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Neurociência Aplicada À Aprendizagem
Neurociência Aplicada À Aprendizagem
NEUROCIÊNCIA APLICADA À
APRENDIZAGEM
1. Neurociência
2. Educação
3. Aprendizagem
Apresentação
Telma Pantano
Jaime Luiz Zorzi
AUTORES
Adriana Foz
Educadora, Psicopedagoga, Neuropsicóloga, Membro da diretoria
da SBNp, pesquisadora CNPq - Neurociência na Educação.
Rubens Wajnstein
Médico neuropediatra pela FMUSP, Mestre em Distúrbios da
Comunicação pela UNIFESP, Professor da cadeira de Neurologia
pela UNIABC, Faculdades São Camilo e Universidade Metodista de
São Paulo.
Rudá Alessi
Médico residente em Neurologia pela Faculdade de medicina do
ABC.
Capítulo 3
Crescimento, Desenvolvimento e Envelhecimento do
Sistema Nervoso .............................................. 37
Capítulo 4
Funções Vísuo-construtivas, Praxias e Agnosias ........... 61
Capítulo 5
Pensamento, Inteligência e Funções Executivas ........... 81
Capítulo 6
Linguagem e Cognição ................................................ 105
Capitulo 7
Processamento Auditivo Central ................................ 113
Capítulo 8
Aprendizagem e Habilidades Acadêmicas .................. 125
Capítulo 9
A análise do Processamento Ortográfico e suas
Implicações no Diagnóstico dos Transtornos
de Aprendizagem ........................................... 141
Capítulo 10
Avaliação das Funções Cognitivas na Criança, no
Adolescente e no Adulto .............................. 157
Capítulo 11
Neurociência na Educação I ......................................... 171
Capítulo 12
Neurociência na Educação II ....................................... 183
10 Neurociências
Capítulo 1
Introdução às Neurociências
12 Neurociências
Figura 2. Comunicação entre neurônios formando redes ou retículos
neurais (retirado de http://www.cerebromente.org.br/n17/history/
neurons2_p.htm).
A cada novo estímulo, que gera um novo conhecimento, uma
nova rede se forma conectando-se às antigas, sendo infinitas as
possibilidades de formação de redes. Assim, para que se estabeleça uma
adequada utilização destas conexões existe um sistema complexo de
processamento que seleciona as redes importantes para cada ocasião, a
fim de possibilitar respostas rápidas a cada estímulo, seja ele verbal ou
não verbal. Por exemplo, se estamos estabelecendo um diálogo sobre
borboletas, o sistema nervoso central seleciona as redes neuronais em
que este inseto está inserido, facilitando a fluidez e ritmo da conversação.
Se estamos sendo atacados por um animal feroz, o sistema nervoso
seleciona as redes que registraram anteriores ataques, para favorecer uma
resposta rápida necessária num momento como este. Obviamente, pessoas
experientes em ataques deste tipo, terão respostas mais rápidas e precisas;
aquelas que nunca antes vivenciaram tal circunstância ficarão paralisadas,
sem opor qualquer atividade motora para fugir ou impedir o ataque.
A “comunicação” neuronal acontece através da transmissão
do impulso elétrico (criado no corpo da célula nervosa) utilizando estes
“fios” (dendritos e axônios); no final de cada um destes
prolongamentos existem estruturas denominadas sinapses, onde estão
localizadas inúmeras vesículas sinápticas, preenchidas com substâncias
químicas denominadas neurotransmissores (NT); com a chegada do
impulso elétrico estas vesículas se rompem os neurotransmissores são
lançados no espaço denominado de fenda sináptica, transformando o
estímulo elétrico em estímulo químico (Figura 3).
14 Neurociências
Tabela 1. Relação de alguns neurotransmissores conhecidos dos
neurocientistas e seus locais de síntese.
16 Neurociências
A medula espinhal, que é protegida pelas vértebras,
compõe-se de substância cinzenta (com acúmulo de corpos celulares
dos neurônios) central em forma de “H” e substância branca (com
acúmulo de axônios ascendentes e descendentes) circunjacente.
A porção periférica é composta pelos nervos: 12 pares de
nervos cranianos (responsáveis pela sensibilidade e ativação motora
da região da cabeça) e 33 pares raquidianos (responsáveis pela
sensibilidade e ativação motora do resto do corpo).
O cérebro é constituído por dois hemisférios e cada
hemisfério propriamente dito é dividido em cinco lobos: occipital,
temporal, parietal, frontal e insular (Figura 5). O córtex cerebral é
constituído por seis camadas corpos celulares, portanto, de substância
cinzenta, situados na periferia do córtex e formando giros cerebrais,
que revestem os dois hemisférios (direito e esquerdo). O
funcionamento cerebral é integrado, ou seja, uma região depende das
outras para realizar suas funções.
18 Neurociências
Para a neurociência essas funções extremamente elaboradas
como a linguagem e a aprendizagem são processamentos cognitivos
resultantes de processos cognitivos primários como: sensação,
percepção, atenção e memória(s).
Tudo tem início com a transformação dos estímulos
sensoriais nos nossos receptores por impulsos elétricos num processo
conhecido como transdução. É dessa forma que fazemos contato com
o mundo que nos cerca uma vez que a rede interna do nosso cérebro
só consegue entender sinais elétricos6.
Dessa forma, o que conhecemos do mundo é uma re-leitura
do que foi transmitido ao nosso cérebro pelos estímulos sensoriais. Os
receptores periféricos transmitem impulsos ao cérebro de acordo com
o que conseguem perceber do mundo externo 7,8. Esses impulsos
devem ser integrados e re-construídos num processo que se denomina
percepção. Essas percepções somente podem ser compreendidas e
reconhecidas depois de um processo de aprendizagem contínuo que
classifica, organiza, compara e integra os estímulos sensoriais em um
único objeto.
Após os processos de sensação e de percepção a informação
em processamento chega ao nosso sistema límbico responsável pela
atribuição emocional ao estímulo. É assim que a informação recebe
um colorido emocional9.
Porém, como o nosso cérebro é inundado a todo momento
por inúmeros estímulos advindos de diversos canais sensoriais (além
de diversos estímulos advindos do mesmo canal sensorial) torna-se
necessário assim uma seleção dos estímulos externos e uma
hierarquização desses estímulos através de um processo cognitivo
denominado atenção. A atenção faz com que alguns estímulos sejam
preferencialmente processados enquanto outros são reduzidos ou não
são processados.
Esta é uma das características mais importantes da atenção:
para que possamos ter atenção a um estímulo específico devemos ter
“desatenção” aos outros estímulos. É através dessa seleção de estímulos
o nosso cérebro pode realizar processamentos cada vez mais
sofisticados com os estímulos selecionados.
A atenção tem algumas características que devem ser
investigadas por profissionais de saúde e educação que trabalhem
com qualquer processamento cognitivo. O sujeito deve poder
focalizar a atenção - o princípio da atenção propriamente dito;
sustentá-la por um determinado período de tempo enquanto se
realizam os processos cognitivos necessários; alterná-la entre dois
20 Neurociências
explicitados. A linguagem é um sistema cognitivo que permite ao
homem classificar as coisas desse mundo, dar-lhes uma ordem e torná-
los manejáveis9. Já a aprendizagem organiza, integra, dá forma e nome
aos estímulos perceptivos vindos do mundo externo ao mesmo tempo
que permite integrações e elaborações mentais das informações
advindas do mundo externo, permitindo elaborações cada vez mais
subjetivas e simbólicas. O processo de aprendizagem envolve áreas
motoras, sensitivas, auditivas, ópticas, olfativas, vestibulares, térmicas...
Tanto os estímulos a que somos submetidos como aqueles
que conseguimos organizar e elaborar mentalmente são dependentes
de aspectos culturais e sociais. Dessa forma, somente o resultado da
aprendizagem pode ser observado através das mudanças de
comportamento ou de elaborações mentais de um indivíduo.
Chegamos por fim às funções executivas que se
caracterizam por ser uma série de funções complexas dependentes
também dos processamentos anteriores. Tem sua origem no córtex
frontal (área pré-frontal) e são funções extremamente necessárias para
um comportamento eficaz e apropriado. Envolvem a capacidade de
iniciar uma determinada tarefa; o planejamento de ações ou mesmo
de discursos relacionando-os com o contexto; o levantamento de
hipóteses; a flexibilidade de pensamento; tomada de decisões; auto-
regulações; julgamento de si mesmo (auto-crítica e análise contextual)
e a utilização de feedback.
Cabe ao profissional de saúde e educação que atua com
a aprendizagem conhecer, avaliar e intervir no funcionamento
cognitivo da criança, adolescente ou adulto de forma a favorecer um
funcionamento que permita a aquisição de novos conceitos e
significados de forma flexível e organizada permitindo ao sujeito
adquirir assim autonomia no seu processo de elaboração mental e
aprendizagem.
Bibliografia
22 Neurociências
Capítulo 2
Atenção e Memória
Neuroanatomotofisiologia da Atenção
Para que o sistema nervoso estabeleça a função atenção, é
necessário o trabalho/envolvimento de grandes áreas corticais e
subcorticais. Através de exames funcionais é possível perceber que o
desenvolvimento da atenção determina o aumento de impulsos
elétricos de neurônios localizados em várias áreas do encéfalo.
Quando um animal presta atenção em um estímulo, os
neurônios do córtex frontal e do colículo superior (ponto de passagem
24 Neurociências
Filtro
Pré
filtragem Pós filtragem
Entrada de informação
Estímulos selecionados
A. Filtro Simples
B. Filtro Atenuador
C. Filtro Amplificador
Figura 1. Modelo representativo de filtros seletivos de informações.
(A) com filtro simples, que impede a passagem de informações não
selecionadas e deixa apenas os estímulos selecionados alcançarem
níveis superiores de processamento. (B) com filtro atenuador, que
restringe, mas não impede a passagem de informações não
selecionadas. Dessa forma permite que as informações selecionadas
chegem com maior intensidade relativa nos sistemas de processamento
e (C) com filtro amplificador, em que as informações selecionadas
têm sua atividade amplificada pelo filtro1,2,3,4,5.
Neuroanatomofisiologia da Memória
Na contextualização da memória a participação de
estruturas encefálicas subcorticais é marcante, em especial as
relacionadas com o Sistema Límbico. Sabe-se que este mesmo sistema
participa intimimamente com os processos emocionais, em conjunto
com o Hipotálamo e a área Pré-Frontal. Falar de memória nos obriga
a falar das atividades relacionadas à emoção, pois as bases dos impulsos
da motivação, principalmente a motivação para o processo de
aprendizagem, bem como as sensações de prazer ou punição, são
Córtex pré-frontal
Corpo Caloso
Tálamo
Hipotálamo
Lobo Temporal
Amígdala
Hipocampo Cerebelo
(vermis)
26 Neurociências
Figura 3. Esquema de localização dos sistemas de memória de longa
duração (adaptado de Squire & Knowlton6)
28 Neurociências
A maior parte das alterações atencionais são resultantes de
quadros lesionais e disfuncionais orgânicos e podem sofrer alterações
de intensidade, sendo consideradas: alterações simples, brandas,
oscilatórias e flutuantes. As alterações relacionadas aos aspectos
quantitativos de atenção são classificadas como distração,
hiperprosexia, hipoprosexia e aprosexia8,15,25.
Distração ou distraibilidade é a dificuldade para concentrar
a atenção sobre um estímulo contextualmente mais significativo. Pode
ocorrer por excesso de concentrção como em pessoas ansiosas, ou
pessoas com interesse por estímulos exclusivos (pensamentos,
sensações e percepções). Em situações de hipervigilância, como por
exemplo em situações focos emocionais: filme de terror, terror
noturno, condições paranóides, quadros fóbicos e uso de cocaína e
estimulantes, há a flutuação da atenção com qualquer estímulo do
ambiente. Nesses casos há um aumento da atenção voluntária e uma
queda da atenção espontânea.
A hiperprosexia relaciona-se ao aumento quantitativo da
atenção e, conseqüentemente, à diminuição dos aspectos qualitativos
da mesma. Nesse caso, o indivíduo interessa-se pelas mais variadas
solicitações sensoriais sem se fixar em um objeto específico, ou seja,
sem produzir processamentos mais complexos aos estímulos que
recebem a atenção. Tal quadro envolve estados patológicos que
envolvem excitação psicomotora, tais como episódios maníacos,
transtorno hipercinético da infância, intoxicações por cocaína ou
estimulantes.
Por sua vez, a hipoprosexia envolve o enfraquecimento
acentuado da atenção tanto automática quanto voluntária. Relaciona-
se a quadros como transtornos depressivos, embriaguez alcóolica
aguda e embriaguez patológica, autismo, demências, paralisias,
esquizofrenia, transtorno cognitivo leve, epilepsia, paralisia geral e
deficiências mentais.
Por último, a aprosexia representa ausência total de atenção
por mais intensos que sejam os estímulos. É observada em quadros
de acentuada deficiência mental, distúrbios metabólicos e tóxicos,
traumas cranioencefálicos (TCEs) subcorticais, inibição cortical e
estados demenciais graves.
Em função de memórias previamente armazenadas, o
córtex cerebral sabe quais estímulos devem ser selecionados em
detrimento de outros. Atenção e memória formam, assim, uma via de
mão dupla em que um é dependente do outro para a seleção dos
estímulos e para o seu armazenamento.
30 Neurociências
espacial, gustativa, olfativa, tátil, proprioceptiva, aritmética ou
musical 15,16.
Fisiologicamente, de acordo com o tempo de
armazenamento, a memória pode ser dividida em operacional, que
funciona através de estímulos bioquímicos, e a longo prazo, cuja
consolidação se dá através de reorganização neuronal e de
“brotamento” neuronal17.
A memória operacional é um conjunto de habilidades
cognitivas que permite que informações novas e antigas sejam
mantidas ativas (on-line) a fim de serem manipuladas com o objetivo
de realizar determinada tarefa18. O material armazenado na memória
operacional deve ser utilizado imediatamente para não ser
transformado ou descartado. É uma das principais memórias
relacionadas à produção e compreensão da linguagem, aprendizagem,
funções executivas e raciocínio. Envolve principalmente o
funcionamento do córtex pré-frontal22,24.
Por serem estruturadas de forma mais estável (através de
brotamento neuronal ou reorganização dendrítica, como já explicado),
as memórias a longo prazo podem receber várias classificações. A mais
utilizada relaciona-se ao tipo de informação armazenada. De acordo
com essa proposta de classificação, tais memórias podem ser divididas
em explícitas (semântica, autobiográfica, episódica), que podem ser
reproduzidas por meio de linguagem, e implícitas, que não podem ser
expressas de forma lingüística12,16,19,20.
As memórias implícitas são utilizadas em habilidades
motoras, perceptivas, aprendizado de regras e procedimentos. Estão
relacionadas ao sistema sensorial e/ou motor envolvido no processo de
aprendizado de regras (exemplo: regras gramaticais, conjugação verbal
em língua estrangeira). São memórias não declarantes mais relacionadas
a habilidades e estratégias motoras, sofrendo pouco prejuízo em quadros
de demência. Porém, em quadros degenarativos como a doença de
Huntington, o seu comprometimento é bastante evidente.
A memória explícita envolve o processo de registrar e
evocar de forma consciente informações relacionadas a pessoas, eventos
e conhecimentos factuais. Depende das regiões mesiais dos lobos
parietais. Os processos patológicos envolvidos no prejuízo dessa
memória são a síndrome de Wernicke-Korsakoff e lesões no lobo
temporal que envolvam o hipocampo. Nesses casos, há perda de
capacidade de fixar e lembrar eventos ocorridos há mais de alguns
minutos, incluindo eventos marcantes e traumáticos11. A memória
explícita divide-se em semântica, autobiográfica e episódica.
32 Neurociências
síndorme de Korsakov, Alzheimer21, alcoolismo, epilepsia e retardo
mental de grau moderado.
Outra alteração qualitativa é denominada memória
enxertada, que se caracteriza pelo acréscimo de informações falsas a
um núcleo verdadeiro de informações. Outras alterações possíveis são
os delírios e alucinações mnêmicas, além das fabulações (nas quais
elementos da imaginação do paciente ou lembranças isoladas
completam lacunas da memória, comuns em encefalites, intoxicações
e alcoolismo crônico).
Os quadros patológicos mais freqüentemente relacionados
a alterações de memória são a criptomnésia (falseamentos de memória
nos quais as lembranças aparecem como novas recordações); lembranças
obsessivas; agnosias (falsos reconhecimentos); quadros demenciais
(exemplo: mal de Alzheimer); traumatismos crânio-encefálicos; acidentes
vasculares cerebrais; epilepsias; hipóxia e encefalites.
Nogueira (2005) 14 apresenta um esquema bastante
simplificado sobre as alterações de memória (Quadro 1).
34 Neurociências
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Introdução
Embriologia
38 Neurociências
retinóicos – que modulam a expressão de genes particulares. Uma
outra classe de indutores é conhecida como fatores tróficos, dentre
eles, podemos citar o fator de crescimento fibroblástico (fibroblast
growth factor – FGF) e a família dos fatores de crescimento
transformantes (transforming growth factor – TGF)1.
Quando da formação do tubo neural, as duas semanas
subseqüentes, ou seja, quinta e sexta semana de idade gestacional
serão marcadas pela indução das vesículas encefálicas, as quais se
diferenciarão, morfologicamente, em todas as estruturas encefálicas
(Figura 1). Temos, assim, as três vesículas encefálicas primárias
compostas pelo prosencéfalo (encéfalo anterior), mesencéfalo
(encéfalo médio) e o rombencéfalo (encéfalo posterior). Como
conseqüência do desenvolvimento embrionário, o prosencéfalo
originará duas vesículas secundárias: o telencéfalo ou cérebro
propriamente dito, e o diencéfalo; o mesenséfalo não se modifica e o
rombencéfalo originará duas outras vesículas secundárias: o
metencéfalo, o qual se tornará cerebelo e ponte, e o mielencéfalo, o
qual se tornará bulbo43.
Durante todo este processo, a luz do tubo neural se
encontra repleta de líquido cerebrospinal e constituirá o sistema
ventricular, composto pelos ventrículos laterais direito e esquerdo,
terceiro e quarto ventrículos e os forames interventriculares que
conectam os ventrículos laterais ao terceiro ventrículo e o aqueduto
mesencefálico que une o terceiro ao quarto ventrículo1.
40 Neurociências
Mielinização
Sinaptogênese
42 Neurociências
Nutrição e desenvolvimento do sistema nervoso
Desenvolvimento e crescimento
44 Neurociências
Para que o desenvolvimento e crescimento ocorram
adequadamente, sofrerão, ao longo do tempo, influências chamadas
de: hereditariedade, ambiente, maturação e aprendizagem.
Hereditariedade
Ambiente
46 Neurociências
difere de um adolescente para outro, mas a seqüência básica é
essencialmente a mesma em todos os indivíduos. Tais seqüências, que
começam na concepção e continuam até a morte, são compartilhadas
por todos os membros da nossa espécie. As instruções para essas
seqüências são parte da informação hereditária específica que é
transmitida no momento da concepção.
A maioria dos comportamentos do ser humano é
aprendida, ou seja, são produtos da aprendizagem, excentuando-se
os reflexos que são automatismos inatos. Por isso, é de suma
importância que tomemos a aprendizagem como objeto de nosso
estudo.
A evolução da aprendizagem
48 Neurociências
difusa proveniente da substância reticular do tronco cerebral que
permite a ativação cortical.
A capacidade cognitiva será a exteriorização destes
mecanismos e os distúrbios destas faculdades se traduzirão por
distúrbios de aprendizagem, confusão mental, demência, delírios e
alucinações.
Vale a pena salientar que graças à capacidade plástica da
inteligência, ela se torna um “sistema flexível à mudança durante
toda a vida” através da qual podemos e devemos atuar para sua
otimização.
50 Neurociências
4ª fase: Coordenação dos esquemas secundários e sua
aplicação às novas situações (8 a 12 meses).
Nesta fase surgem as adaptações sensório-motoras
intencionais (coordenação intencional dos esquemas habituais),
simultaneamente com diferenciações entre meios e fins.
Ao entrar em contato com objetos novos, o bebê vai
explorá-los, procurando compreender a natureza dos mesmos.
5ª fase: A reação circular terciária e a descoberta de novos
meios por experimentação ativa (de 12 a 18 meses).
Nesta fase a criança age por “ensaio e erro” (tentativas).
A criança é capaz de resolver os novos problemas que
aparecem e descobrir meios para atingir os objetivos.
6ª fase: A invenção dos novos meios para combinação
mental (18 a 24 meses).
Fase caracterizada pelo momento de transição entre a
inteligência prática (sensório-motora) e a inteligência representativa,
quando começa a função simbólica.
52 Neurociências
controlar o movimento de seus olhos através dos músculos extra-
oculares. Caso a criança apresente distúrbios sensório motores oculares
tais como, baixa amplitude fusional e/ou insuficiência de convergência
ocular, poderá apresentar, como conseqüência, cefaléia, sono, dor
ocular, embaralhamento de letras durante a leitura, ou outros
sintomas, reconhecidos na escola como indicadores que levam ao
fracasso escolar.
Esta alteração poderá provocar dificuldades nas suas
habilidades perceptivo-visuais (constância de percepção, relação
espacial, coordenação visomotora, figura-fundo), gerando, assim,
inúmeros problemas de aprendizagem escolar.
A integração de todas as informações é o objetivo padrão
implícito no comportamento da mente. A atividade mental aglutina dados
adquiridos em diferentes momentos no tempo e em diferentes tipos de
situações, ordenando-as em uma relação global de interdependências.
Este processo, que deriva de generalizações, pode-se dar em nível de uma
simples resposta motora desencadeada no nível motor, a partir de um
elemento perceptivo no nível de percepção ou, mais tardiamente, de um
fato isolado no nível conceitual. Uma alteração orgânica pode alterar o
domínio destas aquisições, provocando dificuldades nas habilidades
perceptivo-visuais (constância de percepção, relação espacial, coordenação
visomotora, figura-fundo) da criança.
Neuroplasticidade
Mecanismos de recuperação
O aumento da eficácia sináptica com ativação ou
desinibição de vias existentes e pouco ativas no momento.
O crescimento dendrítico dos neurônios sobreviventes com
formação de novas sinapses.
O aumento da atividade de vias paralelas às lesionadas
também por reforço da atividade sináptica e a desinibição de vias e
circuitos redundantes.
No ser humano, tem-se obtido evidências de ao menos
quatro possíveis formas de plasciticidade funcional:
54 Neurociências
1. A adaptação de áreas homólogas (contralaterais, por mecanismos
de desinibição).
2. Plasticidade de modalidades cruzadas (reativação de funções em
uma área não primariamente destinada a processar uma modalidade
particular).
3. A expansão de mapas somatotóprios (reorganização funcional)
4. Ativação compensatória (desinibição – reorganização funcional).
Envelhecimento Cerebral
Alterações Anatômicas
Estudos comparativos mostram uma redução de volume
mais pronunciada na substância cinzenta (especialmente pré-frontal)
e nos córtices sensitivos e entorrinal2.
Com o avançar da idade, particularmente após a sexta
década, acelera-se o processo de atrofia cerebral, com dilatação de
sulcos e ventrículos, perda de neurônios, presença de placas neuríticas
(PN) e emaranhados neurofibrilares (ENF), depósitos de proteína beta-
amilóide e degeneração granulovacuolar, os quais aparecem
56 Neurociências
omissão de passos essenciais durante a descrição de procedimentos; e
na conversação, dificuldade de compreensão, falta de clareza do
enunciado, “parafasias narrativas” e problemas com inferências e
pressuposições.
Bibliografia
58 Neurociências
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Funções gnósicas
62 Neurociências
foram usadas figuras como as ilustradas abaixo. Observou-se que letras
ou formas são mais rapidamente nomeadas ou identificadas quando
há uma congruência entre a configuração e o estimulo especifico
(modelo a) do que em condições de incongruência (modelo b).
a) b)
XXXXXX
X X
X X
X X
X X
XXXXXX
64 Neurociências
2) Nível das percepções – diz respeito aos distúrbios da discriminação
do objeto: agnosia aperceptiva. A disfunção, portanto, está na etapa
discriminativa do processamento da informação;
3) Nível associativo – se relaciona aos distúrbios no reconhecimento
do objeto: agnosia associativa;
4) Nível das denominações – as alterações decorrem de disfunções na
integração objeto-nome, resultando em anomia. Trata-se de
dificuldades de nomeação, e envolvem disfunções associadas em
áreas da linguagem.
Em suma, a agnosia não é uma alteração específica das
sensações ou da capacidade de perceber objetos externos, mas sim
uma alteração intermediária entre as sensações e a percepção. Em
alguns casos, observa-se a perda da intensidade e da extensão das
sensações, continuando inalteradas as sensações básicas, em outros
há perda da capacidade de reconhecimento dos objetos.5
Uma descrição dos tipos de agnosia considerando o sistema
percepto-gnósico envolvido é apresentada a seguir.
Agnosia visual
Dentre as agnosias, as mais estudadas são as visuais. A
agnosia visual é a incapacidade de ter acesso ao conhecimento dos
componentes visuais dos estímulos, incluindo objetos, formas, cores,
ou movimentos6. Os tipos de agnosia visual se diferenciam de acordo
com a área cerebral que foi lesionada, que implica em um prejuízo
específico do processamento da informação visual.
Na agnosia para objetos, o processamento das formas e
padrões é afetado. O paciente não é capaz de reconhecer os objetos se
estes lhe são apresentados visualmente, ainda que tenha preservado o
seu conhecimento sobre ele, acessado através de outros canais
sensoriais7. Ou seja, não consegue reconhecer visualmente mas é capaz
de fazê-lo por outros sentidos como o tato. A agnosia visual aperceptiva
refere-se à incapacidade de realizar a síntese visual dos elementos visuais
percebidos. O paciente descreve partes ou detalhes dos objetos mas
não consegue integra-los em um todo coerente. Uma vez que a agnosia
aperceptiva envolve dano na etapa discriminativa do processamento
visual, o paciente também não é capaz de desenhar ou parear objetos
semelhantes apresentados concretamente ou em figuras. Na agnosia
visual associativa, por outro lado, há uma incapacidade de denominação
visual do objeto, estando íntegra a percepção visual propriamente dita.
O paciente não reconhece os objetos visualmente, mas é capaz de
desenhá-los. Isso ocorre porque o que está comprometido é a associação
do objeto percebido com seu conceito correspondente.
66 Neurociências
Agnosia auditiva
Agnosia auditiva é o déficit na recepção cortical das
mensagens sensoriais auditivas. O paciente ouve sons e ruídos, mas
não tem a habilidade em identificá-los.5
Assim como ocorre em relação à agnosia visual, a natureza
do distúrbio será determinada pelo nível de processamento da
informação afetado. Há assim a agnosia auditiva aperceptiva,
caracterizada por um déficit na discriminação dos estímulos sonoros,
e a agnosia auditiva associativa, que afeta a associação som-objeto. No
primeiro caso, o paciente é incapaz de discriminar sons ambientais da
fala humana. Na agnosia associativa, consegue discriminar os sons
mas não identifica se trata-se de uma campainha ou da sirene de uma
ambulância.
A surdez verbal é um tipo de agnosia específica para os
fonemas da língua, decorrente de lesões cortico-subcorticais
bitemporais ou temporais a esquerda. Trata-se de uma incapacidade
para compreender a linguagem falada. A surdez verbal se distingue
da afasia de Wernicke (embora seja frequentemente associada a este
quadro) porque não há desordens da leitura e escrita.
Há ainda a agnosia musical, ou amusia receptiva, que
se caracteriza por uma alteração na capacidade de reconhecer melodias,
assim como de identificar propriedades musicais como timbre, altura
tonal ou ritmo. Lesões nos dois hemisférios podem levar a disfunções
gnósicas associadas à percepção musical. A discriminação da melodia
em comparação a outros estímulos ambientais parece ser associada ao
hemisfério direito. A incapacidade de identificar melodias é freqüente
em casos de lesões no hemisfério esquerdo.
Agnosia tátil
A agnosia tátil, ou astereognosia, é a incapacidade de
reconhecer objetos pelo tato, estando as vias somatossensoriais intactas.
É decorrente de lesões na região parietal posterior, uma região
envolvida na análise espacial e precisão da apreensão manual. A pessoa
perde a capacidade de discriminar as diferenças de intensidade e
alcance das sensações táteis.5
A agnosia digital é um tipo específico de distúrbio que
envolve prejuízos da função perceptiva. O paciente é incapaz de
identificar e designar os dedos da mão tocados pelo examinador. A
agnosia digital é associada a alterações na compreensão direita e
esquerda, a agrafia e a discalculia na chamada síndrome de Gerstmann.
Envolve lesões em região parietal posterior do hemisfério dominante6.
68 Neurociências
• Apontar o objeto correspondente desenhado em uma folha entre
várias alternativas após a apresentação oral do examinador
(transposição auditivo-visual).
• Identificar estímulos auditivos semelhantes, sejam fonemas ou sons
ambientais.
(c) Astereognosia
• Identificação de objetos pelo tato, sem apoio visual (mão direita e
esquerda)
É importante mencionar que as mensagens que chegam
ao hemisfério direito (por vias contralaterais ou ipsilaterais) precisam
ser transferidas para o hemisfério esquerdo para que sejam verbalizadas.
Portanto, em casos de lesões afetando a comunicação entre os
hemisférios, como ocorre nas secções de corpo caloso em casos de
epilepsias de difícil controle, o distúrbio gnósico pode ter uma
apresentação unilateral.
Praxias
70 Neurociências
importantes para movimentos isolados e direcionados a um objetivo.
O nível mais complexo da hierarquia do sistema motor está no córtex
cerebral, nas divisões do córtex motor primário, córtex pré-motor e
área motora suplementar. Além destas regiões, participam do sistema
motor o cerebelo e os gânglios da base, formatando e refinando o
movimento, e influenciando-o através de conexões com áreas motoras
do córtex.
Os centros motores superiores respondem por duas
características essenciais ao movimento voluntário: o planejamento
de acordo com objetivos específicos e a formatação do movimento de
acordo com fatores ambientais. Existem duas áreas motoras principais
no córtex frontal: a área motora primária e a área pré-motora. Ambas
têm mapas somatotópicos do corpo e exercem efeito direto sobre os
neurônios motores. A área motora primária tem informações sobre a
posição e a velocidade do movimento. Assim, o córtex motor primário
parece desempenhar um papel primário no controle dos músculos
importantes nas fases iniciais da orientação do corpo e do braço em
direção a um alvo e ainda participar do controle dos movimentos por
indícios visuais e somatossensoriais. A área pré-motora primária, que
se divide em área motora suplementar e córtex pré-motor, com papel
primordial no planejamento dos movimentos direcionados a um
objetivo. A área motora suplementar é importante na programação
de seqüências motoras complexas. A figura abaixo ilustra subdivisões
deste sistema.
Córtex pré-motor
Córtex pré-central
Córtex
somatossensorial
72 Neurociências
movimentos involuntários e aumento do tônus muscular. Há
dificuldade em iniciar movimentos, que se tornam rígidos, lentificados
e apresentam temor de repouso característico. A produção de
dopamina, neurotransmissor crítico para o controle do processamento
das informações por meio dos núcleos da base, também está alterada.
No processo de programação motora ocorre ainda a
participação do giro cingulado anterior, interligado à amígdala e outras
estruturas límbicas, que parece desempenhar um papel importante
na iniciação e na motivação dos comportamentos dirigidos a um alvo9.
74 Neurociências
do objeto sugere uma apraxia dos membros, sendo de extrema
importância saber se o paciente reconhece o erro ou não).10
Apraxias caracterizadas por um distúrbio não-verbal de
simbolização, como prejuízos na gesticulação, incapacidade de
demonstrar ou compreender uma atividade em pantomima (expressão
através de gestos) normalmente estão associadas a lesões que envolvem
áreas de compreensão da linguagem e áreas de sobreposição para zonas
sinestésica e visual do hemisfério esquerdo. Prejuízos na seqüência de
movimentos das mãos estão fortemente associados a lesões no lobo
parietal esquerdo. A agrafia pura pode estar associada a lesões no córtex
posterior esquerdo.8
Outros tipos de apraxia incluem a apraxia oral (apraxia do
discurso), que diz respeito à incapacidade de imitar simples gestos
orais devido a problemas na organização dos músculos do aparato
discursivo a fim de formar sons ou grupos de sons em palavras.
Envolve um prejuízo em iniciar, posicionar, coordenar e sequenciar
componentes motores do discurso, podendo ser confundida com
disartria.
A apraxia de vestir-se, por fim, diz respeito à dificuldade
em relacionar e em organizar partes de seu corpo com peças de roupas.
Este tipo de apraxia está relacionado a lesões no lobo parietal direito. 8
Funções visuo-construtivas
76 Neurociências
Disfunções das funções visuo-construtivas
78 Neurociências
Bibliografia
PENSAMENTO
Definições
O estudo do pensamento tem uma longa história na
Filosofia e na Psicologia. Na Filosofia, seu objetivo principal é
determinar as leis ideais do pensamento correto, com base nos
fundamentos da lógica 1 . Na Psicologia Cognitiva, busca-se
essencialmente o entendimento da natureza do pensamento, bem
como das condições e leis experimentais de seu exercício 2 .
Investigações sobre as habilidades de pensamento em diferentes
idades consolidaram teorias do desenvolvimento cognitivo 3,4. O
82 Neurociências
O interesse científico acerca da natureza dos conceitos
resultou em diferentes visões na Psicologia a este respeito 7. Na
Psicologia Cognitiva, a visão clássica, que perdurou até os anos 60,
propunha que os conceitos constituem representações sumárias de
eventos ou objetos de uma mesma classe ou categoria. Nesta
perspectiva, os conceitos resultariam de um processo de abstração,
em que aspectos essenciais e comuns a estes eventos ou objetos são
separados do que lhes é apenas acidental. Os atributos essenciais seriam
singularmente necessários e conjuntamente suficientes para definir um
conceito, estando presentes em todos os subconjuntos de sua classe
ou categoria. Por exemplo, o conceito de “ave” abrange atributos como
voar, cantar, ter penas, por ovos. Por outro lado, a visão prototípica,
que surgiu nos anos 70, sustentava que certos exemplares de uma
categoria detém um maior número de atributos definidores e, portanto,
são mais representativos que outros membros. Por exemplo, “sabiá”
seria um exemplo mais típico da categoria ”aves“ do que “pingüim”.
Outra visão, a visão dos exemplares, postula que a inclusão ou não de
um conceito em uma dada categoria ocorre pela comparação a certos
exemplares, que funcionam como padrões de referência da categoria
em questão. A partir da década de 80, uma nova abordagem foi
estabelecida, a visão teórica, segundo a qual o significado de um
conceito é inferido a partir de sua rede de relações com outros conceitos.
Por teoria entende-se aqui o conhecimento construído pelo indivíduo
a partir de suas experiências cotidianas com exemplares da categoria
da qual deriva o significado.
O pensamento associativo simbólico envolve, portanto,
processos de categorização que permitem ao indivíduo reconhecer
conceitos pela identificação de seus atributos ou exemplares
prototípicos e sua inclusão a uma dada categoria. Além do
pensamento, a integração de conceitos tem sido relacionada a
modelos de memória de longa duração. Por exemplo, a teoria de
ativação difusa do processamento semântico de Collins e Loftus8 parte
do pressuposto de que os conceitos são representados na memória
semântica como “nós”, conectados entre si por propriedades
específicas e relações de categoria, formando assim redes semânticas.
Quando uma representação conceitual é acessada, pela nomeação
ou recordação, seria desencadeada uma ativação automática e difusa
dos outros conceitos a ela conectados. Este mecanismo facilitaria a
recordação de estímulos verbais semanticamente relacionados, como
palavras ou figuras, estando ainda envolvido em estratégias de
memória 9.
84 Neurociências
advir de um insight10. O insight é definido como uma compreensão
nítida e súbita da forma como solucionar um problema, em geral
resultante do esforço mental prévio dedicado no processo. Tratar-se
de uma conceituação do problema ou das estratégias de solução em
uma perspectiva totalmente nova. O insight é explicado na Psicologia
Guestaltista quando partes de um problema passam a ser percebidas
como um todo coerente.
Pensamento e raciocínio
Na Psicologia Cognitiva, o pensamento também abrange
o julgamento e a tomada de decisões, além do raciocínio2. Julgar e
tomar decisões envolve avaliar oportunidades e fazer escolhas. O
raciocínio, por sua vez, diz respeito ao processo de extrair conclusões
a partir de princípios ou evidências.
O raciocínio pode ser dedutivo, quando se parte de uma
verdade universal para se chegar a uma verdade singular. Em outras
palavras, por meio do raciocínio dedutivo, um indivíduo obtém
conclusões a partir de proposições condicionais. Trata-se do caso do
raciocínio silogístico. Silogismos constituem argumentos nos quais
conclusões são obtidas a partir de duas premissas, uma maior e outra
menor. Por exemplo, todo ser vivo é mortal, o homem é um ser vivo, logo
o homem é mortal. Outro tipo de raciocínio dedutivo é o condicional,
no qual a conclusão é baseada na proposição se... então. A formulação
de hipóteses de pesquisa se fundamenta em geral neste tipo de
pensamento. O raciocínio indutivo, por outro lado, é o que parte de
verdades singulares para chegar a uma verdade universal. Por exemplo,
o calor dilata o ferro, o cobre, o bronze, o aço. Logo, o calor dilata todos
os metais. Ou seja, adotando um raciocínio indutivo, o indivíduo baseia-
se na observação sistemática dos fatos e eventos de forma a fazer
inferências causais sobre possíveis explicações para esses fatos.
INTELIGÊNCIA
86 Neurociências
tal como definidas por Gardner mais como talentos especiais, e não
como qualidades intelectuais específicas. Desenvolveu o conceito de
inteligência bem sucedida, que compreende três tipos básicos: (1)
inteligência analítica, abrangendo os processos mentais empregados
na aprendizagem de como solucionar problemas, tais como selecionar
e aplicar uma estratégia de resolução; (2) inteligência criativa, que diz
respeito ao uso de conhecimentos e habilidades de forma a lidar com
situações novas e (3) inteligência prática, associada à capacidade de
adaptar-se ao meio.
Na evolução da Psicologia aplicada, o uso dos testes de
inteligência se consolidou no âmbito do psicodiagnóstico e no
diagnóstico nosológico de diversos transtornos do
neurodesenvolvimento descritos em manuais como o DSM-IV 17.
Alguns dos instrumentos mais freqüentemente utilizados como
medidas cognitivas são descritos a seguir.
As escalas Wechsler
A primeira escala desenvolvida por Wechsler foi publicada
em 1939, a Wechsler -Bellevue Intelligence Scale Form I.
Posteriormente, novas versões foram sistematicamente sendo
propostas. Em 1967, foi publicada a versão inicial da Wechsler Preschool
and Primary Scale of Intelligence – WPPIS –, destinada a crianças
entre 3 anos e meio e 7 anos de idade. Atualmente, são amplamente
utilizadas a Wechsler Adult Intelligence Scale – WAIS - para adultos, e
a Wechsler Intelligence Scale for Children – WISC para crianças, ambas
em sua terceira edição. São comercializadas no Brasil pela Casa do
Psicólogo. Para um maior entendimento das alterações nas versões
originais decorrentes das adaptações para a população brasileira ver
Nascimento e Figueiredo13. Revisões atuais estão sendo elaboradas
pela editora americana das escalas Wechsler, a Psychological
Corporation, o WISC-IV e o WPPSI-III.
A escala WISC-III engloba um conjunto de 13 subtestes,
agrupados em uma escala verbal (Informação, Semelhanças,
Aritmética, Vocabulário, Compreensão e Dígitos) e em uma escala de
execução ou não-verbal (Completar Figuras, Arranjo de Figuras,
Código, Cubos, Armar Objetos, Procurar Símbolos e Labirintos). A
escala WAIS-III é composta por 14 subtestes, também agrupados em
uma escala verbal (Vocabulário, Semelhanças, Aritmética, Dígitos,
Informação, Compreensão e Seqüência de Números e Letras) e outra
de execução (Completar Figuras, Códigos, Cubos, Raciocínio Matricial,
Arranjo de Figuras, Procurar Símbolos e Armar Objetos).
88 Neurociências
específicos dos desenhos. Há normas para as idades de 5 a 12 anos.
Uma das utilidades deste instrumento é que envolve uma tarefa de
interesse da maioria das crianças, e teria assim o potencial de minimizar
efeitos de diferenças sócio-econômicas e culturais sobre o desempenho.
Uma questão importante a considerar em testes de
inteligência é sua propriedade psicométrica, baseada em parâmetros
como validade e precisão11. O Conselho Federal de Psicologia tem
estabelecido as regras para o uso destes instrumentos, enfatizando
ainda a necessidade da obtenção de normas para a população brasileira.
Cabe ainda considerar que o desempenho em testes de inteligência
pode ser influenciado por variáveis como o nível sócio-econômico, a
idade, o sexo e o grau de escolaridade dos indivíduos22.
É importante ressaltar, por fim, que a avaliação das
potencialidades intelectuais e psicológicas individuais não deve se
resumir a dados quantitativos. Procedimentos qualitativos, que dêem
conta da subjetividade e que permitam analisar os processos envolvidos
na execução das tarefas e não apenas o resultado final, fornecem
informações muito valiosas para a compreensão fenomenológica dos
transtornos do neurodesenvolvimento e para a proposição de
estratégias de intervenção23.
Funções executivas
O termo função executiva refere-se a uma habilidade geral de
planejamento e uso de estratégias de resolução de problemas visando à
execução de metas. Esta definição, assim como sua associação com o córtex
frontal, tem sido proposta desde os trabalhos pioneiros de Luria14 na área
da neuropsicologia. Posteriormente, estudos clínicos e experimentais,
auxiliados pelo advento das técnicas de neuroimagem, vêm ampliando o
conhecimento sobre essas funções e suas bases neurobiológicas.
Diversas habilidades são descritas como funções executivas.
Dentre elas, podem ser citadas:
• Organização e planejamento da ação;
• Comportamento orientado a metas;
• Manutenção da disposição para agir;
• Verificação e regulação da ação – auto-regulação;
• Inibição seletiva do comportamento – controle inibitório
• Capacidade de mudar o plano de ação diante de mudanças na tarefa
– flexibilidade mental;
• Memória Operacional;
• Atenção seletiva e vigilância;
90 Neurociências
• Resolução de problemas;
• Controle emocional;
• Metacognição.
Córtex pré-motor
Córtex pré-central
Córtex pré-frontal
Área 44
92 Neurociências
O papel do Córtex Pré-Frontal (CPF) no controle do
pensamento e na organização do comportamento em concordância
com metas internamente definidas vem sendo sistematicamente
confirmado por evidências neuropsicológicas, neurofisiológicas e de
neuroimagem32. O CPF é subdividido em três regiões distintas embora
sem delimitação precisa, associadas a funções específicas33.
1) Córtex dorso-lateral (porções laterais das áreas 9-12, 44-45 e parte
superior da área 47, de Broadmann), relacionado aos processos
associados do funcionamento executivo;
2) Córtex órbito-frontal (porções mediais das áreas 9-12 e parte inferior
da área 47), relacionado ao comportamento socialmente orientado;
3) Córtex mesial, que envolve o cingulado anterior (áreas 24, 25 e 32,
e porções internas das áreas 6, 8, 9 e 10), uma parte do sistema
límbico, com funções associadas à reorientação da atenção e à
detecção de erros provocados por esquemas comportamentais
automáticos.
94 Neurociências
As alterações causadas por danos no cortex pré-frontal
têm sido ainda descritas como síndrome disexecutiva30. Trata-se de
uma constelação de alterações cognitivas e de comportamento, que
compreende dificuldades para concentrar-se em uma tarefa e finalizá-
la sem um controle ambiental externo; presença de comportamento
rígido, perseverativo e às vezes com condutas estereotipadas;
dificuldades de estabelecimento de novos repertórios de condutas em
conjunto com a perda da capacidade para utilizar estratégias
operacionais; limitações na produção e criatividade com pouca
flexibilidade cognitiva.
As demências associadas ao envelhecimento, como das
doenças de Alzheimer e Parkinson, também são tipicamente associadas
a alterações das funções executivas41,42. Com freqüência, as primeiras
manifestações dessas alterações incluem dificuldades para lidar com
as finanças da casa e com o controle bancário, comportamentos rígidos
e oscilações de humor, que expressam prejuízos da capacidade de
planejamento, do controle inibitório e da flexibilidade mental. As
disfunções do funcionamento executivo e da memória nestas doenças
são associadas à progressiva degeneração neural em regiões frontais e
circuitos fronto-subcorticais.
96 Neurociências
planejamento e controle inibitório50,51. O autismo também tem sido
associado a comprometimento desta natureza 52 . Muitas das
características dessa síndrome, como inflexibilidade, perseveração, foco
no detalhe em detrimento do todo e dificuldades no relacionamento
interpessoal, seriam explicadas por déficits executivos.
a)
b)
98 Neurociências
- Teste de Trilhas (Trail Making Test)
Neste tipo de tarefa, uma folha de papel na qual são
dispostos números e letras de forma não organizada (ver ilustração
abaixo) é fornecida ao sujeito, que deve ligar os números em ordem
crescente (forma A) ou os números em ordem crescente e as letras em
ordem alfabética alternadamente (forma B). A prova é considerada
como uma medida de velocidade motora e atenção seletiva.
- Fluência verbal
Na prova de fluência verbal, o sujeito é solicitado a gerar o
maior número de exemplares de uma dada categoria, como animais
ou frutas (fluência verbal semântica), ou que iniciem com uma certa
letra, como F (fluência verbal fonológica), em um período de tempo
geralmente de 60 segundos. As letras mais usadas são F, A e S. A prova
100 Neurociências
• Atenção seletiva auditiva
Nesta tarefa o sujeito é solicitado a prestar atenção a uma
seqüência de estímulos e responder quando ouvir um estímulo alvo
(palavras, números ascendentes ou descendentes).
• Treino Metacognitivo
O foco aqui é a auto-regulação e auto-monitoração do
comportamento. Algumas das tarefas são:
a) registrar rotineiramente o próprio comportamento:
regularidade e repetição.
Por exemplo, o sujeito é orientado a se perguntar “eu estou
prestando atenção nisso?” e em seguida a registrar sua impressão numa
folha de papel.
b) esquema de auto-questionamento. Por exemplo, ao ler
um parágrafo em um texto, a pessoa é estimulada a se perguntar “qual
foi a idéia principal desse parágrafo”.
No que se refere a reabilitação de funções executivas na
infância56, tem sido ressaltado que (a) embora lesões cerebrais possam
acarretar diretamente dificuldades de auto-regulação, aspectos
ambientais podem contribuir para reduzir ou ampliar seu impacto;
(b) as intervenções devem ser sensíveis ao contexto; (c) rotinas de
instruções e uma adequada interação com a criança são o contexto
ideal para prover a facilitação de funções executivas e (d) especialistas
em reabilitação tem um papel primordial na ajuda cotidiana para
organizar e apoiar as interações sociais da criança com estas disfunções.
É fundamental que pais e professores trabalhem de forma cooperativa
com os profissionais de reabilitação, de forma a prover
progressivamente para as crianças uma maior autonomia em termos
de habilidades auto-reguladoras necessárias para a vida adulta.
Bibliografia
102 Neurociências
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104 Neurociências
Capítulo 6
Linguagem e Cognição
Telma Pantano
106 Neurociências
As unidades mais simples da linguagem falada são os
fonemas que são sons distintos os quais associados com outros sons
formam sílabas e palavras. Temos a percepção como o processo essencial
para o desenvolvimento e a construção do inventário fonético da criança,
uma vez que permite a organização das representações internas a
respeito da língua materna para produzir os sons de determinada língua
– processo ativo. Os processos perceptivos também estão diretamente
relacionados com a produção e a compreensão da linguagem5,6,7,8.
A união desses traços perceptivos dão origem assim aos
fonemas no caso da expressão oral e aos grafemas no caso da escrita
(aqui também os processos perceptivos são fundamentais para o
reconhecimento e diferenciação dos traços gráficos). São os fonemas
e os grafemas que permitem a elaboração de significantes para
representar determinados significados.
Essa associação de um significante (forma oral ou escrita) a
um significado (conteúdo) é conhecida como semântica. O léxico torna-
se assim um armazenamento individual que envolve a relação direta
entre os sons dos fonemas, sílabas e palavras, a gramática que acompanha
determinada palavra e o conteúdo final de significados que os envolve.
O léxico mental deve ser organizado de forma eficiente
para que o sujeito possa fazer uso de forma significativa e
contextualizada do seu conteúdo. O acesso ao léxico mental se dá
através de traços auditivos (semelhança fonológica), traços visuais ou
mesmo de traços semânticos (relacionados às condições conceituais
para a sua utilização). O léxico mental está diretamente relacionado às
memórias semanticas e episódicas já que a atribuição do significado
das palavras comumente é realizada através da análise do contexto
das situações. Freqüentemente observamos no léxico mental o “efeito
de vizinhança” que constitui no fato de que as palavras utilizadas com
maior freqüência possuem acesso mais rápido e, portanto, tendem a
ser mais facilmente recordadas e utilizadas com maior freqüência.
É dessa forma que são originadas as palavras que em
neurociências 9 são divididas em palavras de vocabulário (as que
representam conceitos, objetos, ações, qualidades e lugares incluindo
assim os substantivos, adjetivos e advérbios) e palavras de gramática
(que estão relacionadas às noções de tempo, lógica e as relações entre as
palavras de conteúdo). Essa divisão torna-se bastante interessante a partir
do momento em que nos ajuda a compreender as dificuldades que
encontramos nos nossos alunos e pacientes com às palavras de
gramática. O aprendizado e a utilização dessas palavras é bastante difícil
de ser ensinado e corretamente utilizado.
108 Neurociências
amplo que envolve o funcionamento neurológico como um todo. Não
é possível, numa abordagem cognitiva, pensar em estudos que
envolvam linguagem em que não sejam considerados aspectos como
memória e atenção, assim como os fatores que levam o indivíduo a
adquirir os conceitos, uma vez que essa aquisição envolve relações
estreitas com os canais sensoriais e as percepções.
Áreas associativas nas regiões temporal, frontal e parietal
esquerdas estão envolvidas na mediação de conceitos e na produção e
compreensão de linguagem; o córtex insular esquerdo é considerado
movimento
visual
memória funcional
espacial
controle da visão
escrita
reconhecimento compreensão
de objetos audição das palavras
Giro angular
Área de
Broca
Córtex
visual
Córtex primário
auditivo Área de
primário Wernicke
Córtex Motor
Área de Broca
Área Visual
Área de Primária
Giro
Wernicke Angular
110 Neurociências
Bibliografia
Definição
Sintomas
114 Neurociências
- Dificuldade em manter a atenção
- Distrai-se facilmente
- Dificuldade em seguir ordens ou comandos auditivos complexos
- Dificuldade de localização
- Dificuldade em aprender rimas e músicas infantis
- Problemas de leitura e escrita e de aprendizagem associados.
Anatomia
Avaliação
116 Neurociências
Processamento temporal
Processamento temporal refere-se ao modo como o
SNAC analisa aspectos temporais do sinal acústico, é o mecanismo
auditivo mais elaborado, pois inclui muitas habilidades auditivas e
muitos níveis do SNAC e seus mecanismos ainda não são totalmente
conhecidos 3.
A habilidade de reconhecer o contorno do sinal acústico
contribui muito para tarefas como extração e utilização de aspectos
de prosódia, como ritmo, tonicidade e entonação. Essas habilidades
permitem ao ouvinte reconhecer palavras-chave em uma frase,
reconhecer a sílaba tônica de uma palavra, permitindo, por
conseguinte, a diferenciação de palavras que se opõem, apenas, pela
mudança da tonicidade, ou de frases que têm seu significado mudado
pela variação da prosódia. A entonação fornece indícios sobre a intenção
da mensagem, assim como o estado emocional do falante. O ritmo da
fala também pode afetar o significado da expressão4.
O processamento temporal inclui quatro categorias:
ordenação temporal, resolução ou discriminação temporal, integração
temporal e mascaramento temporal.
Ordenação temporal refere-se ao processamento de
múltiplos estímulos em uma seqüência temporal, habilidade
importante na percepção da fala. É avaliada por meio de testes de
padrão de freqüência ou duração em que é solicitado ao indivíduo
que nomeie a ordem da seqüência de três tons. A ordenação temporal
de padrões auditivos requer o processamento de ambos os hemisférios
cerebrais: o hemisfério esquerdo, para a ordenação das respostas, e o
hemisfério direito, para o reconhecimento do padrão gestáltico,
considerando este dominante para o reconhecimento desse padrão.
Se a gestalt dos padrões é reconhecida pelo hemisfério direito e a
seqüenciação dos padrões é finalizada no hemisfério esquerdo, a
integração inter-hemisférica e a transferência de informação pelo corpo
caloso estão envolvidas. A resposta verbal para padrões de freqüência
requer, ainda, uma rota neural da seqüência decodificada da região
subcortical da área temporoparietal posterior, via tratos intra-
hemisféricos para as regiões frontais do cérebro próximas, ou na fissura
central, onde a resposta motora seria organizada e iniciada4.
Discriminação ou resolução temporal refere-se ao menor
tempo que uma pessoa precisa para discriminar entre dois estímulos
auditivos.
Os testes disponíveis para avaliar essas habilidades são
importados e foram padronizados para a população brasileira:
118 Neurociências
e verbais, os estímulos verbais incluem sílabas, dígitos, palavras até
sentenças completas. A resposta pode ser global, com o ouvinte
repetindo tudo o que ouviu (integração binaural/atenção dividida) ou
limitada, com o ouvinte repetindo somente parte da informação
(separação binaural/ atenção dirigida).
As tarefas de fala dicóticas são sensíveis a disfunções
corticais e do corpo caloso, assim como às disfunções de tronco
encefálico, apesar de que em um grau menor.
Os testes de escuta dicótica de fala disponíveis, no Brasil,
são :13
Interação binaural
Diagnóstico
120 Neurociências
para construir um perfil que pode ser utilizado para auxiliar a equipe
multidisciplinar na determinação estratégias de intervenção do déficit.
Apesar de, estes modelos serem métodos úteis na interpretação dos
resultados da bateria e no programa de intervenção, é importante
enfatizar que seu uso não é universalmente aceito2.
Intervenção
Considerações Finais
122 Neurociências
Bibliografia
Introdução
126 Neurociências
armazenar as informações que chegam do mundo exterior e uma
unidade para programar, regular e verificar a atividade mental. Os
processos mentais e a atividade consciente ocorrem com a
participação das três unidades, cada uma desempenhando seu papel
nos processos mentais e contribuindo para o desempenho desses
processos. Neste contexto, o autor descreveu as três unidades
funcionais, quais sejam:
1. A primeira unidade funcional ou de vigília, composta
por: estruturas do Tronco Cerebral que participam do controle do
ciclo sono-vigília; Sistema Reticular Ascendente, representadas
fundamentalmente pelos núcleos colinérgicos, noradrenérgicos,
dopaminérgicos e serotoninérgicos; Ponte e Medula. O córtex cerebral
também participa, especialmente o córtex pré-frontal (manutenção
da atenção para formação da memória). A alteração anatômica ou
funcional deste sistema produz diversas alterações clínicas, desde
distração até síndrome comatosa.
2. A segunda unidade funcional ou de recepção é a área da
análise e do armazenamento de informação, representada pelo córtex
temporal, parietal e occipital, existindo as áreas primárias, secundárias
e terciárias.
- As áreas primárias são aquelas onde terminam as fibras sensitivas
que provêm do tálamo. No lobo Temporal estão as áreas auditivas
primárias 41 e 42, no primeiro giro temporal superior; no lobo Parietal
está a área somestésica que ocupa o giro pós-central e; no lobo
Occipital, na face interna, a área visual 17. As áreas primárias só
registram os elementos da experiência sem caráter simbólico.
- As áreas secundárias se situam junto às primárias. A área 22 é a área
auditiva secundária; as áreas 18 e 19 constituem a área visual e as
áreas 5 e 7 do lobo parietal, a área somestésica. A principal função
destas áreas é processar a informação que chega às áreas primárias e
dar-lhes conteúdo simbólico.
- As áreas terciárias não têm localização tão precisa. São áreas de
associação entre as áreas secundárias, integrando experiência
multisensorial. Assim, integram-se funções complexas, como a
linguagem, esquema corporal, espaço-tempo e cálculo, entre outras.
O desenvolvimento destas áreas determina o estabelecimento do
hemisfério esquerdo em relação à linguagem.
3. A terceira unidade de programação, regulação e
verificação da atividade é representada pelos lobos frontais, que
tornam possível a intencionalidade, a planificação e a organização da
conduta em relação à percepção e ao conhecimento do mundo.
128 Neurociências
inclusive pela leitura por analogia e leitura por meio de
correspondências de letra-som. A sensibilidade para rima acrescenta
uma vantagem para ler por analogia e a sensibilidade de fonemas soma
uma vantagem para ler pela correspondência de letra–som. Os autores
também reconhecem que a maioria da influência na leitura é
compartilhada por estas duas habilidades de sensibilidade fonológicas.
A correlação entre a consciência fonológica e o desempenho
em atividades de leitura e escrita foi abordada em diversos estudos,
sendo motivo de controvérsias.
Três diferentes posições são apontadas pelos pesquisadores.
Em uma primeira posição, estão aqueles que acreditam que a
consciência fonológica (enquanto habilidade para detectar rima e
aliteração) ocorre a partir do progresso na aquisição da leitura e escrita,
devido ao uso de analogias, da habilidade de perceber que duas
palavras rimam, tornando a criança sensível às semelhanças ortográficas
no final destas palavras e, assim, possibilitar o estabelecimento de
conexões entre padrões ortográficos e sons no final das palavras.
Para estes autores, a consciência fonológica é considerada
a chave para o desenvolvimento da alfabetização. Este papel central
da consciência fonológica sobre a aprendizagem da leitura e da escrita
é atestado, segundo os autores, por numerosos trabalhos de pesquisa,
com seus resultados demonstrando que o desempenho de crianças
pré-escolares em determinadas tarefas de consciência fonológica
relaciona-se com o sucesso na aquisição da leitura e da escrita7-18.
Na segunda posição, encontram-se aqueles que defendem
que a instrução formal do sistema alfabético é o fator ou causa
primordial para o desenvolvimento da consciência fonológica. A
capacidade de fazer analogias no final das palavras pressupõe
capacidade de decodificação letra-som, sendo que a capacidade de
detectar fonemas em uma palavra é influenciada pelo conhecimento
ortográfico 6,19,20.
Já em uma terceira posição, destacam-se os autores que
vêem uma relação de reciprocidade entre consciência fonológica e a
aquisição da leitura e escrita. Estes autores explicam que os estágios
iniciais da consciência fonológica contribuem para o estabelecimento
dos estágios iniciais do processo de leitura e estes, por sua vez,
contribuem para o desenvolvimento de habilidades fonológicas mais
complexas. Desta forma, enquanto a consciência de alguns segmentos
sonoros (supra-fonêmicos) parece se desenvolver naturalmente, a
consciência fonêmica parece exigir experiência específica em atividades
que possibilitam a identificação da correspondência entre os elementos
130 Neurociências
É composta pelo centro executivo, o loop fonológico e o registro
visuoespacial14,38,39,40.
Esses autores afirmam que, em termos de processamento
de informação, o centro executivo apresenta capacidade limitada de
recursos, sendo o déficit neste aspecto caracterizado pela dificuldade
em executar dois testes simultâneos ou realizar a decodificação da leitura
e não realizar a compreensão da mesma. O loop fonológico é
especializado na manutenção da codificação verbal do material, retido
por uns segundos e associado à memória de curta duração. É subdividido
em duas partes, o estoque fonológico (relaciona a informação da fala
com a articulação) e o processamento de controle articulatório (recupera
informação pelo ensaio subvocal). E por fim, o registro espacial se refere
à capacidade de manipular e armazenar informações visuoespaciais.
Em contraste, a memória de curta duração é utilizada quando
quantidades pequenas de materiais são armazenadas.
Desse modo, Thomson, Richardson e Goswami 41
afirmaram que a memória fonológica de curta duração representa um
papel importante no desenvolvimento do léxico, de novas palavras. A
memória fonológica de curta duração ou loop articulatório retém a
informação verbal em bases temporárias, sendo que essa retenção é
aumentada pela representação de palavras na memória fonológica de
longa duração, a qual auxilia na reintegração ou reconstrução,
facilitando a recuperação da palavra. Devido a este processo de
reintegração, não-palavras ou palavras não-familiares são bem mais
difíceis de serem recuperadas que palavras familiares, ou seja, palavras
similares e de alta freqüência são mais facilmente recuperadas que as
palavras de baixa freqüência.
132 Neurociências
Há evidências de uma base fisiológica para a dislexia,
fazendo com que o cérebro do leitor disléxico tenha um desempenho
diferente do indivíduo sem a dislexia. Exames de ressonância magnética
funcional vêm sendo usados para comparar o fluxo de sangue em
cérebros de pessoas com e sem a dislexia durante provas de leituras.
Os resultados indicaram que nos indivíduos com a dislexia ocorreu
uma atividade menor em algumas partes do cérebro em comparação
aos indivíduos normais50.
Áreas cerebrais responsáveis pelo processamento
fonológico, como o córtex perisilviano esquerdo, córtex temporal
inferior e mediano, apresentaram-se como hipofuncionais em alguns
estudos. Outras áreas, como a inervação magnocelular visual e a
auditiva, também foram encontradas como sendo responsáveis por
disfunções da atenção visuoespacial. Alguns achados indicaram que
houve alteração da medida do corpo caloso, do istmo, dos girus
temporal e frontal, e do cerebelo51.
Os estudos para a descoberta da base neurobiológica da
dislexia iniciaram-se em 1978 por Galaburda, com a observação de um
cérebro de um disléxico após sua morte. Foi observado que o cérebro
investigado apresentava anormal migração de neurônios, referente ao
período de desenvolvimento do cérebro quando os neurônios jovens
vão à busca de sua localização final52.
Galaburda52 ainda afirmou que os neurônios nascem de
células de tronco neural em zonas de proliferação longe das áreas
cerebrais, onde elas deverão migrar. Este controle de migração é dado
pela função genética. Desse modo, o cérebro do disléxico contém
grupos de células e glias (células de suporte) localizadas fora de lugar,
ou seja, em áreas cerebrais que não deveriam ter essas células. Esse
fenômeno é conhecido como heterotopias e ocorre durante o
desenvolvimento do cérebro no período gestacional, entre 16 e 24
semanas. Neste caso, a migração neuronal anormal afeta
predominantemente o córtex do hemisfério esquerdo, em volta da
fissura perisilviana, incluindo regiões do córtex temporo-occipital .
Arduini, Capellini e Ciasca 53 analisaram exames de
neuroimagem de crianças com diagnóstico de dislexia e
correlacionaram com as funções corticais superiores. Os resultados
indicaram que a maioria das crianças apresentou exames alterados,
como hipoperfusão no lobo temporal, sendo que as funções corticais
superiores prejudicadas foram leitura, escrita e memória.
Brambati54 realizaram avaliações neurofisiológicas e de
neuroimagem durante a leitura de palavras e de pseudopalavras em
134 Neurociências
e esquerdo e o cerebelo foram comparados em bons leitores e
disléxicos. Para os leitores disléxicos, as conexões funcionais entre o
giro frontal inferior esquerdo com as regiões direitas do frontal,
occipital e cerebelar estavam interrompidas, sendo relacionadas à falha
de decodificação de palavras55.
McCrory et al 56 afirmaram ainda que os disléxicos
apresentam padrões diferentes de ativação em três áreas do hemisfério
esquerdo, sendo o giro frontal inferior, região temporoparietal,
incluindo o giro supramarginal e giro posterior temporal (Área de
Wernecke) e o lobo temporal inferior ou região occipitotemporal,
relacionada ao processamento visual das palavras.
Nos sujeitos com dislexia, a codificação neural de cada
representação fonológica não pode ser ativada de forma efetiva,
acarretando dificuldades em discriminar sons foneticamente próximos
de pares de fonemas. Essas anormalidades de representação fonológica
podem ser detectadas em exames de neuroimagem56,57.
Entretanto, essas características, referentes à alteração de
percepção de sinais acústicos, decodificação de palavras, organização
das seqüências de sons e letras para leitura e escrita de palavras, podem
estar presentes em crianças devido aos motivos relacionados à
metodologia de alfabetização que não enfoca o ensino das habilidades
necessárias para a aquisição do princípio alfabético (relação letra-som
em fase inicial de alfabetização), conforme estudos realizados por
Conrado58, Lanza59, Capellini; Lanza; Conrado4.
Desta forma, ainda há uma lacuna na fonoaudiologia que
se refere à falta do estabelecimento do perfil do mau leitor e do leitor
disléxico. O conhecimento de ambos perfis evitaria a confusão
diagnóstica e suas conseqüências, que geralmente afetam a qualidade
de vida das crianças no contexto familiar, social e educacional.
Bibliografia
136 Neurociências
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Filho, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Orientador:
Simone Aparecida Capellini.
59. Lanza, S.C. Caracterização do desempenho em consciência fonológica, acesso ao léxico,
leitura e escrita em escolares com e sem dificuldade de aprendizagem. 2004. 100 f.
Iniciação Científica. (Graduando em Fonoaudiologia) - Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo. Orientador: Simone Aparecida Capellini.
142 Neurociências
com leituras freqüentes, podem ter um perfil de domínio ortográfico
baixo, resultando em uma escrita com muitos erros.
Tais fatos nos levam a pensar nas condições que permitem
uma boa aprendizagem da escrita, quais as habilidades e capacidades
envolvidas e, fundamentalmente, como se dá o processamento
ortográfico o qual ativará procedimentos que influenciarão na decisão
de como escrever cada palavra, podendo gerar o acerto ou o erro.
O objetivo deste capítulo é o de analisar a aprendizagem
da escrita do ponto de vista do domínio da ortografia, assim como de
compreender o seu processamento em termos de atividade mental e
de habilidades envolvidas. Estes dados podem ser de grande valia nos
processos de avaliação, diagnóstico e intervenção nos distúrbios de
aprendizagem.
144 Neurociências
fonológicas tornam-se mais claras permitindo a escrita de palavras
com sílabas já completas (com precisão na correspondência fonema-
grafema em certas sílabas) enquanto que outras sílabas permanecem
representadas de modo incompleto. Esta forma de escrever caracteriza-
se, principalmente, pela omissão de algumas letras.
A continuidade do processo evolutivo, que irá gerar a
escrita alfabética, torna-se cada vez mais dependente das condições
de ensino ou da capacidade de auto-ensinamento que a criança possa
apresentar 8. A permanência prolongada nesta fase, marcada por muitas
omissões de letras ou por trocas revelando confusões entre fonemas,
pode ser indicativa de falhas pedagógicas e/ou de dificuldades quanto
ao processamento fonológico e a correspondente associação fonema-
grafema 13.
146 Neurociências
1. Uso da memória: recuperação de representações ortográficas já
armazenadas
Como resultado de um processo de alfabetização, além de
poder escrever, as pessoas tornam-se leitoras. A leitura é um dos mais
importantes recursos para a ampliação do vocabulário ou léxico uma
vez que permite o contato com um universo cada vez mais amplo e
diversificado de palavras. Estima-se que um milhão e oitocentas mil
palavras serão lidas por uma pessoa, em um ano, caso ela dedique
vinte minutos por dia para leituras 12. Desta forma, não somente o
campo semântico será enriquecido. Também será possível a construção
progressiva de um léxico visual ou ortográfico na medida em que as
palavras, ou partes de palavras maiores que as sílabas, mais
freqüentemente encontradas nos textos, poderão ser representadas
em memórias de longo prazo e recuperadas em diversas situações.
Este repertório de palavras ou de partes mais extensas de palavras
(morfemas), formado pela via visual (leitura), constituirá uma nova
fonte de representação de elementos lingüísticos, denominada léxico
ortográfico15, o qual manterá relações estreitas com o léxico oral, já
existente anteriormente.
No caso da escrita de palavras irregulares, porém já
conhecidas ou familiares, como é o caso de “experiência”, como elas
já são familiares ou conhecidas, dúvidas a respeito de como escrevê-
las (se com “s, x, c, ss”), poderá não existir, uma vez que sua forma
total poderá ser recuperada da memória de longo prazo, ou seja, do
léxico ortográfico. Neste caso, ocorrerá a recuperação de um item
lexical representado na memória.
De acordo com Shaywitz 12, a região occipito-temporal
corresponde ao núcleo para o qual as informações oriundas de
diferentes sistemas sensoriais convergem e onde todas as informações
relevantes sobre uma palavra são reunidas e armazenadas. Configura-
se como uma via expressa para a leitura, sendo ativada por leitores
mais experientes. Reage rapidamente à palavra inteira, como sendo
um padrão único. É definida como a área ou sistema de forma da
palavra. Uma palavra lida várias vezes pode provocar a formação de
sua representação (forma da palavra) a qual reflete a ortografia, a
pronuncia e o significado, sendo então arquivada no sistema occipito-
temporal. Quando tal palavra é reencontrada, o sistema de
reconhecimento é ativado. Bons leitores, quando testados, mostram
uma forte ativação desta região em neuroimagens.
Deve-se considerar, entretanto, que as memórias assim
formadas não obrigatoriamente correspondem à palavra como ela é
148 Neurociências
2. Uso da correspondência fonema-grafema
Além de palavras já conhecidas, a todo o momento, quem
escreve, pode deparar-se com palavras que não lhe são familiares, fato
que é muito comum quanto mais iniciante é o aprendiz. Quando tais
palavras, embora desconhecidas em sua forma gráfica, apresentam
correspondências regulares entre fonemas e grafemas, o recurso de
associação fonema-grafema pode ser bastante eficiente para gerar a
escrita correta. Uma palavra desconhecida e até mesmo estranha como
“cleistorcadia” torna-se de baixo risco de erro com o emprego desta
estratégia básica das escritas alfabéticas, mesmo em fases mais
avançadas de domínio da ortografia.
150 Neurociências
crianças a dominarem, com mais facilidade e clareza, as regras e
regularidades que podem levar a uma escrita eficiente.
Booth, Burman, Meyer e Mesulam 16 realizaram um estudo
sobre o desenvolvimento dos mecanismos cerebrais envolvidos no
processamento de representações ortográficas e fonológicas. Tiveram
como objetivo examinar as diferenças de desenvolvimento entre
adultos e crianças (de 9 a 12 anos de idade), em relação ao substrato
neural ativado no processamento lexical. Para tanto, utilizaram tarefas
de julgamento de palavras que requeriam a manipulação explícita de
representações fonológicas (rima) e ortográficas (spelling).
Estes autores defendem um modelo neurocognitivo de
processamento lexical no qual os giros supramarginal e angular estão
encarregados de extrair regularidades estatísticas ou probabilísticas
entre a ortografia e a fonologia. O estudo mostrou um aumento,
durante o desenvolvimento, da ativação do giro angular, ou seja, ocorre
uma maior ativação desta área nos adultos do que nas crianças. Para
eles, tal fato sugere que o aprendizado da escrita pode ser marcado
pelo aumento do papel de um sistema voltado para abstrair
regularidades entre ortografia e fonologia, fazendo um mapeamento
entre estes dois aspectos. Mais especificamente, embora os resultados
mostrem que existe uma ativação mais marcante no giro angular na
realização de tarefas multimodais do que em atividades unimodais, as
habilidades de leitura podem estar associadas a um sistema mais
elaborado de mapeamento e de aumento de interatividade entre as
representações ortográficas e fonológicas, durante o desenvolvimento.
152 Neurociências
do que pode ser esperado para o nível de escolaridade, e o tipo de
escola freqüentada pela criança, podem ser indicativas de que um
nível alfabético de escrita não foi ainda plenamente atingido. A
capacidade de analisar a estrutura sonora das palavras, identificando
cada um dos fonemas presentes, assim como de discriminá-los
adequadamente depende de habilidades relativas à consciência
fonêmica, por um lado, e por outro, ao conhecimento das
correspondências básicas entre fonemas e grafemas. Esta pode ser uma
dificuldade presente em crianças com dislexia do desenvolvimento,
por exemplo 13.
Quando consideramos principalmente os erros por
representações múltiplas, por apoio na oralidade e pelas confusões
entre “am” e “ão”, estamos nos referindo a aspectos da escrita
fortemente dependentes de processamentos de natureza ortográfica.
A correspondência fonema-grafema, do ponto de vista da
representação dos fonemas, pode estar adequada, porém com enganos
quanto à letra apropriada para grafar a palavra, de acordo com regras
ou normas impostas pela ortografia. O mesmo pode ser dito em relação
aos erros por apoio na oralidade e confusão entre “am x ão”, que
refletem uma escrita com tendência fonética.
Para que tais tipos de erros, muito mais dependentes de
aspectos ortográficos possam ser superados, a criança deverá
desenvolver habilidades metalingüísticas que permitam lidar com
noções diversas: um mesmo fonema pode ser representado por
diversas letras e uma mesma letra pode escrever mais do que um
fonema; quais são esses fonemas, quais são essas letras; a consideração
do contexto de ocorrência das letras, o que gera regras contextuais; o
conhecimento de características morfológicas das palavras, que permita
identificar diferentes palavras como partilhando estruturas comuns;
compreender que o modo de falar pode ser diferente do modo de
escrever; a noção de sílaba tônica, e assim por diante.
Ainda são poucos os estudos que buscam analisar o papel
deste tipo de conhecimento, ou seja, da consciência morfossintática
na dislexia e em outros distúrbios de aprendizagem. Os erros que
pertencem a esta categoria tanto podem ser indicativos de dificuldades
por parte do sujeito para adquirir conhecimentos desta natureza,
quanto podem ser fortemente influenciados por métodos de ensino
que dão pouca atenção à questão dos erros de escrita, ou que empregam
procedimentos pedagógicos pouco eficientes.
O agrupamento de erros, ainda considerando-se o tipo de
demanda cognitiva presente, pode gerar uma terceira categoria a qual
Bibliografia
154 Neurociências
16. Booth J, Burman D. Meyer J. Mesulam, M. Development of Brain Mechanisms
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Neurosci. 2004 September; 16(7): 1234–1249.
158 Neurociências
Em alguns momentos, estas atividades são as únicas possíveis, dado o
grau de comprometimento do paciente ou até mesmo, por não
existirem testes que avaliem determinado aspecto de uma função e
este aspecto pode ser fundamental para direcionar o diagnóstico e/ou
tratamento do paciente.
É importante que sejam utilizados meios verbais e não-verbais
durante a avaliação, a fim inclusive de verificar possíveis dominâncias.
A análise qualitativa permite explicar como e porque
ocorrem dificuldades e facilidades no desempenho global.
Além dos instrumentos quantitativos e das tarefas
qualitativas, para a avaliação global também é relevante a análise de
dados clínicos e do histórico do paciente obtidos na entrevista de
anamnese, no contato com outros profissionais que lidam com paciente
além da observação do comportamento apresentado durante todo o
processo. No caso de crianças e adolescentes, pode também ser
necessário o contato com escolas.
O processo de avaliação
A equipe multiprofissional
160 Neurociências
questionando sobre possíveis etiologias, e orientando o diagnóstico e
tratamento medicamentoso. O psicólogo, especialista em Neuropsicologia,
mensura as funções cognitivas e analisa aspectos psicoafetivos, inter-
relaciona os achados e fornece informações fundamentais para o
diagnóstico diferencial. O fonoaudiólogo analisa a linguagem, fala e
audição, além da influência destas em outras funções e das outras funções
nestas. O psicopedagogo avalia o processo ensino aprendizagem e verifica
as possibilidades de aprendizagem o que é indispensável para o
diagnóstico e tratamento. O fisioterapeuta, o terapeuta ocupacional e o
psicomotricista analisam aspectos práxicos (ligados aos movimentos),
ocupacionais, visuo-espaciais e gnósicos (relacionados ao reconhecimento).
O intercâmbio das informações e dos resultados obtidos
fornece o embasamento necessário para um diagnóstico preciso.
Atenção
Memória
162 Neurociências
Na avaliação de idosos, a memória é uma função essencial
a ser avaliada para o diagnóstico diferencial de diversas patologias e
portanto deve ser bem abrangente e detalhada. Na senescência, esta é
uma função freqüentemente afetada, portanto, não basta identificar
se há ou não e em que grau é o comprometimento nas diversas esferas,
mas é preciso correlacionar com história prévia e evolutiva, além de
analisar suas conseqüências nas demais funções cognitivas.
Em crianças, também se deve ter o cuidado de correlacionar
a etapa de desenvolvimento em que está uma vez que as funções
mnemônicas ainda estão em desenvolvimento até a adolescência.
Nos adultos podem ser decorrentes de estresse físico e/ou
emocional.
A análise de exames também é importante dado que
algumas alterações hormonais, ou até alguns quadros infecciosos
podem explicar quadros transitórios de perda de memória.
Há inúmeros testes que medem este sistema, mesmo
porque esta é uma das funções mais estudadas pelos neurocientistas.
Há inclusive baterias fixas de avaliação de memória como o Wechsler
Memory Scale-Revised 3 .
Também se pode encontrar baterias ecológicas de avaliação
de memória como o Teste Comportamental de Memória de
Rivermead 4. Os testes ecológicos são assim chamados pois são
formados pela realização de atividades similares ao que o paciente faz
no dia-a-dia.
Entre os instrumentos disponíveis pode-se citar como os
mais utilizados Weschler Memory Scale, Rey Auditory Verbal Test, Figura
Complexa de Rey, Wide Range Achievement of Memory Learning Test,
Dígitos (WAIS-III e WISC-III), testes de listas de palavras5 .
Praxias
Gnosias
164 Neurociências
Embora tenha sido dito que normalmente a avaliação é
realizada somente para a modalidade visual, ressalta-se que tais provas
deveriam abarcar as diversas modalidades gnósicas: auditivas, visuais,
táteis, sensitivas, olfativas.
Linguagem
Funções executivas
166 Neurociências
integração de diversos sistemas. Isto se deve a localização que ocupam
no cérebro, situadas na região do córtex pré-frontal que recebe
aferências diretas e indiretas de áreas corticais ipsilaterais, contralaterais
e tem aferências subcorticais do sistema límbico, reticular, hipotálamo;
sendo assim, se integra ao meio interno pelo sistema límbico, e externo
pelas áreas sensitivas de associação2 .
Estas funções são tão importantes que desde que estejam
intactas, a pessoa pode ter alguma perda cognitiva e continuar
independente e produtiva. Quando comprometidas, dependendo do
grau, podem levar o indivíduo a não ser mais capaz de se cuidar
sozinho, manter relacionamentos, planejar ações, entre outras.
Pacientes com disfunções executivas podem apresentar
desde quadro de apatia e desmotivação, a quadros de impulsividade,
excitação e comportamento bizarro.
Devido a todos estes fatores pode-se concluir que, a
avaliação das funções executivas é fundamental para a compreensão
do funcionamento cognitivo, é bastante complexa e, exige muito do
profissional que a esteja direcionando.
Um dos principais problemas na avaliação executiva é a
diferenciação com quadros psiquiátricos.
Em crianças ainda não estão totalmente desenvolvidas, pois
sua maturação ocorre principalmente dos sete aos vinte anos devido
ao processo de mielinização das fibras que conectam regiões corticais
e córtex frontal.
No idoso podem estar prejudicadas devido a déficits em
outras funções que conseqüentemente geram comprometimentos
executivos.
Embora existam testes formais para avaliá-las, é importante
que também sejam utilizadas provas práticas e em muitas situações,
que os achados sejam correlacionados com aspectos da personalidade
do indivíduo.
Entre os testes disponíveis os mais utilizados são o Teste
Wisconsin de Classificação de Cartas3 , Labirintos, Teste de Stroop,
Fluência Verbal, a Torre de Hanói, Torre de Londres2 , Subtestes da
Bateria Wechsler de Inteligência: Arranjo de Figuras, Compreensão,
Cubos, Dígitos, Aritmética5 , além de testes de Personalidade.
Considerações finais
Bibliografia
168 Neurociências
Capítulo 11
Neurociência na Educação I
Adriana Fóz
O que é Neurociência?
Cérebros célebres
172 Neurociências
A multiplicidade dos estímulos exteriores determinam qual
será a complexidade das ligações entre as células nervosas e como elas
se comunicarão.
O fluxo das informacoes que vêm dos sentidos e a
interação dinâmica é constante com o meio e são o que determinarão
como o cérebro irá se desenvolver, ou seja, o que e como vamos
aprender, quais talentos desenvolveremos.
Aí que entra o precioso papel da educação: a didática, a
informação e a formação. A educação propicia às crianças os estímulos
intelectuais de que o cérebro precisa para desenvolver suas
capacidades, seus talentos3.
Mas devemos ter em mente o respeito às leis naturais do
desenvolvimento. Por exemplo: uma criança de 3 anos não tem
condição de enfiar uma linha na agulha, do mesmo modo que esta
mesma criança não está pronta para ler e escrever. Não podemos
esquecer que o desenvolvimento é um processo global e particular,
onde o tempo é uma condição preciosa e inerente.
Este processo acontece de modo conjunto, como numa
receita de bolo.
Os ingredientes vão se juntando numa determinada fase,
procedimento e tempo. Senão, o bolo pode desandar...
As janelas individuais
174 Neurociências
Podemos facilmente observar em uma mesma turma
escolar crianças mais sensíveis à estética, outras à música, outras aos
esportes, etc.. Howard Gardner 14, com a teoria das Inteligências
Múltiplas, descreve muito bem o rol de possibilidades intelectuais de
cada indidivíduo.
Sendo assim é bastante importante que estas e outras
características sejam levadas em conta para o melhor aproveitamento
de um aprendiz.
Abaixo seguem algumas características que ajudam a
identificar o potencial individual nas seguintes áreas:
INTELECTUAL
- facilidade para lidar com abstrações, lembrar informações e perceber
relações de causa e efeito;
- vocabulário avançado para a idade ou série;
- grande bagagem de informações sobre um ou vários tópicos;
- habilidade de fazer observações perspicazes e sutis, de transferir
aprendizagens de uma situação para outra e de fazer generalizações.
CRIATIVIDADE
- senso de humor e pensamento imaginativo;
- atitude não conformista e disposição para correr riscos;
- habilidade de adaptar, melhorar ou modificar objetos ou idéias e de
produzir respostas incomuns, únicas ou inteligentes;
- tendência para ver humor em situações que não parecem
humorísticas para os outros;
- habilidade de gerar um grande número de idéias ou soluções para
problemas ou questões.
MOTIVAÇÃO
- persistência para atingir um objetivo;
- interesse constante por certos tópicos ou problemas e obstinação em
procurar informações sobre eles;
- comportamento que requer pouca orientação dos professores;
- habilidade de se concentrar em tópico por muito tempo;
- preferência por situações nas quais possa ter responsabilidade pessoal
sobre o produto de seus esforços.
LIDERANÇA
- tendência a ser respeitado pelos colegas e autoconfiança quando
interage com eles;
Natureza e Ambiente
176 Neurociências
A plasticidade neuronal é fato, é ciência. É o fenômeno
inerente ao cérebro, quando este está em constante reorganização para
se desenvolver e compensar possíveis desvios e deficiências.”Nos
últimos 5 anos neurocientístas têm descoberto que o cérebro se
modifica durante a vida”, de acordo com Gage 13.
Este fenômeno se configura no advento da neurocognição,
da neuropsicologia, da “neuropsicopedagogia”ou “neuropsico-
educação”.
Através do aprendizado podemos construir novas pontes,
atalhos e assim reconfigurar nosso cérebro.
Conforme informações de diversos neurocientistas como
Nelson Anunciato e cols49, “a plasticidade neural é a propriedade do
sistema nervoso que permite o desenvolvimento de alterações
estruturais em resposta à experiência, e como adaptação a condições
mutantes e a estímulos repetidos”.
Cada experiência vivenciada estimula o processo de
plasticidade neuronal em diferentes espécies, que vão desde
invertebrados aos humanos.
A plasticidade é melhor compreendida através do
conhecimento morfológico-estrutural do neurônio, da natureza das
suas conexões sinápticas e da organização das áreas associativas
cerebrais.
Sendo assim, a “aprendizagem pode levar à alterações
estruturais no cérebro”, segundo Kandel20 .
A cada nova experiência do indivíduo, portanto, redes de
neurônios são rearranjadas, outras tantas sinapses são reforçadas e
múltiplas possibilidades de respostas ao ambiente tornam-se possíveis.
Portanto, “o mapa cortical de um adulto está sujeito a
constantes modificações com base no uso ou na atividade de seus
caminhos sensoriais periféricos”, ainda de acordo com Kandel20.
Esta sim é uma notícia de primeira página, onde o trabalho
do educador ganha novas fronteiras e ao mesmo tempo, novos desafios.
O que antes era experimentado pelo educador, hoje ganha
respaldo da neurociência, podendo assim alargar ambos os campos
para um fim maior: a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos e
da humanidade.
178 Neurociências
Segundo Frith 10 , a leitura e escrita são habilidades
cognitivas que se desenvolvem através de um processo interativo que
ocorre em três fases distintas:
- Fase logográfica: tratadas com um todo (pré- silábica, pré-alfabética
– hemisfério direito.)
- Fase alfabética: requer consciência fonológica, correspondência,
grafema/ fonema (principalmente hemisfério esquerdo).
- Fase ortográfica: analítica, compreensão de leitura de palavras segue
rota lexical sem necessidade de segmentação das sílabas (hemisfério
esquerdo).
Já a linguagem, morada das habilidades citadas
anteriormente, não é uma função estanque, dependendo assim de
outros tipos de função tais como audição, visão, atenção, memória e a
função motora, necessária para produzir os sons, que se configuram
em palavras, são agrupadas em frases e assim por diante33. Assim nos
processos de Linguagem podemos considerar:
1.Fonética- constitui o processo que governa a produção e percepção
dos sons falados.
2. Fonologia- conjunto de regras especificamente da linguagem, através
das quais os sons são representados e manipulados, formando as
palavras.
3 Semântica- permite atribuir um significado às palavras ou nomes.
4. Sintaxe - permite utilizar as palavras, a partir de uma estrutura.
180 Neurociências
Algumas recomendações sobre o aprendizado da leitura
Considerações finais
Bibliografia
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184 Neurociências
Capítulo 12
Neurociência na Educação II
186 Neurociências
conceitos e informações e por vezes, devem ser corrigidos: “nas
Ciências, os estudantes muitas vezes possuem concepções incorretas
acerca das propriedades físicas, que não podem ser facilmente
observadas. Nas Ciências Humanas, suas idéias preconcebidas
frequentemente incluem estereótipos ou simplificações, como por
exemplo, entender História como uma luta entre mocinhos e
bandidos1.” O ensino deve portanto, proporcionar oportunidades para
que o aluno elabore ou conteste sua visão inicial sobre o assunto.
Bom, sabemos então que, para o desenvolvimento de
nossos alunos eles devem ter uma base sólida de conhecimento,
entender fatos e idéias relacionados a este conhecimento e organizar
este conhecimento, selecionando e lembrando de informações
relevantes, para aplicá-lo e recuperá-lo quando isto se fizer necessário.
As pesquisas recentes trazem consequências imediatas
para a prática dos professores, tais como: a compreensão e o trabalho
com o conteúdo preexistente, o ensino em profundidade, “fornecendo
exemplos em que o mesmo conceito está em ação e proporcionando
uma base sólida de conhecimento factual2” e o ensino de habilidades
metacognitivas integradas no currículo. Isso exigirá que: alguns
modelos sejam substituídos; o papel da avaliação seja expandido,
revelando o entendimento; a quantidade de tópicos trabalhados seja
reavaliada para que os principais conceitos de cada disciplina sejam
entendidos; os professores desenvolvam ferramentas pedagógicas
eficientes, desenvolvendo não só a competência na matéria a ser dada,
mas a competência no ensino e também que os professores possam
enfatizar o processo de metacognição, integrando a instrução
metacognitiva com a aprendizagem baseada na disciplina,
desenvolvendo estratégias metacognitivas e a aprendizagem dessas
estratégias em sala de aula.
Talvez as questões levantadas sobre qual a estratégia
“correta” a ser utilizada em sala de aula, desviem os professores de
sua meta que deveria ser: como meu aluno aprende. Não existe
nenhuma prática de ensino que possa ser considerada a melhor. Usar
só ferramentas eletrônicas não surtirá o efeito de sejado depois das
primeiras aulas, o professor deve servir-se de uma gama enorme de
estratégias de ensino e selecioná-las, por assunto, série e pelo resultado
que ele queira alcançar. Estas possibilidades farão com que cada
professor elabore um programa adequado ao seu aluno e não “um
caos de alternativas concorrentes3”.
O professor não precisa escolher uma coisa ou outra, pode
utilizar todas as estratégias de acordo com sua classe e seu objetivos,
188 Neurociências
Os neurocientistas estão convencidos que a base do
aprendizado é fortalecer as novas conexões, estabilizando-as, e criando
assim novas associações, para que isto aconteça temos que conhecer
não só como o cérebro aprende, mas também a influência do sono
sobre o aprendizado, a plasticidade cerebral, o trabalho dos neurônios-
espelho, a maturação do córtex, a poda neuronal, as células gliais e
suas funções, o uso do humor, as emoções, a imaginação, a memória,
a atenção, a repetição e tantos outros aspectos relacionados ao cérebro
e a aprendizagem.
Bibliografia