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A FRAUDE DE JERÔME KERVIEL E OS PREJUÍZOS PARA O SOCIÉTÉ GENERALE

O banco francês Société Générale anunciou que perdeu US $ 7,2 bilhões, não por causa dos empréstimos
subprime, mas porque Jerome Kerviel, um operador de 31 anos, assumiu posições fraudulentas na tentativa
de encobrir perdas ocorridas na negociação de papéis conhecidos como "plain vanilla" - instrumento
financeiro de tipo mais simples, em geral na forma de opções de ações, títulos ou contratos futuros.

O Société Générale, um dos maiores e mais respeitados bancos da França, disse que o funcionário
conseguiu burlar vários sistemas de seguranças enquanto acumulava 4,9 bilhões de euros em perdas para o
banco.

Ao contrário de muitos de seus colegas de negociação de alto nível, Kerviel não se formou em uma das
universidades de elite da França, mas em uma faculdade de negócios em Lyon.
O esquema foi descoberto na semana passada. Uma pergunta sem resposta que as autoridades vão
investigar é por que demorou tanto para o banco de descobrir a fraude.
O banco alega que Kerviel agiu sozinho, mas os especialistas se perguntam como isso poderia ser possível,
dadas as verificações e balanços da instituição financeira.

Christian Noyer, diretor do Banco de França, o banco central do país, disse que as perdas colocaram o
Société Générale em "uma situação muito perigosa", mas que o plano do banco para buscar 5,5 bilhões de
euros (US$ 8 bilhões) em capital dos acionistas iria restaurar sua saúde financeira.
O presidente da Société Générale, Daniel Bouton, escreveu uma carta aos clientes dizendo que o "Société
Générale foi vítima de uma grave fraude interna cometida por um funcionário imprudente."

Funcionários do Société Générale disseram que o Sr. Kerviel havia confessado e que o banco tinha iniciado
um processo legal. Eles disseram não saber seus motivos, e, em uma coletiva de imprensa alguns jornais
franceses chamaram o acontecimento de "surreal", questionando sua sanidade, dizendo que ele tinha
"problemas familiares". Os funcionários não ofereceram evidências para sustentar essas afirmações.

Société Générale disse que não tinha indicação de que o operador - que ingressou na companhia em 2000 e
trabalhou durante vários anos no escritório de gestão de risco antes de ser promovido para a mesa de
operações da Delta One, em Paris - "assumiu posições fraudulentas em 2007 e 2008 muito além de sua
autoridade limitada. "

O banco disse que o operador – que o Sr. Noyer, diretor do banco central, disse que "violou cinco níveis de
controles" e era "um gênio do computador" - continuou a fraude até o fim de semana passado. Ou seja,
quando os auditores no escritório de gestão de risco detectaram os negócios fictícios envolvendo índices
europeus de futuros.

Quando a fraude foi revelada, o Sr. Bouton disse, era "imperativo que a posição enorme que ele tinha
construído e escondido, fosse fechada o mais rapidamente possível".

O momento não poderia ter sido pior. O Société Générale foi forçado a começar a desenrolar os negócios na
segunda-feira "em condições de extrema volatilidade do mercado", disse o Sr. Bouton.

A notícia bombástica para o banco vem como aumento das perdas de investimentos relacionados com
subprime, e têm levantado dúvidas sobre a gestão de risco naa instituição.

Howard W. Lutnick, diretor executivo da Cantor Fitzgerald, disse que a fraude, cometida por um único
negociador, demonstra a fragilidade nos sistemas do banco.

Jerôme Kerviel foi condenado a 5 anos de prisão e terá que indenizar o prejuízo de 4,9 bilhões de euros
causado ao banco.
ANÁLISE DO CASO SEGUNDO ARTIGO ACADÊMICO

Dario Forte e Richard Power, em seu artigo intitulado Guaranteeing governance to curb fraud - Société
Générale debate discutem a fraude com o advogado Marco Provvidera.

O artigo também lista algumas fraudes envolvendo operadores desonestos.

2007 - Um caso envolvendo o banco de Montreal levou a perdas de aproximadamente C$800 milhões,
causado por um insider trader na área de gás natural.

2006 - Um ex-executivo-chefe e um operador de Bawag foram acusados de causar US$ 2,5 bilhões em
perdas.

2001 - Um operador da Allfirst (a filial americana do banco irlandês Allied) causou perdas de pelo menos US$
700 milhões.

1996 - Um operador chamado Hamanaka, que trabalhou para a Sumitomo Corporation, perdeu US$ 2,6
bilhões. (Hamanaka também era conhecido como "Mr. Copper" por sua abilidade para controlar o mercado).
Ele foi condenado a oito anos de prisão.

1995 - Nick Leeson causou o colapso do Barings Bank e foi condenado a seis anos de prisão em Cingapura.
Ele foi solto em 1999 e agora é um autor de sucesso que dá palestras sobre risco em todo o mundo. Leeson
também é presidente do time de futebol Galway United, na Irlanda.

1995 - Toshihide Iguchi, um negociador de títulos do Banco Daiwa, foi responsável por US$ 1,1 bilhão em
perdas durante 11 anos. Ele foi condenado a quatro anos de prisão e tornou-se o autor do best-seller My
Billion Dollar Education.

Segundo os autores, o banco estava exposto a inúmeros tipos de risco dentro da própria instituição, como:

- Falta de controle (não há tecnologias de controle e prevenção de anomalias durante a evolução das
operações);

- Crença de que uma falha de segurança não irá ocorrer;

- O controle das operações é feito em lotes e não em tempo real

- Falha de verificação (não duplo controle ou cruzamento de transações).

Fontes consultadas:

http://www.portugues.rfi.fr/franca/20101005-ex-operador-julgado-por-fraude-tera-que-pagar-r11-bilhoes-
banco-frances-0 - acessado em 21 de novembro de 2010

http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u366478.shtml - acessado em 21 de novembro de 2010

http://oglobo.globo.com/economia/mat/2008/01/27/suposto_autor_de_fraude_no_societe_generale_comprou_
ativos_bilionarios-328224361.asp - acessado em 22 de Novembro de 2010

Forte, D; Power, R.; Guaranteeing governance to curb fraud – Société Générale debate; Computer Fraud &
Security. 2008, 2008, 3, 18-19.

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