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Reitor: Aldo Nelson Bona

Vice-reitor: Osmar Ambrósio de Souza

Universidade Aberta do Brasil


UAB/UNICENTRO

Coordenação:
Maria Aparecida Crissi Knuppel

Projeto TICS/UAB/Unicentro
Coordenação:
Maria Terezinha Tembil; Ariane Carla Pereira

Revisão/Correção Linguística:
Dalila Oliva de Lima Oliveira

Planejamento gráfico: Lucas Gomes Thimóteo

Diagramação: Márcio Nei dos Santos

Comissão Científica
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE
Carlos Alberto Kuhl
UNICENTRO
Diocesar Souza
Edélcio José Stroparo
Marcio Alexandre Facini
João Morozini
Klevi Reali
Margareth Maciel
Regiane Trincaus
Robinson Medeiros
Romeu Scharz Sobrinho
Ruth Rieth Leonhardt
Vanessa Lobato
Waldemar Feller

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Sumário

INTRODUÇÃO.............................................05

CAPÍTULO I – BREVE HISTÓRICO DA


FISIOTERAPIA AQUÁTICA....................07

CAPÍTULO II – PROPRIEDADES DA
ÁGUA..............................................................11

CAPÍTULO III – PRINCÍPIOS FÍSICOS


DA ÁGUA QUE FUNDAMENTAM A FI-
SIOTERAPIA AQUÁTICA........................17
3.1 Conceitos básicos da Hidrostáti-
ca..............................................................18
3.1.1 Densidade e gravidade espe-
cífica..............................................18
3.1.2 Flutuação.............................20
3.1.3 Tensão superficial..............22
3.1.4 Pressão hidrostática...........23
3.1.5 Viscosidade.........................24
3.2 Conceitos básicos da Hidrodinâmi-
ca..............................................................24
3.2.1 Movimento de fluxo..........24
3.2.2 Força de arrasto..................25
3.3 Conceitos básicos da Termodinâmi-
ca..............................................................26

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CAPÍTULO IV – RESPOSTAS E EFEI- 6.8 Fisioterapia Aquática para gestan-
TOS FISIOLÓGICOS DOS EXERCÍCIOS tes.............................................................39
EM IMERSÃO...............................................29
4.1 Sistema cardiovascular....................29 CAPÍTULO VII – INICINADO NA FI-
4.2 Sistema respiratório.........................30 SIOTERAPIA AQUÁTICA........................41
4.3 Sistemas renal e hormonal.............31 7.1 Benefícios da Fisioterapia Aquáti-
4.4 Sistema musculoesquelético...........31 ca..............................................................41
4.5 Sistema nervoso...............................32 7.2 Avaliação do paciente.....................43
7.3 Introdução da Fisioterapia Aquáti-
CAPÍTULO V – INDICAÇÕES E CON- ca..............................................................45
TRAINDICAÇÕES DA FISIOTERAPIA 7.4 Técnicas de relaxamento................45
AQUÁTICA....................................................35 7.5 Programação do tratamento aquáti-
co.............................................................46
CAPÍTULO VI – A FISIOTERPIA AQUÁ-
TICA E SUA APLICAÇÃO NAS DIVER- CAPÍTULO VIII – MÉTODOS DE FISIO-
SAS ÁREAS.....................................................35 TERAPIA AQUÁTICA................................49
6.1 Fisioterapia Aquática em Neurolo- 8.1 Método dos Anéis de Bad Ragaz...49
gia............................................................35 8.2 Método Halliwick............................52
6.2 Fisioterapia Aquática em Traumato- 8.3 Método Watsu ................................55
-ortopedia e lesões do esporte.............36 8.4 Método Ai-Chi.................................57
6.3 Fisioterapia Aquática em Reumato- 8.5 Método Aquastretching®..............58
logia.........................................................37
6.4 Fisioterapia Aquática em Pneumo- CAPÍTULO IX - PROJETO E PLANEJA-
logia.........................................................37 MENTO DAS INSTALAÇÕES DE PISCI-
6.5 Fisioterapia Aquática em Cardiolo- NA TERAPÊUTICA.....................................61
gia............................................................38
6.6 Fisioterapia Aquática em Geria- CONSIDERAÇÕES FINAIS......................69
tria............................................................38
6.7 Fisioterapia Aquática em Pedia- REFERÊNCIAS.............................................71
tria............................................................39

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bilitação efetiva que começou a ser difundida
na área da saúde, tendo aplicação em várias
patologias.
É considerada uma intervenção
não-farmacológica e não-invasiva, que envol-
ve diversas técnicas, podendo ser empregada
conforme as necessidades de cada indivíduo
a ela submetido. Praticada em piscinas aque-
cidas para tratamento de várias patologias ou
disfunções com métodos específicos, utiliza
as propriedades físicas da água como uma
INTRODUÇÃO
importante ferramenta, que fornece um am-
A Fisioterapia Aquática, também biente ideal para indivíduos portadores de li-
conhecida como Hidroterapia ou Hidroci- mitações na terapia em solo.
nesioterapia, por meio do emprego de exer- Os benefícios da imersão, cientifica-
cícios terapêuticos e utilizando os princípios mente comprovados, são proporcionados por
físicos da água e seus efeitos fisiológicos, visa meio das alterações fisiológicas que ocorrem
proporcionar a cura e a prevenção de doen- pelas propriedades físicas da água, sendo des-
ças, além da promoção da saúde. critas como principais: a pressão hidrostática,
É um tratamento utilizado há mui- a flutuação, a densidade relativa e a tempe-
tos séculos, porém somente no início dos ratura. Proporciona inúmeras vantagens para
anos 80 foi reconhecido como terapia de rea- pacientes, portadores ou não, de independên-

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cia funcional, promovendo a manutenção e/ tetrícia, pediatria, gerontologia, estados de - dar conhecimento de métodos e técni-
ou restauração da amplitude de movimento, a ansiedade emocional, depressão ou estresse. cas mais utilizadas na Fisioterapia Aquática,
melhora da força muscular, a redução da dor, Suas contraindicações são poucas, sendo re- como Halliwick, Watsu, Bad Ragaz e outras,
a melhora do condicionamento cardiorrespi- lativas ou absolutas, e envolvem: doenças de para a capacitação do emprego de condutas
ratório e o aumento da capacidade aeróbica, pele, estados críticos de saúde geral, infecções adequadas em cada caso tratado.
melhora da circulação sanguínea, a redução agudas ou crônicas, febre, crises de epilepsia
da espasticidade, a melhora funcional do sem controle, intolerância ao cloro, medo da
equilíbrio, locomoção e coordenação, entre água, e outras.
outros benefícios. Os objetivos desse livro são:
Uma sessão de Fisioterapia Aquáti- - propiciar conhecimentos básicos sobre ter-
ca é composta de várias fases de tratamento, modinâmica e hidrocinética;
envolvendo, principalmente, aquecimento, - proporcionar, ao futuro profissional, o co-
alongamento, exercícios específicos e rela- nhecimento de fundamentos básicos da rea-
xamento. As técnicas são variadas e podem bilitação fisioterapêutica aquática;
ser realizadas em grupo ou individualmente, - demonstrar técnicas que podem ser apli-
com a utilização ou não de materiais auxilia- cadas na ortopedia, neurologia, cardiologia,
res como flutuadores, aquatubes, caneleiras, pneumologia, obstetrícia, lesões do esporte
tornozeleiras, palmares, coletes e outros. e outras patologias em que a hidroterapia se
Essa modalidade de terapia é indica- faça necessária;
da em afecções neurológicas, reumatológicas, - capacitar o acadêmico a realizar avaliação
traumato-ortopédicas, pneumológicas, na e reavaliação aquáticas, direcionando, assim,
cardiologia, bem como em ginecologia e obs- seus objetivos a curto e longo prazos;

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giênicas na cultura proto-índia que datam de
antes de 2400 a.C. e outros sobre os Hindus
que combatiam a febre através da água em
1500 a.C. e que, em 800 a.C., na cidade de
Bath, Inglaterra, as águas eram usadas com
fins curativos.
Na Grécia, por volta de 334 a.C.,
foram desenvolvidos centros de banhos pró-
ximos a fontes naturais e rios, porém a princi-
pal finalidade era a recreação. Entretanto, em
CAPÍTULO I – BREVE HISTÓRICO DA torno de 500 a.C., a água deixou de ter um
FISIOTERAPIA AQUÁTICA caráter místico e passou a ser utilizada para
Também chamada de hidroterapia tratamentos físicos específicos, sendo criadas
ou reabilitação aquática, a fisioterapia aquáti- escolas de medicina ao redor dessas estações
ca é a utilização da água de forma terapêuti- de banhos.
ca em seus estados sólido, líquido ou gasoso, Reumatismos, icterícia, paralisias,
como a crioterapia, os banhos térmicos e as espasmos musculares e doenças articulares
saunas, respectivamente. eram tratados por Hipócrates (460 – 375 a.C.)
O emprego da água como um meio por meio da imersão em água quente e fria,
de terapia tem registros muito antigos, porém sendo que a civilização grega foi a primeira a
o seu verdadeiro início é desconhecido. Exis- estabelecer a relação entre o bem-estar físico
tem alguns documentos sobre instalações hi- e mental.

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Durante o império romano, o siste- dos anos 1700, Sigmund Hahn, um médico sor Friedrich Hoffmann na Heidelberg Univer-
ma de banhos desenvolvido pelos gregos foi alemão, e seus filhos, propuseram a ideia do sity e daí levadas para a França.
expandido e deixou de ser utilizado apenas uso da água com fins terapêuticos. Foi quan- Na Inglaterra, o Dr. Currie tentou
para higiene dos atletas e passou, também, a do surgiu a hidroterapia, assim definida por dar uma característica mais científica à hidro-
ser centros de banho para saúde, repouso, ati- Wyman e Glazer, que consistia na utilização terapia por meio de pesquisas, sendo que seus
vidades intelectuais, de recreação e de exercí- da água em todos seus estados físicos para estudos foram publicados em várias línguas,
cios físicos e, por volta de 330 d.C., começa- tratamento de doenças. tendo maior aceitação na Alemanha.
ram a ter como finalidade principal a cura e o Em meados do século XVII, a água Em 1747, John Wesley publicou um
tratamento de doenças reumáticas, paralisias como forma de tratamento não era muito livro enfocando o uso da água como meio de
e lesões. utilizada, pois grande parte dos médicos se cura para doenças, passando a ser considera-
Entretanto, com o declínio do Im- dedicava ao diagnóstico de doenças, sem dar do como o fundador do metodismo. Nessa
pério Romano e a influência religiosa na Ida- maior atenção aos protocolos de cura. mesma época, os banhos frios após banhos
de Média, os elaborados sistemas de banhos Em 1697, na Grã Bretanha, Sir John de vapor quente foram popularizados pelos
romanos caíram em declínio, desaparecendo Floyer, após anos de dedicação ao estudo da russos e escandinavos, enquanto que os ba-
totalmente por volta do ano 500, mas ressur- hidroterapia, publicou o tratado intitulado nhos quentes seguidos de frios tornaram-se
gindo como forma de tratamento no século An inquiry into the right use and abuse of hot, cold tradição e assim permaneceram por várias
XV. and temperature baths (Uma investigação sobre gerações.
Entre os séculos XVII e XVIII, a o uso correto e o abuso de banhos quentes, Por volta do século XIX, a hidro-
prática de banhar-se com a finalidade de hi- frios e temperados). Esse fato é apontado por terapia era uma técnica de caráter passivo e
giene não era popularmente aceita. Porém, o Baruch como o início da hidroterapia científi- incluía banhos de lençol, compressas úmidas,
uso da água como um meio de cura come- ca, visto que as doutrinas de Floyer passaram banhos frios de fricção e banhos de dióxido
çou a aumentar gradativamente e, no início a ser incluídas nos ensinamentos do profes- de carbono.

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Em 1830, o camponês Vincent social e não terapêutica, para as classes mais quelas da doença, caiu em uma piscina e con-
Priessnitz desenvolveu programas de trata- abastadas, até que médicos treinados na Eu- seguiu movimentar suas pernas, o que lhe era
mentos compostos de banhos ao ar livre com ropa iniciaram a introdução da cura pela água. impossível em solo. Esse jovem permaneceu
água fria, chuveiros e compressas, mas foi Durante o Século XX, o uso da hi- em tratamento com exercícios terapêuticos
desacreditado pelos médicos da época e con- droterapia em spas foi decrescendo nos Esta- na água e passou da condição de cadeirante
siderado como charlatão. Porém, na Áustria, dos Unidos, até que, Baruch conquistou sua para a deambulação independente com ape-
o professor Winterwitz (1834-1912) fundou primeira cátedra de hidroterapia em 1907 e, nas uma bengala.
uma escola de hidroterapia e realizou pesqui- na década de 1930, concluiu outro livro sobre Após as duas grandes guerras,
sas na área, principalmente em relação às res- o assunto, incitando, na população, a ideia de a hidroterapia passou a ser mais empregada
postas dos tecidos na água em diversas tem- que o uso da água como terapia era benéfico. em programas de reabilitação nos Estados
peraturas, baseado nos estudo de Priessnitz e Nesta mesma época, na Euro- Unidos, mas não somente em spas, como
Currie. pa, os spas prosperavam e os pacientes eram também em clínicas, tornando-se uma moda-
Por volta de 1890, após as contribui- exercitados na água através da flutuabilidade, lidade terapêutica térmica e química.
ções dadas por Priessnitz e seus discípulos, surgindo, em meados de 1900, um tanque que Na Geórgia, em 1924, o uso
o médico americano Dr. Simon Baruch pu- incluía um turbilhão (Tanque de Hubbard). de piscinas para hidroterapia e hidroginástica
blicou livros sobre a utilização da água como Mais tarde, foram criados dois dos méto- foi popularizado pelo Presidente Franklin D.
tratamento para algumas condições como dos atualmente mais utilizados: Bad Ragaz e Roosevelt, quando ele mesmo foi submetido
gripe, insolação, tuberculose, reumatismos e Halliwick. ao tratamento de sequelas de poliomielite.
outras, sendo o primeiro professor a ensinar Com a epidemia de poliomie- Esse fato contribuiu para o início de um ser-
hidroterapia na Columbia University. lite, em 1916, a hidroterapia começava a ga- viço de reabilitação física e natação terapêuti-
Ainda no século XIX, começaram a nhar popularidade na Geórgia, devido a um ca, em 1927, na Georgia Warm Springs Founda-
surgir os spas americanos, mas com finalidade fato imprevisto: um jovem, portador de se- tion.

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Na Inglaterra, em meados da na época, eram utilizados banhos de água
década de 1960, a fisioterapia aquática foi in- doce e salgada (provinda do mar). Entretan-
cluída no currículo de aspirantes a membro to, nos últimos 10 anos, sua evolução foi con-
da Chartered Society of Physioterapy, tornando-se siderável e consta como disciplina na matriz
componente essencial em programas de rea- curricular de vários cursos de graduação em
bilitação na Europa. Fisioterapia.
Entretanto, entre 1970 e 1980, Atualmente, muitas patologias são
a terapia aquática foi fortalecida, principal- tratadas em ambiente aquático paralelamente
mente após a publicação da terceira edição a outros serviços de reabilitação, embora as
do livro Therapeutic Exercise (Exercício Tera- pesquisas científicas na área sejam escassas, o
pêutico) de John V. Basmajian em 1978, no que prejudica o desenvolvimento de protoco-
qual foi reservado um capítulo que aborda los de tratamento.
o exercício na água e seus benefícios. Com
isso, as pesquisas relacionadas com os efeitos
fisiológicos e respostas à imersão em meio
líquido obtiveram um aumento considerável
de 1970 a 1990, quando a fisioterapia aquática
passou a ser incorporada em muitos centros
de reabilitação física.
No Brasil, a Fisioterapia Aquá-
tica teve início em 1922, na Santa Casa do Rio
de Janeiro, com o Dr. Artur Silva, sendo que,

10
de variação e condução da temperatura pela
água, visto que ela pode ser utilizada terapeu-
ticamente em todas as suas formas físicas: só-
lida, líquida e gasosa.
Essa condução de temperatura é
dada por colisões moleculares individuais que
ocorrem ao longo de uma pequena distância,
e acontece por condução, convecção ou ra-
diação. A água é um excelente meio de con-
dução.
Toda substância possui energia esto-
cada como calor, que é medida em uma quan-
CAPÍTULO II –
PROPRIEDADES DA ÁGUA tidade chamada caloria, sendo que 1 caloria é o
calor utilizado para elevar 1 g ou 1 kg de água
A água possui alguns efeitos que de- em 1ºC, e medida como cal ou kcal .
vem ser considerados na Fisioterapia Aquá- A quantidade de energia armazena-
tica, como o térmico, o mecânico (físico), o da pode ser liberada na troca para uma tem-
ótico e o químico. peratura inferior ou energia adicional pode
1) Efeito térmico ser requerida para elevar a temperatura.
Este efeito está relacionado com A temperatura corporal normal é
a termodinâmica e se deve às propriedades 36ºC em média e, considerando-se que a

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temperatura média da pele (superficial) no na água, é em torno de 25 vezes maior que para outro com diferentes densidades, sofre
homem é igual a 32º C e na mulher 30º C, no ar, é aconselhado o monitoramento da um desvio, ou seja, uma distorção da imagem,
numa piscina de Hidroterapia a temperatura temperatura da água durante as estações do que é um fenômeno chamado de refração.
da água deve ser inferior (mais ou menos em ano e de acordo com cada tipo de atividade Numa piscina, a luz que passa do ar
torno de 32ºC). Essa diferença térmica, no física. Considerando-se que o indivíduo tam- para a água, ao entrar no meio líquido, sofre
verão, passa a ser um elemento agradável, en- bém produz calor durante o exercício, para a uma alteração em sua direção, o que provoca
quanto que no inverno pode causar um des- prática de atividades vigorosas, o ideal é uma essa distorção da imagem ao observador que
conforto inicial, o que deve ser compensado temperatura de 28 a 30º C, enquanto que, para se encontra fora da piscina (figura 1), a qual
com atividades mais vigorosas ou com a ele- exercícios terapêuticos, em torno de 32ºC. também parece ser mais rasa do que realmen-
vação da temperatura da água. A modalidade da Fisioterapia que te é.
A temperatura da água mais baixa utiliza a condução da temperatura pela água é Foto 1.
que a do corpo pode causar uma ligeira que- chamada de Termoterapia e, como agente hi-
da da temperatura corporal, mesmo durante drotérmico, possui várias técnicas que serão
os exercícios físicos. Se a água estiver muito abordadas ao final desse capítulo.
fria, o organismo poderá reagir por meio dos 2) Efeito mecânico
mecanismos reguladores da temperatura (tre- Deve-se a algumas propriedades fí-
mor, por exemplo) e o indivíduo poderá se sicas da água e provoca alterações fisiológicas
sentir desconfortável com este fato. No caso em um corpo submerso, como a densidade e
de a água estar muito quente, a dissipação do gravidade específica, flutuação e pressão hi-
calor pode não se realizar de modo adequado, drostática, discutidos no CAPÍTULO III.
ocorrendo fadiga e exaustão pelo calor. 3) Efeito óptico Refração na piscina.
Portanto, como a perda de calor, Quando a luz passa de um meio Fonte: arquivo pessoal.

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Os membros inferiores do paciente reagente, porém este efeito apenas terá im- Banhos térmicos:
parecem estar deformados quando em total portância na Hidroterapia em relação aos - Banhos frios (12 a 20ºC – de 5 a 30 segun-
imersão, e quebrados, quando parcialmente cuidados e tratamento para a manutenção da dos): têm como objetivo proporcionar uma
imersos. qualidade da água (PATRICIO, 2004). hiperemia secundária no local a ser tratado e,
Foto 2. Existem leis que normatizam os pa- como consequência, o calor é acumulado até
drões de qualidade e estabelecem que a água da provocar uma sudorese .
piscina deve ser filtrada 24 horas por dia, além da - Banhos quentes (32 a 35ºC – de 15 a 60
utilização de produtos químicos para o controle minutos): em imersão de longa duração, são
bactericida como o cloro e o ozônio. os exercícios aquáticos terapêuticos propria-
mente ditos e produzem efeitos anti-inflama-
A água como agente hidrotérmico e
tório, antiespasmódico e analgésico, que são
hidrocinético
decorrentes da ação térmica.
Em função dos efeitos e proprieda- - Banhos ferventes (36 a 42ºC – de 10 a 30
Refração no corpo humano. des da água, a Fisioterapia Aquática pode ser segundos): têm efeito mais vigoroso que os
Fonte: arquivo pessoal. divida em duas modalidades terapêuticas: banhos quentes, porém o tempo de imersão
Essa característica é bastante impor- - agente hidrotérmico (quando a água age é menor, devido à temperatura da água. Oca-
tante para o fisioterapeuta, considerando-se que como condutora de calor ou frio), como ba- siona uma maior vasoconstrição local (espas-
a imagem observada está distorcida e exige uma nhos térmicos, compressas térmicas, bolsas mo miogênico local pela temperatura agres-
maior atenção em relação à manutenção da pos- térmicas, e crioterapia por criorrelaxamento sora) promovendo, em seguida, vasodilatação
tura correta durante os exercícios aquáticos. ou por crioestimulação. imediata (hiperemia reativa imediata). São in-
4) Efeito químico - agente hidrocinético (quando a água produz dicados em feridas sépticas e furúnculos.
Nas transformações químicas, a atrito ou pressão contra o corpo), como du- - Banhos ascendentes (35 a 42ºC - 7 a 15 mi-
água pode funcionar como solvente ou como cha escocesa, turbilhão e tanque de Hubbard. nutos): a temperatura da água é elevada gra-
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dativamente, 1ºC ao minuto, ocasionando tar a dificuldade do organismo em perder ca- A temperatura ideal está entre 10 a
uma hiperemia intensa, mas sem provocar lor por sudorese e evaporação. Estes banhos 15ºC, por não estimular receptores da dor e
vasoconstrição reativa (a temperatura é agres- devem ser finalizados com uma ducha fria ou sim os do frio, bem como para produzir uma
sora, mas não desencadeia espasmo miogêni- banho descendente. vasodilatação mais duradoura com hiperemia
co local). São indicados em estados graves de - Sauna Finlandesa (seca): o baixo grau de reativa.
espasmos circulatórios. umidade faz aumentar as funções orgânicas Em indivíduos magros devem durar
- Banhos descendentes (32 a 25ºC - 5 a 7 mi- pelo superaquecimento, ocorrendo uma su- cerca de 10 minutos, enquanto que, em in-
nutos): a temperatura é diminuída 1ºC por dorese em abundância, permitindo a elimina- divíduos gordos, 30 minutos, por ser o tem-
minuto, iniciando em 32ºC e diminuindo até ção de toxinas e substâncias residuais como po suficiente para resfriar a musculatura que,
27 ou 25ºC. Por estimular a perda de calor, é uréia e ácido úrico. quando resfriada, alcança o proprioceptor
indicado em estados febris. Compressas e bolsas térmicas muscular (fuso neuromuscular) contido den-
- Banhos de contraste: indicados em pato- É a aplicação da água quente ou fria tro do ventre do músculo.
logias com insuficiência ou distúrbios circu- através de um meio intermediário, como por O mecanismo antiespasmódico é
latórios pela vasodilatação e vasoconstrição exemplo, camadas de toalhas ou bolsas de vá- explicado fisiologicamente pelo resfriamento
que provocam, o que é chamado de ginástica rios materiais, envolvendo a região a ser tra- muscular, que deixa a membrana menos per-
vascular; é o uso alternado de frio e calor em tada. meável por meio da constrição tissular, o que
dois recipientes diferentes: Crioterapia estabiliza por alguns minutos o potencial de
água quente = de 38 a 42ºC - 3 a 5 minutos É o emprego terapêutico da água membrana, diminuindo automaticamente a
água fria = de 15 a 25ºC - 10 a 15 segundos. em baixa temperatura, podendo ser: condução nervosa dos nervos periféricos sen-
- Banhos de vapor (Romano ou Turco): tam- - Criorrelaxamento sitivos e motores, bem como a transmissão
bém chamados de sauna úmida, sendo que o Possui efeito antiespasmódico, sen- nervosa através da junção mioneural, onde a
vapor é em torno de 50 a 60ºC, para promo- do indicado em espasmos, hipertonias e ten- excitação do mediador químico excitatório, a
ver um superaquecimento corporal e aumen- sões musculares. acetilcolina também é diminuída.
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- Crioestimulação sob a forma, sendo como jato, anel, leque ou num recipiente de fibra ou metal, de tamanho
É indicada na reeducação e esti- filiforme e conforme a direção, se horizontal, variável, cuja agitação da água se dá pela in-
mulação muscular, sendo que a temperatura vertical ou circular. jeção de ar comprimido por meio de duchas
ideal é de 0ºC (estado sólido) e aplicada por - ducha escocesa: requer um equi- de alta pressão na área tratada. Indicada em
somente alguns segundos, no músculo. pamento que controla com exatidão a pres- casos de contratura muscular, processos trau-
O objetivo é estimular o fuso neuro- são e a temperatura, com jatos d’água muito máticos, circulatórios e afecções reumáticas
muscular por meio de percussão, sem neces- abundantes e em temperaturas alternadas. É ou nervosas.
sidade de resfriar o músculo, para não ocorrer indicada em casos de distúrbios circulatórios, Foto 4.
estimulação dos receptores da dor ou acomo- devendo o paciente permanecer distante de 3
dação dos estímulos musculares. a 6 metros.
Essa excitação muscular é explica- Foto 3.
da fisiologicamente pela percussão do ventre Ducha escocesa.
muscular, que promove um estímulo na re-
gião equatorial, fibras sensitivas, do receptor
muscular, fuso neuromuscular, ocorrendo,
assim, uma contração muscular decorrente
dos impulsos nervosos no motoneurônio
alfa.
Duchas
Consistem em colunas simples ou Fonte: domínio público.
múltiplas de água, dirigidas para uma região - turbilhão (ducha subaquática): é mais utili-
corporal e classificadas conforme a tempe- zado por ser mais eficaz e promover massa- Turbilhão.
ratura podendo ser fria, quente ou alternada, geamento e relaxamento muscular. Consiste Fonte: arquivo pessoal.
15
Foto 5.

Tanque de Hubbard.
Fonte: domínio público.
- Tanque de Hubbard: consiste em um tanque
de metal, de tamanho variável, com o forma-
to de um violão, que possui (ou não) uma tur-
bina sobre sua borda e um fundo falso (desní-
vel) onde há (ou não) uma barra paralela para
treino da marcha.

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Aquática e tiveram uma evolução
científica enorme e constante até
então.
2. A necessidade da compreensão so-
bre os ajustes fisiológicos do cora-
ção, pulmão e rins na imersão foi
primordial para que os pesquisado-
res desenvolvessem estudos na área.
3. O treinamento físico com a simula-
ção da ausência da gravidade, com a
finalidade de preparação para levar
CAPÍTULO III - PRINCÍPIOS o homem ao espaço, colaborou com
FÍSICOS DA ÁGUA QUE o desenvolvimento de pesquisas em
FUNDAMENTAM A
meio líquido.
FISIOTERAPIA AQUÁTICA
4. Os ótimos resultados obtidos em
O uso externo da água como meio tratamentos realizados através de
terapêutico, ou seja, a Fisioterapia Aquática, diferentes métodos de Hidroterapia,
um dos recursos mais antigos da Fisioterapia, com o objetivo de reeducação fun-
teve seu avanço científico devido a quatro fa- cional em várias disfunções, foram
tores: amplamente divulgados por meio
1. A hidrostática, a hidrodinâmica e a de cursos e palestras em eventos da
termodinâmica são as áreas da físi- área, o que tornou a técnica mais
ca que fundamentam a Fisioterapia popular no meio fisioterapêutico.
17
Algumas alterações fisiológicas em ser consideradas algumas situações como ní- das respostas fisiológicas à imersão, associa-
todos os sistemas de um corpo imerso são vel de imersão do corpo, posição do corpo das ao uso de movimentos e exercícios, pode
provocadas pelas forças físicas da água, fa- no meio líquido, se há movimento na água, favorecer a atuação da fisioterapia aquática e
zendo com que as respostas ao exercício se- como ele é realizado e as características físicas potencializar o processo de intervenção fisio-
jam mais complexas. Entretanto, como essas do indivíduo submerso. terapêutica”.
respostas diferem entre um organismo sadio Os princípios físicos da água também
3.1 Conceitos básicos da Hidrostática
e outro doente, para o estabelecimento cor- permitem alívio das tensões, redução da ansie-
reto dos objetivos de tratamento adequados dade e aquisição de novas habilidades motoras, 3.1.1 Densidade e gravidade específica
a cada caso, há a necessidade de um conhe- o que leva a uma sensação de independência A densidade é definida como divisão
cimento detalhado dos efeitos da imersão, dentro da água e, consequentemente, à resti- da massa pela unidade de volume, em que:
bem como da fisiopatologia da doença a ser tuição ou aumento da autoestima. D = M/V
tratada. Através do conhecimento dessas É mensurada pelo sistema internacional
Para que as adaptações fisiológicas alterações fisiológicas, associando-se movi- (S.I.) como quilograma por metro cúbico (kg/m3)
de um corpo em imersão sejam bem compre- mentos e exercícios com os efeitos físicos da ou grama por centímetro cúbico (gr/cm3).
endidas, é necessário o entendimento sobre água, o fisioterapeuta pode facilitar e poten- A quantidade de matéria que uma
os princípios da hidrostática (com a imersão cializar o processo de reabilitação aquática. substância compreende é a sua massa, e a for-
em repouso), da hidrodinâmica (com o cor- Esse fator é bastante ressaltado por vários au- ça com que ela é atraída para o centro da terra
po imerso em movimento) e da termodinâ- tores, como por exemplo, Carregaro e Toledo pela ação da gravidade é o seu peso. Portanto,
mica (quando acontece a troca de calor entre (2008, pg 23), quando referem que “a com- o peso é igual à massa multiplicado pela ace-
o corpo e meio líquido). Além disso, devem preensão das propriedades físicas da água e leração da gravidade.

18
A densidade varia conforme a tem- idosos menor que adultos (em torno de 0,86). Cada tecido tem sua própria densidade
peratura, de substância para substância, e é Todo corpo com densidade menor relativa; os segmentos corporais também vão sofrer
definida pela sua gravidade específica, que é a que a da água determina irá flutuar. Porém, diferenças, como acontece na flutuabilidade entre
relação entre a densidade dessa substância e a como em cada segmento corporal, devido à membros superiores e inferiores.
densidade da água. composição de tecidos, a densidade também Em algumas condições patológicas,
varia, pode-se observar que os membros su- as alterações dessa densidade relativa tam-
periores flutuam mais facilmente que os in- bém ocorrem e precisam ser levadas em con-
feriores por possuírem menor densidade. Os sideração em um programa de tratamento em
Como a gravidade específica não pulmões também podem influenciar nessa meio líquido. Quando um músculo encontra-
tem proporção, não possui unidade e, por variação, sendo que a respiração calma pro- -se hipotônico ou sofre atrofia, ocorre dimi-
definição, a da água é igual a 1 quando a voca pouca variação na densidade relativa do nuição da sua densidade e, portanto, tenderá
4ºC. corpo e menor desequilíbrio durante a flutu- a flutuar mais. Ao contrário, quando há hiper-
Mesmo constituído principalmente ação. tonia ou hipertrofia, a densidade do segmen-
de água, o corpo humano possui uma densi- Tabela 1. Densidades to aumenta e ele tende a afundar.
dade ligeiramente menor que a água e igual a
0,97, sendo que varia em ambos os gêneros e
conforme a idade, devido à quantidade de te-
cido adiposo, ossos e cartilagens. Isto porque
o tecido adiposo apresenta densidade aproxi-
madamente de 0,9 e os tecidos magros (mús-
culos e ossos) de 1,1.
Portanto, mulheres possuem densi-
dade relativa menor que homens, e bebês e Fonte: SACCHELLI; ACCACIO; RADL, 2007 (pg 3).
19
3.1.2 Flutuação O primeiro (CG) é o ponto em Sendo assim, flutuação é a força
O princípio de Arquimedes afirma torno do qual a massa corporal é distribuí- experimentada como empuxo para cima,
que todo corpo que esteja submerso com- da igualmente em todas as direções e, no atuando em sentido contrário ao da ação
pletamente ou parte dele em um fluido em homem em posição anatômica, é localizado da gravidade, aparentando que todo corpo
repouso experimenta um empuxo vertical, e posteriormente ao plano sagital mediano, ao submerso possui menor peso do que em
para cima, igual ao peso de fluido deslocado. nível da segunda vértebra lombar (L2). terra. É originada pelo fato de que a pres-
Portanto, esse princípio estabelece que O centro de flutuação (CF) é o pon- são de um líquido aumenta com a profun-
um corpo, quando submerso na água (ou flui- to ao redor do qual a flutuação está distribuí- didade.
do), sofre uma força de empuxo igual ao peso da de maneira uniforme, e geralmente, locali- Entretanto, quando uma pessoa
do líquido que ele deslocou, isto é, a força de za-se no meio do tórax. assume a posição ortostática, seu corpo
flutuação é igual ao peso do líquido deslocado. Figura 1.
Se o corpo imerso tiver densidade
menor do que 1,0, ele flutuará, pois o peso
FG = força da gravidade, FF = força de flutuação
do corpo é menor do que o volume de água CG = centro de gravidade, CF = centro de flutuação

deslocado; ao contrário, se o corpo possuir


densidade maior que 1,0 ele afundará; e cor-
pos com densidade relativa igual a 1,0 flutu-
am logo abaixo da superfície da água.
Considerando que um adulto possui
densidade relativa em torno de 0,97, flutuará
com 97% dele submerso.
O centro de gravidade (CG) e o centro
de flutuação (CF) são as duas forças que deter-
minam o torque da flutuabilidade de um corpo. Corpo flutuando em equilíbrio. Fonte: a autora
20
tende a retornar à posição horizontal ao A força do empuxo proporciona que empuxo e peso sempre tem sentidos
nível da água, com as pernas deslocando-se uma grande vantagem para a Fisioterapia opostos”.
à direção da superfície e o tronco para trás. Aquática, que é a redução do peso/suporte e, Figura 2.
A flutuação pode proporcionar dife- com isso, tratamentos que exigem reeducação
rentes efeitos utilizados na Fisioterapia Aquá- da marcha podem ser iniciados mais cedo.
tica, como: Para Carregaro e Toledo (2008, pg
- auxílio ao movimento, em que o segmento 24), “a flutuação determina a porcentagem
a ser tratado é deslocado da posição perpen- de descarga de peso corporal, que varia con-
dicular à superfície da água para a posição forme a profundidade na qual o indivíduo se
horizontal - movido na mesma direção do encontra”. Essa redução do peso/suporte de
empuxo; um corpo parcial ou totalmente submerso é
- resistência ao movimento, em que o seg- dada pela força do empuxo para cima, que
mento a ser tratado é deslocado da posição é igual ao peso do líquido deslocado e é di- Porcentagem da descarga de peso em um
horizontal à superfície da água para a posição ferente conforme o nível de imersão, o que corpo submerso até o pescoço.
perpendicular - movido em direção oposta ao pode ser usado como graduação de dificulda- Fonte: a autora.
empuxo; de em determinados exercícios. Como a gravidade age de cima para
- suporte ao movimento, em que o corpo Duarte (2004, pg 22) cita que baixo e o empuxo de baixo para cima, podendo
permanece na superfície e os movimentos “para um corpo para a força total que atua ser forças iguais ou opostas, o corpo permane-
são horizontais, sendo que a força do em- sobre ele é o peso do corpo menos a força ce em equilíbrio. Porém, se essas duas forças
puxo é igual à da gravidade – podem ser empuxo. O resultado dessa diferença pode forem desiguais, o corpo sofre movimentos
utilizados flutuadores ou o suporte do te- ser chamado de peso aparente do corpo e rotacionais para que elas entrem em equilíbrio
rapeuta. é um valor menor que peso do corpo por- novamente, o que se denomina metacentro.

21
O metacentro que, segundo Ruoti, Morris e Cole (2000, pg 341), “refere-se à teoria do 3.1.3 Tensão superficial
equilíbrio de qualquer objeto flutuando na água”, não é uma propriedade física da água, mas é Coesão é a força de atração entre
um fenômeno importante na Hidroterapia, pois alguns pacientes possuem diferenças de com- moléculas vizinhas, enquanto que adesão é a
posição corporal entre segmentos ou hemídios corporais, como, por exemplo, a diferença de força de atração entre moléculas de diferentes
tônus muscular, em tecidos moles ou ossos, e amputações. Entretanto, Caromano e Nowotny tipos de matérias.
(2002, pg 3) citam que “se os centros não estiverem na mesma linha vertical, as duas forças Diferentes líquidos são carac-
atuando sobre o corpo farão com que ele gire até atingir uma posição de equilíbrio estável”. terizados por diferentes quantidades de
Figura 4. atração molecular e, quando as camadas
de um líquido são colocadas em movi-
mentação, a coesão cria uma resistência
ao movimento, isto é, uma tensão super-
ficial.
Essa resistência é percebida quando
um segmento está parcialmente submerso, e
é pequena, além de ser proporcional ao ta-
manho do corpo a sua distância em relação à
superfície da água.
Esse princípio não é tão importan-
te para a Fisioterapia Aquática, mas é fun-
damental em caso de saltos ornamentais,
onde é necessário romper a tensão superfi-
Metacentro. cial quando o indivíduo atinge a superfície
Fonte: a autora. da água.
22
3.1.4 Pressão hidrostática A pressão hidrostática, como é cha- quando a capacidade vital de um paciente for
Caromano e Nowotny (2002, pg 4) mada, é proporcional à sua profundidade (e menor do que 1.500 ml ou a força diminuída
referem que “a pressão hidrostática P é de- densidade), portanto, quanto mais profunda dos músculos inspiratórios, pois ele poderá
finida como a força (F) exercida por unidade maior a pressão. apresentar dificuldades respiratórias.
de área (A), em que a força por convenção é Essa propriedade física auxilia prin- Figura 4.
suposta, e é exercida igualmente sobre toda cipalmente na redução de edemas em seg-
área da superfície de um corpo imerso em re- mentos submersos, pois facilita o retorno
pouso, a uma dada profundidade (lei de Pas- venoso, considerando-se dois fatores: que a
cal)” . compressão ao nível de tornozelos é maior
Em outras palavras, é a pressão do em relação às coxas e depois ao tronco, e que
líquido sobre o corpo imerso e sua unidade a pressão exercida a aproximadamente 122
é expressa em Newtons por metro quadrado cm de profundidade gira em torno de 88,9
(N/m2), também conhecida como Pa (Pas- mmHg, sendo levemente maior do que a
cal), ou milímetros de mercúrio (mmHg). pressão diastólica. A pressão hidrostática aumenta com a pro-
Também auxilia no desenvolvimen- fundidade da água, mas é constante num
to da coordenação motora e melhora o su- mesmo nível da água.
porte e a sustentação do corpo em situações
sendo P = pressão, F = força, A = área que requerem maior equilíbrio.
Segundo a Lei de Pascal, a pressão Outro benefício da pressão hidros-
de um líquido ou fluido é exercida igualmente tática é a compressão ao nível da caixa torá-
sobre todas as áreas da superfície de um cor- cica, o que promove uma maior resistência
po, mas varia conforme sua profundidade ou à musculatura inspiratória e favorece a ex- Pressão hidrostática.
densidade. piratória. Porém, deve-se ter muito cuidado Fonte: a autora.
23
3.1.5 Viscosidade Como ocorre contra a direção do
O atrito que ocorre entre as moléculas de um líquido é denominado viscosidade, movimento do corpo, também é proporcio-
sendo importante na Fisioterapia Aquática por oferecer resistência ao movimento. nal à velocidade desse movimento e com a
Essa resistência na água é até 800 vezes maior que no ar (em solo) e é inversamente área de atrito do corpo. Portanto, quanto
proporcional à temperatura, isto é, a viscosidade diminui conforme a água é aquecida. mais rápido o movimento ou maior a área de
Figura 5. atrito, maior será a resistência.
A viscosidade promove resistência
tridimensional com movimentos lentos, o
que favorece a propriocepção, a cocontração
e uma maior estabilização postural e dos mo-
vimentos de segmentos corporais.

3.2 Conceitos básicos da Hidrodinâ-


mica

3.2.1 Movimento de fluxo


Segundo o teorema de Bernoulli, a re-
lação entre a pressão e a velocidade de um fluido,
ao longo de uma linha corrente em um fluxo es-
tável de um fluido sem atrito e sem viscosidade,
exprime o princípio da conservação da energia.
Viscosidade. Entretanto, a energia total de uma
Fonte: a autora. partícula de água consta da soma de seus três

24
componentes, as energias cinética, potencial Geralmente os fluxos laminares são Figura 6.
e de pressão. lentos, mas possuem velocidade maior que A = fluxo laminar, B = fluxo turbulento
Conforme a movimentação feita em os fluxos turbulentos, porém a resistência é
ambiente líquido, o fluxo criado terá caracte- menor.
rísticas diferentes. Em outras palavras, o fluxo laminar
Na Fisioterapia Aquática podem-se é alinhado e contínuo, e a velocidade perma-
distinguir dois tipos de fluxo da água: nece constante dentro de uma corrente líqui-
- fluxo laminar (alinhado): que acon- da, com suas camadas deslizando uma sobre
tece quando o movimento da água é contínuo as outras, sendo que as mais externas perma-
e ocorre quando a movimentação é feita de necem estáveis em relação às internas, que se
maneira regular (em linha reta), onde o atri- movem com maior rapidez. Já o fluxo turbu-
to entre as camadas líquidas é pequeno e elas lento é desalinhado e descontínuo e provo- Fluxo.
separam-se logo após a passagem do corpo ca um movimento irregular pelo fato de sua Fonte: a autora.
(ou objeto), mas unem-se em seguida; velocidade ultrapassar uma velocidade crítica. 3.2.2 Força de arrasto
- fluxo turbulento (desalinhado): que No fluxo laminar, a resistência de Como descrito anteriormente, estei-
acontece quando o corpo (ou objeto) está per- fricção é diretamente proporcional à velo- ra é o deslocamento do fluxo de água para
pendicular ao nível da água e a movimentação cidade, enquanto que no fluxo turbulento é dentro da água quando a pressão é reduzida.
ocorre de forma irregular, onde as camadas lí- maior, ou seja, é diretamente proporcional ao Isto porque, quando um objeto se move na
quidas podem estar em direções opostas, o que é quadrado da velocidade. Portanto a manuten- água, é criada uma diferença de pressão, que
denominado redemoinho. Com esses redemoi- ção do equilíbrio ou o deslocamento em meio fica maior na frente e menor atrás desse ob-
nhos, são formadas zonas de baixa pressão (es- líquido dá-se mais facilmente quando em flu- jeto. Nessa esteira são criados redemoinhos,
teiras), as quais impulsionam o corpo para trás. xo laminar. os quais são provocados pela viscosidade do

25
líquido e pela turbulência, que arrastam o ob- Um alinhamento ou desalinha- O contato com a pele do paciente
jeto para trás e esse fenômeno é denominado mento corporal é dado pela corrente- em movimento proporciona a força frontal e
força de arrasto. za provocada pelo movimento na água, a fricção, enquanto que a esteira, provocada
A força de arrasto é relacionada ao sendo alinhado quando a separação das pela formação de região com pressão nega-
coeficiente de arrasto, que depende da ma- camadas líquidas é de pequena largura tiva, produz a força de sucção e o paciente é
neira como o corpo está alinhado com a cor- e desalinhado quando essa separação é puxado para trás.
renteza da água, e sofre um aumento quando grande. Fator esse que confirma que a
3.3 Conceitos básicos da Termodinâ-
a velocidade do movimento também é au- força de arrasto depende da velocidade
mentada. Portanto, pode representar maior e da forma do objeto. mica
dificuldade de locomoção e equilíbrio do in- As forças que atuam no movimen-
A termodinâmica está relacionada
divíduo quando seus movimentos ocorrerem to em meio líquido podem ser empregadas
com o processo de transferência de calor na
fora de um fluxo uniforme. como propulsão ou resistência, para a qual
água.
Figura 7. utilizamos a força frontal, a fricção com a
Quando um corpo encontra-se sub-
merso em água aquecida ou não, é submetido
a uma temperatura diferente da sua e, como
a água é maior condutora de calor que o ar,
acontece uma transferência de calor mais rá-
pida entre o corpo e o meio líquido.
Quando a temperatura da água é
maior que a corporal, o corpo submerso é
Arrasto. pele do paciente e a força de sucção dada pelo aquecido pela transferência da energia calóri-
Fonte: a autora processo de esteira. ca da água para ele, fazendo com que a tem-
26
peratura total do sistema, corpo e água, per- e o calor ganho ou perdido é denominado ener- ao frio e ao calor. A pele e as mucosas pos-
maneça igual. Como esse sistema é dinâmico, gia radiante. suem receptores termossensíveis que fazem
o mesmo ocorre em processo contrário, ou A radiação não exige contato entre e mediação da sensação térmica e auxiliam
seja, se o meio líquido está em menor tempe- as duas fontes de energia, porém se ocorre a na produção dos reflexos termorregulatórios.
ratura que a corporal, a água é aquecida pela condução e a convecção, esse contato é ne- Portanto, a temperatura corporal é mantida
transferência calórica do corpo para ela. cessário. em valor adequado através de respostas ter-
Sendo assim, a aplicabilidade tera- Como a temperatura do corpo hu- morreguladoras autonômicas.
pêutica da água pode ser explicada pela sua mano varia de região para região, pode-se Grande parte do calor corporal é
capacidade em reter ou transferir calor, e essa dividi-la em central e superficial, sendo que produzida nas porções mais profundas do
transferência de calor é dada por três manei- a primeira varia em torno de mais ou menos corpo humano, que possui um sistema isola-
ras diferentes: condução, convecção e radia- 0,6ºC e, a partir de atividades metabólicas e dor de temperatura, o qual é um meio efetivo
ção: pela influência do meio ambiente, a dissipa- para manter as temperaturas internas nor-
- condução: a transferência de calor ção do calor sofre equilíbrio entre a perda ou mais e é composto, principalmente, por teci-
se faz do mais quente para o mais frio entre ganho de calor. do gorduroso. Entretanto, além da condução,
dois objetos em contato, por meio de atritos Um sistema de controle fisiológico, convecção e radiação, a temperatura corporal
moleculares individuais ao longo de uma pe- composto por termorreceptores centrais e pode ser equilibrada por meio do mecanismo
quena distância; periféricos, controla a temperatura corporal, da sudorese dado pela evaporação a partir da
- convecção: o calor é transferido sendo o hipotálamo o responsável pela inte- pele ou através dos pulmões.
através do movimento molecular em massa gração dos impulsos térmicos provenientes No entanto, à medida que o pacien-
ao longo de uma distância grande; de todos os tecidos corporais. Os impulsos te realiza exercícios aquáticos, a temperatura
- radiação: a transferência de calor é térmicos aferentes são provenientes de re- corporal vai se elevando e a evaporação torna-
dada pela transmissão de ondas eletromagnéticas, ceptores centrais ou periféricos e distintos -se ineficiente para a manutenção da homeos-

27
tase térmica, pois somente as partes não sub- relaxamento, a temperatura da água deve ser tir da alimentação, pois carboidratos, lipídeos
mersas perdem calor pela evaporação. Como mais elevada e para exercícios mais ativos, de- e proteínas, por oxidação com oxigênio no
a evaporação do suor provoca resfriamento ver ser mais baixa. interior celular, liberam energia. Essa ativida-
corporal, ela não ocorre se o ar estiver com- Na literatura sobre Fisioterapia de química das células e o metabolismo são
pletamente saturado com vapor de água e o Aquática existem controvérsias em relação aumentados com a atividade física ou proces-
organismo apresenta dificuldades para perder à temperatura ideal da água. Embora seja in- sos orgânicos (como digestão) e sofrem in-
calor. Sendo assim, a temperatura ambiente dicado um ajuste segundo a patologia a ser fluência da faixa etária, hormônios e outros
também influencia na temperatura corporal tratada e ao indivíduo que utiliza a piscina, fatores. Cerca de 20% dessa energia é conver-
em atividades na água, sendo recomendada alguns autores recomendam uma temperatu- tida para a realização do trabalho e o restante
uma variação entre 20 e 21ºC. ra entre 35 e 37ºC, outros entre 33 e 37ºC. em energia térmica.
A circulação sanguínea tem im- Entretanto, por experiência, grande parte
portante papel, pois o sangue contribui na desses autores afirma que a água da piscina
transferência de calor para a pele e pulmões. deve estar em torno dos 32ºC, mas nunca su-
Portanto, na água aquecida, os exercícios vi- perior a 35ºC, para atender a todas as condi-
gorosos promovem um aumento da tempe- ções e evitar efeitos debilitantes ou indesejá-
ratura corporal de maneira sistêmica e, e em veis, desde que as contraindicações (relativas
água fria, diminuem essa temperatura. ou absolutas) ao tratamento aquático sejam
Assim, a temperatura da água seve consideradas.
ser ajustada conforme a atividade a ser reali- A energia necessária para que os
zada, considerando-se que a transferência de processos fisiológicos ocorram não provém
calor também aumenta em função da veloci- somente do calor. As reações químicas de cé-
dade do exercício realizado. Para técnicas de lulas também produzem energia gerada a par-

28
água, mas dependem de outros fatores como
temperatura da água, profundidade da pisci-
na, tipo e intensidade da atividade realizada,
duração da fisioterapia aquática, postura do
paciente e sua condição clínica.
Além das respostas fisiológicas, que
serão estudadas separadamente, a imersão
provoca benefícios psicológicos importantes,
como aumento da autoestima, sensação de
independência, redução do grau de ansieda-
de e, ainda, permite o aprendizado de novas
CAPÍTULO IV – RESPOSTAS habilidades.
E EFEITOS FISIOLÓGICOS
DOS EXERCÍCIOS EM 4.1 Sistema cardiovascular
IMERSÃO
Os efeitos cardiovasculares são da-
Alterações hemodinâmicas, neuro-
dos principalmente pela pressão hidrostática,
musculares, metabólicas e teciduais são efei-
além da temperatura da água.
tos fisiológicos provocados pelo resfriamento
Quando um indivíduo entra na pis-
ou aquecimento através de qualquer agente
cina, ocorre uma vasoconstrição momentâ-
que altere a temperatura corporal. Entretan-
nea, que resulta em um aumento da resistên-
to, os efeitos fisiológicos causados pela água
cia vascular periférica e da pressão arterial.
são resultados das propriedades físicas da
Entretanto, durante a imersão em água aque-

29
cida ocorre aumento da circulação sanguínea Esses fatores são explicados pela 4.2 Sistema respiratório
e redistribuição do sangue, que favorece o redução da pressão hidrostática em relação à
fluxo sanguíneo devido à vasodilatação peri- superfície, o que promove um deslocamento As alterações fisiológicas ocorridas
férica, aumentando o suprimento sanguíneo do sangue para a cavidade abdominal e co- no sistema circulatório estão relacionadas, em
na musculatura e ajudando o retorno venoso. ração, aumentando o fluxo sanguíneo pul- parte, aos efeitos sobre o sistema respiratório.
Com a imersão ao nível do pescoço, monar, favorecendo uma maior troca gasosa. Por consequência do deslocamento
o volume sanguíneo central é aumentado cer- Contudo, em resposta ao aumento do traba- do sangue venoso periférico para a cavidade
ca de 60% (700 ml) e o volume cardíaco em lho cardíaco pelo aumento do débito sanguí- torácica, somada ao efeito da pressão hidros-
até 30% , resultando em um deslocamento neo, também ocorre um aumento da força de tática exercendo maior pressão na expansibi-
em torno de 200 ml de sangue para o coração contração do miocárdio, promovendo maior lidade do tórax, o trabalho respiratório sofre
e, o restante dos 700 ml para os grandes vasos gasto energético. um aumento importante quando em imersão
do sistema pulmonar. Em resumo, em imersão até o pes- até o pescoço. Em consequência, o volume
Como o débito cardíaco é aumen- coço, pelo aumento da pressão hidrostática de reserva expiratória (VRE) diminui pela
tado de 30% para 32%, a frequência cardíaca que promove compressão linfática e venosa, metade e a capacidade vital (CV) em torno de
reduz em torno de 10 batimentos por minuto, o volume sanguíneo central aumenta, pro- seis a 12%, sendo que a combinação desses
o que corresponde aproximadamente de 4% vocando elevação da pressão atrial com au- dois fatores leva ao aumento de aproximada-
a 5% da frequência em solo e bipedestação. mento do volume cardíaco. Esse mecanismo mente 60% no trabalho da respiração.
A pressão intratorácica e a pressão resulta em um aumento de aproximadamente Sendo assim, essa maior carga de
atrial direita aumentam de 0,4 para 3,4 mmHg 35% no volume sistólico e de 30% no débito trabalho ventilatório pode auxiliar na eficiên-
e de 14 para 18 mmHg, respectivamente e, cardíaco, sendo que a variabilidade na altera- cia e força do sistema respiratório. Entretan-
com isso, a pressão venosa central também ção da frequência cardíaca para menos está to, indivíduos com redução da vital (abaixo
sofre um aumento. relacionada à temperatura da água de 1.500 ml) podem apresentar dificuldades

30
na respiração e não devem permanecer em Logo após a imersão, ocorre um au- 4.4 Sistema musculoesquelético
imersão com nível de água acima do proces- mento do fluxo sanguíneo para os rins, com
so xifoide, pois a pressão hidrostática oferece aumento da liberação de creatinina (parâme- As alterações que ocorrem no siste-
maior resistência à expansão dos pulmões. tro para diagnosticar deficiência renal), sendo ma musculoesquelético são devidas aos efei-
observada uma elevação da pressão renal ve- tos da pressão hidrostática e pela regulação
4.3 Sistemas renal e hormonal
nosa e diminuição da atividade do nervo renal reflexa do tônus dos vasos sanguíneos. Par-
O sistema regulador renal tam- simpático (por resposta vagal dada pela dis- te do fluxo sanguíneo (pelo débito cardíaco
bém sofre alterações fisiológicas pelos tensão do átrio esquerdo). Com isso, a dimi- aumentado durante a imersão) é destinada à
efeitos físicos da água. Com a imersão até nuição da atividade nervosa simpática renal pele e músculos, o que provoca uma dimi-
o pescoço, ocorre um aumento na produ- leva ao aumento da atividade de transporte nuição do espasmo muscular e uma maior
ção de urina e excreção de água (diurese), de sódio. distribuição do oxigênio com aumento da
bem como na excreção de sódio (natriure- Parte do efeito diurético é devido à remoção catabólitos, o que proporciona me-
se) e de potássio (potassiurese). Esses fa- excreção da água que acompanha o aumento lhor nutrição tecidual. Como os fluidos dos
tores podem ser resultado da inibição da da pressão renal venosa e da excreção de só- tecidos movimentam-se mais livremente nas
produção de aldosterona e do hormônio dio, a qual é dependente do tempo e do nível estruturas lesionadas e removem com mais
antidiurético (ADH), também chamado de de imersão. rapidez os produtos tóxicos do metabolis-
vassopressina, além do aumento do fluxo O relaxamento de músculos lisos mo muscular, a cicatrização tecidual acontece
sanguíneo nos rins. Contudo, o aumento vasculares e a inibição da produção de aldos- com maior velocidade.
central do volume sanguíneo, do débito terona, que podem persistir após a imersão, Como já visto anteriormente, a
cardíaco e do retorno venoso são propor- são explicados pela facilitação dessa excreção viscosidade provoca uma resistência tridi-
cionados pela presença do hormônio pep- de sódio e pela diurese, que ocorrem em fun- mensional, fazendo com que as contrações
tídeo natriurético atrial (PNA). ção da presença de PNA. musculares sejam sincrônicas. Sendo assim,

31
o efeito terapêutico na musculatura propor- os. Com isso, ocorre uma diminuição dos ní-
cionado pela imersão é bastante importante veis de epinefrina e norepinefrina, provocan-
na fisioterapia aquática, especialmente pelo do um aumento do limiar da dor (o paciente
fato de que a pressão hidrostática exerce uma sente menor sensação dolorosa).
pressão maior do que a diastólica, e a elimina- Esse fator pode ser explicado pelo
ção de edemas é consideravelmente auxiliada. bloqueio, por meio da ação de água aqueci-
Também pelo fato de que a com- da, de terminações nervosas, considerando-
pressão articular é diminuída principalmente -se que a transmissão de impulsos nervosos é
pelo empuxo, o trabalho muscular em pacien- mais rápida nas fibras do calor e tato do que
tes com disfunções articulares é possibilitado nas fibras da dor.
mais precocemente em relação ao tratamento Durante a atividade aquática, o sis-
de solo. tema vestibular é bastante requisitado pela
instabilidade provocada pela água, o que pos-
4.5 Sistema nervoso
sibilita o tratamento de pacientes portadores
Os efeitos da imersão sobre o siste- de distúrbios do equilíbrio. Contudo, o apoio
ma nervoso são bastante variados, mas rele- fornecido pelo meio líquido estimula a cons-
vantes para a fisioterapia aquática. ciência da movimentação dos segmentos cor-
Durante a imersão, a liberação de porais, além de promover aumento do equilí-
neurotransmissores é alternada com a libe- brio e da coordenação motora.
ração de catecolaminas, que são intimamente
ligadas ao sistema de regulação da frequência
cardíaca e da resistência dos vasos sanguíne-

32
nação total da sustentação do peso corporal,
em processos inflamatórios, quadros álgicos,
retração e espasmo musculares, amplitudes
de movimentos reduzidas, promovendo uma
pronta restauração funcional.
Em função de a flutuabilidade per-
mitir maior independência, a reabilitação em
meio líquido torna-se mais rápida em relação
à fisioterapia de solo, sendo uma das melhores
opções para pacientes incapacitados devido a
cirurgia recente, lesões agudas (neurológicas
CAPÍTULO V – INDICAÇÕES ou ortopédicas), patologias reumatológicas,
E CONTRAINDICAÇÕES DA
ou pós-mastectomia. Isto porque o meio lí-
FISIOTERAPIA AQUÁTICA
quido é um ambiente controlável no qual a
Os exercícios aquáticos, com seus reeducação motora e a aquisição de novas
mais variados tipos, são amplamente utiliza- habilidades (ou restauração daquelas perdi-
dos em problemas neurológicos, para reabi- das) são facilitadas. Durante as sessões, o in-
litação cardíaca, tratamentos ortopédicos e divíduo experimenta uma sensação agradável,
reumatológicos, controle da dor crônica, en- com redução da dor e de espasmos muscula-
tre outros. A fisioterapia aquática proporciona res, ao mesmo tempo em que lhe é propor-
benefícios principalmente em condições nas cionada uma maior amplitude de movimento
quais se faz necessária a redução ou a elimi- e aumento da força muscular.

33
Como a água possui grande capaci- uma lesão, cirurgia ou imobilização. Portanto, (otite), infecções urinárias e micoses. Além
dade para reter e conduzir calor, a efetividade com a movimentação precoce, a funcionali- dessas, a insuficiência respiratória grave, úl-
da fisioterapia aquática é dada pela produção dade é recuperada em tempo menor em rela- ceras varicosas, insuficiência cardíaca sem
de vasodilatação, aumento da circulação san- ção às condições de solo. Isto também pode acompanhamento médico e crises de angina
guínea, redução da rigidez articular, melhora ser afirmado em casos de atrofia muscular e também constituem condições de abstinência
das amplitudes de movimento e das habilida- formação de tecido cicatricial, nos quais, pelo para os exercícios em piscina.
des funcionais. aumento da circulação sanguínea, ocorre uma A incontinência urinária ou fecal,
A descarga de peso em articulações melhor nutrição dos tecidos lesados e, por- consideradas como contraindicações absolu-
debilitadas ou membros enfraquecidos é re- tanto, o trofismo é aumentado e a fibrose in- tas, pode ser resolvida com o uso de fraldas
duzida pela flutuação, podendo o paciente tramuscular e a artrofibrose são diminuídas. próprias para dentro do meio líquido (com lá-
realizar exercícios de fortalecimento muscu- As contraindicações podem ser di- tex) ou com o treinamento e esvaziamento da
lar, condicionamento físico e coordenação vididas em relativas, absolutas e relacionadas bexiga ou intestino antes da entrada na água.
motora, que seriam mais difíceis em solo. O com o estado clínico do paciente. As contraindicações relacionadas
trabalho de fortalecimento é proporciona- As relativas dizem respeito a cuida- com o estado clínico do paciente são as mio-
do pela resistência da água durante o movi- dos especiais em relação a: período menstru- patias progressivas, estados febris, lesões de
mento, enquanto que a pressão hidrostática al, tímpano perfurado, uso de bolsa de colos- pele, tuberculose, debilidade grave, queima-
auxilia no retorno venoso e, com a melhora tomia, epilepsia, disfagia e medo de água. duras, sarna e piolhos.
da circulação sanguínea, o condicionamento As contraindicações absolutas são
cardiovascular e pulmonar é facilitado. aquelas que o paciente não pode ser submeti-
Com a diminuição da espasticidade do à fisioterapia aquática, como fístulas cutâ-
e da dor em meio líquido aquecido, o movi- neas, feridas abertas, úlceras de decúbito, in-
mento é restaurado mais rapidamente após fecções de olhos (conjuntivite) ou de ouvidos

34
área da fisioterapia, mas todas se utilizam das
propriedades físicas da água e seus efeitos no
corpo humano.

6.1 Fisioterapia Aquática em neurolo-


gia

Internacionalmente os problemas
neurológicos são classificados em:
- prejuízo, quando ocorre perda ou anorma-
lidade de um órgão, estrutura ou função, re-
presentado por fraqueza muscular, alteração
CAPÍTULO VI – A de tônus, diminuição de movimentos volun-
FISIOTERAPIA AQUÁTICA tários, redução de amplitudes de movimen-
E SUA APLICAÇÃO NAS
to, alteração da sensibilidade, incoordenação
DIVERSAS ÁREAS
motora e instabilidade postural;
As condutas utilizadas na Fisiotera- - incapacidade, quando há diminuição parcial
pia Aquática vão depender da patologia e do ou total da capacidade funcional para realizar
quadro clínico de cada paciente, bem como transferência, alcance, preensão, manipulação
dos objetivos traçados para cada tratamento. e deambulação;
As várias técnicas (ou métodos) - desvantagem, que é uma limitação imposta
de reabilitação aquática diferem em confor- de maneira externa e que dificulta ou impe-
midade com as necessidades individuais e a de o desempenho de atividades sociais, como

35
barreiras arquitetônicas ou mesmo medo. ao solo, o que fornece condições para forta- culoesqueléticas, pois a água facilita os
A Fisioterapia Aquática é amplamente utili- lecimento, alongamento e reeducação muscu- movimentos e promove encorajamento
zada na reabilitação de pacientes portadores lar. Também a turbulência oferece resistência emocional para o retorno à atividade fí-
de disfunções neurológicas, sejam elas prove- para promover fortalecimento muscular ou sica em solo.
nientes de lesões do Sistema Nervoso Central aumentar o estímulo sensitivo para facilitar o Como o meio líquido reduz a
(SNC) ou Periférico (SNP), e pode influen- padrão de movimento. descarga de peso sobre as articulações,
ciar em qualquer um dos aspectos dessa clas- Por meio da pressão hidrostática e a reabilitação pode ser iniciada precoce-
sificação internacional. da viscosidade, o fuso muscular é estimulado, mente, principalmente quando há neces-
A Fisioterapia Aquática proporcio- o que aumenta a propriocepção do segmento sidade de apoio em membros inferiores.
na inúmeras vantagens em disfunções neuro- trabalho, proporcionando input sensorial para Além disso, as propriedades físicas da
lógicas, mas os programas diferem entre indi- uma melhor consciência corporal. Com isso, água permitem que os objetivos sejam
víduos e diagnósticos e geralmente envolvem as estratégias sensório/motoras são mais efi- traçados de maneira que não sobrecarre-
a flutuação, pois as alterações motoras, senso- cazes para o treino do equilíbrio, bem como guem ligamentos, músculos, ossos, ten-
riais, de percepção ou de cognição identifica- permitem melhor ajuste tônico necessário dões ou cartilagens lesionadas.
das após uma lesão neurológica são variadas para evitar uma queda. As estratégias de tratamento
e infinitas e estão diretamente relacionadas compreendem analgesia, redução de ede-
6.2 Fisioterapia Aquática em trauma-
com a área e o tamanho dessa lesão. ma, estabilização articular, manutenção
to-ortopedia e lesões do esporte
A flutuação permite que um esforço ou aumento de amplitudes de movimen-
menor seja usado com movimentos de extre- A Fisioterapia Aquática em lesões to, reequilíbrio muscular e postural, res-
midades em direção à superfície da água, sen- esportivas e ortopédicas é cada vez mais em- tauração da propriocepção e condiciona-
do que as amplitudes são maiores em relação pregada, especialmente em disfunções mus- mento físico.

36
6.3 Fisioterapia Aquática em reuma- A Fisioterapia Aquática deve ser e asma. Isto devido à elevação da pressão do trato
tologia iniciada precocemente para quebrar o ciclo respiratório, causado pelo ato de respirar fora da
da dor, diminuir a incapacidade, a rigidez ar- água durante a imersão subtotal, a qual interfere no

As doenças reumáticas têm alta pre- ticular, desuso, atrofia e perda funcional. Os comprimento e na atividade dos músculos e previne
valência e são extremamente incapacitantes, objetivos são voltados para o alívio da dor, colapsos aéreos, além de melhorar a troca gasosa.
provocando grande impacto médico social e aumento ou manutenção da amplitude arti- Com imersão na altura do tórax, a fun-
econômico. Compreendem a artrose, reuma- cular, proporcionar relaxamento e redução de ção pulmonar sofre alterações principalmente
tismos extra-articulares, fibromialgia e lom- espasmos musculares, prevenção ou correção pela atuação da pressão hidrostática na parede
balgias mecânicas ou posturais. de contraturas e alterações da postura, treino torácica, e o trabalho respiratório aumenta em
Em todas as doenças reumáticas, da propriocepção, melhora da marcha e do 65%, sendo que o diafragma é descolado cranial-
as queixas são comuns, principalmente as equilíbrio, promoção de melhor condiciona- mente, o volume e a capacidade pulmonares são
disfunções musculoesqueléticas, sendo que mento cardiorrespiratório, entre outros. diminuídos, bem como o volume de reserva ex-
as complicações são múltiplas e incluem piratório e a capacidade vital.
6.4 Fisioterapia Aquática em pneumo-
níveis variados de dor, fraqueza muscular, Na imersão ao nível do pescoço, além
alterações posturais, diminuição do con- logia das alterações já citadas, ocorre uma diminuição
dicionamento cardiovascular, fácil fadiga, da circunferência torácica e a pressão hidrostática
comprometimento multiarticular e frou- As principais pneumopatias tratadas com exerce maior resistência à inspiração, facilitando
xidão ligamentar, o que pode evoluir para Fisioterapia Aquática são as doenças pulmonares a expiração e elevando a saturação de oxigênio,
contraturas e deformidades, alterando o obstrutivas crônicas (DPOC), porém estudos de- fator importante para o tratamento de doenças
funcionamento biomecânico. monstram sua eficácia também em bronquiectasia obstrutivas do pulmão.

37
6.5 Fisioterapia Aquática em cardiolo- lógicos estabilizados, mensuração constante da força, da potência e da resistência mus-
gia da pressão arterial para que não ultrapasse a cular. Esses fatores, além de outros, causam
uma diminuição de 10 a 20 batimentos por incapacidades funcionais e/ou dificuldades
A Fisioterapia Aquática objetiva minuto e estabilização de uma relação de para realizar algumas atividades de vida diá-
principalmente o retorno do paciente car- confiança. ria, principalmente após os 65 anos de idade,
diopata ao seu estilo de vida completo, com Convém lembrar que insuficiência quando fatores incapacitantes instalam-se ra-
melhor qualidade de vida. Fundamenta-se na cardíaca congestiva, angina instável, proble- pidamente. Sendo assim, ocorre um aumento
percepção cinestésica ou consciente da movi- mas importantes da válvula aórtica ou mitral da necessidade de intervenções de serviços
mentação corporal, gerando um nível aceitá- e miocardiopatias consistem em contraindi- formais para reduzir a incapacidade para uma
vel para a atividade física diária em solo, com cações para a Fisioterapia Aquática. vida independente.
aumento da sua capacidade para tal. Como a prática regular de atividade
6.6 Fisioterapia Aquática em geria-
Pelas respostas cardiovasculares à física retarda o período de tempo entre o de-
tria
imersão, como a diminuição da frequência clínio da capacidade funcional e o limiar crí-
cardíaca e o aumento do volume sanguíneo O envelhecimento é um processo tico para a perda de independência, torna-se
central e do débito cardíaco, é possível esta- lento, gradativo e universal, que acontece com uma das intervenções mais importantes para
belecer, com segurança, os objetivos de tra- ritmos diferentes entre pessoas ou grupos, e a promoção da saúde e a prevenção de doen-
tamento. pode ser compreendido como um conjunto ças em indivíduos acima de 65 anos de idade.
Entretanto, se fazem necessários al- de alterações estruturais e funcionais do or- Além disso, a atividade física reduz a prescri-
guns cuidados, como: introdução do paciente ganismo que se acumulam progressivamente. ção de medicamentos, previne o declínio cog-
na reabilitação aquática somente após quatro Entretanto, em todos os indivíduos ocorre nitivo, diminui a incidência de quedas que po-
semanas do evento cardíaco, monitoração uma redução da coordenação motora, dimi- dem levar a fraturas e melhora a autoestima,
por eletrocardiograma dos parâmetros fisio- nuição dos reflexos, perda da flexibilidade, sendo que o meio líquido é uma ótima opção

38
de exercício aeróbico, por promover melho- Sendo assim, a Fisioterapia Aquáti- Para estabelecer os objetivos e o
rias no condicionamento físico e aumentar a ca caracteriza-se tanto pela sua importância plano de tratamento, é necessário que as ha-
capacidade cardiovascular. social quanto pelo caráter intervencionista, bilidades e os problemas da criança sejam
Com o passar dos anos, a estabilida- isto porque proporciona uma maior indepen- conhecidos, adequando-se a cada caso de
de é perdida devido aos desgastes naturais do dência funcional, mantém e/ou melhorar a maneira divertida, estimulante e diferente de
corpo humano, fator que gera modificações amplitude de movimento e a força muscular, outras terapias.
funcionais e estruturais no organismo e, em diminui a dor e o espasmo muscular, além de
6.8 Fisioterapia Aquática para gestan-
especial, do sistema nervoso central, ossos e que promove a melhora da socialização, auto-
tes
músculos, os quais perdem massa muscular e confiança e qualidade de vida dos idosos.
a capacidade de responder às mudanças, des- Apesar de os efeitos fisiológicos e
6.7 Fisioterapia Aquática em pediatria
pertando o medo, pela insegurança, no indi- de as alterações emocionais e mecânicas por
víduo idoso. O meio líquido pode ser utilizado meio das propriedades físicas da água serem
O programa de reabilitação aquática tanto para recreação quanto para terapia comprovados cientificamente, a Fisioterapia
para idosos deve ser planejado de forma a re- com crianças, por meio de variados pro- Aquática em Obstetrícia ainda é pouco co-
duzir patologias, deficiências ou mesmo mor- gramas, inclusive o ensino de habilidades nhecida.
te prematura, aumentando o número de anos aquáticas adaptadas em sistemas escolares. Entretanto, pelas alterações fisioló-
de saúde. Seus objetivos englobam: redução Entretanto, crianças tendem a desenvolver gicas que ocorrem durante a imersão, o es-
de dor, aumento ou manutenção da flexibi- frequentes infecções de ouvido, o que re- tado gravídico é beneficiado pelos exercícios
lidade articular e força muscular, melhora do quer um maior cuidado, bem como o uso aquáticos, visto que os principais objetivos
condicionamento cardiovascular e da capaci- de equipamentos de flutuação, os quais não visam fortalecimento e alongamento mus-
dade vital, melhora do equilíbrio (e reações), têm a função de proteção, mas sim de auxí- cular, condicionamento cardiorrespiratório,
relaxamento e socialização. lio nas atividades. redução de quadros álgicos, principalmente

39
lombalgia gestacional, diminuição de edema
e relaxamento.
Além disso, as alterações fisiológicas
da gravidez são potencializadas pela imersão,
como o aumento do volume plasmático e do
débito cardíaco, da natriurese e diurese, redu-
ção da frequência cardíaca e da pressão arte-
rial. Entretanto, o tônus da musculatura ute-
rina e a frequência cardíaca fetal permanecem
sem alterações e, em geral as tensões físicas e
emocionais são reduzidas, estimulando o vín-
culo materno-fetal.

40
sobre as articulações que sustentam o peso
corporal, permitindo, assim, movimentos
com redução das forças gravitacionais. Por-
tanto, atividades sem sustentação de peso po-
dem ser iniciadas precocemente, antes mes-
mo da fisioterapia de solo.
Para a elaboração de um programa
de terapia aquática, é necessário o conheci-
mento das propriedades físicas da água e suas
interações, as quais representam um desafio
CAPÍTULO VII – INICIANDO no planejamento adequado a cada caso trata-
NA FISIOTERAPIA
do. O conhecimento da hidrodinâmica, ter-
AQUÁTICA
modinâmica e das alterações fisiológicas em
meio líquido é primordial para a correta apli-
7.1 Benefícios da Fisioterapia Aquática
cação dos exercícios terapêuticos.
A imersão promove uma experiência A Fisioterapia Aquática proporcio-
única e permite uma ampliação de conheci- na vantagens principalmente pela ausência
mentos das habilidades, tanto física e mental, ou diminuição da sustentação do peso, dada
quanto psicológicas, e não existem diferenças por meio da flutuação, quando há diminuição
entre adultos e crianças. funcional, seja por um processo inflamatório,
A água, através da propriedade do dor, retração ou espasmo muscular e limita-
empuxo, promove um alívio da sobrecarga ção de amplitude de movimento.

41
Os exercícios aquáticos podem ser Os benefícios terapêuticos são terapia, é explicado pelo suporte dado na flu-
indicados em casos nos quais se necessite de promovidos pelas modificações fisiológicas tuação, que alivia o peso corporal e diminui a
aumento da circulação sanguínea, da força durante a realização de exercícios em água compressão articular, enquanto que o Siste-
muscular, da amplitude de movimento ou da aquecida, pelo desvio de calor somado aos ma Nervoso Central é bombardeado por es-
flexibilidade articular; melhora da marcha, da princípios físicos da água, sendo que redis- tímulos sensoriais de relaxamento através de
coordenação motora e do equilíbrio; condi- tribuição sanguínea é considerada como base fibras mais largas e mais rápidas que as fibras
cionamento cardiorrespiratório, e também para essas alterações: de condução da dor.
diminuição da dor e de espasmo ou rigidez •• aumento da frequência respiratória Além desses, também proporciona
muscular. e cardíaca; benefícios psicológicos considerando-se que
Os principais benefícios terapêuti- •• diminuição da pressão sanguínea; a água permite maior independência de mo-
cos proporcionados pela Fisioterapia Aquáti- •• maior suprimento de sangue nos vimentos, facilitando a realização daqueles di-
ca podem ser assim relacionados: músculos; fíceis ou impossíveis em solo. Essa habilidade
•• redução da espasticidade; •• aumento do metabolismo geral; promove igualdade de níveis entre os pacien-
•• manutenção ou aumento da ADM; •• aumento da circulação periférica e tes, sejam eles deficientes ou não, visto que
•• fortalecimento muscular; retorno venoso ao coração; as respostas fisiológicas se dão em todos os
•• redução da dor; •• redução de edemas em segmentos sistemas do corpo humano, proporcionando:
•• melhora da circulação sanguínea; submersos; •• restituição ou aumento da autoesti-
•• melhora do condicionamento car- •• diminuição da sensibilidade à dor ma;
diorrespiratório; (aumento do seu limiar); •• redução da ansiedade;
•• aumento da capacidade aeróbica; •• relaxamento muscular generalizado. •• sensação de independência;
•• melhora funcional do equilíbrio, lo- O alívio da dor, no meio líquido, •• aquisição de novas habilidades.
comoção e coordenação. como um dos principais objetivos da Fisio- A imersão é revigorante ou rela-

42
xante, dependendo da temperatura aplicada. Como o corpo apresenta comporta- uma lista de problemas;
Portanto acalma ou estimula, podendo ser mentos diferentes em água e solo, é impor- - P = plano de ação direcionado a cada caso;
indicada em casos de ansiedade, depressão, tante a verificação das capacidades e limita- - I = intervenção fisioterapêutica;
agitação e outras alterações similares. ções do paciente em ambos os meios, para - E = estimação, que é a análise e avaliação
que a efetividade dos exercícios aquáticos seja dos resultados obtidos com o tratamento;
7.2 Avaliação do paciente
acompanhada. Entretanto, uma avaliação ba- - R = revisão, relacionada como as próximas
Todo paciente encaminhado à Hi- seada no mesmo protocolo deve ser realizada alterações de condutas a serem realizadas.
droterapia deve ser submetido à avaliação na água, para que o tratamento aquático seja Entretanto, em meio aquático, o
clássica fisioterapêutica em solo para que seja bem conduzido. protocolo SOAPIER deve incluir as atitudes
efetuado um registro de informações perti- Muitos fisioterapeutas utilizam, tan- do paciente, com observação de suas habili-
nentes ao tratamento aquático. to para solo como água, o protocolo de ava- dades bem como considerações sobre a for-
Entretanto, como o uso de piscina liação proposto pela School of Physiotherapy, ma e densidade do paciente e se existem con-
terapêutica é amplo, foram criados e adapta- Curtin University of Tecnology (Austrália), o qual traindicações para a atividade aquática.
dos vários modelos de avaliação, que é o pro- é baseado no método SOAPIER (Hastings, A avaliação das habilidades aquáti-
cesso fundamental para o estabelecimento 1983) e cujas inicias indicam: cas inclui, além da ambientação e movimen-
de objetivos e programa de tratamento, com - S = avaliação subjetiva, com informações tos no meio líquido, alguns itens a serem ob-
suas condutas mais adequadas a cada caso. fornecidas pelo próprio paciente sobre si servados:
Na avaliação inicial, são documentadas mesmo; - entra na água sozinho?
informações sobre o quadro clínico do paciente, - O = exame clínico do paciente; - flutua? (qual posição)
como início da doença e sua evolução até o mo- - A = análise das informações dadas pelo pa- - desliza (de maneira horizontal ou vertical?
mento, e permite que o fisioterapeuta acompa- ciente e as obtidas na avaliação subjetiva so- sem apoio, sem auxílio?)
nhe e monitore suas condutas aquáticas. madas ao diagnóstico médico para formular - submerge? (total ou parcial?)

43
- realiza rotações? (sagital, frontal, combina- Também a condição física do pa- valor (cinco) não significa normalidade, pois
das?) ciente deve ser observada em relação a ser ou essa função não pode ser realmente testada
- possui coordenação de MMSS e MMII? não adequada para uma atividade aquática, em meio líquido.
- expira pelo nariz ou pela boca dentro da principalmente quando em grupo, sendo que Tabela 2.
água? crianças e idosos merecem maior observação,
- qual é o tipo e a densidade aparente do pa- em virtude de, provavelmente, necessitarem
ciente? (endo, meso ou ectomórfico?) de especial atenção relativa ao tipo de exercí-
- como está seu aspecto psicológico? (tem cio e à quantidade de turbulência, que pode
medo? falta habilidade?) perturbar o equilíbrio.
- necessita de acessórios de flutuação? Quando necessária, a goniometria
- consegue executar nado? (adaptado? com pode ser realizada debaixo da água, mas o
respiração rítmica? consegue realizar recupe- instrumento de medição deve ser segurado Tabela de potência muscular (Escala de
rações de fôlego? como é sua propulsão?) firmemente para que se obtenha uma boa lei- Oxford modificada para água)
- sai da água sozinho? tura das amplitudes de movimento articular. Fonte: CAMPION, 2000.
Algumas considerações acerca A porcentagem de sustentação de A mensuração do tônus muscular
do paciente devem ser relevadas, princi- peso em diferentes níveis deve ser conside- pode ser efetuada de várias maneiras, porém,
palmente em relação ao equilíbrio e coor- rada para o emprego de exercícios aquáti- quando em imersão, torna-se mais difícil, vis-
denação quando em imersão e todos eles cos, considerando-se que, em solo, a potên- to que a temperatura da água e o suporte do
devem aprender a realizar e controlar os cia muscular é graduada de zero (ausência) a paciente alteram esse estado muscular. Por-
padrões de rotação vertical, lateral e com- cinco (normal) segundo a escala de Oxford. tanto, a avaliação (e reavaliação) do tônus é
binados, para que sua segurança dentro da Essa tabela foi modificada para uso em imer- realizada em solo e, no meio líquido, deve ser
água seja garantida. são, sendo graduada de um a cinco, onde esse observada através de manuseios.

44
É importante avaliar o controle res- exercícios específicos, pelo aumento da tem- ciente, considerando-se que força é a máxima
piratório do paciente, sendo registrada, em peratura e circulação sanguínea dos músculos tensão muscular exercida em uma única con-
solo, a capacidade em soprar e, na água, o ní- trabalhados, sem promover fadiga ou gasto tração, enquanto que resistência é a habilida-
vel que pode atingir. da energia que será necessária para a realiza- de em efetuar várias contrações repetidas em
ção de todas as atividades. Depende do perfil determinado período de tempo.
7.3 Introdução da Fisioterapia Aquá-
do paciente e da temperatura da água. 7.3.4 Relaxamento: definido como esforço
tica
7.3.2 Alongamento: são movimentos realiza- consciente realizado para diminuir a tensão
Para o início do tratamento aquático, dos ativa ou passivamente com a finalidade muscular, é efetuado como etapa final de cada
o paciente deve apresentar condição clínica de aumentar a flexibilidade articular. Durante sessão de hidroterapia e auxilia no retorno às
estável e, dependendo do caso, boa estabili- essa etapa, devem ser evitados os movimen- funções normais. Uma tensão pode ser pro-
dade pós-operatória, sendo que é importante tos balísticos, visto que os estáticos permitem duzida fisiológica ou psicologicamente, como
a integração com o tratamento de solo. um maior aumento do comprimento muscu- resultado de dor aguda ou lesão ou como re-
Todo programa de tratamento é me- lar sem microlesões teciduais. Também será sultado de ansiedade ou estresse, respectiva-
lhor organizado quando obedece à sequência observada ocorrência de superalongamento mente. Porém, convém ressaltar que a fadiga
de aquecimento, alongamento, resistência ou (overstretched), que sempre resulta em hiper- ou overuse também pode contribuir para uma
força (exercícios específicos) e relaxamento mobilidade e pode provocar lesão. tensão muscular.
muscular, cada qual com uma porcentagem 7.3.3 Força e resistência muscular (exercícios
7.4 Técnicas de relaxamento
de tempo. específicos): após uma lesão, cirurgia ou imo-
7.3.1 Aquecimento: sempre é efetuado gradu- bilidade, a restauração da função muscular é O relaxamento tem como objeti-
almente no início da sessão, pois permite um crítica e o meio líquido fornece facilidades vos diminuir a tensão ou espasmo muscular,
ajuste corporal à atividade física. Essa etapa para tal. Cada programa será elaborado con- quebrar o ciclo da dor, reduzir a ansiedade
prepara a musculatura para o alongamento e forme as necessidades e as condições do pa- ou estresse, reconhecer uma tensão muscular

45
prolongada e maximizar os efeitos terapêuti- Geral: cionalidade dos resultados. Os objetivos de-
cos da água aquecida. 7.4.4 Flutuação: esse princípio físico promo- vem ser reais e flexíveis e as condutas realiza-
Pode ser realizado como técnica lo- ve, por si só, um relaxamento geral, com au- das dentro do limite de cada paciente.
cal ou geral: xílio ou não de flutuadores. Para a introdução dos exercícios
Local: 7.4.5 Relaxamento autogênico: reduz a tensão aquáticos, em primeiro lugar, deve ser feita
7.4.1 Calor: pode ser aplicado superficial ou pro- muscular por meio de esforço consciente e uma observação das normas de segurança
fundamente antes da entrada na piscina, para do pensamento e pode ser promovido através tanto do ambiente da piscina quanto do pa-
aumentar a extensibilidade dos tecidos moles de autossugestão, meditação sobre um deter- ciente e terapeuta dentro dela. A partir daí, as
que se encontram encurtados. Quando aplica- minado foco ou sobre qualidades abstratas. fases de tratamento incluem o ajuste à água,
do após a sessão de fisioterapia aquática, ajuda a 7.4.6 Exercícios respiratórios: enquanto o pa- que é a ambientação ao meio líquido através
manter o estado de relaxamento obtido. ciente relaxa conscientemente a musculatura das propriedades físicas da água, para que se
7.4.2 Massagem: casos de dor extrema são tensa, realiza respiração em três ou quatro conquiste a confiança do paciente. Uma co-
beneficiados pela execução de massagem partes com profundidade progressiva. municação será estabelecida de forma efetiva
sub-aquática, pois o calor possui o mesmo 7.4.7 Relaxamento progressivo: é necessário e a atividade precisa ser atraente, evitando-se
efeito dessa técnica em músculos tensos ou que o paciente alterne tensão e relaxamento rotina e improvisação.
contraídos. em determinado músculo ou grupo muscular. Para o domínio do meio líquido, o
7.4.3 Tração articular: a separação das super- paciente será ensinado a desenvolver o con-
7.5 Programação do tratamento aquá-
fícies articulares auxilia na redução da dor e/ trole respiratório e a habilidade de imersão,
tico
espasmos de músculos adjacentes e essa téc- bem como a habilidade de locomoção na
nica pode ser realizada por meio de pesos, O estabelecimento do tempo da te- água, com deslizamento mais independente
manipulações, tracionamento ou movimen- rapia e a duração do tratamento dependerão possível, além da capacidade de imersão e re-
tos pendulares. da patologia em questão, bem como da fun- cuperação do equilíbrio. Esse processo tam-

46
bém envolve o domínio da entrada e saída da
piscina, quando o paciente possui capacidade
para tal.
Os exercícios terapêuticos aquáticos
dependem de avaliações constantes da condi-
ção do paciente, do seu nível de ambientação,
dos objetivos desejados, sendo que a progra-
mação deve ser flexível e sequencial, com o
estabelecimento de dificuldade progressiva
de execução.

47
48
Entretanto, em 1957, o Dr. Knüpfer,
introduziu a técnica de tratamento horizontal
em meio líquido, por meio de anéis de flutu-
ação no pescoço, quadril e tornozelos, com
o objetivo de proporcionar uma estabilização
corporal e realizar exercícios resistidos. Essa
técnica somente foi publicada em 1970 por
Beatrice Egger, que desenvolveu o método
de facilitação neuromuscular proprioceptiva,
que era aplicado por Bridget Davis.
CAPÍTULO VIII – MÉTODOS
DE FISIOTERAPIA As condutas de Knüpfer foram sen-
AQUÁTICA do aprimoradas e começaram a ser utilizadas
com pacientes portadores de patologias neu-
rológicas e ortopédicas, com o objetivo de
8.1 Método dos Anéis de Bad Ragaz
reduzir o tônus muscular, treino da deambu-
A filosofia desse método teve seu lação e estabilização do tronco.
início na década de 1930, nas águas termais Em 1967, os fisioterapeutas Bridget
da cidade de Bad Ragaz, na Suíça, e ainda é Davis e Verena Laggat modificaram o método
usado internacionalmente para reeducação e de facilitação neuromuscular proprioceptiva e os
fortalecimento musculares, tração ou alonga- exercícios de Knüpfer, agrupando-os para apli-
mento da coluna vertebral, relaxamento e ini- cação em meio líquido, surgindo, então, o Mé-
bição do tônus muscular aumentado. todo dos Anéis de Bad Ragaz, ou seja, o MABR.

49
Atualmente o MABR é conhecido - facilitação do movimento pela estimulação nervosas sensitivas e auxiliam o reflexo de es-
pelo emprego da maioria das técnicas de faci- da pele, músculos e proprioceptores através tiramento do músculo;
litação neuromuscular proprioceptiva (FNP) do apoio manual do terapeuta; - a cocontração é facilitada pela aproximação
em meio líquido, e consiste em relaxamento, - comandos verbais curtos e precisos do te- e a contração isotônica pela tração.
estabilização e exercícios resistivos progres- rapeuta; Como o MABR é um método versátil e pode
sivos, através da utilização das propriedades - estimulação da musculatura mais fraca con- ser adaptado a pacientes neurológicos, orto-
físicas da água, como flutuação, turbulência, tralateral pela facilitação dos músculos mais pédicos e reumatológicos, os objetivos de tra-
pressão hidrostática, tensão superficial e ca- fortes, denominada transbordamento e irra- tamento visam buscar a funcionalidade cor-
pacidade térmica. Contudo, as principais di- diação; poral, através de:
ferenças entre esses dois métodos, FNP e Bad - com o aumento de resistências manuais (dis- - redução do tônus, reeducação e relaxamen-
Ragaz, estão na presença do terapeuta como tais e proximais) do terapeuta, a graduação de to muscular;
estabilizador, e não a gravidade; na sustenta- dificuldade dos exercícios é dada progressiva - aumento da amplitude de movimento arti-
ção do paciente por meio de flutuadores que e naturalmente; cular;
são desestabilizados ao movimento, e não - pela participação do terapeuta, o paciente - fortalecimento da musculatura;
por uma prancha fixa; e na resistência dada pode ser avaliado de maneira constante e a - tração e alongamento espinhal;
pela água, em grande parte, e pelo terapeuta, resistência dos exercícios pode ser alterada; - melhor estabilização e alinhamento da colu-
em menor parte. - a movimentação de músculos e articulações na vertebral;
As técnicas de FNP incorporadas ao ocorre de maneira natural e funcional para o - restauração dos movimentos normais e pre-
MABR consistem em: paciente; paro para sustentação de peso em extremida-
- controle da resistência máxima nos exer- - a aproximação e a tração, promovidas pe- des;
cícios isotônicos e isométricos pelo próprio los padrões de empurrar e puxar alternados - melhora da resistência e da capacidade fun-
paciente; atuam sobre as articulações e terminações cional.

50
Metodologicamente a técnica é apli- a resistência ao empurrar ou aproximar o frente, provoca resistência. Portanto, como
cada em função de um sistema composto paciente; a turbulência gerada é diretamente propor-
pelo paciente, terapeuta e piscina, em que o - isométrico: o paciente mantém-se fixo en- cional à velocidade do movimento, essa re-
paciente é apoiado por flutuadores na região quanto o terapeuta o empurra contra a água sistência é aumentada pela maior rapidez do
do pescoço, tronco e extremidades. O tera- para produzir contrações estabilizadoras; exercício, sendo que o paciente pode regular
peuta, para auxiliar na realização dos exercí- - passivos: o terapeuta está fixo e movimen- a resistência opondo-se à força aplicada pelo
cios, deve estar com a água ao nível de T8 a ta o paciente pela água para produzir relaxa- terapeuta.
T10 e permanecer com os pés separados para mento, alongamento muscular ou inibição do Essa resistência também pode ser
sua maior estabilidade; a piscina deve ter de tônus. aumentada progressivamente com a utiliza-
0,90 a 1,20 metros de profundidade e a água O tratamento inicial deve durar de ção de anéis, flutuadores ou palmares, com a
aquecida em torno de 33,3 e 36,6ºC. cinco a 10 minutos para evitar fadiga, pois aplicação de movimentos de maior amplitude
Na relação entre terapeuta e pacien- os exercícios produzem contrações e esfor- ou alteração do braço de alavanca, pela altera-
te, os exercícios são descritos de quatro ma- ços máximos para o paciente. Conforme a ção de direção ou aumento da velocidade do
neiras: isocinéticos, isotônicos, isométricos e progressão, a duração da terapia pode ser au- movimento, pelo uso de menor número de
passivos: mentada para 30 minutos no máximo. Porém, flutuadores ou apoios, bem como pela mu-
- isocinéticos: quando uma fixação é forneci- atividades que aumentem o tônus do paciente dança de apoio proximal para distal.
da pelo terapeuta ao mesmo tempo em que o neurológicos devem ser evitadas, e as técnicas Alguns autores descrevem seis téc-
paciente move-se na água com movimentos de relaxamento antes dos exercícios ativos nicas distintas do MABR:
de afastamento e aproximação, sendo que a podem ser empregadas. 1. Iniciação rítmica: auxilia o pa-
resistência é dada pela velocidade aplicada; Quando um corpo é movido ou ciente na adequação do tônus muscular e no
- isotônicos: um ponto de fixação móvel move-se na água, gera uma pressão negati- aprendizado e sensação do movimento, atra-
é fornecido pelo terapeuta, o qual gradua va atrás dele que, somada com o atrito a sua vés de movimentação rítmica de um segmen-

51
to ou de todo o corpo, iniciando passivamen- 4. Contrai/relaxa: é solicitada ao o tônus e melhorar a capacidade de alternar
te até progredir para ativo/resistido. paciente uma contração isométrica peque- direção de movimentos.
2. Combinação de isotônicas: o pa- na e resistida, mas até o limite do músculo a O MABR é indicado em condições
ciente realiza uma movimentação ativa ao ser trabalhado, seguido de um relaxamento, neurológicas, disfunções traumato-ortopé-
longo da amplitude de movimento (contra- quando o terapeuta realiza um movimento dicas, doenças reumatológicas, síndromes
ção concêntrica) e o terapeuta aplica uma passivo na amplitude de movimento aumen- dolorosas, pós-mastectomia, pós-cirúrgicos
resistência e, a seguir, solicita que uma de- tada, o que aumenta ainda mais essa amplitu- de cardiopatias que sejam beneficiados com
terminada posição seja mantida (contração de e limita a dor. alongamento e fortalecimento bilateral do
estabilizadora) para, depois, permitir que o 5. Timing para ênfase: duas articula- tronco, atraso do desenvolvimento motor
segmento movimentado retorne lentamente ções preservadas são estabilizadas pelo tera- e outras patologias. Entretanto, disfunções
(contração excêntrica). Não ocorre relaxa- peuta, enquanto uma terceira, que está defici- vestibulares, quadros álgicos agudos, instabi-
mento entre os três tipos de contração e o tária, é movida com o objetivo de promover lidade articular e espasticidade excessiva, são
objetivo dessa manobra é o controle ativo, irradiação aos músculos mais fracos e para o condições para precauções.
coordenação e treino funcional do controle ganho de movimentos mais seletivos.
excêntrico dos movimentos, além do forta- 6. Reversão dinâmica: é solicitado ao 8.2 Método Halliwick
lecimento muscular. paciente um movimento ativo com alterna-
3. Contrações repetidas: o terapeuta ção de direção e sem relaxamento ou interva- James McMillan desenvolveu este
aplica uma resistência progressiva ao movi- lo, enquanto o terapeuta aplica uma resistên- método a partir de 1949, na Halliwick School
mento sem permitir relaxamento durante a cia e movimenta em um sentido, para depois for Girls, Inglaterra. Sua filosofia é de natureza
série, objetivando coordenação e fortaleci- mudar a pegada e movimentar para o outro recreativa e enfatiza a independência para na-
mento musculares e ganho da amplitude de sentido. O objetivo é aumentar a amplitude dar aos portadores de necessidades especiais,
movimento. de movimento, fortalecer agonistas, adequar através de suas habilidades em meio líquido e

52
não de suas dificuldades em solo. •• Inibição: através da inibição dos - manter a face fora da água, o que não per-
A metodologia é baseada em qua- movimentos indesejados, uma pos- mite um controle respiratório;
tro princípios de instrução, que obedecem à tura mentalmente desejada é criada - manter a cabeça fora da água, dificultando a
ordem pela qual o córtex cerebral aprende o e mantida. aprendizagem da posição corporal;
movimento físico: •• Facilitação: através de qualquer meio - inibir a aquisição ou a execução de habilida-
•• Adaptação mental: o paciente perce- sem o recurso da flutuação, um mo- des como submergir ou rolar;
be as forças da gravidade e do em- vimento é mentalmente criado e fi- - dificultar a aprendizagem do controle de
puxo atuando distintamente sobre o sicamente controlado dentro da ca- movimentos rotacionais indesejáveis e não
seu corpo e, caso estas forças traba- pacidade do paciente, como nadar. corrigirem assimetrias;
lhem de maneira conjunta, ocorrerá O Método Halliwick é adaptado às - induzir uma falsa sensação de segurança ou
uma rotação corporal. alterações de formas e densidades de cada dependência exagerada;
•• Restauração do equilíbrio: envol- indivíduo a ele submetido, sempre iniciando - não ser tão adaptável quanto o apoio do te-
ve o uso de movimentos de gran- com a entrada e terminando com a saída da rapeuta.
de amplitude, principalmente dos piscina. Apesar de ter sido incluída a rotação
braços, para o controle do equi- A piscina ideal para o desenvolvi- sagital em 1990, esse método é conhecido e
líbrio ou para sua restauração. A mento do método deve possuir várias pro- constituído pelo Programa de 10 pontos, di-
locomoção é dada em diferentes fundidades e o nível da água permanecer em vididos em quatro estágios:
posturas ao mesmo tempo em que T11, sendo que uma simetria é buscada com Estágio 1 – Ajuste mental
o equilíbrio é mantido e o princi- o trabalho de ambos os hemídios e sem a uti- 1) Ajustamento mental
pal movimento se faz em torno do lização de flutuadores. É a adaptação para entrar na água e
eixo mediano, que é uma resposta Nesse método, o uso de flutuador é acostumar-se ao meio líquido e a seus efeitos
imediata. contraindicado por: físicos, durante a qual o terapeuta deve trans-

53
mitir segurança, mantendo contato físico e lateral dos membros superiores e inferiores, 4) Controle da rotação longitudinal
visual com o paciente. ocorrem reações contralaterais. Esse contro- É o movimento ao redor do eixo
Por aumentar a espasticidade, a ap- le refere-se à flexão lateral do tronco, adução longitudinal, com a rotação de 360º para am-
neia não é recomendada, e as posturas ver- e abdução de membros inferiores e superio- bos os lados a partir da posição supina, o que
ticais devem ser incentivadas, além de que o res, transferência lateral de peso, que ajudam facilita reações de endireitamento e a disso-
paciente deverá aprender a se acostumar com a melhorar a mobilidade e a estabilidade da ciação entre cabeça, tronco e pélvis. Durante
o contato da água com orifícios como nariz, coluna vertebral. a expiração, o paciente roda em direção ao te-
boca, orelhas e olhos. 3) Controle da rotação transversal rapeuta, enquanto o membro inferior e supe-
O desprendimento é dado por meio Objetiva o controle da rotação no eixo rior contralaterais ultrapassam a linha média.
da retirada gradual dos apoios, viabilizando- transversal do corpo, que permite a passagem da 5) Controle da rotação combinada
-se as posições verticais e os movimentos postura sentada para supino. O paciente deve ser Objetiva o controle simultâneo das
sem contato físico ou visual, mas não deve apoiado ao nível de S2 enquanto a porção supe- rotações transversal e longitudinal, tendo
ser forçado, para que o paciente sinta-se mais rior do seu tronco inclina para trás, e o abdome e grande importância em algumas entradas e
seguro. os pés sobem em direção à superfície. No início saídas da piscina.
Essa fase explora a verticalidade e do movimento, os membros superiores perma- 6) Inversão mental e empuxo
está presente em todos os pontos do método. necem na posição supina e em abdução. Quan- O paciente retorna à superfície pela
Estágio 2 – Controle do equilíbrio do os joelhos encontram–se fletidos, a rotação força do empuxo. A expiração deve ser lenta
2) Controle da rotação sagital é mais rápida, porém seu controle mais difícil. e, quando submerso, seus olhos devem estar
A lateralização da cabeça provo- Para o paciente levantar-se, o tronco é estimu- abertos.
ca movimentos contralaterais no membro lado à flexão durante a expiração e os membros Esse ponto indica independência na
inferior oposto e, durante a movimentação superiores devem ir para frente. água, mesmo sem saber nadar.

54
Estágio 3 – Inibição dos quadris. Com o aumento da velocidade, quilidade, sendo que seu conceito é abran-
7) Equilíbrio estático as pernas sobem em direção à superfície. gente e envolve a consciência do ser, com o
A turbulência e o efeito metacên- 10)Movimento básico propósito de alcançar a luz por meio da des-
trico são usados para treinar o controle do O paciente, em supino, desliza na coberta de si mesmo, ou seja, a iluminação
equilíbrio e o paciente deve manter-se numa superfície realizando flexo-extensão mais am- humana.
posição, evitando movimentos amplos de ex- pla e contínua dos punhos, cotovelos e om- Inicialmente, foi criada como uma
tremidades, enquanto controla o equilíbrio bros sem espirrar água. técnica de massagem ou bem-estar destinada
com pequenos movimentos da cabeça e do Esses 10 pontos são fundamentados a qualquer pessoa, mesmo não portadora de
tronco. no processo de aprendizagem motora, sendo alguma patologia. Contudo, terapeutas que
8) Deslizamento turbulento que o indivíduo precisa, antes de tudo, ajus- utilizavam a água como meio de tratamento
O paciente é mantido em simetria, tar-se mentalmente ao meio líquido para de- começaram a empregá-la em afecções neuro-
na posição supina, com os membros superio- pois equilibrar-se nele, através de movimen- lógicas e ortopédicas com bons resultados.
res ao lado do corpo, os joelhos e quadril em tos amplos das extremidades. Harold Dull transformou o Shiatsu
extensão, e é deslizado através de uma turbu- realizando a integração da medicina ociden-
8.3 Método Watsu
lência na região cervical realizada pelo fisio- tal com a oriental, em que a observação e o
terapeuta. O Método Watsu, termo deriva- toque refletem um diagnóstico e, ao introdu-
Estágio 4 – Facilitação do das palavras water e shiatsu, foi criado em zir o conceito de meridianos, contribuiu para
9) Progressão simples 1980 por Harold Dull, a partir do emprego melhor aceitação do conceito de ligação en-
O paciente, em supino, desliza na de alongamentos e movimentos do zen shiatsu tre pele e órgãos. Também passou a utilizar
superfície realizando flexo-extensão contínua em pessoas flutuando em água morna. os outros dedos e a região palmar, além dos
dos punhos submersos (como o movimento Proveniente da cultura oriental, a polegares no Shiatsu, o que permite maior
do rabo de um peixe), simetricamente e junto palavra zen tornou-se sinônimo de paz e tran- liberdade para o terapeuta trabalhar. Trans-

55
portou, para o ambiente aquático aquecido, A realização do Zen Shiatsu em água enquanto que os movimentos são nomeados
os ensinamentos do mestre japonês Shizuto aquecida a 35ºC resulta em desbloqueio dos literalmente por sua descrição:
Masunaga, porém, acrescentou técnicas de canais de energia do corpo com redução do Abertura
alongamentos à manipulação pontual realiza- grau de estresse ou ansiedade e aumento da Como o próprio nome diz, é o início
da com os polegares sobre canais de energia e atividade circulatória periférica. Os benefícios da sessão na parede (e também o final):
mais meridianos aos já existentes. do método são traduzidos na maior eficácia •• começando na parede;
Na filosofia do método, o corpo em tratamentos de dores crônicas e disfun- •• entregando-se à água (rendição);
encontra, na água, a liberdade perdida pela ções musculares, além de estados de indispo- •• primeira posição.
alma, e a exploração contínua dessa liberdade sição, hiperatividade, falta de sono ou dificul- Movimentos básicos
é dada através do Watsu, quando o indivíduo dade para dormir, depressão e enxaquecas. É a sequência básica do método e
encontra o estado de plenitude final, por meio Portanto, é uma técnica de relaxamento que os movimentos podem ser realizados isolada-
de níveis cada vez mais profundos de entrega. age em nível psicológico, espiritual, emocio- mente ou pode-se retornar a eles a qualquer
A criatividade de Dull reflete-se, em nal e físico, tido como terapia de reconexão momento, sem a necessidade que sua inclu-
uma técnica de alongamentos dos meridianos, tanto para o paciente quanto para o terapeuta. são em uma sessão completa:
manipulações articulares e massagens, com O Watsu é composto de movimen- •• dança da respiração;
toques leves ou mais profundos, sustentados tos sequenciais e contínuos, tendo início na •• balanço da respiração (acordeão);
por um terapeuta e em uma sequência contí- parede da piscina, considerada como âncora •• liberação do quadril;
nua de movimentos na água. Envolve massa- tátil e referência ao paciente, ao retornar no •• movimentos livres;
gem e movimentos de segmentos corporais final da sessão. •• sanfona;
que resultem em alongamento de outro seg- A nomenclatura das posições é re- •• sanfona rotativa;
mento em razão do efeito de arrasto, através lacionada com a posição e o local onde o pa- •• rotação da perna de dentro;
de uma sequência especificamente descrita. ciente encontra-se em relação ao terapeuta, •• rotação da perna de fora.

56
Como a imersão em água aqueci- e as alterações que ocorrem no indivíduo. Se- Essa integração foi denominada por
da é um meio propício para o aumento da gundo a sabedoria oriental, ao perder a har- Konno como bodymind, visto que o autor con-
amplitude de movimento articular devido, monia e a conectividade com a natureza, o sidera que uma maior facilidade de resolução
principalmente, à flutuação combinada com a corpo perde a troca de energia entre ambos. de problemas cotidianos é permitida quando
pressão hidrostática, empuxo e fluxo laminar, Sendo assim, o Watsu é um método que pro- o indivíduo integra corpo e mente, o que re-
favorece o relaxamento muscular e diminui o move bem-estar, pois alterações emocionais sulta em um espírito mais saudável.
mecanismo de proteção muscular por con- e mentais podem ser provocadas por movi- O Método Ai-Chi é considerado
tração. Com isso o alongamento elástico, ou mentos corporais. como uma técnica suavizante, pois os mo-
seja, a flexibilidade passiva, promove maior vimentos leves realizados com harmonia
8.4 Método Ai-Chi
mobilidade articular, influenciando nos teci- permitem um alongamento muscular, pro-
dos periarticulares, na circulação sanguínea, No início da década de 90, Jun Kon- movem melhora no metabolismo corporal e
nos músculos e nos meridianos. no criou a técnica Ai-Chi, onde Ai significa aumentam em torno de 7% o consumo de
Nos alongamentos e rotações, os amor e Chi, energia, que é baseada nos prin- oxigênio. A técnica deve ser empregada de
meridianos são alongados, o que melhora o cípios do Shiatsu, Watsu e T’ai-Chi, e combina forma gradual, sendo recomendada, no iní-
fluxo de energia vital e sua distribuição em movimentos de grande amplitude do tronco cio, duas vezes por semana durante 10 minu-
todo o corpo. Esses meridianos, localizados e de membros superiores e inferiores com a tos e repetindo-se cada movimento três vezes,
no tecido conjuntivo superficial ou profun- respiração profunda. progredindo até a frequência de três vezes na
damente debaixo da pele, canalizam a energia Trata-se de uma modalidade tera- semana, por 30 minutos e com repetição de
que deve fluir entre eles com direção definida pêutica realizada com a água na altura dos 12 movimentos.
e ordem determinada. ombros, na qual alongamento e relaxamento É importante ressaltar que a tempe-
A medicina oriental não se preocupa são promovidos gradualmente com a integra- ratura da água não deve ser inferior a 30ºC,
com a doença em si, e sim com o diagnóstico ção do corpo, mente e energia espiritual. para que haja um relaxamento generalizado, e

57
os movimentos devem ser efetuados de for- e, depois, torácico e clavicular, inspirando nos neutralizar a articulação, juntamente com
ma contínua em sua velocidade e com força movimentos de rotação externa dos ombros alongamento (stretching). Seu principal objeti-
constante. O paciente não deve sentir dor e supinação dos antebraços e expirando na vo é alcançar uma flexibilidade para promo-
durante a aplicação da técnica, considerando- rotação externa e pronação. Os ombros auxi- ver maior amplitude de movimento articular,
-se que o aparecimento de quadros álgicos liam nos dois últimos tipos de respiração. além de alongamento e fortalecimento mus-
após duas horas da sessão, significa que o es- Caso o paciente apresente dificul- cular e equilíbrio de tronco.
forço realizado foi excessivo. dades para manter seu equilíbrio, podem ser É um método de musculação que
A utilização do Ai-Chi pode ser utilizados movimentos alternativos, como proporciona consciência corporal, por asse-
como técnica de tratamento única ou aplica- apoio dos membros superiores para realizar gurar uma atitude postural corrigida através
da antes ou depois de outro método. O pa- movimentos de tronco e membros inferiores, de atividade isométrica de resistência. É bas-
ciente deve estar em ortostatismo dentro da o uso de algum apoio, como bastão, para au- tante utilizado em condições lesivas da coluna
piscina, realizando os movimentos de tronco mentar sua estabilidade na água. vertebral, visto que a maioria dos exercícios é
e de membros superiores e inferiores, porém feita com as vértebras em posição correta du-
8.5 Método Aquastretching®
o terapeuta pode ficar fora dela. rante uma expiração longa, ou seja, durante
A sequência dos movimentos varia O Método Aquastretching® come- alguns segundos.
conforme a necessidade de cada paciente, çou a ser desenvolvido em 1986 na França A técnica pode ser aplicada uma vez
mas é efetuada com base em quatro posições: por Bernard Lebaz e caracteriza-se pela ree- por semana em grupos de até 10 indivíduos,
membros inferiores afastados, depois cruza- ducação do tronco, tendo seu embasamento durante 30 a 45 minutos, compreendendo sé-
dos, seguindo-se de um pé à frente do outro, no Método Isostretching, criado em 1974 por ries de fortalecimento muscular, respiração e
terminando com só apoio. Enquanto executa Bernard Redondo. relaxamento corporal. Os exercícios são inicia-
os movimentos pré-estabelecidos, sua respira- Isostretching significa contração iso- dos com o afastamento alternado das escápu-
ção deve ser contínua, em nível diafragmático métrica da musculatura antagonista (iso) para las, para alongar a musculatura profunda do

58
tronco, seguindo-se dos exercícios de cintura tempo no efeito e na causa. Seus objetivos equilíbrio na água, musculação dinâmica dos
pélvica, coxas, panturrilhas e tornozelos. Para são voltados ao alívio imediato da dor, facili- músculos do tronco, abdominais e glúteos, fi-
maior estabilidade na água, os exercícios são tação de posturas que seriam álgicas em solo, nalizando com relaxamento.
praticados com uma prancha flexível e, para tonificação da musculatura paravertebral Na avaliação inicial, o fisioterapeuta
proporcionar maior sensação do efeito con- para equilíbrio vertical em água, melhora do deve definir quais grupos musculares devem
tração/relaxamento muscular, são realizados equilíbrio postural e da coordenação motora, ser alongados e quais devem ser fortalecidos
com poliboia entre as coxas ou panturrilhas, aumento de amplitudes dos movimentos ar- e escolher as posturas que priorizem o alon-
ou sob os braços. Quando a intenção é traba- ticulares, redução de contraturas e espasmos gamento de cadeias musculares anteriores e
lhar abdominais, são utilizados os aquatubes e, musculares, melhora da circulação sanguínea posteriores visando fortalecimento dos mús-
quando é fortalecimento de membros superio- para permitir melhor nutrição dos discos in- culos profundos.
res e equilíbrio de tronco, os palmares. tervertebrais, dentre outros. O método é indicado em desvios
Todos os movimentos compreen- Os exercícios são compostos de cin- posturais, artrose vertebral, pré e pós-ope-
dem o autocrescimento da coluna vertebral co fases, que englobam: ratório de hérnia de disco intervertebral, es-
com o olhar fixo à frente, usando-se inspi- 1) flexibilidades dinâmicas, pondilite anquilosante, ginástica respiratória
ração nasal e expiração freno-labial forçada, 2) alongamentos estáticos, ou qualquer caso de dores na coluna verte-
aproximação escapular, contração da muscu- 3) musculação estática bral, inclusive durante o período gestacional.
latura abdominal e glútea. 4) musculação dinâmica e A vantagem do Aquastretching® está
Como método de reeducação pos- 5) relaxamento. concentrada na possibilidade de eleição entre
tural em meio líquido, o Aquastretching® pode Uma sessão sempre tem início com as posturas utilizadas, o que permite variação
ser utilizado em casos em que se necessite re- aquecimentos e flexibilidades, seguida de entre as sessões sem causar cansaço ou mo-
dução imediata da dor e a cura da patologia alongamentos dinâmicos e depois estáticos notonia para o paciente, além de o fisiotera-
responsável por essa dor, pois atua ao mesmo da coluna vertebral, musculação estática para peuta ficar fora da água.

59
60
o complexo.
Uma piscina terapêutica bem pro-
jetada e com um design mais simples possível
garante segurança e conforto, tanto para os
pacientes e terapeutas, como para os acompa-
nhantes, além da sua funcionalidade ser maior.
O delineamento dos principais pon-
tos relativos a um design mais apropriado vem
evoluindo constantemente, sendo considera-

CAPÍTULO IX - PROJETO dos fatores importantes:


E PLANEJAMENTO DAS - design e dimensões da piscina, como tipo,
INSTALAÇÕES DE PISCINA formato, tamanho, profundidade, piso e aces-
TERAPÊUTICA
sibilidade;
Com finalidades especiais, uma pis- - sistemas de ventilação, iluminação e aque-
cina terapêutica deve ser projetada conforme cimento;
as exigências dos pacientes e das patologias a - instalações acessórias e equipamentos;
serem tratadas, sendo que o ambiente das ati- - superfícies da piscina e áreas ao redor;
vidades aquáticas deve ter uma relação direta - fatores de ruídos;
com todos os usuários. - cuidados e manutenção;
Trata-se de um empreendimento - sistema de segurança e equipamentos de
importante, que exige detalhamentos no pla- emergência;
nejamento e preparo na construção de todo - custo/benefício.

61
Alguns países possuem normas vi- ção e aprovação de projetos físicos de es- A legislação vigente que regulamen-
gentes para orientação de construção de pis- tabelecimentos assistenciais de saúde e, em ta os serviços de fisioterapia não estabelece
cinas terapêuticas, como Portugal, na Região relação à acessibilidade, as normas a serem o número de pacientes a serem atendidos
de Lisboa e Vale do Tejo, que redefiniu o Pro- obedecidas estão contidas na NBR 9050, de simultaneamente em piscina terapêutica, po-
grama de Vigilância Sanitária, trazendo como 2004, que diz respeito à acessibilidade a edi- rém é aconselhado até três com patologia e
principais objetivos: ficações, mobiliário, espaços e equipamen- faixa etária similares por fisioterapeuta.
- a proteção da saúde de pacientes e terapeu- tos urbanos. As dimensões da piscina são dire-
tas (usuários); Como todo e qualquer serviço de tamente proporcionais à demanda, ou seja,
- a identificação da existência de fatores de fisioterapia, a piscina terapêutica deve ser quanto maior o número de pacientes em um
risco existentes ou potenciais; planejada e construída preferencialmente em mesmo atendimento, maior deve ser seu ta-
- manutenção de um sistema de dados atua- andar térreo e sem escadas. Havendo mudan- manho. Entretanto, a profundidade deve va-
lizado; ça de nível, o acesso deve ser permitido por riar de 0,60 a 2,10m, para permitir o desenvol-
- sistema de informação aos usuários e enti- meio de rampas revestidas de material anti- vimento da reabilitação aquática de crianças
dades responsáveis. derrapante e corrimão. O ideal é estar abaixo e adultos, já que um chão de piso uniforme
No Brasil, toda construção des- do nível do piso e ter o formato retangular, não permite a execução de práticas com di-
tinada à área da saúde deve obedecer à le- para facilitar a entrada e a saída dos pacientes, ferentes níveis de água ou traz desvantagens,
gislação em vigilância sanitária, disponibi- seja através de escada ou rampa de inclina- conforme a altura do paciente. O ideal é que
lizada pela Agência Nacional de Vigilância ção suave sempre na sua parte mais rasa (ou esse desnivelamento seja em ângulo reto, isto
Sanitária, ANVISA, por meio da RCD-50. sistema de elevador ou guindaste). A área de é, sem declives, para não causar instabilidade
Esse regulamento é pertinente à aprovação circulação à volta da piscina deve permitir a e insegurança aos pacientes.
do Regulamento Técnico destinado ao pla- circulação de cadeiras de rodas e de pacientes Em todas as instalações adjacentes e
nejamento, programação, elaboração, avalia- portadores de deficiências . na própria piscina, o piso deve ser de material

62
antiderrapante, para dar maior segurança aos das por meio de dispositivos de recirculação portas de vidro, elas devem estar devidamen-
usuários. e tratamento, que incluem toda a tubulação e te marcadas em sua superfície e as maçane-
Tanto o sistema de ventilação quan- os sistemas de filtração, aquecimento e desin- tas devem ser em forma de barras ou trincos,
to o de iluminação dependerão da localiza- fecção da água. nunca redondas.
ção física, porém a refração da água deve ser Além da tubulação, os componen- Os vestiários devem ser espaçosos e
considerada e, portanto, é fundamental uma tes necessários para garantir boa qualidade permitirem privacidade aos pacientes, assim
boa claridade na piscina. Contudo, a constan- da água são: filtro, bombas de recirculação, como os chuveiros, que devem ser privativos
te evaporação da água requer um sistema de pré filtros, drenos e ralos de fundo, coadeiras, e instalados em boxes amplos e a instalação
ventilação eficiente, enquanto que a visibili- dispositivos de retorno e de aspiração, do- de corrimões em todas as áreas físicas é es-
dade deve ser satisfatória em toda a área da sadores químicos, visores de retrolavagem e sencial.
piscina, principalmente a sua profundidade. aquecedores. As instalações adjacentes (adaptadas
Uma iluminação artificial posicionada ade- Em relação ao sistema de aqueci- ou não) de uma piscina terapêutica compreen-
quadamente soluciona problemas de refração. mento da água, existem várias opções no dem os vestiários masculinos e femininos, áre-
A qualidade da água deve ser cons- mercado, com diversos tipos de alimentação, as para troca de roupas e banho (chuveiros),
tantemente monitorada e está diretamente re- como por exemplo, resistência elétrica, bom- banheiros e local para repouso, sendo que a
lacionada com sua salubridade, sem a presen- ba de calor, solar, a gás, a óleo combustível, quantidade de cada unidade é determinada
ça de microrganismos patogênicos. A água da carvão ou lenha. A mais apropriada vai de- pelo número de usuários. Chuveiros também
piscina deve possuir baixa turbidez e apresen- pender da relação custo/benefício, dimen- devem ser instalados ao lado da entrada da
tar condições físico-químicas que não provo- sões e finalidades da piscina. piscina, para que os pacientes possam tomar
quem corrosões ou danos aos equipamentos O acesso ao prédio deve ser facili- uma ducha antes da imersão no meio líquido,
e, principalmente, não prejudiquem a saúde tado por rampas com corrimão, desde o es- com o intuito e eliminar qualquer produto que
dos usuários. Essas características são obti- tacionamento até o seu interior. Caso haja prejudique a qualidade da água.

63
Materiais acústicos devem ser utili- e Execução de Piscina – equipamentos para a Fotos 6 e 7.
zados na construção dos ambientes para que borda do tanque).
os ruídos não se tornem excessivos e provo- Além dos equipamentos adicionais
quem situações de ansiedade ou tensão nos de segurança, os hidroterapêuticos são neces-
pacientes, principalmente quando a terapia é sários para auxiliar na execução das técnicas
realizada em grupo. de fisioterapia aquática e são facilmente en-
A Associação Brasileira de Normas contrados em lojas especializadas.
e Técnicas referentes à construção de pisci- Exemplos de materiais (equipamen-
nas que dispõem a normatização de piscinas tos) hidroterapêuticos:
são: NBR 5410 (Instalações Elétricas de Bai- Foto 5.
xa Tensão), NBR 9816 (Piscina – Terminolo-
gia), NBR 9818 (Projeto e Execução de Pisci-
na – tanque e área circundante), NBR 9819 (
Piscina – classificação), NBR 10339 (Projeto
e Execução de Piscina – sistema de recircu-
lação e tratamento), NBR 10818 (Qualidade
de Água de Piscina), NBR 10819 (Projeto e
Execução de Piscina – casa de máquinas, ves-
tiários e banheiros), NBR 11238 ( (Segurança Materiais diversos. Aquatubes.
e Higiene em Piscinas) e NBR 11239 (Projeto Fonte: arquivo pessoal. Fonte: arquivo pessoal.

64
Foto 8. Foto 10. Foto 12.

Aquatube redondo. Bastões. Pranchas.


Fonte: arquivo pessoal. Fonte: arquivo pessoal. Fonte: arquivo pessoal
Foto 9. Foto 11. Foto 13.

Argolas Smiles. Coletes.


Fonte: arquivo pessoal. Fonte: arquivo pessoal. Fonte: arquivo pessoal.

65
Foto 14. Foto 16. Foto 18.

Palmares. Halteres. Pedaleiras


Fonte: arquivo pessoal. Fonte: arquivo pessoal. Fonte: arquivo pessoal.
Foto 15. Foto 17. Foto 19.

Caneleiras. Prancha de equilíbrio. Pranchas infantis.


Fonte: arquivo pessoal. Fonte: arquivo pessoal. Fonte: arquivo pessoal.

66
Foto 20.

Brinquedos diversos.
Fonte: arquivo pessoal.

67
68
para aprimorar a capacidade física funcional
de seus pacientes, utilizando métodos e técni-
cas fisioterapêuticas com a finalidade de res-
taurar, desenvolver e conservar a capacidade
física.
Dentre as várias técnicas fisiotera-
pêuticas utilizadas, a fisioterapia aquática uti-
liza a água, com suas propriedades terapêuti-
cas e curativas, como meio para a realização
da cinesioterapia e é destaque no tratamento
de pacientes que sofrem de patologias que
afetam o sistema locomotor, tanto sob o as-
CONSIDERAÇÕES FINAIS
pecto físico quanto o psicológico.
A Fisioterapia é uma das áreas de As propriedades físicas e mecânicas
Ciências da Saúde que atua, por meio dos da água exercem efeito terapêutico no orga-
agentes físicos da natureza, nos campos da nismo como um todo, principalmente por
prevenção, cura e reabilitação de diversas meio do empuxo, que gera a flutuação do
patologias que acometem o ser humano em corpo no meio líquido, facilitando, assim, o
qualquer fase da sua vida. movimento e a deambulação. A pressão hi-
O profissional fisioterapeuta realiza drostática, a densidade relativa, a gravidade
o diagnóstico e elabora o programa de tra- específica, e outras propriedades da água,
tamento de uma disfunção do movimento também têm fundamental importância nos

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tratamentos hidroterapêuticos e, juntamente que os resultados sejam eficazes, torna-se im-
com a temperatura, provocam alterações fi- prescindível o estabelecimento adequado dos
siológicas que aceleraram a melhora clínica objetivos geral e específicos, determinando-
dos pacientes. -se a melhor conduta a ser utilizada, além
Como o meio líquido proporciona da compreensão das propriedades físicas da
uma redução do impacto articular, diminui água, de como atuam no corpo humano e
a compressão nas articulações, e facilita os quais as respostas fisiológicas por elas pro-
exercícios de grande amplitude, a fisioterapia porcionadas.
aquática é indicada, entre outras condições, Os conhecimentos básicos sobre
para o alívio de dor, redução de espasmos termodinâmica e hidrocinética proporcionam
musculares e da espasticidade, diminuição esse conhecimento para uma boa fundamen-
de processos inflamatórios, restauração de tação da reabilitação fisioterapêutica aquática,
amplitudes de movimento, melhora do equi- que pode ser aplicada nas diversas áreas da
líbrio e da coordenação, manutenção ou me- fisioterapia.
lhora da força muscular, relaxamento muscu- Sendo assim, esse livro aborda con-
lar e correções posturais. ceitos necessários para capacitar o acadêmi-
Na fisioterapia aquática, as condu- co a realizar avaliação e reavaliação aquáticas,
tas são associadas às propriedades físicas da traçar os objetivos adequados a cada caso,
água, cujos objetivos serão transferidos para bem como empregar condutas que tenham
o solo, e devem resultar no ganho funcional eficácia e que se transmitam no dia a dia dos
em todas as atividades de vida diária de cada pacientes.
indivíduo a ela submetido. Entretanto, para

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