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Caderno Tecnico 64 Retroviroses Animais Domesticos
Caderno Tecnico 64 Retroviroses Animais Domesticos
VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
compromisso com você
www.crmvmg.org.br
Editorial
A Escola de Veterinária da UFMG e o Conselho Regio-
nal de Medicina Veterinária (CRMV-MG) têm a satisfação
de entregar à comunidade de leitores o Cadernos Técnicos de
Veterinária e Zootecnia, em sua nova versão, que o torna con-
temporâneo, tanto pela temática de forma mais ampla, apro-
fundada e objetiva, quanto pela apresentação gráfica mais
atrativa e, portanto, mais agradável de ser lido, facilitando a
apreciação dos artigos.
No lançamento desta nova versão editorial do Cadernos
Técnicos de Veterinária e Zootecnia, os editores e a Diretoria da
Escola de Veterinária da UFMG agradecem a todos aqueles
que contribuíram, de alguma forma, para que esta publicação
se realizasse, e ao CRMV-MG, pela parceria com a Escola de
Veterinária da UFMG.
A parceria entre as duas instituições é uma iniciativa inte-
ligente e construtiva, que disponibiliza o Cadernos Técnicos de
Veterinária e Zootecnia aos médicos veterinários e zootecnistas
inscritos no CRMV-MG, aos acadêmicos, professores e técni-
cos de áreas afins uma fonte de consulta técnica de qualidade
Universidade Federal
de Minas Gerais para a educação continuada na medicina veterinária e zootec-
Escola de Veterinária nia. Ainda, de forma especial, os editores agradecem aos auto-
Fundação de Estudo e Pesquisa em res pela cuidadosa preparação dos artigos deste número.
Medicina Veterinária e Zootecnia
- FEPMVZ Editora
Prof. Antonio de Pinho Marques Junior
Conselho Regional de Editor-Chefe do Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia (ABMVZ)
Medicina Veterinária do Prof. Marcos Bryan Heinemann
Estado de Minas Gerais Editor do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia
- CRMV-MG
Prof. Nivaldo da Silva
Correspondência: CRMV-MG nº 0747 - Presidente do CRMV-MG
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3
Conselho Regional de Medicina
Veterinária do Estado de Minas
Gerais - CRMV-MG
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CADERNOS TÉCNICOS DE
VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
Edição da FEPMVZ Editora em convênio com o CRMV-MG
Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia - FEPMVZ
Revisora autônoma:
Giovanna Spotorno Moreira
Layout e editoração:
Soluções Criativas em Comunicação Ldta.
Fotos da capa:
bigstochphoto.com e Prof. Pinho/UFMG
Impressão:
Imprensa Universitária
N.1- 1986 - Belo Horizonte, Centro de Extensão da Escola deVeterinária da UFMG, 1986-1998.
N.24-28 1998-1999 - Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e Zootecnia, FEP
MVZ Editora, 1998-1999
v. ilustr. 23cm
N.29- 1999- Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e Zootecnia, FEP MVZ
Editora, 1999¬Periodicidade irregular.
1.Medicina Veterinária - Periódicos. 2. Produção Animal - Periódicos. 3. Produtos de Origem Animal, Tecnologia
e Inspeção - Periódicos. 4. Extensão Rural - Periódicos.
Retroviroses Animais
Jenner K. P. Reis
Retrovírus 11
Figura 1. Gatos positivos para FIV em abrigos.
Leucose aviária
Amanda Soriano Araújo1 entre todos há similaridades em proteí-
Zélia Inês Portela Lobato2
Nelson Rodrigo da Silva Martins2*
nas internas e comuns ao gênero [1, 2,
3, 4].
1. Introdução O retrovírus mais comum identi-
O complexo leucose/sarcoma das ficado em doenças neoplásicas de gali-
aves é um termo genérico utilizado para nhas é o vírus da leucoselinfoide aviária
designar uma grande variedade de tu- (ALV). Além de ser responsável pelo
mores benignos e malignos em espécies desenvolvimento de tumores nos ová-
de aves, causados por diversos vírus da rios, rins, testículos, fígado, pâncreas e
Família Retroviridae, capazes de induzir sistema nervoso, pode causar impacto
neoplasias em células das séries eritroi- negativo sobre a produção, eclosão e
de, linfoide e mieloide. Alguns Alphare- peso de ovos, ganho genético e morta-
trovírus aviários também podem causar lidade aviária. Este vírus pode estar pre-
transformação em outros tecidos (sar- sente em diferentes populações de aves
coma, fibrossarcoma, nefroblastoma, 1
Médica Veterinária, Mestre em Ciência Animal, ,
osteossarcoma, hemangioma, etc.). Em- DMVP, Escola de Veterinária/UFMG. amandaso-
rianovet@yahoo.com.br
bora com grande diversidade nas prote- 2
Professor Associado, Médico Veterinário, Mestre e
ínas associadas ao envelope, que resulta Doutor, DMVP, Escola de Veterinária/UFMG.
em grande número de subtipos do vírus, *autor para correspondência: nrsmart@gmail.com
Leucose aviária 37
que apresentem ou não sinais da doen- dicados da genética industrial.
ça, com plantéis apresentando redução
no desempenho ou tumores, com inter- 2. Etiologia
ferência negativa em sua produtividade. Os vírus do complexo leucose/
Fatores relacionados ao manejo e doen- sarcoma das aves (ALV) estão clas-
ças concomitantes podem influenciar sificados no gênero Alpharetrovirus,
nas características de produção de lotes na família Retroviridae [2, 3, 4, 5,
infectados [1, 2, 3]. 6]. Estão descritos dez subgrupos, A,
O primeiro relato da doença foi B, C, D, E, F, G, H, I e J, com base
descrito em 1868 por Roloff, porém foi em diferenças nas glicoproteínas
em 1910 Francis Peyton Rous (1879- do envelope viral. O envelope viral
1970), em trabalho agraciado com prê- contém alto conteúdo lipídico, sen-
mio Nobel em fisiologia e do que o vírus perde sua
medicina, demonstrou sua Francis Peyton infectividadequando ex-
etiologia viral [2,3, 4]. Vá- Rous (1879- posto ao éter, clorofórmio
rios subgrupos do vírus fo- 1970), em
e detergentes. Os vírions
ram descritos ao longo des- trabalho
são estáveis à temperatura
tes cem anos, mas foram os agraciado com
prêmio Nobel ambiente (22°C) quando
subgrupos A e B os respon- submetidos ao intervalo
sáveis por grandes perdas
em fisiologia
e medicina, de pHentre cinco e nove,
por leucose linfoide nas dé- embora nesta faixa sejam
demonstrou sua
cadas de 70 e 80, em linha-
etiologia viral em inativados em algumas ho-
gens de postura. Programas 1910. ras a 37ºC.
de erradicação implantados Segundo os mecanis-
contra esses dois subgrupos mos naturais de transmis-
foram bem-sucedidos, diminuindo o são, os vírus relacionados à leucemia
impacto da leucose na avicultura indus- aviária podem ser assim classifica-
trial naquelas décadas. dos:
Em 1989, Payne e colaboradores • Vírus exógenos: subgrupos A, B,
[4] identificaram um novo subgrupo de C, D, F, G, H, I e J. Induzem uma
retrovírus associado a tumores em aves. variedade de tumores, sendo trans-
Diferente dos subtipos A, B, C, D e Eaté mitidos como partículas virais in-
então isolados, o novo subgrupo, deno- fecciosas, de ave para ave ou con-
minado J, foi isolado de um tumor mie- genitamente, da galinha para sua
loide, e não linfoide, em reprodutoras progênie por meio do ovo.
pesadas.Hoje, tanto os subgrupos A, B, • Vírus endógenos: subgrupo E. Rara-
C, D e E como o subgrupo J estãoerra- mente oncogênicos, estão integrados
38 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012
ao genoma de células responsável pela transcri-
Evidências sugerem
germinativas de aves nor- ção reversa do RNA viral
que o subgrupo
mais, sendo transmitidos em DNA;
J surgiu como
geneticamente para am- • Gag: gene que codifica
resultado de uma
bos os sexos. para proteínas do nucleo-
recombinação
Evidências sugerem gênica entre outro
capsídeo viral. A proteína
que o subgrupo J surgiu p27 é comum a todos os
subgrupo exógeno e
como resultado de uma sequências genéticas subgrupos de retrovírus
recombinação gênica aviário, sendo antígeno
do subgrupo E
entre outro subgrupo grupo específico. Alguns
endógeno
kits comerciais de diagnós-
exógeno e sequências
tico (ELISA de captura)
genéticas do subgrupo E
detectam a p27, permitindo o diag-
endógeno [4,5]. O subgrupo J apre-
nóstico de leucose aviária,embora sem
senta frequentes mutações, resultan- a caracterização do subtipo viral.
do em variações antigênicas associa-
das com mudanças no envelope viral,
que faz com que o vírus usualmente 3. Epidemiologia
escape da neutralização por anticor-
pos. O protótipo do grupo é a estirpe 3.1. Hospedeiros naturais
HPRS-103 [4].
As galinhas são hospedeiros natu-
Os subgrupos exógenos do ALV
rais dos vírus, mas estes já foram iso-
possuem os três genes característicos
lados de faisões, perdizes e codornas.
dos retrovírus:
Algumas linhagens de galinhas são mais
• Env: gene que codifica para proteínas
susceptíveis aos subgrupos A a E que
do envelope viral. A glicoproteína
gp85 é distinta antigenicamente entre outras, porém não há diferença na sus-
os vários subgrupos virais. Também ceptibilidade ao subgrupo J. Linhagens
codifica a proteína integrase, responsá- de corte são mais susceptíveis a tumores
vel pela ligação do vírus aos recepto- que poedeiras comerciais.Imunossu-
res da célula hospedeira. As proteínas pressão e/ou estresse podem aumentar
codificadas por este gene induzem à a susceptibilidade das aves aos tumores.
produção de anticorpos neutralizan- Seres humanos não são susceptíveis à
tes em aves imunocompetentes.Os infecção pelos vírus relacionados à leu-
ALVendógenos (subgrupo E) são de- cose aviária nem às frações genômicas e
fectivos no gene Env; proteicas encontradas em vacinas vivas
• Pol: gene que codifica para produção produzidas em ovos e células de gali-
de transcriptase reversa, que é a enzima nhas [7, 8].
Leucose aviária 39
3.2. Transmissão pos contra o ALV. Estas aves são virêmi-
cas vitalíciase transmitem o vírus para
A transmissão dos ví- sua progênie e para aves em
rus exógenos (Figura1) se convívio [2, 7]. Elas também
dá via vertical, congenita- Francis Peyton
Rous (1879- são mais susceptíveis ao de-
mente, do reprodutor ma- senvolvimento de tumores
cho e fêmea infectados, ou 1970), em
trabalho que as aves infectadas via
horizontal,por ambiente, horizontal, considerando-se
fômites e contato com ave agraciado com
prêmio Nobel que a doença tumoral está
infectada. Na transmissão principalmente associada à
horizontal, as vias de eli- em fisiologia
e medicina, infecção embrionária. Galos
minação do vírus podem virêmicos(ALV exógenos) e
ser secreções e excreções demonstrou sua
não virêmicos (ALV endó-
de aves infectadas, embora etiologia viral em genos) podem infectar gali-
a infecção indireta não seja 1910.
nhas por meio do sêmen.A
relevante, já que a partícula transmissão genética de
viral não é estável por muito tempo no ALV endógenos ocorre em reproduto-
ambiente. Uma importante via de trans- res com provírus integrado aos gametas
missão é o mecônio de pintos de um dia (Figura1). Em aves adultas
que foram infectados con- infectadas via horizontal, há
genitamente [2, 7]. A trans- A doença viremia transiente e geração
missão inicia-se na câmara tumoral está de resposta imune, com a
de eclosão (nascedouro), principalmente formação de anticorpos neu-
pois nele há altas concentra- associada tralizantes. A leucose linfoi-
ções do vírus. Na transmis- à infecção de tem sido mais descrita em
são vertical, há passagem embrionária. fêmeas (poedeiras) que em
de uma grande quantidade machos, tendo em vista os
de vírus do oviduto da ga- grandes plantéis de fêmeas para a pro-
linha para o albúmen do ovo, e deste, dução de ovos, e, geralmente, não ocor-
finalmente, para o embrião em desen- re antes da maturidade sexual [2, 7].
volvimento. Na infecção embrionária,
os antígenos do ALV são apresentados 4. Patogenia
ao sistema imune em desenvolvimen-
to, gerando uma condição de tolerância
Leucose linfoide
imunológica, em que o vírus é reconhe-
cido como próprio. Não há, nas aves in- Na leucose linfoide, também de-
fectadas verticalmente, resposta imune, nominada linfomatose visceral, os lin-
representada, por exemplo, poranticor- foblastos B da bursa de Fabricius são
40 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012
Vírus exógeno Vírus
horizontal endógeno
ou Vírus
infectante Viremia transiente;
desenvolve imunidade
para ALV exógeno; Genética
Vírus exógeno
leucose infóide rara
vertical (congênito)
DNA viral integrado
ou ao DNA dos
Vírus ovo semen gametas
infectante
Figura 1. Transmissão vertical e horizontal dos vírus exógenos e genética dos vírus endóge-
nos da leucose linfóide aviária (ALV). (Fadly e Payne, 2003).
Fonte das figuras 1 a 2 fotos: Prof Dr Nelson Rodrigo Martins
Figura 2. Tumores em galinha com leucose linfóide. A. Tumor na bursa de Fabricius (seta).
B. Tumores arredondados na face serosa do intestino delgado
Leucose aviária 45
biosseguridade, com higiene e desin- S.M. et al. Development and application
fecção ambiental nos núcleos de re- of reverse transcriptase nested polymerase
produtores [9, 11, 13]. chain reaction test for detection of exoge-
nous avian leukosis virus. Avian Dis, v.47,
n.1, p.41-5. 2003.
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1997. 2178,1980.
Leucose aviária 47
Figura 1. Colostro termizado administrado em mamadeira.
6. Diagnóstico
O diagnóstico fundamenta-
se no quadro clínico (presente
em apenas 30% das infecções)
consolidado por provas labora-
toriais para detecção direta ou
indireta da infecção, somando-
se ao histórico do animal e do
rebanho. O isolamento viral, a
microscopia eletrônica, a reação
em cadeia de polimerase (PCR) Figura 2. Poliartrite em reprodutor caprino por CAEV.
54 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012
lentiviroses. Para isto, as técnicas mais A associação entre os testes sorológicos
utilizadas são a imunofluorescência in- e a PCR pode potencializar a detecção
direta (RIFI), testes imunoenzimáticos do CAEV em animais infectados [39].
(ELISA, immunoblotting) e, principal- Como exemplo, na erradicação em todo
mente, o IDGA (imunodifusão em gel o rebanho, a PCR poderia ser utilizada
de ágar), que é a técnica mais utilizada e para testar amostras de animais sorone-
a recomendada pela OIE (Organização gativos. Em programas de reprodução, o
Internacional de Epizootias), em função teste de amostras de sangue e sêmen de
de seu baixo custo e alta especificidade animais soronegativos ao IDGA ou ELI-
[3,48]. SA pode diminuir o risco
Existem reações No monitoramento dos da utilização de reprodu-
cruzadas entre os vírus programas de controle tores falso-negativos.
CAEV e MVV, entretanto de LVPR, por razões Não existe tratamen-
a utilização do antígeno técnicas econômicas, to para a enfermidade;
produzido com o vírus recomenda-se, nos uma vez que o animal
homólogo (CAEV para o primeiros dois anos, o encontra-se infectado,
diagnóstico da CAE) au- diagnóstico por IDGA. torna-se portador para
menta em 30% a eficiên- o resto da vida. Deve-se
cia do diagnóstico [49]. verificar diagnóstico di-
No monitoramento dos programas ferencial com a micoplasmose, na qual
de controle de LVPR, por razões téc- os animais apresentam-se febris, com
nicas econômicas, recomenda-se, nos pleuropneumonia ou ceratoconjun-
primeiros dois anos, o diagnóstico por tivite, e o fluido sinovial com aspecto
IDGA (de menor custo, não requer fibrinopurulento. A confirmação des-
equipamentos e possui alta especificida- te diagnóstico é realizada por cultura,
de, com maior habilidade para detecção com utilização de meio apropriado para
dos verdadeiramente positivos), e, a par- Mycoplasma.
tir daí, os testes ELISA ou western blot,
que apresentam maior habilidade de 7. Prevenção e controle
detecção dos animais verdadeiramente As medidas a serem adotadas va-
negativos (alta sensibilidade). riam de acordo com o status sanitário
Rebanhos fechados podem ser con- do plantel [50,51].
siderados negativos para LVPR, após Em plantéis indenes:
o teste semestral de todo o plantel du-
rante dois anos (quatro testes consecu- • é recomendável somente adquirir ca-
tivos), sempre com todos os resultados prinos ou ovinos de plantéis livres, ou,
negativos nos testes sorológicos [50]. ainda que com certo risco, efetuar no
Lentiviroses de pequenos ruminantes 55
mínimo dois testes
sorológicos inter-
valados de 60 dias,
com resultados ne-
gativos;
• manter em isola-
mento por 90 dias
qualquer animal que
esteja retornando de
exposições, repro-
dutores empresta-
dos, ou qualquer ou-
tra forma de possível
infecção, e somente
retornar ao plantel Figura 3. Poliartrite em reprodutor caprino por CAEV. Em detalhe.
após dois testes so-
rológicos negativos, entre cria e matriz;
intervalados de 60 dias; • fornecimento de colostro artificial ou
• somente utilizar reprodutores soro- termizado a 56oC durante 60 minu-
negativos. No caso de inseminação tos;
artificial, somente adquirir lotes de sê- • aleitamento artificial dos filhotes com
men testados por PCR para pesquisa leite fervido durante cinco minutos,
de LVPR. procedente de fêmeas soronegativas,
ou, preferencialmente, leite de vaca in
Em plantéis infectados: natura ou em pó;
Após o diagnóstico sorológico da • testes sorológicos semestrais, quando
infecção no plantel, se a prevalência for possível em todos os animais; se não
for possível, testar uma amostragem
baixa (até 5%), é economicamente mais
estratificada significativa (30% de ma-
viável o sacrifício dos soropositivos, se-
trizes mais velhas ou com sintomas,
guido de sorologias semestrais.
30% de jovens e todos os reproduto-
No caso de animais de alto valor ou res);
de rebanhos com média ou alta preva- • separação de animais soropositivos
lência sorológica inicial, as medidas a dos soronegativos;
seguir são recomendadas: • separação dos animais jovens de adul-
• parto assistido ou induzido e assistido, tos;
seguido da separação das crias logo • importação de animais de áreas inde-
após o nascimento, para evitar contato nes, com exigência de testes sorológi-
56 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012
cos negativos, sendo estes testes rea- doadoras positivas, cujos embriões
lizados antes e durante a quarentena, devidamente lavados com tripsina,
só introduzindo no rebanho animais conforme normas da IETS, são trans-
soronegativos em dois testes interca- feridos para receptoras soronegativas.
lados de 60 dias, período no qual os O monitoramento das medidas sa-
animais devem permanecer isolados; nitárias e de manejo é fundamental para
• Em plantéis voltados à produção lei- o sucesso dos programas de controle. A
teira, estabelecer uma linha de orde- periodicidade dos exames e o tipo de
nha, ordenhando fêmeas soronega- técnicas de diagnóstico são variáveis
tivas anteriormente às soropositivas, segundo a modalidade epidemiológica,
assim como as mais jovens antes das determinada com base na prevalência
sorológica inicial dos rebanhos e, ain-
mais velhas e, em casos de ordenha
da, com o estágio do desenvolvimento
mecânica, desinfecção rigorosa do
do programa sanitário implantado. Nas
equipamento para uso entre animais e
etapas mais avançadas, é recomendável
entre ordenhas; a utilização de técnicas mais sensíveis
• os reprodutores e rufiões deverão ser (ELISA, western blot) e menor periodi-
testados no máximo 30 dias antes e 30 cidade (exames bi ou quadrimestrais).
dias depois da estação de monta, em
função da possibilidade de transmis- Agradecimentos
são venérea ou por contato direto; À Fundação de Amparo à Pesqui-
• as matrizes deverão ser testadas no sa do Estado de Minas Gerais (FAPE-
máximo 30 dias antes da cobrição e 60 MIG).
dias após o parto, devido à ocorrência
de soroconversão ligada a fatores hor- Referências Bibliográficas
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Lentiviroses de pequenos ruminantes 57
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*Autor para Correspondência: Laboratório de Retroviroses, Departamento de Medicina Veterinária Preventi-
va, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Antônio Carlos, 6627, Caixa Postal 567,
Campus da UFMG, CEP 30123-970. Belo Horizonte, MG. Email: mabryan@ufmg.br
62 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012
aparecendo casos agudos com morte de risco, como veterinários, vaqueiros,
em animais acima de seis anos de idade. técnicos de laboratório e funcionários
Sua importância econômica está asso- de matadouros, já foram testados sem
ciada à forma clínica da doença, mas há que nenhum anticorpo específico con-
indícios de que a forma subclínica tam- tra o VLB fosse encontrado [3].
bém afeta a produtividade dos animais.
Apesar disso, a maioria dos produtores 3. Epidemiologia
e técnicos desconhece sua importância
como fonte significativa de prejuízos, o 3.1. Distribuição
que torna seu controle ainda mais difí-
cil. Desde a primeira descrição de for-
mações nodulares associadas à leucose
2. Etiologia enzoótica bovina (LEB), ocorrida na
Europa [4], a doença se disseminou e
A doença é causada por um Delta-
atualmente está presente em diversos
retrovirus exógeno, o vírus da leucose
países do mundo. Por ser uma enfer-
bovina (VLB), que infecta preferencial-
midade de alta morbidade, os rebanhos
mente linfócitos B, podendo também infectados alcançam altas taxas de infec-
infectar linfócitos T, monócitos e gra- ção.
nulócitos [5]. O VLB pertence ao mes- Acredita-se que a Europa tenha sido
mo gênero que os vírus linfotrópicos T a origem da infecção, introduzindo o
humanos (HTLV) e, dessa forma, eles vírus na América do Norte pela impor-
apresentam semelhanças estruturais, tação de animais. Alguns países da Eu-
genéticas e de patogenicidade [1]. A ropa conseguiram sua erradicação após
partícula vírica é complexa e o genoma longos períodos de controle. Após a Se-
contém os genes comuns aos outros re- gunda Guerra Mundial, a exportação de
trovírus, além dos genes Tax e Rex, cuja animais pelos países norte-americanos
função está relacionada à expressão ge- levou a disseminação do VLB para o
nética do vírus [2]. Comparativamente restante do mundo [5].
com outros retrovírus, o VLB apresenta A prevalência da infecção no mundo
menor variabilidade genética, devido à varia, com índices de 3,3% no Japão [6],
menor taxa de mutação da transcriptase atingindo níveis elevados, com cerca de
reversa [1]. 86% dos rebanhos no Canadá [7].
O vírus já foi detectado no leite de No Brasil, a leucose enzoótica bo-
vacas infectadas, levantando suspeitas vina foi descrita pela primeira vez por
sobre a possibilidade de transmissão Rangel e Machado, em 1943 [8], e a
para humanos por meio do consumo de ocorrência tem uma variação muito
produtos de origem animal. Populações grande entre os estados, como demons-
Leucose enzoótica bovina 63
trado na Tabela 1. Tabela 1. Prevalências de bovinos soropositivos aos
O estudo epide- antígenos do VLB pelo teste de IDGA, distribuídas
miológico da LEB segundo regiões e estados do Brasil.
deve basear-se em ANO ESTADOS PREVALÊNCIA (%)
Região Sudeste
características da po-
1994 São Paulo 4,1
pulação, do rebanho e 1997 São Paulo 29,8
da propriedade, como 1998ª São Paulo 54,0
o tipo de produção, a 2000 São Paulo 19,78 – 21,11
idade dos animais, o 2003 São Paulo 52,0
1981 Rio de Janeiro 53,3
tamanho do rebanho 1982 Rio de Janeiro 27,0
e o sistema de manejo. 1984 Minas Gerais 1,7
As medidas de manejo 1988 Minas Gerais 23,0
estão intimamente liga- 2002 Minas Gerais 38,7
Região Sul
das à disseminação da
1994 Paraná 7,0
doença, uma vez que 1996 Paraná 18,4
o maior contato entre 1996 Rio Grande do Sul 9,2
os animais, o estresse 2004 Rio Grande do Sul 23,5
causado pelo mane- 2001 Santa Catarina 7,6
Região Nordeste
jo intensivo e a maior 1991 Bahia 16,1
manipulação pelo 2005 Bahia 41,0
homem aumentam a 1991 Pernambuco 15,1
taxa de transmissão. 1994 Ceará 10,5
A idade dos animais é 1997 Sergipe 8,8
outro fator importan- 1998 Paraíba 8,3
1999 Alagoas 10,6
te relacionado à maior 2001 Rio Grande do 5,1
ocorrência da doença, Norte
uma vez que o período 2001 Piauí 16,9
de incubação da LEB 2003 Pernambuco 16,0
Região Norte
é longo e a sintomato-
1990 Acre 9,7
logia manifesta-se, ge- 1990 Rondônia 23,0
ralmente, em animais 1999 Pará 26,0
acima de cinco anos 2003 Amazonas 9,6
de idade [10]. Portan- 2007 Tocantins 37,0
Região Centro-Oeste
to, rebanhos leiteiros 1991 Goiás 13,2 – 36,5
apresentam maior in- 2000 Mato Grosso do 22,0
cidência da doença, já Sul
que as medidas de ma- Fonte: Adaptada [9].
64 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012
nejo nesse tipo de criação favorecem a instrumental médico-veterinário (fômi-
disseminação do agente e a ocorrência tes) sem adequada desinfecção, em situ-
de sinais clínicos [11]. ações como aplicação de medicamen-
tos, castração, descorna, palpação retal,
3.2. Cadeia epidemiológica tatuagem, marcação e procedimentos
cirúrgicos em geral [12].
3.2.1. Espécies susceptíveis O contato íntimo entre animais per-
mite a transmissão por insetos (tabaní-
A infecção natural com VLB foi de- deos) em regiões tropicais, desde que a
tectada somente em bovinos, capivaras, infestação destes seja alta [11].
bubalinos e ovinos [3,5]. Cerca de 10% dos animais podem se
3.2.2. Transmissão infectar pela forma vertical, sendo que a
transmissão transplacentária geralmen-
A transmissão do VLB ocorre quan- te ocorre a partir de fêmeas com linfo-
do linfócitos infectados são transferidos citose persistente ou linfoma [10]. Em
de um animal para outro susceptível, já estudo sobre a transmissão intrauterina,
que a viremia ocorre de forma rápida e demonstrou-se que bezerros infectados
por um curto período após a infecção. ao nascimento nasceram
O sangue é a principal de vacas com linfocitose
fonte de infecção, mas A transmissão
persistente, indicando
outras secreções, como horizontal é a via
que este estado pode
saliva, secreção nasal e de maior relevância
representar um fator as-
uterina, podem conter o para a infecção,
sociado com a infecção
vírus [12]. Em infecção principalmente por
do VLB no útero [14].
experimental, a dose in- meio da reutilização de A transmissão por trans-
fectante mínima determi- instrumental médico-
ferência de embriões não
nada foi de 103 linfócitos, veterinário (fômites)
foi observada [15].
equivalente ao número sem adequada
Já a ingestão de leite
de células presentes em desinfecção.
ou colostro de vacas in-
aproximadamente 0, µL fectadas pode transmitir
de sangue [13]; deste modo ,qualquer o LBV, embora em menor frequência
procedimento que envolva transferên- que pelo contato direto. No entanto, an-
cia sanguínea, mesmo que em pequenos ticorpos presentes no colostro podem
volumes, tem grande risco de transmitir bloquear a infectividade viral e reduzir a
o vírus. possibilidade de transmissão [16].
A transmissão horizontal é a via de Apenas sêmen contendo leucócitos
maior relevância para a infecção, prin- e com alta carga viral pode transmitir o
cipalmente por meio da reutilização de vírus, quadro geralmente resultante de
Leucose enzoótica bovina 65
traumas, inflamação ou coleta inade- animais podem evoluir para o quadro
quada [17]. de linfocitose persistente, resultante
do aumento no número de linfócitos B
4. Patogenia circulantes por períodos prolongados
A viremia é detectada somente nas [20]. O quadro de linfocitose persis-
duas primeiras semanas após a infecção, tente é definido como o aumento no
e a detecção de partículas virais no san- número de linfócitos circulantes em
gue periférico é difícil. O provírus inte- três ou mais desvios padrões acima da
grado é capaz de expandir por meio da média, de acordo com padrões raciais
divisão celular da célula infectada, pos- e etários, mantendo esse aumento por
sibilitando a manutenção do VLB no pelo menos 90 dias [21]. Essas altera-
organismo [4]. ções hematológicas são resultantes de
Os mecanismos celulares envolvi- um desequilíbrio entre a proliferação e
dos na transformação de linfócitos B in- a morte celular, seja pela capacidade do
fectados e que resultariam na formação vírus em aumentar a proliferação celular
de linfomas ainda não são totalmente [22] ou reduzir a apoptose [23] dos lin-
esclarecidos. As proteínas codificadas fócitos infectados.
Tax e G4 são apontadas como impor- Como a infecção permanece por
tantes para a tumorogênese da leucose, toda a vida do hospedeiro, ocorre uma
pois estão envolvidas na transformação redução na resposta imunológica após
celular, levando à imortalização das cé- longo período de infecção, o que pode
lulas infectadas [18,19]. resultar na manifestação clínica tardia
da doença e aumentar a susceptibilida-
5. Manifestações clínicas de a outras infecções, como mamites e
A LEB apresenta uma alteração lin- pododermatites [4].
foide crônica persistente, cuja patoge- Massas tumorais (linfomas) podem
nicidade depende de fatores do hospe- se desenvolver em até 5% dos animais
deiro, e as manifestações infectados, geralmente
clínicas podem ser diver- acometendo animais
A maioria dos animais
sas. A maioria dos animais acima de cinco anos de
infectados apresenta-se
infectados apresenta-se idade [5].
clinicamente saudável,
clinicamente saudável, As manifestações clí-
com apenas 1% de
com apenas 1% de célu- nicas são resultantes da
células infectadas,
las infectadas, sendo o formação de tumores, e
sendo o animal
animal assintomático um a gravidade do quadro
assintomático um
importante transmissor clínico depende dos ór-
importante transmissor
do vírus [5]. gãos afetados, podendo
do vírus .
Cerca de 30% destes
66 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012
ocorrer no abomaso, útero, pulmões, progressão da doença, ocorre a redução
coração, baço, rins, trato urinário e di- nos níveis de citocinas, além de redução
versos linfonodos. As alterações clínicas da atividade fagocítica de leucócitos,
mais comuns são inapetência, indiges- causando debilidade do sistema imuno-
tão, timpanismo persistente, perda de lógico [24,25].
peso, diarreia, exoftalmia, paralisia de
membros e alterações neurológicas por
7. Importância econômica
compressão de nervos. Outras formas A LEB pode causar perdas diretas,
menos graves de comprometimento cujos custos estão associados à manifes-
têm sido constatadas em rebanhos bovi- tação clínica, como queda na produção
nos, gerando grandes prejuízos. Dentre dos animais infectados, morte ou descar-
essas manifestações, pode-se relacionar te de animais, condenação de carcaças
a infertilidade pela formação de tumo- em matadouros, custos com tratamen-
res no útero, partos distócicos e a dimi- tos e gastos com reposição de animais
nuição da produção leiteira [5]. mortos ou descartados precocemente
[26,27]. Além disso, a doença pode ge-
6. Resposta imune rar perdas indiretas, geralmente associa-
A resposta humoral contra o VLB é das às barreiras à exportação de animais
forte e os anticorpos específicos contra e produtos de origem animal, como
os antígenos virais podem ser detecta- sêmen e embriões. Embora a transmis-
dos de quatro a 16 semanas são do vírus não ocorra por
meio da transferência de
após a infecção. Anticorpos A LEB pode
embriões ou pela utilização
maternos desaparecem en- causar perdas
de sêmen de boa qualidade
tre seis e sete meses após a diretas, cujos
e coletado adequadamente,
administração do colostro. custos estão
muitos países impõem bar-
Deve-se ressaltar que não associados à
reiras à importação desse
existe possibilidade de dife- manifestação
clínica, como material. Tais exigências dos
renciar anticorpos transfe- países importadores podem
ridos por meio da ingestão queda na
produção gerar prejuízos não apenas
do colostro com aqueles para as centrais de insemi-
dos animais
oriundos de uma infecção
infectados, morte nação, mas também para as
ativa.
ou descarte indústrias do leite e da car-
A infecção pelo VLB
de animais, ne, já que derivados lácteos e
parece ser imunossupres-
condenação de cárneos também estão sujei-
sora, apesar da ausência de
carcaças em tos a estas restrições [28].
doença debilitante por lon-
matadouros. Além de animais clini-
gos períodos [4]. Com a
Leucose enzoótica bovina 67
camente afetados, os gicos baseados em chaves
A IDGA apresenta
animais assintomáticos leucocitárias podem ser
alta especificidade e é
podem gerar prejuízos utilizados para detectar
amplamente utilizada,
ao produtor. Animais in- a linfocitose persistente,
pois é uma técnica de
fectados assintomáticos por meio da contagem
fácil realização e baixo
apresentam maior taxa de do número de linfócitos
custo
descarte que animais não circulantes [21]. Entre-
infectados em rebanhos tanto, com o advento dos
leiteiros [29], o que pode estar relacio- exames sorológicos para detecção de
nado a um efeito negativo da infecção anticorpos específicos contra o VLB, o
pelo VLB na produção de leite, já que diagnóstico hematológico utilizado no
nesse tipo de criação a permanência do passado caiu em desuso, visto que exis-
animal no rebanho depende da sua pro- tem diversos fatores que podem inter-
dutividade. Alguns autores observaram ferir nos constituintes sanguíneos dos
uma redução significativa na produção animais. Os testes sorológicos baseiam-
de leite de vacas infectadas em relação se principalmente na detecção de anti-
às não infectadas [30,31]. No entanto, a corpos para a glicoproteína do envelope
eficiência reprodutiva de vacas infecta- viral gp51 e são frequentemente utili-
das parece não estar afetada, no que diz zados, já que o animal infectado com o
respeito a intervalo entre partos, taxa de
VLB permanece portador durante toda
parição e dias em aberto [29,32].
a vida, mantendo-se soropositivo [36].
O vírus já foi detectado tanto em
A soroconversão geralmente pode ser
linfócitos [33] quanto nas células epite-
observada após 50 dias da infecção [2].
liais da glândula mamária [34], e é capaz
Tanto a imunodifusão em gel de ágar
de iniciar a transformação dessas células
(IDGA) como os testes imunoenzimá-
mamárias e levar à redução na produção
ticos (ELISA) são provas de referência
de caseína in vitro [35], o que pode estar
da Organização Mundial de Saúde Ani-
relacionado ao efeito negativo da infec-
mal para o diagnóstico do LBV [37]. A
ção na produção de leite.
IDGA (Tabela 2) apresenta alta especi-
ficidade e é amplamente utilizada, pois
8. Diagnóstico
é uma técnica de fácil realização e baixo
O diagnóstico da LEB é fundamen- custo [38]. O ELISA apresenta maior
tal para o controle e a erradicação da do- sensibilidade frente ao IDGA e ainda
ença. Mesmo na presença de sinais com- pode ser utilizado em amostras de leite
patíveis com a infecção, o diagnóstico da [36].
leucose deve ser sempre confirmado por As técnicas sorológicas, entretanto,
exames laboratoriais. Exames hematoló- podem gerar resultados falsos (negati-
68 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012
Tabela 2. Interpretação dos resultados obtidos na sorologia (IGDA ou ELISA)
para o diagnóstico do vírus da leucose bovina
Idade Resultado Características Interpretação
Retestar 3 meses após o
Contato com animal infecta-
contato com o bovino infec-
do há menos de 3 meses
Negativo tado
Contato com animal infecta-
Animal não infectado
do há mais de 3 meses
Menos de Nascido de vaca soronega-
7 meses tiva ou não ingeriu colostro Animal infectado
de vaca soropositiva
Positivo Nascido de vaca infectada:
Retestar após 7 meses de
impossível distinguir anticor-
idade ou usar outra técnica,
pos resultantes de infecção
como o PCR
ou maternais
Positivo Animal infectado
Retestar 3 meses após o
Contato com animal infecta-
Mais de contato com o bovino infec-
do há menos de 3 meses
7 meses Negativo tado
Contato com animal infecta-
Animal não infectado
do há mais de 3 meses
abate de animais positivos, deve ser pre- siderado livre do VLB, ele deve seguir
conizada em rebanhos cuja prevalência os seguintes requisitos: i) não ter tido
é baixa ou em rebanhos de alta genética, evidências da infecção pelo VLB num
pois apresenta custo muito elevado, po- período de pelo menos dois anos, ou
dendo inviabilizar a atividade econômi- seja, sem sinais clínicos tanto no exame
ca. Em rebanhos com alta prevalência, ante como no pós-mortem; ii) todos os
pode-se utilizar o sistema de segregação, animais acima de 24 meses de idade de-
em que se faz a identificação e a sepa- vem ter sido submetidos a pelo menos
ração de animais positivos, porém este dois testes sorológicos (IDGA ou ELI-
tipo de esquema requer maior espaço, SA), com resultado negativo com inter-
pois resulta em dois rebanhos em uma valos não menores que quatro meses e
única propriedade. O esquema de im- durante um período de 12 meses; iii) só
plantação de medidas corretivas, com introduzir animais no rebanho, se forem
identificação de positivos e mudanças no oriundos de outro rebanho livre ou se
manejo da propriedade, apresenta baixo forem testados por pelo menos duas ve-
custo, mas é necessário o cumprimento zes com testes negativos com intervalo
das medidas de controle citadas ante- de quatro meses entre eles e segregados
riormente, o que requer longo tempo do rebanho original; iv) adquirir sêmen
para gerar resultados [41]. Ressalta-se apenas de touros de rebanhos livres ou
que, em qualquer esquema de controle, ,se o touro tiver menos de dois anos,
devem ser realizadas medidas corretivas somente se a mãe for negativa, ou usar
de manejo que impeçam a transmissão. o sêmen de touros testados duas vezes
Pela Organização Mundial de Saú- com resultados negativos, sendo que o
de Animal, para um rebanho ser con- primeiro teste deve ser 30 dias antes e
Leucose enzoótica bovina 71
o segundo 90 dias depois da coleta do v. 65, n. 2, p. 287-289, 2003.
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ter resultados negativos com intervalos dairy cattle and herds in Alberta and agro-
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enfermidades animales por retrovirus: leu-
74 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012
Figura 1. Lâmina de Imunodifusão em Agar Gel para o sorodiagnóstico de animais infecta-
Fonte das figuras 1 a 3 fotos: Prof Dr Jenner Karlinson Pimenta dos Reis
Anemia infecciosa
equina
1. Introdução Elizângela Maira dos Santos1,
Rômulo Cerqueira Leite2,
A anemia infecciosa equina (AIE),
Jenner Karlisson Pimenta dos Reis3*
também conhecida como febre dos pân-
tanos, é uma doença crônica de equíde- 1Bióloga, Doutora em Ciência Animal, DMVP, Escola
os que são persistentemente infecta- de Veterinária/UFMG.
dos pelo equine infectious anemia virus
2
Professor Titular, Médico Veterinário, Doutor em
Ciência Animal, DMVP, Escola de Veterinária/
(EIAV). A AIE foi descrita como uma UFMG.
doença infecciosa dos equídeos por ve- 3Professor Associado, Farmacêutico-Bioquímico,
terinários na França, em 1843. Em 1904 Doutor em Ciência Animal, DMVP, Escola de Ve-
terinária/UFMG.
a doença foi associada a organismos
*Autor para Correspondência: La-
infecciosos denominados boratório de Retroviroses, Depar-
“agentes filtráveis”, sendo A AIE representa tamento de Medicina Veterinária
Preventiva, Escola de Veterinária,
a primeira doença animal um grande Universidade Federal de Minas Ge-
descrita causada por vírus. obstáculo ao rais, Av. Antônio Carlos, 6627, Caixa
A AIE representa um gran- desenvolvimento da Postal 567, Campus da UFMG, CEP
30123-970. Belo Horizonte, MG.
de obstáculo ao desenvol- equideocultura. Email: jenner@ufmg.br
Leucose enzoótica bovina 75
vimento da equideocultura, por ser uma as geográficas de clima quente e úmido,
doença transmissível e incurável. refletindo a importância da transmissão
por insetos tabanídeos hematófagos da
2. Etiologia ordem Diptera, e apresenta distribuição
O vírus da anemia infecciosa equina cosmopolita [3].
(EIAV) é membro do gênero Lentivirus Os dados oficiais da AIE em todo
e da família Retroviridae, sendo consi- o mundo não apresentam a verdadeira
derado um dos menores e mais simples prevalência da enfermidade, uma vez
vírus pertencentes a este gênero. Como que se referem, exclusivamente, aos exa-
todos os membros dessa família, o EIAV mes laboratoriais realizados para o trân-
contém três principais genes estruturais: sito intermunicipal ou interestadual e/
gag, pol e env [1]. O gene gag codifica as ou participação em eventos agropecuá-
proteínas p26, p15, p11 e p9 presentes rios controlados pelos serviços oficiais
no capsídio viral; o gene pol codifica as de defesa sanitária animal em cada país.
enzimas transcriptase reversa, integra- Estima-se que menos de 10% da popu-
se e protease; e o gene env codifica as lação tem sido testada para AIE, sendo
glicoproteínas estruturais de superfície que a maior parte do efetivo equídeo
gp90 (superfície externa) e gp45 (trans-
testado pertence a rebanhos de alto va-
membrana), sendo estas responsáveis
lor zootécnico nos quais a doença está
pela interação com os receptores da
controlada, e, em muitos casos, o mes-
célula-alvo e eventos de penetração ce-
mo animal é testado mais de uma vez
lular. Durante o curso da doença, a gli-
durante um curto período de tempo. O
coproteína de superfície gp90 apresenta
grande número de animais no campo
rápida evolução genética e antigênica
que não são submetidos ao diagnóstico
decorrente de mutações em algumas re-
representa um risco real para a manuten-
giões do genoma denominadas variáveis
[2]. Além dos principais genes estrutu- ção e a disseminação da doença, princi-
rais, o vírus possui os genes tat, S2 e rev palmente nos rebanhos não tecnificados
que codificam proteínas não estruturais ou de menor valor zootécnico.
responsáveis por vários aspectos da re- Atualmente a AIE é considerada
plicação viral com influência sobre sua uma enfermidade endêmica em Minas
patogenicidade. Gerais, com uma prevalência de 5,29%
para rebanhos e de 3,08% para animais
3. Epidemiologia de serviço, e as áreas Norte, Noroeste,
Vale do Mucuri e Jequitinhonha são as
3.1. Distribuição de maior prevalência no estado [4]. A
prevalência para haras é 0,44%, sendo
A doença é mais prevalente em áre- que para as regiões Norte / Nordeste é
76 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012
de 1,54%, para o Vale do Mucuri e Je- 3.2.2. Transmissão
quitinhonha 3,03% e para o Campo das
O sangue de cavalos contaminados
Vertentes e Zona da Mata é de 1%; para
é a principal forma de infecção para ani-
as outras regiões a prevalência foi zero.
mais susceptíveis, e a transmissão da
A prevalência por animais de haras no
doença envolve a transferência desse
estado foi de 0,07% [5].
material biológico [7].
Não existe nenhuma associação
A importância do proprietário, de
entre transmissão da AIE com idade,
pessoas que lidam diariamente com os
raça e sexo dos animais. No entanto,
animais ou de veterinários
os asininos (Equus asinus)
As condições na indução da infecção
demonstraram maior re-
ecológicas, a por meio de agulhas con-
sistência à replicação viral
população de taminadas e instrumentos
em infecções experimentais
cirúrgicos deve ser enfa-
com cepas patogênicas do insetos hematófagos
e a densidade tizada, pois o uso desses
EIAV e, consequentemente,
demográfica de materiais contaminados,
o aparecimento de sinais clí-
sem desinfecção de um
nicos. As condições ecológi- equídeos são fatores
cas, a população de insetos que determinam a animal para outro, tem
hematófagos e a densidade difusão da doença sido responsável por vá-
na natureza rios surtos da doença. Re-
demográfica de equídeos
sultados de estudos sobre
são fatores que determinam
a sobrevivência do EIAV
a difusão da doença na natureza [6].
em agulhas indicam que este vírus per-
manece infectivo por até 96 horas [8].
3.2. Cadeia epidemiológica
Os artrópodes vetores do EIAV per-
tencem à ordem Díptera (Stomoxys cal-
3.2.1. Hospedeiros naturais
citrans, Chrysops spp, Hybomitra spp),
A AIE acomete apenas os membros sendo os tabanídeos (Tabanus sp) os
da família Equidae, incluindo os equinos maiores responsáveis pela difusão da do-
(cavalos e pôneis), asininos (jumentos) ença. Como a transmissão é puramente
e os muares (mulas e burros). As zebras mecânica, nos vetores, o EIAV permane-
também são susceptíveis, apesar de não ce vivo por um período limitado de 30
existir nenhum registro oficial de infec- minutos a 4 horas, de modo que o inse-
ção nessa espécie. Não existe nenhu- to deve completar rapidamente o repas-
ma evidência da existência de infecção to sanguíneo infectado em um animal
natural ou experimental de humanos susceptível para que haja transmissão da
ou outras espécies de mamíferos pelo doença [9]. Embora a transmissão da
EIAV. AIE por insetos hematófagos seja con-
Leucose enzoótica bovina 77
siderada relativamente eficiente em ani- macrovasculares nos tecidos renais de
mais em períodos de viremia, o homem cavalos portadores inaparentes [11]. A
representa um potencial de transmissão infecção dos monócitos do sangue pelo
superior pela quantidade de sangue que EIAV resulta em uma infecção não pro-
consegue veicular. O volume de sangue dutiva, e a diferenciação de monócitos
residual em agulhas hipodérmicas é de infectados em macrófagos é necessária
aproximadamente 1.000 a para ativar a replicação vi-
10.000 vezes maior do que Embora a ral [12,13]. Este padrão
o volume transferido pelas transmissão da de infecção sugere que os
moscas hematófagas. AIE por insetos monócitos infectados com
Embora a transmissão hematófagos o vírus podem servir como
via sangue contaminado seja considerada “Cavalo de Troia”, dissemi-
tenha uma relevância des- relativamente nando a infecção do EIAV
tacada na epidemiologia eficiente em para os tecidos sem a de-
da AIE, todos os tecidos e animais em tecção do sistema imune
fluidos biológicos devem períodos de [1].
ser considerados potencial- viremia, o homem Os altos títulos de vire-
mente infectantes, especial-
representa um mia observados durante a
potencial de fase aguda estão associados
mente durante os episódios
transmissão com altos níveis de repli-
clínicos em que a carga viral
superior pela cação do vírus em tecidos
é alta. A transmissão da AIE quantidade
pode também ocorrer pela ricos em macrófagos, in-
de sangue que
placenta, em éguas com vi- cluindo fígado, baço, rins,
consegue veicular.
remia, as quais infectam o pulmão, linfonodos e glân-
feto ao nascer. Além desta dula adrenal. Os outros
forma de transmissão, foi detectado o tecidos parecem conter baixos níveis de
EIAV no leite/colostro e também no infecção viral, apesar dos altos níveis no
sêmen de garanhões com sinais agudos sangue [14].
da doença, sendo possível a transmissão A anemia decorre de uma hemólise
venérea, porém sem importância epide- de natureza imunológica, destacando a
miológica [10]. eritrofagocitose associada com a fração
C3 do complemento, e também de uma
4. Patogenia inibição da eritropoiese por citocinas
O alvo primário do EIAV in vivo são liberadas por macrófagos infectados, es-
células da linhagem monócito / macró- pecialmente o fator de necrose tumoral
fago, contudo tem sido relatada uma li- α (TNF α) e o fator β de transformação
mitada infecção em células endoteliais do crescimento (TGFβ).
78 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012
Figura 2. Animal
positivo para anemia
infecciosa eqüina
e gp90), é uma boa opção em casos de pela replicação ativa do vírus estão pre-
resultados discrepantes entre o IDGA e sentes apenas nas fases aguda e crônica
o ELISA, porém possui a desvantagem da doença e são descritas predominan-
de ainda não estar disponível comer- temente em infecções experimentais.
cialmente. Testes moleculares, como a Como destacado anteriormente, a
reação em cadeia da polimerase (PCR), maioria dos animais no campo está em
também têm sido descritos, porém seu fase assintomática e nenhum sinal clí-
uso está restrito, pelo menos até o mo- nico aparente poderá ser encontrado,
mento, a laboratórios de pesquisa [26]. exceto em casos de reagudização da do-
As lesões e as alterações hematoló- ença provocada por estresse ou drogas
gicas compatíveis com AIE provocadas imunossupresoras, como os corticoes-
Leucose enzoótica bovina 83
teróides. Contudo, deverá são medidas fundamentais
todo programa de
ser feito o diagnóstico dife- para que a transmissão seja
controle da AIE
rencial com hepatite, babe- evitada. O controle dos ta-
será bem-sucedido
siose, helmintoses e proble- banídeos, especialmente
se acompanhado de
mas nutricionais. em países tropicais, é prati-
educação sanitária
camente impossível de ser
8. Prevenção e de toda a cadeia
realizado, porém uma dis-
tratamento produtiva da AIE,
tância de 183 metros entre
com destaque
Como a AIE não tem os animais portadores ou
para veterinários e
tratamento nem vacina efi- suspeitos e negativos pode
criadores.
caz, o controle por meio do evitar a transmissão pelo
diagnóstico laboratorial é vetor. Outra importante
essencial, permitindo a identificação, o medida viável é a quarentena de ani-
isolamento e a eutanásia ou a segregação mais a serem introduzidos nos rebanhos
dos animais soropositivos [3]. Somente com reteste após este período. Adicio-
em países como China e Cuba tem sido nalmente, todo programa de controle
executado um programa de vacinação da AIE será bem-sucedido se acompa-
usando amostras atenuadas do EIAV, nhado de educação sanitária de toda a
que parece proteger os animais apenas cadeia produtiva da AIE, com destaque
contra amostras homólogas do vírus ou para veterinários e criadores.
evitar o aparecimento de sinais clínicos
[19]. Agradecimentos
Em regiões como o Pantanal brasi- À Fundação de Amparo à Pesqui-
leiro, com alta prevalência da doença, a sa do Estado de Minas Gerais (FAPE-
eutanásia de todos os animais positivos MIG).
comprometeria significativamente ou
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86 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012