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Universidade Potiguar

Escola da Saúde
Departamento de Psicologia

ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA (APS)


“O HOMEM QUE CONFUNDIU SUA MULHER COM UM CHAPÉU”

Disciplina: Bases da Avaliação Psicológica


Docente: Marisete Maria Welter
Discente: Allana Costa Brito
Bianca Andrade Oliveira
Cinthya Coelli Medeiros Cardoso
Erika das Chagas Miranda
Vanessa Fernanda da Silva Almeida

Natal, 2019
“O HOMEM QUE CONFUNDIU SUA MULHER COM UM CHAPÉU” OLIVER
SACKS

 Primeira consulta do paciente ao Dr. Sacks

Demanda:

1. Quem encaminha o paciente para o Dr. Sacks?


O encaminhamento do paciente ao Dr. Sacks é feito por um
oftalmologista que, depois de um exame minucioso, não encontrou nada de
errado com os olhos do paciente, mas concluiu que havia um problema na
interpretação visual do cérebro dele.

2. Qual alteração se observava no Dr. P.?


O Dr. P. estava em um processo de cada vez mais não reconhecer os
rostos (prosopagnosia) de pessoas de seu convívio, além de atribuir faces
onde não haviam, como em maçanetas ou hidrantes. Na sala de aula, ele
reconhecia seus alunos pela voz e diversos episódios de confusões visuais
permeavam sua rotina.

3. Existe a demanda do Dr. P. de ser avaliado?


O Dr. P tem uma demanda de ser avaliado, uma vez que sua interpretação
da realidade acontece de uma forma não habitual e tais sintomas não se
relacionam com nenhuma alteração fisiológica da estrutura oftalmológica.

Observações:

4. O que Dr. Sacks observou para, logo de início, descartar o


diagnóstico de demência?
Durante a entrevista o Dr. Sacks eliminou de início a possibilidade de se
tratar de uma demência porque o paciente demonstrou uma série de
comportamentos incompatíveis com esse diagnóstico. A habilidade de
comunicação e interação do Dr. P, que falava com fluência, imaginação e
humor, além de demonstrar ser um homem culto com uma vida funcional,
foram suficientes para afastar a possibilidade de um distúrbio senil.

5. O que Dr. Sacks observa a respeito da percepção do Dr. P.,


detectando “algo estranho”?
O Dr. Sacks observa algo estranho no Dr. P. quando eles estão tendo
uma conversa um de frente ao outro e mesmo assim o Dr. P. era incapaz de
olhar-lhe nos olhos. Dr. P. aparentava ser incapaz de fixar o olhar em uma
face, fitando apenas partes dissociadas dos rostos humanos. Além de orientar-
se pela audição quando se comunicava com as pessoas e interagia com o
ambiente.

6. Quais auto-observações do Dr. Sacks, a partir de seus estados


emocionais, propiciaram sua percepção do Dr. P.?
O Dr. Sacks percebia momentos que o Dr. P. fazia coisas “estranhas”
(como tentar vestir sua mulher como se ela fosse um chapéu ou ficar feliz por
ter visto pessoas almoçando no terraço quando na verdade lhe foi mostrado a
fotografia de um deserto), a reação do paciente não era de estranhamento
diante de tais confusões, como se não se desse conta da gravidade de sua
condição.

Testes:

7. O que Dr. Sacks buscava investigar quando pediu que Dr. P.


descrevesse fotografias de uma revista?
Ao pedir que o paciente descrevesse as fotografias da revista o Dr. Sacks
buscava entender como funcionava não sua capacidade oftalmológica, mas o
conteúdo do que ele via, forçando-o a analisar um cenário completo.

Conclusão:

8. Quais forças e dificuldades do paciente foram avaliadas pelo Dr.


Sacks, quais dúvidas permaneceram e como ele se propôs a
continuar a investigação?
O Dr. Sacks pôde perceber, por meio da avaliação clínica, que o paciente
era um sujeito de capacidade intelectual preservada, sendo um homem culto,
educado, de humor agradável. Além de possuir grande habilidade musical. No
entanto, apresentava incapacidade de reconhecer e interpretar rostos e
cenários como uma unidade, descrevendo-os de forma fragmentada e confusa.
Persistindo assim, dúvidas sobre como o paciente mantinha uma rotina de
trabalho e familiar, quando seu comprometimento neurológico era evidente, o
médico decidiu avalia-lo em sua residência, um ambiente familiar para o
sujeito.

Visita à casa do Dr. P.

Avaliação:

1. Quais funções psicológicas foram investigadas pelo Dr. Sacks e


através de que meios (que testes)?
Durante a visita à casa do Dr. P., o Dr. Sacks investigou as funções
psicológicas superiores do paciente, notadamente as funções de atenção,
memória, percepção e pensamento. Do ponto de vista da neurologia, verificou
as funções dos lobos occipital e parietal. Para tanto, utilizou poliedros,
baralhos, caricaturas e cenas de um filme famoso para que o paciente os
identificasse, além de apresentar a ele fotografias de pessoas de seu círculo
íntimo, para que nomeasse.

2. Como vocês avaliam as seguintes funções do Dr. P.:

a) Percepção: visual, auditiva e tátil?


O Dr. P. possuía problemas com a interpretação visual de rostos e cenários,
sobretudo com imagens e objetos, de visualização interna ou externa, que
estivessem localizados à sua esquerda. Sua percepção tátil permanecia a
mesma de sempre, sem demonstração de comprometimento. Já a percepção
auditiva, aprimorada ao longo dos anos devida sua vocação para a música,
apresentava-se excepcional, sem prejuízos relacionados ao avanço da doença.
b) Atenção geral e, em particular, atenção a estímulos visuais?
O Dr. P. tinha dificuldades de focar em coisas senão em detalhes
específicos, observando pessoas, objetos e cenários de forma fragmentada,
como se fossem esquemas ou um conjunto de partes que não formam um
todo.

c) Memória geral e memória específica: visual e verbal?


O paciente possuía uma boa memória de forma geral, sendo capaz de
lembrar detalhes de narrativos de uma obra literária, mas quando se trata da
memória visual percebemos que ela estava altamente prejudicada (salvo a
visualização de esquemas) não conseguia visualizar rostos e cenas e ao
assistir um filme não conseguia lembrar do drama visual que lhe era exposto e
em relação memória verbal não possuía déficit perceptível.

d) Linguagem (compreensão e expressão, leitura de partitura


musical)?
A linguagem do paciente foi desenvolvida de forma que conseguisse se
expressar pela audição, olfato e até mesmo tato, tendo a audição como seu
principal meio de comunicação (como por exemplo o fato de cantarolar suas
ações), o olfato que lhe permitia identificar objetos (como na hora que
reconheceu a flor) , também se utilizava do tato (através das suas pinturas). O
paciente passou por um processo de adaptação da linguagem quando não
conseguia mais ler as partituras das músicas, mesmo que conseguisse
reconhece-las através da audição.

e) Inteligência?
As funções cognitivas, notadamente a inteligência do Dr. P. continuam com
ele, sem maiores prejuízos correlatos à sua condição. Apesar de ter sido
obrigado, ao longo do tempo, a modificar as formas de expressa-la, ele
continuou lecionando aulas mesmo com suas limitações e conseguia se exibir
num jogo de xadrez.

f) Adaptação ao ambiente doméstico, de trabalho e social?


O paciente desenvolveu uma forma de manter o foco nas atividades através
da música, cantarolando a todo momento as atividades que está
desempenhando. Mesmo com os sintomas e essa estratégia peculiar, Dr. P
conseguia manter uma vida social ativa, quase sem prejuízo algum, graças a
seu notável poder de adaptação o que foi crucial para que mantivesse uma
vida comum.

g) Aspectos afetivos emocionais (com a esposa)?


Com relação aos afetos do paciente, podemos destacar a esposa do Dr. P.,
que estava sempre presente, demonstrando compreender como ele funcionava
e ajudando-o sempre que podia. Ela estava habituada as suas canções e
formas de reconhecer (ou não) objetos, havia uma reciprocidade emocional e
com isso, uma boa convivência.
Encaminhamento:

3. Que orientação vocês dariam ao caso?


O caso clínico do Dr. P. tem características muito peculiares, uma vez que
o flagrante comprometimento neurológico não foi capaz de afetar a percepção
do paciente sobre si mesmo, que não demonstrava experenciar sofrimento
diante de sua condição. Pelo contrário, o paciente foi capaz de reorganizar-se
de modo a manter uma vida dinâmica e funcional, mesmo com os sintomas. No
entanto, a orientação seria o acompanhamento psicológico para ele e sua
mulher, uma vez que é parte afetada da situação, como também
acompanhamento com um neurologista e, talvez, avaliação de um oncologista,
a fim de compreender a natureza da disfunção neurológica.
O paciente, com sua admirável capacidade de adaptação, conseguiu da
melhor forma que pôde lidar com seu problema, mas com as ajudas citadas,
podemos imaginar o quanto mais ele poderia ter melhorado sua qualidade de
vida ou até mesmo tê-la prolongado.

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