Teses - Importante

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55 Teses de Defesa

Professor Rodrigo Almendra


As principais teses de defesa para a segunda fase do Exame da Ordem relativas a Direito Penal e a
Direito Processual Penal, com resumos, esquemas e gráficos.

Espaço Jurídico Cursos

Facebook.com/ralmendra

Setembro de 2012
55 TESES DE DEFESA PARA A 2ª FASE DO EXAME DA ORDEM A coação física retira a voluntariedade. Amarrado, empurrado, arrastado
o agente deixa de controlar o movimento de seu próprio corpo e passa a
Prof. Rodrigo Almendra funcionar como marionete de outra pessoa (chamada de coator). Assim, seus atos
deixam de ser voluntários e, por conseguinte, deixam de ser relevantes
Embora seja comum apresentarmos as teses de defesa como as adotadas
penalmente. A voluntariedade é um dos elementos da conduta que, por sua vez,
pelos advogados criminalistas, não se pode duvidar que, por vezes, a atuação do
é desdobramento do fato típico. Assim, sem voluntariedade não há conduta e
profissional é acusar (crimes de ação penal privada ou mesmo atuando como
sem conduta não há fato típico. Moral da história: a ausência de voluntariedade
assistente do ministério público nos crimes de ação penal pública). A acusação
pela coação física é causa de exclusão do crime e, portanto, boa tese de defesa.
preocupa-se em provar os elementos do crime (fato típico, fato antijurídico e
agente culpável), em zelar pela regularidade do rito processual (evitando-se assim 02. ATOS REFLEXOS
alegações de nulidade) e em prevenir a extinção da punibilidade (acelerando o
andamento da ação e evitando o desaparecimento de provas). A defesa, por Os atos reflexos são da mesma escola da coação física, ou seja, também
outro lado, deve ser exercida com a máxima técnica e, nesse sentido, deve são considerados causa de exclusão da voluntariedade. São reflexos os atos que a
observar se há qualquer causa de exclusão dos elementos do crime, nulidades mente não controla, tal como fechar os olhos ao espirrar ou levar a mão até o
processuais ou hipóteses de extinção da punibilidade. A tabela em anexo ouvido quando algo entra indevidamente no interior da cavidade auricular.
enumera, de forma organizada, 55 teses de defesa criminal (principais). Imaginemos que alguém, em ato reflexo, empurre acidentalmente um vaso da
varanda de um apartamento. O vaso cai e acerta a cabeça do porteiro, levando-o
01. COAÇÃO FÍSICA ao encontro da morte que o aguarda ansiosa. Nesse caso, não havendo
voluntariedade não haverá, repita-se, conduta e, sem conduta não há que se falar
A diminuição da liberdade de escolha por meio de violência física ou
em fato típico e, sem isso, não há crime. Em síntese: os atos reflexos são causa de
moral (grave ameaça) é chamada de coação. Quando o constrangimento é físico,
exclusão do crime. Assim como na hipótese de coação física irresistível, os atos
fala-se em coação física; quando é psicológico, fala-se em coação moral. O
reflexos não possuem previsão em lei. Trata-se de tese puramente doutrinária.
tratamento dado à coação física é diverso do que foi conferido à coação moral. A
coação física é causa de exclusão da voluntariedade (elemento da conduta) ao 03. ERRO DE TIPO
passo em que a coação moral (tese de nº 24) é causa de exclusão da exigibilidade
de conduta diversa (elemento da culpabilidade). Erro de tipo é a ausência ou diminuição da consciência sobre a conduta
praticada, ou seja, o sujeito faz algo sem entender (total ou parcialmente) o que
Voluntariedade é o domínio da mente sobre o corpo. Se você está está fazendo. É claro que nem todas as condutas interessam ao direito penal. Ao
sentado, nesse instante, lendo esse manual, então é porque sua mente controla contrário, a esse ramo do Direito interessam apenas as condutas típicas, assim
seu corpo (inclusive seus olhos) e é possível ficar assim, quieto, simplesmente entendidas aquelas que estão previstas em lei. Dessa forma, o agente que mata
lendo... Isso se chama voluntariedade. Obseve que voluntariedade não é alguém sem ter consciência que está matando, que provoca o aborto sem ter
sinônimo de vontade. É possível fazer algo mesmo sem vontade, tal como tomar consciência de está-lo provocando, que fere sem saber que está ferindo, que
um remédio amargo para ficar curado de uma doença. Trata-se, nesse exemplo, estupra sem saber que está estuprando, etc não tem consciência sobre a conduta
de uma conduta voluntária (mente controla o corpo para levar o remédio à boca), típica praticada. Não há que se confundir erro de tipo com erro de proibição (tese
mas realizado sem vontade (sem prazer, sem divertimento imediato). de nº 23). No erro de proibição o agente conhece da conduta praticada, mas
ignora (total ou parcialmente) a ilicitude dessa conduta. O agente sabe que mata, quase um jogo adolescente). O agente que mata alguém pensando ser um animal
mas não sabia que matar é injusto; o agente sabe que provoca o aborto, mas de caça não tem dolo de homicídio (erro de tipo essencial); aquele que mantém
desconhece a proibição dessa conduta; o agente sabe que está ferindo, mas não relação sexual com menor de 14 anos pensando ser maior não tem dolo de
conhece da ilicitude de sua conduta etc. estupro de vulnerável (erro de tipo essencial); aquele que mata Pedro pensando
ser João tem dolo de homicídio equivocando-se apenas sobre a pessoa da vítima
O erro de tipo (repita-se: falha de percepção sobre a consciência da (erro de tipo acidental); aquele que atira na esposa e depois enterra, pensando
conduta típica praticada) pode recair sobre o próprio dolo (que é a essência de ter causado a morte pelo disparo, mas provocando a morte por asfixia, tem dolo
todo e qualquer crime) ou sobre aspectos secundários (acidentais) do crime. É por de homicídio errando apenas quando mo modo (erro de tipo acidental), aquele
esse motivo que a doutrina classifica, tradicionalmente, o erro de tipo em (a) que furta bijuterias pensando serem diamantes tem dolo de furto, sendo que o
essencial; e (b) acidental. No primeiro – essencial – o agente não tinha dolo de erro recai sobre o objeto furtado (erro de tipo acidental) e assim por diante. As
praticar o crime; no segundo – acidental – o agente tinha dolo de crime mais se consequências jurídicas do erro essencial e acidental são distintas, tal como
equivoca sobre aspectos menores do tipo penal (pessoa, lugar, modo, objeto...
demonstrado na tabela abaixo:

Espécie Consequência Fundamento


Erro De Tipo Essencial Invencível Não há crime CP, art. 20
Erro De Tipo Essencial Vencível Há crime culposo, se previsto em Lei. CP, art. 20
Erro De Tipo Acidental Sobre a pessoa Há crime doloso, consideram-se as qualidades da pessoa idealizada. CP, art. 20, § 3º
Erro De Tipo Acidental Sobre o objeto Há crime doloso, consideram-se as qualidades do objeto idealizado. Doutrina
Erro De Tipo Acidental Sobre o nexo causal Há crime doloso, consideram-se as naturezas da causa idealizada. Doutrina
Sobre a execução Há crime doloso, considera-se a vítima idealizada.
Erro De Tipo Acidental CP, art. 73
em sentido estrito Obs: havendo mais de um resultado, aplica-se a regra do CP, art. 70.
Sobre a execução Há crime doloso pelo resultado idealizado e culposo pelo provocado;
Erro De Tipo Acidental CP, art. 74
por resultado diverso do pretendido Obs: havendo mais de um resultado, aplica-se a regra do art. 70 do CP

04. ATOS DE INCONSCIÊNCIA art. 18, II). A previsibilidade do resultado é elemento comum tanto ao dolo como
à culpa e não serve para diferenciar os institutos. A doutrina chama de dolo
Os atos de inconsciência são da mesma natureza do erro de tipo essencial eventual o dolo composto pelos seguintes elementos: 1. Resultado indesejado; 2.
invencível, isto é, são considerados como causas de exclusão da consciência da Resultado previsível; 3. Resultado previsto; e 4. Resultado aceito. Chama-se de
conduta típica praticada. Dessa forma, o sonâmbulo e o hipnotizado, que nada culpa consciente, por outro lado, a culpa composta dos seguintes elementos: 1.
entendem do que fazem, não respondem criminalmente por seus atos. Resultado indesejado; 2. Resultado previsível; 3. Resultado previsto; e 4.
05. DOLO & CULPA Resultado não aceito. Como se vê, a previsibilidade é comum ao dolo e a culpa,
mas apenas no dolo o agente aceita/concorda com o resulta. O crime culposo
Não se deve confundir dolo com culpa. Temos dolo quando o agente quer admite coautoria, mas não admite participação. Não existe, em nosso sistema
o resultado ou, no mínimo, assume o risco de produzi-lo (CP, 18, I); culpa, todavia, jurídico, a chamada compensação de culpas. Também cumpre destacar que o
ocorre que o agente não quer o resultado e nem assume o risco de produzi-lo (CP, crime culposo não admite a forma tentada, sendo o resultado sempre necessário.
06. AUSÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE si só provocam o resultado geram um desdobramento anormal da conduta (“A”
fere “B” que socorrido ao hospital morre em razão de abalroamento de veículos).
Além do caso fortuito e da força maior, o nexo causal pode ser rompido O gráfico abaixo, chamado de “planetário das cocausas”, busca explica quais as
pelas co-causas (ou concausas) absolutamente independentes e pelas co-causas que rompem e quais as que não rompem o nexo causal. A linha azul mostra as
supervenientes relativamente independentes que, por si só, provocam o hipóteses de manutenção do nexo causal e, por conseguinte, de
resultado. Trata-se de tese defesa prevista no art. 13, § 1º do Código Penal. As co- responsabilização pelo resultado; a linha vermelha revela as hipóteses de
causas absolutamente independentes são capazes de, sozinhas, provocarem o rompimento o nexo causal e, por conseguinte, responsabilização unicamente pela
resultado (“A” envenena “B” que morre, todavia, em razão de atropelamento) ao
conduta praticada, podendo ser usado como tese de defesa.
passo em que as co-causas supervenientes relativamente independentes que por
07. ATIPICIDADE FORMAL Princípio da Insignificância
Cabe Não cabe
Todo crime é dotado de tipicidade. A tipicidade deve ser entendida em
Crimes contra o patrimônio Crimes contra o patrimônio
seu aspecto formal e material. Tipicidade formal é a subsunção do fato ao tipo
praticados sem violência ou grave praticados com violência ou grave
penal, ou seja, o enquadramento da conduta praticada à descrição legal do crime. ameaça à pessoa (ex: furto simples) ameaça a pessoa (ex: roubo)
Dessa forma, se Pedro dispara contra Maria matando-a, a conduta dele está Atos infracionais Tráfico de entorpecentes
prevista no art. 121 do Código Penal (“matar alguém”). Quando a conduta não Crimes ambientais Crimes praticados por militares
pode ser enquadrada no tipo penal, diz-se que a conduta é formalmente atípica. Crimes contra a ordem tributária Crimes praticados por reincidentes
Isso posto, é formalmente atípica a conduta de “causar dano culposamente ao quando o valor sonegado for ou por pessoas com maus
patrimônio de outrem”, de “manter relações sexuais com a própria mãe”, de “dar inferior a R$ 10.000,00 antecedentes
a vantagem indevida solicitada pelo funcionário público que se corrompe”, etc. Consumo de substância Tráfico de armas e munições
entorpecente
08. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Lesão corporal culposa Falsificação de moeda
O segundo elemento da tipicidade é a tipicidade material: trata-se da Crimes contra a administração Crimes contra a liberdade sexual.
lesão significativa e socialmente reprovável a bem jurídico penal. Uma conduta é pública (CESPE e ESAF)
materialmente atípica quando causa lesão insignificante à bem jurídico ou
quando a lesão causada, embora significante, é socialmente aceita. Na primeira 09. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL
hipótese – lesão insignificante – temos o chamado Princípio da Insignificância.
Trata-se, portanto, de causa supralegal de exclusão da tipicidade material. O STF Ainda falando sobre tipicidade, temos que a conduta será materialmente
tratou de enumerar os elementos (ou vetores) desse princípio: PROL atípica se for socialmente aceita. Dessa forma, além do Princípio da
Insignificância, temos que o Princípio da Adequação Social é causa supralegal de
Também coube a exclusão da tipicidade material. Exemplo de conduta socialmente aceita é a lesão
jurisprudência, dado ao caráter corporal causada em recém-nascido para lhe furar as orelhas e pôr-lhe um brinco.
supralegal do referido Princípio,
apontar quais as hipóteses de 10. CONSENTIMENTO DO OFENDIDO
cabimento ou de não cabimento
da insignificância. Nesse sentido,
O consentimento do ofendido é causa de exclusão tanto da
vide a tabela a seguir. tipicidade em seu aspecto formal como do fato antijurídico. Quando o não
consentimento do ofendido for elemento do crime, ou seja, estiver
presente na descrição legal do delito, então a presença desse
consentimento fará com que a conduta não se ajuste ao tipo penal e, por
conseguinte, seja fato atípico. Exemplo: “CP, art. 150. Entrar ou
permanecer, clandestina ou astuciosamente, contra a vontade expressa ou
tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências”. Se o
agente entra em casa alheia com o consentimento do proprietário/usuário A tabela abaixo exemplifica hipótese de descriminantes putativas:
não estará incidindo no art. 150 do Código Penal e sua conduta será
Erro sobre fato Erro sobre limite
formalmente atípica. Todavia, caso o tipo penal não tenha, entre seus
“A” pensa que está “A” pensa que pode
elementos, a ausência do consentimento do ofendido de forma expressa,
repelindo agressão matar em defesa de
então teremos uma causa de exclusão do fato antijurídico. Sobre essa Legítima Defesa injusta quando, em sua honra quando a
segunda possibilidade, trataremos na análise da tese de defesa de nº 19. verdade, não há mesma é injustamente
qualquer agressão. agredida por terceiro.
11. DESCRIMINANTES PUTATIVAS “A” pensa que está sob “A” pensa que pode
perigo atual quando na furtar coisas de valor
O fato antijurídico pode ser afastado por diversas razões. A tais Estado de Necessidade
verdade não existe alheia para matar a sua
motivos, em sentido amplo, dá-se o nome de descriminantes penais. As perigo algum fome ainda iminente.
principais descriminantes (rol não taxativo) são: legítima defesa, estado de “A” pensa que tem o “A” pensa que está
necessidade, estrito cumprimento de um dever legal e exercício regular de dever de prender autorizado, por Lei, a
Estrito Cumprimento
fulano, quando, em bater em alguém
um direito. Às vezes, o agente se equivoca sobre a existência de fatos que de um Dever Legal
verdade, não há essa desde que para extrair
autorizem o uso dessas descriminantes e, às vezes, o equívoco recai sobre
obrigação legal. verdade relevante.
os limites das descriminantes. O equívoco é chamado de putatividade. Daí “A” pensa que tem o “A”, pensa que tem o
se dizer que uma descriminante putativa é, em verdade, uma Exercício Regular de direito de ter várias direito de humilhar seu
descriminante que é fruto de erro. um Direito esposas desde que as filho para exercer o
sustente igualmente. direito de educá-lo.
Em material Penal, o erro pode ser classificado como erro de tipo Erro de Erro de
ou erro de Proibição (uma coisa ou outra). Dessa forma, se considerarmos Tipo Permissivo Proibição Indireto
a descriminante putativa como exemplo de erro de tipo, tem-se causa de
Se estivermos diante de um erro de tipo permissivo é possível
exclusão do fato típico; se considerarmos, todavia, como erro de proibição,
classificá-lo como invencível (inevitável ou escusável) ou vencível (evitável
temos causa de exclusão da culpabilidade. Sobre o tema, o Código Penal
ou inescusável). O erro invencível afasta a responsabilidade penal por
adotou a Teoria Limitada da Culpabilidade, segundo a qual a putatividade
exclusão do fato típico (e não do fato antijurídico, como poderia parecer a
será exemplo de erro de tipo (chamado de erro de tipo permissivo) quando
primeira vista); o erro vencível permite a punição apenas por crime
o equívoco recair sobre as circunstâncias de fato; será erro de proibição
culposo e, ainda assim, se previsto em Lei; em se tratando de erro de
(chamado de erro de proibição indireto) quando o equívoco recair sobre os
proibição indireto, temos que também é possível a classificação como
limites da descriminante penal.
invencível ou vencível. No primeiro caso – erro invencível – afasta-se a
(vide ainda: http://goo.gl/JTR5K) culpabilidade; no segundo, mantém-se o crime com a pena diminuída de
1/6 a 1/3. O gráfico a seguir detalha essas classificações:
Na desistência voluntária e no arrependimento eficaz o agente só
responde pelos atos já praticados. Os atos inicialmente pretendidos não
são puníveis por motivo de política criminal. A diferença básica entre
desistência e arrependimento é que, no primeiro, o agente ainda não tinha
esgotado os atos de execução; ao passo que, no segundo –
arrependimento eficaz -, o agente já tinha feito tudo o que poderia ser
feito. Trata-se da mesma diferença que se observa no confronto entre a
tentativa imperfeita e perfeita (vide esquema na próxima página).

14. CRIME IMPOSSÍVEL

Diz impossível o crime que jamais se consumaria por absoluta


impropriedade do meio ou do objeto. Todo crime tem um meio para ser
praticado. Exemplo: fogo, explosivo, disparos de arma de fogo,
enforcamento etc. são meios possíveis de se cometer um homicídio. A
macumba, todavia, por maior que seja a crença do “macumbeiro” não nos
parece um meio hábil a matar alguém, sendo, portanto, um crime
impossível de homicídio; o objeto a que se refere o conceito de
impossibilidade criminosa é o objeto jurídico do crime. No homicídio,
12. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA protege-se a vida; no furto, o patrimônio; na falsificação de moeda, a fé
13. ARREPENDIMENTO EFICAZ pública... dessa forma, é impossível matar o morto, furtar o nada e
falsificar cédula de R$ 3,00. Nesses casos, não se ofendeu a vida, o
O estudo da desistência voluntária remete, inevitavelmente, ao
patrimônio e nem a fé pública, respectivamente. Observe-se que só é
estudo de outros institutos jurídicos, tais como a tentativa, o
impossível o meio ou objeto absolutamente ineficaz. Havendo eficácia,
arrependimento eficaz e o arrependimento posterior. Diz-se voluntária
ainda que parcial, tem-se a tentativa. Observe ainda que nos crimes
porque o agente agiu conforme sua vontade, ainda que a ideia de parar o
pluriofensivos (que afetam mais de um bem jurídico ao mesmo tempo,
que se fazia não tenha sido de criação do próprio agente
como no caso de roubo) a impossibilidade criminosa por absoluta
(espontaneidade). O que se exige é atuação voluntária e não atuação de
impropriedade do objeto só será possível se ambos os bens jurídicos
ofício. Idêntico raciocínio pode ser aplicado ao instituto de
tutelados não puderem, absolutamente, serem afetados pela conduta.
arrependimento eficaz. Em ambas as hipóteses – desistência e
Assim, há crime de roubo mesmo quando a vítima nada traz consigo, pois
arrependimento – a consumação é evitada por força da vontade do
ainda é possível ofender-lhe a integridade física/liberdade/vida.
próprio agente.
15. LEGÍTIMA DEFESA 16. ESTADO DE NECESSIDADE

Com previsão no art. 25 do Código Penal, diz que atua em legítima Ao passo em que o elemento central da legítima defesa é a “agressão
defesa quem repele agressão injusta, atual ou iminente, a direito seu ou a injusta”, no Estado de Necessidade o núcleo é a existência de um “perigo”. O
direito de outrem, com uso dos meios necessários, com moderação e com perigo, em regra, é fruto de um evento da natureza (ataque de um animal feroz,
vontade de se defender. uma enchente, incêndios, naufrágios, etc). Eventualmente, o perigo pode ser
provocado pela conduta humana (naufrágio provocado por atentado terrorista,
A agressão será injusta mesmo que proveniente do ataque incêndio criminoso, inundação criminosa, etc). Não poderá invocar o benefício do
de inimputáveis (doentes mentais, menores de idade), mas, em regra, não Estado de Necessidade aquele que tiver, dolosamente, provocado o perigo.
cabe legítima defesa contra ataque de animais (a exceção ocorre quando o
animal é usado como ferramenta do ataque humano). A agressão pode ser No Estado de Necessidade o perigo deve ser atual (e não atual ou
atual ou iminente, mas nunca pretérita ou futura. Dessa forma, não cabe iminente, como consta na legítima defesa quando trata da agressão). Isso porque
legítima defesa para o delito de porte ilegal de arma de fogo sob o a noção de perigo atual já traz consigo (em seu conceito) a possibilidade de um
argumento de que, possivelmente, se poderia encontrar alguma ameaça dano atual ou iminente. É, portanto, desnecessário e mesmo errado falar em
“perigo iminente”. Ao pé da letra, todos nós estamos em perigo iminente de
injusta e seria necessário o porte de arma; também não cabe legítima
alguma coisa, sempre... O perigo, como dito, não pode ser provocado
defesa para justificar agressões passadas. Nesse caso, teríamos uma
dolosamente e não pode ser evitável de outra forma senão causando lesão ao
espécie de vingança e não de defesa.
bem jurídico alheio. A conduta em Estado de Necessidade busca salvar direito
A legítima defesa pode ser usada tanto para proteção de direitos próprio ou alheio e deve ser exercida dentro dos limites da necessidade de
salvamento. Se houver excesso, o agente responderá dolosa ou culposamente,
próprios como de terceiros, desde que com moderação e com uso dos
conforme o caso. Por fim, cumpre-nos recordar que não pode alegar estado de
meios necessários. Somente o caso concreto poderá determinar se a
necessidade quem tem o dever de enfrentar o perigo (policiais, capitães de
defesa foi, ou não, moderada. Todavia, situações esdrúxulas podem desde
navios, etc). Esse é o teor do art. 24 e de seus parágrafos.
logo ser identificadas a exemplo do agente que mata outrem para
defender a sua honra subjetiva quando ofendido publicamente. Havendo 17. EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO
excesso na legítima defesa, o agente responderá na forma dolosa ou
culposa, conforme o caso. Não cabe legítima defesa para quem deseja Os elementos do ERD são: existência de um direito criado por Lei (em
participar de rixas ou de duelos, ausente o interesse de se defender. sentido estrito) ou qualquer outra fonte normativa; o direito deve ser exercido de
forma regular, ou seja, dentro dos limites previstos na norma, sob pena de existir
Em síntese, são elementos da legítima defesa: (a) agressão injusta; excesso punível na forma dolosa ou culposa. Cabe ERC como tese defensiva, por
(b) agressão atual ou iminente; (c) defesa a direito próprio ou de terceiro; exemplo, para inocentar jogador de futebol que causa lesão corporal em outro
jogado na disputa pela bola (respeitada as regras do esporte) ou do boxeador que
(d) uso dos meios necessários; (e) moderação e (f) animus defendendi.
nocauteia o outro (também em observâncias aos regulamentos da atividade).
18. ESTRITO CUMPRIMENTO DE UM DEVER LEGAL 20. ABORTO PRATICADO POR MÉDICO (CP, art. 128)

A diferença entre o ECDL e o ERD é que em um existe obrigação Não estamos dizendo que o médico vai provocar o aborto em si mesmo, é
imposta pela Lei e no segundo existe faculdade permitida pela Lei. Os claro! Trata-se da hipótese em que a gestante, em razão de grave e iminente risco
elementos do ECDL são: existência de um dever legal criado por Lei (em de vida, tem no aborto a única chance de sobrevivência; aplica-se também na
sentido amplo); exercício do dever dentro dos limites da Lei, sob a pena de hipótese de gestação fruto de estupro, desde que o aborto ocorra com o
consentimento da gestante ou de seu representante legal. Eis o teor do CP:
haver excesso punível na forma dolosa ou culposa. Cumpre-nos destacar
que o policial que mata um agente que ameaça de morte alguém ou que
Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico:
mata um agente que dispara contra o próprio policial atua em Legítima
Aborto necessário
Defesa de Terceiro ou Própria, respectivamente. Não há que se falar, nesse
I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
caso, em ECDL. Algumas características do instituto:
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
Crimes culposos não admitem o ECDL, pois a lei não obriga a II – se a gravidez resulta da estupro e o aborto é
negligência, a imperícia e a imprudência. precedido de consentimento da gestante ou, quando
No homicídio o instituto só é admissível na hipótese de guerra incapaz, de seu representante legal.
declarada e mesmo assim quando expressamente permitido em Lei.
O ECDL não suspende a obediência de outros deveres legais. Dessa Ambas as causas de exclusão da ilicitude do art. 128 são de
forma, o policial que dispara contra suspeito em perseguição não pode exclusividade do médico. Nenhum outro profissional, ainda que no ramo
alegar ECDL se acertar pessoa alheia e inocente. de saúde, pode se beneficiar dessa tese de defesa. Não se tratando de
médico, é possível alegar Estado de Necessidade (CP, art. 24) na hipótese
19. EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO de aborto com risco de vida para a gestante; e causa supralegal de
inexigibilidade de conduta diversa na hipótese de aborto proveniente de
Já tivemos a oportunidade de explicar que o consentimento do ofendido estupro. Repita-se que a causa especial de exclusão da ilicitude prevista no
pode ser considerado como causa de exclusão do fato típico (da tipicidade formal, art. 128 – essa sim – é que é exclusiva para o médico.
para ser mais exato), quando a sua ausência constituir elemento do tipo penal.
Nas demais hipóteses, todavia, o consentimento do ofendido é causa de exclusão O inciso I é chamado, pela doutrina, de “aborto necessário”. Exige-
da ilicitude e possui os seguintes elementos: (1) bem jurídico disponível (exemplo: se a demonstração através de perícia do perigo para a vida da gestante. O
honra); (2) capacidade jurídica para consentir que, em Direito Penal, começa aos consentimento da gestante não é relevante, podendo o médico, inclusive,
14 anos ( quatorze anos); e (3) consentimento anterior ou concomitante à contrariar os desejos da gestante para salvar a sua vida; o inciso II, por sua
conduta típica praticada (se for posterior, será perdão e não consentimento).
vez, é chamado de “aborto sentimental ou humanitário”. Qualquer meio
Exemplo de utilização dessa tese defensiva: tatuador não responde pelo crime de
de prova admitido em direito é suficiente para demonstrar que a gestação
lesão corporal em razão da vítima/cliente ter consentido na realização da arte.
foi fruto de estupro, respondendo a gestante em caso de falso.
Por fim, cabe recordar o chamado “aborto eugênico” que não A ausência da imputabilidade é chamada de inimputabilidade. O
possui previsão legal, mas que é admitido na jurisprudência. Uma das quadro abaixo revela as hipóteses de inimputabilidade e as respectivas
hipóteses é o de feto anencéfalo. O STF entende que o abortamento de consequências jurídicas;
feto com anencefalia é hipótese de crime impossível por absoluta
impropriedade do objeto (vida). O feto sem atividade cerebral não é HIPÓTESE CONSEQUÊNCIA
1. Menoridade Medida sócio-educativa
considerado como ser “vivo” e, portanto, não há que se falar em sua
(CP, art. 27)
morte. A tese, portanto, é de atipicidade formal. 2. Doença mental incapacitante Medida de segurança
(CP, art. 26, caput)
21. CAUSA ESPECIAL DO ART. 156, § 2º DO CÓDIGO PENAL
3. Embriaguez involuntária e completa Isenção de pena
(CP, art. 28, § 1º)
O tipo penal do art. 156 define o furto de coisa comum. Trata-se de uma
4. Drogado involuntário e completo Medida de segurança
espécie de furto em que a coisa subtraída não é alheia (CP, art. 155) e nem (Lei nº 11.343/2006, art. 45)
própria (CP, art. 346), mas comum, ou seja, pertencente ao mesmo tempo ao 5. Dependência de drogas Medida de segurança
sujeito ativo e passivo da infração penal. É crime contra o patrimônio que se (Lei nº 11.343/2006, art. 45)
processa mediante ação penal pública condicionada à representação do ofendido 6. Dependência de álcool Medida de segurança
e que admite, como tese de defesa, uma causa especial de exclusão da ilicitude (Doutrina – analogia benéfica)
consistente na subtração de coisa fungível cujo valor não ultrapasse a quota parte 7. Surdo-mudo incomunicável Medida de segurança
ideal a que o agente teria direito no caso de separação dos bens. (Doutrina equipara a doente mental)

Exemplo: Pedro e José são sócios da empresa PJ Calçados Ltda. Ambos 23. ERRO DE PROIBIÇÃO INVENCÍVEL
possuem a quantia de mil máquinas de fabricação de calçados. Pedro, na calada
da noite, subtraí 05 dessas máquinas. O objeto subtraído (máquina) é bem Erro de proibição é a ausência de consciência sobre a ilicitude da conduta
fungível e tanto subtraído (cinco) é inferior ao que o Pedro teria direito na praticada. O agente tem consciência do que faz (sabe que lê uma apostila, sabe
hipótese de dissolução societária (500 máquinas). Nesse caso, Pedro tem direito a que se inscreveu na prova da ordem, sabe que está sentado lutando contra as
exclusão da ilicitude da conduta praticada (CP, art. 156, § 2º) e sua distrações do dia a dia), mas desconhece que tais condutas são ilícitas. O erro de
responsabilidade persistirá apenas no campo do Direito Civil. proibição pode ser classificado, quanto a sua “evitabilidade”, em (a) invencível e
(b) vencível. Erro de proibição invencível (ou escusável) é aquele insuperável.
22. INIMPUTABILIDADE PENAL Dessa forma, dado as circunstâncias fáticas, o agente não poderia, em hipótese
alguma, entender a ilicitude da conduta praticada e, por conseguinte, tem
Imputabilidade é a capacidade fisiológica de entender a ilicitude da excluída a sua culpabilidade e, em continuação, afastado o crime e a pena (CP,
conduta praticada e de se comportar conforme esse entendimento. Tal art. 21, 2ª parte); em se tratando de erro vencível, teremos uma menor
capacidade, em razão da adoção do sistema biopsicológico, pressupõe capacidade de entendimento da ilicitude da conduta praticada e, por
conseguinte, uma menor culpabilidade e menor pena (CP, art. 21º 3ª parte).
idade mínima de 18 anos e saúde mental.
É comum, embora errado, que se confunda “desconhecimento da 24. COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL
ilicitude” com “desconhecimento da Lei”. A primeira consiste apenas na
capacidade cultural de se diferenciar o certo do errado. É uma capacidade comum A coação moral irresistível afasta a liberdade de escolha do agente.
a maior parte das pessoas que convivem em sociedade. Dificilmente alguém Coagido, o indivíduo não pode escolher, livremente, entre a conduta lícita e ilícita.
poderá alegar que não sabe que matar, furtar ou estuprar é ilícito. Todavia, dado Falta-lhe, portanto, “exigibilidade de conduta diversa” um dos elementos da
a complexidade das leis penais e ao grande número de turistas que passam pelo culpabilidade. Sem culpabilidade, por conseguinte, não existe crime e sem crime
Brasil todos os anos, além, é claro, das pessoas que vivem em áreas rurais com não existe pena. Na coação moral, o agente atua com voluntariedade (sua mente
pouco ou nenhum acesso à informação, temos que “algumas condutas” podem controla o seu corpo), mas, repita-se, não atua de forma livre. A tabela detalha o
ser ignoradas como sendo condutas ilícitas. Por exemplo: apropriar-se de coisa instituto da coação física e da coação moral.
achada, sonegação de impostos, omissão de socorro, etc. Por outro lado, o
conhecimento da Lei exige formação educacional em Direito. Conhecer o Código
Penal ou a legislação especial pressupõe leitura, acesso a livros ou internet...
apenas algumas pessoas conhecem o teor exato do art. 121 do Código Penal, mas
todos (mesmo os analfabetos) sabem que matar é errado. A tabela abaixo revela
alguns detalhes do erro de proibição x erro de tipo.

Importante destacar que apenas a coação moral está expressamente


prevista em Lei (CP, art. 22 e 65, III, c). A coação física é criação doutrinária,
unicamente doutrinária. Os sujeitos da coação são: coator (quem exerce a
coação); coato (quem sofre a coação) e a vítima (quem sofre a conduta criminosa
praticada pelo coato). Na coação irresistível o coato não responde por nada; na
coação moral resistível, o coato responde pela conduta criminosa praticada
contra a vítima, mas tem direito a uma atenuante penal.
25. Obediência à ordem de superior hierárquico 27. CAUSAS SUPRALEGAIS DE EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE

Nem sempre a famosa frase “eu só estava cumprindo ordens” serve como A jurisprudência tem admito algumas hipóteses de exclusão da
argumento jurídico para a isenção de responsabilidade penal. Conforme a culpabilidade, pela inexigibilidade de conduta diversa, ainda que sem o
doutrina e a própria Lei (CP, art. 22), o instituto da obediência à ordem de correspondente fundamento no texto de Lei. Fala-se, nesses casos, de causas
superior hierárquico pressupõe quatro requisitos. Presentes TODOS os requisitos, supralegais de inexigibilidade de conduta diversa. São exemplos:
temos uma causa de inexigibilidade total de conduta diversa, ou seja, uma causa
a) Aborto provocado por terceiro não médico na hipótese de gravidez resultante
de exclusão da culpabilidade (dirimente penal), afastando-se assim o crime e, por
de estupro. Sabe-se que o art. 128, I do Código Penal criou uma causa
conseguinte, afastando-se a pena. Todavia, ausente qualquer um dos requisitos,
especial de exclusão da ilicitude para o chamado “aborto sentimental ou
mas presente ao menos um requisito, temos uma causa de inexigibilidade parcial
humanitário”, ou seja, aquele resultante de estupro. Todavia, a causa especial
de conduta diversa, suficiente apenas para diminuir a culpabilidade e, por de exclusão da ilicitude diz respeito unicamente ao médico, ou seja, ao
conseguinte, diminuir a pena em razão de uma atenuante (CP, art. 65, III, “c”). A
profissional em artes médicas devidamente habilitado. O terceiro (mãe,
tabela abaixo apresenta os quatro requisitos e as respectivas consequências:
parteira, etc.) realizando o procedimento abortivo em pessoa que engravidou
em razão de estupro não poderá alegar, como tese de defesa, o art. 128, I.
REQUISITOS O.O.S.H. PERFEITA O.O.S.H. IMPERFEITA Resta, nesses casos, a tese a inexigibilidade de conduta diversa, causa de
OBEDIÊNCIA Restrita Irrestrita
exclusão da culpabilidade, ainda que não prevista expressamente em Lei.
ORDEM “não manifestamente ilegal” Manifestamente ilegal
b) Nos crimes contra a ordem tributária e/ou previdenciária, a sonegação de
SUPERIOR Competente Incompetente
HIERARQUIA Natureza pública Natureza privada imposto ou o não repasse das contribuições devidas ao INSS pode ter como
(-) exigibilidade de conduta diversa (↓) exigibilidade de conduta diversa causa a total impossibilidade financeira da empresa. Comprovado que não a
( - ) culpabilidade (↓) culpabilidade empresa teve que optar entre o pagamento dos salários e o pagamento de
( - ) crime (+) crime tributos, resta configurado, ao menos em tese, a inexigibilidade de conduta
( - ) pena (↓) pena (atenuante) diversa. Trata-se de tese amplamente aceita no TRF-5ª Região, por exemplo.

Observe, portanto, que apenas a obediência à ordem de superior


28. EXCESSO EXCULPANTE
hierárquico perfeita é que é capaz de exclui a culpabilidade; a imperfeita serve
apenas para diminuir a pena. Destaque-se, ainda, que se nenhum dos elementos
Na legítima defesa e no estado de necessidade, que são teses de exclusão
estiverem presentes, não há que se falar no instituto da O.O.S.H, devendo o
da ilicitude, faz-se necessário o preenchimento de alguns requisitos, tais como a
agente responder pelo delito e pela pena correspondente caso não seja possível
moderação entre a agressão e a correspondente defesa (na legítima defesa) e a
apresentar nenhuma outra tese de defesa.
inevitabilidade do sacrifício do direito posto em perigo (no estado de
necessidade). Às vezes, todavia, em razão de circunstâncias emocionais agudas, o
26. DESCRIMINANTES PUTATIVAS agente atua sem moderação (na LD) e com desproporção (no EN). Trata-se da
intitulada “legítima defesa exculpante” e do “estado de necessidade exculpante”,
Sobre o tema, vide tese de defesa número 11, acima. causas de inexigibilidade de conduta diversa.
29. AUSÊNCIA DE PROVA é matéria de ordem pública. Sobre o tema, importante a leitura do art. 567 do
Código de Processo Penal: “a incompetência do juízo anula somente os atos
O ônus da prova compete à acusação (CPP, art. 156). Não havendo prova decisórios, devendo o processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao
de que o agente praticou o crime ou havendo dúvida relevante, deverá o juiz competente”. Boa parte da doutrina entenda que o dispositivo citado só pode
magistrado inocentar com fundamento no art. 386, II, V e VII do CPP. Daí se ser aplicado no caso de incompetência relativa.
afirmar o quão importante é a atividade policial que, logo quando tiver
conhecimento da pratica de infração penal, deverá colher todas as provas que
servirão para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias (CPP, art. 6º, III). 31. DESRESPEITO AO CONTRADITÓRIO
Todavia, por mais relevante que seja a atividade policial na produção de provas,
compre lembrar que as provas produzidas nessa fase não se sujeitam ao O sistema garantista-penal, que tem fundamento constitucional, tem por
contraditório e que, por esse motivo, não podem servir como único fundamento base o respeito ao contraditório e a ampla defesa. Assim, o desrespeito às
para a condenação, sob a pena de nulidade (CPP, art. 155). Dessa forma, havendo normas que garantem a ampla defesa, ferindo norma constitucional, gera
dúvida sobre a veracidade do fato ou de sua autoria, deverá o magistrado nulidade absoluta (CF, art. 5º, LV). A falta de intimações necessárias para as
inocentar com fundamento no Princípio do In Dubio Pro Reo. Deve a acusação manifestações da defesa e o desrespeito aos prazos prejudicam o contraditório e
demonstrar a existência de fato típico e antijurídico, praticado por agente viciam o processo. Fique atento: na fase da execução da pena, é comum que não
culpável, portanto. se respeito ao princípio citado quando da regressão de regime ou da revogação
de regime, gerando a nulidade da decisão.
Importante destacar que o teor da Súmula Vinculante 24 do STF: “Não se
tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV
da Lei 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo”. Dessa forma, não 32. REFORMATIO IN PEJUS
pode haver condenação, por falta de provas, em crime contra a ordem tributária
sem que exista documento demonstrando, cabalmente, o lançamento definitivo Não se admite, em nosso sistema, a reformatio in pejus, ou seja, que a
do tributo devido. situação do recorrente seja prejudicada em recurso exclusivo da defesa, ou no
caso de revisão criminal. Havendo piora da situação no Tribunal, o acórdão
30. INCOMPETÊNCIA deverá ser anulado. Se a decisão for anulada, quer em recurso exclusivo da
defesa, quer em revisão criminal, ainda assim a nova decisão não poderá
A jurisdição tem limite na competência e fundamento no Princípio prejudicar o acusado, sob a pena de afronta indireta ao princípio em estudo. O
Constitucional do Juiz Natural (CF, art. 5º, LIII), sendo que os atos de juiz princípio da proibição da reformatio in pejus se justifica na medida em que
incompetente podem gerar nulidade. A incompetência absoluta (ratione materiae impede que o advogado se sinta intimidado em recorrer alegando nulidade de
e ratione personae) pode ser arguida a qualquer tempo e grau de jurisdição. A dada decisão com receio de que, uma vez reconhecida a nulidade, a pena a ele
chamada incompetência relativa (ratione loci) tem momento oportuno para ser imposta poderia ser ainda pior que a anterior. Observação: esse princípio não se
alegada, mas poderá ser reconhecida de ofício pelo juiz até a sentença, eis que, aplica em favor do órgão de acusação, ou seja, admite-se a melhoria da situação
no processo penal, vigora o entendimento que a competência territorial também jurídica do acusado quando do recurso exclusivo do MP.
33. AUSÊNCIA DE RÉU PRESO NA AUDIÊNCIA 35. AUSÊNCIA DE COMUNICAÇÕES NECESSÁRIAS

A defesa do acusado se faz de forma técnica e pela autodefesa. Essa O réu tem o direito de ser citado regularmente. Se ausente ou irregular a
última consiste na participação pessoal do acusado na audiência. Para o réu que citação, o processo é nulo, pois prejudicada a ampla defesa em sua face de
está em liberdade, participar ou não do ato instrutório é um direito, que ele autodefesa. A nova redação do art. 360 do CPP determinou que mesmo o réu
poderá exercer ou recusar. Para o réu que está preso, a participação é preso deve ser citado pessoalmente. O advogado, da mesma forma, deve ser
obrigatória, sob pena de nulidade. A participação da defesa técnica, exercida pelo intimado para que tome ciência e participe do processo, dando assim impulso à
advogado, é sempre obrigatória (estando o acusado livre ou solto). O advogado, regular marcha processual.
desde que constituído, poderá dispensar a presença de seu constituinte quando
da audiência. Todavia, não dispensando expressamente a presença ou sendo essa 36. MORTE DO AGENTE
dispensa feita por advogado ad hoc, haverá nulidade.
Trata-se da mais óbvia causa de exclusão da punibilidade. Ao morto não
se pode atribuir qualquer penalidade, pois não há efetividade. Não se pode
34. DENÚNCIA INEPTA condenar o morto ao inferno, pois não há prova de que o inferno existe e, mesmo
que ele exista não se pode garantir que a alma do falecido realmente desça até o
A inicial acusatória que não cumpre seus requisitos deve ser considerada submundo quente. A morte que serve para extinguir a punibilidade é a morte
inepta. Reza o art. 41 do CPP que “a denúncia ou queixa conterá a exposição do real, apenas. A morte presumida não serve ao Direito Penal. Portanto, apenas a
fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou certidão de óbito (e não a sentença de ausência), serve para extinguir a
esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, punibilidade. Eventual reconhecimento de que a certidão de óbito usada para fins
quando necessário, o rol das testemunhas”. Entrementes, a jurisprudência tem de se obter a declaração da extinção da punibilidade é falsa, não impede que o
considerado inepta a denúncia em alguns casos, entre os quais destacamos: processo seja reaberto (conforme recente decisão do STF).
 Na tentativa, quando o MP não descreve o início da ação do agente;
 No crime culposo, quando o MP não explica no que consistiu a violação 37. ANISTIA
de dever de cuidado;
 No crime de desacato, quando não consta nos autos os vocábulos É hipótese de clemência dada pelo Poder Legislativo através de Lei.
instrumentalizados pelo agente para ofender o funcionário público (art. Crimes hediondos e equiparados não admitem anistia. É possível a concessão da
331 do CP); anistia em qualquer fase do processo e mesmo durante a execução penal ou na
fase pré-processual (inquérito policial). A anistia tem efeitos ex tunc¸ ou seja, o
Quanto aos crimes plurissubjetivos, a jurisprudência tem entendido que beneficiado pela Lei de Anistia não é considerado primário caso venha a praticar
não é necessário a narrativa pormenorizada de cada agente na prática criminosa, outro crime, ainda que seja o mesmo crime pelo qual foi anistiado.
podendo tais circunstâncias serem esclarecidas durante a instrução processual.
Todavia, é fundamental que a denúncia descreva o liame subjetivo que interliga
cada um dos concorrentes na prática criminosa.
38. GRAÇA

Também é hipótese de clemência, só que concedida pelo Poder


Executivo. Para alguns autores, a graça é também chamada de indulto individual.
Tem natureza singular, beneficiando um condenado ou um pequeno grupo de
condenados, individualizados um a um. É concedido pelo Presidente da República
através de decreto e só se admite após o trânsito em julgado da sentença
condenatória, ou seja, só cabe “graça” na fase da execução penal. Ao contrário da
anistia, tem efeitos ex nunc, ou seja, o agente beneficiado pela graça será
considerado reincidente caso venha a praticar novo delito após a concessão do
benefício. Também não pode ser usada nos crimes hediondos e nos equiparados.

39. INDULTO
41. PERDÃO DO OFENDIDO
Também conhecido como “graça coletiva”, é causa de extinção da
O perdão do ofendido inaugura outro grupo de causas de extinção da
punibilidade concedida pelo Presidente da República através de Decreto.
punibilidade: as relacionadas as ação penais privadas. Fundamental para
Diferencia-se da graça (ou indulto individual) porque é concedido para grupo de
entender o perdão do ofendido e os demais institutos a seguir é lembrar as
pessoas que preenchem determinados requisitos expressos no decreto de
principais características das ações privadas ordinárias (exclusiva e
indulto, sem qualquer individualização “um a um”. O indulto poderá ser parcial ou
total. Se for total, é causa de extinção da punibilidade; se parcial, servirá apenas personalíssima): oportunidade, disponibilidade e indivisibilidade. Isso implica em
dizer que o querelante, querendo, poderá optar em propor ou não propor a ação
para diminuir a pena. O indulto parcial é chamado de comutação da pena.
penal privada. Optando pela não propositura, teremos a renúncia (tácita ou
Aproxima-se da graça, eis que só pode ser concedido após o trânsito em julgado
da sentença condenatória e tem efeitos ex nunc, não afastando a reincidência. expressa). Propondo a ação penal, o querelante dela poderá desistir (pois se trata
de demanda judicial disponível). Havendo desistência, teremos o perdão judicial.

40. PERDÃO JUDICIAL


Dado a um dos querelados, o perdão a todos beneficia, mas não prejudica
o direito dos demais querelantes em continuar a demanda criminal contra os
É a última causa de clemência pública. Ao contrário da anistia, da graça e
mesmos querelados. Trata-se de instituto bilateral, ou seja, só tem o efeito de
do indulto, o perdão judicial deve ser concedido pelo Poder Judiciário, mas
extinção da punibilidade se, e somente se, houver aceitação da parte adversa.
apenas nos casos expressamente autorizados e previstos em Lei. Admite perdão
Concedido o perdão, o magistrado mandará intimar o querelado para dizer se o
judicial, entre outros exemplos: homicídio culposo, lesão corporal culposa,
aceita no prazo de 03 dias. Aceitando-o, extingue-se a punibilidade. Não
receptação culposa, injúria recíproca, etc. O perdão judicial tem efeito ex tunc, ou
aceitando, o processo continua regularmente. Mantendo-se silente no tríduo
seja, afasta a reincidência. O momento é de sua concessão é durante a sentença
legal, considera-se que houve aceitação tácita e extingue-se a punibilidade.
(nem antes e nem depois). Segue resumos dos quatro últimos institutos:
O perdão aceito não gera reincidência. Poderá ser proposto pelo próprio 43. PEREMPÇÃO
querelante ou por procurador (advogado) com poderes especiais (procuração
com poderes expressos para a concessão do perdão); poderá ser aceito É a última das causas extintivas da punibilidade aplicável apenas aos
diretamente pelo querelado ou por procurador com poderes especiais para crimes de ação penal privada ordinária. Conforme o art. 60 do Código de Processo
aceitação. Poderá ocorrer dentro do processo (através de petição ou em Penal considerar-se perempta a ação (1) quando, iniciada esta, o querelante
audiência) ou fora. Havendo aceitação fora do processo, ela poderá ocorrer de deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos; (2)
forma tácita ou expressa. Se tácita, admite-se todos os meios de prova válidos em quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não
direito para demonstrar comportamento incompatível com o desejo de continuar comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60
a ação penal; se escrita, deverá ser assinada pelo querelante e pelo querelado ou (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o
por seus procuradores com poderes especiais para isso. Conforme o Código disposto no art. 36 do CPP; (3) quando o querelante deixar de comparecer, sem
Penal, não configura perdão tácito o recebimento de indenização correspondente motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente; (4)
ao fato crime objeto da ação penal privada. quando o querelante deixar de formular o pedido de condenação nas alegações
finais; e (5) quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem
42. RENÚNCIA deixar sucessor. Uma vez declaração à extinção da punibilidade pela perempção,
não poderá o querelante propor nova ação penal, tal como ocorre com outros
Fruto do princípio da oportunidade, a renúncia é causa de extinção da ramos do Direito. Extinta a punibilidade, resta proibida a revisão criminal in pejus.
punibilidade que afeta apenas os crimes de ação penal privada ordinária. Propor a Resumo dos itens 41, 42 e 43:
queixa-crime não é obrigação da vítima, é faculdade. Querendo, oferta; não
querendo, renuncia. Portanto, só cabe o instituto da renúncia antes do início da
ação penal. Uma vez iniciada a ação penal, o instituto aplicável é o perdão do
ofendido (vide item anterior).

A renúncia poderá ser expressa ou tácita: a primeira se prova mediante


documento escrito e assinado pelo querelante ou por procurador com poderes
especiais; a segunda admite todos os meios de provas lícitos. Em razão do
princípio da indivisibilidade aplicável aos crimes de ação penal privada, a renúncia
dada a um dos querelados a todos beneficia, independentemente de aceitação.
Trata-se, como se vê, de instituto com natureza unilateral, entrementes, não é
necessário que a parte beneficiada pela renúncia aceite-a.
44. PRESCRIÇÃO Praticado o crime, surge para o Estado o direito de julgar, de decidir sobre
a culpa ou a inocência de alguém. Chama-se a isso de “direito de punir” ou de jus
A prescrição é um dos temas mais odiados pelos graduandos em Direito. puniendi, que representa a pretensão punitiva; uma vez condenado, o Estado traz
Não deveria, pois, é tema fácil, ainda mais após a extinção da chamada para si outro direito: o de fazer valer suas condenações, impondo a condenação.
“prescrição da pretensão punitiva retroativa” e, por conseguinte, da prescrição Esse novo direito representa a pretensão executória. Ambas as pretensões
virtual (ou antecipada). Tudo na vida prescreve, pois tudo tem um tempo lógico e prescrevem (prescrição da pretensão punitiva – PPP – e prescrição da pretensão
racional para ser exercitado. Até mesmo o ódio prescreve e, por vezes, o amor executória – PPE, respectivamente). A tabela abaixo ilustra o tema:
também. Todavia, artificialmente, a CF/88 considera como imprescritível o delito
de racismo (art. 5º, XLII) e as ação de grupos armados, civis ou militares, contra a
ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 5º, XLIV).
A prescrição da pretensão punitiva admite duas modalidades ou espécies: A base de cálculo de cada espécie de prescrição está apontada no gráfico
a ordinária e a intercorrente. A primeira é calculada da data do crime (via de acima. Uma vez conhecido a base de cálculo, basta procurar o prazo prescricional
regra1) até a data da sentença condenatória transitada em julgado para a na tabela constante do art. 109 do CP. Vejamos um exemplo: quais os prazos
acusação (respeitados os marcos interruptivos2); a segunda se faz presente prescricionais para um crime de furto simples (art. 155), em que o agente foi
apenas durante o julgamento dos recursos exclusivos da defesa. Duas condenado definitivamente a pena de 01 ano de reclusão, cumpriu 05 meses e
observações são necessárias: (1) quando se inicia a contagem do prazo fugiu, estando atualmente foragido?
prescricional e de que forma; e (2) quais os marcos interruptivos da prescrição da
pretensão punitiva ordinária. Vamos por partes. O delito de furto tem pena mínima de 01 e máxima de 04 anos,
abstratamente considerado, conforme preceito secundário do art. 155 do Código
(1). Versa o art. 111 do Código Penal que a prescrição, antes de transitar Penal. Portanto, a prescrição da pretensão punitiva ordinária (PPPO) terá como
em julgado a sentença final, começa a correr: I - do dia em que o crime se base de cálculo 04 anos (máximo da pena em abstrato), o que implica em afirmar
consumou; II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa; que a prescrição ordinária será de 08 anos (prescrição correspondente a base de
III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência; IV - nos de cálculo igual a 04 anos, conforme art. 109 do CP); a prescrição da pretensão
bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da punitiva intercorrente (para julgar os recursos da defesa), terá como base de
data em que o fato se tornou conhecido; e V - nos crimes contra a dignidade cálculo 01 ano (pena concretamente fixada) o que implica em prazo prescricional
sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação de 04 anos (conforme tabela); o prazo que o Estado brasileiro tem para executar
especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse a pena total de 01 ano – prescrição da pretensão executória do total da pena
tempo já houver sido proposta a ação penal. Merece atenção especial o inciso V imposta – tem por base de cálculo também 01 ano (pena concretamente fixada),
do art. 111 do CP tendo em vista a sua recente inclusão no Código Penal (maio de logo, a prescrição também será de 04 anos. Finalmente, tendo o agente cumprido
2012). A modificação visa impedir a prescrição de crimes sexuais praticados 05 meses e restando a cumprir 07 meses, a prescrição da pretensão executória do
contra crianças e adolescentes que apenas revelaram seu interesse de ver que resta a cumprir da pena será de 03 anos, para tanto se considerando a base
processado o agente após a maioridade. de cálculo de 07 meses e a tabela de prazos prescricionais constantes na Lei.

(2). Por outro lado, afirma o art. 117 do diploma penal que o curso da Importante destacar que os prazos prescricionais podem sofrer
prescrição interrompe-se: I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; II - pela diminuição pela metade, conforme seja o delito praticado por pessoas maior ou
pronúncia; III - pela decisão confirmatória da pronúncia; IV - pela publicação da igual a 18 anos e menor que 21 anos na data do fato ou por pessoa maior que
sentença ou acórdão condenatórios recorríveis; V - pelo início ou continuação do setenta anos da data da sentença. Os prazos da prescrição da pretensão
cumprimento da pena; e VI - pela reincidência. Desataque-se que a sentença executória (apenas esses) podem sofrer aumento em um terço se o agente for
absolutória recorrível não interrompe o prazo prescricional. Uma vez reincidente (específico ou não).
interrompido o curso do prazo prescricional, a contagem é reiniciada “do zero”,
salvo na hipótese do inciso V, em que o prazo prescrição deverá ser recalculado A pena restritiva de direitos prescreve no mesmo prazo da pena privativa
pelo tempo que resta a cumprir da pena. de liberdade que foi substituída e as penas de multa segue a regra do art. 114 do
Código Penal (02 anos, se única; conforme a privativa de liberdade, se conjunta).
45. DECADÊNCIA 47. ABOLITIO CRIMINIS

O instituto da decadência é bem mais simples que o da prescrição. Em O princípio da retroatividade da Lei Penal mais benéfica implica na
princípio porque a decadência não pode ser interrompida e nem suspensa (ao aplicação retroativa da nova lei que deixa de considerar o fato como criminoso
contrário da prescrição). Além disso, o prazo decadencial é de 06 meses (fixos), (abolitio criminis). Portanto, praticando o agente uma conduta típica que, depois,
não se ampliando em razão da reincidência e nem diminuindo em razão da idade sai do ordenamento jurídico em razão de nova lei mais benéfica, deve a nova lei
do agente. O cômputo do prazo decadencial (bem como do prescricional) é retroagir afastando a punibilidade pelo crime já praticado.
realizado a partir do dia do começo, ou seja, se o prazo se iniciou no dia 20 de
janeiro de 2012, terminará no dia 19 de julho de 2012. Dois aspectos são relevantes sobre esse instituto: (1) a retroatividade da
nova lei tem poder para afastar apenas os efeitos penais da sentença
A decadência é aplicável aos crimes de ação penal privada ordinária condenatória, permanecendo os efeitos civis e administrativos. Ao afastar os
(exclusiva e personalíssima) e aos crimes de ação penal pública condicionada à efeitos penais, a abolitio criminis afasta também a reincidência (efeito penal
representação. Na verdade, o que decai é o direito de oferecer queixa-crime secundário); e (2) a lei revogadora do crime poderá retroagir mesmo após a
(ação privada) e/ou de oferecer representação (ação condicionada). A instauração sentença condenatória transitada em julgado. Nesse caso, caberá ao juiz das
de inquérito policial não interrompe o prazo decadencial. execuções penais a aplicação da nova lei.

46. RETRATAÇÃO 48. CAUSA ESPECIAL DO ART. 168-A, § 2º DO CP.

A retratação não pode ser confundida com “pedido de desculpas”. Quem O delito de apropriação indébita previdenciária consiste em reter dos
pede desculpas pede alguma coisa, sendo que a parte oposto concorda ou não empregados o valor correspondente à contribuição previdenciária deles
com pedido, podendo ou não aceitá-lo. Essa lógica não se aplica ao instituto da descontada e que deveria ser repassada pelo empregador à autarquia federal
retratação que é ato unilateral, ou seja, depende unicamente da vontade de gestora (INSS). Dessa forma, por exemplo, o dono da empresa Ninja Ltda. paga ao
quem se retrata e não da vontade daquele para quem a retratação é dada. seu funcionário João o salário já descontando a contribuição previdenciária com o
fim de repassá-la ao INSS. Todavia, de forma dolosa, “deixa de repassar à
No Código Penal, apenas três crimes admitem retratação como tese previdência social as contribuições reconhecidas dos contribuintes, no prazo e
defensiva (causa de extinção da punibilidade): calúnia (CP, art. 138), difamação forma legal ou convencional” (art. 168-A, caput).
(CP, art. 139) e o delito de falso testemunho (CP, art. 342). Observe-se, portanto,
que os delitos de injúria e desacato não admitem o instituto em estudo. A Se o substituto tributário (empregador) declarar e pagar o que deve,
retratação só tem validade jurídica, se e somente se, houver sido concedida antes antes do início da ação fiscal, terá a extinção da punibilidade de sua pena,
da sentença condenatória correspondente ao crime de calúnia e difamação e conforme o § 2º do art. 168-A. Esse “prazo” foi prolongado pela Lei nº
antes da prolatação da sentença no processo em que as inverdades foram ditas, 10.684/2003 que determinou a suspensão do processo enquanto a empresa
no caso de falso testemunho. Por derradeiro, cumpre destacar que a retratação é estiver beneficiada por sistema de parcelamento (REFIS) e que o pagamento do
ato voluntário do agente, não tendo efeito se houver sido extraída por coação. valor apropriado, antes da sentença, extingue a punibilidade.
49. CAUSA ESPECIAL DO ART. 312, § 3º DO CP. Por derradeiro, cumpre destacar que alguns crimes não admitem
tentativa. Para facilitar, basta imaginar que a aprovação na OAB o tornará um rei
O delito de peculato admite a forma culposa, consistente em atuar o e que, quando isso acontecer (e apenas quando isso acontecer) você poderá
funcionário público com negligência, imprudência ou imperícia de modo a tomar uma cervejinha com seus amigos. A verdade é que, por hora, “cchoup é
permitir que outro funcionário subtraia, dolosamente, bens, dinheiro ou valores coisa de rei”, senão vejamos:
públicos ou particulares que estão na posse ou guarda do funcionário relapso. O
agente do peculato culposo poderá reparar o dano causado de modo a ver extinta
a sua punibilidade. Para tanto, deverá reparar o dano causado até o trânsito em
julgado da sentença condenatória. Caso a reparação só ocorra após o trânsito em
julgado, terá direito apenas a redução da pena pela metade. Importante destacar
que o crime de peculato só admite causa especial de extinção da punibilidade na
modalidade culposa. Tratando-se de peculato doloso, a reparação do dano, desde
que anterior ao recebimento da denúncia¸ dará direito apenas à diminuição de
pena em razão da aplicação do instituto do arrependimento posterior.

50. TENTATIVA (CP, ART. 14, II).

A tentativa, ou conatus, ocorre apenas nos crimes dolosos e durante a


fase de execução e antes da consumação. Portanto, não há que se falar em
tentativa em crime culposo, preterdoloso, na fase da preparação ou após a 51. ERRO DE PROIBIÇÃO VENCÍVEL
consumação do crime. Tentado é, portanto, o crime que não se consuma após
iniciado e quando desejado. A tentativa pode ser perfeita ou imperfeita (vide Já tivemos a oportunidade de falar sobre o instituto do erro de proibição,
gráfico sobre iter criminis acima). A doutrina classifica ainda a tentativa como razão pela qual remetemos nosso leitor ao item 23 dessa apostila.
branca ou cruenta: branca é aquela em que o bem jurídico não foi atingido;
cruenta, ao contrário, é aquela em que o bem jurídico foi atingido. 52. ARREPENDIMENTO POSTERIOR

Uma vez reconhecida a tentativa, temos uma causa obrigatória de O arrependimento posterior é causa obrigatória de diminuição de pena
diminuição de pena de menos 1/3 a menos 2/3. A jurisprudência tem admitido de 1/3 a 2/3, igualando-se ao instituto da tentativa, nesse particular. São
como critério para a diminuição da pena a maior ou menor proximidade da requisitos para a aplicação do instituto: (a) crime praticado sem violência e sem
consumação. Dessa forma, quanto mais próximo da consumação chegar o crime, grave ameaça à pessoa; (b) restituição voluntária da coisa ou reparação do dano
menor é a redução de pena aplicável pela tentativa (1/3); quanto mais distante causado; e (c) tempo hábil, ou seja, o arrependimento deve ser exercido antes do
fica o crime de se consumar, maior é a redução da pena pela tentativa (2/3). recebimento da denúncia ou da queixa. Preenchidos os requisitos, o agente passa
a ter direito a aplicação da causa de diminuição de pena.
Alguns crimes não admitem arrependimento posterior. Não porque sejam Caso o resultado do aumento proporcional da pena em 1/6 a 1/2 resulte
mais graves que os outros, ao contrário, porque tais crimes admitem, nas mesmas em montante maior do que aquele que seria encontrado pela “soma simples das
hipóteses do arrependimento posterior, uma causa de extinção da punibilidade. É penas”, deverá o magistrado deixar de aplicar o sistema da exasperação e aplicar
o que ocorre, por exemplo, com o crime de peculato culposo. Se o agente reparar o sistema do cúmulo material. Nessa hipótese, fala-se em “concurso material
o dano causado antes do recebimento da denúncia (ou mesmo antes da sentença benéfico”. Sobre concurso de pessoas, vide o gráfico na próxima página.
condenatória recorrível, conforme preceitua o art. 312, § 3º do CP), o juiz deverá
declarar extinta a punibilidade. Obviamente que no conflito de teses de defesa 54. CRIME CONTINUADO (CP, ART. 71)
entre a extinção da punibilidade e a redução da pena pelo instituto do
arrependimento posterior, prevalece a que mais beneficiar o réu (no caso, a Uma das mais interessantes teses de defesa para quem praticou diversos
extinção da punibilidade). Idêntico raciocínio aplica-se ao crime de apropriação crimes da mesma espécie (assim considerados os que pertencem ao mesmo tipo
indébita previdenciária e ao crime de estelionato por meio de emissão de cheque penal) é a tese de que um crime foi à continuação do outro. É claro que para a
sem fundos, conforme súmula 554 do STF. tese poder ser aplicada é necessário que exista o chamado dolo de continuidade,
também chamado de elemento subjetivo da continuidade delitiva. O dolo de
53. CONCURSO FORMAL PERFEITO (CP, ART. 70, 1ª PARTE) continuidade implica em reconhecer que os crimes foram praticados em mesma
condição de tempo (período inferior a trinta dias entre cada crime praticado),
Aqui também é possível aplicar o sistema da exasperação, sendo o qual a lugar (mesma região geopolítica) e maneira de execução (mesmo modus
pena aplicada no caso de concurso de crimes será apenas uma (a mais grave, se operandi). Reconhecido que existe uma dependência fática-jurídica entre os
crimes, o agente deve sofrer a pena de apenas um deles (se forem crimes com
crimes com penas distintas ou qualquer uma delas, se crimes punidos como a
penas diferentes, a maior; se todos os crimes tiverem a mesma pena, qualquer
mesma pena). No caso do concurso formal perfeito, a pena de um só dos crimes
uma delas) aumentada de 1/6 até 2/3. Na hipótese de crime doloso praticado
será aumentada em mais um sexto até a metade.
com violência contra vitimas distintas, a pena poderá ser aumentada em até o
triplo, conforme parágrafo único do art. 71 do CP.
Ocorre concurso formal perfeito quando, por exemplo, o piloto de um
avião, por desrespeitar as regras da aviação, causa a morte de centenas de Assim, se João subtrai, todos os dias e durante um ano, um determinado
pessoas em um acidente aéreo. Nesse caso, mediante uma só ação, o agente deu valor do estabelecimento em que trabalha, estará praticando inúmeros crimes de
causa a diversos crimes de homicídio na forma culposa. Deverá responder pela furto e, em tese, deveria ser apenado por todos os crimes com as penas somadas
pena de um só crime de homicídio culposo (CP, art. 121, § 3º), aumentada de 1/6 (o que ultrapassaria 300 anos de reclusão). Todavia, como sempre praticou crime
a 1/2, nos termos do art. 70, primeira parte, do Código Penal. da mesma espécie (furto), na mesma condição de tempo (dia após dia), lugar
(mesmo estabelecimento) e do mesmo modo de execução (tomada simples
É também possível aplicar a tese do concurso formal próprio de crimes quando do descuido do proprietário), deverá ser apenado com uma só reclusão
para delitos dolosos, desde que não haja desígnios autônomos em relação a cada de 01 a 04 anos (pena do delito de furto), aumentada de 1/6 a 2/3. Caso João
um dos delitos praticados. Dessa forma, quando, no erro de execução, o agente tivesse praticado diversos crimes de homicídio no mesmo bairro, dia após dia e
pretendendo acertar em Paulo termina acertando em Paulo e em Maria deverá durante um ano, a solução jurídica seria a mesma, todavia a sua pena poderia ser
responder apenas pelo crime mais grave com a pena aumentada. aumentada em até três vezes, conforme parágrafo único do art. 71.
55. Semi-imputabilidade penal (CP, art. 26, § único)

Trata-se de causa obrigatória de diminuição de pena na proporção de um


a dois terço, desde que comprovado que o agente, ao tempo da ação ou omissão,
não era inteiramente capaz de entender a ilicitude da conduta praticada ou de se
comportar de acordo com esse entendimento. Não se confunde com a
inimputabilidade penal, causa de isenção de pena, pois lá o agente era
inteiramente incapaz de entender (não entendia nada), ao tempo em que aqui, o
agente entende, porém menos do que deveria se fosse “normal”. Admite o
Código Penal (art. 98), que a pena aplicável ao sem-imputável poderá ser
substituída por medida de segurança em casos de comprovado o especial
tratamento curativo.

São hipóteses de Semi-imputabilidade: (1) doença mental “debilitante”;


(2) embriaguez involuntária e incompleta; e (3) torpor provocado por drogas de
forma involuntária e incompleta (Lei 11.343/2006, art. 45).

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