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- http://hbrbr.uol.com.br/neurodiversidade-como-
5 de junho de 2017
vantagem-competitiva1/
Não surpreende, portanto, que, quando autistas com credenciais desse tipo
conseguem ser contratados, muitos se revelam capazes, e alguns são
excelentes. Nos últimos dois anos, o programa da HPE colocou mais de 30
participantes em funções de teste de software no Departamento de
Serviços Humanos (DHS) da Austrália. Os resultados preliminares sugerem
que as equipes de teste neurodiversas da organização são 30% mais
produtivas que as demais.
Mas eles não são a única maneira de fornecer valor. Nas últimas décadas,
competir com base na inovação tem se tornado crucial para muitas
empresas. A inovação as leva a adicionar variedade na mistura, incluindo
pessoas e ideias “fronteiriças”, como a SAP explica no press release do
programa. Ter pessoas que enxergam as coisas de forma diferente e que
talvez não se encaixam na perfeição “ajuda a compensar nossa tendência,
como grande empresa, de olhar todos na mesma direção”, diz Bessa.
Alguns benefícios são mais sutis. Um executivo nos disse que os esforços
para tornar a comunicação corporativa mais direta — e dessa forma dar
conta das dificuldades que os funcionários autistas têm com nuance, ironia
e outras sutilezas de linguagem — melhoraram a comunicação global. As
tendências perfeccionistas de algumas turmas de teste de software da HPE
levaram os clientes a aumentar o nível de exigência e deixar de encarar
problemas comuns como inevitáveis. Além disso, o engajamento dos
funcionários aumentou em áreas relacionadas com os programas: pessoas
neurotípicas relatam que o envolvimento torna seu trabalho mais
significativo e seu moral mais elevado. E indicações iniciais sugerem que os
funcionários do programa, gratos pela oportunidade, são muito leais e têm
baixas taxas de rotatividade.
A SAP usa uma metáfora para comunicar essa ideia em toda a organização:
pessoas são como peças de quebra-cabeça, com formas irregulares.
Historicamente, as empresas pediam aos funcionários que aparassem suas
irregularidades, porque é mais fácil encaixar as pessoas se todas são
retângulos perfeitos. Mas isso exige que os funcionários deixem suas
diferenças em casa — diferenças de que as empresas precisam para inovar.
“O mundo corporativo quase não aproveitou esse benefício”, observa Anka
Wittenberg.
Isso sugere que as empresas devem adotar uma filosofia alternativa, que
exija dos gestores o trabalho duro de montar peças irregulares de quebra-
cabeça, tratando as pessoas não como recipientes de recursos humanos
fungíveis, mas como ativos individuais únicos. Para os gerentes o trabalho
será mais difícil. Mas para as empresas o retorno será considerável: o
acesso a mais talentos, junto com perspectivas diversas que podem ajudá-
los a competir de forma mais eficaz. “É mais provável”, observa Wittenberg,
“que a inovação venha de partes de nós que não compartilhamos”.
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Robert D. Austin é professor de sistemas de informação da Ivey Business
School e coautor de The adventures of an IT leader — Harvard Business
Review Press, 2016. Gary P. Pisano é professor da cátedra Harry E. Figgie e
membro do U. S. Competitiveness Project na Harvard Business School.