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RESISTIVIDADE ELÉTRICA

Ensaio de cobre recozido conforme


a norma International Annealed
Copper Standard (IACS)
A norma IACS é uma forma relativa de se expressar a condutividade de um material, sendo baseada
no valor desta propriedade para o cobre recozido 100% puro e esse trabalho tem como objetivo
a criação de um método para o cálculo da resistividade e da condutividade relativa em IACS e a
expressão de sua incerteza utilizando medições de outras variáveis

[André Luiz Vieira da Silva, Juarez Leonardo Boari e Silmara Rodrigues Tabelini]

S
abe-se que uma das características mais importantes Sabe-se que para o cálculo da resistividade será necessário
de um material sólido é a sua dificuldade ou conhecer a resistência do material, o comprimento da distância
facilidade de condução de corrente elétrica. Para onde será medida a diferença de potencial, ocorrida devido à
mensurar um material quanto a esta propriedade injeção de corrente elétrica, e a área de seção reta perpendicular
utilizamos as propriedades chamadas resistividade elétrica e à direção da corrente. Portanto tem-se:
condutividade elétrica.
A resistividade de um material é definida como a razão
entre o módulo do campo elétrico e o módulo da densidade Onde:
de corrente, ou seja, quanto maior for o valor de resistividade, r é a resistividade a ser calculada;
maior será o campo elétrico necessário para produzir uma R é a resistência da barra de cobre;
dada densidade de corrente, ou será menor a densidade de A é área da seção reta perpendicular à direção da corrente;
corrente gerada por um dado campo elétrico. A unidade para l é a distância entre os dois pontos de medição da tensão.
esta grandeza é de Ω.m (ohm x metro), e é representado pela Para cálculo da resistência utiliza-se a “Lei de Ohm” que
letra grega r. possui a seguinte equação
A condutividade elétrica de um material é simplesmente
o inverso da resistividade, ou seja, é a capacidade deste
material de conduzir a corrente elétrica. Esta grandeza é
Onde:
representada pela letra grega s e sua unidade de medida é
R é a resistência da barra de cobre;
S/m (siemens/metro).
V é a diferença de potencial medida entre dois pontos
Uma forma de calcular a condutividade relativa é o cálculo
distintos da barra, separados pela distância l;
de IACS. Essa norma, adotada internacionalmente, é fixada em
I é a corrente aplicada na amostra.
100% para a condutividade de um fio de cobre de 1 metro de
comprimento com 1 mm2 de seção e cuja resistividade a 20ºC
Portanto pode-se calcular a resistividade da seguinte forma
seja de 0,01724 Ω.mm2/m, que representa uma condutividade
de 58 x 106 S/m. O interesse neste trabalho é realizar medidas
de resistividade em cinco amostras de barra de cobre,
relacionando o valor encontrado com o padrão internacional Onde:
de cobre recozido, IACS, definindo a incerteza para o resultado V é a diferença de potencial medida entre dois pontos
das medições encontrado. Desta forma, poderá ser distintos da barra, separados pela distância l;
determinada a característica elétrica das barras, podendo A é a área da seção reta perpendicular à direção da corrente;
ser definida a utilidade do material para determinados I é a corrente aplicada;
fins. Entre as influências no valor de resistividade de um l é a distância entre os dois pontos de medição da tensão.
material, pode-se citar a temperatura, que no experimento
descrito será medida e considerada no cálculo final da Para efeito de estabelecer a rastreabilidade dos resultados,
condutividade relativa das amostras. as barras de cobre submetidas ao ensaio foram identificadas

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como CP1, CP2, CP3, CP4 e CP5. Antes do início das medições Para cada medição de tensão e corrente foi realizada
as mesmas foram submetidas a um processo de estabilização uma medida da temperatura da barra de cobre sob teste,
térmica em um ambiente com temperatura controlada a 20°C possibilitando posteriormente a aplicação do cálculo
±0,3°C, durante um período de 120 minutos. de correção da resistividade do corpo de prova. A partir
Cada amostra foi colocada em uma base com grampos das medições de l, L1, L2 e R (calculada através do
de distância conhecida, padronizada e calibrada de valor de tensão medido divido matematicamente pelo
500,510 ± 0,006 mm (l). Foram realizadas cinco medições valor da corrente aplicada), chegou-se ao resultado da
das dimensões dos lados L1 e L2 em pontos distintos de resistividade elétrica de cada item da amostra. Para o
cada barra contida na amostra, para isto foi utilizado um cálculo direto tem-se:
micrômetro externo calibrado. O resultado da área de
cada barra foi definido pela média aritmética das cinco
medições realizadas.

Onde:
rm é a resistividade medida;
L1 e L2 são os valores médios das cinco medições das
dimensões dos lados da barra;
I é o valor da corrente aplicada na barra;
Foram realizadas cinco medições indiretas de resistência l é o valor da distância entre os grampos utilizados para
elétrica, através da aplicação de uma corrente elétrica aplicação de corrente e medição de tensão.
conhecida e padronizada, no valor de 15 ± 0,0012A DC A correção do valor da resistividade devido à
em cada barra, e medida a diferença de potencial (ddp) temperatura do corpo de prova é calculada para 20°C, pois
resultante, utilizando um multímetro digital também conforme já informado, a norma IACS determina o valor
calibrado, possibilitando o cálculo da resistência através da de resistividade para o fio de cobre nas dimensões citadas
“Lei de Ohm”. Por fim, foi realizado o cálculo da média sob esta temperatura.
aritmética das medições.

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Tabela 2 – Incerteza da medição calculada


ID Peça Incerteza (W.m) Incerteza ±(%)
Onde:
CP1 4,3E-10 1,7
r20 °C é a resistividade a 20°C;
CP2 4,4E-10 1,8
rm é a resistividade medida;
CP3 4,2E-10 1,7
a20°C é uma constante específica para o cobre que equivale a
3,93x10-3 °C-1; CP4 2,2E-10 0,89
T2 é o valor médio das medições de temperatura da barra CP5 2,0E-10 0,82
sob teste;
T1 equivale aos 20°C. cálculos para determinação da incerteza da resistividade dos
materiais, cujos resultados são apresentados na Tabela 2.
A partir do valor de resistividade foi possível calcular a Enfim, a análise realizada mostra que em média o valor
condutividade do material realizado na fabricação das barras da da condutividade relativa das barras de cobre recozido que
amostra. Para isso foi utilizada a seguinte equação compunham a amostra é de 69,6% ± 1,8%. Tal conclusão é a
indicação de que o material utilizado na fabricação das barras
de cobre recozido, utilizadas neste ensaio, não apresentava as
características elétricas, em termos de condutividade no padrão
Para o cálculo da condutividade relativa foi utilizado
IACS, próximo ao valor de referência.
o valor de calculado, através das medições realizadas em
Conclui-se que é possível determinar o cálculo de
cada barra, relacionado ao valor padrão de 58 x 106 S/m
incerteza para as medições de condutividade relativa em
que representa 100% IACS. Para o cálculo de incerteza das
IACS, utilizando-se das medidas de corrente aplicada,
medições foi inserido como parcela de incerteza do tipo A a
diferença de potencial medida, área da seção reta
repetitividade das medições. E como parcelas de incerteza
perpendicular à direção da corrente e distância entre os
do tipo B foram utilizadas a incertezas herdadas dos padrões
pontos de medição de tensão. A metodologia apresentada
(micrômetro, fonte de corrente, medidor de tensão) e
para determinação dos valores de incerteza se mostrou
suas resoluções. A incerteza combinada das medições foi
confiável frente aos resultados alcançados.
determinada através da raiz quadrada da soma quadrática
dos produtos das derivadas parciais de r em relação às
Referências bibliográficas
variáveis (L1, L2, L, V e I), pelas fontes de incerteza já citadas,
CALLISTER JR, William D. Ciência e engenharia de materiais: uma
somada ao quadrado da repetitividade (uA), conforme
introdução. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002. 589 p.
equação expressa abaixo:

GUIA para a expressão da incerteza de medição. 3. ed. Rio de Janeiro:


ABNT; INMETRO, 2003. 120 p.

A incerteza total foi determinada pelo produto da incerteza YOUNG, Hugh; FREEDMAN, Roger A. Física III: eletromagnetismo.
combinada por um fator de abrangência K=2 para intervalo de 10. ed. São Paulo: Eddison Wesley, 2006. 402 p.
confiança 95,45 %.

Resultados
André Luiz Vieira da Silva e Silmara Rodrigues Tabelini são instru-
Os valores obtidos pelo procedimento de medição adotado tores do Cetel – Senai (MG) e Juarez Leonardo Boari é supervisor técnico
estão expressos na Tabela 1 e serviram de base para orientar os do Cetel – Senai (MG) - alsilva@fiemg.com.br; jlboari@fiemg.com.br;
stabelini@fiemg.com.br

Tabela 1 – Valores obtidos pelo procedimento de medição


ID
Resistência (W) Resistividade (W.m) Resistividade Corrigida 20ºC (W.m) Condutividade (S/m) IAC (%)
Peça
CP1 1,98E-04 2,48E-08 2,48E-08 40373018,93 69,61
CP2 1,99E-04 2,49E-08 2,49E-08 40093958,89 69,13
CP3 1,99E-04 2,45E-08 2,45E-08 40736105,41 70,23
CP4 2,01E-04 2,50E-08 2,50E-08 40018880,18 69,00
CP5 1,99E-04 2,47E-08 2,47E-08 40476847,44 69,79

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