Você está na página 1de 164

DESENVOLVIMENTO

E APRENDIZAGEM
MOTORA

PROFESSORAS
Dra. Giseli Minatto Schmitz
Dra. Juliane Berria

Acesse o seu livro também disponível na versão digital.

Quando identificar o ícone QR-CODE, utilize o aplicativo


Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online.
O download do aplicativo está disponível nas plataformas:
Google Play App Store


NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação
Cep 87050-900 - Maringá - Paraná - Brasil
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.


Núcleo de Educação a Distância. BERRIA, Juliane; SCHMITZ, Giseli Minatto.
Desenvolvimento e Aprendizagem Motora. Juliane Berria; Giseli
Minatto Schmitz. Maringá - PR: Unicesumar, 2022.

164 p.
ISBN: 978-65-5615-987-4

“Graduação em Educação Física - EaD”.


1. Desenvolvimento 2. Aprendizagem 3. Motora. 4. EaD. I. Título.

CDD - 22ª Ed. 152.3


Impresso por:

Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB-9-1679

DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor
Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio
Ferdinandi.

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia
Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de
Design Educacional Paula R. dos Santos Ferreira Head de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas
Thuinie M.Vilela Daros Head de Recursos Digitais e Multimídia Fernanda S. de Oliveira Mello Gerência de
Planejamento Jislaine C. da Silva Gerência de Design Educacional Guilherme G. Leal Clauman Gerência de Tecnologia
Educacional Marcio A. Wecker Gerência de Produção Digital e Recursos Educacionais Digitais Diogo R. Garcia
Supervisora de Produção Digital Daniele Correia Supervisora de Design Educacional e Curadoria Indiara Beltrame
Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecília Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Bruno Luiz
de Rezende Finhana, Caroline Casarotto Andujar , Juliana Oliveira Duenha, Lucas Pinna Silveira Lima, Nivaldo Vilela de
Oliveira Junior, Designer Educacional Vanessa Graciele Tiburcio, Curadoria Gisele da Silva Porto, Revisão Textual Ariane
Andrade Fabreti, Ilustração Eduardo Aparecido Alves, Fotos Shutterstock.

2
Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar

A Unicesumar celebra os seus 30 anos de história uma inovação, uma transformação na forma de pensar
avançando a cada dia. Agora, enquanto Universidade, e de aprender. É assim que fazemos juntos um novo
ampliamos a nossa autonomia e trabalhamos diaria- conhecimento diariamente.
mente para que nossa educação à distância continue
como uma das melhores do Brasil. Atuamos sobre quatro São mais de 800 títulos de livros didáticos como este

pilares que consolidam a visão abrangente do que é o produzidos anualmente, com a distribuição de mais de 2

conhecimento para nós: o intelectual, o profissional, o milhões de exemplares gratuitamente para nossos aca-

emocional e o espiritual. dêmicos. Estamos presentes em mais de 700 polos EAD


e cinco campi: Maringá, Curitiba, Londrina, Ponta Grossa
A nossa missão é a de “Promover a educação de quali- e Corumbá, o que nos posiciona entre os 10 maiores
dade nas diferentes áreas do conhecimento, formando grupos educacionais do país. Aprendemos e escrevemos
profissionais cidadãos que contribuam para o desen- juntos esta belíssima história da jornada do conheci-
volvimento de uma sociedade justa e solidária”. Neste mento. Mário Quintana diz que “Livros não mudam o
sentido, a UniCesumar tem um gênio importante para mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros
o cumprimento integral desta missão: o coletivo. São os só mudam as pessoas”. Seja bem-vindo à oportunidade
nossos professores e equipe que produzem a cada dia de fazer a sua mudança!
minha história meu currículo

Dra. Juliane Berria

Olá! Meu nome é Juliane Berria. Sou apaixonada por cachorros (tenho
um peludinho) e amo estar em contato com a natureza. Cada vez
mais, minhas escolhas de passeios aos finais de semana são para
locais em que posso estar em contato com a natureza. Viajar é outra
das minhas paixões, pode ser para qualquer lugar, conhecer novos
lugares, pessoas e novas culturas me encanta. O exercício físico
sempre fez parte da minha vida, na infância, fiz aulas de ballet e jazz,
ginástica artística e voleibol e, na adolescência, fiz aulas de dança
tradicionalista, natação, hidroginástica e musculação. Todas essas
experiências me levaram a, muito cedo, escolher a minha profissão.
Sou praticante de yoga há nove anos e, recentemente, concluí a
formação para professores, desde então, tenho ministrado aulas
de yoga presencial e online e me sinto, a cada dia, mais realizada
nas minhas escolhas.

http://lattes.cnpq.br/6234797342184228

Aqui você pode


conhecer um
pouco mais sobre
mim, além das
informações do
meu currículo.
minha história meu currículo

Dra. Giseli Minerato Schmitz

Olá, eu sou a Giseli, filha de José e Lenita Maria e esposa do Rafael.


Apaixonada pelos estudos. Após completar todas as formações acadê-
micas na área, dei espaço para outros conhecimentos em minha vida.
Foi quando conheci os Movimentos Essenciais, um saber que ensina
uma nova forma de estar e de atuar na vida, o qual sigo estudando e
ensinando outras pessoas como é se perceber na vida além do que
a mente acha que somos. Com esse conhecimento, veio, também, o
Desenho Humano, um outro saber que me permitiu compreender
e me reconhecer como um ser além da mente também.

Conectada com o corpo, para que ele me informe, é que, hoje, costu-
mo tomar as decisões que preciso diante dos convites que chegam.
Outra paixão que tenho é em artes manuais, confeccionar peças
decorativas em MDF, uma prática que tem me possibilitado a conexão
com o corpo e com a intuição, materializando, intuitivamente, um dom
que esteve presente e foi estimulado desde a infância. Sabe qual é
a atividade física (ou o tipo de exercício) que, atualmente, pratico e
tenho me identificado muito? O yoga, com a professora Juliane Berria!
Aqui você pode
Essa prática, também, conecta- me com o meu corpo e me possibilita
conhecer um
perceber quais são as necessidades e os limites a serem trabalhados. pouco mais sobre
mim, além das
http://lattes.cnpq.br/3953446306697706 informações do
meu currículo.
provocações iniciais

DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA

Era uma vez, um ser que se chamava Humano. Uma O mesmo acontece com a aprendizagem motora. O
criatura muito diferente de todas aquelas presentes “desuso” do movimento humano pode acontecer em
no planeta. Um ser incapaz de sobreviver sozinho qualquer momento da vida, seja por uma limitação
após seu nascimento até os primeiros anos de vida. física constante, seja por uma limitação física tem-
Um ser que nasce, cresce, desenvolve-se e aprende. porária, causado por acidentes ou cirurgias neces-
Um ser moldado pelo tempo, limitado pelo tempo e sárias por problemas congênitos, pela própria rotina
lapidado pelo tempo. O tempo de nascer, de crescer, de trabalho (por exemplo, pessoas que trabalham
de se desenvolver e de aprender. Acontece que, nas prioritariamente sentada) e, até mesmo, pela idade
possibilidades de começo na vida, definidas pelo (por exemplo, idosos). Contudo sempre é tempo
tempo, nem tudo tem idade para terminar. E como de se colocar no caminho do desenvolvimento e da
isso se dá? Que tempo é esse? Qual das etapas da aprendizagem motora.
vida do ser humano é dependente do tempo? Há Convidamos você, neste momento, a perceber
algum processo que ocorre ao longo da vida desse essas experiências em si. Em que contexto da sua
ser que é independente do tempo? Há tempo certo vida ou que habilidade motora já esteve presente no
para se aprender algo? seu dia-a-dia e, hoje, você não coloca mais em prática
Embora o crescimento físico cesse até o início da ou percebeu ter perdido a habilidade? Experimen-
vida adulta, com o desenvolvimento e a aprendiza- te repetir essa atividade que, talvez, era praticada
gem motora, não é assim. Eles iniciam no começo da diariamente, mas, hoje, não faz mais parte da sua
vida, na concepção, e finalizam com a morte. Quem rotina, e perceba o que mudou com o tempo.
já teve algum parente ou amigo que, mesmo jovem, Agora que você experimentou o efeito do tem-
precisou fazer uma cirurgia e ficou dias na Unidade po e do “desuso” ou a falta de prática de alguma
de Terapia Intensiva (UTI) e, quando se recuperou, atividade em que você se reconhecia habilidoso(a),
precisou aprender, novamente, a caminhar? Ou pas- observe o que mais existia em torno dessa prática
sou pela experiência de uma cirurgia simples que que lhe proporcionava tamanha habilidade. Reflita
teve complicações e foram necessários vários dias sobre o que você deixou de fazer ou o motivo de
de internamento em UTI e, quando saiu, não sabia ter interrompido a prática que resultou na redu-
mais como escrever seu próprio nome? ção da habilidade. Reconhece se algo relacionado
Se você ou alguém próximo a você passou pela à aprendizagem dessa habilidade esteve presente?
experiência, sabe do que estamos falando. Mesmo Não existem respostas certas ou erradas para essa
que haja uma idade prevista para o desenvolvimento pergunta. É apenas um convite para reconhecer e
motor acontecer, não significa que nunca mais isso refletir sobre os fatos.
será possível caso o indivíduo não tenha recebido A idade cronológica é uma métrica importante
estímulos necessários na janela de tempo esperada. nos processos da vida do ser humano, contudo nem
provocações iniciais

tudo depende, necessariamente, dela. O crescimen- no contexto recreativo, na academia e em outros


to é um dos processos que tem a idade cronológica que envolvam o movimento humano. Os conhe-
como parâmetro para acompanhamento, mas não cimentos relacionados ao desenvolvimento e à
é o único determinante. Com o crescimento físico, o aprendizagem motora fazem parte do dia a dia da
desenvolvimento motor também acontece, concomi- prática do profissional de Educação Física, dessa
tantemente. Os processos de maturação biológica, forma, é fundamental que você os compreenda
especialmente o desenvolvimento do sistema neu- para que possa aplicá-los, adequadamente, nos
romuscular, possibilita, o ganho e o refinamento das seus planejamentos e nas duas aulas.
diferentes habilidades motoras, sejam em movimen- Diante do exposto, observe quais foram os ter-
tos de locomoção, estabilização ou manipulação. mos-chave abordados até agora. É sobre isso que
Com o desenvolvimento, processos relacionados vamos falar ao longo deste material. A sua dedicação
à aprendizagem motora, também, tornam-se pre- nas atividades propostas no decorrer das unidades,
sentes, e é o aprendizado que possibilita práticas, o aprofundamento nos conteúdos indicados e o
cada vez mais, complexas bem como o refinamento compromisso com o aprendizado são o que trará
das habilidades motoras adquiridas. Compreender o diferencial na sua formação. Estamos aqui para
esses conteúdos, os aspectos fisiológicos e compor- o(a) auxiliar, seja o(a) protagonista, o(a) responsável
tamentais do controle motor bem como as teorias e pela construção da sua formação.
os processos da aprendizagem motora e do controle
motor é fundamental para embasar a intervenção
do profissional de Educação Física.
Nesse sentido, a participação de um profissional
de Educação Física, ao longo desses processos da
vida do ser humano, pode proporcionar a otimi-
zação dos recursos disponíveis em cada uma das
etapas. Ao final desta disciplina, você conhecerá
esses processos e as etapas do desenvolvimento
e da aprendizagem motora e saberá como ensinar
as habilidades motoras nas diferentes práticas fí-
sicas. A proposição de estímulos coerentes com
a etapa de crescimento, desenvolvimento e/ou
de aprendizagem pode representar uma vanta-
gem para o indivíduo, no contexto das aulas de
Educação Física na escola, em clubes esportivos,

7
sum ário

UNIDADE I
10 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR

UNIDADE II
44 APRENDIZAGEM MOTORA: CONSIDERAÇÕES INICIAIS

UNIDADE II
66 ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO CONTROLE MOTOR

UNIDADE II
98 TEORIAS E PROCESSOS DE APRENDIZAGEM MOTORA E CONTROLE MOTOR

UNIDADE II
124 APRENDIZAGEM MOTORA E A INTERVENÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA
CRESCIMENTO E
DESENVOLVIMENTO MOTOR

Dra. Giseli Minerato Schmitz


Dra. Juliane Berria

Oportunidades de aprendizagem

Nesta unidade, você terá a oportunidade de entender que o crescimento, a maturação


e o desenvolvimento motor são eventos interdependentes que se iniciam e terminam
em momentos distintos da vida. Você poderá diferenciar os aspectos de cada um,
incluindo as etapas da vida nas quais eles ocorrem, conhecimento necessário para
o desenvolvimento do seu trabalho como profissional de Educação Física. Por
fim, conhecerá e distinguirá as terminologias empregadas, as teorias, as fases do
desenvolvimento motor e os fatores que os afetam, possibilitando um olhar ampliado
sobre as experiências as quais o profissional pode ter.
unidade

I


Você já se perguntou como o desenvolvimento dos se- rio para ele não desistir da tarefa, estimulando-o a se-
res humanos acontece? Parou para pensar que somos guir alimentando as rotas dos neurônios.
muito mais do que uma carga genética? Talvez isso O conhecimento dos conteúdos contidos nesta
seja um dos maiores avanços da neurociência! O de- unidade pode proporcionar o estabelecimento de ob-
senvolvimento dos seres humanos também depende jetivos, conteúdos e métodos de ensino coerentes com
do ambiente onde se está inserido e da qualidade das as características de desenvolvimento de cada indiví-
relações, além da genética. duo. Outros pontos importantes são a observação e
Nesse sentido, para que possamos iniciar a cons- a avaliação dos movimentos de cada indivíduo, per-
trução do conhecimento nesta disciplina, é essencial mitindo, ao longo do desenvolvimento dele, melhor
e necessário assistir ao documentário O Começo da acompanhamento das mudanças ou dificuldades no
Vida (produzido por Maria Farinha Filmes, em 2016). comportamento motor.
Este filme nos convida a sermos agentes de mudança As crianças aprendem por imitação. A brincadeira é
na sociedade, pois nos instiga a pensar se estamos cui- o principal veículo e, por meio dela, é possível explorar a
dando bem dos primeiros anos de criatividade. Agora, é com você! Te convido a visitar um
vida de uma criança, os quais deter- Centro de Educação Infantil onde seja possível que você
minam o presente e o futuro da hu- passe um período do dia observando os aspectos do
manidade. É só acessar o QRCode desenvolvimento motor dos alunos, com base nos con-
ao lado e vir conosco! teúdos trazidos pelo documentário. Caso conviva com
Os mil primeiros dias de vida são o melhor mo- uma criança, faça esta atividade com ela: proponha-se a
mento para o desenvolvimento motor da criança, pois é observar como o desenvolvimento acontece enquanto a
o período no qual o cérebro está se moldando, se desen- criança brinca. Fique atento(a) aos detalhes.
volvendo. As crianças são ultrassensíveis aos padrões de Agora que você sabe, um pouco mais, como o de-
informação e nunca param de prestar atenção. As co- senvolvimento de uma criança inicia e o que é impor-
nexões neurais são, extremamente, rápidas e as rotas tante para ele acontecer, registre, no Diário de Bordo,
dos neurônios não utilizadas vão desaparecendo. No as experiências que você tem ou já teve sobre o que foi
início do desenvolvimento motor, a criança erra muito abordado até aqui.
e ela precisa continuar tentando. As crianças com O desenvolvimento motor é estimulado por meio
autoestima elevada não têm medo de errar e tendem a de brincadeiras? É possível perceber as diferenças em
seguir repetindo a tarefa, contudo o mesmo pode não relação a ele, quando duas crianças da mesma idade re-
acontecer com aquelas que não apresentam a mesma alizam a mesma atividade? Reflita sobre as suas atitudes
autoestima. É a estimulação por parte das pessoas que perante o desenvolvimento da criança e destaque se fo-
convivem com o bebê que pode dar o suporte necessá- ram favoráveis ou não a esse amadurecimento.

12
EDUCAÇÃO FÍSICA

Antes de abordarmos o assunto do desenvolvimento de referência para a observação do crescimento, da ma-


motor, há vários processos que acontecem na vida do turação e do desenvolvimento é, sempre, a idade crono-
ser humano desde a concepção e que influenciam ou lógica da criança. Por exemplo, todas as crianças nasci-
são determinantes neste progresso, portanto, devem ser das em 5 de agosto de 2012 terão 10 anos em 5 de agosto
conhecidos por você. Iniciaremos falando da idade cro- de 2022, contudo elas podem se encontrar em processos
nológica, seguido do crescimento físico, da maturação e, biológicos diferentes, os quais possuem a sua tabela de
por fim, do desenvolvimento motor. Estes conceitos são tempo própria, sem comemoração de aniversário (MA-
úteis na compreensão de como as etapas do desenvolvi- LINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009).
mento motor se apresentam e de como eles se relacio- Como o tempo biológico pode não acompanhar o
nam e interagem entre si. tempo do calendário, crianças com a mesma idade cro-
A idade cronológica é uma medida de tempo im- nológica estão, às vezes, em níveis de maturidade bioló-
portante à compreensão de como o crescimento, a ma- gica diferentes. Este fato é, frequentemente, observado
turação e o desenvolvimento interagem entre si, afinal, durante a adolescência, quando acontece a maturação
esses processos são medidos em dado momento (ou em sexual. Há meninas que, aos 12 anos de idade, estão ma-
vários pontos) do tempo. Isso significa dizer que o ponto duras, sexualmente, enquanto outras ainda estão no pro-

13


cesso ou ainda não o iniciaram; mesmo assim, todas início da adolescência. Em termos de idade cronológica, a
elas têm os mesmos 12 anos de idade cronológica. Isso adolescência é o período complexo de ser definido devi-
também é observado nos meninos, só que um pouco do às variações no tempo em relação ao seu início e à sua
mais tarde, por volta dos 14 anos (MALINA; BOU- finalização (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009).
CHARD; BAR-OR, 2009). Nos meninos também é fre- De acordo com a Organização Mundial de Saúde
quente observar essas diferenças de processos bioló- (WHO, 2007), a adolescência corresponde às idades de
gicos em idades cronológicas semelhantes na variável 10 a 19 anos. É neste momento que os principais siste-
de estatura. O estirão de crescimento costuma iniciar mas do corpo alcançam a maturidade, ou seja, se tor-
em idades diferentes, então, expressivas discrepâncias nam adultos em estrutura e função (MALINA; BOU-
na estatura são observadas em garotos de 13 anos, por CHARD; BAR-OR, 2009).
exemplo. Neste caso, a velocidade de crescimento, com Na Tabela 1, podem ser mais bem observadas as
frequência, importa, representando diferenças de esta- classificações etárias cronológicas convencionais, desde
tura nas idades subsequentes. a concepção até a idade adulta avançada (idosos).
A idade cronológica é, frequentemente, dividida em
faixas de tempo que caracterizam os processos predomi- Faixa etária
Período
aproximada
nantes de cada faixa (Tabela 1). O início da infância é
I (Da concepção ao
o primeiro período do crescimento pós-natal que corres- Vida pré-natal
nascimento)
ponde ao primeiro ano de vida, excluindo o primeiro ani-
Concepção -
versário. Esse período é caracterizado pelo rápido desen- A. Período do zigoto
1 semana
volvimento do sistema neuromuscular e da maioria dos 2 semanas -
B. Período embrionário
outros sistemas, das dimensões corporais, assim como do 8 semanas
crescimento físico. A infância subdivide-se em períodos 8 semanas -
C. Período fetal
nascimento
denominados: perinatal (hora do nascimento até a pri-
meira semana), neonatal (primeiro mês de vida) e pós- II (Do nascimento
O bebê
aos 24 meses)
-natal (restante do primeiro ano).
Nascimento -
A infância subdivide-se em primeira (anos pré-esco- A. Período neonatal
1 mês
lares: 1,0 a 4,99 anos) e segunda (anos de “escola funda- B. Início do período de
1 - 12 meses
mental”, até o quinto ou sexto ano). Na primeira infân- bebê
cia, o crescimento continua rápido, o desenvolvimento C. Restante do período
12 - 24 meses
também acontece, enquanto que, na segunda infância, o de bebê
Infância (Dos 2 aos 10 anos)
progresso é, relativamente, estável tanto para o crescimen- III
to físico e a maturação quanto para o desenvolvimento A. Período entre 2 e 3
24 - 36 meses
anos
comportamental. A pré-adolescência abrange o período
B. Início da infância 3 - 5 anos
do final da segunda infância (primeiro aniversário) até o
C. Meio/final da
6 - 10 anos
infância

14
EDUCAÇÃO FÍSICA

Faixa etária Agora que temos uma base da informação da medida de


Período
aproximada
tempo universal que nos ajuda a compreender os eventos
IV (Dos 10 aos
Adolescência ocorridos desde a concepção, avançaremos nos demais
20 anos)
conceitos de crescimento, maturação e desenvolvimento.
10 - 12 anos
(meninas) O crescimento físico (Figura 1) refere-se ao aumen-
A. Pré-puberdade
11 - 13 anos to do tamanho de partes específicas do corpo ou o au-
(meninos)
mento no tamanho do corpo como um todo. O início do
12 - 18 anos
crescimento físico ocorre na concepção e termina no final
(meninas)
B. Pós-puberdade da adolescência ou no início da segunda década de vida.
14 - 20 anos
(meninos) Durante o crescimento, o aumento no número de células
V (Dos 20 aos 40 (mitose) costuma ocorrer, processo que é denominado
Juventude
anos) hiperplasia. Outro processo é o crescimento no tama-
A. Período inicial 20 - 30 anos nho das células, chamado de hipertrofia (MALINA;
B. Período de BOUCHARD; BAR-OR, 2009). Tal termo é, comumen-
30 - 40 anos
consolidação
te, ouvido nos espaços de treinamento físico, como em
VI (Dos 40 aos
Meia-idade academias de musculação. Isso significa que a hipertrofia
60 anos)
A. Transição da
acontece durante o crescimento físico, no início da vida,
40 - 45 anos
meia-idade até que se atinja a estatura máxima, mas também nas de-
B. Meia-idade 45 - 60 anos mais idades, por meio da prática de atividades físicas.
VII Adulto mais velho (60 anos +) Outro processo que acontece durante o crescimen-
A. Velho jovem 60 - 70 anos to físico é a acreção. Este termo é usado para descrever
B. Velho mediano 70 - 80 anos o aumento na capacidade das substâncias intercelulares
C. Velho mais velho 80 anos + em agregar células, ou seja, é uma espécie de ligação entre
células. Todos esses processos, muitas vezes, não ocor-
Tabela 1 - Classificações etárias cronológicas convencionais
Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 28). rem, concomitantemente, pelo contrário, a predominân-
cia de um ou outro varia em função da idade ou do tecido
envolvido (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009).

15


Figura 1 - Ilustração do crescimento físico de uma criança

Descrição da Imagem: a figura refere-se ao crescimento físico infantil, por meio uma ilustração sequencial com dez imagens de uma criança. A
primeira imagem é de um recém-nascido envolvido numa manta, a segunda é de um bebê deitado de barriga para cima. A terceira imagem é de
uma criança deitada de bruços. Na quarta imagem, a criança está de joelhos, uma das mãos toca o chão. Na quinta imagem, ela está sentada. Na
sexta, a criança está com os joelhos e as mãos no chão. Na sétima imagem, ela está com os pés e mãos tocando o chão. Na oitava, a criança está
com o tronco ereto, com os joelhos no chão. Na nona imagem, ela está em pé, se equilibrando. Na décima e última imagem, a criança está em pé.

Os níveis de crescimento físico de crianças e adolescen- A maturação corresponde ao tempo e ao controle


tes são considerados um importante indicador de qua- temporal do progresso pelo estado biológico maduro.
lidade de vida de um país. Observa-se que há variações É o progresso em direção à maturidade física, o estado
nesses níveis entre populações, pois são determinados ótimo de integração funcional entre os sistemas corpo-
pelos componentes genéticos e pelas características do rais de um indivíduo e a capacidade de reprodução. A
ambiente. Aliás, o ambiente é um forte agente de mu- maturação é um processo, enquanto que a maturidade
danças, capaz de superar as características genéticas, é um estado. A primeira ocorre em todos os sistemas,
principalmente no que se refere às doenças e ao estilo de órgãos e tecidos do corpo, ao passo que a segunda varia
vida (ZEFERINO et al., 2003). segundo o sistema biológico estudado. Por exemplo, a
Para exemplificar esta questão, trago o caso de crian- maturidade sexual é alcançada quando a capacidade re-
ças que não possuem herança genética de obesidade, produtiva funcional está completa; a maturidade esque-
mas, ao serem expostas, diariamente, a alimentos de alto lética é atingida quando o esqueleto adulto é ossificado
valor energético e pobre em nutrientes, como os alimen- por completo; a maturação dos sistemas neuroendócri-
tos processados e ultraprocessados, ao passarem tempo no (nervoso e endócrino) é o agente mais importante na
excessivo em comportamentos sedentários, por exem- maturação somática (crescimento), sexual e esquelética
plo, se mantendo muito tempo sentadas, e por não prati- (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009).
carem atividades físicas, passam a apresentar um quadro É possível observar variações individuais no ritmo e
de obesidade. O mesmo podemos observar no sentido no grau dessas mudanças, mas a ordem sucessiva em que
inverso: indivíduos com histórico familiar de obesidade ocorrem é a mesma, tanto num sexo quanto no outro.
e que cultivam alimentação saudável, praticam ativida- Por exemplo, duas crianças podem ter o mesmo nível de
des físicas, diariamente, e são pouco expostos a compor- crescimento alcançado (mesmo tamanho), contudo po-
tamentos sedentários podem não apresentar um quadro dem estar em lugares diferentes do caminho para a maturi-
de excesso de peso (sobrepeso e obesidade). dade esquelética (alcance do tamanho adulto). Assim, a es-

16
EDUCAÇÃO FÍSICA

tatura final é diferente entre essas crianças e o alcance dessa estado adulto (maturidade), e as etapas caminham em di-
estatura ocorre, talvez, em períodos de tempo diferentes, reção a esse objetivo desde o momento da concepção até
também (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009). que a maturidade seja alcançada. Nesse sentido, o cresci-
Esta é a diferença essencial entre o crescimento e a mento e a maturação são processos biológicos com fim
maturação: o crescimento enfatiza o tamanho atingido e direção (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009).
num determinado ponto do tempo; a maturação eviden- O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode
cia o progresso para atingir o tamanho adulto e a maturi- ter um contexto biológico ou comportamental e, também,
dade. Portanto, crescimento e maturação são eventos, al- contempla uma variedade de domínios que se inter-rela-
tamente, relacionados e dinâmicos. O objetivo é atingir o cionam conforme a criança interage com o meio cultural.

Crescimento Focalizado no Aumento


Físico tamanho quantitativo

Avanço
Focalizado no qualitativo na
Maturação progresso constituição
biológica

Figura 2 - Crescimento físico e maturação

Descrição da Imagem: a figura refere-se ao crescimento físico e a maturação, representando-os por meio de um esquema horizontal em setas
sequenciais. A primeira seta sequencial na cor azul refere-se ao crescimento físico, indicando que ele é focalizado no tamanho bem como no
aumento quantitativo. A palavra “tamanho”, no interior da seta, está em negrito e a palavra “quantitativo” está em caixa alta. A segunda seta
sequencial na cor verde refere-se à maturação, indicando que ela é focalizada no progresso bem como no avanço qualitativo na constituição
biológica. A palavra “progresso”, no interior da seta, está em negrito e a palavra “qualitativo” está em caixa alta.

Os conceitos de referência, maturidade esquelética, alvo parental, escore z, baixa


estatura, velocidade de crescimento, índice de massa corporal, os seus pressupostos
e limitações são conteúdos importantes na atuação profissional. A seguir, uma revisão
narrativa aborda estes temas e ressalta os aspectos da avaliação do indivíduo. É só
acessá-la pelo seu leitor de QRCode. Não perca esta oportunidade de conhecimento!

17


No contexto biológico, o desenvolvimento está relacio- Na sua essência, o desenvolvimento motor é observado
nado aos processos de diferenciação e especialização de a partir de alterações no comportamento motor. Trata-
células embrionárias. A diferenciação completa é alcançada se de um processo de aquisição de padrões (movi-
quando a sua função em um tecido específico inicia, embo- mentos utilizados para desempenho específico, como
ra o progresso da função prossiga de acordo com o sistema pular, correr) e habilidades de movimento (precisão,
do corpo, até que ela seja refinada. No contexto comporta- exatidão e economia de energia). O desenvolvimento de
mental, diz respeito ao crescimento de competência rela- um padrão motor está relacionado ao alcance de níveis
cionado aos domínios cognitivo, emocional, social, moral e aceitáveis de habilidade com uma mecânica corporal
motor. Aqui, focalizaremos o desenvolvimento no domí- eficiente para diferentes situações motoras. Não requer,
nio motor, cujo progresso está relacionado à aquisição e ao especificamente, conquista do alto grau de habilidade
refinamento de comportamentos, tais como: o desenvolvi- (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
mento da competência motora, a aquisição e o refinamento Em geral, o desenvolvimento motor é influenciado
de habilidades em atividades motoras variadas (MALINA; por fatores do próprio indivíduo (biologia), do ambien-
BOUCHARD; BAR-OR, 2009). te (experiência) e da própria tarefa em si (aspectos físi-
No documentário indicado no início da unidade (O cos e mecânicos) (ROSA NETO, 2015). Conforme vimos
Começo da Vida), foram abordados todos os domínios no documentário O Começo da Vida, a criança precisa
do desenvolvimento da criança e situações que o exem- ser estimulada para o desenvolvimento acontecer. Este
plificam. Talvez você não tenha percebido essa aborda- estímulo é no sentido de oferecer a ela oportunidades de
gem e, se isso aconteceu, te convido a ver o documen- explorar o meio com objetos simples que podem ganhar
tário, novamente, mas, dessa vez, atente-se ao conteúdo vida, e quem dá vida aos objetos é a própria criança.
exposto sobre cada domínio do desenvolvimento no O desenvolvimento motor também pode ser visto a
contexto comportamental. partir de um modelo teórico que serve para testar os fa-
tos. A formulação de modelos teóricos que conduzem ex-
plicações do comportamento ao longo da vida é recente,
pois o interesse pelo desenvolvimento motor deixou de
ser descrição e catalogação de dados, apenas, a partir da
“Crescimento, maturação e desenvolvi-
mento são processos que operam em uma
década de 80. Os modelos teóricos abrangentes, os quais
estrutura de tempo e que interagem entre explicam o processo de desenvolvimento motor, são es-
si para moldar a forma pela qual as crianças cassos, enquanto são poucas as teorias amplas sobre o
evoluem. As interações entre esses conceitos tema (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
tendem a ser mais aparentes na transição para Focaremos em um modelo abrangente para o desen-
a adolescência, momento no qual há conside- volvimento motor, modelo este que parte de dois pontos de
rável variabilidade no ritmo e no grau de cres- vista teóricos: a teoria das fases-estágios descritiva e a
cimento e de maturação sexual, por exemplo”. teoria dos sistemas dinâmicos explicativa. Esse modelo
Fonte: Malina, Bouchard e Bar-Or (2009, p. teórico não é perfeito, isto é, também lhe falta algo, contudo
23, grifos dos autores). ele tem sido a base para compreender melhor o que e por
que cada etapa do desenvolvimento motor ocorre. Aquilo

18
EDUCAÇÃO FÍSICA

que as pessoas são em faixas etárias específicas corresponde diferenças no desenvolvimento do comportamento dos
à descrição, e o motivo da ocorrência dessas características movimentos.
diz respeito à explicação (GALLAHUE; OZMUN; GOO- O estudo das mudanças no comportamento dos mo-
DWAY, 2013). vimentos ao longo do ciclo da vida é uma das formas de
As fases do desenvolvimento motor que serão apre- observar o desenvolvimento motor. Abre-se uma janela
sentadas, posteriormente, provêm de uma base dedutiva, que permite ver o processo desse desenvolvimento pelo
ou seja, têm como base a inferência e servem de modelo comportamento dos movimentos possíveis de observa-
para a formulação de teorias. O método dedutivo é com- ção, fornecendo pistas de como os procedimentos moto-
posto por três características: i) integra os fatos existentes res ocorrem. Nesse sentido, tal processo é visto como fase
e esclarece os indícios empíricos que têm ligação com o e estágio (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
conteúdo da teoria; ii) dedica-se à formulação de hipóte- Ao longo de todas as fases do desenvolvimento
ses que podem ser testadas; iii) passa por testes empíricos, motor, o movimento possível de ser observado é ca-
isto é, as hipóteses testadas de forma experimental devem tegorizado de três formas diferentes, segundo a sua fi-
gerar resultados que confirmem, ainda mais, a teoria. Esse nalidade. Elas são denominadas tarefas de movimento
método nos permite identificar as informações necessá- de estabilidade, locomoção e manipulação ou são a
rias ao preenchimento de lacunas na teoria (o que ainda combinação de todas elas (GALLAHUE, OZMUN,
não é conhecido) bem como o esclarecimento ou o aper- GOODWAY, 2013). No documentário sugerido no iní-
feiçoamento da mesma (GALLAHUE; OZMUN; GOO- cio da unidade, foram ilustradas as diferentes tarefas de
DWAY, 2013). movimento, desde o início da vida, por exemplo, um
As mudanças no comportamento dos movimentos bebê engatinhando (3min30seg), manipulando objetos
ao longo do tempo é o que caracteriza o processo de de- (de 3min34seg até 4min30seg), sustentando-se em algu-
senvolvimento motor (GALLAHUE; OZMUN; GOO- ma postura (5min21seg).
DWAY, 2013). Desde o momento em que ocorre a con- Os movimentos de estabilidade, segundo Gallahue,
cepção, o organismo tem uma organização, segue uma Ozmun e Goodway (2013), são aqueles que necessitam
lógica biológica, possui um calendário evolutivo e matu- de certo grau de equilíbrio ou postura (ex.: ficar em pé). O
rativo bem como uma porta aberta à estimulação e à inte- equilíbrio é a base para que toda a ação diferenciada do cor-
ração (ROSA NETO, 2015). Durante toda a vida, estamos po (e das suas partes) possa acontecer (ROSA NETO, 2015).
envolvidos nesse processo. Bebês, crianças, adolescentes, Especificamente, são aqueles que não são nem de locomo-
adultos e idosos, segundo Gallahue, Ozmun e Goodway ção, nem de manipulação, portanto, incluem movimen-
(2013), passam pelo processo de aprender como se movi- tos de virar, torcer, puxar, empurrar. A estabilidade, como
mentar, com competência e de forma controlada, respon- uma categoria do movimento, corresponde a qualquer
dendo às mudanças enfrentadas, todos os dias, uma vez movimento que aconteça como ganho ou manutenção do
que o ambiente muda, constantemente. As possibilidades equilíbrio do indivíduo em relação à força da gravidade, ou
de desenvolvimento motor da criança avançam, de for- seja, a capacidade de se sustentar em alguma postura (ex.:
ma significativa, com a idade, e as oportunidades se tor- posturas invertidas e de rolamento do corpo, apoiar-se em
nam cada vez mais diversificadas, complexas e completas um único pé, manter-se na posição ereta em pé ou sentado)
(ROSA NETO, 2015). Temos a capacidade de observar as (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).

19


Os movimentos de locomoção são aqueles que en- A manipulação é uma categoria de


volvem mudança de um ponto a outro na localização do movimentos a qual envolve a força. Em movi-
corpo, seja correndo, seja caminhando, pulando ou salti- mentos amplos, refere-se a conferir força a objetos
tando. Dessa forma, os movimentos de rolar para frente ou receber força deles, por exemplo, lançar, pegar,
e para trás também são consideradas atividades de lo- chutar, rebater bem como o voleio e o drible. Em
comoção, tendo em vista que o corpo se movimenta de movimentos finos, diz respeito ao uso dos mús-
um ponto a outro (e de estabilidade devido à necessida- culos da mão e do punho, nas tarefas como: digi-
de de manutenção do equilíbrio na realização da tarefa tar, costurar e cortar com tesouras (GALLAHUE;
que apresenta uma oscilação incomum) (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
OZMUN; GOODWAY, 2013). Na combinação de movimentos das catego-
rias de locomoção, estabilidade e manipulação,
há inúmeras atividades. Por exemplo, a atividade
de pular cordas envolve o pulo (locomoção), a ma-
nutenção do equilíbrio do corpo (estabilidade) e
o giro da corda (manipulação); o jogo de futebol
requer habilidades de correr e pular (locomoção),
esquivar-se, alcançar, girar e girar (estabilidade) e
driblar, chutar, passar e cabecear (manipulação).
Por fim, considerando que o movimento é uma
janela para o processo de desenvolvimento motor,
uma das formas de estudar esse processo é anali-
sar como as habilidades de movimento progridem,
sequencialmente, ao longo da vida (GALLAHUE;
OZMUN; GOODWAY, 2013).
No início do documentário, foram ilustra-
das diferentes situações de movimentos de lo-
comoção, estabilidade e manipulação que são
realizados pelos bebês de forma combinada (até
o minuto 8). Isso significa que a combinação dos
movimentos acontece desde os primeiros meses
de vida. Retome o documentário com o objetivo
de visualizar os exemplos ou o acesse, no QRCo-
de do início da unidade, para ver, novamente, as
cenas que ilustram o movimento combinado (de
29min40seg até 29min58seg também pode ser
disponibilizado para exemplificar).

20
EDUCAÇÃO FÍSICA

OLHAR CONCEITUAL

Movimentos de manipulação:
envolve a força no sentido de
conferir força a, ou receber força de,
objetos (ex. lançar, pegar, chutar,
rebater objetos, voleio e drible)

Combinação de movimentos:
pular cordas envolve o pulo
(locomoção), a manutenção do
equilíbrio do corpo (estabilidade)
e o giro da corda (manipulação).

Movimentos de locomoção:
envolvem mudança de um ponto
a outro na localização do corpo,
quer seja correndo, caminhando,
pulando ou saltitando.

Movimentos de estabilidade:
necessitam de certo grau de
equilíbrio, dando a capacidade
de sustentar-se em alguma
postura (ex. ficar em pé).

Fonte: Gallahue, Ozmun, Goodway (2013, p. 67-68).

Agora, falaremos, um pouco mais, sobre as fases e os passa por quatro fases: movimento reflexo, rudi-
estágios do desenvolvimento motor, por meio de um mentar, fundamental e especializado. Em cada uma
modelo teórico desenvolvido por Gallahue, Ozmun delas, há de dois a três estágios com faixa etária apro-
e Goodway (2013), apresentado na Figura 3 e defini- ximada para os seus períodos de desenvolvimento. A
do como uma ampulheta heurística, isto é, como um última fase, no seu último estágio, indica a utilização
processo fase-estágio descontínuo e sobreposto. Nesse dos movimentos na rotina diária, de forma recreativa
modelo, o desenvolvimento motor de cada indivíduo e/ou competitiva, ao longo da vida.

21


Utilização na Utilização Utilização


recreativa ao competitiva ao
rotina diária ao
longo da vida longo da vida longo da vida

FAIXA ETÁRIA APROXIMADA NOS


ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO MOTOR
PERÍODOS DO DESENVOLVIMENTO
14 anos ou mais Estágio da utilização ao longo da vida
11 a 13 anos FASE DO MOVIMENTO Estágio de aplicação
7 a 10 anos Estágio de transição
ESPECIALIZADO
5 a 7 anos Estágio proficiência
3 a 5 anos FASE DO MOVIMENTO Estágios elementares emergentes
2 a 3 anos FUNDAMENTAL Estágio inicial
1 a 2 anos FASE DO MOVIMENTO Estágio pré-controle
Do nascimento a 1 ano Estágio de inibição do reflexo
RUDIMENTAR
4 meses a 1 ano FASE DO MOVIMENTO Estágio de decodificação
Desde o útero até REFLEXO de informações
4 meses Estágio de codificação
de informações

Figura 3 - Fases e estágios do desenvolvimento motor / Fonte: adaptada de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013).

Descrição da Imagem: a figura refere-se a fases e estágios do desenvolvimento motor. Compreende a ilustração de uma ampulheta de tempo
composta por dois recipientes cônicos que se comunicam entre si, por meio de um pequeno orifício. Na parte superior da ampulheta, há três
tópicos: “Utilização na rotina diária ao longo da vida”, “Utilização recreativa ao longo da vida” e “Utilização competitiva ao longo da vida”. As três
utilizações estão ligadas às quatro fases do movimento que estão na parte inferior da ampulheta. Na base da ampulheta, está a fase do movimento
reflexo e indica que, na faixa etária aproximada desde o útero até os 4 meses e dos 4 meses a 1 ano, o estágio do desenvolvimento motor é de
codificação e decodificação de informações, respectivamente. Logo acima, está a fase do movimento rudimentar, o qual indica que, na faixa etária
aproximada do nascimento a 1 ano e de 1 a 2 anos, o estágio do desenvolvimento motor é de inibição do reflexo e pré-controle, respectivamente.
Em cima da fase do movimento rudimentar está a fase do movimento fundamental e indica que, na faixa etária aproximada de 2 a 3 anos, 3
a 5 anos e 5 a 7 anos, os estágios do desenvolvimento motor são, respectivamente: inicial, elementares emergentes e de proficiência. Por fim,
próxima à parte central da ampulheta está a fase do movimento especializado. Ela indica que, na faixa etária aproximada de 7 a 10 anos, 11 a
13 anos e 14 anos ou mais o estágio do desenvolvimento motor é de transição, de aplicação e de utilização ao longo da vida, respectivamente.

A fase do movimento reflexo é a primeira forma do (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Nesta
movimento humano, a primeira realizada pelo feto. fase, os movimentos são involuntários, ou seja, a ação
Os movimentos realizados, aqui, não são aprendidos, motora é processada, automaticamente, pelo sistema
como o próprio termo sugere, eles são reflexos, por isso, nervoso, tanto para sons, tato e visão quanto para pres-
não são considerados “habilidades”, e sim “capacidades” são e formam a base de cada uma das fases do desenvol-

22
EDUCAÇÃO FÍSICA

vimento motor (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY,


2013; ROSA NETO, 2015). A partir do quarto mês da
vida fetal até o quarto mês pós-nascimento, aproxi-
madamente, a maioria dos movimentos realizados são
reflexos e as reações involuntárias dos bebês variam
de acordo com os estímulos recebidos (GALLAHUE;
OZMUN; GOODWAY, 2013). Os movimentos reflexos
podem ser divididos em primitivos e posturais (foram
ilustrados, principalmente, no início do documentário).
Os reflexos primitivos são respostas de busca por
nutrição, proteção e coleta de informações. Um exemplo
são os movimentos reflexos de sucção e fixação, con- a) b)
siderados mecanismos de sobrevivência do bebê. Eles
são fundamentais para a nutrição do recém-nascido Figura 4 (a) - Reflexo de Moro: fase de extensão; Figura 4 (b) - Fase
(GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Os refle- de flexão / Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 144).

xos primitivos de sobrevivência incluem o reflexo de


Descrição da Imagem: a figura refere-se ao Reflexo de Moro.
Moro (Figura 4), busca e sucção, preensão palmar (Fi- Compreende uma ilustração com duas imagens de um bebê. A
gura 5), preensão plantar (Figura 6) e tônico assimétrico Figura 4 (a), que indica a fase de extensão, mostra um bebê deitado
de barriga para cima, com os membros inferiores e superiores
(Figura 7) (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). esticados. A Figura 4 (b), que indica a fase de flexão, mostra um
bebê deitado de barriga para cima com os membros inferiores e
No Reflexo de Moro, também conhecido como re- superiores flexionados próximos ao corpo.

flexo do susto, a estimulação acontece quando o bebê é


colocado na posição supino e alguma sensação de inse-
gurança de apoio é produzida. Uma forma de fazer isso é A nutrição é o principal estímulo para o reflexo de busca e
deixando a cabeça do bebê cair um pouco para trás de re- sucção, presente em todos os bebês com desenvolvimento
pente. Esse reflexo também pode ser autoinduzido a par- esperado. O reflexo de busca é mais forte nas três primei-
tir de um som alto, provocado pela tosse ou pelo espirro ras semanas e pode se manifestar até o final do primeiro
da criança (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). ano, enquanto o de sucção tende a desaparecer ao final do
Os bebês abrem os seus braços e mãos, rapidamente, com terceiro mês, contudo, persiste, voluntariamente. O reflexo
as palmas das mãos voltadas para cima no momento em de busca é mais, facilmente, observado quando o bebê está
que sentem falta de apoio, conforme ilustrado na Figura 4 dormindo, quando está com fome ou na posição de ama-
(a). Esse reflexo ocorre desde o nascimento e continua ao mentação. O reflexo de sucção ocorre a partir da estimu-
longo dos seis primeiros meses; tem sido utilizado como lação feita nos lábios, nas gengivas, na língua ou no palato
uma das formas de avaliar o desenvolvimento neurológi- duro, sendo, ritmicamente, repetitiva. A estimulação para
co infantil: a sua presença após essa idade costuma indicar ambos os reflexos acontece, considerando um recém-nasci-
um quadro de disfunção neurológica (GALLAHUE; OZ- do saudável, de forma diária, nos horários de amamentação
MUN; GOODWAY, 2013). (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).

23


O reflexo de preensão palmar consiste na forte O toque na sola dos pés em recém-nascidos provoca o
pegada que o bebê apresenta do nascimento até os qua- Reflexo de Babinski, enquanto a pressão exercida no
tro primeiros meses. Nos dois primeiros meses, as mãos toque refletirá na extensão dos dedos do pé. Esse reflexo
do bebê se mantêm bem fechadas, ao estimular a palma cede lugar ao reflexo plantar quando o sistema neuro-
da mão com um objeto, o órgão, instintivamente, se fe- muscular amadurece, então, certa contração dos dedos é
cha em torno dele com força (Figura 5), se for exercida observada como resposta ao estímulo realizado na sola
força contra os dedos flexionados, a pegada fica mais do pé (Figura 6). Uma forma de estimular, facilmente, o
apertada. Quando suspenso, o bebê consegue sustentar reflexo plantar de preensão é pressionando os polega-
o próprio peso do corpo devido à tamanha força da pe- res contra o terço anterior do pé do bebê. Isso ocorre por
gada. A intensidade da resposta, neste reflexo, aumenta volta do quarto mês e continua até o 12° mês, aproxima-
durante o primeiro mês e tende a diminuir, gradativa- damente. Quando o Reflexo de Babinski persiste até o
mente. Se o reflexo persistir até o primeiro ano ou se a sexto mês, tem-se um indicativo de falha no desenvol-
resposta ao estímulo for fraca no primeiro mês, certo vimento (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
atraso no desenvolvimento motor pode estar presente
(GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).

Figura 6 - Reflexo de preensão plantar


Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 146).

Descrição da Imagem: a figura refere-se ao reflexo plantar. Com-


preende a ilustração de uma mão humana segurando a ponta de
um objeto fino e roliço. Na outra extremidade, há um pé humano
pequeno agarrando o objeto com todos os dedos. A figura tam-
bém mostra as pernas e abdômen da criança, que se encontra
deitada de costas.
Figura 5 - Reflexo palmar de preensão
Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 145).

O reflexo tônico assimétrico do pescoço, mostra-


Descrição da Imagem: a figura refere-se ao reflexo palmar de
preensão. Compreende a ilustração de uma mão humana seguran- do na Figura 7 (a), corresponde ao posicionamento do
do a ponta de um objeto fino e roliço. Na outra extremidade, uma
mão humana pequena agarrando o objeto com todos os dedos.
bebê em supinação. O pescoço é girado, de modo que
a cabeça fica voltada ora para um lado, ora para outro.

24
EDUCAÇÃO FÍSICA

A posição dos braços é em assimetria, conforme ilustra trico, apresentado pela Figura 7 (b), os membros supe-
a Figura 7 (a): braço estendido do lado do corpo para riores e inferiores assumem posição similar. Ao flexio-
onde a cabeça está voltada, o outro braço é mantido nar a cabeça e o pescoço, os braços são flexionados, mas
numa posição flexionada, e a posição das pernas segue as pernas ficam estendidas, como mostra a Figura 7 (c)
o posicionamento dos braços. No reflexo tônico simé- (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).

a) b) c)

Figura 7 (a) - Reflexo tônico assimétrico; Figura 7 (b) - Simétrico do pescoço; Figura 7 (c) - Simétrico do pescoço
Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 147).

Descrição da Imagem: a Figura 7 (a) refere-se ao reflexo tônico assimétrico. A ilustração mostra um bebê deitado de barriga para cima com
o pescoço inclinado para o lado direito do corpo. A Figura 7 (b) refere-se ao simétrico do pescoço. A ilustração mostra um bebê com os braços
esticados, sendo segurado por duas mãos na parte de trás da cintura, fazendo-o ficar numa posição como se estivesse sentado em uma cadeira,
as suas pernas estão flexionadas e o seu pescoço está ereto. A Figura 7 (c) também se refere ao simétrico do pescoço. A ilustração apresenta
um bebê com os braços flexionados junto ao corpo e tocando o queixo. Ele está sendo segurado por duas mãos na parte de trás da cintura. As
suas pernas estão esticadas para frente, enquanto o seu pescoço está inclinado para baixo.

Nesta fase são desenvolvidos, também, involuntariamen- riores de engatinhar e andar (GALLAHUE; OZMUN;
te, os reflexos posturais: estes são como dispositivos de GOODWAY, 2013). Fazem parte dos reflexos posturais
teste neuromotor. Por meio deles, é possível observar os os reflexos labirínticos apresentados pelas Figuras 8; e
mecanismos de estabilidade, locomoção e manipulação visuais, os quais são de levantamento (Figura 9); os de
— tipos de movimentos que se desenvolvem, posterior- amortecimento e apoio, como o paraquedas, apresenta-
mente, com controle consciente —. Para exemplificar, os do na Figura 10 (a); o reflexo de engatinhar da Figura 10
reflexos primários de engatinhar e dar passos se apro- (b); o reflexo primário de caminhar/pisar da Figura 10
ximam muito dos comportamentos voluntários poste- (c) e o de natação.

25


c)
b)

a)
Figura 8 (a) - Reflexos labirínticos na posição ereta; Figura 8 (b) - Inclinada para trás; Figura 8 (c) - Pronada
Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 148).

Descrição da Imagem: a Figura 8 (a) refere-se aos reflexos labirínticos na posição ereta. A ilustração mostra um bebê sendo segurado por duas
mãos na parte de trás da cintura. Ele está ereto, com pernas e braços flexionados. A Figura 8 (b) refere-se aos reflexos labirínticos na posição
inclinada para trás. A ilustração apresenta o bebê sendo segurado por duas mãos na parte de trás da cintura, inclinado para trás, com pernas
e braços flexionados. As pernas estão erguidas, os braços estão junto ao corpo. A Figura 8 (c) refere-se aos reflexos labirínticos na posição
pronada. A ilustração mostra o bebê sendo erguido por duas mãos, ele está na horizontal, com a barriga para baixo, pernas e braços um pouco
flexionados. A cabeça do bebê está erguida e voltada para frente.

a) b) c)
Figura 9 (a) - Primeiro tipo de reflexo de flexão; Figura 9 (b) - Segundo tipo de reflexo de flexão; Figura 9 (c) - Terceiro tipo de reflexo de
flexão / Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 148).

Descrição da Imagem: a Figura 9 (a), duas mãos adultas seguram ambas as mãos do bebê. A imagem mostra as pernas dele flexionadas para
baixo e a cabeça inclinada, levemente, para trás. Na Figura 9 (b), a cabeça do bebê se inclina para frente, enquanto as pernas flexionadas sobem.
Na Figura 9 (c), o tronco do bebê está arqueado com o movimento das pernas flexionadas para cima.

26
EDUCAÇÃO FÍSICA

a) b) c)
Figura 10 (a) - Reflexos de paraquedas; Figura 10 (b) - Reflexos de engatinhar; Figura 10 (c) - Reflexos primários de caminhar
Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 149-152).

Descrição da Imagem: na Figura 10 (a), a ilustração mostra o bebê sendo segurado por duas mãos. Ele está de barriga para baixo, horizontal-
mente ao chão, os braços e pernas estão esticados. Na Figura 10 (b), o bebê está deitado de barriga para baixo, com a cabeça inclinada para
cima e voltada ao lado esquerdo do corpo. Uma mão adulta toca a planta do pé esquerdo dele. Na Figura 10 (c), há duas ilustrações, lado a lado.
A primeira, à esquerda, mostra o bebê sendo segurado por duas mãos na cintura, ele está em pé, ereto. Uma perna levanta enquanto a outra
apoia, de modo que, nessa primeira imagem, a perna direita está levantada e, na segunda imagem, à direita, a perna levantada é a esquerda.

No vídeo disponível no QRCode, a seguir, você terá a oportunidade de visualizar


cada um dos movimentos reflexos presentes nessa fase do desenvolvimento motor.
Venha ver!

Essa primeira fase do desenvolvimento motor é dividida movimentos fetais e neonatais, portanto, são bem mais
em dois estágios que se sobrepõem: o de codificação e o desenvolvidos do que o córtex motor (GALLAHUE;
de decodificação de informações. O primeiro, o estágio OZMUN; GOODWAY, 2013).
de codificação de informações, inicia no útero e dura O segundo, o estágio de decodificação de infor-
até os 4 meses pós-nascimento (Figura 3). É caracteriza- mações, também chamado de processamento, se inicia
do pela atividade de movimentos involuntários do bebê por volta do quarto mês e vai até os 2 anos de idade (Fi-
que podem ser observados e que servem de recurso pri- gura 3). À medida que os centros cerebrais vão se desen-
mário para a coleta de informações, a busca de nutrição volvendo, os movimentos reflexos vão sendo inibidos.
e a procura, por meio dos seus movimentos, pela prote- Gradualmente, os centros cerebrais inferiores renun-
ção. Aqui, os centros cerebrais inferiores comandam os ciam ao controle dos movimentos esqueléticos, dando

27


espaço para o movimento voluntário acontecer. Isso O desenvolvimento ocorre a partir de um proces-
significa dizer que o estágio de decodificação substitui so dinâmico, dentro de um sistema auto-organizado
a atividade sensório-motora pela perceptivo-motora. (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Esta fase
Esta substituição é mediada pela área motora do córtex subdivide-se em dois estágios, os quais representam ordens
cerebral (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). do comportamento motor, progressivamente, mais eleva-
A fase do movimento rudimentar compreende as das: estágio de inibição do reflexo e estágio pré-controle.
primeiras formas de movimentos voluntários, presentes Durante a fase do movimento rudimentar, a sequên-
desde o nascimento até por volta dos 2 anos de idade (Fi- cia na qual as habilidades de movimento são adquiridas é
gura 3). Os movimentos nesta fase se caracterizam por fixa, ou seja, todos os bebês seguirão a mesma sequência,
apresentarem uma sequência previsível de surgimento contudo a taxa de avanço, muitas vezes, varia entre os be-
e são determinados pela maturação bem como repre- bês (alguns executam mais cedo ou mais tarde do que ou-
sentam as formas básicas de movimentos voluntários tros), conforme Gallahue, Ozmun e Goodway (2013).
necessários à sobrevivência do bebê. Segundo Gallahue, O estágio de inibição do reflexo (do nascimento
Ozmun e Goodway (2013), incluem os movimentos es- a 1 ano) começa, ainda, quando o repertório dos movi-
tabilizadores (ex.: adquirir o controle dos músculos do mentos é reflexo. Aos poucos, os movimentos passam a
tronco e do pescoço e o controle sobre a cabeça), loco- ser influenciados pelo córtex em desenvolvimento. Como
motores (ex.: engatinhar, arrastar-se, caminhar) e mani- consequência, os reflexos vão sendo inibidos e, pouco a
pulativos (ex.: pegar, soltar, alcançar). Conforme estes pouco, desaparecem, assim, todos os movimentos que, até
autores, o aumento do controle motor e da competência então, aconteciam de forma involuntária, dão espaço para
de movimento do bebê resulta no domínio das capaci- os comportamentos motores voluntários. Neste nível da
dades de movimento rudimentar, uma vez que recebe inibição do reflexo, o aparato neuromotor do bebê está
estímulos do ambiente, da própria tarefa e do indivíduo. num estágio de desenvolvimento rudimentar, portan-
to, o movimento voluntário pouco pode ser distinguido,
Esta fase do desenvolvimento motor foi ilustra- dando a impressão de que os movimentos são descontro-
da no documentário O Começo da Vida e pode lados, sem refinamento (GALLAHUE; OZMUN; GOO-
ser revisto naquele QRCode apresentado no DWAY, 2013). Um exemplo disso é observado quando o
início da unidade, nos seguintes recortes: bebê deseja pegar um brinquedo no chão: o processo de
1. 8hmin40seg -10min08seg. se agachar ou sentar, estender o membro superior e movi-
2. 20min25seg - 20min30seg. mentar a mão para pegar o objeto, mesmo que de forma
3. 27min37seg - 27min59seg. voluntária, é pouco controlado.
4. 42min00seg - 42min52seg. No estágio pré-controle (1 a 2 anos), as crianças
5. 49min00seg - 50min28seg. começam a apresentar mais controle e precisão sobre os
6. 43min20seg - 47min40seg. movimentos. As capacidades de movimentos rudimen-
tares evoluem, rapidamente, devido ao acelerado desen-

28
EDUCAÇÃO FÍSICA

volvimento dos processos cognitivos e motores. Neste vimento motor, os quais são alicerces do desenvolvimento
estágio, os movimentos relacionados ao equilíbrio (aqui- das habilidades nas fases fundamental e especializada.
sição e manutenção), à manipulação de objetos e à loco- A estabilidade diz respeito à capacidade de estabelecer
moção no ambiente, realizados de forma descontrolada controle sobre a musculatura contra a força da gravidade, a
no estágio anterior, ganham precisão e controle. A rapi- fim de atingir e manter uma postura ereta (GALLAHUE;
dez bem como a extensão do desenvolvimento do con- OZMUN; GOODWAY, 2013). A sequência de desenvolvi-
trole motor adquirido, neste estágio, num curto espaço mento das capacidades de estabilidade rudimentar é previ-
de tempo, pode ser explicada, em partes, pelo processo de sível, conforme ilustrado nas imagens, a seguir. As tarefas de
maturação (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). estabilidade incluem o controle da cabeça e do pescoço, o
Conheceremos um pouco mais das capacidades de controle do tronco e da posição sentada (Figuras 11) bem
movimento rudimentar do bebê, nesta fase do desenvol- como o alcance na postura em pé (Figuras 12).

a) b) c)
Figura 11 (a) - Estágios da conquista do sentar independente no terceiro mês; Figura 11 (b) - No sexto mês; Figura 11 (c) - No oitavo mês
Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 161).

Descrição da Imagem: a Figura 11 (a) refere-se aos estágios da conquista do sentar independente no terceiro mês. A ilustração mostra o bebê
sentado, em posição ereta, sendo segurado na cintura por duas mãos adultas. A Figura 11 (b) refere-se ao sexto mês e apresenta o bebê sentado
sozinho, com o tronco e a cabeça inclinados para frente. A Figura 11 (c) apresenta o oitavo mês. A ilustração mostra o bebê sentado sozinho,
com o tronco e a cabeça eretos e as mãos, levemente, esticadas.

29


a) b) c)

Figura 12 (a) - Estágios da conquista da posição em pé no sexto mês; Figura 12 (b) - No 10º mês; Figura 12 (c) - No 12º mês
Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 161).

Descrição da Imagem: aa Figura 12 (a) refere-se aos estágios da conquista da posição em pé no sexto mês. Na ilustração, o bebê encontra-se
em pé apoiando as duas mãos numa barra horizontal. A Figura 12 (b) refere-se ao 10º mês. Nela, o bebê encontra-se em pé, apoiando as duas
mãos nas mãos de um adulto. A Figura 12 (c) refere-se ao 12º mês. O bebê encontra-se em pé, sozinho, sem o apoio das mãos.

A habilidade da locomoção depende de como o bebê consegue lidar com


a força da gravidade, não há como ela se desenvolver sem que a estabilida-
de esteja, proporcionalmente, desenvolvida. A habilidade de se movimentar,
livremente, será alcançada quando o bebê realizar as tarefas desenvolvimentais
rudimentares da estabilidade com êxito. As formas mais frequentes de loco-
moção nas quais a criança se envolve, enquanto aprende a lidar com a força
da gravidade, são os movimentos horizontais: rastejar, como na Figura 13 (a);
o rastejar sentado, o engatinhar, como na Figura 13 (b); o andar de quatro e
os movimentos de marcha ereta: andar com apoio, com alguém segurando as
mãos, com a condução de alguém, sozinho com mãos para cima e com as mãos
para baixo (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).

30
EDUCAÇÃO FÍSICA

a) b)
Figura 13 (a) - Rastejar; Figura 13 (b) - Engatinhar / Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 163).

Descrição da Imagem: a Figura 13 (a) refere-se ao rastejar. Na ilustração, o bebê encontra-se deitado de barriga para baixo. O joelho direito está
flexionado e a cabeça está para frente, enquanto os braços estão esticados no chão. A Figura 13 (b) refere-se ao engatinhar. O bebê encontra-se
de joelhos e mãos apoiadas no chão.

As capacidades manipulativas do bebê avançam por turação, que, quando atingida, faz a criança se beneficiar
uma série de estágios, assim como acontece com a estabi- das oportunidades que surgem para praticar e melhorar
lidade e a locomoção. Na fase dos movimentos rudimen- as capacidades rudimentares de manipulação cuja urgên-
tares, apenas o alcance, o pegar/pressão e o soltar (Figura cia na aquisição possibilita ao bebê em desenvolvimento
14), aspectos básicos na manipulação, são considerados. o primeiro contato com objetos presentes no ambiente
Estas capacidades são, fortemente, influenciadas pela ma- (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).

a) b) c)
Figura 14 (a) - Capacidades rudimentares de alcançar; Figura 14 (b) - Pegar; Figura 14 (c) - Soltar
Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 166).

Descrição da Imagem: a Figura 14 (a) refere-se às capacidades rudimentares de alcançar objetos. A ilustração mostra a criança sentada próxi-
ma a um pequeno cubo, com a mão direita esticada em direção ao cubo. A Figura 14 (b) refere-se à capacidade rudimentar de pegar objetos. A
criança está sentada tocando os cubos empilhados à sua frente. A Figura 14 (c) refere-se à capacidade rudimentar de soltar objetos. A criança
está sentada próxima a três cubos, a mão esquerda tocando o peito e a mão direita esticada.

31


Similarmente ao que foi observado nas fases anteriores, Considerando o modelo da ampulheta, para com-
a fase do movimento fundamental (padrão de movi- preender as fases e os estágios do desenvolvimento motor
mento), nos primeiros anos de vida, resulta da fase an- (Figura 3), é importante ponderar que toda a fase do mo-
terior, a do movimento rudimentar. Nesta nova fase, as vimento fundamental possui estágios separados, mas eles,
crianças mais novas estão envolvidas, de forma ativa, na comumente, se sobrepõem: o estágio inicial, o elementar
exploração e experimentação do que o corpo é capaz de emergente e o estágio proficiente. O estágio inicial (2
fazer em relação aos movimentos. A criança passa a des- a 3 anos) representa as primeiras tentativas voltadas para
cobrir a forma de executar inúmeros movimentos de es- o alvo de executar uma habilidade fundamental. Aqui, o
tabilidade, locomoção e manipulação, experimentando os movimento é marcado pela ausência de algumas partes ou
movimentos de maneira isolada e, posteriormente, com- por uma sequência inapropriada, por má coordenação e
binando-os a outros, com o objetivo de adquirir cada vez fluxo rítmico, pelo uso reduzido ou demasiado do corpo,
mais controle sobre o desempenho de movimentos dis- com insatisfatória integração espacial e temporal do movi-
tintos, seriais e contínuos, segundo a própria capacidade mento (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
de acolher as mudanças nas exigências das tarefas. Con- Nos estágios elementares emergentes (3 a 5 anos),
forme Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), os exemplos há mais controle motor e coordenação rítmica bem
de atividades que correspondem ao padrão de movimen- como melhor sincronização dos elementos temporais e
to, nesta fase, são: equilibrar-se com uma perna só, andar espaciais. No entanto os padrões de movimento ao lon-
sobre o meio fio (estabilizadoras), correr, pular (locomo- go desses estágios, em geral, continuam reduzidos ou
toras), pegar e arremessar (manipulativas). exagerados, mesmo que melhor coordenados. É comum
O desenvolvimento dessas habilidades pode ser in- muitos indivíduos, não, somente, crianças, não conse-
fluenciado pela maturação, contudo essa não é a única guirem ir além dos estágios elementares emergentes
influência recebida. As demandas da tarefa e os fatores em uma ou mais habilidades (GALLAHUE; OZMUN;
ambientais, como oportunidades de prática, incenti- GOODWAY, 2013).
vo e instruções e o contexto do ambiente (ecologia) Os estágios de proficiência (5 a 7 anos) são os úl-
são fortes influenciadores do desenvolvimento das timos da fase dos movimentos fundamentais. Costumam
habilidades do movimento fundamental. A utilidade ser marcados pelo desempenho eficiente, coordenado e
dessas habilidades é para toda a vida bem como re- controlado, mais maduros em relação a estes três aspec-
presentam componentes importantes do dia a dia dos tos do processo. As habilidades de manipulação que re-
adultos e das crianças (GALLAHUE; OZMUN; GOO- querem o acompanhamento visual com cruzamento de
DWAY, 2013). Visando a exemplificar esta colocação, objetos em movimento, como é o caso de movimentos
pensaremos no deslocamento a pé que fazemos para ir de rebater e pegar, podem se desenvolver um pouco mais
ao trabalho ou até o comércio, ou ainda, como forma tarde. Para a eficiência no seu desenvolvimento, essas ha-
de prática de atividade física; subir escadas para acessar bilidades requerem o desenvolvimento da maturação, as
cômodos da casa ou salas comerciais em edifícios; equi- oportunidades de prática, o incentivo e um ambiente favo-
librar-se em estruturas estreitas de passagens ou em um rável ao aprendizado. Sem as oportunidades, o desenvol-
pé só, a fim de realizar alguma tarefa, o que exige a ma- vimento dessas habilidades fica comprometido e se torna
nutenção do corpo em posições dinâmicas ou estáticas. difícil alcançar a proficiência, comprometendo, também,

32
EDUCAÇÃO FÍSICA

a fase posterior: a do movimento especializado


(GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
Agora que as crianças apresentam condições
de explorar os seus potenciais ao vencer a força
da gravidade (estabilidade), exercendo controle
sobre a musculatura quando realizam movimen-
tos com o corpo em determinado espaço (loco-
moção) e evoluem, gradualmente, na habilidade
de estabelecer contatos com objetos, de forma
precisa e controlada (manipulação), no ambiente
onde estão interagindo, o desenvolvimento motor
se encaminhará ao refinamento (GALLAHUE;
OZMUN; GOODWAY, 2013). A partir desta fase,
o desenvolvimento é direcionado, mais fortemen-
te, às habilidades locomotoras e manipulati-
vas. O foco continua na aquisição de vivências de
movimentos que aumentem o repertório e permi-
tam a evolução das habilidades motoras dos mo-
vimentos fundamentais. Ainda não é o momento
de direcionar a criança para a fase de especializa-
ção, neste ponto, o profissional de Educação Física
tem contribuição ímpar. Continuar estimulando a
criança a desenvolver a competência motora bá-
sica, a partir de uma mecânica corporal eficiente,
nas diferentes práticas de movimentos que reque-
rem habilidades distintas, é o melhor caminho.
Veremos alguns exemplos de como ocorre o
desenvolvimento das habilidades motoras fun-
damentais de locomoção e manipulação ao longo
dos seus estágios. Nos exemplos de habilidades de
locomoção (Figuras 15) e de manipulação (Figuras
16), o estágio 1 corresponde ao estágio inicial, os
estágios 2 e 3 aos estágios emergentes, enquanto o
estágio 4 refere-se ao estágio proficiente.
A sequência de duas das cinco habilidades
de locomoção, nos seus respectivos estágios, está
ilustrada nas Figuras 15.

33


Estágio 1 Estágio 1

Estágio 2 Estágio 2

Estágio 3
Estágio 3

Estágio 4 Estágio 4

a) b)
Figura 15 (a) - Sequências desenvolvimentais da corrida; Figura 15 (b) - Do salto horizontal / Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 251-259).

Descrição da Imagem: as figuras apresentam sequências ilustradas, uma embaixo da outra, separadas em estágios 1, 2, 3 e 4. Na Figura 15 (a),
há uma sequência de movimentos de corrida que inicia na fase de bebê, quando a criança cai no final, e termina na fase adulta, com a corrida
estabelecida. Na Figura 15 (b), há uma sequência de movimentos de corrida que se inicia na fase infantil, quando a criança salta, moderadamente,
e finaliza na fase adulta, com o salto estabelecido.

Para que você possa compreender, de forma mais clara,


o desenvolvimento das habilidades motoras, no vídeo
disponível no QRCode, a seguir, você visualizará a execução
da habilidade motora de locomoção (corrida), executada
por três crianças que, de acordo com a idade cronológica,
espera-se que estejam nos estágios inicial, emergente e
proficiente. Observe, com atenção, a diferença de execução
da mesma habilidade motora ao longo dos estágios de
desenvolvimento.

34
EDUCAÇÃO FÍSICA

Nesse momento, observaremos, nas Figuras 16, qual é a rebatida, três das cinco habilidades motoras fundamen-
sequência de desenvolvimento do chute, do voleio e da tais de manipulação, nos seus respectivos estágios.

a)

Estágio 1

Estágio 2

Estágio 3

Estágio 4

b) c)

Estágio 1
Estágio 1

Estágio 2
Estágio 2

Estágio 3
Estágio 3

Estágio 4 Estágio 4

Figura 16 (a) - Sequências desenvolvimentais do chute; Figura 16 (b) - Do voleio; Figura 16 (c) - Da rebatida
Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 235-241).

Descrição da Imagem: as figuras apresentam sequências ilustradas, uma embaixo da outra, separadas em estágios 1, 2, 3 e 4. A Figura 16 (a)
refere-se às sequências desenvolvimentais do chute, por meio de uma sequência de movimentos de chutes curtos no estágio 1 até chegar a
movimentos mais estabelecidos no estágio 4. Na Figura 16 (b), há uma sequência de movimentos de voleios curtos no estágio 1 até chegar a
movimentos de voleio mais estabelecidos no estágio 4. Na Figura 16 (c), há uma sequência de movimentos curtos de rebatida com um taco no
estágio 1 até chegar a movimentos de rebatida estabelecidos no estágio 4.

35


“É um equívoco pensar que as crianças apren-


dem as habilidades de movimento fundamental
‘naturalmente’, pois muitas crianças sequer al-
cançam o estágio de proficiência e, portanto,
não possuem a competência motora necessá-
ria para aplicação dessas habilidades em jogos
e esportes durante a infância e a adolescência”.
(David L. Gallahue, John C. Ozmun e Jacqueline
No vídeo disponível no QRCode, a seguir, você
D. Goodway)
visualizará a execução da habilidade manipulativa
(chute), executada pelas crianças do vídeo anterior. É
possível verificar o desenvolvimento da habilidade ao
longo dos três estágios de desenvolvimento na fase do
movimento fundamental. Existe um modelo sinergista da competência motora e da
atividade física capaz de auxiliar no entendimento da real
importância do “bom êxito” no desenvolvimento motor
O alcance da proficiência nas diferentes modalidades ao longo de todas as fases. Vimos que, quando o desen-
esportivas, ou ainda, na dança e nos jogos presentes volvimento é deficiente em alguma das etapas, o esperado
nas diversificadas culturas, é influenciada pelo desen- para a fase seguinte fica comprometido, o que impacta
volvimento das habilidades motoras fundamentais. O mais do que o comprometimento da próxima fase.
repertório adquirido nessa fase em que se combinam Segundo Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), a
habilidades motoras possibilita às crianças realizar relação entre a competência motora e a atividade físi-
movimentos com habilidade nas práticas desportivas ca se fortalece ao longo das fases, então, as crianças que
e na dança. Porém se os princípios básicos não forem apresentam níveis mais elevados de competência mo-
assimilados, o desenvolvimento motor não será efi- tora tendem a escolher para si níveis mais elevados de
ciente. Isso significa dizer que, quando não acontece atividade física, também.
a capacidade de se movimentar com facilidade, com- Sabe o que acontece com as crianças com menor
binando as diferentes habilidades motoras fundamen- competência nas habilidades motoras? Elas se engajarão
tais, a competência motora básica adquirida nos pri- em níveis mais baixos de atividade física quando forem
meiros anos foi deficiente. obrigadas a se envolver, ou preferirão ficar de fora, se
Crianças que desenvolvem a competência motora houver a possibilidade de escolha. Isso te trouxe algu-
em diferentes habilidades e movimentos estarão mais ma lembrança das aulas de Educação Física? Ao mesmo
propensas a ter êxito na manifestação das próprias ha- tempo em que a baixa competência motora conduz a
bilidades na fase seguinte do modelo da ampulheta, isto criança a baixos níveis de atividade física, o menor en-
é, na fase do movimento especializado (GALLAHUE; volvimento nessas atividades resultará em menos opor-
OZMUN; GOODWAY, 2013). tunidades de aumentar a competência motora. Interes-

36
EDUCAÇÃO FÍSICA

sante, não?! É um ciclo que se retroalimenta e que tende e pós-teste. No início do ano letivo (pré-teste), as avalia-
a permanecer nas fases posteriores, conduzindo o indi- ções revelaram semelhanças nos aspectos motores entre
víduo a um estilo de vida menos ativo. As consequências os grupos (RODRIGUES et al., 2013).
passam a ser severas não mais, somente, no contexto do Ao final do ano letivo (pós-teste), entretanto, as crian-
desenvolvimento motor, mas na saúde como um todo. ças que tiveram atividades com o professor da sala apre-
sentaram redução no nível de atividade física, enquanto
Vimos, também, no documentário O Come- que as crianças que tiveram aulas de Educação Física com
ço da Vida (42min00seg - 42min52seg), que o professor especialista apresentaram manutenção no
o professor deve construir contextos interes- nível de atividade física e melhor desenvolvimento das
santes para o desenvolvimento do aluno. O habilidades motoras. No crescimento somático (físico), o
adulto em si tem este papel, o de estimular a envolvimento em diferentes contextos de aulas de Educa-
criatividade da criança, de propiciar ambien- ção Física ao longo do ano letivo não foi suficiente para
tes favoráveis e permitir que o aluno os explo- promover alterações, isto é, os grupos apresentaram cres-
re (42min00seg - 47min40seg). cimento físico semelhante (RODRIGUES et al., 2013).
O que se concluiu neste estudo (RODRIGUES et al.,
2013) é que as aulas de Educação Física ministradas por
Há evidências, na literatura, as quais enfatizam, também, a um professor especialista contribuíram na melhora no
importância do profissional de Educação Física para o de- desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais
senvolvimento de habilidades motoras e a promoção dos bem como promoveram a manutenção do nível de ativi-
níveis de atividade física. Um estudo realizado por Rodri- dade física em crianças no Ensino Infantil.
gues et al. (2013) com 50 crianças, de 4 a 6 anos de idade, A última fase do modelo da ampulheta é a fase do
teve por objetivo verificar os efeitos de diferentes contextos movimento especializado (Figura 3), onde ocorre o
no desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais refinamento (exatidão, precisão e controle) das habili-
e no crescimento somático de alunos no Ensino Infantil. dades fundamentais de estabilidade, locomoção e mani-
Das 50 crianças de ambos os sexos, 25 tiveram Educação Fí- pulação bem como a combinação e a reelaboração para
sica com um professor da área e 25 tiveram atividades com uso nas diferentes demandas da vida (GALLAHUE;
o professor responsável pela turma ao longo do ano letivo. OZMUN; GOODWAY, 2013).
As atividades conduzidas nas aulas de Educação Físi- Podemos dizer que são movimentos fundamentais ma-
ca seguiram o conteúdo sugerido pelo sistema educacio- duros e que passaram por um processo de adaptação para a
nal, ajustadas à realidade profissional e estrutural da es- aplicação em contextos específicos, como a prática de ativi-
cola. As crianças do grupo que tiveram aulas de atividade dades esportivas e recreativas, ou ainda, para as demandas
motora ministradas pelo professor polivalente, responsá- do cotidiano. Portanto, também é uma fase para toda a vida.
vel pela turma, foram compostas por atividades recreati- Com o objetivo de exemplificação: os movimentos de pu-
vas, realizadas em um playground instalado na escola. Os lar e saltar, realizados na fase do movimento fundamental,
alunos passaram por uma bateria de testes que mensuram agora, podem ser combinados, resultando nas atividades de
habilidades motoras de locomoção e manipulativas (con- pular corda, executar saltos do atletismo e praticar dança
trole de objeto) em dois momentos, denominados de pré folclórica (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).

37


Em síntese, os padrões de movimento em Estágio Idade Características

que se baseiam as habilidades específicas O adolescente começa a tomar


decisões conscientes sobre a
no esporte são os mesmos presentes nas
sua prática, baseadas, frequen-
habilidades de movimento fundamental. Isso temente, na forma como ele se
significa que, segundo Gallahue, Ozmun e percebe em relação às chances
de diversão e de sucesso a par-
Goodway (2013), o domínio, a competên-
tir da tarefa, dele em si e do am-
cia motora das habilidades de estabiliza- biente, a favor de várias ativida-
ção, locomoção e manipulação na fase 11 a 13 des ou contra elas. As escolhas
Aplicação
anos são restringidas pela autoava-
de movimentos fundamentais favorece o
liação dos pontos fortes e dos
aprendizado das habilidades específicas. fracos do seu desenvolvimento,
das oportunidades e das pró-
prias restrições.
Momento oportuno para o refi-
Três estágios compõem a fase do movimento especiali- namento e a utilização de habili-
zado, a saber: o estágio de transição, de aplicação e de dades mais complexas em jogos
avançados.
utilização ao longo da vida (GALLAHUE; OZMUN;
Representa o ponto mais alto
GOODWAY, 2013). As características de cada estágio es- do processo do desenvolvimen-
tão apresentadas no Quadro 1. to motor, marcado pelo uso do
repertório de movimento adqui-
Estágio Idade Características rido ao longo da vida, ou seja, é o
auge de todas as fases e estágios
precedentes. Há maior refina-
Aplicações mais complexas e mento e aplicação das habilida-
específicas dos padrões de mo- Utilização
14 anos des adquiridas, anteriormente,
vimento fundamental. Combina- ao longo
ou mais seja no âmbito do esporte, seja
ção e aplicação de habilidades da vida
na recreação, seja nas atividades
de movimento para posterior cotidianas. Os fatores limitantes
execução em espaços esporti- são: falta de tempo, dinheiro,
vos e recreativos. equipamentos, instalações, limi-
Ex.: pular corda (mesmos ele- tes físicos e mentais.
mentos da fase anterior — fun- Importante ser visto como um
damental — com mais precisão, processo que continuará e du-
7 a 10 forma e controle). rará a vida toda.
Transição
anos
Obs.: pais e professores preci- Quadro 1 - Características dos estágios de desenvolvimento da
sam estar atentos para não re- fase do movimento especializado / Fonte: Gallahue, Ozmun e
Goodway (2013, p. 73-74).
querer que a criança se especia-
lize ou restrinja o envolvimento
nas atividades. Este é um está-
gio de transição e focar, estrita- A Figura 17 ilustra as habilidades de locomoção, mani-
mente, em certas habilidades, pulação e estabilidade do movimento fundamental, bá-
neste momento, pode produzir
sicas e combinadas, que devem ser proficientes antes da
resultados desfavoráveis ao de-
senvolvimento. introdução das habilidades do movimento especializa-
do, requeridas nos esportes e na recreação.

38
EDUCAÇÃO FÍSICA

Locomoção Manipulação Estabilidade

Habilidades do movimento fundamental


desenvolvidas e refinadas na infância
1. Básicas (um elemento) 1. De propulsão 1. Axial
a. Caminhar a. Arremessar a. Inclinar
b. Correr b. Chutar b. Alongar
c. Dar um passo c. Volear (a bola de c. Torcer
alongado (saltado) futebol americano) d. Girar
d. Saltar d. Rebater e. Balancear
e. Saltitar para o lado e. Volear
f. Quicar 2. Posturas estáticas e dinâmicas
g. Rolar a bola a. Apoios invertidos
2. Combinações b. Rolamentos
(dois ou mais
2. De absorção c. Iniciar
elementos) d. Parar
a. Pegar
a. Galopar b. Dominar a bola e. Esquivar-se
b. Correr lateralmente f. Equilibrar-se
c. _Skipping_

Habilidades do futebol americano


Habilidades do movimento
especializado aplicadas ao

Habilidades do beisebol
esporte e à recreação

Habilidades do basquetebol
Habilidades do hóquei
Habilidades da acrobacia
Habilidades de aparelhos
Habilidades do atletismo
Habilidades da natação
Habilidades da luta romana
Habilidades dos esportes de raquete
Habilidades da dança
etc.

Figura 17 - Habilidades do movimento fundamental de locomoção, manipulação e estabilidade, básicas e combinadas, para aplicação na fase do
movimento especializado / Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 333).

Descrição da Imagem: a figura refere-se a um esquema das habilidades do movimento fundamental de locomoção, manipulação e estabilida-
de, básicas e combinadas para aplicação na fase do movimento especializado. O esquema está dividido em locomoção: básica (um elemento:
caminhar, correr, dar um passo alongado, saltado, saltar, saltitar para o lado) e combinações (dois ou mais elementos: golpear, correr, late-
ralmente, skipping); manipulação: de propulsão (arremessar, chutar, volear a bola de futebol americano, rebater, volear, quicar, rolar a bola)
e de absorção (pegar, dominar a bola); estabilidade: axial (inclinar, alongar, torcer, girar, balancear) e posturas estáticas e dinâmicas (apoios
invertidos, rolamentos, iniciar, parar, esquivar-se, equilibrar-se). As três habilidades do movimento fundamental estão ligadas às habilidades
de movimento especializado aplicadas ao esporte e à recreação: habilidades do futebol americano, beisebol, basquetebol, hóquei, acrobacia,
aparelhos, atletismo, natação, luta romana, habilidades de esportes de raquete, habilidades da dança etc.

Há, também, alguns determinantes do surgimento e da velocidade, o tempo de reação e a coordenação; a consti-
extensão do desenvolvimento das habilidades, nesta tuição emocional, a cultura, a pressão dos pares e os cos-
última fase do desenvolvimento motor. Determinantes tumes de determinada época e/ou do próprio contexto
relacionados à tarefa, ao indivíduo e ao ambiente. Como no qual a criança está inserida (GALLAHUE; OZMUN;
exemplos, podemos citar: a massa corporal e a estatura; a GOODWAY, 2013).

39


Agora que você sabe tantas informações a respeito dos


primeiros anos de vida de um indivíduo, qual seria a sua
resposta para as questões trazidas lá no início da unida-
de? “Você já se perguntou como o desenvolvimen-
to dos seres humanos acontece? Parou para pensar
que somos muito mais do que uma carga genética?”
Talvez ela seja muito próxima do que você respondeu
lá no começo e/ou, talvez, ela seja, totalmente, diferen-
te. O mais importante, agora, é perceber o quanto esses
conhecimentos vistos ao longo da unidade ampliaram a
sua forma de pensar a prática profissional.
Nesse sentido, gostaríamos de acrescentar outras
duas questões: como você pensaria a sua atuação profis-
Nem sempre o crescimento físico e o desenvolvimento
sional, trabalhando com crianças e adolescentes, a partir
motor encontram-se “livres” para se desenvolver no
de agora? O alcance da competência motora em cada
seu máximo potencial. A depender da herança genéti-
um dos estágios e das fases de desenvolvimento motor
ca, das características do ambiente, como a estimula-
seria um dos seus objetivos?
ção e a privação, e dos fatores das tarefas físicas, que
incluem a etnia e a classe social, o crescimento e o
Como vimos desde o início da unidade, cuidar do de-
desenvolvimento motor se apresentarão. senvolvimento das crianças “é o maior investimento que
É importante lembrar que não estamos falando de se pode fazer na humanidade”. Portanto, ao preparar as
processos estáticos, pelo contrário, a interação entre suas aulas para esse público, quer elas sejam de Educação
esses fatores biológicos e ambientais ao longo do Física na formação básica, quer elas sejam em escolinhas
desenvolvimento podem modificar o curso desses pro- de treinamento esportivo, espaços recreativos, ou ainda,
cessos. Para saber mais acerca dos fatores que afetam nas interações em outros ambientes de atuação profissio-
o desenvolvimento motor, convidamos você a ouvir o nal, certifique-se em qual faixa etária esse público se en-
podcast sobre esse tema. contra, se está passando por algum processo maturacional
e em qual fase e estágios de desenvolvimento motor os in-
divíduos estão, assim, você buscará ser mais assertivo(a) na
proposição das atividades.

40
agora é com você

1. Esclareça quais são os conceitos de crescimento, desenvolvimento e maturação. Em seguida, indique em


que momento da vida cada um inicia e finaliza.
2. Em relação aos estudos sobre desenvolvimento, leia, atentamente, as informações, a seguir:
I. O desenvolvimento é um conceito específico, que pode ter um contexto biológico ou comportamental.
II. Há uma variedade de domínios contemplados no desenvolvimento e que se inter-relacionam conforme
a criança interage com o meio cultural.
III. No contexto comportamental, o desenvolvimento está relacionado aos processos de diferenciação e
especialização de células embrionárias.
IV. O contexto biológico refere-se ao desenvolvimento de competência, o qual pode estar relacionado aos
domínios cognitivo, emocional, social, moral e motor.
V. O desenvolvimento do domínio motor está relacionado à aquisição e ao refinamento de comportamen-
tos, como o desenvolvimento da competência motora, e à aquisição e ao refinamento de habilidades
em atividades motoras variadas.

É correto o que se afirma em

a. I, apenas.
b. III, apenas.
c. I e II, apenas.
d. III e IV, apenas.
e. II e V, apenas.

3. Crie uma nuvem de palavras, manualmente ou com auxílio de alguma ferramenta (ex.: Wordout, Wordart,
Wordle), com os termos que representam o desenvolvimento motor.
4. Na sua essência, o desenvolvimento motor é observado a partir de alterações no comportamento motor. Tra-
ta-se de um processo de aquisição de padrões (movimentos para desempenho específico, como pular, correr)
e habilidades (precisão, exatidão e economia de energia) de movimento. Considere as afirmações, a seguir,
acerca do desenvolvimento motor.
I. Na fase dos movimentos rudimentares, estão contidos os estágios de inibição dos reflexos e de pré-
-controle.
II. Movimentos de rotação corporal são movimentos que requerem um amplo componente de equilíbrio.
III. Cada nova etapa envolve a emergência de novas propriedades que não são encontradas na etapa
anterior.
IV. Os movimentos locomotores são qualquer movimento em que algum grau de equilíbrio é necessário.
V. Na sequência do desenvolvimento motor, quando as etapas não são atingidas ou plenamente estabe-
lecidas, a sequência deixa de existir.

41
agora é com você

É correto o que se afirma em:

a. II, apenas.
b. III, apenas.
c. I e II, apenas.
d. I e III, apenas.
e. I, II e III, apenas.

5. O Modelo Teórico que propõe a descrição de como o desenvolvimento motor acontece, de Gallahue, Oz-
mun, Goodway (2013), é definido como uma ampulheta heurística, isto é, como um processo fase-estágio
descontínuo e sobreposto. Neste modelo, o desenvolvimento motor de cada indivíduo passa por quatro
fases e, em cada uma delas, há de dois a três estágios com faixa etária aproximada para os seus períodos
de desenvolvimento. Em qual fase de movimento há a indicação do uso dos movimentos na rotina diária,
de forma recreativa e/ou competitiva? Assinale a alternativa correta:
a. Fase do movimento reflexo.
b. Fase do movimento fundamental.
c. Fase do movimento rudimentar.
d. Fase do movimento especializado.

6. Explique como se dá, no modelo sinergista, a relação entre a competência motora e a atividade física e
que pode proporcionar a compreensão clara da importância de o desenvolvimento motor esperado ser
alcançado ao longo de todas as fases.

42
UNIDADE
II
APRENDIZAGEM MOTORA:
CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Dra. Giseli Minatto Schmitz


Dra. Juliane Berria

Oportunidades de aprendizagem

Nesta unidade, iniciaremos o estudo sobre a aprendizagem motora. Você terá a


oportunidade de aprender os seus aspectos gerais, esclarecendo alguns conceitos
importantes da área, como: aprendizagem, habilidade motora e performance.
Será capaz de identificar as formas de classificação dessas habilidades e, também,
compreenderá os processos de aquisição, retenção e transferência delas.
unidade

II


D
esde o nascimento, o ser humano está em constantes situações de aprendizagem. Seja com os pais,
seja com familiares, amigos, professores e técnicos; somos colocados, diariamente, em situações
que requerem de nós a execução de novas habilidades que podem ser cognitivas ou motoras.
Aprender uma nova habilidade requer que ela seja um objetivo do aprendiz, ele precisa ter o
desejo de aprendizado. Também podemos dizer que o aprendizado de uma nova habilidade é algo dinâmico,
visto que, dependendo da situação na qual essa habilidade está sendo executada, pode exigir do aprendiz
adaptações na forma da execução.
Para melhor compreensão desse contexto, pensaremos no aprendizado da habilidade de andar: quando
o bebê começa a ensaiar os seus primeiros passos, normalmente, ele é colocado em um solo plano, sem obs-
táculos, e tem o auxílio de adultos. À medida que vai avançando no seu processo de aprendizagem, o bebê
passa a dar alguns passos sem auxílio (o que requer adaptações em relação à situação de andar com ajuda); se
aventura a caminhar em espaços com brinquedos pelo chão, que representam obstáculos os quais precisam
ser ultrapassados e que também requerem ajustes neste caminhar, como: elevar mais o pé, maior equilíbrio
para permanecer por mais tempo em, apenas, um apoio, entre outros ajustes.
Com base neste exemplo e considerando os conteúdos vistos até aqui, refletiremos sobre alguns pontos,
antes de avançarmos no conteúdo desta unidade: é possível afirmar que os estágios de desenvolvimento de-
vem ser considerados para o ensino de uma habilidade motora? Tente recordar da sua infância, o momento
que você aprendeu a amarrar o seu calçado: como foi o processo? Como essa habilidade foi ensinada a você?
Você conseguiu fazer na primeira tentativa? O laço executado na primeira vez é igual ao que você faz hoje?
Juntamente com o desenvolvimento motor (que estudamos na Unidade 1) e o controle motor (que será
abordado na Unidade 3), a aprendizagem motora faz parte da grande área chamada de comportamento motor.
Para a atuação do profissional de Educação Física, muitos conhecimentos são necessários. Dependendo
do contexto, o trabalho requererá do profissional o conhecimento acerca do aprimoramento da aptidão física,
a melhora e o ensino de habilidades motoras, ou ainda, a combinação desses conhecimentos em uma mesma
atuação. De forma geral, pode-se afirmar que qualquer atuação que busca a aprendizagem ou a melhora de
um movimento, independentemente do contexto de atuação, requererá do profissional, em alguma medida, o
conhecimento sobre a aprendizagem motora. O conhecimento do profissional de Educação Física a respeito
dos mecanismos e processos pelos quais as pessoas aprendem possibilita um planejamento mais adequado
do trabalho, a fim de alcançar êxito. O professor que compreende esse processo poderá guiar o seu aluno, de
forma mais assertiva, neste encaminhamento.
Ao longo da sua vida, é possível que você já tenha tido contato com alguma criança e já tenha observado
as evoluções dela em relação à aprendizagem de diferentes habilidades, contudo, muitas vezes, isso passa des-
percebido e não nos atentamos como esse processo acontece.
Então, convidamos você a buscar o contato com uma criança, a fim de identificar os processos de apren-
dizado dela. Pode ser uma criança do seu convívio familiar, da sua vizinhança, ou ainda, você pode ir a um
Centro de Educação Infantil para realizar esta atividade.

46
EDUCAÇÃO FÍSICA

Se tiver oportunidade, procure ensinar uma brincadeira para essa criança. Se não
for possível, tente observar como ocorre a aprendizagem dela no contato com os pais
ou com os professores. Qual é a brincadeira ou a habilidade que está sendo ensinada
para a criança? De que forma as instruções estão sendo fornecidas a ela? Como ela exe-
cuta o que foi ensinado, em um primeiro momento? Você consegue identificar diferen-
ças na execução após algumas tentativas ou nos dias subsequentes? Anote e organize as
suas observações no espaço Diário de Bordo, disponível à frente.
A partir dessa observação, aponte todas as suas impressões sobre esta experiência
relacionada ao aprendizado da criança. Destaque, ainda, os pontos que você conside-
rou positivos para a aprendizagem da criança com relação à forma de ensino e, tam-
bém, os pontos que você verificou possíveis de serem aperfeiçoados, a fim de melhorar
o processo de aprendizagem. Registre estas reflexões no seu Diário de Bordo.

47


Como estudamos na unidade anterior, ao longo do LEE, 2016, p. 178). Pode-se dizer, ainda, que a apren-
processo de desenvolvimento, os padrões de mo- dizagem motora envolve o aprendizado do movi-
vimento vão se modificando. Os movimentos que, mento, promovendo mudanças, relativamente, per-
inicialmente, são reflexos passam a ser voluntários manentes no comportamento motor (GALLAHUE;
(GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013) e, com OZMUN; GOODWAY, 2013) e busca compreender
o passar do tempo, esses movimentos podem ser os processos por meio dos quais ocorre a aquisição
aprimorados a partir da aprendizagem. de habilidades motoras, resultante da prática ou ex-
Para avançarmos na compreensão do tema des- periência, bem como os fatores que influenciam esse
ta unidade e das unidades seguintes, é importante, processo (TANI; CORRÊA, 2016).
inicialmente, esclarecermos alguns conceitos refe- O aprendizado é resultante de experiência, edu-
rentes às aprendizagem e habilidade motoras e per- cação e treinamento e da interação destes fatores
formance. com processos biológicos. O nível de desenvolvi-
A aprendizagem motora “é um conjunto de pro- mento do aprendiz também exerce forte influência
cessos associados à prática ou experiência que leva sobre o ato de aprender (GALLAHUE; OZMUN;
a ganhos relativamente permanentes na potenciali- GOODWAY, 2013). Dessa forma, é necessário que
dade para a performance qualificada” (SCHMIDT; determinado nível de desenvolvimento seja alcança-

48
EDUCAÇÃO FÍSICA

do, para que a aprendizagem de certas habilidades dizagem, mesmo com a passagem do tempo e com
motoras aconteça. Em vista disso, na sua atuação, a mudança de condições (andar com bicicletas de
o professor de Educação Física precisa identificar a diferentes tamanhos, por exemplo).
etapa de desenvolvimento na qual o seu aluno se en- Com a experiência na prática, o nível de aprendi-
contra, para construir um planejamento adequado zagem tende a aumentar e, consequentemente, verifi-
e, assim, a aprendizagem, realmente, ocorrer. ca-se uma performance mais habilidosa (SCHMIDT;
Durante a aprendizagem, em termos de siste- LEE, 2016). Por isso, é importante que seja oportuni-
ma nervoso central, ocorre a chamada plasticidade zado ao aprendiz a possibilidade de executar a habi-
cerebral, a qual está relacionada às mudanças que lidade repetidas vezes, com certa frequência, consi-
acontecem no cérebro em diferentes situações. É derando possibilidades variadas de execução (além
essa plasticidade cerebral que está relacionada ao de outros aspectos importantes à prática, as quais
aspecto de haver mudanças, relativamente, perma- abordaremos nas próximas unidades), para que, com
nentes, promovidas durante a aprendizagem (SCH- o passar do tempo, vá aumentando a experiência, por
MIDT; LEE, 2016). Tal característica faz com que meio da prática das habilidades aprendidas.
a habilidade aprendida persista às alterações para É possível perceber que o termo “mudança” está
outras condições e, também, à passagem do tem- caracterizado nesses conceitos, assim, podemos in-
po bem como dependerá da habilidade ensinada a ferir que ele está, diretamente, relacionado à apren-
quantidade de tempo pela qual essa aprendizagem dizagem motora. Em vista disso, na sua atuação no
persiste (SCHMIDT; LEE, 2016). A frase: “depois contexto de ensino-aprendizagem de habilidades mo-
que aprende a andar de bicicleta, nunca mais esque- toras, o professor de Educação Física está em busca
ce!”, que você já deve ter ouvido alguém falar, reflete de desenvolver as melhores estratégias, para que o seu
muito essa característica de permanência da apren- aluno consiga alcançar estas mudanças desejadas.

Habilidade Mudança
Processo
Experiência
Feedback Educação
Prática Movimento
Aprendizagem Motora
Instrução Treinamento Performance Ganhos

Planejamento Habilidade Motora


Motivação
Comportamento Motor

49


Na Unidade 1, falamos das habilidades motoras A habilidade motora é entendida, ainda, como
no contexto do desenvolvimento motor, a fim de en- “um indicador de qualidade de desempenho, isto é,
tender as fases e os estágios nos quais o desenvol- uma expressão do grau de proficiência na execução do
vimento motor acontece. Agora, conceituaremos as movimento” (TANI, 2016, p. 21). Ao abordarmos essa
habilidades motoras, para as compreender no con- habilidade enquanto indicador de qualidade de desem-
texto da aprendizagem motora. penho, é importante não a confundir com técnica. Esta
A habilidade, que pode ser cognitiva ou motora, refere-se a “como executar” determinada tarefa motora,
refere-se a uma tarefa que tem uma finalidade especí- ou seja, a forma de execução da tarefa de acordo com
fica a ser alcançada. Por exemplo, realizar uma conta as especificações técnicas, previamente, definidas (na
matemática ou tocar um instrumento musical (MA- literatura), como, nos esportes, por exemplo (TANI,
GILL, 2000). Na habilidade cognitiva, os aspectos per- 2016).
ceptivos e de tomada de decisão são fundamentais, por Os estudos que buscam compreender a aprendi-
exemplo, executar um cálculo matemático. Na questão zagem motora são realizados em diferentes níveis de
do movimento, está relacionada a “saber o que fazer”. análise, desde os estudos bioquímicos e comportamen-
Na habilidade motora, a qualidade do movimento é tais até os sociológicos. Na área da Educação Física, os
determinante (SCHIMIT; WRISBERG, 2001). Ela re- estudos costumam envolver a análise comportamental
quer movimento voluntário, realizado por uma ou mais da aprendizagem motora, tendo em vista a relação com
partes do corpo, é aprendida e tem um objetivo espe- a aplicação prática na avaliação e no ensino das habi-
cífico a ser alcançado (MAGILL, 2000; GALLAHUE; lidades motoras. Esses estudos analisam o movimento
OZMUN; GOODWAY, 2013; TANI, 2016). observável e os fatores que influenciam a qualidade de
execução do movimento (TANI, 2016).
As habilidades motoras não são necessárias, ape-
nas, no contexto de prática de exercícios físicos e/ou es-
portes, são fundamentais, também, para as nossas ativi-
Considerando o conceito de habilidade moto- dades de vida diária: comer, vestir-se, pentear o cabelo,
ra apresentado nesta unidade, os movimentos digitar no computador, dirigir, entre outras. Executar
reflexos, que você estudou na Unidade 1, se-
essas tarefas com certo nível de habilidade permite a
riam classificados como habilidades motoras?
independência do indivíduo, além de favorecer a reali-
zação das atividades de vida diária com mais agilidade
e menos fadiga.
Tendo em vista que a habilidade motora exige movi- No contexto da aprendizagem motora, estão re-
mentos voluntários para atingir um objetivo, os mo- lacionados ao movimento outros termos que preci-
vimentos reflexos não podem ser enquadrados nesta sam ser esclarecidos. O movimento é caracterizado
categoria, dada a sua característica de serem invo- pelo comportamento de um membro ou de uma
luntários (MAGILL, 2000; GALLAHUE; OZMUN; combinação de membros; refere-se às mudanças que
GOODWAY, 2013). podem ser observadas na posição de qualquer parte

50
EDUCAÇÃO FÍSICA

do corpo, sendo parte da habilidade, por exemplo: o gem, estamos considerando, somente, os fatores re-
movimento dos membros durante uma corrida na lacionados à prática ou à experiência (SCHMIDT;
rua, na areia ou na piscina é realizado de forma dife- LEE, 2016).
rente em cada uma das situações descritas, contudo, Nesse contexto, outro termo que precisa ser
em todas elas, a habilidade que está sendo executada compreendido é a performance motora (ou desem-
é o correr (MAGILL, 2000; GALLAHUE; OZMUN; penho motor). A performance motora está relacio-
GOODWAY, 2013). Já o padrão de movimento se nada com a execução de uma habilidade motora
refere às “séries organizadas de movimentos relacio- (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; TANI,
nados” (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013, 2016), com o quão bem ela é realizada, ou com o
p. 33). nível de proficiência nesta execução (TANI, 2016).
Deve-se considerar, ainda, a existência de mui- No Quadro 1, apresentamos as principais dife-
tos fatores que influenciam, de forma bem-sucedi- renças entre aprendizagem e performance, as quais
da, a execução de uma habilidade (ex.: crescimento são destacadas por Tani (2016):
e estágio do desenvolvimento motor, aptidão física,
entre outros), mas quando falamos em aprendiza-

Aprendizagem Performance

Manifesta: implica ação efetora (comportamento obser-


Oculta: está relacionada a mudanças internas.
vável).

Sofre flutuações em função do tempo: condição física,


Mudanças, relativamente, permanentes. crescimento, questões psicológicas, fadiga, humor,
estresse, motivação, entre outros.

Quadro 1 - Principais diferenças entre aprendizagem e a performance / Fonte: adaptado de Tani (2016).

Considerando essas características, destaca-se que a performance é capaz de ser influenciada tanto po-
aprendizagem não pode ser mensurada, mas sim in- sitiva quanto negativamente por alguns desses fato-
ferida a partir das mudanças observáveis na perfor- res. Por exemplo, a motivação para a realização da
mance, ou seja, na execução das habilidades moto- habilidade motora pode influenciar, positivamente,
ras (SCHMIDT; LEE, 2016; TANI, 2016). Contudo, a performance, enquanto a fadiga influenciaria, ne-
ao fazer essa avaliação, deve-se considerar os fato- gativamente. Neste contexto, o profissional de Edu-
res mencionados, anteriormente, que influenciam cação Física tem o desafio de identificar esses fatores
a performance e a sua caraterística de flutuação em que estejam atuando na performance e, também, na
função do momento da avaliação (TANI, 2016).A aprendizagem (SCHMIDT; LEE, 2016).

51


Em vista disso, ao realizar uma avaliação com o obje- possam estar influenciando o resultado da avaliação
tivo de compreender as possíveis mudanças no pro- e, também, a aprendizagem motora.
cesso de aprendizagem motora, é importante buscar
informações referentes a esses fatores, para compre-
ender, de forma mais ampla, os resultados encontra-
dos. Por exemplo: realizar a avaliação ao final de uma Em relação à aprendizagem motora, é possível
aula de Educação Física ou ao final de uma sessão destacar quatro pontos importantes:
de treino, no qual o aprendiz esteja, excessivamente, - Para que ela ocorra, são necessárias a prá-
cansado, pode resultar em um desempenho inferior tica e a experiência.
na execução da habilidade motora, o que não ocorre- - Um conjunto de processos no sistema ner-
ria se a avaliação fosse realizada em outro momento voso central precisam acontecer, para que a
da aula ou treino. Ou ainda, realizar essa avaliação aprendizagem aconteça.
em um dia cujo aprendiz não teve uma noite de sono - Ela resulta em mudanças, relativamente,
restauradora, influenciariam o resultado da avalia- permanentes.

ção a fadiga, a dificuldade de concentração, entre - A aprendizagem motora é, muitas vezes, in-
ferida a partir de mudanças na performance,
outros fatores. Assim, recomenda-se que o professor
ou seja, não é, diretamente, observável.
de Educação Física, sempre que identificar algum
Fonte: adaptado de Schmidt e Lee (2016).
resultado diferente do esperado, considerando o co-
nhecimento prévio sobre o aluno, busque conversar
com ele, em busca de identificar possíveis fatores que

52
EDUCAÇÃO FÍSICA

Visando a facilitar a compreensão acerca das habili- o nível de previsibilidade ambiental e a função ou
dades motoras, os autores da área da aprendizagem a intenção do movimento. Vejamos, na sequência,
motora costumam classificá-las em categorias. En- cada uma dessas classificações.
tão, na sequência, estudaremos essas classificações De acordo com a musculatura envolvida na reali-
das habilidades motoras. Para tanto, os autores con- zação da habilidade, podemos classificar as habilida-
sideram a semelhança entre elas, a fim de as incluir des em: motoras globais (ampla ou grossa) ou moto-
em uma mesma categoria (MAGILL, 2000). ras finas. As habilidades motoras globais (ampla ou
As habilidades motoras costumam ser classifi- grossa) envolvem grandes grupos musculares para
cadas de acordo com os modelos unidimensionais a realização das habilidades. Exemplos: caminhar,
e bidimensionais. Na classificação unidimensional, correr, saltar. As habilidades motoras finais, por sua
uma única característica da habilidade é analisada vez, envolvem o controle de pequenos grupos mus-
e, nos modelos bidimensionais, duas características culares e requerem precisão de movimento. Exem-
serão abordadas (GALLAHUE; OZMUN; GOO- plos: escrever, digitar, desenhar e amarrar o cadarço
DWAY, 2013). do tênis. Ao executar uma habilidade motora fina,
Nos modelos unidimensionais, as habilidades os grandes grupos musculares são, às vezes, recruta-
são classificadas segundo uma característica seme- dos, porém, prioritariamente são os pequenos gru-
lhante entre elas (MAGILL, 2000), como: a muscu- pos que estão envolvidos na tarefa (GALLAHUE;
latura envolvida na habilidade, a organização ou OZMUN; GOODWAY, 2013; MAGILL, 2000).
os aspectos temporais, os aspectos ambientais ou

Habilidade
motora Grandes grupos
global ou musculares
grossa

MUSCULATURA
ENVOLVIDA

Pequenos grupos
musculares
(precisão)
Habilidade
motora fina

Figura 1 - Esquema representativo das habilidades motoras, de acordo com a musculatura envolvida / Fonte: as autoras.

Descrição da Imagem: a imagem refere-se a um esquema horizontal relacionado à musculatura envolvida na realização da habilidade motora.
O esquema está subdividido em habilidade motora global ou grossa referente aos grandes grupos musculares e em habilidade motora fina,
referente aos pequenos grupos musculares (precisão).

53


Considerando a organização da tarefa (ou aspectos


temporais), as habilidades motoras são classificadas
em motora discreta, contínua ou seriada. A habili- Organização da
dade motora discreta possui início e final bem de-
tarefa ou aspectos temporais
marcados da execução do movimento (ele começa e
termina em pontos bem definidos) e, normalmente, Habilidades Discretas
apresenta curta duração. Podemos citar como exem- Início e fim definidos
plos: arremessar uma bola, chutar, ligar e desligar
um botão, pisar no pedal da embreagem.
A habilidade motora contínua não apresenta
início e fim definidos ou que sejam identificados.
Como o próprio nome diz, ocorrem de forma contí-
nua, repetindo-se ao longo da execução. São exem-
plos: correr, nadar, pedalar.
Na habilidade motora seriada ocorre, para a
realização de uma habilidade, uma combinação de
ações motoras discretas interligadas com rápida su-
cessão. Normalmente, a sequência de execução de
cada habilidade é fundamental à execução adequada.
Habilidades Contínuas
São exemplos: pular corda, driblar, correr com obs-
Início e fim indefinidos
táculos (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013;
MAGILL, 2000; SCHIMIT; WRISBERG, 2001).

Figura 2 - Organização da tarefa ou aspectos temporais


Fonte: as autoras.

Descrição da Imagem: a imagem refere-se à organização da tarefa


ou aos aspectos temporais e está subdividida em três habilida-
des, com respectivos exemplos apresentados por fotografias.
As habilidades discretas têm início e fim definidos (arremesso
Habilidades Seriadas
de bola, apertar um botão ou amarrar os cadarços do tênis). As Habilidades discretas combinadas
habilidades contínuas têm início e fim indefinidos (atleta nadando,
mãos com agulhas fazendo tricô). Por fim, as habilidades seriadas
são a combinação de mais de uma habilidade discreta (homem
dirigindo um carro e mulher pulando corda).

54
EDUCAÇÃO FÍSICA

A partir da análise de aspectos ambientais (ou da


estabilidade ou previsibilidade do ambiente), a ha-
bilidade motora classifica-se em aberta ou fechada.
Para aprofundar os
A habilidade motora aberta ocorre em ambiente
conhecimentos sobre
imprevisível e com possibilidade de mudança contí-
as habilidades moto-
nua, exigindo do praticante a capacidade de adaptar,
ras seriadas e a rela-
constantemente, a execução da habilidade, a fim de ção das habilidades
se adequar à situação imposta pelo ambiente. Por motoras com os di-
exemplo, o rebote no basquete; a natação em águas ferentes estágios de
abertas, na qual o nadador pode sofrer com as cons- desenvolvimento motor, convido você a ler o
tantes mudanças na correnteza, com a temperatura artigo intitulado “Aprendizagem de uma habi-
da água e a movimentação de outros nadadores que lidade motora seriada em diferentes estágios
estejam próximos; ou na corrida de rua, em que o de desenvolvimento” da autoria de Diniz et al.
corredor precisa lidar com as diferenças de terreno (2012). O estudo analisou a aprendizagem de
(inclinações, plano ou acidentado), com os outros uma habilidade motora seriada em crianças,

corredores, o movimento de carros, bicicletas e pe- adultos e idosos.

destres (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; Para acessar, use seu leitor de QR Code.
MAGILL, 2000; SCHIMIT; WRISBERG, 2001).

Figura 3 - Habilidade motora aberta

Descrição da Imagem: a imagem refere-se a dois times femininos jogando vôlei. A ilustração mostra, do lado esquerdo da quadra, uma atleta
saltando em posição de rebater a bola (cortada). Do lado direito da quadra, há duas atletas próximas à rede saltando em posição de bloqueio.

55


A habilidade motora fechada é realizada em am-


biente estável, o qual não é alterado enquanto a
pessoa está executando a habilidade, permitindo a
previsibilidade dos acontecimentos. Esse ambiente
costuma permitir que os praticantes prevejam, com
mais antecedência, as ações necessárias. Exemplo:
nadar em uma piscina com raias, minimizando a
turbulência causada por outros nadadores, com
temperatura constante da água, sem mudanças de
correnteza. Seguindo o mesmo exemplo da corri-
da, na habilidade motora fechada, é possível pensar
na corrida na esteira, com inclinação constante ou
ajustada pelo próprio corredor e sem grandes inter-
ferências externas. Podemos citar, ainda, o lance li-
vre no basquete (MAGILL, 2000; SCHIMIT; WRIS-
BERG, 2001).
De acordo com Schimt e Wrisberg (2001), algu-
mas habilidades são difíceis de serem denominadas,
apenas, como abertas e fechadas, pois as habilidades
assim classificadas encontram-se nos pontos extre-
mos de um contínuo no qual, em seu ponto central,
encontram-se aquelas que apresentam característi-
cas chamadas de semiprevisíveis, ou seja, contam,
em um aspecto, com algum grau de previsibilidade
e, em outros aspectos, com a imprevisibilidade, con-
forme é possível verificar na Tabela 1.

Figura 4 - Habilidade motora fechada

Descrição da Imagem:a fotografia refere-se a um atleta da nata-


ção e mostra, a partir do ângulo de cima, um homem com shorts
e touca na cor preta nadando, sozinho, de barriga para baixo,
executando o nado crawl, entre as raias de uma piscina.

56
EDUCAÇÃO FÍSICA

Habilidades fechadas Habilidades abertas


Ambiente previsível Ambiente semiprevisível Ambiente imprevisível
Ginástica Caminhar na corda bamba Futebol
Digitar Dirigir um automóvel Luta greco - romana
Cortar vegetais Atravessar uma rua Perseguir um coelho

Tabela 1 - Contínuo de habilidades abertas e fechadas / Fonte: Schimit e Wrisberg (2001, p. 23).

Segundo Tani (2016), a classificação das habilidades A habilidade de locomoção refere-se ao deslo-
motoras abertas ou fechadas tem significativa impli- camento do corpo no espaço, como caminhar, cor-
cação no ensino dos esportes. A habilidade fecha- rer, saltitar. A habilidade de manipulação está re-
da, por sua característica de ambiente estável, não lacionada ao manuseio de um objeto, considerando
apresentará mudança ambiental de uma tentativa de empregar força sobre ele ou receber força do mes-
execução de movimento para outra (ou a alteração mo. São exemplos: chutar, arremessar, lançar, driblar
será muito pequena). Enquanto que, na habilidade (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Essas
motora aberta, as alterações ambientais tendem a ser habilidades também foram apresentadas na Unida-
constantes e ininterruptas. Em vista disso, percebe- de 1 no contexto das fases e estágios do desenvolvi-
-se que, para a aprendizagem, a escolha do ambiente mento motor, agora, são abordadas no contexto de
de prática é muito importante e cabe ao professor função ou intenção do movimento.
de Educação Física selecionar o melhor ambiente,
de acordo com o momento de aprendizagem do seu
aluno. Um ambiente de prática fechado pode ser
mais favorável em determinado momento ou nível
de aprendizagem, enquanto que, em outro momen-
to, o ambiente aberto é capaz de promover situações
diferenciadas e mais favoráveis à aprendizagem.
Considerando a função ou a intenção do mo-
vimento, as habilidades motoras são divididas em
habilidades de estabilidade, locomoção ou manipu-
lação. A habilidade de estabilidade envolve o ganho
ou manutenção do equilíbrio estável. Deve-se con-
siderar, aqui, que todos os movimentos requerem
algum grau de estabilidade na sua realização, por
exemplo: equilibrar-se sobre um pé e girar.

57


A) B)

Figura 5 (a) - Imagem representativa da habilidade de estabilidade (equilíbrio) em uma criança;


Figura 5 (b) - Habilidade de estabilidade em uma bailarina.

Descrição da Imagem: a Figura 5 (a) refere-se à fotografia de uma menina de pele e cabelos claros. Ela está sorrindo enquanto mantém-se com
o pé direito apoiado no joelho esquerdo. As suas mãos estão com as palmas das mãos unidas, próximo ao queixo. Ela veste blusa branca e calça
jeans azul. Tanto o seu rosto quanto as suas roupas estão sujas de um pó colorido. A Figura 5 (b) mostra, em close, a fotografia das sapatilhas
de uma bailarina. A imagem indica que ela está equilibrada na ponta dos pés.

58
EDUCAÇÃO FÍSICA

A) B)

Figura 6 (a) - Imagem representativa da habilidade de locomoção em um menino;


Figura 6 (b) - Habilidade de locomoção em uma menina

Descrição da Imagem: a Figura 6 (a) refere-se a uma criança correndo. É um menino de pele clara e cabelos curtos. Ele usa blusa de mangas
compridas, com listras horizontais e calça jeans. Na fotografia, ele está de frente, com a perna direita à frente do corpo. A Figura 6 (b) refere-se
a uma criança andando. É uma menina de pele clara e cabelos curtos. Ela usa vestido de mangas compridas na cor rosa e meias brancas. Na
fotografia, ela está de costas, com a perna esquerda à frente do corpo.

A) B)

Figura 7 (a) - Imagem representativa da habilidade de manipulação em jogadores de basquete;


Figura 7 (b) - Habilidade de manipulação em um jogador de futebol

Descrição da Imagem: a Figura 7 (a) refere-se a uma fotografia, em preto e branco, de dois adolescentes numa quadra de basquete. Eles estão
de frente um para o outro, com as pernas afastadas, os joelhos flexionados e os braços abertos. Um dos meninos está tocando a bola com a mão
direita. Ao fundo da imagem, há outro adolescente caminhando e telas do tipo alambrado que delimitam a quadra. A Figura 7 (b) refere-se a um
atleta em posição de chutar uma bola de futebol. A fotografia foca na parte inferior do corpo de uma pessoa num gramado na cor verde. A perna
esquerda está apoiada no chão e a perna direita flexionada para trás. À frente do pé esquerdo, há uma bola branca com pentágonos na cor preta.

59


A classificação bidimensional leva em consideração biente) (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013;


dois aspectos da habilidade que dependem do mo- MAGILL, 2000).
delo proposto. De acordo com a literatura, podemos Na segunda dimensão de análise, está relaciona-
citar o modelo de Gentille e o modelo de Gallahue, da a função ou a intenção pretendida com a tarefa ou
Werner e Luedke como modelos de classificação bi- ação. A função da tarefa indica a execução de uma
dimensionais de habilidades motoras. habilidade de estabilidade ou locomoção (transpor-
O modelo de Gentile foi criado com o objetivo de te corporal) e que podem ser realizadas, ainda, com
atender às demandas de trabalho de fisioterapeutas, ou sem a manipulação de um objeto (GALLAHUE;
contudo, pelas suas características, é uma proposta OZMUN; GOODWAY; MAGILL, 2000).
que, também, é passível de ser empregada no ensino
de habilidades motoras pelo professor de Educação Fí-
sica. Este modelo leva em consideração o contexto do
ambiente onde a habilidade está sendo executada bem
como a função da tarefa ou a ação (GALLAHUE; OZ- Para conhecer as 16
categorias de análi-
MUN; GOODWAY, 2013; MAGILL, 2000). A combi-
se geradas a partir da
nação dos dois aspectos incluídos neste modelo pro-
combinação do contex-
porciona 16 categorias de análise (MAGILL, 2000).
to do ambiente em que
No contexto ambiental (primeira dimensão de
a habilidade está sendo
análise), são observadas as características do am-
executada e da função da tarefa ou ação, bus-
biente e a variabilidade dele entre as tentativas. As que e pesquise no livro de Magill Aprendizagem
características do ambiente (ou condições regu- Motora: conceitos e aplicações.
ladoras) correspondem às características de um
ambiente estável (estacionário) ou um ambiente
com mudanças constantes (em movimento). Como
exemplo, podemos pensar em duas situações: correr Neste contexto, ao utilizar o modelo de Gentile para
em uma esteira ou correr na praia, situações cujo ní- a classificação da habilidade motora, o professor de
vel de exigência do ambiente é diferente de um local Educação Física deve considerar se o ambiente é
para o outro. A variabilidade do ambiente entre as estável ou móvel, se apresenta ou não variabilidade
tentativas considera se as condições de realização de entre as tentativas e, ainda, se a habilidade que está
um movimento são as mesmas em diferentes tenta- sendo executada nesse ambiente é de estabilidade ou
tivas de execução ou se essas condições sofrem al- locomoção (com ou sem manipulação de objeto).
teração (o que resultaria em variabilidade entre as De acordo com Gentille, essa classificação é uti-
tentativas). Por exemplo, jogar uma bola com o ob- lizada pelo professor para avaliar as capacidades e
jetivo de acertar um alvo: este pode estar, sempre, limitações do aluno e, também, selecionar ativida-
nas mesmas distância e altura (ambiente estável) ou des adequadas. Na avaliação, é possível identificar
em distâncias diferentes ou em alturas distintas de os aspectos que, provavelmente, estão limitando o
uma tentativa para a outra (variabilidade do am-

60
EDUCAÇÃO FÍSICA

desempenho e o que é necessário para obter melho- trução de estratégias de aprendizagem mais eficientes
ras. A partir disso, é possível selecionar as atividades (MAGILL, 2000).
mais adequadas para cada aluno, considerando o Agora que já compreendemos os principais con-
que ele precisa desenvolver (MAGILL, 2000). ceitos relacionados à aprendizagem motora e como
O modelo bidimensional de Gallahue, Werner classificar as habilidades motoras, abordaremos as-
e Luedke foi proposto em 1972 e considera, em sua pectos relacionados a aquisição, retenção e transfe-
análise de classificação das habilidades motoras, a in- rência de habilidade.
teração das fases do desenvolvimento motor (reflexa, Visando à aquisição de habilidade, conforme
rudimentar, fundamental e especializada, já vistas na já estudamos, a prática é fundamental. Além da
Unidade 1) bem como a função da tarefa ou ação (ha- quantidade de prática, os métodos utilizados nela
bilidade de estabilidade, locomoção ou manipulação) são importantes componentes para que a aquisição,
(GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). efetivamente, aconteça. Nesse ponto, é importante
Tendo em vista a variabilidade de contextos destacar que a prática não corresponde, somente, a
presentes no mundo real, Gallahue, Ozmun e Goo- uma simples repetição da execução da habilidade
dway, (2013) enfatizam a importância da utilização motora, mas sim à inclusão da repetição da habili-
de modelos multidimensionais para o trabalho com dade considerando processos de resolução de pro-
a aprendizagem motora. Nesta proposta, muitos fa- blemas (SCHMIDT; LEE, 2016). Estudaremos, com
tores devem ser considerados, dentre eles: quem é mais detalhes, na Unidade 5, a prática no contexto
o instrutor (pais, professor, técnico); o objetivo da da aprendizagem motora.
aprendizagem (vida diária, lazer, reabilitação); o De forma geral, a aquisição de habilidades ocor-
nível de desenvolvimento do aprendiz (reflexo, ru- re com rápidos ganhos no início da prática. À me-
dimentar, fundamental, especializado), o nível de dida que a aprendizagem evolui, esses ganhos dimi-
aprendizado da habilidade (iniciante, intermediário nuem, até esta redução chegar a um ponto em que
ou avançado), o tipo de tarefa (locomoção, mani- nenhuma melhora é verificada. Contudo isso não
pulação e estabilidade; discreta, contínua e seriada; quer dizer que a aprendizagem tenha se encerrado
aberta e fechada; ampla e fina) e a exigência de per- nesse momento, pode ser, apenas, que a forma de
formance (força, flexibilidade, resistência cardior- avaliação, ao continuar identificando melhorias,
respiratória, agilidade, entre outras). A análise de encontrou uma limitação a partir de determinado
todas essas informações é considerada fundamental ponto. Além disso, a performance é capaz de se tor-
ao planejamento do professor, a fim de atender às nar mais eficiente e com menos variação à medida
necessidades de aprendizagem. que a prática é mantida (SCHMIDT; LEE, 2016).
Compreender as possibilidades de classificação O processo que ocorre quando nenhuma prática
das habilidades motoras é importante para que seja é mantida está relacionado à retenção da habilida-
possível fazer generalizações ou identificar os princí- de. Este tempo sem a prática é chamado de inter-
pios comuns de como são aprendidas determinadas valo de retenção. A interrupção está, comumente,
habilidades. Esse processo auxilia o professor na cons- associada a prejuízo na performance. Este efeito não

61


é uma regra, algumas habilidades parecem não ser De forma geral, a retenção de habilidades que en-
esquecidas com a interrupção da prática, enquanto volvem, em grande parte, componentes cognitivos e
outras, podem apresentar prejuízo após algum tem- habilidades discretas tendem a se manter por menos
po sem ela (SCHMIDT; LEE, 2016). tempo, ou seja, são esquecidas mais rapidamente,
por exemplo, o número do apartamento de um ami-
go. Já as habilidades contínuas são retidas por mais
tempo, como o exemplo o qual citamos, anterior-
mente, referente a andar de bicicleta. Além disso, a
quantidade de prática realizada antes da interrupção
influencia a retenção (SCHMIDT; LEE, 2016).
A transferência de habilidade ou transferência
de aprendizagem acontece quando a experiência
com prática em uma habilidade contribui (é trans-
ferida) para o desempenho em outra habilidade ou
com mesma habilidade, mas realizada em outro con-
texto. Esta transferência pode ser positiva, isto é, au-
menta, melhora ou facilita a performance na outra
habilidade; ou negativa, diminuindo ou impedindo
a performance na execução da outra habilidade, ou
nula, quando não altera essa relação de aprendiza-
gem (MAGILL, 2000; SCHMIDT; LEE, 2016).
A transferência bilateral ocorre no momento em
que temos a aprendizagem da mesma habilidade, mas
com diferentes membros. De acordo com a literatura,
há uma tendência a apresentarmos mais facilidade de
executar uma habilidade com uma mão ou com o pé,
após já ter aprendido a execução com o lado oposto
(MAGILL, 2000).
A transferência de habilidade é um importante
objetivo da prática na aprendizagem e nas habilida-
des motoras (SCHMIDT; LEE, 2016). No trabalho
do professor de Educação Física, é comum ensinar
uma habilidade motora em um contexto de prática,
então, à medida que o aprendiz evolui na execução
dessa habilidade, outros contextos são incorpora-
dos. Ao ensinar o toque no voleibol, por exemplo,

62
EDUCAÇÃO FÍSICA

quando o aluno é orientado a executar sucessivos Conforme mencionamos, anteriormente: de for-


toques para o alto, temos um contexto de prática; ao ma geral, em alguma medida, independentemente
realizar o toque em duplas, temos outro contexto de do contexto de atuação profissional, o professor de
prática; ao realizar o toque durante um jogo de vo- Educação Física estará envolvido com o processo de
leibol, temos outro contexto que, por sua vez, reque- aprendizagem motora.
rerá do aluno variações para a execução do toque. Visualizamos isso, facilmente, no trabalho com
De forma geral, a transferência de aprendizagem crianças, na Educação Física Escolar ou nas escolas
é favorecida à medida que há semelhança entre as ha- esportivas, onde o professor está, constantemente,
bilidades, por exemplo, semelhança no padrão de mo- ensinando às crianças novas habilidades motoras,
vimento, nos elementos perceptivos recrutados para a novas brincadeiras ou fundamentos dos esportes.
execução da habilidade e semelhança nas estratégias, Mas, ao trabalhar com os adultos, na academia, no
regras ou conceitos das habilidades (SCHMIDT; LEE, clube, na Atenção Primária à Saúde e no contexto
2016). hospitalar, o professor de Educação Física também
No contexto do ensino, a transferência de ha- está em constante situação de ensino de novos movi-
bilidade pode ser utilizada como base para que o mentos ou de ajustes para melhor eficiência de mo-
professor organize a sequência por meio da qual vimento.
as habilidades serão ensinadas aos alunos, buscan- Compreender as características das habilidades
do promover uma progressão lógica desse apren- motoras que estão sendo ensinadas e os processos
dizado. Em vista disso, tal sequência é considerada de aprendizagem considerando as características de
fundamental no processo de aprendizagem motora cada habilidade permitirá ao professor um planeja-
(MAGILL, 2000). mento mais adequado das suas aulas, a fim de aten-
der aos objetivos almejados por ele e pelo aluno.

Para aprofundarmos o conteúdo desta unidade, con-


vidamos você a ouvir o podcast sobre a aprendizagem
motora enquanto área de estudo.

63
agora é com você

1. A aprendizagem motora “é um conjunto de processos associados à prática ou experiência que leva a ganhos
relativamente permanentes na potencialidade para a performance qualificada” (SCHMIDT; LEE, 2016, p. 178).
Sobre a aprendizagem motora, considere as asserções, a seguir:

I - O desempenho em uma única observação, prova e/ou teste pode não refletir a real potencialidade do exe-
cutante ou sua aprendizagem.
II - As potencialidades das crianças aumentam à medida que elas amadurecem e crescem, no entanto, estes
fatores não são evidências de aprendizagem porque não estão relacionados com a prática.
III - Para que uma mudança no nível de performance habilidosa seja considerada decorrente da aprendizagem,
a mudança deve ser, relativamente, permanente.
IV - A aprendizagem é resultado da experiência e da prática e pode ser, diretamente, medida.
É correto o que se afirma em:

a) I e II, apenas.
b) II e III, apenas.
c) I, II e III, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.

2. As habilidades motoras podem ser classificadas de acordo com a musculatura envolvida, os aspectos ambientais,
a organização da tarefa e a intenção dos movimentos. Com relação à classificação das habilidades motoras é
correto afirmar que:

a) De acordo com a musculatura envolvida, as habilidades motoras são classificadas em abertas e fechadas.
b) As habilidades discretas envolvem uma ação, normalmente, breve, sem um início e um fim bem definidos.
c) As habilidades contínuas envolvem a ação que se desenrola sem um início e um fim reconhecíveis, realizada
de forma contínua e, frequentemente, repetitiva.
d) Nas habilidades seriadas, várias ações distintas são conectadas em uma sequência e a ordem delas não
interfere no sucesso da performance.
e) Habilidades abertas referem-se a um ambiente estável e previsível durante e ação, enquanto as habilidades
fechadas estão relacionadas a um ambiente variável e imprevisível.

64
agora é com você

3. A classificação das habilidades motoras de acordo com a organização da tarefa ou aspectos temporais é dividida
em: habilidades motoras discretas, contínuas ou seriadas. As discretas envolvem início e final de execução bem
definidos, com curta duração. As habilidades motoras contínuas são realizadas sem que se perceba o início e o
final, as ações, normalmente, são repetidas por um período de tempo mais prolongado. As seriadas envolvem a
combinação de habilidades motoras discretas, sucessivamente, interligadas. Com relação aos exemplos dessas
habilidades motoras, é correto o que se afirma em:

a) São exemplos de habilidades discretas: lance livre no basquete, amarrar o calçado e trocar a marcha no carro.
b) São exemplos de habilidades contínuas: nadar, livremente, na piscina, andar de bicicleta e correr.
c) São exemplos de habilidades seriadas: trocar a marcha no carro, realizar uma coreografia de dança e andar
de bicicleta.
d) São exemplos de habilidades discretas: jogar uma partida de basquete, chute a gol e tiro ao alvo.
e) São exemplos de habilidades contínuas: trocar a marcha no carro, realizar uma coreografia de dança e andar
de bicicleta.

4. Diferentes formas de classificar as habilidades motoras foram criadas para auxiliar na compreensão dessas
habilidades. Uma das formas de classificação é de acordo com a estabilidade do ambiente. Com base nisso,
considere as asserções, a seguir:

I - De acordo com a estabilidade do ambiente, as habilidades podem ser classificadas em abertas e fechadas.
II - Esta classificação busca diferenciar a extensão de até que ponto o ambiente é estável e previsível durante
toda a performance.
III - Nas habilidades abertas, o ambiente é estável e previsível
IV - Nas habilidades fechadas, o ambiente é variável e imprevisível durante a ação.
Está correto o que se afirma em:

a) I e III, apenas.
b) I e II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.

65
ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO
CONTROLE MOTOR

Dra. Giseli Minatto Schmitz


Dra. Juliane Berria

Oportunidades de aprendizagem

Nesta unidade, será possível compreender como ocorre o controle motor a partir dos
sistemas nervoso e neuromuscular, ou seja, como o sistema nervoso se conecta ao
sistema muscular para o movimento acontecer. Você obterá o conhecimento sobre a
organização geral desses sistemas e de como cada estrutura opera, ampliando a sua
compreensão de como o movimento é realizado, seja de forma voluntária, seja de
forma involuntária.
unidade

III


Era uma vez o corpo humano, uma máquina, extremamente, complexa, formada por mais de dez sistemas
diferentes (Figura 1) que se conectam, perfeitamente, sendo que cada um é formado por um conjunto de
órgãos. Essa máquina é capaz de funcionar em harmonia em seu estado natural e de encontrar o equilíbrio,
mesmo quando um dos sistemas apresenta falhas, embora haja consequências. O corpo humano conta com
um sistema capaz de conectar e comandar a si e a todos os outros sistemas ao mesmo tempo, para que os
órgãos que compõem cada sistema recebam e forneçam o suprimento necessário ao correto funcionamento
uns dos outros.
Você tem ideia de quem estamos falando? Se pensou no sistema nervoso, você está certo(a). É ele quem
nos permite conversar, movimentar, coordenar a atividade de bilhões de células ao mesmo tempo. Então, se
esse sistema é tão poderoso assim, o corpo humano poderia ser composto, somente, por ele? A resposta é não!

Sistema Sistema Sistema Sistema Sistema Sistema


Esquelético Respiratório Muscular Circulatório Digestório Nervoso
Figura 1 - Alguns sistemas que compõem o corpo humano

Descrição da Imagem: a figura refere-se a seis imagens ilustradas do corpo humano. Da esquerda para direita, a primeira imagem que representa
o sistema esquelético mostra, apenas, a estrutura óssea; a segunda imagem refere-se ao sistema respiratório e mostra a faringe e o pulmão; a
terceira imagem corresponde ao sistema muscular e mostra a estrutura muscular do corpo; a quarta imagem apresenta o sistema circulatório
de um modo que expõe a estrutura de veias e artérias; a quinta imagem mostra o sistema digestivo e expõe o esôfago, o estômago, o intestino
grosso e delgado; a sexta imagem apresenta o sistema nervoso e mostra a estrutura nervosa do nosso corpo.

O fato de o sistema nervoso fornecer ao corpo um bém não faria a sua função sem a atuação conjunta do
recurso rápido para que aconteça a comunicação in- sistema nervoso. Isso pode ser observado quando há
terna entre os sistemas não faz dele um sistema com- alguma lesão na medula espinhal, por exemplo, o que
pleto, quando se trata das diferentes tarefas que cada resulta na paraplegia (interrupção no nível da coluna
sistema possui. Por exemplo, não haveria a possibili- dorsal ou lombar) ou tetraplegia (interrupção no ní-
dade de movimentos serem realizados sem a existên- vel da coluna cervical). Os movimentos voluntários,
cia do sistema muscular, este, ao mesmo tempo, tam- assim como os involuntários, são gerados a partir de

68
EDUCAÇÃO FÍSICA

um controle neural (controle motor), realizado pelo disponibilizar esses objetos um a um, sem orienta-
sistema nervoso central e periférico. ções prévias. Por exemplo, não diga à(s) criança(s):
Daremos um passo a mais na construção do co- “cuidado, este é gelado!” ou “este é áspero”. Apenas
nhecimento sobre o desenvolvimento e a aprendiza- os disponibilize e observe quais são as reações que
gem motora, nos aprofundando na compreensão do a(s) criança(s) expressa(m) ao entrar em contato
controle motor a partir da perspectiva fisiológica. Esse com cada objeto. Certifique-se de que todos os ob-
conhecimento amplia o olhar do profissional de Edu- jetos oferecidos para a(s) criança(s) tocar(em) não
cação Física sobre o desenvolvimento e a aprendiza- oferecem qualquer perigo a ela(s).
gem motora para além do comportamento em si, espe- Uma variação dessa atividade é colocar os obje-
cialmente, para as respostas aos estímulos que ocorrem tos, inicialmente, em uma caixa onde a(s) criança(s)
nos ambientes interno e externo, durante a brincadei- não consiga(m) ver qual objeto é, mas, tocando-os,
ra, os jogos, as atividades esportivas e recreativas. ela(s) busque(m) identificar as suas características.
O conhecimento de como o controle motor Na sequência, tirar o objeto da caixa e oferecer para
ocorre é capaz de proporcionar a modificação do a(s) criança(s) tocar(em), então, note quais são as
movimento ou o aumento da capacidade de se mo- reações dela(s), se diferentes ou semelhantes às que
ver, no contexto de desenvolvimento ou de refina- tiveram quando não estavam vendo ele. A proposta
mento do padrão motor. é observar como a(s) criança(s) reage(m) aos dife-
Iniciaremos fazendo um breve experimento com rentes estímulos sensoriais, isto é, quais são as dife-
crianças: você deve escolher uma criança (ou mais rentes respostas que o sistema nervoso emite para
de uma, se preferir ampliar a sua experimentação) cada estímulo recebido. Para cada objeto, anote a ca-
que esteja(m) na fase do movimento rudimentar racterística dele (ex.: se liso, quente, frio, macio etc.)
em diante, de preferência, que se encontre(m) a par- e qual foi a reação da(s) criança(s) ao tocá-lo.
tir do estágio pré-controle. Caso precise, retome o Depois, converse com a(s) criança(s) para que
conteúdo da Unidade 1, para se certificar de que a(s) ela(s) também relate(m) as suas percepções em rela-
criança(s) escolhida(s) apresenta(m) as característi- ção a cada objeto tocado e anote. Todas as respostas/
cas necessárias ao experimento. reações estão corretas, fique atento(a) aos detalhes e
Selecione objetos que forneçam estímulos dife- registre o máximo possível.
rentes para a(s) criança(s) tocar(em), por exemplo: A partir do experimento realizado, o que mais te
uma bola pequena lisa, um urso de pelúcia ou uma chamou a atenção? As reações da criança foram dife-
manta confortável, uma pedra bruta, uma pedrinha rentes entre os estímulos? Você observou discrepân-
de gelo e um objeto em temperatura, levemente, cias no comportamento e no tempo de reação, quan-
aquecida (que não ofereça risco de queimadura) e do a criança entrou em contato com cada objeto? E
outros objetos disponíveis que podem proporcionar se testou em mais de uma criança, as reações foram
diferentes estímulos e respostas. distintas entre elas para o mesmo objeto/estímulo?
Explore a sua criatividade para tornar o experi- Registre, no seu Diário de Bordo, todas as suas
mento ainda mais rico e para pensar em outros pos- percepções sobre o experimento e outras reflexões
síveis estímulos a serem oportunizados. Você deve que possam ter surgido a partir dessa prática.

69


A partir da experiência vivida, conheceremos, um voluntário do movimento; (ii) o controle do am-


pouco mais, como os movimentos realizados como biente interno; (iii) a programação de reflexos espi-
resposta aos estímulos recebidos se deram interna- nais; (iv) a assimilação das experiências necessárias
mente, isto é, quais foram as estruturas e sua função à memória e ao aprendizado.
envolvidas no controle dos movimentos. Vimos, também, que os movimentos realizados
Vimos na Unidade 1 que o início da infân- nos primeiros meses de vida (primitivos e postu-
cia é o primeiro período do crescimento pós-natal, rais) são movimentos reflexos, involuntários, ou
isto é, o primeiro ano de vida, excluindo o primeiro seja, a ação motora é processada, automaticamente,
aniversário. Esse período é caracterizado pelo rápido pelo sistema nervoso, tanto para sons, tato e visão
desenvolvimento da maioria dos sistemas do corpo quanto para pressão, e formam a base de cada uma
humano, especialmente do sistema neuromuscular. das fases do desenvolvimento motor (GALLAHUE;
Podemos, também, relembrar o que o documentário OZMUN; GOODWAY, 2013; ROSA NETO, 2015).
O Começo da Vida abordou o desenvolvimento do cé- Contudo, ao avançar nos estágios e fases do desen-
rebro nos primeiros anos de volvimento motor, os movimentos deixam de ser
vida, no QRCode (11min- reflexos e passam a ser voluntários e coordenados.
11seg até 13min20seg). Mas isso não acontece para todas as ações do corpo
Segundo Powers e humano! Há inúmeros movimentos que continuam
Howley (2014), as prin- sendo realizados de forma involuntária, e há outros
cipais funções do sistema que são do domínio motor, os quais passamos a ter
nervoso são: (i) o controle algum controle.

70
EDUCAÇÃO FÍSICA

O estudo do controle motor nada mais é do que


o estudo da natureza do movimento e como ele é
controlado. Também podemos definir o controle
motor como a habilidade de regular ou de direcio-
nar os mecanismos fundamentais que tornam pos-
sível o movimento. Considerando que a vida, no
sentido restrito da palavra, necessita de movimen-
tos, as habilidades como: andar, correr, brincar só
podem ser desenvolvidas quando existe movimento
(SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2010).
A melhor coordenação entre o que as crian-
ças querem fazer e o que elas conseguem fazer, por
exemplo, só é possível porque há o desenvolvimen-
to das áreas sensoriais e motoras do córtex cerebral
(PAPALIA; FELDMAN, 2013). A sobrevivência,
Figura 2 - Localização das estruturas do sistema nervoso no
a busca pelo alimento, o trabalho, as relações com corpo humano

amigos e familiares acontecem quando há movimen-


Descrição da Imagem: a imagem refere-se à localização das es-
to (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2010). A truturas do sistema nervoso no corpo humano e mostra uma
ilustração escura de uma mulher em posição de corrida. A perna
vida em si é tão dependente do movimento que, na esquerda está flexionada para frente, a direita está estendida
ausência dele, não só deixamos de nos desenvolver para trás, o tronco encontra-se, levemente, inclinado para frente
também, o braço direito está estendido para frente e o antebraço
como também passamos a nos prejudicar, pois até a encontra-se dobrado na frente do rosto, o braço esquerdo está,
totalmente, estendido para trás, a cabeça inclinada para frente
nossa saúde depende dele. mostra o cérebro de formato bojudo e iluminado saindo da cabeça,
mostrando atividade. No eixo central do corpo está destacado o
O controle motor envolve, especificamente, a sistema nervoso central (medula espinal). Na cabeça, no tronco e
atuação do sistema nervoso central cuja função é or- nos membros encontram-se os nervos do corpo.

ganizar os músculos e articulações diferentes, indi-


vidualmente, para que movimentos funcionais e co- O movimento de locomoção também é realizado a
ordenados possam acontecer (SHUMWAY-COOK; partir da interação dos sistemas de percepção e ação,
WOOLLACOTT, 2010). e a cognição influencia ambos em níveis diferen-
Na Figura 2, é possível observar como as estru- tes (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2010),
turas do sistema nervoso estão distribuídas ao longo como é possível observar na Figura 3. A percepção
de todo o nosso corpo. diz respeito ao progresso em diversos estágios de
processamento e em cada estágio há estruturas do
cérebro específicas que processam as informações
sensoriais nos diferentes níveis; dos estágios iniciais
do processamento sensorial para níveis cada vez
mais abstratos de interpretação e integração em ní-
veis superiores do cérebro.

71


C Cognição
Percepção Ação
P A
Sensação Percepção Interpretação Conceituali- Estratégia/ Ativação Execução
zação Planejamento

Receptores Córtex Processamento Córtex Córtex motor Córtex Motoneurônios


periféricos sensorial sensorial de pré-frontal suplementar motor músculos e
1° e 2° nível superior e outras GB/CB primário articulações
nos lobos áreas de GB/CB
parietal, associação
occipital e de nível
temporal superior

Figura 3 - Modelo de interação entre os processos de percepção (P), ação (A) e cognição (C) envolvidos no controle motor. GB = gânglios
da base; CB = cerebelo / Fonte: Shumway-Cook e Woollacott (2010, p. 47).

Descrição da Imagem: a imagem refere-se ao modelo de interação entre os processos de percepção (P), ação (A) e cognição (C) envolvidos no
controle motor. Da esquerda para a direita, há três círculos entrelaçados: o superior identificado como C, os dois inferiores identificados, respec-
tivamente, como P e A, do meio deles sai uma seta que aponta para um retângulo. Em cima do retângulo há uma barra com uma seta de duas
pontas e, em cima da linha está escrito “Cognição”, na ponta esquerda, está escrito “Percepção” e, na ponta direita, “Ação”. Dentro do retângulo
está escrito “Sensação: receptores periféricos”; “Percepção: Córtex sensorial 1° e 2°”; “Interpretação: Processamento sensorial de nível superior
nos lobos parietal, occipital e temporal”; “Conceitualização: Córtex pré-frontal e outras áreas de associação de nível superior”; “Estratégia/Pla-
nejamento: Córtex motor suplementar GB/CB”; “Ativação: Córtex motor primário GB/CB”; “Execução: Motoneurônios músculos e articulações”.

Uma ação iniciada é controlada pelo sistema ner- formas de processar as informações ocorrem nos siste-
voso central e periférico, os quais possuem três mas de controle do movimento percepção, ação e cog-
pontos em comum: o centro de controle, os coman- nição (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2010).
dos de movimentos e os executores do movimen-
to. O centro de controle é responsável por enviar
comandos de movimento aos músculos e articu-
lações, os chamados executores dos movimentos,
que são responsáveis pela execução do movimento
em questão (MAGILL, 2000).
Assim, podemos dizer que o controle do movi-
mento é o resultado do trabalho cooperativo de várias
estruturas do cérebro que são hierarquicamente e/ou
paralelamente organizadas, indicando que um sinal é
capaz de ser processado pela hierarquia (dentro dos
níveis ascendentes do sistema nervoso central) e pelo
processamento distribuído em paralelo (simultanea-
mente, em várias estruturas cerebrais diferentes). Essas

72
EDUCAÇÃO FÍSICA

motora de nível superior ao mesmo tempo, depois,


enviam, novamente, a informação ao córtex motor,
“O processamento ‘hierárquico’ é descrito
para que a ação seja executada (SHUMWAY-COOK;
como um sistema no qual níveis superiores WOOLLACOTT, 2010).
do cérebro estão envolvidos com questões de Os processos que dão base à realização do mo-
abstração de informação. Por exemplo, den- vimento envolvem a anatomia neural (estruturas)
tro do sistema perceptual, o processamento e a fisiologia (função) dos sistemas solicitados na
hierárquico significa que centros superiores produção e controle do movimento. O processo se
integram estímulos de muitos sentidos e inter- inicia na percepção e segue até a cognição e a ação,
pretam a informação sensorial recebida. Pelo assumindo que nem sempre é possível distinguir
lado da ação do controle de movimento, níveis onde inicia a atuação de uma e termina a da outra
superiores da função cerebral formam planos (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2010).
motores e estratégias para a ação. Portanto,
Então, vamos conhecer como o sistema nervoso
níveis superiores devem selecionar a resposta
está organizado para, posteriormente, entendermos
específica para conseguir realizar uma deter-
a sua função?
minada tarefa. Níveis inferiores de proces-
Em termos anatômicos, o sistema nervoso é com-
samento poderiam, então, se encarregar do
posto por duas partes principais: o central e o periférico.
monitoramento detalhado e da regulação da
resposta de execução, tornando-a adequada
O sistema nervoso central está contido no encéfalo (crâ-
para o contexto na qual ela ocorreu. Sistemas nio) e na medula espinal. O que compõe o sistema ner-
cognitivos se sobrepõem aos sistemas de voso periférico são os neurônios, os quais são as células
percepção e ação e envolvem processamen- nervosas, localizados fora do sistema nervoso central.
to de alto nível para a percepção e ação”. Adicionalmente, o sistema nervoso periférico é
Fonte: Shumway-Cook e Woollacott (2010, p. subdividido em duas partes: a sensorial e a motora. A
48-49, grifos nossos). parte sensorial é a responsável pela transmissão dos
impulsos neuronais pelos órgãos receptores (sensores)
para o sistema nervoso central. Quem conduz estas in-
formações são as fibras nervosas sensoriais, chamadas
Há estruturas no cérebro que possuem componentes fibras aferentes. A segunda parte do sistema nervoso
de percepção e ação, como é o caso da medula espi- periférico é a motora, ela se subdivide em motora so-
nhal, o cerebelo, o tronco encefálico e o córtex de asso- mática (inerva o músculo esquelético) e motora auto-
ciação (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2010). nômica (inerva os órgãos efetores involuntários, como
No caso do processamento distribuído em para- a musculatura lisa do intestino, do coração e glandu-
lelo, o que ocorre é que o mesmo sinal é processado, lar). Inervar significa a conexão dos nervos a determi-
simultaneamente, em muitas estruturas cerebrais di- nado órgão em particular. Quem conduz os impulsos
ferentes, contudo, com diferentes finalidades. A fim nervosos para longe do sistema nervoso central são as
de exemplificação, citaremos a atuação do cerebelo fibras nervosas motoras, chamadas de fibras eferentes
e dos gânglios da base: eles processam informação (POWERS; HOWLEY, 2014).

73


Na Figura 4, podemos observar a composição e essas subdivisões do sistema nervoso.

Sistema Nervoso Central Sistema Nervoso Periférico


(encéfalo e medula espinal) (nervos cranianos e espinais)
Encéfalo
Nervos
cranianos

Divisão sensorial Receptores


Medula sensoriais
espinal Nervos
espinais

Divisão motora
Sistema
Nervoso Músculo
Somático esquelético
Sistema
Nervoso Músculo liso
Autônomo Miocárdio
Glândulas

a) b)
Figura 4 - Visão geral das divisões anatômicas do sistema nervoso e a relação entre as fibras motoras e sensoriais do sistema nervoso
periférico e do sistema nervoso central / Fonte: Powers e Howley (2014, p. 141).

Descrição da Imagem: a imagem mostra, à esquerda, o desenho de um corpo humano com as fibras espalhadas pelo corpo e, junto a esse cor-
po, há quatro identificações. A primeira identificação está do lado esquerdo e aponta para a cabeça, mostrando o encéfalo como uma estrutura
arredondada que preenche o que seria o crânio. A segunda identificação está do lado direito e também aponta para a cabeça, mostrando os
nervos cranianos. A terceira identificação está, novamente, do lado esquerdo, mostrando a medula espinal localizada no eixo central do corpo.
A quarta identificação encontra-se do lado direito e apresenta os nervos espinais como ramos que parte da medula e se espalham pelo corpo.
A imagem à direita apresenta um desenho do sistema nervoso central (encéfalo e medula espinal), o título está escrito em cima da imagem,
e do lado direito da imagem do sistema nervoso central, há dois quadros, um em cima e outro embaixo, devidamente, alinhados. Em cima
dos quadros está escrito “Sistema nervoso periférico (nervos cranianos e espinais)”, o quadrado de cima se encontra na mesma direção que o
encéfalo, dentro do quadrado está escrito “Divisão sensorial”, fora do quadro, do lado direito, há uma seta apontando para ele, junto dela se
lê “Receptores sensoriais”. Entre o quadro e a imagem do sistema nervoso central, vê-se uma seta apontando para o desenho desse sistema.
No quadro de baixo, está escrito “Divisão motora”, entre ele e a imagem do sistema nervoso central, há uma seta apontando para o quadro de
baixo, dentro dele é possível ler “Sistema nervoso somático”. Há uma seta apontando para fora do quadrado e, junto dela, está escrito “Músculo
esquelético” e, ainda dentro do quadrado, está escrito “Sistema nervoso somático”. Existe um quadro onde se lê “Sistema nervoso autônomo” e
há uma seta apontando para fora dele, junto dela está escrito “Músculo liso”, “Miocárdio”, “Glândulas”.

O encéfalo, estrutura envolvida no controle motor, estruturas possui uma função específica que tor-
é dividido em três partes, a saber: tronco encefáli- na possível a regulação do movimento (POWERS;
co, cérebro e cerebelo (Figura 5). Cada uma dessas HOWLEY, 2014). De acordo com os múltiplos ní-

74
EDUCAÇÃO FÍSICA

veis de processamento, temos as seguintes estruturas proveniente das articulações, músculos e pele (cha-
envolvidas: a medula espinal, o tronco encefálico, o mados de somatossensorial), no controle da postura
diencéfalo (tálamo e hipotálamo), o cerebelo e os corporal e dos movimentos reflexos e involuntários
hemisférios cerebrais, incluindo o córtex cerebral via motoneurônios (os quais veremos mais adiante).
e as três estruturas profundas, os gânglios da base, Ela estende-se, cranialmente, para se juntar ao o tron-
a amígdala e o hipocampo (SHUMWAY-COOK; co encefálico (nível de processamento de informação
WOOLLACOTT, 2010). seguinte à medula espinal) (Figura 5). A mensagem
A medula espinal, no que se refere aos aspectos processada no nível da medula espinal apresenta uma
fisiológicos do controle motor, é a estrutura envolvida relação entre estímulo sensorial e resposta motora, re-
na recepção inicial e no processamento da informação lativamente, simples.

Convulação
Crânio Sulco

Meninges
Cérebro Corpo
caloso
Diencéfalo

Mesencéfalo Fórnice

Tronco
Ponte
encefálico

Bulbo
Cerebelo

Medula
espinal

Figura 5 - Estruturas envolvidas no controle motor / Fonte: Powers e Howley (2014, p. 155).

Descrição da Imagem: a imagem mostra a ilustração de um crânio em um corte sagital (cortado ao meio com vista lateral), permitindo a visão
do crânio e das estruturas internas da cabeça. Ao redor da imagem, estão os nomes das respectivas áreas, com uma linha identificando cada
parte, e são elas: crânio, meninges, cérebro, diencéfalo, tronco encefálico (formado por mesencéfalo, ponte e bulbo), convolução, sulco, corpo
caloso, fórnice, cerebelo e medula espinal.

75


Dentro da base do crânio, logo acima da medula espi- Dividido nos hemisférios encefálicos direito
nal e em continuidade a ela, está o tronco encefálico e esquerdo, o cérebro consiste na ampla abóbada
(Figura 5). Ele é formado por um conjunto de tratos (estrutura curvada) encefálica. A sua camada mais
nervosos e núcleos (agrupamento de neurônios) res- externa é denominada córtex cerebral, formada por
ponsável por inúmeras funções metabólicas, controle neurônios (mais de 8 milhões), firmemente, arranja-
cardiorrespiratório e alguns reflexos de alta complexi- dos. Existem três importantes funções de comporta-
dade. As estruturas que fazem parte do tronco ence- mento motor realizadas pelo cérebro: a) a organiza-
fálico são o mesencéfalo, a ponte e o bulbo, conforme ção do movimento complexo; b) o armazenamento
ilustra a Figura 5 (POWERS; HOWLEY, 2014). das experiências aprendidas; c) a recepção de infor-
Uma das funções mais importantes do tronco mação sensorial (POWERS; HOWLEY, 2014).
encefálico, em termos de controle da locomoção, é Tratando-se, especificamente, da sua função em
a manutenção do tônus postural. De forma geral, os relação à organização do movimento, o córtex mo-
circuitos neuronais que existem no tronco encefálico tor (Figura 6) é a porção do córtex cerebral mais
são responsáveis, ainda, pelo controle do movimento relacionada ao movimento voluntário. Ele pode ser
ocular, do equilíbrio, pela sustentação do corpo con- descrito como o ponto de retransmissão final no
tra a gravidade e vários reflexos especiais. Isso im- qual os estímulos subcorticais são concentrados.
plica dizer que os centros presentes no tronco ence- Após o córtex motor realizar a soma dos estímulos,
fálico subsidiam a atividade nervosa requerida para é elaborado o plano de movimento final, então, são
a manutenção da postura vertical normal e, assim, a enviados os comandos motores à medula espinal.
sustentação do corpo contra a gravidade é realizada Como os detalhes finos do movimento são super-
(POWERS; HOWLEY, 2014). Essa estrutura tam- visionados pelos centros subcortical e espinal, este
bém recebe estímulos somatossensoriais da pele e “plano de movimento” tem a chance de ser modifi-
dos músculos da cabeça bem como os estímulos sen- cado (POWERS; HOWLEY, 2014).
soriais dos sistemas vestibular e visual (SHUMWAY-
-COOK; WOOLLACOTT, 2010).

76
EDUCAÇÃO FÍSICA

Córtex motor primário Córtex somatossensorial

Giro
angular

Área de broca

Córtex auditivo
primário
Área de Wernicke Córtex visual
primário

Figura 6 - Córtex motor (primário e córtex somatossensorial)

Descrição da Imagem: a imagem refere-se à ilustração de um cérebro que evidencia, em forma de destaque sombreado, o córtex motor (pri-
mário e córtex somatossensorial). Giros e sulcos do cérebro são mostrados, e ao redor da imagem, há a identificação, por meio de setas, de
cada parte destacada. São elas: o córtex visual primário está localizado acima do cerebelo, na parte posterior do cérebro; o giro angular está
localizado logo acima e à direita do córtex visual primário; ao lado e, medialmente, ao giro angular, está a área Wernicke, seguida pelo córtex
auditivo primário; acima do córtex auditivo primário encontra-se a área de Broca e atrás dela, o córtex sensório motor e o córtex motor primário.

O cerebelo, a terceira parte do encéfalo envolvida no e envia respostas para o tronco encefálico sobre os
controle motor, está localizado atrás do tronco ence- movimentos; e para o córtex cerebral, envia mensa-
fálico, como pode ser visualizado na Figura 5. A sua gens sobre o planejamento dos movimentos. Além
função está relacionada à coordenação e ao monito- disso, o cerebelo também modula a força bem como
ramento do movimento complexo, por meio de co- a amplitude dos movimentos realizados pelo corpo
nexões que seguem do cerebelo até o córtex motor, humano. Está envolvido, igualmente, no aprendiza-
o tronco encefálico e a medula espinal (POWERS; do motor (adaptação simples para um aprendizado
HOWLEY, 2014). O cerebelo recebe os estímulos mais complexo) (SHUMWAY-COOK; WOOLLA-
recebidos via medula espinal e do córtex cerebral COTT, 2010).

77


Partindo das estruturas maiores envolvidas no que formam a espinha dendrítica, seguida dos dendritos. No corpo
celular do neurônio estão as mitocôndrias, o aparelho de Golgi e a
controle do movimento, iremos às estruturas meno- substância de Nissi espalhadas em torno do núcleo, no centro do
res: os neurônios. Segundo Powers e Howley (2014), corpo. No centro do núcleo está o nucléolo. Como continuidade
do corpo celular, na outra ponta, é projetada uma cauda, que é
os neurônios (células nervosas) são a unidade funcio- o axônio. A continuidade do corpo celular em direção ao axônio
é chamada de zona deflagradora, composta pelo montículo do
nal do sistema nervoso. Em termos anatômicos (Figu- axônio e o segmento inicial. Na sequência, há a bainha de mieli-
na formada pela célula de Schwann, uma ramificação do axônio
ra 7), essas células são compostas por três regiões: (a) chamado de axônio colateral, o nodo de Ranvier, que é o espaço
entre as células de Schwann, e os terminais pré-sinápticos na
corpo celular (ou soma); (b) dendritos; (c) axônio. extremidade final.

Espinha dendrítica Dendritos Dessas regiões, a estrutura que contém núcleo e o


centro de operação do neurônio é o corpo celular.
Mitocôndria
Aparelho de Golgi Os dendritos correspondem a pontos de fixação
Nucléolo
Núcleo
Corpo celular citoplasmáticos que se estendem do corpo celular
do neurônio
Substância de Nissi e atuam como espaço receptor, com capacidade de
conduzir impulsos elétricos em direção ao corpo ce-
Montículo do axônio
Zona lular. O axônio (fibra nervosa) é o responsável pelo
deflagradora Segmento inicial
Axônio
transporte da mensagem elétrica em direção a ou-
tro neurônio ou órgão efetor, longe do corpo celular
(POWERS; HOWLEY, 2014).
Bainha de mielina formada Célula de Schwann
pela célula de Schwann Embora cada neurônio tenha um único axônio,
ele pode se dividir em vários ramos colaterais, ter-
minando em outros neurônios, glândulas ou células
musculares. Quando há conexão entre os pontos de
Axônio colateral
contato do axônio de um neurônio e o dendrito de
Nodo de Ranvier outro neurônio ou células-alvo, temos as sinapses,
conforme ilustrado na Figura 8. Para um impulso
nervoso seguir de um neurônio a outro, ele deve
cruzar a fenda sináptica em uma sinapse.

Terminais pré-sinápticos

Figura 7 - As partes de um neurônio


Fonte: Powers e Howley (2014, p. 142).

Descrição da Imagem: a imagem mostra a ilustração da estrutura


de um neurônio. O corpo do neurônio tem formato semelhante a
uma estrela e cada ponta dessa “estrela” tem ramificações

78
EDUCAÇÃO FÍSICA

Dendritos

Sinapse
Direção do impulso nervoso
Axônio
Di
re Axônio
çã
od
o im
p u l s o n e r vo s o Dendrito

Neurônio pré-sináptico

Neurônio pós-sináptico
Figura 8 - Ilustração da transmissão sináptica. Para um impulso nervoso seguir de um neurônio a outro, ele deve cruzar a fenda sinápti-
ca em uma sinapse / Fonte: Powers e Howley (2014, p. 142).

Descrição da Imagem:a imagem mostra a ilustração da estrutura de dois neurônios que se conectam. A união (sinapse) acontece pelo contato
dos terminais pré-sinápticos de um (neurônio pré-sináptico) e os dendritos de outro (neurônio pós-sináptico). As setas em ambos os neurônios
indicam a direção do impulso nervoso, que vai de uma extremidade (corpo celular) até a outra (axônio).

Ainda em termos de estrutura anatômica dos neurô- celular a um estímulo e de conversão em um impul-
nios, nas fibras nervosas que inervam a musculatura so neural) e condutividade (transmissão do impulso
esquelética (fibras amplas), os axônios, geralmente, ao longo do axônio), os neurônios são considerados
são cobertos por estruturas denominadas células “tecidos excitáveis”. Um impulso nervoso é, portan-
de Schwann, uma camada isoladora de células. As to, um sinal elétrico transportado ao longo do com-
membranas das células de Schwann apresentam, primento total do axônio, iniciado por um estímulo
de forma abundante, uma substância lipoproteica que altera a carga elétrica do neurônio (POWERS;
chamada de mielina. Esta forma uma bainha des- HOWLEY, 2014).
contínua de revestimento externo do axônio e os es- As células têm cargas elétricas. Em repouso, to-
paços (hiatos) existentes entre os segmentos de mie- das elas (inclusive os neurônios), estão, internamen-
lina são chamados nodos de Ranvier. Os nodos de te, carregadas com carga negativa em relação à carga
Ranvier são estruturas essenciais, pois exercem um presente no exterior da célula. E o que determina a
papel importante na transmissão neural (POWERS; diferença de carga entre o interno e o externo das cé-
HOWLEY, 2014). Essas estruturas que compõem os lulas? Isso se dá pela distribuição desigual dos íons,
neurônios são observadas na Figura 7. elementos que possuem cargas positiva ou negativa,
Devido às suas propriedades de irritabilidade carregados ao longo da membrana da célula, o que
(capacidade de resposta dos dendritos e do corpo resulta na carga negativa no interior dela. O poten-

79


cial de repouso da membrana, também chamado vo, resultando na despolarização da célula. Quando
de diferença de potencial em repouso (SILVER- a despolarização chega ao seu limiar, isto é, atinge
THORN, 2017) ocorre quando o neurônio é pola- um valor crítico, os portões dos canais de sódio se
rizado, apresentando diferenças na carga elétrica abrem, então, ocorre a formação de um potencial de
(POWERS; HOWLEY, 2014). ação (impulso nervoso). Assim que esse potencial é
Existem algumas estruturas da célula incapazes gerado, trocas iônicas ocorrem ao longo do axônio,
de atravessar a membrana celular. Essas estruturas a fim de propagar o impulso nervoso. Essas trocas
são as proteínas celulares, grupos fosfato e outros acontecem, sequencialmente, junto aos nodos de
nucleotídeos que estão, negativamente, carrega- Ranvier (ver estrutura na Figura 8).
dos (ânions) e fixos no interior da célula. Uma vez
que essas moléculas, negativamente, carregadas são
incapazes de sair, elas atraem íons de carga positiva
(denominados cátions) do líquido extracelular. Isso Portão
Canal fechado Poro
provoca o acúmulo de uma carga líquida positiva na
parte externa da superfície da membrana e em uma
carga líquida negativa do lado interno dessa superfí- Proteínas
do canal
cie (POWERS; HOWLEY, 2014).
Uma vez estabelecida a polarização da célula, al-
Canal aberto Íons
terações de voltagem ao longo da membrana podem
ocorrer, estabelecendo um sinal elétrico conhecido
como potencial de ação. Esta propriedade simples
Citoplasma Líquido extracelular
dos neurônios permite a comunicação entre os ní-
veis da hierarquia do sistema nervoso (SHUMWA-
Figura 9 - Canais que regulam a passagem de íons através da
Y-COOK; WOOLLACOTT, 2010), sendo a for- membrana plasmática / Fonte: Powers e Howley (2014, p. 143).

ma como os neurônios transmitem os impulsos


Descrição da Imagem: a imagem é uma ilustração de parte de
(POWERS; HOWLEY, 2014). Ao ser estimulado, o uma membrana plasmática e mostra um quadro dividido em
neurônio apresenta saltos amplos na voltagem da três partes horizontais. A primeira parte, à esquerda, refere-se
ao citoplasma, onde há alguns íons. A coluna do meio mostra a
membrana celular, o potencial de ação, ou seja, a membrana e uma estrutura, a proteína transmembrana, com o
canal fechado e aberto, o fechado apresenta uma estrutura em
parte interna do neurônio se torna positiva ao longo C com as bordas unidas, a qual recebe o nome de portão, o o
aberto mostra a mesma estrutura em C com as bordas abertas,
da membrana. permitindo a passagem dos íons, ambas as estruturas em C são
formadas por poros no interior da estrutura e por proteínas do
Como isso acontece? Uma mensagem neural é canal no exterior dela. A terceira coluna corresponde ao líquido
formada quando um estímulo forte o suficiente atin- extracelular, onde há vários íons espalhados.

ge a membrana neuronal (membrana que envolve


o neurônio) e abre os portões dos canais de sódio A passagem dos íons pelos canais é regulada pela
(Figura 9). A abertura dos portões viabiliza a difu- abertura ou fechamento de “portões”, os quais ser-
são dos íons de sódio para o interior do neurônio, o vem como “portas” posicionadas no meio do canal.
que torna o meio intracelular cada vez mais positi- Quando os canais estão abertos, os íons são libera-

80
EDUCAÇÃO FÍSICA

dos para passar pelo canal (parte inferior da Figu-


ra 9). Por outro lado, quando o portão do canal é
fechado, o movimento dos íons através do canal é
interrompido (parte superior da Figura 9).
Ainda em relação ao potencial de ação, há um
conceito importante a saber: a lei do tudo ou nada.
Esta lei é o que se aplica ao desenvolvimento de um
impulso nervoso e à resposta do mesmo, ou seja, o po-
tencial de ação somente ocorre como despolarização
máxima (o estímulo deve atingir o limiar), do contrá-
rio, não ocorrerá (SILVERTHORN, 2017), e a partir
do momento que um impulso nervoso é identificado/
gerado, ele percorre toda a extensão do axônio sem
nenhuma redução da voltagem. Isso significa que o
impulso neural, mesmo após ter percorrido todo o
comprimento do axônio, continua tão forte quanto
estava no início dele (POWERS; HOWLEY, 2014).
A comunicação do que está acontecendo em um
neurônio para a próxima célula nervosa (Figura 10)
é o processo chamado de transmissão sináptica, no
ponto de junção de células nervosas denominadas
sinapses (POWERS; HOWLEY, 2014; SHUMWAY-
-COOK; WOOLLACOTT, 2010). A transmissão si-
náptica ocorre quando um neurônio pré-sináptico li-
bera, das vesículas sinápticas, quantidades suficientes
de um neurotransmissor específico. Ao ser liberado,
o neurotransmissor (mensageiro bioquímico usado
pelos neurônios para se comunicar entre si) liga-se
a um receptor, o qual está localizado na membrana
pós-sináptica, gerando a despolarização (POWERS;
HOWLEY, 2014). Portanto, em um neurônio, cada
potencial de ação libera determinada quantidade de
substância transmissora que, por sua vez, se difunde
na fenda e se acopla a receptores da próxima célula,
abrindo os canais da membrana, despolarizando-a
(SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2010).
Na Figura 10, visualiza-se melhor a descrição de
como a comunicação neural acontece.
81


Sinapse química

Vesícula sináptica

Neurotransmissor
Axônio do
neurônio Fenda sináptica
transmissor Receptor

Neurônio receptor

Sinapse

Figura 10 - Comunicação neural: transmissão do sinal nervoso entre dois neurônios com axônio e sinapse

Descrição da Imagem: a imagem mostra, de forma ilustrada, a comunicação neural entre dois neurônios, transmissão do sinal nervoso que passou
pelo o axônio e chegou ao local da sinapse. À esquerda da imagem, há dois neurônios se ligando, o primeiro liga-se ao segundo evidenciando
a sinapse: a ponta do axônio se conecta ao corpo e aos dendritos do segundo neurônio, essa ligação foi descrita como sinapse química e está
ilustrada, em zoom, ao lado direito da imagem, onde a sinapse química é evidenciada no interior do círculo ampliado e formada pelas seguintes
estruturas: a vesícula sináptica, pequeno círculo presente na parte dilatada do terminal axonal, na qual encontra outros círculos menores em seu
interior, representando os neurotransmissores; o neurotransmissor (pequenos círculos presentes na fenda sináptica e presos aos receptores); a
fenda sináptica (espaço estreito entre o neurônio pré-sináptico e o pós-sináptico) e o receptor (representado por pequenas estruturas em forma
de bacilos presentes no neurônio pós-sináptico e que apresenta um local onde os neurotransmissores se acoplam).

82
EDUCAÇÃO FÍSICA

Outros dois processos que decorrem são os poten- do neurotransmissor acetilcolina, um neurotrans-
ciais excitatórios pós-sinápticos e a somação (tem- missor comum encontrado na junção nervo/mús-
poral e espacial). A ligação entre os “receptores” e culo. A acetilcolina, ao ser liberada no interior da
a membrana-alvo produz uma série de despolariza- fenda sináptica, se liga aos receptores localizados
ções graduadas nos dendritos e no corpo celular, as na membrana pós-sináptica, abrindo os “canais”
quais se denominam potenciais excitatórios pós-si- que permitem a entrada de sódio no nervo ou na
nápticos. Se quantidades suficientes de neurotrans- célula muscular. Conforme o exposto, anterior-
missor forem liberadas, o neurônio pós-sináptico é mente, quando uma quantidade suficiente de sódio
despolarizado até o limiar e um potencial de ação é (íons positivos) entra na membrana pós-sináptica
gerado (POWERS; HOWLEY, 2014), o qual é capaz do músculo ou de um neurônio, a despolarização
de ser atingido de duas formas: por somação tempo- ocorre. A despolarização crônica do neurônio pós-
ral e somação espacial (POWERS; HOWLEY, 2014; -sináptico é prevenida quando o neurotransmissor
SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2010). é quebrado em moléculas menos ativas. Quem re-
A somação temporal é caracterizada pela despo- aliza esta quebra são as enzimas presentes na fenda
larização derivada dos potenciais sinápticos que ocor- pré-sináptica, as quais, no exemplo do neurotrans-
rem em tempos próximos, ou seja, decorre de vários missor acetilcolina, são a enzima acetilcolinesterase
potenciais excitatórios pós-sinápticos de um único (POWERS; HOWLEY, 2014).
neurônio pré-sináptico ao longo de curto período de O caminho percorrido pelos elementos essen-
tempo. A somação espacial corresponde à segunda ciais do sistema nervoso nos possibilita a compreen-
forma de atingir um potencial de ação na membrana são aprofundada dos processos sensório/motor que
pós-sináptica, a partir da chegada de vários impulsos sustentam o controle motor (SHUMWAY-COOK;
pré-sinápticos. Essa somação produz despolariza- WOOLLACOTT, 2010). Por isso, daremos um pas-
ção pela ação de células múltiplas que estão fazendo so a mais no conhecimento do controle motor, a
sinapses com os neurônios pós-sinápticos, isto é, os partir da perspectiva fisiológica, para saber como
potenciais excitatórios pós-sinápticos chegam, con- são processados, no movimento humano, as infor-
comitantemente, a um neurônio pós-sináptico prove- mações sensoriais e os reflexos.
niente de inúmeras estimulações excitatórias diferen- O sistema nervoso central recebe, frequente-
tes (POWERS; HOWLEY, 2014; SHUMWAY-COOK; mente, inúmeras mensagens vindas dos receptores
WOOLLACOTT, 2010). distribuídos por todo o corpo. Neles, há informações
Há, também, os neurotransmissores inibitórios sobre tudo o que acontece no ambiente interno e
que fazem o neurônio se tornar mais negativo (hi- externo, toda e qualquer alteração é comunicada ao
perpolarizado). Esta hiperpolarização da membra- centro de comando (sistema nervoso central) pelos
na pós-sináptica é chamada de potencial inibitório receptores (órgãos do sentido), via neurônios senso-
pós-sináptico. Como exemplo, citaremos a atuação riais (POWERS; HOWLEY, 2014).

83


Título: O Óleo de Lo-


renzo
Ano: 1992
Sinopse: Lorenzo le-
vava uma vida normal
até que, aos seis anos,
passou a ter diversos
Interneurônios
problemas de ordem
Dentrito
Corpo da célula mental e foi diagnostica-
Axônio
Neurônio motor Neurônio sensorial do com adrenoleucodistrofia. A doença, extre-
mamente, rara provoca uma incurável degene-
Figura 11 - Tipos de neurônios envolvidos na transmissão dos
estímulos sensoriais para a produção do movimento ração no cérebro, levando o paciente à morte
em, no máximo, dois anos. Os pais do menino
Descrição da Imagem: a imagem ilustra os neurônios motor, ficam frustrados com o fracasso dos médicos e
interneurônio e sensorial, que estão envolvidos na transmissão
dos estímulos sensoriais para a produção do movimento. A pri-
a falta de medicamento para a doença, então,
meira ilustração, à esquerda da imagem, se refere ao neurônio começam a estudar e a pesquisar sozinhos, na
motor que apresenta o formato de estrela (corpo celular) numa
extremidade e uma cauda na outra (axônio e terminal axonal), esperança de descobrir algo que possa deter
onde, a partir do corpo celular, se projetam ramificações — os
dendritos, no centro está o núcleo — um círculo escuro, enquanto
o avanço da enfermidade.
que o axônio está representado como a maior parte de sua es- Comentário: o sistema nervoso também é
trutura. O segundo neurônio, localizado no meio da imagem, é o
interneurônio, este tem a sua estrutura toda baseada em dendri- um sistema suscetível a doenças, especial-
tos e corpo celular, não apresenta axônio. O terceiro neurônio, à
direita da imagem, é o neurônio sensorial. A sua estrutura é igual
mente, o sistema nervoso central. A esclerose
ao neurônio motor e a sua diferença está no axônio que, aqui, múltipla, por exemplo, é uma doença neuro-
tem o corpo no neurônio e que se projeta do centro do axônio.
lógica que destrói, de forma progressiva, as
bainhas de mielina dos axônios em múltiplas
Na Figura 11, observamos como é a estrutura dos áreas do sistema nervoso central. Este filme
neurônios sensoriais, dos interneurônios e dos relata a história de um menino diagnosticado
neurônios motores (que fazem a transmissão dos es- com uma doença neurológica, extremamente,
tímulos do e para o sistema nervoso central). rara, incurável e que provoca degeneração no
cérebro, levando o paciente à morte em, no
máximo, dois anos. Não perca esta oportuni-
dade de conhecimento!

84
EDUCAÇÃO FÍSICA

No controle do movimento, a propriocepção é consi- presentes nos tecidos em torno das articulações e têm
derada uma importante fonte de feedback. Informa- o potencial de se adaptarem, rapidamente, após o mo-
ções relacionadas às características do movimento vimento ter iniciado (POWERS; HOWLEY, 2014).
do corpo e/ou às suas partes são enviadas ao siste- Todos os receptores articulares atuam, conjunta-
ma nervoso central pelos trajetos neurais aferentes. mente, a fim de propiciar ao corpo uma forma cons-
As informações enviadas vão desde a orientação do ciente de reconhecimento da orientação de suas partes,
corpo em determinada posição até a ativação mus- além de um retorno das quantidades de movimentos
cular (MAGILL, 2000). Os receptores responsáveis dos membros (POWERS; HOWLEY, 2014).
por levarem informações ao sistema nervoso cen- Os proprioceptores musculares, como o próprio
tral sobre a posição do corpo, os movimentos por nome sugere, são receptores presentes no músculo es-
ele realizados, são os denominados proprioceptores quelético. Nestes músculos há vários tipos de recepto-
(receptores cinestésicos). Estes receptores de po- res sensoriais, como os quimioceptores, os fusos mus-
sição (proprioceptores) estão presentes em cápsu- culares e os órgãos tendinosos de Golgi (POWERS;
las articulares, ligamentos e músculos (POWERS; HOWLEY, 2014). Os quimioceptores, um tipo de
HOWLEY, 2014). As estruturas que fazem parte dos terminação nervosa livre, respondem a alterações bio-
proprioceptores são os receptores articulares, os fu- químicas presentes durante a contração muscular. Es-
sos musculares e os órgãos tendinosos de Golgi. ses receptores são sensíveis às alterações que ocorrem
Iniciamos com os proprioceptores articulares. no ambiente ao redor do músculo, especialmente, as
O reconhecimento consciente da posição das partes alterações das concentrações de íons de hidrogênio,
do corpo entre si e das taxas de movimento em cada dióxido de carbono e/ou potássio. O papel fisiológico
membro (cinestesia) são realizadas por dispositivos dos quimioceptores é o de informar o sistema nervoso
sensoriais posicionados nas articulações e seus ar- central qual é a taxa metabólica de atividade muscular,
redores. Os três tipos de proprioceptores articulares fundamental para a regulação das respostas cardiovas-
principais são: (i) terminações nervosas livres; (ii) re- cular e pulmonar ao exercício (POWERS; HOWLEY,
ceptores do tipo Golgi; (iii) corpúsculos de Pacini. As 2014). Também são estruturas responsáveis por comu-
terminações nervosas livres são os proprioceptores nicar alterações nas concentrações de potássio extrace-
articulares mais numerosos e são sensíveis ao toque e lular e as alterações no pH do músculo.
à pressão. Também são muito estimulados no início O adequado controle dos movimentos da mus-
do movimento, sofrem uma discreta adaptação culatura esquelética pelo sistema nervoso requer o
inicial (ficam menos sensíveis aos estímulos) e, de- contínuo feedback sensorial dos músculos em con-
pois, emitem um sinal estável até que o movimento tração. Há duas informações importantes que o fe-
seja concluído. Os receptores de Golgi (não são os edback sensorial inclui: a) informação sobre o nível
mesmos que os órgãos tendinosos de Golgi presentes de tensão desenvolvida pelo músculo, fornecida ao
nos tendões musculares) estão situados nos ligamen- sistema nervoso central pelos órgãos tendinosos de
tos em torno das articulações. São menos abundantes Golgi; b) o comprimento do músculo (comprometi-
que as terminações nervosas livres e atuam de forma mento muscular relativo) estimado pelo fuso muscu-
semelhante. Por fim, os corpúsculos de Pacini estão lar (POWERS; HOWLEY, 2014).

85


Os fusos musculares são estruturas formadas por


várias células musculares finas, chamadas de fibras
intrafusais, e possuem, no seu entorno, uma bainha de
tecido conjuntivo. Eles estão inseridos no tecido con-
juntivo localizado junto ao músculo e seguem em pa-
ralelo às fibras musculares. A função do fuso muscular,
basicamente, é detectar o comprimento de um músculo
em atuação. A quantidade de fusos musculares que um
músculo contém é variável, por exemplo, os músculos
das mãos, que requerem um grau mais fino de contro-
le, necessitam de maior densidade de fusos; por outro
lado, músculos maiores que realizam movimentos mais
amplos, como o quadríceps, apresentam, relativamen-
te, poucos fusos (POWERS; HOWLEY, 2014).
Os fusos musculares (Figura 12) também são
inervados por motoneurônios gama que estimulam
a contração das fibras intrafusais, juntamente com as
fibras musculares esqueléticas normais (fibras extra-
fusais). Isso ocorre da seguinte forma: no momento
em que os músculos esqueléticos são encurtados a
partir da estimulação do motoneurônio, os fusos
musculares são, passivamente, encurtados com as
fibras de músculo esquelético. Se esta compensação
não acontecer, haverá o “bambeamento” do encurta-
mento do fuso bem como a diminuição de sua sen-
sibilidade. Assim, tem-se o comprometimento da
função das fibras como detectores de encurtamento
(POWERS; HOWLEY, 2014).
São os fusos musculares as estruturas que cons-
tatam que o rápido estiramento dos músculos esque-
léticos tem, como consequência, a contração reflexa,
conhecido como reflexo do estiramento ou reflexo
miotático (POWERS, HOWLEY, 2014).
Na Figura 12, é possível visualizar as etapas da co-
municação entre o estímulo gerado no músculo esque-
lético (estiramento muscular), os fusos musculares, os
neurônios sensoriais e o sistema nervoso central e to-
das as estruturas envolvidas nessa comunicação.
86
EDUCAÇÃO FÍSICA

Para o encéfalo
1. Os fusos musculares detectam o estiramento muscular.
2. Os neurônios sensoriais conduzem potenciais de ação para a Neurônio
medula espinal. sensorial 3
3. Os neurônios sensoriais fazem sinapse com motoneurônios alfa.
4. A estimulação dos motoneurônios alfa faz os músculos contrair 2
e resistir ao estiramento. Motoneurônio
4 alfa
1
Estiramento

Motoneurônio gama
Terminações dos
neurônios sensoriais
Neurônio sensorial Fuso
Motoneurônio gama muscular
Terminações dos
motoneurônios
gama
Fibra muscular de músculo
Junção
neuromuscular
Fibra muscular de fuso muscular

Reflexo de
estiramento

Fuso muscular

Figura 12 - Estrutura dos fusos musculares e as suas localizações no músculo esquelético / Fonte: Powers e Howley (2014, p. 149).

Descrição da Imagem: a imagem refere-se à ilustração da estrutura dos fusos musculares e às suas localizações no músculo esquelético. Do
lado direito, é mostrado o interior de uma perna, na coxa, está identificado o reflexo de estiramento, tendo a junção neuromuscular, enquanto
que, dentro da junção neuromuscular, está o fuso muscular. O neurônio sensorial conecta-se ao fuso muscular, também o neurônio sensorial
está conectado ao motoneurônio alfa, o qual, por sua vez, está ligado à junção neuromuscular. Esta sequência acontece em quatro etapas: 1.
Os fusos musculares detectam o estiramento muscular; 2. Os neurônios sensoriais conduzem potenciais de ação para a medula espinal; 3.
Os neurônios sensoriais fazem sinapse com motoneurônios alfa; 4. A estimulação dos motoneurônios alfa faz o músculo contrair e resistir.
Em ilustração ampliada, estão identificados os detalhes do estiramento. São apresentadas a fibra muscular de músculo e a fibra muscular do
fuso muscular e, nesta última, estão as terminações dos motoneurônios gama bem como as terminações dos neurônios sensoriais. Os moto-
neurônios gama conectam-se, de forma ramificada, à fibra muscular de fuso muscular, os neurônios sensoriais ligam-se à fibra muscular desse
fuso, ficando “enrolado” à fibra.

O próximo proprioceptor muscular que abordare- vados, se comunicam com a medula espinal através
mos são os órgãos tendinosos de Golgi, uma estru- dos neurônios sensoriais que excitam os neurônios
tura a qual monitora, constantemente, a tensão pro- inibitórios. A proteção do músculo acontece quan-
duzida pela contração muscular, atuando como um do o reflexo inibitório gerado evita que os neurônios
“dispositivo de segurança”, para que forças excessivas motores disparem, diminuindo a produção de força
durante a contração muscular não lesionem o mús- muscular. Dessa forma, as possíveis lesões induzidas
culo. Esses órgãos estão localizados junto aos ten- por contração são evitadas (POWERS; HOWLEY,
dões e em série com as fibras intrafusais, quando ati- 2014), conforme ilustra a Figura 13.

87


Outra responsabilidade do órgão tendinoso de Golgi é o reflexo de estiramento inverso (reflexo miotático
invertido), o qual é o oposto do reflexo de estiramento, visto, anteriormente, pois resulta na diminuição da tensão
muscular que ocorre pela inibição do órgão tendinoso de Golgi, que é mediada pelos neurônios motores que su-
prem o músculo, localizados na medula espinal. Em termos breves, após a contração vigorosa de um grupo mus-
cular ativar esse órgão tendinoso, uma mensagem é enviada à medula espinal para os disparos do motoneurônio
serem inibidos e, assim, reduzir a força excessiva gerada pelo músculo em contração (POWERS; HOWLEY, 2014).

1. Os órgãos tendinosos de Golgi detectam a tensão aplicada em


um tendão.
2. Os neurônios sensoriais conduzem potenciais de ação para a
medula espinal. Neurônio 3
3. Os neurônios sensoriais fazem sinapses com os interneurônios
sensorial
inibitórios que fazem sinapse com motoneurônios alfa.
2
4. A inibição dos motoneurônios alfa causa relaxamento muscular, 4 Interneurônio
inibitório
aliviando a tensão aplicada sobre o tendão. Motoneurônio
alfa
A contração muscular aumenta
a tensão aplicada aos tendões.
Em resposta, os potenciais de
ação são conduzidos para a 1
medula espinal.

Neurônio
sensorial

Órgão
tendinoso
de Golgi
Reflexo do
Tendão Músculo
órgão tendinoso
Órgão tendinoso de Golgi de Golgi

Figura 13 - Estrutura, função e localização do órgão tendinoso de Golgi no músculo esquelético / Fonte: Powers e Howley (2014, p. 150).

Descrição da Imagem: a imagem ilustra a estrutura, a função e a localização do órgão tendinoso de Golgi no músculo esquelético. No lado
direito, é apresentada a ilustração do interior de uma perna humana. Entre a coxa e acima do joelho, do lado de “fora” da perna, está localizado
o órgão tendinoso de Golgi ligado ao neurônio sensorial, este encontra-se ligado ao interneurônio inibitório que, por sua vez, está ligado ao
motoneurônio alfa. O acontecimento dessas conexões são: 1. Os órgãos tendinosos de Golgi detectam a tensão aplicada em um tendão; 2. Os
neurônios sensoriais conduzem potenciais de ação para a medula espinal; 3. Os neurônios sensoriais fazem sinapse com os interneurônios
inibitórios que fazem sinapse com motoneurônios alfa; 4. A inibição dos motoneurônios alfa causa relaxamento muscular, aliviando a tensão
aplicada sobre o tendão. Do lado esquerdo, vê-se a ilustração aumentada da região do órgão tendinoso. A ilustração mostra a ligação entre o
músculo, o tendão e o neurônio sensorial ligado ao tendão e, em cima dessa imagem, está escrito: “A contração muscular aumenta a tensão
aplicada aos tendões, em resposta, os potenciais de ação são conduzidos para a medula espinal”.

88
EDUCAÇÃO FÍSICA

Existe, também, uma via nervosa que vai do receptor


até o sistema nervoso central e que retorna até o órgão
efetor. Essa via é chamada de arco reflexo. Os músculos
esqueléticos podem se contrair em resposta à estimula-
ção sensorial (contração reflexa) e isso é independente
da ativação dos centros encefálicos superiores.
O reflexo acontece para haver a retirada rápida de
um membro de um local que está causando dor. Isso
pode ser, frequentemente, observado quando uma
pessoa toca em estruturas pontiagudas, ou ainda,
quando ela se expõe à alta temperatura (POWERS;
HOWLEY, 2014), conforme vimos na atividade
orientada no início da unidade. Dependendo de qual
estímulo os diferentes objetos proporcionaram, a re-
ação será diferente. A reação a um estímulo doloroso
é interromper o contato com a fonte de dor, portanto,
essa retirada rápida nada mais é do que uma resposta
reflexa, isto é, uma ação reflexa. Também podemos
dizer que os reflexos oferecem ao corpo uma forma
rápida e inconsciente de reagir a determinados estí-
mulos (POWERS; HOWLEY, 2014).
As estruturas envolvidas e o caminho percor-
rido em uma ação reflexa (Figura 14) são: 1. O re-
ceptor da dor (nervo sensorial) emite um impulso
nervoso para a medula espinal; 2. Nessa medula,
os interneurônios, ali, situados são excitados e re-
passam esse estímulo aos neurônios motores; 3. Os
interneurônios excitados geram a despolarização
de neurônios motores específicos, os quais fazem
o controle dos músculos flexores, necessários para
a retirada da parte do corpo do ponto de lesão. Os
músculos extensores (antagonistas da ação) são,
concomitantemente, inibidos pelo potencial inibitó-
rio pós-sináptico, gerando uma inibição recíproca
(atividade excitatória e inibitória simultânea).

89


Neurônio sensorial

Motoneurônios Interneurônio
Neurônios
motores

Braço direito Braço esquerdo

Flexor estimulado
Flexor inibido

Movimento do braço

Fibra de nervo
sensorial
Extensor estimulado Alfinete Extensor inibido

Figura 14 - Quando o músculo flexor de um lado do corpo é estimulado a contrair por um reflexo de retirada, o extensor do lado oposto
também se contrai / Fonte: Powers e Howley (2014, p. 152).

Descrição da Imagem: a imagem ilustra o reflexo de extensão cruzado, por meio da estrutura dos dois braços humanos, direito e esquerdo.
No meio, fazendo a junção dos dois braços, está o interneurônio. No braço esquerdo, o neurônio sensorial está ligado a todo o braço pela fibra
de nervo sensorial, na parte de cima do braço, acima do cotovelo, está identificado os neurônios motores e, também, o músculo flexor inibido e
estimulado. A imagem mostra o dedo tocando um alfinete e o movimento do braço se afastando/retirando do alfinete. No braço direito, estão
os motoneurônios, o músculo flexor inibido e estimulado, e mostra o braço na mesma altura do braço esquerdo. À medida que o dedo (braço
esquerdo) toca o alfinete e se movimenta para cima no intuito de se afastar, o braço direito se movimenta para baixo, em igual tempo. Há uma
seta em cada lado indicando os movimentos realizados.

No reflexo de retirada, outro aspecto importante é Seguindo para o próximo passo, veremos, mais
o fato de que, durante a remoção do membro lesio- de perto, como é a conexão entre o sistema nervo-
nado, o membro oposto fica estendido para susten- so e as fibras musculares (ventre muscular), ou seja,
tar o corpo, ou seja, ocorre o contrário do membro como é a função motora somática e os neurônios
lesionado: à medida que os flexores são inibidos, motores. Te convidamos a retornar na Figura 4 e
os extensores se contraem. Este evento é chamado a observar, novamente, as divisões anatômicas do
de reflexo de extensão cruzado (parte esquerda da sistema nervoso bem como a relação entre as fibras
Figura 14). motoras e sensoriais do sistema nervoso periférico

90
EDUCAÇÃO FÍSICA

e do sistema nervoso central, a fim de que você se corpo celular dos neurônios, e o axônio do moto-
situe melhor no caminho percorrido até aqui. neurônio vem da medula espinal como um nervo
O termo “somático” vem das estruturas localiza- que vai até o músculo para o inervar. O axônio, após
das na região “externa” do corpo, que não são visce- chegar no músculo, se divide em ramos colaterais,
rais. No sistema nervoso periférico, a porção motora então, cada um deles inerva uma única fibra muscu-
somática faz o transporte das mensagens neurais lar (POWERS; HOWLEY, 2014).
provenientes da medula espinal até o músculo es- O número de fibras musculares que são inerva-
quelético (fibras musculares que compõem o ventre das por um único motoneurônio pode variar. Por
muscular). Tais mensagens são os estímulos que de- exemplo, músculos envolvidos em movimentos que
terminam a ocorrência da contração muscular. Na requerem o controle motor fino, como o movimento
Figura 15, é possível observar como o sistema ner- ocular, a razão de inervação é de 23/1; em músculos
voso motor somático está organizado (POWERS; amplos, como os da perna, os quais não envolvem o
HOWLEY, 2014). controle fino do movimento, a razão de inervação
O motoneurônio (neurônio somático que iner- varia de 1000 a 2000/1. No momento em que um
va as fibras de músculo esquelético) e todas as fibras único motoneurônio é ativado, todas as fibras mus-
musculares inervadas por ele formam uma unidade culares inervadas por ele recebem o estímulo para se
motora (Figura 15). Junto à medula espinal está o contrair (POWERS; HOWLEY, 2014).

Medula espinal

Motoneurônio

Unidade
motora

Unidade Motoneurônio
motora

Figura 15 - Unidade motora (motoneurônio e todas as fibras musculares por ele inervadas) / Fonte: Powers e Howley (2014, p. 152).

Descrição da Imagem: a imagem ilustra a unidade motora (motoneurônio e todas as fibras musculares por ele inervadas), por meio da estrutura
de um músculo e das suas ligações. É possível ver o desenho da medula espinal, o cerebelo, com os fios representado motoneurônios saindo
da medula, aqui, representada por um círculo com a letra H no centro (a massa cinzenta da medula espinal). Esses fios se ligam ao músculo e,
do lado esquerdo do músculo, há duas chaves indicando a unidade motora.

91


da cabeça e dos membros, presentes na medula espi-


nal. Dessa forma, o movimento da cabeça e dos olhos é
Considerando a razão de inervação, o recru- controlado pelo aparelho vestibular, mantendo o equi-
tamento das unidades motoras é, sempre, o líbrio e a percepção visual dos acontecimentos relacio-
mesmo para cada grupo muscular em ação? nados ao movimento. O papel do aparelho vestibular
no equilíbrio pode ser visualizado na Figura 16.

Aparelho Receptores
vestibular Olhos articulares,
As unidades motoras são recrutadas, ordenada- tendíneos e
musculares
mente, por tamanho, ou seja, não é sempre o mes-
mo. Numa ação que requer vencer uma carga leve, Núcleos
as primeiras unidades motoras a serem acionadas Cerebelo vestibulares
(tronco encefático)
são pequenas, então, a força gerada é limitada. Em
exigências de maior produção de força, motoneurô- Centro
oculomotor
nios maiores são, progressivamente, acionados
(controle dos
(POWERS; HOWLEY, 2014). movimentos Medula espinal
Há mais estruturas envolvidas no controle mo- oculares)
(controle dos Débito para
tor do que as vistas até aqui. Vimos que o encéfalo movimentos os músculos
corporais) esqueléticos
é a estrutura que controla as ações motoras e, neste
controle, também é importante percebermos como
Figura 16 - Vias neurais envolvidas no controle do equilíbrio
o corpo mantém o equilíbrio. Fonte: Powers e Howley (2014, p. 154).

A manutenção geral do equilíbrio é realizada por


Descrição da Imagem: a imagem apresenta um fluxograma que,
um órgão situado na orelha interna (labirinto), deno- por sua vez, representa as vias neurais envolvidas no controle
minado aparelho vestibular. Os receptores presentes do equilíbrio. Ao centro da imagem, há um retângulo, nele está
escrito “Núcleos vestibulares (tronco encefálico)”, em cima desse
nesse órgão são sensíveis à mudança de direção do retângulo, há um círculo onde se lê “Olhos”. Desse círculo sai uma
seta que aponta para o retângulo e, embaixo dele, guiado por
movimento, ou ainda, à mudança da posição da cabe- uma seta, há um quadrado, onde está escrito “Medula espinal
(controle dos movimentos corporais)”. Desse quadrado sai uma
ça, por menor que seja o movimento. A mudança de seta que aponta para o lado direito da imagem e, junto do qua-
posição é comunicada ao sistema nervoso central via drado, embaixo da seta, está escrito “Débito para os músculos
esqueléticos”. Ainda do lado direito, há um quadrado cujo interior
impulsos nervosos emitidos por esses receptores, ao traz o texto “Receptores articulares tendíneos e musculares”. Do
lado esquerdo, há três quadrados, na sequência, de cima para
serem excitados pelos movimentos da cabeça. Qual- baixo. O primeiro quadrado traz o texto “Aparelho vestibular”.
Dele sai uma seta que aponta para o quadrado de baixo, no qual
quer movimento da cabeça estimula os receptores do está escrito “Cerebelo”, enquanto desse quadrado parte outra seta
que aponta para o quadrado central da imagem, cuja seta aponta
aparelho vestibular, os quais transmitem a informação de volta para onde está escrito “Cerebelo”. Por fim, no terceiro
neural ao cerebelo e núcleos vestibulares, presentes no quadrado, se lê “Centro oculomotor (controle dos movimentos
oculares)” e do quadrado do meio sai uma seta que aponta para
tronco encefálico. Assim, os núcleos vestibulares trans- o terceiro quadrado.

mitem a informação ao centro responsável pelo contro-


le do movimento ocular (oculomotor) bem como aos
neurônios responsáveis pelo controle dos movimentos

92
EDUCAÇÃO FÍSICA

nal chamado de sintonização espinal. Na medula espinal,


ocorre o refinamento do movimento pela complexa inte-
ração entre os neurônios da medula e os centros encefáli-
cos superiores (POWERS; HOWLEY, 2014).
Na Figura 17, temos um esboço das estruturas e
das etapas no plano de movimento envolvidas no mo-
vimento voluntário. A primeira etapa envolve as áreas
subcorticais e corticais que têm um papel central na
consciência. Esse impulso inicial envia sinais para o
córtex associativo diferentes do córtex motor e, ali, for-
mam um “esboço grosseiro” do movimento, planejado
a partir de informações armazenadas. Na sequência, as
informações sobre a natureza do plano de movimento
são enviadas ao cerebelo (responsável pelos movimen-
tos rápidos) e aos núcleos basais (responsáveis pelos
movimentos lentos e sentenciados/definidos), para de-
lineamento do movimento refinado.
Os núcleos basais são agrupamentos de neurô-
nios situados nos hemisférios cerebrais. Seguindo o
percurso, o programa de movimento preciso é en-
viado pelo tálamo ao córtex motor, este transmite
a mensagem aos neurônios espinais (“sintonização
Em resumo, a sensibilidade do aparelho vestibular à espinal”) e, finalmente, à musculatura esqueléti-
posição da cabeça no espaço e às mudanças súbitas ca (Figura 17). Se necessário, os proprioceptores e
de direção do movimento corporal é quem garante receptores musculares sinalizam ao sistema nervo-
todo o processo de comunicação entre as estruturas so central as modificações nos programas moto-
envolvidas na manutenção do equilíbrio (POWERS; res, gerando mudanças no movimento (POWERS;
HOWLEY, 2014). HOWLEY, 2014).
Outra estrutura importante para o controle do Nesse sentido, o complexo controle dos movi-
movimento é a medula espinal, conforme vimos no mentos voluntários requer a cooperação de diferen-
início da unidade. O reflexo de retirada, abordado, tes áreas do encéfalo, além de várias áreas subcor-
previamente, é uma das funções motoras exercidas ticais. Enquanto o córtex motor é estimulado por
pela medula. Além disso, há contribuição significati- uma variedade de estruturas subcorticais e corticais,
va no preparo dos centros espinais, feito pela medu- as respostas dos receptores articulares e musculares
la, para a realização do movimento desejado. ao sistema nervoso central permitem que o padrão
Um movimento voluntário é traduzido em uma ação de movimento seja melhorado, quando necessário
muscular apropriada, por meio de um mecanismo espi- (POWERS; HOWLEY, 2014).

93


Estrutura Etapa no plano de movimento


criança, as reações foram distintas entre elas para o
Áreas subcorticais Impulso inicial
e corticais de movimento
mesmo objeto/estímulo?
É possível que as suas respostas sejam mais longas
Delineamento do e detalhadas para cada uma das questões, se compa-
Córtex associativo movimento rada às respostas no início da unidade. Se isso aconte-
("esboço grosseiro")
ceu é porque a sua percepção da prática ganhou base
Núcleos Delineamento do teórica para compreender os processos de ação e re-
Cerebelo
basais movimento refinado ação e de aprendizagem motora, em termos fisiológi-
cos, que acontecem em todos os ambientes de atuação
Estação de profissional onde se envolve o movimento.
Tálamo
retransmissão
O tempo de processamento das informações en-
Executor final do tre o estímulo e a resposta é, extremamente, rápi-
Córtex motor
plano de movimento
do, no entanto o mais importante é saber que eles
existem e estarão “nos bastidores” do movimento,
Unidades Execução do quando falarmos, na próxima unidade, do controle
motoras movimento desejado
motor a partir de uma abordagem comportamental.

Figura 17 - Esquemas de estruturas e processos envolvidos no


movimento voluntário / Fonte: Powers e Howley (2014, p. 159).

Descrição da Imagem: a imagem representa um fluxograma


que mostra esquemas de estruturas e processos envolvidos no
movimento voluntário. A imagem também mostra dois organo-
gramas, um sobre estrutura e outro sobre etapa no plano de
movimento. À direita, quanto à estrutura, estão os seguintes ter-
mos: “Áreas subcorticais e corticais”; “Córtex associativo”, “Núcleos
basais e cerebelo”; “Tálamo”; “Córtex motor”; “Unidades motoras”.
À esquerda, quanto à etapa no plano de movimento, estão os
seguintes termos: “Impulso inicial de movimento”; “Delineamento
do movimento (‘esboço grosseiro’)”; “Delineamento do movimento
refinado”; “Estação de retransmissão”; “Executor final do plano de
movimento”; “Execução do movimento desejado”.

Embora tenhamos conhecimento sobre os benefícios


da prática regular de atividades físicas para a saúde
Agora que você sabe como o movimento acontece como um todo, é importante destacar que essa prática
no nível de sistema nervoso, qual é o seu olhar sobre também pode melhorar a função encefálica (cognitiva),
as reações da criança no experimento feito no início especialmente, nas fases mais tardias da vida (terceira
da unidade? O que você responderia nas seguintes idade). A atividade física diária é uma estratégia de
questões: o que mais te chamou a atenção? As rea- promoção da saúde do sistema nervoso central sim-
ções da criança foram diferentes entre os estímulos? ples e econômica, então, deve ser estimulada desde os
Você observou discrepâncias no comportamento e primeiros anos de vida. Esperamos você para discu-
no tempo de reação, quando a criança entrou em tirmos a respeito da contribuição do movimento na
contato com cada objeto? Se testou em mais de uma função encefálica, desde a infância até a terceira idade.

94
agora é com você

1. O encéfalo, estrutura envolvida no controle motor, pode ser dividido em três partes, a saber: tronco encefálico,
cérebro e cerebelo. Cada uma dessas estruturas possuem uma função específica que torna possível a regulação
do movimento. De acordo com os múltiplos níveis de processamento, as estruturas envolvidas são a medula
espinal, o tronco encefálico, o diencéfalo (tálamo e hipotálamo), o cerebelo e os hemisférios cerebrais, incluindo o
córtex cerebral e as três estruturas profundas, os gânglios da base, a amígdala e o hipocampo. Com base nestas
informações, assinale a alternativa que corresponde à função da medula espinal:

a) Faz o reconhecimento consciente da posição das partes do corpo entre si e das taxas de movimento em
cada membro.
b) Modula a força e a amplitude dos movimentos realizados pelo corpo humano. Também está envolvida no
aprendizado motor (adaptação simples para o aprendizado mais complexo).
c) Estrutura envolvida na recepção inicial e no processamento da informação proveniente das articulações, do
músculos e da pele, no controle da postura corporal e dos movimentos reflexos e involuntários via moto-
neurônios.
d) Correspondem a pontos de fixação citoplasmáticos que se estendem do corpo celular e que atuam como
espaço receptor, com capacidade de conduzir impulsos elétricos em direção ao corpo celular.
e) Recebe, frequentemente, inúmeras mensagens vindas dos receptores distribuídos por todo o corpo. Neles,
há informações sobre tudo o que acontece no ambiente interno e externo, toda e qualquer alteração é
comunicada pelos receptores ao centro de comando, via neurônios sensoriais.

2. Qual é o meio que o corpo tem de perceber e responder aos eventos ocorridos nos ambientes interno e exter-
no? Explique.

3. Com base no modelo de interação entre os processos de percepção, ação e cognição envolvidos no controle
motor, analise as afirmações, a seguir.

I - A sensação corresponde à primeira etapa do controle motor, chamada de percepção, e envolve os recep-
tores periféricos.
II - A execução do movimento é realizada pelos motoneurônios, articulações e músculos.
III - O planejamento do movimento é realizado no córtex pré-frontal e em outras áreas de associação de nível
superior.
IV - O córtex motor suplementar (gânglios de base e cerebelo) é responsável pela etapa de ativação.
V - A conceitualização do movimento acontece no córtex motor primário (gânglios de base e cerebelo).
É correto o que se afirma em:

a) I e II, apenas.
b) II e III, apenas.
c) III e IV, apenas.
d) I, III e IV, apenas.
e) II, IV e V, apenas.

95
agora é com você

4. Diferencie os fusos musculares e o órgão tendinoso de Golgi em relação à localização, ao estímulo, à resposta
e ao efeito.

5. Os músculos esqueléticos possuem quimioceptores, um tipo de terminação nervosa livre. Eles respondem a
alterações bioquímicas presentes durante a contração muscular. Esses receptores são sensíveis às alterações
que ocorrem no ambiente ao redor do músculo, especialmente, as alterações das concentrações de íons de
hidrogênio, dióxido de carbono e/ou potássio. Nesse sentido, assinale a alternativa correta em relação ao papel
fisiológico dos quimioceptores:

a) Atuam como um “dispositivo de segurança”, para que forças excessivas durante a contração muscular não
lesionem o músculo.
b) Transmitem a informação ao centro responsável pelo controle do movimento ocular e aos neurônios respon-
sáveis pelo controle dos movimentos da cabeça e membros, presentes na medula espinal.
c) São responsáveis por levar informações ao sistema nervoso central sobre a posição do corpo, os movimentos
por ele realizados.
d) Detectar o comprimento de um músculo em atuação.
e) Informar o sistema nervoso central qual é a taxa metabólica de atividade muscular, fundamental à regulação
das respostas cardiovascular e pulmonar ao exercício.

6. O complexo controle dos movimentos voluntários requer a cooperação de diferentes áreas do encéfalo, além
de várias áreas subcorticais. Enquanto o córtex motor é estimulado por uma variedade de estruturas subcorti-
cais e corticais, as respostas dos receptores articulares e musculares ao sistema nervoso central permitem que
o padrão de movimento seja melhorado, quando necessário. Dentre as estruturas e processos envolvidos no
movimento voluntário, tem-se:

I - O impulso inicial envia sinais para o córtex associativo e, ali, formam um “esboço grosseiro” do movimento,
planejado a partir de informações armazenadas.
II - As informações sobre a natureza do plano de movimento são enviadas ao cerebelo e aos núcleos basais
para delineamento do movimento refinado.
III - O programa de movimento preciso é enviado pelo tálamo ao córtex motor.
IV - Áreas subcorticais e corticais têm um papel central na consciência.
V - O programa de movimento é transmitido aos neurônios espinais para a sintonização espinal, depois, para
a musculatura esquelética.
Em relação à descrição do controle do movimento voluntário, a sequência correta para a resposta da questão é:

a) I, II, III, IV, V.


b) II, I, IV, V, III.
c) II, I, IV, III, V.
d) IV, I, II, III, V.
e) IV, II, I, III, V.

96
UNIDADE
IV
TEORIAS E PROCESSOS DE
APRENDIZAGEM MOTORA E
CONTROLE MOTOR

Dra. Giseli Minatto Schmitz


Dra. Juliane Berria

Oportunidades de aprendizagem

Nesta unidade, você terá a oportunidade de aprender sobre as teorias da


aprendizagem motora e do controle motor e compreender como a aprendizagem
acontece a partir dos estágios ou fases da aprendizagem motora.
unidade

IV


Conforme estudamos nas unidades anteriores, mui- perguntas. Essas teorias apresentam princípios de
tos movimentos são naturais do ser humano e se como as habilidades são adquiridas e desenvolvidas
desenvolvem a partir de estímulos simples. Porém a partir da prática.
outros movimentos precisaram ser elaborados ao No processo de aprendizagem motora, a forma
longo do tempo, para que as necessidades dos se- como o indivíduo processa as informações ou os
res humanos pudessem ser atendidas (demandas de estímulos, em relação à habilidade que está execu-
sobrevivência, de trabalho, esportivas, entre outras). tando, é muito importante para que se possa fazer
No contexto da Educação Física, trabalhamos com os ajustes necessários para tornar a execução, cada
esses movimentos a fim de atender a diferentes objeti- vez mais, habilidosa, seja no contexto das atividades
vos, como o desenvolvimento e/ou manutenção da ap- de vida diária, seja no contexto esportivo. Além dis-
tidão física, desenvolvimento motor, atividades da vida so, permite saber o que fazer também em situações
diária, desempenho esportivo, entre outros. Nos espor- em que a execução da habilidade é diferente das já
tes, mais especificamente, verificamos atletas desem- vivenciadas. Ademais, analisando as mudanças que
penhando movimentos de elevada complexidade, com ocorrem desde as primeiras execuções até que a per-
precisão e consistência, e, muitas vezes, não paramos formance se estabilize, é possível saber como o aluno
para analisar todos os aspectos que estão envolvidos está progredindo no seu processo de aprendizagem.
no processo de aprendizagem e treinamento, para que Ao compreender e aplicar os conhecimentos rela-
se consiga alcançar esse resultado. cionados aos princípios e processos da aprendizagem
Você, por exemplo, já se questionou sobre como motora, o professor de Educação Física fundamenta
ocorre o processo para que um atleta consiga atingir sua prática para a escolha dos procedimentos ade-
esse nível de desempenho? Você já pensou como quados de treinamento ou da aula em questão (por
seus músculos e suas articulações interagem e são exemplo, educação física escolar, aulas recreativas) e
coordenados para que desempenhem, juntos, as ha- pode ajudar seus alunos a aprenderem diferentes ha-
bilidades motoras que você precisa realizar no seu bilidades motoras de forma mais eficiente.
dia a dia? Como sabemos o que fazer e o que não fa- Quando uma habilidade motora é executada
zer em cada situação? E quando temos pouco tempo pela primeira vez, faz parte do processo de apren-
para tomar uma decisão? Vimos um pouco dessa re- dizagem nos concentrarmos nos principais elemen-
lação na unidade em que abordamos os aspectos fi- tos que compõem a habilidade. Com o tempo de
siológicos do controle motor, contudo não sabemos prática, é esperado que o praticante diminua e, até
como essa relação se dá a partir da abordagem mesmo, pare de pensar nesses elementos, que se tor-
comportamental. Então, com base nos conhecimen- nam, de certa forma, automatizados, e passe a pres-
tos que você adquiriu até aqui, convidamos você a tar atenção em outros elementos que fazem parte da
refletir sobre essas questões antes de avançar no es- habilidade. Como exemplo, podemos citar a habi-
tudo dessa unidade de ensino. lidade de aprender a dirigir: inicialmente, é neces-
Na área da aprendizagem motora e do contro- sário pensar em cada etapa para a troca de marcha
le motor, algumas teorias buscam responder a essas (primeiro, pisamos na embreagem, depois, fazemos

100
EDUCAÇÃO FÍSICA

a troca da marcha e, então, tiramos o pé da embreagem). Com o tempo de prática na condução de veículos,
não se pensa mais no que é preciso fazer, simplesmente, executa-se de acordo com a necessidade da situação.
Identificar em que fase ou estágio do processo de aprendizagem da habilidade motora em que o aluno se en-
contra é muito importante para que o professor possa trabalhar, de forma mais assertiva, na aprendizagem e
no desenvolvimento dessa habilidade.
Vamos fazer uma experiência que envolve o processo de aprendizagem? Se o(a) convidarmos a fazer um
desenho, qual mão você escolherá para fazer a sua obra de arte? Possivelmente, você pensou na sua mão
dominante, afinal, já possui mais experiência e coordenação para desenhar com essa mão. Então, vamos lá!
Utilizando o espaço do diário de bordo, divida-o em dois (lado direito e lado esquerdo). No lado direito da
folha, desenhe o sol, as nuvens, as árvores e as flores com a sua mão dominante. Logo após, faça o mesmo
desenho, com a outra mão, no lado esquerdo da folha.
Após fazer os dois desenhos, registre, também, no diário de bordo, as suas percepções sobre o processo de de-
senhar com cada uma das mãos. Quais as similaridades e diferenças entre os dois desenhos? Quais traços foram
mais fáceis ou desafiadores de serem executados com cada mão? Quanto tempo a mais foi necessário para fazer
os mesmos desenhos com a mão não dominante em relação à dominante? Registre, também, se você percebeu
algum ganho de habilidade ao desenhar com a mão não dominante no último desenho, em relação aos primeiros.

101


Após a experiência vivenciada, compreendemos melhor como se deu o processo de aprendizagem motora, por
menor que possa ter sido, e isso é possível a partir das teorias. As teorias da aprendizagem motora e do controle
motor foram formuladas com o objetivo de explicar como o nosso corpo controla a execução do movimento
coordenado. Para iniciarmos a discussão sobre essas teorias, vamos começar compreendendo o que são o mo-
vimento e a coordenação, para que esses conceitos nos auxiliem na compreensão do movimento coordenado.
O movimento, em si, é o resultado da interação entre o indivíduo, a tarefa e o meio ambiente e é gerado
a partir das exigências desses três fatores, conforme ilustra a Figura 1. A capacidade funcional do indivíduo
é determinada pela capacidade de ele alcançar as exigências resultantes da tarefa e do meio ambiente. Níveis
de exigência maiores desses fatores, também, indicam maior capacidade funcional (SHUMWAY-COOK;
WOOLLACOTT, 2010).

Movimento

T Figura 1 - Ilustração de como o movimento surge, a partir da


interação entre o indivíduo, a tarefa e o meio ambiente
Tarefa Fonte: Shumway-Cook e Woollacott (2010, p. 5).

Descrição da Imagem: a figura refere-se a como o movimento


surge a partir das interações entre o indivíduo, a tarefa e o meio
M ambiente. Compreende três círculos interligados. O primeiro cír-
culo, denominado T, refere-se à tarefa. O segundo círculo, deno-
minado I, refere-se ao Indivíduo. O terceiro círculo, denominado
I E E, refere-se ao meio ambiente. A intersecção entre os três círculos
Indivíduo Meio ambiente resulta no movimento, denominado M.

O movimento resulta da interação de processos rela- e os processamentos mais elevados que agregam in-
cionados à percepção, cognição e ação. A compreen- terpretação e significado à nova informação aferen-
são do controle das ações depende da compreensão te” (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2010, p.
do input motor, também chamado eferência motora, 5). A intenção, na realização do movimento, envolve
que parte do sistema nervoso para os músculos (sis- os processos cognitivos e, portanto, também, é ne-
temas efetores do corpo). Músculos e articulações cessária para o controle motor.
são, minuciosa e harmonicamente, controlados du- Mesmo que a percepção, a cognição e a ação
rante a execução da ação (movimento), conforme vi- possam ser analisadas de forma independente, a
mos na unidade anterior. A percepção corresponde caracterização da natureza do controle motor é al-
à “integração das impressões sensoriais às informa- cançada quando os três componentes são analisa-
ções psicologicamente significativas” (SHUMWA- dos simultaneamente (SHUMWAY-COOK; WO-
Y-COOK; WOOLLACOTT, 2010, p. 5). Para isso, OLLACOTT, 2010), conforme ilustra a Figura 2.
fazem parte os “mecanismos sensoriais periféricos

102
EDUCAÇÃO FÍSICA

Mobilidade

Estabilidade Manipulação

M
I E
C
Cognição Reguladores

P A
Percepção Ação
Não reguladores

Figura 2 - Os fatores do indivíduo, da tarefa e do meio ambiente afetam a organização do movimento. Fatores do indivíduo incluem a
interação dos sistemas de percepção, de cognição e de ação (motora). As restrições do meio ambiente no movimento estão divididas
em fatores reguladores e não reguladores. Por fim, os atributos de uma tarefa contribuem para a organização do movimento funcional
Fonte: Shumway-Cook; Woollacott (2010, p. 5).ação (motora). As restrições do meio ambiente no movimento estão divididas em fatores
reguladores e não reguladores. Por fim, os atributos de uma tarefa contribuem para a organização do movimento funcional
Fonte: Shumway-Cook; Woollacott (2010, p. 5).

Descrição da Imagem: a figura refere-se a um esquema que indica que os fatores do indivíduo, da tarefa e do meio ambiente afetam a organi-
zação do movimento. Fatores do indivíduo incluem a interação dos sistemas de percepção, de cognição e de ação (motora). As restrições do meio
ambiente no movimento estão divididas em fatores reguladores e não reguladores. Já os atributos de uma tarefa contribuem para a organização
do movimento funcional. A ilustração mostra, na parte central do esquema, três círculos interligados. O primeiro círculo é denominado T. O
segundo círculo é denominado I. O terceiro círculo é denominado E. A intersecção entre os três círculos resulta no Movimento, denominado M.
O círculo Tarefa está ligado à intersecção entre Mobilidade, Estabilidade e Manipulação. O círculo Indivíduo está ligado à intersecção entre C
(cognição), P (percepção) e A (ação). Por fim, o círculo Meio Ambiente está ligado à intersecção entre reguladores e não reguladores.

103
Compreender o que é a coordenação é importante Os graus de liberdade são o número de elementos
para o entendimento do movimento coordenado. A ou componentes independentes que integram um
coordenação é definida como organização dos mús- sistema de controle motor e o número de possibili-
culos para a realização dos “movimentos do corpo dades de formas que cada componente pode atuar.
e dos membros em relação à padronização dos ob- Por exemplo, ao falarmos do número de componen-
jetos e eventos ambientais” (MAGIL, 2000, p. 38), tes que integram um sistema, podemos considerar
permitindo que o indivíduo consiga desempenhar a os diferentes músculos e articulações que estão en-
habilidade que está sendo executada. volvidos no movimento e, ao pensarmos no núme-
Para que se alcance a coordenação, é necessário ro de formas que esses componentes podem atuar,
que seja alcançado um padrão de movimento. Este temos que considerar as diferentes possibilidades de
tende a alterar-se com a prática, ou seja, no início da movimentos que cada músculo e articulação é capaz
aprendizagem, as pessoas executam uma habilidade de realizar. Para a execução de qualquer habilidade,
com um padrão de movimento e, com o tempo de a questão dos graus de liberdade precisará ser resol-
prática, é natural que esse padrão de movimento se vida pelo sistema nervoso central (MAGIL, 2000).
altere (MAGIL, 2000). A padronização, com relação Conforme mencionamos anteriormente, as te-
a objetos e ambiente, está relacionada à necessida- orias da aprendizagem motora e do controle motor
de de coordenação do movimento de acordo com as buscam explicar como o nosso corpo controla a exe-
situações ambientais em que a habilidade motora é cução do movimento coordenado, não a partir de
executada (MAGIL, 2000). uma abordagem, apenas, fisiológica, mas também
Para a realização de movimentos coordenados, comportamental. Essas teorias propõem princípios
é necessário que o sistema nervoso central controle que regem o comportamento motor coordenado do
os diferentes músculos e articulações que estão en- ser humano. De acordo com Shumway-Cook e Wo-
volvidos em um padrão de movimento. Para esse ollacott, (2010, p. 8), “as teorias do controle motor
controle, alguns estudiosos indicam que o sistema descrevem pontos de vista relacionados ao modo
nervoso precisa resolver problemas relacionados aos como o movimento é controlado”. Nesse sentido,
graus de liberdade (MAGIL, 2000). podemos dizer que uma teoria do controle motor é

104
EDUCAÇÃO FÍSICA

um conjunto de ideias abstratas que buscam expli- sem unanimidade. Nesse sentido, a base fisiológica
car como o movimento é controlado, descrevendo de como ocorre controle motor, conforme vimos
estruturas ou processos não, necessariamente, ob- na unidade anterior, pode ampliar as compreensões
serváveis e relacionando-os entre si aos eventos que sobre as teorias do controle motor. Na sequência,
são observáveis. abordaremos algumas das teorias da aprendizagem
As diferentes teorias do controle motor, também, e do controle motor, a saber: teoria do circuito aber-
refletem a diversidade de visões filosóficas sobre to x fechado, teoria do sistema de informação, teoria
como o cérebro controla o movimento ou, conforme do programa motor generalizado, teoria do esque-
dito anteriormente, diferentes opiniões sobre a im- ma e teoria dos sistemas dinâmicos.
portância dos componentes do sistema nervoso que As teorias do circuito aberto x fechado buscam
controlam o movimento. Para exemplificar, há teo- explicar como os sistemas nervoso central e perifé-
rias direcionadas para as influências centrais e outras rico iniciam e controlam uma ação. Como vimos na
periféricas; há, também, aquelas que enfatizam o pa- unidade anterior, esses sistemas possuem três pontos
pel da informação do meio ambiente no controle do em comum: o centro de controle, os comandos de
comportamento. movimentos e os executores do movimento. O cen-
Em síntese, as teorias de controle motor descre- tro de controle é responsável por enviar comandos
vem “diferentes aspectos da organização que funda- de movimento para os executores dos movimentos,
menta a neurofisiologia e a neuroanatomia da ação” ou seja, para os músculos e articulações, que são res-
(SHUMWAY-COOK, WOOLLACOTT, 2010, p. 8), ponsáveis pela execução do movimento em questão
(Figura 3) (MAGILL, 2000).

Sistema de controle
do circuito aberto

Comandos do movimento Figura 3 - Imagem representativa dos


circuitos aberto e fechado
Fonte: Magill (2000, p. 40).
Centro de Executores
controle do do
movimento movimento Descrição da Imagem: a figura refe-
re-se à representação dos sistemas de
controle de circuitos aberto e fechado.
Compreende dois esquemas. O primei-
ro esquema refere-se ao sistema de
controle de circuito aberto, iniciando
Sistema de controle pelo centro de controle de movimento,
passando pelos comandos de movi-
do circuito fechado
mento até chegar nos executores do
movimento. O segundo esquema refe-
re-se ao sistema de controle de circuito
Comandos do movimento fechado, iniciando pelo centro de con-
trole de movimento, passando pelos
Centro de comandos de movimento até chegar
Executores
controle do nos executores do movimento. Em se-
do
guida, há um feedback entre os execu-
movimento movimento tores do movimento e o início, que é
o centro de controle de movimento.
Feedback

105


A diferença entre esses dois sistemas é que, no circuito fechado, além do centro de controle, dos comandos
de movimentos e dos executores do movimento, há, ainda, o componente feedback. Este se refere às infor-
mações enviadas pelos sistemas sensoriais (receptores auditivos, visuais, táteis e/ou proprioceptivos), que
indicam como está o movimento para o sistema nervoso central. Essas informações permitem que o centro
de controle esteja sempre atualizado e regulado para que sejam atingidas as metas, ou seja, para que o mo-
vimento seja realizado adequadamente (MAGILL, 2000; SCHMIDT; LEE, 2016). No circuito fechado, cada
informação recebida é comparada com uma referência para que os erros sejam processados pelo sistema
executivo (SCHMIDT; LEE, 2016).

O feedback é um importante fator que dife-


rencia os circuitos aberto e fechado. Essas
informações são muito importantes para os
ajustes/correções dos movimentos no contex-
to do exercício físico e do esporte, e o profes-
sor tem grande importância no fornecimento
do feedback.

No circuito aberto, embora o feedback, também, informações necessárias para a continuidade do mo-
esteja disponível, ele não é utilizado pelo centro de vimento e possíveis correções necessárias (MAGILL,
controle de movimento. Isso acontece nesse circuito 2000). Em vista disso, podemos perceber que as in-
porque o feedback não é necessário ou não há tempo formações obtidas durante o processo são essenciais
suficiente para que essa informação seja utilizada para a evolução da aprendizagem e para o refinamen-
(MAGILL, 2000). Assim, modificações na execução to das habilidades motoras. Este é, especialmente, ne-
não poderão ser realizadas enquanto a ação estiver cessário assim como uma preocupação do professor
em andamento (SCHMIDT; WRISBERG, 2001). de Educação Física, principalmente no esporte de
No circuito fechado, o comando é enviado apenas alto rendimento, mas também, em outros contextos
para iniciar o movimento. Para que novos comandos em que permite ao aluno a melhora do desempenho.
sejam enviados para a sequência e finalização do mo- Ao estudar as teorias dos circuitos aberto e fe-
vimento, são necessárias as informações do feedback. chado, talvez, você tenha buscado alguma relação
Este, nesse contexto, atua para que o movimento con- com a classificação das habilidades motoras abertas
tinue conforme o planejamento inicial, fornecendo as e fechadas que estudamos na Unidade 2. As habili-

106
EDUCAÇÃO FÍSICA

dades motoras fechadas são executadas em ambien- ras) semelhante a um computador. Nesse sistema,
te estável e previsível, o que reduz a necessidade ou as informações disponíveis (que são os estímulos
não requer feedback durante a realização da habi- recebidos pelo indivíduo) são apresentadas como
lidade, visto que as condições de realização são co- input (entrada) e processadas passando por vários
nhecidas (características do circuito aberto). Ainda estágios, que geram operações e resposta, que é o
assim, as informações sensoriais são importantes movimento, chamado output (saída) (Figura 4)
para as possíveis correções necessárias entre uma (SCHMIDT; LEE, 2016).
tentativa de execução e outra. No caso das habilida-
des motoras abertas, elas são realizadas em ambien-
te imprevisível, em que as condições de prática po- Input
dem mudar constante e continuamente; nesse caso,
o feedback será fundamental para que a habilidade
motora executada seja ajustada de acordo com as
possíveis alterações promovidas pelo ambiente (ca-
racterísticas do circuito fechado).

Sistema de controle de circuito aberto: Humano


Um sistema de controle em que toda a in-
formação necessária para iniciar e realizar
uma ação da forma planejada está contida
nos comandos iniciais são executores.
Sistema de controle de circuito fechado:
Um sistema de controle em que o feedback é
comparado contra um padrão ou referência
para permitir que uma ação especificada seja
realizada conforme foi planejada. Output
Fonte: Magill (2000, p. 349).

Figura 4 - Representação simplificada do processamento de


informação para a performance humana
Fonte: Schmidt e Lee (2016, p. 21).
A teoria ou abordagem do processamento de in-
formação é explicada considerando o indivíduo Descrição da Imagem: a figura refere-se à representação sim-
plificada do processamento de informação para a performance
como um processador de informações (que recebe, humana. Compreende um diagrama vertical, intitulado Indivíduo.
A ilustração indica que o processamento de informação inicia com
processa, transmite, armazena e utiliza as informa- o input, chega no Indivíduo e, depois, finaliza no output.
ções sensoriais para produção de respostas moto-

107


De acordo com essa teoria, entre a entrada (input) formações ambientais. O estágio de seleção da
e a saída (output), a informação passa por três está- resposta busca decidir a resposta a ser executada,
gios: identificação do estímulo, seleção da resposta com base nas informações do estágio anterior. O
e programação do movimento. Esses estágios não último estágio, estágio de programação do movi-
se sobrepõem, ou seja, somente após processada a mento, organiza o sistema motor para fornecer o
informação em um estágio, é que ela passa para o movimento selecionado no estágio anterior: orga-
estágio subsequente (SCHMIDT; LEE, 2016). nização a nível cerebral, de medula espinhal e do
O estágio de identificação do estímulo busca programa motor; ou seja, prepara o organismo
compreender se há algum estímulo e qual é esse para a resposta (Figura 5) (SCHMIDT; LEE, 2016).
estímulo. É um estágio sensorial de análise de in-

Input

Identificação
de estímulo

Figura 5 - Modelo do processamento de informação expendido para a


performance humana / Fonte: Schmidt e Lee (2016, p. 22).

Descrição da Imagem: a figura refere-se ao modelo do processamento


Seleção da de informação expendido para a performance humana. Compreende um
resposta diagrama vertical indicando que o processamento de informação inicia
com o input, depois, chega na identificação do estímulo e, em seguida,
acontece a seleção da resposta e a programação do movimento e, por
fim, finaliza no output.

Programação
do movimento

Output

108
EDUCAÇÃO FÍSICA

O esquema, a seguir, resume as informações da teoria do processamento de informações, desde a entrada,


passando pelos três estágios intermediários, até a saída.

Informações ambientais e do próprio executante


Input a serem processadas - Estímulo

A informação passa por tres estágios


após o indivíduo (executor) receber o
estímulo:
Indivíduo 1º Estágio: Identificação do estímulo
2º Estágio: Seleção da resposta
3º Estágio: Programação do movimento

Execução do
Output movimento

Figura 6 - Teoria do processamento de informações / Fonte: adaptada de Schmidt e Lee (2016).

Descrição da Imagem: a figura mostra um esquema com as características do input, do indivíduo e do output. No input, encontram-se as in-
formações ambientais e as do próprio executante a serem processadas — Estímulo. No indivíduo, a informação passa por três estágios após o
indivíduo (executor) receber o estímulo: estágio 1: identificação do estímulo, estágio 2: seleção da resposta, estágio 3: programação do movimento.
Por fim, no output, há a execução do movimento.

Embora os três estágios da teoria do processamento fechado. Segundo os autores, esse modelo permite
de informação não sejam, diretamente, observáveis, compreender não, apenas, os movimentos lentos,
o estudo do tempo de reação ajuda a compreender mas também os movimentos que são executados ra-
os estágios que se situam entre a entrada (input) e a pidamente, nos quais a correção de possíveis erros
saída (output) (SCHMIDT; LEE, 2016). precisa esperar o término do movimento.
Schmidt e Wrisberg (2001) e schmidt e Lee A teoria do programa motor generalizado, pro-
(2016) apresentam, ainda, um modelo conceitual posta por Schmidt e Wrisberg (2001), considera que
expandido, no qual busca-se ampliar a compreen- o programa motor é um padrão de movimento que o
são dos mecanismos de controle do movimento, a indivíduo tem armazenado com base em experiência
partir da integração dos conceitos da teoria do pro- anterior. Essa teoria defende que o padrão de movi-
cessamento de informação com a teoria do circuito mento pode ser modificado ao ser executado em con-

109


dições diferentes, permitindo ao indivíduo realizar as Para a realização de alterações em um padrão de mo-
alterações necessárias no movimento, para adequar- vimento, a fim de adequar-se às condições ambien-
-se às demandas ambientais diferentes (SCHMIDT; tais, deve-se considerar que todo padrão apresenta,
WRISBERG, 2001). além dos aspectos que podem ser modificados, pa-
“Um programa motor generalizado seria res- râmetros ou características que são invariantes. Os
ponsável pelo controle de uma classe de ações (ex: aspectos invariantes de uma ação podem ser muitos,
andar, chutar, correr, lançar), e não um movimento mas pode-se destacar alguns como importantes no
ou uma sequência específica de movimentos” (MA- contexto do programa motor, sendo eles: o timing
GILL, 2000, p. 42). Nesse sentido, para realizar uma relativo (ritmo, estrutura temporal), a força relativa
ação em um contexto específico, é necessário que o para execução da habilidade e a ordem ou sequência
indivíduo busque, em sua memória, o programa re- dos componentes que compõe a habilidade (sequên-
ferente aos aspectos invariantes daquela ação (aqui- cia dos movimentos). Dentre os parâmetros que po-
lo que não se altera durante o desempenho da ação) dem ser alterados, estão a força total empregada, o
e, então, acrescente os novos elementos específicos tempo total de realização do movimento, a amplitu-
do movimento de acordo com o contexto apresenta- de do movimento e os grupos musculares utilizados
do (MAGILL, 2000, p. 42). Assim, ao executar uma na execução da habilidade (MAGILL, 2000; SCH-
ação, o indivíduo precisa buscar, na sua memória, o MIDT; WRISBERG, 2001; SCHMIDT; LEE, 2016).
programa motor, para, então, acrescentar os aspec- O ciclo da marcha (Figura 7), por exemplo, apre-
tos específicos do movimento. senta uma organização temporal que inclui uma
Nesse contexto, destaca-se a importância do pro- fase de apoio, em que o pé está em contato com o
fessor de Educação Física proporcionar aos alunos solo, e uma fase de balanço, em que o pé está no ar,
vivências motoras variadas, para que eles possam executando a passada. Essa organização temporal e
adquirir diversas experiências que vão contribuir a sequência de movimentos executada pelos mem-
para a aprendizagem de novos padrões de movi- bros inferiores não se alteram nas diferentes situa-
mento ao longo da vida. ções que a marcha é realizada. Contudo parâmetros,
como velocidade e amplitude da passada, podem ser
alterados (SCHMIDT; LEE, 2016).

110
EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 7 - Representação do ciclo da marcha.

Descrição da Imagem: a figura refere-se à representação do ciclo da marcha. Compreende a ilustração sequencial de um homem andando.

De acordo com a teoria do programa motor gene-


ralizado, o movimento é determinado pelas infor-
mações sensoriais processadas no estágio de iden- Programa motor: “Conjunto pré-estruturado
tificação do estímulo, em que um programa motor dos comandos de movimento que definem os
é selecionado no estágio de seleção de resposta (o detalhes essenciais da ação habilidosa, com
programa motor é recuperado da memória de longo envolvimento mínimo (ou não) de feedback
prazo). Durante o estágio de programação do mo- sensorial” (SCHMIDT, LEE, 2016, p. 292). “Uma
vimento, o programa motor é preparado (define-se representação na memória que armazena a
como executar o movimento de acordo com as con- informação necessária para o desempenho
dições ambientais, por exemplo: qual membro será de habilidades motoras. Fornece as bases
utilizado, velocidade, direção...), sem influenciar nas para enviar comandos ao sistema motor, de
características invariantes. Após essas etapas, o mo- modo que a pessoa possa desempenhar as
habilidades que lhe permitam atingir as metas
vimento é iniciado (SCHMIDT; LEE, 2016).
de suas ações” (MAGILL, 2000, p. 349).
Deve-se considerar, ainda, que, ao realizar um
Programa motor generalizado: “Uma re-
movimento que já tenha sido realizado anteriormen-
presentação geral na memória de uma classe
te, não se produz um movimento completamente
de ações que compartilham características
novo, pois a nova execução inclui os elementos an-
invariantes comuns. Fornece a base para o
teriores e o estilo de movimento de cada indivíduo. controle de uma ação” (MAGILL, 2000, p. 349).
Além disso, o movimento, ao mesmo tempo, não se Fonte: Schmidt e Lee (2016, p. 292) e Magill
repete, pois nunca é executado exatamente igual às (2000, p. 349).
outras tentativas (SCHMIDT; WRISBERG, 2001).

111


A teoria do esquema, também, foi proposta por Na teoria do esquema, o início da ação envolve
Schmidt e é baseada no programa motor. Essa teo- um circuito aberto, contudo o feedback pode ser
ria busca explicar como o programa motor genera- utilizado no processo quando há tempo suficiente
lizado atua no controle do movimento coordenado para que a informação seja processada e a ação, alte-
e compreender a capacidade de o indivíduo realizar, rada (MAGILL, 2000).
com êxito, uma habilidade motora que engloba mo-
vimentos que não tenham sido realizados da mesma
forma anteriormente (MAGILL, 2000). Nesse con-
texto, o esquema é definido como “uma regra ou um
conjunto de regras que fornece as bases para uma to-
mada de decisão. É desenvolvido a partir da abstra-
ção de partes importantes da informação acumulada
de experiências anteriores e combinadas em um tipo
de regra” (MAGILL, 2000, p. 44), ou seja, é uma re-
presentação (regra) abstrata, baseada na experiência.
Magill (2000) esclarece essa ideia a partir do exem-
plo de um cachorro, considerando que, após ver
muitas raças de cachorros, estabelecem-se regras que
permitem identificar que determinado animal é um
cachorro. Assim, mesmo que seja de uma raça que
você nunca tenha visto anteriormente, as regras ge-
rais permitem identificar que aquele é um cachorro.
Transferindo para o contexto da Educação Física,
podemos pensar nas situações em que desempenha-
mos determinada ação motora que nunca foi reali-
zada anteriormente daquela forma ou treinada, mas
que tem princípios semelhantes aos já conhecidos.
Dessa forma, conseguimos desempenhar, mesmo
que não com todos os fundamentos esperados, de tal
forma que alcançamos êxito. Ao jogar uma bola com
o objetivo de acertar um cesto de lixo que esteja posi- A teoria dos sistemas dinâmicos considera o con-
cionado a diferentes distâncias ou alturas, por exem- trole do comportamento motor como um sistema
plo, estamos realizando uma ação motora semelhante complexo, biológico ou físico. É uma teoria mul-
a arremessar uma bola na cesta de basquete. Assim, tidisciplinar, pois engloba fundamentos da física,
mesmo que o aluno nunca tenha tido contato com os biologia, química e matemática, além de apresen-
fundamentos do basquete, é possível que ele se utilize tar uma crítica às teorias que enfatizam os aspectos
da experiência anterior para fazer o movimento. cognitivos (MAGILL, 2000).

112
EDUCAÇÃO FÍSICA

De acordo com essa teoria, as alterações com-


portamentais que ocorrem com o passar do tempo
não são lineares, ou seja, defende que a evolução da Ao analisar as teorias da aprendizagem e do
aprendizagem não é linear, podendo sofrer altera- comportamento motor, você pode identificar
ções ao longo dos períodos, de acordo com as situa- que a literatura apresenta teorias baseadas
ções apresentadas durante o aprendizado (MAGILL, apenas no controle pelo sistema nervoso cen-
2000). O movimento coordenado será auto-organi- tral, enquanto outras consideram, também, o
zado pelo corpo humano, a cada nova situação que ambiente e a habilidade motora. Na aplicação
se apresentar, resultando em um novo padrão de or- prática dessas teorias na Educação Física, o

ganização, específico e estável (MAGILL, 2000). que você considera que seria mais adequado?

Os pesquisadores da teoria dos sistemas dinâ-


micos, também, defendem que, para o resultado
das ações motoras ser habilidoso e adequado às ne- Estudos têm confirmado que o padrão ideal de co-
cessidades impostas pela situação, é necessário que ordenação do movimento habilidoso é determinado
músculos e articulações atuem em sinergia, a partir pela interação entre o indivíduo, o ambiente e a ha-
de comandos do sistema nervoso, e essa sinergia bilidade motora (ou tarefa), dessa forma, as teorias
será alcançada a partir da experiência ou pode exis- relacionadas à aprendizagem motora e ao controle
tir naturalmente (MAGILL, 2000). motor não devem se basear, unicamente, pelo siste-
ma nervoso (MAGILL, 2000).
O controle de habilidades coordenadas é um me-
canismo complexo, pois diferentes fatores interagem
e influenciam esse processo. Dessa forma, podemos
“Esquema: Uma regra ou um conjunto de considerar que uma única teoria, dificilmente, será
regras que fornece a base para uma decisão. capaz de fornecer todas as explicações necessárias
Na teoria do esquema de Schmidt, uma repre-
referentes ao processo de aprendizagem para as di-
sentação abstrata de regras que governam o
ferentes habilidades existentes (MAGILL, 2000).
movimento” (MAGILL, 2000, p. 345).
Em vista disso, destacamos a importância de
“Teoria de sistemas dinâmicos: Abordagem
conhecer e compreender as diferentes teorias da
que procura descrever o controle do movi-
mento coordenado enfatizando o papel da
aprendizagem e do controle motor para que o profis-
informação no ambiente e as propriedades sional de Educação Física possa ter uma compreen-
dinâmicas do corpo e dos membros” (MAGILL, são mais ampla dos aspectos envolvidos no processo
2000, p. 350). de aprendizagem das habilidades motoras e tenha o
Fonte: Magill (2000, p. 345-350). embasamento teórico necessário para buscar os me-
lhores recursos para o processo de ensino-aprendi-
zagem de cada habilidade motora.

113


No processo de aprendizagem motora, uma bola) e de que forma deve-se manipular esse objeto,
característica comum é que todos os indivíduos entre outros aspectos (MAGILL, 2000; SCHMIDT;
passam por estágios ou fases de aprendizagem en- LEE, 2016; TANI, 2016).
quanto adquirem uma habilidade. Em vista disso, Ao aprender a digitar, por exemplo, no estágio
a aquisição de habilidades motoras é descrita pelos cognitivo, você vai se questionará sobre a posição
estudiosos da área, considerando o modelo de está- correta dos dedos no teclado, qual dedo deve tocar
gios ou fases de aprendizagem motora, e o número em cada tecla, a força necessária para pressionar
de estágios ou fases que cada autor propõe varia em cada tecla, entre outros questionamentos que possa
função da ênfase na automatização resultante da se fazer para compreender a habilidade.
quantidade de prática (PELEGRINI, 2000). É im- Esse estágio é caracterizado por grande número
portante que esses estágios não sejam confundidos de erros, erros grosseiros e de variabilidade no de-
com os estágios de processamento de informação, sempenho entre as tentativas de execução (em uma
que vimos na teoria do processamento de Informa- tentativa, consegue acertar a bola próximo ao alvo,
ção (SCHMIDT, LEE, 2016). por exemplo, enquanto, em outra tentativa, a bola
Dentre os modelos propostos, destacam-se os passa muito longe do objetivo). Nesse estágio, mesmo
modelos de Fitts e Posner, Gentile e Newell. Embo- que o aluno identifique que está errando, ele, ainda,
ra esses modelos tenham sido formulados há mui- não consegue formular o que é necessário fazer para
tos anos, eles continuam sendo referência na área corrigir a execução (MAGILL, 2000; TANI, 2016).
da aprendizagem motora. Compreenderemos mais Na atuação prática nesse estágio, o professor
sobre os estágios de aprendizagem motora a partir não deve se preocupar com a precisão do movi-
desses modelos na sequência. mento, é uma fase essencialmente cognitiva (TANI,
O modelo de Fitts e Posner, de 1967, considera a 2016). O professor pode utilizar-se de instruções,
aprendizagem a partir de componentes perceptivos demonstrações, vídeos e outras informações ver-
e motores e propõe que o processo de aprendiza- bais para orientar o seu aluno na compreensão da
gem motora ocorra em três estágios, denominados: habilidade a ser executada (SCHMIDT; LEE, 2016).
cognitivo, associativo e autônomo (MAGILL, 2000; Lembre-se que o aluno que está nesse estágio, ainda,
SCHMIDT; LEE, 2016). não compreendeu a tarefa, dessa forma, ele pode ter
O primeiro estágio é denominado estágio cog- vários questionamentos a lhe fazer até que consiga
nitivo de aprendizagem e, nele, o aprendiz está co- alcançar a compreensão.
meçando a aprender e se concentrar nos aspectos O segundo estágio de Fitts e Posner é chamado
cognitivos da habilidade, ou seja, ele precisa pensar estágio associativo de aprendizagem, ou estágio de fi-
como deve se movimentar (o que deve e o que não xação (MAGILL, 2000; SCHMIDT; LEE, 2016). Para
deve fazer, as informações que são relevantes e o chegar nesse estágio, o aluno precisa passar por certa
plano de ação sequencial que deve ser executado); quantidade de prática, para que só assim consiga as-
identificar a extensão do movimento e a velocidade sociar as informações do ambiente aos movimentos
ou ritmo do movimento; verificar se a habilidade en- necessários para a execução da habilidade (MAGILL,
volve a manipulação de um implemento (como uma 2000). Nesse estágio, o foco do aluno está na orga-

114
EDUCAÇÃO FÍSICA

nização do movimento para que seja executado de associar qual dedo deve tocar cada tecla e preci-
forma mais eficaz. O movimento mais eficaz gera re- sa olhar menos vezes para o teclado para lembrar
dução no gasto de energia (SCHMIDT, LEE, 2016). onde está a tecla de cada letra, pontuação ou sím-
A forma como o aluno processa e utiliza as in- bolo. Também, são verificados menos erros de digi-
formações é determinante para o sucesso da apren- tação e os seus dedos já se movimentam, com mais
dizagem. Para isso, após cada tentativa de execução agilidade, sobre as teclas.
de um movimento, é importante que o aluno tenha O terceiro estágio é chamado estágio autôno-
clareza sobre: o seu objetivo inicial (o que buscou mo. O aluno chega nsse estágio após muito tempo
alcançar), o seu resultado (o que, efetivamente, con- de prática e experiência com a habilidade, tempo
seguiu alcançar), o seu plano de ação (o que pre- esse que pode levar vários anos para alcançar o es-
tendeu executar) e a sua execução (a forma como tágio e está associado ao alcance da performance
conseguiu executar) (TANI, 2016). especialista na habilidade motora (MAGILL, 2000;
Ao alcançar esse estágio, o aluno comete menos SCHMIDT; LEE, 2016). Nesse estágio, o aluno não
erros, e estes são menos grosseiros que no estágio an- precisa mais pensar nas características motoras da
terior, tendo em vista que já compreendeu os funda- habilidade para executá-la (está automático, exi-
mentos e a mecânica da habilidade em questão. Os mo- gindo menos atenção), é como se executasse sem
vimentos, ainda, precisam ser melhorados e refinados pensar. Dessa forma, consegue dar atenção a outros
(MAGILL, 2000), mas o aluno é capaz de identificar aspectos do desempenho e executar mais de uma
alguns dos erros de execução. Além disso, ocorre uma tarefa ao mesmo tempo (como caminhar e conver-
redução na variabilidade entre as tentativas de execu- sar, por exemplo) (MAGILL, 2000; TANI, 2016),
ção, mas essa instabilidade é reduzida gradualmente além de conseguir executar, simultaneamente, ou-
e a performance melhora constantemente (MAGILL, tra tarefa de maior complexidade (como tomar de-
2000; SCHMIDT; LEE, 2016; TANI, 2016). cisões importantes durante a prática esportiva, por
Na prática, o professor deve buscar uma redu- exemplo) (SCHMIDT, LEE, 2016).
ção gradual dos erros e um refinamento espacial e No estágio autônomo, o praticante consegue
temporal do movimento. Para isso, tanto o feedback identificar os erros e de que forma os corrigir de
intrínseco (sensorial ou inerente — do próprio alu- forma mais refinada (MAGILL, 2000; SCHMIDT;
no) quanto o feedback extrínseco (recebido de fontes LEE, 2016). O padrão de movimento, também, se
externas, como o professor) são importantes (TANI, torna mais estável nesse estágio (MAGILL, 2000).
2016). Na Unidade 5, aprofundaremos o entendi- Conforme indicado pelos autores desse modelo,
mento sobre o feedback. Fitts e Posner, é importante destacar que nem todas
Para melhor compreender o estágio associativo, as pessoas que aprendem uma habilidade chega-
retomaremos o exemplo do aprendizado da digita- rão a alcançar o estágio autônomo nessa habilida-
ção, que utilizamos para expor o estágio cognitivo. de (MAGILL, 2000). Além disso, ao chegar nesse
Considerando a sequência dos estágios, no estágio estágio, as melhorias observadas na performance
associativo da habilidade de digitação, você já sabe ocorrem de forma mais lenta, em comparação aos
posicionar seus dedos sobre o teclado, consegue estágios anteriores (SCHMIDT; LEE, 2016).

115


Fazendo referência, mais uma vez, ao exemplo da digitação que utilizamos nos estágios cognitivo e
associativo, ao alcançar o estágio autônomo, você já consegue digitar sem olhar para o teclado e com maior
velocidade. Os erros de digitação, também, são mínimos ou não ocorrem. Considerando as características
desses estágios, podemos compreender que os estágios propostos por Fitts e Posner representam uma pro-
gressão gradual a partir do tempo de prática (Figura 8). Nesse contexto, o aluno só avançará nos estágios
(no seu processo de aprendizagem) com tempo de prática, sendo que essa prática precisa contemplar, ain-
da, a qualidade de prática e de instruções fornecidas.

Estágio cognitivo Estágio associativo Estágio autônomo

Tempo de prática

Figura 8 - Estágios de aprendizagem do modelo de Fitts e Posner / Fonte: Magill (2000, p. 151).

Descrição da Imagem: a figura refere-se aos estágios de aprendizagem do modelo de Fitts e Posner. Compreende um esquema horizontal
indicando que se inicia com o estágio cognitivo, depois, chega-se ao estágio associativo e, por fim, finaliza-se com o estágio autônomo. Abaixo
da linha desses estágios supracitados, tem uma seta apontando para a direita indicando o tempo de prática.

O modelo de Estágios Gentile, proposto em 1972,


é composto por dois estágios de aprendizagem. Vamos relembrar os conceitos de condições
Esses estágios são denominados Primeiro Estágio reguladoras e não reguladoras que vimos na
e Segundo Estágio (MAGILL, 2000). No Primeiro Unidade 2?
Estágio, o aluno deve compreender a ideia do mo- Condições reguladoras: característica do
vimento, ou seja, o padrão de movimento adequa- contexto ambiental do desempenho de ha-
do, ou aquilo que ele precisa fazer para alcançar o bilidade que determina a ação exigida e as
objetivo da habilidade. O aluno, também, precisa características de movimento necessárias
aprender, nesse estágio, a diferenciar as condições para o desempenho da ação.
ambientais que são reguladoras (movimentos que Condições não reguladoras: características
devem ser produzidos) e não reguladoras (não in- do ambiente do desempenho que não afetam
as características de movimento de uma ação.
fluenciam a produção do movimento) para a habi-
Fonte: adaptado de Magill (2000).
lidade (MAGILL, 2000).

116
EDUCAÇÃO FÍSICA

Por exemplo, para pegar uma bola, considerando o desempenho de economia. A adaptação se refere
esse estágio, é necessário que o aluno compreenda a adaptar o movimento adquirido no primeiro está-
como pegar essa bola e coordenar os movimentos de gio a qualquer situação que se apresente necessária
braços e mãos para pegá-la e segurá-la. Com rela- à execução da habilidade. Na consistência, o aluno
ção às características ambientais reguladoras para a busca aumentar a consistência em atingir o objetivo
execução dessa habilidade, podemos considerar o ta- com a habilidade. Por fim, no desempenho da eco-
manho e o formato da bola, a posição que a bola está nomia, o aluno precisa aprender a executar a habi-
(sobre o solo, uma mesa, uma cadeira), entre outros, lidade com o mínimo de esforço (MAGILL, 2000).
e, quanto às características ambientais não regulado- O Modelo de Newell, também chamado Mo-
ras, podemos citar a cor da bola (MAGILL, 2000). delo de Coordenação e Estágios de Controle, foi
No Segundo Estágio, Gentile coloca como obje- proposto em 1985 e, também, é composto por dois
tivos a fixação e a diversificação da aprendizagem da estágios: Primeiro Estágio e Segundo Estágio. O
habilidade. A fixação e a diversificação dependerão Primeiro Estágio é o estágio de coordenação, no
da natureza da habilidade, aberta ou fechada. A fi- qual o objetivo é o aluno adquirir os padrões bási-
xação é necessária para habilidades fechadas, nesse cos do movimento realizado de forma coordenada
contexto, o aluno precisa refinar o padrão de mo- para a habilidade (MAGILL, 2000). O Segundo Es-
vimento adquirido no primeiro estágio para execu- tágio é o estágio de controle, no qual o aluno precisa
ção com consistência. Por outro lado, as habilidades aprender a acrescentar ao movimento característi-
abertas requerem diversificação, pois o aluno pre- cas específicas da situação que lhe é apresentada, ou
cisa, constantemente, adaptar-se às alterações apre- seja, tornar o movimento mais específico para de-
sentadas pelo ambiente, modificando o movimento terminada situação, que possa, também, adaptar-se
(MAGILL, 2000). Além disso, o aluno precisa ad- a outras situações. Espera-se, também, que, nesse
quirir três características: a adaptação, a coerência e estágio, o aluno consiga executar a habilidade com
o mínimo gasto de energia (MAGILL, 2000).

Para conhecer um pouco mais sobre os estágios ou fases da aprendizagem motora e as propostas
de estágios de outros autores, convidamos você a ouvir o podcast.

117


Um resumo dos estágios de aprendizagem motora que você estudou até aqui e, também, de outros autores
é apresentado por Pereira, Teixeira e Corazza (2011). Os autores, também, apresentam uma síntese muito
interessante das características da performance associada a cada estágio, considerando as propostas desses
autores (Tabela 1).

Estágio inicial de Estágio final de


Referência
aprendizagem aprendizagem
Cognitivo
Fitts e Posner (1967) Associativo (acertado) Autônomo (livre e fácil)
(tentativa e erro)

Verbal-Motor
Adams (1971) Motor (mais ação)
(mais fala)

Fixação/diversificação
Adquirindo a ideia do
Gentile (1972) (habilidade aberta ou
movimento
fechada)

Novato Avançado Especializado


Newell (1985) Coordenação (adquirir Controle mais independente Controle (adapta o padrão
padrão) das articulações conforme as necessidades)

Inexperiente (grande Avançado (padrão motor


Pellegrini (2000) Padrão motor mais estável
variabilidade) relativamente estável)

Característica de performance motora associadas

Aprendizagem inicial Aprendizagem final

Aparência rígida Mais relaxado Automático

Impreciso Mais preciso Preciso

Inconsciente Mais consistente Consistente

Lento, interrompido Mais fluente Fluente

Tímido Mais confiante Confiante

Indeciso Mais decidido Decidido

Inflexível Mais adaptável Adaptável

Ineficiente Mais eficiente Eficiente


Muitos erros Menos erros Reconhece erros

Tabela 1 - Representação dos estágios ou fases de aprendizagem motora e características da performance associadas
Fonte: adaptada de Pereira, Teixeira e Corazza (2011).

118
EDUCAÇÃO FÍSICA

De que forma o professor de Educação Física pode utilizar os estágios de aprendizagem na organização
da sua prática?

Segundo Magill (2000), os estágios de aprendiza- Agora que você já compreendeu as teorias da apren-
gem motora ajudam a compreender o processo de dizagem motora e do controle motor e os estágios
aprendizagem e, também, destacam a importância de aprendizagem motora, convidamos você a repe-
de buscar estratégias de ensino e treinamento que tir a experiência de fazer um desenho, com ambas
possam atender aos diferentes estágios de aprendi- as mãos, com uma criança. Assim como você fez,
zagem que os alunos se encontram. Nesse contex- peça que a criança faça algum desenho com am-
to, o professor poderá dividir o grupo de alunos de bas as mãos e, durante o desenho, busque observar
acordo com o estágio em que cada um se encontra, as reações da criança ao desenhar com cada mão,
para que consiga utilizar-se das estratégias de ensi- preste atenção nos comentários que ela possa fazer
no mais adequadas para cada estágio. e, também, nas expressões. Verifique o tempo que
O conhecimento sobre as teorias e os proces- ela demora para fazer os desenhos, as similarida-
sos da aprendizagem motora possibilita ao profes- des e as diferenças entre esses desenhos. Se você
sor de Educação Física compreender a essência das tiver oportunidade, repita essa experiência com a
suas escolhas para o ensino-aprendizagem-treina- criança novamente mais duas ou três vezes nos dias
mento de uma habilidade motora; ter clareza sobre seguintes, pedindo que ela repita os mesmos dese-
quais são os fatos e teorias que fundamentam as nhos, e busque verificar se existem diferenças entre
suas escolhas; escolher o método de trabalho mais as tentativas com a prática.
adequado, considerando as especificidades da habi-
lidade motora em questão, do aluno e do contexto
como um todo; e auxilia o professor a identificar o
feedback mais adequado para cada situação.

119
agora é com você

Para que você possa sintetizar os conceitos que vimos ao longo desta unidade de ensino e torná-los re-
presentativos visualmente, elabore um mapa mental do conteúdo desta unidade. Para a elaboração do
seu mapa mental, você pode utilizar ferramentas disponíveis gratuitamente na internet, como: Go Conqr,
Jamboard, Lucidchart, MindMeister, entre outros, ou, ainda, fazer o mapa mental no seu caderno.

Tarefa

Indivíduo Meio Ambiente

Movimento

As teorias surgiram com o


intuito de explicar como o
movimento é coordenado
Teorias do controle motor e da e executado pelo nosso
aprendizagem motora corpo, a partir de uma
abordagem comportamental

Teorias do circuito Teoria do Programa


aberto x fechado Motor Generalizado Teoria do Teoria dos
Esquema Sistemas
Teoria ou Abordagem do Dinâmicos
processamento de Informação

No processo de aprendizagem motora, uma característica comum é


que todos os indivíduos passam por estágios ou fases de aprendizagem
enquanto adquirem uma habilidade

Modelo de Modelo de Modelo de Newell


Fitts e Posner Estágios Gentile (Modelo de
Coordenação e
Estágios de Controle)

120
meu espaço

121
meu espaço

122
UNIDADE
V
APRENDIZAGEM MOTORA E A
INTERVENÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Dra. Giseli Minatto Schmitz


Dra. Juliane Berria

Oportunidades de aprendizagem

Nesta unidade, você compreenderá os principais aspectos da intervenção do


professor de Educação Física na área da aprendizagem motora, incluindo a
estruturação da prática, a motivação, as formas de instrução para orientar o aluno, os
tipos de prática, o feedback e, também, a avaliação.
unidade

V


Era uma vez, um professor de Educação Física. Ele O quão empolgado(a) você estava para a sua primeira
estava, no seu primeiro dia de aula, com os alunos e prática? Como você se saiu nas primeiras tentativas?
recebeu a importante missão de ensinar a cada alu- Naturalmente, é possível que você não tenha se
no uma habilidade motora, considerando o nível de saído muito bem e tenha se perguntado o que pre-
desempenho que cada um apresentava! Um pouco cisava aprender para que seu desempenho fosse
perdido por ser o seu primeiro dia no trabalho e sem melhorado. Considerando que você não tinha mui-
conhecer os alunos, desde a bagagem motora de cada to conhecimento sobre aquela habilidade, buscou
um, dispôs alguns materiais, como bolas, cordas e algum instrutor, um profissional que pudesse lhe
cones, e pediu para que eles escolhessem os mate- orientar para que seu desempenho, aos poucos, me-
riais e a atividade que gostariam de praticar. Assim, lhorasse. Isso, também, faria você ganhar tempo no
o professor, observando cada aluno nas diferentes processo de aprendizagem.
práticas, sentou-se em sua cadeira e se pôs a planejar. Você consegue se lembrar da atuação desse pro-
Você já se perguntou alguma vez como você deve fissional durante as aulas? Como ele lhe explicava a
proceder para ensinar alguém a praticar alguma habili- habilidade? Quais as dicas eram fornecidas para que
dade? Sabe por onde começar e o que precisa saber para você avançasse na aprendizagem? É possível que, à
que isso aconteça? Procure se lembrar da época em que medida que você estudar esta unidade de ensino,
você começou a aprender uma atividade física que, até você vá fazendo relações com as suas vivências an-
então, não havia praticado (a sua primeira vez na aula de teriores e consiga recordar e compreender a atua-
dança, de futebol, de futsal, de ginástica, por exemplo). ção desse profissional e a intencionalidade das suas

126
EDUCAÇÃO FÍSICA

ações, com o objetivo de alcançar a aprendizagem e Nesse contexto, o professor de Educação Física
um desempenho mais habilidoso. precisa dominar as estratégias de instrução e, também,
Nas unidades anteriores, vimos que, na me- os tipos de prática, para que possa fazer uso das fer-
dida em que o aprendiz evolui, a partir da con- ramentas mais adequadas em cada contexto, a fim de
dição de principiante até alcançar o ponto de ser favorecer o processo de aprendizagem de seus alunos.
um praticante altamente capacitado, ele passa por Para o ensino de uma habilidade motora, o pro-
diferentes estágios, embora contínuos. Segundo fessor precisa desenvolver sua capacidade de ofere-
Magill (2000), a aprendizagem é um processo que cer instruções efetivas. Para isso, é importante que
envolve tempo e prática. À medida que o indiví- ele possua conhecimento técnico e vivência com a
duo evolui, por meio dos estágios de aprendiza- habilidade. Ademais, considerando que as pessoas
gem, notáveis alterações no desempenho e no pra- captam as informações de formas diferentes, ou seja,
ticante podem ser observadas. algumas terão mais facilidade de captar informações
Demonstrar como desempenhar uma habilidade visuais, auditivas ou cinestésicas, é necessário utili-
é, certamente, a forma mais comum de comunicação zar-se de diferentes recursos para fornecer informa-
durante o ensino. Em geral, o professor faz a demons- ções, dependendo do aluno.
tração de como executar uma habilidade por acreditar Nesse contexto, convidamos você a exercitar a
que, desse jeito, o aprendiz receberá mais informações sua capacidade de fornecer instruções verbalmente
em menor tempo do que seria caso ele fizesse uma ex- no ensino de uma habilidade motora. Procure uma
plicação verbal do desempenho de determinada habi- pessoa do seu convívio que não saiba fazer laço no
lidade. Isso é frequente e acontece desde o ensino de tênis ou saiba fazer o laço de forma diferente da que
habilidades simples até as mais complexas. Contudo você ensinará. Então, utilizando-se apenas de dicas
esse consenso não deveria ser assumido sem ter uma verbais, vá orientando essa pessoa a fazer o laço no
visão geral do que acontece no ensino-aprendizagem tênis. Lembre-se que você deve utilizar, apenas, di-
de uma habilidade (MAGILL, 2000). cas verbais, em nenhum momento pode demonstrar
como fazer. Faça esse exercício com a mesma pes-
soa, pelo menos, duas vezes seguidas.

Figura 1 - Ilustração de uma criança brincando, executando a


habilidade de manipulação

Descrição da Imagem a figura refere-se à imagem de uma criança,


de pele branca e cabelos loiros. Ela está sentada em frente a um
brinquedo com gangorras. Ela segura, na mão direita, uma bola
pequena na cor vermelha e, na outra mão, uma bola na cor ama-
rela. Com o braço direito estendido, a bola vermelha encontra-se
próximo ao brinquedo.

127


A partir dessa experiência, o que você consegue ainda, mudar a forma como estava explicando para
identificar sobre o ensino de uma habilidade a partir que ela pudesse entender? Como foi o resultado final
das dicas verbais? Foi fácil para você conduzir a pes- do laço executado? Quais as diferenças para você,
soa a fazer o laço no tênis utilizando, apenas, a fala? como instrutor(a), e para a outra pessoa, enquanto
A pessoa conseguiu entender as suas orientações fa- aluna, entre a primeira e a segunda tentativas? Re-
cilmente ou você precisou repetir muitas vezes ou, gistre as suas reflexões no diário de bordo.

128
EDUCAÇÃO FÍSICA

Para melhor compreensão do conteúdo desta uni- desempenhar uma habilidade, decorrente da prá-
dade, relembraremos dois conceitos importantes: tica ou da experiência, inferida como melhora no
aprendizagem e desempenho (ou performance). desempenho, relativamente, permanente. Isso im-
Para que interferências válidas possam ser feitas so- plica dizer que houve um aumento na capacidade
bre a aprendizagem, é necessário perceber quais são ou no seu potencial na execução de dada habilida-
as condições adequadas que precisam ser considera- de (MAGILL, 2000). No campo de intervenção da
das na observação do desempenho. Portanto, desem- Educação Física, a aprendizagem pode ser obser-
penho (também abordado, na literatura, como per- vada no dia a dia, prática após prática. A melhora
formance) é o comportamento observável (execução na execução de determinada habilidade motora,
de uma habilidade em determinado instante e situa- como o saque no voleibol, requer constante repeti-
ção), enquanto a aprendizagem não é observada di- ção do movimento, persistência e aperfeiçoamen-
retamente, ela é inferida a partir das características to, que pode levar à melhora, relativamente, per-
do desempenho do indivíduo (MAGILL, 2000). manente do desempenho. Isso acontece em todos
Nesse sentido, podemos definir aprendizagem os tipos de prática, esportivas ou recreativas. Veja
como uma mudança na capacidade de o indivíduo um exemplo na Figura 1.

Figura 1 - Ilustração de uma criança brincando, executando a habilidade de manipulação

Descrição da Imagem a figura refere-se à imagem de uma criança, de pele branca e cabelos loiros. Ela está sentada em frente a um brinquedo
com gangorras. Ela segura, na mão direita, uma bola pequena na cor vermelha e, na outra mão, uma bola na cor amarela. Com o braço direito
estendido, a bola vermelha encontra-se próximo ao brinquedo.

129


Em geral, quatro características do desempenho são a persistência está relacionada à melhora, relativa-
observadas ao longo da aprendizagem de habili- mente, permanente do desempenho, pois o nível de
dades: o aperfeiçoamento, a consistência, a persis- desempenho atingido numa habilidade aprendida
tência e a adaptabilidade. O aperfeiçoamento, no deve ser demonstrado hoje, amanhã, na semana que
desempenho de habilidades, acontecerá sempre ao vem, e assim por diante (MAGILL, 2000).
longo do tempo de prática (Figura 2). Por isso, em Por fim, a característica de adaptabilidade está re-
dado momento, o indivíduo estará desempenhando lacionada à aprendizagem de habilidades. “O desem-
determinada habilidade melhor do que antes, a me- penho aperfeiçoado se adapta a uma grande variedade
nos que maus hábitos que levam à falta de aperfeiço- de características do contexto de desempenho” (MA-
amento estejam presentes (MAGILL, 2000). GILL, 2000, p. 137). Isso significa que as condições,
Ao passo que a aprendizagem progride, o de- no contexto do desempenho, nunca são exatamente
sempenho de dada habilidade se torna cada vez mais idênticas, sempre há algo diferente, seja o estado emo-
consistente. No começo da aprendizagem, os níveis cional do indivíduo, seja as variações na condição do
de desempenho tendem a ser variáveis entre uma tempo ou do lugar onde a habilidade é executada, seja
tentativa e outra. Contudo, com o avanço da prática, as características da própria habilidade. As situações
os níveis passam a ser mais semelhantes, caracteri- da habilidade e do desempenho são as que determi-
zando a consistência no desempenho (MAGILL). nam o grau de adaptabilidade exigido. A capacidade
Com o aumento na consistência do desempenho, de desempenhar uma habilidade com sucesso aumen-
algumas características comportamentais passam a ta na mesma proporção que o indivíduo evolui na
apresentar maior estabilidade, que é outro termo re- aprendizagem da habilidade em certas circunstâncias.
lacionado à consistência. Quando a estabilidade, no Algo que pode acontecer, durante o processo de
desempenho de determinada habilidade, é alcança- aprendizagem, é deparar-se com a estagnação do de-
da significa que pequenas alterações nas característi- sempenho. Isso acontece quando o aperfeiçoamento
cas pessoais ou ambientais, raramente, perturbarão de uma habilidade parece ter estacionado, o que é
o novo comportamento adquirido (MAGILL, 2000). comum no processo de aprendizagem. A esse perí-
A terceira característica geral observada durante odo dá-se o nome de platô de desempenho. Os pla-
a aprendizagem é a persistência. Esta é caracterizada tôs podem ocorrer ao longo do desenvolvimento da
pela capacidade melhorada de desempenho. À me- prática, enquanto a aprendizagem está acontecendo.
dida que o indivíduo “melhora a aprendizagem de Nesse sentido, os platôs são parte mais do desempe-
uma habilidade, sua capacidade de desempenho me- nho do que da aprendizagem, ou seja, o desempe-
lhorada se estende por períodos maiores” (MAGILL, nho de uma habilidade pode atingir um platô, mas a
2000, p. 137). Nesse sentido, podemos afirmar que aprendizagem continua (MAGILL, 2000).

130
EDUCAÇÃO FÍSICA

Em vista disso, podemos perceber que a prática é o ser realizada pelo profissional com atenção, conside-
elemento essencial para que a aprendizagem possa rando os princípios da aprendizagem motora (SCH-
ocorrer. É a partir da prática que o aluno alcançará MIDT; LEE, 2016), que envolvem a motivação, o
o aperfeiçoamento, a consistência, a persistência e a estabelecimento de metas, os tipos de instrução, os
adaptabilidade das habilidades motoras, sejam elas, tipos de prática e o feedback.
posteriormente, empregadas na prática de exercícios O estabelecimento de metas, os tipos de ins-
físicos, no contexto esportivo ou nas atividades do trução e o feedback são estratégias que informam
dia a dia do indivíduo. ao aluno o que acontecerá na realização da tare-
A quantidade e a qualidade da prática são fato- fa ou o que aconteceu durante a prática (UGRI-
res fundamentais que precisam ser controlados pelo NOWITSCH, BENDA, 2011), enquanto os tipos
professor de Educação Física no processo de apren- de prática se referem à forma como o professor
dizagem. Para isso, a organização da prática precisa estruturará as suas aulas.

131


Figura 3 - Ilustração de uma aluna desmotivada para a prática de atividades físicas

Descrição da Imagem: a figura refere-se à imagem de uma jovem, de cabelos escuros amarrados para trás. Ela está sentada com o braço esquerdo
escorado no joelho esquerdo e a mão esquerda fechada, tocando a bochecha. O braço direito está sobre a perna direita, que está com o joelho
flexionado, e o pé direito passando embaixo da perna esquerda. Ao redor dela, há uma garrafa na cor azul, halteres e uma bola grande na cor rosa.

A motivação do aluno para aprender é um fator seriedade e dedique mais tempo para a prática (SCH-
muito importante. Quando o aluno não está moti- MIDT; LEE, 2016, p. 229). A motivação intrínseca é
vado, é possível que a aprendizagem seja muito pe- a motivação que vem do próprio indivíduo, interna.
quena ou que ela não ocorra (Figura 3). Engana-se Está relacionada às necessidades individuais de auto-
o professor que pensa que o fato do aluno ter procu- nomia, competência (domínio de habilidades) e re-
rado por determinada prática faz com que ele esteja lações sociais (SCHMIDT; LEE, 2016) e pode ser in-
motivado para tal, ele pode, apenas, estar atendendo fluenciada por fatores externos (chamada motivação
a uma recomendação (recomendação médica, por extrínseca). Algumas estratégias de motivação que
exemplo) ou ao desejo de outra pessoa (como os podem ser utilizadas pelo professor de Educação Fí-
pais, que matriculam seus filhos em escolinhas es- sica, durante o processo de aprendizagem, envolvem:
portivas) (SCHMIDT; LEE, 2016). o estabelecimento de metas e o feedback aumentado
A motivação faz com que o aluno empregue mais ou extrínseco (SCHMIDT; LEE, 2016).
esforço na realização da prática, dedique-se com mais

132
EDUCAÇÃO FÍSICA

O estabelecimento de metas é uma estratégia de mo- gem. As metas podem ser estabelecidas pelo aluno,
tivação para o aluno (SCHMIDT; LEE, 2016; UGRI- com o auxílio do professor (SCHMIDT; LEE, 2016).
NOWITSCH; BENDA, 2011) e tende a contribuir É sempre importante que o aluno esteja en-
para que o aluno tenha maior comprometimento volvido no estabelecimento das metas, e estas não
com a prática e esteja mais dedicado ao processo de sejam definidas exclusivamente pelo professor. A
aprendizagem (UGRINOWITSCH; BENDA, 2011). participação do aluno nessa etapa fará com que ele
É importante que o professor estimule seus alunos a esteja mais comprometido com o processo. As me-
estabelecerem metas para que sejam perseguidas por tas podem ser genéricas ou específicas, de curto ou
meio da prática ao longo do processo de aprendiza- longo prazo, podem estar relacionadas ao produto

133


(ou seja, resultado final) ou ao processo (UGRI- No contexto da Educação Física, faz parte do tra-
NOWITSCH; BENDA, 2011). As metas específicas balho do professor passar instruções sobre como se
tendem a favorecer a aprendizagem em comparação posicionar, como realizar um movimento, como segu-
às metas genéricas ou quando nenhuma meta é defi- rar um implemento, sobre o que deve ser realizado na
nida (WALTER, BASTOS; TANI, 2016). sequência ou o que pode acontecer (é esperado) após a
É importante considerar, ainda, que as me- execução de um movimento (SCHMIDT; LEE, 2016).
tas devem ser realistas e desafiadoras, ou seja, não A instrução verbal (Figura 4) fornece ao aluno a
podem ser metas muito fáceis nem metas que não informação sobre “o que fazer” (UGRINOWITSCH;
possam ser alcançadas (irreais), pois ambas as con- BENDA, 2011, p. 25). Ao fornecer instrução verbal,
dições tendem a desmotivar o aluno. Essa desmo- é importante que as informações sejam passadas ao
tivação pode acontecer por não encontrar desafios aluno de forma simples e direta (SCHMIDT; LEE,
para atingir metas muito fáceis ou por perceber que 2016). Contudo o professor deve ter em mente que
sequer conseguirá passar próximo da meta estabele- o indivíduo tem capacidade limitada de assimilação
cida, por ser muito complexa para aquele momento da informação recebida. Por esse motivo, moderar a
de aprendizagem (SCHMIDT; LEE, 2016). quantidade de orientações fornecidas sobre o desem-
Recomenda-se, também, que sejam definidas me- penho de uma habilidade, para não sobrecarregar o
tas de curto e de longo prazo e metas relacionadas aprendiz, faz-se necessário (MAGILL, 2000).
ao processo e ao produto final da aprendizagem. As
metas de curto prazo permitem ao professor e ao alu-
no avaliarem se a aprendizagem está ocorrendo con-
forme o planejado e traçarem possíveis alterações,
caso sejam necessárias, a fim de atingir as metas de
longo prazo. A forma de fornecer instrução é um fa-
tor importante na organização da prática e mais um
fator que afeta a aprendizagem motora. As instruções
podem ser fornecidas verbalmente, visualmente (por
escrito, figuras, desenhos ou, ainda, por meio da de- Figura 4 - Ilustração da instrução verbal no processo de ensino-
-aprendizagem de habilidades motoras
monstração) ou associando as duas formas (SCHMI-
DT; LEE, 2016; WALTER; BASTOS; TANI, 2016). Descrição da Imagem: a imagem refere-se a uma reunião dentro
de uma quadra de esportes. A professora está com os cabelos pre-
A forma de fornecer a instrução se refere às infor- sos, em pé, segurando uma caneta e uma prancheta. À frente dela,
mações disponibilizadas para o aluno previamente à há oito pré-adolescentes (quatro meninos e quatro meninas). Eles
estão sentados um ao lado do outro, olhando para a professora.
prática (UGRINOWITSCH; BENDA, 2011).

134
EDUCAÇÃO FÍSICA

Uma forma de mais bem utilizar o recurso da instru-


ção verbal, durante a execução do movimento, é por
meio de pistas verbais. Estas são frases curtas e conci-
sas que têm a função de: a) chamar a atenção do apren-
diz para a informação relevante no desempenho de
determinada habilidade; e b) atuar como um recurso
imediato para o desenvolvimento das habilidades que
estão sendo trabalhadas. Para exemplificar, podemos
citar as pistas “olhe para a bola”, que chama a atenção
visual, e “flexione o joelho”, o que aciona um compo-
nente essencial do movimento (MAGILL, 2000).
Os recursos visuais (Figura 5) utilizados para for-
necer instrução incluem imagens, desenhos, vídeos e,
também, a demonstração realizada pelo professor ou
Figura 6 - Ilustração da demonstração de um dos recursos visuais
pelos próprios alunos. A utilização desse recurso, em que pode ser utilizado no ensino de habilidades motoras

que o aluno obtém as informações por meio da ob-


Descrição da Imagem: a imagem refere-se a uma profissional
servação de outras pessoas, é denominada aprendiza- se exercitando. Ela está com a mão esquerda na cintura e o bra-
ço direito, levantado. O corpo está inclinado para à esquerda.
gem observacional (SCHMIDT; LEE, 2016). À frente da profissional, há vários pré-adolescentes, todos com
camiseta vermelha e shorts preto. Todos eles estão copiando os
movimentos da professora.

A demonstração (Figura 6) é uma forma de instru-


ção que fornece ao aluno informações sobre “como
fazer”, como executar determinada habilidade, e
contribui para a formação de um plano de ação para
execução durante a prática (UGRINOWITSCH;
BENDA, 2011). Principalmente entre os iniciantes,
uma parte considerável da aprendizagem ocorre por
meio da observação e da tentativa de imitar os movi-
mentos de outros (SCHMIDT; LEE, 2016).
A demonstração tende a reduzir para o aluno
Figura 5 - Ilustração de um dos recursos visuais que pode ser
utilizado no aprendizado de habilidades motoras a incerteza sobre o que deve ser realizado, ou seja,
permite que ele compreenda, com mais clareza, o
Descrição da Imagem: a imagem refere-se à ilustração de um
homem se exercitando enquanto assiste TV. Ele está copiando que deve ser executado. Pode ser associada à instru-
os movimentos realizados por outro homem que está dentro
da TV. Ele está com o corpo todo inclinado para a frente, com o
ção verbal (Figura 7), utilizando-se da demonstração
braço direito esticado à frente do corpo, apoiado numa cadeira. para diminuir a necessidade de instruções verbais
muito complexas (TONELLO; PELLEGRINI, 1998).

135


Figura 7 - Uso combinado da instrução verbal e dos recursos visuais no ensino de habilidades motoras pelo professor de Educação Física.

Descrição da Imagem: a figura refere-se à foto de um profissional instruindo seus alunos. Eles estão sentados no gramado de um campo de futebol.
O professor tem pele clara e cabelos curtos escuros. Ele está abaixado, apontando para um tablet. Os alunos estão ao redor do professor. Todos
eles estão usando camisetas na cor azul e shorts preto. Um dos alunos veste uma camisa na cor laranja, e outro aluno segura uma bola verde e azul.

De acordo com Magill (2000, p. 184), demonstrar servador (aprendiz) percebe da demonstração, a in-
como desempenhar uma habilidade é a forma mais fluência das características da habilidade, a observa-
comum de comunicação entre professor e aluno du- ção de demonstrações desempenhadas corretamente,
rante o ensino. No entanto, como foi dito no início a observação de demonstradores não-treinados, a fre-
da unidade, embora o uso da demonstração seja fre- quência de demonstração de uma habilidade, o mo-
quente, desde o ensino de habilidades simples até delamento auditivo e como a observação de demons-
as mais complexas, não deveria ser assumido como trações influencia a aprendizagem (MAGILL, 2000).
consenso sobre a melhor forma de ensinar. Ao utilizar-se do recurso da demonstração, é
No ensino-aprendizagem de uma habilidade, é importante transmitir, corretamente, as característi-
importante se certificar em que circunstâncias a de- cas espaciais e temporais envolvidas no movimento
monstração é o meio de comunicação mais eficiente. e orientar o aluno a estar atento aos elementos mais
Dentre essas condições, podemos citar: o que o ob- importantes do movimento (Figura 8). Consideran-

136
EDUCAÇÃO FÍSICA

do o estágio de desenvolvimento cognitivo, para alu- necessários para a execução, buscando fazer uma
nos iniciantes, é recomendado que o professor asso- apresentação exata da habilidade; dessa forma, se a
cie a demonstração a instruções verbais, para que o habilidade é executada com uma bola, ela estará pre-
aluno possa captar melhor as informações, enquan- sente durante a execução do movimento. No mode-
to, para o aluno mais experiente, a demonstração lo simulado, a demonstração é realizada sem incluir
tende a ser suficiente (TANI et al., 2011). os agentes externos. Nesse caso, a habilidade seria
O professor, também, pode se utilizar do mo- demonstrada sem a utilização da bola, o professor,
delo real ou modelo simulado. O modelo real de apenas, representaria o gesto a ser executado (TO-
demonstração utiliza todos os recursos que serão NELLO; PELLEGRINI, 1998).

Figura 8 - Ilustração do movimento com destaque para a orientação do aluno a estar atento aos elementos mais importantes do movimento.

Descrição da Imagem: a figura refere-se à imagem de uma profissional instruindo alunos. Ela está em frente a um espelho, equilibrada com
a perna direita, e a perna esquerda está flexionada para trás, sendo o pé segurado pela mão. À frente da profissional, há algumas crianças
observando, sendo que duas delas imitam o movimento da profissional.

137


Como mencionamos anteriormente, a prática é fator penho da parte anterior, a habilidade contém alto
fundamental para que a aprendizagem possa ocor- grau de organização (MAGILL, 2000). Nesse con-
rer. Além da prática física, que envolve a realização texto, “quanto mais componentes a habilidade tiver
ativa de movimentos, a prática mental, também, maior a sua complexidade e quanto maior a intera-
pode contribuir com a aprendizagem motora (WAL- ção destes componentes maior a sua organização”
TER; BASTOS; TANI, 2016). Os diferentes tipos (UGRINOWITSCH; BENDA, 2011, p. 27).
de prática física podem ser classificados de acordo Para uma habilidade com baixa complexidade
com a fragmentação da prática, o espaçamento ou (poucos componentes) e alta organização (maior inte-
distribuição da prática e a variabilidade da prática ração entre os componentes), a prática pelo todo pare-
(UGRINOWITSCH; BENDA, 2011). Vejamos as di- ce ser adequada, pois não há a necessidade de prática
ferentes classificações da prática física na sequência. individualizada de cada um dos componentes (UGRI-
Com relação à fragmentação, a prática pode ser NOWITSCH; BENDA, 2011). Isso significa dizer
organizada pelo todo ou por partes. Decidir se o en- que os indivíduos aprendem, de forma mais eficiente,
sino de uma habilidade motora será pelo todo ou em habilidades relativamente simples, uma vez que pou-
partes é uma tarefa importante a ser definida pelo cos componentes estão altamente relacionados (por
professor. Uma habilidade praticada como um todo exemplo, abotoar um botão) (MAGILL, 2000).
(prática pelo todo) proporcionará uma vivência que Para o ensino de habilidades seriadas, como a dan-
pode auxiliar o aprendiz a perceber melhor o fluxo ça e a ginástica, recomenda-se a prática por partes, en-
e o tempo de todos os componentes presentes nos quanto, para as habilidades discretas ou que possuem
movimentos da habilidade. No entanto a prática da poucos componentes, a prática do todo pode ser mais
habilidade em partes (prática por partes) propicia a adequada (UGRINOWITSCH; BENDA, 2011).
redução da complexidade da habilidade, o que per- Às vezes, separar, fisicamente, as partes de uma
mite ao aprendiz o reforço do desempenho correto habilidade para a prática não é nem prático, nem
em cada parte, antes de desenvolver a prática como aconselhável, o que, também, não significa que
um todo (MAGILL, 2000). Por isso, para a definição não possam ser praticadas partes de uma habilida-
de qual tipo de prática utilizar, é necessário conside- de como um todo. Nesse caso, é possível praticar a
rar a complexidade e a organização da habilidade. habilidade como um todo concentrando a atenção
A complexidade está relacionada ao número às partes que precisam ser mais bem trabalhadas. A
de partes que compõe a habilidade. Isso significa vantagem dessa abordagem é a possibilidade de per-
dizer que uma habilidade altamente complexa pos- ceber “como as partes da habilidade se relacionam
sui mais componentes e, consequentemente, exi- umas às outras para produzir o desempenho treina-
ge maior atenção, principalmente, de um aprendiz do” (MAGILL, 2000, p. 282).
principiante. A organização da habilidade se refere Existem três métodos diferentes que podem
à forma como essas partes interagem na execução tornar eficaz a prática em partes: o fracionamento,
da habilidade (relação entre os componentes de uma a segmentação e a simplificação. O fracionamento
habilidade). Por exemplo, quando o desempenho de refere-se à prática separada dos componentes de
uma parte da habilidade depende muito do desem- uma habilidade como um todo, que não depende

138
EDUCAÇÃO FÍSICA

uma da outra, e combina as partes que têm depen- Schmidt e Lee (2016) consideram os períodos de
dência entre si. A segmentação (método das partes prática e repouso em uma única sessão, para diferen-
progressivo) envolve tanto a separação da habilida- ciação das práticas maciças ou distribuídas. Nesse
de em partes como a prática dessas partes. Após o contexto, a prática maciça se caracteriza por pouco
aprendiz praticar uma parte, ele a pratica junto à ou nenhum descanso entre as tentativas, enquanto
próxima parte, e assim por diante. Por fim, a simpli- a prática distribuída exige mais tempo de descanso
ficação, que é uma variação da estratégia de prática (às vezes tão longo quanto o período de prática). Es-
como um todo, consiste na redução da dificuldade tudos experimentais que analisaram os benefícios de
da habilidade como um todo ou de partes diferentes mais sessões e de sessões mais curtas evidenciaram
da habilidade (MAGILL, 2000). que a prática distribuída é benéfica. Os experimen-
Na organização da prática, o professor precisa tos compararam poucas sessões de práticas longas
considerar o número de dias por semana de prática, o (prática maciça) com maior número de sessão de
número de dias por semana de repouso, o número de práticas curtas (prática distribuída) e verificaram
horas por dia de prática, o tempo de repouso durante que a prática de habilidades com sessões mais cur-
a prática e quanto tempo cada atividade deve ser de- tas (prática distribuída) gera melhor aprendizagem.
sempenhada em cada sessão de treino/exercício (SCH- Contudo, a depender de como o experimento é con-
MIDT; LEE, 2016). Além disso, é necessário conside- duzido, os resultados mudam, e as diferenças entre
rar fatores, como fadiga e motivação, principalmente a prática distribuída e a prática maciça podem não
em práticas que envolvem períodos mais prolongados existir (MAGILL, 2000). Além disso, a redução do
(SCHMIDT; LEE, 2016). Todos esses são aspectos im- tempo de descanso (característica da prática maciça)
portantes a serem considerados na aquisição, no de- tende a não permitir redução suficiente da fadiga,
sempenho e na aprendizagem de habilidades motoras. o que pode reduzir a performance/desempenho e,
Segundo Magill (2000), o espaçamento ou a distribui- também, a aprendizagem (SCHMIDT; LEE, 2016).
ção da prática pode afetar tanto o desempenho quanto O tempo de descanso entre as sessões pode pro-
a aprendizagem de habilidades motoras. duzir efeitos diferentes na aprendizagem a depender
Com relação à prática maciça e distribuída, veja- do tipo de habilidade. Em habilidades contínuas
mos o que os autores Magill (2000) e Schmidt e Lee (caracterizada por movimentos repetitivos, como
(2016) apresentam. Para Magill (2000), a prática ma- caminhar, correr, etc.), a literatura foi consistente
ciça apresenta duração da sessão mais longa, aplicada ao revelar que a prática maciça produzia um desem-
num espaço de tempo menor, e a prática distribuída penho pior, comparada à programação distribuída,
tem duração da sessão menor, aplicada por um perí- contudo não interferia na aprendizagem (MAGILL,
odo maior. Esses tipos de prática se caracterizam pe- 2000). Entretanto o mesmo não foi constatado nos
los aspectos relacionados aos intervalos de descanso experimentos sumarizados por Schmitdt e Lee
entre as sessões e os períodos de prática durante cada (2016), os quais indicam que a distribuição da práti-
sessão. Portanto, dizem respeito a “como utilizar um ca exerce uma interferência na aprendizagem.
intervalo de tempo previsto durante e entre às ses- No caso das habilidades discretas (início e fim
sões de prática” (MAGILL, 2000, p. 259). bem definidos, como pressionar as teclas do compu-

139


tador), o resultado de um experimento mostrou que mento e de características do contexto vivenciadas


o grupo de prática maciça apresentou desempenho pelo aprendiz ao longo da prática de uma habilidade
melhor, em relação ao grupo de prática distribuída, (MAGILL, 2000). Nesse contexto, temos a organi-
ao final das tentativas de prática, podendo beneficiar zação da prática de forma constante ou variável (ou
a prática (MAGILL, 2000). variada), com base na Teoria do Esquema (que estu-
damos na Unidade 4).
A prática constante envolve a execução de uma
única habilidade repetidas vezes nas mesmas condi-
ções, enquanto a prática variável (ou variada) é ca-
“As evidências experimentais são consistentes
ao mostrar que as sessões de prática muito
racterizada pela prática da habilidade em situações
longas e muito pouco frequentes não levam variadas (diferentes distâncias, por exemplo). Nos
à uma aprendizagem ideal” (MAGILL, 2000, p. dois tipos de prática, a quantidade que será prati-
267). As habilidades são mais bem aprendidas cada é a mesma, a única diferença está na variabi-
quando as sessões são mais numerosas e têm lidade que será incluída, ou não (SCHMIDT; LEE,
duração menor, comparadas a um número 2016; WALTER; BASTOS; TANI, 2016). A variação
menor de sessões com maior duração de cada da prática pode estar relacionada a aspectos físicos
sessão. Sobre o intervalo de descanso entre da realização da habilidade, por exemplo, na força e
as sessões, o tempo ideal dependerá do tipo na direção e, também, na variação de diferentes ha-
de habilidade em questão. Para as habilida- bilidades (WALTER; BASTOS. TANI, 2016).
des contínuas, a prática distribuída tende a
A prática constante tende a ser muito benéfica
ser melhor para a aprendizagem do que a
na fase inicial da aprendizagem, possibilitando ao
prática maciça, apesar da diferença não ser
aluno reproduzir uma única versão do movimento,
tão discrepante. Nas habilidades discretas,
a fim de aprender a estrutura do movimento e ad-
as conclusões são opostas, isto é, as práticas
quirir maiores eficácia e padronização do movimen-
maciças são as mais recomendadas.
Fonte: adaptado de Magill (2000). to. Contudo, com o avançar do processo, a prática
variável permitirá ao aluno ampliar seu esquema
motor, melhorando o desempenho para novas ta-
O objetivo da prática é preparar o aluno para que refas (SCHMIDT; LEE, 2016; WALTER; BASTOS;
possa alcançar um nível de aprendizagem que o TANI, 2016; (UGRINOWITSCH; BENDA, 2011).
permita ter desempenho adequado (ou em um ní- De forma geral, os estudos indicam que a prática va-
vel elevado) nas diferentes situações que possam se riada implica maior número de erros, entretanto, a
apresentar durante a prática, ou seja, que o aluno longo prazo, favorece a realização da habilidade em
consiga se adaptar às exigências da tarefa (SCH- outras situações (WALTER; BASTOS; TANI, 2016).
MIDT; LEE, 2016). Existem vantagens no processo Durante o processo de aprendizagem, é comum
de aprendizagem das habilidades motoras que são que o professor busque desenvolver o aprendizado de
decorrentes da variabilidade da prática. A variabi- mais de uma habilidade ao mesmo tempo (no volei-
lidade da prática consiste na variabilidade de movi- bol, por exemplo, o ensino do toque e da manchete), e

140
EDUCAÇÃO FÍSICA

a forma de sequenciar a prática dessas habilidades que que a prática aleatória no início da aprendizagem,
estão sendo ensinadas está relacionada à prática em contudo a prática aleatória produz mais aprendi-
blocos (ou bloqueada) e à prática aleatória (randomi- zagem (retenção). Possíveis explicações para a prá-
zada, ou intercalada) (SCHMIDT; LEE, 2016; WAL- tica aleatória produzir mais aprendizagem estão
TER; BASTOS; TANI, 2016). Magill (2000) acrescenta relacionadas à distinção entre as tarefas, à possibi-
que a prática pode ser organizada de forma serial. lidade de o aluno criar memórias mais duradouras,
Na prática em blocos (ou bloqueada), todas as à comparação entre as tarefas e, também, à neces-
atividades de uma habilidade (planejadas para aque- sidade de o aluno buscar gerar mais soluções, du-
la aula) são finalizadas antes de passar para as ativi- rante a prática aleatória, para resolver as questões
dades da outra habilidade. Essa prática permite ao relacionadas a uma habilidade, que ocorrem, alter-
aluno a repetição de uma habilidade, oportunizando nadamente, ao longo de uma prática.
o aperfeiçoamento e as correções (SCHMIDT; LEE, Segundo os autores, intercalando as habilida-
2016; WALTER; BASTOS; TANI, 2016). des, as soluções criadas, ao executar a habilidade na
Na prática aleatória (randomizada, ou inter- primeira vez, seriam esquecidas (ou, parcialmente,
calada), a ordem das atividades de cada habilida- esquecidas) após executar outra habilidade; dessa
de é intercalada durante a prática. Por exemplo, forma, ao executar, novamente, a primeira habili-
se, em uma aula, estão sendo trabalhadas três dade, o aluno é recrutado para criar novas soluções
habilidades, o professor organizará as atividades (SCHMIDT; LEE, 2016). A prática aleatória pode
de forma que haja um rodízio entre as atividades ser menos eficaz quando a habilidade ensinada é
das três habilidades, para que o aluno não exe- uma habilidade muito difícil ou quando está sendo
cute duas tentativas consecutivas de uma mesma ensinada antes do aluno estar apto para tal aprendi-
habilidade. É uma prática que apresenta grande zado (SCHMIDT; LEE, 2016).
variabilidade entre as tentativas e, também, entre Considerando que ambas as práticas apresentam
as práticas (SCHMIDT; LEE, 2016). benefícios no processo de aprendizagem, alguns pes-
Em relação à prática serial, o aprendiz pratica quisadores recomendam que professores e treinado-
cada padrão de movimento ou atividades relaciona- res utilizem as duas práticas (em bloco e aleatória)
das à aprendizagem de uma habilidade todos os dias em uma mesma aula/sessão de treino, organizando
e na mesma sequência (MAGILL, 2000). momentos de prática aleatória e momentos de práti-
Estudos sobre as práticas em blocos e aleatória ca em bloco, de acordo com as necessidades do que
têm demonstrado que a prática em blocos produz está sendo trabalhado (SCHMIDT; LEE, 2016).
uma performance/desempenho mais habilidosa Além da prática física, o professor de Educação

141


Física, também, pode utilizar-se da prática mental.


A prática mental consiste no aluno pensar sobre
a habilidade que está sendo aprendida e executar,
mentalmente, passo a passo (sequencialmente), cada
parte que compõe essa habilidade. Ou seja, na prá-
tica mental, orientamos o aluno a se imaginar exe-
cutando cada parte da habilidade e atingindo a meta
(SCHMIDT; LEE, 2016). Em termos técnicos, a prá-
tica mental diz respeito à “recapitulação cognitiva
de uma habilidade física na ausência de movimen-
tos físicos explícitos” (MAGILL, 2000, p. 285-286),
na qual o indivíduo pode imaginar uma habilidade
ou parte dela. Além de não ocorrer a prática física
ativa, na prática mental, também, não há feedback
(SCHMIDT; LEE, 2016).
A prática mental atua, principalmente, nos
aspectos cognitivos, que fazem parte do primei-
ro estágio de aprendizagem, conforme estuda-
mos na unidade anterior. Contudo é uma prática
que traz benefícios, também, para os alunos que
estão nos estágios seguintes de aprendizagem
(SCHMIDT; LEE, 2016).
Embora, durante muito tempo, os pesquisadores e
os profissionais da área se questionaram se a aprendi-
zagem motora, realmente, poderia acontecer a partir
da prática mental, atualmente, existem evidências de
que a prática mental é capaz de gerar aprendizagem
motora, porém não na mesma proporção que a práti-
ca física, mas a prática mental pode ser utilizada como
aliada à prática física para alcançar a aprendizagem
motora (SCHMIDT; LEE, 2016; MAGILL, 2000).
As duas explicações mais plausíveis para enten-
der a eficiência da prática mental na aprendizagem

142
EDUCAÇÃO FÍSICA

e no desempenho são a neuromuscular e a cogniti- mental, contudo sabe-se que não é suficiente, ape-
va. A explicação neuromuscular diz que existe uma nas, dizer ao aluno que pratique mentalmente (SCH-
atividade elétrica na musculatura envolvida em de- MIDT; LEE, 2016). É sabido, também, que pessoas
terminado movimento, que resulta do imaginário com alta capacidade imaginativa podem se benefi-
do praticante. Durante a prática mental, os trajetos ciar mais com essa prática, que segue sendo benéfi-
neuromotores, adequadamente, envolvidos na ação ca àqueles com baixa capacidade (MAGILL, 2000).
são ativados, e essa ativação auxilia na aprendizagem Dessa forma, acreditamos que o professor possa con-
de habilidades por auxiliar no estabelecimento e no duzir essa prática mental orientando o aluno sobre
reforço de padrões de coordenação adequados a se- cada aspecto que deve ser imaginado mentalmente,
rem desenvolvidos (MAGILL, 2000). considerando a sequência do movimento e, também,
Na explicação cognitiva, há um consenso entre os os aspectos mais relevantes do movimento que o pro-
pesquisadores sobre o alto grau de atividade cogniti- fessor tenha interesse em destacar durante a prática,
va necessário na primeira etapa da aprendizagem de até chegar o momento da conclusão do movimento
uma habilidade motora. Com a prática mental, a pres- (ou sequência de movimentos) e atingir a meta. Ao
são existente para o desempenho físico da habilidade alcançar a meta, o professor, também, pode orientar
que está sendo adquirida ou para o aprendizado de o aluno a se imaginar e buscar sentir, em seu corpo, a
uma habilidade antiga estaria ausente. A contribuição satisfação e a realização pela sua conquista.
da prática mental, nas etapas finais da aprendizagem, A prática mental não exige a utilização de re-
está no auxílio da consolidação das estratégias e nas cursos e não precisa ser realizada individualmente,
correções dos erros (MAGILL, 2000). dessa forma, em grupos de alunos, a prática men-
Não existe, na literatura, um direcionamento cla- tal pode ser realizada com todos ao mesmo tempo.
ro sobre como o professor deve conduzir a prática Além disso, como não exige esforço físico, é uma

143


prática que pode ser utilizada pelo professor nos De acordo com Magill (2000), existem diferen-
momentos de descanso nas aulas ou nos treinos tes tipos de feedback, na família de feedback, que
(SCHMIDT; LEE, 2016) e, também, com atletas podem ser fornecidos e estão relacionados ao de-
que estejam afastados dos treinos físicos por mo- sempenho e à aprendizagem de habilidades moto-
tivos de lesão (UGRINOWITSCH; BENDA, 2011). ras, conforme ilustra a Figura 9. Um deles é o fee-
Durante as suas aulas de Educação Física ou ou- dback intrínseco à tarefa, que inclui o sistema de
tras práticas de exercícios físicos, você já deve ter feedback sensorial do indivíduo (visual, auditivo,
percebido que, ao longo da prática, é comum o pro- proprioceptivo e tátil), e o outro é aquele prove-
fessor dar algumas dicas ou comandos ao longo da niente de uma fonte externa (feedback aumenta-
execução de uma habilidade ou ao você concluí-la. do), conforme abordaremos adiante.
Essas informações estão relacionadas ao feedback. Para exemplificar brevemente, enquanto o sistema
O feedback se refere às informações sobre o movi- visual do praticante (sistema sensorial) traz informa-
mento e os resultados desse movimento, ou seja, às ções sobre o sucesso ou as falhas do seu desempenho
informações fornecidas durante e após a realização ao percorrer um caminho com obstáculos, o professor
do movimento (MAGILL, 2000; SCHMIDT; LEE, que observa o aluno nessa prática fornece informa-
2016). Essas informações influenciam a precisão, a ções de como os obstáculos poderiam ser mais bem
decisão e a seleção de parâmetros para uma nova superados durante o percurso (fonte externa).
tentativa (SCHMIDT; LEE, 2016).

Feedback

Feedback
Feedback
intrínseco
aumentado
à tarefa

Conhecimento Conhecimento
Visual Auditivo Proprioceptivo Táctil de de
Resultados (CR) Desempenho (CD)

Figura 9 - Esquema que ilustra os diferentes tipos de feedback, na família de feedback, relacionados à aprendizagem e ao desempe-
nho de habilidades motoras / Fonte: Magill (2000, p. 199).

Descrição da Imagem: a figura refere-se a um esquema que ilustra os diferentes tipos de feedback, na família de feedback, relacionados à
aprendizagem e ao desempenho de habilidades motoras. O esquema indica que o feedback está subdividido em feedback intrínseco à tarefa
(visual, auditivo, proprioceptivo e tátil) e feedback aumentado: conhecimento de resultados (CR) e conhecimento de desempenho (CD).

144
EDUCAÇÃO FÍSICA

Nesse sentido, o feedback pode ser dividido em: fee- penho que é fornecida ao aprendiz, de forma ex-
dback intrínseco (ou inerente) e feedback extrínseco terna, por uma pessoa ou utilizando recursos de
(ou aumentado). O feedback intrínseco, ou inerente, imagem e vídeo, por exemplo. É utilizado para
está relacionado às informações inerentes à prática complementar (ampliar) as informações perce-
(SCHMIDT; LEE, 2016), à informação processada bidas pelo aluno no feedback intrínseco (SCH-
pelo próprio indivíduo sobre a sua execução. Também MIDT; LEE, 2016; MAGILL, 2000), e não para
podemos dizer que esse tipo de feedback consiste no substituir as informações do feedback intrínseco
feedback sensorial que está disponível, prévia ou pos- (UGRINOWITSCH; BENDA, 2011).
teriormente, ao desempenho de uma habilidade, que Conheceremos um pouco mais sobre os tipos de
ocorre naturalmente e é uma parte do próprio status feedback contidos em cada uma dessas ramificações
de desempenho da habilidade (MAGILL, 2000). do feedback e como eles atuam no processo de desem-
Por outro lado, o feedback extrínseco, ou au- penho e de aprendizagem motora.
mentado, refere-se à informação sobre o desem-

145


O feedback extrínseco tem particular importância siste na “informação sobre as características do mo-
nas situações em que o aluno não consegue perceber vimento responsáveis pelo resultado do desempenho”
o feedback intrínseco ou ele não está disponível. Por (MAGILL, 2000, p. 200). Seguindo o mesmo exemplo
exemplo, se, ao arremessar uma bola em um alvo, o da aula de arco e flecha, o feedback relacionado ao co-
aluno não consegue ver se acertou ou se errou o alvo nhecimento de desempenho dito pelo professor seria:
e, ainda, se errou o alvo, a que distância a bola ficou do ao soltar a flecha, você puxou o arco para a esquerda.
alvo, esse aluno não terá informações disponíveis para Esse tipo de feedback reforça, verbalmente, o feedback
processar. Nessa situação, é possível que não ocorra a intrínseco à tarefa, ao dizer que, “como consequência
aprendizagem sem que se forneça o feedback extrínse- do seu desempenho, a flecha atingiu o alvo naquele
co (SCHMIDT; LEE, 2016). Nesse sentido, se o aluno ponto” (MAGILL, 2000, p. 200). Esse feedback, tam-
não consegue perceber que está errando ou em quais bém, é, usualmente, fornecido por meio de gravações
aspectos está errando na execução de uma tarefa, será em vídeo, conforme veremos adiante.
necessário que o professor forneça as informações
para que ele possa fazer os ajustes necessários.
De acordo com Magill (2000), o feedback aumen-
tado (ou extrínseco) pode ser fornecido em dois ins-
Feedback: “informação que a pessoa rece-
tantes diferentes: enquanto o movimento está acon- be sobre o desempenho de uma habilidade
tecendo, sendo chamado de feedback aumentado durante ou depois de seu desempenho” (MA-
concomitante, e depois de ter sido desempenhada a GILL, 2000, p. 199).
habilidade em questão, chamado de feedback aumen- Feedback aumentado: “informação forneci-
tado terminal, conforme veremos a seguir. Na divisão da por uma fonte externa, que acrescenta ou
do feedback aumentado (ou extrínseco), ilustrada na melhora a qualidade do feedback intrínseco à
Figura 9, fazem parte o conhecimento de resultados e tarefa” (MAGILL, 2000, p. 210).
o conhecimento de desempenho. Conhecimento dos resultados: “resulta-
O conhecimento de resultados diz respeito à “in- do do desempenho da habilidade” (MAGILL,

formação apresentada externamente sobre o resul- 2000, p. 210).


Conhecimento do desempenho: “caracterís-
tado do desempenho de uma habilidade ou sobre a
ticas do desempenho que levam ao resultado”
obtenção da meta de desempenho” (MAGILL, 2000,
(MAGILL, 2000, p. 210).
p. 200). Para exemplificar esse conceito, suponha que,
Fonte: Magill (2000, p. 199-210).
numa aula de arco e flecha, o professor diz ao aluno:
“você acertou no azul na posição das nove horas”. Essa
informação que o professor fornece ao aluno é a do Nesse contexto, o feedback pode ser a informação
resultado do desempenho. Essa forma de feedback, referente ao resultado (se acertou ou errou) ou ao
também, serve para indicar ao aprendiz se ele alcan- padrão de movimento, ou seja, à força ou à veloci-
çou determinada meta do desempenho estabelecida. dade empregada, entre outros aspectos, bem como a
O conhecimento de desempenho, segunda cate- direção e a mudança no posicionamento no desem-
goria do feedback aumentado (ou extrínseco), con- penho da habilidade (SCHMIDT; LEE, 2016).

146
EDUCAÇÃO FÍSICA

entre outros), os momentos em que a informação


deve ser fornecida, ou não (por exemplo, durante a
execução, logo após a ação ou passado algum tem-
Na teoria do circuito fechado (que estuda-
mos na Unidade 4), o feedback considera,
po), e, também, a frequência com que o feedback
apenas, a informação referente ao erro, deve ser fornecido (em todas as tentativas, em tenta-
apresentando um conceito mais restrito do tivas alternadas, nas tentativas que verifica-se maior
que o abordado nesta unidade. distanciamento da meta) (SCHMIDT; LEE, 2016).
Fonte: adaptado de Schmidt e Lee (2016). É muito importante que o professor de Edu-
cação Física utilize esse recurso de aprendizagem
nas suas aulas. Para isso, considere fornecer a seus
Na aquisição de habilidades, o feedback aumenta- alunos feedback com relativa frequência, para que
do desempenha dois papéis importantes: facilitar a a motivação não diminua ao longo da prática e ele
obtenção da meta no processo de aprendizagem de tenha, constantemente, informações atualizadas
uma habilidade e “motivar o aprendiz a continuar se para utilizar em novas tentativas (SCHMIDT; LEE,
esforçando em direção à meta” (MAGILL, 2000, p. 2016). O feedback fornecido com frequência tende
200). Além disso, temos, como função do feedback a manter o movimento na direção do objetivo final
extrínseco, a utilização para motivar e encorajar o (movimento alvo), permitindo corrigir o erro com
aluno a prosseguir com as tentativas no seu processo brevidade (SCHMIDT; LEE, 2016).
de aprendizagem, para gerar novos conhecimentos Nesse sentido, para que haja maior aproveitamen-
sobre a habilidade que está sendo aprendida, com to da função que o feedback aumentado desempenha
informações sobre o erro e as correções necessárias, em facilitar o aperfeiçoamento da habilidade e na mo-
e, também, para direcionar a atenção do aluno aos tivação do aprendiz a persistir na sua prática, é mais
aspectos que sejam de interesse do professor, a fim apropriado combinar o feedback aumentado com
de favorecer o processo, seja direcionando a aten- base nos erros e com as informações pautadas no que
ção ao movimento que está sendo executado, seja foi executado de forma correta (MAGILL, 2000).
direcionando a atenção ao produto final da ação (a Deve-se, contudo, ter atenção para não sobre-
meta) (SCHMIDT; LEE, 2016). carregar o aluno com excesso de informação. Para
O feedback extrínseco é a informação sobre o isso, o professor pode considerar fornecer feedback
qual o professor de Educação Física tem controle sobre a parte mais importante do movimento, pois,
durante o processo de ensino-aprendizagem e pre- dessa forma, o aluno poderá assimilar, com mais
cisa compreender as melhores estratégias para uti- facilidade, cada informação recebida (SCHMIDT;
lizá-lo, a fim de favorecer o processo de aprendiza- LEE, 2016). Realizados os ajustes necessários nos as-
gem. Dessa forma, o professor precisa compreender pectos mais importantes do movimento, o professor
a melhor forma de fornecer o feedback (verbal, por pode, progressivamente, adicionar informações, a
recurso de vídeo, em gráficos), quais são as informa- fim de refinar esse movimento, até o nível desejado
ções, realmente, relevantes naquele momento (po- para as necessidades do seu aluno ou da prática de
sicionamento do corpo, velocidade do movimento, exercício físico, esporte ou laboral que ele realiza.

147


Para que o feedback seja, realmente, eficiente, quantitativas (magnitude do erro), será fundamental,
o professor precisa ter conhecimento aprofundado como indicar ao aluno que ele lançou a bola com mui-
sobre os padrões de movimentos desejados (ou seja, ta força ou, então, que a bola passou a 5 cm à esquerda
conhecimento técnico), pois só assim terá clareza so- do alvo (SCHMIDT; LEE, 2016; MAGILL, 2000).
bre as correções necessárias (SCHMIDT; LEE, 2016)
e saberá quais são os erros, os aspectos que estão le- Em síntese, o professor precisa considerar três
vando a eles e, também, os aspectos mais importan- pontos importantes na tomada de decisão sobre
tes a serem corrigidos em cada etapa da aprendiza- quais informações de feedback aumentado (ou
gem, a fim de evitar o excesso de informação. extrínseco) devem ser dadas. Primeiro, deve de-
A precisão do feedback é outro aspecto que preci- terminar a precisão da informação, se ela preci-
sa ser considerado pelo professor de Educação Física sa ser mais genérica ou mais precisa. Segundo,
e está relacionado ao nível de precisão com que o fee- deve determinar o conteúdo, uma vez que o fe-
dback descreve o movimento realizado ou o resultado edback aumentado é útil para chamar a atenção
desse movimento. No início da aprendizagem, os alu- para determinadas partes da habilidade; por
nos costumam apresentar erros mais grosseiros. Des- isso, o foco precisa ser para a parte mais impor-
sa forma, um feedback muito preciso, possivelmente, tante da habilidade que precisa ser melhorada.
não será assimilado pelo aluno, uma vez que lhe fal- Terceiro, deve ser estabelecida a forma que o
tará controle sobre a combinação do movimento com professor apresentará o feedback aumentado,
o feedback fornecido. À medida que o aluno evolui por exemplo, de maneira verbal, graficamente,
na aprendizagem, fornecer feedback mais preciso, que por vídeo, entre outras (MAGILL, 2000).
inclua informações qualitativas (direção do erro) e

148
EDUCAÇÃO FÍSICA

Considerando o momento para o professor forne- tempo da execução do movimento (esse tempo está
cer o feedback, vimos que ele pode ser: durante a relacionado ao intervalo de atraso de feedback). Estu-
execução da habilidade (feedback concorrente, ou dos apontam que o feedback fornecido imediatamente
concomitante) e após a execução (intervalo de atra- após a execução não, necessariamente, será mais bené-
so de feedback, ou terminal). O feedback, durante a fico, tendo em vista que pode interferir na capacidade
realização do movimento, pode ser fornecido pelo do próprio indivíduo interpretar a sua execução, ou
professor utilizando-se de comandos verbais, visu- seja, no feedback inerente (processado pelo próprio
ais ou sonoros ou por orientação física, na qual, por indivíduo) (SCHMIDT; LEE, 2016; MAGILL, 2000).
meio de dispositivos de orientação, o próprio pro- Intervalos longos entre a execução do movimento
fessor busca restringir, fisicamente, o movimento do e o feedback, se forem preenchidos por atividades que
aluno (é um recurso importante para movimentos demandam a atenção do aluno (como por exemplo
em que erro envolve algum perigo durante sua rea- conversar com os colegas, ou fazer uma outra tarefa),
lização, por exemplo, ao executar movimentos acro- também, podem comprometer o efeito do feedback
báticos na ginástica artística). Esses recursos são para a aprendizagem. Quando não há outras ativi-
utilizados para conduzir o movimento em direção à dades entre a execução e o feedback, o tempo até o
meta ou corrigi-lo durante a execução (SCHMIDT; fornecimento do feedback parece não exercer tanta
LEE, 2016; MAGILL, 2000). influência na aprendizagem (SCHMIDT; LEE, 2016).
O feedback, após a execução da habilidade, pode Os momentos em que o feedback pode ser fornecido
ser fornecido imediatamente após ou passado algum é explicado na linha do tempo (Figura 10) a seguir:

Movimento Movimento Feedback Próximo movimento


começa termina fornecido começa

Feedback concorrente Intervalo de atraso Intervalo de atraso


Tempo e assim por diante
(incluindo orientação) do feedback pós-feedback

Figura 10 - Momentos em que o feedback pode ser fornecido / Fonte: Schmidt e Lee (2016, p. 275).

Descrição da Imagem: a figura refere-se a um esquema horizontal ilustrando os momentos em que o feedback pode ser fornecido. Uma linha
horizontal indica o tempo. O movimento começa e, em seguida, ocorre o feedback concorrente (incluindo orientação). O movimento termina e,
em seguida, ocorre o intervalo de atraso do feedback, e só, então, o feedback é fornecido. Depois, ocorre o intervalo de atraso pós-feedback e,
em seguida, ocorre o próximo movimento, e assim por diante.

149


O feedback, após a execução da habilidade, pode, e de transferência e pela dinâmica de coordenação.


ainda, ser fornecido após o aluno experimentar algu- Cada uma das formas de avaliação analisa uma
mas tentativas de execução (e não a cada tentativa). ou mais características gerais de desempenho da
Estudos indicam que essa forma de fornecer feedba- aprendizagem de habilidades.
ck também é eficaz para a aprendizagem e permite A primeira forma de avaliar a aprendizagem é
que o aluno tenha tempo para processar o feedback pela observação da prática do desempenho. Essa
inerente ou intrínseco (SCHMIDT; LEE, 2016). Em forma considera as características de consistência
turmas com muitos alunos, fornecer feedback indi- e de aperfeiçoamento do desempenho ao longo da
vidual poderá não ser uma tarefa tão simples, mas, prática (MAGILL, 2000). São feitos registros dos ní-
ainda assim, é importante que o professor busque veis de uma medida de desempenho ao longo do pe-
empregar esse recurso (SCHMIDT; LEE, 2016). ríodo em que o indivíduo pratica determinada habi-
De acordo com o que estudamos até aqui, fica cla- lidade. Tais registros podem ser plotados em gráficos
ro que o feedback é fundamental para o desenvolvi- gerando uma curva de desempenho. O período de
mento do movimento de acordo com os padrões de tempo para os registros pode se dar em segundos ou
habilidade desejados, contudo pesquisadores da área minutos e, ainda, ao longo das tentativas realizadas
indicam que o feedback precisa ser, progressivamente, (uma ou uma série de tentativas, dia, etc.). Para a
reduzido para que o aluno não crie uma dependência construção do gráfico, no eixo Y (vertical), deverão
das informações fornecidas pelo professor e possa, en- estar plotados os níveis da medida do desempenho
tão, alcançar a aprendizagem permanente da habilida- e, no eixo X (horizontal), o intervalo de tempo no
de praticada (SCHMIDT; LEE, 2016; MAGILL, 2000). qual o desempenho foi medido (MAGILL, 2000).
Durante o processo de aprendizagem, é impor- As curvas de desempenho ilustradas no gráfico
tante que avaliações sejam feitas, a fim de observar permitem observar duas das quatro características
o progresso ou em que medida a aprendizagem está comportamentais relacionadas à aprendizagem: o
acontecendo. Existem diferentes maneiras de ava- aperfeiçoamento e uma consistência crescente do
liar, e as principais são: avaliação pela observação desempenho (MAGILL, 2000). Na Figura 11, há um
da prática do desempenho, pelos testes de retenção exemplo de curva de desempenho.

150
EDUCAÇÃO FÍSICA

22,5 Figura 11 - Curva de desempenho de um


indivíduo que está aprendendo uma
tarefa de rastreamento. A medida do
desempenho é dada pelo erro quadrático
20 médio (EQM) para cada tentativa
Fonte: Magill (2000, p. 138).

17,5 Descrição da Imagem: a figura re-


fere-se a um gráfico que mostra uma
curva de desempenho de um indivíduo
que está aprendendo uma tarefa de
EQM(m/m)

rastreamento. A medida do desempe-


15
nho é dada pelo erro quadrático médio
(EQM) para cada tentativa. Compreen-
de -se um gráfico com dois eixos. O eixo
vertical indica o EQM, que varia entre
12,5 0, 10, 12,5, 15, 17,5, 20 e 22,5. Já o eixo
horizontal indica as tentativas, que va-
riam entre 0, 5, 10, 15, 20, 25 e 30. O
gráfico inicia com o EQM alto, depois,
10 há variações decrescentes de acordo
com a quantidade de tentativas.

0
0 5 10 15 20 25 30
Tentativas

A segunda forma é por meio da aplicação de testes A medida do quanto o indivíduo aprendeu e se
de retenção. O profissional que aplica o teste ava- está apto a se adaptar às novas condições de desem-
lia a persistência de uma habilidade aprendida pe- penho é dada pelos testes de transferência (testes
dindo para o indivíduo realizar uma habilidade já envolvendo alguma situação nova), terceira forma
praticada após ter passado certo período de tempo de avaliação da aprendizagem. Nesses testes, é soli-
sem praticá-la (MAGILL, 2000). A finalidade des- citado ao aprendiz que execute a habilidade pratica-
se teste é avaliar o grau de permanência ou persis- da em uma nova situação ou variação da habilidade
tência do nível de desempenho atingido durante a (MAGILL, 2000). Assim, o indivíduo precisa adaptar
prática, após um período sem praticá-la. Podemos a habilidade que esteve praticando às características
dizer que os testes analisam a persistência do desem- da nova situação, seja um novo contexto de prática,
penho aperfeiçoado. Destaca-se que o intervalo de seja uma variação nova da mesma habilidade. Por
tempo entre o primeiro teste e o segundo é arbitrá- isso, podemos dizer que os testes de transferência
rio, contudo deve ser, suficientemente, longo para tratam do aspecto da adaptabilidade das mudanças
que fatores que possam afetar, artificialmente, o de- de desempenho (MAGILL, 2000).
sempenho da prática se dissipem. A aprendizagem é Uma possibilidade de mudança é a disponibilida-
constatada quando há melhora significativa na exe- de do feedback aumentado (informação do desem-
cução da habilidade entre o primeiro dia de prática penho recebido de alguma fonte externa) ou a au-
e o dia do teste (MAGILL, 2000). sência dele, a depender de como é a prática habitual.

151


Também, as alterações no ambiente físico (ambien-


te diferente da prática habitual) e as características
pessoais — executar a habilidade mesmo se sentindo
cansado(a) — relacionadas ao desempenho da habi-
lidade são alternativas de mudança (MAGILL, 2000).
A alteração relacionada às variações de habili-
dades novas consiste na capacidade de o indivíduo
realizar, com êxito, uma variação de uma habilida-
de já aprendida. Isso pode ser observado até mesmo
na caminhada. Embora saibamos como caminhar,
podemos aumentar ou diminuir a velocidade da
caminhada (MAGILL, 2000). Essa mudança na ve-
locidade da habilidade de caminhar é um exemplo Figura 12 - Ilustração dos diferentes tipos de calçados na sua
relação com os tipos de caminhar
de variação. O mesmo, também, pode ser observado
quando caminhamos com diferentes tipos de calça-
Descrição da Imagem: a figura refere-se à ilustração de cinco
dos, desde chinelo até calçados no estilo social (sa- pessoas, cada uma usando um tipo de calçado diferente, respecti-
vamente: sapato preto com salto, tênis branco com cadarço preto,
patos). Para cada tipo de calçado, teremos que nos tênis preto com cadarço branco, chinela preta e botas pretas.
adaptar ao caminhar (Figura 12).

152
EDUCAÇÃO FÍSICA

Independentemente de qual aspecto é modificado, é a aprendizagem quando o indivíduo se encontra em


esperado que, em testes de transferência, o desempe- algum platô de desempenho, que é parte do proces-
nho no teste demonstre que o indivíduo melhorou sua so natural da aprendizagem, e quando o ambiente
capacidade de se adaptar a novas condições (MAGILL, da prática envolve uma variável que amplia ou inibe,
2000). Entre os testes de transferência, o que muda é o artificialmente, o desempenho ou a aprendizagem,
foco da avaliação da aprendizagem (MAGILL, 2000). respectivamente. Para resolver essa questão, testes
Por fim, na avaliação pela dinâmica de coorde- de retenção (persistência) e de transferência (adap-
nação, a quarta forma de avaliação de aprendiza- tação) podem ser aplicados a fim de melhor avaliar a
gem, o profissional que realiza a aplicação do teste aprendizagem (MAGILL, 2000).
observa tanto a consistência como a estabilidade
dos padrões de coordenação, ao longo da própria
prática e dos testes. Nessa forma de avaliação, é
possível observar as transições entre padrões de
coordenação aprendidos anteriormente e os recen-
temente adquiridos (MAGILL, 2000).
Os profissionais que têm afinidade com essa
abordagem afirmam que, quando o indivíduo ini-
cia a aprendizagem de uma nova habilidade, ele não
está aprendendo nada de novo, e, sim, está desenvol-
vendo um novo padrão de coordenação temporal e
espacial, partindo de um padrão antigo (MAGILL, Você acredita que o feedback aumentado é necessário
2000). Isso faz sentido quando observamos uma para que o indivíduo aprenda alguma habilidade moto-
criança aprendendo a pintar: o estado inicial de co- ra? Será que ele é “bem-vindo” em todas as situações
ordenação do movimento, temporal e espacial, per- de aquisição de habilidades motoras? Convido-o(a)
para um bate-papo sobre esse assunto. Conecte o
mite um resultado condizente com as características
podcast para ouvir.
desse movimento presentes numa primeira experi-
mentação. É provável que a criança não tenha coor- Com essa bagagem de conhecimento que você tem
denação espacial suficiente para respeitar os traços agora, que resposta você daria para as questões apre-
limites do desenho, além de os traços da pintura es- sentadas no início da unidade? Registre, em seu ca-
tarem em diferentes direções, por exemplo. derno, essas respostas, que, possivelmente, são dife-
Segundo Magill (2000), a aprendizagem acon- rentes daquelas pensadas no início.
tece entre o padrão inicial apresentado e a melhora Como você deve ter percebido ao longo desta
desse padrão com a prática. Nesse sentido, a estabi- unidade de ensino, os conhecimentos referentes à
lidade do padrão de coordenação é o que determina estruturação da prática, que incluem a motivação,
se a criança está no estado inicial, de transição ou em o estabelecimento de metas, as formas de instrução,
um novo estado, caracterizando o desempenho dela. os tipos de prática, o feedback e a avaliação, fazem
O desempenho da prática pode não representar bem parte do dia a dia do profissional de Educação Fí-

153


sica. Nos contextos: escolar, de clubes esportivos, Nesse sentido, é muito importante que você con-
academias, de recreação e lazer, de ginástica laboral, sidere o tipo de habilidade motora que você está ensi-
na atenção primária à saúde ou em hospitais, o pro- nando e, também, quem é o seu aluno (considerando
fessor de Educação Física estará empregando esses todo o intervalo entre os extremos de iniciantes até
conhecimentos no seu planejamento e, também, na atletas), para que possa fazer uma análise adequada
aplicação das suas aulas. das estratégias mais adequadas a serem utilizadas den-
tro do contexto de cada habilidade e de cada aluno.

154
agora é com você

1. A aprendizagem motora “é um conjunto de processos associados à prática ou experiência que leva a


ganhos relativamente permanentes na potencialidade para a performance qualificada” (SCHMIDT; LEE,
2016). Sobre a aprendizagem motora, considere as asserções a seguir:

I. O desempenho em uma única observação, prova e/ou teste, pode não refletir a real potencialidade do
executante ou de sua aprendizagem.
II. As potencialidades das crianças aumentam à medida que elas amadurecem e crescem, mas esses fato-
res não são evidências de aprendizagem, porque não estão relacionados com a prática.
III. Para que uma mudança, no nível de performance habilidosa, seja considerada como decorrente da
aprendizagem, ela deve ser relativamente permanente.
IV. A motivação, a ajuda física e a instrução verbal são condições de prática que têm efeitos temporários e,
também, podem ter efeitos relativamente permanentes na aprendizagem.

É correto o que se afirma em:

a. I, II, III e IV.


b. II, III e IV, apenas.
c. I, II e III, apenas.
d. II e III, apenas.
e. I e II, apenas.

2. As instruções verbais devem conduzir o foco da atenção para o resultado do movimento. Sobre as
instruções verbais, considere as asserções a seguir e a relação proposta:

I. Recomenda-se que as instruções verbais sejam concisas (uma ou duas palavras), limitadas (para não
haver excesso de informações), precisas (com foco no que precisa ser ajustado) e repetidas (para que
o aluno possa associar a dica à tarefa).

Porque

II. As instruções verbais fornecidas ao longo da prática devem ajudar o aprendiz no processo de aprendi-
zagem.

Assinale a opção correta acerca dessas afirmações:

a. As duas asserções são proposições falsas.


b. A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma proposição falsa.
c. A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição verdadeira.
d. As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira.
e. As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira.

155
agora é com você

3. A motivação é um aspecto importante para a prática. Um aluno desmotivado não é propenso para a
prática. Em relação à motivação, considere as afirmativas a seguir.

I. Um aluno motivado se dedica mais aos esforços da tarefa, com mais seriedade e por períodos mais
longos, levando a uma aprendizagem mais eficaz.
II. A motivação intrínseca diz respeito ao impulso interno do aprendiz.
III. A motivação intrínseca é determinada pela autonomia (controle de seu próprio destino), competência
(domínio de habilidades) e relações (ser aceito dentro de um contexto social).
IV. Compreender a forma de motivar cada aluno é um aspecto simples para o professor e pode ser iden-
tificado rapidamente.

É correto o que se afirma em:

a. I e II, apenas.
b. I e III, apenas.
c. II e IV, apenas.
d. I, II e III, apenas.
e. II, III e IV, apenas.

4. A definição de metas é uma estratégia motivacional que se mostra eficiente no contexto da aprendi-
zagem motora. Sobre a definição de metas, considere as afirmativas a seguir:

I. O professor deve instruir seus alunos a construírem metas realistas que podem ser, razoavelmente,
alcançadas com prática e esforço.
II. Quando o aluno fica muito distante de alcançar a meta estabelecida, é muito provável que ele fique
desmotivado.
III. Metas que são muito facilmente atingidas tendem a motivar, ainda mais, os alunos.
IV. Para a definição das metas relacionadas à aprendizagem motora, é importante que o professor tenha
conhecimento claro das habilidades que o aluno já possui.

É correto o que se afirma em:

a. I e II
b. I e III
c. I, II e IV
d. I, II e III
e. II, III e IV

156
referências

UNIDADE 1

GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C.; GOODWAY, J. D. Compreendendo o Desenvolvi-


mento Motor. 3. ed. São Paulo: Phorte, 2013.

MALINA, R. M.; BOUCHARD, C.; BAR-OR, O. Crescimento, Maturação e Atividade


Física. São Paulo: Phorte, 2009.

RODRIGUES, D. et al. Desenvolvimento motor e crescimento somático de crianças


com diferentes contextos no ensino infantil. Motriz: Revista de Educação Física,
v. 19, n. 3, p. 49-56, 2013.

ROSA NETO, F. Manual de Intervenção Motora: educação infantil, ensino funda-


mental e educação especial. 3. ed. Florianópolis: Dioesc, 2015.

WHO. The Challenge of Obesity in the WHO European Region and the Strate-
gies for Response: Summary. Copenhagen: WHO, 2007.

ZEFERINO, A. M. B. et al. Acompanhamento do crescimento. Jornal de Pediatria,


v. 79, n. supl. 1, p. S23-S32, 2003.

UNIDADE 2

GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C.; GOODWAY, J. D. Compreendendo o desenvolvi-


mento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 7. ed. São Paulo: Artmed,
2013.

MAGILL, R. A. Aprendizagem Motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Blücher,


2000.

SCHMIDT, R. A.; LEE, T. D. A aprendizagem e Performance Motora: dos princí-


pios à aplicação. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

SCHMIDT, R. A.; WRISBERG, C. A. Aprendizagem e Performance Motora: uma


abordagem da aprendizagem baseada no problema. 2. ed. Porto Alegre: Artmed,
2001.

TANI, G. Aprendizagem motora: uma visão geral. In: TANI, G.; CORRÊA, U. C. Apren-
dizagem Motora e o Ensino do Esporte. 1. ed. São Paulo: Blücher, 2016.

TANI, G.; CORRÊA, U. C. Aprendizagem Motora e o Ensino do Esporte. 1. ed. São


Paulo: Blücher, 2016.

157
referências

UNIDADE 3

GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C.; GOODWAY, J. D. Compreendendo o Desenvolvi-


mento Motor. 3. ed. São Paulo: Phorte, 2013.

MAGILL, R. A. Aprendizagem Motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Blücher,


2000.

PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. 12. ed. Porto Alegre:


AMGH, 2013.

POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do Exercício: teoria e aplicação ao condi-


cionamento e ao desempenho. 8. ed. Barueri: Manole, 2014.

ROSA NETO, F. Manual de Intervenção Motora: educação infantil, ensino funda-


mental e educação especial. 3. ed. Florianópolis: Dioesc, 2015.

SHUMWAY-COOK, A.; WOOLLACOTT, M. Controle Motor: teoria e aplicações prá-


ticas. 3. ed. Barueri: Manole, 2010.

SILVERTHORN, D. U. Fisiologia Humana: uma abordagem integrada. Tradução de


Adriane Belló Klein et al. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

UNIDADE 4

MAGILL, R. A. Aprendizagem Motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Blucher,


2000.

PELEGRINI, A. M. A aprendizagem de habilidades motoras I: o que muda com a


prática? Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, p. 29-34, 2000.

PEREIRA, E. F.; TEIXEIRA, C. S.; CORAZZA, S. T. A estrutura do movimento e a apren-


dizagem das habilidades motoras. Atividade Física, Lazer & Qualidade de Vida:
Revista de Educação Física, Manaus, v. 2, n. 2, p. 43-57, jul./dez. 2011.

SCHMIDT, R. A.; LEE, T. D. A aprendizagem e performance motora: dos princí-


pios à aplicação. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

158
referências

SCHMIDT, R. A.; WRISBERG, C. A. Aprendizagem e performance motora: uma


abordagem da aprendizagem baseada no problema. 2. ed. Porto Alegre: Artmed,
2001.

SHUMWAY-COOK, A.; WOOLLACOTT, M. Controle motor: teoria e aplicações prá-


ticas. 3. ed. Barueri: Manole, 2010.

TANI, G. Aprendizagem motora: uma visão geral. In: TANI, G.; CORRÊA, U. C. Apren-
dizagem motora e o ensino do esporte. 1. ed. São Paulo: Blucher, 2016.

UNIDADE 5

MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. 5. ed. São Paulo:


Blucher, 2000.

SCHMIDT, R. A.; LEE, T. D. A aprendizagem e performance motora: dos princí-


pios à aplicação. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

TANI, G. et al. O estudo da demonstração em aprendizagem motora: estado da


arte, desafios e perspectivas. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempe-
nho Humano, v. 13, n. 5, 2011.

TONELLO, M. G. M.; PELLEGRINI, A. M. A utilização da demonstração para a apren-


dizagem de habilidades motoras em aulas de Educação Física. Revista Paulista
de Educação Física, São Paulo, v. 12, n. 2, p. 107-14, 1998.

UGRINOWITSCH, H.; BENDA, R. N. Contribuições da Aprendizagem Motora: a prá-


tica na intervenção em Educação Física. Revista Brasileira de Educação Física e
Esporte, São Paulo, v. 25, p. 25-35, 2011.

WALTER, C.; BASTOS, F. H.; TANI, G. Fatores que afetam a aprendizagem motora:
uma síntese. In: TANI, G.; CORRÊA, U. C. Aprendizagem motora e o ensino do
esporte. 1. ed. São Paulo: Blucher, 2016.

159
gabarito

oportunidades de prática, desenvolvimento


UNIDADE 1 da maturação, incentivo, ambiente favorável.
1. O crescimento físico refere-se ao aumento no
4. E.
tamanho do corpo como um todo ou ao au-
IV. Os movimentos estabilizadores são
mento do tamanho de partes específicas do
qualquer movimento no qual algum grau
corpo. O crescimento físico tem o seu início
de equilíbrio é necessário.
na concepção e vai até final da adolescência
V. Na sequência do desenvolvimento motor,
ou início da segunda década de vida. A matu-
quando as etapas não são atingidas ou,
ração é o progresso em direção à maturidade
plenamente, estabelecidas, a sequência
física, o estado ótimo de integração funcional
não deixa de existir.
entre os sistemas corporais de um indivíduo e
a capacidade de reprodução. O crescimento é 5. D.
focado no tamanho, isto é, no aumento quan-
titativo, enquanto que a maturação é focada 6. A última fase do modelo da ampulheta é a
no progresso, ou seja, no avanço qualitativo fase do movimento especializado, onde ocor-
na constituição biológica. O processo de de- re o refinamento (exatidão, precisão e contro-
senvolvimento inicia na concepção e termina le) das habilidades fundamentais de estabili-
com o fim da vida. dade, locomoção e manipulação bem como
a combinação e reelaboração para uso nas
2. E. diferentes demandas da vida. Podemos dizer
I. O desenvolvimento é um conceito amplo que são movimentos fundamentais maduros
que pode ter um contexto biológico ou e que passaram por um processo de adapta-
comportamental. ção para aplicação em contextos específicos,
III. No contexto biológico, o desenvolvimen- por exemplo, a prática de atividades esporti-
to está relacionado aos processos de di- vas e recreativas, ou ainda, para as demandas
ferenciação e especialização de células do cotidiano. Portanto, esta também é uma
embrionárias. fase para toda a vida.
IV. O contexto comportamental refere-se
ao desenvolvimento de competência. Este
pode estar relacionado aos domínios cog- UNIDADE 2
nitivo, emocional, social, moral e motor.
1. C. A asserção IV está incorreta, pois a apren-
3. Desenvolvimento motor, fases, estágios, re- dizagem motora não é, diretamente, medida,
flexos primitivos, reflexos posturais, codifica- ela pode ser inferida a partir da avaliação da
ção e decodificação de informações, inibição performance na execução da habilidade.
de reflexos, pré-controle, estágio maduro,
2. C. As habilidades contínuas envolvem a ação
elementar e inicial, transição, aplicação, uti-
que se desenrola sem um início e um fim re-
lização permanente, competência motora,
conhecíveis, de forma contínua e, frequente-
comportamento motor, habilidades motoras,
mente, repetitiva.
locomoção, estabilidade, manipulação, ma-
nutenção do equilíbrio, movimentos reflexos, 3. B. São exemplos de habilidades contínuas: na-
rudimentares, fundamentais e especializado, dar, livremente, na piscina, andar de bicicleta

160
gabarito

e correr. Estes são exemplos de habilidades III. A conceitualização é realizada no córtex


que não apresentam início e fim definidos, pré-frontal e em outras áreas de associa-
mas cujos movimentos se repetem ao longo ção de nível superior.
da execução, caracterizando habilidades con- IV. O córtex motor suplementar (gânglios de
tínuas. base e cerebelo) é responsável pela etapa
de planejamento do movimento.
4. B. As asserções III e IV estão incorretas, vis-
V. A ativação do movimento acontece no cór-
to que, nas habilidades abertas, o ambiente
tex motor primário (gânglios de base e ce-
é variável e imprevisível durante a ação, en-
rebelo).
quanto que, nas habilidades fechadas, o am-
biente é estável e previsível. 4. Tabela resposta

Caracte- Órgãos tendinosos Fusos


UNIDADE 3
rística de Golgi musculares
1. C. A medula espinal é a estrutura envolvida Dentro dos tendões,
na recepção inicial e no processamento da próximo à junção Entremeados nas
Localiza-
informação proveniente das articulações, músculo-tendinosa fibras musculares
ção
em série com as e paralelas a elas.
músculos e pele (chamados de somatossen-
fibras musculares.
sorial), no controle da postura corporal e dos
Aumento da tensão Aumento do
movimentos reflexos e involuntários via mo-
Estímulo muscular. comprimento
toneurônios. Ela se estende, cranialmente, muscular.
para se juntar ao tronco encefálico (nível de
1. Inibem o desenvol- 1. Iniciam a con-
processamento seguinte à medula espinal).
vimento de tensão tração rápida do
A mensagem processada no nível da medula no músculo estirado. músculo estirado.
espinal apresenta uma relação entre estímulo 2. Iniciam o desen- 2. Inibem o
Resposta
sensorial e resposta motora, relativamente, volvimento de ten- desenvolvimento
simples. são nos músculos da tensão nos
antagonistas. músculos antago-
2. O sistema nervoso. Receptores capazes de nistas.
perceber toque, dor, mudanças de tempera- Promovem o relaxa- Inibem o estira-
tura e estímulos químicos enviam informa- mento do músculo mento no múscu-
Efeito
ções para o sistema nervoso central, relacio- contraído. lo que está sendo
estirado.
nadas às alterações que ocorrem em nosso
ambiente. O sistema nervoso central pode
5. E.
responder com um movimento voluntário ou
a. Atua como um “dispositivo de segurança”,
uma mudança na taxa de liberação de alguns
para que forças excessivas durante a con-
hormônios pelo sistema endócrino, depen-
tração muscular não lesionem o músculo:
dendo de qual resposta seja apropriada.
Órgão tendinoso de Golgi.
3. A. b. Transmitem a informação ao centro res-
ponsável pelo controle do movimento
ocular e aos neurônios responsáveis pelo
controle dos movimentos da cabeça e

161
gabarito

membros, presentes na medula espinal: dade do executante ou sua aprendizagem, vis-


Núcleos vestibulares. to que outros fatores, como a fadiga, podem
c. São responsáveis por levar informações influenciar o desempenho do aluno. A prática
ao sistema nervoso central sobre a posi- é componente essencial para que a aprendi-
ção do corpo, os movimentos por ele rea- zagem ocorra, dessa forma, outras alterações
lizados: Proprioceptores. que ocorram em função do crescimento e do
d. Detectar o comprimento de um músculo desenvolvimento não podem ser confundidas
em atuação: Fuso muscular. com a aprendizagem. A aprendizagem pro-
move mudanças relativamente permanentes
6. D. Na Figura 17, temos um esboço das estru- na performance habilidosa. A motivação, a
turas e das etapas no plano de movimento en- ajuda física e a instrução verbal são condi-
volvidas no movimento voluntário. A primeira ções de prática que têm efeitos temporários
etapa envolve as áreas subcorticais e corticais e, também, podem ter efeitos relativamente
que têm um papel central na consciência. permanentes na aprendizagem, dessa forma,
Esse impulso inicial envia sinais para o córtex são componentes que podem ser utilizados
associativo diferentes do córtex motor e, ali, na prática, com vistas à aprendizagem.
formam um “esboço grosseiro” do movimen-
to, planejado a partir de informações armaze- 2. E. Instruções verbais que incluem muita in-
nadas. Na sequência, as informações sobre a formação tendem a não ser efetivas, pois o
natureza do plano de movimento são envia- aluno terá dificuldade de assimilar todas as
das ao cerebelo (responsável pelos movimen- informações que estão sendo passadas. É im-
tos rápidos) e aos núcleos basais (responsá- portante que o professor foque nos principais
veis pelos movimentos lentos e sentenciados/ ajustes que precisam ser realizados naquele
definidos), para delineamento do movimento momento e, à medida que os ajustes são rea-
refinado. Os núcleos basais são agrupamen- lizados, ele vai lapidando outros aspectos da
tos de neurônios situados nos hemisférios habilidade motora, progressivamente.
cerebrais. Seguindo o percurso, o programa
3. D. Um aluno motivado tende a se dedicar
de movimento preciso é enviado pelo tálamo
mais ao processo de aprendizagem. A moti-
ao córtex motor, este transmite a mensagem
vação intrínseca é aquela que vem do próprio
aos neurônios espinais (“sintonização espi-
indivíduo e é determinada pela autonomia,
nal”) e, finalmente, à musculatura esquelética
percepção de competência, para executar
(Figura 17). Se necessário, os proprioceptores
uma habilidade motora, por exemplo, e pelas
e receptores musculares sinalizam ao sistema
relações no contexto social que o aluno está
nervoso central as modificações nos progra-
inserido. A asserção IV está incorreta, pois
mas motores, gerando mudanças no movi-
compreender a forma de motivar cada aluno
mento.
não é um aspecto simples e pode demandar
tempo para que o professor compreenda os
UNIDADE 5 aspectos capazes de motivar cada aluno.

1. A. Todas as asserções estão corretas. O de- 4. C. Para o estabelecimento de metas, é impor-


sempenho em uma única observação, prova tante que o aluno seja instruído a construir
e/ou teste pode não refletir a real potenciali- metas que sejam possíveis de serem alcan-

162
gabarito

çadas em determinado período de tempo,


considerando as habilidades motoras que o
aluno já possui. Em vista disso, é importante
que aluno e professor estabeleçam as metas
juntos, considerando as necessidades e as po-
tencialidades de cada aluno, diagnosticadas a
partir de uma avaliação criteriosa. A asserção
III está incorreta, pois as metas que são muito
facilmente atingidas tendem a causar desinte-
resse nos alunos.

163
meu espaço

164

Você também pode gostar