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ANATOMIA

HUMANA APLICADA
À EDUCAÇÃO FÍSICA

PROFESSORA

Dr.ª Carmem Patrícia Barbosa


ANATOMIA

NEAD
Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4
Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância;


BARBOSA, Carmem Patrícia.
Anatomia Humana Aplicada à Educação Física. Carmem Patrícia Barbosa.
Maringá - PR.:UniCesumar, 2016. Reimpresso em 2018.
230 p.
“Graduação em Educação Física - EaD”.
1. Anatomia. 2. Humana. 3. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-0437-3
CDD - 22ª Ed. 701.1
CIP - NBR 12899 - AACR/2

Impresso por:

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes e Tiago Stachon, Diretoria de Design Educacional
Débora Leite, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência
Leonardo Spaine, Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Gerência de
Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey,
Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo, Supervisão Operacional de Ensino
Luiz Arthur Sanglard, Coordenador de Contéudo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico Jaime
de Marchi Junior e José Jhonny Coelho Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional
Maria Fernanda Vasconcelos, Ana Claudia Salvadego, Revisão Textual DanielaFerreira dos Santos,
Pedro Afonso Barth, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock.

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Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar

Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande as demandas institucionais e sociais; a realização
desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, de uma prática acadêmica que contribua para o
informação, conhecimento de qualidade, novas desenvolvimento da consciência social e política e, por
habilidades para liderança e solução de problemas fim, a democratização do conhecimento acadêmico
com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência com a articulação e a integração com a sociedade.
no mundo do trabalho. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja
Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: ser reconhecida como uma instituição universitária
as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará de referência regional e nacional pela qualidade
grande diferença no futuro. e compromisso do corpo docente; aquisição de
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume competências institucionais para o desenvolvimento
o compromisso de democratizar o conhecimento por de linhas de pesquisa; consolidação da extensão
meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos universitária; qualidade da oferta dos ensinos
brasileiros. presencial e a distância; bem-estar e satisfação da
No cumprimento de sua missão – “promover a comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica
educação de qualidade nas diferentes áreas do e administrativa; compromisso social de inclusão;
conhecimento, formando profissionais cidadãos que processos de cooperação e parceria com o mundo
contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade do trabalho, como também pelo compromisso
justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar e relacionamento permanente com os egressos,
busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com incentivando a educação continuada.
boas-vindas

Willian V. K. de Matos Silva


Pró-Reitor da Unicesumar EaD

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à A apropriação dessa nova forma de conhecer


Comunidade do Conhecimento. transformou-se hoje em um dos principais fatores de
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar agregação de valor, de superação das desigualdades,
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
e pela nossa sociedade. Porém, é importante Logo, como agente social, convido você a saber cada
destacar aqui que não estamos falando mais daquele vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas tecnologia que temos e que está disponível.
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
atemporal, global, democratizado, transformado pelas modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
tecnologias digitais e virtuais. as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
De fato, as tecnologias de informação e comunicação equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o
informações, da educação por meio da conectividade conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes
e da mobilidade dos celulares. cativantes, ricos em informações e interatividade. É
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá
a informação e a produção do conhecimento, que não as portas para melhores oportunidades. Como já disse
reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.
segundos. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
boas-vindas

Janes Fidélis Tomelin


Pró-Reitor de Ensino de EAD

Kátia Solange Coelho


Diretoria de Graduação e Pós

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
iniciando um processo de transformação, pois quando estes materiais têm como principal objetivo “provocar
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
profissional, nos transformamos e, consequentemente, forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
transformamos também a sociedade na qual estamos em busca dos conhecimentos necessários para a sua
inseridos. De que forma o fazemos? Criando formação pessoal e profissional.
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes Portanto, nossa distância nesse processo de
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível crescimento e construção do conhecimento deve
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam juntos, na transformação do mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
desenvolvendo competências e habilidades, e trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, acadêmica.
autora

Professora Doutora
Carmem Patrícia Barbosa
Tem Doutorado e Mestrado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual
de Maringá (UEM) na área de Concentração Biologia Celular, respectivamente
nos anos de 2002 e 2013. Especialização em Morfofisiologia Aplicada à Educação
Corporal e à Reabilitação pela UEM (2000). Possui graduação em Fisioterapia pela
Universidade Estadual de Londrina (UEL/1997). Desde 2002 é professora das
disciplinas de Anatomia Humana, Fisiologia Humana, Cinesiologia e Biomecânica,
Bases Neurofuncionais do Movimento no Centro de Ensino Superior de Maringá
(UniCesumar) e desde 2012 é professora na área de Anatomia Humana na UEM,
no Departamento de Ciências Morfológicas (DCM) e também no curso de espe-
cialização. Foi membro do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UniCesumar e
faz parte do corpo editorial da revista “Saúde e Pesquisa” da mesma instituição.
Iniciação Científica da UniCesumar e ArquiMudi da UEM. Tem experiência nos cur-
sos de Educação Física, Odontologia, Ciências Biológicas, Enfermagem, Nutrição,
Biomedicina, Fisioterapia e Estética.

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apresentação do material

Anatomia Humana Aplicada à Educação Física


Carmem Patrícia Barbosa

Prezado(a) aluno(a), a palavra Anatomia é originária Vale ressaltar que os estudos da anatomia humana são
do grego e decorre da fusão de “ana” e “tomein”, que realizados no cadáver - nome dado ao corpo, após a
significam, respectivamente, “partes” e “cortar”. Assim, morte, enquanto, este ainda conserva parte de seus
é possível traduzir literalmente a palavra “Anatomia” tecidos. Esse termo, segundo a etimologia popular,
como cortar em partes. Essa palavra foi escolhida teve origem na expressão latina “caro data vermibus”
porque na Grécia antiga a atenção era dada exclu- que significa “a carne dada aos vermes”. Os etimolo-
sivamente ao ato de cortar o que estava implícito no gistas defendem que a palavra deriva da raiz “cado”,
conceito geral da anatomia. Tal fato explica, ao menos que significa “caído”. Estranho, não é? Esse termo
em parte, porque até mesmo nos dias de hoje muitas foi escolhido devido ao fato de que, como o estudo
pessoas se sentem incomodadas ou têm medo de es- anatômico era inicialmente proibido, aqueles que se
tudar anatomia. interessavam pela dissecação muitas vezes o faziam às
Enquanto ciência, a anatomia tem um significado escuras, violando sepulturas e dissecando corpos que
muito mais amplo, pois estuda macro e microscopi- já estavam em estado de putrefação.
camente a constituição e o desenvolvimento do ser Complementarmente, estudos realizados em animais
humano. Sua existência sempre esteve relacionada à originaram a anatomia comparativa por meio da qual
imensa curiosidade do homem em melhor compre- a compreensão da constituição do corpo era realizada
ender as estruturas que o formam e as diferenças que primeiramente em animais para posterior comparação
existem em relação a seus semelhantes, em termos de com seres humanos. Inclusive, a dissecação de animais
constituição e função. prenhes permitiu a observação de fetos e representou
O início dos estudos anatômicos foi difícil, pois princí- o início da embriologia como ciência.
pios éticos e religiosos da época impunham restrições A embriologia (estudo da formação dos órgãos e sis-
ao ato de expor o corpo humano, já que para desven- temas), a citologia (estudo das células) e a histologia
dar os mistérios desta fabulosa “máquina”, a simples (estudo dos tecidos) tiveram seus desenvolvimentos
observação superficial não era suficiente. Por isso, a fortemente marcados pelo surgimento do microscópio.
necessidade de aprofundar tal estudo foi posterior- Isto porque este instrumento possibilitou o estudo
mente saciada pela dissecação (ou dissecção). específico dos elementos constituintes dos seres orga-
A palavra dissecar tem origem latina e é produto da nizados. Vale ressaltar que embora todas estas ciências
fusão de “dis” (separar) mais “secare” (cortar). Assim, sejam consideradas especializações, são vistas como
por meio da dissecação, os órgãos do corpo podem ser ramos da anatomia.
expostos cirurgicamente, de maneira metódica, por Em relação aos principais aspectos históricos da ana-
meio de incisões adequadas que mantêm a organiza- tomia humana, sabe-se que os primeiros esboços ana-
ção natural do corpo. Dessa forma, é possível manter tômicos datam do período paleolítico e que os gregos
os órgãos separados, mas ao mesmo tempo em uma foram grandes responsáveis por seu desenvolvimento.
relação de dependência entre forma e função. No Brasil, a Bahia se destacou como “berço do ensi-
no médico” e, na mesma época, iniciou-se o ensino sistema cardiorrespiratório (composto pelos siste-
médico oficial no Rio de Janeiro. mas circulatório sanguíneo, circulatório linfático e
Atualmente, o estudo da anatomia ainda é realizado respiratório), o sistema digestório (responsável pelo
por meio da dissecação de cadáveres humanos con- processo da digestão), o sistema urogenital (composto
siderados normais, embora, possam existir variações pelos sistemas urinários do genital masculino e genital
anatômicas individuais e diferenças morfológicas em feminino) e sistema neuroendócrino (composto pelos
decorrência da passagem do estado vivo ao cadavéri- sistemas nervoso e endócrino).
co. No entanto, é possível aprender anatomia mesmo Em cada unidade, apresento uma INTRODUÇÃO
sem a dissecação por meio da observação do corpo sobre as generalidades de cada tema, um DESEN-
humano, por sua palpação e pelo estudo da anatomia VOLVIMENTO para apresentar o conteúdo progra-
de superfície (a qual avalia os relevos e depressões mático de cada sistema, CONSIDERAÇÕES FINAIS
que as estruturas anatômicas são capazes de formar). que resumirão o estudo teórico e prático do assunto
Por todo o exposto, pode-se concluir que esta tão bela abordado e ATIVIDADES DE ESTUDO para reforçar
e polêmica ciência se encarrega de estudar o corpo o conteúdo estudado.
humano em detalhes. Seu estudo pode ser feito de Desejo a você, um excelente aproveitamento desta tão
maneira regional, clínica ou sistêmica. Enquanto, no apaixonante ciência. Na verdade, ela sempre foi não
estudo regional (ou topográfico) são apresentados os só apaixonante, mas também intrigante. Prova disso
pormenores de uma determinada região do corpo, pode ser dada ao ler o texto do salmista (nos versos
no estudo clínico as estruturas e as funções são apre- 13 a 16 do capítulo 139) que, mesmo sem grandes
sentadas aos profissionais da área da saúde a fim de recursos tecnológicos ou científicos, não se conteve
habilitá-los a compreender o corpo em um contexto de tanta admiração ao analisar o milagre da criação e
clínico geral. do funcionamento do corpo humano.
No entanto, neste livro, estudaremos a anatomia sistê- Que você se encante conhecendo seu próprio cor-
mica, ou seja, os detalhes de cada sistema que compõe po e que a todo momento descubra as melhores
a fabulosa “máquina” chamada corpo humano. Para formas de favorecer seu desenvolvimento, tanto
tanto, estudaremos o aparelho locomotor (composto no adulto quanto na criança, por meio do pleno
pelos sistemas esquelético, articular e muscular), o conhecimento.
Bom estudo!
Prof.ª Carmem Patrícia.
sum ário

UNIDADE I UNIDADE IV
INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA SISTEMA UROGENITAL
E APARELHO LOCOMOTOR 152 Sistema Urinário
14 Anatomia Humana: 158 Sistema Genital Masculino
Conceito e Introdução ao Estudo
166 Sistema Genital Feminino
16 Divisões do Corpo Humano
174 Considerações Finais
17 Planos e Eixos do Corpo Humano
180 Referências
18 Sistema Esquelético
34 Sistema Articular
UNIDADE V
40 Sistema Muscular SISTEMA NEUROENDÓCRINO
57 Considerações Finais 186 Sistema Nervoso Central (SNC)
64 Referências 199 Sistema Nervoso Periférico (SNP)
209 Sistema Nervoso Autônomo (SNA)
UNIDADE II
212 Sistema Endócrino
SISTEMAS CARDIOVASCULAR
E RESPIRATÓRIO 221 Considerações Finais

70 Sistema Circulatório 227 Referências

90 Sistema Linfático 229 Conclusão Geral

100 Sistema Respiratório


111 Considerações Finais
116 Referências

UNIDADE III
SISTEMA DIGESTÓRIO
124 Função Geral e Divisão do
Sistema Digestório
125 Órgãos do Sistema Digestório
137 Órgãos Anexos
140 Considerações Finais
145 Referências
INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA
E APARELHO LOCOMOTOR

Professora Dr.ª Carmem Patrícia Barbosa

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Anatomia Humana: Conceito e introdução ao estudo
• Divisões do corpo humano
• Planos e eixos do corpo humano
• Sistema esquelético
• Sistema articular
• Sistema muscular

Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar o conceito, a importância, os principais aspectos históricos da anatomia humana e
a nômina anatômica atualizada.
• Elucidar as principais subdivisões do corpo humano.
• Apresentar os planos de tangenciamento e de secção do corpo humano, bem como os eixos
de movimento.
• Estudar as generalidades sobre os ossos, as funções do esqueleto, as divisões do esqueleto,
os tipos de ossos quanto à forma, a constituição e a arquitetura dos ossos, o crescimento, a
nutrição e a inervação óssea, os processos de ossificação, fratura e reparo ósseo, os acidentes
anatômicos dos ossos e os principais ossos do corpo humano.
• Definir articulações e compreender suas funções, classificações, tipos, vascularização,
inervação, movimentos, fatores que afetam, envelhecimento e características das principais
articulações do corpo humano.
• Elucidar funções musculares, tipos de músculos, tipos de contração do músculo estriado
esquelético, vascularização e inervação muscular, classificação funcional do músculo estriado
esquelético, órgãos anexos, generalidades e principais músculos do corpo humano.
unidade

I
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a), o aparelho locomotor é constituído pelos sistemas


esquelético, articular e muscular. Eles agem de maneira integrada e sob o
comando do sistema nervoso para permitir correção postural, equilíbrio
e movimento voluntário.
Enquanto o sistema esquelético é formado por ossos e cartilagens, o
articular é formado por articulações e o muscular por músculos e órgãos
anexos. O sistema esquelético é estudado pela osteologia, o articular pela
artrologia, o muscular pela miologia e os movimentos pela cinesiologia
(MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014).
Embora cartilagem e osso sejam formas especializadas do tecido
conjuntivo, a cartilagem é flexível e o osso é rígido. As articulações ou
junturas são representadas por estruturas que conectam duas ou mais
partes rígidas do esqueleto (ossos, cartilagens e dentes) e embora possam
ser chamadas de junturas, não devem ser chamadas de juntas. Os órgãos
anexos do sistema muscular incluem fáscias de revestimento, bolsas sino-
viais e bainhas fibrosas e sinoviais.
Já ossos, articulações e músculos têm funções diferentes, mas complementa-
res. Ossos suportam e dão forma ao corpo, protegem órgãos internos, atuam nos
movimentos, armazenam íons, fabricam células do sangue e absorvem toxinas. A
maioria das articulações e músculos relaciona-se ao movimento, coordenação e
tônus muscular, peristalse e produção de calor (TORTORA et al., 2010).
O texto abordará estes importantes sistemas e suas especificidades em relação
ao profissional de educação física. Será fundamentado em autores como Dangelo
e Fattini (2011), Moore et al. (2014), Miranda Neto e Chopard (2014) e outros.
A nomenclatura está de acordo com a nômica anatômica atualizada. Todavia, é
necessário utilizar um atlas de anatomia como Narciso (2012) ou Rohen, Yokochi
e Lütjen-Drecoll (2002).
Veremos aspectos relevantes do aparelho locomotor e a prática do exercí-
cio físico, a visão geral da nomenclatura anatômica, segmentação do corpo e
planos e eixos.
Fique atento e aproveite. Bom estudo!
ANATOMIA

Anatomia Humana:
Conceito e Introdução
ao Estudo
FATORES GERAIS DE VARIAÇÃO ANATÔMICA

O
termo “anatomia humana” é mal visto pinça fina, é ideal que o indivíduo tenha cinco dedos
por muitas pessoas. Talvez até para você, em cada uma delas. Já o conceito estatístico conside-
caro(a) aluno(a), isto porque muitos ra normal aquilo que a maioria dos indivíduos apre-
pensam que falar em anatomia é sinô- senta. Por exemplo, a maioria das pessoas tem cinco
nimo de falar de pessoas mortas ou mutiladas. Na dedos em cada mão, por isso, é normal ter cinco e
verdade, a anatomia não tem nada de assustador, não três ou quatro dedos (WATANABE, 2000).
muito pelo contrário. É uma ciência que muito nos Todavia, quando comparamos diferentes in-
tem esclarecido ao longo dos anos. divíduos em um pequeno grupo sempre podemos
A anatomia estuda a estrutura do ser humano e identificar a existência de pequenas diferenças mor-
as relações entre as partes que o formam. O termo fológicas entre eles (faça isso onde você estiver agora
“anatomia” deriva de duas palavras gregas, “ana” e perceba como as pessoas são mesmo diferentes).
e “temnein”, que significam, respectivamente, “em De acordo com Watanabe (2000), quando tais dife-
partes” e “cortar ou incisar”. Assim, esta ciência está renças não prejudicam a função desempenhada pela
amplamente embasada no ato de cortar o corpo hu- estrutura anatômica, diz-se que são apenas “varia-
mano pelo método da dissecção (ou dissecação) a ções anatômicas”. No entanto, quando tais diferen-
fim de melhor compreender sua estrutura externa e ças atrapalham a função da estrutura, elas são ditas
interna (FREITAS, 2004). “anomalias” e, inclusive, podem ser denominadas de
Na anatomia, estudamos o corpo humano consi- “monstruosidades” se impedirem que o indivíduo
derado “normal”, já que a patologia e outras ciências permaneça vivo.
se dedicam ao estudo das doenças que o acometem. Uma variação anatômica pode ser, por exemplo,
No entanto, para definir “normal” em anatomia, as diferentes tonalidades na cor dos olhos de dois ir-
é necessário considerar o conceito estatístico e o mãos. Uma anomalia pode ser a miopia que um deles
conceito idealístico. O idealístico considera normal apresenta. Uma monstruosidade pode ser exempli-
aquilo que é melhor para o desempenho da função ficada quando dois irmãos nascem grudados e um
da estrutura anatômica. Por exemplo, para que a mão deles tem que ser sacrificado para que o outro viva
consiga desempenhar adequadamente sua função de (é o que ocorre com gêmeos siameses ou xifópagos).

14
EDUCAÇÃO FÍSICA

Para que estes conceitos de “normal”, “variação Por fim, é importante destacar que o estudo da
anatômica”, “anomalia” e “monstruosidade” possam anatomia humana pode ser feito de diferentes for-
ser empregados, é necessário saber que alguns fato- mas conforme o objetivo do estudo. Por exemplo,
res podem causar variação. Isto ocorre, por exem- a anatomia pode ser estudada a partir dos sistemas
plo, com a idade do indivíduo, com seu sexo, grupo que compõem o corpo humano (esta é a anatomia
étnico, biótipo e entre outros. Por exemplo, é nor- sistêmica que aprenderemos aqui). Por outro lado,
mal que um bebê apresente os ossos do crânio se- seu estudo pode abranger regiões específicas e en-
parados, mas não é normal que isso ocorra em um tão passa a ser chamada de anatomia topográfica (a
adulto. É normal que uma mulher tenha os ossos da odontologia, por exemplo, estuda anatomia topo-
pelve mais abertos a fim de facilitar o parto pélvico, gráfica da cabeça). Além disso, seu estudo pode ser
mas não é normal que isso ocorra em um homem. É feito por meio de imagens (anatomia radiológica ou
normal que um indivíduo negro tenha a pele escura de imagem), em comparação a seres de outras es-
e os cabelos enrolados, mas não é normal em um ja- pécies (anatomia comparativa), com fins artísticos
ponês. É normal que um indivíduo longilíneo tenha (anatomia artística), em comparação aos diferentes
os membros longos em relação ao corpo, mas não é tipos raciais e morfológicos (anatomia antropológi-
em um indivíduo brevilíneo. ca e biotipológica) etc. (WATANABE, 2000).

NOMENCLATURA ANATÔMICA

Cientistas e profissionais da área da saúde usam uma tos e atualizados, os quais são traduzidos pelas socieda-
linguagem própria ao se referirem às estruturas do des de anatomia de cada país. No Brasil, a terminologia
corpo humano e à forma como a dissecção é feita. é traduzida pela Comissão de Terminologia Anatômica
Por isso, estar atualizado em relação à nomencla- da Sociedade Brasileira de Anatomia (SBA) (CFTA,
tura utilizada é essencial ao estudante de anatomia 2001; FREITAS, 2004; TORTORA et al., 2010).
humana, bem como aos profissionais da saúde. Na Este conjunto de termos empregados fundamen-
anatomia, esta nomenclatura engloba termos gerais e ta-se na forma da estrutura ou em parte dela (como o
especiais originados da língua grega, latina e outras. músculo deltoide, por exemplo), sua situação (artéria
Em conjunto, a Nômina Anatômica, publicada com o vertebral), sua função (glândula lacrimal) e outras pe-
nome de Terminologia Anatômica, tem o objetivo de culiaridades. Vale destacar que a utilização de abre-
evitar que estruturas do corpo humano recebam dife- viações é permitida a fim de facilitar seu uso prático.
rentes denominações em diversos centros de estudos Assim, utiliza-se a. (para artéria), v. (para veia), n.
e pesquisas em anatomia no mundo (DI DIO, 2002). (para nervo), m. (para músculo), lig. (para ligamen-
Considerada um documento oficial que deve ser to), gl. (para glândula) e g. (para gânglio). O plural
obedecida por professores e alunos da disciplina de destes termos normalmente emprega a duplicação da
anatomia humana, a terminologia anatômica é consti- letra utilizada na abreviação, por exemplo, aa. (para
tuída por cerca de 6.000 termos esporadicamente revis- artérias), vv. (para veias) etc. (WATANABE, 2000).

15
ANATOMIA

Divisões do
Corpo Humano
A posição anatômica de descrição ou posição O pescoço é dividido em pescoço anterior (visce-
de referência foi instituída e se tornou de grande ral) e posterior (muscular), também denominado
valia para evitar erros na nomenclatura e no posi- nuca. Segundo Freitas (2004), o tronco também é
cionamento do corpo a ser estudado. Em tal posi- subdividido em tórax (limitado superiormente pela
ção, supõe-se que o cadáver está ereto, com a cabe- clavícula e inferiormente pelo músculo diafragma),
ça em nível horizontal, olhos voltados para frente, abdome (limitado superiormente pelo músculo dia-
pés plantados no chão e direcionados fragma e inferiormente pela abertura
para frente, membros superiores ao superior da pelve) e pelve (localizada
lado do corpo com as palmas das entre os ossos do quadril).
mãos voltadas para frente (MOO- Os membros superiores e inferiores
RE et al., 2014). também são subdivididos em
A partir da posição anatô- uma região conectada ao tron-
mica, as várias regiões do corpo co, denominada cíngulo (ou
são denominadas como cabeça, cintura) e uma parte livre. A
pescoço, tronco, membros su- raiz ou cíngulo do membro
periores e membros inferiores. superior é a cintura escapu-
A cabeça é subdividida em lar e sua parte livre inclui
crânio facial ou viscero- braço, antebraço e mão
crânio e crânio neural ou (sendo sua parte ante-
neurocrânio. Enquanto o rior denominada palma
crânio facial é anterior, menor, cons- e a posterior, dorso). A
tituído por 14 ossos, cujas funções raiz ou cíngulo do membro inferior
se relacionam a abrigar e proteger os é a cintura pélvica e sua parte livre
órgãos dos sentidos e possibilitar a inclui coxa, perna e pé (sendo sua
fonação e a mastigação, o crânio neu- parte superior denominada dorso
ral é posterior, maior, constituído por e a inferior, planta). Articulações
oito ossos os quais estão diretamente conectam as várias partes dos mem-
relacionados à proteção do sistema bros, por exemplo, as articulações do
nervoso localizado em seu interior ombro, cotovelo, quadril e joelhos
Figura 1 - Posição anatômica
de descrição (TORTORA et al.,2010). (FREITAS, 2004). Figura 2 - Partes do corpo humano

16
EDUCAÇÃO FÍSICA

Planos e Eixos do
Corpo Humano
De igual modo, a partir da posição anatômica de O plano coronal é uma secção longitudinal que
descrição, supõe-se a existência de planos imaginá- divide o corpo em porção anterior e posterior deno-
rios que tangenciam a superfície externa do corpo minadas paquímero anterior ou ventral, e paquíme-
a fim de facilitar a localização das estruturas cor- ro posterior ou dorsal. Por fim, o plano transversal
póreas. Tais planos são denominados superior ou divide o corpo em porção superior e inferior deno-
cranial, inferior ou podálico, lateral direito, lateral minadas metâmero superior ou cranial, e metâmero
esquerdo, anterior ou ventral, e posterior ou dorsal inferior ou podálico (FREITAS, 2004).
(MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014).
Plano Sagital
Assim, pode-se afirmar que os olhos são estru-
turas superiores à cicatriz umbilical já que se loca- Plano Coronal

lizam mais próximos ao plano superior ou cranial


do que à cicatriz umbilical. De igual modo, pode-se
afirmar que as escápulas são estruturas posteriores
em relação ao osso esterno uma vez que estão mais
próximas do plano posterior.
Plano Transversal
Embora os planos de tangenciamento facilitem a
localização das estruturas corpóreas, o estudo da ana-
tomia também se faz por meio do corpo seccionado,
lembra? Assim, planos de secção de referência tam-
bém tiveram que ser padronizados. Assim, os termos
“plano sagital”, “plano transversal” (ou horizontal) e
“plano coronal” (ou frontal) foram adotados.
O plano sagital é uma secção longitudinal que
divide o corpo ou qualquer uma de suas partes em
porções direita e esquerda. Se este plano passar exa-
tamente sobre a linha mediana do corpo, ele é cha-
mado de plano sagital mediano, o qual divide o cor-
po em duas metades iguais denominadas antímero
direito e antímero esquerdo.
Figura 3 - Plano Sagital, Coronal e Transverso

17
ANATOMIA

Um dos objetivos do estudo da anatomia humana mente, nesta unidade, pois são de extrema relevân-
é empregar os conhecimentos adquiridos também cia ao profissional de educação física.
no corpo vivo. Dessa forma, existem termos usa- Os movimentos sempre ocorrem em um dos pla-
dos para descrever os diferentes movimentos dos nos (sagital, coronal ou transversal) e por meio de
membros e outras partes corpóreas que podem ser linhas imaginárias denominadas eixos, os quais são
realizados nas articulações móveis do corpo. Tais perpendiculares aos planos. Assim, os movimentos
movimentos são descritos como pares de opostos, de flexão e extensão ocorrem no plano sagital a par-
ou seja, flexão e extensão, abdução e adução, ro- tir do eixo coronal; a abdução e a adução ocorrem
tação medial e lateral, supinação e pronação etc. no plano coronal a partir do eixo sagital; a rotação
(MOORE et al., 2014; TORTORA et al., 2010). To- medial e lateral ocorrem no plano transversal a par-
dos esses movimentos serão abordados, posterior- tir do eixo longitudinal (GRABINER et al., 1991).

Sistema
Esquelético
GENERALIDADES SOBRE OS OSSOS

Ossos são peças rígidas, com formatos variados. Eles no sacro e nos ossos do quadril. Além disso, você
são muito plásticos, ou seja, adaptam-se às estrutu- precisa saber que este número pode sofrer variações
ras vizinhas, inclusive permitindo que tais estrutu- de acordo com características individuais. Por exem-
ras lhes imprimam marcas em decorrência do con- plo, se a pessoa tiver um dedo ou uma costela a mais
tato. Isto pode ser visto, por exemplo, ao examinar a ou a menos. Além disso, esse número total de ossos
face interna da calota craniana. Nessa região aparece no indivíduo adulto também pode ser influenciado
claramente os sulcos venosos e arteriais, além das pelo critério de contagem que foi adotado.
impressões dos giros. Muitas vezes escuto pessoas dizendo que seus
A criança apresenta um total de 350 ossos, mas o pesos na balança não estão altos porque estão “aci-
indivíduo adulto tem este número reduzido para 206. ma do peso”, mas que seu peso está alto porque elas
Você pode se perguntar: “O que ocorre para este nú- têm os ossos largos e pesados. Sorrio quando ouço
mero reduzir tanto”? Na verdade, há uma fusão em isso porque tenho a impressão de que as pessoas se
vários ossos do corpo, por exemplo, no osso frontal, veem como o Wolverine e seus ossos de adamântio.

18
EDUCAÇÃO FÍSICA

Acho que as pessoas imaginam que os ossos pesam extraordinária. Tais funções são prontamente per-
muito mais do que verdadeiramente pesam. Você cebidas quando imaginamos um osso fraturado (o
sabe qual é o peso real dos seus ossos? Na verdade, o fêmur, por exemplo) e temos a clara certeza de que
peso médio dos ossos de um homem adulto de cerca é impossível descarregar peso naquele membro in-
de 80 Kg é cerca de 12 Kg. Assim, não é tanto quanto ferior. Além disso, se você comparar a forma arre-
a maioria das pessoas julgam ser. dondada do seu crânio à forma alongada de seus
Por fim, gostaria de esclarecer que, além dos os- dedos terá clareza de que os ossos são os responsá-
sos convencionais conhecidos por nós desde a vida veis diretos por tais diferenças.
inteira, existem também alguns ossos especiais, por Quando os ossos protegem os órgãos internos,
exemplo, os ossos suturais (que ficam entre as sutu- armazenam íons essenciais, sintetizam células san-
ras do crânio) e os ossos heterotópicos que se for- guíneas e absorvem toxinas, certamente, concluímos
mam nos tecidos moles (como nas coxas de jóqueis que suas funções também são vitais. Ao observar-
em áreas onde a hemorragia se calcifica). mos, por exemplo, a importante ação das costelas e
do osso esterno envolvendo o coração e os pulmões,
e do crânio envolvendo o encéfalo, fica claro o quan-
FUNÇÕES DO ESQUELETO to os ossos nos são relevantes. Além disso, eles atu-
am como reservatórios de cálcio, fosfato e magnésio
Se você acha que a função dos ossos se restringe os quais são essenciais à transmissão sináptica e à
a possibilitar movimentos, você está muito enga- contração muscular.
nado. Na verdade, o esqueleto desempenha várias A síntese de células sanguíneas ocorre por meio
funções, inclusive algumas consideradas vitais da medula óssea vermelha que se localiza no interior
(MOORE et al., 2014). dos ossos (este assunto será esclarecido adiante). E,
De fato, os ossos se relacionam ao movimento por fim, eles são hábeis em absorver toxinas e metais
embora não os produzam. Isto porque quem faz o pesados da corrente sanguínea diminuindo os efei-
movimento acontecer são os músculos e, por isso, tos deletérios destes compostos em outros tecidos
estes são considerados os elementos ativos do movi- (principalmente no fígado e nos rins).
mento (por outro lado, ossos são elementos passivos
do movimento). Dessa forma, os ossos são tracio-
nados pelos músculos em um efeito de alavanca. É DIVISÕES DO ESQUELETO
o que ocorre, por exemplo, quando o músculo qua-
dríceps femoral traciona a tíbia e gera movimento de O esquelético pode ser dividido em duas partes fun-
extensão do joelho. cionais, porém interligadas: o esqueleto axial e o
Outras duas funções dos ossos podem ser esqueleto apendicular. O esqueleto axial é formado
identificadas quando observamos atentamente o pelos ossos localizados na região central do corpo,
corpo humano na posição bípede (em pé). A ha- como aqueles da cabeça (ossos do crânio), pescoço
bilidade dos ossos em suportar o peso corporal (osso hioide e vértebras cervicais) e no tronco (osso
e dar forma aos diferentes segmentos do corpo é esterno, costelas, vértebras e sacro).

19
ANATOMIA

TIPOS DE OSSOS QUANTO À FORMA

Já o esqueleto apendicular é formado pelos ossos Ao avaliar o comprimento, a largura e a espessu-


localizados nas extremidades do corpo, ou seja, nos ra dos ossos, podemos agrupá-los em seis tipos
membros superiores e inferiores incluindo aqueles principais: longos ou tubulares, curtos, laminares
que formam os cíngulos (escápula, clavícula e ossos ou planos, irregulares, sesamoides e pneumáticos
do quadril) (DANGELO; FATTINI, 2011). (WATANABE, 2000).
Os ossos longos ou tubulares têm predomínio
do comprimento em relação à largura e à espessura.
Apresentam uma cavidade central (chamada cavida-
de medular) que abriga a medula óssea. Além disso,
sua parte central é chamada de diáfise e suas extre-
midades são as epífises. Enquanto, a epífise proximal
fica mais próxima do cíngulo do membro, a epífise
distal fica mais distante dele. A região de transição
entre epífise e diáfise recebe o nome de metáfise. O
fêmur é um exemplo deste tipo de osso. Alguns os-
sos têm características semelhantes, mas não apre-
sentam cavidade medular e, por isso, são chamados
de alongados ao invés de longos.
Ossos curtos têm os três diâmetros (comprimen-
to, largura e espessura) equivalentes apresentando
forma cuboide. É o que ocorre, por exemplo, com os
ossos carpais e tarsais. Por outro lado, os ossos lami-
nares ou planos são largos e pouco espessos. Geral-
mente, esses ossos têm função protetora, como os os-
sos planos do crânio (o parietal é um bom exemplo).
Já os ossos irregulares (como o próprio nome já
revela) têm formatos variados sem predomínio es-
pecífico do comprimento, da largura ou da espessu-
ra. São exemplos os ossos da face e as vértebras.
Os ossos sesamoides são também chamados de
ossos intratendíneos ou periarticulares, pois se desen-
volvem em alguns tendões e são encontrados onde os
tendões cruzam as extremidades dos ossos longos. As-
sim, eles protegem os tendões contra desgastes e po-
Figura 4 - Esqueleto axial x Esqueleto apendicular dem mudar seu ângulo de inserção. A patela é um de-

20
EDUCAÇÃO FÍSICA

CONSTITUIÇÃO E ARQUITETURA DOS


OSSOS

les. Todavia, algumas pessoas podem apresentar ossos Quando você observa atentamente um osso, é co-
sesamoides nas mãos e pés como variação anatômica. mum achar que se trata de um tecido inerte, seco e
Os ossos pneumáticos apresentam cavidades até sem vida. Todavia, muito pelo contrário, o tecido
contendo ar em seu interior. Localizam-se no crânio, ósseo é vivo, dinâmico e se desenvolve e cresce por
por exemplo, o osso frontal, a maxila, o esfenoide e o meio de um metabolismo muito ativo. Pra você ter
etmoide. Suas cavidades são revestidas por mucosa e uma ideia, os ossos são renováveis, em média, a cada
são chamadas de seios. Devido ao fato de drenarem dois anos. Isto significa que o fêmur ou o crânio que
seu conteúdo mucoso para a cavidade nasal podem você tem hoje, não são os mesmos que você tinha
ser chamados, em conjunto, de seios paranasais. há dois anos e nem serão os mesmos que você terá
daqui a dois anos. Fantástico, não?
A constituição do tecido ósseo também é fabulosa,
pois os ossos são constituídos a partir de três compo-
nentes principais: água, matriz óssea orgânica e matriz
óssea inorgânica (DANGELO; FATTINI, 2011).
A água representa cerca de 25% da estrutura
óssea. Todavia, é importante ressaltar que esta pro-
porção é maior em recém-nascidos e crianças, e vai
diminuindo à medida que o envelhecimento ocorre.
Por isso, o envelhecimento faz com que os ossos fi-
quem mais sujeitos a sofrerem faturas as quais, em
idosos, são chamadas de “fratura em galho seco”.
Crianças têm “fratura em galho verde”. Além disso,
ossos de idosos normalmente apresentam maior di-
ficuldade para consolidação de fraturas uma vez que
a quantidade de matriz orgânica diminui.
A matriz orgânica também representa cerca de
25% da estrutura óssea e é constituída por prote-
oglicanas e colágeno. Assim, esta matriz é rica em
proteínas que dão resistência à tensão e à tração às
quais os ossos estão sujeitos diariamente. Por isso,
a matriz orgânica está diretamente relacionada à
maleabilidade óssea, ou seja, sua ausência pode
Figura 5 – Comparação entre os tipos de ossos: a) exemplo de osso irregular,
causar doenças, por exemplo, a doença dos ossos
b) exemplo de osso sesamoide e c) exemplo de osso longo de vidro. Nesse caso, os ossos não resistem à tensão

21
ANATOMIA

e à tração que os músculos lhes impõem e se tor- esponjosos ou trabeculares. No osso compacto, as
nam fragilizados e quebradiços, mesmo aos meno- trabéculas ósseas estão justapostas e formam uma
res esforços. Sobre a matriz orgânica se deposita a estrutura pouco porosa e com alta capacidade de
matriz inorgânica. resistência para sustentação de peso. Assim, atuam
A matriz inorgânica representa cerca de 50% como colunas que suportam a descarga de peso.
da estrutura óssea. É constituída por sais minerais Em contrapartida, no osso esponjoso as tra-
(principalmente, fosfato de cálcio e carbonato de béculas ósseas não estão justapostas, mas deixam
cálcio) os quais formam a hidroxiapatita que dá ao espaços entre si os quais são preenchidos por ar.
osso resistência à compressão. Deficiência nos com- Essa disposição origina uma estrutura altamente
ponentes dessa matriz também pode tornar os ossos porosa e adaptada à absorção de impacto uma vez
fragilizados e quebradiços. que o ar presente em meio às trabéculas ósseas
O tecido ósseo pode se organizar em dois tipos funciona como um coxim aerífero que amortece
principais de ossos: os compactos ou corticais e os a descarga de peso.

Figura 6 - Osso compacto e esponjoso

22
EDUCAÇÃO FÍSICA

É importante que você saiba que a distribuição de cas possibilita a manutenção da saúde óssea minimi-
tecido ósseo compacto e esponjoso nos ossos não é zando o aparecimento de fraturas espontâneas.
uniforme, mas depende das solicitações biomecâni- A arquitetura dos ossos planos do crânio merece
cas impostas aos ossos, ou seja, varia de acordo com destaque, pois é adaptada à proteção do encéfalo alo-
a função exercida pelo osso, com a tração e com a jado em seu interior. Em tais ossos, uma camada de
pressão a que os ossos são submetidos. Assim, em- osso esponjoso, chamada díploe, fica interposta entre
bora todos os ossos tenham uma fina camada su- duas lâminas de osso compacto (uma lâmina externa
perficial de osso compacto ao redor de uma massa e outra interna). Assim, quando uma força é imposta
central de osso esponjoso, ossos longos adaptados à à lâmina externa de osso compacto, a díploe absorve
descarga de peso (como o fêmur, por exemplo) apre- parte desta força (uma vez que em seu interior existe ar
sentam maior quantidade de osso compacto próxi- interposto às trabéculas ósseas) minimizando as chan-
mo da parte média da diáfise onde tendem a se cur- ces da lâmina interna de osso compacto se fragmentar
var. O mesmo não acontece, por exemplo, nos ossos e lesionar o tecido nervoso adjacente. Na díploe, há
longos que não recebem grandes descargas de peso medula óssea vermelha e por ele passam as veias.
(por exemplo, úmero) ou nos ossos carpais e tarsais.
O efeito piezoelétrico explica parcialmente as
diferenças na arquitetura dos ossos submetidos ou
não à descarga de peso e à tração óssea. Embora
a descarga e a tração ocorram constantemente em
nosso dia a dia, normalmente elas são maiores ao Figura 7 - Díploe

realizarmos exercícios físicos (MIRANDA NETO;


CHOPARD, 2014). O tecido ósseo compacto está disposto em unidades
Segundo o efeito piezoelétrico, regiões ósseas onde chamadas ósteons ou sistema de Havers. Em volta
ocorre compressão ficam sujeitas a potenciais elétricos destes canais existem lamelas concêntricas (anéis de
negativos, enquanto nas demais regiões do osso apare- matriz extracelular rígida e calcificada), entre as quais
cem potenciais elétricos positivos. Onde há potencial há pequenos canais (lacunas) contendo osteócitos que
elétrico negativo, células ósseas sintetizadoras de ossos se comunicam entre si. Canalículos minúsculos com
são ativadas fazendo deposição óssea proporcional ao líquido extracelular irradiam-se pelos ossos fazen-
estímulo dado. Dessa forma, a tensão óssea estimula a do difusão de oxigênio e nutrientes por todo o osso
síntese de matriz orgânica e a deposição de sais mine- e drenando resíduos. Vasos sanguíneos, linfáticos e
rais (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). nervos provenientes do periósteo penetram no osso
Esse princípio é facilmente identificado em atle- compacto por meio de canais perfurantes transversos
tas, os quais têm estrutura óssea diferenciada em re- ou canais de Volkmann. O tecido ósseo esponjoso, ao
lação aos indivíduos sedentários e é aplicado à reabi- contrário, não contém ósteons. Ele é leve (o que reduz
litação física de pacientes tetraplégicos que perdem o peso total dos ossos) e tende a se localizar onde não
a capacidade de manter o ortostatismo. Para estes há grandes forças ou onde as forças são aplicadas a
pacientes, a pedestação por meio de mesas ortostáti- partir de muitas direções (MOORE et. al, 2014).

23
ANATOMIA

mente renovado (lembra que, em média, o esque-


leto se renova a cada dois anos?). No entanto, sua
ação excessiva pode causar osteopenia que pode
evoluir para osteoporose.

ESTRUTURA DO OSSO LONGO


Ósteon Medula óssea amarela
Canal Osteonico
Osso compacto

Osteócito
Osteoblasto
Periósteo
Osteoclasto
Célula
osteoprogenitora

Figura 8 - Ósteon

Cartilagem Osso Ósteon


A manutenção da saúde dos ossos depende da atuação
das células que os compõem: os osteoblastos, osteóci-
Células do tecido ósseo
tos e osteoclastos (MIRANDA NETO; CHOPARD,
2014). Os osteoblastos são células jovens, originadas
de células osteoprogenitoras, com grande capacida-
de de divisão celular e, portanto, formadoras de osso. Osteócito Osteoblasto Célula osteoprogenitora Osteoclasto

Elas sintetizam e secretam fibras colágenas e outros Figura 9 - Células ósseas

componentes orgânicos necessários à formação da


matriz extracelular e iniciam a calcificação. À medida A ação das células ósseas depende de diversos fatores
que são recobertos por matriz, tornam-se presos em como idade, hereditariedade, nutrição, doença, trau-
suas secreções e se transformam em osteócitos. ma, gravidez, esforço funcional e influência hormo-
Os osteócitos são considerados células ósseas nal. Em relação aos hormônios, os ossos sofrem forte
maduras relacionadas à manutenção do tecido ós- influência do hormônio do crescimento (GH), dos
seo e, por isso, são as principais células desse tecido. hormônios sexuais (testosterona, estrógeno e proges-
Assim como os osteoblastos, não sofrem divisão ce- terona), da calcitonina (hormônio tireoidiano) e do
lular (apenas células osteoprogenitoras se dividem). paratormônio (ou hormônio paratireoidiano).
Já os osteoclastos são células grandes que re- Enquanto o GH, os hormônios sexuais e a cal-
sultam da fusão de até 50 monócitos. Por meio de citonina atuam como hormônios osteogênicos
sua margem pregueada (lacunas de Howship), elas ativando osteoblastos, o paratormônio estimula a
liberam enzimas proteolíticas que englobam e so- degradação da estrutura óssea por estimular os os-
lubilizam cristais que contêm cálcio dissolvendo teoclastos. Isto explica o fato da osteoporose (do-
as matrizes ósseas. Assim, estão diretamente rela- ença que torna os ossos progressivamente mais po-
cionadas à renovação óssea, uma vez que o tecido rosos) ser mais comum na velhice e nas mulheres
ósseo sofre reabsorção e reelaboração durante toda após a menopausa. Nelas, há redução do estrógeno
a vida fazendo com que o esqueleto seja constante- e da renovação da matriz orgânica.

24
EDUCAÇÃO FÍSICA

Além disso, no indivíduo com osteoporose, de- inferiores). Nos ossos longos, o osso esponjoso da
vido à atuação excessiva dos osteoclastos causando diáfise é substituído pela cavidade medular a qual
osteólise, o nível de cálcio no sangue pode subir abriga a medula óssea. Essa medula pode ser verme-
causando complicações como depósito do cálcio lha ou amarela. A vermelha é um órgão hematopoi-
nas articulações e rins, e hipercoagulação sanguínea ético, ou seja, produz células sanguíneas. A amarela
(causando embolia pulmonar, acidente vascular en- perde esta função em decorrência do próprio enve-
cefálico isquêmico etc.). lhecimento e se torna altamente gordurosa.
Vale lembrar que deficiência na ingestão de de- Uma medula óssea anormal ou cancerosa pode
terminados nutrientes pode enfraquecer os ossos. ser substituída por uma medula óssea vermelha sau-
É o caso, por exemplo, das proteínas (uma vez que dável a fim de reestabelecer as contagens normais de
aminoácidos são necessários para formar colágeno), células sanguíneas por meio de um transplante de
vitamina C (que estimula a síntese do colágeno), vi- medula óssea. A medula óssea vermelha saudável
tamina D (que é responsável pela absorção do cálcio pode ser fornecida por um doador do qual é retira-
e do fosfato do intestino; é ativada pela exposição da, sob anestesia, da crista ilíaca e injetada na veia
ao sol) e vitamina A (que ajuda a fazer com que os do receptor em um processo muito semelhante a
ossos respondam adequadamente à tensão). uma transfusão de sangue. Um procedimento mais
moderno envolve o transplante de células do cordão
SAIBA MAIS umbilical (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014).

Estrutura óssea
Embora as vitaminas A e D sejam importantes
Medula óssea amarela
para os ossos, o excesso de vitamina A acelera Osso esponjoso
a ossificação causando cessação precoce do
Vasos sanguíneos
crescimento corporal. Além disso, deficiência de Cartilagem articular
vitamina D pode causar raquitismo na criança e
osteomalácia no adulto. Ambas são doenças ca-
racterizadas pela baixa absorção de cálcio pelo
intestino e má calcificação da matriz óssea cau-
sando amolecimento e deformação dos ossos.
Linha epifisial Periósteo
Fonte: Guyton e Hall (2011).
Figura 10 - Tipos de medula óssea

Ainda em relação à constituição e arquitetura dos Pericôndrio, endósteo e periósteo são camadas de
ossos, é importante estudarmos a medula óssea (alo- tecido conjuntivo fibroso que revestem os elemen-
jada no interior de alguns ossos), e as camadas de tos do esqueleto. O pericôndrio faz o revestimen-
revestimento dos ossos (o pericôndrio, o periósteo to das cartilagens nutrindo suas faces externas; o
e o endósteo). A medula óssea está presente em pra- endósteo reveste internamente a cavidade medular
ticamente todos os ossos do feto e em alguns ossos e contém uma única camada de células formadora
dos adultos (como costelas, osso esterno, ossos do de osso; o periósteo faz o revestimento externo dos
quadril, crânio e ossos dos membros superiores e ossos, é capaz de depositar mais osso (sobretudo

25
ANATOMIA

durante a consolidação de fraturas ou o crescimen- lheres e 21 anos para homens, ela se fecha, ou seja,
to ósseo), formar uma interface para fixação dos suas células param de se dividir e o osso substitui a
tendões e dos ligamentos, proteger o osso e ajudar cartilagem permanecendo apenas a linha epifisial. A
na nutrição do tecido ósseo. O periósteo se fixa ao clavícula é o último osso a parar de crescer.
osso subjacente pelas fibras perfurantes (de Shar-
Cartilagem articular Periósteo Cartilagem epifisial
pey) – feixes espessos de colágeno que se estende
Osso esponjoso Osso compacto
do periósteo até o interior da matriz óssea (MI-
RANDA NETO; CHOPARD, 2014).

Periósteo Endósteo Pericôndrio

Epífise Diáfise Epífise

Figura 12 - Periósteo e lâmina epifisial

NUTRIÇÃO E INERVAÇÃO ÓSSEA

Você já sofreu alguma fratura? Se já, sabe que dói


muito e que pode ocorrer sangramento e hema-
toma na região. Mas você sabe por que tais coisas
acontecem? A dor se deve ao fato dos ossos serem
abundantemente inervados e o sangramento ocorre
porque eles são muito vascularizados.
Figura 11 - Pericôndrio, periósteo e endósteo Vasos sanguíneos e nervos penetram a estrutura
óssea a partir do periósteo. Assim, as artérias perios-
CRESCIMENTO ÓSSEO teais penetram a diáfise dos ossos longos passando
por canais perfurantes e irrigam o periósteo e a par-
As estruturas responsáveis pelo crescimento ósseo em te externa do osso compacto. Além disso, próximo
comprimento e em espessura são diferentes. Enquan- ao centro da diáfise uma grande artéria nutrícia pe-
to, o crescimento em espessura dos ossos é possibili- netra o osso pelo forame nutrício, chega à cavidade
tado pelo periósteo, o crescimento em comprimento medular, divide-se em ramos distal e proximal para
é feito pela lâmina epifisial (WATANABE, 2000). irrigar o tecido ósseo compacto, esponjoso, medula
O periósteo já foi mencionado anteriormente óssea até as linhas epifisiais. É importante ressaltar
como sendo uma bainha de tecido conjuntivo que que enquanto alguns ossos têm apenas uma artéria
circunda a superfície externa dos ossos em partes não nutrícia (como a tíbia, por exemplo), outros têm
cobertas pela cartilagem articular. Já a lâmina epifisial várias (como o fêmur). As extremidades dos ossos
é uma fina camada de cartilagem hialina localizada são irrigadas por artérias metafisárias e epifisiárias
na metáfise. Por volta dos 18 anos de idade para mu- (MORRE et al., 2014).

26
EDUCAÇÃO FÍSICA

OSSIFICAÇÃO E FRATURA
Vasos sanguíneos e nervos responsáveis
pela irrigação, drenagem e inervação óssea
Você já se perguntou se os fetos têm ossos prontos?
Ou se todos os ossos dos fetos são de cartilagem?
Que tipo de substância pode originar osso?
Bom, para responder estas e outras perguntas,
primeiro é importante você saber que os ossos não
nascem prontos. Eles são gradativamente formados
por um processo contínuo chamado ossificação ou
osteogênese que se inicia na sexta semana de desen-
volvimento. A ossificação ocorre a partir de células
mesenquimais presentes no esqueleto do embrião,
no local onde os futuros ossos serão formados (MI-
RANDA NETO; CHOPARD, 2014).
Embora alguns ossos (como o esfenoide e o tem-
poral) tenham uma ossificação mista, normalmente,
ela ocorre de duas formas: a intramembranosa e a en-
docondral. Na ossificação intramembranosa o osso se
forma diretamente dentro do mesênquima, em uma
Figura 13 – Artérias ósseas região chamada centro de ossificação. Ela ocorre nos
ossos do crânio e na mandíbula, os quais são ditos
A drenagem venosa dos ossos é feita por veias que ossos conjuntivos. Já na ossificação endocondral, pri-
seguem trajetos muito semelhantes aos das arté- meiro células mesenquimais se aglomeram na forma
rias. Assim, as veias que drenam os ossos podem do futuro osso e se diferenciam formando um mode-
ser uma ou duas veias nutrícias (que acompanham lo de cartilagem hialina envolto por pericôndrio. Esse
as artérias na diáfise), veias metafisárias e epifisi- tipo de ossificação ocorre principalmente nos ossos
árias (que acompanham as artérias metafisárias e longos, os quais ditos ossos condrais.
epifisiárias) e veias periostais (que acompanham as Depois do osso formado pode haver, em casos
artérias periostais). de traumas ou doenças, a ruptura do osso caracteri-
De igual modo, os nervos dos ossos acompa- zando algum tipo de fratura. Elas são denominadas
nham os vasos sanguíneos que os suprem. Assim, o conforme a gravidade, a forma ou a posição da linha
periósteo é rico em nervos periostais sensitivos (al- de fratura. Assim, os tipos mais comuns são fratura
guns responsáveis pela dor) e nervos vasomotores exposta, fechada, cominutiva, em galho verde, im-
responsáveis pela vasoconstrição e vasodilatação pactada ou por estresse (fissuras microscópicas, sem
dos vasos regulando o fluxo de sangue para a me- ruptura visível). O reparo de uma fratura é um pro-
dula óssea. Vale lembrar que no periósteo também cesso relativamente lento e sua recuperação deve ser
tem vasos linfáticos. sempre acompanhada por um profissional habilita-

27
ANATOMIA

do que acompanhe todas as etapas descritas porque por meio dos movimentos da Articulação Temporo-
se elas não forem respeitadas, pode haver formação -Mandibular (ATM). (DANGELO; FATTINI, 2011).
de um osso defeituoso. O crânio tem um teto em forma de cúpula (cha-
mado de calvária) e um assoalho (chamado de base)
e é formado por 22 ossos que se articulam sendo
ACIDENTES ANATÔMICOS apenas um deles amplamente móvel, a mandíbula.
Vale lembrar que no interior de dois destes ossos
Os acidentes anatômicos constituem os elementos (os ossos temporais) estão presentes os ossículos da
descritivos para o estudo dos ossos. Eles surgem audição chamados de martelo, bigorna e estribo, os
onde há inserção de tendões, fixação de fáscias, liga- quais não entram nesta contagem (DI DIO, 2002).
mentos, onde artérias penetram os ossos etc. Podem Dos 22 ossos, 8 formam o crânio neural (osso
ser de vários tipos, por exemplo, saliências, depres- frontal, occipital, esfenoide, etmoide, parietais e
sões e aberturas. temporais) e 14 formam o crânio facial ou visceral
As saliências (como os processos, tubérculos, (mandíbula, vômer, nasais, palatinos, maxilas, zigo-
eminências, cristas, espinhas etc.) geralmente estão máticos, lacrimais e conchas nasais inferiores). Lem-
relacionadas a pontos de inserção de músculos e fás- bre-se de que a maxila e a mandíbula têm estruturas
cias. As depressões (como as fossas, sulcos, incisuras destinadas à sustentação dos dentes (processos alve-
etc.) geralmente servem para adaptação a estruturas olares) e por todo o crânio há muitos forames para a
vizinhas. Já as aberturas (como os forames, canais passagem de vasos e nervos.
etc.) geralmente servem para a passagem de estrutu-
ras como vasos e nervos (WATANABE, 2000).

PRINCIPAIS OSSOS DO CORPO HUMANO


Ossos da Cabeça
Os ossos da cabeça são chamados em conjunto de
crânio. Esta estrutura que se parece com um capace-
te ou com um estojo ósseo, tem por principal função
proteger o encéfalo (parte do sistema nervoso central
popularmente conhecida como “cérebro”) que fica
alojado em seu interior. No entanto, o crânio apresen-
ta outras importantes funções, por exemplo, abrigar e
proteger os órgãos dos sentidos (olhos, mucosa olfa-
tória, órgão auditivo, órgão gustativo e do equilíbrio)
por meio de cavidades especiais (como a orbital, na-
sal, meato acústico interno e cavidade oral). Por fim,
o crânio também possibilita a mastigação e a fonação Figura 14 - Crânio

28
EDUCAÇÃO FÍSICA

Exceto a articulação da mandíbula com o osso minuir o peso da cabeça sobre as vértebras cervicais
temporal (que é chamada de Articulação Tempo- e a amplificar o som da voz como uma caixa acústi-
ro-Mandibular ou ATM), as outras articulações do ca. A inflamação de tal mucosa é chamada de sinusi-
crânio ocorrem por meio de suturas (como a sagital, te (TORTORA et al., 2010).
a coronal, a lambdoidea, a escamosa, a internasal e
a intermaxilar). Ossos do pescoço
Estas suturas não estão presentes desde o nasci- Fazem parte dos ossos do pescoço o hioide, as vérte-
mento, pois, inicialmente, entre os ossos do crânio bras cervicais, o manúbrio do esterno (que será des-
existem espaços preenchidos com mesênquima não crito junto com o esqueleto do tórax) e as clavículas
ossificado chamados de fontículos (popularmente (que serão descritas junto ao esqueleto do membro
chamados de “moleiras”). Os fontículos permitem superior) (MOORE et al., 2014).
relativa flexibilidade e possibilidade de crescimento
ao crânio fetal. Os principais são o fontículo ante-
rior (entre o osso frontal e os parietais), o posterior
(entre os parietais e o occipital), os ântero-laterais
(entre frontal, parietal, esfenoide e temporal) e os
póstero-laterais (entre parietal, occipital e tempo-
ral). Esses sofrem ossificação e desaparecem durante
o crescimento do crânio.
Osso hioide

Figura 16 - Ossos do pescoço

O osso hioide é móvel e fica situado na parte ante-


Figura 15 – Fontículos rior do pescoço. Ele é suspenso por músculos e liga-
mentos e não se articula com nenhum outro osso do
Alguns ossos do crânio (frontal, esfenoide, etmoide corpo. Assim, além de fixar os músculos da região
e maxilas) apresentam cavidades ocas contendo ar, anterior do pescoço, ele ajuda a manter as vias aére-
as quais são revestidas por mucosa e chamadas de as abertas. As vértebras cervicais são sete pequenos
seios paranasais (em decorrência de drenarem seu ossos irregulares chamados, respectivamente, de C1
conteúdo mucoso para a cavidade nasal). Tais ossos (ou atlas), C2 (ou áxis), C3, C4, C5 e C6 e C7 (ou vérte-
são classificados como pneumáticos e ajudam a di- bra proeminente).

29
ANATOMIA

Ossos do tronco de manúbrio e nela se identificam as incisuras clavi-


Os ossos do tronco incluem o osso esterno, as costelas, culares e a incisura jugular. Ele se une ao corpo que
as vértebras torácicas, as vértebras lombares, as vérte- é mais longo e estreito, e onde se identificam as in-
bras sacrais e as vértebras coccígeas (DI DIO, 2002). cisuras costais. O processo xifoide é a menor e mais
Esqueleto apendicular
variável parte do esterno. Ele se ossifica por volta
dos 40 anos e nos idosos pode-se fundir ao corpo
Clavícula (antes é cartilagíneo).
Ossos dos Escápula As costelas são 12 pares de ossos planos, curvos,
membros
superiores com alta resiliência e que contém medula óssea. Po-
dem ser verdadeiras, falsas ou flutuantes. As verda-
deiras (do 1° ao 7° par) fixam-se diretamente ao osso
esterno por meio de suas próprias cartilagens cos-
tais. As falsas (do 8° ao 10° par) têm conexão indi-
reta com o osso esterno, pois suas cartilagens costais
são unidas (formando a margem costal). As flutuan-
Ossos do
quadril tes ou anesternais (11° e 12° par de costelas) não se
Ossos dos conectam ao osso esterno.
membros
inferiores As 12 vértebras torácicas são chamadas de T1, T2,
T3, T4, T5, T6, T7, T8, T9,T10, T11 e T12, as 5 lombares são
chamadas de L1, L2, L3, L4 e L5, as 5 sacrais são chama-
Esqueleto axial
das de S1, S2, S3, S4 e S5 e as 3 ou 4 coccígeas são cha-
madas de Co1, Co2, Co3 e Co4 (variação anatômica).
Osso esterno No entanto, as vértebras sacrais e as coccígeas, por
ossificação de seus discos intervertebrais, originan-
Cartilagens
costais do o sacro e o cóccix, respectivamente.
As lombares são as maiores e mais resistentes
Costelas
vértebras da coluna. Seus processos espinhosos são
quadriláteros, largos, espessos e servem para fixação
Vértebras dos grandes músculos do dorso. O sacro é um osso
torácicas
triangular que se posiciona na parte posterior da ca-
vidade pélvica, medialmente aos ossos do quadril,
Figura 17 – Ossos do tronco servindo como forte fundação para o cíngulo do
membro inferior. Na mulher ele é mais curto, largo
O osso esterno é um osso ímpar, plano, localizado e curvo a fim de favorecer a expulsão do bebê du-
na região central e anterior do tórax. Ele é dividido rante o trabalho de parto normal. O sacro apresenta
em três partes até a meia idade quando ocorre sua forames sacrais anteriores e posteriores pelos quais
ossificação. A parte mais larga e superior é chamada passam nervos e vasos sanguíneos.

30
EDUCAÇÃO FÍSICA

SAIBA MAIS hiperlordose. Além disso, o desvio látero-lateral da


CV também é patológico e é chamado de escoliose
Entre os corpos das vértebras ficam inter- (que pode ser “C” à direita ou à esquerda, e em “S”).
postos os discos intervertebrais. Esses discos
são constituídos pelo anel fibroso de fibro-
cartilagem (externamente) e núcleo pulposo
(internamente). Ele é altamente hidratado e
por isso é capaz de absorver impactos impos-
tos à coluna vertebral e permitir movimentos.

Fonte: Kahle et al. (2006).

Para finalizarmos a apresentação do esqueleto do


tronco, é importante apresentarmos as curvaturas
da coluna vertebral (CV). Em vista anterior e pos-
terior a CV deve ser retilínea, mas em vista lateral
ela apresenta curvaturas fisiológicas que permitem
a adequada distribuição do peso corpóreo e, conse-
quentemente, o equilíbrio.
Tais curvaturas começam a se formar ainda na
vida embrionária quando a CV do feto apresenta-se
convexa (em vista posterior) devido à curvatura do
próprio útero e é chamada de curvatura primária.
Quando o bebê começa a sustentar a cabeça, uma Figura 18 – Curvaturas normais da CV

curvatura cervical côncava surge e é chamada de lor-


dose cervical. Ao ficar em pé e sustentar o peso cor- Ossos do membro superior
póreo (em torno de um ano de idade), aparece uma O membro superior é composto por vários ossos
curvatura côncava nas vértebras lombares (lordose (32 no total) que se articulam entre si para permitir
lombar). As regiões torácica e sacral são convexas, ampla mobilidade e realização dos movimentos das
posteriormente, e, por isso, são chamadas de cifoses. mãos, inclusive os de pinça fina. O cíngulo do mem-
Assim, no adulto normal existem quatro curva- bro superior é composto pela clavícula e pela escápu-
turas fisiológicas na CV: Lordose cervical, cifose to- la e tem a função de unir a parte livre do membro ao
rácica, lordose lombar e cifose sacral. No entanto, o esqueleto axial. A parte livre do membro apresenta
aumento destas curvaturas pode se tornar patológico um osso no braço (o úmero), dois ossos no antebra-
passando a caracterizar um quadro de hipercifose ou ço (o rádio e a ulna), treze ossos nas mãos (oito ossos

31
ANATOMIA

carpais e cinco ossos metacarpais) e quatorze ossos músculos que agem sobre o braço, antebraço e mão.
nos dedos (cinco falanges proximais, cinco falanges Enquanto a ulna (o maior osso do antebraço)
distais e quatro falanges médias). Apenas os ossos tem localização medial, o rádio é o osso lateral do
carpais são classificados (quanto à forma) como cur- antebraço cuja extremidade distal se articula com
tos sendo os demais classificados como longos (MI- três ossos do carpo (semilunar, escafoide e pirami-
RANDA NETO; CHOPARD, 2014). dal) para formar a articulação radiocarpal. Rádio e a
ulna se articulam entre si pela membrana interóssea
Clavícula
do antebraço que serve como ponto de fixação de
alguns músculos profundos do antebraço.
Escápula
Os ossos da mão compreendem os ossos carpais
e metacarpais. Os carpais são oito ossos curtos inter-
ligados por ligamentos nas articulações intercarpais.
Úmero
Rádio São dispostos em duas fileiras com quatro ossos cada.
Na fileira proximal estão os ossos escafoide, semilu-
nar, piramidal e pisiforme; na fileira distal estão os
Ulna
ossos trapézio, trapezoide, capitato (maior) e hamato.
Os ossos metacarpais são cinco ossos longos nu-
Ossos carpais merados de I a V, a partir da posição lateral. Consis-
tem de uma base (proximal), um corpo (intermédio)
e uma cabeça (distal). Articulam-se proximalmente
Falanges

com os ossos do carpo e distalmente com as falan-


ges. Os ossos dos dedos são as falanges. São 14 ossos
Ossos metacarpais longos que apresentam base, corpo e cabeça e são
Figura 19 - Ossos do membro superior chamadas de proximal, média e distal. O polegar
tem apenas as falanges proximal e distal.
A clavícula é um osso fino, em forma de “S”, que fica
sobre a primeira costela. Sua posição lhe permite se Ossos do membro inferior
articular com o esterno e com a escápula, além de O membro inferior é composto por vários os-
servir como ponto de fixação para alguns ligamen- sos que se articulam entre si para permitir ampla
tos. Em contrapartida, a escápula é um osso grande, mobilidade e o suporte de peso corporal durante
plano, triangular e posterior que se articula com a a marcha, assim como o equilíbrio do corpo na
clavícula e com o úmero. postura estática. O cíngulo do membro inferior é
Além disso, ela permite a fixação de muitos mús- composto pelos ossos do quadril e pelo osso sacro e
culos. Já o úmero é o osso mais longo do membro su- tem por função unir a parte livre do membro ao es-
perior. Sua extremidade proximal se articula com a es- queleto axial. Já a parte livre do membro apresenta
cápula e sua extremidade distal se articula com o rádio um osso longo na coxa (o fêmur), dois ossos longos
e com a ulna. Ele também permite a fixação de vários na perna (a tíbia e a fíbula), um osso sesamoide na

32
EDUCAÇÃO FÍSICA

região do joelho (patela), doze ossos no pé (sendo quanto, o cíngulo do membro superior não se articu-
sete ossos tarsais e cinco ossos metatarsais) e qua- la diretamente à coluna vertebral, o do membro in-
torze ossos nos dedos (cinco falanges proximais, ferior o faz pela articulação sacroilíaca. Além disso,
cinco falanges distais e quatro falanges médias). Os o encaixe na escápula para o úmero é raso e o fêmur
ossos do quadril e o sacro são irregulares, os tarsais no osso do quadril é profundo. Assim, enquanto o
são curtos, os metatarsais e as falanges são longos membro superior é adaptado a amplos movimentos,
(DANGELO; FATTINI, 2011). o membro inferior é adaptado ao suporte de peso e
à estabilidade articular (GRABINER, et al., 1991).
O fêmur é o maior, mais pesado e mais resisten-
Ossos do quadril
te osso do corpo. Sua extremidade proximal articu-
la-se com o acetábulo do osso do quadril e a distal
Fêmur articula-se com a tíbia e patela. Já a patela é um
osso triangular e sesamoide que se desenvolve no
tendão do músculo quadríceps femoral aumentan-
Patela
do a força de alavanca deste músculo, mantendo a
posição de seu tendão na flexão do joelho e prote-
Tíbia gendo a articulação.
Fíbula Enquanto, a tíbia é o osso medial e sustentador
de peso do membro inferior, a fíbula é paralela e la-
teral à tíbia. Superiormente, a tíbia se articula com o
fêmur e com a fíbula e inferiormente se articula com
Ossos tarsais o osso tálus e com a fíbula (pela membrana interós-
Ossos
metatarsais sea da perna; sindesmose tibiofibular).
Falanges
Os ossos do pé incluem os ossos tarsais e me-
Figura 20 - Ossos do membro inferior tatarsais. Os tarsais (tálus, calcâneo, navicular,
cuboide, cuneiforme lateral, cuneiforme medial e
O osso do quadril do recém-nascido é formado por cuneiforme intermédio) unem-se pelas articulações
três ossos separados por cartilagem: ílio, ísquio e pú- intertarsais. Os metatarsais apresentam uma base
bis. Eles se unem completamente por volta dos 23 (proximal), um corpo (intermédio) e uma cabeça
anos de idade e se articulam anteriormente na sínfi- (distal), e são numerados de I a V a partir da posição
se púbica e, posteriormente, unem-se ao sacro. As- medial. Articulam-se proximalmente com os ossos
sim, o anel ósseo completo formado pelos dois ossos tarsais e distalmente com as falanges.
do quadril e sacro fazem uma estrutura em forma de As falanges (proximal, média e distal) apresen-
bacia, chamada pelve óssea, que dá suporte à coluna tam base, corpo e cabeça, e as articulações que for-
vertebral e aos órgãos pélvicos. mam entre si são chamadas de interfalângicas. Vale
Como visto, existem importantes diferenças lembrar que o hálux (popularmente chamado de
entre o cíngulo do membro superior e inferior. En- “dedão”) apresenta apenas falanges proximal e distal.

33
ANATOMIA

Sistema
Articular
DEFINIÇÃO DE ARTICULAÇÃO

Quem nunca ouviu a vó ou o vô reclamando que tre os vários segmentos do esqueleto, ou seja, estão
está com dor nas “juntas”? Quem nunca ouviu di- mais relacionadas à postura e ao equilíbrio (MOO-
zer que se estalar o dedo engrossa as “juntas” ou se RE et al., 2014).
ficar muito tempo sem movimentar uma articulação Quando as articulações perdem suas funções em
a “junta” seca? Será que essas suposições são fato ou decorrência de doenças articulares graves (por exem-
boato? A fim de respondermos estas e tantas outras plo, artrite), um procedimento cirúrgico chamado de
questões sobre este tema tão complexo, vamos fazer artroplastia pode ser feito. Nele a articulação lesada é
um estudo completo sobre as articulações. substituída por uma articulação artificial.
Em primeiro lugar, você só pode chamar de
articulações ou junturas. Junta não! Em segun-
do lugar, elas são definidas como o conjunto de CLASSIFICAÇÃO DAS ARTICULAÇÕES
estruturas anatômicas que promovem a conexão
entre duas ou mais peças do esqueleto. Se a ar- As articulações podem ser classificadas segundo vá-
ticulação ocorrer entre apenas dois ossos ela é rios critérios, sendo os dois mais utilizados o critério
classificada como simples, mas se acontecer entre funcional (com base nos tipos de movimentos que
mais de dois ossos, ela é chamada de composta permitem) e o critério estrutural (baseado em carac-
(WATANABE, 2000). O restante, abordaremos terísticas anatômicas) (GRABINER, et al., 1991).
nos tópicos que seguem. A classificação funcional está relacionada ao
grau de movimento que a articulação permite. As-
sim, pode ser chamada de sinartrose (quando a arti-
FUNÇÕES DAS ARTICULAÇÕES culação é fixa, sem movimento), anfiartrose (quan-
do a articulação permite pouco movimento) ou
A maioria das articulações relaciona-se à produção diartrose (quando a articulação é muito móvel). Já
de movimentos uma vez que as peças ósseas são a classificação estrutural é baseada na presença ou
tracionadas pelos músculos (durante a contração) e ausência de um espaço (a cavidade articular) entre
se movem ao redor dos pontos de junturas entre os os ossos da articulação, e no tipo de tecido que une
ossos. Todavia, algumas articulações não são muito os ossos. Assim, a articulação pode ser fibrosa, carti-
móveis, mas dão estabilidade às zonas de união en- lagínea ou sinovial.

34
EDUCAÇÃO FÍSICA

A articulação fibrosa tem ossos unidos por processos alveolares da maxila e mandíbula. Vale
tecido conjuntivo fibroso rico em fibras coláge- ressaltar que, embora discretos, os movimentos dos
nas não tem cavidade articular entre os ossos e dentes existem e podem ser percebidos durante pe-
permitem apenas pequenos deslocamentos e mo- quenos rebaixamentos ao serem submetidos a for-
vimentos vibratórios. A articulação cartilagínea tes compreensões (servem para suavizar impactos e
tem ossos unidos por cartilagem hialina ou fibro- evitar que os dentes se partam). São funcionalmente
cartilagem, não tem cavidade articular entre os classificadas como sinartroses.
ossos e também permite apenas pequenos deslo- As articulações cartilagíneas podem ser do tipo
camentos e movimentos vibratórios. Em contra- sincondrose ou sínfise. A sincondrose apresenta
partida, a articulação sinovial tem ossos unidos cartilagem hialina entre os ossos e é funcionalmen-
por tecido conjuntivo denso não modelado em te classificada como sinartrose. Algumas podem ser
forma de cápsula articular, tem cavidade articular temporárias sofrendo ossificação no decorrer da
e apresenta alguns elementos articulares caracte- vida (como a sincondrose esfenocciptal e a lâmina
rísticos e outros especiais. epifisial) e outras podem ser permanentes (como as
As articulações fibrosas podem ser do tipo sutu- articulações entre o osso esterno e as dez primeiras
ra, sindesmose ou gonfose. As suturas são funcional- cartilagens costais).
mente classificadas como sinartroses, são encontra- A sínfise é uma articulação onde os ossos são uni-
das nos ossos do crânio e podem ser planas (quando dos por um disco de fibrocartilagem (por exemplo,
os ossos se encaixam de forma retilínea, como no sínfise púbica, manubrioesternal e intervertebral).
caso da sutura internasal), serrilhada (quando os os- São classificadas como anfiartroses. As articulações
sos se interdigitalizam um no outro, como na sutura sinoviais têm elementos característicos e especiais
sagital) ou escamosa (quando os ossos se sobrepõem que podemos citar: a superfície articular, cartilagem
um ao outro como ocorre entre o parietal e tempo- articular, cápsula articular e líquido sinovial.
ral). A ossificação das suturas geralmente inicia na A superfície articular é a porção de cada osso da
segunda década de vida e termina após 80 anos, re- articulação. Não tem periósteo, mas é coberta por
cebendo o nome de sinostose. cartilagem articular que é avascular (é nutrida pelo
Na sindesmose há uma distância maior entre líquido sinovial), é fina, lisa e escorregadia (a fim de
os ossos e, por isso, existe mais tecido conjuntivo reduzir o atrito entre os ossos e absorver impactos).
fibroso entre eles o qual pode estar disposto como A cápsula articular é uma membrana de tecido
um feixe (ligamento) ou como lâmina (membra- conjuntivo que envolve a articulação vedando-a e
na interóssea). Exemplo: membrana interóssea da unindo os ossos (fazendo coaptação articular). É
perna (sindesmose tibiofibular) e do antebraço amplamente vascularizada e inervada (tanto com
(sindesmose radioulnar). É funcionalmente classi- inervação dolorosa quanto proprioceptiva). É
ficada como anfiartrose. composta pela camada fibrosa (externa) e sinovial
A gonfose ocorre quando uma estrutura cunei- (interna). Enquanto a fibrosa é resistente, permite
forme se ajusta a uma concavidade. É o que ocorre, coaptação, mobilidade e resistência à tração, a si-
por exemplo, na união das raízes dos dentes com os novial sintetiza o líquido.

35
ANATOMIA

O líquido sinovial é viscoso, amarelo-claro, cons- fora da cavidade articular (intracapsulares - como o
tituído principalmente por ácido hialurônico, prote- ligamento cruzado anterior do joelho).
oglinas e glicosaminoglicanas. Ele reduz atrito (pois As bolsas são sacos de tecido conjuntivo revesti-
lubrifica a articulação), absorve impactos (pois man- dos por membrana sinovial e preenchidos por uma
tém os ossos levemente afastados) e elimina calor pequena quantidade de líquido semelhante ao líqui-
produzido nas articulações durante os movimentos. do sinovial. Localizam-se entre pele/osso, tendões/
Além disso, remove microrganismos e fragmen- osso, músculo/osso ou ligamento/osso. Reduzem o
tos resultantes do desgaste articular (pois contém atrito de articulações muito exigidas e sua inflama-
células fagocíticas), nutre e oxigena a cartilagem ar- ção é chamada de bursite. Por fim, bainhas tendíneas
ticular, assim como dela remove o CO2 e os resíduos são bolsas que envolvem tendões que sofrem atrito.
metabólicos. Como é produzido proporcionalmente
ao movimento articular, quando uma articulação
fica imobilizada por muito tempo (para consolidar TIPOS DE ARTICULAÇÕES SINOVIAIS
uma fratura, por exemplo), o líquido torna-se me-
nos abundante e viscoso. Por isso, as pessoas dizem As articulações sinoviais são nomeadas de acordo
que a “junta secou”. Todavia, produzido em excesso com os movimentos que permitem, os quais são in-
(por um processo inflamatório, por exemplo, sino- fluenciados pela forma dos ossos. Assim, conforme a
vite), deve ser aspirado a fim de diminuir a pressão configuração das faces articulares, as articulações si-
intra-articular e a dor (FREITAS, 2004). noviais podem ser do tipo plana, gínglimo, trocoide,
Os elementos especiais das articulações sinoviais elipsoide, selar ou esferoide (TORTORA et al., 2010).
incluem os lábios, os discos articulares, os meniscos, As articulações planas apresentam faces planas e
os ligamentos acessórios, as bolsas e as bainhas ten- permitem movimentos de deslizamento de uma super-
díneas. Os lábios são estruturas de fibrocartilagem fície sobre a outra. Isso ocorre entre os ossos carpais
localizadas em extremidades articulares, geralmen- e tarsais, na articulação sacroilíaca, acromioclavicular,
te côncavas, a fim de ampliar a cavidade e conferir esternoclavicular, esternocostais e vertebrocostais.
maior estabilidade à articulação. As articulações do tipo gínglimo têm superfícies
Os discos articulares e os meniscos são estru- ósseas cilíndricas apresentando depressão em carre-
turas de fibrocartilagem presentes em articulações tel em um osso e saliência correspondente no outro.
muito usadas, como a temporomandibular e o jo- As articulações interfalângicas, do cotovelo e do jo-
elho. Eles melhoram a coaptação articular, aumen- elho são alguns exemplos.
tam a estabilidade, reduzem o atrito e os danos As articulações trocoides têm faces ósseas semi-
causados por impactos, além de distribuírem me- cilíndricas completadas por ligamentos que possibili-
lhor o líquido sinovial. tam movimento de rotação. As articulações rádio-ul-
Os ligamentos acessórios aumentam a coaptação nar proximal e distal, e a articulação atlantoaxial são
articular e podem estar localizados por fora da cavi- exemplos. Já nas elipsoides, uma das superfícies ósseas
dade articular (extracapsulares - como os ligamentos é oval e convexa, e a outra é oval e côncava. As arti-
colaterais do joelho) ou por dentro da cápsula, mas culações radiocarpal e metatarsofalângica são assim.

36
EDUCAÇÃO FÍSICA

MOVIMENTOS DAS ARTICULAÇÕES SI-


NOVIAIS

As selares têm superfície côncava em uma direção e As articulações sinoviais podem apresentar movi-
convexa em outra, com encaixe recíproco em outra su- mento do tipo deslizamento, angular, de rotação ou
perfície óssea. Ocorre, por exemplo, na articulação car- ainda movimentos especiais. No deslizamento, as
pometacarpal do polegar. Por fim, as articulações esfe- faces planas dos ossos se movimentam sem alterar
roides têm superfície esférica articulando-se em uma significativamente o ângulo entre eles. Assim, a am-
cavidade correspondente (como no quadril e ombro). plitude de movimento é limitada. Diferentemente,
nos movimentos angulares o ângulo entre os ossos
da articulação é alterado. Incluem flexão, exten-
são, flexão lateral, abdução, adução e circundução
(GRABINER, et al., 1991).
Flexão e extensão são movimentos opostos.
Na flexão ocorre redução do ângulo entre os os-
sos e na extensão ocorre aumento desse ângulo
(normalmente para voltar à posição anatômica).
Ocorrem no plano sagital, por meio do eixo co-
ronal (exceto a do polegar). Alguns autores con-
sideram a continuação da extensão para além da
posição anatômica como hiperextensão. Na flexão
lateral, o segmento corpóreo é deslocado em dire-
ção ao plano lateral. Ocorre no plano coronal por
meio do eixo sagital. Este movimento ocorre, por
exemplo, no tronco.
Abdução e adução são movimentos opostos. Na
abdução ocorre movimento do segmento corpóreo
para longe da linha mediana do corpo. Na adução,
o segmento corpóreo é deslocado em direção à li-
nha mediana do corpo (normalmente para voltar à
posição anatômica). Ocorrem no plano coronal por
meio do eixo sagital (exceto a do polegar). Para os
dedos, considera-se como ponto de referência uma
linha mediana que passa sobre o dedo médio da
mão e sobre o 2° dedo do pé. Na articulação radio-
carpal, a abdução pode ser chamada de desvio radial
Figura 21 - Tipos de articulações Sinoviais e a adução pode ser chamada de desvio ulnar.

37
ANATOMIA

Na circundução a extremidade distal do seg- VASCULARIZAÇÃO E INERVAÇÃO ARTICULAR


mento corpóreo descreve um círculo. Ocorre como
resultado de uma sequência de movimento que en- As articulações são extremamente inervadas e vas-
volve flexão, extensão, abdução e adução. Na rota- cularizadas (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014).
ção o osso gira em torno do seu próprio eixo lon- Elas recebem sangue de ramos articulares das arté-
gitudinal. Nos membros, se a face anterior é girada rias que passam ao redor da cápsula articular e são
em direção à linha mediana do corpo, a rotação é drenadas por veias que acompanham as artérias.
chamada de medial e se é girada para longe da linha A maioria dos nervos articulares é derivada de
mediana do corpo, é chamada de lateral. nervos que suprem músculos ao redor das articula-
Em algumas articulações podem ocorrer movi- ções. Vale destacar que a inervação articular é mui-
mentos especiais. É o caso, por exemplo, da elevação e to importante, pois está relacionada à sua proteção.
abaixamento. Enquanto na elevação há movimento de Assim, principalmente, a cápsula e os ligamentos
uma parte do corpo para cima, no abaixamento esta articulares apresentam vários tipos de sensibilidade,
mesma parte corpórea move-se para baixo. São pos- como a dolorosa e a proprioceptiva.
síveis na mandíbula, costelas, ombros, osso hioide etc.
Outros movimentos especiais incluem a protração
(ou protrusão), retração (ou retrusão), inversão, ever- FATORES QUE AFETAM O CONTATO E A
são, flexão dorsal (ou dorsiflexão), flexão plantar (ou AMPLITUDE DE MOVIMENTO DAS ARTI-
plantiflexão), supinação, pronação, oposição e reposi- CULAÇÕES SINOVIAIS
ção. Na protração há movimento anterior de uma par-
te do corpo no plano transversal e na retração ocorre o Alguns fatores afetam o contato entre as superfí-
movimento da parte protraída de volta à posição ana- cies ósseas de uma articulação e, consequentemen-
tômica (possível na mandíbula, clavícula etc.). te, limitam a amplitude de movimento articular. Os
A inversão e a eversão ocorrem nas articulações principais são a forma dos ossos que se articulam, a
intertarsais. Enquanto na inversão as plantas movi- resistência das estruturas articulares, a tensão mus-
mentam-se medialmente, na eversão elas se movimen- cular, o contato de partes moles próximas, ação de
tam lateralmente. Na flexão dorsal, o dorso é movido alguns hormônios e o desuso (GRABINER, 1991).
em direção à face anterior da perna e na flexão plantar, A forma dos ossos afeta, por exemplo, a exten-
a planta é movida em direção à face posterior da perna. são completa do cotovelo, pois, tal movimento de-
A supinação e a pronação ocorrem nas articula- pende do encaixe da ulna no úmero. Extrapolar esta
ções radioulnar proximal e distal. Enquanto na supi- limitação óssea pode causar lesão. A resistência das
nação a palma é girada anteriormente, na pronação a estruturas articulares também afeta a amplitude de
palma é girada posteriormente. Por fim, oposição é o movimento articular. Isto pode ser visto, por exem-
movimento do polegar para tocar as falanges distais plo, quando se faz a flexão e a extensão do punho em
dos demais dedos dando-lhe a capacidade de fazer amplitude máxima. Tais movimentos são limitados
movimentos de pinça (possível na articulação carpo- pela tensão dos ligamentos e da cápsula articular os
metacarpal). Reposição é o movimento oposto. quais são bastante resistentes.

38
EDUCAÇÃO FÍSICA

De igual modo, a tensão muscular pode influen- PARTICULARIDADES DAS PRINCIPAIS


ciar na realização do movimento. A flexão do qua- ARTICULAÇÕES DO CORPO
dril associada à extensão do joelho, por exemplo,
pode ser limitada por encurtamento dos músculos As diferentes articulações do corpo têm característi-
posteriores da coxa. cas anatômicas próprias às quais variam, principal-
Quando a flexão do cotovelo é realizada por um mente com as demandas funcionais. Assim, a pre-
indivíduo com hipertrofia do músculo bíceps bra- sença de discos e meniscos na articulação do joelho
quial, pode haver limitação da amplitude de movi- e na articulação temporomandibular, por exemplo,
mento devido o contato das partes moles próximas deve-se ao fato destas articulações receberam des-
(músculos do braço e do antebraço). carga de peso e serem utilizadas abundantemente
Além disso, alguns hormônios podem inter- em toda a vida. Por outro lado, as articulações dos
ferir na mobilidade articular. É o caso da relaxina tórax estão adaptadas não à descarga de peso, mas
(produzida pelos ovários e placenta) que aumenta aos movimentos respiratórios.
a mobilidade da sínfise púbica em gestantes a fim Outro aspecto importante é que as articulações
de facilitar o trabalho de parto. Em contrapartida, o se movem ao redor de eixos de movimento. Assim,
desuso ou a imobilização articular podem reduzir a quanto mais móvel é a articulação, mais eixos pas-
flexibilidade dos ligamentos e tendões. sam por ela. Por exemplo, as articulações do quadril
e do ombro são muito móveis, pois são triaxiais, ou
seja, por elas passam três eixos de movimento. Já a
ENVELHECIMENTO ARTICULAR articulação do joelho e do cotovelo são monoaxiais
e, por isso, desenvolvem menos tipos de movimen-
Os efeitos do envelhecimento sobre as articulações tos. O punho e o tornozelo são biaxiais e podem
variam individualmente segundo fatores hereditá- realizar mais movimentos do que as monoaxiais e
rios e de uso. Incluem a diminuição na produção menos do que as triaxiais.
do líquido sinovial, a fragilidade da cartilagem arti- Normalmente, os movimentos de flexão e ex-
cular, a perda da flexibilidade dos ligamentos, o au- tensão ocorrem por meio do eixo coronal e são
mento do peso corporal e a tendência a deformida- realizados no plano sagital. Já os movimentos de
des corpóreas (principalmente na coluna vertebral e abdução e adução ocorrem por meio do eixo sagi-
nos joelhos). (GRABINER, et al., 2001). tal e são realizados no plano coronal. As rotações
Todavia, todos esses efeitos do envelhecimento ocorrem pelo eixo longitudinal e no plano trans-
podem ser minimizados pela prática de exercícios versal (GRABINER, 2001).
físicos frequentes e por cuidados alimentares (inges-
tão proteica e hídrica adequada, por exemplo).

39
ANATOMIA

SISTEMA MUSCULAR
FUNÇÕES MUSCULARES

A função do músculo é realizar contração e a partir Quanto ao controle voluntário, o músculo pode
desta, vários outros eventos podem ser desencade- ser voluntário (se sua contração ocorrer de acordo
ados, como manutenção da postura (sustentação com a vontade do indivíduo) ou involuntário (se
estática), respiração, movimento cardíaco, movi- sua contração não depender do controle do indiví-
mento peristáltico e manutenção do tônus muscu- duo). Quanto à aparência estriada ou não de suas
lar. Além disso, os músculos dão forma ao corpo, fibras ao microscópio, o músculo pode ser do tipo
são fonte de calor e possibilitam movimentos vo- estriado (aquele que apresenta estrias transversais)
luntários sendo considerados os órgãos ativos da ou liso (sem estrias transversais). Por fim, quanto à
locomoção (MOORE et al., 2014). localização, o músculo pode ser somático (aquele
localizado na parede do corpo ou nos membros) ou
REFLITA visceral (aquele localizado nos órgãos ocos ou nos
vasos sanguíneos).
Você acha que todas as pessoas têm o mesmo Assim, considerando estes três critérios, os
número de músculos? músculos podem ser de três tipos: músculo estria-
Será que indivíduos hipertrofiados têm o mes- do esquelético (movem ou estabilizam ossos e ou-
mo número de músculos do que aqueles que
sofreram atrofia muscular, após terem apre- tras estruturas como os olhos; é somático e volun-
sentado uma lesão medular? tário), músculo estriado cardíaco (forma a maior
Até que ponto o sistema nervoso influencia parte das paredes do coração e dos grandes vasos;
no poder de contração muscular?
é visceral e involuntário) ou músculo liso (forma a
parede da maioria dos vasos sanguíneos e órgãos
ocos; é visceral e involuntário).
TIPOS DE MÚSCULOS Um caso especial ocorre com o músculo diafrag-
ma, pois embora seja involuntário, ele pode sofrer
Os músculos podem ser classificados consideran- breve influência voluntária permitindo períodos de
do diferenças relacionadas ao controle voluntário, à apneia (interrupção da respiração) ou hiperpneia
presença de estrias em suas fibras ao microscópio e à (aumento da frequência da respiração) de acordo
localização (FREITAS, 2004). com a vontade do indivíduo.

40
EDUCAÇÃO FÍSICA

Tipos de músculos

Músculo estriado cardíaco Músculo estriado esquelético Músculo liso


Figura 22 - Tipos de músculos

MÚSCULO ESTRIADO ESQUELÉTICO

A maioria dos músculos estriados esqueléticos ou ventre), e extremidades brancas não contráteis
está fixada aos ossos, cartilagens, ligamentos ou (chamadas de tendões). Os tendões são compos-
fáscias. Todavia, alguns deles podem se fixar a ór- tos principalmente por feixes de colágenos e ser-
gãos (como os olhos), pele (como os músculos da vem para fixação dos músculos. Em alguns mús-
face) ou à mucosa (como os músculos intrínsecos culos aparecem como lâminas planas e passam a
da língua). Tais músculos têm porções carnosas, ser chamados de aponeurose (MIRANDA NETO;
avermelhadas e contráteis (chamadas de cabeça CHOPARD, 2014).

m. Trapézio m. Deltoide
m. Peitoral maior
m. Serrátil anterior
m. Bíceps braquial
m. Latíssimo
m. Reto do abdome do dorso
m. Oblíquo externo
do abdome
m. Glúteo
máximo
m. Reto femoral
m. Bíceps
femoral

m. Gastrocnêmio

Figura 23 - Ventre muscular, tendão e aponeurose

41
ANATOMIA

Uma membrana de tecido conjuntivo denso, cha- As fixações dos músculos (seja por tendão ou apo-
mada epimísio, envolve todo o músculo. Dela par- neurose) costumam ser descritas como origem e in-
tem septos (o perimísio) para o interior do músculo serção. De uma forma geral, origem é a extremidade
os quais envolvem pequenos grupos de células ou proximal que permanece fixa durante a contração
fibras musculares (fascículos). Cada fibra muscular, muscular e a inserção é a extremidade distal que se
por sua vez, é envolvida por uma membrana delica- move durante a contração muscular. No entanto, em
da de tecido conjuntivo, o endomísio. Externamente, alguns movimentos específicos, os conceitos de ori-
os músculos são revestidos por mais uma camada gem e inserção podem ser modificados.
de tecido conjuntivo - a fáscia muscular. Epimísio,
perimísio e endomísio se prolongam além das fibras
musculares para formar os tendões musculares. TIPOS DE CONTRAÇÃO DO MÚSCULO
A fáscia muscular garante a sustentação do mús- ESTRIADO ESQUELÉTICO
culo bem como a preservação de sua anatomia funcio-
nal sustentando vasos e nervos, e permitindo o desli- Existem dois principais tipos de contração muscular
zamento entre músculos próximos. Além disso, forma fásica ou ativa: a isométrica e a isotônica (GRABI-
septos intermusculares que compartimentalizam os NER, 1991). Na contração isométrica, o compri-
músculos do corpo. Quando ocorre aderência entra as mento do músculo permanece igual (ou seja, não
fáscias (devido a processos inflamatórios ou traumas), há movimento), mas a força aumenta para resistir à
os músculos diminuem seu poder de contração. gravidade ou à outra força antagônica. Este tipo de
contração é importante para a manutenção da pos-
Cartilagem articular
tura quando os músculos atuam como fixadores.
Em contrapartida, na contração isotônica o
Tendão
músculo altera seu comprimento enquanto o movi-
mento ocorre. Ela pode ser do tipo concêntrica (o
movimento se dá junto ao encurtamento do múscu-
lo) ou excêntrica (quando o músculo é alongado ao
se contrair, ou seja, sofre um relaxamento gradual
Fáscia muscular e controlado enquanto exerce uma força contínua).
Músculo É importante destacar que a gravidade influencia
estriado esquelético no tipo de contração que o músculo exercerá. Assim,
Perimísio a flexão resistida do cotovelo com o indivíduo em pé
Epimísio é realizada por contração concêntrica dos músculos
Vasos flexores do cotovelo, mas o lento retorno à extensão
Fibras
musculares sanguíneos do cotovelo é feita pela contração excêntrica dos mes-
Fascículo mos músculos. Muitas pessoas imaginam que o re-
Endomísio Osso
torno seja feito pela contração concêntrica do tríceps
Figura 24 - Peri, epi e endomísio + fáscia muscular braquial que é o agonista da extensão do cotovelo.

42
EDUCAÇÃO FÍSICA

Todavia, não é. Isto porque o fato do movimento O agonista (ou motor primário) é o principal
ocorrer contra a ação da gravidade muda a partici- músculo que produz o movimento (como o músculo
pação do músculo no movimento. Assim, quando braquial na flexão do cotovelo). Já o antagonista, é o
o profissional de educação física precisar analisar músculo que se opõe à ação de outro músculo (como
biomecanicamente os músculos envolvidos na reali- o músculo tríceps braquial na flexão do cotovelo). O
zação de um determinado movimento, é necessário músculo sinergista complementa a ação do agonista
que ele faça antes uma avaliação da ação da gravida- (como o músculo braquiorradial na flexão do coto-
de sobre as fibras musculares. velo) ou fixa uma articulação intermediária quando
o agonista passa por mais de uma articulação (como
o músculo extensor dos dedos que é sinergista do
VASCULARIZAÇÃO E INERVAÇÃO MUS- flexor profundo dos dedos ao fixar em extensão to-
CULAR das as outras articulações pelas quais ele passa). Por
fim, o músculo fixador ou postural estabiliza partes
A vascularização sanguínea é abundante nos mús- proximais de um membro mediante contrações iso-
culos, pois dela depende a adequada oxigenação métricas, enquanto ocorrem movimentos nas partes
e nutrição muscular, bem como a drenagem de distais. O músculo deltoide, por exemplo, mantém o
gás carbônico e produtos residuais produzidos no ombro em abdução enquanto um movimento de pin-
próprio músculo. Sem vascularização eficiente, a ça fina é executado nas articulações interfalângicas.
contração muscular é inviável e, por isso, ela geral-
mente é múltipla, ou seja, o músculo é irrigado por
varias artérias adjacentes. ÓRGÃO ANEXOS DO SISTEMA MUSCULAR
De igual modo, a inervação do músculo é res-
ponsável pela contração e pelos estímulos sensiti- São estruturas que facilitam a ação dos músculos ou
vos dos mesmos (dolorosos e proprioceptivos). As- os mantêm íntegros. Os principais órgãos anexos são
sim, a coordenação motora depende da interação as bolsas sinoviais, as bainhas fibrosas e sinoviais, e
entre sistema muscular e sistema nervoso (MOO- os retináculos (FREITAS, 2004).
RE et al., 2014). As bolsas sinoviais são sacos fibrosos revestidos
de membrana sinovial, contendo líquido sinovial
em seu interior. Normalmente, ficam em regiões de
CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL DO MÚS- maior atrito entre um músculo e um osso, entre dois
CULO ESTRIADO ESQUELÉTICO músculos, entre o músculo e a pele suprajacente etc.
Quando inflamadas ou lesadas por esforço repetiti-
De acordo com o papel que o músculo desempenha vo ocorre edema e dor (bursite).
durante o movimento, ele pode ser clasificado como As bainhas fibrosas revestem tendões e fáscias de
agonista, antagonista, sinergista e fixador ou postu- revestimento. São constituídas por tecido conjuntivo e
ral (GRABINER, et al., 1991). se inserem nos ossos formando canais para manterem

43
ANATOMIA

em posição os tendões de músculos longos que passam eretor da espinha e músculo extensor dos dedos),
em seu interior. Já as bainhas sinoviais são encontradas ação e forma (músculo pronador quadrado e mús-
no interior nas bainhas fibrosas. São constituídas por culo adutor longo), ação e localização (músculo fle-
uma camada interna (intimamente aderida ao tendão) xor superior dos dedos e músculo flexor radial do
e uma camada externa (voltada à bainha fibrosa). carpo), origem e inserção (músculo esternocleido-
Sua função é produzir um líquido semelhante ao mastoideo), dentre outros.
líquido sinovial para facilitar o deslizamento dos ten- Além disso, os músculos também podem ser
dões durante a realização dos movimentos. São co- classificados de acordo com outros critérios, por
muns na região dos ossos carpais e tarsais. Por fim, os exemplo, direção das fibras musculares, sua aparên-
retináculos são espessamentos das fáscias. São cons- cia, localização, número de pontos de origem, nú-
tituídos por tecido conjuntivo e servem para manter mero de pontos inserção, número de ventres mus-
em posição os tendões que cruzam as articulações. culares e função.
Quanto à direção das fibras musculares, eles po-
dem ser de fibras paralelas (como o sartório) ou de
fibras oblíquas (como o glúteo máximo). Normal-
mente, músculos de fibras paralelas desenvolvem
Retináculo
bastante amplitude de movimento articular, mas
normalmente têm pouca força. Em contrapartida,
músculos de fibras oblíquas têm bastante força mus-
Retináculo cular, mas pouca amplitude de movimento. Com-
Tendões musculares
plementarmente, os músculos de fibras oblíquas
podem ser do tipo unipenados (como o extensor
longo dos dedos), bipenados (como o reto da coxa)
ou multipenados (como o deltoide).
Vale ressaltar que em alguns músculos, as fibras
convergem de uma larga origem para um estrei-
Figura 25 - Órgãos anexos do sistema muscular to e único tendão dando ao músculo uma arranjo
em forma de leque ou um aspecto triangular (é o
GENERALIDADES DO SISTEMA MUSCULAR que ocorre, por exemplo, com o músculo peitoral
maior). Quanto à aparência, os músculos podem ser
Segundo Moore et al. (2014), existem 656 músculos curtos (como os da mão), longos (em forma de fita;
estriados esqueléticos nominados no corpo huma- como o sartório), plano ou chato (presentes no ab-
no. A nomenclatura é baseada em vários critérios, dome e no dorso; como o trapézio), fusiforme (com
como forma (músculo deltóide e músculo trapézio), uma região central de maior diâmetro em relação às
localização (músculos intercostais e músculo subes- extremidades; como o bíceps braquial) ou circulares
capular), forma e localização (músculo quadrado da ou esfincterianos (que circudam aberturas ou orifí-
coxa e músculo orbicular da boca), ação (músculo cios do corpo; como o orbicular do olho).

44
EDUCAÇÃO FÍSICA

Músculo de
Músculo fusiforme fibras oblíquas

Músculo plano
Músculo de
fibras paralelas

Músculo longo
Músculo curto

Músculo de Músculo de
fibras oblíquas fibras paralelas

Figura 26 - Músculos de fibras paralelas e oblíquas, músculos longos, curtos, planos e fusiformes

Quanto à localização, eles podem ser superficiais A nomenclatura também pode considerar o núme-
(aqueles que ficam logo abaixo da pele têm pelo ro de pontos de origem (bíceps, tríceps e quadrí-
menos uma de suas inserções na derme, sendo ceps), o número de pontos de inserção (bicaudado
chamados de dérmicos; como os músculos da ex- e policaudado), de ventres musculares (digástrico
pressão facial) ou profundos (sem inserções na e poligástrico) ou a função exercida pelo músculo
derme; como músculos profundos do antebraço). (flexor, extensor, abdutor etc.)

45
ANATOMIA

Músculo tríceps

Músculo bíceps

Músculo quadríceps

Músculo
digástrico ou biventre

Músculo policaudado

Músculo
poligástrico ou poliventre

Figura 27 - Da esquerda para a direita: Músculos bíceps, tríceps, quadríceps, digástrico, poligástrico, bi e policaudado

46
EDUCAÇÃO FÍSICA

PRINCIPAIS MÚSCULOS DO CORPO HUMANO

Principais músculos da cabeça e do pescoço


Os músculos da cabeça e do pescoço incluem os da • Levantador do lábio superior e da asa do na-
expressão facial, os mastigatórios, os relacionados riz: levanta o lábio superior e a asa do nariz.
ao osso hioide, os superficiais do pescoço (como • Levantador do lábio superior: levanta o lá-
o esternocleidomastoideo), aqueles relacionados à bio superior fazendo eversão ou “bico” do
lábio superior.
coluna vertebral (pré, para e pós-vertebrais), além
daqueles que constituem a língua, o palato mole e • Levantador do ângulo da boca: traciona o ân-
gulo da boca obliquamente para cima na risada.
a faringe (FREITAS, 2004). Esses últimos não serão
• Zigomático maior e zigomático menor: tra-
estudados aqui, pois, neste momento, serão aborda-
cionam o ângulo da boca obliquamente para
dos apenas os músculos mais relevantes ao profissio-
cima na risada.
nal de educação física.
• Risório: traciona o ângulo da boca horizon-
Os músculos da expressão facial nos permitem
talmente no sorriso.
expressar emoções por meio de suas contrações.
• Orbicular da boca: fecha a rima bucal.
Seus nomes estão diretamente relacionados às suas
• Abaixador do ângulo da boca: abaixa o ân-
funções, são eles:
gulo da boca fazendo a expressão de tristeza.
• Occipitofrontal: com os ventres frontal e • Abaixador do lábio inferior: abaixa o lábio
occipital unidos pela aponeurose epicrâ- inferior fazendo a eversão ou “bico” do lá-
nica; ele eleva os supercílios enrugando a bio inferior.
pele da fronte dando a expressão de aten-
• Mentual: protrai o lábio inferior e enruga a
ção.
pele do mento.
• Prócero: enruga a pele entre os supercílios.
• Bucinador: contrai a bochecha no assopro,
• Corrugador do supercílio: junta os supercí- assovio, bocejo, e puxa o ângulo da boca la-
lios fazendo a expressão de bravo. teralmente.
• Orbicular do olho: fecha a rima palpebral. • Platisma: o mais superficial; abaixa a mandí-
• Nasal: abre a asa do nariz para ampliar a cap- bula, traciona o ângulo da boca para baixo e
tação do ar em esforço respiratório. enruga a pele do pescoço.

47
ANATOMIA

m. Occipitofrontal

m. Prócero m. Orbicular do olho

m. Nasal

m. Zigomático menor
m. Zigomático maior

m. Risório

m. Abaixador do
m. Abaixador do ângulo da boca
lábio inferior
m. Mentual

Figura 28 - Músculos da expressão facial

Os músculos da mastigação incluem o temporal, Os músculos relacionados ao osso hioide dividem-


o masseter, o pterigoide lateral e o pterigoide me- -se em supra e infra-hioideos. Os supra-hioideos
dial. Todos eles movimentam a mandíbula durante elevam o osso hioide durante a primeira fase da de-
a mastigação e a fala. glutição e abaixam a mandíbula contra resistência.
São eles o digástrico, o estilo-hioideo, o milo-hioi-
deo e o gênio-hioideo. Os músculos infra-hioideos
abaixam o osso hioide durante a segunda fase da de-
m. Temporal glutição. São eles: o omo-hioideo, esterno-hioideo,
esternotireoideo e o tíreo-hioideo.

Músculos
supra-hioideos
m. Masseter

Músculos
infra-hioideos

Figura 29 - Músculos da mastigação Figura 30 - Músculos supra e infra-hioideos

48
EDUCAÇÃO FÍSICA

O esternocleidomastoideo é um músculo superficial


do pescoço. Ele flexiona a cabeça (em contração bi-
lateral) e, em contração unilateral, faz a flexão late-
ral da cabeça para o mesmo lado do músculo que
se contraiu associada à rotação da face para o lado
contrário do músculo que se contraiu.

Músculos Músculos
paravertebrais pós-vertebrais
Figura 32 - Músculos para (esquerda) e pós-vertebrais (direita)

Principais músculos do dorso


Os músculos do dorso são fortes, fixam-se às vérte-
m. Esternocleidomastoideo bras e são essenciais para sustentar e mover a colu-
na vertebral. De uma forma geral, podem produzir
movimentos nos membros superiores (como o tra-
pézio, o latíssimo do dorso, o levantador da escápu-
Figura 31 – Músculo Esternocleidomastoideo la e os romboides), relacionam-se aos movimentos
respiratórios (como o serrátil posterior superior e
Os músculos pré-vertebrais estão relacionados à fle- o serrátil posterior inferior) ou agem sobre a colu-
xão da cabeça e do pescoço. Inclui o músculo longo na vertebral permitindo movimento e sustentando
da cabeça, o longo do pescoço, reto anterior da ca- a postura (como o esplênio da cabeça, esplênio do
beça e reto lateral da cabeça. Os músculos para-ver- pescoço, eretor da espinha, seminespinal, multífidos
tebrais realizam a flexão lateral da cabeça e do pes- e rotadores) (DI DIO, 2002).
coço (este movimento também pode ser chamado
de inclinação lateral). Inclui os músculos escalenos
anterior, médio e posterior.
Os músculos pós-vertebrais estão relacionados à
extensão da cabeça e do pescoço. São eles o esplê-
nio da cabeça, esplênio do pescoço, semiespinal da
cabeça, semiespinal do pescoço, multífidos e suboc-
cipitais (incluindo o reto posterior maior da cabeça,
reto posterior menor da cabeça, oblíquo superior da
cabeça e oblíquo inferior da cabeça). Os multífidos
são também rotadores da coluna vertebral. Figura 33 - Músculos do dorso

49
ANATOMIA

Principais músculos do tórax Principais músculos do abdome


Os músculos do tórax incluem músculos que Os músculos do abdome podem estar localizados
unem o esqueleto axial ao apendicular, músculos na parede anterolateral ou posterior do abdome.
da parede anterolateral do abdome, do pescoço, Na parede anterolateral existem cinco pares de
do dorso e alguns que agem como acessórios da músculos: reto do abdome, piramidal, oblíquo ex-
respiração. No entanto, os verdadeiros músculos terno do abdome, oblíquo interno do abdome e
da parede torácica são os levantadores das costelas transverso do abdome. Estes músculos têm dife-
(agem na inspiração), o transverso do tórax (fun- rentes direções de fibras e formam uma sustenta-
ção expiratória), os intercostais externos (atuam ção forte para esta região. Juntos, eles sustentam
na inspiração), os intercostais internos (na expi- e protegem as vísceras abdominais, comprimem
ração), os intercostais íntimos (têm a mesma ação o conteúdo abdominal para manter ou aumentar
dos intercostais internos) e subcostais (com ação a pressão intra-abdominal, opõem-se ao diafrag-
igual a dos intercostais internos). ma, movem o tronco, ajudam a manter a postura,
O diafragma é um comum ao tórax e ao abdo- formam um cinturão muscular e atuam ao tossir,
me e atua como o principal músculo da inspiração. espirrar, vomitar, no parto normal, ao assoar o na-
Apresenta uma parte central aponeurótica chama- riz, na defecação e outras atividades (MIRANDA
da de centro tendíneo, e uma parte muscular divi- NETO; CHOPARD, 2014).
dida em parte esternal, costal e lombar (de acordo Os músculos da parede abdominal posterior
com suas fixações). Ele é perfurado pelo forame da incluem o psoas maior, o psoas menor, o ilíaco e
veia cava, pelo hiato esofágico e pelo hiato aórtico o quadrado do lombo. O psoas maior fica posi-
os quais servem para permitir a passagem, respec- cionado lateralmente à coluna vertebral e parte de
tivamente, da veia cava inferior, esôfago e da artéria suas fibras unem-se ao tendão do músculo ilíaco
aorta (WATANABE, 2000). formando o músculo iliopsoas, que é o principal
flexor do quadril. Além disso, ele faz a flexão la-
m. Peitoral maior
teral do tronco e ajuda a manter a lordose lom-
m. Peitoral menor
bar. O psoas menor é considerado uma variação
anatômica podendo não existir. Enquanto o ilíaco
estabiliza a articulação do quadril, o quadrado do
lombo é flexor lateral e extensor do tronco.

m. Serrátil anterior

Músculos
intercostais externos

Figura 34: Músculos do tórax

50
m. Oblíquo externo do abdome

EDUCAÇÃO FÍSICA

m. Oblíquo externo m. Reto do abdome za a escápula e ajuda a elevar as costelas na inspira-


do abdome
ção profunda. Já o subclávio fica abaixo da clavícula
e tem a função de estabilizar a clavícula durante os
movimentos do membro superior.
O serrátil anterior faz a protrusão da escápula. O
levantador da escápula eleva a escápula. Os romboi-
des (maior e menor), nem sempre separados um do
outro, situam-se profundamente ao trapézio e fazem
a retração e rotação inferior da escápula.
O deltoide é um músculo espesso e forte que re-
cobre o ombro dando-lhe um contorno arredonda-
do. Ele estabiliza a articulação do ombro e faz sua
abdução, flexão e extensão quando suas partes clavi-
cular, acromial e espinal agem, respectivamente.
O redondo maior também é um importante es-
Figura 35 - Músculos do abdome tabilizador do ombro e faz sua adução e rotação me-
dial. Já o redondo menor é completamente coberto
Principais músculos do membro superior pelo deltoide e faz rotação lateral do ombro.
Os músculos do membro superior são muito nu- Acima e abaixo da espinha da escápula ficam os
merosos, principalmente, porque possibilitam os músculos supraespinal e infraespinal, e abaixo dela
precisos movimentos da mão. O trapézio e o latíssi- o subescapular. O supraespinal inicia os primeiros
mo do dorso atuam sobre o membro superior, mas 15° de abdução do ombro (é considerado o abdutor
não serão abordados novamente, pois, já foram “starter”, sendo auxiliado pelo deltoide). O infraes-
descritos no dorso. Além deles, também estão in- pinal, além de ser um poderoso rotador lateral do
clusos o peitoral maior, peitoral menor, subclávio, ombro, ajuda a estabilizar a articulação do ombro. O
serrátil anterior, levantador da escápula, romboide subescapular é o principal rotador medial do braço
maior, romboide menor, deltoide, redondo maior, e também ajuda a estabilizar a articulação do ombro.
redondo menor, supraespinal, infraespinal, subes- Vale ressaltar que os músculos supraespinal, in-
capular, os vários músculos do braço, do antebraço fraespinal, redondo menor e subescapular formam
e da mão (DI DIO, 2002). o chamado “manguito rotador”. Seus tendões fun-
O peitoral maior tem forma de leque. Age para dem-se e reforçam a capsula articular do ombro
aduzir, rodar medialmente, flexionar ou estender o protegendo e estabilizando a articulação. O nome é
braço a partir da flexão. O peitoral menor é quase dado porque, todos eles (menos o supraespinal) são
totalmente coberto pelo peitoral maior. Ele estabili- rotadores do úmero.

51
ANATOMIA

é profundo ao bíceps braquial e é o principal flexor


do antebraço. Já o coracobraquial ajuda a flexionar,
aduzir e estabilizar a articulação do ombro.
O tríceps braquial tem três cabeças (longa, cur-
m. Levantador da escápula
ta e medial). A cabeça longa cruza a articulação do
m. Romboide menor
ombro e a medial é o carro chefe da extensão do
m. Romboide maior cotovelo. A cabeça medial é a mais forte, porém é
recrutada principalmente em atividades contra re-
sistidas. Assim, este músculo é o principal extensor
do antebraço, mas ajuda a estabilizar a articulação
do ombro. O ancôneo, por sua vez, situa-se na face
posterolateral do cotovelo e ajuda o tríceps braquial
a estender o antebraço.
m. Deltoide m. Bíceps braquial

Figura 36 - Músculos relacionados à escápula

m. Trapézio m. Tríceps
Os músculos do braço são divididos em grupo braquial
anterior e posterior, os quais são separados pelo m. Latíssimo
do dorso
úmero. O grupo anterior é flexor do cotovelo (bí-
ceps braquial, braquial e coracobraquial) e o gru- Figura 37 - Músculos do braço

po posterior é extensores (tríceps braquial e ancô-


neo). Os flexores são quase duas vezes mais fortes Os músculos do antebraço compreendem 17
do que os extensores, o que justifica o fato de ser- músculos que cruzam a articulação do cotovelo.
mos melhores para puxar do que para empurrar Alguns atuam exclusivamente nessa articulação,
(MOORE et al., 2014). enquanto outros atuam articulação do punho e/
O bíceps braquial geralmente tem duas cabeças ou dedos. Geralmente, os flexores ficam no com-
(longa e curta), mas 10% das pessoas podem ter uma partimento anterior e têm cerca de o dobro do
terceira cabeça. É triarticular, pois passa pela articu- volume e da força dos extensores que ficam no
lação do ombro, do cotovelo e pela articulação ra- compartimento posterior.
dioulnar proximal. Assim, o bíceps braquial permite Todavia, o músculo braquiorradial embora seja
flexão do ombro, supinação da articulação radioul- flexor do antebraço está no compartimento postero-
nar e flexão do antebraço em supinação. O braquial lateral; o músculo pronador redondo faz a pronação

52
EDUCAÇÃO FÍSICA

do antebraço; o flexor radial do carpo faz a flexão e Principais músculos do membro inferior
abdução do punho; o palmar longo faz a flexão do Os músculos do membro inferior, além de movi-
punho; o flexor ulnar do carpo faz flexão e adução mentar as diversas articulações deste segmento cor-
do punho; o flexor superficial dos dedos flexiona as póreo, permitem a sustentação do peso do corpo e a
articulações interfalângicas proximais dos quatro manutenção da postura bípede em equilíbrio, pos-
dedos mediais; o flexor profundo dos dedos é o úni- sibilitando a marcha. Seu estudo pode ser realizado
co que pode flexionar as articulações interfalângica agrupando-os em grupo anterior da coxa, posterior
distais dos dedos mediais; o flexor longo do polegar da coxa, medial da coxa, músculos da região glútea,
faz a flexão das articulações do polegar; o pronador da região anterior da perna, da região posterior da
quadrado é o agonista da pronação do antebraço (é perna, da região lateral da perna e músculos do pé
auxiliado pelo pronador redondo) e ajuda a mem- (FREITAS, 2004).
brana interóssea a unir o rádio e a ulna. Na região anterior da coxa estão os flexores do
Os músculos extensores do antebraço podem quadril e/ou extensores do joelho e incluem o mús-
estender e abduzir ou aduzir a articulação do pu- culo pectíneo, sartório, iliopsoas, quadríceps femo-
nho (como o extensor radial longo do carpo, o ex- ral e articular do joelho.
tensor radial curto do carpo e o extensor ulnar do O pectíneo faz adução, flexão e ajuda na ro-
carpo) podem estender os quatro dedos mediais tação medial do quadril. O sartório é o músculo
(como o extensor dos dedos, o extensor do indica- mais longo do corpo, é superficial e parece uma
dor e o extensor do dedo mínimo) e podem esten- fita. Age sobre a articulação do quadril e do joe-
der ou abduzir o polegar (como o extensor longo lho fazendo a flexão de ambas. O iliopsoas é um
do polegar, o extensor curto do polegar e o abdutor músculo fixo à coluna vertebral, à pelve e ao fê-
longo do polegar). mur. É o principal flexor da coxa e, em contração
bilateral, faz flexão do tronco sobre o quadril e
aumenta a lordose lombar sendo ativo também na
caminhada em declive.
O quadríceps femoral dá o maior volume para
Músculos extensores
do carpo e dos dedos a região anterior da coxa e é um dos músculos mais
fortes do corpo. É constituído pelos músculos reto
femoral, vasto lateral, vasto intermédio e vasto late-
Figura 38 - Músculos do antebraço ral. Tais músculos se unem na parte distal da coxa
para formar um tendão único, o tendão do músculo
Os músculos da mão têm nomes que identificam quadríceps femoral, cuja continuação é o ligamento
suas funções. Incluem o músculo abdutor curto do da patela que se fixa à tuberosidade da tíbia. O mús-
polegar, flexor curto do polegar, oponente do pole- culo vasto medial e vasto lateral também ajudam a
gar, abdutor do dedo mínimo, flexor curto do dedo manter o alinhamento da patela.
mínimo, oponente do dedo mínimo, lumbricais, in- O reto femoral é biarticular e é mais eficiente em
terósseos e o adutor do polegar. movimentos que associam a flexão do quadril e a ex-

53
ANATOMIA

tensão do joelho a partir de uma posição de hiperex- joelho e se une a outros dois músculos biarticula-
tensão do quadril e flexão do joelho (como na posi- res (o sartório e o semitendíneo) para formar uma
ção preparatória para chutar uma bola de futebol). inserção tendínea chamada “pata de ganso”. Ele é si-
Todos eles agem em conjunto fazendo a extensão do nergista na flexão do joelho e na rotação medial da
joelho. Por fim, o músculo articular do joelho é de- perna quando o joelho está flexionado, e aumenta
rivado do músculo vasto intermédio. Ele é pequeno, a estabilidade do joelho estendido. O obturador ex-
plano e age tracionando a membrana sinovial na ex- terno é pequeno e profundo e atua também como
tensão da perna. rotador lateral da coxa (DI DIO, 2002).
Os músculos da região glútea incluem o mús-
culo glúteo máximo, glúteo médio, glúteo mínimo,
m. Tensor da tensor da fáscia lata, piriforme, obturador interno,
fáscia lata gêmeo superior, gêmeo inferior e quadrado femo-
m. Sartório ral. O glúteo máximo faz extensão e rotação lateral
Músculos adutores do quadril e sua paralisia, embora não afete a mar-
do quadril
cha em superfície plana, afeta a marcha em aclive
(principalmente ao subir escadas). Já o glúteo mé-
dio e o glúteo mínimo têm forma de leque e atuam
m. Reto femoral
estabilizando a pelve, aduzindo e fazendo rotação
medial da coxa.
O tensor da fáscia lata tensiona a fáscia lata e é
flexor do quadril. O piriforme, obturador interno,
gêmeo superior, gêmeo inferior e quadrado femoral
estabilizam a articulação do quadril e são rotadores
m. Vasto medial
laterais da coxa.

Figura 39 - Músculos anteriores e mediais da coxa

Na região medial da coxa estão os músculos adu-


tores (adutor longo, adutor curto, adutor magno,
grácil e obturador externo). O adutor magno tem
m. Glúteo máximo
uma parte adutora (que também faz flexão da coxa)
e uma parte do jarrete (que também faz extensão da
coxa). O grácil cruza as articulações do quadril e do Figura 40 - Músculos da região glútea

54
EDUCAÇÃO FÍSICA

Os músculos da região posterior da coxa são o Já os músculos da região lateral da perna são ever-
semitendíneo, semimembranáceo e o bíceps femo- sores do pé e podem contribuir para a flexão plantar
ral. Todos, menos a cabeça curta do bíceps femoral, do tornozelo. São eles o fibular longo e o fibular curto.
são extensores do quadril e flexores do joelho. A ca- Os músculos da região posterior da perna são o gas-
beça curta do bíceps femoral age apenas na flexão do trocnêmio, sóleo, plantar, poplíteo, flexor longo dos
joelho, pois é monoarticular (ou seja, só atravessa a dedos, flexor longo do hálux e tibial posterior. O gas-
articulação do joelho). trocnêmio forma a parte mais proeminente da pan-
turrilha. Tem duas cabeças (lateral e medial) as quais
se unem por um tendão comum, o tendão do calcâ-
neo, que se fixa ao calcâneo (é o mais forte e espesso
tendão do corpo humano). É biarticular (faz flexão
do joelho e plantiflexão do tornozelo). Todavia, o
músculo não pode exercer toda a sua força nas duas
articulações ao mesmo tempo. Assim, é mais eficaz
com o joelho estendido e é ativado ao máximo quan-
m. Semitendíneo do a extensão do joelho é associada à dorsiflexão.
m. Bíceps femoral
O sóleo é profundo ao gastrocnêmio e é conside-
rado o “burro de carga da flexão plantar”. Isso por-
que é monoarticular (não age sobre o joelho e por
isso atua sozinho na flexão plantar quando o joelho
m. Semimembranáceo está flexionado). Além disso, é antigravitacional atu-
ando na posição ortostática, na marcha e para man-
ter o equilíbrio. É forte, capaz de manter contração
por bastante tempo, mas é lento. Une-se às cabeças
do gastrocnêmio para formar o tríceps sural. Devido
às diferenças entre o gastrocnêmio e o sóleo, pode-se
Figura 41 - Músculos da região posterior da coxa afirmar que: “Se passeia com o sóleo, mas se ganha
o salto à distância com o gastrocnêmio” (MOORE et
Os músculos da região anterior da perna incluem o al., 2014, p. 592).
músculo tibial anterior, o extensor longo dos dedos, O plantar é pequeno, de ventre curto, tendão
extensor longo do hálux e fibular terceiro. O tibial longo e está ausente em torno de 10% das pessoas.
anterior é dorsiflexor da articulação talocrural e in- Atua com o gastrocnêmio. Todavia, é considerado
versor do pé. O extensor longo dos dedos estende um órgão de propriocepção, pois tem muitos fusos
os quatro dedos laterais e faz dorsiflexão do torno- neuromusculares. Além disso, seu tendão pode ser
zelo. O extensor longo do hálux estende o hálux e usado em enxertos (por exemplo, na reconstrução
faz dorsiflexão do tornozelo. O fibular terceiro faz dos tendões da mão), sendo que sua retirada não
dorsiflexão do tornozelo e auxilia na eversão do pé. causa incapacidade.

55
ANATOMIA

O poplíteo é insignificante como flexor do jo- Os músculos do pé localizam-se na face plantar (14
elho, mas durante a flexão, ele ajuda a tracionar o deles), no dorso (2 deles) ou são intermediários
menisco lateral posteriormente; quando em pé com (4 deles). Os músculos da planta estão organizados
o joelho parcialmente flexionado, ele se contrai para em camadas e atuam na fase de suporte da mar-
ajudar o ligamento cruzado posterior na prevenção cha mantendo os arcos do pé e produzindo supina-
do deslocamento anterior do fêmur; em pé com os ção e pronação para permitir que o pé se ajuste ao
joelhos estendidos, faz rotação lateral do fêmur libe- solo irregular. São eles o abdutor do hálux, adutor
rando o joelho para fazer flexão. do hálux, flexor curto do hálux, abdutor do dedo
O flexor longo do hálux e o flexor longo dos de- mínimo, flexor do dedo mínimo, flexor curto dos
dos são potentes flexores das articulações do hálux dedos, quadrado plantar, lumbricais, interósseos
e dos dedos. Já o tibial posterior é inversor do pé e dorsais e plantares. No dorso estão os músculos ex-
plantiflexor do tornozelo. tensor curto dos dedos e extensor curto do hálux.

A C
m. Tibial anterior

Músculos dorsais do pé
m. Gastrocnêmio
(cabeça medial)
B
m. Extensor longo
dos dedos

Figura 43 - Músculos do pé (planta e dorso)

m. Gastrocnêmio Músculos fibulares


(cabeça lateral) (longo e curto)
Figura 42 - Músculos da perna (região anterior A, posterior B, lateral C)

56
considerações finais

O
corpo humano é capaz de realizar movimentos graças ao sistema lo-
comotor formado por ossos, articulações e músculos. A atuação con-
junta destes sistemas, e em concordância com o comando do sistema
nervoso, garante o movimento voluntário harmônico e coordenado.
O sistema muscular é importante, pois representa o elemento ativo do mo-
vimento tracionando ossos que, como alavancas, movem passivamente articula-
ções às quais se conectam. Se qualquer um destes sistemas ou o controle nervoso
falhar, distúrbios motores podem surgir como hiper ou hipotonia muscular, pa-
ralisia, paresia, discinesia e outros.
Além disso, as funções destes sistemas também podem ser prejudicadas por
fraturas, osteoporose, inflamação, alteração imunológica, trauma e outros. Como
estas anormalidades podem comprometer uma atividade primordial do ser hu-
mano que é a deambulação, a saúde e integridade das estruturas anatômicas que
o formam é essencial.
Para garantir que as funções destes sistemas permaneçam adequadas, cuida-
dos simples podem ser assumidos. Uma dieta adequada, por exemplo, com inges-
tão de alimentos ricos em colágeno e cálcio (leite e derivados, brócolis, repolho,
camarão, salmão e ostras). Além disso, exercício físico regular e supervisionado,
alternado com repouso articular e muscular, faz toda a diferença. De igual modo,
reposição hormonal em mulheres pós-climatério, também é indicada.
Por fim, é essencial o pleno conhecimento anatômico e fisiológico das estru-
turas que compõem tais sistemas, pois por meio do conhecimento adequado,
procedimentos preventivos e curativos (como o fortalecimento e o alongamento
muscular, e até mesmo as intervenções cirúrgicas) poderão aperfeiçoar a atuação
destes sistemas tão importantes.
Vale ressaltar que o profissional de educação física, como parte da área da
saúde, deve conhecer profundamente estes sistemas, pois age diretamente mo-
dificando-os, seja ao predispor hipertrofia óssea ou muscular, ou ao manter a
integridade articular. Assim, boa capacitação a você.

57
LEITURA
COMPLEMENTAR

Leia o artigo indicado, a seguir, que trata sobre os planos (ou cintura escapular) e a parte livre que inclui o braço,
que tangenciam e seccionam o corpo humano, os eixos antebraço e mão (sendo sua parte anterior denomina-
que permitem seus movimento e a segmentação do corpo da palma e a posterior, dorso); para o membro inferior
humano. Em seguida, faça a atividade prática proposta. tem-se a raiz ou cíngulo do membro inferior (ou cintu-
ra pélvica) e a parte livre que inclui a coxa, perna e pé
PRÁTICA DE LABORATÓRIO: MODELO DIDÁTICO APLI- (sendo sua parte superior denominada dorso e a infe-
CADO AO ESTUDO DE CONCEITOS INTRODUTÓRIOS À rior, planta). Articulações conectam as várias partes dos
ANATOMIA HUMANA membros, como por exemplo, as articulações do ombro,
[...] cotovelo, quadril e joelhos (SPENCE, 1991).
A partir da posição anatômica, as várias regiões do corpo A partir da posição anatômica de descrição, supõe-se a

são denominadas como cabeça, pescoço, tronco, mem- existência de planos imaginários que tangenciam a super-

bros superiores e membros inferiores. A cabeça é subdi- fície externa do corpo a fim de facilitar a localização das

vida em crânio facial ou viscerocrânio (anterior, menor, estruturas corpóreas. Tais planos são denominados como

constituído por 14 ossos, cujas funções se relacionam a superior ou cranial, inferior ou podálico, lateral direito, la-
teral esquerdo, anterior ou ventral e posterior ou dorsal
abrigar e proteger os órgãos dos sentidos e possibilitar
(MIRANDA NETO, 2006). Assim, pode-se afirmar que os
a fonação e a mastigação) e crânio neural ou neurocrâ-
olhos são estruturas superiores à cicatriz umbilical já que
nio (posterior, maior, constituído por oito ossos os quais
se localizam mais próximos ao plano superior ou cra-
estão diretamente relacionados à proteção do sistema
nial do que a cicatriz umbilical. De igual modo, pode-se
nervoso localizado em seu interior). A parte mais alta do
afirmar que as escápulas são estruturas posteriores em
neurocrânio é denominada calvária, abóbada ou calo-
relação ao osso esterno uma vez que este está mais
ta craniana. O pescoço é dividido em pescoço anterior
próximo do plano anterior do que aquela.
(visceral) e pescoço posterior (muscular), também deno-
Dessa forma, os planos convencionais tangentes à su-
minado nuca. Segundo Spence (1991) e Freitas (2004), o
perfície do corpo humano facilitam a compreensão
tronco também é subdividido em tórax (limitado supe-
dos termos relacionados com a posição e a direção
riormente pela clavícula e inferiormente pelo músculo
das partes constituintes do corpo, porém no estudo da
diafragma), abdome (limitado superiormente pelo mús-
Anatomia é necessário a visualização do corpo cortado
culo diafragma e inferiormente pela abertura superior
ou seccionado em vários planos de secção de referên-
da pelve) e pelve (localizada entre os ossos do quadril).
cia como o plano sagital, transversal (ou horizontal)
Os membros superiores e inferiores também são subdi-
e coronal (ou frontal). O plano sagital é uma secção
vididos em uma região conectada ao tronco, denomina-
longitudinal que divide o corpo ou qualquer uma de
da cíngulo (ou cintura), e uma parte livre. Para o membro
suas partes em porções direita e esquerda. [...].
superior tem-se a raiz ou cíngulo do membro superior
Fonte: Gomes, Perles e Lopes (2014, p. 5-6, on-line)1.

58
atividades de estudo

1. Leia, atentamente, o texto que segue sobre o sistema esquelético e avalie


as proposições a seguir e responda.
“Além de dar sustentação ao corpo, o sistema esquelético protege os
órgãos internos e fornece pontos de apoio para a fixação dos músculos.
Ele é constituído de peças ósseas e cartilagíneas articuladas, que for-
mam um sistema de alavancas movimentadas pelos músculos” ( VILELA,
2015, on-line)2.

I. O esqueleto do tórax é composto pelas cartilagens costais, osso esterno,


costelas e vértebras cervicais e torácicas. Sua mobilidade, apesar de não
tão expressiva, é essencial à respiração.
II. Pode-se afirmar que, exceto os ossos carpais e tarsais que são alongados,
os outros ossos que formam o esqueleto dos membros superiores e infe-
riores são classificados como longos.
III. A escápula e a clavícula, embora estejam posicionados no tronco, perten-
cem ao esqueleto apendicular.
IV. A coluna vertebral, em vista lateral, apresenta curvaturas características
tais como a lordose cervical, a cifose torácica, a lordose lombar e a cifose
sacral. Entretanto, embora tais curvaturas sejam consideradas fisiológicas
(normais), o seu aumento é considerado patológico, pois pode ocasionar
hiperlordoses e hipercifoses as quais são responsáveis por fortes dores na
coluna vertebral.
V. O crânio é constituído por 24 ossos os quais apresentam pouca mobilida-
de. A maior parte deles constitui o crânio neural.

Estão corretas as alternativas:

a. I e II.
b. II e III.
c. III e IV.
d. VI e V.
e. III e V.

2. O estudo dos planos de secção e tangenciamento do corpo humano é


essencial à Anatomia Humana uma vez que auxilia no corte anatômico
e na nomenclatura das estruturas estudadas. Analise as proposições a
seguir e responda.
I. Uma estrutura é dita mediana quando ela está próxima do plano sagital
mediano, mas não sobre dele.

59
atividades de estudo

II. Ao contrário do proposto, uma estrutura é dita mediana quando ela está
próxima ao plano anterior.
III. Uma estrutura é classificada como média quando se posiciona entre uma
estrutura lateral e outra estrutura medial.
IV. Uma estrutura é classificada como intermédia quando ela se posiciona en-
tre uma estrutura lateral e outra estrutura medial.
V. Ao contrário do proposto na afirmativa, uma estrutura é intermédia quan-
do ela se posiciona embaixo do plano sagital mediano.

Está correta a alternativa:

a. I.
b. II.
c. III.
d. VI.
e. V.

3. A Anatomia Humana estuda a constituição do corpo considerando que


cada indivíduo pode apresentar diferenças devido a fatores que causam
variações. Analise as proposições a seguir e responda.
I. A idade é um fator causador de variação anatômica. Bom exemplo disso é
o fato de ocorrer sinostose nos ossos do crânio de indivíduos idosos.
II. O biótipo é outro fator causador de variação anatômica. Indivíduos do bi-
ótipo longilíneo apresentam tórax arredondado, membros curtos em re-
lação ao tronco e baixa estatura corpórea. Em contrapartida, indivíduos
brevilíneos têm tórax alongado, membros longos em relação ao tronco e
maior estatura corpórea.
III. Outro diferente fator causador de variação anatômica é a etnia. No en-
tanto, diferentes grupos raciais apresentam diferenças anatômicas apenas
externamente (cor de pele, cor de olhos, aspecto do cabelo, do nariz etc.).
Não há diferenças anatômicas internas entre grupos raciais.
IV. O sexo também causa variação anatômica e, inclusive, pode ser usado na
anatomia legal para identificação de cadáveres. O crânio masculino, por
exemplo, apresenta a fronte mais inclinada (na mulher ela é verticalizada;
apresenta ortometopismo). Além disso, o crânio masculino tem acidentes
anatômicos mais salientes devido à maior força muscular que os homens
apresentam tracionando os ossos ao ponto de marcá-los.

60
atividades de estudo

V. De fato, o sexo é um fator causador de variação anatômica que pode ser


usado na anatomia legal para identificação de cadáveres. Todavia, ao con-
trário do que foi proposto anteriormente, o crânio feminino apresenta a
fronte mais inclinada (no homem ela é verticalizada, apresentando orto-
metopismo). Além disso, no crânio feminino os acidentes anatômicos são
mais salientes devido à ação dos hormônios femininos (como o estrógeno
e a progesterona).

Está correta a alternativa:

a. I e II.
b. I e III.
c. II e III.
d. I e IV.
e. III e V.

4. Relembre seus conhecimentos sobre miologia, analise as afirmações, a se-


guir, e identifique-as como verdadeiras ou falsas.

( ) Os músculos classificados como digástricos apresentam dois ventres


musculares separados por um tendão intermediário. Um exemplo de tal mús-
culo é o estilo-hioideo (um dos músculos supra-hioídeos que atuam na primei-
ra fase da deglutição elevando o osso hioide).

( ) Os músculos classificados como bíceps, tríceps ou quadríceps apre-


sentam, respectivamente, dois, três ou quatro ventres musculares. Exemplos
de tais músculos são, respectivamente, o bíceps braquial, o tríceps braquial e
o quadríceps femoral.

( ) Os músculos mímicos são classificados como estriados esqueléticos,


voluntários e dérmicos. A proximidade deles à pele faz com que suas contra-
ções repetitivas e contínuas sulquem a pele fazendo com que as rugas de ex-
pressão apareçam.

a. F - F - V
b. V - F - V
c. F - V - F
d. V - F - F
e. F - V - V

61
atividades de estudo

5. A miologia estuda os músculos e seus órgãos anexos. Analise as proposi-


ções a seguir e responda:
I. O músculo estriado cardíaco apresenta estrias transversais e contração
involuntária. Assim, ele é classificado como somático.
II. Ao contrário do músculo estriado cardíaco, o músculo estriado esquelético
tem contração voluntária e não apresenta estrias transversais. Assim, ele
é classificado como liso.
III. Um músculo classificado como tríceps (por exemplo, o tríceps braquial
e o tríceps sural) apresenta três ventres musculares e apenas um ten-
dão de inserção.
IV. Um músculo classificado como policaudado (como alguns das mãos e dos
pés) apresenta um ventre muscular e vários tendões de inserção.
V. É considerado o tendão de origem de um músculo seu ponto que perma-
nece mais fixo durante um determinado movimento. Em contrapartida, é
considerado o tendão de inserção de um músculo seu ponto que mais se
move durante um determinado movimento.

Está correta a alternativa:

a. I e III.
b. II e III.
c. III e IV.
d. IV e V.
e. II e V.

62
Material Complementar

Indicação para Assistir

A Teoria de Tudo
Ano: 2014
Sinopse:a história de Stephen Hawking é contada pela luz da genialidade e do
amor que não vê obstáculos. Quando Jane conhece Stephen, percebe que está
entrando para uma família diferente. Com grande sede de conhecimento, os
Hawking possuíam o hábito de levar material de leitura para o jantar, ir a óperas
e concertos e estimular o brilhantismo em seus filhos – entre eles aquele que
seria conhecido como um dos maiores gênios da humanidade, Stephen. Diag-
nosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) aos 21 anos, Hawking supe-
rou todas as expectativas dos médicos sobre suas chances de sobrevivência a
partir da perseverança de sua mulher. Mesmo ao descobrir que a condição de
Stephen apenas pioraria, Jane seguiu firme na decisão de compartilhar a vida
com aquele que havia lhe encantado.

Referências On-Line

1
Em: <http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ArqMudi/article/view/24739/pdf_49>. Acesso em: 09
jun. 2016.
2
Em: <http://www.a�.bio.br/sustenta/sustenta1.asp>. Acesso em: 09 jun. 2016.

63
referências

CFTA - COMISSÃO FEDERATIVA DA TERMINOLOGIA ANATÔMI-


CA. Terminologia Anatômica: terminologia anatômica internacional. São
Paulo: Manole, 2001.
DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana sistêmica e seg-
mentar. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2011.
DI DIO, L. J. A. Tratado de Anatomia Sistêmica Aplicada: princípios bá-
sicos e sistêmicos, esquelético, articular e muscular. 2. ed. Atheneu: São
Paulo, 2002.
FREITAS, V. Anatomia conceitos e fundamentos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
GRABINER, M. D.; GREGOR, R. J.; VASCONCELOS, M. M. Cinesiolo-
gia e anatomia aplicada. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 12. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2011.
KAHLE, W.; LEONHARDT. H.; Atlas de Anatomia Humana: com texto
comentado e aplicações em Medicina, Reabilitação e Educaçã Física: Apa-
relo de Movimento. São Paulo: Editora Athene, 2006.
MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendi-
zagem dinâmica. Maringá: Gráfica Editora Clichetec, 2014.
MOORE, K .L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; ARAÚJO, C. L. C. Anato-
mia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
NARCISO, M. S. Sobotta: atlas de anatomia humana: anatomia geral e sis-
tema muscular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
ROHEN, J. W.; YOKOCHI, C.; LÜTJEN-DRECOLL, E. Anatomia humana:
atlas fotográfico de anatomia sistêmica e regional. São Paulo: Manole, 2002.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B.; WERNECK, A. L. Princípios de
anatomia e fisiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
WATANABE, L. Erhart: elementos de anatomia humana. 9. ed. São Paulo:
Atheneu, 2000.

64
gabarito

1. C

2. C

3. D

4. A

Falso. Embora a definição de músculo digástrico esteja correta, o músculo


estilo-hioideo não é um exemplo. Exemplo correto seria o próprio múscu-
lo digástrico ou mesmo o músculo omo-hioideo.

Falso. Embora os exemplos dados estejam corretos, a classificação dos


músculos como bíceps, tríceps ou quadríceps não considera o número de
ventres musculares, mas sim o número de pontos de origem.

Verdadeira.

5. D

65
SISTEMAS CARDIOVASCULAR
E RESPIRATÓRIO

Professora Dr.ª Carmem Patrícia Barbosa

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Sistema circulatório
• Sistema linfático
• Sistema respiratório

Objetivos de Aprendizagem
• Estudar, em relação aos aspectos morfológicos e funcionais, os principais
componentes deste sistema: sangue (definição, constituição e importância),
coração (características gerais, localização, constituição, câmaras cardíacas,
mecanismo valvular, tipos de circulação, ciclo cardíaco, bulhas e sopro
cardíaco e inervação do coração), vasos sanguíneos (caracterização,
diferenças entre eles e principais vasos do corpo humano).
• Estudar, em relação aos aspectos morfológicos e funcionais, os principais
componentes deste sistema: linfa, capilares, vasos e ductos linfáticos,
linfonodos, baço, timo, tonsilas, sistema linfático e disseminação do câncer,
linfangite, linfadenite e linfedema, sistema linfático e envelhecimento.
• Estudar: função principal do sistema respiratório; divisões do sistema
respiratório; órgãos do sistema respiratório e cavidade torácica e
mediastino.
unidade

II
INTRODUÇÃO

P
rezado(a) aluno(a), a vida depende de todos os sistemas do
corpo humano. No entanto, os sistemas cardiovascular, respi-
ratório e nervoso têm papel de destaque uma vez que deles
dependem a adequada oxigenação e nutrição das células, bem
como sua manutenção em homeostasia a partir da retirada dos materiais
residuais que elas produzem (como CO2 e resíduos metabólicos que po-
dem alterar o meio intracelular causando sua morte). Assim, cérebro,
coração e pulmões trabalham juntos.
O sistema cardiovascular pode ser chamado de sistema circulatório e é
composto pelo sistema cardiovascular sanguíneo (destinado à circulação do
sangue) e pelo sistema vascular linfático (destinado à circulação da linfa).
O sistema respiratório supre as células com O2 e retira do corpo o CO2
produzido pelo metabolismo celular. Por meio de órgãos condutores e do
pulmão enquanto órgão respiratório por excelência, tais gases são cam-
biados entre as células e o meio externo. Assim, a respiração consiste na
absorção de O2 do meio externo para utilização pelas células e na elimi-
nação do CO2 resultante de oxidações celulares para o meio externo. Esse
mecanismo é uma das características básicas dos seres vivos e depende da
eficácia do coração como bomba, do adequado retorno venoso e da quali-
dade do ar e do sangue como meio de transporte desses gases.
O texto a seguir será fundamentado em importantes autores como Dan-
gelo e Fattini (2011), Moore et al. (2014), Miranda Neto e Chopard (2014) e
outros autores. A nomenclatura utilizada está de acordo com a nômica atua-
lizada (CFTA, 2001), mas é necessário que você utilize um atlas de anatomia
como Narciso (2012), Rohen, Yokochi e Lütjen-Drecoll (2002) ou outros.
Nosso objetivo é descrever aspectos relevantes destes sistemas. Não
esqueça que o profissional de educação física deve ter conhecimento so-
bre eles, pois se falharem, não há ação neuronal nem contração muscu-
lar. Aproveite para conhecer estes sistemas, pois servirão de base para
seu estudo posterior em fisiologia.
ANATOMIA

Sistema
Circulatório

FUNÇÕES DO SISTEMA CIRCULATÓRIO COMPONENTES DO SISTEMA CIRCULA-


TÓRIO
O sistema circulatório apresenta várias funções vi-
tais. Ele permite, por exemplo, a adequada nutrição Sangue
e oxigenação das células, assim como a drenagem
de suas substâncias tóxicas (como as excretas me- SAIBA MAIS
tabólicas e o CO2). Isso é possível devido à atua-
ção das hemácias transportando gases aos pulmões O sangue sempre foi considerado um po-
(onde ocorre a hematose), e aos órgãos de filtragem deroso símbolo da vida em qualquer civi-
(como fígado e rim). Tal função é de fato vital, pois lização. Por isso foi chamado de “fluido da
vida” e a ele foram atribuídas as funções
se as células não forem nutridas, oxigenadas e pu- de dar e sustentar a vida sendo, inclusive,
rificadas haveria morte celular (MIRANDA NETO; capaz de salvá-la. Entretanto, muitos sécu-
CHOPARD, 2014). los de estudo e pesquisa foram necessá-
rios para que a ciência descobrisse sua real
Além disso, o sangue também contribui para importância e fizesse adequado uso dele.
o controle da temperatura corpórea, pois sua pre- Neste ínterim, muitos erros e atrocidades
sença gera aquecimento (por isso, sentimos nossas foram cometidos. Por exemplo, conta-se
que na Grécia antiga os nobres bebiam o
bochechas “quentes” quando passamos por alguma sangue dos gladiadores mortos na arena a
situação embaraçosa ou constrangedora que gera fim de se curarem de diversos males (como
vasodilatação nos vasos da bochecha). Além dis- a epilepsia). Outro fato interessante ocor-
reu em 1492 quando o papa Inocêncio VIII
so, o sangue é imprescindível à defesa imunológica foi convencido a ingerir o sangue de três
(por meio de suas células brancas), à coagulação jovens para se curar de uma grave doença.
sanguínea (por meio das plaquetas), à distribuição O interessante é que tais jovens morreram
anêmicos sem conseguir restabelecer a saú-
de hormônios pelo corpo e à administração de me- de do pontífice.
dicamentos por via endovenosa (por isso, quando
Fonte: Pró-sangue (on-line)1.
alguém chega em um pronto socorro necessitando
de medicamentos de ação imediata, a via de esco-
lha para administração desse medicamento é quase
sempre a endovenosa).

70
EDUCAÇÃO FÍSICA

O sangue, seus elementos constituintes e suas Aos poucos, esse equívoco foi sendo corrigi-
funções só começaram ser desvendados pela ci- do e a função de controle geral do funcionamento
ência a partir do século 17, sendo que atualmente do corpo foi atribuída ao cérebro. Mesmo assim,
a hematologia se encarrega de desvendar todos os ainda hoje poetas, músicos e, principalmente, os
seus “mistérios”. Sabemos hoje que o sangue apre- apaixonados associam funções emocionais ao co-
senta uma parte líquida, chamada plasma sanguí- ração. Não é à toa que dizemos que amamos “do
neo, e uma parte celular, cujas principais células fundo do coração” ou que não podemos ter o “co-
incluem as hemácias (eritrócitos ou, popular- ração peludo”, ou seja lá o que mais. Acho tudo
mente conhecidas como glóbulos vermelhos), os isso muito engraçado. Às vezes, até me pergunto
leucócitos (ou glóbulos brancos) e as plaquetas se as pessoas realmente conhecem a verdadeira es-
(ou trombócitos). trutura e função do coração.
As hemácias, de coloração avermelhada, apre- Na verdade, esse órgão tão simbólico ainda é
sentam como principal componente a hemoglobina considerado central em relação ao Sistema Cardio-
em cuja região central existem átomos de ferro (gru- vascular Sanguíneo (SCVS) é objeto de estudo da
po heme) habilitados ao transporte de gases (como cardiologia. Ele é ímpar, muscular, oco, com aproxi-
O2 e CO2). Os leucócitos são células que possibilitam madamente 12 cm de comprimento, 9 de largura e 6
a defesa imunológica do indivíduo, pois permitem a de espessura. Pesa cerca de 250 gramas nas mulheres
fagocitose ou a produção de substâncias (como as ci- e 300 gramas nos homens e ocupa o volume aproxi-
tocinas) capazes de destruir células invasoras (como mado de uma mão com os dedos fechados.
vírus, bactérias, células anômalas). Por sua vez, os Ele tem forma de pirâmide com o ápice (uma
trombócitos são células responsáveis pela coagula- extremidade pontiaguda) apontando para baixo, e a
ção do sangue. Doenças que atrapalhem a adequada base (uma parte larga oposta ao ápice) direcionada
produção ao funcionamento de tais células podem para cima e à direita. A base não tem uma localiza-
levar o indivíduo a óbito. É o caso, por exemplo, da ção muito nítida, pois os principais vasos sanguíne-
anemia, da leucemia, da hemofilia, dentre outras os do coração, os vasos da base, entram e saem por
(FREITAS, 2004). ela. Ao contrário, o ápice fica voltado à esquerda de
forma que cerca de 2/3 da massa do coração está à
Coração esquerda da linha mediana do corpo. Por isso e pelo
Generalidades fato de que no ápice as bulhas cardíacas são muito
Ah, o coração! Como as pessoas lhe atribuem fun- audíveis, a maioria das pessoas acha que o coração
ções que não são dele! O amor, o ódio, a amargu- fica do lado “esquerdo do peito”, mas não fica. Ele
ra, o bem querer, e tantas outras. Na verdade isso fica no centro da cavidade torácica, mas com o ápi-
sempre aconteceu, desde a antiguidade. Até mesmo ce apontando para a esquerda. Assim, o coração fica
os primeiros estudiosos em anatomia achavam que inclinado, com a base voltada medialmente e o ápi-
o coração era o responsável pelo controle geral do ce voltado lateralmente. Além disso, seu maior eixo
corpo e que os sentimentos de fato advinham dele (que vai da base ao ápice) forma 40º com o plano
(acreditavam na teoria cardiocêntrica). horizontal (DI DIO, 2002).

71
ANATOMIA

A túnica média é a camada mais espessa, pois é


formada de tecido muscular estriado cardíaco (por
isso, muitas pessoas comem coração de boi ou de
galinha – ele é altamente proteico, pois é muscu-
lar). A espessura da túnica média varia conforme a
câmara cardíaca avaliada, por exemplo, nos átrios
as paredes são mais finas, pois estes bombeiam san-
Grandes vasos da
base do coração gue apenas para os ventrículos; já dentre os ven-
trículos, o esquerdo é o mais espesso devido sua
força contrátil capaz de bombear sangue para todo
o corpo. Essa túnica forma, no interior das cavi-
dades cardíacas, saliências irregulares denomina-
das trabéculas cárneas as quais dão um aspecto de
“rede” à superfície interna do coração. Na parede
anterior do átrio direito e da aurícula esquerda, tais
trabéculas são chamadas músculos pectíneos; nos
Ápice do coração ventrículos, algumas têm formato de pequenos pi-
Figura 1 - Posição e forma do coração lares chamados músculos papilares (os quais ficam
presos às cordas tendíneas).
Assim, o coração está localizado entre os dois pul- A túnica externa é constituída por lâminas ou
mões (em uma região chamada mediastino), pos- folhetos chamados de pericárdio fibroso e peri-
teriormente ao osso esterno e às cartilagens cos- cárdio seroso. O pericárdio fibroso é mais exter-
tais, anteriormente às vértebras torácica (da quinta no, formado por tecido conjuntivo fibroso ineslá-
à oitava vértebra) e, superiormente ao músculo tico e rico em fibras colágenas muito resistentes.
diafragma (sobre o qual repousa). Portanto, apre- Ele fica parcialmente fixo ao músculo diafragma,
senta face pulmonar (voltada ao pulmão esquer- ao osso esterno, à traqueia, aos brônquios prin-
do), face esternocostal (em contato com o esterno cipais e aos grandes vasos do coração. Assim, ele
e costelas) e face diafragmática (em contato com o auxilia na fixação do coração à cavidade torácica
músculo diafragma). ancorando-o no mediastino, evita seu estiramen-
to excessivo e o protege.
Constituição Já o pericárdio seroso é constituído por duas
O coração é constituído por três camadas chama- lâminas de tecido seroso, a lâmina parietal e a lâ-
das paredes ou túnicas: a interna (ou endocárdio), a mina visceral. A lâmina parietal é delgada e adere
média (ou miocárdio) e a externa (ou pericárdio). A à superfície interna do pericárdio fibroso. A lâmina
interna é impermeável ao sangue e forra a superfície visceral (também chamada de epicárdio) reveste o
interna das cavidades do coração e as válvulas cardí- coração externamente ficando em contato com ele.
acas (TORTORA et al., 2010). Entre essas lâminas há um espaço estreito chamado

72
EDUCAÇÃO FÍSICA

cavidade do pericárdio, o qual é preenchido por lí- É importante destacar que no septo interatrial
quido pericárdico que facilita o deslizamento entre existe uma depressão chamada fossa oval. Ela é do
elas durante os movimentos do coração. Pode ter tamanho de uma impressão digital e é contornada
grande quantidade de gordura. por um relevo chamado limbo da fossa oval. Nela,
a parede interatrial é muito delgada e transparente,
Câmaras cardíacas pois, representa o resquício do forame oval o qual
A cavidade do coração é subdividida em quatro câ- permitia, no feto quando os pulmões ainda não
maras cardíacas: dois átrios e dois ventrículos. Os eram funcionantes, ampla comunicação entre o
átrios são superiores, menores e chamados de câ- átrio direito e o esquerdo. Normalmente esse forame
maras de recepção. Em contrapartida, os ventrícu- se fecha logo após o nascimento.
los são inferiores, maiores e chamados de câmaras Também é interessante salientar que o treina-
de ejeção. Na face anterior de cada átrio existe uma mento físico modifica a espessura do miocárdio
estrutura enrugada, a aurícula, a qual aumenta ligei- enquanto doenças podem modificar sua estrutura
ramente a capacidade de armazenamento de sangue exigindo, inclusive, transplante cardíaco.
do átrio (DANGELO; FATTINI, 2011).
A divisão das câmaras cardíacas é feita por meio
de projeções musculomembranosas do próprio mio-
cárdio, chamadas septos cardíacos. O septo atrioven-
tricular tem direção horizontal e divide o coração em
parte superior e inferior. O septo interatrial é vertical
e divide a porção superior do coração em átrio direi-
to e átrio esquerdo. O septo interventricular também
é vertical, mas divide a porção inferior do coração
em ventrículo direito e ventrículo esquerdo (ele tem
uma parte muscular e outra membranácea).
A face externa do coração apresenta, além de
uma quantidade variável de gordura, sulcos que
marcam o limite externo entre essas câmaras car-
díacas. O sulco coronário marca os limites entre
os átrios e ventrículos e é ocupado pelas artérias
coronárias e seus ramos, e pelas veias do coração.
O sulco interventricular anterior e interventricu- Figura 2 - Câmaras e septos cardíacos

lar posterior marcam a separação entre ventrículos


direito e esquerdo e são ocupados pelos ramos in- Mecanismo Valvular do coração
terventriculares das artérias coronárias e das veias Entre os átrios e os ventrículos existem orifícios cha-
cardíacas. Por outro lado, o limite externo intera- mados óstios atrioventriculares, os quais apresentam
trial é pouco nítido. dispositivos orientadores da corrente sanguínea, as

73
ANATOMIA

valvas cardíacas. As principais são as valvas atrio- Todas as valvas do coração ficam inseridas no
ventricular direita, atrioventricular esquerda, valva esqueleto fibroso ou esqueleto cardíaco o qual é for-
do tronco pulmonar e valva da aorta. Tais estruturas, mado por quatro anéis de tecido conjuntivo, fun-
por sua vez, são constituídas por lâminas de tecido didos uns aos outros (anel fibroso atrioventricular
conjuntivo chamadas válvulas, folhetos ou cúspides direito, anel fibroso atrioventricular esquerdo, anel
(WATANABE, 2000). pulmonar e anel aórtico).
Na valva atrioventricular esquerda existem duas
válvulas (a anterior e a posterior) e na atrioventricu-
lar direita existem três (a válvula anterior, a poste- Valva átrioventricular
esquerda
rior e a septal). Por isso, elas eram antigamente cha-
madas de bicúspide e tricúspide, respectivamente. Já
no tronco pulmonar e na artéria aorta as três vál-
Valva átrioventricular
vulas são do tipo semilunares (no tronco pulmonar: direita
direita, esquerda e anterior; na artéria aorta: direita,
esquerda e posterior).
Cordas tendíneas
Você pode estar se perguntando como as val-
vas e as válvulas funcionam. Pois bem, vamos
entender. As valvas atrioventriculares se abrem Septo interventricular
quando a pressão dos átrios é maior do que a dos
ventrículos. Nesse momento, os músculos papila-
res estão relaxados e as cordas tendíneas frouxas. Músculos papilares

Quando os ventrículos se contraem, a pressão do Figura 3 - Valvas e válvulas cardíacas, músculos papilares e cordas tendíneas

sangue empurra as válvulas para cima até o óstio


fechar. Ao mesmo tempo, os músculos papilares SAIBA MAIS
se contraem e as cordas tendíneas são puxadas
para impedir que as válvulas se invertam em di- Durante uma cirurgia para substituir uma ou
reção aos átrios. Além disso, neste momento, as mais válvulas cardíacas não funcionantes ocorre
válvulas do tronco pulmonar e da artéria aorta se a remoção da válvula cardíaca doente e a colo-
cação de uma ou mais válvulas prostéticas ou
abrem, pois o aumento da pressão nos ventrícu- artificiais as quais funcionam de maneira seme-
los e nas artérias faz com que o sangue empur- lhante à válvula normal. Tais válvulas podem ser
re as válvulas contra à parede destes vasos. Em mecânicas ou de tecido. As mecânicas são feitas
de material resistente (como titânio ou carbono)
contrapartida, à medida que os ventrículos vão e as de tecido são obtidas de doadores huma-
relaxando, o sangue reflui de volta ao coração nos ou de tecido animal. Normalmente, após a
preenchendo tais válvulas fazendo-as se fecharem cirurgia o indivíduo apresenta boa recuperação
podendo retomar seu estilo de vida normal.
fortemente. Esse mecanismo é muito importante,
pois assegura que o fluxo do sangue seja unidire- Fonte: Perin et al. (2009, on-line)2.

cional (sem refluxo).

74
EDUCAÇÃO FÍSICA

Tipos de circulação o sangue rico em substâncias absorvidas pelo trato


A passagem do sangue por meio do coração e dos gastrintestinal, após as refeições passe pelo fígado
vasos é chamada de circulação. Esta se faz por meio que armazena parte delas e modifica outra parte
de duas correntes que partem ao mesmo tempo do antes de mandar o sangue para a circulação geral.
coração. A primeira sai do ventrículo direito (por Também há um sistema portal na hipófise.
meio do tronco pulmonar) e se dirige aos capila-
Em rosa notar a circulação de sangue
res pulmonares onde ocorre a hematose. O sangue arterial na grande circulação ou
circulação sistêmica
oxigenado é levado ao átrio esquerdo (pelas veias
pulmonares direitas e esquerdas) e é lançado no
ventrículo esquerdo. Ela é chamada de pequena
circulação ou circulação pulmonar e tem por obje-
tivo oxigenar o sangue.
A segunda corrente sai do ventrículo esquerdo
(por meio da artéria aorta) e se dirige a todos os te-
cidos do corpo permitindo a troca entre sangue e
células. Após tais trocas, o sangue cheio de CO2 e re-
síduos retorna ao coração por meio das veias cavas
superior e inferior. Estas desembocam no átrio di-
reito do coração de onde o sangue é dirigido ao ven-
trículo direito. Esta é chamada de grande circulação
ou circulação sistêmica e tem por objetivo distribuir Em azul notar a circulação de sangue
venoso na pequena circulação ou
o sangue oxigenado e rico em nutrientes ao corpo e circulação pulmonar
dele remover o CO2 e os produtos residuais (TOR- Figura 4 - Tipos de circulação

TORA et al., 2010).


Além da circulação pulmonar e da sistêmica, Ciclo cardíaco
também existe a circulação colateral e a circulação Ciclo cardíaco são todos os eventos associados a um
portal. A colateral ocorre por meio de anastomo- batimento cardíaco. Em um ciclo normal, os dois
ses (comunicações) entre artérias ou veias quando átrios se contraem enquanto os dois ventrículos re-
há uma obstrução em um vaso mais calibroso que laxam e, em seguida, os dois ventrículos se contraem
participa desta anastomose. Esse tipo de circulação enquanto os dois átrios relaxam. No final dele, ocor-
representa um mecanismo de defesa para tentar ir- re um período de relaxamento caracterizado pelo
rigar ou drenar um território específico. momento em que os ventrículos começam a relaxar
Já a circulação portal é uma subdivisão da circu- e todas as câmaras estão em diástole (MIRANDA
lação sistêmica que ocorre quando uma veia se in- NETO; CHOPARD, 2014).
terpõe entre duas redes de capilares sem passar por Vale lembrar que sístole é um termo que se refe-
um órgão intermediário. A Circulação Portal He- re à fase de contração do coração enquanto diástole
pática é um importante exemplo, pois permite que é um termo que se refere à sua fase de relaxamento.

75
ANATOMIA

Bulhas cardíacas e sopro insuficiência. Tais distúrbios podem permitir fluxo


O famoso “tum-tá, tum-tá, tum-tá” que o coração retrógrado de sangue o que causa um som anormal
faz, fascina-nos desde o período embrionário quan- percebido com o auxílio de um estetoscópio. Este
do a mãe ansiosa deseja ouvir os batimentos cardía- som é conhecido como sopro cardíaco.
cos de seu bebê. E de onde vem esse barulho? Como O sopro também pode ser causado por altera-
ele é produzido? Por que será que fatores como o ções congênitas ou pode surgir após febre reumática,
exercício físico, o susto ou o estresse podem modifi- faringite, amigdalite ou contato com estreptococo.
cá-lo? Vamos entender como tudo funciona. Essa bactéria, além de desenvolver infecção, produz
Durante a sístole, os ventrículos se contraem uma toxina chamada estreptolisina que é lançada na
comprimindo o sangue que, devido à pressão no corrente sanguínea e exerce reações inflamatórias
ventrículo, tende a refluir do ventrículo para o locais nas articulações, pele e coração. Então, o siste-
átrio. Assim, o sangue turbilhona-se contra as val- ma imune produz anticorpos antiestreptolisina que
vas atrioventriculares as quais se fecham fortemen- age sobre o próprio tecido cardíaco causando lesões
te para impedir tal refluxo. O fechamento destas irreversíveis. O tratamento é antibioticoterapia e,
valvas gera uma vibração que é convertida em som por vezes, até cirurgia.
pela caixa torácica. Este som, o famoso “tum” é É importante mencionar que em crianças de até
chamado de primeira bulha cardíaca (DANGELO; quatro anos, o sopro é chamado de inocente ou fun-
FATTINI, 2011). cional, pois, frequentemente diminui ou desapare-
No entanto, os ventrículos continuam a se con- ce. Se for sistólico e de baixa intensidade, não afeta
trair até que a pressão em seu interior seja maior o desempenho cardíaco e muitas vezes só aparece
do que a pressão dentro do tronco pulmonar e da após exercício físico intenso ou hipertermia. Tam-
artéria aorta. Isto faz com que as valvas semiluna- bém existe o sopro diastólico que ocorre por insu-
res pulmonares e aórticas se abram. À medida que ficiência de fechamento das valvas semilunares. No
o sangue vai saindo dos ventrículos para as artérias, entanto, as valvas podem ser substituídas cirurgica-
elas se distendem para acomodar o sangue, mas isso mente por valvas de doadores humanos, suínos ou
aumenta a pressão dentro delas ao mesmo tempo próteses mecânicas.
em que diminui a pressão no ventrículo. Então, para
impedir que o sangue reflui das artérias para o ven- Inervação do coração
trículo, ocorre o forte fechamento das valvas semilu- Talvez você já tenha participado de uma aula prá-
nares. Esse fechamento gera outro som, a segunda tica de ciências onde o professor tenha removido
bulha cardíaca ou o famoso “tá”. Viu que interessan- o coração de um animal (como rato ou rã) e tenha
te! De forma bem simplificada pode-se dizer que o ficado intrigado com o fato de que o coração, mes-
“tum-tá” que o coração faz nada mais é do que os mo fora da cavidade torácica, é capaz de se contrair
fechamentos consecutivos de suas valvas. por um determinado período de tempo (eu mesma,
Todavia, quando elas não se abrem comple- sempre que posso, mostro isso em aula prática e os
tamente tem-se uma estenose (estreitamento) e alunos gostam muito de ver como isso é possível).
quando não se fecham por completo tem-se uma No entanto, se você nunca participou deste tipo de

76
EDUCAÇÃO FÍSICA

aula ou nunca tinha ouvido falar nisso, pode acre- culo atrioventricular e os ramos direito e esquerdo.
ditar porque é verdade. O nodo sinoatrial localiza-se no átrio direito. Ele
Agora é possível que você esteja se perguntando: envia finas ramificações aos átrios sendo conside-
como isso é possível se aprendemos que o sistema rado o “marca-passo” do coração, pois, a excitação
nervoso é quem controla todo o funcionamento do cardíaca começa nele e é ele que determina o ritmo
corpo e quando retiramos o coração do tórax, cor- e o automatismo cardíaco. Seu mau funcionamento
tamos sua comunicação com esse sistema? Para en- causa arritmia cardíaca. Várias substâncias (como a
tendermos como isso é possível, em primeiro lugar noradrenalina) e algumas condições (como hipóxia,
você precisa saber que a inervação do coração é dife- drogas, cafeína e nicotina) atuam neste nodo e inter-
rente de outras regiões do corpo. Isto porque a iner- ferem no ritmo do coração. Assim, pode ser neces-
vação do músculo cardíaco ocorre de duas formas, a sário que outra área cardíaca possa funcionar como
extrínseca e a intrínseca. o marca-passo.
A inervação extrínseca é feita pelo Sistema Ner- O nodo atrioventricular fica acima da valva
voso Autônomo (SNA) por meio de seus compo- atrioventricular direita. Ele pode vir a ser o “marca-
nentes simpáticos (nervos cardíacos simpáticos) e -passo” do coração se o nodo sinoatrial for lesado,
parassimpáticos (nervo vago). Enquanto as fibras mas a frequência cardíaca passa a ser de 40 a 60 ba-
simpáticas causam taquicardia, as parassimpáticas timentos por minuto (bpm). Sua continuação até o
causam bradicardia. Ambas formam o plexo nervo- septo interventricular é o fascículo atrioventricular
so cardíaco, o qual é útil para as demandas do dia (feixe de His). Ele pode vir a ser o “marca-passo” do
a dia, pois as constantes modificações do ambiente coração se os nodos sinoatrial e atrioventricular fo-
são prontamente percebidas pelo SNA fazendo com rem lesados. Todavia, a frequência cardíaca cai para
que o coração se adapte e capacite o corpo a reagir 20 a 35 bpm, o que pode causar lesão neurológica
(WATANABE, 2000). necessitando implantar um marca-passo artificial
Já a inervação intrínseca, chamada de sistema de (um dispositivo que emite pequenas correntes elé-
condução do coração ou complexo estimulante do tricas que estimulam as contrações ventriculares).
coração, não é feita por elementos nervosos e sim O fascículo atrioventricular se bifurca em ramo
por fibras musculares estriadas cardíacas especiais, direito e ramo esquerdo, um para cada ventrícu-
com poucas estrias transversais, poucas miofibrilas, lo. Tais ramos penetram as paredes ventriculares,
de menor diâmetro e que formam o tecido nodal. ramificam-se ainda mais e constituem os ramos
Esse tecido por si só é capaz de gerar impulsos ele- subendocárdios (que ficam abaixo do endocárdio).
troquímicos que se propagam pelo coração causan- Suas fibras são conhecidas como Fibras de Purkinje
do a contração do miocárdio de forma rítmica e e permitem a propagação das contrações dos átrios
repetitiva. Ele só é encontrado no coração no qual para os ventrículos.
cerca de 1% das fibras musculares são células autor- Entendeu agora como é possível que o coração
rítmicas capazes de gerar potencial de ação. continue batendo mesmo fora do corpo? De forma
O sistema de condução do coração compreende bem simplificada, pode-se afirmar que, quando o co-
o nodo sinoatrial, o nodo atrioventricular, o fascí- ração é retirado da caixa torácica, de fato ele perde a

77
ANATOMIA

inervação extrínseca (aquela que vem do sistema ner- Na placenta, o sangue fetal capta O2 e nutrientes e
voso), mas a inervação intrínseca (aquela que existe no elimina CO2 e resíduos. O sangue oxigenado retorna
próprio tecido cardíaco) ainda continua a funcionar. da placenta pela veia umbilical que vai até o fígado
do feto. A placenta comunica-se com o sistema cir-
culatório materno por pequenos vasos sanguíneos
que emergem da parede do útero. Após o nascimen-
to, muitas mudanças vasculares fazem o sistema cir-
culatório fetal ficar como no adulto.
Vale lembrar que o envelhecimento causa alte-
rações no sistema circulatório tais como diminuição
da complacência arterial, redução no tamanho das
fibras musculares cardíacas, perda progressiva da
força muscular cardíaca, diminuição da frequência
cardíaca máxima e aumento da pressão sistólica.
Tais alterações podem ocasionar maior incidência
Figura 5 - Inervação intrínseca do coração
de doenças neste sistema. Todavia, o exercício físico
Um detalhe interessante é que a atividade elétrica é capaz de minimizar todas elas. Por isso, a sua prá-
do coração gera uma corrente elétrica que pode ser tica é aceita mundialmente como uma das melhoras
detectada na superfície do corpo e registrada por formas de prevenir as doenças cardiocirculatórias.
um exame chamado Eletrocardiograma (ECG).
Alterações no ECG são úteis para diagnosticar e Vasos sanguíneos
tratar doenças do coração que também podem ser Como já vimos, os vasos sanguíneos são habili-
identificadas ao avaliar a resposta do coração ao es- tados ao transporte do sangue, seja ele arterial
tresse causado pelo exercício físico por meio de um ou venoso. Os principais são as artérias e veias,
teste de esforço. mas também incluem as arteríolas, os capilares
e as vênulas (FREITAS, 2004). Tanto as artérias
Circulação fetal e envelhecimento quanto as veias possuem paredes formadas por
Os pulmões, rins e órgãos gastrintestinais só come- três camadas sobrepostas: a túnica adventícia ou
çam a funcionar após o nascimento. O feto obtém O2 externa (que dá resistência à parede do vaso), a
e nutrientes do sangue materno, onde também eli- túnica média (mais espessa devido o músculo liso
mina CO2 e resíduos. Normalmente não há mistura que permite vasoconstrição e vasodilatação sob o
direta entre o sangue materno e o fetal, pois as trocas controle do SNA), e a túnica íntima ou endotélio
ocorrem de maneira indireta por difusão por meio (formada por uma camada de células de revesti-
dos capilares da mãe e do feto (MOORE et al., 2014). mento que permitem o deslizamento do sangue).
O sangue passa do feto para a placenta pelas As paredes das artérias e das veias recebem nutri-
duas artérias umbilicais que ficam dentro do cordão ção e inervação por meio dos vasos e nervos dos
umbilical (são ramos das artérias ilíacas internas). vasos (vasa vasorum e nervi vasorum).

78
EDUCAÇÃO FÍSICA

Todavia, artérias e veias não são iguais. Você Na maioria das vezes, as artérias são menos nu-
acha que os vasos “esverdeados” que percebemos merosas, têm paredes mais espessas e com menor
em nosso antebraço ou mesmo nos membros infe- luz do que as veias. Como já visto, tais diferenças
riores são artérias ou veias? Quando vamos retirar se devem à pressão com que o sangue circula por
sangue para fazermos um exame ou mesmo para elas (assim, artérias têm que ter maior espessura
doá-lo, a coleta é feita em artérias ou veias? Estas de parede para que resistam à pressão do sangue e
e outras perguntas poderão ser respondidas assim não colabem).
que concluirmos o estudo. Outro ponto importante é que as artérias têm
Em primeiro lugar é importante que você sai- pulsação, pois, a força de contração do ventrículo
ba que as particularidades estruturais das artérias gera uma onda de grande pressão, conhecida como
e das veias estão correlacionadas às funções que pulso, que se propaga ao longo delas. Normalmente,
estes vasos desempenham na dinâmica circulató- a frequência do pulso é a mesma da frequência car-
ria. Por exemplo, de um modo geral, as veias têm díaca (de 70 a 80 vezes por minuto; no sono cai para
paredes menos espessas, mas luz vascular mais 60; no exercício, febre, distúrbios emocionais, hi-
ampla do que as artérias (luz vascular é o espaço pertireoidismo e outras condições específicas, pode
que existe para o sangue circular dentro do vaso). ultrapassar 100; no recém-nascido gira em torno de
Isto porque o mesmo volume de sangue que saiu 120 a 140 pulsações por minuto).
do coração pelas artérias, deve retomar ao coração Normalmente, elas são mais profundas do
pelas veias, quase sem pressão e passivamente (ou que as veias para ficarem protegidas e evitarem
seja, sem um órgão como o coração para mandá- que uma ruptura cause um fluxo ininterrupto de
-lo de volta). Além do que, o sangue do sistema sangue ou uma hemorragia. Também podem ser
arterial circula com maior pressão do que o san- acompanhadas por uma ou duas veias satélites, as
gue que circula no sistema venoso. Abordaremos quais chegam a fazer sulcos nos ossos. No entanto,
as principais diferenças entre os diversos vasos mesmo artérias profundas podem desenvolver par-
sanguíneos a seguir. te do trajeto superficialmente. É o caso da artéria
radial, por exemplo.
Artérias Em geral, artérias comunicam-se entre si por
Todas as artérias originam-se direita ou indire- intermédio de anastomoses, fornecendo rotas al-
tamente da artéria aorta ou do tronco pulmonar ternativas para que o sangue chegue a um deter-
(ambas são vasos de grande calibre que se rami- minado tecido. Todavia, também podem se rami-
ficam extensivamente). Elas são tubos cilíndricos, ficar emitindo ramos terminais (quando a artéria
elásticos, de direção centrífuga (porque saem do deixa de existir; a artéria braquial emite a artéria
coração), responsáveis pela irrigação sanguínea, radial e a ulnar como ramos terminais) ou ramos
pois transportam sangue rico em O2 e nutrientes colaterais (quando a artéria continua a existir,
para as células, tecidos ou órgãos (exceto as artérias mas emite um ramo com direção oblíqua ou a 90º;
pulmonares que conduzem sangue venoso aos pul- quando o ramo forma um ângulo obtuso, é cha-
mões) (DI DIO, 2002). mado de ramo recorrente).

79
ANATOMIA

As artérias geralmente começam de grande cali- Os capilares têm diâmetro microscópico e ligam
bre e vão diminuindo de diâmetro à medida que se as arteríolas às vênulas permitindo a microcircula-
ramificam. Artérias de grande calibre têm diâmetro ção. Na maioria das vezes, surgem das ramificações
interno de cerca de 7 mm e são chamadas de elásti- das arteríolas, mas em alguns casos (como no fígado
cas ou condutoras. Suas paredes acomodam o volu- e na glândula hipófise), originam-se da ramificação
me de sangue e ajudam a impulsioná-lo enquanto os de vênulas. Apresentam vasomotricidade (ou seja,
ventrículos relaxam. A aorta, o tronco pulmonar, a fazem vasodilatação e vasoconstrição) a qual é in-
carótida comum, a subclávia, a vertebral, a pulmonar fluenciada por substâncias químicas liberadas pelas
e a ilíaca comum são exemplos desse tipo de artéria. células endoteliais (por exemplo, o óxido nítrico).
Elas se ramificam em artérias de médio cali- São considerados os vasos mais numerosos do
bre as quais têm diâmetro interno de 2,5 a 7 mm corpo e formam redes ramificadas que aumentam a
e são chamadas de distribuidoras ou musculares. área de superfície para a troca de materiais. Todavia,
Estas têm paredes espessas e adaptadas à vaso- embora sejam encontrados próximos a quase todas
constrição e vasodilatação. A artéria braquial e a as células, seu número varia com a atividade me-
radial são exemplos deste tipo de artéria. Delas se tabólica do tecido. Por exemplo, músculos, fígado,
originam as artérias superficiais que se destinam à rins e SNC que têm alto metabolismo, têm muitos
pele. Posteriormente, artérias de médio calibre se capilares; tendões e ligamentos têm menos.
ramificam em artérias de pequeno calibre cujo di- Além disso, podem apresentar poros em sua
âmetro interno é de 0,5 a 2,5 mm das quais surgem parede (como os capilares fenestrados do rim, in-
as arteríolas, com diâmetro interno menor do que testino delgado e glândulas endócrinas), podem ter
0,5 mm e cuja função é levar sangue aos capilares interrupções na parede (como os capilares sinusoi-
arteriais. Assim, as arteríolas têm papel chave na des do fígado, baço, adenohipófise e glândulas para-
regulação do fluxo sanguíneo e, por isso, são co- tireoides) ou podem ter parede sem poros ou inter-
nhecidas como vasos de resistência. Alterações em rupções (como os capilares contínuos dos músculos,
seu diâmetro podem causar mudanças na pressão encéfalo, pulmões e tecido conjuntivo).
arterial (por nicotina, por exemplo).
Veias
Capilares sanguíneos As veias são tubos nos quais o sangue circula com
Os capilares sanguíneos têm paredes muito delga- direção centrípeta (ou seja, chegam ao coração).
das, constituídas na maioria das vezes, por uma úni- São responsáveis pela drenagem sanguínea ou re-
ca camada de células endoteliais e uma membrana torno venoso, pois, coletam o sangue rico em CO2
basal de tecido conjuntivo (não têm camada média e e metabólitos dos tecidos para o coração (exceto
adventícia). Por isso, permitem a passagem de subs- as veias pulmonares que conduzem sangue arterial
tâncias através de suas paredes, ou seja, as trocas en- para o coração). Elas se formam pelas sucessivas
tre sangue e tecidos por meio do líquido intersticial, confluências de vênulas e capilares venosos e vão
e vice-versa. Assim, são conhecidos como vasos de aumentando gradativamente de calibre (ao con-
troca (TORTORA et al., 2010). trário das artérias, lembra?). Assim, podem ser de

80
EDUCAÇÃO FÍSICA

pequeno, médio ou grande calibre (MIRANDA apresentam trajeto mais superficial do que as arté-
NETO; CHOPARD, 2014). rias. E qual vaso é puncionado na coleta de sangue?
Elas não têm pulsação e normalmente são menos Novamente a resposta é a veia, pois o sangue circula
espessas do que as artérias e, por isso, podem cola- com maior pressão nas artérias e perfurá-las rotinei-
bar (suas paredes podem ficar aderidas). Embora, à ramente não seria o melhor a fazer. Além do que,
semelhança das artérias, possam se dilatar no sen- artérias têm trajeto mais profundo, lembra? Como é
tido transversal (para conter maior volume de san- bom adquirir conhecimento, não acha?
gue) e longitudinal (para atender aos deslocamentos
dos segmentos corporais), não resistem a pressões
muito altas. Em contrapartida, têm maior luz e são
mais numerosas do que as artérias (o leito venoso é
praticamente o dobro do leito arterial; entretanto, o
pênis e o cordão umbilical são exceções, pois neles
há duas artérias acompanhando uma única veia).
As veias geralmente começam de pequeno ca-
libre e vão aumentando de diâmetro à medida que
se dirigem ao coração. Além disso, podem ser su-
perficiais ou profundas. As superficiais não acom-
panham as artérias e são chamadas de solitárias. As Figura 6 - Diferenças entre artérias e veias

profundas podem ou não acompanhar as artérias.


As que acompanham são chamadas de satélites e as Distribuição do sangue
que não acompanham, são chamadas de solitárias. A distribuição do sangue pelo corpo não é simétrica
A comunicação entre veias superficiais e profundas entre os órgãos, e depende da demanda funcional
é feita por veias comunicantes ou perfurantes. Vale a qual o indivíduo está submetido. Assim, a maior
lembrar que veias, artérias e nervos se unem for- parte do volume de sangue em repouso (64%) está
mando um feixe vásculo-nervoso. nas veias e vênulas sistêmicas. As artérias sistêmi-
Além disso, veias podem apresentar válvulas cas têm cerda de 13%, os capilares sanguíneos 7%,
para impedir o refluxo do sangue. Todavia, se es- os vasos pulmonares 9% e o coração 7%. Todavia
tas não funcionam, adequadamente, podem apa- este estado pode ser totalmente alterado em con-
recer varizes (principalmente nos membros). Tais dições específicas como exercício físico e estresse
válvulas podem não existir em algumas veias da (MOORE et al., 2014).
cabeça e do pescoço. Assim, pode-se dizer que as veias e vênulas sis-
Agora chegou a hora de você responder, com têmicas atuam como reservatório de sangue a partir
certeza, as perguntas do início do texto. Então, os do qual o sangue pode ser rapidamente removido
vasos “esverdeados” que percebemos em nosso an- se houver necessidade. Esse é o caso, por exemplo,
tebraço ou mesmo nos membros inferiores são de um quadro de hemorragia ou atividade muscular
artérias ou veias? Certamente são veias, pois estas intensa onde a venoconstrição poderá ajuda a con-

81
ANATOMIA

trabalancear a queda na pressão arterial. As veias O coração é drenado, principalmente, por peque-
e vênulas do fígado, baço e da pele representam os nas veias cardíacas mínimas e por veias que se abrem
principais reservatórios de sangue do corpo. no seio coronário (seio coronário é a principal veia
do coração). Esse seio situa-se no sulco coronário e
Vascularização sistêmica desemboca no átrio direito. Antes, todavia, ele rece-
be como principais tributárias a veia cardíaca magna
Vascularização do coração (que drena áreas supridas pela artéria coronária es-
O pericárdio e o miocárdio são irrigados pelas arté- querda e fica localizada no sulco interventricular an-
rias coronárias, que são ramos da parte ascendente terior), a veia cardíaca média (que drena os ventrícu-
da artéria aorta. Elas correm no sulco coronário e los e fica no sulco interventricular posterior) e a veia
recebem o nome de coronárias porque circundam cardíaca parva (que drena átrio e ventrículo direitos e
o coração como uma coroa. O endocárdio é nutrido se posiciona no sulco coronário).
por microvascularização diretamente das câmaras
do coração (WATANABE, 2000). SAIBA MAIS
Geralmente, a artéria coronária esquerda é mais
calibrosa e tem maior área de distribuição. Ela passa
Se as artérias coronárias estiverem compro-
inferiormente à aurícula esquerda, fornece o ramo metidas ao ponto de não conseguirem suprir
interventricular anterior e o ramo circunflexo. O as necessidades de oxigenação e nutrição do
ramo interventricular anterior percorre o sulco in- miocárdio, pode ser necessária a realização de
um procedimento cirúrgico para revasculari-
terventricular anterior, desce até o ápice do coração, zação do miocárdio, popularmente conhecida
irriga os ventrículos e emite ramos interventricu- como “ponte de safena”. Essa cirurgia consiste
lares septais para o septo interventricular. O ramo na retirada de uma parte da veia safena lo-
calizada no membro inferior, para criar uma
circunflexo fica no sulco coronário, irriga o átrio e o
ponte por cima das artérias coronárias com-
ventrículo esquerdos, dirige-se, posteriormente, e se prometidas para tornar possível a passagem
anastomosa com a artéria coronária direita. sanguínea novamente. Tais artérias podem
ser afetadas, principalmente, por acúmulo
A artéria coronária direita dirige-se para à di-
de gordura (aterosclerose) ou cálcio em suas
reita do sulco coronário, emite ramos atriais e se paredes. Leia mais sobre o tema, pois grande
divide em ramo marginal (que irriga o ventrículo parte das causas de obstrução das artérias
direito) e ramo interventricular posterior que per- coronárias pode ser prevenida por meio da
prática regular do exercício físico.
corre o sulco interventricular posterior e irriga os
dois ventrículos. Também emite ramos interventri- Fonte: Tua Saúde (2013, on-line)3.

culares septais.

82
EDUCAÇÃO FÍSICA

Vascularização da cabeça e pescoço forame magno, unem-se e formam a artéria basilar.


A vascularização da cabeça e pescoço depende das A basilar emite as artérias cerebelares e a artéria ce-
artérias carótidas comuns e subclávias as quais se rebral posterior. Assim, na face inferior do encéfalo
originam a partir do arco da aorta. À direita desse se forma o círculo arterial do encéfalo por meio do
arco surge o tronco braquiocefálico o qual emite a qual o sistema carotídeo interno se une ao sistema
artéria carótida comum direita e a artéria subclá- vértebro-basilar como uma anastomose arterial que
via direita. As artérias carótida comum esquerda e pode, em situações específicas (como obstruções e
subclávia esquerda surgem do próprio arco da aorta aneurismas), prevenir quadros de isquemia cerebral.
(DANGELO; FATTINI, 2011). A artéria carótida externa irriga, através de mui-
As artérias carótidas comuns (direita e esquer- tos ramos, todas as estruturas externas da face e
da) têm pulsação lateralmente à laringe e, na altura couro cabeludo. Seus principais ramos incluem as
da cartilagem tireoide, ramificam-se em artéria ca- artérias tireoidea superior, lingual, facial, occipital,
rótida interna (direita e esquerda) e externa (direi- auricular posterior, faríngea ascendente, maxilar e
ta e esquerda). A interna passa o canal carótico na temporal superficial.
base do crânio, emite a artéria oftálmica (que irriga A drenagem venosa da cabeça e do pescoço é feita
a retina), a artéria cerebral anterior (que irriga a face pelos seios venosos da dura-máter e por veias super-
medial do encéfalo), a artéria cerebral média (que ficiais que, após várias confluências, desembocam na
irriga a face superolateral do hemisfério cerebral) e a veia jugular interna. Essa veia se une à veia subclávia
artéria comunicante posterior. formando a veia braquiocefálica. As veias braquio-
A região posterior do encéfalo é irrigada pelas cefálicas direita e esquerda se unem e formam a veia
artérias vertebrais (que são ramos das artérias sub- cava superior a qual desemboca no átrio direito do
clávias). As vertebrais sobem pelos forames trans- coração levando o sangue venoso da cabeça e do pes-
versos das vértebras cervicais, entram no crânio pelo coço, além do sangue do membro superior e do tórax.

83
ANATOMIA

Diagrama das principais artérias da cabeça

Vascularização do tórax
É feita pela parte torácica da artéria aorta a qual, antes de atravessar o
músculo diafragma pelo hiato aórtico, emite uma série de ramos visce-
rais e parietais, como as artérias esofágicas (que irrigam o esôfago), as
pericárdicas (que irrigam o pericárdio), as mediastinais (que irrigam as
estruturas do mediastino), as brônquiais (que irrigam os brônquios), as

84
EDUCAÇÃO FÍSICA

Diagrama das principais veias da cabeça

Figura 7 - Vascularização da cabeça e do pescoço e drenagem da cabeça e do pescoço


Fonte: Colicigno et al. (2009, p. 166, on-line)4.

frênicas superiores (que irrigam o músculo diafragma), as subcostais e


as intercostais posteriores (que irrigam os músculos intercostais e torá-
cicos). Além da artéria aorta, também participam da irrigação da parede
torácica a artéria subclávia e a artéria axilar (MOORE et al., 2014). O
tórax é drenado por várias veias que drenam para a veia ázigo. Por sua
vez, a veia ázigo conduz o sangue venoso até a veia cava superior.

85
ANATOMIA

Vascularização do abdome a externa envia ramos para a parede abdominal e


É feita pela parte abdominal da artéria aorta, em seu continua no membro inferior como artéria femoral
trajeto após o hiato aórtico. Ela emite ramos visce- (FREITAS, 2004).
rais e parietais. Os principais ramos parietais são a Dentre as principais artérias da pelve estão a
artéria epigástrica superficial, a epigástrica inferior, umbilical, obturatória, sacral mediana, retal supe-
a musculofrênica, a 10ª e a 11ª artérias intercostais, rior, gonadal (ovárica e testicular), artéria do ducto
posteriores, a subcostal, a circunflexa ilíaca profun- deferente, ramos prostáticos, vesical superior e infe-
da e a circunflexa ilíaca superficial (DI DIO, 2002). rior (na mulher, é artéria vaginal) e artéria uterina.
Os principais ramos viscerais incluem as artérias Os plexos venosos pélvicos são formados por
frênicas inferiores (irrigam o músculo diafragma), veias que circundam as vísceras pélvicas (plexo re-
o tronco celíaco (irriga esôfago, estômago, baço, tal, vesical, prostático, uterino e vaginal). Também
pâncreas, fígado e duodeno), a mesentérica supe- são importantes as veias iliolombares, sacral media-
rior (irriga intestino delgado, ceco, colo ascendente na e sacrais laterais. Na pelve, a veia ilíaca interna
e transverso, e pâncreas), a mesentérica inferior (ir- se une à veia ilíaca externa para formar a veia ilíaca
riga colo transverso, descendente e sigmoide), as su- comum. As veias ilíacas comuns (direita e esquerda)
prarrenais médias (irrigam glândulas suprarrenais), se unem para formar a veia cava inferior a qual se-
as renais (irrigam rins), as gonadais (as testiculares gue na cavidade abdominal, paralelamente à aorta,
irrigam testículos e as ováricas irrigam os ovários) recebendo várias tributárias. Ela passa pelo forame
e as ilíacas comuns. Essas últimas se ramificam em da veia cava (no músculo diafragma) e desemboca
artérias ilíacas externas (irrigam os membros infe- no átrio direito do coração.
riores) e ilíacas internas (irrigam bexiga urinária,
útero e próstata). A drenagem venosa das vísceras Vascularização do membro superior
abdominais é feita, principalmente, pela veia porta e Os membros superiores são irrigados pelas artérias
pela veia cava inferior. subclávias que passam inferiormente à clavícula. Na
região axilar, passam a ser chamadas de artérias axi-
Vascularização da pelve lares e no braço passam a ser artérias braquiais. Na
Como vimos, a artéria ilíaca comum se bifurca ori- altura da fossa cubital, elas se ramificam em artéria
ginando a artéria ilíaca interna e a externa. A inter- ulnar e artéria radial as quais irrigam a mão e os de-
na envia ramos para a parede e vísceras da pelve; dos (TORTORA et al., 2010).

86
EDUCAÇÃO FÍSICA

A artéria radial é a continuação direta da arté- magna drena para a veia femoral. Outras veias im-
ria braquial. Ela é superficial na parte distal do an- portantes do membro inferior são a safena acessó-
tebraço onde pode ser palpada para verificar suas ria, a veia cutânea lateral, a veia cutânea anterior e
pulsações. As veias profundas do membro superior as veias perfurantes.
têm os mesmos nomes das artérias e seguem, em É importante ressaltar que as veias dos mem-
última instância, até a veia subclávia. As duas prin- bros inferiores drenam o sangue desfavoravelmen-
cipais veias superficiais do membro superior são a te em relação à gravidade e, por isso, suas paredes
veia cefálica e a basílica as quais desembocam na são ricas em fibras musculares lisas e em fibras
veia braquial. colágenas. Além disso, possuem numerosas valvas
que ajudam no direcionamento do sangue (as pro-
Vascularização do membro inferior fundas têm mais). Outros fatores que ajudam no
Recapitulando, a parte abdominal da artéria aorta retorno venoso são a ação de “esponja venosa” das
bifurca-se em artérias ilíacas comuns (direita e es- plantas dos pés, a ação massageadora dos múscu-
querda) que se bifurcam em artéria ilíaca interna los do membro inferior sobre os vasos, a pulsação
(que se dirige à pelve) e artéria ilíaca externa. A ex- das artérias adjacentes transmitindo o pulso para
terna atravessa o ligamento inguinal e passa a ser a parede da veia acompanhante (veia satélite) e o
chamada de artéria femoral. Esta passa, posterior- gradiente de pressão entre a cavidade torácica e a
mente, à região do joelho e recebe o nome de arté- abdominal durante a respiração.
ria poplítea. A poplítea se bifurca em artéria tibial Todavia, em pessoas que permanecem em pé por
anterior, tibial posterior e fibular (DI DIO, 2002). períodos prolongados, o sangue pode se acumular
As veias profundas do membro inferior acom- no interior das veias dos membros inferiores, resul-
panham as artérias, têm os mesmos nomes delas e tando em elevação da pressão, dilatação, insuficiên-
seguem, em última instância, até a veia femoral. As cia valvular e varizes. Isto gera um fluxo retrógrado
duas principais veias superficiais do membro infe- do sangue, estase sanguínea e migração de líquido
rior são a safena magna e a safena parva. A veia para o espaço intersticial causando edema.
safena parva drena para a veia poplítea e a safena

87
ANATOMIA

Ilustração esquemática das principais veias

Curiosidades

Como o coração se situa entre duas estruturas rígidas (a coluna vertebral e o osso esterno), sua compressão
pode ser útil para bombear o sangue dele para a circulação sistêmica. Assim, se ele parar subitamente de ba-

88
EDUCAÇÃO FÍSICA

Ilustração esquemática das principais artérias

Figura 8 - Vascularização do corpo humano


Fonte: Colicigno et al. ( 2009, p. 164-165, on-line)5.

ter, a ressuscitação cardiopulmonar (compressão cardíaca associada à ventilação artificial dos pulmões) é útil
para manter o sangue oxigenado até que o coração volte a bater (FREITAS, 2004).

89
ANATOMIA

Sistema Linfático

DEFINIÇÃO DO SISTEMA LINFÁTICO

O sistema linfático é considerado um sistema de dre-


nagem que auxilia o sistema venoso a drenar a linfa
dos tecidos para a circulação sanguínea. Para tanto, é
constituído por uma vasta rede de vasos semelhantes
às veias (os vasos linfáticos), que se distribuem por
todo o corpo captando líquido tecidual que não re-
tornou aos capilares sanguíneos. Neste contexto, ele
dispõe de estruturas que filtram e reconduzem a linfa
à circulação sanguínea (MOORE et al., 2014).
Ele é constituído pela linfa, vasos que a drenam
(capilares linfáticos, vasos linfáticos, ductos linfáti-
cos), tecidos e órgãos linfoides (baço, timo, linfono-
dos e tonsilas).

FUNÇÕES DO SISTEMA LINFÁTICO

A mais notável função do sistema linfático é sua ha-


bilidade de drenar o excesso de líquido intersticial
para os vasos linfáticos mantendo o equilíbrio dos
fluidos do corpo. Se ele não atuasse desta forma, o
volume sanguíneo poderia ser afetado, já que o san-
gue é a fonte principal deste líquido. Além disso,
ele também drena para os vasos linfáticos parte das
proteínas que saem dos vasos sanguíneos. Tal fato é
de extrema importância, pois evita que ocorra os-
mose reversa e, consequentemente, edema tecidual
(DANGELO; FATTINI, 2011). Figura 9 - Visão geral do sistema linfático

90
EDUCAÇÃO FÍSICA

No entanto, o sistema linfático desempenha outras Linfa


funções como participar ativamente da imunidade A linfa é um líquido incolor presente no espaço
corpórea. Por sua ação, bactérias, partículas estra- intersticial, resultante das trocas entre o sangue
nhas e células anômalas podem ser destruídas uma dos capilares e o tecido. Pode-se dizer que repre-
vez que ele está diretamente relacionado à produção senta o excesso de líquido que saiu do capilar, mas
e à maturação de células imunológicas como macró- não retornou à circulação sanguínea (TORTORA
fagos e linfócitos (tais células participam ativamente et al., 2010).
da resposta imunológica específica produzindo anti- Sua composição é parecida com a do plasma
corpos para destruir substâncias invasoras). sanguíneo uma vez que apresenta água, eletrólitos e
Além disso, o sistema linfático está relacionado à proteínas. Todavia, a linfa é mais rica em água, tem
absorção e ao transporte das gorduras dos alimentos menos proteínas do que o plasma, e não tem hemá-
por meio dos capilares lácteos, os quais recebem to- cias ou plaquetas. Diferentemente do que ocorre no
dos os lipídios e vitaminas lipossolúveis absorvidos sistema cardiovascular sanguíneo onde o coração
pelo intestino. Após esta absorção, o quilo (linfa dre- bombeia o sangue, no sistema linfático não existe
nada do intestino delgado com aparência leitosa) é um órgão central bombeador de linfa.
conduzido pelos vasos linfáticos viscerais para o duc- Assim, a circulação da linfa é possibilitada pe-
to torácico e daí para o sistema venoso. Em outros te- los mesmos mecanismos que auxiliam o retorno
cidos, a linfa é um líquido amarelo-claro translúcido. venoso (vistos anteriormente, lembra?). Por isso,
o fluxo da linfa é lento nos períodos de inativi-
COMPONENTES DO SISTEMA LINFÁTICO dade física, mas aumenta com o exercício, peris-
taltismo e com os movimentos respiratórios. Isso
A linfa, os vasos linfáticos, os tecidos e os órgãos explica o fato de que algumas pessoas precisam,
linfoides estão distribuídos por praticamente todo inclusive, realizar artificialmente manobras de
o corpo (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Os drenagem linfática.
órgãos linfoides são classificados como primários ou
secundários. Os primários são locais nos quais célu- Capilares, vasos e ductos linfáticos
las tronco se dividem e se tornam aptas a executar a A linfa intersticial é recolhida pelas capilares lin-
resposta imune (por exemplo, a medula óssea ver- fáticos os quais são os de menor calibre do sistema
melha e o timo). linfático. Tais vasos são importantes porque reco-
Já os órgãos linfoides secundários são locais nos lhem, além da linfa, moléculas diversas do líquido
quais a resposta imune ocorre (por exemplo, os lin- intersticial que não retornam aos capilares sanguí-
fonodos, o baço e os folículos linfáticos). Enquanto, neos (como moléculas grandes ou proteínas). Tal
o baço, o timo e os linfonodos são considerados ór- habilidade é possível porque os capilares linfáticos
gãos, pois são revestidos por uma cápsula de tecido apresentam diferenças em relação aos capilares
conjuntivo, os nódulos linfáticos não são, pois não sanguíneos, por exemplo, são mais calibrosos e têm
apresentam tal cápsula. maior permeabilidade.

91
ANATOMIA

A maior permeabilidade deve-se ao maior espa- neo. Eles drenam para os vasos linfáticos profun-
ço que existe entre suas células (são fenestrados), à dos que também recebem a drenagem dos órgãos
ausência de membrana basal e à posição das bordas internos. Assim, os vasos linfáticos tornam-se pro-
de suas células endoteliais. Estas estão frouxamente gressivamente maiores (sendo chamados de vasos
unidas e podem ser empurradas pela pressão do lí- coletores) e atravessam vários linfonodos antes de
quido intersticial de fora para dentro fazendo com desembocarem nos troncos linfáticos e permitirem
que o líquido penetre nos capilares linfáticos e uma que a linfa retorne à corrente sanguínea.
vez dentro, não retorne ao meio intersticial devido Os cinco principais troncos linfáticos são o
à pressão que força as bordas das células endoteliais intestinal (que recebe a linfa dos órgãos abdomi-
a se juntarem (como uma porta vaivém unidirecio- nais), o lombar (que drena o membro inferior e
nal). Além disso, existem filamentos de ancoragem alguns órgãos pélvicos), o subclávio (que drena
nos capilares linfáticos que fixam suas células endo- o membro superior, parte do tórax e do dorso),
teliais aos tecidos adjacentes. Quando ocorre ede- o jugular (que drena cabeça e pescoço) e o bron-
ma, estes filamentos são tracionados aumentando as comediastinal (que drenam o tórax). Os troncos
aberturas entre as células para que mais líquido flua linfáticos drenam para o ducto linfático direito ou
para o capilar linfático (FREITAS, 2004). para o ducto torácico. Posteriormente, a linfa é
Adicionalmente, esses pequenos vasos terminam direcionada às veias e passam a circular junto com
em fundo cego para permitir fluxo unidirecional da o plasma sanguíneo.
linfa em direção ao capilar sanguíneo, e apresentam O ducto linfático direito é um pequeno vaso
válvulas que ajudam a conduzir a linfa em direção ao (cerca de 1,0 cm de comprimento) formado pela
coração. Todavia, as mesmas os estreita dando-lhes união dos troncos subclávio, jugular e broncome-
aspecto irregular de “rosário” ou “colar de conta”. diastinal direito. Ele desemboca na junção da veias
Os capilares linfáticos estão presentes em quase subclávia direita e jugular interna direita.
todos os locais do corpo sendo abundantes na pele Já o ducto torácico mede aproximadamente 45
e nas mucosas, mas ausentes nos dentes, ossos, me- cm de comprimento. Ele recebe linfa dos troncos
dula óssea vermelha, sistema nervoso central, nos lombares e intestinal, atravessa o músculo diafrag-
tecidos avasculares (como cartilagem, epiderme e ma junto com a artéria aorta e recebe vasos linfáticos
córnea do bulbo) e nos músculos estriados esquelé- que drenam a metade esquerda do tórax. Posterior-
ticos (embora estejam presentes no tecido conjun- mente, recebe o tronco subclávio esquerdo e jugular
tivo que os envolve). esquerdo e desemboca na veia subclávia esquerda.
Os capilares se unem para formar os vasos linfá- Assim, recolhe a linfa de todo o corpo menos do
ticos os quais podem ser superficiais ou profundos. membro superior direito e da metade direita da ca-
Os superficiais anastomosam-se livremente e são beça, pescoço e tórax (esta é recolhida pelo ducto
mais numerosos do que as veias no tecido subcutâ- linfático direito).

92
EDUCAÇÃO FÍSICA

Linfonodos
Os linfonodos são pequenas massas de tecido
Ductos linfáticos
linfoide dispostas ao longo do trajeto dos vasos
Válvulas dos capilares
linfáticos. Os cerca de 600 linfonodos dispersos linfáticos
pelo corpo reúnem-se em grupo superficial e pro-
fundo e atuam como órgãos filtrantes da linfa an-
tes que ela adentre o sistema venoso. Para tanto,
eles destroem microrganismos, toxinas, células
anômalas e partículas estranhas, por meio dos
macrófagos e linfócitos existentes em seu interior
(WATANABE, 2000).
A linfa penetra a face convexa do linfonodo por
meio de vasos linfáticos aferentes, os quais têm vál-
vulas que se abrem para o centro do linfonodo e não Capilares linfáticos
permitem que a linfa reflua. Então, ela é lentamen-
te filtrada por meio de canais irregulares, denomi- Linfonodos

nados seios, onde existem macrófagos, linfócitos e Figura 10 - Capilares, ductos linfáticos e linfonodos

plasmócitos. Dos seios, a linfa sai pelos vasos linfá-


ticos eferentes que deixam o linfonodo pela região Baço
do hilo. Ah...é válido mencionar que existem menos O baço é um órgão que, provavelmente, já te inco-
vasos linfáticos eferentes do que aferentes a fim de modou um dia na vida, principalmente se você re-
reduzir a velocidade do fluxo da linfa. solveu fazer um exercício físico um pouco mais ex-
Cada linfonodo é envolto por uma cápsula fibro- tenuante sem preparo físico adequado (falo sempre
sa da qual partem projeções de tecido conjuntivo (as que isso acontece com quem quer “virar atleta” de
trabéculas) para o interior do linfonodo dividindo-o um dia para o outro). Você deve estar se perguntan-
em vários compartimentos os quais são posterior- do por que o baço já o incomodou. É simples. Sabe
mente subdivididos por fibras reticulares. Cápsula, aquela dorzinha na região lateral do abdome, à es-
trabéculas, fibras reticulares e fibroblastos formam o querda? Pois é ele. Mas por que será que ele dói ao se
estroma ou o arcabouço do linfonodo. O parênqui- exercitar com um pouco mais de intensidade? Será
ma do linfonodo é dividido em uma região externa que é possível que esta dor pare de incomodar com
chamada córtex, e uma região interna chamada me- o treinamento sistematizado? Como deve proceder?
dula. No córtex os linfócitos são sintetizados e na Vamos primeiro entender quem é o baço e quais
medula as células estão arranjadas em forma de cor- funções desempenha para depois respondermos tais
dões denominados cordões medulares. perguntas (DI DIO, 2002).

93
ANATOMIA

O baço é o maior órgão linfoide (com cerca de


10 cm), localizado à esquerda da cavidade abdomi-
nal, logo, abaixo do músculo diafragma, sendo qua-
se completamente recoberto pelo estômago. Com
forma elíptica e cor vermelho-escura, ele apresenta
a face diafragmática (superior, em contato com o
músculo diafragma) e a face visceral (inferior, em
contato com as vísceras abdominais). Enquanto, a
face diafragmática é convexa e lisa, a visceral apre-
senta o hilo por onde passam vasos e nervos.
O baço é envolto pelo peritônio visceral e por
uma cápsula resistente de tecido conjuntivo fibro-
so que contém fibras musculares e envia septos (as
trabéculas) para seu interior dividindo-o e dando-
-lhe sustentação. Cápsula, trabéculas, fibras reticu-
lares e fibroblastos constituem o estroma do baço.
Seu parênquima é constituído por polpa vermelha e Figura 11 - Baço

branca. A vermelha é mais abundante e consiste de


seios venosos ramificados que armazenam sangue; a Algumas doenças infecciosas podem aumentar seu
branca fica dentro da vermelha e apresenta grande tamanho causando esplenomegalia. Além disso,
quantidade de linfócitos e macrófagos. trauma abdominal pode rompê-lo e causar san-
Inúmeras funções são desempenhadas pelo baço. gramento intraperitoneal obrigando sua remoção
Ele produz linfócitos e plasmócitos, atua na matu- cirúrgica (esplenectomia) para evitar morte por he-
ração dos linfócitos B, armazena plaquetas, destrói morragia. Neste caso, outras estruturas (como fíga-
células sanguíneas velhas (hemocaterese) e produz do, medula óssea vermelha, linfonodos e tonsilas)
células sanguíneas (hemopoiese). Além disso, atua podem assumir suas funções, embora as funções
como reservatório de sangue sendo capaz de liberar imunes possam permanecer debilitadas.
cerca de 200 ml para a corrente sanguínea em situ- Agora, você certamente entende porque ele dói
ações de emergência (como uma hemorragia). Nor- quando se faz exercícios mais intensos sem um bom
malmente este sangue fica contido nos seios venosos preparo físico. Isso ocorre porque no exercício ele
da polpa vermelha e é liberado pela contração das faz várias funções ao mesmo tempo. Assim, realiza
células musculares lisas de sua cápsula. a hemocatérese, a hemopoiese e a liberação de san-

94
EDUCAÇÃO FÍSICA

gue extra para a circulação periférica a fim de suprir Linfócitos T necessitam do timo para amadure-
as necessidades dos músculos. Para liberar o sangue cer e, quando maduros, deixam o timo por meio do
contido nos seios venosos da polpa vermelha, os sangue e são transportados até os linfonodos, baço e
músculos lisos de sua cápsula se contraem gerando outros tecidos linfáticos. O timo também atua como
um incômodo percebido no local onde ele se localiza. glândula endócrina produzindo o hormônio timosi-
Para ele parar de incomodar, o ideal é prosseguir na que estimula o crescimento de linfócitos em to-
com o treinamento, pois, a continuidade do exercício dos os tecidos linfáticos do corpo.
gera mudanças na constituição do próprio sangue Ele está situado em parte na região inferior do
(aumentando, por exemplo, a quantidade de eritró- pescoço (anterior e lateralmente à traqueia) e em
citos e otimizando o transporte de O2 para os mús- parte na cavidade torácica (posteriormente, ao osso
culos). Ou seja, o jeito é continuar a treinar. Todavia, esterno, no mediastino). Esse órgão é maior na infân-
enquanto seu corpo ainda está sendo condicionado, cia, pois é gradativamente substituído por tecido con-
a melhor opção é respirar mais intensamente e, se juntivo e gordura. Contudo, algumas de suas células
a dor for muito intensa, diminuir a intensidade do continuam a se proliferarem durante toda a vida.
exercício. Sabendo de tudo isso, bom treino. Esse fato justifica o pouco conhecimento que a
maioria das pessoas tem a respeito do timo. Como
Timo ele vai sendo gradativamente substituído por tecido
A maioria das pessoas não sabe onde se localiza o conjuntivo e gordura, suas funções vão sendo assu-
timo, o que ele faz, e para piorar, algumas inclusive midas por outros órgãos, por isso, você, provavel-
não sabem nem se têm de fato um timo em seus cor- mente, nunca ouviu falar de alguém que morreu de
pos. Falo sempre que o timo é um órgão injustiçado problema no timo. Todavia, não podemos desprezar
porque ninguém se lembra dele. Mas por que será suas funções porque elas são importantes e essen-
que isso ocorre? Será que suas funções não são de ciais às diversas fases do desenvolvimento humano.
fato importantes?
O timo é formado por uma massa linfoide bi- Laringe

lobulada mantida justaposta por uma lâmina de te- Glândula tireóide


cido conjuntivo. Uma cápsula de tecido conjuntivo Traqueia
envolve cada lobo separadamente e as extensões
desta cápsula (as trabéculas) penetram os lobos di- Timo

vidindo-os em lóbulos. Cada lóbulo tem uma ca-


Pulmão
mada externa e outra interna. A externa é chamada
de córtex e é constituída por linfócitos T, células
dendríticas, células epiteliais e macrófagos. A in-
terna é chamada de medula e apresenta linfócitos
T maduros, células dendríticas, macrófagos e célu- Coração
las organizadas chamadas de corpúsculos tímicos Pericárdio
(FREITAS, 2004). Figura 12 - Timo

95
ANATOMIA

Nódulos linfáticos e a respiração nasal. Assim, o indivíduo desenvolve


Nódulos linfáticos são massas ovais de tecido linfá- respiração bucal e, por isso, os roncos são comuns.
tico não envoltas por uma cápsula de tecido conjun- De igual modo, a hipertrofia da tonsila palatina (po-
tivo. Eles estão espalhados por toda a mucosa que pularmente chamada de amidalite) também dificul-
reveste os sistemas genital masculino e feminino, ta a deglutição.
digestório, urinário e respiratório e, por isso, são
chamados de tecido linfático associado à mucosa
(MALT) (TORTORA et al., 2010).
Enquanto alguns nódulos linfáticos são peque- Tonsila
faríngea
nos e solitários, outros formam grandes agregações
(como as tonsilas, os nódulos linfáticos do íleo e do
Tonsila
apêndice vermiforme). Nos segmentos gastrointesti- palatina
nais são conhecidos como placas de Peyer.

Tonsilas
Tonsila
Tonsilas são pequenas massas de tecido linfoide lingual
relacionadas à imunidade, representando a pri-
meira defesa do organismo. Elas ficam localizadas Figura 13 - Tonsilas

em várias regiões do corpo, por exemplo, na parte


nasal da faringe (tonsila faríngea), próximo ao ós-
tio faríngeo da tuba auditiva (tonsila tubária), na
raiz da língua (tonsila lingual), na fossa tonsilar
(tonsila palatina) e na laringe (tonsila laríngea). PRINCIPAIS LINFONODOS DO CORPO
O conjunto delas é conhecido como anel linfático
(WATANABE, 2000). Cabeça
Na infância, é normal que as tonsilas fiquem Incluem os linfonodos occipital (drena a parte oc-
mais volumosas uma vez que a criança tende a pôr cipital do escalpo e a parte superior do pescoço), os
na boca quase tudo o que manipula. Como normal- mastoideos (drena a pele da orelha), os pré-auricu-
mente os objetos são contaminados, as tonsilas são lares (drena a orelha externa e a região temporal do
ativadas a fim de produzir anticorpos e ficam hiper- escalpo), os parotídeos (drena o nariz, a parte pos-
trofiadas e dolorosas. terior da cavidade nasal e a parte nasal da faringe)
Outro detalhe interessante que merece ser desta- e os da face que incluem os infraorbitais (drena as
cado, é que a hipertrofia da tonsila tubária e faríngea pálpebras), os mandibulares (drenas as bochechas),
recebe o nome de adenoide e pode dificultar o fun- os bucinatórios (drena o ângulo da boca e as boche-
cionamento da tuba auditiva, da qualidade da voz chas) (MOORE et al., 2014).

96
EDUCAÇÃO FÍSICA

Pescoço útero e vagina; b) os ilíacos comuns que drenam vís-


Incluem os linfonodos submandibulares (drena o ceras pélvicas; c) os ilíacos internos que drenam vís-
mento, ápice da língua e parte do palato), os submen- ceras pélvicas, períneo, região glútea e face posterior
tuais (drena mento, ápice da língua, lábio inferior, da coxa; d) os sacrais que drenam reto, próstata e
assoalho da boca e bochechas), os cervicais superfi- parede posterior da pelve; e) os lombares que dre-
ciais (drena orelha e região parotídea), os cervicais nam testículos, ovários, glândula suprarrenal e pare-
profundos superiores (que ficam abaixo do músculo de abdominal lateral (FREITAS, 2004).
esternocleidomastoideo), os cervicais inferiores (que Os linfonodos viscerais incluem: a) os celíacos
ficam próximos à veia subclávia; drenam parte poste- que drenam estômago, esôfago, duodeno, fígado,
rior do escalpo e pescoço, região peitoral e parte do vesícula biliar, pâncreas e baço; b) os mesentéricos
braço) e os cervicais superiores (drenam parte poste- superiores que drenam jejuno, íleo, apêndice, ceco,
rior da cabeça e do pescoço, orelha, faringe, esôfago, colo ascendente, descendente e sigmoide; c) os me-
glândula tireoide, palato e tonsilas) (FREITAS, 2004). sentéricos inferiores que drenam colo descendente,
sigmoide, reto e canal anal.
Tórax
Os linfonodos do tórax podem ser parietais ou vis- Membros superiores
cerais. Os parietais incluem os linfonodos paraester- Os principais linfonodos dos membros superiores
nais (que drenam parte da parede torácica, glândula são: a) os supratrocleares que drenam antebraço, pal-
mamária e face diafragmática do fígado), entercos- ma e dedos mediais; b) os deltopeitorais que drenam
tais (que drenam parte da parede torácica) e frênicos o lado radial do membro superior; c) os axilares que
(que drenam fígado, diafragma e parede abdominal drenam a maior parte do membro superior, glândulas
anterior) (MOORE et al., 2014). mamárias, parede torácica e pescoço (DI DIO, 2002).
Os linfonodos viscerais incluem os mediasti-
nais anteriores (que drenam timo e pericárdio), os Membros inferiores
mediastinais posteriores (que drenam esôfago, pe- Os principais linfonodos dos membros inferiores
ricárdio, diafragma e face convexa do fígado) e os são: a) os poplíteos que drenam a região calcanear e
traqueobronquiais (que drenam traqueia, esôfago, o joelho; b) os inguinais superficiais que drenam a
brônquios e pulmões). parede abdominal, a região glútea, os órgãos genitais
externos e todos os vasos superficiais do membro
Abdome e pelve inferior; c) os inguinais profundos que drenam os
Os linfonodos do abdome e da pelve também po- vasos profundos do membro inferior, pênis e clitóris
dem ser parietais ou viscerais. Os parietais incluem (DANGELO; FATTINI, 2011).
os linfonodos: a) ilíacos externos que drenam vasos
linfáticos profundos da parede abdominal inferior
até o umbigo, região adutora da coxa, bexiga uriná-
ria, próstata, ducto deferente, vesícula seminal, parte
prostática e membranácea da uretra, tubas uterinas,

97
ANATOMIA

A disseminação hematogênica do câncer é a via


mais comum de propagação de sarcomas (tumores
Timo Medula ósseo menos comuns, porém mais malignos). Um fato in-
vermelha
teressante é que as veias disseminam mais do que
as artérias (pois têm paredes mais finas, oferecem
Baço menos resistência e são mais abundantes) e os locais
mais comuns de sarcomas secundários são o fígado
e os pulmões.
A disseminação linfática do câncer é a via mais
comum de disseminação de carcinomas (tipo mais
comum de câncer, porém, menos maligno). Quando
a metástase ocorre por via linfática, pode-se prever
o novo local de instalação do câncer analisando a
drenagem linfática do tumor primário. Essa via faz
Notar os linfonodos com que linfonodos cancerosos fiquem aumenta-
dispersos em todo
o corpo dos, mais firmes, insensíveis e fixos às estruturas
subjacentes. Essa caracterização é importante e deve
ser avaliada de maneira comparativa em relação às
alterações causadas nos linfonodos em decorrência
de quadros infecciosos. Nesse caso, a infecção faz
com que os linfonodos ficam aumentados, no en-
Figura 14 - Principais linfonodos do corpo tanto, moles, móveis e muito dolorosos.
Como algumas células cancerígenas podem so-
DISSEMINAÇÃO DO CÂNCER breviver e se multiplicar no interior dos linfonodos
e a partir dele se disseminar pelo corpo, linfonodos
Células cancerígenas podem se disseminar pelo cor- intumescidos próximos a regiões cancerosas devem
po por contiguidade (por proximidade) ou por me- ser removidos cirurgicamente. Além disso, a técnica
tástase. A propagação por meio de metástase ocorre de terapia manual denominada drenagem linfática
por disseminação hematogênica (por meio do san- não é aconselhável a portadores de tumores, pois, fa-
gue) ou linfática (por meio da circulação linfática) cilita a disseminação de células cancerígenas de um
(MOORE et al., 2014). tumor primário para outras regiões do corpo.

98
EDUCAÇÃO FÍSICA

Por fim, é importante caracterizar o linfoma. Esse A linfangite é a inflamação secundária dos vasos
é considerado o câncer dos órgãos linfoides, espe- linfáticos. Já a linfadenite é a inflamação secundária
cialmente dos linfonodos. A maioria não tem causa dos linfonodos. É popularmente conhecido como
conhecida. Seu tratamento inclui radioterapia, qui- íngua e ocorre em casos de infecção ou inflamação.
mioterapia e transplante de medula óssea. Os dois Seu aparecimento pode fazer com que grupos de
principais tipos de linfomas são a doença de Hodgkin linfonodos fiquem sobrecarregados e aumentem de
que acomete pessoas entre 15 e 35 anos ou acima de 60 tamanho, tornando-se dolorosos e facilmente palpá-
anos de idade. Ocorre o aumento dos linfonodos que é veis na superfície do corpo.
comum no pescoço, tórax e axila. É mais comum em Por fim, linfedema é um tipo localizado de ede-
homens e curam em 90 a 95% dos casos e o não Ho- ma que ocorre quando a linfa não está sendo ade-
dgkin tipo mais comum ocorre em qualquer idade e quadamente drenada. Pode ser causada por um lin-
pode estar associado à esplenomegalia, anemia e mal fonodo infectado ou um vaso linfático bloqueado.
estar geral. Curam em cerca de 50% dos casos. Se não for minimizado, pode aumentar a pressão
sanguínea capilar local e agravar ainda mais o qua-
REFLITA dro clínico.

Sabia que pessoas com o sistema imunológi- ENVELHECIMENTO E O SISTEMA LINFÁTICO


co comprometido têm maior probabilidade
de terem a Doença de Hodgkin? O melhor é O envelhecimento muda a fisiologia do sistema
prevenir evitando fatores de risco evitáveis
(como fumo e debilidade imunológica). linfático fazendo com que algumas alterações
apareçam. É comum, por exemplo, que com o
aumento da idade haja diminuição da produção
de células imunológicas e maior produção de
LINFANGITE, LINFADENITE E LINFEDEMA anticorpos contra o próprio organismo. Tal fato
está diretamente relacionado à maior debilidade
Algumas estruturas do sistema linfático podem imunológica que os idosos apresentam e ao au-
sofrer alterações e modificar o funcionamento mento da incidência de doenças autoimunes nas
deste sistema. São exemplos: a linfangite, a linfa- fases mais tardias da vida (MIRANDA NETO;
denite e o linfedema (MIRANDA NETO; CHO- CHOPARD, 2014).
PARD, 2014).

99
ANATOMIA

Sistema
Respiratório
DEFINIÇÃO E FUNÇÃO DO SISTEMA RES- DIVISÃO DO SISTEMA RESPIRATÓRIO
PIRATÓRIO
Como você pôde perceber, o sistema respiratório é
O sistema respiratório é constituído por um conjun- essencial à vida e executa funções complexas que de-
to de estruturas anatômicas as quais, em conjunto, pendem das estruturas anatômicas que o compõem.
são responsáveis pela captação do ar do meio am- Assim, tais estruturas podem ser divididas, conforme
biente e transporte do mesmo até o órgão respirató- a função que desempenham, em porção de condução
rio para que a hematose seja possível (DANGELO; e porção de respiração. A porção de condução é for-
FATTINI, 2011). mada por órgãos tubulares cuja função é levar o ar
A hematose é um processo que implica em tro- inspirado até a porção respiratória e destes conduzi-lo
cas gasosas entre o ar atmosférico e o meio interno. de volta para ser expirado a fim de eliminar o CO2.
Nesse processo, o CO2 resultante do metabolismo Ela é composta pelo nariz, faringe, laringe, tra-
celular é trazido pelo sangue aos pulmões e se di- queia, brônquios e todas as suas ramificações. Já a
funde dos capilares teciduais para os alvéolos para porção de respiração é representada exclusivamente
ser eliminado juntamente com o ar expirado. Ao pelos pulmões, pois, representam o local onde efe-
mesmo tempo, o O2 do ar inspirado difunde-se dos tivamente as trocas gasosas ocorrem (hematose que
alvéolos para os capilares alveolares onde se combi- descrevemos anteriormente, lembra?).
na com a hemoglobina originando o sangue arterial. Além disso, as estruturas anatômicas do siste-
Posteriormente, o O2 difunde-se dos capilares ma respiratório também podem ser agrupadas em
teciduais para o líquido intersticial e deste para o in- via aérea superior e via aérea inferior. Enquanto a
terior das células. Dessa forma, o O2 vindo dos pul- via aérea superior compreende o nariz, a faringe e a
mões é distribuído a todas as células do corpo e o laringe, a via aérea inferior compreende a traqueia,
CO2 por elas produzido é eliminado evitando morte os brônquios e suas ramificações, e os pulmões
celular. Lindo, não é? (FREITAS, 2004).

100
EDUCAÇÃO FÍSICA

ÓRGÃO DO SISTEMA RESPIRATÓRIO

Nariz O nariz é subdividido em raiz (superiormente


É a primeira estrutura do sistema respiratório cuja onde ele inicia, como se fosse o vértice da “pirâmi-
principal função é captar o ar do meio ambiente. de”), base (parte inferior da “pirâmide”), ápice (pon-
Todavia, ele também filtra, aquece e umidifica o ar to projetado mais anteriormente), dorso (entre a raiz
inspirado, recebe e elimina as secreções dos seios e o ápice), asa (a parte “gordinha” onde as pessoas
paranasais e do ducto lacrimonasal e permite o colocam piercing) e narinas (aberturas em forma de
olfato (pois, contém o órgão periférico do olfato) fenda que fazem a comunicação da cavidade nasal
(DI DIO, 2002). com o meio externo, são separadas por um septo).
O nariz se localiza acima do palato duro e é com- Vale enfatizar que conforme a morfologia do dorso,
posto por uma parte externa e pela cavidade nasal. o nariz pode ser classificado em retilíneo, côncavo ou
No entanto, devido à proximidade e as relações fun- convexo. De igual modo, conforme a morfologia das
cionais, os seios paranasais são estudados junto ao narinas e de acordo com os grupos raciais, o nariz pode
estudo do nariz. ser do tipo leptorrino (quando as narinas são estreitas
Externamente, o nariz está localizado no plano e anteriorizadas), camerrino (com narinas largas e late-
mediano da face, como uma pirâmide de base infe- ralizadas) ou mesorrino (com narinas medianas).
rior e ápice superior. Sua estrutura é ósteo-cartilagí- A cavidade nasal fica superior à cavidade oral e
nea apresentando também o músculo epitelial. Sua se comunica com o meio externo e com a parte nasal
parte óssea externa é composta pelos ossos nasais da faringe. Dessa forma, seu limite superior é o seio
e pelas maxilas. A parte óssea interna é composta frontal e a fossa anterior do crânio, o posterior é o
pelos ossos etmoide (superiormente) e vômer (infe- seio esfenoidal, o lateral é o seio etmoidal e o seio
riormente). Em sua composição cartilagínea partici- maxilar, e o limite inferior é representado pelo pala-
pam as cartilagens laterais, a cartilagem do septo e as to. Assim, pode-se dizer que o palato é o assoalho da
cartilagens alares maiores e menores. cavidade nasal e o teto da cavidade oral.

101
ANATOMIA

A cavidade nasal pode ser dividida em vestíbu- Os seios paranasais ou da face são cavidades
lo, região respiratória e região olfatória. O vestíbulo existentes em alguns ossos do crânio (frontal, ma-
é anterior e apresenta pelos chamados de vibrissas. xila, esfenoide e etmoide) contendo ar e recobertas
As regiões respiratória e olfatória são posteriores e por mucosa respiratória. Tais ossos são chamados
ficam recobertas, respectivamente, por mucosa res- de pneumáticos e cada um deles apresenta seu pró-
piratória e olfatória. Enquanto a região respiratória é prio seio (seio frontal, seio maxilar, seio esfenoidal
maior e inferior, a região olfatória fica restrita à con- e seio ou células etmoidais). Eles tornam a cabeça
cha nasal superior e ao terço superior do septo nasal. mais leve, ajudam a aquecer e umidificar o ar, e estão
O septo nasal divide a cavidade nasal em por- relacionados à ampliação da voz.
ções direita e esquerda. Esse septo é constituído por Toda esta constituição interna do nariz é mui-
uma parte cartilagínea (a cartilagem do septo nasal) to importante porque permite que o ar inspirado
e uma parte óssea (lâmina perpendicular do osso et- seja adequadamente purificado, aquecido e umi-
moide e osso vômer). Assim, o termo cavidade nasal dificado. Assim, quando o ar percorre a cavidade
pode ser usado para toda a cavidade ou para cada nasal, ele é turbilhonado contra as saliências e re-
parte (direita e esquerda). entrâncias de suas paredes (devido às conchas na-
O osso etmoide, além da lâmina perpendicular, sais e meatos) o que aumenta o contato do ar com a
apresenta duas massas laterais constituídas de célu- mucosa respiratória a qual contém glândulas nasais
las pneumáticas denominadas seios etmoidais, dos (produtoras de secreção serosa) e células calicifor-
quais se projetam duas conchas nasais, a superior e mes (produtoras de muco).
a média (a concha nasal inferior é um osso separa- Essas secreções permitem que partículas de im-
do). Além disso, o etmoide também apresenta a lâ- purezas e microrganismos fiquem presos e, na mu-
mina crivosa que apresenta uma projeção chamada cosa olfatória, permitem a limpeza dos receptores
crista etmoidal e que é perfurada pelos neurônios olfativos habilitando-os a captar estímulos químicos
bipolares que saem da porção olfatória da cavida- que causam sensações olfativas. Além disso, a muco-
de nasal, formam o nervo olfatório e se dirigem ao sa respiratória possui células ciliadas que, por meio
giro reto do encéfalo. dos batimentos dos cílios, conduzem as impurezas e
As conchas nasais delimitam espaços denominados os microrganismos aprisionados até o meio externo.
meatos os quais aumentam a superfície mucosa da ca- Vale lembrar que em caso de gripe ou resfriado,
vidade nasal umedecendo e aquecendo o ar inspirado. o excesso de muco prejudica a limpeza dos recep-
Essa região é muito vascularizada e a ruptura de vasos tores olfativos e, juntamente, com a inflamação da
nessa região pode causar sangramento nasal (epistaxe). mucosa nasal, dificulta a chegada do ar até a área
Os seios paranasais desembocam nesses meatos. olfativa reduzindo o olfato.

102
EDUCAÇÃO FÍSICA

Vista da parede lateral da cavidade do nariz e da faringe

Figura 15 - Cavidade nasal


Fonte: Colicigno et al. (2009, p. 172,on-line)6

103
ANATOMIA

Faringe
É uma estrutura músculo-membranácea localizada
posteriormente à cavidade nasal, à cavidade oral e Na porção nasal da faringe existe um importante
à laringe de forma que apresenta três porções sem acidente anatômico chamado óstio faríngeo da tuba
limites precisos entre elas: a porção nasal (superior, auditiva, o qual é protegido pelo toro tubário. Esse
em comunicação com a cavidade nasal e com função óstio é uma abertura em forma de fenda que marca
respiratória), a oral (em comunicação com a cavida- a desembocadura da tuba auditiva, ou seja, a tuba
de oral e com função digestória) e a laríngea (inferior, auditiva comunica a parte nasal da faringe com a
em comunicação com a laringe e com função respi- cavidade timpânica da orelha média. Essa comuni-
ratória). Assim, a faringe está associada ao sistema cação serve para igualar a pressão do ar externo à
respiratório e digestório, pois é um canal comum à pressão daquele contido na própria cavidade timpâ-
passagem do ar e alimento (TORTORA et al., 2010). nica (percebemos claramente isso quando descemos
Em relação aos limites e correlações anatômicas a serra do mar e sentimos a pressão externa como
da faringe, é importante salientar que ela tem início um incômodo). Todavia, devido essa comunicação,
na base do crânio e término ao nível da 6ª vértebra uma infecção da faringe pode se propagar à orelha
cervical onde continua como o esôfago e mantém média (isso é muito comum em criança onde um
contato com a coluna vertebral. Ela é constituída quadro de tonsilite acaba evoluindo para um quadro
por três camadas sobrepostas. A interna tem cons- de otite). Além disso, o óstio também drena muco e
tituição mucosa, a externa ou adventícia é rica em perilinfa que existem nos canais semicirculares.
fibras conjuntivas, e a média é constituída por mús- Nas bordas do óstio faríngeo da tuba auditiva
culo estriado esquelético. Esses músculos realizam existem aglomerações linfáticas chamadas, em con-
os movimentos peristálticos da faringe e podem ser junto, de tonsila tubária. Além da tonsila tubária,
externos ou internos. Os externos são chamados de nesta parte da faringe existe ainda a tonsila faríngea
constritor superior, médio e inferior da faringe. Os a qual se aumentada passa a ser chamada de adenoi-
internos incluem o músculo palatofaríngeo, o estilo- de (como já visto no capítulo anterior).
faríngeo e o salpingofaríngeo.

104
EDUCAÇÃO FÍSICA

Laringe
A laringe é um órgão tubular que se localiza no pla-
no mediano e anterior do pescoço, entre a terceira e
a sexta vértebras cervicais. Ela se posiciona anterior-
mente à faringe e dá continuidade à traqueia. Assim,
serve como via aerífera (pois, permite a passagem
do ar da faringe para a traqueia) e como órgão da
fonação (pois, dentro dela estão as pregas vocais)
(WATANABE, 2000).
Ela é constituída por um esqueleto cartilagíneo,
ligamentos, membranas e músculos estriados es-
queléticos que atuam sobre as pregas vocais ou na
movimentação da laringe durante a deglutição. Seu
esqueleto cartilagíneo é formado por nove cartila-
gens, sendo três ímpares e três pares, como descritas
a seguir:
1. As impares são: a cartilagem tireoidea é a
maior delas. Ela é constituída por duas lâmi-
nas que se unem anteriormente formando a
proeminência laríngea (popularmente co-
nhecida como “gogó” ou “pomo-de-Adão”).
Ela se fixa ao osso hioide (superiormente) e à
Figura 16 - Faringe

105
ANATOMIA

cartilagem cricoide (inferiormente). A carti-


lagem cricoidea é espessa e forte, e tem forma
de anel. Fica abaixo da cartilagem tireoidea e
acima do primeiro anel de cartilagem da tra-
queia. A cartilagem epiglótica é fina, lembra
uma folha e fica em posição mediana.
• As pares são: cartilagem corniculada, a cunei-
forme e a aritenoidea ficam na parte poste-
rior da laringe. A corniculada e a cuneiforme Figura 17 - Laringe
são pequenos nódulos e a aritenoidea é seme-
lhante a uma pirâmide.

Dentro da laringe existe uma fenda que forma uma


pequena invaginação, o ventrículo da laringe, em
cuja mucosa se localiza a tonsila da laringe. Essa
fenda está delimitada por duas pregas, a prega ves-
tibular (superior) e prega vocal (inferior). A prega
vocal é constituída pelo ligamento e pelo músculo Traqueia
vocal os quais são revestidos por mucosa. Para que A traqueia é a continuação direta da laringe. Sua
o som seja produzido, os músculos da laringe movi- função é servir como via aerífera conduzindo ar da
mentam as pregas vocais cuja tensão ou relaxamento laringe até os brônquios principais. Ela tem início na
interfere na tonalidade do som. Em condições nor- região cervical e passa anteriormente ao esôfago em
mais, as pregas vestibulares não participam da fona- direção ao tórax. Por isso, apresenta porção cervical
ção, mas protegem as pregas vocais. e torácica. Em adultos, ela tem aproximadamente
A laringe apresenta muitos outros acidentes ana- 2,5 cm de diâmetro (DANGELO; FATTINI, 2011).
tômicos, mas estes não são relevantes ao profissional Tem estrutura cilíndrica fibrocartilagínea cons-
de educação física. De igual modo, os músculos da tituída por 16 a 20 anéis incompletos de cartilagem
laringe não serão abordados aqui, pois interessam em forma de “C” sobrepostos e ligados entre si pe-
mais aos profissionais da voz (os fonoaudiólogos) e los ligamentos anulares. Sua parede posterior cons-
aos profissionais da medicina que poderão vir a ser titui a parede membranácea da traqueia a qual é
otorrinolaringologistas. formada por tecido conjuntivo e músculo liso cha-

106
EDUCAÇÃO FÍSICA

mado músculo traqueal que completa sua estrutu- dários) os quais ventilam os lobos pulmonares.
ra. Suas cartilagens dão rigidez para impedir o co- Por sua vez, os brônquios lobares se dividem em
labamento de suas paredes, mas ao mesmo tempo, brônquios segmentares (de terceira ordem ou ter-
por estarem unidas por tecido elástico, a traqueia ciários) os quais vão até os segmentos broncopul-
apresenta mobilidade e flexibilidade durante a res- monares, sofrem sucessivas divisões e terminam
piração e a deglutição. nos alvéolos pulmonares em ramificações conhe-
Apesar de ser uma estrutura mediana, antes de cidas como árvore brônquica.
dividir-se nos dois brônquios principais (direito e Como já visto, o brônquio direito é quase a
esquerdo), a traqueia sofre um leve desvio à direi- continuação da traqueia. Ele é mais vertical, mais
ta. Assim, o brônquio principal esquerdo tem maior calibroso e mais curto do que o esquerdo. Por isso,
comprimento do que o direito. Tal divisão é marca- corpos estranhos que passam pela traqueia em ge-
da internamente por uma crista chamada carina, a ral obstruem esse brônquio. Ele se divide em três
qual é um importante ponto de referência durante o brônquios lobares e dez brônquios segmentares. Já
exame chamado broncoscopia. o brônquio principal esquerdo se divide em dois
Internamente, a traqueia é revestida por muco- brônquios lobares e oito brônquios segmentares.
sa e tem células ciliadas que auxiliam na limpeza Os brônquios segmentares continuam como bron-
das vias aéreas. É importante ressaltar que o hábito quíolos terminais, bronquíolos respiratórios e sa-
do tabagismo faz com que as glândulas traqueais cos alveolares (onde aparecem pequenas expansões
se tornem hipessecretivas ao mesmo tempo em que chamadas alvéolos). É importante ressaltar que os
paralisam seus cílios. Isso faz com que o fumante alvéolos se desenvolvem, principalmente, até os
crônico tenha sempre secreção em abundância, oito anos de idade onde existem aproximadamente
mas não consiga fazer uma boa higiene traqueo- 300 milhões deles.
brônquica. Assim, parece que ele está sempre car- Laringe

regado de secreção. Lateralmente à traqueia estão


Ramificação dos brônquios
as artérias carótidas comuns e a glândula tireoide. Traqueia principais direito e esquerdo

Brônquios
Tem estrutura semelhante à da traqueia, porém, os
anéis cartilagíneos são substituídos por placas irre-
gulares de cartilagem (não em forma de anel como Pulmão esquerdo
(notar a subdivisão
é na traqueia). Sua função é atuar como via aerífera Pulmão direito em 2 lobos)
(notar a subdivisão
transportando ar (MOORE et al., 2014). em 3 lobos)
Logo, após sua origem, os brônquios são cha-
mados de principais (de primeira ordem ou pri-
mários). Estes iniciam um processo de ramifica-
ção, de forma que os brônquios dão origem aos
brônquios lobares (de segunda ordem ou secun- Figura 18 - Traqueia e brônquios

107
ANATOMIA

Pulmão
In vivo, os pulmões são leves, esponjosos, macios e
elásticos. São considerados os principais órgãos da direito existe a fissura oblíqua e a fissura horizontal.
respiração uma vez que é em seu interior que a he- Já o pulmão esquerdo apresenta o lobo superior e o
matose ocorre. Por isso, ao nascimento ele é rosa, inferior os quais são separados apenas pela fissura
mas vai se tornado acinzentado e com manchas du- oblíqua. Vale destacar que no pulmão esquerdo exis-
rante a vida devido à inalação de várias partículas te uma projeção inferior do lobo superior chamada
(DI DIO, 2002). língula do pulmão.
Os pulmões estão contidos na cavidade torá-
cica ocupando-a quase totalmente. Entre eles há
uma região mediana, chamada mediastino, a qual
vai desde a abertura superior do tórax até o mús-
culo diafragma. No mediastino estão importantes
estruturas anatômicas como o coração e seus gran- Pulmão direito Pulmão esquerdo

des vasos, a traqueia, o esôfago, o timo, os brôn- Lobo superior


Lobo superior
quios principais etc.
O pulmão tem forma cônica, apresentando uma Lobo médio
região superior chamada ápice e uma região infe-
rior chamada base. A base é côncava e fica sobre o
músculo diafragma podendo, por isso, também ser
chamada de face diafragmática. Além desta face, o
pulmão apresenta outras duas, a costal e a medial
ou mediastinal. A costal é lisa, convexa e fica em
contato com as costelas; a medial é côncava, volta-
da ao mediastino e tem uma abertura chamada hilo Lobo inferior
pulmonar por onde entram e saem estruturas como
brônquios, artérias, veias e vasos linfáticos. Figura 19 - Pulmão direito e esquerdo

Existem diferenças entre os pulmões direito e es-


querdo. O direito é maior, mais pesado, mais curto Pleuras e cavidade pleural
e mais largo devido à posição do coração (o volume Cada pulmão é envolto por um saco seroso com-
do pulmão esquerdo chega a ser 10% menor do que pletamente fechado, chamado pleura, que apre-
o do pulmão direito). Além disso, o pulmão direito senta dois folhetos: a pleura pulmonar ou visceral,
subdivide-se em três lobos, enquanto, o esquerdo e a pleura parietal. A pleura pulmonar reveste a
apresenta apenas dois (no entanto, pode ter variação superfície do pulmão penetrando suas fissuras en-
individual). Os lobos do pulmão direito são chama- quanto a pleura parietal, mais espessa, recobre a
dos de superior, médio e inferior, e são separados en- face interna do tórax e o músculo diafragma (MO-
tre si por fendas profundas chamadas de fissuras. No ORE et al., 2014).

108
EDUCAÇÃO FÍSICA

MECÂNICA RESPIRATÓRIA

Ambas as pleuras são contínuas entre si por O músculo diafragma é o principal músculo da
meio de um espaço, chamado cavidade pleural, respiração. Isso pode ser dito porque, em condi-
onde existe um líquido que permite o deslizamen- ções de repouso, ele é o único músculo a se con-
to entre elas durante os movimentos respiratórios. trair para gerar a respiração. Quando se contrai,
Todavia, em alguns lugares, a pleura pulmonar ele desce em direção ao abdome comprimindo as
se afasta da pleura parietal formando os recessos vísceras abdominais e aumentando a pressão nesta
pleurais (como o recesso costodiafragmático e o cavidade. Em contrapartida, a pressão no tórax é
costomediastinal). Vale salientar que na cavidade diminuída fazendo com que o ar flua, a favor do
pleural a pressão é subatmosférica a fim de favore- gradiente de pressão, de onde está em maior pres-
cer a mecânica respiratória. são (o meio externo) para onde a pressão é menor
(a cavidade torácica). Isso caracteriza a inspiração
(TORTORA et al., 2010).
Para que a expiração ocorra não é necessário
que nenhum músculo respiratório se contraia, pois,
a própria elasticidade do tecido pulmonar faz com
que o ar saia dele assim que a pressão interna e a
externa se igualarem. Todavia se a inspiração ou a
expiração forem forçadas outros músculos respira-
tórios passam a agir (é o que ocorre, por exemplo,
durante o exercício físico ou em caso doença respi-
ratória). Assim, os músculos intercostais externos e
alguns músculos do pescoço (como o esternocleido-
mastoideo e os escalenos) passam a atuar na inspi-
ração forçada, assim como os músculos intercostais
internos e os músculos abdominais passam a atuar
Figura 20 - Pleuras e cavidade pleural na expiração forçada.

109
ANATOMIA

No mediastino (região central localizada entre as


duas cavidades pulmonares) fica o coração, a parte
torácica dos grandes vasos, a traqueia, o esôfago, o
timo, alguns linfonodos etc. (MOORE et al., 2014).
In vivo, o mediastino é uma região com alta mo-
bilidade devido suas estruturas viscerais ocas unidas
por tecido conjuntivo frouxo e gordura. Isso permite
acomodar os diferentes volumes e pressões durante
a respiração, batimentos cardíacos ou mesmo du-
rante a deglutição. No entanto, esta mobilidade ten-
te diminuir com a idade porque o tecido conjuntivo
frouxo que o constitui tente a se tornar mais rígido.
Figura 21 - Principais músculos da respiração
REFLITA
Toda a mecânica respiratória é cuidadosamente
controlada pelo sistema nervoso (controle nervoso) Você sabia que pessoas com problemas respi-
e por estímulos químicos (controle químico). En- ratórios podem melhorar com exercício físico?
quanto o controle nervoso depende da medula espi- Já ouviu falar que as capacidades pulmonares
nal e do tronco encefálico, o controle químico se dá de atletas são bem diferentes daquelas de in-
pela concentração dos gases O2 e CO2 os quais agem divíduos sedentários?
sobre receptores periféricos e, consequentemente,
sobre o centro respiratório. Assim, tanto por meio
do controle nervoso quanto do controle químico é
possível modificar importantes fatores da respira-
ção, por exemplo, a frequência e o volume respirató-
rio. Vale salientar que todo este controle da mecâni-
ca respiratória está sempre relacionado às condições
as quais o indivíduo está sujeito (como temperatura
ambiental, esforço físico, doenças etc.).

CAVIDADE TORÁCICA E MEDIASTINO

Em corte transversal, a cavidade torácica tem forma


de rim (é reniforme) e é dividida em três compar-
timentos: cavidade pulmonar direita, cavidade pul-
monar esquerda e mediastino. Nas cavidades pul-
monares ficam os pulmões revestidos pelas pleuras. Figura 22 - Cavidade torácica e mediastino

110
considerações finais

E
imprescindível para vida o adequado funcionamento do sistema circu-
latório sanguíneo e linfático em atuação conjunta com o sistema respi-
ratório e o nervoso. Isso porque deles depende a adequada oxigenação e
nutrição tecidual, bem como a drenagem das células a fim de manter a
homeostasia celular e corpórea.
Doenças podem acometê-los como as doenças cardíacas, vasculares, linfáti-
cas, respiratórias, traumas, tumores ou acidentes vasculares no sistema nervoso.
Por isso, pesquisas científicas têm sido desenvolvidas, principalmente por profis-
sionais da saúde, a fim de encontrar soluções que previnam doenças ou garantam
a sobrevida dos portadores.
Para que tais pesquisas tenham sucesso e possam mudar prognósticos, o pré-
-requisito básico é o pleno conhecimento histológico, fisiológico e anatômico
desses sistemas. Assim, este estudo é imprescindível aos estudantes da área da
saúde, uma vez que sua adequada compreensão pode representar a real possibili-
dade de prevenção e tratamento adequado.
Além disso, o sistema cardiorrespiratório é imensamente modificado pelo
exercício físico. O coração, por exemplo, torna-se mais forte em bombear o san-
gue aumentando a quantidade de sangue ejetado por batimento cardíaco. Assim,
pode bater menos vezes por minuto e bombear a mesma quantidade de sangue.
As câmaras cardíacas de um atleta são modificadas (tornam-se mais espessas e
com maior capacidade contrátil). Ao contrário, sedentários têm maior frequên-
cia cardíaca para manter o volume de ejeção e têm miocárdio menos forte. O
exercício modifica o funcionamento do sistema vascular linfático (fluxo da linfa
é estimulado pelo movimento).
O sistema respiratório é melhorado pelo exercício. Isso pode ser percebido
ao analisar volumes e capacidades pulmonares (pela espirometria) do atleta em
comparação ao sedentário. Além disso, é sabido que o exercício fortalece os mús-
culos respiratórios em geral. Espero que tenha se convencido de que o bom pro-
fissional de educação física deve conhecer estes sistemas.

111
LEITURA
COMPLEMENTAR

Leia o artigo indicado, a seguir, que trata sobre a influên- padrão respiratório. A análise de variáveis como volume
cia do exercício físico sobre os parâmetros respiratórios corrente (VC), tempo inspiratório (Ti), tempo expiratório
e os principais fatores que influenciam o desenvolvimen- (Te), tempo total do ciclo respiratório (Ttot), permitem
to deste sistema a partir da realização do exercício. dizer quem influencia o volume minuto (VM) ou ven-
tilação minuto e a frequência respiratória (FR) do padrão
PADRÃO RESPIRATÓRIO DURANTE O EXERCÍCIO respiratório. Milic-Emili e col27 introduziram o conceito de

- REVISÃO LITERÁRIA que o VM é o produto do fluxo inspiratório médio (VC/ Ti)

O padrão respiratório, com todas as suas variáveis, tem pelo Ti de todo o ciclo respiratório (Ti /Ttot): VM = 60 (VC

sido investigado, ao longo dos anos, no repouso e du- / Ti) x (Ti/ Ttot), VM = 60 (VC / Ti) x (Ti/ Ttot), VM = 60 (VC /

rante as diferentes fases do exercício, principalmente Ti) x (Ti/ Ttot), VM = 60 (VC / Ti) x (Ti/ Ttot):

em sujeitos saudáveis. Este tema é de grande relevância


VM = 60 (VC / Ti) x (Ti/ Ttot).
clínica na área de fisiologia do exercício, principalmente
porque, se for bem compreendido em sujeitos normais, Em que VC/ Ti e Ti / Ttot refletem o drive e o timing res-
podemos considerar suas variáveis em sujeitos portado- piratórios, respectivamente. Drive respiratório pode ser
res de pneumopatias crônicas, atentando para suas limi- definido como o estímulo neuromuscular inspiratório ca-
tações ventilatórias. paz de produzir movimentos respiratórios, ou seja, o co-
Este estudo teve o objetivo de apresentar uma revisão mando respiratório. Timing respiratório é expresso pelo
da literatura sobre o padrão respiratório durante o exer- Ti, Te e Ttot, representando os tempos respiratórios. VC /
cício, focando primariamente o controle respiratório, as Ti é a transformação mecânica do drive inspiratório neu-
alterações das variáveis componentes do padrão e do romuscular, que não é afetado pelo reflexo vagal, mas
fator sexo durante as diferentes fases do exercício, em é alterado pelas alterações das propriedades mecânicas
sujeitos saudáveis Controle do padrão respiratório no dos pulmões e da parede torácica, independente de mu-
início do exercício [...]. danças na atividade respiratória. [...].
Nos últimos anos, avanços consideráveis têm sido feitos
Fonte: Lopes, Britto e Parreira (2005).
para elucidar os mecanismos envolvidos no controle do

112
atividades de estudo

1. Em relação ao sistema circulatório, leia as afir- V. Ao contrário do proposto anteriormente, os


mações a seguir, e assinale apenas a alternati- vasos que mantêm relação com o átrio direito
va que contém proposições corretas: do coração são veias pulmonares (superiores
I. A irrigação do membro superior depende das e inferiores). Já os vasos que mantêm relação
artérias subclávias (direita e esquerda). Embo- com o átrio esquerdo do coração são as a veia
ra, tais artérias se originem da artéria aorta, à cava superior e a veia cava inferior.
direita sua origem é indireta porque ocorre a
partir do tronco braquiocefálico. Já à esquer- Está correta a alternativa:
da sua origem é direta, pois ocorre a partir do
1. I e II.
arco da aorta.
2. I e IV.
II. A irrigação do membro inferior depende da
artéria aorta (parte descendente abdominal) 3. II e III.
a qual se bifurca na altura dos ossos do qua-
4. II e V.
dril originando a artéria ilíaca comum (direita
e esquerda). A artéria ilíaca comum se ramifica 5. III e IV.
originando a artéria ilíaca externa e a artéria
ilíaca interna. A ilíaca interna passa o ligamen- 2. Leia as afirmações a seguir, e assinale a alter-
to inguinal e, na coxa, passa a ser chamada de nativa que contém proposições corretas:
femoral. Na altura da fossa poplítea, recebe I. O trajeto que o ar percorre desde sua cap-
o nome de artéria poplítea a qual se bifurca tação até os alvéolos pulmonares inclui, em
em tibial anterior, tibial posterior e fibular. Tais ordem, as seguintes estruturas anatômicas:
artérias irrigam todo o membro inferior (inclu- vestíbulo do nariz, cavidade nasal, laringe,
sive os pés). faringe, traqueia, brônquios principais, brôn-
III. Na grande circulação, o sangue sai do ven- quios segmentares, brônquios lobares, bron-
trículo esquerdo pela artéria aorta, transita quíolos e alvéolos.
pelo corpo oxigenando todas as células (uma II. Se um indivíduo apresentar choque anafiláti-
vez que esta artéria se ramifica intensamente co devido à administração de um anestésico,
atingindo todas as partes do corpo). Ao nível por exemplo, poderá ocorrer edema de glo-
celular, capilares teciduais captam o CO2 pro- te impedindo a passagem de ar da laringe à
duzido pelo metabolismo das células. Esses traqueia. Tal edema pode ser fatal se aten-
capilares se anastomosam e originam vênulas dimento adequado não for prestado. Assim,
e veias de calibre cada vez maior que retor- pode ser necessário manter uma ventilação
nam ao átrio esquerdo do coração pelas veias assistida ou, em nível hospitalar, pode ser
pulmonares. necessário realizar uma traqueostomia. Esse
IV. Os vasos que mantêm relação com o átrio di- procedimento cirúrgico secciona os primeiros
reito do coração são a veia cava superior e a anéis de cartilagem da traqueia a fim de que
veia inferior. Já os vasos que mantêm relação a respiração passe a ocorrer da traqueia em
com o átrio esquerdo do coração são as veias direção aos brônquios. Sua realização implica
pulmonares (superiores e inferiores). em impossibilidade de fonação uma vez que

113
atividades de estudo

fala depende da vibração das pregas vocais e Está correta a alternativa:


das pregas vestibulares as quais participam
a. I e II.
ativamente da fonação.
b. I e IV.
III. Uma das causas de respiração bucal é a hi-
pertrofia das tonsilas linguais. Tais tonsilas c. II e III.
podem aumentar de tamanho e, então, pas-
d. II e V.
sam a ser chamadas de adenoide. Tal fato
impede que o ar passe da parte oral da fa- e. IV e V.
ringe para a parte laríngea da faringe. Assim,
uma cirurgia corretiva é indicada, pois tal 3. Leia as afirmações a seguir, e assinale a alter-
obstrução obriga o indivíduo a desenvolver a nativa que contém proposições corretas:
respiração bucal. I. A grande circulação tem por objetivo oxigenar
IV. Devido à possibilidade do ar inspirado ter al- o sangue nos pulmões.
gum nível de contaminação, algumas regiões II. As principais artérias que irrigam o coração
do sistema respiratório dispõem de estruturas são as coronárias (direita e esquerda).
linfáticas produtoras de anticorpos. Dentre elas
podem-se citar as tonsilas palatinas, a tonsila III. A principal veia que drena a cabeça e o pesco-
faríngea e as tonsilas linguais as quais, em con- ço é a veia jugular interna.
junto, podem ser chamadas de anel linfático. IV. A pequena circulação tem por objetivo oxige-
V. Os pulmões são revestidos por uma dupla nar e nutrir as células do corpo e delas remo-
membrana de tecido conjuntivo chamada ver todo o gás carbônico e as impurezas.
pleura. Essa membrana é análoga, em ter- V. Os átrios são as câmaras cardíacas inferiores
mos funcionais, à fáscia muscular e ao peri- e maiores das quais o sangue é ejetado do
cárdio, uma vez que uma de suas funções é coração. Por isso, os átrios são chamados de
proteger os pulmões assim como as estru- câmaras de ejeção.
turas citadas acima protegem os músculos
e o coração. No entanto, as pleuras desem- Está correta a alternativa:
penham um papel importante na mecânica
respiratória devido à pressão negativa que a. I e II.
existe no espaço pleural. Essa pressão é im- b. I e IV.
portante, pois serve para atrair a pleura pul-
monar em direção à parietal de forma que c. II e III.
esta força de sucção permita a expansão d. II e V.
pulmonar.
e. III e IV.

114
atividades de estudo

4. Leia as afirmações a seguir, e assinale a alter- 5. Observe a imagem, leia as afirmações a seguir,
nativa que contém proposições corretas: e assinale a alternativa que contém proposi-
I. O pulmão direito é maior do que o esquerdo ções corretas:
e apresenta mais lobos e fissuras. a. O número 1 representa a laringe.
II. Ao contrário do proposto acima, o pulmão es- b. O número 3 representa a laringe.
querdo é maior do que o direito. O esquerdo
c. O número 6 representa o pulmão.
apresenta três lobos (superior, médio e infe-
rior) e duas fissuras (oblíqua e horizontal). d. O número 3 representa a faringe.

III. As principais estruturas de filtragem da linfa e. O número 4 representa o brônquio.


são os linfonodos, pois apresentam muitas
células imunológicas (como os linfócitos) as
quais são capazes de destruir microrganis-
mos, células anômalas ou mesmo moléculas
grandes e inúteis.
IV. A drenagem linfática depende, em última ins-
tância, do ducto linfático direito e do ducto
torácico. Tais estruturas lançam a linfa nas ar-
térias e, por isso, pode-se dizer que o sistema
linfático é auxiliar do sistema arterial.
V. A linfa localizada no meio intercelular é cha-
mada de linfa intersticial enquanto a linfa lo-
calizada nos capilares linfáticos é chamada de
linfa circulante.

Está correta a alternativa:

a. I e II.
b. I e IV.
c. II e III.
d. II e V.
e. III e V.

115
Material Complementar

Indicação para Assistir

Um ato de coragem
Denzel Washington, Robert Duvall, James Woods
Ano: 2002
Sinopse: John Q. Archibald (Denzel Washington) é um homem comum, que
trabalha em uma fábrica e vive feliz com sua esposa Denise (Kimberly Elise) e
seu filho Michael (Daniel E. Smith). Até que Michael fica gravemente doente, ne-
cessitando com urgência de um transplante de coração para sobreviver. Sem
ter condições de pagar pela operação e com o plano de saúde de sua família
não cobrindo tais gastos, John se vê então numa luta contra o tempo pela so-
brevivência de seu filho. Em uma atitude desesperada, ele então decide tomar
como refém todo o setor de emergência de um hospital, passando a discutir
uma solução para o caso com um negociador da polícia (Robert Duvall) e com
um impaciente chefe de polícia (Ray Liotta), que deseja encerrar o caso o mais
rapidamente possível.
Comentário: É um filme emocionante que mostra como a sobrevivência do ser
humano depende totalmente do adequado funcionamento do sistema circula-
tório. Muito bom!

Referências On-line

1
Em: <http://www.prosangue.sp.gov.br/artigos/estudantes>. Acesso em: 09 jun. 2016.
2
EM: <HTTP://WWW.ARQUIVOSONLINE.COM.BR/2009/9303/PDF/9303015.PDF>. ACESSO EM: 10 JUN. 2016.
3
Em: <http://www.tuasaude.com/ponte-de-safena/>. Acesso em: 10 jun. 2016.
4
Em: < http://cesumar.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788576050940/pages/167>.
Acesso em: 13 jun. 2016.
5
Em: <http://cesumar.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788576050940/pages/165>.
Acesso em: 13 jun. 2016.
6
Em: <http://cesumar.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788576050940/pages/173>.
Acesso em: 13 jun. 2016.

116
referências

CFTA - COMISSÃO FEDERATIVA DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA. Ter-


minologia Anatômica: terminologia anatômica internacional. São Paulo: Mano-
le, 2001.
DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana sistêmica e segmentar. 3.
ed. São Paulo: Atheneu, 2011.
DI DIO, L. J. A. Tratado de Anatomia Sistêmica Aplicada: princípios básicos e
sistêmicos, esquelético, articular e muscular. 2. ed. Atheneu: São Paulo, 2002.
FREITAS, V. Anatomia conceitos e fundamentos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
LOPES, R. B.; BRITTO, R. R.; PARREIRA, V. F. Padrão Respiratório durante exer-
cício: revisão literária. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) 2005. Disponível em: <http://www.luzimar-
teixeira.com.br/wp-content/uploads/2010/07/padrao-respiratorio-no-exercicio.
pdf>. Acesso em: 13 jun. 2016.
MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendizagem
dinâmica. Maringá: Gráfica Editora Clichetec, 2014.
MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R,; ARAÚJO, C. L. C. Anatomia
orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
NARCISO, M. S. Sobotta: atlas de anatomia humana: anatomia geral e sistema
muscular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
ROHEN, J. W.; YOKOCHI, C.; LÜTJEN-DRECOLL, E. Anatomia humana: atlas
fotográfico de anatomia sistêmica e regional. São Paulo: Manole, 2002.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B.; WERNECK, A. L. Princípios de anatomia
e fisiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
WATANABE, L. Erhart: elementos de anatomia humana. 9. ed. São Paulo: Athe-
neu, 2000.

117
gabarito

1. B

2. D

3. C

4. E

5. B

118
UNIDADE
III
SISTEMA DIGESTÓRIO

Professora Dr.ª Carmem Patrícia Barbosa

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Função geral e divisão do sistema digestório
• Órgãos do sistema digestório
• Órgãos anexos

Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar os principais aspectos funcionais do sistema
digestório bem como suas subdivisões.
• Estudar, do ponto de vista morfológico e funcional, as
estruturas anatômicas que formam o tubo digestório e os
órgãos anexos.
unidade

III
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a), você há de concordar comigo que comer é muito bom!


Quem não aprecia aquele sanduíche com batatas fritas? Ou quem sabe, você pre-
fere aquela salada ou mesmo aquele churrasco? De qualquer forma e indepen-
dente de suas preferências, comer é essencial à vida.
O que acontece com os alimentos que ingerimos? Por que a saciedade que
sentimos quando comemos macarrão é diferente daquela quando comemos fei-
joada? Por que alguns alimentos engordam e outros são tão adequados à saúde?
Além disso, qual o trajeto dos alimentos ao adentrar nosso sistema digestório e
como cada estrutura que o forma age?
A fim de responder essas e outras perguntas, estudaremos esse sistema.
Isto é importante, pois, enquanto, profissional de educação física, você res-
ponderá questionamentos sobre o corpo e seu funcionamento. Além disso, no
contexto escolar, você precisa estar atento porque muitos distúrbios alimen-
tares (anorexia e bulimia) podem aparecer na infância e adolescência enfren-
tarão as crises desta idade. Todavia, a informação adequada dependerá de seu
conhecimento acerca do tema.
Para o alimento ser útil, deve percorrer o sistema digestório, permanecer
tempo suficiente em cada estrutura e ser submetido a secreções. Assim, os ór-
gãos deste sistema são adaptados à preensão do alimento, mastigação, degluti-
ção, digestão, absorção dos nutrientes e expulsão de resíduos.
O texto, a seguir, será fundamentado em autores como Dangelo e Fattini
(2011), Moore et al. (2014), Miranda Neto e Chopard (2014) e outros. A no-
menclatura está atualizada (CFTA, 2001), mas é necessário que você utilize
um atlas de anatomia como Narciso (2012), Rohen, Yokochi e Lütjen-Dre-
coll (2002) e outros.
Nosso objetivo é descrever aspectos relevantes deste sistema e suas re-
lações com os outros. Não se esqueça de que o profissional de educação
física precisa conhecê-lo, pois, ele garante o fornecimento de energia para
os músculos.
Bom estudo!
ANATOMIA

Função Geral e Divisão do


Sistema Digestório
FUNÇÃO DO SISTEMA DIGESTÓRIO

Como o próprio nome já diz, o sistema digestório tem meio externo por meio do ânus). Por isso, alguns au-
como principal função realizar a digestão suprindo os tores como Dangelo e Fattini (2011) salientam que o
seres vivos de nutrientes e realizando a eliminação de canal alimentar é aberto em suas duas extremidades
substâncias não úteis ao organismo (como os restos do (boca e ânus) de forma que a luz pela qual o alimento
metabolismo celular) (DANGELO; FATTINI, 2011). transita pode ser considerada parte do meio externo.
Não se esqueça de que, para isso, suas estruturas Já os órgãos anexos são estruturas nas quais o ali-
devem ser capazes de realizar apreensão do alimento mento não transita, mas que são essenciais ao proces-
(ou seja, colocar o alimento em contato com a primei- so de digestão uma vez que produzem secreções com
ra porção desse sistema - a boca), a mastigação (total- caráter digestivo. Eles incluem as glândulas salivares
mente dependente dos dentes superiores e inferiores), (que produzem saliva rica em amilase salivar, uma
a deglutição (da qual participam várias estruturas enzima que degrada amido), o fígado (que produz
como a língua que impulsiona o alimento e a faringe bile para degradação da gordura) e o pâncreas (que
que inicia os movimentos peristálticos), a digestão pro- produz o suco pancreático para degradar gordura).
priamente dita (que ocorre principalmente na boca, no
estômago e duodeno), a absorção dos nutrientes e da
água dos alimentos (da qual participa o intestino del-
gado e grosso), e a expulsão dos resíduos eliminados
sob a forma de fezes (função do intestino grosso).

DIVISÃO DO SISTEMA DIGESTÓRIO

O sistema digestório divide-se em duas porções


principais: o canal alimentar e os órgãos anexos. O
canal alimentar é constituído por órgãos situados na
cabeça, no pescoço, no tórax, no abdome e na pel-
ve. Por ele o alimento transita e sofre o processo de
digestão propriamente dito. Inicia na cavidade oral,
inclui a faringe, o esôfago, o estômago, o intestino
delgado e o intestino grosso (o qual se abre para o Figura 1 - Órgãos do sistema digestório

124
EDUCAÇÃO FÍSICA

Órgãos do Sistema
Digestório
BOCA

A boca é a primeira porção do canal alimentar. Suas mente, ela se comunica com a parte oral da faringe
funções incluem apreensão do alimento, a mastiga- por meio de istmo da garganta. Assim, enquanto, os
ção, a deglutição, a percepção dos sabores dos ali- lábios representam seu limite anterior, o istmo da
mentos, a digestão e a fonação. Apreensão é de fato garganta representa seu limite posterior. Além disso,
responsabilidade da boca por meio dos lábios supe- as bochechas representam seu limite lateral, o palato
riores e inferiores. Já as outras funções, são exercidas duro e mole seu limite superior e os músculos do
indiretamente por ela. Por exemplo, a mastigação, assoalho da boca seu limite inferior.
embora ocorra na boca, depende da atuação dos Ela é dividida em duas porções, o vestíbulo da
dentes os quais, a partir de ação mecânica, modi- boca e a cavidade própria da boca ou cavidade oral.
ficam fisicamente os alimentos para diminuir seu O vestíbulo da boca é o espaço anterior da boca
tamanho e aumentar sua superfície para que os no qual você pode passar sua língua. Ele fica en-
alimentos fiquem expostos aos agentes da digestão tre lábios e bochechas (anteriormente), e gengiva
química (as enzimas). e dentes (posteriormente). Nessa região é possível
De igual modo, embora a deglutição ocorra a visualizar a face externa da gengiva e dos dentes
partir da boca, ela depende da ação da língua; a e, se você puxar os lábios, também dá para ver o
percepção dos sabores dos alimentos também de- freio do lábio superior, o freio do lábio inferior e os
pende das papilas da língua e a digestão só ocorre freios laterais (estes freios servem para restringir
a partir da atuação da amilase salivar. Além disso, a mobilidade dos lábios; algumas pessoas colocam
a boca é essencial à emissão da voz uma vez que piercing neles).
faz parte do aparelho fonador (MIRANDA NETO; Já a cavidade oral é constituída pelo restante da
CHOPARD, 2014). cavidade da boca, ou seja, é o espaço interno ocupa-
A boca comunica-se com o meio externo por do pela língua. Nesta região, além da língua, é possí-
meio da rima da boca (uma fenda anterior formada vel visualizar a face interna da gengiva e dos dentes.
pela junção dos lábios superior e inferior). Posterior- Nela as glândulas salivares lançam a saliva.

125
ANATOMIA

músculo e mucosa. Seu principal músculo é o bu-


Lábio superior
cinador e entre este músculo e a mucosa, existem
várias pequenas glândulas bucais.
Acima do músculo bucinador existe um tecido
gorduroso chamado corpo adiposo da bochecha.
Esse corpo é maior em crianças (isso explica o fato
Palato mole
da maioria das crianças serem “bochechudas” e,
por isso, sentimos uma vontade quase incontrolá-
vel de apertá-las).

Lábio inferior

Figura 2 - Boca O m. Bucinador é o principal


músculo na constituição da
bochecha
Lábios
Os lábios são duas pregas musculofibrosas compos-
tas pelo músculo orbicular da boca e cobertas por
uma pele fina e sensível. Embora, apresentem os
freios (como vimos a pouco), eles têm mobilidade.
Apresentam glândulas salivares labiais e são muito
irrigados (por isso, qualquer corte, por menor que Figura 3 - Bochecha

seja, pode sangrar) (WATANABE, 2000).


Como visto anteriormente, os lábios superior e Palato
inferior se unem formando uma fenda anterior cha- O palato é uma região composta, principalmente
mada rima da boca e nos lados direito e esquerdo de osso, músculo e mucosa que fica interposta entre
(nos “cantinhos” da boca) estão as comissuras labiais a cavidade nasal e a cavidade oral. Assim, pode-se
ou ângulos da boca. afirmar que o palato representa o assoalho da cavi-
dade nasal e o teto da cavidade oral. Por isso, sua
Bochechas face superior (voltada ao nariz) é recoberta por mu-
As bochechas têm estrutura quase igual à dos lá- cosa respiratória e sua face inferior (voltada à boca)
bios. Na verdade, são contínuas a eles e represen- é recoberta por mucosa oral repleta de glândulas pa-
tam a parede móvel da cavidade oral (FREITAS, latinas (MADEIRA, 2001).
2004). Sua composição é cutâneo-músculo-mu- Sua região anterior é predominantemente óssea
cosa, ou seja, de fora para dentro apresenta pele, e imóvel sendo por isso chamada de palato duro. Ao

126
EDUCAÇÃO FÍSICA

contrário, sua região posterior é predominantemen- Não se preocupe em memorizar esses músculos por-
te muscular e com relativo movimento sendo assim que eles atuam na deglutição (elevando o palato para
chamada de palato mole. O palato duro é formado que o alimento não reflua em direção à cavidade na-
pela junção das maxilas (direita e esquerda) com os sal) e, por isso, são estudados, principalmente, pelos
ossos palatinos (direito e esquerdo). Esses quatro os- fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas.
sos se unem por meio de suturas (a sutura palatina Vale ressaltar que na região mediana do palato
mediana une as maxilas e a sutura palatina transver- mole projeta-se uma saliência chamada úvula pala-
sa une as maxilas aos ossos palatinos). tina (popularmente conhecida como “campainha”
Essa região tem coloração rósea devido à vascu- ou “sininho”) lateralmente à qual saem duas pregas
larização menos intensa do que a do palato mole (o (o arco palatoglosso e o arco palatofaríngeo). Entre
qual é mais avermelhado). Além disso, a mucosa que esses arcos há um espaço chamado fossa tonsilar o
reveste o palato duro fica intimamente em contato qual é ocupado pela tonsila palatina (popularmente
com o periósteo que reveste seus ossos, podendo in- conhecida como “amídala” ou “amígdala”).
clusive ser chamada de mucoperiósteo.
No palato duro, além dos processos alveolares
que alojam os dentes da maxila, localizam-se im-
portantes forames pelos quais artérias, veias e ner-
vos passam. O forame incisivo, por exemplo, fica
atrás dos incisivos centrais e permite a passagem
do nervo nasopalatino que inerva a região anterior
do palato. Esse forame ímpar é recoberto pela papi-
la incisiva (uma saliência bem perceptível ao passar Palato duro
a língua sobre ele).
Palato mole
Outros forames do palato duro incluem o fora-
me palatino maior (por onde passa o nervo pala-
tino maior que inerva a região posterior do palato
duro) e os forames palatinos menores (por onde
passam os nervos palatinos menores que inervam
o palato mole). Além disso, a região anterior do pa- Figura 4 - Palato duro e mole

lato duro apresenta as pregas palatinas transversas


que servem como ponto de apoio à língua e para a Istmo das fauces
fixação do alimento durante a mastigação em indi- Representa o limite posterior da boca, ou seja, onde
víduos desdentados. acaba a boca e começa a faringe (MADEIRA, 2001).
Já o palato mole é constituído por cinco múscu- O istmo das fauces é um espaço compreendido entre
los principais (músculo da úvula, músculo palato- a úvula palatina (superiormente), os arcos palato-
glosso, músculo palatofaríngeo, músculo tensor do glossos (lateralmente) e o dorso da língua e a cartila-
véu palatino e músculo levantador do véu palatino). gem epiglótica da laringe (inferiormente).

127
ANATOMIA

A mucosa que reveste o dorso apresenta recep-


tores gustativos, as papilas linguais as quais dão um
aspecto rugoso à língua. As papilas circunvaladas
são maiores, facilmente identificáveis em forma de
“V” ou “Y” adiante do sulco terminal e estão rela-
cionadas à percepção do azedo (motivo pela qual
alimentos ou líquidos que não parecem amargos
inicialmente, tornam-se durante a deglutição). As
papilas folhadas, localizadas no terço médio da mar-
Figura 5 - Istmo das fauces gem lateral da língua, relacionam-se à percepção do
sabor ácido (azedo). Em contrapartida, as filiformes
Língua permitem a percepção do doce e do salgado e são
A língua é um órgão muscular, móvel, revestido por sensíveis ao toque. Elas estão em grande número no
mucosa, com importante função na mastigação, na dorso da língua e são alongadas. Já as papilas fun-
deglutição, como órgão gustativo e fonador. Sua ex- giformes, mais numerosas no ápice e nas margens,
tremidade mais afilada e anterior é chamada de ápi- tem formato arredondo e são sensíveis á percepção
ce, suas regiões laterais são as margens laterais e sua de doce e salgado.
região inferior é a face inferior (MADEIRA, 2001).
Ela se situa parcialmente na cavidade oral e par-
cialmente na faringe (na porção oral da faringe).
Assim, a língua estende-se até a epiglote e com ela
apresenta três pregas mucosas: prega glossoepigló-
tica mediana, prega glossoepiglótica lateral direita e
prega glossoepiglótica esquerda. Tais pregas formam
entre si espaços chamados de valéculas epiglóticas.
Sua face superior é chamada de dorso da lín-
gua, o qual é sulcado em sua região mediana pelo
sulco mediano da língua. Esse sulco divide a língua
em metade direita e esquerda, mas embora seja bem
identificável no vivo, não é facilmente visível no
cadáver. Além do sulco mediano, a língua também
apresenta o sulco terminal, o qual se posiciona na
junção dos dois terços anteriores com o terço poste-
rior da língua. Este sulco a divide em duas porções,
o corpo (anterior ao sulco) e a raiz (posterior ao sul-
co). Na raiz da língua existem importantes estrutu-
ras do sistema linfático chamadas tonsilas linguais. Figura 6 - Língua

128
EDUCAÇÃO FÍSICA

GENGIVA

Em corte transversal é possível identificar o A gengiva é formada por tecido fibroso coberto por
septo da língua (que divide sua estrutura em parte mucosa. Enquanto a gengiva alveolar (ou gengiva
direita e esquerda, e onde normalmente as pessoas livre) é vermelha, a gengiva propriamente dita (ou
furam piercing ou cortam a língua para que ela fi- gengiva aderida) é fixa aos processos alveolares da
que septada). Os músculos que a formam podem mandíbula e da maxila e tem coloração rósea. Pode
ser intrínsecos ou extrínsecos. Os intrínsecos dão ser chamada de gengiva lingual superior, gengiva
sua forma e os extrínsecos seus movimentos. São lingual inferior, gengiva labial maxilar e labial man-
eles o longitudinal superior, o longitudinal inferior, dibular (MADEIRA, 2001).
o transverso e o vertical (como intrínsecos), e o
hioglosso, o estiloglosso, o palatoglosso e o genio-
glosso (como extrínsecos).
Abaixo da língua estão importantes aciden-
tes anatômicos como o freio da língua (que limi-
ta sua mobilidade), a carúncula sublingual (onde
a glândula submandibular desemboca), a prega
sublingual (que protege o ducto da glândula sub-
mandibular), a prega franjada (que recobre a veia
profunda da língua) e vasos sublinguais os quais
possibilitam a rápida absorção de medicamentos Figura 7 - Gengiva

(isso ocorre porque o sangue que é drenado pela


veia sublingual é transportado para a veia jugular Dentes
interna e não passa pelo fígado, ou seja, não é me- Os dentes são estruturas rígidas, esbranquiçadas,
tabolizado neste órgão; se o medicamento for ad- implantadas em cavidades da maxila e da man-
ministrado por via oral, ele é absorvido pelo intes- díbula (denominadas alvéolos dentais). Em cada
tino, é metabolizado pelo fígado e isto poderá fazer dente distinguem-se três partes: Raiz (implanta-
com que os efeitos demorem a se manifestar). da no alvéolo), coroa (parte mais evidente) e colo
Por fim, é importante mencionar que a língua (região entre a raiz e a coroa circundada pela gen-
é bastante inervada (tanto em relação ao tato, dor, giva). Eles são abundantemente vascularizados e
temperatura, pressão, propriocepção e gustação, inervados (por isso, as anestesias são necessárias
quanto em relação à sua capacidade contrátil). As- para os procedimentos odontológicos) (MADEI-
sim, de forma geral, o nervo hipoglosso (XII par de RA et. al., 2014).
nervos cranianos) possibilita sua inervação motora, No homem há duas dentições, a primária (ou
e os nervos vago (X par), glossofaríngeo (IX par), decídua) e a permanente. A primária (que o povo
trigêmeo (V par) e facial (VII par) permitem sua chama de “dentes de leite”) apresenta 20 dentes
inervação sensitiva. (sendo 8 incisivos, 4 caninos e 8 molares). A per-

129
ANATOMIA

manente tem 32 dentes (sendo 8 incisivos, 4 cani-


nos, 8 pré-molares e 12 molares). A substituição
da primária pela permanente começa a partir dos
6 ou 7 anos e pode durar até os 25 anos de ida-
de. Esse fato é interessante, pois faz com que os
mamíferos sejam os únicos com heterodontia (ou
seja, apresentam dentes morfologicamente dife-
rentes entre si).
Em relação às funções, enquanto, os incisivos
cortam o alimento e os caninos o rasgam, os pré-
-molares e os molares fazem sua trituração. Tal fato Figura 8 - Anel linfático

é importante, pois a ação mecânica dos dentes é res-


ponsável pela exposição do alimento à ação enzimá- FARINGE
tica facilitando a digestão.
A faringe já foi estudada na unidade 2 quando apren-
Assoalho da boca demos sobre o sistema respiratório. No entanto, va-
O assoalho da boca representa o limite inferior da mos rever seus principais aspectos. Ela é uma estrutu-
boca. Ele é constituído, principalmente, pelo mús- ra músculo-membranosa localizada posteriormente
culo platisma e pelos músculos supra-hióideos à cavidade nasal, à cavidade oral e à laringe. Por isso,
(como o ventre anterior do digástrico, o músculo apresenta três porções sem limites precisos entre elas,
milo-hióideo, o gênio-hióideo e o estilo-hióideo) chamadas de porção nasal da faringe, porção oral da
(MADEIRA, 2001). faringe e porção laríngea da faringe. A porção nasal
é superior e tem função respiratória. A porção oral é
Anel linfático média e tem função digestória. A porção laríngea é
Embora já tenhamos mencionado o anel linfático na inferior, tem função respiratória e dá continuidade
unidade 2 quando estudamos o sistema vascular lin- ao esôfago. Assim, a faringe é uma estrutura associa-
fático, é importante lembrar que na parte posterior da tanto ao sistema respiratório quanto ao digestório,
da cavidade oral e na porção oral da faringe existem atuando como um canal comum à passagem do ar e
as tonsilas palatinas, as tonsilas linguais, as tonsilas do alimento (DI DIO, 2002).
faríngeas e as tonsilas tubárias as quais, enquanto, Ela inicia na base do crânio e termina ao nível
estruturas linfáticas, minimizam a contaminação da sexta vértebra cervical relacionando-se poste-
dos alimentos ingeridos a partir da produção de cé- riormente à coluna vertebral. É constituída por três
lulas imunológicas (MADEIRA, 2001). camadas sendo a mais externa chamada adventícia,

130
EDUCAÇÃO FÍSICA

a média formada por músculos estriados esqueléti- é muito comum em criança onde um quadro de
cos e a interna mucosa. Seus músculos estriados po- tonsilite acaba evoluindo para um quadro de otite).
dem ser externos ou internos e estão relacionados Além disso, o óstio também drena muco e perilinfa
aos movimentos peristálticos da faringe. Os exter- que existem nos canais semicirculares.
nos são os constritores (superior, médio e inferior) Nas bordas do óstio faríngeo da tuba auditiva
e os internos são o palatofaríngeo, estilofaríngeo e existem aglomerações linfáticas chamadas, em con-
salpingofaríngeo. junto, de tonsila tubária. Além da tonsila tubária,
nesta parte da faringe existe ainda a tonsila faríngea
a qual se aumentada passa a ser chamada de adenoi-
de (como já visto no capítulo anterior).

Parte nasal da ESÔFAGO


faringe

Parte oral da É um tubo fibromuscular de aproximadamente 25


faringe
cm de comprimento e 2 cm de diâmetro. Superior-
mente, ele é constituído por músculo estriado es-
Parte laríngea da
quelético (com controle voluntário), inferiormente
faringe por músculo liso (com controle involuntário) e em
sua região média há os dois tipos de músculos (MO-
ORE et al., 2014).
Figura 9 - Faringe Esse tubo é a continuação da faringe e dá conti-
nuidade ao estômago. Assim, no tórax está situado
Na porção nasal da faringe existe um importante anteriormente à coluna vertebral e passa posterior-
acidente anatômico chamado óstio faríngeo da tuba mente à traqueia. Para atingir o abdome, ele atra-
auditiva, o qual é protegido pelo toro tubário. Este vessa o músculo diafragma (pelo hiato esofágico) e
óstio é uma abertura em forma de fenda que marca desemboca no estômago. Portanto, apresenta três
a desembocadura da tuba auditiva, ou seja, a tuba porções: cervical, torácica (maior) e abdominal.
auditiva comunica a parte nasal da faringe com a É formado por lâminas musculares circulares
cavidade timpânica da orelha média. Esta comuni- (internamente) e lâminas musculares longitudinais
cação serve para igualar a pressão do ar externo à (externamente). As contrações destes músculos alte-
pressão daquele contido na própria cavidade timpâ- ra sua luz vascular a fim de permitir a passagem do
nica (percebemos claramente isso quando descemos bolo alimentar, impulsionando-o durante o peristal-
a serra do mar e sentimos a pressão externa como tismo (também chamado de movimento peristáltico
um incômodo). ou peristalse; esse movimento é próprio de todo o
Todavia, devido esta comunicação, uma infec- canal alimentar e não depende da gravidade, pois
ção da faringe pode se propagar à orelha média (isso ocorre inclusive de cabeça para baixo).

131
ANATOMIA

O peritônio é uma membrana serosa transpa-


rente e brilhante que reveste a cavidade abdominal,
a cavidade pélvica e as vísceras destas cavidades. Ele
é formado por duas lâminas contínuas, o peritô-
nio visceral (que envolve as vísceras) e o peritônio
parietal (que reveste as paredes destas cavidades).
Enquanto, o peritônio parietal é sensível à pressão,
calor, frio, laceração e dor, o peritônio visceral é in-
sensível ao toque, calor, frio e laceração, mas é es-
timulado por distensão e irritação química. Existe
uma cavidade entre estas duas lâminas (a cavidade
peritoneal) a qual contém uma fina película de líqui-
do peritoneal (TORTORA et al., 2010).
Alguns órgãos abdominais ficam aderidos à
parede posterior do abdome e o peritônio passa a
frente deles. Por isso, são chamados de órgãos retro-
peritoneais. Tais órgãos (como os rins e o pâncreas)
Figura 10 - Esôfago são fixos. Outros se destacam da parede abdominal
sendo acompanhados pelo peritônio que os reveste
REFLITA e se salientam na cavidade abdominal de modo que
entre eles e a parede do abdome forma-se uma lâmi-
Você sabia que o esôfago apresenta estreita- na peritoneal dupla chamada de mesentério, meso
mentos em sua parede que são essenciais ao ou ligamento (por meio dela, vasos e nervos chegam
funcionamento? Se o estreitamento cardíaco aos órgãos peritonizados). Às vezes, estas pregas se
não funcionar, pode ter refluxo gastroesofá-
gico, irritação do esôfago e azia. estendem entre dois órgãos por uma lâmina do pe-
ritônio chamada omento (o omento maior sai como
um avental do estômago, recobre os intestinos e se
fixa ao colo transverso do intestino grosso; o omento
PERITÔNIO E CAVIDADE PERITONEAL menor vai do estômago ao fígado). Por fim, alguns
órgãos são intraperitoneais.
Você já ouviu falar em peritônio ou cavidade perito- Voltando à “barriga d’água”, o peritônio pode ser
neal? Talvez nunca. Todavia, você já pode ter ouvido acometido por um processo inflamatório chamado
falar em pessoas que tiveram “barriga d’água” e acu- peritonite o qual pode ser localizado ou generalizado.
mularam líquido na cavidade peritoneal. Então, o Nesse caso é comum ocorrer ascite, ou seja, pode ha-
que é peritônio, o que é cavidade peritoneal e como ver acúmulo de enormes quantidades de líquido se-
é possível ter “água na barriga”? Vamos entender roso na cavidade peritoneal fazendo com que o indi-
como tudo funciona. víduo sinta dor e, muitas vezes, precise até drená-lo.

132
EDUCAÇÃO FÍSICA

absorver algumas substâncias (como álcool e alguns


medicamentos). Suas funções dependem, principal-
mente, dos neurônios do plexo entérico e de neurô-
nios extrínsecos do sistema nervoso autônomo.
Na superfície mucosa interna do estômago exis-
tem muitas pregas gástricas as quais se distendem ao
receber o alimento e desaparecem com a distensão
do órgão. Além disso, embora sua forma e posição
possam variar com a idade, o tipo constitucional do
indivíduo, a alimentação, a posição do indivíduo e o
estado fisiológico do órgão, seu estudo é feito consi-
derando quatro partes principais: parte cárdica, fun-
do, corpo e parte pilórica.
A parte cárdica é sua porção proximal que se co-
munica com o esôfago. O fundo é uma região supe-
rior, acima da sua junção com o esôfago. O corpo, a
maior parte do órgão, apresenta face anterior e pos-
terior unidas por duas margens, a curvatura gástrica
Figura 11 - Peritônio e cavidade peritoneal maior (à esquerda) e a curvatura gástrica menor (à
direita). A parte pilórica é sua porção terminal que
ESTÔMAGO se comunica com o duodeno. Ela apresenta uma re-
gião mais alargada chamada de antro pilórico o qual
Enquanto, a faringe e o esôfago apresentam estru- se estreita originando o canal pilórico que termina
tura tubular, o estômago é considerado uma dila- no piloro (região esfincteriana distal).
tação do canal alimentar. Ele segue o esôfago, dá Tanto na parte cárdica quanto no piloro locali-
continuidade ao intestino e está situado, logo, abai- zam-se orifícios chamados óstio cárdico e óstio piló-
xo do músculo diafragma com sua maior porção rico onde há uma condensação de feixes musculares
à esquerda do plano mediano. Assim, o estômago que constituem um mecanismo de abertura e fecha-
está unido ao músculo diafragma, ao baço e ao colo mento para regular o trânsito do bolo alimentar.
transverso e é quase totalmente coberto pelo peri- Normalmente, o piloro fica em contração tônica e só
tônio (DI DIO, 2002). se abre para dar passagem ao quimo (bolo alimentar
Sua principal função é realizar a digestão quími- misturado às secreções gástricas) quando o duode-
ca (por meio das enzimas do suco gástrico secretado no está vazio e pronto para digerir mais conteúdo
por suas glândulas) e mecânica dos alimentos (já que gástrico. Assim, estômago e duodeno agem coorde-
apresenta movimentos circulares e peristálticos). No nadamente de forma que, quando o duodeno está
entanto, ele pode conter até três litros de alimento cheio, o músculo esfíncter do piloro se contrai para
(funcionando como um reservatório) e é capaz de impedir que mais quimo seja lançado no duodeno.

133
ANATOMIA

INTESTINOS

Os intestinos seguem o estômago e se dividem pelo


calibre em intestino delgado e intestino grosso.

Colo transverso

Colo ascendente.
Observe como o intestino Colo
grosso “emoldura” o descendente
intestino delgado
Figura 12 – Estômago Intestino delgado
Ceco

SAIBA MAIS
Colo sigmoide
Reto
O estômago pode apresentar algumas dis- Figura 13 - Intestino delgado e grosso
funções, por exemplo, gastrite e úlcera pép-
tica. Na úlcera, surgem lesões na camada
mais superficial da mucosa que reveste o Intestino delgado
estômago. Todavia, ela pode se manifestar O intestino delgado tem de 4 a 6 metros de com-
também no duodeno (a porção do intestino
delgado). Quando a úlcera surge no estô- primento uma vez que se estende do piloro até o
mago, ela é denominada úlcera gástrica; ceco (primeira porção do intestino grosso). É sub-
quando surge no duodeno, ela é chamada dividido em 3 segmentos: duodeno, jejuno, e íleo.
úlcera duodenal.
Embora, represente o principal local de absorção
Fonte: Pinheiro (2016, on-line)1. dos alimentos, ele também participa da digestão
(DANGELO; FATTINI, 2011).

134
EDUCAÇÃO FÍSICA

Desta forma, à semelhança do estômago, o o jejuno-íleo representa a parte móvel do intestino


intestino delgado exerce dois tipos de atividades delgado (pois apesar de estarem presos à parte pos-
sobre o alimento: mecânica (pois mistura e pro- terior do abdome pelo mesentério, esta prega perito-
pulsiona o quimo por meio de movimentos esti- neal é longa e permite ampla movimentação). O íleo
mulados pelos plexos nervosos do sistema ner- termina no ceco (como já foi mencionado).
voso entérico) e química (por meio das enzimas
entéricas, pancreáticas e da bile). Assim, vale res- Intestino grosso
saltar que a ação das secreções do próprio intesti- O intestino grosso representa a porção terminal do
no (suco entérico), do pâncreas (suco pancreáti- canal alimentar que “emoldura” o intestino delgado.
co) e do fígado (bile) sobre o quimo forma o quilo Ele absorve água e eletrólitos do quilo, determinan-
na fase final da digestão quando já existem subs- do a consistência do bolo fecal. Além disso, atua na
tâncias prontas para serem absorvidas. O ducto formação, transporte e expulsão das fezes (as quais
do fígado (ducto colédoco) e o ducto pancreático são resíduos sólidos da alimentação cuja eliminação
desembocam na mucosa do duodeno pela papila ocorre por meio da defecação) (MIRANDA NETO;
maior do duodeno; o ducto pancreático acessório CHOPARD, 2014).
desemboca na mucosa do duodeno pela papila Ele é mais calibroso e curto do que o intestino
menor do duodeno. delgado (mede aproximadamente 1,5 metros de
O duodeno é a primeira porção do intestino comprimento) e se difere do delgado por apresen-
delgado com aproximadamente 25 cm de com- tar faixas espessas de músculo liso longitudinal (as
primento sendo por isso considerado sua menor tênias do colo), gordura na serosa (os apêndices
parte. É um órgão em forma de “U” aberto para a omentais do colo), e dilatações limitadas por sulcos
esquerda que começa no óstio pilórico e termina transversais (as saculações do colo).
na flexura duodeno-jejunal. Ele “abraça” a cabeça É subdividido em ceco, colo ascendente, colo
do pâncreas e é aderido à parede posterior do ab- transverso, colo descendente, colo sigmoide e reto.
dome sendo quase todo retroperitoneal (portanto, O ceco é o segmento inicial, em fundo cego, que se
bastante fixo). continua como colo ascendente. Tem aproximada-
A segunda porção do intestino delgado é o jeju- mente 7,5 cm de comprimento e largura, e se localiza
no (com aproximadamente 2,5 metros) e a terceira é na fossa ilíaca esquerda. Dele destaca-se o apêndice
o íleo (com aproximadamente 3,5 metros). Tais por- vermiforme - um prolongamento cilindroide alon-
ções são contínuas entre si, pois não há uma divisão gado (de 6 a 10 cm de comprimento) que se forma
anatômica nítida entre elas. Assim, o termo jejuno- no ponto de encontro das tênias. O apêndice é rico
-íleo é comum. Ao contrário do duodeno que é fixo, em folículos linfáticos.

135
ANATOMIA

SAIBA MAIS O colo sigmoide tem trajeto sinuoso (em forma


de “S”), dirige-se para o plano mediano da pelve e
termina na altura da terceira vértebra sacral onde dá
Você sabia que a inflamação do apêndice
vermiforme é conhecida como apendicite? continuação ao reto.
Embora as causas da apendicite não sejam O reto e o canal anal representam a parte ter-
totalmente conhecidas, existe relação com a minal e fixa do intestino grosso. O reto tem aproxi-
obstrução por gordura ou por fezes e infecção
madamente 15 cm de comprimento e possui uma
por vírus. É comum o aparecimento de fortes
dores abdominais e até febre. parte dilatada (a ampola do reto) que armazena
Se a apendicite não for prontamente tratada, temporariamente as fezes. O canal anal é uma par-
pode ocorrer o rompimento do apêndice ver-
te estreita, com cerca de três cm de comprimento,
miforme levando o indivíduo à morte.
que atravessa o períneo e se abre no exterior por
Fonte: Minha Vida (on-line)2. meio do ânus. No canal anal se notam as colunas
anais em cuja base há uma densa rede venosa que
forma a zona hemorroidária. É drenado por três
conjuntos principais de veias (veia retal superior,
média e inferior).
O colo ascendente segue em direção cranial, à direita
da cavidade abdominal. Ele alcança o fígado e se curva
para continuar como colo transverso. É retroperitoneal.
O colo transverso é a parte mais longa e móvel do REFLITA
intestino grosso, pois atravessa da direita para a es-
querda toda a parte superior da cavidade abdominal.
Você sabia que a defecação depende de re-
O colo descendente inicia à esquerda da cavi-
ceptores nervosos da parede do reto, que a
dade abdominal e termina na altura da crista ilíaca constipação intestinal pode ser desencadeada
esquerda onde dá continuidade ao colo sigmoide. pela falta de peristaltismo e a diarreia é um
Está fixo à parede posterior do abdome (é retrope- mecanismo de defesa?

ritoneal, portanto, fixo).

136
EDUCAÇÃO FÍSICA

Órgãos Anexos
FÍGADO

Fígado está localizado imediatamente abaixo do A bile é drenada pelos ductos hepáticos (direito e
diafragma e apresenta certa mobilidade durante os esquerdo) os quais se unem para formar o ducto
movimentos diafragmáticos e, em posição ereta fica hepático comum. Esse ducto se une ao ducto císti-
mais baixo devido à gravidade (WATANABE, 2000). co (que vem da vesícula biliar) formando o ducto
É considerado a maior glândula do corpo e, de- colédoco o qual se abre no duodeno.
pois da pele, o maior órgão (pesando aproximada- O fígado apresenta duas faces, a diafragmática
mente 1,5 kg). Ele está unido à parede abdominal e a visceral. A diafragmática é convexa, lisa e fica
anterior, ao estômago e ao duodeno. É considerado em contato com o músculo diagrama. A visceral
plástico, pois se adapta aos órgãos vizinhos os quais fica em contato com as vísceras abdominais (es-
lhe causam impressões. tômago, duodeno, omento menor, vesícula biliar,
Esse órgão desempenha importante papel nas flexura direita do colo, colo transverso, rim direi-
atividades vitais uma vez que interfere no meta- to e glândula suprarrenal direita). Nessa face está
bolismo de carboidrato, gordura e proteína, ar- a vesícula biliar, o sulco da veia cava inferior e a
mazena glicogênio, sintetiza vários compostos porta do fígado. Além disso, nessa face estão dois
orgânicos, metaboliza e excreta substâncias tóxi- lobos anatômicos (o direito e o esquerdo) e dois
cas endógenas ou exógenas (como medicamentos lobos acessórios (o quadrado e o caudado).
e alimentos), participa dos mecanismos de defesa
do corpo e secreta a bile (atuando como glân-
dula exócrina).
A bile é um líquido esverdeado, de gos-
to amargo, que vomitamos quando não
temos nada no estômago (ela é popular-
mente conhecida como fel). É produzida
de forma contínua pelo fígado e arma-
zenada na vesícula biliar (um órgão em
forma de saco que fica embaixo do fíga-
do). Tem ação detergente (emulsificante)
sobre gorduras e favorece a absorção de áci-
dos e vitaminas lipossolúveis (sem bile, cerca
de 40% da gordura seriam excretadas pelas
fezes assim como as vitaminas A, D, E e K). Figura 14 - Fígado

137
ANATOMIA

PÂNCREAS GLÂNDULAS SALIVARES

O pâncreas está situado profundamente na cavidade Como o próprio nome sugere, as glândulas saliva-
abdominal, atrás do estômago e é fixo à parede poste- res são responsáveis por produzir a saliva. Esta, por
rior do abdome (ou seja, é retroperitoneal e com peque- sua vez, é um líquido viscoso, transparente, insípi-
na mobilidade). É considerado a segunda maior glân- do e inodoro que previne contra as cáries, lubrifica
dula anexa do sistema digestório (depois do fígado) e é o bolo alimentar, facilita seu transporte sem irritar
classificado como glândula mista uma vez que secreta as paredes do tubo digestório e inicia a digestão do
insulina e glucagon (de maneira endócrina) e suco pan- amido. Além disso, a saliva mantém a cavidade oral
creático (de maneira exócrina) (FREITAS, 2004). limpa, permite que se possa sentir o sabor da maior
É dividido em cabeça (extremidade dilatada à parte dos alimentos, excreta algumas substâncias
direita emoldurada pelo duodeno), colo (entre a ca- como metais pesados e medicamentos, mantém
beça e o corpo, com cerca de 2 cm), corpo (em po- o pH da cavidade própria da boca, dentre outras
sição transversal sobre as duas primeiras vértebras (MADEIRA, 2001).
lombares) e cauda (extremidade afilada à esquerda Não sei se você já usou a expressão “dá água
situada perto do baço). na boca só de ouvir falar” quando se pensa em um
O suco pancreático é recolhido por dúctulos que alimento que você aprecia? Pois é! Este termo é
formam o ducto pancreático principal e o ducto pan- correto, pois considera que a salivação é antecipa-
creático acessório (inconstante). O ducto pancreático da à ingestão do alimento e começa a ser produzida
principal começa na cauda e termina na cabeça do antes da digestão (chamamos de fase cefálica da sa-
pâncreas, Na maioria das vezes, esse ducto se une ao livação, o mesmo se aplica quando se sente o cheiro
ducto colédoco e se abre no duodeno (como já visto). ou vê o tal alimento).
Existem dois subgrupos de glândulas salivares,
as maiores e as menores. As glândulas salivares me-
Fígado nores estão localizadas nas bochechas, lábios, palato
e mucosa da língua. As glândulas salivares maiores
são três pares: as glândulas parótidas, submandibu-
lares e sublinguais.
• A glândula parótida fica lateralmente na
face, anterior à orelha externa. Ela apresenta
um canal excretor, chamado ducto parotídeo,
Vesícula biliar
o qual perfura o músculo bucinador e se abre
na cavidade oral, ao nível do segundo molar
superior. Ela pode ser infectada por vírus
Duodeno Pâncreas
causando parotidite (popularmente conheci-
da como caxumba).

Figura 15 - Pâncreas

138
EDUCAÇÃO FÍSICA

• A glândula submandibular localiza-se abaixo da mandíbula. Seu ducto


(o ducto submandibular) se abre na cavidade oral abaixo da língua, na
carúncula sublingual (umas “bolinhas” que temos embaixo da língua).
• A glândula sublingual é a menor e a mais profunda delas. Situa-se lateral
e inferiormente à língua. Apresenta muitos pequenos ductos sublinguais
que se abrem no assoalho da boca.

Figura 16 - Glândulas salivares

139
considerações finais

A obtenção de energia para o metabolismo celular depende do funcionamento


do sistema digestório. De igual modo, a contração muscular, o pensamento, o
aprendizado e tantas outras funções, não ocorreriam sem o suprimento energéti-
co essencial. Por isso, o sistema digestório é vital.
Certamente, você consegue, agora, responder algumas perguntas feitas ante-
riormente. Assim, creio que você já conhece os princípios fundamentais da diges-
tão e a atuação de cada estrutura anatômica que forma o sistema digestório. To-
davia, é importante destacar que muitas doenças são comuns a este sistema, por
exemplo, gastrite, esofagite, acalasia, doença de Crohn, colite ulcerativa e muitas
outras. Tais doenças comprometem seu funcionamento debilitando o indivíduo
e causando diversas deficiências físicas e mentais.
No entanto, algumas delas podem ser evitadas por meio do desenvolvimento
de hábitos alimentares saudáveis (como a ingestão adequada diária de líquidos,
bem como de alimentos prebióticos e probióticos). Tais condutas garantem o fun-
cionamento ideal das estruturas anatômicas que compõe o sistema em questão.
Além disso, vale ressaltar que o pleno conhecimento anatômico e fisiológico
de tais estruturas é relevante ao aspecto preventivo de tais doenças. Por isso, o
estudo pormenorizado desse sistema é essencial a profissionais da saúde, como
você. Lembre-se de que o profissional de educação física comumente responde a
questionamentos referentes ao corpo humano e seu funcionamento. Além disso,
lembre-se de que, no contexto escolar e enquanto educador, você poderá contri-
buir para minimizar muitos distúrbios alimentares (como anorexia ou bulimia).
Assim, boa capacitação para você!

140
LEITURA
COMPLEMENTAR

Leia o artigo indicado, a seguir, que trata sobre uma doença relativamente comum do
sistema digestório: o refluxo gastroesofágico.

PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À


DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO

A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), bem como Elevado número de consultas é originado a partir de
os demais sintomas oriundos do sistema digestório su- sintomas de DRGE. Na Inglaterra, em 1994, 8% das con-
perior são de alta frequência na prática clínica diária. Ain- sultas médicas em atenção primária à saúde e 11% da
da que suas complicações não sejam frequentes, cons- demanda espontânea foram ocasionadas por sintomas
tituem-se, pela elevada prevalência, tema de relevância do sistema digestório (3). Em Autumn, na Alemanha,
nas questões de saúde pública. As taxas de prevalência de em estudo realizado no ano de 2000, 81,7% dos indiví-
DRGE, caracterizada por presença de sintomas de pirose duos com sintomas de DRGE já haviam realizado pelo
e regurgitação ácida, são bastante variáveis mas, princi- menos uma gastroscopia para investigação de seus
palmente em países ocidentais, quase sempre elevadas. sintomas (14). Estudo realizado entre trabalhadores na
Na Espanha, estudo transversal publicado em 2004, iden- Itália, em 1999, mostrou que pelo menos 2,6% dos in-
tificou prevalência de 31,6% de DRGE ao ano (2). divíduos sintomáticos têm seu trabalho afetado pelos
Na Bélgica também é elevada, tendo sido de 28% em sintomas (13).
2002 (7). Em estudo realizado na Austrália em 1996, 56% Estudos de base populacional com baixos índices de per-
dos indivíduos relataram ter tido sintomas de DRGE pelo das ou recusas ainda são minoria entre as publicações
menos alguma vez em suas vidas, sendo que 37% os têm sobre este tema. Os estudos para investigar fatores de-
pelo menos uma vez a cada 4 meses (1). Na Dinamar- terminantes de DRGE são, em sua maioria, realizados em
ca, em 1994, a prevalência foi de 38% entre os homens serviços de saúde, podendo indicar fatores agravantes e
e 30% entre as mulheres (5). No Brasil, em 2001 foi de não necessariamente fatores de risco para os indivíduos
48,2% (10). Em estudo de revisão publicado em 1997, a da população que não procura ajuda médica para seus
variação da prevalência fica na faixa de 10% a 48% para sintomas.
pirose, 9% a 45% para regurgitação ácida e 21% a 59% Fonte: Oliveira et al. (2005).
para ambos os sintomas (4).

141
atividades de estudo

1. Em relação ao sistema digestório, é correto afirmar:


a. O fígado produz a bile e a vesícula biliar a armazena.
b. A bile é produzida pela vesícula biliar e armazenada no fígado.
c. O duodeno produz a bile e a vesícula biliar a armazena.
d. A bile é produzida pela vesícula biliar e armazenada no duodeno.
e. Quem produz e armazena a bile são, respectivamente, o fígado e o duo-
deno.

2. Os órgãos do sistema digestório considerados supradiafragmáticos


são:
a. Boca, faringe, laringe, esôfago e glândulas salivares.
b. Boca, faringe, esôfago (porção cervical e torácica) e glândulas salivares.
c. Boca, faringe, esôfago (porção cervical, torácica e abdominal) e glândulas
salivares.
d. Boca, faringe, laringe, esôfago (porção cervical, torácica e abdominal) e
glândulas salivares.
e. Boca, faringe, estômago e glândulas salivares.

3. Os órgãos do sistema digestório considerados infradiafragmáticos


são:
a. Esôfago (porção cervical, torácica e abdominal), estômago, intestino delga-
do, intestino grosso, fígado e pâncreas.
b. Esôfago (porção torácica e abdominal), estômago, intestino delgado, intes-
tino grosso, fígado e pâncreas.
c. Esôfago (porção abdominal), estômago, intestino delgado, intestino gros-
so, fígado e pâncreas.
d. Esôfago (porção abdominal), estômago, intestino delgado, intestino gros-
so, fígado, pâncreas e glândulas salivares.
e. Nenhuma das alternativas acima estão corretas.

142
atividades de estudo

4. Considere que um aluno ingeriu, na hora do lanche, um sanduíche de


pão, carne e bacon. Assinale dentre as alternativas abaixo aquela que
contém o local correto onde tais alimentos serão digeridos:
a. O pão no duodeno (pois é composto principalmente por proteína), a carne
no estômago (pois é composta principalmente por carboidrato) e o bacon
no duodeno (pois é composto principalmente de gordura).
b. O pão na faringe e no esôfago (pois é composto principalmente por carboi-
drato), a carne no estômago (pois é composta principalmente por proteí-
na) e o bacon no duodeno (pois é composto principalmente de gordura).
c. O pão na boca e no esôfago (pois é composto principalmente por carboi-
drato), a carne no duodeno e no colo transverso (pois é composta princi-
palmente por proteína) e o bacon no colo ascendente e transverso (pois é
composto principalmente de gordura).
d. O pão na boca e no duodeno (pois é composto principalmente por carboi-
drato), a carne no estômago e no duodeno (pois é composta principalmen-
te por proteína) e o bacon no duodeno (pois é composto principalmente
de gordura).
e. O pão na boca e no estômago (pois é composto principalmente por carboi-
drato), a carne no estômago e no fígado (pois é composta principalmente
por gordura) e o bacon no duodeno e no pâncreas (pois é composto prin-
cipalmente de gordura).

5. O sistema digestório apresenta como principais órgãos anexos:


a. Baço, fígado e glândulas salivares
b. Pâncreas, timo e glândulas salivares.
c. Pâncreas, fígado e reto.
d. Ceco, fígado e glândulas salivares.
e. Pâncreas, fígado e glândulas salivares.

143
Material Complementar

Indicação para Assistir

Apresentação: Este filme da “Super Interessante Coleções” apresenta os princi-


pais eventos associados à digestão e ao sistema digestório. Ele retrata, por meio
de exemplos práticos, todo o trajeto que o alimento percorre desde sua ingestão
até sua eliminação, bem como as estruturas anatômicas pelas quais ele passa.
Demonstra a ação das secreções digestivas e correlaciona à vida diária.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=6JfDX94htbU>.

Apresentação: Conheça um pouco mais sobre a doença do refluxo gastroeso-


fágico em:
Disponível em: <https://www.abcdasaude.com.br/gastroenterologia/doenca-
-do-refluxo-gastro-esofagico>.
Descubra o que é, quais os principais sintomas e o que causa esta doença.

Apresentação: Aprenda um pouco mais sobre a fisiologia da defecação e evite


problemas relacionados à defecação.
Disponível em: <http://www.medicinageriatrica.com.br/2008/08/11/incontinen-
cia-anal-parte-2-anatomia-e-fisiologia-do-assoalho-pelvico>.

Referências On-Line

1
Em: <http://www.mdsaude.com/category/gastroenterologia-2/doencas-do-estomag>. Acesso em: 14
jun. 2016.
2
Em: <http://www.minhavida.com.br/saude/temas/apendicite>. Acesso em: 14 jun. 2016.

144
referências

CFTA - COMISSÃO FEDERATIVA DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA.


Terminologia Anatômica: terminologia anatômica internacional. São Paulo:
Manole, 2001.
DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana sistêmica e segmentar. 3.
ed. São Paulo: Atheneu, 2011.
DI DIO, L. J. A. Tratado de Anatomia Sistêmica Aplicada: princípios básicos e
sistêmicos, esquelético, articular e muscular. 2. ed. Atheneu: São Paulo, 2002.
FREITAS, V. Anatomia conceitos e fundamentos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
GRABINER, M. D.; GREGOR, R. J.; VASCONCELOS, M. M. Cinesiologia e
anatomia aplicada. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 12. ed. Rio de Janei-
ro: Elsevier, 2011.
MADEIRA, M. C. Anatomia da face: bases anátomo-funcionais para a prática
odontológica. 3. ed. São Paulo: Sarvier, 2001.
MADEIRA, M. C.; RIZZOLO, R. J. C.; CARIA, P. H. F.; CRUZ, R. S. M.; LEITE,
H. F.; OLIVEIRA, J. A. Anatomia do dente. 7. ed. São Paulo: Sarvier, 2014.
MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendizagem
dinâmica. Maringá: Gráfica Editora Clichetec, 2014.
MOORE, K .L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; ARAÚJO, C. L. C. Anatomia
orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
NARCISO, M. S. Sobotta: atlas de anatomia humana: anatomia geral e sistema
muscular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
OLIVEIRA, S. S. de; SANTOS, I. da S. dos; SILVA, J. F. P. da; MACHADO, E. C.
Prevalência e fatores associados à doença do refluxo gastroesofágico. Scielo. Arq.
Gastroenterol. vol.42 no.2 São Paulo Apr./June, 2005.
ROHEN, J. W.; YOKOCHI, C.; LÜTJEN-DRECOLL, E. Anatomia humana: atlas
fotográfico de anatomia sistêmica e regional. São Paulo: Manole, 2002.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B.; WERNECK, A. L. Princípios de anatomia
e fisiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
WATANABE, L. Erhart: elementos de anatomia humana. 9. ed. São Paulo:
Atheneu, 2000.

145
gabarito

1. A

2. B

3. C

4. D

5. E

146
UNIDADE
IV
SISTEMA UROGENITAL

Professora Dr.ª Carmem Patrícia Barbosa

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Sistema urinário
• Sistema genital masculino
• Sistema genital feminino

Objetivos de Aprendizagem
• Estudar a função geral do sistema urinário, bem como as funções do rim; Apresentar a
morfologia externa e interna, localização, função, irrigação, drenagem venosa, drenagem
linfática, inervação e principais acidentes anatômicos dos órgãos do sistema urinário: Rim,
ureter, bexiga urinária e uretra masculina e feminina.
• Estudar a função geral do sistema genital masculino; Subdividir os órgãos do sistema genital
masculino em órgãos internos e externos; Apresentar a morfologia externa e interna, localização,
função, irrigação, drenagem venosa, drenagem linfática, inervação e principais acidentes
anatômicos dos órgãos do sistema genital masculino: Testículo, epidídimo, ducto deferente,
próstata, ducto ejaculatório, glândulas bulbouretrais, glândulas seminais, uretra, pênis e bolsa
escrotal; Diferenciar os mecanismos que possibilitam a ereção e a ejaculação.
• Estudar a função geral do sistema genital feminino; Subdividir os órgãos do sistema genital feminino
em órgãos internos e externos; Apresentar a morfologia externa e interna, localização, função,
irrigação, drenagem venosa, drenagem linfática, inervação e principais acidentes anatômicos dos
órgãos do sistema genital feminino: Ovário, tuba uterina, útero, vagina e estruturas do pudendo
feminino (monte do púbis, lábio maior do pudendo, lábio menor do pudendo, vestíbulo da vagina,
bulbo do vestíbulo, óstio da vagina, glândula vestibular maior e glândulas vestibulares menores).
Elucidar os principais aspectos anatômicos do peritônio na cavidade pélvica, do períneo e das mamas.
unidade

IV
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a), o sistema urogenital é constituído pelo sistema urinário,


genital masculino e genital feminino. Embora, desempenhem funções diferen-
tes, têm inter-relações e proximidades anatômicas. As atividades orgânicas de-
pendem da decomposição de carboidratos, lipídios e proteínas para liberação de
energia. Tais decomposições formam produtos que devem ser eliminados para
não ter danos celulares.
A digestão de proteínas, por exemplo, origina aminoácidos que liberam gru-
po amina (NH2) o qual reage com o hidrogênio dos líquidos corporais formando
amônia (NH3). Essa é tóxica deve ser eliminada ou convertida em algo menos
tóxico como ureia ou acido úrico por meio da urina. O sistema urinário é forma-
do por estruturas anatômicas que produzem (órgãos uropoiéticos) e condução a
urina (órgãos urocondutores). A bexiga urinária a armazena.
Os sistemas genitais masculino e o feminino atuam em conjunto para permi-
tir a continuidade da vida. Eles têm os órgãos gametógenos ou gônadas, os game-
tóforos ou vias espermáticas, os de cópula, as estruturas eréteis, glândulas anexas
e órgãos externos. No feminino há o útero para abrigar o embrião.
Órgãos gametógenos produzem gametas e hormônios (testículos e ovários).
Órgãos gametóforos permitem a passagem dos gametas. Órgãos de cópula rela-
cionam-se ao ato sexual (pênis e vagina). Estruturas eréteis permitem o acopla-
mento durante a cópula. Glândulas anexas produzem secreções que facilitam
o coito ou a progressão dos gametas. Os genitais externos são visíveis à super-
fície do corpo.
O texto, a seguir, será fundamentado em autores como Dangelo e Fattini
(2011), Moore et al. (2014), Miranda Neto e Chopard (2014) e outros. A
nomenclatura é atualizada (CFTA, 2001), mas é necessário que você use um
atlas de anatomia como Sobotta (2012), Rohen, Yokochi e Lütjen-Drecoll
(2002) e outros. Não se esqueça que o profissional de educação física pre-
cisa ter conhecer estes sistemas, pois no contexto educacional, você é um
solicitado a responder sobre o corpo humano.
ANATOMIA

Sistema Urinário
FUNÇÕES DO SISTEMA UROGENITAL

Creio que se não todas, pelo menos a maioria das tem o encontro desses gametas (por meio da cópula)
pessoas sabe a principal função do sistema genital e produzem hormônios que garantem as caracterís-
masculino e feminino. Todavia, às vezes fico triste e ticas sexuais secundárias (testosterona no masculi-
preocupada com a visão que a maioria das pessoas no; estrógeno e progesterona no feminino). Adicio-
tem a respeito do sistema urinário. Para muitos esse nalmente, o genital feminino permite que o período
sistema tem apenas a função de “fabricar” urina. No gestacional seja cumprido, possibilita o trabalho de
entanto, a verdade é bem diferente. O sistema uri- parto e, se a fecundação não ocorrer, permite a dre-
nário é essencial à homeostasia corpórea e, portan- nagem dos produtos menstruais.
to, vital. Tal fato justifica o número de pessoas que
fazem hemodiálise no Brasil e no mundo, além do DIVISÕES DOS SISTEMAS GENITAIS
número expressivo de doentes renais que aguardam
nas filas de transplante de rim. Vamos entender me- Às vezes, quando vou iniciar uma aula sobre o siste-
lhor este tão importante sistema. ma urogenital, peço que alunos façam uma lista das
O sistema urinário é considerado um sistema estruturas anatômicas que formam cada um destes
osmorregulador que livra o organismo do excesso sistemas, e percebo muitas pessoas não conhecem
de água, sais minerais, toxinas, excretas nitrogena- seu próprio corpo. Por exemplo, quase sempre afir-
das (como ureia e acido úrico), produtos finais da mam que pênis e vagina fazem parte do sistema uri-
degradação da hemoglobina, ácido carbônico, me- nário (o que não é verdade, pois estes órgãos perten-
tabólitos de vários hormônios e outros. Assim, ele cem aos sistemas genitais).
atua na homeostase corpórea controlando o volume Para muitos, estruturas anatômicas como glân-
e a composição do líquido intracelular, extracelu- dula bulbouretral e o bulbo do vestíbulo são com-
lar e do sangue por meio da excreção de algumas pletamente desconhecidas. Além disso, há aqueles
substâncias e reabsorção de outras por meio de um que ao visualizar a vulva pensam estar vendo a vagi-
intenso processo de filtragem. Assim, se você con- na, a qual é um órgão interno.
siderar o fato de que ele atua indiretamente sobre o Tanto o sistema genital masculino quanto o femi-
volume de sangue, é fácil entender que ele também nino podem ser divididos em órgãos genitais internos
responde pelo controle indireto da pressão arterial e externos. Os internos ficam alojados na cavidade
(TORTORA et al., 2010). pélvica e incluem o testículo, epidídimo, ducto defe-
Já os sistemas genitais têm funções muito seme- rente, glândula seminal, ducto ejaculatório, próstata,
lhantes entre si. Ambos formam gametas, possibili- uretra e glândula bulbouretral (no sistema genital
tam a passagem dos mesmos pelos genitais, permi- masculino) e ovário, tuba uterina, útero e vagina (no

152
EDUCAÇÃO FÍSICA

sistema genital feminino). Os externos são visíveis Suas principais funções são filtrar o plasma san-
à superfície do corpo e incluem pênis e escroto (no guíneo e formar a urina (uropoiese), sintetizar a
sistema genital masculino) e as estruturas da vulva forma ativa da vitamina D, glicose em casos de je-
ou pudendo feminino (no sistema genital feminino) jum prolongado e eritropoetina (uma glicoproteína
(MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). que atua na medula óssea estimulando a produção
Só para reforçar, nunca mais se esqueça de que de hemácias). Além disso, o rim também sintetiza
vagina é um órgão interno e não é visível na face renina que é uma enzima produzida por fibras mus-
externa do corpo em condições normais ou em po- culares lisas das paredes das artérias aferentes, cuja
sição anatômica. O que se vê externamente é a vulva. liberação para a corrente sanguínea ocorre quando a
pressão arterial cai.
ÓRGÃOS DO SISTEMA URINÁRIO Externamente, os rins apresentam duas faces (an-
terior e posterior), duas bordas ou margens (medial
Rim e lateral) e duas extremidades ou polos (superior e
O rim é o órgão central do sistema urinário. Ele é par, inferior). O polo superior é espesso, arredondado e
de cor avermelhada, em forma de feijão, situado na mais próximo da linha mediana. A margem lateral
cavidade abdominal (à direita e à esquerda da coluna é convexa e voltada à esquerda, a margem medial é
vertebral), um pouco acima da linha da cintura. No côncava no centro e convexa nas extremidades. Em
homem adulto pesa de 125 a 170 gramas e tem cer- sua parte central existe um fissura chamada hilo renal
ca de 10 cm de comprimento, 2 de espessura e 5 de que dá passagem às artérias e veias renais, nervos, va-
largura. O esquerdo tende a ser um pouco mais com- sos linfáticos e pelve renal formando o pedículo renal.
prido e estreito do que o rim direito, mas em contra- Um corte coronal no interior do rim permite
partida, o direito fica levemente mais baixo devido identificar, macroscopicamente, uma porção central
à posição do fígado (DANGELO; FATTINI, 2011). mais escura denominada medula renal e outra peri-
Externamente, o rim é revestido por uma fina férica mais pálida chamada córtex renal que se pro-
bainha de tecido conjuntivo fibroso (a cápsula fi- jeta em direção à medula formando colunas renais,
brosa), sobre a qual existe uma grande quantidade as quais separam porções cônicas da medula deno-
de tecido adiposo formando a cápsula adiposa ou minadas pirâmides renais. A pirâmide e o córtex que
gordura perirrenal. Tanto a cápsula fibrosa quanto a circunda são chamados de lobo renal.
a cápsula adiposa auxiliam na proteção e na fixação As pirâmides têm aspecto estriado (raios medu-
do rim à cavidade abdominal. lares) e têm as bases voltadas para a superfície do
Sobre eles está a glândula suprarrenal que per- órgão e os ápices voltados para a pelve renal (uma
tence ao sistema endócrino atuando como importan- porção dilatada que origina o ureter). Assim, elas se
te produtora de hormônios. Assim, rins, glândulas estreitam originando em seu ápice as papilas renais
suprarrenais e ureteres são retroperitoneais (portan- as quais apresentam os forames papilares que rece-
to, pouco móveis). Todavia, tais estruturas podem se bem a urina para lançá-la nos cálices renais meno-
movimentar cerca de 3 cm verticalmente durante os res (estes se encaixam nas papilas renais como uma
movimentos respiratórios e ao ficar em pé ou deitar. taça, por isso, o nome de cálices). Os cálices renais

153
ANATOMIA

menores se unem e formam o cálice renal maior e (sem proteínas) o qual cai no interior da cápsula glo-
estes se abrem na pelve renal. Dessa forma, cálices merular. A cápsula é um tecido conjuntivo que reco-
renais menores e maiores, pelve renal, vasos e ner- bre o glomérulo renal e que se prolonga originando o
vos renais ficam alojados em um espaço chamado túbulo contorcido proximal, reto e contorcido distal
seio renal onde existe o tecido adiposo do seio renal. por onde este filtrado circula. Por fim, o ducto coletor
recebe a urina formada nos túbulos e a encaminha
Vista externa do rim Vista interna do rim
ao interior dos cálices renais menores, de onde segue
Córtex renal
aos cálices renais maiores, à pelve e ao ureter. Assim,
os cerca de 1500 ml de urina produzidos por dia por
Ureter uma pessoa saudável chegam até a bexiga urinária.

Túbulos renais (néfrons)

Córtex

Pirâmides renais Artéria renal


Figura 1 - Rim Medula

Como mencionamos a pouco, uma das principais Veia renal


Rim
funções do rim é filtrar o sangue e formar urina (esse Artéria interlobar

sangue é trazido aos rins pela porção abdominal da


Artéria Veia interlobar
artéria aorta que origina as artérias renais). Para de- arqueada
Veia
arqueada
sempenhar tal função, o rim é constituído por uni-
Néfron
dades anatomo-funcionais chamadas néfrons que Túbulo distal
Glomérulo
atuam como filtros separando o que deve ser eli- Cápsula glomerular
Capilares peritubulares

minado e o que deve ser reaproveitado pelo corpo. Arteríola aferente


Arteríola eferente
Existe aproximadamente um milhão de néfron em Artéria
arqueada
cada rim, mas, infelizmente, eles vão sendo grada-
tivamente destruídos e não se regeneram (a perda Direção do
Veia
fluxo sanguíneo
dos néfrons está relacionada, dentre outros fatores, Túbulo
arqueada
proximal
à alimentação rica em conservantes, corantes, agro- Duto coletor
Figura 2 - Néfron
tóxicos, condimentos, à ingestão de fármacos etc.).
O néfron tem a estrutura de um tubo sinuoso, No entanto, esse processo não é tão simples como
fechado em sua extremidade inicial e aberto em sua parece, pois, os rins realizam várias filtragens para
extremidade final. Ele é formado pelo glomérulo que apenas o essencial seja eliminado sem prejuízos
renal, cápsula glomerular, túbulo contorcido pro- ao corpo. Para tanto, esse processo ocorre em três
ximal, túbulo reto, túbulo contorcido distal e ducto etapas principais: filtragem, reabsorção e secreção. A
coletor (TORTORA et al., 2010). filtragem de todos os componentes do sangue (exce-
O glomérulo renal é um conjunto de capilares fe- to células e proteínas) ocorre no glomérulo renal e,
nestrados que deixam passar um filtrado de plasma posteriormente, na cápsula glomerular.

154
EDUCAÇÃO FÍSICA

Assim, são produzidos cerca de 180 litros de Ureter


ultrafiltrado por dia. Na sequência, ocorre a reab- O ureter é um tubo músculo-membranoso estreito e
sorção de substâncias essenciais que não estão em longo (no adulto tem de 25 a 30 cm de comprimen-
excesso (como aminoácidos, vitaminas e glicose) e to). Ele inicia no hilo renal e desemboca na bexiga
99% da água filtrada. Por último, durante a secreção, urinária. Assim, sua função é conduzir a urina pro-
substâncias em excesso do líquido intersticial são duzida no rim até à bexiga urinária onde a mesma
removidas (como drogas, catabólitos ou excretas e fica armazenada até a micção. Devido sua consti-
toxinas) formando a urina. tuição muscular, ele é capaz de se contrair e realizar
Como curiosidade, vale esclarecer sobre os cál- movimentos peristálticos (WATANABE, 2000).
culos renais (popularmente conhecidos como “pe- Em seu trajeto do rim até a bexiga, o ureter desce
dras nos rins”). Eles podem ser encontrados nos justaposto à parede abdominal e à parede pélvica,
cálices renais menores e maiores, na pelve renal, passando posteriormente ao peritônio (ou seja, é re-
no ureter e na bexiga urinária obstruindo o fluxo troperitoneal e imóvel). Dessa forma, ele apresenta
da urina e provocando a contração da musculatura três porções: a abdominal, a pélvica e a intramural
do ureter (o que desencadeia uma forte dor aguda). (quando atravessa a parede da bexiga).
Além disso, sua presença pode causar lesões geran- Quando os ureteres atravessam a parede muscu-
do hematúria (sangue na urina). Os principais fato- lar da bexiga urinária, eles o fazem de maneira oblíqua
res que predispõem sua formação incluem baixa in- formando uma válvula unidirecional que, junto com a
gestão de água, excesso de ingestão de carnes, leites, pressão interna da bexiga ocasionada pelo seu enchi-
queijos, vitamina C e D, alterações na reabsorção de mento, impede o refluxo da urina em direção ao ureter.
cálcio, hiperparatireoidismo, repouso prolongado, Além disso, as contrações musculares da bexiga tam-
utilização excessiva de antiácidos que contenham bém atuam como um esfíncter impedindo tal refluxo.
cálcio e predisposição genética.

Rim direito Rim esquerdo

Ureter direito Ureter esquerdo

Bexiga urinária
Figura 3 - Órgãos do sistema urinário Figura 4 - Ureter

155
ANATOMIA

Bexiga Urinária
A bexiga urinária é um órgão ímpar que fica locali-
zado, após a puberdade, na cavidade pélvica (no feto Ovário
Tuba uterina
e no recém-nascido ela se localiza na cavidade abdo-
minal). Embora seja oca, ela é constituída por fortes
paredes musculares que se distendem para permi- Útero

tir que sua função de armazenamento de urina seja


possível (normalmente, ela pode armazenar de 350 Cérvix
Bexiga urinária
ml a 1,5 litros de urina). Reto
Sua forma, tamanho, relação com órgãos vizi- Uretra

nhos e situação variam de acordo com suas fases


Vagina Ânus
de vacuidade, com a idade e o sexo do indivíduo.
No adulto, por exemplo, quando ela está vazia, fica
achatada contra a sínfise púbica, mas quando está Figura 5 - Bexiga urinária

cheia, ela assume uma forma ovoide que se salienta


na cavidade abdominal. De igual modo, sua posi- Como vimos anteriormente, a bexiga urinária é
ção anatômica é diferente no homem e na mulher. constituída por músculos fortes que apresentam fi-
Enquanto, no homem ela fica localizada à frente do bras lisas dispostas em espiral, cuja contração pro-
reto, na mulher o útero fica interposto entre ela e o voca o esvaziamento da bexiga. Vale destacar que a
reto (FREITAS, 2004). micção é um mecanismo reflexo desencadeado pela
A bexiga apresenta uma face superior, duas faces distensão da bexiga. Esse mecanismo depende da
ínfero-laterais e uma face posterior (também cha- atividade do sistema nervoso autônomo, mas pode
mada de fundo ou base da bexiga). Seu ápice aponta ser influenciado voluntariamente por meio da ação
para a sínfise púbica; seu fundo é convexo e oposto de músculos do abdome e do períneo (que veremos
ao ápice; seu corpo é considerado sua parte principal ao fim desta unidade).
localizada entre o ápice e o fundo; seu colo é inferior
(MOORE et al, 2001). Além disso, a superfície inter- Uretra
na da bexiga apresenta vários acidentes anatômicos A uretra é considerada o segmento terminal do
(como o óstio do ureter, o óstio interno da uretra, o sistema urinário. Ela é um tubo mediano cuja fun-
trígono vesical e a úvula da bexiga). Todavia, estes ção é conduzir a urina até o meio externo. Parti-
acidentes não serão detalhados nesta unidade, pois cipam de sua constituição tecido conjuntivo, mús-
não fazem parte da vida diária do profissional de culo liso e mucosa (elástica e rica em glândulas)
educação física. (DI DIO, 2002).

156
EDUCAÇÃO FÍSICA

Há diferenças entre a uretra masculina e femini- Enquanto a uretra intramural tem diâmetro e
na. A feminina é muito curta (aproximadamente 4 comprimento variáveis de acordo com o enchimen-
cm) e se destina apenas à passagem de urina. Ela se to da bexiga, a uretra prostática é completamente
abre para o meio externo por meio do óstio externo circundada pela próstata e dela recebe secreção (pe-
da uretra, um pequeno orifício localizado entre os los dúctulos prostáticos), além de receber o sêmen
lábios menores do pudendo, próximo ao clitóris e ao (pelos ductos ejaculatórios). A uretra membranácea
óstio da vagina. penetra a membrana do períneo e termina ao en-
Em contrapartida, a uretra masculina é longa trar no pênis. Próximo a esta parte da uretra estão
(aproximadamente 20 cm), sinuosa e se destina à as glândulas bulbouretrais (que serão estudadas em
passagem de urina e de sêmen durante a ejacula- breve ainda nesta unidade).
ção (assim, ela pertence tanto ao sistema urinário Por fim, a uretra esponjosa começa na extremi-
quanto ao sistema genital masculino). Por isso, ela é dade distal da uretra membranácea e termina no
dividida em quatro partes: uretra pré-prostática ou óstio externo da uretra (um pequeno orifício loca-
intramural, uretra prostática, uretra membranácea e lizado na região central da glande do pênis). Essa
uretra esponjosa. porção da uretra é longa e está envolvida pelo cor-
po esponjoso do pênis (por isso, recebe este nome).
Nela se abrem as glândulas bulbouretrais.

SAIBA MAIS

A uretra pode ser acometida por processo


inflamatório caracterizando o quadro clínico
de uretrite. Se a inflamação progredir em di-
reção à bexiga urinária, ocorrerá cistite (que é
mais comum em mulheres devido à pequena
dimensão da uretra). Se o ureter for acometi-
do ocorrerá ureterite e se a inflamação atingir
os rins ocorrerá nefrite. Além disso, nos ho-
mens pode ter propagação para a próstata
causando prostatite.

Fonte: Copacabana Runners (on-line)1.

Figura 6 - Comparação entre a uretra masculina e feminina

157
ANATOMIA

Sistema Genital
Masculino
ÓRGÃOS DO SISTEMA GENITAL
MASCULINO

Testículo
Os testículos são duas glândulas ovais, achatadas no cebido externamente como a rafe do escroto (uma
sentido látero-lateral, que produzem continuamen- espécie de “costura” mais escura visível na superfície
te, a partir da maturidade sexual, os gametas mascu- externa do escroto).
linos (os espermatozoides) e o hormônio testostero- Adicionalmente, a superfície do testículo é re-
na (MOORE et al., 2014). vestida por tecido conjuntivo muito resistente cha-
Na vida intrauterina, ele se desenvolve no inte- mado túnica albugínea, e por um saco seroso duplo
rior do abdome (próximo aos rins), mas à medida chamado túnica vaginal que emite septos para o in-
que a gestação avança, o testículo desce e se posi- terior do testículo dividindo-o em lóbulos onde se
ciona no interior do escroto onde é palpável ao encontra o parênquima do testículo. Os ápices dos
nascimento. É fundamental que esse processo de lóbulos convergem e formam o mediastino do testí-
migração se complete antes da puberdade para que culo que é uma massa de tecido fibroso.
os testículos fiquem alojados externamente à parede Nos lóbulos existem muitos ductos finos, longos,
da pelve, pois, a temperatura intra-abdominal (36 a sinuosos e de calibre quase capilar que são chama-
37°C) poderia comprometer a produção dos esper- dos de túbulos seminíferos contorcidos que formam
matozoides tornando o indivíduo estéril (pois para os espermatozoides. Esses túbulos convergem para o
a espermatogênese o ideal é 35°C). Por isso, a não mediastino do testículo e se anastomosam para for-
descida do testículo (chamada criptorquidia) pode mar os túbulos seminíferos retos, os quais se entre-
ser corrigida cirurgicamente. cruzam formando uma rede que desemboca em 15
Em geral, o testículo esquerdo é inferior ao di- a 20 dúctulos eferentes que se destinam à cabeça do
reito e eles são separados por um septo de tecido epidídimo. Assim, o espermatozoide produzido no
conjuntivo (chamado septo do escroto) que é per- testículo é encaminhado ao epidídimo.

158
EDUCAÇÃO FÍSICA

Anatomia do testículo
onde a espermatogênese ocorre. Dessa forma, a sen-
sibilidade faz com que os homens protejam todo o
Plexo pampiniforme
conteúdo da bolsa escrotal a fim de que os esperma-
Artéria testícular tozoides sejam bem formados e hábeis à fecundação
e geração de novos indivíduos saudáveis.
Epidídimo
Ducto deferente
Epidídimo
O epidídimo (que muitas pessoas desconhecem
onde fica e para que serve) é um órgão par, em for-
Testículo ma de tubo enovelado com aspecto de meia lua,
cuja função é o armazenamento temporário e a ma-
turação dos espermatozoides (MIRANDA NETO;
CHOPARD, 2014).
Ele se entende da borda posterior do testículo
até o ducto deferente e apresenta cabeça, corpo e
Figura 7 - Testículo cauda. A cabeça é uma região mais dilatada que
fica na extremidade superior do testículo; o corpo
Como o testículo se posiciona externamente à pa- é afilado e formado pelo ducto contorcido do epi-
rede da pelve e os outros órgãos do sistema genital dídimo; a cauda é sua parte inferior, contínua com
masculino estão no interior dela, várias estruturas o ducto deferente.
entram e saem do testículo formando o funículo
espermático que é envolto pela fáscia espermática
interna, fáscia espermática externa e pela fáscia cre-
mastérica. O funículo espermático percorre uma es-
pécie de túnel através da parede do abdome, o canal
inguinal, o qual pode apresentar hérnias inguinais.
Dentre as estruturas que o percorrem destacam-se
as veias testiculares cujo aparecimento de varizes
caracteriza uma condição patológica chamada va-
ricocele que leva ao acúmulo de sangue venoso no
testículo reduzindo a espermatogênese e podendo
causar infertilidade.
Assim, é importante salientar que na bolsa es-
crotal não fica apenas o testículo, mas também o
epidídimo, parte do ducto deferente e do funículo
espermático. É uma região extremamente inervada
e, portanto, muito sensível porque representa o local Figura 8 - Epidídimo

159
ANATOMIA

Ducto deferente REFLITA


O ducto deferente é órgão par, com cerca de 30 cm
de comprimento, cuja função é permitir a passagem Quando um homem deseja ser esterilizado, a
dos espermatozoides da cauda do epidídimo até a vasectomia é uma excelente opção. Nesse pro-
próstata, à medida que eles amadurecem. Por isso, é cedimento cirúrgico, o ducto deferente é sec-
considerado o canal excretor do testículo (DANGE- cionado de forma que, durante a ejaculação
LO; FATTINI, 2011). ocorre apenas a eliminação de líquido seminal
Para tanto, o ducto deferente deixa o escroto, sendo os espermatozoides reabsorvidos.
sobe pelo funículo espermático, comunica-se com
as glândulas seminais (por meio dos ductos das
glândulas seminais) e penetra a próstata onde ori- Glândula seminal
ginam o ducto ejaculatório. Por isso, ele apresenta A glândula seminal também é um órgão par, forma-
uma parte escrotal, funicular, inguinal, pélvica e a do por estruturas tubulares enoveladas em fundo
ampola do ducto deferente (parte alargada que se cego, com cerca de 5 cm de comprimento. Situa-se
une ao ducto da glândula seminal para formar o posteriormente à bexiga urinária e acima da prósta-
ducto ejaculatório). ta e é constituída de músculo liso e tecido conjuntivo
Como apresenta músculo liso em sua parede, no fibroso (WATANABE, 2000).
momento que precede a ejaculação, o ducto defe-
rente se encurta e ao mesmo tempo amplia sua luz,
funcionando como uma câmera de pressão negativa
que atrai os espermatozoides para o seu interior. A
seguir, ele se contrai expulsando-os em direção ao
ducto ejaculatório. Glândula seminal

Ducto deferente Ducto deferente


direito esquerdo Figura 10 - Glândula seminal

Sua função é secretar um líquido seminal alcalino,


espesso, rico em frutose, que ativa o movimento dos
espermatozoides e contribui para a nutrição dos
mesmos. Esse líquido representa cerca de 60% do
Figura 9 - Ducto deferente conteúdo eliminado durante a ejaculação. Inferior-

160
EDUCAÇÃO FÍSICA

mente, a extremidade da glândula seminal torna-se ejaculado e é fundamental para dar o odor carac-
estreita e ereta formando o ducto da glândula semi- terístico do sêmen.
nal, que como mencionado anteriormente, une-se Como a próstata é atravessada em toda a sua
ao ducto deferente formando o ducto ejaculatório extensão pela uretra, a secreção de suas glândulas é
dentro da próstata. Lembra? lançada diretamente na porção prostática da uretra
por meio de vários dúctulos prostáticos. Sua cápsula
Próstata e fibras musculares se contraem forçando o líquido
A próstata é considerada a maior glândula acessória prostático em direção à parte prostática da uretra.
do sistema genital masculino, pois tem cerca de 3 cm
de comprimento, 4 de largura e 2 de profundidade
ântero-posterior. Embora seja pouco desenvolvida
ao nascimento, ela cresce da puberdade até em tor-
no dos 30 anos de idade, e depois diminui após os 40
anos (DI DIO, 2002).
Ela tem dois lobos laterais (direito e esquerdo)
e um lobo mediano (o istmo da próstata). Localiza-
-se na pelve, em posição mediana, logo, abaixo da
bexiga urinária. Assim, apresenta uma base (voltada
à bexiga urinária), um ápice (voltada aos músculos
do períneo), uma face anterior muscular (separada
da sínfise púbica por gordura), duas faces ínferolate- Figura 11 - Próstata

rais (voltadas ao músculo levantador do ânus) e uma


REFLITA
face posterior (voltada ao reto). Sua proximidade
com o reto explica o fato dela poder ser palpada por
meio do toque retal para auxiliar no diagnóstico de Não confunda espermatozoide (gameta mascu-
hiperplasia de próstata. lino), líquido seminal ( produzido pelas glându-
Externamente, a próstata é envolta por uma cáp- las seminais e próstata, não tem gameta) e es-

sula fibrosa densa neurovascular e pela fáscia visceral perma ou sêmen (gameta mais líquido seminal).

da pelve. Em sua constituição estão presentes múscu-


lo liso, tecido conjuntivo fibroso e glândulas (um ter-
ço de sua composição é fibromuscular e dois terços é Ducto ejaculatório
glandular, pois, ela apresenta de 30 a 50 glândulas). O ducto ejaculatório é o último e menor segmento
Tais glândulas secretam o líquido prostático das vias espermáticas (tem cerca de 2 cm de com-
que, além de ativar a movimentação dos esper- primento). Ele é ímpar e, como já vimos, resulta da
matozoides, é alcalino e neutraliza a acidez do lí- união do ducto da glândula seminal com o ducto de-
quido proveniente do ducto deferente e da vagina. ferente. Assim, atravessa a próstata e desemboca na
Esse líquido representa cerca de 30% do volume parte prostática da uretra (FREITAS, 2004).

161
ANATOMIA

Glândula bulbouretral Uretra


A glândula bulbouretral é uma pequena estrutura A uretra já foi estudada por ocasião do sistema uri-
anatômica (do tamanho de uma ervilha), localizada nário, mas você deve lembrar que, para o homem, ela
à direita e à esquerda da parte inicial da uretra mem- é comum tanto ao sistema urinário (pois se destina à
branosa, junto ao bulbo do pênis (TORTORA et al., passagem da urina) quanto ao sistema genital mas-
2010). Sua função é produzir, durante o período de culino (pois se destina à passagem do sêmen durante
excitação sexual que antecede a ejaculação, uma se- a ejaculação). Além disso, também vale lembrar que
creção mucosa e alcalina que, além da função lubri- há inúmeras diferenças entre a uretra masculina e a
ficante, contribui para neutralizar o pH da uretra e feminina. Assim, neste tópico, revisaremos apenas a
eliminar resíduos de urina. Essa secreção é lançada uretra masculina, enquanto, pertencente ao sistema
na parte esponjosa da uretra pelos ductos das glân- genital masculino.
dulas bulbouretrais (como já vimos). A uretra é um tubo mediano sinuoso e longo
(com aproximadamente 20 cm de comprimento),
constituído por tecido conjuntivo, músculo liso e
mucosa (elástica e rica em glândulas). Além disso,
é dividida em uretra pré-prostática ou intramural,
uretra prostática, uretra membranácea e uretra es-
ponjosa (MOORE et al., 2014).
Enquanto, a uretra intramural tem diâmetro
e comprimento variáveis de acordo com o enchi-
mento da bexiga (pois a atravessa), a uretra pros-
tática é completamente circundada pela próstata
e dela recebe secreção prostática (pelos dúctulos
prostáticos), além de receber o sêmen (pelos duc-
tos ejaculatórios).
A uretra membranácea penetra a membrana do
períneo e termina ao entrar no pênis. Próximo a esta
parte da uretra estão as glândulas bulbouretrais. Por
fim, a uretra esponjosa começa na extremidade dis-
O ducto ejaculatório se
forma dentro da próstata tal da uretra membranácea e termina no óstio ex-
terno da uretra (um pequeno orifício localizado na
região central da glande do pênis). Esta porção da
uretra é longa e está envolvida pelo corpo esponjoso
do pênis (por isso, recebe este nome). Nela se abrem
As glândulas bulbouretrais
se localizam na raiz do pênis as glândulas bulbouretrais.

Figura 12 - Ducto ejaculatório e glândula bulbouretral

162
EDUCAÇÃO FÍSICA

Pênis
O pênis é um órgão ímpar localizado na região pu-
denda. Sua principal função é possibilitar o coito
por meio da penetração na estrutura de cópula do
sistema genital feminino (a vagina) a fim de nela
lançar os espermatozoides (WATANABE, 2000).
Corpo do pênis.
Em sua constituição existem três longas massas Observe como a uretra
esponjosa percorre todo o
cilíndricas de tecido lacunar erétil que são os dois corpo esponjoso do pênis
corpos cavernosos e o corpo esponjoso. Os corpos
cavernosos são constituídos por muitas trabéculas
de tecido conjuntivo fibroso, fibras elásticas e mús-
culo liso revestido por células endoteliais que dei-
xam entre si espaços por onde passam as artérias
profunda e dorsal do pênis.
No plano mediano eles são fundidos um ao ou-
tro, mas, posteriormente, separam-se para formar
os ramos do pênis os quais fazem a fixação do pênis Figura 13 - Pênis

aos ossos do quadril (ísquio e púbis). Esses corpos


formam o maior volume do pênis e abrigam o cor- No pênis distinguem-se três regiões: raiz, corpo
po esponjoso. Por sua vez, o corpo esponjoso con- e glande. A raiz é onde ele se origina, ou seja, sua
tém a parte esponjosa da uretra e apresenta uma porção fixa formada pelos ramos e bulbo do pênis,
dilatação anterior chamada glande, e outra poste- e pelos músculos isquiocavernoso e bulboesponjo-
rior, chamada bulbo, que se prende às estruturas do so. O corpo é sua parte pendular livre e móvel onde
assoalho da pelve. estão os corpos cavernosos e o corpo esponjoso. Já a
Todavia, é importante ressaltar que além dos glande é sua extremidade distal dilatada onde o ós-
corpos cavernosos e do corpo esponjoso, o pênis tio externo da uretra se abre.
também é formado por vasos sanguíneos, vasos A glande fica superficialmente separada do res-
linfáticos e é revestido por uma pele fina, sensível, to do corpo do pênis por uma constrição, o colo da
elástica, lisa, de cor escura e frouxamente presa à glande e apresenta uma borda proeminente chama-
tela subcutânea. Além disso, tanto os corpos caver- da coroa da glande onde existem glândulas prepu-
nosos quanto o corpo esponjoso são revestidos por ciais produtoras de uma secreção de odor caracte-
fáscias e túnicas fibrosas (como a túnica albugínea, rístico (o esmegma). Além disso, a glande é coberta
e a fáscia superficial e profunda do pênis) as quais por uma pele fina que forma uma prega retrátil cha-
favorecem o ingurgitamento de sangue e predis- mada prepúcio, o qual apresenta inferiormente um
põem a ereção. freio que limita sua mobilidade.

163
ANATOMIA

Se a abertura do prepúcio for estreitada impe-


dindo a exposição da glande, ocorre uma condição
patológica chamada fimose. Tal condição, além de
dificultar o coito, atrapalha a higienização do pênis
o que é extremamente preocupante haja vista a glan-
de apresentar inúmeras glândulas sebáceas e prepu-
ciais produtoras de sebo e esmegma. Além disso, o
acúmulo de esmegma pode fazer com que micro-or-
ganismos de proliferarem e invadam a uretra cau-
sando infecção. Muitas vezes, podem não aparecer
sintomas graves, mas surge odor desagradável e pru-
rido (coceira). Assim, quando a fimose é diagnostica
uma correção cirúrgica pode ser indicada. Bolsa escrotal.
Por fim, vale destacar que dois ligamentos Observe como a bolsa
escrotal abriga e protege
prendem-se ao pênis (o ligamento fundiforme e não só o testículo, mas
também o epidídimo e o
o ligamento suspensor do pênis) e que, interna- ducto deferente

mente, os corpos cavernosos são separados pelo


septo do pênis. Figura 14 - Bolsa escrotal

Escroto ou bolsa escrotal A bolsa escrotal possui várias camadas, sendo as prin-
O escroto é uma bolsa fibromuscular cutânea que cipais a pele, a túnica dartos e a túnica vaginal. A pele
fica situada inferiormente à sínfise púbica e, pos- é relativamente fina, muito pigmentada, com poucos
teriormente, ao pênis, permanecendo pendente na pelos e muitas glândulas sebáceas e sudoríferas cuja
região urogenital. Sua principal função é conter o sudorese ajuda a eliminar o calor. Ela é marcada ex-
testículo fora da cavidade pélvica cuja temperatu- ternamente por uma crista mediana chamada rafe do
ra (37ºC) é superior à temperatura ideal para a es- escroto a qual continua anteriormente com a rafe do
permatogênese (35ºC) (MIRANDA NETO; CHO- pênis e posteriormente com a rafe do períneo.
PARD, 2014). A túnica dartos é aderida à pele e formada por
Ele é dividido pelo septo do escroto em dois fibras musculares lisas fundamentais para a termor-
compartimentos, os quais contêm um testículo, um regulacão. Por exemplo, a contração das fibras deter-
epidídimo, a parte inferior do funículo espermáti- mina o aspecto enrugado da pele por influência do
co e seus envoltórios. Vale destacar que, embora o frio, exercício ou estímulo do músculo oblíquo inter-
testículo fique contido em seu interior, ele apresenta no do abdome. Além disso, sua contração ajuda os
relativa mobilidade dentro do escroto. músculos cremasteres a manterem os testículos mais
próximos do corpo para reduzir a perda de calor.

164
EDUCAÇÃO FÍSICA

Por fim, a túnica vaginal é uma serosa deri- do vasoconstrição arterial a fim de reduzir o fluxo
vada do peritônio que acompanha os testículos de sangue para os corpos cavernosos. Assim, a saída
durante sua migração do abdome para o escroto. de sangue pelas veias faz com que o pênis volte a seu
Embora o escroto também possa ser chamado de estado de flacidez (MOORE et al., 2014).
bolsa escrotal, ele não deve ser chamado de saco Vale destacar que problemas psicológicos, ten-
escrotal, está bem? sões emocionais e insuficiências vasculares (co-
muns em idosos, diabéticos, hipertensos, sedentá-
EREÇÃO rios e fumantes) podem causar impotência sexual.
Além disso, o fumo afeta diretamente a função
Estímulos físicos (como o toque) e psíquicos erétil devido seu efeito vasoconstritor e à predis-
(como um pensamento relacionado à sexualida- posição que causa às doenças degenerativas da pa-
de) desencadeiam uma resposta do sistema nervo- rede arterial.
so autônomo parassimpático a partir do segmento
sacral da medula espinal de onde partem fibras EJACULAÇÃO
nervosas até o pênis. Essas fibras, em contraste
com a maioria das fibras parassimpáticas, secre- A ejaculação é caracterizada como a eliminação do
tam óxido nítrico (NO) que causa relaxamento sêmen pelo óstio externo da uretra. Normalmente,
dos músculos lisos das artérias do pênis (vasodila- ela ocorre no momento do orgasmo ou durante o
tação) e da rede de trabéculas do tecido erétil dos sono (sendo chamada de polução noturna) e é de-
corpos cavernosos e esponjoso fazendo o sangue sencadeada por impulsos do sistema nervoso autô-
fluir rapidamente para enchê-lo. nomo simpático provenientes dos segmentos lom-
Concomitantemente, a túnica albugínea do pê- bares da medula espinal.
nis entra em tensão, comprime os espaços caverno- Assim, estímulos são enviados pelo nervo pu-
sos e bloqueia a saída do sangue pelas vênulas e veias dendo até à medula espinal a qual, em resposta, esti-
causando o completo enchimento dos lagos venosos mula os músculos estriados esqueléticos localizados
e o enrijecimento peniano. Além disso, a contração em torno do tecido erétil da raiz do pênis causando
reflexa do músculo isquiocavernoso ajuda a aumen- sua contração, compressão da uretra e possibilitan-
tar a pressão nos espaços cavernosos. do a ejaculação. Por isso, em casos de secção da me-
Posteriormente, o sistema nervoso autônomo dula espinal o indivíduo perde o controle da ejacu-
simpático age desencadeando a ejaculação e causan- lação (MOORE et al., 2014).

165
ANATOMIA

Sistema Genital
Feminino
ÓRGÃOS INTERNOS DO SISTEMA GENI-
TAL FEMININO

Ovário
De acordo com Dangelo e Fattini (2011), o ovário é O ovário passa por trás do ligamento largo do
um órgão par, de forma oval, que repousa na fossa útero que se prende. Na realidade, cada ovário é
ovárica. Ele tem cerca de 3 a 4 cm (embora, diminua suspenso por uma curta prega peritoneal, chamada
de tamanho com o envelhecimento) e apresenta con- mesovário que é uma subdivisão do ligamento lar-
sistência firme (que aumenta com a idade). Sua função go do útero. Todavia, outros ligamentos o mantém
é produzir, ao final da puberdade, gametas femininos em posição prendendo-o a formações vizinhas, com
(os ovócitos) e hormônios (estrógeno e progesterona). o ligamento útero-ovárico, ligamento suspensor do
É interessante ressaltar que, embora o ovário fi- ovário e ligamento próprio do ovário.
que suspenso na cavidade peritoneal pélvica, sua su-
perfície não é coberta pelo peritônio. Tal fato faz com
que o ovócito expelido durante a ovulação passe para
a cavidade peritoneal até ser aprisionado pelas fím-
brias do infundíbulo da tuba uterina e conduzido até
a ampola da tuba uterina onde poderá ser fertilizado.
Nas mulheres pré-púberes, a cápsula de tecido
conjuntivo (túnica albugínea do ovário) que forma
sua superfície é coberta por uma lâmina lisa de me- Vista interna do Vista externa do
ovário ovário
sotélio ovariano. Depois da puberdade, ocorrem fi-
brose e distorção progressiva do epitélio superficial
ovariano em razão das cicatrizes deixadas pelas su-
cessivas ovulações. Assim, o ovário se torna branco/
acinzentado e rugoso (antes da primeira ovulação
ele é liso e rosado). Figura 15 - Ovário

166
EDUCAÇÃO FÍSICA

Tuba Uterina A tuba uterina é dividida em infundíbulo, am-


A tuba uterina é uma estrutura anatômica tubular pola, istmo e parte uterina. O infundíbulo é sua
cuja principal função é transportar os ovócitos e os extremidade distal. É alongado em forma de funil,
espermatozoides. Esse processo é facilitado pelo fato justaposto ao ovário, móvel e com franjas (fím-
de sua superfície interna apresentar pregas longitu- brias). Como já mencionado, ele se abre na cavi-
dinais (as pregas tubárias), que lhe conferem um as- dade peritoneal por meio do óstio abdominal da
pecto labiríntico útil para a captação e transporte do tuba. A ampola é sua parte mais longa e larga, é
ovócito e do espermatozoide por meio de seu com- móvel e representa o local onde a fecundação nor-
primento (FREITAS, 2004). malmente ocorre. Enquanto o istmo é uma porção
estreitada com parede espessa que adentra o útero,
a parte uterina ou intramural atravessa a parede
do útero abrindo-se na cavidade uterina através do
óstio uterino da tuba.
Tuba uterina Tuba uterina
direita esquerda
SAIBA MAIS

Gravidez ectópica é a gestação que ocorre


fora da cavidade uterina. Ela pode se dar, por
exemplo, na tuba uterina (conhecida como
gravidez tubária). As causas incluem diversos
fatores que retardam ou impedem a passa-
Figura 16 - Tuba uterina gem do ovo ou zigoto para a cavidade uterina
os quais podem ser mecânicos, funcionais,
decorrentes do próprio processo de envelhe-
À semelhança do ovário, a tuba uterina também cimento ou de drogas hormonais.
está situada em uma prega peritoneal, a mesos-
Fonte: Minha Vida (on-line)2.
salpinge, incluída na borda superior do ligamento
largo do útero. Por isso, durante a gestação, ela e o
ovário são deslocados junto com o útero. Embora
a tuba tenha cerca de 10 cm de comprimento, sua
luz é estreita. Ela apresenta uma extremidade me- Útero
dial (que se comunica com útero pelo óstio uterino O útero é um órgão cavitário, eminentemente mus-
da tuba) e uma extremidade lateral (que se comu- cular, situado na pequena pelve entre a bexiga uri-
nica com a cavidade peritoneal por meio do óstio nária e o reto. Ele é envolto pelo ligamento largo do
abdominal da tuba). Assim, na mulher o peritônio útero, tem cerca de 7 cm de comprimento, 5 de lar-
se comunica com o meio externo por meio do ós- gura e pesa aproximadamente 90 gramas, mas pode
tio da vagina. Tal comunicação não ocorre no sexo se dilatar ao ponto de abrigar gêmeos, trigêmeos,
masculino uma vez que a cavidade peritoneal é quadrigêmeos em seu interior. Tem a forma de uma
completamente fechada no homem. pera invertida, mas não é totalmente mediano, pois

167
ANATOMIA

quase sempre está deslocado à direita. Todavia, sua parto forçando o concepto em direção ao canal do
forma, tamanho, posição e estrutura podem variar colo do útero. Após o parto, ele continua a se con-
dependendo da idade, do estado gestacional e da va- trair para rearranjar seus componentes e voltar ao
cuidade da bexiga e do reto (DI DIO, 2002). tamanho aproximado do que tinha antes da gravi-
Sua função principal é alojar o embrião para dez. Tais contrações são importantes também para
que se desenvolva durante todo o período em- promover um pinçamento dos vasos sanguíneos
brionário. Todavia, ele também atua por meio de que se rompem durante o deslocamento da placen-
contrações musculares facilitando o parto por via ta impedindo quadros hemorrágicos.
vaginal (parto normal). O endométrio é a camada mucosa interna que
O útero apresenta duas partes essenciais, o cor- participa do ciclo menstrual. Mensalmente, ele se
po e o colo. O corpo é sua porção principal situa- prepara para receber o zigoto tornando-se espesso e
da entre as lâminas do ligamento largo através de rico em capilares. Todavia, não ocorrendo a fecun-
suas bordas direita e esquerda. Apresenta uma face dação, este espessamento do endométrio se descama
anterior ou vesical (separada da bexiga pela escava- eliminando sangue por meio do óstio da vagina (fe-
ção vésico-uterina) e uma face posterior ou intesti- nômeno conhecido como menstruação). Além dis-
nal (separada do reto pela escavação retouterina). so, sob a influência do estrógeno e da progesterona,
É móvel e se comunica lateralmente com as tubas o endométrio sofre modificações com as fases do
uterinas. A porção arredondada do corpo que fica período menstrual, uterino ou gravídico.
acima do ponto onde esta comunicação ocorre é Normalmente, o útero forma um ângulo de 90º
chamada de fundo do útero. No interior do corpo com a vagina (é antevertido) e se flete anteriormen-
do útero existe a cavidade uterina a qual é estreita te em relação ao colo (é antefletido). Seu posicio-
no período não grávido. namento é mantido por importantes ligamentos os
O colo do útero é dividido em porção vaginal quais, com o envelhecimento e em decorrência da
(que se projeta para a vagina e circunda o óstio do menopausa, podem se tornar menos resistentes e
útero) e porção supravaginal (acima da vagina). No flácidos. Tal fato é explicado em função da menor
colo, a cavidade uterina é estreita e passa a ser cha- produção de estrógeno e, consequentemente, redu-
mada de canal do colo do útero. Corpo e colo se ção na síntese de colágeno que os compõe. Com isso,
separam por meio do istmo do útero (uma região o útero pode migrar em direção a vagina (prolapso
inferior, curta e estreitada). uterino) e alterar a posição da bexiga e a angulação
A parede do corpo do útero apresenta três ca- da uretra podendo causar, dentre outros sinais, in-
madas: o perimétrio, o miométrio e o endométrio. continência urinaria.
O perimétrio é externo e representado pelo peri-
tônio. O miométrio fica interposto entre as outras Vagina
duas camadas e forma a maior parte da parede do O nome vagina significa bainha e lhe foi atribuído
útero. Ele é constituído por músculo liso o qual em decorrência do fato dela envolver o pênis duran-
permite o aumento do volume do útero durante te a penetração. Assim, sua principal função está re-
a gravidez e a contração que inicia o trabalho de lacionada à cópula, mas também participa como um

168
EDUCAÇÃO FÍSICA

canal para passagem da menstruação e representa a


parte inferior do canal de parto (MIRANDA NETO; Ovário
Tuba uterina
CHOPARD, 2014).
A vagina é um tubo musculomembranáceo ím-
par, mediano, com cerca de 8 cm de comprimento, Útero

cujas paredes normalmente estão colabadas forman-


do uma fenda ântero-posterior. Ela se situa poste-
Bexiga urinária Cérvix
riormente à bexiga urinária e à uretra e, anterior- Reto
mente, ao reto. Tem direção oblíqua para baixo e Uretra

para frente de forma que sua parede anterior é mais


curta do que a posterior. Além disso, sua extremi- Vagina Ânus

dade superior circunda o colo do útero permitindo Figura 17 - Útero e vagina

sua comunicação com a cavidade uterina (através do


óstio do útero). Inferiormente, ela se comunica com ÓRGÃOS EXTERNOS
o meio externo por meio do óstio da vagina.
O óstio da vagina é parcialmente fechado nas O conjunto das estruturas anatômicas externas do
virgens. Esse fechamento é realizado pelo hímen - sistema genital feminino é chamado de vulva ou
uma membrana delgada de tecido conjuntivo pouco pudendo feminino. Incluem o monte do púbis, os
vascularizada. A forma e o tamanho do hímen são lábios maiores e menores do pudendo, o clitóris, o
variáveis podendo apresentar uma única abertura bulbo do vestíbulo e as glândulas vestibulares maio-
ou ser cribriforme (todo perfurado). Todavia, im- res e menores. De maneira geral, tais estruturas ser-
perfurações ou agenesia no hímen são raras. Após vem para orientar o fluxo da urina, evitar a entra-
sua ruptura (que não é dolorosa e nem provoca he- da de material estranho no trato urogenital e como
morragia), permanecem pequenos fragmentos cha- tecido sensitivo e erétil para a excitação e a relação
mados de carúnculas himenais. sexual (TORTORA et al., 2010).
A vagina é constituída por três túnicas, a exter- Anatomia da Vulva
Anatomia da vulva
na ou adventícia (formada por tecido conjuntivo), a
média (formada por músculo liso) e a mucosa (re-
Monte do púbis
sistente e elástica, com rugas vaginais que tendem
Clitóris
a desaparecer). Na mucosa, além de glândulas pro-
Lábio menor do pudendo
dutoras de muco, existem células que, sob a ação Óstio da uretra

do estrógeno, sintetizam glicogênio e partículas de Lábio maior do pudendo


Vagina
gorduras que são utilizados por lactobacilos da flora
Ânus
vaginal resultando na produção de ácido lático. Esse
ácido abaixa o pH da vagina protegendo-a contra
microrganismos patogênicos (que poderiam causar
vaginite) e paralisa os espermatozoides. Figura 18 - Vulva

169
ANATOMIA

Monte do púbis tam o óstio externo da uretra, o óstio da vagina e


O monte do púbis é uma elevação mediana, anterior os orifícios dos ductos das glândulas vestibulares. O
à sínfise púbica e contínua com a parede abdominal vestíbulo da vagina é determinado por uma fenda
anterior. Ele é limitado lateralmente pelas pregas chamada rima do vestíbulo.
inguinais. Sua constituição inclui, principalmente, Anteriormente, cada lábio menor divide-se em
tecido adiposo (cuja quantidade é maior na puber- uma lâmina medial e uma lâmina lateral. A lâmina
dade e menor após a menopausa) e pelos espessos medial direita se une à lâmina medial esquerda for-
(após a puberdade). mando o frênulo do clitóris. A lâmina lateral direita
e a lâmina lateral esquerda circundam superiormen-
Lábio maior do pudendo te o clitóris formando o prepúcio do clitóris. As ex-
O lábio maior do pudendo é um prega cutânea tremidades posteriores dos lábios menores se unem
alongada, constituída de tecido conjuntivo frouxo e formam o freio dos lábios do pudendo (o qual é
e músculo liso. Sua principal função é dar proteção mais evidente nas virgens).
indireta ao clitóris, ao óstio da uretra e ao óstio da
vagina. Após a puberdade, apresenta-se hiperpig- Clitóris e Bulbo do vestíbulo
mentado, com muitas glândulas sebáceas e pelos, O clitóris e o bulbo do vestíbulo são estruturas
embora sua face interna permaneça sempre lisa e eréteis, formadas por tecido especial capaz de se
rosada. O lábio direito e o esquerdo delimitam en- dilatar como resultado do ingurgitamento de san-
tre si uma fenda chamada rima do pudendo e suas gue (este aporte sanguíneo confere à mulher uma
extremidades anteriores e posteriores se unem for- sensação de edema e peso na região pudenda). Por
mado, respectivamente, a comissura labial anterior isso, tais estruturas são consideradas análogas aos
e a comissura labial posterior (esta última segue em corpos cavernosos do pênis.
direção ao ânus). O clitóris possui duas extremidades chamadas
de ramos do clitóris (uma fixada ao ísquio e outra
Lábio menor do pudendo fixada ao púbis). Ambas se unem e formam o corpo
O lábio menor do pudendo é uma prega cutânea lo- do clitóris o qual termina em uma dilatação, a glan-
calizada medialmente ao lábio maior. Na criança e de do clitóris, que é visível anteriormente aos lábios
na idosa, ele é mais volumoso do que o lábio maior menores. O clitóris é uma estrutura extremamente
devido à maior quantidade de tecido adiposo que sensível e ligada à excitabilidade sexual.
apresenta. No vivente, a pele que o recobre é lisa, O bulbo do vestíbulo é formado por duas mas-
úmida e vermelha. Ele apresenta tecido conjuntivo sas de tecido erétil, alongadas e dispostas como
esponjoso contendo tecido erétil, muitos pequenos uma ferradura ao redor do óstio da vagina. Não é
vasos sanguíneos, glândulas sebáceas e terminações visível, pois se situa profundamente e é recoberto
nervosas sensitivas. pelo músculo bulboesponjoso. Quando cheio de
O espaço entre o lábio menor direito e esquerdo sangue, dilata-se e proporciona maior contado en-
é chamado de vestíbulo da vagina. Nele se apresen- tre pênis e vagina.

170
EDUCAÇÃO FÍSICA

Glândulas vestibulares maiores e menores de pélvica em compartimento anterior e posterior.


As glândulas vestibulares menores existem em Esse ligamento envolve o útero, a tuba uterina e o
número variável e têm seus minúsculos ductos se ovário e se prende à borda posterior dele por uma
abrindo no vestíbulo da vagina, entre o óstio da prega denominada mesovário.
uretra e o óstio da vagina. Já as glândulas vestibula- Como já mencionado, esse ligamento é muito
res maiores são duas glândulas profundas situadas distensível e acompanha o útero quando este au-
nas proximidades do vestíbulo da vagina onde seus menta de tamanho na gestação (a tuba uterina e o
ductos se abrem. Elas produzem uma secreção mu- ovário também o acompanham). Assim, no liga-
cosa que serve para lubrificar o próprio vestíbulo mento largo do útero existem três partes importan-
e a porção inferior da vagina sob a influência do tes: o mesovário, a mesosalpinge e o mesométrio.
sistema nervoso autônomo nos momentos prepa- No homem, o peritônio recobre a bexiga urinária, se
ratórios que antecedem a relação sexual (durante o invagina entre ela e o reto formando uma única pre-
período de excitação) e durante o coito (por com- ga chamada escavação reto-vesical e posteriormente
pressão) visando tornar as estruturas úmidas e pro- recobre o reto (DANGELO; FATTINI, 2011).
pícias à penetração.

PERITÔNIO NA CAVIDADE PÉLVICA


Ovário
Tuba uterina
O peritônio parietal que reveste a cavidade abdo-
minal continua inferiormente até a cavidade pélvi-
ca, mas não chega ao assoalho pélvico. Ao contrá- Útero

rio, ele se curva sobre as vísceras pélvicas ficando


separado do assoalho da pelve pelas próprias vísce-
ras e pela fáscia da pelve. Assim, as vísceras pélvi- Bexiga urinária Cérvix

cas não são completamente revestidas pelo peritô- Reto


Uretra
nio, estando na maior parte situadas inferiormente
a ele (exceto ovário e tuba uterina). Além disso, o
peritônio se comporta de maneira diferenciada no Vagina Ânus

homem e na mulher devido à diferença de organi- Figura 19 - Peritônio na cavidade pélvica

zação dos órgãos pélvicos.


Na mulher, após o peritônio recobrir a bexi- PERÍNEO
ga urinária, ele se invagina sobre o útero forman-
do uma prega chamada escavação vésico-uterina, É muito comum ouvir falar que tem que contrair o
e posteriormente se direciona ao reto formando períneo ao caminhar ou fazer exercícios físicos, que
outra prega chamada escavação reto-uterina. So- alguém terá que fazer cirurgia de períneo para le-
bre o útero, a escavação vésico-uterina origina o vantá-lo, ou coisas desse tipo. No entanto, será que
ligamento largo do útero o qual divide a cavida- as pessoas realmente sabem o que é o períneo?

171
ANATOMIA

MAMAS

Na verdade, o períneo é caracterizado como um Muitas pessoas acham que as mamas pertencem ao
conjunto de partes moles que fecham inferiormente sistema genital feminino, mas isso não é verdade. As
a pelve óssea. É uma região losângica delimitada pela mamas pertencem ao sistema tegumentar (ou tegu-
margem anterior da arcada púbica, tuberosidade es- mento comum) o qual também estuda estruturas
quiática e ápice do cóccix. No sexo feminino, ele dá como pele e unha. Para não se esquecer disso, você
passagem à uretra, à vagina e ao reto, e no sexo mas- deve considerar que uma mulher mastectomizada
culino ele dá passagem à uretra e ao reto (DI DIO, bilateralmente (sem as duas mamas) pode perfeita-
2002). Pelo fato do períneo permitir parte da sus- mente gestar e dar à luz um filho.
tentação das vísceras pélvicas, é de grande relevân- Na verdade, a confusão está parcialmente asso-
cia que ele seja fortalecido a fim de que tais vísceras ciada ao fato de que as mamas têm relação com os
permaneçam sempre adequadamente posicionadas. hormônios produzidos pelo sistema genital femini-
Em ambos os sexos, ele é dividido em períneo no e ao fato de que elas se desenvolvem concomitan-
posterior ou região anal (ocupado por um grupo de temente aos órgãos da reprodução, ou seja, iniciam
músculos perineais denominados diafragma pélvico) seu desenvolvimento durante a puberdade.
e períneo anterior ou região urogenital (ocupado por Outro erro comum ao se referir às mamas é cha-
um grupo de músculos denominados diafragma uro- má-las de seios. Em anatomia, seio normalmente se
genital). Entre ambos, em uma posição central, há uma refere a uma depressão ou cavidade e não a uma sali-
área fibrosa chamada centro tendíneo do períneo onde ência como é o caso das mamas. Assim, o nome que
se fixam músculos e fáscias importantes na sustentação deve ser usado é mama por mais estranho que este
das vísceras pélvicas os quais agem na defecação, mic- termo possa parecer.
ção, ereção, ejaculação, no trabalho de parto e outros. Assim, após tais esclarecimentos, vamos definir
mamas como anexos de pele situados anteriormente
aos músculos da região peitoral, entre as camadas
superficial e profunda da tela subcutânea desta re-
gião. Elas são constituídas por parênquima de tecido
glandular, estroma de tecido conjuntivo e pele.
Observe a constituição O parênquima de tecido glandular apresenta
predominantemente
muscular do períneo glândulas cutâneas modificadas especializadas na
produção de leite após a gestação, o corpo da mama.
O estroma de tecido conjuntivo envolve o corpo da
mama e nele predomina tecido adiposo o qual é sus-
tentado por tecido conjuntivo denso (a quantidade
de tecido adiposo do estroma está diretamente rela-
cionada ao tamanho e a forma da mama). Sua pele
Figura 20 - Períneo apresenta muitas glândulas sebáceas e sudoríparas, e

172
EDUCAÇÃO FÍSICA

é consideravelmente fina de forma que, em pessoas Várias alterações ocorrem com as mamas du-
de pele clara, é possível inclusive notar algumas de rante a gravidez. Por exemplo, a aréola da mama
suas veias superficiais (TORTORA et al., 2010). se torna mais escura e esta cor tente a permanecer
Anatomicamente, as mamas apresentam dois aci- posteriormente à gestação e à amamentação. Além
dentes anatômicos principais que merecem ser men- disso, o volume da mama pode até triplicar em ra-
cionados, a papila mamária e a aréola da mama. A zão dos hormônios femininos liberados durante este
papila mamária é uma projeção composta principal- período (principalmente prolactina e ocitocina). No
mente de fibras musculares lisas onde desembocam de entanto, sucessivas gestações e o avançar da idade
15 a 20 ductos lactíferos. Ela é muito inerva e, devido (associado à diminuição do colágeno), podem fazer
a seus músculos, ela pode se tornar rija. A aréola da com que elas se tornem progressivamente peduncu-
mama fica ao redor da papila e nela existem pequenos ladas devido à perda da elasticidade das estruturas
tubérculos (umas saliências visíveis e palpáveis) que de sustentação do estroma causando ptose mamária
marcam o ponto de desembocadura dos ductos lac- (MOORE et al., 2014).
tíferos. Ela é bastante pigmentada e apresenta grande No homem, a mama é pouco desenvolvida em
número de glândulas sudoríparas e sebáceas. condições normais. Todavia, existe uma condição
patológica chamada ginecomastia onde as mamas
se desenvolvem e muitas vezes precisam ser remo-
Músculo peitoral vidas cirurgicamente, pois causam constrangimento
e desconforto.
Tecido adiposo

Lóbulos

Ductos
Aréola
Mamilo

Caixa torácica

Figura 21 - Mama

173
considerações finais

O
controle da composição dos fluidos corporais é um processo comple-
xo, pois seres humanos enfrentam problemas com a perda de subs-
tâncias para o meio que os cercam e com o acúmulo de substâncias
em seus corpos. Se eletrólitos se acumulam no sangue, a osmolarida-
de do sangue é aumentada causando difusão da água do líquido intersticial para
o sangue (o que pode aumentar a pressão sanguínea). Por outro lado, a intensa
eliminação de eletrólitos diminui a osmolaridade do sangue e, por difusão, a água
flui para o espaço intersticial acumulando-se nos tecidos e causando edema.
Assim, é fundamental que seja mantido o equilíbrio entre ingestão ou pro-
dução de sustâncias e eliminação da mesma a fim de que a homeostase seja
preservada. Este equilíbrio é possibilitado pelo sistema urinário e anormali-
dade ou disfunção dele podem causar morte. O sistema genital masculino e
o feminino agem em conjunto a fim de manter o número de indivíduos da
espécie. Todavia, apresentam considerável diferença entre si. O feminino, por
exemplo, é mais complexo do que o masculino, pois apresenta o órgão que
abriga o novo ser vivo em gestação. Em contrapartida, a função gametogênica
na mulher cessa precocemente.
Outro detalhe que não se pode esquecer é que a viabilidade da reprodução
depende da integridade das estruturas anatômicas que compõem tais sistemas.
Por isso, a má formação dos testículos, alterações hormonais, doenças vasculares
e outras disfunções podem prejudicar ou impedi-la. Além disso, micro-organis-
mos se desenvolvem nos genitais e podem ser disseminados por contato sexual.
A prevenção depende do conhecimento anatômico e fisiológico das estruturas
anatômicas destes sistemas.
Assim, o profissional de saúde deve aprofundar seu conhecimento a fim de ga-
rantir informação necessária para a prevenção de tais males. O profissional de edu-
cação física se destaca uma vez que no contexto escolar ele pode esclarecer sobre
doenças, gravidez indesejada e dar orientação quanto à viabilidade da reprodução.

174
LEITURA
COMPLEMENTAR

Leia o artigo indicado, a seguir, que trata de um assunto muito conhecido: Litíase renal
(popularmente conhecida como pedras no rim). Este artigo narra a definição e a fre-
quente incidência desta doença.

DADOS EPIDEMIOLÓGICOS DA LITÍASE RENAL, EM HOSPITAL DE


REFERÊNCIA, EM BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS

A litíase renal é uma afecção muito comum na prática clínica e múltiplos fatores estão
relacionados com sua etiopatogenia, embora não tenhamos encontrado estudo algum
sobre a epidemiologia da litíase no Brasil. O objetivo deste estudo foi avaliar a influên-
cia da idade, do sexo, da cor da pele e da lateralidade como fatores de risco para cálculo
renal. Para tanto, foram estudados 400 prontuários de pacientes com diagnóstico de
litíase urinária, nos Serviços de Nefrologia e Urologia do Hospital das Clínicas da Uni-
versidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Todos os diagnósticos foram
confirmados pela história clínica associada a métodos de imagem. Houve predomínio
de pacientes do sexo feminino (54,5 %) sobre o masculino com litíase renal. Os doentes
brancos constituíram a maioria (75%), seguidos pelos mulatos (23,3%) e, em uma muito
pequena proporção, pelos negros (1,8%). A idade média foi de 39,81, +- 15,61 anos.
Não houve diferenças quanto à lateralidade dos cálculos, mas os homens tiveram mais
cálculos bilaterais do que as mulheres. Na população estudada no presente trabalho,
o cálculo renal foi mais freqüente em adultos jovens, brancos e do sexo feminino, sem
diferenças quanto à lateralidade. Os resultados sugerem uma possível relação entre
nefrolitíase e cor da pele.
A análise de nossos dados mostra não existir diferença quanto à lateralidade no geral,
apesar de se constar um número pouco maior de cálculos à esquerda, nos homens, e à
direita, nas mulheres, porém sem significância estatística. Destaca-se, no entanto, que
os homens tiveram uma frequência de cálculos bilaterais significativamente maior do
que as mulheres. Apesar de não encontrarmos subsídios na literatura, consideramos
ser essa constatação importante sob aspecto de propedêutica. Talvez seja prudente

175
LEITURA
COMPLEMENTAR

uma investigação mais cuidadosa da possibilidade de litíase bilateral, quando essa


afecção estiver presente no sexo masculino. A distribuição de casos por cor da pele
mostrou o predomínio dos indivíduos brancos (75%) e uma frequência muito baixa de
negros, apenas 1,8%. Não se registrou qualquer caso em paciente de origem oriental,
porém a sua frequência em nossa população é muito reduzida.
Ao se compararem esses dados com os da população de Minas Gerais (brancos 57%,
mulatos 34%, e negros 8%), verifica-se a possibilidade de existirem fatores relacionados
à cor da pele que são responsáveis pela maior presença de nefrolitíase em brancos.
As diferenças entre as cores não podem ser atribuídas à amostragem do hospital em
estudo, já que se trata de uma instituição de referência para todas as classes sociais e
seu atendimento se faz na mesma proporção de cor da encontrada na população do
Estado de Minas Gerais, conforme resultado de pesquisa anterior. Esses dados estão
de acordo com a literatura, que, de fato, refere menor frequência de nefrolitíase em ne-
gros e orientais(6,7).O presente trabalho mostra que a distribuição da nefrolitíase com
relação à idade é muito ampla. Futuras investigações serão realizadas com o intuito de
compreender melhor nossos achados, principalmente os referentes à cor da pele. O
cálculo renal, como demonstrado no presente trabalho, foi mais frequente em brancos
e sem diferença quanto à lateralidade.
Boa leitura!

Fonte: Petroianu et al. (2001).

176
atividades de estudo

1. Assinale a alternativa correta quanto ao sistema urinário:


a. A uretra é considerada um órgão gametogênico.
b. A próstata é considerada um órgão gametóforo.
c. A uretra é considerada uma estrutura urocondutora.
d. O pênis e a vagina pertencem ao sistema genital masculino e feminino,
respectivamente.

2. Assinale a alternativa correta quanto ao sistema genital masculino:


a. O pênis é constituído por dois corpos esponjosos e um corpo cavernoso.
Tais corpos estão diretamente relacionados à ereção uma vez que se in-
gurgitam de sangue fazendo com que o pênis fique túrgido (ereto).
b. A uretra masculina é mais longa e sinuosa do que a feminina e pertence
tanto ao sistema urinário quanto ao sistema genital masculino, pois con-
duz urina e sêmen ao meio externo.
c. As glândulas bulbouretrais são consideradas as principais glândulas do
sistema genital masculino, pois produzem a maior quantidade de líquido
seminal eliminado durante a ejaculação.
d. A vasectomía secciona cirurgicamente o ducto deferente a fim de que o
homem se torne infértil. Nesse caso, o indivíduo perde a capacidade de
ejaculação, embora a sensação de orgasmo seja mantida.
e. Nenhuma das anteriores está correta.

3. Assinale a alternativa correta quanto ao sistema genital feminino:


a. A uretra feminina, embora seja mais curta do que a masculina, pertence
tanto ao sistema urinário quanto ao sistema genital feminino, pois permite
a passagem da urina e das secreções das glándulas vestibulares maiores e
menores ao meio externo.
b. Na vulva, o clitóris, o óstio externo da uretra e o óstio da vagina se posicio-
nam sequenciamente no sentido ântero-posterior.
c. Ao contrário da afirmação acima, o posicionamento do clitóris, do óstio
externo da uretra e do óstio da vagina é sequencial, mas no sentido pos-
terior-anterior.
d. A tuba uterina é responsável pela produção dos hormônios sexuais e dos
gametas femininos.
e. O útero é responsável pela produção dos hormônios sexuais e dos game-
tas femininos.

177
atividades de estudo

4. Observe a imagem, a seguir, e assinale a alternativa correta:


a. A estrutura 1 é a uretra (porção prostática).
b. A estrutura 2 é o ducto deferente.
c. A estrutura 3 é a uretra (porção esponjosa).
d. A estrutura 4 é glândula seminal.
e. A estrutura 5 é a glândula bulbouretral.

1
5

5. Identifique a alternativa incorreta:


a. As glândulas prepuciais produzem esmegma.
b. O monte do púbis é constituído, principalmente, por tecido adiposo.
c. O pH da vagina deve ser mantido alcalino.
d. O colo da glande se posiciona abaixo da coroa da glande.
e. O freio do prepúcio é análogo ao freio do clitóris, pois ambos restringem a
mobilidade de tais estruturas (respectivamente, do prepúcio e do clitóris).

178
Material Complementar

Indicação para Assistir

Apresentação: Com certeza, você já ouviu sobre métodos de esterilização para


homens e mulheres. A vasectomia e a laqueadura são bastante parecidas Dispo-
nível em: <http://vasectomia-e-reversao.com.br/duvidas>.

Referências On-Line

Em: <http://www.copacabanarunners.net/uretrite.html>. Acesso em: 14 jun. 2016.


1

Em: <http://www.minhavida.com.br/saude/temas/gravidez-ectopica>. Acesso em: 15 jun.


2

2016.

179
referências

CFTA - COMISSÃO FEDERATIVA DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA. Ter-


minologia Anatômica: terminologia anatômica internacional. São Paulo: Mano-
le, 2001.
DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana sistêmica e segmentar. 3.
ed. São Paulo: Atheneu, 2011.
DI DIO, L. J. A. Tratado de Anatomia Sistêmica Aplicada: princípios básicos e
sistêmicos, esquelético, articular e muscular. 2. ed. Atheneu: São Paulo, 2002.
FREITAS, V. Anatomia conceitos e fundamentos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendizagem
dinâmica. Maringá: Gráfica Editora Clichetec, 2014.
MOORE, K .L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; ARAÚJO, C. L. C. Anatomia
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NARCISO, M. S. Sobotta: atlas de anatomia humana: anatomia geral e sistema
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OLIVEIRA, S. S. de; SANTOS, I. da S. dos; SILVA, J. F. P. da; MACHADO, E. C.
Prevalência e fatores associados à doença do refluxo gastroesofágico. Scielo. Arq.
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ROHEN, J. W.; YOKOCHI, C.; LÜTJEN-DRECOLL, E. Anatomia humana: atlas
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TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B.; WERNECK, A. L. Princípios de anatomia
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WATANABE, L. Erhart: elementos de anatomia humana. 9. ed. São Paulo: Athe-
neu, 2000.

180
gabarito

1. C

2. B

3. B

4. C

5. C

181
SISTEMA NEUROENDÓCRINO

Professora Dr.ª Carmem Patrícia Barbosa

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Sistema Nervoso Central (SNC)
• Sistema Nervoso Periférico (SNP)
• Sistema Nervoso Autônomo (SNA)
• Sistema Endócrino

Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar a função geral do SNC; Estudar, do ponto de vista morfológico e
funcional, as estruturas anatômicas que formam a medula espinal, tronco
encefálico (bulbo, ponte e mesencéfalo), cerebelo, diencéfalo, telencéfalo,
meninges, ventrículos encefálicos, líquido cerebrospinal e vascularização.
• Apresentar a função geral do SNP. Estudar, do ponto de vista morfológico
e funcional, as estruturas anatômicas que o formam os nervos espinais,
nervos cranianos, plexos nervosos, terminações nervosas, gânglios
nervosos e lesões nervosas.
• Apresentar a função geral do SNA. Estudar, do ponto de vista morfológico e
funcional, o SNA simpático e o SNA parassimpático.
• Apresentar a função geral do sistema endócrino. Estudar, do ponto de
vista morfológico e funcional, as principais glãndulas (hipófise, tireoide,
paratireoide, pineal, suprarrenal, pâncreas, testículo e ovário).
unidade

V
INTRODUÇÃO

P
rezado(a) aluno(a), o controle das funções orgânicas e a integração do
organismo ao ambiente depende da atuação do Sistema Nervoso (SN)
e do sistema endócrino que controlam todas as funções dos demais sis-
temas permitindo modificações a fim de manter a homeostasia.
O sistema endócrino age sob influência do SN cujas funções são voluntárias
ou involuntárias. A complexidade desses sistemas é maior com a complexidade
do organismo e atinge seu desenvolvimento máximo no homem uma vez que
respondem por fenômenos psíquicos altamente complexos (raciocínio, aprendi-
zado, memória e sono).
O endócrino age por meio de glândulas cuja secreção (hormônios) é lançada
no sangue. A hipófise é a “glândula-mestre”, pois produz hormônios que estimu-
lam o funcionamento de outras como tireoide, suprarrenais, ovários e testículos.
As funções do SN estão diretamente relacionadas às células que constituem o
próprio tecido nervoso: neurônios (células nervosas) e neuroglia (células gliais,
neurogliais ou neurogliócitos). Neurônios são unidades estruturais e funcionais
do SN, pois são especializados na rápida comunicação intercelular (sinapse). A
neuróglia, embora, cinco vezes mais abundante do que os neurônios, não é exci-
tável, mas sustenta, isola e nutre os neurônios.
Didaticamente, o SN pode ser dividido segundo critério anatômico, em-
briológico, segmentar e funcional. O critério embriológico considera seu de-
senvolvimento intrauterino, o segmentar considera a presença ou não de ner-
vos, o anatômico considera o local onde o sistema nervoso está localizado e o
funcional considera sua forma de atuação.
O texto será fundamentado em autores como Machado e Haertel (2014),
Afifi e Bergman (2008), Miranda Neto e Chopard (2014). A nomenclatura
está atualizada (CFTA, 2001) e é necessário que utilize atlas como Narciso
(2012), Rohen, Yokochi e Lütjen-Drecoll (2002) e outros. O objetivo é
descrever aspectos relevantes do SN e do endócrino, suas inter-relações e
a influência que exercem sobre os outros sistemas do corpo.
ANATOMIA

Sistema Nervoso
Central (SNC)
FUNÇÃO DO SNC

De maneira geral, o sistema nervoso é responsável


por receber, analisar e integrar informações prove-
nientes do meio interno e externo. Representa o lo-
cal onde ocorrem as tomadas de decisão e de onde
são enviadas as ordens para o funcionamento de
todo o corpo. Ele age em conjunto, e de maneira de-
pendente, ao sistema nervoso periférico (MOORE
et al., 2014).
Figura 1 - Sistema nervoso central e Sistema nervoso periférico

ESTRUTURAS DO SNC
Medula Espinal (ME)
O sistema nervoso central é organizado em encéfalo
e medula espinal. Enquanto, o encéfalo é protegido Com certeza você já ouviu falar de alguém que teve
pela cavidade craniana, a medula espinal é protegi- uma lesão na medula e ficou paraplégico ou tetra-
da pela coluna vertebral. Tanto o encéfalo quanto plégico. Nesses casos, muitas perguntas surgem, por
a medula apresentam em sua constituição corpos exemplo, será que estas pessoas conseguirão sentir
celulares e fibras nervosas. A substância cinzenta é seu corpo normalmente? Será que a paralisia pode-
formada predominantemente por corpos neuronais rá ser revertida? Como ficam as funções sexuais? E
e a branca por fibras nervosas que se aglomeram for- tantas outras dúvidas que para serem respondidas é
mando tratos. preciso entender melhor como a medula funciona.
Todavia, segundo Miranda Neto e Chopard Então, lá vamos nós.
(2014), enquanto, o encéfalo tem substância cinzen- Conforme Machado e Haertel (2014), a medu-
ta por fora da branca constituindo o córtex cerebral, la espinal é uma massa cilíndrica de tecido nervoso,
a substância cinzenta da medula espinal (que tem a ligeiramente achatada no sentido anteroposterior,
forma de uma borboleta ou da letra “H”) localiza-se que fica dentro do canal vertebral. Seu nome (me-
internamente à branca (que é formada por fibras que dula) significa miolo justamente pelo fato de sua lo-
sobem e descem na medula). calização protegida no interior deste canal.

186
EDUCAÇÃO FÍSICA

Seu calibre não é uniforme, pois apresenta duas dilatações (chamadas in-
tumescência cervical e intumescência lombossacral) onde as raízes nervosas
que formam o plexo braquial e o plexo lombossacral fazem conexão.
Esses plexos inervam os membros superiores e inferiores. Assim,
nas intumescências há maior quantidade de neurônios que en-
tram ou saem da medula espinal.
Esse fato tem apoio na anatomia comparada uma vez que
dinossauros com membros superiores pequenos não têm in-
tumescência cervical, mas a intumescência lombar tem o ta-
manho aproximado do encéfalo. Em contrapartida, a baleia que
não apresenta membros expressivos, tem a medula larga, mas
sem dilatações.
Superiormente, a medula espinal limita-se com o bulbo
(ao nível do forame magno do osso occipital) e, inferiormente,
termina afilando-se para formar o cone medular que continua
com um delgado filamento meníngeo, o filamento terminal,
ao nível da segunda vértebra lombar. Assim, no adulto a me-
dula não ocupa todo o canal vertebral tendo aproximadamen-
te 45 cm no homem e 42 cm na mulher.
Tal fato tem importância clínica, pois, abaixo da segun-
da vértebra lombar o canal vertebral não tem medula, mas
contém apenas as meninges e as raízes nervosas dos últimos
nervos espinais que constituem a cauda equina. Isto decorre de ritmos
diferentes de crescimento entre medula e coluna vertebral. Por exemplo,
até o quarto mês de vida intrauterina ambas crescem no mesmo ritmo,
mas a partir de então, a coluna cresce mais do que a medula causando
como consequência o afastamento dos segmentos medulares das vérte-
bras correspondentes.
Além disso, caro aluno, a superfície da medula apresenta sulcos lon-
gitudinais (como o sulco lateral anterior e o sulco lateral posterior) onde
se conectam os pequenos filamentos radiculares que se unirão para for-
mar as raízes ventral e dorsal dos nervos espinais. Considerando que estes
nervos trazem à medula informações sensitivas da periferia do corpo que
deverão ser conduzidas ao encéfalo, e que levam as ordens do encéfalo à
periferia do corpo, é possível entender porque uma lesão medular causa
perda sensitiva e motora as quais não serão revertidas se a lesão medu-
Figura 2 - Medula espinal e limites lar for completa.

187
ANATOMIA

Por isso, para maior proteção da medula, mem- a pressão do líquido, para introdução de substân-
branas fibrosas chamadas meninges fazem seu re- cias que aumentam o contraste nas radiografias
vestimento externo. A dura-máter é a mais externa, (mielografia) ou para introdução de anestésicos
espessa e resistente. Superiormente, a dura-máter es- nas anestesias raquidianas.
pinal continua com a dura-máter craniana e caudal- Por isso, para cirurgia das extremidades in-
mente termina ao nível da segunda vértebra sacral. feriores, períneo, cavidade pélvica e em algumas
Por sua vez, a pia-máter é a mais delicada e interna, cirurgias abdominais podem ser feitas anestesias
e adere intimamente ao tecido nervoso. Já a aracnoi- raquidianas ou epidurais (também chamadas de
de-máter se dispõe entre as outras duas formando peridurais). Na raquidiana, o anestésico é intro-
Medula espinal
um emaranhado de trabéculas aracnóideas. duzido no espaço subaracnóideo entre as vértebras
L2-L3, L3-L4 ou L4-L5 certificando-se de que a agu-
Medula Espinal
Substância cinzenta
lha atingiu o espaço subaracnoideo pela presença
Canal central da medula espinal Substância branca do líquido que goteja na extremidade da agulha.
Na peridural, o anestésico é introduzido no espa-
ço epidural onde se difunde e atinge as raízes dos
nervos espinais.
Pia-máter
Certifica-se de que a agulha atingiu o espaço
epidural após a perfuração do ligamento amarelo.
Aracnoide-máter
Meninges
espinais Embora, exija uma habilidade técnica muito maior,
Dura-máter não causa cefaleia em decorrência de vazamento do
líquido cerebrospinal.
Figura 3 - Sulcos da medula Espinal e meninges

Encéfalo
Assim, entre a medula e as meninges se formam três Tronco Encefálico (TE)
espaços. O epidural ou extradural fica entre o pe- O tronco encefálico interpõe-se entre a medula espi-
riósteo das vértebras e a dura-máter, contém tecido nal e o diencéfalo, ventralmente ao cerebelo. É cons-
adiposo e um grande número de veias. O espaço tituído por corpos de neurônios que se agrupam em
subdural fica entre a dura-máter e a aracnóide-má- núcleos e fibras que se agrupam em tratos, fascículos
ter e contém pequena quantidade de líquido para ou lemniscos os quais formam relevos ou depressões
evitar a aderência das paredes. em sua superfície.
Já o espaço subaracnóideo é o mais importan- Divide-se em bulbo (inferiormente), mesen-
te, pois contém maior quantidade de líquido ce- céfalo (superiormente) e ponte (entre ambos), e
rebrospinal. Vale ressaltar que abaixo da segunda apresenta 10 dos 12 pares de nervos cranianos, sen-
vértebra lombar não há perigo de lesão medular do por isso uma região extremamente importante.
sendo esta área ideal para a introdução de agulhas Todo o texto que segue será escrito a partir das con-
com a finalidade de coletar o líquido cerebrospinal siderações de Afifi e Bergman (2007) e Machado e
para fins terapêuticos ou diagnósticos, para medir Haertel (2014).

188
EDUCAÇÃO FÍSICA

tória, cardiovascular, à tosse, ao vômito, ao espir-


ro, à deglutição e ao bocejo. Complementarmente,
dele emergem os filamentos dos nervos hipoglosso,
glossofaríngeo, vago e a raiz craniana do nervo aces-
sório, além de ajudar a formar o IV ventrículo. Por
isso, várias síndromes podem acometê-lo desenca-
deando vasta sintomatologia.

Mesencéfalo
Ponte
Ponte
A ponte se localiza anteriormente ao cerebelo, en-
Mesencéfalo
tre o mesencéfalo e o bulbo. Lembra que a ponte e
Figura 4 - Visão Geral do Troco Encefálico o bulbo são separados pelo sulco bulbo-pontino?
Pois é! Desse sulco emergem, de cada lado a par-
Bulbo tir da linha mediana, os nervos abducente, facial e
O bulbo relaciona-se superiormente com a pon- vestíbulococlear (por isso, tumores nesta área cau-
te (por meio do sulco bulbo-pontino) e, inferior- sam a síndrome do ângulo ponto-cerebelar com
mente, com a medula espinal. Embora não haja muitos sintomas). Além disso, a ponte ajuda a for-
uma demarcação nítida entre bulbo e medula, mar o IV ventrículo.
considera-se que o limite entre eles é um plano Sua base (na região ventral) apresenta estrias
horizontal que passa acima do filamento radicular transversais em virtude de feixes de fibras transver-
mais cranial do primeiro nervo cervical ao nível sais que a percorrem as quais convergem, de cada
do forame magno. lado, para formar o pedúnculo cerebelar médio ou
Sua superfície é percorrida por sulcos contínuos braço da ponte. Esse pedúnculo penetra o cerebelo
aos sulcos da medula. Assim, de cada lado da fissura e é limitado em relação à ponte pela emergência do
mediana anterior existe uma eminência alongada, a nervo trigêmeo.
pirâmide, que é formada por um feixe de fibras ner-
vosas descendentes que ligam as áreas motoras do Mesencéfalo
cérebro aos neurônios motores da medula espinal. O mesencéfalo fica entre a ponte e o cérebro e é
Fibras desse trato cruzam obliquamente o plano me- atravessado em toda a sua extensão por um canal
diano e formam a decussação das pirâmides. Lesões estreito chamado aqueduto do mesencéfalo que
neste trato causam déficit motor contralateral à le- une o III ao IV ventrículo. Nele existe uma área
são. Em contrapartida, na área posterior do bulbo escura (chamada substância negra) que é formada
estão os fascículos grácil e cuneiforme os quais são por neurônios que contém melanina e se relacio-
constituídos por fibras nervosas ascendentes. nam ao movimento. Além disso, dele emerge os
Em relação às funções, o bulbo é um importante nervos oculomotor e troclear, e está relacionado às
centro nervoso, pois se relaciona à função respira- vias auditivas e visuais.

189
ANATOMIA

belar. No interior do corpo medular existem quatro


pares de núcleos de substância cinzenta, os núcleos
centrais do cerebelo: denteado, emboliforme, glo-
boso e fastigial.
Mesencéfalo

Ponte

Bulbo

Figura 5 - Bulbo, Ponte e Mesencéfalo

Cerebelo Figura 6 - Cerebelo Inteiro


O cerebelo situa-se posteriormente ao bulbo e à
ponte, repousa sobre a fossa cerebelar do osso oc- Todo profissional de educação física deve conhecer
cipital e está separado do lobo occipital por uma bem o cerebelo devido seus aspectos funcionais. Isso
prega da dura-máter chamada tentório do cerebelo. porque o cerebelo está bastante relacionado ao equi-
Ele se relaciona à medula espinal e ao bulbo pelo líbrio, à coordenação dos movimentos e à aprendiza-
pedúnculo cerebelar inferior, à ponte pelo pedún- gem motora. No entanto, estudos têm sugerido que
culo cerebelar médio e ao mesencéfalo pelo pedún- o cerebelo também apresenta funções não motoras,
culo cerebelar superior. por exemplo, função autônoma, de comportamento
Sua porção mediana e ímpar é chamada de ver- e de cognição, além de ajudar a formar o IV ventrí-
me, e suas massas laterais são os hemisférios cerebe- culo. Além disso, é descrito que autistas apresentam
lares. Tanto o verme quanto os hemisférios apresen- hipoplasia cerebelar e que lesões cerebelares podem
tam sulcos transversais que delimitam lâminas finas causar síndromes com diferentes sintomas (GAR-
chamadas de folhas. Os sulcos mais profundos são CIA; MOSQUERA, 2011).
as fissuras e estas delimitam os lóbulos do cerebelo.
Em corte, é possível identificar que o cerebelo é Diencéfalo
constituído por um centro de substância branca, o O diencéfalo e o telencéfalo juntos formam o cére-
corpo medular do cerebelo, e é revestido por uma bro, que é a porção mais desenvolvida e importan-
fina camada de substância cinzenta, o córtex cere- te do encéfalo ocupando cerca de 80% da cavidade

190
EDUCAÇÃO FÍSICA

craniana. Todavia, o telencéfalo se desenvolveu O hipotálamo é uma área relativamente pe-


em sentido lateral e posterior formando os hemis- quena situada abaixo do tálamo, mas com im-
férios cerebrais e encobrindo quase completamen- portantes funções relacionadas principalmente
te o diencéfalo que permaneceu em situação im- ao controle da atividade visceral. Assim, é consi-
par e mediana, podendo ser visto apenas na face derado um grande centro autônomo e endócrino
inferior do cérebro. atuando em processos como alimentação, inges-
tão de líquidos, comportamento sexual, compor-
tamento emocional, regulação da temperatura,
memória e crescimento. Suas disfunções podem
causar diabetes insípido, distúrbios da termorre-
gulação (hipo, hiper ou pecilotermia – alterações
da temperatura corporal em decorrência de va-
riação na temperatura ambiental), distúrbios do
equilíbrio calórico, do comportamento emocio-
nal (raiva, medo e apatia) e da memória.
O epitálamo se localiza acima do sulco hipotalâ-
mico limitando, posteriormente, o III ventrículo. Seu
elemento mais evidente é a glândula pineal que atua
no controle do ritmo circadiano e na função gonadal.
Por isso, lesão pode retardar a puberdade ou fazê-la
Figura 7 - Diencéfalo e Cérebro surgir precocemente ou alterar o ritmo circadiano.
O subtálamo localiza-se abaixo do tálamo e seu
O diencéfalo, embora seja um região pequena em elemento mais evidente é o núcleo subtalâmico que
termos de tamanho, é extremamente importante em atua no controle e modulação do movimento vo-
termos funcionais. Ele compreende quatro regiões luntário. Sua lesão pode provocar o hemibalismo
principais: tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtála- (doença na qual ocorrem movimentos violentos e
mo, os quais se relacionam ao III ventrículo. involuntários da metade do corpo contralateral ao
O tálamo é uma massa volumosa e ovoide de subtálamo lesado).
sustância cinzenta, disposta uma de cada lado do
diencéfalo (essas massas são unidas pela aderên- Telencéfalo
cia intertalâmica). Ele recebe e reencaminha ao O telencéfalo ocupa toda a cavidade supratentorial
córtex motor e sensitivo os impulsos motores e do crânio e compreende os dois hemisférios cere-
sensitivos vindos da periferia do corpo (exceto o brais e uma pequena parte mediana situada na por-
olfato). Devido sua íntima relação com a dor, uma ção anterior do III ventrículo. Tais hemisférios são
lesão talâmica pode causar a síndrome talâmica parcialmente separados pela fissura longitudinal do
dolorosa, além de déficit de memória, de lingua- cérebro, cujo assoalho é formado pelo corpo caloso
gem e vários outros sintomas. (o principal meio de união entre eles).

191
ANATOMIA

Fissura longitudinal do encéfalo


A superfície do cérebro humano apresenta de-
Hemisfério cerebral Hemisfério cerebral
esquerdo direito pressões denominadas sulcos que delimitam os gi-
ros. Esses giros permitem aumentar a superfície do
cérebro sem aumentar o volume cerebral (dois terços
da área ocupada pelo córtex cerebral estão “escondi-
dos” nos sulcos) fazendo com que seja chamado de
girencéfalo (ao contrário de encéfalos sem giros que
são chamados de lisencéfalos).
Muitos sulcos são inconstantes e não recebem
qualquer denominação, mas outros são constantes
e recebem denominações especiais ajudando a de-
Figura 8 - Telencéfalo. Note os Hemisférios e a Fissura Longitudinal do Cérebro limitar os lobos e as áreas cerebrais. Além disso, é
importante salientar que o padrão dos sulcos e dos
Ele possui cavidades chamadas de ventrículos late- giros pode ser diferente nos dois hemisférios de
rais, tem três pontos mais projetados (polo frontal, um mesmo indivíduo, e não existe nenhum sulco
polo occipital e polo temporal), cinco lobos (gran- ou giro que seja característico de uma determinada
des regiões dentro de um polo) e três faces (súpe- raça humana, sendo assim impossível a identificação
rolateral, medial e inferior ou base do cérebro). Es- da raça pelo estudo de um único cérebro.
tudaremos cada uma dessas regiões. Os dois sulcos mais importantes são o lateral e
o central. O lateral é uma fenda profunda que se-
Lobo frontal para os lobos frontal e parietal do lobo temporal.
Lobo parietal
Ele dirige-se para a face súperolateral do cérebro
onde termina dividindo-se. Já o sulco central é
profundo e percorre obliquamente a face súpero-
Lobo -lateral do hemisfério separando os lobos frontal e
occipital
parietal. Inicia na face medial do hemisfério e se-
Lobo
gue em direção ao sulco lateral. É ladeado por dois
Cerebelo temporal
Ponte giros paralelos, o pré-central (anterior ao sulco) e
Bulbo
o pós-central (posterior a ele). Esses giros relacio-
Medula espinal nam-se, respectivamente, à motricidade e à sensi-
Figura 9 - Polos, Lobos e Faces bilidade do corpo.

192
EDUCAÇÃO FÍSICA

Giro pré-central

Giro pós-central
Sulco central

Sulco lateral

Figura 10 - Telencéfalo (vista lateral). Note os sulco lateral e central, e os giros pré-central e pós-central

Dos cinco lobos cerebrais, quatro recebem sua de- eficiente de encefalização (K). O K aumenta à me-
nominação de acordo com os ossos do crânio com dida que se sobe na escala zoológica, sendo qua-
os quais se relacionam. Assim, são chamados de tro vezes maior no homem do que no chimpanzé.
lobo frontal, temporal, parietal e occipital. Todavia, No homem adulto brasileiro normal, ele pesa em
o quinto lobo situa-se profundamente e não se re- torno de 1300 gramas (1200 gramas na mulher).
laciona diretamente com os ossos do crânio sendo Além disso, saiba que o peso do encéfalo não tem
chamado de lobo da ínsula. Esse lobo, que se rela- relação com o estado cultural ou com a inteligência
ciona a funções autônomas, é o que menos cresce e, do indivíduo (o encéfalo do Einstein, por exemplo,
por isso, é recoberto pelos lobos vizinhos. Tem for- pesava 1230 gramas).
ma cônica e também apresenta sulcos e giros (como Por fim, o maior encéfalo humano registrado
o sulco circular da ínsula, o sulco central da ínsula, pesava 2850 gramas e o seu dono tinha um nível
os giros curtos e o giro longo da ínsula). normal de inteligência (tem bebês que não nascem
Você também precisa saber que o peso do en- com este peso, já pensou?) e se admite que o menor
céfalo depende do peso corporal do indivíduo e da encéfalo compatível com a inteligência normal deve
complexidade do encéfalo que é expressa pelo co- pesar cerca de 900 gramas.

193
ANATOMIA

Especificidades das diversas regiões do encéfalo parietal superior está envolvido na interação do in-
De agora em diante, estudaremos algumas das par- divíduo ao meio ambiente e, por isso, lesões, prin-
ticularidades mais interessantes do encéfalo. Vamos cipalmente, no hemisfério não dominante, causam
começar com aquilo que pode ser estudado na face negligência de partes do corpo. Nele existem dois gi-
súpero-lateral dele. ros, o supramarginal e o angular (ambos envolvidos
O lobo frontal apresenta o sulco pré-central, o na integração de diversas informações sensoriais
sulco frontal superior e sulco frontal inferior. En- quanto à fala e percepção e, por isso, lesões, princi-
tre o sulco central e o sulco pré-central está o giro palmente, no hemisfério dominante, causa distúrbio
pré-central onde se localiza a área motora primá- de compreensão da linguagem e reconhecimento de
ria do cérebro. Acima do sulco frontal superior e objetos). Já o lobo occipital apresenta pequenos sul-
continuando na face medial do cérebro localiza-se cos e giros inconstantes e irregulares.
o giro frontal superior. Entre o sulco frontal supe- Agora, estudaremos os principais aspectos ana-
rior e o inferior está o giro frontal médio e, abaixo, tômicos e funcionais da face medial do encéfalo.
do sulco frontal inferior está o giro frontal inferior Essa face é visível a partir de secção pelo plano sagi-
(este, do lado esquerdo do cérebro, é chamado de tal mediano e expõe o diencéfalo, o corpo caloso, o
giro de Broca e é onde se localiza o centro cortical fórnice e o septo pelúcido. O corpo caloso é a maior
da palavra falada, na maioria dos indivíduos). Já o comissura inter-hemisférica e aparece como uma lâ-
giro frontal superior e o médio estão relacionados mina branca arqueada. Ele é formado por um gran-
à cognição, ao raciocínio lógico e matemático, e à de número de fibras mielínicas que cruzam o plano
memória recente. mediano e penetram de cada lado no centro branco
O lobo temporal apresenta dois sulcos princi- medular do cérebro unindo áreas simétricas do cór-
pais: o temporal superior e o sulco temporal infe- tex cerebral de cada hemisfério. O fórnice emerge
rior. Entre o sulco lateral e o temporal superior está abaixo do corpo caloso e entre ele e o corpo caloso
o giro temporal superior onde está a área de Werni- estende-se o septo pelúcido que separa os dois ven-
cke envolvida na compreensão da linguagem falada. trículos laterais. Esse septo é constituído por duas
Entre o sulco temporal superior e o inferior está o delgadas lâminas de tecido nervoso que delimitam a
giro temporal médio. Abaixo do sulco temporal in- cavidade do septo pelúcido.
ferior localiza-se o giro temporal inferior (este está Ainda na face medial, podemos identificar dois
envolvido na percepção visual de cor e forma). Além sulcos que passam do lobo frontal para o parietal, o
disso, afastando-se os lábios do sulco lateral, apare- sulco do corpo caloso (que contorna o corpo caloso)
cem pequenos giros transversais dos quais o mais e o sulco do cíngulo (que é paralelo ao sulco do cor-
evidente e importante é o giro temporal transverso po caloso). Entre esses sulcos está o giro do cíngulo,
anterior, pois nele se localiza o centro cortical da au- que faz parte do sistema límbico e, por isso, afeta o
dição ou área acústica primária. funcionamento visceral, as emoções e o comporta-
O lobo parietal apresenta dois sulcos principais, mento. Além disso, o lobo occipital apresenta dois
o sulco pós-central e o sulco intraparietal (este sepa- sulcos importantes: o parietoccipital e o calcarino
ra o lóbulo parietal superior do inferior). O lóbulo entre os quais se situa um giro triangular chamado

194
EDUCAÇÃO FÍSICA

cúneo. Nas bordas do sulco calcarino está localizada É bem provável que você já ouviu falar desse lí-
a área visual primária. quido. Por exemplo, você já deve ter ouvido falar de
Por fim, na face inferior do encéfalo, o lobo fron- alguém que tenha tido que tirar um pouco dele para
tal apresenta apenas o sulco olfatório, medialmente saber se está com meningite ou já ouviu falar de al-
o qual se situa o giro reto (relacionado ao olfato) e guém que perdeu este líquido ao tomar uma anes-
lateralmente ao qual se situam os giros orbitários. Já tesia raquidiana e, por isso, teve dor de cabeça. Mas
o lobo temporal apresenta os sulcos occipito-tempo- você já parou para pensar para que ele serve e do que
ral, colateral e sulco do hipocampo. ele é composto?
O líquido cerebrospinal (ou líquor) é um fluido
Ventrículos encefálicos e líquido cerebrospinal aquoso e incolor que ocupa o espaço subaracnoideo
Por várias vezes, nesta unidade, falamos sobre ven- e os ventrículos. Ele dá proteção mecânica forman-
trículos e usamos os termos “III ventrículo”, “IV do um coxim líquido entre o sistema nervoso cen-
ventrículo” e “ventrículos laterais”. Mas você sabe o tral e os ossos reduzindo o risco de traumatismo.
que é um ventrículo? Além disso, como o espaço subaracnoideo envolve
Ventrículos são cavidades que existem dentro do todo o sistema nervoso central, este fica totalmente
nosso encéfalo. Temos quatro deles. Os ventrículos submerso no líquor de forma que se torna mais leve.
laterais (direito e esquerdo) são as cavidades dos he- Permite, por exemplo, que o encéfalo flutue impe-
misférios cerebrais. O III ventrículo é a cavidade do dindo que seu peso comprima as raízes dos nervos
diencéfalo e o IV ventrículo é a cavidade do rom- cranianos e os vasos sanguíneos contra a superfície
bencéfalo (fica entre o bulbo, a ponte e o cerebelo). interna do crânio.
Eles produzem líquido cerebrospinal, mas como Ele é ativamente formado pelos plexos coroides
os ventrículos laterais são maiores, eles produzem dos ventrículos, mas sua circulação é extremamente
maior quantidade deste líquido. No entanto, eles lenta sendo auxiliada pelo fato de sua produção ser
se comunicam entre si por meio de “ductos” e este em uma extremidade e sua absorção em outra. Além
líquido vai escoando e circulando. Por exemplo, o disso, a pulsação das artérias intracranianas a cada
líquido cerebrospinal deixa os ventrículos laterais e sístole aumenta a pressão liquórica empurrando-o
chega ao III ventrículo pelo forame interventricular. por meio das granulações aracnóideas. Seu volume
Depois, sai do III ventrículo e passa ao IV ventrí- total é de 400 a 500 ml/dia, renovando-se completa-
culo por meio do aqueduto do mesencéfalo. Do IV mente a cada oito horas.
ventrículo ele é drenado para o espaço subaracnoi- Algumas doenças podem interferir em sua pro-
deo por meio das aberturas laterais e da abertura dução, circulação e/ou absorção causando hidroce-
mediana do IV ventrículo. Por fim, o líquido sobe falia que se caracteriza por aumento da quantidade e
até a parte superior do encéfalo, é absorvido pelas da pressão do líquor levando a dilatação dos ventrí-
granulações aracnoideas e é drenado para as veias culos e à compressão do tecido nervoso com graves
que drenam o encéfalo. Dessa forma, o líquido se consequências. Essa doença pode ser corrigida por
mistura ao sangue e sofre os mesmos processos de meio de um procedimento cirúrgico que drena o lí-
filtragem que ele. quor por meio de um cateter desde os ventrículos

195
ANATOMIA

cerebrais até a veia jugular interna, ou ao átrio direi- interna). As de associação unem áreas corticais si-
to ou à cavidade peritoneal. tuadas em pontos diferentes (são o corpo caloso, a
Vale lembrar que o aumento do volume de qual- comissura do fórnice e a comissura anterior).
quer componente da cavidade craniana (por tumor,
hematoma ou hidrocefalia, por exemplo) causa au-
mento da pressão intracraniana podendo causar a
protrusão de tecido nervoso e graves sintomas como
perda de consciência, coma profundo ou morte por
lesão dos centros respiratório e vasomotor.

Núcleos da base
Já vimos que o encéfalo apresenta uma camada su-
perficial de substância cinzenta (o córtex cerebral)
que reveste um centro de substância branca (o cen-
tro branco medular do cérebro). No interior desse
centro existem massas de substância cinzenta cha-
madas de núcleos da base do cérebro os quais atuam,
principalmente, sobre o controle do movimento,
embora, tenham funções não motoras (como sele-
ção de informação sensitiva para o controle motor, Figura 11 - Núcleos da Base e Centro Branco Medular do Cérebro

função cognitiva, função emocional e de motivação).


Suas lesões podem causar vários distúrbios motores Meninges
como: coreia, atetose, balismo, distonia, tiques, sín- O sistema nervoso central é envolto por membranas
drome de Tourette (tiques motores e vocais) e dis- conjuntivas denominadas meninges (dura-máter,
túrbios hipocinéticos (como o parkinsonismo). aracnoide-máter e pia-máter) as quais têm papel de
Dentre esses núcleos pode-se citar o caudado, o proteção aos centros nervosos (já havíamos menciona-
lentiforme (dividido em putame e glóbulo pálido), do isto quando estudamos a medula espinal, lembra?).
claustrum, corpo amigdaloide (faz parte do siste- Assim, o acesso cirúrgico ao sistema nervoso
ma límbico e é um importante centro regulador do central envolve, necessariamente, o contato com es-
comportamento sexual e da agressividade), núcleo sas meninges. Além disso, elas podem ser frequente-
basal de Meynert e núcleo accumbens. mente acometidas por processos patológicos como
infecções (meningites) ou tumores (meningiomas).
Centro branco medular do cérebro A dura-máter é ricamente inervada e vasculari-
O centro branco medular do cérebro é formado por zada. Como o encéfalo não tem terminações nervo-
fibras mielínicas as quais podem ser de projeção ou sas sensitivas, quase toda a sensibilidade intracra-
de associação. As de projeção ligam o córtex cere- niana se localiza nela que é responsável pela maioria
bral a centros subcorticais (são o fórnice e a cápsula das cefaleias (dores de cabeça).

196
EDUCAÇÃO FÍSICA

A aracnoide-máter, em alguns pontos, forma as Vascularização da cabeça e do pescoço


granulações aracnóideas que absorvem o líquido Embora, represente apenas uma pequena parte
cerebrospinal (como já estudado), mas no adulto e do peso do corpo, o encéfalo recebe aproximada-
no idoso, algumas delas tornam-se muito grandes mente um sexto do débito cardíaco e um quinto
constituindo os chamados corpos de Pacchioni que do oxigênio consumido pelo corpo em repouso.
frequentemente se calcificam e podem deixar im- Isto porque é formado por estruturas nobres e al-
pressões na abóboda craniana. tamente especializadas que exigem um suprimento
A pia-máter adere intimamente à superfície do permanente e elevado de glicose e oxigênio para
encéfalo acompanhando os sulcos, os giros e, inclu- seu metabolismo.
sive, os vasos que penetram o tecido nervoso. Assim, Por isso, a parada da circulação cerebral por
ela dá resistência ao encéfalo, pois este tem consis- mais de sete segundos leva à perda da consciência
tência mole. Aracnoide-máter e pia-máter são mem- e após cerca de cinco minutos começam a aparecer
branáceas e delicadas. lesões irreversíveis. O fluxo sanguíneo é maior em
áreas com mais sinapses (é maior na substância cin-
Meninges do cérebro
zenta e há diferença entre as diversas áreas do córtex
cerebral, mas tendem a diminuir durante o sono).
Assim, a falta de oxigenação faz com que áreas dife-
rentes sejam lesadas em tempos diferentes.
A vascularização do encéfalo é originada a partir
do arco da aorta por meio da artéria carótida inter-
na e da artéria subclávia. A artéria carótida interna
passa o canal carótico na base do crânio, faz uma
Crânio inflexão conhecida como sifão carotídeo (onde exis-
lâmina periostal Dura-máter tem baro e quimioceptores que detectam variações
lâmina meníngea encefálica

Seio sagital superior Espaço subdural


de pressão sanguínea e dos níveis de gases como O2 e
Granulações
aracnoideas CO2 no sangue) e emite a artéria oftálmica (que irri-
Aracnoide-máter
ga retina), a artéria cerebral anterior, a cerebral mé-
dia, a corióidea anterior e a comunicante posterior.
Espaço
subaracnóideo As artérias vertebrais sobem pelos forames trans-
Pia-máter
Substância versos das seis primeiras vértebras cervicais, entram
cinzenta
Substância
Cérebro no crânio pelo forame magno, unem-se e formam a
Vasos sanguíneos
Foice do cérebro
branca artéria basilar. Essa artéria emite as artérias cerebe-
Figura 12 - Meninges Encefálicas lares, artéria do labirinto e a cerebral posterior.

197
ANATOMIA

As veias do encéfalo não acompanham as arté- venoso superficial e profundo os quais se comuni-
rias, são maiores e mais calibrosas, têm paredes mui- cam por anastomoses e desembocam na veia jugular
to finas, não têm válvulas e são praticamente despro- interna a qual por sua vez, desemboca na veia sub-
vidas de musculatura. Elas se dispõem em sistema clávia e, posteriormente, no átrio direito do coração.

Círculo arterial do encéfalo

Figura 13 - Artérias do Encéfalo

SAIBA MAIS

Na base do encéfalo existem várias artérias que, em conjunto, constituem o círculo arterial do encéfalo
(popularmente conhecido como polígono ou círculo de Willis, em homenagem ao médico inglês Tho-
mas Willis que o estudou). Esse círculo permite a troca de sangue entre as artérias que irrigam a região
anterior e posterior do encéfalo, em situações de emergência. Leia mais sobre o assunto no artigo
“Variações anatômicas na porção posterior do polígono de Willis” de Peixoto et al. (2015).

Fonte: Peixoto et al. (2015).

198
EDUCAÇÃO FÍSICA

Sistema Nervoso
Periférico (SNP)
FUNÇÃO DO SISTEMA NERVOSO PERI- Terminações nervosas
FÉRICO As terminações nervosas são originadas a partir das
ramificações das extremidades das fibras nervosas
Moore et al. (2014) afirmam que, de maneira geral, dos nervos. Elas podem ser sensitivas ou aferentes
o sistema nervoso periférico é responsável por con- (chamadas de receptores), e motoras ou eferentes
duzir os estímulos da periferia do corpo ao sistema (chamadas de junção neuroefetora). Os receptores,
nervoso central e por levar os comandos prove- quando estimulados por uma forma adequada de
nientes do sistema nervoso central aos órgãos efe- energia (calor, luz, pressão etc.), originam um im-
tores (os quais são representados pelos músculos e pulso nervoso que segue até atingir o sistema ner-
pelas glândulas). voso central e ser interpretado por áreas cerebrais
próprias (como o giro pós-central ou área 3, 2, 1
ESTRUTURAS DO SISTEMA NERVOSO PE- de Brodmann). As terminações nervosas motoras
RIFÉRICO trazem as ordens do sistema nervoso central até os
órgãos efetores desencadeando contração muscu-
O sistema nervoso periférico é formado por corpos lar ou secreção glandular.
celulares e fibras nervosas localizadas fora do sis- Os receptores podem ser classificados como
tema nervoso central que conduzem impulsos que especiais ou gerais. Os especiais são mais comple-
chegam ou saem do sistema nervoso central. De xos, pois estão ligados a um neuroepitélio (como
acordo com Miranda Neto e Chopard (2014), ele retina e o órgão de Corti) e assim, fazem parte dos
é organizado em 4 estruturas principais: a) nervos órgãos especiais dos sentidos (visão, audição, equi-
espinais e b) nervos cranianos que unem a parte líbrio, olfato e gustação). Os receptores gerais são
central do sistema nervoso às estruturas periféri- mais simples, estão espalhados por todo o corpo
cas do corpo), c) terminações nervosas que são es- (principalmente na pele) e podem ser livres ou en-
truturas especializadas em captar os estímulos da capsulados conforme tenham ou não uma cápsula
periferia do corpo e d) gânglios espinais ou autô- de tecido conjuntivo.
nomos que são constituídos por um conjunto de Os receptores gerais livres não têm uma cápsula
corpos celulares. Todo o texto que segue será es- de tecido conjuntivo que os envolva. São mais abun-
crito a partir das considerações de Afifi e Bergman dantes, ramificam-se na pele sendo que alguns estão
(2007) e Machado e Haertel (2014). relacionados ao tato (enrolam-se nos folículos pilo-

199
ANATOMIA

sos) e outros estão relacionados à sensibilidade tér- O FNM é um receptor proprioceptivo composto
mica e dolorosa. Os receptores gerais encapsulados por feixes de fibras musculares modificadas (as fibras
são mais complexos, pois ocorre uma intensa ramifi- intrafusais) contidas em uma cápsula fibrosa. Está
cação da extremidade do axônio no interior de uma disposto paralelamente às fibras musculares extra-
cápsula de tecido conjuntivo. fusais e se liga ao tendão do músculo. Ele responde
às variações no comprimento das fibras musculares
(estiramento ou contração). Ele é importante para
a manutenção do tônus muscular e para o reflexo
miotático o qual pode ser desencadeado artificial-
mente, por exemplo, na região patelar.
O OTG também é um receptor sensorial pro-
prioceptivo, mas fica localizado na inserção da fibra
muscular com o tendão do músculo esquelético (na
junção músculo-tendão). Ele permite ao sistema
nervoso central avaliar a força que o músculo está
exercendo e é muito sensível à alteração na tensão
do músculo, ao contrário do FNM que é mais sensí-
vel à alteração do comprimento muscular. Esses re-
ceptores serão melhor vistos no seu segundo ano de
graduação quando a relação sistema nervoso-movi-
mento for estudada.
Os receptores podem ser classificados de acor-
do com o tipo de estímulo que os ativa. Assim,
Figura 14 - Tipos de Receptores quimiorreceptores são ativados por estímulos quí-
micos como, por exemplo, os do olfato, gustação
São exemplos de receptores gerais encapsulados ao ór- e da artéria carótida; os osmorreceptores detectam
gão tendinoso de Golgi (OTG), o fuso neuromuscular variações na pressão osmótica; os fotorreceptores
(FNM) e os corpúsculos sensitivos da pele. Esses cor- são ativados por estímulos luminosos (como os co-
púsculos incluem o corpúsculo de Meissner (presente nes e bastonetes da retina); os termorreceptores são
principalmente na pele espessa das mãos e pés, atuam ativados por estímulos térmicos (como as termina-
como receptores de tato e pressão), o de Ruffini (tam- ções nervosas livres); os nociceptores são ativados
bém atuam como receptores de tato e pressão e está por estímulos nocivos (como as terminações ner-
presente principalmente na pele espessa das mãos e vosas livres); os mecanorreceptores são ativados
pés e parte pilosa do resto do corpo) e de Vater-Pacci- por estímulos mecânicos (como ocorre na audição,
ni (presente principalmente no tecido subcutâneo das equilíbrio, tato, pressão, vibração, nos barorrecep-
mãos e pés, septos intermusculares e periósteo atuan- tores da carótida, OTG e FNM).
do como receptores de sensibilidade vibratória).

200
EDUCAÇÃO FÍSICA

Além disso, os receptores também podem ser do esquelético formando a placa motora onde mui-
classificados de acordo com o local onde estão. tas vesículas sinápticas liberam o neurotransmissor
Assim, ínteroceptores ou vísceroceptores estão acetilcolina. As viscerais terminam no músculo liso,
localizados nas vísceras e nos vasos. Permitem estriado cardíaco ou nas glândulas e pertencem ao
sensações viscerais pouco localizadas como fome, sistema nervoso autônomo. Seu neurotransmissor
prazer sexual, sede e dor visceral. Os exterocep- pode ser a acetilcolina ou a noradrenalina.
tores estão na superfície externa do corpo e são
ativados pelo calor, frio, tato, pressão, luz e som. Gânglios
Já os proprioceptores estão nos músculos, tendões, Os gânglios são estruturas formadas por um con-
ligamentos e cápsulas articulares. Seus impulsos junto de corpos de neurônios localizados fora do
podem ser conscientes (como localizar partes do sistema nervoso central (se estivesse no sistema
corpo de olhos fechados) ou inconscientes (quan- nervoso central seria chamado de núcleo, lem-
do o cerebelo participa). bra?). Tais corpos neuronais são recobertos por
A terminação nervosa motora pode ser somática pequenas células chamadas células satélites as
ou visceral. A somática termina no músculo estria- quais os protegem.

Gânglio espinal

Figura 15 - Gânglios

201
ANATOMIA

Podem ser espinais ou autônomos. Os gânglios es- Os nervos são muito fortes, pois suas fibras
pinais são constituídos por um conjunto de neurô- nervosas são sustentadas e protegidas por três
nios sensitivos, do tipo pseudounipolares e estão membranas de tecido conjuntivo, as quais são mais
ligados à raiz dorsal do nervo espinal. Os gânglios espessas em nervos superficiais: o endoneuro en-
autônomos pertencem ao sistema nervoso autôno- volve cada fibra nervosa; o perineuro envolve um
mo e podem ser constituídos por corpos de neurô- fascículo de fibras nervosas; o epineuro circunda
nios simpáticos (gânglios simpáticos) e parassim- um feixe de fascículos, emite septos para seu in-
páticos (gânglios parasimpáticos). Enquanto os terior e tem tecido adiposo, vasos linfáticos e san-
gânglios simpáticos estão localizados predominan- guíneos. Eles têm uma origem real (onde estão os
temente na cavidade torácica e na abdominal, os corpos dos neurônios que o formam) e uma origem
gânglios parasimpáticos estão localizados princi- aparente (de onde eles emergem e são vistos). Al-
palmente no interior de órgãos e, por isso, são tam- guns autores também consideram uma origem apa-
bém denominados gânglios intramurais. rente no esqueleto.
A velocidade de condução do impulso nervo-
Nervos so varia de 1 a 120 m/s dependendo do calibre da
Nervos são cordões esbranquiçados formados por fibra nervosa. Fibras A presente nos nervos mistos
feixes de fibras nervosas e tecido conjuntivo fora do têm grande calibre, são mielinizadas e subdivididas
sistema nervoso central. Eles unem o sistema nervo- em α, β e g. Fibras B são pré-ganglionares do SNA e
so central aos órgãos periféricos de forma que sua têm médio calibre. Fibras C são pós-ganglionares do
função é conduzir impulsos nervosos do sistema SNA e têm pequeno calibre. Podem ser espinais ou
nervoso central à periferia do corpo (impulsos efe- cranianos conforme estejam ligados à medula espi-
rentes) e da periferia do corpo ao sistema nervoso nal ou ao encéfalo.
central (impulsos aferentes).
Alguns nervos são formados apenas por fibras Nervos cranianos
nervosas sensitivas (nervos sensitivos), outros por Existem 12 pares de nervos cranianos nominados in-
fibras nervosas motoras (nervos motores) e outros dividualmente e enumerados por algarismo romano
podem ter fibras nervosas sensitivas e motoras (ner- (de I a XII). Eles têm conexão com o encéfalo e saem
vos mistos). Geralmente nervos motores são pro- da cavidade craniana através de forames no crânio.
fundos e os sensitivos são superficiais. A maioria se conecta ao tronco encefálico (apenas os
Além disso, em um mesmo nervo podem existir nervos olfatório e óptico ligam-se, respectivamente
fibras inativas, pois elas têm funcionamento inde- ao telencéfalo e ao diencéfalo, e o nervo acessório se
pendente. Assim, eles podem se bifurcar ou se anas- origina na parte superior da medula). As fibras dos
tomosar por rearranjos de suas fibras e, próximo à nervos cranianos se unem centralmente aos núcleos
sua terminação, ramificam-se muito. São muito vas- dos nervos cranianos e sua classificação funcional
cularizados, mas são quase desprovidos de sensibi- está apresentada a seguir.
lidade (estímulos dolorosos causam dor no trajeto
do nervo e não no ponto onde foi feito o estímulo).

202
EDUCAÇÃO FÍSICA

Gerais: Tato, propriocepção, dor, T°, pressão origem nos exteroceptores


e proprioceptores

Somáticas

Especiais: Visão, audição, equilibrio origem na retina e ouvido interno

Fibras aferentes

Gerais: Dor visceral Origem nos vísceroceptores

Viscerais

Especiais: Origem nos receptores gustativos e olfatórios

Somáticas: Para músculos estriados esqueléticos miotômicos


Fibras eferentes

Gerais: Inervam músculos lisos, cardíacos e das glândulas (formam o


sistema nervoso autônomo parassimpático)

Viscerais

Especiais: Inervam músculos estriados esqueléticos branquioméricos

Figura 16 - Classificação funcional das fibras dos nervos cranianos


Fonte: o autor.

Os nervos olfatório (I par) e óptico (II par) são clas- O nervo trigêmeo (V par) é o maior nervo crania-
sificados como sensitivos, pois são responsáveis res- no. Ele emerge da face lateral da ponte por uma gran-
pectivamente, pelo olfato e pela visão. Já os nervos de raiz sensitiva e uma pequena raiz motora. Os pro-
oculomotor (III par), troclear (IV par) e abducente cessos periféricos dos neurônios sensitivos formam
(VI par) são classificados como motores, pois são três nervos: o oftálmico, o maxilar e o componente
responsáveis pelos movimentos dos músculos ex- sensitivo do nervo mandibular. As fibras da raiz mo-
trínsecos do bulbo do olho. tora são distribuídas por meio do nervo mandibular

203
ANATOMIA

fundindo-se com suas fibras (por isso é um nervo O nervo facial (VII par) emerge do sulco bul-
misto). De maneira geral, ele é responsável pela sen- bopontino como duas divisões, o nervo facial pro-
sibilidade exteroceptiva (temperatura, dor, pressão e priamente dito (raiz motora) e o nervo intermédio
tato) de grande parte da cabeça (face, dentes, boca, (raiz sensitiva e visceral que conduz fibras sensitivas
cavidade nasal e dura-máter craniana), sensibilidade somáticas, parassimpáticas e do paladar). Ele atra-
exteroceptiva e proprioceptiva dos músculos masti- vessa o forame estilomastoideo e a glândula paróti-
gatórios e da articulação temporomandibular. da, dá origem ao nervo petroso maior, nervo para o
Além disso, inerva movimentos mastigatórios, músculo estapédio, nervo corda do tímpano e ramo
milo-hioideo, ventre anterior do digástrico, tensor auricular posterior.
do véu palatino e tensor do tímpano. Assim, devido Na glândula parótida, ele forma o plexo intra-
sua vasta área de inervação, a nevralgia ou neuralgia parotídeo e dá origem aos cinco ramos motores
do trigêmeo é um distúrbio neuropático que causa terminais: temporal, zigomático, bucal, marginal da
episódios de dor intensa no couro cabeludo, man- mandíbula e cervical os quais inervam músculos da
díbula, fronte, olhos, nariz e lábios. Pode ser trata- expressão facial, da orelha, ventre posterior do digás-
da por termocoagulação controlada (procedimento trico, estilo-hioideo e músculo estapédio. Além disso,
que destrói parcialmente suas fibras nervosas). ele envia fibras para o gânglio pterigopalatino (para
O nervo oftálmico é exclusivamente sensitivo e inervar glândulas lacrimais) e para o gânglio sub-
seus principais ramos são os nervos frontal, nasoci- mandibular (para inervar as glândulas salivares su-
liar e lacrimal (os quais inervam regiões correspon- blingual e submandibular). Adicionalmente dá sensi-
dentes). O nervo maxilar sai da cavidade craniana bilidade gustativa dos dois terços anteriores da língua
pelo forame redondo é exclusivamente sensitivo e a e do palato mole e supre uma pequena área de pele da
região da maxila. Seus principais ramos são os ner- concha da orelha, perto do meato acústico externo.
vos infraorbital, alveolar superior anterior, médio e O nervo vestibulococlear (VIII par) é respon-
posterior, nasopalatino, palatino maior e palatinos sável pelo equilíbrio, orientação espacial e audição.
menores. O gânglio pterigopalatino está associado a Sua lesão pode causar enjoo, alteração de equilíbrio,
essa divisão do trigêmeo. nistagmo, vertigem e hipoacusia. Emerge do sulco
O nervo mandibular passa pelo forame oval e bulbopontino, entra no meato acústico interno e se
é considerado misto, pois, a raiz motora do trigê- divide nos nervos vestibular e coclear. Enquanto o
meo acompanha suas fibras sensitivas. Seus princi- nervo vestibular é sensível à aceleração linear e à
pais ramos incluem nervos sensitivos (como o lin- aceleração rotacional em relação à posição da cabe-
gual, alveolar inferior, mentual e aurículotemporal) ça, o nervo coclear está relacionado à audição.
e nervos motores (como os temporais profundos, O nervo glossofaríngeo (IX par) é misto, emerge
pterigoideos medial e lateral, bucal, massetérico e da face lateral do bulbo e deixa o crânio através do
milo-hioideo). Dois gânglios parassimpáticos rela- forame jugular. Ele permite movimento para o mús-
cionados à inervação das glândulas salivares, o ótico culo estilofaríngeo e emite alguns seguintes ramos
e o submandibular, estão associados a essa divisão sensitivos como o nervo timpânico, nervo do seio
do nervo trigêmeo. carótico, nervo faríngeo, tonsilar e lingual.

204
EDUCAÇÃO FÍSICA

O nervo vago (X par) tem seu nome derivado


do latim vagari que significa errante, devido sua
extensa distribuição (tem o trajeto mais longo e a
distribuição mais extensa de todos os nervos cra-
nianos, principalmente fora da cabeça). Origina-
-se por radículas na face lateral do bulbo as quais
se fundem e deixam o crânio pelo forame jugular.
Continua inferiormente na bainha carótica, envia
ramos para o palato, faringe, laringe, brônquios
pulmões e coração. Formam os troncos vagais an-
teriores e posteriores que se unem ao plexo esofá-
gico inervando esôfago, estômago e intestinos (até
à flexura esquerda do colo). Assim, é misto e tem Todos os 12 pares de nervos
cranianos estão destacados
fibras aferentes somáticas gerais, aferentes viscerais em amarelo
gerais e especiais, eferentes somáticas, eferentes
viscerais gerais e proprioceptivas.
O nervo acessório (XI par) é formado por
uma raiz craniana (bulbar) e outra espinal. Une-
-se temporariamente ao nervo vago (com o qual
inerva músculos da laringe e vísceras torácicas), Figura 17 - Nervos Cranianos

penetra os músculos esternocleidomastoideo e


trapézio dando-lhes motricidade (é classificado Assim, a inervação da língua pode ser resumida da
como nervo motor). seguinte forma: sua motricidade é dada pelo nervo
O nervo hipoglosso (XII par) dá movimento hipoglosso; a sensibilidade geral (temperatura, dor,
aos músculos extrínsecos e intrínsecos da língua. tato e pressão) de seus dois terços anteriores é dada
Sua lesão pode causar desvio lateral da língua quan- pelo nervo trigêmeo e a sensibilidade gustativa pelo
do se faz protrusão. Origina-se no bulbo como um nervo facial (por meio do nervo lingual); a sensibili-
nervo motor e deixa o crânio pelo canal do nervo dade geral e gustativa do terço posterior é dada pelo
hipoglosso unindo-se a ramos do plexo cervical. nervo glossofaríngeo.

205
ANATOMIA

Nervos espinais Da medula espinal emergem radículas dos sulcos


Existem 31 pares de nervos espinais que inervam o lateral anterior e posterior que convergem para for-
tronco, os membros, o pescoço e a parte da cabeça (8 mar as raízes ventral e dorsal, respectivamente. A
cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacrais e 1 coc- raiz ventral apresenta axônios de neurônios motores
cígeo). Com exceção do primeiro nervo que emerge cujos corpos estão nos cornos anterior e lateral da
entre o osso occipital e o atlas, todos os demais dei- medula espinal e se direcionam aos órgãos efetores
xam o canal vertebral pelos forames intervertebrais. situados na periferia do corpo (músculos e glându-
São identificados por uma letra (que identifica a re- las). A raiz dorsal apresenta axônios de neurônios
gião da medula à qual pertence) e um número (que sensitivos que chegam ao corno posterior da medula
identifica sua ordem). Por exemplo: o nervo T4 é o 4° espinal vindos das terminações sensitivas localiza-
nervo da região torácica. das na periferia do corpo e cujos corpos estão nos
gânglios espinais das raízes dorsais.
Todos os nervos espinais estão
conectados à medula espinal e
inervam os membros superiores,
os membros inferiores e o tronco

Medula espinal

Figura 18 - Nervos Espinais Figura 19 - Formação dos Nervos Espinais

206
EDUCAÇÃO FÍSICA

Próximo do forame intervertebral, as raízes ventral O plexo braquial é formado pelos ramos ven-
(motora) e dorsal (sensitiva) se unem para formar o trais dos quatro últimos nervos cervicais e do
tronco do nervo espinal que funcionalmente é misto primeiro nervo torácico. Estende-se inferior e
e tem componentes somáticos e viscerais. O tronco lateralmente, passa abaixo da clavícula, entra na
sai do canal vertebral pelos forames intervertebrais região axilar e desce pelo membro superior. Já o
e se divide em um ramo dorsal e outro ventral (am- plexo lombar situa-se próximo ao músculo psoas
bos mistos). O ramo dorsal, geralmente menor do maior, ao lado da coluna vertebral. É formado pe-
que o ventral, dirige-se posteriormente à pele, aos los ramos ventrais dos três primeiros nervos lom-
músculos da região occipital, nuca, região dorsal do bares, pela maior parte do quarto nervo lombar
tronco e articulações sinoviais da coluna vertebral. (L1 a L4) e um ramo anastomótico de T12. Emite
São separados uns dos outros e não formam plexos vários nervos que se destinam aos músculos ab-
nervosos (são unissegmentares). dominais, regiões inguinal e púbica, e membros
Em contrapartida, o ramo ventral (que é pratica- inferiores.
mente a continuação do tronco do nervo espinal) se Por fim, o plexo sacral é formado pelo ramo
distribui à pele, músculos, ossos, articulações e vasos anastomótico de L4 unido a L5, pelos ramos ven-
da região ântero-lateral do pescoço, ao tronco e aos trais do primeiro ao terceiro nervos sacrais e parte
membros. Na região torácica tem trajeto paralelo às do quarto, e o restante do quinto nervo sacral unin-
costelas (são unissegmentares), mas em outras regiões do-se ao plexo coccígeo. Ele inerva as vísceras pél-
se anastomosam e formam plexos plurissegmentares vicas e o membro inferior, e emite seu ramo termi-
(com fibras de mais de um segmento medular). Os nal, o nervo isquiático. Esse nervo (popularmente
principais plexos formados são o cervical, braquial, conhecido como nervo ciático) é o mais calibroso
lombar e sacral (todos pares). No entanto, também é e longo do corpo humano (suas fibras descem até
descrito o plexo coccígeo que é uma pequena rede de os dedos dos pés). Ele não supre estruturas da re-
fibras nervosas formada pelos ramos anteriores de S4 e gião glútea, mas os músculos posteriores da coxa,
S5 e os nervos coccígeos. Ele supre a articulação sacro- todos os músculos da perna e do pé, e a pele da
coccígea, o músculo coccígeo e parte do levantador do maior parte da perna e do pé. Envia ramos articula-
ânus. Os nervos anococcígeos originados dele suprem res para todas as articulações do membro inferior.
uma pequena área de pele entre o cóccix e o ânus. Além dele, o plexo sacral emite vários outros ner-
Resumidamente, o plexo cervical é formado pe- vos (como os glúteos superior e inferior, o nervo
los ramos ventrais dos quatro primeiros nervos cer- pudendo, os nervos para os músculos obturatório
vicais. Inerva pele e músculos da cabeça, pescoço, interno e gêmeo superior, para o músculo pirifor-
ombro e tórax e tem um ramo de cada lado, o nervo me, para o quadríceps da coxa e gêmeo inferior e
frênico, que inerva o músculo diafragma. Alguns de esfíncter externo do ânus, o nervo cutâneo poste-
seus ramos se interconectam com alguns nervos cra- rior da coxa, o nervo cutâneo femoral posterior e
nianos (X, XI e XII pares). nervo para o músculo quadrado femoral).

207
ANATOMIA

LESÃO NERVOSA

As lesões nervosas são frequentes, pode ser causadas


por diversos fatores (como arma branca, arma de
Plexo braquial fogo e traumas) e podem causar graves danos moto-
res e sensitivos, pois neurônios não se proliferam no
sistema nervoso do adulto (exceto os neurônios do
epitélio olfatório relacionados ao olfato). Em caso
de lesão, é comum ocorrer degeneração anterógrada
Plexo lombar onde o axônio que foi separado de seu corpo celular
degenera. Essa degeneração é inversamente propor-
cional à distância da lesão ao corpo e é máxima en-
tre 7 e 15 dias.
Um fator que pode contribuir para a regene-
ração é a presença da glicoproteína laminina pro-
duzida pelas células de Schwann no sistema ner-
voso periférico. A laminina atua como um fator
neurotrófico estimulando o crescimento axonal
do coto distal em busca do coto proximal (aquele
ligado ao corpo celular). No entanto, essa aposi-
ção dos cotos pode não ocorrer espontaneamente
e pode inclusive predispor à formação de neuro-
Figura 20 - Plexos
ma (os ramos do coto proximal crescem desorde-
nadamente, entrelaçam-se e formam uma estru-
SAIBA MAIS
tura muito sensível provocando dor; é comum em
casos de amputação).
Lesões de nervos periféricos são muito co- Por isso, uma lesão por secção no nervo requer
muns e podem ocorrer a partir de traumas intervenção cirúrgica porque a regeneração do axô-
com arma de fogo, arma branca ou mesmo
acidentes. Na maioria das vezes, sua correção nio exige a aposição das extremidades seccionadas
é cirúrgica, mas o sucesso no tratamento de- por suturas do epineuro. Vale ressaltar que a lami-
penderia de fatores como idade, a lesão pro- nina não é produzida no sistema nervoso central
priamente dita, o tipo de reparo realizado no
nervo, o nível da lesão e período transcorrido onde a célula responsável pela mielinização é o oli-
entre lesão e reparo. Leia mais sobre este as- godendrócito e não a célula de Schwann. O compro-
sunto no artigo de Siqueira (2007), intitulado metimento do suprimento de um nervo por longo
“Lesões nervosas periféricas: uma revisão”.
período pela compressão dos vasos dos nervos (vasa
Fonte: Siqueira (2007). nervorum) pode causar degeneração do nervo (lesão
por isquemia).

208
EDUCAÇÃO FÍSICA

Sistema Nervoso
Autônomo (SNA)
Você se lembra que o sistema nervoso pode ser nos órgãos) e vão até o sistema nervoso central.
classificado de várias maneiras como, por exem- Esses neurônios sensitivos têm seus corpos nos
plo, de acordo com critérios anatômicos, embrio- gânglios sensitivos localizados ao lado da colu-
lógicos, segmentares e funcionais? Pois bem! A na vertebral. Já as vias motora do sistema nervo-
classificação anatômica (que estuda o sistema ner- so visceral levam as ordens dos centros nervosos
voso central e periférico) nós vimos no início desta para o músculo liso, para o músculo estriado car-
unidade. A classificação embriológica e segmentar díaco, para glândulas ou para os adipócitos possi-
nós só estudaremos no segundo ano da sua gra- bilitando ações involuntárias, como o batimento
duação quando uma abordagem mais pormenori- cardíaco, os movimentos peristálticos ou a secre-
zada sobre este sistema for feita. Já a classificação ção glandular.
funcional, divide o sistema nervoso em somático Tudo isso, nós já tínhamos estudado no início
(ou de vida de relação) e sistema nervoso visce- desta unidade. Não é novidade! Todavia, você sabe o
ral (ou de vida vegetativa). Estudaremos sistema que realmente é o sistema nervoso autônomo? Em-
nervoso autônomo de acordo as proposições de bora, eu creia que você já tenha ouvido falar dele, a
Miranda Neto e Chopard (2014), Moore e et al. maioria das pessoas faz uma certa confusão. Vamos
(2014) e Watanabe e Erhart (2009). entender, pois é bem fácil!
O sistema nervoso somático faz com que o or- O SNA nada mais é do que a via eferente do sis-
ganismo se relacione com o meio em que vive e, tema nervoso visceral. Assim, pode ser entendido
por isso, apresenta vias sensitivas e motoras. As como o conjunto de neurônios centrais e periféricos
vias sensitivas iniciam nos exteroceptores (recep- responsáveis pela inervação motora das vísceras, ou
tores sensitivos localizados na parte externa do seja, do músculo liso, do músculo estriado cardíaco
corpo) e levam informações da periferia do corpo e das glândulas. Ele é dividido em parte simpática,
ao sistema nervoso central. Já as vias motoras tra- parassimpática e sistema nervoso entérico. A via
zem os comandos do sistema nervoso central ao eferente da parte simpática e parassimpática apre-
músculo estriado esquelético possibilitando o mo- senta apenas dois neurônios, sendo que um deles
vimento voluntário. tem o corpo no sistema nervoso central (chamado
Por outro lado, no sistema nervoso visceral de neurônio pré-ganglionar), e o outro tem o corpo
as vias sensitivas iniciam nos ínteroceptores ou celular localizado em gânglios motores pertencentes
vísceroceptores (receptores sensitivos localizados ao sistema nervoso periférico.

209
ANATOMIA

A parte parassimpática é considerada cranios- mo, fechamento dos esfíncteres do tubo digestório,
sacral, pois seus neurônios pré-ganglionares locali- estimulação da secreção da glândula suprarrenal,
zam-se em núcleos do tronco encefálico, anexos aos aumento da contração da musculatura lisa do siste-
nervos cranianos (III, VII, IX e X pares) e na coluna ma genital masculino e feminino, e pela ejaculação.
lateral da substância cinzenta dos segmentos sacrais Vale ressaltar que o tabagismo e as diversas si-
da medula espinal (S1 a S4). Suas fibras pré-ganglio- tuações de estresse emocional (raiva, medo e ansie-
nares geralmente são muito longas e fazem sinapse dade) provocam grande estimulação do SNA sim-
com os neurônios pós-ganglionares integrantes dos pático predispondo à elevação da pressão arterial,
gânglios motores viscerais, localizados próximos ou impotência sexual e distúrbios do sistema digestório.
dentro das vísceras. Quando estimulados fazem as Por isso, quando sofremos um grande estresse emo-
glândulas lacrimais e salivares secretarem e causam cional (por exemplo, se uma pessoa bate em nosso
constrição da pupila e dos brônquios, acomodação carro ou recebemos uma notícia muito perturbado-
visual, bradicardia, ativação dos movimentos peris- ra), sentimos taquicardia, “frio na barriga”, dor no
tálticos, relaxamento dos esfíncteres do tubo diges- estômago, alterações na respiração e tantos outros
tório, estimulação da secreção das glândulas anexas sinais de ativação do SNA simpático. Se estes estí-
dos genitais e ereção. mulos forem persistentes ou frequentes, pode haver
Em contrapartida, a parte simpática é conside- sobrecarga em vários órgãos, inclusive no coração.
rada toracolombar, pois seus neurônios pré-ganglio- Portanto, tal fato é extremamente maléfico.
nares estão localizados nos segmentos torácicos (T1 Para finalizar o SNA simpático e parassimpáti-
a T12) e lombares (L1 a L5) da medula espinal. Suas fi- co, é importante pontuar que os neurônios centrais
bras pré-ganglionares geralmente são curtas e fazem do SNA constituem núcleos viscerais na medula
sinapse com neurônios pós-ganglionares localizados espinal e tronco encefálico, os quais são subordina-
em gânglios simpáticos vertebrais e pré-vertebrais. dos a centros superiores do diencéfalo, do cerebelo
Suas fibras pós-ganglionares, geralmente são longas e do córtex cerebral. Adicionalmente, os gânglios
e estendem-se até os órgãos efetores. O simpático é vertebrais dispõem-se ao lado da coluna vertebral,
responsável pela constrição dos vasos sanguíneos, são unidos entre si por feixes nervosos e formam o
dilatação da pupila, secreção das glândulas sudorí- tronco simpático (direito e esquerdo) que se ligam
paras, ereção dos pelos, aumento do ritmo cardíaco, aos nervos espinais através dos ramos comunican-
dilatação dos brônquios, diminuição do peristaltis- tes brancos e cinzentos.

210
EDUCAÇÃO FÍSICA

Além disso, enquanto, os gânglios pré-verte- PLEXO ENTÉRICO


brais localizam-se anteriormente à coluna vertebral Nervo
e compreendem, por exemplo, os gânglios celíacos,
mesentérico superior e mesentérico inferior, os gân- Plexo mientérico
glios periféricos estão situados muito próximos ou
no interior do órgão (como o gânglio ciliar, pterigo- Plexo submucoso

palatino, ótico, submandibular e intramurais). Lúmen intestinal


Por fim, o sistema nervoso entérico é constitu-
ído por redes neuronais encontradas entre as cé-
lulas que constituem a parede do tudo digestório.
Ele é formado por neurônios motores, sensitivos
e interneurônios, e seus principais componentes Mesentério
são o plexo submucoso e o mioentérico. A maioria
de seus neurônios motores é formada por neurô-
nios pós-ganglionares do SNA parassimpático os Figura 21 - Sistema Nervoso Entérico

quais recebem influência dos neurônios sensitivos


e interneurônios do plexo entérico, dos neurônios
simpáticos pré-ganglionares e de fibras simpáticas
pós-ganglionares.
Os neurônios sensitivos são estimulados por al-
terações na tensão da parede dos intestinos e por al-
terações químicas na luz intestinal. Assim, pode-se
REFLITA
dizer que o sistema nervoso entérico é fundamental
para o controle da motilidade do intestino, da toni-
cidade dos vasos sanguíneos intestinais, da velocida- Imagine que um ladrão invada uma casa, sem
perceber que há um cachorro feroz a sua es-
de de proliferação das células do revestimento epite- pera. Como você imagina que ele consegue
lial do tubo digestório, da secreção de hormônios e força muscular para correr ou lutar com o
para a absorção de nutrientes (MIRANDA NETO; cachorro?

CHOPARD, 2014).

211
ANATOMIA

Sistema
Endócrino
GENERALIDADES

Todos nós já ouvimos falar que os hormônio são progesterona e gonadotropina, e o timo age sobre o
essenciais para o funcionamento do nosso corpo e metabolismo estimulando o crescimento corpóreo e
que se eles estiverem em alta ou baixa concentração, secreta hormônios relacionados à imunidade (vale
muitas disfunções podem aparecer. Por isso, um tu- mencionar que o mecanismo de sua ação ainda não
mor hipofisário, por exemplo, pode ser tão danoso é totalmente esclarecido). Ele fica atrás do osso es-
quanto um tumor encefálico. Vamos compreender terno, entre os pulmões (na porção superior do me-
melhor este sistema tão importante que atua em si- diastino) e é bem desenvolvido na primeira idade
nergia ao sistema nervoso. Para isso, faremos um sofrendo atrofia após a puberdade.
estudo do sistema endócrino de acordo as proposi-
ções de Miranda Neto e Chopard (2014), Moore et
al. (2014) e Watanabe e Erhart (2009).
Em primeiro lugar, você precisa ter claro que
o sistema endócrino é composto por glândulas en-
dócrinas macroscópicas. Essas glândulas não pos-
suem canais excretores, mas lançam seus produtos
(os hormônios) na corrente sanguínea fazendo com
que eles sejam distribuídos, em pouco tempo, para
todo o corpo. Assim, tais glândulas são considera-
das glândulas de secreção interna (são diferentes das
glândulas exócrinas que secretam para fora da cor-
rente sanguínea, como as glândulas lacrimais, sali-
vares, sudoríparas e sebáceas).
No corpo humano participam do sistema endó-
crino a glândula hipófise, a tireoide, as paratireoides,
as suprarrenais, a pineal e as porções endócrinas do
pâncreas e das gônadas. Todavia, a placenta e o timo
também podem ser incluídos dentre os órgãos deste
sistema. Isto, porque, a placenta produz estrógeno, Figura 22 - Estruturas Gerais do Sistema Endócrino

212
EDUCAÇÃO FÍSICA

Além desses órgãos, existem também inúmeras podem surgir pelo aumento ou diminuição de al-
glândulas endócrinas microscópicas representadas guns hormônios e as principais correlações com o
por células secretoras de hormônios isoladas ou exercício físico.
organizadas em pequenos agregados. Elas se distri-
buem por todo o corpo, por exemplo, na mucosa do PRINCIPAIS GLÂNDULAS DO SISTEMA
trato gastrointestinal. Alguns autores denominam ENDÓCRINO E SEUS HORMÔNIOS
estas glândulas endócrinas microscópicas de “siste- Glândula hipófise
ma neuroendócrino difuso”.
Os hormônios produzidos pelas glândulas en- A glândula hipófise é uma pequena glândula com
dócrinas são frequentemente considerados como cerca de 1 cm de diâmetro e 1 grama de peso. Ela
mensageiros químicos e participam da regulação de é encontrada na fossa hipofisial do osso esfenoide e
muitas atividades do organismo, atuando tanto no está ligada ao hipotálamo por meio do infundíbulo.
meio intra quanto extracelular. Assim, participam A íntima relação entre o sistema endócrino e o ner-
da regulação e integração corpórea num papel regu- voso pode ser vista ao constatar que quase todas as
lador muito semelhante ao do sistema nervoso. secreções da glândula hipófise são controladas por
Quando os hormônios agem sobre as células de sinais hormonais ou nervosos provenientes do hipo-
um grande número de órgãos, diz-se que há uma tálamo o qual recebe sinais de quase todas as regiões
regulação geral. Isso ocorre com a adrenalina, por do sistema nervoso.
exemplo, a qual quando liberada pelas glândulas su- Essa glândula pode ser dividida em lobo anterior
prarrenais sob situação de estresse, causa efeitos em (ou adeno-hipófise) e lobo posterior (ou neuro-hi-
praticamente todos os órgãos do corpo. Todavia, a pófise). A adeno-hipófise tem natureza glandular e
ação de um hormônio também pode ser bem espe- é controlada por hormônios hipotalâmicos de libe-
cífica afetando as células de um órgão em particular, ração ou de inibição (secretados pelo próprio hipo-
como é o caso do hormônio antidiurético liberado tálamo e transportados para a adeno-hipófise por
pela neuro-hipófise para aumentar a absorção de pequenos vasos sanguíneos). A neuro-hipófise tem
água nos néfrons. natureza nervosa, pois é controlada por sinais ner-
Alguns hormônios são esteroides derivados do vosos que partem do hipotálamo.
colesterol (como o cortisol), outros são proteicos Os hormônios da adeno-hipófise atuam nas fun-
(como a prolactina) e outros são derivados de ami- ções metabólicas do corpo. São eles o hormônio de
noácidos (como a epinefrina). Eles podem agir na crescimento (ou popularmente conhecido pela sigla
célula de várias maneiras (modificando a permeabi- GH), a corticotropina, a tireotropina, a prolactina, o
lidade da membrana, agindo sobre segundos men- hormônio folículo estimulante e o hormônio lutei-
sageiros, influenciando o material genético, agindo nizante. O hormônio de crescimento afeta a síntese
sobre enzimas etc.). de proteína e causa multiplicação e diferenciação ce-
Isso posto, vamos, a seguir, abordar as principais lular. A corticotropina controla a secreção de alguns
glândulas do sistema endócrino e seus hormônios. hormônios do córtex da glândula suprarrenal os
Também mencionaremos algumas disfunções que quais afetam o metabolismo da glicose, de proteínas

213
ANATOMIA

e de gorduras. Enquanto o hormônio tireotropina nervoso (apresentando, inclusive, a mesma origem


controla a secreção de tiroxina pela glândula tireoi- embriológica). Secreta o hormônio antidiurético e
de, a prolactina desenvolve as glândulas mamárias e a ocitocina. Enquanto a ocitocina ajuda a liberar o
estimula a produção do leite. Já o hormônio folículo leite das glândulas mamárias durante a sucção e aju-
estimulante e o luteinizante controlam o crescimen- da no trabalho de parto, o hormônio antidiurético
to das gônadas e suas atividades reprodutivas. (também chamado de vasopressina) tem como fun-
Por fim, a neuro-hipófise pode ser considerada ção regular a excreção de água na urina controlando
uma extensão anatômica e fisiológica do sistema a quantidade de água dos líquidos corporais.

Figura 23 - Glândula Hipófise

214
EDUCAÇÃO FÍSICA

A disfunção dessa glândula pode ser extrema- A melatonina é produzida a partir do aminoácido
mente maléfica levando inclusive o indivíduo a óbito. triptofano e está relacionada a quase todos os pro-
De igual modo, alterações na produção e liberação cessos fisiológicos do corpo, pois causa sono e regu-
de seus hormônios pode ser bastante prejudicial. É o la o ciclo sono-vigília. Assim, ela atua nos relógios
caso, por exemplo, do hipertireoidismo ou do hipo- circadianos (aqueles que ocorrem durante o dia) e
tireoidismo que resultam de anormalidades no hor- ajuda a modular os circuitos do tronco encefálico.
mônio do crescimento. Além disso, pode-se afirmar Segundo Miranda Neto e Chopard (2014),
que seus hormônios são determinantes para a boa para sincronizar o ciclo orgânico com o ciclo cla-
prática de atividades e exercícios físicos, pois se re- ro-escuro do ambiente, os organismos são dota-
lacionam ao metabolismo e à homeostasia corpórea. dos de sincronizadores chamados de “fotoagen-
tes arrastadores” que detectam as variações nos
Glândula pineal níveis de luz à medida que a noite se aproxima.
À semelhança da neuro-hipófise, a glândula pineal Esses receptores estão localizados na camada
está intimamente relacionada ao sistema nervoso externa da retina e deles partem neurônios que
central. Ela se localiza no epitálamo, pesa cerca de chegam ao núcleo supraquiasmático do hipotála-
150 mg, tem a forma de uma pequena pinha (por mo cuja ativação ativa neurônios que descem até
isso seu nome) e produz o hormônio melatonina. os neurônios pré-ganglionares simpáticos. Es-
ses neurônios modulam neurônios nos gânglios
Glândula pineal
(destacada em vermelho) cervicais simpáticos superiores dos quais partem
neurônios pós-ganglionares que se projetam à
glândula pineal.
Assim, esta ativação permite que a ativação
dos fotorreceptores da retina reduza a produção de
melatonina. Por outro lado, ao entardecer, com a
menor luminosidade e redução de ativação destes
fotorreceptores, a pineal aumenta a síntese e libe-
ração de melatonina na corrente sanguínea pro-
vocando sono (sua síntese atinge o nível máximo
entre 2 e 4 horas da manhã). Por isso, sua disfunção
pode causar, por exemplo, alteração do ciclo sono-
-vigília. Adicionalmente, vale destacar que a mela-
tonina tem relação direta com o exercício físico e
com o repouso após sua prática.
Figura 24 - Glândula Pineal

215
ANATOMIA

Glândula tireoide instabilidade afetiva, tremor nas mãos, taquilalia


A glândula tireoide é um dos maiores órgãos endó- (fala rápida), taquicardia, palpitação, hipertensão
crinos do corpo. Ela está localizada anteriormente à arterial, dispneia, hiperfasia, fraqueza muscular e
traqueia, próximo à junção com a laringe. osteoporose. Além disso, o excesso extremo dos
hormônios T3 e T4 podem elevar o metabolismo ba-
sal para cerca de 60 a 100% acima do valor normal
causando graves consequências.
Lobo esquerdo da
glândula tireoide Laringe Ao contrário, a falta destes hormônios causa a
doença chamada hipotireoidismo. Nesse caso, ocor-
re aumento do colesterol circulante, desacelera-
ção do metabolismo corpóreo, cansaço, alterações
menstruais e deficiência cardíaca. A falta completa
desses hormônios causa queda do metabolismo ba-
sal para cerca de 40% abaixo do normal.
Pelo fato dos hormônios tireoidianos serem fun-
damentais para o crescimento e desenvolvimento
Traqueia Lobo direito da físico e mental, crianças com hipotireoidismo têm
glândula tireoide
atraso na maturação do esqueleto, podem desen-
volver nanismo, hipotonia muscular e deficiência
GLÂNDULA TIREOIDE mental. Esses sinais clínicos caracterizam o quadro
Figura 25 - Glândula Tireoide de cretinismo o qual pode ocorrer por ausência con-
gênita da glândula, defeito genético em sua função
Sua função é sintetizar os hormônios tiroxina (T4), ou falta de iodo na dieta. Por isso, segundo Miran-
triiodotironina (T3) e calcitonina a partir do ami- da Neto e Chopard (2014), gestantes devem ingerir
noácido tirosina e do iodo. Enquanto a calcitoni- iodo diariamente a quantidade mínima necessária
na diminui os níveis sanguíneos de cálcio e fosfato (em torno de 100 microgramas de iodo/dia).
(provavelmente, acelerando a absorção de cálcio Além disso, na ausência de iodo a glândula ti-
pelos ossos), os hormônios T3 e T4 aumentam o reoide fica edemaciada formando o bócio (uma es-
metabolismo de carboidratos, estimulam a síntese pécie de “papo” que se forma na região anterior do
de proteínas, estimulam a degradação de gorduras, pescoço). Um detalhe interessante que merece ser
aumentam o metabolismo da água, de sais minerais pontuado é que em regiões onde o solo é pobre em
e de vitaminas. iodo (por exemplo, em locais longe do mar) a inci-
A secreção excessiva destes hormônios causa dência do bócio é mais alta, pois os alimentos são
uma doença conhecida como hipertireoidismo. pobres em iodo.
Nessa condição clínica, ocorre perda de nitrogênio No Brasil, desde 1955, iniciaram-se programas
pela urina, redução do colesterol circulante, agita- de adição de iodo no sal de cozinha, conforme re-
ção psicomotora, perda de peso corporal, insônia, comendação da Organização Mundial de Saúde

216
EDUCAÇÃO FÍSICA

(MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Todavia, cálcio no sangue aumentando a excitabilidade do


se a quantidade de iodo adicionada ao sal for ex- sistema nervoso resultando em câimbras e espas-
cessiva, pode acontecer hipertireoidismo induzido mos. No entanto, esta ação antagônica é essencial
por iodo (principalmente em idosos) e elevação do para que os níveis de cálcio sejam mantidos dentro
número de pessoas com doenças autoimunes da de estreitos limites.
glândula tireoide.

Glândulas paratireoides
As glândulas paratireoides são quatro pequenas
glândulas embutidas na face posterior da glândula
tireoide. Elas produzem o hormônio paratireoidiano
(PTH) ou paratormônio o qual regula os níveis dos
íons cálcio e fósforo nos fluidos corporais. A secre-
ção deste hormônio não é controlada pela glândula
hipófise, mas sim pela concentração de cálcio nos
fluidos corporais de forma que uma diminuição de
cálcio faz aumentar a secreção de PTH e vice-versa.
Esse hormônio ativa os osteoclastos que retiram
cálcio dos ossos aumentando a concentração deste
mineral no plasma e diminuindo sua excreção na
urina. Além disso, promove a síntese da forma mais
ativa da vitamina D nos rins, a qual promove a ab-
sorção de cálcio no trato gastrointestinal.
É importante notar que o PTH e a calcitonina
têm efeitos contrários sobre a concentração de cál-
cio no sangue. Assim, enquanto, o PTH tira o cálcio
dos ossos aumentando sua concentração do plasma, Figura 26 - Glândula paratireoides

a calcitonia leva o cálcio do plasma para os ossos.


Por isso, o excesso de PTH no sangue causa descalci- Glândulas suprarrenais
ficação óssea, fraturas, deformidades, osteroporose e As glândulas suprarrenais são duas glândulas locali-
calcificação de tecidos moles. zadas no polo superior de cada rim, têm forma pira-
Isto pode ser causado por hiperparatireoidismo. midal, são retroperitoneais e são cobertas por uma
Contrariamente, sua deficiência, diminui a taxa de cápsula de tecido conjuntivo e gordura.

217
ANATOMIA

Glândula suprarrenal - Vista externa

Glândula suprarrenal - Vista interna

Córtex da
glândula suprarrenal

Medula da
glândula suprarrenal

Figura 27 - Glândulas Suprarrenais

A parte central da glândula é chamada de medula e a que permitem que o organismo se adapte a situações
periférica é o córtex. Cada uma destas regiões agem de emergência. Por isso, o sistema simpático-adre-
como se fossem glândulas independentes. A medu- nal é ativado em casos de hemorragia, hipoglicemia,
la, corresponde a 20% da glândula e representa uma hipóxia, dor, exercícios intensos, medo e raiva. Em
continuidade funcional do SNA simpático, secretan- contrapartida, o córtex da glândula suprarrenal se-
do epinefrina e noraepinefrina na corrente sanguí- creta mineralocorticoides, glicocorticoides e andro-
nea. Esses hormônios produzem efeitos semelhantes gênios. Todos sintetizados a partir do colesterol. Os
à estimulação direta do SNA simpático. mineralocorticoides controlam os eletrólitos dos
Assim, o SNA simpático e a medula da glândula líquidos extracelulares, principalmente o sódio e o
suprarrenal agem em conjunto para regular funções potássio. O principal deles é a aldosterona.

218
EDUCAÇÃO FÍSICA

São exemplos de glicocorticoides o cortisol e a gordura e é armazenada no tecido adiposo. Além


cortisona. O cortisol tem ação anti-inflamatória e disso, reduz o uso de gorduras e proteínas como
antiestressante. Todavia, a constante exposição ao fonte energética (inibe a lipólise e a proteólise) e
estresse causa elevação prolongada no nível de cor- estimula a síntese proteica.
tisol causando acúmulo de gordura na face e no pes- O glucagon também é proteico, mas tem ativi-
coço, depressão imunológica e mental. Além disso, dade oposta à da insulina, pois diminui a oxidação
o cortisol associado à adrenalina causa sobrecarga de glicose e promove a hiperglicemia. Além disso,
cardíaca e inativa funções essenciais ao crescimento estimula a degradação do glicogênio hepático e a li-
e renovação dos tecidos. beração de glicose para a corrente sanguínea.
Os androgênios, hormônios sexuais, são secre-
tados em pequenas quantidades e causam os mes-
mos efeitos da testosterona. Em condições normais
têm pouca importância, mas em casos de anorma-
lidades do córtex da glândula suprarrenal podem
ser secretados em grande quantidade causando
efeito masculinizante.

Pâncreas
O pâncreas está localizado posteriormente ao estô-
mago, entre o baço e o duodeno. Ele é considerado
uma glândula mista, pois, secreta hormônios como
a insulina e o glucagon na corrente sanguínea, e o Pâncreas
suco pancreático no duodeno (como secreção exó-
crina). Sua parte endócrina é desempenhada pelas
ilhotas pancreática (um grupo de células especiais). Figura 28 - Pâncreas

Essa secreção é controlada pelo SNA simpático e pa-


rassimpático de forma que as células alfa produzem Gônadas
o glucagon, as células beta produzem a insulina e as As gônadas masculinas (testículos) e femininas
células delta produzem uma substância chamada so- (ovários) produzem gametas e hormônios. Ambos
matostatina (que atua como um neurotransmissor já foram estudados quanto às funções reproduti-
que inibe a liberação da insulina e do glucagon). vas na unidade 4 de forma que nesta unidade serão
A insulina é proteica e é liberada em estado ali- abordados apenas seus aspectos hormonais. Os hor-
mentado (ou seja, quando há disponibilidade de mônios sexuais masculinos são chamados de andró-
nutrientes, como a glicose, por exemplo). Ela es- genos, sendo a testosterona o mais importante. Os
timula o transporte de glicose do sangue para as femininos são os estrógenos e as progestinas. O mais
células, sua utilização e armazenamento na forma importante dos estrógenos é o estradiol e das pro-
de glicogênio. A glicose excedente é convertida em gestinas é a progesterona.

219
ANATOMIA

A testosterona é formada pelas células inters- Após a puberdade eles aumentam e causam cres-
ticiais de Leydig e é responsável pelas caracte- cimento corporal e dos órgãos genitais. Todavia, re-
rísticas sexuais secundárias do corpo masculino duzem sua produção após a menopausa fazendo com
(pelos, aumento da laringe, espessura da pele e que a renovação dos tecidos seja reduzida, assim como
desenvolvimento ósseo e muscular). No feto, ela a síntese de colágeno. Tal fato causa o aparecimento
é essencial à formação do pênis, da bolsa escrotal, dos sinais de envelhecimento (perda do vigor da pele,
da próstata, das glândulas seminais e dos ductos da massa muscular e óssea etc.). Vale ressaltar que o
genitais masculinos, bem como pela descida dos tabagismo tem ação antiestrogênica e, por isso, ante-
testículos para a bolsa escrotal. Após a puberda- cipa e prolonga a menopausa agravando seus sinais e
de, faz aumentar o tamanho do pênis, da bolsa sintomas (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014).
escrotal e dos testículos. Os estrogênios causam Por fim, a progesterona promove alterações se-
proliferação celular e crescimento dos tecidos cretoras do endométrio durante a segunda metade
dos órgãos sexuais e de outros tecidos relaciona- do ciclo sexual preparando o útero para a implanta-
dos à reprodução. Além disso, estimula a síntese ção do blastocisto. Também estimula o desenvolvi-
de colágeno e a renovação dos tecidos epiteliais mento das mamas e aumenta a secreção no revesti-
da pele, das mucosas e dos tecidos conjuntivos mento mucoso das tubas uterinas (o que é necessário
de suporte. à nutrição do ovo em desenvolvimento).

Ovário

Testículo
Figura 29 - Ovários e testículos

REFLITA

Será que disfunções do sistema endócrino podem afetar a realização de exercícios físicos? Um atleta
com um tumor na glândula tireoide pode ser prejudicado em seu esporte?

220
considerações finais

P
or todo o exposto até aqui, vimos que as três principais partes do Sis-
tema Nervoso (SN) agem em conjunto para possibilitar o controle e
a integração das atividades sensitivas, motoras, viscerais, cognitivas e
comportamentais do indivíduo. Todavia, por mais excelência que estes
três sistemas possam ter, não haveria homeostasia corporal se o sistema endócri-
no não participasse desta regulação. Por isso, devido sua integração morfológica
e funcional, estes quatro sistemas podem ser agrupados com o nome de sistema
neuroendócrino.
O SN central (SNC) está localizado no esqueleto axial, ou seja, na cavidade
craniana (encéfalo) e no canal medular (medula espinal). É a porção que recebe
estímulos e desencadeia respostas. O SN periférico (SNP) é representado por vias
que conduzem estímulos ao SNC ou que levam comandos do SNC aos órgãos
efetores (músculos e glândulas). O SNP compreende nervos cranianos e espinais,
gânglios espinais e do SN autônomo, e terminações nervosas.
Enquanto o SN somático controla os músculos, o SN visceral controla fun-
cionamento dos órgãos (sua porção eferente é chamada de SN autônomo o qual
é subdividido em simpático e parassimpático). A elucidação da estrutura, da fun-
ção e da organização do sistema neuroendócrino, bem como sua conectividade
com os outros sistemas do corpo é essencial para a compreensão dos mecanismos
que possibilitam a manutenção da vida em condições adequadas.
Além disso, seu conhecimento específico e da inter-relação que apresentam, é
de extrema relevância para a prevenção, diagnóstico e tratamento eficaz de qual-
quer desordem que possa vir a acometê-lo. Por isso, este tema é relevante a você
enquanto profissional de educação física, uma vez que não pode haver movi-
mento, coordenação motora, equilíbrio, tônus muscular, aprendizagem motora
ou mesmo a vida sem a atuação conjunta destes dois sistemas. Dessa forma, seu
estudo histológico, anatômico e fisiológico é imprescindível a todo profissional
da saúde como você. Aproveite!

221
LEITURA
COMPLEMENTAR

O ENVELHECIMENTO CORTICAL E A REORGANIZAÇÃO NEURAL APÓS


O ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO (AVE): IMPLICAÇÕES PARA A
REABILITAÇÃO

A incidência do Acidente Vascular Encefálico (AVE) duplica a cada década de vida a partir
dos 55 anos, sendo a hemiparesia um déficit importante decorrente da lesão. Há várias
abordagens de reabilitação para a recuperação do controle motor e a reorganização
neural é o princípio básico que sustenta a maioria delas. Segundo Mudie e Matyas, as
particularidades da conexão neurofisiológica no sistema nervoso central (SNC) possi-
bilitam que a prática de movimentos bimanuais, alternados ou em sincronia, possa
resultar em efeitos de facilitação do membro superior hígido para o membro parético.
Entretanto, as observações clínicas sugerem que alguns profissionais de reabilitação
têm optado pela troca de lateralidade através de técnicas compensatórias nos progra-
mas de reabilitação de idosos com paresia do membro superior.
As estratégias compensatórias tornam-se hábitos que reforçam o não uso do membro
parético, podendo resultar em perdas irreversíveis para a capacidade funcional. A rea-
lização das atividades de vida diária (AVDs) com apenas um membro superior pode ser
uma maneira limitada de desempenho das atividades, resultando em síndromes do uso
excessivo, quadros álgicos e frustrações. A nível central, estudos clínicos indicam que as
modificações nas redes neurais seriam uso-dependentes, sugerindo que algumas téc-
nicas direcionadas às compensações poderiam inibir o processo de recuperação. Por-
tanto, parece não haver base científica para a troca de lateralidade exclusivamente pelo
critério de idade do paciente, conduta adotada em alguns programas de reabilitação.
O equívoco de que a plasticidade neural seria uma propriedade exclusiva dos cérebros
jovens distancia-se da afirmação de Pascual-Leone e seus colaboradores. Para esses
pesquisadores, a reorganização neural é uma propriedade do SNC que está presente
no curso de vida e ocorre independentemente de lesão.
Esse artigo indica as possibilidades de aplica- ção dos conhecimentos de neurobiologia
e de neurofisiologia nas práticas de reabilitação do controle motor após lesão cortical
decorrente de AVE em idosos, enfatizando que a idade não deve ser o único critério
para a troca de lateralidade nos pacientes com paresia do membro superior. Modifi-

222
LEITURA
COMPLEMENTAR

cações estruturais associadas ao envelhecimento do córtex cerebral Em 1955, Brody,


citado por Wong, concluiu que 50% dos neurônios são perdidos em decorrência do
envelhecimento e, desde então, essa perda tem sido apontada como o principal fator
relacionado à idade para explicar a diminuição do córtex cerebral. Em 1987, no entanto,
Terry et al. sugeriram que a perda neuronal, relatada em estudos anteriores, poderia
ser atribuída à não distinção de cérebros de idosos considerados normais e cérebros
de indivíduos com doença de Alzheimer que não haviam sido diagnosticados. Em 1991,
Haug e Eggers explicaram que a acentuada perda de neurônios corticais deveria ser
atribuída aos problemas no processo de fixação para a análise histológica e não ao
envelhecimento. Segundo esses autores, o cérebro do jovem “encolheria” mais nas sec-
ções já fixadas do tecido cortical, apresentando uma densidade de neurônios mais alta
que o cérebro do idoso, pois esse último consistiria de maior quantidade de mielina.
Após correção desse “encolhimento” diferencial, Haug e Eggers concluíram que a idade
não acarretaria uma perda significativa de neurônios no córtex cerebral humano.
Embora a característica mais relevante do cérebro que está envelhecendo seja a di-
minuição, as descobertas recentes de que não ocorre perda extensiva de neurônios
corticais em decorrência da idade em humanos enfraqueceram a premissa da perda
neuronal no envelhecimento. Intrigados com essa questão, alguns pesquisadores têm
buscado encontrar explicação alternativa para a diminuição do córtex cerebral exami-
nando outros componentes do Sistema Nervoso Central (SNC). Seguindo essa pers-
pectiva, as pesquisas de Guttmann et al. indicaram que uma das principais causas da
diminuição do cérebro humano velho é a perda da substância branca das fibras mie-
linizadas localizadas nos hemisférios cerebrais. As mudanças decorrentes do envelhe-
cimento nos corpos celulares dos oligodendrócitos, tais como a agregação com outros
oligodendrócitos, o edema e a inclusão de pigmentos, poderiam estar relacionadas à
perda de fibras mielinizadas nos cérebros velhos.

Fonte: Teixeira (2007).

223
atividades de estudo

1. Cite qual parte do sistema nervoso é respon- ocasionar sobrecarga cardíaca e hipertensão
sável pelo controle dos processos de digestão, arterial. Tal fato inspira cuidados adicionais,
secreção e excreção. principalmente se ela um dia precisar de um
procedimento cirúrgico.
2. Uma senhora de 68 anos de idade, sedentária
IV. Devido à idade e ao fato dela estar na meno-
e sua menopausa iniciou aos 42 anos de ida-
pausa há algum tempo, pode-se afirmar que
de, deseja começar a praticar exercícios físicos. alguns hormônios estão em baixa concentra-
Suponha que ela te procure a fim de iniciar um ção, tais como o hormônio de crescimento
treinamento aeróbico e anaeróbico. Todavia, (GH), o luteinizante (LH), o folículo estimulante
na avaliação ela já te alerta que não faz e nunca (FSH) e os androgênios (produzidos pela glân-
fez terapia de reposição hormonal e que apre- dula supra-renal). A diminuição destes hormô-
senta várias alterações endócrinas. Analise as nios pode estar diretamente relacionada ao
afirmações, a seguir, e assinale a alternativa aumento na pressão arterial e à dificuldade
que contém apenas proposições verdadeiras na coagulação sanguínea.
sobre tais disfunções:
V. O paratormônio ou hormônio paratireoidiano
I. Uma das alterações endócrinas que a pacien-
(PTH) pode estar aumentado uma vez que é
te do caso descrito pode apresentar é um
responsável pelo aumento da calcemia com
quadro de hipertireoidismo. Isso pode ser
consequente reabsorção óssea e dentária.
dito considerando que a calcitonina (hormô-
Assim, a possibilidade de hiperparatireoidis-
nio tireoidiano) está predispondo descalcifi-
mo deve ser considerada.
cação óssea uma vez que tal hormônio ativa
osteoclastos e aumenta a calcemia a fim de
Assinale a alternativa correta:
manter a concentração fisiológica de cálcio
para os neurônios, para o miocárdio e para o a. I e IV.
diafragma. Assim, pode-se supor que esta se- b. II e V.
nhora tem severa osteoporose.
c. III e IV.
II. Outra disfunção possível dessa senhora se-
d. III e V.
ria o aumento na dosagem dos hormônios
das glândulas suprarrenais, principalmente e. IV e V.
do cortisol e da adrenalina. Isso pode ser dito
devido ao fato de que o excesso dos mesmos 3. Os nervos cranianos podem ser classificados
pode causar reabsorção óssea contínua. Tal como motores, sensitivos ou mistos e exer-
fato pode ser comprovado pelo aumento na cem funções específicas (MACHADO, 2014). A
dosagem do hormônio corticotrófico (ACTH) seguir, seguem os nomes de alguns pares de
produzido pela glândula hipófise. nervos cranianos. A partir de seu estudo sobre
este assunto, associe os nomes destes nervos
III. Ainda considerando um caso de hiperativa-
às definições referentes aos mesmos:
ção das glândulas suprarrenais, esta senho-
ra poderia manifestar sinais e sintomas rela- I. n. Glossofaríngeo
cionados ao sistema cardiovascular uma vez II. n. Trigêmeo
que o excesso dos hormônios desta glându-
III. n. Vago
la, principalmente cortisol e adrenalina, pode
IV. n. Acessório

224
atividades de estudo

( ) Nervo misto cuja função é complementa- Estrutura Nome Função


da pelo VII par uma vez que também auxilia na 1
inervação sensitiva da face ao mesmo tempo
em que é responsável pela inervação dos mús-
culos mastigatórios.
2

( ) É puramente motor sendo responsável


pelos movimentos do pescoço.
3
( ) Inerva estruturas vitais como o coração e
os intestinos.
4
( ) Responsável pela sensibilidade da língua e
da faringe.

5
4. Anos de pesquisa em neurologia têm mos-
trado que cada área do encéfalo desempe-
nha funções específicas, o que explica o fato
de que sintomas diferentes podem aparecer
em indivíduos que sofreram Traumatismo 5. O tecido nervoso apresenta células comuns
Crânio Encefálico (TCE) em diferentes regiões. ao sistema nervoso central (SNC) e/ou ao pe-
Alguns importantes pesquisadores como Paul riférico (SNP). Cite os nomes de todas as cé-
Pierre Broca, Karl Wernicke e Brodmann iden- lulas da glia do SNC e explique as principais
tificaram alguns dos vários centros nervosos funções de cada uma.
atualmente conhecidos. Preencha a tabela, a
seguir, com os nomes das áreas encefálicas
numeradas de 1 a 5 e explique suas principais
funções neurológicas:

3
2
1 4
5

225
Material Complementar

Indicação para Assistir

O óleo de Lorenzo
Ano:1992
Sinopse: Um garoto levava uma vida normal até que, quando tinha seis anos,
estranhas coisas aconteceram, pois, ele passou a ter diversos problemas de or-
dem mental que foram diagnosticados como adrenoleucodistrofia (ALD), uma
doença extremamente rara que provoca uma incurável degeneração no cére-
bro, levando o paciente à morte em no máximo dois anos. Os pais do menino
ficam frustrados com o fracasso dos médicos e a falta de medicamento para
uma doença desta natureza. Assim, começam a estudar e a pesquisar sozinhos,
na esperança de descobrir algo que possa deter o avanço da doença.
Comentário: É um filme lindo e emocionante que você não pode deixar de assis-
tir, pois, trata-se de uma valorosa lição de vida!

226
referências

CFTA - COMISSÃO FEDERATIVA DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA. Ter-


minologia Anatômica: terminologia anatômica internacional. São Paulo: Mano-
le, 2001.
AFIFI, A. K; BERGMAN, R. A. Neuroanatomia funcional: texto e atlas. São Pau-
lo: Roca, 2007.
GARCIA, P. M., MOSQUERA, C. F. F. Causas neurológicas do autismo. O Mosai-
co – Revista de Pesquisa em Artes da Faculdade de Artes do Paraná. n. 5, jan./
jun, 2011.
MACHADO, A. B. M.; HAERTEL, L. M. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São
Paulo: Atheneu, 2014.
MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendizagem
dinâmica. Maringá: Grafica Editora Clichetec, 2014.
MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; ARAÚJO, C. L. C. Anatomia
orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
NARCISO, M. S. Sobotta: atlas de anatomia humana: cabeça, pescoço e neuroa-
natomia - volume 3. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
PEIXOTO, R. L.; PAZA, D. A.; DANTAS, J. L. O. G., HOLANDA, M. M. A. Va-
riações anatômicas na porção posterior do polígono de Willis. Revista Saúde e
Ciência, 2015.
ROHEN, J. W.; YOKOCHI, C.; LÜTJEN-DRECOLL, E. Anatomia humana: atlas
fotográfico de anatomia sistêmica e regional. 5. ed. São Paulo: Manole, 2002.
TEIXEIRA, I. N. d’A. O. O envelhecimento cortical e a reorganização neural
após o acidente vascular encefálico (AVE): implicações para a reabilitação. Scie-
lo. 2007.
WATANABE, L. S.; ERHART, E. A. Erhart: elementos de anatomia humana. 10.
ed., São Paulo: Atheneu, 2009.
SIQUEIRA, R. Lesões nervosas periféricas: uma revisão. Rev. Neurocienc. v.
15/3:226–33, 2007.

227
gabarito

1. Sistema nervoso autônomo.

2. D

3. A sequência é: II – IV – III – I.

4. A tabela deve ser preenchida da seguinte maneira:

Estrutura Nome Função


Nessa área localiza-se a área primária do mo-
2 Giro pré-central vimento. Lesão pode causar plegia ou parali-
sia.

Nessa área localiza-se a área somestésica res-


3 Giro pós-central ponsável pela sensibilidade do corpo. Lesão
pode causar alterações sensitivas.

Nessa área localiza-se a área motora da fala


Giro frontal inferior
1 (do lado esquerdo do cérebro). Lesão pode
(área de Broca)
causar afasia motora.

Nessa região localiza-se a área da compreen-


Giro temporal superior são da linguagem. Sua lesão causa afasia sen-
4
(área de Wernicke) sitiva onde o indivíduo ouve, mas não compre-
ende o significado da mensagem.

Nesse lobo localiza-se a área primária da vi-


5 Lobo occipital
são.

5. As células da glia do sistema nervoso central incluem as seguintes células:


• Oligodendrócitos: sintetizam a bainha de mielina no sistema nervoso cen-
tral.
• Astrócitos: controlam a nutrição neuronal e influxo de eletrólitos aos
neurônios.
• Micróglia: são células fagocíticas envolvidas na defesa do sistema nervoso
central e na eliminação de invasores (como vírus, bactérias etc.).
• Células ependimárias: estão relacionadas `produção do líquido cerebros-
pinal.

228
EDUCAÇÃO FÍSICA

conclusão geral

Prezado(a) aluno(a), sempre me encantei ao ver um No entanto, ainda não se sabe tudo sobre esta
mecânico abrindo o capô do carro, observando aten- extraordinária “máquina”. Por exemplo, muitas áreas
tamente seu motor, olhando cada detalhe daquele encefálicas permanecem sem a decodificação exata
monte de peças e fios que formam o que “dá vida ao de suas funções. Além disso, a cura de muitas doen-
carro”, o motor. Sempre pensei “Como deve ser di- ças (como o Alzheimer ou a esclerose lateral amio-
fícil desvendar com precisão onde está o problema! trófica) só será possível quando soubermos exata-
Como consertá-lo? Tem muita coisa ai dentro”! mente como intervir no funcionamento do corpo
Pois bem! Após o término da minha graduação, em nível celular ou molecular.
decidi estudar Anatomia Humana e imagine qual Desta forma, o estudo não pode parar. E você faz
foi a minha reação ao começar a estudar com mais parte disto. Enquanto profissional da área da saúde,
detalhes todas as artérias, veias, nervos, linfáticos e você não é apenas responsável por manter o corpo
tudo o mais que forma nosso corpo? Lembrei dos em perfeito funcionamento com ossos, articulações
mecânicos com admiração e pensei “se eles conse- e músculos saudáveis, mas também deve cuidar da
guem, eu também vou conseguir”. melhora na qualidade de vida de seus alunos e clien-
De fato, hoje considero o corpo humano de mui- tes. Além disso, enquanto profissional da educação,
to maior complexidade do que qualquer motor que também tem responsabilidade de divulgar o conhe-
o homem já possa ter inventado. Sempre que o estu- cimento específico a todos os interessados.
do (e olha que estudo muito), penso e digo a meus Você teve a oportunidade de conhecer todos os
alunos que, cada vez que compreendo algo novo so- sistemas do corpo e de inter-relacioná-los ao exer-
bre o corpo, não posso deixar de enfatizar a perfei- cício físico, o que é fabuloso. Espero que considere
ção da criação de Deus: o homem. isso para sempre e nunca pare de se aperfeiçoar.

Grande abraço, Carmem.

229

Você também pode gostar