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DIREITOS D A A N TIG U ID A D E
^ Tanto antes como depois de 1940-1945, a Universidade Livre de Bruxelas íòi um dos centros de investigação neste
dom ínio, sob a direcção de Jacques Pirenne antes da guerra, actualmente sob a de A. Théodoridès. Aqui se publicaram os Archives
d 'H istaire du Droit oriental, actualmente fundidos com a Révue internationale des droits de 1'Antiquité, criada por iniciativa de F. De Vísscher,
professor da Universidade de Lovaina. Existe na Universidade de Paris II, sob a direcção de J. Gaudemet um «Centre de documentation
des droits antiques» que difunde, duas vezes por ano, desde 1959, uma bibliografìa corrente dos direitos da antiguidade.
B ibliografìa: J . GAUDEM ET, Institutions de t ’A ntiquité, Paris 1967; J. IMBERT, Le droit antique et ses prolongements
modernes, J . a e d ., Paris 1967, colecção «Quesais-je?».
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dos direitos arcaicos e feudais, o direito egípcio da época da III à V dinastia (cerca de
3000 a 2600) e o da XVIII dinastia (1500-1300) parecem ter sido tão evoluídos e tão
individualistas como o direito romano clássico. Descrevê-los-emos brevemente.
A jkjesopotàmia foi o país que conheceu as primeiras formulações do direito.
Os Sumérios, os Acadianos, os Hititas, os Assírios, redigiram textos jurídicos que se
podem chamar «códigos», os quais chegaram a formular regras de direito mais ou
menos abstractas.
Os Hebreus, situados entre o Egipto e a Mesopotamia, não atingiram um
desenvolvimento do seu direito tão grande como os seus vizinhos; mas registaram na
Bíblia, o seu livro religioso, um conjunto de preceitos morais e jurídicos que foram
perpetuados, não somente no seu próprio sistema jurídico até aos nossos dias, mas
sobretudo no direito canónico, direito dos Cristãos, e mesmo no direito muçulmano.
A Grécia, como o Egipto, não deixou grandes recolhas jurídicas, nem vastas
codificações. Mas com os seus pensadores, sobretudo Platão e Aristóteles, fundou a
ciência política, ou seja a ciência do governo, da polis ou cidade; ela é assim a base do
nosso direito público moderno.
Enfim Roma, na época da República e sobretudo no tempo do Império, fez a
síntese de tudo o que os outros direitos da antiguidade nos tinham trazido. Como os
Egípcios, os Romanos realizaram, nos primeiros séculos da nossa era, um sistema
jurídico que atingiu um nível inigualável até então. Muito mais que os Mesopotâmios,
eles tiveram de formular as regras do seu direito e redigiram vastos livros de direito.
Sobretudo os Romanos criaram a ciência do direito; o que os jurisconsultos romanos
dos II e III séculos da nossa era escreveram, serve ainda hoje de base a uma importante
parte do nosso sistema jurídico.
Antes dos Romanos, os povos da antiguidade não puderam, parece, construir um
sistema jurídico coerente; mas esta constatação é provavelmente a conseqüência da
insuficiência das fontes jurídicas actualmente disponíveis. E possível que um dia a
descoberta de novos documentos permita fazer recuar de vários séculos, ou mesmo
milênios, o aparecimento de uma ciência do direito baseada em princípios jurídicos
gerais e abstractos.
A . — O EG IPT O
1. Evolução geral
A civilização do Nilo tem uma longa história de cerca de quarenta séculos; a
evolução do direito conheceu aí fases ascendentes e fases descendentes, correspondendo
mais ou menos às grandes oscilações do poder dos faraós <2).
cycies de Miistoire de 1’ancicnnc Egypte», Buli. Atad. Belgique, cl. Utirei, 1959; ainda do mesmo, Hhtoire de ¡a civilhation de
l ’Egypte ancienne, 3 voi., Neuchâtel 1961-1963; E. SEIDL, Einführung in die ägyptische Rechtsgeschichte bis zum Ende des Neuen Reiches,
2 .a e d ., 1951; do mesmo, Aegyptische Rechtsgeschichte der Satten — und Perserzeit., 1956; ai tida do mesmo, *Altägyptisches Recht», em
B. SPULER (ed.), Handbuch der Orientalistik, Äbt. I, Erg. lei (Leiden 1964), pp. 7-48; Ch. CHEHATA, História do direito privado
egípcio (em árabe). Cairo 1951; A. I. HA RARI, Contribution à l'étude de la procedure judiàaire dans l'Ancien Empire égyptien, 1950;
H . GOEDICKE, Königliche Dokumente aus dem Alten Reich, 1967; Die Privaten Rechtsinschriften aus dem Alten Reich, 1970;
A. TH ÉO D O R ID ÈS, «The Concept of Law in Ancient Egypt», em J . R. HARRIS (ed.); The Legacy of Egypt, Oxford 1971,
pp. 291 e ss.; «Les cextes jur¡diques», em Textes et langages de l ’Egypte pharaonique, t. 111, Le Caire 1974, pp. 21 e ss,; «Le
Problem e du droit égyptien ancien», nas Acta du Colloque sur le droit égyptien ancien, Bruxelles 1974, pp. 1 e ss.; Schafìk ALLAM,
Das Verfahrensrecht in der altägyptischen Arbeitersiedlung von Deir el-Medineh, Tübingen, 1973; J. GIL1SSEN, «L’apport de l'histoire
du droit égyptien à letu d e de revolution genérele du droit et à la formation du juriste», nas mesmas Acta, pp. 227-243;
J . M O DRZEJEW SKI, «La regle de droit dans l’Egypte ptolémaique», em Amer..Stud. in Papyr., t. I, 1966, pp. 725 e ss.; «La
regle de droit dans l’Egypte romaine», Í id ., t. VII, 1970, pp. 317 e ss.
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DOCUMENTOS
Sobre a papirologia, v. R. TAUBENSCHLAG, The law of greco-roman Egypt in the ligth of papyri, 2.* ed. Warsaw
1955; E. SEIDL, Ptolomdische Recbtsgescbicbte, 1962; M. Th. LENGER, Corpus des ordonnances da Lagtdest Bruxelas 1964;
J . MODRZEJEW SK1, «La règie de droit dans l'Empire ptolémaíque», American studies in papyro/ogy, t. I, 1966, p. 725 e ss., e
t. V II, 1970, p. 317 e ss.. Ver também a crónica anual de papirologia fetta por J. MODRZEJEWSKI na Revue bistorique de droit
français et éfranger.
«Não afastes nenhum queixoso, sem ter' acolhido a sua palavra. Quando um queixoso vem
queixar-se a ti, não recuses uma única palavra do que ele diz; mas, se o deves mandar embora,
deves fazê-lo de modo que ele entenda por que o mandas embora. Atenta no que se diz:
«O queixoso gosta ainda mais que se preste atenção ao que ele diz do que ver a sua queixa atendida».
«Atenta em que se espera o exercício da Justiça na maneira de ser de um vizir. Atenta
em o que é a lei justa, segundo o deus (Râ). Atenta no que se diz do escriba do vizir: ‘Escriba
de Maât (a Justiça/ é (o seu nome). A sala onde dás audiência, é a sala das Duas Justiças, em
que se julga: e quem distribui a Justiça perante os homens é o vizir».
«Atenta, um homem mantém-se na sua função, quando ele julga as causas conforme as
instruções que lhe são dadas, e é feliz o homem que age conforme ao que lhe é prescrito. Mas
não faças aquilo que desejas nas causas em que as leis a aplicar são conhecidas, pois acontece ao
presunçoso que o Mestre a ele prefira o temente».
«Que tu possas agir conforme estas instruções que te são dadas...
No verso:
Acto de «imyt-per» que o «phylarque» Merysaintef realizou a favor de seu
filho Intefsaméry, de sobrenome Iousenbou.
No recto:
No ano XXXIX (de Amenemhat III), no 4.° mês da (estação) «akhet», no 19-° dia.
Acto de «imyt-per» feito pelo «phylarque» Merysaintef, de sobrenome Kebi, a favor do seu
filho Intefsaméry, de sobrenome Iousenbou.
«Eu dou o meu «phylarquat» a meu filho Intefsaméry, de sobrenome Iousenbou, com a
condição de ele ser para mim um «amparo de velhice» pois eu sou enfermo».
«Que ele seja investido instantaneamente».
«Quanto ao acto de «imyt-per» que eu antes tinha feito a favor da sua mãe, que este
seja revogado».
«No que diz respeito à minha casa, situada no domínio de Houtmedet, ela fica para
meus filhos, que nasceram de Satnebethenounesou, filha do guarda de conselheiro de distrito de
Sobekemhat, com tudo o que ela contém».
imyt-per: etimologicamente: «o que existe na casa», «inventário»; por extensão: «toda a manifestação de vontade
pessoal que modifica a devolução legal dos bens».
Chefe de um grupo de sacerdotes, chamado «phylé» na época grega.
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Um padre, pai de fámília, institui legatária a sua mulher, exprimindo-se como se segue:
Assim, eu vim perante o Vizir e os Magistrados membros do Conselho (de Médinet
Habou), neste dia, a fim de fazer conhecer a sua parte a cada um dos meus filhos e esta
disposição que eu vou tomar a favor da «cidadã» Anoksounedjem, esta mulher que está na minha
casa actualmente, pois que o Faraó disse: que cada um faça o que deseja dos seus bens,...
B. — OS D IREITO S CUNEIFORMES
1. Evolução geral
^ G . CARD ASCIA, «Les droits cunéifbrmes», em MONIER, CARDASCLA e IMBERT, Histoire des institutions...
1956, pp. 17-68; e em J . GHJSSEN (ed.), In trod, bibliogr., A/2, Bruxelas 1966; R. HAASE, Einführung in das Studium
Keilscbriftlicher Rechtsquel¡en, Wiesbaden 1965; V. KOROSEK, «Keihchriftrech», Handbuch der Orientalistik, I A bt., Band 111,
L eiden 1964, p. 49-219; W . EILERS, «Réflexions sur les origines du droit en Mésopotamie», Rev, hist. droit fr . et etranger,
1 973, p . 195-216.
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A maior parte destas recolhas foram descobertas no decorrer das últimas décadas;
a sua publicação e sobretudo a sua tradução e a sua interpretação estão ainda em curso.
A cronologia da história dos povos cuneiformes dos milênios II e III continua a ser incerta; assim, a chegada
de H am m u rab i ao poder foi retardada de cerca de 275 anos e situada por volta de 1940 a.C .; situa-se actualm ente o seu
reinado en tre 1728 e 1686 a .C .. Adoptamos ?. cronologia de G . Cardasela na sua bibliografia.
<8) O dilúvio descrito na Bíblia foi provavelmente uma grande inundação da baixa planície do T igre e do
E ufrates, por volta dos séculos XXVI ou XXV a.C.
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E. SZLECHTER, «Le Code d ’U r-N am m u», Revue d*Atsyriologie, t. 49» 1955, pp. 169-177; do mesmo,
Tablettes juridiques et adm inistratives de la 3 .e dynastie d 'U ret de la I.*rt dynastie de Babylone, Paris 1963.
*^ G . R. D R IV ER, e J . MILES, The Babylonian Laws, 2 vols. 1952-1954 (textos c tradução desde o Código de
L íp it- Is h ta r aré à época neobabilóníca); A. FIN ET , Le Cade de Hammurapi. introduction, traduction et annotation, Paris
1973; E. SZLECHTER, Codex Hammurapi, Roma 1977. Deve-se escrever Hammu-rabi ( = Ham mu é grande) ou Hammu-rapi
( — H am m u cura)? Tal como G. Cardasela, conservámos Hammurabi; contra, A. Finer e E. Szlechter.
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além disso duas recolhas de textos jurídicos que foram chamadas (erradamente) o Código
H itita , gravado em caracteres cuneiformes e datando provavelmente do século XIV <12>.
Estas recolhas contêm por um lado um conjunto de regras de origem consuetu
dinària, por outro lado formulações relativamente abstractas de regras jurídicas
provavelmente proclamadas pelo rei, Elas dizem respeito sobretudo ao direito penal,
sancionando os delitos contra a autoridade pública, contra as pessoas e contra os bens
(sobretudo roubos); encontram-se aí também alguns artigos relativos ao direito privado,
nomeadamente ao casamento.
Foi igualmente encontrada em Hattusas, a cópia de tratados internacionais:
tratado de aliança com o Faraó Ramsés II (1270 antes de Cristo), tratados de
protectorado e de vassalagem com o$ países dominados pelo poder hitita. Trata-se dos
mais antigos actos da história do direito internacional(B).
No conjunto, o direito hitita é o de uma sociedade sobretudo agrícola, embora ainda
fortemente feudaiizada; parece mais arcaico que o da Babilônia na época de Hammurabi.
(l2) R. HAASE. «Hethicische Recht*, em J . GILISSEN (ed.), Intr, b ib lt A/3, Bruxelas 1967; H. A. HOFFNER, The
Laws o f t h H ittties, W altham Mass. 1963-
n3> G . KESTEMONT, Diplomatique et droit international en Asie occidentale ( 1600-1200 av, J . C. ), Louvain-la-Neuve 1974.
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Aqueus, Medos e Persas) e das civilizações menos desenvolvidas dos invasores, a sociedade
mesopotâmica desagrega-se, quer seja por absorção ou por feudalização. Só a* Babilônia
continuará durante vários séculos ainda a ser o centro de uma civilização desenvolvida
que transmitirá aos povos do Mediterrâneo: Hititas, Fenicios, Gregos e Romanos.
DOCUMENTOS
Col. III. Havia pastores que ficavam junto dos bois, que ficavam junto dos carneiros e
que ficavam junto dos burros (...) Nesse dia Ur-Nammu, varão forte, rei de Ur, da Suméria e
da Acádia, com a força de Nanna, rei da cidade; (...) a equidade no país estabeleceu, a
desordem e a iniqüidade (pela força?) cortou; capitães de navios para o comércio «fluvial» (ou
para a navegação mercantil), pastores que ficavam junto dos bois, que ficavam junto dos
carneiros, que ficavam junto dos burros (...).
Col. VI. (...) Se um cidadão acusa um outro cidadão de feitiçaria e o leva perante o deus
rio (e se) o deus rio o declara puro, aquele que o levou...
Col. Vili. Um cidadão fracturou um pé ou uma mão a outro cidadão durante uma rixa
pelo que pagará 10 siclos de prata. Se um cidadão atingiu outro com uma arma e lhe fracturou
um osso, pagará uma «mina» de prata. Se um cidadão cortou o nariz a outro cidadão com um
objecto pesado pagará dois terços de «mina».
C. — O D IR E IT O HEBRAICO
1. In tro d u ç ã o histórica
Os Hebreus são Semitas que viviam em tribos nómadas, conduzidas por chefes.
Eles atravessam a Palestina na época de H am m urabi, penetram no Egipto, retornam
(o Êxodo) à Palestina e instalam-se aí entre os Hititas e os Egípcios, provavelmente nos
inícios do século XII, talvez mais cedo.
A seguir à sedentarÍ2ação, é estabelecido um poder único sobre o conjunto das
tribos; pertence ao rei, cuja autoridade se reforça nos séculos XI e X. O apogeu do
reino de Israel situa-se na época de David ( 1029-960) e de seu filho Salomão (960-935).
Seguidamente, dissensões internas provocam a divisão em dois reinos: o reino de Israel,
no N orte, que foi ocupado pelos Assírios em 721; e o reino de Judá, no Sul, à volta de
Jerusalém , que resistiu até 586. Persas, Macedónios, Romanos ocuparam seguidamente
a Palestina. A revolta dos Judeus contra os Romanos leva, nos séculos I e II depois de
Cristo à sua dispersão (diaspora); mas, apesar da perda da sua unidade política, eles
conservam uma grande unidade espiritual.
2. C aracteres
S. PAUL, «Biblical Law», em J . GILISSEN (ed.), Introd. bibliogr, op. c it., A/6, Bruxelas 1974; do mesmo,
Bibliographical M aterial for a Study of Biblical Law, Jerusalém 1972; Z. W . FALK, Hebrew Law in Biblical Times, Jerusalém 1964;
do m esm o, «Jewish Law», c m j . D . DERRETT (ed.). A n introduction to legal systems, Londres 1968, p. 28-53; J. PIRENNE, La
société hébraique, d'après la Bible, 1965; I. HERZOG, The M ain Institutions of Jewish Law, 2,® ed., 2 voi., Londres 1967;
B. C O H E N , Law and Tradition in Judaism, Nova Iorque 1959; do mesmo, Jewish and Roman Law, 2 Voi., Nova Iorque 1966;
R. D E V A U X , Les institutions de l*Ancien Testament, 2 voi., Paris 1958-1960; J. M. POWIS, The Origin and History of Hebrew Law,
Chicago I9 6 0 .
Assim, numerosas instituições hebraicas sobreviveram no direito medieval e mesmo
moderno, sobretudo pelo canal do direito canônico; porque o direito canónico tem a
m esm a fonte que o direito hebraico, a Bíblia, pelo menos os livros que os cristãos
designam pelo nome de «Antigo Testam ento».
Entre as sobrevivencias, citam-se nomeadamente a dízima e a sagração. A dízima
praticada em Israel, foi retomada no~ôci3ente desde a alta idade média para dar ao clero o
¿direito de se apropriar de uma parte (então um décimo) dos rendimentos dos fiéis.
_âj- sagração, que subsiste ainda em cerros pãrsés (nÓméãdamente em Inglaterra), é
um rito de entronização do rei, que consiste sobretudo na coroação que opera «o inves
tim ento do rei pelo Espírito de Jeová» ; o rei torna-se assim o representante de Deus no
Estado; tendo o povo ratificado a escolha divina, um pacto de aliança é estabelecido
entre o rei e o seu povo.
O direito hebraico exerceu também uma grande influência sobre o direito m
mano, nomeadamente no domínio da organização da família, bem como das formas e
das condições do casamento.
3. F ontes do direito
Direito religioso, o direito hebraico está em grande medida confundido com a
religião, cujas fontes estão contidas nas escrituras, isto é, na Bíblia, livro da Aliança de
Deus com o seu povo.
a) A Bíblia <»>.
A Bíblia é um livro sagrado; contém a «Lei» revelada por Deus aos Israelitas.
Compreende (na sua parte pré-cristã, isto é, o Antigo Testamento) três grupos de livros:}
— O Pentateuco, quer dizer, os Cinco Livros: ^
'— '— ;------------------------------- '....... I
— a Gênese (a Criação, a vida dos patriarcas)
— o Êxodo (estadia no Egipto e volta a Canaã)*A,
— o Levítico (livro de prescrições religiosas e culturais)
— os Números (sobretudo a organização da força material) £,
— o Deuteronòmio, complemento dos quatro precedentes ^
M — os Profetas (que diz respeito, sobretudo, à história) ¿y
r\ — os Hagiógrafos (sobretudo, costumes e instituições). «
O Pentateuco tem para os Judeus o nome de T h o ra , quer dizer, a «lei es
revelada por Deus; ela é atribuída, segundo a tradição judia, a Moisés, donde a sua
denominação usual de «Leis de Moisés» ou «os Cinco Livros de Moisés». Na realidade,
H á inúmeras edições e traduções da Bíblia. Edição crítica: R. KITTEL (ed.), Biblia Hebraica, Estugarda 1954;
C. D . G IN SB U R G , Introduction to the Masoretko. Critical Edition o f the Hebrew Bible, Nova Iorque 1966. Tradução francesa: La
Sainte Bible, Paris 1946-1956.
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o texto data de diferentes períodos; certas partes (nomeadamente as que dizem respeito
aos Patriarcas) remontariam ao início do segundo milênio; a maior parte das outras
teriam sido redigidas em períodos diferentes entre os séculos XII e V; a forma definitiva
não dataria senão,de cerca de 450 antes de Cristo. Este problema da datação continua
no entanto muito controvertido.
N a Bíblia, o direito é concebido como de origem divina; Deus é a última fonte e
sanção de toda a regra de comportamento; todo o crime é um pecado, pelo qual a
comunidade é responsável perante Deus, e não perante um governo humano. Na Bíblia
— como de resto nos Veda, ou no Corão — as prescrições jurídicas, morais e religiosas
estão confundidas.
Existem no entanto algumas partes do Pentateuco cujo conteúdo corresponde
mais especialmente às matérias que hoje se chamam jurídicas. Estes textos, considerados
como as fontes formais do direito hebraico, são nomeadamente:
— o Decálogo que, segundo a tradição, teria sido ditado a Moisés no Monte Sinai
por Jeová; ^conhecido por duas versões, uma no Êxodo (XX, 2-17), outra no Deute
ronomio (V, 6-18); contém prescrições de carácter moral, religioso e jurídico muito
gerais, redigidas sob forma de máximas imperativas muito curtas; «Tu não matarás»,
«Tu não levantarás falso testemunho contra o teu próximo», etc. (ver documento
n .° 1, pág. 71);
— o Código da Aliança, conservado no Êxodo (XX, 22, a XXIII, 33); pela sua
forma e pelcTseú fundo, o texto assemelha-se às codificações mesopotâmicas e hititas,
nomeadamente ao Código Hammurabi (lé>, o que permite supor que uma primeira
formulação (talvez oral) poderia remontar a época anterior à estadia no Egipto. N a sua
forma final, o texto dataria da época dita «dos Juizes», isto é, do início da fixação em
Canaã, nos séculos XII ou XI antes de Cristo. O Código da Aliança contém prescrições
religiosas, regras relativas ao direito penal, à reparação dos danos, etc. Reflecte costumes
da época da sedentarização (ver documento n.° 2, pág. 71);
— o Deuteronòmio (do grego 8eurepovó|xtov, a segunda lei, á repetição ou a cópia da
lei) constitui úmarnova versão do Código da Aliança; na verdade, é uma codificação de
antigos costumes, tendendo sobretudo à manutenção da pureza do monoteísmo, mas
compreendendo também disposições que interessam ao direito público e ao direito familiar.
O Deuteronòmio dataria do século VII; é atribuído pela tradição ao rei Josias (621),
mas teria sido remodelado no século V (ver documento n.° 3, pág. 72);
— o Código Sacerdotal (ou Lei da Santidade), contido no Levítico (cap. XVII a
XXV I), datando provavelmente do século V (cerca de 445), contém um ritual dos
sacrifícios e da'sagração dos padres, mas encontram-se também aí disposições impor
tantes sobre o casamento e o direito penal. Do mesmo período datariam os livros dos
(16> S M . PAUL, Stfídm tn toe oook of the Covenant in the Light of Cuneiform and Biblical Law, Leiden 1970.
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c) Guémara e Talmude
A Michna foi, por sua vez, comentada e interpretada por numerosos rabinos dos
séculos III, IV e V d . C , uns trabalhando na Palestina sob a dominação romana, outros
na diàspora em Babilônia. Os comentários chamados Guémara (isto é, ensino tradicional),
cedo se tomaram mais abundantes que o texto da Michna em si mesma.
U m novo esforço de sistematização foi feito agrupando Michna e Guémara no
Talmude (isto é, «estudo»), inicialmente em Jerusalém (cerca de 350-400), depois na
Babilônia (cerca de 500), aproximadamente na mesma época da grande codificação
romana de Justiniano e da primeira redacção da Lei sálica {infra).
(I7) A Michna, «texto hebrea traduzido pelos membros do Rabí nado francês sob a direcção do rabino Guggenheim;
H , D A N B Y , The M isbnah, Oxford 1933; J . NEUSNER, A History Of the Misbnak Law of attinteti times (translation and explanation),
3 vols. editados, Leiden 198M982.
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Tronco Comum
THORA = U i Escrita ANTIGO TESTAMENTO Jus Divinum
Pentateuco:
— Gênese
— Êxodo:
Decálogo (séculos XVI-XII?)
Código da Aliança (séculos XII-XI)
— Levítico:
Código sacerdotal (século V)
— Números
— Deuteronòmio (séculos VII a V)
etc.
(18) The Babylonian Talmud. Trad. I. EPSTEIN, Londres 193V — . (em publicação).
09) Moses MAIMONIDES, Mtshneh Torah, New Haven, Yale Judaica Series (tradução inglesa em curso); Joseph
Q A R O , Shulban Arukh, trad, inglesa de J. L. KADUSHIN, 4 vols., Nova Jorque 1915-1928; A. NEUMN, The Jews in Spain.
Their Social, Political and Cultural Life during the Middle Ages, 2 vols,, Filadélfia 1942.
LEI ORAL (see. V antes de Cristo — NOVO TESTAMENTO
séc. I depois de Cristo)
Michna (séc. IH aproximadamente) Evangelhos (séc. MI)
(Yehouda Hanasst) Actos dos Apóstolos
Epístolas
Guemara (séc. Ill-V) Patrística (escritos dos Padres da Igreja)
— da Palestina (séc. IIMV)
— da Babilonia iSlöayji Kuptov (séc. III)
Talmude Colecções canónicas:
— da Palestina (séc. IV) Denis le Petit (séc. VI)
— da Babilonia (cerca do séc. V) Decreto de Graciano (cerca de 1140)
Código de Maimonide (séc. XII) Decretais de Gregorio IX ( 1234)
Código de Caro (séc. XVI) Corpus juris canonici (séc. XVI)
DOCUMENTOS
Honra teu pai e tua mãe, a fim de que os teus dias sejam prolongados no país que Jeová,
teu Deus, te dá.
Não matarás.
Não cometerás adultério.
Não roubarás.
Não prestarás falso testemunho contra o teu próximo.
Não desejarás a casa do teu próximo; não desejarás a mulher do teu próximo, nem o seu
servidor, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu burro, nem nada que pertença ao teu próximo».
(4) Mas se foi o seu patrão que ihe deu a sua mulher e ele lhe tinha gerado filhos e
filhas, a mulher e os seus filhos continuarão propriedade do patrão, e ele sairá só.
(5) Mas se o servo diz; eu amo o meu panão, a minha mulher e os meus filhos, eu não quero
ser libertado; então o patrão conduzi-lo-á diante de Deus, fà-lo-á aproximar do batente da porta e
fiirar-lhe-á a orelha com uma punção de tal sorte que o escravo esteja para sempre ao seu serviço.
3. DEUTERONOMIO
62b: MICHN A. Sc uma fagulha salta da bigorna e causa prejuízo, haverá responsa
bilidade. Se enquanto um camelo carregado com linho passa num mercado público, o linho
penetra'numa tenda e se incendéia em contacto com a candeia do tendeiro e com isto incendeia
toda a construção, o proprietário do camelo será responsável. Se, contudo, o tendeiro deixou a
sua candeia do lado de fora da sua tenda, ele será responsável. O Rabino Judas diz: Se se tratar
de uma candeia chanukah, o tendeiro não será responsável.
D , — O D IR E IT O GREGO
O sistema jurídico da Grécia antiga é uma das principais fontes históricas
direitos da Europa Ocidental. Os Gregos não foram no entanto grandes juristas; não
souberam construir uma ciência do direito, nem sequer descrever de uma maneira
sistemática as suas instituições de direito privado; neste domínio, continuaram sobretudo
as tradições dos direitos cuneiformes e transmitiram-nas aos Romanos. Os Gregos
foram, porém, os grandes pensadores políticos e filosóficos da antiguidade. Foram os
primeiros a elaborar uma ciência política; e na prática, instauraram, em algumas das
suas cidades, regimes políticos que serviram de modelo às civilizações ocidentais <20).
Não há propriamente que falar de direito grego, mas de uma multidão de direitos
gregos, porque, com excepçâo do curto período de Alexandre o Grande, não houve
nunca unidade política e jurídica na Grécia Antiga. Cada cidade tinha o seu próprio
direito, tanto público como privado, tendo caracteres específicos e evolução própria.
N unca houve leis aplicáveis a todos os Gregos; no máximo, alguns costumes comuns.
N a realidade, conhece-se mal a evolução do direito da maior parte das cidades; apenas
Atenas deixou traços suficientes para perm itir conhecer os estádios sucessivos da
evolução do seu direito.
N a evolução jurídica da Grécia pode-se, duma maneira esquemática, distinguir
os períodos seguintes:
a) A civilização cretense (do século XX ao XV a.C.), depois micènica (séculos
<20) G. SAUTEL, «Grèce», e t j . MODRZEJEWSK1, «Monde hellénistique», i n j . GIL1SSEN (ed.), Introd. bibliogr.,
A/7 e A/8, Bruxelas 1963 e 1965; J . GAUDEMET, Institutions de 1'Anttquité, op. cit., p. 125-250; A ,R .W . HARRISON, The Law
of Athens, fa m ily and Property, Oxford 1968; Procedure, Oxford 1971; G. GLOTZ, La cité grecqut, editado por CLOCHE, 1953;
L. G E R N E T, Droit et société dam da Grice ancienne, 1955; J. W . JONES, The law and legal theory of the Greeks, 1956; CL MOSSE,
Histo/re des Sociétés politiques en Grice, Paris 1969; V. EHRENBERG, Der Staat der Griechen, 2 * ed-, Zurique-Esmgarda 1965; trad,
franc.: L E ta t grec. Paris 1976; E. WOLF, Griechisches Rechtsdenken, 4 voi., Francforte 1950-1956; R. TAUBENSCHLAG, T heL aw of
Grego-Roman Egypt in the Light of the Papyri (332 B .C -640 A .D .) 2 * e d ., Warsaw 1955; R. DEKKERS, «Droit grec et histoire du
droit*», Rev. intern. dr. antiquité, 3.a s., t. 3, 1956, p. 107-118; CL PRÉAUX, Le monde hellmistique, 2 vol., Paris 1978.
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substituem-se nele múltiplas monarquias, nas quais, a partir do século III, o poder é
exercido por reis absolutos. A sua vontade é «a lei viva», fórmula que será retomada
pelos imperadores romanos e depois, mais tarde, pelos monarcas da Europa Ocidental.
O principal contributo dos Gregos para a cultura jurídica deve-se aos seus
trabalhos sobre o governo ideal da cidade. Foram os inventores da ciência política, a
ciência do governo da polis. Os seus melhores escritores e filósofos, Hesíodo,
H eródoto, Platão, Aristóteles, analisaram as instituições das cidades gregas para
fazerem a sua crítica e contraporem-lhe formas ideais de governo.
a) Para os pensadares gregos, a fonte do direito é o vopoç (nomos), que
traduz geralmente por «lei». A noção, desconhecida ainda nos poemas homéricos,
aparece em Hesíodo (século VII a.C.). Pindaro (século V a.C.) dirá que «a lei- é a
rain h a de todas as coisas». Um autor posterior, o Pseudo-demóstenes, dá uma
definição: «Os nómoi são uma coisa comum, regulada, idêntica para todos, querendo o
justo, o belo, o útil; chama-se nomos o que é erigido em disposição geral, uniforme e
igual para todos». O nómos é sobretudo o meio de limitar o poder da autoridade,
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porque a liberdade política consiste em não ter que obedecer senão à lei. Mas a lei é
hum ana e laica; já não tem nada de religioso, de divino. Nó seu «Discurso contra
Timócrates», Demóstenes recorda como pode ser proposta e aprovada uma lei em
Atenas (v. documento n.° 1, p. 78).
N a prática, os Gregos fizeram poucas leis, no sentido romano e moderno do,
term o; porque o nómos designa tanto o costume como a lei. Serão os Romanos osi
primeiros que virão a distinguir, duma maneira precisa, o sentido de cada uma dessas
duas fontes de direito.
b) A doutrina de Platão (428-347) exerceu uma influência considerá
sobretudo por intermédio do seu discípulo Aristóteles, sobre o pensamento político
medieval e moderno (21>.
Ateniense de origem aristocrática, Platão participou nas actividades políticas do seu
tem po, sem grande sucesso aliás; daí resulta uma evolução constante do seu pensamento
e também uma crítica muitas vezes severa das instituições democráticas da sua cidade.
As suas principais obras são A República, A política e As Leis.
A República é sobretudo a descrição duma cidade ideal, dividida em três classes:
os governantes, os guaidiães-guerreitos, o povo. Deve ser governada por profissionais,
os Filósofos isto é, os que têm a sabedoria e a inteligência necessária. Para os formar é
necessário criar uma classe de guardiães que se consagram ao ofício das armas; estes
devem ser recrutados por exame, viver em comum na tenda para serem instruídos;
devem ser alimentados pelos outros (isto é, o povo) que devem pagar uma contribuição;
não podem possuir nada: nem terra, nem casa, nem ouro, nem prata; tudo deve estar
em comum, mesmo as mulheres. £ nesta descrição da classe dos guardiães que se
procurou a fonte do que se tem chamado o «comunismo» de Platão; de facto, trata-se
dum grupo privilegiado, destinado ao Governo da cidade (V. documento n.° 2, p. 78).
O s guardiães estão submetidos a provas sucessivas de selecção. Os melhores são, aos 30
anos de idade, instruídos na dialéctica. Dos 35 aos 50 anos exercerão cargos públicos,
sendo os Filósofos. Depois dedicar-se-ão à filosofia e ao ensino.
Esta cidade ideal é assim um regime aristocrático, sendo governada pelos
melhores, os ápurrei (aristoi). Mas Platão constata que de facto os regimes políticos
tendem a maior parte das vezes para a injustiça. Se os guardiães e os Filósofos se
baixam a procurar as honras, o regime avilta-se numa timocracia (Ttpr) timé = honra);
se acum ulam riquezas, conservarão o poder nas mãos dum pequeno número de
possuintes, formando uma oligarquia (okíyoc,: oligos = pequeno).
N o mais baixo da escala, Platão situa a democracia, o governo pelo povo (St](jloç:
(21) Sobre Platão e Aristóteles, v. a maior parte dos manuais de história das idéias políticas, designadamente os de
J . T O U C H A RD , d eM . PRELOT, etc. E, BARKER, The politicai thought o f Plato and Aristotle, Nova Iorque 1959; M. PIÉRARD,
Platon et la citégrecque. Theorie et rialitê dam lá Constitution des »Lots», Bruxelas 1974; E. KLINGENBERG, Platons »Nomoi geörgikoi
und das positive griechische Recht, Berlim 1976.
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4. O d ireito privado
O direito privado grego deixou pouco traços no nosso direito moderno, e estes
por interm édio dos Romanos. Os Gregos mal souberam exprimir as regras jurídicas em
fórm ulas abstractas; há poucas leis, poucas obras jurídicas.
A terminologia jurídica moderna, no entanto, provém em parte da língua grega.
Assim, sinalagmático, no sentido de recíproco (Código Civil, art. 1102) vem de
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DOCUMENTOS
quaisquer bens próprios, salvo os objectos de primeira necessidade; em seguida, nenhum terá
habitação ou depósito algum, em que não possa entrar quem quiser. Quanto a víveres, de que
necessitarem atletas guerreiros sóbrios e corajosos, ser-ihes-ão fixados pelos outros cidadãos,
como salário da sua vigilância, em quantidade tal que não lhes sobre nem lhes falte para um ano.
As suas refeições serão em comum, e em comunidade viverão, como soldados em campanha.
Quanto ao ouro e à prata, dir-se-lhes-á que os têm sempre na sua alma, divinos e de
procedência divina, e para nada carecem do ouro e da prata dos homens, e que seria impiedade
poluir aquele que já possuem, misturando-o com a pertença dos mortais, porquanto já muitos
crimes ímpios se produziram por causa da moeda do vulgo, ao passo que a deles é pura.
Unicamente a eles, dentre os habitantes da cidade, não é lícito manusear e tocar em ouro
e prata, nem ir para debaixo do mesmo tecto onde os haja, nem trazê-los consigo, nem beber por
taças de prata ou de ouro, que é o único meio de assegurar a sua salvação e a do Estado».
Trad. E. CHAMBRY
(Platon, Oeuvres..., t. VI) Paris, Les Belles-Lettres,
1947, p. 139-140.
Uma cidade é, com efeito, um corpo composto, como qualquer outro corpo formado de
partes justapostas; é portanto evidente que é necessário desde logo indagar sobre o cidadão.
A cidade consiste num conjunto de cidadãos, de modo que é necessário considerar quem deve
ser qualificado como cidadão e qual é a natureza do cidadão. Por isso mesmo, há muitas vezes
controvérsia à roda desta questão do cidadão: nem todos concordam em afirmar que um
determinado indivíduo é cidadão. Assim aquele que é cidadão numa democracia, não o é muitas
vezes numa oligarquia.
Aquele que tem o direito de aceder à comunhão do poder de deliberar e de julgar,
esse, dizemos, é cidadão da cidade considerada; e a cidade é um conjunto de pessoas desta
qualidade, (em quantidade) conveniente a fim de realizar uma autarquia vital, para dizer tudo
numa palavra. Na prática, reserva-se a qualidade de cidadão àquele que descende de dois
(progenitores) tendo ambos a qualidade de cidadãos e não apenas um deles, quer seja o pai ou a
mãe; alguns vão mesmo mais longe nas suas exigências, requerendo (a qualidade de cidadão) em
duas ou três gerações de ascendentes), ou mais ainda.
Se alguém comete violência contra um homem livre ou contra uma mulher livre, pagará
100 estateros; se um escravo (comete violência) contra um homem livre ou umá mulher livre,
pagará o dobro.
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Se o pai, em vida, quer dar alguma coisa à sua filha quando do seu casamento, que lhe
dê conforme o que foi escrito, mas não mais.
Se um homem ou uma mulher morrerem, deixando filhos, netos ou bisnetos, que estes
herdem os bens.
Se aquele que comprou um escravo no mercado não resolveu a compra nos sessenta dias
(seguintes), e se (o escravo) causou algum prejuízo antes ou (o causa) posteriormente, a acção
em tribunal será dirigida contra o detentor (do escravo).
E. — O D IR E IT O ROMANO
Roma, cuja fundação teria tido lugar, segundo a lenda, em 753 a.C ., não era senão
um pequeno centro rural no século VIII a.C .. Dez séculos mais tarde, nos séculos II e III da
nossa era, Roma é o centro dum vasto império que se estende da Inglaterra, da Gália e da
Ibéria à África e ao Próximo Oriente até aos confins do império persa.2
(22) Bibliografia enorme; basca remeter para três excelentes obras recentes e para as referencias publicadas na nossa
Introdução bibliográfica: R. VILLERS, Rome et U droit privé, Paris 1977, col. L 'Evolution de í'humanité;}. GAUDEMET, Institutions de
VA ntiquité, op. d t., Paris 1967, e Le droit privi romain, Paris 1974, col. U 2; P. STEIN, «Roman Law: Sources»; TH. LJEBMAN-
-FR A N C FO R T, «Droit romain: droit public»; J. H. MICHEL, «Droit romain: droit privé»; J. A. C. THOMAS «Roman Law:
Crim inal Law», i n j . GILISSEN (ed.), lntrod. Bibiiogr., A/9, A/10, A / l l e A/12, Bruxelas 1965-1972; A. D'ORS, Derecho romano,
Pamplona 1973 ; SEBASTIÃO CRUZ, Direito romano, l. Fontes, Coimbra 1984.