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MÓDULO DE REDAÇÃO

Prof. Murillo Antônio


FUVEST
(10/02/2021)

A REDAÇÃO NA FUVEST

2ª fase: PROVA DE PORTUGUÊS E REDAÇÃO

A primeira prova terá duas partes, valendo 50 pontos cada uma. A primeira parte constará de 10
questões de Português, de igual valor, envolvendo compreensão e interpretação de textos, gramática e
literatura; a segunda parte será constituída de Redação. Esta prova vale 100 pontos.
A redação deverá ser, obrigatoriamente, uma dissertação de caráter argumentativo, na qual se espera
que o candidato, visando sustentar um ponto de vista sobre o tema, demonstre capacidade de mobilizar
conhecimentos e opiniões; argumentar de forma coerente e pertinente; articular eficientemente as partes do
texto e expressar-se de modo claro, correto e adequado.
Os textos elaborados pelos candidatos serão avaliados quanto a três aspectos ou quesitos:

1. DESENVOLVIMENTO DO TEMA E ORGANIZAÇÃO DO TEXTO DISSERTATIVO-


ARGUMENTATIVO. (PESO 4)

Verifica-se inicialmente se o texto se configura como uma dissertação argumentativa e se atende ao


tema proposto. Pressupõe-se, então, que o candidato demonstre habilidade de compreender a proposta de
redação e, quando esta contiver uma coletânea, que se revele capaz de ler e de relacionar adequadamente as
ideias e informações dos textos que a integram. No que diz respeito ao desenvolvimento do tema, verifica-
se, além da pertinência das informações e da efetiva progressão temática, a capacidade crítico-
argumentativa que a redação venha a revelar. A paráfrase de elementos que compõem a proposta de
redação não é um recurso recomendável para o desenvolvimento adequado do tema. Não se
recomenda, também, que o texto produzido se configure como uma dissertação meramente expositiva, isto
é, que se limite a expor dados ou informações relativos ao tema, sem que se explicite um ponto de vista
devidamente sustentado por uma argumentação consistente.

2. COERÊNCIA DOS ARGUMENTOS E ARTICULAÇÃO DAS PARTES DO TEXTO. (PESO 3)

Avaliam-se, conjuntamente, a coerência dos argumentos e das opiniões e a coesão textual, ou


seja, a correta articulação das palavras, frases e parágrafos. A coerência reflete a capacidade do candidato
de relacionar os argumentos e organizá-los de forma a deles extrair conclusões apropriadas e, também, sua
habilidade para o planejamento e a construção significativa do texto. Devem-se evitar contradições entre
frases ou parágrafos, falta de encadeamento das ideias, circularidade ou quebra da progressão
argumentativa, uso de argumentação baseada apenas no senso comum e falta de conclusão ou conclusões
que não decorram do que foi previamente exposto. Quanto à coesão, serão verificados, entre outros, o
estabelecimento de relações semânticas entre partes do texto e o uso adequado de conectivos.

3. CORREÇÃO GRAMATICAL E ADEQUAÇÃO VOCABULAR (PESO 3)

Avaliam-se o domínio da norma-padrão escrita da língua portuguesa e a clareza na expressão das


ideias. Serão examinados aspectos gramaticais, como ortografia, morfologia, sintaxe e pontuação, e o

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emprego adequado e expressivo do vocabulário. Espera-se que o candidato revele competência para
expor com precisão e concisão os argumentos selecionados para a defesa do ponto de vista adotado,
evitando o uso de clichês ou frases feitas. Avalia-se, também, a seleção adequada do vocabulário, tendo
em vista as peculiaridades do tipo de texto exigido.

CORREÇÃO DA REDAÇÃO

Para cada um dos três aspectos, cada avaliador atribuirá, independentemente, pontuação de 1 a 5.

 Quando os pontos atribuídos pelos dois avaliadores a um determinado aspecto divergirem em 1 ponto, valerá
a média das duas notas. Se a discrepância entre os dois avaliadores exceder 1 ponto em qualquer dos três
aspectos, a redação será objeto de terceira avaliação por banca designada para esse fim. Caberá a essa banca
decidir qual das duas notas é a mais adequada ou se cabe atribuir uma terceira nota, diversa das que foram
atribuídas. Neste caso, prevalecerá a terceira nota.

 Os pontos atribuídos a cada aspecto serão multiplicados por 4, 3 e 3, respectivamente, obtendo-se,


assim, uma nota ponderada para a redação, que variará entre 10 e 50 pontos.

 Além das redações em branco, receberão nota zero textos que desenvolverem tema diverso do que foi
solicitado, ou que não atenderem à modalidade discursiva indicada. Serão passíveis de receber nota zero
também os textos com extensão claramente abaixo do limite estabelecido nas instruções da prova ou que
apresentarem elementos verbais ou visuais não relacionados com o tema da redação.

TEMAS DA FUVEST

2020 – O papel da ciência no mundo contemporâneo


2019 – A importância do passado para a compreensão do presente
2018 – Devem existir limites para a arte?
2017 – O homem saiu de sua menoridade?
2016 – As utopias: indispensáveis, inúteis ou nocivas?
2015 – “Camarotização” da sociedade brasileira: a segregação das classes sociais e a democracia
2014 – Envelhecimento da população
2013 – Consumismo
2012 – Participação política: indispensável ou superada?
2011 – O altruísmo e o pensamento a longo prazo ainda têm lugar no mundo contemporâneo?

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DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
ENEM FUVEST
 Sem Título  Título obrigatório
Sobre [repertório], [repertório] e o [núcleo
tema]

O papel da ciência no mundo contemporâneo


Foucault
Arendt
Bourdieu

Sobre Foucault, Arendt e a ciência


 4 parágrafos  3, 4 ou 5 parágrafos
 Introdução:  Introdução:
1) Contextualização com repertório; 1) Contextualização ampla com repertório;
2) Tese; 2) Tese (geral ou específica);
3) Antecipação das problemáticas 1 e 2
 Desenvolvimento:  Desenvolvimento:
1) Tópico frasal (problema+ tema); Geralmente não se inicia os desenvolvimentos
2) Repertório Produtivo; com conectivos.
3) Opinião; 1) Tópico frasal (Ressaltar o argumento. Pode apresentar
4) Fechamento repertório);
2) Repertório Improdutivo/Inferências (Sem fonte, sem
detalhamento) e Produtivo (fonte, detalhado). Sempre
estará articulado à opinião.
3) Opinião;
4) Fechamento (cuidado)
 Repertório: Produtivo (Fonte, Detalhado,  Repertório: Improdutivo e Produtivo (Fonte,
Extracoletânea). Detalhado, Extracoletânea).
 Conclusão:  Conclusão:
1) Retomada do tema,  Iniciar com conectivo conclusivo
2) Proposta(s) de intervenção com 5 elementos válidos; 1) Retomada do tema/tese/ideia (Sintetizar/Resumir).
3) Retomar um repertório Mais longa
2) Não é obrigatória a proposta de intervenção. Se
houver, não apresentar 5 elementos válidos;
 3) Retomar vários repertórios mencionados no
texto (tentar retomar 3 repertórios)
 Projeto de texto: apresenta, desenvolver e  Título e a conclusão. Apresentação e repetição
resolve 2 problemas. de repertórios durante os parágrafos.
 Conectivos sequenciais estarão sempre  Conectivos estarão presentes, mas ausências
presentes. pontuais, que não comprometem a sequência das
ideias, são aceitas. Conectivos deslocados são
bem-vindos.
 Temas: Sociais  Temas: Sociais, Político, Econômico, Filosófico.
 Linguagem denotativa e formal (3ª pessoa)  Linguagem denotativa e formal (3ª pessoa), mas
figuras de linguagem e pontuais linguagens
conotativas/figuradas são bem-vindas.
 Não há interlocução  Perguntas retóricas serão aceitas (ênfase,

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provocar)
 Problematizar o tema (ressaltar problemas a  Não é obrigatório apenas problematizar o tema.
respeito do tema) Ressaltar apenas aspectos positivos a respeito do
tema em um parágrafo e/ou Contextualizar
historicamente o tema em um parágrafo inteiro é
bem-vindo.
 Avalia apenas a adequação gramatical, e não a  Avalia adequação gramatical e adequação
adequação estilística (linguagem autoral e estilística (linguagem autoral e criativa):
criativa) Deslocar conectivo, romper com a ordem direta
da frase, paralelismos (repetição intencional de
frases), retomar repertórios apresentados,
metáforas, metonímias, ironias.

EXEMPLO DE TEXTO BEM AVALIADO

Tema: A importância do passado para a compreensão do presente (FUVEST 2019)

EXEMPLO 01 - NOTA 50/50


A História como Roda Viva

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O romance 1984 de George Orwell narra uma sociedade distópica composta por uma massa de
alienados submissa a um grande déspota, o “Big Brother”. Na obra, o passado é efêmero e volátil:
funcionários do regime recortam e editam fatos passados, mudando manchetes de jornais antigos, bem
como datas e momentos históricos. Dessa forma, apagando partes da História e exaltando outras, o governo
modula a massa de alienados, fazendo do tempo presente o que o “Big Brother” desejar. Compreendendo a
realidade do romance, entende-se melhor de que forma o passado contribui para o esclarecimento do
presente.
Eric Hobsbawn, um dos maiores historiadores contemporâneos, logo nos primeiros capítulos de sua
obra “Era dos Extremos”, postula que é latente na sociedade a dissolução do passado. Hobsbawn esclarece
que, atualmente, indivíduos vivem em um presente contínuo. De fato, indivíduos incendeiam, dilaceram e
reduzem a cinzas o passado; o episódio do Museu Nacional, que se reduziu a pó, é apenas exemplo disso.
Demolindo o passado, perde-se a compreensão de que a História é Roda Viva e de que tendências
se repetem. Consequentemente, como evidenciou Orwell, além de perder o controle da própria narrativa,
funda-se a ignorância de quão ameaçador pode ser o tempo presente. Nos últimos meses, contaminaram as
ruas brasileiras slogans do regime militar, até mesmo emissoras de TV revisitaram a velha máxima “Ame-o
ou deixe-o”. Tais ações são fruto de um povo sem História e que, por ignorância, exalta um passado de
repressão, censura e coerção.
Hannah Arendt, um dos maiores nomes da sociologia, alerta para esse fenômeno daqueles que
vivem no presente contínuo. A socióloga ratifica que um povo sem passado, sem relação orgânica com a
História, corre o risco de cometer os mesmos erros de antes. Por esse motivo a Alemanha é exemplo no
estudo historiográfico: o Holocausto é estudado detalhadamente desde a tenra infância para que a nação
impeça o recrudescimento do sombrio passado e caminhe para o progresso sempre consciente dos riscos.
Nota-se, pois, que tendo compreensão do passado a sociedade poderá ter a sensibilidade de não
repetir os mesmos erros e os mecanismos para conduzir a nação rumo a um progresso de forma mais
depurada. Compreender o passado e entender como se constrói o presente é desvencilhar-se da realidade de
Orwell, é atingir o esclarecimento. E, finalmente, perceber a História como Roda Viva: poesia eterna
que não repete versos, mas faz uso das mesmas rimas.

EXEMPLO 02 - NOTA 47/50

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EXEMPLO 03 - NOTA: 47/50

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A quebra das chicotadas cíclicas

O som do chicote soava. Prudêncio, já adulto e livre, castigava um escravo sem piedade. Ao
observar a cena, Brás volta à infância e percebe que o ex-escravo reproduzia as chicotadas que lhe eram
dadas pelo menino e seu pai. A cena da obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis,
mimetiza o ciclo criado entre passado e presente. Analogamente, movimentos contemporâneos vêm
surgindo com base em panoramas passados. Nessa perspectiva, de que forma é possível utilizar do passado
para entender e melhorar o futuro da humanidade?
Historicamente, o mundo foi palco de acontecimentos que criaram valores humanos. Durante o
século XVI, a escravidão demarcou a inferioridade do negro perante o europeu. Já em meio a Segunda
Guerra Mundial, o nazismo reproduziu tal ideal, que foi posto como justificativa ao holocausto e à busca
pela hegemonia ariana. Na contemporaneidade, movimentos racistas e xenofóbicos, como o grupo Ku Klux
Klan, ganham força nos EUA e no mundo. Percebe-se, pois, uma linha clara na histórica: a falta de reflexão
do passado perpetua destrutivos ideais no presente.
Assim como os fatos acima, o filme “1984”, baseado na obra de George Orwell, analisa de que
maneira é possível ocultar acontecimentos históricos para a alienação da massa existir. Ao longo da trama,
o governo altera informações garantindo o controle da população. Sendo assim, não ocorre reflexão
concreta sobre o verdadeiro passado, dificultando a percepção do caos que vivem no presente.
À luz de Kant, em sua obra “O que é esclarecimento”, elucida-se sobre o conceito “maioridade
intelectual” (capacidade de refletir densamente). Tal teoria pode ser aplicada no contexto atual, no qual a
falta da “maioridade” na sociedade impossibilita o estudo do passado para a compreensão do presente. A
busca pela capacidade reflexiva deve partir do indivíduo, auxiliado pela escola.
Nas palavras de Foucault: “O homem é fruto de um processo histórico”. No entanto, caso
necessário, o homem deve alterar tal processo. “Prudêncios” devem atingir a “maioridade” e quebrar as
chicotadas cíclicas. Para isso, caberá ao indivíduo exercer o “silêncio” de Orlandi (reflexão individual
visando o coletivo) por meio do estudo e análise assídua do passado, garantindo, assim, o aprendizado e
uma provável mudança no “status quo” da humanidade.

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