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RETÓRICA
da ação letrada
Título original: Literate Action. Volume 1: A Rhetoric of Literate Action
@ 2013 by Charles Bazerman
ISBN 978-1-60235-476-0
Indicação editorial: Angela Paiva Dionisio
B348r
Bazerman, Charles
Retórica da ação letrada / Charles Bazerman ; [tradução Adail Sobral,
Angela Dionisio, Judith Chambliss Hoffnagel, Pietra Acunha]. - 1. ed. - São
Paulo : Parábola Editorial, 2015.
200 p. ; 23 cm. (Lingua[gem] ; 66)
Direitos reservados à
Parábola Editorial
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ou banco de dados sem permissão por escrito da Parábola Editorial Ltda.
ISBN: 978-85-7934-079-6
© da edição brasileira: Parábola Editorial, São Paulo, setembro de 2015
Sumário
Introdução .......................................................................................................................7
Capítulo 1 Retóricas da fala e da escrita...................................................13
Capítulo 2 Saber onde se está: o gênero .................................................31
Capítulo 3 Quando se está................................................................................. 57
Capítulo 4 O mundo dos textos: intertextualidade ..............................77
Capítulo 5 Modificação da paisagem: kairós, fatos sociais
e atos de fala ...................................................................................85
Capítulo 6 Motivos, situações e formas emergentes..........................99
Capítulo 7 Estratégias textuais ....................................................................... 111
Capítulo 8 Forma emergente e processos de
formar significação.......................................................................125
Capítulo 9 Significações e representações............................................ 137
Capítulo 10 Espaços e viagens para leitores: organização
e movimento......................................................................................151
Capítulo 11 Estilo e revisão................................................................................ 167
Capítulo 12 Gerir os processos de escrita e o texto emergente...177
Referências bibliográficas...................................................................................... 197
5
Introdução
E
screver pode parecer uma tarefa nebulosa. Os escritores parecem
encher páginas em branco com invenções plenas de infinitas possi-
bilidades — de livros de receitas culinárias e manuais de instrução
do mais novo aparelho eletrônico a livros de oração e códigos legais;
de relatórios corporativos sobre mercados emergentes e tratados botânicos
sobre filamentos de folha de árvores decíduas a artigos acadêmicos de cur-
sos de história e diários com questionamentos pessoais. Como as pessoas
fazem essa variedade assombrosa de coisas por meio da escrita? O que
podemos dizer que nos ajudaria a fazer essas coisas mais eficientemente?
De fato, parece tão grande a variedade que um conselho ou análise
gerais parecem quixotescos, e deveríamos enfocar só tipos específicos de
escrita. Pode-se ter condições de dizer algo útil sobre livros de receitas culi-
nárias historicamente desenvolvidos e sobre como cada indivíduo poderia
produzir um livro que dialogasse com mercado comercial dos Estados Uni-
dos no começo do século XXI. Aprendemos coisas sobre escrita técnica e
comercial e sobre redação jurídica que ajudaram a fundamentar a formação
em escrita de profissionais em cada um desses domínios. A pesquisa e a
pedagogia da escrita nos campos transversais, nas disciplinas e nas profis-
sões e no local de trabalho fundamentaram abordagens para desenvolver a
escrita de muitos tipos específicos.
Se a tarefa de escrita for específica o bastante, instruções detalhadas
podem orientar a produção de textos, como preencher apropriadamente
7
Retórica da ação letrada
8
Introdução
9
Retórica da ação letrada
1
Como neste livro o autor não se filia a uma teoria linguística específica e como abor-
da especificamente a linguagem em uso, preferimos traduzir meaning por significação, palavra
por assim dizer mais genérica, comum a várias teorias, em vez de, por exemplo, significado
ou sentido (n. da trad.).
10
Introdução
11
Retórica da ação letrada
R
etórica da ação letrada presta significativa contribuição aos estudos
entre si. Elas também se alinham aos padrões de fala de cada discurso —
da escrita. Obra de um dos mais instruídos e visionários acadêmicos
alternam turnos, adotam ritmos e entonações semelhantes e coordenados,
nesse campo,
ajustando-se este livro
aos sotaques representa
e dialetos umas uma das mais
das outras (Chafe,radicais articula-
1994). Além
disso,
ções dosalinham-se
fundamentos às significações
da escrita umas
atédas
hojeoutras projetadas noDiante
apresentadas. espaço pú-
de um
blico da conversação. Assumem referentes, temas e conhecimentos
contexto de ensino da escrita obstinadamente conservador, que ainda comuns
introduzidos na conversação por falantes anteriores, adotam a confirmação
aborda a escrita como mera questão de seguir regras, Bazerman explora
mútua de pressupostos (Sacks, 1995). Tomam o que se disse como dado
muito mais profundamente os processos psicológicos e sociais dos quais
— como significação e como ação. Na verdade, a partir da maneira como
a escrita emerge
se apropriam e com
e usam os se
o que quais é elas
disse, preciso sincronizá-la.
interpretam Dando a devida
retrospectivamente e
criam aa significação
atenção elementoscontínua de enunciados
como tempo, postura prévios.
e ação, ao lado de gênero,
O alinhamento é tão crucial para a manutenção
intertexto, processo e outros conceitos fundamentais, da aconversação
obra oferece que um
as pessoas restauram regular e consistentemente a conversação quando
novo caminho para enfrentar os dilemas da escrita a partir de um trata-
sentem que houve alguma violação que vai interromper o fluxo, o alinha-
mento
mentodasocial
questão dos honesto e inovador.
participantes ou a coordenação mútua de significações
(Schegloff et al., 1977). A menos que seja restaurada, a conversação pode
Bazerman propõe
desfazer-se, e os aqui uma nova
participantes teoria da escrita
se desconectarem. e da
Essas retórica, ao
restaurações po-con-
demacorrigir
ceber escritaequívocos,
como uma como quemdeeraatividade
forma objeto dasocial
discussão, mas também
situada, tipicamen-
podem implicar
te deslocada recuar diante
no tempo de algo posto
e no espaço. anteriormente
Por conta no espaço com- a
desses deslocamentos,
partilhado da interação. Dizer que algo era só uma brincadeira ou que não
compreensão de gênero e de sistema de atividade são fundamentais para
é realmente importante indica que as pessoas não deveriam se ocupar do
queque
osfora
escritores possam
mencionado, construir
à medida que aainteração
situaçãoavança.
comunicativa. Retórica da
Por meio
ação letrada do alinhamento
[ao lado de Teoria da de ação
atividades de fala,
letrada] referentes,
é a maior papéis e do
contribuição
relações
autor, apósinteracionais,
quarenta anos os de
participantes
pesquisasdasobrefala criam um espaço mutua-
a escrita.
mente reconhecido de interação, que tem sido chamado de footing (Goff-
man, 1981) ou frame (Goffman, 1974; Tannen, 1993). O footing ultrapassa
o reconhecimento do espaço físico e do grupo de participantes nos quais
se está inserido, a fim de lhe conferir determinada caracterização ou forma
social. Assim, pela modificação da postura ou mediante poucas palavras,
alguém pode reorientar a atenção de um grupo envolvido numa discussão
política para um momento compartilhado de risos satíricos, e depois para
uma discussão sobre histórias em quadrinhos. Ou então, se uma pessoa
indica com gestos faciais que ouviu comentários de outra como um insulto,
todos os olhos se concentram no conflito social e deixam de lado a subs-
tância da discussão. Essa reorientação de uma espécie de cena para a outra
é facilitada porque conseguimos reconhecer espécies padronizadas de ce-
nários sociais, interações e enunciados. Vemos eventos como semelhantes
a outros eventos e os reconhecemos como um tipo ou gênero.
As compreensões sociais evocadas nos frames mediados pela fala po-
dem até modificar a percepção e a definição do evento material visível
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