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PODER JUDICIÁRIO
6ª VARA DE ALTA FLORESTA
DECISÃO
Processo: 1002633-31.2021.8.11.0007.
REU: HOSPITAL E MATERNIDADE SANTA RITA LTDA - EPP, MARCELO VINICIUS DE MIRANDA
Vistos.
Trata-se de ação civil pública de obrigação de fazer com pedido de tutela de urgência,
ajuizada pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso , em face de MARCELO
VINÍCIOS DE MIRANDA e HOSPITAL E MATERNIDADE SANTA RITA , a fim de
determinar aos demandados que adotem todas as providências de seu cargo, para suprirem
todas as irregularidades apontadas no Relatório de Vistoria Técnica nº
04/2021/WRSA/SES/MT e SMSAF/MT, prestando serviço de qualidade, sob pena de
multa diária no importe de R$ 100.000,00 (cem mil) reais, a ser aplicada à pessoa jurídica
e sócio-administrador, bem como sejam os demandados condenados ao pagamento de
indenização por dano moral coletivo, no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), a ser
revertido ao Fundo Municipal de Saúde, de modo a viabilizar melhoramentos na estrutura
de saúde pública existente em âmbito local (ID 54249742).
Recebida a inicial, determinou-se a intimação dos requeridos para se manifestarem quanto
ao pedido liminar (ID 54349663).
A tutela de urgência foi indeferida pelo juízo, por entender que os contratos estavam sendo
substancialmente cumpridos pelo réu, mesmo no ápice da pandemia. Por fim, o magistrado
requisitou ao CRM/MT, bem como à Secretaria Municipal e Estadual de Saúde, a
realização de nova vistoria técnica a ser realizada de forma conjunta no Hospital e
Maternidade Santa Rita, mais especificadamente nos setores de atendimento à COVID-19
(ID 54940285).
O Ministério Público juntou descritivo de visita in loco realizada pela Secretaria de Estado
de Saúde no Hospital e Maternidade Santa Rita, no período de 11 a 13/05/2021,
informando que a SES realizou inspeção no referido nosocômio, no entanto destacou que
ainda seria apresentado o Relatório de Auditoria, após análise documental (ID 55854815).
Certificou-se o decurso do prazo para que o CRM enviasse o relatório (ID 57405952).
O parquet juntou Relatório Consolidado de Auditoria nº 101 e pugnou por vista dos autos
após a apresentação do novo relatório de visita técnica determinado por este Juízo e do
relatório de vistoria a ser realizada pelo CRM (ID 61808147).
É o relatório.
DECIDO.
A matéria ora enfocada, como se sabe, deve ser analisada à luz dos requisitos processuais
elencados no Código de Processo Civil, mormente, os requisitos próprios da natureza do
processo, o fumus boni iuris e o periculum in mora.
Isso é o que se dessume do disposto no art. 294 do CPC, que classifica a tutela provisória
de acordo com o fundamento que autoriza sua concessão:
“Art. 294. A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência. Parágrafo
único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada, pode ser concedida em
caráter antecedente ou incidental.”
“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. § 1º
Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real
ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer,
podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder
oferecê-la. § 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação
prévia. § 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando
houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.”
No caso dos autos, verifico que a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo restaram plenamente demonstrados.
Isso porque, foram realizadas mais 03 (três) vistorias técnicas no interior do Hospital e
Maternidade Santa Rita, todas com intuito de verificar a qualidade da prestação do serviço
público de saúde pelo citado nosocômio, bem como o atendimento das normas regentes de
cumprimento obrigatório por instituições prestadoras de serviços médicos, notadamente
aos leitos de UTI Covid, após o deferimento parcial da liminar por este juízo.
Assim, diante de todo o cenário apresentado nos relatórios de vistoria, realizados pelos
órgãos fiscalizatórios, no Hospital e Maternidade Santa Rita, ainda persistem diversas
irregularidades a serem sanadas, portanto, evidente está o risco potencial à população, pois
trata-se do único hospital de prestação de serviço público na linha de frente no tratamento
de pacientes infectados pelo vírus COVID-19.
O perigo de dano e o risco ao resultado útil do processo são patentes, visto que o Hospital
e Maternidade Santa Rita foi contratado pelo Poder Público para prestar toda a assistência
médica necessária a população de Alta Floresta e região, sendo, como já dito, linha de
frente no tratamento de pacientes acometidos pela COVID-19, devendo, para tanto, manter
a regularidade, adequação e presteza no serviço, provendo a estrutura básica necessária
para atendimento clínico, tudo com observância a todas as normativas vigentes impostas
aos prestadores de assistência médica/hospitalar.
“1. Prover a função de Diretor Técnico através de designação formal feita pela
administração do hospital;
7. Organizar as escalas dos médicos plantonistas, zelando para que não haja lacunas
durante as 24 horas de funcionamento da instituição;
16. Adequar o espaço físico das enfermarias improvisadas, retirando leitos em excesso,
assim como, desativar enfermarias que não possuem ambientes obrigatórios a adequada
assistência ao paciente (enfermarias sem banheiro), instalar portas nas enfermarias
respeitando o preconizado pela legislação em vigor, garantindo a segurança ao paciente e
a biossegurança, num prazo de 5 dias;
31.3.1. Dificuldade para acesso aos recursos descritos: Item recomendatório de acordo
com Resolução CFM Nº 2056/2013 e RDC Anvisa Nº 07/2010.
31.4.2. Assistência clínica vascular: Item recomendatório de acordo com Resolução CFM
Nº 2056/2013 e RDC Anvisa Nº 07/2010;
31.5.1. Distância entre os leitos no mínimo de 80cm: Item recomendatório de acordo com
Resolução CFM Nº 2056/2013 e RDC Anvisa nº 50/02;
31.5.2. Área de circulação entre leitos e parede: Item recomendatório de acordo com
Resolução CFM Nº 2056/2013 e RDC Anvisa Nº 50/2002.
31.7.4. Assistência clínica vascular: Item recomendatório de acordo com Resolução CFM
Nº 2056/2013 e RDC Anvisa Nº 07/2010;
31.7.15. Dificuldade para acesso aos recursos descritos: Item recomendatório de acordo
com Resolução CFM Nº 2056/2013 e RDC Anvisa Nº 07/2010.”
Decorrido o prazo de (15 quinze) dias, determino a realização de nova Visita Técnica
Conjunta à ser realizada pelo Escritório Regional de Saúde de Alta Floresta e a Secretaria
Municipal de Saúde de Alta Floresta, devendo, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentar
nos autos relatório técnico, esclarecendo se foram sanadas TODAS as deficiências, SEM
PREJUÍZO DO FECHAMENTO/LACRAÇÃO DO ESTBELECIEMTNO
REQUERIDO, PELOS ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS.
Por fim, em relação descumprimento da decisão judicial que deferiu parcialmente a liminar
determinando o Hospital e Maternidade Santa Rita “promova, no prazo de 30 dias a
regularização das inconsistências apontadas no item “9”, subitens “e” e “f” e item “10”,
devendo, portanto: 1) adquirir máscaras para VNI, bem como o aparelho nominado
“gasômetro”; (Suspenso pelo TJMT) 2) regularização as inconsistências apontadas nas fls.
11, 12, 13 e 14 do Relatório de Visita Técnica Conjunta nº 05/2021 ERSAF/SES/MT e
SMSAF/MT, ou seja, adequar a aquisição de medicamentos, controles de entrada – por
meio do Sistema Hórus-, armazenamento – em local com controle de umidade;
refrigerador com controle de temperatura e em local adequado e organizado, com as
devidas identificação dos medicamentos (lote, validade e descrição), abastecimento – por
meio de carrinhos em regulares condições de funcionamento, e saída de fármacos aos
pacientes, por meio do Sistema Hórus, TUDO O MAIS CONFORME O ITEM 10 DO
NOVO RELATÓRIO TÉCNICO” (ID 57447257), mantenho a liminar deferida, devendo o
requerido providenciar o necessário para o seu atendimento, no mesmo prazo acima
determinado.
Alta Floresta/MT.
Juiz de Direito
PJEDACJGZXFHN