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Oftalmologia - Vol. 36: pp.

51-56

Artigo Original

Avaliação da Espessura Macular e da Camada


das Fibras Nervosas da Retina na Ambliopia por
Tomografia de Coerência Óptica
Lígia Ribeiro1, Eduardo Saraiva1, Marisa Oliveira2, Rosário Varandas3, Luís Agrelos4
1
Interno do Internato Complementar de Oftalmologia CHVNGaia/Espinho; 2Ortoptista do CHVNGaia/Espinho; 3Assistente Graduada de
Oftalmologia do CHVNGaia/Espinho; 4Director do Serviço de Oftalmologia do CHVNGaia/Espinho; Serviço Oftalmologia, Centro Hospitalar
Vila Nova de Gaia/Espinho EPE

Dr. Lígia Ribeiro


Serviço de Oftalmologia, Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho
Rua Conceição Fernandes 4434 502 Vila Nova de Gaia, Portugal
ligiamfr@gmail.com

Trabalho apresentado:
Poster: 36th Annual Meeting of the European Paediatric Ophthalmological Society, Outubro 2010, Bad Nauheim, Alemanha
Comunicação oral: 53º Congresso Português de Oftalmologia, Dezembro 2010, Vilamoura

Os autores afirmam que não têm qualquer conflito de interesse com o tema abordado no artigo ou qualquer equipamento mencionado.
Declaram que o artigo é original e que não foi previamente publicado, nem aguarda publicação noutra revista. Transferem a partir da
presente data todos os direitos de autor em caso de publicação na revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia.

RESUMO

Objectivos: (1) Determinar se a camada das fibras nervosas da retina (CFNR), a espessura ma-
cular (EM) ou o volume foveal (VF) em doentes com ambliopia unilateral de diferentes etio-
logias diferem entre o olho amblíope e o olho adelfo. (2) Testar a hipótese de CFNR, EM ou
VF de olhos com ambliopia estabelecida ser diferente de olhos com ambliopia potencialmente
reversível. (3) Revisão da literatura.
Métodos: Doentes com diagnóstico de ambliopia unilateral por estrabismo, anisometropia ou
ambos foram prospectivamente incluídos no estudo e divididos em 2 grupos: ambliopia estabe-
lecida e ambliopia em tratamento.Foi realizado exame oftalmológico completo incluindo melhor
acuidade visual corrigida, avaliação do alinhamento e da motilidade oculares e tomografia de
coerência óptica (StratusOCT) após dilatação para obtenção de mapas de espessura macular e
camada de fibras nervosas da retina em ambos os olhos.
Resultados: Vinte e um doentes (42 olhos) foram observados (10 sexo masculino, 11 sexo femi-
nino) com uma idade média de 14,85 ± 12,6 anos (5-45 anos). A espessura foveal mínima média
foi 7% menor nos olhos adelfos do que nos ambliopes (169 μm vs 156 μm, p=0.005). Olhos am-
blíopes também apresentaram mácula central (região diâmetro 1 mm) mais espessa, no entanto
esta diferença não foi estatisticamente significativa.
Conclusões: Descreveram-se na literatura alterações histopatológias no núcleo geniculado late-
ral e córtex visual mas permanece incerto se a retina também está afectada na ambliopia. Estudos
que observaram modificações retinianas na ambliopia permanecem inconclusivos e controver-
sos. No presente estudo obtivemos uma espessura foveal mínima significativamente maior no
olho amblíope relativamente ao olho normal.

Palavras-chave
Ambliopia, OCT, Espessura macular, Espessura camada fibras nervosas retina.

Vol. 36 - Nº 1 - Janeiro-Março 2012 | 51


Lígia Ribeiro, Eduardo Saraiva, Marisa Oliveira, Rosário Varandas, Luís Agrelos

ABSTRACT

Macula and Nerve Fiber Layer Thickness in Amblyopia: An optical


coherence tomography study
Purpose: (1) To determine whether retinal nerve fiber layer (RNFL), macular thickness (MT) and
foveal volume (FV) in patients with unilateral amblyopia of different etiologies differ between the
amblyopic and sound eye. (2) To test the hypothesis that RNFL, MT or FV from eyes with establi-
shed amblyopia differ from those with potentially reversible amblyopia. (3) Review of the literature.
Methods: Patients were prospectively recruited with the diagnosis of unilateral strabismic amblyo-
pia, anisometropic amblyopia, or both. They were divided in two groups: well-established amblyo-
pia and under-treatment amblyopia. A detailed eye examination was conducted, including refractive
error, determination of best-corrected visual acuity, ocular motility and alignment evaluation and
optical coherence tomography (StratusOCT) through dilated pupils to obtain maps of macular and
RNFL thicknesses of sound and amblyopic eyes.
Results: Twenty-one patients (42 eyes) were examined (10 male, 11 female), the mean age was
14,85 ± 12,6 years (range 5-45). Mean foveal minimum thickness was 7% lower in the sound eyes
than in the amblyopic eyes (169 μm vs 156 μm, p=0.005). Amblyopic eyes also had slightly thicker
central macula (1mm diameter region), although these differences were not statistically significant.
Conclusions: Histopathologic changes in the lateral geniculate nucleus and visual cortex have been
reported but it remains unclear whether the retina is also affected in amblyopia. Studies that have
observed the presence of retinal modifications in amblyopic eyes remain inconclusive and contro-
versial. In our study foveal minimum thickness was significantly greater in the amblyopic than in
the normal eyes.

Key-words
Amblyopia, OCT, Macular thickness, Retinal nerve fiber layer thickness.

Introdução
Estudos que observaram a presença de modificaçõe re-
Ambliopia define-se como uma acuidade visual diminuída tinianas em olhos amblíopes permanecem inconclusivos e
com ínicio em indivíduos visualmente imaturos, tipicamente controversos2-10. Alguns autores sugeriram que a ambliopia
com idade inferior a 7 anos, não atribuível a anomalias es- pode afectar a maturação pós-natal da retina, incluindo a
truturais. Com uma incidência de cerca de 3%, a ambliopia é normal redução das células ganglionares retinianas, o que
classificada de acordo com a causa responsável pelo compro- levaria a um aumento mensurável da espessura da camada
metimento da visão: refractiva, estrabismo e/ou de privação. de fibras nervosas da retina (CFNR) nos olhos afectados2.
A origem fisiológica do defeito tem sido extensivamente No entanto, apesar de nalgumas séries se ter observado um
investigada usando modelos animais. Respostas neuronais aumento da espessura da CFNR2, outros não obtiveram
anormais formam encontradas no córtex visual primário diferenças significativas3.
(correspondendo ao córtex estriado,área 17 de Brodmann), O objectivo do presente trabalho é determinar, através
onde ocorre convergência binocular excitatória. Estruturas de imagens de tomografia de coerência óptica (OCT), se a
de processamento monocular e mais distais como a retina e camada das fibras nervosas da retina (CFNR), a espessura
o núcleo geniculado lateral (NGL) eram consideradas fun- macular (EM) ou o volume foveal (VF) em doentes com
cionalmente normais, apesar de terem sido observadas alte- ambliopia unilateral de várias etiologias diferem entre o
rações histológicas no NGL. Recentemente Hess e colabora- olho amblíope e o olho adelfo. Testar a hipótese destes
dores1 usando imagens de ressonância magnética funcional parâmetros em olhos com ambliopia estabelecida serem
em indivíduos com ambliopia de diferentes etiologias, de- diferentes de olhos com ambliopia potencialmente rever-
monstraram défices funcionais ao nível talâmico, no NGL. sível. E finalmente, fazer uma breve revisão bibliográfica
Estes resultados vieram reequacionar o modelo que baseava dos estudos mais recentes que utilizaram OCT para avaliar
a ambliopia numa disfunção puramente cortical. alterações retinianas na ambliopia.

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Avaliação da Espessura Macular e da Camada das Fibras Nervosas da Retina na Ambliopia por Tomografia de Coerência Óptica

Material e Métodos 17.0, os valores médios dos diferente parâmetros foram


comparados usando o teste t-Student (valores de p< 0,05 fo-
Foram prospectivamente incluídos 21 doentes obser- ram considerados estatisticamente significativos).
vados em consulta de oftalmologia pediátrica e estrabismo
com ambliopia unilateral (diferença de melhor acuidade vi-
sual corrigida entre os dois olhos ≥ 2 linhas na escala de Resultados
Snellen). Doentes com estrabismo manifesto no cover test
ou história de cirurgia de estrabismo foram classificados Esta série de 21 doentes (42 olhos) com ambliopia uni-
como ambliopias por estrabismo. Anisometropia foi defini- lateral consistiu em 10 indivíduos do sexo masculino e 11
da como uma diferença > 2D esfera ou > 1.5D cilindro entre do sexo feminino, cujas idades variaram entre os 5 e os 45
os dois olhos. anos, média de 14,85 (± 12,6) anos. O olho amblíope era o
Posteriormente foram dividos em 2 grupos: ambliopia esquerdo em 52,4%.
estabelecida e ambliopia considerada potencialmente rever- Onze doentes (52,4%) apresentavam ambliopia por es-
sível (crianças com idade inferior a 9 anos em tratamento). trabismo, 7 (33,3%) ambliopia por anisometropia e os res-
Realizou-se exame oftalmológico completo incluindo tantes 3 (14,3%) considerados de causa mista. A acuidade
melhor acuidade visual corrigida, avaliação do alinhamento visual média no olho amblíope foi 0,30 ± 0,19 (0,05 – 0,65)
e da motilidade oculares e tomografia de coerência óptica comparada com uma acuidade visual média de 0,9 ± 0,11
(StratusOCTTM, Carl Zeiss Meditec, Dublin, CA) após dila- (0,7 – 1,0) do olho contralateral. Onze doentes (52,4%) fo-
tação para obtenção de mapas de espessura macular e cama- ram classificados como tendo uma ambliopia com potencial
da de fibras nervosas da retina em ambos os olhos (figura 1). de recuperação.
Foram apenas incluídos exames com boa qualidade de ima- A espessura foveal mínima média foi 7% menor nos olhos
gem (Sinal Strength ≥ 7). adelfos do que nos ambliopes (169 μm vs 156 μm, p=0,005).
Indivíduos com doença ocular orgânica, história ou Olhos amblíopes também apresentaram mácula central (re-
evidência de cirurgia intraocular, catarata, glaucoma, tra- gião diâmetro 1 mm) mais espessa, no entanto esta diferença
tamento laser, doenças retinianas ou do nervo óptico, bem não foi estatisticamente significativa (p=0,167). A diferença
como crianças não colaborantes na realização de OCT foram na espessura da CFNR peripapilar e o volume foveal entre
excluídas. Erros refractivos elevados, definidos como equi- olhos amblíopes e adelfos foi insignificante (tabela 1).
valente esférico > ±6 D ou astigmatismo > ±3.5 D foram Comparando separadamente os grupos por etiologia da
considerados critérios de exclusão. ambliopia, apenas no grupo do estrabismo a diferença da
A análise estatística foi realizada usando SPSS (Statisti- espessura foveal se manteve estatisticamente significativa
cal Package for Social SciencesTM) para WindowsTM versão (p=0,010) (tabela 2).

Fig. 1 | Análise da CFNR peripapilar e Macular de uma doente do sexo feminino, 9 anos de idade, com ambliopia anisometrópica (acui-
dades visuais 0.2 OD e 0.8 OE).

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Lígia Ribeiro, Eduardo Saraiva, Marisa Oliveira, Rosário Varandas, Luís Agrelos

Tabela 1 | Diferenças nos valores médios dos parâmetros de OCT entre olhos amblíopes e olhos adelfos

Média ± DP T-test
Parâmetros do OCT Diferença
Olho Amblíope Olho adelfo (valor p )

Foveal 168,7±18,8 156,2± 20,3 12,5 0,005*


Espessura macular (μm) n=21
Mácula Central 202,2± 17,5 199,0± 18,0 3,19 0,167
3
Volume macular total (mm ) n= 21 7,23± 0,33 7,18± 0,29 0,05 0,263

Espessura CFNR (μm) n=18 115,6± 12,7 113,3± 11,3 2,29 0,395
DP = desvio padrão CFNR = camada das fibras nervosas da retina
* p<0,05 estatisticamente significativo pelo Student’s t-test

Tabela 2 | Diferenças nos valores médios dos parâmetros de OCT entre olhos amblíopes e olhos adelfos por etiologia
da ambliopia

Média ± DP Média ± DP
T-test T-test
Parâmetros de OCT Ambliopia Olho adelfo Dif Ambliopia Olho adelfo Dif
(valor p ) (valor p )
estrabismo n=11 refractiva n=7

Foveal 167,0±22,2 151,1±20,0 15,9 0,010* 171,7±12,6 159,4±12,1 12,3 0,182


Espessura
macular (μm) Mácula
197,2±15,0 194,0±16,6 0,15 0,097 210,6±15,6 202,1±8,1 8,4 0,097
Central

Volume macular total (mm3) 7,22±0,33 7,23±0,33 -0,01 0,800 7,21±0,35 7,04±,0,18 0,17 0,147

Espessura CFNR (μm) 112,4±13,4 110,4±12,6 2,00 0,200 121,2±13,7 112,9±7,1 8,32 0,131
DP = Desvio padrão Dif = Diferença CFNR= camada das fibras nervosas da retina
* p<0,05 estatisticamente significativo pelo Student’s t-test

Tabela 3 | Diferenças nos valores médios dos parâmetros de OCT entre olhos com ambliopia estabelecida e olhos com
ambliopia potencialmente reversível

Média ± DP
T-test
Parâmetros do OCT Ambliopia Ambliopia potencialmente Diferença
(valor p )
estabelecida (n=10) reversível (n=11)

Foveal 175,4±13,4 162,6± 21,5 12,8 0,123


Espessura macular (μm)
Mácula Central 209,5± 18,6 195,5± 14,2 13,9 0,067

Volume macular total (mm3) 7,23± 0,38 7,22± 0,28 0,01 0,936

Espessura CFNR (μm) 114,2± 10,6 117,3± 15,5 -3,02 0,395


DP = desvio padrão CFNR = camada das fibras nervosas da retina
* p<0,05 estatisticamente significativo pelo Student’s t-test

Não houve diferença estatisticamente significativa nos córtex visual primário e núcleo geniculado lateral que re-
valores médios de todos os parâmetros de OCT estudados cebem aferências do olho ambliogénico têm sido descritas.
entre olhos com amblíopia estabelecida e ambliopia poten- No entanto, o envolvimento retiniano secundário permanece
cialmente reversível (P>0,05) (tabela 3). controverso.
A tomografia de coerência óptica é um teste não inva-
Discussão sivo, de não contacto no qual a espessura da camada das
fibras nervosas da retina peripapilares e da região macular
O processo ambliogénico parece ocorrer a vários níveis podem ser medidas. O StratusOCTTM integra uma base de
da via visual. Défices funcionais envolvendo as células do dados normativa, no entanto, inclui apenas indivíduos com

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Avaliação da Espessura Macular e da Camada das Fibras Nervosas da Retina na Ambliopia por Tomografia de Coerência Óptica

Tabela 4 | Estudos publicados sobre espessura da camada das fibras nervosas da retina, espessura macular e volume macular
com OCT

Ano / Autores N Idade (anos) Resultados


Olhos amblíopes vs olhos normais:
2010
15 7 – 14 • EM 226,9±11,4 vs 176,7±14,8 p<0,001* (dif 50,2)
Liu et al5
• EF 201,5±17,9 vs 153,8±17,6 p<0,001* (dif 47,7)

Olhos amblíopes vs olhos adelfos (grupo estrabismo):


• EM 267±14 vs 253±14 p=0,005* (dif 14)
2009 15,2 • VF 2,57±0,16 vs 2,43±0,16 p=0,001* (dif 0,14)
40
Dickmann et al6 (5 – 56) • CFNR 93±13 vs 92±14 p=0,21 (dif 1)
Não foram observadas diferenças no grupo anisometropia.
Não houve correlação entre acuidade visual e parâmetros OCT.

2009 9,2 Olhos amblíopes vs olhos adelfos:


37
Repka et al8 (7 – 12) • CFNR 111,4±10,4 vs 109,6±11,4 p=0,13 (dif 1,8 μm)
EF 5 μm maior no olho amblíope do que olho adelfo p< 0,05*; diferença mais
acentuada no gupo com 6 anos (6,9 μm) do que no de 12 anos (4,2 μm).
Diferenças na EF e EM maiores em crianças amblíopes não tratados (9,2 μm) do
53 que tratadas (0,3 μm) mas sem significado estatístico p>0,05.
2009 2 grupos:
(3185 grupo Sem diferença na CFNR.
Huynh et al7 6 e 12 anos
control) Olhos amblíopes vs grupo controlo:
• EM 199,1 vs 193,1 p>0,05 (dif 12,1)
• EF 170,7 vs 158,6 p=0,01* (dif 6,0)
• VM 6,81 vs 6,90 p>0,05 (dif -0,09)
Olhos amblíopes vs grupo controlo:
• EF 158,8± vs 157,4 p=0,551 (dif 1,4)
26
2006 8 • CFNR 108,8V11,3 vs 107,2±16,2 p=0,615 (dif 1,6)
(42 grupo
Kee et al9 (4 – 12) Olhos com ambliopia por anisometropia vs estrabismo:
controlo)
• EF 146,5±26,2 vs 173,1±34,1 p=0,046* (dif -68,6)
• CFNR 112,9±10,8 vs 92,8±25,2 p=0,034* (dif 20,1)
Olhos com ambliopia por anisometropia vs olhos adelfos:
2005 7,7
31 • EM 252,5±13,7 vs 249,7±13,3 p>0,05 (dif 2,8)
Yoon et al4 (5 – 12)
• CFNR 115,2±9,7 vs 109,6±8,4 p=0,019* (dif 5,6)
Olhos amblíopes vs olhos adelfos:
• CFNR 106,9±20,2 vs 104,3±17,8 p=0,52 (dif 2,6)
2005 10,4
14 • EF 199,9±18,8 vs 181,4±40,3 p=0,53 (dif 18,5)
Altintas et al3 (5 – 18)
• VM 7,01±0,41 vs 6,97±0,47 p=0,96 (dif 0,04)
• EM 221,3±24,7 vs 201,6±30,5 p=0,69 (dif 19,7)
Olhos amblíopes vs olhos adelfos:
2004 26 • CFNR total 136,6±16,5 vs 128,9±19,9 p=0,003* (dif 7,7)
38
Yen et al2 (6 – 75) • CFNR grupo estrabismo 131,5±12,6 vs 128,3±21,5 p=0,085 (dif 3,2)
• CFNR grupo anisometropia 142,2±18,6 vs 129,7±18,5 p<0,001* (dif 13,5)
EM: Espessura Macula central 1mm (μm); EF: Espessura foveal (μm); CFNR:Espessura camada fibras nervosas retina (μm); VM: Volume Macular (mm3); Dif=diferença
* p estatisticamente significativo

idade igual ou superior a 18 anos. anisometropia. Numa série de 31 indivíduos com amblio-
Estudo anteriores com OCT na ambliopia reportaram pia por anisometropia a espessura da CFNR foi 5,6 μm
resultados variados (tabela 4). Trabalhos publicados sobre maior nos olhos amblíopes comparativamente com os olhos
a CFNR peripapilares relatam invariavelmente um aumento adelfos4.
da espessura em olhos amblíopes, mas apenas significativo No nosso estudo e, em concordância com alguns dos
em dois estudos2,4. estudos publicados, a CFNR peripapilar foi cerca de 2 μm
Yen e col.2 encontraram uma CFNR mais espessa (7,7 mais espessa nos olhos amblíopes, sendo esta diferença mais
μm) em olhos amblíopes comparados com os olhos con- acentuada na ambliopia por anisometropia (8 μm) isolada-
tralaterais; quando analisada por etiologias, esta diferença mente, no entanto não é significativa.
só se manteve significativa no grupo com ambliopia por Uma teoria biológica interessante para explicar as

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diferenças observadas na CFNR em olhos com e sem am- valores que obtivemos nos vários parâmetros estudados são
bliopia foi proposta por Yen e col.2. Segundo estes autores semelhantes aos apresentados pelo grupo de Sydney, o úni-
a normal apoptose das células ganglionares retinianas está co com dados de base populacional.
comprometida na ambliopia, o que previsivelmente causaria Em conclusão, este estudo explorou medidas objectivas
um aumento da espessura da CFNR. Alterações que afecta- da retina na ambliopia e encontrou uma região foveal mais
riam também a normal maturação da área macular, incluin- espessa quando comparada com olho contralateral, usando
do o movimento das fibras de Henle para longe da fovéola tomografia de coerência óptica. Não houve diferenças na es-
resultando numa aumento da espessura foveal. pessura da CFNR peripapilares.
Uma série consituída por 15 crianças chinesas com am- São necessários estudos prospectivos em larga escala
bliopia que não atingiram acuidade visual normal (20/20) para avaliar o efeito da espessura foveal na acuidade visual
após tratamento, mostrou uma região macular (50,2 μm) e das crianças, e mais importante, se crianças com espessura
foveal (47,7 μm) mais espessas do que olhos normais5. Di- foveal aumentada apresentam pior prognóstico visual, bem
ckmann e col.6 obtiveram um volume foveal e uma espessu- como o efeito de um tratamento precoce/agressivo sobre es-
ra macular significativamente maiores no olho amblíope re- tes parâmetros.
lativamente ao olho adelfo apenas no grupo com ambliopia
por estrabismo, enquanto não houve diferença na espessura
da CFNR em qualquer dos grupos.
Um estudo de base populacional (The Sydney Chil- Bibliografia
dhood Eye Study)7 encontrou uma espessura foveal aumen-
tada em olhos amblíopes quando comparados com um grupo 1. Hess R, Thompson B et al. Deficient responses from the
controlo composto por 3815 crianças sem ambliopia. A di- lateral geniculate nucleus in humans with amblyopia.
ferença na espessura foveal e macular entre olhos amblíopes Eur J Neurosci 2009; 29: 1064-1070.
e olhos contralaterais foi maior em crianças que não recebe- 2. Yen M, Cheng C, Wang A. Retinal nerve fiber layer thi-
ram qualquer tratamento para a ambliopia comparativamen- ckness in unilateral amblyopia. Invest Ophthalmol Vis
te com crianças tratadas. Não houve diferença na espessura Sci 2004; 45: 2224-2230.
da CFNR peripapilares no mesmo estudo. 3. Altintas O, Yüksel N, Ozkan B, Caglar Y. Thickness of
Altintas e col.3 compararam a espessura da CFNR pe- the retinal fiber layer, macular thickness, and macular
ripapilares, espessuras foveal e macular e volume macular volume in patients with strabismic amblyopia. J Pediatr
entre o olho amblíope e o olho adelfo de 14 doentes, apesar Ophthalmol Strabismus 2005; 42 (4): 216-21.
de todos os parâmetros serem marginalmente superiores no 4. Yoon S, Park W, Baek S, Kong S. Thickness of macular
olho amblíope nenhum obteve significado estatístico. retinal layer and peripapillary retinal nerve fiber layer in
Os nossos dados sugerem que os olho amblíopes têm es- patients with hyperopic anisometropic amblyopia.Kore-
pessura foveal aumentada comparativamente aos olhos com anJ Ophthalmol 2005; 19: 62-67.
acuidade visual normal, apoiando a teoria proposta por Yen. 5. Liu H, Zhong L. et al. Macular abnormality observed
Os valores de espessura foveal obtidos para a nossa amostra by Optical Coherence Tomography in children with
foi camparável aos resultados de Huynh e col.7, mas meno- Amblyopia failing to achieve normal visual acuity after
res do que os reportados por Liu5. long-term treatment. J Pediatr Ophthalmol Strabismus
Quando analisamos separadamente por etiologia, a es- 2010; 47 (1): 17-23.
pessura foveal do grupo da ambliopia por estrabismo foi 6. Dickmann A, Petroni S. Et al. Unilateral amblyopia: An
o único parâmetro que se apresentou significativamente optical coherence tomography study. JAAPOS 2009; 13:
aumentado no olho amblíope. Obtivemos espessuras se- 148-150
melhantes entre olhos com ambliopia estabelecida e poten- 7. Repka M, Kraker R. et al. Retinal Nerve Fiber Layer
cialmente reversível. Estes resultados devem ser vistos com Thickness in Amblyopic Eyes. J Ophthalmol 2009; 148:
precaução devido ao pequeno número de indivíduos. 143-147.
Os achados inconsistentes entre estudos podem em par- 8. Kee SY, Lee SY, Lee YC. Thickness of the fovea and
te ser explicados pela utilização de diferentes modelos de retinal nerve fiber layer in amblyopic and normal eyes in
OCT, amostras relativamente pequenas e heterogéneas e a children. Korean J Ophthalmol 2006; 20(3): 177-181.
falta de um grupo controlo de base populacional. 9. Huynh S, Sawarawickrama C, Wang X, Rochtchina E,
O nosso estudo tem algumas limitações, nomeadamente Wong T, Gole G, Rose K, Mitchell P. Macular and ner-
ser um estudo transversal com uma amostra de tamanho re- ve fiber layer thickness in amblyopia. The Sydney chil-
duzido e pouco homogénea, o que limitou a análise de sub- dhood eye study. Ophthalmol 2009; 116:1604-1609.
grupos e a capacidade de indentificar correlações. Devido 10. Repka M, Goldenberg-cohen N, Edwards A. Retinal
à falta de uma base de dados pediátrica para comparação, nerve fiber layer thickness in amblyopic eyes. Am J
usamos o olho adelfo de cada paciente como controlo. Os Ophthalmol 2006; 142: 247-251.

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