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https://novaescola.org.br/conteudo/19688/o-que-e-e-nao-e-o-aee
Não dá para negar os avanços que a Educação inclusiva teve até hoje. A aprovação, em 2006, da
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência pela ONU assegurou um sistema de
Educação inclusiva em todos os níveis de ensino e representa um dos marcos na área. Esse mesmo
movimento repetiu-se em 2008, com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva, e em 2011 com o decreto 7.611, que regulamenta o Atendimento Educacional
Especializado (AEE), como uma política atrelada à matrícula do aluno no ensino regular.
No entanto, há algumas confusões sobre o que é o AEE fora dos documentos que o norteiam. Segundo
Daniela Alonso, especialista em Educação inclusiva, o AEE vem com a ideia de como fazer a inclusão na
prática, no dia a dia da sala de aula e da escola.
E a prática tem seus desafios. Professora de AEE no Recife e em Olinda, Adriana Cunha conta que, para
a inclusão funcionar, “ela deve ser um estilo de vida da escola”. “Como tenho deficiência, sei os dois
lados, da família e profissional, de ser a pessoa e ter uma pessoa com deficiência como aluno”, explica.
Antes de entrar nos detalhes sobre o AEE, é importante explicar que ele não se restringe à sala de
recursos, e sim, a uma proposta pedagógica da escola. “Não é só um espaço que funciona no
contraturno. O AEE são todos os recursos que um professor, uma escola, um sistema de ensino
precisam para garantir a aprendizagem do aluno com deficiência”, diz Daniela.
Há quase dez anos atuando como professora do AEE, Kelen Cristina Silveira, da Escola Municipal Carlos
Drumond de Andrade, em Santo André (SP), reafirma que seu papel é de desenvolver recursos para
ajudar o estudante. “A gente fala de barreiras atitudinais também, que para mim são as mais difíceis,
porque não se referem ao aluno, mas sim, ao meio em que ele está inserido.”
É muito comum que profissionais confundam o objetivo da sala de recursos e passem a falar que ali o
aluno deveria receber todo o conteúdo pedagógico. “Durante minha trajetória, vi muitos professores
pedirem para reduzir o horário do aluno na sala regular e passar mais tempo no contraturno, por
exemplo. Isso é um mito que precisa ser desconstruído dentro da escola”, comenta Kelen.
Para não haver nenhuma confusão sobre seu papel como docente, Adriana contou que, quando
chegou em sua escola, colocou no projeto político-pedagógico (PPP) quais são suas atribuições. “A
gente dá o norte, o apoio, não somos professores de reforço.”
Aline de Morais, professora de AEE na Escola Municipal Professor Dermeval Arouca, em Mogi das
Cruzes (SP), segue a mesma linha. Ela dialoga com toda a equipe e os professores da sala regular sobre
os desafios e avanços em relação aos alunos com deficiência. “Precisamos que a política pública
funcione no dia a dia.”
Para Daniela, o mito de que todo aluno com deficiência tem de frequentar a sala do AEE surge,
principalmente, pela forma como o atendimento especializado é encarado no cotidiano das escolas.
“As primeiras estatísticas para contar como verba da Educação inclusiva, por exemplo, era quantos
alunos estavam matriculados no AEE”, explica.
Segundo a especialista, essa crença surge como uma resposta para “acalmar” o movimento de
professores que estavam desesperados. “Muitos diziam ‘tenho 35 alunos e agora mais um com
deficiência?’, mas a justificativa dada era ‘calma, ele tem a sala do AEE’.”
Kelen ressalta que essa interpretação deve ser desmitificada junto às famílias dos alunos também. “A
gente explica que o estudante vem para a sala de recurso quando necessário, mas muitas vezes ele
não precisa mais e a família diz para continuar.”
“O professor de AEE vem com o objetivo de ser o apoio dentro da escola para inclusão, para ajudar os
professores”, completa Daniela.
Somado a isso vem outro desafio: o de construir junto. Kelen comentou que muitos professores ficam
com receio, por exemplo, de abrirem seus planejamentos para chegar em um modelo mais inclusivo.
“A gente fica muito preso a um conceito de segregação e precisamos promover um trabalho
colaborativo no dia a dia.”
Muito ligada ao terceiro tópico dessa lista, muitos profissionais acabam colocando a responsabilidade
do aluno com deficiência em todo o serviço de AEE. O desenvolvimento de qualquer estudante deve
ser um compromisso de toda a escola. “Os professores, sejam do AEE, sejam da sala regular, não
podem abrir mão de seus alunos”, pontua Aline.
Para Kelen, é necessário que as escolas e os profissionais passem a olhar de forma global para o aluno.
“A gente fala muito, por exemplo, sobre as estratégias para inclusão. Mas essa estratégia deve ser para
todos. Cada estudante é único, mas não podemos deixar os alunos com deficiência para trás.”
Como tudo tem sido atípico na Educação em meio à quarentena e aulas a distância, entender as
funções para auxiliar o aluno com deficiência no ambiente on-line é complexo. “O que podemos
orientar é para garantir que essas crianças e jovens tenham acesso às atividades e recebam um
atendimento individualizado”, sugere Daniela.
Além disso, para um possível retorno das aulas presenciais, a especialista alerta que é necessário
pensar em uma volta também inclusiva. “Não é porque as crianças têm alguma deficiência que são do
grupo de risco. É equivocado pensar dessa maneira”, afirma.