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BELO HORIZONTE
2019
Dayana Cordeiro Montenegro
BELO HORIZONTE
2019
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO II
TERMO DE RESPONSABILIDADE E AUTORIZAÇÃO
Declaro, ainda, para fins e efeitos de direito, em especial nas esferas cível e penal,
que este trabalho não infringe direitos de terceiros e não incorre em plágio com
reprodução parcial ou total.
__________________________________________
Nome do aluno (a): Dayana Cordeiro Montenegro
À Profa. Ms. Deisiane Souto, que gentilmente compôs a minha banca examinadora.
À Profa. Ms. Arlete Santana, por disponibilizar seu tempo além do horário de aula,
você me ensinou muito sobre pesquisa científica e sobre empatia.
À Bia, pelo carinho e alegria que me recebia na clínica, nossas conversas foram
divertidas e enriquecedoras.
Aos funcionários da Newton Paiva, que de alguma forma, contribuíram com essa
trajetória.
À minha tia, mãe, amiga, Neiva, que é minha maior inspiração, e, me possibilitou
chegar até aqui, sempre me apoiando e incentivando.
Às minhas sobrinhas, Ester e Iasmin, e ao meu sobrinho Arthur, que são meu maior
orgulho na vida, e meus maiores incentivadores.
À minha família e amigos, que acreditaram e me apoiaram nesse caminho,
compreendendo minha ausência em momentos importantes, devido aos estudos.
E meu agradecimento especial, à minha esposa, Marcelli Salomão, que foi minha
maior incentivadora nesses 5 anos, e me ajudou a não desistir. Sem você o caminho
teria sido bem mais difícil. Obrigada!
As pessoas que marcaram a história por
suas contribuições ao conhecimento e a
cultura não são lembradas pelas notas que
obtiveram na escola ou pela quantidade de
informações que conseguiram memorizar,
mas sim pela qualidade de suas produções
criativas, expressas em concertos,
ensaios, filmes, descobertas científicas
etc.
Joseph Renzulli
RESUMO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
2 DESENVOLVIMENTO ........................................................................................... 13
2.1 CAPÍTULO I: Altas Habilidades/Superdotação e TDAH x Neurociências e
Aprendizagem ......................................................................................................... 13
2.1.1 Neurociências e Aprendizagem ........................................................................ 13
2.1.2 Altas Habilidades/Superdotação: Compreendendo a definição ........................ 18
2.1.3 Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade ...................................... ....24
2.2 CAPÍTULO II: O Paradoxo da Dupla Excepcionalidade.................................. 29
2.2.1 Dupla Excepcionalidade: Esclarecendo a termiologia .................................. ....29
2.2.2 Dupla excepcionalidade x Superdotado Underachievers ............................. ....31
2.2.3 Dupla Excepcionalidade e a complexidade diagnóstica ............................... ....33
2.3 CAPÍTULO III: Tratamento e o desempenho escolar na Dupla
Excepcionalidade .................................................................................................... 36
2.3.1 TDAH e o tratamento.................................................................................... ....36
2.3.2 Intervenções x AH/SD .................................................................................. ....38
2.3.2 Dupla Excepcionalidade no contexto escolar ............................................... ....40
3 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 42
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 45
10
1 INTRODUÇÃO
Neste sentido, o trabalho foi realizado por meio de uma revisão bibliográfica,
exploratória a fim de compreender melhor o contexto histórico da temática e suas
definições, com o respaldo da Neurociência. Para tanto, foram utilizados como
12
Posteriormente, para concluir o trabalho de forma mais ampla, foi realizado uma busca
padronizada de dados que pudessem compor a fundamentação teórica, articulando
dados de pesquisas atuais e a bibliografia primária. Para tanto, os artigos utilizados
foram extraídos das bases de dados: BVS; Lilacs e PubMed/Medline (US National
Library of Medicine National Institutes of Health), foram incluídos artigos publicados
nos últimos cinco anos (2014 - 2019), em inglês, português, espanhol, francês e
alemão, utilizando os descritores: Dupla Excepcionalidade; TDAH e Altas Habilidades;
TDAH e Inteligência, TDAH e QI, TDAH e Tratamento, AH/SD TDAH e Diagnóstico,
Neurociência e Aprendizagem, Os artigos que não apresentavam os descritores no
título, subtítulo ou no resumo, foram excluídos da seleção, também foram excluídos
os artigos publicados antes do ano de 2014 e artigos de revisão bibliográfica. Esses
estudos serão melhor apresentados no decorrer do trabalho.
2 DESENVOLVIMENTO
Neste sentido, Rotta et.al. (2016), ainda destaca os avanços dos estudos científicos
na Psicologia, relacionando a Neuroplasticidade ou Plasticidade Cerebral com o
processo de desenvolvimento da Aprendizagem. Ainda nesta perspectiva, Rotta et.al.
(2016), diz sobre a importância de entender o que é a Aprendizagem na perspectiva
da Neurociências, compreendendo também, o que é a Neuroplasticidade e a
Neurociência no campo da Psicologia e da educação.
Para Gazzaniga et. al. (2006), a memória, assim como a aprendizagem, não está
localizada em uma determinada região cerebral, ela envolve códigos eletroquímicos
1 Alexander Ramanovich Luria (1902 – 1977), nascido na Rússia, foi o fundador da Neuropsicologia
contemporânea, era neuropsicólogo, médico, professor, doutor em pedagogia e, também possuía
formação psicanalítica. Fundou a Associação Psicanalítica Kazan no leste de Moscou, foi responsável
pelo departamento de neuropsicologia da Universidade de Moscou. Junto com Lev Vygotsky,
estabeleceram o conceito de psicologia cultural-histórica e contribui para a formulação do conceito de
Neuroplasticidade. (MALLOY et.al., 2014).
15
Nesse viés, Relvas (2009), ressalta, que o processo de aprendizagem envolve todas
as áreas do cérebro, incluindo as emoções, pertencente ao circuito cerebral que
envolve o sistema límbico, área composta pelo hipocampo, tálamo, hipotálamo,
amígdala e os núcleos que são anteriores ao tálamo, também inclui estruturas do lobo
frontal, responsável pela regulação das emoções.
Ainda neste sentido, para Kandel (2014), o aprendizado está fortemente associado a
memória e as emoções, uma vez que o cerebelo, área responsável por modular as
habilidades motoras, está envolvido no processo de aprendizagem, o tálamo,
estrutura do diencéfalo na qual processa a maioria das informações recebidas no
córtex cerebral através do SNC, o hipotálamo regula as funções autônomas,
endócrinas e viscerais, por fim o hipocampo e o núcleo de base, estão envolvidos com
os aspectos de armazenamento da memória, e as amígdalas coordenam as respostas
autonômicas e endócrinas dos estados emocionais.
prazo. Assim, o conhecimento episódico depende das interações entre o lobo medial
temporal e os córtices associativos, o conhecimento semântico precisa do córtex pré-
frontal no armazenamento dos córtices associativos. Assim, pode-se compreender
sobre o aprendizado e a memória, que:
obras de arte, dentre outros tantos que possibilitem uma interação social da criança e
o meio de aprendizagem.
Desta forma, Rotta et.al., (2016); compartilhando a visão de Vygotsky (2001), faz
compreender que os aspectos ambientais, comportamentais, socioemocionais e
pedagógicos, são parte do processo do desenvolvimento da aprendizagem, assim
como, para Chacon (2011), o processo de aprendizagem pode ser entendido através
das conexões neurais, considerando a função das células gliais, denominadas
astrócitos, como responsáveis pela neurotransmissão neuronal.
Pestolazzi3, no Rio de Janeiro, desde essa época até 1970, o termo foi pouco
explorado. Logo, em 1971 aconteceu o I Seminário sobre Superdotação do Brasil e,
nesse mesmo ano a Superdotação foi incluída na Lei 5.692 das Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, onde foi determinado que esses alunos deveriam receber um
atendimento diferenciado, a fim de melhorar seu desempenho escolar. (ANTIPOFF e
CAMPOS, 2010).
3Instituição de apoio educacional para crianças do ensino especial, fundada por Helena Antipoff em
Belo Horizonte no ano de 1929. (CAMPOS, 2003 p.209-21).
4Dr. Joseph S. Renzulli, é professor e psicólogo educacional americano, pioneiro nos estudos sobre
AH/SD. Membro da Associação Americana de Psicologia e consultar educacional sobre AH/SD da Casa
Branca dos EUA. É atualmente, professor do conselho de Administração e diretor de Pesquisa sobre
AH/SD da Neag School of Education da Universidade Connecticuti nos Estados Unidos da América.
19
Em relação ao envolvimento com a tarefa, Pérez (2008), afirma que esse pode ser
caracterizado pela motivação e empenho para realizar uma determinada tarefa e/ou
resolver um problema com assertividade, integrando perseverança, dedicação e
entusiasmo para concluir o objetivo traçado, preservando a qualidade. Por fim, a
criatividade é compreendida pela presença de originalidade nos pensamentos,
flexibilidade, curiosidade e disposição para reagir aos estímulos externos e às suas
ideias e pensamentos.
Sobre a inteligência, Pérez (2009), destaca que ainda não existe um consenso entre
os pesquisadores da área. A inteligência teve seu significado expresso com a
declaração, endossada por 52 estudiosos e publicada na revista Intelligence, no qual
segundo essa declaração, a inteligência:
[...] é uma capacidade mental muito geral que, entre outras coisas, implica a
habilidade para raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de maneira
abstrata e aprender da experiência. Não se pode considerar um mero
conhecimento enciclopédico, uma habilidade acadêmica particular ou uma
destreza para resolver um teste. Entretanto, reflete uma capacidade mais
ampla e profunda para compreender o ambiente – perceber, dar sentido às
coisas ou imaginar o que deve ser feito. (GOTTFREDSON, 1997 p.19).
Numa perspectiva mais ampla, Primi e colaboradores (2008), apontam para o modelo
de inteligência Cattel-Horn-Carroll (CHC), definido por Cattel (1993), no qual, o autor
supramencionado, passou a identificar o fator “g” de inteligência, como sendo o mais
próximo à inteligência fluida (Gf), que se refere a habilidade de raciocinar em situações
20
Para Chacon et.al. (2011), existe um avanço nas pesquisas sobre a relação das Altas
Habilidades/Superdotação com a Neurociência, no entanto, são ainda muito
incipientes, mas apresentam maior consentimento entre os estudiosos da área médica
e da psicologia se comparado aos estudos sobre a definição das AH/SD,
considerando apenas os fatores ambientais e culturais. Neste sentido, Chacon et.al.
(2011), menciona que os estudos sobre as influências genéticas no campo das
AH/SD, tiveram maior visibilidade após a morte de Albert Einstein6, quando foi
6 Albert Einstein (1879-1955), físico alemão, foi um dos maiores cientista da humanidade, formulou a
Teoria da Relatividade Espacial, geral e restrita, explicou o Efeito Fotoelétrico e, contribui para a
formulação da Física Estatística e da Termodinâmica.
22
Entretanto, não satisfeita com essa descoberta, Witelson (1999), realizou no Canadá,
uma pesquisa com fragmentos do cérebro de Albert Einstein, em que avaliou partes
do lobo temporal e parietal, comparando essas partes com fotografias do cérebro de
Einstein antes do processo de conservação, observou que além do alto número de
células gliais presentes no cérebro de Albert Einstein, a fissura de Sylvius era quase
inexistente, sem a fissura de Sylvius, responsável por dividir o lobo parietal em duas
partes, o lobo parietal de Albert Einstein seria 15% mais alargado que o comum,
propiciando uma maior aglomeração de células gliais no cérebro nas áreas 9 e 39, o
7 Marian Diamond (1926 – 2017), foi uma das fundadoras da neurociência moderna. Bióloga,
Educadora e Cientista californiana, iniciou seus estudos sobre o SNC e Funções Cognitivas em 1948.
Foi a primeira cientista a estudar o cérebro de Albert Einstein e precussora nos estudos sobre
neuroplasticidade, inteligência e células gliais.
que explicaria sua velocidade sináptica nas áreas relacionadas a matemática, cálculos
e visuoespacial. (WITELSON e MCCULLOCH, 1999).
As células gliais, são uma das células mais importantes presentes no Sistema Nervoso
Central (SNC), representando um número quase dez vezes maior que os neurônios e
ocupa mais de 50% da massa encefálica. Dentre diversas funções, as células gliais
são responsáveis pelo funcionamento dos neurônios, presentes no SNC e no Sistema
Nervoso Periférico (SNP). Em outras palavras, as células gliais:
9Os transtornos do neurodesenvolvimento conforme o DSM-5 (APA, 2014), são um grupo de condições
que se iniciam no período de desenvolvimento da criança, caracterizados por déficits que geram
prejuízos funcionais que vão de dificuldades específicas da aprendizagem ou no controle das funções
executivas a prejuízos globais em habilidades sociais e inteligência.
25
Ainda neste sentido, para Andrade e Vasconcelos (2018), o TDAH pode ter associado
outras condições clínicas ou psicológicas comórbidas, dentre elas se destacam outros
transtornos de aprendizagem, envolvendo a dislexia, discalculia e a disgrafia,
transtorno do espectro autista (TEA), transtorno bipolar, transtorno opositor desafiador
(TOD) e transtornos de ansiedade. Rodhe e Wagner (2016), alertam para as altas
taxas de prevalência de comorbidades em pacientes com TDAH. O gráfico 1
apresenta as porcentagens encontradas para cada comorbidade.
25%
60%
30%
25% 15%
Entretanto, no Brasil, essa ainda é uma área de pesquisa pouco explorada e pouco
discutida no ambiente acadêmico, o que tem gerado preocupação nos pesquisadores
brasileiros, uma vez que a falta de conhecimento nessa área pode levar a diagnósticos
equivocados e generalizados, fazendo com que crianças com AH/SD sejam
erroneamente diagnosticadas com transtornos e/ou distúrbios de aprendizagem,
10 Dr. James Jonh Gallagher (1916-2014), psicólogo e cientista. Foi um dos maiores especialistas
mundiais em educação especial de superdotados e o primeiro chefe do Departamento de Educação
para Deficientes do Escritório de Educação dos EUA, e introduziu o conceito do Plano de Atendimento
Individualizado (IEP).
Para elucidar o exposto, vale ressaltar a posição de Tentes e Fleith (2014), que
realizaram um estudo a fim de examinar a incidência do fenômeno underachievement
em alunos do ensino fundamental. O estudo foi realizado com 96 alunos de uma AEE-
AH/SD (Atendimento Educacional Especializado ao Estudante com Altas
Habilidades/Superdotação) em um estado brasileiro. Desses alunos, 57 (59,4%)
estavam matriculados do 1° ao 4° ano do ensino fundamental I, 39 (40,6%)
matriculados do 5° ao 6° ano do ensino fundamental II. No total, 72 (75,0%) eram do
gênero masculino e 24 (25,0%) do feminino, 60 (62,5%) estudavam na rede pública
de ensino e 36 (37,5%) eram alunos da rede privada. Os alunos tinham idade entre 5
anos e 7 meses e 11 anos e 9 meses, foram avaliados por meio de testes psicológicos,
32
Em adição a discussão sobre a forma de ensino empregada aos alunos AH/SD Uach
e não Uach, Kalbfleisch (2004), explica que o aprendizado se dá com mais facilidade
por meio da repetição, da arte e com sistemas de recompensa. Assim, o autor
supracitado, levanta a discussão em relação a identificação desses alunos somente
por testes de QI, indicando a importância das emoções no ambiente escolar, familiar,
cultural e do sistema de ensino a que são expostos.
Para Tentes e Fleith (2004), os alunos AH/SD Uach não apresentam características
condizentes a nenhum transtorno do neurodesenvolvimento ou de aprendizagem,
contrário aos alunos duplamente excepcionais, que apresentam Altas
Habilidades/Superdotação associado a algum transtorno de aprendizagem ou o
neurodesenvolvimento, como é o caso do TDAH. Assim, alunos AH/SD Uach
apresentam baixo desempenho escolar devido a forma de ensino empregado, o
33
Em relação ao exposto, Neihart (2003), explica que o bom desempenho nas atividades
escolares apresentadas por alunos com Altas Habilidades/Superdotação, tendem a
ofuscar os sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, que é
compreendido por pais e professores através dos comportamentos hiperativos,
associados ao baixo desempenho em atividades escolares.
Ainda nessa perspectiva, os mitos que relacionam crianças AH/SD com genialidade e
as compreende como crianças auto suficientes, dotadas de bons comportamentos e
alto desempenho escolar em todas as áreas estudadas, amplia a complexidade
diagnóstica da Dupla Excepcionalidade, considerando ainda, que os alunos que
34
Dentro desta ótica, Alencar (2007), destaca que os alunos com Altas
Habilidades/Superdotação, apresentam diversas dificuldades emocionais, resultando
em comportamentos comumente presentes no TDAH. Assim, os alunos AH/SD
costumam apresentar perfeccionismo em suas atividades, sendo esse um dos
possíveis motivos de baixo desempenho escolar, uma vez que investem uma grande
quantidade de tempo revisando e refazendo a mesma tarefa, sendo extremamente
autocríticos, inseguros, apresentando um alto índice de frustração frente a críticas
externas, tendendo a comportamentos depressivos e ansiosos. Apresentam também,
frequentemente, comportamentos hiperativos, impulsividade e dificuldades de
atenção, decorrentes de sua desmotivação frente ao ensino de conteúdos pouco
desafiadores.
Cabe ainda mencionar as limitações para realizar a avaliação dos alunos duplamente
excepcionais e dos alunos AH/SD, AH/SD Uach, e TDAH, uma vez que Renzulli
35
(2004), afirma não ser possível mensurar as AH/SD somente pelos testes de QI,
devido a inexistência de instrumentos que avaliem a criatividade e o nível de
motivação da criança com AH/SD diante das tarefas realizadas. Ainda nessa
perspectiva, destaca-se a posição de Nakano et.al (2018), no qual afirma por meio de
seu estudo, que as habilidades socioemocionais, artísticas e afetivas das crianças
com AH/SD, devem ser avaliadas mais detalhadamente, utilizando os testes como
parte de uma avaliação multifatorial e não como o instrumento principal de tal
avaliação.
Fazendo um paralelo ao assunto, Pérez e Freitas (2012), apontam que um dos fatores
importantes na identificação dos alunos AH/SD, é o elevado interesse que apresentam
frente a atividades mais complexas e que exigem um alto nível de criatividade. Essa
afirmativa, reforça o posicionamento de Sabatella (2012), ao mencionar que os alunos
com AH/SD apresentam mais frequentemente, engajamento em atividades
cooperativas, e quando atingem a fase da adulta, são mais propensos a se envolver
em projetos sociais, no qual, de alguma forma geram contribuição para determinada
sociedade.
O tratamento da criança com TDAH, segundo Rodhe et. al. (2004), deve ser amparado
por um diagnóstico diferencial, evitando prejuízos decorrentes da forma de tratamento
empregada. Assim, requer uma equipe multidisciplinar, envolvendo diversos
profissionais da área médica, psicológica, escolar e familiar, uma vez que o transtorno
pode impactar negativamente na vida escolar, social, familiar e emocional dessas
crianças, e sem o tratamento os riscos são ainda maiores, podendo desenvolver
várias comorbidades ao longo do tempo. O autor supracitado menciona ainda, que o
tratamento tardio pode gerar altos gastos financeiros e maiores riscos de prejuízos
emocionais na criança e na família.
Atualmente, segundo Rohde et.al. (2017), o tratamento adequado para o TDAH deve
ser composto por uma equipe multidisciplinar a partir das necessidades de cada
criança, uma vez que o diagnóstico deve identificar além do transtorno, quais as áreas
que são mais afetadas, bem como quais as possíveis comorbidades que estão
associadas ao quadro de cada criança. Portanto o tratamento, inclui além da área
médica, farmacológica e psicológica, professores, psicopedagogos, inclui o
treinamento e psicoeducação dos pais/responsáveis, fonoaudiólogo, terapia
ocupacional, reforço escolar e atividade física. (ROSSETTI et.al., 2018).
37
Ainda nesse sentido, Rohde et. al. (2017), afirmam que os medicamentos,
principalmente os psicoestimulantes, ainda são considerados o meio mais eficaz do
tratamento para o TDAH, sendo o metilfenidato (Ritalina) o medicamento mais
utilizado para o tratamento na infância, seguido da dexanfetamina (Venvanse).
(MATTOS e PEREIRA, 2011). Dessa forma, em relação a medicalização e sua ação
no Sistema Nervoso Central, compreende-se que:
No entanto, Rohde et.al. (2017), explica que apesar dos benefícios alcançados com a
utilização dos psicoestimulantes, aproximadamente 30% dos pacientes não se
adaptam a medicação, apresentando diversos efeitos colaterais, como taquicardia,
cefaleia, insônia, hiper excitabilidade e náusea, o que intensifica a importância do
tratamento multidisciplinar, envolvendo, principalmente a psicoterapia cognitivo
comportamental.
Proporcionando uma visão numa perspectiva mais ampla, para Mattos e Pereira
(2011, p.498), “O tratamento farmacológico é decisivo para melhora dos sintomas
primários do TDAH (distração, hiperatividade e impulsividade).” Entretanto, os
sintomas relacionados a insegurança, autopercepção negativa e os comportamentos
como indisciplina, procrastinação, desorganização entre outros característicos do
transtorno, não evoluem somente com o tratamento farmacológico, sendo necessário
38
Piske e Stoltz (2017), explicam que o além da educação especializada, os alunos com
AH/SD devem receber acompanhamento cognitivo, emocional e afetivo, o que ainda
têm sido muito banalizado, enfatizando apenas o acompanhamento educacional, que
comumente não avalia as potencialidades de cada criança respeitando suas
individualidades, fornecendo um ensino especial, mas de forma generalizada.
por suas capacidades intelectuais superiores. Assim sendo, a sua meta não
seria, a priori, identificar e separar o grupo dos superdotados daqueles que
não o são, mas sim prover a cada aluno com as oportunidades, recursos e
encorajamento necessários para atingir o seu potencial máximo, de forma
inclusiva. (VIRGOLIM, 2007).
3 CONCLUSÃO
Nesse sentido, foi possível perceber que a Dupla Excepcionalidade é um tema bem
complexo e pouco estudo no Brasil, contrário aos achados de pesquisas em países
mais preocupados com a educação infantil, como os EUA, que já havia levantando
esse questionamento desde a década de 20. Dessa forma foi realizado um
levantamento bibliográfico exploratório, a fim de compreender melhor o tema e os
fatores envolvidos. Diante da complexidade do tema e suas inúmeras variáveis, fez-
se necessário compreender, a priori, como se dava o processo de aprendizagem no
cérebro, consequentemente buscou-se compreender qual as áreas do cérebro
estavam envolvidas no que tange o paradoxo da inteligência e quais as áreas
cerebrais eram afetadas pelo TDAH.
Ainda nesta perspectiva, é esperado ampliar o olhar das políticas públicas no que se
refere ao aprimoramento da educação inclusiva e de programas educacionais já
garantidos por lei para esses alunos, onde, segundo a Lei de Diretrizes de Base da
Educação Nacional - Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas de
ensino devem assegurar aos alunos, currículo, métodos, recursos e organização,
específicos para atender às suas necessidades. (BRASIL, 1996). Espera-se também,
que este trabalho tenha possibilitado um maior entendimento sobre a temática da
Dupla Excepcionalidade e suas implicações no processo de aprendizagem de
crianças com Altas Habilidades/Superdotação e TDAH.
45
REFERÊNCIAS
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