Você está na página 1de 5

ESTAGIÁRIO: Cleiri Maria Santana Sousa DATA: 01/abril/2016

ANALISANDO(A): Jania Maria Galdino

NOTA DE SESSÃO

Objetivos do Estagiário: O objetivo desta primeira sessão é escuta psicanalítica


buscando através do discurso, usando o método de associação livre,
compreender se aquilo que ela traz como queixa é de fato uma demanda para
sua busca por acompanhamento psicanalítico. Tornar consciente o que é
inconsciente e ainda buscar entender algo sobre o paciente a respeito da
relação que se inicia para encorajar e manter a relação terapêutica visto que o
conteúdo inconsciente ainda não são transformados para alcançar a relação
transferencial.

Agenda: próxima sessão 15//2016

Motivo: dia 08/04/2016

Relato de Atendimento:

Entramos na sala e demos início à sessão com os procedimentos de praxe


como: apresentação, a explicação de como a sessão seria conduzida e
também a necessidade de mantermos o compromisso de estarmos nos dias
marcados e que se de fato ocorrer algo de grave e não puder comparecer
avisar sobre essa impossibilidade.

A analista: Jania fique a vontade e me fale sobre o que lhe vier à cabeça sem
se preocupar com nada, nem se está certo ou errado, com julgamento ou se
tem coerência ou não. Apenas fale: “Ah, eu acredito que esse
acompanhamento me ajudará a sair deste estado em que eu me encontro”. E
em que estado você se encontra? Ela começa um relato sobre a vida de
casada. Diz que quando conheceu o marido estava grávida de outro que o pai
da criança havia rejeitado a sua gravidez e que ainda era muito jovem, tinha
apenas dezesseis anos e quando ela comunicou ao pai a sua gravidez ele
disse que ela era louca não deu importância ao seu estado o que de imediato
ela não mais o procurou. Logo conheceu seu marido e continua o relato
dizendo que ainda estava grávida e que foi ela quem insistiu até que decidiram
morar juntos e tudo ia bem quando de repente ele apresentou problema de
impotência e aí começou a ter ciúmes, quando ia para o trabalho ou quando
saiam porque ela sempre gostou de dançar. “Ele me conheceu assim” disse
ela, mas depois começou a implicar. A ter muita insegurança a respeito de
fidelidade. Por causa do problema de impotência ela deixou de tomar o
contraceptivo e acabou engravidando da última filha. Procurou fazer
laqueadura para não acontecer outra gravidez. Para ele, essa atitude foi
interpretada como uma rejeição. Dizia ele que tudo foi feito para afastá-lo dele
e que havia feito tudo escondido no que ela diz não ser verdade pois todo o
procedimento cirúrgico foi feito pelo primo dele. Quando ela pedia para que ele
fosse ao médico procurar descobrir o que estava acontecendo e tratar, ele
pedia para que ela fosse em seu lugar e explicasse para o médico a situação, o
que era impossível sem fazer exames, disse ela. Até que ela resolveu desistir
do casamento, mas ainda aguentou por 3 anos. Até ele a agrediu. “Eu dizia a
ele para não encostar a mão em mim, aí ele fez essa graça”. Deixei que ela
falasse o que a angustiava e ouve um tempo de silêncio. (Silêncio é conteúdo
informacional) Em seguida, ela falou: “minha autoestima muito baixa” e
continua dizendo: “eu sentia que antes eu era muito mais querida e tinha muito
mais amizade em volta de mim”. Ela tinha toda a família, muitos amigos e ele
por ciúme afastou todos tratando muito mal contudo, os amigos e familiares
dele eram tratados muito bem. Ele os convidavam e ela os tratavam muito bem
apesar de não os conhecer. Então essa sua angústia começa neste período,
após o seu casamento. “Sim”, respondeu. Tudo começou por causa dele. Ele
quem me sufocou e me afastou de tudo e de todos. Relata ela que sua mãe e
seus irmãos iam à sua casa e que ele não distratava a visita, mas maltratava
ela na frente delas. O que fez com que eles deixassem visita-la. E depois da
separação? Os meus amigos e minha família se aproximaram novamente.
Disse que retomou e está em um novo relacionamento e que sente um pouco
de vergonha porque ela mais velha que ele. Tem medo de que a família e os
amigos a critiquem mesmo que ele já seja conhecido da família. Ela disse que
ele a trata muito bem, mas que ela as vezes o trata com um pouco de frieza por
que tem vergonha quando ele quer trocar carinhos, beijinhos e abraços na
presença de outros. O que não tinha com o outro que mal trocávamos um bom
dia ou boa noite. Temos 2 anos juntos e ainda estou tímida. Ela diz que tem
medo dele agir com violência, pois ele é frio e que o fato dele tentar enforcá-la
dormindo é que a faz ficar com medo do marido. Ela tem medo de encontrar
com ele sozinha. Medo exatamente do quê? De você não se sentir à vontade
ou do julgamento dele? “De ele tentar arrumar confusão”. E continua: “Então eu
evito”. Quanto mais ela evitar a situação de constrangimento melhor, disse ela.
“ Eu acho que até evitei muito, me enganei.” Ela diz pensativa. “É, eu não
deveria ter permitido isso, deveria ter me imposto mais, não deveria te
abaixado a cabeça e ele percebeu que eu tinha medo”. E com suas filhas ele é
violento? Não, apenas não as procura. É indiferente. Eu é quem fico dizendo
que a pequena tem saudades do pai. Aí ele pega, mas logo devolve. A mais
velha fala com ele esporadicamente também. Disse: “eu não sei porque tenho
medo! Fica em silêncio por uns instantes e continua dizendo: essa foi uma
relação de submissão e não de amor. E....? Eu deixo ela completar: eu me
coloquei nesta situação. Ela pensa e diz: é uma força que vem de dentro.
Então, sou eu quem tem o domínio e não posso permitir que outras pessoas de
fora me faça sentir enfraquecida e se continuar assim qualquer situação ou
qualquer relacionamento acabará em submissão e a minha autoestima sempre
estará baixa. Mas, o que eu quero muito é resolver esta situação. Quero voltar
para minha casa. Eu já estou procurando a justiça para ver se consigo que ele
saia que me venda a parte dele, não é justo eu ficar incomodando a minha mãe
e meus irmãos sendo que eu tenho a minha casa enquanto ele fica bem
acomodado. Isto me faria feliz. Fale um pouco sobre a infância, ela começou
dizendo que se lembrava dos seus 12 anos, que nessa idade ela estava
vivendo com sua mãe e irmãos. Fale me sobre seu pai. Disse que seus pais
não eram casados e não morava com eles. Mas se lembrava de que seu irmão
mais velho era quem tomava conta deles assumindo o papel do pai. Relatou
uma situação de que era ela que sempre apanhava de sua mães quando
acontecia um problema em casa, porque ela era muito levada e sempre
assumia a culpa e preferia apanhar a ver seus irmãos sendo castigados. O
irmão era quem tomava conta. E até hoje eu o respeito como pai. Quando
fiquei grávida ele não brigou disse que ia ajudar a cuidar, eu não contei quem
era o pai, porque eu já tinha decidido esquecer.

Embasamento Teórico

Estrutura Quaternária

Associação livre: A analisanda começa a sessão falando sobre a expectativa do


acompanhamento psicológico e acredita que irá tirá-la do estado em que se encontra,
mas sem responder à questão sobre que estado é esse, segue relatando sobre o seu
casamento e como foi que tudo começou, como tudo se desenrolou até o fim do
casamento, sobre não se conformar em perder a casa para o ex-marido e a angústia em
que se encontra por não conseguir resolver esta questão. O desejo imenso de voltar para
o lar para enfim falar sobre a questão que a trouxe ao consultório.
Dimensionamento : a analisanda trouxe como queixa o fato de estar com baixa
autoestima

Redimensionamento: diante do relato a questão por detrás da queixa é uma situação


relacional mal resolvida com o seu ex-marido e ainda algo sobre questões da infância,
pois esta só conseguiu lembrar-se a partir dos doze anos. (Ausência da figura paterna).

Transferência: houve momentos no relato da analisanda em que me remeteu à


situações sobre as quais eu estava pesquisando e que também havia ouvido das
mulheres em situação de violência doméstica entrevistadas por mim na Delegacia
Especializada de Mulheres quando do registro de boletins de ocorrência. Sendo assim,
não me causou estranheza nenhuma a sua história. Outro momento em que houve
identificação é na situação de ausência paterna.

I – Identificação Acadêmica

Estagiário: Cleiri Maria Santana Sousa

Supervisor (a): Prof. Marcelo Campos


Data do atendimento: 01/04/2016
Modalidade de Atendimento: Clínico
Analisando(a): Jania Maria Galdino

II – Embasamento teórico das ações realizadas

O processo de início de análise ou ensaio preliminar como diz Freud (1913, pg 65) apud
Frazão “é ele próprio o início de uma análise e deve conformar-se às suas
regras”. “Pode-se talvez fazer a distinção de que durante esta fase deixa-se o
paciente falar quase o tempo todo e não se explica nada mais do que o
absolutamente necessário para fazê-lo prosseguir no que está dizendo.” O
papel do analista neste momento é o de somente relançar o discurso do
analisando pois este é o momento em que a questão diagnóstica está em jogo.
Diz Quinet (1991). Tal procedimento tem o objetivo segundo Freud, (1913)
apud Quinet (1991) que costumava dar um espaço de uma ou duas semanas
para que pudesse, ele, o analista de fato aceitar o caso ou não e também o
tempo para possibilitar o diagnóstico diferencial que é essencial para o
direcionamento do tratamento. A saber a neurose e psicose. Neste mesmo
Freud diz que a primeira meta é fazer a ligação do paciente à análise e ao
analista constituindo assim a transferência. Para Quinet não basta somente o
analisando escolher seu analista tem que ocorrer também a escolha do analista
e para desencadear uma análise o sujeito precisa apresentar um sintoma
analítico. E qual a função do sintoma? O mesmo autor descreve: A função
sintomal – importa como a demanda se apresenta ao analista representada
por seu sintoma. Essa demanda necessita passar por questionamentos e não
ser aceita em estado bruto. “O que está em questão nessas entrevistas
preliminares não é se o sujeito é analisável, se tem um eu forte ou fraco para
suportar as agruras do processo analítico. A analisabilidade é função do
sintoma e não do sujeito”. Diz Quinet (1991).

II- Considerações e encaminhamento do caso


A analisanda queixa-se de baixa autoestima, contudo apresenta questões de cunho
emocional as quais devem ser sondadas. Diz que estar longe de casa a angustia. (casa ?)
Não consegue se lembrar de sua infância, apenas a partir dos doze anos. Necessário
buscar lembranças da infância.

Referência

FRAZÃO,Francisco de Assis. As entrevistas preliminares e o diagnóstico


diferencial em Psicanálise. Disponível em http://www.psicanalise.ufc.br/hot-
site/pdf/Trabalhos/28.pdf> . Acesso em 15 de abril de 2016.

QUINET, A. As 4+1 Condições da Análise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1991.

Você também pode gostar