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FILOSOFIA DA RELIGIÃO DO CANDOMBLÉ

Toda a conjuntura do Candomblé Iorubá partilha um conjunto de práticas e rituais,


que vão sendo aprendidas por meio de um empirismo próprio e tradicional, uma vez que
consiste em uma cultura oral e que há muito pouco tempo vem sendo escrita; que ainda
se encontra num processo de reconstrução histórico-sociocultural e epistemológica.
Consiste, sua religiosidade, em várias etapas de iniciação entre outras atividades,
buscando a renovação do axé, a energia vital que move o mundo e que é dádiva dos
Òríxás (divindades) e de Òlòrún (o Deus criador), muito embora há muitos que
defendem ser o candomblé uma religião tão monoteísta quanto o cristianismo católico).
Alvo de boas reflexões sobre o próprio conceito de religiosidade e sobre a natureza do
divino, também no contexto da imagem e do imaginário que pode ser vista e
interpretada como uma reconstrução em outro contexto de uma tradição que não pôde
preservar sua originalidade natural, o que gerou desde sempre, larga situação de
opressão e conflito e nos leva a refletir sobre as relações entre religião, política e aspetos
socioculturais e filosóficos.

Numa interessante revisão da literatura sobre o ponto de vista filosófico acerca das
religiões africanas, o filósofo ganense Kwasi Wiredu aponta para vários aspectos
peculiares e intelectualmente instigantes da religiosidade africana. Seu trabalho segue o
método de comparação entre a visão de mundo religiosa da África (especificamente de
Gana) e a cultura cristã. Para Wiredu, uma diferença fundamental está na distinção entre
natural e sobrenatural, tão marcada no cristianismo e ainda mais evidente na cultura
moderna ocidental, que nasceu da matriz cristã, e inexistente na religião africana
(WIREDU, 1997, p. 37-8). Os “espíritos” não são sobrenaturais para o africano, ou seja,
não são sentidos (mais do que meramente pensados) como pertencendo a outro mundo.
Além disso, enquanto existentes num mundo que não se divide entre natural e
sobrenatural, os espíritos são tidos como presentes no espaço, embora não sejam
inteiramente materiais (WIREDU, 1997, p. 38-39).

Esse tipo de entendimento pode suscitar uma rica reflexão sobre os fundamentos
do conceito ocidental moderno de realidade. Por outro lado, pode ser altamente
revelador dos pressupostos, alcances e limites da crítica moderna ao que se pode chamar
de “concepção mágica do mundo”. A partir do confronto com essa compreensão de
mundo, novas facetas podem surgir das suspeitas de Spinoza, Hume, Kant e Marx em
relação às crenças religiosas.
Outra possibilidade para o estudo filosófico do candomblé é sua comparação com o
cristianismo no tocante à moralidade. Um projeto que vem sendo desenvolvido por um
grupo de iniciação científica ligado ao Programa Afroatitude da Universidade de
Brasília busca analisar até que ponto as críticas de Nietzsche ao cristianismo como
religião moral atingiriam o candomblé. A hipótese que se está avaliando é de que o
candomblé seria um tipo de “religião vital” no sentido nietzscheano. A partir dessa tese,
várias perguntas surgem: em que sentido se pode falar de moralidade na prática
religiosa do candomblé? Que relação haveria entre a busca de renovação do axé e a
proposta nietzscheana de reforço da vontade de vida? Seria o candomblé um possível
exemplo de religiosidade nietzscheana? Interessantes possibilidades de estudo crítico do
candomblé e do próprio pensamento nietzscheano podem se abrir com essa pesquisa.

Essas são apenas algumas alternativas que se apresentam no vasto horizonte de


reflexão que se abre para o filósofo da religião que se dispõe a tomar a prática religiosa
do candomblé como tema. Procuramos apresentar exemplos de como esse trabalho pode
se dar em perfeita sintonia com a tradição que se estabeleceu no estudo filosófico dos
problemas. A escassez de literatura filosófica sobre o assunto pode, a princípio, deixar
um pouco perdido o pesquisador brasileiro. Acostumado a fazer “filosofia de autor”, o
filósofo brasileiro poderá se sentir inseguro quanto à qualidade acadêmica de um
trabalho assim. Afinal, ao invés de refletir, por exemplo, sobre “o que Kant quis
realmente dizer com o conceito de esquema transcendental”, ele se voltará não para a
literatura filosófica exclusivamente, mas também para uma prática religiosa fundada
numa tradição predominantemente oral. O pesquisador precisará ler o que os
antropólogos e sociólogos informam sobre o candomblé e terá inclusive de conhecêlo
diretamente para se familiarizar mais com seu objeto de reflexão.

Um grande desafio que se coloca para essa empreitada intelectual é saber em que
medida ela se insere no que chamamos de Filosofia. Se nossa sugestão acima for aceita,
porém, a filosofia da religião do candomblé será possível enquanto for um trabalho de
reconstrução conceitual dos pressupostos teóricos de suas crenças e práticas, enquanto
esse puder ser um empreendimento crítico e normativo e enquanto estiver em diálogo
com o debate filosófico mais geral.

A possibilidade de trazer para esse debate novos conceitos, de se poder participar dele
com idéias originais e não mais se limitar a exegeses, muitas vezes aborrecidas e
infrutíferas, do que os principais filósofos se atreveram a pensar por si mesmos, pode
ser um benefício que compense o desafio. Desse modo, a filosofia de uma religião como
o candomblé, tão pouco cultivada pelo pesquisador filosófico, pode abrir novas
perspectivas à filosofia brasileira. Pode dar novo sentido ao estudo dos textos filosóficos
tradicionais, que seria não mais um fim em si, mas um meio de encontrar soluções para
problemas teóricos, através do diálogo com grandes pensadores. Pode, assim, quem
sabe, permitir que os filósofos brasileiros contribuam de forma original com o debate
desenvolvido nessa área do conhecimento.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Uma outra possibilidade de articulação entre filosofia da religião e candomblé seria


não fazer uma filosofia da religião do candomblé, mas relacionar filosofia e religião,
filosofia e candomblé. Não acreditamos que a filosofia possa ser uma espécie de meta-
crítica, que possua conceitos e instrumental analítico para pensar como objetos
determinados outros campos de conhecimento e domínios da vida, como a religião e a
arte. A filosofia é um complexo esforço por pensar a realidade a partir de conceitos que
não são produzidos por procedimentos empíricos, embora, possa a partir deles conceber
conceitos. Os conceitos em filosofia não são relações entre variáveis, não possuem
referência empírica e não são funções. Os conceitos em filosofia são idéias, espécies de
totalidades integradoras que articulam entre si componentes que podem ser conceitos.
Esta totalidade integradora tem por função organizar conceitos empíricos em unidades
de sentido. Uma idéia tem como objeto conceitos empíricos, mas não para serem
pensados e sim para produzirem determinado saber.

A filosofia possui conceitos próprios, que são idéias que têm como objetos conceitos de
outras áreas para que estes possam ser integrados em unidades de sentido. Nesta visão
da filosofia não há crítica das outras áreas, mas a tentativa de integrar conteúdos,
conceitos e formulações. A filosofia, seria, assim, uma espécie de tentativa de pensar, a
partir de idéias, conteúdos interdisciplinares.

Seus conceitos seriam, assim, a tentativa de, a partir dos conteúdos interdisciplinares,
unidades de sentido transdisciplinares. O que filosofia faria seria a construção de
conceitos transdisciplinares a partir da relação interdisciplinar entre os vários campos de
conhecimento. Neste sentido, a filosofia poderia se aproximar da religião e, num
primeiro momento, produzir uma inter-relação entre seus conceitos, o que seria uma
espécie de diálogo interdisciplinar. Isto funcionaria do seguinte modo, um conceito x
formulado pela tradição filosófica dialogaria com qual ou tal formulação da religião?
Num segundo momento a filosofia tentaria fornecer um conceito, agora, já mediado
pelo diálogo, transdisciplinar que ultrapassaria o momento anterior. Tal conceito
permitiria à religião se auto-interpretar e à filosofia ou abandonar antigos conceitos, ou
a reformula-los ou produzir outros. A filosofia seria uma espécie de saber
transdisciplinar e forneceria instrumentos de inter-relação e intercomunicação entre os
vários saberes.

A filosofia, hoje, só teria sentido se se dispor a possuir um estatuto transdisciplinar,


a formular conceitos que permitam a conexão entre sistemas de conhecimento
diferentes. A filosofia constituiria, assim, uma espécie de espaço transdisciplinar onde
os conceitos poderiam se comunicar, intercambiar, interpenetrar e dialogar. A filosofia
deveria ser uma espécie de domínio de inter-relação entre campos de saber diferentes. A
filosofia deveria operar com categorias de relação e não com categorias modais ou de
quantidade. Não deveria nem operar no campo do possível, do falso ou de verdadeiro,
mas no

campo da inter-relação e desse modo construir conceitos de relação para o diálogo entre
os saberes. Por exemplo, talvez possamos pensar as religiões a partir da constituição de
conceitos de simultaneidade e comunicação, já que toda religião é re-ligare, é uma
ligação entre dois mundos. Não há religião sem pelo menos a existência de dois
mundos, seja lá o que for que significa espiritual e material. Num livro sobre Escher
encontramos a seguinte afirmação: “Vermos dois mundos diferentes num único lugar e
ao mesmo tempo, suscita uma sensação de feitiço”. Ora, não será isso a experiência
radical do candomblé?

Dois mundos em um mesmo lugar, tempo e pessoa? Não será isso o feitiço? A
experiência radical do sagrado no candomblé é a simultaneidade dos mundos.

Parece que tal simultaneidade é impossível e que apenas um artista tão genial como
Escher pela ilusão estética nos permite tal experiência. Mas, o que é interessante é que
Escher nos faz acreditar que essa experiência é possível. A filosofia deveria constituir
conceitos que pudessem pensar mundos diferentes em relação, por exemplo, o conceito
de simultrópica (ERNST, 2007, p.77). E, então, eu diria que o candomblé é uma
experiência radical sobre a comunicação dos mundos.
Padre Iniciado no Candomblé

Segundo relatos do Padre Paulo Olúsinadé Botas, em seu livro “A ciranda dos
Encantados”, 1997, Os exageros da Igreja e sua posição atualizada que resgata a
legitimidade do Candomblé através da Carta de Paulo VI - Africae Terrarum no sentido
que as pessoas rompam seus preconceitos em relação às religiões africanas e entendam
serem religiões complementares e compatíveis, para o benefício do próprio ser humano.
Para tanto, coloca de forma clara e inequívoca, situações que contribuíram para o
distanciamento destas religiões co-irmãs, bem como o resgate da legitimidade do
Candomblé como religião, dos exageros da Igreja para atingir seus objetivos de religião
superior e oficial nos países que entrou com seu processo evangelizador, citando e
dando a devida atenção, ao documento oficial do Papa Paulo VI, de 1967, o qual
valoriza a religião africana em seu documento oficial - Africae terrarum - Terras das
África, no qual reconhece a religião africana como positiva e não mais como religião
não-cristã, até mesmo porque Cristo veio ao nosso mundo, alguns milhares de anos após
a existência desta religião.

Todos os orixás, os cristos, os budas, os krishnas, os maomés, os tupãs e tantos outros


que moldamos em linguagens humanas não esgotam a força espiritual de cada um e de
todos, ainda que, na nossa miopia, possamos acreditar que encontramos, no nosso
momento histórico, o verdadeiro deus.

O professor Cavali-Sforza, da Universidade de Stanford, declarava para a revista Veja,


em 18 de janeiro de 1995, que o processo de humanização, ocorreu na África e hoje
todos os seres humanos do planeta descendem dos africanos.

A Folha de São Paulo, de 28 de abril de 1995, noticiou as conclusões de cientistas


americanos, nas revista Science, que "o uso de ferramentas e o surgimento de relações
sociais entre seres humanos começaram na África e não na Europa, como se pensava até
agora". Somos todos africanos de origem.

Homens e mulheres de todos os cantos da terra, a partir do seu berço africano foram
reinventando seus mitos, suas lendas, seus deuses, suas comidas, suas festas, suas
danças e suas músicas na busca incessante de transcender cada vez mais e se perpetuar
na história humana pela ancestralidade.
A expressão religiosa africana foi vista como num espelho pelos colonizadores, o que
não era o reflexo nu e cru, da sua cultura eurocêntrica e da sua religiosidade católica
romana, deveria ser banido, aniquilado e/ou demonizado. Tudo o que não era o seu
espelho, o seu igual, era demonstração de "possessão demoníaca" e suas consultas aos
oráculos, sacrifícios propiciatórios e outros rituais, eram estigmatizados como bruxaria
ou "magia negra". As almas católicas viviam rogando pragas, maldições e conspirando
em sintonia com o bom-tom hipócrita das cortes da Europa.

Mas... os negros souberam se apropriar das formas de organização religiosa dos


colonizadores e criaram, como forma de confronto, suas irmandades religiosas próprias,
notadamente as de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e da Boa Morte. Por meio
delas e da contribuição dos seus filiados, buscavam formar pecúlios suficientes para a
alforria dos seus membros e garantir um enterro digno e "cristão" aos seus membros,
onde eram mescladas as ladainhas católicas e os ritos funerários da nação africana do
morto. Tudo sob as barbas da ignorância dos seus senhores e da fragilidade espiritual da
maioria do clero branco, tão atento em coibir bruxarias, demônios, orgias, possessões,
etc.

Em 1967, o papa Paulo VI lançava um documento oficial valorizando a religião africana


e a colocando lado a lado das outras religiões universalmente conhecidas. Irônica ou
intencionalmente, esse documento não foi suficientemente divulgado e amadurecido
pelas comunidades cristãs; o que teria, sem dúvida, aniquilado muitos dos preconceitos
e dos dogmatismos das igrejas locais. o mais importante é o fato de o Papa reconhecer a
religião africana como positiva e não mais como uma religião não-cristã. Essa mudança
de ótica legitima e estimula o reconhecimento da diferença como condição fundamental
para um diálogo inter-religioso.

"A vida espiritual é o fundamento constante e geral da tradição africana. Não se trata
simplesmente da assim chamada concepção "animista", no sentido emprestado a esse
termo na história da religiões, no fim do século passado. Trata-se, antes, de uma
concepção mais profunda, mais ampla e universal, segundo a qual todos os seres e a
mesma natureza visível se acham ligados ao mundo do invisível e do espírito. O
homem, em particular, nunca é concebido, como apenas matéria, limitado à vida
terrena, mas reconhece-se nele a presença e a eficácia de outro elemento espiritual que
faz a vida humana ser sempre posta em relação com a vida do além. Desta concepção
espiritual, elemento comum importantíssimo é a idéia de Deus, como causa primeira e
última de todas as coisas. Esse conceito, percebido mais do que analisado, vivido mais
do que pensado, exprime-se de modo bastante diverso de cultura para cultura. Na
realidade, a presença de Deus penetra a vida africana, como a presença de um ser
superior, pessoal e misterioso. A ele se recorre nos momentos mais solenes e críticos da
vida, quando da intercessão de qualquer outro intermediário se julga inútil. Quase
sempre posto de lado o temor da onipotência, Deus é invocado como Pai. As orações a
ele dirigidas, individuais ou coletivas, são espontâneas e por vezes comoventes. E entre
as formas de sacrifício sobressai pela pureza do significado o sacrifício das primícias(...)
A participação na vida da comunidade, quer esta seja no âmbito da parentela quer no da
vida pública, é considerada como um dever preciso e como um direito de todos, mas ao
exercício desse direito se chega somente depois de uma preparação amadurecida, por
meio de uma série de iniciações com o objetivo de formar o caráter dos jovens
candidatos e instruí-los sobre as tradições e normas consuetudinárias da sociedade".
Paulo VI. - Africae Terrarum

Muita violência teria sido evitada se os católicos tivessem dado ouvidos e compreendido
toda a riqueza dessas palavras do seu líder e pastor máximo. Poder-se-ia ter avançado, e
muito, na troca permanente dos valores religiosos. Beber na fonte da tradição religiosa
que originou Jesus de Nazaré e o cristianismo. Nada está em contradição. São outros
momentos e outras culturas, outra vivências e expressões, outras faces de um mesmo
Deus.

"Eis porque o africano quando se torna cristão não se renega a si mesmo mas retoma os
antigos valores da tradição "em espírito e em verdade." (Africae terrarum)

Jamais poderemos esquecer que, nos últimos vinte séculos, a África foi explorada pela
Europa "cristã"...o império romano explorou o Egito tirando dele trigo, escravos e
animais de carga. Os maometanos foram cooptados e organizaram o tráfico negreiro em
demanda da Europa durante toda a idade Média, com a complacência da Igreja Católica
Apostólica Romana. No século XIX, as potências europeias "cristãs" ocuparam
definitivamente a África transformando suas nações em protetorados.

As igrejas pragmáticas, e com ambição expansionista, procuram ocultar pelo tamanho


dos seus templos a sua pequenez espiritual. Para elas, as festas religiosas africanas, nos
seus barracões despojados, onde a comunidade recebe a todos, (não importando a cor,
classe social, religião ou raça); onde a comida é repartida fartamente e onde cada filho e
filha, generosamente, contribui com o que tem para a festa comum - tais festas só
podem ser "uma barbárie". Imersas na sua ânsia-quase-vômito de poder e preocupadas
com a eficácia e eficiência dos seus investimentos materiais, as igrejas há muito
perderam a alegria da partilha e a comunhão da mesa.

Depois de uma longa história de repressão religiosa aos cultos populares de origem
africana e indígena, as igrejas mantêm ainda um sentimento de superioridade, separando
a fé católica das elites brancas das práticas consideradas ignorantes do povo. Some-se a
isso toda a cultura de segregação desenvolvida após a abolição que, pensando o Brasil
em moldes europeus, isolava os negros, dando-lhes o estigma de malandros, criminosos,
bêbados, desocupados e embusteiros;a herança africana em nossa cultura, vista como
"primitiva e atrasada".

Na África, o culto tinha um caráter familiar e era exclusivo de uma linhagem, clã ou
grupo de sacerdotes. As divindades iorubas eram cultuadas em suas cidades: Xangô, em
Oió; Oxossi, em Keto; Oxum, em Ipondá, e assim por diante. Com a vinda ao Brasil e a
separação ardilosa das famílias, das nações, das etnias, essa estrutura religiosa não pode
se repetir e se fragmentou. Mas os negros criaram uma unidade nesta diversidade e
pluralidade e puderam partilhar e comungar os cultos e os conhecimentos diferentes em
relação aos segredos rituais de sua religião e cultura. E desta nova maneira de ser e
viver, aberta a todos, surgiu a forma acabada do que se chama hoje candomblé.

Foi a negação da originalidade do outro que fez com que tantas culturas e civilizações
fossem destruídas. Algumas pessoas acabam querendo reduzir os outros a seu tamanho,
à cor da própria pele, à sua maneira de pensar, de acreditar em Deus, tomado-se como
única referência na vida e no mundo.

Olorum ama tudo o que criou e nos concede que o encontro entre os Orixás e a
humanidade seja realizado em momentos de festa e alegria, na partilha da comida e da
bebida, para que todos saibam da sua generosidade e misericórdia...

A hermenêutica da IURD
A Comissão Permanente de Doutrina sobre interpretação das Escrituras Sagradas,
profere o seguinte parecer de acordo com a posição da Igreja Presbiteriana sobre a igreja
Universal do Reino de Deus:

...” é preocupante a forma como alguns vêm interpretando o texto sagrado, partindo de
pressupostos da sua própria experiência impondo ao texto sentidos que claramente não
fazem parte da intenção original do autor inspirado. Constitui-se prática perigosa
atribuir ao Espírito Santo ensino que é produto de interpretação particular de um texto
da Escritura, baseado em experiência pessoal, interpretação esta que nada tem a ver com
o sentido do texto bíblico. A Igreja entende que na raiz de todas as atuais práticas
prejudiciais em seu meio está um sistema de interpretação equivocado.

Interpretações individuais e isoladas que fogem do sentido óbvio e original do texto e


que apelam para a autoridade da experiência individual para validar o entendimento das
Escrituras devem, na verdade, ser rejeitadas. As Escrituras devem ser interpretadas por
si mesmas, ou seja, uma passagem bíblica deve ser interpretada à luz de todas as partes,
sem se desprezar a iluminação que o Espírito Santo vem concedendo à Igreja através
dos séculos, que faz parte da tradição interpretativa acumulada até o presente. As
Escrituras foram endereçadas à Igreja, e o Espírito que as inspirou foi dado ao Corpo de
Cristo para que o iluminasse no entendimento delas. Assim, a Bíblia não é propriedade
de um membro individual, mas da Igreja; portanto, a sua interpretação deve ser feita em
consonância com a sabedoria da Igreja acumulada através dos séculos. Nenhum
membro tem o direito de ter a sua própria interpretação particular das Escrituras — não
foi este o direito que Lutero e os demais Reformadores recuperaram na Reforma.

Os que atribuem a sua compreensão individual das Escrituras ao Espírito, deveriam


igualmente reconhecer e receber a compreensão que o mesmo Espírito concede aos
demais membros da Igreja no decorrer da história. Esta é uma verdade incontestável: se
as profecias das Escrituras não foram fruto da interpretação individual dos profetas,
muito menos hoje pode-se aceitar interpretações particulares daquilo que já nos foi
revelado nas mesmas Escrituras.

O método de interpretação das Escrituras utilizado por bispos e pastores da IURD


consiste em geral numa atualização ou transposição das experiências religiosas de
personagens bíblicas para os dias atuais. Isto ocorre em virtude do que entendem ser a
Bíblia. Macedo não parece ver a Bíblia como a revelação proposicional de Deus, mas
como um livro de experiências religiosas, que começa com Israel no Velho Testamento,
e termina com a humanidade em Apocalipse, experiências estas que podem ser repetidas
nos mesmos moldes, nos dias atuais.

Assim, a repetição ou re-encenação de episódios e eventos bíblicos é utilizada como


ferramenta hermenêutica, que lhes permite usar as Escrituras como base da sua prática.
Nesta tentativa de repetir os episódios bíblicos, existe uma grande dose de alegorização
dos textos bíblicos, e total desrespeito pelo contexto histórico dos mesmos, bem como a
falta de distinção entre o que é descritivo na Bíblia, e o que é normativo para as
experiências dos cristãos.

Por exemplo, assim como Noé fez uma aliança com Deus, podemos nós também faze-
la. Assim como Josué cercou as muralhas de Jericó e ao som das trombetas elas caíram,
assim podemos "cercar" as muralhas das dificuldades e problemas e derrubá-las em
nome de Jesus (usando uma trombeta de plástico e uma muralha de isopor). A vara que
Moisés usou, o cajado de Jacó, os aventais de Paulo — todas estas coisas, e muitas
outras tiradas das histórias bíblicas, se tornam tipos da utilização de apetrechos
semelhantes, aos quais é atribuído (apesar de negações em contrário) algum valor
espiritual na resolução dos problemas”.

Fonte: site Agnus Dei

Autor: Prof. Carlos Nabeto

http://www.exsurge.com.br/apologeticas/iurd/textos
%20iurd/posicaodaigrejapresbiterianasobreaiurd.htm

Com base neste parecer da Comissão Permanente de Doutrina sobre interpretação das
Escrituras Sagradas, percebe-se claramente que a IURD propicia demasiada ênfase nos
símbolos, metáforas e alegorias de uma religiosidade que encontra-se cada vez mais a se
distanciar do fundamentalismo e de sua leitura literal da Bíblia, uma vez que para a
Igreja Universal, a Bíblia é interpretada mais um recetáculo de símbolos, imagens,
alegorias e citações dramáticas dando seu uso ao de um amuleto para exorcizar
demônios e curar enfermos do que a "palavra de Deus", encarada por outros grupos
protestantes como "regra única de fé e prática" e para os fundamentalistas "regra
infalível".
Segundo artigos e discursos pré-analisados nomeadamente à cosmovisão da IURD,
vivemos em um mundo povoado de demônios e anjos maus aos quais são atribuídos à
atividade demoníaca a destruição dos lares e do casamento, a prostituição, o
homossexualismo, as enfermidades como epilepsia, AIDS, e feridas incicatrizáveis. De
acordo com o intitulado “Bispo” da IURD, Edir Macedo, fundador da mesma, "toda
sorte de miséria e desgraça, até o desemprego, é sintoma da ação do diabo" e para tal, há
sempre formas de manifestações e intervenções que quase sempre são atribuídas às
entidades e/ou divindades do candomblé Iorubá.

O ensino bíblico é claro, que Satanás ronda os crentes como leão faminto, e que seus
demônios procuram, sempre que possível, nos assaltar, tentar, afligir, e nos levar ao
pecado. Biblicamente, porém, espíritos malignos não são a única explicação para os
males que ocorrem no mundo. Aviões podem cair, furacões podem destruir, pessoas
podem ficar doentes, tomar decisões erradas em suas vidas, estragar seus casamentos,
sem que necessariamente haja demônios diretamente responsáveis por estas coisas.
Vivemos num mundo decaído, que geme e suporta dores, debaixo do cativeiro da
corrupção, por causa do pecado do ser humano (Rm 8.18-25). Além disto, Deus também
intervém na existência humana em julgamento, trazendo, por vezes, desastres,
sofrimento e dor, com o objetivo de trazer as pessoas ao arrependimento (Jr 5.3; Ap
9.20-21; 16.8-11). É uma distorção do ensino bíblico atribuir exclusivamente aos
demônios os males que acometem a humanidade.
É suposto a pureza, ou não, de igrejas com a qual o Evangelho é pregado, (doutrinas
centrais do Cristianismo), e os sacramentos celebrados (teologia prática das igrejas),
tentar perceber os ensinos da IURD que ferem, ao entender comum , a pura pregação da
Palavra e a pura celebração dos Sacramentos, na qual confere indiscutível alienação de
discriminação religiosa e sociocultural que, por sua vez, isenta-se de suposta “culpa”
que é atribuída à interpretação, a seu bel prazer de acordo com seus interesses indutivos
e persuasivos que visam atingir três fatores que constituem a fragilidade humana,
impingindo o medo, a culpa e a ganância através de seus discursos religiosos.

Segundo Bourdieu, 2007, p. 32-33: O discurso religioso é sustentado por pessoas


especializadas que “aceitam”, “acreditam” e “desenvolvem” um discurso específico
capaz de traduzir a doutrina defendida pela vertente religiosa e social na qual estão
investidos do poder discursivo e persuasivo que concerne em formar e reformular
conceitos e ideias que remetem à possibilidade de sentidos. Nesse contexto, os
elementos históricos, o contexto propriamente dito, os interlocutores são componentes
que constituem a língua e que a propiciam outra realidade, um sentido único, contextual
e histórico. A língua somente existe dentro do fenômeno da enunciação, de um contexto
que nunca se repete, está sempre atualizado, como afirmam Bakhtin / Voloshiov(1979,
p. 06):

Com bases epistemológicas que fundamentam a vertente do conhecimento, o Marxismo,


a Psicanálise e a Linguística, constituem o conceito de interação verbal que são
trabalhados no decorrer dos discursos da IURD, como construção de sentido na
interação e nas vozes que permeiam o discurso religioso articulado pela Igreja em
questão, representada pelos fiéis que compõem a comunidade social através de suas
histórias de vida. Neste contesto, é relevante perceber e definirmos este conceito do
discurso religioso. Como postula Bakhtin/Voloshinov (1979, p.109):

Com base na teoria de Orlandi ( 1987, p. 07), o discurso Religioso não é objeto de
análise somente para teólogos ou “religiosos”, pode, ao ser pensado em outros
domínios, receber contribuições importantes para a renovação do estudo da religião.
Com base nos pressupostos epistemológicos da analise do discurso religioso da IURD
face ao Candomblé Iorubá, propomos uma pesquisa sobre a enunciação no discurso
religioso da doutrina IURD enquanto objeto de conhecimento que é o Discurso
Religioso.

Não é difícil perceber que a raiz das crenças e práticas da IURD, trata-se de uma
miscigenação de religiões pré e pós cristã, na qual foi adoptada uma hermenêutica
própria que são contrárias ao Evangelho em função de sua cosmovisão, pela qual
percebe e entende o mundo ao seu redor.

Segundo e com base nos discursos religiosos, a IURD afirma categoricamente que
vivemos em um mundo povoado de demônios e anjos maus e atribui à atividade
demoníaca a destruição dos lares e do casamento, a prostituição, o homossexualismo, as
enfermidades como epilepsia, AIDS, e feridas incicatrizáveis, e que "toda sorte de
miséria e desgraça, até o desemprego, é sintoma da ação do diabo.

Ora, com base na diáspora da religiosidade judaico-cristã, Satanás ronda os crentes


como leão faminto, e que seus demônios procuram, sempre que possível, nos assaltar,
tentar, afligir, e nos levar ao pecado. Biblicamente, porém, espíritos malignos não são a
única explicação para os males que ocorrem no mundo sem que necessariamente haja
demônios diretamente responsáveis por infortúnios e acontecimentos negativos.
Vivemos num mundo decaído, que geme e suporta dores, debaixo do cativeiro da
corrupção, por causa do pecado do ser humano (Rm 8.18-25). Além disto, Deus também
intervém na existência humana em julgamento, trazendo, por vezes, desastres,
sofrimento e dor, com o objetivo de trazer as pessoas ao arrependimento (Jr 5.3; Ap
9.20-21; 16.8-11). Considera-se uma distorção do ensino bíblico atribuir
exclusivamente aos demônios os males que acometem a humanidade, entretanto, o
modo pelo qual a IURD encara os “males do mundo” sobraçai inevitavelmente nos
ministérios de "libertação", onde o demónio Judaico Cristão torna – se o foco do
egocentrismo religioso que a cosmovisão da IURD assemelha-se mais à do antigo
mundo pagão, do que à da cosmovisão bíblica.

Com base na filosofia da religião, o paganismo grego, influenciado por Homero e pelas
religiões de mistério oriundas da Mesopotâmia, Frígia, Egito e Síria, deuses e demônios
infestavam o mundo, e o cotidiano; a vida e o destino das pessoas dependiam de seus
relacionamentos com essas entidades.

Esse ressurgimento do dualismo dentro de círculos evangélicos faz parte do maciço


retorno ao paganismo que caracteriza a sociedade ocidental moderna, uma heresia
antiga, rejeitada pela Igreja no início da sua história, que ensinava que o mundo é regido
pelo embate de duas forças cósmicas iguais, porém opostas entre si, o bem e o mal, um
dualismo entre as forças das trevas e as forças da luz.

Com base nessa doutrina, a prática fundamental da IURD decorre numa estratégia
principal da Igreja para ajudar as pessoas é sempre confrontar e expelir essas entidades
malignas, característica distintiva da IURD, e de outras igrejas que adotam a "batalha
espiritual".

Sem prejuízo do disposto e referente ao discurso supra referenciado, as igrejas


neopentecostais constroem simbologias que não só representam sua concepção religiosa
e divina, como também dão sustentação ao discurso religioso apresentado e utilizado
como forma de atrair e convencer as pessoas a seguirem sua doutrina.

Algumas simbologias configuram o discurso neopentecostal e estão quase sempre


presentes na linguagem utilizada pela Igreja Universal do Reino de Deus.
O discurso do fiel no testemunho é um discurso que provém da fé, sustenta-se nela um
imaginário divino não, superior ao profano, e aponta para o despertar daqueles que
ainda estão por alcançar a verdadeira e concreta salvação eterna e prosperidade.

Na realidade, não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou


mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis, etc.
A palavra está sempre carregada de conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial.
É assim que compreendemos as palavras e somente reagimos àquelas que despertam em
nós ressonâncias ideológicas ou concernentes à vida. bakhtin (1999

Somos um Povo Profano?

Não é, e nem pode ser coincidência, que a mitologia Egípcia, Grega e Romana, cujos povos
surgiram bem mais tarde que o povo Africano (e alguns até oriundo de lá), seus deuses,
tenham muita verossimilhança com os elementais (deuses) africanos, a interligação é muito
grande e muito forte, o deus da caça, da colheita, da chuva, do vinho, da fecundidade, do
amor, da saúde...acaso seriam eles, povos atrasados, ignorantes, imaginativos? Povos que hoje
são considerados a base da humanidade moderna. Muita semelhança também está presente,
na criação do mundo, segundo textos bíblicos, com a dos africanos, do povo yorubano, o
homem sendo feito do barro (na história yorubana é moldado por Ajálá, o orixá funfun
moldador de Orí -cabeça -), moldado e recebido vida pelo sopro do Criador; a separação do
paraíso com a terra pela ira de Deus, com a história da separação do Aiyé e o Orún.

O mercado, na região yorubá, tem a mesma função do Agora dos gregos ou o Forum dos
romanos: um lugar de reunião, onde todo os acontecimentos da vida pública e privada são
mostrados e comentados. Não há nascimento, casamento, enterro, festa organizada por
grupos restritos ou numerosos,, iniciação ou cerimônia para os orixás, que não passem pelo
mercado. No Brasil essa noção da "passagem ao mercado" continua presente e pode ser
constatada quando os noviços no "dia do nome", são convidados a anunciá-lo claramente
"para que todos ouçam seja na cidade e no mercado".

Alguns missionários primeiros, que lá chegaram, constataram estas coincidências, mas não as
revelaram, ao contrário, foram usadas, as lendas, de forma negativa, difundindo a imagem de
povo politeísta, profano, tentando impingir-lhes o novo Deus, como único e verdadeiro.
Consequencias, que acompanharam esses povos, quando da sua transferência ao Mundo novo
por ocasião da escravidão, e desta feita, sofrendo com intensidade, toda carga repressiva pelo
culto da sua religião, não sendo dado, vistas, e ouvidos, a toda sua história, origem, cultura e
procedimentos.

Que de uma forma muito tímida, e, infinitamente pequena, perante sua grandeza e liberdade
tolhida, hoje tentamos resgatar e lhes dar o seu devido valor. O que nada mais é que nosso
dever e obrigação, e ainda assim, seus seguidores, nos dias de hoje, são discriminados, e,
algumas pessoas, entre elas, "novos" pastores, despreparados ou de má fé, por algum
interesse ou comando, se aproveitando de uma situação atual, que parte de uma mídia lhes
permite; agem como aqueles primeiros missionários, usando de forma negativa, os hábitos e
usos, do qual alguns são ainda primitivos (até mesmo pela sua inocência, manutenção dos
costumes e tradições, e muito mais por um ato de fé), para se beneficiarem, a atraírem mais
fiéis, ou, contribuintes? Contudo a história ainda não está terminada, e, o passado revela que
as perseguições, com o tempo, nada valeram, ao contrário, revelaram o engano cometido e o
castigo devido

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