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PSICOPEDAGOGIA E NEUROCIÊNCIAS

PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL

FUNDAMENTOS EM NEUROCIÊNCIAS E DISCIPLINAS AFINS

Profª Dra. Lisienne de Morais Navarro Gonçalves Silva


Prof. Me. Edna Barberato Genghini

1
SILVA, Lisienne de Morais Navarro Gonçalves
GENGHINI, Edna Barberato

Fundamentos das Neurociências e Disciplinas Afins (livro-


texto) / Lisienne de Morais Navarro Gonçalves Silva; Edna
Barberato Genghini. – São Paulo: Pós-Graduação Lato Sensu
UNIP, 2019.

236 p. il.

1. Neurociências. 2. Neuropsicologia. 3. Neuroanatomia. 4.


Transtornos de Aprendizagem. 5. Sistema Nervoso. Pós-
Graduação Lato Sensu UNIP. III. Fundamentos das
Neurociências e Disciplinas Afins.

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FUNDAMENTOS EM NEUROCIÊNCIAS E DISCIPLINAS AFINS

Professor Conteudista
Lisienne de Morais Navarro Gonçalves Silva, Professora Universitária desde 1999,
atuando como professora da educação presencial e da distância. Com experiência em todos
os níveis da educação – Educação Infantil, Fundamental, Médio (na modalidade Magistério)
e Superior. Gestora de escola de Educação Infantil por 15 anos, atualmente coordena o Curso
de pedagogia, por 18 anos, da Universidade Paulista- UNIP, Campus Alphaville. Mestre e
doutora em Psicologia da Educação com especialização em Psicopedagogia, a qual atua até
hoje. Coautora do livro A Escola e o Aluno: Relações entre o sujeito-aluno e o sujeito-
professor. Desenvolve projetos para atender as comunidades da microrregião de Osasco que
congrega os municípios de Barueri, Cajamar, Carapicuíba’, Itapevi, Jandira, Osasco, Pirapora
do Bom Jesus e Santana de Parnaíba. Coordena os Projetos: Oficinas Pedagógicas de Arte
e Expressão - que trabalha com crianças com dificuldade de aprendizagem da região e Menos
Um- de alfabetização de jovens e adultos da região. Participa do Grupo de Pesquisa
Multiletramento na formação contínua de educadores, Diversidade e inclusão nas práticas
sociais e Líder do Grupo de Linguagens Pedagógicas de Educação a Distância: Diversidade
em Ação, da Universidade Paulista-UNIP registrados no CNPQ. Realiza pesquisa na área,
apresentando trabalhos em congressos nacionais e internacionais. Orienta pesquisas de
graduação, de iniciação científica e Pós-Graduação da Universidade Paulista- UNIP.

Professora Colaboradora/coordenadora:
EDNA BARBERATO GENGHINI, Professora Universitária desde 2002. Atualmente no
exercício da função de Coordenadora para todo o Brasil de cinco cursos ao nível de Pós-
Graduação Lato Sensu: em PSICOPEDAGOGIA E NEUROCIÊNCIAS, PSICOPEDAGOGIA
INSTITUCIONAL, DOCÊNCIA PARA O ENSINO SUPERIOR, FORMAÇÃO E GESTÃO EM
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA e em FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, pela UNIP -
UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP/EaD, onde também atua como Professora Adjunta, nas
modalidades SEI e SEPI. É Diretora e Psicopedagoga da MENTOR ORIENTAÇÃO
PSICOPEDAGÓGICA LTDA. ME desde 1991. Possui graduação em Economia Doméstica -
Faculdades Integradas Teresa D'Ávila de Santo André (1980), graduação em Pedagogia pela
Universidade Guarulhos (1985), Pós-graduação em Psicopedagogia pela Universidade São
Judas (1987), Mestrado em Ciências Humanas pela Universidade Guarulhos (2002) e pós-
graduação Lato Sensu em Formação em Educação a Distância pela UNIP - Universidade
Paulista (2011). É autora e coautora de livros Textos para os cursos de Pós-Graduação Lato
Sensu em Psicopedagogia Institucional, Docência para o Ensino Superior e Formação em
Educação a Distância da UNIP - EaD. Áreas de Interesse: Neurociências - Educação Inclusiva
- Psicopedagogia Clínica e Institucional - Formação e Gestão em Educação a Distância -
Formação de Docentes para o Ensino Superior.

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 06
INTRODUÇÃO 08

UNIDADE I
INTRODUÇÃO DAS BASES NEUROLÓGICAS FUNCIONAIS E PSICOLÓGICAS E
ESTUDOS NEUROLÓGICOS APLICADOS À PSICOPEDAGOGIA 09
1.1. Histórico dos estudos em neurociências 09
1.1.1. A evolução do Sistema Nervoso 26
1.1.2. Características gerais do sistema nervoso 32
1.2 Neurobiologia Celular: células do Sistema Nervoso 37
1.2.1 Neurônios 38
1.2.2 Tipos de Neurônios 44
1.2.3 Células da Glia 47
1.2.4 Astrócitos 49
1.2.5 Oligodendrócitos e Células de Schwann 50
1.2.6 Nódulos de Ranvier 52
1.2.7 Células Não Neuronais 54
1.3 Potencial da membrana 54
1.3.1 Sinapse e Transmissão sináptica 57
1.3.2 Impulso nervoso e sinapse nervosa 60
1.4 Introdução aos conceitos de divisão do sistema nervoso 64

UNIDADE II
FUNCIONAMENTO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E SUAS CORRELAÇÕES
COGNITIVAS: ASPECTOS NEUROPSICOLÓGICOS DOS PROCESSOS DA
APRENDIZAGEM E DA NÃO APRENDIZAGEM 68
2.1. Fundamentos de Neuroanotomia e Neurofisiologia 72
2.1.1 Neurotransmissores 75
2.1.1.1. Como os neurotransmissores funcionam 76
2.2. Divisão anatômica e funcional do Sistema Nervoso: áreas corticais,
Plasticidade neural 77
2.2.1. Cérebro 84
2.2.1.1 Córtex Cerebral 87
2.2.1.2 Hemisférios Cerebrais 89
2.2.1.3 Diencéfalo 89
2.2.1.4 Tálamo 90
2.2.1.5 Hipotálamo 91
2.2.2. Cerebelo 93
2.2.3. Tronco Encefálico 95
2.2.4. Mesencéfalo 97
2.2.5. Ponte 97
2.2.6. Bulbo 98
2.2.7. Medula Espinhal 99
2.3. Sistema Nervoso Periférico 100
2.3.1 Neurônios Simpáticos Pré e Pós-ganglionares 103
2.3.2 Neurônios Parassimpáticos Pré e Pós-ganglionares 110
2.4. Neuropsicologia das funções cognitivas 111
2.4.1. Funções executivas 113
2.4.2. Atenção, memória e linguagem 114
2.4.3. Visuoconstrução, praxias e cognição social 115
2.5. Introdução Geral à Neuropsicologia 116
2.5.1. Principais casos clínicos da Neuropsicologia 117
2.5.1.1 O Caso Phineas Gage 117
2.5.1.2 O Caso Henry Molaison 118
2.5.1.3 O Caso Donald 119
2.6. O encéfalo e suas estruturas fundamentais relacionadas à motricidade,

4
aos sistemas sensoriais, à linguagem, à memória e aprendizado, ao espaço,
às emoções e à inteligência, em um sistema de processamento distribuído 121
2.7. Aspectos do desenvolvimento Psicomotor 125
2.7.1. Sensação e Percepção (tátil, olfativa, gustativa, visual, cinestésica e de equilíbrio) 127
2.7.2. Processos mentais relacionados à aprendizagem 127
2.8. Distúrbios e doenças relacionadas ao Sistema Nervoso 132
2.8.1. Causas das encefalopatias crônicas não evolutivas 132
2.8.2. TID – Transtornos Invasivos do Desenvolvimento 133

Unidade III
ASPECTOS NEURAIS ASSOCIADOS ÀS PRINCIPAIS DESORDENS NEUROPSICOLÓGICAS.
DESCRIÇÕES CLÍNICAS DOS PRINCIPAIS TRANSTORNOS E DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM – OCORRÊNCIAS EM IDADE ESCOLAR 140
3.1. Alterações Neuropsicológicas 140
3.1.1. Déficit de Atenção 141
3.1.2. Transtornos específicos de aprendizagem (dislexia e discalculia) 144
3.2. Alterações Neuropsicológicas e comportamentais associadas a quadros neurológicos 150
3.2.1. Autismo (Transtorno do Espectro Autista – TEA) 151
3.2.2. Alterações cognitivas do envelhecimento 155
3.2.2.1 Doença de Alzheimer 155
3.2.2.2 Demência Fronto-temporal 156
3.3. Distúrbios do desenvolvimento da linguagem oral e escrita 156
3.4. Distúrbios de Aprendizagem 158
3.5. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) 159
3.6. Transtornos invasivos do Desenvolvimento 162
3.6.1. TID – TEA 162
3.6.2. Síndrome de Down 164
3.6.3. Síndrome do X-frágil 166
3.6.4. Paralisia cerebral 167
3.6.5. Distúrbios convulsivos 168
3.7. Outras alterações sindrômicas mais comuns na população infanto-juvenil, relacionadas
à cognição e à aprendizagem 169
3.7.1. Síndrome de Turner 169
3.7.2. Síndrome de Williams 170
3.7.3. Síndrome de La Tourette 172
3.7.4. Síndrome de Rett 174

Unidade IV
ASPECTOS NEUROLÓGICOS DAS DESORDENS NEUROQUÍMICAS 176
4.1. Alterações Neuropsicológicas e comportamentais associadas a quadros neurológicos:
Epilepsia e Acidente Vascular Encefálico 176
4.2. Avaliação Neuropsicológica e seus Instrumentos 179
4.3. Reabilitação Neuropsicológica 181
4.4. Diretrizes diagnósticas dos principais transtornos e dificuldades de aprendizagem 186
4.4.1 Anamnese 187
4.4.1.1 O que observar na Avaliação de Linguagem 189
4.4.1.2 O que observar na Avaliação do Raciocínio Lógico/Matemático 189
4.4.1.3 O que observar na Avaliação da programação dos movimentos 191
4.4.1.4 Avaliação dos Transtornos geralmente diagnosticados pela primeira vez
na infância ou na adolescência 192
4.5. Quando e como encaminhar para Avaliações Multidisciplinares 193
4.5.1 Avaliação Neuropsicológica 196
4.5.2 Avaliação do Processamento Auditivo Central (PAC) 198
4.5.3 Avaliação Psicológica 200
4.5.4 Avaliação Fonoaudiológica 200

REFERÊNCIAS 202

ANEXOS 206

5
APRESENTAÇÃO

Olá Aluno (a),

Seja bem-vindo (a)!

A disciplina “Fundamentos em Neurociências” tem como objetivos apresentar


os mecanismos fisiológicos de funcionamento do sistema nervoso central, desde uma
única célula nervosa até os processos cognitivos, comportamentais e motores que
ditam nossas emoções, ações e como este sistema determina nossos movimentos
físicos propriamente ditos.

A ideia central reflete o fascínio e a curiosidade que todos temos acerca de


como percebemos, nos movemos, sentimos e pensamos. A elucidação do genoma
humano trouxe a promessa de “mudar tudo o que sabemos” sobre o nosso encéfalo,
motivo pelo qual as neurociências avançaram muito então temos, agora, uma visão
sobre como os neurônios diferem em nível molecular, e esse conhecimento tem sido
aproveitado para desenvolver tecnologias revolucionarias que permitam estabelecer
as conexões entre os neurônios e investigar as suas funções.

O sistema nervoso humano é examinado em diferentes escalas, desde as


moléculas que determinam as propriedades funcionais de neurônios até́ os grandes
sistemas no encéfalo que são a base da cognição e do comportamento bem como as
alterações deste sistema alteram nosso corpo, mente e interação com o meio
ambiente.

A disciplina Fundamentos das Neurociências e Disciplinas Afins buscará


atender sua expectativa de entender o funcionamento do sistema nervoso central
compreendendo o processo cognitivo e motores que impulsionam o aprender que
auxilia no desenvolvimento do ser humano permitindo que uma sociedade eclética
erija. A complexidade do cérebro humano levou pesquisadores se unirem na busca
de desvendar o indesvendável, pois, ele nos surpreende dia após dia.

O século passado foi considerado como o marco do cérebro pelas descobertas


realizadas e reconduzindo as pesquisas dessa área percebendo o cérebro como o
núcleo do desenvolvimento humano.

A Neuropsicologia surge com o objetivo de entender a relação existente entre


cérebro e o comportamento humano e explicar como comportamentos complexos,
sendo um deles a aprendizagem, acontecem.

6
Entender questões do nosso cotidiano, tendo como exemplo: falar, andar,
diferenciar, pensar, planejar, organizar são desafiadores e necessários para quem
pretende caminhar pela seara da educação. Somos uma máquina divina que requer
pesquisa, ciência e amor para compreender e desvendar o indesvendável.

Esse caminho requer uma disposição para o estudo sobre o funcionamento do


sistema nervoso, o seu processo de desenvolvimento e como ele se desenvolve ao
longo da vida humana. Sua importância no aprender e no se tornar agente participativo
na sociedade.

O foco desse estudo será o cérebro, sistema complexo e desafiador para nós
que buscamos adentrar nesse mundo labiríntico. O convite é para não apenas ler,
mas adentrar nessa magia humana.

Vamos começar? Bom estudo!

7
INTRODUÇÃO

O que exatamente entendemos como neurociências e qual a importância de


conhecer os mecanismos físicos que nos torna o que realmente somos? Estas são
perguntas que frequentemente nos fazemos e o que mais ouvimos como resposta é
que o sistema nervoso é um “mar desconhecido”.
De fato, o sistema nervoso vem se mostrando com o passar do tempo um
verdadeiro desafio para os estudiosos que se dedicam a isso, mas por outro lado,
quanto mais conhecemos como o sistema funciona, mais somos capazes de
relacionar o que nos parece invisível, com o que somos, como nos portamos e como
as doenças que afetam tal sistema possuem sintomas muitas vezes, comportamentais
diferentes de uma gripe, a qual conhecemos os sintomas como febre e dor de
garganta. Os males que afetam o encéfalo e o sistema nervoso são em sua maioria
de caráter subjetivo, ficando a critério dos cientistas a correlação entre os mecanismos
normais, anormais, sintomas, prevenção e tratamento.
A próxima vez que você se perguntar o que é neurociência lembre-se que é
união de conhecimentos de várias áreas; tais como biologia molecular, anatomia,
neurofisiologia, biologia do desenvolvimento, genética, fisiologia e psicologia; para
entender melhor porque nos comportamos de determinada forma.
Por que se dedicar ao estudo de uma ciência tão complexa e subjetiva então?
Para entender o quanto do comportamento pode ser creditado a uma herança
genética e o quanto é derivado do ambiente, sim o ambiente! Apesar de cada um de
nós possuir anatomicamente o sistema nervoso igual, somos indivíduos
completamente únicos em nossas diferenças e isso se dá ao processo adaptativo que
o sistema nervoso sofre ao longo de nossas vidas sendo moldado por nossas
experiências e aprendizados.
Então, seja muito bem-vindo ao mundo do conhecimento de uma característica
do ser humano ao mesmo tempo intrigante e fascinante: a Neurociência!

8
UNIDADE 1

INTRODUÇÃO DAS BASES NEUROLÓGICAS FUNCIONAIS E PSICOLÓGICAS E


ESTUDOS NEUROLÓGICOS APLICADOS À PSICOPEDAGOGIA

Dentro da história nos deparamos com diferentes áreas preocupadas em


estudar o sistema nervoso em um diálogo interdisciplinar na busca de conhecer o
cérebro. Nesse caminhar dialógico surge uma nova área de pesquisa, a neurociência,
revolucionando a ciência.

Os estudos sobre o sistema nervoso percorrem as áreas da biologia, da física,


da matemática, da medicina, da psicologia, da química e agora da educação, que
percebe a importância do cérebro para o entendimento do desenvolvimento humano.

De acordo com Bear (2002) isso aconteceu no momento que a


interdisciplinaridade passa a ser valorizada para o entendimento das funções
cerebrais. Com esses estudos que se entrecruzam e se auxiliam, foi possível perceber
que os caminhos para desvendar o cérebro começam no diálogo entre as diferentes
disciplinas e áreas de conhecimento, pois nenhuma ciência é forte o bastante, para
desvelar o cérebro humano sozinha. Desta maneira, as ciências juntam-se, por volta
da década de 1980, formando a neurociência.

Para Barros (2004) essa intercomunicação só tem a contribuir no conhecimento


das propriedades cerebrais e auxiliar os profissionais entenderem sobre o
funcionamento desse órgão importante para o ser e agir humano.

Os estudos sobre o cérebro são recentes (em termos históricos), por isso,
vamos introduzir nosso Livro texto com o contexto histórico para que você possa situar
em todo conteúdo acerca dos Fundamentos em Neurociências e Disciplinas Afins.

Vamos lá?

1.1 Histórico dos estudos em neurociências

Começaremos nosso estudo com um breve passeio pela história da


neurociência. O que tem pensado os cientistas acerca do sistema nervoso ao longo
dos anos? Quem são os neurocientistas de hoje e como eles abordam o estudo do
sistema nervoso?

O termo “neurociência” é relativamente novo, a Society for Neurosciense


(Sociedade para as Neurociências, sediada em Washington) a associação que

9
qualifica os neurocientistas profissionais foi fundada apenas em 1970, jovem não
acha? Porém o estudo do encéfalo é tão antigo quanto a própria ciência. A forma
como o encéfalo e suas funções eram vistos teve início em meados do século XX com
a junção de cinco linhas experimentais: anatomia, fisiologia, farmacologia e psicologia.

O médico grego Galeno no início do século II supôs que os nervos (ainda não
conhecido com profundidade), levavam um fluido produzido pelo encéfalo através da
medula espinhal até todas as regiões periféricas do corpo. O que Galeno propôs foi
utilizado como único conhecimento aceito até a invenção do microscópio que mostrou
alguns detalhes desconhecidos até então sobre as células do sistema nervoso.

Acredita-se que os homens primitivos, tinham esse conhecimento, pois muitos


hominídeos encontrados tinham seus crânios perfurados, levando os cientistas a
acreditarem que o cérebro já ocupava espaço de curiosidade e percebiam que era
uma região que guardava certa importância.

Pesquisas revelam que além de tentarem acertar o cérebro ou o coração nas


caças ou embates, acreditavam que retirando um aparte do cérebro muitas doenças
poderiam ser curadas.

Documentos datados de 8.000 anos atrás, por arqueólogos, mostram que a


trepanação, perfuração craniana, era uma técnica comum na busca da cura de
doenças, tendo como exemplo a loucura ou a retirada do demônio (exorcismo) das
pessoas.

Figura.1 Trepanação e o crânio trepanado

10
Fonte: < https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Arqueologia/noticia/2015/06/solucao-para-problemas-
mentais-na-antiguidade-furar-cabeca-dos-pacientes.html>acessado 20/05/19.

A princípio, não havia nenhum cuidado ou preparo para esse tipo de cirurgia,
usava-se pedra, vidro, perfurador rústico, aparecendo o bisturi depois, de aprenderem
a fabricar materiais mais complexos.

Algumas evidências apontam que nossos ancestrais pré-históricos já tinham


noção da importância vital do que havia dentro do que hoje chamamos de caixa
craniana, o encéfalo. Alguns registros arqueológicos possuem crânios com lesões
semelhantes a traumatismos cranianos fatais.

Figura 2: Evidência de cirurgia encefálica pré́ -histórica. Este crânio, de um homem


datando de mais de 7 mil anos atrás, foi aberto para cirurgia enquanto ele ainda estava
vivo. As setas indicam dois locais da trepanação.

Fonte: ALT et al., 1997, Fig. 1a. apud BEAR, CONNORS e PARADISO, 2017. p.5.

11
Vale ressaltar que embora acreditasse que o cérebro era importante,
considerava-se o coração a casa do pensar e do criar, haja visa que, quando as
pessoas morriam removiam o cérebro pelo nariz e preservavam os demais órgãos,
por serem mais importantes que o cérebro, o que passou a ser questionado por
Hipócrates- 420 e 350 A.C., considerado o pai da medicina. Hipócrates mudou a forma
de pensar e agir dessa disciplina, executada por sacerdotes, e a transformou em
ciência médica, escrevendo o tratado sobre o cérebro e mudando o olhar sobre a
medicina.

Hipócrates de Cós (460-370 a.C.), filho de médico, aluno de Heródico de


Selímbria, nascido de uma família de sacerdotes-médicos - diziam ser
descendente de Asclépio -, rompeu com o culto estabelecido, não visitou o
Oriente nem o Egito (os estágios no exterior da época), praticou e ensinou sua
medicina em Larissa, Tasos, Delos, Abdera, Perinto, Crotona e outras cidades,
acompanhado de assistentes e auxiliares, conforme o costume da época.

Quando Péricles morreu vitimado pela peste em Altina, em 481 a.C.,


Hipócrates lá se encontrava. Mostrando que quem é bom nasce feito, foi
cognominado o “Pai da Medicina”, sendo a personalidade central do que é
chamada a “Escola Hipocrática”, que refugou a visão templista do
curandeirismo mágico e, além dos postulados éticos, começou a dar à Medicina
uma conotação de corpo integrado por disciplinas, indo do diagnóstico ao
tratamento e prognóstico.

É importante ressaltar que, embora o Hipócrates histórico - figura


totalmente humana, tenha sido famoso como médico e professor, nenhum
tratado isolado pode ser seguramente identificado como sendo dele e muitos
dos detalhes tradicionais de sua vida são invenções posteriores a ela.

Contemporâneo de Sócrates, Platão, Heródoto, Tucidides, Fídias,


Polignoto e Péricles em Atenas, vivendo numa época áurea e numa cidade que
liderava intelectualmente o mundo e para este mostrava os caminhos da
inteligência, da razão, da beleza, da harmonia e da grandeza, deixando um
sombrio passado para trás, Hipócrates representou para a Medicina o que as
maiores contribuições de seus iluminados contemporâneos representaram para
a filosofia, as artes e a política.

12
Hipócrates, mesmo não tendo feito uma trepanação, pode observar sendo feita
e entender o procedimento realizado. Pesquisas mostram que era comum utilizar esse
procedimento para cura de dores de cabeça em pessoas que se voluntariavam, no
intuito de saná-las, para aliviar sofrimentos de pacientes lesionados por quedas,
pancadas ou algum traumatismo.

Não se sabe ao certo, quando que o homem começou a utilizar essa técnica e
pelo qual motivo o levou a acreditar que solucionaria o problema apresentado. A vida
do homem primitivo era dão difícil, sujeita a constantes perigos que a subsistência
fazia com que ele buscasse soluções para acontecimentos, na tentativa de sobreviver.

Nos estudos arqueológicos, muitos corpos estranhos foram encontrados


indicando procedimentos cirúrgicos, devido lesões e fraturas.

Interessante lembrar que a trepanação como se usava antigamente, felizmente


não se utiliza mais, porém, ainda ela está presente em alguns casos emergenciais,
como na contenção da hemorragia craniana, chamada hoje de craniectomia.

Historiadores da área médica, na busca de entender essa dinâmica de cura,


tiveram acesso a escritos de 5.000 anos que mostram que os egípcios tinham
conhecimento das consequências de uma lesão cerebral, mas acreditavam que era o
coração a casa da memória e do espírito.

Compreender as diferentes funções do corpo é aprender a observar a formação


de cada parte, pois elas se formam e preparam para uma determinada função.

Observe o nariz, boca, olhos, mãos, pernas e pés e tente entender por que elas
têm esse formato, para qual função elas servem e porque não poderiam servir para
outra função (sem levar em consideração as possíveis adaptações que podem ser
feitas). Assim, você conseguira entender o que significa quando dizemos cada
estrutura tem uma função, pois, elas se organizam para atender uma determinada
necessidade humana.

Foi nesse processo que Hipócrates entendeu que o encéfalo era um órgão
importante e responsável pela sensação. Feche seus olhos, experimente uma fruta e
perceba como essa informação chega ao cérebro e depois toca seu coração.

Figura 3. Hipócrates

13
Fonte: https://medium.com/@milenacarvalho_67013/hip%C3%B3 socrates-e-as-alegrias-e-
tristezas-do-c%C3%A9rebro-f6f7b11d1640 Acessado em 20/05/2019

Nesse caminho histórico, deparamos com Aristóteles (384-322 A.C), não


abandonou a ideia de que o coração era o que propiciava a inteligência e o encéfalo
era responsável em esfriar o coração que, com a intensidade das emoções, fervia.
Para ele, quanto mais potente um cérebro mais inteligente e racional é um ser
humano, pois o coração poderá agir e contar com o cérebro para esfriar o sangue
quando ferver.

Você sabia que usamos o termo


cérebro erroneamente? Na realidade o sistema
nervoso central é formado pela medula
espinhal e o encéfalo, e o encéfalo estão
localizados dentro do crânio, ou caixa craniana.
O cérebro é a parte mais desenvolvida do
encéfalo, são as dobrinhas, conhecidas como
circunvoluções. Portanto, encéfalo e cérebro
não são sinônimos.

Descarte, em seus estudos, em meados do século XVII, por volta de 1630 –


1650, elabora sua tese sobre o corpo humano, sendo uma máquina. Em sua teoria

14
mecanicista, compara o corpo com uma engrenagem de uma máquina, a qual cada
parte tem uma função, separando o corpo da alma. Para Murta (2017, p.04), ao citar
Descartes:

[...] quão diversos autômatos, ou máquinas móveis, a indústria dos homens


pode produzir, em empregar nisso senão pouquíssimas peças, em
comparação à grande multidão de ossos, músculos, nervos, artérias, veias, e
todas as outras partes existentes no corpo de cada animal, considerará esse
corpo como uma máquina que, tendo sido feita pelas mãos de Deus, é
incomparavelmente melhor ordenada e contém movimentos mais admiráveis
do que qualquer das que possam ser inventadas pelos homens.

Ao fazer analogia à uma máquina explica todo o funcionamento. Para


Descartes o corpo humano:

Nada mais seja do que uma estátua, ou máquina de terra que Deus forma
deliberadamente, para torná-la o mais possível semelhante a nós: de modo
que ele lhe dá não só a cor e a forma de todos os nossos membros, como
também insere todas as peças que são necessárias para fazer que ela
caminhe, coma, respire, enfim, imite todas as nossas funções, que se imagina
proceder da matéria e só depender da disposição dos órgãos. (MURTA, 2017,
p.04).

Segundo o filósofo a mente e o cérebro eram separados, afirmando que o ser


humano além do corpo possuía uma mente. O corpo era uma máquina que se
movimentava, o coração bombas e os pulmões o ar que sopra, tendo ainda a alma,
ou mente. Conheça Descartes:

Fig. 4 René Descartes

Fonte:<https://universoracional
ista.org/o-que-significa-penso-
logo-sou/>acessado em
20/05/2019

15
Quanto se estudou para chegarmos à discussão do século
XXI sobre a mente humana e seu funcionamento?

A biologia nasce no século XIX, com a revolucionária teoria de seleção natural


de Darwin (1809-1882), a mente como algo divino do ser humano. Charles Robert
Darwin veio de uma família de gênios, estudiosos, que contribuíram para a história e
para algumas teorias estudadas na contemporaneidade. Darwin afirmou que o homem
é mais uma espécie da Terra, não sendo único ser que têm ancestrais influenciando,
assim, vários estudos em diferentes áreas. Ele atribuiu a mente uma posição marcante
nos futuros estudos e descobriu que a anatomia do córtex era definida e, portanto,
possível de ser estudada.

Figura 5- Charles Robert Darwin

Fonte: < https://pgl.gal/charles-darwin-teoria-evolucionismo/> acessado


20/05/2019

Seu conceito sobre a evolução das espécies pela seleção natural contribuiu e
mexeu com todas as áreas, inclusive a política e a economia, dentre outras.

16
Mesmo assim, esse tema não se mostrou tão interessante para a comunidade
cientifica até que o italiano Camillo Golgi e o espanhol Santiago Ramón y Cajal
mostraram detalhes mais específicos e que despertaram interesse no final do século
XIX. Golgi desenvolveu uma técnica pioneira para corar as células nervosas baseada
em sais de prata que permitiu a visualização precisa em microscópio da estrutura da
célula nervosa.

Baseado na técnica de Golgi, Ramón y Cajal observou e determinou que o


sistema nervoso não era composto de uma única célula multinucleada originada por
fusão de células uninucleadas ou por muitas divisões celulares incompletas de
células, foi então que ele desenvolveu alguns conceitos que hoje são conhecidos
como doutrina neuronal o princípio de que “os neurônios individuais são os blocos
construtivos elementares e os elementos sinalizadores do sistema nervoso”.

Em meados do ano 1800 Franz Joseph Gall, um médico especialista em


anatomia de Viena, deu início as tentativas de integrar conceitos biológicos e
psicológicos propondo suas ideias novas: a primeira foi a rejeição a ideia de que corpo
e mente são entidades separadas e a segunda foi que o córtex encefálico não
funcionava como um órgão único, mas que possuía regiões especificas relacionadas
a atividades diferentes.

Em 1808, Dr. Franz J. Gall estudou a anatomia do cérebro e fundou a


frenologia, a ciência que estuda cada parte, determinando que o cérebro é o ponto de
partida das manifestações morais e intelectuais humanas e o de chegada das
sensações. Proclamou que as características físicas determinavam as características
mentais das pessoas. Para ele, há uma área para cada processo mental do ser
humano e acreditava que poderia reconhecer as habilidades das pessoas pelo
tamanho da cabeça delas.

Figura 6. Dr. Franz J. Gall,

Fonte:
<http://blog.buko.net/gbu/professor-
gall/prof-franz/>Acessado:
20/05/2019

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Considerado o pai da frenologia Gall entrou em atrito com a igreja, por afirmar
que a mente tinha um lugar dentro do corpo e com os cientistas que alegaram que ele
não tinha provas concretas de sua teoria. Na época, Gall não teve muita sorte com
sua teoria, deixando Viena e tendo sua teoria considerada inválida na França por
Bonaparte.

Gall enumerou aproximadamente 27 regiões diferentes no encéfalo cada uma


relacionada a uma função específica.

Figura 7: Um dos primeiros mapas para localização das funções do encéfalo.

Fonte: http://www.cerebromente.org.br/n01/frenolog/frenwhy_port.htm (acesso em 21.01.2019)

Outro cientista revolucionário no contexto histórico da neurociência foi Paul


Broca (1824 – 1880) que aos 20 anos se forma em medicina e estudou a cartilagem,
ossos, patologia do câncer, tratamento do aneurisma, mortalidade infantil, a relação
anatômica do cérebro e crânio, a relação com a inteligência e a capacidade mental.

Dentre vários estudos sua contribuição para a neurociência foi o que hoje leva
o seu nome, o centro da fala denominada como área de Broca, devido a um paciente,
Leborgne, que perdeu a fala, mas não a compreensão, começa a se firmar a relação
entre cérebro e a linguagem.

Assim, ao receber que Leborgne, como um paciente que não apresentava


dificuldades em relação à compreensão de linguagem, mas não era capaz de falar,
logo após a sua morte em 1861, o Dr. Broca examinou seu encéfalo e detectou uma

18
lesão na região do lobo frontal esquerdo, levando-o a concluir que aquela região
estava diretamente ligada a produção da fala.

Esse transtorno foi denominado Afasia1 de Broca. No córtex cerebral a área de


Broca se situa no lobo frontal. Quando ela é atingida, ocorre a afasia motora ou a
afasia 2 de Broca. Afeta principalmente a expressão da fala: estilo telegráfico, baixa
fluidez, problemas de sintaxe e gramática, vocabulário reduzido, dificuldade em
encontrar as palavras certas, problemas de articulação.

Figura 8 - Paul Pierre Broca

Fonte:
http://www.cerebroment
e.
org.br/n02/historia/broc
a_p.htm Acessado:
20/05/2019

1
A afasia é a perda total ou parcial da capacidade de comunicar-se (falar e compreender). Geralmente
é causada por uma má irrigação do cérebro. Os especialistas em linguagem distinguem os distúrbios
da fala, que incluem dificuldades de pronunciação e de articulação, dos distúrbios da linguagem, que
se manifestam pela dificuldade em encontrar palavras e formular frases. A afasia reúne esses dois
distúrbios.
2
Classificação das Afasias: Segundo a neuropsicologia, distinguem-se dois grandes grupos de
afasias, cada uma das suas variedades referindo-se a lesões cerebrais de localização precisa: o grupo
das afasias de expressão/condução e o grupo das afasias sensoriais ou de recepção. As afasias de
expressão compreendem essencialmente:
 Afasia de Broca: descoberta por Paul Broca (1861), que se caracteriza por uma perturbação da
expressão oral e escrita (dificuldade ou incapacidade de articular um discurso, de produzir
linguagem eficientemente) e por uma alteração ligeira a moderada da compreensão que tende a
melhorar. A característica marcante dessa afasia é discurso hesitante, tendência a repetir frases
ou palavras, sintaxe e gramática desordenadas e estrutura desordenada de palavras individuais.
 Afasia de Condução: Grande espectro de lesões que acometem as áreas subcorticais,
principalmente o fascículo arqueado, que conecta as áreas de Broca (áreas 44 e 45 de Brodmann)
e de Wernicke (Área 22). Causa dificuldade de propor respostas adequadas, embora a
compreensão esteja pouco alterada. O sintoma principal é uma alteração do sistema fonológico
que se exprime com prejuízo da repetição, da escrita quando ditada e da leitura em voz alta, da
reprodução de ritmos e pela presença de parafasias na linguagem espontânea.
 Afasia sensorial (receptiva) e Afasia de Wernicke: são afasias fluentes, caracterizam-se por
uma perturbação da compreensão do discurso, embora a fala esteja fluente, com poucas
repetições espontâneas havendo, porém, um uso não adequado das palavras.

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Figura 9: O encéfalo que convenceu Broca da localização de funções no
cérebro. Esse é o encéfalo preservado de um paciente que perdeu a capacidade de
falar antes de morrer, em 1861. A lesão que produziu esse déficit está indicada no
círculo.

Fonte: Corsi, 1991, Fig. III, 4.

Gall, realizou uma autópsia em Leborgne, em 1861 (fig. 9), paciente citado
acima, que não falava, mas compreendia e não tinha nenhuma sequela física e
detectou o local lesionado que se localizava no lobo frontal esquerdo.

Treze anos depois, 1874, Wernicke descreveu pacientes que conseguiam falar,
mas não compreender, dando uma nova perspectiva para o estudo do cérebro
humano, denominado a fala normal e a falta de compreensão como um tipo de afasia
sensorial, quando a fala está preservada e a compreensão da linguagem está
prejudicada.

A afasia de Wernicke é causada por danos na área de Wernicke, perto do


córtex auditivo primário. A pessoa afetada não tem dificuldade em falar, mas
utiliza palavras inadequadas e sem construção lógica com uma alta fluidez, o
que torna a sua fala seja incompreensível. Sua compreensão oral e escrita
também é perturbada. No entanto, ela não tem consciência da sua doença.

Observe as duas áreas citadas:

Fig. 10 - área de Broca e Wernicke.

20
Fonte:<http://imensoamor01.bl
ogspot.com/2015/10/area-de-
broca-e-area-de-
wernicke.html>Acessado em
20/-5/2019

A área de Broca, como se pode ver, localizada no lobo frontal esquerdo, é


responsável pela expressão da linguagem e programas motores da fala e os nervos
faciais.

A área de Wernicke está localizada no lobo temporal esquerdo, responsável


pela compreensão da linguagem, reconhecimento da linguagem, interpretação e
processamento semântico, portanto, uma pessoa lesionada nessa área, escuta e
reconhece as palavras soltas, mas não consegue agrupá-las para compreender o
contexto de uma frase.

Em 1885, Hermann Ebbinghaus traz a possibilidade de testar o cognitivo do ser


humano e descreve a dinâmica da aprendizagem e do esquecimento, com um método
de memorização que consistia palavras aleatórias que deveriam ser escutadas, em
um determinado ritmo (metrônomo) e repetidas. Depois criou o teste lacunar, que
consistia em dois momentos. O primeiro a leitura de frases e no segundo, essas frases
teriam palavras faltando (lacunas), as quais teriam que ser preenchidas. Com seus
estudos, traça a velocidade em que apendemos e a curva do esquecimento.

O SISTEMA LÍMBICO E O CIRCUITO EMOCIONAL DE PAPEZ

Acesse o Anexo I, ao final deste Livro-texto para entender a complexidade da estrutura cerebral.

Figura 11. Hermann Ebbinghaus

21
Fonte:
www.ib.usp.br/.../008%20Rodrigo%2
0Pavão%20-
%20APRENDIZAGEM%20E%20...A
cessado em :20/05/2019

Ebbinghaus, muito conhecido entre os psicologos, pois foi o primeiro a estudar


a memória e abriu as portas para outros pesquisadores. Se interessou pela percepção
das cores- senso percepção, trazendo estudos da ilusão ótica, a qual o objeto é
percebido de acordo com o tamanho dos objetos que estão ao seu redor.

Em 1891. Santiago Ramón Y Cajal, médico- historiador Espanhol, formula a


teoria neuronal explicando a composição e a função do sistema nervoso e como ele
se conecta com os demais elementos. Assim, foi considerado o fundador da teoria
neuronal. Cajal teve a contribuição de Golgi, que juntos ganharam o Prêmio Nobel,
em 1906.

Conheça mais sobre a história da neurociência e como podemos relacioná-la a


educação em: RIVEIRO, S. Tempo de cérebro. Estudos avançados. 27, (77).2013.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v27n77/v27n77a02.pdf

Figura.12 - Santiago Ramón y Cajal e Camillo Golgi

22
Fonte: https://edukavita.blogspot.com/2015/ Fonte: http://www.scielo.br/pdf/rpc/v36n1/a07v36n1.pdf
06/biografia-de-santiago-ramon-y-cajal.html acessado 20/05/2019 Acessado:20/05/2019

Cajal e Golgi conseguiram colorir os neurônios com sais de prata, conseguindo


enxergar as estruturas celulares e suas ramificações. Evidenciando que os neurônios
individuais são fundamentais para o funcionamento do sistema nervoso. O
conhecimento que temos sobre as estruturas dos neurônios se deve aos estudos
desses dois médicos- historiadores.

Uma investigação com abordagem voltada para o funcionamento (fisiologia) do


sistema nervoso teve início no final do século XVIII quando Luigi Galvani (médico e
físico) quando descobriu que as células nervosas e os músculos produziam algum tipo
de descarga elétrica. Os fisiologistas alemães Johannes Müller, Emil Du Bois-
Heimmond e Hermann von Helmholtz no século XIX, através de estudos de
eletrofisiologia conseguiram medir com precisão a velocidade de condução da
atividade elétrica ao longo das células nervosas e como essa descarga elétrica
interage com as células adjacentes.

Figura 13. Células piramidais coloridas Golgi e Cajal

23
Fonte:< http://www.scielo.br/pdf/rpc/v36n1/a07v36n1.pdf> acessado 20/05/2019

Os estudos de Cajal possibilitaram conhecer as sinapses mentais e entender


os mecanismos da aprendizagem e da memória.

O Século XX encontramos vários estudiosos da mente e do cérebro,


principalmente porque as guerras (primeira e segunda) deixaram muitos feridos, com
sequelas e alavancaram as pesquisas de reabilitação neurológicas.

Vygotsky e Luria se dedicaram a neurociência cognitiva com seus estudos


sobre as estruturas anatômicas cerebrais e as vias que compõem os sistemas dos
Processos Psicológicos Superiores-PPS que estão relacionados à aprendizagem,
cognição e linguagem, trazendo o meio como componente importante nesse
processo. Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934) e Alexander Romanovich Luria
(1902-1977) contribuíram muito para que a aprendizagem e seu processo sejam
entendidos. Ressaltam a importância da atenção, memória, reconhecimento dos
objetos (gnosia / percepção), pensamento e comportam

24
Eletrofisiologia é a ciência que estuda as propriedades elétricas presentes
nas células e tecidos do corpo. São realizadas aferições do potencial elétrico
em proteínas de canais (presentes nas membranas das células).

Os antigos filósofos gregos desde o início da ciência ocidental, tentaram


estabelecer conexões entre a mente humana e o comportamento. No século XVII
René Descartes conseguiu distinguir o corpo da mente, na sua percepção era
atribuído ao encéfalo apenas as funções como percepção, atividade motora,
memória, apetite e outras funções atribuídas a animais inferiores. Entretanto as
funções superiores como consciência, não representava uma das funções do
sistema nervoso, mas sim da alma.

Interessante essa visão não acha? Hoje com a informação que temos, fica
difícil acreditarmos que um dia alguém pensou assim, porém sabemos também
que o conhecimento que temos hoje nos parece obvio que a evolução da ciência
faz com que nós olhemos de uma forma diferente para a visão de Descartes.

Para conhecer mais sobre o olhar de René Descartes sobre um olhar filosófico
da neurociência, leia: DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. Editora Edipro.

Figura 14 - Leontiev, Vygotsky e Luria

25
Fonte:< http://itca.org.br/web/especializacao-em-teoria-historico-
cultural-turma-x/ > acessado: 20/05/209

Vygotsky, com seus colaboradores Leontiev e Luria, deixaram marcas na


educação com as pesquisas voltadas para a área que envolve o pensar, se comunicar,
agir e aprender.

1.1.1 A evolução do Sistema Nervoso

Neurocientistas, profissionais de várias disciplinas se uniram para um trabalho


incansável do desvelar esse segredo, portanto, a curiosidade de entender o cérebro
ou o encéfalo não é tão jovem, arriscaria dizer que é velho em demasia, pois como já
dito anteriormente, o homem gosta de desenredar mistérios.

Um conhecimento que perpassa por disciplinas e de aprofundamento que


requer muito estudo e dedicação. O sistema nervoso do corpo humano é composto
pelo encéfalo, medula espinhal e nervos do corpo, essenciais para o pensar, sentir
mover-se e aprender.

Nossa trajetória, de maneira rápida, pela história possibilitou que você


caminhasse um pouco pela evolução da neurociência. Deparamos, em 1962, com
uma organização que conecta todas as universidades do mundo que queiram discutir
sobre a neurociência - Neuroscience Research Program.

Esperamos que você tenha entendido o processo do estudo do cérebro que


tem como base a medicina, caminhando para os psicólogos e ampliando para um

26
diálogo interdisciplinar da neurociência, que busca estudar as estruturas cerebrais que
possibilitam o desenvolvimento do ser humano.

A neurociência se ocupa em entender e investigar o sistema nervoso no intuito


de compreender esse principal órgão dos animais vertebrados e da maioria dos
invertebrados e, nos humanos, o sistema nervoso está protegido pelo crânio.

A cabeça, uma parte do corpo humano que guarda o órgão essencial para nós
seres racionais e emocionais, é responsável por todas as ações do corpo humano, as
voluntárias, que desejamos e percebemos e as involuntárias que independente de
desejarmos acontecerá, como o batimento do coração, o respirar, o piscar e outras
atividades vitais.

O cérebro comanda todos os movimentos e processos do desenvolvimento do


ser humano, fazendo com que o corpo ande e funcione de maneira sincronizada.

É interessante saber que, diferente das demais células do corpo que ao


morrerem são substituídas, a morte de um neurônio não acarreta o aparecimento de
outro e sim a ausência dele, trazendo a importância do estímulo e de um ambiente
aprendente adequado e organizado.

Você nunca se perguntou como


funciona nossa mente? O que nos faz
tristes, alegres, chorosos, pensativos? O
que é loucura, desatenção, raiva?
O mesmo órgão que nos deixa
triste, nos deixa alegres e loucos.
Que loucura!!!

Entendamos o cérebro e sua divisão.

Figura15. Cérebro humano

27
Fonte:<https://realidadesimulada.com/por-que-nosso-cerebro-possui-um-
forma-enrugada/>acessado: 20/05/19

A anatomia cerebral tem um propósito e se diferencia entre as espécies,


mesmo perceptivelmente sendo maior o cérebro de animais maiores, tendo como
exemplo baleia e elefante, proporcionalmente o cérebro humano é grande quando
comparado ao nosso corpo ocupando 2% do peso. Mas não é isso que nos diferencia
dos demais animais, pois o cérebro do rato também equivale a 2% do peso. A magia
desse órgão é sua complexidade, suas dobras, rugas que contemplam as sinapses
realizadas, a inteligência que o ser humano possui.

O tamanho, portanto, não é algo que se diferencie e decisivo para a nossa


inteligência, mas as pregas, sinal de inteligência e explicação de muitos
acontecimentos do desenvolvimento humanos.

Observe imagem abaixo e brinque com a imaginação e se desafie a pensar o


quanto inteligente somos.

Figura 16. Cérebro de diferentes animais comparados ao cérebro humano

28
Fonte:< https://hypescience.com/veja-o-tamanho-e-peso-do-cerebro-humano-
em-comparacao-com-outros-animais/> Acessado em 20/05/19

Figura 17- divisão dos Lobos

29
Fonte: https://amenteemaravilhosa.com.br/lobo-temporal-afetividade-memoria/
acessado 20-05-19

Observe seu tamanho em relação aos demais Lobos e ainda é subdividido em


córtex motor, responsável pelo movimento dos olhos, da escrita e da linguagem e o
córtex pré-frontal que cuida da habilidade de conhecer, de comportar-se e de
emocionar-se. Assim, temos um cérebro que se organiza para que o indivíduo se
desenvolva em harmonia. O corpo humano parece uma orquestra comandada pelo
cérebro.

É interessante saber que o funcionamento do cérebro é cruzado, ou seja. Lado


esquerdo do cérebro comanda o lado direito do corpo e o direito do cérebro o esquerdo
do corpo.

30
Vamos entender um
pouco de cada Lobo?

Já vimos que o Lobo Frontal é muito importante por ser responsável pelas
funções do processo de informações com caráter executivo. O maior lobo e o último
a ser formado. Vejamos agora as funções do parietal, temporal e occipital.

Lobo Parietal é responsável pelo cálculo, reconhecimento de determinadas


situações e nos possibilita tarefas rotineiras como voltar para casa, se vestir, escovar
dentes, dançar, sensação de felicidade, o calor de um abraço, a força de um aperto
de mão, lembranças de momentos ao comer uma comida ou olhar um objeto (ligado
a sensação) e serviços diários.

O Lobo Temporal fica responsável pela memória auditiva, visual e


compreensão da fala. Perceba que o Parietal é a área da relação objeto com o
passado e o temporal guardar o que ouve, vê e escuta, reconhecendo formas, texturas
e peso.

O Lobo Occipital, localizado na parte traseira da cabeça tem a função de


controlar a visão, e os estímulos trazidos pela visão, um pequeno lóbulo que processa
o que vemos e leva para o lóbulo frontal.

Vimos um pouco de cada Lobo cerebral, mas iremos mais para frente nos
aprofundar. Continuemos nessa caminhada de descoberta e imersão no
desconhecido mundo cerebral.

31
Você consegue
entender a magia da
neurociência?

A neurociência se ocupa em investigar o sistema nervoso, um estudo complexo


e trabalhoso dividido em campos como:

Neurofisiologia- estuda o funcionamento do sistema nervoso;

Neuroanotomia - busca compreender a estrutura do sistema nervoso para


nomeá-los.

Neuropsicologia -estuda a área psíquica e as relações entre as ações dos


nervos e suas funções;

Neurociência comportamental - busca compreender o sistema nervoso que


controla o comportamento voluntário ou não, está ligada a relação do organismo com
o pensamento e emoções.

Neurociência e a neurociência cognitiva estudam pensamento, aprendizagem


e memória.

A Psicopedagogia para contribuir de maneira efetiva no processo de ensino e


aprendizagem precisa se apoderar do funcionamento do cérebro e compreender o
que acontece com as crianças quando apresentam dificuldade de aprender e executar
tarefas.

1.1.2 Características gerais do sistema nervoso

O sistema nervoso é um dos diversos sistemas no corpo humano responsável


por transmitir sinais de todas as partes do corpo e coordenar as respostas sejam elas
voluntárias ou involuntárias. Em nós humanos e na maioria dos vertebrados o sistema
nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico

32
(SNP) ambos conectados entre si e que se comunicam em uma via de mão dupla
onde o SNP leva informações para o SNC, este processa a informação e encaminha
uma resposta ao SNP.

A Neurociência como já abordado anteriormente surge em meados de 1960,


com uma visão interdisciplinar, abarcando várias áreas de pesquisa e estudo. Ela foi
pegando força e trazendo pesquisadores de todo o mundo interessados na área do
conhecimento e aprendizagem, desmistificando a ideia de que as células gliais
deixavam de ser produzidas com o tempo e idade.

O sistema nervoso surge na 3ª ou 4ª semana de gestação. Vamos tentar entrar


no mundo secreto da construção do cérebro. Após a concepção temos um
aglomerado de células que irão se transformar do embrião para um feto e uma criança.
As placas neurais irão tomar forma, ao longo do dorso embrionário, um tecido
desdobrando dentro da sua estrutura - invaginação dos neurônios

Figura 18- desenvolvimento sistema neural

Fonte:adaptado<https://www.famema.br/ensino/embriologia/img/sistema-
nervoso/desenvolvimento-do-encefalo/sistemanervoso29.jpg >acessado:20/05/2019.

33
Observe que no começo ele é liso e aos poucos vão se formando os sulcos
originando o tubo neural, que dentro tem o líquido amniótico que, em um processo
mágico aparecerão o encéfalo e a medula espinhal que crescerá e se contorcerá
tornando-se as vísceras encefálicas primitivas.

Lent (2001) explica que o líquido originará os ventrículos cerebrais e o canal o


qual eles se comunicarão. A construção do sistema nervoso central (SNC) -
Morfogênese-acontece junto com o sistema nervoso periférico (SNP).

Figura 19 - Sistema nervoso central

Fonte<https://www.coc.com.br/blog/soualuno/ biologia/como-funciona-o-
sistema- nervoso-do-corpo-humano>

A partir da medula, surgirão as cristas neurais dos dois lados da medula que
conectarão todas as partes do organismo. Serão os nervos condutores de informação
e ligação do encéfalo com todo o nosso corpo. Como você pode observar, todo o
sistema nervoso do corpo humano deriva das células primitivas do embrião, sendo
essas denominadas tronco, ou células tronco.

Lent (2001) ressalta que essas células guardam a capacidade de renovação e


de se dividirem milhares de vezes, gerando a mãe que dará origem aos demais
neurônios e as glias, que alimentarão e sustentarão os neurônios. Foi no final do
século passado, por volta doa anos 90, que pesquisas revelaram que as células-

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tronco continuam a alimentarem e sustentarem os neurônios, como também a fabricá-
los. Portanto, sendo capazes de regeneração.

Figura 20- sistema nervoso central e periférico

Fonte: adaptado <http://www.anatomiaemfoco.com.br/wp-


content/uploads/2018/11/sistema-nervoso-perif%C3%A9rico.jpg acessado
essado:20/05/2019

Assim, podemos entender que o desenvolvimento, tanto físico quanto mental


requer tempo, estímulo, passando por fases a serem respeitadas e observadas.

O sistema nervoso tem uma função muito importante, pois coordena todas as
atividades do corpo humano, formado por órgãos que captam estímulos, interpretam
e respondem, comandando todo o organismo humano.

35
Como dissemos já na Introdução, na Unidade II iremos estudar,
especificamente, os principais distúrbios e doenças relacionados ao Sistema Nervoso.
Mas, antes de avançarmos, julgamos por bem mostrar aqui uma das mais comuns
das doenças degenerativas do Sistema Nervoso Central, crônica e progressiva, ou
seja: a Doença (Mal) de Parkinson.

A Doença de Parkinson é causada por uma diminuição intensa da produção de


dopamina, que é um neurotransmissor (substância química que ajuda na transmissão
de mensagens entre as células nervosas). A dopamina ajuda na realização dos
movimentos voluntários do corpo de forma automática, ou seja, não precisamos
pensar em cada movimento que nossos músculos realizam, graças à presença dessa
substância em nossos cérebros. Na falta dela, particularmente numa pequena região
encefálica chamada substância negra, o controle motor do indivíduo é perdido,
ocasionando sinais e sintomas característicos, que veremos adiante.

Com o envelhecimento, todos os indivíduos saudáveis apresentam morte


progressiva das células nervosas que produzem dopamina. Algumas pessoas,
entretanto, perdem essas células (e consequentemente diminuem muito mais seus
níveis de dopamina) num ritmo muito acelerado e, assim, acabam por manifestar os
sintomas da doença.

Não se sabe exatamente quais os motivos que levam a essa perda progressiva
e exagerada de células nervosas (degeneração), muito embora o empenho de
estudiosos deste assunto seja muito grande. Admitimos que mais de um fator deve
estar envolvido no desencadeamento da doença. Esses fatores podem ser genéticos
ou ambientais.

Os principais sintomas da doença de Parkinson são a lentidão motora


(bradicinesia), a rigidez entre as articulações do punho, cotovelo, ombro, coxa e
tornozelo, os tremores de repouso notadamente nos membros superiores e
geralmente predominantes em um lado do corpo quando comparado com o outro e,
finalmente, o desequilíbrio. Estes são os chamados “sintomas motores” da doença,
mas podem ocorrer também “sintomas não-motores” como diminuição do olfato,
alterações intestinais e do sono.

Bem, visto acima, o sistema nervoso central SNC (e uma das suas principais
doenças – O Mal de Parkinson) e o sistema nervoso periférico (SNP) vamos, agora,
conhecer um pouquinho sobre o sistema nervoso autônomo, responsável pelo piscar,
inibição saliva, estimulo contração estomacal e intestinal, relaxamento do reto e
outros. Vejamos na figura abaixo.

O SNA (Sistema Nervoso Autônomo) se divide em duas partes (simpática e


parassimpática) que exercem funções antagônicas, enquanto uma dilata a pupila
outra contrai. Em órgãos inervados pelo sistema nervoso autônomo simpático e
parassimpático, os efeitos fisiológicos geralmente são antagônicos, ou seja, se o

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simpático excita o órgão, o parassimpático inibe-o. Vale a pena entender, pois não
depende de um desejo nosso e sim um trabalho para auxiliar no funcionamento
harmonioso do corpo e organismo.

Figura 21- dois esquemas para entender o funcionamento Sistema Nervoso


Autônomo-SNA

Fonte: <https://brasilescola.uol.com.br/biologia/sistema-nervoso.htm>
acessado 25/05/19

1.2 Neurobiologia Celular: células do Sistema Nervoso

Se pensarmos no corpo humano sob o ponto de vista microscópico,


podemos dividi-lo em partes indo do macro para o micro da seguinte forma:

Figura 22: demonstração esquemática da “ordem” das estruturas do corpo humano.

37
Fonte: elaboração própria

Todos os tecidos e células do corpo humano são especializados e suas funções


são analisadas sob o ponto de vista da interação entre célula – tecido – órgão
funcional. Sobre o sistema nervoso assim como os outros sistemas, é representado
por um grupo de diferentes tipos celulares com funções diferentes, porém quando
olhamos para cada uma delas, podemos ver que todas mesmo diferentes, trabalham
em conjunto para que o sistema nervoso desempenhe suas funções.

Vamos começar os estudos funcionais deste sistema aprendendo quais são e


como funcionam as células do sistema nervoso.

As células básicas que compõem o sistema nervoso são os neurônios e as


células da glia

1.2.1 Neurônios

Um neurônio típico é composto por quatro partes básicas: (1) corpo celular; (2)
dendritos; (3) axônios e (4) terminais pré-sinápticos (Figura 6)

Figura 23: Representação da estrutura básica de um neurônio.

38
Fonte: KANDEL, E. R. et al. Princípios de Neurociências. 5ª edição. Editora Artmed. p. 20. 2014

a) Corpo Celular ou Soma: é considerado o “centro de comando” da célula


nervosa, pois é nesta região que são encontradas organelas (pequenas estruturas
presentes em todas as células que “respiram” - mitocôndrias, “digerem” – lisossomos
por exemplo). São tais estas estruturas que são de fato quem mantem a célula
funcionando e vivendo.

Figura 24: Estrutura interna de um neurônio típico.

39
Fonte: BEAR, CONNORS e PARADISO, p. 30. 2017

Além das organelas, é no soma que se localiza o núcleo da célula, onde está
inserido o material genético (DNA). O DNA em cada neurônio é igual entre eles e em
comparação as outras células do organismo, como assim?

Dizemos que em todas as células, de todos os sistemas e em todos os órgãos


o DNA é o mesmo, não apresentando diferenças estruturais por serem de diferentes
órgãos, o que muda é a informação gerada em cada tecido.

Tais informações são diferenciadas em cada tecido devido a uma peculiaridade


característica do DNA que recebe o nome de expressão gênica (Figura 8). O papel
da expressão genica é de extrema importância, pois o resíduo final deste processo é
a formação ou síntese de proteínas, e no contexto nervoso essas proteínas podem

40
ser por exemplo, um neurotransmissor (nós os estudaremos detalhadamente mais
adiante).

Figura 25: Transcrição gênica. (a) Moléculas de RNA são sintetizadas pela
RNA-polimerase e, então, processadas, produzindo o RNAm, que leva as instruções
genéticas do núcleo ao citoplasma para a síntese proteica. (b) A transcrição inicia na
região promotora do gene e termina na região de término. O RNA precursor deve ser
cortado e reunido para remover os íntrons que não codificam proteína.

Fonte: BEAR, CONNORS e PARADISO, p. 31. 2017

Como estamos até agora? Compreendendo os conceitos básicos? Afinal qual


a importância destes conhecimentos dentro das neurociências? Você vai
compreendendo ao longo da leitura que para compreender como aprendemos,
memorizamos e nos desenvolvemos, depende necessariamente da compreensão do
funcionamento básico das células nervosas. Então, anime-se e vamos estimular
nossas mentes para novos aprendizados!

Do corpo celular se originam dois tipos básicos de ramificações, os dendritos e


um axônio longo e tubular. Os dendritos se ramificam ainda mais parecendo uma
arvore e são responsáveis em sua maioria pela recepção dos sinais e estímulos vindos
das periferias de todo o corpo (chamamos este processo de vias aferentes – vias que

41
conduzem o sinal da periferia para o centro que irá processar a informação). O axônio
por sua vez, se distancia do corpo celular até outros neurônios ou diretamente no seu
órgão efetor este “caminho” de informação é chamado de vias eferentes – aquelas
que levam a informação do centro de processamento até a periferia.

Figura 26: Representação esquemática da direção das vias aferentes e eferentes.

Fonte: elaboração própria

Ainda em relação ao corpo celular, consideramos esta região como um “centro


de controle” por que é de onde são gerados os impulsos nervosos que caracterizam
a função desta célula. Os impulsos elétricos agora serão chamados de potenciais de
ação, são gerados em uma região chamada de zona de gatilho próxima ao início do
axônio e se propagam ao longo de toda sua extensão até o seu terminal axonial.
Guarde esta informação que iremos precisar dela mais adiante.

b) Terminação Axonial: Independente do tipo de neurônio, todos os


axônios possuem regiões em comum, são elas: (1) cone de implantação – região
inicial logo após o corpo celular; (2) região intermediaria e (3) região final chamada de
botão terminal ou terminação axonial.

42
Figura 27: (A) O axônio e os colaterais axonais. O axônio funciona como um
fio de telégrafo que envia impulsos elétricos a locais distantes no sistema nervoso. As
setas indicam o sentido do fluxo de informação. (B) A terminação axonal e a sinapse.
As terminações axonais formam sinapses com os dendritos ou com a soma de outros
neurônios. Quando um chega à terminação axonal pré-sináptica, são liberadas
moléculas de neurotransmissores das vesículas sinápticas na fenda sináptica. Os
neurotransmissores ligam-se, então, às proteínas receptoras específicas,
desencadeando a geração de sinalização elétrica ou química na célula pós-sináptica

A B

Fonte: BEAR, CONNORS e PARADISO, p. 42. 2017

Para conhecer mais sobre o funcionamento dos neurônios leia: MOREIRA, C.


Neurônio. Ciência Complementar. Volume 1. 2013. Disponível em:
https://www.fc.up.pt/pessoas/jfgomes/pdf/vol_1_num_1_06_art_neuronio.pdf

43
c) Dendritos: são as terminações aferentes, eles se ramificam e vão
ficando mais finos quanto mais distantes do soma e possuem pequenas expansões
bulbosas (espículas dendríticas) onde fazem contato com outros neurônios (Figura
11).

Figura 28: Espículas dendríticas. Método de Golgi. Microscopia confocal de neurônio


piramidal do córtex motor de rato, onde são indicados dendritos (D), axônio (A),
espículas dendríticas e botões sinápticos.

A B

Fonte: MONTANARI, T. Tecido Nervoso. Capitulo 4, p. 88. 2014. Disponível


em: http://www.ufrgs.br/livrodehisto/pdfs/4Nervoso.pdf

1.2.2 Tipos de Neurônios

Através das metodologias utilizadas por Golgi para a coloração e visualização


dos neurônios, foi desenvolvido um sistema de diferenciação dos tipos de neurônios
de acordo com a morfologia (forma dos dendritos e axônios) e nas estruturas que
esses neurônios enervam.

Um dos critérios de classificação dos neurônios, é o número de neuritos


(dendritos e axônios) que se prolongam a partir da soma, onde quando houver um
único neurito dá-se o nome de unipolar, se houver dois neuritos é do tipo bipolar ou

44
pseudounipolar, quando o neurônio apresentar mais de dois neuritos é chamado de
multipolar.

A grande maioria dos 85 milhões de neurônios que possuímos em nosso


sistema nervoso é do tipo multipolar.

Figura 29: Representação morfológica dos diferentes tipos de neurônios.

Fonte: http://www.lapa.ufscar.br/graduacao/AULA%209%20-
Tecido%20Nervoso.pdf (acesso em 24.01.2019)

45
Existem comprovadamente relações entre doenças como deficiência
intelectual e a morfologia dos dendritos. Para saber mais leia: BEAR, M. F.;
CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências Desvendado o Sistema
Nervoso. 4ª edição. Porto Alegre. RS. Editora Artmed.

Outra classificação utilizada para diferenciar os tipos de neurônios é em relação


a suas funções propriamente ditas, são elas:

 Neurônios Sensoriais: conduzem a informação dos tecidos mais periféricos


até o sistema nervoso central (SNC) e são responsáveis pela percepção e
atividade motora.
 Neurônios Motores: transmitem informações do SNC e medula espinhal para
os músculos (voluntários e involuntários) e glândulas (que possuem
musculatura lisa – do tipo involuntário)
 Interneurônios: garantem a condução do impulso nervoso através de axônios
longos em áreas distantes do SNC.

46
Figura 30: Representação dos diferentes tipos de neurônios de acordo com suas
funções.

Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/12771510/ (acesso em 24/01/2019)

1.2.3 Células da Glia

Para iniciarmos os estudos sobre as células do sistema nervoso convidamos


você a ler o Anexo I sobre as células glia.

Glia: dos velhos conceitos às novas funções de hoje e as que ainda virão
Flávia Carvalho Alcântara Gomes, Vanessa Pereira Tortelli e Luan Diniz (vide
texto completo ao final deste Livro-texto – anexo II)

47
Percebe-se com o texto do Anexo 1 que os estudos os gliócitos passaram a ser
vistos como elemento importante no desenvolvimento do ser humano, que orientam
tanto o crescimento dos neurônios como a migração deles, além de nutrir, sustentar
regenerar o metabolismo neural.

O avanço da ciência vem mostrando ao longo do tempo que este tipo de célula
é de extrema importância no contexto encefálico, tanto no seu funcionamento quanto
na atividade destas células isoladamente. As células da glia oferecem suporte
nutricional e imunológico tanto aos neurônios quanto ao sistema nervoso de uma
maneira mais ampla.

A glia se diferencia dos neurônios morfologicamente, pois não possuem


dendritos nem axônios, porém em relação a sua fisiologia (funcionamento) são muito
semelhantes aos neurônios uma vez que também são células excitáveis (podem
sofrer alteração na carga elétrica) mesmo não estando diretamente ligadas a
condução elétrica neuronal.

Figura 31: Organização dos diferentes tipos de células da glia.


A

48
Fontes: (A) elaboração própria e (B) KANDEL, E. R. et al. Princípios de
Neurociências. 5ª edição. Editora Artmed. p. 24. 2014

Atividade de Aplicação

Leia o texto indicado para leitura obrigatória (Anexo 1) e elabore um texto


o qual você dicuta, com embasamento, o caminho percorrido pela neurociência.
Qual a importância de se estudar as celulas neuronais para a educação? Qual a
importância de saber que a as celulas gliais continuam sendo produzidas?

1.2.4 Astrócitos

Os astrócitos, conforme o próprio nome sugere possuem esse nome porque


têm uma morfologia semelhante a estrelas; são as mais numerosas células do sistema
nervoso e costumam preencher espaços entre os neurônios. Uma das funções
essenciais dos astrócitos é manter o fluido extracelular em equilíbrio iônico e
balanceando a quantidade de neurotransmissores presente na região ao redor dos
neurônios através de proteínas mobilizadoras que degradam as moléculas que podem
(porém não devem) excitar outros neurônios.

49
Figura 32: Demonstração morfológica dos astrócitos, em (A) astrócito marcado com
GFAP e (B) astrócito marcado com vimentina.

A B

Fontes: http://anatpat.unicamp.br/xnptradionecrose2c.html e
https://pt.wikipedia.org/wiki/Astr%C3%B3cito [acesso em 24/01/2019]

1.2.5 Oligodendrócitos e Células de Schwann

Estes tipos de células da glia possuem uma função muito importante que é a
manutenção da camada lipídica (gordurosa) que envolve os axônios da maioria dos
neurônios. Essas membranas são conhecidas como bainha de mielina.

Qual é a sua importância, você deve estar se perguntando? Então vamos


conhece-la!

A condução do impulso elétrico pelos neurônios funciona de maneira parecida


como os cabos de eletricidade caseiros que todos nós conhecemos, ou seja, um cabo
elétrico doméstico é revestido por uma camada de borracha ou plástico, certo? Se em
algum momento essa camada se rompe, a eletricidade se perde ou é dissipada de
forma que se tocarmos em um fio desencapado, poderemos sentir a eletricidade na
forma de um choque. Este ponto de ruptura do isolamento elétrico faz com que a
corrente não chegue ao seu final.

Pois então, um neurônio pode ser comparado e um cabo elétrico onde a bainha
de mielina faz o papel do revestimento de borracha, só que neste caso é um
isolamento de lipídeos (gordura) que impede a perda do sinal elétrico, garantindo

50
assim que a eletricidade chegue até seu ponto final de forma integra que com a
mesma amplitude do local onde foi gerada, entendeu?

Neste contexto, os Oligodendrócitos e as células de Schwann mantêm a bainha


de mielina sempre integra garantindo que o sinal elétrico não perca sua intensidade.

Figura 33: Demonstração das células da glia. (A) posicionamento morfológico das
células da glia; (B) enfoque para os oligodendrócitos e células de Schwann na
formação da bainha de mielina.

51
Fontes: (A) https://www.infoescola.com/citologia/celulas-da-glia/ (B)
http://distoniasaude.com/dyt6-dystonia-protein-regula-o-processo-critico-para-
maturacao-neuronio/ [acesso em 25.01.2019]

A membrana plasmática da bainha de mielina é constituída por 70% de


lipídeos e 30% de proteínas, enquanto outras membranas possuem 35% de
lipídeos e 65% de proteínas. Os lipídeos constituem em fosfolipídios,
glicolipideos e colesterol. Fonte: MONTANARI, T. Tecido Nervoso. Capitulo 4, p.
88, 2014. Disponível em: http://www.ufrgs.br/livrodehisto/pdfs/4Nervoso.pdf

1.2.6 Nódulos de Ranvier

Ao longo dos axônios a bainha de mielina é descontinua e estes intervalos na


bainha são de aproximadamente 1 a 2 mm deixando expostos pequenos fragmentos

52
de axônios. Tais intervalos são chamados de nódulos de Ranvier onde há uma grande
concentração de íons do tipo: Na+.

Deve estar se perguntando novamente, por que há intervalos na bainha de


mielina, uma vez que ela tem como função isolar a eletricidade conduzida ao longo do
neurônio? A resposta é simples, imagine que um neurônio motor possui um axônio
que vai do encéfalo até seu braço, é um caminho longo, não acha? Então para que o
impulso nervoso chegue com a mesma intensidade do ponto onde foi gerado até seu
braço é preciso “reforços” iônicos (veremos esse mecanismo com mais detalhes em
potencial de membrana) renovando o impulso e mantendo sua amplitude. É
exatamente esta a função dos nódulos de Ranvier (Figura 17).

Figura 34: A bainha de mielina de um axônio é interrompida periodicamente


nos nódulos de Ranvier.

Fonte: BEAR, CONNORS e PARADISO, p. 52. 2017

53
1.2.7 Células não neuronais

São tipos celulares específicos que não possuem atividade neural propriamente
dita, mas apresentam atividade importante paralelamente as células neurais. As
células ependimárias são epiteliais que revestem os ventrículos encefálicos e o
canal central da medula espinhal, em alguns locais essas células possuem cílios que
auxiliam na movimentação do liquido cefalorraquidiano (LCR).

O outro tipo de célula não neuronal é a micróglia que morfologicamente são


alongadas, com prolongamentos curtos e irregulares (Figura 18). Em relação a sua
função, basicamente é imunológica, são células fagocitárias e participam de
processos inflamatórios e de reparação do tecido nervoso.

Figura 35: Fotomicrografia de preparado realizado com o método de impregnação


metálica de Golgi.

Fonte: JUNQUEIRA, L.C.; CARNEIRO, J. Histologia Básica. 10ª edição. Ed.


Guanabara Koogan. p. 164.2004

1.3 Potencial da Membrana

O encéfalo e a medula espinhal ficam envolvidos por membranas denominadas


meninges, as quais têm a função de proteger sistema nervoso central.

54
As Meninges são constituídas por tecido conjuntivo e são formadas por três
camadas as quais, de fora para dentro, são assim denominadas: dura-máter,
aracnoide e pia-máter.

Figura 36: As camadas da meninge

Fonte: https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/03/meninges.jpg,
acesso em 13/05/2019.

a) Dura-máter

A dura-máter é a meninge localizada mais externamente, formada por um


tecido conjuntivo denso, contínuo com o periósteo dos ossos da caixa craniana. Já a
dura-máter que envolve a medula espinhal, é separada do periósteo das vértebras,
originando entre ambos, o chamado espaço epidural, onde são encontradas algumas
estruturas como: veias, tecido conjuntivo frouxo e tecido adiposo. A parte da dura-
máter que está em contato com a aracnoide é um local de fácil clivagem, onde em
algumas situações patológicas, pode haver o acúmulo de sangue externamente à
aracnoide, no chamado espaço subdural e pode ser preenchido por sangue em
algumas doenças. Este, por sua vez, não existe em condições normais.

55
b) Aracnoide

A aracnoide é uma membrana sem vascularização que se divide em duas


partes: uma em contato com a dura-máter e sob a forma de membrana, e a outra
formada por traves que conecta a aracnoide com a pia-máter. Os espaços entre as
traves dão origem ao espaço subaracnóideo, onde está presente o líquido
cefalorraquidiano, protegendo o sistema nervoso central contra traumatismos. Nesta
membrana, existem saliências formadas devido à expansão da aracnoide que
perfuram a dura-máter, recebendo o nome de vilosidades. Estas estruturas possuem
a função de transferir o líquido cefalorraquidiano para o sangue. Este líquido atravessa
a parede da vilosidade e a do seio venoso, até chegar à corrente sanguínea.

c) Pia-máter

A pia-máter é extremamente vascularizada e encontra-se aderida ao tecido


nervoso, contudo não está em contato com as células ou fibras nervosas. Entre esta
membrana e os elementos nervosos encontram-se prolongamentos dos astrócitos,
que formando uma camada muito fina, unem-se à face interna da pia-máter. Os vasos
sanguíneos entram no tecido nervoso através de túneis revestidos por esta
membrana, chamados de espaços perivasculares. Antes destes vasos se
transformarem em capilares, a pia-máter desaparece.

Como já vimos, os neurônios, principais células do sistema nervoso, recebe e


conduz os impulsos porque tem as membranas, uma barreira que impossibilita que o
conteúdo celular saia e que entre partículas.

Reforçando: tanto os neurônios quanto as células gliais são células nervosas,


lembrando que as células gliais dão suporte para que o sistema nervoso central
trabalhe. Acredita-se que haja 10 Glias para cada neurônio sendo elas astrócitos,
células ependimárias, micróglia, oligodendrócitos e células de Schwann.

Figura 37 Células Gliais

56
Fonte: https://www.todamateria.com.br/celulas-gliais/ > acessado: 20/05/2019

As células nervosas são conduzidas pelos impulsos elétricos, chamados de


potência de ação (PA), equivalendo a um circuito elétrico, se movimentando o tempo
todo pelo corpo, sem nunca descansar podendo ser medido pelos diferentes
aparelhos, tendo como exemplo a eletrocardiografia e o eletroencefalografia.

A potência de ação (P.A) responde aos estímulos, portanto, um estímulo lento


fará com que ele tenha uma potência menor, uma redução de sua frequência, um
estímulo prolongado ele se adaptará e ao acabar o estímulo ele se desadaptará.
Acreditamos que você está começando a fazer as relações com algumas teorias que
utilizam os termos adaptação, acomodação, desadaptação. Mas quando ocorrem as
sinapses acontece a fixação.

As membranas além de serem uma parede protetora elas conduzem


informações e substancias. Elas protegem criando uma barreira entre o meio externo
e interno, selecionando os resíduos que devem ser excretados e os que devem ser
absorvidos pelo organismo. Muitas pessoas não dão o devido valor a ela, porém, há
estudos que mostram que a membrana pode ter sido o primeiro elemento celular que
possibilitou o metabolismo.

1.3.1 Sinapse e transmissão sináptica

Para entendermos o que é sinapse pense em um plug de uma televisão que ao


entrar em contato com a tomada faz com que o aparelho funcione.

57
Sinapse é a conexão por proximidade (contiguidade) entre neurônios e
estruturas, tendo como exemplo músculo, que fará com que ele entender o que tem
que ser feito.

A comunicação entre os neurônios acontece pela pré-sinapse (como se fosse


o fio e a sinapse o plug que ao entrar em contato com a tomada, rede elétrica faz a
comunicação entre o aparelho e a rede elétrica, envia do a informação). É a região
entre neurônio e a célula que transmite o impulso nervoso.

Para que o ser humano responda à um estímulo essa informação deve chegar
ao local desejado e esse caminho e a conexão entre informação e local denominam
pré sinapse e sinapse. Esses impulsos nervosos, ao serem conectados com o terminal
receptor, passam a ser chamados por impulsos químicos.

Existem duas maneiras em que as conexões entre os neurônios podem


acontecer: sinapses química e elétrica.

A maioria das sinapses é química que os neurônios inibem ou excitam


substancias. Essa sinapse é mais complicada e começaremos a explicação por ela.

As sinapses ficam entre as estruturas do neurônio transmissor (terminal axônio)


e o receptor, entendendo que um axônio pode ter ramificações e cada ramificação
poderá fazer sinapse. O terminal axônio tem vesículas sinápticas com
neurotransmissores.

Figura 38- sinapse

Fonte:<https://pt.khanacademy.org/science/biology/human-biology/neuron-
nervous-system/a/the-synapse> acessado em 23/05/19

58
Esse espaço entre pré e pós-sinapse chamado de fenda sináptica são
interligadas por potencial de ação ou impulso permitindo a conexão entre as vesículas
sinápticas e terminal e ative uma energia.

O sinal de entrada da sinapse química é dado quando o neurônio libera, através


da fenda, um neurotransmissor que é percebido pelo outro neurônio que transmitirão
sinais. Os neurotransmissores São substâncias químicas produzidas pelos próprios
neurônios para que possam se comunicar com o outro neurônio.

O neurotransmissor liberado pelo primeiro neurônio é chamado de pré-sinapse


resultado de reações intracelulares (de dentro da célula). Nos mamíferos as sinapses
que prevalecem é a química, mas as sinapses elétricas acontecem em lugares
específicos, nas junções, formando canais que conduzem os íons de um citoplasma
de uma célula para o citoplasma de outra célula, sendo a transmissão muito rápida,
sendo basicamente instantâneo o PA- potencial de ação no neurônio pós-sináptico.

Assim, a sinapse elétrica acontece onde os neurônios devem ser sincronizados


entre eles, geralmente em células não neurais do músculo cardíaco, algumas
glândulas, glia e outras.

Os neurônios em si, devem estar interconectados formando uma rede de


atividade elétrica, mas devemos entender que as células transmissoras e receptoras
estão separadas e entre elas há um espaço denominado sinapse, que permitem a
passagem do impulso nervoso. Substancias químicas, neurotransmissoras, são
responsáveis em permitir que os íons andem dentro e fora das células receptoras.

Perceba que o caminho do axônio (do grego eixo) terminal é denominado pré
sinapse e o neurônio alvo pós-sináptico e a condução chama-se sinapse. O cérebro
infantil tem muitas sinapses que começarão a diminuir na adolescência conforme os
eventos naturais da vida.

É bom ressaltar que os neurotransmissores são moléculas pequenas e as


células não secretam os mesmos neurotransmissores, cada substancia química
cerebral trabalha em áreas diferentes no cérebro tendo consequências diferentes,
conforme o local que ocorre a atividade.

Para Del Nero (1997) a desorganização entre neurotransmissores e receptores


causam danos cerebrais. Uma máquina que deve funcionar de maneira orquestrada,
sincronizada.

Aprender está diretamente ligado à sinapse, pois neurônios sem conexões não
servem para nada. Eles devem se conectar, pois, por mais que ele tenha uma
especialização funcional sozinho não tem valor. São as redes neurais que possibilitam
que haja a aprendizagem, e que se faça as relações entre conceitos e situações.

59
É interessante elucidar que a quantidade de neurônios de uma pessoa com
altas habilidades é a mesma que uma pessoa com a inteligência dente dos padrões
de normalidade, sendo a diferença as conexões complexas que são feitas. O
funcionamento deve ser sincronizado, qualquer distúrbio dessa degeneração pode
causar doenças como Alzheimer, Parkinson, demência, perda da memória e outras
perdas irreversíveis.

Nessas atividades intensas, com excessos de neurônios, sinapses e conexões


neurais, está incluída a degeneração sináptica e a morte neural. Uma programação
que acontece já no ventre materno, considerado normal e benéfico, para o bom
funcionamento do organismo.

1.3.2 Impulso nervoso e sinapse nervosa

Os estímulos nos neurônios fazem o mesmo percurso chegam nos dendritos,


continuam pelas células, percorrem o axônio e na extremidade passam para outra
célula, continuando o percurso de dendrito, corpo celular e axônio.

O impulso que se propaga nos neurônios tem origem elétrica, sendo resultado
de cargas elétricas alteradas das superfícies tanto interna quanto externa da
membrana celular.

Figura 39- Transmissão dos impulsos nervosos do neurônio

60
Fonte:< https://www.todamateria.com.br/transmissao-do-impulso-nervoso/>
acessado 23/05/19

O corpo é uma engenharia, pense na dinâmica e compare a algum maquinário


que você tenha familiaridade. O percurso é sempre na mesma direção, precisa de
força impulsiva para chegar no local desejado e a conexão que gerará reação.

Você deve estar achando


tudo muito complicado! Pois, não é
fácil mesmo entender rápido algo
que muitas vezes não faz parte da
vida ou rotina da gente

A membrana tem carga elétrica do lado de dentro e de fora, sendo positiva do


lado externo e negativa do lado interno, ao se encontrar em estado de repouso, ela é
caracterizada como membrana polarizada, sendo mantida pela bomba de sódio e

61
potássio. O estímulo chegando aos neurônios seja químico ou elétrico há alteração
de permeabilidade e as cargas se invertem gerando PA- Potencial de Ação e surge
impulso nervoso e quando o impulso termina de passar ela repolariza e volta a
repousar. Um ciclo contínuo, que se algo sair errado resultará em algum dano.

Para cada neurônio os impulsos são diferentes para que a despolarização


aconteça para a mudança do estado de repouso para potencial de ação aconteça,
quando o impulso não acontece de maneira suficiente as alterações não se propagam,
ficando apenas no local.

Leia o texto abaixo que contribuirá para o entendimento e aprofundamento.

Potencial de ação: do estímulo à adaptação neural


Eddy Krueger-Beck, Eduardo Mendonça Scheeren, Guilherme Nunes Nogueira-
Neto

As células nervosas transmitem informações umas para as outras por


meio de impulsos elétricos denominados potenciais de ação (PA), tornando a
comunicação dos neurônios similar a uma rede de circuitos eletrônicos PAs
ocorrem o tempo todo em tecidos do corpo humano, coordenando suas
funções, seja no estado de vigília, dormindo e em outros estados
comportamentais.
Com o uso de eletrodos de Ag/AgCl aderidos à superfície da pele ou
microeletrodos conectados diretamente ao tecido nervoso, a atividade do PA
pode ser mensurada por meio de várias técnicas de medição de sinal, tais como:
eletro-oculografia (EOG), eletroencefalografia (EEG), eletrorretinografia (ERG),
eletrocardiografia (ECG), eletrococleografia (ECoG) e eletromiografia (EMG). O
PA gerado no interior do corpo produz um campo magnético perpendicular ao
axônio, que pode ser registrado exteriormente por aparelhos como:
magnetoencefalógrafo (MEG), magnetocardiógrafo (MCG) e o SQUID (acrônimo
do inglês Super Conducting Quantum Interference Device).
[...]
O PA comporta-se de maneiras diferentes diante de diferentes estímulos
físicos; quando um estímulo é muito lento, não rápido e intenso o suficiente para
despolarizar a célula, acontece o fenômeno da acomodação. A redução da
frequência (de disparo da despolarização) após a exposição a um estímulo físico

62
prolongado, como toque, alongamento muscular, exposição a odores e
estimulação elétrica, caracteriza a adaptação.
A recuperação da adaptação (desadaptação) ocorre após o cessar do
estímulo, e demora até que a frequência dos estímulos volte a ser normal salvo
quando ocorre transdução genética, como na plasticidade sináptica. O presente
estudo trata de uma revisão da literatura sobre o desencadeamento e a
propagação do PA e o consequente processo de adaptação celular.
[...]
Fonte: http://www.scielo.br/pdf/fm/v24n3/18.pdf> acessado:25/05/19

O texto possibilitará uma maior compreensão e aprofundamento juntamente


com figura que se apresenta abaixo.

Figura 40- Impulso nervoso

Fonte:<https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Histologia/epitelio29.php>
acessado em 23/05/19

Assim, pode-se entender que se o impulso não for suficiente a célula fica
acomodada e em estado de repouso. Essa análise auxiliará pata você entender como
ocorre o processo de aprendizagem.

Portanto, o neurônio é obediente, o estimulo pode ser muito, mas o impulso


será o mesmo. Será o número de neurônios despolarizados que mudará a intensidade
das sensações, logo, mais neurônios = mais sensações. Observe o exemplo de
uma queimadura na mão: você queima a mão, conforme o tamanho da área afetada

63
será o tamanho da dor, por consequência dos receptores estimulados e
despolarização. As conexões podem ser diferentes, isso veremos mais para frente.

Atividade de Aplicação

Após leitura do texto elabore um texto, que você possa trazer novos
teóricos sobre as conexões sinápticas e a importância do impulso nervoso para
aprendizagem.

1.4 Introdução aos conceitos de divisão do Sistema Nervoso

O encéfalo comanda as ações, por isso que é importante estudarmos e


compreendermos seu funcionamento, pois subsidia a compreensão do pensar, falar,
compreender, sentir e tantas outras ações necessárias para nossa interação social e
desenvolvimento.
No encéfalo encontramos o cérebro, cerebelo, bulbo, ponte, tálamo e
hipotálamo. E quem comanda a medula espinhal é o cérebro.
Vamos tentar entender melhor a diferença entre encéfalo e cérebro?

Figura 41 – O encéfalo e suas divisões

Fonte: adaptado
https://escolakids.uol.com.
br/ciencias/encefalo.htm>
Acessado:20/05/2019

64
Figura 42- encéfalo

Fonte: <http://www.notapositiva.com/old/pt/apntestbs/ciencnatur/09_sistema_neuro_hormonal
_d.htm> Acessado: 20/05/2019

As figuras a cima procuram esclarecer a diferença entre encéfalo, cérebro e


cerebelo, na tentativa de, por intermédio de imagens e informações visuais, auxiliar
na compreensão. Entendendo que encéfalo é o todo (sem a medula) e o cérebro uma
parte do todo. A medula espinhal, parte do sistema nervoso central-SNC, seria a rua
onde os impulsos andam, o centro dos reflexos, das ações involuntárias- tecido
nervoso localizado dentro da coluna vertebral. Cérebro principal órgão, que comanda
ações e sentimentos.
O cerebelo é responsável pelo controle motor, o equilíbrio, coordenação e o
tônus muscular. O bulbo se responsabiliza pela respiração, reflexo cardíaco e
transmitem informações sensório motoras, ocupando uma função vital no corpo
humano.
A ponte que fica entre bulbo e mesencéfalo é a passagem das fibras nervosas
que ligam cérebro com a medula, justificando seu nome.

Não se esqueça que nosso sistema nervoso é dividido em sistema nervoso


central e periférico. O sistema nervoso central-SNC é composto pelo encefalo e a
medula, enquanto que o sistema nervoso periférico- SNP, composto por redes
nervosas responsáveis em levar informações a todo corpo.

65
Figura 43- Demonstração esquemática das divisões do sistema nervoso. (1)
Encéfalo; (2) SNC e (3) Medula espinhal.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_nervoso#/media/File:Central_nervous_system.svg [acesso


em 07.01.2019]

O sistema nervoso é considerado dentro do corpo humano um sistema único em


relação à quantidade e complexidade de processos tanto cognitivos como
operacionais que este deve executar. Ele é responsável por receber milhões de dados
por minuto de diferentes órgãos e deve integrá-los para determinar a resposta que
deve ser executada.
Pelo fato deste sistema ser único, você deve estar pensando, como tantas
informações podem ser processadas em frações de segundos, não é?
Essa capacidade se deve a peculiaridade das células nervosas que são
completamente diferentes das células de todo o organismo humano. Vamos estudar
as células com maior profundidade mais adiante, mas por enquanto podemos
conhecer alguns dados históricos que mostram o quanto este sistema sempre
despertou a curiosidade dos homens.

66
Caro(a) aluno(a),

Nessa unidade você teve a oportunidade de começar a viagem maravilhosa


para o cérebro humano.

Você pode perceber que nosso cérebro é uma máquina engenhosa a qual deve
ter seu funcionamento organizado e sincronizado.

Respeitar o funcionamento e buscar estimula-lo para que consiga fazer


conexões complexas é o nosso desafio.

Esperamos que tenha aproveitado essa unidade.

Então, vamos continuar os estudos?

67
Unidade II

FUNCIONAMENTO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E SUAS CORRELAÇÕES


COGNITIVAS: ASPECTOS NEUROPSICOLÓGICOS DOS PROCESSOS DA
APRENDIZAGEM E DA NÃO APRENDIZAGEM

Como visto na unidade I, o sistema nervoso começa a aparecer entre a 3ª e 4ª


semanas de gestação que proliferam através de divisão mitótica, ou seja, se dividem
para aumentar. O invaginar ou fechar-se ela se transforma em goteira neural e depois
tubo neural.

Figura 44- constituição da crista neural durante a neurulação e neurópodo


anterior e posterior fechados.

Fonte: adaptado<
http://www.cesadufs.com.br/ORBI/public/uploadCatalago/11252716022012Biologia_do_De
senvolvimento_Aula_3.pdf>acessado: 25/05/19

Da crista neural sairá o Sistema Nervoso Periférico- SNP que formará a medula
espinhal e o Sistema Nervoso Central- SNC será constituído do tubo neural e teremos
o encéfalo.

A partir do tubo neural que o Sistema Nervoso Central-SNC será constituído,


junto com encéfalo = cérebro (telencéfalo e diencéfalo), cerebelo em tronco encefálico
e a medula espinhal. Ao mesmo tempo, como você pode observar, o sistema nervoso
periférico- SNP começa a se formar a partir das cristas neurais que se formam quando

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o tubo neural se fecha. Como mostra a figura, o tubo tem dois lados, os quais terão
as cristas formadas. Um processo contínuo.

O tubo neural crescerá e irá se contorcer, e se modifica virando uma estrutura


com dilatações denominadas vesículas encefálicas primitiva se transformando na
nossa estrutura anatômica. Perceba que a terminologia pode não ser familiar a você,
mas acreditamos que logo se acostumará.

Caso o tubo neural-goteira não se fechar, uma ação que deve ocorrer entre 24º
e o 28º dias depois de nascida a criança, ocasionará alteração, podendo resultar em
anencefalia e espinha bífida.

Figura 45- evolução filogenética SNC

Fonte: Adaptado
<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4329864/mod_resource/content/1/Neuroanato
mia%20Geral-EComoli_2018.pdf> 25/05/19

A filogenética cerebral dos vertebrados se constitui em prosencéfalo,


mesencéfalo e rombencéfalo, que com a mitose constituirá o metencéfalo e o
mielencéfalo que constituirá o bulbo e o tubo neural, localizado atrás do mielencéfalo,
continuará crescendo e dará origem a medula.

Essas três partes, são fundamentais no começo do desenvolvimento do SNC,


pois, controlam a temperatura do corpo, mantendo-o adequada para sobrevivência, a
alimentação, as emoções, as funções reprodutivas e o sono.

69
O ser humano se inicia com poucas células, chamadas de células tronco
neurais com capacidade invejável de auto renovação, responsáveis pela célula mãe.

A estas alturas, você̂ provavelmente já́ sabe que o sistema nervoso – o


encéfalo, a medula espinhal e os nervos do corpo – é crucial para a vida e permite
que você̂ sinta, se mova e pense. Como surgiu essa concepção?

“O homem deve saber que de nenhum outro lugar, mas apenas do encéfalo,
vem a alegria, o prazer, o riso e a diversão, o pesar e o luto, o desalento e a
lamentação. E por meio dele, de uma maneira especial, nós adquirimos
sabedoria e conhecimento, enxergamos e ouvimos, sabemos o que é justo e
injusto, o que é bom e o que é ruim, o que é doce e o que é insípido... E pelo
mesmo órgão nos tornamos loucos e delirantes, e medos e terrores nos
assombram.... Todas essas coisas nós temos de suportar quando o encéfalo
não está sadio.... Nesse sentido, opino que é o encéfalo quem exerce o maior
poder no homem. “
Hipócrates, Da Doença Sagrada (Século IV a.C.) (Apud BEAR, CONNORS e
PARADISO, 2017. p.4)

Para melhor entendermos o Sistema Nervoso e como hoje são divididos os


estudos das Neurociências, vamos voltar um pouco no tempo. O biólogo Charles
Darwin em 1859 publicou em “A Origem das Espécies” muitos fatores relacionados ao
desenvolvimento das espécies em geral, porém o autor enfatiza algo interessante
dobre o sistema nervoso.

Ele observou que várias espécies de mamíferos mostram reações semelhantes


quando expostas a situações de medo como, midríase (aumento das pupilas),
taquicardia, e arrepio (piloereção). Esse padrão é igualmente observado em cães e
no homem, por exemplo.

Para Darwin essas semelhanças indicavam que as espécies evoluíram de um


ancestral em comum que tinham um traço genético em comum extremamente
vantajoso como, por exemplo, a fuga de possíveis predadores. Então Darwin presumiu
que o comportamento indica uma atividade do sistema nervoso que pode interferir em
mecanismos neurais que servem como base da reação de medo e que estes são
semelhantes entre as espécies.

O Livro “A Origem das Espécies” de Charles Darwin, não é só um livro para


biólogos ou pessoas interessadas nas ciências biológicas. É uma obra que nos

70
orienta sobre questões que sempre rondaram nossas mentes como “de onde
viemos? ”

Recomendado para todos aqueles que têm curiosidades sobre a vida, e fica
muito divertido ver como no início do século XIX foi possível apenas
observando, Darwin chegou a conclusões utilizadas até hoje e sem muitos
recursos tecnológicos.

Com base nessa breve história dos conhecimentos obtidos ao longo dos séculos
vamos começar a desenvolver nosso encéfalo? Alimentando-o com novas
informações e estimulando novas sinapses? Animado (a)? Então vamos lá!

De acordo com a história dos estudos sobre os mistérios do sistema nervoso


ao longo dos tempos, os desafios de compreender a complexidade deste sistema
fizeram com que houvesse a necessidade de fragmentar todo o sistema onde cada
fragmento estudaria um grupo de informações especificas onde uma complementaria
a outra.

Isso é chamado de abordagem reducionista e em ordem ascendente de


complexidade os níveis fragmentados são: molecular, celular, de sistemas,
comportamental e cognitivo (BEAR, CONNORS e PARADISO, 2017).

a) Neurociências Moleculares: o tecido encefálico e todas as estruturas ligadas


a ele possuem diferentes papeis cada um deles cruciais para a função do
sistema como um todo. Como as células nervosas se comunicam entre si, e
entre seus órgãos efetores (tecidos que funcionam sob comando nervoso);
como o processamento dos estímulos acontecem e como as respostas são
geradas. Enfim, todos os eventos químicos que são aferidos em níveis
moleculares são abordados neste fragmento da neurociência.
b) Neurociências celulares: este é o nível seguinte do estudo do sistema
nervoso, abordam como as moléculas trabalhando em conjunto podem modular
a ação das células nervosas propriamente ditas, os neurônios (que
estudaremos com mais detalhes mais adiante).
c) Neurociências de sistemas: neurônios específicos formam circuitos
complexos e executam funções em comum como por exemplo o circuito
responsável pela visão ou o olfato – representam células especializadas em
regiões especificas todas funcionando com o mesmo propósito.
d) Neurociências comportamentais: estudo que analisa a integração entre
funções básicas do sistema nervoso (que são comuns para todos) e como as
respostas são diferentes entre os indivíduos, mesmo que o estimulo seja o
mesmo. Vamos imaginar o seguinte: todos nós possuímos mecanismos iguais
de memorização de informações, certo? Então por que reagimos de formas
diferentes a odores, ou sons? A resposta a essas perguntas está na

71
plasticidade neuronal que é moldada ao longo da vida e dos estímulos que
recebemos que são interpretados de formas diferentes. Interessante não acha?
e) Neurociências cognitivas: esta é sem dúvidas a parte da ciência mais
complexa de se estudar por que ela avalia como os mecanismos neurais como
consciência e memoria, são modulados e expressados na forma de
comportamentos distintos, ou seja, é o estudo da mente em si.

MOURÃO – JÚNIOR, C.A; OLIVEIRA, A. O.; FARIA, O. L. B. Neurociência cognitiva


e desenvolvimento humano. 2017. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/318110479_Neurociencia_cognitiva_e_des
envolvimento_humano

2.1 Fundamentos de Neuroanotomia e Neurofisiologia.

Conhecer o funcionamento do cérebro é interessante, instigador e requer


pesquisa e aprofundamento, pois o pensar, aprender, construir ideias, decifrar
símbolos, falar, escrever é a magia do nosso cérebro e envolve emoção (que do latim
significa mover, colocar em movimento), um mover-se de dentro para fora, que coloca
nossos desejos e necessidades em forma de gestos, fala e atos.

Entender essa relação é decifrar o sistema límbico e as conexões que ele faz
como o processo do aprender. As áreas cerebrais se conectam com circuitos neurais
que com seus neurotransmissores fazem a conexão do organismo com o meio interno
e externo de maneira harmoniosa, homeostática.

Emoção resulta da comunicação entre cérebro e corpo por sistema distribuído


por todo o corpo. Portanto, o corpo todo sente e o sistema límbico SL (do latim límbus-
orla, anel, em torno), se localiza em torno do tronco encefálico e precisa ser visto
entendido e estudado, por influenciar nos tipos de respostas emocionais que os
mamíferos dão às situações vivenciadas e sentidas.

Veja na figura abaixo, onde fica o lobo límbico e sua trajetória. O seu movimento
influencia e irradia no hipocampo e amigdala, responsáveis, entre outras coisas na
reação emocional.

72
Figura 46. Sistema límbico

Repare como a trajetória denominada


de giro cingulada interfere em vários campos
cerebrais, inclusive hipocampo e amígdala

Fonte:<
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4183900/mod_resource/content/3/Sistema%20
L%C3%ADmbico_EC2018.pdf Acessado 25/05/19

Estudos mostraram que lesões no lobo temporal que envolve amígdala


influenciam na emoção emitida, fazendo com que as pessoas lesionadas nessa região
percam a noção do perigo, por não identifica-lo. Repare que quando olhamos um
objeto, essa informação vai para o cérebro que faz a relação com experiências
anteriores e os neurotransmissores fazem a conexão entre experiência guardada e o
objeto, tendo assim a reação do indivíduo.

73
Figura 47- emoção

Fonte:<
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4183900/mod_resource/content/3/Sistema%20
L%C3%ADmbico_EC2018.pdf Acessado 25/05/19

Pesquisadores acreditam que o Sistema Límbico, com seus giros corticais


influenciam nos instintos, emoções, memória e no equilíbrio orgânico- homeostase.

A amígdala, está relacionada a reação de amor, amizade, ira, agressividade,


medo, ameaça e perigo e um trauma nessa região ocasionará a falta da capacidade
de reconhecimento do perigo e a estimulação dessa região faz com que a pessoa seja
ansiosa, medrosa e o aumento do estado de vigilância. Assim, a amígdala tem um
papel importante para a sobrevivência do indivíduo.

Amígdala, uma pequena célula em forma de amêndoa, dentro do lobo temporal,


na parte inferior que se comunica com o hipocampo. Ela tem uma parte centro medial
que se estende pelas colunas de células neurais que controlam emoções importantes
na autopreservação.

O estímulo elétrico pode causar violência, não percepção de pessoas


conhecidas e não identificação de afinidade entre as pessoas que o rodeia. Para
conseguirmos pensar o nosso cérebro precisa estar em boas condições de trabalho e
os circuitos neurais terem condições para executar atividades físico-químicas
complexas que estão tanto no cérebro quanto na medula espinhal e controlam nossos
movimentos dos mais simples para os mais complexos.

Imagine uma máquina de café que para ela funcionar precisa de estímulo
elétrico, um condutor de energia que funcione, um ventilador para não aquecer.

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Nosso corpo é mais complexo, mas uma engenharia, uma máquina que deve
funcionar em perfeita harmonia. O corpo não pode aquecer e nem esfriar demais e o
sangue deve manter em certa pressão. Quando o funcionamento não está
acontecendo direito algo precisa ser feito e ajustado. Somos animais com mecanismo
complexo de funcionamento e entender resulta em imersão nesse campo
desconhecido.

O processo quando decifrado contribui para que o professor alfabetizador


possa auxiliar seus alunos nessa jornada, o psicólogo seu cliente, o fisioterapeuta seu
paciente e o médico com seu paciente.

É importante salientar que estudos comprovam que o cérebro se mantém ativo


e com poder de recuperação até a morte, desmistificando a ideia de que na velhice a
recuperação cerebral é nula. Pesquisas em animais mostraram que mesmo idosos,
quando amputado algum membro a parte cerebral que controla aquela região continua
se comunicando, formando novas conexões sinápticas e comprovando a plasticidade
cerebral.

O sistema nervoso é um dos diversos sistemas no corpo humano responsável


por transmitir sinais de todas as partes do corpo e coordenar as respostas sejam elas
voluntárias ou involuntárias. Ele é responsável por receber milhões de dados por
minuto de diferentes órgãos e deve integrá-los para determinar a resposta que deve
ser executada.

2.1.1 Neurotransmissores

Antes de entrarmos no próximo subcapítulo é relevante citar um importante


elemento funcional do Sistema Nervoso: o neurotransmissor.

Os neurotransmissores são substâncias químicas produzidas pelos


neurônios (as células nervosas) e, por meio delas, podem enviar informações a
outras células. Podem também estimular a continuidade de um impulso ou
efetuar a reação final no órgão ou músculo alvo. Os neurotransmissores agem
nas sinapses, que são o ponto de junção do neurônio com outra célula.

Os Neurotransmissores são definidos como mensageiros químicos que


transportam, estimulam e equilibram os sinais entre os neurônios, ou células nervosas
e outras células do corpo. Esses mensageiros químicos podem afetar uma ampla
variedade de funções físicas e psicológicas, incluindo frequência cardíaca, sono,
apetite, humor e medo.

75
Bilhões de moléculas de neurotransmissores trabalham constantemente para
manter o funcionamento do nosso cérebro, gerenciando tudo, desde a respiração até
o batimento cardíaco, até os níveis de aprendizado e concentração.

2.1.1.1 Como os neurotransmissores funcionam

Para que os neurônios enviem mensagens por todo o corpo, eles precisam se
comunicar uns com os outros para transmitir sinais. No entanto, os neurônios não
estão simplesmente conectados uns aos outros. No final de cada neurônio há um
pequeno espaço chamado sinapse e para se comunicar com a próxima célula, o sinal
precisa ser capaz de atravessar esse pequeno espaço. Isso ocorre através de um
processo conhecido como neurotransmissão.

Na maioria dos casos, um neurotransmissor é liberado do que é conhecido


como o terminal do axônio após um potencial de ação ter alcançado a fenda sináptica
(em destaque, na imagem abaixo), um lugar onde os neurônios podem transmitir
sinais uns aos outros.

Imagem 48 – Terminal do Axônio

Fonte: nobeastsofierce/Shutterstock.com Neurotransmissores, acesso em 23/05/19.

76
Quando um sinal elétrico chega ao final de um neurônio, ele dispara a liberação
de pequenos sacos chamados vesículas que contêm os neurotransmissores. Esses
sacos derramam seu conteúdo na sinapse, onde os neurotransmissores se movem
através do espaço em direção às células vizinhas. Essas células contêm receptores
onde os neurotransmissores podem se ligar e desencadear mudanças nas células.

Após a liberação, o neurotransmissor atravessa a lacuna sináptica e se liga ao


local do receptor no outro neurônio, estimulando ou inibindo o neurônio receptor
dependendo do que o neurotransmissor é. Os neurotransmissores agem como uma
chave e o local do receptor age como um bloqueio. O neurotransmissor leva a chave
certa para abrir bloqueios específicos. Se o neurotransmissor for capaz de funcionar
no local do receptor, ele provocará mudanças na célula receptora.

2.2. Divisão anatômica e funcional do Sistema Nervoso: áreas corticais,


plasticidade neural.

E então aluno? Como estamos até agora? Sabemos que as informações


passadas até agora parecem não fazer muito sentido e assim parecem impossíveis
de serem compreendidas, não é?

Pois nada é tão difícil quando observarmos um contexto para tanta informação.
A partir de agora, iremos abordar mecanismos mais específicos do sistema nervoso
já inserindo contextos cognitivos e comportamentais, acredite, você vai compreender
como o conhecimento prévio de química e biologia celular vai se encaixando nos
contextos apropriados.

Então vamos lá!? Para tanto, vamos resumir e relembrar os conceitos já


aprendidos:

a) O sistema nervoso, assim como os outros sistemas, é representado por


um grupo de diferentes tipos celulares com funções diferentes, porém
quando olhamos para cada uma delas, podemos ver que todas mesmo
diferentes, trabalham em conjunto para que o sistema nervoso
desempenhe suas funções. As células básicas que compõem o sistema
nervoso são os neurônios e as células da glia. Um neurônio típico é
composto por quatro partes básicas: corpo celular; dendritos; axônios e
terminais pré-sinápticos.
b) Corpo Celular ou Soma: é considerado o “centro de comando” da célula
nervosa, do corpo celular se originam dois tipos básicos de ramificações,

77
os dendritos e um axônio longo e tubular. Os dendritos se ramificam ainda
mais parecendo uma arvore onde as vias aferentes (vias que conduzem o
sinal da periferia para o centro que irá processar a informação). O axônio
por sua vez, se distancia do corpo celular até outros neurônios ou
diretamente no seu órgão efetor este “caminho” de informação é chamado
de vias eferentes – aquelas que levam a informação do centro de
processamento até a periferia. As células da glia oferecem suporte
nutricional e imunológico tanto aos neurônios quanto ao sistema nervoso
de uma maneira mais ampla.
c) A glia se diferencia dos neurônios morfologicamente pois não possuem
dendritos nem axônios, porém em relação a sua fisiologia (funcionamento)
são muito semelhantes aos neurônios uma vez que também são células
excitáveis (podem sofrer alteração na carga elétrica) mesmo não estando
diretamente ligadas a condução elétrica neuronal. Os astrócitos mantem o
fluido extracelular em equilíbrio iônico e balanceando a quantidade de
neurotransmissores presente na região ao redor dos neurônios através de
proteínas mobilizadoras que degradam as moléculas que podem (porém
não devem) excitar outros neurônios. Oligodendrócitos e Células de
Schwann possuem uma função muito importante que é a manutenção da
camada lipídica (gordurosa) que envolve os axônios da maioria dos
neurônios – bainha de mielina. Ao longo dos axônios a bainha de mielina é
descontinua e estes intervalos na bainha são de aproximadamente 1 a 2
mm deixando expostos pequenos fragmentos de axônios, estes espaços
são chamados de nódulos de Ranvier que tem como função garantir que o
impulso nervoso chegue com a mesma intensidade do ponto onde foi
gerado até seu braço é preciso “reforços” iônicos renovando o impulso e
mantendo sua amplitude.
d) Os neurônios são utilizados há muito tempo para explicar os mecanismos
que descrevem o potencial de membrana das células humanas, isso se
deve ao fato de o neurônio funcionar de acordo com uma diferença elétrica
entre os meios extra e intracelular. No momento em que temos duas células
com cargas elétricas diferentes, dizemos que há entre elas uma diferença
de potencial (d.d.p.). Em consequência desta diferença, se aproximarmos
estas células utilizando um cabo condutor (um axônio por exemplo) será
possível o deslocamento de uma corrente elétrica no caso de um axônio
esse deslocamento recebe o nome de impulso nervoso. As células
apresentam d.d.p. entre seu meio interno (intercelular) e externo
(extracelular). Esse fenômeno é conhecido como potencial de membrana,
existente sob duas formas: o potencial de repouso e o potencial de ação.
e) Sinapse é a zona de comunicação entre dois neurônios ou entre um
neurônio e seu órgão efetor (músculo ou glândula por exemplo). A
informação na maioria das vezes é unidirecional sempre na direção
neurônio – órgão efetor, sendo o primeiro neurônio chamado de terminal
pré-sináptico, e o segundo ou órgão efetor, terminal pós-sináptico.

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Relembrou tudo? Agora vamos avançar em nossos estudos. Para isso, faz-se
necessário conhecer mais algumas nomenclaturas relacionadas ao estudo de
anatomia do corpo humano, pois elas servirão de guia para que possamos localizar
regiões encefálicas, uma vez que o encéfalo é muito complexo anatomicamente e
algumas estruturas nervosas são muito próximas umas às outras. Então, conhecer os
posicionamentos anatômicos facilita tanto os estudos, quanto a prática e aplicação de
todo o conhecimento.

A posição anatômica é única e serve como base de orientação, ou seja, todas


as nomenclaturas são derivadas da posição anatômica, não importando em que
posição o indivíduo se encontre, a orientação será a mesma.

Para determinar a posição anatômica deve-se considerar um indivíduo em pé


(ereto) com o olhar voltado ao horizonte com a linha do queixo alinhada paralela ao
solo, os braços abaixados (pendentes) e com as mãos espalmadas (palma das mãos
voltadas para frente), os pés unidos.

Figura 49: Demonstração da posição anatômica universal.

Fonte: https://personallplus.wordpress.com/2015/09/12/posicao-anatomica/
[acesso em 28.01.2019)

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A partir da posição anatômica determinaremos os planos anatômicos são
cortes (imaginários) que fragmentam o corpo em regiões que recebem nomenclaturas
universais que são utilizados como guia de orientação. A utilização dos planos
anatômicos sempre deve utilizar as linhas centrai (medianas ou mediais) como “norte”
e a partir dos planos mediais determinamos o que está acima (superior), abaixo
(inferior), laterais esquerda e direita, na parte de trás (posterior) e na parte da frente
(anterior) os planos anatômicos são mostrados na Figura abaixo.

Figura 50: Demonstração dos planos anatômicos universais.

Fonte: https://anatomia-papel-e-caneta.com/divisao-do-corpo-humano-e-
posicao-anatomica/ (acesso em 28.01.2019)

 Plano Sagital: divide o corpo em face lateral esquerda e face lateral direita.
 Plano Horizontal ou Axial: divide o corpo em parte superior (a cima) e
parte inferior (abaixo).
 Plano Coronal: divide o corpo e face anterior ou rostral (frente) e posterior
ou caudal (costas) lembrando sempre os planos utilizam como padrão a posição
anatômica, sendo assim para o plano coronal, devemos levar em conta que o indivíduo
pode estar deitado com o ventre para cima, ou de pé.

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Figura 51: Referenciais anatômicos básicos no sistema nervoso de um rato.
(a) Visão lateral. (b) Visão dorsal.

Fonte: BEAR, CONNORS e PARADISO, p. 182. 2017

Atividade de Aplicação

Vamos treinar os posicionamentos anatômicos? Fazendo uma auto-avaliação!

Pare agora por alguns minutos e certifique-se de que compreendeu o


significado dos termos anatômicos para localizar:

1. Seu nariz (em relação a sua orelha esquerda)?


2. A ponta dos seus dedos (em relação ao seu cotovelo)?
3. O seu umbigo (em relação a sua nuca)?

Se você conseguiu dar nomes as regiões, meus parabéns! Vamos continuar?

81
De uma maneira geral o sistema nervoso é dividido basicamente em dois
grandes sistemas: sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP)
cada um dos sistemas de uma forma integrada é subdividido de acordo com a
sequência ilustrada abaixo:

Figura 52: Divisões dos sistemas nervoso central e periférico

Fonte: elaboração própria com base em: http://bio-neuro-


psicologia.usuarios.rdc.puc-rio.br/assets/01_sistema_nervoso_intro.pdf (acesso em
28.01.2019)

De uma forma bem abrangente podemos dizer que o sistema nervoso central
(SNC) é o centro de processamento de todas as informações que chegam a ele
através do sistema nervoso periférico (SNP), ou seja, todos os estímulos que
recebemos (tanto os ambientais – como temperatura por exemplo – quanto os internos
– como a vontade de urinar) são conduzidos do SNP ao SNC, este por sua vez
interpreta o estimulo e prepara uma resposta proporcional e a conduz de volta ao SNP,
sendo assim podemos afirmar que o SNC é integrativo e trabalha em conjunto com
todas as regiões do corpo.

Anatomicamente composto pelo encéfalo e medula espinhal ambos protegidos


por estruturas ósseas chamadas de crânio e coluna vertebral, respectivamente.

82
Figura 53: Representação gráfica da base do crânio humano onde estão inseridas
as estruturas do SNC.

Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/biologia/encefalo.htm (acesso


em 28.01.2019)

Em um corte lateral podemos observar as diferentes regiões do encéfalo e da


medula espinhal.

Figura 54: Visão lateral do encéfalo.

83
Fonte: https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Corpo/sistemanervoso3.php
[acesso 28.01.2019)

Após estudarmos como os neurônios funcionam, como se comunicam entre si,


quais são as nomenclaturas para definir posições anatômicas, etc., vamos dar início
ao processo de unir em um sistema que é capaz de transformar as informações em
visão, sentimento, movimento e lembranças. Para que possamos entender esses
processos é preciso aprender qual é a estrutura básica do sistema nervoso.

2.1.1 Cérebro

Região mais rostral ou cortical do encéfalo, representa a maior porção do


encéfalo anatomicamente dividido em dois hemisférios (esquerdo e direito) separados
por uma profunda fenda, chamada de fissura sagital. De forma geral o hemisfério
cerebral direito processa informações como sensações, controle do movimento do
lado esquerdo do corpo, e o hemisfério esquerdo por sua vez está envolvido com
sensações que o outro hemisfério não processa e controle de movimento do lado
direito do corpo.

Figura 55: Imagem da face rostral do cérebro.

84
Fonte: http://anatpat.unicamp.br/bineucerebroext.html (acesso em
29.01.2019)

Uma sugestão de leitura muito agradável, didática e divertida é a obra de


ALBUQUERQUE, L. e ABREU, I. Viagem pelo cérebro para pais e filhos.
Sociedade Portuguesa de Neurociências. Disponível em:
http://www.spn.org.pt/docs/viagem_cerebro.pdf

Figura 56: Representação ilustrativa das regiões do cérebro.

85
Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/biologia/cerebro.htm (acesso em
28.01.2019)

Figura 57: (A) Imagem da face lateral e (B) Imagem da face caudal do cérebro.

86
Fonte: http://anatpat.unicamp.br/bineucerebroext.html (acesso em
29.01.2019)

2.2.1.1 Córtex Cerebral

Também chamado de substância cinzenta. Trata-se da camada mais externa


do cérebro. Sua superfície é rugosa e cheia de pregas, as quais são chamadas de
giros.

O Córtex Cerebral apresenta muitas fissuras que são chamadas de sulcos.


Cada sulco e cada giro é nomeado de acordo com o osso do crânio mais próximo.
Apresentam uma coloração acinzentada por ser composta principalmente dos corpos
celulares dos neurônios e seus dendritos.

O Córtex Cerebral é composto por bilhões de neurônios, os quais recebem,


processam e integram informações sensoriais e motoras. Ele é formado por 6
camadas de células, sendo que sua posição depende de sua função.

 Substância Branca: Região do tecido nervoso composta quase


exclusivamente de axônios de neurônios. Quando esses axônios são revestidos de
mielina, o tecido ganha uma coloração esbranquiçada. A substância branca, portanto,
é uma região de conectividade entre partes do sistema nervoso.

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É divido em quatro partes, chamadas de lobos, conforme seus principais
sulcos. São eles:

a) Lobo Frontal: Situado entre os sulcos Central e o Lateral. Comando motor


primário referente à parte superior do corpo e face; Funções cognitivas e emotivas.
Programação e preparação dos movimentos; controle do movimento conjugado do
olhar; Informações olfatórias; expressão verbal com sentido e sentimento.
b) Lobo Parietal: Localizado entre os sulcos Central, Lateral e Parieto-
occipital. É o córtex somato-sensorial primário, recebe informação através do tálamo
sobre o toque e a pressão. A nível associativo este lobo é responsável pela reação a
estímulos complexos.
c) Lobo Temporal: Situada abaixo do sulco Lateral e na linha imaginária que
segue do sulco parieto-occipital; recebe e processa informação auditiva. As áreas
associativas deste lobo estão envolvidas no reconhecimento, identificação e
nomeação dos objetos.
d) Lobo Occipital: Localizado após o Sulco Parieto-occipital. Recebe e
processa informação visual. As suas áreas associativas estão relacionadas com a
interpretação do mundo visual e do transporte da experiência visual para a fala.

Figura 58: Demonstração da localização dos lobos cerebrais.

Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Figura-2-Identificacao-dos-Lobos-
Cerebrais_fig1_319393350 (acesso em 29.01.2019)

88
2.2.1.2 Hemisférios Cerebrais

Um hemisfério cerebral é definido como uma das duas regiões do cérebro que
são divididas pelo plano mediano do corpo. Os hemisférios cerebrais (esquerdo e
direito) formam a maior parte do Sistema Nervoso Central. Eles estão conectados
entre si por um feixe de filamentos nervosos que tem entre 200 e 250 milhões de fibras
nervosas denominado corpo caloso.

O corpo caloso tem como uma das principais funções permitir a comunicação
entre os dois hemisférios, transmitindo a memória e o aprendizado. Cada hemisfério
é especializado para algumas tarefas específicas. Os Hemisférios Cerebrais são
responsáveis pelas funções mais finas e sofisticadas, como memória, cognição, entre
outras.

Formado pelo Córtex Cerebral, Substância Branca, Gânglios de Base,


Formação Hipocâmpica ou Hipocampo e Amígdala, o sistema nervoso humano está
conectado com o cérebro mediante uma comunicação cruzada. De acordo com este
critério, o hemisfério esquerdo controla o lado direito do corpo, e o hemisfério direito
controla o lado esquerdo. Em função deste cruzamento das vias nervosas, a mão
esquerda está conectada ao hemisfério direito, e a mão direita ao hemisfério
esquerdo.

Os cientistas já sabem há muito tempo que o lado direito do cérebro controla


do lado esquerdo do corpo e vice-versa, ou seja, é um arranjo que os neurocientistas
chamam de contralateral. Assim, uma lesão de um lado do cérebro, normalmente vai
afetar os movimentos e o sentidos do lado oposto do corpo.

2.2.1.3 Diencéfalo

Localizado no meio do cérebro, fica justamente entre os dois hemisférios


cerebrais e o tronco encefálico. O diencéfalo e o telencéfalo formam o cérebro, que
corresponde ao prosencéfalo. O cérebro é a parte mais desenvolvida do encéfalo e
ocupa cerca de 80% da cavidade craniana O diencéfalo é uma estrutura ímpar que só
é vista na porção mais inferior do cérebro. Ao diencéfalo compreendem as seguintes
partes: tálamo, hipotálamo, epitálamo, metatálamo, subtálamo e Glândula Hipófise,
todas relacionadas com o III ventrículo.

Cada um dos componentes do diencéfalo possui funções especializadas que se


integram para a vida. O diencéfalo age como um centro primário para o processamento
de informações sensoriais e controle autonômico. A abundância de caminhos
comunicantes entre essas estruturas e outras partes do corpo torna o diencéfalo uma
área funcionalmente diversa. Algumas dessas conexões incluem caminhos para o

89
sistema límbico (sítio da memória e emoções), núcleos da base (coordenação motora),
bem como áreas sensitivas primárias, como auditiva ou visual.

Figura 59: Demonstração do posicionamento anatômico do diencéfalo.

Fonte: https://medicinaonline.co/2017/03/10/diencefalo-anatomia-struttura-e-
funzioni-in-sintesi/ (acesso em 29.01.2019)

2.2.1.4 Tálamo
Processa quase todas as informações sensoriais que vão para o córtex cerebral
e quase toda informação motora que se origina no córtex cerebral sendo encaminhada
para o tronco encefálico e para a medula espinhal. Anatomicamente localizado no
diencéfalo, mediano entre o córtex cerebral e o mesencéfalo, formado quase em sua
totalidade por massa cinzenta (somas). São duas massas posicionadas na
profundidade na região mediana dos hemisférios cerebrais. Dentre suas funções
estão a transmissão de sinais motores e sensitivos, regulação da consciência, sono e
vigília.

90
Figura 60: Demonstração do posicionamento anatômico do tálamo e suas
subdivisões.

Fonte: https://www.auladeanatomia.com/novosite/sistemas/sistema-
nervoso/talamo/ [acesso em 29.01.2019)

2.2.1.5 Hipotálamo
O hipotálamo trabalha para mantar a homeostase, ou seja, o equilíbrio químico
do corpo. Apesar do seu tamanho, é de grande importância para o funcionamento
normal da maioria dos sistemas do organismo. Seu funcionamento é semelhante a
um termostato.
Quando algum elemento químico ou substância se encontra em níveis elevados
ou perigosamente baixos, com base no funcionamento metabólico de cada indivíduo,
o hipotálamo busca alertar ao sistema que é necessário reduzir tal substância ou
atividade no organismo.
O hipotálamo tem participação na regulação sono e vigília, apetite, alterações
na temperatura corporal, diurese, sede. O hipotálamo tem muitas aferências e
eferências com o sistema límbico (centro emocional) controlando comportamentos
como por exemplo o social, sexual, alimentar.

91
Figura 61: Demonstração do posicionamento anatômico do hipotálamo.

Fonte: https://www.anatomiadocorpo.com/sistema-nervoso/hipotalamo/
(acesso em 29.01.2019)

O hipotálamo, além das funções citadas, tem um papel determinante no


controle hormonal, pois participa dos principais eixos de manutenção de praticamente
todos os hormônios do organismo humano, são eles: eixo hipotálamo – hipófise –
adrenal; eixo hipotálamo – hipófise – gônadas e eixo hipotálamo – hipófise – tireoide.

Figura 62: Demonstração dos eixos hormonais que envolve o hipotálamo, a


hipófise e as glândulas finais.

92
Fonte: http://fisio2.icb.usp.br:4882/wp-
content/uploads/2016/02/hipot%C3%A1lamo-e-hip%C3%B3fise-EEFEUSP.pdf
(acesso em 29.01.2019)

2.2.2 Cerebelo

Anatomicamente localizado na base do crânio o cerebelo é menor do que o


cérebro, porém em contagem numérica apresenta a mesma quantidade de neurônios
quando comparado aos dois hemisférios cerebrais juntos. Está muito relacionado com
movimento e propriocepção (noção do corpo no espaço) além de controlar o equilíbrio
juntamente com o aparelho vestibular localizado no ouvido interno. O cerebelo tem
um papel muito importante na construção da memória motora.

Diversas áreas do cerebelo recebem comunicação com diferentes áreas


encefálicas e da medula espinhal e se comunica também com regiões bem periféricas
do corpo, geralmente onde há terminações motoras voluntárias e involuntárias.

93
Figura 63: Regiões anatômicas do cerebelo. (A) parte do hemisfério direito
mostrando os pedúnculos cerebelares subjacentes; (B) cerebelo separado do tronco
encefálico; (C) secção sagital do cerebelo e (D) regiões funcionais.

94
Fonte: KANDEL, E. R. et al. Princípios de Neurociências. 5ª edição. Editora
Artmed. p. 868. 2014.

2.2.3 Tronco Encefálico

A região do tronco encefálico pode ser descrita como uma zona de transição
entre o encéfalo e a medula espinhal, porém contem estruturas de suma importância

95
que controlam as funções vitais como respiração e batimentos cardíacos. O tronco
encefálico é subdividido em basicamente três regiões: mesencéfalo, ponte e bulbo
(Figura 54).

Figura 64: visão do tronco encefálico em diferentes posições


anatômicas.

Fonte: http://bio-neuro-psicologia.usuarios.rdc.puc-
rio.br/assets/05_tronco_encefalico.pdf [acesso 29.01.2019)

Para conhecer com mais detalhes o funcionamento do tronco encefálico


leia:

KANDEL, E. R. et al. Princípios de Neurociências. 5ª edição. Editora


Artmed. Capítulo 45 P.VII. 2014

96
2.2.4 Mesencéfalo

É a menor região localizada interposta entre a ponte e o diencéfalo atravessado


por um fino canal chamado de arqueduto cerebral. Nas subdivisões anatômicas do
tronco encefálico encontramos estruturas e vias de comunicação que recebem
informações visuais, auditivas, movimentos dos globos oculares e motoras corporais.

Figura 65: Demonstração ilustrativa das estruturas que compõem o


mesencéfalo.

Fonte: https://anatomia-papel-e-caneta.com/snc-tronco-encefalico-
mesencefalo/ [acesso em 29.01.2019)

2.2.5 Ponte
É uma zona de transição entre o mesencéfalo e o bulbo. Devido à proximidade
anatômica a ponte participa de funções relacionadas ao bulbo, interferindo
diretamente no controle da respiração, é considerado o centro de envio de impulsos
para o cerebelo e também é região de passagem das fibras nervosas que conectam
o cérebro a medula.

97
Figura 66: Demonstração ilustrativa da anatomia do tronco encefálico,
dando enfoque a ponte.

Fonte: https://afh.bio.br/sistemas/nervoso/3.php [acesso em 29.01.2019)

Para conhecer detalhadamente as regiões anatômicas da ponte, assista:


https://www.youtube.com/watch?v=Poe_RRArwhI [acesso em 29.01.2019]

2.2.6 Bulbo

Região conhecida também como bulbo raquídeo ou medula oblonga. Possui


formato cônico sendo a região mais caudal do tronco encefálico. Esta região recebe
estímulos de inúmeros órgãos e tecidos, controlando funções involuntárias
(autônomas) conhecidas como funções vegetativas como batimento cardíacos,
respiração, pressão sanguínea, reflexos de salivação, tosse e deglutição.

98
Figura 67: Anatomia macroscópica do bulbo.

Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/364328/ (acesso em 29.01.2019)

2.2.7 Medula Espinhal

A medula espinhal é composta por feixes de fibras nervosas revestida pela


coluna vertebral e conectada ao tronco encefálico. É considerada o maior condutor de
informações tanto do SNC para SNP quanto do SNP para o SNC. A comunicação
entre os sistemas se dá por meio de nervos espinhais que fazem parte do SNP, estes
emergem da medula espinhal através de espaços entre as vertebras. Cada nervo se
une a medula espinhal pela raiz dorsal e raiz ventral.

99
Figura 68: Estrutura geral da medula espinhal.

Fonte: BRADBUY e McMAHON, 2006. Disponível em:


https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16858392 (acesso em 29.01.2019)

2.3 Sistema Nervoso Periférico

Todas as estruturas pertencentes ao sistema nervoso que não fazem parte do


encéfalo ou na medula espinhal fazem parte do sistema nervoso periférico (SNP) que
por sua vez é dividido em sistema nervoso periférico somático (motor) e visceral
(autônomo).

Desse modo, as fibras do sistema nervoso periférico podem ser classificadas


em aferentes, que transmitem as informações provenientes de estímulos sensoriais e
viscerais ao sistema nervoso central, e eferentes, que transmitem as informações
provenientes do sistema nervoso periférico, relacionadas com o controle das
musculaturas esquelética, lisa e cardíaca, da secreção de glândulas e da função dos
órgãos viscerais.

100
A porção eferente do nervoso periférico é subdividida em sistema nervoso
somático, constituído por fibras de neurônios motores que inervam a musculatura
esquelética, e sistema nervoso autônomo (SNA), constituído por fibras que inervam
os músculos lisos e cardíacos, as glândulas e outros órgãos não motores.

Uma das características mais importantes desta divisão do sistema nervoso é


a velocidade relativamente alta que as funções viscerais são controladas, por exemplo
leva-se de 3 a 5 segundos para que o sistema ajuste aumentando a frequência
cardíaca em até duas vezes, o que representa um mecanismo extremamente eficiente
no controle das funções vitais e involuntárias.

O SNA é acionado principalmente por núcleos localizados na região da medula


espinhal, no hipotálamo e tronco encefálico, e são transmitidos aos órgãos através de
dois meios que são mais duas subdivisões do SNA, sistema nervoso autônomo
simpático e parassimpático, demonstrados na Figura 58.

Figura 69: Divisões do sistema nervoso periférico.

(Fonte: Elaboração própria)

Compreender o funcionamento do SNPs é relativamente fácil pois é uma via


simples de comunicação que envolve neurônios motores os quais tem suas
terminações em músculos de comando voluntario, envolvendo a liberação de ACh que
provocará uma despolarização da membrana muscular e consequentemente a
contração.

101
Já o SNP autônomo ou visceral que comanda funções involuntárias é mais
complexo e os sistemas simpático e parassimpático são tecnicamente antagônicos,
ou seja, possuem funções opostas, porém essas funções opostas nem sempre é via
de regra, o que determina a este sistema uma complexidade maior. As funções
resumidas podem ser observadas na figura abaixo.

Figura 70: Diferenças fisiológicas entre os sistemas periférico somático


e visceral ou autônomo.

Fonte:https://midia.atp.usp.br/impressos/redefor/EnsinoBiologia/Fisio_2011_2
012/Fisiologia_v2_semana02.pdf (acesso 29.01.2019)

102
2.3.1 Neurônios Simpáticos Pré e Pós-Ganglionares

Em nossas conversas vimos o sistema nervoso central- SNC e o sistema


nervoso periférico- SNP, vejamos agora o sistema nervoso autônomo, responsável
pelo piscar, inibição saliva, estimulo contração estomacal e intestinal, relaxamento do
reto e outros. Vejamos na figura abaixo.

O SNA se divide em duas partes (simpática e parassimpática) que exercem


funções antagônicas, enquanto uma dilata a pupila outra contrai. Em órgãos inervados
pelo sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático, os efeitos fisiológicos
geralmente são antagônicos, ou seja, se o simpático excita o órgão, o parassimpático
inibe-o. Vale a pena entender, pois não depende de um desejo nosso e sim um
trabalho para auxiliar no funcionamento harmonioso do corpo e organismo.

Figura 71- dois esquemas para entender o funcionamento Sistema Nervoso


Autônomo-SNA

Fonte: <https://brasilescola.uol.com.br/biologia/sistema-nervoso.htm>
acessado 25/05/19

Figura 72 – Divisão Simpática e Parassimpática II

103
Fonte:<https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-
neurol%C3%B3gicos/sistema-nervoso-aut%C3%B4nomo/vis%C3%A3o-geral-do-
sistema-nervoso-aut%C3%B4nomo> acessado 25/05/19

O sistema nervoso autônomo simpático distribui o nervo para todas as vísceras


do corpo e prepara uma possível fuga ou enfrentamento como o inimigo. Ele sai do
centro da medula, entre a última vertebra cervical e a segunda lombar e o sistema
nervoso autônomo parassimpático sai da das extremidades crânio e sacro tendo
função importante, sendo algumas delas relaxar o corpo depois de esforço, regular as
batidas cardíacas depois de esforço, relaxar pulmão e facilitar estado de calma. Ele
restabelece a energia do corpo.

104
O SNA trabalha em conjunto com sistema endócrino na sincronização e
equilíbrio (homeostase) do corpo, independente do desejo e vontade do indivíduo. Os
impulsos finalizam o caminho em músculo cardíaco liso ou glândula.

O Sistema Nervoso Periférico é composto por fibras responsáveis em


transportarem informação para o organismo e para o Sistema Nervoso Central, sendo
elas aferentes e eferente. As aferentes enviam informações da parte periférica do
corpo para o SNC, por meio de sinais sensoriais. E as eferentes, constituídas por
fibras de neurônios periféricos, controlam a musculatura do corpo (lisa e cardíaca),
por sinais estimulantes. Ainda temos o nervo misto formado por fibras sensoriais e
motoras.

Para que você consiga entender melhor, fibras aferentes e eferentes fazem
parte dos nervos sensoriais e motores. As aferentes levam informações do meio
externo e interno para SNC e os eferentes garantem o caminho ou impulso do SNC
para os órgãos efetores (músculo respiratório, estomatognático, faríngeos,
laríngeos...). Veja figura abaixo

Figura 73. Efetores motores

Fonte: https://pt.slideshare.net/thalineeveli/mecanismo-defensivos-reflexos-das-vias-
areas> acessado 25/05/19

Os impulsos motores sempre terminarão em músculo e muitos pesquisadores


atribuem às fibras motoras e sensoriais, parte do sistema nervoso autônomo. Assim,

105
essa descoberta feita por nós, sobre o funcionamento do corpo humano, nos auxilia a
compreender o conhecimento, ações e porque somos assim.

Você sabia que a música é terapêutica


para o sistema nervoso parassimpático? Ela
melhora as atividades.

Vejamos: o cérebro dividido em duas partes (hemisfério) que são unidos por
feixes de fibras (corpo caloso). A camada externa denominada de córtex, a qual
controla várias áreas. O córtex é coberto por sulcos e giros que são as rugas,
possibilitando mais células do que se ele fosse liso. Esse córtex é formado por dois
hemisférios (direito e esquerdo) os quais são divididos por quatro lobos (frontal,
parietal, occipital e temporal). Cada hemisfério se responsabiliza pelo seu lado oposto,
como já vimos anteriormente.

NEUROCIÊNCIA COGNITIVA E PLASTICIDADE NEURAL: UM CAMINHO A


SER DESCOBERTO

Marina Boni & Maria Preis Welter


(Vide anexo III)

106
Atividade de Aplicação

Após esta leitura atenta do Anexo 3, elabore um texto explicando a


movimentação do nosso organismo para que possamos reagir ao ver um perigo
eminente. Explique como identificamos a pessoa que gostamos demonstramos
como a informação chega ao cérebro.

Como pudemos observar no texto o sistema nervoso tem capacidade de se


adaptar à mudança ambiental, considerando a posibilidade de lesão destrutiva sutil e
as lesões que interferirão no aprendizado, memória. A plasticidade neural é mais
efetivo na infancia, mas não deixa de ser capaz de adaptar-se durante toda a vida,
trazendo possibilidade de compensação no hemisferio lesionado.

No adulto, o encéfalo busca ajustar-se às diferentes maneiras de receber a


informação não perdendo a capacidade de desenvolver novas funções, portanto, pode
diminuir a plasticidade ou a resposta do organismo ás mudanças ambientais, mas não
se perde com a idade mais avançada.

Ao contrário das vias que compõem o sistema nervoso periférico somático que
são em sua maioria diretos, o que significa que o soma do neurônio motor está
localizado no encéfalo ou na medula espinhal e sua terminação sináptica geralmente
já está inserida nos músculos, os neurônios do SNA por sua vez, são distribuídos de
uma forma mais complexa basicamente devido ao seu papel no controle de funções
vitais e as involuntárias.

Cada via simpática que possui o soma na medula espinhal até o seu órgão
efetor é constituída por dois neurônios distintos um pré ganglionar e um pós-
ganglionar.

Logo após a saída do nervo do canal espinhal as fibras simpáticas pré-


ganglionares podem seguir três caminhos:

1) Estabelecer sinapses com os terminais pós-ganglionares;


2) Pode se deslocar estabelecendo sinapses com outros gânglios da cadeia;
3) Pode se deslocar para fora de sua cadeia e estabelecer sinapse com
terminação ganglionar simpático periférico.

107
Já o grupo de neurônios pós-ganglionares geralmente são originados ou na
região da medula ou nos gânglios periféricos, porém de qualquer forma suas
terminações sempre irão interagir com os órgãos efetores.

O nome gânglio nervoso representa um aglomerado de somas neuronais


onde as informações são rapidamente processadas e encaminhadas para os
centros de resposta.

Figura 74: Conexões nervosas entre a medula espinha, nervos espinhais, cadeia
simpática e nervos somáticos periféricos.

Fonte: GUYTON e HALL Tratado de Fisiologia Médica. 13ª edição. Editora


Elsevier. p. 2260. 2017.

108
Figura 75: Resumo esquemático da relação entre o sistema nervoso central e
o sistema nervoso periférico.

(Fonte:https://midia.atp.usp.br/impressos/redefor/EnsinoBiologia/Fisio_2011_2
012/Fisiologia_v2_semana02.pdf [acesso 29.01.2019])

109
2.3.2 Neurônios Parassimpáticos Pré e Pós-Ganglionares

Os nervos do sistema parassimpático também possuem terminações pré e pós-


ganglionares, porém as fibras pré-ganglionares percorrem todo o caminho até seu
órgão efetor, onde em sua parede estão localizados os gânglios e, na sequência, um
pequeno fragmento de fibra pós-ganglionar.

Existe uma característica bem marcante que está relacionada às terminações


do SNA que são os tipos de NTs produzidos nas vias simpáticas e parassimpáticas.

Por via de regra, os terminais pré ganglionares secretam acetilcolina (ACh) no


gânglio dependendo da fibra, o estimulo por fazer com que seja produzido na fibra
pós-ganglionar novamente ACh ou outro NT e este produzido e conduzido pela fibra
pós-ganglionar irá afetar o órgão efetor, o plano geral deste mecanismo pode ser
observado na Figura 62.

Figura 76: Esquema simplificado da distribuição das fibras pré e pós-ganglionares.


Legenda: Acetilcolina (ACh); Receptor da ACh Nicotínico (N); Receptor da ACh
Muscarínico (M); NT norepenefrina (NE), Receptor de NE (, ); NT Dopamina (D);
Receptor de dopamina (D1).

Fonte: Elaboração Própria

110
2.4 Neuropsicologia das funções cognitivas:

A neuropsicologia cognitiva, como visto anteriormente teve sua história


marcada por quatro escolas com teorias diferentes. No século XVIII, por volta de 1758-
Gall, traz a ideia do cérebro dividido em partes e que a moral e o intelectual são inatos,
em 1871- Broca, traz a área especifica da fala no hemisfério cerebral.

Figura 77 Frenologia- Gall

Fonte:
http://www.geocities.ws/hdbq111/essays/mentaldigestion.html>acessado 25-05-19

Caro(a) aluno(a), lembra-se de que na Unidade I abordamos os estudos de


Wernicke (1874), que trouxeram à tona o distúrbio, conhecido hoje por afasia? E que,
em decorrência destes estudos pudemos conhecer a região do cérebro responsável
pelo conhecimento, interpretação e associação das informações?

Em 1885, dez anos depois Lichtheim, discípulo de Wernicke, faz um diagrama


e afirma ter um local no cérebro não localizado, o que possibilita diferencias síndromes
afásicas.

111
Sugerimos, para melhor compreensão a leitura completa do artigo
PINHEIRO, Marta. Aspectos históricos da neuropsicologia: subsídios para a
formação de educadores. Disponível<
http://www.scielo.br/pdf/er/n25/n25a11.pdf> com 22 páginas que valem a pena a
leitura.

Revisando a história, para que possamos entender a Neuropsicologia das


Funções Cognitivas, temos que em 1898, Camillo Golgi e Cajal descreveram as
células nervosas e em 1897 Sherrington traz o termo sinapse, para o contato de dois
neurônios. Em 1940, Hebb, afirmava que as sinapses têm plasticidade e podem ser
reguláveis, moldadas conforme a situação.

Luria, influenciado por Pavlov e Vygotsky pesquisou as funções superiores e


trouxe a ideia de um sistema nervoso que é influenciado pelo ambiente o qual está
inserido. Assim, o cérebro deve ser permanentemente incentivado levando as outras
unidades (receptores e efetores) a funcionarem efetivamente.

Reconhecendo a complexidade das atividades mentais, Luria propõe que como


as funções psíquicas evoluem, o meio é responsável pela qualidade de evolução
delas.

Os teóricos e pesquisadores trouxeram uma nova visão para o ser humano e a


aprendizagem, pois apresentaram o cérebro e suas funções para especialistas e
professores.

Entender o cognitivo e suas funções abre espaço para melhorar o processo


ensino aprendizagem.

Pensemos como funciona


nosso cognitivo! Como
conhecemos?

112
A cognição passa a ser objeto de investigação na metade do século passado e
passou a explicar o aprender e desenvolver do ser humano, pois os processos
mentais, que constituem o comportamento de aprendizagem e desenvolvimento
intelectual do ser humano puderam ser entendidos.

Processo cognitivo é o nome denominado a aquisição de conhecimento =


cognição, que envolve pensar, memorizar, perceber as coisas, se comunicar
(linguagem), executar (raciocinar, planejar e controlar), atenção e habilidades de
movimentar (praxia). Essas capacidades ao se relacionarem possibilitam que a
aprendizagem se efetive.

2.4.1 Funções executivas

Uma das funções relacionadas à Aprendizagem Humana são chamadas de


executivas por serem responsáveis pelas atividades que fazemos no dia a dia,
necessárias para que nossa vida seja funcional, como o pensar, memorizar e
regular/controlar (tríade da neurofuncional da aprendizagem).

Elas fazem com que realizemos tarefas e exercem forte influência na regulação
emocional, conectando-se com as funções cognitivas e conativas como podemos ver
abaixo.

Figura 78 – Tríade Funcional da Aprendizagem Humana

Fonte: <
http://www.revistapsicopedagogia
.com.br/detalhes/62/papel-das-
funcoes-cognitivas--conativas-e-
executivas-na-aprendizagem--
uma-abordagem-
neuropsicopedagogica>
acessado 25/05/19

113
As Funções Executivas estão localizadas na parte pré-frontal do cérebro e
podem ser melhoradas com treinamento. É a capacidade de adaptarmos às
mudanças do ambiente e controlar nossas ideias

As Funções Executivas- FEs, possibilitam que a pessoa controle seu


comportamento social e emocional, buscando estratégias para agir em diferentes
situações.

O ser humano em fase de desenvolvimento pode treinar e melhorar essa


função e, portanto, melhorar atividades que envolvam atenção (foco, fixação, seleção
de dados importantes), percepção, memória (localização, recuperação de dados,
julgamento e busca de informação para resolução de problema), controle
(persistência, esforço, auto avaliação), desenvolvimento de ideias para execução de
tarefas e solução de problemas.

As Funções Executivas também são responsáveis pela priorização de tarefas,


e hierarquização de atividades, tomada de decisão, execução de tarefas e a
metacognição, ou seja: auto monitoramento, auto-organização.

Por isso é importante treinar e estimular o cérebro para que ele busque
soluções para situações problemas que aparecerão no dia a dia.

2.4.2 Atenção, memória e linguagem.

A atenção é complexa e dirige o comportamento e ela está ligada ao foco, pois


só consegue ter atenção quem consegue manter o foco e a memória só se
desenvolverá se a atenção estiver desenvolvida. Pode ser ressaltada dois tipos de
atenção: seletiva e dividida.

a) Atenção Seletiva: quando um estímulo é escolhido para ser prestada


atenção, exemplo jogar vídeo game com a televisão ligada e pessoas
conversando ao seu redor.
b) Atenção Dividida: quando se consegue prestar atenção em mais de uma
coisa ao mesmo tempo. Exemplo é conversar escutando música ou
assistindo televisão.

A concentração depende de fatores como desejo e relevância do assunto e


saúde mental.

A memória é uma função cognitiva e está ligada a vida sadia do ser humano,
sendo a capacidade de armazenar informações e lembrar depois, estando interligada
com a capacidade de perceber e associar.

114
A memória se divide em memória de curto prazo, ligada ao sentido e memória
de longo prazo, que são as que marcamos como importantes e ficam registradas no
cérebro e ambas, tanto de curto quanto de longo prazo são influenciadas pela emoção
e motivação.

A percepção é a capacidade de diferenciar estímulos, pelos órgãos sensoriais,


do ambiente que o circunda.

A linguagem é a maneira com a qual nos comunicamos podendo ser oral,


gestual ou escrita. Sua importância é grande, sendo que a verbal requer combinação
de palavras e a não verbal (desenho e gestos) associação de imagem, traço
coordenação, sentimento.

As funções cognitivas se entrelaçam, mas separamos para melhor entender o


ser humano. Quando encontramos um problema, para que a resolvemos ativamos a
função cognitiva, ex.: passamos a entrada de uma rua, ao dirigir, por falta de atenção
a memória será ativada para buscar a solução possível (voltar ou entra em uma outra
rua para fazer retorno), que será a função executiva.

2.4.3 Visuoconstrução, praxia e cognição social.

Visuoconstrução e praxia têm a função de manipular os estímulos do corpo


e realizar movimentos para atender uma finalidade. Várias atividades estão ligadas a
essa habilidade, como vestir-se, realizar tarefas diárias que necessitam da parte
motora. Essas atividades diárias, mesmo as mais complexas, estão associadas a
percepção visual, raciocínio espacial, planificar e estipular metas, controlando o
desempenho individual. Movimentos organizados estão presentes o tempo todo no
fazer, conviver e aprender.

A cognição social é a forma como se processa a informação, a codificação,


armazenamento e decodificação das informações sociais. Essa linha de pensamento
se opõe à teoria behaviorista que não acreditava na influência dos processos mentais
nos resultados comportamentais. A cognição social refere-se aos pensamentos que
se tem sobre outras pessoas. Assim, ela nos possibilita entender as emoções,
intervenções e condutas.

Para se executar um movimento é necessário reconhecer o objeto, saber para


que ele serve, elaborar e ativar os órgãos e movimentos necessários para executar a
atividade.

A habilidade visuoperceptiva requer capacidade de programação e


reprogramação dos órgãos que realizarão as atividades motoras. Quando essas

115
habilidades não são desenvolvidas a pessoa apresentará dificuldade em escrever,
resultando em dificuldade de aprendizagem.

2.5 Introdução Geral à Neuropsicologia

A neuropsicologia é uma ciência nova, mas conta com uma história


interessante, como já pudemos entrar em contato. Ela se dedica a estudar o
comportamento e sua relação com o cérebro.

Portanto, uma avaliação neuropsicológica avalia o funcionamento do cérebro


pelo comportamento apresentado e auxilia em detectar presença de disfunção
cognitiva. Dessa forma, uma avaliação possibilitará um planejamento para o trabalho
adequado para crianças ou pessoas que apresentam disfunção.

Foi na França, logo no início do século XX, que estabeleceu o princípio para
avaliação psicométrica com Alfred Binet, Vitor Henri e Theodore Simon, que
estudaram as funções mentais e trouxeram o conceito de processos mentais
superiores –PS, incentivando a compreensão da inteligência humana.

Binet e Simon, publicaram, com a colaboração de Piaget, a escala de


inteligência Binet e Simon- primeiro teste de inteligência que busca graduar a
inteligência, preocupando com a idade mental e seu desenvolvimento em relação a
idade cronológica. Neste caso, a inteligência foi considerada como a capacidade de
agir, pensar e interagir com o meio o qual o indivíduo está inserido, de maneira
intencional.

David Wechsler, em 1939 criou uma escala de inteligência destinada a adultos-


WAIS (escala de inteligência de Wechsler), escala de inteligência de crianças – WISC
e escala de inteligência para crianças pré-escolares (WPPSI).

Wechsler criou primeiro a escala para crianças e sentiu necessidade de uma


escala para adultos, haja vista que, Binet-Simon, já haviam elaborado uma escala
para criança também e não havia uma para adultos. Posteriormente, ele sente a
necessidade em elaborar uma escala para crianças pré-escolares. Ele acreditava que
a inteligência era um conjunto de capacidade global do ser humano para agir de
maneira intencionalmente, pensar e interagir no meio o qual está inserido, resultado
genético, motivação ambiental, experiências e tendências da personalidade.

Em sua teoria Wechsler propõe uma hierarquia o qual o escore do QI


(Quociente de Inteligência), está subdividido em verbal (QI Verbal) e de execução (QI
de Execução), sendo o primeiro, os processos de verbalização e conhecimento
adquirido e o segundo de organização perceptual, manipular estímulos de maneira

116
rápida. Suas avaliações são bem conhecidas e tem durações entre 90 e 120 minutos,
um instrumento individual clínico, o qual deve ser aplicado individualmente para
avaliar capacidade intelectual da criança e do adolescente.

Esse teste WISC se divide em quatro fatores, sendo elas compreensão verbal,
organização perceptual, resistência a distração e velocidade em processar o que foi
pedido. WAIS é mais complexo por se tratar de avaliação de pessoas a cima de 16
anos, com subtestes com mais ou menos de 14 itens com testes verbais e não verbais

2.5.1 Principais casos clínicos da Neuropsicologia

Toda essa discussão nos leva a entender a importância dos testes e da


neurociência para a compreensão do desenvolvimento cognitivo do ser humano. Ela
cresceu com pesquisas realizadas em seres humanos e alguns casos se
evidenciaram pela forte contribuição para o entendimento do funcionamento do
cérebro.

Entender que o coração do ser e fazer estão no cérebro traremos três casos
que marcaram a história da pesquisa do cérebro humano.

2.5.1.1 O caso Phineas Gage

O primeiro caso a ser destacado é famoso no mundo acadêmico, do ferroviário,


chamado Phineas Gage, dos EUA, em 1848, que ao explodir uma rocha, foi lançado
a 20 metros e atingido por uma barra que atravessou seu crânio, da bochecha até sua
testa (como mostra figura abaixo) e, mesmo assim, manteve-se consciente. Um erro
de cálculo do momento da explosão possibilitou um estudo valioso para a medicina e
áreas de interesse afins.

Doutor Harlow atendeu Phineas e chamou atenção o fato de ter uma barra
instalada em seu crânio continuar consciente, sem perder a noção da realidade.
Foram dez semanas de tratamento e em nenhum momento perdeu a consciência e
capacidade cognitiva, voltando a trabalhar normalmente, com algumas mudanças de
personalidade (área afetada pela barra). Esse caso evidenciou que a personalidade e
comportamento social estão diretamente ligados ao cérebro.

117
Figura 79 - Phineas Gage

Fonte: https://amenteemaravilhosa.com.br/casos-clinicos-funcionamento-do-
cerebro/acessado 25/05/19

2.5.1.2 O caso Henry Molaison

Henry Molaison (26/02/1926 – 02/12/2008) foi um caso importante para os


estudos do cérebro, pois em 25 de agosto de 1953, quando ele estava com 27 anos
foi extraído uma parte de seu cérebro (o hipocampo e um pedaço da amígdala), com
objetivo de acabar com a epilepsia. Com a cirurgia, Henry livrou-se da epilepsia, mas,
em compensação, tornou-se incapaz de memorizar coisas novas, não perdendo a
memória antiga. Ele não reconhecia uma pessoa que acabara de conhecer, quando
ela saia de perto.

Após a cirurgia, ele passou rodeado de médicos, pelo fato de não ter a
capacidade de armazenamento de fatos recente. Até 2002, H.M. foi voluntário para
estudos de neurociência e em 1992, assinou um termo doando seu cérebro ao MIT
(Instituto de Tecnologia de Massachusetts) depois que morresse.

Com o seu falecimento, em 2008, os estudos continuaram com o seu cérebro,


sendo fatiado em finíssimas camadas e cada uma destas camadas, sendo
escaneados, para formar um mapa 3D e facilitar os estudos atuais e futuros. Sua
autópsia (feita ao vivo) possibilitou a descoberta de que a área mais prejudicada em
seu cérebro foi a do córtex entorrinal (veja figura abaixo), a mesma do Alzheimer.

118
Figura 80- paciente Henry Molaison

Fonte: https://amenteemaravilhosa.com.br/casos-clinicos-funcionamento-do-
cerebro/acessado 25/05/19 https://lamenteesmaravillosa.com/corteza-entorrinal-el-
area-donde-se-consolida-la-memoria/

2.5.1.3 O caso Donald

Outro caso interessante foi a de Donald, que sob efeito de fenciclidina,


assassinou sua namorada e depois não lembrava do que havia acontecido. Com
amnesia orgânica foi internado em um hospital psiquiátrico e, ao sair, foi atingindo
fortemente na cabeça, o que o deixou em coma.

Quando acordou do coma ele se lembrava de tudo e essa lembrança voltava à


sua mente várias vezes, o que o deixava desnorteado. Continuamente ele via o
assassinato na sua mente e o recriava repetidamente, uma coisa desesperadora para
ele. Outra sequela foi dormência do lado esquerdo do corpo.

O caso de Donald é um dos casos clínicos mais misteriosos. A ciência ainda


não conseguiu explicar por que uma lembrança perdida retornou. Muito menos sabe

119
por que, quando a lembrança voltou, ela se manifestou de maneira tão conturbada
para o paciente, algo que foi mais conturbado que a própria lembrança. Um caso que
ainda não foi decifrado, tornando um desafio a ser entendido pela medicina.

Figura 81- caso Donald

Fonte:< https://amenteemaravilhosa.com.br/casos-clinicos-funcionamento-do-
cerebro/> acessado 25/05/19

Esses três casos acima descritos auxiliaram nos estudos sobre o


funcionamento do cérebro, como o ser humano aprende e se desenvolve.

Saiba mais acessando o Anexo IV – Cronologia da Neurociência

120
Leia o texto (Anexo V) sobre o funcionamento do cérebro sob a influência
da música.

Leia o Anexo V e baixe o conteúdo completo.

Artigos de Revisão: MEMÓRIA DE LONGO PRAZO: MECANISMOS


NEUROFISIOLÓGICOS DE FORMAÇÃO de Gustavo Camargo Silvério & Renata
Menezes Rosat in Revista Médica de Minas Gerais rmmg.org > exportar-pdf
file:///C:/Users/coordena%C3%A7%C3%A3o/Downloads/v16n4a10.pdf

2.6 O encéfalo e suas estruturas fundamentais relacionadas à motricidade,


aos sistemas sensoriais, à linguagem, à memória e aprendizado, ao
espaço, às emoções e à inteligência, em um sistema de processamento
distribuído.

No Sistema Nervoso central-SNC, o encéfalo ocupa um espaço interno da caixa


craniana importante, complexa e está relacionado à área da razão e da inteligência,
dentre outras coisas.

Como já visto, fazem parte do encéfalo: o Cérebro, o Mesencéfalo, o


Cerebelo, a Ponte, o Bulbo Raquidiano, o Hipotálamo e o Tálamo, sendo o cérebro
uma parte que representa 78% do peso do encéfalo e tem como destaque as pregas
e depressões, dividido em hemisfério direito e hemisfério esquerdo, conectados pelo
corpo caloso. Sua parte externa tem a cor escura, denominada de córtex e é

121
constituída de neurônios (corpo celulares), enquanto a interna tem a cor clara e
constitui-se por dendritos e axônios.

O Cérebro está ligado à aprendizagem e tudo que é necessário para que ela
aconteça (inteligência, memória, percepção, movimento, e atividades sensoriais).

O Mesencéfalo tem uma presença forte na coordenação de reflexos visuais,


no entendimento das informações obtidas pela parte sensorial e está relacionado a
musculatura

O Cerebelo, localizado próximo a ponte e depois do cerebelo se responsabiliza


em desenvolver as atividades motoras, coordena movimento voluntários como
caminhar e nadar, sem necessidade de um controle consciente (o fazer sem pensar
(correr, andar de bicicleta e manter-se equilibrado) e postura corporal.

A Ponte, formada por fibras que constam as partes encefálicas, transferindo


informações.

O Bulbo envolvido nas funções involuntárias controla o batimento cardíaco,


respiração, tosse, vômito e o engolir.

Hipotálamo pequeno, mas, com a responsabilidade de controlar a temperatura


do corpo, ajustes das funções fisiológicas como impulso sexual, fome, sede e o relógio
biológico.

O Tálamo, como pode observar na figura 10, integra os impulsos elétricos e


classifica os estímulos, encaminhando para onde deve prosseguir e com exceção do
olfato, ela recebe as mensagens sensoriais.

Figura 82 - Encéfalo

122
Fonte:https://www.coladaweb.com/biologia/corpo-humano/encefalo>acessado
25/05/19

Fonte:< http://www.pos.uea.edu.br/data/area/titulado/download/10-9.pdf> acessado


25/05/19

A parte do cérebro responsável pela motricidade é o córtex motor, no Lobo


Frontal (frente do crânio). O córtex motor (conforme figura acima) responsável pela
motricidade voluntária.

O nosso cérebro é tão organizado que tem “gavetas” para cada função dos
nossos sentidos e os estímulos, enviados pelo meio ambiente, são captados pelo
cérebro, que organiza e emite as reações (sensações).

Figura 83 - Sistema sensorial

123
Fonte:< https://studylibpt.com/doc/4697586/sistema-sensorial---
col%C3%A9gio-energia-barreiros> acessado 25/05/19

Como já visto o Lobo Frontal cuida do processo cognitivo e das tarefas


executivas, tendo uma função importante na aprendizagem, pois, define objetos,
organiza pensamento para a fala inteligível e com sentido.

O Lobo Parietal, dentre algumas funções é responsável pele percepção


sensorial, o lobo temporal se incube de processar os estímulos visuais (percepção
visual) e o Lobo Occipital, dentre outras coisas, tem por funções processar as
diferentes informações visuais que recebe do meio ambiente.

Portanto, uma área afetada, necessariamente, não impossibilitará o aluno de


aprender e se desenvolver, podendo se adaptar ao meio social, utilizando as demais
áreas cerebrais conforme pode ser constatado com os exemplos citados
anteriormente.

A figura abaixo serve para você revisitar o que já pudemos ver anteriormente.

Figura 84 – Lobos Cerebrais

Fonte:< https://amenteemaravilhosa.com.br/lobos-cerebrais-caracteristicas/>
acessado 25/05/19

124
Atividade de Aplicação

Aproveite a figura 83 e elabore um texto explicando cada parte do cérebro,


trazendo teóricos de renome para nossa disciplina.

2.7 Aspectos do desenvolvimento Psicomotor

Psicomotor pode ser entendido se dividirmos a palavra em psi = emoção; co =


cognitivo e motor = movimento. Ou psicomotricidade como sendo os aspectos do
desenvolvimento motor que envolve a afetividade dentro de cada faixa etária do
indivíduo.

Assim, estudar as relações entre o afeto a cognição e o movimento no


desenvolvimento do ser humano, é um dos caminhos para uma educação efetiva e
consciente.

Psicomotricidade é utilizado para estudos do movimento integrando a interação


cognitiva, sensório motora e psíquica, entendendo o ser humano e suas relações com
o seu corpo. Uma relação transdisciplinar entre corpo, movimento e a parte afetiva
baseando-se em uma visão holística do homem.

A psicomotricidade é uma ciência que estuda o homem com a sua relação com
o mundo externo e interno e auxilia no trabalho no processo de ensino e
aprendizagem. É um campo que se preocupa com o movimento e subsidia o
desenvolvimento da criança.

De acordo com Fonseca (2004), em 1920 surgiram os primeiros estudos sobre


a relação psíquica e motora pelo neuropsiquiatra Dupré, que ressaltava que havia
relação entre as anomalias motoras e anomalias psicológicas, contribuindo para
novas pesquisas voltadas para a aprendizagem e não para anomalias.

Teóricos como Wallon, Piaget e Ajuriaguerra buscaram aprofundar esse campo


trazendo uma visão da psicomotricidade como um dos fatores importantes para o
desenvolvimento da aprendizagem. Wallon apegou-se na relação afeto e emoção,
Piaget na evolução cognitiva e Ajuriaguerra na relação corpo e meio social.

125
Assim, podemos entender a criança, como um ser em movimento e em busca
de conhecer e interagir, pelos sentidos. Nessa interação constante, as crianças vão
conhecendo o mundo, a si mesmas e experimentando momentos diferentes.

A criança brinca, compara, experimenta, distingue ações que envolvem o corpo


e amplia sua capacidade. Vale destacar que as experiências devem estar adequadas
a faixa etária e as condições cognitivas da criança, para que sejam efetivas.

Para Oliveira (2007) será por volta dos 8 meses que a criança fica pronta para
combinar ações complexas, mas os estímulos e atividades adequadas precisam ser
realizadas para que o desenvolvimento aconteça.

A autora ressalta que para Wallon é necessário haver um amadurecimento dos


músculos e corpo para realização de algumas atividades, o que deve ser levado em
consideração no momento de observar e trabalhar a criança.

A desorganização existente anteriormente passa ser organizada pelas ações e


interação entre crianças e meio. Wallon e Piaget compartilham com a teoria da fase
de desenvolvimento, a qual precisa ser respeitada para que a criança corresponda
aos estímulos. É no agir e interagir sobre objetos que possibilita a assimilação
(introjeção da informação) acomodação (relação informação com o que se conhece)
e desenvolver a inteligência reflexiva (fase denominada pelos pesquisadores de
sensório-motora).

Ajuriaguerra afirma que é manipulando que a criança descobre o mundo. O ver


e o descobrir o objeto, enfatizando a importância de ela conseguir segurar, largar e
buscar novamente o objeto. Portanto, o movimento e o corpo estão interligados, sendo
o corpo o mediador desse processo.

A psicomotricidade tem como objetivo auxiliar o professor na compreensão do


processo de aprendizagem da criança. Ela auxilia na consciência sobre as ações
realizadas e busca harmonizar o movimento e o psiquismo.

Perceba a importância da psicomotricidade no desenvolvimento intelectual da


criança que está vinculado a independência dos elementos corporais (pegar, andar,
girar, esticar-se, etc.)

126
2.7.1 Sensação e Percepção (tátil, olfativa, gustativa, visual, cinestésica e de
equilíbrio).

Sensação e percepção são interligadas e importantes na aquisição de


conhecimento do indivíduo. Tanto a sensação quanto a percepção auxiliam na
interpretação do mundo e na adaptação do sujeito com o meio em que vive.

O meio o qual o indivíduo está inserido é apreendido pela sensação recebida


pelos sentidos e por todo o corpo e interpretado, por intermédio das experiências
vivenciadas.

É com as experiências estabelecidas pelos sentidos, que o indivíduo percebe


as diferenças e interpreta os estímulos recebidos pelos órgãos sensoriais, que estão
ligados no biológico, sendo a percepção ligada ao psicológico.

A neurociência entende a percepção como capacidade dos seres humanos de


entender e relacionar as informações recebidas que envolvem memoria, cognição e
comportamento sendo essencial aproximarmos nosso olhar no processo de
conhecimento através dos sentidos.

2.7.2 Processos mentais relacionados à aprendizagem

A aprendizagem é um processo que tem início no nascimento (há quem


defenda a ideia que começa no útero materno) e termina na morte. Denomina-se
processo por ter uma continuidade e não ter um fim, pois o indivíduo está sempre em
contato com objetos, situações diferentes e novas, tornando a aprendizagem
constante na vida, não tendo um momento de parada pois está ligada ao
desenvolvimento cognitivo da pessoa.

Bruner (1991), em seus textos, deixa marcada a sua preocupação com a


organização do conhecimento, processo de informação, tomada de decisão e
raciocínio. Já Ausubel (1980) enfatizava que para a aprendizagem efetivar o indivíduo
precisa organizar e integrar o que foi aprendido e processar internamente (cognição).

Na psicologia cognitiva o estudo está voltado para a consciência, como se


passa do desconhecer para conhecer.

127
Muito louco isso!

Você não acha?

Para que a aprendizagem aconteça o indivíduo deve estar integrado no meio o


qual ele vive, percebendo e introjetando as informações que o rodeia.

Portanto, ensinar é compreender o ambiente o qual o sujeito está inserido e


quais estímulos ele tem recebido na sua caminhada de vir a ser um aprendente desse
mundo complexo.

Piaget teve uma contribuição muito forte no entendimento de como o indivíduo


aprende, ele trouxe a concepção de assimilação, acomodação e adaptação, em um
processo constante de interação entre o indivíduo e o meio ocasionando mudanças
na maneira de agir e pensar.

Entendamos melhor o processo de assimilação, acomodação e adaptação. A


apropriação do conhecimento é denominada de assimilação, a organização ou
reorganização da informação para adequá-la a nova experiência denomina-se
acomodação e a adaptação é o fazer o que foi aprendido, em um processo de
equilibração.

Para Piaget a aprendizagem acontece quando o indivíduo consegue interagir


como meio, porque processou as informações recebidas (assimilou, acomodou e
adaptou) e o desenvolvimento é responsável pela aquisição de conhecimento. Ele
separa a aprendizagem do desenvolvimento.

Vygotsky ressalta que a aprendizagem é fruto da interação do indivíduo com o


meio no processo de aproximação do que a criança tem potencial de aprender como
que ela já sabe ou traz com ela, partindo sempre do que a criança ou indivíduo já
sabe.

128
Vygotsky não divide o desenvolvimento em estádio ou estágio, porque traz
como ponto de partida um ambiente estimulador, a capacidade do indivíduo de
aprender (filogenética) e o que ele já sabe e tem potencial de aprender.

IMPORTANTE!

Veja o Anexo VI - A relação entre desenvolvimento e aprendizagem na


teoria de Piaget

Aprender é um processo que requer do professor conhecer o caminho a ser


percorrido, entender como o cerebro funciona, como ativá-lo para aprender, entender
a história da criança, organizar um ambiente favorável para o desenvolvimento e
respeitar o corpo, como parte do aprender e desenvolver. É um, processo dialógico
entre o afetivo e o social, perceptiva e sensorial, sendo a criança um ser com liberdade
de explorar e conhecer.

No entanto, o “aprender” pode ser dificultado pelo nível de Retardo Mental


apresentado pelo indivíduo. O retardo mental é uma condição, geralmente irreversível,
caracterizada por uma capacidade intelectual inferior à normal com dificuldades de
aprendizado e de adaptação social, que normalmente está presente desde o
nascimento ou que se manifesta nos primeiros anos da infância.

A deficiência intelectual é caracterizada por limitações nas habilidades mentais


gerais. Essas habilidades estão ligadas à inteligência, atividades que envolvem
raciocínio, resolução de problemas e planejamento, entre outras. A inteligência é
avaliada por meio do Quociente de Inteligência (QI) obtido por testes padronizados. O
resultado de uma pessoa com Transtorno de Desenvolvimento Intelectual nessa
avaliação situa-se em 75 ou menos.

Caracteriza-se por importantes limitações, tanto no funcionamento intelectual


quanto no comportamento adaptativo, expresso nas habilidades conceituais, sociais
e práticas. Indivíduos com Deficiência Intelectual apresentam funcionamento

129
intelectual significativamente inferior à média. Possuem limitações significativas em
pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades:

 Aprendizagem e autogestão em situações da vida, como cuidados


pessoais, responsabilidades profissionais, controle do dinheiro, recreação,
controle do próprio comportamento e organização em tarefas escolares e
profissionais.
 Comunicação: Habilidades ligadas à linguagem, leitura, escrita,
matemática, raciocínio, conhecimento, memória.
 Habilidades sociais/interpessoais (habilidades ligadas à consciência das
experiências alheias, empatia, habilidades com amizades, julgamento
social e autorregulação).

A pessoa com Deficiência Intelectual tem dificuldade para aprender, entender


e realizar atividades comuns para as outras pessoas. Muitas vezes, essa pessoa se
comporta como se tivesse menos idade do que realmente tem.

Na maioria dos casos, a causa do retardo mental é desconhecida, mas várias


condições durante a gravidez podem causar ou contribuir para o retardo mental da
criança, como o uso de certas drogas, o consumo excessivo de álcool, a radioterapia
e a má nutrição.

As dificuldades associadas ao parto prematuro, o traumatismo crânio-


encefálico ou a concentração muito baixa de oxigênio durante o parto também podem
causar retardo mental.

Anomalias cromossômicas, como na síndrome de Down, são causas comuns


de retardo mental, porém esse quadro pode ser consequência de outros distúrbio
hereditários que podem ser corrigidos antes que o retardo mental ocorra, como no
caso da fenilcetonúria ou do cretinismo, por exemplo.

Os graus de retardo mental que podem ser observados através de teste de


quociente de inteligência (QI). Crianças com um QI de 69 a 84 apresentam dificuldade
de aprendizagem, mas não são consideradas como mentalmente retardadas, mas
aquelas com um retardo mental leve, que apresentam QI de 52 a 68, embora
apresentem dificuldade de leitura, podem aprender as habilidades educacionais
básicas necessárias no dia a dia.

O retardo mental pode ser classificado como:

 Retardo mental leve: É caracterizado por um quociente intelectual (QI)


entre 52 a 68. As crianças com um grau leve de retardo mental podem
atingir um nível de leitura similar aos das crianças que cursam entre a 4ª e
a 6ª série escolar, aprender as habilidades educacionais básicas

130
necessárias no dia-a-dia. Essas pessoas geralmente não apresentem
defeitos físicos evidentes, mas podem apresentar epilepsia e necessitam
de supervisão de instituições educacionais especiais. São frequentemente
imaturos e pouco refinados, com pouca capacidade de interação social. A
sua linha de pensamento é muito específica e em geral, eles são incapazes
de generalizar. Possuem dificuldades para ajustar-se a situações novas e
podem apresentar uma má capacidade de julgamento, falta de prevenção
e credulidade excessiva, e são capazes de cometer crimes impulsivos.
Apesar da capacidade intelectual limitada todas as crianças com retardo
mental podem beneficiar-se com a educação especial.

 Retardo mental moderado: É caracterizado por um quociente de


inteligencia (QI) entre 36 e 51. As crianças apresentam uma maior lentidão
para aprender a falar ou sentar, mas se receber treinamento e apoio
adequados, os adultos com esse grau de retardo mental conseguem viver
com alguma independência. Mas a intensidade do apoio deve ser
estabelecida para cada paciente e alguma vezes pode ser preciso apenas
uma pequena ajuda, para que consiga estar integrado.

 Retardo mental grave: É caracterizado por um quociente de inteligencia


(QI) entre 20 e os 35. Como características do retardo mental grave pode-
se destacar uma incapacidade de aprendizagem mesmo quando
comparada a uma criança com um retardo menos intenso, especialmente
nos casos em que o QI é inferior a 19. Nesses casos, em geral a criança
não consegue aprender, falar ou compreender em um grau se encontra,
sendo sempre necessário apoio profissional especializado.

A Deficiência Intelectual é caracterizada por limitações significativas, tanto no


funcionamento intelectual (raciocínio, aprendizagem, resoluções de problemas),
quanto no comportamento adaptativo, que abrange uma gama de habilidades sociais
e cotidianas. Para o seu diagnóstico devem ser considerados o ambiente sócio cultural
e comportamento adaptativo (não dá para comparar (em termos de uma “mesma
inteligência, por meio dos testes padronizados para medi-las) crianças que vivem num
centro urbano no Canadá com crianças que vivem num centro urbano de uma cidade
de um país subdesenvolvido, por exemplo). São culturas e valores diferentes. O que
é válido para uma cultura pode não significar nada para outra.

Por isso, só se compara para fins de estabelecer parâmetros de Deficiência


Intelectual pessoas de mesmo ambiente sociocultural e com comportamento
adaptativo a ele.

131
2.8 Distúrbios e doenças relacionadas ao Sistema Nervoso3

Alguns distúrbios e doenças relacionados os SNC e SNP serão elencados para


que você consiga fazer relação entre função e disfunção.

No Sistema Nervoso Central podemos trazer alguns exemplos como convulsão,


Parkinson, Alzheimer, derrame cerebral, dores de cabeça, esclerose, meningite,
doenças neurológicas e da medula espinhal.

O Sistema Periférico doenças voltadas para o movimento (motor) e sensorial,


fraqueza tendo que tomar cuidado para não chegar no músculo da deglutição e
respiração

2.8.1 Causas das encefalopatias crônicas não evolutivas 4

A Encefalopatia Crônica é conhecida como Paralisia Cerebral (PC),


permanente que está presente no início da vida. A paralisia é denominada por lesão,
não progressiva em uma parte do cérebro e acarretará em mudança de
comportamento por incapacidade de realizar algumas funções.

Tendo como estatística 1 a 2 crianças a cada 1000 nascidas, relacionada a


condição de gestação e nascimento. Meningite, rubéola, sífilis, AIDS, toxoplasmose,
sepse e encefalite também fazem parte dos causadores de Paralisia Cerebral-PC.

A Encefalopatia Crônica Não Progressiva-ECNP, definida como distúrbio de


movimento que não progride, que acontecem quando o cérebro ainda não
amadureceu, por cerca dos 4 anos. Passando dessa faixa etária a terminologia passa
a ser lesão cerebral.

Figura 85 – Sequelas neuromotoras das Encefalopatias

3
Ressaltamos que os conteúdos abaixo serão melhor detalhados na penúltima disciplina deste curso,
ou seja: Dificuldades, Transtornos de Aprendizagem e outras alterações do desenvolvimento.
4
Ressaltamos que os conteúdos abaixo serão melhor detalhados na penúltima disciplina deste curso,
ou seja: Dificuldades, Transtornos de Aprendizagem e outras alterações do desenvolvimento.

132
Fonte: <http://silvanapsicopedagoga.blogspot.com/2012/02/encefalopatia-cronica-da-
infancia.html> acessado em 25/05/19

A Paralisia Cerebral foi descrita pelo médico inglês William John Little, em 1843,
como ECNP, depois de examinar e estudar 47 crianças que tinham dificuldades em
movimentos de membro inferiores e em uma intensidade menor os membros
superiores, com dificuldade em locomover e pegar objetos.

Freud em 1897 discordou de Little e denominou essa doença como Paralisia


Cerebral - PC, acreditando que as crianças desenvolviam esse transtorno antes
mesmo de nascer indo em desencontro do que Little havia colocado. O fato é que as
crianças pesquisadas por Freud apresentavam transtornos menos severos.

Na realidade, são fatores endógeno e exógeno (interno e externo) que estão


envolvidos no comprometimento do sistema nervoso central, quando relacionado à
Paralisia Cerebral, pois há cérebros com uma herança genética propensa a lesões.

2.8.2 TID – Transtornos Invasivos do Desenvolvimento5

O Transtorno Invasivo do Desenvolvimento está relacionado ao fenótipo


relacionado a condições psiquiátricas que afeta a habilidade social, comportamento
inadequado socialmente e linguagem.

O TID traz um padrão de comportamento estereotipado e repetitivo e de difícil


convívio social, mas não pode ser confundido com o autismo, pois autismo é um

5
Ressaltamos que os conteúdos abaixo serão melhor detalhados na penúltima disciplina deste curso,
ou seja: Dificuldades, Transtornos de Aprendizagem e outras alterações do desenvolvimento.

133
dos transtornos do TID. Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID) é o termo
utilizado para todo transtorno que apresenta dificuldade de convivência social,
linguagem e comportamento estereotipado, do mais leve ao mais grave e pode ser
percebido desde criança, não recomendando um diagnóstico antes dos 3 anos, mas
pode ser observado indícios que leve à suspeita.

O Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, como qualquer outro transtorno só


pode ser diagnosticado por médicos, não dispensando a parceria de outros
profissionais como pedagogos, psicopedagogos, psicólogos e fonoaudiólogo, um
trabalho multidisciplinar, mas com o parecer final de um médico.

Vejamos dois transtornos inclusos no TID- autismo e síndrome de Rett:

a) Autismo (Transtorno do Espectro Autista – TEA) - Desordem Global que


tem comprometido funções básicas como contato com outra pessoa,
dificuldade em adaptar em ambientes, dificuldade em comunicar e se
socializar. Com graus diferentes, do mais leve ao mais severo.

Há autistas verbais (que conversam) e não verbais (não conversam), com


uma gama muito grande a manifestação do autista é denominada como
“espectro” autista.

É importante ressaltar que não existe um mundo próprio do autista e sim


como ele se comunica em um mundo onde todos nós vivemos. A
dificuldade que eles têm é de comunicar-se, esse o motivo de se fecharem.

b) Síndrome de Rett- uma anomalia genética que tem como consequência


uma desordem neurológica que aumenta progressivamente o
comprometimento das funções motoras e intelectual, se desenvolvendo
normalmente até aproximadamente os três anos e depois começa a
regressão das habilidades desenvolvidas até essa fase. Esse transtorno
acomete em grande parte as meninas.

Trouxemos dois transtornos que estão associados à TID, mas conversaremos


mais na próxima Unidade sobre esse tema tão próximo à realidade escolar e do
trabalho do Psicopedagogo.

134
Caro aluno, nessa unidade você começou a entender mais a importância da
neurociência para a aprendizagem e desenvolvimento humano.

Teve a oportunidade de relacionar as partes do cérebro com a aprendizagem e


começar a uma imersão no mundo do funcionamento cerebral na aprendizagem e
desenvolvimento humano. Entender que os professores devem buscar harmonizar
corpo, cognitivo, emoção e ambiente.

Revendo o que já foi iniciado na Unidade I, de uma maneira geral o sistema


nervoso é dividido basicamente em dois grandes sistemas: sistema nervoso central
(SNC) e sistema nervoso periférico (SNP).

Podemos dizer que o sistema nervoso central (SNC) é o centro de


processamento de todas as informações que chegam a ele através dos sistema
nervoso periférico (SNP), ou seja, todos os estímulos que recebemos (tanto os
ambientais – como temperatura por exemplo – quanto os internos – como a vontade
de urinar) são conduzidos do SNP ao SNC, este por sua vez interpreta o estimulo e
prepara uma resposta proporcional e a conduz de volta ao SNP, sendo assim
podemos afirmar que o SNC é integrativo e trabalha em conjunto com todas as regiões
do corpo.

O cérebro é a região mais rostral ou cortical do encéfalo, representa a maior


porção do encéfalo anatomicamente dividido em dois hemisférios (esquerdo e direito)
separados por uma profunda fenda, chamada de fissura sagital. Diencéfalo localizado
no meio do cérebro fica justamente entre os dois hemisférios cerebrais e o tronco
encefálico. É composto por duas estruturas: Tálamo e Hipotálamo.

O cerebelo está muito relacionado com movimento e propriocepção (noção do


corpo no espaço) além de controlar o equilíbrio juntamente com o aparelho vestibular
localizado no ouvido interno. O cerebelo tem um papel muito importante na construção
da memória motora. A região do tronco encefálico pode ser descrita como uma zona
de transição entre o encéfalo e a medula espinhal, porém contem estruturas de suma
importância que controlam as funções vitais como respiração e batimentos cardíacos.
O tronco encefálico é subdividido em basicamente três regiões: mesencéfalo, ponte e
bulbo.

A medula espinhal é composta por feixes de fibras nervosas revestida pela


coluna vertebral e conectada ao tronco encefálico. É considerada o maior condutor de

135
informações tanto do SNC para SNP quanto do SNP para o SNC. A comunicação
entre os sistemas se dá por meio de nervos espinhais que fazem parte do SNP, estes
emergem da medula espinhal através de espaços entre as vertebras.

Agora que você já conhece os princípios básicos da neurociência, dedique-se


bastante, procure livros e artigos e mergulhe de cabeça!

Esperamos que tenha aproveitado essa unidade.

Atividade de Aplicação

(Fuvest - 2004) - O esquema representa dois neurônios contíguos (I e II), no


corpo de um animal, e sua posição em relação a duas estruturas corporais
identificadas por X e Y.

a) Tomando-se as estruturas X e Y como referência, em que sentido se


propagam os impulsos nervosos através dos neurônios I e II?

b) Considerando-se que, na sinapse mostrada, não há contato físico entre os


dois neurônios, o que permite a transmissão do impulso nervoso entre eles?

c) Explique o mecanismo que garante a transmissão unidirecional do impulso


nervoso na sinapse

Resposta:

a) Os impulsos se propagam de Y para X.

136
b) A transmissão do impulso nervoso ocorre, na sinapse, graças à
liberação de mediadores químicos (neurotransmissores) pelas terminações do
axônio do neurônio II. Essas substâncias atuam nos dendritos (e não
“dendritos”, como está na figura) do neurônio I.

c) A transmissão unidirecional na sinapse é garantida pelo fato de que as


vesículas com neurotransmissores existem apenas nas terminações do axônio
pré-sináptico

1) Sabemos que o sistema nervoso pode ser dividido em sistema nervoso


central e sistema nervoso periférico. A respeito do sistema nervoso central, marque a
alternativa incorreta:
a) O sistema nervoso central é composto por medula espinhal e encéfalo.
b) O encéfalo, parte integrante do sistema nervoso central, é responsável
por controlar diversas funções vitais do nosso organismo.
c) Fazem parte do sistema nervoso central diversos nervos e gânglios
nervosos.
d) A medula espinhal fica alojada no interior do canal formado pelas
perfurações das vértebras.
e) O sistema nervoso central processa informações vindas de outras partes
do corpo

Resposta (C). O sistema nervoso periférico (SNP) é composto por nervos e


gânglios, enquanto o sistema nervoso central (SNC) é constituído pelo encéfalo e
medula espinhal.

2) Observe a estrutura do neurônio abaixo e marque a alternativa correta:

137
a) A estrutura indicada pelo número 1 é o axônio.
b) A estrutura indicada por 2 é o corpo celular, local de onde partem os
dendritos e axônios.
c) A estrutura 3 é o dendrito, local especializado em receber os estímulos
nervosos.
d) A transmissão do impulso nervoso sempre ocorre no sentido 3-2-1.
e) O axônio, estrutura 2, é envolto por uma camada denominada bainha de
mielina.

Resposta (B). O corpo celular está indicado pelo número 2. É dele que
partem os prolongamentos denominados dendritos (1) e axônio (3).

3) A respeito do potencial de repouso e potencial de ação, marque a


alternativa incorreta:
a) Quando um neurônio está em repouso, sua membrana externa apresenta
carga elétrica positiva.
b) Quando um neurônio está em repouso, sua membrana interna apresenta
carga elétrica negativa.
c) Quando um neurônio é estimulado, ocorre a despolarização.
d) A despolarização consiste na inversão das cargas elétricas da membrana.
e) Após o impulso, a membrana volta ao estado de repouso, com carga
positiva na membrana externa e interna.

138
Resposta (E). Após a passagem do impulso nervoso, ocorre a
repolarização, fazendo com que a membrana volte ao seu estado de repouso,
ou seja, a membrana plasmática interna volta a ficar eletricamente negativa em
relação à membrana externa.

4) A “lei do tudo ou nada” das fibras nervosas afirma que:


a) O impulso iniciado por um estímulo forte se propaga mais rapidamente do
que o impulso desencadeado por um estímulo fraco.
b) O impulso iniciado por um estímulo forte é maior do que o impulso iniciado
por estímulo mais fraco.
c) O estímulo que excede o limiar de excitação de um nervo provoca um
impulso como o de um estímulo duas vezes mais intenso.
d) Os estímulos mais fracos capazes de iniciar um impulso nervoso
despolarizam menos a superfície nervosa do que os estímulos mais fortes.
e) Os impulsos seguem em diferentes direções, dependendo do tipo de
neurotransmissores presentes nos axônios.

Resposta (C). Quando a membrana atinge seu potencial de membrana não


há nada que possa impedir que o impulso seja gerado.

139
Unidade III

ASPECTOS NEURAIS ASSOCIADOS ÀS PRINCIPAIS DESORDENS


NEUROPSICOLÓGICAS. DESCRIÇÕES CLÍNICAS DOS PRINCIPAIS
TRANSTORNOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM – OCORRÊNCIAS EM
IDADE ESCOLAR.

A neuropsicologia estuda a influência do cérebro no comportamento humano,


na busca de compreender a parte do cérebro responsável por lesões que resultam em
patologias.

Assim, para que essa compreensão seja possível é realizada uma série de
testes e procedimentos neuropsicológicos para que se possa associar a desordem
com o comportamento e respostas cognitivas.

A avaliação neuropsicológica auxilia a conhecer a profundidade do


comprometimento da memória, atenção, raciocínio, percepção, comportamento entre
outras funções. Essa avaliação possibilita um trabalho mais detalhado e voltado para
a área a ser desenvolvida e estimulada

3.1 Alterações Neuropsicológicas

A aprendizagem, especificamente a escolar, anda de mãos dadas ao


desenvolvimento da criança e a escola e a família, como o ambiente, as relações
emocionais estabelecidas, a condição biológica e tantos outros fatores que direta ou
indiretamente contribuem para que o processo de aprendizagem não aconteça de
maneira natural.

Aspectos neurais, como estamos estudando, são fatores que contribuem no


processo e, portanto, cabe ao professor se apropriar desse conhecimento no caminho
de auxiliar a criança na aquisição de conhecimento.

A aprendizagem requer atenção, memória, linguagem, percepção e função


executiva, que são ativados pela vigilância, por organização cerebral integrada inter e
intraneurossensorial. O aprender requer que a pessoa consiga codificar e decodificar,
receber e trocar informações entre os meios internos e externos, trazendo a forte
influência do ambiente o qual a criança está inserida.

140
Dessa maneira percebemos que qualquer alteração neuropsicológica a
aprendizagem fica comprometida e requer um olhar diferenciado para a situação.

3.1.1 Déficit de Atenção

Nos últimos tempos, pudemos perceber o aumento do Transtorno de Déficit de


Atenção e Hiperatividade (TDAH) nas escolas, fazendo com que pais e professores
se interessassem em compreender e estudar. Os psicólogos, psiquiatras,
neurologistas e vários especialistas da área da educação se voltam para compreender
e buscar tratamento preventivo, acompanhamento e auxílio no processo de inclusão
e inserção no mundo letrado e numérico.

TDAH é um transtorno do desenvolvimento que afeta a atenção, pois o


indivíduo não consegue controlar seu foco e o impulso de agir e pensar. Barkley (2002)
ressalta que o transtorno combinado de déficit de atenção, hiperatividade- impulsiva
chega a 62% dos casos, sendo os demais, casos isolados de déficit de atenção ou
hiperatividade. Traçando um perfil de TDAH nas crianças que não conseguem manter
a concentração, acabando com a associação entre falta de atenção com indisciplina.

Normalmente essas crianças são caracterizadas como crianças “avoadas”, que


“vivem no mundo da lua”, perdem as coisas, não se interessam pelas atividades e não
acabam o que começam. Rohde (2002) afirma que geralmente são crianças que
querem fazer tudo e têm dificuldade em organizar sua rotina e dificilmente ficam
quietas. Por ser um transtorno neurobiológico, genético, hereditário os profissionais
devem pesquisar o histórico familiar e ambiental da criança, pois as condições da
gestação e nascimento influenciam no diagnóstico e entendimento da situação.

Uma gravidez de mãe fumante ou usuária de drogas, que não se alimentou


adequadamente, pode influenciar no tempo de gravidez fora dos padrões e no parto
fora da época certa. Qualquer um desses casos pode resultar em TDA ou TDAH
combinado.

TDAH pode começar a se manifestar antes dos 7 anos, mas na maioria (95%)
aparecerá antes dos 12, pois antes dos 7 anos muito se confunde com as
características da fase de desenvolvimento das crianças.

Pesquisas realizadas provam que os fatores ambientais não são fatores


predominantes no TDAH, mas podem ser responsáveis pelos acontecimentos, mas
fatores genéticos representam uma boa porcentagem nas incidências, não
evidenciando o gene.

141
Alguns estudos demonstraram que 57% das crianças com transtorno de Déficit
de Atenção têm casos na família, muitas vezes são pais ou tios com o transtorno
trazendo a confirmação de fator genético. Em pesquisas recentes apontam como
TDAH como distúrbio neurobiológico tendo como causas déficit nos
neurotransmissores e no lobo frontal

Figura.86 - Neurotransmissores de uma criança TDAH

Fonte:<
http://www.aacap.org/App_Themes/AACAP/images/families_and_youth/facts_for_fa
milies/neuro.png>

Barkley (2002) afirma que embora pesquisas apontem para uma deficiência no
comportamento inibitório, não há marcadores biológico específico que definam todos
os casos, portanto, o quadro é fechado pelas informações obtidas pelos pais e
profissionais da educação, pela anamnese.

O tratamento é voltado na reorganização do comportamento e por vezes é


necessária terapia farmacológica com Metilfenidato, mais conhecido como Ritalina,
remédio utilizado para inibir a receptação (reabsorção de um neurotransmissor de
neurônio pré-sináptico depois de exercer sua função), possibilitando um estado de
vigília e aumento de concentração.

Como já mencionado anteriormente, o TDAH pode ser observado antes dos 7


anos, porém, somente na escola que ele será percebido com evidencias, devido ser
um espaço que requererá um controle comportamental maior da criança, sendo os
professores a primeira fonte de informação. Infelizmente ainda é fraco o nível de

142
conhecimento dos professores, necessitando um preparo maior para uma atuação
mais efetiva e um encaminhamento mais cedo.

Observe na imagem abaixo, o cérebro de uma criança com TDAH. Enquanto


uma criança dentro dos padrões normais as sinapses são coordenadas e organizadas
as crianças com TDAH, encontram dificuldade em organizar as informações e fazer
as relações necessárias para que a aprendizagem aconteça.

Figura. 87 - Cérebro de uma criança TDAH

Fonte:https://lifesaveressays.com/wp-content/files/2017/09/ADHD-graphics-
01-1.jpg

Assim, uma criança com TDAH, terá dificuldade em se concentrar, pois as


informações chegarão com uma intensidade maior e desorganizada.

143
Estudos de imagem em crianças com TDAH mostraram uma baixa irrigação
sanguínea (hipoperfusão) na região central do lobo frontal, responsável pelo
processamento de informação e administra e seleciona a atenção. Tendo maior
atividade nessa área em exame de eletroencefalograma.

As imagens também revelaram que as crianças com TDAH, a amigdala


cerebral, o hipocampo e o núcleo acúmbens são menores, comprometendo o controle
emocional, motivação e a sensação de prazer, justificando a necessidade de estar
sempre em movimento e abraçando o mundo.

3.1.2 Transtornos específicos de aprendizagem (dislexia e discalculia)

A dislexia pode ser definida como distúrbio ou transtorno de aprendizagem


identificada, geralmente no período pré-escolar, por estar relacionada à área da leitura
e escrita.

Vamos diferenciar
transtorno de distúrbio?

Distúrbio de Aprendizagem está relacionado à um grupo pontual de dificuldades


associado a disfunção neurológica, ou seja, o cerebro funciona diferente.

Transtorno de aprendizagem, de acordo com o Manual Diagnóstico e


Estatístico de Transtornos Mentais-5 (DSM-V), está associado ao biológico, com
sintomas ou comportamento que pode identificar, causando sofrimento. Transtorno,
de acordo com DSM-5, inclui interação de fatores genéticos, ambientais e epgenéticas
(informação extra da genética, modificação das funções genéticas herdadas).

Assim, dislexia pode ser tanto transtorno quanto distúrbio, ou melhor, um


transtorno de aprendizagem é um distúrbio. Portanto, encontraremos alguns textos

144
que utilizarão o termo distúrbio e outros utilizarão o termo transtorno pelo fato do
cerebro funcionar de maneira diferente e outros que tratarão como transtorno, por
estar associado a um condição neurológica e ao processamento de informação.

A Associação Brasileira de Dislexia,- ABD, conceitua a dislexia de


desenvimento eu transtorno de origem neurobiológico. Na nossa discussão traremos
alguns textos que trabalharão com a terminologia disturbio e outros com transtorno.

Dislexia afeta uma média de 5 a 10% da população, com origem genética, com
probabilidade de um histórico familiar que apresente irmãos ou parentes próximos
com dislexia.

A dislexia não está associada a capacidade intelectual, mas diretamente ligada


a leitura, escrita e soletração- déficit na consciência fonológica e na rota fonológica da
leitura. Ainda hoje, deparamos com professores que desconhecem a origem da
dislexia.

A dislexia, na sua história, passou por algumas etapas, sendo descoberta no


século XIX (1872), por um oftalmologista alemão e depois, em 1896 e 1907, médicos
notaram que pacientes, sem nenhum problema visual, apresentavam dificuldade em
ler, adotando a terminologia cegueira verbal, acreditando que era hereditária, por
perceberem que havia casos na família. Mais tarde, em 1917, o médico oftalmologista
Hinshelwood, por intermédio de pesquisas, associou essa ocorrência ao cérebro.

Embora a palavra dislexia signifique não leitura, o fato de a criança disléxica


não conseguir reconhecer palavras de maneira fluente, não ter a habilidade de
decodificar e soletrar, atividades cotidianas acabam sendo afetadas, mesmo de
maneira mais branda.

Observe o quadro abaixo sobre as regiões do cérebro afetadas pela Dislexia.

145
Figura: 88. Regiões do cérebro afetadas pela Dislexia

Fonte: https://ericasitta.wordpress.com/2016/02/16/dislexia-quais-sao-seus-
sinais-e-sintomas/

Pessoas disléxicas têm a área ligada a compreensão das palavras lesionada e


as atividades da parte posterior do cérebro é mais lenta, apresentando dificuldade
para ler, soletrar, escrever e compreender.

Dislexia não tem cura, mas o disléxico pode desenvolver estratégias para lidar
com sua dificuldade, sendo o professor um dos mediadores para essa ação, pois a
inteligência e a visão.

A dislexia é um distúrbio com três linhas teóricas diferentes para explicar a sua
origem. Vejamos a ideia defendida de cada uma.

1) Fonológica afirma que o déficit fonológico do disléxico é resultado de uma


falha na representação da fala, e, portanto, são armazenados e evocados,
quando preciso para a escrita, terá como resultado uma escrita distorcida
(comprometida). Para essa linha teórica, há uma ligação entre o déficit
cognitivo linguístico e o comportamento. Teoria baseada em pesquisas
sobre desempenho de tarefas de consciência fonológicas.

146
2) A teoria Alofônica baseia-se na alteração da percepção da fala resultando
em um mapeamento mental entre grafema e fonema. Assim, o déficit da
percepção alofônica altera a consciência fonológica, pois a consciência
mental do fonema está alterada. Vejamos um pequeno exemplo: Balde e
lata, as diferenças da pronúncia do “l” é diferente no meio e início da
palavra.

3) A terceira teoria sobre o que origina a dislexia e a Déficit Auditivo a causa


principal da dislexia, uma vez que a alteração na percepção de sons curtos
resulta na dificuldade perceptiva da fala. Para esses teóricos, a audição é a
via principal da representação fonológica da criança, fator necessário para
que aconteça a aprendizagem. Trazendo para essa discussão a escrita de
uma criança surda ou com deficiência auditiva.

Todas as três teorias são contestadas, por se prenderem em um único fator,


ignorando um olhar mais amplo da questão. Essas teorias encontram resistências por
considerarem que a fonologia e a alofônica ignoram os déficits não linguísticos e a
teoria do déficit auditivo é criticada pelo fato de nem todos os disléxicos apresentam
alterações no processamento temporal.

Independente das discussões sobre a base da dislexia, o interessante é que


ela pode ser detectada ainda na primeira infância, ao observar que a criança tem
dificuldade na consciência fonológica, ou seja, entender o som da letra na silaba,
palavra e frase, entender os diferentes sons da mesma letra, por exemplo. Além da
consciência fonológica terá que reconhecer letras, codificar e decodificar palavras,
oralmente e na escrita, podendo afetar a área da matemática também.

Perceber logo cedo se a criança tem características disléxicas irá auxiliar na


intervenção para que a criança consiga desenvolver estratégias para lidar com as
dificuldades. Estudos mostraram que não ir bem na matemática pode aparecer mais
tarde, sendo possível um disléxico apresentar dificuldade em matemática.

As alterações que se destacarão serão as da escola, mas não se deve ignorar,


possíveis sintomas como desatenção, coordenação motora desorganizada e prejuízo
nas funções executivas.

É importante valorizar as avaliações que possam auxiliar no trabalho


pedagógico e psicopedagógico da criança. Uma intervenção adequada possibilita que
a criança se desenvolva e de continuidade aos estudos. A escola ocupa um papel
importante na conduta adequada no processo de ensino aprendizagem, observando
como os alunos desempenham suas atividades e propiciando estímulos
neurossensoriais diversificados no processo ensino aprendizagem. Entender que a

147
aprendizagem deve proporcionar situações que o aluno faça conexões mentais,
ampliando seu conhecimento.

A Discalculia é um transtorno pouco estudado e por vez valorizado, pois


associa-se o transtorno de aprendizagem matemática ao “não gostar de matemática”,
ignorando fatores internos e neurológicos do desenvolvimento

Segundo Pimentel (2015), são poucas as pesquisas realizadas nessa área.


Sabe-se que em 2013, pesquisadores do instituto do cérebro elaboraram testes
objetivando avaliar estudantes do início da alfabetização nos quesitos matemáticos,
demonstrando que há uma porcentagem considerável de crianças com dificuldade em
matemática que podem ter transtorno de aprendizagem e não sendo trabalhadas de
maneira adequada.

Além de uma avaliação por neuroimagem, o transtorno pode ser verificado pelo
instrumento desenvolvido por Wechsler, denominado por Escala Wechsler de
Inteligência para criança – WISC III e o Teste de Desempenho Escolar TDE, que
avaliam a habilidade de cálculo.

É sempre importante ressaltar que dificuldade de aprendizagem, geralmente


está ligada a dinâmica escolar, condições da ordem do espaço físico, método,
relacionamento entre professor e aluno ou condições familiares, não implicando em
um transtorno, pois, são consequência .de ambiente inadequado, falta de
oportunidade ou traumatismo ou doença adquirida. O transtorno tem origem no
funcionamento cerebral, anormalidade na aquisição de habilidades.

A discalculia, de acordo com DSM-V é um transtorno específico da


aprendizagem com prejuízo na memorização de fatos numéricos, senso numérico,
precisão de cálculo e raciocínio matemático.

O termo discalculia foi utilizado em 1968, como transtorno estava relacionado


a incapacidade de a criança reconhecer símbolos gráficos, mas acreditavam que a
criança com discalculia precisava de um maior tempo para aprender.

Kosc (1974) estudando a discalculia, percebe que ela pode ser dividida em seis
tipos sendo elas:

a) verbal que a criança terá dificuldade em nomear quantidades matemáticas,


números e símbolos;
b) practognóstica quando a criança encontra dificuldade em numerar ,
comparar e manipular objetos tanto reais quanto imaginários;
c) léxica relacionada a leitura de símbolos matemáticos;
d) gráfica, relacionada e escrita de símbolos matemáticos;
e) ideognóstica quando a criança tem dificuldade em elaborar as operações
mentalmente e compreende-la enquanto um conceito matemático e a
f) operacional ligada ao fazer, executar cálculos e operações numéricas.

148
Com essa categorização pode levantar as habilidades prejudicadas pela
discalculia e auxiliar no entendimento e nas observações das tarefas executadas
pelos alunos. Habilidades como percepção, atenção e execução matemáticas,
normalmente devem levar o professor ou o profissional da área investigativa observar,
nas avaliações realizadas.

O século XXI está sendo marcado com estudos fortes sobre o cérebro humano,
trazendo a possibilidade de o cérebro adaptar-se a situações novas, portanto,
podendo ser trabalhado, estimulado e reorganizado para a aprendizagem.

Vimos em textos anteriores que a


neuroimagem é uma aliada no diagnóstico
dos transtornos de aprendizagem presentes
na escola e que a aprendizagem está ligada
ao SNC

Pesquisas descobriram que aprender matemática envolve o lobo frontal, sulco


intraparietal e a área do giro angular esquerdo (área da resolução de problemas
matemáticos, que recupera memória de longo prazo, necessária para
reconhecimento, por exemplo da tabuada). O lobo parietal se responsabiliza em
funções verbais e atenção para operacionalizar as quantidades. Como a matemática
envolve várias áreas do cérebro, pois conforme as elaborações partes do cérebro vão
sendo requisitadas.

Observe a próxima figura:

149
Figura 89 - Giro angular e intraparietal esquerdo.

Fonte:<
http://repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/11591/2/Discalculia_o_cerebro

_e_as_habilidades_Matematicas.pdf> acessado 10/07/19

No transtorno de aprendizagem discalculia percebe-se que a velocidade de


processamento de informações, habilidade visual, percepção tátil, de linguagem e
matemática, bem como a memória são afetados e embora tenham testes que auxiliam
ainda é recente a preocupação em pesquisar e diagnosticar crianças com discalculia.

3.2 Alterações Neuropsicológicas e comportamentais associadas a quadros


neurológicos

O aprender envolve desenvolvimento, ambiente, condições emocionais,


família, escola e condições orgânicas da criança. Qualquer um destes fatores estando
abalados a aprendizagem não acontecerá adequadamente. É importante levar em
consideração os processos neurais envolvidos no ato de aprender. O aprender é
resultado de interação do indivíduo com o meio ambiente que envolve os diferentes
centros nervosos já vistos por nós.

150
Investigar permite conhecer o aluno e seu processo de aprender e a
investigação não deve se resumir nos fatores externos e sim algo que englobe
processos psicológicos internos e organização cerebral.

3.2.1 Autismo (Transtorno do Espectro Autista)

O autismo, conhecido com TEA- Transtorno do Espectro Autista, é definido


como síndrome que compromete as relações interpessoais, o desenvolvimento motor
e psiconeurológico, a linguagem e a cognição. O TEA é uma síndrome multicausal
que envolve fatores genéticos, neurológicos e sociais, com aumento de casos, que
leva a uma intensa pesquisa nessa área.

Uma das razões destacadas para o aumento é o conhecimento dos pais a


respeito das características, um serviço mais especializado nessa área e um critério
diagnostico mais criterioso.

O sinal de um possível autismo manifesta-se geralmente antes dos 3 anos com


caracteriza na dificuldade de interação social, qualidade na comunicação verbal e não
verbal e na restrição nas atividades, alterando a dinâmica familiar.

A criança com espectro autista tem uma apercepção distorcida, prejudicando


as informações recebidas e o seu processo de aprendizagem fica prejudicado, tendo
uma aprendizagem diferente, pois, como percebe e organiza a realidade fica alterada.

O processo de aprender se interligam com funções da linguagem,


comportamento social e interação. Essas áreas do cérebro são importantes para um
desenvolvimento saudável que precisam estar funcionando bem.

É importante que a criança reconheça a mãe, pelo olfato e memória, logo que
nasce, porém, o autista não tem essas funções bem desenvolvidas, percebendo pelo
desinteresse em manter contato visual com a mãe, no momento da amamentação.
Algumas pesquisas apontam que as alterações estão em várias áreas do sistema
nervoso.

O grande desafio é entender o cérebro da criança autista, pois na medida que


ela cresce as conexões se tornam mais complexas e as motivações iniciais
comprometidas levarão à um maior comprometimento de aprendizagem. Um processo
está interligado a outro, sendo assim, para eu aprender requer situações neurológicas
propicia. O cérebro tem dificuldade em organizar os estímulos classificando-os em
maior ou menor prioridade. Todas as informações chegam juntas e o cérebro se perde
na organização, tornando um, caos interno, desencadeando crises. Como eles não

151
sabem lidar com essa situação, a saída encontrada por eles é o de desconectar-se do
ambiente.

Pesquisadores estão empenhados em entenderem o autismo e a Universidade


de São Paulo - USP , está com o projeto “A fada dos dentes”6 que, através dos dentes
estão conhecendo melhor as alterações cerebrais do autismo e transtornos do
espectro, como o Autismo clássico, Aspeger, com inteligência normal ou superior da
média ou Savant, alta habilidade acompanhada por capacidade de memorizar elevada
e resolução de problemas, mas com dificuldade no relacionamento social que é mais
encontrada em homens.

Com os dentes de leite de crianças autista e não autistas, que contem células,
passível de estudos; grupos liderados por dois pesquisadores uma da USP Patrícia
Beltrão e o outro, brasileiro, mas pesquisador da Universidade da Califórnia em San
Diego, nos EUA Alysson R. Muotri, estudam o autismo e sua origem.

As pesquisas realizadas por eles já demonstraram uma inflamação em célula


cerebral chamada astrócitos. A pesquisa realizada no dente de um menino autista
revelou que as conexões dos neurônios eram menos ativos, emitindo menos impulsos
elétricos. Observe a figura abaixo.

Figura 90 – Deficiências no autismo

6
Pesquisa sobre Autismo: in Mais uma possível causa do autismo : Revista Pesquisa Fapesp
https://revistapesquisa.fapesp.br › 2018/01/16 › mais-uma-possivel-causa-d... acesso em 20/07/2019.

152
Fonte: https://revistapesquisa.fapesp.br/es/2019/07/22/otra-causa-posible-del-
autismo/ acessado em 20/07/19

Pesquisas demonstraram que os astrócitos das crianças autistas produziam


uma quantidade maior de moléculas inflamatórias. Para entender o cérebro de um
autista requer ainda, muitos estudos e pesquisa. Sabe-se que que no nascimento, há
uma quantidade muito grande de neurônios que serão selecionados para continuar o
trabalho e outros serão descartados. Acredita-se que os primeiros três anos de vida
são cruciais na diferenciação do cérebro normal e de um autista, pois, as seleções
não acontecem da mesma maneira no cérebro da criança autista.

As pesquisas continuam, mas já se sabe que há 800 alterações genéticas


associadas ao autismo. O cuidado que se deve ter é no diagnostico, que deve ser feito
por um neurologista e psiquiatra bem preparado, que faça uma anamnese bem
detalhada e cuidadosa, investigando a criança desde o seu nascimento.

Como não há essa seleção neural, o cérebro do autista é maior, fato este que
dificultará a organização das informações recebidas pelo ambiente externo, pois as
células que ficam, não são necessariamente eficientes. É importante ressaltar que

153
essa quantidade excessiva de neurônios terá como resultado diferentes espectros
autistas. Vejamos como acontecem as conexões cerebrais.

Figura 91 - Conexões cerebrais cérebro típico e com autismo

Fonte: < https://sites.usp.br/psicousp/os-limites-do-meu-conhecimento-sao-os-


limites-do-meu-mundo/> 19/07/19

Repare o caos
conectivo do cérebro de um
autista!

154
É nessa variedade que se apresenta o espectro autista, que desencadeiam em
nomenclatura de síndrome devido à complexidade neuronal envolvida.

Não há cura para o autismo, mas há possibilidade de intervenções eficientes,


depois de diagnosticado precocemente, com trabalhos pontuais no comportamento
apresentado.

3.2.2 Alterações cognitivas do envelhecimento

A Neuropsicologia trabalha com a psicologia e a neurologia no entendimento


do cérebro humano e sua intervenção no comportamento. Um desafio da
contemporaneidade é a doença de Alzheimer e a Demência Frontotemporal,
presentes na sociedade atual, que guarda um alto percentual de população acima de
50 anos, apresentando essas doenças.

3.2.2.1 Doença de Alzheimer

O crescimento de idosos está preocupando autoridades da área da saúde


mundialmente, pois, com a expectativa de vida aumentando o número de doenças
neurológicas ligadas a idade também cresce.

Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, progressiva e irreversível que vai


prejudicando o nível cognitivo e todo o funcionamento do organismo de maneira
progressiva.

A causa não é conhecida, mas com a suspeita de ser uma doença


geneticamente determinada, responsável por mais da metade dos casos de
demência.

A doença tem um percurso que poderá ir de 5 a 10 anos influenciando toda a


dinâmica familiar da pessoa afetada, pois ela precisará de cuidados constantes, com
alguém responsável por ela, que também precisará de cuidados pelo desgaste do ato
de cuidar. Uma doença que passa por estágios e cada um necessitará de readaptação
familiar e ambiental.

155
3.2.2.2. Demência Frontotemporal

Um pouco da história para você compreender melhor. De acordo com Junior


(2006), Arnold Pick, descreveu a deterioração cognitiva, com atrofia cerebral focal,
circunscrita o lobo temporais e frontais, associada à linguagem em 1892. Em, 1911
Dr. Alois Alzheimer descreveu o quadro, detectando a ausência de placas senis e
entrelaçamento dos neurofibrilares com a presença de inclusão neuronais.

No século passado todos os casos de degeneração lobo frontotemporal foram


denominados de demência ou Alzheimer, somente em 1994, uma pesquisa na
Inglaterra trouxe critérios para diferenciar a demência frontotemporal - DFT.

Essa doença degenerativa irreversível da cognição acomete 10% da demência,


em adultos jovens entre 55 a 65 anos de idade. Não tem um índice de alto de prejuízo
da memória, mas acomete o comportamento, personalidade e linguagem
desorientada., muitas vezes confundir mentalmente as informações recebidas, com
dificuldade em executar tarefas, por não conseguir sequenciá-las.

3.3 Distúrbios do desenvolvimento da linguagem oral e escrita

A aprendizagem está ligada a aquisição de linguagem, portanto o atraso na


aquisição da linguagem acarretará problemas no desenvolvimento da expressão
verbal e escrita. O cuidado que o professor e familiares devem ter nesse momento do
desenvolvimento infantil é observar se a criança está percorrendo as fases de acordo
com as expectativas.

A linguagem é um meio de comunicação social que proporciona troca de


informações pela fala, olhar, gestos e escritas, que depende do estímulo do ambiente
e uma estrutura anatomofuncional geneticamente determinada

A criança, logo que entra em contato com o meio social, passa a desenvolver
mecanismos de comunicação, diferenciando sons, imagens e face, que será
aprendido conforme o nível de interação propiciado a ela, mais suas capacidades
biológicas inatas.

No desenvolvimento da linguagem destacaremos a fase pré-linguística que vai


até 11 ou 12 meses que a criança apenas vocaliza fonemas e a fase linguística quando
a criança passa a reconhecer palavras e as vocaliza isoladamente partindo para um
contínuo crescimento, indo para a complexidade da expressão.

Quando se fala linguagem, deve ser levado em consideração quatro sistemas


que interligam- interdependentes sendo eles:

156
a) O pragmático referente ao uso da linguagem no ambiente social;
b) O fonológico que envolve a percepção e o som para falar;
c) O semântico que se relaciona ao significado da palavra e
d) O gramatical, que envolve as regras para combinação de palavras.

Os sistemas fonológicos e gramaticais dão forma a linguagem, o pragmático


como a linguagem deve ser apresentada ao meio social, atribuindo inclusive a força
da emoção. Lembrando que a comunicação expressada de várias maneiras, como já
mencionado anteriormente, mas o falar, dentro do padrão social (organizar a ideia, as
palavras e saber o momento de falar, de esperar e argumentar), não é tão fácil quanto
aparenta, pois requer que a criança saiba adequar a linguagem a situação e a
aprendizagem.

Esse processo descrito acima envolve uma rede de neurônios que estão em
várias regiões cerebrais, diferenciação de sons, o ouvido sincronizando o sinal
auditivo complexo para decodificar e transformar em impulsos elétricos que
percorrerão por células do córtex cerebral e lobo temporal. Algo complexo que quando
uma criança fala, deve ser levado em consideração todo tramite realizado pelo cérebro
em sintonia com o meio ambiente.

A área de Wernicke, no lobo temporal é responsável em reconhecer, interpretar


o som, após reconhecidos será ativado o local da imagem, do que se ouviu – lobo
temporal inferior, depois o local que se armazena os conceitos, dando significado, e o
retorno para a área de broca, responsável pela fala.

A escrita é uma forma de comunicação importante na sociedade de pessoas


que se comunicam de diferentes maneiras, sendo uma delas a escrita. A comunicação
escrita requer que a pessoa consiga codificar e decodificar sinais gráficos e quando
isso não é possível, a função dessa comunicação fica perdida.

A leitura faz com que a escrita seja validada, portanto quando essa relação é
quebrada ou pelo distúrbio da escrita ou pela leitura esse meio de comunicação perde
o sentido.

Assim, é importante saber trabalhar com as crianças que apresentam distúrbio


de linguagem escrita, fazendo com que elas percebam a lógica da escrita,
apresentando diferentes gêneros de escrita, oferecendo oportunidade para que elas
possam escrever e perceber a importância desse meio de comunicação.

157
3.4 Distúrbios de Aprendizagem

A aprendizagem deve ser dinâmica e com sentido e significado, respeitando o


tempo e espaço de cada aluno. Entender de fatores que contribuem para o não
aprender é importante no fazer e ser profissional ligado a educação.

Já tivemos oportunidade de ver um pouco de discalculia e dislexia, mas não


podemos esquecer da disgrafia e a disortografia.

Abaixo apresentamos dois textos que auxiliarão para o entendimento da


disgrafia e disortografia.

Texto VII (vide ao final deste Livro Texto)

AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO DA DISORTOGRAFIA BASEADA NA


SEMIOLOGIA DOS ERROS: REVISÃO DA LITERATURA

BATISTA, Andrea Oliveira; CAPELLINI, Simone Aparecida; CUNHA, Vera


Lúcia Orlandi; FERNANDEZ, Amparo Ygual; MÉRIDA, José Francisco Cervera.

Texto VIII (vide ao final deste Livro Texto)

DISLEXIA E DISGRAFIA: DIFICULDADES NA LINGUAGEM.

Fonte: CALDEIRA; Elisabeth; CUMIOTTO, Dulce Maria Lázzaris de Oliveira.


Dislexia e disgrafia: dificuldades na linguagem. Disponível <
http://www.revistapsicopedagogia.com.br/detalhes/356/dislexia-e-disgrafia--
dificuldades-na-linguagem> acessado em 15/06/19.

158
Após essas leituras esclarecedoras sobre dois distúrbios relacionados à escrita
(Anexos VII e VIII – Dislexia, disgrafia e disortogrfia) faça a atividade sugerida abaixo.

Atividade de Aplicação

Depois das leituras obrigatórias (VII e VIII) elabore um texto diferenciando os


diferentes distúrbios da escrita e apresente um mapa cerebral com a localização das
possíveis áreas afetadas e elabore atividade de intervenção para cada distúrbio.

3.5 Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade- TDAH é uma das mais


recorrentes nas queixas de pais e professores referentes a comportamento
inadequado para a faixa etária. O diagnóstico é obtido quando é atendido pelo menos
seis dos nove critérios de hiperatividade e impulsividade ou desatenção. Podendo
atender a um domínio ou a ambos os domínios (tanto hiperatividade/ impulsividade
quanto desatenção), na casa e na escola.

159
Figura 93. Quadro de critério de diagnóstico

Fonte: http://www.scielo.br/pdf/rbsmi/v5n4/27757.pdf acessado em 10/05/19

A suspeita aparece na escola, pois as características do TDAH prejudicam o


andamento da aprendizagem acarretando prejuízo no desenvolvimento escolar da
criança.

Damásio (2011) enfatiza a importância do meio na formação do “eu” do


indivíduo. Para o autor as condições biológicas, emocionais e ambientais devem ser
investigadas e trabalhadas pelo professor na busca de um desenvolvimento mais
efetivo da criança.

160
Há contextos sociais que afetam, de maneira consideráveis na apreensão,
compreensão do mundo e execução de tarefas. É preciso não generalizar a atenção
e a percepção das crianças rotulando-as com transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade, quando apenas são mais ativas e energéticas.

Collares e Moysés (2010) afirmam que os profissionais devem ter um olhar


cuidadoso em relação ao diagnostico, pois, muitas crianças são diagnosticadas e
medicalizadas com o objetivo de acalmar e conter a energia. É comum, os
professores acreditarem que a causa da dificuldade de aprendizagem dos alunos
aconteça devido eles terem algum transtorno e encaminham para o profissional da
saúde para investigar a causa, nomear e medicalizar. Assim, alunos normais passam
a serem rotulados de doentes e dificuldade no processo de aprendizagem fica
justificada por um nome e um possível remédio de contenção.

Infelizmente, nota-se um certo padrão no ensino e aprendizagem das crianças.


A escola estipula metas e objetivos a serem atingidos e a família cria expectativas em
cima da ação da criança na sociedade. Percebe-se que a escola e a família trabalham
em cima de resultados, esquecendo que as crianças não são iguais e uma sociedade
é constituída pela diferença, não pela homogeneidade. Os autores, ressaltam a
facilidade com que os profissionais da saúde laudam, sem a preocupação de
investigar cuidadosamente as verdadeiras causas.

Nossa sociedade passa por uma fase de excessivo estímulo que nem sempre
desencadeia satisfação e resultados positivos, gerando um estado de ansiedade
constante e uma busca de sucesso que culmina em fracassos escolares e de baixo
rendimento, tornando um ciclo constante a ser analisado e pesquisado, para que ele
seja rompido e trabalhado.

A sociedade exige uma autonomia artificial, sem considerar o amadurecimento,


o ambiente externo e a motivação dada para o aprender. A família está condicionada
a um resultado que beira a perfeição e junto com a escola busca justificativa pelo
pseudo fracasso escolar, traçando um discurso da importância de a medicalização
para criança atingir a expectativa da escola, da família e da sociedade.

Para um trabalho efetivo com crianças com TDAH é necessário que o professor
pense em uma prática pedagógica que oportuniza o aprender de maneira que a
criança explore materiais e investigue diferentes tipos de materiais para que ele
perceba e entenda o seu ritmo de aprender, propiciar vivências e intercalar atividades
que utilizem a leitura e a escrita adequando o aprender ao tempo da criança. Procurar
estimular a criatividade e atividade que o aluno ocupe a posição ativa na
aprendizagem e os combinados devem ser claros e simples, para que ele possa
compreender.

161
3.6 Transtornos Invasivos do Desenvolvimento

Como já apresentamos em 2.8.2 e 3.2, o conceito de TID- Transtorno Invasivo


do Desenvolvimento, surgiu na década de 60 do século passado por Kolvin e Cohen,
sendo o termo autismo, utilizado para diferentes casos de espectro autista e
esquizofrenia. Em 1970 a terminologia entra no DSM-III, tendo como fenótipo o
prejuízo na interação social, o padrão de comportamento e interesse são alterados e
a comunicação e habilidades prejudicadas.

É relevante que saibamos que é necessário um diagnóstico minucioso,


geralmente realizado por um neurologista pediátrico com o auxílio de uma equipe
multidisciplinar.

O Transtorno do Espectro Autista-TEA, foi enquadrado dentro da categoria de


TID em 2000, no CID 10. Esse transtorno apresenta causas neurobiológicas que
acompanha a criança do nascimento até a morte, pois não tem cura.

Algumas síndromes que apresentam estas condições e se enquadram no TID


são: síndrome de Down, síndrome de Williams, síndrome de Angelman, síndrome do
X Frágil, síndrome de Rett, síndrome de Asperger, o Transtorno Desintegrativo da
Infância síndrome fetal alcoólica, infecção pré-natal e outras. Vamos nos deter nas
mais “comuns” entre elas, encontradas nas escolas.

3.6.1 TID – TEA

Reforçando o já dito em 2.8.2 e 3.2.1, a origem do Transtorno do Espectro


Autismo não é conhecida, mas pesquisas apontam como tendo muitas causas, dentre
elas fatores genéticos, sociais e neurológicos que afetam a criança desde o
nascimento, mas recomenda-se um diagnóstico com 3 anos de idade.

Ter um diagnóstico de autismo cedo é importante para que se possa fazer um


trabalho voltado para o desenvolvimento da criança e atender as necessidades
singulares de cada um.

O autista apresenta características próprias como prejuízo na qualidade de


comunicação verbal e não verbal, na interação e os desejos de execução de
atividades são limitados.

Uma característica forte do autismo são movimentos estereotipados e


temperamento volátil, necessitando de um trabalho multidisciplinar para o
desenvolvimento.

162
Uma criança autista requer rotinas bem definidas e uma comunicação
alternativa que pode ser o PECs, um material conhecido e de fácil aprendizagem.
Consiste em um painel com figuras que representam as tarefas que você pretende
que ela execute. A comunicação deve ser conjugada com a verbal e a figura,
auxiliando e incentivando a criança comunicar-se.

Figura 94 - PECs

Fonte: <https://www.revistaautismo.com.br/artigos/pecs/> acessado


20/05/2019.

163
Fonte:< https://lagartavirapupa.com.br/dicas-para-iniciar-o-uso-do-pecs/>
acessado 20/05/2019

O PECs são figuras que enfatizam as atitudes que deseja que a criança realize
e incentiva a responder. Sempre que desejar que a criança execute alguma tarefa
você deve pegar a figura na frente da criança e verbalizar. Assim, com o tempo,
mesmo que a criança não verbalize ela aprenderá a se comunicar.

O PECs não tem como objetivo substituir a linguagem oral, mas estimular e
desenvolver a comunicação.

3.6.2 Síndrome de Down

A Síndrome de Down é uma anomalia genética do cromossomo 21,


caracterizada um cromossomo 21 extra, denominada trissomia do 21 em todas as
células do corpo acarretando algumas características físicas e biológicas, resultando
de 47 cromossomos em vez de 46.

O fenótipo da Síndrome de Down é marcado pela prega nas pálpebras, base


nasal plana, face aplanada, protrusão lingual, palato ogival, orelhas baixa, cabelos
finos, 5º dedo da mão curvado, pés planos, frouxidão ligamentar, hipotonia, excesso
de tecido no dorso do pescoço dentre outras características. A ausência de uma ou
mais das características não descaracteriza a Síndrome de Down.

A Síndrome de Down é subdividida em três grupos. Vejamos quais são:

1. Trissomia Simples, correspondendo a ocorrência mais comum, com um


cromossomo 21 extra em todas as células resultando em 47 cromossomos
sendo XX + 21 para o sexo feminino e XY +21 para o sexo masculino.
2. Translocação Robertsonianas não há o acréscimo do cromossomo 21, mas
um braço que o cromossomo 21 deixa no cromossomo 14, sendo descrito
como 46 XXt, para o sexo feminino e 46 XYt para o sexo masculino.
3. Mosaicismo, que carrega uma linhagem celular normal com 46
cromossomos e uma com trissomia do cromossomo 21- 47, sendo essa
trissomia livre, ou seja, não se encontra em todas as células.

164
Figura 95 - Síndrome de Down e Mosaicismo

Fonte <https://liagen2017.wixsite.com/liagen/single-
post/2017/06/06/S%C3%8DNDROME-DE-DOWN-ENTENDENDO-UM-POUCO-
MAIS> acessado 05/05/19

Fonte:<
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_cuidados_sindrome_down.pdf>
acessado 20/05/19

Não foi comprovado o que leva uma criança nascer com Síndrome de Down,
mas fatores mostram que gestantes a cima de 35 anos tem uma incidência maior de
terem filhos com SD.

A criança com S.D, apesar de apresentar deficiência cognitiva ela pode


desenvolver habilidades que a possibilite ser inserida na sociedade de maneira
produtiva e efetiva.

A psicopedagogia tem avançado bastante no sentindo de incluir a criança no


contexto escolar e possibilitar que ela se desenvolva por intermédio da interação e
experiências compartilhadas.

Vale ressaltar que a síndrome de Down não tem um responsável, pois é um


desarranjo cromossômico que faz parte da humanidade, não tendo relação com
atitudes dos pais, mas é importante uma intervenção logo que diagnosticado para que
a criança seja estimulada a sua psicomotricidade.

165
3.6.3 Síndrome do X-Frágil

A síndrome do X Frágil- SXF é conhecida também pelo nome de Síndrome de


Martin Bell. Essa síndrome apresenta como causa fragilidade do cromossomo X e
seus sintomas podem ser variados de acordo com a intensidade, podendo inclusive,
não ter sintomas.

No entanto, as pessoas com essa mutação podem ter distúrbio de


comportamento, tônus muscular frágil, face alongada, céu da boca alto, estrabismo,
espectro do autismo, dificuldade de aprendizagem, macrocefalia, orelhas grandes,
comprometimento cognitivo, timidez excessiva, explosão emocional, irritabilidade,
ansiedade, déficit de atenção e outros tantos sintomas relacionados a essa condição
cromossômica. Há uma incidência maior em meninos do que em meninas de 1/400
para homens e 1/6000 para mulheres.

A síndrome do X Frágil- SXF representa a metade de todos os casos de


deficiência intelectual, sendo a causa mais comum no universo de crianças com
deficiência cognitiva, e é a segunda causa de D.I. depois da Síndrome de Down,
muitas vezes não sendo caracterizada como tal.

O X Frágil é uma síndrome pouco investigada que os médicos costumam


atribuir para autismo ou apenas deficiência cognitiva, não pesquisando geneticamente
mas, em caso de suspeitas, basta pedir um simples exame de cariótipo para identifica-
la.

Figura 96 - Síndrome do X Frágil- SXF

https://dle.com.br/biologia-molecular-genetica-humana/sindrome-do-x-fragil

166
Acredita-se que os sintomas nos homens aparecem mais pelo fato deles terem
apenas um X defeituoso, e não tendo outro para compensar, tornando a incidência no
sexo masculino maior.

É sugerido a leitura de

ROSOT, Natália; FRANCO, Vítor Daniel Ferreira; RIECHI Tatiana Izabele


Jaworski de Sá. A Síndrome do X Frágil e o estabelecimento de fenótipos
cognitivo-comportamentais: uma revisão sistemática de literatura. Disponível <
http://www.cienciasecognicao.org/revista/index.php/cec/article/view/1291>

3.6.4 Paralisia cerebral

Conhecida como Encefalopatia Crônica da Infância e atualmente como


Paralisia Cerebral, resultado de uma agressão encelopática que tem como
característica um conjunto de manifestações motoras, resultado da lesão cerebral, na
fase inicial do desenvolvimento.

Uma desordem do desenvolvimento motor e da postura, que apresenta o


quadro de alteração de tônus, podendo resultar em movimentos atáxicos (perda do
controle muscular durante movimentos), distônicos (espasmos) e espástico
(contração muscular) ou mistos.

Pode incluir a tetraplegia, quadriplegia, monoplegia, diplegia ou hemiplegia,


conforme a intensidade da lesão.

Hoje, alguns tratamentos para amenizar a situação são empregados, sendo um


deles a aplicação da toxina botulínica, que atua nas junções musculares reduzindo os
movimentos involuntários temporariamente, permitindo melhora da qualidade de vida
e intervenção fisioterápica.

167
Paralisia Cerebral- PC é uma das mais comuns que no Brasil não existem
muitas pesquisas sobre essa desordem infantil, mas estima-se 20.000 casos. Uma
doença que não evolui, mas provoca alterações, devido às características da doença.
Uma criança paralítica cerebral, poderá ou não ter a cognição afetada, dependendo
da extensão da lesão encefálica; portanto, associar paralisia cerebral com deficiência
cognitiva é errado.

A escola deve buscar informações sobre como deve ser organizada a sala de
aula e quais são as adaptações necessárias para que a criança paralítica cerebral se
desenvolva de maneira integral.

Vygotsky (1984) enfatiza em seus textos que o homem vai se formando ao


longo do tempo, na interação e intervenção do meio, em um processo histórico
cultural. O preparo do professor e do psicopedagogo deve ser ao longo de sua jornada
em uma constante busca do saber e entender cada aluno que se apresenta,
valorizando a diferença e as especificações de cada aluno.

3.6.5 Distúrbios convulsivos

Uma pessoa convulsiona quando há uma descarga elétrica anormal nas células
cerebrais/neurônios, podendo ser ou não percebida, conforme a intensidade da
descarga.

Não tem um momento e nem causa certa, mas algumas situações podem
desencadear a convulsão, como febre alta, traumatismo cefálico e a epilepsia-
distúrbio paroxístico da função cerebral que resulta em ataques súbitos e rápidos que
alteram a consciência e a atividade motora. Possíveis desencadeantes são as drogas
e a hipoglicemia.

As convulsões pode ser de origem epiléptica, chamadas também de transtorno


convulsivo, com causas desconhecidas e a convulsão não epiléptica provocada por
alguma doença, geralmente reversível, uma infecção ou reação medicamentosa.

Em caso de presenciar uma convulsão mantenha a calma, não deixe a pessoa


se machucar acomodando-a em um lugar confortável (caso seja possível), coloque-a
de lado para que não se engasgue com o excesso de saliva ou vômito, deixe-a
confortável, afrouxando a roupa e sapatos e permaneça ao lado dela para que quando
voltar se sinta acolhida.

É importante ressaltar que não se deve segurar a pessoa impedindo os


movimentos, não jogue água e nunca coloque a mão na boca da pessoa. Manter a
calma é o segredo nesse momento.

168
3.7 Outras alterações sindrômicas mais comuns na população infanto-
juvenil, relacionadas à cognição e à aprendizagem

As síndromes, conjunto de sintomas podem manifestar de diferentes formas,


cabendo a escola adaptar-se a elas para proporcionar um aprendizado efetivo para
as crianças sindrômicas e não sindrômicas.

3.7.1 Síndrome de Turner

A Síndrome de Turner afeta apenas pessoas do sexo feminino e se caracteriza


pela ausência de um cromossomo X, uma má formação na gestação.

Para efeito de curiosidade a síndrome


de Klinefelter afeta apenas o sexo masculino,
com um cromossomo a X a mais- no
cromossomo sexual 47-XXY., tendo como
característica timidez, dificuldade em expressar
sentimentos ou socializar-se e dificuldade na
aprendizagem (leitura, escrita e matemática) e
os órgãos genitais masculinos pouco
desenvolvidos. Essas são algumas
características dessa síndrome

Síndrome de Turner tem afetadas características relacionadas ao sexo, como


ausência de seio, menstruação tardia, esterilidade, baixa estatura, que serão notadas
na adolescência. Pode desenvolver também problemas renais e cardíacos.

Como esse distúrbio afeta a percepção feminina, é normal as mulheres terem


dificuldade no relacionamento social.

169
(Vide anexo IX ao final deste Livro-Texto)

Desenvolvimento sexual e cognitivo das portadoras da síndrome de


Turner

Fonte: FERREIRA, Leonardo de Miranda, PIRES, Emmy Uehara; ANDERLEY,


Carla Araújo Popoire et al. Desenvolvimento sexual e cognitivo das portadoras da
síndrome de Turner. Disponível < http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cc/v2/v2a07.pdf>

Atividade de Aplicação

Diante do texto e a curiosidade apresentada sobre a Síndrome de Turner, faça


também uma pesquisa agregada sobre a Síndrome de Klinefelter. Depois, elabore um
texto o qual você traça as características de cada síndrome e trace estratégias de
trabalho em sala de aula para melhorar as questões sobre o humor, a autoestima e a
cognição destes alunos.

3.7.2 Síndrome de Williams

A síndrome de Williams, é uma desordem genética que, por vezes, não é


diagnosticada, por não ser muito frequente. Ela acomete ambos os sexos e é
caracterizada por crianças irritadiças e com dificuldade de se alimentar.

170
Figura 97 - Fenótipo da Síndrome de Williams

Fonte: http://www.gentedeopiniao.com.br/saude/conhece-a-sindrome-de-
williams

O fenótipo dessa síndrome é de “rosto de fadinha” com nariz empinado e


delicado, cabelos enrolados, com sorriso presente, é uma criança extremamente
simpática e amorosa. Seus lábios são cheios, dentes pequenos e são crianças muito
comunicativas.

As crianças com Síndrome de Williams apresentam dificuldades em


coordenação motora, o que dificultará a escrita, cortar papel, desenho, amarrar
sapatos e outras tarefas voltadas para essa habilidade. O equilíbrio também apresenta
um ponto fragilizado nas crianças com essa síndrome. As crianças com SW
apresentam facilidade em guardar rimas e canções, apreciando músicas.

171
Como todas as síndromes a SW deve ser diagnosticado logo na primeira
infância para começar um trabalho multidisciplinar de desenvolvimento cognitivo,
motor e comportamental.

3.7.3 Síndrome de La Tourette

Em 1825 o médico francês Jean Marc Gaspard Itard descreveu um paciente


com tiques: a Marquesa de Dampierre, mas a síndrome recebeu esse nome apenas
em 1884, pelo médico Gilles de La Tourette, baseando-se nos relatos de Itard. Esta
síndrome foi considerada uma maldição pelo fato de seus portadores apresentarem
comportamento bizarros, provocando atitudes de discriminação e de brincadeiras
maldosas pelas pessoas que rodeiam a pessoa afetada com essa síndrome.

A Síndrome de La Tourette consiste em uma patologia neuropsiquiátrica que


inicia na infância e impacta na família e na pessoa com a síndrome, afetando o
emocional e o rendimento escolar. Essa síndrome caracteriza com tiques vocais e
motores que, por vezes, não são diagnosticados pelo fato da família não procurar
especialistas, na busca de entender os sintomas.

Os tiques são movimentos anormais breves, rápidos e clônicos (movimentos


espasmódicos), sem um propósito, desencadeado, por vezes, por uma situação de
ansiedade, cansaço ou em momentos que exigem muita concentração.

Os tiques também são manifestados como ecolalia (repetição de palavras),


ecopraxia (repetição involuntária ou a imitação dos movimentos de outras pessoas) e
corprolalia (tendência incontrolável a usar palavras obscenas).

Hoje já se tem conhecimento que essa síndrome tem como característica o


distúrbio de movimento e alterações neurocomportamentais, como hiperatividade com
déficit de atenção, transtorno obsessivo compulsivo.

Observe a figura abaixo de análise de imagem:

172
Figura 98 - Sindrome de Tourette

Fonte: http://www.scielo.br/pdf/rpc/v32n4/26056.pdf Acessado 20/05/19

A ressonância acima mostra uma hipernervação dopaminérgica causando


aumento das atividades centrais. Nos estudos tomográficos tem demonstrado
hipometabolismo e hipoperfusão em regiões do córtex frontal e temporal,
apresentando distúrbio de sono como uma das características.

Embora não seja algo comprovado acredita-se que a Síndrome de La Tourette


é resultado de uma falha na ação inibitória dentro do circuito córtico estriato tálamo
cortical, responsável em suprimir impulsos do movimento. Muitas pesquisas ainda
devem ser realizadas para que se feche uma causa e divulgue na academia.

173
3.7.4 Síndrome de Rett

A Síndrome de Rett- SR, uma desordem do desenvolvimento neurológico


considerada rara, divulgada para o mundo em 1980. Uma síndrome com um índice
maior no sexo feminino 1/10.000- 20.000, com pouca incidência no sexo masculina
que geralmente não resiste e acaba em óbito.

SR apresenta uma mutação no gene MECP2 localizado no cromossomo X,


responsável por desligar alguns genes do desenvolvimento neuronal em determinada
fase. Por não funcionar adequadamente ele não desliga o gene e ele passa ser
desgastado, prejudicando o sistema nervoso central - SNC.

Estudos mostraram que a mutação acontece no alelo paterno, justificando a


predominância em meninas, pela herança do cromossomo X do pai, com a presença
do alelo materno em raríssimos casos.

A doença tem uma evolução marcada e passível de acompanhar, pois segue


estágios, sedo eles de desenvolvimento normal até mais ou menos 18 meses e entra
no estágio de estagnação/parada no desenvolvimento, diminui a interação social e se
isola, com duração de meses, entrando para a segunda fase destrutiva, entre 1 a 3
anos que também dura pouco (semanas ou meses).

Esse quadro caracteriza-se por regressão psicomotora, irritabilidade e choro


constante, com comportamento autista e o quadro começa a piorar com movimentos
estereotipados das mãos, perda da função práxicas, disfunção respiratória, crise
convulsiva, podendo perder a habilidade da comunicação verbal, distúrbios motores e
outras situações de perdas, vão aparecendo.

O quarto estágio, por volta dos 10 anos com a deterioração mental, epilepsia e
presença de escoliose, levando a cadeira de rodas. Com todos esses
comprometimentos, a pessoa com SR (do sexo feminino) chega a viver 35 anos, tendo
relatos de pessoas com SR de 50 anos com forte comprometimento.

174
Nessa unidade você pode ter contato com alguns transtornos e síndromes.
Pudemos diferenciar os termos: dificuldade de aprendizagem, distúrbio de
aprendizagem, transtorno de aprendizagem e síndromes em geral, bem como
pudemos entender que, independente da condição em que o aluno se apresenta, cabe
ao psicopedagogo buscar conhecimentos para desenvolver o máximo a criança.

Percebemos, também, que a leitura é imprescindível para um trabalho efetivo


e de resultados e que há mais a ser estudado do que acreditamos. Se fossemos
aprofundar em cada síndrome escolhida para discutirmos aqui nesse espaço essa
unidade teria bem mais que 100 páginas, então, optamos em trazer o desejo de
conhecer e entender o mundo heterogêneo que abarca uma escola e,
consequentemente, o trabalho do psicopedagogo tanto clínico quanto institucional.

Deixamos aqui um convite a leitura, a pesquisa e ao olhar solidário, amoroso e


de compaixão para com as crianças.

Agora é com você, prezado(a) aluno(a)!

Boas leituras!

175
UNIDADE IV

ASPECTOS NEUROLÓGICOS DAS DESORDENS NEUROQUÍMICAS

Olá, aluno(a)!

Chegamos à última unidade da disciplina Fundamentos das Neurociências e


Disciplinas Afins.

Como o próprio nome da disciplina já diz, estes fundamentos servem como


parâmetros para você se orientar, enquanto psicopedagogo sobre as Dificuldades, os
Transtornos e outras alterações do desenvolvimento que irão encontrar em seu
trabalho tanto institucional (principalmente em creches, escolas e ambientes
profissionais), quanto nos consultórios de atendimento multidisciplinar.

Para finalizarmos nossos estudos vamos nos adentrar, agora, ao mundo dos
aspectos neurológicos das desordens neuroquímicas que afetam a cognição e a vida
social.

Preparado(a)?

Então, vamos lá!

4.1 Alterações Neuropsicológicas e comportamentais associadas a quadros


neurológicos: Epilepsia e Acidente Vascular Encefálico

A epilepsia tem um histórico forte de cicatrizes cerebrais resultante de micro


lesões no cérebro. Cicatrizes de traumas adquiridos durante o parto ou após,
malformação, acidentes vasculares ou uma predisposição, tendo como consequência
descarga elétricas neuronais que fazem com que a pessoa perda a consciência e seu
corpo se movimentem de maneira involuntária. É normal um epiléptico sofra
descriminação e tenha uma certa resistência social a respeito dessa situação.

Ao longo da história a epilepsia foi sofrendo modificações em relação a sua


sintomatologia, contendo uma bagagem simbólica importante, associando-a á
espíritos do mal. Hipócrates há 400 anos a.C., escreveu que epilepsia não estava
ligada ao bem ou ao mal e sim um distúrbio do cérebro, que ele acreditava ser

176
hereditário, mas mesmo assim a crença da relação com o místico não foi dissipada e
o avanço pouco se deu até a renascença

A associação da epilepsia - transtornos mentais vêm sendo abordada desde


Hipócrates (460-375 a.C.). As pessoas com epilepsia têm traços neuróticos, como
ansiedade, culpa, ruminação, baixa autoestima, comportamento antissocial e as
somatizações.

Percebendo-os sob a ótica da fenomenologia e entre os diversos transtornos


psíquicos, a depressão é a mais comum das comorbidades ligadas aos eventos
epilépticos e, desses, o mais comum é em relação à epilepsia do lobo temporal.

Foi no século II, em 175 d.C., que Galeno reconheceu a epilepsia como doença
do cérebro que poderia ser sem uma causa precisa ou decorrente à uma doença. Na
idade média, especificamente em 1484, a perseguição aos hereges, loucos e
epilépticos eram candidatos à fogueira, pois acreditava-se que doenças
desconhecidas eram resultado de feitiçaria.

No século XVIII, começa a surgir conceitos mais fortes sobre a epilepsia não
ser uma doença ligada a misticismo, mas a ideia de possessão ainda prevalecia,
ligando as ocorrências à mudança da Lua.

Foi no século XIX que a ciência evolui e marcada pelo positivismo que a
epilepsia passa a ser vista como uma doença. Para tanto, tivemos a contribuição da
neurofisiologia, especificamente devido aos estudos de Hughling Jackson que coloca
epilepsia dentro do quadro de doença mental (desordem mental), com uma teoria que
tinha como base a ideia de quatro dogmas:

 evolução das funções nervosas;


 hierarquia delas;
 sintomas negativos e positivos de dissolução
 e a separação entre dissolução local e uniforme.

O cérebro não era visto como algo estático e sim hierárquico e a epilepsia é
apresentada como parte da doença mental e nessa época, devido aos estudos das
doenças mentais, houve um crescimento do sistema hospitalar psiquiátrico e eles
fechavam as portas para os epilépticos tamanha a resistência em relação a essa
doença.

Em 1949 Gareiso & Escardó conceituam a epilepsia como um quadro clinico


de descarga elétrica súbita anormal e desordenada dos neurônios. Gastaut (1973)
definiu como desordem crônica do cérebro. A classificação Internacional de Síndrome
epiléptica afirmou que epilepsia é um distúrbio epiléptico caracterizado por um
conjunto de sinais e sintomas que ocorrem simultaneamente.

177
Muito se tem se avançado na área de pesquisa e, no século XX, em 1933, Hans
Berges descobre o eletroencefalograma que se tornou um divisor de águas nessa e
em muitas áreas. Esse aparelho passou a auxiliar nos estudos e diagnósticos de
epilepsia e episódios epiléptico.

Hoje os estudos, ainda em andamento a respeito dessa doença, apontam que


ela é uma doença neurológica crônica grave com uma incidência alta no mundo que
ainda carrega estigmas e preconceitos levando, em pleno século XXI as pessoas se
isolarem.

A epilepsia traz impacto na pessoa epiléptica, na família e pessoas que estão


ao redor. Ela está associada a baixa autoestima, questões psicossociais e limitações
do desenvolvimento das atividades, sendo importante analisar o histórico e contexto
familiar, social e escolar.

Uma avaliação cuidadosa da pessoa é importante para ampliar o conhecimento


e auxiliar no tratamento.

Por ter diversas causas e independe da idade, como já discutido anteriormente


a epilepsia pode ser consequência de uma anóxia neonatal (falta de oxigênio no
parto), alterações metabólicas ou lesões no cérebro decorrentes da má formação ou
queda.

Em pessoas mais velhas, quando aparece, geralmente é decorrente de


acidente vascular cerebral.

Os sintomas variam, sendo as mais comuns crises a tônico-clônica (contrações


musculares e relaxamentos sucessivas), conhecido como convulsão, apresentando
abalos musculares que podem causar mordida na língua, urina e fezes soltas.

Outras crises não associadas a epilepsia são alteração de comportamento,


olhar estático e movimento automático. Muitas vezes, as crianças têm crise de
ausência, parando a atividade que está realizando e com disparos de piscamentos e
mãos com movimentos involuntários.

Os Acidentes Vasculares Cerebrais, são resultado de rompimento


(hemorrágico) - 15% dos casos ou entupimento (isquêmico) - 85% dos casos, dos
vasos que levam sangue para o cérebro, provocando paralisia da área cerebral
afetada. A incidência é maior no sexo masculino, sendo alto o índice de morte.

178
Figura 99 - tipos de Acidente Vascular Cerebral

Fonte: < https://www.infoescola.com/doencas/acidente-vascular-cerebral-avc-


derrame/> acessado em 12/06/19

O Acidente Vascular Cerebral- AVC, quando não leva a morte pode deixar
sequelas irreversíveis sendo aconselhável levar ao hospital logo que a família, a
escola ou conhecidos desconfiarem de um AVC.

Alguns sinais podem ser observados, como fala confusa com desorganização
mental, formigamento de um lado do corpo (face e braço), visão embaçada, tontura e
desequilíbrio com tontura ou dor de cabeça forte.

4.2 Avaliação Neuropsicológica e seus Instrumentos

Há muitos instrumentos para avaliar de maneira correta as dificuldades de


aprendizagem e baterias neuropsicológicas completas.

A Avaliação neuropsicológica (restrita a psicólogos com esta pós-graduação)


tem o objetivo de detalhar o funcionamento mental/cognitivo, por intermédio de testes,
escalas e inventários padronizados que verificam o desempenho das habilidades

179
envolvidas no processo de aprendizagem com atenção, percepção, memória,
abstração, linguagem, habilidade acadêmica, visuoconstrução, relação inter e
intrapessoal, funções motoras e executivas, processamento de informações e outras
também importantes para o aprender.

É importante ressaltar que sempre que for observado atrasos no


desenvolvimento, desempenho abaixo da média esperada (que incomodam a criança,
a família e a escola), dificuldade no aprender deve ser encaminhado o pedido de
investigação ao pediatra que dará ou não andamento a solicitação.

O neuropsicólogo tem condições de preparar um material adequado para


diferentes doenças, como também fazer a classificação do grau da patologia. O
desenvolvimento é influenciado por vários fatores internos e externos (biológicos e
ambientais), que devem ser levados em consideração no momento da avaliação.

No Brasil a questão de oportunidade escolar e situação de aprendizagem é


uma questão preocupante e desafiadora. É necessário valorizar as condições
socioemocionais do aluno e quanto ele está influenciando no desempenho. Uma
contribuição importante no fracasso ou no sucesso.

Ainda temos discrepância no tipo de qualidade de curso oferecido aos alunos


e o nível socioeconômico faz com que a escola não seja igual para todos,
comprometendo o resultado da aprendizagem, e recaindo em rótulos e busca de
diagnósticos para justificar o fracasso da escola, professor, aluno e família.

A educação guarda uma força impar no desenvolvimento do ser humano,


especificamente a criança, A educação é um fator importante para o desenvolvimento
e inserção na sociedade, oportunizando um crescimento cognitivo, pessoal, social e
emocional.

Assim, percebe-se a relevância de uma avaliação consciente das funções


neuropsicológicas não apenas para doenças neurológicas e psiquiátricas mas para
investigação de possíveis transtornos, distúrbios e doenças.

Uma boa avaliação que leva em consideração a cultura, o emocional colabora


na compreensão do aluno como todo, fornecendo elementos para o trabalho efetivo
da escola.

A neuropsicologia conta com um teste de avaliação neuropsicológico do


desenvolvimento – Nepsy, formado por 27 subtestes, dividido em cinco sessões de
domínio funcional, que investiga e avalia os domínios funcionais.

A neuropsicologia tem trazido a importância de compreender o processo de


aprendizagem levando em consideração a maturação cerebral. Pesquisadores
ressaltam o valor da atenção no desenvolvimento da criança e no progresso escolar.

180
Conseguir manter o foco e o estímulo em um determinado assunto é fator
desencadeador da aprendizagem. A função executiva caracterizada pelo processo
cognitivo (controle do pensamento, comportamento, tomada de decisão, memória e
afetividade) é essencial para que a aprendizagem aconteça. Nas execuções das
tarefas o indivíduo precisa adaptar suas ações e pensamentos, buscando as
experiências previas e alternativas para resolver as situações problemas que
aparecerão. Adaptar-se as novas situações demanda disposição orgânica e desejo
da pessoa.

Os instrumentos avaliativos conseguem identificar precocemente alterações no


desenvolvimento e possibilita uma intervenção positiva e planejamento de futuras
ações e estratégias.

As queixas mais frequentes da escola e a família são relacionadas aos


problemas de aprendizagem, atenção, agitação, memorização, compreensão de
instrução, dislexia/discalculia e transtorno de linguagem. Normalmente essas
questões levantadas levam a outros problemas como emocionais e de comportamento
desafiadores.

4.3 Reabilitação Neuropsicológica

Um trabalho de reabilitação envolve pensar o paciente enquanto indivíduo ativo


que tenha condições ativar funções essenciais da vida. Cabe ao profissional traçar
atividades que reabilite funções perdidas ou que não funcionavam antes.

A reabilitação tem como objetivo tornar o indivíduo autônomo, sem depender


do hospital ou de um apoio. Nesse trabalho a família tem um papel importante nesse
processo e deve ser olhada e acolhida e orientada.

Uma das funções da reabilitação é levar a família e o paciente a entenderem


que não existe uma única maneira de se executar uma tarefa e o cérebro da pessoa
lesionada tem condições de recuperar o movimento perdido com reprogramação
cerebral e treinamento ou adaptar o corpo para executar a tarefa. Utiliza-se o termo
de neuroplasticidade para essa recuperação ou adaptação dos elementos do sistema
nervoso, por estímulos feitos por diferentes técnicas. Veja abaixo, alguns exercícios
de recuperação

181
Figura 100 - Exercícios de recuperação de movimento

Fonte:
http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/neurocientistas_tratam_da_reabilitacao_
motora_de_pacientes_com_avc_em_livro.html

Fonte: http://www.engeplus.com.br/noticia/saude/2015/unesc-recebe-nova-
tecnologia-para-reabilitacao-motora

182
Fonte: http://fisioworkrs.com.br/blog/wp-content/uploads/2016/08/rv.jpg

O programa de reabilitação busca exercícios que estimule o paciente, seja


criança, adulto ou idoso, a participarem de maneira efetiva do trabalho a ser realizado.
Como você pode observar nas figuras a cima, busca-se motivar e tronar o momento
de trabalho de reabilitação neurológica, prazeroso e interativo.

A importância do trabalho de reabilitação está nos dados divulgados pela


Organização Mundial de Saúde, que divulga que cerca de 10% a 20% da população
é portadora de algum grau de incapacidade física ou intelectual indicando a relevância
do trabalho de reabilitação para a qualidade de vida e prevenção de doenças crônicas.
Mas o fator mais importante para a pessoa reabilitada é a autonomia.

Como você pode observar, a avaliação neuropsicológica auxilia na reabilitação


da pessoa doente, por intermédio de baterias de testes sistematizados e
padronizados, que traçam o perfil cognitivo e comportamental da pessoa.

Não deve, em uma avaliação avaliar de maneira quantitativa e sim qualitativa


as funções cognitivas de uma pessoa. A avaliação, como temos enfatizando, deve ser
composta por uma série de instrumentos, o ambiente, o cognitivo e o comportamento.
Os testes padronizados, embora seja interessante e fazem parte da bateria de

183
avalição a ser feita, deve ser analisado juntamente com a avaliação comportamental
e as demais já citadas.

Da mesma forma, devemos tomar cuidado com os testes de inteligência, pois


isoladamente podem deixar lacunas em uma avaliação consciente e pautada em uma
visão multidisciplinar que considera o paciente como sujeito capaz de se desenvolver,
com potencialidades.

Uma avaliação pode ter o foco nas funções cognitivas, mas não se pode
ignorar, a personalidade e as condições emocionais, pois esses fatores contribuirão
para traçar o programa e no resultado final.

A avaliação, em uma linguagem didática poderia ser dividida em avaliação


estruturada, mais rígida, que tem um protocolo a ser seguido e analisado com
possibilidade de aplicação de testes e avaliação não estruturada que parte de um
olhar mais acolhedor e afetuoso, o paciente quem começa a relatar as suas queixas
e motivo pelo qual o levou até a clínica e você toma a posição de observador e
expectador.

Com os resultados de uma avaliação cuidadosa (seja estruturada ou não), é


possível organizar um trabalho de reabilitação de pessoas lesionadas cerebral, com o
objetivo de amenizar e favorecer a aprendizagem e a inserção dela no meio social de
maneira que ela possa exercer atividades e se sinta melhor.

As investigações realizadas irão explicar as relações entre cérebro e


comportamento, naquele paciente, e darão base para um planejamento adequado e
individual. Ela vai atuar no sistema nervoso central-SNC, com atividades de
estimulação e trabalhos voltados para o local afetado.

Vygotsky (1999) em uma de suas pesquisas sobre os deficientes analisou o


funcionamento cerebral em relação à visão e ressaltou a interligação entre eles e o
desenvolvimento humano junto com intervenção psicológica e o meio ambiente.

Luria (1981), junto com Vygotsky desenvolveu estudos sobre o comportamento


anormal de pessoas com lesão cerebral e ressaltou a importância do símbolo para a
linguagem, como fator relevante para a comunicação.

Em seus estudos Luria (1981) levanta a importância da área da neuropsicologia


para o conhecimento da base cerebral que envolve os fenômenos psicológicos. Para
o autor essas pesquisas contribuirão para ampliar o conhecimento sobre o
funcionamento e estruturas psicológicas.

Segundo Lúria (1981), a neuropsicologia conta com o funcionamento cerebral


com participação de três blocos: tônus cortical/ativação do córtex cerebral; recepção,
monitoramento e armazenamento e o último bloco de programação e controle da
atividade.

184
A neuropsicologia tem o cuidado em olhar cada pessoa dentro de sua
especificidade e fase da vida, levando em consideração a realidade que a cerca. É
uma área que necessita como discutido anteriormente, de uma ação interdisciplinar e
multidisciplinar na relação entre o trabalho a ser realizado e as disciplinas que
contribuirão, tendo como exemplo a pediatria, neurologista, infectologista, ortopedia,
psiquiatria, sociólogo e outros.

Vygotsky (2011) traz uma grande contribuição para o estudo da mente humana,
inclusive no funcionamento da mente da pessoa deficiente. A psicologia histórica
cultural permite compreender a deficiência estendendo para o contexto no qual
ocorreu, deslocando o foco da pessoa e indo para a atribuição dada pelo ambiente
que o sujeito se insere.

Importante você entender como o entender a complexidade da mente humana


requer um olhar inter, multi e transdisciplinar. Os temas se entrecruzam e ao falar da
reabilitação percebe-se a importância de uma avaliação cuidadosa, sensível e com o
olhar para o todo.

O texto abaixo auxiliará na sua visão sobre o funcionamento do cérebro da


pessoa

O anexo X encontra-se ao final do Livro-texto.

A DEFECTOLOGIA E O ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO E DA


EDUCAÇÃO DA CRIANÇA ANORMAL

Fonte: VYGOTSKY, Lev Semionovitch. A Defectologia e o Estudo do


Desenvolvimento e da Educação Da Criança Anormal.
Disponível<http://www.scielo.br/pdf/ep/v37n4/a12v37n4.pdf>

185
Esse texto (Anexo X) possibilita entender o cerebro da pessoa e com isso nos
leva uma reflexão importante sobre o nosso fazer e ser enquanto profissional
psicopedagogo.

Atividade de Aplicação

Após leitura do Anexo X, elabore um texto relacionando a pesquisa de Vygotsky


e a neuropsicologia. Qual a contribuição dele e Leontiev para a psicopedagogia e para
o trabalho com reabilitação?

Vygotsky enfatizava que entender a história é estudar algo em constante


movimento. Assim, as descobertas realizadas por pesquisadores não devem
descartar as já existentes mas dialogar e incorporar, superar e transformar, na busca
de entender e melhorar.

4.4 Diretrizes diagnósticas dos principais transtornos e dificuldades de


aprendizagem

Entender as principais causas dos transtornos, distúrbios e dificuldades de


aprendizagens requer um trabalho em equipe com a visão dos diferentes profissionais
investigativos. O trabalho não é simples sendo muito comum rotular as crianças e o
trabalho ser voltado para o problema e não para a criança e situação que a envolve.

Muitas questões estão envolvidas no desenvolvimento integral da criança,


como disfunção do Sistema Nervoso Central, falha no processo de aquisição de
informação ou da resposta, questões socioculturais, emocionais e funcionais. Por se
tratar de algo tão complexo uma equipe multidisciplinar pode auxiliar no desenho do
quadro como todo.

186
Muitas vezes, ao se ter um olhar externo da situação pode parecer que a
criança está sendo vista de maneira fragmentada, ignorando o todo, muito pelo
contrário, as múltiplas visões profissionais traçarão uma visão do todo da situação e
criança, pois ele será visto dentro de um contexto de filho, aluno, família e escola e o
perfil da situação/pessoa auxiliará no planejamento da ação.

Problemas no aprender não é algo novo, pois sempre existiram diferenças na


sociedade e a escola nem sempre soube lidar com essa situação no cotidiano. A
história ressalta que a sociedade acreditava que as pessoas ocupavam espaços
diferentes dentro da hierarquia social. Havia uma diferenciação de status conforme
desempenho em tarefas.

Essa ideia perdura por anos, sendo adequada conforme a situação e interesse
da sociedade. Hoje se espera que a pessoa saiba ler e escrever de maneira que
transite na sociedade dentro de um padrão estipulados pelo meio, sendo fatores
relevantes para inserção do ser humano no meio social.

Já vimos nos textos anteriores que aprender não é fácil e envolve aspectos
sociais, cognitivos e biológicos. Percebemos que a dificuldade de aprendizagem
envolve uma gama de profissionais que apoiarão o trabalho de investigação do
problema apresentado.

Dificuldade remete a uma barreira no aprender que pode ser social, cultural,
ambiental e emocional, que devem ser levados em consideração no momento da
investigação. Muitas vezes o problema da dificuldade pode ser resolvido no ambiente
escolar com o professor ou um psicopedagogo, com a intervenção correta.

A palavra distúrbio se remete a uma especificidade relacionada a disfunção


neurológica, portanto, com questões ligadas ao funcionamento do cérebro, existência
de uma disfunção neurológica. A criança com distúrbio de aprendizagem tem
dificuldade em aprender por falha nas conexões neuronais, não tornando a criança
incapaz, pois, ela necessita de adaptação na maneira de o professor trabalhar a
disciplina.

O primeiro passo para se identificar o que está gerando a dificuldade de


aprendizagem é elaborar a anamnese. Vamos conhecer este poderoso instrumento
de avaliação terapêutica.

4.4.1 Anamnese

Estudando a palavra anamnese, do grego aná - recordar e mnese - memória,


portanto, anamnese é trazer para memória; recordar algo que está na memória.

187
Esse ato de trazer para o presente se caracteriza em entrevista estruturada
para se compreender o contexto o qual a criança está inserida e que envolve a queixa
que se apresenta, olhando a pessoa como todo.

Uma entrevista para entender o paciente ou a pessoa a qual precisa de


intervenção é um método adotado desde a Grécia Clássica, com o intuito de amenizar
o sofrimento das pessoas doentes, porém, foi no século passado (século XX) que a
anamnese e o exame físico passaram a ser valorizado dentro dos padrões que
conhecemos, para traçar tratamento e diagnósticos mais precisos.

Os avanços nas diferentes áreas no final do século XIX trouxeram novas


estratégias clínicas, laboratoriais e de imagem na medicina. Um exame detalhado da
pessoa requer uma abordagem física e relatório levantado através da anamnese.

Esses procedimentos requerem um profissional preparado e sensível que


transmita confiança ao paciente, que por questão da condição que eles se encontram,
tendem a manterem-se um tanto afastados e resistentes a uma investigação.

A anamnese deve contar com uma comunicação verbal, não verbal


(observação dos gestos) e escrita. Os três tipos de anamnese darão subsídio para
que o profissional direcione o trabalho a ser realizado.

Valorizar o momento da entrevista é fundamental para que o profissional se


prepare e o ambiente para que o entrevistado se sinta à vontade para colocar o que
pensa e senti sobre a situação.

As informações devem ser pensadas no tempo e quantidade de perguntas que


serão feitas, para que o entrevistado não se canse e passe a falar o que ele acredita
que você queira ouvir.

Outra questão importante é saber ouvir as queixas e informações trazidas, sem


a preocupação em quantidade de atendimento e tempo destinado a ela

Algumas técnicas para abordagem são estar abertos à escuta sobre a história
trazida pela pessoa e seus familiares. Expressar desejo em ouvir é o primeiro passo
para se ter um bom perfil do paciente, os 20 primeiros minutos são cruciais para um
bom resultado contato visual, observação da postura, distanciamento do paciente da
sua mesa ou de você, como ele está vestido, idade, sexo, tonalidade de voz utilizada,
as expressões no decorrer da conversa e outros detalhes que podem influenciar no
entendimento da pessoa que se apresenta.

A estrutura de uma anamnese variará para cada profissional. Normalmente


começamos com a identificação da pessoa (nome, idade, data de nascimento, filiação,
formação dos pais, escolaridade do paciente, endereço e contato), depois com dados
referentes aos motivos de ter procurado o especialista (queixa e situação que se
encontra). A continuidade das questões depende da área a ser pesquisada e a

188
importância para um bom planejamento de ação. Não se de ignorar a situação
vulnerável que ele se encontra.

A anamnese é um passo importante para que todo o resto do caminho aconteça


dentro do esperado. Ela é o primeiro contato entre paciente e profissional.

4.4.1.1 O que observar na Avaliação de Linguagem

Na primeira infância a linguagem tem um papel importante no processo de


socialização, pois ela proporciona a interação da criança no meio e apresenta as
regras e normas a serem seguidas.

Os dois primeiros anos de vida são marcantes para a aprendizagem da criança,


pois o sistema nervoso tem plasticidade sendo momento propício para o
desenvolvimento global da criança e quando a linguagem aparece.

Há muitas pesquisas empenhadas em desenvolver testes que avaliem a


linguagem da criança e todas afirmam que a principal avaliação começa pela
observação da criança na interação com o meio.

Dentro dessa linha de observação há o Protocolo de Observação de


Comportamento (POC) de crianças de 0 a 6 anos, que aborda comportamentos de
acordo com a idade cronológica do nascimento até os 6 anos verificando a recepção
e emissão de informação, a parte motora e a linguagem dando informações a respeito
do desenvolvimento da linguagem da criança, sendo necessário de um fonoaudiólogo
para interpretar.

4.4.1.2 O que observar na Avaliação do Raciocínio Lógico/Matemático

O ser humano, dentro do quadro de normalidade, possui um cérebro que que


trabalha para receber as informações e responde-las. Ele gera as sinapses desde os
3 anos de idade e se elas não são utilizadas essas sinapses são desligadas a partir
dos 9 anos de idade, trazendo para o meio a responsabilidade de estimular e organizar
espaço de aprendizagem.

Piaget colaborou, em seus estudos, para que o professor ou o profissional


adequado possa avaliar o raciocínio lógico da criança. Um material de fácil acesso e
aplicação, mas requer um domínio das fases de desenvolvimento da criança e um
olhar sobre o contexto sócio histórico em que ela está envolvida.

189
Figura 101 - Provas Piagetianas

Fonte:
https://d26lpennugtm8s.cloudfront.net/stores/299/468/products/1214_provas-
piagetianas1-d619050ae8998b8f7615632877150607-1024-1024.jpg

O raciocínio lógico auxilia faz com que o pensamento percorra um caminho que
chegue no conhecimento correto, verdadeiro. Para Piaget (1975) o conhecimento
percorre uma evolução de raciocínio que passa por estágios que vão se estruturando
e mudando conforme o estímulo que recebe.

Segundo o autor esses estágios percorrem uma ordem sendo elas: sensório
motor (0-2 anos), pré operatório (2- 7anos), operatório concreto (7 – 11 anos) e

190
operatório formal (12 anos em diante). Para o autor é na fase formal que o pensamento
da criança se estrutura como adulto.

O psicopedagogo, dentro da faixa etária da criança deve verificar se a criança


coordena mentalmente suas ações e estabelece relações, classifica, ordena e
diferencia.

Piaget, estudioso da epistemologia genética, buscou entender o processo do


desenvolvimento cognitivo do ser humano, sendo interessante ressaltar algumas
características das fases.

Aos 6 meses a crianças começa a perceber a diferença entre pequenos


conjuntos de elementos com quantidades diferentes, exemplo onde tem mais
brinquedos. Aos 3 anos ela começa a contar e aos 6 anos, além de contar, ela
relaciona diferentes quantidades com objetos e começa a dominar operações
matemáticas. Esses pequenos traços podem te auxiliar em uma primeira observação,
mas é imprescindível uma leitura mais detalhada a respeito.

4.4.1.3 O que observar na Avaliação da programação dos movimentos

O controle motor é responsável pelo movimento humano que integra diversos


sistemas do organismo e a observação deve partir de alguém que tenha conhecimento
do funcionamento neurológico para que a avaliação seja precisa.

Desenvolvimento infantil envolve crescimento físico, maturação neurológica,


construção de habilidade relacionada ao comportamento e a cognição a socialização
e a parte afetiva. Desenvolver significa estar pronta, de maneira ampla, para o mundo.
Na infância o desenvolvimento está intimamente ligado aos fatores biológicos e
ambientais.

Fatores biológicos estão relacionados a danos ocorridos nos períodos pré, peri
e pós-parto, que podem conduzir a deficiências e problemas no desenvolvimento
neurológico. Fatores ambientais devem ser levados em consideração, tais como
alimentação, higiene, conforto, estímulo e vida social.

É importante verificar se as habilidades motoras estão de acordo com a faixa


etária. Por exemplo, na pré-escolar a criança a percepção motora, direcional,
consciência corporal, direcional, temporalidade e espacial; movimentos bilaterais-
pular corda.

Avaliar o desenvolvimento motor requer um olhar amplo sobre a criança e seu


desenvolvimento, podendo ser feito uma escala de desenvolvimento motor composta

191
por uma bateria de exercícios voltados para analisar o desenvolvimento motor de
crianças dos 2 aos 11 anos de idade. Essa escala é entendida como uma prova
específica que permite medir uma determinada característica motora de um indivíduo
e comparar seus resultados com os de outros indivíduos.

4.4.1.4 Avaliação dos Transtornos geralmente diagnosticados pela primeira vez


na infância ou na adolescência

Diagnosticar não é fácil, pois requer conhecimento e um olhar para o todo e


não apenas para o problema que se apresenta. O desafio é saber lidar com a situação
que se apresenta, associada com a condição ambiental e escolar que o rodeia.

Há sintomas que muitas vezes um exame laboratorial não consegue detectar o


que está acontecendo, apenas a experiência, mais anamnese poderão, de uma
maneira mais precisa, traçar um caminho de intervenção e possível investigação a ser
feita.

As questões emocionais devem ser levadas em consideração, pois, muitas


vezes são motivos de comportamento desviante e a criança e o adolescente não
saberão identifica-lo e nomeá-lo.

Chamamos a atenção de alguns comportamentos que devem ser pensados e


observados com cuidado. Por exemplo, uma criança que tenha dificuldade de lidar
com frustração, nem sempre pode ser considerada com um transtorno, mas pode ser
uma característica da idade mais a influência do meio no qual ela está inserida.
Medos, dificuldade de concentração podem ser normais em uma determinada idade
e sintomas de transtorno em outra.

Diagnosticar um transtorno ou distúrbio na infância necessita de cuidado para


que não seja algo que responda uma exigência social, sem levar em consideração a
criança dentro de um contexto.

Os transtornos precisam ser bem documentados para que não haja um erro por
conta da situação que a escola ou a família apresenta, dentro de uma expectativa
criada pelo grupo.

O nascimento não é um momento tão simples para criança quanto aparece,


posto que a criança é apresentada a um mundo complexo com vários estímulos
visuais, auditivo e tátil e a criança precisa se adaptar, entendendo que a estrutura
nervosa ainda não está preparada e desenvolvida. Assim, sua dependência de um
adulto é inevitável para sua sobrevivência e permanência nessa sociedade.

192
Alimentação, acolhimento, higiene e roupa são situações que a criança não tem como
identificar e resolver sozinha.

Com esses cuidados e observação da criança, ela vai se tornando


independente e o comportamento se adaptando as situações. Para que esse processo
aconteça é necessária uma intersecção de vários fatores, como maturação do sistema
nervoso, condição biológica, situação social, ambiente emocional e ambiente provedor
de estímulo e experiências.

Quando um desses fatores falha resulta em atraso, disfunção, distúrbio ou


transtorno que comprometerão o aprender da criança. Não se pode ignorar o fato de
a aquisição da linguagem não é um processo simples, requer ambiente apropriado e
estimulador. A mãe é a primeira fonte de conhecimento do mundo e o primeiro objeto
de exploração cabendo a ela ou ao cuidador direto da criança, interpretar e dar sentido
as maneiras de agir e se comunicar da criança.

A falha na interpretação pode resultar em problema futuro, refletindo na relação


da criança com o outro, com ela mesma e com a aprendizagem. Vygotsky (2011), em
seus estudos sobre criança com deficiência ressalta que ela somente se desenvolverá
se houver um adulto ou equipe que se empenhe em trabalhar em suprir os limites
inerentes da deficiente. Ressaltou que pelo percurso natural da vida a criança
deficiente não se desenvolve. A educação exerce um papel muito importante no
desenvolvimento cultural e cognitivo.

Isto posto, é necessário entender a criança como sujeito completo e não sujeito
lacunar e, a partir desse olhar traçar uma linha de trabalho para desenvolvê-la.

4.5 Quando e como encaminhar para Avaliações Multidisciplinares

Uma questão delicada e que necessita de cuidado é o encaminhamento da


criança para avaliação multidisciplinar. É necessário que a escola observe a criança
em todo seu aspecto para verificar se realmente é necessário o encaminhamento.
Esse campo, o da dificuldade em aprender, tem sido muito investigado e debatidos,
pois crianças e vem revelando tensões a serem enfrentadas.

O Ministério da Educação publicou no ano passado (2018) que 50% das


crianças brasileiras chegam no Ensino Médio com dificuldade de leitura, escrita e
matemática, sendo que 30% dessas trazem laudo de algum transtorno. Esses dados
são assustadores e requerem uma reflexão profunda a respeito.

A Organização Psiquiátrica, na mesma época, anuncia que de 2 % a 10% da


população mundial apresenta algum transtorno de aprendizagem.

193
Porque será que esses dados
apresentados estão tão diferentes?
Será que estão avaliando
corretamente as crianças?

Acreditamos que a falha está na qualidade da avaliação realizada nas crianças.


Uma avaliação deve contar com uma equipe multidisciplinar que se conversem, que
troquem informações para que uma avaliação cuidadosa e precisa que seja realizada.

As escolas tem apontado, com muita viemencia o deficit de atenção das


crinaças, mas uma dúvida paira nessa questão. Será que a criança apresenta deficit
de atenção ou a escola não está proporcionando moemtos de aprendizagem
signifdicativo?

A escola é um espaço privilegiado de troca, desenvolvimento e aprendizagem.


Mas não vamos crucificar a escola, pois ela não é a única que pode estar
desencadeando o não aprender da criança.

O ambiente familiar é um espaço que pode não estar sabendo preparar a


criança para um mundo de regras, disciplina e solidariedade.

As famílias,muitas vezes, sobrecarregam os filhos com atividade acreditando


que fará bem para ele e esquecem a criança necessita de um tempo ocioso para fazer
as conexões necessárias para o aprender.

Portanto, encaminhar uma criança para um psicopedagogo deve ser algo


pensado e feito apenas depois da escola buscar entender a criança como um todo e
traças atividades alternativas.

Um trabalho que surgiu em 1999 nos EUA, em uma visão de


aprendizagempoara todos que reduz a barreira do ensino e da aprendizagem
atingindo todas as crianças e o conceito de Desenho Universal de Aprendizagem-
DUA.

194
O DUA tem como objetivo uma educação para todos, um currículo que atenda
a todas necessidades, que o docente possa fazer as intervenções necessárias para
um aprendizado efetivo e significativo tanto para alunos considerados normais
(neurotípicos) quanto para alunos deficientes.

Em resumo, uma concepção de currículo e trabalho que amplia a oportunidade


dos alunos de participarem do próprio processo de aprendizagem.

O desenho universal de aprendizagem permite que o docente desenvolva aulas


pensando na diversidade da sala de aula. Essa ideia veio de arquitetos em 1970, que
pensavam os espaços da casa de maneira que todos pudessem circular
independente de suas condições físicas ou cognitivas, sendo adaptada para educação
20 anos depois.

O interessabnte que essa ideia vai ao encontro a teoria de Vygotsky que traça
três pré requisitos para o aprender, já mencionadas anteriormente:

 o reconhecimento da informação a ser aprendida,


 a aplicação de estratégias para processar essa informação
 e o engajamento com a tarefa de aprendizagem.

Assim, a escolha do material a ser trabalhado em sala de aula e como


desenvolvê-lo é essencial para um resultado favorável.

O que se pretende com essa nossa conversa é leva-lo a pensar sobre a


importância de planejar, observar, avaliar, trazer alternativas para depois encaminhar
para uma avaliação psicopedagógica.

Vide Anexo XI ao final deste Livro-texto.

DESENHO UNIVERSAL PARA A APRENDIZAGEM COMO ESTRATÉGIA DE


INCLUSÃO ESCOLAR

Fonte: MENDES, Enicéia Gonçalves; ZERBATO, Ana Paula. Desenho


universal para a aprendizagem como estratégia de inclusão escolar. Disponível
em < revistas.unisinos.br/index.php/educacao/article/download/edu.2018.222

195
Esse texto (Anexo XI) auxiliará no entendimento do conceito de Desenho
Universal de Aprendizagem, portanto é importante que o leia por inteiro e faça a
atividade proposta abaixo.

Atividade de Aplicação

Leia o texto obrigatório (Anexo XI) e elabore um novo texto trazendo a


contribuição do conceito DUA para a neuropsicologia.

Procure embasar sua escrita, fazendo as relações entre a teoria, a ação do


professor e o psicopedagogo.

4.5.1 Avaliação Neuropsicológica

A avaliação verifica se as funções cognitivas e práxicas estão funcionando


corretamente, descartando distúrbios e alterações cognitivas que possa ser a causa
de um não aprender.

É importante ressaltarmos que a psicopedagogia surge para auxiliar nas


diferentes dificuldades que passam a surgir na escola na tentativa de não apenas
prevenir complicações maiores no processo e ensino aprendizagem, mas como um
trabalho de melhora da condição do aluno de aprender.

Portanto ela deve prevenir diagnosticar e intervir de maneira que a criança


possa se desenvolver. Às vezes é necessária uma visita à escola para conhecer a
metodologia, dinâmica, relação professor aluno, compreendendo a dinâmica que
compõe esse ambiente e propondo (sugerindo), se necessário, mudança na maneira
de agir, mas com cuidado para que não esbarre na invasão de espaço, respeitando

196
os profissionais da educação, mantendo uma postura ética em suas colocações e
sugestões.

Cabe ao psicopedagogo promover a saúde mental da criança auxiliando-a a


superar as dificuldades que se apresentam na escola.

Figura 102 - Avaliação neuropsicológica

Fonte:http://www.clinicanossoespaco.com.br/desc-
servicos.php?id=45&nome=AVALIA%C3%87%C3%83O%20NEUROPSICOL%C3%
93GICA:%20%20EM%20BREVE acessado 20/05/19

É importante a leitura do texto de HÜBNER, Maria Martha Costa; PONTES,


Lívia Maria Martins. A reabilitação neuropsicológica sob a ótica da psicologia

197
comportamental. Disponível < http://www.scielo.br/pdf/rpc/v35n1/v35n1a02.pdf>
para uma compreensão maior a respeito do tema estudado.

4.5.2 Avaliação do Processamento Auditivo Central (PAC)

O processamento auditivo é um conjunto de operações que o sistema auditivo


realiza como receber a mensagem, detectar os sons, reconhecê-los, associá-los com
experiências e informações anteriores integrando ao cérebro os estímulos recebidos
para dar a resposta. Um conjunto de habilidades necessárias para analisar e
interpretar sons.

A criança nasce com a via auditiva pronta que vai desenvolver conforme
estímulo e experiências sonoras que são proporcionados nos primeiros 4 anos de
vida, o qual forma as primeiras conexões neuronais.

Um fator importante para o desempenho auditivo é a maturação neural que


ocorre entre 8 e 10 anos. É importante entender o processo de escuta é complexo e
requer que a criança esteja pronta para responder algumas perguntas. Pesquisas
apontam que crianças com 10 anos conseguiram melhorar o processamento conforme
foi trabalhada e estimulada.

Há alguns testes comportamentais que buscam analisar se a criança consegue


detectar sons e localizá-los, se elas discriminam diferentes tipos de sons, se
conseguem selecioná-los e se conseguem manter a atenção em um determinado
comando com ruídos ao redor, se ela tem memória sequencial, figura-fundo auditiva,
fechamento auditivo, separação e integração bineural.

Os testes requerem profissionais capacitados para avaliar levando em


consideração a faixa etária e as condições ambientais e sociais a qual a criança está
inserida.

A avaliação vem descrita como normal ou alterada e cabe ao profissional saber


diferenciar e classificar a alteração encontrada. O transtorno do processamento
auditivo-TPA é um impedimento na habilidade de analisar e interpretar sons, sendo
associado à dificuldade de aprendizagem – DA.. É normal crianças que se encontram
com dificuldade de aprendizagem não tenham um desempenho favoráveis nesse
teste, pois o processo auditivo é fundamental na leitura e escrita.

198
Figura 103 - Processo Auditivo

Fonte:< https://www.clinicasphera.com.br/wp-
content/uploads/2018/07/pac.jpg>

A dificuldade de aprendizagem se divide em dois blocos: Naturais e


secundárias, sendo as naturais relacionadas ao âmbito escolar como assiduidade da
criança, método do professor e dinâmica da aula e o bloco da secundária relacionado
a uma patologia ou distúrbio.

A avaliação permite classificar o Transtorno do Processamento Auditivo –TPA


e traçar um plano de trabalho para desenvolver, estimular ou adaptar.

199
4.5.3 Avaliação Psicológica

A avaliação psicológica é complexa e tem como objetivo obter subsidio para


levantamento de hipóteses e futuramente diagnostico sobre funcionamento cognitivo,
personalidade, aptidão, comportamento e outras questões.

A avaliação psicológica percorre uma história que esbarra com a história da


psicologia, mas um tanto mais complexa, pois requer conhecimento dos instrumentos
de avaliação e da análise, sendo importante uma formação específica para se fazer
avaliação psicológica.

O psicólogo embora apto para aplicação de testes deve ter consciência o que
implica uma avaliação e diagnóstico.

De Acordo com o Conselho Federal de Psicologia (2013) avaliação psicológica


é, antes de tudo, um meio de apreciar a presença no mundo material, do vivido, um
modo de apreensão das realidades objetivas e subjetivas que tocam os fenômenos
psíquicos nas suas dimensões antropológicas.

A avaliação psicológica é solicitada como complemento e desdobramento da


avaliação neuropsicológica, para casos específicos que envolvam deficiências
neurológicas que impactam nos processos básicos e fenômenos psicológicos

4.5.4 Avaliação Fonoaudiológica

De acordo com Goulart (2007), a avaliação fonoaudiológica é um processo que


envolve técnicas que buscam prevenir comorbidades e detectar possíveis problemas
que possam estar interferindo no processo de aprendizagem da criança.

A avaliação clínica pressupõe conhecimento e uso de técnicas,


especificamente ligadas à Fonoaudiologia e à comunicação humana

A avaliação clínica fonoaudiológica requer conhecimento das ferramentas


técnicas específicas e questões que envolve o ser humano como todo, como relações
inter e intrapessoal, ambiente familiar e escolar o qual ele está inserido.

É importante que a avaliação seja realizada em conjunto com a acuidade


auditiva, para que se consiga diagnosticar uma possível desordem fonológica e
trabalhar para intervenção eficaz. E acompanhar para verificar se está tendo
progresso no tratamento proposto.

A avaliação deve levar em conta à concentração, o som da fala, a organização


do pensamento e a organização e qualidade da resposta. Essa coleta pode ser

200
realizada por conversa informal ou testes que solicitem nomear e identificar figuras ou
repetição de palavras

A avaliação, nos últimos anos teve grande avanço, pois de testes rápidos e
muitas vezes desestruturados, passou para testes que envolvem avaliações mais
complexas com base em pesquisas de resultado. O inventário fonético deve avaliar
os sons contrastantes das crianças e, os diferentes fonemas.

Antes de encaminhar a criança a uma avaliação fonoaudiológica é interessante


verificar se os professores trabalham, em sala de aula, a consciência fonológica dos
alunos se explicam os sons das letras, sons das letras em forma de silabas e nas
frases. Entender que é necessário que a criança entenda a dinâmica da fala e da
escrita.

Nessa última unidade pudemos entender a importância de uma avaliação


consciente que leve em consideração não apenas o problema, mas as questões
emocionais, ambientais e sociais da criança.

Esperamos que tenha aproveitado essa disciplina e que busque


aprofundamento teórico para uma prática efetiva e consciente.

201
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205
ANEXO I

O SISTEMA LÍMBICO E O CIRCUITO EMOCIONAL DE PAPEZ

Para estudar as diferentes emoções que o ser humano é capaz de sentir é


necessário entender as estruturas relacionadas à esses sentimentos, o conjunto de
estruturas envolvidas nos processos emocionais chamamos de sistema límbico.
Darwin em seu livro publicado em 1872 “The expression of the emotions in man and
animals" comparou os tipos de expressões em diferentes animais.

Desde então houveram diversas contribuições científicas afim de elucidar o


funcionamento fisiológico, uma delas foi a de James Papez, um importante cientista,
que contribuiu para os conhecimentos atuais sobre o sistema. Em seus estudos ele
tentava correlacionar as estruturas emocionais no sistema nervoso as bases ligadas
a emoção, Papez notou que as estruturas eram conectadas entre si formando um
circuito hoje chamado de circuito de Papez.

Anos mais tarde sua teoria foi comprovada pois a extração bilateral da parte
anterior dos lobos temporais (estudo feito em macacos Rhesus) lesou estruturas do
sistema límbico causando alteração comportamental, deixando os animais
impossibilitados de avaliar situações de perigo diante de situações adversas.

Fonte:
http://www.infoescola.com/wp-
content/uploads/2010/10/circuito-
papez-limbico.jpg

206
Hoje, entretanto, sabemos que grandes estruturas do encéfalo estão
relacionadas as emoções, dentre elas temos em destaque o sistema límbico,
hipotálamo e a área pré-frontal.

Circuito Emocional de Papez – Estrutura e Localização

Fontes:

Algumas estruturas do sistema límbico. Ilustração: joshya / Shutterstock.com

Algumas estruturas do sistema límbico. Ilustração: joshya / Shutterstock.com

Dentre as principais estruturas do sistema límbico temos:

 Hipocampo - Esta estrutura é substancial e tem como função o


armazenamento da memória, uma lesão desta região pode alterar
severamente a memória do indivíduo.
 Tálamo - as células nervosas que enviam sinais como audição, visão,
paladar e tato para o córtex estão presentes nessa estrutura as sensações
de pressão, dor e temperatura também são enviadas através do tálamo.
Ele tem como função a integração do sistema sensorial e motor.
 Hipotálamo - Representa menos que 1% do tamanho total do cérebro
porém regula funções importantíssimas dentre elas o sono, libido, o apetite
e a temperatura do corpo.
 Amígdala - está relacionada com a percepção semiconsciente, padroniza
comportamentos apropriados para cada ocasião, está relacionada com a

207
memória emocional que temos das coisas. É importante para o
reconhecimento, formação e manutenção das emoções envolvidas com o
medo. A lesão desta região é responsável pela redução na capacidade de
detecção do medo diminuição da emocionalidade, e seu estímulo leva a um
estado de ansiedade, medo e atenção aumentada.
 Giro cingulado - está relacionada com o controle visual, auditivo e as
alterações das emoções, medicamentos que estimulem essa estrutura
podem causar efeitos alucinógenos.
 Área pré frontal - esta área não faz parte do sistema límbico porém suas
conexões estão diretamente ligadas a ele em estruturas como a amígdala
e o tálamo. No caso de lesão desta região o paciente apresenta redução
na concentração e perde o senso das responsabilidades sociais.

Os estados emocionais podem envolver diversas áreas do sistema límbico,


sendo algumas estruturas ativadas e outras inibidas simultaneamente como no caso
da alegria que provoca a ativação de regiões como gânglios basais, estriado ventral e
putâmen, já a expressão de raiva, por sua vez, está relacionada com a excitação do
hipotálamo posterior enquanto o telencéfalo media efeitos contrários a esse
comportamento.

Referências:

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FRANCO, S.N. Descomplicando as práticas de laboratório de neuroanatomia. 2005.

http://www.guia.heu.nom.br/sistema_limbico.htm

http://www.psiquiatriageral.com.br/cerebro/emocoes.htm

https://www.infoescola.com/anatomia-humana/sistema-limbico/

208
ANEXO II

Glia: dos velhos conceitos às novas funções de hoje e as que ainda virão
Flávia Carvalho Alcantara Gomes, Vanessa Pereira Tortelli e Luan Diniz

Os sistemas orgânicos do corpo humano, além de estarem associados a


atividades extremamente complexas que envolvem a relação do indivíduo com o meio
ambiente, a vida afetiva e a atividade intelectual. Para efeito de comparação, enquanto
órgãos tão vitais como coração e fígado possuem 3-5 tipos celulares diferentes, o
encéfalo possui mais de uma centena.

Aliado à sua complexidade morfológica e funcional, o SNC é sede de diversas


doenças incapacitantes, como as doenças neurodegenerativas de Alzheimer e
Parkinson; tumores e desordens neurológicas como esquizofrenia, autismo, dentre
outras. Essas enfermidades, além de afetarem diretamente a qualidade de vida
desses indivíduos, implicam altos custos financeiros para a saúde pública e perdas
econômicas para o país.

Entender o funcionamento do sistema nervoso é fundamental para a


elaboração de estratégias e de políticas públicas e eficazes de medicina regenerativa,
terapêutica e preventiva. Muito se conquistou, especialmente nas duas últimas
décadas, sobre o conhecimento do cérebro.

Se, por um lado esses avanços são extraordinários e suas consequências


abrangem desde o desenvolvimento do tecido nervoso propriamente dito ao seu
funcionamento normal e patológico, é decepcionante reconhecer que eles são fruto
não de perguntas científicas originais, jamais pensadas ou feitas por nossos
antecedentes neurocientistas, mas fruto do avanço tecnológico do século XXI (pelo
menos no que se refere às células gliais...).

Esse progresso permitiu o desenvolvimento de ferramentas metodológicas


potentes, de forma que o cientista hoje não apenas visualiza uma célula em seu
contexto tecidual estático, mas é capaz de observar e alterar sua biologia, seja por
técnicas microscópicas de alta resolução, seja analisando os genes e proteínas
expressos pelo tecido mediante técnicas de transcriptoma ou proteoma ou ainda
manipulando as células geneticamente pelas técnicas de geração de animais
mutantes, RNA de interferência ou ainda pela recente optogenética.

209
[...]

Fonte: DINIZ, Luan; GOMES, Flávia Carvalho Alcantara; TORTELLI, Vanessa


Pereira. Glia: dos velhos conceitos às novas funções de hoje e as que ainda virão.

Disponível.http://www.scielo.br/pdf/ea/v27n77/v27n77a06.pdf acessado:
20/05/2019

210
ANEXO III

NEUROCIÊNCIA COGNITIVA E PLASTICIDADE NEURAL: UM CAMINHO A


SER DESCOBERTO

Marina Boni & Maria Preis Welter

Relvas (2010) nos explica a estrutura básica de um neurônio, que é composto


pela membrana celular, responsável por transportar os sinais nervosos; os dentritos
que são uma espécie de ramificação o qual recebe e libera sinais, um único neurônio
pode ter milhares de dentritos; o axônio que é o cabo condutor de sinais; os pontos
de contato sinápticos, os quais são especializados em passar as informações de uma
célula à outra; célula Glia, cuja função é auxiliar e dar sustentação a função do
neurônio, um dos tipos de célula Glia é o Schwann, que é responsável por isolar os
neurônios, formando assim a bainha de mielina, a qual é uma substância gordurosa
capaz de fazer o axônio transmitir mensagens com maior rapidez, permitindo a
concentração de informações.

A partir destas colocações considera-se que o neurônio trabalha em um


sistema de cooperação, e não em um sistema isolado. A cada nova experiência, o
cérebro se modifica, pois é principalmente a interação do ser humano com o meio que
aumenta as sinapses nervosas através dos neurônios, essas experiências provocam
mudanças constantes no cérebro, a qual é chamada de plasticidade, ou seja,
capacidade de adaptar-se.

De acordo com Cosenza e Guerra (2011, p.13):

um neurônio pode disparar impulsos seguidamente, dezena de vezes por


segundo. Mas a informação, para ser transmitida para outra célula, depende
de uma estrutura que ocorre geralmente nas porções finais do prolongamento
neural que leva o nome de axônio. Esses locais onde ocorre a passagem da
informação entre as células, são denominadas sinapses, e a comunicação
são feita pela liberação de uma substancia química, um neurotransmissor.

Os autores apontam que existem dezenas de neurotransmissores atuando em


nosso cérebro, e que estes podem excitar ou inibir a produção de sinapses, pois

211
existem neurotransmissores excitatórios e inibitórios. (COSENZA E GUERRA, 2011).
Portanto, a figura a seguir nos auxilia na compreensão da formação de um neurônio.

Oliva, Dias e Reis (2008) reiteram que nossos comportamentos, pensamentos


e sentimentos são possibilitados pelas sinapses que surgem durante todo o
desenvolvimento através da plasticidade que é ativada, principalmente, através das
experiências vivenciadas. Essa estimulação ambiental muda o curso de nossa vida,
estimulando nosso cérebro à longevidade sadia.

Relvas (2009, p. 40) mais uma vez vem de encontro com a escrita e dialoga
afirmando que:

Um neurônio pode receber ou enviar entre 1.000 a 100.000 conexões


sinápticas em relação a outros neurônios, dependendo do seu tipo e
localização no sistema nervoso. O número e a qualidade de sinapses em um
neurônio podem variar, entre outros fatores, pela experiência e
aprendizagem, demonstrando a capacidade plástica do Sistema Nervoso.

Para auxiliar na explicação, Cosenza e Guerra (2011, p.13) apontam que “um
neurônio normalmente pode estabelecer sinapses com centenas de outros neurônios,
ao mesmo tempo em que recebe informações vindas de outras centenas de células”.

Após entender o funcionamento dos neurônios e seu conjunto de células, pode-


se considerar que a plasticidade não está presente apenas no desenvolvimento do
cérebro normal ou como resposta à experiência, pois também ocorre em reação a
uma lesão cerebral, na tentativa de reorganização do SNC.

Desta forma, dados da neurociência apontam que quanto mais precoce for a
lesão, ou seja, ainda na infância, o cérebro lesado tem maior capacidade de
regeneração devido a maior plasticidade em cérebros “novos”, quando as funções
neurais são limitadas, por consequência de alguma lesão, os neurônios podem se
adaptar e assumir outras funções, regenerando suas células e criando novas
conexões sinápticas.

A plasticidade neural pode ser considerada compensatória, Lent (2010)


discorre sobre a plasticidade maléfica e a plasticidade benéfica. A maléfica apresenta
evidências que a plasticidade pode ser danosa ao indivíduo, pois ao perder um
membro do corpo o cérebro recorda e faz sentir o membro, isso é definido como dor
fantasma do membro ausente, o que é considerado causa de sofrimento.

Já a plasticidade benéfica pode ser compreendida como a adaptabilidade a


uma função ausente, por exemplo, um indivíduo que perdeu a visão desenvolve outros
sentidos mais aguçados que o auxiliam na compreensão do mundo, que é o caso da
audição e do sistema tátil apurado, o que permite a compreensão e velocidade na
leitura braile.

212
O estudo relacionado à neurociência, com ênfase na plasticidade neural, nos
intriga a investigar o funcionamento da vida cerebral, sendo que estes estudos terão
respaldo principalmente no trabalho pedagógico e interdisciplinar nas escolas, isso
acontecerá quando o educador entender que o educando é um ser integral, e que
principalmente é mutável de acordo com as novas experiências vivenciadas.

O olhar sensível e holístico, sobre o todo, proporcionará resultados positivos no


processo de ensino aprendizagem, considerando que o cérebro é altamente plástico,
ou seja, está sempre preparado para novas aprendizagens, desta forma será
abordado a seguir, aspectos que contribuem para o desenvolvimento sadio do SNC.

[...]

FONTE: WELTER, Maria Preis; BONI, Marina. NEUROCIÊNCIA COGNITIVA


E PLASTICIDADE NEURAL:UM CAMINHO A SER DESCOBERTO. Disponível <
http://eventos.seifai.edu.br/eventosfai_dados/artigos/semic2016/391.pdf> acessado
25/05/19

213
ANEXO IV

CRONOLOGIA DA HISTÓRIA DA NEUROCIÊNCIA

O cérebro é o último órgão humano a revelar seus segredos. Durante muito tempo, as
pessoas não entendiam nem mesmo para que serve o cérebro. A descoberta da
anatomia, das funções e dos processos do cérebro tem sido uma longa e vagarosa
viagem através dos milênios.

Exploração do cérebro:

O cérebro é difícil de ser investigado porque suas estruturas são minúsculas e seu
funcionamento não pode ser observado a olho nu. Seu produto mais interessante – a
consciência – não era percebido como um processo físico; por tanto, não havia razões
para que nossos ancestrais a relacionassem ao cérebro. Mas, nos últimos 25 anos
com o advento das técnicas de imageamento, os neurocientistas conseguiram
produzir um mapa detalhado do que já foi um território inteiramente misterioso.

Cronologia:

1) 4000 a.C: Sumérios escrevem sobre a euforia provocada pela semente de


papoula.
2) 2500 a.C: A trepanação (abertura de orifícios do crânio) era um procedimento
cirúrgico comum em diversas culturas. Possivelmente era usado para tratar
transtornos cerebrais, como a epilepsia ou por razões rituais ou espirituais.
3) 1700 a.C: Papiros descrevem detalhadamente o cérebro, mas os egípcios não o
tem em alta conta; diferentemente de outros órgãos, era removido e descartado
antes da mumificação, indicando que não se acreditava que seria útil nas
encarnações seguintes.
4) 450 a.C: Os gregos antigos começam a reconhecer o cérebro como centro das
sensações humanas.
5) 387 a.C: O filosofo grego Platão dá aulas em Athenas; ele acredita que o cérebro
é o centro dos processos mentais.
6) 335 a.C: O filosofo grego Aristóteles reitera a crença antiga de que o coração é o
órgão superior; o cérebro, diz ele, é um radiador que impede o superaquecimento
do corpo.
7) 170 a.C: O médico romano Galena lança a teoria de que o temperamento e o
caráter humanos são decorrentes do quatro “humores” (líquidos mantidos nos
ventrículos do cérebro). A ideia persistiu por mais de 1000 anos. A descrições de

214
anatomia de Galeno, usadas por gerações de médicos, tiveram como base
principal em macacos e porcos.
8) 1543: Andreas Versalius, medico europeu publica o primeiro livro de anatomia
(moderno) com ilustrações detalhadas do cérebro humano.
9) 1649: Para o filosofo francês Renê Descartes, o cérebro é um sistema hidráulico
que controla o comportamento. Funções mentais “mais elevadas” seriam geradas
por uma entidade espiritual, que interagiria com o corpo e a glândula pineal.
10) 1664: Médico de Oxford, Thomas Willis, publica o primeiro atlas do cérebro,
localizando as diversas funções nos diferentes “módulos” do órgão.
11) 1774: O médico alemão Franz Anton Mesme introduz “Magnetismo animal”, mais
tarde chamado de hipnose.
12) 1791: Luiz Galvani, físico italiano descobre a base elétrica da atividade nervosa
fazendo a perna de uma rã se retorcer.
13) 1848: Phineas Gage tem o cérebro perfurado por uma barra de ferro.
14) 1849: O físico alemão Hermann Von Helmeholtz mede a velocidade da condução
nervosa e subsequentemente desenvolve a ideia de que a percepção depende de
“inferências inconscientes”.
15) 1850: Franz Joseph Gall funda a frenologia que atribui diferentes traços de
personalidade a áreas especificas do crânio.
16) 1859: Charles Darwin publica a origem das espécies.
17) 1862 – 1874: Broca e Wernicke descobrem as duas áreas principais da linguagem
no cérebro.
18) 1873: O cientista italiano Camilo Golgi publica o método do nitrato de prata,
possibilitando a observação completa dos nervos. Ganha o Prêmio Nobel de 1906.
19) 1874: Carl Wernicke publica o seu trabalho sobre afasia “distúrbios de linguagem
após lesão cerebral.”
20) 1889: Santiago Ramón y Cajal, em A doutrina do neurônio, propõe que os
neurônios são elementos independentes e unidades básicas do cérebro. Divide o
Prêmio Nobel de 1906 com Camilo Golgi.
21) Por volta de 1900 Sigmund Freud abandona a neurologia ainda no início para
estudar psicodinâmica. O sucesso da psicanálise freudiana ofuscou a psiquiatria
fisiológica por meio século.
22) 1906: Santiago Ramón y Cajal descrevem como os neurônios se comunicam.
Ainda em 1906 Alóis Alzheimer descreve a degeneração pré-senil.
23) 1909: Korbinian Broadman descreve as 52 áreas corticais distintas com base na
estrutura neural. Essas áreas são utilizadas até hoje.
24) 1914: O fisiologista britânico Henry Hallett Dale isola a acetilcolina o primeiro
neurotransmissor descoberto. Ganha o primeiro Prêmio Nobel em 1936.
25) 1919: O neurologista irlandês Gordon Morgan Holmes relaciona a visão com a
córtex estriado (a córtex visual primário).
26) 1924: Os primeiros eletroencefalogramas (ECG) são desenvolvidos por Hans
Berger.

215
27) 1934: O neurologista português Egas Moniz executa a primeira operação de
leucotomia (conhecida como mais tarde por lobotomia). Ele também inventou a
angiografia, uma das primeiras técnicas que captava a imagem do cérebro.
28) 1953: Brenda Milner descreve o paciente H.M que perde a memória após remoção
cirúrgica de porção da ambos os lobos temporais.
29) 1957: W.Penfield e T.Rasmussen concebem os “homúnculos motor e sensorial”.
30) 1970-80: Desenvolve-se a tecnologia de escaneamento do cérebro. Durante essa
década surgem o PET SCAN o SPECT o IRM e o MEG.
31) 1981: Roger Wolcott Sperry ganha o Prêmio Nobel pelo estudo das diferentes
funções nos dois hemisférios cerebrais.
32) 1983: Benjamin Libert escrever sobre a determinação do (“timing”) da volição
consciente.
33) 1992: Os neurônios espelho são descobertos por Giacomo Rizzolatti em Parma.
34) 2009: A exploração prossegue e os grupos de pesquisa avançam continuamente
para um entendimento maior.

Marcos da neurociência:

A maior parte do que sabemos do cérebro provém da pesquisa lenta e meticulosa de


grandes grupos de pessoas, mas a neurociência é pontuada por grandes descobertas
ou ideias em geral surgidas a partir de um trabalho de um único cientista. Algumas
provaram mais tarde serem inovações valiosas.

a) Frenologia - Franz Joseph Gall

Gall acreditava que a personalidade poderia ser verificada apalpando-se o


contorno do crânio. Segundo essa teoria, das diversas faculdades humanas
localizadas no cérebro, as mais fortes eram as mais protuberantes, possibilitando a
medição das saliências do crânio. A teoria foi muito popular no século XIX - quase
todas as cidades tinham um instituto de frenologia, embora absurda no conjunto, a
ideia de Gall acabou se tornando uma grande verdade. Técnicas de imageamento
destinadas a localizar as funções cerebrais são frequentemente chamadas de
frenologia moderna.

Cabeça frenológica: Dizia-se que modelos como este mostravam as protuberâncias


do crânio que revelavam o caráter de uma pessoa. As categorias incluam "suavidade"
ou "benevolência".

b) O homem que se perdeu - Phineas Gage

216
Este educado e benquisto supervisor de obras ferrovias americano passou por
uma transformação, tornando-se agressivo e desrespeitoso depois que teve parte do
cérebro destruída em um acidente. O estudo deste paciente demonstrou que
faculdades como o juízo moral e social podem estar localizados no lobos frontais.

Lesão Fatídica: As lesões no crânio de Phineas Gage mostram como a barra de ferro
lesionou os lobos frontais.

c) O caso “Tan” - Áreas da linguagem - Broca e Wernicke

Em 1861, o médico francês Paul Broca descreveu o caso de um paciente que


chamou de "Tan", pois essa era a única palavra que ele falava. Quando Tan morreu,
Broca examinou seu cérebro e descobriu uma lesão na porção interior do córtex frontal
esquerdo. Essa parte do cérebro passou a se chamada "Área de Broca". Em 1876 o
neurologista alemão Carl Wernicke descobriu que a lesão na porção posterior do lobo
temporal do hemistério cerebral esquerdo, a Área de Wernicke, também causava
problemas de linguagem. Os dois cientistas foram os primeiros a definir com clareza
áreas funcionais do cérebro.

d) Primeiros implantes cerebrais - José Delgado

O neurologista espanhol José Delgado inventou um implante cerebral que podia


ser controlado remotamente por ondas de rádio. Numa famosa experiência, realizada
em 1964. Delgado enfrentou um touro fazendo com que ele parasse ativando o
implante no cérebro do animal. Em outras experiências colocou o dispositivo no
cérebro de um chimpanzé que intimidava um companheiro. Delgado colocou o
controle na gaiola do chimpanzé- vítima, que o usou para "desligar" o mau
comportamento do outro.

e) Mapeando o cérebro - Wilder Penfield

Os primeiros mapas detalhados da função cerebral humana foram feitos pelo


neurocirurgião canadense Wilder Penfield. Ele trabalhou com paciente submetidos a
cirurgia para o controle de epilepsia. Enquanto o cérebro estava exposto e o paciente
consciente, Penfield investigava o córtex com um eletrodo e observava a resposta do
paciente enquanto tocava em cada uma das partes. O trabalho de Penfield foi o
primeiro a revelar o papel do lobo temporal na memória e a mapear as áreas do córtex
que controlam o movimento e fornecem as sensações ao corpo.

217
f) Lobotomia - Egas Moniz

As primeiras lobotomias foram executadas na década de 1980, mas realizada


em larga escala somente a partir dos anos 1950 quando o neurologista português
Egas Moniz descobre que a interrupção dos nervos que vão do córtex frontal ao
tálamo aliviava os sintomas psicóticos em alguns de seus pacientes. O trabalho de
Muniz foi aproveitado pelo cirurgião americano Walter Freedman, que inventou a
"lobotomia com o furador de gelo". Entre a década de 1936 e 1950, ele defendia o uso
da lobotomia como cura para uma série de problemas entre 40 mil e 50 mil pacientes
foram submetidos a ela. A operação foi usada de maneira indiscriminada e hoje em
dia é considerada um processo ultrapassado. Em muitos casos ela, no entanto, ela
amenizou o sofrimento; o acompanhamento de pacientes submetidos à lobotomia na
Grã-Bretanha mostrou que 41% estavam "recuperados" ou tinham "melhorado
bastante", 28% "haviam melhorado minimamente", 25% "não apresentaram
mudanças", 4% morreram e 2% pioraram.

g) Formação da memória - Henry G. Molaison

Em 1953, aos 27 anos "HM" foi submetido a uma cirurgia nos EUA para tratar de
uma epilepsia grave. Os cirurgiões, que na época desconheciam as funções do
hipocampo, retiraram uma grande parte dele. O paciente se tornou incapaz de formar
novas memórias até o fim da vida. Esse acidente trágico demonstrou o papel crucial
do hipocampo na memória. Henry G. Molaison - geralmente conhecido apenas como
"HM" - foi um dos pacientes mais estudados na história da medicina moderna.

h) Experiências com o cérebro bipartido - Roger Sperry

O neurobiólogo Roger Sperry conduziu as experiências do cérebro bipartido em


pessoas cujo os hemisférios foram separados cirurgicamente durante o tratamento
para epilepsia. Elas demonstraram que sob determinadas condições, cada hemisfério
pode abrigar pensamentos e intensões diferentes. Isso suscitou a profunda questão
sobre ser uma única pessoa, ter um único "eu". O cientista recebeu o Prêmio Nobel
de 1981.

i) Decisões conscientes - Benjamin Libet

Uma série de experiências geniais desenvolvidas pelo neurocientista americano


Benjamin Libet no começo da década de 1980 demonstrou que o que pensamos
serem atos de 'decisões" conscientes são, na verdade, apenas o reconhecimento do
que o cérebro inconsciente já está fazendo. As experiências de Libet têm profundas

218
implicações filosóficas, porque os resultados sugerem que não temos uma escolha
consciente sobre o que faremos e, portanto, não temos livre arbítrio.

j) Neurônios-espelho - Giacomo Rizzolatti

Os neurônios-espelhos foram descobertos por um grupo de pesquisadores da


Itália, liderados por Giacomo Rizzolatti, monitoravam a atividade neural no cérebro de
macacos que faziam movimento de se esticar. Um dia, um pesquisador
inadvertidamente imitou o movimento do macaco enquanto este o observava e
descobriu que a atividade neural no cérebro do macaco deflagrava em resposta à
visão era idêntica à atividade ocorrida quando o macaco fazia a ação. Alguns
estudiosos acreditam que os neurônios-espelho sejam a base da teoria da mente, da
imitação e da empatia.

Os neurônios-espelho provocam o mimetismo automático ao produzir no cérebro


do observador um estado similar ao da pessoa que ele está observando.

Referências Bibliográficas in http://bio-neuro-psicologia.usuarios.rdc.puc-rio.br/a-


hist%C3%B3ria-da-neuroci%C3%AAncia.html acesso em 18 de maio de 2019.

MORAES, Alberto Parahyba Quartim de - O Livro do cérebro. Vol 1. São Paulo. SP,
Editora Duetto - 2009. Pp. 8-11.

219
ANEXO V

Leia o Anexo IV e baixe o conteúdo completo.

Artigos de Revisão: MEMÓRIA DE LONGO PRAZO: MECANISMOS


NEUROFISIOLÓGICOS DE FORMAÇÃO de Gustavo Camargo Silvério & Renata
Menezes Rosat in Revista Médica de Minas Gerais rmmg.org > exportar-pdf
file:///C:/Users/coordena%C3%A7%C3%A3o/Downloads/v16n4a10.pdf

NEUROCIÊNCIA DA APRENDIZAGEM

A aprendizagem ocorre em diversos animais e é crucial para a sobrevivência.


Aprender como procurar alimentos ou a afastar-se de algo nocivo permite a
perpetuação da espécie. Em humanos, a aprendizagem inclui procedimentos, como a
habilidade de andar de bicicleta, nadar (memória procedural); trajetórias, como
aprender rotas, caminhos (memória espacial e perceptiva); aprender a classificar e
organizar (memória declarativa semântica); realizar procedimentos não automáticos,
como fazer uma receita culinária (memória declarativa episódica, que inclui
lembranças de fatos). Como vemos, os diferentes tipos de aprendizagem estão
relacionados com tipos de memórias, como veremos adiante nesse tópico.

[...]

O QUE É A MEMÓRIA?

Segundo Guyton & Hall, a memória pode ser definida fisiologicamente da


seguinte forma:

“Fisiologicamente, memórias são armazenadas no cérebro pela mudança da


sensibilidade básica da transmissão sináptica entre neurônios, como
resultado da atividade neural prévia. As vias novas ou facilitadas são
chamadas de traços de memória. Eles são importantes porque uma vez que
os traços são estabelecidos, eles podem ser seletivamente ativados pelos
processos mentais para reproduzir as memórias”.

De acordo com Squire, temos principalmente dois sistemas de memória: a


memória declarativa (explícita) que é armazenada no lobo temporal medial e no
hipocampo; e a memória não declarativa (implícita), que é armazenada no cerebelo,
estriatum e amígdalas. Temos quatro tipos de memória não declarativa:

220
 priming, que é a memória relacionada ao reconhecimento de palavras,
ocorre no neocórtex;
 procedural, que está relacionada a procedimentos motores, como quando
andamos de bicicleta ou dirigimos, acontece no estriatum;
 associativa, que está relacionada aos condicionamentos e depende da
amígdala ou do cerebelo quando é exclusiva mente motora;
 e não associativa, que inclui a habituação e sensibilização e depende de
várias vias reflexas.

A aprendizagem formal escolar está relacionada com o sistema da


memória declarativa, que inclui fatos, eventos, lugares, objetos, aquela memória
presente no consciente, que se pode declarar.

A memória declarativa pode ser classificada como episódica, referente a


percepção, sensações e sequência de fatos, também pode ser a memória de
lembranças; ou como semântica, com organização e hierarquização de informações,
por exemplo, saber que Paris é a capital da França, mais relacionada ao conhecimento
formal.

Segundo Squire, enquanto o conteúdo da aprendizagem está relacionado à


memória declarativa, o hábito de estudo e a habilidade de aprender fazem parte
da memória não declarativa (inconsciente).

Na memória não declarativa as experiências modificam comportamentos, mas


não requerem nenhuma memória consciente. A memória trata-se de uma facilitação
de uma via neural, que reproduz uma percepção, seja visual, auditiva, tátil, olfativa ou
integrativa. A memória pode ser de curto, de médio e de longo prazo.

Podemos descrever o processo da memória como facilitação, solidificação e,


por fim, evocação da memória. A primeira etapa está relacionada com a memória de
curto prazo, também chamada de traços de memória, depois com a formação da
memória de médio e longo prazo e, finalmente, com a capacidade de resgatar de-
terminada informação guardada na memória.

A memória é acessada quando o cérebro repete o mesmo estado de atividade


cerebral, presente no estado original quando um dado é percebido, uma imagem, um
som, um cheiro ou uma informação. Áreas do hipocampo e córtex entorrinal participam
desse processo.

A formação da memória de longo prazo está intimamente ligada à


aprendizagem e tem sido uma das grandes perguntas da Neurociência. Barrett et al.
explicam a formação da memória em termos de plasticidade neural.

[...]

221
PLASTICIDADE NEURAL E APRENDIZAGEM

A transformação da memória de curto prazo em memória de longo prazo está


ligada à alteração da força de conexões sinápticas específicas, que envolve
transdução de sinal, alteração dos canais iônicos da membrana plasmática dos
neurônios e ativação de genes e síntese proteica.

A formação da memória pode ocorrer quando determinada via neural é


facilitada ou formada. Isso é realizado pela potenciação de longo prazo (LTP). Quando
ocorre o oposto, ou seja, quando a força sináptica de uma via neural é diminuída, os
estímulos externos deixam de provocar uma resposta. Este é o caso da habituação,
que ocorre pela depressão de longo prazo (LTD).

[...]

Nosso cérebro tem uma enorme capacidade de adaptação e reorganização,


muito ainda não se sabe, mas, as pesquisas apontam o quanto podemos auxiliar
nossas crianças no processo de aprender por intermédio de estímulos e ambiente
estimuladores.

222
ANEXO VI

A RELAÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM NA TEORIA DE PIAGET

Piaget (1964/2014) estrutura sua explicação do desenvolvimento cognitivo e


afetivo fundado na ação impulsionada por um motivo, que se traduz sempre sob a
forma de uma necessidade que manifesta uma situação de um desequilíbrio. Aqui,
cabe introduzir as noções de Esquema, Assimilação e Acomodação. Os Esquemas
são estruturas mentais referentes a um todo organizado, estando relacionados com
uma estrutura cognitiva específica. A Assimilação concerne à capacidade de o sujeito
incorporar objetos da cognição à sua estrutura cognitiva. A Acomodação concerne ao
reajustamento ocorrido na estrutura de modo a poder incorporar o novo objeto. O
equilíbrio entre a assimilação e a acomodação recebe o nome de equilibração. Em
todo processo de interação do sujeito com o objeto, os processos de Assimilação e
Acomodação se encontram presentes, ora com a predominância de um, ora com a
predominância de outro.

Os esquemas possuem uma plasticidade dinâmica, adaptando-se à realidade


de maneira a poder assimilá-la. Diante de uma situação externa, ocorre a aplicação
do esquema, isto é, a ação assimiladora do sujeito inicia um ciclo de ações sobre o
objeto. Se o esquema conseguir incorporar o novo objeto à estrutura previamente
existente ocorre a manutenção da situação atual. Mas se o esquema não conseguir
incorporar o novo objeto frente ao qual o sujeito se encontra então o sujeito está diante
de um desequilíbrio. Essa situação se coloca quando o referido ciclo de ações do
sujeito sobre o objeto for seguido de ações de retorno, do objeto sobre o sujeito
(Becker, 2014).

A função do objeto, no processo de construção das competências cognitivas, é


desequilibrar o sujeito (Becker, 2014). O fracasso da ação desencadeia a tomada de
consciência, com o sujeito procurando os pontos em que houve falha da adaptação
do esquema de assimilação ao objeto. Intervém, nesse caso, o mecanismo de
regulação. Sobre as regulações e a tomada de consciência, para Piaget, regular é
manter, modificar ou variar a ação seguinte em função dos resultados da ação
anterior. Há dois tipos de regulação: automática e ativa. São as regulações ativas que
provocam a tomada de consciência. O sujeito, diante da resistência do objeto, efetua

223
modificações em seus esquemas assimiladores “para dar conta da nova ação que
sentiu ser insuficiente. Um novo ciclo de ações pode ser inaugurado se o sujeito
resolver continuar e voltar a agir sobre o objeto, agora com capacidade de assimilação
melhorada” (Becker, 2014, p. 110-11) (equilibração majorante).

Como resultado, temos um sujeito mais capaz. “As novas construções resultam
das ações do sujeito em resposta às resistências do objeto” (Becker, 2014, p. 111).
Desse modo, o desequilíbrio pode ser majorante ou não. Por desequilíbrio majorante
Piaget define o desequilíbrio que leva o sujeito a um processo de acomodação da
estrutura cognitiva. Ocorre a modificação dos Esquemas de Assimilação de maneira
a assimilar o novo objeto, mas se o objeto está muito longe das possibilidades de
assimilação dos Esquemas atuais, ocorre um desequilíbrio que não é majorante.
Nesse caso, o sujeito nega o objeto ou o ignora, ocorrendo então a manutenção da
situação atual. Ademais, o próprio processo assimilador também faz intervir o
mecanismo de regulação, desencadeando a tomada de consciência.

[...]

A relação entre desenvolvimento e aprendizagem em Vygotsky

A Psicologia Histórico-Cultural, que tem em Vygotsky o seu iniciador e um de


seus principais representantes, aborda o desenvolvimento psicológico da criança
como fenômeno histórico intimamente ligado às condições objetivas da organização
social, sendo fundamentais a consideração do lugar ocupado pela criança nas
relações sociais e as condições históricas concretas nas quais é desenrolado o seu
desenvolvimento (Pasqualini, 2009). Vygotsky argumenta, pois, que tal
desenvolvimento não é determinado por leis naturais de caráter universal.

Desse modo, Vygotsky (1995) evidencia a subordinação dos processos


biológicos ao desenvolvimento cultural. Tal relação entre o plano biológico e o plano
cultural é delineada em termos de uma diferenciação das funções psicológicas
elementares, funções comuns a homens e animais, tais como a atenção e a memória
involuntárias, das funções psicológicas superiores, funções exclusivamente humanas
que possuem gênese fundamentalmente cultural e não biológica, tais como a atenção
voluntária e o pensamento abstrato. O que permite a compreensão do
desenvolvimento das funções psicológicas superiores é o conceito de mediação.

A relação do homem com o mundo físico e social é sempre mediada, o que a


torna mais complexa. Esses elementos mediadores são de naturezas distintas e
referem-se ao uso de instrumentos e de signos. O desenvolvimento dessas funções
ocorre a partir do uso de signos que são instrumentos especificamente humanos, isto
é, mediadores de natureza psicológica que tornam as ações humanas mais
complexas e sofisticadas, produzindo novas relações com o ambiente e uma nova
organização do próprio comportamento. Como exemplo, a utilização de objetos para
contagem.

224
Para Vygotsky (1995), toda função no desenvolvimento cultural da criança
aparece duas vezes, em dois planos; primeiro no plano social (categoria
interpsíquica), e depois no psicológico (categoria intrapsíquica). Essa análise de
Vygotsky traz implicações diretas para o ensino, na própria medida em que ressalta a
dependência do desenvolvimento psicológico da criança em relação aos processos
educativos. Ao concluir que as funções psicológicas superiores têm gênese
fundamentalmente cultural e não biológica, aparece como evidente a necessidade de
o ensino não basear-se na expectativa da maturação espontânea de tais funções e
nem tomar tal maturação como condição prévia para as aprendizagens.

[...]

Fonte: CORRÊA, Crístia Rosineiri Gonçalves Lopes. A relação entre


desenvolvimento humano e aprendizagem: perspectivas teóricas.
http://www.scielo.br/pdf/pee/v21n3/2175-3539-pee-21-03-379.pdf acessado 25/05/19

225
ANEXO VII

AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO DA DISORTOGRAFIA BASEADA NA


SEMIOLOGIA DOS ERROS: REVISÃO DA LITERATURA

BATISTA, Andrea Oliveira; CAPELLINI, Simone Aparecida; CUNHA, Vera


Lúcia Orlandi; FERNANDEZ, Amparo Ygual; MÉRIDA, José Francisco Cervera;

[...]

Disortografia, portanto, compreende um padrão de escrita que foge às regras


ortográficas estabelecidas convencionalmente, que regem determinada língua. Os
escolares que começam a alfabetização com dificuldade para a aprendizagem da
ortografia provavelmente chegarão ao final do ensino fundamental com dificuldades
ortográficas.

Isso provocaria um impacto negativo para o desempenho acadêmico geral, pois


ler e escrever, enquanto processos de decodificação ou grafo fonêmico e de
codificação ou fonografêmico, ou seja, o reconhecimento das letras e os valores
atribuídos aos grafemas no reconhecimento das palavras e a possibilidade de
codificá-los, não são os únicos, nem os objetivos centrais da alfabetização, porém são
necessários para toda aprendizagem acadêmica futura sem os quais ocorreria um
atraso na aquisição de conhecimentos na maioria das áreas do currículo

A disortografia quando não está associada ao quadro de dislexia do


desenvolvimento ou distúrbio de aprendizagem é rara, entretanto, muitos escolares
apresentam alterações na escrita em decorrência de a escola não enfatizar o ensino
da ortografia pela frágil fundamentação teórica e prática de seus educadores.

Muitos alunos têm na escola sua principal fonte de contato com a linguagem
escrita e, considerando que muitas metodologias atuais de alfabetização não utilizam
procedimentos de correção e ensino eficazes da escrita, estas acabam por manter os
alunos em situação de desconhecimento da ortografia

A disortografia é a escrita incorreta, com erros e substituições de grafemas,


alteração atribuída às dificuldades no mecanismo de conversão letra-som que

226
interferem nas funções auditivas superiores e nas habilidades linguístico-perceptivas
A disortografia é parte do quadro da dislexia do desenvolvimento.

As crianças que apresentam dislexia do desenvolvimento possuem o sistema


fonológico deficiente, ocasionando alterações na conversão letra-som. Assim, a
correspondência letra-som não consegue ser armazenada provocando leitura e
escrita lenta, confusão entre palavras similares tanto na leitura como na escrita e
alteração na compreensão da leitura e escrita ineficiente.

[...]

A avaliação e a intervenção na disortografia devem ser centradas na base do


sistema de escrita da língua materna. Assim, antes do início da investigação clínica e
educacional, professores e terapeutas devem conhecer o sistema de escrita da Língua
Portuguesa, ou seja, saber que esse sistema conta com um alfabeto composto de 26
letras, que, isoladas ou combinadas e com os diacríticos, marcas, sinais como acentos
gráficos, til e cedilha, representam os fonemas.

Assim, enquanto existe uma variedade muito grande de sons, só existem letras
para representar a língua portuguesa escrita

Fonte. BATISTA, Andrea Oliveira; CAPELLINI, Simone Aparecida; CUNHA,


Vera Lúcia Orlandi; FERNANDEZ, Amparo Ygual; MÉRIDA, José Francisco
Cervera. Avaliação e Intervenção da Disortografia Baseada na Semiologia dos
Erros: Revisão da Literatura. Disponível< http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v12n3/196-
09> acessado 12/06/2019.

227
ANEXO VIII

DISLEXIA E DISGRAFIA: DIFICULDADES NA LINGUAGEM.

CALDEIRA; Elisabeth; CUMIOTTO, Dulce Maria Lázzaris de Oliveira.

[...]

Disgrafia - um distúrbio na linguagem escrita

É visível a grande quantidade de estudos e pesquisas dedicados à leitura, ao


mesmo tempo em que o processo de escrita vem sendo negligenciado por parte de
alguns profissionais da educação.

As pesquisas que têm sido realizadas sobre a escrita, focalizam a nossa


capacidade de produzir uma cadeia de letras, a qual identificamos pelo nome de
ortografia.

No momento em que falamos ou escrevemos um texto casual, temos a


liberdade de nos expressar de maneira diferente daquela utilizada na escrita típica,
que por sua vez é mais complexa, formal e explícita. Quaisquer que sejam esses
processos utilizamos em ambos uma altíssima carga mental para organizarmos
nossas ideias.

Isso vem comprovar que tanto a fala quanto a escrita utilizam diferentes formas
gramaticais, mas as duas compartilham de processos comuns, como a construção e
o planejamento inicial da frase, destaca Ellis.

Outro fator que difere a leitura da escrita refere-se à articulação dos fonemas
(sons das letras) e a produção das letras respectivamente, ou seja, quando estamos
aprendendo a escrever, o domínio envolvido no idioma escrito é o formal, o que
comprova um desconforto no momento de nos expressarmos através da escrita,
promovendo com isso os "erros" que, anteriormente à invenção da imprensa e do
dicionário, eram aceitos normalmente, mesmo porque estas escritas comunicavam o
som das palavras sem nenhum problema.

228
Conforme Ellis, para a escrita também existe um modelo funcional apropriado
ao armazenamento lexical (conjunto das palavras usadas) dedicados à ortografia das
palavras familiares, reconhecido pelo nome de "léxico de produção dos grafemas".

Léxico de Input Visual: espécie de depósito mental contendo as


representações das formas escritas de todas as palavras familiares.

Sistema Semântico: produz o significado da palavra que está sendo lida.

Léxico da produção da fala: acesso às pronúncias das palavras.

Léxico de Produção dos grafemas: retém a ortografia das palavras


familiares.

Nível do Fonema: armazena, em curto prazo, os fonemas, mantendo-os em


intervalos entre o resgate do léxico de produção da fala e a articulação.

Nível do Grafema: armazena, em curto prazo, a ortografia de uma palavra


entre a recuperação e a execução, retendo também a última porção da palavra,
enquanto a primeira está sendo escrita.

Faz-se necessário também, analisar estes significados através do diagrama


funcional da linguagem escrita. (Figura 92).

229
Tanto quanto no diagrama da leitura, o mesmo se dá para a escrita, ou seja, o
reconhecimento das palavras se dá através de diferentes subsistemas cognitivos
independentes uns dos outros e nomeados como "módulos".

No caso de existirem erros na escrita pelo fato do escritor desconhecer a


ortografia correta de uma palavra, ou quando ocorrer um lapso momentâneo,
impedindo-o de escrever, mesmo quando souber a forma exata, há uma interrupção
no funcionamento do modelo ortográfico.

[...]

Fonte: CALDEIRA; Elisabeth; CUMIOTTO, Dulce Maria Lázzaris de Oliveira.


Dislexia e disgrafia: dificuldades na linguagem. Disponível <
http://www.revistapsicopedagogia.com.br/detalhes/356/dislexia-e-disgrafia--
dificuldades-na-linguagem> acessado em 15/06/19.

230
ANEXO IX

(Vide anexo IX ao final deste Livro-Texto)

Desenvolvimento sexual e cognitivo das portadoras da síndrome de


Turner

FERREIRA, Leonardo de Miranda, PIRES, Emmy Uehara; WANDERLEY,


Carla Araújo Popoire et al.

[...]

Etiologia

A Síndrome de Turner é uma anomalia genética decorrente da ausência ou


deficiência de um dos cromossomos sexuais. Na maioria dos casos, as portadoras
apresentam cariótipo 45X, sem um segundo cromossomo sexual, X ou Y (Hibi e
Takano, 1993; Thompson, 1991).

Uma vez que o número diploide humano normal é de 46 cromossomos,


mudanças no número cromossomial representam aneuploidias ou poliploidias. A ST
é um exemplo de uma aneuploidia cromossômica, que costuma ser atestada no
nascimento ou antes da puberdade, por causa das suas especificidades fenotípicas
distintas.

A principal causa da aneuploidia é a não disjunção durante a divisão celular,


resultando na distribuição desigual de um par de cromossomos homólogos para as
células filhas, uma célula detém um cromossomo e a outra não tem nenhum dos
membros do par (Moore, 2001), com isso, cerca de 99% dos fetos com cariótipo 45X
são abortados espontaneamente (Connor e Ferguson-Smith, 1987) e apenas um em
cada 50 zigotos com essa síndrome chega ao nascimento (Motta, 1993).

A constituição cromossômica mais frequente é 45,X porém, 50% dos casos


possuem outros cariótipos (Hibi e Takano, 1993; Hook e Warburton, 1983). Pode se
manifestar em mosaicos, de 30 a 40% dos casos, ou em outras alterações estruturais
no segundo cromossoma X.

231
Em mosaicos (45X/ 46XX) encontra-se a presença de cromatina sexual,
estando ausente em indivíduos de cariótipo 45X (Otto, 1984). A provável falha
genética responsável pela gênese de um indivíduo 45X resulta de perda
cromossômica durante a gametogênese em qualquer dos genitores, ou de um erro
mitótico durante uma das divisões de clivagem do zigoto fertilizado.

Alguns sinais somáticos como baixa estatura, entre outros, são resultado da
perda de material genético, no ramo curto do cromossoma X. E quando o material
genético falha, no ramo curto ou longo do X, gônadas estriadas surgem (Motta, 1993).

A monossomia 45X é o cariótipo mais frequente e apresenta-se como o fenótipo


evidenciado, enquanto que as pacientes com Turner com mosaico normalmente
apresentam fenótipo menos severo, e cerca de 40% destas iniciam a puberdade
espontaneamente antes de desenvolver hipogonadismo.

Mulheres com cariótipos 45X/46 XY possuem o risco maior de desenvolver


gonadoblastoma e uma minoria apresenta masculinização (Verreschi et al., 1999).
Além disso, o braço longo do cromossomo X (Xq) está associado com distúrbios
autoimune, hipotireoidismo e doença de Crohn (Conway, 2002).

Existe ainda uma incidência de sindrômicas com hipertrofia de clitóris onde,


nesses casos, verifica-se um fragmento não identificado do que seria um
cromossomo, além do X, considerado como Y anormal. Desta forma, o cariótipo das
mulheres na síndrome apresenta-se, muitas vezes, como 46 XX enquanto do homem
caracteriza-se por 46 XY (Hibi e Takano, 1993; Grumbach e Conte, 1992).

[...]

Fonte: FERREIRA, Leonardo de Miranda, PIRES, Emmy Uehara; ANDERLEY,


Carla Araújo Popoire et al. Desenvolvimento sexual e cognitivo das portadoras da
síndrome de Turner. Disponível < http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cc/v2/v2a07.pdf>

232
ANEXO X

A DEFECTOLOGIA E O ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO E DA


EDUCAÇÃO DA CRIANÇA ANORMAL

Lev Semionovitch Vygotsky.

Atualmente, a questão consiste em romper o aprisionamento biológico da


psicologia e passar para o campo da psicologia histórica, humana. A palavra social,
aplicada à nossa disciplina, possui um importante significado.

Antes de tudo, em seu sentido mais amplo, essa palavra indica que tudo o que
é cultural é social. A cultura também é produto da vida em sociedade e da atividade
social do homem e, por isso, a própria colocação do problema do desenvolvimento
cultural já nos introduz diretamente no plano social do desenvolvimento. Além disso,
seria possível apontar para o fato de que o signo localizado fora do organismo, assim
como o instrumento, está separado do indivíduo e consiste, em essência, num órgão
da sociedade ou num meio social. Ademais, poderíamos dizer que todas as funções
superiores se formaram não na biologia nem na história da filogênese pura – esse
mecanismo, que se encontra na base das funções psíquicas superiores, tem sua
matriz no social.

Poderíamos indicar o resultado fundamental a que nos conduz a história do


desenvolvimento cultural da criança como a sociogênese das formas superiores de
comportamento. A estrutura das formas complexas de comportamento da criança
consiste numa estrutura de caminhos indiretos, pois auxilia quando a operação
psicológica da criança se revela impossível pelo caminho direto. Porém, uma vez que
esses caminhos indiretos são adquiridos pela humanidade no desenvolvimento
cultural, histórico, e uma vez que o meio social, desde o início, oferece à criança uma
série de caminhos indiretos, então, muito frequentemente, não percebemos que o
desenvolvimento acontece por esse caminho indireto.

Um exemplo simples:

233
Vamos imaginar que precisamos escolher em qual de dois grupos há mais
objetos, ou, então, que precisamos dividir determinado grupo de objetos em certo
número de partes (dividir brinquedos ou peças entre algumas pessoas presentes). A
operação mais simples seria a seguinte: dividir os objetos a olho, como fazem as
crianças mais novas ou o homem primitivo.

Nós, homens culturais, e as crianças em idade escolar mais avançada, para


fazer a divisão, usaram o caminho indireto; primeiramente, contamos os objetos e,
dessa forma, o objetivo fundamental de dividir fica em segundo plano. Os homens
culturais contam primeiro os objetos, depois os participantes presentes; em seguida,
efetuam a operação aritmética, por exemplo, dividem 64 objetos entre quatro
participantes. O número obtido indica quantos objetos devem ficar com cada um.
Apenas depois disso a divisão tem início.

Em outras palavras, o objetivo fundamental, sem dúvida, não é alcançado de


modo direto, assim que surge a tarefa. Mesmo em crianças de tenra idade, ele é
adiado, é deixado para o final, e o intervalo é preenchido por uma série de operações,
que consistem em um caminho indireto para a resolução da tarefa.

Do mesmo modo, a criança começa a contar nos dedos quando, por não estar
em condições de dar uma resposta direta à pergunta do professor sobre o resultado
de 6 mais 2, ela conta nos dedos 6, depois 2 e diz: 8. Aqui temos novamente a
estrutura do caminho indireto para a realização de determinada operação – uma
conta: a criança, sem ter uma resposta pronta, automática, utiliza as próprias mãos,
que antes eram para ela somente pano de fundo. Nesse caso, as mãos, que não
possuem relação direta com a pergunta, adquirem significado de instrumento assim
que a execução da tarefa pelo caminho direto se mostra impedida para a criança.

Com base nessas colocações, poderíamos determinar também as próprias


funções, o próprio propósito que cumpre essa operação cultural na vida da criança. A
estrutura do caminho indireto surge apenas quando aparece um obstáculo ao caminho
direto, quando a resposta pelo caminho direto está impedida; em outras palavras,
quando a situação apresenta exigências tais, que a resposta primitiva revela- -se
insatisfatória. Como regra geral, podemos considerar isso como operações culturais
complexas da criança.

A criança começa a recorrer a caminhos indiretos quando, pelo caminho direto,


a resposta é dificultada, ou seja, quando as necessidades de adaptação que se
colocam diante da criança excedem suas possibilidades, quando, por meio da
resposta natural, ela não consegue dar conta da tarefa em questão. A título de
exemplo, apresentamos nosso experimento, que é uma modificação do experimento
de Jean Piaget com a fala egocêntrica da criança.

Observamos a fala egocêntrica da criança aproximadamente na mesma


situação em que Piaget, mas nos propusemos investigar de que fatores ela depende.

234
Diferentemente do experimento de Piaget, dificultamos o comportamento da criança.
Nós a observamos no momento de seu desenho livre, mas organizamos a atividade
de modo que falte à criança determinado lápis de cor. Enquanto ela está entretida com
o desenho, nós retiramos, imperceptivelmente, o modelo a partir do qual ela desenha;
quando ela copia o desenho em um papel de seda, retiramos, imperceptivelmente, a
tachinha e a folha se solta.

Em suma, organizamos o comportamento da criança de modo que ela depare


com uma série de dificuldades. Constatamos, nesses casos, que a fala egocêntrica
imediatamente sobe para 96%, enquanto seu coeficiente normal fica em torno de 47%.
Isso demonstra que a fala egocêntrica intensifica-se quando surgem dificuldades para
a criança. Vamos supor que uma criança está desenhando e precisa de um lápis
vermelho. Se o lápis estiver ali, surgirá a fala egocêntrica? Não. Ela precisa do lápis
vermelho, pega-o e desenha. Agora vamos supor que a criança precise do lápis
vermelho, mas ele não está lá; ela olha e o lápis não está ali.

Fonte: VYGOTSKY, Lev Semionovitch. A Defectologia e o Estudo do


Desenvolvimento e da Educação Da Criança Anormal.
Disponível<http://www.scielo.br/pdf/ep/v37n4/a12v37n4.pdf>

235
ANEXO XI

Vide Anexo XI ao final deste Livro-texto.

DESENHO UNIVERSAL PARA A APRENDIZAGEM COMO ESTRATÉGIA DE


INCLUSÃO ESCOLAR

MENDES, Enicéia Gonçalves; ZERBATO, Ana Paula.

[...]

Desenho universal para a aprendizagem: caminhos possíveis para a


construção de práticas inclusivas

Diante do desafio de transformar escolas de ensino comum em ambientes


inclusivos e favoráveis à aprendizagem de todos, surgiu, em 1999, nos Estados
Unidos, o conceito Universal Designer Learning (UDL), aqui traduzido como Desenho
Universal para Aprendizagem (DUA).

O DUA consiste na elaboração de estratégias para acessibilidade de todos,


tanto em termos físicos quanto em termos de serviços, produtos e soluções
educacionais para que todos possam aprender sem barreiras (CAST UDL, 2006).
Destaca-se, ainda, que tal abordagem ainda é pouco conhecida ou disseminada no
Brasil, a julgar pela escassez de literatura científica sobre o assunto.

O DUA foi desenvolvido por David Rose, Anne Meyer e outros pesquisadores
do Center for Applied Special Technology (CAST) e apoiado pelo Departamento de
Educação dos Estados Unidos, em 1999, em Massachusetts (CAST UDL, 2006). A
projeção de edifícios e espaços públicos pela arquitetura, baseada no conceito do
Design Universal, de modo que todos possam ter acesso, sem qualquer limitação, foi
a inspiração para o surgimento do DUA (Nelson, 2013).

236
Um exemplo que deixa mais clara a compreensão desse conceito é a
concepção de rampa. Uma rampa pode ser utilizada tanto por pessoas que
apresentam uma deficiência física e dificuldade de locomoção quanto por pessoas
que não apresentam nenhuma deficiência, como um idoso, uma pessoa obesa ou uma
mãe empurrando um carrinho de bebê.

Dessa ideia, baseada na acessibilidade para todos, independentemente das


suas condições ou impedimentos, surgiu a ideia de integração de tal conceito aos
processos de ensino e aprendizagem, baseando-se num ensino pensado para atender
as necessidades variadas dos alunos, pois além das barreiras físicas, também
existem hoje as barreiras pedagógicas.

Não se trata de seguir uma preferência pedagógica ou um modelo de ensino,


mas, sim, uma ênfase na necessidade de renovar as práticas devido às
transformações da nossa realidade educativa atual que, infelizmente, ainda parece
apontar para um antagonismo fundamental entre a população estudantil atendida
atualmente e o currículo, denominado de tamanho único por Rose e Meyer (2002),
que é oferecido de modo padronizado, engessado e imposto.

O DUA consiste em um conjunto de princípios baseados na pesquisa e constitui


um modelo prático que objetiva maximizar as oportunidades de aprendizagem para
todos os estudantes PAEE ou não.

O DUA tem como objetivo auxiliar os educadores e demais profissionais a


adotarem modos de ensino de aprendizagem adequados, escolhendo e
desenvolvendo materiais e métodos eficientes, de forma que seja elaborado de forma
mais justas e aprimorados para avaliar o progresso de todos os estudantes.

Assim, ao invés de se pensar numa adaptação específica para um aluno


particular, em determinada atividade, se pensa em formas diferenciadas de ensinar o
currículo para todos os estudantes (Alves et al., 2013).

Ao elaborar materiais concretos para o aprendizado de conteúdos matemáticos


para um aluno cego, por exemplo, tal recurso, normalmente, é pensado e adaptado
para os alunos-alvo da turma, porém, na perspectiva do DUA, o mesmo material pode
ser utilizado por todos da sala de aula, de modo a beneficiar outros estudantes na
compreensão dos conteúdos ensinados.

[...]

Fonte: MENDES, Enicéia Gonçalves; ZERBATO, Ana Paula. Desenho


universal para a aprendizagem como estratégia de inclusão escolar. Disponível
em < revistas.unisinos.br/index.php/educacao/article/download/edu.2018.222

237

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