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ARTIGO ARTCILE
A Atenção Básica à Saúde e a construção das redes temáticas
de saúde: qual pode ser o seu papel?

Primary healthcare and the construction of thematic health


networks: what role can they play?

Luiz Carlos de Oliveira Cecilio 1


Rosemarie Andreazza 1
Graça Carapinheiro 2
Eliane Cardoso Araújo 1
Lissandra Andion de Oliveira 1
Maria da Graça Garcia Andrade 3
Consuelo Sampaio Meneses 1
Nicanor Rodrigues da Silva Pinto 1
Denizi Oliveira Reis 1
Silvia Santiago 3
Ana Lucia Medeiros de Souza 1
Sandra Maria Spedo 1

Abstract The enhancement of primary health- Resumo O fortalecimento da atenção básica tem
care has been a core strategy for the empowerment sido valorizado como estratégia central para a cons-
of the Brazilian Unified Health System (SUS). trução do SUS. Diretrizes recentes emanadas pela
Recent guidelines issued by OPAS and the Minis- OPAS e pelo MS destacam seu papel como centro
try of Health highlight the role it has played as a de comunicação de redes temáticas, como re-
thematic communication network center, a guladora do acesso e utilização dos serviços neces-
regulating agent for the access and use of services sários para a integralidade do cuidado. O presente
required for comprehensive healthcare. Sponsored estudo, financiado com recursos PPSUS/Fapesp,
by PPSUS/Fapesp, this study examines the possi- problematiza as possibilidades da rede básica exer-
bilities of the primary healthcare network exer- cer tal função estratégica. Foram produzidas nar-
cising such a strategic function. Life narratives rativas de vida de 15 usuários altamente utiliza-
involving 15 regular users were produced in two dores de serviços de saúde em dois municípios do
cities of ABC Paulista, which have adopted the ABC paulista, que adotaram a Estratégia de Saúde
Family Health Strategy for the organization of da Família para organização de suas redes básicas.
their primary healthcare networks. The study pre- O estudo apresenta três achados principais: a rede
sents three main findings: the primary healthcare básica funciona como posto avançado do SUS,
1
network serves as an outpost of SUS by producing produzindo valores de uso mesmo para os pacien-
Departamento de Medicina
Preventiva, Escola Paulista user values even for high complexity service users; tes utilizadores de serviços de alta complexidade; a
de Medicina, Universidade the primary network is perceived is a place for rede básica é vista como lugar de coisas simples;
Federal de São Paulo
simple care needs; there is shared impotence há uma impotência compartilhada entre usuá-
(EPM-Unifesp). R.
Botucatu 740, Vila between users and teams when it comes to the rios e equipes quando se trata da rede básica fun-
Clementino. 04023-062 network functioning as the coordinator of care, cionar como coordenadora do cuidado, indicando
São Paulo SP.
indicating that it does not possess the technologi- como ela não reúne condições materiais (tecno-
luizcecilio60@gmail.com
2
Instituto Superior de cal, operational and organizational material con- lógicas, operacionais, organizacionais) e simbó-
Ciências do Trabalho e da ditions or symbolic conditions (values, mean- licas (valores, significados e representações) de
Empresa, Instituto
ings, and representations) to be in a central posi- deter a posição central da coordenação das redes
Universitário de Lisboa
(Iscte-IUL). tion in the coordination of thematic healthcare temáticas de saúde.
3
Departamento de Saúde networks. Palavras-chave Atenção primária à saúde, Aces-
Coletiva, Faculdade de
Key words Primary healthcare, Access, Themat- so, Redes temáticas em saúde, Coordenação do
Ciências Médicas,
Universidade Estadual de ic healthcare networks, Coordination of care cuidado
Campinas (Unicamp).
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Cecilio LCO et al.

[…] Contar significa reconhecer um pesadelo, nais de saúde, pelos modos de se trabalhar o ter-
mas também lhe dar um fim. ritório e a organização do processo de trabalho,
Era ao mesmo tempo a dor e o remédio. em particular pelo grau de adoção ou não de
O que ela escondia era também atividades ditas programáticas. As propostas de
o que revelava […] acolhimento, os conceitos de vínculo e de res-
Bernardo Carvalho1 ponsabilidade sanitária também vão ganhando
espaço, como pode ser visto nas formulações da
política de humanização preconizada pelo SUS7.
Introdução A despeito desta multiplicidade de modela-
gens da ABS, em 1994, o Ministério da Saúde
A Atenção Primária à Saúde (APS), ou a Atenção assume a Estratégia da Saúde da Família (ESF)
Básica em Saúde (ABS)2, como tem sido prefe- como a estratégia de atenção à saúde estruturan-
rencial, mas não exclusivamente denominada no te do SUS.
Brasil, e que será utilizada neste artigo, vem ocu- Em 2006, a Política Nacional de Atenção Bá-
pando, desde a sua enunciação como uma políti- sica1 ampliou os seus objetivos e reafirmou a ESF
ca para a reorganização da atenção à saúde pela como estratégia prioritária e modelo substitutivo
Organização Mundial da Saúde (OMS)3 na dé- para a organização da atenção básica. Dados de
cada de 70, um estatuto estratégico de interven- 2009, do Ministério da Saúde, indicam que 94%
ção e de formulação teórica para os Sistemas dos municípios do Brasil dispunham da ESF na
Nacionais de Serviços de Saúde (SNSS). Se, num sua rede de UBS, responsáveis pelos cuidados de
primeiro momento, foi pensada para sociedades saúde primários, com cobertura de 51% da po-
com níveis de desenvolvimento menos elevados, pulação brasileira8.
hoje ela é assumida como o principal dispositivo Passados 30 anos do lançamento dos funda-
de organização, constituição e articulação das mentos da APS, período em que os processos de
redes de atenção à saúde para muitos países di- adoecimento e as necessidades de saúde se trans-
tos centrais4,5. formaram intensamente, vemos seus princípios
Quando se trata do acesso da população aos serem relançados e as suas capacidades de alcan-
serviços de saúde, a ABS tem sido pensada, tanto ce ampliados1. No documento apresentado pela
como a porta de entrada do sistema, como o pri- OMS, em 2008, com o sugestivo nome Cuidados
meiro nível de contato da população com o siste- de saúde primários: agora mais do nunca4, ela é
ma, aquele mais próximo às famílias e à comu- novamente apontada como a principal estraté-
nidade. Para Starfield6, é a ABS que deve coorde- gia de reorganização dos SNSS frente às novas
nar os fluxos dos usuários entre os vários servi- demandas colocadas para a saúde. Agora a APS
ços de saúde, buscando garantir maior equidade é pensada como ordenadora, coordenadora ou
ao acesso e à efetiva utilização das demais tecno- gestora do cuidado de saúde, a partir não mais
logias e serviços do sistema, para responder às da diretriz da hierarquização dos serviços, mas
necessidades de saúde da população. pela posição de centralidade que lhe é conferida
No Brasil, foi com o movimento da reforma na constituição de redes de cuidado.
sanitária, que desembocou na criação do Siste- A proposta de que a coordenação das redes
ma Único de Saúde (SUS), em particular a partir de atenção à saúde seja feita a partir da rede bá-
do final dos anos 1980, quando os municípios sica parte do diagnóstico da falência dos SNSS
assumiram progressivamente a prestação de cui- caracterizada pela descontinuidade dos cuidados,
dados básicos para seus cidadãos, que as ações a fragmentação da atenção à saúde e a ainda es-
de atenção realizadas e ofertadas por estas uni- tratégica posição ocupada pelo hospital na pro-
dades, progressivamente denominadas de uni- dução dos cuidados9. Há um reconhecimento de
dades básicas de saúde (UBS), ganharam com- que, apesar de todos os esforços, a promessa
plexidade, pela ampliação do atendimento mé- colocada na ABS de alcançar uma configuração
dico nas três grandes especialidades (clínica, pe- mais racional, integrada e equitativa dos siste-
diatria e ginecologia), mantidas todas as outras mas se saúde, funcionando sempre como sua
atividades de saúde pública. É um período em porta de entrada, ou, pelo menos, porta preferen-
que vários desenhos de atenção básica são expe- cial para o conjunto dos serviços de saúde, pare-
rimentados, distinguindo-se entre si pelo maior ce nunca se ter plenamente alcançado.
ou menor desenvolvimento do atendimento mé- Para Mendes10, tendo em vista a crise nos SNSS
dico não agendado, pelo grau de incorporação contemporâneos, é possível perceber em vários
da atenção odontológica e de outros profissio- países uma reconfiguração das dinâmicas da ABS.
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Três aspectos parecem ser consensualmente iden- gráficas das cidades, seus perfis epidemiológicos
tificados nela: a intensificação dos processos de ges- são semelhantes.
tão da clínica, a constituição de redes de cuidado e Na primeira fase da pesquisa, de caráter ex-
a contratualização das equipes da ABS por metas de ploratório e já concluída, foram realizadas en-
produtividade, entre outras iniciativas11-13. trevistas temáticas em profundidade com atores
Estudos teóricos e empíricos demonstram políticos estratégicos dos municípios (prefeito,
uma importante distância entre a idealidade dos secretário de saúde e conselheiros municipais de
modelos de atenção à saúde vigentes e as práticas saúde) e com profissionais selecionados do SUS
sociais concretas realizadas por usuários e pro- municipal (enfermeiro, agente comunitário de saú-
fissionais nos espaços reais de produção de cui- de e médico) com longa história de inserção no
dado14,15. As indicações de Luz16 vão no mesmo sistema local.
sentido quando diz que os modelos são geralmen- Nesta fase exploratória, chamou atenção a
te idealizados[...], e buscamos fazê-los acontecer, surpreendente regularidade com que os atores
materializar, [...] por meio de regras ou normas entrevistados afirmavam que boa parte dos pro-
previamente estabelecidas, sendo entretanto estes blemas de atenção à saúde – os prontos-socor-
atos realizados por diferentes trabalhadores, que ros sempre lotados, as longas filas de espera por
também agem com seus saberes e experiências, especialistas, a falta de leitos, o agravamento das
gerando um conjunto diferenciado de práticas, com complicações por doenças crônicas – deveriam
novas e distintas modelagens. ser resolvidos, ou, pelo menos, minimizados
Uma responsabilização ampliada para a aten- quando a rede básica cumprisse o papel que lhe é
ção básica tem sido posta na agenda de debate reservado, em particular a responsabilização pela
nacional, particularmente a partir da proposta população de sua área de cobertura, a estratifi-
de criação das grandes redes temáticas de cuida- cação de riscos e o desenvolvimento de ativida-
do, coordenadas a partir exatamente da rede bási- des de promoção e prevenção. Uma rede básica
ca, que funcionaria como centros de comunica- que, idealmente, funcionaria como a referência
ção no interior delas17,18. São as reais possibilida- preferencial para os contatos, a entrada e a circu-
des (ou limites ou condicionantes) para o exercí- lação das pessoas no sistema de saúde, em fun-
cio dessa responsabilidade ampliada posta para ção da proximidade territorial dos lugares onde
a ABS que serão objeto de atenção no artigo, exa- elas vivem, portanto como a grande garantia de
minadas a partir dos achados de uma investiga- acesso a um sistema de saúde universal, inclusi-
ção, em curso, sobre as múltiplas lógicas do aces- vo, capaz de garantir os princípios de integrali-
so e da utilização de serviços19. dade e equidade inscritos no texto constitucio-
nal. Um novo funcionamento da rede básica re-
querido como elemento central para uma ade-
Percurso metodológico quada regulação do acesso aos serviços de saúde
nos municípios.
Os resultados apresentados aqui fazem parte do Tais expectativas dos atores estratégicos fo-
projeto As múltiplas lógicas de construção de redes ram agrupadas em uma categoria empírica de-
de cuidado no SUS: indo além da regulação gover- nominada “a quimera da rede básica”. Quimera
namental do acesso e utilização de serviços de saú- entendida como o sonho que nunca se realiza
de19 , em andamento, financiado pela Fapesp- plenamente. Todos os atores reconheciam que,
PPSUS. O estudo, de caráter qualitativo, está sen- apesar de tantos investimentos, a rede básica não
do realizado em dois municípios de grande porte cumpria as expectativas que lhe eram deposita-
da região do ABCD paulista. das. Esta categoria foi retomada na segunda fase
As cidades, apesar de histórias distintas de do estudo, tentando, agora, compreendê-la me-
construção do SUS local, contam hoje com uma lhor pela incorporação da experiência dos usuá-
rede organizada de atenção básica, de atenção rios na utilização dos serviços básicos de saúde.
especializada e hospitalar, incluindo serviços de Para a segunda fase do estudo adotou-se o
urgência e emergência, além de outros de maior método biográfico20, com a coleta das histórias
densidade tecnológica de referência regional. de vida de usuários dos serviços de saúde. A abor-
Ambos os municípios adotam a ESF como mo- dagem biográfica21,22, como preferem denominar
delo preferencial para organização da atenção alguns autores, tem sido empregada cada vez mais
básica, com uma cobertura superior a 90% de frequentemente pelas ciências sociais e humanas.
Agentes Comunitários de Saúde (ACS). A des- Para Houle22, as histórias de vida são o resul-
peito das diferenças socioeconômicas e demo- tado da elaboração de uma experiência ou de expe-
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Cecilio LCO et al.

riências de vida [....] e, por mais singulares que usuários. Estas três categorias, quando lidas em
elas sejam, podem ser consideradas como expe- conjunto, resultam em indicações empíricas que
riências “da vida em sociedade”. Na saúde, o em- nos possibilitam ter um pouco mais claro o lu-
prego da abordagem biográfica é mais recente. gar que a rede básica ocupa na atual configura-
No nosso meio destacam-se os trabalhos reali- ção do sistema de saúde, tendo em vista a pers-
zados por Schraiber23 que, utilizando-se das his- pectiva de seus usuários.
tórias de vida de médicos graduados nas primei-
ras décadas do século passado, reconstrói a tran-
sição da medicina liberal para a medicina tecno- Resultados e discussão
lógica23, 24. A abordagem biográfica também foi
utilizada por Carapinheiro14 e Andreazza15 para, A rede básica como posto avançado do SUS
a partir da coleta das experiências de usuários
pelos percursos labirínticos e desordenados do Esse Posto aqui é uma benção pra nós (P15)
sistema de saúde, reconstituirem os recursos que Foram agrupadas nessa primeira categoria
as pessoas se utilizam para traçar os caminhos todas as referências positivas ao atendimento
mais rápidos e eficazes para resolver seus proble- recebido na rede básica, em particular como ela é
mas de saúde, construir suas redes preferenciais vista como produtora de valores de uso pelos
de acesso, suas tramas de contorno de obstácu- entrevistados. Por sua crescente capilarização e
los e os sentidos atribuídos aos distintos proces- pela consequente maior proximidade física e aces-
sos de produção de cuidado. sibilidade para os usuários, a rede básica é perce-
O estatuto do usuário nesta investigação não bida como um posto avançado da política pública
é do mero entrevistado, pois não se trata aqui de que é o SUS.
uma pesquisa de opinião ou de satisfação dos O cuidado prestado aos diabéticos é bem ava-
doentes sobre a ABS25. Assumimos, como pro- liado nos dois municípios estudados, valorizado
põem Ceccim e Merhy26, que o saber que os usu- por ser um tratamento completo, pois fornece
ários adquirem na utilização concreta dos servi- insulina além do aparelho para medir a glicemia.
ços básicos de saúde poderá ocupar um caráter Olha, eu acho que eu continuaria na UBS [se
assessor no constante processo de busca de aper- voltasse a ter um plano de saúde], principalmente,
feiçoamento da ABS. por causa do problema da diabetes. Porque eu tenho
Na segunda fase do estudo, entrevistaram-se uma ajuda muito grande sobre o problema da diabe-
15 usuários com o objetivo de se reconstituir, a tes. Então, eu não desprezaria a UBS não. A insuli-
partir das suas experiências diante de um ou mais na, o aparelhinho pra fazer o destro [...] (P2).
processos de adoecimentos, como é feito o aces- Há o reconhecimento, também, na maior
so e a utilização dos serviços de saúde. Eles fo- agilidade para realização de exames.
ram indicados por agentes comunitários de saú- Aqui no Posto mesmo. Porque aqui mesmo você
de dos municípios estudados, tendo como crité- pega o pedido, você faz. Demora, geralmente, 15 a
rio serem pessoas grandes utilizadoras dos ser- 20 dias já chega o resultado.[...] Está mais fácil [do
viços de saúde. que] há um ano e meio atrás, 2 anos atrás [...].
No Quadro 1, estão descritas as principais Porque agora tá mais rápido, antigamente, demo-
características das pessoas entrevistadas. Todas rava pra vir o resultado (P4).
elas foram agendadas por telefone pelos própri- Temos, ainda, a oportunidade de observar
os investigadores e realizadas no domicílio dos como no cotidiano das unidades, na sua micro-
usuários, gravadas em meio digital, com a anu- política, ocorrem momentos de cuidado e víncu-
ência do entrevistado, que assinava os Termos de lo, que nem sempre são visíveis para os gestores,
Consentimento Livre e Esclarecido, conforme mas que são reconhecidos e valorizados pelos
aprovação do Comitê em Ética em Pesquisa da usuários, em particular como, em várias situa-
Unifesp, e posteriormente transcritas. ções, os profissionais identificam e respondem à
Referências à atenção básica feitas pelos en- necessidade de flexibilização do acesso para aten-
trevistados, seja de modo espontâneo, seja pro- der alguma situação mais aguda. Flexibilização
vocadas pelos entrevistadores, foram recortadas orientada mais pela necessidade do usuário na-
e submetidas à análise do tipo temática e agrupa- quele momento, do que por determinadas re-
das em três categorias empíricas: a rede básica gras estabelecidas para o funcionamento do ser-
como posto avançado do SUS; a rede básica como viço, ou seja, mais vinculado à ética profissional,
lugar das coisas simples; a rede básica como espa- do que às normas e regras que pautam a racio-
ço da impotência compartilhada entre equipes e nalidade formal da organização.
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Quadro 1. Características das pessoas estudadas.
Pessoa Sexo Idade Situação familiar Situação de trabalho Principais problemas
(anos) de saúde

P1 Fem. 44 Casada, 3 filhos, moram todos Aposentada, foi ACS Depressão pós-parto e
juntos. síndrome do pânico

P2 Fem. 47 Casada, 1 filho e uma neta. DM, cardiopatia e


hemorragias-anemia.

P3 Masc. 64 Casado, 3 filhas, uma já Aposentado. Foi HAS, DM e


falecida operário da indústria Cardiopatia
automobilística.

P4 Fem. 35 Casada, 3 filhos. Moram todos Do lar. Trabalhou com Hipoglicemia e dor de
juntos. transporte cabeça.

P5 Fem. 72 Casada/separada, 3 filhos, mora Aposentada. Trabalhou Artrose, asma, hérnia,


com o marido duas filhas, o com serviços HAS, DM e
genro e uma neta. domésticos dificuldades auditivas

P6 Fem. 39 Casada, 7 filhos. Moram todos Do lar. Vendia bala no Filho especial: sequelas
juntos. sinal. neurológicas e motoras
por meningite.

P7 Masc. 57 Casado. 4 filhos, 2 netos. Aposentado. Foi Acidente de trabalho,


Moram com eles um filha e o operário da indústria hérnia de disco,
genro. automobilística. alcoolismo, HAS

P8 Masc. Casado, 1 filha. Mora com a Aposentado. Foi Acidente de trabalho-


esposa operário da indústria lesão na coluna e grave
automobilística. lesão na mão.

P9 Fem. 52 Casada, 4 filhos, 8 netos. Mora Diarista. Está sem Artrite reumatóide,
com o marido e o filho caçula. trabalhar há três meses. HAS e DM

P10 Fem. 57 Casada, 2 filhos que vivem com Do lar. Obesidade mórbida
ela, além também de uma neta com dificuldade de
e a mãe locomoção

P11 Masc. 73 Casado, 6 filhos. Mora com a Aposentado. Foi HAS, DPOC e cardíaco
esposa. Metalúrgico. (cirurgia para colocação
de marcapasso)

P12 Masc. 54 Casado, 2 filhos, vive com a Aposentado. Foi HAS, ICC e catarata
esposa e um filho metalúrgico.

P13 Fem. 70 Viúva, uma filha e 3 netos. Aposentada, foi HAS, DM e


Mora sozinha, em casa faxineira e artesã Cardiopata
contigua da irmã. (comercializava em casa).

P14 Fem. 70 Solteira, 2 filhos. Mora com o Aposentada, serviços Atualmente, câncer de
filho, a filha, o genro e dois gerais de limpeza. mama
netos

P15 Fem. 52 Viúva, um filho. Mora com a Aposentada, foi HAS, problemas renais
mãe e com o filho costureira e babá. e transplante de Rim
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São muitas as indicações que permitem afir- às UBS. Como vimos na primeira categoria, a
mar que a rede básica produz valores de uso para rede básica produz mais valores de uso para além
os usuários nos dois municípios, mesmo que não dos medicamentos, mas sem dúvida a dependên-
seja exatamente o que as várias formulações de cia em relação à eles e, também, a busca pelo for-
modelos assistenciais definem que ela deva produ- necimento de guias para acesso aos serviços de
zir. E não é de pouca importância o que a ABS maior complexidade é que “obrigam” os usuários
consegue oferecer. Vale a pena lembrar que o es- a incluírem a rede básica nos seus cálculos ou em
tudo está utilizando biografias de pacientes que suas estratégias para conseguir o cuidado de que
vivem situações bastante graves de saúde, e que precisam. Mesmo assim, e tentando caracterizar
são utilizadores dos serviços de maior densidade o enunciado desta segunda categoria empírica, há
tecnológica. Portanto, a complexidade dos casos uma percepção de que a farmácia da UBS oferece
estudados, que poderia ser considerada um viés os medicamentos mais baratos. Vale notar aqui
para a avaliação da ABS, mostrou de modo sur- que, embora eles sejam elementos importantes
preendente como, mesmo para esses pacientes, para a ida dos usuários às unidades, pois sua
ela é reconhecida e funciona como referência e obtenção gratuita provavelmente desonera o or-
elemento importante para a composição do cui- çamento familiar, chama a atenção como eles são
dado de que necessitam. Dos quinze pacientes vistos como mais baratos, uma primeira indica-
entrevistados, nove fizeram referência explicita- ção de como eles identificam a rede básica como o
mente positiva de utilização da rede básica ou lugar das coisas mais simples.
reconheceram que encontram respostas para Porque só vem pra aqui remédio que é barati-
suas necessidades nela. É claro que aqui não há nho, e aí, eu tenho que comprar [os mais caros]
nenhuma pretensão quantitativa de análise, numa (P15).
métrica linear que avalia a importância pelo vo- Para além da obtenção de medicamentos, a
lume das referências, mas, reconhece-se, que há rede básica é vista como passagem obrigatória
situações em que a quantidade é um indicativo para a obtenção de “guias” (encaminhamentos),
de qualidade. pedidos de exames e mesmo de documentos para
Os entrevistados são pessoas que se utilizam se conseguir os benefícios sociais.
de serviços mais complexos que, frequentemente Uma percepção bastante compartilhada en-
os “sequestram”, produzindo circuitos próprios tre os entrevistados, e que reforça o sentido da
de circulação e gestão do cuidado. Portanto, o atenção básica como o lugar de coisas simples, é
reconhecimento dos valores de uso produzidos de que o médico generalista seria um médico com
pela ABS por esses pacientes é altamente indicati- pouca resolutividade, em particular como um
vo do quanto a rede básica constitui-se, de fato, encaminhador para o especialista e como um “tro-
em posto avançado do SUS para as pessoas, lugar cador de receitas” vindos do especialista, tal qual
para obtenção de recursos que irão utilizar na expressa o relato abaixo:
composição de sua cesta de cuidados, que, como Mas aí, não é bem passar [no que o paciente
sabemos, deverá ser completada com recursos considera uma consulta de “verdade”, quando
existentes em outros pontos do sistema. está doente]. Mas eu já tenho consulta agendada,
sempre a gente passa com ele a cada 3 meses. Que é
A rede básica pra renovar um remédio aí, de pressão alta, e de
como lugar das coisas simples diabete (P9).
A combinação do seguimento com algum es-
[Na UBS] É mais pra buscar remédio, medir a pecialista, em um serviço de referência, com o se-
pressão, e essas coisinhas aí. De vez em quando guimento pelo médico generalista da UBS é bas-
eu passo com o médico. Mas não é sempre não (P13). tante frequente. Em geral, as coisas mais “simples”
O primário, assim, ver uma pressão alta, uma como hipertensão arterial e diabetes são seguidas
febre de uma criança, uma gripe, uma coisa, é su- na própria unidade e o problema mais “grave” é
per bem atendido. A dificuldade toda é você conse- acompanhado pelo especialista. Apesar de se po-
guir marcar com um especialista [...] (P1). der afirmar que existe uma complementaridade
O fornecimento de medicamentos, seja pela da ação dos dois tipos de profissionais, parece
dispensação direta na farmácia, seja para obten- haver sempre a dúvida se a competência clínica do
ção de receita do médico, parece ser o valor de uso generalista funciona de forma supletiva, substitu-
mais imediatamente visível da rede básica para os tiva ou sobreposta à competência clínica do especi-
usuários. O acesso aos medicamentos funciona- alista, ou se, apenas, se limita a ser um “sinalizador
ria como um “chamariz” para levar os pacientes de percursos” e um “trocador de receitas”.
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De qualquer forma, fica evidente como os eu vou que vou! [...] Em qualquer hospital, minha
usuários combinam ativamente os cuidados do filha! (P6)
especialista com as consultas do generalista. O Ou, como diz outra paciente:
médico generalista da UBS trabalha em parceria No Pronto Socorro mesmo [onde vai quando
“informal e subalterna” com o especialista que precisa de atendimento por algum problema de
detém sempre a última palavra sobre o trata- saúde], porque na UBS a gente vai e é difícil ter
mento mais adequado. O polo especializado é um médico, assim, disponível. Porque você chega
dominante em relação ao da rede básica, até por- lá, se você tiver passando mal, você tem que esperar
que nos casos estudados não se percebe uma “dis- vaga e voltar. [...]. Porque pra aqui não adianta
puta” do generalista para tomar para si a condu- vir, porque você passa raiva (P4).
ção do cuidado. Para os usuários ele parece abdi- Por tudo isso é possível dizer que, apesar dos
car da autoridade para assumir a efetiva coorde- usuários reconhecerem valores de uso nas UBS e
nação do seu cuidado. buscarem nelas recursos que julgam importan-
[...] ele [o médico do PSF] fala: ‘Olha, dona tes para a composição do seu cuidado, parecem
[....], isso [o diabetes] é uma coisa que tem que perceber claramente o que podem e o que não
fazer com um especialista.’ [...] Aí o Dr. I. [médico podem esperar dela: conseguem medicamentos
da ESF] só renova, né? [...] Ele só renova com o de modo gratuito, mas são baratinhos; conse-
mesmo [remédio] que o médico do [hospital] pas- guem consulta médica, mas com um generalista
sou quando eu tava internada... Que é o remédio que atua como o polo subordinado em relação ao
da diabete (P9). especialista; conseguem atendimento mediante
Este abrir mão da condução do cuidado pelo agendamento, mas sabem que não podem contar
generalista merece uma discussão mais aprofun- efetivamente com a equipe em situações que avali-
dada. Ela poderia ser fruto do modo como os mé- am como tendo necessidade de atendimento ur-
dicos encaram ou entendem suas responsabilida- gente. É isso que nos permite afirmar que os usu-
des ou possibilidades de atuação na rede básica, ários dão o significado da ABS como lugar das
consequência do que poderíamos designar como coisas simples. A rede básica no seu caráter de
ideologia assistencial-preventivista presente no complementaridade, mas também de subalterni-
conceito de “atenção primária”, que pensaria a dade em relação aos serviços de saúde e profissi-
ESF mais como lugar de ações preventivas do onais que operam com maior complexidade tec-
que “curativas”. nológica.
A competência do generalista para cuidar tan-
to de crianças, como de mulheres e de adultos A rede básica como espaço da impotência
chega a ser abertamente questionada por uma compartilhada entre equipes e usuários
entrevistada ao afirmar que:
[A médica da ESF] [...] É, ela é tudo, é pedia- Porque na UBS não adianta você falar, porque
tra, é ginecologista, é clínica geral, é obstetra. [...] eles alegam que já não podem fazer mais nada, o
Ela é de tudo pra mim também.[...] Então, eu acre- que eles podiam fazer, já fez (P2).
dito na minha cabeça que um médico não estuda As histórias só confirmam o quanto o acesso à
pra tudo isso. Ele não faz uma faculdade de gineco- média e a alta complexidade é a grande dificuldade
logista, outra de clínico geral. Outra de pediatra, vivida pelos usuários, e, ao mesmo tempo, o seu
eu acredito que não. [...] Então, pra mim, eu acho objeto de desejo. Os prazos de espera relatados são
isso (P4). terríveis. Há um desconhecimento dos rumos das
Outra característica das UBS é como os usu- coisas. Há uma zona cinzenta de incerteza e de im-
ários percebem sua incapacidade e descompro- ponderabilidade que parece impenetrável para a
misso de atendimento em casos de urgência, o equipe e os pacientes. O que chama a atenção nas
que resulta na percepção de que em situações de narrativas é o quanto os usuários compartilham
urgência nem vale a pena “perder tempo” indo à de sua impotência com os profissionais da UBS,
UBS, melhor sendo procurar os serviços de ur- em particular com o médico. A equipe lhes parece
gência como primeira opção. sempre tão desinformada, tão impotente quanto
Como diz uma paciente questionada para eles. Uma impotência compartilhada!
onde ela levava o filho que tem necessidades espe- Então, eles, o pessoal da UBS aqui, não tem
ciais ao apresentar algum problema de saúde muita culpa, porque a culpa eu não sei de onde
[...] Porque de repente o meu filho dá uma fe- vem (P15).
bre, eu não vou ligar pro Posto: Ah, meu filho, vem [...] E elas falam: Gente, o que a gente pode
aqui! Eu não, fia, eu meto ele dentro do ônibus, e fazer, é aguardar. Se a gente pudesse fazer alguma
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coisa a mais, a gente tinha feito, mas a gente de- básica na construção das redes temáticas, duas
pende dos outros (P2). ordens de questões devem ser consideradas. A
Como o processo de encaminhamento via primeira, é que a ABS tornou-se um posto avan-
regulação governamental nunca é claro, parece çado do SUS, lugar onde as pessoas buscam re-
sempre haver um elemento “sorte” no acesso aos cursos fundamentais para compor o cuidado de
serviços, tal como nos relata o paciente: que precisam. A vida dos brasileiros seria mais
Tipo assim: Eles mandam a nossa guia pra Cen- difícil sem ela. A rede básica é uma produtora de
tral de Vagas. Aí depende da sua sorte, ou vai pro valores de uso para milhões de cidadãos. Nesse
[ambulatório de especialidades Municipais], ou sentido, ela deve ser defendida como uma con-
vai pro [dois hospitais de referências da região], quista a ser consolidada e aperfeiçoada. A segun-
entendeu? Aí depende, e a minha tinha saído pro da questão é que a ABS, por um conjunto de
[Hospital 1 de referência] (P10). razões que se apóiam em evidências colhidas na
Merece atenção o fato de que os recortes da pesquisa cujos resultados preliminares alimen-
atenção básica trouxeram um plus não esperado: tam este artigo, não reúne condições materiais e
muito se falou da média e alta complexidade. Ou simbólicas para funcionar como o centro de co-
seja, as referências à rede básica sempre vieram municação entre os vários pontos que compõem
“contaminadas” pela experiência frustrada do as complexas redes de cuidado, nesse momento
acesso à média complexidade. Os entrevistados em que o Ministério da Saúde9,17,18,27 coloca na
nunca falam da atenção básica sem fazer sua ordem do dia a construção das redes temáticas.
imediata conexão com os demais serviços, daí a Há o risco de ficarmos, discursivamente, rei-
frustração decorrente da percepção da impotên- terando tal papel para a atenção básica quando,
cia ou da não governabilidade da equipe da UBS na prática, e para as pessoas vivendo situações de
para produzir uma efetiva articulação com os ou- grandes carências e vulnerabilidade, os arranjos
tros níveis do sistema de saúde. O usuário identifi- para a responsabilização e gestão do cuidado de-
ca, na rede básica, profissionais que não podem verão ser muito mais complexos e articulados. O
efetivamente fazer muita coisa para garantir o que que fazer então? Pensamos que dois movimentos
mais deseja: o consumo das tecnologias, em tem- complementares podem ser feitos no sentido de
po adequado, que julga necessárias para se sentir se avançar na constituição, coordenação e opera-
bem cuidado. Assim, a UBS serve como obser- cionalização das redes temáticas. O primeiro, é
vatório das dificuldades de acesso aos serviços que a coordenação das redes assumirá múltiplas
de média e alta complexidade, nem sempre con- configurações a depender dos diferentes contex-
seguindo ser o ponto de apoio quando se trata tos locorregionais do SUS. Isso significa que os
de alcançar outros níveis do sistema de saúde, o mais variados arranjos, composições, lócus insti-
que se torna central para uma compreensão do tucionais de operacionalização deverão ser experi-
lugar que ela efetivamente possa ocupar como mentados, incluindo graus diferentes de partici-
centro de comunicação ou coordenadora da rede pação e responsabilidade da AB, sempre na pers-
de atenção à saúde, tal qual enunciado pelo Mi- pectiva da materialização de redes de serviços fun-
nistério da Saúde17,18,27 . cionalmente integradas que propiciem a integra-
Por mais que julguemos que tais necessidades lidade do cuidado que as pessoas necessitam.
possam ser “distorcidas”, uma simples reprodu- O segundo movimento vai no sentido de in-
ção ideológica de “falsas necessidades” que a me- vestimentos na ABS para que ela possa, progres-
dicina tecnológica em parceria com o complexo sivamente, ampliar sua capacidade de intervir
médico-industrial vai produzindo sem cessar, o ativamente nos processos regulatórios, consoli-
fato é que aquele usuário real, movendo-se na dando gradualmente sua legitimidade perante os
ordem de significados que vai sendo socialmente usuários como efetivo centro de comunicação
produzida, almeja conseguir tal consumo. E é partir com os demais serviços. Acesso direto das equi-
de tal julgamento que vai produzindo significa- pes locais para marcação de consulta, criação de
dos para a rede básica real, muito além de todos mecanismos formais e regulares de comunica-
os modelos idealizados do seu funcionamento. ção entre médicos da rede de atenção básica e as
centrais reguladoras e qualificação dos proces-
sos microregulatórios nas unidades, são algu-
Considerações finais mas medidas factíveis e que já têm sido experi-
mentadas nos municípios estudados.
Para responder à questão que compõe o título No entanto, e para finalizar o artigo, busca-
do artigo, qual seja, qual pode ser o papel da rede mos em Carapinheiro14 a reflexão sobre o quan-
2901

Ciência & Saúde Coletiva, 17(11):2893-2902, 2012


to é falsa a imagem de harmonia entre os cuidados,
e quão complexa é a trama urdida pelos indivíduos
no uso dos centros de saúde, hospitais, clínicas e
consultórios privados, emergindo em cada histó-
ria uma história única, constituída por percursos
impulsionados por movimentos irreprimíveis de
ação no sistema e de reação ao sistema. São os
usuários, portanto, a partir das suas distintas
experiências de encontro ou desencontro com os
serviços de saúde, que vão construindo novos
agenciamentos para conseguir o acesso à rede de
serviços, fazendo usos variados da ABS em fun-
ção de suas singulares necessidades e as ofertas
reais feitas por ela. Cabe-nos escutar esse saber
assessor que vai sendo produzido de forma irre-
primível pelos usuários, e utilizá-lo para o per-
manente e necessário aperfeiçoamento das redes
de cuidado de saúde.

Colaboradores

LCO Cecilio é o responsável pela concepção da


investigação e do artigo, e trabalhou na metodo-
logia, na análise, interpretação do material em-
pírico e na redação final. R Andreazza trabalhou
na concepção, na metodologia, na coleta do ma-
terial empírico e na redação final. G Carapinhei-
ro trabalhou na concepção da pesquisa, na me-
todologia, na análise do material empírico e na
revisão crítica do artigo. EC Araújo e LA Oliveira
trabalharam na coleta, na organização, na siste-
matização e na análise do material empírico.
MGG Andrade, CS Meneses, NRS Pinto, DO Reis,
S Santiago, ALM Souza, SM Spedo, trabalharam
na coleta e na análise do material empírico.

Agradecimentos

Nossos agradecimentos aos representantes dos


gestores dos municípios estudados, Flavius Au-
gusto Olivetti Albieri e Larissa Desiderá Santo
André e aos colegas Florianita C.B. Campos,
Claudia Regina Magnabosco-Martins, Sonia Ma-
ria de Melo e Tarcísio de Oliveira Braz que têm
participado ativamente desta investigação e do
grupo de pesquisa de Política e Gestão em Saúde.
Por fim, agradecemos especialmente os Agentes
Comunitários em Saúde, que indicaram os usuá-
rios, e as elas e eles que se dispuseram nos contar
suas histórias de vida.
2902
Cecilio LCO et al.

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