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MANEJO DOS COELHOS

À medida que as explorações de animais foram se industrializando,


introduziu-se gradativamente a palavra "manejo" para designar um conjunto de
normas e atividades que devem ser observadas numa exploração, orientadas para
uma produção e um ganho econômico máximo.
Manejo, portanto, significa decidir, planificar e dirigir uma exploração no
sentido de fazer com que o animal responda às condições, com a máxima
produção. Depende, assim, da atuação e comportamento do cunicultor, perante
sua criação, o sucesso desta exploração.
Deve-se salientar que um correto manejo na cunicultura tem especial
importância, devido às particularidades nos processos de digestão e
aproveitamento dos alimentos, as características de sensibilidade que fazem do
coelho um animal sensível a qualquer alteração ocorrida no meio em que vive e,
por fim, o intenso ritmo reprodutivo implementado em criações comerciais, em que
as matrizes são submetidas a ritmos reprodutivos de 8 a 10 partos anuais e que
exigem um controle rigoroso das atividades diárias.
Fica, portanto, evidente a necessidade de um correto manejo para que,
assim, o coelho tenha todas as condições para externar seu potencial produtivo.
Por outro lado, convém que tenhamos consciência de que não existe uma receita
padrão a ser seguida nos diferentes sistemas de criação de coelhos. As técnicas
mais ou menos sofisticadas e os cuidados mais ou menos rigorosos estão na
dependência das respostas produtivas exigidas.
Explorar algumas matrizes no fundo do quintal, objetivando produção de
carne de coelho apenas para o consumo familiar, demanda um controle bem
menos rigoroso em relação a uma exploração de coelhos em nível comercial.

Contenção dos Coelhos

Ë importante conhecer as diferentes formas de contenção dos animais e


sua adequada utilização no manejo diário, a fim de evitar possíveis acidentes,
tanto com os animais como para a pessoa responsável pelas atividades diárias,
tendo em vista as possibilidades de mordidas ou arranhões. Assim, são descritas,
a seguir, algumas formas de contenção dos coelhos, a serem empregadas, de
acordo com a idade dos animais e os objetivos do manejo.

a)- Contenção pelas orelhas - No manejo diário nunca se deve conter um


coelho, pelas orelhas, pois se ele for muito pesado ou ao se debater poderá
ocorrer fratura no pescoço e a conseqüente perda do animal. Só há uma exceção,
quando forem apanhados para serem abatidos. Este procedimento, neste
momento, evitará o aparecimento de manchas vermelhas na carcaça, devido ao
rompimento de pequenos vasos sanguíneos causado pela pressão exercida pela
mão do operador, caso viessem a ser contidos pela pele da região dorsal.

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b) Contenção pelos membros posteriores
Forma de contenção utilizada também para os animais que são
destinados ao abate. Esta forma de contenção evita o aparecimento de mancha
vermelha (sangramento) na carcaça, semelhantemente ao caso anterior. Poderá
ser utilizada no manejo diário, inclusive para animais adultos, no entanto, com o
cuidado para evitar possíveis fraturas nos membros posteriores, caso o animal
venha a se debater demasiadamente. Recomenda-se fazer a contenção dos
membros bem próximo ao corpo para evitar fraturas.

c)- Contenção pela pele da região dorsal


A pele, nesta região, encontra-se solta em relação à carcaça, facilitando a
contenção do animal. O braço do operador deve ficar paralelo às costas do coelho
e não transversalmente, para evitar que as unhas do animal, ao se debater,
atinjam o operador.
Esta forma de contenção poderá ser usada para animais jovens em
crescimento.
No caso de animais adultos e matrizes que são transportadas para a
gaiola do macho a fim de serem cobertas, devem ter seu posterior apoiado sobre
a palma da outra mão para evitar a pressão demasiada sobre a pele do pescoço e
região dorsal e que viria a provocar rompimento de vasos sanguíneos nesta
região, aumento o stress do animal.

d)- Contenção pelos flancos


Coelhos jovens, com até 2 meses de idade, poderão ser contidos pelos
flancos ou vazio.
É uma forma rápida de contenção e usada para transporte em distâncias
curtas. É preciso, porém, não pressionar demasiadamente, para evitar
deslocamento dos rins.

e)-Contenção do coelho junto ao corpo do operador


Manter o coelho junto ao corpo do operador, lateralmente, na altura da
cintura. Com uma das mãos segurar o animal pelas orelhas e dobra da pele do
pescoço e passar a outra mão por baixo do corpo do animal, a partir da região
inguinal até os membros anteriores, deixando o dedo indicador entre eles; o
polegar pelo lado de fora (direito ou esquerdo, dependendo do lado em que o
operador segurar o coelho) e o dedo médio, anular e mínimo pelo outro lado,
prendendo o outro membro anterior do animal. É usado para conter e transportar
animais pesados (reprodutores e matrizes).

f)- Contenção pelos membros anteriores e posteriores


Para exames do aparelho genital ou castração segurar, com a mão direita,
os membros anterior e posterior direitos e, com a mão esquerda, os membros
anterior e posterior do lado esquerdo do coelho.

Finalmente, em casos particulares ou em circunstâncias especiais (como


tatuagem, tratamentos sanitários, extração de sangue, obtenção de temperatura,
etc), poderão ser utilizadas caixas especiais de contenção.

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Existem outras formas de contenção dos coelhos e cada cunicultor, com
sua prática, pode desenvolver seus próprios métodos, embora estes acima
comentados sejam os mais comuns.

Escolha da Raça

Existem várias raças de coelhos, cada qual especializada num tipo de


produção (carne, pele ou pêlo) devendo, portanto, o criador escolher a raça que
mais se adapta à finalidade escolhida. Entretanto, no Brasil, as raças produtoras
de carne são as mais recomendadas e entre elas, as raças Nova Zelândia Branco
e Califórnia ou linhagens obtidas a partir destas raças são as que mais se
destacam. Deve-se salientar que a pele desses animais também apresenta boa
qualidade e mercado bastante promissor, não apenas como pele, mas também na
indústria de couro e confecção.
Com relação às raças gigantes para produção de carne, deve-se
considerar que, normalmente, são mais tardias, menos prolíferas, adaptam-se
muito mal ao calor e apresentam, com mais freqüência, problemas de feridas nas
patas em relação às raças de tamanho médio, quando criadas em gaiolas de
arame. Por esses motivos, poderiam ser usadas, no máximo, como macho, para
cruzamento com as fêmeas Nova Zelândia Branco ou Califórnia, particularmente
em regiões com temperatura mais amena. A raça Gigante de Bouscat, seria a
mais recomendada nestas condições para produção de coelhos para corte
(frigorífico).
Para produção de pele de ótima qualidade, recomenda-se a criação das
raças REX (Castor Rex e Rex de cor).
Para produção de pêlo a raça recomendada é a Angorá Branco. Sua
criação está limitada à região sul do Brasil ou em regiões de maior altitude.
Com relação às raças produtoras de pele e pêlo encontramos, no Brasil,
algumas limitações na sua exploração, principalmente relacionadas ao clima.
Temperaturas elevadas normalmente fazem com que os pêlos percam o
brilho e desta forma perdas na qualidade e o valor comercial da pele. Além deste
aspecto, os coelhos da raça REX apresentam menor resistência ao calor. Além de
maior propensão a apresentarem feridas nas patas, quando criadas nas gaiolas de
arame comumente utilizadas nas criações de coelhos.

Escolha e aquisição de matrizes e reprodutores

Os animais utilizados para reprodução poderão ser adquiridos de criação


idôneas , que se dedicam à produção e comercialização de reprodutores e
matrizes ou então podem ser selecionados na própria criação, caso os animais do
rebanho apresentarem bom padrão genético.
No caso do criador selecionar animais para reprodução, do próprio
rebanho, recomenda-se seguir algumas normas para que os futuros reprodutores
e matrizes contribuam para melhorar a média de produção da criação.
Para um trabalho eficiente de melhoramento, é recomendado a
implementação de programas, cujos modelos considerem as diferentes
características produtivas de interesse, ligadas à reprodução, ao desempenho

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produtivo e/ou às características de carcaça, com pesos diferenciados no modelo,
de acordo com os objetivos do criador ou matrizeiro.
No entanto, de maneira geral, é interessante que as futuras matrizes
sejam selecionadas sempre de fêmeas que tenham ninhadas grandes ao
nascimento e a desmama. As fêmeas que desmamam um bom número de
animais nos seus partos demonstram ter boa habilidade materna, boa produção
de leite e esta característica, embora com baixa herdabilidade, é transmissível às
suas filhas. Além deste aspecto, deve-se considerar o desempenho de
crescimento assim como a verificação de possíveis defeitos nos aprumos, nos
dentes (crescimento irregular dos dentes incisivos), exame nos órgãos genitais e
por fim o aspecto geral de saúde da fêmea.
Em relação a seleção dos machos, passarão a ter um maior peso, no
modelo, as características de desempenho e de carcaça que apresentam
herdabilidade mais elevada que as características reprodutivas (Tabela 1). Antes
dos animais serem incorporados ao rebanho devem ser observadas, além das
características de desempenho também a conformação do coelho quanto ao
comprimento do corpo, garupa bem desenvolvida, a presença de possíveis
defeitos nos órgãos genitais, dentes incisivos e nos aprumos do animal.
Quando os machos são selecionados do rebanho, recomenda-se um
controle extremamente rigoroso, para que, num curto período de tempo, não
venham a surgir problemas relacionados a consangüinidade. Um esquema
bastante prático e muito utilizado, é a formação de "famílias", onde os machos
gerados e selecionados, por exemplo, na família A poderão ser utilizados para
cobrir as fêmeas geradas e selecionadas em outras famílias e vice-versa.
Quando as características reprodutivas e produtivas são consideradas
separadamente nos modelos, os programas permitirão a obtenção de linhas
maternas e paternas, respectivamente. Caso sejam consideradas em conjunto, o
melhoramento permitirá a obtenção de linhas mistas.

TABELA 1- Herdabilidade de algumas características produtivas para coelhos

Características Herdabilidade Valor


Tamanho da ninhada ao nascer Baixa <0,10
Tamanho da ninhada aos 21 dias Baixa <0,10
Tamanho da ninhada aos 28 dias Baixa <0,10
Mortalidade Baixa 0,10
Peso da ninhada aos 28 dias Baixa 0,10
Ganho de peso diário pós-desmame Média-alta 0,35-0,65
Conversão alimentar Média-alta 0,45-0,65
Peso vivo ao abate (60 a 70 dias) Alta 0,55-0,60
Consumo diário de ração pos-desmame Alta 0,60
Peso de carcaça Alta 0,55-0,60
Rendimento de carcaça Alta > 0,50
pH muscular Alta 0,50-0,60

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Em criações, particularmente, de grande porte, que objetivam a venda de
animais para reprodução, é importante a presença de um técnico especializado,
para que este trabalho seja bem orientado e contribua, para melhoria do potencial
produtivo dos animais do rebanho. Além deste aspecto, a seleção de matrizes e
reprodutores do próprio rebanho, quando bem conduzida, diminui muito o custo de
reposição do rebanho de reprodução.
Portanto, as fêmeas devem ser selecionadas visando as características de
reprodução (habilidade materna), enquanto os machos devem ser selecionados
visando as características de desempenho e carcaça dos coelhos ao abate.

Programas de melhoramento e seleção de coelhos

Apesar das possibilidades de aplicação de programas de melhoramento e


seleção em propriedades particulares, buscando aumentar a produtividade média,
eliminando animais improdutivos ou com produtividade abaixo de índices pré-
fixados, tanto para características reprodutivas, como produtivas, programas com
objetivos mais amplos, como por exemplo a obtenção de novas linhagens, exigem
infra-estruturas mais complexas, com o envolvimento de Institutos ou Centros de
Pesquisas, Associações, Cooperativas, ou ainda Grupos Privados.
Programas desta natureza, normalmente, são organizados em uma
estrutura piramidal ou estratificada, tendo, no topo da pirâmide, unidades que
representam o núcleo de seleção, na parte intermediária da pirâmide as unidades
denominadas de multiplicadores que recebem os animais dos núcleos da
pirâmide e são responsáveis pela multiplicação e distribuição do material genético
aos produtores que se encontram na base da pirâmide.
Como citado anteriormente, pode-se diferenciar claramente dois grupos de
características envolvidas em programas de seleção e melhoramento, o primeiro
relativo às matrizes e que interferem na produtividade das fêmeas e o segundo
relativo ao desempenho ponderal do láparos desmamados e as características de
carcaça, relativo aos machos reprodutores e que podem ser considerados em
separado ou em conjunto, respectivamente, em programas de seleção para
aptidão especializada, gerando linhas paternas ou maternas, ou em programas de
seleção para aptidão mista.
A seguir são apresentados alguns exemplos de programas de seleção
implementados em alguns países:

a) Seleção Especializada – Linha Paterna


Este programa envolve a combinação de dois índices, um econômico e
outro de qualidade da carcaça, de acordo com as equações a seguir:

- Índice econômico = 100 + 0,01(x - x) + 3(y - y) + 10(z - z), em que:


x = peso vivo do indivíduo em idade de abate
x = peso vivo médio do rebanho.
y = ganho de peso diário do indivíduo.
y = ganho de peso diário médio do rebanho.
z = conversão alimentar do indivíduo.
z = conversão alimentar média do rebanho.

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- Índice de qualidade de carcaça = 100 + 3(x - x) + (y – y) + 2(z – z), em que:
x = rendimento de carcaça de dois indivíduos da ninhada
x = rendimento de carcaça médio do rebanho.
y = peso dos quartos posteriores/ peso da carcaça de dois
indivíduos da ninhada.
y = peso dos quartos posteriores/ peso da carcaça médio do
rebanho.
z = conversão alimentar considerando o peso da carcaça de dois
indivíduos da ninhada.
z = conversão alimentar média do rebanho considerando o peso da
carcaça.

- Índice combinado = 100 + a(x - x) + b(y – y), em que:


x = indice econômico
y = índice de qualidade de carcaça
a e b = 1 ou 2 segundo a importância do índice respectivo.

OBS.: Para obtenção destes índices, são separados, dentro de cada linhagem,
algumas ninhadas (de acordo com o tamanho da unidade) e, de cada ninhada,
dois machos e duas fêmeas por ocasião da desmama, alojando-os em gaiolas
individuais, onde são avaliados quanto ao seu desempenho e carcaça ao abate.

b) Seleção Especializada - Linha Materna

O Índice SNEALC, utilizado na França, considera duas características:


- O número de Láparos produzidos em quatro ninhadas e
- O peso total de desmama das quatro ninhadas.
Portanto, as fêmeas que desmamaram quatro ninhadas ou mais recebem uma
pontuação de acordo com a tabela abaixo:

Pontos No Láparos em 4 partos Pontos Peso total de 4 ninhadas


desmamadas (32 dias)
0 Menos que 18 0 Menos que 6,3 kg
1 De 18 a 24 1 De 6,3 a 9,6 kg
2 Mais de 24 2 Mais de 9,6 kg

OBS.: A partir desta pontuação serão selecionadas filhas de matrizes que


alcançarem pontuação 3 ou 4 e os machos são escolhidos de matrizes que
tenham obtido 4 pontos e sempre os mais pesados da ninhada.

Também o Índice Lecerf permitirá avaliar a matriz após sua quarta ninhada,
considerando o número de láparos desmamados em quatro ninhadas e o número
de semanas desde a primeira cobertura, conforme a fórmula a seguir:
N = S*100/P,
em que:
N = índice de resultados;

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S = Número de láparos desmamados em 4 ninhadas
P = Número de Semanas que se passaram desde a primeira cobertura.

As fêmeas que apresentarem os maiores índices de resultados terão seus


láparos selecionados como futuras matrizes e reprodutores, sendo que os machos
sempre são selecionados das melhores matrizes e os animais mais pesados das
ninhadas.

c - Seleção para Aptidão Mista

Um modelo simples aplicado para seleção de animais, considerando


características, tanto para aptidão materna como paterna, implementado na
Alemanha avalia as matrizes do rebanho, após pelo menos três partos, de acordo
com a pontuação abaixo:
- 01 ponto para cada láparo nascido vivo;
- 01 ponto para cada láparo desmamado;
- 01 ponto por kg de peso vivo na idade de abate.

Apesar de sua simplicidade o modelo leva em conta características como:


- fecundidade
- prolificidade
- aptidão materna
- viabilidade e
- taxa de crescimento

Idade para aquisição de animais para reprodução

As matrizes e reprodutores adquiridos para reprodução devem apresentar


entre 3 a 4 meses, pois nesta idade já é possível avaliar o potencial de
crescimento do animal e, de uma forma mais segura, possíveis defeitos. Quando
possível, que os machos sejam adquiridos com um mês a mais que as fêmeas,
tendo em vista animais de porte médio, para produção de carne, iniciam a vida
reprodutiva, com seis meses de idade, enquanto as fêmeas já estarão aptas para
serem cobertas com 4,5 a 5,0 meses e pelo menos 80% do peso vivo adulto.

Recepção dos Animais na Granja

Na chegada dos animais adquiridos de outras propriedades se faz


necessário comprovar:
- A filiação, sexo e idade dos animais - fazendo uma ficha com os dados, de
acordo com o registro da granja de origem.
- O estado sanitário - verificando possíveis mucosidades nas narinas, sarna
nas orelhas, diarréia, etc.
- Adequar os animais em alojamentos definitivos ou colocá-los em
quarentena.

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- Seguir o programa de alimentação da granja de origem e, se necessário,
fazer mudanças gradativas.
- Fazer tratamento anti-stress, usando complexo vitamínico na água por três
dias.
- Caso os animais estejam assustados, colocar um ninho na gaiola, por
alguns dias, servindo de refúgio.

Sistemas de Alojamento dos futuros Reprodutores e Matrizes -

Os machos, tanto produzidos na própria exploração como adquiridos de


outras granjas deverão ser separados em gaiolas individuais à partir dos 3 a 3,5
meses de idade, evitando desta forma brigas, que poderão resultar em ferimentos
graves e inclusive na castração através de mordidas nos órgãos genitais.
Da mesma forma, para as fêmeas, as quais poderão ser criadas em
grupos numa mesma gaiola até 3 a 3,5 meses de idade e à partir daí pelos
mesmos motivos de brigas, além de uma melhor condição para acompanhamento
do seu desenvolvimento, deverão ser separadas em gaiolas individuais com suas
respectivas fichas de filiação, raça e data de nascimento.
É interessante que nesta fase de crescimento tanto as fêmeas como os
machos se acostumam com o manejo diário, tendo freqüentes contatos com o
tratador através de colocação das mãos dentro da gaiola e o contato direto com o
animal. Isto facilita muito mais no início da vida reprodutiva, quando assim, o
animal se encontrará mais dócil e já acostumado às movimentações e transporte
dentro do galpão.

FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO

Avanços técnicos ligados aos controles da reprodução permitiram


sincronizar e concentrar operações ligadas ao manejo reprodutivo,
modificando drasticamente os sistemas tradicionais de produção de
coelhos. Deve-se considerar como principais fatores:
- Entendimento dos diversos aspectos diretamente relacionados à
fisiologia da reprodução da coelha;
- Aplicação de técnicas de controle de cio por via hormonal ou bio-
estimulação;
- Incorporação das prostaglandinas no controle da reprodução,
induzindo parto, encurtando um possível período de
pseudogestação e induzindo o cio.
- Avanços nos resultados conseguidos pela Inseminação Artificial;
- Disponibilidade de diluentes específicos para sêmen de coelhos;
As inovações afetaram também os machos que, particularmente, em
países mais desenvolvidos na cunicultura, passaram a ser considerados
como produtores de sêmen de qualidade comprovada e em quantidade
máxima. Os ejaculados são transportados para as granjas associadas, onde

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a aplicação das técnicas de Inseminação Artificial permite a substituição das
gaiolas dos machos por gaiolas de matrizes.

Descrição dos órgãos do aparelho genital da coelha

O aparelho reprodutor da coelha compreende os seguintes órgãos:


- Ovários;
- infundíbulos;
- ovidutos;
- úteros;
- vagina e
- vulva.

Os OVÄRIOS apresentam forma alongada e elíptica, de coloração


amarelada e peso que oscila entre 200 e 800 mg. Contem os folículos em
distintas fases de desenvolvimento, os folículos atrésicos (degenerados) e
os corpos lúteos.
Os INFUNDÍBULOS são uma membrana conjuntiva encarregada de
capturar os óvulos, após sua liberação, estando situado junto ao ovário.
Os OVIDUTOS são condutos finos e sinuosos, com,
aproximadamente, 2 cm de comprimento, onde, em seu terço superior, se
processa a fecundação.
Ainda que pareça que a coelha apresenta um corpo uterino com dois
cornos uterinos, na verdade a coelha apresenta dois ÚTEROS
independentes em forma de cones alongados, medindo 5 a 7 cm de
comprimento e que se abrem na vagina, através dos orifícios uterinos (colos
cervicais).
A VAGINA é um conduto que mede de 6 a 10cm, em cujo terço final
e em sua porção ventral se encontra a abertura da uretra. O conhecimento
de sua localização é importante para evita-lo durante as práticas de
inseminação artificial.
A VULVA representa a porção final e externa do aparelho
reprodutor da coelha. Apresenta importância para avaliar a fase em que a
coelha se encontra em seu ciclo estral, através da sua coloração como será
visto posteriormente.

Desenvolvimento do aparelho genital da coelha

A diferenciação sexual dos láparos ocorre aos 14- 15 dias de


gestação, ou seja na metade da gestação.
A partir do epitélio germinativo primitivo ocorre a formação de três
elementos sucessivos:
1- Aparecimento dos cordões medulares: Aos 23 dias de gestação;

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2- Formação do epitélio germinativo primordial: Um dia e meio após o
nascimento e darão origem às primeiras células germinativas que
maturarão no futuro.
3- Produção dos primeiros ovócitos: entre a 3a e 4a semanas de idade.
Estas células serão os primeiros óvulos que maturarão.
Como pode-se observar, a maturação folicular inicia-se já antes do
nascimento para produção dos primeiros óvulos aos 65 a 70 dias de idade.
A partir dos 80 a 90 dias de idade se produzem maturações
foliculares cíclicas e de forma continuada. No entanto, a puberdade se
apresenta em torno da 20a semana com variações de acordo com as raças,
alimentação, estação do ano, peso corporal, entre outros fatores. As raças
de porte médio para produção de carne apresentam a puberdade entre 4 e
4,5 meses.

Ciclo reprodutivo da coelha

O estudo da fisiologia da reprodução da coelha permite


compreender os mecanismos fisiológicos, que podem ser modificados, em
uma ou outra forma, ao aplicar técnicas para o controle da reprodução,
implicando em melhoras nos resultados econômicos de uma exploração
cunícula.
A coelha apresenta características reprodutivas diferentes de outras
espécies zootécnicas, devido à ausência de um ciclo estral definido e
regular, além da existência de mecanismos reflexos que permitem a
ovulação induzida por estímulos do coito.
Alguns autores mencionam a ausência de um ciclo estral e afirmam
que a coelha se apresentaria constantemente apta a ser fecundada. No
entanto, atualmente, a maioria dos pesquisadores afirmam que a coelha
apresenta ciclos, com duração de 16 dias, sendo os dois dias iniciais e os
dois finais inférteis e os 12 dias restantes passíveis de concepção. Todos os
autores partidários da teoria do ciclismo, consideram também que se trata
de um ciclo incompleto, onde a ovulação somente se processa se houver
estímulos externos (monta, estímulos hormonais ou elétricos).
As duas fases inicias do ciclo (pro-estro e estro) ocorrem de forma
semelhante às demais espécies. Os óvulos maduros e prontos para serem
liberados do ovário, no entanto, somente serão liberados se houver estímulo
de monta mencionado anteriormente (com a presença de um macho ou
então quando fêmeas são mantidas em grupo na mesma gaiola, os
possíveis saltos entre elas quando em cio) ou ainda com a aplicação de
hormônio que venha induzir a ovulação. Caso não houver qualquer destes
estímulos, os folículos maduros passarão por uma fase de degeneração
folicular, formando os “folículos atrésicos”, quando, ao seu final, iniciar-
se-á um novo ciclo com uma nova onda de crescimento folicular.

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Na verdade, durante o período fértil do ciclo, a coelha pode
apresentar folículos viáveis para serem ovulados independente da fase do
ciclo, variando, contudo quanto ao seu número.
As diferentes fases do ciclo estral da coelha poderão ser facilmente
identificadas através da coloração da vulva.

Cor da vulva Branca Rosada Vermelha Violácea Branca


Dias do ciclo 0-2 dias 30 -70 d
0
80 -90 d 100 -140 d 150 -160 d
fertilidade Remota fertil remota
Fases do Pró-estro estro Atresia folicular
ciclo

Manifestação do Cio na Coelha

As manifestações do cio são bastante discretas na coelha se bem


que o cunicultor experiente poderá reconhecê-las por determinadas
características de comportamento e também pelo exame genital da fêmea.
Com relação ao comportamento, as fêmeas apresentam-se:
- inquietas;
- apresentam o dorso arqueado (selado) com o posterior em uma
posição mais elevada e a cauda elevada, expondo a vulva;
- caso várias fêmeas estejam alojadas na mesma gaiola ocorrem
montas entre elas. Deve-se frisar que isto não pode acontecer, numa
criação racional de coelhos, pois levaria à falsa gestação das fêmeas e que
será mencionado mais adiante.
Entretanto, estes comportamentos podem ocorrer mesmo em
coelhas que não estejam em cio e, neste sentido, a forma mais fácil de se
identificar fêmeas em cio seria pelo exame genital, observando a coloração
da vulva, conforme quadro a seguir. Normalmente a fêmea em cio
apresenta a vulva de maior tamanho, a coloração bem avermelhada e
bastante úmida.
Ao ser apresentada ao macho, a coelha poderá recusar ou aceitar
a cobertura. Em caso de recusa, a coelha poderá permanecer imóvel, com o
ventre rente ao piso da gaiola e a cauda protegendo a região genital ou
então fugir do macho ou ainda agredi-lo.
Em caso de aceitação do macho, a fêmea se apresentará,
voluntariamente, imóvel, adotando uma posição adequada para possibilitar
a penetração. Esta posição, denominada de lordose, caracteriza-se pela
elevação do posterior e da cauda, expondo a vulva. Assume-se que, nesta
condição, a fêmea se encontra em cio e, portanto, no momento mais
adequado para ser coberta. Deve-se considerar, no entanto, que, embora
com pequenas possibilidades, algumas fêmeas poderão aceitar o macho

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mesmo em fases do ciclo estral não propícias à reprodução ou até mesmo
quando em gestação, em caso da fêmea ter contatos com macho.
Portanto o momento correto para apresentação da fêmea ao macho
e realização da cobertura seria quando a vulva se apresenta de coloração
avermelhada.
O quadro a seguir mostra o comportamento sexual da fêmea, de
acordo com a coloração da vulva

Relação entre a cor da vulva e o comportamento sexual da fêmea na


cobertura.
cor da vulva no de Comportamento sexual na cobertura
fêmeas
avaliadas Refuga Aceita Aceita c/ lordose
BRANCA 62 50 (80,5%) 11 (17,7%) 1 (1,6%)
ROSADA 154 57 (37,0%) 69 (44,8%) 28 (18,2%)
VERMELHA 116 3 (2,5%) 67 (57,6%) 46 (39,8%)
VIOLÁCEA 59 40 (67,8%) 17 (28,8%) 2 (3,4%)
Gosalves, et al. - Rivista di Coniglicoltura nº 5 - 1986.

O quadro à seguir, relaciona também a coloração da vulva com as


coberturas fecundadas.

Percentagem de saltos fecundos segundo a coloração da vulva.

COR DA VULVA BRANCA ROSADA VERMELHA VIOLÁCEA

Taxa de 0% 20% 80-90% 50%


fecundidade

Introdução da fêmea no rebanho reprodutivo

Existem dois fatores importantes a serem considerados para decidir


o momento mais adequado para se fazer a primeira cobertura, estando
ambos os fatores influenciados pela raça criada. Estes fatores são:
- A idade cronológica - Se na criação de coelhos vem sendo aplicado
um bom programa de manejo, principalmente, uma correta alimentação, a
idade da matriz permite uma boa planificação da reprodução e espaço no
galpão.
Deve-se considerar que o emprego de reprodutores ou matrizes
demasiado jovens, acarreta uma produção inferior durante toda vida

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reprodutiva. Por outro lado, se as matrizes iniciarem a vida reprodutiva
muito tardiamente, existirá o risco de engordarem demasiadamente,
diminuindo a produtividade média ou, até mesmo, levando-a a esterilidade.
Para machos de raça média (Nova Zelândia, Califórnia, Chinchila,
etc.) uma boa idade para iniciarem a vida reprodutiva seria ao redor de 6
meses ou seja, um mês a mais das fêmeas.
Para as fêmeas de raça média a idade deverá ser de 4,5 a 5 meses.
Deve-se frisar que a idade citada somente é orientativa e dependerá de
cada criação, particularmente, variando segundo a seleção mais ou menos
intensiva, alimentação, época do ano e a individualidade dos animais. Desta
forma, é interessante que, além da idade do animal, se considere também o
peso mínimo à primeira cobertura.

Idade de precocidade

Significa tomar como parâmetro para a primeira cobertura o peso do


animal. Como regra geral, tanto o macho quanto as fêmeas devem
apresentar à primeira cobertura 80% do seu peso adulto.
Para as raças gigantes com peso vivo adulto de 6 kg, os animais
podem iniciar a reprodução quando atingirem, em torno de, 4,8 kg. Para as
raças médias (Nova Zelândia, Califórnia, Chinchila, etc.) com peso vivo de 4
a 4,5 kg, podem iniciar a reprodução quando atingirem 3,2 a 3,5 kg.
Para as raças pequenas (Holandês, Hermelin, etc.) com peso vivo
adulto de 3,5 kg, quando atingirem 2,8 kg.
Na prática é interessante que se leve em consideração os dois
fatores conjuntamente, (idade e peso).

Manejo de cobertura

A cobertura, monta, salto, cópula, coito ou ato sexual tem por


objetivo a fecundação a fêmea, para que se inicie a reprodução. É
interessante considerar que para a realização da cobertura a fêmea sempre
deve ser conduzida para a gaiola do macho.
Colocamos juntos os dois animais e caso a fêmea estiver em cio, em
poucos segundos realiza-se a cobertura. Durante a monta, poderão ser
observadas quatro fases em seqüência, tais como:
- aproximação do macho e olfato geral,
- lordose da fêmea - a fêmea coloca-se em posição para receber o
macho, levantando e expondo a vulva,
- monta,
- ejaculação - um sinal característico de que houve a ejaculação é a
queda do macho para trás ou para um dos lados.

13
Após alguns instantes retirar a fêmea da gaiola do macho e observar
se a ejaculação ocorreu corretamente através da verificação da vulva
bastante úmida e com presença de sêmen. Em seguida a fêmea deve ser
colocada em sua gaiola de origem e anotar, em sua ficha, a data da
cobertura e o número do macho utilizado.
Dependendo do manejo implantado em cada criação, poderá ser
realizada apenas uma cobertura ou a repetição da cobertura na mesma
fêmea, com o mesmo macho, com intervalo de 10 a 12 horas.
Muitas fêmeas, logo após serem acasaladas, poderão urinar e, neste
caso, eliminam muito sêmen. A repetição da cobertura, 12 horas após a
primeira, poderá, aumentar a possibilidade de fecundação da fêmea.
Portanto, a repetição ou não da cobertura fica a critério de cada criador.
É importante salientar que as coberturas devem ser assistidas
(acompanhadas) e, de preferência, realizadas nas primeiras horas da
manhã ou à tardinha.
As primeiras coberturas realizadas por machos jovens deverão
ocorrer com fêmeas adultas e em pleno cio. Isto facilita muito o início de
vida reprodutiva e evita uma possível inibição do macho, caso esse trabalho
for dificultado por fêmeas agressivas e inexperientes.
Esta observação é válida também para fêmeas jovens, que deverão
ter suas primeiras coberturas, preferencialmente, realizadas por machos
experientes.

Cobertura forçada

Muitas fêmeas, por não estarem em cio, quando colocadas na


gaiola do macho, poderão recusar a cobertura. Neste caso, dependendo do
estado físico do animal, ou seja, se não estiver debilitado, poderá ser feita
uma cobertura forçada, onde a fêmea é contida em posição para que o
macho realize a cobertura.
Um método bastante simples seria o seguinte:
- amarrar uma corda fina na cauda da fêmea, fazer esta corda
passar pelo dorso, puxando-a levemente em direção à cabeça e prendendo-
a com a mão juntamente com uma dobra de pele logo atrás do pescoço. A
outra mão deve ser colocada na região ventral, próximo da região inguinal,
elevando o posterior do animal. Desta forma o posterior da fêmea ficará em
um plano mais elevado e a cauda voltada para cima irá permitir a exposição
da região genital, facilitando a realização da cobertura.
Deve-se salientar que, caso haja necessidade de um número muito
alto de coberturas forçadas, isto poderá ser um sinal de algum erro no
manejo, particularmente em relação ao ritmo de reprodução, alimentação,
sanidade e/ou condições ambientais.

14
Ovulação

A ovulação na coelha é conseqüência do estímulo coital ou outros


estímulos como injeções de hormônios, as tentativas de monta de coelhas
alojadas juntas, estímulos elétricos lombosacrais, cerebrais, hipotalâmicos
ou hipofisários e estímulos vaginais que permitam a elevação dos níveis do
hormônio luteinizante (LH) na corrente sanguínea. Há unanimidade entre os
autores em considerar que a ovulação ocorre pela liberação hipotalâmica do
fator liberador de LH (LHRH) que atuará estimulando a hipófise a liberar o
hormônio lutenizante (LH). O nível máximo de LH na corrente sanguínea é
observado entre 1 e 3 horas após a cobertura e em seguida baixa para
níveis normais 4 a 5 horas após a cobertura.

Níveis de LH no soro de coelhas antes e após a cobertura

Momento da Avaliação LH (mg/ml de soro)


- Antes da cobertura 22
- Após a cobertura
30 min. 154
1 hora 1110
3 horas 1343
5 horas 245
1 dia 40
5 dias 38

O pico pré-ovulatório de LH desencadeia uma série de processos nos


folículos pré-ovulatórios que conduzem à liberação do ovócito (ovulação)
10 a 12 horas após a cobertura.
Após a ovulação se forma um coágulo pela ruptura de vasos
sanguíneos, as células da granulosa se hipertrofiam e ocorre também uma
proliferação das células da teça interna com invasão de vasos sanguíneos,
formando assim o CORPO LÚTEO, responsável pela produção de
progesterona. Em torno de 4 dias após a cobertura os níveis de
progesterona começam a elevar-se, exercendo uma ação inibitória sobre a
atividade sexual das coelhas.

Vida fértil dos espermatozóides e fecundação dos óvulos

Quando o sêmen do macho é depositado na vagina da fêmea, os


espermatozóides passam através do trato reprodutivo, chegando ao
oviduto, onde em seu terço superior ocorrerá a fecundação.
A velocidade de ascensão das células germinativas do macho permite
que após 5 horas da cobertura se encontrem no oviduto, podendo ali

15
permanecerem durante 32 horas. No entanto, as melhores condições
fecundantes ocorrem 13 a 16 horas após o coito.
O quadro a seguir mostra os diferentes fenômenos que ocorrem a
partir da cobertura e o desenvolvimento dos embriões e fetos durante a
gestação.
A fase embrionária corresponde aos primeiros 7 dias de gestação
(antes da placentação), quando ocorre a formação primitiva das estruturas e
tecidos do organismo. Na fase de blástula ocorre a formação diferenciada
primitiva dos tecidos que darão origem aos diferentes órgãos e estruturas
do organismo. Estas formações caracterizam-se por uma porção externa –
o ectoderma, uma porção interna – o endoderma e uma porção ou zona
média – o mesoderma.
Estas três porções, ao se diferenciar-se Arão origem aos diferentes
tecidos:
- Ectoderma - dará origem ao tecido cutâneo, nervoso e glandular;
- Endoderma - dará origem aos órgãos internos e
- Mesoderma – dará origem aos músculos, ossos e tecido
conjuntivo.

A fase fetal ocorre a partir da placentação, momento em que o feto


passa a nutrir-se da mãe. Esta ligação do feto com a coelha é muito íntima,
o que corresponde a placenta do tipo Hemocorial.

Fases da fecundação e desenvolvimento Tempo após a cobertura


embrionário e fetal
Cobertura 0 horas
Liberação de dopamina no hipotálamo 10 minutos
Nível máximo de LH na coelha 1 a 3 horas
Chegada dos SPZ no oviduto 2 a 5 horas
Ovulação 10 a 13 horas
Fecundação 12 a 15 horas
Formação da mórula
1a Fragmentação (2 Células) 21 a 25 horas
2a Fragmentação (4 Células) 25 a 32 horas
3a Fragmentação (8 Células) 32 a 40 horas
4a Fragmentação (16 Células) 40 a 47 horas
5a Fragmentação (32 Células) 48 horas
Implantação do embrião no útero 72 a 75 horas
Formação da blástula 75 a 96 horas
Placentação 7 dias
Desenvolvimento do feto
- 1g de peso e <1cm de comprimento 14 dias

16
- 4 a 5 g de peso e 4 cm de comprimento 20 dias
- 22 a 25 g de peso e 7 cm de 25 dias
comprimento
- 45 a 50 g de peso e 10cm de 30 dias
comprimento
Parto 30 a 32 dias

Ritmo de utilização do macho

A relação de machos em um rebanho de reprodução, em situação


de monta natural, será de um para 8 a 10 matrizes. No entanto, nas
criações em que se realiza inseminação artificial, um reprodutor poderá
servir, aproximadamente, 50 matrizes.
Durante os primeiros três meses de atividade reprodutiva,
aconselha-se uma utilização moderada do reprodutor, com uma média de
duas a três coberturas por semana e, à partir de então, o ritmo de utilização
poderá aumentar para quatro a cinco coberturas semanais, sempre
intercalando os dias de cobertura com os de descanso. Nos casos em que o
manejo reprodutivo considerar a repetição da cobertura da matriz, nos dias
em que o macho é utilizado, poderá dar dois saltos, um pela manhã e outro
à tarde. Neste caso é recomendável utilizar a relação de um macho para
oito fêmeas.
A utilização muito intensa do reprodutor pode provocar-lhe um
esgotamento, além da queda na concentração de espermatozóides no
sêmen, assim como uma diminuição no volume do ejaculado, o que pode
causar um aumento das falhas reprodutivas.

Programas de reprodução

Os programas ou ciclos representam os ritmos de reprodução em


que as matrizes são submetidas durante o ano. Desta forma os ritmos de
reprodução serão mais intensos quanto menores forem os intervalos entre
partos, ou seja, quanto mais cedo a coelha for coberta após o parto mais
intenso será o ritmo de reprodução.
O programa de reprodução que o cunicultor escolherá para o seu
plantel é uma decisão fundamental para obtenção da máxima produtividade.
Deve-se salientar, que nem sempre o ritmo mais intensivo de
reprodução é o que proporciona a máxima produtividade, mas sim aquele
ritmo compatível com as condições fornecidas aos animais no tocante a
alimentação, ambiente e manejo. Isto significa que quanto maior o número
de partos/coelha/ano, maiores deverão ser os cuidados dispensados a

17
essas matrizes para atender as suas exigências em relação aos três
aspectos acima citados.
Não será apenas a potencialidade reprodutiva da coelha
responsável pelo elevado número de filhos gerados, mas também
indispensáveis são as condições ambientais para que a carga genética da
matriz seja expressa.
No quadro a seguir são apresentados alguns programas de
reprodução, que deverão ser eleitos entre eles ou nos seus intervalos, de
acordo com as condições dos animais, alimentação, ambiente e manejo de
cada propriedade.
Deve-se prestar a atenção na relação entre o ritmo de reprodução
eleito na propriedade e a idade de desmama das ninhadas. Programas mais
intensivos, particularmente aqueles em que as matrizes são cobertas logo
após o parto, requerem que os láparos sejam desmamados mais cedo, com
27 a 28 dias de idade. Apesar da possibilidade da coelha ser submetida a
ritmos reprodutivos de 12 partos anuais, a grande maioria das explorações
racionais e intensivas de coelhos, em nível mundial, utilizam ritmos que
permitem 8 a, no máximo, 10 partos teóricos/fêmea/ano, realizando as
coberturas 8 a 12 dias após os partos. Os ritmos mais intensos que estes
exigem a aplicação de alta tecnologia de manejo, instalações com ambiente
controlado, alimentação especial para as matrizes, tendo em vista as
elevadas exigências nutricionais para produção de leite e reprodução e para
os láparos, tendo em vista a desmama precoce.

Programas de reprodução na exploração de coelhos

Características PROGRAMAS DE REPRODUÇÃO

1º 2º 3º 4º 5º 6º
Cobertura após o parto (dias) 1 7 14 21 28 45
Duração da gestação (dias) 31 31 31 31 31 31
Intervalo entre partos (dias) 32 38 45 52 59 76
No teórico de partos/ano 11,4 9,6 8,1 7,0 6,2 4,8
Taxa de fertilidade (%) 70 75 85 85 80 75
No real de partos/ano 8,0 7,2 6,9 6,0 5,0 3,6
No de láparos nascidos/parto 7,0 8,0 8,2 8,2 8,0 8,0
No de láparos nascidos/ano/fêmea 56 58 57 49 40 29
Mortalidade do nasc. ao abate (%) 28 24 22 20 20 18
No de láparos vendidos/coelha/ano 40 44 44 39 32 25
Idade de desmama dos láparos 27 32 32 - 35 45
(dias)

18
Para uma melhor compreensão do Quadro acima será colocado o
significado dos itens mais importantes.
- Intervalo entre partos (dias) = representa a soma do período
em que é feita a cobertura após o parto e a duração média da
gestação.
- Número teórico de partos/coelha/ano = é obtido dividindo o
número de dias do ano pelo intervalo entre parto em que as
matrizes são submetidas. Esta denominação deve-se a que nem
todas as coelhas cobertas irão parir. Na verdade, este dado deve
ser corrigido, considerando a taxa de fertilidade na criação.
- Taxa de fertilidade (%) = (no de partos/no de coberturas)* 100.
- Número real de partos/ano = seria a aplicação da taxa de
fertilidade sobre o número teórico de partos/ano.
- Número de láparos nascidos/coelha/ano = equivale ao número
de láparos nascidos por parto, multiplicado pelo número real de
partos/ coelha/por ano.
- Número de láparos vendidos/coelha/ano = corresponde ao
número de láparos nascidos/coelha/ano descontado da
mortalidade do nascimento ao abate, no período equivalente.

A obtenção desses índices nas criações de coelhos permite uma


avaliação correta do programa de reprodução utilizado e possibilita corrigir
qualquer falha que estiver ocorrendo na criação, aumentando a
produtividade do rebanho.

Manejo na gestação

Decorridas 10 a 13 horas após a cobertura, ocorrerá a ovulação e,


logo em seguida, a fecundação do óvulo no terço superior do oviduto ou
trompas de Fallópio. Desta forma a coelha entra em fase de gestação, cuja
duração média é de 31 dias, variando de 29 a 33 dias.
Estudos estatísticos indicam que 85,5% das coelhas parem após 31
dias de cobertura. Por outro lado, os láparos nascidos antes do 29º dia de
gestação, dificilmente sobrevivem, tendo em vista a importância do período
final da gestação para o desenvolvimento dos fetos.
Nas criações comerciais, as coelhas passam a maior parte da vida
reprodutiva, simultaneamente, em gestação e lactação, ou seja, a coelha é
coberta novamente pelo macho antes da desmama dos láparos da ninhada
anterior. É aconselhável que o criador dê o máximo de atenção para essas
matrizes, alimentando-as adequadamente, pois o desgaste desses animais
é muito grande.
Em casos de fêmeas que estão apenas em gestação, é necessário
também um ajuste na alimentação. Neste caso, nos primeiros 20 dias de

19
gestação a fêmea deve receber ração controlada para que não engorde em
demasia e nos 10 dias finais, alimentação à vontade; isto porque no terço
final de gestação ocorre o maior crescimento dos fetos.
Esporadicamente podem ocorrer abortos o que, neste caso, não
deve ser motivo de preocupação, porém se a incidência aumentar, é
necessário averiguar as causas, que podem ser devidos a:
- Enfermidades do aparelho reprodutor;
- Medicamentos;
- Animais estranhos ou predadores na criação (stress);
- Fêmeas excessivamente gordas;
- Substâncias tóxicas presentes nos alimentos;
- Freqüentes entradas de pessoas estranhas na criação (stress);
- Elevadas temperaturas.

Diagnóstico da Gestação

É uma prática muito importante a ser adotada na fase de gestação


pois permite verificar se a coelha está ou não gestando. O método mais
seguro e simples é o da APALPAÇÃO VENTRAL, realizado entre o 10º e o
15º dia de gestação, da seguinte maneira:
Faz-se a contenção da fêmea, com uma das mãos, pelas orelhas e
uma dobra de pele da região toraco-cervical, mantendo-a na gaiola ou sobre
uma mesa, com a cabeça voltada para o operador e com a outra mão fazer
a apalpação na região inguinal, buscando localizar os embriões no útero, os
quais, quando presentes, dão a sensação de pequenos caroços. Esta
prática não é difícil de ser realizada, mas requer um certo treinamento para
evitar possíveis abortos ou então fazer confusão dos embriões com as fezes
que se encontram no reto.
Os principiantes devem iniciar esta prática, apalpando fêmeas no
14º ao 15º dia de gestação, ocasião em que os embriões se destacam mais,
apresentando o tamanho próximo de 1 cm. Posteriormente, com melhor
treinamento e prática, a pessoa deve ir antecipando os dias de apalpação,
até chegar ao 10º dia de gestação, época mais recomendável para executar
esta prática.
A importância desta prática reside no fato de antecipar as coberturas
de fêmeas que falharam e assim diminuir o intervalo entre partos.

Pseudogestação

Este fenômeno pode ocorrer quando os óvulos liberados por ocasião


da ovulação não são fertilizados. As possíveis causas da não fecundação
dos óvulos, podem ser:
- Esterilidade permanente ou temporária dos machos;

20
- Presença de urina junto com o sêmen;
- Eliminação de sêmen do trato reprodutivo da matriz ao urinar em
seguida à cobertura;
- ejaculação fora da vagina;
- montas entre fêmeas com idade de reprodução.

As três primeiras são as causas mais freqüentes. Em regiões ou


épocas muito quentes, com temperatura acima dos 30° C a 35° C, pode
ocorrer diminuição drástica da concentração de espermatozóides e
qualidade do sêmen, inclusive levando à esterilidade temporária.
Tanto o macho poderá urinar no momento da ejaculação, quanto à
fêmea, logo após ser cobertura. Ambos os casos poderão reduzir ou até
eliminar por completo a viabilidade dos SPZ.
Também coberturas mal executadas com ejaculação prematura, ou
fora da vagina são causas de fêmeas em pseudogestação.
A coelha pseudogestante comporta-se, fisiologicamente, como se
estivesse em gestação, com duração de 16 a 18 dias. Neste período, a
coelha cessa toda a atividade do ovário, não entrando em cio e não
aceitando o macho, tendo em vista a atividade do corpo lúteo, produzindo
progesterona. Ao final, as coelhas apresentam o ventre e as mamas
avolumadas e arrancam pêlo do abdômen, para construir o ninho,
manifestando todo o comportamento como se fosse parir.
Pode-se evitar este fenômeno e aumentar a produtividade das
matrizes numa criação de coelhos com o uso de bons machos, fazer com
que as montas se realizem de forma correta e na presença do tratador,
além da análise da presença de sêmen na vagina após a cobertura e,
finalmente, evitar que grupos de coelhas, em idade de reprodução, sejam
alojadas na mesma gaiola.

Colocação do ninho na gaiola

Decorridos 27 a 28 dias de gestação deve ser colocado o ninho na


gaiola da fêmea, contendo maravalha ou capim seco ou ainda palha de
cereais como material da cama. A partir do dia anterior ao parto ou ás vezes
logo após o parto, a coelha deposita também dentro do ninho os pêlos que
ela própria arranca da região ventral e da papada. Coelhas que arrancam
grande quantidade de pêlos, depositando dentro do ninho para proteger os
recém-nascidos, são fêmeas que apresentam um instinto maternal muito
desenvolvido. Nos casos de fêmeas, particularmente de 1 o parto, que não
realizam este trabalho, o tratador, deverá fazê-lo e, ele próprio, arrancar os
pêlos da matriz para proteção dos recém-nascidos.
Se isto não for realizado e os láparos não tiverem condição de se
aquecerem, fatalmente aumentará a mortalidade durante esta fase.

21
Um ou dois dias antes do parto, a fêmea diminui o consumo de
alimentos e deste momento em diante não deve ser molestada além do que
deverá ter, com certeza, água à disposição. Neste sentido, o tratador
deverá observar, diariamente, o funcionamento das válvulas e também se
um possível deslocamento do ninho na gaiola estiver prejudicando o acesso
à água.

MANEJO NO PARTO

Chegado o momento do parto, a coelha torna-se inquieta, entrando e


saindo seguidamente do ninho, podendo o parto ocorrer, tanto durante o dia
quanto à noite.
O comportamento maternal da matriz que se encontra próxima ao
parto inclui a preparação do ninho, arrancando pelos para proteção da
ninhada e, depois de ocorrido o parto, agrupa, lambe os fetos e se prostra
sobre eles para amamenta-los. Este comportamento é regulado pela PRL,
ocitocina e PGF2.
As coelhas amamentam as suas ninhadas, geralmente uma vez ao
dia e, preferencialmente, em horários noturnos
O mecanismo que desencadeia o parto é bastante complexo e
envolve e envolve diversas etapas, coordenadas pelo sistema endócrino,
associadas à maturação fetal, dilatação do canal cervical, início das
contrações uterinas e síntese e ejeção do leite.
A gestação na coelha é mantida, fundamentalmente, pela secreção
de progesterona pelo corpo lúteo e por isso é indispensável que sua
produção cesse para que ocorra o parto. Este processo é iniciado pelos
fetos e envolve o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal maternal e fetal , como
mostra o esquema abaixo.
Inicialmente ocorre a liberação, pelo hipotálamo da Mãe, de um fator
liberador corticotrófico (CRF) e pela circulação portal do feto estimulará a
secreção do hormônio Adrenocorticotrófico (ACTH) pela adenohipófise do
feto.
O ACTH, por sua vez, estimula o desenvolvimento das glândulas
Adrenais e a produção de Cortisol. O cortisol estimula a produção de
placentária de estrógenos (estradiol), responsável pela formação de
receptores de ocitocina nos miócitos e a produção de PGF2 pelo
endométrio, a partir do ácido araquidônico. Enquanto houver a produção de
Progesterona, esta inibe ambos os efeitos estimulados pelo estradiol.
A PGF2 possui atividade luteolítica, tanto na coelha gestante como
em pseudogestação provocando regressão do corpo lúteo.
A queda da progesterona plasmática produz aumento da
distensibilidade uterina, ao estimular a colagenólise do tecido conectivo

22
miometrial, assim como o relaxamento e distensão do cervix. A relaxina
também estaria envolvida neste processo.
Finalmente, a neurohipófise passa a produzir ocitocina, que
juntamente com as prostaglandinas F e E são responsáveis pelas
contrações das fibras musculares lisa uterinas e abdominais

MÃE Neurohipófise CRF

_________________________________ +

FETO Hipotálamo ACTH


Hipófise +

Suprarrenais CORTISOL
+
+
Placenta ESTRADIOL Receptores de
_________________________________ ocitocina nos
+ miocitos

Placenta PGF2 pelo endométrio

MÃE

+ - MIOMÉTRIO
-
Corpo Lúteo PROGESTERONA
+

Neurohipófise OCITOCINA

Figura 1- Relações endócrinas que envolvem o parto.

O tempo de trabalho de parto se estende, em média, por 10 a 30


minutos. Muito raramente os partos tem duração maior que 40 a 50 minutos,
o que demandaria especial atenção para estas matrizes que poderiam estar
com alguma dificuldade de expulsão dos láparos. As possíveis causas
seriam temperatura elevada, problemas físicos da matriz ou gestações

23
pouco numerosas, com láparos muito grandes. Deve-se salientar, no
entanto, que são muito raros os problemas de partos em coelhas.
À medida que os láparos vão nascendo, a própria coelha livra-os da
placenta, limpando-os e arranjando-os no ninho. Algumas fêmeas podem
parir fora do ninho e é comum, nestes casos, principalmente em épocas de
baixa temperatura, ocorrer a morte de todos os recém-nascidos. Caso não
venham a morrer, a queda na temperatura corporal neste momento poderá
implicar na diminuição da capacidade de crescimento com prejuízos no
desempenho durante toda a vida do animal.
Quando a incidência de partos fora do ninho for muito grande deve-
se suspeitar de algum erro no manejo, entre eles, odores anormais no
ninho, excesso de calor, excesso de umidade no ninho, material muito
grosseiro colocado como cama, sendo importante as boas condições no
ninho para que a fêmea tenha acesso ao mesmo com naturalidade.
O número de láparos nascidos a cada parto varia de 1 a 15, tendo
como média 8 a 10 láparos/parto, com peso vivo de 40 a 60 g por láparo,
sendo ideal que nasçam com 55 a 60 g.
Quanto mais baixo o peso ao nascer, maior a probabilidade de morte
dos láparos.
Após o parto, a fêmea se mostrará ainda agitada e a respiração
acelerada, demorando algum tempo para voltar a normalidade. Por esta
razão, somente após decorrido algumas horas, nas situações de parto
normal e natural, é que procedemos o primeiro exame do ninho, quando
então se fará:
- contagem dos láparos e retirada dos mortos;
- anotação, na ficha da matriz, da data do parto e o número de
nascidos vivos e mortos;
- retirada de restos de placenta e cama úmida do ninho, podendo
inclusive ser trocado quando as condições de higiene são
precárias, procurando manter a cama farta e seca (pêlo,
maravalha ou fenos bem macios e ricos em folha) e
- fazer transferência de láparos de uma fêmea para outra que
tenha parido no mesmo dia ou no dia anterior, caso o número de
nascidos for muito grande (acima de 8 a 10 láparos).

Esta última operação é importante e será tratada com algum detalhe.


A transferência de láparos, usualmente, é realizada com o objetivo
de uniformizar as ninhadas, deixando-as com 8 a 10 láparos, número este
que as coelhas, com raras exceções, conseguem criar em condições
satisfatórias.
As precauções a serem tomadas nesta prática seriam com relação à
seleção de animais para reprodução devido a animais com diferentes

24
filiações numa mesma ninhada. Esta preocupação não existe, no entanto,
com os animais que são destinados ao abate.
Além deste aspecto, devemos evitar a transferência de láparos com
diferença maior que 3 a 4 dias.
O ideal é fazer transferência de láparos entre ninhadas que
nasceram no mesmo dia.
Quando a transferência não pode ser realizada pela falta de outras
ninhadas com idades semelhantes, os láparos excedentes poderão ser
sacrificados, escolhendo-se, para tanto, os mais fracos.

MANEJO DURANTE A LACTAÇÃO

Dentre os fatores que participam no complexo lactogênico, a


Prolactina (PRL) é o hormônio essencial para a manutenção da lactação.
Este hormônio regula diretamente o início da lactação e, juntamente com os
glicocorticóides a síntese de caseína e lactose, ativando a PGF2 como o
mediador deste efeito sobre as células da síntese do leite.
Na verdade, a lactação se inicia com um aumento significativo da
PRL e diminuição paralela da Progesterona que produz um aumento de
receptores para a PRL no parênquima mamário a partir do 20 o dia de
gestação até 500% após o parto.
Quando a lactação está plenamente estabelecida (ao redor do 11o
dia pós-parto), amamentação provoca uma liberação imediata e prolongada
de PRL, com uma duração de até 3 a 4 horas. Este efeito é fundamental
para a manutenção da lactação, alcançando concentrações máximas de
PRL no plasma entre o 2o e o 20o dia de lactação e diminuindo
paulatinamente em seguida até o final, entre o 28o e 30o dia pós-parto.
A amamentação também estimula a produção do hormônio ocitocina
pela neurohipófise, indispensável para a ejeção do leite. A ocitocina se liga
aos receptores das células mioepiteliais dispostas longitudinalmente nos
condutos lactíferos e ao redor dos alvéolos da mama, provocando a sua
contração e a passagem do leite em direção aos condutos mamários e sua
conseqüente ejeção.
Outros hormônios lactogênicos indiretos são o STH (somatotrofina),
insulina, estrógenos e triiodotironina que participam no metabolismo geral
do organismo.
A Progesterona, por sua vez, possui um efeito marcadamente,
inibitório da lactogênese.

25
Anomalias no comportamento maternal da coelha

O caráter maternal da coelha é um elemento favorável e desejável


que resulta na maior possibilidade de sobrevivência das ninhadas.
As anomalias de comportamento maternal ou casos de acidentes no
parto mais característicos de coelhas são:
- canibalismo;
- falta de cuidado com os recém-nascidos;
- abandono da ninhada e
- falta de leite.

O canibalismo, apesar de não ser tão freqüente, é um problema


sério, onde a coelha devora, totalmente ou parcialmente, suas crias recém-
nascidas. Normalmente, está relacionada com carência alimentar,
especialmente em proteína e sal comum (cloreto de sódio). Entretanto,
poderá também estar relacionado com erros no manejo, tais como:
- ninhos mal desinfetados;
- excesso de umidade;
- instalação inadequada;
- enfermidades;
- parasitismos (sarna, por exemplo);
- pessoas estranhas na instalação e
- falta de água.
Às vezes ocorrem casos de coelhas abandonarem os láparos, os
quais morrem de frio ou inanição. Esta atitude da fêmea poderá estar ligada
a problemas patológicos ou então como conseqüência do manejo
inadequado.
Entre as causas patológicas, são causas de abandono todas as
enfermidades que se produzem durante o período de recuperação após o
parto, tais como:
- metrites
- mastites
- febre do leite e
- outras que provocam acessos febris ou que causam inapetência,
até a parada definitiva da produção de leite (agalactia).
Outras causas de abandono da ninhada estão relacionadas com a
falta de instinto maternal. Normalmente nestes casos as coelhas se
apresentam:
- agressivas
- não constroem ninhos adequadamente
- entram e saem do ninho sem cuidados, ferindo os láparos.
- os láparos se encontram dispersos dentro do ninho.

26
Matrizes com este comportamento devem ser descartadas!!!!

Finalmente, abandonos de ninhadas podem ainda estar relacionados


com o manejo, podendo ser enumerados vários fatores, entre eles:
- láparos muito pequenos, nascidos de mães mal alimentadas, ao
apresentarem dificuldades de sucção do leite serão incapazes de
desencadear o processo de lactação;
- todas as alterações ambientais que provocam stress;
- ninhos mal construídos que favorecem o esmagamento dos
láparos ou a sua dispersão dentro do ninho;
- a presença de láparos mortos no interior do ninho;
- excesso de umidade, ninhos sujos e mal desinfetados;
- capim muito grosseiro, duro e que fere as mamas da coelha
quando da sua entrada no ninho;
- falta de água.
Para combater os problemas de abandono da ninhada, evitar
canibalismo, e diminuir a mortalidade dos láparos nesta fase é
imprescindível que o criador observe todos os ítens citados, causadores de
transtornos para as fêmeas e os láparos na fase de lactação.
A fase de criação dos láparos compreendida do nascimento à
desmama é bastante importante porque, em grande parte, o sucesso da
exploração cunícula depende do desempenho dos animais neste período.
As principais metas visadas na fase de lactação são a baixa
mortalidade e grande desenvolvimento dos filhotes, cabendo à matriz a
maior parte da responsabilidade para que os objetivos sejam alcançados,
desde que o proprietário dê todas as condições exigidas pelos animais.
As revisões dos ninhos deverão ser feitas diariamente ou, no
máximo, em dias alternados, tomando sempre o cuidado de serem rápidas,
evitando-se, contudo, movimentos bruscos, molestar a fêmea ou passar
odor estranho aos láparos através das mãos sujas. Observar a quantidade
de pêlo para que os láparos, pelo menos na primeira semana, tenham
condições de temperatura do ninho, de 30 a 34°C.
Durante as primeiras semanas de vida dos láparos, ocorrem
mudanças morfológicas e de seus hábitos:
- ao nascer os láparos se apresentam com o corpo totalmente
desprovido de pêlos;
- no 4º a 5º dia de vida já estão completamente cobertos de pêlo;
- no 6º dia apresentam o dobro do peso ao nascer;
- entre 10 a 12 dias abrem os olhos;
- aos 15 dias já andam com desenvoltura e
- aos 15 a 20 dias saem do ninho e iniciam o consumo da ração.

27
Quando os láparos saem do ninho antes desta idade é porque
sentem muito calor ou então porque a disponibilidade de leite é insuficiente.
Até os 21 dias de idade, aproximadamente, a alimentação dos
láparos é basicamente LEITE MATERNO. Portanto, o peso dos animais a
esta idade é uma medida importante para a avaliação da capacidade da
matriz em criar seus láparos.
O Quadro a seguir mostra a evolução na produção de leite durante a
lactação.

Produção média de leite pela coelha.


SEMANA DE PRODUÇÃO NA % DA PRODUÇÃO
LACTAÇÃO SEMANA (g) ACUMULADA
1 842 11,9
2 1291 31,5
3 1690 55,3
4 1460 75,9
5 1030 90,4
6 680 100

Como pode-se observar, a coelha produz, em torno, de 55% da


quantidade de leite do período total de lactação até os 21 dias do parto. Aos
30 a 35 dias de lactação a coelha já produziu em torno de 80 - 90% do leite
do período total de lactação. Isto mostra que a partir dos 28 a 35 dias de
idade dos láparos, a quantidade de leite disponível para a ninhada contribui
pouco para sua alimentação, podendo, a partir desta idade, ser feita a
desmama dos coelhos.
Tanto a produção como o consumo individual de leite, variam de
acordo com o tamanho da ninhada.
No grs leite grs de leite grs de leite PV aos
láparos produzido em 42 ingerido /láparos inger. /láparos 21d (g)
na dias em 42 d em 21 d
ninhada
3 3150 1050 588 345
4 4000 1000 560 329
5 4875 975 546 321
6 5700 950 532 312
7 6300 900 504 296
8 6960 870 487 286
9 7650 850 476 280
10 8100 810 453 266
11 8470 770 431 252
12 8880 740 414 243

28
Crescimento dos láparos lactantes

Os láparos se caracterizam por apresentarem um desenvolvimento


muito rápido, podendo dobrar seu peso ao nascer em apenas seis dias, um
período muito curto se considerarmos o tempo necessário para que isso
ocorra em outras espécies, como pode-se observar em seguida:
- Homem - 183 dias
- Cavalo - 60 dias
- Bezerro - 47 dias
- Leitão - 14 dias
- Coelho - 6 dias.

Com relação a velocidade de crescimento, os coelhos podem


multiplicar o seu peso ao nascer em 20 vezes durante 42 dias de vida.
O Quadro a seguir mostra o incremento de peso médio de láparos
lactantes, nos seus primeiros 35 dias de idade.

Pesos médios de láparos lactantes em distintas idades.


IDADE (DIAS) PESO (g) AUMENTO DE PESO DIÁRIO (g)
1 50
2 60
3 70 10
4 80
5 90
6 100
7 115
14 220 15
21 335
28 500 23,5
35 770 38,5

DESMAMA E RECRIA DOS LÁPAROS

A desmama é uma operação que consiste, basicamente, na


separação dos láparos da mãe. Esta separação poderá ocorrer de duas
formas:
1- mantendo a matriz na sua gaiola e retirando a ninhada que
deverá ser alojada em uma outra gaiola até a idade de abate ou
então o inverso,

29
2- retirando a fêmea que deverá ser alojada em outra gaiola no
mesmo ou em outro galpao e os láparos mantidos na gaiola onde
foram concebidos até o abate.

A opção por um ou outro sistema dependerá do manejo adotado na


criação e a organização dos lotes das matrizes em bandas ou não. O
sistema mais comum, ainda hoje, é a retirada dos láparos, mantendo a
fêmea em sua gaiola durante toda a vida reprodutiva.
No entanto, com os novos sistemas de organização das matrizes em
bandas, particularmente, quando em banda única, onde todas as fêmeas
são cobertas na mesma época, obedecendo um ritmo reprodutivo pré
estabelecido, a desmama é feita retirando-se a fêmea da sua gaiola e,
juntamente com sua ficha de identificação e produtividade, é alojada em
outra gaiola, normalmente em outro galpão. Esta opção permite o vazio
sanitário, além do que o stress aos animais jovens é menor.
De qualquer forma, a desmama é um fator de stress aos coelhos,
tendo em vista a parada da amamentação, mudanças na alimentação,
necessitando, portanto, de alguns cuidados para reduzir, ao máximo
possível, os prejuízos aos animais, particularmente, em relação aos
transtornos digestivos, responsáveis por mortalidade elevada.
O primeiro item a ser observado é a idade de desmama. Do ponto
de vista nutricional e considerando a produção de leite da mãe, a idade de
desmama recomendada para as criações comerciais, inclusive no Brasil,
seria ao redor de 30 a 35 dias de idade, não havendo vantagens maiores
em se prolongar a fase de lactação. A quantidade de nutrientes
proporcionados pelo leite após 32 a 35 dias de lactação é pequena em
relação às exigências dos láparos, os quais podem ser cobertas, por rações
adequadas.
A idade de desmama também está diretamente relacionada com o
programa ou ritmo de reprodução implantado na criação. Para que a
desmama seja realizada entre 30 - 35 dias de idade, o programa de
coberturas nas fêmeas deve ser realizado 10 a 20 dias após o parto.
Desmama mais precoce, ou seja, entre 21 a 28 dias de idade
exigem rações especiais e aumentam os riscos de perda de láparos e,
portanto, para as nossas condições, ainda não é recomendado.
É freqüente em pequenas criações de coelhos realizar desmamas
mais tardias, entre 35 a 40 dias de idade. Normalmente, nestas criações as
fêmeas são mantidas em ritmos reprodutivos mais longos, sendo cobertas
30 dias ou mais após o parto. Em criações intensivas não é recomendável
seguir este programa por apresentar uma produtividade muito baixa.
Por ocasião da desmama, procede-se a sexagem, marcação dos
láparos, pesagem e a primeira seleção, no caso de escolha de futuras
matrizes e futuros reprodutores.

30
O sistema da marcação mais simples e eficiente é a tatuagem.

Na orelha esquerda marca-se:


- Número do animal (nos pares para fêmeas e ímpares para os
machos)
- Sigla do proprietário ou granja.

Na orelha direita marca-se:


- mês e ano de nascimento
- sigla do estado.

A seguir um exemplo de identificação de um coelho macho, nascido


em Maringá - PR, no mês dezembro de 2003, na Granja "GM".

OD = mês nascimento = 12
ano nascimento = 3 portanto: U123
Estado do Paraná = U

OE = nº coelho (macho) = 001 portanto: G0001


marca do criador = G

O mês de nascimento poderá ter 1 ou 2 números


- Janeiro a Outubro = 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 0;
- Novembro= 11;
- Dezembro= 12.

Para identificar o ano de nascimento utiliza-se apenas o número final


do ano em questão. Apesar desta ser a forma correta de identificação de
um animal, muitas criações identificam os animais, tatuando apenas o nº de
ordem na orelha esquerda.
Outra forma de identificação seria através da utilização de brincos de
plástico ou metal aplicados nas orelhas, contendo toda a identificação.
Após a desmama é interessante manter a ninhada agrupada na
gaiola de recria. Contudo existem casos de ninhadas muito numerosas à
desmama e que, neste caso, os coelhos deverão ser distribuídos em duas
gaiolas para se evitar super população. Neste caso, os coelhos deverão ser
classificados de acordo com o desenvolvimento, procurando manter lotes
homogêneos.
Quando o abate for realizado em torno dos 70 dias, pode-se
distribuir sete a oito coelhos por gaiola.

31
Consumo de alimentos e crescimento ponderal de coelhos até o abate

Durante a lactação os láparos são amamentados uma a duas vezes


por dia. A partir do 15o a 18o dia de idade os láparos começam a sair do
ninho e freqüentar o comedouro da matriz e, gradativamente, a ração
substituirá o leite, à medida que se aproxima a desmama, que ocorrerá
entre 28 a 35 dias de idade. Durante este período ocorre uma mudança
importante no hábito de consumo, com aumento gradativo da freqüência de
ingestão de alimentos. Na desmama, os láparos já freqüentam o comedouro
mais de 40 vezes ao dia, ingerindo pequenas quantidades de ração a cada
vez. Esta freqüência de ingestão diária diminui para aproximadamente 35
vezes a partir dos 2 a 3 meses e em animais adultos para 25 a 30 vezes por
dia.
Outro aspecto importante refere-se distribuição diária da ingestão
da ração que ocorre de forma irregular durante as 24 horas do dia, com
maior freqüência na horas do dia com temperatura mais amena, sendo, no
verão, particularmente, durante a noite.
Vários são os fatores que afetam o consumo de ração pelos coelhos,
entre eles:
- Características genéticas (raças ou linhagens);
- Fase fisiológica do animal (crescimento, gestação lactação);
- Temperatura ambiente;
- Ingestão de água;
- Disponibilidade de espaço no comedouro;
- Processamento (farelada ou peletizada) e
- Estado sanitário dos animais.
O Quadro a seguir apresenta uma estimativa de consumo e
desempenho dos coelhos do nascimento até a idade de abate. Contudo,
não devem ser tomados como valores absolutos, tendo em vista os fatores
que implicam em variações nestas características.

Idade Consumo de leite Consumo de ração Ganho de peso


(dias) (g/dia) (g/dia) (g/dia)
0-15 3-15 - 8-10
15-21 15-30 0-20 10-20
21-35 10-20 15-50 20-30
35-40 - 45-80 30-37
40-45 - 70-100 30-40
45-50 - 90-125 30-40
50-55 - 110-140 30-45
55-60 - 120-155 35-45
60-65 - 130-160 35-40

32
65-70 - 150-175 35-40

Para ilustrar a variabilidade dos dados de desempenho e consumo


ou ainda a forma de apresentação, o Quadro a seguir também apresenta
dados semanais de crescimento, consumo de ração e índice de conversão
alimentar. Como pode-se observar os coelhos apresentam uma piora
acentuada na eficiência de utilização dos alimentos e também no
desempenho a partir dos 60 a 70 dias de idade, quando os animais passam
a depositar mais gordura na carcaça. Desta forma, a idade adequada para
abate dos coelhos deve ficar entre 60 a 70 dias de idade, com peso vivo em
torno de 2,0 kg.

Período Peso vivo Ganho Consumo de ração Conversão Alimentar


(dias) no final do de peso No Diário No Acumulad
período (g) diário (g) período (g) período a
(g)
29-35 700 27,5 420 60 2,18 2,18
36-42 920 36,5 592 85 2,32 2,26
43-49 1200 43,0 791 113 2,63 2,41
50-56 1500 46,0 980 140 3,08 2,61
57-63 1800 41,0 1071 153 3,77 2,85
64-70 2100 35,0 1130 161 4,61 3,12
71-77 2300 31,0 1155 165 5,32 3,39
78-84 2500 28,0 1180 169 6,02 3,64

Organização reprodutiva em bandas

Consiste no agrupamento das coberturas ou inseminações das


matrizes em um dia ou período pré determinado. Quando se agrupam todas
as matrizes de uma criação para serem cobertas ou inseminadas em um
mesmo dia ou período denomina-se BANDA ÚNICA. Os ciclos reprodutivos
mais utilizados são de 35 e 42 dias. Considerando que a gestação dura, em
média, 31 dias, isto significa que num sistema de organização da criação
em banda única de 35 dias as matrizes serão cobertas 04 dias após o
parto. Se a banda única for de 42 dias, a cobertura ou inseminação após o
parto ocorrerá 11 dias após este evento.
Neste sistema todas as fêmeas que apresentarem falhas reprodutivas
ou então fêmeas novas que são introduzidas no rebanho deverão aguardar
o próximo período da cobertura ou ciclo reprodutivo. Este sistema de
agrupamento das matrizes, aliado ao sistema de desmama em que a fêmea
é retirada da sua gaiola, permite vazio sanitário na instalação. Por outro

33
lado é um sistema que exige altos índices de fertilidade para evitar que
fêmeas passem por um período muito longo sem parirem.
Recria

No caso da recria, os machos destinados à reprodução, após os 3


meses, deverão ocupar gaiolas individuais e as fêmeas para reprodução
poderão ser mantidas em gaiolas coletivas até os 3 - 3,5 meses de idade.
Neste caso o número máximo de fêmeas por gaiola deverá ser de 3 a 4.
Durante o período de recria, os principais cuidados que devem ser
dispensados aos coelhos são:
- Alimentação adequada - a base de ração ou suplementada por
verde conforme será visto no capítulo sobre ALIMENTAÇÃO.
- Observar o espaço de comedouro disponível para cada animal (3
cm lineares/animal).
- Limpeza das gaiolas evitando retenção de fezes e pêlo;
- Limpeza de comedouros, evitando ração úmida, fezes e acúmulo
de pó.
- Controle rigoroso, com isolamento ou sacrifício dos animais
doentes, caso o tratamento seja inviável.

34

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