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Bioquimica Metabolica 1
Bioquimica Metabolica 1
CDU 577.1
U508.90 – 20
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quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Jaci Albuquerque
Juliana Muscovick
Sumário
Bioquímica Metabólica
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9
Unidade I
1 ENZIMAS ............................................................................................................................................................ 11
1.1 Classificação e nomenclatura ......................................................................................................... 14
1.2 Cinética enzimática: fatores que alteram a velocidade de uma
reação enzimática......................................................................................................................................... 15
1.3 Inibidores da atividade enzimática................................................................................................ 18
1.4 Gráficos de Lineweaver-Burk........................................................................................................... 20
1.5 Enzimas alostéricas e isoenzimas................................................................................................... 21
1.5.1 Enzimas alostéricas................................................................................................................................. 21
1.5.2 Isoenzimas.................................................................................................................................................. 21
1.6 Enzimologia clínica............................................................................................................................... 22
1.7 Erros metabólicos hereditários........................................................................................................ 23
1.7.1 Fenilcetonúria e albinismo................................................................................................................... 24
1.7.2 Albinismo.................................................................................................................................................... 25
1.7.3 Galactosemia............................................................................................................................................. 26
1.7.4 Doença de von Gierke ou glicogenose tipo I .............................................................................. 26
1.7.5 Cretinismo................................................................................................................................................... 26
2 CARBOIDRATOS................................................................................................................................................. 27
2.1 Digestão dos carboidratos................................................................................................................. 27
2.2 Transportadores de glicose................................................................................................................ 28
2.3 Glicólise..................................................................................................................................................... 30
2.4 Ciclo de Krebs.......................................................................................................................................... 39
2.5 Cadeia respiratória................................................................................................................................ 44
2.6 Metabolismo do glicogênio: glicogênese e glicogenólise.................................................... 48
2.7 Gliconeogênese...................................................................................................................................... 52
2.8 Via das pentoses.................................................................................................................................... 55
3 LIPÍDIOS................................................................................................................................................................ 57
3.1 Processo de liberação de lipídeos do tecido adiposo.............................................................. 58
3.2 Ciclo de Lynen........................................................................................................................................ 61
3.3 Aproveitamento do glicerol.............................................................................................................. 61
3.4 Regulação da lipólise........................................................................................................................... 62
3.5 Lipogênese ou biossíntese de ácidos graxos.............................................................................. 64
3.6 Formação de triglicerídeos................................................................................................................ 65
3.7 Regulação da síntese de ácidos graxos........................................................................................ 67
3.8 Cetogêsene ou síntese de corpos cetônicos............................................................................... 67
3.9 Síntese de corpos cetônicos.............................................................................................................. 68
3.10 Consequências da cetogênese....................................................................................................... 69
4 COLESTEROL....................................................................................................................................................... 71
4.1 Síntese de colesterol............................................................................................................................ 71
4.2 Principais etapas da síntese do colesterol................................................................................... 72
4.3 Regulação da síntese do colesterol................................................................................................ 72
4.4 Transporte do colesterol..................................................................................................................... 74
4.5 Degradação do colesterol ................................................................................................................. 75
4.6 Arteriosclerose........................................................................................................................................ 76
Unidade II
5 ÁCIDOS NUCLEICOS........................................................................................................................................ 82
5.1 Síntese de nucleotídeos e bases nitrogenadas.......................................................................... 84
5.2 Síntese de DNA (replicação ou duplicação)................................................................................ 84
5.3 Transcrição (síntese de RNA)............................................................................................................ 88
5.4 Transcrição reversa............................................................................................................................... 91
5.5 Degradação de DNA e RNA............................................................................................................... 92
5.6 Formação de ácido úrico.................................................................................................................... 93
6 AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS...................................................................................................................... 95
6.1 Síntese de aminoácidos...................................................................................................................... 95
6.2 Síntese de proteína (tradução)........................................................................................................ 95
6.2.1 Ativação de aminoácidos...................................................................................................................... 95
6.2.2 Iniciação...................................................................................................................................................... 96
6.2.3 Elongação.................................................................................................................................................... 96
6.2.4 Terminação................................................................................................................................................. 98
6.3 Inibidores da síntese de proteínas.................................................................................................. 99
6.4 Modificações pós-traducionais.....................................................................................................100
6.5 Degradação de proteínas e aminoácidos...................................................................................101
6.5.1 Transaminação........................................................................................................................................103
6.5.2 Desaminação...........................................................................................................................................105
6.5.3 Ciclo da ureia...........................................................................................................................................106
Unidade III
7 GRUPO HEME..................................................................................................................................................112
7.1 Estrutura química do grupo heme...............................................................................................113
7.2 Síntese do grupo heme.....................................................................................................................114
7.3 Porfirias...................................................................................................................................................116
7.4 Degradação do grupo heme...........................................................................................................118
8 VITAMINAS E SAIS MINERAIS....................................................................................................................121
8.1 Vitaminas................................................................................................................................................121
8.1.1 Vitamina A............................................................................................................................................... 122
8.1.2 Vitamina D............................................................................................................................................... 126
8.1.3 Vitamina E................................................................................................................................................ 130
8.1.4 Vitamina K............................................................................................................................................... 130
8.1.5 Complexo B............................................................................................................................................. 133
8.1.6 Vitamina C (ácido ascórbico)........................................................................................................... 139
8.2 Sais minerais..........................................................................................................................................141
8.2.1 Cálcio..........................................................................................................................................................141
8.2.2 Fósforo....................................................................................................................................................... 143
8.2.3 Magnésio.................................................................................................................................................. 143
8.2.4 Sódio, cloreto e potássio.................................................................................................................... 143
8.2.5 Ferro........................................................................................................................................................... 144
8.2.6 Zinco.......................................................................................................................................................... 144
8.2.7 Selênio....................................................................................................................................................... 144
8.2.8 Cobre.......................................................................................................................................................... 145
8.2.9 Iodo............................................................................................................................................................. 145
APRESENTAÇÃO
A bioquímica estuda as reações químicas e biológicas dos seres vivos. Essas reações são
fundamentais para o entendimento dos processos que permitem a manutenção da vida e o
desenvolvimento de tecnologias que permitem melhor qualidade de vida.
A presente disciplina tem como objetivo geral capacitar o aluno a entender os processos
bioquímicos que regulam a função celular e fornecer uma visão integrada do metabolismo
energético. O aluno terá conhecimentos a respeito das principais vias de síntese e degradação
de carboidratos, lipídios e proteínas. A disciplina também abordará conceitos fundamentais de
bioenergética, do grupo heme e das vitaminas e sais minerais.
INTRODUÇÃO
Desde a Antiguidade, a bioquímica está presente na vida do ser humano, por exemplo, nos
processos fermentativos de produção de queijos e cervejas. Também nos deparamos com a bioquímica
nas conversas entre amigos ou quando é abordada em rádio, televisão e redes sociais. Inúmeras vezes
ouvimos informações a respeito de diabetes, emagrecimento, doença celíaca, intolerância à lactose
entre outras. Será que todas as informações veiculadas são verdadeiras? Por outro lado, é crescente o
interesse da comunidade científica e da população por essas informações.
Esta disciplina faz parte do currículo de muitos cursos da saúde, o que indica sua característica
multidisciplinar. Os conhecimentos aqui adquiridos são fundamentais para a formação dos profissionais
de saúde, uma vez que possibilita ao discente a compreensão dos processos biológicos a nível molecular,
o que viabiliza o entendimento dos mecanismos celulares.
9
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Unidade I
1 ENZIMAS
Enzimas são exemplos de proteínas, que coordenam as reações químicas, pois são responsáveis
pela catálise, isto é, deixam as reações mais rápidas. Apesar de serem exemplos de proteínas, não são
estudadas a fundo em bioquímica estrutural por seu papel importante no metabolismo. Hormônios
como insulina ou adrenalina, ATP, metabólitos como glicose, citrato, entre outros, podem ativar essas
enzimas ou inibi-las, controlando a velocidade das vias metabólicas e, por consequência, o metabolismo
como um todo. Se uma via for ativada, formará muito produto, e, ao contrário, pode não formar produto
suficiente para as reações subsequentes, e a via em questão ou esse determinado metabolismo (pode
ser de carboidrato, proteínas, lipídeos, heme) ficará prejudicado. Essa é a razão de estarmos estudando
enzimas nesse contexto da bioquímica metabólica: as enzimas irão comandar o metabolismo mediante
a substância (efetuador) que se ligará a ela.
Observação
11
Unidade I
Saiba mais
Por definição, enzimas são catalizadores biológicos de alta especificidade. Mas o que significa isso?
Para que ocorra o aumento da velocidade, a enzima deve promover a diminuição da energia de
ativação (energia necessária para que os reagentes cheguem ao estado de transição e ocorra a reação
química), tornando o caminho menor e mais rápido (figura a seguir).
Energia Estado de
transição
Ea sem catalisador
Ea com catalisador
Reagentes
Produtos
Caminho da reação
Figura 1 – Gráfico da energia versus caminho da reação;
com enzima, a energia para chegar no estado ativado é menor,
o que leva a uma maior velocidade para gerar produtos
12
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Podemos dizer que as enzimas alteram a velocidade e a energia de ativação, e não alteram
a natureza das reações (se a reação é endotérmica, não a torna exotérmica), não muda
as concentrações finais das reações (se é 1A → 1B não vai mudar para 1A → 100B) nem a
constante de equilíbrio (que depende das concentrações dos produtos e reagentes), entalpia
(ΔH) e entropia (ΔG).
O substrato (também chamado reagente) será a substância que irá se modificar pela ação da
enzima, logo após se ligar ao local especial chamado sítio ativo ou catalítico. Sabendo-se que
a enzima é uma molécula polipeptídica que apresenta estrutura terciária ou quaternária, enovelada,
ou seja, tem forma ou estrutura tridimensional globosa, como uma esfera que terá uma depressão
que se encaixa ao substrato, os aminoácidos do sítio ativo direcionam o substrato, o posicionam
corretamente no sítio ativo para que seja corretamente modificado, por exemplo: aminoácidos
negativos do sítio ativo da enzima posicionam regiões positivas do substrato de tal forma a
combinarem com esse local.
Enzima
Substrato
Sítio ativo
Existem muitas enzimas com especificidades diferentes para diferentes reações. Há ocasiões em
que se precisa ter sua atividade muito maior (mais rápida) ou menor (mais lenta), então as enzimas
precisam sofrer regulação da sua atividade ou velocidade por substâncias, como hormônios,
metabólitos, NADH, ATP, por exemplo, que irão modular sua velocidade, aumentando ou diminuindo
a velocidade de reações pertencentes a uma determinada via metabólica em que se insere.
13
Unidade I
Observação
Algumas enzimas requerem ligação a moléculas não proteicas chamadas cofatores, para que possam
exercer a sua atividade. Os cofatores são íons metálicos, como Ca2+, Zn2+, que irão para o sítio ativo
e estão envolvidos na reação catalítica. Pode acontecer de a enzima precisar de mais ajuda para a
catálise: as coenzimas, que são pequenas moléculas que transportam grupos químicos de um substrato
para outro. Alguns exemplos são as vitaminas do complexo B, compostos que não são sintetizados no
organismo (vêm da dieta), como riboflavina, tiamina e o ácido fólico, podendo ser encontradas também
em substâncias como NADH, NADPH, FADH2.
As enzimas são classificadas nos seguintes grupos, conforme o tipo de reação química que catalisam:
• Transferases: transferência de grupos funcionais, como amina, fosfato, acil e carboxila. Exemplo:
quinases e transaminases.
• Liases: reações de quebra de ligações covalentes e a remoção de moléculas de água, amônia e gás
carbônico. Exemplo: dehidratases e descarboxilases.
• Ligases: reações de formação de novas moléculas a partir da ligação entre duas pré-existentes.
Exemplo: sintetases.
14
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Observação
A parte da enzimologia que estuda a velocidade das reações se chama cinética enzimática. Há
vários fatores que podem influenciar na reação enzimática, como quantidade de sais e composição
de solvente, mas entre os principais fatores que alteram a atividade ou velocidade das enzimas, estão:
temperatura, pH, concentração da enzima e do substrato.
• pH: cada enzima possui uma faixa de pH considerada ideal. Nessa faixa, a velocidade (atividade) é máxima.
Caso a enzima seja submetida a extremos, o pH pode sofrer desnaturação e perder a estrutura. Como
toda proteína, as enzimas também são sensíveis a variações de pH, mas podemos encontrar enzimas
que suportam faixas de pH extremamente baixos, entre 0,1 e 5,4, como bactérias acidófilas, como a
Helicobacter pylori, que pode colonizar a parede estomacal ou suportar faixas de pH entre 8,5 e 11,5
(chamadas bactérias alcalinófilas como a Vibrio cholerae) apresentando um crescimento ótimo em pH 9.
V
Vmax
pH ótimo pH
15
Unidade I
• Temperatura: cada enzima possui uma faixa de temperatura considerada ideal. Nessa faixa, a
velocidade (atividade) é máxima. Temperaturas extremamente altas podem desnaturar as enzimas,
enquanto temperaturas baixas (por exemplo, 0 °C) preservam sua atividade.
Vmax
Temperatura
Temperatura ótima
Observação
16
BIOQUÍMICA METABÓLICA
3v
2v
1v
1E 2E 3E [E]
Vmax V
Vmax/2
KM [S]
Nesse gráfico podemos verificar que quanto mais aumenta a quantidade de substrato, mais aumenta
a velocidade da enzima no substrato, quase chegando à velocidade máxima (falamos que tende a
determinado ponto, que há tendência, ao ponto de velocidade máxima).
Michaelis e Menten verificaram que há um ponto extremamente importante: é o ponto que converge
1
a metade da velocidade máxima ( Vmax) para uma quantidade de substrato, que se chama KM (KM = [S]).
2
Esse ponto se chama constante de Michaelis-Menten e é característico de cada enzima e pode ser
usado como uma medida da afinidade da enzima pelo substrato. Quanto menor o KM, mais forte é a
ligação do substrato pela enzima, ou seja, irá precisar de menor quantidade de substrato para chegar na
metade da velocidade máxima.
Em seus estudos com cinética enzimática, Michaelis-Menten descrevem o que ocorre numa reação
enzimática desta forma:
E +S ↔ ES → E + P
17
Unidade I
Analisando a reação, percebemos que a enzima (E) liga-se ao substrato (S) para formar um complexo
enzima-substrato (ES), que se separa em enzima e produto (P).
Vmax [ S]
v=
Km + [ S]
Substâncias (que podem ser desde venenos até medicamentos) podem inibir a atividade da enzima.
Algumas substâncias tóxicas, como pesticidas, agrotóxicos, toxinas de plantas ou animais podem parar
completamente alguma enzima, e a reação em que ela age fica totalmente prejudicada, ocorrendo
o bloqueio de uma única reação que afetará toda a sequência de reações, pois não irá ser gerado o
produto que será substrato da outra reação seguinte.
Essa inibição enzimática pode ocorrer caso a enzima tenha sofrido alguma mutação e não esteja
fazendo a catálise corretamente, ou seja, sem controle hormonal ou de metabólitos que possam
modular sua velocidade. Nesse caso, medicamentos podem fazer essa função e diminuir drasticamente
sua velocidade, levando o paciente a ter vida normal, pois haverá controle da enzima.
Analisando-se onde e como é feita a ligação entre o inibidor e a enzima, podemos dividir os inibidores
em dois tipos: reversível e irreversível. Na inibição irreversível, a atividade enzimática é definitivamente
inativada, pois a ligação desse inibidor com a enzima é do tipo covalente (ligação forte e mais estável),
alterando a atividade catalítica de forma permanente. Esse inibidor é chamado de suicida, pois vai ser
degradado junto à enzima quando for o momento dela ser degradada.
Observação
18
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Na inibição reversível, o inibidor se liga à enzima por ligações fracas, instáveis, que podem ser
facilmente rompidas, e a enzima volta a catalisar como antes. Nessa inibição iremos estudar a competitiva
e não competitiva.
Na inibição competitiva, como o próprio nome diz, o inibidor compete com o substrato pelo
sítio ativo, pois ambos têm uma estrutura muito parecida com a do substrato da enzima, e como
está em maior quantidade, ele é que toma o espaço no sítio ativo, e dessa forma a enzima não
catalisa o substrato. Então a afinidade (KM) da enzima para com o substrato irá ser modificada, mas a
velocidade máxima não.
Observação
19
Unidade I
Na inibição não competitiva, o inibidor pode ligar-se tanto à enzima (em um sítio que não é o sítio
ativo) ou ao complexo enzima-substrato. Nesse caso, a ligação do inibidor com a enzima não impede
que haja a ligação da enzima com o substrato, ou seja, a afinidade não é modificada (KM), mas atrapalha
na velocidade de catálise bruscamente (muda a velocidade máxima) pois há mudança na forma da
enzima, impedindo a formação do produto da reação.
Observação
Hans Lineweaver e Dean Burk, analisando o gráfico de MM, perceberam que poderia ser realizada a
1 1
[ S]
inversão de velocidade v e de substrato e dessa forma iria gerar uma reta a partir da curva
1
do gráfico de Michaelis Menten. Essa reta corta o eixo da velocidade mostrando o ponto , e dessa
Vmax
forma esse gráfico tem a grande vantagem sobre o gráfico de MM, pois o valor aparece com muita
1 −1
clareza. Da mesma maneira, quando corta o eixo , teremos o ponto e facilmente conseguimos
saber o valor de K . [ S ] K M
M
20
BIOQUÍMICA METABÓLICA
1
v
1
Vm
1
−1
[ S]
KM
Figura 7 – A linearização do gráfico de Michaelis-Menten gera uma reta que é o gráfico de Lineweaver-Burk,
1 −1
em que podemos verificar o número exato da velocidade máxima e o KM
Vmax KM
São as chamadas enzimas marca-passo, pois elas controlam a velocidade de todas as reações de
uma determinada via. Não obedecem à cinética de Michaelis-Menten (a curva da velocidade versus [S]
é sigmoide (como é possível ver na figura a seguir).
V
Hipérbole (Michaelis‑Menten)
Sigmoide (alostérica)
[S]
Essas enzimas têm, além do sítio ativo, outro sítio chamado alostérico ou regulatório, em que uma
substância (hormônio, ATP, NADH, metabólito) pode se ligar, e modificando o sítio ativo pode facilitar
(ativar) a enzima para uma reação ou atrapalhar a entrada do substrato na enzima (inibir).
1.5.2 Isoenzimas
São enzimas que diferem na sequência de aminoácidos, mas que catalisam a mesma reação química
em órgãos diferentes. Isso ocorre para que funcione de formas distintas em vários compartimentos
do corpo, ajustando a velocidade da reação para determinado metabolismo. Podemos citar a creatina
quinase (ou creatina cinase), o lactato desidrogenase e a fosfatase alcalina.
A fosfatase alcalina pode ser encontrada no osso, no fígado, no intestino e na placenta, durante a
gravidez. A fosfatase alcalina óssea é marcador da atividade osteoblástica, ou seja, destruição óssea, que
geralmente ocorre no câncer ósseo. A isoenzima de origem hepática (ALP1) é termoestável, enquanto
a fração óssea (ALP2) é inativada pelo calor. A determinação laboratorial da fosfatase alcalina, quando
analisada com outros parâmetros e outras enzimas, pode ajudar no diagnóstico de doenças de ossos ou
fígado. Essa enzima faz desfosforilação, ou seja, remove grupos fosfato de algumas moléculas, como
proteínas ou nucleotídeos e atua em pH alcalino.
Sua medida colabora com o auxílio diagnóstico nos processos patológicos, pois quando um órgão
tem alguma alteração (patologia), suas atividades são modificadas e liberadas para o exterior da célula
e daí para o sangue, como no caso de lesão tecidual provocada por processos patológicos que levam ao
aumento na permeabilidade celular ou morte da célula.
Observação
Algumas enzimas são rotineiramente medidas em laboratório clínico, como no quadro a seguir:
22
BIOQUÍMICA METABÓLICA
A amilase é uma enzima produzida pela glândula parótida ou pelo pâncreas, portanto, caso haja
aumento dessa enzima no sangue, poderá ser por patologia no pâncreas (por exemplo, pancreatite)
ou se tiver aumento no tamanho de uma ou mais glândulas salivares (geralmente a parótida, mas
pode ser também glândulas sublinguais ou submandibulares).
A enzima lipase é produzida no pâncreas e seu aumento no sangue, junto à amilase, denotam
com certeza problemas pancreáticos.
Fosfatase ácida é uma enzima produzida na próstata, e quando há aumento nesse local, há
extravasamento dessa enzima para o sangue. Apesar de ser um bom marcador de problemas
prostáticos, há uma glicoproteína chamada PSA, que é mais específico e mais sensível.
Gamaglutamiltransferase (γ-GT) é uma enzima hepática, que além de outras funções, transfere
aminoácidos e grupamento glutamil pela membrana celular para peptídeos.
TGO e TGP são enzimas encontradas em vários órgãos, mas principalmente no fígado. TGO é
encontrada dentro das mitocôndrias, enquanto TGP é citoplasmática. Quando há lesão hepática
é liberada, primariamente, a TGP, e quando essa lesão é grave, por exemplo, com necrose onde as
organelas são degradadas, a mitocôndria libera TGO no sangue.
Creatina cinase, lactato desidrogenase e fosfatase alcalina já foram explicadas no item Isoenzimas.
Os erros inatos do metabolismo (EIM) ocorrem quando uma determinada enzima não é produzida
corretamente, geralmente por mutação no DNA que se prolifera para o RNAm e a proteína (enzima).
Esse defeito genético que levou a um defeito enzimático pode até interromper uma via metabólica, e
os produtos dessa via não serão sintetizados, levando às doenças metabólicas hereditárias (DMH), que
correspondem a cerca de 10% de todas as doenças genéticas.
23
Unidade I
Geralmente ao nascer, as crianças portadoras com EIM parecem normais e algum fator externo
inicia as manifestações agudas diagnosticadas em laboratório clínico. Dependendo do erro inato do
metabolismo e da substância acumulada, tem-se a terapêutica que vai desde dieta até transplante
de medula óssea.
A fenilcetonúria é uma doença genética, autossômica e recessiva, em que a enzima fenilalanina hidroxilase
está mutada e dependendo do tipo de mutação poderá ocorrer a ausência ou deficiência desta enzima, que
não faria a transformação da fenilalanina em tirosina e, dessa forma, a via ficaria toda prejudicada.
• Fenilalanina
Fenilalanina hidroxilase
• Tirosina
• L‑Dopa
• Dopamina
• Norepinefrina
• Epinefrina
Com esse aumento das moléculas de fenilalanina do sangue, ocorre a transformação destas em ácido
fenilpirúvico, que pode ir para a urina pelo sangue e para outros órgãos, mostrando-se tóxica, inclusive
no cérebro. Caso a doença não seja diagnosticada com o teste do pezinho (do Programa Nacional de
Triagem Neonatal do Ministério da Saúde), seu início poderá ser manifestado clinicamente em torno
do 3o ou 4o mês de vida, quando a criança começa a apresentar atraso global do desenvolvimento
neuropsicomotor, irritabilidade ou apatia, convulsões, coceiras crônicas, coloração esbranquiçada na
pele (hipopigmentação cutânea), e se não tratada, chega ao retardo mental.
Observação
Caso faça corretamente a dieta livre de fenilalanina, a criança pode ter desenvolvimento e expectativa
de vidas normais.
1.7.2 Albinismo
O albinismo provém de falha na produção de melanina. Para que ocorra, tanto o pai como a
mãe irão passar os genes defeituosos para os filhos (herança autossômica recessiva). Sua natureza
genética afeta a atividade da enzima tirosinase, podendo ser classificado em: tirosinase-negativo
(quando não há produção de melanina) e tirosinase-positivo (quando há pequena produção de
melanina), e por consequência, ausência parcial ou total de pigmentos na pele, nos cabelos e nos
olhos. Esse pigmento serve como barreira natural contra as radiações solares e sua falta pode
provocar fotossensibilidade, queimaduras e câncer de pele. Não compromete o desenvolvimento
físico e mental de seus portadores.
O albinismo pode ocorrer também em animais (que sofrem mais facilmente o ataque de predadores
e da energia solar) e plantas (que não produzem pigmento clorofila e vivem com o armazenamento de
substâncias energéticas que estão presentes nas sementes).
• Fenilalanina
• Tirosina
Tirosinase
• L‑Dopa
Tirosinase
Melanina
25
Unidade I
Lembrete
1.7.3 Galactosemia
É a deficiência em enzimas que são usadas na conversão da galactose no sangue, entre elas a
galactose-1-fosfato-uridil transferase devido à herança autossômica recessiva. Após a amamentação,
aparecem vômitos, hepatomegalia, crescimento deficiente, letargia, diarreia e disfunção renal, que levam
à acidose metabólica. A restrição da galactose da dieta, que tem como fonte principal o carboidrato
lactose, é o tratamento principal.
Esse distúrbio metabólico hereditário autossômico recessivo leva ao acúmulo de glicogênio por
causa da deficiência da enzima glicose-6-fosfatase, que é responsável por liberar glicose a partir do
glicogênio (glicogenólise), acumulando-o no fígado (leva a hepatomegalia) e nos rins (nefromegalia),
podendo acarretar convulsões, irritabilidade, tremores, desmaios. O diagnóstico ocorre por hipoglicemia,
aumento de ácido láctico, colesterol, ácidos graxos, triglicérides, fosfolípides e ácido úrico. O tratamento
é a prevenção da hipoglicemia e da acidose láctica, sendo que a dieta deve ter alimentos ricos em
glicose ou amido.
1.7.5 Cretinismo
A ausência do hormônio tiroxina (hormônio proteico com moléculas de iodo) afeta o amadurecimento
cerebral, levando à deficiência mental pelo hipotireoidismo congênito, que pode ser por deficiência
enzimática durante o desenvolvimento do hormônio da tireoide. É possível identificar a doença por
meio do teste do pezinho.
Epiglote
Cartilagem tireóidea
Glândulas
paratireóideas
superiores
Glândula tireóidea
Glândulas
paratireóideas inferiores
Traqueia
26
BIOQUÍMICA METABÓLICA
2 CARBOIDRATOS
Por que nos alimentamos? Nos alimentamos para gerar energia para nossas células. E de que modo
nossas células produzem energia? Elas produzem energia na forma de adenosina trifosfato (ATP) a partir
da oxidação de macronutrientes (carboidratos, lipídios e proteínas) por meio de reações que constituem
o metabolismo. Essas reações de degradação (catabolismo) dos macronutrientes em moléculas menores
e de construção (anabolismo) que permitem a formação de macromoléculas são reguladas por enzimas,
vitaminas, sais minerais e hormônios. Então estudaremos como essas reações químicas de conversão de
uma molécula em outra ocorrem em nossas células.
Metabolismo
Anabolismo Catabolismo
Em bioquímica estrutural, cita-se como exemplo a ingestão de um café da manhã com pão, biscoitos,
bolo, mel e leite. Já sabemos como esses carboidratos são classificados quanto à complexidade, agora
iremos compreender a sua digestão até que possam atingir a corrente sanguínea e serem utilizados por
todas as células do organismo. Por questões didáticas, iremos estudar a digestão dos macronutrientes
de forma individualizada, mas ressaltamos que estes são digeridos ao mesmo tempo, às vezes não
compartilham o mesmo local de digestão e demandam enzimas distintas.
Na cavidade bucal, o amido é degradado em dextrinas de amido pela enzima alfa-amilase (ptialina),
que quebra as ligações α-1,4 da molécula de amido. No intestino, as moléculas de dextrina de amido
continuam a ser degradadas pela amilase pancreática em moléculas de maltose. E a maltose é hidrolisada
em duas moléculas de glicose. A glicose (monossacarídeo) pode ser absorvida para a corrente sanguínea
através das células do intestino delgado.
27
Unidade I
α-amilase
+ Maltase +
Glicose
Saiba mais
Uma vez na corrente sanguínea, como a glicose entra nas células? Ela não pode difundir-se
através dos poros da membrana, pois é muito grande. Seu peso molecular é de 180 kDa e o máximo
das partículas permeáveis é cerca de 100 kDa. Existem dois tipos de mecanismos de transporte de
glicose através da membrana: facilitado, mediado por transportadores de membrana específicos
(GLUT, do inglês glucose transporter), e o cotransporte, com o íon sódio (SGLT, do inglês sodium
glucose transporter).
28
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Glicose Na+
Célula
Na+
Glicose
K+
Transportador Sódio‑potássio
de glicose ATPase
Na+ K+
Glicose
Insulina
ligada ao
Receptor receptor
de insulina Transportador
de glicose Transportador
Insulina fechado de glicose
aberto
Célula Célula
No epitélio intestinal e tubular renal, o transporte de glicose ocorre contra gradiente e acoplado
ao sódio na membrana apical das células através dos cotransportadores (SGLT1-SGLT2), com posterior
difusão facilitada para o interstício através de GLUTs presentes na membrana basolateral.
29
Unidade I
• O transportador de glicose tipo 1 (GLUT1) está amplamente distribuído pelas células, e realiza
o transporte basal de glicose celular. Está presente nos tecidos fetais, mas sua expressão está
diminuída nos tecidos adultos. Não tem atividade alterada pela presença da insulina.
• O transportador de glicose tipo 2 (GLUT2) está presente nos hepatócitos, células β pancreáticas,
mucosa intestinal e rins. Possui alta afinidade com a glicose e não tem atividade modulada pela
insulina. As células β pancreáticas detectam a variação da glicemia e iniciam automaticamente o
controle da secreção de insulina, e em reposta o fígado capta ou libera glicose.
• O transportador de glicose tipo 4 (GLUT4) é o mais abundante e está nas membranas celulares do
musculoesquelético, cardíaco e tecido adiposo. É dependente de insulina.
• O transportador de glicose tipo 5 (GLUT5) é uma proteína transportadora de frutose, com pequena
ou nenhuma afinidade pela glicose.
Desse modo, uma vez dentro das células, a glicose será utilizada com diferentes finalidades,
dependendo do estado metabólico do organismo, ou seja, absortivo, pós-absortivo ou em jejum.
A variação da glicemia (quantidade de glicose na corrente sanguínea) determina quais hormônios são
produzidos e quais reações químicas estão favorecidas.
2.3 Glicólise
No balanço geral da glicólise (C6H12O6), ela produz duas moléculas de piruvato ou ácido pirúvico
(C3H4O3), duas moléculas de ATP e duas moléculas de NADH, mas isso ocorre numa sequência de reações
no citosol das células.
Glicose
NAD+
2NADH
10 reações
ADP + Pi
2ATP
2 Piruvato
30
BIOQUÍMICA METABÓLICA
O ácido pirúvico é um composto orgânico que contém três átomos de carbono (C3H4O3). Dissocia-se
em meio aquoso e forma o ânion piruvato, que é a forma sob a qual participa dos processos metabólicos.
O O
C C
OH O–
C O C O
CH3 CH3
H+
Ácido pirúvico Piruvato
Observação
–
O P O P O P O CH2 N N
H H
O– O– O–
H H
OH OH
ATP
NH2
N
O O N
–
O P O P O CH2 N N
O
H H
O– O–
H H
OH OH
ADP
31
Unidade I
ADP ADP
Ribo Ribo
NAD+ + H+ + 2e+ NADH
N+ N
Redução
Oxidação
O O
H NH2 H H NH2
• Reação 1: uma vez dentro da célula, a glicose é modificada para que não possa sair. E isso é
possível a partir da reação de fosforilação pelo ATP, formando a glicose-6-fosfato. Essa reação é
catalisada pela enzima hexoquinase ou glicoquinase (ver figura a seguir). O fosfato adicionado
à glicose confere carga negativa à glicose e assim não permite que ela passe pela membrana
plasmática. O magnésio é o cofator dessa reação.
6 6
CH2OH Hexoquinase CH2O– P
H
5 O OH ou H
5 O OH
glicoquinase
4 1 4 1
OH H OH H
OH H ATP ADP OH H
3 2 3 2
H OH H OH
Glicose Glicose‑6‑fosfato
O P dentro do círculo que aparece nas moléculas corresponde ao grupo fosfato PO4-3. E a seta para
cima indica que o ATP está sendo consumido na reação, e a seta para baixo indica que o ADP está sendo
formado pela reação.
A seta única da reação (→) indica que esta é irreversível. E quando a reação é reversível, pode ser
→
representada pelas seguintes setas: ↔ ou
←
• Reação 2: ocorre a isomerização da glicose à frutose. Isso é possível pela ação da enzima
fosfoglicoisomerase, que transforma a aldose da glicose em uma cetose.
6 6 1
CH2O– P P –OCH2 O CH2OH
H
5 O OH Fosfoglicoisomerase 5 2
4
OH H
1
H HO OH
OH H 4 3
3 2
H OH OH H
Glicose‑6‑fosfato Frutose‑6‑fosfato
32
BIOQUÍMICA METABÓLICA
HO OH Fosfofrutoquinase HO OH
H H
4 3 4 3
OH H ATP ADP OH H
Frutose‑6‑fosfato Frutose‑1,6‑bifosfato
CH2O P
C O
CH2OH
Di-hidroxiacetona fosfato
33
Unidade I
CH2O P Triose-fosfato H C O
isomerase
C O H C OH
CH2OH CH2O P
Di-hidroxiacetona fosfato Gliceraldeído 3‑fosfato
H C O Gliceraldeído 3–fosfato C O P
desidrogenase
H C OH H C OH
C O P Fosfoglicerato COO–
quinase
H C OH H C OH
34
BIOQUÍMICA METABÓLICA
H C OH H C O P
CH2O P CH2OH
3‑fosfoglicerato 2‑fosfoglicerato
• Reação 9: para aumentar ainda mais seu potencial de transferência de fosfato, o 2-fosfoglicerato
se transforma em fosfoenolpiruvato.
COO– COO–
Enolase
H C O P C O P
CH2OH CH2
2‑fosfoglicerato Fosfoenolpiruvato
• Reação 10: o fosfoenolpiruvato se transforma em piruvato por ação da piruvato quinase (veja
figura a seguir). Nessa reação, formam-se 2 ATP a partir do substrato. Essa reação é irreversível,
devido ao alto valor de ΔG.
O
COO– C
O–
C O P Piruvato quinase C O
CH2 CH3
ADP ATP
Fosfoenolpiruvato Piruvato
Após o estudo individual das reações, podemos agrupá-las em dois momentos distintos: a fase
preparatória da glicose e a de produção de energia.
35
Unidade I
Glicose
Hexoquinase ou glicoquinase
Gasto de ATP
Glicose 6‑fosfato
Fase preparatória
Fosfoglicoisomerase
Frutose 6‑fosfato
Fosfofrutoquinase
Gasto de ATP
Frutose 1,6‑dfosfato
Aldose
Di‑hidroxiacetona Gliceraldeído
fosfato 3‑fosfato Gasto de 2 moléculas de ATP
Triose‑fosfato
isomerase
Gliceraldeído
3-fosfato
2 (gliceraldeído 3-fosfato)
Gliceraldeído 3-fosfato
desidrogenase
Produção de 2NADH
2 (1,3-difosfoglicerato) Fase de produção
Fosfoglicerato quinase
Produção de 2 ATP
2 (3-fosfoglicerato)
Fosfoglicerato
mutase
2 (2-fosfoglicerato)
Enolase
2 (2-fosfoenolpiruvato)
Piruvato
Quinase
Produção de 2 moléculas de
Produção de 2 ATP ATP e de 2 moléculas de NADH
2 (Piruvato)
36
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Observe que são formadas duas moléculas de NADH, que é um aceptor intermediário dos elétrons
formados nas reações de oxidação da via. O NADH é constantemente regenerado. E quando isso ocorre?
Nas próximas etapas de metabolização do piruvato.
Glicose
Glicose
Ciclo de Krebs
4CO2 + 4H2O
O
OH
C OH
Glicólise +4H+ + 4e– → CH +2CO2
C6H12O6 2 2
C O
CH3
C H3
Álcool etílico
Ácido pirúvico (Etanol)
37
Unidade I
O O
C OH C OH
Glicólise +4H+ + 4e– → 2
C6H12O6 2
C O H C OH
CH3 CH3
Ácido pirúvico Ácido lático
Na respiração aeróbica, o processo é mais eficiente e acontece nas mitocôndrias das células. Vamos
relembrar a estrutura dessa organela.
Crista
mitocondrial
Matriz ou
estroma
Ribossomo
Membrana Membrana
interna externa
Figura 35 – Mitocôndria
Nessa forma de obtenção de energia, ocorre a produção de 38 mols de ATP com apenas 1 mol de glicose.
Quase todos os seres vivos utilizam a respiração celular aeróbica como processo de obtenção de energia para
suas diversas atividades.
38
BIOQUÍMICA METABÓLICA
O ciclo de Krebs (CK) também é conhecido como ciclo dos ácidos tricarboxílicos ou ciclo do ácido
cítrico e ocorre na matriz mitocondrial. É uma sequência de reações nas quais acontece a oxidação de
moléculas e como consequência ocorre a liberação de elétrons que serão utilizados na cadeia respiratória
para a obtenção de ATP. A representação das reações está em forma de um ciclo.
Cada volta do ciclo de Krebs produz 3 moléculas de NADH, 1 FADH2 e 1 GTP. Entretanto, quando uma
molécula de glicose inicia a glicólise aeróbia, são geradas 2 moléculas de piruvato, que se convertem em
acetil-CoA e, por isso, consideramos que duas moléculas de acetil-CoA iniciam esse ciclo.
Acetil‑CoA
Oxaloacetato Citrato
Malato Isocitrato
α‑cetoglutarato
Fumarato
Succinil‑CoA
Succinato
Saiba mais
HANS KREBS. Biográfico. The Nobel Prize. Nobel Media AB, 2020.
Disponível em: https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/1953/krebs/
biographical/. Acesso em: 30 jun. 2020.
39
Unidade I
É importante que o processo global de produção de energia que está na forma de moléculas de NADH
e FADH2 seja compreendido. Agora observe em quais etapas ocorrerá a produção dessas coenzimas no
estado reduzido.
Acetil‑CoA
Citrato sintase
Oxaloacetato Citrato
NADH
Malato Aconitase
desidrogenase
Malato Isocitrato
Isocitrato
desidrogenase NADH
Fumarase CO2
α‑cetoglutarato
Fumarato Complexo
a‑cetoglutarato
Succinato desidrogenase
FADH2 desidrogenase NADH
Succinil‑CoA Succinil‑CoA CO2
Succinato
sintetase
GTP
Para que ocorra o ciclo de Krebs, é necessário que a molécula de piruvato sintetizada na glicólise seja
transformada em acetil-CoA na mitocôndria por ação da piruvato desidrogenase.
40
BIOQUÍMICA METABÓLICA
O
C CO2 Coenzima A
O–
C O C O
CoA NAD+ NADH
CH3 CH3
Piruvato Acetil‑CoA
• Reação 1: síntese do citrato. O acetil-CoA inicia o ciclo de Krebs, reage com o oxaloacetato,
na presença do citrato sintase e forma citrato. Observe a soma de carbonos. O citrato tem seis
carbonos, quatro carbonos provenientes do oxaloacetato e dois carbonos do acetil-CoA.
H C COO– H C COO–
H2C OH
Citrato Isocitrato
41
Unidade I
C S‑CoA H C H
GDP GTP
O COO–
Coenzima A
Succinil‑CoA Succinato
42
BIOQUÍMICA METABÓLICA
H C H H C
FAD FADH2
COO– O
Succinato Fumarato
H C Fumarase H C H
H C H C OH
COO- COO–
Fumarato Malato
H C OH C O
NAD+ NADH
COO– COO–
Malato Oxaloacetato
Agora, vamos entender a quantidade de moléculas de ATP, NADH e FADH2 produzidas considerando
uma molécula de glicose em glicólise aeróbia.
43
Unidade I
Combustão aeróbia de 1
Etapa molécula de glicose
2 ATP
Glicólise 2 NADH
Conversão do piruvato em acetil-AcoA 2 NADH
6 NADH
Ciclo de Krebs 2 FADH2
2 GTP
Lembrete
E como a atividade do ciclo de Krebs é controlada? A partir da razão NAD/NADH, que, por sua vez,
é dependente da quantidade de ADP e ATP celular. Além disso, algumas enzimas do ciclo também são
reguladas, como é o caso do citrato sintetase, que é inibido alostericamente pelo ATP, e do isocitrato
desidrogenase, que é ativado pelo ADP e inativado pelo ATP e o NADH. A succinato desidrogenase é
inibida pelo oxaloacetato, e a sua disponibilidade é controlada pela malato desidrogenase, que depende
da razão NADH/NAD.
Você deve ter percebido que no ciclo de Krebs houve produção de muitas moléculas de NADH e
FADH2, mas como elas irão originar ATP? Essa produção irá acontecer na cadeia respiratória, que é nosso
próximo assunto.
Os componentes da cadeia respiratória são denominados complexos (I, II, III e IV) e estão
localizados na membrana interna da mitocôndria. Na figura a seguir estão representados: o complexo I
(NADH‑ubiquinona oxidorredutase), o complexo II (succinato-ubiquinona oxidoreductase), o
complexo III (ubiquinol-citocromo-c oxidoreductase) e, finalmente, o complexo IV (citocromo-c oxidase).
Os complexos I e II estão conectados pela coenzima Q (CoQ), e o citocromo c conecta os complexos III e IV.
44
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Espaço intermembranas
I C
III IV
CoQ Membrana
interna
II
Matriz mitocondrial
Os complexos I, III e IV funcionam como uma bomba de prótons. Estes acumulam-se no espaço
intermembranas e geram uma diferença de potencial eletroquímico, que é utilizado pela ATP sintase
na formação de ATP, a partir de ADP e Pi. Esses componentes, bem como a bomba de ATP sintetase,
formam o sistema de fosforilação oxidativa que sintetiza ATP. A função geral da cadeia respiratória
é a oxidação de NADH e FADH2, provenientes das diversas vias metabólicas (carboidratos, lipídios e
proteínas), bem como o transporte de equivalentes reduzidos ao longo de uma série de transportadores
para o aceitador final, o oxigênio. Como os elétrons são transportados ao longo da cadeia? Os elétrons
ao serem transportados, e muitos dos complexos, utilizam a energia para bombear prótons da matriz
mitocondrial para o espaço intermembranar, formando um gradiente de prótons.
Todos os elétrons que entram na cadeia de transporte vêm das moléculas de NADH e FADH. O NADH
doa eficientemente seus elétrons em reações redox, isto é, seus elétrons estão em um alto nível de energia,
portanto ele pode transferir seus elétrons diretamente para o complexo I, voltando a ser NAD+. Conforme
os elétrons percorrem o complexo I em uma série de reações redox, energia é liberada e o complexo usa
essa energia para bombear prótons da matriz para o espaço intermembranar. O FADH não é bom doador
de elétrons em comparação ao NADH, isto é, seus elétrons estão em um nível de energia mais baixa, então
não pode transferir seus elétrons para o complexo I. Em vez disso, ele os leva pela cadeia de transporte
até o complexo II, que não bombeia prótons através da membrana. Isso justifica porque cada molécula de
FADH faz com que menos prótons sejam bombeados do que cada molécula de NADH.
Menor potencial de redução Espaço intermembranas
I C
III IV
e–
e– e–
CoQ e– Membrana
interna
II
e–
e– e– Matriz mitocondrial
45
Unidade I
À exceção desses dois primeiros complexos, NADH e FADH, os elétrons percorrem exatamente
a mesma rota. Tanto o complexo I quanto o complexo II passam seus elétrons para a ubiquinona
(Q), que é reduzida e forma QH. Essa molécula atravessa a membrana e entrega os elétrons ao
complexo III. Conforme os elétrons percorrem o complexo III, mais íons H+ são bombeados através da
membrana, e os elétrons são finalmente entregues a outro carreador denominado citocromo C (cit C).
O cit C transporta os elétrons até o complexo IV, onde um último grupo de íons H+ é bombeado
através da membrana. O complexo IV passa os elétrons para o oxigênio, que se divide em dois
átomos e aceitam prótons da matriz, formando água. São necessários quatro elétrons para reduzir
cada molécula de O2, e duas moléculas de água são formadas no processo.
Espaço entre
a membrana Proteína transportadora
externa e interna de elétrons H+ H2+ H+ H+
Membrana
interna da e e e
mitocôndria
Matriz da NADH + H+
mitocôndria ATP sintetase
½O2 + 2e– + 2H+ ou ATP sintase
H+
NAD+
H2O
ADP + P ATP
E quantos ATPs por glicose são produzidos na respiração celular? Se você pesquisar, irá encontrar
respostas ligeiramente diferentes. E isso acontece porque muitos autores consideram a energia
necessária para transportar o ADP para dentro e o ATP para fora da mitocôndria.
Aqui vamos considerar 38 mols de ATP para cada molécula de glicose. Para calcular o saldo de
ATP, vamos considerar que cada molécula de NADH que libera elétrons durante a cadeia respiratória
46
BIOQUÍMICA METABÓLICA
produz 3 moléculas de ATP. E os elétrons carreados pelas moléculas de FADH2 produzem apenas
2 ATPs. Sendo assim, temos:
Os inibidores são drogas que inibem o transporte de elétrons. O resultado dessa ação é a
paralisação do transporte de elétrons e das vias metabólicas que dependem da cadeia para a
reoxidação das coenzimas. No quadro a seguir, encontram-se exemplos de inibidores da cadeia de
transporte de elétrons.
47
Unidade I
a(1,4)
a(1,6)
Lembrete
A demandas celulares são atendidas pelas vias de síntese e degradação de glicogênio, que são
denominadas glicogênese e glicogenólise, respectivamente.
Glicogênio
Glicogenólise Glicogênese
Glicose
48
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Entretanto, a glicogênio sintase catalisa apenas as ligações glicosídicas α-1,4. Para a formação das
ligações α-1,6, outra enzima ramificadora será necessária para realizar a transferência de 6 a 7 resíduos
de glicose da molécula linear para a parte mais nova (interna) que está sendo formada.
Enzima
ramificadora
a(1,6)
49
Unidade I
Observação
Inicialmente, a fosforilase catalisa a quebra das ligações glicosídicas α-1,4 pela adição de
fosfato inorgânico nos resíduos de glicose das extremidades das cadeias. Esse processo prossegue
até restarem quatro resíduos de glicose. Em seguida, outra enzima é acionada, a transferase, que
transfere os resíduos de glicose para uma cadeia vizinha, na qual a fosforilase pode continuar a
ação. Ao chegar na ligação da ramificação, uma terceira enzima é necessária, a desramificadora,
que quebra a ligação do tipo α-1,6.
+
Fosforilase Transferase Enzima
desramificadora Glicose
No fígado, a glicose 6-fosfato é transformada em glicose por meio da ação da enzima glicose
6-fosfatase e enviada para a corrente sanguínea para a manutenção da glicemia. Já no músculo, a
glicose 1-fosfato é transformada em glicose 6-fosfato, entretanto, em virtude da ausência da
enzima glicose 6-fosfatase, a glicose pode não sair do músculo, ou seja, só poderá gerar energia através
da glicólise anaeróbia.
50
BIOQUÍMICA METABÓLICA
A. B.
Músculo
Glicogênio
Fígado Glicogênio
Glicose 6‑fosfato
Glicose 6‑fosfato
Glicose
Glicose
Energia
Corrente sanguínea
Glicogênio
Glicogênio fosforilase Adrenilato
sintase ciclase
+ – +
+
Glicose 1‑fosfato
51
Unidade I
A glicogenólise hepática é um processo altamente eficaz, entretanto as reservas logo são exauridas.
E quando a reserva de glicogênio hepático já foi utilizada, como ocorre a manutenção da glicemia?
Quando há diminuição da glicemia, o organismo consegue produzir sua própria glicose a partir de
fontes que não são carboidratos por uma sequência de reações denominadas gliconeogênese. E quais
são essas fontes? São aminoácidos glicogênicos, lactato, piruvato e glicerol. Os aminoácidos cetogênicos
fornecem diretamente acetil-CoA e, portanto, não fornecem substratos para essa via metabólica, mas
estimulam a produção de energia para o ciclo de Krebs. Já os ácidos graxos não fornecem substratos para
a gliconeogênese, pois o acetil-CoA é utilizado diretamente para a produção de energia, ou é deslocado
para o citoplasma para a produção de colesterol ou corpos cetônicos. Entretanto a degradação dos
triglicerídeos (TG) libera glicerol, que pode ser utilizado como substrato para a gliconeogênese.
2.7 Gliconeogênese
Fermentação
láctica
Glicose Lactato Músculo
Glicose Lactato
Sangue
52
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Saiba mais
GERTY CORI. Biográfico. The Nobel Prize. Nobel Media AB, 2020.
Disponível em: https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/1947/cori-gt/
biographical/. Acesso em: 30 jun. 2020.
A princípio, poderíamos imaginar que a gliconeogênese é uma via reversa da glicólise, mas não
é, pois existem reações irreversíveis. A gliconeogênese não pode utilizar a via reserva da glicólise,
pois as fosforilações da primeira fase (conversão de glicose em glicose-6-fosfato e a conversão de
frutose‑1,6‑fosfato em frutose-1,6-bi-fosfato) e a formação de piruvato a partir do fosfoenol-piruvato,
são reações irreversíveis (veja a figura a seguir). Então, na gliconeogênese, existem três barreiras
energéticas específicas que precisam ser contornadas. Vejamos quais são essas reações:
53
Unidade I
Frutose‑6‑P
ATP Frutose‑6‑P
Fosfofrutoquinase Pi
ADP Frutose 6‑difosfatase
Frutose‑1,6‑P Frutose‑1,6‑P
Figura 59 – (A) reações da gliconeogênese: em vermelho, as etapas que necessitam de enzimas que diferem da glicólise;
(B) reações da glicólise: em vermelho, as enzimas que diferem da gliconeogênese
54
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Essas três reações permitem a formação dos intermediários do ciclo de Krebs, que são produzidos
pelo catabolismo dos aminoácidos (citrato, isocitrato, α-cetoglutarato, succinato, fumarato e malato),
assim como os que fornecem piruvato, podem produzir oxalacetato e fornecer glicose através
da gliconeogênese.
Como vimos até agora, as células dos tecidos animais degradam a glicose 6-fosfato na via glicolítica
até piruvato. Grande parte desse piruvato é oxidada a acetil-CoA, que, por sua vez, será oxidado no ciclo
de Krebs levando à formação de ATP. Entretanto a glicose-6-fosfato também pode ser utilizada por uma
via alternativa, conhecida como via das pentoses ou via do 6-fofo-gliconato. Vamos estudar a via das
pentoses a seguir.
Essa via tem algumas características importantes: ocorre no citoplasma, não há geração de ATP, mas
há produção de NADPH e pentoses.
A via das pentoses é composta por duas fases: oxidativa e não oxidativa (veja figuras a seguir).
Durante a fase oxidativa, as moléculas de glicose-6-fosfato são oxidadas por moléculas de NADP+
pela enzima glicose-6-fosfato-desidrogenase (G6PD) com formação de moléculas NADPH e 6-fosfato-
gliconato. Essas moléculas de 6-fosfo-gliconato também são oxidadas, gerando ainda mais moléculas
de NADPH, moléculas de CO2 e ribulose-5-fosfato.
Glicose-6-fosfato
NADP+ Glicose-6-fosfato
NADPH desidrogenase
6-fosfoglucono-δ-lactona
H2O
H+ 6-fosfogliconolactonase
6-fosfogliconato
NADP+
NADPH
CO2
Ribulose-5-fosfato
A partir desse ponto, as reações são não oxidativas, e a ribulose-5-fosfato, por isomerização, passa
para a forma de ribose-5-fosfato. Parte da ribose-5-fosfato continua no processo de isomerização,
gerando a xilulose-5-fosfato. Essas pentoses podem gerar novas moléculas de glicose-6-fosfato. E qual
via metabólica pode ocorrer a partir da glicose-6-fosfato? Ela pode ser utilizada tanto na via de pentoses
como em todas as vias de metabolismo da glicose. Durante a fase não oxidativa, são geradas moléculas
de glicose-6-fosfato e gliceraldeído-3-fosfato, que são intermediários da via glicolítica.
55
Unidade I
Ribulose-5-fosfato
Ribulose-fosfato-3-epimerase Ribulose-fosfato-isomerase
Xilulose-5-fosfato Ribose-5-fosfato
Transquetolase
Sedoeptulose-7-fosfato Gliceraldeído-3-fosfato
Transaldolase
Eritrose-4-fosfato
Transcetolase
Gliceraldeído-3-fosfato Frutose-6-fosfato
Frutose-6-fosfato
A G6PD é uma enzima citoplasmática presente nos tecidos, mas é no metabolismo das
hemácias que a G-6-PD exerce suas funções de destaque. A G6PD tem papel essencial no
metabolismo das hemácias, tanto na obtenção de energia a partir da glicose quanto na sua
proteção contra a ação de agentes oxidantes por manter uma proteína denominada glutationa
no estado reduzido. Mutações no gene da G6PD geram defeito enzimático nas hemácias, que
podem causar anemia hemolítica.
Saiba mais
56
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Síntese de
ácidos nucleicos
H
H C OH
H C O H
H C OH HO C OH H C OH
H C O H C O O H C O
H C OH H C OH H C H HO C H
H C OH H C OH H C OH H C OH
H C OH H C OH H C OH H C OH
CH2O– P CH2O– P CH2O– P CH2O– P
Ribulose-5-fosfato Ribulose-5-fosfato Eritrose-4-fosfato Xilulose-5-fosfato
NADPH + H+
NADPH + H
+
H O NADP+ H O NADP+ H H
C C H C OH H C OH CH2OH
H C OH H C OH CO2 H C O H C O C O
HO C H H2O HO C H H C OH HO C H HO C H
H C OH H C OH H C OH H C OH H C O H C OH H C O
H C OH H C OH H C OH H C OH H C OH H C OH H C OH
CH2O– P CH2O– P CH2O– P CH2O– P CH2O– P CH2O– P CH2O–
Glicose-6-fosfato Glicose-6-fosfato Ribulose-5-fosfato Xilulose-5-fosfato Gliceraldeído-3-fosfato Frutose-6-fosfato Gliceraldeído-3-fosfato
Observamos, assim, que há um intercâmbio entre as vias, de acordo com as necessidades da célula.
E a entrada da glicose-6-fosfato na via das pentoses ou na via glicolítica depende das necessidades
momentâneas da célula, assim como da relação entre as concentrações de NADPH e NADP+ ([NADPH]/
[NADP+]). Quando a concentração de NAPDH é maior do que a de NADP+, ocorre inibição alostérica
da primeira enzima da via, a glicose 6-P desidrogenase, e, portanto, mais glicose 6-P está disponível
para a glicólise.
Exemplo de aplicação
De acordo com o explicitado até aqui, por que os indivíduos com deficiência de G6PD não podem
usar drogas oxidativas?
Pacientes com anemia por deficiência de G6PD devem evitar exposição a fármacos ou outras
substâncias que produzam peróxido e causem a oxidação da hemoglobina e das membranas das hemácias.
Entre os fármacos que podem ser o gatilho da hemólise estão: salicilatos, primaquina, nitrofuranos,
alguns derivados da vitamina K, e fenazopiridina.
3 LIPÍDIOS
Os lipídeos ingeridos ou fabricados por nosso corpo ficarão armazenados nos adipócitos, pois
serão grande fonte de energia para quase todas as nossas células, e quando nós precisamos de ATP
(energia) para funções vitais e não temos de onde retirar (por exemplo, do glicogênio de estoque ou da
alimentação), são os lipídeos que serão nossa reserva maior de energia. Como eles são apolares, não há
57
Unidade I
água ao seu redor, podemos até dizer que são anidros, então, quando estocados, não há aumento de
volume pela presença de água (ou seja, há maior peso seco), dessa forma, quando sofrerem o processo
de oxidação completa, irão gerar 9 kcal/g, muito mais se comparado a 4 kcal/g de carboidratos e
4 kcal/g de proteínas.
Observação
Variações nas dietas, na atividade física, no uso de bebidas alcoólicas e certos medicamentos são as
causas mais frequentes de grandes variações dos níveis de triglicérides.
Com o jejum superior a 8 horas, os triglicerídeos começam a ser degradados. Em resposta ao nível
baixo de glicose no sangue os triglicerídeos (TG) dos adipócitos serão clivados pela enzima marca‑passo
lipase hormônio sensível (LHS). Ela é ativada pelos hormônios glucagon ou epinefrina (também
chamada adrenalina), que em uma reação em sequência (ou reação em cadeia) ligam-se em receptores
de membrana dos adipócitos, ativam a proteína G que está no citoplasma, que ativa a enzima adenilato
ciclase (AC), presente na membrana plasmática do adipócito, aumentando a concentração intracelular
de AMP cíclico (AMPc) pela reação ATP → AMPc + PPi. O AMPc fosforila, que coloca radical fosfato, uma
proteína quinase dependente de AMPc, ativando a enzima LHS que irá hidrolisar os triacilglicerol em ácido
graxo e glicerol que saem da célula. O cérebro e as hemácias não utilizam TGs (triglicerídeos) como fonte
energética, só utilizam glicose, e o cérebro também pode usar além da glicose os corpos cetônicos (CC).
58
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Os ácidos graxos, que são liberados dos adipócitos, são transportados pelo sangue ligados à albumina
e serão utilizados por musculoesquelético, coração e fígado como fonte energética.
Sangue
Membrana celular
Receptor do adipócito
Proteína G
Adenilato ciclase
Proteína quinase
LHS TG
AG +
glicerol
Lembrete
Os TGs irão liberar ácidos graxos livres (AGLs) e glicerol no citoplasma, e os AGLs deverão entrar
nas mitocôndrias das células-alvo para gerar ATP. Mas, para isso, deverão passar as duas membranas
mitocondriais: a externa e a interna chegando na matriz mitocondrial.
Primeiro os AGL de cadeia longa são ativados (reação onde é gasto 1 ATP até AMP, que em termos de
análise de gasto de energia, podemos contar gasto de 2 ATPs por que foram gastas duas ligações ricas
em fosfato, e depois se ligam à coenzima A se transformando em acil-CoA, como demonstrado a seguir:
59
Unidade I
R C Carnitina + CoA
Carnitina
Espaço intermembranoso aciltransferase II
O
O
Carnitina + R C CoA
CoA + R C Carnitina
Carnitina
aciltransferase I
R C CoA Matriz
mitocondrial
+
Carnitina
Figura 64 – Esquema da passagem do ácido graxo (AG) pela membrana da mitocôndria auxiliada pela carnitina
Observação
Nesse compartimento (matriz mitocondrial) ocorrerá oxidação (reação com o oxigênio) na posição β
da molécula de acil-CoA.
Consiste em uma sequência de quatro reações que resultam na saída de dois carbonos de uma cadeia de
ácidos graxos e que consta de uma desidrogenação que produz 1 FADH2, uma hidratação, outra desidrogenação
com a produção de NADH + H+, terminando com uma clivagem (reação irreversível), em que ocorre a liberação
de 1 molécula de acetil-CoA que inicia o ciclo de Krebs, liberando NADH + H+, FADH2 e uma molécula de AGL com
dois carbonos a menos, o que irá iniciar essas reações novamente, por isso se chama ciclo de Lynen (bioquímico
que descobriu esse processo), recomeçando o ciclo a partir da desidrogenação e formação de FADH2.
Caso o AG tiver duplas ligações, essas deverão ser clivadas antes do início do ciclo de Lynen, usando
para isso uma molécula de NADPH+ H+ para desfazer cada dupla ligação.
Lembrete
O glicerol proveniente da degradação dos triglicerídeos não pode ser reaproveitado pelos adipócitos, que
não têm a enzima gliceroquinase, sendo então liberado no sangue e metabolizado no fígado, onde há essa
enzima. O glicerol é convertido a glicerol-3-fosfato pela transferência de um grupo fosfato do ATP e depois
transformado em di-hidroxiacetona fosfato, um intermediário da glicose ou da gliconeogênese (figura a
seguir). Dependendo do estado fisiológico do organismo, o glicerol toma o caminho da glicólise hepática,
ou o caminho da gliconeogênese do fígado. Representa cerca de 5% da energia dos TG e 95% vem dos AG.
H2C OH H2C OH
Glicerol 3‑fosfato
desidrogenase
H2C OH H2C O
H2C O P H2C O P
NAD+ NADH + H+
Glicerol 3‑fosfato Di-hidroxicetona
fosfato
61
Unidade I
Como não ocorre a entrada de glicose nas células, o corpo acredita que não há oferta de glicose para
o sangue, dessa forma tenta aumentar a quantidade de glicose no sangue para que entre nas células
com o aumento dos níveis dos hormônios glucagon, adrenalina e GH (hormônio de crescimento), que
são caracterizados como hormônios lipolíticos e hiperglicêmicos. No momento que há necessidade de
energia e não tem carboidratos (no caso: glicose), deverão ser oxidados os triglicerídeos até ácidos
graxos e glicerol, que em sua maioria, estão no interior dos adipócitos do tecido adiposo branco e
representam as principais reservas de energia nos mamíferos. Nesse momento, podemos dizer que irá
iniciar o processo de lipólise (lise = quebra + lipo = lipídeos).
Observação
A enzima lipase hormônio sensível (LHS) é inibida pelo hormônio insulina e ativada por glucagon,
adrenalina e GH, além dos glicocorticoides, e fará o trabalho de quebra dos TGs e, ao passarem pela
membrana celular do adipócito, irão para a corrente sanguínea, se ligam à albumina e são transportados
para vários tecidos do organismo, como rins, tecido adiposo marrom, coração e, principalmente, fígado
e musculoesquelético. Chegando nesses órgãos, o TG será liberado pela lipoproteína lipase presente em
cada um deles e sofrerá catabolismo.
Exemplo de aplicação
Quantos ATPs geram um ácido graxo de 16C, saturados, se forem oxidados até CO2 e H2O?
Cada volta no ciclo de Lynen gera 1 NADH + H+ (correspondente a 3 ATPs) + 1 FADH2 (correspondente
a 2 ATP), portanto 5 ATPs por volta, se são feitas 7 voltas teremos 35 ATPs no total.
Se em cada volta do ciclo de Lynen ou β-oxidação libera 1 acetil-CoA, serão liberadas 8 moléculas
no total.
Cada molécula faz 1 ciclo de Krebs gerando 1 GTP (= 1 ATP), 3 NADH + H+ (3 × 3 ATPs = 9 ATPs)
e 1 FADH2 ( 2 ATP), total de 12 ATPs por volta, então, serão 8 voltas (por que teremos 8 acetil-CoA),
portanto um total de 96 ATP.
Saldo final de ATP: 35 + 96 = 131 ATPs – 2 ATPs. Total é de 129 ATP (ver figura a seguir).
62
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Primeira volta
+
acil‑CoA com 2 carbonos a menos (14) acetil‑CoA
Segunda volta
+
acil‑CoA com 2 carbonos a menos (12) acetil‑CoA
Terceira volta
+
acil‑CoA com 2 carbonos a menos (10) acetil‑CoA
Quarta volta
+
acil‑CoA com 2 carbonos a menos (8) acetil‑CoA
Quinta volta
+
acil‑CoA com 2 carbonos a menos (6) acetil‑CoA
Sexta volta
+
acil‑CoA com 2 carbonos a menos (4) acetil‑CoA
Sétima volta
acetil‑CoA acetil‑CoA
63
Unidade I
Quando a principal fonte de energia para o organismo (glicose), se esgota, os ácidos graxos devem
ser oxidados para liberar energia.
Observação
O ato de engordar era importante no passado, na época das cavernas, para os seres humanos, pois
levaria à sobrevivência quando não houvesse comida. Mas atualmente a oferta de comida é grande e
então a capacidade de armazenar gordura não é tão apreciada como antes, levando até à obesidade.
A lipogênese ocorre no fígado, nos rins, no cérebro, no pulmão, nas glândulas mamárias e no tecido
adiposo, é uma via citoplasmática, anaeróbica, sendo sua molécula precursora o acetil-CoA proveniente,
por exemplo, do metabolismo de carboidrato.
Quando ocorre ingestão de dietas hipercalóricas com carboidratos e/ou proteínas em excesso,
formam-se várias moléculas de acetil-CoA que iniciam o ciclo de Krebs com a formação de muitas
moléculas de GTP, NADH + H+ e FADH2, que na fosforilação oxidativa irão gerar muitas moléculas de ATP.
Quando o ATP está sendo produzido em excesso, não é mais necessário girar o ciclo de Krebs, então
uma das enzimas marca-passo do ciclo de Krebs, a isocitrato desidrogenase, é inibida aumentando o
64
BIOQUÍMICA METABÓLICA
nível de citrato (integrante do CK). O aumento de citrato e ATP favorece a síntese de ácidos graxos, pois
essa molécula é permeável à membrana mitocondrial e extravasa para o citosol, onde é transformado
em acetil-CoA (molécula que inicia a lipogênese e não consegue passar a membrana mitocondrial)
e ácido oxalacético, e esse último é transformado em malato no próprio citosol. O malato passa a
piruvato, que retorna à mitocôndria.
Carboidratos e proteínas
Acetil-CoA
Oxaloacetato Acetil‑CoA
Malato Ciclo de Isocitrato
Krebs
a‑cetoglutarato
Fumarato
NADPH Ácido graxo
Succiil‑CoA
Succinato Piruvato
Os triglicerídeos são produzidos no retículo endoplasmático dos diferentes órgãos que são
responsáveis pela síntese de lipídeos. Os ácidos graxos sintetizados na lipogênese se combinam por
reação de esterificação com uma molécula de glicerol que deve estar na forma de glicerofosfato para
gerar triglicerídeos, que é a forma de armazenamento de lipídeos nos adipócitos.
No fígado, a gliceroquinase que está ativa no fígado e não no tecido adiposo transforma o
glicerol em 3-glicerofosfato. Como no tecido adiposo, a síntese de triglicérides não ocorre por meio
65
Unidade I
da enzima gliceroquinase, que não existe nesse tecido, então o glicerofosfato é obtido através da
fosfodi‑hidroxicetona, que com a ajuda da enzima glicerofosfato desidrogenase transforma o glicerol
em fosfodi-hidroxicetona, proveniente da via glicolítica ou da via das pentoses, e depois em
3-glicerofosfato resultando em triglicérides.
O
O H2C O O R1
R2 C O CH O
C O P O–
H2
O–
Os TGs recém-formados no fígado são transportados para as células adiposas através de junção
com lipoproteínas (VLDL ou LDL), pois, como é lipossolúvel ou hidrofóbico, não se dissolve no sangue
(líquido com predominância de água). Quando a lipoproteína chega até a célula adiposa, a enzima
lipoproteína lipase (ativada pela insulina) presente nos órgãos (músculo adiposo, cardíaco e esquelético)
cliva seu conteúdo, e os ácidos graxos resultantes se difundem pela membrana da célula adiposa, pois
são lipossolúveis e a membrana é lipoproteica, se juntando novamente no interior da célula adiposa se
tornando novamente TGs e armazenando-se no seu interior.
Exemplo de aplicação
Um acetil-CoA se junta com um acetil que se transformou em malonil-CoA, o qual perde 1 carbono.
A cada volta na via de síntese dos AGs, a molécula ganha dois carbonos do malonil-CoA (que tem
3 carbonos, mas sempre irá perder 1 carbono), até a formação do palmitato (ao ácido palmítico se não
estiver ionizado), liberando a coenzima A.
Se em cada volta gasta 2 NADPH + H+ e 1 ATPs que será hidrolisado em 7 voltas, serão 14 NADPH
+ H+ e 7 APTs.
66
BIOQUÍMICA METABÓLICA
A síntese de ácidos graxos tem entre outras funções o armazenamento de gorduras para utilização
posterior. Portanto, fica claro que a insulina, que é um hormônio que induz armazenamento, seja
estimuladora da síntese de malonil-CoA e consequentemente de ácidos graxos. Os hormônios
glucagon e epinefrina são liberados quando se faz necessário a disponibilidade de energia para as
células, portanto é lógico pensar que esses hormônios inibirão a síntese de ácidos graxos. O excesso de
ácidos graxos formado fará um feedback negativo na transformação de acetil-CoA em malonil‑CoA,
modulando dessa forma a produção de ácidos graxos, e o citrato (precursor do acetil-CoA) em excesso
fará um feedback positivo estimulando a formação de malonil-CoA a partir de acetil-CoA, que, dessa
forma, impedirá o acúmulo de citrato.
Na hiperglicemia, a insulina ativa as vias hipoglicemiantes, que são a glicólise ativada pela insulina e
inibida pelo glucagon, inativada pelos produtos malonil glicogênese e a via das pentoses, e a lipogênese,
por isso é chamado hormônio hipoglicemiante e lipogênico. As enzimas marca-passo acetil-CoA
carboxilase-CoA e palmitoil-CoA (AG com 16 C), ativadas pelo citrato, são inativadas devido à presença
de adrenalina/glucagon.
Quando há grande produção de ATP, tanto ciclo de Krebs e cadeia respiratória são bloqueados,
causando o acúmulo de acetil-CoA dentro da mitocôndria, que irá sair para o citoplasma na forma
de citrato (pois a membrana é impermeável a acetil-CoA) e através da enzima citrato liase, presente
no citoplasma celular, voltará a ser acetil-CoA.
Após a sua formação no tecido hepático, os corpos cetônicos são exportados para outras partes do
corpo, tais como músculo, cérebro e córtex renal. Apesar de outros órgãos, como coração e córtex renal,
oxidarem AG, também podem usar CC para obter energia.
O fígado não tem enzimas para transformar acetoacetato em acetil-CoA, e, portanto, usam os AG
como fonte de energia. As células nervosas, em compensação, não têm enzimas para fazer β-oxidação,
dependem de glicose e CC, e as hemácias também dependem de glicose unicamente, pois não podem
utilizar corpos cetônicos já que serão utilizados na mitocôndria (ciclo de Krebs).
tirosina, triptofano, treonina e os aminoácidos leucina e lisina, que são exclusivamente cetogênicos, pois
se transformam em componentes do ciclo de Krebs.
O OH O O O O
HMG‑CoA
liase
O C CH2 C CH2 C CoA H3C C CH2 C O– + H3C C CoA
O O HMG‑CoA O
liase
H3C C CH2 C O– H3C C CH3
Acetoacetato Acetona
CO2
O O b‑hidroxibutirato OH O
desidrogenase
H3C C CH2 C O– CH3 C CH2 C O
Acetoacetato CH3
NADH + H+ NAD+
b‑hidroxibutirato
Os CC são solúveis em água e rapidamente o acetoacetato vai para a corrente sanguínea, ou pode
ser reduzido para β-hidroxibutirato e uma pequena parte forma acetona e dióxido de carbono (CO2).
Apesar do nome cetônico, o β-hidroxibutirato é um ácido carboxílico, e não uma cetona, pois não tem o
grupo C = O em carbono secundário característico, mas é assim chamado porque é derivado de cetonas.
Observação
Esse processo é fisiológico e natural, pois podemos ficar em jejum por conta de várias situações.
Mas em casos de períodos de jejum prolongado ou quando não se trata o diabetes mellitus
tipo 1 (situação chamada descompensada), o aumento dessas substâncias no sangue pode ter
consequências mais graves.
Ao aumento de corpos cetônicos no sangue chamamos cetonemia, que leva à acidose metabólica
ou cetoacidose, pois os corpos cetônicos têm caráter ácido, levando à redução do pH sanguíneo pelo
aumento de H+ liberado dos CC. O seu aproveitamento depende da quantidade de tempo que se está de
jejum, ou seja, muito jejum, muitos CC.
Observação
A cetoacidose diabética ocorre mais comumente em pacientes com diabetes tipo 1, mas também
acontece em pacientes com diabetes tipo 2. Deve-se levar o paciente imediatamente ao hospital, pois é
um sinal de que a glicemia está alta e a cetonemia (corpos cetônicos no sangue) também. Essa situação
no diabetes ocorre por que as células não estão recebendo glicose no seu interior (por falta de insulina)
e precisam de energia, para tanto deve gastar lipídeos na β-oxidação liberando várias moléculas de
acetil‑CoA, que irão ao ciclo de Krebs e formarão CC.
69
Unidade I
Como os CC têm caráter ácido e baixam o pH do sangue (pH normal é de 7,4 ± 0,05), se esse estado
fisiológico não for tratado rapidamente, pode levar ao coma e à morte. Alguns sinais de cetoacidose
diabética são: mal-estar, vômitos, diurese aumentada, dor abdominal e hálito cetônico, letargia etc.
Outras situações, além do diabetes descompensado, pode levar à acidose metabólica, como: erro de dose
de insulina, bulimia ou anorexia; ingestão excessiva de álcool; desnutrição, infecção.
O tratamento é realizado com soro fisiológico endovenoso para reposição contínua das perdas
hídricas, correção dos déficits de eletrólitos (perda de sais) e da hiperglicemia, além do uso correto da
insulina intravenosa e em casos graves diálise e assistência respiratória, para não chegar a ter arritmias
cardíacas ou edema cerebral.
Observação
Durante o jejum, a glicemia diminui, reduzindo a insulinemia. Quando isso ocorre, há aumento da
atividade da lipase hormônio sensível (LHS) nos adipócitos, que cliva os triacilgliceróis liberando AG e
glicerol para o sangue. Principalmente o tecido muscular esquelético e cardíaco usam os AG como fonte
de energia (ATP).
Os CC têm como substrato para a formação dos corpos cetônicos a acetil-CoA formada durante
a β-oxidação dos AG. São eles: ácido β-hidroxibutírico (CH3CHOHCH2COOH) e ácido acetacético
(CH3COCH2COOH), que são formados nas mitocôndrias do fígado e depois da descarboxilização do
acetoacetato forma-se o último CC: a acetona (CH3COCH3).
Observação
70
BIOQUÍMICA METABÓLICA
4 COLESTEROL
O colesterol é composto por 27 átomos de carbonos (figura a seguir) e sintetizado a partir da acetil-
CoA, sendo por isso não classificado como lipídeo (lipídeo por definição bioquímica é éster de AG), e sim
um esteroide ou esterol sintetizado pelos animais com características muito semelhantes aos lipídeos.
Cerca de 20% a 25% da produção total diária (~1 g/dia) ocorre no fígado; outros locais de maior taxa
de síntese incluem intestinos, glândulas adrenais e gônadas.
H3C
CH3
CH3 CH3
H3C
HO
Existem vários tipos de lipoproteínas (união de uma proteína com colesterol, TG e fosfolipídios),
classificadas de acordo com a sua densidade. As primeiras a serem formadas têm presença de mais
lipídeos que proteínas (quilomícron, VLDL, LDL), já a lipoproteína HDL tem no seu conteúdo mais proteína
que lipídeos ou colesterol.
De acordo com as suas características físico-químicas, são divididas em: quilomícrons, VLDL (very
low density lipoprotein ou lipoproteína de muito baixa densidade), LDL (low density lipoproteins
ou lipoproteína de baixa densidade) e HDL (high density lipoproteins ou lipoproteína de alta
densidade). O quilomícron é o primeiro a ser formado no intestino e leva os lipídeos da dieta pela
veia porta até o fígado. O LDL é conhecido como mau colesterol e o HDL como colesterol bom.
Mas, na verdade, a quantidade ou concentração sanguínea baixa ou alta é que deve ser considerada.
Por exemplo, baixa quantidade de HDL é ruim, alta quantidade é bom; alta quantidade de LDL é ruim,
mas baixa quantidade é bom, levando em consideração doenças chamadas dislipidemias, que podem
levar à arteriosclerose.
71
Unidade I
Lembrete
1 UIP + 1 UIP forma 1 geranil pirofosfato (com 10 C) + 1 UIP forma farnesil pirofosfato (com 15 C)
Resumindo:
Todas as reações ocorrem no citoplasma, e os átomos de carbono são fornecidos pela acetil-CoA, e
moléculas de NADPH promovem as reações de reduções (adição de hidrogênio).
72
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Observação
• Fibras e proteínas: promovem a perda de sais biliares e com eles colesterol. Há necessidade de
controle, pois quando o nível sérico de LDL diminui, induz à síntese de receptores LDL, aumentando
a síntese da enzima HMG-CoA redutase, que eleva a biossíntese do colesterol.
Caso uma pessoa faça dieta substituindo ácidos graxos saturados por ácidos graxos poli-insaturados,
ocorrerá rapidamente metabolização mais rápida no fígado, diminuindo a concentração de colesterol
plasmático. Dessa forma, se houver uso correto de medicamento e dieta adequada, resultará na
queda plasmática do colesterol.
• Sequestradores de ácido biliar: são substâncias que se ligam aos ácidos biliares e reduzem a
reabsorção no intestino, diminuindo a concentração de colesterol.
• Ácido nicotínico (vitamina B3): diminui a concentração de VLDL, o que acaba por reduzir a
concentração de LDL, podendo até aumentar a concentração de HDL.
Observação
73
Unidade I
O colesterol é minimamente solúvel em água e por essa razão deve se combinar com substâncias
que facilitem seu transporte pelo sangue. Dessa forma, ele é transportado na corrente sanguínea
pelas lipoproteínas.
O colesterol tem um papel central em muitos processos bioquímicos, mas é mais conhecido pela
associação existente entre doenças cardiovasculares e as diversas lipoproteínas que o transportam, e os
altos níveis de colesterol no sangue (hipercolesterolemia).
Observação
• Até 130 mg/dL para pessoas de baixo risco (não apresentam fator de
risco para doenças cardíacas).
• Até 100 mg/dL para indivíduos com médio risco (manifestam apenas
um fator de risco).
74
BIOQUÍMICA METABÓLICA
• Até 50 mg/dL para indivíduos com altíssimo risco (já tiveram infarto,
AVC, colocação de ponte de safena ou stent).
Saiba mais
A vesícula biliar armazena bile, que funciona como emulsificante, ou seja, detergente natural que
ajuda a degradar os lipídeos da dieta, pois como baixa a tensão superficial da gota de lipídeo, a lipase
pancreática pode agir mais facilmente. O TG que agora está clivado em monoglicerídeo ou diglicerídeo
e AG pode passar à mucosa intestinal e se combinar com os quilomícrons.
Na bile, temos bilirrubina além dos sais biliares e colesterol, vindos do fígado. Os sais biliares costumam
se originar a partir de colesterol, e os ácidos biliares são principalmente o glicocólico, o taurocólico, e
outros resultantes da ação das bactérias intestinais.
A maioria do colesterol do organismo que chega na forma de HDL-colesterol é eliminado pelo fígado
através da bile. Os cálculos biliares se iniciam como se fossem areia e depois vão se unindo formando
pequenos cristais que aumentam de tamanho e se tornam pedras. Podem ser de colesterol (de cor
amarela), que é o tipo mais comum de cálculo biliar, ou cálculos biliares pigmentados (de cor marrom
ou pretas) contendo principalmente bile ou bilirrubina.
75
Unidade I
Observação
4.6 Arteriosclerose
Quando o nível de LDL-colesterol aumenta, ele fica na corrente sanguínea mais tempo, fato que
leva à oxidação da molécula. A parede das artérias é composta de três camadas: adventícia, média e
mais interna, denominada de íntima ou endotelial, que fica em contato com o sangue. Nessa última
camada, encontram-se proteínas chamadas receptores para LDL-oxidada (LDL-ox). Geralmente,
regiões de curvaturas ou bifurcações dos vasos sanguíneos são mais propensas à formação da placa
aterosclerótica; ocorre quando há ligação entre as proteínas receptoras de LDL-col oxidada e o LDL-col
oxidada. A partícula é engolida (endocitose) e colocada no interior dessa membrana, e irá se acumular
(placa de gordura chamada ateroma). Nesse momento, monócitos chegam ao local e penetram no
endotélio (na região da placa) para tentar desfazê-la. Os monócitos, que agora se chama macrófagos,
liberam espécies reativas de oxigênio (ERO) e citocinas, que recrutam mais células inflamatórias,
desencadeando assim um processo inflamatório crônico. Como os macrófagos não conseguem digerir
a gordura (LDL), ficam com os lipídeos em seu interior se tornando célula espumosa, que não sai do
interior da artéria.
O aumento dessa placa impede o fluxo correto de sangue, o que leva ao aumento de pressão arterial
por conta dessa obstrução. Caso a obstrução esteja presente em artérias do coração, por exemplo,
coronárias, podem surgir sintomas como a dor no peito (angina pectoris) em situações de estresse ou
esforço físico, indicando que o músculo cardíaco não está sendo oxigenado de maneira adequada. Se a
obstrução for muito grande, a placa se rompe e todo seu conteúdo extravasa entrando em contato com
proteínas do sangue responsáveis pela coagulação, iniciando aí um pequeno trombo, que se movimenta e
caminha junto ao fluxo sanguíneo até chegar em um vaso de calibre menor e o entope. Nesse momento,
o vaso se rompe e ocorre um IAM (infarto agudo do miocárdio), um AVC (acidente vascular cerebral) ou
um AVE (acidente vascular encefálico).
Observação
Cerca de 90% das pessoas que tem colesterol alto de origem genética,
ou seja, familiar (passa de pai/mãe para filho), não sabem que são portadoras
da doença. Existem no Brasil até 400 mil pessoas com colesterol alto de
origem genética, que pode levar ao infarto e ao AVC antes dos 50 anos
76
BIOQUÍMICA METABÓLICA
de idade. O mais alarmante: somente 10% delas sabem que estão doentes.
Vários hospitais, como o Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas
da FMUSP, em São Paulo), fazem campanhas de alerta à população e de
identificação de casos para tratamento.
Resumo
77
Unidade I
Exercícios
O O–
ADP Biotina
carboxilada C
P P 0 CH2 Adenina
Ligação rica
N em energia
S O
Ribose
N
H
CH3
O C O
Enzima
C
ATP
P P P 0 CH2 Adenina O O–
P1 Piruvato
Ribose
Biotina H
N
O O–
S O O O–
C
N C
OH H
Bicarbonato CH2
O C O
Enzima
C
Piruvato‑carboxilase O O–
Oxaloacetato
Fonte: ALBERTS, B. et al. Fundamentos da biologia celular. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
78
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Com base na figura anterior e nos conhecimentos sobre metabolismo celular, avalie as afirmativas
a seguir:
III – Parte das moléculas envolvidas nesse processo está diretamente correlacionada ao metabolismo
energético celular.
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: o oxaloacetato é o ponto de partida para a gliconeogênese e, por isso, com a falta de ADP
(energia), a gliconeogênese será ativada para liberar glicose para o corpo através da corrente sanguínea.
II – Afirmativa correta.
Justificativa: o carreador é um ativador chamado de acetil-coenzima A, que foi ativado pelo piruvato.
Temos também NAD, FAH e ácido lipoico de coenzimas que participam do processo.
Justificativa: por se tratar de um processo de metabolismo para gerar energia aos órgãos do nosso
sistema fisiológico, as moléculas são precursoras e envolvidas no processo, como, por exemplo, lactato,
piruvato, glicerol e aminoácidos, que são convertidos em glicose.
79
Unidade I
IV – Afirmativa incorreta.
A)
As lipoproteínas de alta densidade (HDL) possuem os triacilgliceróis como seus
principais constituintes.
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa incorreta.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: os quilomícrons são formados principalmente por triglicérides em seu núcleo central.
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BIOQUÍMICA METABÓLICA
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa correta.
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