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Formação em Psicanálise Clínica - Módulo 10
Formação em Psicanálise Clínica - Módulo 10
Clínica Psicanalítica
Índice
INTRODUÇÃO 4
DEFINIÇÃO 6
O SILÊNCIO DO PACIENTE 6
O SILÊNCIO DO ANALISTA 11
A POSTURA DO PACIENTE 13
FIXAÇÃO NO TEMPO 14
A AUSÊNCIA DE SONHOS 15
RESISTÊNCIA DA REPRESSÃO: 16
RESISTÊNCIA DA TRANSFERÊNCIA: 16
Resistência do Id 18
Resistência do Superego 18
Repressão 20
Conversão 24
Deslocamento 25
Dissociação da consciência 26
Escotomização 27
Humor 27
Inibição 27
Isolamento 28
Lembrança encobridora 29
Negação 30
Postergação de afetos 32
MECANISMO DE DEFESA 32
RACIONALIZAÇÃO 33
SURDEZ EMOCIONAL 34
FORMAÇÕES REATIVAS 34
REGRESSÃO 36
FIXAÇÃO 37
PROJEÇÃO 37
INTROJEÇÃO 38
IDENTIFICAÇÃO 39
IDEALIZAÇÃO 40
RENÚNCIA ALTRUÍSTICA 41
REPARAÇÃO 41
SIMBOLIZAÇÃO 42
SUBLIMAÇÃO 43
O discurso do Outro 49
Simbólico e imaginário 50
Negatividade 51
INTRODUÇÃO
O conceito de Resistência foi introduzida cedo por Freud; pode-se dizer que
exerceu um papel decisivo no aparecimento da psicanálise. Com efeito,
renunciou à hipótese e à sugestão essencialmente porque a resistência maciça
que certos pacientes lhe opunha parecia ser por um lado legítima, e, por outro,
não pode ser superada nem interpretada. Isto, pelo contrário, se torna possível
pelo método psicanalítico, na medida em que permite a elucidação progressiva
das resistências que se produzirão particularmente pelas diferentes maneiras
como o paciente infringe a regra fundamental.
O conceito de resistência foi introduzido cedo por Freud; pode dizer que
exerceu um papel decisivo no aparecimento da psicanálise.
Antes que possamos analisar uma resistência temos que estar aptos a
reconhecê-la. Devemos lembrar que as resistências aparecem numa variedade
de maneiras complexas e sutis, em combinações ou formas misturadas e que
os exemplos individuais e isolados não constituem a regra. Deve-se também
salientar que todos os tipos de comportamento podem ajudar uma função de
resistência. O fato de o material de um paciente revelar conteúdo inconsciente,
impulsos instintuais ou lembranças reprimidas não exclui a possibilidade de
uma resistência importante estar em ação no mesmo momento.
O SILÊNCIO DO PACIENTE
Um sintoma de conversão
Um sintoma de neurose
de caráter Um sintoma
psicótico
• Por outro lado, como ensina Ferenzi, há que se responder silêncio com
silêncio, vez que o silêncio pesa para o paciente, interpretando que o
analista esteja se sentindo enfadado dele, o que pode levá-lo a ceder e
mudar de postura.
O SILÊNCIO DO ANALISTA
Uma das mais judiciosas opiniões sobre o silêncio da analista nos vem de
Greenson (1967), quando nos diz:
Do mesmo modo, pode ele sentir o nosso silêncio ou como apoio caloroso, ou
como exteriorização de crítica e de distanciamento. Isto talvez se deva às suas
projeções transferenciais, mas pode, também, derivar-se de uma sua
percepção subliminar de nossas reações contra-transferenciais.
Todos sabemos que aquele que quiser compreender o outro, há que ouvi-lo,
sendo que, quanto mais deseje aprofundar-se na compreensão, tanto mais
tempo e oportunidade há de conceder para as exposições. Ora, o dar
oportunidade, se dá por meio do fato de se retrair o analista, oferecendo uma
postura de silêncio de quem quer ouvir, com um toque de simpatia, de
acolhimento, ao que se deve aditar a empatia, o que, de resto, resume a um
dos mais expressivos princípios regentes do nosso ofício.
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A POSTURA DO PACIENTE
FIXAÇÃO NO TEMPO
A AUSÊNCIA DE SONHOS
RESISTÊNCIA DA REPRESSÃO:
Resistências das defesas do ego
RESISTÊNCIA DA TRANSFERÊNCIA:
Resistência da transferência, que, embora essencialmente semelhante à
resistência da repressão, possui a especial qualidade de, ao mesmo tempo que
a exprime, também refletir a luta contra impulsos infantis que, sob forma direta
ou modificada, emergiram em relação à pessoa do analista.
Resistência do Id
Devido à resistência dos impulsos instintuais a qualquer modificação no seu
modo e na sua forma de expressão. Essa forma de resistência necessita, para
sua eliminação, daquilo que Freud denominou “elaboração”. (a compulsão à
repetição)
Resistência do Superego
Resistência do superego, ou resistência enraizada no sentimento de culpa do
paciente ou na sua necessidade de punição. Freud considerava a “resistência
do superego” como sendo a mais difícil de o analista discernir e abordar. Ela
reflete a ação de um “sentimento inconsciente de culpa” (1923) e é responsável
pela reação aparentemente paradoxal do paciente a todo passo que, no
trabalho analítico, representa a materialização de um ou de outro impulso de
que vão se defendendo pressionados pela sua consciência moral. Assim, um
paciente que possui intensos sentimentos de culpa referentes, por exemplo, ao
desejo de ser filho mais amado e de triunfar sobre seus irmãos, pode reagir
com resistência a qualquer modificação que ameace tornar efetiva uma
situação em que ele tem possibilidade de ter sucesso maior que os seus rivais.
Ou então, um paciente que tem intensos sentimentos inconscientes de culpa
em relação aos seus desejos sexuais, em particular, pode reagir com uma forte
resistência subseqüente à liberação desses desejos através do processo
analítico. A “resistência do superego” pode ser exemplificada com o paciente
que se permite ter um pensamento que desperta culpa, reprime esse
pensamento e vem à sessão com uma sensação de mal-estar que, por fim, é
identificada como um sentimento de culpa que o
Repressão
Conversão
Para alguns autores esta seria uma atividade defensiva relativamente benigna
com deslocamento das catexias em direção a órgãos do sentido e musculatura
estriada, resultando disfunções, tais como: tremores, paralisias, anestesias,
amaurose (perda de visão) não orgânica, contraturas, etc. A função do
mecanismo de conversão é aliviar a tensão afetivo-emocional por via das
expressões somáticas. Choro copioso, risos imotivados, compulsão incoercível
a falar são conversões que precisam ter seu diagnóstico diferencial feitos com
as expressões emocionais normais.
O histérico reprime toda sua sexualidade genital (a que ele tem) que retorna
através das manifestações somáticas, ou ainda, que “converte”,
simbolicamente, em sintoma somático.
Deslocamento
Dissociação da consciência
Humor
No artigo de 1927 sobre “O Humor” Freud aponta-o como uma forma de defesa
dentro da “extensa serie de métodos que a mente humana construiu a fim de
fugir à compulsão para sofrer”. Fazer humor e rir sobre o sexo e sobre a morte,
sobre temas raciais, étnicos e situações sociais risíveis, assustadoras,
constrangedoras ou ameaçadores, é uma boa e humana forma de fugir à
perplexidade e ao medo dos temas referidos. Não é raro pessoas terem
“ataques de riso” em um velório.
Inibição
Pouco valorizado, esse mecanismo talvez seja o que está mais presente nas
várias formas de neurose. Algumas vezes é chamado de “bloqueio emocional”.
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Na raiz das inibições está, entre outras coisas, a educação doméstica dada,
principalmente, pelos pais. A mãe exigente em chamar a atenção do filho, o pai
desconfirmador que só tem críticas a fazer, a verdadeira lavagem cerebral que
se faz através das ordens negativas: não faça isso, não faça aquilo, não, não...
fazem parte do processo inibidor.
Isolamento
Lembrança encobridora
Negação
Negadores da realidade somos todos nós que acreditamos que vamos ganhar
na loteria esportiva ou em qualquer forma de ficar rico sem fazem força e
caímos na conversa de vendedores hábeis que nos prometem ilusões. O lema
do fantasiador é: “engana que eu gosto”.
Postergação de afetos
É o nome que Fenichel dá para situações de luto, raiva, medo, vergonha, nojo,
em que há explosões retardadas de sentimentos. A reação emocional não se
dá no momento do acontecido, mas sim algum tempo depois. Durante um
período, o de perigo, o ego se mostra corajoso, enfrentando o risco, para
depois, já no momento da calmaria, ser tomado de medo intenso. “Na hora do
desastre tive peito para ajudar todo mundo, mas depois me deu uma
tremedeira danada”, diz o herói do cotidiano.
MECANISMO DE DEFESA
É uma forma de substituir, por boas razões, uma determinada conduta que
exige explicações, de um modo geral, da parte de quem adota.
Por sua vez, o desejo pode ser entendido de duas formas: a primeira, bastante
ampla, refere-se ao anseio, ao querer, à aspiração, à cobiça, consciente. A
segunda, forma restrita, refere-se ao desejo como matéria prima das emoções
em que está fortemente ancorada a pulsão sexual inconsciente.
SURDEZ EMOCIONAL
FORMAÇÕES REATIVAS
REGRESSÃO
É importante lembrar, com Freud, que toda neurose implica uma fixação, mas
nem toda fixação leva à neurose.
PROJEÇÃO
INTROJEÇÃO
IDENTIFICAÇÃO
A identificação pode ser parcial ou total. Num caso de identificação parcial, por
exemplo, o aluno fuma cachimbo, como faz o professor; mas numa
identificação total ele estuda e mantém uma atitude geral idêntica à do mestre.
IDEALIZAÇÃO
É a defesa que nos faz acreditar na bondade e beleza dos objetos (pessoas,
coisas, idéias). A pessoa por quem se está apaixonada, a moto do ano
desejada e a proposta política abraçada servem de exemplos de objetos
relacionais em que a idealização é utilizada, transformando-os numa crença
irretorquível. A amada será a mais bela e carinhosa do mundo; a moto será a
melhor até hoje fabricado; e o ideal político, o mais nobre da história. Ninguém
e nada terão defeito para o idealizador.
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RENÚNCIA ALTRUÍSTICA
REPARAÇÃO
SIMBOLIZAÇÃO
I – INTRODUÇÃO
IV - SUGESTÃO E LIBIDO
VII – IDENTIFICAÇÃO
IX - O INSTINTO GREGÁRIO
XII - PÓS-ESCRITO
Sobre Hipnose
Freud, desde 1888, na resenha da tradução de ‘’De la suggestion et de ses
applications à la thérapeutique’’ (Paris: 1886; 2ª ed. 1887). de H. Bernheim [5]
comentava a divisão de opiniões sobre origem do fenômeno hipnótico. Para
Bernheim sua origem: é a "sugestão" de uma ideia consciente, que foi
introduzida, mediante uma influência externa. Essa ideia atua no cérebro da
pessoa hipnotizada como se tivesse surgido espontaneamente, instalando-se
assim o estado hipnótico. Bernheim considerava que todas as manifestações
hipnóticas seriam fenômenos psíquicos, efeitos de sugestões, mas discorreu
sobre a outra corrente que afirmava que o mecanismo, de pelo menos algumas
das manifestações do hipnotismo, se baseia em modificações fisiológicas
equivalentes à deslocamentos da excitabilidade no sistema nervoso, sem a
participação das partes do mesmo que operam com a consciência. Observe-se
que essa ideia do deslocamento, até então denominado como “transfert”,
posteriormente é empregado por Freud para explicar o trabalho de onírico de
produção de sonhos e controle do sono.
Foi somente em 1921, neste livro, Psicologia de Grupo e a Análise do Ego que
se pronunciou, considerando inadequadas as teorias fisiológicas para
compreensão dos fenômenos hipnóticos, em todas as circunstâncias que este
se manifesta: condições patológicas, relações de poder nos tabus e rituais de
grupos primitivos, comportamento da imitação nas multidões, relação entre
amantes, relação entre pais e filhos, etc. Define basicamente a hipnose como
um processo de substituição do ideal do ego fornecendo exemplos
esclarecedores na formação grupal, condição de estar amando e hipnose como
dito.
O discurso do Outro
Simbólico e imaginário
Negatividade
Podemos definir o Outro pelo que “ele não é” (estilo de definição chamado de
apofático): o Outro não é o semelhante. Mas quando se trata do conceito de
Outro, a negatividade lhe é própria. Em primeiro lugar, por não se apresentar
imediatamente aos sentidos (ver, ouvir, etc), não podemos ver nem escutar o
Outro. Mas a alteridade radical do Outro também se opõe aos fenômenos que
os sentidos criam, na medida em que as imagens podem ser efeitos de
projeções, elas guardam semelhança com o projetor. Assim, para definir o
Outro, será preciso abandonar uma descrição psicológica e buscar uma
aproximação lógica.
A definição do Outro como o que não é nem pode ser semelhante ao sujeito,
supõe que o Outro não pode ser um ser humano. Essa alteridade radical será o
nome de um campo ou lugar que não se situa na geografia, mas na linguagem.
É alteridade radical porque as palavras não se submetem ao domínio de um ou
outro falante. Usamos as palavras, mas esse uso não produz desgaste. A
linguagem é um terceiro que invocamos sempre que nos dirigimos ao próximo,
ao semelhante. Quando falamos, invocamos um lugar terceiro em relação ao
semelhante. Eu-tu-ele. Nesse ternário gramatical, falamos na primeira pessoa
com a segunda pessoa graças a um médio, um terceiro, que é a linguagem.
Mas esse terceiro não é um ele de carne e osso, mas uma referência, um meio,
algo que faz a mediação.
que pode esperar é uma certa aproximação do ideal das associações livres.
Em vista destas dificuldades, a pessoa que trabalha só deve lembrar-se, de
tempos em tempos, que estará agindo contra seus verdadeiros interesses se
deixar de lado ou eliminar qualquer idéia ou sentimento que venha à tona.
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Presumo que este conselho suscitará algumas dúvidas. Não estarei advogando
uma excessiva tolerância? Será que o interesse do indivíduo não o levará a
escolher assuntos com os quis está familiarizado? Não significará isto ceder
ante as resistências? Isto será estudado. Como lidar com as resistências, basta
dizer, aqui, que é verdade que deixar-se levar pelos próprios interesses,
significa adotar o caminho de menor resistência. Mas, a menor resistência não
quer dizer a mesma coisa que nenhuma resistência. O princípio significa,
essencialmente, a busca dos assuntos que, no momento, são os menos
reprimidos. E é este, exatamente, o princípio que o analista aplica quando
apresenta suas interpretações. Ele, como já foi salientado, escolhe para
interpretar os fatores que, segundo crê, o paciente pode apreender
perfeitamente na ocasião, e renuncia a aventurar-se por problemas que ainda
estão muito reprimidos.
Há, ainda, um último escolho a ser citado: nunca aceite mais do que você pode
acreditar deveras. Este perigo é maior na análise regular, especialmente se o
paciente é daqueles que tendem a concordar com afirmações peremptórias.
Mas também pode desempenhar um papel quando a pessoa confia em seus
próprios recursos. Ela pode sentir obrigada, por exemplo, a aceitar o que quer
que de “mau” surja a seu respeito, e a desconfiar de uma “resistência” caso
hesite em fazê-lo. Ficará mais garantida, porém, se encarar sua interpretação
como simples tentativa, sem procurar convencer-se de que é definitiva. A
essência da análise é a verdade, e isto deve aplicar-se igualmente à aceitação
ou não das interpretações.
Tendo em mente estas restrições, suponhamos uma pessoa que observou que,
em dadas situações em que gostaria de participar de discussões, fica com a
língua presa porque receia as possíveis críticas. Se ela permitir esta
observação arraigar-se em si, começará a matutar acerca do receio em
questão, visto como não é proporcional a qualquer risco real. Pensará porque o
medo é tão grande que lhe impede não só de exprimir suas idéias, mas
também de pensar claramente. Perguntar-se-á se o medo é maior do que sua
Pode bem ser perguntado se com este exemplo eu quero dizer que uma
pessoa que haja descoberto um novo fator deve deliberadamente esquadrinhar
suas experiências e seus sentimentos das várias maneiras indicadas. Por certo
que não, pois um procedimento desses envolveria o mesmo perigo de um
domínio meramente intelectual, que já foi discutido. Pelo contrário, ela deve
assegurar-se um período de contemplação. Deve meditar sobre sua
descoberta mais ou menos da forma que um arqueólogo que descobriu uma
estátua enterrada, muito mutilada, olha seu tesouro de todos os ângulos até
que as formas originais revelem-se à sua mente. Qualquer fator novo que a
pessoa identifique é como a luz de um projetor voltada para certos domínios de
sua vida, iluminando pontos que até então haviam permanecidos no escuro.
Ela quase não é obrigada a vê-los, se ao menos estiver verdadeiramente
interessada em conhecer-se. Estes são pontos em que a orientação de um
especialista seria particularmente útil. Nessas ocasiões, um analista ajudaria
efetivamente o paciente a ver o significado da descoberta, fazendo uma ou
outra pergunta sugerida por ele e ligando-a a descobertas anteriores. Quando
não se dispõe de um auxílio exterior desses, a melhor coisa a fazer é abster-se
de prosseguir correndo na análise, recordando que um novo “insight” significa a
conquista de território novo, e procurando beneficiar-se dessa conquista
consolidando a vantagem obtida. Podemos estar bem certos de que a razão
pela qual as pessoas interessadas não atinaram com essas perguntas, foi
somente por ter o seu interesse acabado com o afastamento de suas
dificuldades imediatas.
A fim de lidar com esses problemas, teve que ser estabelecido um estreito
contato entre o psicanalista e a equipe de enfermagem. O intercâmbio de
informações que se realizava em tais reuniões possuía o efeito de fazer o
pessoal do hospital compreender que a conduta do paciente no hospital era,
acima de tudo, devida à repetição de relacionamentos infantis emocionalmente
carregados, isto é, transferências. Este conhecimento possibilitou que
atendentes e enfermeiros encarassem o paciente e suas reações com o
hospital sob um novo ângulo.
Deste modo, Jones esperava realizar uma análise do conflito do paciente, não
na terapia individual, mas no grupo. Acreditava que, através desse processo, o
paciente viria a se identificar mais facilmente com os valores do grupo e do
hospital, o que o fortaleceria e suplementaria o efeito benéfico resultante da
análise de um ou mais conflitos conscientes, pré-conscientes e inconscientes.
Até este ponto, apresentou-se um breve esboço das maneiras pelas quais a
psicanálise contribuiu para a psiquiatria hospitalar na Grã-Bretanha e nos
Estados Unidos. O tratamento intensivo de casos individuais, que ocorre nos
hospitais americanos menores e melhor equipados, nunca constituirá um
empreendimento prático na Grã-Bretanha, mesmo que se pensasse que este
fosse um curso de ação desejável. Que lugar a psicanálise deveria ocupar no
hospital psiquiátrico britânico, e que papel deveria o psicanalista assumir?
Este caso foi mencionado porque ilustra duas características dos pacientes
psicóticos seriamente perturbados. Primeiro, mostra como a capacidade do
paciente de conhecer a realidade do meio ambiente através das funções de
seu ego (percepção, fala, pensamento, memória) acha-se submersa sob uma
realidade psicótica, a qual, incluindo suas fantasias irracionais, altera-lhe de tal
modo o julgamento que pessoas reais como enfermeiros e médicos vêm a ser
confundidas como figuras de seus delírios. Isto leva o paciente a opor-se aos
enfermeiros e aos médicos, e resulta em agir ele de maneira autoprejudicial.
Neste caso, os próprios meios empregados para ajudar o paciente atuam como
fonte de agravamento da doença.
É inevitável que alguns pacientes, para sua própria segurança, tenham de ser
confinados, e, então, a realidade psicótica amiúde resulta numa piora do seu
estado, levando-os a crer que se acham cercados por perseguidores. O
confinamento com pacientes do mesmo sexo pode ter resultados adversos, por
outra razão. Se um paciente se encontra preocupado com problemas de
identidade sexual, e, em conseqüência da doença, experimenta a sensação de
que seu corpo é parcial ou inteiramente feminino, pode acreditar que está
atraindo ou será sexualmente atraído pelos outros pacientes. Com muita
freqüência, o comportamento incooperante, agressivo ou aterrorizado de
pacientes pode ser remontado a estas causas: a intrusão da realidade psicótica
ou o surgimento de tendências homossexuais na consciência. Os psicanalistas,
compreendendo que ambos os tipos de experiências podem surgir na psicose,
acham-se alertas quanto à sua ocorrência. Quando fazem sua aparição,
medidas apropriadas devem ser tomadas, a fim de aliviar os temores do
paciente, transferindo-o para uma situação em que sua liberdade não seja
restringida.
É pena que tantos psiquiatras sejam perturbados por temores irracionais com
respeito à psicanálise, com resultantes suspeita e preconceito. Isto causou, e
continuará a causar, conseqüências desafortunadas para a psiquiatria e para a
psicanálise. Os psiquiatras que trabalharam com psicanalistas sabem que
esses temores são infundados. Talvez o futuro conduza a uma cooperação
maior, de modo que a psicanálise possa, como um sócio com iguais direitos,
participar dos cuidados e do tratamento do doente mental.