de cada uma. Portanto, as salas fazem parte de um contexto da por 13 alunos em idade de 9 a 14 anos, que frequentavam
amplo, que os alunos podem explorar livremente, dando significado essa sala duas vezes na semana durante duas horas.
ao seu processo de construção de conhecimento e dele participando Em um primeiro momento do projeto foi realizada
ativamente. uma sondagem do nível de conhecimento dos alunos com
relação à leitura e à escrita, através de escrita espontânea, leitura
O efeito produzido pelas salas é também amplo, global e ho-
de histórias e interpretação oral e registro através de desenho. A
rizontal. Percebe-se que o mesmo efeito não era alcançado ante-
solicitação do registro escrito ou através de desenhos das his-
riormente, quando o atendimento era desenvolvido em salas de
tórias foi utilizada para que se pudesse saber o que o aluno
aula tradicionais, pois, por mais que se tentasse desenvolver uma
estava entendendo do que foi contado, unicamente. O objetivo
maior articulação entre elas, o trabalho já era fragmentado na sua
desse primeiro registro não era o que estava escrito convencio-
organização espacial.
nalmente, mas o que “dava para ser lido” pelo aluno. Portanto,
Para exemplificar esta prática vamos relatar alguns projetos de-
muitos registros foram feitos de forma particular sem se con-
senvolvidos em duas das Salas Ambientes Temáticas.
siderar o que estava certo ou errado, mas o que o aluno “lia” do
texto dado.
4.2. Produção de textos na SAT Livros e Filmes Em um segundo momento, foram selecionados e apre-
Essa sala propicia a exploração da linguagem oral e/ sentados vários textos pela professora: livros de história,
ou escrita em diferentes situações comunicativas. Nela são anúncio de revista, letra de música, poema e história em
desenvolvidas atividades que levam o aluno a se expressar quadrinhos. Esses textos foram analisados, para que os alunos pu-
oralmente e por escrito, bem como a sua capacidade de dessem estabelecer as diferenças e semelhanças entre eles.
compreensão de diferentes gêneros textuais. A análise do texto foi feita oralmente e por escrito. To-
Ao construir e reproduzir textos com liberdade de expres- dos os alunos participaram da atividade a seu modo, seja
são, invariavelmente o aluno participa intensamente das ativida- opinando ou respondendo às perguntas, observando e/
des. Percebe-se que as produções textuais dos alunos representam ou registrando através da cópia, de forma organizada ou
uma construção de sua história subjetiva. A valorização não.
e a exploração da capacidade de criação e de produção de No decorrer do projeto, a professora propôs ao gru-
textos permitem ao aluno desenvolver ações práticas e ao po produzir alguns textos coletivos. Nessas produções as
mesmo tempo a interação com um nível de compreensão mais intervenções da professora foram as mais diversas, respeitando
elaborado com trocas simbólicas entre o aluno, o texto e o toda forma de participação dos alunos. Ora o registro dessas
possível leitor. produções de texto era feito pela professora, que atuava como
É importante esclarecer que nessa sala não se tem a escriba, quando o aluno não conseguia registrar por si mesmo.
intenção de alfabetizar esses alunos e nem mesmo dar um su- Ora ela escrevia no quadro o quê os alunos falavam e depois,
porte para essa aprendizagem. por meio de perguntas, eles faziam juntos as correções e or-
ganizavam o texto através da leitura e da grafia das palavras.

91
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste momento, os alunos entravam em contato com a lei- ELE AS LEVOU PARA CASA. QUANDO ELES CHEGARAM EN-
tura e a escrita por meio dos seus próprios textos e não apenas CONTRARAM O BIRUTO DA MEIA-NOITE E O TITICO LENDO
pelos textos apresentados pela professora. Dessa maneira a tarefa REVISTA DE KARATÊ.
ganha significado para os alunos e eles conseguem reconhecer A MÃE E A FILHA FORAM COLOCADAS NO
nela o seu trabalho. Vários foram os registros apresentados, SOFÁ RASGADO PARA REPOUSAR MUITO NERVOSAS,
mesmo depois da autocorreção dos alunos. O respeito ao tempo COM MEDO E TREMENDO. LILITA GRITOU DE MEDO
e ao nível de conhecimento, em relação à base alfabética de cada QUANDO O MONSTRO LEVANTOU E SAIU CORREN-
um, foram preservados e o trabalho era avaliado diariamente DO COM ÓDIO, PORQUE ELAS FICARAM COM MEDO
para que os alunos pudessem perceber a evolução das produ- DELE.
ções escritas. TITICO CORREU ATRÁS, MAS ELE NÃO DEU NENHU-
Em seguida, a professora convidou os alunos a pro- MA IDÉIA E COMEÇOU A RASGAR A ROUPA, MANDOU
duzir um texto coletivo com todo o grupo em um gênero TITICO EMBORA PARA CASA, MAS ELE NÃO OBEDECEU
escolhido por eles. A proposta foi recebida com entusiasmo e E CONTINUOU ATRÁS DELE. ENTÃO O MONSTRO O
escolheram escrever histórias. Uma das histórias foi utiliza- FERIU COM AS UNHAS.
da como roteiro de um desenho animado, o que propiciou O JUCA QUE ESTAVA INDO PARA O CASTELO PE-
a articulação com as SAT’s de Artes. Segue abaixo a história GAR UM REMÉDIO PARA A MÃE E A LILITA, JOGOU UM
construída para o desenho animado: REMÉDIO LÍQUIDO NOS OLHOS DELE, E O MONSTRO
FICOU CEGO ATÉ O AMANHECER.
UMA HISTORIA DE TERROR JUCA E TITICO VOLTARAM PARA A FAZENDA LEVAN-
DO O REMÉDIO PARA A MÃE E A LILITA.
EM UMA MONTANHA PERTO DA CIDADE, HA- QUANDO AMANHECEU, O MONSTRO FOI ATÉ A
VIA UM CASTELO ASSOMBRADO. NELE MORAVA UM FAZENDA, POIS O LÍQUIDO QUE O DEIXOU CEGO TINHA
HOMEM QUE TINHA O ROSTO MARCADO POR ACABADO O EFEITO, BATEU NA PORTA E LILITA ATENDEU
CICATRIZES, TRÊS OLHOS, UM RABO DE MACACO. ELE AINDA MANCANDO POR CAUSA DA PICADA DE CO-
NÃO TINHA NOME, MAS TODOS NA CIDADE O CHA- BRA, FICOU ASSUSTADA E COMEÇOU A GRITAR PELA
MAVAM “BIRUTO DA MEIA-NOITE” POR CAUSA DO BA- MÃE, PELO TITICO E O
JUCA QUE ESTAVAM DORMINDO.
RULHO QUE ELE FAZIA À MEIA-NOITE. TODOS OS DIAS
APARECEU A MÃE E O MONSTRO PEDIU DES-
ELE UIVAVA DE NOITE PARA ASSUSTAR AS PESSOAS E
CULPAS E OS CONVIDOU PARA IREM AO CASTELO.
AFASTÁ-LAS DO SEU CASTELO.
ELES SE TORNARAM AMIGOS.
ALI PERTO TINHA UMA FAZENDINHA MUITO PO-
JUCA DEU A IDÉIA DE FAZER UMA FESTA PARA AS
BRE. MORAVA NELA, UMA MÃE, QUE ERA MUITO VELHA
PESSOAS CONHECEREM O BIRUTO DA MEIANOITE. A
COM DOIS FILHOS ADOTADOS: TITICO E LILITA.
FESTA FOI DE FANTASIA E TEVE A PRESENÇA DE TODOS
TITICO ERA UM ADOLESCENTE MUITO LEVADO, CA- DA CIDADE E DA FAZENDA E O MONSTRO FICOU MUI-
ÇADOR DE BRIGAS E AMIGO DO MONSTRO BIRUTO TO FELIZ.
DA MEIA-NOITE. AUUUUUUUUUU...
DE MANHÃ ELE LEVANTA PULA A O interessante é que a história aqui apresentada tem
JANELA E VAI PARA O CASTELO BRINCAR E CONVER- características e personagens próximos da realidade dos
SAR COM O MONSTRO. alunos: a mãe pobre, os filhos adotados, o pai ausente, o
SUA IRMÃ FICA EM CASA BRINCANDO menino levado e o personagem principal com o nome sig-
COM OS ANIMAIS. ELA É MUITO MEDROSA E MORRE DE nificativo de Biruto, incorporando todo o estigma vivi-
MEDO DE SAIR DE CASA. do por essas crianças. Essa produção de texto demonstra o
UM DIA O MONSTRO FOI NA FAZENDA CONHE- quanto é importante um espaço pedagógico que possa
CER A MENINA E A MÃE. ELE FOI DE NOITE. A MÃE auxiliar esses alunos a simbolizar suas histórias, dar sentido
ESTAVA FAZENDO CROCHÊ, O TITICO à sua experiência de vida, sem a preocupação com o desem-
ACORDADO SENTADO NA ESCADA DA SALA LENDO penho acadêmico ou com o processo e a produção almejada
UM LIVRO DE KARATÊ, E LILITA ESTAVA DORMINDO NO pela escola. Aqui, de fato, o desejo inconsciente está presente
QUARTO. DE REPENTE OUVIRAM UM BARULHO ARRA- e essas construções pedagógicas significativas diminuem
NHANDO A PORTA, A MÃE CORREU PARA O QUARTO DA a oscilação presente quando as produções são realizadas sem
LILITA. sentido para o aluno e apenas para atender ao desejo da
TITICO MUITO CURIOSO FOI ABRIR A PORTA E DEI- professora ou da escola.
XOU O MONSTRO ENTRAR E DEPOIS O CONVIDOU PARA À medida que as histórias foram sendo produzidas
IREM PARA O CASTELO. QUANDO A MÃE ABRIUAPORTA- coletivamente, o interesse pela produção individual foi
DOQUARTOEPROCUROU O FILHO E NÃO ENCONTROU, crescendo. A escolha e o estilo da produção em outros
CHOROU ELA E A MENINA. gêneros textuais também surgiram, o que foi expresso por
ELA E A MENINA PROCURARAM TITICO A NOITE IN- alguns alunos: “Eu agora quero escrever a minha história
TEIRA NO MATO E FORAM PICADAS POR UMA COBRA. sozinha”, ou “Eu não quero escrever poemas, eu gosto é de
ESTAVA PASSANDO POR ALI, O JUCA, CAÇADOR escrever histórias”, “Eu agora sou ÂescricistaÊ e sou o melhor”.
DE COBRAS, QUE VENDIA O VENENO PRO MONSTRO. Através dos gêneros, o prazer em registrar suas idéias e a
ELE VIU AS DUAS CAÍDAS E AJUDOU PEGANDO E COLO- sua história era cada vez maior, “era a realidade virando
CANDO-AS NA SUA CARROÇA. ficção” (professora Jânia Almeida).

92
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Esse outro poema foi construído em 2005 por um jovem A arte é uma forma de expressão, principalmente
que costumava fugir da escola e da família para passar o dia quando a deficiência mental afeta a utilização de alguns recursos
em uma fazenda próxima, na qual trabalhava como ajudan- que possibilitam ao aluno exprimir-se oralmente ou pela lingua-
te. Ele se recusava a ir à escola, em um quadro de profunda gem escrita. A produção nessa SAT é muito significativa por de-
inibição e total recusa diante do saber acadêmico, sendo con- monstrar capacidades muitas vezes ocultas e desacreditadas desses
siderado analfabeto pela escola comum. alunos.
Esse é mais um relato, no qual a produção livre e espontânea Explorar toda a capacidade que a pessoa com deficiência
permite que o aluno se inscreva no fazer pedagógico e produza mental tenha, significa não limitar suas criações em produções
conhecimentos e textos significativos, dando um real sentido para acadêmicas ou por padrões estéticos, principalmente se esses pa-
a leitura e escrita. Depois de um ano no AEE, esse aluno pôde se drões são definidos por um outro, no caso pelo professor.
interessar pela escola e pelo aprendizado implícito nela, Objetivos:
apesar de ainda questionar a leitura sem sentido apresentada • Permitir e incentivar a livre expressão e a troca com o outro
a partir de textos ou fragmentos de textos descontextua- por meio da criação artística.
lizados e que não têm nenhum significado para ele. No • Possibilitar a criação artística em todas as suas dimensões.
entanto, depois do lançamento do livro “Chuvas de Poesia” ele • Produzir trabalhos de arte, por meio da linguagem do
tem demandado a produção de outro livro. desenho, da pintura, da modelagem, da colagem, da escultura
Os textos produzidos pelos alunos são compartilhados, e outras.
expostos em saraus, em programações da instituição com • Aprender a pesquisar e utilizar diversos materiais gráficos
presença dos pais e da comunidade, publicados no Boletim da APAE e plásticos sobre diferentes superfícies, para ampliar as possibilidades
de expressão e comunicação.
de Contagem, apresentados em filmes, livros e tirinhas ou clas-
• Apreciar as produções próprias e dos outros colegas e artistas,
sificados nos portfólios dos alunos.
por meio da observação e da leitura de obras de arte em expo-
A partir dessa prática, as produções como as aqui citadas têm
sições, catálogos, livros etc.
surgido de forma espontânea e crescente. Os alunos se sentem
• Ampliar o conhecimento: conhecer a História da Arte e seus
com maior autonomia e encorajados a produzir qualquer tipo personagens, elementos da cultura regional e brasileira e suas produções
de texto, seja oral, escrito ou desenho. Eles verbalizam oral- artísticas.
mente, dizendo estar mais preparados e confiantes em A proposta da produção de um desenho animado foi apre-
si mesmos para enfrentar a escola comum, com todas as suas sentada e desenvolvida por um grupo de alunos com idade acima de 14
dificuldades. A própria professora percebe que está mais cons- anos e teve início no segundo semestre de 2004.
ciente e confiante do seu trabalho e o seu depoimento demonstra Considerando que os alunos produziram suas próprias his-
como essa prática modificou sua concepção de ensino. “Partindo tórias na SAT Livros e Filmes, idealizou-se que poderiam tam-
do pressuposto de que somente uma parte do que nós sabemos nos é bém reproduzi-las por meio do desenho animado, já que
realmente ensinado, não faz sentido continuar com uma postura também eram excelentes desenhistas. A percepção da criação e
de „dona do saber,‰ que vem à instituição com o objetivo de repas- da capacidade desses alunos para desenhar e pintar surgiu após
sar conhecimentos a alguém que „não sabe‰, mas de alguém que a permissão de uma produção espontânea, sem a intervenção
vem com objetivos explícitos de realizar trocas e de fazer parte da direta da professora na procura de uma estética convencional
construção do conhecimento, que pode ser tanto meu quanto do meu e padronizada.
aluno” (Professora Jânia Almeida). A proposta do desenho animado foi desafiadora e ino-
vadora, uma vez que a própria professora não conhecia essa
4.4. Projetos na SATÊs Arte técnica e assim possibilitaria descobrir e conhecer os processos
Esta sala possibilita investigar e conhecer movimentos, obras, e as técnicas de animação de desenho, de construção de
grandes artistas de todos os tempos, assim como a História personagens, de fotografia, filmagem, edição e a pesquisa de
da Arte. Ao mesmo tempo, permite que os alunos usufruam da materiais junto com seus alunos.
Arte como observadores e criadores, contemplando, com O primeiro passo foi realizar uma reunião com to-
isso, o fazer, a apreciação e a reflexão artística. dos os professores envolvidos, pois essa proposta se realiza-
Quando o aluno cria com liberdade, fazendo seus desenhos ria de maneira articulada entre outras SAT’s, com um
e produções, ele levanta hipóteses e imprime sua marca na profissional de comunicação visual convidado, que ofereceu
construção simbólica de sua história, o que é fundamental para a produção e edição do desenho animado e o grupo de alunos
interessados.
o Atendimento Educacional Especializado.
Esse grupo foi composto por nove alunos, sendo aber-
O respeito às peculiaridades e ao conhecimento refere-se
to à participação de outros em determinados momentos do
à sensibilidade, à imaginação, à percepção, à intuição e à possibilidade
processo. O objetivo não se restringia a apenas transformar o
de projeção da ação prática para a ação simbólica.
registro escrito em um desenho animado, mas em construir no-
Essa primeira projeção é o ponto de partida que estrutura vos saberes durante a experiência do fazer.
o desenvolvimento estético, artístico e intelectual. O progres-
so do desenho demonstra mudanças significativas ficando mais A escolha das histórias foi feita mediante votação. Haviam
ordenadas, fruto de assimilações cada vez mais avançadas na três histórias construídas por eles: Um Natal Diferente, Uma
linguagem do artístico, possibilitando novas projeções História de Terror e O Rei e o Príncipe e a História de Terror
mais elaboradas. foi a escolhida.

93
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Na segunda etapa, a história foi lida por todos, ressaltan- Duas concepções sobre leitura podem fundamentar a prá-
do-se os elementos que seriam fundamentais para o desenho. tica dos professores. Elas são antagônicas e divergem quanto à
Os alunos participaram de todo o processo de construção do metodologia de ensino. Na concepção denominada tradicional, a
desenho, que foi norteado por atitudes de cooperação, troca leitura se caracteriza como um conjunto de mecanismos que
de idéias, descoberta de soluções e compromisso de concluir envolvem percepção e memória. Nessa abordagem, a decodifica-
o projeto. Cada aluno se localizava no trabalho, fazendo suas ção precede a compreensão leitora, sendo a soletração de palavras
escolhas, decidindo pelo personagem que representaria, como isoladas um caminho utilizado para que o aluno se torne leitor. As
o representaria, pelo cenário do desenho animado tanto pela atividades de leitura caracterizam-se pela repetição, sendo organiza-
forma de o representar como as cores, as técnicas e o ma- das normalmente de forma linear: primeiro as letras, em seguida
terial gráfico a ser utilizado. Participaram também da sono- as sílabas e assim por diante (Cellis, 1998).
plastia para o desenho na produtora que editou e finalizou A outra concepção, entendida como interacionista, pre-
o filme. coniza a leitura como produto de constante atividade de busca de
Abaixo alguns desenhos realizados para o filme. significado de um texto em situação de uso. Nessa concepção, ler é
Como resultado, o desenho animado produzido re- uma atividade que requer a coordenação de várias informações.
flete a espontaneidade e a liberdade de criação dos alunos. Trata-se de uma dinâmica que envolve uma construção cognitiva, na
Esse projeto foi desenvolvido na SAT de Artes pela professora qual há interferência da afetividade e das relações sociais. A busca
Telma Isabel Vieira Martins de 2004 a 2006. O desenho ani- pelo sentido do texto se dá por variados indicadores, tais como: o
mado está em vídeo e o filme também relata momentos desse contexto no qual o texto está escrito, o tipo de texto, o título, as
projeto. palavras, dentre outros aspectos. Os professores cujas práticas se funda-
mentam nessa concepção de leitura, propõem aos alunos textos
autênticos, completos, em situações reais de uso, respeitando suas
A emergência da leitura e da escrita em alunos com de- necessidades e desejos. A leitura se constitui um processo inte-
ficiência mental rativo entre os conhecimentos do leitor e aqueles que emergem
do texto. Assim, ler é interpretar o que o outro nos quer dizer (Cur-
A aquisição da linguagem escrita é compreendida como to et al, 2000). Esse conceito extrapola a noção da relação direta entre
uma evolução conceitual da criança e não como decorrência de leitura e decodificação. Qualquer professor pode reconhecer
aptidões perceptuais, viso-motoras e de memória. Inicial- alunos que decifram corretamente e não conseguem compreender
mente serão apresentadas neste texto algumas concepções so- o significado do que acabaram de ler. Entretanto, na medida em
bre a linguagem escrita, em seguida, focaliza-se a aprendizagem da que o aluno ler de forma ativa, fazendo apelo às informações do
leitura dos alunos com deficiência mental, destacando os aspec- contexto, ele é capaz de antecipar interpretações, reconhecer signi-
tos que interferem nesse processo. Por fim, aborda-se a avaliação ficados e ainda identificar erros de leitura (Curto et al, 2000). Desse
de alunos em processo de aprendizagem da linguagem escrita. modo, embora a decodificação seja necessária, ela não é o instrumen-
1. O que é ler? to que promove a compreensão do texto.
Mudanças filosóficas no campo da leitura
e da escrita vêm permitindo significativa evolução no que se 2. A aprendizagem da leitura e da escrita por alunos com
refere ao entendimento do processo de alfabetização. Os resultados deficiência mental
dos estudos realizados por Emilia Ferreiro e Ana Teberosky de- Os processos de aprendizagem da leitura e da escrita por alunos
ram origem a uma revisão radical no modo de compreender com deficiência mental são semelhantes aos daqueles considerados
como a criança aprende a língua escrita, e, consequentemente, normais sob muitos aspectos. Esses aspectos dizem respeito ao letra-
mudaram também a concepção de como ensinar a ler e a escrever. O mento, à dimensão desejante, às expectativas do entorno, ao ensino
entendimento atual desse processo se fundamenta em um sujeito e às interações escolares.
que aprende agindo com e sobre a língua escrita. Esse modo de
aprendizagem exige busca incessante na tentativa de compreender 2.1. Letramento
o sistema alfabético, nesse processo de aprendizagem, o aluno le- O letramento pode ser definido como um conjunto de prá-
vanta hipóteses e testa prováveis regularidades da língua escrita. ticas sociais que usam a escrita enquanto sistema simbólico em
A aprendizagem da leitura não é um ato simples de decodifi- contextos específicos e com objetivos específicos. É a forma como
cação do sistema alfabético, vai para além disso. Ler é compreender as pessoas utilizam a língua escrita e as práticas sociais de leitura e de
o sentido do texto, entendendo-o na sua relação dialética com os escrita nos diferentes ambientes de convivência. Segundo Soares, o
diferentes contextos, implica em dialogar com o autor ausente, letramento traduz uma condição do sujeito:
lendo as palavras e lendo o mundo. É o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e es-
No decorrer do processo de construção da escrita, as crianças crever. Implícita nesse conceito está a idéia de que a escrita traz conse-
descobrem as propriedades do sistema alfabético e, a partir da quências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísti-
compreensão de como funcionam os signos linguísticos, elas cas, quer para o grupo social em que seja introduzida, quer para o
aprendem a ler. indivíduo que aprenda a usá-la (1998: 17).
A aprendizagem da leitura ocorre de forma progressiva, mas A escola é o mais importante espaço social de letramento. No
não linear. Os conflitos são constantes e provocam mudan- entanto, nem sempre ela oferece variadas formas de práticas sociais
ças cognitivas importantes para a formação do leitor. Na de leitura. Sua ênfase é na alfabetização como processo de aquisição
apropriação da leitura, a mediação pedagógica é um fator impor- de códigos (alfabéticos e números), processo geralmente
tante, no sentido de promover conflitos e desafios cognitivos. concebido em termos de uma competência individual

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SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

necessária para o sucesso e promoção na escola (Kleiman, 1995). No Nas atividades de leitura e escrita se observa forte motivação
estudo realizado por Gomes (2001) identificou-se a impor- quando o aluno se envolve espontaneamente. Nestas oca-
tância das experiências vivenciadas no âmbito sociocultural, familiar siões eles demonstram prazer e entusiasmo pela tarefa. Entretanto,
e escolar para a aprendizagem da leitura e da escrita em alunos com alguns alunos não apresentam essa motivação espontaneamente,
síndrome de Down. As experiências familiares de contar histórias, necessitando da mediação do professor para se envolver com a ati-
formar rodas de leitura e proporcionar acesso a diferentes vidade. A mediação pedagógica consiste nas intervenções feitas pelo
materiais impressos favoreceram a formação desses leitores. professor no sentido de apoiar passo a passo o aluno no desen-
Outros estudos realizados com alunos com deficiência mental volvimento de uma atividade, quando ele demonstra dificul-
dade na realização da mesma ou, ainda, estimulá-lo no sentido de
(Figueiredo,2003) advindos de meio socioeconômico des-
despertar seu interesse quando esse se mostra desmotivado para
favorecido, indicaram que apesar deles não usufruírem de ricas
sua realização.
e diversificadas experiências de letramento, quando eles dispõem de O exemplo a seguir ilustra a mediação de uma professora dan-
oportunidades de ensino formal de leitura e escrita e quando do suporte a um aluno (12 anos, com deficiência mental) que estava
convivem em contextos nos quais existem leitores proficientes, eles escrevendo palavras com base em figuras.
se beneficiam com essas práticas. Sabe-se que nos contextos onde se Ednardo: Surfista começa com su? Professora: Sim, começa com
lê e se franquia material de leitura, há maior participação e interesse su. Ednardo escreve: AUAOO.
desses alunos por material escrito, sejam livros,revistas, jornais Professora: A palavra surfista termina com qual letra?
ou gibis. Ednardo: A. (Acrescenta a letra A na pauta escrita que fica:
AUAOOA)
2.2. Dimensão desejante Professora: Qual letra você escreveu no começo da palavra
surfista?
A motivação dos alunos para a aprendizagem da leitura tem
Ednardo: S.
uma relação direta com a dimensão desejante e esta se relaciona Professora: Procure a letra S na caixa de letras.
com o aspecto funcional proposto nas atividades e com o nível de Ednardo: Compara a letra encontrada com a pauta escrita e acrescenta
exigência para realização das mesmas. Figueiredo (2006) estudou a mo- a letra S na pauta que fica: SAUAOOA.
tivação de um grupo de alunos com deficiência mental para realizar Em seguida, a professora trabalha um texto sobre a temática
atividades de leitura e escrita. A autora observou que esses alu- em questão, no qual o aluno entra em contato com a escrita da
nos apresentavam motivações diferentes segundo o tipo de ativi- palavra surfista. As atividades propostas pelo professor e a mediação
dade solicitada pelo professor. Essas atividades se constituíam durante a realização das mesmas devem visar a autonomia dos
da escrita do nome próprio, escrita de listas de compra, escrita de alunos partindo de seus interesses, respeitando suas possibilidades
bilhetes e de registros com base na contação de historias, registro motoras, cognitivas e afetivas, porém com solicitações que promovam
de visitas, passeios, festas e acontecimentos e ainda de registros de o avanço conceitual desses alunos.
palavras e textos relacionados com algumas gravuras. Dentre
2.3. Expectativas do entorno, ensino e interações es-
essas atividades a escrita do nome próprio e a escrita de bilhete colares
foram as que propiciaram maior motivação. Por outro lado, a escrita As expectativas positivas dos familiares e dos professores in-
de histórias e a escrita de listas de compras foram as atividades que terferem na aprendizagem dos alunos. Essas expectativas se
obtiveram menor índice de motivação dos alunos. manifestam nas diversas situações de interações sociofamiliares
Escrever bilhetes ou escrever o próprio nome parecia ter uma e escolares. Embora possam existir diferenças no desenvolvi-
funcionalidade imediata vinculada ao prazer e à importância atri- mento das crianças, é importante ter consciência de que elas
buída ao fato de saber ler e escrever o próprio nome, bem como, podem se beneficiar de diferentes experiências no contexto
a autonomia de poder comunicar um fato ou solicitar algo, no familiar e escolar. Desejar que todos aprendam igualmente é
caso da escrita de bilhetes. O grau de dificuldade experimen- uma tarefa impossível, mesmo em se tratando de pessoas ditas
normais. Essa compreensão possibilita uma educação pau-
tado pelos alunos na escrita com base em história talvez responda
tada no respeito aos ritmos e às potencialidades individuais.
pelo baixo índice de motivação dessa atividade. Observou-se que as O trecho a seguir ilustra o tratamento dado por uma mãe à sua
tarefas com maior grau de dificuldade e que não apresentam uma filha com síndrome de Down no período inicial de desen-
função social imediata e clara tendem a desmotivar os alunos. Por volvimento.
outro lado, as atividades nas quais os alunos identificam uma Em casa eu tratei Maria Luiza como eu tratei o primeiro,
função social, como escrever um bilhete num contexto real não fiz diferente, só que ela na idade que o outro correspondia,
de comunicação, são investidas de grande motivação. ela não correspondia, ela precisava de mais tempo... Ela era
Os motivos que mobilizam os sujeitos para a escrita de pe- uma menina ativa, viva, prestava atenção à televisão, doida por
quenas mensagens se diferenciavam segundo o interesse e a indi- música, mas era molinha (Mãe de Maria Luiza).
vidualidade de cada um. Janyce, uma adolescente com 16 anos Muitos professores desenvolvem suas práticas pedagógicas
alimentava fantasias de namoros e algumas vezes produzia bilhetes pautando suas ações no princípio da realidade da sala de
aula. Eles organizam as atividades tendo como referência as
para um namorado imaginário. Nestas circunstâncias demonstra-
diferentes respostas de seus alunos e não em julgamentos pré-
va entusiasmo e a sua escrita era marcada por uma sequência de concebidos a respeito de suas possibilidades de aprendizagem.
traçados circulares imitando letras cursivas destacando-se especial- A professora de uma aluna com síndrome de Down explica a
mente a presença das letras: t, m, n, v. Em seus registros normalmente forma como desenvolvia sua prática com essa aluna numa sala
utilizava toda a folha de papel. regular:

95
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

A Ana Paula, em relação às outras crianças, eu tratava da escrita pela criança, os traços gráficos se diferenciam pouco
como igual, porque realmente ela se comportava igual, como a pouco de modo que alguns adquirem formas figurativas, en-
as outras crianças... Ela já veio alfabetizada, só que eu tinha quanto outros evoluem na imitação de caracteres semelhantes
que orientar (...). Ela lia muito bem, ela já sabia fazer treino à escrita. A partir dos quatro anos de idade, a criança se torna
ortográfico, ditado, ela fazia tudo direitinho, tirava da lousa e capaz de diferenciar desenho e texto como dois modos de representa-
tudo (˜ângela professora da 1À série de Ana Paula). ção gráfica. Entretanto, a criança não atribui o sentido unicamente ao
A professora evidenciou que não percebia quase ne- texto, ela considera que o sentido pode estar tanto em um quanto
nhuma diferença entre Ana Paula e os outros alunos ditos em outro desses elementos (Ferreiro e Teberosky, 1986).
normais. Na visão dela, essas pequenas diferenças não
impediam sua aprendizagem. As atitudes e as expectativas Para avaliar a relação que a criança estabelece entre o desenho
positivas exercem fortes influências no desenvolvimento e o texto, o professor poderá utilizar diferentes procedimentos.
das crianças. Um deles consiste em apresentar um livro de literatura infantil com
Segundo Vygotsky (1995), há uma relação de dependência imagens e texto, e solicitar para a criança indicar onde ela pensa
entre o desenvolvimento do ser humano e o aprendiza- que se lê a história.
do realizado num determinado grupo social. O desenvol- Normalmente no início da escolarização três níveis de conheci-
vimento e a aprendizagem estão inter-relacionados desde o mento podem ser identificados nos alunos no que se refere à relação
nascimento. Na concepção de Vygotsky (1986), a criança com que eles estabelecem entre desenho e texto. 1 O nível em que as crianças
deficiência deve ser compreendida numa perspectiva quali- consideram que o sentido está no desenho.
tativa e não como uma variação quantitativa da criança sem 2 O nível no qual as crianças acreditam que o sentido está ora
deficiência. As relações sociais estabelecidas com essa criança no desenho, ora no texto. 3 O nível em que as crianças atribuem o senti-
deverão necessariamente considerá-la como uma pessoa ativa, do ao texto. Nos estudos que realizamos com alunos com deficiência
interativa e capaz de aprender. mental, identificamos um nível intermediário entre o 2 e o 3, aquele
Na escola, a convivência com as contradições sociais, em que ele sabe que o sentido está no texto, mas a presença do dese-
a diversidade e a diferença possibilitam um espaço rico de nho é importante para atribuir sentido à leitura. Como estamos
aprendizagem para todos alunos. O confronto saudável no tratando o tema de forma evolutiva, esse nível será apresentado neste
grupo promove a construção de conhecimentos. Com efeito, texto antes do nível 3.
as diferenças nas salas de aula contribuem para aprendiza-
O sentido do texto está no desenho.
gem de todos. O favorecimento de eventos de letramento,
As crianças desse nível não reconhecem ainda o texto como ma-
a disponibilidade de material impresso de leitura, tanto
terial a ser lido. É o caso por exemplo de Maria, uma criança com
na família quanto na escola, proporcionam uma significa-
deficiência mental com 5 anos de idade.
tiva influência sobre a aprendizagem da leitura dos alunos.
Professora: Onde você pensa que nós devemos ler a história?
Criança: A menina. (mostra a gravura de uma menina sobre
3. A avaliação da aprendizagem da leitura e da escrita
a página)
Uma bem-sucedida intervenção em leitura e escrita começa sem- Professora: Não é aqui que se lê a história? (mostrando o
pre por uma boa avaliação do nível de evolução em que se encontram texto)
os alunos. Numa sala de aula, o nível de evolução da linguagem es- Criança: (aponta para o desenho).
crita dos alunos é sempre muito variado. Alguns se encontram Segundo essa criança, o sentido está no desenho. Entretanto,
em estágios iniciais da representação e da interpretação da escrita, vale ressaltar que existe dois tipos de comportamento. Algumas
outros em níveis mais avançados. Muito raramente um aluno já crianças não atribuem nenhuma importância ao texto, outras, no-
inicia sua escolarização apresentando uma escrita alfabética, espe- tam a presença do texto, mas não lhe atribui sentido para a
cialmente quando se trata de alunos com deficiência mental. leitura. Para elas podemos ler a história mesmo quando o texto está
Para avaliar a evolução dos alunos o professor pode utilizar diferen- coberto, mas o mesmo não acontece se cobrirmos o desenho
tes tipos de atividades. Nesse texto serão apresentadas algumas deixando o texto visível. No entanto, isso não significa que es-
proposições as quais foram desenvolvidas por Ferreiro e Teberosky sas crianças sejam incapazes de diferenciar esses dois elementos, elas
(1986) e adaptadas por nós (Figueiredo, 2006; Figueiredo são capazes de reconhecer as marcas típicas do desenho e aquelas da
Boneti, 1999a, 1999b) para avaliar a evolução da linguagem escrita.
escrita em alunos com deficiência mental.
O sentido está no desenho e no texto.
3.1. Relação entre desenho e texto Esse nível se caracteriza por uma certa ambiguidade quanto à
A maioria das crianças em idade préescolar faz a distinção proveniência do sentido. As crianças situadas nesse nível atribuem
entre o desenho e o texto (Ferreiro e Teberosky, 1986). Para essas o sentido da leitura tanto ao desenho quanto ao texto. Quando o
crianças, o desenho serve para olhar, enquanto que o texto serve professor lhes pergunta onde deve ler a história elas mostram ora
para ler. Entretanto, no início da representação gráfica, para a crian- o desenho, ora o texto, ora os dois. Quando lhes perguntamos se
ça, desenho e texto não se diferenciam. Segundo Vygotsky podemos ler no desenho, elas respondem às vezes sim e às vezes não.
(1995), um momento importante na evolução da linguagem Quando perguntamos se podemos ler no texto, elas respondem que
escrita é quando a criança percebe que pode desenhar não somente sim e tentam explicar o que está escrito no texto. Nicolau, um me-
os objetos, mas também, as palavras. Para Vygotsky é difícil precisar nino com 5 anos, com deficiência mental, diz que podemos ler a
como se opera a passagem da atividade de desenhar objetos para palavra bolo no desenho do bolo. Quando lhe perguntamos se
o desenho das palavras. Durante a evolução da representação podemos ler no texto ele responde que é seu nome que está

96
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

escrito. Quando perguntamos a Joelma (5 anos, com defi- com a colher. É importante ressaltar que essa criança começa a
ciência mental) se podemos ler no texto, ela responde seguindo compreender a natureza distinta do desenho e do texto, mas ela
no texto com o dedo: mamãe faz o biscoito apoiando sua resposta percebe este último como uma tradução do sentido do desenho,
sobre o desenho. Uma passagem de sua entrevista ilustra visto que o texto não pode ser interpretado sem a presença do
seu comportamento: desenho. No nível seguinte, o texto se diferencia do desenho: a crian-
Professora: O que é isto? (mostrando o desenho) ça atribui ao texto a enunciação verbal global.
Criança: Uma menina. Outra possibilidade de avaliar a relação que a criança estabe-
Professora: E isto (o texto) o que é? lece entre desenho e texto é apresentar à criança dois cartões conten-
Criança: É... do imagens idênticas, mas cada um com uma palavra diferente. Nessa
Professora: O que está escrito aqui? (mostrando o texto) atividade, o professor apresenta um dos cartões e solicita que a
Criança: Leite. (olhando para o desenho de uma embalagem criança diga o que está escrito nele. Em seguida apresenta o
de leite) segundo cartão com imagem idêntica à do cartão apresentado an-
Professora: E aqui? (indicando uma palavra no texto) teriormente, mas com uma palavra diferente daquela do cartão
Criança: Ovos.
precedente. Solicita-se que a criança diga o que está escrito. O pro-
Professora: E ali? (mostrando outra palavra sobre o texto)
fessor deve usar sempre dois cartões com imagens idênticas, como
Criança: Colher.
por exemplo: imagem de uma casa, sendo que em um cartão está
Joelma se apóia no desenho para dar todas as suas respostas. A
diferença fundamental entre essas crianças e aquelas do nível ante- escrito a palavra casa e no outro a palavra bola. Poderá usar também
rior é que as desse nível reconhecem o texto como um substitutivo cartões com a figura de um pato, sendo um com a palavra pato e o
do desenho quanto à proveniência do sentido, como um meio outro com a palavra vela; cartões com a figura de lápis e as pala-
de exprimir o desenho. As crianças desse nível sempre afirmam vras lápis e borracha, conforme ilustração a seguir:
que existem palavras no texto. Aquelas do primeiro nível nem O professor deve apresentar primeiro o cartão que contem o
sempre reconhecem a presença de palavras no texto e, mesmo nome correspondente a figura, por exemplo o cartão com figura
quando o fazem, não lhes atribuem significado. As crianças de um pato e a palavra pato. Ele deve perguntar o que a criança ver
que atribuem o sentido da leitura ora ao desenho, ora ao texto, sobre o cartão (indicando a figura), depois pergunta o que esta escri-
interpretam o sentido do texto se apoiando no desenho. Essas to (indicando a palavra escrita sobre a figura).
crianças estão mais evoluídas que aquelas do primeiro nível Em seguida o professor apresenta o segundo cartão com
que atribuem sentido somente ao desenho e menos evoluídas que as a figura idêntica mas com uma palavra diferente daquela do car-
crianças do nível seguinte, que atribuem sentido ao texto. tão anterior (por exemplo, sobre a figura do pato, a palavra bola).
O professor procede com o mesmo tipo de pergunta: o que é isto
O sentido está no texto, mas a presença do desenho é im- (apontando sobre a figura)? Em seguida pergunta: o que está escrito
portante. (indicando a palavra escrita sobre a figura)? Se a criança responde que
Para as crianças situadas nesse nível, o desenho é percebi- está escrito a mesma palavra que a do cartão anterior (neste exemplo:
do como um recurso auxiliar ao texto na atribuição do sentido. pato), o professor questiona se os dois nomes são iguais e solicita
Quando perguntamos onde devemos olhar para ler a história, elas que ele compare as letras que o constitui. Se mesmo assim a criança
indicam sempre o texto. Quando o texto está escondido (o pro- afirma que os dois nomes são iguais, o professor passa para uma
fessor cobre o texto com uma folha de papel), elas dizem que não nova parelha de cartões. Se a criança reconhece que as letras que con-
podemos mais ler a história. Entretanto, quando é o desenho que titui as duas palavras são diferentes, o professor volta a questionar o
está coberto, elas vacilam quanto à possibilidade da leitura do tex- que está escrito em cada um dos cartões.
to. Cindy (uma menina de 6 anos, com deficiência mental) duvida Normalmente a proposição dessa tarefa suscita quatro tipos
que possamos ler a história quando o desenho está coberto. Quando
de respostas diferentes:
lhe perguntamos porque ela pensa que não podemos mais
1 A criança reconhece o texto como etiqueta do desenho,
ler a história quando o desenho está coberto, ela responde:
nesse caso, apesar de reconhecer a diferença na escrita das duas pa-
porque ele está escondido e não podemos mais ver o desenho. Estevão,
6 anos e também com deficiência mental, responde: lavras, a criança, continua afirmando que no segundo cartão está
Professora: Onde você pensa que devemos ler a história? escrita a mesma palavra que a do cartão anterior.
Criança: Aqui. (Estevão mostra o texto) Professora: E aqui? 2 A criança percebe a diferença na escrita das palavras e atribui
(mostrando a gravura) Criança: Não! uma nova interpretação à segunda palavra, mas dentro do campo
Professora: É sempre aqui (texto) que devemos ler a história? semântico de desenho.
Criança: Mas... é sim! 3 A criança reconhece a diferença entre as palavras, no en-
Nesse nível a criança indica sempre o texto como o lugar tanto, ainda não consegue atribuir sentido à segunda palavra.
onde a história está escrita. Entretanto, quando perguntamos 4 A criança lê ambas as palavras sem fazer uma relação direta
à criança se ainda podemos ler a história quando o desenho está com o desenho, quando ela já é capaz de ler alfabetica-
coberto, elas são confrontadas com um grande problema, pois, para mente. A seguir, explicaremos cada uma dessas respostas.
elas, o sentido está no texto, mas o desenho funciona como um
elemento auxiliar que deve ser visto também. Isto é, elas aceitam O texto é etiqueta do desenho.
que é no texto que devemos ler, mas consideram que o desenho A criança responde que em ambos os cartões está escrita a
é indispensável para guiar a interpretação do texto. A presença mesma palavra, mesmo quando ela reconhece que as letras que com-
do desenho representa um apoio ao texto. Olhando para o dese- põem as duas palavras são diferentes. Esse tipo de resposta indica que
nho, Cindy conta a história seguindo o texto com o dedo e dizen- a criança se orienta exclusivamente na imagem para interpretar o
do: coloque o açúcar... o leite... a menina faz um bolo, ela mexe que está escrito.

97
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Reconhece a diferença e atribui nova interpretação à Como nesse nível a criança já percebe que dois registros com
gravura. grafias tão diferentes não podem representar a mesma palavra, ela
tem a convicção que não são as mesmas palavras, e não se arrisca em
Nesse tipo de resposta, a criança reconhece a diferença na escrita responder de modo aleatório. As respostas dessa natureza são
e justifica essa diferença atribuindo nova interpretação à gravura. consideradas mais evoluídas que aquelas dos níveis anteriores.
Essa nova interpretação normalmente é vinculada ao gênero ou ao
grau do substantivo, à semelhança semântica ou às particularidades A criança reconhece a diferença entre as palavras.
da figura. Nesse último tipo de resposta as crianças justificam Nesse nível conceitual a criança é capaz de ler alfabeticamente sem
a diferença na escrita da palavra tal como no exemplo dos cartões necessitar do apoio das imagens.
com a imagem de lápis, afirmando que se num cartão está escrito
lápis, no outro está escrito caneta. Quando a criança responde que 3.2. Estratégias de leitura
num cartão está escrito lápis e no outro está escrito lápis pequeno, As estratégias de leitura são utilizadas por todos os leitores. Sabe-se
ela está tentando justificar a diferença na grafia das palavras se que os leitores mais eficientes são os que melhor as utilizam, enquanto os
apoiando no grau do substantivo. Embora a criança não alunos com maior dificuldade na leitura são menos eficientes no seu
tenha consciência (metaconhecimento) de gênero, número e grau uso. As estratégias de compreensão leitora são procedimentos de
de substantivo, ela se apóia no conhecimento adquirido pelo uso caráter elevado, que envolvem a presença de objetivos a serem reali-
da linguagem verbal. O exemplo a seguir zados, o planejamento das ações que se desencadeiam para atingi-los,
ilustra o apoio que a criança faz do gênero do substan- assim como sua avaliação e possível mudança.
tivo. Para avaliar a emergência das estratégias de leitura, o professor
pode utilizar diversos gêneros textuais. Eles permitem observar que
Professora: O que está escrito aqui? (apontando a palavra pato estratégias são utilizadas pelo leitor na tentativa de interpretar o texto.
sobre a figura de um pato) Quando o professor avalia a leitura dos alunos ele pode utilizar livros
Criança: Pato. de literatura infantil, textos com ou sem imagens e os mais variados
Professora: E o que está escrito aqui? (apontando a palavra bola portadores de textos.
sobre a figura de um pato) Em seus estudos com alunos com deficiência mental,
Criança: Pato. Figueiredo (2003) identificou três tipos de estratégias de leitura:
Professora: Esta palavra é igual a esta? (apontando as palavras pato e 1 Estratégia com base no contexto.
bola cada uma sobre a figura pato) 2 Estratégia de associação de letras.
Criança: É. 3 Estratégia de decodificação, sendo esta última com e sem
Professora: E aqui? (apontando a palavra bola sobre a figura de um compreensão.
pato)
Criança: É. Estratégia com base no contexto.
Professora: Esta palavra (mostrando a palavra bola) tem as mesmas Esse tipo de estratégia se caracteriza pelo uso de conhecimentos
letrinhas que essa outra? (palavra pato) Elas são iguais? anteriores na tentativa de interpretar o texto escrito. Os alunos que
Criança: Não. utilizam essa estratégia mobilizam seus conhecimentos de acordo
Professora: E o que está escrito aqui? (palavra pato)? com as ilustrações, o tipo de texto e as suas experiências sociais com
Criança: Pato. a linguagem escrita. O seguinte exemplo ilustra o uso desse tipo de
Professora: É o que está escrito aqui? (palavra bola)? estratégia.
Criança: Pata. Professor: Eu vou mostrar para você alguns rótulos. Vamos ver se
você consegue ler? Você sabe o que está escrito aqui?
Também é bastante frequente a criança responder que está Ricardo: É o OMO.
escrito patinho ou bico de pato. Ou seja, a criança percebe que a gra- Professor: E como é que você sabe que é OMO?
fia das palavras é diferente e, nesse caso, se em uma das palavras está Ricardo: Ah tia, eu sei.
escrito pato, na outra deve ser algo relacionado ao pato, pois para Professor: E você sabe para que serve OMO?
a criança é a gravura que dá sentido ao texto. Se a palavra está escrita Ricardo: É para lavar roupa tia.
acima da imagem do pato, deve estar escrito o nome pato ou algo
que se relaciona a ele. À medida que a criança evolui em suas concepções Nesse exemplo, Ricardo mobiliza conhecimentos ante-
sobre a leitura, ela começa a perceber que a palavra escrita não re- riores para interpretar o que lhe é proposto, sua experiência anterior
presenta necessariamente a figura, como no caso da etiqueta permite que ele realize uma leitura global do texto, apesar de não
sobre uma mercadoria. Este momento já representa uma evolução ter se apropriado de estratégias específicas de decodificação. A
importante para a criança como veremos a seguir. mobilização do conhecimento prévio é de extrema importância
para a aprendizagem da leitura, logo o professor precisa estar atento
A criança reconhece a diferença na grafia sem atribuir para orientar o uso desse tipo de estratégia.
sentido à segunda palavra.
Estratégia de associação de letras.
Nesse nível conceitual a criança responde apontando as pa- O aluno quando utiliza esse tipo de estratégia, compara
lavras: aqui está escrito pato (apontando a palavra pato sobre a letras ou palavras do texto com aquelas do seu vocabulário. A tenta-
figura do pato) e aqui (apontando a palavra bola sobre a figura do tiva de ler uma palavra apoiando-se unicamente em letras de seu
pato) eu não sei o que é, mas não é o nome pato não, é outra coisa. repertório indica que o aluno está fazendo uma leitura global,

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SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

orientando-se pelo reconhecimento de letras isoladas, sem atribuir A ilustração indica que Elisabeth decodifica, contudo
importância ao conjunto e às particularidades dos caracteres que ainda não é capaz de atribuir significado ao texto. Nessa situação,
compõem a palavra. Nessa situação o aluno ainda não opera com as a professora pode oferecer um suporte no sentido de ajudar o alu-
regras de funcionamento da escrita alfabética. Para ilustrar essa estra- no organizar a informação segundo a lógica do texto. O professor
tégia, apresentamos uma atividade realizada por um professor, que também pode oferecer outros suportes que permitam regular o
consistiu no uso de crachás para identificação do nome próprio. próprio processo de compreensão do aluno. Por exemplo, a inferência
Nessa atividade, o professor distribuiu aleatoriamente os crachás a partir dos elementos do contexto, tais como o título, as ima-
com todos os nomes dos presentes, incluindo outros nomes de pes- gens, o contexto, entre outros.
soas ausentes.
Estratégia de decodificação: com compreensão.
Professora: Agora cada um pode pegar o seu nome. (Todos os alu-
nos pegam corretamente o próprio nome) Essa estratégia se caracteriza pelo uso da decodificação com
Professora: E estes nomes aqui, de quem são? (aponta para os nomes: sentido. Os alunos que utilizam esse tipo de estratégia são con-
Paola, Manuella e Conceição) siderados leitores proficientes. Na evolução da compreensão leitora,
Ricardo: Este é da Conceição e este é da Manuella. (apontando os os alunos não se limitam apenas ao uso de um tipo de estratégia.
nomes corretamente) Quanto mais eles evoluem, mais são capazes de utilizar estratégias so-
Professora: E este de quem é? (aponta para o nome Paola) fisticadas. A seguinte situação de sala de aula realizada com um aluno
Ricardo: Tem o P. É da Paulinha. com deficiência mental ilustra o uso dessa estratégia.
Professora: Tem certeza? A professora mostra um livro de literatura infantil e solicita a
Ricardo: Tenho. leitura do trecho: o rato falou para a pata: o céu pegou fogo.
Na situação descrita, Ricardo associa a
letra P ao nome de uma colega (Paulinha), cuja letra inicial é Professora: Leia Miguel.
a mesma do nome Paola. O aluno foi capaz de mobilizar conheci- Miguel: Rato. E este nome aqui é o pato. (aponta para a palavra
mentos anteriores, no caso o conhecimento da letra em ques- pata)
tão, para dar significado ao texto escrito. A letra inicial, de um
nome já conhecido, foi a pista utilizada para atender ao apelo da Professora: Muito bem, é isso mesmo.
professora. Miguel: Falou com a pata...
Professora: Falou o quê?
Estratégia de decodificação. Miguel: Falou que o céu pegou fogo!
Usando esse tipo de estratégia, o aluno realiza a leitura a Professora: Quem disse isso?
partir das unidades linguísticas, isto é, faz análise e síntese das letras Miguel: O rato falou para a pata que o céu pegou fogo.
que compõem cada sílaba das palavras. Normalmente os alunos
Nessa situação, o controle e as ações desenvolvidas por
apresentam dois tipos de estratégias de decodificação: um com
Miguel de modo autônomo asseguram a eficiência de várias estra-
compreensão e o outro sem compreensão do sentido do texto, que
tégias de leitura, que auxiliam no resgate do significado do texto. A
serão tratados a seguir.
utilização dessas estratégias requer operações cognitivas superio-
res, como a síntese e a inferência. Os alunos com deficiência mental,
Estratégia de decodificação:
dependendo de sua evolução conceitual na leitura, são capazes de faze-
sem compreensão.
rem uso de diferentes estratégias que vão desde aquelas menos evo-
O uso dessa estratégia indica que o aluno reconhece a relação
luídas até as consideradas mais evoluídas como a da decodificação
fonema-grafema, que constitui as unidades silábicas da palavra,
com sentido. Essas estratégias não diferem daquelas apresentadas
sem, contudo, realizar a síntese da mesma. Ele decodifica cada uma
pelos alunos considerados normais no decorrer do desenvolvimen-
das unidades que forma a palavra, mas não consegue nomeá-la ao to da linguagem escrita. As semelhanças encontradas entre alunos
término da decodificação. Esse procedimento pode ser identi- com e sem deficiência mental, não se limitam aos processos de lei-
ficado com a decodificação sem a recuperação do sentido da tura, mas também aos de produção de texto, como veremos a seguir.
palavra. A intervenção, a seguir, realizada com uma aluna com
síndrome de Down, demonstra o uso desse tipo de estratégia: 4. Produção escrita
Professora: O que está escrito aqui? (Aponta o título da história Apesar de alguns professores do ensino regular afirmarem que não es-
na capa de um livro: Fogo no céu) tão preparados para receber alunos com deficiência mental em suas salas
Elisabeth: Fo...go...no...céu. Professora: E o que esta frase diz? Eli- de aula, pesquisas recentes (Moura, 1997; Martins, 1996; Alves, 1987;
sabeth: (Silêncio). Figueiredo Boneti,1995, 1996, 1999a, 1999b; Gomes, 2001) vêm indi-
Professora: O que significa isso? cando que esses alunos vivenciam processos cognitivos semelhantes
Elisabeth: (Silêncio). aos das crianças ditas normais, no que se refere ao aprendizado da leitura e
Professora: E esta palavra aqui? (aponta para a palavra fogo) da escrita. Embora o ritmo de aprendizagem dos alunos com deficiência
Elisabeth: fo-go. se diferencie por requerer um período mais longo para a aquisição da
Professor: O que você leu? língua escrita, as estratégias de ensino para esses alunos podem ser as
Elisabeth: (Silêncio). mesmas utilizadas com os alunos ditos normais.

99
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

No decorrer do processo de construção da escrita, as crianças des- A escrita sem valor representativo.
cobrem as propriedades do sistema alfabético e, a partir da compreensão
de como funciona o signo linguístico, elas aprendem a ler e escrever. As produções que caracterizam essa etapa indicam que o aluno
Segundo Ferreiro e Teberosky (1986), no decorrer desse processo a criança não percebe ainda a escrita como uma forma de representação. Os regis-
passa por diferentes níveis, os quais apresentaremos a seguir. tros das crianças se caracterizam por formas circulares sem a utilização
Nível 1: Escrever é reproduzir os traços típicos da escrita que de sinais gráficos convencionais e sem intenção de representação.
a criança identifica como sendo a forma básica da escrita; a intenção Em nossa intervenção pedagógica com alunos com deficiência men-
subjetiva do escritor conta mais que as diferenças objetivas no resul- tal, aqueles que se encontravam nesse nível de representação não conse-
tado; podem aparecer tentativas de correspondência entre a escrita e o guiam interpretar as suas produções, mesmo quando estavam em um
objeto referido; desenhar pode ser encarado como uma tentativa de contexto preciso. A dificuldade de atribuir significado à escrita se ma-
escrever, embora possa identificar desenho e escrita do adulto ou, ainda, nifestava em diferentes atividades nas quais as crianças eram solicitadas a
servir como apoio à escrita para garantir o seu significado; as grafias são interagir com o universo gráfico. Em determinadas situações a criança
variadas e a quantidade de grafias é constante; a leitura do escrito é sempre não conseguia expressar o que estava desenhando ou que havia escrito.
global. Ela olhava para o conjunto de linhas retas
ou circulares que havia feito na folha de registro e dizia:
Nível 2: Para poder ler coisas diferentes, deve haver uma diferença não sei o que é. Mesmo quando se tratava de desenho ou pintura
objetiva nas escritas (critérios de quantidade mínima e variação de ca- em papel madeira, algumas crianças respondiam que não sabiam o
racteres); descobrese que duas ordens diferentes dos mesmos elementos que estavam desenhando. Em algumas situações as crianças não se envol-
podem dar lugar a duas totalidades diferentes; a correspondência viam com a tarefa e davam respostas aleatórias sugerindo não estarem
entre a escrita e o nome ainda é global (cada grafia vale como uma parte interessadas pela atividade ou simplesmente não compreenderem a
e como um todo); pode aparecer bloqueio (não posso, pois não sei o solicitação do professor.
modelo) e utilização de modelos adquiridos para prever outras escritas; Outro aspecto importante a ser considerado pelo professor são
adquirem-se certas formas fixas e estáveis. as dificuldades psicomotoras apresentadas por algumas crianças,
evidenciadas especialmente na motricidade fina, o que tornava para elas
Nível 3: Tentativa de dar um valor sonoro a cada uma das letras que quase impossível desenhar ou realizar o traçado das letras. As atividades
compõe uma escrita; é superada a etapa de correspondência global; as que envolvem modelagem, recorte e colagem são igualmente penosas para
exigências de variedade e quantidade mínima de caracteres pode esses alunos que normalmente se distanciam desse tipo de tarefa,
desaparecer momentaneamente; para resolver o problema de falta manifestando inclusive rejeição pela leitura e pela escrita. Muitas
de quantidade mínima para a grafia de alguma palavra, um elemento vezes essas crianças também apresentam dificuldades de concentração e
coringa poderá ser utilizado; a hipótese silábica se caracteriza pela noção de atenção. O uso de letras móveis, fichas com palavras e frases escritas,
de que cada sílaba corresponde a uma letra. Essa noção pode acontecer com jogos pedagógicos e livros de literatura infantil, são instru-
ou sem valor sonoro. Na escrita de uma frase, a criança utiliza uma mentos que podem auxiliar o professor no seu trabalho com esses
letra para cada palavra. alunos. Para superar as dificuldades de organização espacial e na coorde-
nação motora fina, o professor pode fazer uso de recursos variados que
Nível 4: Passagem da hipótese silábica para a alfabética. Esse é um permitam em alguns momentos a criança exercitar livremente sua
momento de conflito, pois a criança precisa negar a lógica da hipótese expressão gráfica, como o uso do desenho livre, e em outros escrever em
silábica. Nesse momento o valor sonoro torna-se imperioso, a criança espaços delimitados1
começa a acrescentar letras especialmente na primeira sílaba da palavra, Em nossos estudos os alunos que apresentam esse tipo
por exemplo, EFANT (elefante). Para ajudar a criança na passagem para o de respostas são justamente aqueles cujo comportamento se ca-
nível alfabético é importante o professor organizar atividades que a ajude racteriza por constantes dispersões, agitação e desinteresse por ati-
a observar a escrita e a refletir sobre a lógica do sistema alfabético. vidades que implicam em simbolismo, tais como desenho,
pintura e modelagem. Entretanto, a análise do desempenho
Nível 5: Escrita alfabética. Nessa fase a criança compreende a orga- desses alunos deve contemplar não somente os avanços na es-
nização do sistema alfabético. Quando escreve, demonstra conhecer crita, mas também os ganhos na aquisição de atitudes, tais como:
o valor sonoro convencional de todas ou grande parte das letras. cooperação, participação e interação no grupo, bem como
Distingue também letra de sílaba, de palavra e de frase. Pode ocorrer a maior interesse por atividades relacionadas à leitura e à
ausência da segmentação entre as unidades linguísticas que formam escrita: leitura e contação de histórias, registros orais e escritos,
uma frase. desenho, modelagem e escrita do nome próprio. À medida que
As crianças com deficiência mental passam por etapas semelhantes as crianças avançam nas atitudes que favorecem a aquisição da
a estas descritas por Ferreiro e escrita, elas começam a produzir registros utilizando-se de al-
Teberosky. Portanto, alunos com deficiência mental apresentam gumas letras, especialmente daquelas referentes à pauta do
hipóteses pré-silábica, silábica, silábicaalfabética e alfabética. Para ava- próprio nome.
liar a evolução escrita de alunos com deficiência mental, o professor pode Um avanço importante na aprendizagem da criança é
utilizar as mais variadas proposições, tais como: escrita livre de palavras quando ela demonstra gosto por jogos pedagógicos, espe-
e frases, reescrita de atividades vivenciais, reescrita de histórias lidas, cialmente aqueles de cartões com palavras, os quais mobili-
produção com base em imagens e escrita de bilhetes, entre muitas ou- zam o aluno para a interação no grupo, bem como para a atenção
tras. Os registros das crianças expressam o nível de evolução em que elas à escrita das palavras. Dessa forma, o professor que explora esse
se encontram, desde a escrita sem valor representativo até a escrita tipo de atividade está favorecendo a passagem do aluno para um
alfabética, com valor representativo. nível mais avançado.

100
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Escrita com valor representativo. terminação de seu nome, compondo a pauta: AUARDO.
Na medida em que a criança avança conceitualmente, o
A consciência de que para ler coisas diferentes deve haver elemento coringa desaparece dos seus registros. Para que essa
uma diferença objetiva nas escritas, conforme Ferreiro e Tebe- evolução ocorra, o professor deve mediar a escrita dos seus alunos
rosky (1986) identificaram em sujeitos normais, também aparece com ênfase nas unidades sonoras das palavras. Para que a
nos alunos com deficiência mental. O texto, a seguir, ilustra produção se aproxime da escrita convencional, é necessário
a produção de uma criança com deficiência mental no nível pré- também fazer associações fonéticas.
silábico da escrita. A professora leu a história Aladim e a lâmpada O primeiro indício de progresso para o nível silábico
maravilhosa e solicitou que os alunos escrevessem o que haviam ocorre com o surgimento da segmentação de palavras.
compreendido da história. Uma aluna com deficiência mental, ao ser solicitada a escre-
Na produção da história de Aladim, o aluno usa repertório ver algumas palavras e frases, na ausência de um modelo de
limitado de letras tendo como referência a pauta das letras que escrita convencional, ela escreveu: LONUBRATA, ARUANUATA
compõem o seu nome (Eduardo). Essa escrita demonstra a para representar a expressão: O leite é bom e a tia Socorro é boa.
preocupação com a variedade dos caracteres, especialmente em Embora a aluna não estabeleça a relação entre a pauta sonora
relação à ordem e sequência das letras. Apesar desse registro ainda e a pauta escrita, o uso da segmentação sinaliza indícios
se caracterizar como uma escrita do nível pré-silábico, a de avanço para a hipótese silábica. Para promover a evolução
representação que o aluno tem da escrita, evidenciada pela escrita de alunos que apresentem esse tipo de produção, o
leitura que ele faz de seu registro, indica uma progressão de idéias professor deve propor atividades que suscitem a composição de
e uma estrutura textual característica da escrita alfabética. Registros palavras e frases com base em letras móveis, indicando a
semelhantes a esses são produzidos por crianças sem deficiência. necessidade da segmentação.
O avanço conceitual da criança na escrita se dá de forma gra- Os alunos com deficiência mental são capazes de produzi-
dual. É comum a criança produzir registros de um nível precedente rem textos próprios do nível alfabético, apesar de seus registros
aquele no qual já é capaz de representar a escrita. No início do evidenciarem fragilidades em selecionar, controlar e organizar
processo de aquisição da escrita, alguns alunos que já são capazes de suas idéias com coerência. Nessas produções, a qualidade dos tex-
produzir escritas com orientações silábicas, podem apresentar tos está relacionada com o gênero textual. Na reescrita de textos
também produções com características da escrita pré-silábica. narrativos muitos alunos expressam dificuldades na recompo-
Por exemplo, em uma classe de alfabetização, uma aluna com sição do sentido global dos eventos narrativos, enquanto que nas
deficiência mental foi solicitada a reproduzir a parte que mais produções de textos com uso de imagens e na escrita de bilhetes,
gostou de uma história lida pela professora. Essa aluna escreveu o eles demonstram maior facilidade. Provavelmente as difi-
seguinte texto: SANRGATE. Quando a professora solicitou que ela culdades se acentuam na reescrita de textos narrativos porque
esses textos apresentam um grau elevado de complexidade e,
interpretasse a sua produção, ela leu fazendo correspondência en-
consequentemente, devem exigir maior elaboração em termos de
tre as unidades das palavras e a sequência das letras escritas: Ela (SA)
funcionamento cognitivo. Para auxiliar o aluno na superação
comeu (NRG) bastante (ATE). Na pauta escrita pela criança não há
dessa dificuldade, o professor pode orientá-lo na utilização de
evidência da relação fonema-grafema, assim como não há segmen-
algumas estratégias, tais como a mobilização de conheci-
tação das palavras. Entretanto, sua interpretação de escrita indica
mentos anteriores, a organização temporal dos fatos presentes
uma orientação silábica.
no texto lido, o reconto oral com a finalidade de elencar os even-
No nível silábico, o aluno demonstra ter adquirido a
tos principais da história.
compreensão de que a escrita constitui um meio de represen-
tação da fala e de registro de eventos, embora ainda não
compreenda os mecanismos de funcionamento desse sistema Mediações da aprendizagem da língua escrita por
de representação em nosso caso, a escrita alfabética. O início da alunos com deficiência mental
representação da escrita com base silábica pode ser identificado
nos registros dos alunos, quando eles começam a utilizar as letras 1. Introdução
do próprio nome para concluir suas produções. A escrita de
um aluno com deficiência mental (Eduardo) ilustra esse tipo Este trabalho é resultado de uma pesquisa que teve como
de comportamento. Ele escreve as palavras cachorro (CUURDO), objetivo investigar quais estratégias de leitura são desenvolvidas
vaca (AUARDO), borboleta (AVDURDO). Na leitura dessas por alunos com deficiência mental em atividades de leitura e
palavras ele leu uma sílaba para cada letra escrita, apontando a se- escrita e ao tentar compreender as regras de funcionamento da es-
quência RDO como sendo um final mudo. Seu comportamento crita alfabética.
evidencia a escrita silábica, com um caractere para cada sílaba O estudo, de caráter longitudinal, fundamenta-se numa
(na palavra vaca ele acrescenta a letra A para fazer a ade- abordagem sociohistórica de educação e desenvolvimento huma-
quação sonora da última sílaba) e ainda a utilização do RDO no. A investigação foi desenvolvida por intermédio de sessões
como elemento coringa da escrita. Esse elemento coringa é de intervenção e avaliação pedagógicas realizadas com alunos com
geralmente utilizado quando a criança entra no conflito entre deficiência mental, visando proporcionar-lhes experiên-
a hipótese silábica e o critério de quantidade mínima de carac- cias que contribuam para a aquisição da linguagem escrita, assim
teres. Para resolver esse conflito, a criança introduz uma ou mais como criar condições que possibilitem examinar seus processos
letras. No caso da palavra VACA, Eduardo utiliza dois elementos de aquisição dessa linguagem, especialmente no que se refere
coringas: a letra A e a terminação RDO que corresponde à ao desenvolvimento de estratégias de leitura e produção escrita.

101
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Os procedimentos da pesquisa constaram de: Vejamos o que dizem os dicionários.


1) Avaliação inicial da evolução dos sujeitos em relação à No Novo Dicionário Aurélio, encontramos sete
linguagem escrita e suas estratégias de leitura. acepções para o termo mediação. Destacamos as que definem me-
2) Sessões semanais de intervenção pedagógica com diação como 1. Ato ou efeito de mediar; 2. Intervenção, interces-
duração de aproximadamente duas horas e meia. são, intermédiz (Ferreira, 1986, p. 1.109). O Dicionário de Filosofia
3) Avaliação final dos progressos obtidos por cada sujeito ao de Abbagnano define mediação como a função que relaciona dois
longo do período de intervenção pedagógica. termos ou dois objetos em geral (1982, p. 627). De acordo com o
O estudo foi desenvolvido com 10 alunos com idade entre 12 Dicionário de Psicologia de E. Dorin, mediação é: 1 O meio utili-
a 20 anos, 2 dos alunos pertencem a uma família de classe média, zado pelo indivíduo (ser humano ou animal) para vencer obstáculos
enquanto os outros e atingir um objetivo (...); 2
8 pertencem a famílias de meio socioeconômico desfavoreci- Processo geralmente verbal que serve como elo, como ligação
do, 3 dos quais residem em uma instituição filantrópica para entre estímulos e respostas (Dorin, 1978, p. 173).
crianças abandonadas. A natureza mediada das atividades humanas é esclarecida por
Quanto ao desenvolvimento da linguagem escrita, Vygotsky (1991), ao analisar a estrutura das operações com signos. Ele
4 (Miguel, Alice, Lya e Elizabeth) atingiram o nível alfabético e apresenta a mediação semiótica como a característica que dis-
os demais se encontram nos níveis présilábico (Tomás, Pedro Paulo, tingue os comportamentos elementares das funções psicológicas
Sâmio e Joyce) e silábico (Ricardo e Eduardo) de aquisição da escrita. superiores argumentando que:
Desses alunos, 4 (Elizabeth, Joyce, Sâmio e Pedro Paulo) estudam na Toda forma elementar de comportamento pressupõe uma
APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), 1 (Lya) estuda relação direta à situação problema defrontada pelo organis-
em uma escola de educação especial, 1 (Alice) cursa a 2º série de escola mo (o que pode ser representado pela fórmula simples S Æ R).
particular de classe média, e os demais (Eduardo, Ricardo, Miguel Por outro lado, a estrutura das operações com signo requer um
e Tomás) estudam em salas especiais de escolas públicas estaduais. elo intermediário entre o estímulo e a resposta. (...) O termo
Nesse texto, analisamos um episódio de mediação pedagógica ‘colocado’ indica que o indivíduo deve estar ativamente en-
extraído da transcrição de uma sessão de avaliação registrada em fita gajado neste elo de ligação (pp. 44-45).
de vídeo, na qual pode-se observar o papel do mediador ao ajudar Em todas essas definições, a mediação é compreendida e ex-
um sujeito a se engajar em tarefas de leitura e/ou escrita. Assim, plicada como um esquema triádico cuja representação – to-
nosso principal foco de análise são as interações/diálogos en- mando-se como modelo a fórmula da atividade direta proposta por
tre o Mediador (professor), Sujeito Cognoscente (aluno) e Vygotsky – seria: S Æ X Æ R. Neste caso, um elemento interme-
Objeto de Conhecimento (a linguagem escrita), realizados no diário (X) constitui o elo mediador da relação entre um estímulo (S)
contexto de atividades de leitura e produção escrita desenvolvidas em e uma resposta (R). Assim, segundo Góes (1997, p. 11), a abordagem
sessões de intervenção e avaliação pedagógicas. Não temos a pretensão histórico cultural em psicologia (...) requer que se conceba o conhecer
de demonstrar o desenvolvimento psicogenético de um conceito como processo que se realiza na relação entre Sujeito Cognos-
ou habilidade em particular. Nosso propósito é evidenciar/ cente, Sujeito Mediador e Objeto de Conhecimento, esquema por ela
exemplificar como os alunos que participaram deste estudo se denominado modelo SSO.
beneficiam da mediação pedagógica ao tentar compreender a língua Quando empregado para a análise de relações de ensi-
escrita. no-aprendizagem fundamentadas na psicologia sociohistórica, esse
Antes de passarmos à análise do episódio a que nos referimos, esquema relaciona um sujeito da aprendizagem (o aluno, o apren-
consideramos necessária uma breve apresentação das noções de diz), o objeto do conhecimento (os conteúdos específicos) e um
mediação que orientam nosso trabalho – tarefa a que nos dedicamos sujeito ou instrumento mediador (cujas funções podem ser de-
na primeira sessão. Em seguida, na segunda sessão, apresentamos e sempenhadas por um professor, por alguém que desempenhe um
analisamos um evento extraído de sessões de mediação e avaliação papel equivalente ou, ainda, por uma ferramenta cultural).
pedagógicas dos sujeitos. Outras considerações sobre as múltiplas A clareza da análise de qualquer evento de mediação implica,
mediações que fazem parte da aprendizagem dos sujeitos do portanto, em especificar ou definir o papel de cada um dos
estudo serão apresentadas na terceira seção do texto e nas conside- elementos que compõem esta tríade.
rações finais.
3. Análise de um evento de mediação
2. Conceituando mediação A seguir apresentamos um episódio de mediação ocorri-
A partir da década de 80, com a crescente popularização dos do numa sessão de avaliação pedagógica realizada com Elizabeth, em
estudos sociohistóricos, observamos, com uma frequência cada vez 24/05/2001, quando ela tinha 13 anos e sua escrita encontrava-se no
maior, tanto no espaço escolar quanto em publicações educacionais, o nível silábico-alfabético. A tarefa de avaliação consistia em mostrar-
emprego da expressão mediação pedagógica e do termo mediador como lhe uma série de cartões, alguns contendo uma figura e uma palavra, e
sinônimos de ensino e professor, respectivamente. A despeito da cons- outros, uma cena com uma frase que a descreve. O objetivo da avaliação
tância de sua utilização e da infinidade de contextos teóricos e práticos era identificar como Elizabeth concebia a relação entre o texto e o
em que essas expressões são empregadas, a natureza e as características contexto e quais estratégias de leitura ela empregava para interpretar a
dos processos de mediação do ensino-aprendizagem são ainda pouco escrita. Era importante observar se as estratégias que ela utilizava tinham
conhecidas. Esse conhecimento, entretanto, é indispensável à tarefa de como suporte os recursos textuais presentes no material, tais como a
instrumentalizar as análises teóricas e o trabalho pedagógico. grafia do nome das gravuras, a descrição de ações de personagens e do
Afinal, o que é mediação? contexto representado.

102
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Seria conveniente programar encontros, estudos e ofi-


cinas para indagar os currículos enquanto planos e práticas
____________. INDAGAÇÕES SOBRE O pedagógicas que orientam nossa ação e nossas escolhas, a
CURRÍCULO: CADERNO 1 – OS EDUCANDOS, partir de nós mesmos, de nossas identidades profissionais,
SEUS DIREITOS E O CURRÍCULO – ARROYO, pessoais e coletivas.
MIGUEL;
Pensemos em alguns núcleos de indagação que po-
dem ser objeto de dias de estudo:
1o) A identidade profissional passa cada vez mais pela
Prezado Candidato, devido a complexidade do ma- identidade de trabalhadores em educação. Esta consciência
terial, disponibilizaremos um breve resumo, para que coloca o trabalho no cerne da organização escolar, dos tem-
assim não haja prejuízo em seus estudos. Para acesso pos e espaços de trabalho, seu ordenamento e intensidade.
A partir daí podem ser levantadas indagações para estudo: o
ao material na íntegra acesse nosso site:
currículo, seu ordenamento, suas hierarquias, a segmentação
www.novaconcursos.com.br/retificações dos conhecimentos em disciplinas, cargas horárias não condi-
cionam o nosso trabalho? Os esforços por formas de trabalho
docente mais humano não estão condicionados pelo ordena-
EDUCANDOS E EDUCADORES: SEUS DIREITOS E O mento dos currículos? Que mudar nesse ordenamento?
CURRÍCULO Vêm crescendo as sensibilidades para com o currículo
das escolas, porque percebemos que a organização curricu-
A reflexão sobre o currículo está instalada nas escolas. lar afeta a organização de nosso trabalho e do trabalho dos
Durante as últimas décadas, o currículo tem sido central nos educandos.
debates da academia, da teoria pedagógica, da formação do- Este é um ponto central para o debate sobre os currícu-
cente e pedagógica. Como está chegando o debate aos pro- los: como condicionam nosso trabalho. Vejamos. O currículo,
fissionais da educação básica? Haveria um clima propício nas os conteúdos, seu ordenamento e sequenciação, suas hierar-
escolas ao repensar dos currículos? quias e cargas horárias são o núcleo fundante e estruturante
do cotidiano das escolas, dos tempos e espaços, das relações
Partimos da constatação de que há um clima propício
entre educadores e educandos, da diversificação que se esta-
nas escolas ao repensar dos currículos. Neste texto, focaliza-
belece entre os professores.
mos as indagações que vêm dos sujeitos da ação educativa, Dependendo do prestígio dado pelos currículos aos co-
dos profissionais, educadores-docentes e dos educandos. nhecimentos que ensinamos, teremos categorias docentes
mais ou menos prestigiadas.
Educadores(as) indagam o Currículo Consequentemente, o currículo é o pólo estruturante de
nosso trabalho. As formas em que trabalhamos, a autonomia
Partimos de que os profissionais da educação infantil, ou falta de autonomia, as cargas horárias, o isolamento em
fundamental, média, de EJA, da educação especial vêm se que trabalhamos... dependem ou estão estreitamente condi-
constituindo “outros”como profissionais. Sua identidade pro- cionados às lógicas em que se estruturam os conhecimentos,
fissional tem sido redefinida, o que os leva a ter uma postura os conteúdos, matérias e disciplinas nos currículos.
crítica sobre sua prática e sobre as concepções que orientam
suas escolhas. Essa postura os leva a indagar o currículo desde 2o) Esta sensibilidade docente para o trabalho e sua re-
lação com a organização curricular vem associada a uma nova
sua identidade. Que indagações sobre o currículo vêm dessa
sensibilidade para com a organização escolar e sua íntima re-
nova identidade profissional? Esta indagação está posta à ca-
lação com a estruturação do nosso trabalho. No nosso sis-
tegoria e merece ser explicitada, assumida e trabalhada nas tema educacional, a estrutura das escolas é rígida, disciplina-
escolas e Redes. da, normatizada, segmentada, em níveis, séries, estamentos
Por outro lado, as identidades pessoais vêm sendo rede- e hierarquias. O trabalho docente reproduz essas estruturas,
finidas. Identidades femininas, negras, indígenas, do campo. hierarquias, níveis e prestígios, reproduz carreiras e até salá-
A identificação de tantas e tantos docentes com os movi- rios, hierarquizados.
mentos sociais suscita novas sensibilidades humanas, sociais, A organização de nosso trabalho é condicionada pela or-
culturais e pedagógicas, que se refletem na forma de ser pro- ganização escolar que, por sua vez, é inseparável da organi-
fessora-educadora, professor-educador. Refletem-se na forma zação curricular.
de ver os educandos, o conhecimento, os processos de en- O que ensinamos, como ensinamos, com que ordem,
sinar-aprender. Que indagações sobre o currículo vêm dessa sequência, lógicas e em que tempos e espaços são os condi-
nova identidade pessoal e coletiva dos(as) educadores(as)? cionantes de nossa docência, realizamnos como profissionais
De formas diversas e em tempos diversos, essas indaga- ou limitam-nos e escravizam-nos a cargas horárias, a dupli-
car turnos, a trabalhar com centenas de alunos por semana.
ções aparecem em encontros dos coletivos das escolas, em
Sermos fiéis ao currículo, às competências que prioriza, às
dias de estudo, em congressos de educadores(as). precedências e hierarquias e a toda essa engrenagem mon-
1 Professor Titular Emérito da Faculdade de Educação tada em nosso trabalho tem estreita relação os conteúdos
da UFMG e Ex-Secretário Municipal Adjunto de privilegiados e selecionados, sobretudo, com as lógicas em
Educação da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. que estão organizados no currículo.

103
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Um exercício instigante pode ser dedicar encontros a res- Sem dúvida, o avanço dessa prática de trabalho coletivo
ponder a esta pergunta: como a organização curricular con- está se constituindo em uma dinâmica promissora para a reo-
diciona a organização da escola e por consequência do nosso rientação curricular na educação básica.
trabalho? Que organização dos currículos e da escola tornará Esses coletivos de profissionais terminam produzindo e
nosso trabalho mais humano? selecionando conhecimentos, material, recursos pedagógi-
Constadas essas íntimas relações entre a organização es- cos. Tornam-se produtores coletivos do currículo. Como exer-
colar, a organização curricular e as formas em que o trabalho cermos o direito e a responsabilidade de ser autores coletivos
docente é estruturado, as indagações sobre os currículos teriam do repensar dos currículos e de nossas práticas?
de situar-se no cerne, ou nas lógicas e valores que o estruturam; Um exercício interessante pode ser mapear e intercambiar
o mesmo em relação à organização escolar: essas práticas coletivas. Uma vez feito esse exercício, podemos
que lógicas, concepções, valores regem, legitimam essa or- perguntar-nos pelos significados dessas práticas educativas.
ganização? São igualitárias, democráticas, inspiradas no referen- 4o) Ao mesmo tempo em que os educadores têm no-
te político da garantia do direito de todos ao conhecimento, à vas sensibilidades sobre si mesmos e sobre suas identidades,
cultura, à formação como humanos? São lógicas que permitem mudanças significativas vêm acontecendo nas identidades
a humanização do trabalho dos profissionais das escolas? Que
dos educandos. Também são“outros”, como crianças e ado-
igualam ou hierarquizam os docentes?
lescentes, como jovens e adultos. As identidades dos educa-
Estas indagações vão mais fundo do que apenas inovar
dores sempre se conformaram em diálogo, até tenso, com as
temas, didáticas, atualizar as disciplinas ou acrescentar alguns
temas transversais. Poderíamos partir da hipótese de que as identidades dos educandos. Estamos em um desses momen-
indagações mais radicais sobre os currículos tos tensos. (Arroyo, Miguel, 2004).
vêm das insatisfações com a organização escolar, especi- Como o mal-estar nas escolas na relação mestres-alunos
ficamente com a organização do trabalho que o ordenamento pode estar indagando os currículos? As indisciplinas, o desin-
curricular tanto condiciona. Logo, a reorientação curricular terá teresse teriam a ver com os conteúdos da docência, com os
de se propor a mudar essas lógicas e valores. processos de aprendizagem e com a organização escolar e
Podemos constatar que os coletivos docentes se debatem curricular?
com esta questão. Uma porta de entrada para repensar e reo- Os educandos, sujeitos também centrais na ação educa-
rientar os currículos podem ser as novas sensibilidades para as tiva, são condicionados pelos conhecimentos a serem apren-
identidades docentes, as mudanças em nossa consciência pro- didos e, sobretudo, pelas lógicas e tempos predefinidos em
fissional de trabalhadores em educação. Mudanças em nosso que terão de aprendê-los: preocupa-nos que tantos alunos
Ofício de Mestres (Arroyo, 2000). tenham problemas de aprendizagem. Talvez muitos desses
As indagações sobre o Currículo vindas da nova consciên- problemas sejam de aprendizagem nas lógicas temporais e
cia e identidade profissional nos levam a repensar as lógicas e nos recortes em que organizamos os conhecimentos nos cur-
valores que estruturam a organização curricular. Este é o cerne rículos. Mas dado que essas lógicas e ordenamentos tempo-
das indagações: repensar e superar lógicas estruturantes dos rais se tornaram intocáveis, resulta mais fácil atribuir os proble-
currículos que afetam a estrutura de trabalho, de tempos e até mas à falta de inteligência dos alunos e a seus ritmos lentos
as hierarquias profissionais –, indagações nucleares pouco privi- de aprendizagem. Medimos os educandos pela aprendizagem
legiadas nas políticas de currículo. dos conteúdos curriculares.
Entretanto, muitos coletivos docentes passam a investigar
3o) Os docentes, fiéis à nova consciência profissional, vêm os currículos a partir dos educandos. Há novas sensibilidades
reinventando formas de organizar seu trabalho. Reagem à con- nas escolas e na docência em relação aos educandos. Não há
dição de aulistas e avançam na autoria de sua prática. Como? como ignorá-los. Interrogam-nos sobre o ensinamos, como
Reivindicam horários de estudo, planejamento, tempos de ati- ensinamos, sobre a organização escolar e curricular. Muitos
vidades programadas. Tempos coletivos. Como essa condição
docentes adotam pedagogias mais participativas, reconhecem
de sujeitos cada vez mais qualificados e com maiores tempos
os educandos como sujeitos da ação educativa.
de qualificação e controle de seu trabalho vem afetando seu
À medida que as sensibilidades se voltam para os sujeitos
controle sobre os currículos e sobre as práticas educativas? Em
que pode mudar os currículos e essas práticas o fato de ter da ação educativa, para nossas identidades e saberes docen-
aumentado a capacidade de autoria dos docentes de educação tes e, sobretudo, para nosso trabalho, e à medida que temos
básica? Essa capacidade se reforça no trabalho coletivo, na au- outro olhar sobre os educandos, torna-se obrigatório ter ou-
toria coletiva. tra visão sobre a prática escolar, os currículos, os tempos e seu
Uma forma de trazer o currículo para o cotidiano profissio- ordenamento.
nal vem de uma prática que se torna familiar nas escolas: o tra- Daí que se instalou como central a preocupação com o
balho mais coletivo dos(as) educadores(as). O planejamento por repensar dos conteúdos de nossa docência e, sobretudo, o
coletivos de área ou por coletivos de ciclo passou a ser um estilo repensar das lógicas em que são estruturados.
de trabalho que tende a se generalizar. Tanto cada profissional Como os currículos afetam o trabalho
quanto esses coletivos revêem os conteúdos de sua docência e
de sua ação educativa. Junto com os administradores das esco-
las, escolhem e planejam prioridades e atividades, reorganizam
os conhecimentos, intervêm na construção dos currículos.
Poderíamos dizer que isolada, mas, sobretudo coletivamente,
vão construindo parâmetros de sua ação profissional.

104
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

países e na inovação instrumental e tecnológica. Isto reflete


CADERNO 2 – CURRÍCULO E na escola: educar crianças hoje exige dos professores saberes
DESENVOLVIMENTO HUMANO – ELVIRA muito distintos do que se exigia dos professores que os ensi-
SOUZA LIMA; naram, há 20 ou 30 anos.
Testemunhamos nas últimas duas décadas mudanças ex-
traordinárias no desenvolvimento cultural da espécie humana.
Como resultado, os processos de desenvolvimento das novas
Prezado Candidato, devido a complexidade do ma- gerações apresentam peculiaridades absolutamente novas,
terial, disponibilizaremos um breve resumo, para que mesmo para educadores jovens.
assim não haja prejuízo em seus estudos. Para acesso Considerando que o desenvolvimento humano é resul-
ao material na íntegra acesse nosso site: tante, como veremos mais adiante, da dialética entre biologia
www.novaconcursos.com.br/retificações e cultura, mudanças na cultura levarão certamente a novas
formas de pensamento e de comportamento.
A relação da criança com o adulto na escola é uma rela-
Seres humanos vão à escola com vários objetivos. Mas a ção específica, porque o professor não é, simplesmente, mais
existência da escola cumpre um objetivo antropológico muito um adulto com quem a criança interage – ele é um adulto
importante: garantir a continuidade da espécie, socializando com a tarefa específica de utilizar o tempo de interação com
para as novas gerações as aquisições e invenções resultantes o aluno para promover seu processo de humanização.
do desenvolvimento cultural da humanidade. O que é processo de humanização? Na antropologia, hu-
Em nossa espécie, o adulto detém um papel importante, manizar é o processo pelo qual todo ser humano passa para
culturalmente determinado, de garantir esta continuidade. A se apropriar das formas humanas de comunicação, para adqui-
espécie humana subsiste, exatamente, pela transmissão que rir e desenvolver os sistemas simbólicos, para aprender a utili-
seus membros mais velhos fazem aos bebês, às crianças pe- zar os instrumentos culturais necessários para as práticas mais
quenas e aos jovens das ações humanas, dos conhecimen- comuns da vida cotidiana até para a invenção de novos instru-
tos, dos valores, da cultura. Na escola, esta ação do adulto mentos, para se apropriar do conhecimento historicamente
se revela como a função pedagógica que o professor tem constituído e das técnicas para a criação nas artes e criação
de possibilitar a apropriação do conhecimento sistematizado nas ciências. Processo de humanização implica, igualmente,
(que comumente chamamos de conhecimento formal), que em desenvolver os movimentos do corpo para a realização de
caracteriza as ciências e as artes. ações complexas como as necessárias para a preservação da
saúde, para as práticas culturais, para realizar os vários siste-
Em um dado momento da evolução cultural da humani-
mas de registro, como o desenho e a escrita.
dade, marcado pela invenção de sistemas simbólicos regis-
A humanização se refere, assim, ao desenvolvimento cul-
trados, foi necessário introduzir novas formas de atividade
tural da espécie. O desenvolvimento cultural é função do mo-
humana para garantir a transmissão das novas formas de sa-
mento histórico pelo qual passa a humanidade e do quanto
beres que estavam sendo criadas. Percebeu-se a necessidade
cada país participa do acervo de cultura, tecnologia, ciências e
de criar um espaço e um tempo separado da vida cotidiana
bens disponíveis a um momento dado. Dentro de um mesmo
para que as gerações se encontrassem com este objetivo.
país, a participação é definida também em termos de classes
A escola foi criada, assim, há cerca de 4.500 anos, no sociais, etnias, gênero e diversidade biológica.
momento histórico da invenção da escrita e da matemática, Um currículo que se pretende democrático deve visar à
do desenvolvimento da geometria e da expansão de certas humanização de todos e ser desenhado a partir do que não
práticas artísticas. está acessível às pessoas. Por exemplo, no caso brasileiro, é
Podemos dizer que ambas a escrita e a escola são cria- clara a exclusão do acesso a bens culturais mais básicos como
ções recentes da humanidade, principalmente se considerar- a literatura, os livros, os livros técnicos, atualização científica,
mos que a fala surgiu há cerca de 200 mil anos e que os os conhecimentos teóricos, a produção artística. Além disso,
primeiros registros de imagens em suportes como parede das existe a exclusão do acesso aos equipamentos tais como o
cavernas datam de 25 mil anos no continente europeu. Antes computador, aos instrumentos básicos das ciências (como da
mesmo disto, há 32 mil anos, na África surgiram registros, hoje biologia, física e química), aos instrumentos e materiais das
chamados de protolinguagem. artes. É função da escola prover e facilitar este acesso.
A escrita é, assim, bem mais recente, tendo surgido há A vinda da criança para a instituição tem, entre outros,
aproximadamente cinco milênios. Depois da criação da escri- um objetivo claro e preciso: aprender determinados conheci-
ta, o desenvolvimento cultural da humanidade se acelera che- mentos e dominar instrumentos específicos que lhe possibi-
gando à invenção da imprensa no século XV. Daí para frente, litem a aprendizagem. E aprender, sobretudo, a utilizar estas
há uma aceleração acentuada aquisições não só para o seu desenvolvimento pessoal, como
Consultora e pesquisadora de desenvolvimento humano. para o do coletivo. Ou seja, o conhecimento colocado a ser-
no desenvolvimento das ciências e das técnicas artísticas, na viço do bem comum
invenção de equipamentos, na produção literária e desenvol- A relação da criança com o adulto, na escola, é mediada,
vimento tecnológico. então, pelo conhecimento formal. O professor já se apropriou
A aceleração é tal que hoje testemunhamos em uma do conhecimento formal que o educando deverá adquirir e a
mesma geração mudanças enormes nas formas de comu- interação entre ambos deve ser tal que permita e promova a
nicação dos seres humanos, no fluxo de informação entre aprendizagem deste conhecimento.

105
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

A ação pedagógica implica, portanto, numa relação es- Dessa forma, elaboramos (5) cinco cadernos priorizando
pecial em que o conhecimento é apropriado. Para tanto, o os seguintes eixos organizadores: Currículo e Desenvolvimen-
educador necessita adequar sua prática pedagógica às pos- to Humano; Educandos e Educadores: seus Direitos e o Cur-
sibilidades de desenvolvimento e de aprendizagem de seus rículo; Currículo, Conhecimento e Cultura; Diversidade e Currí-
educandos. O aluno, por sua vez, depende, também, de for- culo; Currículo e Avaliação.
mar atividades que levem à formulação do conhecimento. No momento em que ocorre a implementação do Ensino
Chamamos estas atividades de Atividades de Estudo, que se- Fundamental de nove anos e a divulgação dos documentos
rão discutidas no item IV. consolidados da Política Nacional de Educação Infantil, é ne-
cessário retomar a reflexão sobre as Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Fundamental e as Diretrizes Curricula-
res Nacionais para a Educação Infantil – ação já desencadeada
pelo Conselho Nacional de Educação.
CADERNO 3 – CURRÍCULO, CONHECIMENTO E A liberdade de organização conferida aos sistemas por
CULTURA – ANTONIO FLÁVIO MOREIRA E VERA meio da legislação vincula-se à existência de diretrizes que
MARIA CANDAU; os orientem e lhes possibilitem a definição de conteúdos de
conhecimento em conformidade à base nacional comum do
currículo, bem como à parte diversificada, como estabelece
o Artigo 26 da vigente Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Prezado Candidato, devido a complexidade do ma- Nacional – LDB nº 9.394, 20 de dezembro de 1996:“Os cur-
terial, disponibilizaremos um breve resumo, para que rículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base
assim não haja prejuízo em seus estudos. Para acesso nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de
ao material na íntegra acesse nosso site: ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada,
www.novaconcursos.com.br/retificações exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da
cultura, da economia e da clientela”.
Com a perspectiva de atender aos desafios postos pe-
A publicação que o Departamento de Políticas de Educa- las orientações e normas vigentes, é preciso olhar de perto a
ção Infantil e Ensino Fundamental- DPE, vinculado à Secreta- escola, seus sujeitos, suas complexidades e rotinas e fazer as
ria de Educação Básica – SEB, deste Ministério da Educação – indagações sobre suas condições concretas, sua história, seu
MEC, ora apresenta, tem como objetivo principal de- flagrar,
retorno e sua organização interna.
em âmbito nacional, um processo de debate, nas escolas e
Torna-se fundamental, com essa discussão, permitir que
nos sistemas de ensino, sobre a concepção de currículo e seu
todos os envolvidos se questionem e busquem novas possibi-
processo de elaboração.
lidades sobre currículo: o que é? Para que serve? A quem se
Não é recente a abordagem curricular como objeto de
destina? Como se constrói? Como se implementa?
atenção do MEC. Em cumprimento ao Artigo 210 da Consti-
Levando em consideração que o processo educativo é
tuição Federal de 1988, que determina como dever do Estado
complexo e fortemente marcado pelas variáveis pedagógicas
para com a educação fixar“conteúdo mínimos para o Ensino
Fundamental, de maneira a assegurar a formação básica co- e sociais, entendemos que esse não pode ser analisado fora
mum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e de interação dialógica entre escola e vida, considerando o de-
regionais”, foram elaborados e distribuídos pelo MEC, a partir senvolvimento humano, o conhecimento e a cultura.
de 1995, os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educa- Partindo dessa reflexão, convidamos gestores, professores
ção Infantil/RCNEI, os Parâmetros Curriculares Nacionais/PCN’s e demais profissionais da educação para um debate sobre os
para o Ensino Fundamental, e os Referenciais Curriculares para eixos organizadores do documento sobre currículo. O fato de
o Ensino Médio. Posteriormente, o Conselho Nacional de Edu- termos chamado estes estudiosos para elaborarem os textos
cação definiu as Diretrizes Curriculares para a Educação Básica. significa haver entre eles pontos de aproximação como, por
No momento, o que está em discussão é a elaboração exemplo, escola inclusiva, valorização dos sujeitos do processo
de um documento que, mais do que a distribuição de mate- educativo, cultura, conhecimento formal como eixo fundan-
riais, promova, por meio de uma estratégia dinâmica, a refle- te, avaliação inclusiva. Por privilegiarmos o pensamento plural,
xão, o questionamento e um processo de discussão em cada reconhecemos nos textos também pontos de afastamento.
uma das escolas e Secretarias de Educação sobre a concep- Assim, será possível encontrar algumas concepções sobre
ção de currículo e seus desdobramentos. Para tanto, sugeri- currículo não necessariamente concordantes entre si. É jus-
mos inicialmente alguns eixos que, do nosso do ponto de tamente divulgando parte dessa pluralidade que o MEC con-
vista, são fundamentais para o debate sobre currículo com a tribui com a discussão. Há diversidade nas reflexões teóricas,
finalidade de que professores, gestores e demais profissionais porque há diversidade de projetos curriculares nos sistemas,
da área educacional façam reflexões sobre concepção de cur- nas escolas. Esse movimento, do nosso ponto de vista, enri-
rículo, relacionando-as a sua prática. Nessa perspectiva, pre- quece o debate.
tendemos subsidiar a análise das propostas pedagógicas dos Em um primeiro momento, foi solicitado a profissionais,
sistemas de ensino e dos projetos pedagógicos das unidades diretamente envolvidos com a questão curricular junto aos
escolares, porque entendemos que esta é uma discussão que sistemas de ensino, indicados pelo/a UNDIME, CONSED,
precede a elaboração dos projetos políticos pedagógicos das SEESP/MEC, SECAD/MEC, CONPEB/MEC, REDE/MEC, que
escolas e dos sistemas. respondessem à seguinte questão: que interrogações sobre

106
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

currículo deveriam constar em um texto sobre esse tema? O MEC tem consciência da pluralidade de possibilidades
Posteriormente, esses profissionais efetuaram a leitura dos de implementação curricular nos sistemas de ensino, por isso
textos preliminares elaborados pelos autores do GT CURRÍ- insiste em estabelecer o debate dentro de cada escola. Assim,
CULO, visando a responder a uma segunda questão: como os optou por discutir eixos organizadores do currículo e não por
textos respondem às interrogações levantadas? Foi solicitado apresentar perspectiva unilateral que não dê conta da diversi-
ainda que apresentassem lacunas detectadas nos textos e dade que há nas escolas, da diversidade de concepções teó-
contribuições. Coube à equipe do DPE sistematizar e anali- ricas defendidas por pesquisadores e estudiosos.
sar as contribuições, apresentadas pelo grupo anteriormente Professores do Ensino Fundamental, professores da Edu-
citado em reunião de trabalho em Brasília, e elaborar um pré- cação Infantil, gestores constituem, inicialmente, o público a
texto para discussão em seminários a partir da sistematização quem se dirige este documento. Com o objetivo de debater
das propostas apresentadas na consulta técnica. eixos organizativos do currículo, o Ministério considera o tex-
Em um segundo momento, visando à elaboração final to destinado também a todos os envolvidos com o processo
deste documento, ocorreu em Brasília um seminário deno- educativo. A discussão, portanto, extrapola a circunscrição do
minado“Currículo em Debate”, organizado em duas edições espaço escolar.
(novembro e dezembro de 2006). Nessa ocasião, os textos,
ainda em versão preliminar, foram socializados e passaram pela
análise reflexiva de secretários municipais e estaduais de edu-
cação; de profissionais da educação representantes da UNDI- CURRÍCULO E AVALIAÇÃO – CLAUDIA
ME, do CONSED, do CNE e de entidades de caráter nacional MOREIRA FERNANDES E LUIZ CARLOS DE
como CNTE, ANFOPE, ANPED; de professores de Universida- FREITAS.
des – que procuraram apresentar as indagações recorrentes
de educadores, professores, gestores e pesquisadores sobre
currículo e realizar um levantamento da potencialidade dos
textos junto aos sistemas. Esse evento contou com a expres-
siva participação de representantes das secretarias estaduais Prezado Candidato, devido a complexidade do ma-
e municipais de educação e da secretaria do Distrito Federal, terial, disponibilizaremos um breve resumo, para que
em um total de aproximadamente 1500 participantes. assim não haja prejuízo em seus estudos. Para acesso
Os textos chegam agora aos professores das escolas, dos ao material na íntegra acesse nosso site:
sistemas. Apresentam indagações para serem respondidas por www.novaconcursos.com.br/retificações
esses coletivos de professores, uma vez que a proposta de
discussão sobre concepção curricular passa pela necessidade A publicação que o Departamento de Políticas de Educa-
de constituir a escola como espaço e ambiente educativos ção Infantil e Ensino Fundamental- DPE, vinculado à Secreta-
que ampliem a aprendizagem, reafirmando-a como lugar do
ria de Educação Básica – SEB, deste Ministério da Educação –
conhecimento, do convívio e da sensibilidade, condições im-
MEC, ora apresenta, tem como objetivo principal de- flagrar,
prescindíveis para a constituição da cidadania. Entendemos,
em âmbito nacional, um processo de debate, nas escolas e
também, haver outras perspectivas, ainda não contempladas,
nos sistemas de ensino, sobre a concepção de currículo e seu
a serem consideradas. O objetivo não é, portanto, esgotar
processo de elaboração.
todas as possibilidades em uma única publicação.
Não é recente a abordagem curricular como objeto de
Propomos uma reflexão para quem, o que, por que e
atenção do MEC. Em cumprimento ao Artigo 210 da Consti-
como ensinar e aprender, reconhecendo interesses, diversida-
des, diferenças sociais e, ainda, a história cultural e pedagógica tuição Federal de 1988, que determina como dever do Estado
de nossas escolas. para com a educação fixar“conteúdo mínimos para o Ensino
Posicionamo-nos em defesa da escola democrática que Fundamental, de maneira a assegurar a formação básica co-
humanize e assegure a aprendizagem. Uma escola que veja o mum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e
estudante em seu desenvolvimento – criança, adolescente e regionais”, foram elaborados e distribuídos pelo MEC, a partir
jovem em crescimento biopsicossocial; que considere seus de 1995, os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educa-
interesses e de seus pais, suas necessidades, potencialidades, ção Infantil/RCNEI, os Parâmetros Curriculares Nacionais/PCN’s
seus conhecimentos e sua cultura. para o Ensino Fundamental, e os Referenciais Curriculares para
Desse modo comprometemo-nos com a construção de o Ensino Médio. Posteriormente, o Conselho Nacional de
um projeto social que não somente ofereça informações, Educação definiu as Diretrizes Curriculares para a Educação
mas que, de fato, construa conhecimentos, elabore conceitos Básica.
e possibilite a todos o aprender, descaracterizando, finalmen- No momento, o que está em discussão é a elaboração
te, os lugares perpetuados na educação brasileira de êxito de de um documento que, mais do que a distribuição de mate-
uns e fracasso de muitos. riais, promova, por meio de uma estratégia dinâmica, a refle-
Os eixos aqui apresentados são constitutivos do currículo, xão, o questionamento e um processo de discussão em cada
ao lado de outros. Não é pretensão deste documento abran- uma das escolas e Secretarias de Educação sobre a concep-
ger todas as demais dimensões. As aqui destacadas conver- ção de currículo e seus desdobramentos. Para tanto, sugeri-
gem, especialmente, para o desenvolvimento humano dos mos inicialmente alguns eixos que, do nosso do ponto de
sujeitos no processo educativo e procuram dialogar com a vista, são fundamentais para o debate sobre currículo com a
prática dos sujeitos desse processo. finalidade de que professores, gestores e demais profissionais

107
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

da área educacional façam reflexões sobre concepção de cur- Em um primeiro momento, foi solicitado a profissionais,
rículo, relacionando-as a sua prática. Nessa perspectiva, pre- diretamente envolvidos com a questão curricular junto aos
tendemos subsidiar a análise das propostas pedagógicas dos sistemas de ensino, indicados pelo/a UNDIME, CONSED,
sistemas de ensino e dos projetos pedagógicos das unidades SEESP/MEC, SECAD/MEC, CONPEB/MEC, REDE/MEC, que
escolares, porque entendemos que esta é uma discussão que respondessem à seguinte questão: que interrogações sobre
precede a elaboração dos projetos políticos pedagógicos das currículo deveriam constar em um texto sobre esse tema?
escolas e dos sistemas. Posteriormente, esses profissionais efetuaram a leitura dos
Dessa forma, elaboramos (5) cinco cadernos priorizando textos preliminares elaborados pelos autores do GT CURRÍ-
os seguintes eixos organizadores: Currículo e Desenvolvimen- CULO, visando a responder a uma segunda questão: como os
to Humano; Educandos e Educadores: seus Direitos e o Cur- textos respondem às interrogações levantadas? Foi solicitado
rículo; Currículo, Conhecimento e Cultura; Diversidade e Currí- ainda que apresentassem lacunas detectadas nos textos e
culo; Currículo e Avaliação. contribuições. Coube à equipe do DPE sistematizar e anali-
No momento em que ocorre a implementação do Ensino sar as contribuições, apresentadas pelo grupo anteriormente
Fundamental de nove anos e a divulgação dos documentos citado em reunião de trabalho em Brasília, e elaborar um pré-
consolidados da Política Nacional de Educação Infantil, é ne- texto para discussão em seminários a partir da sistematização
cessário retomar a reflexão sobre as Diretrizes Curriculares
das propostas apresentadas na consulta técnica.
Nacionais para o Ensino Fundamental e as Diretrizes Curricula-
Em um segundo momento, visando à elaboração final
res Nacionais para a Educação Infantil – ação já desencadeada
deste documento, ocorreu em Brasília um seminário deno-
pelo Conselho Nacional de Educação.
A liberdade de organização conferida aos sistemas por minado“Currículo em Debate”, organizado em duas edições
meio da legislação vincula-se à existência de diretrizes que (novembro e dezembro de 2006). Nessa ocasião, os textos,
os orientem e lhes possibilitem a definição de conteúdos de ainda em versão preliminar, foram socializados e passaram pela
conhecimento em conformidade à base nacional comum do análise reflexiva de secretários municipais e estaduais de edu-
currículo, bem como à parte diversificada, como estabelece cação; de profissionais da educação representantes da UNDI-
o Artigo 26 da vigente Lei de Diretrizes e Bases da Educação ME, do CONSED, do CNE e de entidades de caráter nacional
Nacional – LDB nº 9.394, 20 de dezembro de 1996:“Os cur- como CNTE, ANFOPE, ANPED; de professores de Universida-
rículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base des – que procuraram apresentar as indagações recorrentes
nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de de educadores, professores, gestores e pesquisadores sobre
ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, currículo e realizar um levantamento da potencialidade dos
exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da textos junto aos sistemas. Esse evento contou com a expres-
cultura, da economia e da clientela”. siva participação de representantes das secretarias estaduais
Com a perspectiva de atender aos desafios postos pe- e municipais de educação e da secretaria do Distrito Federal,
las orientações e normas vigentes, é preciso olhar de perto a em um total de aproximadamente 1500 participantes.
escola, seus sujeitos, suas complexidades e rotinas e fazer as Os textos chegam agora aos professores das escolas, dos
indagações sobre suas condições concretas, sua história, seu sistemas. Apresentam indagações para serem respondidas por
retorno e sua organização interna. esses coletivos de professores, uma vez que a proposta de
Torna-se fundamental, com essa discussão, permitir que discussão sobre concepção curricular passa pela necessidade
todos os envolvidos se questionem e busquem novas possibi- de constituir a escola como espaço e ambiente educativos
lidades sobre currículo: o que é? Para que serve? A quem se que ampliem a aprendizagem, reafirmando-a como lugar do
destina? Como se constrói? Como se implementa? conhecimento, do convívio e da sensibilidade, condições im-
Levando em consideração que o processo educativo é prescindíveis para a constituição da cidadania. Entendemos,
complexo e fortemente marcado pelas variáveis pedagógicas também, haver outras perspectivas, ainda não contempladas,
e sociais, entendemos que esse não pode ser analisado fora a serem consideradas. O objetivo não é, portanto, esgotar
de interação dialógica entre escola e vida, considerando o de-
todas as possibilidades em uma única publicação.
senvolvimento humano, o conhecimento e a cultura.
Propomos uma reflexão para quem, o que, por que e
Partindo dessa reflexão, convidamos gestores, professores
como ensinar e aprender, reconhecendo interesses, diversida-
e demais profissionais da educação para um debate sobre os
eixos organizadores do documento sobre currículo. O fato de des, diferenças sociais e, ainda, a história cultural e pedagógica
termos chamado estes estudiosos para elaborarem os textos de nossas escolas.
significa haver entre eles pontos de aproximação como, por Posicionamo-nos em defesa da escola democrática que
exemplo, escola inclusiva, valorização dos sujeitos do processo humanize e assegure a aprendizagem. Uma escola que veja o
educativo, cultura, conhecimento formal como eixo fundan- estudante em seu desenvolvimento – criança, adolescente e
te, avaliação inclusiva. Por privilegiarmos o pensamento plural, jovem em crescimento biopsicossocial; que considere seus
reconhecemos nos textos também pontos de afastamento. interesses e de seus pais, suas necessidades, potencialidades,
Assim, será possível encontrar algumas concepções sobre seus conhecimentos e sua cultura.
currículo não necessariamente concordantes entre si. É jus- Desse modo comprometemo-nos com a construção de
tamente divulgando parte dessa pluralidade que o MEC con- um projeto social que não somente ofereça informações,
tribui com a discussão. Há diversidade nas reflexões teóricas, mas que, de fato, construa conhecimentos, elabore conceitos
porque há diversidade de projetos curriculares nos sistemas, e possibilite a todos o aprender, descaracterizando, finalmen-
nas escolas. Esse movimento, do nosso ponto de vista, enri- te, os lugares perpetuados na educação brasileira de êxito de
quece o debate. uns e fracasso de muitos.

108
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Os eixos aqui apresentados são constitutivos do currículo, ção de currículo e seus desdobramentos. Para tanto, sugeri-
ao lado de outros. Não é pretensão deste documento abran- mos inicialmente alguns eixos que, do nosso do ponto de
ger todas as demais dimensões. As aqui destacadas conver- vista, são fundamentais para o debate sobre currículo com a
gem, especialmente, para o desenvolvimento humano dos finalidade de que professores, gestores e demais profissionais
sujeitos no processo educativo e procuram dialogar com a da área educacional façam reflexões sobre concepção de cur-
prática dos sujeitos desse processo. rículo, relacionando-as a sua prática. Nessa perspectiva, pre-
O MEC tem consciência da pluralidade de possibilidades tendemos subsidiar a análise das propostas pedagógicas dos
de implementação curricular nos sistemas de ensino, por isso sistemas de ensino e dos projetos pedagógicos das unidades
insiste em estabelecer o debate dentro de cada escola. Assim, escolares, porque entendemos que esta é uma discussão que
optou por discutir eixos organizadores do currículo e não por precede a elaboração dos projetos políticos pedagógicos das
apresentar perspectiva unilateral que não dê conta da diversi- escolas e dos sistemas.
dade que há nas escolas, da diversidade de concepções teó- Dessa forma, elaboramos (5) cinco cadernos priorizando
ricas defendidas por pesquisadores e estudiosos. os seguintes eixos organizadores: Currículo e Desenvolvimen-
Professores do Ensino Fundamental, professores da Edu- to Humano; Educandos e Educadores: seus Direitos e o Cur-
cação Infantil, gestores constituem, inicialmente, o público a
rículo; Currículo, Conhecimento e Cultura; Diversidade e Currí-
quem se dirige este documento. Com o objetivo de debater
culo; Currículo e Avaliação.
eixos organizativos do currículo, o Ministério considera o tex-
No momento em que ocorre a implementação do Ensino
to destinado também a todos os envolvidos com o processo
educativo. A discussão, portanto, extrapola a circunscrição do Fundamental de nove anos e a divulgação dos documentos
espaço escolar. consolidados da Política Nacional de Educação Infantil, é ne-
cessário retomar a reflexão sobre as Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Fundamental e as Diretrizes Curricula-
res Nacionais para a Educação Infantil – ação já desencadeada
______________. OS CICLOS DE APRENDIZAGEM. pelo Conselho Nacional de Educação.
UM CAMINHO PARA COMBATER O FRACASSO A liberdade de organização conferida aos sistemas por
ESCOLAR. PORTO ALEGRE: ARTMED, 2004. meio da legislação vincula-se à existência de diretrizes que
os orientem e lhes possibilitem a definição de conteúdos de
conhecimento em conformidade à base nacional comum do
currículo, bem como à parte diversificada, como estabelece
o Artigo 26 da vigente Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Prezado Candidato, devido a complexidade do ma- Nacional – LDB nº 9.394, 20 de dezembro de 1996:“Os cur-
terial, disponibilizaremos um breve resumo, para que rículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base
assim não haja prejuízo em seus estudos. Para acesso nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de
ao material na íntegra acesse nosso site: ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada,
www.novaconcursos.com.br/retificações exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da
cultura, da economia e da clientela”.
A publicação que o Departamento de Políticas de Educa- Com a perspectiva de atender aos desafios postos pe-
ção Infantil e Ensino Fundamental- DPE, vinculado à Secreta- las orientações e normas vigentes, é preciso olhar de perto a
ria de Educação Básica – SEB, deste Ministério da Educação – escola, seus sujeitos, suas complexidades e rotinas e fazer as
MEC, ora apresenta, tem como objetivo principal de- flagrar, indagações sobre suas condições concretas, sua história, seu
em âmbito nacional, um processo de debate, nas escolas e retorno e sua organização interna.
nos sistemas de ensino, sobre a concepção de currículo e seu Torna-se fundamental, com essa discussão, permitir que
processo de elaboração.
todos os envolvidos se questionem e busquem novas possibi-
Não é recente a abordagem curricular como objeto de
lidades sobre currículo: o que é? Para que serve? A quem se
atenção do MEC. Em cumprimento ao Artigo 210 da Consti-
destina? Como se constrói? Como se implementa?
tuição Federal de 1988, que determina como dever do Estado
para com a educação fixar“conteúdo mínimos para Levando em consideração que o processo educativo é
o Ensino Fundamental, de maneira a assegurar a forma- complexo e fortemente marcado pelas variáveis pedagógicas
ção básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, e sociais, entendemos que esse não pode ser analisado fora
nacionais e regionais”, foram elaborados e distribuídos pelo de interação dialógica entre escola e vida, considerando o de-
MEC, a partir de 1995, os Referenciais Curriculares Nacionais senvolvimento humano, o conhecimento e a cultura.
para a Educação Infantil/RCNEI, os Parâmetros Curriculares Partindo dessa reflexão, convidamos gestores, professores
Nacionais/PCN’s para o Ensino Fundamental, e os Referenciais e demais profissionais da educação para um debate sobre os
Curriculares para o Ensino Médio. Posteriormente, o Conselho eixos organizadores do documento sobre currículo. O fato de
Nacional de Educação definiu as Diretrizes Curriculares para a termos chamado estes estudiosos para elaborarem os textos
Educação Básica. significa haver entre eles pontos de aproximação como, por
No momento, o que está em discussão é a elaboração exemplo, escola inclusiva, valorização dos sujeitos do processo
de um documento que, mais do que a distribuição de mate- educativo, cultura, conhecimento formal como eixo fundan-
riais, promova, por meio de uma estratégia dinâmica, a refle- te, avaliação inclusiva. Por privilegiarmos o pensamento plural,
xão, o questionamento e um processo de discussão em cada reconhecemos nos textos também pontos de afastamento.
uma das escolas e Secretarias de Educação sobre a concep- Assim, será possível encontrar algumas concepções sobre

109
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

currículo não necessariamente concordantes entre si. É jus- Desse modo comprometemo-nos com a construção de
tamente divulgando parte dessa pluralidade que o MEC con- um projeto social que não somente ofereça informações,
tribui com a discussão. Há diversidade nas reflexões teóricas, mas que, de fato, construa conhecimentos, elabore conceitos
porque há diversidade de projetos curriculares nos sistemas, e possibilite a todos o aprender, descaracterizando, finalmen-
nas escolas. Esse movimento, do nosso ponto de vista, enri- te, os lugares perpetuados na educação brasileira de êxito de
quece o debate. uns e fracasso de muitos.
Em um primeiro momento, foi solicitado a profissionais, Os eixos aqui apresentados são constitutivos do currículo,
diretamente envolvidos com a questão curricular junto aos ao lado de outros. Não é pretensão deste documento abran-
sistemas de ensino, indicados pelo/a UNDIME, CONSED, ger todas as demais dimensões. As aqui destacadas conver-
SEESP/MEC, SECAD/MEC, CONPEB/MEC, REDE/MEC, que gem, especialmente, para o desenvolvimento humano dos
respondessem à seguinte questão: que interrogações sobre sujeitos no processo educativo e procuram dialogar com a
currículo deveriam constar em um texto sobre esse tema? prática dos sujeitos desse processo.
O MEC tem consciência da pluralidade de possibilidades
Posteriormente, esses profissionais efetuaram a leitura dos
de implementação curricular nos sistemas de ensino, por isso
textos preliminares elaborados pelos autores do GT CURRÍ-
insiste em estabelecer o debate dentro de cada escola. Assim,
CULO, visando a responder a uma segunda questão: como os
optou por discutir eixos organizadores do currículo e não por
textos respondem às interrogações levantadas? Foi solicitado
apresentar perspectiva unilateral que não dê conta da diversi-
ainda que apresentassem lacunas detectadas nos textos e
dade que há nas escolas, da diversidade de concepções teó-
contribuições. Coube à equipe do DPE sistematizar e anali- ricas defendidas por pesquisadores e estudiosos.
sar as contribuições, apresentadas pelo grupo anteriormente
Professores do Ensino Fundamental, professores da Edu-
citado em reunião de trabalho em Brasília, e elaborar um pré- cação Infantil, gestores constituem, inicialmente, o público a
texto para discussão em seminários a partir da sistematização quem se dirige este documento. Com o objetivo de debater
das propostas apresentadas na consulta técnica. eixos organizativos do currículo, o Ministério considera o tex-
Em um segundo momento, visando à elaboração final to destinado também a todos os envolvidos com o processo
deste documento, ocorreu em Brasília um seminário deno- educativo. A discussão, portanto, extrapola a circunscrição do
minado“Currículo em Debate”, organizado em duas edições espaço escolar.
(novembro e dezembro de 2006). Nessa ocasião, os textos,
ainda em versão preliminar, foram socializados e passaram pela
análise reflexiva de secretários municipais e estaduais de edu-
cação; de profissionais da educação representantes da UNDI- BRASIL. POLÍTICA NACIONAL DA
ME, do CONSED, do CNE e de entidades de caráter nacional EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA
como CNTE, ANFOPE, ANPED; de professores de Universida- EDUCAÇÃO INCLUSIVA. BRASÍLIA: MEC/SEESP,
des – que procuraram apresentar as indagações recorrentes 2008.
de educadores, professores, gestores e pesquisadores sobre
currículo e realizar um levantamento da potencialidade dos
textos junto aos sistemas. Esse evento contou com a expres-
siva participação de representantes das secretarias estaduais MEC/SECADI
e municipais de educação e da secretaria do Distrito Federal, Política Nacional de Educação Especial na
em um total de aproximadamente 1500 participantes. Perspectiva da Educação Inclusiva
Os textos chegam agora aos professores das escolas, dos I – Introdução
sistemas. Apresentam indagações para serem respondidas por O movimento mundial pela educação inclusiva é uma
esses coletivos de professores, uma vez que a proposta de ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada
em defesa do direito de todos os estudantes de estarem
discussão sobre concepção curricular passa pela necessidade
juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de
de constituir a escola como espaço e ambiente educativos
discriminação. A educação inclusiva constitui um paradig-
que ampliem a aprendizagem, reafirmando-a como lugar do
ma educacional fundamentado na concepção de direitos
conhecimento, do convívio e da sensibilidade, condições im- humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores
prescindíveis para a constituição da cidadania. Entendemos, indissociáveis, e que avança em relação à idéia de equida-
também, haver outras perspectivas, ainda não contempladas, de formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da
a serem consideradas. O objetivo não é, portanto, esgotar produção da exclusão dentro e fora da escola.
todas as possibilidades em uma única publicação. Ao reconhecer que as dificuldades enfrentadas nos sis-
Propomos uma reflexão para quem, o que, por que e temas de ensino evidenciam a necessidade de confrontar
como ensinar e aprender, reconhecendo interesses, diversida- as práticas discriminatórias e criar alternativas para superá
des, diferenças sociais e, ainda, a história cultural e pedagógica -las, a educação inclusiva assume espaço central no debate
de nossas escolas. acerca da sociedade contemporânea e do papel da escola
Posicionamo-nos em defesa da escola democrática que na superação da lógica da exclusão. A partir dos referen-
humanize e assegure a aprendizagem. Uma escola que veja o ciais para a construção de sistemas educacionais inclusivos,
estudante em seu desenvolvimento – criança, adolescente e a organização de escolas e classes especiais passa a ser re-
jovem em crescimento biopsicossocial; que considere seus pensada, implicando uma mudança estrutural e cultural da
interesses e de seus pais, suas necessidades, potencialidades, escola para que todos os estudantes tenham suas especifi-
seus conhecimentos e sua cultura. cidades atendidas.

110
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Nesta perspectiva, o Ministério da Educação/Secretaria A Lei nº 5.692/71, que altera a LDBEN de 1961, ao de-
de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e In- finir “tratamento especial” para os estudantescom “defi-
clusão apresenta a Política Nacional de Educação Especial ciências físicas, mentais, os que se encontram em atraso
na Perspectiva da Educação Inclusiva, que acompanha os considerável quanto à idade regular de matrícula e os su-
avanços do conhecimento e das lutas sociais, visando cons- perdotados”, não promove a organização de um sistema de
tituir políticas públicas promotoras de uma educação de ensino capaz de atender aos estudantes com deficiência,
qualidade para todos os estudantes. transtornos globais do desenvolvimento e altas habilida-
II – Marcos históricos e normativos des/superdotação e acaba reforçando o encaminhamento
A escola historicamente se caracterizou pela visão da dos estudantes para as classes e escolas especiais.
educação que delimita a escolarização como privilégio de Em 1973, o MEC cria o Centro Nacional de Educação
um grupo, uma exclusão que foi legitimada nas políticas Especial – CENESP, responsável pela gerência da educação
e práticas educacionais reprodutoras da ordem social. A especial no Brasil, que, sob a égide integracionista, impul-
partir do processo de democratização da escola, eviden- sionou ações educacionais voltadas às pessoas com defi-
cia-se o paradoxo inclusão/exclusão quando os sistemas ciência e às pessoas com superdotação, mas ainda confi-
de ensino universalizam o acesso, mas continuam excluin- guradas por campanhas assistenciais e iniciativas isoladas
do indivíduos e grupos considerados fora dos padrões ho- do Estado.
mogeneizadores da escola. Assim, sob formas distintas, a Nesse período, não se efetiva uma política pública de
acesso universal à educação, permanecendo a concepção
exclusão tem apresentado características comuns nos pro-
de “políticas especiais” para tratar da educação de estu-
cessos de segregação e integração, que pressupõem a se-
dantes com deficiência. No que se refere aos estudantes
leção, naturalizando o fracasso escolar.
com superdotação, apesar do acesso ao ensino regular,
A partir da visão dos direitos humanos e do conceito não é organizado um atendimento especializado que con-
de cidadania fundamentado no reconhecimento das dife- sidere as suas singularidades de aprendizagem.
renças e na participação dos sujeitos, decorre uma iden- A Constituição Federal de 1988 traz como um dos seus
tificação dos mecanismos e processos de hierarquização objetivos fundamentais “promover o bem de todos, sem
que operam na regulação e produção das desigualdades. preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
Essa problematização explicita os processos normativos de outras formas de discriminação” (art.3º, inciso IV). Define,
distinção dos estudantes em razão de características inte- no artigo 205, a educação como um direito de todos, ga-
lectuais, físicas, culturais, sociais e linguísticas, entre outras, rantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício
estruturantes do modelo tradicional de educação escolar. da cidadania e a qualificação para o trabalho. No seu arti-
A educação especial se organizou tradicionalmente go 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de
como atendimento educacional especializado substituti- acesso e permanência na escola” como um dos princípios
vo ao ensino comum, evidenciando diferentes compreen- para o ensino e garante como dever do Estado, a oferta do
sões, terminologias e modalidades que levaram à criação atendimento educacional especializado, preferencialmente
de instituições especializadas, escolas especiais e classes na rede regular de ensino (art. 208).
especiais. Essa organização, fundamentada no conceito de O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei nº
normalidade/anormalidade, determina formas de atendi- 8.069/90, no artigo 55, reforça os dispositivos legais supra-
mento clínico-terapêuticos fortemente ancorados nos tes- citados ao determinar que “os pais ou responsáveis têm a
tes psicométricos que, por meio de diagnósticos, definem obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede re-
as práticas escolares para os estudantes com deficiência. gular de ensino”. Também nessa década, documentos como
No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a
teve início na época do Império, com a criação de duas Declaração de Salamanca (1994) passam a influenciar a for-
instituições: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em mulação das políticas públicas da educação inclusiva.
1854, atual Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Instituto A Conferência Mundial de Educação para Todos, Jom-
dos Surdos Mudos, em 1857, hoje denominado Instituto tien/1990, chama a atenção para os altos índices de crian-
ças, adolescentes e jovens sem escolarização, tendo como
Nacional da Educação dos Surdos – INES, ambos no Rio
objetivo promover transformações nos sistemas de ensino
de Janeiro. No início do século XX é fundado o Instituto
para assegurar o acesso e a permanência de todos na es-
Pestalozzi (1926), instituição especializada no atendimento
cola.
às pessoas com deficiência mental; em 1954, é fundada a Para o alcance das metas de educação para todos, a
primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – Conferência Mundial de Necessidades Educativas Especiais:
APAE; e, em 1945, é criado o primeiro atendimento edu- Acesso e Qualidade, realizada pela UNESCO em 1994, pro-
cacional especializado às pessoas com superdotação na põe aprofundar a discussão, problematizando as causas da
Sociedade Pestalozzi, por Helena Antipoff. exclusão escolar. A partir desta reflexão acerca das práti-
Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com cas educacionais que resultam na desigualdade social de
deficiência passa a ser fundamentado pelas disposições da diversos grupos, o documento Declaração de Salamanca
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais
Lei nº 4.024/61, que aponta o direito dos “excepcionais” proclama que as escolas comuns representam o meio mais
à educação, preferencialmente dentro do sistema geral de eficaz para combater as atitudes discriminatórias, ressal-
ensino. tando que:

111
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

O princípio fundamental desta Linha de Ação é de O Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº
que as escolas devem acolher todas as crianças, indepen- 10.172/2001, destaca que “o grande avanço que a década
dentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, da educação deveria produzir seria a construção de uma
emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher crian- escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade
ças com deficiência e crianças bem dotadas; crianças que humana”. Ao estabelecer objetivos e metas para que os sis-
vivem nas ruas e que trabalham; crianças de populações temas de ensino favoreçam o atendimento aos estudantes
distantes ou nômades; crianças de minorias linguísticas, com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
étnicos ou culturais e crianças de outros grupos e zonas altas habilidades/superdotação, aponta um déficit referen-
desfavorecidos ou marginalizados. (Brasil, 1997, p. 17 e 18). te à oferta de matrículas para estudantes com deficiência
Em 1994, é publicada a Política Nacional de Educação nas classes comuns do ensino regular, à formação docente,
Especial, orientando o processo de “integração instrucio- à acessibilidade física e ao atendimento educacional espe-
nal” que condiciona o acesso às classes comuns do ensino cializado.
regular àqueles que “(...) possuem condições de acompa- A Convenção da Guatemala (1999), promulgada no
nhar e desenvolver as atividades curriculares programadas Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, afirma que as pessoas
do ensino comum, no mesmo ritmo que os estudantes com deficiência têm os mesmos direitos humanos e liber-
ditos normais” (p.19). Ao reafirmar os pressupostos cons- dades fundamentais que as demais pessoas, definindo
truídos a partir de padrões homogêneos de participação e como discriminação com base na deficiência toda diferen-
aprendizagem, a Política de 1994 não provoca uma refor- ciação ou exclusão que possa impedir ou anular o exercício
mulação das práticas educacionais de maneira que sejam dos direitos humanos e de suas liberdades fundamentais.
valorizados os diferentes potenciais de aprendizagem no Este Decreto tem importante repercussão na educação,
ensino comum, mas mantém a responsabilidade da educa- exigindo uma reinterpretação da educação especial, com-
ção desses estudantes exclusivamente no âmbito da edu- preendida no contexto da diferenciação, adotado para pro-
cação especial. mover a eliminação das barreiras que impedem o acesso à
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei escolarização.
nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas de Na perspectiva da educação inclusiva, a Resolução
ensino devem assegurar aos estudantes currículo, méto- CNE/CP nº 1/2002, que estabelece as Diretrizes Curricula-
res Nacionais para a Formação de Professores da Educação
dos, recursos e organização específicos para atender às
Básica, define que as instituições de ensino superior devem
suas necessidades; assegura a terminalidade específica
prever, em sua organização curricular, formação docente
àqueles que não atingiram o nível exigido para a conclusão
voltada para a atenção à diversidade e que contemple co-
do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências; e
nhecimentos sobre as especificidades dos estudantes com
assegura a aceleração de estudos aos superdotados para
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
conclusão do programa escolar. Também define, dentre as
habilidades/superdotação.
normas para a organização da educação básica, a “possibi- A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Si-
lidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verifica- nais – Libras como meio legal de comunicação e expressão,
ção do aprendizado” (art. 24, inciso V) e “[...] oportunidades determinando que sejam garantidas formas institucionali-
educacionais apropriadas, consideradas as características zadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da
do alunado, seus interesses, condições de vida e de traba- disciplina de Libras como parte integrante do currículo nos
lho, mediante cursos e exames” (art. 37). cursos de formação de professores e de fonoaudiologia.
Em 1999, o Decreto nº 3.298, que regulamenta a Lei nº A Portaria nº 2.678/02 do MEC aprova diretrizes e nor-
7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Inte- mas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do siste-
gração da Pessoa Portadora de Deficiência, define a edu- ma Braille em todas as modalidades de ensino, compreen-
cação especial como uma modalidade transversal a todos dendo o projeto da Grafia Braille para a Língua Portuguesa
os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação e a recomendação para o seu uso em todo o território na-
complementar da educação especial ao ensino regular. cional.
Acompanhando o processo de mudança, as Diretrizes Em 2003, é implementado pelo MEC o Programa Edu-
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, cação Inclusiva: direito à diversidade, com vistas a apoiar a
Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, determinam transformação dos sistemas de ensino em sistemas educa-
que: cionais inclusivos, promovendo um amplo processo de for-
“Os sistemas de ensino devem matricular todos os es- mação de gestores e educadores nos municípios brasileiros
tudantes, cabendo às escolas organizarem-se para o aten- para a garantia do direito de acesso de todos à escolariza-
dimento aos educandos com necessidades educacionais ção, à oferta do atendimento educacional especializado e à
especiais, assegurando as condições necessárias para uma garantia da acessibilidade.
educação de qualidade para todos. (MEC/SEESP, 2001).” Em 2004, o Ministério Público Federal publica o docu-
As Diretrizes ampliam o caráter da educação especial mento O Acesso de Estudantes com Deficiência às Escolas e
para realizar o atendimento educacional especializado Classes Comuns da Rede Regular, com o objetivo de disse-
complementar ou suplementar à escolarização, porém, ao minar os conceitos e diretrizes mundiais para a inclusão,
admitir a possibilidade de substituir o ensino regular, não reafirmando o direito e os benefícios da escolarização de
potencializam a adoção de uma política de educação inclu- estudantes com e sem deficiência nas turmas comuns do
siva na rede pública de ensino, prevista no seu artigo 2º. ensino regular.

112
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Impulsionando a inclusão educacional e social, o De- A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Defi-
creto nº 5.296/04 regulamentou as Leis nº 10.048/00 e nº ciência, aprovada pela ONU em 2006 e ratificada com força
10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a promo- de Emenda Constitucional por meio do Decreto Legislativo
ção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou com n°186/2008 e do Decreto Executivo n°6949/2009, estabe-
mobilidade reduzida. Nesse contexto, o Programa Brasil lece que os Estados-Partes devem assegurar um sistema
Acessível, do Ministério das Cidades, é desenvolvido com o de educação inclusiva em todos os níveis de ensino, em
objetivo de promover a acessibilidade urbana e apoiar ações ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico
que garantam o acesso universal aos espaços públicos. e social compatível com a meta da plena participação e
O Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei nº inclusão, adotando medidas para garantir que:
10.436/2002, visando o acesso à escola aos estudantes sur- a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do
dos, dispõe sobre a inclusão da Libras como disciplina cur-
sistema educacional geral sob alegação de deficiência e
ricular, a formação e a certificação de professor de Libras,
que as crianças com deficiência não sejam excluídas do en-
instrutor e tradutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua
Portuguesa como segunda língua para estudantes surdos sino fundamental gratuito e compulsório, sob alegação de
e a organização da educação bilíngue no ensino regular. deficiência;
Em 2005, com a implantação dos Núcleos de Atividades b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao
de Altas Habilidades/Superdotação –NAAH/S em todos os ensino fundamental inclusivo, de qualidade e gratuito, em
estados e no Distrito Federal, são organizados centros de igualdade de condições com as demais pessoas na comu-
referência na área das altas habilidades/superdotação para nidade em que vivem (Art.24).
o atendimento educacional especializado, para a orienta- O Decreto n° 6571/2008, incorporado pelo Decreto n°
ção às famílias e a formação continuada dos professores, 7611/2011, institui a política pública de financiamento no
constituindo a organização da política de educação inclusi- âmbito do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
va de forma a garantir esse atendimento aos estudantes da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Edu-
rede pública de ensino. cação - FUNDEB, estabelecendo o duplo cômputo das ma-
Neste mesmo ano, a Secretaria Especial dos Direitos triculas dos estudantes com deficiência, transtornos glo-
Humanos, os Ministérios da Educação e da Justiça, junta- bais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.
mente com a Organização das Nações Unidas para a Edu- Visando ao desenvolvimento inclusivo dos sistemas públi-
cação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, lançam o Plano cos de ensino, este Decreto também define o atendimento
Nacional de Educação em Direitos Humanos, que objetiva, educacional especializado complementar ou suplementar
dentre as suas ações, contemplar, no currículo da educa-
à escolarização e os demais serviços da educação especial,
ção básica, temáticas relativas às pessoas com deficiência
além de outras medidas de apoio à inclusão escolar.
e desenvolver ações afirmativas que possibilitem acesso e
permanência na educação superior. Com a finalidade de orientar a organização dos sis-
Em 2007, é lançado o Plano de Desenvolvimento da temas educacionais inclusivos, o Conselho Nacional de
Educação – PDE, reafirmado pela Agenda Social, tendo Educação – CNE publica a Resolução CNE/CEB, 04/2009,
como eixos a formação de professores para a educação es- que institui as Diretrizes Operacionais para o Atendimento
pecial, a implantação de salas de recursos multifuncionais, Educacional Especializado – AEE na Educação Básica. Este
a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, acesso documento determina o público alvo da educação espe-
e a permanência das pessoas com deficiência na educação cial, define o caráter complementar ou suplementar do
superior e o monitoramento do acesso à escola dos favore- AEE, prevendo sua institucionalização no projeto político
cidos pelo Beneficio de Prestação Continuada – BPC. pedagógico da escola.
No documento do MEC, Plano de Desenvolvimento da O caráter não substitutivo e transversal da educação
Educação: razões, princípios e programas é reafirmada a vi- especial é ratificado pela Resolução CNE/CEB n°04/2010,
são que busca superar a oposição entre educação regular que institui Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação
e educação especial. Básica e preconiza em seu artigo 29, que os sistemas de
Contrariando a concepção sistêmica da transversalidade ensino devem matricular os estudantes com deficiência,
da educação especial nos diferentes níveis, etapas e moda- transtornos globais do desenvolvimento e altas habilida-
lidades de ensino, a educação não se estruturou na pers- des/superdotação nas classes comuns do ensino regular e
pectiva da inclusão e do atendimento às necessidades edu-
no Atendimento Educacional Especializado - AEE, comple-
cacionais especiais, limitando, o cumprimento do princípio
mentar ou suplementar à escolarização, ofertado em salas
constitucional que prevê a igualdade de condições para o
acesso e permanência na escola e a continuidade nos níveis de recursos multifuncionais ou em centros de AEE da rede
mais elevados de ensino (2007, p. 09). pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou
Para a implementação do PDE é publicado o Decreto filantrópicas sem fins lucrativos.
nº 6.094/2007, que estabelece nas diretrizes do Compro- O Decreto n°7084/2010, ao dispor sobre os programas
misso Todos pela Educação, a garantia do acesso e perma- nacionais de materiais didáticos, estabelece no artigo 28,
nência no ensino regular e o atendimento aos estudantes que o Ministério da Educação adotará mecanismos para
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e promoção da acessibilidade nos programas de material di-
altas habilidades/superdotação, fortalecendo seu ingresso dático destinado aos estudantes da educação especial e
nas escolas públicas. professores das escolas de educação básica públicas.

113
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

A fim de promover políticas públicas de inclusão social foi transformado em um sistema de informações on-line, o
das pessoas com deficiência, dentre as quais, aquelas que Censo Web, que qualifica o processo de coleta e tratamen-
efetivam um sistema educacional inclusivo, nos termos da to das informações, permite atualização dos dados dentro
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, do mesmo ano escolar, bem como possibilita o cruzamento
instituiu-se, por meio do Decreto n°7612/2011, o Plano Na- com outros bancos de dados, tais como os das áreas de
cional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver sem saúde, assistência e previdência social. Também são rea-
Limite. lizadas alterações que ampliam o universo da pesquisa,
A Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa agregando informações individualizadas dos estudantes,
com Transtorno do espectro Autista é criada pela Lei nº das turmas, dos professores e da escola.
12.764/2012. Além de consolidar um conjunto de direitos, IV – Objetivo da Política Nacional de Educação Especial
esta lei em seu artigo 7º, veda a recusa de matrícula à pes- na Perspectiva da Educação Inclusiva
soas com qualquer tipo de deficiência e estabelece punição A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva
para o gestor escolar ou autoridade competente que prati- da Educação Inclusiva tem como objetivo o acesso, a parti-
que esse ato discriminatório. cipação e a aprendizagem dos estudantes com deficiência,
Ancorada nas deliberações da Conferência Nacional de transtornos globais do desenvolvimento e altas habilida-
Educação – CONAE/ 2010, a Lei nº 13.005/2014, que institui des/superdotação nas escolas regulares, orientando os sis-
o Plano Nacional de Educação – PNE, no inciso III, parágra- temas de ensino para promover respostas às necessidades
fo 1º, do artigo 8º, determina que os Estados, o Distrito educacionais, garantindo:
Federal e os Municípios garantam o atendimento as ne- · Transversalidade da educação especial desde a edu-
cessidades específicas na educação especial, assegurado o cação infantil até a educação superior;
sistema educacional inclusivo em todos os níveis, etapas e · Atendimento educacional especializado;
modalidades. Com base neste pressuposto, a meta 4 e res- · Continuidade da escolarização nos níveis mais eleva-
pectivas estratégias objetivam universalizar, para as pessoas dos do ensino;
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e · Formação de professores para o atendimento edu-
altas habilidades/superdotação, na faixa etária de 04 a 17 cacional especializado e demais profissionais da educação
anos, o acesso à educação básica e ao atendimento edu- para a inclusão escolar;
cacional especializado. O AEE é ofertado preferencialmente · Participação da família e da comunidade;
na rede regular de ensino, podendo ser realizado por meio · Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliá-
de convênios com instituições especializadas, sem prejuízo rios e equipamentos, nos transportes, na comunicação e
do sistema educacional inclusivo.
informação; e
III – Diagnóstico da Educação Especial
· Articulação intersetorial na implementação das polí-
O Censo Escolar/MEC/INEP, realizado anualmente em
ticas públicas.
todas as escolas de educação básica, possibilita o acom-
V – Estudantes atendidos pela Educação Especial
panhamento dos indicadores da educação especial: acesso
Por muito tempo perdurou o entendimento de que a
à educação básica, matrícula na rede pública, ingresso nas
educação especial, organizada de forma paralela à educa-
classes comuns, oferta do atendimento educacional espe-
cializado, acessibilidade nos prédios escolares, municípios ção comum, seria a forma mais apropriada para o aten-
com matrícula de estudantes com deficiência, transtornos dimento de estudantes que apresentavam deficiência ou
globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdo- que não se adequassem à estrutura rígida dos sistemas de
tação, escolas com acesso ao ensino regular e formação ensino.
docente para o atendimento às necessidades educacionais Essa concepção exerceu impacto duradouro na história
específicas dos estudantes. da educação especial, resultando em práticas que enfati-
Para compor esses indicadores no âmbito da educação zavam os aspectos relacionados à deficiência, em contra-
especial, o Censo Escolar/MEC/INEP coleta dados referen- posição à sua dimensão pedagógica. O desenvolvimento
tes ao número geral de matrículas; à oferta da matrícula de estudos no campo da educação e dos direitos huma-
nas escolas públicas, escolas privadas e comunitárias sem nos vêm modificando os conceitos, a legislação, as práticas
fins lucrativos; às matrículas em classes especiais, escola educacionais e de gestão, indicando a necessidade de se
especial e classes comuns de ensino regular; ao número promover uma reestruturação das escolas de ensino regu-
de estudantes do ensino regular com atendimento edu- lar e da educação especial.
cacional especializado; às matrículas, conforme tipos de Em 1994, a Declaração de Salamanca proclama que as
deficiência, transtornos do desenvolvimento e altas habi- escolas regulares com orientação inclusiva constituem os
lidades/superdotação; à infra-estrutura das escolas quan- meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias
to à acessibilidade arquitetônica, à sala de recursos ou aos e que estudantes com deficiência e altas habilidades/su-
equipamentos específicos; e à formação dos professores perdotação devem ter acesso à escola regular, tendo como
que atuam no atendimento educacional especializado. princípio orientador que “as escolas deveriam acomodar
A partir de 2004, são efetivadas mudanças no instru- todas as crianças independentemente de suas condições
mento de pesquisa do Censo, que passa a registrar a sé- físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou ou-
rie ou ciclo escolar dos estudantes identificados na área tras” (BRASIL, 2006, p.330).
da educação especial, possibilitando monitorar o percurso
escolar. Em 2007, o formulário impresso do Censo Escolar

114
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

O conceito de necessidades educacionais especiais, O atendimento educacional especializado tem como


que passa a ser amplamente disseminado a partir dessa função identificar, elaborar e organizar recursos pedagó-
Declaração, ressalta a interação das características indivi- gicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para
duais dos estudantes com o ambiente educacional e social. a plena participação dos estudantes, considerando suas
No entanto, mesmo com uma perspectiva conceitual que necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no
aponte para a organização de sistemas educacionais inclu- atendimento educacional especializado diferenciam-se da-
sivos, que garanta o acesso de todos os estudantes e os quelas realizadas na sala de aula comum, não sendo subs-
apoios necessários para sua participação e aprendizagem, titutivas à escolarização. Esse atendimento complementa
as políticas implementadas pelos sistemas de ensino não e/ou suplementa a formação dos estudantes com vistas à
alcançaram esse objetivo. autonomia e independência na escola e fora dela.
Na perspectiva da educação inclusiva, a educação es- Dentre as atividades de atendimento educacional es-
pecial passa a integrar a proposta pedagógica da escola pecializado são disponibilizados programas de enriqueci-
regular, promovendo o atendimento aos estudantes com mento curricular, o ensino de linguagens e códigos espe-
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas cíficos de comunicação e sinalização e tecnologia assistiva.
habilidades/superdotação. Nestes casos e em outros, como Ao longo de todo o processo de escolarização esse aten-
os transtornos funcionais específicos, a educação especial dimento deve estar articulado com a proposta pedagógica
atua de forma articulada com o ensino comum, orientando do ensino comum. O atendimento educacional
para o atendimento desses estudantes. especializado é acompanhado por meio de instrumen-
A educação especial direciona suas ações para o aten- tos que possibilitem monitoramento e avaliação da ofer-
dimento às especificidades desses estudantes no processo ta realizada nas escolas da rede pública e nos centros de
educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na atendimento educacional especializados públicos ou con-
escola, orienta a organização de redes de apoio, a forma- veniados.
ção continuada, a identificação de recursos, serviços e o O acesso à educação tem início na educação infantil, na
desenvolvimento de práticas colaborativas. qual se desenvolvem as bases necessárias para a constru-
Os estudos mais recentes no campo da educação es- ção do conhecimento e desenvolvimento global do aluno.
pecial enfatizam que as definições e uso de classificações Nessa etapa, o lúdico, o acesso às formas diferenciadas de
devem ser contextualizados, não se esgotando na mera comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos físicos,
especificação ou categorização atribuída a um quadro de emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e a convi-
deficiência, transtorno, distúrbio, síndrome ou aptidão. vência com as diferenças favorecem as relações interpes-
Considera-se que as pessoas se modificam continua- soais, o respeito e a valorização da criança.
mente, transformando o contexto no qual se inserem. Esse Do nascimento aos três anos, o atendimento educa-
dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada para al- cional especializado se expressa por meio de serviços de
terar a situação de exclusão, reforçando a importância dos estimulação precoce, que objetivam otimizar o processo
ambientes heterogêneos para a promoção da aprendiza- de desenvolvimento e aprendizagem em interface com os
gem de todos os estudantes. serviços de saúde e assistência social. Em todas as etapas e
A partir dessa conceituação, considera-se pessoa com modalidades da educação básica, o atendimento educacio-
deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo, nal especializado é organizado para apoiar o desenvolvi-
de natureza física, mental ou sensorial que, em interação mento dos estudantes, constituindo oferta obrigatória dos
com diversas barreiras, podem ter restringida sua partici- sistemas de ensino. Deve ser realizado no turno inverso ao
pação plena e efetiva na escola e na sociedade. Os estu- da classe comum, na própria escola ou centro especializa-
dantes com transtornos globais do desenvolvimento são do que realize esse serviço educacional.
aqueles que apresentam alterações qualitativas das intera- Desse modo, na modalidade de educação de jovens
ções sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de e adultos e educação profissional, as ações da educação
interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. especial possibilitam a ampliação de oportunidades de es-
Incluem-se nesse grupo estudantes com autismo, síndro- colarização, formação para ingresso no mundo do trabalho
mes do espectro do autismo e psicose infantil. Estudantes e efetiva participação social.
com altas habilidades/superdotação demonstram poten- A interface da educação especial na educação indíge-
cial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas na, do campo e quilombola deve assegurar que os recursos,
ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomo- serviços e atendimento educacional especializado estejam
tricidade e artes, além de apresentar grande criatividade, presentes nos projetos pedagógicos construídos com base
envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em nas diferenças socioculturais desses grupos.
áreas de seu interesse. Na educação superior, a educação especial se efetiva
VI – Diretrizes da Política Nacional de Educação Espe- por meio de ações que promovam o acesso, a permanência
cial na Perspectiva da Educação Inclusiva e a participação dos estudantes. Estas ações envolvem o
A educação especial é uma modalidade de ensino que planejamento e a organização de recursos e serviços para
perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o a promoção da acessibilidade arquitetônica, nas comunica-
atendimento educacional especializado, disponibiliza os ções, nos sistemas de informação, nos materiais didáticos e
recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no pedagógicos, que devem ser disponibilizados nos proces-
processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns sos seletivos e no desenvolvimento de todas as atividades
do ensino regular. que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão.

115
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Para o ingresso dos estudantes surdos nas escolas co- Os sistemas de ensino devem organizar as condições
muns, a educação bilíngue – Língua Portuguesa/Libras de- de acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos e à co-
senvolve o ensino escolar na Língua Portuguesa e na língua municação que favoreçam a promoção da aprendizagem e
de sinais, o ensino da Língua Portuguesa como segunda a valorização das diferenças, de forma a atender as necessi-
língua na modalidade escrita para estudantes surdos, os dades educacionais de todos os estudantes. A acessibilida-
serviços de tradutor/intérprete de Libras e Língua Portu- de deve ser assegurada mediante a eliminação de barreiras
guesa e o ensino da Libras para os demais estudantes da arquitetônicas, urbanísticas, na edificação – incluindo ins-
escola. O atendimento educacional especializado para es- talações, equipamentos e mobiliários – e nos transportes
ses estudantes é ofertado tanto na modalidade oral e es- escolares, bem como as barreiras nas comunicações e in-
crita quanto na língua de sinais. Devido à diferença linguís- formações.
tica, orienta-se que o aluno surdo esteja com outros surdos
em turmas comuns na escola regular.
O atendimento educacional especializado é realizado FREIRE, P. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA. 21ª
mediante a atuação de profissionais com conhecimentos
ED. SÃO PAULO: PAZ E TERRA, 2002.
específicos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da
Língua Portuguesa na modalidade escrita como segunda
língua, do sistema Braille, do Soroban, da orientação e mo-
bilidade, das atividades de vida autônoma, da comunica-
Capítulo l - Não Há Docência Sem Discência
ção alternativa, do desenvolvimento dos processos mentais
superiores, dos programas de enriquecimento curricular, da
adequação e produção de materiais didáticos e pedagó- Ensinar não é transferir conhecimentos e conteúdos,
gicos, da utilização de recursos ópticos e não ópticos, da nem formar é a ação pela qual um sujeito criador dá forma,
tecnologia assistiva e outros. estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há
A avaliação pedagógica como processo dinâmico docência sem discência, as duas se explicam, e seus sujei-
considera tanto o conhecimento prévio e o nível atual de tos, apesar das diferenças, não se reduzem à condição de
desenvolvimento do aluno quanto às possibilidades de objeto um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e
aprendizagem futura, configurando uma ação pedagógica quem aprende ensina ao aprender. Ensinar exige rigorosi-
processual e formativa que analisa o desempenho do aluno dade metodológica. Ensinar não se esgota no tratamento
em relação ao seu progresso individual, prevalecendo na do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se
avaliação os aspectos qualitativos que indiquem as inter- alonga à produção das condições em que aprender criti-
venções pedagógicas do professor. No processo de ava- camente é possível. E estas condições exigem a presença
liação, o professor deve criar estratégias considerando que de educadores e de educandos criadores, investigadores,
alguns estudantes podem demandar ampliação do tempo inquietos, curiosos, humildes e persistentes. Faz parte das
para a realização dos trabalhos e o uso da língua de sinais, condições em que aprender criticamente é possível a pres-
de textos em Braille, de informática ou de tecnologia assis- suposição, por parte dos educandos, de que o educador
tiva como uma prática cotidiana. já teve ou continua tendo experiência da produção de sa-
Cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação beres, e que estes, não podem ser simplesmente transfe-
especial na perspectiva da educação inclusiva, disponibi- ridos a eles. Pelo contrário, nas condições de verdadeira
lizar as funções de instrutor, tradutor/intérprete de Libras aprendizagem, tanto educandos quanto educadores trans-
e guia-intérprete, bem como de monitor ou cuidador dos formam-se em sujeitos do processo de aprendizagem. Só
estudantes com necessidade de apoio nas atividades de assim podemos falar realmente de saber ensinado, em que
higiene, alimentação, locomoção, entre outras, que exijam o objeto ensinado é aprendido na sua razão de ser. Perce-
auxílio constante no cotidiano escolar. be-se, assim, a importância do papel do educador, com a
Para atuar na educação especial, o professor deve ter certeza de que faz parte de sua tarefa docente não apenas
como base da sua formação, inicial e continuada, conhe-
ensinar os conteúdos, mas também ensinar a pensar certo
cimentos gerais para o exercício da docência e conheci-
- um professor desafiador, crítico. Ensinar exige pesquisa.
mentos específicos da área. Essa formação possibilita a sua
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Hoje
atuação no atendimento educacional especializado, apro-
funda o caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas se fala muito no professor pesquisador, mas isto não é uma
salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos qualidade, pois faz parte da natureza da prática docente a
centros de atendimento educacional especializado, nos nú- indagação, a busca, a pesquisa.
cleos de acessibilidade das instituições de educação supe- Precisamos que o professor se perceba e se assuma
rior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, como pesquisador. Pensar certo é uma exigência que os
para a oferta dos serviços e recursos de educação especial. momentos do ciclo gnosiológico impõem à curiosidade
Para assegurar a intersetorialidade na implementação que, tornando-se mais e mais metodologicamente rigoro-
das políticas públicas a formação deve contemplar conhe- sa, transforma-se no que Paulo Freire chama de “curiosi-
cimentos de gestão de sistema educacional inclusivo, ten- dade epistemológica”. Ensinar exige respeito aos saberes
do em vista o desenvolvimento de projetos em parceria dos educandos. A escola deve respeitar os saberes dos
com outras áreas, visando à acessibilidade arquitetônica, educandos – socialmente construídos na prática comuni-
aos atendimentos de saúde, à promoção de ações de assis- tária - discutindo, também, com os alunos, a razão de ser
tência social, trabalho e justiça. de alguns deles em relação ao ensino dos conteúdos. Por

116
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

que não aproveitar a experiência dos alunos que vivem em discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de
áreas descuidadas pelo poder público para discutir a polui- tal modo concreto que quase se confunda com a prática.
ção dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade
-estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à cultural. A questão da identidade cultural, com sua dimen-
saúde? Por que não associar as disciplinas estudadas à rea- são individual e da classe dos educandos, cujo respeito é
lidade concreta, em que a violência é a constante e a con- absolutamente fundamental na prática educativa progres-
vivência das pessoas com a morte é muito maior do que sista, é problema que não pode ser desprezado. Tem a ver
com a vida? Ensinar exige criticidade. A superação, ao invés diretamente com a assunção de nós por nós mesmos. É isto
da ruptura, se dá na medida em que a curiosidade ingênua, que o puro treinamento do professor não faz, perdendo-se
associada ao saber comum, se criticiza, aproximando-se de na estreita e pragmática visão do processo.
forma cada vez mais metodologicamente rigorosa do ob-
jeto cognoscível, tornando-se curiosidade epistemológica. Capítulo 2 – Ensinar Não É Transferir Conhecimento
Muda de qualidade, mas não de essência, e essa mu-
dança não se dá automaticamente. Essa é uma das princi- Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
pais tarefas do educador progressista - o desenvolvimen- possibilidades para a sua própria construção. Quando o
to da curiosidade crítica, insatisfeita, indócil. Ensinar exige educador entra em uma sala de aula, deve estar aberto a
estética e ética. A necessária promoção da ingenuidade à indagações, curiosidade e inibições dos alunos: um ser crí-
criticidade não pode ser feita sem uma rigorosa formação tico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tem - a de
ética e estética. Decência e boniteza andam de mãos dadas. ensinar e não a de transferir conhecimento. Pensar certo é
Mulheres e homens, seres histórico-sociais, tornamo-nos uma postura exigente, difícil, às vezes penosa, que temos
capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de de assumir diante dos outros e com os outros, em face do
decidir, de romper. Por tudo isso nos fizemos seres éticos. mundo e dos fatos, ante nós mesmos. É difícil, entre outras
Só somos porque estamos sendo. Estar sendo é a condição, coisas, pela vigilância constante que temos de exercer so-
entre nós, para ser. Não é possível pensar os seres humanos bre nós mesmos para evitar os simplismos, as facilidades,
longe da ética. Quanto mais fora dela, maior a transgres- as incoerências grosseiras. É difícil porque nem sempre te-
são. Ensinar exige a corporificação das palavras pelo exem- mos o valor indispensável para não permitir que a raiva que
plo. Quem pensa certo está cansado de saber que palavras podemos ter de alguém vire raivosidade, gerando um pen-
sem exemplo pouco ou nada valem. Pensar certo é fazer sar errado e falso. É cansativo, por exemplo, viver a humil-
certo (agir de acordo com o que pensa). dade, condição sine qua non do pensar certo, que nos faz
Não há pensar certo fora de uma prática testemunhal, proclamar o nosso próprio equívoco, que nos faz reconhe-
que o rediz em lugar de desdizê-lo. Não é possível ao pro- cer e anunciar a superação que sofremos. Sem rigorosidade
fessor pensar que pensa certo (de forma progressista), e, metódica não há pensar certo. Ensinar exige consciência do
ao mesmo tempo, perguntar ao aluno se “sabe com quem inacabamento. Na verdade, a inconclusão do ser é própria
está falando”. Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejei- de sua experiência vital. Onde há vida, há inconclusão, em-
ção a qualquer forma de discriminação. É próprio do pen- bora esta só seja consciente entre homens e mulheres. A
sar certo a disponibilidade ao risco, a aceitação do novo invenção da existência envolve necessariamente a lingua-
que não pode ser negado ou acolhido só porque é novo, gem, a cultura, a comunicação em níveis mais profundos e
assim como critério de recusa ao velho não é o cronológi- complexos do que ocorria e ocorre no domínio da vida, a
co. O velho que preserva sua validade encarna uma tradi- espiritualização do mundo, a possibilidade não só de em-
ção ou marca uma presença no tempo continua novo. Faz belezar, mas também de enfear o mundo; tudo isso inscre-
parte igualmente do pensar certo a rejeição mais decidida veria mulheres e homens como seres éticos. Só os seres
a qualquer forma de discriminação. A prática preconceituo- que se tornaram éticos podem romper com a ética. É ne-
sa de raças, de classes, de gênero ofende a substantividade cessário insistir na problematização do futuro e recusar sua
do ser humano e nega radicalmente a democracia. Ensi- inexorabilidade. Ensinar exige o reconhecimento de ser
nar exige reflexão crítica sobre a prática. A prática docente condicionado “Gosto de ser gente, inacabado, sei que sou
crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento um ser condicionado, mas, consciente do inacabamento,
dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fa- sei que posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda
zer. É fundamental que, na prática da formação docente, o entre o ser condicionado e o ser determinado... Afinal, mi-
aprendiz de educador assuma que o indispensável pensar nha presença no mundo não é a de quem se adapta, mas a
certo não é presente dos deuses nem se acha nos guias de de quem nele se insere”. E a posição de quem luta para não
professores que, iluminados intelectuais, escrevem desde o ser apenas objeto, mas também sujeito da história. Históri-
centro do poder. Pelo contrário, o pensar certo que supera co-sócio-culturais, tornamo-nos seres em quem a curiosi-
o ingênuo tem de ser produzido pelo próprio aprendiz, em dade, ultrapassando os limites que lhe são peculiares no
comunhão com o professor formador. É preciso possibilitar domínio vital, torna-se fundante da produção do conheci-
que a curiosidade ingênua, através da reflexão sobre a prá- mento. Mais ainda, a curiosidade é já o conhecimento.
tica, vá tornando-se crítica. Na formação permanente dos Como a linguagem que anima a curiosidade e com ela se
professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica anima, é também conhecimento e não só expressão dele.
sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje Na verdade, seria uma contradição se, inacabado e cons-
ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O ciente do inacabamento, o ser humano não se inserisse em

117
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

tal movimento. É neste sentido que, para mulheres e ho- tenho por que desamá-la e aos educandos. Não tenho por
mens, estar no mundo necessariamente significa estar com que exercê-la mal. Minha resposta à ofensa à educação é a
o mundo e com os outros. É na inconclusão do ser, que se luta política consciente, crítica e organizada dos professo-
sabe como tal, que se funda a educação como processo res. Os órgãos de classe deveriam priorizar o empenho de
permanente. Mulheres e homens se tornaram educáveis na formação permanente dos quadros do magistério como
medida em que se reconheceram inacabados. O ideal é tarefa altamente política, e reinventar a forma de lutar. En-
que, na experiência educativa, educandos e educadores, sinar exige apreensão da realidade. Como professor, preci-
juntos, transformem este e outros saberes em sabedoria. so conhecer as diferentes dimensões que caracterizam a
Algo que não é estranho a nós, educadores. Ensinar exige essência da minha prática. O melhor ponto de partida para
respeito à autonomia do ser educando. O professor, ao estas reflexões é a inconclusão do ser humano. Aí radica a
desrespeitar a curiosidade do educando, o seu gosto esté- nossa educabilidade, bem como a nossa inserção num per-
tico, a sua inquietude, a sua linguagem, ao ironizar o aluno, manente movimento de busca. A nossa capacidade de
minimizá-lo, mandar que “ele se ponha em seu lugar” ao aprender, de que decorre a de ensinar, implica a nossa ha-
mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, ao se eximir do bilidade de apreender a substantividade de um objeto. So-
cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade mos os únicos seres que, social e historicamente, nos tor-
do aluno, ao se furtar do dever de ensinar, de estar respei- namos capazes de aprender. Por isso aprender é uma aven-
tosamente presente à experiência formadora do educando, tura criadora, muito mais rica do que meramente repetir a
transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa lição dada. Aprender é construir, reconstruir, constatar para
existência. É neste sentido que o professor autoritário afo- mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura
ga a liberdade do educando, amesquinhando o seu direito do espírito. Toda prática educativa demanda:- a existência
de ser curioso e inquieto. Qualquer discriminação é imoral de sujeitos - um que, ensinando, aprende, e outro que,
e lutar contra ela é um dever, por mais que se reconheça a aprendendo, ensina (daí seu cunho gnosiológico); - a exis-
força dos condicionamentos a enfrentar. A beleza de ser tência de objetos, conteúdos a serem ensinados e aprendi-
gente se acha, entre outras coisas, nessa possibilidade e dos;- o uso de métodos, de técnicas, de materiais. Esta prá-
nesse dever de brigar. Saber que devo respeito à autono- tica também implica, em função de seu caráter diretivo,
mia e à identidade do educando exige de mim uma prática objetivos, sonhos, utopias, ideais. Daí sua politicidade, daí
em tudo coerente com este saber. Ensinar exige bom senso não ser neutra, ser artística e moral. Exige uma competên-
O exercício do bom senso, com o qual só temos a ganhar, cia geral, um saber de sua natureza e saberes especiais, li-
se faz no corpo da curiosidade. Neste sentido, quanto mais gados à atividade docente. Como professor, se a minha
colocamos em prática, de forma metódica, a nossa capaci- opção é progressista e sou coerente com ela, meu papel é
dade de indagar, de comparar, de duvidar, de aferir, tanto contribuir para que o educando, seja o, artífice de sua for-
mais eficazmente curiosos nos podemos tornar e mais crí- mação. Devo estar atento à difícil caminhada da heterono-
tico se torna o nosso bom senso. O exercício do bom senso mia para a autonomia. “É assim que venho tentando ser
vai superando o que há nele de instintivo na avaliação que professor, assumindo minhas convicções, disponível ao sa-
fazemos dos fatos e dos acontecimentos em que nos en- ber, sensível à boniteza da prática educativa, instigado por
volvemos. O meu bom senso não me diz o que é, mas dei- seus desafios...” Ensinar exige alegria e esperança. O meu
xa claro que há algo que precisa ser sabido. É ele que, em envolvimento com a prática educativa jamais deixou de ser
primeiro lugar, me diz não ser possível o respeito aos edu- feito com alegria, o que não significa dizer que tenha podi-
candos, se não se levar em consideração as condições em do criá-la nos educandos. Parece-me uma contradição que
que eles vêm existindo, e os conhecimentos experienciais uma pessoa que não teme a novidade, que se sente mal
com que chegam à escola. Isto exige de mim uma reflexão com as injustiças, que se ofende com as discriminações,
crítica permanente sobre minha prática. O ideal é que se que luta contra a impunidade, que recusa o fatalismo cínico
invente uma forma pela qual os educandos possam partici- e imobilizante não seja criticamente esperançosa. Ensinar
par da avaliação. E que o trabalho do professor deve ser exige a convicção de que a mudança é possível. A realidade
com os alunos e não consigo mesmo. O professor tem o não é inexoravelmente esta. E esta agora, e para que seja
dever de realizar sua tarefa docente. Para isso, precisa de outra, precisamos lutar, viver a história como tempo de
condições favoráveis, sem as quais se move menos eficaz- possibilidade, e não de determinação. O amanhã não é
mente no espaço pedagógico. O desrespeito a este espaço algo pré-dado, mas um desafio. Não posso, por isso, cruzar
é uma ofensa aos educandos, aos educadores e à prática os braços. Esse é, aliás, um dos saberes primeiros, indispen-
pedagógica. Ensinar exige humildade, tolerância e luta em sáveis a quem pretende que sua presença se torne convi-
defesa dos direitos dos educadores. Como ser educador vência. O mundo não é. O mundo está sendo. O meu papel
sem aprender a conviver com os diferentes? Como posso no mundo não é só o de quem constata o que ocorre, mas
respeitar a curiosidade do educando se, carente de humil- também o de quem intervém como sujeito de ocorrências.
dade e da real compreensão do papel da ignorância na Constato, não para me adaptar, mas para mudar. No fundo,
busca do saber, temo revelar o meu desconhecimento? A as resistências orgânicas e culturais são manhas necessá-
luta dos professores em defesa de seus direitos e de sua rias à sobrevivência física e cultural dos oprimidos. É preci-
dignidade deve ser entendida como um momento impor- so, porém, que tenhamos na resistência fundamentos para
tante de sua prática docente, enquanto prática ética. Ainda a nossa rebeldia e não para a nossa resignação em face das
que a prática pedagógica seja tratada com desprezo, não ofensas. Não é na resignação que nos afirmamos, mas na

118
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

rebeldia em face das injustiças. A rebeldia é ponto de par- do pela dependência. O fundamental no aprendizado do
tida, é deflagração da justa ira, mas não é suficiente. A re- conteúdo é a construção da responsabilidade da liberdade
beldia, enquanto denúncia, precisa se alongar até uma po- que se assume. O essencial nas relações entre autoridade
sição mais radical e crítica, a revolucionária, fundamental- e liberdade é a reinvenção do ser humano no aprendizado
mente anunciadora. Mudar é difícil, mas é possível. Ensinar de sua autonomia. Nunca me foi possível separar dois mo-
exige curiosidade. Como professor, devo saber que, sem a mentos - o ensino dos conteúdos da formação ética dos
curiosidade que me move, não aprendo nem ensino. A educandos. O saber desta impossibilidade é fundamen-
construção do conhecimento implica o exercício da curiosi- tal à prática docente. Quanto mais penso sobre a prática
dade, o estímulo à pergunta, a reflexão crítica sobre a pró- educativa, reconhecendo a responsabilidade que ela exige
pria pergunta. O fundamental é que professor e alunos sai- de nós, mais me convenço do nosso dever de lutar para
bam que a postura deles é dialógica, aberta, curiosa, inda- que ela seja realmente respeitada: Ensinar exige compro-
gadora e não apassivada. A dialogicidade, no entanto, não metimento. Não posso ser professor sem me pôr diante
nega a validade de momentos explicativos, narrativos. O
dos alunos, sem revelar com facilidade ou relutância minha
bom professor faz da aula um desafio. Seus alunos cansam,
maneira de ser, de pensar politicamente. Não posso esca-
não dormem. Um dos saberes fundamentais à prática edu-
par à apreciação dos alunos. E a maneira como eles me
cativo-crítica é o que me adverte da necessária promoção
percebem tem importância capital para o meu desempe-
da curiosidade espontânea para a curiosidade epistemoló-
gica. Resultado do equilíbrio entre autoridade e liberdade, nho. Daí, então, que uma de minhas preocupações centrais
a disciplina implica o respeito de uma pela outra, expresso deva ser a de procurar a aproximação cada vez maior entre
na assunção que ambas fazem de limites que não podem o que digo e o que faço, entre o que pareço ser e o que
ser transgredidos. realmente estou sendo. Isto aumenta em mim os cuidados
com o meu desempenho. Se a minha opção é democrá-
Capítulo 3 - Ensinar É Uma Especificidade Humana tica, progressista, não posso ter uma prática reacionária,
autoritária, elitista. Minha presença de professor é, em si,
Creio que uma das qualidades essenciais que a auto- política. Enquanto presença, não posso ser uma omissão,
ridade docente democrática deve revelar em suas relações mas um sujeito de opções. Devo revelar aos alunos a minha
com as liberdades dos alunos é a segurança em si mesma. capacidade de analisar, de decidir, de optar e de romper,
É a segurança que se expressa na firmeza com que atua, minha capacidade de fazer justiça, de não falhar à verda-
com que decide, com que respeita as liberdades, com que de. Ético, por isso mesmo, tem que ser o meu testemunho.
discute suas próprias posições, com que aceita rever-se. Ensinar exige compreender que a educação é uma forma
Ensinar exige segurança, competência profissional e gene- de intervenção no mundo. Outro saber de que ‘não posso
rosidade - A segurança com que a autoridade docente se duvidar na minha prática educativo-crítica é que, como ex-
move implica uma outra, fundada na sua competência pro- periência especificamente humana, a educação é uma for-
fissional. Nenhuma autoridade docente se exerce ausente ma de intervenção no mundo. Intervenção esta que, além
desta competência. O professor que não leva a sério sua do conhecimento dos conteúdos, bem ou mal ensinados
formação, que não estuda, que não se esforça para estar à e/ou aprendidos, implica tanto o esforço da reprodução
altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento.
atividades de sua classe. A incompetência profissional des- Nem somos seres simplesmente determinados nem tam-
qualifica a autoridade do professor. Outra qualidade indis- pouco livres de condicionamentos genéticos, culturais, so-
pensável à autoridade, em suas relações com a liberdade, é ciais, históricos, de classe, de gênero, que nos marcam e a
a generosidade. Não há nada que inferiorize mais a tarefa que nos achamos referidos. Continuo aberto à advertência
formadora da autoridade do que a mesquinhez, a arrogân-
de Marx, a da necessária radicalidade, que me faz sempre
cia ao julgar os outros e a indulgência ao se julgar, ou aos
desperto a tudo o que diz respeito à defesa dos interesses
seus. A arrogância que nega a generosidade nega também
humanos. Interesses superiores aos de grupos ou de clas-
a humildade. O clima de respeito que nasce de relações
ses de pessoas. Não posso ser professor se não percebo
justas, sérias, humildes, generosas, em que a autoridade
docente e as liberdades dos alunos se assumem eticamen- cada vez melhor que, por não poder ser neutra, minha prá-
te, autentica o caráter formador do espaço pedagógico. A tica exige de mim uma definição, uma tomada de posição,
autoridade, coerentemente democrática, está convicta de uma ruptura. Exige que eu escolha entre isto e aquilo. Não
que a disciplina verdadeira não existe na estagnação, no posso ser professor a favor de quem quer que seja e a favor
silêncio dos silenciados, mas no alvoroço dos inquietos, na de não importa o quê. Não posso ser professor a favor sim-
dúvida que instiga, na esperança que desperta. Um esforço plesmente da Humanidade, frase de uma vaguidade dema-
sempre presente à prática da autoridade coerentemente siado contrastante com a concretude da prática educativa.
democrática é o que a torna quase escrava de um sonho Sou professor a favor da decência contra o despudor, a fa-
fundamental - o de persuadir ou convencer a liberdade vor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade con-
para a construção da própria autonomia, ainda que reela- tra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura. Sou
borando materiais vindos de fora de si. É com a autonomia, professor a favor da luta constante contra qualquer forma
penosamente construída e fundada na responsabilidade, de discriminação, contra a dominação econômica dos indi-
que a liberdade vai preenchendo o espaço antes habita- víduos ou das classes sociais, contra a ordem vigente que

119
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

inventou a aberração da miséria na fartura. Sou professor a de avaliação pedagógica de alunos e de professores vêm se
favor da esperança que me anima, apesar de tudo. Contra o assumindo cada vez mais como discursos verticais, de cima
desengano que consome e imobiliza e a favor da boniteza para baixo, mas insistindo em passar por democráticos. A
de minha própria prática. Tão importante quanto o ensino questão que se coloca a nós é lutar em favor da compreen-
dos conteúdos é a minha coerência na classe. A coerência são e da prática da avaliação, enquanto instrumento de
entre o que digo, o que escrevo e o que faço. Ensinar exi- apreciação do que fazer, de sujeitos críticos a serviço, por
ge liberdade e autoridade. O problema que se coloca para isso mesmo, da libertação e não da domesticação. Avalia-
o educador democrático é como trabalhar no sentido de ção em que se estimule o falar a como caminho para o falar
fazer possível que a necessidade do limite seja assumida com. Quem tem o que dizer, tem igualmente o direito e o
eticamente pela liberdade. Sem os limites, a liberdade se dever de dizê-lo. É preciso, porém, que o sujeito saiba não
perverte em licença e a autoridade em autoritarismo. Por ser o único a ter algo a dizer. Mais ainda, que esse algo, por
outro lado, faz parte do aprendizado a assunção das con- mais importante que seja, não é a verdade alvissareira por
sequências do ato de decidir. Não há decisão que não seja todos esperada.
seguida de efeitos esperados, pouco esperados ou ines- Por isso é que acrescento, quem tem o que dizer deve
perados. Por isso a decisão é um processo responsável. É assumir o dever de motivar, de desafiar quem escuta, para
decidindo que se aprende a decidir. Não posso aprender a que este diga, fale, responda. É preciso enfatizar - ensinar
ser eu mesmo se não decido nunca, porque há sempre a não é transferir a inteligência do objeto ao educando, mas
sabedoria e a sensatez de meu pai e de minha mãe a de- instigá-lo no sentido de que, como sujeito cognoscente,
cidir por mim. Ninguém é autônomo primeiro para depois torne-se capaz de inteligir e comunicar o inteligido. É neste
decidir. A autonomia vai se construindo na experiência. sentido que se impõe a mim escutar o educando em suas
Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Por outro dúvidas, em seus receios, em sua incompetência provisória.
lado, ninguém amadurece de repente. A gente vai amadu- E ao escutá-lo, aprendo a falar com ele. Aceitar e respeitar
recendo todo dia, ou não. A autonomia é um processo, não a diferença é uma das virtudes sem a qual a escuta não
ocorre em data marcada. É neste sentido que uma pedago- pode acontecer. Tarefa essencial da escola, como centro de
gia da autonomia tem de estar centrada em experiências produção sistemática de conhecimento, é trabalhar critica-
estimuladoras da decisão e da responsabilidade, ou seja, mente a i das coisas e dos fatos e a sua comunicabilidade.
que respeitam a liberdade. Ensinar exige tomada conscien- Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica Sa-
te de decisões. Voltemos à questão central desta parte do ber igualmente fundamental à prática educativa do profes-
texto - a educação, especificidade humana, como um ato sor é o que diz respeito à força, às vezes, maior do que pen-
de intervenção no mundo. samos da ideologia. É o que nos adverte de suas manhas,
Quando falo em educação como intervenção me refiro das armadilhas em que nos faz cair.
tanto a que aspira a mudanças radicais na sociedade, no A ideologia tem a ver diretamente com a ocultação da
campo da economia, das relações humanas, da proprie- verdade dos fatos, com o uso da linguagem para penum-
dade, do direito ao trabalho, à terra, à educação, à saúde, brar ou opacizar a realidade, ao mesmo tempo em que nos
quanto a que, reacionariamente, pretende imobilizar a His- torna míopes. No exercício crítico de minha resistência ao
tória e manter a ordem injusta. E que dizer de educadores poder da ideologia, vou gerando certas qualidades que vão
que se dizem progressistas, mas de prática pedagógica virando sabedoria indispensável à minha prática docente. A
-política eminentemente autoritária? A raiz mais profunda necessidade desta resistência crítica, por exemplo, me pre-
da politicidade da educação se acha na educabilidade do dispõe, de um lado, a uma atitude sempre aberta aos de-
ser humano, que se funda em sua natureza inacabada e da mais, aos dados da realidade; de outro, a uma desconfian-
qual se tornou consciente. Inacabado e consciente disso, ça metódica que me defende de tornar-me absolutamente
necessariamente o ser humano se faria um ser ético, um certo das certezas. Para me resguardar das artimanhas da
ser de opção, de decisão. Um ser ligado a interesses e em ideologia não posso nem devo me fechar aos outros, nem
relação aos quais tanto pode manter-se fiel à ética quanto tampouco me enclausurar no ciclo de minha verdade. Pelo
pode transgredi-la. Se a educação não pode tudo, pode contrário, o melhor caminho para guardar viva e desperta
alguma coisa fundamental. Se a educação não é a chave a minha capacidade de pensar certo, de ver com acuidade,
das mudanças, não é também simplesmente reprodutora de ouvir com respeito, por isso de forma exigente, é me
da ideologia dominante. deixar exposto às diferenças, é recusar posições dogmáti-
O que quero dizer é que a educação nem é uma for- cas, em que me admita como dono da verdade.
ça imbatível a serviço da transformação da sociedade nem Ensinar exige disponibilidade para o diálogo Nas mi-
tampouco é a perpetuação do status quo. nhas relações com os outros, que não fizeram necessaria-
mente as mesmas opções que fiz, no nível da política, da
Ensinar exige saber escutar ética, da estética, da pedagogia, nem posso partir do pres-
suposto que devo conquistá-los, não importa a que custo,
Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático nem tampouco temer que pretendam conquistar-me. É no
e solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo, respeito às diferenças entre mim e eles, na coerência entre
sobretudo, como se fôssemos os portadores da Verdade a o que faço e o que digo, que me encontro com eles. O
ser transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura, com
é escutando que aprendemos & falar com eles. Os sistemas seu gesto, a relação dialógica em que se confirma como in-

120
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

quietação e curiosidade, como inconclusão em permanen-


te movimento na história. Como ensinar, como formar sem GADOTTI, M. EDUCAÇÃO INTEGRAL NO
estar aberto ao contorno geográfico, social, dos educan- BRASIL: INOVAÇÕES EM PROCESSO. SÃO
dos? Com relação a meus alunos, diminuo a distância que PAULO: EDITORA E LIVRARIA INSTITUTO
me separa de suas condições negativas de vida na medida PAULO FREIRE, 2009.
em que os ajudo a aprender não importa que saber, o do
torneio ou do cirurgião, com vistas à mudança do mundo,
à superação das estruturas injustas, jamais com vistas à sua
imobilização. Debater o que se diz e o que se mostra e Este trabalho de pesquisa objetiva apresentar reflexão
como se mostra na televisão me parece algo cada vez mais acerca das ações desenvolvidas na escola de tempo integral
importante. para a construção de um cidadão participativo.
Como educadores progressistas não apenas não po- Com isso, queremos descobrir quais são as competên-
cias desenvolvidas pelos educandos quando os mesmos
demos desconhecer a televisão, mas devemos usá-la, so-
têm acesso a diferentes atividades lúdicas, desportivas e
bretudo, discuti-la. Não podemos nos pôr diante de um
culturais – além dos conhecimentos instituídos nas Matrizes
aparelho de televisão entregues ou disponíveis ao que vier.
Curriculares Municipais para a Educação Básica, verifican-
Ensinar exige querer bem aos educandos. O que dizer e do-se a preocupação da formação integral, mediante ações
o que esperar de mim, se, como professor, não me acho integralizadas. É a visão de sujeito-cidadão, capaz de em-
tomado por este outro saber, o de que preciso estar aberto preender (propor-se a fazer) e transformar. A visão de sujeito
ao gosto de querer bem, às vezes, à coragem de querer empreendedor também faz parte do desenvolvimento curri-
bem aos educandos e à própria prática educativa de que cular dos educandos do sistema municipal de ensino.
participo. Na verdade, preciso descartar como falsa a se- Diante da exposição acima, haverá o relato de expe-
paração radical entre seriedade docente e afetividade. A riências vividas em diferentes esferas da escola em questão:
afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. CEMPRE Drª Ruth Cardoso, projeto pioneiro de Educação
O que não posso, obviamente, permitir é que minha em Tempo Integral no município de Mogi das Cruzes. 
afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever A escola foi inaugurada em 2009 e iniciou suas ativida-
de professor no exercício de minha autoridade. Não posso des com turmas finais de Educação Infantil e turmas da série
condicionar a avaliação do trabalho escolar de um aluno ao inicial do Ensino Fundamental. Nossa visão era no âmbito
maior ou menor bem querer que tenha por ele. É preciso, pedagógico, com o privilégio de lecionar para os dois níveis
por outro lado, reinsistir em que não se pense que a prática e conhecer todo o corpo docente.
educativa vivida com afetividade e alegria prescinda da for- Já em 2010 aconteceu o convite para compor a equipe
mação científica séria e da clareza política dos educadores. gestora, na função de vice-diretora da Unidade Escolar, po-
Nunca idealizei a prática educativa. Em tempo algum a vi dendo desde então acompanhar a rotina escolar também
como algo que, pelo menos, parecesse com um quefazer com visão e comportamento gestor. 
de anjos. Jamais foi fraca em mim a certeza de que vale a Em 2011, nossa instituição sofreu um “inchaço” com a
pena lutar contra os descaminhos que nos obstaculizam chegada de alunos de outra instituição vizinha que fora mu-
de ser mais. nicipalizada. Foram 5 turmas da série final do Ensino Fun-
Como prática estritamente humana, jamais pude en- damental que chegaram após todo o planejamento para o
tender a educação como uma experiência fria, sem alma, ano. Não esperávamos esses alunos nem pedagógica, nem
em que os sentimentos e as emoções, os desejos e os so- estrutural, nem financeiramente. Tínhamos um desafio mui-
to grande pela frente; encarar aqueles alunos sobre os quais
nhos devessem ser reprimidos por uma espécie de dita-
não tínhamos informações, como potenciais cidadãos parti-
dura reacionalista. Jamais compreendi a prática educativa
cipativos em construção. Nesse sentido, o problema de pes-
como uma experiência a que faltasse o rigor em que se
quisa se deu a partir de questionamentos acerca da eficácia
gera a necessária disciplina intelectual. Estou convencido do Programa de Escola em Tempo Integral na promoção de
de que a rigorosidade, a séria disciplina intelectual, o exer- diferenças na vida futura dos alunos, se as ações desenvol-
cício da curiosidade epistemológica não me fazem neces- vidas na escola são capazes de construir um cidadão parti-
sariamente um ser mal-amado, arrogante, cheio de mim cipativoe até que ponto o tempo que os educandos ficam
mesmo. Nem a arrogância é sinal de competência nem na escola realmente os isola ou os afasta da vulnerabilidade.
a competência é causa de arrogância. Certos arrogantes, Assim, juntamente com o relato de experiências desses
pela simplicidade, se fariam gente melhor. (Texto adaptado: primeiros anos de projeto, faz-se necessária uma pesquisa
PAIVA, C. R.). bibliográfica específica do tema, para encontrarmos funda-
mento teórico às ações desenvolvidas e seus reflexos na so-
ciedade participativa.
Além disso, analisaremos os efeitosocasionados pela re-
democratização do ensino, bem como a atual sociedade da
informação que incide no novo paradigma da prática edu-
cativa. Tal retomada histórica surgirá como uma justificativa
para a análise de ordenamentos no quadro político, social
e consequentemente educacional, visto a educação estar
inserida em um projeto de sociedade e fazer parte dela.

121
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Educação da região de Peel e pelo Ministério da Educação


e Formação de Ontário. Esta obra focaliza fundamental-
GOMES, ADRIANA L. LIMAVERDE, POULIN,
mente a natureza, o impacto da aprendizagem e do de-
JEANROBERT, FIGUEIREDO, RITA VIEIRA. senvolvimento profissionais no ensino. O autor considera a
ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO época atual como propícia para uma reforma educacional
DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL. ampla, uma vez que políticas, prática e conhecimento de
SÃO PAULO: MODERNA, 2010. pesquisa estão caminhando paralelamente e tentando um
intercâmbio de aprendizagem entre si. Com este propósito,
há um interesse mundial na maneira como as estratégias
Key Stage , integraram os sistemas de ensino à pedago-
gia baseada em pesquisas e a um intenso aprimoramento
Este livro foi elaborado para orientar as ações dos pro- profissional .A sociedade atual pode ser considerada como
fessores do ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO
sociedade de conhecimento e esta se caracteriza, sobretu-
dos alunos que apresentam deficiência intelectual, aos pais
do, por produzir economias do conhecimento que são es-
desses alunos, assim como explicitar as ações do professor
timuladas e movidas pela criatividade e pela inventividade.
do AEE junto às salas de aula regulares nas quais se inse-
rem os alunos. Detalha o trabalho desse professor, o qual Portanto, as escolas atuais, uma vez que fazem parte desta
gravita em torno de três polos: gestão, avaliação e acompa- sociedade, deverão ter como norteador do processo ensi-
nhamento da aprendizagem dos alunos. A gestão da apren- no-aprendizagem a criatividade e a inventividade.
dizagem inclui os processos de aprendizagem do aluno no
interior da sala multifucional e fora dela . A avaliação das CAPÍTULO 1- O ENSINO PARA A SOCIEDADE DO CO-
possibilidades e dificuldades de aprendizagem em intera- NHECIMENTO: EDUCAR PARA A INVENTIVIDADE
ção com o meio escolar é familiar. Já o acompanhamento Neste capítulo, o autor aponta a profissão de profes-
implica o desenvolvimento de ações específicas visando à sor como paradoxal. O paradoxo está no fato de ser uma
evolução do aluno e à transformação das ações específicas profissão que deve gerar as habilidades e as capacidades
visando à evolução do aluno e à transformação das ações necessárias ao fazer profissional na sociedade do conheci-
dos diferentes atores que interagem com esse aluno.” mento. Este fazer profissional está diretamente relacionado
Fonte: http://www.salamandra.com.br/main.jsp?lum- à construção e inovação contínua da sociedade do conhe-
PageId=4028818B2E24D324012E3469E60A34AF&itemI- cimento, o que é essencial para a prosperidade econômi-
d=8A7A83CB30D6852A0130DD2EEB16135E ca. Ao mesmo tempo, os professores também devem lutar
contra os resultados problemáticos provenientes da forma
como está organizada a sociedade e a economia do co-
nhecimento. Um destes resultados é a desigualdade social
GOMES, ADRIANA L.V; FERNANDES, (o distanciamento entre ricos e pobres).Na Revolução In-
A.C.; BATISTA, C.A.M; SALUSTIANO, dustrial os recursos do trabalho humano se deslocaram do
campo para a cidade. Este movimento gerou fortes impac-
D.A.; MANTOAN, M.T.E.; FIGUIREDO,
tos na organização social resultantes da superpopulação
R.V. ¨ATENDIMENTO EDUCACIONAL e, consequentemente, da miséria urbana. Este fato provo-
ESPECIALIZADO DEFICIÊNCIA MENTAL¨, SEESP/ cou um re-direcionamento dos recursos voltados à criação
MEC, UFC, 2007. de grandes instituições da vida e do espaço públicos, tais
como a educação, as bibliotecas públicas e os grandes par-
ques municipais visando a beneficiar as pessoas. A Revolu-
ção do conhecimento também tem provocado um redire-
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já
foi abordado em tópicos anteriores. cionamento dos recursos, mas este tem privilegiado bolsos
privados como forma de aumentar as despesas dos consu-
midores e estimular o investimento no mercado de ações,
o que resulta em especulações intermináveis. Esta situação
HARGREAVES, A. O ENSINO NA SOCIEDADE favorece gastos públicos e a promoção de iniciativas pri-
DO CONHECIMENTO: EDUCAÇÃO NA ERA DA vadas, o que coloca em risco muitas instituições, inclusive
INSEGURANÇA. PORTO ALEGRE: ARTMED, a educação. Em uma sociedade em que deveríamos obter
2004. o máximo do trabalho dos professores e de investimento
nestes, uma vez que são os profissionais que preparam as
crianças para a sociedade do conhecimento, seus salários
têm sido reduzidos pela limitação e retenção dos recursos
INTRODUÇÃOO livro baseia-se nos resultados de duas para este setor. A profissão de professor vem sendo desva-
pesquisas sobre o aprimoramento e a reforma do ensino lorizada. Muitos professores têm abandonado a profissão,
médio. Tais pesquisas foram realizadas em oito escolas lo- e desestimulados ,outros a seguem. Estes se encontram
calizadas no Canadá e nos Estados Unidos, foram financia- presos em um triângulo de interesses e questões confli-
das pela fundação Spencer com sede neste último país, e tantes, em que as laterais do triângulo podem ser repre-
teve o apoio de uma parceria financiada pelo Comitê de sentadas pela condição de catalisadores da sociedade do

122
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

conhecimento e por responsáveis de criar contrapontos à CAPÍTULO 2- O ENSINO PARA ALÉM DA SOCIEDADE
sociedade do conhecimento e a suas ameaças à inclusão, DO CONHECIMENTO: DO VALOR DO DINHEIRO AOS VA-
à segurança pública e à vida pública. A base do triângulo LORES DO BEM
representa as baixas da sociedade do conhecimento em Ensinar para além da economia do conhecimento sig-
um mundo onde as crescentes expectativas com relação à nifica desenvolver os valores e as emoções do caráter dos
educação estão sendo respondidas com soluções padroni- jovens, ressaltar a aprendizagem emocional na mesma
zadas, ofertadas a custos mínimos. As explosões demográ- medida que a cognitiva, estabelecer compromissos com
ficas durante o que Eric Hobsbawn denominou como “a era a vida coletiva e não apenas com o trabalho em equipe
de ouro da história”, épocas posteriores à Segunda Guerra de curto prazo e cultivar uma identidade cosmopolita que
Mundial, resultam em uma maior demanda por professo- suporte tolerância com diferenças de raça e gênero, res-
res, pois havia um otimismo sobre o poder da educação ponsabilidade para com os grupos excluídos dentro e além
e orgulho em exercer a profissão. É a era do profissional da própria sociedade.Com este propósito, os professores
autônomo, com elevados salários e status. Mas, foram devem se comprometer com o desenvolvimento e com a
poucas as inovações, criadas nesta era, que perduraram. aprendizagem profissional formal, trabalhar com os cole-
O que vemos, atualmente, é ainda a utilização de estraté- gas em grupos de longo prazo, e ter oportunidades para
gias metodológicas tradicionais: alunos em sala de aulas, ensinar e aprender em diferentes contextos e países. Para
aulas expositivas, trabalhos a serem realizados por alunos tais compromissos existem desafios, um destes é equilibrar
e métodos de pergunta e resposta. Os países menos de- as forças caóticas do risco e da mudança com uma cultu-
senvolvidos não foram contemplados de forma digna com ra de trabalho capaz de gerar coerência entre as muitas
a riqueza econômica mundial. A ajuda foi direcionada ao iniciativas que a escola tem buscado. A sociedade do co-
estabelecimento ou à ampliação da educação básica fun- nhecimento é, de várias maneiras, mais uma sociedade do
damental, de nível médio e a alfabetização, níveis de esco- entretenimento na qual imagens fugazes, prazer instantâ-
laridade considerados necessários para o desenvolvimento neo e pensamento mínimo fazem com que “nos divirtamos
econômico. Porém, os recursos foram limitados repercutin- até a morte”.Na economia do conhecimento, o consumidor
do em baixos salários de professores e na desqualificação é o centro, para a maioria das pessoas, a opção está inver-
destes. Na década de 90, a média de idade dos professo- samente relacionada à significação. Ensinar, para além do
res em muitos países da OCDE (Organização para a Coo- conhecimento, implica resgatar e reabilitar a ideia do en-
peração Econômica e Desenvolvimento) estava acima dos sino como vocação sagrada, que busca uma missão social
40 anos. Sob as pressões da reforma, desânimo, níveis de atrativa.
estresse, as taxas de esgotamento de professores aumen-
taram, mesmo em países como o Japão, onde os ciclos de CAPÍTULO 3 – O ENSINO APESAR DA SOCIEDADE DO
reforma educacional haviam começado mais tarde. Muitos CONHECIMENTO I: O FIM DA INVENTIVIDADE
professores começaram a se sentir desprofissionalizados à Este capítulo aponta para alguns resultados da pes-
medida que os efeitos da reforma e da reestruturação se quisa realizada nos Estados de Nova York e Ontário. Estes
faziam sentir. A reforma escolar nas nações ocidentais se mostram que a reforma educacional, até aqui realizada,
justificava à medida que se faziam comparações interna- não tem preparado as pessoas para a economia do conhe-
cionais com outras formas de avaliar o processo de ensino cimento e também não há preparo para o enfrentamen-
-aprendizado: o milagre econômico dos “tigres” asiáticos to da vida pública para além desta economia. Os dados
de Hong Kong, Cingapura, Coréia, Taiwan e Japão. Contu- também apontam para os padrões curriculares: são sus-
do, a emergente sociedade do conhecimento necessita de cetíveis a padronizações insensíveis à realidade. Este fato
muito mais flexibilidade no ensino e na aprendizagem do traz diversas consequências, como por exemplo, a degra-
que foi permitido por essas tendências. Nessa sociedade, dação da própria graduação, o fracasso e a frustração dos
em constante transformação e autocriação, o conhecimen- professores. Ensinar para a sociedade do conhecimento, e
to é um recurso flexível, fluido, em processo de expansão e ensinar para além dela, não precisam ser objetivos incom-
mudança incessante. Na atualidade, conhecimento, criati- patíveis. Não é adequado tender para um lado específico
vidade e inventividade são intrínsecos a tudo o que as pes- do “pêndulo”: educando jovens para a economia ou para a
soas realizam A exigência que hoje se tem de educar para cidadania e a comunidade. Essas posições polarizadas tra-
a inventividade está pautada nas dimensões que envolvem zem poucos benefícios a eles, uma vez que ensinar apenas
a sociedade do conhecimento: primeiro, esta engloba uma para a sociedade do conhecimento prepara os alunos e as
esfera científica, técnica e educacional ampliada; segundo, sociedades para a prosperidade econômica, mas limita as
envolve formas complexas de processamento e circulação relações das pessoas àquelas instrumentais e econômicas,
de conhecimento e informações em uma economia basea- além de restringir as interações de grupo ao mundo mecâ-
da em serviços; terceiro, implica transformações básicas da nico da “catraca” do trabalho em equipe temporário, cana-
forma como as organizações empresariais funcionam de liza as paixões e os desejos das pessoas para a terapia va-
modo a poder promover a inovação contínua em produ- rejista das compras e do entretenimento e para longe das
tos e serviços, criando sistemas , equipes e culturas que interações interpessoais. Ensinar exclusivamente para além
maximizem a oportunidade para a aprendizagem mútua e da sociedade do conhecimento também poderá acarretar
espontânea. complicações, porque se, por um lado, favorece a atitude
de cuidado e solidariedade, desenvolve caráter e constrói

123
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

identidade cosmopolita, por outro, as pessoas estão des- estão sendo submetidas a intervenções microgestadas nas
preparadas para a economia do conhecimento, o que po- áreas de alfabetização e aritmética, assumindo um mo-
derá possibilitar a exclusão delas. Os professores e outros delo de seitas de treinamento para o desempenho. Estas
deverão agora se dedicar a unir essas duas missões, de en- proporcionam aos professores apoio intensivo para a im-
sinar para a sociedade do conhecimento e para além dela, plementação das intervenções altamente prescritivas em
em uma só, tornando-a o ponto alto de seu propósito. áreas “básicas” do currículo, que demandam benevolência
profissional. Os riscos de ir além da padronização está na
CAPÍTULO 4 -O ENSINO APESAR DA SOCIEDADE DE possibilidade do aparecimento de sistema de apartheid no
CONHECIMENTO II: A PERDA DA INTEGRIDADE desenvolvimento profissional, caracterizado pelos privilé-
A melhoria dos padrões de desempenho, na forma de gios aos ricos e bem-sucedidos em participar da comuni-
metas com base em disciplinas, ou ainda a ênfase excessiva dade de aprendizagem profissional, enquanto os pobres e
com base na alfabetização e nos cálculos aritméticos, aca- os fracassados sejam submetidos ao treinamento de de-
bam por minimizar a questão interdisciplinar importante sempenho sectário.
à educação global, que está no centro da identidade cos-
mopolita. É também notório que, na reforma padronizada, CAPÍTULO 7- O FUTURO DO ENSINO NA SOCIEDADE
os professores são tratados como geradores de desempe- DO CONHECIMENTO: REPENSAR O APRIMORAMENTO,
nhos padronizados, monitorados de perto. Estes têm a vida ELIMINAR O EMPOBRECIMENTO
profissional supercontrolada, o que gera uma insatisfação O Capítulo 7 traz o posicionamento contra o apartheid
quanto à perda da autonomia, criatividade, flexibilidade apontado anteriormente. Este posicionamento se caracte-
restrita e capacidade limitada para exercer seu julgamento riza pela tarefa essencial de redesenhar a melhoria escolar
profissional. Este fato faz desabar a comunidade profissio- a partir de linhas de desenvolvimento, voltadas a dispo-
nal, uma vez que os professores lutam de forma solitária, nibilizar a comunidade profissional a todos, e pôr fim ao
fazendo com que o amor pela aprendizagem desapareça. empobrecimento educacional e social que prejudica a po-
tencialidade de avanço que muitas nações e comunidades
CAPÍTULO 5- A ESCOLA DA SOCIEDADE DO CONHECI- possam ter. Sob este propósito, a busca da melhoria e o
MENTO: UMA ENTIDADE EM EXTINÇÃO fim da pobreza deveriam ser missões sociais e profissionais
Este capítulo mostra a experiência de uma escola bem
fundamentais da reforma educacional no século XXI, em
sucedida. A escola de nível médio Blue Mountain, de On-
um dos seus grandes projetos de inventividade social.
tário, é exemplo de uma escola da sociedade do conheci-
mento. Destaca-se, sobretudo por ter, desde sua criação,
CONCLUSÃO O propósito deste livro é apontar a na-
seguido os princípios de uma organização de aprendiza-
tureza e a importância da sociedade do conhecimento, do
gem e de uma comunidade de aprendizagem. Esta escola
promove equipes, envolve a todos no contexto geral de mundo no qual os professores fazem atualmente seu tra-
suas diretrizes, utiliza a tecnologia para promover a apren- balho. Os professores devem preparar os jovens para ter
dizagem pessoal e organizacional, compartilha os dados e, sucesso na economia do conhecimento, com a finalidade
com base no consenso, toma decisões, envolve os pais na de sustentar a própria prosperidade e a de outros, como
definição das metas para os estudantes quando estes dei- uma questão necessária à inclusão social, em que as chan-
xam a escola. A escola referida, além de ser uma comunida- ces sejam disponibilizadas a alunos de todas as raças, ori-
de de cuidado e solidariedade, caracterizou-se por ser uma gens e habilidades iniciais. Nossa prosperidade futura está
comunidade de aprendizagem que dá valor diferenciado à diretamente relacionada com a nossa capacidade de in-
família, aos relacionamentos e à preocupação cosmopolita ventividade, de aproveitar e desenvolver nossa inteligência
com os outros no mundo. Portanto, além desta escola ensi- coletiva para os atributos centrais da economia do conhe-
nar para a possibilidade de construção e de revitalização da cimento, ou seja, para inventividade, criatividade, resolução
economia do conhecimento, ensina para além desta possi- de problemas, para a cooperação, para flexibilidade, para
bilidade. No entanto, a reforma padronizada foi uma amea- a capacidade de desenvolver redes e para lidar com a mu-
ça a essa escola, uma vez que reciclou as transformações dança e com o compromisso da aprendizagem para toda
em políticas e as direcionou de volta à escola em formatos vida. O livro também aponta os custos da economia do
rígidos que acabaram por tornar as mudanças inviáveis. conhecimento e algumas consequências trazidas por esta.
Estas consequências podem ser percebidas em um mundo
CAPÍTULO 6- PARA ALÉM DA PADRONIZAÇÃO: COMU- fragmentado e frenético que fragiliza as comunidades, cor-
NIDADES DE APRENDIZAGEM PROFISSIONAL OU SEITAS rói os relacionamentos, espalha a insegurança e prejudica a
DE TREINAMENTO PARA O DESEMPENHO? vida pública. Tendo em vista estes fatores prejudiciais, fruto
O Capítulo 6 traz uma análise das políticas de países deste tipo de economia, os professores devem ter como
que não pertencem a América do Norte, que passaram pela meta a preservação e fortalecimento dos relacionamentos.
experiência de seguir um sistema educacional padronizado Ensinar para além da economia do conhecimento significa
e, agora, aderiram à urgência de ir além dela. Esta urgên- acrescentar à agenda da reforma valores que construam
cia se caracteriza, sobretudo, pela crise de recrutamento de comunidade, desenvolvam capital social e uma identidade
professores e pela necessidade de atrair e manter pessoas cosmopolita. As reformas educacionais têm visado à pa-
capazes na profissão. Existem outras tendências de mudan- dronização insensível, o que torna quase impossível para
ça educacional, mas são conflituosas. Tanto os professores, muitos professores lecionar para a sociedade do conheci-
quanto as escolas das nações e comunidades mais pobres, mento e além desta.

124
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

A proposta, apontada neste livro, é que se estabeleçam


estratégias mais sofisticadas para a melhoria na socieda- HOFFMANN, JUSSARA. AVALIAR PARA
de do conhecimento, que combinem elementos de treina- PROMOVER. PORTO ALEGRE: MEDIAÇÃO, 2002.
mento para o desempenho e de comunidade profissional
em quase todas as escolas, possibilitando um diálogo críti-
co desde o início para impedir que o treinamento se torne
seita complacente. Uma das grandes tarefas dos educado-
res é ajudar a construir um movimento social dinâmico e
includente de educação pública na sociedade do conhe- INTRODUÇÃO
cimento, visando às seguintes propostas:• Reacender seus Neste livro de Jussara Hoffmann, é colocado que ava-
próprios propósitos e missões morais em um sistema que liar para promover é um título que pode inspirar várias in-
começou a perdê-los de vista. terpretações, diferentes leituras. O termo “promoção” sem-
• Abrir suas ações e mentes a pais e comunidades e pre esteve atrelado a decisões burocráticas da avaliação
também se envolver com suas missões. tradicional, significando acesso a outras séries ou graus de
• Trabalhar com seus sindicatos para que se tornem ensino. A intenção da autora é de resgatá-lo no seu sentido
agentes de sua própria mudança. original de acesso a um patamar superior de aprendiza-
• Levantar-se corajosamente contra a injustiça e a ex- gem.
clusão, onde quer que a vejam. Nos últimos anos, houve conquistas importantes em
• Reconhecer que têm uma responsabilidade profissio- termos de uma maior reflexão e de um maior número de
nal com todos, demonstrando isto por meio de redes de experiências em avaliação mediadora por escolas e pro-
cuidado de solidariedade. Para que tais propostas sejam fessores, que resultaram na diminuição da repetência e da
efetivas, cinco tarefas são exigidas de nós: evasão escolar no país.
• Precisaremos reviver e reinventar o ensino como uma Há uma grande polêmica em torno da avaliação esco-
missão social apaixonada, vinculada à criação de uma so- lar, tendo a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) contribuído para
ciedade do conhecimento includente, inventiva e cosmo- isso, no que se refere ao encaminhamento de novas regu-
polita, à transformação do mundo dos professores tanto lamentações sobre a promoção dos estudantes, sugerindo
quanto do seu trabalho. Todos, inclusive os governos, terão a revogação das práticas classificatórias excludentes.
que ajudar nisto. Tendo, em consequência, inúmeros pareceres, reso-
• Precisaremos ajudar a construir um movimento social luções e normas oficiais somando-se a LDB e provocadas
que lute a favor do investimento em um sistema educacio- múltiplas e confusas interpretações dos preceitos legais.
nal e em uma sociedade de inventivos e includentes, que Diante de tal polêmica, a sociedade e os professores fi-
beneficiem a todos.• Precisaremos desenvolver estratégias cam inquietos, temerosos, principalmente no que se refere
mais sofisticadas de melhoria escolar, que reconheçam as às alterações em avaliação que “podem colocar em risco a
diferenças entre professores e escolas e construam cami- educação tradicional (elitista e classificatória). Os reflexos
nhos distintos de desenvolvimentos para todos eles. desses esforços, embora temidos, são positivos e alenta-
• Precisaremos reconhecer que a inventividade, a ex- dores”.
perimentação e a flexibilidade mais elevadas não deveriam Segundo Jussara, partimos para uma mudança im-
ser oferecidas apenas como recompensa a escolas afluen- pulsionados pelo desejo de alterar o que não nos satisfaz.
tes e seus professores com desempenho superior, mas Repensar os princípios de avaliação pode ser um primeiro
como incentivos poderosos aos melhores professores e passo para transforma-la, porque exige discuti-la em seu
líderes, para que assumam o desafio do trabalho transfor- conjunto: valores, organização curricular, preceitos meto-
mador com crianças e escolas em comunidades pobres nos dológicos, visão política, comunitária.
níveis inferiores. Uma reflexão conjunta sobre princípios que fundamen-
• Precisaremos demonstrar coragem política e integri- tam a avaliação nas escolas favorece a convivência com di-
dade, reconectando a agenda da melhoria educacional a ferentes perspectivas individuais, ampliando a compreen-
um combate renovado ao empobrecimento social. A in- são coletiva sobre as dimensões do ser escola, do ser edu-
ventividade, o investimento e a integridade, assim como cador e do ser educando, que são fundamentos do avaliar
a identidade cosmopolita, são exigidas de todos nós. De para promover.
outra maneira, a insegurança e o pior serão tudo o que Trabalhando intensamente com a formação de profes-
teremos, e não menos do que merecemos. sores, a autora percebe o avanço em termos de discussão
Fonte: http://educacadoresemluta.blogspot.com. sobre esse tema, mas mudanças ainda temidas em termos
br/2009/12/hargreaves-andy-o-ensino-na-sociedade_13. das práticas, que permanecem ainda de julgamento, buro-
html cráticas em muitas instituições educacionais.
Jussara mantém a percepção após vinte anos de estu-
dos e pesquisas, que a avaliação mediadora é uma prática
que não está por ser delineada, mas, hoje, com maior nú-
meros de defensores, um processo a ser construído pelo
diálogo, pelo encontro, pelo confronto, por pessoas em
processo de humanização.

125
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Após dez anos da publicação do primeiro livro, Jussara, ela- Esse primeiro princípio é o mais importante de todos
bora e publica este novo texto constituído a partir de estudos para se compreender as novas tendências, porque altera, ra-
e debates sobre a avaliação com muitos professores do país. dicalmente, a finalidade da avaliação em relação às práticas
Tendo a certeza que estão buscando novos recursos e classificatórias, seja da aprendizagem do aluno, de um currí-
que é preciso apontar-lhes algumas direções. culo ou programa.
O grande dilema encontrado é que não há como “ensi- As mudanças essenciais em avaliação dizem respeito à
nar melhores fazeres em avaliação”, sendo que esse caminho finalidade dos procedimentos avaliativos e não, em primeiro
precisa ser construído por cada um de nós, pelo confronto de plano, a mudanças de tais procedimentos.
idéias, repensando e discutindo, em conjunto, valores princí- Em relação à aprendizagem, uma avaliação a serviço da
pios, metodologias. ação não tem por objetivo a verificação e o registro de dados
do desempenho escolar, mas da observação permanente das
CAPÍTULO 01. manifestações de aprendizagem para proceder a uma ação
Rumos da avaliação neste século. educativa que otimize os percursos individuais.
Com uma educação democrática, surgida nas últimas A avaliação mediadora destina-se a conhecer, não apenas
décadas, a atenção dos educadores, políticos e da socieda- para compreender, mas para promover ações em benefícios
de voltou-se para a avaliação, devido a sua incompatibilidade aos educandos, às escolas, a universidades.
com a mesma (educação) e a partir daí, intensificou-se as pes- O papel do avaliador, ativo em termos do processo, trans-
quisas nessa área. forma-se no de partícipe do sucesso ou fracasso dos alunos,
Tal avanço se dá, após discussões sobre uma escola que uma vez que os percursos individuais serão mais ou menos
parece não dar mais conta dos problemas sociais e corre o favorecidos a partir de suas decisões pedagógicas que de-
risco de educar os alunos até mesmo para uma ultrapassada penderão, igualmente, da amplitude das observações. Pode-
visão do presente. se pensar, a partir daí, que não é mais o aluno que deve estar
Na educação brasileira ocorre a preocupação em superar preparado para a escola, mas professores e escolas é que de-
o viés positivista e classificatório das práticas avaliativas esco- vem preparar-se para ajustar propostas pedagógicas favore-
lares, retomando-as em seu sentido ético, de juízo consciente cedoras de sua aprendizagem.
de valor, de respeito às diferenças, de compromisso com a Avaliar para promover significa compreender a finalidade
aprendizagem para todos e a formação da cidadania. dessa prática a serviço da aprendizagem, da melhoria da ação
Os estudiosos em avaliação deixam para trás o caminho das pedagógica visando à promoção moral e intelectual dos alu-
verdades absolutas, dos critérios objetivos, das medidas padro- nos. O compromisso do professor é o de agir refletidamente,
nizadas e das estatísticas, para alertar sobre o sentido essencial criando e recriando alternativas pedagógicas adequadas a
dos atos avaliativos de interpretação de valor sobre o objeto da partir da melhor observação e conhecimento de cada um dos
avaliação, de um agir consciente e reflexivo frente às situações alunos, sem perda da observação do conjunto e promovendo
avaliativas e de exercício do diálogo entre os avaliados.Tendo sempre ações interativas.
como diferencial básico o papel interativo do avaliador no pro- Há sérios entraves em nossas escolas e universidades
cesso, influenciando e sofrendo influências do contexto avaliado. quanto à efetivação de uma prática avaliativa em consonância
Ao inovar suas práticas avaliativas, os professores devem ao princípio delineado. Ainda há um enorme descompasso
estar conscientes das concepções que regem suas ações, uma entre o pretendido e o realizado pela a maioria das institui-
vez que sua reputação está em jogo e a sociedade começa a ções educacionais.
contestar os parâmetros da avaliação educacional pela arbi- Com as exigências da LDB (Lei de Diretrizes e Base) nº
trariedade e fragilidade teórica muitas vezes percebida. 9394/96, a maioria dos regimentos escolares são traduzidos
Os processos avaliativos tendem a adequar-se aos novos por textos que enunciam objetivos ou propósitos de uma
rumos, com práticas sendo repensadas pelos professores, já que avaliação contínua, mas estabelecem normas classificatórias
não podem ficar engajados em teorias e pré-feitos metodoló- e somativa revelando a manutenção das práticas tradicionais.
gicos para garantir a compreensão e a tomada de consciência Também, há a enorme dificuldade de avanços no sentido
sobre concepções formativas e mediadoras em avaliação. da aceitação, pelos educadores e pela sociedade em geral, de
A compreensão dos novos rumos exige a reflexão con- preceitos estabelecidos na LDB sobre oportunidade de pro-
junta pelos avaliadores e todos os envolvidos, porque lhes moção do aluno na escola, expressa na sugestão de regimes
exige retomar concepções de democracia, de cidadania, de não seriados, ciclos, programas de aceleração e outros.
direito a educação. Tanto as normas classificatórias ainda presentes nos re-
À medida que os estudos apontam para o caráter intera- gimentos, quanto às críticas às novas formas de progressão
tivo e intersubjetivo da avaliação, alertam também para a es- escolar, revelam o caráter seletivo e burocrático que continua
sencialidade do diálogo entre todos os que fazem parte desse a prevalecer na avaliação educacional em nosso país, e tam-
processo, para a importância das relações interpessoais e dos bém, a necessária tomada de consciência por educadores e
projetos coletivos. leigos sobre os obstáculos decorrentes de uma avaliação clas-
Os estudiosos contemporâneos alertam sobre a dife- sificatória à educação de milhares de crianças e jovens do
rença entre pesquisar e avaliar em educação. Enquanto a nosso país.
pesquisa tem por objetivo a coleta de informações, a análi- A excessiva preocupação de educadores e leigos com
se e compreensão dos dados obtidos, a avaliação está pre- a definição de critérios, registros finais, apresentação dos
dominantemente a serviço da ação, colocando o conheci- resultados e outras questões de caráter burocrático da ava-
mento obtido, pela observação ou investigação a serviço liação revela que os rumos que perseguem precisam ser
da melhoria da situação avaliada. debatidos e esclarecidos, para que todos venham a agir

126
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

conscientes do reflexo de suas ações e passam promover A LDB preceitua ações paralelas (estudos paralelos de re-
uma avaliação a serviço da aprendizagem do aluno, da forma- cuperação) ao longo do ano letivo, porém professores que
ção, da promoção da cidadania; a mobilização, a inquietude, possuem turmas numerosas não sabem como parar ou voltar
na busca de sentido e significado para essa ação; a intenção a explicar a alguns ou poucos alunos que não entendem, en-
de acompanhamento permanente, de mediação, de invenção quanto outros esperam.
pedagógica para a melhoria da aprendizagem; a visão ideo- Os estudos paralelos de recuperação são inerentes a
lógica, de negociação entre os envolvidos e multirreferencial uma prática avaliativa mediadora, com a intenção de subsi-
(objetivos, valores, discussão interdisciplinar); o respeito à in- diar, provocar, promover a evolução dos alunos em todas as
dividualidade, a confiança na capacidade de todos, a intera- áreas do seu desenvolvimento, direcionada ao futuro. Nesse
ção e socialização... pressuposto não se trata de voltar atrás, mas de prosseguir
Avaliação mediadora se projeta e vislumbra o futuro, ten- com experiências educativas, alternativas que provoquem o
do por finalidade a evolução da aprendizagem dos educan- estudante a refletir sobre conceitos e noções em construção.
dos, não tendo por objetivo reunir informações para justificar Assim a grande aventura do educador consiste em pros-
ou explicar uma etapa da aprendizagem, mas acompanhar seguir na diversidade, valorizando a multiplicidade de cami-
com atenção e seriedade todas as etapas vividas pelo estu- nhos percorridos pelos vários alunos, investindo na heteroge-
dante para ajustar estratégias pedagógicas. neidade ao invés de buscar a homogeneidade.
Para que ocorra essa avaliação, o professor deve plane- Os estudos paralelos de recuperação devem ser planeja-
jar sua ação de forma plástica e flexível, para abrir-se a várias dos e articulados ao andamento dos estudos no cotidiano da
opções de rumos e tempos aos alunos de cada turma, ajus- sala de aula.
tando-se objetivos e atividades permanentes, uma vez que Os conselhos de classe, tais como vêm sendo realizados
avaliação, direciona-se para favorecer a evolução da trajetória em grande parte das escolas, sofrem severas críticas por par-
do educando. te de professores e supervisores, pois, tendo por objetivo a
Nos regimes seriados (séries anuais) a análise de cada sé- oportunidade de reunir professores, para refletirem sobre a
rie se dá isoladamente das demais e um ou mais professores aprendizagem dos alunos, tornaram-se sessões de julgamen-
responsabilizam-se pela educação do aluno sem conhecer to, com réus e culpados.
ou ter ligações com o passado ou o futuro dele. No entanto, Para fugir do perigo de se resumirem à apresentação de
observa-se que o professor culpa as séries anteriores pelas di- resultados e reclamações sobre atitudes dos alunos, alternati-
ficuldades observadas nos alunos. Nesse tipo de educação é vas como a participação de alunos, pré-conselhos, pais e ou-
natural que a trajetória do aluno se dê de forma fragmentada tras, foram criadas pela escola, aumentando o problema, pois,
ou com várias lacunas, porque a sua história não é acompa- nesse caso, fica justificado e explicado resultado alcançado
nhada de perto pelo coletivo dos educadores de uma escola. em detrimento do objetivo de buscar alternativas pedagógi-
Com os regimes não-seriados, tem-se a visão ao acompa- cas à superação (questão de ensino aprendizagem).
nhamento longitudinal dos alunos, sua progressão contínua Projetar a avaliação no futuro dos alunos significa reforçar
de uma série para outra, por ciclos de formação ou por idade, as setas dos seus caminhos fazendo com que prossigam atra-
respeitando ritmos e interesses individuais, perseguindo sem- vés de provocações significativas.
pre a máxima aprendizagem possível de todos os alunos. A avaliação educacional, ao lidar com a complexidade do
Os ciclos de formação e outras formas de regimes não- ser humano, deve orientar-se por valores morais e paradig-
seriados enfrentam muitas resistências de professores para mas científicos. Não estando fundamentado apenas, em prin-
aceitar e efetivar a mudança, pois estão acostumados com cípios, regras e critérios de investigação científica e considera-
o regime anterior com testes finais e apresentação de resul- ções metodológicas. Torna-se necessário recorrer a princípios
tados burocráticos. Outra grande dificuldade que as escolas de interação e relação social, numa análise ético-política das
enfrentam é a efetivação de um trabalho pedagógico que dê práticas e metodologias da avaliação.
conta das diferenças dos alunos, pois os professores conti- O compromisso de qualquer estudo avaliativo, na con-
nuam a desenvolver as mesmas práticas do regime seriado, cepção ético-política, é o de seguir e abrir caminhos à recons-
presos a currículos, não sabendo como lidar com os alunos trução de uma escola onde todos os alunos tenham seus di-
que não acompanham suas propostas ou ritmo da maioria. reitos respeitados.
Vê-se, muitas críticas aos regimes não-seriados, por par- Hoje, em nosso país, devido a problemas que temos em
te dos professores e leigos pelas dificuldades que os alunos nossas escolas, programas emergenciais estão sendo adota-
continuam a apresentar. No entanto o problema está na qua- dos embora não correspondam ao ideal de educação na con-
lificação dos professores, em termos de alfabetização e peda- cepção de educadores, de toda a sociedade. Muitos criticam
gogias diferenciadas. essas alternativas, que mal surgiram, precocemente, sem pes-
Os regimes não-seriados, são alternativas válidas por quisas e estudos mais sérios, sem observa-las no seu devido
quem entende desenvolvimento como sinônimo de educa- tempo de ajuste e amadurecimento. São muitas as tentativas
ção e cultura para todos os cidadãos. Porém, como toda de lidar com os reflexos de uma prática avaliativa excludente,
iniciativa, precisamos dar-lhe o crédito das tentativas, das na qual o correto muitas vezes não correspondeu ao ético, o
inseguranças, das reconstruções. que se devia fazer não correspondeu ao que se pôde fazer.
Ainda temos no regime tradicional a recuperação que Se as medidas alternativas nem sempre correspondem
é feita de forma repetitiva, voltando aos estudos do que já aos parâmetros de qualidade ideais de ensino, elas corres-
pondem a um sentido de justiça e ética frente à seletivida-
fora estudado, sendo realizada ao término do semestre ou
de e a exclusão provocada por uma avaliação exigente em
ano letivo.
nome de uma escola eficaz e de qualidade.

127
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

A diversidade de determinações em educação, a cada aos seis anos de idade, o que, por sua vez, tornou-se meta
mudança de governo, provoca descrédito e insegurança em da educação nacional pela Lei no 10.172/2001, que aprovou
toda a sociedade sobre os fins perseguidos. o Plano Nacional de Educação (PNE). Finalmente, em 6 de fe-
Em avaliação não há regras gerais, pois essas caracteriza- vereiro de 2006, a Lei no 11.274, institui o ensino fundamental
das de justiça da uniformização acarretam inúmeras injustiças, de nove anos de duração com a inclusão das crianças de seis
visto que, toda a situação deve ser analisada em seu contexto. anos de idade. Com a aprovação da Lei no 11.274/2006, ocor-
Em plena consciência das finalidades em avaliação favo- rerá a inclusão de um número maior de crianças no sistema
recerá a escolha consciente de estratégias de ação pelos edu- educacional brasileiro, especialmente aquelas pertencentes
cadores e não à imposição de metodologias. aos setores populares, uma vez que as crianças de seis anos
Uma das grandes dificuldades da escola, apontada pelos de idade das classes média e alta já se encontram, majorita-
professores, é a ausência dos pais e o seu descomprometi- riamente, incorporadas ao sistema de ensino – na pré-escola
mento com questões de formação moral e aprendizagem dos ou na primeira série do ensino fundamental.
filhos. Sendo esta última, definida por alguns, como não sen- A importância dessa decisão política relaciona-se, tam-
do responsabilidade direta da família, mas dos profissionais bém, ao fato de recentes pesquisas mostrarem que 81,7%
que atuam nas escolas, bem como em questões de relações das crianças de seis anos estão na escola, sendo que 38,9%
interpessoais no ambiente escolar. frequentam a educação infantil, 13,6% pertencem às classes
Os profissionais em educação defendem o compromisso de alfabetização e 29,6% estão no ensino fundamental (IBGE,
dos pais em acompanhar o processo vivido pelos filhos, dialo- Censo Demográfico 2000).
gar com a escola e assumir o que lhes é de responsabilidade. Outro fator importante para a inclusão das crianças de seis
anos de idade na instituição escolar deve-se aos resultados de es-
Fonte: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAvr8AI/ tudos demonstrarem que, quando as crianças ingressam na insti-
resumo-livro-avaliar-promover-as-setas-caminho tuição escolar antes dos sete anos de idade, apresentam, em sua
maioria, resultados superiores em relação àquelas que ingressam
somente aos sete anos. A exemplo desses estudos, podemos citar
o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2003.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – ENSINO Tal sistema demonstra que crianças com histórico de ex-
FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS – periência na pré-escola obtiveram melhores médias de pro-
ORIENTAÇÕES PARA A INCLUSÃO DA CRIANÇA ficiência em leitura: vinte pontos a mais nos resultados dos
testes de leitura. Para que o ensino fundamental de nove anos
DE SEIS ANOS DE IDADE. BRASÍLIA: FNDE,
seja assumido como direito público subjetivo e, portanto, ob-
ESTAÇÃO GRÁFICA, 2006.( jeto de recenseamento e de chamada escolar pública (LDB
9.394/1996, Art. 5º), é necessário, nesse momento de sua im-
plantação, considerar a organização federativa e o regime de
Prezado Candidato, devido a complexidade do ma- colaboração entre os sistemas de ensino estaduais, munici-
terial, disponibilizaremos um breve resumo, para que pais e do Distrito Federal.
assim não haja prejuízo em seus estudos. Para acesso ao Deve-se observar, também, o que estabelece a Resolução
material na íntegra acesse nosso site: CNE/CEB no 3/2005, de 3 de agosto de 2005, que fixa, como
www.novaconcursos.com.br/retificações condição para a matrícula de crianças de seis anos de idade no
ensino fundamental, que essas, obrigatoriamente, tenham seis
Este governo, ao reafirmar a urgência da construção de anos completos ou a completar no início do ano letivo em cur-
uma escola inclusiva, cidadã, solidária e de qualidade social so. Ressalte-se que o ingresso dessas crianças no ensino fun-
para todas as crianças, adolescentes e jovens brasileiros, assu- damental não pode constituir uma medida meramente admi-
me, cada vez mais, o compromisso com a implementação de nistrativa. É preciso atenção ao processo de desenvolvimento
políticas indutoras de transformações significativas na estru- e aprendizagem delas, o que implica conhecimento e respeito
tura da escola, na reorganização dos tempos e dos espaços às suas características etárias, sociais, psicológicas e cognitivas.
escolares, nas formas de ensinar, aprender, avaliar, organizar Nesse sentido, o Ministério da Educação, por meio da
e desenvolver o currículo, e trabalhar com o conhecimento, Secretaria de Educação Básica (SEB) e do Departamento de
respeitando as singularidades do desenvolvimento humano. Políticas de Educação Infantil e Ensino Fundamental (DPE),
O Ministério da Educação vem envidando efetivos es- buscando fortalecer um processo de debate com professo-
forços na ampliação do ensino fundamental para nove anos res e gestores sobre a infância na educação básica, elabo-
de duração, considerando a universalização do acesso a essa rou este documento, cujos focos são o desenvolvimento e a
etapa de ensino de oito anos de duração e, ainda, a necessi- aprendizagem das crianças de seis anos de idade ingressantes
dade de o Brasil aumentar a duração da escolaridade obri- no ensino fundamental de nove anos, sem perder de vista a
gatória. Essa relevância é constatada, também, ao se anali- abrangência da infância de seis a dez anos de idade nessa
sar a legislação educacional brasileira: a Lei no 4.024/1961 etapa de ensino. Finalmente, informamos que este documen-
estabeleceu quatro anos de escolaridade obrigatória; com to compõe-se de nove textos: A infância e sua singularidade;
o Acordo de Punta Del Este e Santiago, de 1970, esten- A infância na escola e na vida: uma relação fundamen-
deu-se para seis anos o tempo do ensino obrigatório; a Lei tal; O brincar como um modo de ser e estar no mundo;
no 5.692/1971 determinou a extensão da obrigatoriedade As diversas expressões e o desenvolvimento da criança na
para oito anos; já a Lei no 9.394/1996 sinalizou para um escola; As crianças de seis anos e as áreas do conhecimento;
ensino obrigatório de nove anos de duração, a iniciar-se Letramento e alfabetização: pensando a prática pedagógica;

128
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

A organização do trabalho pedagógico: alfabetização e Materia 2 Edgar Morin Ensinar a identidade terrena
letramento como eixos orientadores; Mostrar aos educandos que o acontecimento da localidade
Avaliação e aprendizagem na escola: a prática pedagógi- interfere na totalidade e que tudo está interligado, ou seja, as de-
ca como eixo da reflexão; cisões e atitudes de um local podem atingir toda a humanidade
e Modalidades organizativas do trabalho pedagógico: pois vivemos em uma imensa comunidade, com destino comum.
uma possibilidade. Materia 2 Edgar Morin Enfrentar as incertezas
É preciso saber lidar com as incertezas, limitações, imprevistos e
novidades que surgem a cada dia. A escola deve preparar os alunos
MORIN, E. OS SETE SABERES NECESSÁRIOS À para que sejam capazes de enfrentar esses desafios inesperados,
EDUCAÇÃO DO FUTURO. SÃO PAULO: CORTEZ, fortalecendo as suas estruturas mentais e assim resolvendo seus
UNESCO, 2000. problemas de modo construtivo baseado em situações anteriores.
Ensinar a compreensão
A comunicação não garante a compreensão e um dos
obstáculos da educação é a compreensão. Muitas vezes o
O educador, pensador, antropólogo, sociólogo e filósofo mal entendido gera conflitos e a diferença de cultura, a fal-
Edgar Morin é o responsável pela sistematização de um con- ta de respeito à liberdade e o egocentrismo são fatores que
junto de reflexões cujo objetivo é servir como ponto de par- devem ser observados para compreender o outro e o eu. A
tida para se repensar a educação do século XXI. Formado em compreensão favorece o pensar pessoal e global.
Direito, História e Geografia, Morin é autor de mais de trinta Para Morin,“se descobrirmos que somos todos seres falí-
livros, entre eles O método (6 volumes), Introdução ao pensa- veis, frágeis, insuficientes, carentes, então podemos descobrir
mento complexo, Ciência com consciência e Os sete saberes que todos necessitamos de mútua compreensão.” (p.100)
necessários à educação do futuro. A reflexão que originou o Faz-se necessário compreender o outro para que nesta
texto sobre Os sete saberes necessários à educação do futuro troca também sejamos compreendidos.
teve início por iniciativa da UNESCO, em 1999. Uma primeira A ética do gênero humano
versão do texto circulou pelos líderes educacionais de diversos A ética deve conduzir o humano a um caráter sociável e
países que acrescentaram comentários, sugestões e remaneja- humanizado. O educador deve despertar nos alunos a cons-
mentos, até que em 2001 foi finalizado e publicado por Morin. ciência de que tudo o que se faz reflete em nós mesmos e,
O resultado foi um conjunto de reflexões e descrições de eixos para que tudo fique bem para todos, é necessário ter cons-
e caminhos para todos os que pensam e fazem educação, introdu- ciência dos atos praticados, desenvolvendo no ser humano
zindo novos e criativos debates sobre a educação para o Século XXI. suas aptidões individuais e coletivas.
Os sete saberes indispensáveis enunciados por Morin são: A partir dos pontos acima, notamos que a educação do
As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão futuro exige um esforço transdisciplinar que seja capaz de re-
Os princípios do conhecimento pertinente juntar ciências e humanidades.
Ensinar a condição humana Edgar Morin expõe argumentos para que nós educado-
Ensinar a identidade terrena res possamos enfrentar os paradoxos que o desenvolvimento
Enfrentar as incertezas tecno-econômico traz para a educação, ao mesmo tempo em
Ensinar a compreensão que assumimos a necessidade de priorizar a “ética da com-
A ética do gênero humano preensão planetária” na educação do futuro.
A seguir, uma breve descrição sobre cada um dos pontos Esses sete saberes objetivam estimular os educadores
apresentados por Morin como inspirações para o educador brasileiros a se movimentarem para uma educação sustentá-
ou os saberes necessários a uma boa prática educacional: vel para todos, aprimorada e adequada às novas realidades.
Materia 2 Edgar Morin revisada 2-2As cegueiras do co- Toda educação precede da participação do indivíduo de
nhecimento: o erro e a ilusão modo particular e no grupo social que está inserida. Assim,
O conhecimento deve preparar o indivíduo para enfrentar convidamos todos os professores a refletirem e colocarem em
os riscos e as situações da vida diária com sabedoria e discer- prática uma educação focada em formar indivíduos para as rela-
nimento. Para tal, é necessário que a educação desenvolva as ções globais e com a consciência de que tudo está inserido nas
características cerebrais, mentais e culturais para não induzi- partes e no todo, e que nossas atitudes definem o nosso futuro.
rem ao erro ou ilusão. Fonte: http://educacao.faber-castell.com.br/professores/
Materia 2 Edgar Morin Os princípios do conhecimento trocando-ideias/os-sete-saberes-edgar-morin/
pertinente
É primordial que os educadores apresentem aos seus
alunos realidades locais ao mesmo tempo em que as con- OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO – MEC/
textualizem com acontecimentos do mundo. Isso porque UNESCO.
acontecimentos e conhecimentos fragmentados dificultam o
entendimento e o conhecimento global.
Materia 2 Edgar Morin Ensinar a condição humana
O ser humano é uma unidade complexa. É um ser que Um dos maiores desafios para a educação será a trans-
ao mesmo tempo é físico, biológico, psíquico, cultural, so- missão, de forma maciça e eficaz, da informação e da co-
cial e histórico. Assim, as disciplinas escolares devem in- municação adaptadas à civilização cognitiva (pois estas são
tegrar os conteúdos promovendo o desenvolvimento do as bases das competências do futuro). Simultaneamente,
humano na sua totalidade. compete ao ensino encontrar e ressaltar as referências que

129
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

impeçam as pessoas de ficarem ilhadas pelo número de infor- zes apresentados como antagônicos:  o dedutivo e o in-
mações, mais ou menos efêmeras, que invadem os espaços dutivo. Dependendo da disciplina ensinada, um método terá
públicos e privados. Assim como, orientar os educandos para mais destaque do que o outro, no entanto, o encadeamento
projetos de desenvolvimento individuais e coletivos. de ambos se faz necessário.
Para dar resposta ao conjunto das suas missões, a edu- 2- Aprender a fazer
cação deve organizar-se  em torno de quatro aprendiza- Aprender a conhecer e aprender a fazer estão, em lar-
gens fundamentais, que ao longo da vida humana, serão ga medida, indissociáveis. No entanto, a segunda apren-
pilares do conhecimento: aprender a conhecer  (adquirir dizagem está mais estreitamente ligada à questão da for-
mação profissional.
instrumentos de da compreensão),  aprender a fazer (para
Nas sociedades assalariadas que se desenvolvem a partir
poder agir sobre o meio envolvente, aprender a viver jun- do modelo industrial ao longo do século XX, a substituição
tos (cooperação com os outros em todas as atividades hu- do trabalho humano pelas máquinas tornou cada vez mais
mana), e finalmente aprender a ser (conceito principal que imaterial e acentuou o caráter cognitivo das tarefas. Apren-
integra todos os anteriores).  Estas quatro vias do saber, na der a fazer não deve limitar o ensino apenas a uma tarefa
verdade, constituem apenas uma, dado que existem pontos material bem definida.
de interligação entre elas.  
Geralmente, o ensino se apoia apenas em um dos pi- Da noção de qualificação à noção de competência
lares: aprender a conhecer, e em menor escala, no apren- O progresso técnico modifica, inevitavelmente, as qua-
der a fazer. Os outros dois pilares ou são negligenciados, lificações exigidas pelos novos processos de produção.  As
ou são subentendidos como prolongamentos naturais tarefas puramente físicas são substituídas por tarefas de
dos dois primeiros.  A Delors (2012) entende ensino estru- produção mais intelectuais ou mentais, como o coman-
turado a fim de que a educação surja como uma experiência do de máquinas, a sua manutenção e sua vigilância, ou
global a ser concretizada ao longo de toda a vida, tanto no por tarefas de concepção, de estudo e de organização, à
plano cognitivo quanto no prático (pg 74). medida que as máquinas também se tornam mais “inteli-
gentes”, e que o trabalho se “desmaterializa”(pg 76). Qua-
1- Aprender a conhecer lidades como a capacidade de comunicar, de trabalhar com
os outros, de gerenciar e de resolver conflitos, tornam-se cada
Esta aprendizagem deve ser encarada como um meio
vez mais importantes. E essa tendência torna-se mais forte
e uma finalidade da vida humana(já que a educação deve devido ao desenvolvimento do setor de serviços.
ser pensada e planejada para ocorrer em todas as fases da  
vida). Simultaneamente ela visa não tanto à aquisição de um A “desmaterialização” do trabalho e a importância
repertório de saberes codificados, mas antes, o domínios dos dos serviços entre as atividades assalariadas
próprios instrumentos do conhecimento. É um meio, por- A “desmaterialização” da aprendizagem aumenta eco-
que pretende que cada um aprenda a compreender o mundo nomia voltada para o setor de serviços. Esse setor altamen-
que o cerca, pelo menos na medida em que isso lhe é neces- te diversificado define-se, sobretudo, pela negativa: seus
sário para viver dignamente. Finalidade, porque seu funda- membros não são nem industriais nem produtores agrícolas
mento é o prazer de compreender, de conhecer, de descobrir. e, apesar da sua diversidade, têm em comum o fato de não
A tendência para prolongar a escolaridade e o tempo livre produzirem bens materiais. Muitos serviços definem-se prin-
deveria levar os adultos a apreciar, cada vez mais, as alegrias cipalmente em função das relações interpessoais a que dão
do conhecimento e da pesquisa individual. O aumento dos sa- origem. O desenvolvimento do setor terciário exige, pois,
beres, que permitem compreender melhor o ambiente sob os cultivar qualidades humanas que as informações tradicio-
seus diversos aspectos, favorece o despertar da curiosidade inte- nais não transmitem, necessariamente, e que correspon-
lectual, estimula o sentido crítico e permite compreender o real, dem à capacidade de estabelecer relações estáveis e efica-
mediante a aquisição de autonomia a capacidade de discernir. zes entre as pessoas (pg 77).  Agora, as relações interpessoais
mostram-se cada vez mais importantes para a solidificação de
(DELORS, Jacques 2012 pg 74)
uma educação que traga a criticidade ao educando.
Como o conhecimento humano é múltiplo evolui infini- 3- Aprender a viver juntos, aprender a viver com os
tamente, torna-se cada vez mais inútil tentar conhecer tudo. outros
No entanto, a especialização (até para os futuros pesquisa- Esta aprendizagem, sem dúvida, representa um dos maio-
dores) não deve excluir a cultura geral. Esta cultural geral é res desafios da atualidade. O mundo atual está repleto de vio-
entendida como uma abertura para outras linguagens e lência, em oposição à esperança que alguns têm no progresso
a outros conhecimentos. Fechado em sua própria ciência, o da humanidade.  Sobre isto, Delors (2012) nos orienta:
especialista corre o risco de se desinteressar pelo que fazem É de se louvar a ideia de ensinar a não violência na esco-
os outros. A formação cultural implica na abertura a outros la, mesmo que apenas constitua um instrumento, entre outros,
campos de conhecimento e, assim, pode operar fecundas si- para se combater os preconceitos geradores de conflitos.  A ta-
nergias entre as disciplinas. refa é árdua porque, naturalmente, os seres humanos têm a
Aprender para conhecer pressupõe, antes de tudo, tendência de supervalorizar as suas qualidades e as do gru-
aprender a aprender, exercitando a atenção, a memória po a que pertencem, e a alimentar preconceitos em relação
e o pensamento. O exercício da memória é um antídoto ne- aos outros. Por outro lado, o clima geral de concorrência que
cessário contra a submersão pelas informações instantâ- atualmente caracteriza a atividade econômica no interior de
neas difundidas pelos meios de comunicação social, já que, cada país e, sobretudo no nível internacional, tende a dar
somos sobrecarregados de conhecimentos superficial e de prioridade as espirito de composição e ao sucesso indivi-
consumo imediato. Também, se devem combinar, tanto dual. De fato, essa competição resulta, na atualidade, em
no ensino como na pesquisa, dois métodos muitas ve- uma guerra econômica implacável e em uma tensão entre

130
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

os mais e os menos favorecidos, que divide os países do mundo Esse desenvolvimento do ser humano, que se realiza desde
e exacerba as rivalidades históricas. É de se lamentar que a edu- o nascimento até a morte, é um processo dialético que começa
cação contribua, por vezes, para alimentar esse clima, devido a pelo conhecimento de si mesmo para se abrir, em seguida, à
uma má interpretação da ideia de emulação. relação com o outro. Nesse sentido, a educação é, antes de mais
(DELORS, Jacques 2012 pg 79) nada, uma viagem interior, cujas etapas correspondem à da
A educação deve utilizar duas vias complementares. Pri- maturação contínua da personalidade.
meiramente a descoberta progressiva do outro. Num segun- (DELORS, Jacques 2012 pg 82)
do nível, e ao longo de toda a vida, a participação em projetos Pistas e recomendações
comuns, tendo este método o intuito de evitar ou resolver os Abaixo, seguem na íntegra as pistas e recomendações
conflitos latentes. indicadas por Delors (2012). Elas, basicamente, sintetizam o
  significado de cada pilar.
A descoberta do outro • A educação ao longo de toda a vida baseia-se em
A educação tem como missão transmitir conhecimentos quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, apren-
sobre a diversidade da espécie humana, assim como, cons- der a viver juntos e aprender a ser.
cientizar as pessoas sobre as semelhanças e interdependên- • Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral,
cias que existem entre todos os cidadãos do planeta. suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em pro-
Uma vez que a descoberta do outro passa, necessariamente, fundidade um pequeno número de matérias. O que também
pela descoberta de si mesmo, e pelo fato de que deve dar à crian- significa: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportuni-
ça e ao adolescente uma visão ajustada do mundo, a educação, dades oferecidas pela educação ao longo de toda a vida.
seja ela fornecida pela família, pela comunidade ou pela escola, • Aprender a fazer, a fim de adquirir, não somente uma
deve, antes de mais nada, ajudá-los a descobrir-se a si mesmos. qualificação profissional, mas  de uma maneira mais ampla,
(DELORS, Jacques 2012 pg 80) competências que tornem a pessoa apta a enfrentar nume-
A tática de ensinar aos jovens a adotar a perspectiva de rosas situações e a trabalhar em equipe. Mas também apren-
outros grupos étnicos ou religiosos, pode evitar atritos que der a fazer, no âmbito das diversas experiências sociais ou de
produzem o ódio entre adultos. Assim como, o ensino da his- trabalho que se oferecem aos jovens e adolescentes; quer
toria das religiões ou dos costumes pode servir de referencia espontaneamente, fruto do contexto local ou nacional; quer
vantajosa para futuros comportamentos. formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado
  com o trabalho.
Tender para objetivos comuns • Aprender a viver juntos desenvolvendo a compreensão
As diferenças e até mesmo os conflitos interindividuais do outro e a percepção das interdependências — realizar pro-
tendem a reduzir-se quando os jovens trabalham conjun- jetos comuns e preparar-se para gerir conflitos — no respeito
tamente em projetos motivadores (o desporto é um ótimo pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz.
exemplo disso). Neste caso, estamos valorizando a coletivida- • Aprender a ser, para melhor desenvolver a sua perso-
de em detrimento à individualidade. Outra alternativa bastan- nalidade e estar à altura de agir com cada vez maior capaci-
te viável é a inserção de jovens em projetos de ajuda social. dade de autonomia, de discernimento e de responsabilidade
4- Aprender a ser pessoal. Para isso, não negligenciar na educação nenhuma das
A educação deve contribuir para o desenvolvimento total da potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sen-
pessoa – espirito, corpo, inteligência, sensibilidade, sentido esté- tido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se.
tico, reponsabilidade pessoal e espiritualidade. Todo o ser huma- • Numa altura em que os sistemas educativos formais
no deve receber uma educação que lhe dê ferramentas para o tendem a privilegiar o acesso ao conhecimento, em detrimen-
despertar do pensamento crítico  e autônomo, assim como para to de outras formas de aprendizagem, importa conceber a
formular seus juízos de valor e ser autônomo intelectualmente. educação como um todo. Esta perspectiva deve, no futuro,
Mais do que nunca a educação parece ter como papel es- inspirar e orientar as reformas educativas, tanto em nível da
sencial, conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensa- elaboração de programas como da definição de novas políti-
mento, o discernimento, os sentimentos e a imaginação de que cas pedagógicas.
necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem, Fonte: https://blogdonikel.wordpress.com/2014/05/06/
tanto quanto possível, donos de seus próprios destinos (pg 81). os-quatro-pilares-da-educacao-jaques-delors-fichamento/
A diversidade de personalidades, a autonomia e o es-
pirito de iniciativa, até mesmo o gozo pela provocação,
são suportes da criatividade e da inovação.  O que poderia PERRENOUD, P. DEZ NOVAS COMPETÊNCIAS
parecer apenas como uma forma de defesa do indivíduo PARA ENSINAR. PORTO ALEGRE: ARTMED,
perante a um sistema alienante ou considerado como 2000.
hostil, é também por vezes a melhor oportunidade de
progresso para as sociedades (pg 81).
Na escola, a arte e a poesia deveriam ocupar um lugar mais
importante do que aquele lhes é concedido, em muitos países, É preciso reconhecer que os professores não possuem
por uma espécie de ensino tomado mais utilitarista do que cul- apenas saberes, mas também competências profissionais que
tural. Além disso, a preocupação em desenvolver a imaginação não se reduzem ao domínio dos conteúdos a serem ensina-
e a criatividade deveria também revalorizar a cultura oral e os dos, e aceitar a idéia de que a evolução exige que todos os
conhecimentos retirados da experiência da criança e do adulto. professores possuam competências antes reservadas aos ino-
(…) vadores ou àqueles que precisavam lidar com públicos difíceis

131
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Existe hoje um referencial que identifica cerca de 50 cias da educação. Assim, essas idéias fazem parte da “pai-
competências cruciais na profissão de educador. Algumas de- sagem pedagógica” e todos “vêem mais ou menos” o que é
las são novas ou adquiriram uma crescente importância nos evocado quando se fala de avaliação formativa, de contrato
dias de hoje em função das transformações dos sistemas edu- didático, de pedagogia diferenciada.
cativos, bem como da profissão e das condições de trabalho Se levarmos a sério todas essas competências, podere-
dos professores. mos medir melhor o desvio existente entre o fato de saber
ministrar um curso frontal ou “lições”; habilidade pedagógica
Essas competências dividem-se em 10 grandes “famílias”: muito comum, porém bastante pobre; e controlar uma am-
1. Organizar e estimular situações de aprendizagem. pla gama de situações e procedimentos de aprendizagem,
2. Gerar a progressão das aprendizagens. levando em conta a diversidade dos aprendizes. Essas últimas
3. Conceber e fazer com que os dispositivos de diferen- práticas exigem competências muito mais apuradas, prove-
ciação evoluam. nientes tanto da didática quanto da gestão de classe.
4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e no trabalho. Ante todas as listagens apresentadas como definitivas e
5. Trabalhar em equipe. fechadas, o movimento espontâneo de um leitor é a resistên-
6. Participar da gestão da escola. cia, o questionamento da incrível pretensão do autor à exaus-
7. Informar e envolver os pais. tividade e ao ordenamento. No entanto, essa resistência, sa-
8. Utilizar as novas tecnologias. lutar, deixa de lado o mecanismo principal: pensar nas prin-
9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. cipais evoluções da profissão. Paradoxalmente, embora seja
10. Gerar sua própria formação contínua. apresentado como uma ferramenta de análise, um referencial
Será que essas competências são realmente “novas”? Elas também cumpre uma função de síntese. Considerado em seu
definem a “nova profissão”, esboçada por Meirieu (1990) há conjunto, deixa entrever uma profissão e talvez seu movimento
mais de 10 anos? Representam uma ruptura ou são “eternas” histórico. É neste nível que se impõe o debate.
no seio da profissão de educador? Para entrar na matéria, parece-me importante colocar e
Em algumas profissões que dependem totalmente das admitir duas considerações prévias, que serão examinadas a
tecnologias, a renovação das competências é evidente. No seguir. É importante:
entanto, isto não acontece na educação escolar: nem o vídeo, 1. reconhecer que os professores não possuem apenas
nem o computador, nem a multimídia, até hoje, fizeram com saberes, mas também competências profissionais que não se
que a profissão de professor mudasse. Desse ponto de vista, reduzem ao domínio dos conteúdos a serem ensinados;
a aparente continuidade provoca a ruptura. Se surgissem no- 2. aceitar a idéia de que a profissão muda e sua evolução
vas competências, não seria para responder a novas possibi- exige atualmente que  todos os professores possuam novas
lidades técnicas, mas devido à transformação da visão ou das competências, antes reservadas aos inovadores ou aos pro-
condições de exercício da profissão. fessores que precisavam lidar com os públicos mais difíceis.
As representações e as novas práticas pedagógicas desen-
volvem-se de forma progressiva. Em primeiro lugar, são apli- 1. Admitir que os professores têm competências pro-
cadas em escolas e classes atípicas, muito antes de serem re- fissionais
conhecidas e adotadas pela instituição e pela profissão, ainda Ninguém duvida de que os professores têm saberes. Será
que, em cada momento da história de um sistema educativo, que também têm competências? É claro que tudo depende
observe-se um amplo leque de práticas e, portanto, de com- da definição que damos a esse conceito. Se entendermos por
petências; que vão das mais tradicionais às mais inovadoras. competência a capacidade de agir de uma forma relativamen-
Desse modo, seria exagerado falar de novas competên- te eficaz em uma família de situações, sem dúvida aceitaremos
cias se isto sugerisse uma “mutação”. Assistimos mais a uma que os professores possuem competências, mas acrescenta-
progressiva recomposição do leque de competências de que ríamos com um pouco de desdém: acalmar a classe, estabe-
os professores necessitam para exercer seu ofício de for- lecer uma certa ordem, corrigir provas, dar uma orientação,
ma eficaz e equitativa. Algumas formas de “dar aula” desapa- ajudar um aluno em dificuldade, fazer com que os alunos
recem lentamente, enquanto outras assumem uma crescente trabalhem em grupos, explicar de novo uma noção mal com-
importância. Algumas delas, que eram parte integrante da preendida, planejar um curso, dialogar com os pais dos alu-
profissão, agora pertencem à tradição, ao passo que outras, nos, mobilizá-los em torno de um projeto ou de um enigma,
reservadas aos militantes, integram-se pouco a pouco à iden- sancionar na medida adequada, conservar o sangue frio...
tidade e aos recursos do professor da base. Sem dúvida, essas diversas habilidades parecem necessá-
É bastante difícil perceber a novidade, pois as palavras rias, mas numerosos professores consideram-nas pouco “no-
utilizadas para designar as grandes famílias de competências bres” em função dos saberes disciplinares. Quanto mais avan-
criam uma impressão de familiaridade e, por isso, diversos çamos no ensino médio e superior, mais o saber a ser ensinado
professores podem, com boa-fé, afirmar que essas compe- passa a constituir o cerne da identidade do educador, mais os
tências não lhes são estranhas, que já as possuem, embora professores subestimam o saber para ensinar, reduzindo-o a
nem sempre as dominem bem nem as apliquem no dia-a-dia. uma mescla de bom senso, coerência, arte de se comunicar
Por exemplo, que professor confessaria que não sabe organi- claramente. Por isso, as habilidades são mais reconhecidas
zar e estimular situações de aprendizagem? se concebidas como a aplicação de saberes metodológicos,
Uma parte do sentimento de familiaridade nasce do baseados nos saberes teóricos, como a didática das discipli-
fato de que essas questões estão presentes no discurso nas ou a psicologia cognitiva. Esses saberes procedimentais
“moderno” que acompanha as reformas escolares ou que não têm o prestígio das ciências ou da história, porém são
está enraizado nos movimentos pedagógicos e nas ciên- saberes menos “vulgares” que as habilidades.

132
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Se nos situarmos em outra perspectiva, a das habilidades sem 2. Novas competências: para que todos aprendam
nome nem bases teóricas bem identificadas, entramos no do- Na análise dos motivos para lutar pela profissionalização da
mínio dos “ossos do ofício”. Ora, o que caracteriza a profissão de profissão de professor, deparamo-nos com dois tipos de fato-
professor é que se fala muito pouco das maneiras de fazer, do sa- res: por um lado, transformações das condições de exercício da
voir- faire, das habilidades construídas no decorrer da experiência; profissão e, por outro, crescentes ambições dos sistemas educa-
enquanto isso, em outras profissões, sua diversidade e pertinência tivos. O ensino nunca foi uma profissão tranquila. Sempre teve
provocam a admiração dos colegas. Poderíamos dizer, exageran- de confrontar o outro, sua resistência, sua opacidade, suas am-
do um pouco, que os professores têm vergonha das habilidades. bivalências. Entretanto, devido às suas múltiplas transformações,
Poderíamos dar um status mais invejável a essas habilidades parece cada vez mais difícil ensinar e, sobretudo, fazer aprender.
práticas se as tratássemos como «competências»? Para isso, o Ao mesmo tempo, o nível de conhecimento e de compe-
corpo docente deveria ter uma visão positiva da noção de «com- tência das novas gerações torna-se um mecanismo político
petência». Isto não é evidente, já que no mundo escolar muitas e econômico da maior importância. Mecanismo econômico
vezes a idéia de competências é associada à tradição utilitaris- porque o “capital humano” continua sendo um trunfo deci-
ta (saber fazer seu imposto de renda, ler um manual ou trocar sivo para o desenvolvimento e a sobrevivência na concorrên-
um pneu) ou à característica neoliberal do mundo do trabalho. cia internacional. E também um mecanismo político porque,
A emergência da noção de competência no mundo das embora sem garantir a generosidade e o altruísmo, e menos
empresas está ligada, em parte, ao movimento rumo à flexibi- ainda a liberdade, a igualdade e a fraternidade, a instrução é
lização, à precariedade do trabalho e ao enfraquecimento das uma condição necessária da democracia e da capacidade de
escalas de qualificação e, consequentemente, das solidarieda- construir uma ordem negociada, de não aumentar a violência
des estatutárias. O mundo do ensino desconfia do “enfoque ou o fanatismo quando a sociedade é rompida por crises.
por competências”, suspeitando, assim, que a escola está a Logo, espera-se uma maior eficácia dos sistemas educati-
serviço da economia em detrimento da cultura. vos, ao mesmo tempo em que os orçamentos diminuem e as
Uma parte do corpo docente resiste de uma maneira ain- condições de trabalho e os públicos tornam-se mais difíceis. A
da mais viva e negativa a esses enfoques, pois agora precisa escola não tem mais direito ao fracasso, não pode mais rejei-
lidar diretamente com eles. Com efeito, os sistemas educati- tar os que «não querem trabalhar». Não é mais suficiente fazer
vos visam ao mesmo tempo: progredir os que trabalham e compreendem de forma espon-
• explicitar e avaliar de forma mais precisa as compe- tânea o sentido desse investimento; é preciso aderir à causa da
tências propriamente profissionais dos professores (para além instrução dos alunos para os quais «a vida está em outro lugar».
de sua cultura teórica); Por isso, as novas competências exigidas estão relacionadas
• reformular os programas escolares no sentido de re- tanto a didáticas pontuais, baseadas nas ciências cognitivas, quan-
ferenciais de competências (Perrenoud, 1999c). to a enfoques transversais que aliam a psicanálise e a sociologia,
Assim, a denúncia da moda das competências parece que visam a criar ou a manter; e, portanto, a explicar e a compreen-
uma luta simultânea contra a racionalização da profissão e a der; o desejo de aprender, o sentido dos saberes, o envolvimento
asfixia dos saberes e da cultura. Se a noção de competências do sujeito na relação pedagógica e a construção de um projeto.
parece-lhes empresarial, tecnocrática, utilitarista, se parece- 3. Dez famílias de competências mais uma
lhes contrária ao humanismo e ao conhecimento, como é que Não podemos dissociar as competências da relação com
os professores poderiam reconhecer que exercem numerosas a profissão. Para formar professores mais competentes, alian-
competências para realizar seu trabalho, para fazer aprender do uma postura reflexiva e uma forte implicação crítica para
ou simplesmente permitir a coexistência e a cooperação em o desenvolvimento da sociedade, é necessário desenvolver a
uma classe e em uma instituição? profissionalização do professor.
Felizmente, quando os professores têm formação universi- A palavra está na moda, mas a idéia assusta. Provavelmen-
tária, mesmo se ela for muito acadêmica, são capazes de apren- te, todos desejariam beneficiar-se com o nível de especializa-
der a partir da experiência, de refletir e de forjar na prática as ção que é associado a uma profissão, ao prestígio, ao poder e a
competências sem as quais não poderiam sobreviver em uma uma boa remuneração. No entanto, os atores hesitam em assu-
sala de aula. Embora não garanta uma prática reflexiva, um ele- mir a parcela de autonomia e responsabilidade que está ligada
vado nível de formação predispõe a ela. O problema é que cada ao exercício de uma profissão. As autoridades querem conser-
um aprende por si mesmo, sem imaginar que muitas vezes che- var seu controle sobre os professores e os estabelecimentos.
ga, por meio de caminhos incertos e difíceis, às aquisições das Por outro lado, estes últimos não desejam prestar contas.
ciências sociais e humanas e às habilidades dos pedagogos. Daí a importância, para gerar a transição, de uma décima pri-
Portanto, devemos enfrentar e analisar a realidade do tra- meira família de competências, da qual dependerão a outras. Essas
balho educador (Tardif e Lessard, 1999), proceder a uma trans- competências não se relacionam ao trabalho com os alunos, mas
posição didática  a partir das práticas reais, reequilibrar nesse à capacidade de os professores agirem como um ator coletivo no
sentido os programas de formação dos professores, articular as sistema e de direcionar o movimento rumo à profissionalização e
competências identificadas com uma verdadeira cultura básica à prática reflexiva, assim como para o domínio das inovações.
nas ciências da educação e desenvolvê-las em função de um Isto está relacionado à evolução do sindicalismo, aos
procedimento clínico e reflexivo de formação em alternância. projetos de estabelecimento e à participação dos professo-
Ao nos preocuparmos com as competências, estaremos, res na elaboração das reformas escolares, desde que seja ne-
acima de tudo, lutando por uma formação profissional dos gociado. Significa que a profissionalização exige uma von-
professores baseada na realidade das práticas. Contudo, tade comum dos professores, dos diretores e dos políticos. 
isto também significa ter meios para fazer a profissão evo- Fonte: https://www.unige.ch/fapse/SSE/teachers/per-
luir por meio do desenvolvimento de novas competências.  renoud/php_main/php_2001/2001_23.html

133
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

é necessário um trabalho interdisciplinar que só ganhará


RIOS, T. A. COMPREENDER E ENSINAR: POR sentido se partir de uma efetiva disciplinaridade;· num mundo
UMA DOCÊNCIA DA MELHOR QUALIDADE. em que se defronta a afirmação de uma razão instrumental
SÃO PAULO: CORTEZ, 2001. e a de um irracionalismo é preciso encontrar o equilíbrio, fa-
zendo a recuperação do significado da razão articulada ao
sentimento e, no que diz respeito ao ensino,à reapropriação
do afeto no espaço pedagógico.
COMPREENDER E ENSINAR NO MUNDO CONTEMPO- Compreender o mundo - Através da Filosofia faz-se uma
RÂNEO - É a articulação entre Filosofia e Didática - saberes reflexão e objetiva-se um saber inteiro com clareza, abran-
que contribuem para a construção contínua da competência gência e profundidade, orienta-se num esforço de compreen-
do professor. Filosofia - é a reflexão e a compreensão da atua- são que é o desvelamento da significação, o valor dos objetos
ção dos seres humanos no mundo. Didática - é a preocupa- sobre os quais se volta.
ção com o ensino, a socialização, criação e recriação. Conceito de compreensão - uma referência a uma di-
Tanto a Filosofia como a Didática são saberes humanos mensão intelectual e a uma dimensão afetiva. Faz-se necessá-
historicamente situados eé preciso verificar as caraterísticas ria também uma atitude de admiração diante do conhecido.
do contexto, nos quais eles desempenham suas funções e Aristóteles afirmava que a admiração é o primeiro estímulo
quais as alternativas para que estes sujeitos possam “fazer que o ser humano tem para filosofar. Na prática, o que fascina
acontecer”. A responsabilidade pelo ensino está dispersa, e intriga? A resposta está na vivência das situações-limite, ou
mas há uma grande preocupação com ele e pode-se cons- situações problemáticas.
tatar que as demandas colocadas à Filosofia ainda são muito Quando se faz uma reflexão sobre o próprio trabalho,
grandes. Assim sendo, encontra-se no campo da educação a questiona-se a sua validade, o seu significado. As respostas
perspectiva de uma ressignificação da ciência do ensinar. são encontradas em dois espaços: na prática - na experiência
Nosso mundo, nosso tempo - precariedade e urgências cotidiana; na reflexão crítica - sobre os problemas que esta
– É necessário refletir sobre os possíveis caminhos através prática faz surgir como desafios.
da Filosofia e da Didática. Na passagem do novo milênio, do Ensinar o mundo - Etimologicamente; didática em grego di-
novo século, o que se afirma é que se enfrenta uma crise de daktika, derivado do verbo didasko - significado “relativo ao ensi-
significados da vida humana, das relações entre as pessoas, no”. Para Coménio - “a arte de ensinar”. A definição de Didática en-
instituições e comunidades. A crise aponta para duas pers- globa duas perspectivas: uma ciência que tem um objeto próprio,
pectivas - perigo e oportunidades. Quando consideramos o como um saber, um ramo do conhecimento, e uma disciplina que
perigo, estamos envolvidos por uma atitude negativa, igno- compõe a grade curricular dos cursos de formação de professores.
rando as alternativas de superação, e quando considera-se a O ensino como objeto da Didática, é considerado como
perspectiva de oportunidade, estamos à mercê da crítica, da uma prática social que se dá no interior de um processo de
reflexão e a da reorientação da prática. educação e que ocorre informalmente, seja espontânea, ou
Este mundo, definido como pós- moderno, tem a referência formalmente, de maneira sistemática, intencional e organiza-
de uma modernidade antecedente. A modernidade caracteri- da. De maneira organizada, se desenvolve na instituição es-
zou-se como um período em que a razão é como um elemento colar realizado a partir da definição de objetivos, conteúdos a
explicador e transformador do mundo. Ser moderno implicava serem explorados no processo educacional.
em lançar-se-à aventura da razão instrumental, tecnológica. A relação professor-aluno, por intermédio do gesto de
Do ponto de vista político-econômico instalou-se o mo- ensinar, propicia um exercício de meditação, é o encontro
delo liberal, a defesa do livre mercado, o incentivo à especia- com a realidade, considerando o saber já existente, e procura
lização, a discussão sobre os ideais de liberdade e igualdade. articular a novos saberes. Este processo possibilita aos alunos
Globalização - fenômeno da expansão de inter-relações, a formação e o desenvolvimento de capacidades, habilida-
principalmente de natureza econômica, em uma escala mundial, des cognitivas e operativas. Logo, o ensino através da ação
entre países e sociedades de todo o mundo, reflete o progresso específica do docente caracteriza-se como uma ação que se
tecnológico e o crescimento da pobreza em todas as regiões do articula à aprendizagem. Diante desta apresentação, a autora
mundo. É a convivência com a exclusão social. É um mundo de- faz um alerta reflexivo na seguinte frase: “O professor afirma
sencantado que despreza alguns valores fundamentais na cons- que ensinou e que infelizmente os alunos não aprenderam”.
trução do mundo e do ser humano. Neste mundo complexo, A Didática é um elemento fundamental para o desenvolvi-
também se tornam mais complexas as tarefas dos educadores. mento do trabalho docente. “Um bom professor é reconhecido
E neste contexto, qual será a atitude a se tomar no campo do pela sua didática”. Esse conceito é identificado como um”saber
trabalho docente, na perspectiva da educação e da filosofia? fazer”. A Didática deve ser entendida em seu caráter prático de
A autora ressalta algumas demandas que se configuram contribuição ao desenvolvimento do trabalho de ensino, reali-
como desafios: zado no dia- a- dia da escola. (Oliveira, M.R.S., 1993:133-134).
· um mundo fragmentado exige para a superação da · Didática e Filosofia da Educação: uma interlocução - Na
fragmentação, uma visão de totalidade, um olhar abrangente música de Gilberto Gil”Hoje o mundo é muito grande, porque
e, no que diz respeito ao ensino, a articulação estreita dos a Terra é pequena” e no Vasto mundo de Drumond de An-
saberes e capacidades; drade. O mundo cuja extensão se torna maior em função
· um mundo globalizado requer, para evitar a massifica- da intervenção contínua dos seres humanos, construindo
ção e a homogeneidade redutora, o esforço de distinguir, e modificando a cultura e a história. Como ser professor
para unir a percepção clara de diferenças e desigualdades neste mundo? O que é ensinar? Como e de que modo os
e, no que diz respeito ao ensino, o reconhecimento de que alunos aprendem?

134
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

A fragmentação do conhecimento, da comunicação e das No que diz respeito à educação de qualidade refere-se à
relações comprometem a prática educativa. Portanto, é preci- história da educação brasileira. Recentemente, menciona-se
so um novo olhar e uma articulação estreita de saberes e ca- com frequência a necessidade de competência no trabalho
pacidades para que a Filosofia da Educação abranja o processo do educador.
educativo em todos os aspectos. A Didática necessita dialogar · Qualidade ou qualidades? - Há uma multiplicidade de signi-
com a diversidade dos saberes da docência, enfrentar os de- ficados: educação de qualidade, está se referindo a uma série de
safios e buscar alternativas para pensar e repensar o ensino. atributos que teria essa educação, ou seja, um conjunto de atribu-
Este contexto implica a revisão de conteúdos, de méto- tos que caracteriza a boa educação. Usando a palavra Qualidade
dos, do processo de avaliação, novas propostas e novas orga- com a maiúscula, é na verdade um conjunto de “qualidades”.Con-
nizações curriculares. forme a citação da autora, para Aristóteles, “a qualidade é uma
Ensinar - Muitas questões se apropriam da prática do- das categorias que se encontram em todos os seres e indicam o
cente, com o objetivo de estabelecer vínculos entre o conhe- que eles são ou como estão. As categorias são: substância, quan-
cimento e a formação cultural, o desenvolvimento de hábitos, tidade, qualidade, relação, tempo, lugar, ação, paixão, posição e
atitudes e valores. A autora ressalta com base em Selma G. estado”. São breves referências no que diz respeito à noção de
Pimenta em “O estágio na formação de professores”- 1994, qualidade, e pode-se trabalhar no campo da educação.
que são necessárias novas questões para um novo cenário A educação é um processo de socialização da cultura, no
educacional e para o novo milênio. qual se constróem, se mantêm e se transformam os conheci-
O fenômeno da globalização é uma percepção clara das mentos e os valores. A esta definição chama-se categoria da
diferenças e especificidades dos saberes, e das práticas para “substância”. Se este processo de socialização se faz com a
realizar um trabalho coletivo e interdisciplinar. imposição de conhecimentos e valores, ignorando as carac-
Interdisciplina - ressalta “mistura de trabalhos” que é a ma- terísticas dos educandos, diremos queé uma má educação.
neira equivocada em que ocorre a interdisciplinaridade, em tor- Toda educação tem qualidades. A boa educação pela qual
no de um tema. Na verdade, a interdisciplinaridadeé algo mais desejamos e lutamos, é uma educação cujas qualidades car-
complexo, que só ocorre quando trata verdadeiramente de um regam um valor positivo.
diálogo ou de uma parceria, que é constituída exatamente na Competência ou competências? - Como se abriga quali-
diferença, na especificidade da ação de grupos ou indivíduos dade no conceito de competência? O termo é recente e passa
que querem alcançar objetivos comuns. É preciso ter muita cla- a ser uma referência constante. Perrenoud reconhece que “a
reza do tipo de contribuição que cada grupo pode trazer, na noção de competência tem múltiplos sentidos” e segundo
especificidade desta contribuição, que é a disciplinaridade. sua afirmação:
COMPETÊNCIA E QUALIDADE NA DOCÊNCIA - É uma refle- (...) uma competência como uma capacidade de agir efi-
xão sobre a articulação dos conceitos de competência e de qualida- cazmente em um tipo definido de situação, capacidade que
de no espaço da profissão docente. Estes termos são empregados se apoia em conhecimentos, mas não se reduz a eles. Para
com múltiplas significações, gerando equívocos e contradições. enfrentar da melhor maneira possível uma situação, devemos
em geral colocar em jogo e em sinergia vários recursos cogni-
A idéia de ensino competente é um ensino de boa qua- tivos complementares, entre os quais os conhecimentos.
lidade. É fazer a conexão estreita entre as dimensões: técnica, As competências utilizam, integram, mobilizam conhecimen-
política, ética e estética da atividade docente. Trata- se de re- tos para enfrentar um conjunto de situações complexas. “Como
fletir sobre os saberes que se encontram em relação à forma- guia, um referencial de competências adotado em Genebra -
ção e à prática dos professores. 1996 para a formação contínua”, (lista das 10 competências):
O conceito de qualidade é abrangente, é multidimensio- 1 - Organizar e dirigir situações de aprendizagem;
nal. Na análise crítica da qualidade, devem ser considerados 2 - Administrar a progressão das aprendizagens;
os aspectos que possam articular a ordem técnica e pedagó- 3 - Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferen-
gica aos de caráter político - ideológico. A reflexão sobre os ciação;
conceitos de competência e qualidade têm o propósito de ir 4 - Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu
em busca de uma significação que se alterou exatamente em trabalho;
virtude de certas imposições ideológicas. 5 - Trabalhar em equipe;
Em busca da significação dos conceitos: o recurso à ló- 6 - Participar da administração da escola;
gica - A lógica formal permite analisar os conceitos em sua 7 - Informar e envolver os pais;
própria constituição. Para Aristóteles, a lógica foi chamada de 8 - Utilizar novas tecnologias;
organon, necessária em todos os campos do conhecimento. 9 - Enfrentar os deveres e dilemas éticos da profissão;
A compreensão dos termos tem sofrido modificações em vir- 10- Administrar sua própria formação contínua.
tude das características dos contextos em que são utilizados. Com referência às 10 competências de Perrenoud, a auto-
Assim, o termo Competência, frequentemente é usado para ra ressalta: “competências são as capacidades que se apoiam
designar múltiplos conceitos como: capacidade, saber, ha- em conhecimentos”, é usado como sinônimo de outros ter-
bilidade, conjunto de habilidades, especificidade. Portan- mos como: capacidade, conhecimento, saber. Apresenta
to, no que se refere à Qualidade observa-se: programa de também, quatro tipos diferentes de competências:
computadores, qualidade de um atleta, o controle de qua- (1998:14-16): 1. competência intuitiva; 2 - competência
lidade de produtos industriais. O que realmente é impor- intelectiva; 3 - competência prática; 4 - competência emo-
tante não são as palavras, os termos, e sim os objetos da cional. Completando este capítulo, é preciso trabalhar com
realidade que eles designam. a perspectiva coletiva presente nas noções de qualidade
e competência que são ampliadas na construção coletiva.

135
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

DIMENSÕES DE COMPETÊNCIA - Uma definição de com- sua ação, para trazer o prazer e a alegria ao contexto de seu
petência apresenta uma totalidade ,ou seja, uma pluralidade trabalho e da relação com os alunos. Alegria no melhor sen-
de propriedades ( conjunto de qualidades de caráter positivo) tido, resultante do contato com o mundo e da ampliação do
mostrando suas dimensões: Técnica, Política, Ética, Estética e a conhecimento sobre ele.
estreita relação entre elas. O ensino da melhor qualidade é aquele que cria condi-
A docência da melhor qualidade tem que se buscar, con- ções para a formação de alguém que sabe ler, escrever e con-
tinuamente, e se afirmar na explicitação desta qualidade no tar. Ler não apenas as cartilhas, mas os sinais do mundo, a
que se refere a: o quê, por que, para que, para quem. Essa cultura de seu tempo. Escrever não apenas nos cadernos, mas
explicitação se dará em cada dimensão da docência: no contexto de que participa, deixando seus sinais, seus sím-
dimensão técnica - a capacidade de lidar com os conteú- bolos. Contar não apenas números, mas sua história, espalhar
dos, conceitos, comportamentos e atitudes, e a habilidade de sua palavra, falar de si e dos outros. Contar e cantar nas ex-
construí-los e reconstruí-los com os alunos; pressões artísticas, nas manifestações religiosas, nas múltiplas
dimensão estética - diz respeito à presença da sensibili- e diversificadas investigações científicas.
dade e sua orientação numa perspectiva criadora; Fonte: http://marciafernandesconsultoria.blogspot.com.
dimensão política - diz respeito à participação na constru- br/p/resumo-compreender-e-ensinar-por-uma.html
ção coletiva da sociedade e ao exercício de direitos e deveres;
dimensão ética - diz respeito à orientação da ação funda-
da no princípio do respeito e da solidariedade, na direção da
realização de um bem coletivo. ROPOLI, E. A.; MANTOAN, M. T. E.; SANTOS,
FELICIDADANIA - Apresenta a re- significação da cidada- M. T. C. T.; MACHADO, R. A EDUCAÇÃO
nia, como realização individual e coletiva. ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA INCLUSÃO
Cidadania - Identifica-se com a participação eficiente e ESCOLAR: A ESCOLA COMUM INCLUSIVA,
criativa no contexto social. 2010,ORGANIZAÇÃO UFC APOIO MEC/SEESP.
Democracia - A participação através do voto - “as deci-
sões políticas”. É necessário criar espaço para que se possa
construir conjuntamente as regras e estabelecer os caminhos.
Felicidade - Na articulação entre cidadania e democracia Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi
retoma-se a articulação entre aética e política. abordado em tópicos anteriores
Alteridade e autonomia - É no convívio que se estabelece
a identidade de cada pessoa na sociedade.
A ação docente e a construção da felicidadania :
1. Construir a felicidadania na ação docente - é reconhe- STAINBACK, S. ¨INCLUSÃO¨, ARTMEDEDITORA.
cer o outro;
2. Construir a felicidadania na ação docente - é tomar
como referência o bem coletivo;
3. Construir a felicidadania na ação docente - é envolver-
se na elaboração e desenvolvimento de um projeto coletivo A preocupação em oferecer, no Brasil, atendimento a
de trabalho; pessoas com deficiência iniciou-se no século XIX, surgindo o
4. Construir a felicidadania na ação docente - é instalar na interesse na criação de instituições educacionais direcionadas
escola e na aula uma instância de comunicação criativa; a essas pessoas.
5. Construir a felicidadania na ação docente - é criar es- A educação direcionada a indivíduos com necessidades
paço no cotidiano da relação pedagógica para a afetividade especiais é chamada Educação Especial; segundo a legislação,
e a alegria; é uma modalidade de educação escolar integrante da educa-
6. Construir a felicidadania na ação docente - é lutar pela ção geral.
criação e pelo aperfeiçoamento constante de condições via- No Brasil, a Educação Especial se divide em dois períodos:
bilizadoras do trabalho de boa qualidade. de 1854 a 1956, é marcada por iniciativas oficiais e particulares
CERTEZAS PROVISÓRIAS - Uma reflexão sobre a forma- isoladas; surgiram nesse período o Imperial Instituto dos Me-
ção e a prática docente. ninos Cegos (1854) e o Imperial Instituto de Surdos-Mudos
Articular os conceitos de competência e de qualidade (1857), hoje, respectivamente, Instituto Benjamim Constant e
que visam à possibilidade de uma intervenção significativa no Instituto Nacional de Educação para Surdos.
contexto social. A melhor qualidade se revela na escolha do De 1957 até os dias de hoje, a Educação Especial é marca-
melhor conteúdo, para poder reverter conceitos, comporta- da por iniciativas em âmbito nacional.
mentos e atitudes. A melhor qualidade se revela na defini-
ção dos caminhos para se fazer a mediação entre o aluno e Integração
o conhecimento. O critério que orienta a escolha do melhor O princípio da integração norteou, por muito tempo, os
conteúdo é o que aponta para a possibilidade dos exercícios ideais da Educação Especial; trata-se de um processo que visa
da cidadania e da inserção criativa na sociedade. A melhor a integrar o aluno à escola, gerando meios para que o aluno
metodologia é a que tem como referência as característi- com necessidades especiais se integre graças ao atendimen-
cas do contexto em que se vive, no desejo de criar, superar to que lhe é oferecido; nesse modelo, ao invés de a escola
limites e ampliar possibilidades. A melhor qualidade reve- ter que se adequar ao aluno, o aluno é que deve se ade-
la-se na sensibilidade do gesto docente na orientação de quar-se à escola.

136
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Até recentemente, o modelo pedagógico utilizado na A integração é o princípio norteador do PNEE/1994 e en-
educação de alunos com necessidades especiais era o Mo- tende que a integração dependerá da adaptação do aluno à
delo Integracionista. Segundo Glat (1991), a integração “é um escola regular, podendo ser vista como um processo que visa
processo espontâneo e subjetivo, que envolve direta e pes- ao estabelecimento de condições que facilitem a participação
soalmente o relacionamento entre seres humanos”. Na opi- da pessoa com necessidades especiais na sociedade, obede-
nião de Rodrigues (2006), “a integração pressupõe uma ‘par- cendo aos valores democráticos de igualdade, participação
ticipação tutelada’, uma estrutura com valores próprios aos ativa e respeito a direitos e deveres socialmente estabelecidos.
quais o aluno ‘integrado’ se tem que adaptar”. No PNEE, a Educação Especial é “um processo que visa
A integração educativo-escolar refere-se ao processo de a promover o desenvolvimento das pessoas portadoras de
educar-ensinar, no mesmo grupo, crianças com e sem neces- deficiência, conduções atípicas ou de altas habilidades e que
sidades especiais durante uma parte ou na totalidade do tem- abrange os diferentes níveis e graus do sistema de ensino”.
po de permanência na escola (MEC,1994). Segundo Pereira (1998), existem três formas principais de
Ainda segundo Rodrigues (2006), “quando se fala de es- integração: a temporal, a social e a instrucional.
cola integrativa trata-se de uma escola em tudo semelhante A integração temporal ocorre quando há disponibilidade
a uma escola tradicional, em que os alunos com deficiência de oportunidade para que a pessoa com necessidades educa-
(os alunos com outros tipos de dificuldades eram ignorados) tivas especiais permaneça mais tempo com seus companhei-
recebiam um tratamento especial”. ros ditos “normais”, esperando que sejam obtidos resultados.
Nesse modelo nega-se a questão da diferença; o aluno A integração instrucional relaciona-se com a disponibi-
especial é inserido no contexto escolar como qualquer outro, lidade de oportunidades e condições de estímulos para os
sem consideração quanto a possíveis diferenças existentes alunos no ambiente da classe regular, facilitando o processo
para seu processo de aprendizagem. ensino-aprendizagem.
Para Pereira (1980, p. 3), integração “é fenômeno comple- A integração social refere-se ao relacionamento dos alu-
xo que vai muito além de colocar ou manter excepcionais em nos com deficiência e seus companheiros sem deficiência.
classes regulares. É parte do atendimento que atinge todos os Princípio da normalização
aspectos do processo educacional”. Segundo o MEC (2004), é um princípio que representa a
Sabemos hoje que considerar que a essência da huma- base filosófico-ideológica da integração.
nidade possui diferenças é de suma importância para a con- Na década de 1970 surgiu o princípio da normalização
vivência entre as pessoas e para inserção dos alunos no am- nos países escandinavos, que influenciaram muito a Educa-
biente escolar; devemos reconhecer as diferenças e aprender ção Especial principalmente na Dinamarca, oferecendo gran-
a conviver com elas, até porque, mesmo entre os alunos ditos de subsídio legal e filosófico que se opunha às alternativas e
“normais”, existem diferenças no processo de aprendizagem. modalidades de atendimento de caráter segregativo  e cen-
Segundo Rodrigues (2006), “o certo é que não só os alunos tralizado.
são diferentes, mas os professores são também diferentes, e ser O conceito de deficiência estático e permanente cedeu
diferente é uma característica humana comum, e não um atri- lugar a uma visão mais dinâmica e humanística da deficiência.
buto (negativo) de alguns”. No contexto da integração, a edu- Uma das consequências fundamentais da normalização
cação acontecerá na medida em que o aluno com necessidades é a integração.
especiais se adaptar aos recursos disponíveis na escola regular. A ideia é oferecer às pessoas com necessidades especiais
Segundo Sassaki (1997, p. 32), no modelo integrativo “a condições de vida semelhantes à do resto da sociedade. A
sociedade em geral ficava de braços cruzados e aceitava rece- normalização se refere às condições do ambiente no qual vi-
ber os portadores de deficiência desde que eles fossem capa- vem as pessoas deficientes, que deverá ser semelhante ao das
zes de moldar-se aos tipos de serviços que ela lhes oferecia; pessoas em geral, e não à normalização da pessoa deficiente.
isso acontecia inclusive na escola”. Segundo Mantoan (1997, p. 120), “a normalização visa
Nesse modelo pedagógico é possível observar a exclusão tornar acessível às pessoas socialmente desvalorizadas as
dos alunos que não se adaptam ao ensino oferecido na escola condições e os modelos de vida análogos aos que são dis-
regular. Esta escola investe no sentido de adaptar o aluno com poníveis, de modo geral, ao conjunto de pessoas de um dado
necessidades especiais à escola regular, sem trabalhar a questão meio ou sociedade”.
da sua autonomia com o propósito de emancipá-lo, sem exerci- A integração escolar vem se caracterizando como um
tar seu senso crítico e colaborar para que haja reflexão tanto dos processo de educar-ensinar alunos com deficiência e alunos
alunos sem deficiência quanto dos alunos deficientes. sem deficiência em tempo parcial ou na totalidade do tempo
de permanência na escola.
Plano Nacional de Educação Especial – PNEE O princípio da inclusão aponta para uma pedagogia
Para garantir o ensino das pessoas com necessidades es- equilibrada, entendendo que as diferenças humanas normais
peciais, o PNEE teve por objetivo o desenvolvimento global e que a aprendizagem deve ajustar-se às necessidades de
da potencialidade dos alunos, o incentivo à autonomia, à coo- cada aluno, e não os alunos adaptar-se ao ritmo imposto
peração, ao espírito crítico e criativo, bem como a integração pelo processo educativo.
das pessoas com necessidades especiais à sociedade. Uma das grandes estratégias decorrentes da normali-
Esse programa considera também a necessidade de zação e integração relaciona-se com o mainstreaming.
apoio ao corpo técnico/docente de Educação Especial para “Mainstreaming se refere à integração temporal, instru-
o desenvolvimento do estudo e de pesquisas em torno cional e social da pessoa com necessidade especial elegível
da aprendizagem de pessoas com necessidades especiais, com crianças normais, de forma progressiva, baseada em
tendo como modelo o movimento integracionalista. estudos e avaliações individuais” (Cerqueira,  2003).

137
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

Embora severas críticas venham sendo feitas ao processo de integração do aluno com deficiência na sociedade, Sassaki
afirma (1997, p. 28), “a respeito dos princípios de normalização e integração [que] foram importantes elementos na aquisi-
ção de conhecimentos e experiências de integração”.
Tanto o princípio da normalização como o processo de mainstreaming foram importantes elementos na aquisição de
conhecimentos e experiências de integração para o surgimento do paradigma da inclusão (Sassaki, 1997).
O conceito de integração já pode ser considerado ultrapassado; a proposta atual é da educação inclusiva.

O professor especializado não trabalha diretamente com o aluno. Ele apenas orienta o
Consultoria
professor da turma comum em sua ação pedagógica.
Funciona em escola regular e dispõe de equipamentos e recursos pedagógicos específicos
Sala de recursos e de professor especializado para atuar junto ao educando com necessidades educativas
especiais.
Professor especializado que periodicamente vai à escola regular onde estuda o educando
Ensino com professor
portador de necessidades educativas especiais para trabalhar com ele e com seu professor,
itinerante
oferecendo-lhes ensino, orientação e supervisão.
Sala de aula em escola regular organizada como ambiente adequado ao processo de
ensino-aprendizagem dos alunos portadores de necessidades educativas especiais, onde
Classe especial
professores capacitados utilizam métodos, técnicas e recursos pedagógicos especializados
e, quando necessário, equipamentos e materiais didáticos específicos.
É uma instituição especializada, destinada a prestar atendimento psicopedagógico a
educandos portadores de deficiências e condutas típicas, onde são desenvolvidos e
Escola especial
utilizados por profissionais qualificados currículos adaptados, programas e procedimentos
metodológicos diferenciados, exigindo equipamentos e materiais didáticos específicos.
Uma escola onde os alunos também vivem, podendo sair nos finais de semana. É a forma
mais antiga de atendimento educacional especializado; entretanto, os sistemas educacionais
Escola residencial
praticamente não a oferecem mais, por ser muito segregativa: afasta o aluno do convívio
com os demais alunos, do convívio familiar e da comunidade.
Ambiente hospitalar que possibilita o atendimento educacional de crianças e jovens
Classe hospitalar
internados que necessitam de educação especial e que estejam em tratamento hospitalar.
Atendimento educacional prestado ao portador de necessidades educativas especiais em
Ensino domiciliar
sua casa em função da impossibilidade de frequentar a escola.
Organização que dispõe de serviços de avaliação diagnóstica, de estimulação essencial, de
Centro integrado de escolarização propriamente dita e de preparação para o trabalho, contando com o apoio de
educação especial equipe interdisciplinar que utiliza equipamentos, materiais e recursos didáticos específicos
para atender alunos portadores de necessidades especiais.
Local destinado ao atendimento de portadores de deficiência de 0 a 3 anos e de crianças
Estimulação essencial consideradas de alto risco; são desenvolvidas atividades terapêuticas e educacionais para
desenvolvimento global.

Tabela 1 – Proposta atual de Educação Inclusiva


Fonte: MEC/SEESP

Educação Inclusiva
Segundo Glat (2005), “a educação de alunos com necessidades educativas especiais, que tradicionalmente se pautava
num modelo de atendimento segregado, tem se voltado nas últimas duas décadas para a Educação Inclusiva”.
Esse é o novo paradigma educacional, no qual o ensino regular recebe estudantes que compreendem toda a diversida-
de de pessoas existentes em nossa sociedade, incluindo aqui alunos com necessidades especiais.
A Educação Inclusiva tem consciência da diversidade da espécie humana e trabalha dentro da escola tentando oferecer
aos alunos com necessidades educacionais especiais recursos na sala de aula regular.
Segundo Stainback e Stainback (1999, p. 21),
A educação inclusiva pode ser definida como “a prática da inclusão de todos” – independente de seu talento, deficiência, ori-
gem socioeconômica ou cultural – em escolas e salas de aula provedoras, onde as necessidades desses alunos sejam satisfeitas.
Porém Glat (2005) considera que no entanto, em que pese o crescente reconhecimento da Educação Inclusiva como
norma prioritária de atendimento a alunos com necessidades educativas especiais, na prática esse modelo ainda não se
configura em nosso país como uma proposta educacional amplamente difundida e compartilhada. Embora nos últimos

138
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

anos tenham sido desenvolvidas experiências promissoras, a como organizar a sala de aula, etc. Além disso, eles também
grande maioria das redes de ensino carece das condições ins- trocam informações sobre os alunos. Em suma, eles dividem
titucionais necessárias para sua viabilização”. uns com os outros um saber prático sobre suas atuações (pg
A escola regular, de maneira geral, não foi nem é pla- 52). Estes mesmos saberes adquiridos pelo professores, não
nejada para acolher a diversidade de indivíduos, mas para a correspondem ou correspondem pouco, aos conhecimentos
padronização, para atingir os objetivos educativos daqueles teóricos obtidos na universidade e produzidos pela pesquisa
que são considerados dentro dos padrões de “normalidade” na área de Educação: para os professores de profissão, a ex-
(Ibernón, 2000). periência do trabalho parece ser a fonte privilegiada de seu
Segundo Mantoan (2002), as crianças precisam da escola saber-ensinar (pg 61). Para atingir fins pedagógicos, o profes-
para aprender e não para marcar passo ou ser segregada em sor também se baseia em juízos provenientes de tradições es-
classes especiais e atendimentos à parte. Nesse sentido ele colares, pedagógicas e profissionais que ele mesmo assimilou
afirma que priorizar a qualidade do ensino regular é, pois, um e interiorizou (pg 66).
desafio que precisa ser assumido por todos os educadores.
Para esse autor, “a inclusão escolar remete a escola a (…) se os saberes profissionais dos professores têm uma
questões de estrutura e de funcionamento que subvertem certa unidade, não se trata de uma unidade teórica ou con-
seus paradigmas e que implicam um redimensionamento de ceitual, mas pragmática: como as diferentes ferramentas de
seu papel para um mundo que evolui a bytes. um artesão, eles fazem parte da mesma caixa de ferramentas,
“O desenvolvimento das escolas inclusivas implica mo- porque o artesão pode precisar deles no exercício de suas ati-
dificações substanciais na prática educativa, desenvolvendo vidades (pg 264).
uma pedagogia centrada na criança e capaz de dar respostas
às necessidades de todas as crianças, incluindo aquelas que Uma das características que pode comprovar esta teoria
apresentam incapacidade grave” (Blanco, 1998). é que, na América do Norte, a maioria dos dispositivos in-
Fonte: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/ troduzidos na formação inicial dos professores não consegue
educacao/0252.html mudar nem abalar a forma tradicional no agir pedagógico/
prático destes profissionais. Os alunos passam através da for-
mação inicial para o magistério sem modificar substancial-
TARDIF, M. SABERES DOCENTES E FORMAÇÃO mente suas crenças anteriores a respeito do ensino. E tão logo
PROFISSIONAL. PETRÓPOLIS: VOZES, 2002. começam a trabalhar como professores, sobretudo no con-
texto de urgência e de adaptação intensa que vivem quando
começam a ensinar, são essas mesmas crenças e maneiras de
fazer que reativam para solucionar seus problemas profissio-
nais, tendências que são muitas vezes reforçadas pelos pro-
Segundo Maurice Tardif, as relações dos professores com fessores de profissão (pg 69). Do ponto de vista profissional e
os saberes nunca são relações estritamente cognitivas ou in- do ponto de vista da carreira, saber como viver numa escola é
telectuais: são relações mediadas pelo trabalho que lhes for- tão importante quanto saber ensinar na sala de aula (pg 70).
nece princípios para enfrentar e solucionar situações cotidia-
nas. Assim , o SABER DOCENTE se compõe de vários saberes Segundo os autores revisados por Tardif, haveriam duas
provenientes de diferentes fontes. Entre estes saberes, po- fases durante os primeiros anos de careira que comprovariam
demos citar: o saber curricular, provenientes dos programas a falta de aplicabilidade das teorias acadêmicas e valorização
e dos manuais escolares; o saber disciplinar, que constitui o dos “macetes” laborais destes profissionais: 1º uma fase de
conteúdo das matérias ensinadas na escola; o saber da forma- exploração (de um a três anos), na qual o professor escolhe
ção profissional, adquirido por ocasião da formação inicial ou provisoriamente a sua profissão, inicia-se através de tentativas
contínua; o saber experiencial, oriundo da prática da profissão e erros; 2º a fase de estabilização e de consolidação ( de três
, e, enfim, o saber cultural herdado se sua trajetória de vida e a sete anos), em que o professor investe a longo prazo na sua
de sua pertença a uma cultura particular, que eles partilham profissão e os outros membros da instituição reconhecem as
em maior ou menor grau com os alunos. Enfim, o SABER DO- suas capacidades. Uma confiança maior do professor em si
CENTE se compõe de vários saberes vivenciados pelos pro- mesmo. Melhor equilíbrio profissional, interesse maior pelos
fessores.Um professor mergulhado na ação, em sala de aula, problemas de aprendizagem dos alunos, ou seja, o professor
não pensa, como afirma o modelo positivista do pensamento, está menos centrado em si mesmo e na matéria e mais nos
como um cientista, um engenheiro ou um lógico (pg 272). alunos (pg 85).

Um fato a ser ressaltado é que estes saberes não agem Em suma, pode-se dizer que , de um modo geral, um pro-
de forma equilibrada na ação docente. Dependendo a aplica- fessor sabe o que faz e por que o faz. Esse reconhecimento
bilidade em sala de aula, um professor, subjetivamente, pode se refere concretamente a comportamentos intencionais do-
optar por dar mais importância à saberes mais eficazes. tados de significado para o professor; esse significado pode
ser “verificado”, de um certo modo, no “discurso” (verbal ou
Ao que parece, são os saberes aprendidos na prática mental) que ele elabora ou pode elaborar, quando neces-
que mais são valorizados pelos docentes quando estão de- sário, a respeito de suas atividades (pg 208).
sempenhando seu papel formal. Cotidianamente os profes- Fonte: https://blogdonikel.wordpress.com/2015/10/29/
sores compartilham seus saberes uns com os outros através saberes-docentes-e-formacao-profissional-segundo-mau-
do material didático, dos “macetes”, de como fazer algo, rice-tardif/

139
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

TECNOLOGIA EDUCACIONAL: DESCUBRA SUAS VASCONCELLOS, CELSO S. PLANEJAMENTO


POSSIBILIDADES NA SALA DE AULA. LIGIA PROJETO DE ENSINO APRENDIZAGEM E
SILVA LEITEEDITORA VOZES PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, SÃO PAULO:
LIBERTAD, 2002.

A ideia central do texto recai sobre o estudo da relação


entre educação, tecnologia e escola. A discussão sobre o planejando nos tem dado uma
A tecnologia está presente na nossa sociedade esten- oportunidade importante para nossa postura como pro-
dendo-se aos ambientes escolares. Destaca-se, porém que a fissional. Portanto, a disciplina de planejamento educacio-
produção de tecnologias encontra-se diretamente ligada aos
nal nos dá através da professora Ms Sheila Ximenes uma
interesses capitalistas, chegando a todos os espaços possíveis
reflexão sobre o planejamento através da analise de uma
para atender o desejo dos usuários.
das partes do capítulo do livro “Planejamento. Projeto de
Na década de 60 o Brasil tinha como objetivo inserir o
país no mercado econômico mundial como produtor e con- Ensino-aprendizagem e Projeto Político Pedagógico”  do
sumidor de bens. Dessa forma, procurava levar para sala de autor Celso Vasconcelos, 2010.
aula novas tecnologias produzidas pela sociedade industrial Porém nesta resenha estaremos fazendo algumas con-
da época, preconizando um estudo tecnicista. siderações sobre a 1ª parte do capítulo:  “Planejamento
A partir dos anos 80, o desenvolvimento de uma visão em questão” onde o principal objetivo do livro é ajudar a
mais crítica em relação à tecnologia educacional, direcionou-a prática educativa e convida o leitor a fazer uma reflexão
no sentido de proporcionar inovações na prática pedagógica que possa fazer com que os professores, educadores, aca-
com objetivo de desenvolver integralmente o homem. dêmicos de Pedagogia e assim consecutivamente possam
Segundo LEITE (2004) cabe à escola agir com e sobre aprender a agir, a mudar, a avançar.... Ainda nas faculdades
as tecnologias. A educação precisa dominar o potencial edu- é possível notar que o tema “planejamento” é taxado como
cativo das tecnologias, colocando-as a serviço do desenvol- “chato”, fazendo jus a fama “professor nenhum gosta de
vimento de um projeto pedagógico que vise a construção da planejar”, mas assim como o autor esperar mudar isso, es-
autonomia dos alunos, formando-os para o pleno exercício peramos ser uma nova geração de pedagogos que valorize
da cidadania. de fato o planejamento e o faça com força de vontade. PRI-
É importante que, na escola, o Projeto Pedagógico MEIRA PARTE – PLANEJAMENTO EM QUESTÃO
apresente uma concepção em que a tecnologia propicie aos
professores e alunos a aquisição de conhecimentos. O que Antes de qualquer coisa, o que é reflexão? Essa é uma
se espera é que o professor crie condições para que o aluno boa maneira de começar a refletir sobre o termo propria-
desenvolva um olhar crítico da utilização das tecnologias. mente tido, para só então a partir daí buscar os outros ca-
Entretanto considera-se necessário que o professor do- minhos que nos leve a entender como se dá esse processo
mine a utilização pedagógica das tecnologias, não como um de reflexão.
recurso mecânico, mas visando o domínio crítico da lingua- A reflexão, portanto, é uma mediação no processo
gem tecnológica, que ele tenha conhecimento em relação às dede transformação. É como afirma Rubinstein (1967), que
tecnologias disponíveis no momento, fazendo o melhor uso acredita que o caráter consciente e orientado a um fim ca-
pedagógico destas.
racteriza a atuação humana.
Portanto o planejamento é essencial para determinar
Baseado na idéia de que a ação humana pode ser alie-
o alcance dos objetivos e direcionar o uso dos recursos tec-
nada o autor acredita que a alienação não significa que o
nológicos no desenrolar do processo ensino-aprendizagem.
LEITE (2004) destaca que os meios de comunicação de professor não esteja apto para agir, ou que não tenha um
massa educam coletivamente os indivíduos pois transmitem fim, um objetivo, ele trata isso como uma qualidade dos
informações de maneira rápida. Cabe à escola formar um lei- mesmos.
tor crítico para assimilar de fato o que é importante e o que
esta sendo repassado com o objetivo de manter os interesses A FALTA DE SENTIDO DO PLANEJAMENTO
da classe dominante. Deve-se observar todos os meios que Quando adentramos no campo educacional, depara-
influenciam o convívio social, as formas de pensar, sentir e se mo-nos com séculos de denuncia de uma escola desvincu-
relacionar com o conhecimento. lada da vida, abstrata, formalista, autoritária passiva, etc., e,
A reflexão sobre os meios de comunicação de massa no entanto, uma observação mais atenta, nos damos conta
como produtos culturais, suas consequências sociais e ideo- que a prática, no seu conjunto, pouco tem mudado.
lógicas e a realização de uma leitura crítica da comunicação
é fator determinante para formação de leitores críticos do LOCALIZAÇÃO DA PROBLEMÁTICA
mundo.
No cotidiano das escolas, em especial no final e inicio
Fonte: http://estudandoeducacaoetecnologia.blogs- de ano, é realizada uma série de práticas como preencher
pot.com.br/2015/08/tecnologia-educacional.html formulários com objetivos, conteúdoestratégia,avaliação
,indicação de livros didáticos, etc.

140
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

O que dizem os professores: metade inteligível, pois se encontra em um caminho de


Não é possível planejar; do jeito que o planejamento apropriação dos signos e seus significados. Já a linguagem
vem sendo feito não funciona; não é necessário planejar. exterior já está internalizada pela criança e se enraizou de
Como entender a descrença do educador em relação ao tal forma que já reflete no comportamento dos sujeitos
planejamento? através da fala.
Para Vygotsky, o desenvolvimento do pensamento e
Não é possível planejar da linguagem depende dos instrumentos de pensamento e
Há uma visão de que não da para planejar, porque a da experiência sócio cultural dos indivíduos, ou seja, o de-
realidade da escola não e nada simples e a sala deaula e senvolvimento do ser humano não passa somente por mu-
muito dinâmica (cada dia e cada dia, cada classe e cada danças biológicas, mas também por mudanças históricas
classe, cada aula e uma aula...) tudo muda... sociais. Dessa forma, o desenvolvimento do pensamento
da criança dependerá de seu domínio dos meios sociais do
Não há condições pensamento, que será a linguagem.
Muitas vezes, o que esta em questão e a percepção da As palavras, portanto, são signos mediadores na rela-
falta de condições mínimas favoráveis para poder se de-
ção do homem com o mundo a sua volta, pois cada palavra
sencadear um processo de planejamento significativo.
refere-se a um signo, a representação de algo, ou seja, se
refere a um conceito.
Não há jeito mesmo
Além disto, há a questão do determinismo enraizado Para explicar a formação de conceitos na mente hu-
: se somos determinados (porfatores biológicos, sociais, mana, Vygotsky primeiramente divide em dois principais
psicológicos, etc.), se não da para mudar mesmo de que grupos de métodos tradicionais de estudos de conceitos,
adianta planeja? isto nada mais seria que uma enganação, os quais são: método de definição e métodos de estudos
uma alienação, uma perda de tempo.. da abstração. 
Os métodos de definição analisam a compreensão dos
 É inútil conceitos através da fala, e não analisa ou percebe o pro-
Esta e com certeza umas das maiores queixas dos pro- cesso, o desenvolvimento dessa fala. Em contrapartida, os
fessores: sentem que estão submetidos a um ritual que não métodos de estudos de abstração analisam os processos
tem conseqüências na pratica cotidiana da escola, e uma psicológicos para elaboração do conceito, ignorando o pa-
mera formalidade. pel da palavra.
Fonte: http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/ Perante a analise desses métodos, Vygotsky os designa
Sintese-Texto-Planejamento-Plano-De/50139492.html os dois como precários para explicar a formação de concei-
tos, pois um analisa as palavras sem a matéria objetiva e o
outro analisa a matéria objetiva sem as palavras e, para o
autor é necessário unir a analise das duas partes, matéria
VYGOTSKY, L.S. A CONSTRUÇÃO DO objetiva e palavras, para assim compreender a formação de
PENSAMENTO E DA LINGUAGEM. SÃO PAULO: conceitos.
MARTINS FONTES, 2001. Assim, Vygotsky apresenta o método funcional de
dupla estimulação, que estuda o processo de construção
e o processo de desenvolvimento do conceito, unindo o
“material que serve de base à elaboração do conceito, e a
Em seus estudos, Vygotsky destaca a importância da palavra da qual ele surge”. (p. 153).
linguagem no desenvolvimento humano. Para ele a lingua- Um importante aspecto da elaboração de conceitos
gem possui duas funções básicas: de comunicação social e
apontado pelo autor, é que ele não é processo de caráter
de pensamento generalizante, ou seja, além de proporcio-
produtivo e não reprodutivo. Assim, não basta memorizar
nar a comunicação entre as pessoas, a linguagem também
e associar as palavras com os objetos, para que se forme
desenvolve e cria categorias conceituais, facilitando e sim-
plificando os processos de abstração do pensamento. conceitos, é necessário que haja um problema que possa
Diante disso, para o autor, a linguagem e o pensa- ser resolvido pela formação de novos conceitos.
mento possuem uma relação variável, modificando-se no As funções psicologias superiores só se desenvolvem
processo de desenvolvimento, tanto no nível da filogênese através de um ato mediado, por signos que orientam e do-
(história da espécie humana) e a ontogênese (história do minam os processos psíquicos. Da mesma forma, na forma-
individuo da espécie humana). ção de conceitos a palavra é esse signo, e a funcionalidade
Geneticamente e socialmente o pensamento e a lin- dessa palavra se desencadeará a formação de conceitos.
guagem possuem raízes distintas, no entanto, durante o
percurso de desenvolvimento ambas se cruzam. Ao se cru- Fonte: http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Rese-
zarem, o pensamento de torna verbal e a fala se torna in- nha-Do-Livro-a-Constru%C3%A7%C3%A3o-Do/42997570.
telectual. html
A linguagem assim, não é um ato mecânico, mas um
processo em que se relacionam a linguagem exterior e in-
terior. A função da linguagem interior é de interiorizar os
signos, essa é uma linguagem que Vygotsky define como

141
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA

QUESTÕES 05. A teoria que coloca o centro da produção intelec-


tual no próprio sujeito, afirmando que o conhecimento
01. Analise as seguintes afirmativas concernentes ao ou é pré-formado nele ou é fruto primordialmente do seu
planejamento e à organização do ensino. pensamento, é:
I. O planejamento do ensino centrado em aulas exposi- a) Transformismo
tivas potencializa a criação de estratégias que favorecem a b) Inatismo
interação dos alunos com os objetos do conhecimento (os c) Positivismo
tópicos do currículo). d) Empirismo
II. Para exercer seu papel de mediador entre o livro di-
dático e os alunos, o professor deve realizar uma avaliação 06. As habilidades de relacionamento interpessoal e
crítica do livro e definir o ritmo e as maneiras de seu uso social são aprendidas e desenvolvidas na sala de aula:
segundo os conhecimentos prévios de seus alunos e suas a) No viver junto.
possibilidades cognitivas. b) Somente pela gerência feita pelo professor.
III. Um planejamento pedagógico cuidadoso deve co- c) Somente pela aplicação de técnicas pedagógicas.
meçar pela clarificação dos objetivos educacionais passan- d) Somente pela boa vontade dos alunos.
do pela seleção das ideias importantes do conteúdo e das e) Pela imposição de direitos e deveres.
habilidades a serem desenvolvidas.
A partir dessa análise, pode-se concluir que estão COR- 07. Sobre as situações de aprendizagem, analise as
RETAS afirmativas seguintes e marque a alternativa CORRETA:
a) Apenas as afirmativas I e II. a) Consistem em atividades lúdicas criadas pelos alu-
b) Apenas as afirmativas I e III. nos.
c) Apenas as afirmativas II e III. b) Consistem em atividades planejadas pelo professor,
d) Todas as afirmativas. sem um objetivo específico.
c) Consistem em atividades dirigidas pelo professor,
02. A avaliação que se coloca a serviço da aprendiza- tendo em vista somente os alunos com dificuldades.
gem deve, também, ter como objetivo a compreensão da d) Consistem em atividades planejadas, propostas e
realidade escolar, visando ao aprimoramento das ações
dirigidas pelo professor para a aprendizagem dos alunos.
educativas. Uma avaliação nesse enfoque apresenta as se-
e) Consistem em atividades não programadas pelo
guintes características, EXCETO
professor, que acontecem ocasionalmente em sala de aula.
a) Constata a situação de aprendizagem do educando
08. O trabalho pedagógico resulta:
para subsidiar a atribuição de notas ou conceitos e a defini-
a) Da relação entre os professores.
ção da progressão/nãoprogressão e certificação do aluno.
b) Exclusivamente do planejamento feito ao início de
b) É contínua, configurando-se como uma prática dinâ-
mica de investigação, de análise das observações realiza- cada ano letivo.
das ao longo do processo ensino-aprendizagem. c) Da interação do professor com seus alunos, em sala
c) Incide sobre a atuação dos professores e outros pro- de aula convencional e outros espaços.
fissionais da escola, sobre os conteúdos, processos de en- d) Exclusivamente da interação do professor com a
sino, recursos físicos e materiais disponíveis. gestão da escola, por meio do planejamento e das reuniões
d) Possibilita ao aluno o desenvolvimento de sua capa- pedagógicas.
cidade de autocrítica mediante exercícios de autoavaliação e) Exclusivamente da interação do professor com o seu
de sua participação no processo ensino-aprendizagem. conteúdo programático e possibilidades metodológicas
para desenvolvê-lo.
03. Para que uma avaliação não seja autoritária e con-
servadora, ela deverá se apresentar como: Gabarito: (1-C), (2-A), (3-D), (4-C), (5-B), (6-A), (7-D),
a) Diagnóstica. (8-C).
b) Deverá ser instrumento dialético do avanço.
c) Deverá ser instrumento de indicação de novos ru-
mos.
d) Todas as alternativas estão corretas.

04. É consequência do fracasso escolar:


a) O aumento de suicídios nas camadas mais baixas da
população.
b) O aprimoramento do ensino para aqueles que con-
seguiram manter-se no processo de ensino – aprendiza-
gem.
c) A formação de indivíduos sem auto estima e sem
capacidade de análise crítica.
d) A seleção natural dos mais capazes para a aprendi-
zagem.

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