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UNIVERSIDADE CENECISTA DE OSÓRIO

PROF. MAGDA
DISCIPLINA PROCESSOS GRUPAIS
ALESSANDRA WEBLER
VITÓRIA BÜHLER

Comunidade Terapêutica Desafio da Vida – Caraá - RS


Entrevistado: líder/responsável geral da CTDV C.J.

Qual o papel do líder no grupo? O líder é o facilitador, coordenador, organiza


reuniões, tudo isso com a equipe... todas as funções acabam passando pelo
líder, desde a chegada de um novo acolhido até a saída do mesmo. Questões
disciplinares, muitas vezes conselheiro. Uma boa maneira de liderar é com
uma boa equipe, um líder que não constrói uma boa equipe, acaba gerando um
grupo totalmente dependente dele e na sua ausência esse grupo acaba indo a
falência, com uma boa equipe o grupo continua “funcionando” mesmo quando
o líder não está presente.
Que tipo de grupo coordena? Responsável principal pela chácara de
recuperação, mora com sua esposa em uma casa no mesmo terreno. Auxilia o
grupo de apoio, que visa o apoio as famílias dos dependentes químicos que
estão na chácara, com o passar do tempo percebeu-se uma problemática na
família que precisava ser tratada, de apoio. O acolhido sai de um ambiente
“doente” e adquiri novos hábitos, novos comportamentos, mas se a família não
ser tratada, quando o acolhido completar seu tempo na chácara ele vai voltar
para o ambiente “doente”, vai voltar aos mesmos hábitos e por fim poderá
acabar ocorrendo uma recaída.
Quais dificuldades encontradas no grupo? Pode exemplificar? Falando de
um ambiente que trata diretamente com a dependência química, são pessoas
que estão “escravizadas” pelo vício das drogas, cheias de mazelas e feridas. A
droga acaba gerando nos acolhidos diversos tipos de maus comportamentos,
falha de caráter e agora juntar essas pessoas, com esses problemas todas no
mesmo ambiente. Hoje a maior dificuldade enfrentada é o relacionamento entre
o grupo. Apesar de visarmos o tratamento individual, sabemos que será
refletido no grupo, o indivíduo acaba dando uma resposta no grupo. A
indisciplina também, gerada no ambiente “doente” que o acolhido vivia antes da
internação. Na chácara os meninos aprendem coisas novas, ao mesmo tempo
que isso é bom para o desenvolvimento, dói, já que muitos dos acolhidos
ingressaram nas drogas muito cedo, acabaram não se desenvolvendo em
certas áreas e agora mudar, isso para aprender a fazer algo novo é difícil.
Então entrar em um lugar onde existem regras e disciplina é muito difícil para
eles e isso reflete muito no grupo.
Quais as estratégias utilizadas para conduzir o trabalho em grupo?
Entendendo, que o maior problema não é a droga em si, e sim o próprio
indivíduo, os comportamentos, falha de caráter, até mesmo os acolhidos falam
que após ficar alguns dias sem uso das substâncias não sentem abstinência,
então a droga acaba sendo somente uma extensão de tudo isso. Assim o
tratamento é dos hábitos e comportamentos, por isto as regras, pois elas vão
gerar novos hábitos e novos comportamentos. O tratamento é feito encima do
“tripé da recuperação”, trabalho, disciplina e espiritualidade, visando todas as
áreas do indivíduo. O acolhido durante o tempo na chácara aprende a ser
regrado, a cuidar das suas coisas, de sua higiene pessoal, lavar suas roupas,
arrumar o quarto, a trabalhar e ter hora para trabalhar. Durante as atividades
do dia os acolhidos são supervisionados pelos monitores, que monitoram o que
eles estão fazendo e como fazem e a produção do que eles estão fazendo,
pois entendendo que muitos dos que chegam na chácara não trabalham e não
tem compromisso com trabalho é necessário gerar isto neles, tudo que é feito e
cobrado é para que ele se torne um bom profissional e bom trabalhador. As
comunidades terapêuticas são consideradas as mais efetivas hoje no
tratamento da dependência química, pois ela não trata somente a dependência
em si, a abstinência, a droga, mas trabalha no caráter e emocional de cada
acolhido. Momentos em grupo, onde a conversa, compartilham assuntos do dia
a dia, roda de chimarrão, sem algum assunto específico na maioria das vezes é
deixado “fluir”, esses momentos são importantíssimos, e uma das regras é
participar desse momento em grupo, pois muitos não sabem mais viver em
grupo, já que a dependência química deixa os indivíduos egoístas, pois eles
vivem para terem o prazer que a droga proporciona, muitas vezes passando
por cima de relacionamentos passando a viver sozinho. Dentro da chácara de
recuperação eles irão aprender a lidar com as diferenças uns dos outros,
aprender a lidar com coisas que não gostam “no seu próximo”, pois se estão
acolhidos e os problemas vem mas não são resolvidos e a opção é ir embora, e
ir embora pode ser comparado a uma recaída, sendo uma fuga que fora da
chácara a fuga dos problemas novamente será a droga.
Qual mensagem daria a um estudante de psicologia sobre grupos? Não
olhar somente pros comportamentos do grupo, pois seria como olhar somente
para a ponta do eisberg, mas olhar para aquilo que vai além do que os olhos
podem ver, que está no “fundo” e se manifesta por meio de comportamentos,
pois as vezes o que está por trás, são medos, traumas da infância, abusos,
então olhe além.

ANÁLISE DO PAPEL DO LÍDER E DO GRUPO

O líder necessita apresentar um papel suficientemente bom para o


grupo, para que não o torne dependente e ao mesmo tempo também não se
torne ausente para ele. Suas características nessa função precisam ser
intermediárias, isto é, manter-se presente nas intervenções, fazendo com que o
grupo progrida com responsabilidade e independência, mas com suas próprias
capacidades sem se tornarem dependentes, porém sem promover sua
ausência que, consequentemente, pode causar recaídas em alguns indivíduos
de grupos.

Quando um grupo se reúne para desenvolver um trabalho, seja de que


natureza for (terapêutico, de aprendizagem, institucional), está sujeito ao
surgimento de certos estados mentais compartilhados que se opõem ao
cumprimento da tarefa designada e que consistem nos chamados supostos
básicos. (OSÓRIO, 2007).

Conforme Osório (2007) o suposto básico de dependência demonstra


que o grupo se comporta esperando cuidados e a ser liderado por alguém,
podendo ser um dos participantes ou coordenador do grupo, para desenvolver
as tarefas, já no suposto básico de luta e fuga, há um movimento de confronto
e evitamento por parte de algum indivíduo do grupo, principalmente em
situações ansiogênicas, ou até mesmo enfrentamento ou afastamento da
liderança.

Algumas das características efetivas percebidas em líder de grupos,


segundo considerações presentes de Andaló (2001), na perspectiva
psicanalítica, é apresentar um papel de figura transferencial, com a presença
da Empatia, um aspecto da personalidade do coordenador de se colocar no
lugar de cada um do grupo e entrar dentro do clima grupal, ou seja, ligada à
sua capacidade de fazer um aproveitamento útil dos seus sentimentos contra-
transferênciais; ser Continente para ter a capacidade de acolher e conter as
necessidades e angústias dos membros do grupo; Gostar e acreditar em
grupos, já que o grupo capta o que o coordenador pensa ou sente; Senso de
ética, ter sigilo, mas também a não imposição pelo coordenador de seus
valores e expectativas ao grupo; Paciência, isto é, uma "atitude ativa," que
ofereça aos participantes o tempo necessário para adquirirem confiança e
respeite seus ritmos; Função de pensar, utilizar a percepção para observar se
os participantes são capazes de pensar as ideias, os sentimentos e as
posições que são verbalizadas; Discriminação, ter a capacidade de estabelecer
uma diferenciação entre o que pertence a si próprio e o que é do outro, fantasia
e realidade, interno e externo, presente e passado, o desejável e o possível, o
claro e o ambíguo, verdade e mentira; Respeito pelas características dos
participantes, evitando o rótulos ou papéis que lhes são usualmente atribuídos,
entre outros.

Afirmado por Sabino e Cazenave (2005) em relação aos grupos de


dependentes químicos de comunidades terapêuticas, considera-se que não há
um perfil determinado para um usuário dependente, este fator não ocorre
exclusivamente a uma pessoa de certa idade, sexo, classe econômica e social,
gênero, isto é, não sendo restrita a um único grupo populacional, mas
apresenta um problema principal, a dependência.

De acordo com a entrevista, a comunidade terapêutica se preocupa na


mudança de comportamento desses indivíduos através do cumprimento de
regras estabelecidas, essencialmente em relação a novos hábitos. Os objetivos
são construídos para estabelecer que o indivíduo tenha responsabilidade,
disciplina e organização pois irão influenciar em uma vida mais funcional,
garantindo maior distanciamento de substâncias psicoativas, já que nesses
locais não há presença das mesmas e fora desta comunidade as substâncias
acabam servindo como uma extensão na vida cotidiana.

O objetivo dessas instituições é o de promover uma transformação da


personalidade do indivíduo, um amadurecimento pessoal e favorecer sua
reinserção à sociedade. Para isso, criam-se novos valores como
espiritualidade, responsabilidade, solidariedade, honestidade e amor. (SABINO
e CAZENAVE, 2005).

Através disso, as comunidades atuam na premissa de que, quando não


se é possível promover mudanças no indivíduo dependente, é necessário
alterar a sua condição, seu meio ambiente e removê-lo da situação onde o
consumo ocorre. O processo terapêutico focaliza intervenções pessoais e
sociais, atribuindo funções, direitos e responsabilidades ao indivíduo
dependente em ambiente seguro em relação ao consumo de drogas. (SABINO
e CAZENAVE, 2005).

Conforme Sabino e Cazenave (2005), são ambientes residenciais, sem a


a presença de substâncias tóxicas, com etapas de tratamento de níveis cada
vez maiores de responsabilidade social e pessoal. Também há inserção e a
influência de companheiros para ajudar cada pessoa a aprender e assimilar as
normas sociais e desenvolver habilidades cada vez mais eficazes.

Por isso, também há apoio ao grupo familiar dos usuários, no qual tem
grande importância na recuperação do indivíduo para promoção da mudança
em todas a sua totalidade, onde o ambiente familiar também seja reestruturado
para que o usuário não volte ao seu contexto com a mesma dinâmica familiar,
ocasionando uma recaída.

Por fim, de acordo com Sabino e Cazenave (2005), a dependência de


drogas é um desejo compulsivo de obtenção da substância, a qualquer custo,
considerada como uma necessidade tanto biológica quanto psicológica.

Portanto, a Comunidade Terapêutica é a forma de tratamento utilizada


pelos participantes, tratando-se, portanto, de uma metodologia de internação
em que o paciente é o principal responsável pelo seu tratamento; sendo
auxiliado, porém, por companheiros do grupo, assim como por alguns
profissionais da área da saúde. O processo terapêutico focaliza intervenções
sociais, atribuindo funções, direitos e responsabilidades aos indivíduos em
tratamento. (SABINO e CAZENAVE, 2005).

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REFERÊNCIAS

ANDALÓ, Carmen Silvia de Arruda. O papel de coordenador de grupos.


Psicol. USP 12 (1) 2001. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pusp/a/ZR6PfTYWGwrpXkdDv3hYMqQ/?lang=pt

SABINO, Nathalí Di Martino; CAZENAVE, Sílvia de Oliveira Santos.


Comunidades terapêuticas como forma de tratamento para a dependência
de substâncias psicoativas. 2005, Estud. psicol. (Campinas) Disponível em:
https://www.scielo.br/j/estpsi/a/d6GNgyKtVD4xRDQNpJ5hVPJ/?lang=pt

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