Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Adi 2446 Voto Carmen Lucia
Adi 2446 Voto Carmen Lucia
00
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA (Relatora):
00:
1. Nesta ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pela
20
Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo - CNC, se
0
questiona a validade constitucional do art. 1º da Lei Complementar n. 104
6/2
/2001, na parte em que acrescenta o parágrafo único ao art. 116 do Código
Tributário Nacional.
2/0
2. É de se afastar a preliminar de ilegitimidade ativa ad causam
-1
suscitada pelo Presidente do Senado Federal.
to
vo
A Confederação Nacional do Comércio, atualmente denominada
Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo – CNC
de
1
A norma em questão dispõe:
00
“Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se
ocorrido o fato gerador e existentes os seus efeitos:
00:
I - tratando-se de situação de fato, desde o momento em que o se
verifiquem as circunstâncias materiais necessárias a que produza os
20
efeitos que normalmente lhe são próprios;
II - tratando-se de situação jurídica, desde o momento em que
0
6/2
esteja definitivamente constituída, nos termos de direito aplicável.
Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá
2/0
desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade
de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza
dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os
-1
procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária. " (grifos nossos)
to
vo
A exposição de motivos do Projeto de Lei Complementar n. 77/1999,
elaborada pelo então Ministro de Estado da Fazenda, esclarece quanto à
de
direito.”
rtu
2
Em 2015 o tema voltou a ser tratado nos arts. 1º a 12 da Medida
Provisória n. 685, dispositivos suprimidos quando da conversão da medida
00
na Lei n. 13.202/2015.
00:
Assim, o parágrafo único do art. 116 do Código Tributário Nacional
20
pende, ainda hoje, de regulamentação.
0
6/2
4. A autora argumenta, basicamente, afrontar essa norma os princípios
constitucionais da legalidade, da estrita legalidade e da tipicidade no direito
2/0
tributário, insculpidos nos arts. 5º, inc. II, 37, e 150, inc. I da Constituição da
República e, ainda, ao princípio da separação dos poderes previsto em seu
-1
art. 2º .
to
vo
Pondera que a norma em questão permitiria à autoridade fiscal tributar
“ fato gerador não ocorrido e previsto em lei ”, além de introduzir a
de
princípio da estrita legalidade tributária em seus arts. 5º, inc. II, 37 e 150,
rtu
inc. I:
Vi
00
principal instrumento de revelação e garantia da justiça fiscal:
00:
“I - O princípio da legalidade é uma das mais importantes colunas
sobre as quais se assenta o edifício do direito tributário. A raiz de todo
20
ato administrativo tributário deve encontrar-se numa norma legal, nos
termos expressos do art. 5°, II, da Constituição da República.
0
Muito bem. Bastaria este dispositivo constitucional para que
6/2
tranquilamente pudéssemos afirmar que, no Brasil, ninguém pode ser
obrigado a pagar um tributo ou a cumprir um dever instrumental
2/0
tributário que não tenham sido criados por meio de lei, da pessoa
política competente, é óbvio. Dito de outro, modo, do princípio
-1
expresso da legalidade poderíamos extratar o princípio implícito da
legalidade tributária.
to
Mas o legislador constituinte, empenhado em acautelar direitos
dos contribuintes, foi mais além: deixou estampada esta ideia noutra
vo
passagem da Carta Magna, nomeadamente em seu art. 150, I (sem
prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
de
2013, p. 275).
Vi
definição precisa dos fatos que podem vir a resultar em tributação. A esse
respeito, os ensinamentos de Alberto Xavier:
ná
Ple
00
construído por estritas considerações de segurança jurídica (XAVIER,
00:
Alberto. Os Princípios da Legalidade e da Tipicidade da Tributação.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1978, p. 69-70).
20
6. No caso agora apreciado, a alegação de ofensa aos princípios da
legalidade e da legalidade tributária não se sustenta.
0
6/2
Em obediência ao princípio insculpido no inc. I do art. 150 da
2/0
Constituição da República, o Código Tributário Nacional dispõe que
somente a lei pode definir o fato gerador:
-1
“Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:
...
to
vo
III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal,
ressalvado o disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito
passivo”
de
5
d) Suficiente, significa que a situação prevista em lei é bastante.
Para o surgimento da obrigação tributária basta, é suficiente, a
ocorrência da situação descrita na lei para esse fim” (MACHADO,
00
Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 11. ed. São Paulo:
00:
Malheiros, 1996, p. 89-90).
20
Ressalte-se, de pronto, ter sido a norma impugnada incluída no
dispositivo do Código Tributário que estabelece quando se tem por
0
6/2
ocorrido o fato gerador com seus efeitos, qual seja, o art. 116.
2/0
administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados
com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a
-1
natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária”
to
vo
O fato gerador ao qual se refere o parágrafo único do art. 116 do Código
Tributário Nacional, incluído pela Lei Complementar n. 104/2001, é, dessa
de
tributando mesmo que não haja lei para caracterizar tal fato gerador ” (fl. 3,
Ple
6
Tem-se, pois, que a norma impugnada visa conferir máxima efetividade
não apenas ao princípio da legalidade tributária mas também ao princípio
da lealdade tributária.
00
00:
Não se comprova também, como pretende a autora, retirar incentivo ou
estabelecer proibição ao planejamento tributário das pessoas físicas ou
20
jurídicas. A norma não proíbe o contribuinte de buscar, pelas vias legítimas
0
e comportamentos coerentes com a ordem jurídica, economia fiscal,
6/2
realizando suas atividades de forma menos onerosa, e, assim, deixando de
pagar tributos quando não configurado fato gerador cuja ocorrência tenha
2/0
sido licitamente evitada.
-1
Ofensa ao princípio da separação dos poderes
to
7. Vinculado ao princípio da legalidade, expressão formal do Estado de
vo
Direito, se põe o princípio da separação de poderes. Ambos são
fundamentos democráticos da estrutura, institucionalização e convivência
de
00
O emprego da analogia no direito tributário está autorizado pelo art.
00:
108 do Código Tributário Nacional, desde que não resulte em exigência de
tributo não previsto em lei:,
20
“Art. 108. Na ausência de disposição expressa, a autoridade
0
competente para aplicar a legislação tributária utilizará
6/2
sucessivamente, na ordem indicada:
I - a analogia;
2/0
(...)
§ 1º O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de
-1
tributo não previsto em lei.”
(...)
A proibição à analogia prejudicial é uma consequência do
-m
O art. 108 do Código Tributário Nacional não foi alterado pela Lei
rio
8
8. A norma do parágrafo único do art. 116 não dispõe, ao contrário do
pretendido pela autora, de espaço autorizado de interpretação econômica.
00
Ali não se trata da interpretação da lei, o que se dá no Capítulo IV do
00:
Código Tributário Nacional intitulado “Interpretação e Integração da
Legislação Tributária”.
20
Tem-se no artigo 110:
0
6/2
“A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o
alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados,
2/0
expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas
Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal
-1
ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.”
to
Esse dispositivo não foi alterado pela Lei Complementar n. 104/2001.
vo
de
presente ação.
ná
Ple