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Fundamentos Teoricos e Metodologicos Da Educacao Infantil
Fundamentos Teoricos e Metodologicos Da Educacao Infantil
2.ª edição
2009
© 2003-2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autoriza-
ção por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S449f
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-0391-4
Indicadores da qualidade....................................................... 25
Acessibilidade e utilização dos serviços............................................................................. 25
Ambiente físico........................................................................................................................... 25
Atividades de aprendizagem................................................................................................. 26
Sistemas de relações................................................................................................................. 27
Ponto de vista dos pais............................................................................................................. 27
Comunidade (bairro)................................................................................................................. 28
Avaliação da diversidade......................................................................................................... 28
Avaliação das crianças.............................................................................................................. 29
Relação custo-benefício........................................................................................................... 29
Valores éticos............................................................................................................................... 30
A ideia de infância e a sua escola........................................ 35
Primeira identidade: “a criança-adulto” ou a infância negada.................................... 35
Segunda identidade: a criança-filho-aluno ou a infância institucionalizada....... 39
Terceira identidade: a criança-sujeito social, sujeito de direitos............................... 40
Função da instituição de Educação Infantil: educar e cuidar..................................... 41
A formação do professor......................................................197
Como aprender a conhecer e a pensar............................................................................197
Como aprender a fazer...........................................................................................................201
Como aprender a viver com os outros.............................................................................202
Como aprender a ser...............................................................................................................205
Conclusão....................................................................................................................................208
A participação da família......................................................215
Formas de trabalho da creche com a família.................................................................218
A gestão social..........................................................................229
Educação de crianças
com necessidades especiais................................................243
Necessidade de um projeto didático................................................................................244
Necessidade de uma dupla reestruturação....................................................................244
Integração da equipe..............................................................................................................245
Algumas dificuldades.............................................................................................................246
Gabarito......................................................................................265
Referências.................................................................................277
Apresentação
Um grande abraço,
Vamos iniciar o nosso estudo com alguns critérios que considero fun-
damentais para a análise da qualidade da Educação Infantil. Minha pers-
pectiva é a de alcançarmos, pelo esforço dos educadores e da sociedade,
padrões mais elevados de qualidade.
Escolhas políticas
Esse item significa a prioridade efetiva da Educação Infantil no rol das políti-
cas públicas desenvolvidas pelos governos. É, assim, questão importante para
ser observada e definida como condição de qualidade.
Financiamento e recursos
Assunto sempre difícil e polêmico, trata-se da definição de valores que serão
aplicados em creches/pré-escolas. Qualidade exige recursos financeiros, não só
para o investimento em instalações, mas também para despesas de manutenção.
15
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Planejamento e controle
Os planos são a tradução das “escolhas políticas” em práticas cotidianas. A
questão do planejamento deve estar necessariamente associada ao controle.
16
Condições para a qualidade
Profissionais
Trata-se das pessoas que desenvolvem suas tarefas voltadas para a realização
de um objetivo comum: o atendimento à criança. Têm papel fundamental os
professores, mas também os profissionais que não estão ligados diretamente
às crianças, como quem cozinha, limpa e vigia a creche. Essas pessoas, além do
desenvolvimento da suas tarefas específicas, devem também ser consideradas
como participantes no projeto educativo, devendo ter consciência das finalida-
des da creche, conhecimento e compreensão dos significados das programa-
ções, pois têm papel relevante na sua dinâmica.
17
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
que tem como base constantes discussões em grupo, a programação de seu pró-
prio trabalho (com objetivos precisos), a avaliação dos resultados e, consequen-
temente, reflexões e reformulações sempre que necessário.
Estrutura física
A concepção do espaço físico não é fruto de uma visão neutra, mas é deter-
minada e retrata a cultura e o conhecimento daqueles que a projetam. E, como
outros itens, é ponto importante na perspectiva da qualidade da Educação In-
fantil. O projeto arquitetônico de uma creche responde à proposta educativa
que se objetiva para as crianças.
18
Condições para a qualidade
Pesquisa e desenvolvimento
Os órgãos responsáveis pela gestão das creches precisam estar constante-
mente envolvidos com execução de pesquisas, valorizando a importância da
reflexão e da utilização de conhecimentos produzidos.
Por ser uma instituição relativamente recente, a creche necessita de mais in-
formações e de um conhecimento mais aprofundado. De outro lado, produz cul-
tura e é campo privilegiado de pesquisa para estudiosos das áreas sociais e, em
especial, do desenvolvimento infantil.
19
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
O que se quer dizer com isso é que a política para a infância não pode estar
desvinculada da política sanitária, do trabalho, da cultura etc. Entretanto, deve-
-se prevenir a dispersão dos serviços que possibilitem perder o foco fundamen-
tal da creche, que é a educação.
Texto complementar
Sugestões de critérios para um atendimento
em creches que respeite os direitos
fundamentais das crianças
(ROSEMBERG; CAMPOS, 1994)
20
Condições para a qualidade
21
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
nossas crianças têm direito a uma especial atenção durante seu perío-
do de adaptação à creche;
Dicas de estudo
Não deixe de ler o Plano Nacional pela Primeira Infância 2009-2022. Trata-se
de um esboço político e técnico, elaborado pela Rede Nacional Primeira Infância
para subsidiar a construção e aprovação de um Plano Nacional pela Primeira In-
fância. Pretende orientar durante os próximos quatorze anos a ação do governo
e da sociedade civil na defesa, promoção e realização dos direitos da criança de
até seis anos de idade.
22
Condições para a qualidade
Atividades
1. Analisando as políticas voltadas para a infância brasileira, o que você perce-
be que é declarado, mas não é realizado?
23
Indicadores da qualidade
Ambiente físico
A análise do ambiente considera as condições de luminosidade e are-
jamento, a estética, a segurança, a adequação e funcionalidade dos ambi-
entes de serviço e aspectos da promoção da saúde infantil.
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Atividades de aprendizagem
A creche/pré-escola, considerada como espaço privilegiado de educação e
desenvolvimento da criança, precisa reconhecer o valor e a importância de uma
programação educativa.
permanência e mudança;
privacidade e sociabilidade;
26
Indicadores da qualidade
sequencialidade e imprevisibilidade;
ação e formalização/simbolização.
Sistemas de relações
Pesquisas mostram que a criança, desde bem pequena, é capaz de estabele-
cer relações com o ambiente em que vive, ou seja, com as pessoas, os objetos e
os eventos. Quanto mais elaborado e rico for o sistema de relações, mais a crian-
ça terá oportunidade de aprender e crescer.
Comunidade (bairro)
O ambiente em que a creche está inserida é também considerado como fator
integrante do processo educativo. A creche é um equipamento de educação e,
portanto, incluída no contexto de um sistema formativo. Requer a sua articula-
ção no bairro com as demais instituições/oportunidades/serviços, sejam esses
públicos ou privados, de caráter social ou comercial. Essa articulação pode ser
direta: inserção na própria programação de momentos específicos, nos quais se
utilizam os recursos disponíveis de cada comunidade; e indireta: conhecimento
da utilização que cada criança faz desses recursos oferecidos pela comunidade
e sensibilização/estímulo aos pais e filhos para que usufruam, de maneira ade-
quada, dessas ofertas.
Deve-se ter como perspectiva a gestão social como forma de gerir a creche
com a participação dos educadores, das famílias e dos representantes da comu-
nidade. Isso contribui para a construção da imagem da creche enquanto uma
instituição social e educativa de grande relevância, e também enquanto um
equipamento que pertence a essa comunidade.
Avaliação da diversidade
Nos termos da Constituição Federal, todas as crianças de zero a seis anos têm
o direito à educação. Não há qualquer discriminação com relação à origem de
classe e etnia, cultura, sexo, religião ou condição física.
28
Indicadores da qualidade
Relação custo-benefício
O importante é analisar a relação custo-benefício de um ponto de vista mais
amplo, qualitativo mesmo, e não simplesmente utilizar tabelas econômico-
-financeiras, de receitas e despesas. Identificar e calcular benefícios é tarefa que
demanda esforço, portanto, esse é um indicador difícil de ser determinado, mas
deve ser planejado e estruturado no sentido de buscar o grau de desenvolvi-
29
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Valores éticos
Os princípios éticos de referência e o sistema adotado para a organização e a
gestão da creche/pré-escola constituem pontos de equilíbrio de todos os indi-
cadores da qualidade.
Texto complementar
30
Indicadores da qualidade
31
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Défice
Atualmente, cerca de 6,5 milhões de crianças frequentam a educação in-
fantil no Brasil. O atendimento em creches equivale a só 15% da população
de 0 a 3 anos – a meta no país, por lei, é chegar a 50%. Na pré-escola, são
67%. Só em São Paulo, apesar de o número diminuir a cada ano, há 120 mil
crianças na fila por uma vaga.
Dicas de estudo
Sobre critérios de qualidade, é importante você conhecer os Parâmetros Na-
cionais de Qualidade para a Educação Infantil, publicados pelo MEC, em 2006. São
dois volumes que contém referências de qualidade para a Educação Infantil a
serem utilizadas pelos sistemas educacionais de forma a promoverem a igual-
dade de oportunidades educacionais, levando em consideração diferenças, di-
versidades e desigualdades do território brasileiro. Acesse o site: <http://portal.
mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/eduinfparqualvol1.pdf>.
32
Indicadores da qualidade
Atividades
1. Por que as creches com modelos organizativos muito rígidos tendem a ex-
cluir as famílias?
33
A ideia de infância
e a sua escola
Para apresentar essa questão, vamos fazer uma breve, mas consistente,
incursão na História da Infância.
Domínio público.
Pieter Bruegel em seu quadro Visita à Quinta, confirma o que
já afirmava Ariès: as feições do menino que está em pé são as
mesmas de um adulto, apenas em escala menor (representa-
ção de apenas uma parte do quadro).
36
A ideia de infância e a sua escola
Sobre a prática do infanticídio na Idade Média, assim nos ensina Ariès (1978,
p. 17):
[...] um fenômeno muito importante e que começa a ser mais conhecido: a persistência até
o fim do século XVII do infanticídio tolerado. Não se tratava de uma prática aceita, como a
exposição em Roma. O infanticídio era um crime severamente punido. No entanto, era
praticado em segredo, correntemente, talvez, camuflado, sob a forma de um acidente: as
crianças morriam asfixiadas naturalmente na cama dos pais, onde dormiam. Não se fazia nada
para conservá-las ou para salvá-las [...]. O fato de ajudar a natureza a fazer desaparecer criaturas
tão pouco dotadas de um ser suficiente não era confessado, mas tampouco era considerado
com vergonha. Fazia parte das coisas moralmente neutras, condenadas pela ética da Igreja
e do Estado, mas praticadas em segredo, numa semiconsciência, no limite da vontade, do
esquecimento e da falta de jeito.
Ariès (1978, p. 159) dizia que “esse sentimento da infância pode ser ainda
melhor percebido através das reações críticas que provocou: [...] algumas pes-
soas rabugentas consideravam insuportável a atenção que se dispensava então
às crianças [...]”.
37
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
E no entanto é preciso
Aplaudir o enfant gâté.
38
A ideia de infância e a sua escola
Podemos concluir que, nesse período, essa identidade da criança está defi-
nida pelo não sentimento de infância, o que não quer dizer que não havia afeto
pelas crianças, ou que na totalidade eram abandonadas ou desprezadas, mas
sim que não havia uma consciência da particularidade infantil, ou seja, não se
distinguia a criança do adulto.
A escola é o meio de educação. Isso quer dizer que a criança deixou de apren-
der a vida por meio do contato direto com os adultos. Ela foi separada dos adul-
tos próximos (basicamente familiares) e mantida à distância na escola. Começa
um longo processo de “enclausuramento” das crianças.
Ainda Ariès (1978, p. 277): “A escola confinou uma infância outrora livre num
regime disciplinar cada vez mais rigoroso, que nos séculos XVIII e XIX resultou no
enclausuramento total do internato”. Nesse período, as ordens religiosas torna-
ram-se dedicadas ao ensino às crianças e aos jovens.
39
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
mais rigoroso. Para definir esse sistema, distinguiremos suas três características principais: a
vigilância constante, a delação erigida em princípio de governo e em instituição, e a aplicação
ampla de castigos corporais. (ARIÈS, 1978, p. 180)
Um detalhe interessante, que pode ser percebido nas camadas sociais supe-
riores, é que as crianças ganharam roupa específica que as distinguia dos adul-
tos. Era uma prova da mudança ocorrida na atitude com relação a elas.
Desse período, concluímos que a criança paga um preço alto pela conquis-
ta da sua identidade de criança filho-aluno. Como diz Frabboni (1998, p. 67): é
a criança institucionalizada, “[...] o direito de ser criança (de ter atenções-grati-
ficações-espaços-jogos) é legitimado somente sob a condição de pertencer a
este tipo de família e a este tipo de escola.” Isto é, somente na estrutura de re-
lações de propriedade e de poder. “A criança existe somente como minha, tua,
nossa, sua criança, ou seja, dentro de uma estreita privatização de relações e de
definições”.
Terceira identidade:
a criança-sujeito social, sujeito de direitos
Podemos começar perguntando: quem é a criança de hoje? Quando obser-
vamos nossas crianças, podemos dizer que, apesar da semelhança cronológica,
existem diferentes infâncias:
40
A ideia de infância e a sua escola
Função da instituição
de Educação Infantil: educar e cuidar
A partir desses conceitos de criança, perguntamos: qual seria, então, a função
da instituição de Educação Infantil? A que ela se propõe? Quem vai nos ajudar
a responder a essas questões é a educadora Maria Isabel Bujes, através do texto
a seguir.
41
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Texto complementar
(BUJES, 2001, p. 16)
42
A ideia de infância e a sua escola
Dicas de estudo
Um ótimo material para consultas e leituras são os Cadernos de Pesquisa
(periódico da Fundação Carlos Chagas). Trata-se de uma publicação quadrimes-
tral, dedicada a divulgar a produção acadêmica sobre educação, gênero e etnia.
Versão eletrônica disponível em: <www.fcc.org.br>.
43
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Atividades
1. De forma sucinta, descreva as três identidades da criança identificadas por
Franco Frabboni.
44
A ideia de infância e a sua escola
45
A história das creches
Essa é uma definição dada pela lei, e que, em muitas vezes, ainda não
foi totalmente assimilada por todos. Mas, em termos históricos, existem
outras diferenças conceituais entre creche e pré-escola.
A LDB deu um prazo, que foi dezembro de 1999, para que todas as cre-
ches e pré-escolas existentes ou as que viessem a ser criadas se integras-
sem aos seus respectivos sistemas de ensino, responsáveis pela função
educação.
Visto isso, vamos agora observar como foi que a creche surgiu na Europa
e nos Estados Unidos, referenciais importantes dessa área. Para isso, vamos
nos basear no texto escrito por Bernard Spodek e Patrícia Clark Brown: Alter-
nativas Curriculares na Educação de Infância: uma perspectiva histórica.
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Na Alemanha, em 1837, Fröbel criou o “Jardim de Infância”. Ele tinha uma visão
única sobre a natureza da infância, a natureza do conhecimento e os objetivos
da educação que seriam oferecidos nos jardins de infância. Fröbel deixou um
enorme contributo para a Educação Infantil.
48
A história das creches
Assim, podemos dizer que a creche surgiu como uma instituição assistencial
que ocupava o lugar da família, nas mais diversas formas de ausência. Podemos
também dizer que a organização da família moderna atribuía para si a responsa-
bilidade pelo cuidado e pela educação da criança pequena. Portanto, somente as
famílias que não conseguiam atender a essa função é que utilizavam a creche.
Domínio público.
Deve-se a criação da Roda a Romão de Mattos Duarte,
que, preocupado com o grande número de crianças
abandonadas nas ruas e portas de igrejas das cida-
des maiores, decidiu doar recursos para que a Santa
Casa de Misericórdia fizesse esse atendimento. Não
se sabe muito sobre esta instituição, mas há um dado
que assusta: em 13 anos de funcionamento, haviam
entrado nas “Rodas” aproximadamente 12 mil crianças
e apenas mil tinham sobrevivido (MONCORVO FILHO,
1926). O que nos permite deduzir que as condições de
Roda dos Expostos.
atendimento eram muito precárias.
1
A roda era uma espécie de armário cilíndrico, giratório e embutido em uma parede. Era construído de tal forma que aquele que deixava a criança
não era visto por quem a recebia. Assim, ao colocar a criança na roda, puxava-se uma cordinha com uma sineta para avisar o responsável na insti-
tuição que um bebê acabava de ser abandonado.
49
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Podemos dizer que essas primeiras iniciativas voltadas ao cuidado das crianças
tinham caráter higienista e se dirigiam contra o alto índice de mortalidade infantil.
Podemos observar que as duas causas culpam a família, além de dizerem que
os negros escravos eram portadores de doenças. Não se levava em consideração
as condições econômicas e sociais das famílias e a ausência de estruturas de
saúde pública. Assim, os poucos projetos desenvolvidos durante esse período
tinham base no preconceito. Esses projetos eram organizados a partir de grupos
privados (conjuntos de médicos, associações beneficentes de senhoras) sem a
preocupação por parte do Estado pelas condições de vida da criança e seu de-
senvolvimento, em especial, a da criança pobre.
1900 a 1930
Vamos passar para o início do século XX e observar alguns fatos marcantes.
As fábricas passaram a absorver imigrantes europeus. Muitos deles eram traba-
lhadores qualificados e politizados pelo contato com os movimentos operários
que ocorriam na Europa. Organizados aqui no Brasil, os operários passaram a
protestar contra as suas precárias condições de vida e de trabalho. Os empre-
sários, por sua vez, procurando enfraquecer esses movimentos, começaram a
conceder alguns benefícios sociais e criaram vilas operárias, clubes esportivos e
também algumas creches e escolas maternais para os filhos de operários.
50
A história das creches
1930 a 1980
Iniciamos a década de 1930 reforçando a “culpa da família” com relação às
condições de vida das crianças, deixando, assim, de lado as relações de classe
existentes no país.
52
A história das creches
crianças ficassem em casa com suas mães, mas, se isso não fosse possível, e para
elas não ficarem sozinhas em casa, abandonadas, aceitava-se a creche.
Sobre a década de 1970, vamos ler o que Ana Maria Sousa escreveu a
respeito.
53
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Para encerrar esse período, é importante ainda lembrar que, em 1975, o Mi-
nistério da Educação e Cultura instituiu a Coordenação de Educação Pré-Escolar
e, em 1977, foi criado o Projeto Casulo, vinculado à Legião Brasileira de Assis-
tência (LBA) que atendia crianças de 0 a 6 anos de idade e tinha a intenção de
proporcionar às mães tempo livre para poder “ingressar no mercado de trabalho
e, assim, elevar a renda familiar”.
Década de 1980
Pode-se dizer que nessa década houve um avanço considerável com relação
à Educação Infantil. Como por exemplo:
54
A história das creches
55
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Gostaria de reforçar aqui que todo avanço é histórico, cultural e político, por-
tanto, precisa ser conquistado o tempo todo. Assim, não podemos deixar de lado
o importante papel que exercemos, como cidadãos e, principalmente, como edu-
cadores, em relação às mudanças e melhorias necessárias à Educação Infantil.
E para finalizar nossa aula vamos ler o que a professora Zilma de Oliveira
(1994, p. 9) escreveu sobre a diferença entre a história da creche e a da escola
básica.
A história das creches difere da história da escola básica. Esta última foi, primeiro, a escola para
os filhos das classes médias e altas, e a população mais pobre teve, e ainda tem, de brigar para
nela entrar e permanecer. A creche, por outro lado, nasceu acolhendo os pobres e, apenas
recentemente, tem sido tomada e recriada pela classe média.
56
A história das creches
Texto complementar
Histórico da protecção á infancia
no Brasil 1500-1922
(MONCORVO FILHO, 1926, p.138-143)
[...]
Tomando então por lemma o que disséra Tolosa Latour: “redima-se a in-
fancia pela sciencia, pela caridade e pelo amor”, dando cumprimento ao vóto
que fizerámos, imaginámos levantar em nosso paiz uma verdadeira cruzada
em pról da creança, procurando introduzir em noso meio quanto de profi-
cuo fôsse sendo adoptado nos mais adiantados paizes, agindo em todos os
sentidos e particularmente estabelecendo uma energica e extensa propa-
ganda de hygiene infantil, ensinando-se ao povo a verdadeira puericultura,
para que pudesse o Brasil alcançar, ao cabo de algum tempo, o ideal dos
povos civilisados – o melhoramento e a robustez de sua raça pela applicação
utilissima das regras da Eugenia.
57
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
58
A história das creches
Quaes as leis que entre nós garantem a vida e a saude dos pequeninos
recém-nascidos?
59
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Si isso lhe fôr dado, por todos os meios de que dispuzer, envidará o Insti-
tuto esfórços para estabelecer escolas imbecis, idiotas e cretinos.
[...]
Dica de estudo
Uma boa dica de estudo é a leitura da revista Educação, da editora Segmento.
Essa revista traz sempre discussões e pesquisas para educadores. Em um lança-
mento extra, durante o ano de 2009, essa editora está publicando uma coleção
de quatro edições especiais, intituladas Educação Infantil. Vale A pena ler. Versão
eletrônica disponível em: <www.revistaeducacao.com.br>.
Atividades
1. Entre as experiências pioneiras na Europa e nos EUA, que foram citadas nesta
aula, escolha as três que você achou mais interessante e as descreva.
60
A história das creches
61
A organização do espaço
na Educação Infantil – I
que a criança precisa de espaço amplo, aberto e vazio, havendo uma valo-
rização das atividades físicas;
que o modelo educacional a ser seguido deve ser aquele que é “centrali-
zado no adulto”. Seguem, portanto, o modelo escolar tradicional, em que
o professor é o centro da sala de aula. Acreditam, assim, que o desenvol-
vimento da criança ocorre, principalmente, por meio de atividades desen-
volvidas quando as crianças estão sentadas em torno das mesinhas, com
a atendente assumindo o papel tradicional do professor.
64
A organização do espaço na Educação Infantil – I
65
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Elementos contextuais
Ambiente
Pode ser definido de acordo com as condições climáticas. Existem lugares
onde há muita chuva, outros muito frio, ou calor demais. Os ambientes
devem ser pensados de acordo com essas realidades.
66
A organização do espaço na Educação Infantil – I
Escola
Condições arquitetônicas – três aspectos são especialmente relevantes.
Não podemos deixar de pensar nos espaços com áreas de encontro entre
crianças de diversos grupos, também chamados espaços de intersecção.
67
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Lavanderia e área de serviço – precisa ser previsto um lugar onde seja pos-
sível a entrada de sol. As máquinas de lavar roupa ajudam bastante.
68
A organização do espaço na Educação Infantil – I
Sala de reunião – local acolhedor para ser usado como espaço para reu
niões entre funcionários, para encontros periódicos com os pais ou uma
sala de multiuso.
Sala de aula
Elementos estruturais – é o espaço fixo, os elementos permanentes na es-
trutura, tais como:
69
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Decoração – a sala de aula pode estar decorada de tal modo que eduque
a sensibilidade estética infantil. A decoração transforma-se, assim, em
conteúdo de aprendizagem: a harmonia de cores, a apresentação estética
dos trabalhos etc. É comum entrarmos em creches e termos a impressão
de que naquele espaço há apenas reprodução de desenhos criados por
adultos, como os da turma da Mônica, por exemplo, feitos de isopor. Tais
desenhos, copiados e ampliados, dão a ideia de uma exposição artificial,
distante daquela que poderia ser produzida por alguns desenhos e pai-
néis das próprias crianças de um, dois ou três anos e que representariam
cada fase do desenvolvimento que elas estão. Móbiles, quadros e cartazes,
por sua vez, devem ser dispostos na sala e avaliados quanto ao interesse
que despertam. Esses elementos não servem apenas para enfeitar as pa-
redes ou para indicar que uma determinada data, por exemplo, o Natal,
aproxima-se. Eles também devem ser concebidos e usados como um dos
elementos ao redor dos quais as interações adulto-criança podem se de-
senvolver.
70
A organização do espaço na Educação Infantil – I
Elementos pessoais
Crianças
É importante considerar, com relação às crianças, os seguintes itens:
Professores(as)
O modelo educativo que os professores irão adotar vai ser percebido por
meio da sua prática pedagógica.
71
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Dica de estudo
Uma boa revista para manter-se atualizado é a Nova Escola da editora Abril.
Você pode tanto fazer a assinatura, quanto acessar o site <http://revistaescola.
abril.com.br>.
Atividades
1. Por que a organização do espaço físico na Educação Infantil é tão importante?
72
A organização do espaço na Educação Infantil – I
73
A organização do espaço
na Educação Infantil – II
Essas áreas, em geral, são chamadas por diferentes nomes: cantos didá-
ticos, laboratórios, centros de interesse, ateliê, oficinas, cantinhos e outros
mais. Trata-se, na verdade, de espaços de vivência e de aprendizagem que
podem ser utilizados por crianças da mesma idade ou de idades diferentes.
Como vão ser estruturadas essas áreas e quais as atividades que serão
oferecidas vai depender da programação de cada professor e da sua pro-
posta educativa. Alguns espaços, porém, são mais comuns e encontramos
com maior frequência nas creches/pré-escolas, tais como o cantinho das
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
A autora.
Sala de aula na Scuola dell’ Infanzia Anderlini – Modena – Itália.
Outro critério que nos auxilia na organização da nossa sala de aula é uma
delimitação clara das áreas. As áreas de trabalho podem estar bem delimitadas,
de modo que a criança distingua facilmente os limites de cada uma. Isso vai fa-
vorecer o desenvolvimento da autonomia das crianças.
78
A organização do espaço na Educação Infantil – II
adulto
Lavanderia térmica
Vestiário
Mini
ateliê
Refeitório
Sala dos Sala do
pequenos médicos
Banheiro Sala
Ateliê complementar
comum
Banheiro
Pátio
interno
Refeitório
Entrada
Cozinha
79
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
80
A organização do espaço na Educação Infantil – II
Texto complementar
É tempo de brincar lá fora... Aproveite!
Em um espaço externo bem organizado, os pequenos trabalham a colabora-
ção, aprimoram a capacidade motora e exploram a natureza
(BIBIANO, 2009)
81
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
82
A organização do espaço na Educação Infantil – II
Adaptação: Caso não haja espaço para criações, pode-se optar por
animais pequenos, como tartarugas de aquário, peixes e porqui-
nhos-da-índia.
83
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Cuidado: Secar as crianças para evitar resfriados. Isso pode ser feito
também aproveitando o ambiente externo – em esteiras, enquanto
o professor lê histórias para a turma.
Dica de estudo
É importante para o seu estudo, a leitura do encarte publicado em 2006
pelo MEC, intitulado Parâmetros Básicos de Infraestrutura para as Instituições de
Educação Infantil. Esse documento é integrante dos Parâmetros Nacionais de
Infraestrutura para as Instituições de Educação Infantil e contém descrições de
espaços que podem fazer parte de uma instituição educacional para crianças de
0 a 6 anos, alternativas a esses espaços e sugestões para aspectos construtivos.
Você pode encontrá-lo no site:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/miolo_encarte.pdf>.
84
A organização do espaço na Educação Infantil – II
Atividades
1. Quais são os principais critérios para a organização dos espaços da sala de
aula?
85
A rotina na Educação Infantil
Nesta aula, vamos estudar um assunto que faz parte de todo planeja-
mento e que dá segurança ao professor na hora de atuar com as crianças,
trata-se da rotina na Educação Infantil.
Ainda nesse texto, as autoras falam que todos os momentos da rotina das
crianças precisam permitir inúmeras experiências. Assim, para organizar essas
atividades no tempo, é fundamental levar em consideração três diferentes ne-
cessidades das crianças:
As necessidades biológicas, como as relacionadas ao repouso, à alimentação, à higiene e à
sua faixa etária; as necessidades psicológicas, que se referem às diferenças individuais como,
por exemplo, o tempo e o ritmo que cada um necessita para realizar as tarefas propostas; as
necessidades sociais e históricas que dizem respeito à cultura e ao estilo de vida, como as
comemorações significativas para a comunidade onde se insere a escola e também as formas
de organização institucional da escola infantil. (BARBOSA; HORN, 2001, p. 68)
É interessante aqui reforçar a ideia de que a rotina deve prever pouca espera
das crianças, principalmente durante os períodos de higiene e de alimentação.
E o que é possível fazer para que isso não ocorra? A espera pode ser evitada se
organizarmos a nossa sala de aula de maneira que a criança tenha a possibilida-
de de realizar outras atividades, de forma mais autônoma, tendo livre acesso a
espaços e materiais, enquanto o professor está atendendo uma única criança.
Texto complementar
O cotidiano na pré-escola
(SECRETARIA DO MENOR, 1990 p. 73)
88
A rotina na Educação Infantil
No livro Creches: crianças, faz de conta & cia., de Zilma de Oliveira e sua equipe,
afirma-se a ideia de que podemos organizar as atividades realizadas durante o
dia na creche/pré-escola em quatro grupos: organização coletiva, atividades de
cuidado pessoal, atividades dirigidas e atividades livres.
Podem ser diferentes atividades para livre escolha. As crianças definem o que
desejam fazer, e para isso é necessário que o ambiente, em termos de materiais
e espaços, dê condições. Isso não significa que o professor não deva intervir e
acompanhar o que as crianças decidem fazer, ao contrário, é esse um momento
adequado para interações e observações em relação às crianças.
89
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
90
A rotina na Educação Infantil
res e fazer escala de horários. Uma ideia interessante é contar com o auxílio de
algumas crianças durante as refeições: eles adoram ajudar a servir. A montagem
de um buffet, no qual alguns ficam servindo enquanto os outros passam, costu-
ma dar certo.
O sono é outro fator relevante para a saúde da criança. O sono não pode
ser entendido sempre da mesma maneira para cada criança e para cada faixa
etária, pois cada um possui seu ritmo próprio em relação às horas de sono que
necessita para seu descanso. Dessa forma, quanto menor a criança, mais tempo
ela dormirá. À medida em que vai crescendo, a criança não necessitará mais de
tantas horas de sono à tarde. Algumas creches/pré-escolas, no entanto, costu-
mam obrigar as crianças a dormirem após o almoço, não respeitando as neces-
sidades individuais de cada uma delas. Às vezes, utilizam algumas estratégias
que até parecem naturais (ouvir música clássica, assistir vídeo), mas o ideal é que
sejam ofertadas outras opções de atividades para as crianças que não querem
ou não conseguem dormir.
Alguns espaços podem ser adaptados para esse propósito: o canto da lei-
tura, do desenho etc. Sabe-se que, em muitos casos, o problema da exigência
dos momentos de sono da criança é o resultado da falta de pessoal. Ou seja, é
nesse horário que a atendente descansa. Mas isso não é correto. É preciso que
haja profissionais em número suficiente para que seja feito um escalonamento.
Um ponto importante: as crianças nunca devem dormir sem a presença de um
adulto para atender a qualquer eventualidade, como passar mal, acordar aos
sustos, por exemplo. Além disso, o horário é de descanso das crianças e não do
profissional, que nesse momento está trabalhando.
92
A rotina na Educação Infantil
Atividades dirigidas
Na creche, normalmente, as atividades de cuidado pessoal ocupam grande
parte do horário diário, particularmente em turmas de crianças com até um ano,
e as atividades dirigidas acabam por ser limitadas no tempo, entendendo como
atividades dirigidas aquelas que o professor realiza com uma ou poucas crianças,
procurando chamar a atenção para algum elemento novo do ambiente, como
uma figura, uma brincadeira com som etc.
93
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Atividades livres
(isto é, menos dirigidas pelo professor)
Essas atividades devem fazer parte da programação diária de todos os grupos
de crianças, desde o berçário até a turma dos maiores. Não significa que não haja
intervenção do professor e que se possa pensar que as atividades livres podem
ser realizadas sem a devida atenção do professor. Cabe a este organizar espaços
e momentos para que as crianças livremente explorem o ambiente e escolham
suas atividades específicas, mas é sempre interessante que o professor interve-
nha na coordenação das brincadeiras quando assim for necessário e, também,
integre-se como participante. O que se espera do professor é a habilidade de
respeitar as ideias que surgem no grupo de crianças, pois elas são consequên-
cias de experiências vividas.
Dicas de estudo
Recomendo a leitura da revista Avisa Lá, produzida e divulgada pelo Instituto
Avisa Lá – Formação Continuada de Educadores (uma organização não gover-
namental) que tem como objetivo contribuir para a qualificação e o desenvolvi-
mento de competências dos educadores. Se você quiser ter mais informações, é
só acessar o site: <www.avisala.org.br/novo/avisala.asp>.
94
A rotina na Educação Infantil
Atividades
1. Por que a rotina é importante para a criança?
2. No livro Creches: crianças, faz de conta & cia, os autores organizam as ativi-
dades que são desenvolvidas durante o dia na creche/pré-escola em quatro
grupos. Diga quais são esses grupos e explique de forma sucinta cada um
deles.
95
Elaboração da proposta pedagógica:
Diretrizes Curriculares Nacionais
A educadora Maria Isabel Bujes (2001), em seu trabalho Educação Infantil: pra
que te quero, afirma que “o nosso desafio está em conceber novas experiências
no campo do currículo”. E isso significa que precisamos levar para a sala de aula
da creche/pré-escola as mais diversas manifestações culturais que vivenciamos.
Podem ser de caráter político, podem mostrar os diferentes modos de viver e de
se relacionar, podem ser ligadas à literatura, à música, cinema e tantas outras
mais. Assim, podemos trabalhar com os nossos alunos os mais variados conteú-
dos: as eleições de um novo prefeito ou presidente, o incêndio que está acaban-
do com uma de nossas florestas, a organização de uma visita a um parque da
cidade, a vida familiar e tantas outras.
Vamos agora, com base nesse roteiro, montar uma estrutura básica de uma
proposta pedagógica. A ideia não é fixar um modelo, mas sim, poder dar uma
visão geral de alguns critérios importantes.
98
Elaboração da proposta pedagógica: Diretrizes Curriculares Nacionais
Nessa parte, é importante que toda a equipe que esteja envolvida com o tra-
balho defina e explicite quais são os fundamentos teóricos que irão sustentar a
proposta educacional da instituição, deixando claro os enfoques que serão pri-
vilegiados e cuidando para que haja uma real articulação entre aquilo que está
sendo desejado e aquilo que realmente poderá ser feito. Para isso, é fundamental
que se pense como todas as pessoas que desenvolvem o trabalho direto com as
crianças nas creches/pré-escolas irão compreender esses fundamentos teóricos.
E mais, não basta eles conhecerem as bases teóricas, é preciso que absorvam
essas ideias, assumindo o compromisso com a respectiva prática educacional.
Caso seja uma instituição de uma rede pública, é preciso que fique claro qual
é o lugar da Educação Infantil na Secretaria. Também é importante que todos
saibam quais são as funções das pessoas que respondem pela rede na Secretaria
e que seja avaliada permanentemente a articulação entre a unidade de Educa-
ção Infantil e a Secretaria ou Departamento responsável. Porém, sendo pública ou
particular, nessa parte da proposta pedagógica é interessante que a creche/pré-
-escola relate como é o seu funcionamento, a sua estrutura e o seu cotidiano.
Ainda com base no roteiro do MEC, vamos discutir sobre a política de valori-
zação e profissionalização dos recursos humanos e sobre a articulação com outras
instâncias.
99
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Trata-se de uma lei que pode ser considerada como um marco na história
da política nacional para a infância brasileira e que vem reforçar os direitos das
crianças pequenas e de suas famílias com relação à oportunidade de receberem
uma educação de qualidade.
Por meio das nossas propostas pedagógicas é que vamos definir as dire-
ções, isto é, para onde queremos caminhar e que princípios vamos seguir.
100
Elaboração da proposta pedagógica: Diretrizes Curriculares Nacionais
Temos que saber nossos direitos e deveres, as leis e as regras que organizam a
vida em sociedade. Mas, como passar esses conceitos para as crianças? É preciso
ter consciência de que podemos preparar as crianças para o exercício da cidada-
nia desde bebês.
Cada criança pensa, sente e sonha de uma forma especial, só sua. Sabemos
que ela pertence a um ambiente social, mas não podemos deixar de respeitar as
suas especificidades.
101
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
102
Elaboração da proposta pedagógica: Diretrizes Curriculares Nacionais
Toda e qualquer instituição que ofereça Educação Infantil precisa ter em suas
Propostas Pedagógicas planejamentos, estratégias e formas de avaliação dos
processos de aperfeiçoamento dos educadores, desde os que ainda não tenham
formação específica, até os que já estão habilitados para o trabalho com as crian
ças de 0 a 6 anos.
VII - O ambiente de gestão democrática por parte dos educadores, a partir de liderança
responsável e de qualidade, deve garantir direitos básicos de crianças e suas famílias
à educação e cuidados, num contexto de atenção multidisciplinar com profissionais
necessários para o atendimento.
Para que todas as Diretrizes Curriculares sejam realizadas com sucesso são
indispensáveis o espírito de equipe e as condições básicas para planejar os usos
do espaço e do tempo escolar. Precisamos, portanto, estar sempre acertando
acordos, discutindo abertamente e em clima de cooperação.
Texto complementar
Ações complementares no estabelecimento de
critérios para credenciamento e funcionamento
de instituições de Educação Infantil
(ASSIS, 1998)
103
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Dicas de estudo
Para você ampliar seus estudos, recomendo a leitura de dois diferentes sites:
104
Elaboração da proposta pedagógica: Diretrizes Curriculares Nacionais
Atividades
1. O que é uma proposta pedagógica?
2. Com base nas orientações do MEC, como deve ser a estrutura básica de uma
proposta pedagógica?
105
Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil
Esse documento sofreu e ainda sofre críticas por parte de alguns edu-
cadores, porém é consenso quanto ao seu valor. Isso porque, como vocês
sabem, a Educação Infantil costuma ser posta em segundo plano e, nesse
caso, a publicação desse documento significou relevante avanço. Frente
aos raríssimos materiais que o MEC produziu sobre a Educação Infantil, o
Referencial acabou sendo um marco, em termos de reforçar a importância
da Educação Infantil.
108
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
109
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Conhecimento de mundo
expressividade
Movimento
equílibrio e coordenação
o fazer musical
Música
apreciação musical
o fazer artístico
Artes visuais
apreciação em artes visuais
falar e escutar
Linguagem oral e escrita (4 a 6 anos) práticas de leitura
práticas de escrita
organização dos grupos
os lugares e suas paisagens
Natureza e sociedade (4 a 6 anos) objetos e processos de transformação
os seres vivos
os fenômenos da natureza
números e sistema de numeração
Matemática (4 a 6 anos) grandezas e medidas
espaço e formas
110
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
Domínio público.
organização do tempo;
111
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
112
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
113
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Texto complementar
(PALHARES; MARTINEZ, 2000, p. 13-14)
114
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
Dica de estudo
Caso você tenha alguma dúvida sobre o Referencial Curricular Nacional para
a Educação Infantil, você pode acessar o site: <www.klickeducacao.com.br>.
Atividades
1. Explique o que é o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.
115
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
116
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
117
O planejamento das atividades
na Educação Infantil
Essas três fases não ocorrem de maneira estanque, elas podem acon-
tecer simultaneamente, ou seja, podemos estar realizando uma atividade
e, ao mesmo tempo, já estarmos fazendo a sua avaliação e pensando em
uma nova proposta.
Existem vários níveis de planejamento. O mais geral seria aquele que en-
volve toda a instituição, ou seja, que a vê como um todo. Inclui acordos sobre
aspectos setoriais da educação e permite controlar se toda a engrenagem
está funcionando. Sabemos que a ação educativa de cada professor tomada
individualmente não garante coerência, continuidade e compartilhamento
dos mesmos critérios. Por exemplo: a acolhida aos familiares e às crianças,
as normas relativas às refeições e a organização das áreas estruturadas nos
espaços de uso comum (interseção). Portanto, a realização de determinados
acordos entre as equipes de professores é fundamental.
Entretanto, não deve o planejamento ser entendido como uma rotina que
precisa ser elaborada e seguida estritamente, sem poder ser alterada. Tampouco
deve-se considerar o planejamento algo meramente formal, que se elabora e
depois se guarda na gaveta. Planejar é um instrumento para ordenar e organizar
um ensino de qualidade.
cantinhos ou oficinas;
120
O planejamento das atividades na Educação Infantil
levar os pratos servidos até a criança que o educador indicou (“Leva este
prato para a Laura”).
121
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Itens da programação
Que lugar a atividade didática ocupa no conjunto do programa?
Laboratório da comunicação
Móveis e materiais
A organização física do laboratório deve permitir a realização de atividades
individuais e em pequenos grupos, com ou sem a direção do educador. Para esse
fim, é necessário que o laboratório possua:
123
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Laboratório do ambiente
Móveis e materiais
Esse laboratório está voltado aos fenômenos e aos materiais vinculados ao
ambiente natural; as situações e os objetos relativos ao ambiente social que cir-
cunda diretamente a criança. Podem ser previstos:
vários potes para jogos com água e com diferentes recursos ambientais
como, por exemplo: folhas, areia, conchas etc.; murais nas paredes para
“mostras”; aquário; pequenos instrumentos de jardinagem para cultiva-
ção de pequenas hortas e jardins.
Laboratório da lógica
Móveis e materiais
Costuma-se organizar um espaço com a finalidade de desenvolvimento de
atividades, de preferência, individuais ou em pequenos grupos. Deve-se prever
a disponibilidade de:
124
O planejamento das atividades na Educação Infantil
jogos de encaixe;
jogos de classificação;
jogos de seriação;
Laboratório do corpo
Móveis e materiais
O laboratório deve ser organizado em um espaço relativamente amplo para
permitir atividades motoras adequadas. Os objetos ali colocados devem estar
guardados de maneira que haja possibilidade de eles serem usados em diferen-
tes atividades. Uma boa estrutura precisaria ter:
jogos de equilíbrio;
jogos de precisão;
125
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
jogos de manipulação;
É possível mover objetos com ímã? Segurar o ímã e tentar mexer alguns obje-
tos dispostos na superfície.
O ar: uma folha de papel fica no ar por mais tempo que uma bolinha de papel
amassada? Soltar as duas juntas!
A mala do confeiteiro
A mala é composta de uma chapeleira de cartolina, “disfarçada” de bolo, que
vai conter:
126
O planejamento das atividades na Educação Infantil
Como usar?
127
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Haverá cantinhos que estarão presentes durante todo o ano e outros que
terão uma vida mais curta. Alguns cantinhos não variam quanto ao material,
às propostas e às intervenções do professor; outros, entretanto, mesmo que se
mantenham durante todo o ano letivo, passarão por modificações muito im-
portantes. Como, por exemplo, o cantinho da casinha pode ser organizado de
formas diferentes em determinados períodos de acordo com o que pode estar
sendo trabalhado em um projeto.
Texto complementar
Exemplo de programação
de uma unidade didática
(BORGHI; GUERRA, 1992, p. 201-202)
Objetivos:
128
O planejamento das atividades na Educação Infantil
Dicas de estudo
Duas boas dicas de estudo para você:
Atividades
1. Como deve ser entendido o planejamento na Educação Infantil?
129
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
2. O planejamento de uma forma simplificada envolve três fases. Quais são es-
tas fases?
130
O planejamento das atividades na Educação Infantil
131
O trabalho com projetos
e de trajetória. Mas isso não importa, o que vale é que eles sempre geram novas
aprendizagens e às vezes até novos projetos. Essas mudanças, que são necessárias
em um projeto, dependem do professor. Ou seja, ele deve estar sempre atento,
observando cada etapa, e deve ser capaz de avaliar permanentemente o processo,
estando sempre aberto à possibilidade de reestruturação do trabalho proposto.
Não existe uma regra para essa definição. Mas nós podemos pensar em alguns
critérios que podem ser seguidos.
O que é importante nós sabermos é que a ideia escolhida deve mobilizar o in-
teresse do grupo como um todo. Tanto as crianças quanto os professores devem
sentir-se atraídos pela questão. Vocês já se imaginaram conduzindo um projeto
sobre um assunto que acham chato? Iria ficar bem difícil, não é?
Os projetos podem ser realizados tanto nas creches quanto nas pré-escolas,
isto é, com bebês ou com crianças maiores. Os temas a serem trabalhados com
os bebês vão depender basicamente da observação que o professor faz da sua
turma de crianças. Assim, vai ser de acordo com essa leitura que o professor irá
escolher as atividades que podem ser importantes ao desenvolvimento das
crianças. Pode-se iniciar, por exemplo, por meio das atividades de exploração
dos materiais da sala, momento em que o professor observa, anota e, posterior-
mente, organiza atividades com um maior nível de complexidade e que geral-
mente se desenvolverão em torno de um eixo temático.
Para ficar mais claro, dou um exemplo de um projeto para bebês. Ele foi desen-
volvido para crianças de 1 a 2 anos de idade, em uma escola infantil da cidade de
Barcelona, na Espanha, por ocasião das Olimpíadas, descrito no texto já citado
de Barbosa e Horn. O nome do projeto é: “Aprendendo a mover-se no mundo”.
134
O trabalho com projetos
rolando no tapete;
rastejando no colchonete;
saltando;
pendurando-se na barra;
virando cambalhotas.
mergulhar;
flutuar;
saltar.
135
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Empurrar o carrinho.
136
O trabalho com projetos
Comprar de tudo.
Olhar-me no espelho.
Quem é o gerente?
“Ele é um presidente.”
“Ele é aquele que fica vigiando para ver se alguém rouba o dinheiro.”
Questões ao gerente
“Você é um chefe?”
137
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Através do trabalho com projetos, podemos ver como a criança pode se en-
volver de diferentes maneiras na busca de uma compreensão mais profunda de
tudo aquilo que está à sua volta.
138
O trabalho com projetos
“Existem montes de pessoas que estão indo ver uma partida de futebol. E só
tem homens mesmo.”
139
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
era inferior ao nível das descrições verbais. Assim, decidiram deixar o projeto de
lado por alguns dias, e passaram a pensar sobre algumas questões por exemplo,
porque isso acontecia com as crianças, como eles poderiam ajudá-las a integrar
suas diferentes linguagens simbólicas, o que fazer para que as crianças se cons-
cientizem de seu próprio processo de aprendizagem. Decidiram, assim, ler em voz
alta os comentários anteriores que as próprias crianças haviam feito (os professores
costumam gravar as discussões das crianças e, posteriormente, transcrevem suas
ideias) enquanto elas olhavam os desenhos. As crianças fizeram novos desenhos
e, dessa vez, a professora observou um avanço com relação ao vocabulário delas,
sendo que também as imagens tornaram-se mais elaboradas e detalhadas. Por
exemplo: uma menina, recordando quanto à palavra multidão, disse: “Ela vai para
a esquerda, para a direita, para a frente, e quando eles esquecem algo, eles voltam”.
Em seguida, a menina percebeu que suas afirmações não combinavam com seus
desenhos, já que as figuras no papel estavam todas voltadas para a frente. Sentiu-
-se incomodada e rapidamente deu a seguinte explicação: no desenho, ela havia
mostrado apenas um pedaço da multidão, com pessoas que não esqueciam nada,
e que por isso elas estavam todas caminhando para a frente. Um outro menino re-
velou que em seu desenho todos olhavam para a frente, menos um cachorro que
estava de perfil e admitiu que só sabia desenhar cães desse modo. Outra criança
também falou sobre sua preocupação com seu desenho, explicando que, se as
pessoas continuassem caminhando para a frente, conforme ele havia desenhado,
elas acabariam se chocando contra a parede.
140
O trabalho com projetos
Texto complementar
Preparação do projeto
Pense em termos de “reconhecimento”, em vez de “planejamento”.
141
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Estratégias de representação
Peça que as crianças copiem representações de adultos, como mapas.
Dinâmica de grupo
Utilize, no nível adulto, os tipos de participação democrática, de apren-
dizagem cooperativa e de resolução de conflitos que está tentando
ensinar às crianças.
142
O trabalho com projetos
Faça uso do interesse das crianças por regras como um meio educa-
cional.
Estratégias didáticas
Proporcione situações que desafiem as crianças intelectual e emocio-
nalmente.
143
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Objetivos cognitivos
Encoraje as crianças a pensarem sobre aquilo que algo não é.
144
O trabalho com projetos
Dica de estudo
Uma boa dica de estudo para essa aula é a leitura da revista Zero-a-Seis, pu-
blicada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas da Educação na Pequena Infância
(Nupein) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A revista divulga
atividades de estudo e pesquisa da Educação Infantil não só produzidos por
professores e alunos da UFSC, como também aceita colaborações de autores de
outras instituições.
Atividades
1. O que significa trabalhar com projetos?
145
A inserção da
criança na creche
Imagino que vocês já devem estar se perguntando por que estou usando
esta palavra, inserção. Sei que o mais comum mesmo é usarmos o termo
adaptação. Mas, eu, assim como alguns educadores, não gosto muito da
palavra adaptação. Sabem por quê? Porque adaptação quer dizer acomo-
dação, ajustamento, ou seja, a aceitação, a submissão a uma determinada
situação. Educação não combina com submissão e, por isso, prefiro falar em
inserção, ou seja, a criança vai se inserir em uma instituição educativa.
Analisando pela perspectiva dos pais, precisamos pensar que, para eles,
a ida da criança para a creche é, na maioria das vezes, uma decisão difícil,
acompanhada de vários conflitos. Em geral, há a necessidade do pai e da
mãe trabalharem fora e não poderem mais contar com o apoio dos avós,
mas eles ainda se sentem inseguros com relação a matricular seu filho em
uma instituição de Educação Infantil. Infelizmente, existe ainda a crença
de que o ideal e o “normal” para a criança é que ela seja cuidada pela mãe.
Esse pensamento, por vezes dominante, contribui para dificultar a separa-
ção dos pais com a criança.
Sabemos que, nos últimos anos, a pedagogia da creche vem sendo re-
vista e a questão da inserção da criança vem tendo papel de destaque.
Assim, as propostas educacionais vêm incluindo a inserção gradual da
criança, respeitando as suas exigências e a de seus pais, e também per-
mitindo que o professor conheça individualmente as novas crianças que
ingressam na creche.
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Bem, diante desse quadro, pergunto: será que esta separação afeta só a
criança? Na verdade, a quem atinge esta separação?
Mas por que a separação entre mãe e filho é ainda vista como um momen-
to de sofrimento? No texto “A inserção”, de Susana Mantovani e Nice Terzi (In:
BONDIOLI; MANTOVANI, 1998) explica-se que temos que ficar atentos para não
confundir sofrimento, trauma, com um certo “cansaço” de crescer, de enfrentar
as novidades. É bom lembrarmos que um certo nível de frustração às vezes é
necessário ao crescimento. Winnicott, psicólogo americano, dizia que a criança
precisava de uma mãe “suficientemente boa”, ou seja, que uma mãe não precisa
ser perfeita, e que é saudável que ela produza algumas frustrações, ou então, a
criança nunca conseguirá separar-se dela. Uma mãe que comete erros e que está
consciente de seu caráter humano é, provavelmente, uma mãe mais tolerante
com as imperfeições de seu filho.
148
A inserção da criança na creche
149
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
É difícil sabermos quanto tempo vai durar esse período delicado, em que
todos os envolvidos – criança, família e professor – estão se conhecendo. Mas é
certo que se trata de uma fase, na qual é fundamental que os pais possam ficar
junto aos seus filhos, na sala, até que estes adquiram um pouco de confiança no
novo ambiente.
No entanto, parece aceitável a ideia de que não se deve mentir para a criança,
dizendo que os pais ficarão esperando do lado de fora, quando, na verdade, vão
embora. Os professores também não devem aceitar essa atitude dos pais. A crian-
ça precisa saber que seu pai e/ou a sua mãe necessita trabalhar, mas que voltará
mais tarde para apanhá-la. A criança, certamente, não aceitará essa explicação
e protestará, mas é melhor que saiba a verdade, expresse os seus sentimentos e
descubra com o tempo que os pais não estão enganando-a, pois voltam todos
os dias para buscá-la.
150
A inserção da criança na creche
pessoa na qual a criança confie (tia, avó, avô, babá). O importante é que se esta-
beleça esse elo entre a família e a creche.
Por isso, pais, mães e familiares devem ter o direito de circular nas depen-
dências da creche, recebendo todas as informações necessárias sobre a rotina
ali desenvolvida. Precisamos entender que, para muitos pais, independente da
sua situação socioeconômica, esse é um momento muito difícil e só vão ficar
tranquilos quando confiarem totalmente na instituição. Mas essa confiança não
acontece de um dia para o outro. Por isso, nós, professores, precisamos ter matu-
ridade profissional suficiente para compreender e auxiliar nesse processo.
151
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Nido, ainda não traduzido para o português, mas que significa “Comunicação
Interpessoal e Inserção da Criança à Creche”.
Pressupostos teóricos
A inserção na creche é vista como uma experiência que “separa aquilo que
era unido e une aquilo que era separado”.
152
A inserção da criança na creche
153
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Texto complementar
A entrevista com os pais antes da inserção
(BORGHI; GUERRA, 1992, p.101-103)
Os objetivos da entrevista
Os objetivos da inserção
154
A inserção da criança na creche
Os objetivos da creche
que coisas a criança sabe fazer em casa; que coisas lhe agradam
mais; os jogos/brincadeiras que mais gosta;
quais são as pessoas a quem ela é mais apegada; quais são as divi-
sões de tarefas, em família, com relação aos cuidados com a criança;
episódios particulares.
quem fica mais tempo com a criança; para que coisas a criança se
volta à mãe e para quais ao pai;
o que a criança mais gosta de fazer com o pai, com a mãe, com
outra pessoa;
155
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Dica de estudo
Caso você queira conhecer mais sobre o processo de inserção da criança na
educação infantil, recomendo a leitura do trabalho “Adaptação Escolar no Con-
texto da Educação Infantil: o desafio de uma nova realidade”, de Luciana Agos-
tinho Rizo. Cadernos Camilliani: Cachoeiro do Itapemirim, v. 1, n. 1, p. 92-102,
dez., 2000. O resumo pode ser encontrando no site <www.inep.gov.br/pesquisa/
bbe-online/det.asp?cod=52979&type=P>.
156
A inserção da criança na creche
Atividades
1. Por que a autora utilizou a palavra “inserção” e não “adaptação”?
157
Jogos e brincadeiras
Infância e brincar são termos muito próximos nos seus sentidos mais
amplos. As crianças sempre brincaram. Desde épocas mais antigas, as
crianças procuram conhecer o mundo por meio de adivinhas, faz de conta,
jogos com bolas, rodas, cordas e bonecos.
Podemos observar nas artes em geral que várias gerações deixaram re-
gistrados diferentes aspectos da vida cotidiana, nas quais se vê a presença
dos jogos, das brincadeiras e dos brinquedos. Existem muitos jogos tradi-
cionais, como a amarelinha, em que as regras podem variar ao longo do
tempo, mas os princípios do jogo permanecem os mesmos. Alguns desses
jogos existem há cem ou até mesmo mil anos.
Bruno Bettelheim (1988), em seu livro Uma Vida para seu Filho: pais bons o bas-
tante, fala que a brincadeira é uma ponte para a realidade e que nós, adultos, atra-
160
Jogos e brincadeiras
Nesse mesmo raciocínio, Vera Lúcia dos Santos, no texto citado anteriormen-
te, ao classificar os jogos simbólicos, fala do jogo do tipo “liquidação”. É quando
a criança busca superar situações desagradáveis. É como se ela zombasse de
suas próprias limitações e as enfraquecesse. Sensações de medo, dor ou tensão
podem ser superadas ao serem vivenciadas por meio da fantasia. Ela dá o se-
guinte exemplo: uma criança de dois anos e meio, impressionada com a história
dos três porquinhos que tinha acabado de ouvir, começa a imitar o lobo mau e
solicita que a passagem que mais a amedrontou seja repetida novamente.
À medida que ela cresce, as brincadeiras modificam-se, evoluem. Isso fica evi-
dente quando observamos crianças de idades diferentes brincando juntas. Em cada
estágio de desenvolvimento, os jogos infantis têm características específicas.
A seguir, vamos ver uma abordagem evolutiva dos jogos, baseada em estu-
dos realizados por Jean Piaget e apresentada pela professora Vera Lúcia Santos,
ainda no texto já citado. Observem que as faixas etárias e as fases não devem
ser delimitadas de maneira rígida, pois cada etapa conserva características das
etapas anteriores e antecipa outras, de etapas posteriores.
que ela vai aprendendo sobre o seu meio sociocultural. São os jogos simbólicos,
também chamados de “faz de conta”. Por meio deles, a criança expressa a sua
capacidade de representar dramaticamente.
Entre 1 ano e meio e 3 anos de idade, a criança começa a imitar suas ações
cotidianas e passa a atribuir vida aos objetos. Ela, então, imita a si mesma: finge
que está chorando, toma banho de mentirinha etc.; e passa também a se distan-
ciar das suas ações quando, por exemplo, faz com que a boneca ou o patinho
tenham vida e respondam a seus desejos. É comum vermos uma criança, após
ter sido vestida pela mãe, pegar sua boneca e repetir o mesmo ritual, vestindo-a
e conversando animadamente com ela, não é?
As primeiras imitações que a criança faz do mundo adulto acontecem por meio
da sua observação e normalmente vai imitar modelos que estão próximos a ela,
ou seja, os pais, os irmãos, os avós e todas as outras pessoas que façam parte do
seu mundo. Ela vai, primeiramente, observar com atenção os gestos e as ações das
pessoas e, depois, de uma forma mais simplificada, vai reproduzi-los.
A criança deseja montar em um cavalo, mas não sabe como fazê-lo e ainda
não poderia de fato aprender, porque montar a cavalo é algo que está além de
sua capacidade. Então ela toma uma vassoura – um objeto do mundo ao qual
tem acesso – e a coloca no lugar do cavalo. A criança sabe que a vassoura con-
tinua sendo uma vassoura, enquanto brinca de “montar a cavalo”, mas no jogo,
embora conserve seu significado, a vassoura adquire um sentido diverso, um
sentido lúdico, o sentido de um cavalo.
163
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Dos 4 aos 7 anos, a busca pela aproximação ao real vai caracterizar os jogos
simbólicos. A criança desejará imitar de forma mais coerente.
Segundo a professora Vera Lúcia dos Santos, no decorrer da fase do jogo simbó-
lico, existem três características fundamentais que evoluem simultaneamente:
164
Jogos e brincadeiras
O papel do professor
Cientes da importância dos jogos e das brincadeiras na Educação Infantil, o
professor deve elaborar propostas de trabalho que incorporem as atividades
lúdicas.
Para que um professor introduza jogos no dia a dia de sua classe ou planeje
atividades lúdicas, é preciso, em primeiro lugar, que ele acredite que brincar é
essencial na aquisição de conhecimentos, no desenvolvimento da sociabilidade
e na construção da identidade.
A professora Vera Lúcia dos Santos diz que a atitude do professor é, sem
dúvida, decisiva no que se refere ao desenvolvimento do faz de conta. E em seu
texto, já citado anteriormente, ela destaca três funções diferenciadas que podem
ser assumidas pelo professor, conforme o desenrolar da brincadeira:
165
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Texto complementar
Jogo e trabalho
(DANTAS, 1998, p. 85-87)
166
Jogos e brincadeiras
É claro que substituir “prazer” por “liberdade” não facilita em nada a tarefa
de definir o lúdico. Nos dicionários filosóficos, liberdade confina com “onipo-
tência”, por um lado, e com “consciência” e racionalidade, por outro, tornan-
do inviável qualquer tentativa de entender a noção em sentido absoluto. Se
modestamente nos contentarmos em empregá-la com o sentido de alguma
possibilidade de escolha, teremos que nos referir a graus de liberdade que
começam com a possibilidade de recusar o convite adulto, e se ampliam na
medida em que se multiplicam as alternativas de atividade. Em uma sala
vazia, uma criança não pode exercer atividade livre; sua liberdade cresce
na medida em que lhe são oferecidas possibilidades de ação, isto é, opções.
Nesse sentido, a liberdade da criança não implica no aumento das ofertas
adequadas às suas competências em cada momento do desenvolvimento.
Povoar o espaço com jogos viáveis, passíveis de utilização autônoma, requer
um alto grau de conhecimento psicogenético.
Não estou afirmando que nenhuma atividade deve ser imposta: o equi-
líbrio entre o livre e o imposto precisa ser encontrado. Apenas digo que a
atividade imposta é trabalho, o que resulta simultaneamente em duas exi-
gências: a de não descaracterizar, poluir mesmo, o clima lúdico com a insin-
ceridade e a coação, e a de enfrentar a necessidade de incluir, desde o início,
a atividade instrumental e produtiva, ao lado da atividade lúdica, na educa-
ção. A dialética jogo-trabalho é indispensável à saúde de ambas as práticas:
167
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Dicas de estudo
Sobre jogos e brincadeiras recomendo a leitura complementar de dois
livros:
SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedoteca: sucata vira brinquedo. Porto
Alegre: Artmed, 1995. Você encontrará orientações claras e ilustradas sobre
como organizar esse espaço lúdico, com materiais atraentes e educativos com
baixo custo.
Atividades
1. Explique por que brincar é tão importante para a criança pequena.
168
Jogos e brincadeiras
2. De uma forma sucinta explique o papel do professor com relação aos jogos
e brincadeiras na Educação Infantil.
169
A disciplina na
Educação Infantil
Regras de convivência
Essas regras vão auxiliar a criança na compreensão de como agir em
diferentes situações do seu dia a dia. É, portanto, responsabilidade do
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
A autora.
Observem o cartaz preso na parede indicando o estabelecimento de algumas
regras de convivência. (Scuola Materna Anderlini – Modena – Itália).
172
A disciplina na Educação Infantil
Não podemos deixar de lembrar que o exemplo dos pais e dos professores é
fundamental. A partir dele, as crianças se baseiam para construir as suas próprias
relações sociais.
E o que são os limites? É quando definimos o que pode e o que não pode ser
feito em diferentes situações. Coloca-se limites quando se diz que não se pode atra-
vessar a rua correndo, nem se debruçar em uma janela, ou quando os pais mandam
seus filhos tomar banho ou arrumar a cama. Porém, no cotidiano, sabemos que nem
sempre as crianças seguem o que foi determinado. Como agir então?
Conclui-se que os limites são fundamentais para todas as crianças, mas que
se deve saber como apresentá-los, considerando a sua idade, o seu modo de ser
e a situação específica.
No livro Creches: crianças, faz de conta & cia, a educadora Zilma de Oliveira e
sua equipe falam que:
As crianças devem e podem ter acesso a todos os objetos e locais da creche. Mas para que
isso aconteça é preciso permitir. Assim, elas podem fazer incursões na cozinha, conhecendo
como se prepara os alimentos e até auxiliando a cozinheira no enfeite de um bolo ou na
separação dos talheres. Podem também aprender muito com o(a) faxineiro(a) usando uma
vassoura pequena para ajudá-lo na limpeza. São sempre curiosas para saber como o zelador
corta a grama, ou a lavadeira pendura as fraldas nos varais. Evidentemente, não é possível
permitir trânsito livre a qualquer momento para todas as pessoas que convivem na creche. É
preciso que a criança aprenda os limites da instituição e do outro, para que ela desenvolva uma
autonomia responsável. Não é possível exigir das crianças nos primeiros quatro anos de vida
que se ajustem a regras que não são capazes de cumprir, nem a uma disciplina a qual não estão
preparadas para assimilar e muito menos que tal disciplina se assemelhe à disciplina escolar.
(OLIVEIRA et al., 1992, p. 99)
Castigos e recompensas
Constance Kamii fala que:
Se queremos que as crianças desenvolvam a autonomia moral, devemos reduzir nosso poder
adulto, abstendo-nos de usar recompensas e castigos e encorajando-as a construir por si
mesmas seus próprios valores morais. Por exemplo, a criança terá a possibilidade de pensar
sobre a importância da honestidade somente se, ao invés de ser punida por contar mentiras,
ela for confrontada com o fato de que outras pessoas não podem acreditar ou confiar nela.
(BRASIL, 1995b, p. 73)
Summerhill
A escola de Summerhill foi fundada em 1921 e está situada na aldeia de
Leiston, na Inglaterra.
174
A disciplina na Educação Infantil
Alexander Neill e sua esposa, quando começaram a escola, tinham como ideia
principal fazer com que a escola se adaptasse às crianças, em lugar de fazer com
que as crianças se adaptassem à escola. Resolveram, então, fazer uma escola na
qual dariam às crianças a liberdade de serem elas próprias. Para fazer isso, tive-
ram de renunciar inteiramente à disciplina, à direção, à sugestão, ao treinamento
moral e à instrução religiosa.
Eles são contra a escola que faz com que alunos ativos fiquem sentados nas
carteiras, estudando assuntos em sua maioria inúteis. Por isso, a frequência às
aulas é opcional. As crianças podem comparecer ou não, e isso durante anos, se
assim o desejarem. Há um horário, mas só para os professores. As crianças têm
aulas, habitualmente, de acordo com a sua idade, mas, às vezes, de acordo com
os seus interesses.
A pergunta mais comum que os visitantes fazem é: “Mas a criança um dia não
se voltará contra a escola, culpando-a por não a ter feito estudar Matemática ou
Música?” A resposta é que a função da criança é viver sua própria vida, não a vida
que seus pais, angustiados, pensam que elas devem levar.
175
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Neill acredita que Summerhill é a escola mais feliz do mundo, onde as crianças
são saudáveis, livres e cujas vidas não estão contaminadas pelo medo e pelo ódio.
Texto complementar
Sobre a disciplina
(BETTELHEIM, 1988, p. 90-91)
[...] Uma criança fica mais impressionada com seus pais quando estes
agem naturalmente, sem ligar para o efeito; e o exemplo de autorrespeito é
tão irresistível que uma criança dificilmente pode evitar o desejo de emular
seus pais. Um pai que se respeita não precisa reforçar sua segurança, exigin-
do respeito de seu filho. Seguro de si, não se sentirá ameaçado em sua autori-
dade e aceitará que seu filho – por vezes – mostre falta de respeito para com
ele, sobretudo como as crianças pequenas tendem ocasionalmente a fazer.
Ele sabe que, se isso acontece, é devido à imaturidade de julgamento que o
tempo e a experiência por vezes corrigirão. Por outro lado, uma exigência de
respeito revela à criança um pai inseguro a quem falta a convicção de que
isso lhe será dado naturalmente. O que é exigido é dado, quando o é, de
má vontade, e é sempre experimentado, consciente ou inconscientemente,
como proveniente da insegurança interior da pessoa que exige. Quem gos-
taria de se formar à imagem de uma pessoa assim? Infelizmente, o filho de
pais inseguros quase sempre cresce como eles. Mesmo que ele não internali-
ze e, portanto, não adote a atitude de seus pais, a falta de pais autoconfiáveis
é suficiente para fazer a criança transformar-se num adulto inseguro.
Toda vez que um pai prega aquilo que não pratica, a lição fracassará re-
dondamente, no sentido de que não se generalizará além da instância espe-
cífica. Na verdade, quanto menos deliberada for a instrução dada pelo pai e
quanto mais ele viver consistentemente de acordo com seus próprios valo-
res, de forma natural, melhor.
176
A disciplina na Educação Infantil
ção de métodos de ensino, materiais etc., não forneceu qualquer pista; mas
quando os pesquisadores formularam a pergunta sobre controle paterno
ficou visível que havia divergências culturais radicais que pareciam explicar
as diferenças na realização acadêmica. Quando crianças ocidentais corriam
de um lado para o outro em supermercados, suas mães, frequentemente
demonstrando aborrecimento, lhes diziam: “Pare com isso,” quando não gri-
tavam com os filhos. No melhor dos casos, uma mãe diria: “Eu lhe disse para
não se comportar dessa maneira!” Uma mãe japonesa abstém-se tipicamen-
te de dizer ao filho o que fazer. Ao invés disso, perguntar-lhe-á: “Como é que
você acha que o dono se sente quando você corre de um lado para outro em
sua loja?” ou “Como é que você imagina que eu me sinto?”
Similarmente, uma mãe ocidental mandará seu filho comer alguma coisa,
ou lhe dirá que deve comê-la porque é bom para ele, enquanto uma mãe
japonesa perguntará: “Como é que você acha que se sente o homem que
cultivou esses legumes para você comer, quando você os rejeita?” ou “Como
é que você acha que se sentem essas cenouras que cresceram para você co-
mê-las, quando você não as come?” Assim, desde tenra idade diz-se à crian-
ça ocidental o que fazer, enquanto a criança japonesa é encorajada não só
a considerar os sentimentos dos outros – parte importante da socialização
japonesa, bem menos importante na socialização ocidental e, portanto, nos
preocupando menos aqui – mas a refletir sobre o seu comportamento, ao
invés de limitar-se a obedecer ordens.
Dica de estudo
Há um artigo intitulado “Escola da Ponte: o castigo é ficar a reflectir!!!” em que
se fala como a disciplina é tratada na Escola da Ponte em Portugal. É apenas uma
breve abordagem, mas que pode levantar muitos questionamentos e até a von-
tade de conhecer mais sobre essa escola. Para ter acesso ao texto, basta procu-
rar no seguinte endereço eletrônico: <http://professorasdesesperadas.blogspot.
com/2005/12/escola-da-ponte-o-castigo-ficar.html>.
177
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Atividades
1. No que o professor precisa pensar para trabalhar a disciplina na Educação
Infantil?
178
A disciplina na Educação Infantil
179
As políticas de formação
de professores para a Educação Infantil
Ainda neste documento, apresenta-se uma tabela (de 1996) com algumas in-
formações sobre os docentes que atuam na pré-escola.
Vamos agora ver os dados apresentados pelo Censo Escolar de 2005 com
relação ao nível de formação dos profissionais com função docente no Brasil:
Curso Curso
Ensino Médio Ensino Superior
Fundamental Fundamental TOTAL
Completo Completo
Incompleto Completo
Creches 1402 1,62% 3686 4,27% 56166 65% 25078 29% 86332 100%
Pré-escolas 1300 0,42% 6097 1,97% 178187 56,6% 123760 40% 309344 100%
Pode-se perceber que durante esses nove anos (1996-2005), houve uma sig-
nificativa melhora com relação à formação dos professores que atuam nas pré-
-escolas, porém, assim como o número de matrículas das crianças na Educação
Infantil, a formação dos profissionais ainda precisa progredir muito.
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso
de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação,
admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na Educação Infantil e nas
quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade
Normal.
Até o fim da década da Educação somente serão admitidos professores habilitados em nível
superior ou formados por treinamento em serviço.
A lei não é absolutamente clara como deveria ser, deixando espaço para di-
ferentes interpretações. Após anos de discussão entre educadores, de como de-
182
As políticas de formação de professores para a Educação Infantil
veria ser a formação de nossos professores, o MEC iniciou uma série de reformu-
lações nos cursos de Pedagogia e acabou por excluir os Institutos Superiores de
Educação e o Curso Normal Superior.
183
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Apesar de nem todas essas ideias terem sido colocadas em prática, pode-
-se dizer que entre 1994 e 1998 houve uma maior mobilização com relação à
Educação Infantil do que no período posterior a 98. Isso aconteceu porque esses
encontros e publicações acabaram por estimular a constante discussão, atrain-
do mais a atenção dos educadores em geral e, principalmente, a opinião da so-
ciedade. Outro aspecto importante a ser observado no caminhar da Educação
Infantil é que essas políticas apresentadas não se caracterizam mais por ações
de caridade e voluntarismo, pelo menos é possível concordarmos com as ideias
ali expressas.
184
As políticas de formação de professores para a Educação Infantil
Nas visitas realizadas pela equipe técnica, constatou-se que há ainda uma
situação bastante precária no que se refere aos profissionais que atuam mais di-
retamente com as crianças nas creches. Esses possuem, em sua maioria, apenas
o ensino fundamental. Muitos são bolsistas, sem vínculo empregatício algum.
Mesmo quando existe um plano de cargos e salários, o que sem dúvida significa
um avanço, a remuneração é baixa em relação à carga horária de trabalho exigi-
da. Acrescente-se a isso a contradição vivida por esses profissionais, ao convive-
rem, num mesmo espaço, com professores vinculados às secretarias de educa-
ção, que trabalham em classes de pré-escola nas creches, com melhor situação
funcional e trabalho diferenciado, tanto no que se refere à carga horária quanto
às atribuições.
Ainda nas visitas, observou-se outra situação que revela precariedade: são os
recursos materiais e a dificuldade de acesso aos bens culturais por parte dos pro-
fessores/educadores. Em apenas alguns locais, os profissionais recebem material
de apoio ao seu trabalho, bem como publicações específicas sobre a produção
científica na área da Educação Infantil para compor a biblioteca de suas institui-
ções, além de videotecas à sua disposição.
186
As políticas de formação de professores para a Educação Infantil
Essa versão preliminar é definida como uma ação inicial de um processo de in-
terlocução com a comunidade educacional, pretendendo oferecer aos sistemas
estaduais e municipais de ensino uma meta de qualidade para a intervenção na
formação de professores. Esse documento foi organizado em quatro partes que
abordam os seguintes aspectos:
187
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
188
As políticas de formação de professores para a Educação Infantil
189
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
190
As políticas de formação de professores para a Educação Infantil
Texto complementar
É tão fácil aniquilar mentes brilhantes
(DIMENSTEIN, 2002)
Traduzindo: assim como precisa da luz para formar a visão, a criança preci-
sa também de brincadeiras, de jogos educativos, de conversas e, mais tarde,
de ouvir histórias que a ajudem a se preparar, até mesmo neurologicamente,
para aprender – sem esses estímulos, ela vai carregar para sempre uma “defi-
ciência visual”, mesmo que os olhos funcionem perfeitamente.
Esse é um dos fatores, entre tantos, que ajudam a entender uma pesquisa
divulgada na semana passada (Indicador de Alfabetismo Funcional), basea-
191
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
De acordo com dados oficiais, cerca de 30% das cidades brasileiras não
têm creches; as médias nas regiões Norte e Nordeste são evidentemente
mais elevadas. Das creches existentes, apenas 24% têm fraldários. Oficinas
de arte e música, recursos pedagógicos indispensáveis, são oferecidas por só
15% dos estabelecimentos.
Isso se explica, mais uma vez, pela desinformação. Dados do Inep (Institu-
to Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais): só 11,3% dos profissionais
de creches públicas têm diploma de ensino superior. Na pré-escola (frequen-
tada por crianças de quatro a seis anos de idade), a situação é melhor, mas
apenas ligeiramente melhor: são 24% os profissionais de nível superior.
192
As políticas de formação de professores para a Educação Infantil
Não é preciso ter uma mente brilhante para perceber que a miséria e a
desigualdade social se reproduzem na oportunidade que alguém, ao nascer,
tem ou não de “ver” novas perspectivas. Como a cegueira intelectual não é
privilégio dos mais pobres, o tema da educação de zero a seis anos ainda
está na escuridão.
Dica de estudo
É importante você fazer a leitura do Programa Inicial para Professores em
Exercício na Educação Infantil – Proinfantil, divulgado pelo MEC. Para isso, você
pode acessar o site: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/guia-
geral.pdf>.
Outra boa dica de estudo é a revista Aprender On-line, cuja versão eletrônica
está disponível em: <www.uol.com.br/aprendiz/aprenderonline>. É uma revista
bimestral, da ONG Cidade Escola Aprendiz e traz artigos, ensaios, entrevistas e
sessões sobre a educação no mundo.
193
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Atividades
1. O que diz a LDB sobre a formação de professores da Educação Infantil?
194
As políticas de formação de professores para a Educação Infantil
195
A formação do professor
Nesta aula, vamos discutir e analisar como deve ser a formação do pro-
fessor, num sentido mais amplo.
Sempre que penso sobre o perfil do nosso professor, não consigo deixar
de me remeter a um livro em especial, chamado A Arte de Formar-se, escri-
to pelo teólogo e educador João Batista Libanio (2001). E nesta aula vou
me pautar fundamentalmente em aspectos apresentados por esse impor-
tante autor que, para mim, descreve a essência de uma proposta para a
formação de professores. Assim, durante este capítulo, utilizarei inúmeras
frases retiradas sempre desse livro e, por isso, citarei apenas as páginas.
A cultura da informação
Estamos diante de uma geração que tem acesso a muitas informações. Nunca
as anteriores tiveram as mesmas facilidades de informação. Em horas, ou talvez
minutos, produzem-se mais publicações que em um ano ou em décadas na
Idade Média. Um CD pode carregar uma enciclopédia. As dificuldades de infor-
mações que os escritores antigos tinham desapareceram. Hoje, nos conectamos
pela internet com mais de um bilhão de possíveis “portais” informativos. Como
afirma Libanio (2001, p.18): “A inteligência e a memória navegam com a velo-
cidade parecida com a da luz, de modo que nada se lhe adere. É pura sensa-
ção. Adrenalina em vez de pensamento”. Nesse momento, entra o que significa
aprender a conhecer, aprender a pensar.
198
A formação do professor
“Educar a observação é caminho do pensar” (p. 26). “A maior lição das coisas
é ensinar-nos a contemplar. Só sabe conhecer e pensar quem aprendeu a con-
templar” (p. 27).
199
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Capacidade de relacionar
“Relacionar é superar uma visão dualista que pensa o mundo sempre dividi-
damente entre sujeito e objeto, matéria e espírito, razão e emoção, feminino e
masculino, mente e corpo, educar e aprender etc.” (p. 31). Devemos mostrar a re-
lação existente entre cada uma dessas questões, em vez de fixar-nos na ruptura,
na separação, na divisão.
Superação do dogmatismo
Vivemos, pois, num mundo de incertezas teóricas. As teorias aproximam-se
da realidade sem nunca esgotá-las, sempre à espera de correções. Aprender a
conhecer e a pensar nesse mundo exige abandonar todo dogmatismo. Todas
200
A formação do professor
A perspectiva histórica
Enquanto se vive num presente, entendido como mera repetição do passado,
não se aprende ainda a fazer. Pois se faz exatamente como se vinha fazendo até
então. No momento em que, porém, perdemos a mera visão continuísta, pode-
mos fazer uma crítica ao passado. Importante é captarmos essa dinâmica, pró-
pria da modernidade que é: “ensina-nos a fazer”.
A perspectiva ética
Essa perspectiva significa apurar o senso de responsabilidade. Quanto mais
percebemos o alcance (efeitos) de nosso pensamento e de nosso agir, maior res-
ponsabilidade assumimos.
201
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Estratégia e reflexividade
Edgar Morin faz uma distinção entre as duas atitudes de aprender o feito e de
aprender a fazer. Chama a primeira de programação, e a segunda, de estratégia.
O programa determina de antemão o que se quer fazer, com objetivos e meios
bem-definidos e identificados. Sua eficácia dependerá das condições favoráveis
para a sua realização. O imprevisto o paralisa. A estratégia, porém, é diferente.
Mesmo que tenha objetivos previstos, desenvolve ações em interação com o
ambiente incerto, aproveitando toda informação que capta durante o percurso.
202
A formação do professor
A tolerância teórica tem dois níveis: o das ideias e o das práticas. A sociedade
moderna democrática defende o direito à liberdade de pensamento e de ex-
pressão. A tolerância encontra seu limite na intolerância e na irracionalidade das
ideias defendidas. Existe um paradoxo da tolerância: não se pode ser tolerante
com as teorias e práticas intolerantes e que ameaçam o convívio humano.
A ameaça do individualismo
O lugar para aprender a conviver é por meio da vida em grupo, em equipe,
em comunidade, a começar pela família. Tais experiências estão ameaçadas em
sua raiz pela perda do espírito comunitário. Há, antes de tudo, a primazia do
individualismo exacerbado.
203
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Experiência de convívio
Para as crianças e os jovens aprenderem a viver juntos, os professores pre-
cisam propiciar-lhes, experiências de convívio e, dentro delas, refletir com eles
sobre a sua conduta. Há muitas alternativas para se experimentar a vida em
grupos. A educação dispõe de muitas possibilidades de formar seus alunos
no espírito comunitário com a ajuda vigilante do professor. Seu olhar crítico
deve orientar-se numa dupla direção, observando tanto os defeitos, as falhas,
os limites, como as qualidades, as habilidades que os alunos revelam na expe-
riência do grupo.
204
A formação do professor
Dimensão geracional
Pela primeira vez na história da humanidade, o ser humano tem a possibili-
dade física de destruir toda a vida. Portanto, carrega uma responsabilidade que
envolve as gerações futuras.
205
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
“Aprender a ter é ocultar-se atrás das coisas. Aprender a ser é despojar-se das
coisas para revelar o próprio ser” (p. 84).
O ocultamento de si
Uma das maneiras comuns de ocultamento do próprio ser é “representar”
papéis. O que no mundo do teatro é arte, na vida real é fragilidade psíquica.
Temendo ser rejeitado em sua própria pessoa – o ser humano tem horror da re-
jeição –, oculta-a sob a capa de uma imagem para poder atribuir a rejeição a ela
e não a si. Não se expondo, a pessoa não pode ser, na verdade, nem amada nem
rejeitada. Prefere renunciar ao amor a ser excluída.
Em seu livro, Libanio (2001) compara o ser humano a uma casa de dois anda-
res com janelas abertas ou fechadas para a realidade. No andar de baixo, estão
as cinco janelas dos sentidos. Elas abrem-se para as maravilhas da vista, do sabor,
do ouvido, do olfato e do tato. Mas aprender a ser é mais. Temos um andar supe-
rior, onde, para ele, existem quatro janelas: a da beleza, a da verdade, a do bem
e a da transcendência. Howard Gardner (1998), em seu livro O Verdadeiro, o Bom
e o Belo também compartilha essa forma de pensar o ser humano. Temos a esté-
tica, a filosofia, a ética e a religião, para Libanio. Delas descortinamos horizontes
ainda mais amplos e belos. Quanto mais abertas estiverem e quanto mais olhar-
mos através delas, mais felizes seremos.
206
A formação do professor
A dimensão da beleza
“Da janela da beleza, da estética, apreciamos a realidade com outros olhos. A
estética humaniza-nos” (p. 94). Aprender a ser inclui um cultivo às expressões de
beleza. Na educação, deveria haver uma preocupação para que tudo que cercas-
se a criança fosse o mais belo possível, mesmo em situação de pobreza.
A dimensão da verdade
A verdade funda-se no próprio ser das coisas. A nossa inteligência está orien
tada para a verdade. Nela descansa e se satisfaz. A mentira, o erro, a falsidade
podem enganar-nos, trazer-nos benefícios materiais transitórios. Mas, no fundo,
o nosso ser rejeita-os radicalmente.
A dimensão do bem
“A janela que nos abre para o bem é a ética” (p. 98).
207
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Conclusão
Todos os pilares – conhecer, fazer, conviver e ser – estão precedidos de um
único verbo: aprender a. O desafio está em entrar nessa dinâmica. Formar é pre-
cisamente ajudar as pessoas a descobrir esse processo criativo de aprender a e ir
atualizando-o nos diversos pilares. As pessoas nunca sairão prontas de nenhuma
etapa formativa, mas adquirirão a atitude formativa para conduzi-la até o fim da
sua vida.
Texto complementar
(GARDNER, 1998, p. 290-293)
[...]
Esta é, pois, em resumo, a situação enfrentada por toda parte pelos edu-
cadores. Todos os seres humanos habitam, mais ou menos, o mesmo cére-
bro, mente e corpo. Certos horários e capacidades – e incapacidades – estão
incorporados a nossa espécie. Ao mesmo tempo, como consequência dos
caprichos da história e da geografia, nascemos sob condições que variam
imensamente, sujeitas à influência de normas e valores que podem ser pro-
fundamente discrepantes entre si. Aos educadores cumpre respeitar coer-
ções universais. Cumpre-lhes ao mesmo tempo, criar jovens que possam
interagir com sua sociedade num dado momento histórico e, além disso,
transmitir seus principais preceitos e práticas a sucessivas gerações. Foi isso,
de fato, o que eu (hoje mais idoso) procurei fazer neste livro.
208
A formação do professor
Assim, tratarei de dizer uma vez mais: é importante que uma cultura
identifique as verdades, belezas e virtudes a que dá valor, e que dedique
portanto, recursos para inculcar seu entendimento nos jovens estudantes.
Em última instância, os indivíduos devem chegar às suas próprias sínteses
dessas virtudes e – gostaria de nutrir tal esperança – dedicar-se a fazer vir-
tuosas contribuições que enriqueçam o mundo em que vivem.
209
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
[...]
210
A formação do professor
Dicas de estudo
Para ampliar o estudo, sugiro assistir a dois filmes:
Ser e Ter (Être et Avoir) – trata-se de um documentário que conta uma história
de um professor e seu amor pelas crianças e pela educação. Sozinho, ele alfabeti-
za e ensina valores às crianças de quatro a onze anos de idade em uma pequena
escola rural da França. Diferentes situações, algumas engraçadas, outras emocio-
nantes, mostram a importância de se ter determinação, vontade e paixão na vida
e, em especial na sua profissão.
Ficha técnica:
Ficha técnica:
Atividades
1. Por que o autor do livro A Arte de Formar-se, João Batista Libanio, escolheu o
verbo formar-se?
211
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
212
A formação do professor
213
A participação da família
“os pais não respeitam as regras que a creche pede que sejam segui-
das. Por exemplo: não enviam as roupas extras que são solicitadas;
trazem ou pegam as crianças em horários incertos”;
“os pais educam mal as crianças em casa, isto é, permitem que a criança
coma só o que ela quer; acostumam a criança a dormir no colo; quando a
criança chora e faz birra, cedem aos seus desejos”.
Mesmo que difícil, espera-se que a creche consiga promover entre professo-
res e pais uma integração, uma colaboração mútua que passa pela confiança e
pelo conhecimento, com o objetivo de facilitar o desenvolvimento harmônico
das crianças.
Conhecer a criança
Conhecer a criança envolve diferentes contatos nos quais é possível aprofun-
dar algumas impressões iniciais, deixar de lado outras e criar novas.
Pais e mães aprendem a conhecer novas dimensões de seu filho, pois não há
dúvidas que a creche representa uma ampliação do meio social em que a criança
vive e, portanto, instrumento de seu desenvolvimento. Tudo passa a ser diferen-
te para a criança: outros adultos, outros companheiros, espaços físicos, objetos
etc. Os pais vão poder ver seu filho, portanto, a partir de um novo ângulo.
216
A participação da família
Não podemos esquecer, no entanto, que cada família é diferente, que não
existe um modelo padrão de família e que, por isso, não adianta querermos que
todas reajam da mesma maneira às nossas solicitações. Esse fato quase sempre
gera comparações e isso em nada vai ajudar a criança.
217
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Formas individuais
Para conhecer melhor cada família, seu modo de vida, o sistema de educação
da criança; para estabelecer a compreensão mútua e a confiança necessária, os
professores das creches e pré-escolas podem utilizar algumas formas de traba-
lho individual com os pais, tais como:
as entrevistas solicitadas.
Os contatos informais e cotidianos são importantes por várias razões, pois per-
mitem um conhecimento progressivo das pessoas que estão envolvidas com a
educação da criança; ajudam os pais a tranquilizarem-se e a verem com seguran-
ça a permanência do seu filho na creche e, ainda, a própria criança pode ver que
as pessoas adultas significativas para ela têm coisas a conversar, relacionam-se.
Essas conversas informais com os pais ou com outras pessoas da família cos-
tumam acontecer no horário da entrada da criança e também na hora da saída.
Esses encontros costumam ser breves, porém têm uma grande importância, pois
satisfazem os pais e possibilitam a construção de uma relação de confiança com
o professor.
A quem se convoca?
Por outro lado, a família pode também, em um dado momento, pedir uma
entrevista para saber sobre algum assunto específico que a está preocupando,
219
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
para saber sobre o seu filho ou filha, ou apenas para trocar ideias. Sob qualquer
hipótese, o mais importante é que o professor vá conversar com os pais com
toda a disponibilidade necessária para escutar, para entender o ponto de vista
deles, as suas ansiedades, e orientá-los da melhor maneira possível.
Formas coletivas
As reuniões podem ser realizadas com os pais de todas as crianças da creche
ou por turma, de acordo com o objetivo do encontro. Podem também ser dirigi-
das pelos profissionais da própria instituição – professor, diretor, psicólogo, entre
outros – ou então por profissionais convidados pela creche, como, por exemplo,
um fonoaudiólogo, um sociólogo, um assistente social, para falar sobre algum
assunto específico.
220
A participação da família
avisos importantes;
E, finalmente, uma das formas mais comuns é a participação dos pais nas
festas: bingo, bazar, baile, festa junina, entre outras.
221
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Texto complementar
A aprovação dos pais – a gestão social
(RABITTI, 1999, p. 155-156)
[...] Os pais das escolas municipais de Reggio Emilia não exercem pressões
para obter um currículo mais preocupado com a aquisição de habilidades “es-
colares”, como a leitura ou a escrita. Parecem, ao contrário, partilhar a aborda-
gem educacional escolhida, baseada numa ideia holística da criança, e que se
coloca como objetivo facilitar o desenvolvimento da personalidade através da
aquisição de múltiplas habilidades nas muitas linguagens possíveis.
222
A participação da família
223
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
224
A participação da família
Dica de estudo
Uma boa dica de estudo é a leitura da entrevista com a psicóloga e educa-
dora Rosely Sayão sobre as deficiências da prática educacional na educação
infantil brasileira, abordando também a participação da família na educação.
Essa entrevista pode ser lida no site: <http://revistaeducacao.uol.com.br/textos.
asp?codigo=12613>.
225
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Atividades
1. Por que na Educação Infantil a participação da família é um aspecto muito
importante, mas também bastante difícil?
226
A participação da família
227
A gestão social
Essa ideia faz parte de um projeto educacional que valoriza uma intensa re-
lação comunicativa entre educadores, pais, crianças e sociedade, reforçando os
conceitos de relação e de solidariedade.
Bem, agora já sabemos o que é gestão social. Então, vamos pensar mais além:
por que trabalhar com gestão social?
Aqui cabe explicar que, apesar de ser possível fazer gestão social em uma
instituição privada, é menos comum, principalmente com relação aos aspectos
financeiros. Assim, a ênfase dada a esse tipo de trabalho refere-se às instituições
públicas.
Podemos dizer que as lutas de alguns grupos em defesa de seus direitos são
grandes propulsoras da gestão social. As pessoas, após anos de reivindicações,
quando conseguem ter a sua creche, por exemplo, querem participar da sua ad-
ministração, sentem-se responsáveis por aquele equipamento social. Desejam
se comprometer diretamente com aquilo que conquistaram e isso acontece por
meio da gestão social.
No Brasil, acompanhando a nossa história política, ainda não temos uma his-
tória longa e muito rica de experiências de gestão social. Em São Paulo, o Mo-
vimento de Luta por Creches foi bastante significativo, mas, à medida em que
o Estado foi se antecipando às demandas e oferecendo novas creches, o Movi-
mento se esvaziou e a participação na gestão também diminuiu.
230
A gestão social
Mas, façamos uma pergunta: por que é difícil administrar a creche de uma forma
participativa? Diria que existem algumas razões para isso.
Uma delas é ainda a falta de consciência dos pais e dos educadores com rela-
ção à importância e o valor da gestão social. Além disso, as famílias de nível so-
cioeconômico baixo muitas vezes acreditam que não são capazes, e os pais com
uma melhor condição de vida costumam afirmar não terem tempo, acham que
seria apenas mais uma “tarefa” a ser realizada num cotidiano difícil. Em ambos os
casos, não há verdade.
Por parte dos profissionais que trabalham nas creches e pré-escolas, existe
grande resistência pela dificuldade de relacionamento e de conseguir trabalhar
de forma democrática. Às vezes, é muito mais fácil obedecer, seguir ordens,
sem responsabilizar-se pela decisão tomada do que ouvir, opinar, discutir e
conseguir definir.
Realmente, trabalhar em grupo pode ser muito mais difícil, mas é com cer-
teza muito mais enriquecedor e acredito que quem aprende a trabalhar dessa
forma (corresponsabilidade) nunca mais conseguirá voltar à outra.
Para isso, não há uma receita a ser seguida. Deve-se acreditar na capacidade,
na diversidade e na criatividade das pessoas. Ou seja, não é possível ter uma
única resposta, porque cada situação, cada circunstância vai exigir diferentes
propostas.
231
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Quinto Borghi aponta três finalidades básicas no modelo das pré-escolas mu-
nicipais de Modena, as quais foram sendo adquiridas com o passar do tempo e
sendo aos poucos incorporadas:
232
A gestão social
no início, a participação dos pais não era apenas desejável, mas indispen-
sável. Mas, aos poucos, os serviços para a infância foram inevitavelmente
tendo um caráter mais formal e passaram a assumir cada vez mais sozi-
nhos as responsabilidades;
os pais não queriam limitar-se a dar o seu aval a decisões que já haviam
sido tomadas por outros. Reivindicavam a gestão direta e participante.
fazer com que a participação seja tão eficiente quanto possível; e os pais
tenham, consequentemente, a possibilidade de “ter peso” e de sentirem-
-se competentes;
234
A gestão social
As redes de serviços.
O ambiente saudável.
As diferenças.
Essa é, sem dúvida, uma referência interessante para inserirmos nas nossas
comunidades, observando cada realidade existente, porém com o objetivo de
seguirmos formas mais avançadas de gestão social das creches e pré-escolas.
235
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Texto complementar
Envolvimento na participação –
envolvimento na direção
(UNESCO, 2002, p. 181 e 183)
236
A gestão social
trutura de ECPI. Durante o ano, é comum que os pais passem várias semanas
envolvidos ativamente em toda uma série de atividades. Na Dinamarca, eles
constituem a maioria nos conselhos de administração dos jardins de infância
e das creches domiciliares. Além disso, às comissões de pais dos centros de
ECPI municipais, é reconhecido pela legislação o direito de exercerem sua
influência sobre os princípios orientadores do trabalho da estrutura de ECPI
e sobre a utilização do orçamento; também podem fazer recomendações à
autoridade local no que diz respeito à contratação de pessoal. Nas creches
domiciliares (guarda familiar), os pais têm o direito de exercer sua influência
sobre os princípios orientadores do trabalho dos prestadores de serviço, do
mesmo modo que sobre a utilização do orçamento. Em cada centro para
crianças, na Noruega, deve existir, além de um conselho de pais para defen-
der os interesses comuns de todos os pais no nível da gestão, um comitê
de coordenação dos pais, do pessoal e dos proprietários para agir como um
Conselho e garantir boas relações entre o barnehage (jardim de infância) e
a comunidade local. Na Holanda, os serviços subvencionados de ECPI e as
escolas de ensino fundamental devem ter uma estrutura de “codireção”, ga-
rantida pelos pais para que estes tenham direito a voto. Nos Estados Unidos
da América, a legislação federal relativa a Head Start reconhece o direito dos
pais de participarem das decisões concernentes aos programas. Um Comitê
de Pais e um Grupo de Decisão Política constituído por pais e representantes
da comunidade participam das decisões sobre o planejamento e a implan-
tação do programa Head Start. Assim, o envolvimento na direção promove
a responsabilização dos pais e pode ser um canal para reunir os membros
da comunidade em torno de iniciativas que visam satisfazer as necessidades
mais prementes das crianças.
237
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
A ideia foi gestada no início dos anos 1990, quando Pasqual Maragall, o pre-
feito da capital catalã, criou, com vistas aos Jogos Olímpicos de 1992, canteiros
de renovação em todas as áreas: urbanismo, cultura, transporte. A cidade
de Gaudi tomava pé de uma vez da modernidade, ficando entre as grandes
metrópoles do século 21. “Quando nos candidatamos para acolher os Jogos
Olímpicos”, lembra-se Pilar Figueras, secretária-geral da associação, “Pasqual
Maragall achava que devíamos refletir sobre uma ligação cidade-educação.
Nós éramos poucos, entre os quais a pedagoga Marta Mafa, figura histórica
do movimento catalão de renovação pedagógica, a organizar um congresso
e a reunir políticos que compartilhavam daquela ideia de que a cidade é um
agente educador”. Foi estabelecida uma carta que definia em 20 pontos o
que devia ser uma cidade educadora, pois se todas as cidades são educativas,
poucas são também educadoras. A ideia central era que uma cidade, por sua
estrutura, por sua organização espacial e social, envia mensagens positivas ou
negativas, cujos prolongamentos educativos são evidentes.
Desabrochar, agora
Porém, essa concepção enfrenta, como assume a própria Pilar Figueras, re-
sistências no corpo das administrações. “As pessoas que não se sentem reco-
nhecidas como agentes educativos se julgam, em princípio, pouco implicadas:
os responsáveis pelo meio ambiente, pelas finanças, pela pavimentação, pela
habitação, saúde, sem falar do setor privado. No entanto, todos esses agentes
desenvolvem tarefas que têm uma incidência educativa. Convidamos as cida-
des a participar dessa descoberta ajudando-as a desenvolver essa nem sempre
nítida noção de educação.” Para fazer isso, o comitê executivo, com sede em
Barcelona, trabalha na elaboração de um programa piloto de formação.
238
A gestão social
Dica de estudo
Para você conhecer mais, recomendo que acesse o portal Escola Conectada
<http://www.escola2000.org.br/pesquise/texto/textos_categoria.aspx>. Sobre o
tema Comunidade Escolar, você encontrará textos que abordam a função do dire-
tor, a gestão compartilhada e outros mais.
Atividades
1. O que é gestão social?
239
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
240
A gestão social
241
Educação de crianças
com necessidades especiais
244
Educação de crianças com necessidades especiais
Integração da equipe
Esse ponto constitui, sem dúvida, um dos problemas mais delicados da in-
tervenção educativa. Falta de confiança, divergências e incompreensões são
cotidianamente levantadas pelas partes envolvidas, e não é enfatizando ou mi-
nimizando o papel de uma ou de outra estrutura que se pode alcançar soluções
produtivas para a inclusão e o desenvolvimento da criança. Só por meio de um
real processo de interação entre as instituições formativas – coordenadas pela
creche/pré-escola, lugar privilegiado das intervenções educativas – é possível
programar e realizar projetos efetivamente integrados.
245
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Algumas dificuldades
Frequentemente, acontece da criança com défice ser percebida pelos seus
colegas de escola como elemento passivo, que perturba, desestabiliza e, por
isso, seja rejeitada, de forma mais ou menos consciente. Na relação entre os “nor-
mais” e os “diferentes”, é possível verificar, então, o principal fator responsável
pelo frequente sentido de desvalorização vivido pelas crianças com necessida-
des especiais, já que elas próprias veem a sua diversidade em termos negativos,
uma vez que é também negativa a imagem que os outros têm delas. O professor,
por isso, percebendo os diferentes interesses, capacidades, ritmos evolutivos e
origens socioculturais das crianças, deve estruturar as próprias intervenções de
modo a estabelecer com todos os alunos uma relação de valorização personali-
zada, aberta, baseada na estima e no respeito recíprocos.
246
Educação de crianças com necessidades especiais
vas nos confrontos das atividades que eles devem desenvolver, capaz de torná-
-los aptos a automotivarem as ações e desenvolverem, gradualmente e progres-
sivamente, a capacidade de autouso sobre todos os planos: desde o jogo até a
atividade propriamente cognitiva, da vida na comunidade até aquela em família
e no âmbito social, em que deve aprender a viver de modo sempre mais ativo e
consciente.
247
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Como “Fundamentação legal”, o documento cita o apoio legal que existe hoje
no Brasil, em especial a Constituição e a LDB.
superdotação/altas habilidades.
248
Educação de crianças com necessidades especiais
249
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Assim, concluímos uma discussão sobre esse importante tema com a pers-
pectiva do trabalho intenso dos educadores em ampliar a viabilidade de inclu-
são das crianças com necessidades especiais nas creches e pré-escolas no Brasil,
apresentando o final do documento do MEC, no qual são apresentadas cinco
recomendações gerais.
250
Educação de crianças com necessidades especiais
Leiam agora um artigo publicado pela revista Nova Escola, sobre o tema da
educação de crianças com necessidades especiais.
Texto complementar
Respeito é fundamental
(GENTILE, 2002)
Atividades
Comece a aula perguntando aos alunos se eles conhecem dois seres vivos
iguais. [...] Se alguém responder que existem gêmeos idênticos, questione as
diferenças de temperamento que geralmente esses irmãos apresentam.
251
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Com a classe novamente reunida, pergunte aos alunos como eles se sen-
tiram ao ficar com um dos membros ou sentidos sem função. Como o colega
ajudou ou atrapalhou? Questione a turma se houve alguma mudança em
relação aos sentimentos citados no início da discussão e, principalmente, o
que aprenderam com a experiência.
Dicas de estudo
Para você ampliar seus conhecimentos sobre a educação de crianças com
necessidades especiais, indico a visita aos seguintes sites:
252
Educação de crianças com necessidades especiais
Atividades
1. Como o professor deve elaborar um projeto integrado que esteja voltado
especificamente para as crianças com necessidades especiais?
253
Transformação da
prática pedagógica
Por isso, precisamos, mais do que nunca, reforçar e repassar essa mu-
dança de concepção. É claro que é importantíssimo os professores com-
preenderem essa indissociabilidade e complementaridade da educação e
do cuidado, e assim, realmente mudarem a sua prática, mas não podemos
deixar de lado a opinião da população. Mais do que mudar a nossa prática
pedagógica, temos que ampliar as nossas discussões para podermos ser
devidamente valorizados.
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Hoje não podemos mais aceitar salas de aula com mesas enfileiradas, ou
mesmo organizadas somente com mesas e cadeiras, nas quais vemos ainda a
mesa do professor, como se o ideal fosse ele ficar ali sentado. Vocês já viram
crianças pequenas ficarem sentadas quietas o tempo todo? Felizmente, isso não
existe, a não ser que tenham sido “obrigadas” ou “treinadas” para ficarem assim.
As crianças precisam se movimentar, conversar, criar novas maneiras de realizar
uma mesma atividade. É assim que elas constroem o seu conhecimento, é assim
que se desenvolvem!
Por isso, as salas de aula devem ser pensadas e organizadas de forma que, em
determinados momentos do dia, seja permitido à criança escolher suas ativida-
des, que ela ainda possa decidir se quer trabalhar em grupo ou sozinha. Certa-
mente, com essa estrutura da sala de aula, vamos poder acabar com os terríveis
momentos de espera. É totalmente inconcebível deixar todas as outras crianças
de uma turma sentadas esperando enquanto duas tomam banho, escovam os
dentes ou arrumam suas mochilas. O mesmo vai acontecer durante os horá-
rios de entrada e saída das crianças. Pois, se a organização da sala permitir, elas
podem ficar fazendo determinadas atividades, de acordo com o seu interesse
naquele momento, enquanto os seus colegas vão saindo ou chegando.
256
Transformação da prática pedagógica
Lembrem-se sempre desta frase: diga-me como você organiza a sua sala de
aula e eu direi que tipo de professor você é e qual é a sua concepção de educação.
E, para finalizar essa questão, tenho que falar sobre as janelas das salas de
aula. Já comentei sobre o fato de que, em alguns lugares, constroem-se creches
cujas janelas das salas são lá no alto, de forma que as crianças não vejam o que se
passa lá fora. E é impossível acreditar que o melhor para a criança é ser excluída
da possibilidade de visão externa. Numa visita a uma creche, vi que os professo-
res cobriam as janelas das salas com papel opaco. Primeiro, pensei que poderia
ser devido ao sol, já que não havia cortinas, mas, quando perguntei o motivo, a
resposta foi o que eu temia: – “é que, como passam algumas pessoas por ali, nós
achamos melhor cobrir para não atrapalhar as crianças”. Mas, pergunto: atrapa-
lhar no quê? Talvez seja porque as crianças deixem, por alguns momentos, de
fazer determinadas atividades para ficarem olhando pela janela. Mas, qual é o
problema se isso acontecer? No que esta criança vai ser prejudicada? Será que
ela não pode ter o direito, de nesta sua idade, preferir ficar olhando as pessoas
passar ao invés de fazer uma outra coisa? Espero que sempre pensem nisso.
257
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
formas pelas quais a criança aprende a ter sensibilidade e criatividade para de-
senvolver o seu plano de trabalho.
O professor é aquela pessoa que deve ter olhos de todos os lados, tem que
estar atento a tudo, e interferir em determinados momentos, não sempre. Às
vezes, é importante deixar as crianças resolverem seus problemas ou suas dúvi-
das entre elas.
258
Transformação da prática pedagógica
sentado à mesa, não se pode comer andando pela sala. Existe um determinado
número de cadeiras, e assim, se todas estiverem ocupadas, a criança deve espe-
rar desocupar uma para poder começar a lanchar. Quem se levanta deve deixar
o seu lugar limpo e arrumado. E isso dava muito certo!
Vimos que a formação do professor está sempre acontecendo, pois nós, como
seres humanos, estamos sempre em processo de formação.
Estou certa de que nós, professores da Educação Infantil, temos ainda uma
árdua tarefa pela frente, pois existe muita coisa a ser feita e melhorada no Brasil. É
259
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Encerro com uma poesia escrita pelo grande educador italiano Loris Malaguzzi
e que se encontra traduzida no livro As Cem Linguagens da Criança.
Texto complementar
Ao contrário, as cem existem
(MALAGUZZI, Loris apud EDWARDS et al., 1999, p.v)
A criança
é feita de cem.
A criança tem
cem mãos
260
Transformação da prática pedagógica
cem pensamentos
cem modos de pensar
de jogar e de falar.
Cem sempre cem
modos de escutar
as maravilhas de amar.
Cem alegrias
para cantar e compreender.
Cem mundos
para descobrir.
Cem mundos
para inventar.
Cem mundos
para sonhar.
A criança tem
cem linguagens
(e depois cem cem cem)
mas roubaram-lhe noventa e nove.
A escola e a cultura
lhe separam a cabeça do corpo.
Dizem-lhe:
de pensar sem as mãos
de fazer sem a cabeça
de escutar e de não falar
de compreender sem alegrias
de amar e maravilhar-se
só na Páscoa e no Natal.
Dizem-lhe:
que o jogo e o trabalho
a realidade e a fantasia
a ciência e a imaginação
o céu e a terra
261
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
a razão e o sonho
são coisas
que não estão juntas.
Dizem-lhe:
que as cem não existem.
A criança diz:
ao contrário, as cem existem.
Dicas de estudo
O portal <www.unesco.org.br> apresenta projetos desenvolvidos pela Unesco
no Brasil e no mundo, com destaque para as atividades desenvolvidas nas áreas de
educação, ciências, cultura e comunicação. Você pode também através desse site
ficar a par das notícias, eventos, informações bibliográficas etc. ligados à Unesco.
Atividades
1. Quais foram os temas selecionados como fundamentais na prática de um
professor de Educação Infantil?
262
Transformação da prática pedagógica
2. Com relação à organização do espaço físico, quais são os pontos que preci-
sam ser ressaltados como essenciais nas propostas de Educação Infantil?
263
Gabarito
Indicadores da qualidade
1. Porque é difícil para as famílias em geral, e em especial, para as famílias
de origem socioeconômica baixa conseguirem cumprir algumas das
exigências impostas pela creche. Como exemplo de critérios rígidos,
podemos citar: a inflexibilidade de horários de entrada e saída das
crianças e a exigência de uniformes e materiais.
2. O aluno deverá analisar a sua realidade e verificar se onde ele vive existem
crianças pertencentes a famílias com nível socioeconômico alto que brinca e
estuda; se há crianças que ajudam na renda familiar e que por isso nem sem-
pre podem estudar também; se na cidade infelizmente ainda encontram-se
crianças pedindo esmolas e ou ainda, se existem crianças que trabalham aju-
dando seus pais e assim, aprendendo uma profissão.
3. A sala de aula deve ser decorada de tal forma que eduque a sensibilidade
estética das crianças. Isto é, a decoração deve ser compreendida como con-
teúdo de aprendizagem, através da harmonia das cores, das formas, e do
sentido que existirá naqueles materiais e objetos para as crianças.
267
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
268
Gabarito
2. As fases são: previsão, realização e avaliação. Essas etapas não precisam ocor-
rer separadamente; elas podem acontecer simultaneamente ou não.
269
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
Jogos e brincadeiras
1. Porque a brincadeira é um espaço privilegiado de aprendizagem. É também
um espaço de investigação e construção de conhecimentos sobre si mesma
e sobre o mundo. Brincar é uma forma de a criança exercitar sua imagina-
ção e a imaginação é uma forma que permite às crianças relacionarem seus
interesses e suas necessidades com a realidade de um mundo que pouco
conhecem.
270
Gabarito
271
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
A formação do professor
1. O autor explica que no termo “forma” ou “fôrma”, está implícito que existe um
molde anterior a ser aplicado ao aluno. Assim, ele tentou corrigir um pouco
esta carga etimológica da palavra formar, transformando-a em “formar-se”.
Segundo ele, o pronome reflexivo se, ajuda a acabar com a ideia de passivi-
dade. Formar-se é, portanto, um processo educativo que está nas mãos do
próprio formando, que respeita a sua singularidade e que busca ampliar as
suas qualidades na intenção de transformar a sociedade em que vive.
aprender a ser: é a mais difícil tarefa educativa; implica uma concepção in-
tegral do ser humano e o desenvolvimento de todas as suas dimensões.
A participação da família
1. A participação da família é importante primeiramente porque para essa
faixa etária das crianças o contato entre pais, mães e professores costuma
ser mais frequente. Esse relacionamento é fundamental para o desenvolvi-
mento infantil e para a evolução da imagem das instituições de Educação
Infantil. Ao mesmo tempo, trata-se de uma relação que envolve a tarefa de
educar uma mesma criança de forma compartilhada e a partir de contextos
tão diferentes como a casa e a creche; isso acaba, de uma maneira geral,
por gerar dificuldades e conflitos.
A gestão social
1. É quando um grupo de pessoas torna-se responsável pela condução dos
serviços oferecidos em uma determinada instituição. No caso das creches e
pré-escolas trata-se da participação mais direta dos pais, dos profissionais e
da comunidade na administração dessas instituições. A gestão social é uma
concepção de prática educacional, é um valor ético que envolve todos os
aspectos da experiência educativa que valoriza uma intensa relação comu-
nicativa entre educadores, pais e sociedade.
2. Apesar de ser possível ser feita gestão social em instituições privadas, o mais
comum é elas acontecerem em instituições públicas, principalmente devido
aos aspectos financeiros. Através da gestão social, isto é, trabalhando de forma
participativa, é maior a possibilidade de oferecer serviços mais adequados às
necessidades das famílias, dos educadores e dos cidadãos em geral. Também,
com o envolvimento de todos, em especial da comunidade, cria-se um reco-
nhecimento social, ou seja, a creche/pré-escola é vista como parte essencial da
vida daquelas famílias e como resposta positiva às suas expectativas.
273
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil
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