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Julgava que palhaço fizesse palhaçada. Foi o que sempre ouvi e assisti.
Mas, de uns tempos para cá, alguns passaram a dizer que faziam palhaçaria. O
que teria mudado? Deve haver alguma razão para tal. Coloquei-me a campo para
investigar o ocorrido.
A primeira pista me levou ao termo “clown”, alglo-saxão de origem,
também adotado pelos franceses, ferrenhos defensores do idioma pátrio. Teria
ocorrido um descuido por parte dos franceses? Não. Historicamente, os clowns
ingleses dominaram os picadeiros e palcos parisienses no XIX , consolidando um
modo de comicidade. Com isso, o termo perdurou.
Os franceses, por seu turno, dizem que a arte dos clowns chama-se
“clownerie”. Tá aí: palhaçaria vem a ser a transposição do francês para o
português. Efeitos inconscientes da colonização cultural? Por que não clowneria?
Não fica bem escancarar a transposição idiomática à revelia do que predomina
no português.
Por aqui, em ambiente de latinoamérica, palhaço ou payaso, são termos
ainda pertinentes e de apelo popular (muito embora alguns rejeitem tal
denominação e fazem questão de serem chamados por “clowns”). O mesmo não
ocorre com a palavra “palhaçada”, que, no adjetivo, traz carga semântica
pejorativa. Por que não substantivar? Se isso ocorresse a arte do palhaço seria
chamada de palhaçada, pura e simplesmente.
Ocorre que o problema ultrapassa a adaptação terminológica – desconfiei,
então. Mudanças também ocorreram na tipologia da personagem (há quem
defenda não se tratar de personagem – mas isso é assunto para outro
momento!), no repertório adotado e na postura profissional diante daquilo que
se faz.
No tocante aos tipos cômicos – assim me parece – houve um retorno à
polarização augusto-branco, algo que o fazer circense, desde os primeiros anos
do século passado, avançou ao incorporar o contra-augusto (e, por decorrência, o