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Influência do manejo dos animais durante o transporte sobre a qualidade da carne

O desconhecimento da importância do manejo pré-abate sobre a qualidade da carne, e, em especial, os efeitos


do transporte e os procedimentos inadequados que levam ao estresse animal durante essa fase, pelos diversos
setores responsáveis, reflete em perdas econômicas da ordem de US$ 9 milhões/ano, para toda a cadeia
produtiva. Mesmo aqueles animais que foram submetidos aos melhores tratamentos zootécnicos nas
fazendas, podem ter a qualidade da sua carne comprometida, se o manejo pré-abate não for realizado de
maneira correta.

No Brasil, o transporte rodoviário é o mais comum, apesar de todos os inconvenientes do ponto de vista de
conforto dos animais e do preço mais elevado por quilômetro. Em cerca de 87% das empresas, o transporte é
terceirizado e mesmo naquelas que possuem frota própria (13%) há problemas devido às dificuldades de
controle da qualidade dos serviços prestados.

Inadequadas condições de transporte podem causar vários problemas, dentre os quais: morte, traumatismos,
fraturas, luxações, hematomas, quebras de peso e ainda alterações nas características organolépticas da carne,
levando a carnes pálidas e exsudativas (PSE) ou escuras e secas (DFD) e diminuição da sua vida de
prateleira. A morte de bovinos decorrente do transporte é rara, e, quando ocorre, se dá devido ao pisoteio e
asfixia. Já os traumatismos e contusões são bastante comuns, ocorrendo por densidade inadequada da carga;
piso e carroceria do veículo com defeitos, como paredes irregulares; excesso de velocidade, sobretudo nas
curvas e ainda a aceleração e freadas bruscas durante a viagem. Carcaças com fraturas ou contundidas
resultarão em perdas financeiras, não apenas para o frigorífico, mas também para os pecuaristas.

O principal aspecto a ser considerado durante o transporte de bovinos é o espaço ocupado por animal dentro
da carroceria, ou seja, a densidade da carga, que pode ser classificada em alta (600 kg/m2), média (400
kg/m2) ou baixa (200 kg/m2). Não é recomendável densidade superior a 550 kg/m2, sendo a média brasileira
de densidade de carga utilizada entre 390 e 410 kg/m2. Além disso, os “caminhões boiadeiros” têm uma
capacidade de carga média de 18 bovinos por caminhão, podendo variar de 16 a 20, dependendo do sexo, da
idade e do peso do animal. A densidade não deve ser muito alta devido ao risco de pisoteio e morte por
asfixia, pois muitas vezes o animal não consegue se levantar e acaba sendo pisoteado, podendo apresentar
contusões múltiplas, fraturas ou mesmo morrer. Densidades muito baixas também devem ser evitadas, pois
os animais podem ficar muito “soltos” na carroceria, levando a escorregões durante as manobras da viagem.

Outras fontes de estresse para os animais durante o transporte são as condições climáticas, como temperatura
ambiente e velocidade e umidade relativa do ar. Deve-se evitar o transporte durante as horas quentes do dia,
pois além do estresse propriamente dito pode haver um aumento nas perdas por excreção e sudorese. O ideal
é que a viagem ocorra durante a noite ou nas horas mais frescas do dia, visando não apenas reduzir o estresse,
mas também minimizar as perdas de peso.

Mesmo sob boas condições de transporte e em jornadas curtas, o gado demonstra sinais de estresse de
intensidade variável, caracterizando uma situação típica de medo, sendo que as viagens não devem ser muito
longas. O aumento do estresse durante o transporte é causado por condições desfavoráveis como privação de
alimento e água, alta umidade e alta velocidade do ar e densidade da carga. As respostas fisiológicas ao
estresse são traduzidas por aumento nos níveis de cortisol plasmático, hipertermia, e aumento das freqüências
respiratória e cardíaca. Essas respostas aumentam nos animais transportados no terço final do caminhão, na
razão direta da movimentação dos animais durante a viagem em estradas precárias.

A escolha do veículo adequado é fundamental para que alguns problemas possam ser evitados como:
carrocerias com pontas de madeira, ripas, pregos ou parafusos expostos, o que também irá afetar a qualidade

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do couro; altura e paredes da carroceria inadequadas; rampa com inclinação imprópria para o transporte;
condições inadequadas de ventilação. Portanto, todas esses pontos devem ser checados e corrigidos, se
necessário, antes do embarque dos animais. O piso da carroceria, além de ser antiderrapante deve também ter
uma cama, não apenas para evitar os escorregões, mas também para propiciar maior conforto aos animais e
reter os dejetos orgânicos. As condições de higiene do veículo são de fundamental importância, devendo o
mesmo oferecer condições de ser higienizado e desinfetado logo após o desembarque dos animais.

Alguns cuidados a serem tomados no transporte incluem o jejum e o agrupamento prévio dos animais na
fazenda, com vistas a reduzir o desconforto durante o transporte e os distúrbios emocionais que afetam a
qualidade da carne. Os animais que foram criados juntos, se possível, devem ser transportados juntos. Deve-
se assegurar que os animais não sejam amedrontados, excitados ou maltratados, evitando-se o uso de
violência, golpes, gritos e ainda do choque elétrico durante o manejo. O motorista deve ser treinado para que
conduza o caminhão de maneira apropriada, tomado cuidados como não frear bruscamente, evitar paradas e,
quando as mesmas forem necessárias, fazê-las na sombra.

As conseqüências do transporte inadequado geralmente são provocadas por falhas de manejo; devido à falta
de equipamentos adequados; vaqueiros e motoristas destreinados e ainda da não supervisão do trabalho. É
necessário que todo o processo seja aprimorado, desde o manejo e instalações nas fazendas, condição geral
dos veículos e forma de condução, até as instalações e manejo no frigorífico. As práticas de manejo
associadas à busca de animais resistentes (cruzamentos entre zebuínos e taurinos) suavizam os efeitos do
estresse e refletem positivamente sobre a economia de produção, pois os tratamentos inadequados aplicados
aos animais no período pré-abate podem pôr a perder os benefícios advindos de cuidados zootécnicos
sofisticados aplicados na produção de um bom animal de corte.

Principais Referências Bibliográficas

PARANHOS DA COSTA, M. J. R. Ambiência e qualidade de carne. In: V Congresso Brasileiro das Raças
Zebuínas, Anais..., Uberaba, 2002, p.170-174.

PARANHOS DA COSTA, M. J. R. V. Algumas informações interessantes sobre o embarque, o transporte e


o desembarque de bovinos durante o manejo pré-abate. In: Workshop: Efeitos do manejo pré-abate na
qualidade da carcaça e da carne bovina. ITAL, Campinas, maio de 2000.

SILVEIRA, E. T. F. Bem estar animal e seus impactos na indústria de carnes no Brasil. In: I Congresso
Brasileiro de Ciência e Tecnologia de Carnes, Anais..., São Pedro, 2001, p.56-79.

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