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Fichamento: FERRARA, Lucrécia D’Aléssio. Leitura sem palavras. São Paulo: Ática, 1997.

Toda representação é uma imagem, um simulacro do mundo a partir de um sistema de signos,


ou seja, em última ou em primeira instância, toda representação é gesto que codifica o universo,
daí se infere que o objeto mais presente e, ao mesmo tempo, mais exigente de todo processo de
comunicação é o próprio universo, o próprio real. (p. 7)

O texto não-verbal é uma experiência quotidiana; a leitura não-verbal é uma inferência sobre
essa experiência. (p. 13)

O texto não-verbal espalha-se em escala macro pela cidade e incorpora as decorrências de todas
as suas micro-linguagens: a paisagem, a urbanização, a arquitetura, o desenho industrial
ambiental, a comunicação visual, a publicidade, a sinalização viária – incluindo aí o verbal -, a
moda, o impacto dos veículos de comunicação de massa nos seus prolongamentos urbanos e
ambientais, o rádio, o jornal, a televisão. (p. 19)

Os textos não-verbais acompanham nossas andanças pela cidade, produzem-se, completam-se,


alteram-se ao ritmo dos nossos passos e, sobretudo, da nossa capacidade de perceber, de
registrar essa informação. É esse registro que transforma os textos não-verbais em marcos
referenciais da cidade; signos da cidade, esses marcos aglutinam objeto e signo urbanos.
Enquanto texto não-verbal, a cidade deixa de ser vista como espaço abstrato das especulações
projetivas, sociológicas ou econômicas para ser apreendida como espetáculo, como imagem. (p.
20)

A contextualização é responsável pelo uso dos lugares urbanos: uma outra informação que
redesenha a tridimensionalidade espacial dando-lhe uma outra variável, mais dinâmica e
significativa, porque capaz de informar mais rapidamente sobre constituintes espaciais não
previstos em projetos de urbanização e, no entanto, capazes de produzir e/ou alterar a imagem
de uma rua, avenida ou praça. (p. 21)

Para que seja possível a leitura é necessário tornar heterogêneos os ambientes através de uma
operação da mente capaz de provocar um valor, um predicado, um juízo que atraia nossa
atenção para fragmentos espaciais específicos e os imponha à nossa percepção, ou seja, que
projete uma imagem valorativa desses fragmentos, a fim de que possam valer pelo ambiente
como um todo e atuem como um prolongamento, um índice dele. (p. 23)

Decodificar supõe situar referencialmente o objeto da leitura, identificar seu tempo e espaço;
decifrar supõe encontrar um sentido menos escondido do que complexo. Sem dúvida,
decodificar supõe uma interpretação, enquanto decifrar supõe uma hermenêutica [...]. (p. 27)

Os procedimentos des-verbais (p. 34)

Essas técnicas permitem captar instantes exemplares, segurar a informação, para que seja
possível superar ou controlar o movimento e a dinâmica que faz os ambientes serem passageiros
ou mutáveis. (p. 35)

[...] assim como se transforma um espaço em lugar, também se transforma uma imagem, uma
foto em retrato que evidencia as variantes de uma percepção e a interpretação possível de um
ambiente urbano [...]. Do espaço ao lugar, o processo bilateral entre a cidade e seu usuário. (p.
39)

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