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ORIGENS E IMPERFEIÇÕES DA
ESTRUTURA CRISTALINA
4.1. INTRODUÇÃO
O arranjo cristalino foi abordado até aqui assumindo-se que a distribuição de
átomos no espaço ocorre de maneira ideal, sem a presença de imperfeições.
Entretanto, todos os materiais cristalinos exibem, em maior ou menor intensidade,
defeitos ou imperfeições, o que é função direta da natureza da transformação de
fases que resulta no sólido ou dos processamentos posteriores aos quais o material
é submetido. A estrutura cristalina pode surgir, basicamente, a partir de
transformações de fase do tipo vapor/sólido, líquido/sólido ou sólido/sólido.
Dependendo do tipo de transformação envolvido e principalmente, do controle que
se exerce sobre a mesma, surgem as imperfeições estruturais. A natureza e a
quantidade dessas imperfeições ou defeitos afetam as propriedades e o
110 Origens e Imperfeições da Estrutura Cristalina
Líquido
Embriões da
fase sólida
Figura 4.1. Embriões da fase sólida dentro da fase líquida, ilustrando arranjos
atômicos ordenados de curto alcance.
112 Origens e Imperfeições da Estrutura Cristalina
Uma análise da equação 4.1 indica que embriões muito pequenos (baixos
valores de r) apresentam variação de energia de superfície elevada em relação à
variação da energia de volume. À medida que r aumenta, essa situação se
inverte, levando a componente energética associada ao volume a tornar-se
predominante em relação à de superfície. A nucleação apenas será
termodinamicamente viável quando a variação de energia total for negativa, o que
somente ocorrerá caso a parcela relativa ao volume apresente valor de
intensidade superior a de superfície. Isso ocorrerá quando os embriões surgirem
no meio do líquido com tamanho acima de um valor crítico. Embriões formados
com tamanho inferior ao mínimo não se transformarão em núcleo da fase sólida e
desaparecerão. Como EV pode ser dado por:
H HT
E V H TS H T (4.2)
TF TF
4r2 ES
Variação de Energia Livre
Raio
crítico Raio
ETotal
4/3r3 EV
TF H ES T máximo
Elemento (K) (J/m3) (J/m2) (K)
Al 933 0,95 x 106 121 x 10-3 195
Pt 2.042 2,42 x 109 240 x 10-3 370
Co 1.765 2,28 x 109 234 x 10-3 330
Bi 544 0,54 x 109 54 x 10-3 90
Pb 600 0,24 x 109 33 x 10-3 80
Cu 1.356 1,63 x 109 177 x 10-3 236
Ni 1.728 2,76 x 109 255 x 10-3 480
Fé 1.809 1,93 x 109 204 x 10-3 420
114 Origens e Imperfeições da Estrutura Cristalina
Exemplo 4.1
Determine o número de átomos contidos em um embrião com raio igual ao
crítico, durante a nucleação homogênea do chumbo.
Solução
O número de átomos em um embrião está relacionado ao número de células
unitárias nesse embrião. O chumbo exibe estrutura CFC e, portanto, apresenta
quatro átomos por célula unitária e raio atômico é igual a 0,175 nm. A partir dos
dados fornecidos é possível determinar o volume do embrião, que é igual a:
2E S TF 2 (33 x 10 -3 J / m 2 ) 600K
rcrítico 2,062 x 10 -9 m
H T 9 3
(0,24 x 10 J / m ) 80K
utilizado para conter o material no estado líquido. Uma semente, fixada por uma
haste é mergulhada parcialmente no material fundido. À medida que a semente é
lentamente puxada para cima pela haste, o material no estado sólido e cristalino
emerge do fundido. Como forma de homogeneizar temperaturas no interior do
material fundido, o cadinho e a semente são submetidos à rotação. Nesse processo,
a nucleação da nova fase é limitada pelo contato da semente com o líquido,
enquanto que o crescimento ocorre de forma direcional, com taxas extremamente
controladas. Esse tipo de técnica de crescimento é utilizado industrialmente na
produção de silício utilizado na fabricação de dispositivos eletrônicos.
Em um outro extremo encontram-se aqueles processos de transformação
onde imperfeições associadas a arranjos atômicos não são importantes, e assim,
a qualidade do produto está muito mais ligada aos níveis microscópicos e
macroscópicos. Um exemplo de processo inserido nessa classe é a fundição de
ligas metálicas. Nesse caso, o líquido a ser transformado em sólido é vazado em um
molde e a solidificação ocorre através da retirada de calor que esse molde exerce
sobre o líquido, como mostra a figura 4.5.
Figura 4.5 Processo de fundição em liga de alumínio: (a) molde em aço e (b) peça
obtida.
A etapa de nucleação na fundição não é controlada com o objetivo de limitá-
la. Ao contrário, em alguns casos ao líquido vazado no molde, podem ser
Origem e Imperfeições da Estrutura Cristalina 117
Exemplo 4.2
Determine o número de vacâncias em um bloco de cobre com volume de 1
m3 à temperatura de 1.000 oC. O cobre tem estrutura CFC (4 átomos por célula
unitária) seu raio atômico igual a 0,128 nm e a energia de formação de vacância
em sua estrutura é de 0,9 eV.
Solução
A resolução envolve o cálculo do número de átomos presentes em tal
bloco, o que é determinado a partir do volume da célula unitária do cobre
(equação 3.10). Assim,
Volume da célula unitária:
VC = 16r
3
2 3,35 x 10 29 m3
Número total de átomos em 1 m3 de cobre:
NTotal = 1 m3/3,35 x 10-29 x 4 = 1,19 x 1029 átomos
Número de Vacâncias:
E A 0,9
( 8,62 x 105 ) (1273)
N V NTotal e kT 1,19 x 10 29
e 3,26 x 10 25 vacâncias
Origem e Imperfeições da Estrutura Cristalina 119
Vazio
(a) (b)
(c)
Figura 4.9. Solução sólida substitucional de estrutura CFC, com soluto de tamanho:
(a) pequeno; (b) médio e (c) elevado.
Exemplo 4.1
Em uma liga Al-Cu existem 5 % em peso de cobre e 95 % em peso de
alumínio. Sabendo-se que a massa atômica do alumínio é igual a 27 g/mol e a do
cobre é 63,5 g/mol, determine a quantidade de cobre nessa liga, em % em átomos.
124 Origens e Imperfeições da Estrutura Cristalina
Solução
Em 100 g da liga existem 95 g de alumínio e 5 g de cobre. Considerando
que 1 mol (6,02 x 1023 átomos) de cobre equivale a 63,5 g, é possível determinar o
número de átomos em 5 g de cobre. Assim,
6,02 x 1023 átomos 63,5 g
NCu átomos 5g
NCu = 5 g x 6,02 x 1023/63,5 g = 0,47 x 1023 átomos de Cu
Zn HC 0,133 +2 1,7
Mg HC 0,160 +2 1,3
(a) (b)
Figura 4.10. Solução sólida intersticial de estrutura CFC com soluto de tamanho: (a)
pequeno e (b) elevado.
Exemplo 4.2.
Determine o raio do interstício octaédrico na estrutura cristalina do ferro e
compare o mesmo com o raio atômico do carbono (0,077 nm). A estrutura do ferro
é CFC e seu raio atômico é próximo de 0,129 nm.
Origem e Imperfeições da Estrutura Cristalina 127
Solução
O interstício octaédrico na estrutura CFC ocupa a posição central da célula
e também posições localizadas nos centros das arestas dessa célula. O raio
desse interstício pode ser calculado a partir do diagrama a seguir, que reproduz o
plano (200) de uma célula unitária. A relação entre r (raio do elemento intersticial)
e R (raio do solvente) é obtida a partir da relação entre os catetos do triângulo
presente em tal diagrama.
2 R 2 Rr r r
sen 45 o ou 2 2 1 0,414
2 Rr 2 R R R
Como o raio atômico do ferro é igual a 1,29 nm, o raio do interstício será dado
por:
r R 0,414 0,129 0,414 0,053 nm
Este resultado mostra que as dimensões do interstício são inferiores ao valor
necessário para abrigar um átomo de carbono. Entretanto, deformando-se a rede
cristalina é possível dissolver em torno de 2% em peso de carbono no ferro.
128 Origens e Imperfeições da Estrutura Cristalina
Tabela 4.3. Solubilidade em ligas de cobre e sua relação com a diferença de eletro-
negatividade e raios atômicos do solvente e do soluto.
(a) (b)
Figura 4.11. Posições Intersticiais na estrutura CFC: (a) octaédrico e (b) tetraédrico.
Origem e Imperfeições da Estrutura Cristalina 129
(a) (b)
Figura 4.12. Posições Intersticiais na estrutura CCC: (a) octaédrico e (b) tetraédrico.
b
Linha de
Discordância
Linha de
Discordância
b
Linha de
Discordância
Superfície Externa
Tabela 4.4. Relação entre Número de Tamanho de Grão ASTM e o número de grão
por pol2.
1 1
2 2
3 4
4 8
5 16
6 32
7 64
8 128
9 256
10 512
136 Origens e Imperfeições da Estrutura Cristalina
(a) 5 m
(b) 5 m
(c) 5 m
Figura 4.19. Microestrutura do aço ASTM F 138 na condição solubilizado,
analisado por microscopia ótica, ataque eletrolítico com ácido nítrico a 60%,
revelando contornos de grão com tamanho de grão: (a) 8; (b) 4 e (c) 1.
Origem e Imperfeições da Estrutura Cristalina 137
Luz
Luz
Incidente
Refletida
(a) (b)
Figura 4.20. (a) Amostra só polida e (b) atacada quimicamente. A região do contorno
de grão aparece mais escura no microscópio devido à menor capacidade de
reflexão de luz da mesma.
4.12. MACLAS
As maclas constituem um outro tipo de defeito de superfície e podem surgir a
partir de tensões térmicas ou mecânicas. Tal defeito de superfície ocorre quando
parte da rede cristalina é deformada, de modo que a mesma forme uma imagem
especular da parte não deformada, como indica a figura 4.21.
(a)
(b)
Figura 4.21. Diagrama esquemático do defeito de maclação.
Origem e Imperfeições da Estrutura Cristalina 139
100 µm
EXERCÍCIOS
4.1. Uma liga de titânio empregada na fabricação de próteses ortopédicas é
constituída por contém 87 % em peso de titânio, 7 % em peso de nióbio e 6 % em
peso de alumínio. Calcule a percentagem atômica de cada elemento nessa liga.
4.2. Uma liga contém 70% em peso de Ni e 30% em peso de Cu. O Cu apresenta-
se como átomo substitucional na estrutura CFC do Ni. Supondo que a estrutura
atômica do Ni não é deformada e seu raio atômico é de 0,1246 nm, calcule a
densidade desta liga. M.A. do Ni=58,71 / M.A. do Cu=63,54.
140 Origens e Imperfeições da Estrutura Cristalina
4.3. Uma liga Al-Mg contém 5% em átomos de Mg. Calcule a percentagem em peso
de magnésio.
4.4. Uma solução sólida intersticial de carbono em ferro CCC apresenta 1 átomo de
carbono para cada 500 células unitários de ferro. Calcule a percentagem em peso
do carbono.
4.5. Por que a solubilidade total entre dois componentes de uma solução sólida
pode ocorrer caso a mesma seja substitucional, mas não ocorre no caso intersticial?