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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2021.0000993393

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1001177-72.2021.8.26.0704, da Comarca de São Paulo, em que é apelante JAQUELINE
DE OLIVEIRA SANTOS (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado BANCO BRADESCO
S/A.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 13ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento em
parte ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ANA DE


LOURDES COUTINHO SILVA DA FONSECA (Presidente) E HERALDO DE
OLIVEIRA.

São Paulo, 7 de dezembro de 2021 .

CAUDURO PADIN
RELATOR
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº: 33.295


Apelação Cível Nº: 1001177-72.2021.8.26.0704
COMARCA: São Paulo
Apelante: Jaqueline de Oliveira Santos
Apelado: Banco Bradesco S/A

Ação declar atória de inexi gibili dade de débi to c/c


indenização por danos m orais. Sentença de parci al
procedência. Ir res ignação excl usi va da aut ora.
Negativação i ndevida. Dano m oral conf igurado.
Maj oração da indenização e fixação em R$ 10.000,00
de acordo com as circuns tâncias do caso concr eto e
os cri tér ios da razoabil idade e da proporcionali dade.
Cor reção monetária do ar bit ram ent o. Jur os de mor a
do evento danoso. Verba honorár ia mantida. Recurs o
provido em parte.

Vistos.

Trata-se de apelação contra sentença que julgou


procedente em parte a ação “para declarar inexigível a dívida apontada
na inicial e condenar o réu ao pagamento de indenização por danos morais
no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), acrescida de juros moratórios
de 1% ao mês, correção monetária a partir desta data e ao pagamento das
custas, despesas processuais e honorários advocatícios que fixo em 15% do
total do valor da condenação, na forma do artigo 85, §2º do Código de
Processo Civil”, fl. 70.

Recorre a autora.

Pretende a reforma parcial da decisão “majorando o


quantum indenizatório, vez que a negativação indevida gera dano moral
sendo inquestionável, vez que influi na reputação que a pessoa goza
perante a sociedade, bem como o termo inicial dos juros deve ocorrer a
partir do evento danoso”, além de verba honorária no importe de 20%

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da condenação.

Em juízo de admissibilidade, verifica-se que o


recurso é tempestivo e foi regularmente processado, dispensado o
preparo (fl. 19), com resposta, fls. 84/91.

É o relatório.

Cuida-se de ação declaratória de inexigibilidade de


débito c/c indenização por danos morais.

A controvérsia envolve o apontamento restritivo


de fls. 17/18, no valor de R$ 1.249,87, realizado pelo Banco-réu em
desfavor da autora.

A sentença foi de parcial procedência para declarar


inexigível a dívida questionada e condenar o Banco-réu ao
pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$
5.000,00 (cinco mil reais), acrescida de juros de mora de 1% ao mês e
correção monetária a partir da prolação da sentença (fls. 68/70).

A irresignação é exclusiva da autora e merece


parcial acolhida.

O dano moral “é resultado de lesão aos direitos da


personalidade, isto é, à honra, à imagem, à integridade física, ao nome, à
liberdade de pensamento, entre outros” (Cf. REsp 669.914/DF, julgado
em 25/03/2014).

Havendo negativação indevida, o dano moral é in


re ipsa, nos termos da jurisprudência do e. STJ, dispensadas outras

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provas. Confira-se: “[...] 1. O Superior Tribunal de Justiça tem


entendimento pacífico de que o dano moral, oriundo de inscrição ou
manutenção indevida em cadastro de inadimplentes, prescinde de prova,
configurando-se in re ipsa, visto que é presumido e decorre da própria
ilicitude do fato. [...]” (AgInt no AREsp 1501927/GO, Rel. Ministro
RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 12/11/2019, DJe
09/12/2019).

Quanto a sua fixação: “Dano moral é o prejuízo que


afeta o ânimo psíquico, moral e intelectual da vítima [...] Aqui também é
importante o critério objetivo do homem médio, o bonus pater familias:
não se levará em conta o psiquismo do homem excessivamente sensível,
que se aborrece com fatos diuturnos da vida, nem o homem de pouca ou
nenhuma sensibilidade, capaz de resistir sempre às rudezas do destino.
Nesse campo, não há fórmulas seguras para auxiliar o juiz. Cabe ao
magistrado sentir em cada caso o pulsar da sociedade que o cerca” (Sílvio
de Salvo Venosa, Direito Civil: Responsabilidade Civil, Vol. IV, Ed.
Atlas, p. 33).

Tem decidido o e. STJ: “[...] no sentido de que


somente é admissível o exame do valor fixado a título de compensação
pelos danos morais em hipóteses excepcionais, quando for verificada a
exorbitância ou o caráter irrisório da importância arbitrada, em flagrante
ofensa aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Na espécie,
impõe-se a manutenção do valor arbitrado a título de compensação pelos
danos morais, a fim de atender aos princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade, sem ignorar o caráter preventivo e pedagógico inerente ao
instituto da responsabilidade civil. [...]” (AgInt no REsp 1531204/CE,
Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado

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em 17/09/2019, DJe 24/09/2019).

O montante do dano moral não pode ser


inexpressivo ou caracterizado como donativo, nem ser motivo de
enriquecimento abrupto e exagerado, como premiação em sorteio, e
deve possuir poder repressivo, inibidor e, por outro, formador de
cultura ética mais elevada.

Com isto, tendo em vista as circunstâncias do caso


concreto (o valor e o tempo do apontamento restritivo e a
resistência do Banco-réu, sem qualquer prova documental da
regularidade do débito questionado), a condição financeira das
partes, a gravidade objetiva do dano e a extensão do seu efeito
lesivo (art. 944, CC), aliados à necessidade de se fixar uma
indenização que não constitua enriquecimento sem causa da autora
(art. 884, CC), mas que corresponda ao desestímulo de novos atos
lesivos desta natureza, considerando-se, ainda, os critérios de
prudência e razoabilidade e o poder repressivo e formador, tem-se
que a verba indenizatória deve ser majorada e fixada em R$
10.000,00 (dez mil reais).

Nesta linha, a jurisprudência desta Câmara:

“RESPONSABILIDADE CIVIL Inscrição do nome da


demandante em cadastros restritivos de órgãos de proteção ao crédito
Fato incontroverso, ante a inexistência de interposição de recurso pelo
banco réu - Dever de indenizar caracterizado - Dano moral Valor
Majoração para R$ 10.000,00 Observância das características do caso
concreto e da finalidade de desestimular condutas como as dos autos, sem
favorecer o enriquecimento sem causa do lesado, bem ainda dos parâmetros
da jurisprudência. SUCUMBÊNCIA Honorários de advogado

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Arbitramento em 10% sobre o valor atualizado da condenação


Manutenção Elevação do valor da indenização pelos danos morais que
acarreta automaticamente a majoração da referida verba, uma vez que foi
arbitrada sobre o valor da condenação. RECURSO PROVIDO EM
PARTE.” (TJ/SP; Apelação Cível 1002658-30.2021.8.26.0006; Relator
(a): Heraldo de Oliveira; Órgão Julgador: 13ª Câmara de Direito
Privado; Data do Julgamento: 28/10/2021).

“Ação declaratória de inexigibilidade de débito c.c.


indenização por danos morais Ilícita negativação em cadastros de
inadimplentes por dívida não comprovada Sentença de procedência
Aplicação do CDC (súmula 297 do STJ) Falha na prestação dos serviços
bancários Responsabilidade objetiva da instituição financeira Réu não
comprovou a existência de relação contratual e a regularidade do débito
negativado em nome da autora, ônus seu (art. 6º, VIII, CDC)
Inexigibilidade da dívida reconhecida Danos morais evidenciados
Negativação indevida nos cadastros de proteção ao crédito Damnum in
re ipsa Indenização majorada para R$ 10.000,00 (dez mil) em
consonância com os critérios da razoabilidade e proporcionalidade,
segundo a extensão do dano (art. 944 do CC) - Juros de mora incidem do
evento danoso, por se tratar de responsabilidade civil extracontratual
(Súmula 54 do STJ) - Recurso do réu negado, provido em parte o recurso
da autora. [...]” (TJ/SP; Apelação Cível 1002754-39.2021.8.26.0008;
Relator (a): Francisco Giaquinto; Órgão Julgador: 13ª Câmara de
Direito Privado; Data do Julgamento: 25/10/2021).

A correção monetária deve ser realizada segundo


os índices da tabela prática desta Corte a contar do arbitramento,
nos termos da Súmula n. 362, do STJ: “A correção monetária do valor

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da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento”; no


caso, a contar da publicação deste acórdão. E os juros de mora de
1% ao mês incidem desde o evento danoso no caso, a data da
disponibilização da inscrição desabonadora por se tratar de
responsabilidade extracontratual, nos termos da Súmula n. 54, do
STJ: “Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de
responsabilidade extracontratual”.

O valor pretendido pela autora na exordial (R$


15.000,00) mostra excessivo e desarrazoado. De qualquer forma, “Na
ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao
postulado na inicial não implica sucumbência recíproca” (Súmula n. 326,
do STJ).
Por fim, os honorários advocatícios foram fixados
em 15% do total do valor da condenação, observados os critérios
legais e a remuneração condigna da advocacia. Não há razão para a
majoração de tal percentual, notadamente pela singeleza do caso
concreto e elevação dos danos morais ora concedida.

Ante o exposto, o meu voto dá provimento em


parte ao recurso para majorar o dano moral e readequar os juros de
mora e a correção monetária, nos termos da fundamentação.

CAUDURO PADIN

Relator

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