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id=110574 Ambiente Moodle

Possibilidades para a fabricação digital de recursos


de Tecnologia Assistiva de Baixo Custo na educação
- Turma 2021A

1. Conhecendo o que é movimento maker e fabricação digital


A Unidade 1 - Conhecendo o que é movimento maker e fabricação digital foi elaborada para que você
possa conhecer o que é movimento maker e aprender o que é fabricação digital, de modo a começar a ter
contato com esse universo. 

Para adentrar nesse universo, nessa unidade são disponibilizados os seguintes tópicos de estudo:

 O que é movimento maker e fabricação digital;


 Histórico do movimento maker e da fabricação digital;
o Teóricos do movimento maker;
 Movimento maker e fabricação digital na educação.

O conteúdo desse módulo é bastante breve, mas procure estudar os tópicos com bastante atenção, pois
eles apresentam conceitos fundamentais e necessários para as demais unidades do curso. 

Após ter realizado o estudo do material proposto, realize a atividade para testar seus conhecimentos e
finalize o estudo desta seção. 

1.2 O que é movimento maker e fabricação digital


É comum que as pessoas confundam o movimento maker com a fabricação digital. No entanto, antes de
tudo, é importante compreender que essas duas expressões não apresentam o mesmo significado, uma vez
que a fabricação digital faz parte do movimento/cultura maker.  

Movimento maker 

Make (criar) é um termo que remete geralmente a um grupo de pessoas comuns que costumam construir,
adaptar, consertar, modificar e fabricar objetos, buscando compreender como estes funcionam. A reunião
destas pessoas em comunidades passou a formar espaços propícios de criação e deu origem a bases para o
que veio a se chamar de movimento maker. 

Com a filosofia do "faça você mesmo" ou do inglês "do-it-yourself" esse movimento teve origem nas
ideias de Seymour Papert (1974) idealizador do Construcionismo. De maneira geral o Construcionismo
acredita que a construção de conhecimentos e o aprendizado é facilitado quando as pessoas
desenvolvem/constroem algum objeto público e compartilhável que para elas adquire sentido,
importância e significado. 

Seguindo essa premissa, o The Maker Movement Manifesto (2013), escrito por Mark Hatch (ex-CEO e
cofundador da rede de espaços e treinamento maker Techshop) traz alguns dos valores do movimento
maker:

 fazer - fazer e criar são fundamentais ao ser humano, todos precisam disso para se sentirem
completos;
 compartilhar - para ter sentido, o que é feito ou criado deve ser compartilhado com os demais;
 aprender - todos devem aprender a fazer, buscando sempre novos materiais, métodos,
equipamentos e processos;
 brincar e experimentar - durante o processo é importante brincar, experimentar e se divertir com
o que está sendo feito ou criado;
 participar - buscar fazer conexões e participar de diferentes espaços (workshops, seminários,
oficinas) que estimulam a cultura maker; 
 mudar - identifique e abrace as mudanças que acontecem ao longo da sua jornada dentro do
movimento maker.

Nesse sentido, o movimento maker parte do princípio de que qualquer pessoa pode construir, consertar,
modificar, fabricar e desenvolver os mais diversos tipos de objetos e projetos com suas próprias mãos,
eliminando a necessidade de comprá-los prontos. 

Para realizar esses processos, conseguir gerar seus artefatos e desenvolver seus projetos, as pessoas que
fazem parte do movimento maker se utilizam de equipamentos, espaços e técnicas de fabricação digital
que serão apresentadas ao longo do curso. 

Fabricação digital 

Conforme Alvarado et al, (2009), a fabricação digital, também conhecida como manufatura digital ou
prototipagem rápida, contempla uma série de recursos tecnológicos que envolvem a produção de objetos
físicos através de modelos computacionais. Para produzir esses objetos são utilizadas espaços ou
laboratórios makers (hackerspaces, makerspaces e fab labs) com máquinas específicas, como por
exemplo, impressoras 3D, máquinas de corte a laser, fresadoras, router, plotter de recorte, dentre outras
equipamentos. 

O vídeo a seguir explica brevemente o movimento maker e como ele faz uso da fabricação digital em sua
filosofia. Neste momento, não se preocupe se você não conhecer os espaços e equipamentos citados, pois
eles serão apresentados com mais detalhes nas próximas  unidades do curso. 

https://www.youtube.com/watch?v=4lSuusomj_E&t=3s

Conhecendo a Fabricação Digital

1.3 Histórico do movimento maker e da fabricação digital


Ao longo da história da humanidade o ser humano sempre criou, construiu, consertou e fabricou artefatos
até chegarmos ao que conhecemos hoje como movimento maker estruturado sobre a filosofia do “do-it-
yourself” ou “faça você mesmo”.

Esse movimento teve início a partir de 1950, no período pós-guerra, em que os recursos eram escassos e a
mão de obra tinha alto valor, o que exigia que as pessoas realizassem adaptações criativas que atendessem
às suas necessidades. 

A partir de 1970, o movimento foi impulsionado por dois principais fatores, sendo eles:

 Expansão e popularização do meio digital -  pessoas passaram a compartilhar seus projetos,


experiências e conhecimentos na rede. Alguns exemplos incluem o surgimento dos computadores,
da internet, softwares, hardwares, redes sociais, tutoriais explicativos, repositórios de
compartilhamento de modelos, dentre outros.

 Barateamento de equipamentos e recursos de manufatura - essa redução no custo de


equipamentos permitiu que consumidores comuns adquirissem essas ferramentas e produzissem
seus projetos pessoais. Como exemplos tem-se as impressoras 3D, blocos de montar, kits de
eletrônica e de robótica, dentre outros. 
Esses dois fatores desencadearam alguns acontecimentos que impulsionaram o crescimento do
movimento maker no mundo, sendo eles:

 Década de 70 - período de expansão dos computadores e da internet


 2004 - Projeto RapRap, uma iniciativa que surgiu na Inglaterra para fabricação de impressoras 3D
 2005 - criação da Revista Make Magazine, destinada a publicar conteúdo sobre o movimento
maker (computação, eletrônica, robótica, marcenaria, metalurgia, dentre outros)
 2008 - realização da primeira Maker Faire, uma feira destinada a compartilhar conhecimentos e
experiências entre criadores
 2009 - surgimento da Fab Foundation, organização internacional sem fins lucrativos para o
incentivo e apoio a implantação de fab labs em diversas partes do mundo. 

Para complementar esse histórico, veja um infográfico que sintetiza o histórico do movimento maker no
mundo. 

Linha do tempo do movimento maker  


Fonte: adaptado de  A history of Do It Yourself- DIY (2018)

1.3.1 Teóricos do movimento maker


Ao longo da história da cultura maker vários nomes se tornaram importantes e são mundialmente
conhecidos dentro do movimento. Conheça a seguir alguns dos principais teóricos. 

Seymour Papert (1928 - 2016) - É considerado por alguns autores com o pai do movimento maker.
Papert desenvolveu a teoria da aprendizagem conhecida como Construcionismo, que acredita que a
construção de conhecimentos e o aprendizado é facilitado quando as pessoas desenvolvem/constroem
algum objeto público e compartilhável que para elas adquire sentido. Papert também é o criador
da linguagem de programação LOGO e é um dos maiores teóricos no que se refere ao uso de
computadores na educação. 

Dale Dougherty (1955) - É reconhecido como o responsável pela criação da expressão "movimento maker".
Atualmente é o proprietário da empresa O'Reilly Media responsável pela publicação da Revista Make
Magazine. Além disso, Dougherty organiza e participa ativamente de feiras e eventos na área, divulgando o
movimento e sua filosofia. Segundo ele, o fazer/criar é uma atividade inerente ao ser humano. 
Neil Gershenfeld (1959 ou 1960) - É professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e
também idealizador e ministrante do curso “How To Make (Almost) Anything" em português
chamado de "Como fazer (quase) qualquer coisa". Gershenfeld foi o responsável pela criação do
centro de manufatura em pequena escala no CBA - Centro de Bits e Átomos no MIT Media Lab que
é caracterizado como o modelo do primeiro fab lab. Segundo ele, o movimento maker pode ser
entendido como um caminho para o desenvolvimento de projetos pessoais com compartilhamento de
experiências ao longo do processo.

Chris Anderson (1961) - É ex-editor da revista americana Wired e autor de vários livros dentre eles a
obra Makers a nova revolução Industrial (2012) que apresenta o impacto e as transformações que o
movimento maker trará para o setor industrial. Anderson caracteriza os makers como indivíduos que se
utilizam de ferramentas digitais em suas áreas de trabalho, compartilham projetos de cooperação online e
fazem uso de padrões de projeto para facilitar compartilhamento e interações.

Mark Hatch - É autor do The Maker Movement Manifesto (2013) e antigo CEO e cofundador da rede
TechShop (rede de espaços e treinamento maker) que encerrou suas atividades em 2017. Hatch participou
de diversos eventos como a Maker Faire e é um entusiasta dessa cultura. 

É possível saber mais sobre essas personalidades consultando as páginas Saiba mais sobre a história e
visões por trás do movimento maker! e Os makers debatem a última fronteira do “faça você mesmo". 

As ideias desses teóricos já são difundidas em várias áreas do conhecimento, inclusive na educação. No
conteúdo seguinte veremos como a filosofia do "faça você mesmo" está transformando os espaços
educativos. 

1.4 Movimento maker e fabricação digital na educação


A filosofia do movimento maker e os espaços e ferramentas de fabricação digital já são utilizadas em
diversas áreas, como, por exemplo, na área da saúde, da arquitetura, do design, da computação e
atualmente vem sendo incorporadas à educação. 

Ao pensar no movimento maker e fabricação digital na educação, é comum que muitos relacionem essa
ação com o surgimento de laboratórios e incorporação de tecnologias como impressoras 3D, kits de
eletrônica e robótica nos espaços escolares. No entanto, se trata de mais do que isso, já que as maiores
características do processo de produção maker são a experimentação, imaginação e criatividade -
conceitos fundamentais para um maker.  Logo, ser um maker está muito mais relacionado com
características individuais do que com os equipamentos utilizados. 

Além disso, o movimento está centrado nos conceitos de criatividade, experimentação, comunidade,
compartilhamento e protagonismo, o que possibilita que os estudantes estejam engajados e participem na
construção do seu processo de aprendizagem. Segundo a cartilha O Movimento Maker na Educação
(2015), a inserção da cultura maker nos espaços escolares desencadeia diversos aprendizados na
comunidade escolar, como:

 Conhecimentos básicos da ciência de projetos, compreendendo necessidades e dificuldades de um


projeto real, como por exemplo, decomposição do processo em tarefas menores, interdependência
de atividades, riscos, documentação, avaliação dos resultados, dentre outras;
 Entendimento dos erros como uma parte natural do processo de criação e inovação e não como
algo a ser temido ou sinônimo de fracasso;
 Crescimento da resiliência no desenvolvimento de projetos mais complexos;
 Importância do trabalho em equipe e desenvolvimento de liderança; 
 Interesse na pesquisa e na exploração de ideias que possibilitem usar a criatividade para encontrar
soluções para problemas.

Considerando esses aprendizados elencamos abaixo alguns exemplos de projetos desenvolvidos a partir
da filosofia maker e ferramentas de fabricação digital em um contexto educativo:
1. Fabricação de artefatos para uso no ensino de ciências em séries da educação básica. Os objetos foram
desenvolvidos dentro de um laboratório maker (fab lab) com ferramentas de fabricação digital
(impressoras 3D e cortadora laser). 

Artefatos concretos desenvolvidos para uso na aula de ciências 


Fonte: Medeiros et al (2018)

2. Desenvolvimento de um jogo para ensino do pensamento computacional com temática espacial. Os


avatares (alienígenas) e o tabuleiro foram desenvolvidos com ferramentas de fabricação digital
(impressora 3D, cortadora a laser e plotter de recorte).

Jogo de tabuleiro espacial para ensino do pensamento computacional 


Fonte: Dall Agnol, Gusbertí e Bertagnolli (2020)

3. Desenvolvimento de recursos de Tecnologia Assistiva (artefatos para auxiliar pessoas com deficiência
na realização de tarefas) no espaço escolar. Os artefatos foram criados e prototipados em um laboratório
maker (laboratório de desenvolvimento de Tecnologia Assistiva) utilizando ferramentas de fabricação
digital. 

Recursos de Tecnologia Assistiva 


Fonte: CTA/IFRS (2019)

São diversas as possibilidades para que a cultura maker faça parte dos espaços escolares. No entanto,
ainda não existe uma metodologia concreta para a implementação desse movimento nas escolas. Para
ajudar os educadores que querem iniciar esse processo a  cartilha O Movimento Maker na Educação
(2015), propõe algumas dicas para auxiliar nesse processo. São elas:

 Inicie gradativamente, selecionando grupos de interessados para o desenvolvimento de projetos


menores em aulas mais experimentais como ciências, física ou outras; 
 Considere os recursos da escola (financeiros, humanos, infraestrutura) e comece dentro das suas
possibilidades; 
 Elabore os projetos que se utilizarão da cultura maker com antecedência;
 Planeje os recursos financeiros e destine parte da verba da escola para iniciar o seu espaço maker;
 Tenha um responsável técnico que conheça a tecnologia para auxiliar durante os processos e
desenvolvimento dos projetos; 
 Defina metas viáveis e trabalhe com pequenas mudanças no espaço escolar;
 Documente o processo de implementação e divulgue os resultados obtidos de maneira a visualizar
o que deu certo e o que pode ser melhorado; 
 Entenda que o foco da filosofia maker não é somente as tecnologias e equipamentos, mas sim as
pessoas, projetos e objetivos a serem alcançados.

Resumindo, existem diversas possibilidades para que a filosofia maker transforme a educação, mas é
preciso que os educadores entendam o conceito e comecem gradativamente a desenvolver projetos
criativos dentro de sua realidade. 

Agora, com tudo que você aprendeu nesta unidade, realize a atividade proposta 1 e teste seus
conhecimentos.
2.1 Apresentação da unidade
Bem-vindo à Unidade 2 - Espaços makers e equipamentos de fabricação digital

Essa unidade do curso foi elaborada para que você possa conhecer os espaços makers e os principais
equipamentos de fabricação digital utilizados nesses locais. 

Para isso, nela são disponibilizados os seguintes tópicos de estudo:


O que são espaços makers; 

o Hackerspaces e Makerspaces; 
o Fab labs; 
o Exemplos de espaços makers na educação;
 Equipamentos de fabricação digital; 
o Impressoras 3D;
o Cortadora a laser; 
o Router e outros equipamentos.
2.2 O que são espaços makers
Com a popularização do movimento maker, diversos espaços começaram a ser projetados para se tornar
laboratórios de fabricação digital, objetivando a criação, a prototipação e a construção de diversos
artefatos. Esses ambientes são locais propícios para o estímulo da aprendizagem do empreendedorismo e
do desenvolvimento criativo, científico e tecnológico, onde qualquer indivíduo pode desenvolver seus
projetos.

Segundo Raabe e Gomes (2018) um laboratório maker contempla vários ambientes que permitem a
criação e prototipação de variados objetos, como ilustrado na imagem abaixo. 

Planta de um laboratório maker 


Fonte: Raabe e Gomes (2018)

Nessa imagem, é possível ver um esboço de uma planta genérica de um laboratório maker, contendo
espaços para Artesanato (1), Costura (2), Eletrônica (3), Marcenaria (4), Exemplos e modelos (5), Corte a
laser (6) e Impressão 3D (7).

Com base no esboço acima, os laboratórios makers são espaços de experimentação que compartilham
diversas características entre si, sendo em grande maioria semelhantes. No entanto, o que lhes diferencia
são algumas características em relação ao seu principal objetivo. Raabe e Gomes (2018) trazem que os
espaços makers podem ser:

 hackerspaces ou hacklabs; 
 makerspaces; 
 fab labs. 

Na sequência, você irá conhecer um pouco mais sobre cada um desses espaços e suas principais
características. 

2.2.1 Hackerspaces e makerspaces


Os hackerspaces e os makerspaces apresentam características bastante semelhantes entre si, sendo comum
que os termos sejam confundidos e utilizados como sinônimos. No entanto, é preciso esclarecer dúvidas e
compreender que essas expressões não possuem o mesmo significado.  Em relação a esses dois
espaços Raabe e Gomes (2018), explicam suas diferenças. 

Os hackerspaces ou hacklabs são lugares onde os apaixonados por tecnologia podem se reunir, inventar
dispositivos ou explorar as tecnologias emergentes, como microcontroladores de baixo custo. São
estruturados sob os princípios de liberdade de informação com uso de softwares livres, aprendizado na
prática e cooperação entre as pessoas. Seu público envolve programadores experientes, hackers e
engenheiros da computação e de software.
Exemplo de um hackerspace localizado em São Francisco nos EUA 
Fonte: Hackerspace Noisebridge (2019)

Já os makerspaces são espaços de tamanhos e custos variados com equipamentos, tecnologias e conceitos
flexíveis. Não há regras para a construção desses ambientes, e neles pode haver ferramentas de
marcenaria, artesanato, impressoras 3D, microcontroladores, bancadas de eletrônica, cortadoras a laser e
diversos outros equipamentos/ferramentas.

Exemplo de um makerspace brasileiro


Fonte: Makerspace Circuito Maker (2019)

Dando continuidade ao curso, você irá conhecer os fab labs, outro formato de espaço maker bastante
difundido atualmente.  

2.2.2 Fab labs


Os fab labs também são espaços makers, mas apresentam características específicas quando comparados
aos hackerspaces e makerspaces. 

Segundo Raabe e Gomes (2018), os fab labs são espaços padronizados, conforme o Fab Charter, um
documento da Fab Foundation (organização americana sem fins lucrativos para a expansão desses
espaços), que estabelece os princípios para a atuação desses laboratórios. Alguns desses princípios
envolvem ter membros treinados, ter um conjunto mínimo e padronizado de equipamentos, estar aberto
ao público, estar ligado à rede mundial de fab labs, dentre outras características. 

A Fab Foundation explica também que fab labs são uma plataforma de prototipagem técnica para
inovação e invenção, fornecendo estímulo para o empreendedorismo local, o aprendizado e a inovação,
isto é, um lugar para brincar, criar, aprender, orientar e inventar. Ser um fab lab significa também estar
imerso em uma comunidade de alunos, educadores, tecnólogos e pesquisadores que estão conectados em
uma rede global, compartilhando conhecimentos e experiências. 

A Fab Foundation apresenta mais características dos fab labs em seu Fab Charter, conforme descrito no
quadro abaixo.

Quadro: The Fab Charter

O que é um Fab Lab?


Os Fab Labs são uma rede global de laboratórios locais, possibilitando a invenção e fornecendo acesso a
ferramentas para a fabricação digital.

O que tem um fab lab?

Os fab labs dispõem de um conjunto de equipamentos em evolução e com capacidade para fazer (quase)
qualquer coisa, permitindo que conhecimento e projetos sejam compartilhados.

O que permite fazer a rede de fab lab?

Apoio operacional, educativo, técnico, financeiro e logístico, para além do que está disponível num lab.

Quem pode usar um laboratório de fabricação?

Os Fab labs estão disponíveis como um recurso da comunidade, oferecendo acesso aberto para
indivíduos, bem como acesso agendado para programas.

Quais são as suas responsabilidades?

 Segurança: não ferir pessoas nem danificar máquinas


 Operações: apoiar na limpeza, manutenção e melhoria do lab
 Conhecimento: contribuir para a documentação e educação

Quem é o dono das invenções nos Fab Lab?

Projetos e processos desenvolvidos em fab lab podem ser protegidos e vendidos como o inventor desejar,
no entanto, deve permanecer disponível para uso e aprendizagem pelos outros.

Como as empresas podem utilizar um fab lab?

As atividades comerciais podem ser prototipadas e incubadas num fab lab, mas não devem entrar em
conflito com outras utilizações. Elas devem evoluir para além do fab lab em vez de permanecerem dentro
do laboratório, e espera-se que beneficiem os inventores, labs e redes que contribuem para o seu sucesso.

No vídeo a seguir, intitulado “O que é um Fab lab”, é explicado o que pode ser feito nesses espaços, quais
suas características e onde surgiu essa ideia. 

https://www.youtube.com/watch?v=CXoBNs6c0ZM O que é um FabLab? (versão Libras)

Agora que você já conhece os espaços makers, no material seguinte serão apresentados dois exemplos de
como esses ambientes podem ser incorporados em instituições de ensino para o desenvolvimento de
diversos projetos educacionais. 

2.2.3 Exemplos de espaços makers na educação


Atualmente, a cultura maker tem se popularizado em diferentes locais, como por exemplo em ambientes
residenciais (pessoais), empresariais e principalmente em espaços educacionais. 

No caso de instituições de ensino, os laboratórios makers  possibilitam que os professores, estudantes e


pesquisadores possam desenvolver projetos colaborativos nas mais variadas áreas, exercitando a
criatividade, o empreendedorismo, a resolução de problemas e o aprendizado a partir do fazer. Abaixo,
você irá conhecer dois espaços makers que nasceram no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e
são abertos à comunidade. 
CTA - Centro Tecnológico de Acessibilidade do IFRS

O Centro Tecnológico de Acessibilidade (CTA) é um setor/laboratório maker pertencente à reitoria do


IFRS, responsável por propor, orientar e executar ações de ensino, pesquisa e extensão em acessibilidade
e recursos de Tecnologia Assistiva. O CTA realiza pesquisas e desenvolve artefatos personalizados para
promover maior independência, autonomia e qualidade de vida para servidores e estudantes com
deficiência no contexto do IFRS. 

Esse espaço conta com diversos equipamentos de fabricação digital e possui uma equipe multidisciplinar
formada por servidores, estagiários, bolsistas e voluntários para a realização de diversos projetos que são
melhor apresentados no vídeo “Conheça o CTA”, disponível a seguir. 

https://www.youtube.com/watch?v=C0jXWftzwYg

Conheça o CTA (Vídeo com Libras)

POALAB 

O POALAB é um fab lab, ou seja, um laboratório de fabricação digital que está conectado à rede mundial
de fab labs, operando atualmente como um programa de extensão do IFRS campus Porto Alegre. 

Com diversas ferramentas de fabricação digital e com uma equipe de pesquisadores, estudantes, bolsistas
e voluntários, esse espaço tem como missão popularizar o acesso e letramento na fabricação digital,
funcionando como uma plataforma de criatividade, aprendizagem e invenção para todos aqueles que
desejam desenvolver seus projetos acadêmicos ou pessoais.  

No vídeo "Introdução ao POALAB", disponível a seguir, é possível conhecer o espaço, os equipamentos,


atividades e projetos realizados nesse laboratório. 

https://www.youtube.com/watch?v=-Js3hiFMk1g

Introdução ao POALAB

2.3 Equipamentos de fabricação digital


Para que seja possível desenvolver projetos de diferentes natureza, existem nos espaços makers diversos
equipamentos e máquinas CNC (Comando Numérico Computadorizado) que permitem a realização de
vários processos. 

As máquinas CNC são bastante versáteis e são utilizadas na produção em massa ou individual (fabricação
pessoal) de peças complexas ou de grande precisão, em processos industriais, de usinagem, comunicação
visual, marcenaria, artesanato, dentre outros. Tais ferramentas ainda são capazes de realizar inúmeros
processos, como, por exemplo, fabricar, modelar, cortar e detalhar materiais como chapas de aço, acrílico,
MDF, PVC, EVA, Polietileno, nylon, couro, madeira, alumínio e inox. 

Os equipamentos CNC mais comuns encontrados em espaços maker são:

 impressoras 3D;
 cortadoras a laser;
 router;
 plotter de recorte;
 outros equipamentos como fresadoras, kits de eletrônica e kits de robótica. 
No quadro abaixo é explicado brevemente como esses equipamentos funcionam. 

Fonte: Campos e Lopes (2007)

A lógica para o funcionamento dessas máquinas é sempre a mesma, ou seja, é gerado um modelo virtual
por computador nos quais são introduzidos os parâmetros pertinentes a sua fabricação. 

Após isso, o software gerará instruções numéricas (G-Code), que irão para o equipamento, seja ele uma
impressora 3D, uma cortadora a laser, uma fresa, um router ou outra ferramenta, de modo que ela execute
todas as tarefas necessárias para a confecção de um determinado objeto. 

Diferentemente da manufatura tradicional (indústria) em série que utiliza máquinas genéricas que são
ajustadas ou até mesmo fabricadas para executar uma mesma tarefa específica indefinidamente, essas
máquinas podem fabricar objetos em uma escala da ordem de uma ou poucas unidades. 

Esses equipamentos são bastante flexíveis e versáteis, pois para eles não existem formas ou ajustes
predefinidos, uma vez que elas obedecerão às instruções contidas em um código (G-Code)
correspondente, possibilitando assim um alto grau de personalização ou customização dos artefatos
produzidos.

2.3.1 Impressoras 3D
As impressoras 3D são ferramentas muito comuns e possivelmente as mais conhecidas nos espaços
makers. Raabe e Gomes (2018) explicam que elas são equipamentos bastante utilizados para
prototipagens rápidas, possibilitando gerar um objeto tridimensional a partir de um modelo criado em
softwares de modelagem 3D (Solid, Autocad, 3DMax, etc). 

Os objetos são criados por meio de fabricação aditiva, ou seja, a impressora adiciona, através de seu bico
extrusor, diversas camadas de material como plástico/filamento PLA (poliácido lático) ou ABS
(Acrilonitrila Butadieno Estireno), em diferentes pontos, formando assim objetos tridimensionais.  

Exemplos de Impressoras 3D
Fonte: CTA/IFRS (2019)

Descrição longa da imagem: As impressoras 3D  são equipamentos de tamanhos variados, em sua
maioria com uma área para impressão de objetos plásticos com tamanho máximo de vinte centímetros de
largura por vinte centímetros de profundidade por vinte centímetros de altura. A tecnologia mais popular
é baseada em um motor que empurra um filamento plástico de 1.75 milímetros de diâmetro por um bico
extrusor que aquece o filamento a uma temperatura entre 180 e 250 graus celsius, e deposita o plástico
aquecido em uma mesa no espaço de impressão. O depósito é feito em camadas sendo que, após depositar
uma camada inferior, o bico extrusor sobe e deposita a próxima camada.

Exemplos de artefatos que foram impressos na impressora 3D


Fonte: CTA/IFRS (2019)

O vídeo a seguir, produzido pelo CTA mostra a impressão de um


objeto na impressora 3D. 

A matéria do site Tecmundo apresenta como funcionam os modelos


mais comuns de impressoras 3D. 

O modelo do objeto é desenvolvido por uma pessoa dentro de um


software de modelagem 3D instalado no computador.

O modelo é enviado para o software da impressora que o divide em


muitas camadas diferentes em duas dimensões.

A modelagem pode ocorrer por fusão e depósito utilizando filamento


plástico,  por sinterização seletiva a laser com partículas de plástico ou
metal ou por estereolitografia com resina líquida. Na sequência, é
explicado o processo por fusão e depósito que é o mais comumente
empregado. 

O bico injetor da impressora é aquecido e puxa o filamento plástico


que está sólido. 
O filamento é aquecido e o material derretido é depositado em
camadas na base de impressão (mesa). 

A base (mesa) desce, permitindo a formação da próxima camada. 

Uma nova camada é formada, dando forma ao objeto.

O modelo está pronto.  

O tempo de impressão pode ser de poucos minutos até muitas horas variando de acordo com o tamanho e
a definição do objeto. 

Quanto maior a quantidade de camadas, melhor. 

Para modelar objetos 3D, existem disponíveis online gratuitamente programas e repositórios de modelos
3D que podem ser utilizados de forma simples, mesmo para aqueles que não possuem experiência em
modelagem. Exemplos são o Tinkercad e o SketchUp que funcionam online e permitem ao usuário
aprender a modelar desde o início brincando por meio de testes e da experimentação.

Outra máquina bastante versátil é a cortadora a laser, que você vai conhecer no próximo conteúdo do
curso.  
2.3.2 Cortadora a laser
A  máquina de corte a laser é um equipamentos versátil, rápido e bastante preciso que possibilita cortar e
gravar em diferentes materiais, como por exemplo, papel, papelão, plástico, madeira, MDF, EVA, couro,
acrílico e outros. Além disso, é possível projetar em 2D artefatos que, ao serem justapostos, adquirem
volume. 

Exemplo de cortadora a laser 


Fonte: CTA/IFRS (2019)

Descrição longa da imagem: A máquina de corte a laser tem formato quadrado e possui um tampa em
sua parte superior. No interior existe um laser e uma mesa onde são colocados os materiais para serem
cortados ou gravados. A tampa possui uma janela de vidro transparente por onde é possível observar o
processo que está ocorrendo no seu interior. Em seu canto direito, ao lado da tampa, existem botões que
permitem controlar funções do equipamento. 

Exemplos de objetos cortados na cortadora a laser  


Fonte: Fonte: Raabe e Gomes (2018)

Com base nas informações do vídeo "How does laser cutting work - Basic explained", produzido pela
empresa "Trotec - laser, marking cutting engraving" explicamos abaixo o funcionamento da cortadora a
laser.

Descubra como funciona uma cortadora a laser

O corte a laser é um método de separação térmica no qual muitos materiais diferentes podem ser cortados
e gravados com eficiência, rapidez e precisão sem retrabalho. Assim, é fácil passar de um modelo gráfico
(digital) para um objeto físico.

Tudo começa com a ideia do objeto a ser cortado ou gravado. 

Na sequência, o artefato é desenhado ou seu arquivo é carregado em um software vetorial no computador,


como por exemplo o CorelDraw ou Illustrator. O arquivo é enviado para a cortadora a laser através de um
comando de impressão. 

O material a ser utilizado para confecção da peça (por exemplo, acrílico, MDF ou papelão) é colocado na
mesa de processamento da máquina, e em seguida o botão iniciar é pressionado. 
O laser será disparado e o seu ponteiro rastreia a imagem vetorial, cortando ou gravando desenhos no
material conforme a intensidade do feixe de luz e do arquivo que foi enviado para a máquina
anteriormente.  

A peça poderá ser removida assim que o processo for finalizado. 

Fonte: Trotec (2020)

2.3.3 Router e outros equipamentos


Embora as impressoras 3D e as cortadoras a laser sejam os equipamentos mais comuns, os laboratórios
makers podem contar também com outras ferramentas como as routers e os plotters de recorte. 

Router 

As routers são equipamentos versáteis projetadas para usinar (dar uma forma ou detalhar)  materiais com
alto grau de precisão, como madeira, polímeros, ligas de alumínio, plástico, borracha, espuma, isopor,
metais, dentre outros. Diferente da cortadora a laser que corta ou faz gravações no material, a router
desbasta, ou seja, retira pedaços da matéria-prima para confeccionar o objeto. 

A router possui uma fresa (instrumento de corte rotativo com dentes semelhante a uma broca de
furadeira) que consegue se movimentar sobre uma mesa e trabalhar diferentes materiais em três
dimensões (eixo X, Y e Z). O eixo X é o mais longo e a fresa se movimenta para frente e para trás, o eixo
Y movimenta a fresa da esquerda para a direita, enquanto o eixo Z realiza o movimento de cima para
baixo.

A partir de um arquivo em formato digital é possível fornecer os parâmetros de corte para a router, que
executa o caminho definido no desenho, cortando o material. A velocidade/intensidade com que a fresa
irá se mover e retirar material dependerá do insumo utilizado e do objeto a ser cortado. 

Exemplo de router  
Fonte: CTA/IFRS (2019)

Descrição longa da imagem: A router é uma


máquina retangular que possui uma mesa onde será colocado o
material a ser cortado. A máquina contém em sua parte
superior uma fresa (instrumento de corte rotativo
com dentes semelhante a uma broca de furadeira) que se
movimenta sobre a mesa em três dimensões desenhando o
objeto que estava no computador. A fresa está ligada
a um motor que conforme configurado determina a
intensidade do movimento e consequentemente do corte a ser
realizado.  
Exemplos de materiais confeccionados na router 
Fonte: Cutter CNC (2019)

Plotter de recorte

O plotter de recorte é uma máquina de precisão milimétrica, utilizada para realizar cortes, desenhos ou
gravuras em diversos tipos de materiais.  Essa ferramenta é capaz de cortar vinil adesivo, papel
fotográfico, EVA, mantas magnéticas, acetato, cartolina, papel cartão, tecidos e muitos outros insumos a
partir de arquivos vetoriais em 2D que estão no computador. O plotter de recorte possibilita a confecção
de banners, adesivos, estampas e diversos outros objetos personalizados. 

Exemplo de plotter de recorte 


Fonte: Mercado Laser (2019)

Descrição longa da imagem: O plotter de recorte é um equipamento retangular semelhante a uma


impressora (em escala maior) que possui lâminas que cortam os materiais no formato indicado em um
software de computador. O plotter geralmente está suspenso em uma estrutura semelhante a um cavalete e
conforme vai cortando os insumos os empurra para fora deixando-os pendente para que ao final do
processo possam ser retirados. 

Exemplo de adesivo recortado em um plotter de recorte.


Fonte:  POALAB/IFRS (2019)
Descubra como funciona um plotter de recorte

O plotter é ligado a um computador/dispositivo que possui um software específico para o gerenciamento e


tratamento de imagens. Qualquer arquivo de imagem vetorial 2D pode ser carregado no software.

Nesse software é possível inserir os dados do corte, como por exemplo, tipo do papel, quantidade de
cores, redimensionamento, pressão e velocidade do corte, dentre outras informações. 
Com o arquivo de imagem preparado, os dados são interpretados pelo computador e enviados para recorte
pelo plotter. 
Uma lâmina com sistema de roletes se move sobre o material escolhido formando a imagem que
anteriormente estava no arquivo do software do computador.
Fonte: Blog Valejet (2016)

Outros equipamentos 

Além das impressoras 3D, cortadoras a laser, routers e plotters, os


espaços makers podem contar também com diversos outros
artefatos, como por exemplo:

 Kits para marcenaria (martelo serrote, serra, etc);


 Arduino (placa com microcontroladores);  
 Kits de eletrônica;  
 Kits de robótica;
 Blocos de montar;
 Bancada de prototipação; 
 Mesa digitalizadora;
 Bordadeiras eletrônicas;
 Bancadas para desenvolvimento de projetos.  

Agora que você conhece os tipos de espaços makers e ferramentas de fabricação digital, teste seus
conhecimentos realizando a atividade proposta 2 e conclua a unidade. 
3. Tecnologia Assistiva (TA)

Antes de trazer o conceito de TA, reflita sobre a frase abaixo: 

“Para as pessoas sem deficiência a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com
deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis.” Radabaugh (1993 apud Bersch, 2017, p. 01).

Essa frase já expressa bem a essência da Tecnologia Assistiva, também conhecida como Ajudas Técnicas
(AT), “produtos de apoio” ou “produtos assistivos”. No entanto, para compreender melhor a natureza da
TA, é preciso conhecer seu conceito e também entender quem são seus usuários.

O Conceito de TA

Conforme a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) a Tecnologia Assistiva ou ajuda técnica corresponde a 
produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que
objetivem promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência
ou com mobilidade reduzida, visando a sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão
social. 

O Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) vai além
quando expõem que a TA é: uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba
produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a
funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou
mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social.

Portanto, os conceitos de Tecnologia Assistiva abrangem desde recursos físicos até softwares
especializados, envolvendo também estratégias e metodologias utilizadas por professores em sala de aula,
compartilhando sempre o propósito de oferecer mais autonomia, independência e qualidade de vida para
seus usuários. 

O usuário da TA

A TA abrange um conjunto de soluções utilizadas por pessoas com deficiência (PCDs) para transpor
barreiras e realizar tarefas do cotidiano em diversos espaços, como, por exemplo, em casa, no trabalho, na
escola, dentre outros.

A LBI, considera pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

Esse conceito explicita que a deficiência é resultante da interação de pessoas que possuem algum
impedimento com as diversas barreiras existentes na sociedade que não está preparada para atender a
diversidade humana. Portanto a deficiência está na sociedade e não nas características do indivíduo. 
Esquema conceitual da deficiência
Fonte: Garcia e ITS Brasil (2017)

A Tecnologia Assistiva surge como uma possibilidade para que as pessoas com deficiência possam
transpor essas barreiras e participar de todos os espaços sociais com mais autonomia, independência e
qualidade de vida. Exemplos de usuários de TA incluem: 

 pessoas com deficiência física (paraplegia, tetraplegia, paralisia cerebral, amputações, nanismo e
outras);
 pessoas com deficiência visual (cegueira e baixa visão); 
 pessoas com deficiência auditiva (leve, moderada ou severa); 
 pessoas com deficiência intelectual (leve, moderada ou severa);
 pessoas com deficiência múltipla (associação de duas ou mais deficiências); 
 pessoas com surdocegueira;
 pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA);
 pessoas com mobilidade reduzida (movimentos limitados permanente ou temporariamente);
 pessoas idosas. 

3.3 Classificação da TA
A partir dos conceitos anteriormente apresentados, a Tecnologia Assistiva pode ser dividida em dois
grupos, sendo eles: os recursos de TA e os serviços de TA. 

Recursos de TA

A norma ISO 9999 de 2016 que é um documento normativo internacional utilizado por diversos países,
estabelece que a TA, também chamada de produtos assistivos, é todo e qualquer produto (incluindo
dispositivos, equipamentos, instrumentos e softwares) especialmente produzidos, disponíveis e usados por
pessoas com deficiência para promover a participação, proteger, apoiar, treinar, medir ou substituir
funções do corpo/estruturas e atividades ou para evitar deficiências, limitações em atividades ou restrição
de participação dos usuários.

Ainda, segundo Bersch (2017) os recursos abrangem todo e qualquer equipamento ou parte dele
(componente), produto, sistema, fabricado em série ou sob medida utilizado para aumentar, manter ou
melhorar as capacidades funcionais das pessoas com deficiência. São exemplos de recursos de TA:
teclados e mouses adaptados, engrossadores para lápis, suportes para leitura, lupas, dentre outros.

Na sequência você irá aprender mais sobre os recursos de TA. No entanto, embora nosso foco nesse curso
esteja nos recursos, é preciso esclarecer que a TA envolve também o serviço, isto é, a participação das
pessoas com deficiência e dos profissionais da educação inclusiva em todo o processo de seleção,
confecção/fabricação, uso e avaliação de um recurso de TA. 
3.3.1 Recursos de TA
Existe uma infinidade de recursos de TA que auxiliam nas mais variadas atividades. Segundo Bersch
(2017), os recursos de TA estão inseridos em diversas áreas da vida da pessoa com deficiência, auxiliando
na comunicação, no controle de ambientes, no processo educacional, nas adaptações em postos de
trabalho, na condução de veículos, na realização de atividades de lazer, na execução de tarefas da vida
diária e em muitas outras áreas. 

Para Galvão Filho (2009) são considerados recursos de Tecnologia Assistiva, portanto, desde artefatos
simples, como uma colher adaptada, uma bengala ou um lápis com uma empunhadura mais grossa para
facilitar a preensão, até sofisticados sistemas computadorizados, utilizados com a finalidade de
proporcionar uma maior independência e autonomia à pessoa com deficiência. 

No vídeo “Conversando sobre recursos de Tecnologia Assistiva” produzido pelo CTA e mostrado a
seguir,  é possível visualizar alguns exemplos de recursos de TA e como eles podem variar entre
equipamentos sofisticados como uma lupa eletrônica até uma ferramenta bastante simples como um
caderno com pauta ampliada. 

https://www.youtube.com/watch?v=HeQAsCIb5PQ

Transcrição textual do vídeo "Conversando sobre recursos de Tecnologia Assistiva"

3.3.2 Recursos de TA na educação


Na educação, a utilização de recursos de TA  por pessoas com deficiência ou com alguma limitação é
essencial, fazendo toda a diferença para que possam acompanhar com autonomia e protagonismo o seu
processo de ensino e aprendizagem. 

A LBI determina que os sistemas de ensino devam assegurar a oferta de recursos de TA de forma a


ampliar habilidades funcionais dos estudantes, promovendo sua autonomia e participação, além de
incentivar pesquisas e iniciativas voltadas ao desenvolvimento de novos métodos e técnicas pedagógicas,
de materiais didáticos, de equipamentos e de recursos de Tecnologia Assistiva. 

A Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva lançada pelo Ministério


da Educação (MEC) em 2008 estabelece que em instituições de ensino que seguem práticas inclusivas a
seleção, confecção, uso e avaliação de recursos de TA ocorrerá por meio do Atendimento Educacional
Especializado (AEE). 

Segundo essa política e também conforme o Decreto nº 7.611 de 2011, o AEE deve ser realizado por
profissionais especializados, como um complemento ou suplemento ao ensino regular, preferencialmente
em turno inverso ao ensino regular, fazendo parte da proposta pedagógica da instituição. Tal serviço tem
como principal função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que
eliminem as barreiras para a plena participação dos estudantes, considerando suas necessidades
específicas.

Portanto, o trabalho com TA deve sempre envolver o estudante com deficiência que, em conjunto com a
equipe de profissionais do AEE buscará as melhores soluções para atender às suas especificidades.  

3.3.3 Exemplos de recursos de TA na educação


Existe uma infinidade de recursos de TA que podem ser utilizados por estudantes com deficiência na
realização de tarefas educacionais. Sonza et al (2020), com base na classificação ISO 9999
(2016) apresenta alguns exemplos como:

 recursos de apoio para a visão;


 recursos de apoio para audição; 
 recursos de apoio para a escrita;  
 recursos de apoio para a leitura; 
 recursos de apoio para cálculo;
 recursos de apoio para comunicação;
 recursos de apoio para planejamento e organização;  
 recursos de apoio para o uso do computador.  

Recursos de apoio para a visão 

São ferramentas utilizadas por estudantes cegos ou com baixa visão, como por exemplo, lupas manuais e
eletrônicas, materiais ampliados e em braille, instrumentos para escrita e impressão braille, dentre
outros.  

Exemplos de recursos de apoio para a visão


Fonte: Sonza et al (2020)

Recursos de apoio para a audição

Além do intérprete de Libras, assegurado ao estudante surdo pelo Decreto nº 5.626 de 2005, também
podem ser utilizados softwares e aplicativos que, através de avatares transformam texto em Libras, como
por exemplo, o Rybená, o Hand Talk e a suíte VLibras. 

Exemplos de aplicativos que transformam texto em Libras


Fonte: CTA/IFRS (2019)

Recursos de apoio para a escrita

Essa categoria abrange recursos utilizados por estudantes com deficiência física ou dificuldades físico-
motoras e envolve variados facilitadores de preensão e empunhaduras para segurar lápis e auxiliar na
escrita. 

Recursos de apoio para a leitura

Abrange ferramentas utilizados por estudantes com limitações


físico-motoras e também alunos com baixa visão no processo
de leitura. Essa categoria envolve suportes para leitura; planos
inclinados; suportes para computadores, tablets e smartphones; extensões para navegadores, dentre
outros. 

Recursos de apoio para cálculo

São instrumentos que podem ser utilizados por estudantes com deficiência visual, discalculia (transtorno
da aprendizagem que gera inabilidade com processos envolvendo números), deficiência intelectual e
dificuldades no aprendizado de cálculos matemáticos. Exemplos desses recursos são o ábaco, a
calculadoras sonoras, softwares especializados, dentre outros.

Recursos de apoio para comunicação

Envolvem recursos e sistemas de Comunicação


Aumentativa e Alternativa (CAA). A CAA conforme Bersch
(2017), destina-se a pessoas sem fala ou sem escrita funcional, ou
em defasagem entre sua necessidade comunicativa e sua
habilidade de falar e/ou escrever. São exemplos dessa categoria:

1. Os cartões, pastas e pranchas com símbolos:

2. Os vocalizadores, que são recursos eletrônicos de gravação/reprodução de áudio que ajudam pessoas
com dificuldade na comunicação verbal:
3. Os softwares e aplicativos de CAA, como por exemplo, o Araboard, o Plaphoons o Prancha Fácil: 

Recursos de apoio para planejamento e organização

Podem ser utilizados por diversos estudantes com diferentes necessidades. Essa categoria envolve
softwares, sites e aplicativos com foco em diferentes formas de suporte à organização e gerenciamento de
tarefas. Incluem ainda checklists, agendas e formas de organizar os estudos e leituras, como o Color
Coding (classificação por cores). 

Recursos de apoio para uso do computador 

Conforme Bersch (2017), esses recursos englobam o conjunto de hardwares e softwares projetados


especificamente para tornar o computador acessível a usuários que apresentem privações sensoriais
(visuais e auditivas), intelectuais e motoras. São exemplos dessa categoria: 

1. Mouses ou teclados adaptados, teclado com colmeia (prancha de acrílico que sobrepõe o teclado
impedindo que o usuário pressione mais de uma tecla por vez), acionadores, apontadores, sistemas de
varredura, softwares de reconhecimento de voz, órteses e outros utilizados por estudantes com limitações
físico-motoras;

2. Softwares leitores de tela que por meio de um sintetizador de voz  transformam conteúdo textual em
áudio, possibilitando o uso do computador, tablet e celular por estudantes cegos; 
3. Linha ou display Braille é uma tecnologia utilizada por estudantes cegos ou surdocegos. Esse
equipamento é um dispositivo com pinos que se movimentam dinamicamente para cima e para baixo
representando, por meio de caracteres braille, as informações que se encontram em um computador ou em
um display. Pode funcionar em conjunto com o leitor de tela, de modo que o conteúdo textual, que antes
era transformado em áudio pelo leitor de tela, passa a ser convertido em informação tátil; 

4. Teclados para pessoas com baixa visão, que são adaptados com teclas maiores, possuem um
espaçamento maior entre as teclas, cores mais contrastantes (fundo amarelo com teclas pretas). Essas
adaptações facilitam a visualização das teclas por estudantes que possuem menor resíduo visual;

5. Ampliadores de tela são alternativas utilizadas por estudantes com baixa visão. Essas ferramentas
permitem o aumento do tamanho da fonte e das imagens na tela do computador. Os próprios sistemas
operacionais já trazem embutidos recursos de ampliação de tela, como a Lupa do Windows e as opções de
ampliação do MacOS. Além disso existem softwares de ampliação gratuitos como o LentePro;

6. Recursos de alto contraste ou ferramentas para mudança de esquema de cores também podem ser
utilizados por estudantes com baixa visão ou daltonismo. Essa alternativa possibilita a mudança da cor do
plano de fundo e do texto do sistema operacional em aplicativos, softwares e também em páginas da
web; 

Esses foram alguns exemplos de recursos que podem ser utilizados por estudantes com deficiência ou
outras especificidades, havendo uma infinidade de alternativas de hardware ou software disponíveis. Para
decidir qual o recurso mais adequado, é indispensável que a pessoa com deficiência acompanhada por
profissional(is) especializado(s) (serviço de TA) realizem as pesquisas e testes necessários. 

Além disso, alguns dos recursos físicos apresentados possuem versões comercializadas com custo
elevado, dificultando sua aquisição por instituições de ensino. Ainda, em alguns casos a versão do recurso
adquirida comercialmente não atende as especificidades do estudante, necessitando de adaptações. 

3.4 Tecnologia Assistiva de Baixo Custo (TABC)


Sonza et al (2013) explica que os produtos de Tecnologia Assistiva são, normalmente, comercializados
por valores elevados e, em muitos casos, inacessíveis para a maioria dos usuários. Além disso, muitos
desses artefatos, mesmo que adquiridos comercialmente, necessitam de algumas adaptações para que
possam atender as especificidades de seus usuários finais. 

Nesse contexto, nasce a Tecnologia Assistiva de Baixo Custo (TABC) que é uma linha da Tecnologia
Assistiva que tem a finalidade de desenvolver produtos similares aos industrializados, porém mais baratos
e adaptados às especificidades de cada usuário. O Instituto de Tecnologia Social (ITS Brasil) define
TABC  como todo recurso desenvolvido e/ou adaptado a baixo custo para promover autonomia e
melhoria nas Atividades da Vida Diária de cada pessoa com deficiência ou limitação em particular. 

Bersch (2017) complementa que os recursos de de TABC são geralmente aqueles equipamentos ou


recursos geralmente com pouca sofisticação, confeccionados ou adaptados de maneira artesanal ou
individualizada por terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e professores da rede regular ou Atendimento
Educacional Especializado, com materiais de baixo custo disponíveis no cotidiano das instituições ou na
rotina da pessoa com deficiência. 

Para exemplificar, abaixo são apresentados alguns recursos de Tecnologia Assistiva de Baixo Custo
desenvolvidos/adaptados pelo CTA para estudantes com deficiência no IFRS:

1. Facilitador para a escrita produzido com EVA - dispositivo que serve como adaptação para facilitar o
manuseio de materiais como lápis, caneta e giz, destinado às pessoas que apresentam dificuldade para
segurar objetos escolares de espessura fina;
2. Caderno com pauta ampliada - é um caderno geralmente utilizado por pessoas com baixa visão, já que
possui as pautas mais marcadas e um espaçamento entre as linhas maior do que o de um caderno
convencional; 

3. Extensor de pincel produzido com canos de PVC - dispositivo que serve como adaptação para facilitar
o manuseio de diferentes tipos de pincel, destinado às pessoas que apresentam limitações físico-motoras;

4. Teclado adaptado para baixa visão - esse recurso corresponde a um teclado comum no qual foram
coladas letras maiores e contrastantes sobre as teclas, facilitando assim a visualização dos dígitos pelo
usuário;

5. Materiais pedagógicos adaptados - são materiais confeccionados através de diferentes processos


(materiais cortados, costurados, impressos, adesivados, dentre outros), com diferentes estratégias (em
braille, em relevo, com diferentes texturas, cores contrastantes, letras ampliadas) e construídos de acordo
com a necessidade de cada estudante.

Os recursos acima são exemplos de casos em que os profissionais que realizam o serviço de TA, em
conjunto com os estudantes com deficiência podem fabricar/adaptar soluções bastante simples e
customizadas de acordo com as necessidades de cada estudante. 
4.1 Acessibilidade e inclusão nos espaços makers
Os espaços makers e os equipamentos de fabricação digital tem por objetivo permitir que qualquer pessoa
possa expressar suas ideias, fabricar objetos e desenvolver seus projetos pessoais. Partindo desse
pressuposto, essa oportunidade também deve ser estendida às pessoas com deficiência que juntamente
com designers, professores, pesquisadores, arquitetos e outros profissionais possam adentrar na
comunidade maker e desenvolver seus projetos e recursos de TA. 

Embora algumas pessoas com deficiência não possam prototipar ou usar algumas máquinas em
decorrência das habilidades exigidas no processo (coordenação motora fina, coordenação viso-motora,
etc), a elas deve ser ofertada a possibilidade de aprender sobre o assunto. Além disso, tão importante
quanto utilizar espaços makers para fabricar soluções acessíveis para as pessoas com deficiência é criar
e fabricar  junto com as pessoas com deficiência. 

Pensando nisso, o site Disabilities, Opportunities, Internetworking, and Technology  em seu texto
"Making a Makerspace? Guidelines for Accessibility and Universal Design" apresenta diretrizes para
implementar acessibilidade e desenho universal em espaços makers, garantindo o acesso e participação de
todos os usuários, inclusive aqueles que possuem alguma deficiência. Essas diretrizes propõem: 

 Envolver as pessoas com deficiência no planejamento e configuração do espaço físico de


fabricação;
 Disponibilizar um canal aberto para que todos os usuários possam sugerir mudanças e solicitar
adaptações; 
 Possibilitar que todos os usuários possam solicitar facilmente assistência, ajuda e orientação para
a equipe e colegas;
 Disponibilizar documentos em formatos acessíveis, inclusive em meio digital que expliquem aos
usuários sobre o uso do espaço, dos equipamentos, treinamento, segurança e demais regras; 
 Eliminar distrações dando preferência para salas específicas para maquinário que necessita de
treinamento ou que fazem muito barulho;
 Tornar o espaço flexível utilizando mobiliário que pode ser facilmente movimentado, já que
permitem a reconfiguração do local conforme necessidades específicas dos usuários ou projetos
desenvolvidos;  
 Procurar garantir que o estacionamento, vias de acesso e entradas estejam devidamente
identificadas, também permitindo acesso com cadeira de rodas;  
 Fornecer alto contraste, letras grandes e braille para transmitir todas as informações do local;
 Garantir que as informações de segurança apresentem letras grandes, contraste, braille, sinais
visuais e sonoros, garantido a compreensão por todos os usuários; 
 Manter os espaços de circulação como corredores, portas, sanitários livres de entraves, facilitando
o acesso por pessoas com deficiência visual, deficiência física ou com mobilidade reduzida; 
 Garantir que todas as ferramentas, equipamentos e utensílios possam ser utilizados por pessoas
sentadas; 
 Utilizar móveis em que a altura possa ser facilmente ajustada; 
 Fornecer uma boa iluminação e disponibilizar lupas e lentes de aumento, facilitando o trabalho de
usuários com baixa visão e idosos;
 Garantir que os espaços para guardar e retirar materiais possam ser facilmente acessados por
todos; 
 Indicar com etiquetas grandes, contrastantes e com braille todos os equipamentos;
 Garantir o uso de todos os equipamentos e ferramentas por pessoas destras e canhotas;
 Investir continuamente em capacitação e treinamento dos profissionais que atuam nos laboratórios
de maneira que estejam preparados para atender a diversidade de usuários;

Além disso, o mesmo texto apresenta algumas recomendações em relação aos equipamentos, conforme
apresentado abaixo:
 Máquinas de costura - existe uma máquina de costura manual ou com interruptor que pode ser
acessada e acionada  por pessoas que não podem utilizar pedais?
 Impressoras 3D - a superfície de impressão está acessível? O software e as interfaces necessárias
para operar a impressora são acessíveis com leitores de tela, ampliadores e outros recursos de
Tecnologia Assistiva?
 Cortadores a laser - a superfície é acessível para pessoas com deficiência? É possível colar
etiquetas grandes e em braille nos botões ou controles principais?
 Ferramentas manuais - os utensílios contemplam etiquetas e orientações claras para uso de
ferramentas manuais? As ferramentas têm alças emborrachadas? Protetores de plástico são usados
em todas as serras ou outras ferramentas afiadas?
 Eletrônica - o uso de exaustores ou absorvedores de fumaça é incentivado? As caixas de
armazenamento para resistores e outros componentes estão claramente identificadas com letras
grandes ou braille?
 Prototipagem rápida - existe variedade de materiais e insumos de modo que sejam  acessíveis
para diversas habilidades? Alguns podem preferir madeira e pregos, enquanto outros podem
preferir espuma, EVA ou argila, dependendo de sua destreza, resistência e experiência na
fabricação;
 Computadores - existem recursos de Tecnologia Assistiva de acesso aos computadores,
incluindo mouses e teclados alternativos, leitores e ampliadores de tela, software de fala para
texto, tradutores de texto para Libras, dentre outros?

Considerando esses cuidados, os espaços makers podem se tornar espaços bastante acessíveis e
inclusivos, atendendo a toda a diversidade de usuários. 

4.2 A fabricação digital como uma proposta para produzir/adaptar TA


Para produzir ou adaptar recursos de TA podem ser utilizados espaços makers que possuem ferramentas
de fabricação digital como as apresentadas anteriormente. Por serem ferramentas versáteis, que trabalham
com diferentes tipos de materiais, elas possibilitam a prototipação de produtos customizados de acordo
com as necessidades específicas de cada indivíduo. 

O uso de espaços e ferramentas de fabricação digital para a prototipação de recursos de Tecnologia


Assistiva de Baixo Custo já é uma realidade. Abaixo Silva e Maia (2014) apresentam exemplos de uso de
impressoras 3D para fabricação de recursos de TA:

 Personalização de aparelhos auditivos para que se tornem anatômicos para pessoas com
deficiência auditiva; 
 Criação de próteses de membro superior e inferior para que sejam anatômicas;
 Criação e adaptação de assentos anatômicos personalizados para atletas que utilizam cadeiras de
rodas;
 Impressão de suportes para leitura, uso de computadores, tablets e smartphones por pessoas com
limitações físico-motoras, mobilidade reduzida ou idosos;
 Impressão de maquetes e mapas táteis para uso de pessoas com deficiência visual e intelectual;
 Uso de modelos 3D na área médica para a realização de procedimentos cirúrgicos.

No contexto educacional, as experiências do CTA e POALAB do IFRS apresentam exemplos de


produção de TA utilizando impressoras 3D, cortadora a laser, router e outros equipamentos, conforme
elencado abaixo:

 Confecção e adaptação de recursos para uso do computador por estudantes com deficiência;
 Confecção de jogos pedagógicos acessíveis para ensino da matemática;
 Confecção ou adaptação de recursos para leitura e escrita em sala de aula; 
 Desenvolvimento de materiais pedagógicos acessíveis/adaptados;
 Fabricação de maquetes, mapas táteis e placas de sinalização em braille;
 Prototipação de auxílios para vida diária para segurar copos, talheres e outros utensílios
domésticos.
Aspectos a serem considerados no processo de seleção, fabricação, adaptação, uso e avaliação de um
recurso de TA. 
Fonte: Haven (2014)

 O indivíduo/usuário do recursos de TA - considerar quais são as potencialidades/habilidades do


estudante (o que ele consegue fazer);
 A(s) tarefa(s) que precisa(m) ser realizada(s) - considerar o que o estudante necessita realizar,
como por exemplo, ler, escrever, digitar, se locomover, se comunicar, etc; 
 O recurso de TA -  pesquisar se já existem alternativas que solucionam o problema, pesquisar se
já existem alternativas gratuitas. Caso não existam soluções gratuitas é melhor adquirir ou fabricar
a baixo custo. Nesse caso, perguntar-se quais materiais, equipamentos e profissionais serão
necessários para o processo de fabricação;
 O contexto -  observar se o contexto é educacional, profissional, doméstico, de lazer, dentre
outros a fim de considerar todas a variáveis existentes no ambiente. 

Complementando, Haven (2014) expõe que o trabalho com recursos de TA envolve diversos passos, tais
como:

 Definir o problema ou desafio que se deseja solucionar;


 Juntar informações sobre o problema ou desafio; 
 Encontrar possíveis soluções (ferramentas e estratégias); 
 Testar e experimentar os recursos encontrados; 
 Implementar e documentar o resultado bem sucedido. 

4.3.1 Identificação da necessidade de recurso/adaptação de TA


Sonza et al (2020) explica que o serviço de TA no contexto educacional tem início pela avaliação da
necessidade de recursos ou adaptações de TA pelo estudante com deficiência. 

Segundo os autores, para tal, devem ser considerados fatores como a identificação do aluno, sua(s)
deficiência(s) ou necessidade(s) específica(s), seu histórico enquanto usuário de recursos de TA ou
participante de atendimentos com profissionais especializados, a(s) atividade(s) que o estudante deseja
realizar, dentre outras informações. Para sistematizar esse processo de identificação de necessidades
podem ser utilizados instrumentos como formulários, fichas e blocos para anotações.

Para auxiliar nesse processo o CTA do IFRS elaborou  uma Ficha de avaliação de necessidade de
recursos de TA que tem por objetivo realizar um levantamento detalhado sobre o estudante, com foco em
suas necessidades de recursos de Tecnologia Assistiva. O documento foi estruturado em diversas seções a
fim de contemplar a identificação do estudante e demais informações a respeito de seu contexto
educacional. As informações que devem ser fornecidas na ficha incluem:

 dados de identificação do aluno;


 tipo(s) de deficiência(s) e outra(s) necessidade(s) específica(s);
 recebe atendimento de fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia ou outro?; 
 participa de atividades em associação para pessoas com deficiência? Detalhar;
 recurso(s) de tecnologia assistiva em uso atualmente;
 necessidade de outro(s) recurso(s) de tecnologia assistiva;
 atividades que precisa desenvolver, nas quais recursos de TA podem auxiliar;
 sugestões de recursos de TA para serem testados;
 outras informações relevantes;
 participantes da avaliação;
 local e data.

4.3.2 Busca de soluções em TA


Com a identificação da necessidade de recursos de TA, os profissionais da educação inclusiva, em
conjunto com o estudante com deficiência, podem iniciar uma pesquisa detalhada de soluções que
atendam as especificidades do estudante. Abaixo são apresentadas algumas fontes de pesquisa que
trazem:

 Softwares, aplicativos e estratégias de TA


 Recursos físicos de TA 

Softwares, aplicativos e estratégias em TA

Em grande parte dos casos, o recurso necessário pode ser um software, aplicativo ou adaptação que
permita ao estudante se comunicar, utilizar o computador, tablet ou celular. Nesse caso, não será
necessário fabricar/prototipar nenhum objeto e já existem diversas soluções gratuitas que podem auxiliar
o estudante. 

O CTA do IFRS elaborou uma lista de ferramentas gratuitas de TA que incluem leitores de tela para
estudantes cegos, ampliadores de tela para alunos com baixa visão, alternativas de mouse e teclado para
pessoas que apresentam deficiência física ou mobilidade reduzida, tradutores de texto para Libras para
usuários surdos, dentre outras recursos. 
Porém, em alguns casos, será necessário pesquisar por recursos físicos de TA que possibilitem aos
estudantes realizarem diversas tarefas educacionais. Nesses casos, as soluções incluem recursos
comercializados ou, como abordado a seguir, modelos que estão disponíveis gratuitamente em
repositórios online para serem fabricados, adaptados e customizados conforme a necessidade de cada
usuário.  

Recursos físicos de TA  

Muitos artefatos de TA podem ser encontrados gratuitamente em repositórios de modelos de fabricação


digital que apresentam em sua coleção também ferramentas de Tecnologia Assistiva. Exemplos de alguns
artefatos disponíveis nesses repositórios são os facilitadores para escrita; suporte para leitura; reglete e
punção; dispositivos para utilizar o computador, tablet e smartphone; suportes para lupa; adaptadores para
ambientes; dentre muitos outros que podem ser baixados e fabricados em espaços makers.  

Abaixo são apresentados alguns exemplos de repositórios de fabricação digital para busca de soluções em
TA como:

 Thingiverse 
 MyMinifactory
 Repositório de TA do CTA

Thingiverse 
O Thingiverse é um dos repositórios pioneiros em apresentar gratuitamente conteúdo focado em
impressão 3D. Nesse repositório é possível encontrar inúmeras categorias de objetos a serem baixados e é
provavelmente um dos repositórios mais utilizados no mundo. O funcionamento do site é bem simples,
sendo possível pesquisar por objetos/tags, comentar neles, pedir ajuda, compartilhar fotos dentre outras
funcionalidades. 

Para pesquisar recursos de TA, basta pesquisar por “assistive technology” e encontrar diversos resultados.
Os arquivos poderão ser baixados, modificados e fabricados conforme o desejo dos usuários. 
MyMinifactory
O MyMiniFactory é um repositório com mais de 50.000 arquivos de modelos para impressão 3D
organizado em mais de 12 categorias, incluindo brinquedos, jogos, acessórios, arte e outros. Muito dos
arquivos foram desenvolvidos por designers e outros profissionais que trabalham com fabricação digital,
o que garante que foram testados e apresentam qualidade. O site também apresenta fotos e diversos
desafios. 

Assim como no Thingiverse no Myminifactory para encontrar recursos de TA, basta pesquisar por
“assistive technology” para encontrar diversos resultados. Os arquivos encontrados podem ser baixados,
modificados e fabricados conforme o interesse de cada usuário. 

Repositório de TA do CTA
Outro exemplo é o Repositório de TA do CTA do IFRS que ainda é um protótipo e inclui alguns recursos,
estratégias e metodologias em Tecnologia Assistiva. Os recursos físicos incluem mouses e teclados
adaptados, auxílios para leitura e escrita, auxílios para atividades da vida diária, dentre outros. Além
disso, para cada recurso será disponibilizado arquivos para produção, vídeos, manuais de uso e confecção
dentre outros materiais. 

A pesquisa na plataforma pode ser realizada por palavra chave, como por exemplo, "teclados”, "mouse",
"lupa" e outros ou ainda por categorias, sendo elas "recursos", "estratégias" ou "metodologias". 
Esses repositórios já possuem diversos modelos de recursos de TA, sendo apenas necessário baixar e
fabricar o artefato. Além disso, as ideias existentes nos repositórios podem ser modificadas e adaptadas
conforme as necessidades do estudante e a realidade de cada instituição. 

Após fabricar ou adaptar o(s) recurso(s) de TA é importante testar seu uso com os estudantes para avaliar
se ele(s) atenderam ou não o objetivo inicialmente proposto ou ainda necessitam de adaptações. 

4.3.3 Teste e avaliação do recurso de TA fabricado/adaptado


Após identificar a necessidade de recursos de TA, realizar a busca de soluções já existentes e fabricar ou
adaptar a Tecnologia Assistiva, Sonza et al (2020) colocam que o procedimento seguinte consiste em
testar e avaliar o recurso produzido. 

Testando o recurso de TA com o estudante

Sonza et al (2020) recomendam que durante os testes com o estudante, seja utilizado algum instrumento
que vise detalhar e documentar todo o processo, como registros fotográficos ou em vídeo e documentos
relacionados à experimentação, como formulários ou fichas que descrevem os testes. 

Para acompanhar os testes, o CTA desenvolveu uma Ficha de testes de recursos de TA que apresenta
campos para identificar o aluno, reportar os recursos que foram testados e que resultados foram obtidos
nos testes com tais recursos. O objetivo deste documento  é encontrar quais o(s) recurso(s) são mais
adequado(s) e efetivo(s) para o estudante.  
Avaliando o recurso fabricado 

Sonza et al (2020) colocam também que é necessário testar o recurso em si, para validar se ele pode
atender diferentes perfis de usuários e se necessita de modificações. Para realizar tal avaliação podem ser
empregados roteiros ou checklists de testes. 

Pensando nesse processo, o CTA elaborou o Checklist de avaliação de recurso de TA . O documento foi
elaborado para ser utilizado sempre que existe a necessidade de verificar formalmente a efetividade de
algum recurso de TA, tanto para atestar sua eficácia para o usuário, quanto para fornecer um feedback aos
fabricantes ou desenvolvedores do recurso. 

Esse documento é composto por diversas questões descritivas que abordam o funcionamento e uso do
dispositivo, levando em consideração aspectos como seu objetivo, suas funções, o conforto, a segurança,
o design, dentre outros itens. Ainda, ao final do checklist, é oferecido um campo para fornecer “Outros
comentários sobre o produto”, caso algum ponto não tenha sido contemplado nas perguntas anteriores. 

4.4 Exemplos de recursos de TA fabricados na educação


São inúmeras as possibilidades que o movimento maker e os equipamentos de fabricação digital oferecem
para produzir recursos de TA com baixo custo e alta personalização. Abaixo são apresentados alguns
exemplos de recursos de TA fabricados ou adaptados pelo CTA para atender as necessidades específicas
de estudantes do IFRS que possuem deficiência ou outras limitações.

 Auxílios para uso do computador 


 Auxílios para leitura e escrita 
 Auxílios para localização  

Auxílios para uso do computador 

Engloba recursos e ferramentas desenvolvidas ou adaptadas para que estudantes com deficiência física ou
outras limitações possam fazer uso do computador. Abaixo são mostrados alguns exemplos. 

1. Acionadores - os acionadores são artefatos que servem para acionar algo, sendo muito úteis para
pessoas com limitações físico-motoras, principalmente no uso do computador. Os acionadores podem ser
confeccionados com diversos materiais (acrílico, plástico, filamento 3D) e em vários formatos, tamanhos
e modos de acionamento (por pressão, toque, sopro, som, etc.), aproveitando o movimento residual do
usuário. Para confeccionar esses recursos podem ser utilizadas impressoras 3D, cortadora a laser,
equipamentos de eletrônica, dentre outros. 

Exemplos de diferentes tipos de acionadores 


Fonte: CTA/IFRS (2019)

2. Mouse de botão - desenvolvido com uso da cortadora a laser, esse dispositivo é uma alternativa ao
mouse convencional, composto por quatro botões para movimentar o cursor na tela, botões para clique
esquerdo e direito, um botão para clique preso (utilizado para efetuar seleção ou movimentação de
objetos), e outro botão para segunda função. Pode ser utilizado em conjunto com acionadores para cada
uma das funções. 

Mouse de botão 
Fonte: CTA/IFRS (2019)

3. Máscara para teclado ou colmeia - confeccionada utilizando chapas de acrílico que serão cortadas na
máquina de corte a laser, conforme o desenho de cada teclado, esse recurso é acoplado a um teclado de
computador comum, com a finalidade de auxiliar usuários que possuem pouca coordenação motora ou
mobilidade reduzida nos membros superiores. A colmeia impede que mais de uma tecla seja pressionada
ao mesmo tempo ou que uma tecla seja pressionada indevidamente. 

Teclado com colmeia


Fonte: CTA/IFRS (2019)

4. Prancha com velcro - é uma base confeccionada na máquina de corte a laser a partir de uma placa de
acrílico que receberá um velcro sobre sua face superior. O objetivo desse produto é permitir que os
recursos de Tecnologia Assistiva para uso do computador, utilizados pelo usuário, sejam posicionados e
fixados, através de velcro, sobre a prancha.
Prancha com velcro 
Fonte: CTA/IFRS (2019)

Auxílios para leitura e escrita 

Abrange recursos e ferramentas desenvolvidas ou adaptadas para que estudantes com deficiência possam
ler e escrever com mais facilidade. A seguir são apresentados alguns artefatos que fazem parte dessa
categoria. 

1. Lupa com iluminação  - esse dispositivo pode ser utilizado por estudantes com baixa visão ou idosos
durante a leitura de materiais. A estrutura da lupa foi impressa na impressora 3D e possui iluminação
temporizada. 

Lupa de mão com iluminação 


Fonte: CTA/IFRS (2019)

2. Suporte para lupa do smartphone - desenvolvido em parceria com o POALAB, esse recurso foi
impresso na impressora 3D e permite posicionar o celular em sua superfície, movimentando a base
conforme necessidade. O suporte pode ser usado, por exemplo, em conjunto com um aplicativo de lupa,
facilitando a leitura de estudantes com baixa visão e pessoas idosas.

Suporte para lupa do smartphone 


Fonte: CTA/IFRS (2019)

3. Suporte de mesa para leitura - é constituído por uma base de acrílico (cortado na cortadora a laser), que
possui três níveis de regulagem para que o usuário possa escolher o melhor ângulo de inclinação da
prancha para sua leitura. Sua estrutura acomoda documentos de tamanho padrão A4, que podem ser
dispostos na posição paisagem (horizontal) ou retrato (vertical), conforme a necessidade do usuário.

Suporte de mesa para leitura 


Fonte: CTA/IFRS (2019)

4. Facilitador de escrita com EVA - recurso que serve como adaptação para facilitar o manuseio de
materiais como lápis, caneta e giz, destinado às pessoas que apresentam dificuldade para segurar objetos
escolares de espessura fina. É confeccionado com discos de EVA (cortados na cortadora a laser) de
diversos diâmetros, oferecendo diferentes possibilidades de uso.

Facilitador de escrita com EVA


Fonte: CTA/IFRS (2019)

5. Reglete e punção - esse recurso permite a escrita em braille em uma folha comum. A reglete é uma
espécie de régua que está disponível em vários modelos (de bolso, de mesa, de página inteira, etc) e
sempre vem acompanhada com o punção. A reglete pode ser impressa na impressora 3D através de
modelos encontrados gratuitamente em repositórios de objetos 3D. 

Reglete e punção 
Fonte: CTA/IFRS (2019)

6. Prancha para segurar folha - esse recurso foi confeccionado com uma chapa de acrílico que foi cortada
na máquina de corte a laser. A prancha foi desenhada e recortada de modo a imobilizar a folha de papel,
possibilitando que estudantes com deficiência física consigam escrever sem deslocar o papel. 
Prancha para segurar folha 
Fonte: CTA/IFRS (2019)

Auxílios para localização 

Envolvem recursos que facilitam a localização de todos, inclusive dos estudantes com deficiência por
diferentes espaços físicos. Alguns exemplos são apresentados na sequência. 

1. Mapa tátil - o mapa tátil é um recurso que auxilia principalmente pessoas com deficiência visual na
orientação e mobilidade ao acessarem diferentes espaços e edificações, sendo utilizados para tal gráficos
táteis, Braille, diferentes texturas e relevos. Essa ferramenta pode ser fabricada com acrílico e diferentes
materiais (papelão, EVA, cartolina, etc) que podem ser cortados na máquina de corte a laser ou router. 

Exemplo de mapa tátil 


Fonte: CTA/IFRS (2019)

2. Modelos 3D para placas Braille - a partir da  ferramenta Text2Braille3d é  possível gerar modelos 3D
de placas de sinalização em Braille, que posteriormente serão impressos em uma impressora 3D. O CTA
adaptou a ferramenta com parâmetros da NBR 9050 para confecção de modelos 3D de placas Braille e
também construiu um tutorial para impressão 3D de placas de sinalização em Braille. 

Placas de sinalização em braille impressas na impressora 3D


Fonte: CTA/IFRS (2019)
5.2 O Projeto de Centro de Referência em Tecnologia Assistiva (CRTA) do IFRS
O CRTA – Centro de Referência em Tecnologia Assistiva é um projeto do CTA/IFRS em parceria com a
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC), do Ministério da Educação (MEC), que tem
como objetivo principal disseminar para toda a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e
Tecnológica (EPCT) os conhecimentos sobre o uso e o desenvolvimento de Tecnologia Assistiva (TA),
com base no conceito de TA estabelecido na Lei Brasileira de Inclusão e nas experiências do CTA/IFRS
na pesquisa, elaboração e legitimação de tais artefatos. Participam também do projeto os campi Caxias do
Sul, Porto Alegre, Restinga e Rio Grande do IFRS.

O projeto será executado no período de 2017 a 2020 e, com base em seu objetivo geral, abaixo são
apresentadas as principais ações que estão sendo desenvolvidas:

 levantamento de demandas por Tecnologia Assistiva na rede federal;


 fabricação de recursos de Tecnologia Assistiva; 
 elaboração de manuais dos recursos de Tecnologia Assistiva produzidos; 
 desenvolvimento de cursos MOOC;
 elaboração de publicações na área da Tecnologia Assistiva;
 organização de eventos para produção e disseminação de conhecimentos sobre Tecnologia
Assistiva;
 construção de um repositório acessível para para disponibilizar o conhecimento adquirido ao
longo do projeto. 

No vídeo abaixo a professora Andréa Poletto Sonza, Assessora de Ações Afirmativas, Inclusivas e
Diversidade do IFRS e também coordenadora do Projeto CRTA explica um pouco mais sobre ele. 

https://www.youtube.com/watch?v=jbZC-7tESC4

Transcrição textual do vídeo "O Projeto CRTA"

É importante esclarecer que, embora o projeto CRTA tenha inicialmente sido criado com foco em atender
as demandas da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Institutos Federais e
Centros Federais de Educação Tecnológica), os artefatos, como por exemplo, recursos, cursos,
publicações, materiais, repositórios, estarão disponíveis online e gratuitamente a todos que tiverem
interesse em aprender e replicar o conhecimento. 

Para saber mais sobre os objetivos, ações e progresso do Projeto CRTA do IFRS, acesse a página O que é
o CRTA e Ações do CRTA. 

5.3 I Desafio Criativo do IFRS

O I Desafio Criativo do IFRS, realizado em 2018, foi uma das ações do Projeto de Centro de Referência
em Tecnologia Assistiva do IFRS. O evento, idealizado pela Pró-Reitoria de Ensino e executado em
parceria com o CTA e o POALAB, se caracterizou como uma atividade experiencial em que os
estudantes de cursos técnicos integrados ao ensino médio foram provocados a aplicar os conhecimentos
adquiridos nos diversos componentes curriculares de seus cursos na resolução de um problema real. Nesta
primeira edição o tema foi “Criatividade no Desenvolvimento de Recursos de Tecnologia Assistiva”. 
Para o evento, foram selecionados mediante edital do I Desafio Criativo, 28 estudantes de nível médio
técnico e 23 servidores de diversas áreas de conhecimento e diferentes campi do IFRS. Os participantes
foram divididos em 04 equipes, que utilizando os equipamentos de fabricação digital disponíveis no POA
LAB e CTA, tiveram que encontrar em 72 horas soluções em Tecnologia Assistiva para atender a
necessidades reais das pessoas com deficiência. Além do recurso de TA, as equipes deveriam produzir um
vídeo e uma página web (landing page) sobre todo processo de criação, atentando também para boas
práticas em acessibilidade digital. 

No vídeo a seguir é possível conhecer melhor o evento e visualizar o impacto que ele trouxe para a
formação dos estudantes e servidores participantes. 

https://www.youtube.com/watch?v=e7g3xfDPcBg

1º Desafio Criativo do IFRS

Organizado no estilo hackathon (maratona) as equipes participaram de diversos momentos, sendo alguns
deles:

 Relatos de experiências, onde conheceram a realidade das pessoas com deficiência;


 Exposição sobre o que é Tecnologia Assistiva, ministrada por especialistas na área e profissionais
da saúde;
 Experimentação de diferentes artefatos de Tecnologia Assistiva, como bengalas, computadores
com leitores de tela, engrossadores para lápis, suportes para leitura, aplicativos que transformam
texto em Libras, dentre outros;
 Mentoria em diferentes áreas, como, deficiência e inclusão,  design thinking, fabricação digital,
acessibilidade digital, empreendedorismo social, dentre outras;
 Momentos de prototipação do recurso e testes com pessoas com deficiência que participaram de
todo o evento;
 Apresentação dos recursos de TA, vídeos e páginas web. 

O I Desafio Criativo foi um evento diferenciado, pois desenvolveu artefatos com as pessoas com
deficiência (que participaram ativamente de todo o processo) e não apenas para as pessoas com
deficiência. O evento trouxe resultado importantes, como a importância do movimento maker no
protagonismo das pessoas com deficiência, mostrando que a cultura maker pode sim ser mais acessível e
inclusiva.

Para saber mais sobre o evento, sobre as equipes participantes e os produtos de TA desenvolvidos, acesse
os links abaixo:

 Notícia Estudantes do IFRS são desafiados a propor soluções para problemas reais de tecnologia
assistiva;
 Notícia Estudantes e servidores criam soluções de tecnologia assistiva em 72 horas ;
 Artigo em inglês IFRS Creative Challenge: Making Low-Cost Assistive Technology ;

4 videos

5.4 Eventos sobre fabricação digital de TA


Nessa página você vai conhecer alguns eventos que abordaram a fabricação digital de Tecnologia
Assistiva na educação. A ideia é que você se inspire e consiga replicar ou adaptar esse formato para a sua
realidade, de modo a buscar soluções personalizadas para atender os estudantes com deficiência. 

I Encontro de Tecnologia Assistiva do IFRS 


O I Encontro de Tecnologia Assistiva do IFRS ocorreu em 2018 no IFRS Campus Bento Gonçalves. O
evento organizado e realizado pelo CTA foi uma das ações do Projeto de Centro de Referência em TA.
Esse evento foi destinado à troca de conhecimento entre servidores e estudantes que desenvolvem ações
ou projetos de Tecnologia Assistiva nos campi do IFRS.

Dentre as diversas palestras do evento ocorreram diálogos sobre Fab Labs como espaços para criação e
prototipação de recursos de TA, uso de impressoras 3D para imprimir recursos de apoio personalizados,
produção de Tecnologia Assistiva e de materiais pedagógicos acessíveis/adaptados desenvolvidos pelos
Campi do IFRS no âmbito do Projeto CRTA, dentre outros debates. 

Confira a apresentação sobre Fab Lab e Tecnologia Assistiva e também todo o conteúdo do I evento de
TA. 

Oficina de Cocriação de recursos de TA 

A Oficina de Cocriação de recursos de TA foi um evento realizado em 2017, organizado pelo CTA do
IFRS em parceria com a empresa Mercur.  O evento buscou propiciar um espaço onde equipes
interdisciplinares utilizam a criatividade, a inteligência coletiva e prototipação para desenvolver soluções
funcionais que possibilitem mais autonomia para as pessoas com deficiência. 

Com diversos materiais a disposição, pessoas com deficiência, seus familiares, profissionais e estudantes
das áreas de educação, saúde e design pensaram juntos em formas de melhorar dois recursos de TA
específicos, sendo eles:

 Bota inclusiva - é um dispositivo feito com um tecido especial, semelhante ao utilizado pela
NASA, o qual permite que usuários com limitações físico-motoras possam andar, passear, dançar
e praticar esportes com auxílio de outra pessoa
  Estabilizador de cabeça - algumas pessoas não possuem o controle cervical. O estabilizador de
cabeça é um dispositivo dinâmico anti-gravitacional que mantém a cabeça centralizada no seu
eixo axial, buscando o posicionamento adequado para permitir a movimentação ativa da cabeça
com suporte, segurança e conforto. 

Ao final da oficina, os participantes apresentaram as ideias, soluções e protótipos pensados durante o


processo para a adaptação dos dois recursos inicialmente apresentados. 

Oficina de Produção de Material Didático Pedagógico Adaptado


Organizada e realizada em 2017 pelo CTA do IFRS, a oficina de produção de materiais didático-
pedagógico adaptados consistiu em reunir servidores do IFRS, profissionais de Salas de Recursos,
pessoas com deficiência, profissionais e estudantes das diversas áreas do conhecimento com vistas a
produzir, de forma colaborativa, materiais pedagógicos adaptados para estudantes com deficiência ou
outras necessidades educacionais específicas participantes do evento ou inclusos no IFRS e nas
instituições participantes.

Durante o evento, os participantes foram divididos em equipes compostas por profissionais e estudantes
com conhecimentos variados. Essas equipes receberam desafios e a partir da mentoria de pessoas com
deficiência passaram a desenvolver recursos para solucionar os casos inicialmente recebidos. 

Durante todo o processo, as equipes munidas de diferentes materiais (papel, papelão, cartolina, EVA,
sucata, e outros) e ferramentas (cola, tesoura, cola quente, estilete, canetinhas, fitas, e outros) deveriam
usar sua criatividade, trabalho colaborativo e prototipação para criar artefatos pedagógicos acessíveis. Ao
final do evento cada equipe apresentou seu produto e recebeu feedback dos usuários com deficiência que
estavam presentes. 

5.5 Relatos sobre a fabricação digital de TA

Para finalizar o curso trouxemos relatos de pessoas com deficiência e profissionais da educação inclusiva
que perceberam no movimento maker e nos processos de fabricação digital um caminho para prototipar
juntos recursos de apoio personalizados. 

Relato 1 

O primeiro relato é de uma professora de informática e profissional da educação inclusiva que trabalha há
mais de 10 anos com TA. Em seu relato fica explícita a importância de recursos personalizados para cada
indivíduo e a necessidade de produzi-los com custos reduzidos. 

Entendo que as soluções simples de Tecnologia Assistiva impactam significativamente os alunos, desde
que tenham sido pensadas para eles, testadas e, após feedback de seu uso, por parte das PcD, for
verificado que são eficazes. Por vezes já vivenciei situações nas quais os estudantes estavam utilizando
um recurso que talvez não fosse o mais adequado, mas o possível naquele momento; seja porque eles
encontraram no mercado, ou porque alguém, de alguma forma, produziu para eles e, portanto o único que
tinham. Por isso considero muito importante avaliações prévias por profissionais que entendam da
aplicação e uso da TA no contexto educacional, aliando o recurso em si ao serviço de Tecnologia
Assistiva. A grande vantagem dos recursos de baixo custo é a possibilidade de se produzir diversos
protótipos rápidos e baratos, para, depois de escolhido o melhor recurso, partir para a produção de algo
mais robusto. 

Professora e pesquisadora da área de Tecnologia Assistiva

Relato 2 
O segundo relato é de um estudante de pós-graduação que tem baixa visão e por meio do movimento
maker e da fabricação digital teve suas necessidades atendidas. No relato é possível perceber que mesmo
não podendo prototipar, o estudante participou ativamente de todo o processo maker. 

Utilizo  meu celular como lupa por meio de um aplicativo. No entanto, como segurava ele com a mão, o
dispositivo  não permanecia estável e ocorriam perdas de foco, dificultando a leitura. Coloquei essa
demanda para professores e outros profissionais, que ao me ouvirem começaram a desenvolver
protótipos. Então um suporte para lupa do celular começou a ser desenhado em um software de
modelagem 3D e posteriormente foi impresso. Embora eu não tenha conseguido prototipar no
computador, participei de todo o processo de criação do dispositivo que iria utilizar. Conforme as versões
foram sendo impressas, eu realizava testes para verificar se o artefato realmente me atendia. Ao final do
processo, o suporte para a lupa do meu smartphone foi finalizado e hoje utilizo ele para estudo e para
realizar atividades no trabalho. 

Essa experiência me possibilitou sentir o que é o movimento maker. Mesmo não conseguindo desenhar o
recurso no computador, pude criar com o auxílio de colegas um projeto pessoal que tem sentido para mim
e atende minhas necessidades. Fui contagiado pelo espírito maker e gostaria que outras pessoas com
alguma limitação também pudessem ter a mesma oportunidade que tive e possam aprender e criar
qualquer artefato que para elas seja importante. 

Estudante de pós-graduação que tem baixa visão. 

Relato 3

O próximo relato é de uma técnica em assuntos educacionais, pesquisadora da área de TA e profissional


da educação inclusiva que realiza o serviço de TA e atua na seleção, confecção, uso e avaliação de
recursos de TA. Em sua fala ela deixa clara a importância da participação da pessoa com deficiência em
todo processo e como recursos simples podem ser bastante significativos. 

Mais do que envolver as pessoas com deficiência em todas as etapas do serviço de TA (busca, escolha,
confecção, uso, avaliação, acompanhamento), é essencial possibilitar que esse envolvimento seja ativo,
que a pessoa seja, de fato, ouvida e compreendida, que seu conhecimento e experiências prévias sejam
considerados, assim como suas necessidades, habilidades e preferências. Essa abordagem fará toda a
diferença para que se tenha um serviço de TA efetivo e humanizado. 

É totalmente possível encontrar soluções simples feitas utilizando-se materiais de baixo custo, sucata,
itens de papelaria, material reciclado, etc. Para muitos casos, não existe a necessidade de recursos de alta
tecnologia. Às vezes, adaptações simples, feitas com criatividade, atendem muito bem a necessidade da
pessoa. 

Pesquisadora da área de TA e profissional que realiza o serviço de TA

Relato 4

O último relato é de um servidor público em educação, pós-graduado que tem deficiência visual
(cegueira). Ele explicita como recursos de Tecnologia Assistiva de Baixo Custo são imprescindíveis para
a independência e autonomia das pessoas com deficiência. Também coloca a relevância de incluir as
pessoas com deficiência no processo de criação dos artefatos e finaliza mencionando que as impressoras
3D são uma ferramenta bastante útil nesse contexto. 

Falando como pessoa com deficiência, posso falar com muita propriedade que os recursos de Tecnologia
Assistiva de Baixo Custo são, muitas vezes a única forma de minimizar ou eliminar uma barreira,
limitação ou deficiência. Os recursos comercializados acabam muitas vezes apresentando preços elevados
e impedem que as pessoas que realmente precisam tenham acesso a eles. Como exemplo, podemos
lembrar da bengala utilizada por um cego, que deveria ser distribuída pelo SUS, mas não é, e as pessoas
cegas que não conseguem comprar ou ter uma minimamente adequada à sua necessidade acabam não
conseguindo nem se quer se deslocar de sua casa.

Penso que os recursos de TA devem  ser construídos ouvindo e pondo as pessoas com  limitações sempre
junto e no centro de todo o processo. Isso possibilitará que os artefatos de TA possam ser testados com
usuários reais e, assim, ser atestadas da sua eficácia e possíveis melhorias. No caso de pessoas com
deficiência visual, quanto mais os materiais puderem ser produzidos na forma física melhor e as
impressoras 3D podem contribuir muito para tornar o mundo que é visual e abstrato em algo mais
tangível. 

Servidor público em educação que é cego. 

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