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net/publication/341434090
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Alexandre Vuckovic
Fundación Universitaria Iberoamericana
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All content following this page was uploaded by Alexandre Vuckovic on 16 May 2020.
Alexandre Vuckovic 1
Resumo
Este artigo científico jurídico tem por objetivo realizar estudo metodológico através da análise
comparativa entre duas modelagens de garantias trabalhistas, quais sejam: a Estabilidade
Definitiva (Decenal) e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), de maneira a
vislumbrar a evolução destes direitos, procurando demonstrar as vantagens e desvantagens de
cada um deles para o trabalhador brasileiro. Temos como ponto de concentração de análise,
fazer um resgate histórico de forma objetiva e cronológica, buscando apresentar a situação
econômica, política e social no Brasil no período estudado, no contexto do cenário mundial. A
metodologia empregada foi a análise de dados governamentais e não governamentais,
evolução das leis, estudo da doutrina e jurisprudência, além do cruzamento de informações
para a fundamentação das próprias conclusões. Também foi realizada revisão bibliográfica
dos temas relacionados ao assunto como fundamentação teórica ao trabalho. Como resultados
decorrentes deste artigo, apresentamos uma avaliação destas mudanças no sentido de
demonstrar quem foi efetivamente o maior beneficiado pela mudança do regime, o
trabalhador ou o empregador.
1
Graduado em Economia (Universidade Tuiuti do Paraná), Graduado em Direito, Graduado em Investigação
Forense e Perícia Criminal, Graduado em Mediação (Universidade Estácio de Sá), Pós-Graduado em Direito
Penal (Uniasselvi), Pós-Graduado em Direito e Processo do Trabalho e Previdenciário (Universidade Estácio de
Sá), Pós-Graduado em Direito Militar, Pós-Graduado em Análise Criminal (Faculdade São Braz), Pós-graduado
em Ciência Política e Desenvolvimento Estratégico (IMEC), Pós-Graduado em Altos Estudos de Política,
Planejamento e Estratégia (ESG), Mestrado em Direito e Negócios Internacionais (FUNIBER).
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Introdução
Indubitavelmente, desde que o homem passou a ter que viver do seu trabalho como
forma de subsistência, seja na forma cativa ou remunerada, sempre houve uma relação
conflituosa entre o suserano e o vassalo, ou entre o capital e o trabalho, resultando numa
discussão entre direitos e deveres do trabalhador e do empregador.
Em que pese que a evolução da história do homem e desenvolvimento das relações de
trabalho, muito se conquistou, mesmo que a duras penas e nem sempre de forma proporcional
à necessidade do hipossuficiente.
Neste sentido, o poder constituído, utilizando sua prerrogativa de criar e alterar a
legislação se viu obrigado a estabelecer uma relação de equilíbrio entre capital e trabalho, por
pressão de diferentes classes de modo a manter as bases para o desenvolvimento econômico e
social.
Assim sendo, a questão da estabilidade no trabalho no Brasil, o qual era decenal,
passou por uma pequena mudança inicialmente com a introdução do Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS) em 1966 (mais precisamente no dia 13 de setembro), o qual foi
substituído com a Constituição Federal de 1988, sendo este o tema que iremos analisar nos
próximos tópicos deste artigo.
Se considerarmos a Teoria Criacionista em que o primeiro homem, o homo sapiens
sapiens, criado por Deus e colocado no Jardim do Éden vivia num lugar perfeito chamado de
“paraíso” onde nada lhe faltava e tinha de tudo para a sua sobrevivência em abundância, ao
ser expulso do mesmo por desobediência à uma ordem divina, passou a ter que viver do suor
do seu trabalho, podemos considerar que desde então, segundo esta interpretação religiosa
judaico-cristã, o trabalho é visto como uma maldição.
Com a multiplicação dos seres humanos pela face da Terra, começa-se a estabelecer
uma competição natural entre estes para se estabelecer uma relação de poder entre
comandantes e comandados, sendo que, mesmo que os comandados não fossem feitos
escravos, mesmo na condição de trabalhadores livres, ainda assim eram explorados em seus
trabalhos para que houvesse o fator gerador de acumulação para os comandantes no sentido
de torná-los cada vez mais poderosos e, consequentemente, houvesse a perpetuação no poder.
Através da análise e classificação dos historiadores, podemos identificar que
independentemente da idade histórica, sempre esteve configurada estas duas classes, a que
dominava e a que era dominada.
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◆ Delimitação do estudo;
◆ Coleta de dados;
◆ Análise e interpretação de dados;
◆ Redação do trabalho.
Desenvolvimento
Gênesis 3:19 – No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra;
porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás.
Gênesis 3:23 – O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a
terra de que fora tomado.
3
Segundo a classificação dos historiadores, Idade Antiga, na periodização das épocas históricas da humanidade,
é o período que se estende desde a invenção da escrita (de 4000 a.C. a 3500 a.C.) até a queda do Império
Romano do Ocidente (476 d.C.).
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Embora não haja um consenso entre os historiadores de diferentes países, a classificação mais aceita
universalmente é que a Idade Média inicia-se com a queda do Império Romano do Ocidente em 476 a.C e vai até
1453 com a queda de Constantinopla.
5
A Idade Moderna, segundo os historiadores, é um período específico da História, o qual se destaca das demais
por ter sido um período de transição por excelência. Tradicionalmente se aceita o início estabelecido em 29 de
6
maio de 1453 quando ocorreu a tomada de Constantinopla (atual Istambul, na Turquia) pelos turcos otomanos, e
o término com a Revolução Francesa, em 14 de julho de 1789.
6
A I Revolução Industrial, também conhecida como Revolução do Carvão e do Ferro, teve seu período
compreendido entre 1780 e 1860. A II Revolução Industrial ficou conhecida como Revolução do Aço e da
Eletricidade, a qual perdurou entre 1860 a 1914.
7
É um filme de romance francês, do escritor Émile Zola, produzido em 1993, cujo tema central aborda uma
greve de mineiros provocada pela redução dos salários. Além dos aspectos técnicos das extrações minerais e as
condições de vida nos agrupamentos dos mineiros, Zola também descreve o princípio da organização política e
sindical da classe operária, tais como as divisões já existentes entre marxistas e anarquistas.
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Dentre os principais tópicos, abordava as causas do conflito de classes, a questão socialista, a propriedade
particular, a família e o Estado, a igreja e a questão social, direitos e deveres de patrões e trabalhadores, posse de
riquezas, a dignidade nas relações de trabalho, etc.
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trabalho sem capital”, sendo esta a primeira vez na história da humanidade que se fala em
dignidade da pessoa humana nas relações de trabalho.
O poder dominante, temendo a luta de classes considerada através do materialismo
dialético9, tendo como objetivo último o fim da propriedade privada, passou a considerar
essas novas doutrinas como uma ameaça à sociedade da época, tendo que intervir
politicamente para evitar uma convulsão social.
Dentre todos os tópicos defendidos por esta encíclica, podemos citar aquela que trata
da dignidade no trabalho, a qual talvez tenha contribuído sobremaneira para que o Estado
passasse a exercer sua força cogente e seu jus puniendi para aqueles que descumprissem o
novo pacto social nas relações entre capital e trabalho.
Ao término da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), a nova ordem mundial à luz
da Conferência de Paz no Palácio de Versalhes, cria a Organização Internacional do Trabalho
(OIT), órgão este subordinado a então Liga das Nações10, precursora da Organização das
Nações Unidas (ONU). A partir deste momento fica consagrado o Direito do Trabalho11 como
aquele que passa a defender o direito dos trabalhadores e como novo ramo das Ciências
Jurídicas.
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Concepção filosófica que se opõe ao Idealismo, defendendo que o ambiente, o organismo e fenômenos físicos
tanto modelam os animais e os seres humanos, sua sociedade e sua cultura quanto são modelados por eles.
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Foi uma organização internacional, criada em 28 de abril de 1919, em Versalhes, França, onde as potências
vencedoras da Primeira Guerra Mundial se reuniram para negociar um acordo de paz. Foi extinta em 20 de abril
de 1946.
11
Conjunto de normas jurídicas que regem as relações entre empregados e empregadores, são os direitos
resultantes da condição jurídica dos trabalhadores.
12
Foi inspirada na Carta Del Lavoro, da Itália fascista de Benito Mussolini.
8
Dentre os artigos da CLT, podemos destacar aquele que é objeto de nosso estudo neste
artigo científico o qual trata da estabilidade no emprego como garantia fundamental ao
trabalhador.
Podemos entender estabilidade no emprego como uma garantia contra a despedida
arbitrária do empregado.
Segundo a interpretação de VILLELA (2010), a estabilidade pode ser definida como:
i. Estabilidade Total: Aplicada aos servidores públicos os quais são regidos pelo
regime jurídico de estatutário federal. Aqui estão todos aqueles alocados na
administração direta, autarquias e fundações públicas. Todos aqueles empregados
nesta categoria só podem ser demitidos através de sentença judicial transitada em
julgado. A outra situação para demissão é em virtude de processo administrativo
disciplinar, assegurando-se a ampla defesa.
ii. Estabilidade Relativa: Aplicada aos empregados públicos regidos pela Consolidação
das Leis de Trabalho, ou seja, empregados por empresas públicas ou empresas de
economia mista. Conforme Recurso Extraordinário Nº 589.998/13 do Supremo
Tribunal Federal (STF), estes só podem ser demitidos nos casos em que a demissão
seja fundamentada e comprovada.
9
ii. Estabilidade Decenal: (Era) aplicada aos empregados de empresas privadas com mais
de dez anos de serviço ininterruptos na mesma empresa. Estes adquiriam estabilidade
decenal (10 anos), somente podendo ser demitidos por motivo de falta grave ou
motivo de forma maior.
A estabilidade decenal, objeto de nosso estudo, vigorou no Brasil desde 1943 até a
Constituição Federal de 1988, tendo sido tacitamente extinta a partir deste período para ser
substituída pelo Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
O FGTS foi criado em 13 de setembro de 1966, através da Lei Nº 5.107, sendo
regulamentado pelo Decreto Nº 59.820, de 20 de dezembro de 1966, cuja vigência se deu
através da Lei Nº 5.107/66, a qual se iniciou em 1º de janeiro de 1967. Atualmente é regulado
pela Lei Nº 8.036/90 e pelo Decreto 99.684/90.
O que acontecia até a promulgação da Constituição Federal de 1988 era que, o
empregado por ocasião de sua contratação, optava pela estabilidade decenal ou pelo FGTS.
Através do gráfico a seguir, podemos entender de forma mais didática o que acontecia.
Figura 1: Demonstração cronológica da Estabilidade Decenal e do FGTS no Brasil entre 1943 e 1988.
Fonte: Representação esquemática elaborado pelo autor baseada nos eventos histórico-legais.
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Conforme entendimento do gráfico acima, podemos verificar que havia três períodos
distintos. O primeiro que foi até 1966 o trabalhador só estava amparado pelo regime decenal.
Neste sistema, o empregado ao completar mais de dez anos de serviços tornava-se
automaticamente estavél e não poderia mais ser dispensado por motivo de justa causa
comprovada por meio de inquérito.
Conforme determinava o texto do artigo 492 da Consolidação das Leis de Trabalho
(CLT), Decreto-lei Nº 5.452 de 01 de maio de 1943:
Art. 492, CLT/43: O empregado que contar mais de 10 (dez) anos de serviço na
mesma empresa não poderá ser despedido senão por motivo de falta grave ou
circunstância de força maior, devidamente comprovadas.
Porém, na prática o que acontecia era que, antes deste chegar próximo da data de sua
estabilidade, era dispensando pelo empregador o qual não queria ter empregados na
estabilidade. Em caso da demissão partir por parte do empregado, seu pedido só seria válido
com a supervisão do sindicato, Ministério do Trabalho ou Justiça do Trabalho.
Entretanto, o panorama desta previsão legal mudar-se-ia com a edição da Lei Nº
5.107/66 que criaria o regime de FGTS como alternativa de indenização da CLT, o que seria
posteriormente consticionalizado.
A partir da lei que instituiu o regime do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço,
permitiu-se a opção pelo novo regime para aqueles empregados que já possuíam
vínculo empregatício, que a partir de então passariam a ser regidos por dois
regimes: o regime da Consolidação para o tempo anterior e o fundiário para o
tempo posterior (OLIVEIRA, 2005).
Per summa capita, a lei trabalhista fora criada para benefeciar o empregado caso este
viesse a perder o emprego de forma injustificada, todavia acabou tendo um viés contrário o
qual praticamente “condenava” o mesmo a perder o emprego ao completar dez anos de
serviços para seu empregador.
A partide de 1966, através da Lei Nº 5.107/66, passou a vigorar o regime de Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço. Este regime não estinguiria o anterior, mas daria uma
alternativa para o empregado poder optar em qual regime trabalhista queria ser contratado,
como uma forma de minimizar as injustiças que ocorriam com o regime decenal.
Conforme texto desta antiga lei, temos:
11
Art. 1º, Lei Nº 5.107/66: Para garantia do tempo de serviço ficam mantidos os
Capítulos V e VII do Título IV da Consolidação das Leis do Trabalho, assegurado,
porém, aos empregados o direito de optarem pelo regime instituído na presente Lei.
Art. 1º, §2º, Lei Nº 5.107/66: A preferência do empregado pelo regime desta Lei
deve ser manifestada em declaração escrita, e, em seguida anotada em sua Carteira
Profissional, bem como no respectivo livro ou ficha de registro.
Art. 2º, Lei Nº 5.107/66: Para os fins previstos nesta lei, todas as empresas sujeitas
à CLT ficam obrigadas a depositar, até o último dia de expediente bancário do
primeiro decêndio de cada mês, em conta bancária vinculada, a importância
correspondente a 8% (oito por cento) da remuneração paga ou devida no mês
anterior, a cada empregado, optante ou não, incluídas as parcelas de que tratam os
arts. 457 e 458 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a Gratificação de
Natal a que se refere a Lei nº 4.090, de 13 de julho de 1962, com as modificações da
Lei nº 4.749, de 12 de agosto de 1965. (Redação dada pela Lei nº 7.794, de 1989).
Art. 11, Lei Nº 5.107/66: Fica criado o "Fundo de Garantia do Tempo de Serviço"
(FGTS), constituído pelo conjunto das contas vinculadas a que se refere esta Lei,
cujos recursos serão aplicados com correção monetária e juros, de modo a assegurar
cobertura de suas obrigações, cabendo sua gestão ao Banco Nacional de Habitação13.
13
O Banco Nacional de Habitação (BNH) foi uma empresa pública brasileira voltada ao financiamento e à
produção de empreendimentos imobiliários, assim como a Caixa Econômica Federal opera atualmente, sendo
seu sucessor. Foi a principal instituição federal de desenvolvimento urbano do Brasil, na qualidade de gestor do
FGTS e da formulação e implementação do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e do Sistema Financeiro do
Saneamento (SFS). O Banco foi extinto através do Decreto-Lei Nº 2.291, de 21 de novembro de 1986, o qual foi
12
Apesar da condenação, a empresa discordou, alegando que “ao optar pelo FGTS,
com efeitos retroativos a 01/07/1975, antes da Constituição da República de 05 de outubro
incorporado à Caixa Econômica Federal, sucedendo em todos os seus direitos e obrigações, sobretudo, na gestão
do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.
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3. Vantagens e Desvantagens
14
Art. 12, Decreto 99.684/90: Ocorrendo rescisão do contrato de trabalho, para a qual não tenha o trabalhador
dado causa, fica assegurado, na forma do disposto nos artigos 477 a 486 e 497 da CLT, o direito à indenização
relativa ao tempo de serviço anterior a 5 de outubro de 1988, que não tenha sido objeto de opção.
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Súmula nº 98 do TST: I - A equivalência entre os regimes do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e da
estabilidade prevista na CLT é meramente jurídica e não econômica, sendo indevidos valores a título de
reposição de diferenças. II - A estabilidade contratual ou a derivada de regulamento de empresa são compatíveis
com o regime do FGTS. Diversamente ocorre com a estabilidade legal (decenal, art. 492 da CLT), que é
renunciada com a opção pelo FGTS.
14
Em se tratando de dispensa por justa causa, o trabalhador só pode ser deminido através
da conclusão de inquérito, dando assim ao mesmo uma certa tranquilidade. Já no regime do
FGTS, a dispensa por falta grave pode acontecer a qualquer momento, sendo que cabe ao
empregador o ônus da prova, caso haja relamatória trabalhista ajuizada pelo empregado.
O sistema decenal gera indenização de um mês de salário para o empregado
dispensado que tenha mais de um ano de trabalho e menos de dez anos. No sistema do FGTS,
por sua vez, gera uma indenização para o empregado de 8% do seu salário por mês
trabalhado, atualizados mensalmente, onde o trabalhador só receberá esta verba recisória caso
seja dispensado sem jutsa causa.
Por ocasião da vigência da estabilidade decenal, o empregador tinha que provisionar
1/12 do valor do salário do trabalhador para cobrir sua despesa. No FGTS, o empregador tem
que depositar mensalmente 8% do salário do empregado em conta de FGTS na Caixa
Econômica Federal.
Na estabilidade decenal, os provisionamentos alegados eram elevados para o
trabalhador, enquanto que no FGTS, o provisionamento legal é de 8% sobre o salário do
empregado.
16
Criou, inicialmente, as caixas de previdência das várias categorias de trabalhadores (ferroviários, portuários,
bancários, etc.).
15
17
O empregado que tiver sido dispensado sem justa causa faz jus ao saldo de salário, aviso prévio indenizado,
férias proporcionais ou integrais, 13º salário proporcional ou integral, multa sobre o FGTS e saque do FGTS.
18
Aprovada pela OIT na 68ª reunião da Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra (1982), a
Convenção 158 entrou em vigor no plano internacional em 23 de novembro de 1985.
19
Garantia esta prevista no Art. 7º, I, CRFB/88: I. “Relação de emprego protegida contra despedida arbitrária
ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros
direitos”.
16
Art. 4º, Convenção 158, OIT/85: Não se dará término à relação de trabalho de um
trabalhador a menos que exista para isso uma causa justificada relacionada com sua
capacidade ou seu comportamento ou baseada nas necessidades de funcionamento
da empresa, estabelecimento ou serviço.
Art. 7º, Convenção 158, OIT/85: Não deverá ser terminada a relação de trabalho de
um trabalhador por motivos relacionados com seu comportamento ou seu
desempenho antes de se dar ao mesmo a possibilidade de se defender das acusações
20
Art. 84, CRFB/88: Compete privativamente ao Presidente da República: VIII - celebrar tratados, convenções e
atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional.
17
feitas contra ele, a menos que não seja possível pedir ao empregador, razoavelmente,
que lhe conceda essa possibilidade.
Seu voto partiu da premissa de que, nos termos da Constituição, leis ordinárias não
podem ser revogadas pelo presidente da República, e o decreto que formaliza a
adesão do Brasil a um tratado internacional, aprovado e ratificado pelo Congresso,
equivale a lei ordinária. “A derrogação de norma incorporadora de tratado pela
vontade exclusiva do presidente da República, a meu juízo, é incompatível com o
equilíbrio necessário à preservação da independência e da harmonia entre os Poderes
(artigo 2º da Constituição da República), bem como com a exigência do devido
processo legal (artigo 5º, inciso LIV)”, afirmou. “Por isso, não se coaduna com o
Estado Democrático de Direito”. (Ministra do Supremo Tribunal Federal Rosa
Weber).
18
Diante da decisão do STF e depois de quase uma década, houve o entendimento que a
Convenção 158 da OIT não poderia ter sido simplesmente revogada por ato unilateral do
Presidente da República, uma vez que o Congresso Nacional o ratificara na ocasião. Neste
sentido, o mesmo volta a fazer parte do ordenamento jurídico e considera-se perfeitamente
aplicável para a proteção do trabalhador contra dispensa imotivada.
Conclusões
Em que pese o fato de que o trabalhador figurar como parte hipossuficiente nas
relações entre o capital e o trabalho, cabe ao Estado ocupar uma posição mais contundente,
servindo como agente regulador e fiscalizador entre empregados e empregadores.
Analisando o cenário brasileiro anterior a década de 1960, o populismo iniciado por
Getulio Vargas, considerado o “pai dos trabalhadores” brasileiros, foi responsável por
introduzir a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), a Carteira de Trabalho por Tempo de
Serviço (CTPS), Ministério do Trabalho, dentre outros, somente para citar suas principais
realizações quanto a proteção dos direitos dos trabalhadores.
Já no período do governo militar, temos a percepção de que os empresários se viram
aliviados de não mais serem governados por um governo cuja posição ideológica tendia mais
a proteger os direitos dos trabalhadores, passando estes a pressionar o governo militar, o qual,
por sua vez, dependia do empresariado para apoiar o estado de exceção.
Neste sentido, o governo resolve criar uma solução que não só desoneraria o capital,
como serviria de fonte captadora do Estado para financiar outros projetos nacionais, sobretudo
aqueles relacionados à construção civil, mais especificamente voltado para a habitação.
Estamos falando da criação do FGTS, cujos recursos passaram não somente a garantir uma
espécie de indenização para o trabalhador em caso de dispensa sem justa causa, cujos valores
20
garantiriam a sobrevivência do mesmo por algum tempo, até que este voltasse a se recolocar
no mercado de trabalho novamente.
Como o volume de recursos captados sempre seria maior do que os sacados, o governo
poderia aplicar estes em obras de infraestrutura, habitação e saneamento, somente para citar
os mais importantes.
À primeira vista nos parece, como o próprio nome sugere que o trabalhador tinha mais
vantagens no modelo de Estabilidade Decenal do que no FGTS, pois adquiria a estabilidade
no emprego ao completar dez anos de serviços, o que dificilmente acontecia na prática.
Conforme analisamos anteriormente, a mudança veio para melhor tem termos de vantagens
para o trabalhador.
Mudanças sempre trazem críticas e descontentamentos, sobretudo para aqueles que
têm que ceder para que outros possam alcançar o equilíbrio e à luz do que pudemos comparar,
numa primeira análise, tivemos a impressão de que o trabalhador fora lesado, todavia, não foi
isso que aconteceu efetivamente, pois se houve a perda de algum benfício por um lado,
também houve uma forma de compensação para este.
Considerando o fato de os assuntos relacionados às garantias trabalhistas serem
polêmicos e propiciarem debates acalorados entre o governo, empresários, sindicatos e
trabalhadores, temos no Direito Trabalhista e Previdenciário brasileiro um campo rico para se
analisar, de modo que possamos alcançar aqueles padrões difundidos pelo welfare state nos
países industrializados.
Desde 2016 acompanhamos diuturnamente através das mídias nacionais algumas
discussões de reformas trabalhistas no Congresso Nacional, sendo elas a das regras de
terceirização de mão de obra, da flexibilização dos contratos de trabalho e a da redução da
jornada semanal de trabalho.
Independentemente de ideologias políticas ou posicionamento de classe econômica, as
mudanças veem da necessidade recorrente da evolução da própria sociedade, sendo que
indubitavelmente, sempre haverá aqueles grupos que se posicionarão contra e outros a favor,
uns que sairão ganhando e outros perdendo, contrariando assim o Ótimo de Pareto, o qual
afirma que o ideal é que todos ganhem, sem que ninguém saia perdendo.
Portanto, recomenda-se como possíveis temas de pesquisa e análise, estes acima
citados, os quais estão em pauta sendo debatidos pela sociedade civil organizada e que, a
qualquer momento, o Congresso Nacional, possa aprovar novas mudanças nas relações de
trabalho brasileiras.
21
Referências
ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário Jurídico Acquaviva. 6ª ed. São Paulo: Rideel,
2013.
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=109132&caixaBusca=
N>. Acesso em 26 set 2019.
HUBERMANN, Leo. História da Riqueza do Homem. 22a Ed. Rio de Janeiro: Guanabara,
2010.
HUNT & SHERMAN, História do Pensamento Econômico. 26a Ed. Rio de Janeiro: Vozes,
2011.
MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual de Direito e Processo do Trabalho. 19ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
TOFFLER, Alvin. A Terceira Onda. Tradução João Távora. 32ª Ed. Rio de Janeiro: Record,
2014.
VILLELA, Fábio Goulart. Manual de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro. Elsevier, 2010.