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Metodologia Da Alfabetização: Unicesumar
Metodologia Da Alfabetização: Unicesumar
ALFABETIZAÇÃO
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
Impresso por
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos
com princípios éticos e proissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade,
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos
em 4 pilares: intelectual, proissional, emocional e
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil:
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba,
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando proissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou
proissional, nos transformamos e, consequentemente,
transformamos também a sociedade na qual estamos
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desaios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação proissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e proissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe
de professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
AUTORA
METODOLOGIA DA ALFABETIZAÇÃO
SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) aluno(a), é com muito prazer que apresentamos a você o livro que fará parte
da disciplina de Metodologia da Alfabetização. Sou a professora Marcia Maria Previato
de Souza e o preparei com muito carinho para que você adquira conhecimentos sobre
como acontece o processo de aquisição da leitura e da escrita pela criança.
Fui alfabetizadora por quase 10 anos e posso dizer que trabalhar com crianças em fase
de alfabetização causa imenso prazer e satisfação. Ver o desenvolvimento de uma crian-
ça nesse processo é apaixonante.
Meu objetivo ao escrever este livro não foi o de fornecer receitas prontas. Pelo contrá-
rio, procurei proporcionar momentos teóricos e práticos de relexão, que contribuam
com a sua prática enquanto professor alfabetizador. Para tanto, será necessário também,
muito empenho de sua parte para a realização desse intenso trabalho. No decorrer de
suas leituras procure interagir com os textos, fazer anotações, responder as atividades
de autoestudo, anotar suas dúvidas, ver as indicações de leitura e realizar novas pesqui-
sas sobre os assuntos tratados, pois, com certeza não será possível esgotá-lo em apenas
um livro.
Para iniciar nosso trabalho gostaria de questioná-lo: aprender a ler e escrever é uma
tarefa fácil?
Se você respondeu que não, você está coberto de razão. Isso mesmo, aprender a ler e
escrever não é fácil, envolve habilidades próprias desses dois atos.
E ensinar a ler e escrever é tarefa fácil?
Se você respondeu que não, também acertou. É uma árdua tarefa que envolve muitos
conhecimentos, responsabilidade e dedicação por parte de quem se propõe a realizar
esse trabalho.
Caro(a) aluno(a), o objetivo deste livro é nortear sua prática docente e tentar mostrar a
você que mesmo sendo uma difícil tarefa ela é envolvente! No decorrer de suas leituras
você encontrará desenhos e textos que fazem parte de uma pesquisa que realizei com
diversas crianças, mostrando exemplos práticos do que é fundamento teoricamente.
Foram vários anos de estudos e pesquisa e, grande parte desse trabalho é exposto nesse
material.
Na unidade I intitulada “O desenho como a primeira forma de representação da escrita”,
você perceberá que em um momento em que a escrita ainda não é do domínio da crian-
ça, ela se expressa por meio de seus desenhos e vários aspectos podem se desenvolver
com o ato de desenhar. Você também entenderá durante suas leituras o que diferencia
imitação de cópia. Isso mesmo! Ambos são elementos diferentes que a criança se apro-
pria. Nesse momento, a intervenção do adulto é fundamental, você sabia?
Ao inalizar suas leituras dessa primeira unidade você entenderá que a criança passa por
um processo evolutivo em seus desenhos e conhecerá como são os desenhos feitos por
elas em cada fase.
APRESENTAÇÃO
Com carinho!
UNIDADE I
O DESENHO COMO A PRIMEIRA FORMA DE REPRESENTAÇÃO DA
ESCRITA
17 Introdução
30 Imitação e Cópia
53 Considerações Finais
61 Referências
62 Gabarito
UNIDADE II
O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA
65 Introdução
95 Considerações Finais
103 Referências
104 Gabarito
12
SUMÁRIO
UNIDADE III
A AQUISIÇÃO DAS HABILIDADES DE LEITURA E ESCRITA
107 Introdução
135 Referências
137 Gabarito
UNIDADE IV
JOGOS E BRINCADEIRAS NA ALFABETIZAÇÃO
141 Introdução
175 Referências
176 Gabarito
13
SUMÁRIO
UNIDADE V
AVALIAÇÃO: REPENSANDO O PROCESSO
181 Introdução
214 Referências
216 Gabarito
217 CONCLUSÃO
Professora Me. Marcia Maria Previato de Souza
I
O DESENHO COMO A
UNIDADE
PRIMEIRA FORMA DE
REPRESENTAÇÃO DA
ESCRITA
Objetivos de Aprendizagem
■ Entender a importância do desenho como forma da criança expressar
seu pensamento.
■ Compreender que o ato de desenhar proporciona à criança o
desenvolvimento de diversas habilidades.
■ Analisar os diferentes componentes do desenvolvimento no universo
da aprendizagem infantil.
■ Entender as fases do desenho infantil.
■ Analisar os desenhos e reconhecer neles características presentes em
cada fase.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ A comunicação por meio do desenho
■ O desenho como forma de compreender o desenvolvimento da
criança
■ Imitação e cópia
■ Fases do desenho infantil: fases da garatuja, fase pré-esquemática,
fase esquemática
17
INTRODUÇÃO
Olá, caro(a) aluno(a), nesta primeira unidade, você estudará um assunto muito
interessante que contribuirá com sua prática, principalmente da educação infan-
til. Nela busco mostrar a importância do desenho para as crianças que ainda
não dominam a escrita e a necessidade de o professor conhecer essa importân-
cia e conduzir seu trabalho de maneira prazerosa, sem cometer equívocos em
relação às obras artísticas de seus alunos.
A criança em seu universo revela, por meio de seus desenhos, mesmo ainda
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
18 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Cabe nesse momento a sua intervenção, não como um ato impositivo, mas
por meio do diálogo. Assim, você poderá mostrar para criança o quanto aquele
trabalho é importante e que naquele momento não é hora de rasgar ou jogar
fora, você pode até sugerir a ela que o refaça se quiser, mas que não poderá dei-
xar de ter, assim como seus amigos de sala.
Segundo Fontoura (1972, p.252):
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til a marcha do seu raciocínio, as formas de sua lógica. O desenho é o
momento da evolução mental da criança, que completa a linguagem e
anuncia o próximo advento da criança.
A reação de uma criança pode ser entendida de várias formas pelos adultos. Cada
criança pode interpretar de diferentes maneiras e comentar sobre o que fez. Por
isso, pode-se airmar, nesse momento, o quanto o desenho ajuda no desenvol-
vimento da linguagem, já que, ao ser interrogada sobre o trabalho, ela fala tudo
que vem da sua imaginação, podendo inventar histórias com muitas versões em
diferentes momentos. Um exemplo disso é que sobre o mesmo desenho a criança
pode contar uma determinada história na escola e outra em casa, muitas vezes,
interpreta de uma maneira diferente o que fez cada vez que fala sobre sua obra.
Para Aroeira, Soares e Mendes (1996), a arte infantil facilita não só a compre-
ensão, mas também a oportunidade de estimular a imaginação e a criatividade
da criança. Isso tem um signiicado muito mais importante do que mudar o
aspecto externo dos próprios desenhos, que é justamente o processo total de
criação daquele determinado momento. Não se pode afetar, positivamente, o
comportamento da criança pelo fato de proporcioná-la padrões ou técnicas a
serem obedecidas para realizar um trabalho mais bonito ou dirigido por alguém.
A mudança no próprio produto deve resultar de transformações no pensa-
mento, nos sentimentos e na percepção da criança. É por meio desse processo que
se desenvolvem as alterações no comportamento ou as mudanças nos padrões de
desenvolvimento. Por meio dele, também, é que mudanças signiicativas ocor-
rem no próprio produto.
O mundo visto sob seus olhos deixa entrever sonhos, dúvidas e sen-
timentos. Por isso, quando observamos a produção artística de uma
criança podemos perceber ali uma série de elementos indicativos de
seu desenvolvimento emocional, intelectual, perceptual e social (ARO-
EIRA; SOARES; MENDES, 1996, p. 51).
Você já parou para pensar no ato de desenhar? Para nós adultos parece mui-
tas vezes fácil, mas para criança esse ato envolve habilidades diferentes, va-
mos então compreender essa complexibilidade?
Desenhar não é um ato simples como muitos de nós adultos imaginamos,
este ato desenvolve habilidades que fazem com que possamos conhecer
melhor o universo da criança.
Caro(a) aluno(a), para que seja compreendido com mais facilidade os compo-
nentes que são desenvolvidos a partir do ato de desenhar, faremos, a seguir, uma
análise desses componentes, só lembrando que nossa proposta aqui é compre-
ender pedagogicamente como eles acontecem. Vamos lá?
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Desenvolvimento Emocional
No desenho o desenvolvimento
emocional está relacionado dire-
tamente à intensidade com que
a criança se identiica com sua
©shutterstock
Desenvolvimento Intelectual
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Dessa forma, pode-se perceber que se não houver o equilíbrio entre o desen-
volvimento emocional e o intelectual, a capacidade criadora da criança sofre
alterações e os padrões de seus desenhos podem oscilar.
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Desenvolvimento Físico
Desenvolvimento Perceptual
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Desenvolvimento Social
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com outras crianças, momentos
na escola ou pessoas que conside-
ram importantes. Nas palavras de
Figura 5 - Em seus desenhos podem aparecer momentos
Aroeira, Soares e Mendes: de convivências sociais
Conforme o tempo vai passando e a criança cresce, sua arte acompanha sua
evolução, reletindo a crescente conscientização do meio social em que vive.
“O desenho pode, assim, tornar-se uma ampliação do eu no mundo da rea-
lidade, porquanto começa a abranger outros na análise do material temático”
(LOWENFELD; BRITTAIN, 1970, p. 45).
É relevante, nesse momento, fazer a criança compreender e assumir respon-
sabilidades pelo que faz. Fazê-la enfrentar novos desaios nas atividades artísticas
que desenvolve propicia melhor desenvolvimento no aspecto social da criança.
Desenvolvimento Estético
Desenvolvimento Criador
O desenvolvimento criador tem início na mais tenra idade, ou seja, desde muito
pequena a criança já começa a demonstrá-lo. Para Lowenfeld e Brittain (1970),
a reação da criança com as experiências sensoriais é o marco desse estágio, tra-
duzindo na capacidade de estabelecer contato com o mundo.
Sobre a capacidade criadora Aroeira, Soares e Mendes completa em:
A arte não começa com o primeiro rabisco que a criança faz. Na rea-
lidade, tem início mais cedo, quando a criança reage às experiências
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sensoriais estabelecendo o contato com o mundo. Essa é de fato a base
essencial para a produção de formas artísticas (1996, p. 53).
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©shutterstock
IMITAÇÃO E CÓPIA
As crianças que são submetidas às regras ou imposições que lhes são alheias podem
retrair-se e buscar formas mecânicas ou cópias. Dessa forma, sua criatividade
é podada e seus desenhos deixam de ser genuínos. Por isso, o ato de desenhar
e representar seus desejos no papel não pode ser algo imposto, mas deve surgir
de uma força espiritual interior, em que a criança se sinta livre para se expressar.
Ensinar a criança a copiar é ensinar a estereotipia, é esvaziar o sentido
da pesquisa natural. O campo do imaginário se vê as voltas com iscais
introjetados controladores da ação gráica, desenvolvendo na criança
uma crítica controladora (DERDYK, 2004, p. 111).
Imitação e Cópia
32 UNIDADE I
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Em relação a isso, Derdyk airma que:
O ato de copiar, diferentemente carrega um signiicado opressor, cen-
sor, controlador. Poderíamos dizer que a necessidade de copiar igual-
zinho não inclui e não autoriza a criança a ser autora da ação. O ato de
copiar é vazio de conteúdo, mera reprodução impessoal (2004, p. 110).
Ao imitar um adulto em seus atos, agir como a mãe em sua proissão, brincar de
casinha, de ser professora ou imitar um amigo quando faz um desenho que lhe
chamou a atenção pode ser entendido como uma troca de experiência. Sendo
assim, a criança mostra sua criatividade por meio de atos que lhe interessam e
não por ter sido pressionada a fazer.
O professor tem uma responsabilidade muito grande ao fazer qualquer inter-
venção no momento em que a criança está elaborando seus desenhos. A criação
de um ambiente favorável gera nela prazer. Permitir que explore o ambiente, que
arrisque, que se expresse, que manipule materiais, favorece o ato criador.
Vamos então conhecer essas etapas evolutivas e juntos trilhar as fases do desen-
volvimento do desenho? Então, continue lendo e você irá se deparar com esse
encantador universo infantil.
Imitação e Cópia
34 UNIDADE I
A partir do momento que a criança percebe que com um lápis, uma caneta ou
um pincel atômico ela deixou marcas, dá-se o início do processo evolutivo do
desenho. Esse processo evolutivo é caracterizado por Lowenfeld e Brittain (1970)
em três fases:
1. Garatujas.
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2. Pré-esquemática.
3. Esquemática.
Os primeiros anos de vida de uma criança podem ser decisivos para o seu desen-
volvimento. Nesse período, ela começa a estabelecer padrões de aprendizagens
que podem reletir por toda a sua vida. É na interação da criança com o meio
que tem início a aprendizagem e a comunicação da criança com o mundo. Sobre
essa interação trago para você as contribuições de Anning e Ring (2009, p. 13):
As crianças pequenas usam uma série de maneiras de se comunicar,
incluindo expressões faciais, gestos, linguagens corporal, fala, repre-
sentação sociodramática, dança, canto, manipulação de objetos, assim
como marcar e desenhos. Elas aprendem a se comunicar nas intera-
ções com seus pares ou com adultos inluentes nas comunidades que
as cercam. Mais tarde, a natureza e a qualidade destas interações serão
inluenciadas pelos contextos históricos e culturais em que ocorrem as
interações.
Garatujas Desordenadas
As garatujas desordenadas não são formas de a criança retratar seu meio visual
ou forma de pensamento. São rabiscos aleatórios, pois a criança não percebe que
pode representar algo por meio deles. Na maioria das vezes, a criança nem olha
para o que está rabiscando. Esses movimentos realizados são, na maioria das
vezes, para cima e para baixo, para frente ou para trás, sem destino certo. Não
usa nem o dedo nem o pulso para controlar o lápis, simplesmente porque ainda
não tem esse controle. Nesse estágio, a criança não estabelece relação nenhuma
entre traço e gesto, o prazer dela é riscar tudo que vê pela frente.
Pais ou professores precisam estar conscientes de que a criança não está
pronta para desenvolver tarefas que exijam dela um exato controle motor dos
movimentos, é como se quiséssemos que uma criança, que apenas balbucia, pro-
nunciasse palavras de maneira correta.
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Figura 8 - Garatujas Desordenadas (Matheus: 2 anos)
Fonte: acervo da autora.
Garatujas Controladas
As garatujas controladas têm início quando a criança descobre que existe ligação
entre seus movimentos e os traços que deixou no papel, ou seja, estabelece rela-
ção entre gesto e traço. Ocorrem, aproximadamente, seis meses após a criança
ter começado a garatujar.
Nesse estágio, a criança consegue icar por mais tempo e repetir movimentos,
principalmente, de vai-e-vem. Por volta dos três anos, consegue fazer movimen-
tos de círculo e espiral, mas não consegue registrar quadrados.
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pedir que fale para um adulto sobre o que desenhou é necessário para seu reco-
nhecimento, pois possuem forma indeinida, com predominância ainda dos
rabiscos, mas já começa a dar forma à igura humana, ainda que de maneira
muito abstrata.
Em relação a essa fase Seber (1995, p. 81) airma:
À medida que a oralidade acompanha o graismo, antecedendo-o ou
explicando-o, sua própria materialidade se modiica. Aos poucos a
continuidade dos rabiscos é substituída por traços ocasionalmente in-
terrompidos, pois a criança tira o lápis do papel e recomeça o que está
fazendo em outra parte da folha.
Desenhos de garatujas criados pela criança nessa etapa, não possuem notáveis
mudanças em relação aos desenhos das etapas anteriores. No entanto, o tempo
que a criança se dedica é maior e seus traços são carregados de signiicados.
Para a criança que se encontra nesse estágio é comum explicar o que vai
desenhar ou o que já desenhou. Para Aroeira, Soares e Mendes (1996, p. 54), o
importante é o signiicado real que atribui àquilo que desenhou.
O importante é que os rabiscos e traços têm um signiicado real para
a criança que os desenha. Sua vontade de imitar o adulto agora é mais
evidente, traduzindo-se no desejo de escrever, de comunicar-se com
alguém.
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brimento do sistema de escrita em crianças muito pequenas quando jogam no
lixo folhas cheias de garatujas, quando lavam paredes, mesas e pisos ou ainda
podam as crianças com broncas. Assim, inibem a criança de explorar as formas
das letras e a função da escrita posteriormente.
Por meio do desenho, a criança estabelece vínculo com a realidade. Por esse
motivo é importante que o professor passe a valorizar sua capacidade criadora
e reconheça que o desenho vem carregado de signiicado, principalmente, nessa
fase em que é possível entender as intenções das crianças ao desenhar.
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Fase esquemática (aproximadamente de 7 a 9 anos)
A maior descoberta que a criança faz, nessa fase, é a ordem deinida das relações
espaciais. O desenho é considerado como esquema ou símbolo de um objeto real.
Neles as iguras encontram-se organizadas de acordo com os temas e uma ordem
clara, normalmente já deinida. A intenção do que quer representar é manifes-
tada, permitindo a elaboração de projetos individuais ou coletivos. Já usa com
mais intensidade iguras como círculo, quadrado e triângulo.
É possível notar em desenhos dessa fase, como nos exemplos a seguir, todos
os elementos de uma linha de base que pode representar o chão, a grama, pisos
ou outra coisa em que a criança se situa. No plano gráico, consegue dominar o
espaço da folha de papel, utilizando-a de maneira organizada. Elementos do céu
localizam-se na parte superior da folha e elementos da terra na parte inferior.
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Figura 16 - Fase esquemática (Caroline: 7 anos e meio)
Fonte: acervo da autora.
Para Seber (1995), é certo que o prazer que a criança encontra no desenho deixará
de existir se não permitirem a exploração de sua função expressiva e a realiza-
ção de seu poder de criação.
A COR DA EXPRESSÃO
ANO: 3º OU 4º ANOS
TEMPO NECESSÁRIO: 4 AULAS
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Introdução possibilidades. Vamos nessa atividade explorar esses pontos
apreciando algumas obras do pintor espanhol Pablo Picasso.
Em seguida, os alunos desenharão e pintarão expressões de
acordo com a cor que acreditam representar melhor essas
expressões. Esse material, feito em cartões, será utilizado em
jogos de memória e de adivinhação.
Primeira aula
Se a escola contar com videocassete, selecione alguns dese-
nhos infantis para mostrar como a cor também é usada nesse
caso para expressar sentimentos e situações. Outra opção é
pedir aos alunos que recortem de gibis iguras que tenham
suas expressões reforçadas pelas cores.
As crianças também podem ser convidadas a fazer diferentes
expressões faciais para que os colegas imaginem a cor de
cada uma das expressões criadas.
Na segunda aula, apresente aos alunos algumas imagens de
pinturas da fase azul e da fase rosa do artista espanhol Pablo
Picasso. Resgate a importância da cor nestes momentos de
seu percurso em que ele retratou sentimentos de tristeza e
paixão.
Relacione os acontecimentos da vida do pintor e do contexto
histórico com as cores escolhidas por ele para as imagens de
cada fase. Saliente aos alunos que, em suas vidas, eles podem
Desenvolvimen- escolher outras cores para a representação desses e de outros
to da atividade/ momentos e sentimentos.
procedimentos: Analise com seus alunos os quadros: a tragédia (fase azul) e
Segunda aula Família do acrobata (fase rosa). São dois exemplos de utiliza-
ção das referidas cores para a expressão de sentimentos que
Picasso vivia nas épocas em que os pintou.
Como atividade inal, sugira aos alunos que façam uma pintu-
ra para expressar um sentimento usando a cor para represen-
tá-lo. Diga aos alunos, que a intenção é experimentar uma
relação parecida com a que o artista estabeleceu com estas
pinturas, ressaltando que cada um pode colocar sua relação
com as cores.
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colega.
Antes de encerrar essa primeira unidade, gostaria de deixar uma citação reti-
rada do livro “A Formação Social da Mente”, escrita por Vygotsky (1989), na qual
o autor expressa um pensamento muito importante sobre o ato de desenhar:
Inicialmente a criança desenha de memória. Se pedirmos para ela dese-
nhar sua mãe, que está sentada diante dela, ou algum outro objeto que
esteja perto dela, a criança desenhará sem se quer olhar para o original;
ou seja, as crianças não desenham o que veem, mas sim o que conhe-
cem. Com muita frequência, os desenhos infantis não só têm nada a
ver com a percepção real do objeto como, muitas vezes, contradizem
essa percepção. Nós também observamos o que Buhler chama de “de-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
senhos de raio X”. Uma criança pode desenhar uma criança vestida e,
ao mesmo tempo, desenhar suas pernas, sua barriga, a carteira no bol-
so, e até mesmo o dinheiro dentro da carteira – ou seja, as coisas que
ela sabe que existem mas que, de fato, no caso, não podem ser vistas.
Ao desenhar uma igura de peril, a criança incluirá um segundo olho;
ao desenhar um homem montado a cavalo, visto de lado, incluirá a
outra perna. Finalmente, partes extremamente importantes dos objetos
podem ser omitidas; por exemplo, as crianças podem desenhar pernas
que saiam diretamente da cabeça, omitindo o pescoço a o tronco ou,
ainda, podem combinar partes distintas de uma igura (p.127).
Caro(a) aluno(a), esperamos que durante suas leituras você tenha observado o
tamanho da nossa responsabilidade como professores da Educação Infantil e
Anos Iniciais do Ensino Fundamental. A organização de um trabalho pedagó-
gico, pautado em um planejamento consciente que considere todos os aspectos
que são desenvolvidos a partir de atividades com desenhos pode promover uma
alfabetização mais sólida posteriormente, com crianças mais seguras, que usam
a imaginação, criatividade e interpretação do mundo que a cerca.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado(a) aluno(a), chegamos ao inal desta unidade, até o momento quis mos-
trar a você que o ato de desenhar proporciona à criança inventar novas leis de
organização de espaço e tempo, o desenvolvimento da imaginação, criatividade
e oralidade. Permite que arrisque, planeje, jogue. Enim, estimula o desenvol-
vimento em vários aspectos como o emocional, intelectual, físico, perceptual,
social, estético e criador. Cabe ao professor incentivar e proporcionar momen-
tos prazerosos para tornar esse ato signiicativo para a criança.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Considerações Finais
54
Os links que seguem contribuirão com suas leituras sobre o tema, considero essencial que
vocês os leia.
<http://www.crmariocovas.sp.gov.br/dea_a.php?t=022>.
<http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=13114>.
<http://novaescola.org.br/formacao/rabiscos-ideias-desenho-infantil-garatujas-evolucao-
cognicao-expressao-realidade-518754.shtml>.
<http://www.alb.com.br/anais16/sem08pdf/sm08ss13_08.pdf>.
61
REFERÊNCIAS
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med, 2009.
AROEIRA, M. L. C.; SOARES, M. I. B.; MENDES, R. E. A. Didática de pré-escola: brincar
e aprender. São Paulo: FTD, 1996.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Funda-
mental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/
sef,1998.
DERDYK, E. O desenho da igura humana. São Paulo: Scipione, 2004.
FERREIRO, E. TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed,
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FONTOURA, A. Psicologia educacional: A escola viva. Rio de Janeiro: Aurora, v. 5,
1972.
LOWENFELD, V.; BRITTAIN, W. L. Desenvolvimento da Capacidade Criadora. São
Paulo: Mestre Jou, 1970.
PIAGET J.. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975.
SEBER, M. da G. Psicologia do Pré-escolar: uma visão construtivista. São Paulo: Mo-
derna, 1995.
VYGOTSKY, L. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
Referências on-line:
O PROCESSO DE
II
UNIDADE
CONSTRUÇÃO DA LEITURA
E DA ESCRITA
Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender o histórico da alfabetização e analisar os métodos de
alfabetização.
■ Analisar e discutir os níveis conceituais linguísticos propostos por
Emília Ferreiro e Ana Teberosky.
■ Analisar a importância da atuação docente na consolidação do
processo de alfabetização.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Breve histórico da alfabetização
■ Os níveis conceituais linguísticos: Pré-silábico, Intermediário l,
Silábico, Intermediário II ou Silábico-alfabético e Alfabético
■ A importância da atuação docente na consolidação do processo de
alfabetização
65
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), você se lembra de qual método foi usado na sua alfabetiza-
ção? Certamente a grande maioria pode estar pensando: eu fui alfabetizado no
método tradicional e, consequentemente, com cartilhas. Até mesmo os alunos
mais novos, mesmo que não tenham sido alfabetizados com esse material, com
certeza já devem ter visto ou ouvido falar sobre ele.
Por muito tempo ensinar a ler e escrever esteve atrelado ao uso de cartilhas.
Os atos de ler e escrever eram entendidos como algo mecânico e descontextu-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
66 UNIDADE II
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constituição da alfabetização, é que realizaremos a partir de agora um breve res-
gate da história da alfabetização ao longo do tempo para determinados povos.
De acordo com Cagliari (2003), a invenção da escrita está diretamente relacio-
nada à invenção das regras da alfabetização, ou seja, a criação de determinado
código linguístico está intimamente relacionada as formas de decifração e de
leitura do que está escrito.
Ao analisarmos os sistemas de escrita, perceberemos que todos eles possuem
uma forma de se fazerem compreendidos, ainal de contas, esse é o objetivo da
escrita: escrevo para que alguém leia e entenda o conteúdo do texto, ou seja,
a intenção de quem o escreveu. Eis a função social da escrita, a comunicação.
Logo, então, podemos airmar que não existe nenhum sistema de escrita que
seja indecifrável.
Aproveitamos a discussão aqui apresentada a você, para enfatizar o processo
de leitura e escrita no período histórico denominado por Antiguidade. A partir
das contribuições de Cagliari (2003), pode-se airmar que ao contrário do que
muitos pensam, na Antiguidade o domínio da escrita não era privilégio dos reis
e dos sacerdotes. Podemos comprovar tal constatação ao veriicar os estudos rea-
lizados sobre as escritas deixadas pelos faraós nas paredes, cujo conteúdo tinha
o povo como principal interlocutor.
No seu livro “Alfabetizando sem o BÁ BÉ BI BÓ BU”, Cagliari (2003, p. 14)
apresenta uma história um tanto quanto fantasiosa, mas que, segundo o autor
nos permite dizer que quem inventou a escrita foi a leitura. A história que segue
foi baseada no texto do autor supracitado, leia com atenção e relita sobre o que
estudamos até o momento:
no que tinha acontecido, e então percebeu que os desenhos poderiam ser lidos.
Ou seja, além de representar objetos do cotidiano eles poderiam representar
também as palavras.
A partir dessa história ilustrativa, podemos dizer que a escrita surgiu das neces-
sidades reais, vividas no cotidiano de um povo. Fatos históricos apontam que a
escrita surgiu da necessidade concreta do homem primitivo de contar e regis-
trar a quantidade de animais de seu rebanho.
É importante destacar também que o conceito de alfabetizado nem sempre
foi o mesmo. Na Antiguidade, por exemplo, era considerado alfabetizado o indi-
víduo que sabia decifrar e reproduzir os símbolos das contagens.
Na Antiguidade, as pessoas aprendiam a ler e a escrever lendo algo escrito por
alguém, e depois realizavam inúmeras cópias. Após dominarem essas habilidades
os alunos passavam a copiar textos famosos, esse fato contribuiu sobejamente
para a formação dos escribas que escreviam com detalhes a cultura da socie-
dade dessa época.
É importante destacar também, que muitas pessoas aprendiam a ler fora da
escola. Uma vez que não tinham o interesse de se tornarem escribas faziam uso
da leitura nas situações diárias e a escrita surgia como consequência da leitura.
Com a organização do sistema de escrita dos Semitas houve uma redução signi-
icativa dos símbolos da escrita cuneiforme de 60 elementos para 21 consoantes.
Para aprender a escrever nesse sistema, bastava que a pessoa identiicasse a lista
de consoantes e aplicasse a ela.
Em relação ao povo grego, é possível observar que o seu alfabeto, além dos
símbolos denominados de consoantes, possuía também as vogais. Cagliari (2003)
nos lembra que os gregos realizaram uma adaptação das letras semíticas para sua
língua. Desse modo, o processo de alfabetização dos gregos é semelhante ao do
povo semita, com uma especiicidade, além das consoantes era necessário iden-
tiicar na fala também, as vogais.
Já os Romanos deram sua contribuição para a ratiicação do sistema de
escrita, na medida em que se apropriaram das características do alfabeto grego,
porém com uma ressalva, passaram a ter como nome da letra apenas o próprio
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som dela. De acordo com Cagliari (2003), os Semitas, os Gregos e os Romanos
nos deixaram as mais antigas cartilhas da humanidade, que eram placas, pedras
ou pequenas tabuinhas que continham seus alfabetos.
©shutterstock
Figura 1- Alfabeto Grego
PEIXE = peixe Figura 2- Alfabeto romano deu origem ao nosso alfabeto latino.
ANIMAL = animal
Como vocês já devem ter estudado, o período que abrange o início do século
XV e meados do século XVI (não há consenso entre os estudiosos acerca do
período) foi marcado por importantes transformações sociais, políticas, eco-
nômicas, religiosas e culturais que acarretaram em mudanças importantes na
forma de organização da sociedade. Tais mudanças marcaram o im da Idade
Média e início da Idade Moderna, caracterizado sobretudo, pela mudança do
Feudalismo para o sistema Capitalista e icou conhecido como Renascimento.
Foi justamente nesse período, com a expansão de livros, que a leitura deixou
de ser uma atividade coletiva e passou a ser cada vez mais um exercício indi-
vidual, aumentando assim a preocupação com o processo de alfabetização. A
estruturação de manuais que dessem conta da efetivação da alfabetização acar-
retou no surgimento das cartilhas, prática que podemos constatar até os dias
atuais em algumas regiões.
A prática de alfabetização vinculada às cartilhas pouco contribuíram para a
efetivação do referido processo. Composta por uma estrutura focalizada na memo-
rização e repetição de exercícios e de textos descontextualizados do cotidiano
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das pessoas, as cartilhas contribuíram para um desastroso índice de reprovação
e evasão escolar. Contudo era o material que se tinha para ser utilizado na escola
como principal material didático.
Observe a seguir algumas especiicidades da cartilha “Caminho Suave”, de
autoria de Branca Alves de Lima (1911- 2001).
Talvez você já a conheça, vamos recordar.
A Cartilha Caminho Suave foi publicada em 1948 pela primeira vez e de acordo
com o Centro de referência em Educação Mario Covas, até meados da década
de 1990 havia alcançado a venda de 40 milhões de exemplares. Ela foi retirada
do catálogo da avaliação do Ministério da Educação em 1995, pois não atendia
à base teórica de concepção construtivista da alfabetização.
Ao observar a capa da cartilha você perceberá que nela está escrito
“Alfabetização pela imagem”. Talvez isso acarrete um novo questionamento:
No que consiste esse método?
Em uma entrevista concedida ao Jornal Folha de São Paulo, em 1997, Branca
Alves Lima relata um pouco de sua prática e diz que na década de 1940 a prática
de alfabetização estava pautada no método Analítico, o qual segundo a autora,
pouco contribuía para a aprendizagem dos alunos. A partir do im do Estado
Novo em 1945 o Ministério da Educação deu liberdade didática aos professores,
foi então que Branca desenvolveu a metodologia de Alfabetizar pela imagem, por
exemplo, a letra “b” está inserida no corpo de uma criança e indica sua Barriga.
De acordo com alguns especialistas com o passar dos tempos, foram surgindo
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Deixo aqui para vocês uma relexão: será que atualmente, em uma socie-
dade letrada e informatizada na qual as crianças da Educação Infantil e
Anos Iniciais que nasceram na era digital e convivem com tantos tipos de
materiais e recursos se interessariam em aprender com uma cartilha? Será
que a forma como as cartilhas traziam os conteúdos motivariam os alunos
a aprenderem?
(a autora)
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se pode pretender um único método para orientar a aprendizagem da leitura e
da escrita, é preciso utilizar a palavra métodos, ou seja, uma articulação de pro-
cedimentos que tenham como inalidade a aprendizagem da língua escrita, por
isso, como professor você precisa ter o conhecimento teórico desses métodos.
A partir de agora aprofundaremos nossos estudos para conhecer o pro-
cesso evolutivo da leitura e da escrita. Continue lendo, você se encantará com
tais conhecimentos.
Nesse nível, a criança não estabelece nenhum vínculo da fala com a escrita.
Registra símbolos e pseudoletras (falsas letras), misturadas com letras, núme-
ros e desenhos, pois utiliza o que conhece no meio ambiente para seus registros
(garatujas, bolinhas, traços, zigue-zague e letras do próprio nome).
Nessa fase, a criança, demonstra que tem a intenção de escrever, mas somente
ela identiica o que quis escrever. Usa letras do próprio nome e supõe que para
algo que possa ser lido, precisa, ter no mínimo, de dois ou quatro caracteres que
não se repetem na mesma palavra. Não realiza a correspondência entre pensa-
mento e palavra escrita, entre fonema e grafema, ou seja, não reconhece o valor
sonoro convencional das letras. Para ela, o som da letra i (fonema) não se rela-
ciona com a escrita da letra i (grafema). Não apresenta ainda ordem das letras
justamente por não identiicar ainda os sons. Em relação às concepções da criança
nesse nível, Cócco e Hailer (1996, p. 40) airmam:
Impressão de que a ordem das letras não é importante. Podem ser
quaisquer letras, em qualquer ordem, pois a escrita não é estável. A
mesma palavra pode mudar de signiicado em um lugar diferente, por-
que ela corresponde ao que o sujeito desejou escrever. Uma criança
pode escrever girafa assim: LTUXTOAVEMOXOAT.
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Ainda nessa fase, pode-se identiicar nas crianças o REALISMO NOMINAL,
supondo que a escrita representa os objetos e não os seus nomes. Isso signiica
que, para a criança, as coisas grandes devem ter nomes grandes e as coisas peque-
nas devem ter nomes pequenos.
Para reiterar a veracidade dessa fase, foi realizada uma atividade com uma
criança de quatro anos (Leonardo). Ao solicitar que escrevesse o nome dos obje-
tos que seguem, o resultado foi o seguinte:
Observe que ao escrever árvore, Leonardo usou muitas letras de tamanho grande,
e ao escrever telefone usou poucas letras com tamanho menor, comprovando o
realismo nominal.
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Figura 7 - Hipótese Pré-silábica (Leonardo: 4 anos e 7 meses)
Fonte: acervo da autora
Observe que nesses dois textos tanto Luis Henrique quanto Júnior já se apoia-
ram apenas na escrita de letras, mesmo que, às vezes, espelhadas. Contudo,
somente eles foram capazes de identiicar o que quiseram escrever. O texto do
Júnior já apresenta a separação entre uma palavra e outra, diferente do de Luis
Henrique que escreve todas as letras juntas. A separação de palavras, mesmo que
ainda sem signiicado, representa um avanço signiicativo para a criança. Nesse
momento, faz-se necessário ainda que o professor seja o escriba para que possa
compreender a intenção da criança ao escrever. É importante ressaltar também
que a intervenção e questionamento sobre o que escreveu devem acontecer logo
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após a escrita da criança, assim o professor saberá realmente a sua intenção. Se
deixar para outros momentos a criança poderá não se lembrar e relatar qual-
quer outra coisa e isso pode atrapalhar a análise do professor em relação ao que
ela quis expressar.
NÍVEL II – Intermediário l
Ao analisar o texto de Felipe é possível perceber que ele tem noção do que quer
escrever. Separa uma palavra da outra, mas acredita que a mesma letra não se
repete na mesma palavra. Usa várias vezes a letra F, muito familiar para ele. Em
determinado momento usou a palavra Bete (nome da sua mãe) para garantir o
signiicado de mãe.
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Figura 11 - Intermediário l (Laíz Valéria: 6 anos)
Fonte: acervo da autora.
Observe que, nesse texto, Laíz Valéria já separa as palavras, demonstrando sua
real intenção ao escrever, utiliza várias vezes as letras do seu nome e já tem noção
da relação grafema/fonema quando escreve “jzuá, jzuá, jzuá” para representar o
choro do cebolinha. Como já citado anteriormente, essa fase caracteriza-se por
um momento de conlito, sendo assim, a postura do professor e o meio em que a
criança está inserida determinará sua busca em progredir no seu nível de escrita.
Esse nível tem como característica, a tentativa da criança em dar um valor sonoro
a cada letra do alfabeto, vínculo que não era estabelecido em níveis anteriores.
A diferença com o nível anterior não se situa, pois, na maior ou menor
correção com que se escreve os nomes, mas sim na troca – extrema-
mente importante – da passagem da correspondência entre uma letra
e um nome, para correspondência entre uma letra e uma parte (sílaba)
do nome (FERREIRO; TEBEROSKY, 1999, p.228).
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Pela primeira vez, a criança trabalha com a hipótese de que a escrita representa
partes sonoras da fala, sentindo-se coniante ao escrever, pois descobre que aquilo
que está escrevendo tem lógica.
A noção de que cada sílaba corresponde a uma letra, pode aparecer com
ou sem valor sonoro, ou seja, pode colocar CA para cama, ou ainda quaisquer
outras letras para representar cama. Compreende que para cada “pedaço” da
palavra deve-se usar uma letra. Cada vez que ela abre a boca, a criança coloca
um sinal gráico.
Nesse momento, a criança acredita que resolveu o problema com sua escrita,
porém, a leitura ainda é algo complexo aos olhos dos adultos, que para entender
a intenção dela ao escrever, precisa conhecer, por meio de seus relatos, a ideia
que quis expressar.
Conheça algumas características dessa fase:
■ Nesse nível, a criança já supõe que a escrita representa a fala.
■ Ela sente-se coniante, pois descobre que pode escrever com lógica, passa
a ter noção de que cada sílaba corresponde, no mínimo, uma letra e essa
noção pode acontecer com ou sem valor sonoro convencional.
■ Ela supõe que deve escrever tantos sinais quantas forem às vezes que mexe
a boca, ou seja, cada sílaba oral corresponde a uma letra.
■ Sua escrita não apresenta deinição das categorias linguísticas como ver-
bos, artigos, pronomes entre outros.
■ É comum fazer recortes silábicos e fonetizar partes de sílabas simples, o
que não ocorria em níveis anteriores a esse.
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Observe que no texto do Pedro não há separação entre as palavras, mas há rela-
ção entre grafema e fonema. Em alguns momentos, ele utiliza uma letra para
representar uma palavra, em outros usa duas e até três letras.
Aqui a criança deve raciocinar que a escrita vai além da sílaba, então começa
a combinar vogais e consoantes na mesma palavra. Exemplo: MAC para macaco,
TIAO para Tiago. Pode também acrescentar letras, principalmente, na primeira
sílaba. Exemplo: CEABLA para cebola. Vale reiterar que, nesse momento, a
criança se encontra a um passo da escrita alfabética, conseguindo compreender
que a escrita representa o som da fala, fazendo uma leitura termo a termo e não
mais global como fazia em níveis anteriores.
Podemos perceber a escrita silábico-alfabética em dois textos escritos por crian-
ças, o de Caroline que na época da pesquisa que realizei estava no último ano
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da educação infantil e o de Luís Henrique, início da primeira série (ensino fun-
damental de oito anos):
No texto escrito por Caroline, pode-se perceber que ela está muito próxima da
escrita alfabética e mesmo que a professora não tivesse sido a escriba, seria fácil
identiicar a intenção da criança ao escrever.
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No texto de Luis Henrique também é possível perceber que ele está muito pró-
ximo do nível alfabético e quase todas as palavras já são reconhecíveis, porém
ainda ambos, Luis Henrique e Caroline omitem letras ou escrevem de maneira
segmentada, características ainda muito presentes nesta fase. Cabe ao professor
saber identiicar com propriedade essa fase, para poder trabalhar com atividade
de leitura e escrita que leve a criança a reletir sobre o sistema linguístico, a im
de promovê-la ao nível alfabético.
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norma culta vão sendo interiorizadas em um processo paulatino.
Outra importante característica dessa fase é que a criança expressa seu
pensamento e sua fala de maneira que todos entendam, mas podem omitir ou
acrescentar letras quando mistura as hipóteses silábico-alfabética e alfabética.
Diicilmente terá diiculdades em escrever palavras como copo, dedo, pipa etc.
Essas são palavras que não apresentam outra possibilidade fonética, como é o caso
da palavra cachorro, em que a criança, muitas vezes, escreve caxorro, cachoro,
caxoro, kachoro. No início dessa fase, a criança apresenta muitas marcas da ora-
lidade, ou seja, escreve como fala: boua, minina, muinto. Nesse sentido, não
podemos ainda considerar isso como erros relevantes, no início isso pode ser
considerado normal, mas apenas no início. Aos poucos por meio de muitas lei-
turas, produções textuais, atividades apropriadas e nossa intervenção a criança
começará a internalizar as normas cultas da língua portuguesa.
É importante ressaltar que, nesse momento, a criança estabelece relações
entre fala e escrita (fonema/grafema), mas ainda não usa corretamente as con-
venções da língua. Por isso, não tem problemas de escrita no que se refere às
regras e conceitos.
Observe o texto de Felipe, a mesma criança citada como exemplo no Nível
II que agora se encontra no Nível V:
Carla e Felipe estão no nível alfabético e seus textos apresentam uma sequência
lógica e erros considerados normais para quem acabou de se alfabetizar. Ao
alcançar esse nível, o trabalho para que chegue a escrita ortograicamente correta
deve ser intensiicado e mediado pelo professor com atividades direcionadas,
conforme já explicitamos anteriormente.
Quando a criança chega a fase alfabética consegue compreender algumas
relações fundamentais entre letras e sons e, a partir daí ela deverá iniciar um
novo processo de descobertas, a im de que se torne capaz de dominar a forma
convencional de escrever palavras. Isso signiica o desenvolvimento de novas
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habilidades linguísticas.
Há algumas aprendizagens referentes ao domínio da linguagem escrita que
são de maior complexidade, sendo dominados mais tarde. Enquanto que outros
aspectos, mais simples, serão compreendidos em momentos iniciais do processo
de apropriação da escrita.
Partindo de um texto escrito por um aluno alfabético, o professor tem o
desaio de direcioná-lo para a convencionalidade, estimulando sua relexão
sobre regras ortográicas e gramaticais. A interação com outras crianças possi-
bilita a relexão e a reconstrução do sistema gráico. Respeitar os níveis reais do
processo de aprendizagem, mediar e intervir de maneira consciente é a função
do professor alfabetizador.
entenda a função social da escrita, ou seja, saber para que serve a escrita.
Assim, organizar a sala de aula com registro de rotinas, etiquetas para orga-
nização dos materiais, painéis com nomes dos alunos para controlar a frequência,
cartazes com o contrato pedagógico (regras da sala) são exemplos de ações que
favorecem o processo de alfabetização.
Outra forma de organização do espaço escolar, é estruturar um espaço de
leitura com os mais diversos gêneros textuais: revistas, jornais, livro de piadas,
adivinhações, gibis, livros com contos de fadas, fábulas e outros. Dessa forma, o
processo de alfabetização não estará reduzido ao domínio das “primeiras letras”
e sim se consolidará como um conjunto de conhecimentos, atitudes e capacida-
des para o uso da língua nas mais diversas situações sociais.
De acordo com Goulart (2006)
ensinar é permitir que as contradi-
ções, as semelhanças e diferenças
iquem latentes. “É trabalhar com
uma pedagogia que cria condições
para que isso aconteça, para as des-
cobertas, os conlitos, o debate”
(GOULART, 2006, p.75). De acordo
com a autora, para favorecer uma
situação pedagógica que possibilite
a problematização e a aprendiza-
gem crítica, a atuação do professor
©shutterstock
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3. Falta de planejamento anual, bimestral e diário.
4. Falta de afetividade por parte do professor.
5. Ausência ou poucos momentos de Formação Continuada com foco na
alfabetização.
g. Narrativas, adivinhações.
h. Trava-línguas - Pedro tem o peito preto, o peito de Pedro é preto;
Quem disser que o peito de Pedro é preto, tem o peito mais preto que
o peito de Pedro.
i. Anedotas - O que disse o livro de matemática para o livro de história?
- Não me venhas com histórias porque já estou cheio de problemas!
■ Produção de textos coletivos.
■ Tentativas de escrita de momentos vividos pelas crianças.
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■ Caixa-surpresa.
■ Histórias mudas.
■ Atividade da boca e do lápis (quantas sílabas e quantas letras têm a palavra).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
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1. Para os adultos parece ser óbvio que o agrupamento dos sinais gráicos forma
as palavras e que estas correspondam aos sons da fala. A criança, por sua vez,
precisa “reinventar” esse processo para caminhar na reconstrução do código lin-
guístico. Com isto, muitas crianças podem apresentar o realismo nominal na sua
concepção de leitura e escrita. Deina e exempliique o REALISMO NOMINAL.
2. O texto, a seguir, foi escrito por uma criança em processo de alfabetização. Com
base nos estudos realizados nesta unidade, analise, identiique e argumen-
te, o nível conceitual linguístico no qual essa criança se encontra.
3. Podemos dizer que essa criança se encontra alfabetizada? Por quê? Que carac-
terísticas você observa nele que justiica a sua resposta? Quais as intervenções
que podemos fazer com uma criança que está nesse nível?
97
4. O texto que segue foi escrito por Felipe, uma criança no inal da Educação In-
fantil. Analise-o e em seguida assinale a alternativa que indica em que nível
ela está:
RECEITA DE ALFABETIZAÇÃO
Ingredientes
1 criança de 6 anos
1 uniforme escolar
1 sala de aula decorada
1 cartilha
Preparo:
Pegue a criança de 6 anos limpe bem, lave e enxágue com cuidado. Coloque a criança
dentro do uniforme e coloque-a sentadinha na sala de aula (decorada com motivos in-
fantis). Nas oito primeiras semanas, sirva como alimentação exercícios de prontidão. Na
nona semana, ponha a cartilha na mão da criança.
Atenção: tome cuidado para que ela não se contamine com o contato com os livros,
jornais, revistas e outros materiais impressos.
Abra bem a boca da criança e faça com que ela engula as vogais. Depois de digeridas
as vogais, mande-a mastigar uma a uma as palavras da cartilha. Cada palavra deve ser
mastigada no mínimo sessenta vezes. Se houver diiculdade para engolir, separe as pa-
lavras em pedacinhos.
Mantenha a criança em banho-maria durante quatro meses fazendo exercícios de cópia.
Em seguida, faça com que a criança engula algumas frases inteiras. Mexa com cuidado
para não embolar.
Ao im do oitavo mês espete a criança com um palito, ou melhor, aplique uma prova de
leitura e veriique se ela devolve pelo menos 70% das palavras e frases engolidas.
Se isso acontecer: considere a criança alfabetizada. Enrole-a em um bonito papel de
presente e despache-a para a série seguinte.
Se isso não acontecer: se a criança não lhe devolver o que lhe foi dado para engolir,
recomece a receita desde o começo, isto é, volte aos exercícios de prontidão. Repita a
receita quantas vezes forem necessárias. Se não der resultado ao im de três anos, enrole
a criança em um papel pardo e coloque um rótulo: “aluno renitente”.
Sirva jornais velhos, revistas, embalagens, anúncios publicitários, latas de óleo vazias,
caixas de sabão, sacolas de supermercado, enim, tudo o que estiver entulhando os ar-
mários de sua casa ou escola e que tenha coisas escritas.
Convide a criança para brincar e ler, adivinhando o que está escrito. Você vai descobrir
que ela sabe muita coisa!
Converse com a criança, troque ideias sobre quem são vocês e as coisas que gostam ou
não. Depois escreva no quadro algumas coisas que forem ditas e leia para ela.
Peça à criança que olhe as coisas escritas que existem por aí, nas ruas, nas lojas, na tele-
visão. Escreva algumas dessas coisas no quadro.
Deixe a criança cortar letras, palavras e frases dos jornais velhos. Não esqueça de pedir
para que ela limpe a sala depois, explicando que assim a escola ica limpa.
Todos os dias, leia em voz alta alguma coisa interessante: historinhas, poesia, notícia de
jornal, anedota, letra de música, adivinhação, convite, mostre em uma nota iscal algo
que você comprou, procure um nome na lista telefônica.
Mostre também algumas coisas escritas que talvez a criança não conheça: dicionário,
telegrama, carta, livro de receitas.
Desaie a criança a pensar sobre a escrita e pense você também. Quando a criança esti-
ver tentando escrever, deixe-a perguntar ou ajudar o colega. Aceite a escrita da criança.
Não se apavore se a criança estiver “comendo” letras. Até hoje não houve caso de “indi-
gestão alfabética”.
Invente sua própria cartilha, selecione palavras, frases e textos interessantes e que te-
nham a ver com a realidade da criança. Use sua capacidade de observação, sua experi-
ência e sua imaginação para ensinar a ler. Leia e estude sempre e muito.
Para saber mais sobre os níveis conceituais linguísticos acesse os sites a seguir e assista as
palestras de Telma Weisz sobre Alfabetização:
<http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/alfabetizacao-inicial/alfabetizacao-telma-
weisz-431505.shtml>.
<http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/alfabetizacao-inicial/alfabetizacao-telma-
weisz-431506.shtml>.
<http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/alfabetizacao-inicial/alfabetizacao-telma-
weisz-431508.shtml>.
<http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/alfabetizacao-inicial/alfabetizacao-telma-
weisz-431509.shtml>.
<http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/alfabetizacao-inicial/alfabetizacao-telma-
weisz-431511.shtml>.
Acesse os links:
<http://www.crmariocovas.sp.gov.br/alf_l.php?t=001>.
<http://www.scielo.br/pdf/ep/v26n1/a05v26n1.pdf>.
<http://www.webartigos.com/artigos/a-alfabetizacao-e-letramento-no-processo-de-
aprendizagem/109797/>.
103
REFERÊNCIAS
2- Essa criança (Luis Felipe) encontra-se no nível pré-silábico, para ela a escrita não
representa a fala. Mesmo se apoiando apenas em letras e em alguns momentos
números e não mais em desenhos, como ainda pode acontecer com crianças nesta
fase para garantir o signiicado do quis escrever, se analisarmos o que ela escreveu,
com sua verdadeira intenção que pode ser vista pela escrita da professora que foi
sua escriba, percebe-se que não há relação grafema/fonema em nenhum momento.
Ele coloca letras aleatórias e não as separa. Essa criança não realiza a correspondên-
cia entre pensamento e palavra escrita.
A AQUISIÇÃO DAS
III
UNIDADE
HABILIDADES DE LEITURA E
ESCRITA
Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender que a leitura e a escrita fazem parte do cotidiano da
criança e que antes mesmo de entrar na escola ela interage com a
língua escrita.
■ Entender a importância e a necessidade de construir um ambiente
alfabetizador na prática pedagógica.
■ Analisar o papel do professor como mediador do processo ensino/
aprendizagem.
■ Promover e ampliar os conhecimentos em relação à alfabetização e o
letramento.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ O ambiente alfabetizador como propulsor da aprendizagem
■ A leitura vai além da decodiicação
■ Da alfabetização ao letramento
107
INTRODUÇÃO
Caro (a) aluno(a), estamos rodeados, bombardeados por leitura e escrita que
nos cercam por todos os lados. Nessa sociedade grafocêntrica não basta apenas
decodiicar os signos linguísticos, vivemos em um ambiente em que a comuni-
cação por meio da escrita, faz-se presente nas diversas situações do nosso dia a
dia: anúncios, embalagens, folhetos, outdoor, televisão, jornais e revistas. O enfo-
que da escrita não ocorre isoladamente, mas assume uma forma mais ampla: a
de comunicar.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A criança convive com tudo isto e interage com a língua escrita. Essa con-
vivência faz com que observe, pense, experimente, formule hipótese e tire suas
conclusões. Frente a isso, como professores temos que saber que a aprendizagem
da leitura e escrita não pode ser vista como um momento isolado e estanque.
Ambas devem estar vinculadas à realidade da criança e a partir daí ser ampliada.
Nesse contexto, convido você, caro(a) aluno(a), para a leitura de mais esta
unidade do seu material de estudo. Até aqui, você conheceu a importância do
desenho como a gênese da alfabetização, seu processo evolutivo e cada fase
que a criança passa. Em seguida, na segunda unidade procurei levar a você o
conhecimento sobre como a criança se apropria da leitura e da escrita e como
se dá esse processo evolutivo de ambas. Agora, nessa unidade, discutiremos um
pouco mais sobre as habilidades de leitura e escrita. Vamos compreender como
é importante a criança conviver em um ambiente alfabetizador e entender que
a leitura não é simplesmente levar a criança a decodiicar o código linguístico,
mas atribuir signiicado aquilo que lê, sendo assim, ainda nessa unidade você
conseguirá diferenciar alfabetização de letramento, termos que são muito usados
atualmente. Para subsidiar a sua prática, proponho algumas sugestões de estra-
tégias de leitura que levarão seu aluno às práticas de letramento. Bons estudos!
Introdução
108 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
fazer parte da série escolar em que é dada ênfase no ensino sistemático das letras,
a criança já está imbuída de uma grande competência linguística.
Nas palavras de Soares (2010, p. 23):
É um equivoco acreditar que é a escola a única responsável por propi-
ciar a criança os dois “passaportes” de entrada no mundo da escrita.
Muito antes de chegar a instituição educativa – de Ensino Fundamen-
tal e mesmo de Educação Infantil – a criança já convive tanto com a
tecnologia da escrita quanto com o seu uso, porque, em seu contexto,
a escrita está sempre presente: ora muito presente, como nas camadas
economicamente privilegiadas e nas regiões urbanas, ora menos pre-
sente, como nas camadas populares e nas regiões rurais, mas sempre
presente, ora em gêneros e suportes mais próximos ora menos próxi-
mos daqueles que a escola valoriza, mas sempre presente. Assim, desde
muito cedo a criança convive com práticas de Letramento – vê pessoas
lendo ou escrevendo, e assim vai se familiarizando com as práticas de
leitura e de escrita; e também desde muito cedo inicia-se processo de
alfabetização – observa textos escritos a sua volta, e vai descobrindo o
sistema, reconhecendo algumas letras, algumas palavras.
Um dos caminhos para atingir esse objetivo é por meio da construção de con-
ceitos junto com a criança e a criação do ambiente alfabetizador.
A sala de aula é um espaço em que a criança deve ter contato direto com mate-
riais escritos, criando uma atmosfera adequada para a aprendizagem. De acordo
com Russo e Vian (1999), o sucesso
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dessa aprendizagem depende dire-
tamente da investigação da criança
por parte do professor, oportuni-
zando momentos que agucem a
curiosidade dos alfabetizandos.
Muitos materiais podem ser
construídos junto com os alunos,
que também devem aprender a orga-
nizá-los. Os cartazes, nas paredes,
devem estar esteticamente distri-
©shutterstock buídos e trocados periodicamente
Figura 1 - A convivência com o ambiente alfabetizador propicia a
criança a elaboração de hipótese em relação à escrita
conforme a sua superação, evitando
a poluição visual.
O contato com textos de diversos gêneros faz com que os alunos percebam
o uso de diferentes possibilidades de linguagem. Ao professor cabe ler para os
alunos e ler com estes, possibilitando a troca de informações, oportunizando a
exposição de ideias, a im de que faça sua própria interpretação daquilo que leu
ou ouviu.
Para Lima (1999), o professor deve fazer a criança ampliar a vivência com as
coisas do mundo a sua volta, mostrar a ela que existe uma relação com o mundo
em que vive.
São estes ambientes, material e social, que fazem com que a criança comprove as
hipóteses por ela formuladas. Caso estes ambientes não promovam estas hipóteses,
a aprendizagem e o ambiente alfabetizador não estarão carregados de signiicado.
Para nós adultos que já passamos por um processo de escolarização ou uma gra-
duação parece simples o ato de ler. Porém, para criança adquirir essa habilidade
não é tarefa fácil. Você se lembra de quando frequentava as salas de alfabetiza-
ção? Todos vocês, assim como eu vivemos momentos conlituosos e evolutivos,
conforme já mostramos na segunda unidade deste livro. Então, vamos compre-
ender agora o que signiica ler.
Entende-se a LEITURA como um processo de atribuição de sentido a qual-
quer sistema de sinais. A possibilidade de desenvolver a capacidade de ler inicia-se
antes da alfabetização formal. A criança quando chega às instituições de ensino, já
traz consigo conhecimentos prévios em relação à leitura e à escrita (logomarcas,
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des que faz com que o leitor se situe perante um texto, é amplo e va-
riado: devanear, preencher um momento de lazer e desfrutar; procurar
uma informação concreta; seguir uma pauta ou instrução para realizar
uma determinada atividade (cozinhar, conhecer as regras de um jogo);
informar-se sobre um determinado fato (ler o jornal, ler um livro de
consulta sobre a Revolução Francesa); conirmar ou refutar um conhe-
cimento prévio, aplicar a informação obtida com a leitura de um texto
na realização de um trabalho etc.
Por meio das palavras da autora, percebe-se que cada leitor tem um objetivo ao
realizar uma leitura. Nesse sentido, percebe-se então que toda leitura tem sua
função social que é a comunicação. Todavia, nem sempre o leitor consegue êxito
ao ler, pois interpretar o que se lê exige um bom desenvolvimento da compe-
tência leitora.
Assim, podemos airmar que ler não é uma tarefa simples. Não é apenas
decifrar códigos, é extrair signiicado
do que se está lendo, compreender e
estabelecer relação com sua prática
diária. A criança, ao dar início a sua
vida escolar, leva consigo além de uma
prática linguística oral, construída a
partir de interações com os mem-
bros da família e com as pessoas que
a rodeia conhecimentos prévios sobre
a leitura e a escrita, pois está inserida
©shutterstock em uma sociedade letrada. Por onde
Figura 2 - Ler não é apenas decifrar códigos
anda, depara-se com letras, números
e desenhos que a remete a leitura de mundo. Portanto, não é na escola que ela
terá esse primeiro contato, porém é na escola que esses conhecimentos devem
ser sistematizados.
Em um ambiente formado por pessoas letradas que têm o hábito de ler e
escrever com certa frequência, a criança terá curiosidade de querer saber sobre
os sinais gráicos que vê nos livros, revistas, jornais, computadores, placas etc.
Caso a criança não conviva em um ambiente assim, terá contato com a leitura
e a escrita na rua e na escola e seu interesse também será aguçado, porém com
menos frequência que as crianças que são estimuladas.
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Cabe reforçar que, para formarmos alunos leitores, nós professores devemos ser
exímios leitores para que assim nossos alunos compreendam o quão é impor-
tante o ato de ler e o quanto a leitura pode ©shutterstock
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IBGE são as pessoas que têm menos de 4 anos de escolarização completos. Nessa
mesma faixa-etária (15 anos ou mais de idade), tem-se a estimativa que 27% da
população brasileira são analfabetos funcionais. A maior concentração de pes-
soas analfabetas está na região Nordeste.
Em 2014, o Ministério da Educação publicou o Plano Nacional de Educação
PNE que deine as 20 metas para a educação nacional para os próximos 10 anos
(2014-2024). As metas 5 e 9 tratam diretamente da erradicação do analfabetismo
e analfabetismo funcional:
META 5- Alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o inal do 3º
(terceiro) ano do Ensino Fundamental.
Observe os gráicos a seguir, eles apresentam o cenário atual e esperado pelo PNE:
Atual (2014)
42,9%
Meta (2024)
100%
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no âmbito da ANA a preocupação de descrever cada um dos níveis de
proiciência .
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são, a memorização de palavras e a reconstrução de histórias pela criança.
6. Preparar a leitura com apresentação sobre o conteúdo, o título e o autor.
7. Envolver as crianças em perguntas e discussões.
8. Promover as condutas de simulação de leitura.
9. Estimular a reconstrução oral.
10. Propor a reescrita de textos modelo.
11. Oferecer-se como modelo de leitor para criança.
12. Promover a possibilidade de escolha de livros, para que as crianças desen-
volvam suas preferências.
13. Estimular o empréstimo e a regular circulação de livros de títulos diversos.
14. Colocar os livros ao alcance da criança, deixando-os na estante ao alcance
da visão e não em um canto escondido (TEBEROSKY; COLOMER, 2003,
p. 120).
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■ Quebra-cabeça com textos
Recortar partes de um texto para a criança colocar na ordem correta.
No início introduzir textos pequenos e ir aumentando de acordo com o
desenvolvimento da turma.
■ Texto manchado ou apagado
Apagar ou manchar partes de um texto para criança descobrir e comple-
tar o que falta para deixá-lo coerente.
■ Leitura interrompida
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oposição ou por obrigação.
Para Menegassi (2010), a leitura como avaliação é uma prática frequente na
escola. Ao solicitar que os alunos leiam em voz alta para serem avaliados e depois
pedir que os mesmos respondam perguntas sobre aquilo que leu, faz com que a
leitura não tenha um objetivo determinado, a criança irá ler porque o professor
mandou e não porque quer ou foi estimulada ao ato.
O autor ainda airma que há diferentes formas de ler, conforme o gênero tex-
tual e o objetivo do leitor. Não podemos ler uma enciclopédia da mesma maneira
que lemos um romance, ou ler um manual de brinquedos da mesma maneira
que lemos um poema. Por isso, é que o professor não pode limitar-se a ensinar
seu aluno decifrar códigos, mas atribuir signiicados a eles. Vamos tratar disso
no próximo tópico, continue lendo.
DA ALFABETIZAÇÃO AO LETRAMENTO
Antes de dar início a esse tema gostaria de questioná-lo: existe diferença entre
alfabetização e letramento? Você já ouviu falar em letramento? Vamos então enten-
der esses dois termos que vem sendo tão discutido no cenário educacional atual.
Para que você consiga compreender esses dois termos, faço uso das pala-
vras de Soares (2010, p. 24):
Da Alfabetização ao Letramento
124 UNIDADE III
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Letramento: estado ou condição de quem não apenas aprendeu a ler e
escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a leitura e a
escrita.
tais habilidades.
Volto a repetir que vivemos em uma sociedade letrada, por isso, a escola deve
preparar o aluno para o letramento, precisa ensiná-lo a fazer uso da leitura e da
escrita na sua prática social. Pois, o indivíduo desprovido dessas habilidades terá
consequências sociais, econômicas, políticas, culturais, linguísticas e cognitivas.
Na teoria, o domínio da escrita é o grande objetivo da escola, porém, na
prática, muitas vezes, esse objetivo deixa a desejar. A escola é o local em que a
criança deve construir seus conceitos de leitura e escrita, tornando-se capaz de
ter autonomia e desempenho para escrever dentro dos pressupostos exigidos
com inalidade social.
Ao trabalhar com a língua escrita, os alunos devem ser levados a descobrir
os seus diferentes usos e a função que ela desempenha na sociedade. O ato de
ler implica em um vasto raciocínio para que o leitor consiga ter o controle da
interpretação sobre o que leu, se assim izer, conseguirá descobrir até as incom-
preensões que teve durante a leitura, ou seja, conseguirá detectar em que momento
não conseguiu absorver a ideia de quem escreveu e, assim, retomar buscando
signiicado ao que está lendo.
Para que você amplie seus conhecimentos acerca da alfabetização e letra-
mento, conira na Leitura Complementar parte de um texto muito interessante
intitulado “Letramento e Alfabetização na Educação Infantil”.
Boa leitura!!
Da Alfabetização ao Letramento
126 UNIDADE III
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), chegamos ao inal de mais uma unidade do nosso livro. Vimos
até aqui, que a tarefa do alfabetizador não pode se limitar ao ato mecânico de ensi-
nar a ler e escrever, o trabalho não pode ser apoiado na ideia de somente ensinar
nossos alunos a decodiicar o código linguístico. O alfabetizador não deve trei-
nar um copista que não conseguirá expressar-se por meio da leitura e da escrita.
Para ensinar a ler e escrever o alfabetizador precisa compreender a elabora-
ção do pensamento da criança. Precisa compreender o seu papel de mediador na
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construção desse conhecimento e intervir pedagogicamente. Para tanto é neces-
sário conhecer os níveis que a criança passa até chegar à alfabetização, você se
lembra que estudamos esses níveis na unidade 2?
Antigamente, acreditava-se que a criança não estabelecia relações com a lin-
guagem antes de ser alfabetizada. Hoje já está comprovado que a alfabetização
da criança começa antes dela ser inserida no contexto escolar. Começa a par-
tir do contato com a leitura e escrita dentro da sociedade letrada que convive.
Por isso, a escola também deve oferecer aos alunos um ambiente alfabetizador
propício para que ela consiga interagir com ele e por meio da nossa mediação
possa ir além da alfabetização, ou seja, torne-se uma pessoa que faça uso da lei-
tura e da escrita na sua prática social, característica essa, própria do letramento.
Eis aí a nossa função! Dizer que isso é fácil é um engano. Para que consigamos
alcançar esse objetivo, o alfabetizador deve construir um trabalho de ação peda-
gógica com enfoque na aquisição dessas duas habilidades tão importantes para
vida, a leitura e a escrita. Essas habilidades é que fornecerão ao indivíduo a capa-
cidade de tomar decisões, indagar, discriminar, julgar, argumentar e ser crítico.
Se conseguirmos realizar na escola uma alfabetização com vistas ao letra-
mento, melhoraremos a educação em nosso país e teremos menos analfabetos
funcionais. Pense nisso!
1. O poema que segue foi retirado do livro “Letramento: um tema em três gêne-
ros”. Foi criado por uma estudante norte-americana, de origem asiática, Kate M.
Chong, que quis retratar sua história pessoal de letramento. Leia, analise as sete
estrofes e explique a mensagem que a autora quis transmitir aos leitores.
3. A criança desde muito cedo convive com a leitura e a escrita. Ao chegar na esco-
la essa convivência deve ser intensiicada, podemos fazer isso construindo um
ambiente alfabetizador. No que se refere ao ambiente alfabetizador, considere F
para as airmativas falsas e V para as verdadeiras, em seguida, assinale a alterna-
tiva que indica a sequência correta:
( ) A criação de um ambiente alfabetizador consiste em criar um ambiente
em que a criança possa fazer uso da leitura e da escrita de forma signiicativa.
( ) A criação de um ambiente alfabetizador inclui a participação dos pais, pro-
fessores, alunos, equipe pedagógica, assim como inclui um espaço estrutura-
do.
( ) A criação de um ambiente alfabetizador depende somente da atuação do
professor, pois é ele quem estará com os alunos.
( ) A criação de um ambiente alfabetizador depende da estrutura da escola,
pois ela poderá oferecer melhores recursos.
a. ( ) F,V, F, V
b. ( ) F, F, V, V
c. ( ) V, F, F, V
d. ( ) V, V, V, F
e. ( ) V, V, F, F
129
4. A leitura e a escrita são habilidades que precisam passar pelo processo de esco-
larização. Nesse sentido, a escola e, consequentemente, os professores precisam
estar preparados para formar pessoas com competência leitora. Diante da air-
mação podemos inferir que:
I. Ler não é sinônimo de decifrar signos ou códigos linguísticos.
II. Um ambiente formado por pessoas letradas contribui para a consolidação
do processo de alfabetização.
III. A aquisição das habilidades de ler e escrever ocorre de forma espontânea.
IV. Em sala de aula o professor deve trabalhar com diferentes tipos de leitura.
■ Espaço para exposição de textos usados na leitura compartilhada, para que eles
possam recuperá-los quando quiserem.
■ Calendário com uma folha para cada mês que poderá ser preso a um cabide de
saia (os alunos deverão receber uma folha de calendário similar para prender no
caderno no começo de cada mês, para que façam a mesma marcação do calen-
dário grande).
■ Banco de palavras.
Referências on-line
1
Em: <pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_metas.pdf>. Acesso em: 2
ago. 2016.
2
Em: <http://www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/5-alfabetizacao/indic ado-
res>.Acesso em: 2 ago. 2016.
3
Em: <http://www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/9-alfabetizacao- educa-
cao-jovens-adultos>. Acesso em: 2 ago. 2016.
REFERÊNCIAS
4
Em: <http://www.crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/educacao/anuario_
educacao_basica_brasil_2016.pdf>. Acesso em: 9 ago. 2016.
5
Em: <http://www.editoradobrasil.com.br/educacaoinfantil/letramento_e_alfa be-
tizacao/educacao_infantil.aspx>. Acesso em: 2 ago. 2016.
137
GABARITO
1- Segue a explicação de cada uma das sete estrofes do poema O que é Letramento,
essa explicação você poderá encontrar nas páginas 42 e 43 do livro Letramento: um
tema em três gêneros da autora Magda Soares.
JOGOS E BRINCADEIRAS NA
IV
UNIDADE
ALFABETIZAÇÃO
Objetivos de Aprendizagem
■ Discutir a importância dos jogos e brincadeiras como forma de
estimular a aprendizagem.
■ Analisar a classiicação dos jogos de acordo com a teoria Piagetiana.
■ Reletir sobre as contribuições da brinquedoteca no contexto escolar.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ As contribuições dos jogos e brincadeiras no processo de
aprendizagem
■ A classiicação dos jogos, segundo a teoria de Piaget
■ Jogos e brincadeiras: desenvolvimento e aprendizagem no contexto
escolar
■ A brinquedoteca na escola
141
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), nesta unidade, procuro mostrar a você como os jogos e brin-
cadeiras tornam-se um recurso importante para a aquisição do conhecimento
e, consequentemente, o desenvolvimento infantil. Você já parou para pensar ou
observar crianças quando estão brincando? Já perceberam a reação delas quando
estão brincando sozinhas ou com outras crianças? E na escola, isso é impor-
tante? Proponho a você, nesta unidade, algumas relexões acerca deste assunto.
Ao contrário do que muitos educadores pensam, o brincar não é perda de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tempo ou uma forma de suprir um tempo que sobrou no inal da aula com brin-
cadeiras sem objetivos. Brincar é coisa séria. Os brinquedos são importantes
recursos pedagógicos que auxiliam o professor em suas aulas, pois, ao brincar a
criança também está aprendendo, porém, de forma dinâmica e prazerosa.
No decorrer desta unidade será apresentada uma breve discussão sobre as
contribuições dos jogos e brincadeiras no processo de aprendizagem, princi-
palmente na educação infantil, terreno fértil para o processo de alfabetização.
Pautaremos parte de nossa discussão na teoria piagetiana, por meio do estudo
sobre a classiicação dos jogos, de acordo com a estrutura mental de cada faixa
etária, sugerindo atividades que contribuirão para esse processo. Passaremos
também pelos aspectos que são desenvolvidos com o ato de brincar e o papel
do professor na consolidação do lúdico, levando em consideração o processo
de alfabetização.
Discutiremos ainda sobre a importância e necessidade da brinquedoteca na
escola como um ambiente que estimula a criança a desenvolver fantasias, criar e
recriar enquanto brinca, fator relevante para a aprendizagem prazerosa.
Vamos trilhar mais esse caminho juntos? Você descobrirá o quanto o brin-
car promove a aprendizagem signiicativa para a criança. Bons estudos!
Introdução
142 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
escola, torna-se um valioso instrumento para que educadores conheçam melhor
seus alunos e despertem neles o interesse em estudar determinados conteúdos
de maneira agradável. Brincando a criança não apenas se diverte, mas inter-
preta o mundo em que vive, recria, e adquire conhecimentos por meio de atos
concretos que somente o lúdico pode proporcionar.
Enquanto a criança brinca, está usando a criatividade, fantasias, explo-
ra seus limites. Além da inserção social, aquisição de conhecimentos,
desenvolvendo habilidades e afetividades. A brincadeira possui três ca-
racterísticas: a imaginação, a alienação, e a regra (BERTOLD; RUSHEL
2000, p.10).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■ Contribui para a construção e estruturação da personalidade infantil.
■ Libera a fantasia e o faz-de-conta.
■ Permite a relação das crianças com outras crianças e com o meio.
■ Canaliza energias.
■ Permite que a criança arrisque.
■ Aprende a lidar com o perder e o ganhar.
■ Aceitação de regras.
■ Desperta a curiosidade e a criatividade.
■ Proporciona liberdade de escolha.
■ Desenvolve a coordenação motora.
■ Estimula a memorização.
■ Trabalha a organização espacial.
■ Raciocínio lógico.
■ Expressão linguística.
os esportes atléticos, mas também outros jogos que podem ser ganho
ou perdidos), são, com muita frequência, acompanhados de desprazer,
quando o resultado é desfavorável para a criança (VYGOTSKY, 2010,
p.105).
escola. Moyles (2002, p. 29) traz em seu livro “Só brincar? O papel do brincar na
educação infantil” contribuições importantes que devemos considerar quando
pensamos em atividades lúdicas:
1. O brincar deve ser aceito como um processo, não necessariamente com
algum resultado, mas capaz de um resultado se o participante assim o
desejar.
2. O brincar é necessário para as crianças e para os adultos.
3. O brincar não é o oposto do trabalho; ambos são parte da nossa vida.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
4. O brincar é sempre estruturado pelo ambiente, pelos materiais ou con-
textos em que ocorre.
5. A exploração é uma preliminar de formas mais desaiadoras do brincar
que, no ambiente escolar, são as que provavelmente serão dirigidas pelo
professor.
6. O brincar adequadamente dirigido assegura que a criança aprenda a par-
tir de seu atual estado de conhecimento e habilidade.
7. Os pais têm o direito de esperar que o brincar na escola seja signiicativa
e diferentemente organizado do brincar em casa e em qualquer outro
lugar. Se isso puder ser comprovado, é mais provável que eles atribuam
valor e importância à ele.
A teoria Piagetiana nos mostra que atividades lúdicas são essenciais na vida
da criança, pois por meio delas é possível se desenvolver em cada etapa de sua
vida. Assim, podemos perceber que ao brincar sozinha ou interagir com outras
crianças ou adultos a ela relete, aguça seu senso de percepção e interage para
construir novos conhecimentos. Conforme já anunciado, Piaget classiicou os
jogos de acordo com a estrutura mental da criança, vamos conhecê-los:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
De acordo com Friedmann (1996), tais combinações são instáveis, uma vez que
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a fabulação converte-se facilmente em imaginação simbólica, isso já se consti-
tui em um ato de pensamento.
Esses jogos apresentam caráter exploratório, realizado com o próprio corpo.
São atividades motoras simples como mexer a cabeça, agitar os braços, balançar
objetos, emitir sons, passar objetos de uma mão para outra, pular correr, cami-
nhar, entre outras.
Esses jogos iniciais são movimentos simples, que a criança repete por
prazer, sem nenhuma intenção de representação, e evoluem para atos
mais complexos, como encher e esvaziar um balde de areia ou manipu-
lar massinha e nomear o objeto que ela produziu sem querer – de re-
pente olha para o bloco e acha que parece um sorvete: ‘olha meu sorve-
te!’. Só com o tempo irá estabelecer o objetivo da brincadeira: ‘Agora eu
vou fazer sorvete de uva’ (AROEIRA; SOARES; MENDES, 1996, p.69).
Pode-se dizer que mesmo esse jogo começando na primeira infância e predo-
minar até os dois anos, ele continuará em alguns momentos por toda a infância,
adentrando a vida adulta, um exemplo disso é quando caminhamos ou anda-
mos de bicicleta.
Jogos simbólicos
com o meio, ou seja, ela expressa por meio dos jogos e brincadeiras suas expe-
riências sociais.
A partir das contribuições de Friedmann (1996), o símbolo consiste na
representação de um elemento ausente e uma representação ictícia uma vez
que implica em uma representação. Também segundo a autora as funções do
jogo simbólico são a compensação, realização de desejos e liquidação de conli-
tos são somados ao prazer e se sujeitar à realidade.
Nessa fase, também podemos destacar as imitações desde as mais simples
até as mais complexas. A criança usa o faz-de-conta e realiza sonhos, fantasias,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Diante das colocações das autoras, ica evidente o quanto é importante fazer uso
dos jogos e brincadeiras na educação infantil, fase em que a criança está cons-
truindo conceito e formando sua personalidade.
Sugestões de atividades para essa fase:
■ Esconde-esconde.
■ Observação do corpo em frente ao espelho.
■ Teatros.
■ Fantoches.
■ Amarelinha.
Jogos de Regras
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Esses jogos caracterizam a fase que vai dos seis anos de idade em diante. O jogo
com regra surge a partir do momento que a criança começa a jogar com alguém,
pois surge a necessidade de trocar experiência e da interação com outras pes-
soas. “Envolve, portanto, conteúdos e ações preestabelecidas que regularão a
atividade.” (AROEIRA; SOARES; MENDES, 1996, p. 71). Outra especiicidade
desses jogos é que eles se consolidam quando a criança deixa de ser egocêntrica
e desenvolve relacionamentos afetivos e sociais.
Segundo a autora, até aproximadamente quatro anos a criança se contenta
mais em brincar sozinha, não pensa em quem ganha ou quem perde. A competição
não faz parte dos momentos lúdicos, até porque ela ainda não tem noção disso.
Com o tempo, as crianças começam a jogar em grupo e com essa partilha do
jogo, surge a necessidade de uniicar as regras. E, nesse caso, quem não aceita as
regras sai da brincadeira ou muitas vezes, causa um desconforto para o grupo.
Em geral, as regras são impostas por um membro do grupo ou por uma parte
dele. Na escola é interessante que o professor direcione essas regras para que as
crianças saibam que elas são necessárias para ter a organização da brincadeira.
Segundo Aroeira, Soares e Mendes (1996, p.71):
Em algumas atividades infantis (amarelinha, queimada, bolinhas de
gude), as regras já existem e são incorporadas pelo grupo. Às vezes,
porém, ocorre o inverso – regras espontâneas são deinidas por uma
criança ou por um grupo pequeno e são socializadas em um grupo
maior.
■ Videogame.
■ Futebol, vôlei, basquete etc.
■ Queima.
■ Barata no ar e pega-pega.
Diante do contexto apresentado, não poderia deixar fazer referência sobre o papel
do professor que deve contribuir para o processo de ensino e aprendizagem como
um estimulador e orientador. Muitos professores desconhecem a importância
do lúdico no processo de alfabetização e muitas vezes, insistem em atividades
baseadas na repetição e memorização. Outro aspecto facilmente observado é
que quando o professor utiliza tais instrumentos sem uma base teórica faz uso
equivocado de momentos tão importantes, principalmente, na educação infan-
til. Aroeira, Soares e Mendes (1996) sugerem a criação de condições para que
o professor oriente o aluno nos momentos lúdicos.
■ Oferecer um ambiente adequado e facilitar a criação de situações que per-
mitam ao aluno elaborar suas frustrações.
■ Apresentar materiais variados, que possam ser combinados de diferen-
tes formas.
■ Promover a autonomia dos alunos e ajudá-los a compreender qual o papel
das regras no jogo social, isso requer espaço e mecanismos para discussão.
VANTAGENS DESVANTAGENS
• Fixação de conceitos já aprendidos de • Quando os jogos são mal utilizados,
uma forma motivadora para o aluno. existe o perigo de dar ao jogo um
• Introdução e desenvolvimento de caráter puramente aleatório, tornan-
conceitos de difícil compreensão. do-se um “apêndice” em sala de aula.
Os alunos jogam e se sentem motiva-
• Desenvolvimento de estratégias de
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dos apenas pelo jogo, sem saber por
resolução de problemas (desaio dos
que jogam.
jogos).
• O tempo gasto com as atividades de
• Aprender a tomar decisões e saber
jogo em sala de aula é maior e, se o
avaliá-las.
professor não estiver preparado, pode
• Signiicação para conceitos aparente- existir um sacrifício de outros conteú-
mente incompreensíveis. dos pela falta de tempo.
• Propicia o relacionamento de diferen- • As falsas concepções de que devem
tes disciplinas (interdisciplinaridade). ensinar todos os conceitos por meio
• O jogo requer a participação ativa do dos jogos. Então, as aulas, em geral,
aluno na construção do seu próprio transformam-se em verdadeiros
conhecimento. cassinos, também sem sentido algum
• O jogo favorece a socialização entre para o aluno.
alunos e a conscientização do traba- • A perda de “ludicidade” do jogo pela
lho em equipe. interferência constante do professor,
• A utilização dos jogos é um fator de destruindo a essência do jogo.
motivação para os alunos. • A coerção do professor, exigindo que
• Dentre outras coisas, o jogo favorece o aluno jogue, mesmo que ele não
o desenvolvimento da criatividade, de queira, destruindo a voluntariedade
senso crítico, da participação, da com- pertencente à natureza do jogo.
petição “sadia”, da observação, das • A diiculdade de acesso e disponibili-
várias formas de uso da linguagem e dade de materiais e recursos sobre o
do resgate do prazer em aprender. uso de jogos no ensino, que possam
• As atividades com jogos permitem vir a subsidiar o trabalho docente.
ao professor identiicar, diagnosticar
alguns erros de aprendizagem, as
atitudes e as diiculdades dos alunos.
Fonte: a autora.
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percebemos que as atividades oferecidas para nossas crianças por nós educa-
dores devem favorecer essa compreensão de criança na sua totalidade para não
cometermos equívocos ao propor certas atividades .
É comum observarmos no nosso cotidiano práticas totalmente soltas e des-
vinculadas do desenvolvimento infantil, tais como: organizar o tempo escolar
com foco em objetivos especíicos e desvinculados, por exemplo “agora traba-
lharei a coordenação motora ina por meio de uma atividade “X”, agora meu foco
será a socialização. Tais situações denotam falta de clareza acerca da importân-
cia e necessidade do lúdico na escola.
É importante ressaltar as contribuições de Friedmann (1996, p.67):
Essa divisão não vai ao encontro da formação da personalidade inte-
gral das crianças nem de suas necessidades. Os indivíduos necessitam
construir sua própria personalidade e inteligência. Tanto o conheci-
mento como o senso moral são elaborados pela criança, em interação
com o meio físico e social, passando por um processo de desenvolvi-
mento. Em relação ao conhecimento, é importante fazer corresponder
conteúdos ao conhecimento geral das crianças, seus interesses e suas
necessidades e desaiar sua inteligência. Em relação ao desenvolvimen-
to moral, as crianças constroem normalmente o seu próprio sistema de
valores morais, baseando-se em sua própria necessidade de coniança
com as outras. Esse processo é uma verdadeira construção interior. Por
meio da construção autônoma se forma uma boa concepção de si, um
ego íntegro e uma autonomia que sustente uma saúde mental positiva.
O desenvolvimento afetivo
Ao brincar com outras crianças ou até mesmo com um adulto, a criança inte-
rage com o grupo e cria sua própria identidade. Ao planejar as brincadeiras em
sala de aula o professor precisa levar em consideração esse fator. É necessário
compreender que deverá lidar com situações de conlitos, agressividade, alegria,
tristeza, medo, angústia e outros sentimentos que são gerados na criança. Todas
essas situações que a criança é submetida irão promover o seu desenvolvimento,
pois ela é desaiada a lidar com cada uma delas. Cabe também, ao professor ser
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o motivador, instigando a criança a novas descobertas no que diz respeito ao
afeto, emoções e todos os tipos de sentimentos.
A oportunidade de a criança expressar seus sentimentos por meio dos jogos
e brincadeiras só é possível em um ambiente e espaço que facilitem a expressão:
é o adulto que deve criar esse espaço.
O desenvolvimento físico-motor
Você já parou para pensar que muitas crianças hoje em dia vivem de forma seden-
tária? Elas passam grande parte de seu tempo assistindo televisão, brincando
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O desenvolvimento moral
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Diante do contexto apresentado, é importante ressaltar que no processo de
alfabetização o lúdico torna-se um grande aliado para a consolidação de uma
prática alfabetizadora que contextualiza o conhecimento por meio de situações
problematizadoras que desaia o aluno.
Depois de chegarmos até aqui faço a você o seguinte questionamento: Qual
o papel do professor na consolidação do lúdico no processo de alfabetização?
Precisamos ter cautela ao responder tal questionamento, pois corremos o risco
de dar respostas prontas e cairmos na tendência simplista de apresentar “recei-
tas de alfabetização”. Bem, sabemos que não existe nenhuma fórmula mágica de
alfabetização. Por isso, cientes da importância dos jogos e das brincadeiras na
educação, principalmente na educação infantil, gostaríamos de explicitar, mesmo
que brevemente, a importância da atuação docente.
Pois bem, uma atuação docente coerente começa com a elaboração de um
Plano de Trabalho Docente que congregue conteúdos, objetivos e as ativida-
des lúdicas que possam corroborar para que os objetivos sejam alcançados.
É importante salientar que a introdução de jogos no cotidiano escolar, depende,
sobretudo da concepção que o professor tem acerca do lúdico. Ou seja, é pre-
ciso primeiramente que acreditemos que o lúdico é essencial para o processo
de ensino e aprendizagem.
Enim, podemos airmar que nenhuma situação lúdica deve ser imposta e sim
motivada. Eis o grande desaio do professor alfabetizador, pesquisar situações
lúdicas contextualizadas e concretizá-las no cotidiano escolar por meio do envol-
vimento dos alunos com o objeto de estudo.
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A BRINQUEDOTECA NA ESCOLA
Devido a vários fatores, o direito de brincar acaba não sendo estendido a todas
as crianças. Sendo assim, a criação de uma brinquedoteca na escola é de suma
importância, pois garante esse direito da criança.
As brinquedotecas classiicam-se em função de diferentes fatores, entre
eles, a situação geográica, as tradições e as culturas de cada povo, o
sistema educacional, os materiais e espaços disponíveis, os valores, as
crenças e os serviços prestados; entretanto, independente de cada tipo,
é sempre preservado o aspecto lúdico como fator primordial que asse-
gura o direito da criança de brincar (SANTOS, 1995, p. 9).
A Brinquedoteca na Escola
162 UNIDADE IV
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Para encerrar esta unidade, deixo para você sugestões de jogos que pode-
rão ser feitos em salas de alfabetização que promovem o desenvolvimento das
habilidades de leitura e escrita. Brandão et al. (2008) organizaram o livro “Jogos
para Alfabetização” distribuído pelo governo federal. Os jogos listados a seguir
foram adaptados desse material.
1- Batalha de palavras
Objetivos didáticos:
■ Compreender que as palavras são compostas por unidades sonoras
menores.
■ Identiicar a sílaba como unidade fonológica.
■ Segmentar palavras em sílabas.
■ Comparar palavras quanto ao número de sílabas.
deve desvirar mais uma icha do seu montinho até que haja uma dife-
rença quanto ao número de sílabas. Nesse caso, o jogador que desvirar a
icha cuja palavra tiver maior número de sílabas leva todas as ichas des-
viradas na jogada.
■ O vencedor será quem, ao inal do jogo, conseguir icar com o maior
número de ichas.
Objetivos didáticos:
■ Conhecer o nome das letras do alfabeto
■ Compreender que as sílabas são formadas por unidades menores
■ Compreender que, via de regra, a cada fonema, corresponde uma letra
ou um conjunto de letras (dígrafos)
■ Identiicar o fonema inicial das palavras
■ Estabelecer correspondência grafofônica (letra inicial e fonema inicial)
■ Comparar palavras que possuem unidades sonoras semelhantes
■ Perceber que palavras que possuem uma mesma sequência de sons ten-
dem a ser escritas com a mesma sequência de letras.
A Brinquedoteca na Escola
164 UNIDADE IV
Finalidade: ganha o jogador que completar primeiro a cartela com as letras que
formam as palavras representadas pelas iguras.
Jogadores: 4 a 9 jogadores ou duplas.
Componentes:
■ 9 Cartelas com iguras e palavras faltando as letras iniciais.
■ Fichas com as letras que completam todas as palavras de todas as cartelas.
■ Saco escuro para colocar as ichas das letras.
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Regras:
■ Cada jogador (ou dupla) recebe uma cartela.
■ Um dos jogadores (ou outra pessoa) retira uma letra do saco e diz o nome
da letra.
■ Os jogadores veriicam se estão precisando da letra para completar alguma
das palavras e, caso algum deles precise, grita o nome da letra.
■ O jogador recebe o nome da icha com a letra sorteada e a coloca na célula
correspondente à palavra.
■ Nova letra é sorteada, e o jogo prossegue até que um dos jogadores com-
plete sua cartela.
Objetivos didáticos:
■ Compreender que as palavras são compostas por unidades sonoras
menores.
■ Perceber que palavras diferentes possuem partes sonoras iguais.
■ Compreender que uma sequência de sons que constitui uma palavra pode
estar contida em outras palavras.
■ Segmentar palavras, identiicando partes que constituem outras palavras.
Finalidade: ganha o jogo quem formar mais pares de palavras usando as ichas
que recebeu.
Jogadores: 2, 3 ou 4 jogadores ou grupos.
Componentes:
■ 12 ichas de cor azul contendo iguras e as palavras correspondentes.
■ 12 ichas de cor vermelha contendo iguras cujos nomes se encontram
dentro das palavras das ichas azuis.
Regras:
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166 UNIDADE IV
4- Troca letras
Objetivos didáticos:
■ Conhecer as letras do alfabeto e seus nomes.
■ Compreender que as sílabas são formadas por unidades menores.
■ Compreender que, a cada fonema, corresponde uma letra ou um con-
junto de letras (dígrafos).
■ Compreender que, se trocarmos uma letra, transformamos uma palavra
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em outra palavra.
■ Compreender que a ordem em que os fonemas são pronunciados corres-
ponde à ordem em que as letras são registradas no papel, obedecendo,
geralmente, ao sentido esquerda-direita.
■ Comparar palavras, identiicando semelhanças e diferenças sonoras entre
elas.
■ Estabelecer correspondência grafofônica.
Finalidade: ganha o jogo quem acertar a maior quantidade de palavras forma-
das a partir da troca de letra.
Jogadores: 2, 3 ou 4 grupos.
Componentes:
■ Um quadro de pregas.
■ 20 ichas com iguras (10 pares de iguras cujas palavras são semelhantes,
com diferença apenas em relação a uma das letras).
■ Fichas com as letras.
Regras:
■ São formados 2, 3 ou 4 grupos e se decide qual grupo iniciará o jogo.
■ O desaiador (professor) coloca, no quadro de pregas, 5 ichas de iguras
e, ao lado, forma, com as ichas das letras, as palavras correspondentes a
essas iguras e deixa na mesa as demais ichas de letras.
■ Coloca, em cima de uma das ichas, outra icha com uma igura cuja
palavra é muito semelhante à palavra representada pela igura que pri-
meiramente foi colocada (por exemplo, se, antes, tinha a icha da igura
pato, coloca-se a icha que tem a igura do rato).
■ Faz o desaio ao grupo que estiver na vez de jogar: “Que letra devo tro-
car para que a palavra PATO vire RATO?”
■ O grupo escolhe a letra e a coloca no lugar certo, em cima da letra que
considera que precisaria ser modiicada para formar a nova palavra.
■ Se o grupo acertar, ganha cinco pontos e a professora prossegue com a
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equipe seguinte.
■ O jogo termina quando o desaiador (professor) izer 8, 9 ou 10 substitui-
ções (desaios): 4 grupos são feitos dois desaios; 3 grupos são feitos três
desaios; e 2 grupos são feitos cinco desaios.
A Brinquedoteca na Escola
168 UNIDADE IV
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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tornando-se uma alternativa para que o professor consiga intervir para a promo-
ção do processo de aprendizagem das crianças. Mas, para que consiga fazer isso,
é necessário que conheça como a ludicidade na escola é importante e que tipo
de jogos e brincadeiras são mais apropriados em cada faixa-etária. Dessa forma,
saberá como lidar com diferentes situações que surgirão no contexto escolar.
Para tanto, durante o desenvolvimento desta unidade, você conheceu a teoria
Piagetiana e os jogos de acordo com a estrutura mental da criança. Veriicamos que
durante o trabalho lúdico o papel do professor, principalmente como observador
é necessário para perceber a reação das crianças e a expressão do seu pensamento
quando brinca. Dentre vários aspectos que são desenvolvidos, apresentamos
o afetivo, isico-motor e moral, cada um com suas especiicidades, mas que se
completam durante os momentos lúdicos que proporcionamos para as crianças.
No que diz respeito ao ambiente, discorremos sobre a brinquedoteca na
escola como um local que pode se tornar uma extensão da sala de aula. Esse
ambiente é propício para a promoção da aprendizagem, pois estimula a criati-
vidade e imaginação da criança.
Esperamos que ao término desta unidade você tenha compreendido que o
brincar tem a função lúdica e educativa e que ambas precisam convergir para
uma única função, a aprendizagem.
1. Para que o professor possa intervir nas atividades lúdicas, faz-se necessário que
ele conheça os objetivos e habilidades que são desenvolvidas no momento que
a criança está brincando. A partir das leituras dessa unidade, elenque no mínimo
5 desses objetivos.
2. Para Vygotsky (1989), não podemos entender o papel do brinquedo como uma
atividade que dá prazer à criança sempre. A partir dessa airmação, explique as
considerações do autor.
3. Nos dias atuais, as crianças iniciam cada vez mais cedo sua vida escolar, sendo
assim, o lúdico torna-se ainda mais importante para o processo de aprendiza-
gem, principalmente na educação infantil e nos anos iniciais do ensino funda-
mental. Contudo, muitos professores não atribuem o valor merecido aos jogos
e brincadeiras no contexto escolar por considerarem perda de tempo ou algo
improdutivo. Para contribuir com essa ideia, Moratori (2003) nos traz algumas
vantagens e desvantagens em relação a inserção do jogo no contexto ensino e
aprendizagem. Elenque pelo menos três vantagens e três desvantagens estuda-
das nessa unidade.
4. O uso correto da brinquedoteca só tem a contribuir com o processo de aprendi-
zagem dos alunos. A criança que brinca é mais feliz e, consequentemente, será
um adulto feliz. Acerca da brinquedoteca leia as asserções que seguem:
A brinquedoteca é um espaço em que a criança é estimulada a brincar. Nesse
espaço, ela entra no mundo da imaginação, cria, recria e compartilha alegria
com os amigos e professores.
PORQUE
A brinquedoteca na escola deve ser um espaço onde as crianças se sintam
estimuladas, nela deve existir uma diversidade de brinquedos, não havendo
necessidade de serem novos.
Acerca dessas asserções, leia as airmações que seguem:
a. A primeira asserção é uma proposição verdadeira e a segunda é uma justii-
cativa correta da primeira.
b. A primeira e a segunda asserção são proposições verdadeiras, mas a segunda
não justiica a primeira.
c. A primeira asserção é uma proposição verdadeira e a segunda é falsa.
d. A primeira asserção é uma proposição falsa e a segunda é verdadeira.
e. As duas asserções são proposições falsas.
170
5. A teoria Piagetiana nos mostra que atividades lúdicas são essenciais na vida da
criança, pois por meio delas é possível se desenvolver em cada etapa de sua vida.
Piaget classiicou os jogos de acordo com a estrutura mental da criança - jogos
sensório-motor, jogos simbólicos e jogos com regras. Sobre essa classiicação,
leia as airmações que seguem e considere V para as airmações verdadeiras e F
para as falsas:
( ) Os jogos com regras surgem quando a criança começa a jogar com alguém.
Isso acontece porque a interação com outras pessoas precisa de ações para
regulamentar essa atividade lúdica.
( ) Os jogos simbólicos são aqueles que apresentam caráter exploratório, ou
seja, são atividades motoras simples desenvolvidas pela criança.
( ) Os jogos sensório-motor começam na primeira infância e alguns podem
adentrar-se a vida adulta, são realizados com o próprio corpo.
( ) Os jogos simbólicos acontecem a partir do momento que a criança começa
a socializar-se e trocar experiência com outras pessoas.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:
a. V–V–V–F
b. F–F–V–V
c. F–V–F–V
d. V–V–F–F
e. V–F–V–F
171
Era preciso uma tábua larga e plana, lanela, madeiras e borracha de pneu de bicicleta
para as tabelas; as caçapas seriam feitas de meias velhas. As bolas, de gude. Os tacos,
cabos de vassoura. Preparei-me para fabricar o objeto dos meus sonhos. Meu pai, que
era viajante, estava em casa naquele im de semana. Ofereceu-se para me ajudar, contra
a minha vontade. Valendo-se de sua autoridade, tomou a iniciativa. Pegou do serrote
e pôs-se a serrar os cantos da tábua, no lugar das caçapas. Meu pai operou com uma
lógica simples: se um buraquinho pequeno, que mal dá para passar uma bolinha, dá um
´x´ de prazer a uma criança, um buraco dez vezes maior dará à criança dez vezes mais
prazer. E assim pôs-se a serrar buracos enormes nos ângulos da tábua. Eu protestava,
desesperado: ´ - Pai, não faz isso não! Inutilmente. Coniante no seu saber ele levou a sua
lógica até as últimas consequências. Fez o sinuquinha. Só que nunca joguei uma única
partida com os meus amigos. Por uma simples razão: quem começava o jogo encaçapa-
va todas as bolinhas. Com buracos daquele tamanho, não tinha graça. Era fácil demais. A
facilidade destruiu a alegria do brinquedo. A alegria de um brinquedo está, precisamen-
te, na sua diiculdade, isto é, no desaio que ele apresenta.
Deliciei-me com uma estória do ´Pato Donald´. O professor Pardal, cientista, resolveu dar
como presente de aniversário ao Huguinho, Zezinho e Luizinho, brinquedos perfeitos.
Fabricou uma pipa que voava sempre, mesmo sem vento. Um pião que rodava sempre,
mesmo que fosse lançado do jeito errado. E um taco de beisebol que sempre acertava
na bola, mesmo que o jogador não estivesse olhando para ela. Mas a alegria foi de curta
duração. Que graça há em se empinar uma pipa, se não existe a luta com o vento? Que
graça há em fazer rodar um pião se qualquer pessoa, mesmo uma que nunca tenha visto
um pião, o faz rodar? Que graça há em ter um taco que joga sozinho? Os brinquedos
perfeitos foram logo para o monte de lixo e os meninos voltaram aos desaios e alegrias
dos brinquedos antigos.
Todo brinquedo bom apresenta um desaio. A gente olha para ele e ele nos convida para
medir forças. Aconteceu comigo, faz pouco tempo: abri uma gaveta e um pião que esta-
va lá, largado, fazia tempo, me desaiou: ´ - Veja se você pode comigo!´ Foi o início de um
longo processo de medição de forças, no qual fui derrotado muitas vezes. É preciso que
haja a possibilidade de ser derrotado pelo brinquedo para que haja desaio e alegria.
A alegria vem quando a gente ganha. No brinquedo a gente exercita o que Nietzsche
denominou ´vontade de poder´.
Brinquedo é qualquer desaio que a gente aceita pelo simples prazer do desaio - sem
nenhuma utilidade. São muitos os desaios. Alguns são desaios que têm a ver com a
habilidade e a força física: salto com vara, encaçapar a bola de sinuca; eniar o pino do
bilboquê no buraco da bola de madeira. Outros têm a ver com nossa capacidade para
resolver problemas lógicos, como o xadrez, a dama, a quina. Já os quebra-cabeças são
desaios à nossa paciência e à nossa capacidade de reconhecer padrões.
173
É brincando que a gente se educa e aprende. Cada professor deve ser um ´magister ludi´¸
como no livro do Hermann Hesse. Alguns, ao ouvir isso, me acusam de querer tornar a
educação uma coisa fácil. Essas são pessoas que nunca brincaram e não sabem o que
é o brinquedo. Quem brinca sabe que a alegria se encontra precisamente no desaio e
na diiculdade. Letras, palavras, números, formas, bichos, plantas, objetos (ah! o fascínio
dos objetos!), estrelas, rios, mares, máquinas, ferramentas, comidas, músicas - todos são
desaios que olham para nós e nos dizem: ´Veja se você pode comigo!´ Professor bom
não é aquele que dá uma aula perfeita, explicando a matéria. Professor bom é aquele
que transforma a matéria em brinquedo e seduz o aluno a brincar. Depois de seduzido
o aluno, não há quem o segure.
Professor bom não é aquele que dá uma aula perfeita, explicando a matéria. Professor
bom é aquele que transforma a matéria em brinquedo e seduz o aluno a brincar. Depois
de seduzido o aluno, não há quem o segure
Fonte: Alves (1997, p. 119-122).
175
REFERÊNCIAS
■ Libera energia.
■ É fonte de prazer.
■ Canaliza energias.
■ Aceitação de regras.
■ Estimula a memorização.
■ Raciocínio lógico.
■ Expressão linguística.
3- Vantagens:
■ Construção de conceitos mais complexos de forma concreta.
■ As atividades com jogos podem ser utilizadas para reforçar ou recuperar habi-
lidades de que os alunos necessitem.
Desvantagens
■ A coerção por parte do professor, exigindo que o aluno jogue, mesmo que
ele não queira, destruindo a voluntariedade pertencente à natureza do jogo.
■ As falsas concepções de que devem ensinar todos os conceitos por meio dos
jogos, assim não permitem que estes alcancem os objetivos esperados, tor-
nando-os sem sentido para a criança.
AVALIAÇÃO: REPENSANDO
V
UNIDADE
O PROCESSO
Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender a avaliação como um processo implícito à ação
pedagógica.
■ Analisar e discutir a avaliação durante o processo de alfabetização.
■ Discutir os diferentes critérios e instrumentos de avaliação.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ A avaliação e sua relação com o Projeto Político-Pedagógico (PPP)
■ As especiicidades da avaliação: Diagnóstica, Formativa e Somativa
■ Principais critérios e instrumentos de avaliação no processo de
alfabetização.
181
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), você já deve ter observado que na última década o tema ava-
liação da aprendizagem tem ocupado espaço signiicativo nos estudos e debates
no campo educacional. Tais pesquisas e debates assumiram um importante papel
na tarefa de repensarmos algumas formas de avaliação que, infelizmente, predo-
minam no contexto educacional atual, consideradas instrumentos de exclusão
e alienação.
Muitas vezes, a prática avaliativa está restrita a provas e acabam por se tor-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
182 UNIDADE V
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É, caro(a) aluno(a), hoje nossos educandos desde muito cedo têm muitas infor-
mações, seja pela televisão, internet ou outros meios de comunicação. Assim,
a escola não deve ser uma transmissora de informações, pois, para isso não há
necessidade de escola. O papel da escola é levar o aluno à construção de conhe-
cimentos, por meio de conteúdos cientíicos que modiiquem o estado inicial
que ele chega ao ingressar no ambiente escolar, se conseguirmos fazer isso, pode-
mos dizer que houve aprendizagem. Mas como medir isso? É mesmo necessário
fazer avaliações na escola?
Hofmann (1996) esclarece que avaliar é um processo indispensável em
qualquer proposta de educação, ou seja, é inerente e imprescindível a um fazer
pedagógico realizado em constante ação-relexão-ação. Isso signiica que ao se
avaliar a aprendizagem, está se avaliando também o ensino, se o ensino não for
coerente, com certeza a avaliação também não será. Reletir sobre essa temá-
tica é fundamental para entender a avaliação como processo que, contribui para
que a escola torne-se um espaço democrático da construção do conhecimento.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Infelizmente no dia a dia da prática pedagógica nos deparamos frequen-
temente com situações voltadas para um treinamento de “resolver provas”.
Restringindo assim, o processo de avaliação, predominando as notas obtidas e
ignorando os caminhos. É comum na escola o professor privilegiar a memori-
zação e não a construção do conhecimento do aluno.
Com relação aos critérios empregados pelo professor nas avaliações,
privilegiam-se a memorização e a análise, em detrimento da compre-
ensão e da globalização. Em geral, os conteúdos a avaliar aparecem
descontextualizados, fragmentados e pouco pertinentes. Não se dá es-
paço para a opinião crítica do estudante e nem para a valorização das
próprias aprendizagens. O princípio básico é a aceitação de apenas uma
resposta, predeterminada pelo professor não apenas quanto ao conte-
údo, mas também quanto ao modo e ao tempo em que se deve dar
(JOLIBERT et al., 2007. p. 191).
Como você pode observar, sob este ponto de vista a discussão coletiva é total-
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mente ausente, as decisões são centralizadoras e não reletem a real necessidade
da comunidade educativa, cumprindo assim, um papel meramente burocrático
e porque não dizer, alienante.
No que diz respeito à elaboração do PPP na perspectiva emancipatória,
podemos airmar que ela representa um ideal de construção. Foge à mera exi-
gência burocrática e consolida a participação democrática de todos os envolvidos
no processo educacional. De acordo com Veiga e Fonseca (2001), a perspectiva
emancipatória fundamenta-se nos seguintes pressupostos:
■ Unicidade da teoria e da prática.
■ Ação consciente e organizada.
■ Participação efetiva da comunidade escolar e trabalho coletivo.
■ Articulação escola-família-comunidade.
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Visa aferir e controlar a Visa à emancipação, voltada
qualidade por meio de ins- para a construção do suces-
trumentos técnico-burocrá- so escolar e a inclusão, como
AVALIAÇÃO ticos e aplicados por grupos princípio e compromisso
estratégicos articulados em social.
diferentes níveis da esfera
administrativa.
Fonte: Veiga e Fonseca (2001, p.63-64).
Para dar maior consistência ao seu conhecimento sobre essas duas perspecti-
vas, observe o quadro acima. Veiga e Fonseca (2001, p.63-64) assinalam com
objetividade e clareza os principais pontos da elaboração de um PPP nas duas
perspectivas apresentadas:
O último item apresentado diz respeito ao processo de avaliação. A partir
das contribuições da autora, é possível perceber a diferença entre as duas pers-
pectivas. De um lado na perspectiva estratégico-empresarial, percebemos a ideia
da avaliação enquanto instrumento de punição e controle, do outro lado, vemos
a avaliação apresentada enquanto instrumento de democratização do conheci-
mento cientíico.
Diante das discussões apresentadas, podemos dizer que a avaliação é um pro-
cesso essencial e inerente ao processo de ensino e aprendizagem da educação.
Conforme nos adverte Hofmann ( 1996, p.15), “educar é fazer ato de sujeito, é
problematizar o mundo em que vivemos para superar as contradições, compro-
metendo-se com esse mundo para recriá-lo constantemente”.
Assim, a avaliação não pode ser entendida como uma ação desvinculada da
relexão e discussão coletiva. Ela se constitui em um importante instrumento
de socialização do conhecimento cientíico e é fundamental para que possamos
reletir, questionar e transformar nossas ações, desde que entendida como parte
integrante do ensino e da aprendizagem, e não como um apêndice ou etapa isolada.
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AS ESPECIFICIDADES DA AVALIAÇÃO:
DIAGNÓSTICA, SOMATIVA E FORMATIVA
As situações de avaliações são inerentes ao ser humano. No nosso dia a dia, cons-
tantemente, nos deparamos com momentos nos quais julgamos e comparamos,
isso é, a avaliação faz parte da nossa vida e permeia todas as relações sociais.
No contexto escolar, o processo de avaliação não deve ou não deveria acon-
tecer, como acontece no nosso dia a dia, pois deve extrapolar o senso comum.
Muitas vezes, nos deparamos com situações de avaliação no contexto escolar
que estão mais próximas do senso comum do que de uma atuação pautada no
conhecimento cientíico que pouco contribuem para a democratização do ensino,
conforme nos adverte Fernandes e Freitas (2007, p. 20):
Tradicionalmente, nossas experiências em avaliação são marcadas por
uma concepção que classiicadas aprendizagens em certas ou erradas e,
dessa forma, termina por separar aqueles estudantes que aprenderam
os conteúdos programados para a série em que se encontram daqueles
que não aprenderam. Essa perspectiva de avaliação classiicatória e se-
letiva, muitas vezes, torna-se um fator de exclusão escolar.
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Mas como perceber se nossa atuação está de fato comprometida com o conhe-
cimento cientíico? Basta observarmos nossa ação, muitas vezes uma atividade
avaliativa tem o foco meramente classiicatório e pouco contribui para a com-
preensão da avaliação enquanto processo.
Conforme apresentamos anteriormente a avaliação no contexto escolar reali-
za-se em consonância com os objetivos escolares de modo implícitos ou explícitos.
Pois bem, como podemos perceber atualmente, muitas vozes se lançam em
prol de uma avaliação que não seja usada como instrumento de punição, clas-
siicação e exclusão. Desse modo, é importante discutir sobre as especiicidades
do processo avaliativo aqui explicitados como: avaliação diagnóstica, avaliação
somativa e avaliação formativa.
O contexto escolar está permeado por práticas avaliativas diversas. Ao obser-
varmos esse contexto percebemos cada uma dessas práticas diversiicadas ocorre
em decorrência das inluências de concepções teóricas diferentes.
A partir da perspectiva de um processo avaliativo coerente, a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação (LDB 9394/96), no artigo 24 assim está apresentada:
“V - a veriicação do rendimento escolar observará os seguintes crité-
rios:
Avaliação Diagnóstica
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para diagnosticar em que nível a criança está para podermos estabelecer nossa
prática pedagógica estamos realizando uma avaliação diagnóstica.
Em relação ao processo de alfabetização, a avaliação diagnóstica é um instru-
mento que possibilita o acompanhamento da construção do processo de leitura e
escrita. No nosso entendimento esta é uma prática avaliativa que realmente auxilia
a análise do processo de ensino e aprendizagem. Sob esse aspecto é importante
apresentar as contribuições de Demo (2002, p. 02), ao discorrer sobre o papel
da avaliação diante do desaio de consolidar a apropriação do conhecimento:
Avaliação só faz sentido se favorecer a aprendizagem. Todavia, não se
realiza aprendizagem qualitativa, sem avaliar. Quando se combate o
tom classiicatório, [...] pretende-se, no fundo, superar abusos da ava-
liação, no que estamos todos de acordo, mas não se poderia retirar daí
que avaliação, de si, não é fenômeno classiicatório. Será mister distin-
guir acuradamente entre abusos da classiicação, de teor repressivo, hu-
milhante e punitivo, e efeitos classiicatórios implicados em qualquer
processo avaliativo, também quando dito qualitativo.
Pense um pouco a partir dessa explicitação do autor: em que medida nossa prá-
tica avaliativa está a serviço da aprendizagem? Espero que após o término dessa
unidade você consiga responder a essa pergunta.
Avaliação Formativa
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síntese.
■ As atividades tem relação com o processo avaliativo ou seja, são ineren-
tes a ela.
■ O feedback favorece a ratiicação da aprendizagem, envolve os alunos no
processo e contribui para a motivação e resgate da autoestima.
■ A relação entre professor e aluno é marcada pela cumplicidade e compro-
misso com o conhecimento por meio da interação que se estabelece entre
o objetivo a ser apreendido e as relações do aluno com esse conhecimento.
■ O processo de avaliação não é um elemento surpresa para os alunos. Eles
são envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, sendo responsá-
veis por suas aprendizagens.
■ As atividades, planejadas previamente pelo professor no PTD, devem
atender sua intencionalidade: atividade de ensino, aprendizagem, ava-
liação, assumem um importante papel na regulação dos processos de
aprendizagem.
■ O contexto marcado por uma prática avaliativa favorece a consolidação
uma cultura avaliativa positiva que tem como princípio a crença de que
todos os alunos são capazes de se desenvolverem.
Avaliação Somativa
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inteiramente eicazes ou para um tempo de aprendizagem que se re-
velou insuiciente, contribuindo desse modo para o aperfeiçoamento
do ensino e o sucesso da aprendizagem. Constituindo-se um valioso
instrumento na tomada de decisões sobre opções curriculares ou sobre
inovações educativas. Em suma, a função da avaliação somativa é po-
sicionar o aluno em relação ao cumprimento dos objetivos. Por conse-
guinte, a inalidade deste tipo de avaliação é a tomada de decisões sobre
apoios e complementos educativos e regime de progressão do aluno
(AMARAL; SEED, 2009, p. 21).
Figura 1 - A Avaliaçâo
Fonte: Tonucci (1976, p. 148).
Será que as escolas estão avaliando os alunos de forma coerente? Será que
nosso sistema avaliativo ainda assume um caráter punitivo focando mais
nos aspectos quantitativos do que qualitativos?
Werneck (1995) no texto “Avaliação Fingida” publicado no livro “Se você inge
que ensina, eu injo que aprendo” nos conta uma fábula que ajuda a responder
a pergunta “Como corrigir provas dos alunos?”. O texto que segue é muito inte-
ressante para que possamos reletir sobre essas questões. A fábula é assim: certa
vez, um mestre enviou um aluno seu à cidade canadense de Montreal para dar
um recado em um determinado endereço. O aluno deixou a cidade brasileira
de origem e seguiu para o Rio de Janeiro, tomando um voo internacional em
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direção à Nova Iorque. De lá seguiu noutro voo para Montreal, tramitou pela
alfândega com suas bagagens e documentos, tomou um táxi e chegou à rua dese-
jada. O edifício já estava sendo visto. Felizmente, no local certo, chegou ao andar
do endereço. Na hora de bater à porta do apartamento, confundiu-se e tocou a
campainha do apartamento ao lado daquele que procurava.
O proprietário, ao atender, explicou-lhe que estava errado e a viagem foi con-
siderada perdida; a passagem, agora, precisaria ser reembolsada, além da grande
“bronca” a receber do mestre. Um erro imperdoável, sobretudo depois de tanto
esforço. Chegou pertinho e errou no inal. Tudo perdido. Nota zero. Outro aluno,
deste mesmo mestre, recebeu a mesma incumbência, só que, tendo chegado ao
Rio de Janeiro, dirigiu-se a Santiago do Chile e de lá tomou um avião para as
Filipinas. Errou tudo, não tinha sequer noção de direção. Viagem errada, reem-
bolso das despesas, “bronca” do mestre. Tudo perdido. Nota zero.
Apesar dos dois candidatos não terem conseguido chegar ao ponto solici-
tado, há uma diferença fundamental entre eles.
Enquanto um tem uma série de valores e conhecimentos já dominados,
o outro não conhece o mínimo de orientação e localização geográica de uma
cidade. Está completamente perdido. Os zeros atribuídos aos dois implicam uma
grande injustiça, porque airmam ser dois erros do mesmo nível, enquanto um
deles é absurdo, e o outro, muito menos pernicioso.
Os professores mais arraigados ao sistema de correção pela resposta inal
sustentam que os dois não conseguiram chegar aos objetivos traçados pelo pro-
fessor e que, portanto, nem um nem outro conseguiu responder ao problema.
Caro(a) aluno(a), avançamos até aqui de modo signiicativo nas discussões refe-
rentes ao processo de avaliação. Entretanto se faz necessário reletirmos sobre os
critérios e os instrumentos de avaliação para que possamos compreender como
eles estão presentes no processo de alfabetização.
No cotidiano escolar é comum percebermos algumas controvérsias em rela-
ção à deinição entre Instrumentos e os Critérios de avaliação. Muitas vezes
proissionais da educação fazem referência a esses dois elementos como sinô-
nimos ou ainda, totalmente desvinculados do processo avaliativo. Por isso,
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Os critérios são princípios que servirão de base para o julgamento da
qualidade dos desempenhos, compreendidos aqui, não apenas como
execução de uma tarefa, mas como mobilização de uma série de atribu-
tos que para ela convergem.
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Sondagem
Portfólio
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alfabetização, uma opção interessante é a organização das produções textu-
ais espontâneas realizadas pelos alunos durante o ano letivo, desenhos, textos
coletivos, atividades a partir de datas comemorativas etc. Outro aspecto que o
portfólio propicia é a comunicação com a família que pode e deve, acompanhar
o trajeto percorrido na vida escolar do ilho.
Essa é uma prática muito comum na Educação Infantil, penso que todos nós
já vivenciamos a situação em que os pequenos levam para os pais ou responsáveis
uma pasta constando as principais atividades realizadas durante determinado
período. Essa prática favorece a autoavaliação do aluno, que observa seu desem-
penho anterior e compara com desempenho atual.
Avaliação relatorial
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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e que promove, assim, uma “cultura educacional excludente”, pois predominam
ações restritivas a provas e exames, sendo utilizada de forma classiicatória e
não diagnóstica.
Muitos autores que estudamos nessa unidade apresentam caminhos para supe-
rar as diiculdades na consolidação de uma prática avaliativa coerente, ou para,
pelo menos, embasar teoricamente os proissionais da educação, demonstrando
como deveria ser a avaliação de aprendizagem e, principalmente, enfatizam a
necessidade de analisarmos a avaliação enquanto um processo amplo e de acom-
panhamento do processo, não só da aprendizagem, mas também do ensino.
Para isso, faz-se necessário um acompanhamento formativo do aluno, por
meio da observação e análise do seu crescimento na aquisição do conhecimento
cientíico.
Reletir sobre essa temática principalmente durante o processo de alfabeti-
zação, é fundamental para entender a avaliação como objeto que, contribui para
que a escola torne-se um espaço democrático da construção do conhecimento.
Eis aqui nosso grande desaio, enquanto professores alfabetizadores, conso-
lidar a prática avaliativa como um forte e importante cúmplice na ratiicação do
processo de alfabetização. Esperamos que com o término dessa última unidade
e leitura das demais, tenhamos contribuído para sua formação como professor
alfabetizador.
para sua exploração. Se todas elas forem estimuladas e desenvolvidas, mobilizarão as ope-
rações mentais e ajudarão a construir uma aprendizagem verdadeiramente signiicativa.
Habilidade: OBSERVAR
Perceber a realidade; entender e focalizar um objetivo, identiicando-o conforme seu
valor conceitual. Maneira de desenvolver a percepção de detalhes o do todo.
No ambiente em que a criança vive propor jogos do tipo “Certo e Errado” para estimular
sua perspicácia na observação. Programar passeios pelo pátio da escola e solicitar o que
foi observado, anotando-os para uso posterior.
Habilidade: CONHECER
Ter noção de algo, sendo capaz de proceder à distância e à avaliação. O conhecimento
dos objetos e espaço está relacionado ao conhecimento das pessoas.
Destacar a diferença entre as pessoas conhecidas e as desconhecidas; utilizando jogos
diversiicados, aplicar essa diferença aos elementos que compõem o ambiente no qual
a criança vivi e convive.
Habilidade: COMPREENDER
A verdadeira compreensão se opõe a memorização. Quem retém o conhecimento de
forma mecânica e, portanto, não aplica ou transfere o que foi aprendido; quem com-
preende se apropria e constrói o conhecimento, associando-o a outros que já possuía.
Os jogos estimulam o processo de compreensão e experimentos que levam a criança
a relatar, com palavras diferentes daquelas que aprendeu o conceito construído. Essa
prática constitui em eiciente meio para perceber se realmente houve compreensão.
Habilidade: COMPARAR
Examinar dois ou mais objetos com a intenção de distinguir relações, semelhanças e
diferenças.
A criança não precisa de alguém que a ensine a respirar; ela nasce com o domínio dessa
função biológica. Porém, se ao praticar uma atividade cansativa ou estressante aprender
a controlar e modular sua respiração, descobrirá uma maneira mais adequada de exer-
cer esse domínio. Guardando-se as devidas proporções, o mesmo pode ser dito dessa
habilidade operatória: a criança compara naturalmente tudo o que vê. É essencial, entre-
tanto, que isso se torne uma verdadeira habilidade operatória, trabalhada em atividades
nas quais a criança faça sistematicamente comparações de diferentes tipos. Para isso, o
professor deve mostrar como se compara, o que é válido ou não no exercício dessa habi-
lidade. Se ele idealizar um “jogo” de comparações e transformar a criança no agente das
descobertas, esse exercício será um processo mais racional, e a construção de conceitos
poderá ocorrer com maior facilidade e diversidade.
212
Habilidade: SEPARAR/REUNIR
Compor conjuntos ou sistemas a partir de elementos dados/ estabelecerem junção das
partes: agrupar e separar; congregar, conglomerar. Essa habilidade operatória requer
pleno domínio da compreensão.
Desenvolver experimentos, nos quais o aluno seja estimulado a separar e reunir objetos
de modo a formar conjuntos. Dispor de um recipiente com pedras, botões, tampinhas e
outros objetos e propor tarefas que envolvam o agrupamento ou separação de elemen-
tos semelhantes.
Habilidade: CONSULTAR/CONFERIR
Estimular o aluno a conferir certos padrões de disposição e características de objetos
– por exemplo, numa série ordenada de peças iguais, veriicar se alguma delas está de
cabeça para baixo; em uma série de iguras de bichos, conferir em quais deles está fal-
tando à calda, etc. um progresso bastante expressivo seria treinar a habilidade do alu-
no em consultar uma fonte de referência para fazer a veriicação. Este processo é mais
amplo que o da conferência, pois a fonte de consulta da à margem a explanações mais
signiicativas. O professor pode elaborar “gabaritos” e estimular o aluno a executar ações
complementadas com a consulta a eles. Também podem ser propostas atividades em
que o aluno tenha de observar gestos e consultar desenhos para veriicar se há seme-
lhanças entre eles.
Fonte: Antunes (2002b, p. 29-32).
REFERÊNCIAS
Prezado(o) aluno(a), você chegou ao inal da leitura de mais um livro, dentre outros
que você leu e está lendo durante sua graduação. A disciplina de Metodologia da
Alfabetização para a qual este livro foi pensado teve o objetivo de preparar você
para a atuação como alfabetizador. Alfabetizar, você deve ter percebido, não é tarefa
fácil, exige muita dedicação, conhecimento, afetividade, responsabilidade e com-
prometimento por parte do professor.
Vamos relembrar agora os principais conteúdos estudados em cada uma das unida-
des. Na unidade I você conheceu o quanto é importante a comunicação da criança
por meio de seus desenhos, principalmente no momento em que ela ainda não
adquiriu as habilidades de leitura e escrita. Vimos também que a criança percorre
um processo evolutivo. Assim, lembre-se sempre das três fases que estudamos: ga-
ratujas (desordenada, controlada e com atribuição de nomes), pré-esquemática e
esquemática e os aspectos que são desenvolvidos quando a criança desenha.
Na unidade II, abordamos o histórico da alfabetização para em seguida percorrer o
caminho do processo evolutivo da escrita, você se lembra quais são os níveis con-
ceituais linguísticos que a criança passa? Pré-silábico, intermediário I, silábico, inter-
mediário II ou silábico-alfabético e alfabético. Espero que tenha compreendido cada
um por meio das explicações e exemplos de textos escritos por crianças.
Na unidade III, foi abordado as habilidades de leitura e escrita, e vimos que o ato de
ler vai além da decodiicação. Nesse contexto, passamos a compreender melhor a
diferença entre alfabetização e letramento e que um dos caminhos para fazer nos-
sos alunos chegar ao nível de letramento é propiciar a ele um ambiente alfabetiza-
dor. Dessa forma conseguirá não apenas ler, mas atribuir signiicado ao que leu e
passará a utilizar a leitura em sua prática social.
Os jogos e brincadeiras na alfabetização foi o que você estudou na unidade IV. Por
meio das leituras e exemplos práticos foi possível identiicar o quanto é importante
promover uma aprendizagem lúdica, principalmente na fase da alfabetização. En-
tão, ique atento, proporcione a seus alunos momento de aprendizagem signiicati-
vas por meio dos jogos e brincadeiras.
Por im, na unidade V, tratamos da avaliação da aprendizagem, vimos que ela pode
ocorrer de diversas maneiras e o professor alfabetizador deve ser coerente nesse
processo avaliativo, pois avaliar é um ato indispensável em qualquer proposta de
educação, porém não podemos pensá-la com caráter opressor e classiicatório. Fi-
cou claro para você que não existe apenas um instrumento ou um tipo de avaliação?
Por meio dos estudos dessa última unidade vimos que ela pode ser diagnóstica,
formativa e somativa, além de termos discutido também os critérios e instrumentos
de avaliação na alfabetização.
CONCLUSÃO
Esperamos que com as discussões propostas nesse livro, tenhamos colaborado com
o seu conhecimento acerca da alfabetização e, principalmente, do papel do profes-
sor alfabetizador, pois as escolas carecem de pessoas preparadas para atuarem nas
salas de alfabetização. Assim, continue sempre buscando novos conhecimentos, até
porque, não é possível esgotar todo o assunto em apenas um livro.
Desejamos a você muito sucesso!