Você está na página 1de 6

Camilla G. C.

Fonseca – turma XXIV – Patologia Geral |1

INFLAMAÇÃO
CONCEITOS BÁSICOS
É a reação do tecido conjuntivo vascularizado a um agente agressor, caracterizada por alterações
vasculares com consequente extravasamento, exsudação de fluido e leucócitos
 O tecido conjuntivo está em todo local, é suporte mecânico e nutricional para nossos órgãos
e tecidos. Ex.: logo abaixo do epitélio tem-se tecido conjuntivo, podendo haver inflamação
no local por esse motivo, que ocorrerá no tec. conj, subjacente;
 Quando se fala de agente agressor, diversos são eles. Tem-se agressões de natureza física,
química, biológica, etc;
 As alterações vasculares são diversas, como vasodilatação (importante para haver reação
inflamatória);
 Exsudação: tudo que sai do vaso para o meio extravascular. Acontece tanto por meio de
fluido (plasma), quanto de células (leucócitos);
 O objetivo da resposta inflamatória é promover a CURA, a fim de eliminar o microrganismo;
 O objetivo nem sempre é alcançado;
 Em alguns casos o processo precisa ser até restringido ou interrompido (ex.: uso de anti-
inflamatório esteroidal a fim de segurar a resposta). Em outros, quando o processo por si
só não é capaz de resolver o problema, tem-se que o ajudar com remédios, etc.
Inflamação aguda X inflamação crônica
 Inflamação aguda
• Faz parte da resposta imune inata ou natural, que serve como primeira linha de
defesa;
• A resposta inicial é inespecífica, ou seja, não sabe quem é o agressor. Monta a
resposta sem saber qual é;
• Tende a durar menos tempo;
• Células mais importantes na resposta inicial:
▪ Neutrófilos: fagócitos importantes nas primeiras 24/48h após uma agressão,
ajudando na resposta inicial
 Inflamação crônica
• Representa a resposta imunológica adaptativa ou adquirida, tendo como principal
característica a especificidade.
• Houve identificação, através de leucócitos B ou T, do agressor, utilizando agora
mecanismos mais específicos e potentes (geram mais efeitos “adversos”, lesão
tecidual)
• Resposta mais longa, podendo durar anos. Isso leva à mais lesão no organismo;
• Células importantes:
▪ Linfócitos
▪ Macrófagos
Fatores determinantes na resolução do problema com o processo inflamatório:
 Extensão do dano;
 Capacidade imunológica;
 Gravidade da agressão;
Camilla G. C. Fonseca – turma XXIV – Patologia Geral |2

 Capacidade de regeneração;
 Vascularização tecidual;

CÉLULAS DO PROCESSO INFLAMATÓRIO

Imagem: retrata as células do processo inflamatório. São divididas em dois grupos básicos:
 Residentes, que fazem parte do tecido conjuntivo
 Circulantes, que estão no sangue

Células residentes
Mastócito
 Reside no tecido conjuntivo;
 Trabalha liberando mediadores químicos no inicio do processo inflamatório, sendo um dos
mediadores mais importantes a histamina;
• A histamina, entre outras coisas, faz vasodilatação;
 Muito presente na pele e nas mucosas, uma vez que são as “portas de entrada” para as
diversas formas de agressão.
Macrófago
 Sua função básica é fazer fagocitose, é um fagócito profissional;
 Mecanismo muito importante tanto na imunidade inata, quanto na adaptativa;
• Se ele é estimulado pelo linfócito, ele se torna mais potente. Com isso, ele consegue
combater melhor o agressor, mas, ao mesmo tempo, gera mais dano, lesão tecidual;
 Osteoclasto, por exemplo, são células formadas a partir da fusão de macrófagos. Ou seja,
as vezes eles estão com nome diferente, são especializados.
Fibroblasto
 Célula do tecido conjuntivo que tem como função produzir a matriz do tecido, mas, pensando
em um processo inflamatório, se a inflamação evoluir para uma cicatrização, tem-se
trabalho de fibroblasto;
 Importante na fase crônica, como se fosse uma tentativa do organismo para resolver o
problema
 Importante quando precisa promover o processo cicatricial, produzir componentes da
matriz para isso.

Células circulantes
Leucócitos - São monócitos, linfócitos, neutrófilos, eosinófilos e basófilos
Camilla G. C. Fonseca – turma XXIV – Patologia Geral |3

 Linfócitos
• Linfócito B
▪ Bone narrow, produzido e maturado na medula óssea;
▪ Sua função é produzir anticorpos, que são muito importantes no combate a
infecções, sobretudo de natureza bacteriana. Anticorpos são glicoproteínas
que atuam de diversas maneiras, como neutralização;
• Linfócito T
▪ T vem de timo, uma vez que são maturados lá;
▪ TCD4+ (helper/auxiliar): é a célula mais importante na montagem de uma
resposta imune, é o controlador da resposta. Capaz de reconhecer e produz
mediadores químicos, sobretudo citocinas, que vão trazer outras células a fim
de coordenar a resposta, induzindo a produção de anticorpos por linfócitos B,
fazendo o macrófago trabalhar de forma mais eficaz, etc;
▪ TCD8+ (citotóxico): capaz de matar outras células, que pode ser um mecanismo
importante especialmente na resposta viral;
• Linfócito NK
▪ linhagem do linfócito T.
▪ Não trabalha com especificidade, também é citotóxico.
▪ Muito importante na imunidade inata, é capaz de eliminar um agressor ainda
que não tenha especificidade;
• Linfócito B e T fazem reconhecimento de antígeno por meio de receptores que tem
em sua superfície, que são:
▪ Linfócito T – TCR (receptor de célula T), tem alta especificidade, com
variabilidade grande no reconhecimento de antígeno;
▪ Linfócito B – seus receptores são anticorpos de superfície, com variabilidade
grande no reconhecimento de antígeno;
▪ Reconhecimento de antígeno é um fator básico para processos inflamatório
com segurança, sem a pessoa ficar doença (ex.: criação de vacinas).
 Monócitos
• Representam os precursores dos macrófagos, se diferenciando em macrófagos nos
tecidos;
▪ Aumentam de volume e passam a ter capacidade de realizar fagocitose;
 Granulócitos ou leucócitos polimorfonucleares – neutrófilos, eosinófilos e basófilos
• Neutrófilos reconhecem antígeno no primeiro momento;
• Eosinófilos trabalham em eventos específicos, como reações inflamatórias de
natureza alérgica, etc. Estão em pouca quantidade;
• Basófilos representam a menor quantidade de células no organismo. É fonte de
histamina, assim como os mastócitos. Possui importância nas reações de natureza
alérgica.
Célula endotelial
 Muito importante o processo inflamatório pois contribui produzindo mediadores químicos,
além de contribuir para a migração de células

SINAIS CARDINAIS/CLÍNICOS
CALOR RUBOR TUMOR DOR
Camilla G. C. Fonseca – turma XXIV – Patologia Geral |4

Calor e rubor → tem ação direta com o fenômeno vascular, com a vasodilatação;

Tumor (inchaço) → processo inflamatório leva à formação de um edema, que pode gerar
aumento de volume;
Dor → pode ocorrer pela compressão das estruturas, especialmente onde tem-se um edema
mais intenso, ou devido às substancias/mediadores químicos produzidos pelo processo
inflamatório, como prostaglandinas e bradicinas, que causam dor. Importante sinal inflamatório;
Quinto sinal cardinal é a perda de função → nem sempre está presente, tem relação direta com o
dano, com a lesão tecidual. Ex.:

 Artrite reumatoide –> condição autoimune, em que as articulações são atingidas por
reações inflamatórias crônicas (com produção de anticorpos, com ação de macrófagos,
linfócitos T, etc), que destrói os componentes de uma articulação sinovial (membrana
sinovial, cartilagem articular). Com o tempo, em alguns pacientes, vai acontecendo
fenômenos cicatriciais, como anquilose (fusão de superfície óssea). Daí a articulação
perde sua função que é movimentar.
Não necessariamente se enxerga todos esses processos quando há inflamação

MEDIADORES QUÍMICOS DA INFLAMAÇÃO


É preciso lembrar que todos os processos inflamatórios dependem de mediadores químicos, a fim
de realizar e propiciar os eventos.
São divididos em mediadores celulares (produzidas elas células do processo inflamatório) e
plasmáticos (produzidos principalmente no fígado, estão no plasma)
Mediadores celulares
 Histamina → é vasodilatadora e aumento de permeabilidade vascular. Produzida e liberada
por mastócitos, que trabalha nos momentos iniciais do processo inflamatório;
 Metabólitos do ácido aracdônico (prostaglandinas) → prostaglandinas possuem diversos
efeitos, mas no geral são vasodilatadoras e aumentam a permeabilidade vascular. São o
alvo dos anti-inflamatórios não esteroidais Ex.: prostaglandina E produz dor no processo
inflamatório;
 Citocinas (interleucina, interferon INF, TNF) → as 2 principais fontes de citocinas são os
linfócitos e os macrófagos. Possuem vários efeitos, podendo ser estimuladoras de CD8, de
estimuladoras de macrófago, inibitórias da resposta inflamatória, indutoras de atividade da
medula óssea, etc.
Mediadores plasmáticos
 Sistema do complemento → são proteínas plasmáticas que tem efeitos biológicos, sendo
alguns chamados de opsonização e formação do M.A.C. Opsonização: alguns componentes
do complemento (C3B) funcionam como marcadores, por exemplo de bactérias, fazendo o
macrófago enxergar mais facilmente o microrganismo. Isso facilita/agiliza a fagocitose.
Formação do M.A.C. (complexo de ataque à membrana): complemento se forma na
superfície do microrganismo e forma um poro na membrana, que perfura a célula-alvo e a
mata;
 Sistema de coagulação → serve para produzir fibrina, buscando a formação do coágulo;
Camilla G. C. Fonseca – turma XXIV – Patologia Geral |5

 Sistema gerador de cininas → tem como produto final a bradicinina, que é um mediador
importante. Ele está envolvido na dor, vasodilatação e, por isso, contribui no processo
inflamatório.

INFLAMAÇÃO
3 eventos básicos ocorrem na área em que ocorreu a inflamação:
 Alterações de calibre vascular (vasodilatação) → possui como objetivo aumentar o fluxo
sanguíneo da região. Desde que seja localizada, ela gera benefícios;

 Alterações na permeabilidade vascular → é um aumento de permeabilidade. Caracterizado


pela formação de pequenos GAPs, poros, que permitem a saída de líquido (exsudação de
plasma), que gera um edema (acúmulo de líquido na matriz).
• OBS.: esse extravasamento de plasma, sobretudo por ser rico em proteínas
(anticorpos e proteínas do complemento), é importante no combate à alguns
microrganismos;

 Exsudação de leucócitos → é a migração de leucócitos de dentro do vaso para os tecidos,


fato muito importante no processo inflamatório. Como ocorre a exsudação:
Camilla G. C. Fonseca – turma XXIV – Patologia Geral |6

Leucócito (neutrófilo nesse caso) – vermelho; célula endotelial - bege

• 1ª etapa – marginação: é uma aproximação do leucócito com o endotélio, uma vez


que são atraídas por agentes quimiotáticos (quimiotaxia contribui);
• 2ª etapa – rolamento: começam a surgir moléculas de adesão (proteínas que surgem
e possuem afinidade umas pelas outras no sentido de adesão). Mas, como a adesão
ainda é fraca, a afinidade do leucócito pelas moléculas é baixa, ele vai prendendo-
soltando-prendendo-soltando.
• 3ª etapa – adesão: quando chega perto ao sítio de adesão, o rolamento se intensifica
e a interação se torna mais potente, a célula se prende e não se solta mais, visto
que as integrinas promovem uma adesão mais forte que da etapa anterior;
• 4ª etapa – diapedese: é a passagem por força mecânica. O leucócito está, por meio
da emissão de pseudópodes que surgem através da emissão de citoplasma,
empurrando o endotélio. Ele, com isso, entra no meio das ligações inter-endoteliais
e, por isso, consegue atravessar para o outro lado. À medida que o leucócito vai
passando, as ligações inter-endoteliais voltam a se fechar a fim de não deixar mais
nada passar, sair.
• O que muda, caso altere o leucócito, são os mediadores e as moléculas de adesão.
As etapas são as mesmas.
Todos os processos inflamatórios tem esses 3 eventos, que aparecem em níveis variados.

INFLAMAÇÃO CRÔNICA
Quando o processo é crônico, tem-se uma particularidade que é: o infiltrado inflamatório (células
que migraram do tecido e infiltraram) é caracterizado por macrófagos e linfócitos, é mononuclear;
 O agudo costuma ser rico em neutrófilos
Costumam ser de longa duração, podendo durar décadas;
É caracterizado pela especificidade, ou seja, consegue reconhecer o agente que for de natureza
microbiana;
Ocorre lesão tecidual através da liberação de radicais livres e enzimas;
Reparo ocorre antagonicamente à lesão tecidual, ocorrendo reparo tecidual. O organismo destrói
e tenta corrigir o que foi feito, podendo esses fatos ocorrer simultaneamente em pontos distintos,
mas próximos;
A abordagem terapêutica é variável, dependendo da causa;

Você também pode gostar