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Recebido em: 23/07/2014 Parecer emitido em: 06/08/2014 Artigo original

SILVA, T.D., BORGES, L.S., SANTOS, M.L.A. dos, VITALINO, A.A.V. Lazer para idosos: uma investigação sobre a acessibilidade dos espaços e equipamentos

LAZER PARA IDOSOS: UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A


ACESSIBILIDADE DOS ESPAÇOS E EQUIPAMENTOS DE LAZER
DA FUNDAÇÃO LEUR BRITTO/BA
Temístocles Damasceno Silva¹, Lourena Santos Borges1, Mario Lucas Alves dos Santos1,
Aline Aparecida Vieira Vitalino1.

RESUMO
de lazer da fundação Leur Britto/BA. Coleção Pesquisa em Educação Física, Várzea Paulista, v. 13, n. 4, p. 91-98, 2014.

A presente pesquisa teve como intuito avaliar a acessibilidade dos espaços e equipamentos de
lazer da fundação Leur Britto, situada no município de Jequié/BA. Enquanto procedimento metodológico,
tal estudo caracterizou-se como uma pesquisa exploratória de abordagem qualitativa, que utilizou enquanto
instrumento de coleta de dados a análise documental bem como a observação dos espaços e equipamentos
de lazer existentes no local. Nesta perspectiva, concluiu-se que é de fundamental importância adequar os
espaços e equipamentos de lazer da referida instituição, no intuito de atender as reais necessidades de seus
respectivos idosos.
Palavras-chave: Lazer. Idosos. Acessibilidade.

LEISURE FOR THE ELDERLY: AN INVESTIGATION ON THE


ACCESSIBILITY OF SPACES AND RECREATIONAL EQUIPMENT
FOUNDATION LEUR BRITTO/BA

ABSTRACT

The present study was aimed to evaluate the accessibility of spaces and leisure facilities Leur Britto
Foundation, located in Jequié/BA. While methodological procedure, this study was characterized as an
exploratory qualitative study, which used as a tool for data collection document analysis and observation of
existing spaces and leisure facilities on site. Accordingly, it was concluded that it is of fundamental importance
to adapt the spaces and leisure facilities of the institution in order to meet the real needs of their elderly.
Keywords: Leisure. Senior citizens. Accessibility.

Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 13, n. 4, 2014 - ISSN: 1981-4313 91


INTRODUÇÃO

O ato de envelhecer gera nos indivíduos certas limitações que influenciam sua interação com
o meio no qual se encontra inserido. Todavia, tal dinâmica não impede que a população idosa possa
usufruir do lazer, enquanto direito social. Entretanto, se faz necessário que tais lugares possam ser acessíveis
a tal prática, levando-se em consideração que as limitações de ordem biopsicossocial do idoso, geram
necessidades espaciais. Sendo assim, os assuntos apontados acima, despertaram o interesse em avaliar
a acessibilidade dos espaços e equipamentos de lazer da fundação Leur Britto, situada no município de
Jequié/BA.
Enquanto procedimento metodológico o presente trabalho configurou-se como uma pesquisa de
caráter exploratório e abordagem qualitativa. No que diz respeito ao referencial teórico da pesquisa, se fez
necessário um esclarecimento conceitual sobre o objeto estudado, ou seja, a compreensão de tal processo
esteve diretamente relacionada ao entendimento de tais ações, visto que seus sentidos e significados
impreterivelmente são transbordados de conceitos. Sendo assim, foi realizada uma busca em periódicos,
artigos e teses relacionadas à temática proposta, destacando-se durante a investigação, os estudos sobre
lazer, idoso e acessibilidade de Dorneles (2006).
O processo de coleta de dados deu-se através da observação participante e da análise documental.
Em relação ao tratamento de dados, elencou quatro categorias de análise, sendo elas: a orientação/
informação; o deslocamento; o uso e a comunicação dos espaços e equipamentos de fruição do lazer
da referida instituição. Desta forma, para a realização da presente investigação, se fez necessário o
entendimento de parte dos conceitos que evidenciam o lazer enquanto direito social bem como uma
reflexão sobre os princípios da acessibilidade e das necessidades dos idosos.

O LAZER ENQUANTO DIREITO SOCIAL

O fenômeno lazer enquanto direito social foi materializado através da implementação da


Constituição Federal de 1988 no Brasil: “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,
a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL, 1988). Todavia, para Pereira (2009, p. 9) tal
fenômeno não é: “nada além do que uma manifestação do pensamento humano, sem proteção legal, não
lhe sendo atribuída nenhuma área específica”. Apesar de não sistematizado, a possibilidade de garantia e
legitimidade do lazer pode ser encontrada em algumas manifestações formais, tais como: a carta magna
e o documento de consolidação das leis do trabalho. Sendo assim, para Marcellino (1987), deve-se levar
em consideração o lazer na perspectiva abrangente, como cultura vivenciada no tempo disponível, com
determinadas características próprias.
No que diz respeito à população idosa, o direito ao lazer evidencia-se no art. 20, do estatuto do
idoso: “O idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços
que respeitem sua peculiar condição de idade”. Ao mesmo tempo, tal documento aponta que o exercício
do direito ao lazer, deve respeitar sua peculiar condição de idade e respectivas restrições, no intuito de
possibilitar um tratamento adequado ao idoso, em seu meio social. Desta forma, acredita-se que o direito
ao lazer da pessoa idosa, embora tenha manifestado alguns indícios de consolidação, ainda se apresenta
de forma embrionária.
Outro dado relevante está relacionado ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2009), o qual aponta que a expectativa de vida no ano de 2009 era de 73 anos de idade, e deverá atingir,
conforme projeções, 81,3 anos de idade, em 2050. Logo, tal aumento da população idosa, induz a uma
reflexão acerca da adequação dos espaços de lazer destinados a terceira idade. Neste contexto, Silva;
Lima; Álvares (2010) revelam que os idosos institucionalizados apresentam um perfil diferenciando, ou
seja, evidenciam perca de capacidade funcional associado tanto ao processo intrínseco do envelhecimento
quanto ao desuso, sendo a ociosidade apontada como uma das maiores problemáticas da vida asilar. Desta

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forma, as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) assumem um papel primordial no processo
de materialização deste fenômeno, haja vista que tais entidades são responsáveis por possibilitar aos seus
residentes, práticas de lazer que possam contribuir para sua vida social, através de espaços adequados e
alicerçados nos princípios da acessibilidade.
Neste sentido, levando-se em consideração o aumento da população idosa no Brasil associado ao
papel das Instituições de Longa Permanência para Idosos, acredita-se que é de suma importância avaliar a
acessibilidade dos espaços de lazer para que tais instituições possam repensar tanto seus espaços quanto
as atividades propostas. Nesta perspectiva, se faz necessário um maior esclarecimento sobre as limitações
dos idosos perante as vivências de lazer bem como uma reflexão sobre as variáveis que permeiam a
acessibilidade.

A ACESSIBILIDADE DOS ESPAÇOS DE LAZER PARA IDOSOS: PRINCIPAIS CONSIDERAÇÕES

O ato de envelhecer gera nos indivíduos certas limitações que influenciam sua interação com o
meio no qual se encontra inserido. Todavia, tal dinâmica não impede que a população idosa possa usufruir
do lazer, através de espaços e equipamentos adequados a suas respectivas necessidades. Para Muller (2002):

O espaço de lazer tem uma importância social, por ser um espaço de encontro e de
convívio. Através desse convívio, pode acontecer a tomada de consciência, o despertar
da pessoa para descobrir que os espaços urbanos equipados e conservados para o lazer
são indispensáveis para uma vida melhor para todos e que se constituem em um direito
dos brasileiros. (p. 25).

Neste contexto, se faz necessário, conforme Hunt (1991), que tais lugares possam ser acessíveis
a tal prática, levando-se em consideração que as limitações de ordem biopsicossociais do idoso, geram
necessidades espaciais. Sendo assim, para Hunt (1991) tais necessidades espaciais podem ser divididas em
três categorias, sendo elas: necessidades físicas, necessidades informativas e necessidades sociais. Logo,
as necessidades físicas estão associadas com o bem estar físico, a segurança e o conforto dos idosos no
ambiente em que se encontram inseridos. Em contrapartida, as necessidades informativas estão relacionadas
ao processo de informação instituído nos espaços de lazer. Logo, segundo Bins Ely; Cavalcanti (2001),
devem-se consolidar espaços legíveis que estimulem o sistema sensorial, suprimindo assim as restrições
sensoriais impostas pelo envelhecimento. No que diz respeito às necessidades sociais, tais ações estão
condicionadas a possibilidade da garantia da privacidade e da interação social. Deve-se portanto, conforme
Hunt (1991), atentar-se com a aparência dos locais projetados para idosos, gerando assim no imaginário
coletivo, uma ideia de ambiente familiar.
Neste contexto, conforme Dorneles (2006, p. 55) o processo de avaliação da acessibilidade
dos espaços de lazer destinados a população idosa, perpassa necessariamente por quatro categorias:
A orientação/informação, o deslocamento, o uso e a comunicação. Sendo assim, no que diz respeito
a categoria orientação/informação, deve-se levar em consideração, segundo Dorneles (2006, p. 61) a
compreensão do ambiente, permitindo assim que o idoso possa se situar no tempo e no espaço de
maneira significativa. Logo, a presença de mapas e placas informativas são de fundamental importância
neste processo. Em relação ao deslocamento deve-se observar quais as condições que o espaço oferece
no tocante a movimentação dos idosos, tanto no sentido horizontal quanto no vertical. A instalação de
rampas com piso antiderrapante, presença de corrimão bem como a ausência de imobiliários na via de
circulação são fatores condicionantes desta variável. Já ao uso e comunicação, se faz necessário identificar,
de acordo com Dorneles (2006, p. 56), a garantia das características ergonômicas necessárias ao idoso
bem como a facilidade de interação dos usuários com o ambiente, a partir da instalação de configurações
de mobiliários ou tecnologias assistivas.

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Nesta perspectiva, será apresentada a seguir as características gerais da fundação Leur Britto bem
como os resultados da avaliação da acessibilidade dos espaços de lazer da referida instituição, almejando
assim, esclarecer as possibilidades e limitações destes espaços, no que diz respeito ao processo de
materialização do acesso ao lazer para seus respectivos residentes.

CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO INVESTIGADA

A presente instituição de longa permanência para idosos, denominada “Fundação Leur Brito” foi
criada em 01/05/1958, sendo caracterizada como uma residência coletiva, que acolhe idosos independentes
em situação de necessidades financeira ou familiar bem como idosos que apresentam dificuldades em
desempenhar suas atividades diárias ou que necessitem de cuidados prolongados.
A entidade é administrada por três freiras da congregação Servas da Sagrada Família, sendo que
uma freira tem formação superior em Administração, a outra possui formação superior em Enfermagem e a
última não apresenta formação em nível superior. Vale ressaltar que o quadro de funcionários é composto
por 17 profissionais, entre cuidadores e voluntários. Todavia, conforme Novaes (2013) os funcionários
remunerados pertencentes à fundação têm reclamado dos baixos salários decorrentes da reduzida receita
financeira da instituição. Logo, tal entidade sobrevive de doações voluntárias, dos clubes de serviços e do
apoio de poder público, dentre ele destaca-se a prefeitura municipal de Jequié/BA, que segundo relato
das gestoras, sempre apoiou na manutenção da entidade, disponibilizando profissionais, além de assumir
pagamentos das contas de água e luz. Sendo assim, Novaes (2013) revela que: “sensibilizadas com as
carências reveladas pelo abrigo um grupo de jovens idealizou a criação de um sistema de telemarketing
através do qual vem conseguindo aumentar o nível de doações para a entidade”. Além disso, constatou-
se também uma parceria com a Fundação José Silveira/Santa Casa Hospital São Judas Tadeu e com a
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB.
Em relação ao público atendido pela instituição, diagnosticou-se um total de cinquenta e dois
idosos, sendo que a maioria é composta por mulheres. Vale destacar que grande parte dos residentes
apresentam algum tipo de restrição, tais como: dificuldade na percepção das informações contidas no
ambiente, limitações na realização de atividades que demandem força física ou coordenação motora e/
ou dificuldade no estabelecimento de dialogo derivado de limitações do sistema cognitivo
No que diz respeito aos espaços de lazer observou-se que a referida instituição dispõe de espaços
favoráveis para prática do lazer, tais como: jardim, pátios, área de eventos, área de descanso, sala de televisão
e pista para caminhada. Quanto aos equipamentos de lazer encontrados na fundação verificou-se apenas
jogos como: dominó, baralho, xadrez, bolas, arcos, além de aparelhos de som e televisão. Em relação
as atividades de lazer proporcionadas pela instituição, diagnosticou-se a realização de algumas ações
vinculadas a festejos religiosos ou datas comemorativas bem como atividades acadêmicas esporádicas
oportunizadas pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Logo, constatou-se que mesmo com a
diversidade de espaços, a ausência de profissionais formados na área de educação física, apresenta-se
como um possível fator limitante na implementação de atividades destinadas ao lazer. Desta forma, de
acordo com Salvador et al., (2009), diversos fatores podem interferir nas práticas de lazer para idosos,
como o gênero, idade, renda, entre outros. Todavia, para o autor, tais ações não são variáveis impeditivas
da fruição do lazer, ou seja, a principal causa que torna a ação limitante é justamente a capacidade de
oferecimento de atividades de lazer por parte da instituição de longa permanência para idosos.

AVALIAÇÃO DA ACESSIBILIDADE DOS ESPAÇOS DE LAZER DA REFERIDA INSTITUIÇÃO

Para a materialização da presente pesquisa definiu-se quatro categorias de avaliação da


acessibilidade, propostas por Dorneles (2006), sendo elas: Orientação/informação, deslocamento, uso e
comunicação dos espaços de lazer. Desta forma, os resultados encontrados bem como a análise realizada,
serão descritos a seguir.

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Os espaços de lazer em relação a orientação / informação

A orientação e informação, conforme Bins Ely (2006 apud DORNELES, 2006) estão ligadas a
maneira na qual os idosos percebem o ambiente no qual se está inserido de modo que o mesmo possa
se situar e se deslocar seguindo as informações dadas pelo ambiente através de placas informativas ou
até mesmo algum dispositivo eletrônico.
Neste contexto, avaliou-se que existe uma insuficiência de placas informativas nos espaços
destinados a prática do lazer. Logo, tais dados vão de encontro aos estudos de Dorneles (2006) a qual
aponta que: “os ambientes devem ser espacialmente compreensíveis e apresentar formas diferentes de
informações como placas, mapas, sinalização sonora, etc.” Em consoante, muitos idosos da instituição
investigada possuem determinadas limitações tais como: dificuldade em enxergar com clareza objetos ou
ambientes com algum obstáculo; limitações ao diferenciar cores, ler ou compreender placas de informações.
Sendo assim, torna-se necessário que tais espaços passem por um processo de adaptação no sentido de
garantir a estes indivíduos, o acesso ao lazer de maneira significativa. Nesta lógica, Lima (2004) revela que
setorização das atividades e a diferenciação de cenários podem colaborar com o processo de compreensão
do ambiente por parte dos idosos.
Em relação aos equipamentos de lazer encontrados nos espaços analisados, constatou-se que os
mesmos não apresentam informações acerca de sua identidade, função e modo de uso. Desta forma, tais
dados não correspondem ao pensamento de Bellini; Dos Santos (2004) os quais sinalizam a necessidade
de otimização das informações e orientações de tais equipamentos, como por exemplo: instalação de
textos em braile para facilitar a compreensão dos dados daquele objeto por parte do idoso que apresenta
uma limitação visual. Tais dados reforçam o pensamento de Silva; Ávila (2014), os quais apontam que:
A ampliação da abrangência das políticas públicas de lazer torna-se comprometida, haja vista que
as mesmas ganham características esporádicas, limitando a ampliação dos serviços e espaços relacionados
ao lazer da comunidade que compõem o município de Jequié/BA (p.38).
Contudo, deve-se levar em consideração que a maioria dos idosos residem a bastante tempo
naquele ambiente, fator que se apresenta como ferramenta auxiliar do processo de percepção espaço-
temporal destes indivíduos, tanto em relação aos espaços quanto aos equipamentos de lazer da referida
entidade. Assim, a orientação e informação nos espaços e equipamentos de lazer se apresentam como
características fundamentais para que o idoso possa interagir com o ambiente e ao mesmo tempo com
outras pessoas durante o processo de fruição deste fenômeno.

Os espaços de lazer no tocante ao deslocamento

A fundação Leur Brito, enquanto instituição de longa permanência para idosos, se apresentou
como um espaço acolhedor que dentro de suas limitações tentou proporcionar para seus usuários um
acolhimento de forma que os mesmos se sentissem em um ambiente familiar.
Entretanto, no que diz respeito ao deslocamento dos idosos nos espaços de lazer, percebeu-se
uma série de dificuldades relacionadas a este processo, tais como: rampas ou escadas sem patamares,
superfícies irregulares, caminhos com percursos sinuosos, equipamentos de lazer fora do alcance dos
idosos, bem como baixa luminosidade dos espaços investigados. Nesta lógica, Bins Ely; Cavalcanti (2001)
apontam que deve existir nos espaços destinados aos idosos, um cuidado com os tipos de piso, sendo
que estes devem ser antiderrapantes e anti-reflexos, evitando assim quedas e ofuscamentos. Além disso,
Gerente (2005) sugere que para que o idoso possa transpor níveis, torna-se necessária a presença de
rampas e escadas, permitindo ao indivíduo a livre escolha e evitando ao mesmo tempo sua segregação.
Vale destacar que na instituição existe um jardim, no entanto o solo se encontra com oscilações
e o piso não é muito indicado para pessoas idosas. Para Kerrigan (2005, p. 61 apud DORNELES, 2006) o
jardim para idosos serve como “terapia, contribuindo para melhorar as condições físicas e emocionais das
pessoas com terceira idade e, também, suas habilidades cognitivas e sua interação social.” Neste contexto,
percebeu-se também a ausência de um jardim sensorial, espaço destinado a idosos com restrições fisico-

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motoras (LARSON, 2005 apud DORNELES, 2006). Tal local poderia possibilitar aos idosos a superação
das barreiras físicas e atitudinais diagnosticadas durante a pesquisa.

Os espaços de lazer referentes ao uso e a comunicação

O uso, enquanto variável de avaliação da acessibilidade dos espaços de lazer está relacionado a
participação e utilização de equipamentos do ambiente de maneira significativa (DORNELES, 2006). Logo,
no processo de avaliação dos espaços e equipamentos de lazer da instituição investigada, constatou-se
que exite uma certa limitação em relação ao uso diário de tais elementos, levando-se em consideração
que nem todos os espaços avaliados possuem: corrimão, interruptores de luz ao alcance das mãos, barras
para os idosos se apoiarem, sistema de segurança (campainha de emergência), piso antiderrapante e
sinalizações. Além disso, a limitação dos idosos em relação a fruição do lazer está relacionada ao medo
de cair e se machucar e também, devido suas implicações fisiológicas que impossibilitam a execução de
tais tarefas. Prosseguindo nesta visão, compreende-se que o espaço ou ambiente seguro e apropriado
pode estimular a prática de lazer nos idosos, desta forma, constatou-se a necessidade de adequação dos
espaços e equipamentos de lazer para que os idosos ampliem suas respectivas possibilidades de vivências
acerca deste fenômeno.
No quesito comunicação, tal ação corresponde a facilidade de interação entre os usuários com o
meio ambiente (DORNELES, 2006). Sendo assim, o fato de existir na instituição uma separação de espaços
por gênero, limita na maioria das vezes, um diálogo mais sólido entre os usuários da entidade, haja vista
que tais indivíduos convivem na maior parte do tempo de maneira isolada. Tal ação, vai de encontro
ao pensamento de Barroso (1999, p.34) o qual afirma que “a pessoa idosa, depositária de informações
acumuladas, deveria ter oportunidades de ser transmissor de cultura, de tradição, de folclore, de dança,
de canto, transmissor de toda memória cultural”.
Além disso, observou-se que as restrições físicas diagnosticadas em alguns membros bem como
a existência de algumas patologias relacionadas ao sistema sensorial auditivo, gera um abalo no bem-estar
psicológico nestes indivíduos, trazendo frustrações oriundas da ausência de mobilidade e da dificuldade
de interação, ocasionando assim, um certo isolamento. Vale ressaltar que o acesso ao rádio e a televisão
reforçam tal ação, levando-se em consideração que os idosos passam muito tempo num ambiente
individualista, em muitos aspectos, inclusive no campo do lazer. Nesta perspectiva Reis; Soares (2006,
p. 01) aponta que:
O conteúdo social do lazer revela-se extremamente importante nessa época da vida, porque
os idosos sentem-se solitários com o decorrer do tempo, pois sofrem determinadas perdas e sentem o
preconceito da sociedade. Esse interesse refere-se aos relacionamentos e convívios sociais e a participação
dos idosos em vivências que o priorizem, incentivam os relacionamentos, reforçam os laços de amizades,
melhora a autoestima, afetividade e bem-estar.
Logo, se faz necessário compreender a importância da configuração dos espaços de lazer na
materialização de tal fenômeno. Sendo assim, verificou-se que a instituição possui diversos locais que
favorecem a interação dos seus usuários, tais como: diversos bancos espalhados pelos espaços de lazer
bem como locais arborizados e que apresentam uma certa tranquilidade. Todavia, estes espaços se revelam
insignificantes perante a ausência de atividades que reforcem a materialização do lazer social. Desta forma,
a falta de comunicação entre os idosos se apresenta como um dos principais problemas para um convívio
mais significativo no espaços de lazer, da referida instituição.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após o caminho percorrido, constatou-se a necessidade da compreensão do lazer enquanto direito


social, principalmente dos idosos, tendo assim, um relevante significado para o desenvolvimento pessoal

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e coletivo. Ao mesmo tempo, concluiu-se que é de fundamental importância adequar os espaços de lazer
das instituições de longa permanência para idosos, no intuito de atender as reais necessidades dos idosos.
Desta forma, no que diz respeito à orientação/informação dos espaços de lazer da instituição
avaliada, verificou-se que existe uma insuficiência de placas informativas dos referidos espaços, logo,
torna-se necessário que tais espaços passem por um processo de adaptação no sentido de garantir a
estes indivíduos, o acesso ao lazer de maneira significativa. Em relação ao deslocamento, evidenciou-se
uma série de dificuldades relacionadas a este processo, tais como: rampas ou escadas sem patamares,
superfícies irregulares, caminhos com percursos sinuosos, equipamentos de lazer fora do alcance dos
idosos, bem como baixa luminosidade dos espaços avaliados. Logo, sugere-se a instalação de rampas e
escadas, permitindo ao idoso a livre escolha e evitando ao mesmo tempo sua segregação. Em contrapartida,
a instalação de um jardim sensorial poderia possibilitar ao público com restrição fisico-motora, o acesso
as atividades de lazer.
Nos quesitos uso e comunicação, observou-se que a ausência de espaços de lazer seguros e
apropriados limitam a participam dos idosos no que diz respeito a fruição do lazer. Além disso, as restrições
fisicas bem como a existência de algumas patologias relacionadas ao sistema sensorial auditivo ocasionam
um distanciamento entre os idosos. Sendo assim, acredita-se que a ressifignificação dos espaços de lazer
aliada a contratação de profissionais da área de educação fisica, no intuito de ampliarem as possibilidades
de vivências do lazer, podem colaborar diretamente para consolidação deste fenômeno enquanto direito
social dos idosos da entidade avaliada. Logo, espera-se que os gestores da instituição junto com seus
respectivos parceiros, possam repensar seus planejamentos, no sentido de revitalizarem os espaços e
equipamentos de lazer da referida entidade, adequando-os aos parâmetros da acessibilidade.

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