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Nota de Sessão e Embasamento Teorico - Primeiro Relatório
Nota de Sessão e Embasamento Teorico - Primeiro Relatório
NOTA DE SESSÃO
Relato de Atendimento:
A analista: Jania fique a vontade e me fale sobre o que lhe vier à cabeça sem
se preocupar com nada, nem se está certo ou errado, com julgamento ou se
tem coerência ou não. Apenas fale: “Ah, eu acredito que esse
acompanhamento me ajudará a sair deste estado em que eu me encontro”. E
em que estado você se encontra? Ela começa um relato sobre a vida de
casada. Diz que quando conheceu o marido estava grávida de outro que o pai
da criança havia rejeitado a sua gravidez e que ainda era muito jovem, tinha
apenas dezesseis anos e quando ela comunicou ao pai a sua gravidez ele
disse que ela era louca não deu importância ao seu estado o que de imediato
ela não mais o procurou. Logo conheceu seu marido e continua o relato
dizendo que ainda estava grávida e que foi ela quem insistiu até que decidiram
morar juntos e tudo ia bem quando de repente ele apresentou problema de
impotência e aí começou a ter ciúmes, quando ia para o trabalho ou quando
saiam porque ela sempre gostou de dançar. “Ele me conheceu assim” disse
ela, mas depois começou a implicar. A ter muita insegurança a respeito de
fidelidade. Por causa do problema de impotência ela deixou de tomar o
contraceptivo e acabou engravidando da última filha. Procurou fazer
laqueadura para não acontecer outra gravidez. Para ele, essa atitude foi
interpretada como uma rejeição. Dizia ele que tudo foi feito para afastá-lo dele
e que havia feito tudo escondido no que ela diz não ser verdade pois todo o
procedimento cirúrgico foi feito pelo primo dele. Quando ela pedia para que ele
fosse ao médico procurar descobrir o que estava acontecendo e tratar, ele
pedia para que ela fosse em seu lugar e explicasse para o médico a situação, o
que era impossível sem fazer exames, disse ela. Até que ela resolveu desistir
do casamento, mas ainda aguentou por 3 anos. Até ele a agrediu. “Eu dizia a
ele para não encostar a mão em mim, aí ele fez essa graça”. Deixei que ela
falasse o que a angustiava e ouve um tempo de silêncio. (Silêncio é conteúdo
informacional) Em seguida, ela falou: “minha autoestima muito baixa” e
continua dizendo: “eu sentia que antes eu era muito mais querida e tinha muito
mais amizade em volta de mim”. Ela tinha toda a família, muitos amigos e ele
por ciúme afastou todos tratando muito mal contudo, os amigos e familiares
dele eram tratados muito bem. Ele os convidavam e ela os tratavam muito bem
apesar de não os conhecer. Então essa sua angústia começa neste período,
após o seu casamento. “Sim”, respondeu. Tudo começou por causa dele. Ele
quem me sufocou e me afastou de tudo e de todos. Relata ela que sua mãe e
seus irmãos iam à sua casa e que ele não distratava a visita, mas maltratava
ela na frente delas. O que fez com que eles deixassem visita-la. E depois da
separação? Os meus amigos e minha família se aproximaram novamente.
Disse que retomou e está em um novo relacionamento e que sente um pouco
de vergonha porque ela mais velha que ele. Tem medo de que a família e os
amigos a critiquem mesmo que ele já seja conhecido da família. Ela disse que
ele a trata muito bem, mas que ela as vezes o trata com um pouco de frieza por
que tem vergonha quando ele quer trocar carinhos, beijinhos e abraços na
presença de outros. O que não tinha com o outro que mal trocávamos um bom
dia ou boa noite. Temos 2 anos juntos e ainda estou tímida. Ela diz que tem
medo dele agir com violência, pois ele é frio e que o fato dele tentar enforcá-la
dormindo é que a faz ficar com medo do marido. Ela tem medo de encontrar
com ele sozinha. Medo exatamente do quê? De você não se sentir à vontade
ou do julgamento dele? “De ele tentar arrumar confusão”. E continua: “Então eu
evito”. Quanto mais ela evitar a situação de constrangimento melhor, disse ela.
“ Eu acho que até evitei muito, me enganei.” Ela diz pensativa. “É, eu não
deveria ter permitido isso, deveria ter me imposto mais, não deveria te
abaixado a cabeça e ele percebeu que eu tinha medo”. E com suas filhas ele é
violento? Não, apenas não as procura. É indiferente. Eu é quem fico dizendo
que a pequena tem saudades do pai. Aí ele pega, mas logo devolve. A mais
velha fala com ele esporadicamente também. Disse: “eu não sei porque tenho
medo! Fica em silêncio por uns instantes e continua dizendo: essa foi uma
relação de submissão e não de amor. E....? Eu deixo ela completar: eu me
coloquei nesta situação. Ela pensa e diz: é uma força que vem de dentro.
Então, sou eu quem tem o domínio e não posso permitir que outras pessoas de
fora me faça sentir enfraquecida e se continuar assim qualquer situação ou
qualquer relacionamento acabará em submissão e a minha autoestima sempre
estará baixa. Mas, o que eu quero muito é resolver esta situação. Quero voltar
para minha casa. Eu já estou procurando a justiça para ver se consigo que ele
saia que me venda a parte dele, não é justo eu ficar incomodando a minha mãe
e meus irmãos sendo que eu tenho a minha casa enquanto ele fica bem
acomodado. Isto me faria feliz. Fale um pouco sobre a infância, ela começou
dizendo que se lembrava dos seus 12 anos, que nessa idade ela estava
vivendo com sua mãe e irmãos. Fale me sobre seu pai. Disse que seus pais
não eram casados e não morava com eles. Mas se lembrava de que seu irmão
mais velho era quem tomava conta deles assumindo o papel do pai. Relatou
uma situação de que era ela que sempre apanhava de sua mães quando
acontecia um problema em casa, porque ela era muito levada e sempre
assumia a culpa e preferia apanhar a ver seus irmãos sendo castigados. O
irmão era quem tomava conta. E até hoje eu o respeito como pai. Quando
fiquei grávida ele não brigou disse que ia ajudar a cuidar, eu não contei quem
era o pai, porque eu já tinha decidido esquecer.
Embasamento Teórico
Estrutura Quaternária
I – Identificação Acadêmica
O processo de início de análise ou ensaio preliminar como diz Freud (1913, pg 65) apud
Frazão “é ele próprio o início de uma análise e deve conformar-se às suas
regras”. “Pode-se talvez fazer a distinção de que durante esta fase deixa-se o
paciente falar quase o tempo todo e não se explica nada mais do que o
absolutamente necessário para fazê-lo prosseguir no que está dizendo.” O
papel do analista neste momento é o de somente relançar o discurso do
analisando pois este é o momento em que a questão diagnóstica está em jogo.
Diz Quinet (1991). Tal procedimento tem o objetivo segundo Freud, (1913)
apud Quinet (1991) que costumava dar um espaço de uma ou duas semanas
para que pudesse, ele, o analista de fato aceitar o caso ou não e também o
tempo para possibilitar o diagnóstico diferencial que é essencial para o
direcionamento do tratamento. A saber a neurose e psicose. Neste mesmo
Freud diz que a primeira meta é fazer a ligação do paciente à análise e ao
analista constituindo assim a transferência. Para Quinet não basta somente o
analisando escolher seu analista tem que ocorrer também a escolha do analista
e para desencadear uma análise o sujeito precisa apresentar um sintoma
analítico. E qual a função do sintoma? O mesmo autor descreve: A função
sintomal – importa como a demanda se apresenta ao analista representada
por seu sintoma. Essa demanda necessita passar por questionamentos e não
ser aceita em estado bruto. “O que está em questão nessas entrevistas
preliminares não é se o sujeito é analisável, se tem um eu forte ou fraco para
suportar as agruras do processo analítico. A analisabilidade é função do
sintoma e não do sujeito”. Diz Quinet (1991).
Referência
QUINET, A. As 4+1 Condições da Análise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1991.