Você está na página 1de 28

PRODUÇÃO DE ANIMAIS RUMINANTES – BOVINOS DE CORTE

ASPECTOS GERAIS E CRUZAMENTOS


Nos sistemas de produção pecuária atual, existe uma grande
heterogeneidade entre as propriedades, tal fato é facilmente representado ao
se observar quais atividades e instrumentos o produtor utiliza para manutenção
de seu negócio.
Nível 1 – Moderna = Pecuária com muita tecnologia, integrada ou
não à agricultura.
Nível 2 – Alguma Tecnologia = Inseminação artificial, controle de
parasitas, alguma pastagem melhorada.
Nível 3 – Extrativa = Baixo uso de tecnologia, primeiro serviço das
novilhas aos 3 anos, baixa taxa de prenhez.
Em termos econômicos, os resultados podem ser variáveis de
acordo com o custo de produção e os produtos comercializados, entretanto, em
relação aos aspectos técnicos, a busca por melhores índices passa pela
adequação de variáveis que proporcionam melhor desempenho do rebanho,
visando a médio e longo prazo obtenção de resultados positivos, para tal, a
utilização do manejo adequado, o uso de tecnologia e conhecimento dos
métodos de seleção dos animais, alimentação, sanidade, bem-estar e
comercialização resultam no sucesso ou fracasso da atividade.
Existe uma grande polêmica em relação aos índices de produção e
liberação de metano causado pela produção pecuária, porém, estudos
mostram que ao se aumentar a eficiência do processo ocorre expressivas
reduções ao se elevar o ganho de peso diário dos animais, sendo que a partir
de 0,5kg/dia a produção já supera sobremaneira as emissões e, ganhos
maiores de 0,5 até 1,5kg/dia tornam tal valor extremamente baixo.
Como os demais setores da agricultura, a grande diversidade de
condições que existem no Brasil (e no mundo), implica em sistemas pecuários
específicos para cada região, respeitando características como o tipo de solo,
potencial do local para determinada produção e aspectos sociais e culturais de
cada propriedade, por isso, a utilização de modelos se restringe às pequenas
regiões e, normalmente, apresenta difícil aplicabilidade, por isso, o
conhecimento técnico é muito importante para a escolha certa do que produzir
em cada espaço, organizando não apenas o que é produzido na propriedade,
mas também servindo como base para todo o sistema de produção em maior
escala. Uma ilustração básica da condição relatada acima pode ser feita ao
analisar determinada propriedade localizada na metade sul do estado do Rio
Grande do Sul, com área relativamente grande, solos de qualidade limitada e
onde há predominância de um plantel de vacas de cria (que parem
supostamente entre agosto/outubro), e, cujos terneiros são comercializados
após o desmame (março/abril) para um produtor da metade norte do estado
(região de solos mais profundos e maior pluviosidade anual, cuja aptidão
agrícola principal é a produção de grãos no verão) que irá realizar a recria e
terminação desses animais, visto que existem áreas em rotação e existe a
possibilidade de utilização de pastagens de inverno e, eventualmente,
possibilidade de fornecimento de concentrados ou forragem conservada.
A dentição nos bovinos é muito importante para determinar com
maior precisão a idade de um animal que não é controlado. Os valores à seguir
mostram a dentição de taurinos conforme a idade, basicamente, os animais
permanecem com os dentes de leite até o sobreano; com dois anos,
apresentam dois dentes permanetes; 4 dentes, 2,5 anos; 6 dentes, animais
com pouco mais de 36 meses; e, por último, a dentição fica completa quando o
animal atinge os 8 dentes em torno de 3,5 a 4 anos de idade. A partir de então,
costuma-se dizer que os animais já estão com a boca cheia, espera-se que na
propriedade permaneçam apenas animais em reprodução nessas condições.
Pasto muito grosseiro e o avanço da idade faz com que os animais apresentem
falhas nos dentes, o que prejudica sua alimentação e caso o indivíduo não
receba uma melhor oferta de forragem provavelmente ocorrerão problemas
devido ao déficit nutricional. Em alguns casos, problemas de dentição são o
empecilho para a produção de determinados animais, que precisam ser
retirados precocemente do plantel, deixando assim, menor quantidade de
produtos (terneiros).
OBS: Na imagem abaixo é possível distinguir as fases do
desenvolvimento dos dentes conforme a idade. Relação d.i.p. com a idade em
meses de zebuínos (vale ressaltar que existe certa discrepância no
desenvolvimento quando comparado aos taurinos).

Vantagens e desvantagens da endogamia. Dentre as vantagens de


se realizar os endocruzamentos, destacam-se a manutenção do parentesco
desejado, descobrir genes recessivos indesejáveis, fixar características
desejáveis, desenvolver famílias distintas, desenvolver linhagens
consanguíneas para exocruzamento e aumentar a prepotência. Porém, ocorrer
endocruzamentos em um rebanho pode causar o predomínio de genes
recessivos prejudiciais, consanguinidade e todos os efeitos deletérios
originários de depressão endogâmica, sejam eles diretamente nos aspectos
genéticos ou sob os aspectos produtivos.
Diversas limitações justificam o menor desempenho das raças
taurinas puras nos trópicos e subtrópicos, entre eles, a nutrição,
queratoconjuntivite, temperaturas fora da zona de conforto térmico, verminoses
e ectoparasitas são os principais.
O RS em geral apresenta uma grande diversidade de condições
ambientais, saber que a zona de conforto térmico de taurinos está entre -2°C e
21°C e para zebuínos é de 10°C até 31°C (perdas em produtividade ocorrem à
partir de temperaturas acima de 27°C e umidade de 70%, pois limitam
processos fisiológicos ao aumentar a temperatura corporal, aumentar a
frequência respiratória e cardíaca e promover alterações hormonais e
sanguíneas); invernos geralmente frios e úmidos e verões quentes e secos;
grande diversidade de solos (mais profundos na metade Norte do estado e
mais rasos na metade Sul); pasto nativo grosseiro, exige boa intervenção e
ajuste de carga adequado, implantação de pastagens auxilia muito na
eficiência produtiva para determinadas categorias; susceptibilidade aos
ectoparasitas e poucas estratégias fisiológicas para evitar tal problema.
Tendo em vista o grande número de problemas que raças taurinas
sofrem no ambiente e as limitações produtivas dos zebuínos, os cruzamentos
se tornaram uma excelente alternativa para aliar rusticidade e qualidade na
produção, garantindo o sucesso da pecuária nos trópicos e subtrópicos. Nesse
contexto, os cruzamentos auxiliam na tolerância ao calor ao promover
melhores mecanismos de termo regulação, o que possibilita a manutenção da
temperatura corporal com o aumento da temperatura ambiente, em geral
produz animais com as mucosas e entorno dos olhos bem pigmentados, o que
evita a queratoconjuntivite, que causa problemas constantes aos animais,
muito comum na raça Hereford enquanto que animais da raça Brahman não
apresentam tal problema, expressando uma superioridade no GMD em torno
de 0,24kg/dia (Frisch, 1986) e por características de resistência à
ectoparasitas, verminoses e regulação metabólica (tamanho dos órgãos,
frequência de alimentação, fluxo sanguíneo, trocas de calor através das
regiões com maior sobra de couro). Vale ressaltar que a capacidade de oferta
de forragem e o planejamento forrageiro por parte da propriedade é
fundamental para garantir bons índices e evitar imprevistos, visto que, embora
seja possível manter os animais à campo durante o ano todo, para promover
ganhos constantes é preciso manejar carga para alterar a oferta forrageira e,
em muitos casos, utilizar forragem conservada ou concentrados, visto que
podem ocorrer limitações por excesso hídrico, déficit hídrico, extremos de
temperatura e outras variáveis de clima e solo.
Importância dos animais apresentarem pelos curtos e lisos em
detrimento de animais com pelos compridos e grossos se dá
predominantemente pelo fato da redução na temperatura, em segundo plano,
um gene que expressa a característica de pelagem curta e lisa está
diretamente relacionada à qualidade da carne.
A exogamia tem como principal efeito a heterose (superioridade
fenotípica em relação a média dos pais). A heterozigoze, mais comumente
representada em nossas condições pelos cruzamentos entre taurinos e
zebuínos, possibilita expressivos ganhos quando comparados às raças puras,
em geral, os animais provenientes de cruzamentos apresentam 3 a 9% mais
sobrevivência do nascimento até as duas primeiras semanas; 5 a 7% maior
crescimento até a desmama; desenvolvimento melhor em qualquer pastagem e
maior adaptação.
Os cruzamentos comerciais rotativos entre três raças, são
vantajosos porque promovem maior grau de heterose (média das progênies
exocruzadas menos a média dos pais), uso de vacas produzidas e seleção dos
animais, reúnem características desejáveis das três raças e promovem grau de
sangue 4/7 A – 2/7 B – 1/7 C (86% de heterose). Como principal desvantagem
do método destacam-se o manejo com animais de raças diferentes, a
organização adequada do sistema e, principalmente, três potreiros (ou
múltiplos de 3) para o acasalamento.

A x Fêmeas

B x F1 C x F2
Esquema de cruzamentos:
No caso de se utilizarem cruzamentos contínuos (retrocruzamento
ou cruzamento alternado), as principais vantagens são a produção e seleção
de fêmeas após a quinta geração, desfrutando no rebanho de uma heterose
em torno de 66%, onde as únicas desvantagens seriam o uso de dois (ou
múltiplos de dois) potreiros para o acasalamento e não apresentarem 100% de
heterose nos cruzamentos.

A taxa de desfrute mede a capacidade do rebanho em gerar


excedente, ou seja, representa a produção (em kg ou cabeças) em um
determinado espaço de tempo em relação ao rebanho inicial. Quanto maior a
taxa de desfrute, maior a produção interna do rebanho. É uma medida que
reflete o aproveitamento do rebanho, sendo influenciada por diversos fatores,
tais como: raça, sistema de criação (a pasto ou confinamento), natalidade,
idade ao abate, idade à primeira cria, lotação, peso ao abate, abate de fêmeas,
ou seja, todos os índices da propriedade refletem-se na taxa de desfrute.
A taxa de desfrute, que está diretamente relacionada com o abate de
fêmeas, seria um indicador tardio do mercado físico.
Os três indicadores de produtividade a serem melhorados para sair
da taxa de desfrute de 21% e a taxa a ser alcançada, que está em torno de
29% são: abate aos dois anos, prenhez aos dois anos e desmame com 80%.
As características/critérios importantes (segundo os estudos do Clay
Center) para a produção de bovinos de corte são: taxa de crescimento e
tamanho maduro, relação carne/gordura, idade à puberdade, produção de leite.
SELEÇÃO, MANEJO E PRODUÇÃO DE TOUROS

Em geral, a realização da escolha dos reprodutores, em muitos


lugares, ainda é realizada pelo fenótipo do animal, porém, nem todas as
características fenotípicas do reprodutor serão necessariamente passadas à
prole, por isso, é importante realizar a escolha dos animais de acordo com seus
índices produtivos, enfatizando aqueles que mais interessam ao produtor para
melhoria do seu rebanho como um todo ou de alguns lotes dentro da
propriedade.
O macroprocesso de produção de touros inicia-se no momento do
acasalamento de determinada matriz com o reprodutor mais indicado,
buscando fornecer as condições mínimas para o bom desenvolvimento da vaca
e do terneiro. Desde o nascimento, o terneiro passará por diversas avaliações
fenotípicas, testes de aptidão e seleção para realmente estarem aptos para a
comercialização. Tratando-se de animais de raças específicas, pode se dizer
que a primeira etapa da seleção consiste na retirada de todos os indivíduos
que não correspondem ao padrão racial esperado, essa primeira triagem
auxilia inclusive na redução de custos com determinados registros ou eventuais
processos ou gastos com alimentação diferenciada a um animal que
certamente não será comercializado como reprodutor; em seguida,
acompanha-se o desenvolvimento dos candidatos a touro, eventualmente
descartando indivíduos que não evoluíram conforme o esperado e; como último
gargalo da seleção, são realizados os testes de capacidade de serviço e
exame andrológico que realmente garantem se o animal está apto ou não para
a reprodução. A preparação é uma questão muito particular de cada
propriedade, vale enfatizar a importância de um bom manejo sanitário e, ao
comercializar um animal, informar ao comprador o histórico do mesmo,
considerando resistência à determinados parasitas, grau de imunidade,
experiências com plantas tóxicas, etc. Para uma venda bem-sucedida é
importante chegar com o touro de 2 anos com aproximadamente 620kg para
que não fique facilmente exaurido quando em trabalho e a realização de um
pós-venda, monitorando os cuidados e o desempenho dos animais a campo é
importante tanto para o vendedor, quanto para o comprador.
Referente ao manejo e para proporcionar condições ideais para os
touros, analisar características fenotípicas como padrão racial; libido; forma,
tamanho e angulação da região do umbigo e prepúcio; escore corporal
adequado; qualidade do sêmen; e, aprumos correto é importantíssimo para que
o animal trabalhe durante a estação de monta da melhor maneira possível.
Nesse contexto, além dos dados, espera-se que o animal apresente condições
de acasalar com um grande número de fêmeas (normalmente se utiliza uma
relação de 1 touro para 30 até 35 fêmeas), bom estado corporal, nesse aspecto
o animal deve possuir porte que permita todo o esforço físico sem exaurir
demais suas reservas corporais e, tampouco, apresentar sobrepeso ou elevado
consumo de concentrados, que prejudicam diretamente a qualidade do sêmen
do animal (volume de sêmen, concentração, aspecto, turbilhonamento, relação
motilidade/vigor e defeitos em geral) e para correção de pequenas imperfeições
dos aprumos, recomenda-se o casqueamento periódico dos animais.
Além dos cuidados com os aspectos físicos do animal,
recomendações de manejo são indispensáveis para a boa qualidade dos
animais, dentre elas, destacam-se: utilização de um ou poucos touros nos lotes
de cria, para evitar brigas pela dominância e facilitar o processo de
reconhecimento da paternidade; preconizar o uso de animais mochos; mantê-
los em potreiros com boa disponibilidade de água, alimento e, se possível,
sombra; realização dos testes de fertilidade dos touros anualmente (exame
andrológico); utilização de vermífugos de boa qualidade em intervalos de
aproximadamente 60 dias; administrar corretamente as vacinas para febre
aftosa, carbúnculo hemático, carbúnculo sintomático, leptospirose, raiva,
rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR), diarreia viral bovina (BVD), entre outras;
observar presença de ectoparasitas e se já possuem pré-minução; recomenda-
se realizar o rodízio dos touros para repouso sexual, alternando períodos em
que o animal se mantém no lote de fêmeas com períodos em potreiros
separados, esse tempo pode ser de, por exemplo, 15 dias em serviço e os 15
dias seguintes em repouso, sendo substituído por outro macho; por último, a
preparação dos touros para as próximas estações de monta é determinante no
sucesso do manejo, por isso, deve-se ter atenção redobrada com a
alimentação dos animais nos períodos de inverno e primavera (visando
recuperação do peso), bem como a observação diária do animal, analisando
seu comportamento e condições físicas, para que não ocorram prejuízos na
produtividade do rebanho.
Quanto aos índices que o touro apresenta, é importante escolher
animais que proporcionem facilidade de parto, principalmente para novilhas, ou
seja, que os terneiros não sejam excessivamente grandes, aumentando o risco
de distocia visto que o desenvolvimento das fêmeas primíparas ainda não está
completo e, com isso, a área pélvica encontra-se reduzida. Além disso, DEPs
(diferenças esperadas na progênie) que se relacionam ao peso ao desmame,
peso ao sobreano, peso ao abate, probabilidade de prenhez aos 14 meses,
área de olho de lombo, circunferência escrotal, entre outros, proporcionam a
redução das incertezas quanto ao verdadeiro resultado dos cruzamentos,
quanto comparados com a seleção apenas pelo fenótipo ou pedigree dos
indivíduos. Por isso, espera-se, por exemplo, que o resultado do cruzamento
de uma boa fêmea com um touro de bom índices gere um produto que
apresente um tamanho adequado ao nascer, evitando problemas durante o
parto (o que se consegue com animais de menor tamanho e peso) e, que esse
terneiro apresente peso ao desmame superior à média dos demais, o que em
geral repercute no desenvolvimento e, consequentemente, nos demais índices
produtivos. Segue abaixo, uma lista resumindo e relacionando os principais
índices a serem observados e seus efeitos em termos de produtividade:
- Peso ao nascer: Deve ser de baixo a moderado para evitar distocia e dar
melhores condições ao terneiro e a vaca, principalmente em primíparas e em
propriedades com baixo grau tecnológico (baixa capacidade de intervenção no
parto).
- Peso ao desmame: Quanto maior o peso do terneiro mostra quão boa foi sua
mãe no quesito produção de leite, há correlação positiva entre peso ao
desmame e produção de leite.
Quanto maior o peso à desmama mais perto o animal está de ser colocado em
cria, terminação, ou qualquer que seja sua finalidade, por isso, o peso à
desmama é importante fator para intensificar a sistema de produção.
DEP para maior peso à desmama e peso ao sobreano é importante para
que a recria da novilha permita 1° serviço aos 14 meses.
- Peso ao sobreano: Precocidade dos animais, redução da idade do abate.
- Área de olho de lombo: Correlação positiva com peso de carcaça e peso dos
cortes. Um bom peso de carcaça está em torno de 240 kg, considerando um
rendimento de 50%, denota que os animais devem estar prontos para o abate
em torno de 480 a 500 kg de peso vivo.
- Espessura de gordura subcutânea: Mínimo de 3 a 4 mm de deposição de
gordura na região da costela (último lugar onde se deposita gordura). É
importante para manter a umidade da carcaça na câmara fria, não deve ser
exagerada para não diminuir o peso dos cortes.
- Circunferência escrotal: Com maior circunferência escrotal, puberdade
precoce em novilhas, vacas com maior produção de leite, terneiros mais velhos
a desmama, terneiros mais pesados para o abate, fertilidade superior. A
utilização da circunferência escrotal para seleção de reprodutores está
diretamente associada às características sexuais de sua progênie, para tal,
touros com maior CE (circunferência escrotal) ou PE (perímetro escrotal) são
mais indicados. Tal característica confere tantos aos machos quanto às fêmeas
filhas do touro em questão melhores índices reprodutivos, principalmente por
apresentarem os órgãos reprodutivos com melhor desenvolvimento e,
consequentemente, capacidade de entrar em reprodução mais cedo
(precocidade sexual) e criar melhor seus terneiros(as) pela melhor habilidade
materna.
Com relação ao % de prenhez do rebanho, podemos considera-lo
como uma relação matemática, que depende diretamente do: % de vacas em
cio; % de vacas férteis; % de touros; % de touros férteis. De acordo com esses
dados, conclui-se que cada fator que não apresentar 100% de eficiência
repercutirá diretamente no % de prenhez do rebanho. Tendo em vista tais
percentuais e a relação de 56 terneiros para cada 100 vacas no RS, fica claro
que existem diversos problemas reprodutivos, que, em geral se devem às
baixas condições nutricionais das fêmeas e aos cuidados indevidos com os
machos, uma vez que em média 20-25% dos touros não passam no exame
andrológico (não férteis).
Para minimizar tal situação, práticas como:
- Utilização de 5% de touros em relação às vacas, sendo 3% em trabalho
efetivo e 2% para rodízio;
- Exame andrológico:
% de espermatozóides vivos;
Mobilidade dos espermatozóides;
Vigor dos espermatozóides;
Concentração de espermatozóides.

- Importante o rodízio de touros → recuperação de touros


Dias de trabalho Espermatozóides/ml % de prenhez
10 750.000 72
20 500.000 55
Continuamente 350.000 38
Ideal concentração é acima de 500.000/ml.
- Importante ter touros de várias idades e não ter somente touros muito jovens
ou velhos. Observar hierarquia dentro do rebanho. Touros mais velhos podem
não deixar mais novos praticarem a monta.
- Largada dos touros 15 de novembro:
Se a parição for 20 de outubro não ocorre o puerpério. Colocar 1% a
mais de touros. Bioestimulação (através da competição).
- Touro 2 anos à campo: 500-550 kg.
- Touro 3 anos à compo: 650-700 kg.
Observar a altura do prepúcio dos touros é importantíssimo para
inferir sobre sua habilidade de monta, o ideal é que os animais apresentem
correção prepúcios corrigidos (1 e 2), porém, por estarmos em climas tropicais
e subtropicais, o excedente de couro pode ser uma importante ferramenta de
troca de calor e auxiliar na redução da temperatura corporal do animal, por
isso, nesse caso até a altura do jarrete (cotovelo), valor 3, seria uma boa
alternativa. Prepúcios 4 e 5 devem ser utilizados somente em campos limpos e
quando for uma estratégia muito específica, em geral, esses animais
apresentam dificuldades em expor a peça e conseguir cobrir a vaca com
facilidade, podendo inclusive serem mais suscetíveis a problemas com o órgão
por contato direto com as macegas (dano mecânico e abertura de ferimentos
para outras complicações ou no ato da cópula).
Temporada de monta: 90 dias.

NOVILHAS, VACAS DE CRIA E PRODUÇÃO DE TERNEIROS

Para um bom rebanho de cria, as características buscadas


frequentemente são: alta fertilidade, facilidade de parto, puberdade precoce,
produção de leite moderada, baixa mantença (tamanho pequeno/médio),
adaptação e resistência e longevidade.
Tradicionalmente as vacas de cria sempre foram as categorias
animais que recebem as piores condições de campo para se desenvolverem,
embora tenham papel fundamental na produção como um todo. Desde muito
tempo, tendo a consciência que pelas características do tempo de gestação de
uma vaca, sua rusticidade e boa capacidade de responder aos ambientes
adversos quando comparada a categorias de exigência muito maior, que em
tais condições teriam resultados nulos ou até mesmo negativos, atribuiu-se um
conjunto de características desejáveis de uma fêmea que compõe um plantel
de cria, considerada a “vaca do futuro”, são eles: produzir um produto
desejável, produzir com os recursos disponíveis, ter produção de leite
moderada, sem extremos de musculatura e tamanho. Esse conjunto de fatores
faz com que as vacas tenham uma produção baseada no equilíbrio, cumprindo
seu papel na produção de forma eficiente sem ter elevado dispêndio de
energia. Em todos os casos, o estado corporal ideal das fêmeas para obter
bons índices reprodutivos está situado entre >3,5 e <4,5.
Em aspectos reprodutivos, animais provenientes de cruzamentos e a
realização das técnicas de cruzamento são vantajosos, pois melhoram a
produção já que as fêmeas apresentam melhor habilidade materna (leite), o
que proporciona maior ganho de peso ao terneiro, gerando melhores
resultados de produtividade em termo de ganhos e volume de produção, menor
mortalidade e melhor tolerância aos estresses do meio.
As novilhas que emprenham aos 2 anos tiveram maior repetição de
prenhez, porque a fertilidade das vacas é uma característica com média
herdabilidade. Isso significa que as vacas que emprenham com 3 ou mais anos
(que estão com a mesma condição corporal das prenhez com 2 anos) são
subférteis. Ao longo dos anos, essa diferença de um ano na primeira cria
representa um total de 2 a 3 terneiros a menos nas fêmeas mais velhas (8,5
para 5,5 terneiros/vaca), o que demonstra que fatores como o maior intervalo
entre partos, pior habilidade materna e pior adaptação ao sistema de cria
podem gerar fêmeas subférteis.
A novilha pode ser considerada o futuro do rebanho, pensando no
manejo reprodutivo dessa categoria, a união de todas as práticas de
alimentação, sanidade e planejamento culminam em maior eficiência
reprodutiva, maior precocidade sexual, menor intervalo entre gerações e maior
produtividade durante a vida (maior número de terneiros produzidos por
fêmea). A idade à puberdade das novilhas é estimada através do primeiro cio,
muito importante para determinar qual o momento certo de iniciar a reprodução
e planejar a condição corporal que o animal deve chegar nesse período. A
idade à puberdade é um pouco variável conforme a raça, a seguir, alguns
exemplos de raças e o número médio de dias para atingir a idade à puberdade:
Devon – 350 dias; Charolês – 380 dias; Hereford e Angus – 360 dias; Brahman
– 420 dias; Jersey – 310 dias; Holandês – 340 dias.
Relacionando datas hipotéticas, o peso da fêmea e o cio, temos o
segunte modelo:
- 01 de outubro / 1° cio – 310kg;
- 20 de outubro / 2° cio – 320kg;
- 10 de novembro / 3° cio – 330kg (~85% de fertilidade).
O 3° cio é o mais fértil e a partir deste se estabiliza a fertilidade. O
intervalo entre cios é de 20 dias, por isso, a bioestimulação deve iniciar em
outubro para que as novilhas iniciem a puberdade antes do início do período de
acasalamento e sejam cobertas no estro mais forte, quando estiverem mais
pesadas e ainda dentro de um prazo interessante para reprodução. Vale
ressaltar que a relação peso/maturidade fisiológica é diretamente proporcional
aos percentuais de prenhez, por isso, quanto melhores as condições das
novilhas, melhores tendem a ser os índices reprodutivos.
As novilhas com maior peso são as indicadas para a inseminação
artificial, porque apresentam melhor o cio. Já as novilhas de menor peso, mas
já em idade de monta, são indicadas para serem colocadas com o touro,
porque eles identificam antes o cio e consequentemente obtêm-se maior
prenhez.

OBS: Cio da novilha ocorre a cada 20 dias e o cio da vaca adulta


ocorre a cada 21 dias.
Planejar o acasalamento na época correta proporciona melhores
resultados em longo prazo, principalmente pensando em termos de época de
parição, visto que as novilhas que concebem nos primeiros 40 dias da estação
de monta de parição têm 80% de repetição de prenhez contra 40% nas
novilhas que concebem na segunda metade da estação de parição. Isto ocorre
porque as que parem mais cedo têm maior tempo para ganhar peso até iniciar
a estação de monta. Em vacas adultas isto também ocorre, porém a amplitude
é menor. As vacas que parem na segunda metade da estação de monta têm
69% de repetição de prenhez. Resumindo, vacas que parem no cedo têm mais
tempo para ganhar peso e para emprenhar, pois permanecem mais tempo na
temporada de monta. Para isso, precisam emprenhar cedo na temporada do
ano anterior.
Outro fator importante para que se planeje com exatidão a época do
acasalamento é acertar a data da parição com a retomada da melhor condição
forrageira. As vacas que parem cedo (julho e agosto) em campo nativo perdem
peso, porque iniciam a lactação e o campo nativo não dá o suporte (não tem
rebrote), é uma época que ainda existe baixa incidência de radiação solar,
temperaturas mais baixas e disponibilidade variável de água. Isso leva a baixo
peso dos terneiros no desmame e baixa repetição de prenhez. Quando a vaca
liga a “bomba do leite”, as exigências aumentam 52%, necessitando melhores
condições forrageiras, além disso, aos 15 dias de idade o terneiro começa a
aprender com a mãe a reconhecer o pasto e iniciar processos de alimentação
de maneira muito progressiva, por isso, quando esse processo ocorre em
setembro e meados de outubro (pico de lactação - 2,5 meses, melhores
forrageiras), o rebrote da vegetação nativa na saída do inverno possibilita as
melhores condições.
Conforme dito anteriormente, para que seja possível iniciar a
reprodução das fêmeas de maneira mais rápida (24 meses ou menos), além da
maturidade fisiológica que é predominantemente relacionada aos aspectos
genéticos e raciais de determinada fêmea, é importante que pesos mínimos
sejam atingidos para se obter altos índices de prenhez, desse modo, um
percentual adequado para novilhas é que tenham em torno de 65% do peso
(raças zebuínas e suas cruzas), 60% do peso (raças taurinas) e 55% do peso
(raças leiteiras) da vaca gorda no início do primeiro acasalamento, isso
possibilita que haja melhores taxas de aproveitamento e, em caso de valores
abaixo do desejável, o produtor pode evitar gastar recursos em um protocolo
reprodutivo com grandes chances de fracassar, por isso, quando o peso médio
da vaca gorda for de 480kg, o peso mínimo deve estar em torno de 310kg
(exemplo com uma cruza de zebuínos). No parto, espera-se que as novilhas
estejam com aproximadamente 380kg (80% do peso da vaca adulta).

Valores de referência para:


Primíparas:
Para cobertura 310kg (65%)
Fim de outono 360kg (75%)
Pós-parto 370 – 380kg (80%)
Começo 2° acasalamento 405kg (85%)
Fim 2° acasalamento 420kg (88%)

Vacas com mais de uma cria:


Começo do acasalamento 440kg (92%)
Metade do outono 430kg (90%)
Na parição 405kg (85%)

Em geral, o produtor não atinge as metas de acasalar suas fêmeas


com 330 kg aos 24 meses principalmente por desvios de manejo, problemas
sanitários, problemas nutricionais, problemas climáticos e baixo potencial
genético. Tal fator gera primíparas tardias, que apresentam menor taxa de
prenhez e ao longo dos anos pioram gradativamente os resultados obtidos na
propriedade, podendo inclusive, tornar a atividade antieconômica, por isso,
recomenda-se não manter no rebanho animais que demoram a atingir a
maturidade sexual, ou seja, apresentam produtividade inferior e, além disso,
novilhas que apresentam idade correta, boa condição corporal e sanidade,
caso não emprenharem, o melhor a ser feito é comercializá-las para o abate e
gerar capital de giro para a empresa, visto que ao seguir com fêmeas subférteis
no plantel, resultados de produção e produtividade decrescem
progressivamente, conforme a tabela abaixo:

Idade (anos) % prenhez IEP (dias) PD (kg)


3 83,3 409,6 154
4 67,3 477,3 149,3
5 48,1 543,1 143,5
IEP → Intervalo entre partos
PD → Peso ao desmame do terneiro produzido

A prenhez aos 14 meses não é uma atividade fácil de ser exercida,


no contexto atual, onde grande parte das propriedades ainda não atingiu nem a
prenhez aos 24 meses, essa prática torna-se realmente bastante restrita,
sendo praticada por produtores que já desenvolvem um trabalho consistente de
em termos de reprodução e possuem condições de capital, intelectual e
estrutura para realizá-la.
Já que a vaca cresce até aproximadamente os 4 anos de idade, para
emprenhar com pouco mais de um ano é preciso fornecer energia suficiente
para o crescimento da matriz, manutenção do feto e, na sequência, para a
amamentação, logo, a demanda desses animais é altíssima e, se não for
atendida, os resultados são péssimos, pois haverá uma vaca com
desenvolvimento insuficiente e, aliado à isso, um terneiro com baixo
desenvolvimento.
Para garantir o sucesso do método, o peso base em relação 2 anos
não se altera, ou seja, os animais devem apresentar em torno de 300 a 330kg,
porém, para atingir tal peso com praticamente a metade da idade, é preciso
que se utilizem boas pastagens, suplementação e, em alguns casos,
confinamento (garante o ganho de peso durante o período desfavorável de
pasto). Além dos aspectos nutricionais, o processo torna-se mais viável em
novilhas com maior ganho de peso até o desmame, assim não há necessidade
de GMD tão alto para atingir o peso correto no acasalamento.
Em algumas situações a novilha já apresenta estro antes de atingir o
peso correto, porém, a taxa de prenhez é menor (com aproximadamente 260
kg de peso vivo, 50% teriam capacidade de emprenhar, mas não teriam
condições de se desenvolver e criar conforme necessário), não sendo rentável
para o produtor. Em contrapartida, realizando o processo com o peso certo a
taxa chega a 95%. Via de regra, as novilhas que emprenham são aquelas que
são filhas das vacas que emprenharam no início da estação reprodutiva, tendo,
assim, mais tempo de lactação sendo desmamadas mais velhas e mais
pesadas.
A meta para que uma propriedade apresente bons índices é 24
meses, conseguir reduzir a idade do acasalamento para 14 meses representa
um grande avanço na propriedade e, conforme comentado anteriormente,
exige uma série de adequações e, para aumentar o sucesso da atividade,
selecionar novilhas com as seguintes condições auxilia muito no sucesso da
atividade: mais velhas no desmame, mais pesadas no desmame, maior ganho
de peso médio diário até o desmame, melhor CPM (Conformação, Precocidade
e Musculatura). Apenas 30-40 % rebanho consegue atingir essas condições
com valores desejáveis. Além disso, quanto aos aspectos de manejo e
nutricionais, as seguintes etapas não podem ser avançadas e, muito menos,
dispensadas: ajuste de carga, manejo de condição corporal, diagnóstico de
gestação, manejo da amamentação, melhorias forrageiras, engorde das vacas
e suplementação.
Realizar o acasalamento aos 18 meses implica em alguns
problemas, o principal deles é a alteração no período da lactação, já que as
fêmeas emprenham no outono (abril/maio) e realizam a lactação
majoritariamente no período do outono/inverno do ano seguinte (parto em
fevereiro e final da lactação em setembro). Outro ponto negativo a ser
considerado é o intervalo entre partos pode ser de 18 meses, caso a fêmea
não emprenhar novamente até maio, vai emprenhar somente em novembro e
parir em setembro, aumentando muito o intervalo entre partos, deixando a
atividade pouco viável em termos econômicos.
Parindo em fevereiro, o período puerpério (pós-parto) de 45 dias
aproximadamente ficaria para recuperação da fêmea retornar ao processo de
reprodução, e, caso não prenhe, ficaria para a temporada de reprodução da
primavera, por isso, para evitar as inconveniências da prenhez aos 18 meses,
às vezes é muito mais válido atrasar o período do primeiro acasalamento para
24 meses e ter maior certeza da repetição da cria na primavera seguinte, além
de ser um período de melhores condições forrageiras e de clima para criar o
terneiro.
O sistema de prenhez aos 18 meses para funcionar, a vaca precisa
emprenhar logo após os 45 dias do puerpério (maio), afinal, no inverno, ocorre
a perda de 0,5 kg/dia em média, tornando-a mais difícil de emprenhar, por
demorar mais tempo e aumentar o intervalo entre partos, nesse contexto, o
acasalamento de outono deve ser uma prática muito bem organizada, que
pode trazer benefícios por reduzir a compra de touros e por possibilitar a
produção de novilhos 2 anos em dois períodos do ano. Os terneiros da parição
de outono são desmamados em setembro e são mais leves, porque as vacas
pegam um período de menor quantidade de pasto.
Para isso, a utilização de primíparas cruza, que apresentam maior
repetição de prenhez, parto no fim verão ou inicio de outono (março), com
escore da condição corporal (ECC) = 3,5-4,0 em função da alta oferta de
forragem e por não estarem mais lactando, promovem os resultados esperados
no sistema, mantendo sempre lotes fixos para acasalamento/inseminação no
outono e na primavera.
Considerando dois pesos médios no desmame, a tabela abaixo
representa qual o GMD para que as fêmeas atinjam o peso ideal para o
acasalamento aos 18 meses:
Desmame GMD (por 390 dias) 18 meses
150 kg 0,470 kg 330 kg
180 kg 0,390 kg 330 kg

Durante a gestação, a formação do feto pode ser subdividida em três


partes (terços), no terço inicial ocorre a miogênese primária; no segundo terço
de gestação ocorre a miogênese secundária e a partir do quarto mês o início
da adipogênese (formação das células de gordura); no terço final de gestação
é onde o feto realmente aumenta consideravelmente de tamanho, visto que
ocorre a hipertrofia das fibras musculares previamente formadas e também
aumento no número de células de gordura. De acordo com os acontecimentos
relatados anteriormente, pode-se concluir que restrições nutricionais em tais
fases prejudicariam muito o desenvolvimento do animal, refletindo no seu
potencial adulto, por isso, restrições do segundo ao sétimo mês de gestação
geram diminuição do número de fibras musculares e massa muscular,
restrições do quinto mês ao parto reduzem o marmoreio e, caso a restrição
ocorrer exclusivamente no terço final de gestação, o impacto é diretamente
relacionado ao peso ao nascer do terneiro.
O macroprocesso de produção de terneiros consiste na recria das
fêmeas selecionadas para compor o plantel da propriedade, tal seleção segue
critérios variáveis conforme cada produtor, entretanto, procura-se descartar
fêmeas que desde pequenas fogem do padrão racial exigido ou que possuem
algum fator complicador de ordem motora ou alguma doença; no
acasalamento, deve ocorrer o estudo dos touros a serem utilizados,
independente da técnica (IA ou monta natural), preconizando sempre que
possível, animais de bons índices; na gestação, é preciso ter sempre o cuidado
necessário com a nutrição dessas fêmeas; na parição, dependendo do grau
tecnológico da propriedade, alguns procedimentos já são adotados algumas
horas após o nascimento do terneiro, a realização da higienização do umbigo,
identificação da mãe, fornecer um número para o terneiro através de um brinco
e realizar a pesagem para saber o peso ao nascer (PN), são algumas das
atividades mais corriqueiras para tal período; durante a lactação, ocorre o
rápido desenvolvimento do terneiro, sendo que grande parte do seu peso
nesse período é oriundo da disponibilidade do leite materno, por isso, é
importante fornecer condições boas para a cria e, principalmente, para a fêmea
lactante, visto que, além de estar em período de amamentação, precisa
retomar seu estado corporal para entrar novamente em processo de
reprodução e repetir cria; por último, ocorre o desmame.
Em termos energéticos, o custo dos 7 meses da lactação são 52%
mais elevados que toda gestação, por isso, em algumas situações fazer
desmame precoce, precoce-precoce para a vaca ganhar mais condição
corporal é imprescindível para aumentar a taxa de prenhez.
Caso a produção de leite de uma fêmea for muito alta durante a
lactação, isso pode ser um problema devido ao fato de que grande parte da
energia dessa fêmea está voltada para a produção de leite, esgotando em
parte suas reservas corporais, reduzindo seu peso ou aumentando muito a
mantença, com isso, fica difícil manter um escore corporal adequado para
retomar o processo de reprodução loco após o período puerpério. Dentre os
fatores que afetam a produção de leite das vacas de corte, e, por
consequência, o peso ao desmame dos terneiros, já que um grande percentual
do peso do terneiro depende do leite materno, vale destacar a idade ao
primeiro serviço, oferta de forragem, escore corporal e seus aspectos
genéticos. Ainda em relação ao processo de amamentação, é preferível que as
vacas tenham tetos pequenos para que os terneiros recém-nascidos consigam
mamar mais facilmente, além disso, tetos grandes são mais sujeitos a sofrer
com problemas como a mamite.

O desmame precoce é uma técnica que visa à recuperação mais


rápida da condição corporal das matrizes, visando que as mesmas repitam cria
o mais breve possível. Utilizado principalmente em fêmeas com escore corporal
muito baixo (1,5 a 2,5), em que a produção de leite seria um grande dispêndio
de energia para a matriz, o terneiro não teria condições de se desenvolver e o
resultado disso provavelmente seria um terneiro ruim e uma fêmea que não irá
repetir cria em um intervalo curto de tempo. Tal procedimento pode ser
realizado quando os terneiros atingem peso vivo mínimo de aproximadamente
80 kg e habilidades de aceitar a oferta de alimento do sistema, que consiste em
geral de rações específicas para desmame precoce, outros suplementos e
forragens.
Para a realização de um desmame precoce de sucesso é importante
atender à determinadas exigências e condições que baseiam-se no bem-estar
e monitoramento constante dos animais, para tal, é importante um
fornecimento de água limpa, em geral de bebedouros, ração em torno de 22%
de proteína, fornecimento de forragem, proporcionar a socialização entre os
animais, evitar realizar o procedimento em lotes muito grandes (máximo de 300
terneiros) para facilitar o monitoramento e realizar o desmame em lugares de
tamanho adequado, lembrando que locais muito grandes prejudicam as
interações entre os integrantes, por último, é importante ter um ou mais
responsáveis pelo processo que realmente cuide de todas as variáveis
possíveis, visto que é uma categoria animal extremamente dependente das
condições fornecidas pelo homem para produzir nessa situação.
Visando reduzir os gastos energéticos com a produção de leite e
assim estimular alterações endócrinas que resultarão na indução do cio, é
realizado o desmame temporário, com o uso de tabuleta por 11 dias, na
entrada dos touros. Na média este processo aumenta em até 40% a repetição
de prenhez.
Com relação ao manejo das vacas de cria e peculiaridades do sistema, a
indução de cio e inseminação artificial só funciona 60 dias após a parição e
com condição corporal ideal de 3,5 a 4,0. A remoção do terneiro ou aleitamento
interrompido (tabuleta/biqueira) aumenta a % de prenhez, quanto mais tempo o
terneiro é retirado, maior é a % de vacas cobertas. A presença de terneiros,
mesmo que a vaca não esteja lactando, restringe o cio.
OBS: As exigências nutricionais das vacas gestando gêmeos é 30%
superior, em geral, existe muita competição entre terneiros e dificilmente ocorre
um bom desenvolvimento sem que haja interferência e manejo diferenciado,
seja através do desmame precoce ou auxílio de outra fêmea para criar um dos
terneiros.

Efeito do calor sobre a produção:


1- Aumento do fluxo sanguíneo periférico;
2- Diminuição do fluxo sanguíneo nos órgãos internos;
3- Diminuição da quantidade de nutrientes no útero;
4- Diminuição do desenvolvimento fetal;
5- Diminuição do desenvolvimento placentário;
6- Diminuição do desenvolvimento do útero.

Efeito de altas temperaturas sobre a fertilidade e a produção de carne:


1- Aumento da circulação periférica;
2- Aumento da temperatura interna do útero;
3- Aumento da proteólise;
4- Aumento da mortalidade embrionária;
5- Diminuição da taxa de prenhêz;
6- Diminuição da progesterona circulante;
7- Diminuição da deposição de músculo;
8- Diminuição da duração do estro.

PRODUÇÃO DE ANIMAIS PARA ABATE E CARCAÇA

Dentro da produção de animais para abate, a busca por novilhos que


apresentem crescimento/ganho de peso rápido e eficiente (tamanho grande),
bom acabamento e rendimento de carcaça regem todos os processos de
seleção, manejo e nutrição para esse fim.
No macroprocesso de produção de animais para abate, devido à
ampla abordagem realizada anteriormente sobre os temas relacionados à
obtenção dos terneiros, os índices mais buscados e a seleção realizada para
tal finalidade, o foco nesse tópico será exclusivamente a recria, terminação e
comercialização dos animais.
No RS, a média de peso dos terneiros da idade ideal para o
desmame (7 meses) está em torno de 130kg, o que torna a recria um processo
difícil e mais demorado do que o ideal, por isso, o ideal é que os animais
possam ser desmamados e chegar aos 7 meses com pesos mínimos entre 150
e 180kg, reduzindo assim, o GMD para atingir peso final de abate. Em geral,
terneiros pesados no desmame ficam prontos para o abate mais cedo. A fase
de recria é a que demora mais tempo, pois compreende grande parte do
crescimento do animal e desenvolvimento da musculatura, quando se tratam
de animais para produção de carne, para se obter qualidade é importante
reduzir a idade do abate, com o objetivo de chegar com os machos aos dois
anos por volta de 430kg e serem, em poucos meses, terminados com ganho
rápido de peso e acúmulo de gordura desejável para atender as condições de
carcaça ideias. Para que isso ocorra, o planejamento forrageiro é de extrema
importância, principalmente porque são categorias animais extremamente
exigentes e eficientes em conversão, por isso, independente do que for
fornecido (pastagem, concentrados, suplementação mineral, forragem
conservada), primar pela qualidade dos subprodutos faz toda a diferença para
atingir um bom resultado final.
Em termos de comercialização, existem propriedades que produzem
os terneiros para que seja feita a recria e terminação em outros lugares, outra
possibilidade é a venda dos animais recriados para serem terminados em
confinamentos ou pastagens, ou, propriedades que realizam o ciclo completo
de produção. Para o frigorífico, as vendas podem ser feitas pelo kg do peso
vivo ou pelo rendimento, e, de acordo com o padrão dos animais e acordos de
comercialização, algumas bonificações podem ser dadas aos produtores que
fornecerem animais de qualidade superior que se enquadram dentro das
exigências dos compradores.
Os aspectos fenotípicos dos animais variam conforme a raça e o seu
desenvolvimento, entretanto, em bovinos de corte espera-se que o animal
apresente um bom quarto (traseiro), uma vez que nessa região encontram-se
os cortes mais nobres, bem como na região do lombo, onde se localiza o filé
mignon e entrecot. Comprimento de carcaça, que reflete no tamanho dos
cortes; profundidade, que representa a distância da linha do lombo ao final da
costela, determinando assim o tamanho dos cortes; um dianteiro equilibrado e
com boa quantidade de músculos e, obviamente, um percentual de gordura
aceitável, que garante o melhor acabamento e proporciona qualidade no
processamento da carne no frigorífico e, posteriormente, para o consumidor.
Aspectos importantes para serem considerados em relação ao
produto final/carcaça: terminação/acabamento (coxa cheia, perna cheia; Sem
notar costelas; arqueamento traseiro); área de olho de lombo (importante para
venda de carne; melhor rendimento de carcaça); marmoreio (deposição de
gordura intramuscular; ocorre depois da deposição externa; difícil conseguir
pasto. consegue-se com alimentação a base de grãos); graus de marmoreio
(classifica a carne, na classificação americana); castração (deposição de
gordura mais precoce, regular, com marmoreio; em touros a ação de
hormônios faz com que a deposição de gordura seja irregular); classificação
americana (quarto posterior; gordura externa; gordura de marmoreio); grau de
rendimento (1: menor peso de carcaça e maior gordura subcutânea e 5: maior
rendimento de carcaça e menor gordura subcutânea); coloração da carne
(ajuda indicar a idade do animal; vermelho escuro oxidado: animal velho;
vermelho rubi (vermelho vivo): animal novo; coloração café com leite
(amarelada: vitelo. Animais que são amamentados até o abate); ossos
(ossificação das vértebras sacrais: animal velho; ossos avermelhados e
arredondados: animal novo; ossos chatos, brancos e longos: animal velho).
A idade do animal é fundamental na qualidade da carne, redução na
idade de abate é importante para promover boa conformação da carcaça, que
refletirá em palatabilidade (maciez, sabor e suculência) da carne.
Ao se analisar a qualidade do acabamento do animal é importante
observar a espessura de gordura entre a 12º e 13º costela, além disso, através
da coloração da gordura é possível saber se a dieta foi a base de grãos
(gordura branca) ou a base de pasto (gordura amarela).

ASPECTOS DA NUTRIÇÃO PARA BOVINOS DE CORTE

“Pasto é o alicerce da pecuária.”


1º e 2º inverno em pastagem: + rendimento da carcaça
1º e 3º inverno em pastagem: + carne e osso
2º e 3º inverno em pastagem: + gordura
Sob condições ideias em termos de manejo forrageiro, visando
equilíbrio entre produção e investimento (financeiro e tempo), as condições
mais adequadas para as diferentes categorias animais e sua produção seguem
a seguinte lógica:
-CRIA: no verão, manejo em campo nativo e no inverno, pastagem
(tem mais tempo pra ganhar peso).
-RECRIA: no verão, campo nativo diferido, com suplementação e no
inverno: pastagem (visando a redução do período de recria ao aumentar o
ganho de peso diário dos animais).
-TERMINAÇÃO: no verão, pastagem (milheto, capim-sudão) e no
inverno azevém, trevos, aveia (vale ressaltar que em sistemas de terminação a
utilização de concentrados pode ser uma alternativa para acelerar o processo
de acabamento dos animais.
Com o objetivo de corrigir baixos pesos de algumas terneiras e
assim emparelhar o peso das terneiras, podemos fazer pastejo rotativo com um
lote ponta e outro rapador. No lote ponta colocamos as mais leves e no rapador
as mais pesadas.
Com massa de forragem de no mínimo de 1500kg de MS em campo
nativo e suplementação é possível conseguir até 0,5kg/dia no outono/inverno.

O peso meta aos 2 anos para novilhos é de 400-450kg e para


novilhas é de 300kg, por isso, uma boa alternativa é que as novilhas passem o
primeiro inverno em pastagem melhorada com os terneiros e no segundo
inverno em campo nativo e os novilhos pastagem melhorada.
Para ganhar 0,5kg/novilho/dia de setembro a abril é necessário no
mínimo 1500 kg de MS/ha. Para novilhas primíparas esta massa deve ser de
no mínimo 2000 kg MS/ha, visando repetir prenhez.
Parição de outubro as vacas perdem 0,5kg/dia, por isso, para
repetição de prenhez a condição corporal tem que ser 4,0. A parição de outono
tem que ser até meados de fevereiro, porque o puerpério dura pouco mais de
45 dias e o início do acasalamento inicia em abril/maio. Em abril o clima ainda
é bom e tem crescimento de pasto. Caso a fêmea parir em abril, irá iniciar o
acasalamento em junho, que já é mais frio e com menos pasto, visto que é
necessário um forte ajuste da carga, afinal em temperaturas abaixo de 10ºC o
pasto cessa seu crescimento e, para piorar a situação em termos de oferta de
forragem, para atingir a quantidade calórica necessária para a mantença, os
animais comem maior quantidade.
Novilhas que ficam em pastagem cultivada pré e pós parto obtém
15% a mais de repetição de prenhez (95%) do que novilhas em pastagem
somente no pré parto.
Em propriedades com alta taxa de prenhez a carga animal média é
de 300kg PV/ha, o ganho de peso médio é diretamente depende da fertilidade
do solo (GMD: 500g é uma meta) e a adubação nitrogenada acelera o
crescimento das pastagens e promove maior capacidade de suporte de carga.
Equilibrar a oferta de forragem é uma atividade básica para o
sucesso das atividades, suplementar auxilia no aumento da taxa de lotação
pois os animais precisam de menor quantidade de pasto por dia, quanto menor
a carga animal (kg PV / ha), maior a altura do pasto; é preciso utilizar alturas
suficientemente boas para que o animal consiga comer com eficiência sem que
haja muita perda de qualidade na pastagem por senescência e aumento dos
teores de fibras, por exemplo, usar 20cm de altura em pastagem de azevém na
sucessão de uma lavoura de soja promove maior ganho por peso e área em
relação à mesma pastagem manejada com 10cm ou 30cm. Quanto maior a
oferta de forragem de maneira eficiente, maior será o ganho de peso e, no
momento que se aumenta o peso da carcaça (corte pistola, AOL), maiores
serão os pesos dos cortes comercializados.
Se o animal não ganha mais peso com maior nível de
suplementação é porque esbarra no potencial genético. Limitando a produção
ao nível máximo que é capaz de ganhar por dia (é preciso adequar a dieta para
evitar desperdícios em termos econômicos e, preferencialmente, não
selecionar animais que apresentem tais problemas, afinal, são mais tardios e
de pior qualidade).
A suplementação auxilia no aumento dos níveis de espessura de
gordura subcutânea, ou seja, reflete no escore da condição corporar, quanto
maior for a EGS, maior será o ECC. Entretanto, o ganho de peso em relação
ao suplemento depende da estação do ano, nos períodos em que a pastagem
apresenta boa qualidade (setembro e outubro), os ganhos/cabeça são
semelhantes comparando exclusivamente a alimentação à pasto com a pasto
aliada dos suplementos, porém, quando há decréscimo da qualidade forrageira
(novembro ou inverno), a suplementação representa um grande incremento
nos ganhos.
Ao se utilizar melhor as pastagens, aliando aos suplementos, os
ECC x dias de utilização da pastagem, os resultados conforme há melhora nas
condições oferecidas ilustram aumento na taxa de prenhez nas fêmeas que
recebem suplemento, maior peso ao desmame, melhor escore corporal e COM
(conformação, precocidade e musculatura), maior ganho de peso e maior
longevidade.
Para o RS, os meses de setembro, outubro e novembro apresentam
as melhores temperaturas e maior altura de pasto (“pasto tapando a bota”), no
resto do ano, manejar conscientemente a carga no campo nativo, realizar
introdução de espécies hibernais e adubação do campo nativo, escolha de
áreas para pastagens tanto de inverno, quanto de verão. Estudar estratégias
para produção de forragem conservada ou fornecimento de suplementação são
a base para reverter o principal problema do estado, que está diretamente
relacionado à subnutrição (fome) de grande parte do rebanho e com isso,
proporcionar a melhora progressiva de todos os índices abordados nessa
revisão.
A produção de gado adaptado, alta capacidade de produção
forrageira, alimentação a pasto: fazem a carne brasileira ser barata em relação
à outros lugares.
MARASCHIN
Setembro a Abril: 12% de Oferta. ->1440 kg de MS/ha
Carga 380 kg pv/ha
Ganho de 0,5 kg cab/dia
Abril a Setembro, sem ganho.
Recomendado: 12% OF.

Você também pode gostar