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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Técnica............................................................................ 7
3. Complicações.............................................................12
Referências Bibliográficas .........................................16
TRAQUEOSTOMIA 3

1. INTRODUÇÃO Durante muito tempo, foi utilizada


como procedimento extremo, pela alta
O procedimento de traqueostomia
taxa de morbimortalidade na época,
implica na formação de um trajeto
pois era realizada em obstrução imi-
fistuloso da traqueia com o meio
nente da via respiratória, principal-
externo. A definição de traqueo-
mente as provocadas por traumas
tomia, por sua vez, diferentemen-
ocorridos nas guerras. Posteriormen-
te de traqueostomia, corresponde à
te, também era utilizada em situações
simples abertura da traqueia para
para salvar os pacientes com lesões
qualquer intervenção cirúrgica. Es-
iatrogênicas da laringe, corpos estra-
ses dois termos são muito utilizados
nhos e infecções laríngeas, como a
indistintamente.
difteria e a angina de Ludwig.
A traqueostomia voltou a ser discuti-
CONCEITO! A traqueostomia consiste
da quando, no século 19, surgiu um
em método cirúrgico eletivo que também
pode ser de urgência, para acesso à via interesse renovado na intubação oral,
respiratória superior por meio de abertu- que estimulou os debates acerca do
ra da traqueia. A traqueostomia aberta método mais apropriado para o con-
ou convencional é o método cirúrgico
clássico, no qual se realiza a abertura
trole da via respiratória. Este procedi-
por planos, dissecando-se desde a pele mento acabou sendo o primeiro a ser
até a traqueia. Normalmente é realizado substituído pela intubação nos ca-
em centro cirúrgico, mas também pode sos de crupe e de difteria, por conta
ser feito no leito da unidade de terapia
intensiva (UTI), desde que se disponha do surgimento dos tubos flexíveis de
de condições técnicas adequadas. É melhor formato e contorno. Mesmo
bastante utilizado atualmente. assim, a intubação era reservada para
crianças pequenas e a traqueostomia
para indivíduos com mais idade.
Histórico
Em 1909, o médico otorrinolaringo-
Os métodos para obter o controle da logista Chevalier Jackson descreveu
via respiratória datam da antiguidade, formalmente a técnica da traqueosto-
visto que há referências a esta técnica mia clássica, que continua sendo utili-
nas figuras mitológicas, nos hierógli- zada no manejo de obstruções da via
fos egípcios e na cultura Hindu. A pri- aérea superior. Nesta época, conde-
meira traqueostomia bem sucedida nou veementemente outros métodos
foi realizada por Brasavola em 1546, de controle da via respiratória, princi-
sendo chamada de broncotomia. palmente a cricotireoidostomia que,
Apenas em 1718, Heister introduziu na sua opinião, causava complica-
o termo traqueostomia, que também ções excessivas, quando comparada
só foi aceito um século mais tarde. com a traqueostomia. Hoje sabe-se
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que isto ocorria porque as operações da cartilagem cricoide até a carina.


eram realizadas em pacientes com Sua irrigação é feita principalmente
doenças infecciosas, resultando em pela artéria tireóidea inferior, que
disseminação da infecção e compli- também tem papel importante na
cações difíceis de tratar, entre elas a irrigação do esôfago. É importante
estenose subglótica. Esta filosofia de lembrar que esses vasos penetram
Chevalier Jackson dominou o pensa- a traqueia pela sua margem lateral;
mento médico durante muitos anos, e portanto, deve-se evitar a dissecção
apenas mais recentemente a cricoti- dessa região durante o procedimen-
reoidostomia foi reintroduzida. to cirúrgico. Durante o procedimento,
Na década de 1980, o surgimento as estruturas visualizadas, em ordem
de procedimentos pouco invasivos de aparição, serão: pele, tecido sub-
e percutâneos em outras especiali- cutâneo, os músculos platisma e
dades levou ao desenvolvimento de pré-tireóideos (músculos esterno-
técnicas percutâneas de traqueosto- -hióideo e esterno-tireóideo), veias
mia. Atualmente, as traqueostomias jugulares anteriores, istmo da glân-
são procedimentos com técnica e in- dula tireoide, vasos tireoidianos, te-
dicações bem definidas e com baixo cidos gordurosos, os linfonodos e a
índice de complicações. fáscia traqueal (Figura 1).

Anatomia Cirúrgica
A laringe é composta por um esque-
leto cartilaginoso rígido, que possui
três cartilagens principais diretamen-
te envolvidas nas funções respiratória
e vocal: cartilagem tireoide, a carti-
lagem cricoide e um par de cartila-
gens aritenoides. A membrana cri-
cotireóidea faz a ligação da borda
inferior da cartilagem tireoide à carti-
lagem cricoide.
O espaço subglótico inicia-se abai-
xo das cordas vocais e se estende até
a margem inferior da cartilagem cri-
coide, sendo circundado pela cartila-
gem cricoide. A traqueia é palpável
na maioria das pessoas e se estende
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Veia jugular interna


Osso hioide
Músculo tíreo-hióideo

Cartilagem tireoidea Artéria carótida comum


Músculo omo-hioideo
Músculo esternotireoideo
Cartilagem cricoidea

Músculo esterno-hioideo

Figura 1. Músculos infraióideos e estruturas da região cervical aneterior. Fonte: Adaptado de Portal Anatoinsitu

Indicações • Neoplasia: De faringe, laringe, tra-


queia ou esôfago.
As indicações para a traqueostomia
ocorrem em três situações: • Trauma: Da medula cervical, maxi-
lofaciais graves ou com transecção
da laringe ou da traqueia.
Obstrução de vias aéreas:
• Disfunção laríngea: Lesão do ner-
• Infecções: Em casos de epigloti- vo laríngeo recorrente.
te, laringotraqueobronquite, difte-
ria, entre outras, nas quais não se • Anomalias congênitas: Estenose
pode realizar a intubação através da glote ou subglótica.
de broncoscópio. • Queimaduras ou corrosivos: Ina-
lação de gases quentes, gases
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tóxicos ou corrosivos (edema de desmame mais rápido e com menos


glote significativo). complicações.
• Apneia do sono: Apenas pacientes Pacientes que podem se beneficiar
com distúrbios graves. da realização da traqueostomia pre-
coce são:

Limpeza das vias aéreas: • Aqueles que necessitam de níveis


elevados de sedação para tolerar o
Necessária em pacientes com pneu- tubo traqueal;
monia, bronquiectasias e aspiração
crônica por enfermidades neurológi- • Aqueles com lesões neurológicas
cas que afetam a função da laringe. graves;
Atualmente, a minitraqueostomia • Aqueles com mecânica respirató-
percutânea tem se mostrado eficaz ria limítrofe, na qual a redução da
na limpeza traqueobrônquica, surgin- resistência das vias aéreas pode
do como opção válida por sua simpli- reduzir a sobrecarga dos músculos
cidade e segurança. respiratórios;
• Aqueles que podem apresentar
Suporte ventilatório: benefícios psicológicos em se co-
municar melhor, ter maior mobili-
Quando a extubação é improvável nos
dade e alimentar-se por via oral.
próximos 5 a 7 dias, após sete dias de
ventilação mecânica, ou quando, an-
tecipadamente, já se prevê um tempo SE LIGA! Quando há necessidade de
de ventilação mecânica superior a 14 uma via aérea cirúrgica em situações de
emergência, a cricotireoidostomia cirúr-
dias. gica recai como a primeira escolha, por
Nestas situações de pacientes em ser de mais fácil execução em compara-
ção à tireoidostomia. As exceções são a
ventilação mecânica prolongada, a fratura de laringe e no caso de pacientes
traqueostomia apresenta como pos- pediátricos (com menos de 12 anos de
síveis efeitos benéficos um maior idade).
conforto, maior facilidade na aspira-
ção de secreções, redução da resis-
Contraindicações
tência de vias aéreas, maior mobili-
dade do paciente, acesso à via aérea Contraindicações absolutas para a
mais seguro, possibilidade de articu- traqueostomia, como infecção de par-
lar a fala e de se alimentar por via oral tes moles no pescoço ou aberrações
e menor necessidade de sedação. Es- anatômicas, são raras. Insuficiência
sas vantagens podem resultar em um respiratória grave com hipoxemia
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refratária e hipercapnia podem ser • Cânulas traqueais;


consideradas contraindicações re-
• Gaze.
lativas. Distúrbios hematológicos e
de coagulação são, frequentemente,
considerados contraindicações para
a traqueostomia, entretanto, estudos
realizados mostraram que esse pro-
cedimento pode ser realizado com
segurança em pacientes com neutro-
penia grave ou trombocitopenia.

2. TÉCNICA
Antes de iniciar o procedimento, é
necessária a explicação sobre o pro-
cedimento e a solicitação da autori-
zação para a realização da traqueos-
tomia, nas situações eletivas em que
o paciente se encontra vigil. O mate-
Figura 2. Materiais usados no procedimento de tra-
rial deve ser solicitado e preparado queostomia. Fonte: Disponível em <https://cepeme.
e o paciente deve ser devidamente paginas.ufsc.br/files/2017/08/traqueostomia-e-cri-
cotireoidostomia-2018-ilovepdf-compressed.pdf>
posicionado. Acesso em 28/05/2020

Materiais necessários Procedimento


• Luvas estéreis; A traqueostomia eletiva deverá ser
realizada em local com boas condi-
• Avental estéril;
ções de iluminação, todo material à
• Campos cirúrgicos; disposição, como cânulas de vários
tamanhos e aspirador, além de maio-
• Anestésico local;
res recursos no caso de complicações,
• Caixa de pequenos procedimentos ou seja, o centro cirúrgico disponível.
(pinças Kelly, cabo de bisturi, porta
Deve-se posicionar o paciente em
agulha, afastadores etc.);
decúbito dorsal horizontal e colocar
• Fio de sutura; um coxim na altura dos ombros para
fazer hiperextensão do pescoço (ex-
• Seringa 10 e 20mL e agulhas;
ceto em traumatismos raquimedula-
• Clorexidina; res) (Figura 3).
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Figura 3. Posicionamento do pacien-


te. Fonte: Disponível em <https://ce-
peme.paginas.ufsc.br/files/2017/08/
traqueostomia-e-cricotireoidosto-
mia-2018-ilovepdf-compressed.
pdf> Acesso em 28/05/2020

É feita a antissepsia e colocados A incisão prolonga-se no tecido sub-


campos estéreis, sendo fundamental cutâneo, até encontrar o plano dos
a identificação das cartilagens para músculos pré-traqueais (Figura 4). A
localizar o local da incisão e estrutu- técnica para a traqueostomia na ur-
ras adjacentes. Faz-se a infiltração gência é modificada pela feitura da
com lidocaína a 1%, com epinefrina. incisão da pele verticalmente e rea-
A incisão deve ser transversal, com 3 lização de toda a dissecção na linha
a 5 cm, com uma polpa digital abaixo mediana até a parede traqueal.
da cartilagem cricoide ou uma polpa
digital acima da fúrcula esternal.

Figura 4. Exposição do plano da musculatura pré-tireoidea. Fonte: Disponível em <https://cepeme.paginas.ufsc.br/


files/2017/08/traqueostomia-e-cricotireoidostomia-2018-ilovepdf-compressed.pdf> Acesso em 28/05/2020
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Os músculos esterno-hióideo e ester- abri-la. Uma incisão circular é então


notireóideo são separados na sua rafe realizada entre o terceiro e quar-
mediana e afastados lateralmente. Na to anel traqueal (Figura 5). São, en-
maioria das vezes, o istmo tireoidiano tão, passados fios de reparo, fixando
é facilmente deslocado cranialmente a traqueia à pele, com cinco ou seis
por dissecção romba. Eventualmente, pontos em toda a borda superior e in-
pode ser necessária a secção media- ferior, incluindo pele, tecido subcutâ-
na do istmo para melhor exposição neo e parede traqueal, com o intuito
da traqueia, realizando-se a sutura de de facilitar a troca da cânula, ou sua
seus bordos com fio absorvível. recolocação em caso de extubação
Infiltra-se a parede anterior da tra- espontânea, principalmente na pri-
queia e o lúmen com anestesia lo- meira semana, enquanto um trajeto
cal para evitar reflexos inibitórios ao delimitado do estoma ainda não foi
formado.

Figura 5. Incisão traqueal em forma de “U”. Fonte: Disponível em <https://cepeme.paginas.ufsc.br/files/2017/08/tra-


queostomia-e-cricotireoidostomia-2018-ilovepdf-compressed.pdf> Acesso em 28/05/2020

Após a abertura da traqueia, o tubo introduzida na luz traqueal. Deve ser


endotraqueal, quando presente, é cui- feita a imediata checagem de sua po-
dadosamente tracionado até um nível sição e perviedade.
justamente acima da incisão traqueal, A ferida é fechada com pontos es-
mas não retirado; a traqueia é então parsos, para evitar complicações pre-
aspirada para a remoção de sangue coces, como enfisema subcutâneo,
ou secreções e a cânula traqueal, já abscesso periostômico ou celulite. Fi-
previamente selecionada e testada, é xa-se a cânula de traqueostomia com
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uma fita ao redor do pescoço (Figura 6). Havendo


dúvida quanto ao correto posicionamento da cânula,
ou nos casos de dificuldade de realização da traque-
ostomia, deve-se realizar uma radiografia de tórax e
pescoço.

Figura 6. Fixação da cânula traqueal. Fonte: Disponível em <https://cepe-


me.paginas.ufsc.br/files/2017/08/traqueostomia-e-cricotireoidostomia-
-2018-ilovepdf-compressed.pdf> Acesso em 28/05/2020
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MAPA MENTAL PROCEDIMENTO DE TRAQUEOSTOMIA

MAPA MENTAL
PROCEDIMENTO DE
TRAQUEOSTOMIA

1- Preparação: Explicar o procedimento e a solicitar a autorização


para sua realização, nas situações eletivas em que o paciente se encontra vigil.
O material deve ser solicitado e preparado e o paciente deve ser posicionado.

2- Anestesia e Incisão: Fazer a antissepsia e colocação dos campos estéreis.


Fazer a infiltração com lidocaína a 1%, com epinefrina. A incisão deve ser transversal, com 3 a 5 cm,
com uma polpa digital abaixo da cartilagem cricoide ou uma polpa digital acima da fúrcula esternal.

3- Exposição da traqueia: Os músculos pré-tireóideos são separados na sua rafe mediana e


afastados lateralmente. O istmo tireoidiano é facilmente deslocado cranialmente por dissecção romba.
Eventualmente, pode ser necessária a secção mediana do istmo para expor a traqueia.

4- Abertura da traqueia: Infiltra-se a parede anterior da traqueia e o


lúmen com anestesia local para evitar reflexos inibitórios ao abri-la. Uma incisão
circular é então realizada entre o terceiro e quarto anel traqueal.

5- Inserção da cânula traqueal: Tubo endotraqueal, quando presente,


deve ser tracionado até um nível acima da incisão traqueal, mas não retirado;
Realizar aspiração traqueal e inserir a cânula traqueal.

6- Fixação da cânula traqueal: A ferida é fechada com pontos esparsos, para evitar
complicações precoces. Fixar a cânula traqueal com uma fita ao redor do pescoço.
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3. COMPLICAÇÕES Geralmente ocorre nas veias jugu-


lares anteriores ou nos vasos do
Suas complicações podem ser tanto
istmo da tireoide e são facilmen-
precoces como tardias e devem ser
te controlados com ligaduras ou
diagnosticadas rapidamente, com
eletrocauterização.
tempo suficiente para a implantação
do tratamento adequado, evitando- • Bradicardia, hipotensão ou parada
-se evolução desfavorável. cardíaca: Podem ocorrer pela pro-
ximidade do nervo vago. Quando
O risco de ocorrerem complicações
se perceberem anormalidades na
pode ser relativamente grande, de
frequência cardíaca ou na pressão,
acordo com a idade do paciente, do-
o anestesista deve ser avisado da
ença de base e situação em que é feito
manipulação dessa região, a fim de
o procedimento. O tempo de perma-
se preparar para o uso de medica-
nência da traqueostomia é o principal
ções para sanar o problema.
fator nas suas complicações. A Tabe-
la 1 apresenta as principais complica- • Falso trajeto na traqueia e ao seu
ções precoces e tardias, secundárias redor: Nesses casos, é importan-
à traqueostomia, descritas com mais te ter boa visualização do orifício
detalhes a seguir. da traqueostomia e calcular cor-
retamente o calibre da cânula a
ser usada. Em crianças, esse tipo
COMPLICAÇÕES COMPLICAÇÕES
PRECOCES TARDIAS
de complicação é mais frequen-
Pneumotórax Pneumonia
te, pois é difícil mensurar o calibre
Pneumomediastino Estenose traqueal
da traqueia e a abertura que será
Enfisema subcutâneo Fístula traqueoesofágica
realizada. Recomenda-se ter em
Hemorragia incisional Fístula traqueocutânea
mãos cânulas de diversos calibres.
Aerofagia Obstrução da cânula • Lesão do nervo laríngeo recorrente:
Aspiração Aspiração Se a lesão for unilateral o paciente
Deslocamento da cânula Disfagia só vai perceber quando apresentar
Infecção estomal disfonia e realizar laringoscopia. Se
Tabela 1. Principais complicações da traqueostomia.
Fonte: Guimarães (2010)
o comprometimento for bilateral e
a paralisia em abdução, o paciente
não vai conseguir ficar livre da câ-
Complicações intraoperatórias nula de traqueostomia.
• Sangramento: É uma das com- • Lesão da parede posterior da tra-
plicações mais comuns, pois a queia, com penetração do esôfago:
região é muito vascularizada. Acontece quando se utiliza bisturi
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de ponta muito comprida, como em grande quantidade, pode oca-


o número 11. Se, no momento da sionar esta complicação.
incisão na traqueia, penetra-se de
maneira intempestiva na cartila-
gem, pode-se até romper a pare- Complicações pós-operatórias
de posterior que faz limite com o imediatas
esôfago. • Sangramento: Maior causa de com-
• Obstrução brônquica por secre- plicação no período pós-operatório
ções ou sangue: Não é incomum precoce. Sangramentos pequenos
que no momento em que se pene- podem ser controlados com a ele-
tra na traqueia, a mucosa interna vação da cabeceira do leito, troca
comece a sangrar e quando desin- dos curativos e compressão local.
sufla-se o balonete da cânula de Sangramentos maiores devem ser
intubação orotraqueal, as secre- tratados em ambiente cirúrgico,
ções que estão represadas acima para uma adequada revisão da he-
dessa região desçam em direção mostasia, com ligadura dos vasos
ao pulmão. Deve-se fazer aspira- sangrantes.
ção no momento da abertura da • Ar intersticial: Enfisema subcutâ-
traqueia e imediatamente colocar neo, pneumomediastino, pneu-
a cânula de traqueostomia e insu- moperitônio, pneumopericárdio,
flar o balonete, para impedir que o pneumotórax e pulmão colabado.
sangue chegue aos pulmões e que Normalmente, quando a quanti-
o paciente possa ser ventilado. • dade de ar for muito grande, é ne-
Pneumotórax e pneumomediasti- cessário fazer a drenagem dessas
no: Pneumomediastino pode ocor- regiões e, no caso do pulmão co-
rer em decorrência de um mau po- labado, será necessário fazer ven-
sicionamento da cânula que leva à tilação com pressão positiva, até
dissecção de ar através do tecido que este volte a ter sua insuflação
conjuntivo mediastinal. Pneumo- normal.
tórax pode ocorrer por lesão dire-
ta da cúpula pleural ou ruptura de • Infecção: A traqueostomia é urna
uma bolha pulmonar. ferida contaminada, coloniza-
da principalmente por microrga-
• Embolia aérea por perfuração de nismos da flora hospitalar como
grandes vasos: Algumas vezes Pseudomonas e Escherichia coli.
não se percebe e causa-se uma Os pacientes internados em UTI
perfuração nas veias jugulares e têm maior possibilidade de adqui-
esta “aspira” um pouco de ar, que, rir essas infecções e é necessário
TRAQUEOSTOMIA 14

que se colha material para cultura Complicações pós-operatórias


e antibiograma. tardias
• Desposicionamento: Em alguns • Estenose da traqueia no local do
casos de troca de cânulas, essa estoma, do balonete, da ponta da
complicação pode acontecer em cânula: Estenose traqueal pode
razão da malácia das cartilagens, ocorrer não só no local do balone-
da inabilidade do pessoal do ser- te, mas também na ponta da cânu-
viço ou da falta de exposição ade- la ou no local de abertura traqueal.
quada. Pode ser evitada com uma A estenose se dá pela destruição
fixação adequada e há uma facili- da cartilagem, seguida de uma fi-
dade maior no manejo quando são brose concêntrica.
passados fios de reparo na parede
da traqueia. • Fístula traqueoesofágica: Ocorre
tanto na incisão como na coloca-
• Obstrução: Por coágulos, muco ção da cânula. Há uma lesão na
ou quando a ponta da cânula está parede posterior da traqueia, que
contra a traqueia. É importante ocasionará a formação da fístula.
que, após realizar a cirurgia, seja
indicada a inalação ou nebulização • Fístula traqueocutânea: Ocorre
contínua para fluidificar as secre- quando há uma epitelização do es-
ções e seja feita a aspiração. toma em pacientes que ficam por
muito tempo com a traqueostomia.
• Balonete rolo ou com defeito: É Na maioria dos casos, se faz a res-
importante que a cânula seja tes- secção das bordas e aguarda-se a
tada antes da realização da cirur- cicatrização por segunda intenção.
gia, pois sua troca nas primeiras
horas de pós-operatório é difícil e
arriscada.
• Intubação seletiva: A incisão muito
baixa na região da traqueia, ou câ-
nula muito longa, pode ser a razão
desse problema. Puxar um pouco
a cânula e fazer um coxim com ga-
zes pode ser o bastante para sua
resolução ou, em último caso, tro-
car a cânula.
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MAPA MENTAL FINAL

Durante o procedimento, as estruturas visualizadas, Pneumotórax, Pneumomediastino


em ordem de aparição, serão: pele, tecido e Enfisema subcutâneo
subcutâneo, os músculos platisma e pré-tireóideos,
veias jugulares anteriores, istmo da glândula
tireoide, vasos tireoidianos, tecidos gordurosos, Hemorragia incisional
os linfonodos e a fáscia traqueal.
Precoces

Aerofagia e Aspiração
Definição: Consiste em método cirúrgico
eletivo ou de urgência, para acesso à via respiratória
superior por meio de abertura da traqueia.
Deslocamento da cânula

Pneumonia

Contraindicações Traqueostomia Complicações

Estenose traqueal
Infecção de partes
moles no pescoço
Obstrução da cânula
Indicações
Alterações anatômicas Tardias

Disfagia
Obstruções da via aérea
Coagulopatia

Necessidade de limpeza Infecção estomal


Insuficiência das vias aéreas
respiratória grave
Fístula traqueoesofágica
Suporte ventilatório e traqueocutânea
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Azevedo LCP, Taniguchi LU, Ladeira JP, Martins HS, Velasco IT. Medicina Intensiva: Aborda-
gem Prática. 2. ed. - Barueri, SP: Manole, 2015.
Guimarães HP et al. Tratado de Medicina de Urgência e Emergência: Pronto-socorro e UTI.
São Paulo: Editora Atheneu, 2010.
Valiatti JLS et al. Ventilação Mecânica: Fundamentos e Prática Clínica. 1. ed. Rio de Janeiro:
Roca, 2016.
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