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ISSN: 1679-3390
lucileal@ffclrp.usp.br Associação
Brasileira de Orientação
Profissional
Brasil
Artigo
Resumo
O Programa de Educação para a Carreira (PEC) foi desenvolvido para ser aplicado ao Ensino Fundamental, de 1ª ao
4ª ano, com o objectivo geral de desenvolver conhecimentos, atitudes e aptidões relativos à carreira ao longo da
escolaridade. O objectivo específi co deste programa é desenvolver o auto-conhecimento, a exploração educacional e
ocupacional e o planejamento da carreira. Foi aplicado em 20 escolas, envolvendo 1394 alunos. A análise dos anos de
frequência do PEC confi rmou a efi cácia do mesmo, conduzindo a um maior desenvolvimento de todas as dimensões
de carreira, nas crianças com maior número de anos de frequência do PEC, o que permite concluir a boa qualidade do
programa, assim como da viabilidade da sua implementação.
Palavras-chave: programa de educação para a carreira, desenvolvimento vocacional, planejamento de carreira, ensino
fundamental
1 Endereço para correspondência:Centro de Competência de Artes e Humanidades da Universidade da Madeira, Campus Universitario
da Penteada, 9000, Funchal, Portugal. Fone: 351 966 511792. E-mail: mpocinho@uma.pt
Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_issues&pid=1679-3390&lng=pt&nrm=iso
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A literatura existente acerca da educação para a interesses e habilidades para o género e a idade.
carreira na infância é escassa e tem excluído um foco Gottfredson esboçou um processo de desenvolvimento de
explícito que é a criança, apesar das teorias de vida carreira na infância que inclui a circunscrição (o processo
orientadas por etapas reconhecerem a relevância do através do qual as alternativas inaceitáveis da carreira são
desenvolvimento deste processo desde a infância (Super, eliminadas progressivamente) e o acordo (o processo
1990) através do conceito de vida por etapas. Diversas através do qual a maioria das alternativas de carreira
investigações endereçaram preferências ocupacionais das consideradas preferíveis, são postas de parte para serem
crianças (Gottfredson, 2002; Stockard & McGee, 1990), substituídas por outras, que apesar de não terem tanta
aspirações e expectativas (Helwig, 2001, 2002; Phipps, preferência são entendidas como mais acessíveis). A teoria
1995), e estereótipos do papel do sexo e infl uências de Gottfredson enfatiza o modo como as crianças e os
parentais na escolha de carreira. De facto, a literatura tem adolescentes estreitam as suas opções exploratórias do
mostrado que as meninas apresentam maturidade comportamento e da carreira, através das barreiras internas,
vocacional superior aos meninos e que quanto mais externas e das expectativas culturais relativas aos papéis de
elevadas forem as qualifi cações dos pais mais adequado é sexo e ao valor social das ocupações.
o desenvolvimento vocacional (Pocinho, Correia, Lent, Brown, & Hackett (1994) enfatizam a regra da
Carvalho, & Silva, 2010; Pocinho, Correia, & Tomás da aprendizagem do desenvolvimento do interesse nas origens
Silva, 2009). da infância e releva a importância do ambiente interpessoal
A pesquisa do desenvolvimento de carreira na na exposição das crianças a uma variedade de actividades
infância revelou diferenças desenvolvimentais e de género que tenham relevância no comportamento ocupacional.
em vários domínios. Tracey (2002) relatou que os Schultheiss, Palma e Manzi (2002) investigaram alunos
interesses acerca da carreira mudam ao longo do tempo, dos 4º e 5º anos para re-avaliar a teoria de Super (1990).
tornandose mais estáveis desde o 1º ciclo (escola Consistente com esta teoria, a análise revelou 8 das 9 (com
elementar) até a escola secundária. Helwig (2001) chegou excepção da curiosidade) dimensões do desenvolvimento
à conclusão que o valor social das aspirações ocupacionais de carreira da infância. Especifi camente, a exploração, a
das crianças aumenta desde a infância até ao começo da informação, a perspectiva de tempo e o planeamento foram
adolescência. Além disso, Schultheiss, Kress, Manzi, & combinados para criar dois domínios de tópico.
Glasscock (2001) mostram que crianças do 5º ano Embora haja pouca urgência nas escolhas
descrevem uma consciência de interesses, reconhecendo os ocupacionais imediatas por parte das crianças, é imperativo
membros da família e professores como modelos de que elas desenvolvam uma compreensão da relevância da
suporte social, e de consultar outros para os ajudarem na escola, baseada na aprendizagem da sua futura carreira
tomada de decisões, do que as do 4º ano. As diferenças de (Johnson, 2000). O sistema educativo português não tem
género foram relatadas igualmente. Helwig (2002) dado muita relevância à educação para a carreira dos
descobriu que os meninos tinham consistentemente mais nossos jovens estudantes (M. Carvalho & Pocinho, 2010).
trabalhos de fantasia como uma proporção de todas as A Escola, parece assim, virada para si mesma, fechada ao
aspirações ocupacionais do que as meninas. Schultheiss et desenvolvimento dos jovens e das suas aptidões para
al. (2001) referiram que as meninas tinham maior fazerem escolhas ou tomarem decisões sobre o seu futuro
probabilidade do que os meninos para relatar uma escolar e profi ssional (Carvalho, Pocinho, & Silva, 2010).
consciência dos seus interesses e reconhecer o papel de Na verdade, e analisando a Lei de Bases do Sistema
outro signifi cativo, como fornecedor de sustentação social. Educativo português (Lei n.º 46/86 de 14 de outubro, 1986)
A pesquisa longitudinal forneceu sustentação para as podemos encontrar uma única referência ou um único
teorias de Gottfredson (2002), sugerindo que as aspirações objectivo relativo à dimensão do trabalho na vida dos
ocupacionais se tornam limitadas pelo género e pela classe jovens estudantes. E mesmo assim, não se encontra em
na infância adiantada e que estas preferências permanecem nenhuma delas, uma especial atenção para o
estáveis ao longo do tempo (Tracey, 2001; Tracey & Ward, desenvolvimento de competências que permitam aos
1998). A avaliação da estrutura de interesses das crianças jovens conhecer-se e conhecer os seus interesses, as suas
tem emergido mais recentemente como um tópico aptidões e capacidades assim como a exploração e o
importante (Tracey, 2001, 2002; Tracey & Ward, 1998). planeamento das suas carreiras.
Usando a tipologia de Holland (1985), Tracey e Ward
desenvolveram o Inventário de Actividades das Crianças
para avaliar as percepções acerca dos seus interesses e das
suas competências. Os resultados indicaram poucas
diferenças na estrutura entre interesses e percepções da
competência, uma variada estrutura dos interesses e da
competência que aumenta com a idade, um relacionamento
positivo entre o modelo circular e a idade, e diferenças nos
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Pocinho, M. D. (2011). Programa de educação para a carreira
No sistema educativo português, os jovens tomam que deixar de se centrar unicamente nas escolhas
consciência, pela primeira vez, da necessidade de fazer imediatas, académicas ou laborais e tomar em
escolhas e tomar decisões importantes acerca do seu consideração objectivos mais amplos que tratem de
futuro e no que respeita à sua formação e qualifi cação, desenvolver aptidões de auto-gestão, por exemplo, a
apenas no fi nal do Ensino Médio (9 anos de capacidade de decidir que carreira seguir e pôr em
escolaridade), com 15 anos de idade, altura em que são prática essa decisão. Esta abordagem deverá estar
confrontados com a transição para o Ensino incluída no currículo e incorporar a aprendizagem pela
Secundário…e apenas e só, os alunos que terminam o experiência. Para tal terá que se envolver toda a escola,
Ensino Médio. Em resumo, é só neste ponto do seu com as consequentes implicações ao nível dos
percurso que os jovens tomam consciência de que o recursos, formação de professores e planifi cação
que aprenderam (ou o que deixaram de aprender) se escolar.
apresenta como uma ferramenta importantíssima para a Os programas de desenvolvimento de carreira têm ainda
consecução de objectivos de vida, e de realização um papel importante no que concerne à prevenção do
escolar e profi ssional (M. Carvalho & Pocinho, 2010). insucesso e do abandono escolar (Pocinho, 2005, 2006).
A inexistência de um currículo nacional que dê Tendo em conta que abordam as necessidades dos alunos em
relevância aos aspectos ligados ao desenvolvimento da risco e dos que precocemente abandonam a escola. Segundo
carreira nos jovens, pode ter consequências graves na ainda o mesmo documento, exemplos de sucesso neste campo
forma como estes monitorizam o seu próprio processo são dados pelos países escandinavos onde os programas de
de ensino-aprendizagem. orientação de carreira, dirigidos a alunos dos primeiros graus
Pese embora, a existência de Serviços de de ensino, obrigam a um envolvimento e a uma planifi cação
Orientação Escolar e Profi ssional nas escolas do abrangente de todos os intervenientes e onde se coloca em
Ensino Médio, a Orientação Vocacional é assegurada destaque a fi xação de objectivos mútuos e a planifi cação de
por um profi ssional de Psicologia, não dedicado acções pessoais que se devem empreender.
apenas à problemática do desenvolvimento das Uma estrutura de suporte bem implantada ao nível da
carreiras (Pocinho et al., 2010). Por outro lado, não Educação para as Carreiras, em todos os graus de ensino, pode
existe na maioria dos casos, um envolvimento da trazer muitos benefícios à sociedade, principalmente ao nível
comunidade educativa no desenvolvimento vocacional do abandono escolar precoce, uma vez que aqueles Programas
(Carvalho, 2008). A Orientação Escolar e Profi ssional permitem aos alunos, desde muito cedo, desenvolverem uma
existe como um serviço de aconselhamento, pontual e tomada de uma consciência de si, dos seus interesses
pouco individualizado e não como, como seria o ideal, capacidades e de competências de auto gestão dos seus
um programa estruturado e desenvolvido pela Escola à percursos, determinando a sua auto orientação assim como a
medida das necessidades da sua população estudantil. focalização dos seus esforços para o desenvolvimento de áreas
Na tentativa de responder a esta problemática, o reconhecidamente mais fracas, mas cuja importância pode ser
objectivo deste estudo é demonstrar a importância da conscientemente reconhecida (Carvalho, Silva, & Pocinho,
educação para a carreira, através da concepção dum 2010). Também ao nível da intervenção secundária, isto é,
programa com essa fi nalidade (PEC), para os anos sobre os alunos que abandonaram a escola sem qualquer
iniciais do Ensino Fundamental, da 1ª à 4ª ano (dos 6 qualifi cação e sem terminar a escolaridade obrigatória,
aos 10 anos de idade), bem como fazer uma avaliação aqueles Programas poderão ajudar os jovens a planear o seu
da sua efi cácia evolutiva junto dos alunos e dos futuro em face das oportunidades existentes no sistema
respectivos professores. educativo e formativo, evitando uma desintegração social com
consequências nefastas para os jovens, famílias e sociedade
Importância dos programas de educação para a (Abreu, 1996).
carreira
Implicações pedagógicas dos programas de educação para
A inexistência de uma orientação educativa no a carreira
âmbito da educação para a carreira das crianças e
jovens é um facto que deverá ser alvo de uma refl exão A escolha de uma carreira não se faz num ou em vários
séria, tendo em conta as recomendações da momentos isolados da vida das pessoas. Pelo contrário, a
Organisation for Economic Co-Operation and carreira é o resultado das múltiplas experiências de vida,
Development [OECD] feitas na publicação Career escolares e extra escolares e das muitas actividades que têm
Guidance and Public Policy (2004), onde refere que as signifi cado para a pessoa. Segundo Hiebert (1993), a escola
políticas de Orientação Profi ssional nas escolas têm deve ser um momento privilegiado na preparação do sujeito
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para as exigências ao nível do trabalho neste novo século. A ausência de programas de desenvolvimento de
Estas exigências, numa era em que a sociedade se transformou carreira, em idades precoces, é também sentida pelos
rapidamente, passando de uma estrutura baseada na jovens, em períodos de dissonância quando se
industrialização para outra baseada nas tecnologias de confrontam com a necessidade de tomar uma decisão
informação, fazem cada vez mais apelo às capacidades de relativamente aos seus percursos escolares (Faria,
lidar com um conjunto vasto de informação. Não tanto com a Taveira, & Saavedra, 2008). A ausência do
quantidade de informação obtida, mas com a sua gestão efi estabelecimento de metas, associada a baixa percepção
caz. Coloca-se assim, o problema da instrumentalidade da da instrumentalidade dos conhecimentos aprendidos,
escola, ou melhor, da instrumentalidade da informação, que conduz a uma pobre monitorização e baixa motivação
pode (ou não) converter-se em aprendizagens. para intentar uma tomada de decisão efi caz (Pocinho
Será que os nossos estudantes sabem realmente o valor, o & Correia, 2007, 2009a, 2009b).
propósito, a utilidade de toda a informação que receberam As grandes modifi cações operadas nestes últimos
durante toda a vida escolar? Será que as aprendizagens anos, na estrutura do mundo do trabalho, originadas em
escolares são percebidas pelos alunos como instrumentais parte pelo rápido avanço da tecnologia, pressuporiam
relativamente aos seus futuros objectivos? Estas questões têm uma modifi cação da estrutura do ensino, ao nível quer
sido largamente discutidas, principalmente ao nível da auto- do currículo quer das metodologias e da organização.
regulação do comportamento, relativamente às características Esta mudança, não se requer apenas na sua forma, ou
temporais dos objectivos percebidos pelos alunos. seja, na inovação tecnológica e dos equipamentos
Os objectivos ideais são caracterizados por alguns autores escolares. Falamos essencialmente de mudanças de
(Locke & Latham, 1990) como sendo proximais, os seja, os conteúdo ou de mentalidade, pela necessidade de redefi
que mais perto estão de poder ser concretizados, na medida em nir os objectivos do ensino e de “equipar” os nossos
que exercem uma função auto-reguladora do comportamento. jovens estudantes de competências que lhes permitam,
Os alunos, podem avaliar os seus progressos, assim como preparar o seu futuro com escolhas conscientes, a partir
emitir julgamentos sobre si mesmos e compreender as suas do conhecimento do mundo em que vivem e,
consequências. No entanto os objectivos distais, ou mais sobretudo, de si mesmos.
longínquos, parecem exercer uma moldura importante na defi A aquisição dessas competências deve, na opinião
nição de objectivos proximais e na orientação da vida das de Starr (1996), implicar, por parte das escolas, a
pessoas. inclusão de programas de educação para a carreira, que
Estes objectivos incluem as aspirações relativamente às permitam aos alunos uma tomada de consciência de
carreiras, tais como, conseguir um determinado grau carreira, centrada no conhecimento de si, no
académico, esforçar-se por obter um bom emprego, desenvolvimento das relações com os outros, na
desenvolver boas relações interpessoais, desenvolver um papel aprendizagem das responsabilidades pessoais e
importante na sociedade, ou até ser uma pessoa bem educada familiares e no desenvolvimento de bons hábitos de
(Cantor & Kihlstrom, 1987; Nurmi, 1991). trabalho. Os estudos sobre programas compreensivos
Pese embora, os objectivos distais poderem ser de desenvolvimento de carreiras, demonstram a
percebidos como grandes “linhas orientadoras” da vida do existência de uma maior implicação dos alunos nas
sujeito, estes são muitas vezes entendidos como muito gerais tarefas escolares (Kuhl, 1994) assim como um maior
ou muito distantes. O seu papel é, no entanto, aglutinador e número de alunos que consegue terminar ensino
orientador da vida dos alunos na medida em que o seu signifi secundário (Lapan, Gysbers, & Sun, 1997). Estes
cado, pode conduzir a um compromisso e ao desenvolvimento autores, indicam ainda, que as escolas onde Programas
de objectivos proximais que conduzam ou orientem o aluno a com estas características foram implementados,
objectivos mais distantes (Nurmi, 1991; Nuttin, 1984). revelaram um melhor clima escolar.
Os programas de desenvolvimento de carreiras podem Torna-se também fundamental que os programas
ajudar os alunos, por um lado, a perceber a importância do proporcionem o desenvolvimento de atitudes activas
estabelecimento de objectivos pessoais, num futuro distante, face à exploração da carreira, nomeadamente um bom
ajudando no processo de comprometimento com esses conhecimento sobre as diferentes opções de educação e
objectivos e, por outro, no estabelecimento de objectivos formação assim como as mudanças que se operam no
proximais (bom desempenho escolar, conhecimento de si, bom mundo moderno e o impacto das mesmas na vida
relacionamento social, etc), que desempenharão um papel futura dos jovens (Starr, 1996).
auto-regulador do comportamento em direcção à consecução Educar as crianças, implica um processo
dos objectivos distais (Carvalho, Silva, et al., 2010). complexo e longitudinal, que deverá culminar numa
autonomia, preparando-as para os desafi os de um
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estágios. Nesta perspectiva desenvolvimentista, as pessoas 25 actividades. Cada uma das actividades está estruturada para
devem ser capazes de resolver tarefas específi cas e próprias que os professores compreendam como devem ser
de cada estádio ou aquelas que se encontram no estádio de desenvolvidas pelas crianças.
desenvolvimento seguinte. O PEC foi elaborado e estruturado A concepção e adaptação das actividades tiveram
de forma a desenvolver, nas crianças, determinadas tarefas em conta aspectos de carácter desenvolvimentista
relacionadas com a carreira, reunidas em três grandes áreas: a (existem 4 Manuais do PEC, uma para cada série
consciência de si, a exploração educacional e ocupacional e o (http://dre.madeira-edu.pt). Cada professor teve
planeamento da carreira. O PEC foi concebido a partir das formação adequada para aplicar o PEC de acordo com
linhas orientadoras preconizadas pelo The National Career a etapa evolutiva e os temas de carreira adequados.
Development Guidelines (NCDG), um conjunto de linhas Cada actividade, na sua estrutura, teve em conta o nível
orientadoras para a concepção de programas de etário da criança, de forma a que a mesma competência
desenvolvimento de carreiras para alunos que frequentam os pudesse ser desenvolvida ao longo dos 4 anos de
diferentes graus de ensino do sistema de ensino americano. A escolaridade, sem que se fi zesse apelo de outras
escolha deste modelo foi feita por duas razões essenciais: por competências ainda não desenvolvidas. Por exemplo,
ser um modelo que promove a concepção de programas as actividades da 1.ª série (para os 6 anos de idade)
compreensivos de carreira, baseados em actividades específi revestem-se de um carácter mais lúdico com ausência
cas para cada nível de ensino e por ser amplamente aplicado de recurso a aptidões académicas (leitura e escrita). As
em mais de 40 estados dos EUA desde 1989 (America’s actividades do Programa foram concebidas para ser
Career Resource Network, s.d.). O objectivo principal deste implementadas em grupos (quer seja o grupo turma ou
programa foi proporcionar às crianças o envolvimento em em grupos mais pequenos) e para que todas as crianças
actividades relacionadas com aspectos importantes do pudessem ser incluídas, independentemente das suas
desenvolvimento pessoal, educativo e carreira, para que características individuais. Esta metodologia permite
pudessem tomar consciência de si, das mudanças que se irão uma maior interacção entre os alunos e uma melhor
operar durante os próximos de vida e da relação entre as compreensão do nível de aquisição das competências.
aprendizagens escolares e o mundo do trabalho e de como Não obstante, alguns procedimentos são
poderão utilizar as suas experiências de vida na exploração e efectuados individualmente e posteriormente
preparação do seu futuro. partilhados com o resto do grupo. Na especifi cidade
As competências a desenvolver nas crianças, a partir das do programa, e das actividades que o compõem, os
actividades propostas e preconizadas pelas linhas orientadoras alunos poderem desenvolver outras aptidões, não
do NCDG, representam um conjunto de aptidões básicas e estritamente ligadas à carreira, como sejam de
atitudes que as crianças devem adquirir para lidar com profi comunicação, perceptivo-motoras, espaciais através da
ciência com o seu percurso escolar, tanto ao nível das futuras facilitação e encorajamento proposto por cada uma das
transições entre os vários níveis de ensino, como com os actividades. Do PEC, fazem parte, ainda, um manual
aspectos mais relevantes da sua vida do dia a dia, que sejam de normas de aplicação das actividades e propostas
relacionados com a escola ou fora desta. Pretende-se ainda que para estratégias pedagógicas para o desenvolvimento
as crianças sejam capazes de desenvolver um plano educativo das mesmas.
que permita a continuidade do seu desenvolvimento de Assim, a implementação do PEC teve como
carreira. objectivos: (a) criar uma cultura de desenvolvimento de
A Tabela 1 mostra as 12 competências e respectivos carreira na escola onde os professores ajudarão os
indicadores constantes do PEC, adaptadas do modelo do alunos a valorizar o trabalho e a conhecer as
NCGD, distribuídas por 3 áreas: consciência de si, exploração competências a desenvolve; (b) expor os alunos a uma
educacional e ocupacional e planeamento de carreira. Não variedade de experiências com o fi m de adquirirem
sendo sequenciais, permitem o desenvolvimento de atitudes de aptidões e explorarem os seus interesses e as suas
carreira da 1ª ao 4ª ano do Ensino Fundamental. capacidades; (c) desenvolver competências e atitudes
O conjunto de actividades que fazem parte deste de carreira nos alunos para que possam fazer transições
programa foi desenvolvido com base num manual de com sucesso, sejam elas ao nível educacional ou ao
actividades intitulado Careers Now! Making the Future Work nível profi ssional.
(Wishik, 1994). Este manual contem actividades de educação Como referido anteriormente, o objectivo deste
para a carreira, destinadas aos anos iniciais de escolaridade, e estudo é demonstrar a importância da educação para a
distribuídas pelas 3 áreas de desenvolvimento de competências carreira, através da implementação dum programa com
de carreira já referidas. O PEC foi concebido de forma a ser essa fi nalidade (PEC), destinado a alunos de 1ª ao 4ª
aplicado pelos professores e é composto, para cada série, de ano, bem como fazer uma avaliação da sua efi cácia
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Método Amostra
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O PEC foi aplicado em factores. O Factor 1 (α = actividades; 3 – Grau de dos alunos no PEC
20 escolas públicas 0,74), defi nido como motivação para as como no processo de
portuguesas (Região Autoconhecimento Escolar e actividades; 4 – Grau de avaliação através da
Autónoma da Madeira) de 1ª Pessoal inclui 13 itens, que compreensão das EACC. Estes
ao 4ª ano do Ensino representam a consciência da actividades; 5 – Qualidade procedimentos
Fundamental, entre 2007/8 e importância do estudo, do dos materiais produzidos. As consitiram no pedido
2010/11 em 1394 crianças, trabalho, do treino e dos respostas ao questionário de autorização aos
compreendendo 69 turmas. valores para o sucesso profi foram respostas de opinião pais e encarregados
A distribuição dos alunos foi ssional futuro. O Factor 2 (α ou de juízos, sobre cada uma de educação por meio
a seguinte 342 da 1.ª série; = 0,76), designado das questões colocadas. da assinatura do
338 da 2.ª série; 346 da 3.ª Planeamento/Tomada de Consoante a opinião mais consentimento
série e 368 da 4.ª série, com Decisão, contém 9 itens que favorável até a menos informado.
idades entre os 5 e os 13 representam a consciência da favorável, os professores A
anos, sendo a média de 8 importância de planear para responderam utilizando uma implementação do
anos. Destes, 689 (49,4%) o futuro. O Factor 3 (α = escala de Likert de 5 pontos PEC decorreu entre
eram do sexo masculino e 0,70), defi nido como Locus (1 para a opinião menos 2007/8 e 2010/11 e
705 (50,6%) do sexo de Controlo/Estereótipos, favorável, até 5 – para a pressupõe 3 fases
feminino. Para a avaliação inclui 7 itens que opinião mais favorável). distintas, sendo as
da efi cácia do PEC na representam a consciência da fases 1 e 2 apenas
evolução dos alunos, dos importância de possuir um Procedimento para escolas e/ou
1394 alunos que sentido interno de controlo professores novos
frequentaram o PEC (Grupo sobre a sua própria vida, e da A aplicação do que queiram aderir ao
Experimental), avaliaram-se consciência de que não PEC (entre 2007/8 e PEC.
523 alunos. No Grupo de existem profi ssões específi 2010/11) e respectiva Fase1 –
Controle avaliaram-se 391 cas a um dos géneros. O avaliação através da Divulgação do PEC
alunos. Factor 4 (α = 0,49), EACC (Janeiro e junto dos Directores
denominado Figuras de Fevereiro 2011) das Escolas. Na
Instrumentos Referência, inclui 5 itens que pressupôs o envio dos Região Autónoma da
possibilitam o pedidos de Madeira, Portugal,
Para avaliação da efi reconhecimento de modelos autorização aos 92% das escolas de 1ª
cácia do PEC na evolução e o desejo de ter a mesma directores das ao 4ª ano são Escolas
dos alunos foi usada a Escala profi ssão dessas pessoas. O escolas, assim como a Tempo Inteiro
de Avaliação da Consciência Factor 5 (α = 0,62), Auto- reuniões por um dos (http://dre.madeira-
de Carreira para a Infância estima, inclui 5 itens que peritos vocacionais edu.pt), onde os
(EACC) de Jorge (2011). A conduzem ao auto- da Direcção Regional alunos permanecem
escala é composta por 60 reconhecimento das de Educação (Dr. cerca de 10 horas
itens, refl ectindo as 9 capacidades. O Factor 6 (α = Armando Correia) diárias, com uma
dimensões da Teoria do 0,52), Preocupação com o com os professores componente extra-
Desenvolvimento de Futuro, inclui 4 itens que do ensino curricular que ocupa
Carreira na Infância de representam a consciência da fundamental (1ª ao 4ª metade do tempo em
Super (1990), com respostas importância de refl ectir ano), no sentido de que os alunos estão
do tipo Likert de 4 pontos (1 sobre a profi ssão futura. clarifi car os na escola, e onde são
– Não concordo nada; 2 – Para a avaliação da obejctivos do PEC e desenvolvidas
Concordo um pouco; 3 – qualidade técnica e da posterior actividades de
Concordo muito; 4 – adequação do mesmo aos administração da desenvolvimento de
Concordo completamente), alunos, por parte dos EACC. Para tal, competências nas
existindo campos para o professores, foi usado o foram seguidos todos crianças. Por este
preenchimento dos dados Questionário de Avaliação os procedimentos motivo, cada escola
sociodemográfi cos como o do PEC, com 5 questões: 1 – éticos exigidos pela estudou previamente
género, a idade e os anos de Grau de execução das legislação a forma de
frequência no PEC. Os itens actividades; 2 – Grau de portuguesa, tanto implementar o
subdividem-se em 6 adesão dos alunos às para a participação Programa de acordo
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Recebido: 10/02/2011
1ª Revisão: 09/07/2011
Aceite fi nal: 01/08/2011
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