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PARO, Vitor Henrique. Gestão Democrática da Escola Pública. São Paulo: Cortez, 2016. (Orig.

1997)

Capítulo 2 – “Participação da comunidade na gestão democrática da escola pública”, pp. 21-36. (Orig. 1992)

1. Desfazendo equívocos. (pp. 21-24)


1.1. A proposta era pensar sobre as relações entre gestão democrática da escola e participação da comunidade
escolar.
1.2. Mas é preciso desfazer alguns equívocos e prestar alguns esclarecimentos sobre a frase:
1.2.1. Falar de “relações” parece trair a própria ideia de democracia: a comunidade é o substrato de um
processo de democratização da escola pública, e não mais um elemento a que se deve conectar.
1.2.1.1. Sem a efetiva inclusão da comunidade na escola, qualquer proposta de democratização vai virar
mero arranjo entre os funcionários estatais, cujos interesses não vão coincidir necessariamente como os
da comunidade.
1.2.2. “Participação”.
1.2.2.1. Lembrando que há participação na tomada de decisão e participação na execução.
1.2.2.2. Mas focando na tomada de decisão, há que se convir que temos muitos obstáculos:
1.2.2.2.1. O gestor escolar precisa estar convencido da necessidade dessa participação.
1.2.2.2.2. E a escola “pública” só será democrática quando deixar de ser meramente escola
estatal, e tiver o controle democrático da escola.
1.2.2.2.2.1. I.e.: partilha do poder pelos verdadeiramente interessados na qualidade.
2. Contribuições ao debate. (pp. 24-36)
2.(1). Democratização se faz na prática.
2.1.1. Embora se deva ter alguma concepção teórica que guie a construção de relações livres de autoritarismo, é
preciso exercitar uma prática democrática coerente.
2.1.1.1. Esse curto-circuito entre discurso liberal e práticas autoritárias é fruto da formação livresca de
nossos educadores, da permanência de práticas pouco democráticas na escola e do próprio fundo
autoritário de nossa própria sociedade.
2.1.1.2. (Mas que não se tomem os determinantes estruturais como desculpa para esperar tudo mudar
para daí transformar as relações dentro da escola...).
2.1.2. É no cotidiano que podemos tensionar as manifestações das contradições estruturais da sociedade.
2.1.2.1. Veja-se o caso dos diferentes interesses dos grupos que habitam a escola.
2.1.2.1.1. É preciso romper com a visão ingênua de que a escola é uma grande família.
2.1.2.1.2. Os conflitos de classe reais que existem dentro da escola não se resolvem por ignorá-
los.
2.1.2.1.2.1. Mesmo sendo todos trabalhadores, professores e pais não caminham
necessariamente em harmonia quando o assunto é greve...
2.1.2.1.2.1.1. Oposição “interesses da população”/“corporativismo dos
professores”
2.1.2.1.3. Desta forma, como ir além da defesa dos interesses particulares, com o
estabelecimento de objetivos comuns?
2.(2). Existem condicionantes materiais do autoritarismo na escola.
2.2.1. A lista é bem conhecida: precariedade do prédio e dos recursos didáticos, baixos salários e jornada
extenuante dos educadores, superlotação de classes, múltiplos turnos de aula etc.
2.2.2. Qual o peso desses condicionantes?
2.2.2.1. Ora, basta pensar em como seria possível ao professor (desvalorizado e cansado) estabelecer
relações dialógicas numa classe abarrotada...
2.2.2.2. Ou no diretor de escola assolado por questões de segurança, falta de funcionários e recursos e
um prédio deteriorada. Em que momento ele poderá cuidar do pedagógico e das relações com todos?

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2.(3). Existem condicionantes político-institucionais do autoritarismo na escola.
2.3.1. A literatura sobre o assunto é vasta: as relações escolares tendem ao verticalismo do
mando/subordinação.
2.3.2. Manifestação disso é a forma de definição do cargo de diretor de escola: hipertrofia do tecnicismo.
2.3.2.1. Cargo efetivo, concursado, o diretor escolhe a escola; mas a escola não escolhe o diretor.
2.3.2.2. Afere-se a competência administrativa do candidato, que deve ser habilitado em “administração
escolar”, escamoteando qualquer interesse da comunidade local.
2.3.2.3. No final, a autoridade do diretor é concedida pelo Estado, a quem ele prestará contas, e não à
população.
2.3.2.3.1. O que é um presente de grego: dadas as condições reais da escola pública, a pessoa do
diretor vira alvo da insatisfação generalizada.
2.3.2.3.2. Isso, mais as manifestações físicas do estresse todo, deveriam levar o diretor a se
rebelar em prol de um efetivo poder para a escola, distribuído entre todos os seus agentes.
2.(4). Existem condicionantes ideológicos do autoritarismo na escola.
2.4.1. Necessidade de refletirmos constantemente sobre a razão de ser das nossas práticas e comportamentos.
2.4.1.1. Os valores democráticos devem envolver a inteira personalidade dos indivíduos.
2.4.2. Principalmente na sala de aula: como pode haver escola democrática sem uma sala de aula dialógica?
2.4.2.1. Apesar de todo avanço da Pedagogia em colocar o aluno como sujeito de sua aprendizagem, o
cotidiano das escolas ainda está permeado pelas relações de dominação e passividade.
2.4.2.2. Parte dos determinantes disso está na própria forma como os educadores veem os alunos, em
relação à sua realidade social (a falta de “interesse” pela escola).
2.(5). A transformação é um processo dialético, não cronológico.
2.5.1. Para superar esses condicionantes do autoritarismo, é preciso um esforço coletivo de todos na escola; mas
esse esforço é resultado da superação dos condicionantes.
2.5.2. É um falso problema: a luta pela superação dos condicionantes e pela participação é uma só, processual.

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