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Capít:ulo

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ANALISE DE MODOS DE
FALHA E EFEITOS PARA
EQUIPAMENTOS
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Capítulo VIl - Análise e Modos de Falhas e Efeitos para Equipamentos I 217

INTRODUÇÃO
A sigla FMEA (FAILURE MODE AND EFFECT ANALYSIS) é
uma técnica para conhecer e antecipar a causa e o efeito de cada modo
de falha de um sistema ou produto. É muito utilizada por áreas como
Projeto de Produto e Engenharias de Manufatura e muito aplicada no
segmento automotivo.
Vejamos alguns benefícios:
• Redução do tempo do ciclo de um produto;
• Redução do custo global de projetes;
• Redução de falhas potenciais em serviço;
• Redução dos riscos do produto para o consumidor (responsa-
bilidade civil);
• É uma metodologia para prever defeitos, em vez de detectá-los
e corrigi-los.

O MFMEA (MACHINE FAILURE MODE AND EFFECT


ANALYSIS) é uma adaptação do FMEA à área de Manutenção. É
um método estruturado para estabelecer todos os possíveis modos de
falha, suas causas e efeitos. Com esse levantamento, é possível mudar as
carac(erísticas de projeto ou estabelecer controles para evitar a ocorrência
de falhas e paradas não-programadas durante a produção. Um MFMEA
bem elaborado durante o desenvolvimento de um equipamento reduz
significativamente a possibilidade de ocorrência da maioria das falhas
quanto está em operação.
Buscando uma relação entre MFMEA e Mantenabilidade (índice
que mede o tempo de reparo), um projeto pode ser alterado para a
aplicação da acessibilidade (tem por finalidade evitar a existência de
locais de difícil acesso nos equipamentos).
218 I Engenharia de Manutenção- Teoria e Prática Capítulo VIl - Análise e Modos de Falhas e Efeitos para Equipamentos I 219

7.1 Objetivos 7.2 ETAPAS DE ELABORAÇÃO


Seu principal objetivo é antecipar os modos de falha conhecidos
ou potenciais de um determinado equipamento. Também objetiva Campo "1"
recomendar ações corretivas para eliminar ou compensar os efeitos 1. Primeiramente, a identificação do MFMEA:
da falha. É uma técnica que demanda tempo e dedicação; portanto,
• Item/equipamento: informar descrição usual, ma1s a
não deve ser aplicada a todos os ativos de uma organização, a não ser
potência, tensão etc.;
que seja uma diretriz da sua empresa. Entendo ser muito importante
documentar um MFMEA para máquinas consideradas "gargalo", de • Datas: de liberação para uso, revisões etc.;
alto valor de aquisição ou outra criticidade adotada. A Engenharia de • Áreas envolvidas na análise, equipe e responsáveis;
Manutenção é a área que deve "puxar" para si essa tarefa e divulgar as • Outra informação que julgar necessária.
informações para os demais integrantes da equipe.
A fase de priorização das falhas acontece mediante o fornecimento Campo "2"
de notas (ou conceitos) com peso de acordo com a criticidade. O modo 2. Item: termo geral para designar um subsistema ou componente
de falha tem efeito sobre a segurança se a perda da função ou falha do equipamento:
puder ferir ou matar uma pessoa.
• Denominação do item;
Vocabulário aplicado ao MFMEA:
• Função do componente, sendo toda e qualquer atividade
Risco: é uma ou mais condições com potencial de fazer um que o item desempenha. Por exemplo: Unidade Hidráulica:
componente falhar. transferir óleo do tanque para o cilindro, a uma vazão de
170 litros/minuto.
Perigo: expressa uma exposição em relação a um risco específico.
Campo "3"
Análise de risco: é a análise de criticidade (procedimentos para
identificar, caracterizar, quantificar e avaliar os riscos e seu 3. Modo potencial de falha:
significado).
3.1 Falha: é o impedimento de um componente cumpnr sua
Gerência de risco: é qualquer técnica usada para amenizar a função requerida.
possibilidade de ocorrer uma falha ou reduzir a severidade de suas
3.2 Modo de Falha: é a descrição da forma de como ele deixa de
conseqüências (efeitos).
cumprir sua função.
Detecção: é a avaliação da probabilidade de se encontrar uma
Algumas falhas consideradas:
falha antes que esta ocorra.
• Já ocorridas em componentes similares;
Análise: é a verificação das conseqüências da falha, como por • Observadas durante uma manutenção preventiva ou
exemplo, se o efeito de um acidente aéreo é maior do que um preditiva;
acidente automobilístico.
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• Não ocorridas e que podem ocorrer; Perceba a diferença de entendimento entre "efeito" e "modo",
• Improváveis, mas com alto impacto quando ocorre. do ponto de vista do operador e mantenedor, na seguinte situação:
equipamento parou de funcionar.
Modos de falha básicos:
• Na visão do operador, seria:
• Falha em operar um determinado instante;
Efeito: parada de um equipamento.
• Falha em parar de operar em um determinado instante;
• Falha em operação. Modo da falha: botão "liga" parou de funcionar e não parte.
Causa: falha do módulo eletrônico de gerenciamento do equi-
Exemplo de análise deste Campo "3" pamento.
Um fusível funciona de maneira contínua, num sistema elétrico.
Pode apresentar os seguintes modos de falha: • Na visão de um Técnico em Eletrônica, seria:
• Não atuar (rompimento do filamento para proteger o Efeito: falha no módulo eletrônico de gerenciamento do equipa-
circuito quando a corrente é maior que a especificada); mento.
• Atuar quando o valor da corrente esta abaixo do especificado. Modo da falha: defeito em transistor.
Causa: falha no processo de fabricação do transistor.
Importante
Para identificar o tipo de falha deste componente, poderia Campo "5"
ser informado algo como: "fusível não abre quando a 5. Severidade da Falha
corrente é maior que a especificada" em vez de "fusível não É o índice que determina a gravidade do efeito da falha no
funciona". componente para o equipamento. A atribuição deve ser feita observando
o efeito (transtorno) para o cliente final, como, por exemplo, o Setor de
Campo "4" Produção onde ele está instalado.
4. Efeito Potencial da Falha Tabela de severidade:
O efeito (da falha) é a conseqüência do modo (como ocorre) Severidade Índice
quando age sobre a função de um componente. Ao descrever os efeitos,
Marginal: sem efeito no sistema 1
informe a evidência de como a falha aparece. Descreva também o que Baixa: ocasiona apenas pequenos transtornos 2a3
aconteceria se nada fosse feito para evitar a ocorrência. Moderada: ocasiona razoável transtorno, cliente
reclama 4a6
Não confunda "efeito" com o "modo" da falha. Um modo
Alta: ocasiona grandes danos, sistema inoperante 7a8
de falha pode ter mais de um efeito.
Muito alta: envolve riscos à operação e Segurança 9 a 10
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Campo "6" Campo "8"


6. Causa potencial ou mecanismo da falha 8. Ações preventivas adotadas (já implantadas)
A causa potencial pode ser um defeito de projeto, de qualidade, Neste campo, descreva as ações preventivas recomendadas que
uso indevido de um componente ou outro processo que seja a razão da estão em vigor, como por exemplo, "Inspeção e ajustes a cada final de
falha. Evite informações genéricas e obtenha a causa fundamental, de turno".
maneira a gerar ações eficazes, sejam elas corretivas ou preventivas.
Alguns exemplos de falhas mecânicas em componentes: Campo "9"
• Impacto
9. Controles de detecção das falhas
• Fadiga
• Dimensional Registrar as formas de monitoramento implantadas, como, por
• Material exemplo:
• Lubrificação • Prevenção de ocorrências de falhas;
• Corrosão • Detecção de falhas existentes;
• Choque térmico • Sistemas padronizados de verificação do projeto de equipamento;
• Desgaste
• Verificação de Normas Técnicas;
• Deformação
• Procedimentos de Controle estatístico (gráficos).
• Fratura por fragilidade
• Erosão
Campo "10"
• Adesão
10. ~robabilidade de detecção
Campo "7" É o índice pelo qual podemos avaliar a probabilidade de a falha ser
7. Probabilidade de Ocorrência da falha detectada. Também para este campo, existe uma tabela.

É uma estimativa da probabilidade de ocorrência da falha. Logo, Tabela de Probabilidade de Detecção:


igualmente atribuem-se índices para chance de ocorrer, como nos mostra
Detecção índice
a tabela a seguir:
Muito alta: chance inevitável 1a2
Tabela de Probabilidade de Ocorrência:
Alta: boa chance de detecção 3a4
Probabilidade Índice
Moderada: 50% de chance 5a6
Remota: ocorrência de falha improvável 1
Baixa: não~ provável que seja detectável 7a8
Baixa: pouco provável ou poucas falhas 2a3
Muito baixa: muito improvável de ser detectada 9
Moderada: falhas ocasionais 4a6
Absolutamente indetectável: não será, com certeza 10
Alta: falhas repetitivas 7a8
Muito alta: falha inevitável 9 a 10
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Campo "11" Como reduzir a probabilidade de ocorrência?


11. Índice de Risco (RPN) Instalando dispositivos de maior capacidade de segurança,
instalando um sistema reserva (stand by), entre outros
Os riscos em um MFMEA podem ser quantificados por meio do
conceito RPN (Risk Priority Number- Número de Prioridade de Risco) aplicáveis.
e o índice é obtido pela equação matemática:
Como melhorar a detecção da falha?
RPN = Índice de Severidade X índice de Ocorrência X índice de Instalando dispositivos de inspeção, cómo o poka yoke ou
Detecção outros aplicáveis.
(o resultado desta operação é registrado no Campo "11 ")
Campo "13"
Este índice, obtido pelo produto dos demais, é uma forma de 13. Responsável e data prevista
hierarquizar as falhas. A partir disso, você poderá analisar de duas Neste campo, o registro é definido por um responsável (indicado
maneiras distintas:
pela equipe que participa da montagem do MFMEA) pelas ações
1. Uma falha pode ocorrer freqüentemente mas ter pequeno preventivas recomendadas e pelo preenchimento do Campo "14".
impacto e ser facilmente detectável, sendo assim considerada de
"baixo risco" (menor RPNl. Campo "14"
2. Por outro lado, uma falha que tenha baixíssima probabilidade 14. Resultado das ações recomendadas
de ocorrência, pode ser extremamente grave, merecendo grande Neste campo, o responsável refaz os cálculos do RPN, atribuindo
atenção e sendo considerada de "alto risco" (maior RPN). novos índices para a severidade, ocorrência e detecção, mas somente
após as ações recomendadas estarem implantadas (testadas e aprovadas,
Campo "12"
por serem consideradas eficazes).
12. Ações preventivas recomendadas (não implantadas ou em vias
de ser) A seguir está um exemplo do MFMEA, conforme os campos
As ações preventivas têm como principais objetivos: descritos, de "1" a "14".

• Reduzir a SEVERIDADADE da falha;


• Reduzir a probabilidade de OCORRÊNCIA da falha;
• Aumentar a probabilidade de DETECÇÃO da falha.

Como reduzir a severidade?


Instalando dispositivos, como válvulas de segurança, amortece-
dores, dentre vários outros aplicáveis.
226 I Engenharia de Manutenção- Teoria e Prática

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