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Trabalho de avaliação em

substituição a prova

Giulliana Rosa Trajano


Licitações e Contratos Administrativos
LL.M em Direito Empresarial – T14
Brasília-DF, outubro de 2021.
   
Instruções:
O pregão foi pensado para ser utilizado para aquisição de bens e serviços comuns.
Contudo, nos deparamos com frequência com tentativas de alargamento do conceito
do que é “comum” em virtude da economia que essa modalidade licitatória permite
gerar.
Como você enxerga essa tentativa de ampliação de adoção do Pregão?

Quando da instituição do uso do pregão, a intenção do legislador era que tal regime fosse
um procedimento simplificado para contratar, chegando mesmo a constar no texto em
discussão como “bens de prateleira”, ou seja, aqueles que poderiam ser escolhidos pelo
menor preço sem interferência na qualidade.
Porém, o pregão se mostrou tão eficiente, tanto para reduzir o tempo como o custo de uma
contratação, que começou a haver alargamentos do objeto do pregão, o que verificou que,
apesar de resolver a contratação de forma mais ágil e econômica, tal modalidade de licitação
apresentava frequentes falhas, principalmente acerca da qualidade do que foi contratado
ocasionando o consequente comprometimento da boa execução contratual.
Para entender melhor a problemática que levou a conclusão da resposta ofertada, cabe
mencionar a grande dificuldade ao interpretar os dispositivos legais brasileiros, levando em
consideração o idioma utilizado, que por ser tão rico em vocabulário, pode tornar a
interpretação mais complexa e ambígua.
Também não podemos deixar de observar o contexto histórico da formação ética do país,
desde sua colonização, o que levou ao hábito comum do famoso “jeitinho brasileiro” que
nada mais é que, aplicado ao contexto, a distorção do sentido e alcance de nossos dispositivos
para benefício de poucos, valendo da mesma riqueza vocabular para tal.
Inúmeras são as impugnações a editais de pregões buscando invalidar a adoção do pregão
em razão da natureza dos objetos licitados, sob o argumento que não seriam tais bens ou
serviços comuns, e, por isso, não se submeteriam àquela modalidade de licitação.
Porém como definir o “comum”? Como não incorrermos em equívocos semânticos
tornando o conceito de “comum” o contrário a “complexo”.
Nelson de Menezes Pereira, levantou a questão pela ótica simplória do dicionário, para ele
a deturpação do significado do vocábulo não poderia ser mais evidente, eis que “comum”
se contrapõe a “incomum” (raro, extraordinário), ao passo que “complexo” se contrapõe
a “simples” (singelo, incomplexo). Portanto, nada impede a existência de objeto “comum
e complexo”, bem como de objeto “incomum e simples”.

A Lei 10.520/2002, definiu como objetos comuns “aqueles cujos padrões de desempenho e
qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de especificações usuais no mercado”.
Ou seja, caberia tal conceito tanto a contratação de serviços de jardinagem como para
aquisição de helicópteros. (Acórdão n.º 3062/2012-Plenário, TC-004.018/2010-9, rel. Min-
Subst. Weder de Oliveira, 14.11.2012)
A doutrina vem se manifestando sobre o tema, na tentativa de rebater o entendimento que
“comum” e “simples” são sinônimos.

“Em aproximação inicial do tema, pareceu que ‘comum’ também sugeria simplicidade. Percebe-se, a
seguir, que não. O objeto pode portar complexidade técnica e ainda assim ser
‘comum’, no sentido de que essa técnica é perfeitamente conhecida, dominada e oferecida pelo mercado.
Sendo tal técnica bastante para atender às necessidades da Administração, a modalidade Pregão é cabível
a despeito da maior sofisticação do objeto.”[2] Jessé Torres Pereira Junior, Comentários à Lei de
Licitações e Contratos da Administração Pública, 7ª ed., Renovar, 2007, p. 1054

“[...] o objeto comum para fins de cabimento da licitação por Pregão não é mero
sinônimo de simples, padronizado e de aquisição rotineira. Bens e serviços com tais
características estão incluídos na categoria de comuns da Lei 10.520/2002, mas não só. Bens e
serviços com complexidade técnica, seja na sua definição ou na sua execução,
também são passíveis de ser contratados por meio de Pregão. O que se exige é que
a técnica neles envolvida seja conhecida no mercado do objeto ofertado,
possibilitando, por isso, sua descrição de forma objetiva no edital”.[3] Vera
Scarpinella, in Licitação na Modalidade de Pregão, Malheiros, 2003, p. 81.

Um computador moderno, cheio de circuitos, fios e conexões não é um equipamento


complexo? E devido a tal seria “incomum”, “raro” ou “extraordinário”? Mesmo na minha
ignorância quase completa sobre computadores, acredito que não. Suas concepções são
altamente complexas, porém seus padrões de desempenho e qualidade podem ser
facilmente descritos de forma objetiva em um edital.

Portanto, é comum, aquele bem ou serviço que mesmo possuindo complexidade sua
qualificação pode ser definida objetivamente no edital da licitação.

A problemática aparece quando tentam alargar o uso do pregão para contratações mais
complexas, distorcendo o significado de “comum”, que acima delimitamos, principalmente
no tocante a serviços. Não cabe extensão a contratações que não se pode descrever os
padrões de desempenho e qualidade dos serviços de forma objetiva por meio de
especificações rotineiras e usuais do mercado.

Mesmo se tratando de uma prática vantajosa para a Administração Pública, seja para
garantir uma contratação célere, seja para baixar os preços contratados, a utilização com
distorção de conceitos, prática já utilizada, pode trazer efeitos negativos como a exemplo
de contratações de propostas inexequíveis.

O pregão, criado para dar mais celeridade, economia, transparência e agilidade ao processo
de compra do Estado, com a ampliação no seu uso, corre-se o risco, muitas vezes de ferir
alguns princípios básicos administrativos. Acredito que, para conseguir atingir a excelência
com a ampliação do uso do pregão para compras e serviços de natureza mais complexos,
é preciso um maior preparo e qualificação dos Servidores bem como maior claridade para
os Licitantes das condições do objeto com um edital bem claro, objetivo a fim de sanear
todas as dúvidas sobre o bem “comum” que será comprado ou contratado, assim teremos
o uso adequado do pregão sem desvirtuamento de suas aplicações.

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