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Universidade Estácio de Sá

Professor: Cristiano Chaves

Aluna: Samara R. R. de Araújo 201502479541

Caso concreto semana 1

QUESTÃO SUBJETIVA 2 - Carlos e Juliana, após 7 anos de namoro, tomaram a importante


decisão de firmar um noivado para, então, começar os preparativos do matrimônio, que
perduraram 12 meses, entre organização da moradia do casal e festa de casamento. Tudo
estava pronto! A casa mobiliada, a festa inteiramente paga, padrinhos preparados, convites
distribuídos e os noivos aguardavam o grande dia quando Juliana foi surpreendida por uma
decisão de Carlos: Não quero mais casar! Após momentos desesperados de dúvida e
sofrimento, Juliana descobriu que Carlos mantinha um relacionamento paralelo há 2 anos com
uma moça que residia na mesma cidade. Por se tratar de uma cidade pequena, em que
praticamente todos os habitantes se conhecem, Juliana ficou muito envergonhada e tinha a
certeza de que a história da traição e abandono de Carlos rapidamente se espalharia. E assim,
de fato, ocorreu, tendo Juliana de desmarcar a festa, informar aos padrinhos e convidados do
cancelamento, além de se submeter aos constantes questionamentos e comentários a
respeito do que acontecera. Diante desta situação, que orientações você daria a Juliana, na
qualidade de advogado (a) dela?

Resposta;

Neste caso podemos dizer que, Carlos não utilizou as melhores maneiras para romper com o
noivado, lesando assim Juliana e gerando a possibilidade de compensação que nesses casos
vem sendo abordada há tempos p ela doutrina e pela jurisprudência, havendo
posicionamentos em ambos os sentidos. A ruptura da promessa de casamento pode gerar
dano moral ou material indenizável, dada a responsabilidade extra contratual do agente.
De todo modo, cabe esclarecer que não se trata de indenização pretendida em decorrência de
vínculo familiar, pois, no caso de noivado/esponsais, esse ainda não existe. Para Maria
Berenice Dias (2015, p. 95), o noivado “é mero compromisso moral e social”, e a sua ruptura,
se constitui apenas no exercício de um direito. Esse entendimento decorre do efeito da
constitucionalização das normas, visto que a Lei Maior prevê em seu artigo 5º, inciso II que
“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude lei”. O
noivado não faz parte do ramo do direito obrigacional, pois os noivos não podem ser credores
ou devedores da obrigação de se casar, e ainda não faz parte do direito de família, pois esta
ainda não se constituiu. Para os danos morais, o que se pode perceber é que são passíveis de
indenização os casos de rompimento de noivado em que o noivo excede em seu direito à
liberdade e causa dano à personalidade da outra parte. O sofrimento infligindo é
desnecessário, poderia ser evitado. O dever de indenizar surge não com base no art. 186,
que trata do ato ilícito puro e indenizante, mas é bastante claro o cabimento da aplicação
do artigo 187 do Código Civil (abuso de direito) de maneira que o comportamento do ofensor
vá de encontro às regras de comportamento da boa-fé, tais como o dever de lealdade e de
honestidade para com o outro noivo. Houve traição, constrangimento, ferindo sentimento de
Juliana, cabendo então Carlos a obrigação de indenizá-la pelo abuso de direito, por dano moral
e material e havendo a compensação de tudo.

Jurisprudência:

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-DF : 0016574-64.2016.8.07.0003 DF


0016574-64.2016.8.07.0003

APELAÇÃO CÍVEL. CIVIL E PROCESSO CIVIL. NOIVADO. ROMPIMENTO DA PROMESSA DE


CASAMENTO. LIBERDADE PESSOAL INAFASTÁVEL. PREPARATIVOS. CELEBRAÇÃO DO
CASAMENTO. COMPRA DE ELETRODOMÉSTICOS. DANOS MATERIAIS. REPARAÇÃO DEVIDA.
DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. DANOS EXPERIMENTADOS PELO NUBENTE DESISTENTE.
CAUSALIDADE. INDENIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. AJUIZAMENTO DE AÇÃO. DANO MORAL NÃO
CONFIGURADO. SENTENÇA REFORMADA. 1. O rompimento da promessa de casamento deve
ser analisada por meio do instituto da responsabilidade civil, diante do princípio da boa-fé
objetiva. 2. A desistência em relação ao compromisso assumido no noivado, por si só, não
configura ato ilícito indenizável, pois se encontra na esfera da liberdade pessoal inafastável,
pois não pode haver matrimônio sem a livre vontade manifestada pelos nubentes. 3. Nos
termos dos artigos 186 e 187 do Código Civil, no entanto, se a decisão de rompimento "violar
direito e causar dano a outrem" ou exceder "manifestamente os limites impostos pelos bons
costumes" gerando danos a outrem, deve ser vista como ato ilícito, sujeitando-se aos efeitos
do art. 927 do Código Civil. 4. Os valores gastos com os preparativos da cerimônia e do futuro
lar do casal devem ser devidamente compartilhados entre as partes, sendo inafastável o
devido ressarcimento. 5. Resulta da evolução doutrinária concernente à boa fé objetiva a
inadmissibilidade de comportamento contraditório (venire contra factum proprium). Assim,
tendo o réu dado causa a não realização do casamento, ainda que agindo no exercício da
autonomia de sua vontade, não é compatível com essa situação jurídica o requerimento, em
sede de reconvenção, de reparação pelos gastos realizados na expectativa de concretização do
matrimônio. 6. Ainda que se reconheça o sentimento de dor e constrangimento dos autores
diante do rompimento do noivado, bem como a subsequente declaração pública do réu de que
se encontra em um novo relacionamento, as circunstâncias reinentes não configuram ofensa à
esfera extrapatrimonial dos demandantes, aptas a gerar indenização por danos morais. 7. O
mero ajuizamento de ação não gera o dever de indenizar por dano moral, tratando-se de
prerrogativa assegurada pela Constituição Federal (art. 5º, inc. XXXV). 8. Apelação dos autores
e do réu conhecidas e parcialmente providas.

Doutrina:

Segundo as palavras de Stolze:

“Temos todo o direito de desistir, até porque, se assim não fosse, não teria a autoridade
celebrante a obrigação de perguntar se aceitamos ou não o nosso consorte. Ocorre que, a
depender das circunstâncias da desistência, conforme vimos nos exemplos acima, a negativa
pode traduzir um sério dano à outra parte, não sendo justo ignorarmos esse fato e seguirmos
em frente, como se nada houvesse acontecido. O que o direito pretende evitar é o exercício
abusivo desse direito. Raciocínio contrário, aliás, a par de incrementar o enriquecimento sem
causa, poderia configurar, inclusive, dada a mencionada natureza do ato matrimonial, quebra
de boa-fé objetiva pré-contratual. ( 2012, pag. 178).”

Nesse sentido, Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul:

“Dano moral – Rompimento de noivado – De regra, o rompimento de relacionamentos


afetivos não gera o dever de indenizar pela simples e óbvia razão que não se controlam os
sentimentos”. Se um noivado se funda no sentimento do amor e desaparecendo esse, não se
pode compelir alguém a manter o vínculo, sob pena de indenização em prol do parceiro. No
jogo afetivo deve haver ampla liberdade para decidir, inclusive atendendo-se ao critério de
conveniência. “O que pode ensejar a indenização é o rompimento escandaloso e que venha a
humilhar outrem". (Embargos Infringentes Nº 598348464, Terceiro Grupo de Câmaras Cíveis,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Décio Antônio Erpen, Julgado em 03/09/1999)

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